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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ANÁLISE COMPARATIVA DAS INSTITUIÇÕES E ORGANIZAÇÕES
AGROINDUSTRIAIS CITRÍCOLAS DOS ESTADOS DA FLÓRIDA (EUA) E SÃO
PAULO (BRASIL)
Luiz Carlos Gaban
SÃO CARLOS
2008
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ANÁLISE COMPARATIVA DAS INSTITUIÇÕES E ORGANIZAÇÕES
AGROINDUSTRIAIS CITRÍCOLAS DOS ESTADOS DA FLÓRIDA (EUA) E SÃO
PAULO (BRASIL)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ANÁLISE COMPARATIVA DAS INSTITUIÇÕES E ORGANIZAÇÕES
AGROINDUSTRIAIS CITRÍCOLAS DOS ESTADOS DA FLÓRIDA (EUA) E SÃO
PAULO (BRASIL)
Luiz Carlos Gaban
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
da Produção da Universidade Federal de São
Carlos como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Paulillo
SÃO CARLOS
2008
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
G112ac
Gaban, Luiz Carlos.
Análise comparativa das instituições e organizações
agroindustriais citrícolas dos estados da Flórida (EUA) e
São Paulo (Brasil) / Luiz Carlos Gaban. -- São Carlos :
UFSCar, 2008.
191 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2008.
1. Cítricos. 2. Cadeias agroindustriais – coordenação. 3.
Economia institucional. I. Título.
CDD: 338.1 (20
a
)
uf\- -1~..,..
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Rod. Washington Luís, Km.235 - CEPo13565-905 - São Carlos - SP - Brasil
Fone/Fax: (016) 3351-8236 / 3351-8237 /3351-8238 (ramal: 232)
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno(a): Luiz Carlos Gaban
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEFENDIDA EAPROVADA EM 10/09/2008 PELA
COMISSÃO JULGADORA:
ÚAúl5v I~
Prat. Dr. Mário Otávio Batalha
PPGEP/UFSCar
Prat. Dr. Carlos Eduardo de Freitas Vian
ESALQ/USP
ID~
Prof:--.Or.Roberto Antonio Martins
Vice-Coordenador do PPGEP
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por tudo.
Agradeço a meus pais (que já partiram) pela vida e orientação recebidas.
Agradeço a minha família, em especial a minha esposa, Marisa, e as minhas filhas, Thaís e Anna
Carolina, pela dedicação, compreensão, apoio, incentivo e colaboração.
Agradeço ao meu País, por ter me dado tantas oportunidades.
Agradeço aos mestres, pela abertura de novos caminhos.
Agradeço aos professores do Departamento de Engenharia de Produção, em especial ao professor
Luiz Fernando Paulillo.
Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a efetivação deste trabalho.
Agradeço por todos os desafios lançados, pois deles resultaram a energia e a determinação para
seguir em frente.
“A vida é uma escuridão, exceto quando há impulso.
E todo impulso é cego, exceto quando há saber.
E todo saber é vão, exceto quando há trabalho.
E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor...”
Gibran
RESUMO
Iniciados com a introdução dos cítricos nas Américas, os sistemas agroindustriais
de cítricos instalados na Flórida (EUA) e em São Paulo (Brasil) sofreram profundas mudanças no
decorrer de seus processos de evolução e crescimento. A introdução de novas tecnologias e a
ocorrência de eventos inesperados moldaram, de forma diferente, a estrutura de cada um deles,
Também as diferenças nas características culturais, nos hábitos e costumes dos atores de cada
uma das regiões influenciaram de formas distintas a estrutura e as formas de coordenação
existentes em cada um dos sistemas, como também a intensidade da presença do Estado,
diferente em cada um, influenciou de forma distinta a estrutura e a forma de coordenação
existentes em cada um deles.
O traço cultural norte-americano levou à criação das organizações de ensino,
pesquisa e extensão, que ajudaram na criação de novos produtos e das diversas organizações de
defesa de interesses e dos mecanismos de controle que, com a intervenção do Estado, resultaram
nas leis, normas e organizações que atualmente controlam toda a cadeia produtiva de cítricos da
Flórida.
Eventos inesperados provocaram efeitos distintos em cada sistema. A Segunda
Grande Guerra suscitou mudanças positivas no sistema da Flórida e negativas no de São Paulo;
enquanto a geada de 1962 produziu efeitos negativos na Flórida e provocou mudanças positivas
no de São Paulo.
Este trabalho buscou analisar o processo histórico e os principais aspectos
organizacionais da rede de decisões do sistema instalado na Flórida e do instalado em São Paulo,
procurando identificar os impactos causados por mudanças do ambiente institucional devido aos
hábitos e costumes sedimentados em cada região e pela ação do Estado sobre a construção das
relações entre os atores de seus sistemas e as formas de governança e coordenação.
Para isso, foram utilizados referenciais teóricos oriundos do institucionalismo.
Tais aportes permitiram a aplicação de direcionadores que viabilizaram a análise da coordenação
vertical e horizontal dos elos dos sistemas.
Palavras-chave: citros; cítricos; coordenação, institucional; sistemas agroindustriais
ABSTRACT
Starting with citrus introduction in both Americas, citrus agro industry system
installed in Florida (USA) and São Paulo (Brazil) suffered deep changes during growth and
evolution processes. Changes caused by new technologies and unexpected events shaped the
structure of these systems. Differences of cultural characteristics and habits of each region
influenced the structure and model of coordination existent in each system as well as the intensity
of State presence.
North America cultural traces drove to organizations of education, research and
extension that helped the creation of new products, organizations of interest defense and
mechanisms of control that, with the State intervention, resulted in laws, rules and organizations
that currently control the whole citrus productive chain in Florida.
Unexpected events caused distinct effects in each system. The Second World War
caused positive changes in the Florida’s system and negative in São Paulo’s one. Frost of 1962
was responsible for a negative effect in Florida and a positive one in São Paulo.
This work aims to analyze historical process and main organizational aspects of
the decision chain regarding the system installed in Florida and São Paulo. Also to, identify
impacts of changes on institutional environment, due to embedded habits in each region and by
the State action, on relationship among actors of these systems, government mechanisms and
coordination ways.
For this it was used theoretical references from institutionalism. These
contributions permitted to apply routers that could make possible analysis of vertical and
horizontal coordination of all system links.
Key words: citrus; coordination; institutional; agro industry systems.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Relação das entrevistas realizadas – São Paulo................................................ 22
QUADRO 2 Relação das entrevistas realizadas – São Paulo................................................ 23
QUADRO 3 Pilares do institucionalismo – variação na ênfase............................................. 29
QUADRO 4 Mecanismos de difusão das instituições............................................................ 32
QUADRO 5 Comparações entre as formas de organização econômica................................ 40
QUADRO 6 Mecanismos de governança, regras de troca e submissão................................ 44
QUADRO 7 Características dos pólos do continnum de redes de poder............................... 47
QUADRO 8 Conjunto de variáveis ou dimensões das redes de poder.................................. 47
QUADRO 9 Tipos de Recursos de Poder.............................................................................. 48
QUADRO 10 Características de rede de poder....................................................................... 48
QUADRO 11 Direcionadores relacionados rede de poder utilizados neste estudo................. 50
QUADRO 12 Eventos que influenciaram o início da citricultura na Flórida.......................... 57
QUADRO 13 Evolução do processamento de cítricos............................................................ 60
QUADRO 14 Eventos inesperados e seus efeitos................................................................... 61
QUADRO 15 Organizações de representação de interesses, cronológico de criação.............. 65
QUADRO 16 Organizações de ensino, pesquisa e extensão................................................... 68
QUADRO 17 Organizações do governo que atuam na agroindústria..................................... 69
QUADRO 18 Taxas e contribuições, sobre a laranja, na indústria – safra 2001/2002............ 72
QUADRO 19 Cursos e encontros técnicos.............................................................................. 73
QUADRO 20 Programas para divulgação de cítricos e seu foco............................................ 74
QUADRO 21 Itens do Chapter 601, Florida Citrus Code...................................................... 78
QUADRO 22 Itens do Chapter 581, Plant Industry…............................................................ 81
QUADRO 23 Processadores da Flórida, sua participação no processamento total, tipo de
suco produzido na safra 2003/2004..................................................................85
QUADRO 24 Vendas de suco de laranja (em milhões de US dólares)................................... 90
QUADRO 25 Recursos de Poder utilizados nas relações da rede citricola da Flórida............ 95
QUADRO 26 Ligações relevantes, graus de intensidade e freqüência.................................... 96
QUADRO 27 Distribuição percentual do processamento de laranja no Brasil safra
2007/2008....................................................................................................... 121
QUADRO 28 Produção de laranja em– São Paulo, volume em milhões de caixas de 40,8
Kg.................................................................................................................. 121
QUADRO 29 Organizações voltadas ao processamento após 1962..................................... 123
QUADRO 30 Organizações voltadas ao processamento de cítricos fora do Estado de São
Paulo.............................................................................................................. 126
QUADRO 31 Citações sobre a existência de pomares no período inicial da citricultura no
Brasil e em São Paulo.................................................................................... 129
QUADRO 32 Organizações paulistas voltadas ao processamento antes de 1962................ 132
QUADRO 33 Eventos inesperados e seus efeitos................................................................ 132
QUADRO 34 Algumas das organizações de representação de interesses............................ 135
QUADRO 35 Organizações de ensino, pesquisa e extensão no Estado de São Paulo......... 136
QUADRO 36 Organizações do Estado................................................................................. 137
QUADRO 37 Cursos e encontros técnicos........................................................................... 139
QUADRO 38 Produtores – distribuição por tamanho e produtividade............................... 143
QUADRO 39 Processadores paulistas, sua participação no processamento total, tipo de suco
produzido na safra 2007/2008 e pomares próprios........................................ 144
QUADRO 40 Recursos de Poder utilizados nas relações da rede citricola de São
Paulo.............................................................................................................. 152
QUADRO 41 Ligações relevantes, grau de intensidade e freqüência.................................. 154
QUADRO 42 Algumas das características dos sistemas agroindustriais da Flórida e de São
Paulo.............................................................................................................. 168
QUADRO 43 Alguns traços e resultados das culturas da Flórida e de São
Paulo.............................................................................................................. 169
QUADRO 44 Eventos e seus resultados nos sistemas da Flórida e de São
Paulo.............................................................................................................. 170
QUADRO 45 Comparação entre produtores e processadores do sistema da Flórida e de São
Paulo.............................................................................................................. 172
QUADRO 46 Comparação entre processadores, engarrafadores, distribuidores e canais de
distribuição dos sistemas da Flórida e de São Paulo..................................... 173
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Produção de laranja entre os principais estados do EUA (em 1000 caixas).......... 53
TABELA 2 Volume da produção destinado ao processamento na Flórida............................... 53
TABELA 3 Volume da produção destinado ao processamento na Flórida............................... 54
TABELA 4 Volume de processamento (%) pelo número de processadores............................. 54
TABELA 5 Utilização da laranja por unidade de processamento na safra 2003/2004............. 55
TABELA 6 Volume de processamento (%) por processador paulista safra de 2000/2001
a safra 2007/2008 .............................................................................................. 122
TABELA 7 Exportações brasileiras de FCOJ – Brasil ano civil 2007 – volume em
toneladas........................................................................................................... 124
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Esquema de Três Níveis de Willianson............................................................... 39
FIGURA 2 Modo de coordenação e motivo para ação.......................................................... 43
FIGURA 3 Mecanismos de coordenação............................................................................... 44
FIGURA 4 Relações de Poder no sistema agroindustrial de cítricos na Flórida.................... 94
FIGURA 5 Diagrama esquemático dos fluxos físicos, de serviços, financeiros e de
informações do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida.......................... 100
FIGURA 6 Exportações brasileira de FCOJ e NFC, safra 2000/2001 a 2007/2008........... 125
FIGURA 7 Relações de Poder no sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo............ 151
FIGURA 8 Diagrama esquemático dos fluxos físicos, de serviços, financeiros e de
informações do sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo..................... 155
FIGURA 9 Modo de coordenação e motivo para ação, comparativo entre Flórida e São
Paulo................................................................................................................. 174
FIGURA 10 Mecanismos de coordenação, diferenças entre Flórida e São Paulo................. 175
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ABAG Associação Brasileira do Agrobussines
ABCM Associação Brasileira de Cítricos de Mesa
ABECITRUS Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos
ACIESP Associação Comercial e Industrial do Estado de São Paulo
AFBF American Farm Bureau Federation
AgLaw Office of Agricultural Law Enforcement
Apta Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
ASSOCITRUS Associação Brasileira de Citricultores
CATI Coordenadoria Assistência Técnica Integral
CCEP Citrus Canker Eradication Program
CDA Coordenadoria de Defesa Agropecuária
CEAGESP Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
CODASP Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo
CODEAGRO Coordenadoria de Desenvolvimento de Agronegócios
COOPERCITRUS Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores do Estado de São Paulo
CREC Citrus Research & Education Center
ECT Economia dos Custos de Transação
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
EUA Estados Unidos da América do Norte
FAESP Federação da Agricultura do Estado de São Paulo
FAIRS Florida Agricultural Information Retrieval System
FCA Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu
FCAV Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
FCOJ Suco de laranja concentrado congelado
FDOC Florida Department of Citrus
FEB Fundação Educacional de Barretos
FNG Florida Natural Growers
FRED Food & Resource Economics Department
FUNDAG Fundo de Apoio à Pesquisa Agrícola
FUNDECITRUS Fundo Paulista de Defesa da Citricultura
GCONCI Grupo de Consultores em Citros
GJ Grapefruit juice
GTACC Grupo Técnico de Assistência e Consultoria em Citros
IAC Instituto Agronômico de Campinas
IEA Instituto de Economia Agrícola
IFAS Institute of Food & Agricultural Sciences
LDC Louis Dreyfus Citrus
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
Mutual Florida Citrus Mutual
NAFTA North America Free Trade Accord
NEI Nova Economia Institucional
NFC Suco de laranja pasteurizado não proveniente de suco concentrado
NYBT The New York Board of Trade
OJ Orange juice
PENSA Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial
SECEX Secretaria de Comercio Exterior
SENAR/SP Serviço Nacional de Aprendizagem Rural / São Paulo
SP São Paulo
U.S. Sugar United States Sugar Corporation
UF University of Florida
UFSCar Universidade Federal de São Carlos
UNESP Universidade Estadual de São Paulo
UNICAMP Universidade de Campinas
USDA United States Department of Agriculture
USP Universidade de São Paulo
Vivecitrus Associação Paulista dos Viveiros de Mudas Certificadas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................16
1.1 O sistema agroindustrial dos cítricos............................................................................... 16
1.2 Problemas de pesquisa e justificativa do tema................................................................ 19
1.3 Objetivo geral.................................................................................................................. 20
1.3.1 Objetivos específicos....................................................................................................... 20
1.4 Método............................................................................................................................ 20
1.4.1 Elaboração dos questionários e roteiros de conversas e entrevistas................................ 24
1.5 Estrutura do trabalho....................................................................................................... 24
2 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS................................................................................... 26
2.1 Institucionalismo............................................................................................................. 27
2.2 Escolas institucionais....................................................................................................... 33
2.3 Ambiente institucional e governança.............................................................................. 38
2.4 Redes de poder................................................................................................................ 45
2.5 Considerações finais do capítulo..................................................................................... 49
3 O SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE CÍTRICOS DA FLÓRIDA: PROCESSO
HISTÓRICO E PRINCIPAIS ASPECTOS ORGANIZAÇIONAIS DA REDE DE
DECISÕES.....................................................................................................................51
3.1 Introdução........................................................................................................................51
3.2 Evolução da produção de laranja e da concentração industrial citrícola nos
EUA................................................................................................................................ 52
3.3 O papel do Estado e o avanço tecnológico para a institucionalização da cadeia citrícola
na Flórida........................................................................................................................ 56
3.4 Atores coletivos na institucionalização da rede política da Flórida................................ 63
3.5 Ambiente institucional..................................................................................................... 72
3.6 Segmentos e atores relevantes na rede política citricola atual da Flórida........................84
3.7 Ligações relevantes e recursos de poder.......................................................................... 92
3.8 Formas de coordenação na rede citricola da Flórida..................................................... 102
3.8.1 Direcionadores relacionados aos atores.........................................................................103
3.8.2 Direcionadores relacionados às relações........................................................................111
3.9 Considerações finais do capítulo....................................................................................114
4 O SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE CÍTRICOS DE SÃO PAULO: PROCESSO
HISTÓRICO E PRINCIPAIS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS DA REDE DE
DECISÕES...................................................................................................................119
4.1 Introdução......................................................................................................................119
4.2 Evolução da produção de laranja e da concentração industrial citrícola no Brasil........120
4.3 O papel do Estado e o avanço tecnológico para a institucionalização da cadeia citrícola
em São Paulo............................................................................................................... 127
4.4 Atores coletivos na institucionalização da rede política de São Paulo..........................134
4.5 Ambiente institucional...................................................................................................138
4.6 Segmentos e atores relevantes na rede política citricola atual de São Paulo.................142
4.7 Ligações relevantes e recursos de poder........................................................................148
4.8 Formas de coordenação na rede citricola de São Paulo.................................................158
4.8.1 Direcionadores relacionados aos atores.........................................................................159
4.8.2 Direcionadores relacionados às relações........................................................................163
4.9 Considerações finais do capítulo....................................................................................165
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................... ........................................168
6 REFERÊNCIAS............................................................................................................177
APÊNDICE A.............................................................................................................................189
APÊNDICE B.............................................................................................................................190
APÊNDICE C.............................................................................................................................191
16
1 INTRODUÇÃO
1.1 O sistema agroindustrial dos cítricos
Dentre os sistemas agroindustriais de cítricos, destacam-se na produção de laranjas
o sistema instalado em São Paulo, no Brasil, e o instalado na Flórida, nos Estados Unidos da
América. Os dois apresentam uma origem comum e com o mesmo objetivo; evoluíram de forma
distinta e estão marcados pela influência que sofreram das mudanças no ambiente, dos hábitos e
costumes de cada região e da intensidade da presença do Estado.
O sistema agroindustrial de cítricos da Flórida
A produção de cítricos no Estado da Flórida, iniciada com a introdução das
primeiras variedades pelos colonizadores espanhóis, evoluiu com a citricultura organizada,
tornando-se cultura importante para o estado. O sucesso provocou a expansão dos pomares e a
fixação de várias famílias que viam na produção e comercialização de cítricos a sua
sobrevivência e o desenvolvimento da região que habitavam.
A redução do tempo de transporte provocada pela introdução do transporte a
vapor, forçou a expansão do limite geográfico do sistema.
Preocupados com o desenvolvimento regional, traço da cultura americana, os
atores agiram para a criação de organizações de defesa de interesse e mecanismos de controle que
permitiram o crescimento da citricultura. A participação em organizações é comportamento
esperado dos atores que atuam no sistema. Os mecanismos iniciais criados para o controle do
setor evoluíram, pressionados pelos atores e intervenção do Estado, resultando em leis, normas e
organizações que atualmente controlam toda a cadeia produtiva.
17
As pesquisas realizadas, muitas delas em conjunto pelas organizações de ensino,
pesquisa e extensão, organizações do governo e atores individuais ou coletivos, modificaram a
indústria com a introdução de novos produtos, entre eles o suco concentrado congelado.
O evento inesperado da Segunda Grande Guerra acelerou o desenvolvimento e o
uso de tecnologias, provocou mudanças em todo o sistema de cítricos, inclusive em seu foco de
produção. Mudanças que ampliaram o limite regional do mercado e diminuíram a sazonalidade
do sistema.
