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PATRICIA ALVES DE ALMEIDA
A CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO INTERVALADO
EM NATAÇÃO ADAPTADA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE E
QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS COM LESÃO MEDULAR
Dissertação apresentada à Universidade de
Franca, como exigência parcial para a obtenção
do título de Mestre em Promoção de Saúde.
Orientador: Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva.
Co-orientadora: Profa. Dra. Rosalina Carvalho
da Silva.
FRANCA
2009
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DEDICO: este trabalho as duas pessoas mais importantes da minha
vida, Rafaela e Isabela, aos meus pais e a todos aqueles profissionais
que atuam na promoção de saúde de pessoas com deficiência física.
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AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço a Deus pelas oportunidades a cada dia de transformação e de
conhecimento, e por ter colocado em meu caminho pessoas tão especiais, sem as quais eu não
teria cumprido essa fase importante da minha vida.
Ao meu orientador Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva, a quem eu aprendi a admirar,
não só pelo brilhante professor que é, mas também como pessoa, à qual serei eternamente
grata por ter me proporcionado a oportunidade de desenvolver minha pesquisa em Ribeirão
Preto;
A minha co-orientadora Profa. Dra. Rosalina Carvalho da Silva, pela inestimável
colaboração e disponibilidade na orientação da parte qualitativa deste estudo;
À Profa. Dra. Maria Georgina Marques Tonello, pelo estímulo e incentivo profissional
e, principalmente, por ter me direcionado para este Mestrado em Promoção de Saúde;
À Profa. Dra. Elizabeth de Mattos, pelo exemplo como profissional da área de Esporte
Adaptado e pelas valiosas sugestões;
Aos professores de estatística, Prof. Ms. Sérgio Arthur Campos e Prof. Dr. José
Eduardo Zaia, pela ajuda na análise estatística e pela paciência nos momentos de dúvidas;
À fisioterapeuta Valéria R. C. Barbosa, quem me encaminhou os voluntários para a
pesquisa e se tornou uma dedicada amiga de trabalho;
Ao Prof. Edson E. Pegrussi, professor de natação responsável pela piscina na qual
desenvolvi o estudo, pela disponibilidade e apoio durante todo o projeto de natação;
Ao estagiário de natação Gabriel M. Fernandes, a quem eu muitas vezes me referia
como “meu anjo Gabriel”, pela ajuda constante na coleta de dados;
Às secretárias, Renata e Mila, sempre bem humoradas e prestativas, pelo inestimável
auxílio com todos voluntários do estudo;
A todos aqueles profissionais que, em algum momento, colaboraram com a
concretização deste trabalho, em especial, a Profa. Dra. Mônica A. Morraye e ao Prof.
Matheus C. Dias, pela atenção e apoio;
A psicóloga Edna Cursino, pela coordenação do grupo focal e auxílio na parte
qualitativa da pesquisa;
Aos meus pais, pela minha formação, por terem me dado tudo o que julgaram ser o
melhor possível e por estarem ao meu lado em todas as situações;
Às minhas filhas, pela paciência e compreensão quando eu ficava horas no
computador trabalhando na minha dissertação;
À CAPES, pela bolsa de estudo, cujo apoio financeiro foi fundamental para a
realização deste estudo.
Enfim, um agradecimento muito especial e sincero a cada um dos voluntários. Atores
principais desta pesquisa: uns são hoje meus amigos, outros nos falamos sempre e todos
ficaram com carinho na minha lembrança.
A pior deficiência é a deficiência da alienação, do silêncio, que leva
os membros de uma sociedade que tem olhos, ouvidos, cérebro em
perfeitas condições, enfim corpos biologicamente perfeitos, a não
verem, a não ouvirem, a não entenderem e nem pensarem nas
necessidades dos seres humanos.
(Extraído do livro Para além do Corpo Deficiente – Histórias de Vida de Roberta
Gaio)
RESUMO
ALMEIDA, Patricia Alves de. A contribuição do treinamento intervalado em natação
adaptada na promoção de saúde e qualidade de vida de indivíduos com lesão medular. 2009.
170 f. Dissertação de Mestrado em Promoção de Saúde – Universidade de Franca, Franca.
Devido à incidência de problemas sociais, como a violência urbana, acidentes
automobilísticos e outros, aumenta a cada dia o número de pessoas com deficiência física
decorrente de lesão na medula espinhal. A predisposição desses indivíduos à condição de
sedentarismo, a doenças cardiovasculares e ao isolamento social prejudica profundamente sua
qualidade de vida. Dessa forma, o objetivo do estudo foi verificar a influência de um
programa de natação adaptada, em curto período de tempo, na contribuição da melhoria da
saúde e da qualidade de vida dessa população. Participaram do estudo 17 indivíduos com
lesão medular divididos em dois grupos: experimental (iniciantes em natação) e controle
(sedentários). Os sujeitos do grupo experimental foram avaliados e comparados com os do
grupo controle, antes e após a realização de um protocolo de treinamento intervalado de
natação adaptada, com algumas medidas antropométricas (massa corporal, IMC,
circunferências do braço e do abdômen, dobras cutâneas tricipital e supra-ilíaca) e
bioquímicas (glicemia, colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol e triglicérides). Além
disso, o grupo experimental foi avaliado, nas situações pré e pós-treinamento, com relação ao
estado de condicionamento físico e a percepção da qualidade de vida, saúde e benefícios do
programa de natação. Os resultados obtidos demonstraram que no grupo experimental houve
diminuição do tecido adiposo dos braços e da região abdominal, aumento do tecido muscular
dos membros superiores e aumento na dosagem de HDL-colesterol, evidenciando uma
melhora na fase pós-condicionamento, o que não ocorreu no grupo controle. Já com relação
às demais variáveis estudadas o protocolo não promoveu alterações significativas. Em relação
à análise do condicionamento físico, os resultados revelados pelo teste de esforço com a
utilização da Escala de Borg constataram a eficiência do protocolo de treinamento em elevar a
capacidade de deslocamento com a braçada do nado peito e melhorar significativamente
(p<0,001) a função cardiorrespiratória. Os resultados apresentados no questionário de
qualidade de vida WHOQOL-bref, após o programa de treinamento, demonstraram melhora
significativa (p<0,05) tanto no domínio relações sociais quanto na qualidade de vida global.
Através da utilização de métodos qualitativos para avaliar a percepção dos benefícios do
programa de natação, foi constatado que este proporciona não só benefícios físicos, mas
também em relação aos aspectos sociais e psicológicos desses indivíduos. Concluímos com o
estudo que a combinação de instrumentos de coleta de dados quantitativo e qualitativo
possibilitou-nos inferir que a prática regular de um protocolo de treinamento físico pode
contribuir para promoção de saúde e qualidade de vida de indivíduos com lesão medular.
Palavras-chave: lesão medular; natação; treinamento intervalado; promoção de saúde;
qualidade de vida.
ABSTRACT
ALMEIDA, Patricia Alves de. The Contribution of Swimming Interval Training to Health
Promotion and Quality of Life of Spinal Cord Injury Individuals. 2009. 170 f. Dissertação de
Mestrado em Promoção de Saúde – Universidade de Franca, Franca.
Due to the incidence of social problems such as urban violence and car accidents, among
others, the number of people with disabilities resulting from spinal cord injury is ever
growing. The fact that such individuals tend to lead sedentary lifestyles, develop coronary
heart diseases, and be socially isolated deeply affects their quality of life negatively. Thus, the
goal of this study was to assess the impact of an adapted short term swimming program, on
the quality of life of this population. Seventeen SCI subjects participated in the study, divided
into two groups: experimental (beginners in swimming) and control (sedentary). The subjects
in the experimental group were assessed and compared to those in the control group before
and after an adapted swimming interval training protocol through some anthropometric (body
mass, BMI, arm and waist circumference measures, and supra-iliac and triciptal cutaneous
folds) and biochemical (blood sugar, total cholesterol, HDL Cholesterol and LDL cholesterol
levels, and triglycerides level) measures. Furthermore, the former group was assessed before
and after the swimming training in relation to their physical fitness and quality of life
perception, health and benefits of the swimming program. The results obtained showed that
there was a reduction of fatty tissue in the arms and abdominal region, an increase of
muscular tissue in the upper limbs, and increased HDL cholesterol level-an evident
improvement in the post training stage, which did not occur in the control group. However,
the training protocol did not influence significantly the other variables studied. Regarding the
analysis of physical fitness, the results revealed through the Borg scale in endurance test
showed the efficacy of the training protocol to increase the ability to move by breast stroke
and significantly (p<0,001) improve cardio respiratory functions. The results from the
WHOQOL-bref quality of life questionnaire, after the training program, presented a
significant improvement (p<0, 05) both in social relations and in global quality of life. By
employing quantitative methods to assess the perception of benefits from the program, we
noticed that it did not only provide physical benefits but also social and psychological ones as
long as SCI individuals are concerned. In conclusion, through this study using a combination
of tools for qualitative and quantitative data collection we could infer that doing a regular
physical training protocol can contribute to health promotion and quality of life in SCI
individuals.
Key Words: Spinal, cord injury, interval training, health promotion, quality of life.
LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS
ACSM: American College of Sports Medicine
ASIA: American Spinal Injury Association
ATP: Trifosfato de Adenosina
bpm: Batimentos por minuto
CA: Circunferência Abdominal
CB: Circunferência do Braço
CID-10: Código Internacional de Doenças
CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
Coord: Coordenadora do Grupo Focal
CP: Fosfato de Creatina
CT: Colesterol Total
CV: Coeficiente de Variação
DP: Desvio Padrão
DSI: Dobra Cutânea Supra-Ilíaca
DT: Dobra Cutânea Tricipital
FC: Frequência Cardíaca
GC: Grupo Controle
GE: Grupo Experimental
GLI: Glicemia
HDL: Fração Colesterol-HDL (lipoproteína de alta densidade)
IMC: Índice de Massa Corporal
IPE: Índice de Percepção de Esforço
Kg: Kilos
LDL: Fração Colesterol-LDL (lipoproteína de baixa densidade)
LM: Lesão Medular
m: Metros
m²: Metro ao quadrado
mg/dl: Miligramas por decilitros
mm: Milímetros
OMS: Organização Mundial de Saúde
Q1: Questão genérica sobre qualidade de vida do questionário WHOQOL-
bref
Q2: Questão genérica sobre saúde do questionário WHOQOL-bref
QV: Qualidade de Vida
PDF: Pessoas com Deficiência Física
p: Probabilidade de erro tipo 1
r: Coeficiente de Correlação
s: Segundos
S: Classificação funcional da natação para os nados livre, costas e
borboleta
SB: Classificação funcional da natação para o nado peito
SM: Síndrome Metabólica
TC: Treinamento Contínuo
TI: Treinamento Intervalado
TRI: Triglycerides
VO
2
Volume de Oxigênio
WHOQOL- bref: Questionnaire World Health Organization Quality of Life Abbreviated
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Casuística do Grupo Experimental
Tabela 2 – Casuística do Grupo Controle
Tabela 3 – Distribuição de freqüência dos sujeitos do GC e do CE de acordo
com algumas características gerais verificadas na Anamnese
Tabela 4 – Dados Antropométricos do Grupo Controle
Tabela 5 – Dados Antropométricos do Grupo Experimental
Tabela 6 – Coeficiente de Variação dos dados Antropométricos do GC e do
GE
Tabela 7 – Média, desvio padrão e significância estatística das Variáveis
Antropométricas no GC e no GE, nas fases de avaliação e reavaliação
Tabela 8 – Classificação da amostra para o IMC
Tabela 9 – Matriz dos coeficientes de correlação de Pearson e seus
respectivos níveis de significância dos dados antropométricos para o GE
Tabela 10 – Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas
no GC
Tabela 11 – Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas
no GE
Tabela 12 – Número de indivíduos que apresentou valores fora do limite de
normalidade para as variáveis bioquímicas estudadas em ambos os grupos
Tabela 13 – Comparação das médias e desvio padrão da análise bioquímica
do GC e do GE
Tabela 14 – Valores individuais, variações, médias e desvio padrão das
variáveis no 1º e no 2º Teste de Esforço no GE
Tabela 15 – Valores individuais, médias e desvio padrão da FC e da Escala
de Borg obtidos no Teste de Esforço
Tabela 16 - Resultados do WHOQOL-bref do Grupo Experimental
65
66
88
89
89
90
91
92
94
95
96
97
99
101
104
109
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS
Figura 1 – Regiões da coluna vertebral.
Figura 2 - Posicionamento da cadeira em cima da balança.
Figura 3 - Medida da circunferência do braço.
Figura 4 - Ponto de medida da dobra triciptal.
Figura 5 - Colete de Flutuação
Figura 6 - Escala de Percepção Subjetiva de Esforço.
Figura 7 - Braçada do nado peito.
Figura 8 - Braçada no nado costas.
Gráfico 1 – Comparação da distância média (m) percorrida nos testes de
avaliação do condicionamento físico.
Gráfico 2 – Comparação do tempo médio (s) de duração nos testes de
avaliação do condicionamento físico.
Gráfico 3 - Comparação dos resultados médios obtidos na Escala de
Borg nos testes de avaliação do condicionamento físico.
22
69
70
71
71
72
74
74
102
103
104
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................14
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................16
1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 DEFICIÊNCIA FÍSICA
1.1.1 Terminologia sobre deficiência.....................................................................................19
1.1.2 Definição.......................................................................................................................20
1.2 LESÃO MEDULAR
1.2.1 Conceito e Anatomia ....................................................................................................21
1.2.2 Etiologia e Incidência....................................................................................................23
1.2.3 Classificação Funcional................................................................................................24
1.2.4 Classificação Neurológica ............................................................................................25
1.2.5 Classificação Clínica.....................................................................................................26
1.2.6 Classificação Esportiva.................................................................................................26
1.2.7 Significado Funcional do Nível de Lesão Medular.......................................................28
1.2.8 Complicações decorrentes da Lesão Medular ..............................................................30
1.3 SÍNDROME METABÓLICA.......................................................................................36
1.4 EXERCÍCIO FÍSICO E PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA PDF................................38
1.5 CONDICIONAMENTO FÍSICO..................................................................................40
1.6 TREINAMENTO INTERVALADO............................................................................42
1.7 SISTEMAS ENERGÉTICOS AERÓBIO E ANAERÓBIO .......................................44
1.8 ANTROPOMETRIA E COMPOSIÇÃO CORPORAL...............................................46
1.9 NATAÇÃO ADAPTADA
1.9.1 Fase Inicial de Aprendizagem da Natação....................................................................50
1.9.2 Planejamento e Objetivos.............................................................................................51
1.9.3 Benefícios da Prática da Natação aos Indivíduos com Lesão Medular........................53
1.10 PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
1.10.1 Conceitos.......................................................................................................................55
1.10.2 WHOQOL-bref – Instrumento para Avaliar a Qualidade de Vida ..............................57
1.11 AJUSTAMENTO PSICOSSOCIAL
1.11.1 Fase de Reabilitação......................................................................................................60
1.11.2 A contribuição do Exercício Físico e do Esporte..........................................................61
2 OBJETIVOS................................................................................................................63
3 METODOLOGIA
3.1 AMOSTRA...................................................................................................................64
3.2 DIVISÃO DOS GRUPOS AMOSTRAIS.....................................................................65
3.3 LOCAL..........................................................................................................................66
3.4 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 1 e 2....................................................66
3.4.1 Bioquímica Sangüínea...................................................................................................67
3.4.2 Antropometria...............................................................................................................68
3.4.3 Adaptação ao meio líquido............................................................................................71
3.4.4 Teste de Esforço............................................................................................................71
3.4.5 Protocolo de Treinamento.............................................................................................73
3.5 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 3 a 5....................................................75
3.5.1 Questionário WHOQOL-bref........................................................................................75
3.5.2 Abordagem Metodológica Qualitativa..........................................................................76
3.5.3 Entrevista com questão aberta.......................................................................................78
3.5.3.1Procedimentos para a coleta de dados da entrevista......................................................78
3.5.4 Grupo Focal..................................................................................................................79
3.5.4.1Procedimentos para a coleta de dados do grupo focal...................................................80
4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO....................................................................................81
5 ANÁLISE ESTATÍSTICA.........................................................................................83
6 ANÁLISE QUALITATIVA.......................................................................................85
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 1 e 2
7.1 ANAMNESE.................................................................................................................87
7.2 ANTROPOMETRIA.....................................................................................................88
7.3 ANÁLISE BIOQUÍMICA............................................................................................95
7.4 ESTADO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO.........................................................100
8 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 3 a 5
8.1 QUESTIONÁRIO WHOQOL-BREF.........................................................................108
8.2 CATEGORIZAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE.................................112
8.3 CATEGORIZAÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA NATAÇÃO......................................120
CONCLUSÕES.....................................................................................................................127
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................129
REFERÊNCIAS....................................................................................................................130
ANEXOS................................................................................................................................144
APÊNDICES..........................................................................................................................150
14
APRESENTAÇÃO
O meu primeiro contato com pessoas que apresentam algum tipo de deficiência física
foi em um estágio em natação adaptada que realizei na Escola de Educação Física e Esporte
da Universidade de São Paulo. Na época, eu era formada em Psicologia e cursava o 2º ano de
Educação Física. Estava procurando um sentido diferente para minha profissão quando fiquei
sabendo desse trabalho coordenado pela Professora Dra. Elizabeth de Mattos, hoje
denominado Natação Inclusiva.
Durante oito meses de estágio, pude entender um pouco a importância da prática da
natação para aqueles indivíduos com as mais variadas dificuldades. Estas não se restringiam
apenas à imobilidade ou à falta de algum membro, nem a movimentos descoordenados e
imprecisos. As dificuldades eram, sobretudo, decorrentes da baixa auto-estima e da falta de
oportunidade de participação social.
Percebi que as barreiras arquitetônicas somadas às barreiras impostas pelo
preconceito prejudicavam profundamente a qualidade de vida de indivíduos com deficiência
física.
Finalizei a graduação com o Trabalho de Conclusão de Curso sobre os benefícios da
natação aos indivíduos com lesão medular. Quando ingressei no mestrado em Promoção de
Saúde tinha como meta pesquisar mais profundamente sobre esse tema e implantar em
Ribeirão Preto um programa de natação para pessoas com deficiência física nos mesmos
moldes que o Programa de Natação Inclusiva.
O grande desafio da minha pesquisa foi criar” um grupo que não existia, ou seja,
reunir o maior número possível de pessoas com lesão medular para praticar natação durante
várias semanas. Foram meses recrutando sujeitos por meio de panfletos espalhados pela
cidade e por encaminhamentos da Clínica de Fisioterapia da Unaerp e da Terapia Ocupacional
do Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas.
O grupo de voluntários para a pesquisa se formou e, o que já era previsto, a falta de
transporte coletivo adaptado à cadeira de rodas se tornou o principal obstáculo para
viabilização do estudo. Depois de várias tentativas frustradas para conseguir ajuda da
15
prefeitura com relação a essa questão, resolvi contratar uma van para fazer o transporte dos
sujeitos todos os dias de avaliação e treinamento da natação.
Ao contrário das dificuldades iniciais, a fase de coleta de dados contou com a
colaboração de vários profissionais, em especial do Prof. Dr. Cassiano M. Neiva, sem o qual
não seria possível realizar esse trabalho, não só por sua competência como orientador, mas
pela oportunidade que ofereceu a todos nós, sujeitos e profissionais, de desenvolvermos a
pesquisa em Ribeirão Preto.
No transcorrer do programa de natação, dei conta da proporção que aquela atividade
estava tomando na vida de cada um dos sujeitos. A convivência semanal facilitou a criação de
vínculos entre os componentes do grupo que viam no esporte uma oportunidade de se
relacionarem, de saírem de uma situação de isolamento social para outra onde se sentiam
aceitos e capazes.
O estudo terminou com o início da época de frio e chuva. Depois de alguns meses, uns
voltaram a fazer natação por conta própria, outros não conseguiram transporte para continuar
indo até a Unaerp e dois sujeitos que não interromperam o treinamento, mesmo após o
término do programa, conquistaram medalhas nos Jogos Regionais de Jaboticabal e Jogos
Abertos de Piracicaba de 2008.
Esta pesquisa significou pra mim não só a possibilidade de obtenção do título de
mestre, mas, acima de tudo, a possibilidade de aprender que, em uma pesquisa experimental
como esta, interferimos na vida das pessoas envolvidas no estudo. O sujeito não é só um
sujeito de uma pesquisa, ele tem uma história, expectativas e receios. E nós, pesquisadores,
em algum momento, fazemos parte dessa história e podemos proporcionar, por meio de uma
intervenção, novas experiências, novas formas de enfrentar a realidade com novas esperanças.
16
INTRODUÇÃO
Atualmente, o conceito de Promoção de Saúde vem sendo desenvolvido dentro de uma
perspectiva de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e
saúde, incluindo mais participação no controle desse processo. É essencial reorientar os
serviços de saúde e os recursos disponíveis para focalizar as necessidades globais do
indivíduo, como pessoa integral que é, preparando-o para as diversas fases da existência, o
que inclui o enfrentamento das doenças crônicas e causas externas (CARTA DE OTTAWA,
1986).
Devido à incidência de problemas sociais, como a violência urbana, acidentes
automobilísticos e outros, aumenta a cada dia o número de pessoas com deficiência física
decorrente de lesão na medula espinhal. A lesão medular é uma grave síndrome neurológica
caracterizada por comprometimentos da motricidade, sensibilidade e distúrbios
neurovegetativos dos segmentos do corpo localizados abaixo do nível da lesão (MENDES e
ARAÚJO, 2006). A redução das possibilidades de inserção no mercado de trabalho, a
predisposição desses indivíduos à condição de sedentarismo e perda de vitalidade prejudica
profundamente sua qualidade de vida (SILVA et al., 2004).
Segundo Kocina (1997), a ausência de exercícios físicos gerada pela imobilização dos
membros inferiores conduz a mudanças na composição corporal, tais como: redução do
conteúdo de mineral ósseo, da massa muscular esquelética e da água corporal
concomitantemente com o aumento da gordura corporal. Essas mudanças na composição
corporal geralmente são associadas com o desequilíbrio da taxa metabólica (redução da
concentração plasmática de HDL, aumento do colesterol total e de LDL; resistência à
insulina) que somados ao estado sedentário podem resultar em obesidade, diabetes mellitus e
doenças cardiovasculares.
Dentre as patologias com alta prevalência na população de deficientes físicos,
conforme Haddad (1997) coloca, estão as doenças cardiovasculares e outras associadas ao
estado de inatividade física que se configura na Síndrome Metabólica. Segundo Ciolac e
Guimarães (2004, p. 319), a síndrome metabólica é caracterizada pelo agrupamento de
17
fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial, resistência à insulina, intolerância à
glicose/diabetes tipo 2, obesidade central e dislipidemia.
De acordo com Vall et al. (2006), centros de pesquisa do mundo inteiro vêm
realizando estudos sobre qualidade de vida em diversas condições, com o intuito de promover
intervenções que venham ao encontro a sua melhoria, fato este que se estende aos indivíduos
com lesão medular.
Assim, Silva et al. (2005) afirmam que a prática da natação pode ser usada como uma
estratégia de redução do peso corporal, auxiliando na prevenção de problemas decorrentes do
excesso de peso, combatendo a obesidade que é um obstáculo à conquista da autonomia e da
melhora da qualidade de vida. Além dos benefícios físicos, Hanson et al. 2001 destacam os
efeitos positivos da prática regular de exercícios nos aspectos sociais e psicológicos, à medida
que contribui para a melhora da integração social e do estado mental de indivíduos com lesão
medular.
A natação é considerada por vários autores como um exercício que traz muitos
benefícios aos indivíduos com deficiência física, em especial aos paraplégicos, na medida em
que lhes propicia o abandono temporário de próteses, cadeira de rodas e muletas, e,
consequentemente, a vivência da liberdade de movimento. Em decorrência disso, a natação
apresenta um valor psicológico positivo ao propiciar essa movimentação sem entraves
(PAESLACK, 1978; MEIER, 1981; YMCA, 1987; ADAMS et al.,1985; MAUERBERG-
deCASTRO, 2005; GORGATTI e TEIXEIRA, 2008).
Entre os métodos mais comuns de treinamento da natação destacam-se os métodos:
contínuo, intervalado e fartlek. O treinamento intervalado, segundo McArdle et al. (2003), é o
programa de exercícios em que ocorre um espaçamento dos períodos de trabalho e de
recuperação. Wilmore e Costill (2001) colocam que o método intervalado pode produzir
praticamente os mesmos benefícios que um treinamento contínuo, tendo a vantagem de não
ser considerado monótono como o treinamento contínuo, devido às mudanças de intensidade e
de tempo de trabalho/recuperação.
Além disso, Sabia (2003) complementa que uma das grandes vantagens do
treinamento intervalado sobre o treinamento contínuo reside no fato de o indivíduo conseguir
realizar intermitentemente a mesma quantidade de trabalho e com a mesma intensidade como
se o tivesse feito continuamente, porém o grau de fadiga após o exercício intermitente seria
consideravelmente menor. Fato este que o considera mais adequado para indivíduos iniciantes
em programas de exercícios físicos, pois o mesmo deve ser de natureza progressiva e não
18
incluir rapidamente um alto dispêndio de energia para não causar resistência ao treinamento
por parte dos praticantes.
Qualidade de vida, segundo Vall et al. (2006), é uma expressão de natureza muito
debatida entre pesquisadores de diferentes áreas e ocupa cada vez mais espaço na política da
saúde e da população. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (THE WHOQOL
GROUP, 1995), qualidade de vida é a percepção do indivíduo em relação a sua posição na
vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Essa definição pressupõe seis domínios
principais: saúde física, estado psicológico, níveis de independência, relacionamento social,
características ambientais e padrão espiritual.
Assim, a atual concepção de saúde engloba a concepção qualidade de vida, não se
atendo simplesmente a ausência de doença. A saúde deixa de ser um estado estático,
biologicamente definido, para ser compreendida como um estado dinâmico, socialmente
produzido. Nesse marco, uma intervenção nesse sentido visa não apenas a diminuir o risco de
doenças, mas a aumentar as possibilidades de saúde e de assegurar meios para que ampliem a
percepção de qualidade de vida (BUSS, 2000).
Shephard (1991) ressalta que se a percepção sobre a saúde melhora, com a redução no
risco de muitas doenças crônicas, há mais probabilidade de aumentar a produtividade de
indivíduos com deficiência física. Assim, o investimento em programas de atividades físicas
que promovam a saúde para essa população tem o potencial de gerar menor custo para o
indivíduo, para a sociedade e para a saúde pública.
Partindo da premissa que a melhora do condicionamento físico contribui para
promoção de saúde e qualidade de vida de indivíduos com lesão medular, conforme sugere a
literatura (CHATARD et al., 1992 ; JANSSEN et al., 1997; DURÁN et al., 2001; JANSSEN
et al., 2002; JACOBS e NASH, 2004; SILVA et al., 2004; BIZZARINI et al., 2005;
CAPOOR e STEIN, 2005; SILVA et al., 2005; ZOELLER et al., 2005; HAISMA et al., 2006;
LAVIS e SCELZA, 2007), propomos elaborar um programa de natação para verificar se um
treinamento intervalado, em curto período de tempo, é capaz de promover em indivíduos com
lesão medular, iniciantes em natação, a melhora do condicionamento físico, de algumas
variáveis antropométricas e bioquímicas, e, conseqüentemente, o aumento da percepção de
saúde e qualidade de vida dos mesmos.
19
1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 DEFICIÊNCIA FÍSICA
1.1.1Terminologia sobre deficiência
Não existe um único termo correto de como chamar o deficiente físico. Em cada
época e cultura, utilizam-se termos cujo significado seja compatível com os valores vigentes
de determinada sociedade, enquanto esta evolui em seu relacionamento com as pessoas que
possuem este ou aquele tipo de deficiência. Aquele que tinha deficiência era tido como
socialmente inútil, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem
valor profissional. Termos como aleijado, defeituoso, incapacitado e inválido eram
utilizados com frequência até a década de 80 (Sassaki, 2005).
A partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes,
começa-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão pessoa deficiente. O acréscimo
da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente para a função de adjetivo, foi uma grande
novidade na época. Aos poucos, entrou em uso a expressão pessoa portadora de deficiência,
frequentemente, reduzida para portadores de deficiência (Sassaki, 2005).
Por volta da metade da década de 1990, entrou em uso a expressão pessoas com
deficiência, que permanece até os dias de hoje. Atualmente, em nossa sociedade, existem
alguns valores agregados à pessoa com deficiência como o “empoderamento (uso do poder
pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle da situação de cada um) e a
responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a sociedade rumo à inclusão de
todas as pessoas, com ou sem deficiência (Sassaki, 2005).
O reflexo dessa mudança de paradigma encontra-se no próprio modelo de
classificação das deficiências da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com
Battistella e Brito (2002), em 2001, foi elaborado pela OMS a Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF, antigamente CIDID - Classificação
20
Internacional de Deficiências, Incapacidade e Desvantagens) com a finalidade de registrar e
organizar uma ampla gama de informações relacionadas a diferentes estados de saúde.
A CIF complementa, com suas informações de funcionalidade, a CID-10 (Código
Internacional de Doenças), que apenas classifica e registra a enfermidade sem avaliar o
impacto da doença sobre o indivíduo. Segundo a OMS, a CID-10 e a CIF são
complementares, pois a informação sobre o diagnóstico acrescido da funcionalidade fornece
um quadro mais amplo sobre a saúde do indivíduo ou populações (BATTISTELLA e BRITO,
2002).
Farias e Buchalla (2005) colocam que o termo funcionalidade substitui termos como
incapacidade, deficiência, invalidez e desvantagem, e amplia seu significado para incluir
experiências positivas registrando a potencialidade da pessoa com deficiência. A CIF mede a
capacidade desses indivíduos em superar diferentes níveis de dificuldades relacionadas às
tarefas do cotidiano. Ela não foi criada apenas para registrar a funcionalidade relacionada à
incapacidade física ou sensorial, mas também, para registrar parte das limitações de caráter
emocional e social, descrevendo o impacto transitório ou definitivo decorrente das
enfermidades.
Segundo esse modelo, a incapacidade é resultante da interação entre a disfunção
apresentada pelo indivíduo (seja orgânica e/ou da estrutura do corpo), a limitação de suas
atividades e a restrição na participação social, e dos fatores ambientais que podem atuar como
facilitadores ou barreiras para o desempenho dessas atividades e da participação na sociedade
(FARIAS e BUCHALLA, 2005).
A característica mais importante da CIF está na possibilidade de mensurar o impacto
da doença sobre o indivíduo, sobre seu meio ambiente e sua qualidade de vida (QV). Ou seja,
mede a QV pela funcionalidade e pela condição sociocultural em que o indivíduo está
inserido, constituindo assim um instrumento importante para avaliação das condições de vida
e para a promoção de políticas de inclusão social (FARIAS e BUCHALLA, 2005).
1.1.2 Definição
De acordo com o Decreto nº 5.296 de 2004, o Ministério da Saúde define como
deficiência física:
21
... A alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,
acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de
paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,
triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de
membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades
para o desempenho de funções.
Mattos (1994) sugere a classificação quanto à natureza, ao tempo de duração e à
evolução dos distúrbios motores.
Quanto à natureza: ortopédicos – referem-se aos problemas dos músculos, ossos e/ou
articulações; neurológicos – referem-se às deteriorações ou lesões do sistema nervoso central,
como as lesões medulares, que podem ter origens diversas.
Quanto ao tempo de duração: congênitos ou adquiridos.
Quanto à evolução: progressivos (ex: esclerose múltipla, distrofia muscular),
permanentes (ex: paralisia cerebral, lesão medular) ou crônicos (ex: artrite).
A autora cita ainda alguns exemplos que podem levar à deficiência física: Espinha
Bífida, Amputação, Nanismo, Malformação Congênita, Osteogênese Imperfeita, Distrofia
Muscular, Poliomielite, Paralisia Cerebral, Acidente Vascular Cerebral, Lesões Medulares e
outros.
1.2 LESÃO MEDULAR
1.2.1 Conceito e Anatomia
A lesão na medula espinhal é uma grave síndrome incapacitante caracterizada pela
paralisia dos segmentos e déficit sensitivo, superficial e profundo, abaixo no nível lesionado,
pelas disfunções vasomotoras e alterações autonômicas, pelas alterações esfincterianas e pela
disfunção sexual (GREVE e CASTRO, 2001).
A coluna vertebral pode ser dividida em cinco regiões, segundo sua estrutura
anatômica e neurológica. Cada um dos segmentos dá origem a um par de nervos espinhais,
que fazem parte do sistema nervoso periférico. Regiões da coluna vertebral (Figura 1):
cervical (constituída por 7 vértebras), torácica (constituída por 12 vértebras), lombar
22
(constituída por 5 vértebras), sacral (formada pela fusão de 5 vértebras) e coccígea (formada
pela fusão de 4 a 5 vértebras) (GRAY, 1988).
A coluna vertebral serve como duto e proteção da medula espinhal que se divide em:
medula cervical, dorsal, lombar e cauda equina (sacral). Da medula espinhal saem: 31 pares
de nervos, divididos em: 8 pares de nervos cervicais, 12 pares de nervos dorsais, 5 pares de
nervos lombares, 5 pares de nervos sacros e 1 par de nervos coccígeos. Os nervos espinhais
se constituem de uma raiz anterior (função motora) e outra posterior (função sensorial) que,
unidas, formam um tronco, cuja função é transmitir tanto impulsos sensitivos quanto motores.
Além dessas raízes, cada nervo espinhal tem uma raiz do simpático, com funções ligadas ao
sistema vegetativo (GUYTON, 2006).
Figura 1 – Regiões da coluna vertebral
A estrutura neurológica da medula espinhal permite a ela conduzir e transmitir
estímulos sensitivos e receber estímulos motores. A medula espinhal se constitui num centro
nervoso, pois nela também são elaborados vários atos reflexos, que asseguram o tônus
muscular, o trofismo, o controle dos esfíncteres (vesical e retal), as funções genitais e as
funções simpáticas. Com relação a esta última, é importante complementar que o sistema
nervoso autônomo, auxiliado por vários núcleos do tronco cerebral, regula as funções vitais
tais como: a regulação térmica, a respiração, a circulação sanguínea, a procriação, etc.
(GUYTON, 2006).
23
O sistema nervoso autônomo é formado pelos nervos simpáticos e parassimpáticos.
Como as fibras do simpático têm sua origem nos cornos laterais da medula torácica e dos
segmentos superiores da coluna lombar (T1 a T2; L1 e L2), e as fibras do parassimpático têm
sua origem nos núcleos do tronco cerebral e na medula sacra, (S2, S3 e S4), estabelece-se uma
profunda relação entre as lesões da medula espinhal e as afecções do sistema nervoso
autônomo (GUYTON, 2006).
1.2.2 Etiologia e Incidência
Segundo Schmitz (2004), quanto à etiologia, as lesões da medula espinhal podem ser
basicamente divididas em duas categorias: lesão traumática e lesão não-traumática. A
primeira resulta de danos causados por algum evento traumático como, por exemplo, um
acidente automobilístico, uma queda ou um ferimento por arma de fogo. Conforme Palmer e
Toms (1988) relatam, o trauma é uma das causas mais comuns de lesão da medula espinhal,
podendo ocorrer tanto por compressão como por contusão.
As lesões de etiologias traumáticas, destacadas por Lianza et al. (2001), constituem
80% das lesões. Elas podem se originar de ferimentos penetrantes por faca ou bala, que são as
fraturas com deslocamento resultando numa transecção de medula, seccionando diretamente
os neurônios medulares. As fraturas-luxações, provocadas por acidentes de trânsito, mergulho
em águas rasas, esportes, quedas e acidentes de trabalho, são decorrentes principalmente de
esmagamento, hemorragia e edema.
Já as lesões não-traumáticas, que incidem sobre a população adulta, resultam
geralmente de uma doença ou influência patológica (SCHMITZ, 2004). Entre as causas não-
traumáticas de lesão (20%) na medula espinhal destacam-se as tumorais, as infecciosas (como
abscessos na medula espinhal e mielites, por exemplo), as vasculares (trombose e embolia), as
degenerativas (espondilose), malformações (como a mielomeningolcele, por exemplo) e
outras afecções como hérnias discais, estenose de canal e siringomielia (LIANZA et al.,
2001).
A lesão medular (LM) incide, sobretudo, em jovens de 18 a 40 anos, do sexo
masculino, sendo a principal etiologia traumática, causada por acidentes de trânsito,
ferimentos por arma de fogo e mergulhos (GREVE, 1999).
24
Embora não se tenha dados nacionais sobre a incidência da LM, algumas pesquisas
são realizadas regionalmente. De acordo com achados de Mendes e Araújo (2006), 88% das
lesões pesquisadas ocorreram em decorrência de traumas e 12% foram de origem não-
traumática. Das lesões traumáticas, 36% foram causadas por acidente de trânsito, 32% dos
pacientes foram vítimas de projéteis de arma de fogo, 12% dos pacientes tiveram a lesão em
consequência de quedas e apenas 8% dos casos foram registrados por mergulho em água rasa.
Pesquisas da Rede Sarah (2000) realizadas em Brasília, no período de 1999 a 2000, os
acidentes de trânsito (38,5%) constituíram-se no principal evento gerador de lesões
medulares, cerebrais, ortopédicas e neurológicas, seguidos pelas quedas (15,6%) e em terceiro
lugar as agressões por arma de fogo (13,2%). No Hospital Sarah-Salvador, os acidentes de
trânsitos (38%) mantiveram o primeiro lugar de internação por causas externas, as agressões
por arma de fogo (27,5%) ocuparam a segunda posição, seguindo-se as quedas (21,6%).
1.2.3 Classificação Funcional
O dano da medula espinhal, quer seja resultante de acidente traumático ou doença,
pode produzir tetraplegia ou paraplegia, parcial ou completa, dependendo do nível em que
ocorreu a lesão.
As lesões medulares apresentam duas categorias funcionais: tetraplegia e paraplegia.
Na paraplegia ocorre a paralisia parcial ou completa do tronco, ou parte dele, e de ambos os
membros inferiores, como consequência de uma lesão na medula espinhal torácica ou lombar
ou nas raízes sacrais. A tetraplegia refere-se à paralisia, parcial ou completa dos quatro
membros e do tronco, inclusive dos músculos respiratórios, resultante de lesões na medula
cervical (SCHMITZ, 2004).
De acordo com Souza (1994), conforme o grau de comprometimento da lesão, fala-se
em paresia ou em paralisia. O termo paresia refere-se a um comprometimento parcial, no qual
o movimento fica apenas limitado ou fraco. O indivíduo apresenta, abaixo do nível de lesão,
um padrão abaixo do normal no que se refere à força muscular, à precisão e à amplitude do
movimento, e à resistência muscular localizada. Schmitz (2004) esclarece que, nesses casos,
algum tecido nervoso viável está passando pela região lesionada indo para segmentos mais
distais. O quadro clínico apresentado pelas lesões incompletas é imprevisível devido à mescla
25
de funções sensitivas e motoras, abaixo do nível da lesão, com padrões variáveis de
recuperação.
Numa lesão completa, ocorre a paralisia, ou seja, todo o movimento é impossível.
Abaixo do nível de lesão, há uma perda da capacidade de contração muscular voluntária, por
interrupção funcional ou orgânica em um ponto qualquer da via motora, podendo ir do córtex
cerebral até o próprio músculo (SOUZA, 1994). Além da função motora, não há preservação
de nenhuma função sensitiva. A paralisia é causada por uma transecção completa, compressão
grave ou intensa deterioração vascular à medula. (SCHMITZ, 2004).
1.2.4 Classificação Neurológica
Greve e Castro (2001) esclarecem que a medula espinhal faz a comunicação das
informações motoras e sensitivas entre o cérebro e os órgãos periféricos efetores. Os axônios
dos neurônios sensitivos entram na medula, enquanto os axônios dos neurônios motores a
deixam através de raízes nervosas. Essas raízes são numeradas e nomeadas de acordo com o
forame vertebral através do qual penetram ou deixam a coluna. Cada raiz nervosa recebe
informações de áreas da pele (dermátomos) e inerva dois ou mais músculos, cujo conjunto
inervado por uma mesma raiz recebe o nome de miótomo. Dessa forma, a lesão na medula
espinhal altera essa comunicação, ou seja, altera a condução nervosa das informações
sensitivas e motoras através da área lesionada.
