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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO MDU
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Elena Florissi
DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL:
Um estudo sobre sistemas de indicadores de sustentabilidade urbana
Recife
2009
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i
Elena Florissi
DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL:
Um estudo sobre sistemas de indicadores de sustentabilidade urbana
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Urbano MDU,
Universidade Federal de Pernambuco UFPE, como
requisito parcial à obtenção do Título de Mestre.
Área de concentração: Conservação Integrada
Orientador: Prof. Dr. Silvio Mendes Zancheti
Recife
2009
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Florissi, Elena
Desenvolvimento urbano sustentável: um estudo
sobre sistemas de indicadores de sustentabilidade
urbana / Elena Florissi. Recife: O Autor, 2009.
128 folhas. : il., quadros.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal
de Pernambuco. CAC. Desenvolvimento Urbano,
2009.
Inclui bibliografia.
1. Planejamento urbano. 2. Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável. 3. Indicadores
sociais. 4. Patrimônio cultural. I. Título.
711.4
CDU (2.ed.)
711.4
CDD (22.ed.)
ii
Aos meus pais,
Edda e Olindo, meus maiores incentivadores, e
ao meu irmão, Stefano, e a Cris, pela Esperança e Fé.
iii
AGRADECIMENTOS
Ao professor Silvio Mendes Zancheti, meu orientador e incentivador, que me ajudou
na construção deste conhecimento e na minha adaptação ao pensamento científico.
Agradeço, em especial, por ter assumido este trabalho e me incentivado a ir até o fim. Em
nome dele, estendo os meus agradecimentos a todos os professores do MDU, pelos quais
sempre fui muito bem acolhida e apoiada.
Os meus mais sinceros agradecimentos a Rebeca, Catarina, Joe Jonas, que sempre
se mostraram socitos e prontos a me ajudar na Secretaria do Mestrado nos momentos de
―sufoco e foram vários! Agradeço também a todos os funcionários que fazem o dia-a-dia
da UFPE acontecer, sem eles as nossas formações não seriam possíveis.
Aos colegas de turma do Mestrado em Desenvolvimento Urbano da UFPE que sempre
me fizeram sentir parte de uma família, com cada um ajudando e torcendo por todos.
Agradeço, em especial, às minhas colegas de mestrado e amigas por toda a vida, Julieta Leite
e Ericka Calábria, das quais o incentivo e confiança foram fundamentais para a continuação e
conclusão deste trabalho.
Aos meus amigos André, Cecília ―I.‖ Manzi, Dani Brito, Nara, Paulinho, Verena e
Verônica, e a todos os outros que não estão nomeados, mas que sempre me apoiaram e
acreditaram na conclusão desta etapa, contribuindo direta ou indiretamente para a sua
realização. Um ―enorme‖ agradecimento a Sérgio e a Anderson que sem a ajuda
proporcionada, definitivamente, este trabalho não existiria, demonstrando uma amizade forte
e sólida, uma parceria para a vida toda.
A Angela Carazzone e a Silvia Rodrigues, que sem o suporte dado, me ensinando a
acreditar em mim e a ter compaixão, provavelmente eu teria desistido muito tempo!
Um agradecimento em especial a Cristina e a toda a sua família pelo apoio nas horas
de tristeza e dúvida, nas de alegria e inspiração, sendo de vital importância para a realização
deste trabalho. Desde o primeiro instante me acolheram, apoiaram e acreditaram na realização
iv
deste mestrado, nutrindo em mim a e a esperança necessárias para continuar neste caminho
com eles divido esta conquista.
Agradeço a toda a minha família, em especial, minha tia Adriana, que me incentivou a
entrar no mestrado e, mais ainda, a continuar neste caminho, sempre acreditando no meu
sucesso.
Não posso aqui deixar de mencionar Mimosa, Papoula e Batatinha, meus gatos, que
com a convivência ―sapeca‖ diária me ensinam a amar cada vez mais a Natureza Sagrada com
a qual compartilhamos nossas vidas e que sem ela nada seríamos.
Agradeço, com todo o meu amor e orgulho, ao meu pai, Olindo, por sempre ter me
incentivado a estudar e a seguir o caminho do conhecimento e da sabedoria; a minha mãe,
Edda, que através dos seus olhos artísticos aprendi a ver o mundo com sensibilidade e
respeito, tão necessários para a nossa existência; e ao meu irmão, Stefano, que através de sua
espontaneidade e motivação aprendi a ter força de ser cada vez mais eu mesma, enfrentando
medos e inseguraas. Com eles aprendi a amar e ser amada; a eles sou grata pelos valores e
princípios incutidos em mim desde pequena.
Minha gratidão a todos que se proporem a ler este trabalho e a utilizar o conhecimento
nele contido, o aprimorando e aprofundando na discussão em torno do desenvolvimento
sustentável das nossas cidades, do nosso planeta.
Por fim, agradeço a Deus Pai e Mãe e a todos os Mestres invisíveis por eu estar aqui,
aprendendo, compreendendo, crescendo e compartilhando a sabedoria Divina.
v
A natureza é uma expressão da energia universal.
Como seres humanos, somos parte dela, ao mesmo tempo em que ela é parte de nós.
Em outras palavras, integramos a natureza ao mesmo tempo em que ela nos integra.
Isso parece muito simples. Mas não é!
A „fantasia da separatividade‟ separou-nos do universo e
nos transformou nos principais adversários da vida sobre o planeta.
A arte de viver em paz com o meio ambiente consiste, então, em tornar
o ser humano consciente de que ele é parte indissociável da natureza.
Pierre Weil, 1993.
vi
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar o papel da dimensão cultural nas ões voltadas ao
monitoramento do desenvolvimento urbano sustentável e da conservação dos patrimônios
naturais e culturais. Especificamente, estuda a importância da sustentabilidade do patrimônio
cultural no processo de desenvolvimento urbano sustentável; identifica e analisa conjuntos de
indicadores de sustentabilidade urbana, percebendo a importância dada à sustentabilidade
cultural; e, por fim, propõe um conjunto de indicadores de sustentabilidade urbana a partir dos
casos estudados. Desse modo, são objetos de estudo sistemas de indicadores de
desenvolvimento urbano sustentável, cada vez mais formulados e utilizados no
monitoramento das ões voltadas ao alcance da sustentabilidade urbana. Isto dará meios de
avaliar a importância da dimensão cultural quando comparada às outras dimensões da
sustentabilidade ambiental, econômica, social e institucional , comumente utilizadas na
construção de conjuntos de indicadores de desenvolvimento sustentável. Com vistas ao
exposto, o trabalho foi dividido em três momentos. No primeiro, de cunho teórico, é feito um
aprofundamento conceitual sobre desenvolvimento sustentável, conservação integrada e
cidades sustentáveis, de forma a dar respaldo na análise crítica e na proposta de indicadores
de sustentabilidade urbana. No segundo momento, é feita uma investigação de estudos de caso
de indicadores existentes e utilizados em políticas de desenvolvimento sustentável,
contrastando as compreensões teóricas com a realidade empírica, para em seguida se proceder
a uma alise dos casos estudados à luz dos conceitos desenvolvidos e das preocupações
acerca do desenvolvimento urbano sustentável, assumidas como fundamentais. Estes são
procedimentos críticos que procuram uma contradição ao mesmo tempo em que geram uma
nova compreensão. Posteriormente à análise dos casos de conjuntos de indicadores existentes,
passa-se para o terceiro momento da pesquisa, com a proposição de um conjunto de
indicadores de sustentabilidade urbana tendo como base o universo dos indicadores analisados
e suas fontes de dados. A proposta é feita com o respaldo das duas primeiras etapas da
pesquisa aprofundamento teórico-conceitual e análise crítica de sistemas de indicadores.
Os resultados empíricos da pesquisa mostram que a dimensão cultural da sustentabilidade,
embora presente nas apreciações teóricas, não está presente nos casos estudados. Em apenas
um dos seis conjuntos de indicadores analisados a cultura aparece como uma dimensão, mas,
mesmo assim, sem menção alguma aos patrimônios culturais. Através desse resultado e à luz
do referencial teórico, é proposto, um conjunto de indicadores de sustentabilidade urbana. È
sugerido que o fundamento teórico sobre desenvolvimento urbano sustentável insira as
questões sobre o legado patrimonial cultural da cidade ao lado das questões essencialmente
ambientais. Estas duas dimensões são percebidas como os dois eixos principais no processo
de sustentabilidade local, tendo nas outras dimensões uma rede de suporte para a continuidade
ao longo das gerações uma vez que as cidades possuem uma participação cada vez maior na
utilização dos recursos naturais, e têm na sua construção cotidiana as marcas culturais e
identitárias da comunidade local, essenciais na qualidade do processo de sustentabilidade.
Palavras-chave:
Planejamento Urbano Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Indicadores Patrimônio Cultural Conservação
vii
ABSTRACT
The main objective of this research is to analyze the role played by cultural dimension in
projects which were designed to monitor sustainable urban development and conservation of
cultural heritage and natural resources. More specifically, it studies the role played by the
urban heritage sustainability in the process of sustainable urban development, identifies and
analyzes groups of urban sustainability indicators to measure the importance given to
cultural sustainability, and, last but not least, suggests a group of urban sustainability
indicators based on study cases. Thus it focus on analyzing sets of urban development
indicators which has become more common in monitoring urban sustainability actions. These
procedures will make possible to evaluate the importance of cultural dimension in
comparison to others sustainability dimensions usually used in sets of sustainable
development indicators, such as environmental, economic, social and institutional. Having all
these things in mind, this work was divided into three stages. In the first one, which possesses
a theoretical hallmark, concepts as sustainable development, integrated conservation and
sustainable cities are discussed in order to establish solid ground to critical analysis and to
urban sustainability indicators proposal. In the second stage, study cases are surveyed in
order to extract pre-existing indicators used in sustainable development policies, what will
make possible to contrast the theoretical positions with the empirical reality, and, secondly, a
analyses of the cases studied is carried out taking into consideration the concepts previously
discussed as well as the preoccupations involving sustainable urban development which are
considered important. These are two decisive procedures which will look for contradictions at
the same time that will generate a new comprehension. After analyzing of the pre-existent
indicators, a new set of urban sustainability indicators will be proposed in the third stage of
this research. The indicators proposal is grounded on the first two stages. The empirical
results shows that the cultural sustainability dimension is not present in the cases studied,
despite it is usually present in the theoretical discussion, for one out of six set of indicators
analyzed in this work presents the culture as a dimension, and even so no mention is made
concerning the cultural heritage. For this reason, it‟s proposed a set of urban sustainability
indicators which presents side by side the environmental issues the preoccupation towards the
legacy of local heritage. It‟s suggested that, alongside the environmental issues, the theory
used to create indicators of urban development sustainability may be improved by the
addition of cultural heritage issues. These two dimension, environment and culture, are
apprehended as the two main axes in the process of local sustainability, which will have the
others dimensions as a supporting net to keep up going throughout the generations. For if it‟s
true that the city has a bigger role in the use of resources, becoming protagonist in the use of
global natural resources, on the other hand, it is equally true that the city also is built by the
attributes of local culture and identity, which are so important to the quality of the
sustainability process.
Key-words:
Urban Planning Environment and Sustainable Development Indicators
Cultural Heritage Conservation
viii
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 -
Tipos de Indicadores
58
QUADRO 02 -
Indicadores Comuns Europeus temas e indicadores
66
QUADRO 03 -
Indicadores por Grupo - Plano de Sustentabilidade de Santa
Mônica
70
QUADRO 04 -
Indicadores de Qualidade de Vida de Jacksonville, Flórida
73
QUADRO 05 -
Índice de Sustentabilidade Urbana: índices temáticos e
indicadores.
78
QUADRO 06 -
Objetivos do Milênio, Região Metropolitana Curitiba Orbis
81
QUADRO 07 -
Atlas de Sustentabilidade - Dimensão, Componente, Indicador.
84
QUADRO 08 -
Síntese dos estudos de caso
86
QUADRO 09 -
Número de indicadores por dimensão da sustentabilidade
segundo programa
90
QUADRO 10 -
Número de indicadores segundo área para cada dimensão da
sustentabilidade
91
QUADRO 11 -
Sistema de Indicadores de Sustentabilidade Urbana
113
ix
LISTA DE SIGLAS
BNB
CDS
CECI
CGLU
CMMAD
CNUMAD
DATASUS
DENATRAN
FIRJAN
IBGE
ICLEI
ICMS
IDH
IFDM
IPHAN
IPTU
MMA
MTE
MUNIC
OECD
ONG
ONU
ORBIS
PIB
PNAD
PNSB
PNUMA
RAIS
SDRI
STN
UNESCO
WCED
Banco do Nordeste do Brasil
Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada
Cidades e Governos Locais Unidos
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
Rio-92
Banco de Dados do Sistema Único de Saúde
Departamento Nacional de Trânsito
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
International Council for Local Environmental Initiatives (Conselho
Internacional para Iniciativas Ambientais)
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
Índice de Desenvolvimento Humano
Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
Ministério do Meio Ambiente
Ministério do Trabalho e Emprego
Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE
Organization for Economic Co-Operation and Development (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico)
Organização Não Governamental
Organizações das Nações Unidas
Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade
Produto Interno Bruto
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Relação Anual de Informação Social
Sustainable Development Research Institute (Instituto de Pesquisas em
Desenvolvimento Sustentável)
Secretaria do Tesouro Nacional
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)
World Commission on Environment and Development (Comissão Mundial
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento)
x
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................12
CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E ABORDAGEM TEÓRICO-
METODOLÓGICA...........................................................................................15
1.1 Brasil urbano: desafios e avanços rumo às cidades sustentáveis 15
1.2 Desafios na formulação de indicadores de sustentabilidade 18
1.3 Abordagem teórico-metodológica 20
1.3.1 Abordagem metodológica 20
1.3.2 Referencial teórico 21
CAPÍTULO 2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 24
2.1 Desenvolvimento Sustentável 26
2.1.1 De 1972 a 1992: do local ao global 27
2.1.2 De 1992 aos dias atuais: do global ao local 31
2.2 Meio ambiente e cultura: os dois eixos do desenvolvimento sustentável 34
2.3 Desenvolvimento urbano sustentável 40
2.4 Patrimônio cultural e desenvolvimento sustentável 45
2.5 Conceito de Cidades Sustentáveis 48
2.6 Monitoramento da cidade sustentável 52
2.7 Indicadores: aspectos gerais 54
2.8 Tipos de indicadores e estruturas utilizadas 57
2.9 Indicadores para o monitoramento do desenvolvimento sustentável 59
CAPÍTULO 3 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE CASOS DE INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL...............................................63
3.1 Sistemas de indicadores selecionados 64
3.1.1 Indicadores Comuns Europeus (Europeans Commons Indicators) 64
3.1.2 Indicadores de Sustentabilidade Urbana da Cidade de Santa Mônica, Califórnia 67
3.1.3 Indicadores de qualidade de vida da cidade de Jacksonville, Florida 72
3.1.4 Índice de Sustentabilidade Urbana da Bacia do Piracicaba, Minas Gerais 76
3.1.5 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de Curitiba 80
3.1.6 Atlas da Sustentabilidade: Indicadores Municipais do Banco do Nordeste 82
3.2 Avaliação das categorias, temas e indicadores de desenvolvimento sustentável 85
3.3 Análise crítica dos conjuntos de indicadores estudados 92
xi
CAPÍTULO 4 PROPOSTA DE UM SISTEMA DE INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO
URBANO SUSTENTÁVEL............................................................................... 97
4.1 Metodologia 97
4.2 Definição das dimensões operacionais e seus componentes 98
4.3 Identificação dos indicadores 101
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..............................................................115
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................120
12
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como objetivo geral contribuir para as ações voltadas ao
planejamento do desenvolvimento urbano sustentável e da conservação dos patrimônios
naturais e culturais. Para tanto, possui como objetivos específicos (i) estudar o papel da
sustentabilidade do patrimônio cultural no processo de desenvolvimento urbano sustentável;
(ii) identificar e analisar conjuntos de indicadores de sustentabilidade urbana, percebendo a
importância dada à sustentabilidade cultural; e (iii) propor um conjunto de indicadores de
sustentabilidade urbana a partir dos casos estudados.
O objeto de estudo caracteriza-se por sistemas de indicadores de sustentabilidade
urbana, cada vez mais utilizados e requisitados por atores nacionais e internacionais,
governamentais ou não-governamentais. Diversos países e cidades vêm elaborando suas
estratégias e planejamentos de desenvolvimento sustentável demandando esforços na
construção e implementação de sistemas de indicadores para a avaliação e o acompanhamento
dos impactos e resultados de políticas de desenvolvimento urbano sustentável.
As preocupações quanto ao planejamento do desenvolvimento sustentável ganharam
importância através da implementação da Agenda 21 nas diferentes esferas de atuação. Para
se ter uma idéia de tal dimensão, uma pesquisa realizada pela ICLEI, em 2002, mostrou que
6.400 governos locais, em 113 países, estiveram envolvidos em atividades relacionadas à
construção e implementação da Agenda 21 Local nos dez anos após a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), ocorrida no Rio de
Janeiro, em 1992 (ICLEI, 2005 apud MALHEIROS et al, 2008). Em 2002, de acordo com
levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase um
terço dos municípios informaram ter dado início ao processo de Agenda 21 Local. Quando
analisados por classes de tamanho da população municipal, entre os municípios com mais de
500.000 habitantes, representando mais da metade da população brasileira, 70% informaram
13
ter começado o processo da Agenda 21 Local (IBGE, 2005 apud MALHEIROS et al, 2008).
Esses esforços devem estar concentrados não apenas na construção da Agenda 21, mas
também na avaliação desses planejamentos, mobilizando condições adequadas de
acompanhamento pelas partes interessadas.
Dentro desse processo, é indagado, então, qual o papel dado à dimensão cultural no
desenvolvimento sustentável. Busca-se perceber se a relação entre conservação integrada e
desenvolvimento sustentável está sendo efetivamente considerada na avaliação do
desenvolvimento urbano sustentável, áreas interdependentes e conectadas, sendo fundamental
a sua inserção ao lado das outras dimensões da sustentabilidade comumente aceitas
ambiental, econômica, social e institucional. Compreende-se que a cultura tem na preservação
do patrimônio cultural uma de suas principais formas de fixação e permanência, sendo a
sustentabilidade destes fundamental para a continuidade da identidade cultural de uma
comunidade parte essencial no processo de desenvolvimento sustentável.
Para responder à questão posta e fazer a análise dos indicadores de sustentabilidade
urbana levantados, esta pesquisa adotou como referencial dois campos teóricos:
sustentabilidade e cultura. É fundamental o conhecimento dos conceitos e teorias que serão
refletidas através de um sistema de indicadores. O trabalho encontra-se dividido em oito
capítulos que representam três partes da pesquisa. Na primeira, é feita uma caracterização do
problema e descrita a abordagem trico-metodológica adotadas Capítulo 01 e um
aprofundamento conceitual sobre desenvolvimento sustentável, conservação integrada e
cidades sustentáveis, de forma a dar respaldo na análise crítica e na proposta de indicadores
de sustentabilidade urbana, bem como uma discussão acerca dos tipos de indicadores
Capítulos 02, 03 e 04.
Na segunda parte, passa-se para uma investigação de estudos de caso de indicadores
existentes e utilizados em políticas de desenvolvimento sustentável, contrastando as
compreensões teóricas com a realidade empírica procedimentos críticos que procuram uma
contradição ao mesmo tempo em que geram uma nova compreensão. É feita uma análise dos
casos estudados à luz dos conceitos desenvolvidos e das preocupações acerca do
desenvolvimento urbano sustentável, assumidas neste trabalho como fundamentais
Capítulos 05 e 06.
14
Posteriormente à análise dos casos de conjuntos de indicadores existentes, passa-se
para a terceira parte da pesquisa com a proposição de um conjunto de indicadores de
sustentabilidade urbana tendo como base o universo dos indicadores analisados e suas fontes
de dados Capitulo 07. A proposta é feita com o respaldo das duas primeiras etapas da
pesquisa aprofundamento teórico-conceitual e análise crítica de sistemas de. Por fim, são
feitas as considerações finais e sugestões Capítulo 08.
Ao longo deste trabalho, percebem-se as dimensões ambiental e cultural como os dois
eixos principais no processo de sustentabilidade local, tendo nas outras dimensões uma rede
de suporte para a continuidade ao longo das gerações. Se, por um lado, as cidades têm uma
participação cada vez maior na utilização dos recursos naturais, tornando-se protagonistas no
uso dos recursos naturais globais, por outro lado, têm na sua construção cotidiana as marcas
culturais e identitárias da comunidade local, essenciais na qualidade do processo de
sustentabilidade. O desejo é que este trabalho possa contribuir nas reflexões sobre o papel
fundamental da cultura dentro das poticas e ações rumo ao desenvolvimento sustentável
local, destacando a importância da sustentabilidade dos patrimônios culturais, ao lado dos
naturais, na qualidade do desenvolvimento das nossas cidades.
15
CAPÍTULO 1
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E ABORDAGEM
TEÓRICO-METODOLÓGICA
1.1 Brasil urbano: desafios e avanços rumo às cidades sustentáveis
O Brasil, a partir da Segunda Grande Guerra, viveu um acelerado processo de
urbanização e ―metropolizaçãoapresentando uma intensa migração da população rural, que
em 1940 representava 68% da população, para cidades. Atualmente, mais de 80% de seus
habitantes vivem em centros urbanos, sendo dois terços em nove áreas metropolitanas São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza, Belém e
Brasília (FERREIRA, 1996). Isso significa que mais de 136 milhões de pessoas vivem em
cidades e, destes, 90 milhões estão em apenas nove centros metropolitanos. Em paralelo, o
país não teve um crescimento na capacidade dos seus centros urbanos em absorver todo este
contingente, causando uma grande pressão sobre a cidade, relacionada com saneamento,
pavimentação de ruas, transporte coletivo, limpeza pública, habitação, além dos custos sócio-
ambientais causados por congestionamentos, poluição, enchentes, desmoronamentos.
Algumas das consequências visíveis dessa incapacidade são o crescimento de favelas, os
loteamentos clandestinos e invasões, a deterioração do ambiente construído e seus registros
histórico-culturais, o surgimento de bolsões de pobreza e a desagregação do tecido social
urbano, bem como a escalada da violência. Concordando com Ermínia Maricato, essa ―cidade
ilegal
1
que se ampliou à medida que o processo de urbanização se intensificava ao mesmo
tempo em que é funcional
para as relações políticas arcaicas, para um mercado imobiliário restrito e
especulativo, para a aplicação arbitrária da lei, de acordo com a relação de
favor [...] é muito disfuncional para a sustentabilidade ambiental, para as
1
Termo utilizado em MARICATO (2000).
16
relações democticas e mais igualitárias, para a qualidade de vida urbana,
para a ampliação da cidadania (MARICATO, 2000, p. 123).
Alguns dados referentes à habitação no Brasil deixam claro essa situação de pressão.
Em 2004, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
(IBGE, 2004), do total dos domicílios, 17,8% não eram atendidos por rede geral de água;
31,1% não dispunham de esgotamento sanitário adequado; 15,2% não contavam com coleta
de lixo; 34,6% não tinham telefone; e em 3,2% não havia iluminação elétrica, estando grande
parte desses domicílios localizados nos grandes centros urbanos. Esses dados apontam para a
necessidade da implementação de políticas mais direcionadas, que estimulem a adoção de
soluções localizadas, com o objetivo de conferir mais dinamismo à gestão municipal.
Interessante notar é que, no referente à questão ambiental, um percentual considerável
de municípios possui alguma estrutura formal para a sua gestão. Em 2004, 71% dos
municípios possuíam uma estrutura de gestão ambiental, considerados os que têm secretaria
municipal exclusivamente tratando da gestão ambiental ou dela cuidando de forma
conjugada à outra área da administração do município e os que possuem algum órgão de
meio ambiente na estrutura da prefeitura, ainda que subordinado à secretaria de outra área
(MUNIC/IBGE). Os resultados obtidos na área de meio ambiente confirmam a tenncia de
crescimento, em números absolutos e proporcionais, dos instrumentos locais de gestão
ambiental. Por outro lado, formas de articulação, como participação em comitês de bacias e
consórcios intermunicipais na área ambiental, além da realização de convênios com entidades
públicas ou privadas com vistas a desenvolver ações na área ambiental, mostraram-se estar se
tornando cada vez mais comuns.
Sem dúvida, os modelos que alimentaram o planejamento urbano no último século, em
especial a partir da Segunda Grande Guerra, deram espaço para o surgimento de sociedades
extremamente desiguais e com grandes contrastes. Toda essa urbanização acelerada e suas
consequências ambientais, somadas a um processo cumulativo de crises econômicas, poticas
e institucionais, criaram um cenário onde se torna extremamente difícil a visualização do
conceito de cidades sustentáveis. Nessa realidade, um dos primeiros desafios é o resgate de
um tempo socialmente perdido‖. Na busca desse tempo, a orientação de correção de ações
passadas e a possibilidade de concretização de um plano de ação que guie as transformações
das nossas cidades perpassam pela formalização dos conceitos e a construção de instrumentos
legais.
17
No que diz respeito tanto ao tema cidades sustentáveis quanto ao tratamento legal da
questão urbana no Brasil, avanços importantes foram dados nos últimos anos. O tema cidades
sustentáveis está incorporado nos principais objetivos da Agenda 21 Nacional,
particularmente nos que se referem à promoção do desenvolvimento sustentável dos
assentamentos humanos. Dentre as ações propostas para a melhoria dos espaços urbanos,
verifica-se a necessidade de regularização do uso e ocupação do solo urbano; da promoção do
desenvolvimento institucional e do fortalecimento da capacidade de planejamento e gestão
democrática da cidade (BRASIL, 2000). Em paralelo, surge a necessidade de promover
mudanças nos padrões de consumo da cidade bem como o desenvolvimento e estímulo da
aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais.
Concomitantemente à adoção de princípios e estratégias de ação descritas nas Agendas
internacionais pelas Agendas locais, tem-se estruturado no Brasil a partir da década de 1990
uma base constitucional e legal adequada para o tratamento das questões urbanas, contendo
instrumentos de política urbana voltados a proteger o direito à moradia, combater a exclusão
territorial e social (RODRIGUEZ, 2002). Um dos grandes avanços foi a aprovação do
Estatuto da Cidade a Lei Federal N.º 10.257, de 10 de julho de 2001. Este estabelece um
novo patamar institucional na área urbana, dotando os municípios de mecanismos de
ordenamento do desenvolvimento urbano, de promoção da justiça social e, especialmente, de
democratização do processo de planejamento municipal Plano Diretor, Leis Municipais de
Ordenamento e Uso do Solo e Planejamento e Gestão Orçamentária. No Estatuto da Cidade, a
cidade sustentável passa a ser um direito fundamental da pessoa humana incluído no conjunto
dos direitos humanos. Concordando com RODRIGUEZ (2002, p. 116),
o direito à moradia e a cidades sustenveis reconhecidos como direitos
humanos pelo sistema internacional e nacional de proteção dos direitos
humanos são os fundamentos para a promoção de uma política urbana que
tenha como meta e prioridade a urbanização e regularização dos
assentamentos precários, visando a melhorar as condições de vida, tanto no
aspecto da moradia como ambiental [...], bem como a regularização
fundiária visando a conferir uma segurança jurídica à população moradora
dos assentamentos.
O Estatuto da Cidade possibilita o planejamento de políticas urbanas através da
aplicação de instrumentos voltados à promoção da inclusão social e territorial, considerando
aspectos urbanos, ambientais, sociais e poticos das cidades. Todavia, de nada adianta
formalizar conceitos e montar um aparato legal se os comportamentos permanecerem os
18
mesmos. Não tem como nesse período de indagações e percepções dos limites naturais,
permanecer a lacuna existente entre o discurso/arcabouço legal e o que é efetivamente
realizado nos espaços urbanos. A sustentabilidade não está nas palavras ou em ações pontuais,
está nos comportamentos e nas decisões dos atores envolvidos no contínuo processo de
desenvolvimento. Assegurar esse pleno exercício do direito a cidades sustentáveis é o desafio
às políticas urbanas nas cidades brasileiras.
A busca dessa relação sustentável e menos predadora entre o homem e a natureza
necessita de informações que guiem ações. No contexto de sociedades tão fortemente
contrastantes e de impactos ambientais marcantes, de novas percepções e buscas de um novo
paradigma de desenvolvimento, é urgente o uso de informações adequadas que orientem e
embasem escolhas e ações no caminho da sustentabilidade. Para conservar, é necessário
racionalizar o planejamento e a gestão através da implementação de políticas ou programas.
