Diante de tantos textos circulando e de tanto interesse pelo amor, percebi que
seria possível continuar estudando o assunto. E, se hoje escrevo a presente tese na
primeira pessoa do singular, certamente não o faço por arrogância ou pretensão, mas
porque as reflexões que aqui faço são fruto de uma inquietação e interpretação
pessoal. O uso da primeira pessoa do plural poderia levar a crer que há um consenso
sobre as questões levantadas. Antes disso, embora procure a seguir dar sustentação ao
trabalho através de exemplos e de conhecimento teórico, pretendo deixar claro que é
uma forma subjetiva de perceber discursos sobre o amor e de como se apresentam
nos tempos atuais.
Nunca se falou tanto de amor. Nunca foram vistas tantas imagens da
felicidade amorosa e do prazer. Imagens vendidas, espalhadas em outdoors, nas
telenovelas, nos sites, nos filmes. Os profissionais de marketing em qualquer
campanha promocional, seja qual for o produto a ser divulgado, servem-se do ideal
amoroso, em diferentes abordagens, com o intuito de despertar o desejo do
consumidor. O desejo, que não se satisfaz, é o combustível utilizado para conduzir os
indivíduos em suas buscas infinitas de realização, especialmente no que diz respeito
ao amor. No Brasil, na realidade diária dos folhetins televisivos, ele é o tema central
de todos os enredos. Mesmo fora da tela, quando revistas (como a Caras, Contigo,
Quem, entre outras) sustentam-se pela veiculação maciça de imagens que
representam, na vida real (real?), o ideal de felicidade de inúmeros artistas. Angélicas
e Lucianos Hucks, sempre sorridentes, mostrando sua casa, seu bebê, sua felicidade.
A idealização de uma fórmula de felicidade inexistente, um espetáculo apresentado à
população brasileira, que, curiosamente, alimenta-se desses sonhos, ao mesmo tempo
em que (re)alimenta, continuamente, a máquina que a sustenta. Em tempos de
consumo, continua valendo a velha lei da oferta e da procura.
O momento presente aparece denominado de muitas maneiras na bibliografia
consultada - Hipermodernidade, Alta Modernidade, Pós-Modernidade, Pós-Humano,
Cibercultura, Era Digital e por aí em diante. Parece que no momento atual,
independente do nome que lhe dêem, o homem delegou ao amor o lugar de “tábua de
salvação”. O amor, que ainda circula envolto pelas expressões gastas da literatura
romântica, reafirmando idéias de um tempo tão distante, surge, ao mesmo tempo, em
cenas de sexo que vão ao ar cada vez mais cedo. E, nos intervalos entre os folhetins
televisivos, as propagandas contradizem nossa herança idealizada, mostrando modelos