A defesa dos interesses, individuais e comuns, dos setores da cadeia produtiva é
realizada pelas diversas organizações de representação de interesses atuantes no setor. A
convivência entre essas organizações é observada nos diversos comitês existentes e na
participação das decisões tomadas para a regulamentação e o controle do sistema. Novos
produtos e barreiras protecionistas protegem a cadeia produtiva de outros sistemas exportadores
(muitos deles estimulados ou instalados devido a eventos inesperados como as geadas e furacões
na Flórida).
A redução da assimetria, como mecanismo de controle, é obtida pela divulgação
organizada e consistente de informações confiáveis e essenciais sobre todas as etapas da cadeia
produtiva. Compreende um hábito iniciado nas primeiras organizações de defesa de interesses
hoje cristalizado nos atores do sistema.
O sistema portanto sofre pressões provocadas por diversas situações que o estão
impactando e obrigando a buscar o melhor arranjo que atenda os interesses individuais e comuns
dos atores.
O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo
A produção de cítricos no Estado de São Paulo, iniciada com a introdução das
primeiras variedades pelos colonizadores portugueses, evoluiu das plantações litorâneas,
alastrando-se com a expansão da colonização, caminhando como cultura secundária. A
citricultura organizada tornou-se cultura importante somente após o crescimento do volume das
exportações de fruta, iniciada em 1926.
18
A citricultura cresceu sem organizações efetivas na defesa de seus interesses. No
estado a participação em organizações não é um comportamento esperado dos atores que atuam
no sistema. A característica cultural paulista e a postura do Estado influíram na formação dos
mecanismos de controle existentes, bem como na ausência de leis claras e efetivas para controlar
toda a cadeia produtiva.
Em São Paulo, as pesquisas realizadas pelas organizações de ensino, pesquisa,
extensão e organizações do governo modificaram o panorama do setor de produção de frutas, no
entanto, sem agir no setor de processamento, muitos dos padrões de qualidade e produção
utilizados pelas empresas do setor são importados de outros países.
O evento inesperado da Segunda Grande Guerra devastou o sistema paulista, que
ressurgiu somente após a retomada das exortações com o término da guerra na Europa. Poucas
foram as ações para o aproveitamento dos excedentes de safra em São Paulo.
A geada de 1962 na Flórida acelerou, no entanto, o desenvolvimento, crescimento
e uso de tecnologias, provocando mudanças em todo o sistema de São Paulo, tornando-o o maior
exportador de suco no planeta. O Estado agiu financiando o crescimento da cadeia de citros
paulista. No período o preço praticado pelo sistema paulista pressionou o sistema da Flórida.
Pouco se observa da atuação e convivência das organizações de representação na
defesa dos interesses individuais e comuns do sistema e da participação conjunta dessas
organizações nos comitês existentes e nas decisões tomadas (para a regulamentação e controle),
mesmo diante de barreiras protecionistas que dificultam as exportações do sistema paulistas.
A assimetria de informações é usada como mecanismo de controle por quem
possui as informações estratégicas do sistema, hábito cristalizado nos atores desse sistema.
O sistema sofre pressões provocadas por diversas situações, que o estão
impactando e obrigando a buscar o melhor arranjo que atenda os interesses individuais e comuns
dos atores.
19
1.2 Problemas de pesquisa e justificativa do tema
Os maiores sistemas agroindustriais de cítricos do planeta, o de São Paulo e o da
Flórida, tiveram início comum com a introdução dos cítricos pelos espanhóis e portugueses no
continente americano, durante o período das grandes navegações, porém, com o decorrer do
tempo, sofreram alterações e adaptações em seus arranjos organizacionais e institucionais e
atualmente apresentam distintos nos mecanismos de governança e formas de coordenação.
O processo histórico de cada um dos sistemas mostra que as mudanças que
ocorreram no ambiente, por avanços tecnológicos ou por eventos inesperados, influenciaram de
forma distinta, cada um dos sistemas. Essas mudanças produziram fortes impactos sobre os seus
arranjos organizacionais e as suas formas de coordenação.
A forma de tratamento dada a citricultura comercial, pelos seus atores em seu
início (desenvolvimento ou exploração da região), aliada à pressão provocada por alternativas
agrícolas influenciaram o arranjo organizacional, impulsionando de formas e velocidades
diferentes os arranjos e a instalação de alguns dos mecanismos de controle hoje existentes.
A diferença cultural e os distintos hábitos e costumes cristalizados nos atores de
cada um dos sistemas levaram a diferentes arranjos na defesa de interesses com a ocorrência de
organizações fortes e atuantes na Flórida e fracas e pouco atuantes em São Paulo. Também
conduziram à construção de diferentes focos de atuação nas organizações de ensino, pesquisa e
extensão existentes em cada um dos sistemas instalados. Ainda, a atuação e a presença do Estado
nos dois sistemas, tanto na elaboração e manutenção de mecanismos de controle como na defesa
dos interesses e na estabilização do agronegócio de cítricos são diferentes.
A atenção ao setor se justifica pela importância econômica do sistema paulista e
pelo grande número de atores envolvidos nos diversos elos da cadeia produtiva por isso, o
presente trabalho, explorando as dinâmicas de coordenação e o ambiente institucional existentes
em cada sistema, busca auxiliar no entendimento das diferenças existentes e do impacto que
podem causar na competitividade de cada um deles.
20
1.3 Objetivo geral
Analisar a evolução institucional e organizacional dos dois principais sistemas
agroindustriais de cítricos, o de São Paulo e o da Flórida, ressaltando algumas das diferenças
existentes entre eles. Assim, pretende-se mostrar que esses sistemas, que iniciaram a operação de
modo similar, apresentam na atualidade mecanismos de governança, formas de coordenação
distintas e específicas; que a constituição histórica de cada setor, a cultura de cada região e a
intensidade da participação do Estado foram determinantes para a diferenciação organizacional.
1.3.1 Objetivos específicos
9 Mostrar os impactos da mudança do ambiente institucional sobre as formas de governança e
coordenação existentes nos sistemas agroindustriais de cítricos da Flórida e de São Paulo;
9 Mostrar que os hábitos e costumes sedimentados em cada região produtiva citrícola da
Flórida e São Paulo importaram para a construção das relações entre os elos de seus sistemas
agroindustriais de cítricos, principalmente para a relação entre os produtores e processadores;
9 Mostrar que o Estado contribuiu para a construção distinta dos mecanismos de governança e
coordenação dos sistemas agroindustriais de cítricos dos estados da Flórida e de São Paulo.
1.4 Método
O método de procedimento utilizado neste estudo é o “estudo exploratório” por
meio da coleta de dados primários e secundários. É um método de pesquisa indutivo, partindo de
casos particulares para a inferência de uma verdade universal (LAKATOS; MARCONI, 1991).
Uma abordagem metodológica deste tipo de estudo é predominantemente qualitativa, mesmo
fazendo uso de alguns dados estatísticos.
21
Os dados primários foram obtidos por meio de entrevistas, conversas ou consultas
com pessoas em diferentes posições no sistema agroindustrial de cítricos da Flórida e de São
Paulo. Nas entrevistas, conversas ou consultas não foram utilizados questionários fechados ou
estruturados, mas questionários abertos e roteiros voltados a aspectos específicos do setor.
Os dados secundários foram obtidos a partir de estudos acadêmicos já existentes,
de livros e publicações diversas e de textos e artigos publicados por: organizações de ensino,
pesquisa e extensão; organizações de defesa de interesses; organizações do governo; atores
ligados à produção de laranja; e atores ligados ao processamento de laranja.
Como instrumento de pesquisa, o estudo exploratório se mostra importante para o
entendimento de fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos e de grupos, além de
outros fenômenos relacionados (YIN, 2005.); prioriza a análise qualitativa, permitindo o uso de
dados quantitativos, na construção dos fatos e processos em detrimento da quantificação dos
mesmos.
Os atores contatados neste estudo foram escolhidos utilizando-se como base o
conhecimento que possuíam sobre o funcionamento do sistema agroindustrial em questão, a
importância no contexto e a organização que representam. Entre os entrevistados estão atores
(proprietários ou funcionários) que participam dos elos de produção de fruta, processamento,
organizações do governo, organizações de defesa de interesses e organizações de ensino,
pesquisa e extensão envolvidos com o sistema agroindustrial de cítricos.
Neste estudo não se buscou entender em profundidade o funcionamento das
organizações visitadas, mas o conhecimento que as pessoas contatadas possuem sobre o
funcionamento do setor ou do sistema como um todo. O Quadro l mostra os atores do sistema da
Flórida entrevistados e seus respectivos cargos nas organizações às quais pertencem; enquanto o
Quadro 2 apresenta os atores do sistema de São Paulo.
As entrevistas e conversas foram realizadas pessoalmente pelo autor, com o
objetivo de coletar informações que auxiliassem no entendimento das relações presentes no setor
focado. Muitas vezes, mais de uma entrevista ou conversa foram feita com o mesmo agente,
abordando temas distintos.
22
Organização Cargo do(s) entrevistado(s) Localidade Tipo de organização
A
Diretor Vice-Presidente
Gerente industrial
Gerente de qualidade
Agrônomo
Clewiston Processadora / produtor
B Diretor Arcadia Processadora
C
Diretor
Gerente industrial
La Belle Processadora / produtor
D
Vice-Presidente de produtos processados
Gerente de logística
Lake Wales Processadora / produtor
E
Diretor
Gerente de produção
Frost Proof Processadora / produtor
F Proprietário Winter Haven Processadora
G
Diretor de marketing
Diretor de Relações Públicas
Cientista de pesquisa
Engenheiro IV
Lakeland Pesquisa e extensão
H
Consultor de processo
Gerente geral
Gerente de engenharia
Gerente comercial
Engenheiro de desenvolvimento
Lakeland Fornecedor de equipamentos
I
Diretor
Gerente industrial
Lake Wales Processadora / cooperativa
J Comissário -x-
Interesse do sistema
agroindustrial
K Diretor -x- Interesse dos processadores
L Professor aposentado Lakeland Ensino
QUADRO-1 Relação das entrevistas realizadas – Flórida
Fonte: elaborado pelo autor.
Interessante apontar que neste estudo foi feito um recorte na cadeia de cítricos,
englobando os atores envolvidos diretamente no mercado de suco de laranja concentrado e
congelado (FCOJ) e suco fresco pasteurizado (NFC). Alguns elos do setor, como os relacionados
com insumos, máquinas, equipamentos, alimentos, bebidas derivadas e aromas, não foram
considerados nas análises desta pesquisa.
Este trabalho, como em outros estudos baseados em informações qualitativas,
apresenta limitação quanto ao desvio da amostra coletada. Considerando a tendência dos
entrevistados de defesa de seus interesses, esse desvio se acentua. Para atenuar, foram realizadas
conversas ou entrevistas com mais de um ator do mesmo segmento, contrapondo suas
declarações. Importante salientar que se enfrentam limites inevitáveis ao buscar a imparcialidade.
23
Organização Cargo do(s) entrevistado(s) Localidade Tipo de organização
A
Proprietário
Gerente de qualidade
Gerente industrial
Mirassol Processadora / produtor
B
Proprietário
Diretor comercial
Diretor industrial
Araraquara Processadora / produtor
C
Diretor industrial
Gerentes industriais
Gerente de qualidade
Matão Processadora / produtor
D
Diretor industrial
Gerentes industriais
Gerente de qualidade
Matão Processadora / produtor
E Proprietário Eng. Coelho Produtor / processadora
F
Diretor industrial
Gerentes industriais
Gerente de engenharia
Gerente suprimento de fruta
Catanduva Processadora / produtor
G Proprietário São Carlos Produtor / processadora
H
Diretor industrial e
Gerente industrial
S. C. Rio Pardo Produtor / processadora
I Proprietário Limeira Produtor / processadora
J Proprietários Araraquara Processadora
K Proprietário Bebedouro Processadora
L Proprietário Ribeirão Preto Processadora
M Proprietário Mogi Guaçu Processadora
N Gerente Araraquara Produtor
O Gerente Matão Produtor
P Proprietário Monte Azul Produtor
Q Proprietário Limeira Pool produtor
R Proprietário Catanduva Produtor
S Proprietário Colina Produtor / processadora
T Proprietário Bragança Trading
U Banco São Paulo Mercado futuro
V Agrônomo São Paulo Pesquisa e extensão
X Representante São Paulo
Organização de representação dos
processadores
QUADRO 2. Relação das entrevistas realizadas – São Paulo
Fonte: elaborado pelo autor.
24
1.4.1 Elaboração dos questionários e roteiros de conversas e entrevistas
Os questionários e roteiros de conversas e entrevistas buscaram analisar os
direcionadores de coordenação elaborados no Capítulo 2 deste trabalho. Os direcionadores
abordam basicamente as formas de coordenação vertical, ou as relações entre agentes de vários
elos da cadeia produtiva, normalmente representada por relações comerciais, e coordenação
horizontal, ou relações entre agentes do mesmo elo da cadeia produtiva, normalmente
representada por transações pouco comerciais.
Foram utilizados diferentes tipos de questionários, roteiros de conversas e
entrevistas para cada tipo de ator, baseado no conhecimento ou no papel que cada ator representa
no sistema. Tomando como exemplo um processador, verificam-se relacionamentos “verticais”
com produtores, traders, blend houses, engarrafadoras e distribuidoras. Observaram-se também
relacionamentos “horizontais” com os demais produtores, com suas organizações de defesa de
interesses, com as organizações do governo e as organizações de ensino, pesquisa e extensão.
Assim, os questionários e roteiros utilizados com esse tipo de ator englobaram os respectivos
indicadores escolhidos para analisar tais relacionamentos (ver APÊNDICES A, B e C).
1.5 Estrutura do trabalho
Este trabalho está estruturado em seis capítulos, contando com esta Introdução. No
Capítulo 2 são apresentados os aportes teóricos que permitiram a elaboração dos doze
direcionadores de coordenação utilizados neste estudo, relacionados aos atores: número e
tamanho dos atores; informação / conhecimento; liderança; reputação; legitimidade; outros
recursos de poder; confiança; e características culturais e os relacionados com as redes:
centralidade, freqüência, velocidade e cooperação.
25
O Capítulo 3, dividido em nove sessões, discorre sobre o sistema agroindustrial de
cítricos da Flórida, mostrando o processo histórico de sua formação e os principais aspectos
organizacionais da rede de decisões. Na sessão oito consta a forma de coordenação da rede
baseada na aplicação dos direcionadores de coordenação apresentados no Capítulo 2 e, na última
sessão, há as considerações finais do capítulo.
O Capítulo 4, dividido em nove sessões, aborda o sistema agroindustrial de cítricos
de São Paulo, mostrando o processo histórico de sua formação e os principais aspectos
organizacionais da rede de decisões. Na sessão oito está à forma de coordenação da rede baseada
na aplicação dos direcionadores de coordenação apresentados no Capítulo 2 e na última sessão,
encontram-se as considerações finais do capítulo.
O Capítulo 5 apresenta as considerações finais deste trabalho e salienta algumas
das diferenças existentes entre os sistemas estudados e, baseado nos direcionadores de
coordenação, busca a explicação para a existência destas diferenças.
O Capítulo 6 apresenta as referências utilizadas neste trabalho, seguida dos
apêndices.
26
2 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
As relações existentes entre os diversos atores individuais ou coletivos, envolvidos
em determinado ambiente têm sido campo de estudos para o entendimento e aperfeiçoamento da
compreensão dos mecanismos de coordenação das cadeias produtivas dos diversos campos da
economia. Semelhante à coordenação por meio de sistema de preços, realizada na economia de
mercado, a coordenação desempenhada pelas relações que se estabelecem e se adaptam dentro do
campo relacional de cada sistema produtivo tem impacto na dinâmica da economia como um
todo.
A coordenação produzida pelas relações econômicas, sociais e políticas dos atores
de um sistema produtivo é estudada com base nos conceitos do institucionalismo, por várias áreas
do conhecimento que definem as instituições como sendo as regras, normas, convenções e
procedimentos que orientam o comportamento dos atores. O neo-institucionalismo se destaca
entre essas e, a partir das linhas de análise histórica, econômica e sociológicas, vem
demonstrando como as instituições econômicas e sociais influenciam o funcionamento do sistema
econômico.
Os estudos do neo-institucionalismo associados a outros referenciais teóricos,
como abordagens de rede, das cadeias e dos mecanismos de governança, focam as relações entre
os diversos atores econômicos e sociais, oferecendo análise com base teórica multifacetada e
flexível para o entendimento das complexas relações do sistema capitalista moderno.
Dentre as correntes que focam a integração do neo-institucionalismo e as redes, a
da Economia dos Custos de Transação (ECT) busca analisar como as características (ou
atributos) das transações levam à construção de formas organizacionais (mecanismos de
governança) distintas em sistemas produtivos semelhantes instalados em diferentes posições
geográficas, partindo da análise das formas relacionais estabelecidas dentro do sistema produtivo.
A corrente de análise das Redes de Poder foca as relações de poder existentes entre os atores,
observando e analisando as características dos membros e as ligações existentes entre eles,
utilizando os referencias da corrente sociológica do institucionalismo.
Essas correntes analisam de forma ampla as redes de empresas e de atores, como
também mostram a importância das instituições na construção, manutenção e funcionamento
27
dessas relações. A ECT aborda as formas organizacionais sob uma visão econômica pela qual a
estrutura de governança adotada reflete a forma organizacional mais eficiente obtida pelos
agentes em função dos custos de transação existentes no sistema. Enquanto a Rede de Poder
contempla a disputa de poder e informação entre os atores que buscam maximizar seus ganhos e,
também defende a posição de que o Poder funciona como mecanismo para alocação de recursos.
Este capítulo tem como objetivo realizar revisão da literatura existente sobre as
contribuições da análise das redes e do neo-institucionalismo, abrangendo diferentes correntes,
com a intenção de explicar as formas organizacionais e coordenação das redes e cadeias
produtivas.
O Institucionalismo é discutido no subitem 2.1, discorrendo sobre as Instituições,
sua influência sobre os indivíduos e a sociedade, bem como seus aspectos, sua difusão e
modificação, e sobre as escolas institucionais. O subitem 2.2 aborda as Instituições e sua
influência sobre o ambiente institucional e governança, a forma das organizações, a coordenação
e os sistemas de governança das redes. O subitem 2.3 contempla os fundamentos das Redes de
Poder, suas características ou dimensões. As considerações finais constam no subitem 2.4,
ressaltando as dimensões a serem utilizadas na análise proposta por este trabalho.
2.1 Institucionalismo
Instituições, indivíduo e sociedade
As instituições são regras formais, limitações informais e mecanismos
responsáveis pela eficácia das normas, as quais constituem o arcabouço imposto pelo ser humano
e para seu relacionamento com os outros. Possuem características supra-organizacionais da
atividade humana por meio das quais os indivíduos e as organizações produzem e reproduzem
sua subsistência material e organizam seu espaço e tempo.
As instituições são constituídas de estruturas cognitivas, normativas e reguladoras
das atividades, que suportam a estabilidade, ordenam a realidade e dão significado ao espaço, ao
28
tempo e ao ambiente social. São sistemas multifacetados que determinam a forma do ambiente.
As instituições assumem o pretexto de ser uma realidade impessoal e objetiva.
A difusão das instituições ocorre pela cultura, estruturas e rotina. Elas operam em
múltiplos níveis de jurisdição. Seus sistemas de significado, processos de monitoramento e ações
estão inter-relacionadas. Tudo é construído e mantido pelos atores individuais.
Os ambientes sociais, econômico e institucional (FRIEDLAND; ALFORD, 1993)
nos quais o ator individual ou coletivo está envolvido: pressiona e atribui significado às
informações; afeta a cognição; as preferências; e o comportamento do ator. O meio social é
moldado por indivíduos que optam e negociam; por organizações em conflitos e em coordenação;
e por instituições em contradições e interdependência. Ao mesmo tempo em que é moldado, o
meio social também molda os indivíduos e as instituições que o constituem.
