108
(13) Produção de textos – Crônica
1. Leitura
1) Antes da leitura, discutir com os alunos o duplo
sentido do título O coração roubado. A partir dele e
do boxe lateral, pedir que imaginem do que trata a
crônica. Seria uma história de alguém que ·roubou· o
coração de outra pessoa? Ou seria a história do furto
do livro O coração, citado no box? Ao longo da
leitura, os alunos perceberão que o título tem duplo
sentido: a palavra coração foz referência ao livro e
também a algo querido que foi roubado. Cuidar para
que esse exercício de antecipação não seja uma
indução, mas uma orientação para que o aluno utilize
as pistas disponíveis - o título da crônica, o boxe -
para antecipar os sentidos do texto.
Glossário
Best-seller
Livro muito vendido, de
muito sucesso.
Desembargador
Juiz de Tribunal de
Justiça.
Magistrado
Juiz.
* Este parágrafo propicia um bom exercício de antecipação de leitura. Perguntar
aos alunos como eles visualizam Plínio a partir da descrição dada pelo narrador. Explorar
também o sentido da expressão brrr, que no contexto indica indignação, raiva, etc.
Quando o desembargador Plínio já estava aposentado, mudei-me
para meu endereço atual. Durante a mudança, alguns livros
despencaram de uma estante improvisada. Um deles O coração, de
Amicis. Saudades. Havia quantos anos não o abria? Quarenta anos ou
mais? Lembrei da dedicatória de meu falecido pai.
Ele tinha boa letra. Procurei-a na página de rosto. Não a encontrei.
Teria a tinta se apagado? Na página seguinte havia uma dedicatória.
Mas não reconheci a caligrafia paterna.
"Ao meu querido filho Plínio, com todo o amor e carinho de seu pai.”
MARCOS REY.
In: Para gostar de ler: o coração roubado e outras crônicas.
São Paulo: Ática, 1996.
Edmondo de Amicis, não há
quem não conheça o livro O
coração,
até hoje leitura obri-
gatória na maioria das escolas.
Narrado em primeira pessoa (o
narrador é um aluno), o livro
entremeia episódios da vida
escolar do narrador com
histórias contadas por um de
seus professores.
1
Leia, agora, um fragmento do texto O coração
roubado, de Marcos Rey.
Eu cursava o último ano
do primário e
como já esta-
va com o di-
plominha ga-
rantido, meu
pai me deu um
presente muito
cobiçado: O
coração, famo-
so Iivro do es-
critor italiano Edmondo de Amicis, best-
seller
mundial do
gênero
infanto-juvenil. Na página de abertura lá estava a dedicatória
do velho, com sua inconfundível letra esparramada. Como
todos os garotos da época, apaixonei-me por aquela obra-
prima e tanto que a levava ao grupo escolar da Barra Funda
para reler trechos no recreio.
Justamente no último dia de aula, o das despedidas, depois
da festinha de formatura, voltei para a classe a fim de reunir
meus cadernos e objetos escolares, antes do adeus. Mas
onde estava O coração? Onde? Desaparecera. Tremendo
choque. Algum colega na certa o furtara. Não teria coragem
de aparecer em casa sem ele. Ia informar à diretoria quando,
passando pelas carteiras, vi a lombada do livro, bem
escondido sob uma pasta escolar. Mas ... era lá que se
sentava o Plínio, não era? Plínio, o primeiro da classe em
aplicação e comportamento, o exemplo para todos nós.
Inclusive o mais bem limpinho, o mais bem penteadinho, o
mais tudo. Confesso, hesitei. Desmascarar um ídolo? Podia
ser até que não acreditassem em mim. Muitos invejavam o
Plínio. Peguei o exemplar e o guardei em minha pasta.
Caladão. Sem revelar a ninguém o acontecido. [ ... ]
Passados muitos anos, reconheci o retrato de Plínio num
jornal. Advogado, fazia rápida carreira na Justiça. Recebia
cumprimentos. Brrr. Magistrado de futuro o tal que
furtara meu presente de fim de ano! [...]