Para determinar de forma precisa e correta os níveis de lesão da medula espinhal, é
necessário que se tenha uma visão clara da função sensitivo-motora comprometida e
preservada do indivíduo lesionado. O exame neurológico para determinar os níveis
neurológicos, motor e sensitivo deve constar da análise dos pontos sensitivos (em cada um
dos 28 dermátonos à direita e à esquerda do corpo humano) e da força muscular (em 10
miótomos à direita e à esquerda).
O exame sensitivo é realizado por meio do teste de pontos-chave em cada um dos 28
dermátonos, do lado direito e do lado esquerdo, sob dois aspectos: sensibilidade tátil e
dolorosa. O resultado é classificado em uma escala de 3 pontos: 0 (inexistente); 1
(sensibilidade parcial ou alterada); 2 (normal); NT (não testável). No exame motor dos
músculos-chave em cada lado do corpo nos 10 miótomos, a escala é composta por graus: 0
(paralisia total); 1 (contração palpável ou visível); 2 (movimentação ativa sem a ação da força
26
da gravidade); 3 (movimentação ativa contra a força da gravidade); 4 (movimentação ativa
contra uma resistência moderada); 5 (movimentação ativa normal, total amplitude de
movimento contra grande resistência); NT (não testável).
1.2.5 Classificação Clínica
A American Spinal Injury Association (ASIA, 1994) descreveu uma escala de
deficiência para a definição da extensão das lesões medulares, que se vale da avaliação
motora e sensitiva:
A - Lesão Completa: sem preservação sensitiva ou motora nos segmentos sacrais S4 e S5.
B - Lesão Incompleta: preservação sensitiva não-motora abaixo do nível neurológico até os
segmentos sacrais S4-S5.
C - Lesão Incompleta: preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos
músculos-chave abaixo desse nível com grau menor que 3.
D - Lesão Incompleta: preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos
músculos-chave abaixo desse nível com grau maior ou igual a 3.
E - Normal: funções motora e sensitiva normais.
1.2.6 Classificação Esportiva
Segundo o Comitê Paraolímpico Internacional, os atletas pertencem a seis grupos no
Movimento Paraolímpico: atletas com paralisia cerebral; atletas com LM; atletas com
amputação; atletas com deficiência visual; atletas com deficiência mental e les autres (inclui
todos os atletas com alguma deficiência de mobilidade não incluída nos outros grupos)
(INTERNATIONAL PARALYMPICS COMMITTEE, 2008a).
Cada modalidade esportiva tem um sistema de classificação que é definido de acordo
com as demandas motoras da mesma e fazem parte das regras de cada modalidade. Elas são
determinadas por uma variedade de processos, que podem incluir uma avaliação física, uma
avaliação técnica e observações dentro e fora de competição (INTERNATIONAL
PARALYMPICS COMMITTEE, 2008a).
27
A natação adaptada tem sua classificação própria que é determinada pelo grau de
deficiência neurológica e de habilidade funcional do indivíduo. Os competidores com
disfunção no aparelho locomotor são classificados segundo suas capacidades para nadar cada
estilo (PÉREZ, 1994).
De acordo com o Comitê Paraolímpico Brasileiro (2008), o atleta é submetido à
equipe de classificação, que procederá a análise de resíduos musculares por meio de testes de
força muscular; mobilidade articular e testes motores (realizados dentro da água), em que vale
a regra de que quanto maior a deficiência, menor o número da classe.
As classes sempre começam com a letra S (swimming) e o atleta pode ter
classificações diferentes para o nado peito (SB) e o medley (SM). Para os nadadores com
limitações físico-motoras, as classes são categorizadas da seguinte forma: S1 a S10 / SB1 a
SB9 / SM1 a SM10 (COMITÊ PARAOLÍMPICO BRASILEIRO, 2008a). Nas provas medley
(SM), aplica-se a seguinte fórmula matemática: SM = (3xS + 1xSB) ÷ 4 (INTERNATIONAL
PARALYMPICS COMMITTEE, 2008b).
Exemplos de padrões motores da classificação funcional da natação (PENAFORT,
2001 apud PARAOLÍMPICOS DO FUTURO):
S1 – Lesão medular completa abaixo de C4/5, ou pólio comparada, ou paralisia cerebral
quadriplégico severo e muito complicado;
S2 – Lesão medular completa abaixo de C6, ou pólio comparada, ou paralisia cerebral
quadriplégico grave com grande limitação dos membros superiores;
S3 – Lesão medular completa abaixo de C7, ou lesão medular incompleta abaixo de C6, ou
pólio comparada, ou amputação dos quatro membros;
S4 – Lesão medular completa abaixo de C8, ou lesão medular incompleta abaixo de C7, ou
pólio comparada, ou amputação de três membros;
S5 – Lesão medular completa abaixo de T1-8, ou lesão medular incompleta abaixo de C8, ou
pólio comparada, ou acondroplasia de até 130 cm com problemas de propulsão, ou paralisia
cerebral de hemiplegia severa;
S6 – Lesão medular completa abaixo de T9-L1, ou pólio comparada, ou acondroplasia de até
130 cm, ou paralisia cerebral de hemiplegia moderada;
S7 – Lesão medular abaixo de L2-3, ou pólio comparada, ou amputação dupla abaixo dos
cotovelos, ou amputação dupla acima do joelho e acima do cotovelo em lados opostos;
S8 – Lesão medular abaixo de L4-5, ou pólio comparada, ou amputação dupla acima dos
joelhos, ou amputação dupla das mãos, ou paralisia cerebral de diplegia mínima;
S9 – Lesão medular na altura de S1-2, ou pólio com uma perna não funcional, ou amputação
simples acima do joelho, ou amputação abaixo do cotovelo;
S10 – Síndrome da cauda eqüina, porém não é considerada paraplegia; pólio com prejuízo
mínimo de membros inferiores, ou amputação dos dois pés, ou amputação simples de uma
mão, ou restrição severa de uma das articulações coxofemoral.
28
Padrões motores da classificação funcional do nado peito específica para indivíduos
com LM ((INTERNATIONAL PARALYMPICS COMMITTEE, 2008b):
SB1 - tetraplegia completa abaixo de C6.
SB2 - tetraplegia completa (C7) ou C6 incompleta.
SB3 - tetraplegia completa (C8) ou C7 incompleta, paraplegia completa (T1-T5).
SB4 - tetraplegia incompleta (C8), paraplegia completa (T6-T10).
SB5 - paraplegia completa (T11-L1).
SB6 - paraplegia completa (L2-L3).
SB7 - paraplegia completa (L4-L5).
SB8 - “walking paraplegia, com o mínimo de envolvimento de membros.
SB9 - síndrome da cauda eqüina (S1-S2), porém não é considerada paraplegia.
SB10 - nenhuma lesão medular se enquadra nesta categoria.
1.2.7 Significado Funcional do Nível de Lesão Medular
Na elaboração de um programa de atividade física para pessoas com LM, é
imprescindível levar em consideração os grupos musculares funcionais e os não-funcionais
correspondentes ao nível da lesão. Winnick (2004) ressalta a importância do Educador Físico
conhecer os diversos sistemas de classificação das deficiências medulares. A classificação
médica se baseia no segmento da medula espinhal que foi lesionado, já as organizações
esportivas classificam os lesados segundo as capacidades de cada um, a fim de emparelhar
atletas com habilidades semelhantes nas competições.
Para melhor compreensão das complicações e do prognóstico da LM, a descrição do
prejuízo é baseada no nível funcional da perda motora e sensitiva, ao invés da localização
anatômica da lesão vertebral (FREED, 1994).
Gorgatti e Böhme (2008) acrescentam ainda que o impacto real da LM é melhor
compreendido na seguinte análise: Quais os músculos que ainda podem ser usados? Qual a
quantidade de força desses músculos? O que pode ser feito por esses músculos,
funcionalmente, em termos de movimentos e de habilidades motoras?
Na sequência, alguns grupos musculares inervados em diversos pontos-chave da
coluna vertebral, com implicações relacionadas a movimentos e capacidades preservadas
desse nível para cima:
29
C1-C3: Segundo Greve (2001), lesões localizadas nesta região tornam os pacientes
dependentes de respirador, embora Souza (1994) relate que lesões nas três primeiras vértebras
cervicais provocam uma paralisia no nervo frênico, ocorrendo uma parada respiratória e,
consequentemente, a morte.
C4: De acordo com Adams et al. (1985), os tetraplégicos apresentam boa função dos
músculos esternocleidomastóideo, trapézio e músculos paraespinais superiores. A
musculatura da cintura escapular é muito fraca. O indivíduo não apresenta nenhuma função
nos membros superiores, no tronco e nos membros inferiores, sendo necessárias órteses para
sustentar os membros superiores. Conforme Souza (1994) esclarece, as lesões de C4 a T2
resultam em limitação funcional do diafragma e demais músculos respiratórios, o que implica
na redução do volume respiratório e, consequentemente, comprometimento do rendimento
esportivo. Já as lesões medulares abaixo de T2 não apresentam este comprometimento. Em
função disso, essas diferenças funcionais são consideradas na classificação desportiva.
C5 (músculo-chave = bíceps braquial): O indivíduo apresenta boa função dos rombóides,
deltóides e dos principais músculos que fazem a rotação do ombro, apesar de eles serem
apenas parcialmente inervados. A flexão do cotovelo é possível, desde que o bíceps e o
braquirradial permaneçam parcialmente inervados. São possíveis algumas funções do ombro,
com abdução. No punho e na mão não há nenhuma função muscular (ADAMS et al., 1985). O
indivíduo pode iniciar na natação, como sugere Winnick (2004).
C6 (músculo-chave = extensor radial do carpo): Os músculos que realizam a rotação do
ombro estão completamente inervados. É possível flexionar o cotovelo e há maior força para
realizar a flexão e abdução do ombro, visto que os músculos peitorais estão preservados. O
indivíduo possui também inervação de alguns músculos do punho (extensor radial do carpo),
sendo possível uma discreta dorsiflexão do punho, o que lhe permite pegar objetos grandes e
leves. O tetraplégico pode manipular objetos para fins de exercícios recreativos, como bilhar e
golfe (ADAMS et al., 1985).
C7 (músculo-chave = tríceps braquial) C8 (flexor comum profundo dos dedos): O
tetraplégico que tem este segmento poupado apresenta função no tríceps, extensores e flexores
dos dedos (a inervação varia em cada indivíduo). O tríceps fortalecido propicia a estabilização
do cotovelo em extensão, importante para a coordenação e habilidade para o arco-e-flecha e
para o tênis de mesa. Porém, atividades que exigem movimentos de apreensão forte não são
recomendadas como, por exemplo, a canoagem (ADAMS et al., 1985). São independentes na
locomoção em cadeira de rodas e apresentam também mais independência para comer,
arrumar-se e vestir-se (WINNICK, 2004).
T1: De acordo com Freed (1994), o indivíduo paraplégico possui toda a inervação preservada
das extremidades superiores, porém é desprovido de inervação da musculatura de tronco, para
completo equilíbrio sentado, e da musculatura intercostal e abdominal, para suplementar a
respiração diafragmática. Ele tem certa autonomia, pois é capaz de vestir-se, alimentar-se,
cuidar das suas necessidades de higiene, efetuar transferências (exemplo: da cadeira de rodas
para o chão e vice-versa, sem auxílio), dirigir um carro com controles manuais, etc. Winnick
(2004) acrescenta que, com relação à prática de exercícios, ele pode realizar qualquer
atividade em cadeira de rodas.
T6: Segundo Adams et al. (1985), o paraplégico possui inervação dos músculos
antigravitacionais da região superior do dorso, estabilizadores contra o apoio da cintura
escapular. Ele pode ser capaz de praticar esportes como boliche, levantamento de peso e
esportes de campo, nos quais é imprescindível a força dos membros superiores e a capacidade
de manter uma apreensão firme. Freed (1994) acrescenta que o indivíduo tem independência
em cadeira de rodas para as atividades da vida diária, podendo receber órteses para ficar em
30
pé, mas não se deve esperar que caminhe por causa das demandas de energia inusitadamente
aumentadas dessa deambulação.
T12: O indivíduo possui completo controle abdominal, boa função de todos os músculos do
tórax, porém, quando a musculatura lombar não está inervada, existe uma fraqueza da região
inferior do dorso. Os indivíduos são completamente independentes para as tarefas do dia-a-
dia, sendo capazes de marchar com o uso de órteses longas para ambos os membros
inferiores. O bom controle do tronco propicia ao paraplégico a execução de atividades de
resistência que sobrecarregam a reserva respiratória, como a maratona em cadeira de rodas,
por exemplo (ADAMS et al., 1985).
L4: Conforme Freed (1994) relata, o indivíduo possui o uso dos flexores do quadril e
extensores do joelho, sendo capaz de ficar de pé sem órteses e caminhar sem suporte externo.
Entretanto, em função da acentuada fraqueza dos glúteos aliada com a perda de força nos
tornozelos, o indivíduo tende a fazer uma marcha bamboleada. Assim, se não usar órteses de
tornozelo-pé e muletas, acarretará um joelho genu recurvatum e esforço anormal da coluna
lombar.
S1: O indivíduo apresenta os músculos peroneiros e posteriores da coxa inervados,
conseguindo flexionar os joelhos e puxar o pé para cima. Anda sozinho sem muletas, podendo
precisar apenas de suportes para o tornozelo e/ou sapatos ortopédicos. Dessa forma, pode
realizar as atividades de educação física normalmente (WINNICK, 2004).
1.2.8 Complicações decorrentes da Lesão Medular
As lesões que afetam somente as vértebras da coluna não trazem sérios
comprometimentos como as lesões que afetam a medula espinhal. Entretanto, como a medula
está contida na coluna vertebral, normalmente, as lesões afetam também a medula,
provocando o comprometimento de várias funções orgânicas (SOUZA, 1994).
É imprescindível o conhecimento sobre algumas consequências funcionais da lesão e
suas implicações na prática desportiva, devido às alterações de ordem neurofisiológica e
neurovegetativa que podem representar riscos, nos quais o praticante ficaria exposto a fraturas
ou sérias sobrecargas cardiovasculares. De acordo com as informações a respeito das
implicações da lesão, o Educador Físico pode elaborar um programa desportivo adequado às
possibilidades do praticante e esclarecer ao indivíduo com LM sobre os benefícios e riscos de
determinada prática desportiva (SOUZA, 1994).
Dentre as diversas consequências possíveis, algumas merecem maior atenção no
âmbito da prática de exercícios.
31
- Perda da sensibilidade (SOUZA, 1994)
A sensibilidade à dor é um mecanismo de defesa do organismo que fica inutilizado na
paraplegia e tetraplegia, da altura da lesão para baixo. Além da dor, há perda da sensibilidade
ao calor/frio, ao tato, à percepção da posição dos membros afetados (propriocepção), etc.
Em função disso, o atleta pode se fraturar, como por exemplo, em uma queda da
cadeira de rodas, ele continua jogando como se nada tivesse acontecido, pois não sente dor, e
horas depois a fratura se reverte em um quadro infeccioso.
Nas praias ou piscinas, em dias muito quentes, deve-se evitar que o para/tetraplégico
fique sentado ou com os pés descalços muito tempo diretamente sobre o piso ou materiais
quentes, para não lhe provocar queimaduras.
- Úlceras ou Escaras de Decúbito
Palmer e Toms (1988) afirmam que as escaras de decúbito, causadas pela falta de
sensibilidade, são complicações comuns em pessoas com LM. São áreas necróticas de partes
moles, pele ou tecido subcutâneo, causadas pela pressão prolongada e são sujeitas a infecções
que podem migrar para os ossos. As escaras devem ser prevenidas mudando a posição do
corpo e reduzindo a pressão sobre a região de contato, como por exemplo, elevando-se
ligeiramente as coxas e as nádegas da cadeira de rodas pela extensão dos braços apoiados
sobre os pneus da cadeira. Como sugere Souza (1994), o uso de colchões, almofadas d’água
ou outros materiais apropriados são de grande valia para a prevenção de escaras.
Ainda de acordo com Palmer e Toms (1988), o primeiro sinal de formação de úlceras
de decúbito é o surgimento de uma coloração avermelhada na pele em um dos locais de
contato com a cadeira de rodas, leito, etc. As áreas do corpo mais frequentemente
comprometidas são as tuberosidades isquiáticas, os maléolos, o calcanhar, o trocanter maior e
o cotovelo. Perante a facilidade de se prevenir as escaras e devido às suas complicações, se
não forem evitadas e tratadas, o indivíduo com LM deve ser orientado para inspecionar sua
pele e assumir a responsabilidade pelo cuidado com ela.
Souza (1994) coloca que compete aos profissionais de educação física esclarecer aos
seus alunos lesados medulares sobre o risco de ocorrência de escaras, as formas de preveni-las
e detectá-las. Outro aspecto relevante que o autor aborda é a inaptidão temporária para
atividades desportivas de indivíduos com úlceras de decúbito de maior gravidade, até que
sejam liberados pelo médico. Em alguns casos mais graves, as úlceras podem levar à infecção
e esta à morte, se não forem tratadas a tempo.
32
- Osteoporose
O repouso prolongado no leito produz não somente atrofia muscular como também
desmineralização óssea (FREED, 1994). Assim, a osteoporose é comum aparecer em
indivíduos com LM, pois a perda de cálcio dos ossos torna-os quebradiços, ocorrendo quando
não há sustentação de peso como no caso deles (PALMER e TOMS, 1988).
Conforme explicita Souza (1994), com a elevação da porosidade, resultante de
alterações fisiológicas e do comprometimento motor em lesados, os ossos se tornam mais
frágeis e propensos a fraturas. Em função disso, o movimento representa um fator importante
na prevenção e tratamento da osteoporose, sendo necessário um trabalho conjunto entre o
médico, o fisioterapeuta e o educador físico. No caso específico da educação física, a natação
seria mais recomendável pela vantagem de ser uma prática esportiva com baixíssima
possibilidade de fraturas.
- Disfunção Vesical e Intestinal
A LM provoca alterações funcionais nos sistemas genitourinário e gastrointestinal, o
que causa complicações como, por exemplo, infecções e cálculos em rins e bexiga, úlceras
gástricas por estresse e disfunções reflexas autonômicas secundárias a impactação intestinal
(SCHNEIDER, 1994).
As estatísticas mostram que a doença renal é a principal responsável pela maioria das
mortes entre os pacientes com lesão da espinha (SOUZA, 1994; BROMLEY, 1997). Assim, o
cuidado assíduo e contínuo da bexiga é essencial para prevenir as complicações. O indivíduo
ao lesionar a medula espinhal não apresenta mais as sensações específicas que indicam a
necessidade de esvaziar a bexiga.
As consequências desse problema variam de acordo com a classificação da bexiga,
citada por Palmer e Toms (1988) em: espástica ou flácida. A primeira desenvolve em
indivíduos com lesão acima da segunda vértebra lombar, levando a bexiga a um esvaziamento
automático, toda vez que seu enchimento atingir certo volume. Já o segundo tipo de bexiga,
como não há inervação dos músculos abdominais, não ocorre a ação reflexa do músculo
detrusor para esvaziar a bexiga. Desta forma, o esvaziamento da bexiga é realizado pela
pressão manual suprapúbica.
Para Souza (1994), além dos problemas de ordem social resultantes da incontinência
urinária, lesados medulares estão sujeitos a frequentes episódios de infecção urinária. Essas
infecções abaixam a resistência orgânica, reduzem o desempenho desportivo e possibilitam o
aparecimento de outros problemas de saúde. Qualquer diminuição inexplicável do rendimento
33
desportivo deve ser pesquisada e, no caso de infecção, suspender as aulas ou treinamento até
que o problema seja sanado.
A inervação para a liberação do tônus do esfíncter anal é a mesma que para o
esvaziamento da bexiga. A inervação sensitiva também é a mesma para a percepção da
distensão vesical e do intestino terminal (FREED, 1994).
Devido à lesão da medula espinhal, o esfíncter ou não fecha devidamente, causando
gotejamento, ou não abre suficiente, causando pressão retrógrada nos ureteres e rins
(PALMER e TOMS, 1988).
Souza (1994) relata que nas lesões acima dos centros da medula lombossacra, tem-se
como consequência a retenção de fezes. Já nas lesões das segunda e quarta medulas sacra
ocorre abolição do reflexo anal e, consequentemente, incontinência anal, ou seja, eliminação
involuntária de fezes, quando estas estiverem líquidas ou amolecidas. Com relação a este
problema, o indivíduo deve habituar-se a esvaziar o intestino sempre nas mesmas horas do
dia, de acordo com o ritmo e estilo de vida que leva.
Ainda segundo o autor, após períodos prolongados de retenção de fezes, no dia em que
ocorre o esvaziamento do intestino pode haver uma queda acentuada do rendimento
desportivo. Esse fator deve ser levado em conta nos treinamentos de atletas de alto nível. Com
relação à iniciação à natação, o aluno deve ser conscientizado de que só pode entrar na piscina
se tiver esvaziado o intestino horas antes da aula e tomado banho.
Tanto os paraplégicos quanto os tetraplégicos devem ser treinados para esvaziarem a
bexiga antes de praticarem natação. Bromley (1997) coloca que no caso de pessoas com
bexiga espástica, com treinamento, a ação reflexa de esvaziar a bexiga irá ocorrer na
estimulação dos pontos de gatilho (exemplos: parede abdominal acima da sínfise púbica,
região interna da coxa e outros pontos). Dessa forma, o indivíduo esvazia sua bexiga a cada
duas ou três horas e permanece seco nos intervalos.
- Redução da Capacidade Respiratória
Dependendo do nível da lesão, a função respiratória varia consideravelmente. Há
progressivamente uma perda maior de função respiratória nos níveis mais elevados de lesão.
As alterações respiratórias estão relacionadas com a fase inspiratória e expiratória da
ventilação (SCHMITZ, 2004).
Os três músculos motores principais para a respiração são o diafragma, inervado a
partir de C2 até C4, os músculos intercostais, inervados a partir de T2 até T12, e os músculos
abdominais, a partir de T6 até L1. O indivíduo com tetraplegia exige um alto dispêndio
34
energético quando grandes volumes correntes são necessários para satisfazer a demandas
metabólicas aumentadas (FREED, 1994).
Nas lesões até a altura da segunda vértebra torácica (T2), de acordo com Souza (1994),
ocorre uma redução do volume respiratório, o que não acontece se a lesão for abaixo desse
ponto. Porém, Schmitz (2004) ressalta que os músculos abdominais e intercostais contribuem
para a expulsão do ar para fora dos pulmões, dessa forma, a perda desses músculos diminui
significativamente a eficiência expiratória.
Além da função de manter a pressão intratorácica para uma respiração efetiva, os
músculos abdominais também empurram o diafragma para cima durante a expiração forçada.
Com a paralisia dos abdominais, que mantêm a posição correta do diafragma, o diafragma
assume uma posição mais baixa do que a usual no tórax. Essa posição abaixada e a falta de
pressão abdominal, para mover o diafragma para cima durante a expiração forçada, geram
uma diminuição no volume de reserva expiratória. Além disso, a função normal dos oblíquos
externos é deprimir as costelas e comprimir a parede torácica para auxiliar na expulsão
forçada do ar, assim, a paralisia desses músculos influencia a respiração (SCHMITZ, 2004).
De uma forma geral, deve-se levar em consideração que lesados medulares
sedentários, em algumas situações (como em dias muito quentes), apresentam uma
inadequação da função cardiorrespiratória ao esforço físico intenso. Em decorrência disso,
Souza (1994) destaca a importância de elaborar um programa de exercícios com a elevação
gradativa das cargas de treinamento e de calor.
Ainda segundo o autor, tanto os paraplégicos quanto os tetraplégicos bem treinados
têm conseguido resultados significativos no atletismo, basquete em cadeira de rodas e
natação, que permitem supor a adaptação funcional ao esforço físico de maneira semelhante à
obtida pelo treinamento desportivo em pessoas sem deficiência física.
- Disfunção do Sistema de Regulação Térmica
A termorregulação constitui-se numa das funções do sistema neurovegetativo (sistema
nervoso autônomo), o qual compreende duas porções: a simpática (toracolombar) e a
parassimpática (craniana e sacra). Apesar dos mecanismos de termorregulação do organismo,
a temperatura interna pode elevar-se em função da intensidade do esforço físico, da
temperatura ambiente e da umidade do ar. Caso esses fatores estejam elevados, haverá uma
maior sobrecarga térmica para o organismo do indivíduo, podendo até surgir riscos de vida
devido a uma deficiência na dissipação de calor pelo corpo (SOUZA, 1994).
35
Após a LM, o hipotálamo não pode mais controlar o fluxo sanguíneo cutâneo ou o
nível de sudorese. Essa disfunção do sistema nervoso simpático resulta em perda das
respostas termorreguladoras internas e, consequentemente, em ausência de sudorese
termorreguladora que elimina os efeitos resfriadores da evaporação normal da perspiração em
ambientes quentes. Indivíduos com lesão incompleta podem apresentar áreas com ilhas de
sudorese localizadas abaixo do nível de lesão (SCHMITZ, 2004).
Em função da ausência de sudorese ou da insuficiência para promover a compensação
satisfatória aos efeitos do calor, os lesados medulares estão mais propensos a sofrer de
doenças causadas pelo calor, e a intermação é o extremo do quadro evolutivo dessas doenças.
Os sintomas mais comuns ao estresse térmico são: a sede, o cansaço, a tonteira e distúrbios
visuais. Embora normais, eles precisam ser cuidados para evitar a ocorrência de cãibras,
exaustão e choque térmico (SOUZA, 1994).
Souza (1994) faz algumas recomendações importantes quanto à prática de exercícios
físicos por lesados medulares: ducha fria antes do exercício no calor; ingestão periódica de
líquidos; priorizar a prática desportiva em horários e em ambientes menos quentes; dosar os
esforços segundo a temperatura do dia, duração da atividade e estado de condicionamento
cardiovascular do praticante.
Embora os mecanismos reguladores da temperatura corporal pareçam melhorar com o
tempo, tetraplégicos normalmente apresentam comprometimento duradouro da regulação de
temperatura do organismo quando expostos a extremos ambientais (SCHNEIDER, 1994).
Estudos apontados por Souza (1994) sugerem que pessoas com LM podem conseguir
as mesmas adaptações ao calor que pessoas sem deficiência, se forem adequadamente
treinados. Entretanto, haveria dificuldades na operacionalização dos processos de adaptação
funcional, visto que a fadiga precoce impediria que o organismo fosse estimulado a se
adaptar. O aparecimento precoce da fadiga pode ser contornado por uma programação
esportiva em que as cargas obedeçam a um aumento gradativo, segundo a adaptação do
organismo aos esforços crescentes. Este é um treinamento desportivo com base na
periodização que prepara o indivíduo, gradativamente, para suportar mais volume e
intensidade de atividade física.
O treinamento gradual da resistência aeróbica aliado ao gradual aumento da exposição
ao sol pode ser uma das formas mais eficazes para se promover a adaptação funcional do
indivíduo com LM ao calor. Com isso, a prática esportiva orientada pode ser usada como um
meio de compensar a disfunção do sistema de termorregulação, proporcionando mais
segurança para a vida diária e lazer dessas pessoas (SOUZA, 1994).
36
- Espasticidade
Palmer e Toms (1988) definem espasticidade como uma resistência aumentada ao
alongamento passivo, que raramente ocorre em lesões abaixo da segunda vértebra lombar, e
seu grau varia de uma pessoa para outra. Adams et al. (1985) explicam que a espasticidade é
uma característica do tônus muscular anormal acima do nível da lesão, que é desenvolvido por
um padrão de flexão (do joelho, do quadril e do tronco) ou extensão (dos membros e do
tronco). Numa competição, o esforço físico excessivo pode desencadear a espasticidade ou ela
pode ser originada pela alteração de temperatura, infecções urinárias ou úlceras de decúbito.
A performance do atleta em relação aos esportes ou mesmo qualquer atividade física
pode ser prejudicada pelos episódios de espasticidade. Cabe ao profissional de educação física
contrapor a interferência da espasticidade estirando o membro afetado, se bem que muitos
atletas conseguem levantar e reposicionar sua(s) própria(s) perna(s) atingida(s) pelos
movimentos espásticos, utilizando os membros superiores.
1.3 SÍNDROME METABÓLICA
Segundo Ciolac e Guimarães (2004, p. 319), a síndrome metabólica (SM) é
caracterizada pelo agrupamento de fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial,
resistência à insulina, intolerância à glicose/diabetes tipo 2, obesidade central e dislipidemia.
De acordo com Lopes (2004), atualmente existem três definições de SM, a definição
publicada em 2001 pelo “National Cholesterol Evaluation Program for Adult Treatment
Panel III” leva em conta critérios parecidos com os da OMS, como obesidade central
(circunferência abdominal > 88 cm para as mulheres e > 102cm para os homens), pressão
arterial alta (> 130/85 mmHg), glicemia de jejum > 110 mg/dl, triglicérides > 150 mg/dl,
HDL-colesterol baixo (< 40 mg/dl nos homens e < 50 mg/dl nas mulheres). Para ser
considerado portador da síndrome, o indivíduo deve apresentar três ou mais das alterações
acima citadas.
O surgimento da doença não está necessariamente determinado pela presença do fator
de risco, pois existem muitas influências que podem alterar a importância de um fator quando
ele é avaliado. Por exemplo, se a dosagem de colesterol total (CT) de um indivíduo estiver
alta (250 mg/dl), essa taxa tem sua importância reduzida se ele apresentar um colesterol-HDL
37
de 70 mg/dl. O colesterol-HDL é uma lipoproteína que realiza transporte reverso do
colesterol, ou seja, dos tecidos periféricos (especialmente o do endotélio vascular) para o
fígado e tem sido chamada de fator protetor (LUNA, 2006). Os indivíduos que se
apresentam com níveis plasmáticos de HDL-colesterol baixo têm risco de doença arterial
coronária comparável àqueles com níveis elevados de colesterol-LDL (MAGALHÃES et al.,
2002).
Embora a doença cardiovascular sofra influência genética de vários fatores como a
pressão arterial, o colesterol, o peso corporal, o diabetes e outros, a grande vantagem do
reconhecimento da SM consiste na possibilidade de intervenção, como a prática de exercícios
físicos e dieta, em uma constelação de fatores de risco que ameaçam a saúde cardiovascular
do indivíduo (LUNA, 2006).
O estilo de vida sedentário e, especialmente, o baixo condicionamento físico não estão
somente associados à SM, mas também, podem ser consideradas características desta. Os
indivíduos que não praticam pelo menos 3 horas semanais de exercícios físicos, de
intensidade moderada, são 60% mais propensos a desenvolver SM do que aqueles que
praticam (LAKKA et al., 2003).
Conforme pressupostos da I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da
Síndrome Metabólica (2005), a atividade física regular ou o exercício físico diminuem o risco
relacionado a cada componente da SM, à medida que o exercício físico reduz a pressão
arterial, eleva o HDL-colesterol e melhora o controle glicêmico. O baixo condicionamento
cardiorrespiratório, a pouca força muscular e o sedentarismo aumentam de três a quatro vezes
a prevalência da SM.
A taxa metabólica e as necessidades nutricionais são diminuídas em indivíduos com
LM, e essas alterações dependem da quantidade de músculos imobilizados, da altura da lesão,
do tempo e tipo de lesão (KOCINA, 1997). O aumento da massa de gordura e a diminuição da
sensibilidade à insulina em indivíduos com LM alta (C6-T4) foram verificados por Karlsson
(1999), que frizou a importância de elaborar programas de reabilitação que reduzam esses
fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Estudos realizados por Silva et al. (2004), com lesados medulares praticantes de
exercícios físicos (basquete ou natação) e lesados medulares sedentários, identificaram
influências positivas do exercício para manter a normalidade de alguns parâmetros
bioquímicos. No grupo de indivíduos sedentários, 16,6% apresentaram triglicérides (TRI)
plasmáticos aumentados e 25% de glicose plasmática também fora dos limites da
normalidade, além de uma tendência a sobrepeso.
38
Quintana e Neiva (2008), ao compararem sedentários com deficiência física e
jogadores de basquete de cadeira de rodas, também encontraram resultados positivos da
prática esportiva em relação aos fatores de risco para a SM. O grupo de jogadores de basquete
apresentou menores níveis de deposição de gordura central, melhores resultados quanto ao
controle glicêmico e alterações menos pronunciadas do perfil lipidêmico.
Para indivíduos com LM, além da definição proposta pela OMS de identificar pelo
menos três fatores de risco para constatar a SM, Jones et al. (2004) sugerem verificar também
as medidas antropométricas e de lipídeos. Pois, embora os critérios da OMS sejam adequados
para indivíduos normais fisicamente, eles parecem ser insuficientes para identificar SM em
indivíduos com LM, que possuem uma composição corporal diferenciada da população em
geral. Jones et al. (2003) comprovaram que o IMC pode subestimar a gordura corporal em
indivíduos com LM, visto que embora estes não pareçam estar obesos, apresentam grandes
quantidades de tecido adiposo.
1.4 EXERCÍCIO FÍSICO E PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA PDF
Desde a Grécia Antiga, as pessoas com deficiência física (PDF) utilizavam o esporte
com objetivo de reabilitação que, por sua vez, já era praticado na China há 5.000 anos
(LAGERSTROM, 1987 apud SOUZA, 1994, 25).
No entanto, a prática desportiva teve maior incremento no contexto da prevenção e
reabilitação de PDF após a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1940, por iniciativa do
neurologista Ludwig Guttmann, responsável pelo centro para lesados medulares do Hospital
de Stoke Mandeville, foi introduzida a prática esportiva nos processos terapêuticos das lesões
medulares como forma de benefício com os efeitos das atividades esportivas no sistema
neuromuscular (SOUZA, 1994).
De acordo com Rosadas (1989), o ideal de Guttmann que era apenas motivar e
diminuir o tédio da rotina do indivíduo com deficiência física acabou estimulando vários
países à organização de jogos para deficientes. Chatard et al. (1992) mencionam que vem
aumentando o número de pessoas com incapacidade física que pratica algum tipo de exercício
físico ou esporte devido aos benefícios que eles trazem para a reabilitação e para o bem-estar.
Os benefícios potenciais da prática de exercícios físicos para indivíduos com
deficiência incluem: aumento do estado mental com uma diminuição da ansiedade e
39
depressão; melhora da auto-estima decorrente do aumento do senso de auto-eficiência e da
autonomia; redução do risco de muitas doenças crônicas, em uma perspectiva a longo prazo;
melhora da percepção de saúde, da produtividade e, consequentemente, da inserção no
mercado de trabalho (SHEPHARD, 1991).
Estudos recentes de Stevens et al. (2008) demonstram que existe uma forte correlação
entre QV e nível de atividade física em indivíduos com LM. O engajamento desses indivíduos
em programas regulares de exercícios físicos deve ser incentivado, pois se trata de uma
abordagem promissora, com boa proporção custo-benefício e eficaz na promoção de saúde e
QV. No entanto, como afirmam Wilmore e Costil (2001), o tipo e a intensidade adequados de
exercício variam segundo as características individuais, o nível atual de condicionamento
físico e as preocupações específicas em relação à saúde.
A importância da atividade física regular para a prevenção e recuperação da saúde vem
sendo cada vez mais divulgada pela mídia e comprovada cientificamente. Porém, a cada ano,
milhares de mortes ainda são atribuídas à inatividade física. Doenças crônicas não
transmissíveis, como as doenças cardiovasculares e a diabetes, por exemplo, muitas vezes
estão relacionadas ao estilo de vida adotado pelas pessoas (MAUERBERG-deCASTRO,
2005).
Dentre os prejuízos à saúde associados à obesidade, ainda segundo a autora, situam-se
os problemas emocionais (devido às pressões de padrões sociais, as pessoas obesas
frequentemente sofrem sentimentos de culpa, depressão, ansiedade e baixa auto-estima),
aumento de osteoartrite, aumento da incidência de hipertensão arterial, alterações dos níveis
de colesterol e de outras gorduras do sangue, aumento da incidência de câncer e de morte
prematura.
De acordo com Chatard et al. (1992), a adoção de atividades físicas vigorosas,
incluindo competições, por parte de PDF, pode ter uma enorme contribuição no processo de
reabilitação e na redução de complicaçõesdicas, como as infecções respiratórias. A
natação, segundo o autor, é apropriada como forma de exercício físico para pessoas com
vários tipos de deficiência física.
A redução do nível de atividade física e as alterações adversas na composição
corporal, causadas pela LM, têm consequências metabólicas que podem influenciar o avanço
e a gravidade de doenças coronárias (BAUMAN et al., 1992; JONES et al., 2004; LAVIS et
al., 2007). Os distúrbios no metabolismo dos carboidratos e lipídios, comuns em homens
sedentários com LM, caracterizam-se por aumento da concentração plasmática de CT, de
LDL-colesterol, de TRI, redução de HDL-colesterol, além de aumento a resistência à insulina
40
com altos níveis de incidência de diabetes tipo 2 (KOCINA, 1997; JACOBS e NASH, 2004;
JONES et al., 2004).
O número de estudos experimentais que investigam o efeito do exercício físico nos
parâmetros sanguíneos bioquímicos, indicativos de doenças relacionadas a alterações
metabólicas comuns em indivíduos LM, é extremamente reduzido. Duran et al. (2001) e
Jacobs e Nash (2004) apontam que indivíduos com LM que iniciam em programas de
exercícios seguramente melhorarão não só as funções cardiovasculares e musculares, como
também o perfil lipídico e glicêmico.
1.5 CONDICIONAMENTO FÍSICO
Dentre todos os conceitos de condicionamento físico revisados por Ciolac e
Guimarães (2004), eles consideram o condicionamento físico a habilidade de realizar
atividade física de nível moderado a intenso sem cansaço excessivo e a capacidade de manter
essa habilidade no decorrer da vida. Ele é parte integrante da boa QV, em que a realização de
exercícios resistidos e aeróbios, com exercícios de flexibilidade, têm sido indicados para a sua
melhora e manutenção, bem como para a prevenção e reabilitação de doenças
cardiovasculares em indivíduos de todas as idades.
Um programa de condicionamento físico para o sedentário, de acordo com Gobbi et al.
(2005), pode envolver atividades diversificadas de intensidade submáxima, com duração
variável, podendo chegar em torno de 1 hora, e frequência semanal de 3 a 5 vezes. A aptidão
física ou condição física é o resultado do condicionamento físico.
Para a American College of Sports Medicine – ACSM (2007), a aptidão física
relacionada à saúde se refere a capacidade de realizar atividades da vida diária com vigor,
concomitante com a aquisição de capacidades que estão associadas com o baixo risco de
surgimento prematuro de doenças associadas com a inatividade física. Os componentes
envolvidos na aptidão física relacionada à saúde são: resistência cardiovascular, força e
resistência muscular, flexibilidade e composição corporal.
Para a manutenção da saúde e prevenção de uma série de doenças crônicas, é
recomendada, por vários estudos, a realização de pelo menos 30 minutos de atividade física,
seja ela formal ou de lazer, de maneira contínua, de intensidade no mínimo moderada, nível
12 na Escala de Borg, realizada na maioria dos dias da semana, em que haja um dispêndio
41
total de 700 a 1.000 kcal por semana (ACSM, 2007; CIOLAC e GUIMARÃES, 2004;
POLLOCK e WILMORE, 1993).
Na elaboração de uma sessão de exercícios, o dimensionamento da intensidade
adequada de esforço constitui um fator importante. Diversos indicadores fisiológicos podem
ser utilizados para quantificar a intensidade do esforço do exercício, realizado tanto dentro
como fora do ambiente aquático, tais como a frequência cardíaca (FC), o consumo de
oxigênio (VO2), o índice de percepção de esforço (IPE) e os limiares ventilatório e de lactato
(GRAEF e KRUEL, 2006).
Para Pollock e Wilmore (1993), quando se inicia um programa de treinamento,
recomenda-se o emprego tanto da FC, quanto do IPE. Devido ao fato da escala de IPE
representar um bom indicador geral de fadiga, pode ser usada para avaliar a intensidade das
sessões de treinamento. Os autores recomendam para atividades situadas na faixa moderada, o
IPE de 12 a 13, para atividades de moderada a pesada de 14 a 15 e para atividades muito
pesadas 16 a 17 da escala de IPE. A variação da intensidade do treinamento depende do nível
de condicionamento do indivíduo.