As modificações no ambiente e nas instituições causadas pelas relações sociais são
questões de análise constante, pois as instituições estão cristalizadas na estrutura do indivíduo
(GRANOVETTER, 1985), o qual leva para dentro das organizações as relações sociais que
representam seu ambiente externo.
Neste contexto, explicar os fenômenos sociais e econômicos como resultado dos
propósitos e preferências dos indivíduos, atribuindo efeito limitado do mundo externo sobre
estes, é comum na escola do individualismo metodológico (SCOTT, 1995).
Instituições, aspectos, difusão e modificação.
Existem diferenças entre as diversas escolas institucionais, como: a variação na
ênfase do elemento institucional (regulador, normativo e cognitivo); variação no meio difusor do
elemento institucional; variação dos níveis do elemento institucional. O Quadro 3 identifica nas
colunas os elementos construtores e que suportam as instituições e nas linhas algumas das
principais dimensões que definem cada teoria analisada (SCOOT, 1995).
29
Regulador Normativo Cognitivo
Acordos por
Conveniência / interesse Conformidade / obrigação social Validade em si
Mecanismos Coercitivo Normativos Miméticos
Lógica dos atores Instrumental Adaptativa Ortodoxa
Indicadores Regras, leis, sanções Certificações, atribuição Manutenção, isomorfismo
Legitimidade Sanções legais Sanções morais
Culturalmente suportada,
correta, conceitualizada
QUADRO 3. Pilares do institucionalismo – variação na ênfase
Fonte: SCOTT, 1995, p. 35.
Instituições, aspecto regulador
Uma das escolas teóricas dá ênfase ao aspecto regulador das instituições, baseada
no fato de que as instituições pressionam e regulam o ambiente (SCOTT, 1995). O processo
regulador envolve a capacidade de: estabelecer regras; controlar obediências às regras
estabelecidas; e aplicar sanções na intenção de influenciar o ambiente futuro. A força, o medo e
os interesses privados ou coletivos são ingredientes centrais da regulamentação, enquanto a
existência de regras (leis formais, morais ou informais) legitimadas pelos atores, minimiza e
reduz os custos e tensões criados no ambiente.
Essa visão das instituições é consistente com a perspectiva real da sociedade, que
vê os atores motivados a tomar suas decisões de acordo com a relação do custo e do benefício dos
atos a serem praticados. Os atores comportam-se de acordo com suas conveniências, calculam os
prêmios e as penalidades e de quem eles vêm se de outros indivíduos, da organização ou do
Estado.
Para alguns teóricos a presença do Estado é vista como estrutura de coerção
necessária para manter a estabilidade da ordem, estando a visão predominante das instituições em
um sistema de regras suportadas pela fiscalização e sanções de poder.
30
Instituições, aspecto normativo
Outra escola teórica enfatiza o aspecto normativo, introduz a dimensão da
perspectiva, da avaliação e da obrigação dentro da vida social (SCOTT, 1995). Inclui: (a) valores
desejados ou de preferência utilizados na construção dos padrões, dando às estruturas ou
ambientes existentes forma de comparação e aceitação; (b) normas que especificam como as
coisas deveriam ou devem ser feitas, definindo a legitimidade dos meios na busca do objetivo
final, bem como os objetivos, metas e os meios adequados para os conseguir.
Alguns valores e normas são aplicáveis a todos os membros da coletividade,
enquanto outros, somente a um grupo especial de atores ou a uma posição social específica. Essa
concepção prevê a forma como os atores supostamente devem agir ou fazer. Os papéis podem ser
colocados: (a) formalmente, quando uma posição particular é definida para levar ou conduzir
expectativas específicas ao ambiente; (b) informalmente, ao longo do tempo, pela interação de
expectativas diferenciadas, desenvolvidas para guiar, dirigir ou influenciar o ambiente.
Sob o foco normativo, as instituições movem-se do ambiente restrito do
racionalismo e põem ênfase em como os valores e estruturas normativas que organizam as
escolhas; as ações racionais sempre estarão garantidas no contexto social, que especificam os
meios apropriados para a obtenção de determinados fins. Essas ações adquirem o significado de
razoáveis, com base nas regras e normas do ambiente em que estão inseridas. Nesse conceito, as
ações são estruturadas pelos valores aceitos e arcabouços normativos; os atores agem como
agem, não porque assim atingiriam seus interesses individuais perfeitamente definidos, mas sim,
porque isto é esperado deles, e eles são obrigados a fazê-lo. As regras são freqüentemente
observadas como restrições impostas no ambiente social, e é isso que elas são. Mas, ao mesmo
tempo, elas criam condições e permitem às ações sociais conferirem: direitos como também
responsabilidades; privilégios como também penalidades; licenças como também mandatos.
31
Instituições, aspecto cognitivo
O aspecto cognitivo introduz o conceito das regras que constitui a natureza da
realidade e os arcabouços por meio dos quais se dá o significado das coisas (SCOOT, 1995).
Arbitrando entre os estímulos do mundo externo e as respostas dos organismos individuais, está a
coleção internalizada das representações simbólicas do mundo: (a) os símbolos (palavras, sinais e
gestos) têm seu efeito na formação dos significados que se atribuí aos objetos e atividades; (b) os
significados surgem na interação, são mantidos e transformados quando são empregados para
darem sentido aos fatos que estão acontecendo.
Para entender ou explicar qualquer ação, deve-se ter presente não somente as
condições objetivas, mas também a interpretação subjetiva que o ator coletivo ou individual tem.
O significado surge com a interação e é preservado e modificado pelo ambiente humano.
Portanto, a influência de outros na formação de juízos e na tomada das ações de
cada indivíduo, está relacionada à necessidade de aceitação que o indivíduo tem em relação ao
ambiente social em que atua, assim, os conceitos, os símbolos, as regras e os sinais de cada ator
são alterados em função do meio social em que está inserido.
Muitas das ações são tomadas pelos indivíduos sem uma seqüência exaustiva de
análise e interpretação dos dados. São consideradas ações habituais e seu mecanismo de atuação
está em distintos níveis da consciência na mente, fora da esfera da deliberação racional. Todos os
atores possuem filtros sociais e contextuais que: influenciam o modo de interpretar as
informações; indicam o como e o porquê das tomadas de decisão elaboradas pela consciência
ativa.
Instituições, mecanismos de difusão
A difusão das instituições ocorre pela cultura, estruturas e rotina. A cultura é um
mecanismo de difusão baseado: na interpretação das estruturas, nos procedimentos codificados; e
no sistema de regras, cujos esquemas de interpretação informam e pressionam continuamente o
32
meio, e também são reforçados e modificados pelo ambiente (SCOTT, 1995). O Quadro 4 mostra
que as bases institucionais reguladoras, normativas ou cognitivas estão salientadas e cristalizadas
em diferentes tipos de repositórios ou mecanismos de difusão, como culturais, estruturas sociais e
rotinas.
Pilares
Mecanismos de sustentação
Regulador Normativo Cognitivo
Culturais Regras e leis Valores e expectativas Linguagem, tipificação,
categorias
Estruturas sociais Sistemas de governo Sistemas de posição Identidades
Rotinas Protocolos Cumprimentos dos acordos Ritos, cerimônias, mimetismo
QUADRO 4. Mecanismos de difusão das instituições
Fonte: SCOTT, 1995, p 52.
As estruturas sociais são mecanismos de difusão baseadas: no cumprimento das
expectativas conectadas à rede de relacionamento das posições sociais; e nos sistemas de papéis.
As estruturas pressionam e dão força ao ambiente, dos atores, ao mesmo tempo em que são
reproduzidas e transformadas pelo ambiente (HODGSON,____).
As rotinas são mecanismos de difusão baseadas: no cumprimento das ações que
refletem o conhecimento tácito dos atores; e nos hábitos profundamente arraigados e
procedimentos baseados no conhecimento inarticulado e nas crenças. Os hábitos são adquiridos
pela imitação ou escolha assumida e consciente de atos repetidos. As práticas habituais refletem a
adaptação do indivíduo ao meio, de forma induzida ou espontânea, no contexto institucional. Os
hábitos adquiridos produzem rotinas padronizadas, que influenciam o comportamento dos atores
dentro do ambiente institucional em que estão. Estas rotinas são também disseminadoras de
comportamento por mimetismo, dentro do ambiente e no campo relacional e tornam-se
instrumentos nas instituições e úteis no controle organizacional (DiMAGGIO; POWELL, 1999).
Instituições, mecanismo de modificação
As instituições mudam e os agentes da mudança são os atores que decidem nas
organizações. Estas mudanças são determinadas pelas opções dos atores e derivam de mudanças
no ambiente externo e no aprendizado interno. O processo de mudança das instituições
normalmente é gradativo, e o direcionamento das mudanças está ligado à trajetória dependente
33
dos interesses da organização. A alteração das instituições provoca alteração no comportamento
dos atores e afeta o ambiente relacional em que atuam, promovendo a modificação e a evolução
dos ambientes circunvizinhos.
2.2 Escolas institucionais
Institucionalismo da escolha racional
O uso de idéias e noções que assumem a ação como sendo racional e dirigida por
propósitos bem definidos designa o institucionalismo da escolha racional; busca explicar a
estabilidade das preferências de um conjunto de atores diante de um conjunto de múltiplas
opções. As instituições, regras e procedimentos estruturam as escolhas e informações dos atores,
permitindo que a estabilidade seja atingida. Essa perspectiva enfatiza a busca da renda, o custo de
transação, o direito de propriedade para a operação e o desenvolvimento das instituições.
As características básicas que marcam a perspectiva de análise do
institucionalismo da escolha racional são: (a) suposição comportamental - os atores fixam um
conjunto de preferências e gostos e comportam-se estrategicamente para maximizar sua escolha;
(b) política com uma série de dilemas coletivos - os indivíduos agem para maximizar suas
preferências e produzem resultados coletivos sub-ótimo, conforme os conceitos de Nash; (c)
interação estratégica na determinação dos resultados políticos - o comportamento dos atores não é
guiado somente por fatores históricos, mas também por fatores estratégicos de cada um dos
atores, a interação entre eles é estruturada pelas instituições; (d) as instituições atribuem valor
para as funções dos atores - os atores criam as instituições no sentido de realizar seus valores,
promovendo ganho cooperativo, os acordos voluntários, entre os atores relevantes, proporcionam
a sobrevivência da instituição no processo de seleção competitiva (HALL; TAYLOR, 1966).
Nas ciências políticas, o campo da escolha racional é onde os analistas vêem as
instituições como governanças ou sistemas de regras e argumentam que elas representam
34
construções racionais criadas por indivíduos que buscam promover ou proteger seus interesses
(SCOTT, 1995).
O desenvolvimento da estrutura organizacional está modelado pelo ambiente
competitivo, pela estratégia definida, pelos atores e pelo tamanho da firma. A escolha racional da
estratégia e o modo como os indivíduos estão coordenados e motivados fazem as coisas
acontecerem. O sucesso da firma não está ligado somente na tecnologia, custos e demanda, mas
também na organização e estratégia de necios (MILGROM; ROBERTS, 1992; REED, 1998).
As mudanças organizacionais e as estratégias coorporativas são modeladas pelo
contexto institucional, que conectam as formas organizacionais, tecnologias e instituições. As
entidades coorporativas são vistas como entidades comportamentais, com competências
específicas, inseridas em rotinas e em processo de evolução ao longo do tempo, devido à
aprendizagem interna e à mudança no ambiente; a evolução segue uma trajetória dependente
influenciada pela cristalização e consolidação das instituições (DOSI; MALERBA, 1996;
PATEL; PAVITT, 1997).
A mudança ou dinâmica da evolução tecnológica é resultado probabilístico,
condicionado: às estratégias e investimentos em pesquisa e desenvolvimento, no efeito do
ambiente competitivo e no comando do processo de geração e difusão de inovação endógena à
estrutura da indústria; e está nas assimetrias tecnológicas e produtivas, nos paradigmas e
trajetórias tecnológicas, no efeito da ação microdinâmica e na influência macrodinâmica exógena
à indústria.
As relações entre agente e principal estão cercadas de mecanismos formais,
criados com o objetivo de controlar o esforço do agente no contrato com o principal, e minimizar
o efeito do oportunismo entre os envolvidos, pois os interesses são antagônicos e conflitantes. As
regras informais também atuam neste contexto (SAPPINGTON, 1991).
As escolhas políticas não são caóticas, mas quase estáveis, devido às diferentes e
distintas regras que a instituição aplica. Para compreender essas regras, é importante determinar a
origem das instituições, pois as organizações econômicas e as instituições são explicadas do
mesmo modo, como estruturas que emergiram e adquiriram a forma que possuem porque elas
resolvem o problema de ações coletivas, ao mesmo tempo em que facilitam o ganho na
comercialização. Assim, interesses idênticos podem resultar na criação de estruturas diferentes, e
a mesma estrutura pode resultar em interesses e escolhas diferentes. O sistema político (visão de
35
governo) não é uma arena neutra, nas quais interesses externos competem, mas uma forma
complexa que gera interesses próprios e independentes, que buscam vantagens, exercendo seus e
que seus procedimentos efeitos importantes em qualquer tipo de transação econômica (SCOTT,
1995).
Institucionalismo histórico
O aparecimento e as mudanças em uma economia inteira têm sido os interesses de
historiadores da economia. O institucionalismo histórico define as instituições como
procedimentos, rotinas, normas e convenções formais ou informais, cristalizadas na estrutura
organizacional; em geral, associam instituições com organizações e as regras e convenções
promulgadas com a organização formal. Conforme seu conceito e abordagem: os conflitos entre
grupo rivais não ocorrem somente devido a recursos escassos; procuram explicações para as
desigualdades que marcam as decisões políticas; demonstram como as instituições e os conflitos
da estrutura econômica privilegiam alguns interesses e prejudicam outros; a política é um sistema
geral de interação de partes; e enfatizam o estruturalismo implícito nas instituições políticas e o
funcionalismo da decisão política como uma resposta para a necessidade do sistema (HALL;
TAYLLOR, 1966).
O institucionalismo histórico está focado na análise das estruturas e regimes de
governança. Considera que: as instituições políticas não são totalmente derivadas de outras
estruturas sociais, e possuem efeito independente no fenômeno social. O arranjo social não é,
somente ou primariamente, o resultado da agregação da escolha e ações de indivíduos, muitas das
estruturas não são como foram planejadas ou tinham a intenção de ser, mas a conseqüência de
uma escolha não prevista e sob pressão (SCOTT, 1995).
As características básicas de análise do institucionalismo histórico são: o
comportamento do indivíduo é afetado pela abordagem dos cálculos e/ou pela abordagem
cultural, é limitado pela sua visão de mundo, assim sua ação depende da sua interpretação da
situação, mais do que puramente de um cálculo estratégico; enfatiza a assimetria de poder
associada com a operação e o desenvolvimento das instituições; as instituições afetam a
36
distribuição do poder de forma desigual por meio dos grupos sociais; tende a ver o
desenvolvimento institucional como trajetória dependente, ou seja, as mesmas forças gerarão
resultados diferentes em lugares diferentes, devido às características contextuais de dada situação,
herdada do passado; integra a análise institucional com a contribuição que outros fatores podem
ter sobre o resultado político, reconhecendo que as instituições não são as únicas causas das
forças políticas, busca analisar os efeitos da interação das instituições com outros fatores, como a
difusão de idéias, desenvolvimento socioeconômico etc. (HALL; TAYLOR, 1966).
Para esta escola, as preferências dos atores não podem ser compreendidas, exceto
como parte da grande estrutura institucional; as preferências individuais não são estáveis,
freqüentemente resultam de uma escolha, precedem de uma escolha ou determinam uma escolha.
As instituições constroem os atores e definem o modelo de ações permitidas, porém, os atores
pressionam o ambiente como também o vitalizam. Apesar de os indivíduos terem construído
essas estruturas, não existem garantias de que elas produzirão o que foi planejado, pois as
escolhas e possibilidades atuais são pressionadas e condicionadas pelas escolhas anteriores.
Institucionalismo sociológico cognitivo
O uso de idéias e conceitos da sociologia para explicar como as instituições
influenciam a ação humana designa o institucionalismo sociológico. Esse institucionalismo busca
explicar as estruturas burocráticas do mundo moderno como produto do esforço intensivo de
planejar uma estrutura mais eficiente, para realizar as tarefas atribuídas à sociedade moderna.
Muitas das formas institucionais e procedimentos utilizados são adotados, não somente para
tornar as tarefas mais eficientes, mas por prática culturalmente especificada, cerimônias e mitos
criados e difundidos por muitas sociedades. Não é possível entender o comportamento do
indivíduo ou da organização sem situá-los em um contexto social (FRIEDLAND; ALFORD,
1993; HALL; TAYLOR, 1966; DAUGBJERG, 1997).
A forma de observar as organizações do institucionalismo sociológico foca o:
sistema de significados e a forma que eles são construídos e reconstruídos pela ação social;
significado operando não somente na mente dos indivíduos, mas também objetivando os fatos
37
sociais residentes nas instituições sociais; ambiente das organizações precisando ser
conceitualizado, não somente como recursos disponíveis e objetivos a serem atingidos, mas
também como fonte de significado para os membros das organizações (SCOTT, 1995).
As características básicas que marcam a perspectiva de análise do
institucionalismo sociológico são: a estrutura de significados - a inclusão do sistema de símbolos,
papéis cognitivos e moldes morais juntamente com as regras formais, procedimento e normas nas
instituições que guiam a ação humana; a abordagem cultural das relações entre instituições e
ações individuais - os indivíduos se socializam em uma instituição e internalizam as normas
associadas com seu papel/função nesta instituição, modificando seu comportamento; tudo é
socialmente construído, inclusive as ações dos atores, visto que, as instituições afetam as
preferências e a própria identidade dos indivíduos; legitimidade social à organização e seus atores
- as instituições surgem e se modificam, não somente para buscar maior eficiência, mas para dar
legitimidade social e conveniência social à organização e seus atores (HALL; TAYLOR, 1966).
A relatividade cultural está apoiada em justificativas morais competentes,
legitimadas pelas sociedades que as cultivam. Várias são as morais e nenhum sistema de normas
morais pode pretender ser eterno ou universal - as representações mentais, os bens simbólicos,
tudo o que é imaginário finca suas raízes na história e, portanto, eventos singulares e em fluxo
assumem caráter efêmero, transitório, provisório, passageiro, mutável. Nenhuma moral se
sustenta pela virtude de seus discursos, pois sempre haverá confronto entre diferentes morais,
com diferentes ideologias e interesses contraditórios (SROUR, 2000).
A produção para o mercado institucional é um projeto cultural de vários caminhos.
Certas propriedades, estruturas de governança, concepção de domínio e regras de troca definem
as instituições sociais necessárias para fazer o mercado. O mundo econômico e o mundo social
operam de acordo com os princípios da vida no mundo social. O motivo de gerentes adotarem
determinados modos de ação gerencial está ligado ao desejo de maximizar os benefícios da firma
ou de agir contra esses interesses em benefício próprio. A construção do modo de ação está
baseada no contexto social em que o gerente opera, e na existência de conceitos na firma,
estratégias e estruturas que o influenciam. Sua experiência anterior molda a forma de desenhar
seu modo de ação e como este modo de ação é visto em seu contexto, como apropriado ou
normativo (FLIGSTEIN, 1996).
38
Segundo a sociologia, os agentes não fazem atos gratuitos, não agem de forma
disparatada, não são loucos e não fazem coisas sem sentido. Se o desinteresse é sociologicamente
possível, ocorre quando o hábito predisposto ao desinteresse encontra um universo no qual o este
é recompensado. Mesmo em campos nos quais o interesse econômico é suspenso, pode-se referir
que os agentes conhecem outras formas de interesse (BOURDIEU, 1997).
