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encontrei ele um dia e falei porque é amigo, não é pessoa que eu vou ter que tentar falar, ter que
mandar um recado. E aí eu falei pra ele; “eu preciso de algumas coisas.” E eu percebi uma coisa, não
adianta eu chegar lá, eu P6 e um grupo e falar: a gente é cadeirante e nós precisamos tal, tal. Eu tenho
que chegar, sabe o quê? Com um cara que é amigo pro cara fazer. Faz para o amigo. É igual, trabalho.
Ele arruma pro amigo dele “oh, dá pra arrumar um trabalho? Põe um amigo meu ai”. Política é tudo
desse jeito, ele põe o colega, o amigo. Eu tô articulando dessa forma, entendeu?
P6 - E na forma também que tem um... um...Tem uma pessoa que foi na reunião com a gente, num
churrasco lá, que eles tem a proposta de um patrocínio, ai. E ele falou, ele falou pra gente usar a mídia.
Na hora que tiver a oportunidade desce a lenha. Quando tiver na mídia desce a lenha. Fala: “Óh, tô
caindo na sarjeta, ai”, entendeu? Se conseguir, se articular só assim. Se a gente se organizar, for pra
mídia. Aí, eles falam: Oh, aquele grupo. Pô, aqueles três estão se mexendo. Tem que ter essa
consciência política, que vai ter que ser mexendo com eles, cutucando eles, né? Lutando, entrando
com liminar, aí, a gente vai conseguir. A partir do momento que a gente ficar: “Ah, não isso não
acontece, isso não acontece” vai continuar pagando o preço ai.
P10 - Esse negócio que... quer dizer... eu não vejo com relação ao vale transporte, né? Até outro dia,
eu estava lembrando. As três primeiras vans que vieram fui eu, o Eduardo e um outro cadeirante que é
advogado que trouxemos para Ribeirão. Sem se meter em briga com ninguém como ele falou. Nem a
mídia, nem nada. As rampas da Av. Saudade tudo ali fui eu que consegui, tudo na base da amizade,
com político, como o Morandini. Essas coisas todas aí, conversando, que nem estamos conversando
aqui, né? Com advogado, porque ele fazia as cópias lá... Quer dizer, é meio difícil estar conseguindo
as coisas, porque eu já fui pra televisão e não consegui nada, também.
P10 - É que nem eu falo, tem que articular, é partir então pro meio de comunicação e mostrar a
necessidade. Falar “temos necessidade disso, daquilo e daquele outro”.
P6 - Porque eu vejo, eu vejo uma coisa assim. Eu vejo que nem muitos com que eu conversei falou
assim: “ah, mas não vira, ah, isso não vira”. Mas, a gente pensa assim: “porque quando... porque que
quando você fala assim... “sem terra”. Se você falar pra opinião pública ou para o poder público “sem
terra”, você já imagina os caras fazendo passeata, quebrando tudo e alguém sendo o líder, não é?
Agora, se você fala assim... “cadeirante” é uma pessoa que fica quieta, escondida dentro de casa, que
você quase não vê. Então, qual é a diferença? A diferença é que... é um pessoal que age... um pessoal
que age, entendeu? Porque me falaram de um grupo que eles foram numa... um grupo de cadeirantes
que eles foram numa, não... o pessoal, eles foram numa pizzaria e não tinha como subir. Ai, os caras,
os garçons, todo mundo teve que pegar os caras e subir os caras pelas escadas. Construíram uma
rampa no restaurante. Então, isso foi uma mobilização. Acho que... acho que aí que acontece. Agora se
a gente ficar “ah, tá beleza”, os caras não estão nem ai...
P10 - Aquela rampa que tem na Casa da Cultura. Lá onde eles fazem o curso. Lá foi por minha causa.
Quer dizer, depois que eu fui lá, né? Fiz um curso lá de música. No dia da nossa formatura, o assessor
do prefeito veio, me deu um abraço e falou: “Você é um privilegiado”, e eu falei: “porque?”, “todo
mundo em pé e você é o único que tá sentado”. Vem comigo. Vinte e três degraus subindo carregado
no colo durante o curso todo e eu sou o maior privilegiado aqui. Só falei isso e voltei pra festa. Fui um
mês depois lá e tinha uma rampa lá. Quer dizer, se você não aparece também ninguém vai saber das
necessidades. Se não mostrar os privilégios, na hora dos prós e contra. Eu sou assim... sou daqueles
que esperam a oportunidade, né? Não fico batendo de frente, não.
Coord - Todo esse ativismo, essa mobilização tem a ver com qualidade de vida, né?
P10 - É tudo qualidade de vida, né? Por isso que eu procuro conseguir as coisas com sorriso porque
nem sempre a gente vai conseguir com a cara feia, né?
Coord - E pra você que chegou agora, P8, o que significa qualidade de vida?