A escala de IPE original foi inicialmente introduzida por Borg, para avaliar o grau de
esforço subjetivo percebido pelo próprio indivíduo que atribui uma nota variando de 6 a 20
(Figura 6). A Escala de Borg é constituída por 15 categorias graduadas de 6 a 20, estando
cada grau ímpar associado a uma descrição verbal que varia de muito, muito leve (grau 7) a
muito, muito difícil (grau 19) (BORG, 1962). Anos depois, Borg recomendou uma outra
terminologia para descrever o grau de esforço percebido (BORG, 1985).
Segundo Borg (1982 apud ARTONI et al., 2007, p.58) o esforço percebido é
decorrente da integração de sinais aferentes provenientes tanto dos músculos esqueléticos
(periféricos), quando do sistema cardiorrespiratório (centrais).
Dentre os indicadores de intensidade do esforço, Graef e Kruel (2006) ressaltam que
tanto dentro como fora do meio aquático, a FC e a percepção subjetiva de esforço são os mais
práticos e de baixo custo. Além disso, de acordo com alguns pesquisadores, existem dados
que indicam que a percepção subjetiva de esforço pode ser usada como um indicador da
intensidade do esforço em exercícios aquáticos (MAGLISHO, 1999; GRAEF e KRUEL,
2006; MENDONÇA e PEREIRA, 2007).
42
1.6 TREINAMENTO INTERVALADO
Treinamento intervalado (TI), definido por McArdle et al. (2003), é o método de
exercícios no qual ocorre um espaçamento dos períodos de exercícios e de recuperação. Esse
intervalo de recuperação pode ser ativo ou passivo, dependendo da intensidade do treino que
se objetiva realizar, pois o TI consegue aprimorar a capacidade de diferentes sistemas de
transferência de energia.
A eficiência do TI reside principalmente na escolha correta dos intervalos de
recuperação, uma vez que a relação trabalho/recuperação e suas respectivas demandas
fisiológicas determinam qual o sistema energético a ser priorizado pelo treino (VOLKOV,
2002; ROCHA, 2004).
Para atingir o efeito desejado do treino, os parâmetros da carga nos vários tipos de
trabalho intervalado podem se apresentar da seguinte forma: para o desenvolvimento da
capacidade anaeróbia alática, a intensidade do exercício deve ser máxima, sua duração não
deve ultrapassar 10-15 segundos, as pausas de repouso passivo não devem ser inferiores a 1
minuto e 30 segundos, e os exercícios devem ser executados até que surjam os primeiros
sinais de queda da potência máxima; para o desenvolvimento da capacidade anaeróbia lática,
a intensidade do exercício deve ser submáxima, a duração deve ser de 30 a 60 segundos e a
recuperação ativa pode variar de 1 a 3 minutos; para o desenvolvimento da capacidade
aeróbia, a intensidade do exercício deve ser moderada, a relação tempo de trabalho/repouso
deve ser de 1:1, a quantidade ideal de repetições não deve ser inferior a 10 ou 15 vezes numa
única série e a recuperação deve ser ativa (VOLKOV, 2002).
Segundo Godoy et al. (1997), Wilmore e Costil (2001), o TI pode produzir
praticamente os mesmos benefícios musculares aeróbios que um treinamento contínuo (TC),
tendo ainda a vantagem de não ser considerado monótono como o TC. O débito sistólico,
conforme Rocha (2004) explica, é mais alto durante o período de recuperação do exercício do
que propriamente durante o exercício. Portanto, durante o trabalho intervalado, em que
ocorrem várias fases de recuperação, o débito sistólico alcança o mais alto nível muitas vezes.
Diferente do que ocorre no trabalho contínuo, no qual há apenas um intervalo de recuperação
logo após o término do exercício. Em decorrência disso, durante semanas de TI, a elevação
repetida do débito sistólico máximo resulta num aumento da capacidade do sistema aeróbio.
43
Porém, conforme se observa com relação ao TI, é justamente sua capacidade de
desenvolver um trabalho de alta intensidade, priorizando o sistema anaeróbico, é que produz
melhores resultados na redução do peso corporal (NEIVA et al., 1999; PORTO et al., 2008).
Santos et al. (2005) em sua publicação ressaltam que, em relação ao percentual de
gordura, o TI se faz mais eficiente em virtude dos efeitos que o EPOC (consumo excessivo de
oxigênio pós-exercício) tem sobre a atividade relativamente intensa, fazendo com que o gasto
calórico desse tipo de trabalho seja maior do que em um trabalho com intensidade baixa.
Embora Romijim et al. (1993) colocam que assim que o exercício se torna crescentemente
mais intenso, menos gordura é metabolizada por cada caloria gasta, mas um número maior de
gordura total e calorias é utilizado de maneira geral. Em termos de perda de gordura, a
maioria das pesquisas mostra que não é importante a porcentagem de gordura ou carboidrato
metabolizado por caloria durante a atividade, mas sim, o número total de calorias gastas na
atividade.
Em uma pesquisa por King (2001), obteve-se como resultado uma maior eficácia do
TI (a 95% do VO2máx. no intervalo de trabalho e a 30% do VO2máx. no intervalo de
recuperação ativa) do que no TC de baixa intensidade (50% do VO2máx.) com relação à
melhora da composição corporal (redução da porcentagem de gordura), do condicionamento
físico e da taxa metabólica de repouso. Evidenciando, assim, que o TI de alta intensidade
realizado regularmente promove um aumento contínuo no gasto de energia maior que o TC de
baixa intensidade, pelo menos no estágio inicial do treino, visto que os sujeitos eram
sedentários ou realizam muito pouco exercício cardiovascular antes do treinamento.
O TI tem a grande vantagem de ser uma boa estratégia para a adesão aos exercícios
por parte de indivíduos sedentários (SNYDER et al.,1997; MOOKERJEE,1998). Sabia (2003)
compartilha da mesma opinião, considerando o método intervalado o mais adequado para
indivíduos iniciantes em um programa de exercícios para emagrecimento, pois o mesmo deve
ser de natureza progressiva e não incluir rapidamente um alto dispêndio de energia para não
causar resistência ao treinamento por parte de iniciantes em exercícios físicos.
Outra vantagem do TI, segundo Fox e Mathews (1983), reside no fato de que o
indivíduo consegue realizar intermitentemente a mesma quantidade de trabalho e com a
mesma intensidade que o exercício contínuo, porém, o grau de fadiga após o exercício
intervalado seria consideravelmente menor. Nesse sentido e levando-se em consideração os
vários benefícios cardiovasculares que muitos estudos já constataram nos últimos anos, o TI
vem sendo empregado na área da saúde como uma possibilidade terapêutica e reabilitadora.
Essa diretriz, de acordo com Volkov (2002), teve início com os trabalhos do professor alemão
44
H. Reindell, nos quais se empregava o TI na reabilitação e no tratamento de diferentes
doenças cardiovasculares e pulmonares.
Com relação à natação, o TI pode ser utilizado como um método mais motivador de
treinamento, em que a distância percorrida na água é dividida em várias partes. Essas partes
são repetidas sequencialmente com um breve intervalo de descanso entre elas. Durante os
nados fracionados, intensidades maiores de esforço são possíveis, porque os períodos
subsequentes de repouso possibilitam a reposição de fosfato de creatina (CP) e a remoção de
parte do ácido lático que se acumulou, sendo que, o metabolismo anaeróbio fornece grande
parte de energia nessa forma de treinamento (MAGLISCHO, 1999).
1.7 SISTEMAS ENERGÉTICOS AERÓBIO E ANAERÓBIO
O metabolismo dos nutrientes pode ser dividido por vias metabólicas, ou seja, existe o
metabolismo dos carboidratos (glicose ou glicogênio muscular e hepático), o metabolismo das
gorduras (ácidos graxos) e o metabolismo das proteínas (aminoácidos). O metabolismo pode
ser dividido também em relação à presença de oxigênio (metabolismo aeróbio) e na ausência
de oxigênio (metabolismo anaeróbio), o que vai definir qual será a via metabólica utilizada
para gerar a ressíntese do trifosfato de adenosina (ATP) será a velocidade e a intensidade do
gasto energético (NEIVA, 2008).
O metabolismo aeróbico refere-se às reações catabólicas geradoras de energia, nas
quais o oxigênio funciona como um aceitador final de elétrons na cadeia respiratória e se
combina com o hidrogênio para formar água. A presença de oxigênio no final da linha
determina em grande parte a capacidade para a produção de ATP. Por sua vez, isso determina
em grande parte a possibilidade de manter um exercício de endurance de alta intensidade.
Esse tipo de metabolismo (aeróbio) é, portanto, característico em exercícios e esportes de
longa duração (acima de 5 minutos), contínuos e, portanto, de baixa intensidade (NEIVA,
2008).
O metabolismo aeróbio promove a ressíntese de ATP pela combustão de carboidratos
e gorduras. O metabolismo de carboidratos, após uma cadeia de eventos, libera energia
suficiente para ressintetizar 36 a 38 moléculas de ATP por molécula de glicose. Enquanto o
metabolismo das gorduras é capaz de gerar 147 moléculas de ATP provenientes da
degradação completa de um ácido graxo. E 441 moléculas de ATP, a partir dos componentes
45
dos triglicerídeos, e mais 19 moléculas de ATP são formadas durante a degradação do
glicerol, dando um total de 440 moléculas de ATP para cada triglicerídeo catabolizado
(NEIVA, 2008).
O fator de limitação desse sistema é o fluxo de moléculas de oxigênio para as
mitocôndrias. Ou seja, sem oxigênio, essa via metabólica não consegue ressintetizar ATP em
tempo suficiente que a sua demanda exige, ficando restrito a via glicolítica à ressíntese do
ATP (NEIVA, 2008).
O metabolismo anaeróbico refere-se às reações catabólicas geradoras de energia nas
quais o oxigênio não está presente, não sendo possível acontecer o processo total de
degradação da glicose para ressíntese do ATP, devido à alta velocidade de degradação do
ATP e da dificuldade na reposição de energia para trabalho celular. Ou seja, a demanda de
energia é maior que a oferta. (NEIVA, 2008).
O ácido lático é um produto intermediário do metabolismo da glicose. Ele é produzido
quando alguns dos subprodutos desse processo não são metabolizados aerobicamente. Dessa
forma, ele é o produto final da fase anaeróbia do metabolismo. Acredita-se que o acúmulo de
ácido lático nos músculos seja a principal causa da fadiga durante a natação devido aos seus
efeitos no ph. Quando o ph muscular fica com níveis abaixo de 7,0, o indivíduo sofre de
acidose, diminuindo a velocidade do nado (MAGLISCHO, 1999).
Atualmente, está bem estabelecido que durante a realização de exercício contínuo de
alta intensidade o ATP é ressintetizado predominantemente pela glicólise anaeróbia. Nessas
condições, a produção de ATP é limitada e a capacidade de sustentar o exercício de alta
intensidade tende a diminuir, seguido do aparecimento de fadiga muscular. Porém, quando
esse tipo de exercício é realizado de forma intermitente, ou seja, conciliando intervalos de
atividade e de recuperação, há um importante aumento da contribuição do metabolismo
oxidativo no fornecimento de energia, aumentando o tempo de exaustão (SILVEIRA E
DENADAI, 2002).
Nessas condições, as respostas metabólicas durante o exercício intermitente de alta
intensidade parecem ser mais próximas das respostas metabólicas encontradas durante o
exercício contínuo de intensidade moderada, com uma menor utilização de glicogênio, menor
produção de lactato e um aumento na oxidação de lipídios (ESSEN, 1978; SILVEIRA E
DENADAI, 2002).
Assim, de acordo com Neiva (2008), parece claro admitirmos que exercícios dessa
natureza possam promover também um significativo aumento na produção de energia
oxidativa, principalmente na fase pós-exercício, o que não costuma ocorrer após exercícios
46
aeróbios realizados isoladamente. Além disso, o autor ainda considera a grande demanda
energética anaeróbia (glicose e CP) ocorrida durante a fase aguda de sua execução. Segundo
ele, ambos os fatores contribuem com uma maior depleção de energia no ciclo circadiano
posterior a sua prática.
Nos últimos anos, o desenvolvimento de técnicas e métodos capazes de determinar a
performance durante o exercício de alta intensidade possibilitaram a grande expansão nas
investigações das respostas fisiológicas durante o exercício intenso. Porém, durante o
exercício intermitente de alta intensidade, essas respostas têm sido amplamente variadas em
função de um grande número de variáveis capazes de modular essas respostas (SILVEIRA e
DENADAI, 2002).
1.8 ANTROPOMETRIA E COMPOSIÇÃO CORPORAL
A relação entre composição corporal desejável, saúde e bem-estar geral tem sido
bastante confirmada por vários estudos recentes que afirmam que a gordura corporal
excessiva aumenta o risco de desenvolver várias doenças, incluindo doenças cardiovasculares,
hipertensão, doença pulmonar obstrutiva, diabetes, artrite e algumas formas de câncer. Assim,
uma composição corporal desejável é de extrema importância para a saúde e o bem-estar de
crianças e adultos (THOMPSON, 2000; GUEDES e GUEDES, 2003; TRITSCHLER, 2003;
ACSM, 2007).
De acordo com Costa (2001), Marins e Giannichi (2003) e Tritschler (2003), o estudo
da composição corporal é importante para a elaboração de programas de aptidão física
relacionada à saúde e ao desporto.
A avaliação da composição corporal, de acordo com Pollock e Wilmore (1993) e
Tritschler (2003), abrange a quantificação das contribuições relativas das principais estruturas
do corpo humano, o que inclui a massa muscular, ossos, gordura, sangue e outros tipos de
fluídos e tecidos. Alguns dos modelos teóricos utilizam o modelo de dois compartimentos que
parte da premissa que o peso corporal total de uma pessoa é a somatória do seu peso de
gordura mais o peso da sua massa corporal magra, que é a massa isenta de tecido adiposo.
Outros, ainda de acordo com Pollock e Wilmore (1993) e McArdle et al. (2003)
utilizam o modelo de quatro compartimentos compostos por: massa adiposa, massa muscular,
massa óssea e massa de órgãos e tecidos restantes. O excesso ou a escassez de um desses
47
componentes podem estar relacionados à ocorrência de patologias, fator que reforça ainda
mais a importância de estudos sobre a composição corporal.
Os mais variados métodos são utilizados para avaliar a composição corporal, variando
em sua exatidão, praticidade, instrumentos necessários e custo (TRITSCHLER, 2003). Entre
os métodos indiretos, destacam-se: pesagem hidrostática, análise da impedância bioelétrica,
tomografia computadorizada, ressonância magnética, absortometria de raio-x de dupla energia
(DEXA), medidas antropométricas (medidas de dobras cutâneas e circunferências, e
diâmetros corporais) (POLLOCK e WILMORE, 1993; McARDLE et al., 2003;
TRITSCHLER, 2003).
A avaliação da composição corporal é de grande importância para monitorar riscos à
saúde nutricional e/ou física de pessoas com LM. No entanto, existe uma escassez de
informações antropométricas de referência e nenhuma equação específica para calcular a
composição corporal dessa população (KOCINA, 1997; NICASTRO et al., 2008).
Segundo Mattos e Gorgatti (2003), como os estudos sobre a composição corporal de
indivíduos com deficiência são recentes, muitos deles empregam apenas adaptações dos
métodos convencionais aplicados aos indivíduos normais. No entanto, com relação aos
indivíduos com deficiência física, tais métodos podem ser extremamente comprometidos,
como no caso de indivíduos com LM.
Essa população específica, devido à imobilidade em grande parte do corpo, apresenta
uma redução significativa no conteúdo mineral ósseo nos membros paralisados, menor
proporção de massa magra (muscular e óssea) e altos níveis de gordura corporal, que
conduzem à obesidade e mudanças metabólicas aumentando mais o risco de doenças
cardiovasculares, quando comparada com indivíduos aptos fisicamente (KOCINA, 1997;
MAGGIONI, 2003; SPUNGEN et al., 2003).
O método de absortometria de raio-x de dupla energia vem sendo utilizado em muitos
estudos para avaliar a composição de indivíduos com LM, como se observa nas pesquisas
realizadas por Jones et al. (2003), Maggioni (2003), Spungen et al. (2003), Liusuwan et al.
(2007), Mojtahedi (2008), entre outras referidas por Buchholz e Bugaresti (2005). Entretanto,
trata-se de um método de alto custo e pouco acessível. Diferente da aferição das medidas
antropométricas que são consideradas métodos práticos, de baixo custo e podem ser muito
úteis em várias situações clínicas e de campo (POLLOCK e WILMORE, 1993; McARDLE et
al, 2003; TRITSCHLER, 2003).
A adaptação da técnica antropométrica para essa população do estudo é questionada
por Gorgatti e Böhme (2005). Os autores acreditam que a simples adaptação dessas técnicas
48
utilizadas na população em geral não elimina o erro natural que se incorre quando não se leva
em consideração a elevada percentagem de gordura nos membros inferiores e na região do
tronco abaixo do nível de lesão. Além disso, Maggioni et al. (2003) ressaltam a escassez de
informações antropométricas de referência, visto que essas apresentam grande variabilidade
devido a diversidade de metodologias utilizadas para a sua obtenção.
Como a grande dificuldade na avaliação de pessoas com deficiência é o
estabelecimento de índices e tabelas para uso populacional, alguns autores sugerem que sejam
utilizados teste e re-teste para a interpretação das modificações (PITETTI, 1993; FIGONI et
al., 1993; WINNICK e SHORT, 2001; MELLO e PASETTO, 2008).
O cálculo do índice de massa corporal (IMC) representa um procedimento prático para
se avaliar a questão do sobrepeso em indivíduos não-atletas, à medida que basta obter apenas
o registro da massa corporal (kg) e da estatura (m). Com o registro das duas variáveis, aplica-
se a fórmula: IMC=massa corporal(kg)/estatura(m)
2
(MARINS e GIANNICHI, 2003).
À medida que o IMC aumenta, o mesmo ocorre com o risco de incidência de várias
doenças, tais como complicações cardiovasculares (incluindo hipertensão), diabete e doença
renal. A categoria mais baixa de risco para a saúde é aquela dos indivíduos cujo índice varia
de 20 a 25kg/m
2
e a categoria de mais alto risco é aquela encontrada nos indivíduos cujo IMC
é superior a 40 kg/m
2
.
Segundo a WHO (1995), a obesidade é definida por IMC 30 kg/m² e o sobrepeso,
por IMC 25 kg/m² < 30kg/m². No entanto, o IMC não leva em consideração a composição
proporcional do organismo, pois o numerador da equação do IMC é afetado por outros fatores
além da gordura corporal excessiva, tais como massa óssea, muscular e até mesmo a
quantidade de volume plasmático (McARDLE et al, 2003).
Dessa forma, segundo Tritschler (2003), embora o IMC seja largamente utilizado em
estudos sobre saúde, seu erro padrão é bastante grande, o que limita seu valor enquanto
método de avaliação da composição corporal. Sendo assim, é recomendado interpretar seu
valor com cautela e utilizá-lo somente como uma ferramenta paralela a outros métodos mais
precisos para identificar pessoas que possam apresentar perfis de composição corporal
problemáticos.
Comparativamente à análise do IMC, a obesidade abdominal ou central (gordura
visceral) é a que mais se correlaciona com desvios metabólicos. Ela está associada a inúmeros
fatores que aumentam o risco cardiovascular, entre eles, o baixo nível plasmático de HDL-
colesterol, aumento de TRI e de LDL-colesterol, aumento da pressão sistólica e da pressão de
pulso. A simples medida da circunferência da cintura é o critério mais bem aceito para definir
49
a obesidade abdominal, e os valores de circunferência umbilical considerados normais para
homens são < 102 cm e < 88 cm para mulheres (CONSOLIM-COLOMBO e ATALA, 2004).
De acordo com Lohman et al. (1988), a circunferência da cintura é medida no adulto,
apto fisicamente, em pé, usando uma trena colocada à volta do abdômen no plano horizontal,
com os braços do sujeito relaxado, depois da expiração normal.
No entanto, Buchholz e Bugaresti (2005) chamam atenção ao fato de que a exata
localização da pegada da medida da cintura é muito debatida. Estudos de Wang et al.(2003)
demonstraram que as medidas dos valores da circunferência da cintura tem quatro
localizações: imediatamente abaixo da última costela, na cintura mais estreita, no ponto médio
entre a costela menor e a crista ilíaca e imediatamente acima da crista ilíaca. Todas elas têm
igualmente elevada reprodutibilidade e são quase igualmente associadas com a gordura
corporal total e com a gordura do tronco em cada sexo.
Conforme a revisão de literatura realizada por Buchholz e Bugaresti (2005), para
verificar a precisão do IMC e da circunferência da cintura como indicador da obesidade e
risco para doenças cardiovasculares em indivíduos com LM, foi constatado que o IMC é um
indicador inconsistente para ser relacionado com essas duas variáveis. No entanto, existem
evidências que confirmam a relação entre circunferência da cintura, tecido adiposo visceral e
doenças cardíacas.
Estudos recentes realizados por Edwards et al. (2008) também relatam que a
circunferência da cintura pode ser uma medida válida do tecido adiposo visceral encontrado
em indivíduos com LM e serve como uma ferramenta para identificar riscos para doenças
cardíacas crônicas.
Atualmente, a grande tendência dos estudos nessa área é buscar validar equações que
possibilitem predizer com mais fidedignidade a composição corporal de indivíduos com
deficiência física (MATTOS e GORGATTI, 2003).
50
1.9 NATAÇÃO ADAPTADA
1.9.1 Fase Inicial de Aprendizagem da Natação
De acordo com Sherrill (1993), as atividades aquáticas adaptadas têm como diretriz
mudar, adaptar ou modificar qualquer estilo de nado, jogo ou atividade para ir ao encontro das
necessidades das pessoas com deficiência. A natação adaptada faz parte das atividades
aquáticas adaptadas. Ela propõe uma modificação das técnicas do nado, sem deixar de seguir
as regras da dinâmica da natação, para indivíduos que não conseguem executar os “padrões
da natação devido à falta de força muscular, de flexibilidade ou até mesmo falta de resistência
para executar o movimento completo.
No início da aprendizagem do nado, a flutuação é a primeira habilidade que deve ser
ensinada aos alunos com deficiência (A.S.T., 2000; CAMPION, 2000; MAUERBERG-
deCASTRO, 2005).
Para iniciantes em natação, a falta de equilíbrio da água, na fase de adaptação ao meio
líquido, gera mais insegurança. A ansiedade, o medo, a dificuldade de respiração, entre outros
fatores, dificultam os indivíduos com deficiência a encontrar o equilíbrio na água e, assim, o
processo de adaptação se torna mais lento (CAMPION, 2000).
Com a finalidade de ensinar pessoas com deficiência as habilidades básicas na água,
James Mc Millan elaborou um método pedagógico denominado Halliwick. Seu objetivo é
propiciar ao aluno a obtenção de segurança no meio líquido, bem como a liberdade de
movimentação independente. Assim, a partir do momento em que a pessoa estiver dominando
a flutuação, ela poderá aprender a natação por métodos tradicionais. No entanto, essa
metodologia propõe que as habilidades sejam ensinadas na proporção um para um
(aluno/monitor), sem auxílio de materiais flutuantes (A.S.T., 2000).
Já Mauerberg-deCastro (2005) coloca que o indivíduo com LM enfrenta dois desafios
que são a falta de resposta aos impulsos dos membros imobilizados e o peso muscular do
mesmo. Daí a utilidade de se iniciar com materiais flutuantes na fase de adaptação, e o mesmo
deve ser retirado com o tempo para incentivar a independência completa.
Com relação aos estilos de nado da iniciação, Souza (1994) esclarece que entre os
estilos com braçadas simultâneas (peito, costas com braçadas simultâneas e golfinho), os
nados peito e costas são os mais adequados para a iniciação ou reiniciação, no caso daqueles
51
que já nadavam antes de sofrer LM. Isso se deve ao fato de que a respiração fica facilitada
pela posição do corpo na água e a movimentação dos braços exige menor coordenação
motora. A ação das sequelas da LM fica menos marcante nesses dois estilos.
O nado costas com braçadas simultâneas permite ao indivíduo com LM uma sensação
de mais independência e segurança. Já os nados com braçadas alternadas (crawl e costas
convencional) apresentam um maior grau de dificuldade para os iniciantes paraplégicos e
tetraplégicos, pois as ações propulsoras dos braços provocam ou predispõem a uma rotação do
corpo do nadador, dificultando seu posicionamento na água e exigindo que a cada braçada ele
redirecione sua trajetória.
O nado peito foi descrito pela primeira vez em 1696 por Thevenot, um escritor
francês, que o descreveu como o nado realizado com a cabeça fora da água e o braço dentro
da água no momento de recuperação que, na época, foi reconhecido como o estilo que
proporcionava excelente estabilidade, inclusive em águas turbulentas (MAUERBERG-
deCASTRO, 2005).
1.9.2 Planejamento e Objetivos
Segundo a YMCA (1987), qualquer programa de natação para populações com
deficiência deve ser ajustado ao número de participantes, à natureza e à gravidade de suas
deficiências. O instrutor deve se concentrar nas habilidades e não nas deficiências físicas, pois
a necessidade de cada aluno deve ser considerada individualmente, mesmo em uma instrução
para o grupo. Cada aluno domina as habilidades aquáticas de maneira diferente, dependendo
do seu potencial e limitação. Dessa forma, o professor deve ajudar o aluno a aprender à sua
própria maneira, no seu ritmo.
Para Burkhardt e Escobar (1985), o planejamento de um programa de exercícios
físicos, de um modo geral, deve levar em conta:
- Interferência de fatores externos no rendimento, por exemplo: temperatura da água (o
frio pode aumentar a contração muscular), ambiente com muitas pessoas (motivo de
dispersão), etc;
- Seleção adequada dos exercícios (processo pedagógico partindo de atividades
simples para as mais complexas);
52
- Modificação da carga de esforço de acordo com condicionamento geral do aluno e
com o objetivo específico da aula;
- Presença do sentido lúdico das atividades, sem atingir o extremo de exercícios fúteis
(pois um dos objetivos da natação adaptada é a integração social).
Um programa de natação adaptada deve enfocar o aluno em sua totalidade. Adams et
al. (1985) descrevem cinco objetivos que um programa deve conter:
O objetivo orgânico refere-se às metas que visam aumentar e melhorar a capacidade
funcional dos diversos sistemas do organismo pelo aumento da resistência cardiovascular;
aumento da flexibilidade e da mobilidade das articulações; melhora da força e da resistência
muscular, visando a determinados grupos musculares ou ao condicionamento geral; aumento
da circulação prevenindo a congestão dos vasos.
O objetivo neuromuscular consiste em aumentar as oportunidades para o
desenvolvimento perceptivo-motor como, por exemplo, a coordenação óculo-manual e óculo-
pedal. Os esportes aquáticos fornecem oportunidades para melhorar a capacidade funcional de
muitas deficiências perceptivo-motoras que prevalecem em numerosos deficientes físicos. A
execução de movimentos em vários planos diferentes (exemplo: rotações, flexão do corpo,
etc.) e por métodos diversos é indispensável para o indivíduo fisicamente deficiente que ainda
não explorou tais movimentos. Na piscina, o aluno encontra inúmeras oportunidades nos
jogos, para estimular a coordenação visomotora e para desenvolver várias habilidades.
O objetivo interpretativo se refere à consciência do próprio corpo. O conhecimento do
potencial motor e das possibilidades do aluno é uma parte essencial do objetivo interpretativo.
Na prática da natação, o indivíduo se vê confrontado com um meio multidimensional, no qual
ele pode explorar, descobrir e realizar diversas habilidades motoras ainda desconhecidas. As
atividades que favorecem o desenvolvimento da noção espacial, a percepção do corpo em
relação ao objeto e a noção do próprio corpo podem ser integradas na exploração dentro
d'água.
Ainda com relação ao objetivo interpretativo, este favorece a aquisição dos
conhecimentos relativos ao funcionamento do próprio corpo durante a atividade física,
principalmente dos indivíduos cujas deficiências são recentes (tais como lesão da medula
espinhal, derrame cerebral e amputação causada por acidente). No meio aquático, eles
conseguem entender melhor a maneira como a posição do corpo e as possibilidades motoras
se combinam para garantir a propulsão eficaz do corpo. Essa compreensão interna é
importante para que o deficiente físico tome consciência da relação entre as funções do corpo
e o movimento dentro d’água.
53
O objetivo social se evidencia nas diversas formas de recreação. A interação com
outras pessoas é benéfica para alunos deficientes porque desenvolve a sua habilidade de lidar
com os outros. Muitas vezes, essa relação social fica prejudicada em virtude da falta de
variedade dos contatos sociais e também devido ao baixo autoconceito que faz com que o
indivíduo com deficiência física se isole do convívio em grupo. A natação favorece o
desenvolvimento social por ser uma atividade praticada em grupo. Nas aulas de natação para
grupos mistos, os nadadores com deficiência física, muitas vezes, conseguem competir com
seus colegas sem deficiência em pé de igualdade. Esse fato melhora tanto a auto-imagem
como a capacidade de estabelecer contatos sociais.
Com relação ao objetivo emocional, a natação, como qualquer outra atividade física,
proporciona possibilidades diversas de realização e divertimento. Um dos fatores importantes
é que o aluno é capaz de deixar seu dispositivo para se locomover (por exemplo: cadeira de
rodas, muletas, aparelhos ortopédicos), deslocando-se de forma independente dentro da água.
Fato este que eleva sua auto-estima. Somado a isto, como nem todo mundo sabe nadar, a
prática da natação se torna ainda mais gratificante para os alunos fisicamente deficientes.
De acordo com Gorgatti e Teixeira (2008), o indivíduo com LM inicia a prática de
exercícios por diversas razões, tais como: recomendação médica, melhora de
condicionamento físico, estética, bem-estar psíquico, controle ponderal, sociabilização, entre
outros. Desta forma, um programa de exercícios deve ser elaborado tendo em vista, além de
objetivos motores, objetivos mais amplos como proporcionar maior independência e
capacidade de iniciativa para as atividades do cotidiano, reduzir o tempo de fisioterapia,
contribuir para a aquisição de hábitos de vida saudáveis e controlar a porcentagem de gordura,
evitando o ganho anormal de peso.
1.9.3 Benefícios da Prática da Natação aos Indivíduos com Lesão Medular
Atualmente, os exercícios físicos de um modo geral são considerados práticas
benéficas as PDF, podendo acarretar enormes ganhos, tanto no aspecto motor como no social
e psicológico (GORGATTI e TEIXEIRA, 2008).
Com relação aos benefícios que os esportes podem proporcionar aos indivíduos com
LM, vários estudos já comprovaram algumas alterações nos seguintes aspectos: recuperação
ou melhoria de funções fisiológicas atingidas pela lesão (exemplo: circulação sanguínea nos
54
membros paralisados); aumento da força muscular do tronco, da cintura escapular e dos
braços; treinamento da coordenação motora; ajuda no treinamento do equilíbrio em posição
ereta ou sentada; treinamento da musculatura que foi parcialmente lesada, no caso de paresia;
melhoria da função respiratória e circulatória. Além de todos esses benefícios, natação
destaca-se por reduzir a espasticidade, encontrada em alguns lesados medulares, quando
praticada em piscina aquecida (PAESLACK, 1978; ADAMS et al., 1985; SOUZA, 1994;
BROMLEY, 1997; MAUERBERG-deCASTRO, 2005).
Na fase de reabilitação, os desportos adaptados aos indivíduos com LM permitem a
utilização das capacidades remanescentes, aprendizagem de novas habilidades, diminui o
número de complicações clínicas associadas à LM e auxilia na transição entre ser doente e
apto, revertendo possíveis tendências ao ócio, à apatia e ao isolamento (SOUZA, 1994;
GORGATTI e BÖHME, 2008).
A natação assume um lugar privilegiado entre os exercícios físicos, à medida que a
capacidade de movimento torna-se mais fácil na água. Devido à flutuabilidade, cerca de 90%
do peso corporal desloca-se por si próprio no meio líquido, propiciando às PDF abandonar
temporariamente muletas, próteses, cadeira de rodas, etc., e vivenciar a liberdade de
movimentos. Os membros deficientes adquirem mais mobilidade na água. Em decorrência
disso, a natação propicia um valor psicológico positivo ao possibilitar essa movimentação
sem entraves (PAESLACK, 1978; ADAMS et al., 1985; MEIER, 1981; YMCA, 1987;
MAUERBERG-deCASTRO, 2005; GORGATTI e TEIXEIRA, 2008).
Além disso, a natação contribui para prevenção de úlceras de decúbito, permitindo a
permanência temporária fora da cadeira de rodas e, para a prática do ortostatismo, nas lesões
mais baixas, favorecendo a função circulatória (SOUZA, 1994; GORGATTI e BÖHME,
2008).
De acordo com Burkhardt e Escobar (1985), a natação aos indivíduos com paralisias é
vantajosa também nos seguintes pontos: promove a educação para o lazer; mantém a
amplitude dos movimentos, conservando sua função útil; equilibra os desvios da coluna
vertebral; desenvolve a imagem corporal organizada de acordo com a deficiência física,
procurando a funcionalidade.
Souza (1994) enfatiza que nenhuma outra atividade solicita a musculatura de forma
tão geral quanto essa modalidade esportiva, apresentando baixo risco de acidentes e
oferecendo oportunidades de vivências de novas opções motoras na água (mudança autônoma
da posição do corpo e deslocamentos variados). Mauerberg-deCastro (2005) menciona que as
propriedades da água atuam como facilitadores para inúmeras atividades que em solo não
55
podem ser realizadas. Essas facilitam a descoberta de outras possibilidades motoras que
podem auxiliar na reabilitação do indivíduo como um todo, pois o sucesso traz consigo
inúmeros fatores que psicologicamente elevam a auto-estima.
A tendência ao sedentarismo observada na maioria das PDF leva ao excesso de peso
que por sua vez prejudica a realização das atividades de vida diária. Segundo Adams et al.
(1985), o consumo de energia durante a prática da natação prolongada é um dos mais
elevados entre todas as atividades esportivas realizadas por indivíduos com deficiência física,
o que constitui um fator importante para combater a obesidade, que é um dos principais
obstáculos à conquista da autonomia e QV.
Além dos benefícios físicos, a natação também melhora a auto-imagem e a auto-
estima do aluno deficiente físico por possibilitá-lo a realizar uma atividade com sucesso,
oferecendo oportunidades de ajustamento pessoal nas relações sociais (BURKHARDT e
ESCOBAR, 1985; YMCA, 1987; SOUZA, 1994; BROMLEY, 1997; GORGATTI e
BÖHME, 2008).
1.10 PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
1.10.1 Conceitos
De forma geral, todos se referem à saúde e a QV como se fossem termos bem
definidos, no entanto, são termos revestidos de relevantes dúvidas, principalmente, entre os
profissionais de saúde, em especial, os profissionais de educação física (SILVA et al., 2007).
Atualmente, as propostas de implementação de programas de promoção da saúde e
QV por meio do incremento da atividade física, fundamenta-se principalmente no paradigma
contemporâneo do estilo de vida ativa. Esse entendimento, aceito por vários setores da
comunidade científica, apresenta um referencial teórico embasado na associação da prática de
atividades físicas a melhores padrões de saúde e QV. Entretanto, o homem considerado como
ser histórico sofre influências do seu meio sociocultural, desta forma sua saúde não pode ser
reduzida apenas a uma relação biológica de causa e efeito (ASSUMPÇÃO et al., 2002). O
conceito de promoção de saúde é bem mais amplo do que o conceito saúde, pressupondo
aspectos que vão muito além hábitos saudáveis como o estilo de vida ativo.
56
A 1ª Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde resultou na Carta de Ottawa
(WHO, 1986) que, a partir de então, tornou-se o marco referencial para o desenvolvimento
das idéias de promoção de saúde em todo o mundo (BUSS, 2000). Promoção de saúde, de
acordo com a Carta de Ottawa (1986, p.1-2), é definida como:
...O processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua
qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle deste processo
[...] nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e
pessoais, bem como as capacidades físicas [...] a saúde é o maior recurso para o
desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante
dimensão da qualidade de vida.
Ainda segundo a Carta de Ottawa, os pré-requisitos para a saúde consistem em
algumas condições como: paz, moradia, educação, alimentação, renda, ecossistema saudável,
recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Esses fatores políticos, econômicos, sociais,
culturais, ambientais, comportamentais e biológicos podem tanto favorecer como prejudicar a
saúde.
Czeresnia e Freitas (2003) ressaltam que como a saúde e o adoecer são formas como a
vida se manifesta, dizem respeito a experiências singulares e subjetivas impossíveis de serem
reconhecidas integralmente pela palavra. Assim, entre a subjetividade da experiência da
doença e a objetividade dos conceitos que lhe dão sentido existe uma lacuna. O discurso
médico científico não dá uma significação ampla ao conceito saúde-doença, posto que a saúde
não se posiciona como um objeto a ser delimitado, nem traduzido em conceito científico.
Dentre as várias definições de saúde, por pesquisadores da área da saúde, a definição
proposta por Bouchard et al. (1990, p.175) parece ser bem aceita nos dias atuais:
[...] saúde é uma condição humana com dimensões física, social e psicológica, cada
uma caracterizada em um continuum com pólos positivos e negativos. Saúde
positiva está associada com a capacidade de apreciar a vida e enfrentar desafios;
não é meramente a ausência de doenças. Saúde negativa está associada com a
morbidade, e no extremo, com a mortalidade prematura.
Não existe um conceito único de QV, uma vez que esse tema pressupõe aspectos
objetivos e subjetivos da percepção do indivíduo com relação a sua vida cotidiana. O conjunto
dos elementos objetivos como, por exemplo, os fatores socioeconômicos e políticos, se
entrelaçam com os elementos subjetivos, que podem ser expressos na percepção que o
indivíduo tem em relação ao seu modo de vida e ao seu meio ambiente. Dessa forma, para
alguns a QV está relacionada aos bens materiais, para outros à harmonia familiar, a
espiritualidade, a saúde, etc. (BUONFIGLIO et al., 2005).
57
Na literatura, de acordo com Mazo (2008), encontram-se inúmeras definições do
conceito de QV que refletem as perspectivas e orientações de cada autor, dependendo da sua
visão de homem, sociedade e mundo. Contudo, apesar das diferentes perspectivas teóricas e
da falta de consenso sobre a temática QV, existe entre os pesquisadores uma considerável
concordância acerca de algumas características como:
- subjetividade: não é subjetividade pura e total, pois há condições externas às pessoas,
presentes no meio, nas condições de vida e de trabalho, que influenciam a QV. O conceito de
subjetividade se dá, pela sua pertinência, a um universo ideológico;
- multidimensionalidade: existe um consenso em considerar que a “vida compreende
múltiplas dimensões. Segundo o The Whoqol Group (1995), pelo menos três dimensões
devem ser levadas em consideração: a física, a psicológica e a social;
- bipolaridade: o conceito de QV possui dimensões positivas e negativas. Os exemplos
positivos podem ser: o desempenho de papéis, a mobilidade, a autonomia, etc. Como
exemplos de dimensões negativas, pode-se citar a dor, a fadiga, a dependência, entre outros;
- mutabilidade: a avaliação da QV muda com o tempo, pessoa, lugar e contexto social; para
uma mesma pessoa, muda conforme o seu estado de humor.
1.10.2 WHOQOL-bref – Instrumento para Avaliar a Qualidade de Vida
Qualidade de vida é um termo muito utilizado tanto na linguagem cotidiana, por
pessoas da população em geral, quanto no contexto da pesquisa científica, em diferentes
campos do saber, como sociologia, educação, medicina, enfermagem, psicologia, educação
física e demais especialidades da saúde. Na área da saúde, o interesse pelo conceito QV é
relativamente recente, surgindo pela mudança de paradigma do processo saúde-doença e suas
influências nas políticas e práticas nessa área (SEIDL e ZANNON, 2004).
No campo da saúde, são identificadas duas tendências quanto à conceituação do
termo: QV geral, como um conceito mais genérico, e QV relacionada à saúde. Com relação a
esse último, os médicos têm utilizado esse conceito para medir: os efeitos das enfermidades
crônicas, a fim de compreender como uma enfermidade interfere na vida cotidiana de uma
pessoa; os efeitos de numerosos transtornos e incapacidades de pouca e longa duração;
enfermidades em diferentes populações (SEIDL e ZANNON, 2004; MAZO, 2008).
58
No primeiro caso, a QV geral inclui aspectos relacionados com a saúde, bem-estar
físico, funcional, emocional e mental, como também aspectos como amigos, família, trabalho
e outros, não se restringindo a pessoas portadoras de algum agravo específico (MAZO, 2008).