2.3 Ambiente institucional e governança
Instituições, ambiente institucional e governança
A Nova Economia Institucional (NEI) recorre a conceitos comuns, como o custo
de transação, instituições e organizações; corresponde a um agrupamento interdisciplinar de
Direito, Economia e Teoria das Organizações. Divide-se em corrente do ambiente institucional,
que trata das instituições em nível macro como a legislação do país, e em corrente das instituições
de governança que aborda as regras em nível micro, como as regras internas, as relações de
autoridade, lealdade, motivação, eficiência, objetivos e recompensas de uma firma. O argumento
principal, na literatura neo-institucional, é que as instituições fazem a diferença, focando na inter-
relação entre a ação e os diferentes arranjos institucionais (AZEVEDO, 1997).
A firma não se expande a ponto de uma só atender todo o mercado, devido aos
custos existentes para manter o arranjo e controlar todos os contratos envolvidos. Surgem
questões como por que as transações econômicas ocorrem: com firmas que possuem estrutura de
governança que envolve regras e mecanismos de decisão hierárquica, ou com firmas que estão
diretamente sujeitas aos mecanismos de preços de mercados. Os custos de transação crescem em
função de duas condicionantes: quando a racionalidade individual (que é limitada) é confrontada
por elevada complexidade e quando as incertezas e oportunismo individuais são complementados
pela ausência de alternativa para o parceiro de transação (COASE, 1991).
O ambiente institucional e o arranjo institucional modificam-se pelas ações externa
e interna ao longo do tempo. A Figura 1 representa o esquema de Três Níveis de Willianson
39
sobre a dinâmica da mudança. O ambiente institucional e o comportamento individual fornecem
os limites para a criação da estrutura de governança. A regra para o aparecimento das formas
organizacionais, das estruturas de governança, é fornecida pelo ambiente institucional. As
alterações no ambiente institucional influenciam alterações na estrutura de governança. As
estratégias tomadas no plano das organizações forçam a mudança do ambiente institucional, e os
indivíduos com racionalidade limitada e oportunista pressionam a estrutura de governança. A
estrutura de governança e o ambiente institucional pressionam e modificam, portanto, o
comportamento do indivíduo (AZEVEDO, 1997).
Ambiente institucional
Estrutura de governança
Indivíduo
FIGURA 1. Esquema de Três Níveis de Willianson
Fonte: AZEVEDO, 1997, p. 61.
Organizações
Conforme Reed (1998), a modernização provocada pelo início do capitalismo
levou à alteração nos padrões econômicos, políticos e sociais. Essas mudanças fizeram com que
os pensadores observassem e analisassem estes novos padrões utilizados na forma de organizar
uma atividade. À medida que crescia a complexidade e intensidade da atividade coletiva,
aumentava a necessidade de uma capacidade administrativa apta para lidar com a situação. A
forma de explicar as organizações tem variado conforme Quadro 5, e diferentes escolas buscam
explicar e defender suas posições, provocando a análise multidisciplinar da situação. As diversas
teorias provocam debates controversos e embates ideológicos sobre como a organização pode e
deve ser.
North (1994, 2003) explica que as organizações são grupos de indivíduos
dedicados a alguma atividade executada com determinado fim; as limitações impostas pelo
ambiente institucional definem o conjunto de oportunidades e o tipo de organização que serão
40
criadas; as organizações são os jogadores e as instituições são as regras do jogo; a estrutura
institucional dá sinais e incentivos claros aos atores envolvidos e estes executam as intenções de
seus representados, sendo responsáveis pela inovação institucional; as organizações querem o
conhecimento e a especialização que melhoram as possibilidades de atingir os objetivos
propostos.
Características Mercado Hierarquia Network
Base normativa Contrato
Direitos de
propriedade
Relações de empregado Forças complementares
Meios de comunicação Preços Rotinas Relações
Método de solução de conflitos Barganha
Ações legais
Normas administrativas
Supervisão
Reciprocidade
Conceito de reputação
Flexibilidade Alta Baixa Média
Grau de comprometimento
entre partes
Baixa Média para Alta Média para Alta
Clima Exatidão e/ou
desconfiança
Formal
Burocrática
Aberta (open-ended)
Benefícios mútuos
Escolha ou preferência dos
atores
Independente Dependente Interdependente
Mistura de Formas Transações repetitivas
Contrato como
hierarquia
Organização informal
Aspectos de mercado como
centro de lucro, transfer
pricing
Hierarquia de Status
Padrões múltiplos
Regras formais
QUADRO 5. Comparações entre as formas de organização econômica
Fonte: POWELL, 1990, p. 300.
Observando o ambiente organizacional sob o foco das transações econômicas,
cristalizadas em contextos particulares da estrutura social, fica evidente como as transações são
mais sociais do que guiadas por estruturas formais de autoridade, ou seja, as transações são mais
dependentes do relacionamento, dos interesses mútuos e da reputação entre os atores. Os
problemas de custos e as dificuldades na medição precisa dos custos afetam toda a transação
econômica; os erros de medição são tão custosos quanto sua eliminação; e expender esforço e
recursos para eliminá-los leva à escolha de determinadas formas organizacionais.
O custo de transacionar, coordenar e de contratar deve ser considerado nas
explicações dos arranjos organizacionais; as restrições e pressões que ocorrem nos processos de
comercialização podem afetar as transações intrafirma, como também em transações entre firmas;
e o ambiente oportunista pós-contrato pode levar a afetar os custos do contrato (KLEIN;
CRAWFORD; ALCHAIN, 1978; BARZEL, 1982).
Para análise da teoria das mudanças organizacionais, dois pontos devem ser
observados: (a) a teoria institucional foca o processo de influência mútua das organizações, as
41
fronteiras dos setores ou campos organizacionais; (b) a teoria institucional foca as organizações
que estão fora da indústria, mas dentro de um setor ou campo, e influenciam ou pressionam as
organizações produtoras de bens ou serviços. A definição coletiva de um conjunto de
organizações como indústria, ou o entrelaçamento de redes formais ou informais como indústria e
organizações comprometidas com o suporte, controle, elaboração de regras por meio da indústria
ou campo organizacional é um passo importante para a institucionalização das formas
organizacionais.
Por campo organizacional entende todas as organizações que, de forma agregada,
constituem uma área reconhecida da vida institucional, como os fornecedores principais,
recursos, consumidores, agências reguladoras e outras organizações que produzem produtos e
serviços similares. Quando ocorre a instalação inicial de um campo organizacional, as
organizações apresentam estruturas diferenciadas. Com o passar do tempo, essas estruturas se
transformam e as organizações tendem a se tornar muito semelhante. Essas mudanças ocorrem
pois as organizações mudam para controlar o ambiente e para alterá-lo. O processo de
padronização é conhecido por isomorfismo e ocorre de três maneiras: (a) coerção, estabelecida
por influência política ou problema de legitimidade; (b) mimético, resulta da adoção de respostas
padrão para os problemas de incerteza; (c) normativo, quando está associada com a
profissionalização (DiMAGGIO; POWELL, 1983).
O isomorfismo institucional promove o sucesso e a sobrevivência das
organizações, incorporando a legitimidade das estruturas formais externas, aumentando o
comprometimento dos atores internos e externos; e o uso dos critérios de avaliação externos
permite que uma organização seja reconhecida pela definição social, protegendo-a da falha
(MEYER; ROWAN, 1999).
A visão da organização como um sistema social facilita a integração de indivíduos
dentro da comunidade mais ampla, bem como a adaptação desta às condições técnico-sociais de
mudança, que freqüentemente ocorrem de forma volátil. O modelo organizacional baseado no
mercado lida com movimentos cíclicos dentro do próprio contexto socioeconômico, político e
ideológico do qual fazem parte. O modelo baseado no poder conceitua a organização como uma
arena de interesses e valores conflitantes. O modelo baseado no conhecimento e no poder que ele
potencialmente confere assume papel central fornecendo a chave cognitiva e os recursos
representativos para a aplicação de um conjunto de técnicas com que regimes disciplinares
42
podem ser construídos. O modelo baseado em tema normativo levanta questões sobre tipos de
controle corporativos predominantes nas organizações, e sua base de julgamento moral e político
rejeita os modelos de atores racionais, foca o sistema de regras compartilhadas e o papel
estratégico das lutas de poder entre os atores, com o objetivo de controlar a formação e reforma
dos sistemas de regras que guiam as ações políticas e econômicas (REED, 1998).
Coordenação, sistemas de governança
A economia capitalista envolve uma gama (HOLLINGSWORTH; BOYER, 1995)
de relacionamentos de troca interdependentes - transações que ocorrem entre atores individuais e
organizações, tanto individual como coletivamente - para o desenvolvimento, produção e
distribuição de bens e serviços. Essas transações ocorrem entre uma grande variedade de atores
interdependentes que devem resolver ou solucionar diversos tipos de problemas, problemas esses
gerenciados entre os atores pelo processo de coordenação econômica ou sistemas de governança.
A Figura 2 mostra como o arranjo geral do modo de coordenação e os motivos
para a ação podem variar em função do grau e da intensidade da distribuição do poder, horizontal
ou verticalmente, no ambiente e o motivo pelo qual os atores agem por interesse próprios ou por
obrigação.
O mercado é caracterizado pela distribuição horizontal de poder entre seus atores e
o motivo que os levam a agir é o interesse próprio, enquanto nas organizações hierárquicas a
distribuição do poder é vertical e os atores por obrigatoriedade. Nos arranjos comunitários os
atores agem por obrigação, de acordo com o papel que a sociedade espera dele, mas, com uma
distribuição de poder horizontal entre os demais atores; nas associações existe a distribuição
horizontal e vertical do poder dificultando o modo e o motivo que levam os atores a agir, uns por
obrigação e outros por interesses próprios. De modo similar, com variação no grau e intensidade
de poder, no Estado como nas Redes o poder conquistado ou imposto é distribuído de forma
horizontal e vertical e os atores agem motivados, uns mais outros menos, por obrigação com o
papel e contratos a cumprir ou por interesses próprios.
43
Distribuição do Poder
Horizontal
Vertical
+
Mercado
Hierarquia
Interesse Próprio
Associações
-
+
Redes
Comunidade
Estado
Obrigação
-
FIGURA 2. Modo de coordenação e motivo para ação
Fonte: Elaborado pelo autor com base em HOLLINGSWORTH; BOYER, 1995, p. 9.
Os vários mecanismos de coordenação possuem lógica própria, assim, cada um
tem suas regras, seus procedimentos de coação e submissão, suas normas e ideologias que
ajudam a reduzir os custos de coerção. Essas características estão expressas na Figura 3. A
questão não é escolher um mecanismo de coordenação, mas a combinação dos mecanismos
necessários de acordo com a natureza dos objetivos, recursos e características do bem.
Em um ambiente no qual os atores, individualmente moldados, são levados a agir
em busca de seus interesses próprios e ocorre a ausência de estruturas discretas de controle, o
provável mecanismo de coordenação a ser observado será o livre comércio ou o mercado
oligopolizado. Contudo, em um ambiente no qual os atores individuais estão pressionados e
informados pelas organizações e, existe estrutura de controle administrativa burocrática, a
possível forma do mecanismo de coordenação será o governo de interesse privado ou associações
corporativas de negócios.
44
Ausência de estrutura discreta
Estrutura de controle administrativo
burocrático
+
Livre mercado
Setor oligopolizado
Firmas integradas verticalmente
Associações
Hegemonia
Outras formas de regimes
internacionais
Atores individuais moldados
pelo interesse próprio
-
+
Redes
Joint ventures
Alianças
estratégicas
Outras formas de
arranjos interfirmas
Clubes
Estado Patrocinador
Agências reguladoras
Clans
Comunidade
Governo de interesse privado
Associações corporativas de
negócios
Atores individuais pressionados e
informados pelas organizações
-
FIGURA 3. Mecanismos de coordenação
Fonte: Elaborado pelo autor com base em HOLLINGSWORTH; BOYER, 1995, p. 12.
Os diversos tipos de sistemas sociais de produção, Quadro 6, em diferentes regiões
do planeta, possuem mecanismos de governança que levam à obtenção dos resultados esperados.
Mecanismos
de governança
Estrutura
organizacional
Regras de trocas Significado
individual de
submissão
Significado coletivo
de submissão
Mercados Livre entrada e saída
Trocas bilaterais ou
de mercado
Trocas periódicas
esporádicas
Obrigatoriedade
legal de controle
Normas de propriedade
privada e legitimidade
do mercado livre
Comunidades Membros informais
envolvidos em
relacionamento em
longo prazo
Trocas voluntárias
baseadas na
solidariedade
social e alto grau
de confiança
Obrigações impostas
por normas sociais e
princípios morais;
Reconhecimento dos
outros e
reciprocidade ao
longo do tempo
Normas e regras
altamente
institucionalizadas
exigem que os
membros aceitem as
obrigações corporativas
45
Redes Membros
semiformais e troca
bilateral/multilateral
Trocas voluntárias
por período
determinado
Vínculo contratual e
dependência de
recursos
Relações pessoais e
confiança construída
fora da arena
econômica
Associações Associação formal e
trocas multilaterais
Restrição aos
membros e
oposição interna/
externa
Interesses próprios e
efeito da reputação
Algum grau de coerção
e de administração
privada
Hierarquias
privadas
Organizações
complexas com
tendência a se tornar
burocracias
Restrição aos
membros, trocas
baseadas na
assimetria do
poder e regras
burocráticas
Recompensas pelo
individualismo,
assimetria do poder e
perigo das sanções
Regras altamente
institucionalizadas,
membros socializados
dentro da cultura
coorporativa e uso de
sanções
Estado Hierarquia pública
De jure e associação
imposta
Ação unilateral
indireta, política
global e trocas
econômicas
Saída
Expressão pelo voto
ou lobbyng
Coerção
Regras sociais e
normas
QUADRO 6. Mecanismos de governança, regras de troca e submissão
Fonte: HOLLINGSWORTH; BOYER, 1995, p. 15 e 16.
2.4 Redes de poder
O conceito de rede é utilizado em análise de: nível micro, para diferentes contextos
de relações interpessoais; nível meso, para análise da relação entre grupos de interesse e governo;
e nível macro, para o modelo de relacionamento entre Estado e sociedade civil. A relação
coerente entre fatores de cada nível atribui à rede forma distinta de coordenação das atividades
econômicas. As diversas formas de rede também possuem aspectos comuns que conferem aos
arranjos as características de que: (a) a cooperação pode ser sustentada por longos períodos, como
um acordo efetivo entre atores; (b) incentivo ao aprendizado e disseminação das informações,
transformando rapidamente idéias em ações; (c) a abertura (open-ended) é muito útil em
ambientes incertos ou de recursos escassos; e (d) oferece os meios factíveis para utilização e
fortalecimento de ativos intangíveis, conhecimento tácito e inovação tecnológica (POWELL,
1990; RHODES; MARSH, 1990, 1992).
Redes de poder são arranjos complexos de organizações conectadas umas às
outras, pela dependência de recursos que cada membro possui. A análise de redes de poder foi
elaborada para entender as relações entre governo e grupos de interesses, sendo as redes criadas
46
com o propósito de atingir os objetivos propostos na estratégia de interesses de seus atores,
explicado pela base do institucionalismo da escolha racional, e a sua configuração futura
explicada com base no institucionalismo sociológico (DOWDING, 1995; DAUGBJERG, 1997).
As redes podem ser sociais, burocráticas e proprietárias. A ausência de qualquer
tipo de contrato formal caracteriza as redes sociais - a formalização da relação ocorre somente
para a especificação dos serviços negociados. A existência de contrato formal caracteriza as redes
burocráticas - a formalização regula as especificações do fornecimento, a organização da rede e
as condições de relacionamento entre os integrantes. A formalização de acordo sobre direito de
propriedade entre os atores caracteriza as redes proprietárias (PAULILLO, 2002).
As redes de poder ou formas híbridas não são organizações com relações
homogêneas entre parceiros. As relações contratuais de parcerias são de diferentes classes, sendo
os arranjos contratuais são coordenados por mecanismos de adaptação - trata-se de um arranjo
institucional com contratos envolvendo o ambiente institucional, coordenados e conduzidos com
forma ativa de gerência, parcerias e operação com autoridade (MENARD, 1996).
A estrutura dos mercados em redes de poder é visível no capitalismo, pois define-
se o capital como recurso efetivo; cria-se uma sociedade baseada em organizações coletivas;
criam-se políticas setoriais e sub-setoriais; há intervenção pública e disputa pelo comando dessas
intervenções; ocorrem fragmentação e descentralização do Estado; observa-se relevância nas
informações devido à interdependência e à complexidade econômica, política e social
(PAULILLO, 2002).
As redes podem ser classificadas em uma gama imensa de arranjos e
características, criando um continuum entre uma rede difusa (issue network) e a comunidade
política (policy community), conforme Quadro 7. Em um pólo estão as redes difusas ou em
formação, que se criam sobre assuntos muito específicos, de forma pontual ou em curto espaço de
tempo. São redes menos institucionalizadas, com pouca integração, instáveis, com falta de
continuidade das relações de poder. Nelas as normas são menos formais e mudam conforme a
necessidade ou pressão. E as decisões de políticas públicas são mais reativas a partir de pressões
sofridas.
No outro pólo estão as comunidades políticas, que agem sobre diversos assuntos
de forma contínua e ao longo do tempo, com continuidade das relações de poder,
interdependência elevada, participação especializada e limitada dos atores coletivos e com
47
interações freqüentes e estáveis. São redes institucionalizadas, com interações freqüentes e
estáveis e continuidade das relações de poder. As decisões políticas visam a antecipar ou a criar
condições para a ocorrência de fatos desejados, estrategicamente articulados e buscando efetivar
as regras e normas que influenciam os processos de governança (RHODES; MARSH, 1992).
Dimensão Comunidade política Rede difusa
1 – Membros
a) Número de participantes Muito limitado, alguns grupos conscientes
excluídos
Amplo
b) Tipo de interesses Econômico e/ou profissional Vários
2 – Integração
a) Freqüência Freqüente, alta qualidade, interação dos
grupos incluídos na rede sobre as matérias
relacionadas com a emissão de políticas
Contatos flutuantes em freqüência e
intensidade
b) Continuidade Avaliações persistentes ao longo do
tempo. Efeitos também persistentes
Flutuação significativa
c) Consenso Todos os participantes avaliam os
resultados e legitimam
Alguns acordos existem, mas o conflito
está sempre presente
3 – Recursos
a) Distribuição de recursos Todos os participantes apresentam
recursos e utilizam-nos no processo de
interação
É possível que alguns participantes
tenham recursos, mas eles são limitados
b) Distribuição interna Hierárquica; líderes podem transferir ou
deliberar membros
Variada, inclusive a capacidade para
regular os membros
c) Poder É possível um grupo dominar, mas o
resultado de soma não zero (ambos
ganham) persiste na comunidade
Poder desigual refletido pelos recursos
desiguais. Resultado de soma zero (um
ganha, outro perde)
QUADRO 7. Caracterização dos pólos do continuum de redes de poder
Fonte: RHODES; MARSH, 1992, p.187.
As redes de poder podem ser analisadas em função do conjunto de variáveis ou
dimensões que apresentam, conforme Quadro 8. O resultado dessa análise permite situar a rede
ao longo continuum criado entre as redes difusas e as comunidades políticas.