Estas precisam de informações que subsidiem as decisões a serem tomadas e o caminho que
está sendo escolhido, servindo, assim, como instrumentos de controle. Um desses
instrumentos é um sistema de indicadores. No entanto, essa necessidade técnica se depara,
primeiramente, com um desafio: o entendimento do que realmente se quer medir.
1.2 Desafios na formulação de indicadores de sustentabilidade
Assumindo-se que indicadores de desenvolvimento sustentável o instrumentos
essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso
alcançado rumo ao desenvolvimento sustentável (IBGE, 2004) e que
um conhecimento sico dos princípios comuns do desenvolvimento
sustenvel é essencial para que qualquer todo de avaliação reflita esses
princípios [...] podendo se desenvolver metas, propósitos e métodos da
avaliação consistentes com os valores da sustentabilidade (UKAGA, 2001,
p. 28),
Surge aqui uma primeira indagação: em que medida os indicadores de sustentabilidade urbana
propostos realmente refletem as preocupações do desenvolvimento sustentável? Neste
sentido, é importante compreender a origem das discussões quanto à sustentabilidade e qual a
sua essência por um lado e o que são indicadores, quais os desafios na sua construção e
suas diferentes finalidades por outro lado.
19
O termo desenvolvimento sustentável surge dentro dos questionamentos dos limites de
suporte dos ecossistemas naturais ao modelo de crescimento econômico adotado, assumindo
uma forte preocupação com a preservação das estruturas ambientais do planeta. Inicialmente,
essas preocupações foram concebidas em uma visão de escala global, mas logo se percebeu a
necessidade de trazer para as cidades as preocupações com a qualidade do ambiente urbano e
seu impacto na sustentabilidade ambiental, passando, então, para uma escala local. Com esse
recorte, são incorporadas novas dimensões de análise; dimensões mais próximas da realidade
de um cotidiano urbano e suas preocupações. O ambiente urbano passa a ser percebido como
um sistema complexo composto de vários subsistemas em interação e sendo parte de um
sistema maior.
Não apenas o funcionamento positivo e a conservação das estruturas urbanas locais
são necessários, mas também a adequação destes no impacto global. Um determinado atributo
pode ter um funcionamento positivo dentro do recorte da cidade, contudo, pode estar gerando
impactos negativos para o entorno próximo ou para o ambiente global. Dessa forma, a
preocupação global mesmo com o recorte local de análise deve ser mantida. Ao incorporar as
preocupações quanto ao desenvolvimento sustentável no planejamento urbano, surge um
questionamento acerca de quais os aspectos, ou atributos, que melhor caracterizam as
preocupações do desenvolvimento sustentável incorporando também as preocupações
urbanas.
Essa busca de um caminho que leve a uma conservação ou minimização do desgaste
tanto dos elementos naturais como dos artificiais de uma cidade é o grande desafio por trás do
desenvolvimento urbano sustentável. Compreender que essas preocupações serão não apenas
para um longo prazo, mas para sempre, torna mais fundamental ainda a urgência de
instrumentos de controle que sirvam de sinalização nessa trilha. A importância da avaliação
das poticas e dos programas bem como da formulação de informações que guiem e
subsidiem as escolhas e ações é inerente ao processo de busca da sustentabilidade dos
sistemas que nos cercam, uma vez que esse existe dentro de uma perspectiva temporal e
o em um recorte específico, sendo imprescindível seu monitoramento e acompanhamento.
A presente proposta tem como argumentação que o caminho em direção ao
desenvolvimento urbano sustentável deve ser trilhado em uma visão sistêmica, percebendo-se
e considerando-se os diferentes sistemas que estão em sinergia, interagindo e influenciando
20
um ao outro. Dentro dessa perspectiva, é advogada a necessidade de classificar as dimensões
de análise da sustentabilidade urbana e de operacionalização dos indicadores, incorporando
tanto as relevâncias do ponto de vista ambiental quanto às preocupações relativas à
Conservação Urbana e Integrada. Assim, uma maior compreensão dos aspectos patrimoniais
naturais e culturais é assumida aqui como fundamental na análise e proposição de indicadores
de sustentabilidade urbana.
1.3 Abordagem teórico-metodológica
1.3.1 Abordagem metodológica
A pesquisa possui uma natureza interdisciplinar, utilizando abordagens de outras áreas
do conhecimento que se complementam em uma determinada leitura e percepção da realidade
analisada onde essa fusão de elementos distintos gera um novo olhar. O objeto de estudo é
abordado através da configuração morfológica dos sistemas.
2
Essa configuração reconhece em
um problema qualquer de pesquisa a predominância do todo sobre as partes, percebendo uma
rede de relações. Olha para o objeto de estudo como um sistema constitdo de elementos
possuidores de uma determinada ordem. Estas ordens são mais as relações entre as
propriedades de seus elementos qualidades ou estados do que as unidades em si,
implicando na totalidade do sistema como sendo muito mais do que apenas a soma de suas
partes constituintes o que estaria dentro de uma visão mais cartesiana e mecanicista da
realidade. No momento em que o objeto é abordado como um sistema expande-se a visão para
levar em consideração um número maior de interações, em vez de reduzir a uma análise das
partes. Essa abordagem pode ser utilizada para a exploração de um objeto em qualquer nível,
seja de organismos individuais para organizações coletivas, seja de um ecossistema específico
para o planeta.
O estudo esdividido em três momentos. No primeiro, de cunho teórico, é feito um
aprofundamento conceitual sobre desenvolvimento sustentável e cidades sustentáveis, de
forma a dar respaldo na análise crítica e na proposta de indicadores de sustentabilidade
urbana. No segundo momento é feita uma investigação de estudos de caso de indicadores
2
De acordo com DE BRUYNE et al (1982, p. 34) o campo da prática científica pode ser percebido do ponto de
vista metodológico como uma articulação de diferentes pólos configurando um espaço onde a pesquisa é inserida
e guiada. Os autores propõem quatro los metodológicos que estão presentes nas práticas de pesquisa e que
garantem a cientificidade das mesmas, sendo eles: o epistemológico, o teórico, o morfológico e o técnico. É da
interação dialética desses quatro pólos que surge o conjunto da prática metodológica de uma pesquisa científica.
21
existentes e utilizados em poticas de desenvolvimento sustentável, de forma a contrastar as
compreensões teóricas com a realidade empírica. É feita uma análise dos casos estudados à
luz dos conceitos desenvolvidos e das preocupações acerca do desenvolvimento urbano
sustentável tidas como fundamentais. São procedimentos críticos que procuram uma
contradição ao mesmo tempo em que geram uma nova compreensão.
Posterior à análise dos casos de conjuntos de indicadores existentes, passa-se para o
terceiro momento da pesquisa, com a proposição de um conjunto de indicadores de
sustentabilidade urbana tendo como base o universo dos indicadores analisados e suas fontes
de dados. A proposta é feita com o respaldo das duas primeiras etapas da pesquisa
aprofundamento teórico-metodológico e análise crítica de sistemas de indicadores.
1.3.2 Referencial teórico
A discussão sobre a construção de indicadores de sustentabilidade urbana envolve uma
série de conceitos, iias e teorias que se encontram, em grande parte, ainda em
questionamento. A característica multidisciplinar do tema permite trabalhos e estudos de
profissionais em diversas áreas do conhecimento, pulverizando o conceito de
desenvolvimento sustentável em uma gama de enfoques. No referente aos indicadores de
sustentabilidade urbana propriamente dita, ainda é escassa a produção de estudos, tendo sido
uma dificuldade inicial para um embasamento específico. A forma percebida de superar essa
dificuldade foi através do estudo de conjuntos de indicadores de desenvolvimento sustentável.
Através de uma revisão bibliográfica sobre os temas desenvolvimento sustentável,
sustentabilidade urbana e conservação integrada, foram selecionados alguns autores cujos
trabalhos serviram de referencial teórico tanto na compreensão quanto na construção do
conceito de cidade sustentável aqui utilizado. O referencial trico da pesquisa visou, assim,
uma aproximação dos conceitos de desenvolvimento sustentável, cidades sustentáveis e
patrimônio cultural, passando necessariamente pela compreensão da cidade enquanto loco
provedor de necessidades coletivas e mantenedor de características ambientais e patrimoniais.
Relativo às discussões sobre o desenvolvimento sustentável, é tomado como referência
inicial a publicação oficial Nosso futuro comum (1991), mais conhecido como Relatório
Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
22
(CMMAD), criada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU). Este documento consolida
uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado, ressaltando a incompatibilidade
entre os padrões vigentes de produção e consumo e a capacidade de suporte dos ecossistemas.
Conceitua como sustentável o modelo de desenvolvimento que "atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias
necessidades" (CMMAD, 1991). Tornou-se refencia mundial para a elaboração de
estratégias e poticas de desenvolvimento sustentáveis.
São utilizados também os trabalhos do economista Ignacy Sachs, em especial, o texto
Estratégias de transição para o Século XXI (apud BURSZTYN, 1994) e o livro Caminhos
para um desenvolvimento sustentável (2002), nos quais o autor aponta algumas dimensões de
análise da sustentabilidade social, econômica, ecológica, espacial e cultural que
considera necessárias ao planejamento do desenvolvimento sustentável. Além deste, também
serve de referência o trabalho do economista JoEli da Veiga, mais especificamente o livro
Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI (2005), no qual se discute os conceitos
de desenvolvimento e de sustentabilidade bem como diferentes formas de sua mensuração.
Como referências para o conceito e dimensões de análise das cidades sustentáveis,
utilizam-se os seguintes estudos: o artigo Sentidos da sustentabilidade urbana (2001), do
professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Henri Acselrad, no qual faz uma análise das diversas matrizes discursivas
que têm sido associadas ao conceito de sustentabilidade e relacionando-as à cidade; o livro
Cities People Planet (2004), do urbanista Herbert Girardet, que destaca com uma abordagem
ecológica a importância de minimizar os impactos urbanos sobre ecossistemas naturais e a
urgência de ter métodos plausíveis na criação de uma relação sustentável entre as cidades e o
meio ambiente global, bem como de transformação das cidades em locais moráveis e
sustentáveis; o livro Toward sustainable communities (1998), do geógrafo Mark Roseland,
que traz algumas formas de aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável nas
cidades. Ao lado desses, é buscado também como referência o conceito de cidades
sustentáveis apresentado no Estatuto das Cidades (BRASIL, 2001). Por fim, para
compreender alguns aspectos relacionados à teoria da conservação urbana integrada, é
utilizado como guia de referência o livro Gestão do Patrimônio Cultural Integrado
(ZANCHETI, 2002), do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (Ceci).
23
No que se refere à discussão sobre indicadores conceito, diferentes usos,
metodologia de construção, desafios é tomado como guia de referência o livro Indicadores
sociais no Brasil (2001), de Paulo de Martino Jannuzzi, no qual são tratados os conceitos e as
formulações de indicadores sociais. Além destes, no que se refere a monitoramento,
avaliação, controle de projetos, do patrimônio cultural e de impactos ambientais, o livro
Gestão do Patrimônio Cultural Integrado (ZANCHETI, 2002), do CECI também servirá de
base na fundamentação na discussão sobre indicadores.
24
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO
Antes de iniciar a discussão sobre os impactos das ações antrópicas, e mais
especificamente das cidades, sobre os recursos naturais, é necessária uma delimitação sobre o
significado do termo meio ambiente e sua aplicação na realidade urbana. De forma a tornar
claro qual o seu uso no decorrer deste estudo, adotou-se o conceito jurídico em que o meio
ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas‖ (Lei da Potica Nacional
do Meio Ambiente, 1981, apud ROCCO, 2002).
Conforme exposto em Fiorillo (2009, p. 20-23), este é um conceito jurídico
indeterminado e, como tal, de amplo conteúdo. De forma a facilitar a identificação da
atividade degradante e do bem imediatamente agredido, o conceito jurídico de meio ambiente
pode ser classificado em quatro aspectos: meio ambiente natural, meio ambiente artificial,
meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho, em que
meio ambiente natural ou físico é constituído pela atmosfera, pelos
elementos da biosfera, pelas águas (inclusive pelo mar territorial), pelo solo,
pelo subsolo (inclusive recursos minerais), pela fauna e flora. Concentra o
fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres
vivos e meio em que vivem. [...] O meio ambiente artificial é
compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de
edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos
públicos (espaço urbano aberto). Este aspecto do meio ambiente está
diretamente relacionado ao conceito de cidade. [...] O conceito de meio
ambiente cultural vem previsto no art. 226 da Constituição Federal, que o
delimita da seguinte forma: ―Art. 216. Constituem patrimônio cultural
brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem: I as formas de expressão; II os modos de criar, fazer e viver; III
as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV as obras, objetos,
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
25
artístico-culturais; V os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico‘.
[...] Constitui meio ambiente do trabalho o local onde as pessoas
desempenham suas atividades laborais relacionadas à saúde, sejam
remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e
na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica
dos trabalhadores, independente da condição que ostentem [...]. (grifos
nossos)
Para este estudo interessam as três primeiras classificações, uma vez que meio
ambiente do trabalho foge do escopo da análise sobre desenvolvimento urbano sustentável,
sem qualquer desmerecimento da importância do tema. Assim, pode-se caracterizar o meio
ambiente urbano como constituído por um ambiente natural, como bacias hidrográficas,
orlas marítimas, áreas verdes, lençóis freáticos, solo, subsolo, ar, fauna e flora; por um
ambiente construído, como sistemas viários, conjunto de edificações, equipamentos públicos,
redes de infraestrutura; e por um ambiente cultural constituído pelo seu patrimônio cultural
material e imaterial, como os conjuntos urbanos e tios históricos, as formas de expressão, de
criar, fazer e viver, as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais.
É interessante notar que este último, embora seja obra do homem, e assim ser um
ambiente artificial, difere do ambiente construído pelo seu sentido de valor especial (SILVA
apud FIORILLO, 2009). São bens imbuídos de valores de referência à identidade, à memória
de diferentes grupos e tempos formadores da sociedade. Conforme argumenta Fiorillo (2009,
p.22):
O bem que compõe o chamado patrimônio cultural traduz a história de um
povo, a sua formação, cultura e, portanto, os próprios elementos
identificadores de sua cidadania, que constitui princípio fundamental
norteador da República Federativa do Brasil.
Ao se estudar indicadores de desenvolvimento sustentável urbano, todos esses
aspectos que coexistem no ambiente da cidade devem ser levados em consideração. Quando
considerada essa interação, pode vir a ser constatado que um sistema é funcional à
sustentabilidade em um dado recorte local, não o sendo em um recorte global. O desafio é
pensar em uma rede de cidades sustentáveis na qual as preocupações ambientais locais estão
em função das preocupações ambientais globais, sem o detrimento das especificidades do seu
meio ambiente urbano.
26
2.1 Desenvolvimento Sustentável
As preocupações quanto à sustentabilidade urbana podem ser percebidas como um
recorte local das preocupações quanto ao desenvolvimento sustentável global. O planeta visto
como um todo e a fragilidade dos ecossistemas envolvidos o as origens das preocupações
relativas à permanência dos recursos naturais, percebendo as cidades com uma participação
cada vez maior na utilização dos mesmos, tornando-as protagonistas no uso dos recursos
naturais globais. O impacto das ações antrópicas sobre o meio ambiente tornou-se variável
fundamental nas tomadas de decisão.
Na construção de um sistema de indicadores, necessita-se, inicialmente, da definição
do tema a ser monitorado. Uma fase de discussão teórica antecede o levantamento de dados e
a construção do sistema. É imprescindível um conceito que possa vir a ser operacionalizado
em estatísticas. No presente estudo, o conceito a ser monitorado é o de desenvolvimento
urbano sustentável, aqui assumido como sendo o mesmo de cidades sustentáveis. Para chegar
ao conceito de cidade sustentável, compreende-se ser necessário, primeiramente, ter um
entendimento do que é desenvolvimento sustentável e quais são as dimensões consideradas na
sua análise.
O termo desenvolvimento sustentável tornou-se, nos últimos anos, lugar comum em
qualquer debate socioeconômico; uma ferramenta de marketing governamental e empresarial;
um desafio aos economistas e planejadores. Para muitos é um non sense em que o próprio uso
da palavra desenvolvimento junto ao adjetivo sustentável é incorreto, acreditando-se que
existe uma incongruência entre crescimento econômico e conservação ambiental; outros
defendem exatamente o contrário, creditando no aumento da renda per capita a possibilidade
da busca de uma proteção ambiental.
A discussão acerca da validade e congruência do termo bem como a busca de um
conceito preciso não são objetivos deste estudo. Por ser um termo amplamente utilizado e
possuir divergências ideológicas, foi optado pela descrição inicial de um histórico do seu
surgimento desde preocupações globais iniciais, surgidas principalmente com o movimento
ambientalista, até os dias atuais, com as novas dimensões socioculturais incorporadas. Uma
vez formulado o que é entendido por desenvolvimento sustentável, este é, então, levado para o
27
meio ambiente urbano, no qual o conceito de cidade sustentável é desenvolvido com o
respaldo de conceitos existentes na literatura.
2.1.1 De 1972 a 1992: do local ao global
As preocupações ambientais começaram a tomar papel oficial dentro das discussões
relativas aos padrões de desenvolvimento a partir da década de 1970. Nas décadas anteriores,
mais precisamente em meados do século XX, essas inquietações tomaram uma dimensão
global em fuão das crescentes preocupações ecológicas surgidas através de algumas
catástrofes ambientais como vazamento de cargueiros petrolíferos, poluição atmosférica,
maior acidez das chuvas, etc. Livros e artigos que iriam de encontro ao paradigma de
desenvolvimento vigente tais como o livro Silent Spring,
3
de 1962, por Rachel Carson, e o
artigo científico The Tragedy of the Commons,
4
de 1968, por Garrett Hardin, estimularam
países individuais e a comunidade internacional para ação (PNUMA, 2002).
Entretanto, foi no final dos anos sessenta e início dos anos setenta, que uma série de
eventos próximos começou a balizar as preocupações ecológicas para uma percepção mais
ampliada, inserindo nas discussões de desenvolvimento as preocupações quanto à capacidade
de suporte ambiental e o padrão de crescimento populacional e desenvolvimento econômico.
O intensivo uso dos recursos naturais em função do crescimento econômico que se deu a
partir da década de 1930 estava sendo posto em cheque. Esse início da tomada de consciência
dos inúmeros problemas ambientais, na cada de setenta, levou à produção de relatórios
globais, emergindo questões consideradas urgentes e a formulação de recomendações
imediatas (VECCHIATTI, 2004).
A primeira tentativa neste sentido foi feita numa conferência em Founex, Suíça, em
1969. O Relatório Founex, de junho de 1971, identificou desenvolvimento e meio ambiente
como "dois lados da mesma moeda". Um outro estudo marcante para a percepção dos limites
dos recursos naturais da Terra foi o trabalho intitulado Limits to Growth, de 1972, formulado
3
Livro escrito pela bióloga marinha Rachel Carson, que denuncia os efeitos destrutivos, na natureza e no
homem, do uso de pesticidas pela indústria agrícola americana, em especial o uso do DDT, um dos mais fortes
pesticidas criados. Trouxe pela primeira vez ao público a consciência que a natureza é vulnerável à ação
humana e a necessidade de regular a indústria para a proteção da natureza, transformando-se num marco
histórico para o movimento ambientalista.
4
Artigo publicado pela revista Science, do professor de Ecologia Humana e Biologia da Universidade da
Califórnia, Garrett Hardin (1968), que trouxe, pela primeira vez, a discussão do problema da superpopulação e
do uso dos bens comuns e seus limites naturais.
28
pelo Clube de Roma.
5
Esse concluía, através de um modelo que analisava cinco variáveis
tecnologia, população, nutrição, recursos naturais e meio ambiente , que, se o padrão de
crescimento populacional e econômico continuasse com a mesma tendência, o sistema global
seria sobrecarregado e colapsaria antes do ano 2000. Apesar de muito criticado, conseguiu
voltar os olhos aos limites naturais de suporte do modelo vigente de desenvolvimento e uso
dos recursos. Nesse mesmo ano de 1972, em Estocolmo, a comunidade internacional se
reuniria na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano para
discutir o meio ambiente global e as necessidades e padrões de desenvolvimento. A
Conferência tornou-se um marco na internacionalização da problemática ambiental,
produzindo uma lista de 26 princípios e 109 recomendações. Dentre os princípios elencados,
destacam-se: (a) Os recursos naturais devem ser salvaguardados; (b) Assentamentos humanos
devem ser planejados de forma a acabar com os problemas ambientais. A Conferência
estabeleceu também o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) além
de articular o direito das pessoas de viverem em um meio ambiente de qualidade que permita
uma vida de dignidade e bem-estar (PNUMA, 2002). Desde então diversas organizações e
cerca de cinquenta países adotaram instrumentos ou constituões nacionais que reconhecem o
meio ambiente como um direito humano fundamental.
Como resultado de Estocolmo, realizaram-se diversas confencias da ONU
abordando áreas específicas como alimentação, moradia, população e direitos humanos, tais
como a Convenção Ramsar sobre Terras Molhadas de Importância Internacional
Especialmente como Habitat de Aves Aquáticas, de 1971; Convenção Sobre a Proteção de
Patrimônio Cultural e Natural do Mundo (World Heritage Convention), de 1972, Convenção
sobre Comércio Internacional de Fauna e Flora Selvagens (CITES), de 1973, e a Convenção
sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Selvagens (CMS), de 1979.
Progresso adicional surge em 1974, em um simpósio realizado em Cocoyoc, México. O
simsio foi organizado pela PNUMA e pela Comissão sobre Comércio e Desenvolvimento
da ONU e identificou os fatores econômicos e sociais que levariam à deterioração ambiental.
O que foi dito em Cocoyoc influenciou o primeiro parágrafo da Estratégia de Conservação
Mundial (World Conservation Strategy), publicada em 1980:
5
Grupo formado por mais de trinta pessoas de várias nacionalidades e de diferentes áreas (cientistas, educadores,
economistas, humanistas, etc.) que objetivava investigar e chamar a atenção de governos para grandes problemas
da humanidade, tais como a pobreza, a degradação ambiental, a expansão urbana e o enfraquecimento
institucional, o desemprego, entre outros.
29
os impactos destrutivos combinados de uma maioria carente lutando para
sobreviver e uma minoria rica consumindo a maior parte dos recursos
terrestres têm comprometido os próprios meios que permitem a todas as
pessoas sobreviver e prosperar (PNUMA, 2002, p. 07).
De acordo com o economista Ignacy Sachs, esses três principais encontros, Founex,
Estocolmo e Cocoyoc,
transmitiram uma mensagem de esperaa sobre a necessidade e
possibilidade de se projetar e implementar estratégias ambientalmente
adequadas, para promover um desenvolvimento socioeconômico equitativo,
ou ecodesenvolvimento (SACHS, 1994, p. 29).
Dessa forma, a década de setenta foi um marco no movimento ambientalista,
destacando a importância da preservação de espécies e do controle no uso dos recursos
naturais no debate desenvolvimentista, mesmo se inicialmente através dos embates entre os
radicais da negação do crescimento econômico contra os que alegavam que somente através
desse crescimento é que se teria um mundo mais equilibrado. Além disso, de acordo com
Pugh (1996) trouxe também a necessidade da cooperação internacional entre nações em
diferentes estágios de desenvolvimento econômico.
A década de 1980 foi marcada pela realização de diversos acordos ambientais
multilaterais como, por exemplo, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
(1982); o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio
(1987); a Convenção da Basiléia para o Controle de Movimentos Transfronteiriços de
Resíduos Perigosos e sua Eliminação (1989). Um momento marcante foi a formação da
Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), implementada em
1983, tendo sido decisivo para o aprofundamento das discussões quanto à sustentabilidade.
Foi a Comissão que apresentou, em 1987, o relatório Nosso Futuro Comum, também
conhecido como Relatório Brundtland, levando o nome da presidente da Comissão e
primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Neste foi apresentado o conceito
oficial de desenvolvimento sustentável como sendo o desenvolvimento que atenda às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem
as suas próprias necessidades‖ (COMISSÃO, 1991, p. 46),
30
em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação
no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação
do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e
reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e
aspirações humanas (COMISSÃO, 1991, p. 49).
Em sentido amplo, a estratégia de desenvolvimento sustentável visa promover a
harmonia entre os seres humanos e entre sociedade e natureza. Não trata somente da redução
do impacto da atividade econômica no meio ambiente, mas principalmente das conseqüências
dessa relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura.
Enfatizando problemas ambientais como o aquecimento global e a deteriorização da camada
de onio bem como a incapacidade científico-tecnológica de resposta a esses acelerados
desafios, a Comissão concluiu que os arranjos institucionais e as estruturas de tomada de
decisões existentes nacional e internacionalmente não comportavam as demandas do
desenvolvimento sustentável (WCED, 1987 apud PNUMA, 2002).
Essa preocupação deu espaço ao fortalecimento das organizações não-governamentais
e da importância do papel do terceiro setor na discussão e busca de uma harmonia entre e
meio ambiente e o desenvolvimento, além do surgimento de diversos partidos poticos
―verdes‖, levando cada vez mais à arena político-institucional a necessidade de mudanças de
comportamento e ações. O Relatório destaca a interligação entre economia, tecnologia,
sociedade e potica, assumindo uma visão complexa das causas dos problemas
socioeconômicos e ecológicos da sociedade global. Apresenta uma lista de medidas a serem
tomadas pelos Estados Nacionais, não negando a necessidade de um crescimento econômico,
o que gerou fortes críticas por parte dos ambientalistas mais radicais.
O surgimento da expressão desenvolvimento sustentável está relacionado, assim, ao
despertar humano do limite da duração dos recursos naturais não renováveis. De fato, trocas
com o ambiente que nos cerca e o uso de fontes naturais de energia são necessários e, ainda,
são condições para a nossa existência. Contudo, seja por motivos meramente econômicos, seja
por ideologias diversas, perceber que essa fonte natural de vida tem um limite e em alguns
casos, próximo gerou uma crescente inquietação com o futuro, trazendo à tona idéias e
conceitos. Nesse contexto, o conceito de desenvolvimento sustentável foi um marco decisivo,
consagrando-se como uma nova luz sobre o desenvolvimento, tornando-se ponto de inflexão e
reorientando discussões nas mais diversas áreas. Passou-se a buscar uma visão mais ampla do
desenvolvimento, incorporando novas dimensões na discussão, ao mesmo tempo em que foi
31
tomando espaço uma maior conscientização da sociedade sobre as práticas ecomicas e
sociais desenvolvidas até então. A sociedade passou a se sentir partícipe do processo,
compreendendo o bem-estar coletivo como o objetivo final do desenvolvimento.
A busca de um padrão de desenvolvimento sustentável ao longo do tempo, muito mais
que a formulação de um conceito ou um novo modelo econômico, tornou-se uma aspiração
ética, revolucionando o papel do homem na relação entre sociedade e natureza. A percepção
dos impactos globais do desenvolvimento local colocou pela primeira vez em questionamento
o objetivo do crescimento econômico, como até então compreendido, em concomincia com
a manutenção dos seus recursos. Apesar das fortes discussões, há unanimidade em um ponto:
hipotética ou não, a conciliação entre conservação da natureza e crescimento econômico
moderno é algo que não pode ocorrer a curto prazo, de forma isolada em certas atividades, ou
locais específicos (VEIGA, 2005).
2.1.2 De 1992 aos dias atuais: do global ao local
Se a década de 1980 foi marcada pela realização de diversos acordos ambientais
multilaterais e pelo surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável, a década
seguinte caracteriza-se pela busca do aprofundamento e de uma maior compreensão sobre o
conceito de desenvolvimento sustentável, suas implicações e sua implementação. Um dos
primeiros documentos que se destaca é o do economista Ignacy Sachs publicado sob o título
Transition strategies for the 21st century pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, Cultura e Ciência (UNESCO). Nele, são apresentadas cinco dimensões do
ecodesenvolvimento
6
que o planejamento do desenvolvimento precisa considerar
simultaneamente: a sustentabilidade ambiental; a sustentabilidade econômica; a
sustentabilidade ecológica; a sustentabilidade espacial; e a sustentabilidade cultural (SACHS,
1994); bem como quatro premissas em que as estratégias de transição para o desenvolvimento
sustentável devem se basear.
7
6
Expressão utilizada pelo autor.
7
As premissas apontadas são: i. As estratégias deverão cobrir um período de várias décadas; ii. Os países
industrializados deverão assumir uma fatia mais do que proporcional dos custos de transição e do ajuste
tecnológico; iii. As estratégias eficientes dependeo da ousadia das mudanças institucionais, da habilidade de se
projetar pacotes de políticas multidimensionais e da capacidade de se redirecionar o progresso tecnológico; iv.
