discutida não há qualquer distinção entre a prática e o discurso. De outro modo, não existe
aqui a noção que distingue o que é dito do que é feito, entre a “práxis” e a “verbis”, entre o
ideal e o real. Para Laclau, discurso é “todo o tipo de ligação entre palavras e ações que forma
totalidades significativas” (LACLAU, 2000a, p.10). Ainda no sentido de reforçar o
entendimento de que o discurso envolve não somente elementos da linguagem, os autores nos
ensinam que:
(...) os elementos lingüísticos e não lingüísticos não estão meramente justapostos, mas
constituem-se num sistema de posições diferencial e estruturado – que é o discurso
(LACLAU E MOUFFE, 1985, p. 118).
Ainda neste sentido, os autores reafirmam o sentido fundamental desta materialidade
do discurso, ao rechaçarem concepções diversas da constituição discursiva, como a
concepção lingüística de Pêcheux,
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e considerarem que não existe no social algo que, não
esteja sobredeterminado.
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Em outra expressão, está constituído em uma ordem simbólica todo
o universo de objetos, tudo o que é nomeado, a universalidade que se conhece e se concebe.
(...) a) todo objeto está constituído como objeto de discurso, na medida em que este não é
dado fora da emergência da constituição discursiva; e b) que qualquer distinção entre o que
são usualmente chamados de aspectos lingüísticos e comportamentais de uma prática
social, ou é uma distinção incorreta, ou tem lugar como uma diferenciação com a produção
social de sentido, a qual está estruturada sob a forma de totalidades discursivas (LACLAU
e MOUFFE, 1985, p.107).
Passaremos, a partir do presente ponto, para a discussão do sentido de articulação na
teoria do discurso. Na presente teoria, articulação é toda prática que tem como resultado a
modificação das identidades dos elementos através do estabelecimento da relação entre eles.
Em uma articulação, o elemento deixa esta condição e assume a condição de momento
diferencial. Por sua vez, a articulação de momentos diferenciais tem por resultado necessário
a mudança de suas características que lhe eram próprias anteriormente à prática articulatória.
Para os autores:
No contexto dessa discussão, chamaremos articulação qualquer prática que estabeleça uma
relação entre elementos tal que suas identidades sejam modificadas como um resultado da
prática articulatória. A totalidade estruturada resultante da prática articulatória chamaremos
de discurso. As posições diferenciais, na medida em que estas apareçam articuladas em um
discurso, chamaremos de momentos. Em contraste, denominamos elemento qualquer
diferença que não esteja discursivamente articulada. (LACLAU e MOUFFE, 1985, p.105).
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Para o autor, são noções implicadas no espaço discursivo: a materialidade (com sua natureza histórica e
lingüística), a estabilidade (nem sempre logicamente estabilizada), a ordem (contrapartida histórico-semântica
da organização) e o acontecimento (exterioridade que não está fora e é a ruptura com os sentidos estabelecidos.
(PÊCHEUX, 1990).
3
A noção de sobredeterminação parte da idéia de que tudo no social está sobredeterminado, ou seja, é uma
ordem simbólica que constitui o social. Para Althusser, é a partir da ideologia que se constitui esta ordem
simbólica. Ideologia é “(...) uma representação da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de
existência” (ALTHUSSER, 1985, p. 85).