1 – Atores
- Número, tipo e monopólio de representação
2 – Função
- Canais de acesso; consulta; negociação; coordenação; cooperação na formação
política; cooperação na implementação política + delegação da autoridade pública;
amplitude de temas
3 – Estrutura
- Limites; tipo de articulações; relações ordenadas; complexidade; padrão de relações;
centralidade; estabilidade; natureza das relações
4 – Institucionalização
- Grau
5 – Regras de conduta
- Adversidade / procura por consenso; idéia de servir interesse público; contatos
formais e informais; disputa ideológica
6 – Distribuição de poder
- Autonomia Estatal; dominação do Estado; dominação do interesse privado
7 – Estratégia dos atores
- Acessibilidade; reconhecimento dos grupos de interesses; criação / mudança de
associações
QUADRO 8. Conjunto de variáveis ou dimensões das redes de poder
Fonte: elaborado pelo autor a partir de VAN WAARDEN, 1992, p. 39 a 41 e PAULILLO, 2002, p. 8 a 10.
48
Os recursos de poder, Quadro 9, são objetos de conquista pelas organizações
atuantes no mercado, visando a obter melhores resultados e criar, ou evitar, possível dependência
de outros setores.
Recursos de poder Descrição
Constitucionais Regras e normas legitimadas
Políticos Status público atribuído pelo Estado, poder de representação de um ator coletivo,
poder de aglutinação de um ator coletivo
Financeiros Financiamento adequado, incentivo fiscal modificado ou concedido, subsídio
modificado ou concedido, comissões sobre escala de produção, cotas promocionais
etc.
Tecnológicos Conhecimento adquirido, tecnologia gerencial e da informação transferidas, processos
e matérias-primas específicas etc.
Organizacionais Infra-estrutura institucional (institutos de pesquisas, centros de treinamento, agências
de marketing etc.), informações compartilhadas e propagadas, parcerias, consórcios,
informações ocultadas, proximidade de fornecedores, terceirização, subcontratação,
utilização da marca etc.
Jurídicos Direitos de propriedade intelectual, recursos sobre anti-dumping, ajuizamento de
ações etc.
QUADRO 9. Tipos de recursos de poder
Fonte: PAULILLO, 2002.
Os elementos que podem caracterizar uma rede de poder são apresentados no
Quadro 10, que mostra as interações existentes entre as características dos membros que a
constituem e as características das conexões entre eles.
A representação do interesse da rede e a busca pelo recurso de poder são obtidas
pela interdependência estabelecida nas características dos membros e nas características das
conexões (PAULILLO, 2002). A interdependência, no caso do conhecimento/informação, é
revelada pela capacidade cognitiva de cada ator, que lhe permite forma de inserção específica na
rede, e que afeta os demais atores da rede, os quais reagem ativamente com o ambiente
circundante. A legitimidade do ator é revelada quando as ações de uma organização ou grupo de
interesses são reconhecidas, manifestadas e consideradas como autênticas no interior da rede.
Características dos membros Características das conexões
1. Conhecimento/Informação 1. Regras
2. Legitimidade 2. Centralidade
3. Reputação 3. Intensidade
4. Cooperação 4. Velocidade
5. Habilidades direta e indireta para mudanças 5. Formalidade Informalidade
QUADRO 10. Características da rede de poder
Fonte: PAULILLO, 2002, p. 6.
49
A reputação dos membros é determinada pela conquista de recursos de poder,
concessão de status público e o reconhecimento pelos demais atores privados da capacidade de
representação e aglutinação.
As habilidades diretas decorrem das habilidades próprias de cada membro e as
habilidades indiretas derivam de algo que não foi desenvolvido especificamente pelo ator,
embora não o impeça de aproveitá-las.
O poder de cada membro é dependente dos recursos de poder dos outros membros
e do tipo de relação existente entre eles. A interdependência das conexões entre os segmentos da
rede influencia na distribuição do poder e na representação dos interesses dos atores envolvidos.
Essas conexões podem ser formais ou informais, permitindo assim definir a natureza da rede que
se está analisando. As transações são mais dependentes do relacionamento, dos interesses mútuos
e da reputação entre os atores. A relação coerente de fatores é que atribui à rede de poder forma
distinta de coordenação das atividades econômicas.
2.5 Considerações finais do capítulo
Nos subitens anteriores deste capítulo foram apresentados diversos conceitos
oriundos das teorias e estudos relacionados às Instituições, ao Institucionalismo, às Organizações
e às Redes de Poder, que permitindo o entendimento da formação e dos mecanismos de
coordenação observados, entre outros, nos sistemas agroindustriais de cítricos da Flórida e de São
Paulo.
A observação da evolução histórica, da presença do Estado e dos principais
aspectos organizacionais desses dois sistemas, valendo-se dos conceitos apresentados, busca
mostrar algumas características e condições que contribuíram para as diferentes configurações
que apresentam.
Ao mesmo tempo, a influência da existência e efetividade de regras formais,
limitações informais e mecanismos responsáveis pela eficácia das normas melhoram o
entendimento e compreensão do relacionamento que ocorre entre os atores de cada sistema e,
contribui para a comparação entre eles.
50
Ainda a observação das diferenças entre alguns traços culturais, das estruturas e
rotinas dos atores tende a indicar algumas formas da difusão das instituições cristalizadas nos
sistemas estudados. O estudo das relações, comerciais ou sociais, existentes entre os diversos
atores, individuais ou coletivos, envolvidos nos sistemas agroindustriais permite, por sua vez,
melhor entendimento e compreensão dos mecanismos de coordenação e do impacto que causa
nessas duas cadeias produtivas.
E o uso de alguns dos direcionadores relacionados às redes de poder, conforme
Quadro 11, permite a comparação entre as características dos atores de cada sistema e melhorar o
entendimento sobre os mecanismos que os controlam.
Direcionadores relacionados aos atores Direcionadores relacionados às redes
Número e tamanho dos atores Centralidade
Conhecimento/Informação Freqüência
Liderança Velocidade
Reputação Cooperação
Legitimidade
Outros recursos de poder
Confiança
Características culturais
QUADRO 11. Direcionadores de poder utilizados neste estudo
Fonte: elaborado pelo autor.
51
3 SISTEMA AGROINDUSRIAL DE CÍTRICOS DA FLÓRIDA (EUA): PROCESSO
HISTÓRICO E PRINCIPAIS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS DA REDE DE
DECISÕES
3.1 Introdução
O sistema agroindustrial de cítricos da Flórida é antigo e se estruturou desde a
introdução das frutas cítricas nos EUA. Evoluiu com o aparecimento dos primeiros pomares
comerciais, com o surgimento de diversas organizações de defesa de interesses, com a evolução
tecnológica que levou à criação de novos produtos, com as mudanças no padrão de preferência
dos consumidores e devido às mudanças no ambiente.
Este capítulo apresenta: (a) análise estrutural do ambiente institucional à rede de
governança, do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida; (b) caminho de análise baseado
principalmente nas condições organizacionais coletivas em que ocorreram os processos de
constituição do sistema; (c) o mapeamento e explicação das principais relações da cadeia
citrícola, por meio das identificações das rotinas estabelecidas entre os atores coletivos, públicos
e privados; (d) as diversas relações existentes entre os atores que geram as formas de
coordenação em rede existentes atualmente na agroindústria dos cítricos.
O segundo item deste capítulo traz algumas observações sobre a organização da
indústria processadora de sucos cítricos da Flórida, mostrando a sua importância no contexto dos
demais estados produtores e como a laranja é distribuída entre os dois mercados existentes (o de
fruta fresca destinada ao consumo direto e o de fruta destinada ao processamento de suco).
Apresenta também a evolução da concentração no segmento processador em número de empresas
e o modo de distribuição do volume de suco industrializado.
O terceiro item relata as condições históricas em que o sistema agroindustrial de
cítricos foi formado e o quarto discorre sobre as diversas organizações de interesses existentes,
relatando o processo de criação das primeiras associações que formaram a base da governança
atual. A governança que começou muitas décadas atrás, na Flórida, teve continuidade, algo que
não ocorreu no sistema agroindustrial dos cítricos do estado de São Paulo.
52
O quinto item aborda o ambiente institucional do setor, enfatizando aspectos
pouco difundidos ou até inexistentes no sistema agroindustrial de cítricos paulistas como: a
realização contínua de cursos e encontros técnicos patrocinados pelos atores e com a participação
de representantes de toda a cadeia; o uso da propaganda como ferramenta de divulgação de idéias
e construções de hábitos; validações de leis envolvendo todos os membros das cadeias
(garantindo legitimidade para o cumprimento das normas estabelecidas entre os atores
produtivos); e a divulgação de informações confiáveis entre os atores.
O sexto item discorre sobre os segmentos e atores relevantes do sistema. Relata
aspectos relacionados à importância do ator dentro do sistema, à quantidade de atores e a algumas
características do ator e do elo a que este pertence.
O sétimo item trata das ligações relevantes e dos recursos de poder envolvidos no
relacionamento entre os diversos atores do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida, suas
principais conexões, apoiado nas variáveis de grau de intensidade e de recursos de poder.
O oitavo comenta as formas de coordenação existentes no sistema, apoiado nos
direcionadores mencionados no capítulo Contribuições Teóricos, e o nono tece as considerações
finais.
3.2 Evolução da produção de laranja e da concentração industrial citrícola nos EUA
O estado da Flórida possui a maior área plantada com cítricos nos Estados Unidos,
sendo o maior produtor de laranja norte-americano, além de produzir tangerinas, grapefruit e
outros híbridos. Como principal estado produtor do país, a Flórida possui também o maior
número das unidades de processamento de laranja para produção de suco instalada no país. Seu
sistema agroindustrial de cítricos está focado no atendimento do mercado interno norte-
americano.
As produções de laranja dos quatro maiores estados citrícolas dos Estados Unidos
são apresentadas na Tabela 1, com destaque para a Flórida (maior produtor) e Califórnia
(segundo maior), que dominam a citricultura americana e se colocam bem distantes em termos de
volume de produção em relação aos demais estados produtores (Texas e Arizona).
53
TABELA 1. Comparativo de produção de laranja entre os principais estados dos EUA (em 1.000 caixas)
Safra Florida Califórnia Texas Arizona Total
% % % %
1995/96 203.300 77,04 58.000 21,98 940 0,36 1.650 0,62 263.890
1996/97 226.200 77,30 64.000 21,87 1.420 0,48 1.000 0,35 292.620
1997/98 244.000 76,12 74.000 23,09 1.525 0,48 1.000 0,31 320.525
1998/99 185.000 83,21 34.000 15,29 1.420 0,64 1.200 0,86 222.320
1999/00 233.000 76,94 67.000 22,12 1.740 0,57 1.100 0,37 302.840
2000/01 223.000 78,73 57.000 20,12 2.235 0,79 1.000 0,36 283.235
2001/02 230.000 79,79 56.000 19,43 1.740 0,60 520 0,18 288.260
2002/03 203.000 76,02 62.000 23,22 1.540 0,58 470 0,18 267.040
2003/04* 245.000 81,34 54.000 17,93 1.680 0,56 540 0,18 301.220
Fonte: United States Citrus Crop Estimate, maio 2004.
Segundo Ward e Kilmer (1989), a evolução tecnológica da produção de suco
concentrado congelado de laranja ou grapefruit causou alterações no destino da laranja
produzida. Até a década de 1950 (Tabela 2), a laranja destinada ao mercado de fruta fresca era o
principal produto do sistema agroindustrial de cítricos. Atualmente aproximadamente 6% da
laranja produzida na Flórida são destinadas ao mercado de fruta fresca. A exportação de fruta
fresca produzidas neste Estado representa pequena parcela da fruta que produz.
TABELA 2. Volume da produção destinado ao processamento na Flórida
Período % produção da fruta destinada ao processamento
De Até Laranja Grapefruit
1922-1923 1933-1934 0 22
1934-1935 1938-1939 4 36
1939-1940 1946-1947 38 60
Fonte: elaborado pelo autor com base em Ward e Kilmer, 1989.
A laranja destinada ao mercado de fruta fresca é o principal produto do sistema
agroindustrial de cítricos na Califórnia e representa quase 80% do consumo norte americano.
O desenvolvimento de novas tecnologias para a produção, preservação e
distribuição do suco concentrado congelado provocou o aumento do volume destinado ao
processamento a partir da safra 1947-1948 (na safra de 1945/1946 foram produzidos 200.000
galões de FCOJ e na safra de 1948/1949 em torno de 10.000.000 de galões). Nas últimas safras o
processamento de laranja (Tabela 3) correspondeu a 95% do volume da produção, enquanto o
processamento da grapefruit oscilou entre 42 a 64% do volume da produção.
O mercado de fruta fresca é conduzido por inúmeros packinghouses que operam
com diferentes capacidades e diferentes formas de operação. São independentes, competitivos e
com escala que não lhes permitem ocupar parcela dominante desse mercado. A distribuição da
54
fruta fresca se dá por canais comerciais, sendo a maior parte distribuída por grandes cadeias de
revenda no mercado interno norte-americano.
TABELA 3. Volume da produção destinado ao processamento na Flórida
% produção da fruta destinada ao processamento
Safra
Laranja Grapefruit
2004-2005 95 42
2005-2006 95 64
2006-2007 95 60
Fonte: elaborado pelo autor com base em Ward e Kilmer, 1989.
No mercado de suco de laranja do sistema agroindustrial de cítricos floridiano, os
processadores: são poucos, operam com diferentes capacidades, são independentes, competitivos
e respondem pela maior parte do suco de laranja consumido nos Estados Unidos. Essas empresas
oferecem ao mercado interno suco concentrado congelado, suco fresco pasteurizado e suco
pronto para beber. As exportações representam uma pequena parcela do suco produzido, pois o
mercado interno absorve praticamente tudo.
No período inicial da produção de suco concentrado congelado na Flórida, a
capacidade de processamento de fruta esteve distribuída entre vários processadores, indicando
um baixo grau de concentração inicial na indústria de suco de laranja americana. Essa
característica perdurou até a safra de 1978/1979, conforme mostrado na Tabela 4.
TABELA 4. Volume de processamento (%) pelo número de processadores na Flórida
Safra % do processamento Número de processadores
1959 a 1978 90 50
1978 a 1979 44 11
Fonte: elaborado pelo autor com base em Ward e Kilmer, 1989.
A partir desse período, o número de processadores em operação reduziu. Essa
redução se deveu, entre várias razões, ao baixo preço do suco concentrado, às pequenas margens
de lucro obtidas, aos estoques de produtos, às pressões dos preços dos produtores externos, à
aquisição de processadoras tradicionais por grandes grupos que buscaram a integração, à venda
de processadoras pertencentes a grandes grupos para empresas que operam no Brasil, à
importação de suco concentrado por portos fora do estado da Flórida e à mudança do padrão de
preferência do consumidor que migrou do suco concentrado e do suco reconstituído pronto para
beber para o suco NFC (not fron concetred) (TERBEEK; WYSCOCKI, 2000). Na safra de
2003/2004 os quatro maiores processadores utilizaram 57% do volume da fruta destinada ao
processamento e os oito maiores processadores que utilizaram 88% (Tabela 5) do volume da fruta
destinado à produção de suco.
55
TABELA 5. Utilização da laranja por unidade de processamento na safra 2003/2004
Processador % do processamento % acumulado
Tropicana
19,0 19,0
Cutrale 16,1 35,1
Dreyfus 11,6 46,7
Southern Gardens 10,3 57,0
Citrosuco NA 9,8 66,8
FNG 9,7 76,5
Cargill 5,9 82,4
Peace River 5,6 88,0
Sun Pure
2,9
Citrus Belle 2,4
Silver Springs 2,3
Peace River Citrus Prod. Inc.
1,5
Juice Bowl 0,9
Holly Hill
0,5
Juice Co 0,4
W. G. Roe
0,4
Orchid Island 0,3
Sun Orchard 0,2
Frescho
0,1
Heart of Florida 0,1
Fonte: Dados de pesquisa do autor com base em dados internos da FMC FoodTech – Lakeland – Flórida.
A mudança no padrão de preferência do consumidor obrigou algumas das
processadoras que permaneceram no mercado a realizarem pesados investimentos, adequando e
modificando a linha de produção e armazenamento de FCOJ para a produção e o armazenamento
de NFC e FCOJ; enquanto outras continuaram produzindo somente FCOJ. O crescimento da
produção de NFC foi provocado pela Tropicana (Pepsico) e, posteriormente, seguido por outros
processadores. A distribuição do suco NFC está dominada pela Tropicana (Pepsico), FNG e
Minute Maid (Coca-Cola).
Em 1996, a Sucocítrico Cutrale comprou as unidades de processamento
pertencentes à Coca-Cola em Auburndale e Leesburg. Seguindo essa tendência, a Cargill Citrus
adquiriu a unidade de Frostproof e Fort Pierce. A Citrosuco adquiriu a Alcoma e a Dreyfus
adquiriu as unidades de Winter Garden e Indiantown. Em 1997 as processadoras brasileiras
representavam 20% do volume total processado na Flórida e, em 2003/2004 processaram 43,4%
do volume total da safra.
Nos últimos anos a Dreyfus desativou a unidade de Winter Gardens e a Cargill
anunciou sua retirada da atividade de processamento de cítricos na Flórida, como fez no Brasil.
56
Parte dos processadores da Flórida conta com suas unidades de engarrafamento de
suco, colocando suas marcas próprias no mercado; enquanto outra parte firma acordos de
fornecimento de suco para outros processadores ou engarrafadores que são proprietários de
marcas distribuídas no mercado. Tanto os processadores que possuem engarrafadoras próprias
quanto às empresas especializadas no engarrafamento e distribuição importam suco FCOJ e NFC
de outras regiões e países para venderem no mercado interno norte-americano.
O mercado relevante do suco são as cadeias de revenda retail chains e as empresas
independentes do mercado interno norte-americano. Em 1986 as vendas de suco de laranja,
concentrado ou pronto para beber, para as retail chains representavam 75,8% do mercado. Esse
fato é um sinal de que os compradores, como Wal-Mart Stores Inc., pesam na cadeia e possuem
poder de barganha relevante sobre os processadores. As exportações de suco (em que dominam
os destinos para o Canadá, Comunidade Européia e Ásia) representam mercado secundário para a
agroindústria de cítricos da Flórida.
3.3 O papel do Estado e o avanço tecnológico para a institucionalização da cadeia citrícola
na Flórida
Para a conquista de novas terras e a consolidação do poder dos colonizadores
(Espanha e Portugal), foi necessária a compilação de conhecimentos novos ou existentes, que
permitissem navegar por longo tempo. Entre os navegadores, era estratégico o uso de cítricos na
alimentação da tripulação durante as viagens, já que estes agem na prevenção do escorbuto (falta
de vitamina C). As ilhas de Açores e Canárias tornaram-se grandes pomares estratégicos,
plantados no meio da rota para a Ásia e a América (CHAPOT, 1975).
A segunda viagem de Cristóvão Colombo à América, em 22 de novembro de
1493, teve como objetivo estabelecer uma base de operações e dar início à conquista do Novo
Mundo pela Espanha. Entre os diversos objetos embarcados estavam sementes de laranja azeda,
limão e citron. Do primeiro povoado, no Haiti, os exploradores espanhóis espalharam os cítricos
por diversas ilhas do Caribe.
57
Conforme McPhee (1996), Mack (1998), Allen (2000), Mormino (2000), Twnsend
(2001), Florida Citrus Mutual (2002a), as plantas cítricas foram introduzidas na Flórida no
período entre a expedição de Ponce de Leon, em 1513, e o estabelecimento do povoado de St.
Agustine, a primeira colônia espanhola implantada com sucesso por Pedro Menendez em 1565.