As estratégias devem, simultaneamente, nodular a demanda através de mudanças nos estilos de vida, padrões de
consumo e funções de produção, mediante a incorporação de técnicas ambientalmente adequadas e fazendo as
escolhas locacionais corretas (SACHS, 1994, p. 42).
32
Foi dentro desse contexto de uma visão mais ampla da sustentabilidade e da
necessidade de sua operacionalização que se realizou no Rio de Janeiro, em 1992, a
Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, ou a Rio-92. Foi a
maior reunião do gênero realizada, produzindo alguns grandes resultados dos quais se
destacam: a Declaração do Rio sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente e a Agenda 21. A
primeira reafirmou os princípios formulados em Estocolmo, vinte anos antes, enfatizando o
direito do ser humano a uma vida saudável e em harmonia com a natureza. A segunda teve
como objetivo promover um novo padrão de desenvolvimento mundial a partir da conciliação
de métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, transformando-se
no documento sem validade legal mais importante e influente no campo do meio ambiente,
servindo como base de referência para o manejo ambiental na maior parte das regiões do
mundo(PNUMA, 2002, p. 17). É um documento consensual em que consta um programa de
ações para o qual contribuíram, durante dois anos preparatórios para a Rio-92, governos e
instituições da sociedade civil de 179 países.
A Agenda 21 aprovada teve a função de servir como base para que cada um desses
países elabore e implemente a sua própria Agenda 21 Nacional. Cada país, estado e município
deve adequar sua Agenda 21 à sua realidade, em uma nova concepção do desenvolvimento
de forma descentralizada e participativa, focalizada de maneira original no poder local,
considerando os princípios de participação e cidadania; respeito às comunidades e diferenças
culturais; integração; melhoria do padrão de vida das comunidades; diminuição das
desigualdades sociais e mudança de mentalidade.
Nesse contexto, pela primeira vez, surge o termo cidades sustentáveis no âmbito dos
organismos internacionais como sendo a extensão para a esfera local da operacionalização do
desenvolvimento sustentável. A preocupação quanto às cidades sustentáveis está incorporada
nos principais objetivos da Agenda 21, em especial, nos que se referem à promoção do
desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos.
Depois da Rio-92, o desenvolvimento sustentável passaria a ser inserido, assim, na
maior parte das discussões globais, nacionais, regionais e locais, além de terem sido
assimiladas na preocupação quanto ao padrão do desenvolvimento econômico novas
dimensões, ao lado da ambiental e social. Assim, conforme exposto em Vecchiatti (2004, 92,
p. 93),
33
ampliou-se a consciência de que os problemas ambientais não são assuntos
de um setor restrito da economia ou da sociedade nem se restringem aos
danos causados ao ambiente físico natural, mas envolvem as relações sociais
em um determinado território. [...] A idéia do desenvolvimento local
transferiu o foco de atenção da poluição para a gestão, da ênfase na molécula
poluidora para a educação ambiental e da técnica comando-controle para as
políticas territoriais.
No decorrer da década, foi dada a continuidade aos acordos e convenções temáticas
diversidade biológica, combate à desertificação, desenvolvimento social, assentamentos
humanos, aquecimento global, entre outras. Algumas conferências da ONU tiveram particular
importância como a de Direitos Humanos (Viena-93), de Desenvolvimento Social
(Copenhague-95), Habitat II (Istambul-96) e Segurança Alimentar (Roma-96). Cinco anos
após a Rio-92, realizou-se uma nova cúpula chamada Rio + 5 com o intuito de rever os
compromissos empreendidos, chegando-se à conclusão de que várias metas da Agenda 21
estavam longe de serem concretizadas. Ficou clara a necessidade de um prazo maior na
assimilação das mudanças nos padrões de comportamento individual e gerencial em direção
às diretrizes agendadas.
Com o enfoque da operacionalização do desenvolvimento sustentável, tornou-se
fundamental a existência de informações que subsidiem as tomadas de decisões e monitorem
o alcance das metas de sustentabilidade. Liderado pela Comissão para o Desenvolvimento
Sustentável das Nações Unidas (CDS), foi organizado, pela primeira vez nessa área, um
movimento para a construção de indicadores, reunindo acadêmicos, governos nacionais,
organizações não-governamentais, organizações do sistema das Nações Unidas e especialistas
em todo o mundo (VEIGA, 2005). A publicação intitulada Indicadores de desarollo
sostenible: marco y metodologia, também conhecido como Livro Azul, em 1996, foi o
primeiro trabalho a propor um conjunto de 143 indicadores para o desenvolvimento
sustentável, posteriormente 57, como ferramenta de apoio às poticas e decisões, servindo de
base metodológica para que países começassem a propor seus próprios grupos de
informações. A partir dessa data, diversas propostas de sistemas de indicadores ou índices de
sustentabilidade foram apresentadas, sem ainda ter se consolidado uma metodologia comum,
a exemplo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é aplicado em diversas nações.
Retratar a complexidade envolvida na discussão, e as diferentes abordagens da
sustentabilidade, continua sendo um desafio à construção de estatísticas.
34
Em 2002, a comunidade global se viu novamente reunida numa Cúpula Mundial sobre
o Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em Johanesburgo, no entanto, dessa vez, sem tanto
impacto como a de 1992. A Cúpula, mais que resultados concretos, ou novas estratégias de
ação, buscou um consenso na avaliação geral das condições atuais e nas prioridades para
ações futuras, servindo para estimular novamente a conscientização e o interesse ambiental.
As decisões foram dirigidas para reforçar compromissos de todas as partes de forma que
sejam alcançados os objetivos da Agenda 21, (re)encorajando discussões e ações rumo a
descobertas no setor ambiental, econômico e tecnológico.
Em 2004, em ocasião do Fórum Universal das Culturas ocorrido em Barcelona,
cidades e governos locais de todo o mundo aprovaram, no IV Fórum de Autoridades Locais
de Porto Alegre para a Inclusão Social, a Agenda 21 da Cultura. O documento representa um
esforço de comprometimento com os direitos humanos, a diversidade cultural, a
sustentabilidade, a democracia participativa e a criação de condições para a paz (CIDADES E
GOVERNOS LOCAIS UNIDOS CGLU, 2007), sendo um marco orientador das políticas
públicas de cultura e na contribuição para o desenvolvimento cultural da humanidade,
consolidando a cultura como agente-chave no desenvolvimento sustentável.
Independentemente das críticas advindas das diferentes correntes ideológicas, dos
interesses distintos dos atores envolvidos e das limitações tecnológicas e científicas, o termo
desenvolvimento sustentável gerou uma revolução no planejamento, dando especial atenção à
importância da gestão territorial, ampliando o leque dos aspectos a serem considerados nas
formulações de ações e políticas de desenvolvimento local, tornando mais complexas as
tomadas de decisões. Os aspectos a serem considerados incluem os recursos naturais, as
atividades econômicas, o acesso às condições básicas de saúde e educação, o respeito a
costumes e tradições e a legitimidade das instituições. Assim, nos últimos anos, a importância
do recorte local ganhou força novamente, mas agora dentro da perspectiva de pertencimento
de uma rede global.
2.2 Meio ambiente e cultura: os dois eixos do desenvolvimento sustentável
Na última década a cultura ganhou força e importância dentro do processo de
desenvolvimento sustentável, sendo percebida não mais como coadjuvante no
desenvolvimento social, mas como um componente-chave para o alcance do bem-estar
35
coletivo. Como coloca o economista Sergio Boisier, o desenvolvimento pode ser visto de
forma ampla, considerando-se o bem-estar espiritual dos indivíduos e não somente o
material‖ (BOISIER, 2000, p. 52).
Concordando com Vecchiatti (2004), é possível distinguir três períodos através das
diferentes abordagens dos problemas quanto à sustentabilidade desde a década de 1970 até os
dias atuais, sendo: um inicial, quando houve a transição de uma visão pontual para uma mais
abrangente dos problemas ambientais; um segundo momento, mais voltado para a gestão,
informação e articulação; e um terceiro, em que a cultura ganha destaque na discussão do
desenvolvimento sustentável e sua manutenção.
Dessa forma, se o conceito de desenvolvimento sustentável, ao surgir num documento
oficial, referia-se à polaridade crescimento econômico versus preservação ambiental dentro de
um contexto impregnado por um temor apocalíptico da „explosão demográfica‟, mesclado
ao perigo de uma guerra nuclear ou da precipitação provocada pelos testes(VEIGA, 2005,
p. 114), nos anos 2000, passou a ser visto como um novo paradigma de desenvolvimento em
que, muito mais que a sua definição em si, o que realmente lhe agrega valor e força é a
preocupação que traz inerente quanto a uma permanência ou continuidade física e cultural.
A humanidade se deu conta que é finita e que pode vir a se autodestruir levando a
assumir também a responsabilidade pela existência seja pela sua preservação, seja por
compaixão do meio ambiente vivo coexistente, reconhecendo o valor inerente à vida não-
humana. Além disso, se já não bastassem os desafios socioeconômicos que se apresentam no
momento presente, deve-se pensar e agir dentro de uma restrição temporal, percebendo o
longo prazo com uma responsabilidade jamais sentida antes. Como coloca Ignacy Sachs
(2002, p. 67) estamos, portanto, na fronteira de um duplo imperativo ético: a solidariedade
sincrônica com a geração atual e a solidariedade diacrônica com as gerações futuras‖.
Essa aceleração e ampliação da visão global dos impactos dos padrões de
comportamento e crescimento econômico sobre o ecossistema vivo fazem rever também os
pensamentos e valores que alicerçam a sociedade. Concordando com o físico Fritjof Capra
(1996), essas mudanças entre pensamentos e valores podem ser vistas como mudanças de uma
base de auto-afirmação para uma integração na qual, por auto-afirmação, compreende-se as
tendências racionais, analíticas, reducionistas e lineares do pensamento ocidental guiadas por
36
valores expansionistas, de competição, quantidade e dominação; enquanto que um
pensamento integrativo se caracteriza por tendências intuitivas, de síntese, hosticas e não-
lineares guiadas por valores de conservação, cooperação, qualidade e parceria.
A entrada do século XXI se deu após trinta anos de discussão dos impactos do modelo
de crescimento sobre, inicialmente, as estruturas ambientais para, posteriormente, incluir as
preocupações relativas às relações sociais, aos patrimônios culturais, à gestão territorial e às
estruturas político-institucionais. Ao trazer à tona a preocupação da sustentabilidade do
desenvolvimento econômico nos padrões das últimas décadas com o uso (e abuso) dos
recursos naturais, a permanência não somente destes, mas da vida humana integrada com toda
a sua manifestação cultural entrou em questionamento. A relação sociedade e meio ambiente,
se inicialmente pouco abordada, passou a ser analisada de forma mais crítica, buscando-se
novas alternativas de relacionamento da sociedade contemporânea com o ambiente que se
insere, procurando reduzir os impactos por ela produzidos. A rediscussão do modelo de
desenvolvimento não está sendo feita apenas pela inclusão de variáveis antes ausentes, como
foi o caso do meio ambiente, mas por um aspecto mais profundo que é a inter-relação entre os
diversos sistemas existentes. As áreas econômicas, sociais e poticas estão intrinsecamente
ligadas. O que ocorrer em cada uma delas condicionará severamente as outras. Assim,
concordando com Iglesias (1997 apud KLIKSBERG, 2001, p.109), o desenvolvimento
apenas pode ser encarado de forma integral; os enfoques simploriamente monistas não
funcionam‖.
Dentro dessa visão sismica a cultura passou a ser uma preocupação crescente e a ter
uma presença constante nas discussões de desenvolvimento, tendo o debate incorporado cada
vez mais os valores integrativos. Como destaca o economista e sociólogo argentino Bernardo
Kliksberg (2001), houve uma mudança do enfoque meramente técnico das variáveis
econômicas para visões ampliadoras dos objetivos perseguidos pelo desenvolvimento,
instalando-se uma potente área de análise ao redor da idéia de capital social.
De acordo com Putman (1994 apud KLIKSBERG, 2001), capital social pode ser
compreendido como o grau de confiança existente entre os atores sociais de uma sociedade, as
normas de comportamento cívico por ela praticadas e o nível de associatividade que a
caracteriza. Para Fukuyama (2002, p. 155), o capital social pode ser definido simplesmente
como um conjunto de valores ou normas informais partilhados por membros de um grupo que
37
lhes permite cooperar entre si‖. E nesse contexto, a cultura passa, então, a ser fundamental na
discussão do desenvolvimento social uma vez que
a cultura cruza todas as dimensões do capital social de uma sociedade. A
cultura subjaz atrás dos componentes básicos considerados capital social,
como a confiaa, o comportamento cívico, o grau de associacionismo. [...]
A cultura engloba valores, percepções, imagens, formas de expressão e
comunicação e muitos outros aspectos que definem a identidade das pessoas
e das nações (KLISKSBERG, 2001, p.121-122).
Contudo, a dimensão cultural do desenvolvimento não pode ser vista apenas através da
sua força dentro do capital social. Além de se perceber a importância da cultura como um
ativo na construção do capital social, tendo uma relação direta com a dimensão social da
sustentabilidade, é fundamental percebê-la como uma dimensão da sustentabilidade em si,
vista em termos de capital cultural, compreendido como as tradições e valores, patrimônios
e lugares, a arte, diversidade e história social‖ (ROSELAND et al, 2005 apud DUXBURY &
GILLETTE, 2007, p. 05). O estoque de capital cultural, tangível e intangível, é o que
herdamos das gerações passadas e passamos para as futuras e a continuidade deste é parte
essencial do processo de sustentabilidade, agregando um sentido de pertencimento ao
desenvolvimento. De acordo com Duxbury & Gillette (2007, p. 04, tradução da autora)
a cultura está emergindo do campo social como tendo um papel distinto e de
integração no desenvolvimento sustenvel em que, no recorte do
desenvolvimento de uma comunidade, a cultura é definida de forma ampla
como sendo ‗o complexo das questões de distinção espiritual, material,
intelectual e emocional que caracterizam uma sociedade ou grupo social.
Inclui não somente as artes e literatura, mas modos de viver, os direitos
fundamentais do homem, sistema de valores, tradições e crenças (UNESCO,
1995, p. 22).
É com esta percepção da cultura que neste trabalho é assumido que, se por um lado, a
continuidade físico-biológica do ser humano depende diretamente da preservação e
conservação dos recursos naturais, por outro lado, o sentido e o significado da sua existência
dependem diretamente de uma continuidade do seu capital cultural. É certo que a relação
entre meio ambiente e cultura pode ser uma relação predatória, visto que alguns componentes
ideológicos dos sistemas culturais podem levar à não manutenção do ecossistema, ou a uma
conservação específica local, sendo prejudicial em uma escala global. Entretanto, a cultura é
vista aqui como um sistema de valores, práticas e símbolos de identidade que, apesar da sua
evolução e sua (re)atualização permanentes, determinam a integração nacional através dos
38
tempos (GUIMARÃES, 2001, p. 55), possibilitando, assim, uma ligação com o passado-
presente-futuro, trazendo um sentido de permanência simbólica, de pertinência e conexão.
Como caracteriza a Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento, a cultura ―molda nosso
pensamento, nossa imagem e nosso comportamento (UNESCO, 1996 apud KLIKSBERG,
2001, p.121).
Pensar na cultura como fator de desenvolvimento significa valorizar
identidades individuais e coletivas, promover a coesão em comunidades e
levar em consideração que as características da cultura podem ser um fator
de crescimento de um determinado território [...]. A cultura é tão essencial
em grandes metrópoles como em áreas rurais (VECCHIATTI 2004, p. 94).
A cultura é vista, assim, como um meio de integração de diferenças base da
igualdade e justiça social e de estruturação do sentimento de pertencimento social base
para uma auto-estima coletiva. O foco do desenvolvimento deixa de ser meramente
econômico, medido através da acumulação de capital, e passa a ser o bem-estar coletivo, com
o ser humano não sendo apenas um meio do desenvolvimento, e sim sua finalidade última
(SEN, 1998 apud KLIKSBERG, 2001, p.109) havendo necessidade de, simultaneamente ao
crescimento econômico, existir o desenvolvimento social, em que a cultura torna-se essencial
no processo. Concordando com Lacerda et al (2000, p. 85)
o resgate de tal dimensão significa considerar a cultura não como um
instrumento manipulável, mas como base social do desenvolvimento,
possibilitando e legitimando a malha complexa de valores existentes em toda
a cultura. Nesse sentido, as formas não-monetárias de valor associadas à vida
em cidade e que são a herança da construção histórica da cidade e do
território devem voltar a ser os determinantes das políticas de
desenvolvimento.
A permanência físico-biológica (sustentabilidade ambiental) e a permanência de um
significado simbólico (sustentabilidade cultural) podem ser vistos como sendo os dois eixos
principais que caracterizam e condensam as discussões e preocupações sobre
desenvolvimento sustentável nos dias atuais. Neste processo, sustentabilidade cultural pode
ser definida como sendo a habilidade de reter a identidade cultural e permitir que mudanças
sejam guiadas de maneira consistente com os valores culturais de uma população
(INSTITUTO DE PESQUISAS EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SDRI, 1998
apud DUXBURY & GILLETTE, 2007, p. 04, tradução da autora). Ambos os eixos evocam
questionamentos éticos de coexistência de diferenças e de especificidades locais sem a perda
de uma visão de impacto global dentro de uma escala temporal.
39
Contudo, de nada adianta focar políticas e ões específicas para a proteção ao meio
ambiente natural e para a manutenção cultural se os outros sistemas encontram-se
deteriorados apresentando fortes desigualdades distributivas e de acesso a serviços de
educação, saúde, habitação e seguridade social, como no caso dos países em
desenvolvimento. Dentro dessa perspectiva, ao tratarmos das outras dimensões da
sustentabilidade, especificamente as dimensões sociais, econômicas e poticas, essas podem
ser repensadas como formadoras de uma rede de suporte à permanência dos dois eixos
principais, conforme expõe Klisksberg (2001, p.114): o caráter sustentável do
desenvolvimento deve estar apoiado num intenso desenvolvimento social‖. Concordando com
a percepção sistêmica da relação entre as dimensões apresentadas por Sachs (2002, p. 71,) em
que
a sustentabilidade social vem na frente, por se destacar como a própria
finalidade do desenvolvimento, sem contar com a possibilidade que um
colapso social ocorra antes da catástrofe ambiental; [...] a sustentabilidade
econômica aparece como uma necessidade, mas, em hipótese alguma é
condição prévia para as anteriores, uma vez que um transtorno econômico
traz consigo o transtorno social, que, por seu lado, obstrui a sustentabilidade
ambiental; o mesmo pode ser dito quanto à falta de governabilidade política,
e por esta razão, é soberana a importância da sustentabilidade política na
pilotagem do processo de reconciliação do desenvolvimento com a
conservação da biodiversidade [...]. (grifos nossos)
As ações voltadas para uma sustentabilidade ambiental e cultural podem ser
conduzidas em um longo prazo somente através da reestruturação e sustentabilidade do tecido
social e potico (fortalecimento do capital social). Dessa forma, desenvolvimento sustentável
é compreendido como um processo no qual o homem deve se perceber como parte de um
ecossistema tendo que aprender a inserir sua vida econômica e social no meio ambiente
natural de forma a manter e aumentar o seu capital natural e cultural, em vez de degradar e
destruir. A busca da continuidade físico-biológica (meio ambiente natural) deve ocorrer em
concomitância com a busca da continuidade de um significado simbólico (meio ambiente
cultural), tendo nas outras dimensões da sustentabilidade (social, ecomica e potica) uma
rede de suporte que garanta os recursos naturais e culturais às futuras gerações.
Assim, por sustentabilidade ambiental compreende-se a preocupação sobre os
impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente natural; por sustentabilidade cultural
compreende-se a preocupação quanto ao impacto da modernização global sobre o meio
ambiente cultural; por sustentabilidade social compreende-se a redução da pobreza e das
40
desigualdades sociais e promoção da justiça e da equidade; por sustentabilidade econômica, a
mudança em estruturas de produção e consumo e a busca de condições que permitam uma
igualdade de oportunidades e satisfação das necessidades básicas; e por sustentabilidade
política, o fortalecimento das organizações sociais e comunitárias, redistribuição de ativos e
de informação, incremento na capacidade de análise das organizações e capacitação para a
tomada de decisões, aprofundando a democracia e garantindo o acesso e participação de todos
nas decisões de ordemblica (GUIMARÃES, 2001).
2.3 Desenvolvimento urbano sustentável
O interesse deste estudo reside na complexa relação existente entre Cidades e
Natureza. Atualmente, mais de 50% da população do planeta vive em cidades e estima-se que
até o ano de 2050 esta proporção passe a ser de dois terços (GIRARDET, 2000). O ser
humano, no seu cotidiano, tornou-se mais íntimo do concreto e do asfalto do que da terra e
das árvores. Nessa nova configuração, o principal desafio para a humanidade é desenvolver
uma relação de convívio sustentável com o meio que o cerca, e as cidades podem ser vistas
como interface desta relação. A necessidade de um maior enfoque das preocupações
ambientais nas cidades e em toda a complexa rede de sistemas que as envolve é comprovada
quando se percebe que as cidades utilizam apenas 2% da supercie terrestre, sendo suficiente
para que consumam mais de 75% dos recursos naturais e produzam uma proporção similar de
resíduos e emissões (ibid).
Esse uso exacerbado dos recursos naturais é a principal fonte de preocupação de
ambientalistas, tendo sido produzida, nas últimas três décadas, uma gama de estudos
estatísticos levando a conclusões nem um pouco positivas quanto ao suporte do planeta e o
consequente futuro da vida. O homem nunca antes na História percebeu tão nitidamente sua
capacidade predadora, a o ser contra sua própria espécie. Os números que vários desses
estudos trazem são um choque diante de uma relação estabelecida, ou assim percebida, de
domínio e exploração entre o ser humano e a natureza esta vista como fonte principal de
recursos para sua existência. Por mais controvérsias que os distintos posicionamentos diante
desta questão causem e por mais fortes que sejam as argumentações dos ambientalistas
advogando uma nova ética ou um comportamento o-antropocêntrico frente à vida no
41
planeta, é destacado aqui, de forma breve, o argumento do filósofo australiano John
Passmore.
8
Em vez de uma nova ética baseada em supostos ―direitos da natureza‖, um caminho
mais efetivo e coerente de se proteger o meio ambiente é não destruí-lo sem um motivo
suficientemente benéfico para humanidade o que seria considerado vandalismo. A essência
do seu argumento é que, no fim das contas, qualquer que seja a motivação (ética, religiosa,
científica, ecológica, etc.), a decisão de proteger ou o o meio ambiente é uma escolha do
homem. É, então, compreendendo que os processos naturais não são dependentes do homem
para sua existência tampouco infinitamente maleáveis e construídos de forma a garantir a sua
permanência que a humanidade terá um maior respeito pela sua existência a natureza é
independente do homem (PASSMORE, 1995).
9
Apesar de se discordar do autor no que diz
respeito ao direito da natureza‖, concorda-se quando coloca que essa existe
independentemente do homem; que a humanidade é mais uma espécie dependente de outras
para sobreviver e, para tanto, tem que fazer escolhas que, por vezes, são em detrimento de
outros seres vivos. O que talvez a diferencie é a capacidade que possui de observar,
compreender e ter empatia e, dessa forma, poder escolher atitudes de respeito em relação à
existência em comum com a própria espécie e com as outras, percebendo o limite da
capacidade de suporte do que nos cerca.
É por perceber esses limites naturais e por se perceber cada vez mais urbana que a
preocupação com a construção de cidades harmônicas com o sistema ambiental no qual
pertencem bem como com seu próprio meio ambiente deve ser uma escolha. As indagações
referentes à sustentabilidade urbana aqui se inserem advogando a escolha de caminhar para
uma integração entre o meio natural e o humano, na qual o homem assume a sua
responsabilidade pela manutenção do primeiro. Um esforço feito dentro de uma relação
contraditória que se estabelece entre ser natureza e viver sem a natureza, buscando as
condições adequadas para a sobrevivência. Fica claro que estas condições não podem somente
levar em consideração preocupações centradas ou no homem ou na natureza e, sim, numa
relação em que o homem concretiza suas potencialidades criativas, seu trabalho e suas
8
Seu livro Man's responsibility for Nature (1974) foi um dos primeiros a argumentar sobre as questões
filosóficas levantadas pelo movimento ambiental.
9
Para Passmore os processos naturais são ―completamente indiferentes a nossa existência e bem estar não
positivamente indiferentes, evidentemente, mas incapazes de importar-se conosco e complexos de tal forma
que exclui a possibilidade de conseguirmos domi-los ou transformá-los completamente‖ (1995, p. 98).
42
relações socioculturais como instrumentos de mediação entre as expectativas de subsistência
e as reais características ambientais(FERRARA, 2002, p. 62). O que é idealizado agora é
um ambiente que resgate o natural e saudável sem esquecer as conquistadas características
urbanas. Questões sobre desenvolvimento econômico local, equidade e justa social,
especificidades culturais e urbanísticas devem estar paralelas às preocupações essencialmente
ambientais. Assim, como definido por Lacerda et al ( 2000, p. 84), o desenvolvimento urbano
sustentável significa um processo de mudança capaz de garantir que os esforços de
desenvolvimento gerem condições de maior equidade social, em consonância com a
preservação da qualidade dos recursos naturais e ambientais e com respeito às identidades
socioculturais‖. Nessa definição, duas expressões têm destaque e são de extrema importância
dentro da discussão de desenvolvimento sustentável: processo de mudança e gerar
condições. Desenvolvimento não é mais visto como um fim, ou uma meta, mas como um
contínuo processo que possibilite condições para os indivíduos buscarem sua plena evolução
enquanto seres humanos e comunidades.
Pensar em um novo modelo de desenvolvimento e conceitos como cidades
sustentáveis significa, necessariamente, focalizar uma busca para um novo equilíbrio entre
forças econômicas, culturais, ambientais e sociais guiadas por uma consciência holística,
numa visão de conjunto, em que os diversos sistemas estão interagindo e influenciando um ao
outro. Nesta perspectiva, desenvolvimento passa a ser compreendido também como progresso
no desenvolvimento do indivíduo, do ser humano, e isto está indiscutivelmente atrelado a sua
liberdade e direto de escolhas, por vezes tolhidas no próprio processo desigual do crescimento
econômico. Nesse novo paradigma, um dos primeiros passos rumo ao desenvolvimento
sustentável dos centros urbanos é a garantia de liberdade e oportunidades aos indivíduos. É a
possibilidade de todos terem acesso a educação, serviços de saúde, oportunidades
econômicas, atividades culturais e de recreação (compreendida como o uso de espaços
públicos e ao ar livre como praças, parques, ruas, entre outros), o que leva a um real progresso
social e consequente diminuição na pobreza vista como uma supressão de capacidades e
o como baixos níveis de renda
10
e toda consequência ambiental e social.
Para definir alguns atributos que devem estar refletidos em indicadores de
sustentabilidade urbana, é imprescindível olhar para a cidade com uma leitura sistêmica,
10
Ver o trabalho do economista Amartya Sen em que o desenvolvimento é essencialmente um processo de
expansão de liberdades reais que as pessoas desfrutam (Sen, 2000).
43
indagando seu impacto dentro do funcionamento de um sistema maior seu entorno
próximo, ou o planeta como um todo bem como a percebendo como um sistema
constituído de vários subsistemas, numa relação dialética entre questões locais e globais.
Conforme posto por Zancheti (2002),
a cidade é um sistema complexo e aberto, isto é, um sistema com muitas
variáveis e com um elevado grau de interação interna e externa ao sistema,
no qual as variáveis estão em constante transformação. A sustentabilidade de
uma cidade será um processo que deve tratar das relões internas e
externas do sistema que as compõe.
Uma explicação reducionista do funcionamento urbano em que as relações são percebidas de
forma mecanicista e fragmentada é extremamente limitada para as preocupações relativas a
um padrão de desenvolvimento urbano sustentável.
A cidade, então, é vista como um conjunto de subsistemas em interação dos quais
emergem propriedades únicas, fazendo com que cada uma seja possuidora de um todo único.
Cada sistema chamado de cidade é possuidor de um valor agregado, um quê de diferente
gerado de suas interconexões; cada cidade é uma experiência única inserida numa rede global,
mesmo possuindo subsistemas comuns ambiente natural, infraestrutura, habitação,
indivíduos, instituições, etc. Essa singularidade inerente à cidade é o resultado de várias
características atuando em concomitância, tais como o clima, a geografia, a história, a cultura
local, a economia, suas instituições e governo, entre outras.