Essa concepção mais ampla, aparentemente influenciada por estudos sociológicos,
assemelha-se à conceituação à que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (SEIDL e
ZANNON, 2004), em seu estudo multicêntrico que teve por objetivo principal elaborar um
instrumento que avaliasse a QV em uma perspectiva internacional e transcultural: a
percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de
valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações (THE WHOQOL GROUP, 1995, p.1405).
Entre os instrumentos genéricos para avaliar a QV, traduzidos para o português, o
World Health Organization Quality Of Life Assessment-100 (WHOQOL-100) e sua forma
abreviada (WHOQOL-bref) já foram testados e validados cientificamente.
O WHOQOL-100 e sua versão abreviada o WHOQOL-bref abordam 3 aspectos
referentes ao constructo Qualidade de Vida: subjetividade (percepção do indivíduo em relação
a sua vida); multidimensionalidade (o constructo abrange várias dimensões da vida); e
presença de dimensões positivas (ex. mobilidade) e negativas (ex. dor) (BAMPI et al., 2008;
OMS, 1998).
O instrumento WHOQOL-100 é constituído de cem perguntas referentes a seis
domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e
espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. Devido à necessidade de um instrumento mais
curto, que demandasse pouco tempo para o preenchimento e que preservasse características
psicométricas satisfatórias, o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolveu uma versão
abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-bref (FLECK, 2000).
O WHOQOL-bref (ANEXO 4) consta de 26 questões: duas questões gerais de
qualidade de vida e as demais representam cada uma das 24 facetas que compõem o
instrumento original, distribuídas em apenas 4 domínios (físico, psicológico, relações sociais
e meio ambiente) (Quadro 1) (The WHOQOL Group, 1998b).
Os domínios, representados por facetas, são constituídos por questões formuladas para
uma escala de respostas do tipo Likert, com escala de intensidade (nada-extremamente),
capacidade (nada-completamente), frequência (nunca-sempre) e avaliação (muito insatisfeito-
muito satisfeito; muito ruim-muito bom) (OMS, 1998).
59
Quadro 1 – DOMÍNIOS E FACETAS DO WHOQOL-bref.
Domínio I – Domínio Físico
1. Dor e desconforto
2. Energia e fadiga
3. Sono e repouso
9. Mobilidade
10. Atividades da vida cotidiana
11. Dependência de medicação ou de tratamentos
12. Capacidade de trabalho
Domínio II – Domínio Psicológico
4. Sentimentos positivos
5. Pensar, aprender, memória e concentração
6. Auto-estima
7. Imagem corporal e aparência
8. Sentimentos negativos
24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais
Domínio III – Domínio Relações Sociais
13. Relações pessoais
14. Suporte (Apoio) social
15. Atividade sexual
Domínio IV – Domínio Meio Ambiente
16. Segurança física e proteção
17. Ambiente no lar
18. Recursos financeiros
19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer
22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima)
23. Transporte
De acordo com pesquisas realizadas por Fleck et al. (2000), o WHOQOL-bref
apresenta características satisfatórias de consistência interna, validade discriminante, validade
de critério, validade concorrente e fidedignidade teste-reteste, apresentando uma alternativa
útil para ser usada em estudos que se propõem a avaliar QV no Brasil.
Entretanto, a utilização de medidas padronizadas, segundo estudiosos adeptos de
enfoques qualitativos, pode levar a respostas estereotipadas, que têm pouco ou nenhum
significado para a pessoa. Por sua vez, defendem o uso de técnicas como as histórias de vida,
as biografias e outras análises típicas dos enfoques qualitativos que possam trazer mais
contribuições (SEIDL e ZANNON, 2004).
Outros pesquisadores defendem a combinação de medidas padronizadas com análises
de cunho qualitativo, de modo a permitir a emergência de temas que fazem sentido para o
60
sujeito, ao mesmo tempo em que se garante a validade e confiabilidade das técnicas que
viabilizam a comparação de resultados de grupos e de indivíduos (SEIDL e ZANNON, 2004).
1.11 AJUSTAMENTO PSICOSSOCIAL
1. 11.1 Fase de Reabilitação
O indivíduo com LM, antes com saúde normal, ao se deparar com sua real situação de
dependência e imobilidade, apresenta reações diversas. Ao recobrar-se do choque traumático
que o levou a lesionar-se, sua reação psicológica se desenvolverá de acordo com a sua
inteligência, idade e temperamento característico. Inicialmente, a pessoa encontra-se
atordoada para realmente entender sua condição. Ela vai se conscientizar da sua inaptidão
gradativamente, ao se dar conta do que pode significar a perda dos movimentos e das funções
urinária, intestinal e sexual (BROMLEY, 1997).
A maioria das pessoas, ao se confrontar com seus membros dependentes, pesados e
sem função, atravessa um período de depressão. A depressão, em vários casos, é expressa por
comportamentos anti-sociais, por vários tipos de queixas físicas, atrapalhando o progresso da
reabilitação. Essa situação pode ser amenizada quando o tempo passa a ser preenchido com o
trabalho ou quando se nota um progresso em relação à independência (BROMLEY, 1997).
Com a alta hospitalar, o indivíduo com LM é transferido de uma vida amparada entre
outros usuários de cadeira de rodas para o mundo dos fisicamente aptos”, onde ele pode ser
amparado, chamar a atenção ou ser ignorado. Consequentemente, a tendência inicial é fugir
ao contato social até que essa barreira seja superada. É imprescindível um incentivo por parte
da família e dos amigos para o indivíduo com LM sair e tomar parte em atividades sociais
(BROMLEY, 1997).
Para Freed (1994), o ajustamento emocional ocorre depois da alta hospitalar, entre 18
a 24 meses. A terapia de apoio psicológica e o trabalho social podem contribuir muito para
esse ajustamento. Além do que, é essencial o envolvimento da família e dos amigos a fim de
evitar que o lesado medular prejudique a si mesmo sabotando o tratamento e negando sua
realidade no período de depressão. Esse indivíduo somente irá desenvolver uma atitude
61
realista e atingir o máximo de sua reabilitação, se estiver consciente do seu potencial de
realização no aspecto físico e das limitações impostas pela deficiência.
1.11.2 A Contribuição do Exercício Físico e do Esporte
Para Pedrinelli e Verenguer (2008), lidar com as diferenças do outro se constitui em
um grande desafio nas relações interpessoais. Atualmente, embora exista uma premissa legal
que assegura os direitos sociais de igual oportunidade, independentemente da condição
diferente que um indivíduo apresente, muitas ações refletem a influência de modelos
precursores como o de destruição (quando pessoas com deficiência eram sacrificadas), de
segregação (quando a única opção era a segregação em instituições especializadas), de cura
ou prevenção (quando pessoas com deficiência eram focalizadas sob a ótica da limitação, da
doença ou da invalidez). Esses modelos ainda influenciam atitudes que colocam as pessoas
com deficiência em desvantagem de oportunidades para a prática de atividades físicas.
Segundo Diehl (2008), a deficiência física pode ser caracterizada por um
comprometimento físico que restringe não apenas os movimentos de um indivíduo, mas
também seu convívio social. Além das barreiras arquitetônicas que impedem seu acesso aos
espaços sociais ou de trabalho, existe a barreira presente no discurso das pessoas revestido de
preconceitos e mitos. Como por exemplo, o estereótipo construído pela mídia de “corpo
padrão, sendo o corpo “belo e perfeito, o que automaticamente exclui as PDF, visto que
para a grande maioria ser bonito é ser normal. Consequentemente, Gorgatti e Gorgatti
(2008) mencionam que muitas PDF tende a se sentirem feias, pouco atraentes e extremamente
limitadas.
O ajustamento psicológico à incapacidade física, de acordo com Lieberman e
Lieberman (2004), é uma experiência pessoal única que depende das experiências, do
temperamento e das percepções que moldam os processos adaptativos do indivíduo. A
deficiência” esrelacionada ao modo como o indivíduo se avalia, e como ele avalia a
condição incapacitante. Assim, se o enfoque repousar nas deficiências, e não nos aspectos
mais ativos, a extensão da incapacidade será ampliada.
Conforme Adams et al. (1985, p. 1) apontam, os efeitos sociais e psicológicos que
acompanham alguns deficientes podem criar maiores problemas do que propriamente a
incapacidade física. Apesar das limitações e da aparência física, as PDF possuem as mesmas
62
necessidades de ter sucesso, ser reconhecida, aprovada e desejada, como qualquer outra
pessoa sem deficiência. Elas precisam de oportunidades para uma auto-exploração a fim de
envolverem-se com alguma coisa e serem aceitas pela sociedade. Como sugerem Sampaio et
al. (2001), a prática de atividade física pode ser essa oportunidade, à medida que intensifica os
contatos sociais e aumenta a participação na comunidade.
As PDF consideradas individualmente na maioria das vezes são isoladas socialmente,
experimentando uma rejeição e, consequentemente, receio em participar de grupos que não a
sua família. Dessa forma, uma das tarefas principais do educador físico que atua nessa área é
promover a auto-aceitação e a confiança das PDF para que elas desenvolvam habilidades e
talentos que compensem sua deficiência física (ADAMS et al., 1985).
A esse respeito Sampaio et al. (2001) acrescentam que a atividade física e esportiva,
além dos benefícios físicos inerentes a sua prática, acelera a integração do indivíduo com LM
na sociedade. Com a prática da atividade esportiva, sua imagem passa a ser associada à
potencialidade e habilidade e, não à incapacidade, ampliando e melhorando seu convívio
social.
Quando uma pessoa com deficiência domina a habilidade de nadar, ela se coloca em
posição de igualdade praticando a mesma atividade que seus pares não-deficientes, além do
que, ser proficiente em atividades físicas e esportivas dão um grande prestígio social aos seus
praticantes (CAMPION, 2000).
Souza (1994) coloca ainda que o esporte é um meio de reabilitação total do indivíduo
e não apenas de uma função específica. Embora Gorgatti e Gorgatti (2008) descordem que o
esporte adaptado não tem como objetivo a reabilitação, mas sim a competição, concordam
com Souza (1994), Sampaio et al. (2001) e Mauerberg-deCastro (2005) quanto aos enormes
benefícios que a sua prática pode desenvolver, principalmente, nos aspectos psicossociais,
proporcionando uma visível melhora na auto-estima, na autoconfiança, na aceitação da
condição de deficiência, na interação social e de independência.
63
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
- Verificar se um programa de natação adaptada, em um período de oito semanas, pode
contribuir para a melhoria da saúde e da qualidade de vida de indivíduos com lesão medular.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1 - Analisar quantitativamente a melhora das variáveis bioquímicas (colesterol e frações,
triglicérides e glicemia), das medidas antropométricas (massa corporal, IMC, circunferências
do braço e do abdômen, dobras cutâneas tricipital e supra-ilíaca), e do estado de
condicionamento físico dos participantes com lesão medular do programa de natação (grupo
experimental), em protocolo de treinamento intervalado;
2 - Comparar as variáveis bioquímicas estudadas e as medidas antropométricas do grupo
experimental com indivíduos sedentários com lesão medular (grupo controle);
3 - Identificar as possíveis alterações na percepção de qualidade de vida do grupo
experimental, após o programa de natação, por meio de um questionário geral, padronizado,
de qualidade de vida;
4 - Descrever as percepções apresentadas pelos sujeitos do grupo experimental relativas ao
conceito de qualidade de vida e de saúde; e
5 - Levantar e analisar qualitativamente as percepções relativas aos possíveis benefícios do
programa de natação, com entrevista e de grupo focal após o término do mesmo.
64
3 METODOLOGIA
3.1 AMOSTRA
O estudo, de caráter experimental, complementado por uma etapa qualitativa,
envolveu indivíduos com LM da cidade de Ribeirão Preto-SP. Utilizou-se uma amostragem
por conveniência, selecionando membros da população para o estudo que demonstraram
interesse em participar da pesquisa
. A escolha da amostra por conveniência foi necessária
devido à dificuldade de entrar em contato com essa população e a dificuldade de adesão a um
programa de pesquisa envolvendo treinamento físico, alvo deste estudo.
A amostra utilizada, não-probabilística, foi composta por sujeitos que foram
selecionados a partir de encaminhamentos recebidos da Clínica Escola de Fisioterapia da
Universidade de Ribeirão Preto, do CER – Centro de Reabilitação do HC – Campus da
Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e por panfletos distribuídos em locais públicos
com informações a respeito do projeto (APÊNDICE 1).
Participaram do estudo 17 indivíduos com LM, com idade entre 22 e 63 anos, todos do
sexo masculino. A idade cronológica e o nível de lesão não foram considerados como critério
de inclusão devido às limitações em se obter um número satisfatório de indivíduos para
amostra do estudo. Para o grupo controle (GC), adotou-se apenas o sedentarismo como
critério de inclusão.
Todos os sujeitos foram submetidos à anamnese (APÊNDICE 2) e os participantes do
grupo experimental (GE) foram submetidos, também, à exame de eletrocardiograma realizado
pelo Centro Clínico da Universidade de Ribeirão Preto.
Os participantes selecionados foram informados antes do início do estudo sobre os
objetivos e confidencialidade da pesquisa em relação a seu anonimato. Após essa etapa, foram
informados minuciosamente sobre os procedimentos da pesquisa e da ausência de riscos as
suas integridades física e moral. Os sujeitos que concordaram em participar do estudo
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 3) concordando
voluntariamente em participar da pesquisa, sem apresentar nenhuma objeção quanto à
divulgação dos resultados.
65
O projeto de pesquisa, que seguiu rigorosamente as normas da Declaração de Helsinki
e as precípuas da resolução CNS 196/96 do Ministério da Saúde, foi regularmente submetido
e aprovado por dois comitês: Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Franca,
protocolo 136/07 (ANEXO 1 e 2), e Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Ribeirão
Preto, protocolo 202/07 (ANEXO 3).
3.2 DIVISÃO DOS GRUPOS AMOSTRAIS
Os sujeitos da amostra selecionada foram distribuídos em 2 grupos: 11 participantes
do GE e 6 do GC. Essa divisão ocorreu espontaneamente pela desistência dos sujeitos em
praticar natação, a qual foi motivada, segundo relatos dos participantes, por insegurança de
estar no meio aquático, ou devido às complicações de controle da bexiga e intestino.
Para inclusão ao GE (treinamento), adotaram-se os seguintes critérios: ter
movimentação completa ou parcial de alguns músculos dos membros superiores que os
capacitem a realizar a braçada dos nados peito e costas; apresentar atestado médico liberando-
os para prática de exercícios físicos; estarem reabilitados quanto à higiene pessoal; não estar
praticando natação; estar pelo menos três meses sem praticar nenhum esporte.
As descrições das características dos componentes de cada grupo seguem nas Tabelas
1 e 2.
TABELA 1 - CASUÍSTICA DO GRUPO EXPERIMENTAL
Su
j
eitos Idade
(anos)
Nível de
Lesão
Classificação
Neurológica
Tempo de
Lesão
Etiologia
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
31
35
34
35
22
34
26
26
36
47
63
T10
T12
T12-L1
T4-T5
T7-T8
T12
C5
T12-L1
L1
T12
T3-T4
ASIA A
ASIA A
ASIA A
ASIA A
ASIA C
ASIA A
ASIA B
ASIA A
ASIA A
ASIA A
ASIA A
8 anos
9 anos
2 anos
11 anos
2 meses
8 anos
7 anos
10 meses
7 anos
26 anos
9 anos
Acidente Automobilístico
Projétil de Arma de Fogo
Acidente de Trabalho
Acidente Automobilístico
Acidente Automobilístico
Trauma em Assalto
Mergulho em Águas Rasas
Queda de Altura
Projétil de Arma de Fogo
Trauma em Acidente de Trabalho
Tumor
Nível de lesão ver Figura 1
ASIA – A (lesão completa); B (lesão incompleta, preservação sensitiva não-motora abaixo do nível neurológico da lesão); C (lesão
incompleta, preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos músculos-chave abaixo desse nível com grau menor que 3).
66
TABELA 2 - CASUÍSTICA DO GRUPO CONTROLE
Su
j
eitos Idade
(anos)
Nível de
Lesão
Classificação
Neurológica
Tempo de
Lesão
Etiologia
12
13
14
15
16
17
26
26
32
25
30
45
L1-L2
C4-C7
L1
T12-L2
L4
L1
ASIA A
ASIA B
ASIA A
ASIA A
ASIA A
ASIA A
4 anos
4 anos
8 anos
7 anos
1ano
10 anos
Acidente Automobilístico
Acidente Automobilístico
Acidente Automobilístico
Projétil de Arma de Fogo
Queda de Altura
Acidente Automobilístico
Nível de lesão ver Figura 1
ASIA – A (lesão completa); B (lesão incompleta, preservação sensitiva não-motora abaixo do nível neurológico da lesão); C (lesão
incompleta, preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos músculos-chave abaixo desse nível com grau menor que 3).
3.3 LOCAL
O estudo foi realizado no Campus da Universidade de Ribeirão Preto, em piscina
medindo 17x25m, descoberta, aquecida a 27° C. As sessões de natação do estudo ocorreram
no período da manhã (10h30). A piscina utilizada não apresentava instalações especiais para a
entrada de deficientes físicos, o que obrigou a participação de monitores para o auxílio na
transferência da cadeira para a piscina.
3.4 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 1 e 2
Objetivos 1 e 2: analisar quantitativamente a melhora das variáveis bioquímicas
(colesterol e frações, triglicérides e glicemia), das medidas antropométricas (massa corporal,
IMC, circunferências do braço e do abdômen, dobras cutâneas tricipital e supra-ilíaca) e do
estado de condicionamento físico dos participantes com lesão medular do programa de
natação (GE), em protocolo de treinamento intervalado; comparar as variáveis bioquímicas
estudadas e as medidas antropométricas do GE com indivíduos sedentários com lesão medular
(GC).
Primeiramente, os indivíduos foram submetidos à anamnese (APÊNDICE 2), à coleta
de sangue, para análise bioquímica, e à avaliação antropométrica.
A anamnese e o questionário de qualidade de vida (ver em procedimentos para os
objetivos 3 a 5) foram aplicados no mesmo dia, logo após uma breve apresentação da equipe
67
que participou do estudo (pesquisadora responsável pelo projeto, fisioterapeuta, professor de
natação da instituição e monitores); a apresentação da proposta do programa de natação;
esclarecimentos sobre os objetivos do estudo e realização de convite para participação do
mesmo; e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 3) por
parte dos que aceitaram participar do estudo. A anamenese foi realizada pela pesquisadora
responsável individualmente com os sujeitos na sala do Laboratório de Fisiologia do
Exercício e Nutrição Humana – LAFINE da UNAERP.
Os sujeitos foram distribuídos em dois grupos, já descritos, de acordo com as
possibilidades apresentadas por cada um dos entrevistados em participar ou não do programa
de natação.
A coleta de sangue e a avaliação antropométrica foram realizadas em outro dia
conforme a disponibilidade de tempo e de transporte dos participantes.
Na semana seguinte, iniciou-se a fase do experimento no meio líquido composta por:
fase de adaptação ao meio líquido, teste de esforço, protocolo de natação e reavaliação do
teste de esforço. Ao término dessas fases, foram realizadas a reavaliação da antropometria e a
coleta de sangue de cada indivíduo, nos mesmos moldes das avaliações iniciais.
A seguir, cada procedimento será descrito detalhadamente.
3.4.1 BIOQUÍMICA SANGUÍNEA
A coleta de sangue para análise bioquímica dos participantes foi realizada no
Laboratório de Análise Clínicas (LAC) da Universidade de Ribeirão Preto, no período da
manhã.
Na obtenção da amostra sanguínea foram seguidas as recomendações de 12 horas de
jejum, sem consumo de bebida alcoólica nem de medicamentos pelo período de 24 horas. As
amostras foram obtidas do sangue venoso por punção da veia cubital, no período da manhã
com seringa e agulha de 25x8 (MOURA, 1998).
As análises bioquímicas da glicemia de jejum (GLI), dos triglicérides (TRI), do
colesterol total (CT) e frações deste (HDL e LDL) foram realizadas em triplicata,
considerando a média entre elas. Para coleta da amostra sanguínea e análise da glicose foi
utilizado um tubo contendo o anticoagulante fluoreto de sódio, na concentração de 2mg/ml
para inibição da coagulação e glicólise.
68
Na determinação de TRI, CT e fração HDL, o tubo utilizado não apresentava
anticoagulante (MOTTA, 2003). Após a coleta da amostra, o sangue foi centrifugado a 2.500
rpm durante 5 minutos, separando-se o soro para as análises bioquímicas.
As análises foram obtidas com a utilização de kits de reagentes Liquiform
®
enzimáticos e controle Qualitrol
®
da LabTest
®
. Foi utilizado para a leitura das amostras o
equipamento Cobas Mira Plus
®
- Roche
®
.
O método de determinação da glicose adotado foi o enzimático colorimétrico da
oxidase. Para o CT, TRI e HDL-colesterol foram aplicados o método colorimétrico
enzimático. A fração de colesterol LDL-colesterol foi obtida pela fórmula de Friedewald
(1972).
3.4.2 ANTROPOMETRIA
Como não existe uma padronização dos valores de referência antropométricos para
indivíduos com LM, alguns autores sugerem teste e re-teste para avaliar as transformações
ocorridas na composição corporal ou no desempenho de pessoas com deficiência depois de
uma intervenção (PITETTI, 1993; FIGONI et al., 1993; WINNICK e SHORT, 2001; MELLO
e PASETTO, 2008). Dessa forma, optamos por apenas comparar algumas medidas
antropométricas e o IMC de um grupo de indivíduos com LM, antes (avaliação) e depois
(reavaliação) de realizarem um protocolo de natação, e, posteriormente, compará-las com os
valores encontrados em outro grupo de sedentários também com LM.
Selecionamos para a análise antropométrica as seguintes medidas: a massa corporal; a
estatura, as dobras cutâneas tricipital (DT) e supra-ilíaca (DSI); a circunferência do braço
(CB) e do abdômen (CA). A DT e a CB foram avaliadas por se tratar de medidas relacionadas
ao membro responsável pela propulsão no meio líquido; CA e a DSI foram avaliadas por
representar a região de maior deposição de gordura subcutânea em homens e por serem
indicadores relacionado a várias doenças cardiovasculares (POLLOCK e WILMORE, 1993;
HUNTER et al., 1997), inclusive em indivíduos com LM (BUCHHOLZ e BUGARESTI,
2005).
Além disso, optamos ainda por selecionar a DT por ser um local que apresenta função
muscular, como sugere Winnick e Short (2001), e outra dobra numa região onde não há
69
mobilidade muscular (DSI) para verificarmos se há diferenças na metabolização de tecido de
gordura em áreas distintas com relação à função muscular.
Verificamos também o IMC que, embora questionado como indicador de massa
adiposa e obesidade (POLLOCK e WILMORE, 1993; McARDLE et al, 1998), é largamente
utilizado em estudos sobre saúde de indivíduos não-atletas e válido como uma ferramenta
paralela a outros métodos mais precisos para identificar pessoas que possam apresentar perfis
de composição corporal problemáticos (TRITSCHLER, 2003).
O IMC ou índice de Queletet foi calculado a partir das medidas de massa corporal (kg)
e altura (m), utilizando a fórmula: IMC=peso corporal(kg)/altura(m)² (GASSER et al., 1994).
A estatura foi mensurada por estadiômetro da marca Sanny, com acurácia de 0,1mm,
fixado horizontalmente a 40 cm de uma base rígida. Os sujeitos se posicionaram em decúbito
dorsal. Enquanto um avaliador estabilizava os membros inferiores do avaliado em extensão, o
outro realizava a medida da estatura, sendo esta aproximada para 0,1 cm mais próximo. Cabe
ressaltar que todos relataram que sua altura era maior antes do trauma na medula. Muitos
estavam medindo sua altura pela primeira vez após a lesão.
O peso corporal foi aferido em uma balança digital da marca Marte modelo LC 200,
com acurácia de 0,05 kg. Foi utilizada uma cadeira posicionada em cima da balança (Figura
2) para que o sujeito fosse pesado sem sua cadeira de rodas. A balança foi inicialmente tarada,
com a cadeira em cima, para depois fazer a pesagem dos indivíduos. Tanto para pesagem,
quanto para a aferição das dobras cutâneas e circunferências, os avaliados se posicionaram
sentados, com o tronco desnudo e descalço.
Figura 2 – Posicionamento da cadeira em cima da balança
70
Para as medidas das CA e CB foi utilizada uma trena métrica flexível e não elástica,
com mecanismo de retração e travamento, e graduação de 0,1 mm registrando a medida para o
meio centímetro mais próximo.
A medida da CA teve como ponto anatômico de referência a cicatriz umbilical,
colocando-se a fita em um plano horizontal. A medida do braço foi aferida com o mesmo
relaxado (Figura 3), posicionado junto ao corpo, sendo o referencial de medida o ponto
medial entre o acrômio e a cabeça do rádio (MARINS e GIANNICHII, 2003).
Figura 3 – Medida da circunferência do braço
O instrumento utilizado para a mensuração da espessura das dobras cutâneas foi um
compasso plicométrico da Marca Mitutoyo
®
(Japan) com escala em mm e precisão de 1mm.
As medidas foram tomadas em triplicata, considerando-se a média entre elas.
As medidas de espessura das dobras cutâneas foram coletadas no hemicorpo direito do
avaliado, segundo recomendação da norma internacional (WHO, 1995). O compasso foi
colocado de forma perpendicular à dobra, e o tempo de compressão do mesmo não
ultrapassou 4 segundos. A posição do compasso foi, aproximadamente, a 1cm do ponto de
fixação dos dedos (MARINS e GIANNICHI, 2003).
O ponto de medida da DT foi a parte posterior dos braços (Figura 4), sobre o tríceps,
no ponto medial de uma linha imaginária entre o ponto distal e proximal do tríceps. A DSI
teve como referência a prega oblíqua medida num ponto médio entre a última costela e a
crista ilíaca (MARINS e GIANNICHI, 2003).
71
Figura 4 – Ponto de medida da dobra tricipital
3.4.3 ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO
Após essa primeira etapa de avaliações, os sujeitos passaram por uma semana de
adaptação ao meio líquido. Foram três sessões de adaptação, com duração de 50 minutos. O
tempo das sessões foi distribuído em: alongamentos fora da piscina (APÊNDICE 4),
treinamento de transferência da cadeira para a borda da piscina, exercícios para a
familiarização com o colete de flutuação (Figura 5) e exercícios educativos da braçada do
nado peito e costas.
Figura 5Colete de Flutuação
3.4.4 TESTE DE ESFORÇO
Depois da fase de adaptação, os sujeitos foram submetidos a um teste de esforço com
avaliação subjetiva, com a finalidade de se estimar o estado de condicionamento físico de
cada um.
72
De acordo com alguns pesquisadores, existem dados que indicam que a percepção
subjetiva de esforço pode ser usada como um indicador da intensidade do esforço em
exercícios aquáticos (GRAEF e KRUEL, 2006; MENDONÇA e PEREIRA, 2007).
Para avaliar estado de condicionamento físico inicial dos participantes do estudo e
qual seria a intensidade do exercício durante as sessões, foi aplicado um teste de esforço com
a utilização da Escala de Borg. A escala leva em consideração o grau de esforço subjetivo
percebido pelo próprio indivíduo que atribui uma nota variando de 6 a 20 (Figura 6).
6 -
7 muito fácil
8 -
9 Fácil
10 -
11 relativamente fácil
12 -
13 ligeiramente cansativo
14 -
15 Cansativo
16 -
17 muito cansativo
18 -
19 Exaustivo
20 -
Fig. 6 - Escala de Percepção Subjetiva de Esforço (Borg, 2000)
O teste de esforço foi aplicado individualmente e consistiu em realizar a braçada do
nado peito, com a utilização do colete de flutuação, o mais rápido possível até a exaustão.
Cada participante fazia um prévio alongamento e recebia explicações sobre a utilização da
Escala de Percepção Subjetiva de Esforço. Iniciava o teste com a autorização verbal do
professor que cronometrava o tempo de execução do teste. No instante de interrupção do
nado, era registrado o tempo de exercício, a distância percorrida, a percepção subjetiva de
esforço de acordo com a Escala de Borg e a FC.
73
O tempo de execução do teste foi registrado com cronômetro.
A metragem da piscina, feita com cones na sua borda de 5 em 5 metros, auxiliou no
registro da distância percorrida no teste. Para cálculo da distância total do deslocamento com
a braçada do nado peito, foi aferida com uma trena métrica a distância do ponto onde o sujeito
interrompeu o teste até o cone mais próximo.
A percepção subjetiva de esforço foi avaliada através da Escala de Borg apresentada
plastificada aos sujeitos, como mostra a Figura 6, no momento de interrupção do nado. O
sujeito atribuía uma nota que representasse o grau de esforço subjetivo percebido por ele.
A FC foi monitorada com frequencímetro modelo Polar F6 (POLAR Electro Oi -
Filand).
3.4.5 PROTOCOLO DE TREINAMENTO
O programa de natação foi elaborado seguindo alguns critérios de exercícios
recomendados para indivíduos com LM, elaborados por Jacobs e Nash (2004), para
indivíduos paraplégicos: são necessárias de 3 a 5 sessões semanais de exercícios, com duração
de 20 a 60 minutos, numa intensidade de 50 a 80% do VO
2
pico
, utilizando-se tipos de
exercícios como natação, ergômetro de braço, esportes de cadeira de rodas, circuito de
treinamento de resistência, etc.
Segundo os autores, essas referências sugerem que a intensidade alvo do exercício
deve produzir respostas da FC equivalentes a 50-80% da FC
pico
do indivíduo, sendo que, a
frequência e a duração dos exercícios devem ser aumentadas gradativamente uma vez que é
importante evitar lesões e promover a adesão ao exercício.
Uma semana após o teste de esforço, foi aplicado um protocolo de TI em natação,
durante oito semanas consecutivas, com duração de 40 minutos cada sessão, três vezes por
semana. Cada sessão foi composta de 5 minutos de alongamento fora da piscina (APÊNDICE
4), de 20 a 25 minutos de treinamento e o restante de atividades livres, como natação sem
coletes ou atividades recreativas, até completar os 40 minutos.
Nas três primeiras semanas, os praticantes realizavam as sessões de treinamento na
largura da piscina, ou seja, percorriam a distância de 17 m. A partir da quarta semana de
treinamento, as sessões foram realizadas no comprimento da piscina, 25 m. Esse modelo de
74
protocolo foi adaptado ao condicionamento físico do grupo de uma forma geral, e o aumento
gradativo de esforço físico foi elaborado conforme o condicionamento físico da maioria do
grupo.
O protocolo de TI empregou a braçada do nado peito (Figura 7) nos períodos de
trabalho de intensidade moderada a intensa, que corresponderia de 12 a 15 da Escala de Borg,
e a braçada do nado costas (Figura 8) nos períodos de recuperação ativa, com uma pequena
pausa de recuperação passiva na borda da piscina, até completar o tempo de período de
recuperação proposto para cada semana de treinamento.
As sessões foram constituídas por vários períodos de trabalho e de recuperação
durante o tempo estipulado previamente que variou de 20 a 25 minutos:
- 1ª e 2ª semanas: 30 de período de trabalho e 1’30 de período de recuperação durante 20’.
- 3ª semana: 30 de período de trabalho e 1’ de período de recuperação durante 20’.
- 4ª semana: 30 de período de trabalho e 1’ de período de recuperação durante 25’.
- 5ª semana: 1’ de período de trabalho e 1’30 de período de recuperação durante 20’.
- 6ª semana: 1’ de período de trabalho e 1’30 de período de recuperação durante 25’.
- 7ª semana: 1’ de período de trabalho e 1’ de período de recuperação durante 25’.
- 8ª semana: 1’ de período de trabalho e 30 de período de recuperação durante 25’.
Os participantes realizaram as sessões de treinamento coletivamente. Ao som do apito,
todos iniciavam a braçada do peito, cada um em seu ritmo, tentando atingir o número 15 da
Escala de Borg. No segundo apito, todos mudavam de decúbito e realizaram a braçada do
nado costas até atingir a borda.
Figura 7 – Braçada do nado peito Figura 8 – Braçada do nado costas
75
3.5 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 3 a 5
Objetivos 3 a 5: identificar as possíveis alterações na percepção de qualidade de vida
do grupo experimental, após o programa de natação, por meio de um questionário geral,
padronizado, de qualidade de vida; descrever as percepções apresentadas pelos sujeitos do
grupo experimental relativas ao conceito de qualidade de vida e de saúde; levantar e analisar
qualitativamente as percepções relativas aos possíveis benefícios do programa de natação,
com entrevista e de grupo focal após o término do mesmo.
3.5.1 QUESTIONÁRIO WHOQOL-bref
A aplicação do questionário WHOQOL-bref no GE, antes da implementação do
programa de natação, foi realizada de forma coletiva, pela equipe que participou do projeto.
Como o WHOQOL-bref (ANEXO 4) é um instrumento auto-explicativo, todos os
avaliados receberam o questionário para responderem sozinhos. Quando não entendiam o
significado de alguma pergunta, o entrevistador relia a pergunta de forma lenta, evitando dar
sinônimos às palavras das perguntas (aplicação assistida). Quando o respondente apresentava
dificuldades em ler o questionário devido a limitações na alfabetização, o questionário era
lido pelo entrevistador, evitando a influência sobre as respostas do indivíduo, conforme
recomendações para o procedimento de aplicação da Organização Mundial de Saúde (OMS,
1998).
O reteste do WHOQOL-bref foi realizado individualmente pela pesquisadora
responsável. Isso aconteceu após o término do programa de natação, no período em que os
sujeitos retornaram à universidade, onde foi realizado o estudo, para as reavaliações dos testes
de antropometria e esforço. Posteriormente, foi realizada uma entrevista e duas sessões de
grupo focal com os participantes do GE.
76
3.5.2 Abordagem Metodológica Qualitativa
Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, Silva e Menezes (2001)
mencionam que a pesquisa pode ser:
- Quantitativa: de uma maneira geral, as abordagens quantitativas consideram que tudo
pode ser mensurável, quantificável, ou seja, que opiniões e informações podem ser traduzidas
em números, para serem classificadas e analisadas. Essa abordagem requer recursos e de
técnicas estatísticas como percentagem, desvio-padrão, coeficiente de correlação, etc.
- Qualitativa: essa abordagem considera que há uma relação dinâmica entre o mundo
real e o sujeito. Isto é, existe um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. No processo de pesquisa
qualitativa, a interpretação dos fenômenos e a atribuição dos significados são essenciais. O
ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados, em que o pesquisador, instrumento-
chave, analisa seus dados indutivamente. A abordagem qualitativa, de um modo geral, é
descritiva, tendo como focos principais o processo e seu significado.
A escolha pela abordagem qualitativa como complemento de um estudo experimental
ocorreu devido à possibilidade de compreender os significados que os participantes do estudo
atribuem à QV e à saúde. Além disso, o estudo buscou apreender as percepções que os
participantes apresentaram a respeito dos benefícios que o programa teria proporcionado ou
não.
Tal como esclarecem Pope e Mays (1995), os métodos qualitativos e quantitativos,
embora difiram quanto à forma e à ênfase, não se excluem nem guardam relação de oposição.
A abordagem qualitativa pode contribuir em uma pesquisa quantitativa à medida que oferece
procedimentos de cunho racional e indutivo capazes de trazer uma compreensão mais
ampliada dos fenômenos.
Neves (1996) acrescenta que os métodos quantitativos e qualitativos trazem diferentes
visões da realidade que não se contrapõem, mas sim se complementam, auxiliando o
pesquisador a ter uma visão mais abrangente dos problemas, visto que a abordagem
qualitativa pressupõe um contato direto com o objeto de análise e fornece um enfoque
diferenciado para a compreensão da realidade.
A combinação dos dois métodos é denominada por Morse (1991) de triangulação de
métodos. Na fase de coleta de dados, na qual a interação entre os dois métodos é reduzida,
mas se complementam na fase de conclusão, a autora sugere a expressão triangulação
77
simultânea. Segundo ela, a omissão no emprego de métodos qualitativos num estudo, no qual
se faz possível e útil empregá-los, empobrece a visão do pesquisador quanto ao contexto em
que ocorre o fenômeno.
Para Flick (2004), a pesquisa qualitativa trabalha, acima de tudo, com textos. Isto é, os
métodos para a coleta de dados, como a entrevista e as observações, produzem informações
que são transformadas em textos, por gravação e transcrição. Assim, os métodos de
interpretação partem desses textos.
Resumindo, o processo de pesquisa qualitativa pode ser representado como uma
trajetória que parte da teoria em direção ao texto, e outra do texto de volta à teoria. A
interseção dessas duas trajetórias é a coleta de dados verbais ou visuais e a interpretação
destes em um plano de pesquisa específica (FLICK, 2004).
Os dados verbais são, geralmente, coletados por entrevistas semi-estruturadas ou como
narrativas (entrevistas individuais, discussões em grupo, grupos focais, etc.). Os dados visuais
resultam da aplicação de diversos métodos observacionais, que variam da observação
participante e não-participante à etnografia e à análise de fotografias, filmes, entre outros
(FLICK, 2004).
Na etapa seguinte, esses dados são transformados em textos com a sua documentação
e transcrição. Inicia-se a segunda parte do estudo, a trajetória do texto à teoria ou
interpretação. Conforme explica o mesmo autor, essa etapa consiste na transferência de uma
postura teórica a cada método aplicado, ou seja, existe uma postura teórica implícita em cada
método. Antes de se deparar com os dados empíricos pela primeira vez, a postura teórica do
pesquisador é transformada em um plano de pesquisa.
Ainda segundo Flick (2004), formula-se a questão da pesquisa para procurar uma
resposta para o problema do acesso ao campo e aos indivíduos que serão estudados. Elabora-
se uma estratégia para ser aplicada especificamente para os casos ou grupos de amostragem.
A interpretação de dados é orientada ou para a codificação e a categorização ou para a análise
de estruturas sequenciais no texto, conforme o objetivo do pesquisador.
O objeto de investigação em uma pesquisa qualitativa, segundo Bodgan e Biklen
(1997), é aquilo que os sujeitos experimentam, o modo como eles interpretam as suas
experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem. O
processo de condução de uma investigação qualitativa revela-se numa espécie de diálogo
entre investigador e sujeitos, por estes não serem abordados pelo pesquisador de uma forma
neutra.
78
Os instrumentos de coleta de dados selecionados para o estudo foram a entrevista
aberta, para avaliar os benefícios percebidos pelos sujeitos com LM referentes ao programa de
natação, e o grupo focal, para identificar as percepções a respeito dos conceitos “qualidade de
vida e saúde.
3.5.3 Entrevista com Questão Aberta
De acordo com Minayo (1993), a entrevista é a técnica mais utilizada no processo de
trabalho de campo. A entrevista, numa pesquisa, de acordo com autores que tratam o tema
como Thiollent, Schrader, Michelat, Kandel, Good & Hatt e Hyman, fornece dados de duas
naturezas: os dados objetivos, nomenclatura usada por Lundberg, que se referem aos fatos que
o pesquisador poderia obter por outras fontes como, por exemplo, censos, estatísticas,
registros civis e outros; os dados que se referem diretamente ao indivíduo entrevistado, suas
atitudes, valores e opiniões, ou seja, referem-se às informações no nível mais profundo das
realidades denominadas, pelos cientistas sociais, de subjetivas.
Segundo Flick (2004), na entrevista centralizada no problema sugerido por Witzel, é
possível coletar dados com relação a um determinado problema para se compreender o foco
da pesquisa. A entrevista é planejada para auxiliar a corrente narrativa desenvolvida pelo
próprio entrevistado (2004, p. 100), em que o pesquisador deve apresentar seu interesse
centralizado no problema na forma de questões direcionadas.
3.5.3.1 Procedimentos para a coleta de dados da entrevista
A aplicação da entrevista ocorreu na semana das reavaliações da antropometria, do
teste de esforço, do questionário WHOQOL-bref e da última coleta de sangue. Fizeram parte
dessa etapa do estudo apenas os sujeitos do grupo que participaram do programa de natação.
O contato com os sujeitos foi feito pessoalmente, nos dias das reavaliações e, nesse contato,
foi explicado o motivo da entrevista e marcado o dia que coincidisse com o dia e horário da
semana que estava reservado para o programa de natação, assim todos estariam disponíveis.