As frutas cítricas foram levadas das comunidades permanentes espanholas e das missões católicas
pelos exploradores e pelos indígenas que, proposital ou acidentalmente, estabeleceram pomares
perto de suas aldeias, em seus acampamentos temporários, ao longo dos rios, ao redor dos lagos,
ao longo das rotas e das trilhas de comércio. No final do século XVI, pomares não organizados já
estavam espalhados pela Flórida. O Quadro 12 relata alguns eventos que influenciaram o início
da citricultura no Estado.
Evento Objetivo Data
Introdução dos cítricos na Flórida Prevenir o escorbuto 1513
Povoado de St. Agustine Prevenir o escorbuto 1565
Pomares comerciais Comercializar a fruta Após 1763
Introdução da grapefruit na Flórida Criar novo produto 1803
Pomares comerciais de grapefruit Comercializar a fruta 1823
Exportação para Inglaterra Comercializar a fruta 1826, 1833 e 1834
Anexação aos USA Expansão do país Após 1821
Primeiro pomar em Indian River Produzir de forma comercial 1830
Importação de novas variedades Produzir de forma comercial 1870
Primeira exportação de grapefruit Comercializar a fruta 1880
Propaganda de lucros com cítricos Vender terras Após 1880
Propaganda de lucros com cítricos Expandir a fronteira agrícola 1900
Introdução das ferrovias Expandir o mercado geográfico -x-
Introdução de barcos a vapor Expandir o mercado geográfico -x-
QUADRO 12. Eventos que influenciaram o início da citricultura na Flórida
Fonte: elaborado pelo autor com base em MACK, 1998; ALLEN, 2000; MORMINO, 2000.
Nesta fase da citricultura na Flórida, com o estabelecimento de povoados e o
aumento da população fixa, o ambiente criado ao redor da nova colônia, pressionou e modificou a
cultura de propagar e consumir os cítricos, os quais passaram a ser consumidos não somente
como fator de proteção contra o escorbuto, mas também como fonte de prazer. Com o decorrer
do tempo a citricultura tornou-se oportunidade de ganho econômico com a produção e
comercialização de frutas.
A Flórida foi explorada e recebeu colônias espanholas, francesas e inglesas,
passando a pertencer aos Estados Unidos em 1821. Após essa data, aumentou o fluxo migratório
dos estados do norte e também o plantio de laranja. Os colonizadores plantavam as laranjeiras
perto de suas casas e produziam mudas a partir de sementes, que eram replantadas em novas
58
áreas desmatadas, mantendo o hábito de propagar e consumir os cítricos como alimento funcional
e essencial.
Os primeiros pomares comerciais foram plantados após 1763, quando a Flórida
ainda estava sob o domínio inglês. A produção dos pomares localizados em St. Agostine, St.
Johns River e Lake George estava focada na exportação, nos meses de inverno, de laranjas para
os mercados da Inglaterra, Nova York e outros centros. Em 1826 mais de um milhão de laranjas
foram enviadas para a Inglaterra e outros milhões foram enviadas em 1833 e 1834.
Em 1806, a variedade grapefruit chegou ao estado da Flórida, e em 1823 o
primeiro pomar foi instalado pelo Dr. Odet Philippe. A partir de plantas originadas desse pomar,
A.L. Duncan propagou a fruta pelo estado dando-lhe o seu nome, Duncan grapefruit. Os
primeiros embarques comerciais de grapefruit para Filadélfia e Nova York, ocorreu entre 1880 e
1885. Os pomares plantados com essa nova variedade de cítricos foram implantados visando à
comercialização das frutas e geração de ganho econômico.
Por volta de 1830, o capitão Douglas Dummitt implantou o primeiro pomar de
laranja em Indian River em Merrit Island, hoje local do Kennedy Space Center. Em 1865, o
General Henry Sheldon Sanford comprou 12.535 acres em Lake Monroe em Mellonville, hoje
Sanfor. Iniciou o plantio de laranja e importou em 1870, do Thomas River’s Nursery de Londres
a variedade Valência. Também introduziu as variedades Jaffa, Doce do Mediterrâneo, Oval de
Malta, Maiorca, Rubi Sanguínea e Sanford Sanguínea. Foi também o responsável pela introdução
de diversas variedades de limão na Flórida.
Em busca de oportunidades, os pioneiros da Flórida compravam terras para a
criação de gado e para a produção de citros. Os comerciantes de terras promoviam as vendas
divulgando os resultados financeiros com a produção e comercialização da laranja. Alguns
argumentavam que os lucros gerados em 10 a 20 acres plantados com laranja eram suficientes
para sustentar uma família por um ano. Em meados de 1900, a Florida Development Co iniciou
uma campanha de publicidade, sugerindo que as áreas não exploradas do Flórida Ridge eram
muito boas para a produção de laranja.
A introdução da tecnologia de transporte a vapor (barcos e ferrovias) diminuiu o
tempo de transporte entre o centro produtor e os centros de consumo, provocando mudanças e
fortalecendo a cultura da produção destinada à comercialização em outras regiões do estado ou
do país. A modificação no sistema de transporte levou a mudanças: nos hábitos e costumes dos
59
atores produtivos; nas técnicas de produção; nas embalagens; e nas técnicas de comercialização
das frutas. Alguns atores passaram a adotar práticas relacionadas à consolidação da indústria,
como: a diferenciação do produto com marca própria; a diferenciação do produto por regiões de
origem; a mudanças na preferência do consumidor (como a introdução da grapefruit); a
diferenciação de produtos com novas variedades; a fixação de valores na sociedade sobre a
contribuição da cadeia citrícola para a região; e a criação de novos mercados.
Até a metade do século 19 os norte-americanos tinham pouco acesso à laranja,
somente após a melhoria no sistema de transporte, com barcos e ferrovias, a fruta tornou-se uma
commodity popular. Os barcos a vapor cruzando os rios e lagos transportavam as frutas até os
entrepostos, supriam as ferrovias que levavam as frutas de inverno (morangos, tomates e laranja)
para o norte do país (provavelmente muitos americanos provaram sua primeira laranja nos
feriados de final de ano).
O excesso de produção sempre foi motivo de preocupação para os citricultores,
pois a queda do preço da fruta sempre esteve atrelada ao volume de produção que excedia o
consumo. Os descartes dos packinghouses eram jogados em valas ou em terras não cultivadas. Os
envolvidos na agroindústria, conhecendo os desperdícios econômicos deste ato, tomaram ações
que levaram ao aproveitamento total das safras produzidas (Quadro 13), gerando novos produtos,
empregos e riqueza para o setor. As primeiras iniciativas de industrialização somente começaram
a ocorrer na década de 1910 e foram feitas, muitas em conjunto, por atores produtivos,
organizações privadas e principalmente públicas, de ensino, pesquisa e extensão.
Em 1911, a Florida Citrus Exchange iniciou pesquisas sobre a possibilidade do
uso das frutas, cascas e sementes, originadas dos descartes dos packinghouses como ração para
gado. Em 1917 foi publicado o boletim 135 do Agricultural Experiment Station com um estudo
sobre o benefício dos resíduos dos cítricos como ração animal.
As pesquisas para produção de suco concentrado, iniciadas pela indústria
americana, nas décadas de 1920 e 1930 revolucionaram o mercado de suco no período da guerra.
O desenvolvimento do processo de produção do suco concentrado congelado conforme Matthews
(1994); Colon; Allen (2000), Lewandowski (2000a, 2000b), foi realizado, em conjunto, por
pesquisadores e cientistas do Florida Citrus Comission e do United States Departament of
Agriculture – Research Laboratory. O United States Departament of Agriculture obteve a patente
60
do processo e posteriormente liberou a tecnologia de produção do suco concentrado congelado
para os processadores da Flórida.
Organização Início de operação Local
Florida Fruit Products Company deu início à industrialização das
frutas cítricas (the canning of citrus fruit). O Street’s Grapefruit
Juice era embalado em garrafas de vidro
1915 Haines City
Eagle Lake Cannery, primeira produção de suco em latas metálicas. 1923 -x-
Dr. J. E. Crump fez a primeira produção de suco de laranja
concentrado em um freezer de sorvetes
1920 -x-
Southern Packing Co. na Hills Brother’s Canneryrealizou a
primeira tentativa de produção de pectina
1928 Bartow
DeL Monte Cannery lançou a ração animal, de resíduos secos de
cítricos, com o nome de Citrose
1932 Tampa
W. H. Schultz desenvolveu o melaço cítrico como ração animal e
produziu álcool a partir do melaço cítrico
-x- Lake Alfred
Suni-Citrus produziu ração animal a partir dos resíduos das
processadoras de cítricos - for you, the fuice is best – your cows
thrive the rest
1937 Haines City
O Florida Citrus Comission e o United States Departament of
Agriculture – Research Laboratory desenvolveram o processo de
produção do FCOJ
1946 Lake Alfred
Tropicana Products, Inc produziu segmentos de frutas enlatados e
suco fresco resfriado. Em 1957 o navio S. S. Tropicana entrou em
operação no transporte de suco fresco a granel. Em 1970 o mile long
Tropicana train, com 150 vagões, entrou em operação no transporte
de suco fresco a granel
1947 Brendenton
QUADRO 13. Evolução do processamento de cítricos
Fonte: elaborado pelo autor com base em MACK, 1998; ALLEN, 2000; MORMINO, G, 2000.
O novo produto FCOJ mudou o ambiente produtivo da citricultura no país, pois:
modificou o foco da utilização da fruta (passando de fruta para consumo para fruta destinada a
suco); possibilitou o armazenamento da fruta na forma FCOJ; permitiu regular a oferta de fruta
fresca no mercado com o envio de fruta para as processadoras; permitiu a distribuição da fruta, na
forma de suco, durante todo o ano, reduzindo o efeito da sazonalidade da safra; ampliou o limite
geográfico do mercado, permitindo a distribuição do suco em todo o estado norte-americano; e
alterou as relações de poder na cadeia produtiva.
A agroindústria de cítricos da Flórida passou a ter como produto principal o suco
concentrado e não mais a fruta para o mercado in natura. Passou a se estruturar em função de um
mercado agroindustrial e comoditizado. Esse movimento alterou as relações de poder na cadeia
produtiva, pois reduziu o poder de coordenação dos packinghouses e dos transportadores
nacionais e aumentou o poder de coordenação dos produtores, das processadoras, engarrafadoras
e distribuidoras de suco concentrado congelado de laranja no mercado interno norte-americano.
61
Os eventos inesperados, provocados por mudanças no ambiente institucional,
pressionam e promovem mudanças em todo o sistema (Quadro 14) - as organizações e as
instituições mudam, as relações de poder são alteradas e novas configurações são construídas
para produzir a adequação necessária para a sobrevivência das organizações. Esses novos
arranjos buscam o que se considera a melhor situação para os atores individuais ou coletivos
envolvidos no contexto.
Eventos inesperados Efeito
Geadas Movimentação da fronteira agrícola
Abertura de novas áreas de produção
Expansão dos pomares
Crescimento da área plantada
Lucros inesperados
Expansão de outros sistemas agroindustriais de cítricos
Furacões Danos físicos nos pomares
Danos físicos nas processadoras
Danos na infra-estrutura
Disseminação de doenças
Guerras Interferência do Estado no controle dos preços de frutas
Compra de suco concentrado
Desenvolvimento de novos processos
Desenvolvimento de novos produtos
Financiamento para modernização das processadoras
Estabilização do sistema agroindustrial
Estabilidade financeira
QUADRO 14. Eventos inesperados e seus efeitos
Fonte: elaborado pelo autor.
Geadas
Em função das condições climáticas, os pomares de laranja movimentaram-se no
estado da Flórida. Várias geadas de forte intensidade atingiram a agroindústria de cítricos em
vários momentos da história (ATTAWAY, 2000a, 2000b), reduzindo ou quase eliminando a
produção em algumas regiões. As geadas eram consideradas uma benção na desgraça, pois
modificavam a situação de oferta de fruta e promoviam enormes lucros inesperados.
62
Com os lucros inesperados os produtores reconstruíam e expandiam seus pomares
ou os instalavam em regiões mais ao sul, provocando a expansão e o crescimento do plantio. A
possibilidade de lucros altos também induzia o aparecimento de novos produtores com novas
áreas plantadas.
Devido à geada de 1962, ocorreu escassez de suco para atender a demanda de
consumo do mercado norte-americano. Os atores da indústria buscaram alternativas fora do país
para suprir o mercado interno e provocaram o início da constituição de um sistema agroindustrial
de cítricos no estado de São Paulo, voltado para a produção de suco concentrado congelado.
Furacões
A ocorrência de furacões no estado da Flórida é normal e a ocorrência varia de ano
para ano. Os furacões provocam danos nos pomares pela excessiva quantidade de água trazida
pelas chuvas intensas, destruição de parte dos pomares por arrancar ou prejudicar algumas
árvores pelos fortes ventos, perda dos frutos pela ação da chuva e do vento, e disseminação de
doenças e pragas. Nos últimos 10 anos, por exemplo, a disseminação de doenças como o cancro e
o greening foi favorecida pela ocorrência de vários furacões no estado.
Guerra
A mudança no mercado de consumo, produzida pela compra governamental
durante a Segunda Guerra Mundial, trouxe benefícios com a estabilização de preços e os lucros
obtidos no período foram significativos. Os preços eram controlados pela Office of Price
Administration, agência criada durante a guerra para controlar os preços máximos e determinar os
retornos dos produtores. A demanda do governo por suco processado, que chegava a quase 20%
do volume da safra, alavancou o preço da fruta fresca. Para atender às necessidades da guerra, o
63
governo financiou a pesquisa para a produção de novos produtos e novas tecnologias de
processamento e a modernização e adequação das processadoras existentes na época. Durante o
período de guerra, o envolvimento e o engajamento dos atores da indústria cítrica nas questões da
coletividade ficaram evidenciados com a arrecadação de cerca de 10 milhões de dólares, em
bônus de guerra, para a criação do Citrus Bomber Fleet com 30 aviões (MACK, 1998).
3.4 Atores coletivos na institucionalização da rede política da Flórida
Uma das marcas da indústria cítrica da Flórida são a quantidade de organizações e
as redes de relacionamentos existentes entre elas. O Quadro 15 mostra a relação das organizações
de representação de interesses criadas na indústria cítrica do Estado. Várias dessas organizações
já foram extintas ou absorvidas, enquanto outras evoluíram e se mantêm ativas na atualidade.
Organizações de defesa de interesses
Alguns atores produtores de cítricos da Flórida já demonstravam preocupação com
o controle do mercado antes de 1880. O abastecimento do mercado ocorria de forma
desordenada, pois os transportadores levavam frutas em demasia para o mercado, os produtores
colhiam frutas não adequadas (não maduras e com defeitos) e os comerciantes não cumpriam
com o prometido. A atitude oportunista preocupava alguns atores da citricultura, pois denegria a
imagem da produção da Flórida.
A preocupação com o desenvolvimento regional e setorial levou a que
representantes dos produtores, transportadores e comerciantes buscassem criar mecanismos de
controle com o discurso voltado para o bem comum da citricultura e melhorias das relações de
compra e venda da fruta.
As organizações de representação de interesses criadas no início da agroindústria
dos cítricos da Flórida tinham como objetivo a ampliação do limite geográfico do mercado das
64
frutas. Esse tipo de organização estava focado unicamente na associação voluntária entre
produtores, transportadores e comerciantes e, com o transcorrer do tempo, criaram redes de
relacionamento intensas que se alastraram e se consolidaram entres todas as organizações
(Quadro 15).
A primeira organização de representação de interesses, a Florida Fruit Exchange,
foi criada em 1880 utilizando o modelo da organização que já existia na Califórnia. Essa
organização cooperativa de marketing buscava ampliar o mercado, controlar a produção e o envio
das frutas produzidas na Flórida (HOPKINS, 1960).
Várias das instituições normativas, reguladoras e cognitivas adotadas na rede
política citrícola da Flórida atual resultam de ações e padrões adotados desde as primeiras
organizações associativas de representação de interesses da Flórida.
A convivência entre as diversas associações é observada nos diversos comitês
existentes, na interação em decisões que são tomadas para a regulamentação e controle do
sistema agroindustrial e na rede de relacionamentos contínuos chamada por alguns de grassroots
network. As organizações de representação agem na defesa dos interesses de seus associados,
mas também na defesa dos interesses de todos os envolvidos no sistema agroindustrial de cítricos
da Flórida.
Alguns exemplos podem ser citados, como: o Marketing Order que autoriza a
colheita da fruta; a participação das associações regionais de produtores na Florida Citrus
Mutual; a participação das organizações no estabelecimento de barreiras alfandegárias; e a
participação dos atores nos programas de pesquisa e marketing, entre outros (CLARKE, 1964).
As organizações de defesa de interesses dos diversos atores (individuais e
coletivos), como as organizações estaduais, federais, mistas e privadas, são protegidas por leis
datadas de 1935. Na época ocorreu a criação do Florida Citrus Commission / Florida Department
of Citrus pelo Estado, com o objetivo de estabilização do mercado de cítricos (fruta para o
consumo e posteriormente suco industrializado) e consolidação da agroindústria de cítricos da
Flórida.
As manifestações em defesa dos interesses mútuos no setor estão expressas na
formulação, substituição ou adequação das leis, como a Florida Citrus Code, que controla,
protege e incentiva o desenvolvimento e a manutenção da indústria de suco de laranja.
65
Organização Início em: Foco de atuação Condição
Florida Fruit Exchange organização
cooperativa de marketing baseada na
cooperativa da Califórnia
1880 Interesses dos cooperados Extinta
Florida State Horticultural Society
(FSHS)
1888
Técnicos em horticultura
Ativa
Highlands County Citrus Growers
Association
1909
Associação de citricultores;
Busca (a) proteger e aprimorar a viabilidade e a
lucratividade das plantações comerciais de
citros no Distrito de Highlands, (b) aprimorar
os conhecimentos, de horticultura e marketing,
de todos os citricultores do distrito
Ativa
Florida Citrus Exchange cooperativa de
marketing, em 1969, adotou o nome de
Seald Sweet Growers, Inc; em 1998,
Seald Sweet uniu-se a UniVeg
and De
Weide Blik America para formar a Seald
Sweet LLC.; em 2004, foi formada a
Seald Sweet International
1909
Interesses dos cooperados;
Comercialização de cítricos e produtos
derivados
Ativa
Waverly Citrus Growers Association, em
1935 adotou o nome de Waverly Growers
Cooperative
1914 -15
Interesses dos cooperados;
Comercialização de cítricos e produtos
derivados
Ativa
Postal Colony Company of Clermont
organização com o propósito de fornecer
aos aposentados, do United States Post
Office Department, um local de
residência com possibilidades de geração
de renda
1923 Interesses dos associados Ativa
Fruitman’s Club 1925 Interesses dos transportadores Extinta
Holly Hill Fruit Products, Inc 1927
Interesses dos produtores locais na
comercialização de cítricos
Ativa
The Florida Citrus Growers Clearing
House Association, organização formada
com o apoio do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos
1928 Coordenação da cadeia produtiva Extinta
Florida Grapefruit Canners Association,
em 1937, mudou o nome para Florida
Canners Association e, em 1978 para
Florida Citrus Processors Association
1931
Interesses dos processadores;
Representar, comunicar, proteger e aprimorar
os interesses dos nossos membros e promover o
crescimento e o bem estar da indústria cítrica
Ativa
A Indian River Citrus League para
identificar seus produtos utilizam o selo
Certified Indian River Fruit
1931
Interesses dos produtores do Indian River
Citrus District na comercialização dos cítricos
Ativa
Florida Agricultural Research Institute
mudou seu nome, em 1986, para Florida
Fertilizer & Agrichemical Association
1932
Interesses dos produtores de fertilizantes,
calcário e pesticida
Ativa
Florida Citrus Commission / Florida
Department of Citrus (FDOC), criada
pelo governo da Florida
1935 Coordenação da cadeia produtiva Ativa
The Florida Citrus Growers Inc. 1938 Interesses dos citricultores Absorvida
Florida Citrus Growers, Inc, Florida
Farm Bureau, ligada ao American Farm
Bureau Federation (AFBF)
1941
Interesses dos citricultores;
Aumentar o lucro líquido dos produtores rurais
e melhorar a qualidade de vida da população
rural
Ativa
66
Organização Início em: Foco de atuação Condição
Florida Fruit and Vegetable Association,
organização comercial para os
agricultores, colhedores e transportadores
1943
Interesses dos agricultures;
É uma organização comercial, sem fins
lucrativos, para promover o negócio e o
ambiente competitivo para a produção e
comercialização de frutas, vegetais e outros
produtos agrícolas
Ativa
Florida Gift Fruit Shippers Association 1946 Interesses dos transportadores de fruta fresca Ativa
Florida Citrus Mutual Association 1949
Interesses dos citricultores;
É uma organização privada comercial dos
citricultores que opera com o espírito
cooperativista
Ativa
National Juice Products Association,
formada como National Association of
Citrus Juice Processors em 1960 mudou
o nome para National Orange Juice
Association e em 2003 Juice Products
Association
1957
Interesses dos processadores, produtores de
suco, fornecedores de equipamentos, peças e
insumos e entidades legais
Ativa
Florida Citrus Nurserymen’s Association 1958 Interesses dos viveiristas Ativa
Gulf Citrus Growers Association Inc. 1986
Interesses dos citricultores da região do Golf;
É uma associação comercial que trata do
crescimento sustentado e o desenvolvimento da
indústria cítrica no sudoeste da Flórida e de
questões que impactam a agroindústria da
região
Ativa
Florida Citrus Production Research
Advisory Council opera segundo o
Florida Citrus Production Research
Marketing Orde.