Cada característica pode ser entendida como um sistema específico, e cada sistema
pode ser visto como um setor provedor de determinadas necessidades. Necessidades de bem-
estar material dependem da capacidade do meio ambiente de nos prover com alimentos, água,
ar, ou com os recursos que precisamos para roupas, abrigos, entre outros. Necessidades de um
bem-estar econômico dependem da economia local e da sua capacidade de prover trabalhos,
investimentos e renda para a sua população. Necessidades de liberdade, equidade, governança
e participação são supridas através de instituições que verdadeiramente dêem suporte, bem
como as necessidades de relacionamentos com outros indivíduos, de sentido comunitário,
educação, saúde, desenvolvimento espiritual são satisfeitas no sistema social (HALLSMITH,
2003). Dessa forma, não há cidade sem contexto, sem propriedades emergentes da constante
conexão e relação dos diversos aspectos coexistentes.
44
Na realidade, cidades estão em constante mudança; uma cidade o para. Por vezes, no
cotidiano não se percebe a magnitude das relações que estão tomando curso e levando a fortes
modificações estruturais, somente observáveis em um longo prazo. A mudaa em si não é a
meta, mas a direção que se quer dar e compreender como ela ocorre (HALLSMITH, 2003).
Em geral, as decisões de ações de controle tratam apenas dos sintomas resultantes das causas
que pressionam os sistemas, podendo ter um aparente controle de curto prazo, sem levar em
consideração as reações dessas ações sobre os outros sistemas, ou seja, sem um contexto
maior. Concordando com Zancheti (2002) o desenvolvimento sustentável somente poderá ser
atingido com a interdependência entre os subsistemas uma vez que um subsistema sustentável
pode significar a não-sustentabilidade do outro. Um exemplo são as políticas de habitão
popular. Se, por um lado, suprem uma necessidade imediata de habitação, por outro lado, a
longo prazo, geram diversas pressões e consequências que agravam o desgaste de outros
sistemas como o social e o ambiental. Esse tipo de ação não contextualizada não objetiva a
criação de um ambiente que propicie uma sinergia capaz de efetivamente contribuir para uma
mudança estrutural na trajetória do sistema; pelo contrário, apenas alivia pressões cíclicas e
incrementa o padrão já observado de comportamento. Concordando com Hallsmith (2003, p.
184, tradução da autora),
deve-se suprir necessidades, não resolver problemas. Deve-se compreender
todo o sistema, não conjuntos isolados. Deve-se trabalhar em conjunto, não
separadamente, presos dentro de áreas que nunca se comunicam uma com a
outra. Deve-se compartilhar, cuidar e assumir responsabilidades pessoais
para o sucesso de um dado projeto.
Continuando o argumento, as cidades podem ser compreendidas, portanto, como um
grande sistema que satisfaz necessidades as quais, isoladamente, os indivíduos não seriam
capazes de suprir. Ao olhar para as totalidades, pode-se ver como os diferentes sistemas
interagem uns com os outros de forma a aumentar ou diminuir essa capacidade da cidade de
prover suas necessidades futuras. Na discussão mais global do desenvolvimento sustentável, o
principal foco ainda é o meio ambiente e o desgaste dos recursos naturais na satisfação de
nossas necessidades materiais, todavia, no caso de cidades, não apenas o sistema ambiental é
preocupante, mas todos os sistemas envolvidos na capacidade de suprir as próprias
necessidades enquanto comunidade. São estes diversos sistemas que estão em desgaste,
modificando tanto as propriedades únicas geradas dessa interconexão bem como a própria
trajetória da cidade num longo prazo. Só é possível falar em sustentabilidade urbana tendo a
percepção da cidade enquanto loco que abriga e permite suprir necessidades de
45
relacionamento, de proteção e cuidado, de pertencimento, de liberdade de escolha, de
educação e desenvolvimento espiritual, conjuntamente com a compreensão de que cada uma
dessas necessidades provém de sistemas específicos.
2.4 Patrimônio cultural e desenvolvimento sustentável
Se em uma visão mais global as preocupações estão mais focadas nos impactos sobre
os recursos naturais e seus limites de suporte às atuais demandas, em uma visão local,
questões quanto ao legado patrimonial histórico e cultural tornam-se também centrais para a
sustentabilidade das cidades. Como visto anteriormente em Lacerda et al (2000, p. 84-85), o
desenvolvimento urbano sustentável pode ser compreendido como um processo em que são
geradas condições para uma maior equidade social ao mesmo tempo em que se preserve a
qualidade dos recursos naturais e se respeitem as identidades socioculturais, em que a cultura
passa a ser considerada como a base para o desenvolvimento social.
Dentro desse processo, o patrimônio cultural ganha espaço como ativo do capital
social pelos seus valores históricos e culturais, bem como pela sua força de coesão social.
Concordando com Labanca (2008), se por um lado a cultura tem papel fundamental no
fortalecimento do capital social, a sua materialização através do patrimônio cultural possui um
forte aspecto agregador, estando também a serviço do capital social. Conforme exposto por
Pontual (2000, p.115), o desenvolvimento local trata da realidade com uma visão sistêmica,
levando em consideração as dimensões econômica, ambiental, social e potica, devendo
utilizar para o alcance dos objetivos do desenvolvimento o legado do patrimônio cultural,
"conservando sua especificidade, diversidade e autenticidade para as gerações futuras".
Ao mesmo tempo em que o patrimônio tem sua importância no fortalecimento do
capital social, é também fonte estruturadora do sentido de identidade local, passada através
dos tempos de geração em geração. Patrimônio cultural é um bem de valor ecomico e
cultural que depende de conservação, sendo um recurso não renovável e devendo ser
salvaguardado e transmitido às futuras gerações. Conforme Dias (2006, p. 100) o
patrimônio cultural é uma das partes mais visíveis da memória coletiva de
uma sociedade, história materializada em objetos e em ações carregadas de
significados; são símbolos que, continuamente, lembram que a realidade
dos processos socioculturais atuais está baseada no passado e se articula
constantemente com ele, ao redefini-lo e redefinir-se ao mesmo tempo.
46
Nessa perspectiva, a deteriorização do patrimônio cultural de uma comunidade pode
levar à falência dos valores culturais que dão senso de identidade e de pertencimento local,
interrompendo, assim, a transferência da herança cultural entre gerações e impactando
fortemente no desenvolvimento sustentável (THROSBY, 1999).
A perda das tradições culturais ou a deteriorização do patrimônio cultural construído,
que tem em si as marcas das diferentes temporalidades, características e especificidades
históricas, leva a comunidade a um sentimento de deslocamento e de perda do sentido de
pertencimento. Esse deslocamento afeta e enfraquece a identidade local, permitindo que
culturas diversas, ou novas culturalidades, se apropriem dos símbolos e signos passados,
dando uma nova roupagem a eles e levando a dissolver no tempo os reais significados
históricos e culturais daquela comunidade. Tal ressignificação, de certa forma, ocorre
constantemente e, talvez, o que se conserve sejam os mais fortes e marcantes símbolos
histórico-culturais de uma determinada comunidade, cabendo à própria comunidade a escolha
de quais heranças conservar.
Contudo, tal escolha não pode ser influenciada pela negligência da proteção diante do
bemblico que é o patrimônio cultural. No Brasil, este último é salvaguardado por lei, tendo
sido mencionada pela primeira vez a sua proteção ser obrigatória por parte do poder público
ainda na Constituição de 1934 (FONSECA apud PAES-LUCHIARE, 2007). No entanto,
somente com a Constituição Federal de 1988 é que ficou explicitado de forma ampla o
interesse pelo patrimônio cultural, sendo este definido no seu Art. 216 como:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material ou imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I as formas de
expressão; II os modos de criar, fazer e viver; III as criações científicas,
artísticas e tecnológicas; IV as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico (BRASIL, 1988).
Interessante notar que, no Brasil, o interesse jurídico da proteção aos bens culturais
nasce quase que em paralelo do interesse na proteção dos bens naturais. O Decreto Lei
25/1937 deixava claro que os monumentos naturais também são passíveis de tombamento,
apontando para uma concepção integrada de patrimônio cultural e natural (PAES-
47
LUCHIARE, 2007). Dessa forma, o patrimônio cultural tem em si marcas da memória social,
tendo a sua conservação e sustentabilidade para as futuras gerações importância legítima da
garantia do sentido de uma continuidade simbólica e identitária.
De certa forma, a discussão sobre a preservação ambiental e sobre a conservação do
patrimônio cultural foram discussões que convergiram, possuindo princípios semelhantes. No
tocante à conservação do patrimônio cultural surge, na década de 1970, em decorrência do
urbanismo progressista italiano, em especial as experiências de revitalização das áreas
históricas obsoletas da cidade de Bologna, a conservação integrada como campo teórico e
prático, cujos princípios foram explicitados na Declaração de Amsterdã (1975). Nesta, o
patrimônio arquitetônico é parte integrante do patrimônio histórico e possuidor de valor
cultural inestimável, permitindo que todos tomem consciência de uma história e um destino
comuns, sendo percebida de importância vital a sua conservação. Passou-se a considerar a
conservação do patrimônio arquitetônico como um dos objetivos maiores do planejamento das
áreas urbanas e do planejamento físico territorial, sendo buscada a integração do patrimônio
na vida social. Conforme explicitado na Declaração da Amsterdã,
sabe-se que a preservação da continuidade histórica do ambiente é essencial
para a manutenção ou a criação de um modo de vida que permita ao homem
encontrar sua identidade e experimentar um sentimento de seguraa face às
mutações brutais da sociedade: um novo urbanismo procura reencontrar os
espaços fechados, a escala humana, a interpenetração das funções e a
diversidade sociocultural que caracterizam os tecidos urbanos antigos. Mas
descobre-se também que a conservação das construções existentes contribui
para a economia de recursos e para a luta contra o desperdício, uma das
grandes preocupações da sociedade contemporânea. Ficou demonstrado que
as construções antigas podem receber novos usos que correspondam às
necessidades da vida contemporânea (Cartas Patrimoniais, IPHAN).
Desde então, diversas Cartas Patrimoniais vêm servindo de norte para as políticas de
proteção e conservação do patrimônio cultural, reafirmando o importante papel da
Conservação Integrada no desenvolvimento sustentável local. Na Rio 92, em sua Carta do Rio
(1992), o patrimônio cultural é considerado um recurso não renovável, devendo ser
preservado, contribuindo no processo de desenvolvimento sustentável local. A
sustentabilidade do patrimônio cultural é colocando em conjunto com a sustentabilidade
ambiental.
48
A Conservação Integrada desde seu início possui como princípios a preocupação com
a manutenção do patrimônio cultural construído, este visto como riqueza social e com forte
contribuição para a conscientização do legado histórico-cultural local. A questão ambiental
percebe o meio ambiente como patrimônio natural, este visto como riqueza ambiental e que
necessita de mecanismos que garantam a sua sustentabilidade entre gerações. Essa
convergência trouxe às discussões do planejamento urbano uma relação entre território e
cidade, tendo como elemento central de organização o ambiente natural e construído (LAPA e
ZANCHETI, 2002) em que a Conservação Integrada passou a servir de base na formulação
das ações urbanas e como instrumento na leitura territorial.
2.5 Conceito de Cidades Sustentáveis
Formalmente, o termo cidades sustentáveis surge no âmbito dos organismos
internacionais como sendo a extensão para a esfera local da operacionalização da noção de
desenvolvimento sustentável. Mais precisamente a partir da Rio-92, o conceito de
sustentabilidade foi ampliado, incluindo a sustentabilidade social, econômica, financeira e
institucional, dentre outros aspectos. Essa extensão levou a considerações sobre sua aplicão
no espaço urbano, sendo este consolidado com a realização da Conferência das Nações
Unidas sobre os Assentamentos Humanos (Habitat II), em 1996, em Istambul. Nesta, foi
aprovada a Agenda Habitat, documento que explicita tanto os princípios, como também os
compromissos e ações estratégicas a serem adotadas pelos governos, sociedade civil e
iniciativa privada, visando o desenvolvimento sustentável das áreas urbanas (SANTOS et al,
2002).
A noção de sustentabilidade urbana permitiu inserir nas preocupações referentes ao
desenvolvimento urbano, ao lado das preocupações essencialmente ambientais do
desenvolvimento sustentável, as discussões sobre desenvolvimento econômico local,
promoção da equidade e justiça social, legitimidade das políticas urbanas, especificidades
culturais bem como questões urbanísticas.
Desde o seu aparecimento, vários foram os conceitos dados ao termo cidades
sustentáveis ou a sustentabilidade urbana. Como expõe Acselrad (2001), é possível observar
três representações basicamente distintas de matrizes discursivas da cidade capazes de fazer
durar o meio ambiente urbano, sendo estas: (i) representação técnico-material da cidade, em
49
que é proposta a recomposição das cidades a partir de modelos de eficiência eco-energético
ou de equilíbrio metabólico aplicados à materialidade do urbano; (ii) a cidade como espaço da
qualidade de vida, a qual os argumentos são estruturados de acordo com os modelos de
pureza, cidadania ou patrimônio; e (iii) a reconstituição da legitimidade das políticas urbanas
que revalidam o projeto urbano segundo o modelo da eficiência ou da equidade.
Para este estudo, o consideradas em simultâneo as duas últimas matrizes discursivas,
uma vez em que a cidade é vista como espaço provedor de necessidades, da qualidade de vida
e da manutenção dos patrimônios natural e cultural, sendo, para tanto, necessárias a
legitimidade das poticas urbanas e a reconquista da confiança em suas instituições. Para
tanto, têm-se como referenciais teóricos do conceito de cidade sustentável três definições
presentes na literatura e enquadradas nas duas últimas matrizes discursivas observadas por
Acselrad (2001).
A primeira definição de cidades sustentáveis encerra as preocupações quanto à
continuidade dos dois eixos tidos como centrais nas preocupações de desenvolvimento
sustentável: o ambiental e o cultural. A definição é dada por Emelianoff (1997, apud
COMPANS, 2001, p. 109), para a qual
a cidade sustentável, por sua vez, introduz uma concepção patrimonial do
tempo e considera que tem um legado a transmitir, um legado cultural e
natural. O tempo é seu arquiteto. Ela se dedica então à manutenção da
existência, da natureza, das culturas, dos diferentes bairros e tecidos urbanos.
A percepção da cidade enquanto possuidora de um legado patrimonial às futuras
gerações, sendo ele cultural e natural, é a essência acerca da discussão sobre desenvolvimento
sustentável e suas preocupações quanto a uma continuidade física e existencial natureza e
cultura. Não somente toda a relação de uso e apropriação de recursos naturais próprios e do
entorno, mas também questões referentes ao trato de sua herança cultural estão no cerne do
debate da busca da sustentabilidade urbana.
No que diz respeito aos aspectos ambientais, todas as estruturas naturais, como bacias
hidrográficas, áreas verdes, orlas marítimas, bem como o uso de recursos como o ar e a água,
e todas as preocupações acerca da produção e destino de resíduos sólidos e poluentes devem
ser levadas em consideração. No tocante ao seu legado existencial, destaca-se seu patrimônio
50
cultural como tecidos urbanos de interesse histórico, artístico e cultural. São bens culturais e
ambientes urbanos estratégicos e de valoroso sentido histórico e de identidade para a cidade e
seus cidadãos. A função do patrimônio cultural vai além de ser um objeto de consumo,
trazendo um sentido de pertencimento, de existência (DIAS, 2006). Emerge, assim, a
percepção de sustentabilidade urbana enquanto continuidade patrimonial material e imaterial,
em que a idéia de patrimônio‟ se refere não somente à materialidade das cidades, mas
também ao seu caráter, identidades, valores e heranças construídas ao longo do tempo
(COMPANS, 2001, p. 122).
Ao lado desse entendimento de sustentabilidade urbana como continuidade do
patrimônio natural e cultural, são tomadas como base outras duas definições que trazem a
necessidade de atenção às questões socioeconômicas. A segunda definição é a dada pelo
urbanista Herbert Girardet (2004, p. 06), que traz a noção de sustentabilidade alinhada com
uma ética de igualdade e justa social, sendo uma cidade sustentável aquela que permite a
todos os seus cidadãos satisfazerem suas próprias necessidades e melhorarem seu bem-estar,
sem degradar o mundo natural ou as vidas de outras pessoas, agora ou no futuro‖.
Continuando seu argumento, em um mundo no qual grande parte das pessoas gasta a
maioria do seu tempo em cidades, essas devem ser capazes de aproveitar ambientes urbanos
estimulantes, diversificados, limpos, seguros e saudáveis (ibid, p. 14). O autor destaca,
assim, a importância de uma cidade ser morável e ser sustentável, ressalvando que, apesar dos
termos estarem intimamente conectados, não significam a mesma coisa. Por vezes, ações que
levam a uma cidade ser mais ―morável‖ não necessariamente implicam em sua
sustentabilidade, muito pelo contrário. Ações efetivas de limpeza urbana, por exemplo, podem
garantir uma cidade limpa e todas as externalidades positivas, porém, o que é feito com os
resíduos coletados influenciará diretamente na sustentabilidade ambiental local e global.
Em países com um alto padrão de desenvolvimento econômico, as necessidades
individuais básicas como acesso à moradia, transporte, segurança, educação, acesso à cultura,
trabalho e saúde podem ser supridas, dando espaço para um enfoque maior nas questões
relativas à sustentabilidade ambiental. Dependência e consumo excessivo de energia fóssil,
altos níveis de poluição atmosférica e um consumismo crescente são algumas das
características que fazem com que essas regiões estejam entre as mais ambientalmente
insustentáveis do planeta (GIRARDET, 2004). A realidade é outra quando se olha para as
51
crescentes cidades dos países com menor desenvolvimento econômico nos quais transformar
as cidades em locais moráveis a todos ainda é crucial.
Propostas básicas como o acesso à moradia, educação e saúde; prestação universal dos
serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário; acesso à energia; dotação das
cidades com sistemas eficazes de transporte público, bem como qualificar os espaços
comunitários com equipamentos e atividades de lazer e recreação são preocupações atuais nas
políticas de desenvolvimento urbano da maioria desses países, como é o caso do Brasil. Essas
cidades são, em sua maioria, espaços cio e economicamente fragmentados com uma forte
concentração de renda. Buscar a sustentabilidade urbana em uma realidade como essa é
buscar uma relação de equidade e justiça social, elevando-se o seu capital social, base para
uma estabilidade potica, institucional e financeira, ao lado da busca da relação de equilíbrio
no uso dos seus recursos naturais e culturais.
A terceira definão de sustentabilidade urbana enquadra-se dentro da realidade
jurídica do Brasil, trazendo uma operacionalização do conceito. É a definição oficial
apresentada no Estatuto da Cidade que compreende a cidade sustentável comodireito
fundamental da pessoa humana incluído no conjunto dos direitos humanos (BRASIL, 2001,
p. 32). No documento, a garantia do direito a cidades sustentáveis passa a ser entendida como
o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer
para as presentes e futuras gerações (Artigo 2º, I) (BRASIL, 2001).
O pleno exercício desse direito compreende
condições dignas de vida, de exercitar plenamente a cidadania e os direitos
humanos (direitos civis e políticos, econômicos, sociais, culturais e
ambientais), de participar da gestão da cidade, de viver numa cidade com
qualidade de vida, sob os aspectos social e ambiental (ibid, p. 32).
O direito à moradia e o direito a cidades sustentáveis passaram a ser aceitos como
direitos humanos. Assim, o direito a cidades sustentáveis passa a ser interligado,
interdependente e inter-relacionado com os demais direitos humanos, em especial com os
direitos econômicos, sociais e culturais(RODRIGUEZ, 2002, p. 116). Tal percepção é de
extrema importância no que toca às poticas públicas e, o mais importante, não é apenas um
direito à cidade, mas vincula a este uma sadia qualidade de vida sob os aspectos sociais e
52
ambientais. Fica tido que em países com tantos contrastes sociais como o Brasil, o conceito
de cidades sustentáveis passa pela universalização do direito a condições dignas de vida
urbana em que habitação, saneamento, segurança, saúde, educação e lazer são alguns dos
requisitos básicos para tanto.
A fim de sintetizar as definições anteriores e fazendo um paralelo com o conceito de
desenvolvimento sustentável discutido no Capítulo 02, uma cidade sustentável pode ser
compreendida como sendo a cidade que é capaz de modificar o padrão de desgaste do uso
dos seus recursos naturais e do seu patrimônio cultural; recuperar e preservar a qualidade
do seu meio ambiente natural e do seu meio ambiente cultural; e que é capaz de uma
reestruturação social e institucional que leve a uma diminuição das diferenças sociais e ao
fortalecimento da governança, assumidos como redes de suporte essenciais ao alcance de sua
continuidade às futuras gerações.
2.6 Monitoramento da cidade sustentável
Concordando com Roseland (1998), a sustentabilidade somente é alcançada através de
um planejamento. Esse planejamento necessita ser monitorado através de diagnósticos
periódicos, que informem a situação atual e o percurso que está sendo seguido, nos quais
monitoramento é compreendido como uma observação mais descritiva do processo de
implementação da ação ou, em outras palavras, a verificação e o relato do que está
ocorrendo (FURTADO, 2002, p. 163). Tal planejamento poder ser percebido através de
procedimentos necessários para uma operacionalização da sustentabilidade urbana. De acordo
com Acselrad (2001, p. 51)
a análise do discurso das cidades que se apresentam como candidatas a
protagonizar a sustentabilidade urbana sugerem que as mesmas pretendem
inserir-se em uma continuidade temporal e espacial através dos
procedimentos de descentralização (pela legitimação do não-humano, das
gerações futuras, dos parceiros inertes ou virtuais), de restauração (pela
reciclagem de recursos naturais, bairros, rios, ofícios, saberes, imagens e
instituições) e de interação dos fenômenos urbanos (o ar da cidade com o
ar do planeta, a ocupação do solo com o abastecimento d‘água, atividades
presentes e valores herdados, agências de urbanismo com instâncias de
concentração) (grifos nossos).
Os procedimentos podem ser compreendidos como possíveis grupos de poticas e
ações necessárias para a busca da sustentabilidade. Assim, procedimentos de manutenção e
53
preservação dos recursos naturais, ambientais e culturais; de restauração e interação dos
fenômenos urbanos com os ambientais e sociais bem como procedimentos de reestruturação
social e institucional podem ser compreendidos como caminhos rumo à sustentabilidade
urbana.
Sistemas de indicadores possibilitam o diagnóstico ou monitoramento das ações,
subsidiando decisões e servindo de instrumentos de controle do planejamento urbano. Através
das suas informações se prevê o direcionamento e a eficácia das ações em direção à meta p-
estabelecida. Indicadores são muito úteis em duas formas na busca da sustentabilidade:
identificando áreas onde ações são necessárias, quando sistematicamente alimentados, e
monitorando o caminho no qual o sistema se comporta, provendo importantes informações
para inovações e estratégias (HALLSMITH, 2003). Entretanto, indicadores são apenas
informações, um instrumento de controle, eles não nos dizem qual a melhor ação ou estratégia
a ser tomada. Para tanto, é necessário ter uma compreensão dos sistemas e suas relações no
planejamento de qualquer potica ou ação de intervenção urbana, tirando vantagens do
momento presente e evitando conseqüências futuras indesejadas. É através dessa compreensão
que os indicadores devem ser buscados e lidos, dando uma visão clara de aproximação ou não
de um padrão de sustentabilidade de acordo com o que é entendido por sustentabilidade
urbana.
Cada um dos subsistemas envolvidos na busca da sustentabilidade urbana deve ser
monitorado. Por subsistemas compreendem-se as dimensões inseridas no conceito de
desenvolvimento sustentável, sendo elas a ambiental, a cultural, a social, a econômica e a
institucional. O monitoramento de cada um desses sistemas deve estar coerente com os
propósitos inseridos no conceito de sustentabilidade urbana, sendo estes: recuperação e
preservação da qualidade do seu ambiente construído e do seu ambiente natural; modificação
do padrão de desgaste dos recursos naturais e do seu patrimônio cultural; reestruturação social
e institucional; e fortalecimento da sua capacidade de governança e gestão. Tais propósitos
são percebidos através da capacidade dos sistemas de suprirem as necessidades a eles
vinculadas, identificadas basicamente por bem-estar sico e social; acesso à cultura;
segurança econômica e governança.
54
2.7 Indicadores: aspectos gerais
O termo indicador é originário do latim indicare, que significa descobrir, apontar,
anunciar, estimar (HAMMOND et al apud BELLEN, 2005). Ainda segundo Hammond, os
indicadores podem comunicar ou informar sobre o progresso em direção a uma determinada
meta, mas também podem ser um recurso que deixa uma tendência mais perceptível ou um
fenômeno que não seja facilmente detectável. Para Furtado (2002, p. 164), indicadores são
determinados como representações numéricas de características, aspectos ou atributos
previamente definidos como importantes para o projeto ou ação‖.
Por vezes, projetos ou ações possuem metas preestabelecidas nas quais o uso de
indicadores é fundamental para o monitoramento do alcance das mesmas ou para uma
avaliação geral. Em outros casos, se prestam para subsidiar atividades de planejamento
público e decisões poticas em diferentes esferas e dimensões da realidade, sem
necessariamente ter a existência de metas predefinidas. Assim, um conjunto de indicadores
informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se
processando na mesma, permitindo um aprofundamento nos determinantes dos diferentes
fenômenos envolvidos (JANNUZZI, 2001). Para a Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OECD) (1993 apud BELLEN, 2005, p. 42), um indicador
deve ser entendido como um parâmetro ou valor derivado de parâmetros que aponta e
fornece informações sobre o estado do fenômeno com uma extensão significativa‖.
Apesar de serem diversas as definições de indicadores, pode-se assumir que os
indicadores estabelecem um padrão, seja para a avaliação do estado da realidade, através de
um diagnóstico ou monitoramento que subsidie estratégias e prioridades, seja para a avaliação
do desempenho de políticas e programas, medindo o alcance dos objetivos (eficácia), o uso
dos recursos (eficiência) e as mudanças operadas (impacto). Concordando com Cardoso
(1998, p. 44) ―a construção dos indicadores dependerá, assim, do uso específico a que devam
servir, ou seja, devem se adequar àquilo que pretendem medir‖. Essa definição do padrão dos
indicadores é um primeiro momento para sua construção.
Neste estudo, é limitado o uso de indicadores como diagnóstico, servindo como uma
visão panorâmica da realidade e ao monitoramento da mesma, sem entrar no âmbito da
avaliação de eficiência ou eficácia de poticas ou programas. Monitoramento é aqui
55
compreendido como sendo uma observação mais descritiva do processo de implementação
da ação ou, em outras palavras, a verificação e o relato do que está ocorrendo(FURTADO,
2002, p. 163). Esses indicadores permitem a construção de um quadro básico de prioridades,
tendo seu caráter descritivo reforçado, o que permite tanto hierarquizar áreas de atuação como
a identificação dos problemas a serem enfrentados em cada lugar (CARDOSO, 1998).
Concordando com Meadows (1998 apud BELLEN, 2005), a utilização de indicadores é uma
maneira de monitorar sistemas complexos socialmente considerados importantes de ser ter
controle.
Quando se trata de sistemas ou conjuntos de indicadores, além da possível utilização
de diferentes tipos, comumente utiliza-se diferentes dimensões, existindo sistemas para áreas
específicas como saúde, educação, economia, etc. Como exemplificado em Jannuzzi (2001),
num recorte internacional, pode-se citar o Sistema Mínimo de Indicadores Urbanos, proposto
pelo Centro das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, na orientação das diretrizes
propostas nas Conferências Habitat, no qual são listados indicadores para Uso do Solo
Urbano, Habitação, Meio Ambiente, Desenvolvimento Socioecomico e Transporte Urbano.
No Brasil, são vários os sistemas de indicadores sociais utilizados, tais como o
Sistema de Indicadores para Políticas Urbanas, o Sistema de Indicadores de Saúde, o Sistema
de Indicadores para o Mercado de Trabalho, entre outros. No caso dos sistemas de indicadores
ambientais, verificam-se três vertentes principais na definição das dimensões utilizadas, como
exposto por Braga et al (2004, p. 13), sendo estas: a biocêntrica‖, na qual se busca
principalmente indicadores biológicos, sico-químicos ou energéticos de equilíbrio ecológico
de ecossistemas; a econômica‖, no qual se busca avaliações monetárias do capital natural e
do uso dos recursos naturais; e uma terceira vertente que busca indicadores que combinem
aspectos do sistema econômico e da qualidade de vida humana, bem como aspectos dos
sistemas político, cultural e institucional.
A proposta desta pesquisa enquadra-se nessa última vertente de indicadores ambientais
uma vez que é percebido como essencial ao debate da sustentabilidade a utilização de
informações que mesclem questões relacionadas às suas diversas dimensões. Como
explicitado anteriormente, desenvolvimento sustentável não é percebido apenas através das
preocupações relativas ao meio ambiente natural, mas sim no conjunto de sistemas que dão
56
suporte a uma continuidade tanto dos recursos naturais quanto da identidade e do sentido de
pertencimento supridos através do sistema cultural.