79
As entrevistas ocorreram no mesmo dia para todos os sujeitos em uma sala da
Universidade de Ribeirão Preto, de fácil acesso à cadeira de rodas.
Foi aplicada uma entrevista que constava de apenas uma questão aberta. A questão
aberta referia-se aos benefícios, percebidos ou não, pelos sujeitos do GE em relação à prática
da natação durante o período de estudo e explorava a respeito das mudanças ocorridas ou não
na QV:
“Quais os benefícios (físicos, psicológicos e sociais) que a natação proporcionou
para você durante esse período? Melhorou sua qualidade de vida?”.
O inquérito foi realizado individualmente pela pesquisadora, que foi a professora
responsável pelo programa de natação. As respostas foram anotadas na própria folha que
continha a questão (APÊNDICE 5). O tempo médio de cada entrevista foi de
aproximadamente 15 minutos.
3.5.4 Grupo Focal
Na concepção de Vaughn et al. (1996), a estratégia de grupo focal é uma técnica
qualitativa que pode ser usada sozinha ou com outras técnicas qualitativas ou quantitativas
para aprofundar o conhecimento das necessidades dos entrevistados.
O Grupo Focal é a reunião de pessoas selecionadas para discutir e comentar sobre um
tema específico (foco no tema), no contexto grupal sob a coordenação de um moderador. O
moderador de um grupo focal assume uma posição de facilitador do processo de discussão, no
qual prioriza os processos psicossociais que emergem, enfatizando o jogo de interinfluências
da formação de opiniões sobre um determinado tema (GONDIM, 2002b).
De acordo com Debus (1994), embora o grupo focal seja uma estratégia metodológica
muito antiga, sua utilização na área da saúde é relativamente recente. Segundo a autora, uma
das suas vantagens é a riqueza de dados, pois como ocorre uma interação em grupo, as
respostas normalmente são mais ricas e amplas. O pesquisador pode observar o debate e assim
obter um conhecimento mais amplo acerca do que acontece com o grupo estudado:
comportamentos, atitudes, linguagem e percepções.
A autora enfatiza a importância do moderador do grupo para facilitar a coleta de
informações e realizar uma dinâmica mais eficaz. O processo de mediação deve abranger os
80
seguintes passos: uma breve introdução, preparação, aprofundamento do conteúdo da
discussão e fechamento do grupo.
3.5.4.1 Procedimentos para a coleta de dados do grupo focal
Com o intuito de conhecer as opiniões sobre o conceito qualidade de vida e obter
informações sobre a percepção de como o programa de natação contribuiu a esse respeito,
foram formados duas sessões de grupo focal auto-referentes. De acordo com Morgan (1997),
os grupos auto-referentes, usados como principal fonte de dados, servem a uma variedade de
propósitos, entre eles, responder a indagações de pesquisa e avaliar opiniões, atitudes,
experiências anteriores e perspectivas futuras.
Após duas semanas da aplicação da entrevista, foram realizadas duas sessões de grupo
focal, com uma coordenadora colaboradora no estudo, a fim de buscar a compreensão a
respeito da percepção de cada participante sobre QV e saúde.
O grupo, composto pelos participantes do GE, foi dividido em dois. O primeiro grupo
foi formado por sete sujeitos e o outro pelos quatro indivíduos que faltaram no primeiro grupo
focal.
O primeiro encontro ocorreu em uma sala de aula da própria instituição na qual eles
participaram do estudo, de acordo com as recomendações de Giovinazzo (2001) no que diz
respeito à fácil localização pelos participantes, não propiciar distrações externas ou internas,
facilitar a adequada disposição dos participantes e ter sistema de áudio ou vídeo.
Os participantes ficaram acomodados em suas cadeiras de rodas, dispostos na forma
de U, ficando o moderador sentado à cabeceira, de frente para os participantes.
Num primeiro momento, o moderador se apresentou e explicou como funcionaria a
dinâmica. A explicitação das regras do grupo focal seguiu algumas recomendações de Morgan
(1997): só uma pessoa fala de cada vez; evitam-se discussões paralelas para que todos
participem; todos têm o direito de dizer o que pensam. Iniciou-se o grupo com a pergunta: “O
que é qualidade de vida para vocês?”. A partir de então, utilizou como método de moderação
perguntas abertas, sem roteiro estruturado, abordando os temas: qualidade de vida e saúde. A
discussão foi gravada para posteriormente ser transcrita (APÊNDICE 6) e analisada.
O segundo grupo (APÊNDICE 7) ocorreu nos mesmos moldes que o grupo focal 1
acima descrito.
81
4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Por se tratar de uma população isolada socialmente que tem acesso restrito tanto a
prática de atividades esportivas, quanto aos locais públicos, devido à falta de adaptações à
cadeira de rodas, a amostra disponível para o estudo foi reduzida. Esses aspectos dificultaram
o contato com os possíveis voluntários, além do que, por se tratar de pessoas que
normalmente apresentam complicações de saúde decorrentes da LM, muitos não se
disponibilizaram a participar de um estudo experimental de várias semanas.
Outra limitação do estudo no que se refere a cadeirantes é dificuldade de transporte.
Como em Ribeirão Preto os ônibus não são adaptados, as PDF dependem de um número
muito limitado de vans da prefeitura aptas a fazerem seu transporte. Em relação a essa
situação, nós, pesquisadores, contratamos um veículo para transportar os sujeitos até o local
do estudo. No entanto, por esse veículo não ser adaptado, alguns voluntários não conseguiram
fazer a transferência da sua cadeira para o veículo, o que os impossibilitou para sua
participação no GE, mas demonstraram interesse em fazer parte do GC.
A impossibilidade de controlar hábitos alimentares e os constantes problemas de
saúde, como infecções urinárias, resfriados, algias e tendinites nos ombros, além de
problemas digestivos, também se mostraram como fatores limitantes do estudo. A frequência
de alguns sujeitos do GE nas sessões de treinamento foi parcialmente prejudicada por essas
complicações que impossibilitavam sua entrada na piscina em algumas ocasiões.
A falta de cobertura da piscina também foi um fator limitante e que interferiu na
metodologia do estudo, pois, a princípio, o tempo de duração do experimento seria de dez
semanas, entretanto, teve que ser reduzido para oito semanas devido a questões climáticas
(frio e chuva). Fato este que poderia interferir parcialmente nos resultados obtidos.
A utilização da antropometria para determinar a composição corporal foi dificultada
devido à falta de um protocolo específico para essa população, que possui características
próprias, como a diminuição de massa óssea, diminuição de massa muscular abaixo do nível
de lesão e aumento da quantidade de gordura por falta de imobilidade dos membros inferiores.
Além disso, a utilização do DEXA (Dual-Energy X-Ray Absorpiometry), que normalmente é
empregada em pesquisas de avaliação corporal de indivíduos com LM, não foi possível
devido ao alto custo do procedimento.
82
Devido a limitações financeiras, não pôde ser realizado o teste de lactato para
avaliação do estado de condicionamento físico, o que, contudo, não comprometeu de forma
significativa a avaliação do estado de condicionamento físico dos sujeitos do GE. A Escala de
Percepção Subjetiva de Esforço de Borg, utilizada no estudo para determinar a intensidade do
esforço, é uma ferramenta válida na monitoração de programa de exercícios, demonstrando
boa correlação com a resposta da frequência cardíaca, lactato sanguíneo, ventilação pulmonar
e consumo de oxigênio durante o exercício (ACSM, 1998).
Os escassos recursos financeiros da pesquisa foram destinados à divulgação do estudo
para recrutar voluntários, ao transporte dos mesmos e às análises bioquímicas, fatores sem os
quais a presente pesquisa seria inviabilizada.
É importante destacar que embora constatadas tais limitações – algumas próprias do
presente estudo e outras comuns aos estudos com esse tipo específico de população – buscou-
se considerá-las no decorrer do estudo, visando atenuá-las quando possível.
83
5 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Tratou-se de um delineamento experimental em que um grupo de sujeitos (GE) passou
por um protocolo de natação, e outro grupo (GC), no qual os sujeitos não sofreram nenhuma
intervenção, são comparados entre si em relação a um conjunto de variáveis antropométricas e
bioquímicas, na situação de avaliação e reavaliação.
No GE, também foram verificadas outras varáveis para predizer o estado de
condicionamento físico nas fases inicial (avaliação) e final (reavaliação) do programa de
natação, e verificados os resultados do questionário WHOQOL-bref aplicado nas mesmas
fases.
Os conjuntos de dados resultantes da observação dessas variáveis estudadas foram
inicialmente submetidos a tratamento descritivo, em que foram calculados os valores da
média aritmética, desvio padrão, coeficiente de variação e amplitude total de variação (faixa
de extensão).
Para comparar os dados obtidos na avaliação com os dados da reavaliação, de ambos
os grupos, foi utilizado o Teste t de Student pareado já que, segundo proposição de Triola
(2005), essa é a estatística apropriada desde que os dados amostrais projetam populações
normais. O teste de normalidade empregado foi o D’Agostino and Pearson Normality Test
que acusou projeção normal para todos os grupos de variáveis.
Para comparar os dados da análise bioquímica e da antropometria do GE com dos
dados do GC foi utilizada a estatística t de Student para dados independentes.
Para verificar a existência de correlação entre as variáveis antropométricas do GE, na
situação pós programa de natação (reavaliação), utilizou-se o coeficiente de correlação de
Pearson, proposição de Siegel e Castellan (2006), para situações em que os dados amostrais
não apresentaram dispersão demasiadamente grande e projetam populações normais.
Para avaliar o estado de condicionamento físico dos sujeitos do GE, utilizou-se o teste
de Wilcoxom, específico para dados não paramétricos, para análise e comparação dos valores
obtidos no teste de esforço para a distância, o tempo, a Escala de Borg e também para a
frequência das sessões de treinamento. Já para os valores da FC do teste, utilizou-se o Teste t
Student para dados pareados e paramétricos.
84
Para todas as análises, adotou-se um nível de significância de α = 0,05.
A estatística descritiva e os testes estatísticos foram realizados através do programa
Graph Pad Prism 5.0. As tabelas e gráficos confeccionados na planilha excel 2007.
85
6 ANÁLISE QUALITATIVA
Para análise das respostas à questão aberta e às respostas obtidas nos grupos focais,
utilizamos uma técnica de análise de conteúdo temática, amplamente indicada para o
tratamento dos dados em pesquisa qualitativa, na área das ciências humanas e sociais. Para
Minayo (1993), o termo análise do conteúdo, significa mais do que um procedimento técnico,
mas uma busca teórica e prática no campo das investigações sociais.
Na análise de conteúdo, segundo Bardin (1979), o interesse vai além da descrição dos
conteúdos. Ele está centrado no que os conteúdos poderão ensinar após serem tratados. Com a
utilização de codificação para as categorias temáticas encontradas procurou-se conhecer as
tendências gerais, em termos de percepções em relação às questões apresentadas aos sujeitos
estudados.
Os dados obtidos na entrevista e nos grupos focais foram organizados de acordo com
os seguintes procedimentos:
- Transcrição do material gravado nos grupos focais
As gravações em fitas de audiocassete foram transcritas com o consentimento e
autorização dos entrevistados.
- Leitura flutuante
Após o término das transcrições, foram realizadas enúmeras leituras de todo material
transcrito para se obter uma visão global do mesmo e definir as categorias de análise. Foram
realizadas também as leituras das respostas obtidas na entrevista com questão aberta que
foram anotadas pela pesquisadora. Essa leitura é denominada flutuante devido ao seu caráter
exploratório.
- Identificação das categorias de análise
Nessa etapa, foi feita a escolha de expressões e frases que deram sentido ao tema QV,
saúde e benefícios do programa de natação proposto pela pesquisa.
- Construção das categorias temáticas
Os dados foram agrupados por semelhança, depois de analisadas as relações existentes
entre os mesmos, com o objetivo de apreender o significado latente da produção dos
entrevistados.
86
- Nova leitura do material transcrito
Procedeu-se a uma nova leitura, observando as unidades identificadas na etapa
anterior, com o objetivo de obter uma melhor compreensão dos dados, para assim, identificar
as categorias temáticas pertinentes ao objeto de estudo em questão.
- Categorização do material
As categorias identificadas referentes à QV foram: saúde, sensação de bem-estar e
prazer, autoconceito e auto-estima, relações interpessoais e cidadania.
As categorias identificadas referentes à saúde foram: ausência de doenças, definição
biopsicossocial e preocupação constante com o corpo.
As categorias identificadas referentes aos benefícios da natação foram divididas em
físicos e psicossociais. As categorias referentes aos benefícios físicos foram: melhora da
capacidade respiratória, redução da sensação de dor física, melhora das condições físicas
e/ou motoras e melhora das disfunções decorrentes da lesão. As categorias referentes aos
benefícios psicossociais foram: aumento do convívio social, melhora da saúde mental,
melhora da autonomia e superação de limites.
- Interpretação dos dados
Após a categorização dos dados, estes foram interpretados à luz das teorias e estudos
realizados no campo de investigação em questão, sendo complementados com reflexões e
pressupostos do pesquisador por meio das observações de campo realizadas durante o
processo de participação no programa de natação.
87
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 1 e 2
7.1 ANAMNESE
Devido ao reduzido número amostral do estudo, não foi possível categorizá-lo de
acordo com a faixa etária, tempo e tipo de lesão para análise dos resultados obtidos na
avaliação e reavaliação.
A amostra estudada apresentou em sua totalidade 17 indivíduos com LM do sexo
masculino, com idades variando entre 22 e 63 anos, sendo a idade média correspondente a
33,71±10,14 anos e o tempo médio de lesão de 7,18±5,92 anos, em que 11 sujeitos fizeram
parte do GE e seis do GC. Algumas características dos sujeitos são apresentadas na Tabela 3.
Como o nível e o tipo de lesão não foram fatores de exclusão no GE, mas sim a
mobilidade suficiente para executar a braçada do nado peito e costas, a amostra se mostrou
bastante diversificada incluindo sujeitos com nível de lesão de L2 a C4, em que, dois
apresentam lesão cervical incompleta (ASIA B), nove lesão torácica completa (ASIA A), um
lesão torácica incompleta (ASIA C) e cinco com lesão lombar completa (ASIA A).
Quanto à etiologia da lesão, 16 dos casos estudados são decorrentes de lesão
traumática e apenas um caso a lesão foi causada por tumor, o que não descaracteriza o perfil
do grupo, visto que esse tumor não sendo congênito, o sujeito sofreu as mesmas alterações
psicológicas e sociais na sua vida após a lesão, além dos mesmos prejuízos físicos,
fisiológicos e metabólicos que o restante do grupo. Das causas de origem traumática, sete são
decorrentes de acidente automobilístico, três de projétil de arma de fogo, dois de queda de
altura, dois de trauma em acidente de trabalho, um de mergulho em águas rasas e um de
trauma em assalto.
Nesse sentido, é importante se considerar a heterogeneidade do grupo estudado, no
que diz respeito ao tempo e o nível de lesão, além da idade. Fato este observado em vários
estudos relacionados a essa população (MANNS e CHAD, 1999; JONES et al., 2003;
MAGGIONI et al., 2003; SILVA et al., 2004; SILVA et al., 2005; EDWARDS et al., 2008;
NICASTRO et al., 2008).
88
Tabela 3 - Distribuição de freqüência dos sujeitos do GC e do GE de acordo
com algumas características gerais verificadas na Anamnese
Características Grupo Grupo Total
dos sujeitos Controle Experimental
Faixa Etária (anos)
20-30 3 3 6
30-40 2 6 8
40-50 1 1 2
acima de 50 - 1 1
Nível de Lesão
Cervical 1 1 2
Torácica 1 9 10
Lombar 4 1 5
Tempo de Lesão
Menos de 10 anos 5 9 14
Mais de 10 anos 1 2 3
Escolaridade
1º grau incompleto 2 3 5
1º grau completo 1 - 1
2º grau incompleto - 1 1
2º grau completo 2 4 6
Superior completo ou incompleto 1 3 4
Estado Civil
Solteiro 5 8 13
Casado 1 3 4
Complicações mais freqüentes
Infecção urinária 3 7 10
Espasticidade 1 3 4
Outras 4 2
6
7.2 ANTROPOMETRIA
O presente estudo avaliou algumas medidas antropométricas para predizer a tendência
do grupo em aumentar ou diminuir essas variáveis antropométricas. De acordo com Nicastro
et al. (2008), diversas pesquisas que avaliaram a composição corporal de pessoas com LM por
técnicas distintas da antropometria apresentaram extrema similaridade de resultados com
resultados obtidos por esse método.
Como não existe uma padronização dos valores de referência antropométricos para
indivíduos com LM, que possuem uma composição corporal diferenciada da população em
89
geral, como aumento do tecido adiposo e redução da massa óssea e muscular (KOCINA,
1997; MAGGIONI, 2003; SPUNGEN et al., 2003), e os métodos utilizados são adaptações
dos convencionais, os valores referentes à composição corporal dessa população podem ser
extremamente comprometidos (MATTOS e GORGATTI, 2003). Optamos, assim, por aplicar
teste (avaliação) e re-teste (reavaliação) de algumas medidas antropométricas e do IMC.
Os dados obtidos na avaliação antropométrica foram: o peso, a estatura, o IMC, a
dobra tricipital (DT), circunferência abdominal (CA), a dobra supra-ilíaca (DSI) e a
circunferência do braço (CB). Para cada uma das variáveis, com exceção da estatura, foram
calculados a média, o desvio padrão (DP), o coeficiente de variação (CV) e o valor de p,
como indicador da significância da diferença das médias na avaliação (fase pré-programa de
exercícios) e na reavaliação (fase pós-programa de exercícios), tanto para o GC como para o
GE conforme demonstram as Tabelas 4 e 5, respectivamente.
TABELA 4 - Dados Antropométricos do GC
Variáveis Avaliação Reavaliação
Média±DP Média±DP p
Peso (kg)
68,88±12,41 69,6±13,06 0,1529
IMC (kg/m²)
23,42±2,59 23,66±2,79 0,1525
DT (mm)
12,44±8,05 13,46±9,12 0,1903
CB (mm)
33,08±3,29 32,92±3,32 0,3397
DSI (mm)
20,39±11,64 23,9±16,86 0,1133
CA (mm)
96,83±17,97 97,25±17,27 0,4272
p* - p<0,05 estatisticamente significante
TABELA 5 - Dados Antropométricos do GE
Variáveis Avaliação Reavaliação
Média±DP Média±DP p
Peso (kg)
68,18±11,93 67,42±11,89 0,1973
IMC (kg/m²)
23,16±3,20 22,89±3,204 0,1823
DT (mm)
9,89±3,76 8,5±3,47 0,0052*
CB (mm)
31,33±3,19 32,27±3,39 0,0100*
DSI (mm)
13,51±6,54 12,56±6,37 0,0207*
CA (mm)
94,32±12,48 92,23±13,09 0,0033*
p* - p<0,05 estatisticamente significante
90
TABELA 6 - Coeficiente de Variação dos dados Antropométricos
do GC e do GE
Grupo Controle Grupo Experimental
Variáveis Avaliação Reavaliação Avaliação Reavaliação
CV (%) CV (%) CV (%) CV (%)
Peso (kg)
18,02 18,77 17,50
17,64
IMC (kg/m²)
11,07 11,81 13,82
13,99
DT (mm)
64,72 67,73 38,01 40,84
CB (mm)
9,95 10,1 10,20 10,52
DSI (mm)
57,1 70,53 48,42 50,72
CA (mm)
18,56 17,76 13,23 14,19
De acordo com as avaliações antropométricas realizadas, valores obtidos no GE
apresentaram diferença estatisticamente significativa (p<0,05) para as variáveis DT, CB, DSI
e CA da avaliação para a reavaliação. Havendo uma diminuição da DT, DSI e CA, e um
aumento da CB. Nessas variáveis mesmo pequenas diferenças entre as médias na avaliação e
reavaliação se mostraram estatisticamente significativas. Essa condição é justificada pelo
número amostral pequeno e pela ausência de grandes diferenças no CV entre as fases pré e
pós-treinamento para todas as variáveis observadas (Tabela 6).
Tais resultados podem revelar uma diminuição do tecido adiposo do braço e da região
abdominal, após os sujeitos passarem por um programa de exercícios, e um aumento do tecido
muscular dos membros superiores, visto que houve um aumento da CB concomitante com a
redução da DT. Em um estudo comparando homens com LM praticantes de exercícios físicos
e sedentários, os autores puderam notar que o tecido adiposo no grupo que pratica exercícios
físicos ou esportes é menor (7,6%) com relação aos indivíduos com LM sedentários (OLLE et
al., 1993).
O IMC e o peso do GE não sofreram alterações significativas da avaliação para a
reavaliação, o que reforça a nossa idéia do possível ganho de massa magra, uma vez que
houve perda de gordura corporal. Além disso, o número de sessões semanais (três vezes por
semana) e falta de reeducação alimentar dos sujeitos também podem ter contribuído para que
a diminuição dessas variáveis não tenham sido significativas, o que pode ser confirmado por
estudos de Guimarães e Ciolac (2004). Os autores afirmam que programas de exercícios
físicos que priorizem a redução de peso devem iniciar com no mínimo 150 minutos semanais
(30 minutos, cinco dias por semana), em intensidade moderada, e progridam gradativamente
para 200 a 300 minutos semanais, além disso, reeducação alimentar tem um papel importante
para melhorar os resultados na perda de peso corporal.
91
Entretanto, como o estudo priorizou a promoção de saúde e não especificamente a
redução do peso ou do IMC, os resultados demonstraram que o protocolo de natação aplicado
três vezes semanais, em oito semanas, é eficiente para a população com LM. O programa de
natação empreendido produziu uma melhora significativa no perfil antropométrico de
indivíduos com LM, provavelmente aumentando o tecido muscular dos membros superiores e
diminuindo o tecido de gordura na região abdominal e nos braços.
Já no GC não houve mudanças significativas da avaliação para a reavaliação em
nenhuma das variáveis, o que era esperado, pois esse grupo não sofreu nenhuma intervenção
no estilo de vida, no que diz respeito a hábitos alimentares e práticas de atividades físicas.
A grande maioria dos estudos para avaliar o perfil antropométrico de indivíduos com
LM é de corte transversal, não experimental, nos quais os sujeitos com LM são apenas
comparados com indivíduos, do mesmo sexo e faixa etária, da população em geral, o que
dificulta nossa análise.
Pesquisas nacionais com o objetivo de verificar a composição corporal de lesados
medulares, com características similares ao do grupo investigado no presente estudo, fazem
apenas a avaliação antropométrica de indivíduos com LM praticantes de atividades esportivas,
também sem nenhuma intervenção com programas de exercícios físicos (GORLA et al., 2007;
QUINTANA e NEIVA, 2008).
Na comparação entre os grupos (Tabela 7), foi observado que os valores médios de
todas as variáveis antropométricas no GE não apresentaram diferença significativa em relação
ao GC na fase inicial (avaliação), indicando a homogeneidade inicial dos grupos com relação
às variáveis verificadas.
TABELA 7 – Média, desvio padrão e significância estatística das Variáveis Antropométricas
no GC e no GE, nas fases de avaliação e reavaliação
Avaliação Reavaliação
Variáveis GC GE p GC GE p
Antropométricas Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP
Peso (kg)
68,88±12,41 68,18±11,93
0,4553
69,6±13,06 67,42±11,89
0,3657
IMC (kg/m²)
23,42±2,59 23,16±3,20
0,4335
23,66±2,79 22,89±3,20
0,3157
DT (mm)
12,44±8,05 9,89±3,76
0,1911
13,46±9,12 8,50±3,47
0,0616
CB (mm)
33,08±3,29 31,33±3,19
0,5520
32,92±3,32 32,27±3,39
0,3559
DSI (mm)
20,39±11,64 13,51±6,54
0,0675
23,9±16,86 12,56±6,37
0,0305*
CA (mm)
96,83±17,97 94,32±12,48
0,3690
97,25±17,27 92,23±13,09
0,2543
p* - p<0,05 estatisticamente significante
92
Verifica-se também na Tabela 7 que a média da variável DSI, na reavaliação do GE,
está significativamente abaixo do valor da reavaliação do GC, o que seria um resultado
positivo esperado após a prática regular de exercícios físicos.
Não existindo diferenças significativas na situação de avaliação, esperava-se encontrar
diferenças significativas entre os dois grupos na situação reavaliação, visto que o GE
apresentou alterações significativas na sua reavaliação. Contudo, isso não ocorreu com as
variáveis DT, CB e CA porque, não obstante, tenham aparecido diferenças até numericamente
maiores entre as médias, os coeficientes de variação destas foram sensivelmente menores do
que o verificado para a DSI no GC na situação de reavaliação (Tabela 6). Essa maior
variabilidade torna o teste menos sensível na caracterização das diferenças como
significativas. No caso específico da DSI a significância se deve a grande diferença observada
entre as médias.
Segundo os critérios da WHO (1995) para a classificação do IMC, verificou-se que, no
GE, não havia nenhum sujeito na fase inicial do estudo com obesidade e apenas 4 valores
foram classificados como excesso de peso (Tabela 8), indicando que o grupo como um todo
(média do IMC 23,16 na avaliação) estava dentro do esperado para os parâmetros de IMC,
conforme apresentado na Tabela 8.
TABELA 8 - Classificação da amostra para o IMC
IMC Grupo controle Grupo Experimental
(kg/m2) Avaliação Reavaliação Avaliação Reavaliação
Baixo Peso
< 18,5 - - - -
Normal
18,5 a 24,9 5 5 7 7
Excesso de Peso
25,0 a 29,9 1 1 4 4
Obesidade I
30,0 a 34,9 - - - -
Obesidade II
35,0 a 39,9 - - - -
Obesidade III
40,0 - - - -
Com relação à CA, Vacanti et al. (2004) mencionam que se definem como gordura
abdominal aumentada os valores da CA maiores que 88 cm para as mulheres e 102 cm para os
homens. No GE, nenhum dos sujeitos apresentou valores da CA acima do esperado, nas fases
pré e pós programa de natação.
93
Em estudo realizado por Liusuwan et al. (2007), os autores compararam adolescentes
com LM, com espinha bífida, sem deficiência e sem sobrepeso e sem deficiência física com
sobrepeso. A comparação do IMC dos grupos de lesados medulares e indivíduos normais não
apresentou diferença estatística significativa e, em ambos os grupos, o IMC médio também se
mostrou dentro da normalidade (18,5 a 24,9kg/m²). Entretanto, a porcentagem de gordura foi
significativamente maior no grupo com LM do que no GC (indivíduos sem LM),
demonstrando que o IMC, assim como outros autores sugerem (JONES et al., 2003;
BUCHHOLZ e BUGARESTI, 2005), não pode ser usado como um indicador da gordura
corporal em pessoas com LM.
Nossos achados contrariam resultados recentes encontrados em um estudo de perfil
antropométrico em indivíduos adultos brasileiros com LM realizado por Nicastro et al.
(2008). No referido estudo o IMC médio encontrado para ambos os gêneros os classifica
como indivíduos com sobrepeso. É importante destacar que esse estudo tinha uma amostra
bem superior ao nosso (42 sujeitos), além de incluir sujeitos do sexo feminino, o que pode ter
influenciado tal diferença.
Resultados controversos podem ser explicados pelo baixo número amostral de
voluntários com LM para a realização das pesquisas, fato este que, segundo Nicastro et al.
(2008), dificulta as análises dos dados.
A correlação entre as variáveis estudadas também foi verificada. De acordo com os
coeficientes de correlação de Pearson e seus respectivos níveis de significância para o GE na
reavaliação (Tabela 9), nota-se que a maioria das variáveis estudadas estavam
significativamente correlacionadas (p<0,05).
94
TABELA 9 - Matriz dos coeficientes de correlação de Pearson e seus
respectivos níveis de significância dos dados antropométricos para o GE
Peso IMC DT CB DSI CA
Peso -
-
IMC r = 0,90
p = 0,0002*
DT r = 0,64 r = 0,6545
p = 0,035* p < 0,0289*
CB r = 0,80 r = 0,8109 r = 0,22
p = 0,003* p < 0,0025* p = 0,52
DSI r = 0,95 r = 0,8747 r = 0,69 r = 0,69
p < 0,0001* p < 0,0004* p = 0,02* p = 0,018*
CA r = 0,72 r = 0,8219 r = 0,66 r = 0,58 r = 0,80 -
p = 0,01* p <0,0019* p = 0,026* p = 0,063 p = 0,003* -
O peso e o IMC apresentaram correlação positiva significativa com as demais
variáveis. Isso significa que indivíduos que têm valores mais baixos de peso e/ou IMC
também apresentam menores valores de dobras cutâneas (DT e DSI) e circunferências (CB e
CA). A falta de correlação entre a CB e a DT (r=22) reforça a suposição que a CB aumentou e
a DT diminuiu pelo fato de que houve um aumento de massa muscular nos membros
superiores, o que aumentaria a CB, em detrimento da redução da gordura localizada nessa
mesma região, o que diminuiria a DT.
A CA apresentou uma forte correlação positiva com a DSI (r=0,80), demonstrando que
sujeitos com menores concentrações de gordura central estão propensos a apresentar CA
menor. Porém, para afirmarmos com precisão esse fato, exames mais adequados para a
avaliação da gordura intravisceral deveriam ser realizados, tais como o DEXA, o que não foi
possível realizar em nosso estudo.
A DT e a DSI mostraram-se significativamente correlacionadas (r=0,69), indicando
que, provavelmente, a distribuição de gordura ocorre no corpo como um todo, independente
da área apresentar função muscular, e não apenas em uma região localizada.
95
A correlação entre CB e CA não foi significativa, talvez por proporções diferentes na
escala de alteração de cada uma.
De um modo geral, os dados referentes às avaliações antropométricas demonstraram a
eficiência do protocolo de natação em promover alterações desejáveis nos indivíduos com LM
estudados, diminuindo alguns indicadores de risco à saúde.
7.3 ANÁLISE BIOQUÍMICA
De acordo com vários autores, existem evidências que comprovaram uma maior
incidência de fatores de riscos para doenças cardiovasculares em indivíduos jovens com LM
do que em pessoas da população em geral (JANSSEN et al., 1997; DALLMEIJER et al.,
1999; JACOBS e NASH, 2004; JONES et al., 2004; GARSHICK, et al., 2005; ZOELLER et
al., 2005). Atualmente, a diabete, as doenças cardíacas e a redução da função pulmonar
representam as causas mais frequentes de morbidade e mortalidade entre pessoas com LM
(GARSHICK, et al., 2005; LAVIS et al., 2007).
Devido à importância dos fatores de risco mencionados acima para as doenças
cardíacas, as variáveis bioquímicas estudadas no grupo sedentário (GC) e no grupo de
indivíduos iniciantes em natação (GE), foram: a glicemia de jejum (GLI), os triglicérides
(TRI), o colesterol total (CT) e frações, HDL-colesterol e LDL-colesterol.
Os resultados observados em ambos os grupos, na avaliação e na reavaliação (fase
pós-condicionamento do GE), estão apresentadas nas Tabelas 10 e 11.
TABELA 10 - Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas no GC
GRUPO CONTROLE
AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO
Parâmetros Média e Faixa de Cv Média e Faixa de Cv P
(mg/dl) Desvio Padrão Extensão (%) Desvio Padrão Extensão (%)
GLI
100±16,77 84 - 125 16,77 91,33±9,05 79 - 102 9,91 0,0689
TRI
93,67±50,37 36 - 181 46,27 97,83±17,20 74 - 127 17,58 0,4153
CT
176,3±52,36 108 - 256 29,69 168,5±26,17 124 - 206 15,53 0,3225
HDL
32,83±4,40 27 - 38 13,4 34,33±3,50 29 - 38 10,20 0,2683
LDL
123±43,11 71 - 182 35,06 114,6±24,11 80,2 - 155 21,03 0,2685
p* - p<0,05 estatisticamente significante
Cv - Coeficiente de variação
96
TABELA 11 - Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas no GE
GRUPO EXPERIMENTAL
AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO
Parâmetros Média e Faixa de Cv Média e Faixa de Cv p
(mg/dl) Desvio Padrão Extensão (%) Desvio Padrão Extensão (%)
GLI
90,36±7,69
81 - 107 8,5
94,36±15,8
61 - 111 16,74 0,1616
TRI
124,5±57,58
43 - 240 46,27
113,6±77,98
17 - 308 68,63 0,2324
CT
164,6±34,47
120 - 226 20,94
176,4±48,04
123 - 289 27,24 0,0660
HDL
34,09±5,87
25 - 43 17,23
43,45±11,74
28 - 64 27,02 0,0110*
LDL
105,7±29,51
63 - 151 27,92
110,2±39,99
68 - 194 36,28 0,2524
p* - p<0,05 estatisticamente significante
Cv - Coeficiente de variação
De acordo com os dados observados nas tabelas, verifica-se que a GLI, os TRI, o CT e
LDL-colesterol não apresentaram alterações significativas nos momentos de avaliação e
reavaliação para ambos os grupos. Já no GE, na dosagem de fração de colesterol HDL foram
observadas diferenças significativas (p=0,0110), evidenciando uma melhora na fase pós-
condicionamento, o que não ocorreu no GC.
Os resultados que não demonstraram diferenças significativas, entre as fases de
avaliação e reavaliação do GE, podem ser parcialmente explicados pela falta de controle de
hábitos alimentares e talvez pela curta duração do protocolo de treinamento. Isso porque,
segundo Leon e Sanchez (2001), programas com mais de 12 semanas de duração são capazes
de promover a redução do LDL-colesterol e do TRI, e aumento do HDL-colesterol, o que foi
confirmado por Lavis et al. (2007) na população de LM.
No entanto, de acordo com Kraus et al. (2002) são justamente os níveis mais altos de
exercício que promovem efeitos positivos no perfil lipídico. Fato este observado em estudo
realizado por Durán et al. (2001), em que pacientes com LM submetidos a um programa de
resistência aeróbia, durante 16 semanas, com intensidade do exercício correspondente ao 10
da Escala de Borg, não apresentaram melhora estatisticamente significativa em nenhuma das
variáveis bioquímicas estudadas (CT, TRI, HDL e LDL).
Em estudo realizado por Silva et al. (2004), com o objetivo de comparar os mesmos
parâmetros bioquímicos que o nosso estudo, em indivíduos com LM, os pesquisadores
encontraram resultados semelhantes aos nossos. Os sujeitos praticantes de exercícios físicos
(natação ou basquete) foram comparados com sedentários. Os resultados referentes à
concentração plasmática de LDL-colesterol e TRI não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos. Em contrapartida, o HDL-colesterol
apresentou valores abaixo do limite de normalidade em ambos os grupos.
97
Alguns pesquisadores constataram que o exercício pode exercer um efeito positivo no
aumento do HDL, porém não está completamente dimensionada a quantidade e a intensidade
do exercício necessária para que isso ocorra (WASHBURN e FIGONI, 1999; SILVA et al.,
2004; CAPOOR e STEIN, 2005).
Rennie et al. (2003) constataram que as atividades mais vigorosas é que estão
significativamente associadas com o aumento da concentração de HDL-colesterol e melhora
de outros fatores relacionados à SM. Os nossos resultados também sugerem que, mesmo em
pouco período de prática de exercícios, se a intensidade for de moderada a intensa, eleva os
valores da concentração sanguínea de HDL-colesterol, o que talvez possa não ter ocorrido nos
estudos de Silva et al. (2004) e Duran et al. (2001) devido à baixa intensidade dos exercícios.
Em nosso estudo, a intensidade do exercício foi capaz de promover alterações significativas
na concentração de HDL-colesterol. Porém, não alterou as demais variáveis, o que poderia
ocorrer caso o protocolo fosse mais duradouro ou se a intensidade fosse mais elevada ainda.
Já a Tabela 12 apresenta a comparação dos grupos controle e experimental no que se
refere à porcentagem de indivíduos que apresentaram resultados da análise bioquímica fora
dos valores estipulados pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome
Metabólica (2005).
TABELA 12 – Número de indivíduos que apresentou valores fora do limite de
normalidade para as variáveis bioquímicas estudadas em ambos os grupos
Grupo Controle Grupo Experimental Referência
Parâmetros
Avaliação Reavaliação Avaliação Reavaliação (mg/dl)
GLI
2 1 1 6
70 -100
TRI
1 0 5 3
< 150
CT
2 1 1 3
< 200
HDL
6 6 9 4
> 40
LDL
3 0 2 3
< 130
De um modo geral, o exercício físico melhora a sensibilidade à insulina e contribui
com a eliminação da glicose na circulação sanguínea (JONES et al., 2004; STEWART et al.,
2005). Em estudo realizado por Bauman et al. (1992), observou-se que a média de
concentração plasmática de glicose foi maior em indivíduos com diabetes tipo 2 do que
naqueles indivíduos com tolerância à glicose normal.
Ainda segundo o autor, o baixo nível de condicionamento físico foi o determinante
mais evidente da menor sensibilidade à insulina em sujeitos com LM sem treinamento. No
entanto, podemos encontrar na literatura que o determinante mais forte da taxa de
98
metabolização da glicose foi a composição corporal e, mais especificamente, a massa de
gordura corporal e não o estado de condicionamento físico (JARVINEN e KOIVISTO, 1983;
STEWART et al., 2005).
No nosso estudo, os sujeitos do GE tiveram uma melhora significativa no
condicionamento físico, da fase inicial para a fase pós-condicionamento (Tabela 14), porém, a
média glicêmica do grupo não sofreu alterações significativas (p=0,1616), conforme
apresentado na Tabela 8. Além do que, o número de sujeitos com valores fora da normalidade
aumentou de 1 para 6 na fase pós-condicionamento físico (Tabela 12). Esse aumento da
concentração de glicemia pode estar relacionado com o estado inflamatório (KIMURA et al.,
2001; HARVEY e WILLIAMS, 2002) comum a essa população, apresentado por alguns
sujeitos, na fase de reavaliação, devido à infecção urinária comprovada por exames
laboratoriais.
De acordo com a Tabela 12, o número de indivíduos do GE que apresentou valores
fora das referências para as variáveis CT e LDL-colesterol também aumentou da fase de
avaliação para a reavaliação, o que não era previsto. Em estudo de corte realizado por Silva et
al. (2004) com indivíduos paraplégicos, o número de sujeitos que apresentaram esses valores
bioquímicos fora dos limites da normalidade foi bem menor no grupo que praticava exercício
físico (basquete ou natação), quando comparados ao grupo sedentário.
Nos nossos achados, podemos novamente considerar que um provável padrão
alimentar inadequado (que não foi analisado) pode ter contribuído para as alterações nessas
variáveis, visto que o consumo excessivo de alimentos com alto teor de glicose e lipídios pode
elevar seus valores (PEREIRA et al., 2003).
Mojtahedi et al. (2008) compararam um grupo de jovens atletas com LM e indivíduos
sem deficiência física, mas sedentários, e concluiu que a regularidade da prática de exercícios
pode manter a sensibilidade à insulina em lesados medulares, contudo, a massa de gordura
total e gordura central demonstraram um impacto maior sobre o risco para doenças
metabólicas em indivíduos com LM. Segundo os autores, o mais importante para a prevenção
de distúrbios metabólicos na população de LM é diminuir a massa adiposa e aumentar a
massa muscular.
Com relação ao nível plasmático de colesterol-HDL, o GE apresentou uma evidente
melhora, e dos nove sujeitos que inicialmente encontravam-se fora da faixa de referência,
cinco conseguiram alcançar níveis satisfatórios de concentração plasmática dessa variável
após o programa de natação. Esse resultado reforça o conceito de que indivíduos com LM
ativos têm melhores níveis de HDL-colesterol do que aqueles com LM que não praticam
99
exercícios físicos regularmente (KOCINA, 1997; DALLMEIJER et al., 1999; JONES et al.,
2004).
Na comparação entre os grupos controle e experimental (Tabela 13), a dosagem de
fração de colesterol HDL apresentou diferenças significativas (p=0,0433) da fase inicial, em
que seus valores para as variáveis não apresentavam diferença significativa, para a fase pós-
programa de condicionamento físico, evidenciando uma melhor condição do GE em relação
ao GC. Este mesmo resultado pode também ser observado na reavaliação do GE que foi
demonstrado na Tabela 11.