1991
Interesse dos produtores;
Pesquisa em temas escolhidos pelos produtores
Ativa
Peace River Valley Citrus Growers
Association
1993
Representar comercialmente os citricultores da
região do Peace River Valley
Ativa
Florida Citrus Packers, associação
cooperativa voluntária sem fins
lucrativos
Interesses de produtores e transportadores de
fruta fresca
Ativa
International Society of Citriculture
Promover e encorajar a pesquisa, o intercâmbio
de informações e educação em todos os
aspectos da produção de cítricos, colheita,
manuseio e distribuição de fruta fresca como
produtos derivados
Ativa
QUADRO 15. Organizações de representação de interesses
Fonte: elaborado pelo autor.
As manifestações em defesa dos interesses mútuos no setor estão expressas na
formulação, substituição ou adequação das leis, como a “Florida Citrus Code”, que controla,
protege e incentiva o desenvolvimento e a manutenção da indústria de suco de laranja.
67
Organizações de ensino, pesquisa e extensão
As organizações de ensino, pesquisa e extensão foram e continuam sendo
construtoras das competências necessárias para o desenvolvimento e sobrevivência da
agroindústria dos cítricos e dos avanços importantes na produção, no processamento e no
consumo dos cítricos que ocorrem até hoje no Estado. O potencial de pesquisa e desenvolvimento
na Flórida é um importante pilar de sustentação desta cadeia agroindustrial e a diferencia de
outras no mundo, como a do Brasil.
A origem das organizações de ensino (Quadro 16) ligadas aos governos estadual,
municipal e federal está relacionada com o Morrill Act, de 1862, que estabeleceu o Land Grant
University System, conhecido como Land Grand Act, que garantiu para cada estado norte-
americano 30.000 acres de terras públicas. O resultado da venda da terra seria o investimento
para dar suporte à criação de Universidades (Colleges) de Agricultura e Artes Mecânicas.
A origem das organizações de extensão está relacionada com o Smith-Lever Act,
de 1914. Essa lei especificava que os serviços de extensão rural deveriam estar associados com o
land grant college e determinava que recursos federais deveriam ser alocados, juntamente com
recursos locais para a operação dos serviços de extensão.
A origem das organizações de pesquisa e extensão está relacionada com a
aprovação do Hatch Act, de 1887, no congresso americano. Essa lei determinava a instalação de
uma estação experimental de agricultura em cada uma das Escolas do land grant colleges.
No sistema agroindustrial de cítricos da Flórida, as ações tomadas pelos governos
local, estadual e federal para a criação das unidades de ensino, pesquisa e extensão foram
complementadas pela ação conjunta das várias associações de representação de interesses dos
atores ligados à cadeia produtiva.
Como exemplo pode ser citada a University of Florida, Institute of Food &
Agricultural Sciences (UF/IFAS), que é uma parceria entre os governos federal, estadual e
municipal dedicada ao desenvolvimento do conhecimento na agricultura, dos recursos humanos,
dos recursos naturais, com diversos centros espalhados pelo estado.
68
Organização Início da operação Foco de atuação
Institute of Food & Agricultural Sciences vinculado à Universidade da
Flórida (UF/IFAS)
1884 Ensino
Florida Citrus Extension vinculado à Universidade da Flórida 1914 Extensão
Florida Cooperative Extension associado à Universidade da Flórida, ao
United States Department of Agriculture e aos governos municipais
Extensão
Citrus Research & Education Center em Lake Alfred vinculado à
Universidade da Flórida (UF-CREC) criado em 1917
1917 Pesquisa, extensão e ensino
Southwest Florida Research and Education Center Pesquisa e extensão
Indian River Research & Education Center Pesquisa e extensão
Florida Agricultural Information Retrieval System (FAIRS) Pesquisa e extensão
Food & Resource Economics Department (FRED) Pesquisa e extensão
Horticultural Sciences Department Pesquisa e extensão
The Soil Science Foundation organização não lucrativa 1939 Pesquisa em solos
The Citrus Institute of Florida vinculado ao Florida Southern College 1947 Ensino
The Gator Citrus Club vinculado à Universidade da Flórida 1950 Pesquisa
United States Citrus and Subtropical Products Research Laboratory
vinculado ao United States Department of Agriculture
1881 Pesquisa
QUADRO 16. Organizações de ensino, pesquisa e extensão
Fonte: elaborado pelo autor.
Outro exemplo que pode ser citado é a Flórida Citrus Extension, que tem como
objetivo transferir informações e tecnologias necessárias à indústria por meio de comunicação
amigável em trabalhos técnicos, modelos de resolução de problemas emergentes, atualizações em
novas oportunidades e programas de educação continuada. A Flórida Cooperative Extension é
uma associação entre a University of Florida, Institute of Food & Agricultural Sciences, o United
States Department of Agriculture e os governos dos municípios (county). Os esforços do Citrus
Extension são conduzidos em 67 cidades (county) por agentes comerciais de cítricos e por
especialistas dos centros de pesquisa espalhados pelo estado ou no campus da University of
Florida em Gainesville (IFAS, 1997; IFAS, 1999a, 1999b; CREC, 2002; IFAS, 2002; MUTUAL,
2002b).
Organizações do governo
A presença do governo na agroindústria de cítricos da Flórida, sempre esteve
relacionada ao estabelecimento de normas, regras e estabelecimentos de padrões de qualidade e
controle dos mercados de frutas e sucos, conforme Quadro 17.
69
Organização Foco de atuação
Citrus Administrative Committee, vinculado ao
Unites States Department of Agriculture
Marketing order e marketting agremements
Florida Citrus Commission, criada pelo Florida
Citrus Code, 601 FS
Elaboração das políticas que controlam a indústria cítrica da
Flórida
Florida Department of Citrus, criado pelo
Florida Citrus Code, 601 F.S.
Coordenação da cadeia produtiva, executar as políticas do
Florida Citrus Commission
Economic and Market Research Department
vinculado ao Florida Department of Citrus
Fornecer informações para tomadas de decisões como (a)
ACNielsen ScanTrack Statistics, (b) Citrus Reference Book, (c)
OJ/GJ Consumer Profile, (d) Florida Fresh Citrus Shipments,
(e) U.S. Citrus Exports, (f) Miscellaneous Reports, (g) Florida
Citrus Outlook, (h) Florida Citrus Production Trends, (i)
Florida Fresh Citrus Fund-Raising Shipments
Gift Fruit Division vinculado ao Florida
Department of Citrus
Defesas dos interesses dos roadside stands
Florida Departmente of Agriculture and
Consumer Services vinculada ao governo da
Flórida
Interesses de toda a agroindústria da Flórida
Florida Agricultural Statistics Service,
vinculada ao governo da Florida, trabalha em
parceria com a National Agricultural Statistics
Service do United States Department of
Agriculture e com o Institute of Food and
Agricultural Sciences da Universidade da
Flórida
Coleta e distribuição de dados para dar suporte às tomadas de
decisões
Division of Marketing and Development ligado
ao Florida Department of Agriculture and
Consumer Services
Marketing - venda e promoção dos produtos da Flórida
Division of Plant Industry ligado ao Florida
Department of Agriculture and Consumer
Services
Controle e erradicação de plantas, pestes e insetos
Controle da movimentação de plantas e mudas na Florida
The Office of Agricultural Law Enforcement Fazer cumprir a lei
QUADRO 17. Organizações do governo que atuam na agroindústria
Fonte: elaborado pelo autor.
Como exemplo de ação efetiva do Estado pode ser citado o Citrus Adminstrative
Committee, administrado pelo United States Department of Agriculture, que determina os
padrões mínimos de comercialização das frutas cítricas para o mercado de fruta fresca da Flórida,
por meio do marketing order e marketing agreements. É formado por 18 membros e seus
suplentes, sendo nove citricultores, oito transportadores e um representante do público. Cada
membro pode ser indicado por três anos consecutivos no máximo.
O marketing order e o marketing agreements foram projetados para estabilizar o
mercado e assessorar os produtores agrícolas na solução coletiva de seus problemas de
marketing. Os programas são administrados por comitês locais, indicados pelo setor e
confirmados pela Florida Department of Agriculture and Consumer Services. As orders criadas
pelos comitês e aprovadas pelo menos por dois terços dos produtores e pela Florida Department
70
of Agriculture and Consumer Services, são amarrações para toda a indústria que está na área
geográfica sob a regulamentação de cada order.
O Marketing Order Administration Branch of the Fruit and Vegetable Programs
supervisiona os programas para certificar que as orders e agreements agem no interesse público e
dentro das leis vigentes. Várias indústrias aderiram voluntariamente a esses programas e optaram
por ter supervisão federal sobre alguns aspectos de suas operações.
Outro exemplo de ação efetiva do Estado é a Florida Citrus Commission / Florida
Departament of Citrus (FDOC), criado por lei do legislativo da Flórida para: proteger; aumentar
a qualidade e reputação das frutas cítricas e produtos cítricos processados, tanto no mercado
doméstico como no mercado externo; agir para proteger a saúde, o bem-estar, a estabilização e a
proteção da indústria cítrica do estado; e, como conseqüência, promover o bem-estar geral, social
e da política econômica do estado.
A Florida Citrus Commission é constituída por doze membros, indicados pelo
governo da Flórida e confirmados pelo Senado para um mandato de três anos, sendo sete
citricultores, três processadores e dois fresh fruit shippers. É responsável por: supervisionar e
guiar as atividades do Florida Departament of Citrus; determinar o valor da taxa imposta a cada
ano; impor padrões de qualidade para os citricultores, comerciantes de frutas e processadores;
impor regras para o empacotamento e etiquetamento; e requerer licenças para comerciantes de
fruta fresca, transportadores e processadores.
A Florida Departament of Citrus executa as políticas determinadas na Florida
Citrus Commission e conduz programas que envolvem: regulamentação da indústria; pesquisas
científicas, de mercado e econômica; propaganda; merchandising; relações públicas e industriais;
e promoções de consumo. O Economic and Market Research Department do Florida
Departament of Citrus divulga informações que impactam a agroindústria como: dados sobre
consumo de cada tipo de suco; Citrus Reference Book; perfil do consumo de OJ/GJ; embarques
de fruta fresca; exportação de cítricos; Miscellaneous Reports; Florida Citrus Outlook;
tendências da produção de citros; e Florida Fresh Citrus Fund-Raising Shipments.
A interação de várias organizações (formadas pelo governo federal, local e atores
privados) controla, regula e normatiza consideravelmente as atividades da agroindústria dos
cítricos da Flórida e, por conseqüência, reduz a ação oportunista de algum ator do setor.
71
Vivendo há algumas décadas sob essa estrutura, os atores cristalizaram em seu
comportamento os hábitos e costumes impostos por essas diretrizes e ações e passaram considerar
normal a divulgação de informações e a ação do Estado voltado à estabilização e ao bem-estar de
todos os envolvidos. Quando sentem que o Estado se afasta do setor, ou que algo possa vir a
prejudicar seus interesses, pressionam por meios de suas organizações de defesa de interesses o
reposicionamento do Estado (FDOC, 2001a, 2001c; FDACS, 2001, 2002).
Taxas e contribuições
A agroindústria de cítricos da Flórida é representada por uma série de
organizações privadas, governamentais e mistas que: defendem os diferentes interesses dos
diversos segmentos da cadeia; definem os padrões de qualidade da fruta e dos produtos
industrializados; e interagem com o governo estadual e federal na proteção e divulgação da
indústria. Diversas dessas organizações são mantidas por contribuições voluntárias ou por taxas
impostas pelo governo estadual ou federal.
A condição de forte competição, com produtos oriundos de outras regiões e países,
subsidiados ou não, faz com que as taxas e contribuições existentes sejam questionadas por
muitos atores da cadeia pela sua efetividade e retorno. Atualmente é questionada a taxa cobrada
dos produtores de fruta destinada ao programa de divulgação e marketing realizado pelo Florida
Departament of Citrus. Os produtores questionam por que somente eles têm que pagar pela
propaganda se todos os envolvidos são beneficiados, independente de pertencerem ou não à
agroindústria de cítricos da Flórida.
A pressão dos processadores para a redução dos preços de fruta, a pressão dos
importadores de suco para a redução de taxas de importação, subsídios e barreiras comerciais e a
pressão dos produtores para a redução das taxas que incidem sobre a fruta produzida, estão
provocando a lenta desagregação da estrutura institucional e organizacional montada e,
conseqüentemente, afetando negativamente as áreas de pesquisa e desenvolvimento
agroindustrial.
72
Durante a safra 2001/2002, os valores que incidiram sobre a laranja que circulou
na cadeia produtiva estão relacionados no Quadro 18. As taxas não estão restritas à laranja, e
incidem sobre todas as variedades de cítricos, porém com valores diferentes.
Organismo Incide sobre US$
Citrus Adminstrative Committee Caixa com 40,8 Kg de fruta fresca 0,005
Florida Citrus Processors Association Caixa com 40,8 Kg de fruta a ser processada 0,002571
Florida Department of Agriculture
Inspeção inicial para avaliação de qualidade
Caixa de 4/5 de bushel 0, 085
Caixa de 1 - 3/5 de bushel 0,024
Estimativa de safra
Caixa de 4/5 de bushel 0,0029
Caixa de 1 - 3/5 de bushel 0,0058
Vigilância de estradas
Caixa de 4/5 de bushel 0,0005
Caixa de 1 - 3/5 de bushel 0,001
Inspeção sobre produto acabado
Fábricas não continuas Rendimento estimado de suco a 42 brix x
1.185
0,101021
Pequenas fábricas Rendimento estimado de suco a 42 brix x
1.185
0,045919
Grandes fábricas Rendimento estimado de suco a 42 brix x
1.185
0,034898
Citrus Research Marketing Order
Caixa de 4/5 de bushel 0,00375
Caixa de 1 - 3/5 de bushel 0,0075
Florida Departament of Citrus
Taxa de publicidade
Caixa de 4/5 de bushel 0,135
Caixa de 1 - 3/5 de bushel 0,165
Florida Citrus Mutual Caixa de 4/5 de bushel 0,0075
Caixa de 1 - 3/5 de bushel 0,015
Florida Citrus Packers Caixa de 4/5 de bushel 0,0055
QUADRO 18. Taxas e contribuições sobre a laranja na indústria – safra 2001/2002
Fonte: Elaborado pelo autor com base em FDOC, 2001a.
3.5 Ambiente institucional
O sistema agroindustrial de cítricos da Flórida desenvolveu-se a partir dos
primeiros plantios de frutas pelos colonizadores e exploradores e se transformou no decorrer do
tempo. Durante a evolução do sistema, várias normas, regras e procedimentos foram criados e
adaptados ao momento, porém, a base ou o conceito principal foi sendo sedimentado na cultura
dos atores. A transformação radical do sistema agroindustrial citrícola, passando de produtor de
73
fruta fresca para um sistema produtor de suco, mudou o ambiente, porém, o conceito ou a base
das normas, regras e procedimentos permaneceram e permitiram a criação de outras instituições
específicas para coordenar o sistema e adequá-lo aos novos desafios ou oportunidades.
Cursos e encontros técnicos
Na cultura difundida e cristalizada em toda a agroindústria de cítricos da Florida é
normal a realização de cursos e seminários sobre assuntos pertinentes para toda a cadeia
produtiva (Quadro 19). Esses cursos e encontros são patrocinados por organizações de ensino,
associações de classe, associações de produtores e processadores, fornecedores de máquinas e
equipamentos entre outros (MACK, 1998).
Encontro Edição em 2007
Annual Short Course for the Food Industry – The International Citrus & Beverage
Conference inicialmente conhecido como Citrus Processing Short Cours, promovido pela
University of Florida/IFAS, Food Science and Human Nutrition Department; University of
Florida, Juice and beverage Center e Institute of Food Technologists, Florida Section &
Citrus Products Division
47ª
Annual Citrus Processors and Subtropical Technology Conference Meeting promovido pelo
Institute of Food and Agricultural Sciences vinculado à University of Florida (UF/IFAS)
58ª
Citrus Engineering Conference promovido pelo American Society of Mechanical Engineers
Florida Section
53ª
QUADRO 19. Cursos e encontros técnicos
Fonte: MACK, 1988, e atualizado pelo autor.
Propaganda para divulgação dos cítricos
Os programas elaborados para a divulgação da importância dos sucos e frutas
cítricas na melhoria da qualidade de vida da população, são um valor existente desde as
primeiras organizações criadas na agroindústria de cítricos da Flórida, e estão cristalizados em
todos os atores envolvidos. Esses programas de propaganda têm por objetivo a: ampliação da
demanda de frutas e sucos, divulgação do conceito de alimento funcional e cristalização do hábito
de consumo (Quadro 20) (MACK, 1998).
74
No mercado de frutas frescas norte-americano, as marcas e nomes comerciais
criados para diferenciar os produtos são comuns. A sealed-sweet e a Mor-juice foram marcas
trabalhadas em programas de propaganda e publicidade pela Florida Citrus Exchange. Esse
programa foi tão bem sucedido na fixação da marca pelo consumidor que a Florida Citrus
Exchange, em 1969, adotou o nome de Seald Sweet Growers, Inc. Hoje se denomina Seald Sweet
International.
Os comerciantes tinham como estratégia para fixar a marca do produto o uso de
etiquetas e rótulos atraentes. Isto é uma característica tão marcante da história do setor que os
rótulos e etiquetas antigos são disputados como peças de colecionadores.
Programa Foco
Florida Citrus Showcase (1932) Divulgação dos cítricos da Flórida
FDOC e o American Cancer Society (1995) Uso de suco e frutas na prevenção do câncer
FDOC American Heart Association
Uso de suco e fruta na prevenção de doenças
cardíacas
Florida Citrus Growers e o March of Dimes
Uso de suco e frutas na prevenção de má
formação de fetos
FDOC e National Association of Pedriatic Nurse Practitioners Frutas e sucos como alimento saudável
FDOC e Produce for Better Health Foundation Frutas e sucos como alimento saudável
FDOC e Years Ahead Frutas e sucos como alimento saudável
FDOC Florida Orange Juice. Healty. Pure & Simple. Frutas e sucos como alimento funcional
QUADRO 20. Programas para divulgação de cítricos e seu foco
Fonte: elaborado pelo autor com base em Mack, 1998, e FDOC.