Uma das particularidades e dificuldades na proposta de um sistema de indicadores é
que são diversos os aspectos abordados simultaneamente. Ao se tratar de um sistema de
indicadores de sustentabilidade, esse desafio torna-se ainda maior, uma vez que não somente é
necessário um número considerável de informações de diversas áreas distintas, mas a
construção de uma estrutura que permita uma leitura que informe a relação entre essas áreas.
Um sistema composto de um grande número de indicadores pode dar um excelente panorama
da realidade, contudo, uma estruturação compartimentalizada em temas específicos pode
tornar a leitura muito complexa. Concordando com Braga et al (2004), propor um sistema de
indicadores de sustentabilidade urbana tem se convertido em expectativa pela produção de
sistemas, ou índices, enxutos capazes de comunicar realidades complexas de forma resumida.
Essa expectativa pode acabar levando ao desenvolvimento de indicadores altamente
agregados, correndo-se os riscos de problemas conceituais conforme exposto por Bellen
(2005, p. 47), em que os índices agregados são um aperfeiçoamento, mas o processo de
transformar dados em índices agregados pode conter sérios problemas‖. Tais índices indicam
o progresso rumo à sustentabilidade, no entanto, não informam especificidades dos sistemas
envolvidos, o subsidiando a tomada de decisão frente a um problema, tampouco a uma
antecipação do mesmo. No caso específico de indicadores de sustentabilidade, certo grau de
agregação torna-se necessário, uma vez que se lida com diferentes sistemas. Contudo, os
dados devem ser estratificados em termos de grupos sociais, setores industriais, ou
distribuição espacial (idem).
Quanto ao número de indicadores ideal, não existe um padrão, variando segundo
proposta. O que se observa nas experiências é que em se tratando de sistemas de indicadores
para o desenvolvimento sustentável em uma escala nacional, os conjuntos propostos possuem,
em geral, um número alto de indicadores. Esse é o caso do Brasil, no conjunto proposto pelo
IBGE (2000) composto por 60 diferentes indicadores divididos em quatro dimensões; ou o
conjunto de indicadores do Reino Unido (2005), formado por 68 indicadores. quando a
proposta é para um âmbito local, têm-se verificado conjuntos menores, como no caso do
conjunto de Indicadores Comuns Europeus (2003), composto por 10 indicadores principais;
ou o trabalho Índice de Sustentabilidade Municipal (2004), que propõe um sistema de quatro
57
índices temáticos compostos de 14 indicadores. Todavia, o que aqui é proposto segue a
tendência em se utilizar um menor número de indicadores na expectativa de se trabalhar com
um sistema mais enxuto e permitindo uma leitura mais rápida.
2.8 Tipos de indicadores e estruturas utilizadas
De acordo com a OCDE (1993 apud RAMOS, 1997), os indicadores ambientais
podem ser classificados em três grupos: indicadores de pressão, de estado e de resposta. O
primeiro refere-se às pressões antpicas exercidas sobre os sistemas ambientais, tais como,
emissões de gases, eficiência tecnológica, etc. Os indicadores de estado refletem a qualidade
do ambiente, descrevendo a situação presente num dado momento e espaço; os de resposta
avaliam as respostas da sociedade às alterações dos impactos antrópicos como a qualidade das
políticas adotadas. Esses grupos derivam do modelo conceitual adotado pela OCDE e têm
sido largamente aceitos entre governos e organizações na construção de sistemas de
indicadores de desenvolvimento sustentável, sendo aqui também assumidos como
classificação na proposição do sistema de indicadores de sustentabilidade urbana.
Em geral, para diagnosticar e monitorar um determinado fenômeno da realidade, ou
uma área temática específica, é necessário um sistema de indicadores constituído de diferentes
tipos. De acordo com Jannuzzi (2001, p. 19), os tipos de indicadores são usualmente
classificados como i. qualitativos e quantitativos; ii. Descritivos e normativos; iii. Simples ou
compostos; iv. Indicador-insumo, indicador-produto e indicador-processo; v. estoque e
performance ou fluxo; vi. Eficiência, eficácia e efetividade; e vii. Segundo ordem de
precedência, período de referência e segundo a natureza relativa ou absoluta da medida. No
Quadro 01 encontra-se uma breve descrição de cada uma dos tipos de indicadores
mencionados.
58
QUADRO 01 TIPOS DE INDICADORES
TIPO DE INDICADOR
DESCRIÇÃO
Qualitativos
Referem-se a ocorrências concretas da realidade social
Quantitativos
Medidas construídas a partir da avaliação dos indivíduos ou
especialistas em relação a diferentes aspectos da realidade,
geralmente levantados em pesquisas de opinião pública ou
grupos de discussão
Descritivos
Descrevem características e aspectos da realidade empírica
Normativos
Dotados de significado valorativo
Simples ou Compostos
Onde os indicadores compostos (ou indicadores sintáticos, ou
índices sociais) são formados pela aglutinação de dois ou mais
indicadores simples através de um determinado método
Indicador-insumo
Quantificam os recursos disponibilizados nas diversas políticas
sociais
Indicador-produto
Retratam os resultados efetivos dessas políticas
Indicador-processo
Indicadores intermediários que quantificam o esforço
operacional de alocação de recursos para obtenção de
melhorias efetivas
Estoque
Compreende-se a medida de uma determinada dimensão num
momento específico
Performance ou fluxo
Abarca mudanças entre dois momentos distintos
Eficiência
Diz respeito ao uso eficiente dos recursos
Eficácia
Diz respeito ao cumprimento das metas
Efetividade
Diz respeito à avaliação dos efeitos do programa
Segundo ordem de
precedência
Determinantes, efeitos primários, efeitos intervenientes e
indicador-resposta
Segundo período de
referência
Séries históricas, ou indicadores ex post, e séries prospectivas,
ou indicadores ex ante
Segundo a natureza relativa
ou absoluta da medida
---------
Fonte: Elaboração própria de acordo com Januzzi (2001, p. 19).
59
2.9 Indicadores para o monitoramento do desenvolvimento sustentável
Na década de 1990, percebeu-se uma forte retomada na discussão da construção de
indicadores em resposta à exigência de instrumentos de avaliação de poticas blicas por
parte dos organismos internacionais de financiamento (CARDOSO, 1998) bem como pela
necessidade de identificar variações, comportamentos, processos e tendências e de estabelecer
comparações entre países e regiões distintas (IBGE, 2004). Com o surgimento das
preocupações referentes à sustentabilidade, surgiram estudos, discussões e elaborações de
diversas propostas de sistemas de indicadores de desenvolvimento sustentável. Esses
sistemas, ora são compostos de indicadores novos e específicos ao tema, ora são uma junção
de indicadores já existentes, agrupados em algumas dimensões de análise, tais como as
econômica, social, ambiental e institucional, como é o caso do conjunto de indicadores de
desenvolvimento sustentável para o Brasil proposto pelo IBGE (2008).
Esse agrupamento é explicado, por um lado, por ser mais prático e imediato utilizar
indicadores já existentes, uma vez que sua formulação é uma tarefa trabalhosa que demanda
tempo e recursos; e, por outro lado, pela essência sistêmica do discurso da sustentabilidade,
sendo aceita a necessidade de ver a realidade como um sistema complexo em que vários
subsistemas interagem influenciando uns aos outros. Contudo, a análise paralela de diferentes
aspectos de uma realidade não necessariamente significa que esta realidade esteja sendo
percebida de forma sistêmica. A junção de algumas dimensões pode apenas significar uma
associação de aspectos relevantes dentro da discussão, sem demonstrar uma relação entre
eles.. Um dos desafios aqui apresentados é que a exploração e análise de um sistema holístico
como proposto pelo desenvolvimento sustentável não demanda apenas uma visão dos
sistemas envolvidos, mas também as suas interações (HARDI, 2000 apud BELLEN, 2004).
Indicadores de sustentabilidade não podem ser pensados e formulados dentro do
paradigma mecanicista em que a realidade é analisada em blocos independentes por, pelo
menos, dois motivos: primeiro, tratar de estruturas ambientais é entrar em contato com uma
série de elementos que estão interagindo e trocando informações entre si e entre sistemas
diferentes, em um processo dinâmico; e, segundo, o próprio conceito de desenvolvimento
sustentável encerra em si a preocupação, ao mesmo tempo, de diferentes dimensões em
interação, caracterizando uma abordagem sistêmica.
60
Para saber se uma sociedade está rumando para o seu desenvolvimento sustentável,
apropriados sistemas de indicadores de desenvolvimento tornam-se fundamentais ferramentas
no suporte e/ou avaliação de programas e políticas, dando evidências empíricas de um
determinado recorte da realidade. Esses recortes, quando analisados em conjunto e dentro do
contexto em que se encontram, são como fotografias que mostram uma imagem congelada de
um momento no tempo. Ao olhar para essa imagem se tem uma determinada situação e, ao
compará-la com uma imagem de um momento distinto, podemos acompanhar, medir e
monitorar qual o caminho seguido. Contribuem, assim, para municiar os gestores de políticas
de desenvolvimento, permitindo avaliar os avanços ou entraves encontrados na asseguração
do desenvolvimento de uma relação urbano-ambiental mais sustentável.
Os indicadores devem formar uma imagem condizente com a imagem idealizada no
discurso-base, e o desafio encontra-se nessa ponte entre a fundamentação teórico-conceitual e
quais os atributos que melhor caracterizam a realidade analisada. Assim, por exemplo, ao
avaliarmos o desempenho de uma sociedade através de variáveis monetárias como o Produto
Interno Bruto (PIB), o discurso que embasa é o do progresso econômico e assume-se que o
grau de desenvolvimento de um país pode ser medido através de valores ecomicos. Quando
é proposto que o grau de desenvolvimento humano pode ser medido através de três variáveis
renda, educação, saúde , o que está por trás é o desenvolvimento das capacidades
individuais, sendo assumido que a relação entre esses aspectos é capaz de gerar uma sinergia,
possibilitando a realização das potencialidades humanas individuais e, conseqüentemente,
aumento da qualidade de vida da sociedade. Na construção do IDH foi necessário estabelecer
o conteúdo da idéia de qualidade de vida‖, implicando em uma discussão de caráter ético-
filosófico que buscou estabelecer critérios normativos universais (CARDOSO, 1998). Essa
discussão ―ético-filosófica‖ pode ser presenciada no atual debate sobre a construção de
indicadores de sustentabilidade, sendo o estabelecimento de critérios normativos universais
ainda um grande desafio.
Uma vez que as argumentações que sustentam os discursos são fundamentadas em
valores e pressupostos teóricos, tem-se um amplo espaço para julgamentos acerca do certo e
errado, do adequado ou não adequado, variando de acordo com posicionamentos e
explicações distintas da realidade. Ambas as abordagens do PIB e IDH citadas sofrem fortes
críticas, apontando limitações nos modelos e critérios que as sustentam. Mesmo com posições
contrárias, são análises bem estruturadas que possibilitaram a formulação de instrumentos de
61
medida que guiam comparações, decisões e escolhas coerentes com as teorias que os
embasam. O instrumento final de medida deve refletir, assim, a teoria que sustenta e guia a
ação o que é medido é reflexo de como uma realidade é percebida.
As discussões sobre a necessidade de utilizar métodos de mensurações do
desenvolvimento sustentável vêm ocorrendo desde a década passada. A Agenda 21, resultado
da Rio 92, expressou a necessidade de se formular conjuntos de indicadores de forma a
monitorar o alcance da sustentabilidade. Posteriormente, em 1996, a publicação Indicadores
de desarollo sostenible: marco y metodologia, também conhecido como Livro Azul, tornou-se
um marco no início da consolidação de informações que permitam o monitoramento e
controle do desenvolvimento em busca da sustentabilidade. Desde então, são inúmeros os
trabalhos e as proposições de sistemas ou índices que meçam a sustentabilidade. Várias
nações passaram a construir seu próprio conjunto de indicadores de desenvolvimento
sustentável e o mesmo passou a ocorrer em escala local, tendo diversas cidades buscado
consolidar seus próprios sistemas de informação. Contudo, apesar do progresso na construção
de sistemas de indicadores de sustentabilidade, ainda é grande o desafio de fornecer um
retrato da situação de maneira simples, uma vez que envolve um grande número de
informações de sistemas diferentes, tornando complexa a análise.
Alguns autores consideram necessária a construção de indicadores que inter-
relacionem informações de sistemas diferentes, ao invés de analisá-los isoladamente, dando
uma fotografia do todo e não somente das partes. Segundo Dahl (1997 apud BELLEN, 2005),
o indicador deve medir a função dentro do sistema que melhor represente sua capacidade de
continuar no futuro. No momento presente, a consolidação de conjuntos de indicadores cada
vez mais compreensíveis, cobrindo o estado e as tendências dos fatores econômicos, sociais e
ambientais relevantes à sustentabilidade, provém uma primeira aproximação de onde estamos
e para onde estamos indo (idem). Concordando com Ukaga (2001, p. 28), uma das premissas
do desenvolvimento sustentável é a existência de um apropriado sistema de informações que
permita uma compreensão da situação em que se está operando; descobrir se e como manter
ou modificar tal situação; determinar quais questões levantar sobre a situação; e descobrir
respostas para tais questionamentos‖. Todavia, como destaca Bellen (2005), ao se trabalhar
com indicadores é importante se ter em mente que estes o modelos da realidade, mas não a
realidade em si, devendo ser analiticamente legítimos e construídos dentro de uma
metodologia coerente de mensuração.
62
No próximo capítulo, o avaliados comparativamente trabalhos contemporâneos que
tratam especificamente de indicadores de sustentabilidade urbana. Esta avaliação comparativa
envolverá a discussão sobre quais indicadores foram utilizados e qual a base conceitual que dá
sustentação aos mesmos.
63
CAPÍTULO 3
IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE CASOS DE
INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
Neste capítulo, são analisadas seis propostas de conjuntos de indicadores de
sustentabilidade, sendo três experiências nacionais e três internacionais. A primeira é uma
proposta de um sistema de indicadores comuns europeus. Projeto de parceria entre governos e
o terceiro setor, objetiva a consolidação de uma metodologia de concepção e construção de
indicadores que possibilitem analisar um padrão de desenvolvimento entre distintas
localidades européias. A segunda proposta é um programa iniciado em 1994, na cidade de
Santa Mônica, Califórnia, em que vêm sendo monitoradas estratégias de atuação em direção a
uma relação mais sustentável entre os sistemas ambiental, econômico e social. A terceira
proposta é o conjunto de indicadores de qualidade de vida da cidade de Jacksonville, na
Flórida, que desde 1985 vem sendo aprimorado e utilizado pela comunidade para listar as
prioridades locais, ajudar a medir o progresso da comunidade, formular políticas e ajudar nas
tomadas de decies quanto ao uso dos seus recursos.
A quarta proposta tem como objetivo a construção de um índice de sustentabilidade
local que permita a avaliação e comparação do grau e do padrão de desenvolvimento local,
tendo como recorte empírico a Bacia do Piracicaba, em Minas Gerais. O quinto conjunto de
indicadores é a proposta do Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade
(Orbis), no Paraná. É integrado à Rede Mundial de Observatórios do Habitat, Programa das
Nações Unidas, e representa a primeira experiência mundial de observatório urbano com
apoio de entidades empresariais a buscar condições dignas de vida para todos. Por fim, o
sexto conjunto de indicadores analisado é o proposto pelo Banco do Nordeste do Brasil
(BNB) no seu trabalho Atlas da Sustentabilidade, em que reúne um conjunto de indicadores
nas perspectivas ambiental, econômica, social, institucional e demográfica. Ao todo, as seis
64
propostas somam 253 indicadores, que são agrupados de acordo com as dimensões da
sustentabilidade e analisados por área de atuação na segunda parte deste capítulo.
3.1 Sistemas de indicadores selecionados
3.1.1 Indicadores Comuns Europeus (Europeans Commons Indicators)
O trabalho Indicadores Comuns Europeus
11
é uma iniciativa focada no
monitoramento da sustentabilidade ambiental para o vel local. Projeto financiado pela
Comissão Européia, pelo Ministério do Meio Ambiente e Território da Itália e pela Agência
Nacional de Proteção Ambiental da Itália e coordenado e gerenciado pelo Instituto de
Pesquisas Ambiente Itália, com parceria da Eurocities
12
e Legambiente
13
, entre os anos de
2000 e 2003.
Um conjunto de dez indicadores de sustentabilidade ambiental foi desenvolvido em
parceria com stakeholders, tendo sido desenvolvidas metodologias para coleta de dados para
cada um dos indicadores. As cidades participantes podem publicar e comparar seus dados
com os de outras cidades através do website
14
da Agência Ambiental Europeia o
EnviroWindows‖. Através do uso do site eles automaticamente informam à Agência a
utilização dessa ferramenta e dos serviços relacionados, ambos gratuitos. Até a data do
estudo, 148 municipalidades já tinham aderido ao programa.
O objetivo é desenvolver e testar indicadores que reflitam as ações locais em direção
ao desenvolvimento sustentável de forma integrada aos princípios de desenvolvimento
sustentável assumidos, sendo estes (AMBIENTE ITALIA, 2003, p. 12):
11
Disponível em http://euronet.uwe.ac.uk/www.sustainable-cities.org/indicators/ECI%20Final%20Report.pdf.
12
Fundada em 1986, é uma rede formada por mais de 120 cidades europeias, agrupando mais de 30 países. Provê
uma plataforma em que são compartilhados conhecimentos e idéias, experiências, análise de problemas comuns
e o desenvolvimento de soluções inovadoras através de Fórum, Grupos de Trabalho, Projetos, atividades e
eventos (EUROCITIES, 2006. Website).
13
É uma das associações ambientalistas mais difundidas na Itália, sendo reconhecida pelo Ministério do Meio
Ambiente como uma associação de interesse ambiental, fazendo parte do Bureau Européen de l'Environnement e
da International Union for Conservation of Nature.
14
http://eci.ew.eea.europa.eu/
65
i. Igualdade e inclusão social (acesso a serviços de qualidade e disponíveis a todos
como, por exemplo, educação, emprego, energia, saúde, habitação, treinamento,
transporte);
ii. Governaa/empoderamento/democracia local (participação de todos os setores da
comunidade local no processo de planejamento e tomada de decisão local);
iii. Relação local/global (garantindo necessidades locais, da produção ao consumo e
distribuição, e das necessidades que não possam ser resolvidas localmente de forma
mais sustentável);
iv. Economia local (igualar apties e necessidades locais com disponibilidade de
empregos e outras facilidades, de uma maneira que imponha a mínima ameaça aos
recursos naturais e ao meio ambiente);
v. Proteção ambiental (adotar uma abordagem eco-sistêmica, minimizando o uso de
recursos naturais e terra, geração de lixo e emissão de poluentes, aumento da
biodiversidade);
vi. Herança cultural/qualidade do ambiente construído (proteção, preservação e
reabilitação de valores históricos, culturais e arquitetônicos, incluindo prédios,
monumentos, eventos, aumentando e salvaguardando a atratividade e a funcionalidade
de espaços e prédios).
Com o requisito de integrar no mínimo três dos princípios acima descritos e através de
uma lista de critérios previamente estabelecidos, mais de mil indicadores foram analisados.
As a triagem, os indicadores foram submetidos a diversas rodadas junto a algumas cidades
de maneira que, por fim, estabeleceram-se dez indicadores principais comuns descritos no
Quadro 02 abaixo.
66
QUADRO 02 INDICADORES COMUNS EUROPEUS TEMAS E INDICADORES
TEMA
INDICADOR PRINCIPAL
Satisfação do cidadão com a comunidade
local.
Nível médio de satisfação do cidadão medido
através dos dez componentes desse indicador.
Contribuição local para a mudança
climática global (e/ou pegadas ecológicas
locais).
Emissão anual de CO
2
per capita.
Mobilidade local e transporte de
passageiros.
Percentual de ―viagens com transporte
motorizado particular.
Disponibilidade de locais blicos abertos e
de serviços.
Percentual de pessoas vivendo dentro de 300
metros de uma área pública maior do que
5.000 m2.
Qualidade do ar local.
Número de vezes que o limite de PM10
permitido por direito é excedido.
Jornada da criança de ida e volta à escola.
Percentual de crianças que o à escola de
carro.
Gestão sustentável das autoridades e
empresas locais.
Percentual de organizações que adotaram
procedimentos de gestão ambiental.
Poluição Sonora.
Parcela da população exposta a veis de
barulhos noturnos maiores que 55 dB(A).
Uso sustentável da terra.
Áreas protegidas como percentual do total da
área do município.
Produtos que promovam a sustentabilidade.
Percentual de indivíduos que compram
produtos sustentáveis‖.
Fonte: European Common Indicator Project Report (AMBIENTE ITALIA, 2003, tradução da autora)
O Projeto de Indicadores Comuns Europeus estabeleceu um sistema compartilhado de
indicadores que permite a comparação entre os municípios europeus na finalidade de
estabelecer práticas para a sustentabilidade (AMBIENTE ITALIA, 2003, p. 158). Promove o
uso de indicadores para medir o progresso em direção à sustentabilidade, enfatizando a
necessidade de focar não somente em indicadores de sustentabilidade ambiental, mas também
no desenvolvimento de indicadores de escolha de estilos de vida sustentáveis e qualidade de
vida urbana, de forma a conciliar a sustentabilidade ambiental com o bem-estar social.
Através de um recorte local de análise e posterior comparação entre diferentes cidades
européias, os indicadores são assumidos como instrumentos e ferramentas para o
gerenciamento urbano direcionado à sustentabilidade.
67
Além de já ter sido incorporado em diversas políticas locais de sustentabilidade, o
Projeto tem servido de base metodológica na criação de outros indicadores comuns para
grupos específicos de cidades como exemplo, o grupo das sete maiores cidades dos países
nórdicos. Um dos objetivos da montagem desse sistema de indicadores é servir de suporte à
definição das Estratégias Temáticas sobre o Ambiente Urbano da Comissão Européia
(Thematic Strategy on Urban Environment TS-EU).
No Projeto, são dez as dimensões sugeridas, sendo cada uma o próprio indicador,
dando uma visão da direção à sustentabilidade através de uma leitura conjunta dos dez
indicadores e suas tenncias. As preocupações relativas à qualidade do meio ambiente
(qualidade do ar, poluição sonora, uso sustentável da terra, mudanças climáticas); qualidade
de vida (satisfação com a comunidade local, mobilidade local e transporte de passageiros,
disponibilidade de locais blicos abertos e de serviços); e aspectos como gestão ambiental e
consumo são mesclados, não sendo feita uma divisão por áreas ou grupos temáticos
específicos. As informações monitoradas pelos indicadores cobrem os sistemas considerados
na definição que embasa o projeto, embora, aspectos como igualdade e inclusão social,
segurança e saúde, herança cultural e qualidade do ambiente construído sejam considerados
apenas na composição dos indicadores, não sendo explicitados de forma direta no conjunto
dos indicadores.
3.1.2 Indicadores de Sustentabilidade Urbana da Cidade de Santa Mônica,
Califórnia
A cidade de Santa nica pertence à área metropolitana de Los Angeles, estando a 16
milhas do seu centro e tendo aproximadamente 87 mil habitantes. Possui, desde 1994, um
plano de estratégias e ações voltado ao alcance de um desenvolvimento urbano sustentável
(Sustainable City Plan City of Santa Mônica, 2003). No seu início, o Plano era um
programa para Cidade Sustentável adotado pelo seu Conselho Municipal de forma a dar início
às questões voltadas à sustentabilidade da comunidade. O Programa foi revisto e ampliado em
2003, incorporando novas metas relacionadas à conservação e potencialização dos recursos
naturais locais, salvaguarda da saúde humana e ambiental, manutenção de uma economia
saudável e diversificada e aumento da habitabilidade e qualidade de vida de todos os seus
membros.
68
O Plano de Sustentabilidade da Cidade de Santa Mônica é estruturado para
nos ajudar, enquanto comunidade, a pensar, planejar e agir de forma mais
sustenvel nos ajudar a resolver as raízes dos problemas, em vez dos
seus sintomas, e prover critérios de análise de longo-prazo, ao invés dos
impactos de curto-prazo das nossas decisões em resumo, nos ajudar a
pensar sobre o futuro quando estivermos tomando decisões sobre o presente
(Sustainable City Plan City of Santa nica, 2003, website, tradução da
autora).
No Plano de Sustentabilidade são explicitados nove princípios que fornecem a base
nas quais todas as decisões são tomadas, sendo estes:
i. O conceito de sustentabilidade guia as políticas municipais;
ii. Proteção, preservação e restauração do ambiente natural são de alta prioridade à
cidade;
iii. Qualidade ambiental, saúde econômica e equidade social são mutuamente
dependentes;
iv. Todas as decies m implicações para a sustentabilidade de longo-prazo da Cidade
de Santa Mônica;
v. Consciência comunitária, responsabilidade, participação e educação são elementos-
chave de uma comunidade sustentável;
vi. Santa Mônica reconhece sua ligação com as comunidades regionais, nacionais e
globais;
vii. As questões de sustentabilidade mais importantes para a comunidade serão
primeiramente agendadas, e os programas e políticas mais custo-efetivo serão
selecionados;
viii. A Cidade se compromete a obter decisões as quais minimizem impactos ambientais e
sociais negativos;
69
ix. Parcerias entre setores transversais são necessárias ao alcance de objetivos
sustentáveis.
Com base nesses princípios, o Plano possui oito áreas temáticas de atuação, as quais,
vistas em conjunto, representam o que é assumido por sustentabilidade, sendo: (i)
conservação dos recursos, (ii) saúde pública e ambiental, (iii) transporte, (iv) desenvolvimento
econômico, (v) espaços abertos e uso da terra, (vi) habitação, (vii) educação comunitária e
participação civil; e (viii) dignidade humana.
Para cada uma das áreas foram estipulados dois ou mais objetivos, as metas a serem
alcançadas e formulados indicadores de monitoramento. As metas são representadas como
alvos numéricos a serem atingidos no ano de 2010, tendo como base o ano de 2000 ou, em
casos de dificuldade de acesso ou limitação das informações, as metas numéricas foram
substituídas por tendências na direção do indicador. Utilizam dois tipos de indicadores assim
por eles classificados: os de Sistema, no qual são medidos o estado, a condição e a pressão da
comunidade para cada objetivo; e os indicadores de Programa, que medem a performance ou
efetividade de ações, poticas e programas específicos adotados pela Prefeitura, ou algum
outro stakeholder (City of Santa Monica, 2003, website). Possui uma matriz que relaciona os
objetivos com os indicadores, demonstrando o uso de um mesmo indicador para diferentes
metas, sendo ao todo, 18 objetivos e 66 indicadores.
De maneira a listar os indicadores utilizados no Plano de Sustentabilidade de Santa
Mônica, cada grupo de meta com seus respectivos indicadores encontram-se listados no
Quadro 03 que segue. Através dessa estrutura de indicadores e metas, as oito áreas temáticas
são monitoradas e acompanhadas as tomadas de decisão em direção à sustentabilidade.
Informações completas e detalhadas de cada área, objetivo, meta e indicador, bem como
tendências e estados da sustentabilidade, podem ser acessados no site da Prefeitura de Santa
Mônica.