TABELA 13 - Comparação das médias e desvio padrão da análise bioquímica do GC e do GE
Avaliação Reavaliação
Parâmetros GC GE p GC GE P
(mg/dl) Média e DP Média e DP Média e DP Média e DP
GLI
100,00±16,77 90,36±7,69 0,0603 91,33±9,05 94,36±15,80 0,3370
TRI
93,67±50,37 124,50±57,58 0,1449 97,83±17,20 113,60±77,98 0,3180
CT
176,30±52,36 164,60±34,47 0,2925 168,50±26,17 176,40±48,04 0,3588
HDL
32,83±4,40 34,09±5,87 0,3272 34,33±3,50 43,45±11,74 0,0433*
LDL
123,00±43,11 105,70±29,51 0,1707 114,60±24,11 110,20±39,99 0,4058
p* - p<0,05 estatisticamente significante
As alterações nos lipídeos frequentemente encontradas em indivíduos sedentários com
LM, como já foram mencionadas anteriormente, em estudos realizados por Jassen et al.
(1997), estão associadas às causas comuns que também provocam essas alterações em pessoas
da população em geral, como a falta de atividade física, o excesso de peso e de gordura
corporal.
Em suas pesquisas, os autores verificaram que nenhuma das variáveis lipídicas
estudadas em indivíduos com LM estava relacionada com o nível de lesão. No entanto, o que
acontece com os indivíduos com LM é que o excesso de peso, decorrente do sedentarismo, e o
envelhecimento propiciam condições favoráveis para o surgimento precoce de valores
bioquímicos alterados. Para tanto, os indicadores mais importantes para o risco de doenças
coronárias são idade, tabagismo, etilismo, tecido adiposo e sedentarismo.
De acordo com Jacobs e Nash (2004), em estudo de revisão de literatura a respeito dos
exercícios recomendados para lesados medulares, não são verificadas alterações no CT, e os
casos de LDL-colesterol seguem os mesmos padrões típicos da população geral e não
necessariamente devido à lesão. O achado mais consistente e que teve um maior consenso
entre os estudos foi o HDL-colesterol baixo na população sedentária com LM, cujos níveis
100
estão inversamente associados com os riscos cardíacos. Segundo Silva et al. (2004), alguns
pesquisadores acreditam que a interrupção de comunicação no sistema nervoso autônomo
altera a concentração de HDL-colesterol e, mesmo com um programa de exercícios, essa
concentração tende a permanecer diminuída.
O aumento de risco de ataque cardíaco em sedentários com LM é de 60% a 90% maior
do que em indivíduos aptos fisicamente, do mesmo sexo, idade, peso e altura (KOCINA,
1997). É bem conhecida a correlação entre baixos níveis de HDL-colesterol e aumento do
risco de desenvolver doenças cardíacas. O HDL-colesterol menor que 40mg/dl é por si só um
fator de risco para doenças cardíacas, e o inverso, altos níveis de HDL-colesterol tem
mostrado um efeito protetor (LAVIS e SCELZA, 2007).
O programa de exercícios intervalados, aqui executado com intensidade de moderada à
intensa, pode, mesmo em curto período de tempo, promover alterações positivas nos valores
de HDL-colesterol nos sujeitos estudados. Isso indica que o protocolo utilizado em nosso
estudo pode ser eficiente para a manutenção da saúde cardiovascular desses sujeitos.
7.4 ESTADO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO
Em indivíduos com LM, devido à perda direta de controle motor e influência do
sistema simpático abaixo do nível de lesão, a capacidade dos sistemas cardiovascular,
muscular e respiratório encontra-se reduzida. O baixo nível de condicionamento físico
associado à inatividade física aumenta o risco de complicações clínicas e, consequentemente,
a recaída na saúde contribui para a redução da QV dessa população. Dessa forma, a avaliação
da capacidade física pode ser um indicador do potencial do nível de atividade, da participação
social e da QV (HAISMA et al., 2006).
A partir do exposto acima, foi elaborado um protocolo de natação utilizando o método
intervalado de treinamento, no qual o volume, a intensidade do exercício e a relação
trabalho/recuperação pudessem ter um efeito positivo tanto no aumento da capacidade aeróbia
quanto na capacidade anaeróbia, determinando uma intensidade de domínio moderado a
intenso.
Assim, os valores obtidos no teste de esforço para estimar o estado de
condicionamento físico dos sujeitos do GE no 1º teste (avaliação) e no 2º teste (reavaliação),
apresentados na Tabela 14, demonstraram uma grande melhora nesse aspecto, quando o
101
tempo (s) de execução do exercício e a distância percorrida (m) são avaliados e comparados
com a Escala de Borg.
Tabela 14 - Valores individuais, variações, médias e desvio padrão das variáveis no 1º e
no 2º Teste de Esforço no GE
Sujeitos Frequência
sessões (%)
Distância (m) Variação Tempo (s) Variação Escala de Borg
1º 2º 1º 2º 1º 2º
1
95,8 25 500 475 54 1490 1436 15 17
2
70,8 17 250 233 50 1099 1049 15 12
3
50,0 20 58 38 34 135 101 17 15
4
70,8 9 25 16 35 125 90 13 12
5
95,8 35 75 40 79 136 57 18 16
6
87,5 25 50 25 65 115 50 13 15
7
79,2 8 25 17 36 100 64 15 15
8
91,7 31 95 64 70 245 175 18 18
9
75,0 6 75 69 19 160 141 15 17
10
91,7 14 55 41 43 362 319 16 16
11
79,2 9 200 191 33 630 597 15 14
Média 80,7 18,1 128* 109,9 47,1 417,9* 370,8 15,5 15,2
Desvio Padrão 13,9 9,9 142,4 140,8 18,3 468,6 467,6 1,7 1,9
Diferença significativa em relação ao 1º Teste. Wilcoxom matched-pairs signed-ranks test p0,05.
Dos 11 sujeitos selecionados para participarem do GE, todos completaram o
programa de treinamento, o que pode ser observado individualmente na Tabela 14, o que
representa um resultado excelente ao programa, visto que um dos maiores problemas em
pesquisas envolvendo indivíduos com LM é justamente a baixa adesão e frequência.
O grupo apresentou uma frequência média de 80,7±13,9, na qual apenas um
indivíduo atingiu o limite mínimo de frequência de 50%, sendo isso ocasionado por
problemas de saúde (tendinite no ombro).
Devido às complicações decorrentes da LM, alguns sujeitos faltaram às sessões de
treino por motivo de saúde, sendo a infecção urinária o problema de maior incidência entre
os lesados medulares do grupo avaliado.
De acordo com alguns autores, o protocolo de TI tem a grande vantagem de ser uma
boa estratégia para a adesão de indivíduos sedentários iniciantes ao programa de exercícios, à
medida que o protocolo permite ser elaborado de forma progressiva e não incluir rapidamente
um alto dispêndio de energia, para não causar resistência ao treinamento por parte dos
indivíduos (SNYDER et al.,1997; MOOKERJEE, 1998; SABIA, 2003). Nosso protocolo
seguiu tais recomendações e podemos constatar sua eficácia em garantir, além dos benefícios
físicos próprios do esforço físico, a adesão do grupo todo ao programa de natação.
102
Mesmo não tendo sido foco do estudo, pudemos notar ainda que o fato dos sujeitos
realizarem os exercícios em conjunto facilitou a integração do grupo, fato este importante
também para a total adesão de todos os sujeitos ao estudo.
Em relação à análise do condicionamento físico, os resultados revelados após oito
semanas de treinamento demonstraram uma diferença significativa em relação à distância
percorrida na água, quando comparados com a fase pré-treinamento (p<0,001). O aumento
margeou a casa dos 700% e pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1. Comparação da distância média (m) percorrida
nos testes de avaliação do condicionamento físico
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
300,00
1° Teste 2° Teste
Disncia (m)
O aumento da distância percorrida pode, em parte, ser explicado por uma melhora da
eficiência mecânica dos membros superiores do nado peito, naturalmente adquirida pelos
sujeitos durante o protocolo. Contudo, a grande magnitude do aumento de distância (700%) e
de tempo (890%) pode ser explicada, provavelmente, por uma grande e determinante melhora
no estado de condicionamento físico. Dois fatores nos apontam para isso: a melhora da
eficiência mecânica dos nados peito e costas dos indivíduos com LM é comprometida em
função da condição dos membros inferiores; e o aumento do tempo de perdurance na
atividade, que representa maior resistência muscular ao esforço, resultado clássico da melhora
do condicionamento.
É importante lembrar ainda que, a grande magnitude da elevação média da distância
percorrida é um pouco comprometida em função do desvio forçado pelos sujeitos 1, 2 e 11.
Entretanto, quando os resultados desses sujeitos são extraídos do cômputo geral, a variação
ainda é maior do que 300%, o que revela uma sensível melhora dessa variável demonstrando
103
a eficiência do protocolo de treinamento em elevar a capacidade de deslocamento com a
braçada do nado peito.
Em relação ao tempo de duração do exercício após o treinamento, o Gráfico 2 mostra
uma elevação em torno de 890% em relação ao observado no primeiro teste. Mesmo quando
excluídos os resultados dos sujeitos 1, 2 e 11, que elevaram o desvio padrão, o aumento da
capacidade de execução do exercício margeou a casa dos 350%, resultados estes que
demonstram uma melhora significativa (p<0,001) da função cardiorrespiratória, visto que a
condição física inicial dos sujeitos não permitiu que conseguissem manter a braçada do peito
por mais de 1 minuto e 19 segundos, resultado inicial do sujeito 5, que obteve melhor
desempenho no primeiro teste de esforço.
Gráfico 2. Comparação do tempo médio (s) de duração
nos testes de avaliação do condicionamento físico
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
900,00
1000,00
1° Teste 2° Teste
Tempo (seg)
Com relação à Escala de Borg (Gráfico 3), os resultados demonstraram que a
percepção subjetiva de esforço não se apresentou como uma ferramenta sensível para a
avaliação da melhora do condicionamento físico em indivíduos com LM (p=0,743),
especialmente, quando correlacionada com as demais variáveis aqui observadas.
Contudo, é possível considerar também que a manutenção do mesmo nível na escala
entre as duas fases testadas, as quais apresentaram diferenças entre si, ajuda-nos a reforçar a
ideia do ganho de condicionamento físico por esses sujeitos em função do treinamento
empreendido. Os sujeitos na reavaliação conseguiram manter o exercício por mais tempo,
percorreram uma distância maior, e a média da sensação de esforço do grupo não se alterou da
avaliação para a reavaliação, como está demonstrado no Gráfico 3.
104
Gráfico 3. Comparação dos resultados médios obtidos na Escala de Borg
nos testes de avaliação do condicionamento físico
0,00
3,00
6,00
9,00
12,00
15,00
18,00
Teste Teste
Escala de Borg
Com relação à FC aferida no teste de esforço, os dados dos sujeitos estão apresentados
na Tabela 15 a seguir, juntamente com os resultados da percepção subjetiva de esforço
obtidos através da Escala de Borg.
Tabela 15 – Valores individuais, médias e desvio padrão da FC e da Escala de Borg
obtidos no Teste de Esforço
AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO
Sujeitos FCmáx FC teste % da FCmáx E. Borg FC teste % da FCmáx E. Borg
1 189 189 100 15 157 83 17
2 185 173 94 15 130 70 12
3 186 148 80 17 162 87 15
4 185 197 106 13 187 101 12
5 198 174 88 18 173 87 16
6 186 125 67 13 157 84 15
7 194 116 60 15 107 55 15
8 194 173 89 18 174 90 18
9 184 108 59 15 140 76 17
10 173 138 80 16 148 86 16
11 157 129 82 15 100 64 14
Média±DP 185±11 152±31 82±16 15±2 149±27 80±13 15±2
Não existe diferença significativa da % de FCmáx da avaliação para a reavaliação.
Teste t Student dados pareados e paramétricos - p 0,05.
A média da % da FCmáx do grupo obtida no Teste de Esforço não sofreu alterações
significativas (p=0,76) da avaliação para a reavaliação, o que implica na inadequação da FC
como indicador da melhora do condicionamento físico, visto que o tempo médio e a distância
105
média percorrida durante o teste aumentaram significativamente após as oito semanas de
treinamento. Não houve também correlação da % de FCmáx do teste e a percepção subjetiva
de esforço obtida pela Escala de Borg, tanto na avaliação (r=0,04) quanto na reavaliação
(r=0,09) do Teste de Esforço.
Embora a FC e a percepção subjetiva de esforço possam ser utilizadas como
indicadores de intensidade de esforço no meio líquido (GRAEF e KRUEL, 2006), em nosso
estudo isso não ocorreu. O fato dos sujeitos não terem mobilidade de membros inferiores e
terem realizado exclusivamente a braçada com o uso do colete de flutuação pode ter
interferido nessas variáveis. Segundo Fox e Mathews (1983), o movimento contínuo dos
membros superiores e dos ombros promove grande estimulação do plexo nervoso braquial, o
que parece estimular o aumento da FC.
Além disso, segundo Graef e Kruel (2006), no meio aquático, tanto durante o repouso
como durante o exercício, a FC sofre influência de fatores como a posição do corpo, a
profundidade de imersão, a temperatura da água, a FC de repouso e a diminuição do peso
hidrostático.
Os resultados da média do tempo e da distância percorrida durante o teste de esforço
devem-se provavelmente a dois aspectos: (1) o baixo grau de mobilidade dos sujeitos e seu
elevado estado de sedentarismo na fase pré-treinamento, o que sem dúvida foi um fator
determinante nos resultados muito baixos nessa fase do estudo; (2) a boa adequação entre
densidade, volume e intensidade do protocolo de TI, o que o torna eficiente em aumentar o
estado de condicionamento de indivíduos com LM. Eficiência essa decorrente também da
grande adaptação ao meio aquático demonstrada por todos os sujeitos, devido provavelmente
ao uso do colete de flutuação, que propicia mais sensação de segurança no meio líquido, e do
aumento da força muscular.
Conforme Zoeller et al. (2005) esclarecem, o ganho de força muscular exerce
influência positiva nos exercícios de potência e resistência aeróbia em indivíduos com
paraplegia. Provavelmente, o nosso protocolo, por ser composto por exercícios em domínio
intenso, com significativo componente anaeróbio, pode ter sido determinante de aumento no
ganho de força muscular, o que, segundo os autores acima, pode interferir positivamente no
condicionamento físico aeróbio, evidenciado em nosso estudo, pelas respostas encontradas no
tempo de duração e na distância percorrida.
Ainda de acordo com os autores, o aumento da força muscular reduz a fadiga muscular
e o indivíduo consegue realizar uma atividade física por períodos mais longos. Tal fato pôde
ser observado pelos resultados de melhora significativa de tempo e duração dos exercícios,
106
sem paralela alteração da percepção subjetiva de esforço. O que nos indica que o protocolo de
TI em natação empregado no estudo, com os sujeitos lesados medulares, pode ser eficiente
neste aspecto.
Resultados e considerações semelhantes são apresentados por Navarro (1996), em
indivíduos da população em geral. Neste caso, o autor afirma que o TI pode aumentar as
possibilidades funcionais do coração, as quais constituem o principal fator limitador do nível
de produtividade aeróbica. Além de propiciar ao nadador oportunidade de executar o nado
com intensidades mais altas antes do aparecimento da acumulação do ácido láctico e ainda
que, quanto maior for a intensidade do trabalho, melhor também será o aperfeiçoamento da
capacidade anaeróbica.
Jurca et al. (2004), ao pesquisarem a associação entre SM em homens com bom
condicionamento físico e força muscular, concluíram que as chances desses indivíduos com
IMC normal (IMC<25 kg/m²), com sobrepeso (IMC entre 25-30 kg/m²) e obesos (IMC30
kg/m²) de desenvolver SM reduzem em 73%, 69% e 62%, respectivamente.
Em estudo com indivíduos com LM, Janssen et al. (2002) afirmam que embora a
capacidade física (o que inclui o condicionamento físico e muscular) seja determinada por
alguns fatores que não podem ser alterados, como idade, sexo e nível de lesão, ela pode
melhorar substancialmente com a prática regular de exercícios físicos e com a diminuição da
massa corporal.
A capacidade física está inversamente relacionada com a fadiga física durante as
atividades diárias. Isso, de acordo com os autores, indica que uma baixa capacidade física
pode levar a altos níveis de fadiga, diminuindo a possibilidade de realização de tarefas diárias
com autonomia, o que prejudica a QV dos mesmos (JANSSEN et al., 2002; CAPOOR e
STEIN, 2005).
Contudo, um número muito limitado de estudos tem mostrado, de uma maneira geral,
os efeitos do exercício especificamente em indivíduos com LM. Por outro lado, nenhum
estudo de intervenção experimental, com indivíduos não-atletas, mostra os efeitos da natação
nas variáveis pesquisadas em nosso estudo, o que dificulta muito a comparação dos nossos
achados com outras pesquisas semelhantes.
O estudo que mais se aproximou dos nossos achados, utilizando a natação como forma
de condicionamento físico, foi o realizado por Silva et al. (2005). Eles verificaram uma
melhora significativa da condição física, das habilidades de vida diária e da independência de
pacientes com LM que iniciaram um programa de natação. O grupo, formado por oito
sujeitos, era atendido na Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação de Brasília e estava em
107
fase de reabilitação. O programa, realizado durante 4 meses (2 vezes por semana), foi
composto por exercícios que visavam à adaptação e à independência ao meio líquido, e
educativos dos nados crawl, costas e peito. Embora sua metodologia diferisse da nossa com
relação à intensidade e volume de exercícios, ambas demonstraram que a natação promove a
melhora do estado geral de condicionamento físico de indivíduos com LM.
Em outro estudo com sujeitos da população em geral, King (2001) observou que TI
com intensidade submáxima mostrou-se mais eficiente do que o TC, de baixa intensidade,
com relação à melhora da composição corporal (redução da porcentagem de gordura), do
condicionamento físico e da taxa metabólica de repouso.
Isso evidenciou que o protocolo intervalado, com intensidade mais elevada, se
praticado regularmente, promove um aumento contínuo no gasto de energia maior que o TC
de baixa intensidade, pelo menos no estágio inicial do treino, visto que os sujeitos eram
sedentários ou realizam muito pouco exercício cardiovascular antes do treinamento, assim
como no nosso estudo (KING, 2001).
O protocolo intervalado com uso de colete de flutuação também mostrou ser adequado
para programas de natação realizados em grupo e, em especial, de indivíduos com
imobilidade de membros inferiores, pois o grupo respondeu de forma homogênea ao aumento
gradativo da intensidade, não havendo necessidade de prescrição individualizada de programa
de condicionamento físico.
Como o enfoque no nosso estudo não foi analisar especificamente os parâmetros de
VO
2
máx. e de intensidade, a falta de um teste específico para avaliar o condicionamento
físico na água e o teste de lactato sanguíneo não prejudicou a interpretação geral dos
resultados. A utilização da Escala de Borg foi suficiente para que atingíssemos nosso objetivo
de verificar a influência do TI em natação, com o uso de colete, sobre a melhora o estado de
condicionamento físico, as alterações de algumas variáveis bioquímicas e medidas
antropométricas importantes para a saúde e QV de indivíduos com LM.
São necessárias mais pesquisas para verificar os efeitos do condicionamento físico de
indivíduos com LM, para análises mais precisas das mudanças positivas na saúde resultantes
de programas de exercícios específicos para essa população.
108
8 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 3 a 5
Atualmente, segundo Hammell (2004), vem crescendo o interesse em avaliar, tanto
quantitativamente como qualitativamente, a QV de indivíduos com LM para fornecer
subsídios aos profissionais de saúde atuarem na promoção de saúde e QV dessa população. O
autor, em sua revisão da literatura sobre o tema QV após a LM, constatou que a tendência de
pesquisas futuras será utilizar a combinação dos métodos, quantitativo e qualitativo, para
elucidar as diferentes dimensões e complexidade do conceito QV dentro da ótica de
indivíduos com LM.
Gill e Feinstein (1994) concordam que a QV somente pode ser medida adequadamente
pelas determinações das percepções dos indivíduos e pela complementação de instrumentos
desenvolvidos por especialistas, senão, a QV pode continuar sendo medida com a estatística
psicométrica que é acompanhada por uma validade insatisfatória.
Partindo desse pressuposto, a proposta deste estudo foi avaliar as percepções sobre QV
e saúde, utilizando o questionário WHOQOL-bref, validado cientificamente pela OMS,
complementado com a aplicação de um grupo focal sobre os temas em questão.
Paralelamente, aos procedimentos mencionados, foram verificados os benefícios da prática
regular da natação, proposta pelo nosso estudo. Para isso, foram realizados dois
procedimentos metodológicos: a realização de uma entrevista específica para abordar esse
tópico; e a utilização da técnica de grupo focal para complementar os dados coletados nas
entrevistas.
8.1 QUESTIONÁRIO WHOQOL-BREF
O WHOQOL-bref é um instrumento de 26 questões sobre QV, dividido em quatro
domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Além dos domínios, o
questionário apresenta duas questões genéricas de avaliação de QV: como você avaliaria sua
qualidade de vida (Q1) e quão satisfeito(a) você está com sua saúde (Q2). De acordo com
essa classificação, as médias e os desvios padrão (DP) de cada domínio e das questões
109
genéricas, obtidas antes (avaliação) e depois (reavaliação) do programa de natação, estão
apresentadas na Tabela 16.
TABELA 16 - Resultados do WHOQOL-bref do Grupo Experimental
DOMÍNIOS, AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO
Q1 e Q2 Média DP Média DP
P
Q1 4,00 0,77 4,27 0,47 0,1704
Q2 3,82 0,87 3,91 0,54 0,3380
Domínio Físico 26,91 4,13 27,64 2,77 0,2318
Domínio Psicológico 23,73 4,67 25,45 1,97 0,0675
Domínio Relações Sociais 11,45 1,97 12,82 1,47 0,0243*
Domínio Meio Ambiente 26,73 4,10 27,27 2,53 0,3009
RESULTADO TOTAL
3,72 0,37 3,89 0,47 0,0057*
* p< 0,05 significativo
A construção do instrumento não prevê um escore específico para avaliar a QV como
positiva ou negativa. Não existem pontos de corte sobre o qual se possa avaliar a QV como
ruim ou boa. Eles se configuram numa escala positiva, ou seja, quanto maior o escore,
melhor a QV (PEREIRA, 2006).
Nos resultados apresentados no WHOQOL-bref, após o programa de natação, tanto o
domínio relações sociais quanto o total das respostas do questionário como um todo
apresentaram melhora estatisticamente significativa (p<0,05).
O estudo, apesar de não ter analisado a influência da idade, do tempo e nível de lesão,
é importante considerar que Hammell (2004) observou que a maioria dos estudos dessa área
verificou que a insatisfação com a vida após a LM está relacionada, principalmente, com as
desvantagens sociais que os indivíduos passam a enfrentar, prejudicando assim a percepção da
sua QV. Além disso, o autor chama a atenção ao fato de que algumas pesquisas constataram
que não há correlação entre QV e nível de lesão.
Como ressaltam Capoor e Stein (2005), com o avanço da idade, indivíduos com LM
podem apresentar redução do nível de independência, o que tem sido relacionada com
estresse, depressão e declínio da QV. No entanto, apesar de relatos de maiores incapacitações,
a percepção da QV aumenta com o maior tempo de duração da lesão.
Vários estudos na área, segundo os autores, constataram que a QV não está
relacionada à gravidade da lesão e é minimamente relacionada com o nível de incapacitação
nas atividades de vida diária, embora essa incapacitação afeta o bem-estar. Para os autores, a
QV está relacionada com a participação em atividades prazerosas, com o sentimento de estar
110
contribuindo com a sociedade e realizando atividades de seu próprio potencial. O apoio social
e a habilidade de lidar com a incapacidade propiciam aos indivíduos com LM suporte para
lutar contra as mudanças próprias da idade e facilita o ajuste à incapacitação.
Com relação ao tempo de lesão, outro estudo verificou que um curto período de tempo
de lesão pode interferir de forma negativa nos domínios físico e meio ambiente da QV. Essa
pesquisa utilizou o mesmo questionário aplicado no nosso estudo. A mesma teve um caráter
descritivo e seu objetivo foi verificar a percepção de QV de 111 indivíduos com LM, inscritos
num programa de reabilitação do Hospital Sarah Brasília, entre janeiro de 2005 a maio de
2006.
Bampi et al. (2008), responsáveis pela pesquisa, constataram que os domínios ligados
ao meio ambiente e à saúde física obtiveram os piores escores. Isso, segundo os autores, pode
estar relacionado ao fato de a lesão causar alterações físicas com as quais as pessoas têm que
aprender a conviver. Os autores chamam a atenção para o fato de os sujeitos, em questão,
terem um curto período de tempo de lesão que poderia estar dificultando a sua adaptação.
Em outro estudo sobre QV sob a ótica de pessoas com LM traumática, Vall et al.
(2006) constataram que esses indivíduos têm grande comprometimento de sua QV, em todos
os domínios, principalmente no que se refere aos aspectos sociais. O instrumento utilizado
para avaliar a QV foi o questionário genérico de qualidade de vida SF-36 que, assim como o
WHOQOL-bref, engloba os aspectos físicos, sociais e psicológicos.
Em suas análises, os autores notaram que avaliar aspectos relativos à QV requer que se
procure captar os sentimentos e percepções de si mesmo e do mundo que o cerca, sendo
necessários instrumentos mais fidedignos e que contemplem fatores inter-relacionados.
O mesmo foi ressaltado por Rogerson (1995) no sentido de que a avaliação da QV é
um tanto difícil, visto que para cada indivíduo há uma forma de operacionalizar sua avaliação,
à medida que esta pode variar com o tempo devido às mudanças de prioridades que ocorrem
ao longo da vida.
Dentro dessa perspectiva de mudança de prioridades e de circunstâncias que a vida
pode oferecer, a introdução do esporte e/ou a prática de exercícios físicos pode desempenhar
um papel importante na integração social e na melhoria de QV de indivíduos, com inúmeras
limitações físicas, emocionais e sociais.
Manns e Chad (1999) pesquisaram a correlação entre atividade física e
condicionamento físico com a QV de indivíduos com LM, utilizando o questionário Quality
of Life Profile: Physical and Sensory Disabilities. Os pesquisadores concluíram que embora
não haja correlação entre condicionamento físico e percepção subjetiva de QV, a prática
111
regular de exercícios pode ter um papel muito importante nos domínios de independência
física, mobilidade e ocupação em tetraplégicos e no domínio de independência física em
paraplégicos. Como o condicionamento físico foi significativamente correlacionado com o
domínio de independência física, esses resultados sugerem que um alto nível de atividade
física e condicionamento físico são relacionados com um estado funcional melhor, o que
contribui para o aumento da QV de indivíduos com LM.
Recentemente, um estudo semelhante ao anterior obteve resultados diferentes. Stevens
et al. (2008) encontraram uma forte correlação entre o nível de atividade física e QV de
indivíduos com LM. O autor constata que indivíduos com níveis mais altos de atividade física
também apresentam níveis mais altos de escores das escalas de qualidade de bem-estar,
mensuradas pelo questionário genérico Quality of Well-Being Scale.
Apesar dos métodos para avaliar a percepção de QV em pessoas com LM diferiram
entre os estudos, o que pode ter interferido nos resultados encontrados, tanto Stevens et al.
(2008) como Manns e Chad (1999) sugerem que intervenções com o objetivo de promover a
prática de exercícios podem ser eficazes na melhoria da QV dessa população.
Como podem ser observados na Tabela 16, com exceção do domínio meio ambiente
que não é suscetível de mudança pela intervenção de um programa de exercícios, os demais
domínios e as questões genéricas poderiam sofrer alterações estatisticamente significativas.
No entanto, isso não foi constatado na reavaliação, apesar de eles apresentarem escores mais
elevados depois do programa de natação. Tais aumentos contribuíram para a melhora
significativa da QV no cômputo geral, pois as alterações nos domínios implicam nas
alterações na QV global.
Com relação ao domínio físico, Silva et al. (2005) verificaram os efeitos da natação
sobre a melhora da independência funcional, importante para a QV de indivíduos com LM.
Em seus estudos com essa população, utilizando a Medida de Independência Funcional
(Escala FIM) em iniciantes de natação, os autores concluíram que a natação foi efetiva na
melhora do escore motor e da condição física. O que também foi observada em nosso estudo
pela utilização do teste para avaliar o estado de condicionamento físico, e não na percepção
subjetiva dos sujeitos avaliada pelo domínio físico do WHOQOL-bref.
Embora a literatura confirme a contribuição da prática da natação no aumento positivo
dos domínios psicológicos e físicos (TSUTSUMI et al. 2004; SILVA et al., 2005), essa
melhora significativa não pôde ser observada com a utilização de um questionário
padronizado, como o WHOQOL-bref, mas sim, com a discussão proposta pelo grupo focal e
pelo relato na entrevista.
112
Não obstante, os resultados obtidos nesse estudo indicam que os indivíduos com LM,
iniciantes em natação, após oito semanas de prática regular de natação, apresentaram melhoria
na percepção subjetiva de QV avaliada pelo WHOQOL-bref quando comparada à situação
inicial.
O WHOQOL-bref, como instrumento genérico da avaliação subjetiva da QV,
mostrou-se adequado para verificar de uma forma geral o aumento das relações sociais e da
percepção de QV em indivíduos com LM após uma intervenção com a prática de exercícios
físicos. No entanto, demonstrou ser insuficiente para avaliar os domínios físico e psicológico
que o compõem. Tendo, assim, a necessidade de empregar o método qualitativo para
aprofundar essas questões subjetivas como recomendam alguns autores (GILL e FEINSTEIN,
1994; HAMMELL, 2004; SEIDL e ZANNON, 2004).
8.2 CATEGORIZAÇÕES DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE
A abordagem qualitativa empregada para analisar os dados na entrevista e no grupo
focal forneceu mais esclarecimentos e apontou mais aspectos relativos ao conceito QV.
Hammell (2004) verificou, após sua análise sistemática dos estudos sobre a QV
percebida por indivíduos com LM, que algumas pesquisas têm demonstrado uma correlação
positiva entre QV/satisfação com a vida e: auto-avaliação da saúde, percepção de suporte
social, integração social, mobilidade, acessibilidade, situação socioeconômica satisfatória,
percepção de controle sobre a própria vida, estado civil, satisfação com os relacionamentos,
participação e acesso à comunidade, e satisfação com o engajamento profissional. Ao passo
que, os dados para verificar a relação entre idade, tempo de lesão, sexo e raça com a
percepção de QV são conflitantes. Entretanto, nenhum desses últimos fatores é passível de
intervenção.
Já em nosso estudo, de uma maneira geral, encontramos os seguintes aspectos
identificados como referência de QV: saúde, sensação de bem-estar e prazer, autoconceito e
auto-estima, relações interpessoais e cidadania. Tais percepções subjetivas de QV, assim
como de saúde, mais especificamente, foram agrupadas de acordo com as categorizações que
se seguem.
113
As concepções sobre Qualidade de Vida dos participantes dos grupos focais 1 e 2
foram investigadas com a questão Para vocês o que é qualidade de vida?. A análise dos
dados deu origem às categorias temáticas descritas abaixo:
I - Saúde – Respostas que definem QV com ênfase em uma vida saudável e nos fatores
associados à mesma. Exemplificando, temos:
“Hoje, a qualidade que a gente tem de vida hoje é, principalmente, saúde.”
“Eu acho que qualidade de vida da gente é saúde.”
“Ter uma vida saudável, tanto na parte espiritual, quanto na parte material.”
“Uma mente saudável.”
“Amigos, família, uma vida bem controlada com atividade física bem feita,
saudável, uma boa alimentação.”
“Uma vida com qualidade tem de ser saudável, né? Um ambiente saudável.”
II - Sensação de bem-estar e prazer Respostas que associam QV com ter a sensação de paz,
disposição para realizar atividades do cotidiano e que destacam a importância dessas serem
prazerosas para quem as executam. Como exemplos, podemos citar:
“Tipo assim... ter vontade, não ter cansaço, você fazer com disposição, o dia
inteiro, com alegria, com disposição física.”
“Disposição física”
“Podia ser fazer o cem por cento do que tiver de fazer, com prazer, não a
contragosto. Porque se for sem gosto, pra pessoa fazer alguma coisa, a
qualidade já caiu. Não está fazendo com prazer.”
“Fazer por prazer, não imposto.”
“Paz de espírito.”
“Paz interior... paz de espírito.”
“...paz e sossego.”
III – Autoconceito e Auto-estima – Respostas que enfatizam a importância das pessoas
superarem as dificuldades de aceitação da sua deficiência e de perceberem-se como
indivíduos capazes, produtivos, antes de buscarem a aceitação social e a superação dos
estigmas. Como exemplos, temos:
“ ...às vezes, a pessoa até ela se aceitar... e tem que conquistar o pessoal que
vai te aceitar. Primeiro você tem que se aceitar.”
114
“É, este é o primeiro passo. Primeiro aceitação própria e depois a aceitação
pela sociedade. Que não acontece, infelizmente não acontece. A sociedade não
nos aceita. Esta é a grande verdade. Não adianta tapar o sol com a peneira.”
“...gente vê o cidadão tava falando: “é, tem tudo, as duas pernas, os braços
certinhos, e não nada, não tem disposição”. Tipo, fica aquela auto-estima
aquilo ali..”
“Eu acho que é isso. Se sentir bem, admirar. Pô, você fazer um... um... uma
coisa ali, pô, olha que bom. Isso pra mim foi maravilhoso, a auto-estima...”
“Primeiro, a gente tem que estar bem com a gente mesmo, né? Para depois,
estar bem com as pessoas, conviver bem.”
“Primeiramente tem que partir de nós, de dentro pra fora, né? Depois vai
abrindo o leque, vai... fazendo amizade”
“Se sentir útil, também, né? O P6 trabalha, o P10 também trabalha.”
“Eu, às vezes,... dá aquele vazio porque não tenho nada para fazer.”
IV - Relações interpessoais – Respostas nas quais os participantes destacam a importância
das relações interpessoais para que se tenha QV. Exemplificando, temos:
“O social, também... Que é o mais importante, talvez. Talvez até mais que a
saúde... mesmo se você está doente se você estiver num ambiente social você
vai superar isto.”
“Fazer da sua situação, da sua paraplegia, né, da nossa, um pouco... um
pouquinho melhor. Passa a ter... uma ligação maior com a sociedade...”
“Conviver bem com os outros, também.”
“Eu pego o ônibus e vou pro cinema, eu vou no trabalho dos meus amigos, fico
por lá, almoço na cidade, vou até no calçadão lá, converso com as pessoas,
amigos, sabe? Vou no trabalho de um, no trabalho de outro. Não fico em casa.
O dia que eu fico é porque... aí tá ruim mesmo.”
V – Cidadania – Respostas que revelam que a QV dos indivíduos com deficiência física
depende da sua mobilização para garantir as condições que possibilitem o exercício da
cidadania, tais como acessibilidade, transporte adaptado, entre outras. As respostas revelam
também descrédito em relação aos políticos. Como exemplos, podemos citar:
O maior problema nosso é o transporte.”
“Ás vezes, a pessoa tem o transporte, mas não tem o tratamento. Às vezes, tem
o tratamento, mas não tem o transporte.”
“Tenho um amigo que o pai dele é marketeiro da..... E ai eu falei pra ele; “eu
preciso de algumas coisas.” E eu percebi uma coisa, não adianta eu chegar lá,
eu P6 e um grupo e falar: a gente é cadeirante e nós precisamos tal, tal. Eu
tenho que chegar, sabe o quê? Com um cara que é amigo pro cara fazer. Faz
para o amigo. É igual, trabalho. Ele arruma pro amigo dele “oh, dá pra
115
arrumar um trabalho? Põe um amigo meu aí”. Política é tudo desse jeito, ele
põe o colega, o amigo. Eu tô articulando dessa forma, entendeu?”
Se a gente se organizar, for pra mídia. Aí eles falam: Oh, aquele grupo. Pô,
aqueles três estão se mexendo. Tem que ter essa consciência política, que vai
ter que ser mexendo com eles, cutucando eles, né? Lutando, entrando com
liminar, aí a gente vai conseguir. A partir do momento que a gente ficar: “Ah,
não isso não acontece, isso não acontece” vai continuar pagando o preço ai”.
“As três primeiras vans que vieram fui eu, o... e um outro cadeirante que é
advogado que trouxemos para Ribeirão. Sem se meter em briga com ninguém
como ele falou. Nem a mídia, nem nada. As rampas da Av. Saudade, tudo ali
fui eu que consegui, tudo na base da amizade com político como o.... Quer
dizer, é meio difícil estar conseguindo as coisas, porque eu já fui pra televisão
e não consegui nada, também.”
“É que nem eu falo, tem que articular, é partir então pro meio de
comunicação e mostrar a necessidade”. Falar: temos necessidade disso,
daquilo e daquele outro”.
“Se você falar pra opinião pública ou para o poder público “sem terra”, você
já imagina os caras fazendo passeata, quebrando tudo e alguém sendo o líder,
não é? Agora, se você fala assim... “cadeirante” é uma pessoa que fica quieta,
escondida dentro de casa, que você quase não vê. Então, qual é a diferença? A
diferença é que... é um pessoal que age... um pessoal que age, entendeu?
Porque me falaram de um grupo que eles foram numa... um grupo de
cadeirantes que eles foram numa pizzaria e não tinha como subir. Ai, os
caras, os garçons, todo mundo teve que pegar os caras e subir os caras pelas
escadas. Construíram uma rampa no restaurante. Então, isso foi uma
mobilização. Acho que... acho que aí que acontece.”
“Aquela rampa que tem na Casa da Cultura. Lá onde eles fazem o curso. Lá
foi por minha causa. Quer dizer, depois que eu fui lá, né? Fiz um curso lá de
música. No dia da nossa formatura, o assessor do prefeito veio, me deu um
abraço e falou: “Você é um privilegiado”, e eu falei: “porque?”, “todo mundo
em pé e você é o único que tá sentado”. Vem comigo. Vinte e três degraus
subindo carregado no colo durante o curso todo e eu sou o maior privilegiado
aqui. Só falei isso e voltei pra festa. Fui um mês depois lá e tinha uma rampa
lá. Quer dizer, se você não aparece também ninguém vai saber das
necessidades”
A partir das respostas obtidas referentes à percepção da QV, podemos notar que de
uma forma geral, elas estão de acordo com os achados encontrados na literatura.
Pagani e Pagani Júnior (2006) destacam que a saúde é apenas um dos fatores que
interferem na QV. Além dele, existem outros aspectos envolvidos da percepção de QV, como
emprego, habitação e situação financeira, entre outros.
No entanto, observamos que, para o grupo estudado, a percepção de saúde mostrou-se
como um forte indicador da percepção de QV. O sentir-se saudável pode ser considerado
116
esperado para esse grupo, pelo fato de seus componentes já procurarem anteriormente praticar
atividades físicas para se sentirem melhor.
A partir disso e das colocações dos componentes do grupo sobre a percepção de QV e
saúde... “é o que eu não tenho.”, podemos perceber que a saúde é um quesito tão importante
quanto a questão social pra a percepção de QV desse grupo. Alguns estudos consultados
(BÉNONY et al., 2002; VALL et al., 2006), que colocam a questão social como a mais
relevante para a QV, não estão se referindo a indivíduos engajados em programas de
exercícios físicos como no nosso caso.
A participação em eventos prazerosos, nos quais os indivíduos realizem atividades de
seu próprio potencial, pode ser tão importante para uma vida saudável após a LM, quanto para
o bem-estar físico desses indivíduos (CAPOOR e STEIN, 2005). Como podemos observar em
algumas falas, essa questão foi discutida por alguns sujeitos, apontando a relação entre
sensação de bem-estar e prazer e percepção de QV.
As relações interpessoais e a auto-estima também se mostraram relevantes para a QV.
Bénony et al. (2002) ressaltam que o apoio social tem um efeito positivo direto no reforço da
auto-estima e estimula indivíduos com LM a adotar padrões saudáveis de comportamento o
que influencia na percepção subjetiva geral de QV. No geral, de acordo com Santiago et al.
(2005), as PDF tendem a ver seus potenciais desconsiderados e sentem-se rotuladas como
incapazes pela sociedade, o que pode gerar sentimentos negativos e afetar seu bem-estar
psicológico.
Tzonichaki e Kleftaras (2002) pesquisaram a correlação entre auto-estima, satisfação
com a vida e solidão em pessoas com paraplegia. Eles puderam observar que níveis mais altos
de auto-estima estavam relacionados a maior satisfação com a vida e menor sentimento de
solidão. Como podemos notar em algumas falas, nossos estudos confirmam os achados dos
autores referidos, à medida que também podemos observar uma relação entre auto-estima e
integração social ao abordarmos a questão da QV. Segundo alguns sujeitos, sentimento de
auto-aceitação deve ser construído primeiro, para depois haver uma integração social.