15
15
Dispovel em http://santa-monica.org/epd/scp/index.htm
70
QUADRO 03 INDICADORES POR GRUPO - PLANO DE
SUSTENTABILIDADE DE SANTA MÔNICA
GRUPOS
INDICADORES
Conservação dos
Recursos
Produção de resíduos sólidos;
Consumo de Água;
Consumo de Energia;
Consumo de Energia Renovável;
Emissão de gases de efeito estufa;
Pegada Ecológica para Santa Mônica;
Indicador de posse sustentável;
Construções verdes;
Saúde Pública e
Ambiental
Bahia de Santa Mônica Fechamento das Praias;
Produção de Águas Residuais (Esgoto);
Milhagem dos Veículos Conduzidos;
Qualidade do Ar;
Resíduos Perigosos Residenciais;
Compras da cidade de materiais perigosos;
Emissão de Gases Poluidores;
Redução de escoamento de águas urbanas (Urban runoff);
Produção orgânica, local e fresca;
Produtos Orgânicos Mercado do Produtor;
Compra de Produtos por Restaurantes;
Escolhas Alimentares;
Transporte
Tipo de Transporte;
Uso residencial de opção de transporte sustentável;
Número suficiente de opções de Transporte;
Ciclovias e Faixas;
Posse de Automóveis;
Usuários de Ônibus;
Veículos movidos a Combustível Alternativo Frota do
município;
Congestionamento de Veículos;
Segurança de Pedestres e Bicicletas;
Impactos do Tráfego na Resposta de Socorro;
Desenvolvimento
Econômico
Diversidade Econômica;
Reinvestimento comercial na comunidade;
Balança de empregos e moradia;
Custo de Vida;
Criação de trabalhos de qualidade;
Disparidade de rendimento;
Eficácia de recursos do comercio local;
Empregabilidade da municipalidade;
71
QUADRO 03 INDICADORES POR GRUPO - PLANO DE
SUSTENTABILIDADE DE SANTA MÔNICA (CONTINUAÇÃO)
GRUPOS
INDICADORES
Espaços Abertos e
Uso da Terra
Espaços Abertos;
Árvores;
Parques Acessibilidade;
Uso da terra e Desenvolvimento;
Vegetação regionalmente apropriada;
Habitão
Disponibilidade de moradia financeiramente acessível;
Distribuição de moradia financeiramente acessível;
Moradias financeiramente acessíveis para grupos de necessidade
especiais;
Produção de Moradias ―Habitáveis;
Produção de Moradias ―verdes‖;
Educação Comunitária e
Participação Civil
Participação do Eleitor;
Participação em Questões Cívicas;
Empoderamento;
Envolvimento da Comunidade;
Voluntariado;
Participação em organizações de Moradores;
Envolvimento comunitário sustentável 1;
Envolvimento comunitário sustentável 2;
Dignidade Humana
Necessidades Básicas Abrigo;
Necessidades Básicas Assistência Médica;
Necessidades Básicas Oportunidade Econômica;
Necessidades Básicas Segurança Pública;
Percepção dos Moradores acerca da Violência;
Casos de Abuso;
Casos de Discriminação;
Educação / Juventude;
Empoderamento;
Capacidade para satisfazer as necessidades básicas;
Fonte: Santa Monica Sustainable Plan, 2003 (Tradução da autora).
A iniciativa da gestão da sustentabilidade da cidade de Santa nica tem um forte
componente ambiental em que a cidade é vista como um sistema composto de subsistemas em
interação, possuindo informações que permitem o controle dos mesmos e suas conexões. Suas
oito áreas de análise cobrem os sistemas e aspectos por eles considerados como alicerces à
sustentabilidade, sendo estes o ambiental, o econômico e o social (aqui englobando aspectos
relacionados à educação, saúde, habitação e participação comunitária).
72
Esta abordagem traz um importante diferencial, significando clareza e objetividade no
que é entendido por cidade sustentável e quais os atributos que esta deve possuir e que
precisam ser alcançados. Essa objetividade permite um monitoramento direcionado a um fim
previamente estipulado, garantindo o conhecimento de quais aspectos estão melhorando ou
o, se estão estáveis ou com informações insuficientes, possibilitando estratégias de longo
prazo. A gestão é compartilhada e o acesso às informações é de domínio blico.
3.1.3 Indicadores de qualidade de vida da cidade de Jacksonville, Florida
Criado em 1985 pelo Jacksonville Community Council Inc., um grupo de mais de cem
líderes de entidades civis, o conjunto de indicadores tem sido utilizado pela comunidade para
listar as prioridades locais, ajudar a monitorar o progresso da comunidade em direção a metas
estabelecidas, formular poticas e ajudar nas tomadas de decisões quanto ao uso dos recursos.
É visto como uma oportunidade para toda a comunidade fazer uma auto-reflexão quanto ao
que melhorou ou regrediu, e que área necessita de um maior envolvimento da comunidade
para alcançar as metas previamente escolhidas.
Os indicadores o percebidos como medidas de qualidade de vida e que refletem uma
combinação de idealismo, entendido como o que seria o ponto ideal, e pragmatismo,
entendido como o ponto factível de ser medido. Tomado em conjunto, o relatório proum
mapa para a comunidade, mostrando onde estava, onde se encontra, e quais as áreas críticas
que necessitam de maior atenção para chegarem, enquanto comunidade, aonde desejam.
Qualidade de vida é definida como o bem-estar, plenitude ou satisfação, resultante de
fatores do ambiente externo. Mesmo que para alguns a qualidade das relações interpessoais
são, mais do que fatores do ambiente externo, o principal fator para a felicidade, o projeto se
concentra no ambiente externo, examinando a qualidade de vida na perspectiva do bem-estar
coletivo.
O conjunto é composto de 107 indicadores, conforme expostos no Quadro 04 abaixo,
que refletem tendências em nove dimensões, sendo estas: Alcançando Excelência
Educacional; Tornando-se uma Economia Pujante; Preservando o Ambiente Natural;
Promovendo o Bem-estar e a Harmonia Social; Desfrutando das Artes, Cultura e Recreação;
73
Mantendo uma Comunidade Saudável; Mantendo um Governo Participativo; Movimentando-
se Eficientemente; Mantendo a Comunidade Segura.
QUADRO 04 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA DE JACKSONVILLE, FLÓRIDA
DIMENSÃO
INDICADORES
Alcançando excelência
educacional
Aprovação do first grade‖ em escolas públicas;
Alunos do third grade que apresentam níveis de leitura
compatíveis com a série frequentada;
Alunos do ―tenth grade‖ que apresentam níveis de leitura
compatíveis com a série frequentada;
Alunos do ―tenth grade‖ que apresentam nível de matemática
compatíveis com a série frequentada;
Estudantes frequentando escolas racialmente equilibradas;
Falta de alunos por 21 dias ou mais;
Taxa de formandos de público Ensino Médio (high school);
Taxa de abandono do Ensino Médio (high school);
Resultado do abandono do Ensino Médio (high school) em
termos educacionais;
Resultado do abandono do Ensino Médio (high school) em
termos de empregabilidade;
Alunos saídos do Ensino Médio (high school) que trabalham ou
estão na faculdade;
Alunos saídos do Ensino Médio (high school) preparados para a
faculdade;
Concessão de graus educacionais mais elevados;
Adultos com grau de bacharel ou superior;
Nível de satisfação com a educação pública;
Alunos excepcionais que recebem diplomas;
Tornando-se uma
economia pujante
Taxa de variação líquida de emprego (Net employment growth);
Média salarial anual;
Taxa de desemprego;
Pedido de salário desemprego;
Rendimento per capita;
Crianças em programas de almoço gratuitos ou com valores
reduzidos;
Recebedores de assistênciablica;
Habitação unifamiliar‖ (single-family home) financeiramente
acessível;
Média familiar mensal com gastos de energia, água, esgoto e/ou
aquecimento;
74
QUADRO 04 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA DE JACKSONVILLE, FLÓRIDA
(CONTINUAÇÃO)
GRUPO
INDICADORES
Tornando-se uma
economia pujante
(continuação)
Início de novas construções;
Valor total tributável de imóveis;
Tonelagem manejada pelos terminais marinhos;
Turismo (tal como medido pelos ganhos do Bed-Tax
16
);
Preservando o ambiente
natural
Dias em que o índice de qualidade do ar atinge o vel ―bom‖;
Galões de combustível vendidos por pessoa;
Córregos apresentando níveis aceitáveis de oxigênio dissolvido;
Córregos apresentando níveis aceitáveis de bactéria;
Média de consumação mensal de água;
Nível de água no aqüífero da Flórida;
Emissão de novas autorizações para fossas sépticas;
Quantidade de lixo reciclado por pessoa;
Promovendo bem-estar e
a harmonia social
O racismo é um problema local?
Você já sofreu racismo?
Você é um voluntário?
Filantropia dada a campanhas federadas;
Número de partos de mães adolescentes para cada 1,000
adolescentes;
Reincidência de gravidez na adolescência;
Número de partos de mães com 12 anos de educação;
Crianças de pais divorciados;
Crianças adotadas a cada 10,000 crianças;
Tempo de estada em uma casa de adoção;
Número de sem teto a cada 100,000 pessoas;
Desfrutando das artes,
cultura e recreação
Apresentações públicas/eventos
Freqüência em apresentações musicais
Apoio público e privado as artes
Freqüência ao museu
Freqüência a eventos esportivos
Atracadouro (Boat ramps)
Acres para estacionamento público
16
Bed tax taxa imposta pelo governo local aos hotéis que se encontram dentro de sua jurisdição. A bed-tax é
a maneira do governo local arrecadar impostos sem suscitar a ira dos eleitores, visto que, por definição, as
pessoas que pagam o imposto são de fora da circunscrição eleitora onde estão hospedadas. Fonte:
http://www.hometravelagency.com/dictionary/bed-tax.html
75
QUADRO 04 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA DE JACKSONVILLE, FLÓRIDA
(CONTINUAÇÃO)
GRUPO
INDICADORES
Desfrutando das artes,
cultura e recreação
(continuação)
Gasto de parques para atividades e manutenção
Utilização da biblioteca (medido pelo número de circulação de
pessoas)
Mantendo uma
comunidade saudável
Mortes devido à condição coronária em cada 100,000
habitantes;
Mortes de Câncer em cada 100,000 habitantes;
Recém nascidos com peso considerado saudável;
Acompanhamento pré-natal;
Taxa de mortalidade infantil para cada 1,000;
Disparidade racial na morte de crianças;
Taxa de suicídio entre idosos;
Idosos se sentem seguros em seus bairros;
Pessoas sem plano de saúde;
Plano de saúde de Jacksonville classificado como de alta
qualidade;
Novos casos diagnosticados de AIDS para cada 100,000
habitantes;
Mortes relacionadas à HIV/AIDS;
Disparidade Racial entre portadores de HIV;
Casos relatados de doenças sexualmente transmissíveis;
Carteiras de cigarro vendidas por habitante;
Número de mortes de câncer de pulmão para cada 100,000
habitantes;
Casos relatados de uso de álcool por jovens;
Mantendo um governo
participativo
Registro de eleitor;
Número de eleitores;
Você pode influenciar o governo local?
Organizações de bairro;
Nível de satisfação com serviços básicos fornecidos pelo
município;
Nível de satisfação com serviços de segurança pública;
Acompanha a notícias do governo local;
Você pode citar o nome de dois membros do conselho
municipal?
Liderança eleita classificada como de alta qualidade;
Liderança do conselho educacional (School Board) classificada
como de alta qualidade;
Diversidade Racial dos indivíduos eleitos;
Diversidade de gênero dos indivíduos eleitos;
76
QUADRO 04 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA DE JACKSONVILLE, FLÓRIDA
(CONTINUAÇÃO)
GRUPO
INDICADORES
Movimentando-se
eficientemente
Milhagem média em dias úteis do service de ônibus da
Autoridade de Transportes de Jacksonville (JTA);
Média de passageiros da Autoridade de Transportes de
Jacksonville (JTA) em dias úteis;
Percursos de ônibus da Autoridade de Transportes de
Jacksonville (JTA) que leva de 30/60 minutos;
Média de usuários de passarelas em dias úteis;
Duração de percurso casa/trabalho de 25 minutos ou menos;
Destinos servidos com vôos sem paradas que partem do
Aeroporto Internacional Jacksonville (JIA);
Média de assentos disponíveis nos vôos por dia;
Total de passageiros saindo ou chegando do Aeroporto
Internacional Jacksonville (JIA) por ano;
Mantendo a comunidade
segura
Índice de criminalidade para cada 100,000 habitantes;
Pessoas afirmando terem sido timas de um crime;
Pessoas se sentindo seguras em seus bairros;
Tempo de resposta da polícia em menos de 5 minutos;
Tempo de resposta de resgate em menos de 4 minutos;
Tempo de resposta dos bombeiros em menos de 4 minutos;
Número de delinquentes juvenis para cada 1,000 jovens;
Prisões de jovens ocasionadas por álcool ou drogas para cada
1,000 jovens;
Denúncias de abuso infantil para cada 1,000 crianças;
Violações sérias de conduta de estudantes;
Denúncias de crimes relacionados à violência doméstica;
Homicídios relacionados à violência doméstica;
Acidentes de veículos automotores para cada 1,000 habitantes;
Mortes violentas para cada 10,000 jovens;
Fonte: Quality of Life Progress Report, Jacksonville, 2007 (Tradução da autora).
3.1.4 Índice de Sustentabilidade Urbana da Bacia do Piracicaba, Minas Gerais
O quarto estudo de caso é o índice de sustentabilidade urbana proposto pelo grupo de
pesquisas do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal
de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG). O estudo propõe a construção de índices de
sustentabilidade local possíveis de serem aplicados em diferentes localidades. A região
empírica de análise é a Bacia do Piracicaba, em Minas Gerais. Assume como conceito de
77
desenvolvimento sustentável uma combinação entre as definições adotadas pelo Fórum
Urbano Mundial Urban World Forum, 2002 e pela terceira das matrizes discursivas
proposta por Acselrad (2001) de forma que um município
é considerado mais ou menos sustentável à medida que é capaz de manter ou
melhorar a saúde do seu sistema ambiental, minorar a degradação e o
impacto antrópico, reduzir a desigualdade social e prover os habitantes de
condições básicas de vida, bem como um ambiente saudável e seguro, e
ainda de construir pactos políticos que permitam enfrentar desafios presentes
e futuros. Ademais, para ser considerada sustentável, não é suficiente que
confira a seus habitantes condições ambientais equilibradas, mas que o faça
mantendo baixos níveis de externalidades negativas sobre outras regiões
(próximas ou distantes) e sobre o futuro (BRAGA, 2004, p. 13).
Dada a definição, é proposto, então, um índice de sustentabilidade urbana composto de
quatro índices temáticos divididos entre indicadores de estado-pressão-resposta, sendo estes:
(i) qualidade do sistema ambiental local; (ii) qualidade de vida; (iii) redução do impacto, ou
pressão antrópica; e (iv) capacidade potica e institucional. Por qualidade do sistema
ambiental, compreende a saúde do sistema ambiental local medida através da qualidade da
água e biota do rio, uma vez que serve de registro das alterações e agressões ocorridas em sua
bacia de drenagem indicador de estado. Por qualidade de vida compreende a qualidade da
vida humana, medida através de indicadores de nutrição, abrigo e saúde; e a qualidade do
ambiente construído no momento atual, medida através de indicadores de conforto ambiental
urbano e qualidade da habitação indicador de estado.
O terceiro índice temático, redução do impacto antrópico, é compreendido como a
medida do estresse interno às cidades e no seu entorno decorrente das intervenções antrópicas
sobre o sistema ambiental local indicador de pressão. Por fim, o último índice temático,
capacidade política e institucional, é compreendido como a capacidade dos sistemas político,
institucional e cultural locais de enfrentar os desafios e as barreiras em direção à
sustentabilidade indicador de resposta. No Quadro 05 abaixo se encontram listados os
indicadores que come cada índice temático.
78
QUADRO 05 ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE URBANA: ÍNDICES TEMÁTICOS E
INDICADORES.
ÍNDICE TEMÁTICO
INDICADOR
Qualidade de Vida Humana
1. Qualidade da habitação
2. Condições de vida
3. Renda
4. Saúde e segurança ambiental
5. Serviços sanitários
Qualidade do Sistema Ambiental
6. Qualidade da água
Pressão Antrópica
7. Pressão urbana
8. Pressão industrial
9. Pressão agropecuária
10. Cobertura vegetal
Capacidade Institucional
11. Autonomia potico-administrativa
12. Gestão pública municipal
13. Gestão ambiental
14. Informação e participação
Fonte: Índices de Sustentabilidade Municipal (BRAGA, 2004).
Os dados que comem as variáveis utilizadas no lculo de cada indicador foram
selecionados a partir de uma revisão bibliográfica e no projeto Biodiversidade, População e
Economia (PAULA apud BRAGA, 2004). Para a seleção, foram assumidos como critérios de
escolha a relevância das varveis em traduzir os fenômenos; a aderência local, isto é, a
capacidade do dado em captar o fenômeno produzido ou passível de transformação no plano
local; a disponibilidade (cobertura e atualidade dos dados); a capacidade de permitir
comparações temporais; e a possibilidade de cálculo em outras localidades (BRAGA, 2004).
Na medida do possível, utilizaram informações consolidadas ou existentes (por exemplo, o
uso do IDH) ou, então, proxies (o índice de qualidade das águas é tomado como proxy para a
qualidade do sistema ambiental local).
A não utilização de pesos diferentes nos lculos dos indicadores e dos índices
temáticos se deve ao fato da ausência de consenso científico sobre o peso específico das
contribuições relativas de cada varvel para o fenômeno sustentabilidade(BRAGA, 2004,
79
p. 21), critério assumido no trabalho Environmental Sustainability Index (ESI) (2002),
17
o qual
o estudo toma como base.
O estudo concluiu através da aplicação dos índices em municípios da Bacia do
Piracicaba que nenhum deles apresenta padrão de desenvolvimento sustentável, tendo em
todos eles alguns indicadores com desempenho inferior à média e evidenciando-se um trade-
off entre desenvolvimento e qualidade ambiental. No entanto, o estudo sugere ser possível
enfrentar e superar esse trade-off e construir um padrão de desenvolvimento mais sustentável
(BRAGA, 2004). Dessa forma, mesmo através da utilização de informações já existentes em
diferentes escalas, períodos e cobertura, o estudo demonstrou a possibilidade de construção de
um sistema coeso e coerente de indicadores para a avaliação do padrão de desenvolvimento
sustentável local e para a comparação entre localidades distintas.
Ao agrupar os indicadores em quatro dimensões de análise, transformando cada uma
em um índice temático específico de estado, pressão e resposta, é possibilitada uma análise do
grau de sustentabilidade, como também uma leitura específica de qual dimensão contribui
mais, ou menos, na trajetória do sistema rumo à sua sustentabilidade, deixando clara a
importância das relações entre os sistemas envolvidos. A iniciativa traz uma válida
experiência metodológica na triagem de estatísticas e no uso das mesmas na produção de
indicadores que, em conjunto, fornecerão uma leitura do grau de sustentabilidade urbana,
podendo ser aplicado em distintas localidades.
Contudo, apesar do trabalho não ter apenas um enfoque ambiental, dando destaque às
questões sociais e institucionais como importantes no processo do desenvolvimento
sustentável, nenhuma menção é feita sobre a sustentabilidade do patrimônio cultural, ou da
importância da cultura. As questões relativas ao legado histórico e cultural das cidades e,
nesse caso, da região, o são consideradas na definição e no monitoramento da
sustentabilidade urbana.
17
Trabalho desenvolvido pelas Universidades de Yale e Columbia. Propõe um ranking de países através de um
conjunto de indicadores relativos a desenvolvimento e meio ambiente.
80
3.1.5 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de Curitiba
O Orbis constitui o esforço de instituições do Para no avanço de questões referentes
ao desenvolvimento sustentável. Desde 2004, tem a missão de contribuir com a promoção do
desenvolvimento sustentável, em parceria com atores sociais, públicos e privados,
organizando e monitorando sistemas de indicadores de sustentabilidade; produzindo estudos,
análises e conhecimento; apoiando processos de reflexão e a tomada de decisão sobre os
rumos do desenvolvimento regional (OBSERVATÓRIO REGIONAL BASE DE
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE - ORBIS, 2008).
O Orbis é integrado à Rede Mundial de Observatórios do Habitat, do Programa das
Nações Unidas sendo um programa do Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD),
18
apoiado pelo Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e certificado pelo
Observatório Global Urbano da Organização das Nações Unidas. Os indicadores agrupados
pelo Orbis são norteados pela Agenda Habitat e pelos oito Objetivos do Milênio presentes na
Declaração do Milênio das Nações Unidas. Estes objetivos foram definidos na Assembléia
Geral do Milênio, promovida pela ONU em setembro de 2000, em Nova York, reunindo 147
Chefes de Estado e de Governo de 191 países.
Para monitorar os oito Objetivos do Milênio, o Observatório selecionou parte dos 48
indicadores estabelecidos pela ONU, seguindo o critério de adequá-los à realidade da Região
Metropolitana de Curitiba, para serem aplicados na formulação de políticas e planejamento
estratégico dos municípios. Em 2005, o mapeamento se estendeu para o restante do Estado e
teve como objetivo apontar as áreas mais carentes ou críticas que mereciam receber a
intervenção imediata de organismos blicos. Neste sentido, a equipe do Orbis realizou o
levantamento do perfil das localidades de sua área de abrangência, utilizando dados
disponibilizados por institutos de pesquisa que sinalizam as condições dos municípios e de
vida da população, utilizando indicadores.
O desenvolvimento sustentável é assumido pelo programa como sendo o
desenvolvimento social, ambiental e ecomico, dentro de uma relação sistêmica. Utiliza 34
indicadores, apresentados no Quadro 06 abaixo, que têm como fonte o IBGE, a PNAD,
18
Disponível em http://www.ipd.org.br/
81
Datasus, Secretaria do Meio Ambiente do Estado, o Ministério da Educação, a Pesquisa de
Orçamento Familiar.
QUADRO 06 OBJETIVOS DO MILÊNIO, REGIÃO METROPOLITANA CURITIBA ORBIS
GRUPO
INDICADORES
Acabar com a fome e a
miséria
Proporção da população com renda familiar mensal per capita
inferior a ½ salário nimo;
Intensidade da pobreza (incidência x grau de pobreza);
Participação dos 20% mais pobres da população na renda ou
no consumo nacional;
Prevalência de crianças (com menos de 5 anos) abaixo do
peso;
Proporção da populão que consome calorias abaixo do
mínimo recomendado;
Educação básica de
qualidade para todos
Taxa de freqüência líquida no ensino fundamental;
Proporção de alunos que iniciam o 1.º e atingem o 5.º ano;
Taxa de alfabetização na faixa etária de 15 a 24 anos;
Igualdade entre sexos e
valorização da mulher
Razão meninas/meninos no ensino fundamental, médio e
superior;
Razão entre mulheres e homens alfabetizados na faixa etária
de 15 a 24 anos;
Percentagem de mulheres assalariadas no setor não-agrícola;
Proporção de mulheres exercendo mandatos no parlamento
nacional;
Reduzir a mortalidade
infantil
Taxa de mortalidade de crianças menores de 5 anos;
Taxa de mortalidade infantil;
Proporção de crianças de 1 ano vacinadas contra o sarampo;
Melhorar a saúde das
gestantes
Taxa de mortalidade materna;
Proporção de partos assistidos por profissionais de saúde
qualificados;
82
QUADRO 06 OBJETIVOS DO MILÊNIO, REGIÃO METROPOLITANA CURITIBA ORBIS
(CONTINUAÇÃO)
GRUPO
INDICADORES
Combater a Aids e outras
doenças
Taxa de prevalência de HIV/Aids entre mulheres grávidas na
faixa etária de 15 a 24 anos;
Utilização de anticoncepcionais;
Número de crianças órfãs devido à Aids;
Taxas de prevalência e de mortalidade ligadas à malária;
Proporção da população das zonas de risco que utilizam meios
de proteção e de tratamento eficazes contra a malária;
Taxas de prevalência e de mortalidade ligadas à tuberculose;
Proporção de casos de tuberculose detectados e curados no
âmbito de tratamentos de curta duração sob vigilância direta;
Qualidade de vida e
respeito ao meio ambiente
Proporção da área de terras cobertas por florestas;
Área de terras protegidas para manter a diversidade biológica;
PIB por unidade de dispêndio de energia (como padrão para a
eficiência energética);
Emissões de Dióxido de Carbono per capita (Duas outras
formas de medir a poluição atmosférica: destruição da
Camada de Ozônio e a acumulação de gases causadores do
aquecimento global);
Proporção da população usando combustívellido;
Proporção da população com acesso sustentável a uma fonte
de água tratada;
Proporção de pessoas com acesso a melhores condições de
saneamento;
Proporção de pessoas com acesso ao direito de propriedade;
Parcerias Todo mundo
trabalhando pelo
desenvolvimento
Taxa de desemprego entre os jovens com idade de 15 a 24
anos;
Linhas telefônicas por 1.000 habitantes;
Computadores pessoais por 1.000 habitantes;
Fonte: Objetivos do Milênio, Região Metropolitana de Curitiba, ORBIS, 2007.
3.1.6 Atlas da Sustentabilidade: Indicadores Municipais do Banco do Nordeste
Com o objetivo de subsidiar a formulação de estratégias de desenvolvimento na área
de atuação do BNB, o Atlas da Sustentabilidade reúne um conjunto de indicadores nas
perspectivas ambiental, econômica, social, institucional e demográfica. Tem como papel
fundamental a promoção da espacialização dos indicadores por município e apresentar dados
de forma gráfica, permitindo um entendimento mais rápido e dinâmico dos 1.793 municípios
83
do terririo nordestino. Esse tipo de análise espacializada das informações permite a
identificação mais precisa das áreas com maior necessidade de investimentos.
Possui cinco dimensões de análise, sendo estas (BNB, 2005, p.7):
i. Econômica indicadores que buscam refletir o desempenho econômico municipal;
ii. Demográfica indicadores que buscam captar a dinâmica dos movimentos
demográficos;
iii. Social indicadores que buscam expressar as condições de vida da população
residente;
iv. Ambiental indicadores que combinam rias formas de pressão antrópica,
considerando-se o uso das terras e as atividades urbanas;
v. Institucional indicadores que buscam captar o grau de participação da população
no encaminhamento dos problemas da comunidade;
A metodologia adotada resume-se na definição de indicadores escalonados em
dimensões e componentes que são organizados e geram bases de informação, dados e
conhecimentos (ibid, 2005). Os dados foram elaborados através de estatísticas e informações
socioeconômicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), extraídas dos
Censos de 1991 e 2000, além de levantamentos agropecuários feitos pelo instituto nos
municípios em 2002, 2003 e 2005, bem como de outras entidades e institutos técnicos do país.
No Quadro 07 abaixo, encontram-se listadas as cinco dimensões de análise com seus
respectivos componentes e indicadores.
84
QUADRO 07 ATLAS DE SUSTENTABILIDADE - DIMENSÃO, COMPONENTE, INDICADOR.
DIMENSÃO
COMPONENTE
INDICADOR
Econômica
Desempenho da Agropecuária
Índice de Produtividade da Atividade
Agrícola;
Índice de Produtividade da Pecuária;
Formalização do Mercado de
Trabalho
Índice de Formalização do Mercado de
Trabalho;
Produtividade Geral
Índice de Produtividade das Atividades
Econômicas;
Importância dos Empregos
Formais no Turismo
Índice de Importância Absoluta dos
Empregos Formais no Turismo;
Índice de Importância Relativa dos
Empregos Formais no Turismo;
Demográfica
Crescimento Demográfico
Taxa de Crescimento Demográfico;
Contribuição ao Crescimento
Taxa de Contribuição ao Crescimento
Demográfico no Brasil;
Social
Educação
Índice de Desenvolvimento Humano
Educação;
Saúde
Índice de Desenvolvimento Humano
Saúde;
Renda
Índice de Desenvolvimento Humano
Renda;
Ambiental
Pressão Antrópica IPA
Uso das Terras
Taxa de Exploração Agrícola;
Taxa de Exploração da Pecuária;
Taxa de Exploração do Extrativismo
Vegetal e Silvicultura;
Pressão Antrópica IPA
Urbano
Índice de Pressão Populacional Urbana;
Índice de Pressão Industrial Urbana;
Índice de Pressão Veicular Urbana;
Resposta à Pressão Antrópica
IRPA Saneamento
Índice de Coleta e Tratamento de Esgoto;
Índice de Coleta e Tratamento de Lixo;
Institucional
Qualidade Institucional
Índice de Participação;
Índice de Capacidade Financeira;
Índice de Capacidade Gerencial;
Fonte: Atlas de Sustentabilidade, BNB, 2005.
85
3.2 Avaliação das categorias, temas e indicadores de desenvolvimento sustentável
Foram analisadas seis propostas de sistemas de indicadores de desenvolvimento
sustentável para o recorte municipal, sendo três casos nacionais e três experiências
internacionais. Percebem-se semelhanças e diferenças entre cada caso no que toca à escolha
dos componentes que sustentam a visão de desenvolvimento sustentável local. Todos os
trabalhos contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento de indicadores e/ou índices,
e as dimensões de análise escolhidas, de forma geral, acompanham os propósitos inseridos
nos conceitos e princípios, estando coerentes com as visões de sustentabilidade adotadas.
Metodologicamente, todos os seis conjuntos estudados partiram de uma definição, ou
de princípios guias, de desenvolvimento sustentável, ou qualidade de vida, em que foram
destacadas as áreas que seriam monitoradas para o cumprimento de metas preestabelecidas,
ou apenas para o acompanhamento das ações locais e seus impactos. Uma vez com a
definição dessas áreas ou dimensões, foram construídos os indicadores que melhor as
representariam.
A fonte das variáveis que constituem os indicadores diferiu entre os casos estudados.
No caso europeu e no de Santa nica, os indicadores foram construídos através de
levantamento estatístico próprio; no caso dos Indicadores de Qualidade de Vida de
Jacksonville os indicadores foram construídos através de um mix entre dados oficiais e de
estatísticas próprias; no caso dos Indicadores de Curitiba e do Atlas de Sustentabilidade do
BNB, foram utilizadas fontes governamentais e estatísticas nacionais existentes e
consagradas; e, por fim, no caso da proposta do Índice de Sustentabilidade Urbana, de Minas
Gerais, as variáveis que compõem os indicadores foram selecionadas a partir de revisão
bibliográfica de estudos específicos. No Quadro 08 abaixo, encontra-se um comparativo dos
trabalhos analisados.
86
QUADRO 08 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE CASO
PROPOSTA
DEFINIÇÃO DE
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
ÁREAS
NÚMERO
DE
INDICADORES
FONTES
Indicadores
Comuns
Europeus
Baseia-se em seis
princípios, que inclui:
Igualdade e inclusão
social; governança;
relação local/global;
Economia local;
Proteção ambiental;
Herança cultural e
qualidade do
ambiente construído.
(i) Satisfação do cidadão com
a comunidade local, (ii)
Contribuição local para a
mudança climática global
(e/ou pegadas ecológicas
locais), (iii) Mobilidade local
e transporte de passageiros,
(iv) Disponibilidade de locais
públicos abertos e de serviços,
(v) Qualidade do ar local, (vi)
Jornada da criança de ida e
volta à escola, (vii) Gestão
sustentável das autoridades e
empresas locais, (viii)
Poluição Sonora, (ix) Uso
sustentável da terra, (x)
Produtos que promovam a
sustentabilidade.
10
Construção
própria
Sistema de
indicadores de
sustentabilidade
urbana da
cidade de Santa
Mônica,
Califórnia
A capacidade de a
cidade poder
continuar a satisfazer
suas necessidades
ambientais,
econômicas e sociais
sem comprometer a
possibilidade das
gerações futuras de
fazerem o mesmo,
significando
conservar e melhorar
os recursos locais,
salvaguardar a saúde
humana e ambiental,
manter uma
economia saudável e
diversificada, e
aumentar a qualidade
de vida e de moradia
(livability) para todos
os membros da
comunidade.
(i) conservação dos recursos,
(ii) saúde pública e ambiental,
(iii) transporte, (iv)
desenvolvimento econômico,
(v) espaços abertos e uso da
terra, (vi) habitação, (vii)
educação comunitária e
participação civil; e (viii)
dignidade humana.
66
Própria
87
QUADRO 08 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE CASO (CONTINUÃO)
PROPOSTA
DEFINIÇÃO DE
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
ÁREAS
NÚMERO
DE
INDICADORES
FONTES
Indicadores de
qualidade de
vida Jacksonville
Flórida
Definido através da
visão de qualidade de
vida, referindo-se ao
bem-estar, plenitude
ou satisfação,
resultante de fatores
do ambiente externo.
(i) Alcançando uma
excelência educacional; (ii)
Tornando-se uma economia
pujante; (iii) Preservando o
meio ambiente; (iv)
Promovendo bem estar e a
harmonia social; (v)
Desfrutando das artes, cultura
e recreação; (vi) Mantendo
uma comunidade saudável;
(vii) Mantendo um governo
participativo; (viii)
Movimentando-se
eficientemente; (ix) Mantendo
a comunidade segura.
107
Dados oficiais
e de origem
própria
Índice de
Sustentabilidade
Urbana Bacia
do Piracicaba
Um município ―é
considerado mais ou
menos sustentável à
medida que é capaz
de manter ou
melhorar a saúde do
seu sistema
ambiental, minorar a
degradação e o
impacto antrópico,
reduzir a
desigualdade social e
prover os habitantes
de condições básicas
de vida, bem como
um ambiente
saudável e seguro, e
ainda de construir
pactos políticos que
permitam enfrentar
desafios presentes e
futuros. Ademais,
para ser considerada
sustentável, não é
suficiente que confira
a seus habitantes
condições ambientais
equilibradas, mas que
o faça mantendo
baixos níveis de
externalidades
negativas sobre
outras regiões
(próximas ou
distantes) e sobre o
futuro‖.
(i) Qualidade de Vida
Humana, (ii) Qualidade do
Sistema Ambiental, (iii)
Pressão Antrópica, (iv)
Capacidade Institucional.
14
Selecionadas
a partir de
uma revisão
bibliográfica e
no projeto
Biodiversidad
e, População
e Economia.
88
QUADRO 08 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE CASO (CONTINUÃO)
PROPOSTA
DEFINIÇÃO DE
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
ÁREAS
NÚMERO
DE
INDICADORES
FONTES
Indicadores de
Desenvolvimento
Sustentável de
Curitiba
Entendido como o
desenvolvimento
social, ambiental e
econômico numa
relação sistêmica.
(i)Acabar com a fome e a
miséria; (ii) Educação básica
de qualidade para todos; (iii)
Igualdade entre sexos e
valorização da mulher; (iv)
Reduzir a mortalidade infantil;
(v) Melhorar a saúde das
gestantes; (vi) Combater a
Aids e outras doenças; (vii)
Qualidade de vida e respeito
ao meio ambiente; (viii)
Parcerias Todo mundo
trabalhando pelo
desenvolvimento.
34
IBGE, a
PNAD,
Datasus,
Secretaria do
Meio
Ambiente do
Estado, MEC,
Pesquisa de
Orçamento
Familiar.
Atlas de
Sustentabilidade
BNB
Vista atras de cinco
dimenes:
econômica,
demográfica, social,
ambiental e
institucional.
(i) Econômica, (ii)
Demográfica, (iii) Social, (iv)
Ambiental e (v) Institucional.
22
IBGE, RAIS,
IDH
Fonte: Construção própria.
Em seguida, em cada caso foram separados os indicadores segundo as dimensões de
sustentabilidade apontadas por Sachs (1994) Ambiental, Social, Econômica, Institucional e
Cultural a fim de se ter uma visão de indicadores por cada dimensão de análise. Em função
da grande diversidade de conceitos e definições de indicadores nos casos estudados, utilizou-
se como parâmetro para a separação dos indicadores por dimensão do desenvolvimento
sustentável o trabalho Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, do IBGE (2008).
Neste estudo, o IBGE trabalha apenas com as quatro primeiras dimensões, estando
assim constitdas: (i) dimensão ambiental, fornecendo informações relacionadas ao uso dos
recursos naturais e à degradação ambiental, englobando questões sobre atmosfera, terra, água
doce, mares e áreas costeiras, biodiversidade e saneamento; (ii) dimensão social, abrangendo
os indicadores nos temas população, trabalho e rendimento, saúde, educação, habitão e
segurança, vinculados à satisfação das necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e
justiça social; (iii) dimensão econômica, fornecendo indicadores que retratam o desempenho
89
macroeconômico e financeiro e os impactos no consumo de recursos materiais e uso de
energia mediante a abordagem dos temas quadro econômico e padrões de produção e
consumo; por último, (iv) dimensão institucional, desdobrada nos temas quadro institucional e
capacidade institucional, oferecendo informações sobre a orientação potica, a capacidade e
os esforços realizados com vista às mudanças necessárias para a implementação do
desenvolvimento sustentável.
A dimensão cultural do desenvolvimento sustentável não é contemplada no trabalho
de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, do IBGE. De forma a manter uma
padronização nas definições e delimitações dos indicadores por área de análise, a classificação
da dimensão cultural está baseada em outra publicação do IBGE, o conjunto Indicadores
Culturais (2007). Nele, as informações que come o conjunto de indicadores culturais para o
Brasil se referem aos principais aspectos da oferta e da demanda de bens e serviços culturais,
a posse de bens duráveis relacionados à cultura pelas famílias brasileiras, os gastos públicos
com cultura e o perfil socioeconômico da mão-de-obra ocupada em atividades culturais.
Alguns dos indicadores estudados nos seis conjuntos não estão contemplados nas
definições do IBGE, como é o caso das questões relacionadas ao transporte e à mobilidade.
Nesse caso, optou-se por enquadrar tais indicadores dentro da dimensão ambiental, uma vez
que se compreende que o impacto ambiental das emissões de gases é de extrema relevância
para o estudo e controle do efeito estufa, estando o volume de gás carbônico emitido pelos
veículos urbanos entre os mais altos.
Assim, os indicadores foram agrupados de acordo com as cinco dimensões da
sustentabilidade para cada um dos seis conjuntos de indicadores estudados. Tal agrupamento
permite visualizar quais as dimensões que estão sendo mais consideradas no monitoramento
do desenvolvimento sustentável local. O agrupamento encontra-se no Quadro 09 abaixo.
90
QUADRO 09 NÚMERO DE INDICADORES POR DIMENSÃO DA SUSTENTABILIDADE
SEGUNDO PROGRAMA
DIMENSÃO
PROGRAMA
AMBIENTAL
SOCIAL
CULTURAL
ECONÔMICA
INSTITUCIONAL
Indicadores
Comuns Europeus
07
01
0
04
01
Indicadores de
Qualidade de Vida
Jacksonville
16
57
09
0
12
Indicadores de
Sustentabilidade de
Santa Mônica
33
31
0
07
03
Índice de
Sustentabilidade
Minas Gerais
05
05
0
02
04
Indicadores de
Sustentabilidade de
Curitiba
08
26
0
0
0
Atlas de
Sustentabilidade
BNB
08
05
0
06
03
Total
77
125
09
19
23
Fonte: Construção própria
Quando analisados em conjunto, os casos estudados têm na dimensão social o maior
número de indicadores, 125, representando aproximadamente 49% do total de 253
indicadores. Em seguida, vem a dimensão ambiental, com 77 indicadores, representando
aproximadamente 30%. Os 21% restantes englobam 23 (9%) indicadores na dimensão
institucional, 19 (8%) indicadores na dimensão econômica e 09 (4%) indicadores na dimensão
cultural.
Após a divisão dos indicadores entre as cinco dimensões da sustentabilidade, o passo
seguinte foi separar os indicadores por área específica de atuação, de forma a permitir a
91
verificação de quais os aspectos estão sendo monitorados dentro de cada dimensão.
Novamente, as informações foram agrupadas de acordo com as definições oficiais utilizadas
pelo IBGE para cada área. Alguns indicadores não se enquadram nas definições utilizadas
pelo IBGE, sendo separados no grupo Outros. No Quadro 10 abaixo, encontram-se listados os
números de indicadores por área de atuação para cada dimensão do desenvolvimento
sustentável.
QUADRO 10 NÚMERO DE INDICADORES SEGUNDO ÁREA PARA CADA DIMENSÃO DA
SUSTENTABILIDADE
DIMENSÃO
AMBIENTAL
SOCIAL
ECONÔMICA
CULTURAL
INSTITUCIONAL
Número de
Indicadores por
Área Específica
Poluição
atmosférica
06
Segurança
19
Consumo
04
Frequência aos
Serviços Culturais
e Esportivos
04
Gestão
ambiental
02
Transporte e
mobilidade
25
Habitão
12
Produção
08
Número de
eventos públicos
01
Informação e
Participação
12
Qualidade e
consumo de
água
08
Renda
11
Mercado de
Trabalho
01
Apoio Público e
Privado para as
artes
01
Gestão
pública
municipal
04
Resíduos
lidos
04
População
02
Turismo
03
Outros
03
Outros
05
Saneamento
04
Educação
23
Outros
03
____
____
Área
protegida e
cobertura
vegetal
10
Trabalho
06
____
____
____
92
QUADRO 10 NÚMERO DE INDICADORES SEGUNDO ÁREA PARA CADA DIMENSÃO DA
SUSTENTABILIDADE (CONTINUAÇÃO)
DIMENSÃO
AMBIENTAL
SOCIAL
ECONÔMICA
CULTURAL
INSTITUCIONAL
Número de
Indicadores por
Área Específica
Poluição
sonora
01
Saúde
35
____
____
____
Uso de
energia
03
Participação
social
10
____
____
____
Outros
16
Outros
07
____
____
____
Fonte: Construção própria.
Assim se observa que a dimensão ambiental está representada por indicadores de
poluição atmosférica, qualidade e consumo da água, resíduos sólidos, saneamento, área
protegida e cobertura vegetal, poluição sonora, uso de energia, transporte e mobilidade. No
caso da dimensão cultural, esta possui indicadores de Frequência aos Serviços Culturais e
Esportivos, mero de Eventos Públicos, Apoio Público e Privado para as Artes e Outros. A
dimensão econômica possui indicadores de Consumo, Produção, Mercado de Trabalho,
Turismo e Outros. A dimensão social possui indicadores de Segurança, Habitação, Renda,
População, Educação, Trabalho, Saúde, Participação Social e Outros. Por fim, a dimensão
institucional possui indicadores de Gestão Ambiental, Informação e Participação, Gestão
Pública Municipal e Outros.
3.3 Análise crítica dos conjuntos de indicadores estudados
Conforme discorrido na primeira parte desta pesquisa, a cultura é vista aqui como
essencial no processo de sustentabilidade urbana assim como o meio ambiente natural,
caracterizando os dois eixos principais do desenvolvimento urbano sustentável. A importância
da sustentabilidade ambiental reside na continuidade biológica da vida sobre o planeta
enquanto a sustentabilidade cultural, na importância da continuidade simbólica da vida, uma
preocupação essencialmente humana de sentido de pertencimento, de identidade, que se
manifesta principalmente no vel local. É dada uma especial atenção aos patrimônios
93
culturais considerados como um testemunho da criatividade humana e o substrato da
identidade dos povos‖, conforme explicitado na Agenda 21 da Cultura (CIDADES E
GOVERNOS LOCAIS UNIDOS CGLU, 2007, p. 55), e, por isso mesmo, sendo
imprescindível sua sustentabilidade. Nessa perspectiva, um conjunto de indicadores de
sustentabilidade urbana deve conter informações que representem significativamente ambos
os aspectos, possuindo indicadores específicos às duas dimensões.
No entanto, isso não foi percebido em todas as seis propostas estudadas, pelo
contrário. Analisando-se caso por caso, apenas o trabalho Indicadores de Qualidade de Vida
de Jacksonville possui indicadores específicos para a cultura e, mesmo assim, referentes às
atividades e equipamentos culturais, não sendo mencionando o patrimônio cultural. Todas as
outras cinco propostas não possuem indicadores específicos para a dimensão cultural. A
importância da salvaguarda do patrimônio cultural é citada apenas na proposta de Indicadores
Comuns Europeus, que tem entre seus princípios de desenvolvimento sustentável a proteção,
preservação e reabilitação de valores históricos, culturais e arquitetônicos, incluindo
prédios, monumentos, eventos, aumentando e salvaguardando a atratividade e a
funcionalidade de espaços e prédios (AMBIENTE ITALIA, 2003, tradução da autora).
Contudo, não possui entre seus dez indicadores nenhum específico ao tema.
quanto à dimensão ambiental, em quatro dos seis casos estudados esta aparece
como sendo a principal dimensão, possuindo o maior número de indicadores. Apenas os
trabalhos Indicadores de Qualidade de Vida de Jacksonville e o conjunto de Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável de Curitiba possuem na dimensão social a maior parte de suas
informações, vindo em seguida a ambiental. Em parte, isso pode ser explicado pelo fato de
que essas duas propostas nasceram de uma visão social do desenvolvimento, incorporando
posteriormente a questão ambiental como aspecto importante no processo, e o o inverso,
como comumente tem sido a abordagem do desenvolvimento sustentável que tem na
preservação do meio ambiente natural sua origem.
Sobre a iniciativa dos indicadores de Jacksonville, esta foi criada em 1985 pela própria
comunidade como um instrumento de controle e acompanhamento da evolução da qualidade
de vida através de critérios compartilhados pelos próprios cidadãos. A iniciativa acabou sendo
incorporada pela municipalidade como base nas tomadas de decisão e para a formulação das
políticas voltadas para os aspectos considerados essenciais para uma melhor qualidade de
94
vida, que, de forma geral, englobavam questões essencialmente sociais. Com o passar dos
anos, as preocupações essencialmente ambientais da discussão sobre desenvolvimento
sustentável foram incorporadas no conjunto de indicadores. No caso dos indicadores de
desenvolvimento de Curitiba, é uma iniciativa pioneira no Brasil de monitoramento
sistemático das Metas do Milênio, ou os chamados Objetivos do Milênio, um conjunto de oito
metas de desenvolvimento estabelecidas pela ONU. É um projeto de cunho essencialmente
social, em que sete das oito metas propostas são aspectos sociais, e apenas uma possui
aspectos ambientais.
Quando analisado o conjunto total de indicadores estudados, a dimensão que possui
um maior número de informações é a social, sendo seguida da ambiental, com a cultural
ficando em último. Mais uma vez, é contrariado o que aqui é posto como fundamental no
processo do desenvolvimento urbano sustentável, demonstrando, em uma primeira análise,
que as dimensões ambiental e social estão sendo postas como principais na avaliação da
sustentabilidade urbana. Por um lado, isso reflete uma mudança no paradigma de
desenvolvimento, que passou a perceber que para o crescimento econômico significar bem-
estar coletivo, deve haver simultaneamente o desenvolvimento social (KLIKSBERG, 2001),
no qual é dada à cultura uma importância enquanto fortalecedora dos aspectos sociais.
Nos últimos anos, a cultura passou a ser difundida como ativo do capital social e
fortalecedora dos laços de coesão e cooperação locais, sendo inserida de forma cada vez mais
constante nas poticas publicas através das suas características sociais. Conforme exposto no
documento intitulado Conselhos sobre a Implementação Local da Agenda 21 da Cultura
19
(CIDADES E GOVERNOS LOCAIS UNIDOS CGLU, 2008, p.85),
o conceito de planejamento em cultura ganhou grande difusão nos últimos
10 a 15 anos. Foi utilizado para promover as políticas culturais locais com
base nos valores (meria, criatividade, conhecimento crítico, diversidade,
rituais, entre outros) que a cultura oferece aos indivíduos e às comunidades.
Também foi utilizado para destacar a transversalidade e a significação da
cultura em outras políticas locais, como emprego e a inclusão social, e para
introduzir considerações culturais em toda a política pública.
19
Documento aprovado em 24 de outubro de 2006, em Barcelona, pelo Grupo de Trabalho em Cultura do CGLU
Cidades e Governos Locais Unidos.
95
Nessa perspectiva, compreende-se que por trás das poticas de cunho essencialmente
sociais existe a cultura. Esta cruza todas as dimensões do capital social de uma sociedade. A
cultura subjaz atrás dos componentes sicos considerados capital social, como a confiança,
o comportamento cívico, o grau de associativismo (KLIKSBERG, 2001, p. 121). Nessa
relação, a cultura o é necessariamente passível de medição direta, mas seu fortalecimento
repercutirá nos indicadores sociais positivos como emprego, renda, segurança, entre outros.
Ou, conforme argumenta FUKUYAMA (2002), é mais fácil medir a ausência do capital social
utilizando-se medidas tradicionais de disfunção social como criminalidade, consumo de
drogas, suicídio, entre outros. A medição do desenvolvimento social, seja através de medidas
positivas ou o, reflete aspectos culturais da sociedade, inserindo a cultura na dimensão
social. O que, em parte, explica a forte presença de indicadores sociais entre os casos
estudados.
Por outro lado, a inexpressividade de indicadores especificamente voltados a
atividades culturais talvez esteja relacionada com o fato de ser recente a compreensão destes
como uma dimensão específica do processo de desenvolvimento sustentável. Concordando
com Duxbury e Gillette (2007, p.3, tradução da autora),
até os dias atuais, a cultura foi tradicionalmente vista como um componente
da dimensão social da sustentabilidade ou parte da discussão sobre capital
social, sendo pouco examinada [isoladamente]. Como Matthew Pike (2003)
observa, enquanto muita coisa foi escrita nos últimos anos sobre capital
social, houve, comparativamente, pouca coisa dita sobre capital cultural.
Mesmo sendo a arte, a comida, a música e os valores inerentes a estes de
profunda importância em aproximar as pessoas‖ (Borrup, 2003, apud
Duxbury e Gillette, 2007).
Autores como David Throsby (1999, 2001), Richard Florida (2002, 2008) e Charles
Landry (2002) trazem a importância de a percepção da cultura ser vista e reconhecida através
dos seus valores subjetivos e simlicos, bem como do seu potencial criativo indústrias
criativas , ganhando espaço como uma dimensão da sustentabilidade ao lado das aceitas
dimensões ambiental, social e econômica. Conforme posto no Relatório de Economia Criativa
da ONU (2008, p. 26, tradução da autora):
sustentabilidade cultural implica um processo de desenvolvimento que
preserve todos os tipos de ativos culturais, desde linguagens e ritos
tradicionais até trabalhos artísticos, artesanatos e sítios e edificações
históricas.
96
As experiências analisadas reafirmam a preocupação que, apesar da crescente
percepção da importância da sustentabilidade cultural local, esta ainda não está sendo
incorporada de forma isolada na avaliação do desenvolvimento sustentável local, correndo-se
o risco de deixar de fora questões cruciais acerca da identidade local. Poticas de
desenvolvimento urbano sustentável devem, ao lado das questões essencialmente urbanísticas,
considerar as dimensões ambiental, social, econômica e institucional, incorporando as
preocupações crescentes da continuidade dos valores culturais e patrimoniais para as futuras
gerações, bem como da produção de novos ativos culturais, especialmente em um contexto
que se apresenta evidências suficientes de que a diversidade cultural no mundo se encontra
em perigo devido a uma globalização padronizadora e excludente, conforme posto na
Agenda 21 da Cultura (Cidades e Governos Locais Unidos CGLU, 2007, p.54).
Um sistema de indicadores de sustentabilidade urbana deve refletir tais preocupações.
Para tanto, tomando como exemplo e base os indicadores estudados e relacionando-os com
conceitos aqui estudados, no próximo capítulo é proposta uma estrutura de um sistema de
indicadores de desenvolvimento urbano sustentável que incorpore as preocupações citadas.
97
CAPÍTULO 4
PROPOSTA DE UM SISTEMA DE INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
4.1 Metodologia
A metodologia adotada na construção do sistema de indicadores está de acordo com a
apresentada por Jannuzzi (2001), em que a montagem envolve uma série de decisões
metodológicas agrupadas em quatro etapas, sendo elas: (i) definição operacional do tema; (ii)
especificação das dimensões ou formas de interpretação operacional do conceito; (iii)
obtenção de estatísticas; e (iv) combinação orientada das estatísticas, computando-se os
indicadores. O estudo o pretende levantar novas estatísticas que alimentem indicadores
mais específicos à sustentabilidade. O que aqui é posto como fundamental é compreender as
definições teórico-conceituais que embasam e norteiam a construção de um conjunto de
indicadores de sustentabilidade, quais as dimensões operacionais que refletem as
preocupações contidas na temática e que forneçam uma leitura de acordo com a abordagem
sistêmica assumida. Uma vez com um sistema de indicadores configurado, são buscadas,
então, estatísticas e indicadores que possam melhor representar essa compreensão.
Antes de buscar e definir quais indicadores serão utilizados, é necessário compreender
e definir o universo de análise qual o tema, as dimensões de análise e o recorte empírico.
Dentro da metodologia assumida, compreende-se por tema como sendo a definição
operacional do conceito abstrato ou temática a que se refere o sistema em questão, elaborada
a partir do interesse teórico ou programático referido‖ (JANNUZZI, 2001, p. 17). Por
dimensões, compreende-se como sendo as diferentes formas de interpretação ou abordagem
do mesmo [conceito ou temática], tornando-o, de fato, um objeto específico, claro e passível
de ser „indicado‟ de forma quantitativa(ibid, 2003, p. 18). Dessa maneira, ter clareza sobre
98
o tema em questão e quais as dimensões que melhor o caracterizam na análise é fundamental
para a organização das informações.
É fato que a busca de um maior grau de desenvolvimento sustentável implica na
percepção de uma série de aspectos de sistemas diferentes interagindo ao mesmo tempo,
entretanto, isso não necessariamente significa analisar cada sistema em separado para
posteriormente fazer uma leitura conjunta. Ao propor indicadores de sustentabilidade como
um agrupamento de conjuntos temáticos específicos, corre-se o risco de tornar a discussão
compartimentalizada e fragmentada, descaracterizando sua propriedade sistêmica inerente.
Ao tratar de indicadores municipais, dimensões amplas e separadas podem, em muito,
deixar de fora questões essenciais de uma realidade específica. Essa especificação do local se,
por um lado, é necessária, não podendo ser negligenciada pelo risco de uma generalização
abusiva, por outro lado, se torna um desafio na montagem de informações que serão também
utilizadas na comparação entre localidades distintas.
4.2 Definição das dimensões operacionais e seus componentes
Compreende-se que a sustentabilidade somente é alcançada através de um
planejamento e que este necessita ser monitorado periodicamente de forma a se saber a atual
situação e qual o caminho que se está seguindo. Conforme exposto no item 3.4, este
planejamento é percebido através de três procedimentos que permitem a continuidade
temporal e espacial da cidade sustentável, sendo estes: procedimentos de manutenção e
preservação dos recursos naturais, ambientais e culturais; de interação entre os fenômenos
urbanos com os ambientais, refletindo o uso destes pelos primeiros; e procedimentos de
reestruturação social e institucional. Esses três englobam as linhas de ações para a
operacionalização de poticas de desenvolvimento urbano sustentável, devendo guiar a
escolha das informações que serão utilizadas na construção de um sistema de indicadores de
monitoramento das cidades sustentáveis.
Dentro desse processo, a definição das dimensões de análise para o sistema de
indicadores de sustentabilidade urbana torna-se um momento crucial, uma vez que elas devem
condensar e descrever as informações consideradas estratégicas para o acompanhamento e
controle das ações voltadas para a sustentabilidade dos sistemas envolvidos. Apontam um
99
conjunto articulado e consistente de ações e iniciativas capazes de promover mudanças que
levem a cidade a um desenvolvimento economicamente dinâmico e viável, socialmente justo
e ambientalmente equilibrado, considerando as identidades culturais específicas. As
dimensões permitem, assim, uma análise da relação dos diferentes aspectos em interação,
operacionalizando o planejamento e as tomadas de decisão, ao mesmo tempo em que estão de
acordo com o conceito, ou tema, que embasa a proposta.
De acordo com a definição descrita no Capítulo 03, a cidade sustentável é aqui
percebida como sendo a cidade que é capaz de modificar o padrão de desgaste do uso dos
seus recursos naturais e do seu patrimônio cultural; recuperar e preservar a qualidade do
seu meio ambiente natural e do seu meio ambiente cultural; e que é capaz de uma
reestruturação social e institucional que leve a uma diminuição das diferenças sociais e ao
fortalecimento da governança, assumidos como redes de suporte essenciais ao alcance de sua
continuidade às futuras gerações. Mantendo uma coerência com o conceito, as dimensões de
análise devem, então, conter três grupos de informações: (a) informações sobre o uso dos seus
recursos naturais e do seu patrimônio cultural; (b) informações sobre a recuperação e
preservação da qualidade do meio ambiente natural e do seu meio ambiente cultural; (c)
informações sobre o fortalecimento dos aspectos sociais e da capacidade de governança e
gestão da cidade.
Fazendo um cruzamento dos três procedimentos acima descritos como os três grupos
de informações derivadas do conceito de sustentabilidade, percebe-se que uma engloba a
outra, com cada grupo de informação se relacionando a um procedimento. Assim, através
dessa construção, as dimensões para o sistema de indicadores de sustentabilidade urbana
expressam três grandes grupos de informações:
i. Dimensão de Interação entre Fenômenos Urbanos e Ambientais;
ii. Dimensão de Manutenção dos Patrimônios Natural e Construído;
iii. Dimensão de Reestruturação Social e Institucional.
O primeiro grupo, Interação entre Fenômenos Urbanos e Ambientais, é uma dimensão
que reflete informações sobre a pressão dos fenômenos urbanos e econômicos no meio
100
ambiente natural e no meio ambiente cultural. Engloba como componentes o uso das áreas
verdes, as pressões urbanas decorrentes das atividades industriais, do uso de veículos
automotores e da pressão populacional. São pontos de pressão nos sistemas ambiental e
cultural provocados pelos seus usos nos processos de urbanização e industrialização,
impactando na qualidade dos recursos naturais e dos patrimônios culturais.
O segundo grupo, Manutenção dos Patrimônios Natural e Construído, é uma
dimensão que reflete informações sobre a qualidade do funcionamento do sistema. Engloba
indicadores que monitorem seu estado através da saúde e da qualidade do seu meio ambiente
natural e da qualidade do seu meio ambiente cultural. Possui como componentes a qualidade
dos seus recursos naturais e a qualidade dos seus patrimônios culturais e a qualidade de seus
equipamentos públicos.
Por fim, o terceiro grupo, Reestruturação Política e Social, é uma dimensão de
resposta aqui sugerida como a capacidade de readequação político-institucional aos desafios
referentes à gestão e planejamento da sustentabilidade, bem como de reestruturação da
qualidade de vida, compreendida como resposta às poticas e ações de saúde e de combate às
desigualdades sociais e à violência. Tem como componentes indicadores de segurança,
educação, emprego e renda, saúde, qualidade institucional e gestão ambiental.