Duggan e Dijkers (1999, 2001 apud HAMMELL, 2004, p.495) observaram em
pesquisas qualitativas que, para indivíduos com LM, altos níveis da percepção de boa QV
estão relacionados à satisfação nos relacionamentos, ao desempenho de papéis sociais
significativos, à segurança financeira e material, e às oportunidades de desenvolvimento de
ocupações valorizadas por eles.
117
A importância das relações interpessoais e do suporte social na percepção da QV,
verificada na discussão dos sujeitos avaliados, também pode ser confirmada pelos dados
obtidos no questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref.
Outro aspecto importante, considerado como um atributo para se alcançar uma boa
QV, para essa população, é a acessibilidade a locais públicos. Isso também pode ser
verificado pelas respostas agrupadas na categoria cidadania. A falta de rampas e adaptações
adequadas à cadeira de rodas, segundo os sujeitos, prejudica os meios para o exercício da
cidadania e participação social.
De acordo Capoor e Stein (2005), essas barreiras arquitetônicas interferem nas
condições para se alcançar boa QV, sendo que, como acrescentam Bampi et al. (2008), as
barreiras sociais, assim como as mudanças físicas, também podem interferir na avaliação que
os indivíduos apresentam após sofrer uma LM.
As adaptações na casa, no local de trabalho, bem como o meio de transporte adequado
são fatores importantes para diminuir o impacto das barreiras arquitetônicas e aumentar
significativamente a independência e a QV nessa população (CAPOOR e STEIN, 2005).
Para indivíduos com LM, o fato de estarem engajados em atividades profissionais está
diretamente relacionado ao sentimento de estar contribuindo para a sociedade ou à sensação
de sentir-se útil, produtivo. Isso parece ser muito relevante para uma boa percepção de QV
(HAMMELL, 2004), o que também foi observado nas falas de nossos sujeitos.
Diante da associação feita pelos participantes dos grupos focais entre QV e saúde foi
apresentada a esses a questão: O que é ter saúde. As respostas obtidas foram agrupadas nas
categorias descritas abaixo:
I – Ausência de doençasRespostas que revelam uma concepção de saúde cuja ênfase é a
ausência desta devido às disfunções causadas pela lesão e/ou a mais atenção dada à saúde para
evitar doenças. Exemplificando, temos:
“Saúde é o que eu não tenho. Depois que eu fiquei paraplégico, eu... eu
sinceramente falando não tenho saúde... Tenho problema de... problema
urinário, problema de intestino, tenho uma série de problemas. Eu não tenho
saúde.”
“... sem ter que tomar remédio, sem ter que tomar antibiótico, sem passar por
médico, pra mim saúde é isso.”
“Eu até os 21 anos entrei no hospital só pra trabalhar, né? Não tomava nem
aspirina pra dor de cabeça, pra nada. Tinha uma saúde perfeita, né? Perfeita
entre aspas, porque perfeita nunca é.”
118
II - Definição biopsicossocial – Respostas nas quais os participantes definem saúde
associando a esta o bem-estar do indivíduo nas áreas física, mental e social. Exemplificando,
temos:
“Basicamente o que a gente falou até agora. Saúde social, saúde física, saúde
mental...”
“... estar bem no dia a dia... tá dando uma palestra aqui sobre... tá podendo
nadar, jogar, poder ir no shopping... se eu não tenho saúde quase não dá
porque... fico trancado em casa.”
“Pra mim é ter disposição pra saí, bebe com os amigos, ir no churrasco, né!”
“Procurar uma vida melhor, o mais saudável possível... e, hoje, tenho um
pensamento comigo que estou me preparando pra uma velhice saudável,
mesmo estando nesta cadeira de rodas, né? Principalmente minha cabeça,
estou trabalhando muito”
“... a meu ver, é a pessoa ter uma boa alimentação, ter preparo físico, você
entendeu?... deixaria o lado do sedentarismo, né?... fora isso ter uma vida
social ao mesmo tempo, também, com divertimento. Englobando tudo isso. Eu
creio que dá para chegar numa qualidade de vida, você entendeu?”
III – Preocupação constante com o corpo – Respostas relacionadas à necessidade de controle
dos mecanismos que interferem no bom funcionamento do corpo. Alguns exemplos são:
“... Se alimentar bem, dormir bem, pra mim saúde é isso.”
“Pra gente saúde é uma preocupação constante, né? Porque quer queira quer
não, a gente tá sempre na berlinda de ter uma infecção, de ficar doente. Saúde
pra a gente não é mais uma questão de querer ou não ter saúde, tem que ter e
acabou. Tem que estar sempre indo no médico, tem que estar sempre
controlando infecção. A saúde da gente não é mais aquela coisa “ah, eu não
quero cuidar da minha saúde”. Mesmo se não quiser você tem de fazer.”
“...por incrível que pareça. A cadeira não é o que me, me irrita mais. A
infecção, a questão da urina, de ter que usar bolsa, isso é o que me irrita mais
do que a própria cadeira. Quando uma pessoa que não é cadeirante fala
assim: “ah, o cara tá ali sentado...”. Eu também achava isso, mas as
complicações que vem de infecção, de ficar doente, são o que mais chateia do
que o próprio ficar sentado.”
“ ... depois que passei a ser cadeirante, que sofri este traumatismo, aí minha
saúde eu tive que passar a controlar no dia a dia... tive de controlar a
alimentação, tive de controlar tudo pra manter uma vida.”
“O controle que ele falou aí, constante, de doença. Você pode ver. Eu mesmo,
vou direto no laboratório. Cada dois meses agora, um mês eu faço os exames
controlando tudo e... coisa que a gente não fazia, a gente levava assim...”
“ter uma alimentação, manter...cuidar do corpo, é... ter horário para o
sono...”
119
Observamos nas falas acima que a percepção de saúde está relacionada a vários
aspectos como: a percepção de bom funcionamento do corpo; a disposição física; a
preocupação com a alimentação e com o sono; e, até mesmo, com a questão do sedentarismo.
Além da imobilidade dos membros inferiores, os problemas secundários decorrentes
da lesão como, por exemplo, as constantes infecções urinárias, parecem afetar diretamente a
percepção de saúde desses indivíduos. Daí a necessidade mostrada por alguns de preocupação
constante aos cuidados com o corpo. O que pode ser também verificado por um estudo sobre
os fatores emocionais e subjetivos da QV em sujeitos com LM. Bénony et al. (2002), com a
utilização do Rorschach (teste projetivo de personalidade), constataram que indivíduos com
LM apresentam grande preocupação com o corpo.
Na percepção de alguns sujeitos, a participação em atividades sociais também
pressupõe estar saudável. Para Bénony et al. (2002), o baixo apoio social é um fator de
vulnerabilidade à saúde de indivíduos com LM, existindo uma concordância geral entre os
sujeitos analisados de que a satisfação com o apoio é mais importante que a quantidade de
apoio disponível. Em seu estudo, eles puderam observar uma grande necessidade de vínculos,
a insatisfação com relação à sexualidade, com a sua condição física e com a falta de
atividades de lazer no tempo livre.
Já com relação à sexualidade, podemos observar que os participantes da nossa
pesquisa não mencionaram, diretamente, nenhum aspecto referente ao tema. Apesar disso,
notamos que na comunicação não falada, tais como, risadas, olhares e brincadeiras, os
participantes deixam a entender, nesse outro tipo de comunicação verbal, que existe a
preocupação com a sexualidade.
De modo geral, tanto nas discussões do grupo focal 1 quanto do 2, notamos que os
repertórios verbais explicativos parecem pobres. Os participantes verbalizaram o mínimo
necessário para a comunicação no grupo. Não há, portanto, uma grande riqueza de
vocabulário e de construção conceitual das ideias propostas para a discussão. Isso foi
constatado apesar do grupo estudado, na sua maioria, ter razoável nível de escolaridade, três
possuem 2º grau completo e quatro nível superior completo ou incompleto (Tabela 3).
120
8.3 CATEGORIZAÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA NATAÇÃO
Na análise qualitativa, foram contemplados os dados obtidos nas entrevistas
individuais e nos grupos focais 1 e 2.
De acordo com Jacobs e Nash (2004), os indivíduos com LM não sofrem apenas de
alterações específicas decorrentes da lesão na medula espinhal, mas também, de alterações
significativas nos aspectos físicos, sociais e psicológicos.
Os indivíduos com LM, segundo Lavis e Scelza (2007), podem se beneficiar tanto dos
efeitos fisiológicos e metabólicos do exercício como da diminuição do estresse e depressão,
melhorando a percepção da sua QV e da sua saúde. Para Hanson et al. (2001), a predisposição
ao estresse e à depressão na população de lesados medulares está relacionada à restrita
participação social. Dessa forma, como destaca Shephard (1991), o esporte e/ou a prática de
exercícios físicos são fatores que influenciam de forma positiva a socialização.
A partir das reflexões acima e da análise das respostas relativas à percepção dos
sujeitos sobre os efeitos do programa de natação na sua saúde e QV, foram elaboradas duas
grandes categorias temáticas: I - benefícios físicos” e “II - benefícios psicossociais” da
natação.
A categoria “benefícios físicos englobou as seguintes subcategorias:
I.1 - Melhora da capacidade respiratória – respostas que enfatizam a melhora da capacidade
respiratória e a associam com uma melhor disposição para realizar atividades da vida diária
e/ou com a qualidade do sono. Como exemplos, temos:
“Melhorou a parte respiratória, na disposição para o dia-a-dia.”
“Aumentou o fôlego, por exemplo, pra transar.”
“Melhorou bastante... a respiração.”
“...comecei a dormir mais.”
“Ajudou muito no condicionamento físico.”
“E o condicionamento físico em geral está ótimo; eu toco melhor o saxofone.
O sono melhorou um pouco, também.”
“Melhorou... capacidade respiratória.”
“... a gente, depois que a gente fez natação, a gente for ver, bastante assim...
disposição para fazer o dia a dia da gente.”
121
“... eu notei que eu tinha problema até para dormir, principalmente, se eu
deitasse de costas, de bruços, eu perdia até a respiração, acordava. Melhorou
bem isso ai..”
“Na época melhorou muito meu sono...”
I.2 - Redução da sensação de dor física Respostas que apontam como benefício físico do
programa de natação a redução da sensação de dores pelo corpo. Exemplificando, temos:
“...melhorou as dores no corpo.”
“Depois que eu comecei o trabalho melhorou bastante. Eu tinha dores
musculares nas costas. Me doía bastante, mas melhorou. É muito bom.”
I.3 – Melhora das condições físicas e/ou motorasRespostas que enfatizam o aumento de
massa e/ou força muscular, além de melhoras na coordenação motora e no peso corporal.
Como exemplos, podemos citar:
“... melhorou a minha condição física, é visível, os meus braços aumentaram,
as pessoas até comentaram.”
“... transferência de cadeira, porque aumentou a força nos braços.”
“A movimentação das pernas melhorou muito, dentro da água ela se
movimenta.”
“Melhorou a flexibilidade, coordenação,...”
“Deu pra perder uns quilinhos...”
“É, eu já perdi uns quilinhos, engrossei os braços.”
“Melhorou bastante o porte físico, a força,...”
I.4 - Melhora das disfunções decorrentes da lesão
Respostas nas quais os participantes
revelam que com a prática da natação observaram uma melhora das disfunções vesicais,
intestinais e/ou circulatórias. Melhoras estas que em alguns casos resultaram também na
melhora do sono. Como exemplos, temos:
“O físico em geral, melhorou o intestino, bexiga...”
“Melhorou o intestino... estou usando menos coletor.”
“Depois que entrei na natação, deixei de usar o coletor. Melhorou muito a
parte fisiológica, o meu intestino voltou a funcionar diariamente.”
“A minha perna que ficava muito inchada diminuiu bastante. O corpo ficou
mais leve.”
122
O que pode ser identificado nas falas dos sujeitos, na entrevista e no grupo focal, e
interpretado nas categorias em relação aos benefícios físicos da natação pode ser resumido: na
melhoria da capacidade respiratória; na redução da sensação de dor física; na melhoria das
condições físicas e/ou motoras; e melhoria das disfunções decorrentes da lesão. Isso indica
que mesmo em curto período de tempo, oito semanas, a prática regular da natação pode
melhorar a percepção de saúde dos praticantes com LM.
A vasta literatura a respeito dos benefícios proporcionados pela prática de exercícios
e/ou da natação por indivíduos com LM já foi bem discutida ao longo deste trabalho, tanto na
revisão de literatura quando nas discussões dos resultados avaliados quantitativamente.
Alguns dos benefícios físicos puderam ser constatados pela avaliação antropométrica e
bioquímica e também pelo teste para avaliar a melhora do condicionamento físico.
A categoria benefícios psicossociais englobou as seguintes subcategorias:
II.1 - Aumento do convívio social – Respostas que revelam o quanto o convívio social
proporcionado pelo programa de natação foi significativo para os participantes, pois
possibilitou a superação do isolamento social, a ampliação da rede social, a reflexão sobre sua
condição atual. Como exemplos, podemos citar:
“A convivência com os amigos... conheci pessoas diferentes.”- P2
“Amizades.” – P3
“Melhorou... fora as amizades, as oportunidades sociais, o convívio...
Melhorou em todos os sentidos.” – P4
“A natação trouxe bastante amizades...” – P5
“O que foi mais importante foi a parte social, de contato com os colegas, das
amizades... Ter convivido com o pessoal... até no dia a dia vendo a situação de
outro você chega em casa fala: “meu problema não é tão grave, assim.” Uma
coisa que... melhora porque quando você tá preso no seu mundo tudo é
terrível, tudo é difícil, e tudo fica mais... maior, né? Quando você vê outra
pessoa, tem gente, tem muitos casos aí que a pessoa nem saia de casa, pra
mim foi muito importante.” – P6
“A turma foi boa, as brincadeiras...”- P7
“Eu conheci mais gente, melhorou meu bem-estar... o contato com o grupo era
legal, porque era muito divertido, né!” – P8
“Fiz mais amizades.” – P9
“Melhorou bastante... em tudo na vida social, na saúde, na relação com o
pessoal... Esse convívio que ele tá falando é muito bom. Porque o ser humano
tá vivendo uma época virtual que não tem mais esse contato físico, essa
conversa que nós estamos tendo aqui, não. E o ser humano não foi feito pra
123
isso não. Foi feito para a convivência, qualquer humano, qualquer ser vivo.” –
P10
“melhorou... o contato com os amigos no transporte. Fiquei conhecendo as
pessoas. Praticamente não saia de casa. Melhorou muito minha qualidade de
vida... Este curso que a Patrícia me deu foi muito bom. Foi bom, realmente.
Foi bom porque ajudou a gente fisicamente, e socialmente falando. Houve
uma ligação maior entre nós, entre pessoas... de diferentes idades...”” – P11
II.2 – Melhora da saúde mental – Subcategoria que engloba as respostas que apontam como
benefícios associados à prática da natação fatores significativos para a constituição identitária
do participante, tais como, desenvolvimento da auto-estima, o perceber-se produtivo na
prática de esportes e a melhora da saúde mental como um todo.
“... que a gente vê o cidadão... tava falando: “é, tem tudo, as duas pernas, os
braços certinhos, e não nada, não tem disposição”. Tipo, fica aquela auto-
estima aquilo ali...”
“Ser bem quisto, bastante, ...”
Isso me deu... senti uma diferença na saúde, saúde mental, né?
“... melhorou o físico, melhorou a mente, melhora tudo, né?”
“O meu dia é produtivo quando venho na natação; eu tenho algo pra fazer...”
“É o esporte, eu vou investir nisso... Até então, eu não investia no esporte, né?
Era muita badalação, muita bebida, isso... mas, hoje em dia, o meu propósito é
o esporte mesmo.”
II.3 - Melhora da autonomia – Respostas nas quais os participantes destacam a conquista de
uma maior autonomia como benefício do programa de natação.
“Agora, eu vou no clube e consigo me virar sozinho.”
“Só o fato de eu poder entrar na água quando eu quiser, em qualquer lugar,
que nem eu fazia antes, para mim, já é muito já.”
“Voltei a aprender a nadar sozinho, sem colete.
II.4 - Superação de limitesRespostas que revelam que a participação no programa de
natação possibilitou a superação de limites impostos pelo medo e/ou decorrentes da lesão
sofrida.
“... porque eu cheguei aqui na cadeira e eu estou andando...”(aluno com lesão
incompleta ASIA C)
“Consegui ter mais controle na água, não ficar apavorado; perdi o receio.”
“Eu não sabia nadar.”
124
“Por exemplo, eu consegui nadar, antes não conseguia.”
“Se não fosse a natação, eu estaria na cama agora... Melhorou meu bem-
estar”.
A questão da melhoria da integração social decorrente da prática regular de exercícios,
explanada anteriormente pela análise das categorias QV e saúde e do questionário WHOQOL-
bref, pode ser confirmada nas falas dos participantes do programa a respeito dos benefícios do
mesmo.
Como verificamos na literatura (HANSON et al., 2001; BÉNONY et al., 2002;
HAMMELL, 2004; VALL et al., 2006) e também em nossos resultados, a falta de integração
e participação social pode ser a grande vilã da diminuição da percepção de QV de
indivíduos com LM. Nesse estudo, tanto pela perspectiva qualitativa quanto pela quantitativa,
constatamos que para a grande maioria dos sujeitos avaliados houve um aumento da
integração social na prática da natação. Resultado este estatisticamente significativo
constatado no questionário WHOQOL-bref.
Observamos também que foram criados vínculos de amizades e de convívio entre as
pessoas envolvidas no estudo de uma forma geral (motorista da van, monitor de natação,
eventuais colaboradores e até mesmo a pesquisadora).
Os sujeitos que eventualmente apresentassem problemas de saúde (resfriado, tendinite,
infecção urinária e disfunções intestinais) e não pudessem entrar na piscina, não deixaram de
comparecer e assistir seus colegas fazendo o treinamento. Embora tenham recebido falta na
sessão de treinamento, estavam participando do lado de fora da piscina, incentivando os
colegas e os esperavam para conversarem depois da sessão.
Por exemplo, o sujeito 11, cujos depoimentos foram enfáticos na melhora da sua
condição como um todo (social, psicológica e física), relatou que com exceção da casa da
filha que visitava apenas nos fins de semana, o programa de natação proporcionava um outro
ambiente social, no qual ele tinha prazer em integra-se.
A partir do programa proposto foi formado um grupo de relacionamentos, o que pode
ser evidenciado tanto nos relatos das discussões do grupo focal, quanto nas reuniões sociais
(churrascos, festinhas de final de projeto de natação, festinhas de fim de ano, etc.). Fato este
até certo ponto esperado, pois, conforme Shephard (1991) menciona, entre os benefícios
potenciais da prática regular de exercícios se incluem ganhos sociológicos à medida que os
sujeitos com deficiência física participam de novas experiências, adquirem novas amizades,
além de contribuir no combate ao preconceito.
125
Com relação à percepção de saúde, Shephard (1991) ressalta que esta reside num
continuum que se estende a partir da boa saúde a enfermidade. O indivíduo se coloca nesse
continuum dependendo do seu estado mental. Nos indivíduos com deficiência física ativos, o
perfil desse estado mental é relativamente normal. Porém, pode haver depressão grave entre
os deficientes inativos, assim como na população em geral, o que leva a uma percepção
insatisfatória. Se o envolvimento com a prática de exercícios e/ou esporte melhora esse estado
mental, pode haver um aumento da percepção de boa saúde. O que pode ser evidenciado com
o programa proposto pelo estudo.
Ainda segundo o autor, o relato mais freqüente após exercícios vigorosos é a sensação
de bem-estar, porém a explicação psicofisiológica exata para essa sensação permanece
obscura. Essa sensação de bem-estar pode ser explicada por alguns fatores, tais como: alívio
do estresse, da ansiedade e depressão; melhoria da auto-imagem; aumento da disposição
física, etc.
Nos relatos dos sujeitos avaliados, com relação à melhoria do estado mental,
observamos que o programa de natação proporcionou, para alguns sujeitos, além da melhoria
da auto-estima e disposição física, como cita Shephard (1991), o aumento da sensação de
sentir-se produtivo, da autonomia e da sensação de superar limites, questões estas importantes
para esse tipo específico de população.
Hanson et al. (2001) estudaram os efeitos do esporte no nível de integração de
indivíduos com LM, atletas e não-atletas. Eles constataram que os escores medidos pelo
CHART (Craig Handicap Assessment and Reporting Technique) apresentados pelos atletas
foram significativamente maiores nos quesitos: independência física, mobilidade, ocupação e
integração social.
O programa de natação contribuiu para estimular alguns de seus participantes a se
mobilizarem em atividades esportivas, apesar da proposta original não ter sido a de preparar
atletas e, sim, verificar os efeitos de um programa de exercícios na promoção de saúde e QV
de seus praticantes. Como exemplos, temos o sujeito 8 que ao ser questionado, no grupo
focal, sobre... o que hoje na sua vida é mais importante, ele respondeu que... “é o esporte, eu vou
investir nisso”..
. O sujeito 9 que aprendeu a nadar com o programa proposto, também
comentou (em outra situação) que não iria parar de praticar natação ao término do mesmo. Os
sujeitos 1, 6 e o 7 também continuaram a praticar natação em outro local quando o programa
de pesquisa se encerrou.
Um outro resultado relevante do estudo, embora não tenha sido o objetivo do mesmo,
foi a conquista de medalhas na natação por alguns sujeitos que fizeram parte do nosso GE. O
126
sujeito 1 (classificação esportiva S5), que obteve o melhor desempenho do teste de
condicionamento físico, conquistou medalha de ouro na categoria 50 m nado costas e prata na
categoria 50 m nado peito e o sujeito 8 (classificação esportiva S5) conquistou medalha de
ouro na categoria 50 m nado livre e bronze na categoria 50 m peito nos Jogos Regionais de
Jaboticabal (julho de 2008). Nos Jogos Abertos de Piracicaba (novembro de 2008), o sujeito 1
recebeu a medalha de bronze na categoria 50 m nado costas.
127
CONCLUSÕES
O protocolo intervalado de natação, com intensidade de moderada a intensa,
empreendido aos sujeitos do estudo com LM, durante oito semanas, proporcionou alterações
antropométricas e bioquímicas desejáveis, diminuindo alguns indicadores de risco à saúde.
Essas alterações referem-se a um provável aumento do tecido muscular dos membros
superiores, diminuição do tecido de gordura na região abdominal e nos braços, e alterações
positivas nos valores de HDL-colesterol, resultados não apresentados pelo GC. Além disso,
houve uma melhora significativa do estado de condicionamento físico dos sujeitos do GE.
Contudo, as variáveis IMC, GLI, CT, LDL-colesterol e TRI não se mostraram
sensíveis ao protocolo, o que pode ter ocorrido pela falta de controle de hábitos alimentares e
pelo curto período de duração do protocolo de treinamento.
A eficácia do protocolo de treinamento se deu: 1) pelo aumento gradativo da
intensidade do esforço (dosagem adequada da relação trabalho/recuperação); 2) pelo uso do
colete de flutuação; 3) pela possibilidade dos sujeitos realizarem o treinamento em grupo, o
que serviu como estratégia de interação social.
O uso do colete se mostrou adequado e eficaz para iniciantes em natação, sem
mobilidade de membros inferiores, pois todos os sujeitos tiveram rápida adaptação ao meio
líquido e bom desempenho das braçadas durante as sessões de natação.
Todos esses fatores colaboraram para que o protocolo intervalado de natação
garantisse 100% de adesão dos sujeitos ao programa proposto.
Podemos concluir, também, pelos resultados obtidos no questionário de qualidade de
vida WHOQOL-bref, que o referido protocolo de treinamento aquático, mesmo em curto
período de tempo, contribuiu para a melhora da percepção de QV e para um aumento
significativo da integração social de indivíduos com LM, o que foi confirmado também
através da abordagem qualitativa.
A análise qualitativa nos forneceu subsídios para compreendermos as percepções às
concepções de QV e saúde, peculiares de um grupo de indivíduos com LM, grupo este que
apresenta limitações não só físicas, mas no âmbito da sua vida social e psicológica. Somado a
128
isso, a abordagem qualitativa nos esclareceu quanto à percepção dos benefícios referentes ao
protocolo de treinamento físico proposto pelo estudo.
A combinação de instrumentos de coleta de dados quantitativo e qualitativo
possibilitou-nos inferir que a prática regular do protocolo de treinamento aquático aqui
empregado pode contribuir para promoção de saúde e QV de indivíduos com LM.
129
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados do presente estudo sugerem implicações práticas para a melhoria da QV
e para a promoção de saúde de indivíduos com LM, uma vez que foram encontrados
resultados positivos relativos ao perfil antropométrico e bioquímico, ao aumento do estado de
condicionamento físico e da integração social, concomitante com o aumento da percepção
subjetiva de QV da amostra estudada.
Apesar de considerar as limitações do presente estudo, o protocolo adaptado às
condições físicas apresentadas pelos sujeitos mostrou-se adequado a indivíduos com LM
iniciantes em natação. Somado a isso, o fato do protocolo de natação ter sido aplicado em
grupo serviu como estratégia de facilitação de interação social, que foi considerada, pelos
participantes, como um dos pontos positivos do programa.
De uma perspectiva geral, nossos achados sugerem que intervenções que tenham como
objetivo a prática regular de exercícios físicos podem ser eficazes para a promoção de saúde
de indivíduos com deficiência física, contribuindo para a melhoria da percepção de QV desse
segmento marginalizado da população e para sua inclusão social.
Evidentemente, são necessários mais estudos referentes à promoção de saúde da
população estudada, sendo importante que os mesmos incluam diferentes abordagens
metodológicas, uma vez que foi a partir da combinação de duas abordagens, qualitativa e
quantitativa, que obtivemos subsídios para as nossas análises. A combinação de metodologias
utilizadas no presente estudo não é usual e pode contribuir para futuras pesquisas com essa
população.
130
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144
ANEXO 1
145
ANEXO 2
QUALIFICAÇÃO DO DECLARANTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Objeto da Pesquisa (Nome):...................................................................................................................
RG:...........................................Data de nascimento:........ / ........ / .............. Sexo: . M ( ) F ( )
Endereço: ........................................................................ nº ............................ Apto: ........................
Bairro:.............................................Cidade:...............................Cep:.....................Tel.:.........................
______________________________
(nome por extenso)
Assinatura do Declarante
Representante Legal:...................................................................................................................................
Natureza da Representação: ......................................................................................................................
RG:.......................................... Data de nascimento:......./........./.......................... Sexo: M ( ) F ( )
Endereço:.............................................................................nº.....................................Apto:......................
.Bairro:.............................................. Cidade:........................Cep:..............Tel.:.......................................
______________________________
(nome por extenso)
Assinatura do Declarante
DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR
DECLARO, para fins de realização de pesquisa, ter elaborado este Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), cumprindo todas as exigências contidas no Capítulo IV
da Resolução 196/96 e que obtive, de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e
esclarecido do declarante acima qualificado para a realização desta pesquisa.
Franca, de de 200.....
______________________________
(nome por extenso)
Assinatura do Pesquisador
O
O
B
B
S
S
E
E
R
R
V
V
A
A
Ç
Ç
Ã
Ã
O
O
I
I
M
M
P
P
O
O
R
R
T
T
A
A
N
N
T
T
E
E
:
: Nos casos em que haja qualquer restrição à liberdade ou aos esclarecimentos necessários para o
adequado consentimento, deve-se ainda constar do termo as observações mencionadas nas alíneas a, b,c”, d, e, f do inciso IV-3
da Resolução CNS nº 196, de 10/10/96
, que se relacionam com a pesquisa.
146
ANEXO 3
147
ANEXO 4
WHOQOL - ABREVIADO
Versão em Português
PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE GENEBRA
Coordenação do GRUPO WHOQOL no Brasil
Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck
Instruções
Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde
eoutras áreas de sua vida. Por favor, responda a todas as questões . Se você não tem certeza
sobre que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as alternativas a que lhe
parece mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha. Por favor, tenha
em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que
você acha de sua vida, tomando como referência as duas últimas semanas . Por exemplo,
pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser:
Nada
Muito pouco Médio Muito Completamente
Você recebe dos outros o apoio de que necessita?
1 2 3 4 5
Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o
apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4
se você recebeu "muito" apoio como abaixo.
Nada
Muito pouco Médio Muito Completamente
Você recebe dos outros o apoio de que necessita?
(1) 2 3 4 5
Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio.
148
Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.
muito rui
m
ruim nem ruim
nem boa
boa muito boa
1
Como você avaliaria sua qualidade de vida?
1 2 3 4 5
muito
insatisfeito
insatisfeito nem satisfeito
nem insatisfeito
satisfeito muito
satisfeito
2
Quão satisfeito(a) você está com a sua
saúde?
1 2 3 4 5
As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas.
nada
muito
pouco
mais ou menos bastante extremamente
3
Em que medida você acha que sua dor
(física) impede você de fazer o que você
precisa?
1 2 3 4 5
4
O quanto você precisa de algum tratamento
médico para levar sua vida diária?
1 2 3 4 5
5
O quanto você aproveita a vida?
1 2 3 4 5
6
Em que medida você acha que a sua vida
tem sentido?
1 2 3 4 5
7
O quanto você consegue se concentrar?
1 2 3 4 5
8
Quão seguro(a) você se sente em sua vida
diária?
1 2 3 4 5
9
Quão saudável é o seu ambiente físico
(clima, barulho, poluição, atrativos)?
1 2 3 4 5
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas
últimas duas semanas.
nada
muito
pouco
médio muito completamente
10
Você tem energia suficiente para seu dia-
a-dia?
1 2 3 4 5
11
Você é capaz de aceitar sua aparência
física?
1 2 3 4 5
12
Você tem dinheiro suficiente para
satisfazer suas necessidades?
1 2 3 4 5
13
Quão disponíveis para você estão as
informações que precisa no seu dia-a-dia?
1 2 3 4 5
14
Em que medida você tem oportunidades
de atividade de lazer?
1 2 3 4 5
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários aspectos de sua vida nas
últimas duas semanas.
muito rui
m
ruim nem ruim
nem bom
bom Muito bom
15
Quão bem você é capaz de se locomover?
1 2 3 4 5
149
muito
insatisfeito
insatisfeito nem satisfeito
nem insatisfeito
satisfeito muito
satisfeito
16
Quão satisfeito(a) você está com o seu
sono?
1 2 3 4 5
17
Quão satisfeito(a) você está com sua
capacidade de desempenhar as atividades
do seu dia-a-dia?
1 2 3 4 5
18
Quão satisfeito(a) você está com sua
capacidade para o trabalho?
1 2 3 4 5
19
Quão satisfeito(a) você está consigo
mesmo?
1 2 3 4 5
20
Quão satisfeito(a) você está com suas
relações pessoais (amigos, parentes,
conhecidos, colegas)?
1 2 3 4 5
21
Quão satisfeito(a) você está com sua vida
sexual?
1 2 3 4 5
22
Quão satisfeito(a) você está com o apoio
que você recebe de seus amigos?
1 2 3 4 5
23
Quão satisfeito(a) você está com as
condições do local onde mora?
1 2 3 4 5
24
Quão satisfeito(a) você está com o seu
acesso aos serviços de saúde?
1 2 3 4 5
25
Quão satisfeito(a) você está com o seu
meio de transporte?
1 2 3 4 5
As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas últimas duas emanas.
nunca
algumas
vezes
freqüentemente muito
freqüentemente
sempre
26
Com que freqüência você tem sentimentos
negativos tais como mau humor, desespero,
ansiedade, depressão?
1 2 3 4 5
Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?..................................................................................................
Quanto tempo você levou para preencher este questionário?..................................................................................
Você tem algum comentário sobre o questionário?
150
APÊNDICE 1
151
APÊNDICE 2
DADOS PESSOAIS
Nome: ______________________________________________________Data:__________
Data de nascimento:______________ Idade:_______________________Sexo:__________
Escolaridade: ___________________________________Transporte: _________________
Estado civil:_____________________Profissão:___________________________________
Endereço: __________________________________________________________________
Telefone res:_____________________cel:___________________com:_________________
ANAMNESE
Nível da lesão:_________Asia: _______Causa:____________________________________
Tempo de lesão:_________________ Início da reabilitação:_______________________
Quais as atividades de reabilitação que está fazendo no momento?___________________
___________________________________________________________________________
Pratica alguma atividade física atualmente?______________________________________
Quais os esportes que já praticou?______________________________________________
Sabe nadar?________________________________________________________________
Atualmente, quais as complicações diárias que você apresenta decorrentes da lesão?____
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Tem bexiga espástica ou flácida?_______________________________________________
Qual o seu grau de sensibilidade?_______________________________________________
Quais as cirurgias que você já foi submetido?____________________________________
___________________________________________________________________________
Já sofreu alguma outra lesão ósteo-muscular?____________________________________
Atualmente apresenta dores no corpo?__________________________________________
Utiliza algum medicamento?___________________________________________________
Adquiriu alguma doença nos últimos anos?______________________________________
Possui alguma restrição à prática de atividade física?______________________________
Tem problemas articulares?___________________________________________________
Sente dores de cabeça com freqüência?__________________________________________
Sente falta de ar ou palpitações?_______________________________________________
Fumante Não ( ) Sim ( ) Ingere bebida alcoólica Não ( ) Sim ( )
Diabetes Não ( ) Sim ( ) Disfunção hormonal Não ( ) Sim ( )
Hipertensão Não ( ) Sim ( ) Osteoporose Não ( ) Sim ( )
Problema Cardíaco Não ( ) Sim ( ) Epilepsia Não ( ) Sim ( )
Colesterol alto Não ( ) Sim ( ) Doença hereditária Não ( ) Sim ( )
152
APÊNDICE 3
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96)
Eu, ___________________________________, RG__________, abaixo qualificado(a), DECLARO para fins de
participação em pesquisa, na condição de sujeito objeto da pesquisa, que fui devidamente esclarecido do Projeto
de Pesquisa intitulado A contribuição do treinamento intervalado em natação adaptada na promoção de saúde e
qualidade de vida de indivíduos com lesão medular, desenvolvido pelos pesquisadores do Laboratório de
Fisiologia e Nutrologia Experimentais em Exercício – LAFINE da Unaerp, Cassiano M. Neiva, R.G. 12.486.884,
C.P.F. 099.020.958-01, residente à rua Vilma Giannotti Martinez, nº22 – Presidente Prudente, telefone 16-
81212069, e Patrícia Alves de Almeida, R.G. 11.219.270-1, C.P.F. 145.597.558-33, telefone 16-91389696,
quanto aos seguintes aspectos:
As informações que seguem estão sendo fornecidas para a participação voluntária nesta pesquisa,
cujo objetivo principal é investigar se a execução de um programa de treinamento de natação,
durante 10 semanas, pode contribuir para a redução da porcentagem de gordura, da taxa de glicemia,
de triglicerídios e de colesterol em indivíduos com lesão medular. A pesquisa visa, ainda, verificar o
papel da natação na contribuição do estado geral de saúde dos mesmos, através da aplicação de um
questionário. Visto que, a importância desse estudo reside no fato de que entre as patologias com alta
prevalência na população de deficientes físicos estão as doenças associadas ao estado de inatividade
física e a natação pode ser usada como uma estratégia de prevenção e combate a estas doenças,
contribuindo assim para a qualidade de vida dessa população.
A metodologia para obtenção de dados nesta pesquisa consiste em utilizar além desse questionário,
um formulário com informações pessoais, exercícios adaptados de natação, com colete de flutuação,
e avaliações (medidas e coleta de sangue) cujas respostas serão indicadores que levarão os
pesquisadores ao cumprimento do objetivo principal do estudo em questão. As informações obtidas
serão analisadas em conjunto com as dos demais participantes, não sendo divulgada a identificação
dos mesmos.
O presente estudo é orientado pelo Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva, professor de Fisiologia do
Exercício da Unaerp, pela Profa. Patrícia Alves de Almeida, mestranda em Promoção de Saúde, por
estagiários e professores colaboradores do projeto. Em qualquer etapa do estudo, o participante terá
acesso aos pesquisadores responsáveis, para esclarecimento de eventuais dúvidas, e terá a liberdade
de retirar seu consentimento do estudo, sem nenhuma penalidade ou prejuízo.
Será oferecido o transporte para aos participantes, não havendo despesas pessoais em nenhuma fase
do estudo, como também, não há compensação financeira relacionada à sua participação.
Os pesquisadores garantem que não há riscos de qualquer natureza para os participantes, desde
apresentem atestado médico liberando para a prática da natação e sigam corretamente as instruções
dos professores.
DECLARO ter sido suficientemente informado a respeito dos procedimentos e propósitos do estudo, ficando
claro quais são seus riscos, benefícios e garantias de confidencialidade. Quando necessário para o
desenvolvimento da pesquisa, concordo coma a doação de material biológico (sangue, urina ou saliva).
Assim, concordo voluntariamente em participar desta pesquisa.
_____________________________________
Ribeirão Preto, de de 2008.
153
APÊNDICE 4
Aquecimento antes de iniciar a sessão de treinamento:
- Alongamentos de membros superiores, tronco e pescoço;
154
- Alongamento dos tornozelos e balanços dos braços.
1a
2a
1b
2b
3b
1c
2c
3c
155
APÊNDICE 5
QUESTÃO ABERTA: Quais os benefícios (físicos, psicológicos e sociais) que a natação
proporcionou para você durante esse período? Melhorou sua qualidade de vida?
Sujeito1 - Melhorou a parte respiratória, na disposição para o dia-a-dia. Quanto à parte social, eu já
tinha amigos do basquete. (mais alguma coisa?) Agora, eu vou no clube e consigo me virar sozinho.
Sujeito 2 - “Melhorou minha qualidade de vida. Aumentou o fôlego, por exemplo, pra transar
(aumentou sua capacidade respiratória, o que mais?). A convivência com os amigos... conheci pessoas
diferentes.
Sujeito 3 - Melhorou bastante o porte físico, a força, a respiração; melhorou as dores no corpo (o que
mais?) As amizades. Melhorou a qualidade de vida de uma forma geral.
Sujeito 4 - Melhorou. O físico em geral, melhorou o intestino, bexiga; comecei a dormir mais. Fora
as amizades, as oportunidades sociais, o convívio. A minha perna que ficava muito inchada diminuiu
bastante. O corpo ficou mais leve. Peguei até uma corzinha.
Sujeito 5 - A natação trouxe bastante amizades, saúde, porque eu cheguei aqui na cadeira e eu estou
andando; divertimento. Melhorou mais a minha qualidade de vida.”
Sujeito 6 - O que foi mais importante, foi a parte social, de contato com os colegas, das amizades.
Fora isso, melhorou a minha condição física, é visível, os meus braços aumentaram, as pessoas até
comentaram.”
Sujeito 7 - Voltei a aprender a nadar sozinho, sem colete. Consegui ter mais controle na água, não
ficar apavorado; perdi o receio. Ajudou muito no condicionamento físico. A turma foi boa, as
brincadeiras... (aluno ficou tetraplégico incompleto com mergulho em águas rasas)
Sujeito 8 - O meu dia é produtivo quando venho na natação; eu tenho algo pra fazer. (melhorou o quê
no seu dia?) Melhorou tudo, eu me alimento melhor, eu me sinto melhor. Se não fosse a natação, eu
estaria na cama agora. Eu conheci mais gente, melhorou meu bem-estar.
Sujeito 9 - Deu uma melhorada (no quê?) Melhorou o intestino, transferência de cadeira, porque
aumentou a força nos braços. Estou usando menos coletor. Fiz mais amizades. Aprendi a nadar.
Sujeito 10 - “Melhorou bastante. Em tudo na vida social, na saúde, na relação com o pessoal. Eu me
sinto muito bem. Depois que entrei na natação, deixei de usar o coletor. Melhorou muito a parte
fisiológica, o meu intestino voltou a funcionar diariamente. (o quê mais?) A movimentação das pernas
melhorou muito, dentro da água ela se movimenta. E o condicionamento físico em geral está ótimo; eu
toco melhor o saxofone. O sono melhorou um pouco também.
Sujeito 11Melhorou tudo: físico, psicológico e social. (me dá um exemplo) Por exemplo, eu
consegui nadar, antes não conseguia. Melhorou a flexibilidade, coordenação, capacidade respiratória;
o contato com os amigos no transporte. Fiquei conhecendo as pessoas. Praticamente não saia de casa.
Melhorou muito minha qualidade de vida.
156
APÊNDICE 6
TRANSCRIÇÃO DO GRUPO FOCAL 1
O Grupo Focal 1 foi constituído por alguns sujeitos do GE (participantes 1, 2, 3, 4, 5, 9 e 11).
A atividade teve início com a apresentação da pessoa responsável pela coordenação do Grupo
Focal (Coord), a psicóloga Edna, e com breve explicação sobre a atividade.
O grupo focal foi realizado em uma sala da Universidade de Ribeirão Preto. No entanto, essa
sala, escolhida por ter fácil acesso a cadeira de rodas, ficava ao lado de outra que estava sendo
reformada. Assim, o barulho ao lado atrapalhou a escuta da gravação da entrevista em alguns
momentos, prejudicando a transcrição da mesma em alguns momentos.
Outro fator que inferiu na transcrição da gravação foi a euforia do grupo ao se reencontrar,
após duas semana do término do programa. Por mais que a coordenadora pedisse para falar um por
vez, em vários momentos as falas foram simultâneas e fugiam do assunto. As falas paralelas e
brincadeiras, não pertinentes ao tema, não foram transcritas.
Coord: Eu quero que vocês digam a primeira palavra que vem na cabeça de vocês quando alguém fala
em qualidade de vida.
(silêncio: cerca de 5 segundos)
Coord: Sem censuras, não precisa se censurar, a primeira palavra que vem, qualidade de vida.
(todos riem)
P3 - Ah, Sem censura dá problema, hein? (risos). Ai, quero ver o que vocês vão falar.
P1 - Vamo ver vai, quem começa?
P3 - É verdade.
P1 - É tipo assim, ter a nossa atividade a mais do dia a dia, fácil né? Tipo assim... ter vontade, não ter
cansaço, você fazer com disposição, o dia inteiro, com alegria, com....
P2 - Disposição física...
P1 - Podia ser fazer o 100% do que tiver de fazer com prazer, não a contragosto. Porque, se for sem
gosto pra pessoa fazer alguma coisa a qualidade já caiu. Não está fazendo por prazer.
P4 - Fazer por prazer, não imposto.
(falas e risos)
P1 - Vai, fala. (risos)
P3 - Tá, eu falo.
(várias falas ao mesmo tempo e risos)
157
P3 - O que a gente teve, né, essa avaliação aí que a gente teve todo esse tempo, a gente viu que a gente
se recuperou mais, a gente teve... , se dedicou mais, assim... a vida da gente, que a gente tá
condicionado a uma cadeira de rodas, que a gente sabe, superou muita coisa. Hoje, a qualidade que a
gente tem de vida hoje é, principalmente, saúde. Saúde, tudo, a gente, depois que a gente fez natação,
a gente for ver, bastante assim... disposição para fazer o dia a dia da gente (interrompido)
P4 - O social, também.
P3 - É, o social também.
P4 - Que é o mais importante, talvez. Talvez até mais que a saúde.
Coord - O que é qualidade de vida? A primeira palavra que vem na tua cabeça quando você escuta
isso.
P2 - Então, mas a pergunta não era essa, então.
Coord - Eles estão detalhando mais, né? Mas pode ser assim uma palavra que vem...
P3 - A primeira palavra que eu acho assim que vem é saúde. Eu acho que qualidade de vida da gente é
saúde.
P4 - Tá, mas mesmo se você está doente se você estiver num ambiente social você vai superar isto.
P3 - Certo,... a não ser que você supe, superasse... (mais de uma fala ao mesmo tempo)... Fazer da sua
situação, da sua paraplegia né, da nossa um pouco (barulho, assobio)... um pouquinho melhor. Passa a
ter, passa a ter uma... vamos supor assim...
P4 - Supositoriamente falando... (risos)
(fala incompreensível ao fundo)
P3 - Passa a ter uma... ligação maior com a sociedade, mais espontânea.
P4 - É porque você fica normalmente preso, querendo ou não, você não tem...
P3 - Você ter ligação maior com a sociedade é até normal. Ás vezes, as pessoas que andam normal, às
vezes não tem uma ligação. Acho que isso ai... Isso aí é relativo, tipo...
P4 - Não, tá. É relativo, mas só que a partir do momento que... se acontece um... tipo um acidente e
ninguém morre, aí começa... (??) (Obs: sujeito 4 ficou paraplégico em um acidente de moto)
(várias falas simultâneas)
P3 - É, para você.
P4 - ... às vezes, a pessoa até ela se aceitar... e tem que conquistar o pessoal que vai te aceitar. Primeiro
você tem que se aceitar.
P11 - É, este é o primeiro passo. Primeira aceitação própria, e depois a aceitação pela sociedade. Que
não acontece, infelizmente não acontece. A sociedade não nos aceita. Esta é a grande verdade. Não
adianta tapar o sol com a peneira.
P2 - É verdade.
158
(Falas ao mesmo tempo)
P2 - Só o Marquinhos mesmo. (Obs: o Marquinhos não fazia parte do GE)
P1- Na natação, também, quem ficou dentro da piscina, que a gente vê o cidadão tava falando: é, tem
tudo, as duas pernas, os braços certinhos, e não nada, não tem disposição. Tipo, fica aquela auto-
estima aquilo ali...
P11 - Este curso que a Patrícia me deu foi muito bom. Foi bom, realmente. Foi bom porque ajudou a
gente fisicamente, e socialmente falando. Houve uma ligação maior entre nós, entre pessoas... de
diferentes idades...
(mais de uma fala ao mesmo tempo)
P5 - E amizade, né? Que... acaba fazendo, com a gente. Um churrasco que fez na casa do P3, né? Foi
ótimo.
(brincadeira relacionada ao churrasco)
P5 - E outros, né? Aquele carneiro que você falou que ia matar e não matou.
(risos)
Coord - Vocês acham que com o fim do trabalho da Patrícia, com o fim do trabalho de natação, a
amizade vai continuar? A convivência de vocês vai continuar?
Participantes (vários) – Vai. Vai.
P4 - Pode ser que fique mais raro, mas com certeza vai. Mais raro da gente se encontrar, mas não...
P2 - Alguns aqui quer ser jogador de basquete, da equipe de basquete...
(risos e conversas paralelas ao mesmo tempo com assuntos que fogem ao tema)
P3 - Porque ele não vai na casa de pobre, né? Ele não vai.
P11 - Mas, ele foi na sua casa!
(Risos e falas ao mesmo tempo)
P3 - (??) assim... a gente... igual nóis tá aqui. Se eu vou na casa dele ele vai lá na minha casa. O Sr.
P10 a partir de agora a gente sempre vai passar lá, tudo, entendeu? A gente tem que ter contato assim,
direto.
P11 - Graças a Deus, foi muito bom. Aliás, esse curso que a Patrícia me deu aí, não foi só fisicamente
que ele melhorou. Melhorou muito, melhorou em todos os aspectos.
P4 - Melhorou em todos os sentidos.
P11 - Melhorou em todos os sentidos, foi uma coisa maravilhosa.
(falas ao mesmo tempo)
P11 - Deu pra perder uns quilinhos.
159
P1 - É, eu já perdi uns quilinhos, engrossei os braço...
P2 - Tá recuperando, viu? Fazia cada pratão lá.
P1 - Ah é?
(Falas ao mesmo tempo; brincadeiras entre eles)
P5 - Não, vamo fala da qualidade... de saúde.
Coord – E o que é saúde para vocês. Vocês falaram que qualidade de vida, primeira coisa, tem que ter
saúde, tem que ter auto-estima. O que é saúde, numa palavra?
P4 - É outra palavra que engloba tudo.
P4 - Basicamente o que a gente falou até agora. Saúde social, saúde física, saúde mental...
P11 - Você tem saúde? Fala a verdade.
P? - O que é saúde para você?
P11 - Saúde é o que eu não tenho. Depois que eu fiquei paraplégico, eu... eu, sinceramente falando,
não tenho saúde...(toca o celular de um dos participantes).. Tenho problema de... problema urinário,
problema de intestino, tenho uma série de problemas. Eu não tenho saúde. Posso falar que eu tenho
saúde?
P4 - Não seria assim, também, não.
P2 - Isso aí é muito radical, Sr. P10.
P11 - Não to sendo radical, tô falando a verdade.
Coord - O que é saúde para você?
P1 - Ah, é..(falas simultâneas)... estar bem no dia a dia...(fala de outro participante: ... tá dando uma
palestra aqui sobre... (?)... tá podendo nadar, jogar, poder ir no shopping..(falas ao fundo)..se eu não
tenho saúde quase não dá porque... fico trancado em casa.
Coord - O que é saúde para você?
P2 - Pra mim é ter disposição pra saí, bebe com os amigos, ir no churrasco, né!
(Patrícia: Não falou nada, Roque... – sujeito 9)
(falas simultâneas)
Coord - Ir em churrasco, né ?
P2 - É, ir em churrasco.
Coord - O que é saúde?
P9 - Saúde? Saúde pra mim é levantar de manhã todo dia...
P11 - Fazer uma caminhada...
160
P4 - Bom humor.
P3 - É... sem ter, sem ter..nem, sei lá... sem ter que tomar remédio, sem ter que tomar antibiótico, sem
passar por médico, pra mim saúde é isso. Se alimentar bem, dormir bem, pra mim saúde é isso.
(Brincadeiras entre eles)
Coord - E a auto-estima, o que é?
(silêncio...)
(falas diversas simultaneamente)
P3 - Você levantar cedo e...apesar de tudo que a gente passa, que a gente tem, você se sentir bem, né ?
Você ter uma boa... uma boa convivência com as pessoas, os familiares, tudo, eu acho que isso é auto-
estima. Eu acho que é isso. Se sentir bem, admirar. Pô, você fazer um...um...uma coisa ali, pô, olha
que bom. Isso pra mim foi maravilhoso, a auto-estima...
(falas diversas e toca o celular de um dos sujeitos)
P? - Eu acho que é fazer o que nunca tinha feito antes...
(falas diversas)
P11 - Não pode ter vergonha, tem que se aceitar.
Coord - A auto-estima também é isso, né? É aceitação, é você descobrir o que você tem de bom, né?
P? - Então é a descoberta que você tem que fazer, de coisas de bom...
P3 - Para você assim, o que é? Você que entende mais, o que é auto-estima ?
Coord - Não vou falar senão vou contaminar. Até já falei um pouquinho demais.
(falas diversas)
Coord - Bem, vocês pensando no que vocês definiram como qualidade de vida, né? Em uma palavra,
se for para vocês definirem qualidade de vida antes de começar o trabalho com a Patrícia, o trabalho
de natação, que palavra vocês associariam com qualidade de vida? Só uma palavra, antes do trabalho.
P2 - Basquete
P11 - Muito buraco.
Coord - Antes do trabalho.
P11 - Ah, antes do trabalho?
Coord - É
P11- Péssimo.
Coord - Péssimo. E você?
161
P4 - Péssimo? Deixa eu pensar... Gênio pensando...
Coord . - Você? Antes do trabalho.
Coord - A primeira que vem, sem censura, a primeira palavra que vem na cabeça. Qualidade de vida.
A minha qualidade de vida antes do trabalho com a Patrícia.
P2 - Eu já pensei.
Coord - Pode falar.
(várias falas, brincadeiras entre eles e risos)
P4 - Antes, eu, o meu esporte era beber...? Não, antes eu não tinha esporte. Qualidade de vida era sem
esporte, no caso.
P11 - É o que eu falei, péssima.
Coord. - Mas, procura resumir em uma palavra a sua qualidade de vida antes do trabalho com a
Patrícia.
P3 - Antes de fazer o trabalho com ela não era nada bom.
Coord - Mas traduz o nada bom e o bom.
P3 - As minhas crianças...
Coord - O que estava presente na sua vida que fazia ela, a qualidade de vida ser boa? E o que estava
presente na sua vida que fazia a qualidade de vida ser nada bom?
P3 - Os meus filhos.
Coord - Seus filhos?
P? - Para mim faltava o que para nós... (falas simultâneas e comentários da vida familiar)
P3 - Eu sentia falta deles, de oportunidade... (falas simultâneas)
(uma fala ao fundo, não consegui entender)
Coord - Agora, pensem em uma palavra que significa, depois desse tempo, dessas semanas ai,
praticando natação, desse trabalho todo com a Patrícia, dessa convivência entre vocês, resume em uma
palavra o que está presente na vida de você que significa que melhorou a qualidade de vida de vocês?
Pode ser mais de uma. Se tiver mais de uma.
P5 - Amizade.
P3 - Ser bem quisto, bastante, é... eu tinha um problema de fôlego...
(risos)
P3 - Depois que eu comecei o trabalho melhorou bastante. Eu tinha dores musculares nas costas. Me
doía bastante, mas melhorou. É muito bom.
P2 - Eu conheci o Zé. E outra, a convivência com ela, também. O Sr. P10, também.
162
(várias falas)
P11 - E, apesar dela ter me posto lá embaixo, mas...
Patrícia (Explicação sobre a numeração dos sujeitos que não foi a colocação no desempenho, mas o
número de cada sujeito por ordem alfabética. Ao final do programa, eu entreguei uma ficha para cada
um, com os sujeitos numerados, com o resultado individual de desempenho nos testes de esforço.)
P3 - Um cara desses que não sabe nadar, ficou em segundo lugar...
P11 - Oh!!! O que você tá reclamando, ai? Eu fui o último, não tô falando nada, pô. Eu fui o último
não tô reclamando de nada.
(várias falas)
Coord - Vamos lá gente, e vocês que ficaram quietos? O que está presente na sua vida hoje que...
P9 - A amizade, a natação, que eu não sabia nadar.
P11 - É... eu acho que após o curso que a Patrícia me deu melhorou em todos os aspectos. Melhorou
fisicamente, melhorou socialmente falando, melhorou em todos os aspectos. Foi muito bom. O que eu
já falei antes e volto a repetir, foi muito bom.
P4 - Não é questão de puxa saquismo, não...
P11 - Não, não. Se ela não estivesse aqui eu ia falar a mesma coisa.
P4 - Ninguém estava esperando que acontecesse. Talvez quem começou, começou pensando uma
coisa, mas saiu uma coisa totalmente diferente, é... superando expectativas.
P2 - E teve o Gabriel, também.
P? - Essa é a parte dele.
P? - É (risos)
P? - Daniel ???
P? - a Renata ???
P? - Deixa ele lá.
(várias falas, brincadeiras entre eles, não significativos para a análise)
163
APÊNDICE 7
TRANSCRIÇÃO DO GRUPO FOCAL 2
O Grupo Focal 2 foi constituído por aqueles sujeitos do GE que não puderam comparecer no
primeiro grupo focal (participantes 6, 7, 8 e 10). O sujeito 8 chegou atrasado.
A coordenadora do segundo grupo foi a mesma psicóloga que participou do primeiro Os
procedimentos inicias de apresentação e explicação da dinâmica do grupo seguiram os mesmos
moldes do primeiro grupo focal.
O segundo grupo focal também foi realizado em uma sala cedida pela Universidade de
Ribeirão Preto.
Coord - Eu queria que vocês me dissessem a primeira palavra que vem na cabeça quando vocês
pensam em qualidade de vida.
P10 - Paz de espírito
(silêncio...)
P6 - Paz interior
P7 - Respeito, liberdade, paz e sossego.
P6 - Paz de espírito
Coord - Tem alguma outra? Se for desmembrar o que é paz de espírito, quando é que a gente tem paz
de espírito?
P10 - Ter uma vida saudável, tanto na parte espiritual quanto na parte material.
P7 - Conviver bem com os outros, também.
Coord - Para você?
P6 - Uma mente saudável
Coord - Mente saudável?
Coord - Mais alguma coisa gente?
(silêncio...)
Coord - Vai desmembrando estas palavras que vocês falaram, paz de espírito, convivência. O que é
preciso para a gente ter uma boa convivência?
P7 - Primeiro a gente tem que estar bem com a gente mesmo, né? Para depois estar bem com as
pessoas, conviver bem.
P10 - Primeiramente tem que partir de nós, de dentro pra fora, né? Depois vai abrindo o leque, vai...
fazendo amizade.
164
Coord - Se fosse pra vocês definirem qualidade de vida. O que que é? O que é pra vocês? Porque é
uma coisa subjetiva, né? Mas se vocês fossem definir: qualidade de vida é isso, isso e isso. O que
está presente na vida de quem tem qualidade de vida?
P7 - Amigos, família.
Coord - O que mais?
P10 - Amigos, família, uma vida bem controlada com atividade física bem feita, saudável, uma boa
alimentação.
Coord - Não vai falar nada, Júnior, sobre qualidade de vida?
P7 - Se sentir útil, também, né? O Júnior trabalha, o Valter também trabalha.
Coord - E saúde, como vocês definem saúde?
P6 - Pra gente, saúde é uma preocupação constante, né? Porque quer queira quer não, a gente tá
sempre na berlinda de ter uma infecção, de ficar doente. Saúde pra a gente não é mais uma questão de
querer ou não ter saúde, tem que ter e acabou. Tem que estar sempre indo no médico, tem que estar
sempre controlando infecção. A saúde da gente não é mais aquela coisa ah, eu não quero cuidar da
minha saúde. Mesmo se não quiser você tem de fazer.
P7 - Você sabe, algumas coisas eu não mudei, não. Tipo assim. Eu fui pescar há uns dois finais de
semana atrás. Aí, eu queria entrar na água, coisa que eu fazia quando eu nadava. Minha mãe não
queria deixar. Aí, eu falei com meu pai. E a água tava gelada, tava gelada!! Eu sabia que eu ia ficar
resfriado no outro dia, mesmo assim eu entrei. Resfriado também acho que não entra em coisa de
doença, né? Resfriado, gripe.
Coord - Esse cuidado com a saúde você não tinha antes, essa preocupação de prevenir, de evitar uma
doença, alguma coisa assim? De ir com mais freqüência ao médico para ver se estava tudo bem com
você? Isso você não tinha antes?
P7 - Não, Não. Ia uma vez só no ano. Nunca tive assim. Eu ainda, não tenho assim, não tenho muita
infecção. Mas, aí que muda, porque minha mãe também fica em cima, né? Eu também não ligo muito,
mas ela fica em cima. Se dá uma febre, já fica preocupada, entendeu? Isso acho que mudou muito.
P6 - Eu te falo uma coisa assim, por incrível que pareça, a cadeira não é o que me, me irrita mais. A
infecção, a questão da urina, de ter que usar bolsa, isso é o que me irrita mais do que a própria cadeira.
Quando uma pessoa que não é cadeirante fala assim: ah, o cara tá ali sentado.... Eu também achava
isso, mas as complicações que vem de infecção, de ficar doente, são o que mais chateia do que o
próprio ficar sentado.
Coord - E pra você Valter, como é essa questão da saúde?
P10 – Eu, até os 21 anos, entrei no hospital só pra trabalhar, né? Não tomava nem aspirina pra dor de
cabeça, pra nada. Tinha uma saúde perfeita, né? Perfeita entre aspas, porque perfeita nunca é. Mas,
depois que passei a ser cadeirante, que sofri este traumatismo, aí minha saúde eu tive que passar a
controlar no dia a dia. Procurar uma vida melhor, o mais saudável possível. Tive de controlar a
alimentação, tive de controlar tudo pra manter uma vida saudável e hoje tenho um pensamento comigo
que estou me preparando pra uma velhice saudável, mesmo estando nesta cadeira de rodas, né?
Principalmente, minha cabeça, estou trabalhando muito. Eu tive umas situações, tive uns problemas
atrás aí depois de quase vinte e sete anos, eu achava que eu não ia mais passar por traumas tanto do
jeito que eu passei, mas eu mesmo me auto controlei, que aprendi as técnicas que a gente aprende na
165
faculdade por ai, né? Foi difícil, mas consegui. De um mês e pouco pra cá tô super tranqüilo. Tá
voltando a vida ativa que eu tinha, novamente. É, são as fases da vida, né? São coisas que demorou pra
acontecer comigo. Era pra ter acontecido no inicio do meu trauma, veio acontecer agora, tudo bem.
Ninguém escapa disso, e hoje, estou me preparando pra uma velhice saudável, né?
P10 - O controle que ele falou ai, constante, de doença. Você pode ver. Eu mesmo, vou direto no
laboratório. Cada dois meses agora, um mês eu faço os exames controlando tudo e... coisa que a gente
não fazia, a gente levava assim...
Coord - Pensando na questão da saúde e, principalmente, como você falou, em relação à saúde mental,
ao lado mais psicológico, vocês receberam algum apoio ou buscaram algum apoio pra estar lidando
melhor com as limitações?
P10 - Eu busquei uma vez, lá no H.C. O médico falou: Valter, você some daqui senão você vai
acabar ficando é louco. Quer dizer, eu procurei porque eu achava que eu precisava de um apoio, né?
Depois, eu procurei de novo, quando eu estava estudando. Estava na faculdade e como eu tinha meus
clientes para atender também, na clínica, essas coisas, fui obrigado a ter o amparo do outro lado
porque, senão, não ía aguentar, né? Curso de musicoterapia que eu fazia, né? Daí eu procurei. Depois
eu procurei particular, fora também. Achava que tava tudo normal, tudo bem, tava controlado, mas
nunca tá, né? Nem que seja (fala incompreensiva, baixa) se eu tivesse continuado, talvez quando
surgiu os problemas que eu tive esses tempos atrás ai, talvez eu estaria mais preparado, né?
Coord - Mais preparado?
P10 - Mais preparado, né? Embora eu sabia que um dia vinha. Um dia ia vir, mas, do jeito que veio eu
não estava preparado para receber.
Coord - E aívocê buscou novamente ajuda?
P10 - Não, ai...
Coord - Foi sozinho ?
P10 - Foi sozinho. Apliquei umas técnicas em mim mesmo. Foi super difícil, foi duro, chutei até a
própria sombra, modo de falar, né? Abri a boca pelos quatro cantos da terra pra descarregar mesmo o
que tinha que descarregar. Acabou, acabou. Ai, eu passei a fazer a separação, né? Entre água e óleo,
né? No modo de falar, modo de falar não se misturam, né? Então, faço a separação de tudo passando
pelo meio, tranqüilo, mantendo o equilíbrio, tanto na sociedade como na minha vida particular,
familiar.
Coord - O fato de você ter um certo conhecimento que você adquiriu no curso de musicoterapia te
ajudou muito?
P10 - Me ajudou e muito, viu? Falar a verdade me ajudou bastante. E o fato também que me ajudou
muito quando eu sofri o acidente. Eu ainda dei o meu diagnóstico pro médico do acidente, pro médico
da emergência. Eu era enfermeiro, trabalhava com enfermagem. Falei foi coluna, não sei a altura,
mas eu sei que não vou andar mais. Fui dando o diagnóstico pro médico. E o meu pé? Ele falou: não
sei pegou, me deu anestesia. Foi o que salvou minha vida, também, na época, né? Ensinei como me
socorrer porque na época não tinha resgate, não tinha nada disso. Então, quer dizer, o conhecimento
que a gente vai adquirindo que ajuda. Porque eu tô fazendo isso? Nada é por acaso, alguma coisa você
vai usar.
Coord - Uma questão que a gente colocou para o outro grupo e queria colocar pra vocês é assim:
Depois da natação, o que vocês acham que melhorou pra vocês?.
166
P10 - Vixe, muita coisa, viu? Principalmente, a... eu notei que eu tinha problema até para dormir,
principalmente, se eu deitasse de costas, de bruços, eu perdia até a respiração, acordava. Melhorou
bem isso ai. Fazer exercício respiratório dentro da água, puxar o ar, soltar. Até hoje eu ainda faço isso
deitado. Hoje já deu uma boa... melhorou o físico, melhorou a mente, melhora tudo, né? Tanto que
hoje estou fazendo com a Valéria e deu uma boa melhorada de novo, né? Agora precisa passar pra cá,
pra criar coragem pra passar pra cá. (Obs: Valéria é a fisioterapeuta da Unaerp que o encaminhou para
o programa de natação; passara para refere-se a piscina semi-olímpica da universidade)
Patrícia - Pra gente voltar, né?
P10 - Melhorou bastante, viu? Eu prefiro fazer a natação do que como eu fazia academia antes. Hoje
em dia, achei que está bem melhor. Porque a natação eu só faço, quer dizer, na academia é só para os
braços. Aqui pelo menos dentro da água eu mexo até as pernas. Então, quer dizer, tá mais completo.
Coord - E você Márcio, o que você acha que melhorou pra você de uma forma geral. Não só o aspecto
físico, de uma forma geral: o psicológico, o social, o físico, depois que você fez a natação aqui?
P7 - Ah, sei lá. Só o fato de eu poder entrar na água quando eu quiser, em qualquer lugar, que nem eu
fazia antes, para mim já é muito já. Nem quando eu andava, eu nunca nadei aquela metragem que eu te
falei que eu nadei. E mais o pessoal que a gente conhece, né? Mais amigos que a gente junta. Sei lá.
(Obs: o sujeito 7 fraturou a cervical em um mergulho em águas rasas)
Coord - E pra você Júnior?
P6 - Melhorou muito. Porque na época melhorou muito o meu sono, né? È isso que aconteceu. Porque
assim, eu sou uma pessoa que tenho que estar sempre com algumas regras, assim, né? Senão
extrapolo. Porque a minha vivência já é uma vivência de noite, né? De música, de agitar, então, era a
noite inteira acordado e dormir... pouco. Isso me deu... senti uma diferença na saúde, saúde mental,
né? Porque o sono melhorou, as pilhas que eu achava que tinha já deu uma amenizada. Fiz teste
agora em Batatais e para mim ficou muito claro a diferença que faz na minha vida. (Obs: o teste a que
o sujeito se referiu foi em relação a natação, para verificar se ele poderia participar dos jogos
regionais)
P6 - E também assim, só que... uma coisa que também foi muito importante para mim neste período da
natação foi ter vindo na van, com o pessoal. Ter convivido com o pessoal. Porque é... o ser humano ele
é criado pra ver a situação do seu umbigo, né? Então... aí você compartilhando, você vendo uma...até
no dia a dia vendo a situação de outro você chega em casa fala: meu problema não é tão grave,
assim. Uma coisa que... melhora porque quando você tá preso no seu mundo tudo é terrível, tudo é
difícil, e tudo fica mais... maior, né? Quando você vê outra pessoa, tem gente, tem muitos casos aíque
a pessoa nem saia de casa, pra mim foi muito importante.
P10 - Uma coisa eu falo. Esse convívio que ele tá falando é muito bom. Porque o ser humano tá
vivendo uma época virtual que não tem mais esse contato físico, essa conversa que nós estamos tendo
aqui, não. E o ser humano não foi feito pra isso não. Foi feito para a convivência, qualquer humano,
qualquer ser vivo. Então, o que ta faltando na humanidade hoje que ta tudo revoltada é esse carinho,
esse relacionamento. Sentar numa calçada e bater papo como fazia antes. É importante a troca de
experiência, troca de afeto.
Coord - E vocês continuam tendo contato com as pessoas, com o grupo?
P10 - Alguns não, alguns a gente não tem visto mais depois que parou a natação, porque... o P7
mesmo, hoje que eu fui ver ele. Fazia muito tempo, né?
P7 - O maior problema nosso é o transporte.
167
P10 - Às vezes a pessoa tem o transporte, mas não tem o tratamento. Às vezes tem o tratamento, mas
não tem o transporte. Essa é a dificuldade de qualquer pessoa que tem uma enfermidade, uma
patologia, não importa se cadeirante ou não.
P6 - A questão do convívio, o Marcinho mesmo sabe disso porque ele vinha na van. A van, ela já
tinha... já tinha um...já era um caso a parte da natação porque já tinha as brincadeiras até com o
próprio motorista, com o pessoal, né? Já tinha as brincadeiras da van e tal. E era bem legal, mesmo. A
van já era uma aula a parte, né?
P7 - Quantas vezes eu ficava esperando para na hora que entrar perguntar qual é a palhaçada do dia?
P6 - Porque na van já tinha as brincadeiras. Já tinha um outro que contava piada sempre. O próprio
motorista já estava acostumado. Cada dia falava de um, de outro, tal. Então, acho que esse lado social,
do convívio, isso... isso pesa muito, né?
P7 - É verdade.
P6 - Eu, às vezes,... dá aquele vazio porque não tenho nada para fazer. Não tenho nada pra fazer eu
não fico em casa. Não fico em casa. Eu pego, porque eu consigo pegar o ônibus. Eu pego o ônibus e
vou pro cinema, eu vou no trabalho dos meus amigos, fico por lá, almoço na cidade, vou até no
calçadão lá, converso com as pessoas, amigos, sabe? Vou no trabalho de um, no trabalho de outro.
Não fico em casa. O dia que eu fico é porque... aítá ruim mesmo. (Obs: sujeito 6 consegue ficar em pé
para apoiar e, desta forma, mesmo o ônibus não sendo adaptado, consegue entrar)
Coord - E os churrascos da turma? Toda essa falta de transporte, essa dificuldade não teve em nenhum
churrasco? Vocês conseguiram se reencontrar depois do fim do grupo?
(falas sobre o churrasco)
P6 - Eu fui num aniversário sábado e aíeu encontrei até algumas pessoas que eu não encontrava que é
o P3, entendeu? Foi legal, foi muito bom.
P6 - É... tipo assim... é que... igual a gente, eu tava indo pra Batatais com o pessoal esses dias e a gente
comeu jabuticaba, a gente parou pra comer abacaxi numa barraca lá. Esse convívio, essa troca, é muito
importante. Pra mim é importante porque... assim, eu já conversei com a Patrícia sobre isso ai, às
vezes, os meus problemas, eles tomam uma proporção pra mim que não existe, entendeu? Sou meio
egoísta quanto a isso. Eu acho que sou o centro do mundo e, preciso... e... o que está acontecendo
comigo? E aíquando eu tô convivendo, que nem quando tava no churrasco eu falei, falei mesmo pro...
Roque, né? O cara veio lá de não sei onde, mora sozinho, não tem família, vende CD e olha a alegria
dele. Eu tenho minha casa, tenho minha mãe, tenho um brother que fica enchendo o meu saco toda
hora.
(falas sobre a natação em Batatais - acabou o projeto, mas alguns alunos continuaram a fazer natação
em Batatais para se prepararem para competir nos jogos regionais, enquanto a Unaerp não libera para
o grupo voltar ao programa).
Coord - E esta questão do transporte, Patricia? A gente vivenciou um momento de eleições. Vocês se
interessaram em ver se algum candidato tinha uma proposta? Porque todo mundo fala de transporte.
(falas sobre a questão do transporte e a possibilidade do grupo continuar a praticar natação)
Coord - Procuram conversar, tentar se organizar enquanto grupo, ir e conversar. O que vocês pensam?
P6 - Eu peguei... eu consegui, consegui?! O que eu fiz foi tentar falar com algumas pessoas assim,
conversar. Tenho um amigo que o pai dele é marketeiro da Darci Vera. Ela ganhou, né? E ai, eu até
168
encontrei ele um dia e falei porque é amigo, não é pessoa que eu vou ter que tentar falar, ter que
mandar um recado. E aí eu falei pra ele; eu preciso de algumas coisas. E eu percebi uma coisa, não
adianta eu chegar lá, eu P6 e um grupo e falar: a gente é cadeirante e nós precisamos tal, tal. Eu tenho
que chegar, sabe o quê? Com um cara que é amigo pro cara fazer. Faz para o amigo. É igual, trabalho.
Ele arruma pro amigo dele oh, dá pra arrumar um trabalho? Põe um amigo meu ai. Política é tudo
desse jeito, ele põe o colega, o amigo. Eu tô articulando dessa forma, entendeu?
P6 - E na forma também que tem um... um...Tem uma pessoa que foi na reunião com a gente, num
churrasco lá, que eles tem a proposta de um patrocínio, ai. E ele falou, ele falou pra gente usar a mídia.
Na hora que tiver a oportunidade desce a lenha. Quando tiver na mídia desce a lenha. Fala: Óh, tô
caindo na sarjeta, ai, entendeu? Se conseguir, se articular só assim. Se a gente se organizar, for pra
mídia. Aí, eles falam: Oh, aquele grupo. Pô, aqueles três estão se mexendo. Tem que ter essa
consciência política, que vai ter que ser mexendo com eles, cutucando eles, né? Lutando, entrando
com liminar, aí, a gente vai conseguir. A partir do momento que a gente ficar: Ah, não isso não
acontece, isso não acontece” vai continuar pagando o preço ai.
P10 - Esse negócio que... quer dizer... eu não vejo com relação ao vale transporte, né? Até outro dia,
eu estava lembrando. As três primeiras vans que vieram fui eu, o Eduardo e um outro cadeirante que é
advogado que trouxemos para Ribeirão. Sem se meter em briga com ninguém como ele falou. Nem a
mídia, nem nada. As rampas da Av. Saudade tudo ali fui eu que consegui, tudo na base da amizade,
com político, como o Morandini. Essas coisas todas aí, conversando, que nem estamos conversando
aqui, né? Com advogado, porque ele fazia as cópias lá... Quer dizer, é meio difícil estar conseguindo
as coisas, porque eu já fui pra televisão e não consegui nada, também.
P10 - É que nem eu falo, tem que articular, é partir então pro meio de comunicação e mostrar a
necessidade. Falar temos necessidade disso, daquilo e daquele outro.
P6 - Porque eu vejo, eu vejo uma coisa assim. Eu vejo que nem muitos com que eu conversei falou
assim: ah, mas não vira, ah, isso não vira. Mas, a gente pensa assim: porque quando... porque que
quando você fala assim... sem terra. Se você falar pra opinião pública ou para o poder público sem
terra, você já imagina os caras fazendo passeata, quebrando tudo e alguém sendo o líder, não é?
Agora, se você fala assim... cadeirante” é uma pessoa que fica quieta, escondida dentro de casa, que
você quase não vê. Então, qual é a diferença? A diferença é que... é um pessoal que age... um pessoal
que age, entendeu? Porque me falaram de um grupo que eles foram numa... um grupo de cadeirantes
que eles foram numa, não... o pessoal, eles foram numa pizzaria e não tinha como subir. Ai, os caras,
os garçons, todo mundo teve que pegar os caras e subir os caras pelas escadas. Construíram uma
rampa no restaurante. Então, isso foi uma mobilização. Acho que... acho que aí que acontece. Agora se
a gente ficar “ah, tá beleza”, os caras não estão nem ai...
P10 - Aquela rampa que tem na Casa da Cultura. Lá onde eles fazem o curso. Lá foi por minha causa.
Quer dizer, depois que eu fui lá, né? Fiz um curso lá de música. No dia da nossa formatura, o assessor
do prefeito veio, me deu um abraço e falou: Você é um privilegiado, e eu falei: porque?, todo
mundo em pé e você é o único que tá sentado. Vem comigo. Vinte e três degraus subindo carregado
no colo durante o curso todo e eu sou o maior privilegiado aqui. Só falei isso e voltei pra festa. Fui um
mês depois lá e tinha uma rampa lá. Quer dizer, se você não aparece também ninguém vai saber das
necessidades. Se não mostrar os privilégios, na hora dos prós e contra. Eu sou assim... sou daqueles
que esperam a oportunidade, né? Não fico batendo de frente, não.
Coord - Todo esse ativismo, essa mobilização tem a ver com qualidade de vida, né?
P10 - É tudo qualidade de vida, né? Por isso que eu procuro conseguir as coisas com sorriso porque
nem sempre a gente vai conseguir com a cara feia, né?
Coord - E pra você que chegou agora, P8, o que significa qualidade de vida?
169
P8 - Ah, qualidade de vida acho que já fala, né? Acho que uma vida com qualidade. Uma vida com
qualidade tem de ser saudável, né? Um ambiente saudável. Então eu vejo assim, você ser uma pessoa
saudável.
Coord - O que é ser saudável?
P8 - Saudável no meu conceito, a meu ver, é... a pessoa ter uma boa alimentação, ter preparo físico,
você entendeu? Não exorbitante igual o pessoal que faz academia, mas uma atividade, você entendeu?
Não que... deixaria o lado do sedentarismo, né? E... então, ter uma alimentação, manter...cuidar do
corpo, é... ter horário para o sono, fora isso ter uma vida social ao mesmo tempo, também, com
divertimento. Englobando tudo isso eu creio que dá para chegar numa qualidade de vida, você
entendeu? Já aqui em Ribeirão a qualidade de vida é mais complicada por causa da qualidade do ar,
né? Em SP quando chove a qualidade de vida é melhor, o ar fica melhor, né? Só que tem a poluição,
né? Quer dizer não dá pra gente ficar querendo tudo. Tem que ter um equilíbrio, né? E junto com a
natureza também eu acho. Nada assim distante da natureza porque é... nos grandes centros urbanos é
difícil, você vê que assim.... tem que ter um preparo muito legal, até psicologicamente para ter
qualidade de vida na cidade grande. Porque é muito estressante. Basicamente é isso.
Coord - O que você acha que mudou após o trabalho com a Patrícia?
P8 - Ah, o trabalho com a Patrícia. O trabalho da Patrícia assim a meu modo de ver, até pra muitos foi
pra perder o medo da água, mesmo. Já eu não tinha esse medo, você entendeu? Eu não tinha esse
medo, não é pra mim isso ai. Mas muitos aqui do pessoal que eu acompanho, que são grupo meu,
porque sou para atleta, né, e acompanho todos as atividades tanto de natação quanto do basquete que...
eu sou um cara que tem 1 ano e 3 meses de lesão então eu sou da turma mais recente. Então, quer dizer
eu tive que.... eu falo perder o medo porque muita gente tinha medo da água, não era o meu caso. Só
que como eu.... para quem faz mais ou menos o raciocínio porque eu não era lesado, eu passei a ser
um lesado, eu não nasci lesado, então tem essa diferença. E a pessoa sente, a pessoa tem que se
adaptar a sua vidinha. (sujeito 8 logo após o término da natação, iniciou no basquete de cadeira de
rodas)
P8 - Sou lesado. Quem sabe que eu sou lesado é minha família. Porque é o que eu tava conversando...
(assuntos pessoais que fogem do tema, fala dos amigos que fez antes do acidente)
... então eu tô nessa atividade agora, porque... o que que mudou na minha vida? Eu sai do meu
sedentarismo, de cima da minha moto... cai de um telhado e pulei numa piscina olímpica. Eu quando...
saindo de casa agora eu pensei nisso: o ser humano sempre encontra barreiras, né? Então, hoje eu
acho que eu tô entendendo um pouco melhor, porque eu tive esta lesão. Pra mim... saber... ultrapassar
meus obstáculos na minha vida assim, como as barreiras. Porque, o ser humano é ótimo para (falou
baixo, ficou incompreensível a fala) o melhor animal para reclamar, entendeu? O ser humano é bom
para reclamar. Agora se a gente for reclamar da vida, né? È muito complicado, você entendeu? (Obs:
sujeito 8 ficou paraplégico em uma queda do telhado)
(Fala dos relacionamentos familiares e assuntos não pertinentes ao tema)
Coord - E o contato com o grupo durante o trabalho com a Patrícia, como você avalia?
P8 - Ah, durante... o contato com o grupo era legal, porque era muito divertido, né! É tipo... que nem a
professora comentou eu sou um dos mais comunicativo e tem um outro rapaz que chama Cesinha
também. Então eu e ele... nós fazia a festa.
(Fala de assuntos diversos fora do contexto, da sua estadia no Sara)
Coord - A coisa mais importante na sua vida hoje...
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P8 - É o esporte, eu vou investir nisso.
(fala de problemas familiares)
Coord - O fato de você ser um lesado hoje, você acha que te levou a uma maturidade maior, a ver a
vida de um outro jeito?
P8 - Ah, é diferente... é diferente. Não sei te explicar... mas é uma mudança drástica. Até então, eu não
investia no esporte, né? Era muita badalação, muita bebida, isso, aquilo. Até o dia que eu sofri um
acidente de carro... me machuquei feio, tal, isso e aquilo... Hoje em dia, eu vou... eu bebo socialmente.
Mas, hoje em dia, o meu propósito é o esporte mesmo.
P8 - Aí, começou a natação e eu tô até hoje. E ai, ontem nós fizemos um... o professor nosso pediu lá
escreve o que você é, como você é e tal, tal tal.... Aí, outro colega lá que acho que... não escreve
muito certo assim, eu falei: eu escrevo pra você se você quiser. Aí, ele falou assim... Comecei na
natação e não pretendo parar. Aprendeu a nadar aqui com a gente, no grupo aí.
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