Essas três dimensões sugeridas estão de acordo com a estrutura conceitual do modelo
Pressão-Estado-Resposta, utilizado pela OCDE, e comumente adotado na construção de
sistemas de indicadores ambientais. Essas dimensões reafirmam o que aqui é assumido como
preocupação central no debate de desenvolvimento sustentável: a sustentabilidade dos
recursos ambientais e a sustentabilidade cultural, refletindo a preocupação da permanência e
continuidade do meio ambiente natural e cultural. Como uma rede de suporte e manutenção
da continuidade desses às futuras gerações, encontram-se os demais sistemas econômico,
social e institucional. As três dimensões sugeridas, tomadas em conjunto, fornecem um
panorama sobre os pontos de pressão e estado, trazendo informações quanto à trajetória da
qualidade da cidade (se de desgaste ou não) a longo prazo.
101
4.3 Identificação dos indicadores
Conforme exposto, um instrumento como um conjunto de indicadores deve municiar
políticas voltadas à sustentabilidade da cidade com informações integradas, dando uma
percepção de mútua dependência entre os sistemas envolvidos. Tais informações ajudam no
monitoramento de estratégias de atuação de longo prazo. Contudo, a aplicação da visão acima
exposta da estrutura de um sistema de indicadores de sustentabilidade urbana passa pelos
limites existentes nas informações utilizadas para compor os indicadores.
No Brasil, as principais fontes de dados e pesquisas municipais são os catálogos
produzidos sistematicamente pelo IBGE, óro que por lei tem a responsabilidade de
coordenar o Sistema Estatístico Nacional (Lei 6183, de 11/12/74). Possui pesquisas nos
quatro níveis nacional, regional, estadual e municipal e um catálogo estatístico
especialmente voltado para as preocupações ambientais, o trabalho intitulado Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável, série iniciada em 2002 e com a última publicação tendo sido
editada em 2008. Apesar desse trabalho ser específico ao tema, boa parte dos sessenta
indicadores propostos não possuem estatísticas municipais, inviabilizando seu uso para a
comparação entre cidades. Assim, o esforço de construção de um sistema de indicadores de
sustentabilidade urbana passa pela junção de estatísticas de fontes diversas, em diferentes
esferas de atuação.
O IBGE possui informações municipais através de seus levantamentos como a PNAD,
o Censo, o cálculo do PIB, Serviços de Saúde, Estatísticas de Registro Civil, Produção
Agrícola Municipal, Estrutura Empresarial, Mapa da Pobreza e Desigualdade (IBGE, website,
2009). Também são fontes de estatísticas municipais o cadastro do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), denominado Relação Anual de Informação Social (Rais); o Datasus, do
Ministério da Saúde. O Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), que condensa
informações sobre o desenvolvimento humano através de informações sobre emprego e renda,
educação e saúde, sendo de periodicidade anual. São fontes de informações ambientais as
secretarias de meio ambiente estaduais, as instituições estaduais de meio ambiente e o
Ministério do Meio Ambiente (MMA).
As três dimensões foram pensadas através de componentes que representassem as
pressões urbanas sobre o meio ambiente, o estado do sistema ambiental e cultural e as
102
respostas sociais e institucionais vindas de poticas de desenvolvimento sustentável. Foram,
então, selecionados indicadores entre os do universo de 253 estudados, que sejam passíveis de
estatísticas nacionais, como o exemplo da experiência dos indicadores propostos pelo BNB.
Assim, tendo como principal referência na triagem e no uso de informações referentes ao
tema sustentabilidade, os conjuntos de indicadores analisados, em especial as iniciativas
nacionais, e utilizando-se estes como exemplos de indicadores, é proposto um sistema de
indicadores de sustentabilidade urbana que englobe, para cada dimensão de análise, os
conjuntos de informações descritos abaixo, com respectivas origens e fontes de dados, e
resumidos no Quadro 11.
A - Dimensões de análise
Dimensão I - Interação entre Fenômenos Urbanos e Ambientais Dimensão que trata de
indicadores de pressão, dividida nos seguintes componentes: uso das áreas verdes; pressão
urbana; produtividade econômica e crescimento demográfico. Estes componentes
possuem para seu monitoramento os respectivos indicadores: Percentual de Áreas
Municipais Protegidas; Percentual de Áreas Verdes Municipais; Percentual de Áreas e
Parques Municipais; Pressão Populacional Urbana, Pressão Industrial Urbana, Pressão
Veicular Urbana; Índice de Produtividade das Atividades Econômicas; Indicador da
Dinâmica do Crescimento Demográfico.
Dimensão II - Manutenção dos Patrimônios Natural e Construído Dimensão que trata
de indicadores de estado, dividida em três componentes: Qualidade do Meio Ambiente
Natural; Qualidade do Meio Ambiente Cultural; Qualidade dos Equipamentos Públicos.
Estes componentes possuem para seu monitoramento os respectivos indicadores:
Concentração de Poluentes no Ar em Áreas Urbanas; Destinação final dos resíduos
sólidos; Índice de Coleta e Tratamento de Esgoto; Índice de Coleta e Tratamento de Lixo;
Número de Edificações Tombadas; Integridade dos Sítios Históricos; Integridade dos
Edifícios Históricos; Integridade de Praças e Parques.
Dimensão III - Reestruturação Social e Institucional Dimensão que trata de
indicadores de resposta, dividida em seis componentes: Segurança, Educação, Saúde,
Emprego e Renda, Qualidade Institucional e Gestão Ambiental. Estes componentes
possuem para seu monitoramento os respectivos indicadores: Índice de Criminalidade;
103
Índice Firjan Desenvolvimento Humano (educação, saúde, emprego e renda); Índice de
Participação; Índice de Capacidade Financeira; Índice de Capacidade Gerencial;
Percentual de organizações blicas que adotaram procedimentos de gestão ambiental;
Percentual de organizações particulares que adotaram procedimentos de gestão ambiental;
Existência de Conselhos de Meio Ambiente; Número de unidades de conservação
municipal; Gastos públicos com proteção ao meio ambiente.
B - Descrição dos indicadores e fontes
1) Percentual de Áreas Municipais Protegidas - AMP
AMP = _AP_ x 100
TAM
Em que:
AP = Áreas Protegidas
TAM = Total da Área do Município
Fonte:
Prefeituras
2) Percentual de Áreas Verdes Municipais - AVM
AVM = AV x 100
TAM
Em que:
AV = Áreas Verdes
TAM = Total da Área do Município
Fonte:
Prefeituras
104
3) Percentual de Área de Praças e Parques - APP
APP = ATPP x 100
TAM
Em que:
ATPP = Área Total de Praças e Parques
TAM = Total da Área do Município
Fonte:
Prefeituras
4) Pressão Populacional Urbana - PPU
PPU = POPULAÇÃO URBANA
Fonte:
IBGE, Censo Demográfico
5) Pressão Industrial Urbana - PIU
PIU = EMPREGOS FORMAIS NA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO
Fonte:
Rais
105
6) Pressão Veicular Urbana - PVU
PVU = FROTA VEICULAR EM VEÍCULOS EQUIVALENTES
Fonte:
Denatran
7) Índice de Produtividade das Atividades Econômicas - PAE
PAE = QPM
PT
Em que:
QPM = Quota-Parte Municipal no Rateio do ICMS
PT = População Total do Município
Fonte:
Secretaria do Tesouro Nacional - STN
IBGE, Censo Demográfico
8) Indicador da Dinâmica do Crescimento Demográfico - IDCD
10
_____
IDCD = ( PR
2000
) - 1
PR
1991
Em que:
PR
2000
= População Residente ano 2000
PR
1991
= População Residente ano 1991
Fonte:
IBGE, Censo Demográfico
106
9) Concentração de Poluentes no Ar em Áreas Urbanas
Indicador utilizado no trabalho Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE
(2002) o qual expressa a qualidade do ar e fornece uma medida indireta da exposição da
população à poluição atmosférica nas áreas urbanas. As variáveis utilizadas neste indicador
são a concentração máxima observada de poluentes, os padrões de qualidade do ar e o número
de violações dos referidos padrões, ocorridas em um território em determinado período.
O indicador considera como poluentes as Partículas Totais em Suspensão (PTS),
medidas em micrograma por metro cúbico, µg/m
3
; dióxido de enxofre (SO
2
), medido em
micrograma por metro cúbico, µg/m
3
; dióxido de nitrogênio (NO
2
), medido em micrograma
por metro cúbico, µg/m
3
; ozônio (O
3
), medidos em micrograma por metro cúbico, µg/m
3
; e
monóxido de carbono (CO), medido em partes por milhão PPM. Os padrões de qualidade do
ar são valores de referência definidos pela legislação pertinente, que leva em consideração as
emissões, concentrações máximas permitidas e condições e limites de saturação (idem).
10) Destinação Final dos Resíduos Sólidos
Indicador utilizado no trabalho Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE
(2002) o qual expressa a capacidade de fornecimento de um destino final adequado ao lixo
coletado em um determinado território. As variáveis utilizadas neste indicador são a
quantidade de lixo coletada por dia, que recebe destino final considerado adequado, e a
quantidade total de lixo coletado diariamente, expressas em toneladas/dia. Considera um
destino adequado ao lixo a sua disposição final em aterros sanitários; sua destinação a
estações de triagem, reciclagem e compostagem; e sua incineração através de equipamentos e
procedimentos próprios para este fim. Por destino final inadequado, compreende seu
lançamento, em bruto, em vazadouros a céu aberto, vazadouros em áreas alagadas, locais não
fixos e outros destinos, como a queima a céu aberto sem nenhum tipo de equipamento.
A disposição do lixo em aterros controlados tamm foi considerada inadequada,
principalmente pelo potencial poluidor representado pelo chorume, que o é controlado neste
tipo de destino. O indicador é constitdo pela razão, expressa em percentual, entre o volume
107
de lixo cujo destino final é adequado e o volume total de lixo coletado. A fonte das
informações deste indicador é o IBGE através da sua Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico PNSB.
11) Índice de Coleta e Tratamento de Esgoto - ICTE
ICTE = [(ICE + 2IET IPE)] com -1,00 ≤ ICTE ≤ 3,00
100
Em que:
ICE = Percentual de Domicílios Ligados à Rede Geral de
Tratamento de Esgotos
IET = Percentual de Domicílios Ligados à Rede Geral e/ou com
Fossa Séptica, ponderado pelo Percentual de Esgoto
Tratado
IPE = Percentual de Esgoto sem Tratamento ou Fossa Séptica,
ponderado pelo Tamanho da População Residente
Fonte:
IBGE, PSNB
(elaboração Arcadis-Tetraplan, 2002)
12) Índice de Coleta e Tratamento de Lixo ICTL
ICTL = [( ICL + 2IDAR + IDPR IPL )] com -1,00 ≤ ICTL ≤ 3,00
100
Em que:
ICL = Índice de Domicílios com Acesso ao Serviço de Coleta de
Lixo
IDAR = Índice de Disposição Adequada do Resíduo
IDPR = Índice de Disposição Parcialmente Adequada do Resíduo
IPL = Índice de Poluição de Lixo (representado pela soma dos
percentuais de disposição inadequada e de domicílios não
atendidos, ponderada pelo tamanho da populão residente)
Fonte:
IBGE, PSNB
(elaboração Arcadis-Tetraplan, 2002)
108
13) Número de Edificações Tombadas - NET
NET = NÚMERO ABSOLUTO DE EDIFICAÇÕES TOMBADAS
Fonte:
Iphan, Órgãos Estaduais de Proteção ao Patrimônio, Prefeituras.
14) Integridade dos Sítios Históricos - ISH
ISH = INTEGRIDADE DOS SÍTIOS HISTÓRICOS
Fonte:
Iphan, Órgãos Estaduais de Proteção ao Patrimônio, Prefeituras.
15) Integridade de Edifícios Históricos - IEH
IEH = INTEGRIDADE DOS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Fonte:
Iphan, Órgãos Estaduais de Proteção ao Patrimônio, Prefeituras.
109
16) Integridade de Praças e Parques - IPP
IPP = INTEGRIDADE DE PRAÇAS E PARQUES
Fonte:
Prefeituras.
17) Índice de Criminalidade
De acordo com o IBGE, na construção deste indicador utilizam-se as variáveis óbitos
por homicídios e população total. O indicador é, então, a relação entre mortalidade por
homicídios e o total da população, expressa em homicídios por 100.000 habitantes. Os
registros de homicídios são obtidos nas Secretarias Estaduais de Saúde e compilados pelo
Ministério da Saúde, através da Fundação Nacional de Saúde/Coordenação de Informação de
Informática do Sistema Único de Saúde/Coordenão de Informação de Saúde/Sistema de
Informação sobre Mortalidade (IBGE, 2002).
18) Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal
Índice desenvolvido e calculado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro tem como objetivo monitorar periodicamente as potencialidades de desenvolvimento
socioeconômico de uma região em escala municipal, acompanhando a Educação, a Saúde e o
Trabalho e a Renda. Apresenta uma séria anual com o cálculo baseado em dados oficiais
fornecidos pelos Ministérios do Trabalho, da Educação e da Saúde (FIRJAN, 2008).
110
19) Indicador do Grau de Participação - IGP
IGP = (4EC + 4CI + 7CP + 7CD + 11CF)
Em que:
EC = Índice de Existência de Conselhos
CI = Índice de Conselhos Instalados
CP = Índice de Conselhos Paritários
CD = Índice de Conselhos Deliberativos
CF = Índice de Conselhos Administradores de Fundos
Fonte:
Prefeituras, Ministério do Planejamento.
20) Indicador de Capacidade Financeira ICF
ICF = (11ECO + 11RCD + 11PRC)
Em que:
ECO = Índice de Existência de Consórcios
RCD = Índice de Receita Corrente x Dívida
PRC = Índice de Poupança Real per capita
Fonte:
Prefeituras, Ministério do Planejamento.
21) Indicador de Capacidade Gerencial - ICG
ICG = (8IPTUa + 8IPTUb + 8ING + 8INP)
Em que:
IPTUa = Índice de IPTU ano da planta
IPTUb = Índice de IPTU adimplência
ING = Índice de Instrumento de Gestão
INP = Índice de Instrumento de Planejamento
Fonte:
Prefeituras, Ministério do Planejamento.
111
22) Proporção de Organizações Públicas que Adotaram Procedimentos de Gestão
Ambiental - POPGA
POPGA = OPGA
TOPM
Em que:
OPGA = Organizações blicas que Adotaram Procedimentos de
Gestão Ambiental
TOPM = Total das Organizações Públicas Municipais
Fonte:
Prefeituras, Ministério do Planejamento.
23) Percentual de Empresas Particulares que Adotaram Procedimentos de Gestão
Ambiental - PEPGA
PEPGA = EPGA
TEPM
Em que:
EPGA = Empresas Particulares que Adotaram Procedimentos de
Gestão Ambiental
TEPM = Total das Empresas no Município
Fonte:
Prefeituras, Federações das Indústrias.
24) Existência de Conselhos de Meio Ambiente - CMA
CMA = NÚMERO ABSOLUTO DE CONSELHOS DE MEIO
AMBIENTE
Fonte:
Prefeituras, Federações das Indústrias.
112
25) Número de Unidades de Conservação Municipal - UCM
UCM = NÚMERO ABSOLUTO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
DO MEIO AMBIENTE
Fonte:
Prefeituras, Órgãos Estaduais de Meio Ambiente.
26) Gastos Públicos com Proteção ao Meio Ambiente - GPPAM
GPPAM = VALOR RELATIVO DO GASTO MUNICIPAL COM
PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE
Fonte:
Prefeituras.
113
QUADRO 11 SISTEMA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE URBANA
DIMENSÃO
COMPONENTES
INDICADORES
FONTES
Interação entre
Fenômenos
Urbanos
e Ambientais
Uso das Áreas
Verdes
Percentual de Áreas Municipais Protegidas;
Percentual de Áreas Verdes Municipais;
Percentual de Áreas e Parques Municipais;
Prefeituras
Pressão Urbana
Pressão Populacional Urbana
1
;
Pressão Industrial Urbana
1
;
Pressão Veicular Urbana
1
;
IBGE, Rais,
Denatran
Produtividade
Econômica
Índice de Produtividade das Atividades
Econômicas
1
;
Secretaria do
Tesouro
Nacional
IBGE
Crescimento
Demográfico
Indicador da Dinâmica do Crescimento
Demográfico
1
;
IBGE
Manutenção
dos
Patrimônios
Natural e
Construído
Qualidade do Meio
Ambiente Natural
Concentração de Poluentes no Ar em Áreas
Urbanas;
Destinação final dos resíduos sólidos;
Índice de Coleta e Tratamento de Esgoto
1
;
Índice de Coleta e Tratamento de Lixo
1
;
IBGE
Qualidade do Meio
Ambiente Cultural
Número de Edificações Tombadas;
Integridade dos Sítios Históricos;
Integridade dos Edifícios Históricos;
Iphan;
Órgãos
Estaduais de
Proteção ao
Patrimônio;
Prefeituras;
Qualidade dos
Equipamentos
Públicos
Integridade de Praças e Parques;
Prefeituras;
114
QUADRO 11 SISTEMA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE URBANA
(CONTINUAÇÃO)
DIMENSÃO
COMPONENTES
INDICADORES
FONTES
Reestruturação
Social e
Institucional
Segurança
Índice de Criminalidade;
Ministério da
Saúde;
Educação
Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal Educação;
Firjan;
Saúde
Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal Saúde;
Firjan;
Emprego e Renda
Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal Emprego e Renda;
Firjan;
Qualidade
Institucional
Indicador de Participação
1
;
Indicador de Capacidade Financeira
1
;
Indicador de Capacidade Gerencial
1
;
Prefeituras,
Ministério do
Planejamento
Gestão Ambiental
Proporção de Organizações Públicas que
Adotaram Procedimentos de Gestão
Ambiental;
Percentual de organizações particulares que
adotaram procedimentos de gestão
ambiental;
Existência de Conselhos de Meio Ambiente;
Número de unidades de conservação
municipal;
Gastos públicos com proteção ao meio
ambiente;
Prefeituras,
Ministério do
Planejamento,
Ancias
estaduais de
meio
ambiente;
Federações da
Indústria e
Comércio;
Fontes: Construção própria
(
1
) Origem: Atlas de Sustentabilidade, BNB, 2005.
115
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A busca de um padrão de desenvolvimento sustentável global, em um contexto no qual
a população está se tornando cada vez mais urbana e as cidades tornando-se protagonistas no
uso dos recursos naturais, passa necessariamente pela busca de um padrão de
desenvolvimento urbano sustentável. As cidades tornaram-se o foco do planejamento e das
políticas de sustentabilidade, tendo no ideal da cidade sustentável uma meta a ser alcançada.
Dentro desse processo, os indicadores são instrumentos fundamentais de controle e
provedores de informações necessárias para as tomadas de decisão diante das questões
urbanas.
Neste sentido, este trabalho buscou contribuir nas ações voltadas ao planejamento do
desenvolvimento urbano sustentável e da conservação dos patrimônios naturais e culturais,
estudando conjuntos de indicadores de desenvolvimento urbano sustentável e a importância
da inserção da dimensão cultural no processo de planejamento do desenvolvimento
sustentável urbano. Para tanto, o estudo foi realizado em três momentos distintos: um
primeiro, de cunho teórico, quando foram estudados os temas desenvolvimento sustentável,
conservação integrada, cidades sustentáveis e indicadores; um segundo momento, quando
foram analisados seis conjuntos de indicadores de desenvolvimento sustentável local; e, por
fim, um terceiro momento, quando foi sugerido um sistema de indicadores para o
monitoramento do desenvolvimento urbano sustentável, tendo os estudos de caso como
parâmetros.
Algumas constatações ao longo do trabalho apontaram para a necessidade de uma
melhor compreensão sobre a importância da dimensão cultural ao se estudar o
116
desenvolvimento urbano sustentável e uma melhor definição de quais os aspectos que
efetivamente precisam ser monitorados na busca de um padrão de cidade sustentável.
Primeiro, percebe-se algumas diferenças entre o conceito de desenvolvimento
sustentável comumente utilizado em poticas nacionais e sua aplicação às cidades, ao se
estudar o desenvolvimento sustentável da cidade. Este conceito, quando aplicado em uma
esfera global, ou nacional, está fortemente relacionado com as preocupações quanto ao legado
do patrimônio natural, sendo comumente representado através das dimensões ambiental,
econômica, social e institucional. No entanto, se em uma visão global as preocupações estão
mais focadas nos impactos sobre os recursos naturais e seus limites de suporte às atuais
demandas, em uma visão local, as preocupações quanto à sustentabilidade cultural tornam-se
também centrais, ao lado das ambientais, para a sustentabilidade das cidades. Nota-se que nos
últimos anos a cultura vem ganhando espaço fundamental dentro do processo de
desenvolvimento local, seja através de seu papel de fortalecedora do capital social,
20
seja
através de seu papel no crescimento econômico local com as chamadas indústrias criativas
21
,
ou seja pela importância dos valores culturais estoque de capital cultural da sua
comunidade.
22
Assim, através de uma revisão bibliográfica da evolução da aplicação do conceito de
desenvolvimento sustentável, foi percebido que a cultura foi incorporada inicialmente dentro
da dimensão social, muito em função de sua relão direta com o desenvolvimento social a
cultura vista como insumo do capital social. As discussões acerca da importância da cultura
ser assumida como um capital em si capital cultural e potencializadora do
desenvolvimento local através da riqueza por ela gerada e por ela repassada às futuras
gerações são mais recentes.
Torna-se fundamental no processo de desenvolvimento local olhar para a cultura como
uma dimensão da sustentabilidade, vista em termos de capital cultural, compreendido como
as tradições e valores, patrimônios e lugares, a arte, diversidade e história social
(ROSELAND et al, apud DUXBURY & GILLETTE, 2007, p. 05), dando uma especial
20
Ver PUTMAN, 2000, KLIKSBERG, 2001.
21
Ver Relatório de Economia Criativa, ONU, 2008; DAVID LANDRY, 2000.
22
Ver THROSBY, 1999.
117
atenção ao seu legado patrimonial construído
23
como ativo do capital social. Conforme
Throsby (1999) argumenta, a deteriorização do patrimônio cultural de uma comunidade pode
levar à falência dos valores culturais que dão senso de identidade e de pertencimento local,
interrompendo, assim, a transferência da herança cultural entre gerações e impactando
fortemente no desenvolvimento sustentável. Apesar de neste trabalho ter sido dado destaque
ao patrimônio cultural construído ressalva-se a importância de se inserir nas poticas de
preservação e continuidade também os aspectos intangíveis do patrimônio cultural local.
Dessa forma, apesar de, por um lado, as cidades terem uma participação cada vez maior na
utilização dos recursos naturais, por outro lado, m na sua construção cotidiana as marcas
culturais e identitárias da comunidade local, essenciais na garantia do processo de
sustentabilidade. Nessa perspectiva, as dimensões ambiental e cultural podem ser vistas como
dois eixos principais no processo de sustentabilidade local.
Segundo, com a cultura surgindo como essencial no processo de desenvolvimento
urbano sustentável, era de se esperar que a dimensão cultural, em especial, as preocupações
quanto ao legado patrimonial cultural, aparecesse nos sistemas de indicadores utilizados para
monitorar o alcance deste. No entanto, os resultados empíricos da pesquisa mostraram que a
dimensão cultural da sustentabilidade, embora presente do referencial trico, não está
presente nos casos estudados. Entre os seis conjuntos analisados, apenas em um a cultura
aparece como uma dimensão, mas, mesmo assim, sem menção alguma aos patrimônios
culturais.
De forma geral, as propostas de indicadores analisadas possuem uma definição, ou
compreensão específica, sobre o desenvolvimento sustentável com um forte enfoque nas
questões ambientais, estando muito próxima à da Agenda 21, na qual a preocupação central é
a busca de uma integração dos sistemas ecomico, social e ambiental, tendo neste último
seus princípios guia. Tal compreensão é observada na construção de conjuntos de indicadores
de desenvolvimento sustentável nacionais. Um exemplo são os Indicadores do Reino Unido
(2005), país que foi um dos primeiros a criar um conjunto de indicadores para revisar o
desenvolvimento sustentável, ainda em 1996. Atualmente, possui uma estratégia de
desenvolvimento sustentável que é percebida através dos sistemas ambiental, social,
econômico e institucional. Dos 68 indicadores apresentados, 33 relacionam-se a questões
23
Ver LABANCA, 2008.
118
ambientais, sendo os outros divididos entre os aspectos sociais (saúde, educação, participação
comunitária e crime) e econômicos (produtividade) (REINO UNIDO, 2005), sem nenhuma
menção ao seu patrimônio cultural. Um outro exemplo é a própria experiência brasileira de
publicação estatística sobre o desenvolvimento sustentável, do IBGE (2002, 2004, 2008), que
agrupa os indicadores nas quatro dimensões comumente utilizadas para descrever o processo
de sustentabilidade ambiental, social, econômica e institucional. Em nenhum momento,
questões mais específicas referentes à sustentabilidade do sistema cultural são apresentadas.
Assim, constata-se que, apesar das diferenças e particularidades das cidades, as
experiências de indicadores de sustentabilidade urbana tendem a ter preocupações similares
aos conjuntos de indicadores nacionais, apenas incorporando questões específicas do meio
urbano, como mobilidade, transportes, poluição sonora, uso da terra, entre outras, com alguns
sistemas dando um grande destaque na dimensão social. Tal constatação reafirma a
preocupação que, mesmo com a crescente percepção da importância da cultura (seja através
do legado patrimonial, seja através da produção de novos ativos culturais) e de sua
sustentabilidade, esta ainda não está sendo incorporada na avaliação do desenvolvimento
sustentável local, deixando de fora questões cruciais sobre a conservação do patrimônio,
identidade local e produção cultural.
Terceiro, ao se sugerir um sistema de indicadores de sustentabilidade urbana, tendo
como base o universo dos indicadores analisados e suas fontes de dados, percebeu-se que
ainda não existe um consenso sobre o que deve ser efetivamente monitorado, existindo
experiências locais distintas e de difícil comparação entre si. As informações contidas em
cada caso, bem como o número de indicadores utilizados, foram muito distintas. Outro
complicador é o fato de alguns países possuírem conjuntos de indicadores de
desenvolvimento sustentável nacional, não possuindo um específico para o monitoramento de
suas cidades, impossibilitando sua aplicação em um nível local, como é o caso já mencionado
do Brasil.
Em síntese, as reflexões aqui expostas sugerem a necessidade de inserir no
fundamento teórico de indicadores de desenvolvimento urbano sustentável, ao lado das
questões essencialmente ambientais, as questões referentes ao legado do capital cultural da
cidade. Acredita-se que, se por um lado, a continuidade físico-biológica do ser humano
depende diretamente da preservação e conservação dos recursos naturais, por outro lado, o
119
sentido e o significado da sua existência dependem diretamente de uma continuidade do seu
capital cultural (especificamente, do seu patrimônio cultural material e imaterial). Ambos
evocam questionamentos éticos de coexistência de difereas e de especificidades locais sem
a perda de uma visão de impacto global, dentro de uma escala temporal. O estoque de capital
cultural, tangível e intangível, é o que herdamos das gerações passadas e passamos para as
futuras gerações. A continuidade deste, bem como a sua produção, deve ser percebida como
parte essencial do processo de sustentabilidade, ajudando na estruturação do sentimento de
pertencimento social e no fortalecimento da identidade local.
Com relação a trabalhos futuros, para um monitoramento mais completo sobre o
desenvolvimento urbano sustentável, recomenda-se o desenvolvimento de um sistema de
indicadores que, ao lado das questões essencialmente urbanísticas, incorpore tanto os atributos
que caracterizam o meio ambiente natural, quanto as suas especificidades patrimoniais
culturais e identitárias, bem como da produção de novos estoques de capital cultural e a
promoção das indústrias criativas. No que diz respeito à identificação de indicadores, sugere-
se uma metodologia que utilize múltiplos avaliadores, incluindo especialistas nas áreas de
planejamento urbano, desenvolvimento sustentável e conservação integrada. Por fim, espera-
se que as reflexões aqui expostas acerca da importância da dimensão cultural no processo de
desenvolvimento urbano sustentável, bem como os indicadores aqui sugeridos, possam
contribuir como base para outros trabalhos que aprofundem a questão da dimensão cultural no
marco teórico de desenvolvimento urbano sustentável e em propostas de sistemas de
indicadores de desenvolvimento urbano sustentável que efetivamente incorporem as questões
relativas à conservação do patrimônio cultural.
120
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