As participações em feiras e exposições fora do estado da Flórida foram
ferramenta utilizada para consolidar a imagem dos produtos cítricos da Flórida. Em 1932 um
estande, denominado de diorama, apresentava os pomares da Flórida com árvores plantadas em
grandes vasos, com frutos e com flores perfumando o ambiente. Esse procedimento ocorreu por
vários anos em várias exposições em diversos estados norte-americanos.
Por iniciativa de um pastor da igreja cristã de Winter Haven, a Florida Citrus
Showcase tornou-se a feira anual da indústria cítrica da Flórida. A primeira edição foi promovida
em 1932 e continua ocorrendo a cada ano. Vários locais foram utilizados para a realização do
evento anual até a construção do Orange Dome destinado a sediar o festival. Para promover a
Flórida, várias personalidades eram convidadas a estarem presentes no festival, evento que era
divulgado por meio do rádio e da televisão.
75
Em novembro de 1995, o American Cancer Society anunciou a formação de um
grupo de estudos em conjunto com a Florida Department of Citrus, para estudar a relação entre
uma dieta sadia, incluindo o suco de laranja da Flórida e a redução do risco de câncer (Florida
orange juice, as part of a healthy diet, helps in the fight against cancer). A grapefruit fresca da
Flórida foi o primeiro produto fresco a receber o selo de aprovação da American Heart
Association, devido aos benefícios em dieta adequada na prevenção de doenças do coração.
(Florida grapefruit and 100% Pure Florida grapefruit juice are certified as part of a heart-
healthy diet). O March of Dimes juntou forças com a Florida Citrus Growers nos estudos de
prevenção de defeitos de nascence: Adequate Folic acid and B vitamin in orange juice, my
reduce the risk of certain birth defects.
Diversas organizações envolveram-se e envolvem-se, individualmente ou em
conjunto, para as ações de marketing e divulgação dos cítricos da Flórida. A Florida Citrus
Departament utilizava o Grapefruit is Great Fruit nos programas de marketing. A Florida Citrus
Mutual, com o objetivo de alavancar o consumo, vendia colheres especiais chamadas de gimmick
para os consumidores de grapefruit. A dieta preconizada no Mayo Grapefruit Diet também
provocou aumento no consumo.
Como parte dos objetivos do Florida Department of Citrus está o de aumentar o
consumo de frutas e suco, com o uso da propaganda e da divulgação dos benefícios que o
consumo traz. Para desenvolver essa atividade, utiliza de diversas ferramentas, entre elas a
realização de estudos e trabalhos de organizações, como a Produce for Better Health Foundation,
a National Association of Pedriatic Nurse Practitioners e a Years Ahead. Outra ferramenta
importante é a propaganda na mídia e nos pontos de venda, como supermercados.
O programa atual de marketing Florida Orange Juice. Healty. Pure & Simple. do
Florida Department of Citrus, para o aumento do consumo, mostra o suco como alimento
funcional indispensável para a saúde do coração, a prevenção de gripes e resfriados e como parte
da dieta equilibrada de 2.000 calorias. Esse esforço buscar evidenciar que o suco natural não
causa obesidade e é essencial para a formação e manutenção do organismo.
A divulgação de informações de forma direcionada e organizada sobre os
benefícios do consumo de cítricos, que ocorre há décadas, promoveu a cristalização na população
de que consumir frutas cítricas ou consumir o suco de laranja ou grapefruit é um hábito saudável
e correto, construindo na coletividade imagem favorável sobre as frutas e sucos cítricos.
76
Leis na agroindústria
A necessidade da existência de instituições ou regras formais, limitações
informais e mecanismos responsáveis pela eficácia das normas está ligada ao relacionamento
humano. São as estruturas cognitivas, normativas e reguladoras que suportam a estabilidade,
ordenam a realidade e dão significado ao espaço, ao tempo e ao ambiente social; permitem aos
atores individuais ou coletivos produzirem e reproduzirem sua subsistência material e
organizarem seu espaço e tempo.
Para observar e analisar as instituições mais relevantes na agroindústria de cítricos
da Flórida, em específico as leis criadas, é preciso voltar ao início do plantio e produção
comercial de cítricos naquele estado americano. Com a diminuição da oferta de frutas maduras e
de bom padrão nos meses de setembro, outubro e novembro, as frutas alcançavam preços
elevados nos mercados consumidores. Devido à escassez do produto, vários atores em busca de
ganhos extraordinários e imediatos colhiam, embalavam e enviavam ao mercado frutas não
madura e sem qualquer padrão, prejudicando a reputação e a aceitação do produto da Flórida
devido à quebra de confiança no fornecedor pelo consumidor.
Segundo Mack (1998), o primeiro esforço por legislação para proteger a reputação
dos frutos cítricos da Flórida ocorreu em 1911, quando, pressionado por produtores, o governo
promulgou a green fruit law ou lei da fruta verde, que considerava fora da lei o embarque de
frutas não madura ao mercado.
Começava o desenvolvimento da regulamentação, por lei, do que pode ser
considerada fruta madura ou não. Para a efetivação da aplicabilidade da lei, as organizações
envolvidas pressionaram, negociaram e defenderam interesses individuais e coletivos para o
estabelecimento de padrões e métodos que determinassem se a fruta estava madura ou não e qual
o momento do início de sua colheita e comercialização.
A Florida Citrus Law, de 1925, foi a primeira lei efetiva com padrões definidos,
que permitiu o controle do envio de frutas ao mercado. Com os aprimoramentos dos padrões e
procedimentos estabelecidos surgiram os chemical maturity Standards, ou padrões químicos
utilizados para considerar se a fruta está madura ou não. Assim, além da cor, a fruta necessita
apresentar valor mínimo para a relação (ratio) entre ácidos e açúcares e a concentração de sólidos
77
solúveis (brix) para ser considerada madura. A evolução dessa regra, resultado da maturidade
organizacional da cadeia de cítricos da Flórida, levou à criação do Marketing Order No. 905. A
cada ano a Citrus Adminstrative Committee, administrada pelo United States Department of
Agriculture, determina os padrões mínimos de comercialização das frutas cítricas para o mercado
de fruta fresca da Flórida.
O início da colheita da fruta somente é realizado após autorização do governo e a
colheita somente é autorizada quando a fruta atinge os padrões estabelecidos nos procedimentos
do Florida Citrus Code, 601 F.S. e do Marketing Order No. 905. O modelo de pagamento da
fruta destinada ao processamento estabelecido na Flórida está baseado no conteúdo de sólidos
solúveis contidos na fruta, e não no seu peso.
Atualmente, as leis estaduais e federais regem a divulgação de informações para a
tomada de decisão sobre a produção baseada na demanda; a preocupação com a colheita de frutos
maduros; a preocupação com a padronização e a obediência às regras; e a preocupação com a
integridade dos representantes comerciais e transportadores. A lei, também chamada de estatuto,
é aprovada pelo legislativo do estado, cabendo às agências estaduais a elaboração de regras
específicas que permitam o seu cumprimento.
Como resultados da interação dos diversos elos da cadeia produtiva, das diversas
organizações de defesa de interesses e das diversas organizações do governo, foram criadas,
aperfeiçoadas e legitimadas as instituições (regras claras e definidas), que permitiram a
estabilização e a evolução do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida.
Chapter 601, Florida Statutes, Florida Citrus Code
A indústria é controlada pelo Chapter 601, Florida Citrus Code que, emitido pela
primeira vez em 1949, foi alterado e, adaptado ao longo do tempo para atender às condições e
necessidades da indústria de suco. Trata de diversos assuntos e estabelece critérios para o
controle e a regulamentação do sistema agroindustrial (Quadro 21). A agência estadual,
responsável por fazer cumprir esta lei, é a Florida Departament of Agriculture and Consumer
Services.
78
Item Assunto
601.01 Título da lei
601.02 Propósito da lei
601.03 Definições dos termos utilizados na lei
601.04 Criação e poderes do Florida Citrus Comission
601.05 Department of Citrus como órgão coorporativo
601.06 Compensação e despesas dos membros do Florida Citrus Comission
601.07 Localização dos escritórios executivos
601.08 Da validade jurídica dos documentos emitidos pela Comissão
601.09 Designação dos Citrus Districts
601.10 Dos poderes e diretos do Department of Citrus
601.11 Da criação e alteração de padrões pelo Department of Citrus
601.13 Administração da pesquisa em cítricos pelo Department of Citrus
601.15
Campanhas de propaganda, taxas, fundos de emergência, pesquisa em cítricos, métodos de
condução, marketing orders especiais, Citrus Stabilization Act of Florida e taxas de
equalização
601.16 a 601.18 Padrões para grapefruit
601.19 e 601.20 Padrões para laranja
601.21 e 601.22 Padrões para tangerinas
601.24 Métodos para teste e seleção
601.25 Determinação de sólidos solúveis e ácidos
601.27 Inspetores de cítricos do Departamento de Agricultura
601.28 Taxas de inspeção; taxas do road guard
601.29 Poderes do Florida Department of Agriculture and Consumer Services
601.31 a 601.33 Sobre o emprego, pagamento e interferências dos inspetores de cítricos
601.34 Sobre as obrigações dos oficiais para fazer cumprir as leis
601.35 Procedimentos nas disputas, como qualidade etc.
601.37 Atos em desacordo com as leis dos inspetores
601.38 Autoridade dos inspetores de cítricos
601.39 Inspetores especiais
601.40 a 601.42 Registro, operação sem registro e revogação do registro dos packinghouses e processadores
601.43 a 601.44 Frutas imaturas e não conforme, amostragem e destruição
601.45 Classificação das frutas frescas
601.46 Condições precedentes para a venda de frutas; falsificações; penalidades
601.47 Condições precedentes para o processamento de frutas; definições de produtos
601.48 Classificação dos produtos processados
601.49 Condições precedentes para a venda de produtos processados
601.50 Isenções de taxas na venda e embarque de certos produtos e para caridade
601.51 e 601.52 Certificados exigidos para embarque de frutas e produtos cítricos
601.53 e 601.54 Proibição de processamento e destruição de frutos não inteiros
601.55 a 601.73
Dos negociantes de frutas, licenças, exame e aprovação das licenças, taxas, registros,
garantias, atos em desacordo com as leis, fraudes, penalidades, obrigações e
responsabilidades, atos disciplinatórios, violações, investigações, documentação sobre
embarques e movimento de frutas, inspeção destes registros, penalidades por falta de
registros, transportes em rodovias
601.74 Regras, taxas, licenças e análises de insumos de produção
601.75 a 601.80 Métodos, padrões e proibições para coloração das frutas
601.85 a 601. 88 Padrões de embalagem de fruta fresca
601.89 a 601.91 Proibições e usos da fruta afetada pela geada
601.92 a 601. 97 Proibições do uso de frutas com arsênico
601.98 Embarque, venda, oferta e reexportação de frutas e produtos cítricos importados
79
Item Assunto
601.98 Embarque, venda, oferta e reexportação de frutas e produtos cítricos importados
601.99
Considerado em desacordo com a lei embalagem ou caixas sem marca; certificados de
inspeção; pagamentos de salários e despesas do Department of Citrus; relatórios anuais;
regras e regulamentos sobre sucos congelados; padrões e rótulos de suco embalado; venda e
transporte de fruta direto pelo produtor; penalidades; autoridade para modificação de
padrões; adição de adoçantes e ingredientes nutritivos no suco; uso de símbolos;
recolhimento de multas e taxas; interesse público do controle da maturação
QUADRO 21. Itens do Chapter 601, Florida Citrus Code
Fonte: elaborado pelo autor com base no Florida Senate, 2005.
Nessa lei o Estado cumpre claramente o papel que a sociedade espera no exercício
do poder que lhe é atribuído: age para estabilizar, promover o bem estar geral e coíbe a prática de
ações inescrupulosas e oportunistas, pois considera esta ação de interesse econômico de um
vasto público que depende direta e indiretamente da maior agroindústria do estado. Ao promover
o bem-estar geral da indústria de cítricos, também promove o bem-estar social, político e
econômico do estado.
Na lei o Estado defende claramente o interesse de todos os atores envolvidos na
agroindústria; age na proteção, mantendo, fortalecendo a qualidade e a reputação dos produtos
fornecidos ao consumidor final, no mercado doméstico e internacional, com padrões e inspeções
governamentais eficientes que garantem a qualidade e as condições de todos os produtos do
sistema agroindustrial de cítricos da Flórida.
Nesta lei o Estado institui uma taxa coletiva sobre todos os produtores de cítricos,
para a manutenção da estrutura necessária das diversas organizações envolvidas nos programas
de pesquisa e divulgação que afetam diretamente a agroindústria. Todos os fundos coletados por
meio dessa lei são considerados contratos sociais firmados entre o Estado e os citricultores de
todo o estado. Os fundos são retidos pelo Estado e somente podem ser usados nos propósitos
previstos nesta lei.
Nesta lei o Estado institui uma taxa coletiva sobre todos os produtores de cítricos,
para a manutenção da estrutura necessária das diversas organizações envolvidas, nos programas
de pesquisa e divulgação que afetam diretamente a agroindústria; todos os fundos coletados, por
meio desta lei, são considerados contratos sociais firmados entre o Estado e os citricultores de
todo o estado; os fundos são retidos pelo Estado e somente podem ser usados nos propósitos
previstos nesta lei.
80
Chapter 20 Florida Administrative Code
Conhecida como The State of Florida Department of Citrus Official Rules
Affecting the Florida Citrus Industry, compreende as regras específicas elaboradas para o
cumprimento das leis estabelecidas no Chapter 601, Florida Citrus Code.
Chapter 602, Florida Statutes, Citrus Canker Disease
Estabelece o esquema de compensação de perdas dos viveiristas e produtores, pela
destruição de plantas, no controle e erradicação do cancro cítrico. Atualmente o programa de
erradicação é conduzido sob as regras do Chapter 581 e administrado pelo Citrus Canker
Eradication Program (CCEP).
Chapter 581, Florida Statutes, Plant Industry
O Chapter 581, Florida Statutes, Plant Industry, Quadro 22, trata de diversos
assuntos e estabelece critérios para controle e regulamentação de: viveiros de plantas;
movimentação de mudas, plantas, sementes e produtos correlacionados; uso e comercialização
de mudas, plantas, sementes e produtos considerados exógenos; uso e comercialização de mudas,
plantas, sementes e produtos correlacionados de outros territórios, estados ou países; controle,
registro e fiscalização dos viveiros de mudas; necessidade de quarentena; erradicação de plantas
infectadas ou infestadas por doenças consideradas críticas; erradicação do cancro cítrico;
fumigação ou tratamento de plantas e produtos; e preservação da flora nativa. O Florida
Department of Agriculture and Consumer Services, por meio do Division of Plant Industry, é o
responsável pelo controle e por fazer cumprir as normas e regulamentos estabelecidos.
81
Item Assunto
581.011 Definições dos termos utilizados na lei
581.021 Poderes, funções, jurisdição, privilégio e responsabilidades
581.031 Funções e poderes do Department of Agriculture and Consumer Services
581.035 Autoridade reguladora sobre os viveiros
581.041 Poderes e funções da direção do Division of Plant Industry
581.071 Principal responsável sobre as ações dos empregados
581.083 Regulamenta introdução ou liberação de plantas exógenas, daninhas, sementes, plantas
modificadas geneticamente, parasitas, predadores e insetos; taxas
581.091 Proibição, responsabilidades, permissões, seguros, comunicação ao Estado sobre plantas e
produtos proibidos
581.101 Quarentena, declarações, confisco de contrabando, remoção dos marcadores ou
certificados
581.111 Emergências
581.121 Estoques dos viveiros, condutas proibidas
581.122 Roubo, entrada em propriedades sem autorização, estoques dos viveiros
581.131 Certificação de registro
581.141 Certificação de registro ou inspeção; revogação, suspensão e multas
581.142 Requisitos necessários para a venda dos estoques viáveis dos viveiros
581.145 Viveiros de plantas aquáticas, requisitos especiais e registro
581.151 Controle da propagação do declínio
581.161 Fumigação ou tratamento de produtos e plantas
581.181 Notificação e destruição de plantas infectadas
581.182 Plantas ou produtos cítricos oriundos de outros estados, território ou países
581.183 Novas variedades de cítricos
581.184 e 1845 Adoção de regras, erradicação do cancro cítrico, compensação e acordos de destruição
voluntária
581.185 e 581.187 Preservação da flora nativa da Flórida
581.186 Organização, reuniões, poderes de funções do Endangered Plant Advisory Council
581.191 Apropriações
581.199 Informações comerciais confidenciais
581.201 Ordem de proibição, injunção, imposição
581.211 Penalidades legais em caso de violação da lei
581.212 Uso do dinheiro arrecadado
QUADRO 22. Itens do Chapter 581, Plant Industry
Fonte: elaborado pelo autor com base no Florida Senate, 2005.
Chapter 570.073, Florida Statutes, Office of Agricultural Law Enforcement
Em 1935, com o propósito de assegurar que as frutas cítricas obedecessem aos
padrões estabelecidos pelo Florida Citrus Commission ou pelo United States Department of
Agriculture, foi criada a inspeção obrigatória dos embarques de produtos agrícolas, dando
poderes aos inspetores de parar e fiscalizar as cargas de frutas cítricas. O processo de inspeção
realizado nas rodovias ficou conhecido como Road Guards. A evolução da instituição levou à
82
formação do Office of Agricultural Law Enforcement (AgLaw), uma organização subordinada ao
Florida Department of Agriculture and Consumer Services, dedicada à proteção da agricultura
na Flórida, por meio de ações profissionais para fazer cumprir a lei. E as As inspeções das cargas
de produtos da agricultura, horticultura, aqüicultura e de origem animal, realizadas pelo Bureau
of Uniformed Services, é parte das normas reguladoras e do programa para se fazer cumprir a lei.
As investigações das violações, criminais e ou civis, que envolvam práticas contra
os consumidores, crimes de roubo ou correlatos contra a agroindústria, segurança alimentar,
investigações sobre incêndios em reservas florestais e proteção das reservas naturais, são
realizadas pelo Bureau of Investigative Services.
Com essa agência, o Estado, no poder que lhe é atribuído, cria uma organização
executiva com poder de polícia para coibir a prática de ações inescrupulosas e oportunistas
relativas ao não-cumprimento dos padrões governamentais, criados para garantir a qualidade e as
condições de todos os produtos do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida.
USDA - United States Standards
O Agricultural Marketing Act, de 1946, desenvolveu os padrões para diferenciar
os níveis de qualidade a serem obedecidos pelos produtores, fornecedores, compradores e
consumidores. São padrões de elevado grau de importância utilizado para: facilitar a ordenação
do mercado; fornecer uma base confiável para compradores e vendedores; estabelecer programas
de controle de qualidade ao longo da cadeia; determinar os valores nas operações financeiras da
cadeia; e parâmetros para as inspeções federais previstas.
O United States Standards e a Florida Citrus Code definem os padrões para: o
tamanho das frutas: as tolerâncias existentes, a amostra para determinação do tamanho, o padrão
da embalagem, a maturação, coloração, aparência, textura, boa formação da fruta, similaridade
de variedades, lesões, danos, diâmetros e classificação de defeitos para laranjas, grapefruit,
limões verdadeiros, limas ácidas, tangerinas e tangelos produzidos na Flórida. Também definem
as descrições dos produtos e os termos empregados nas descrições dos produtos.
83
Divulgação de informações
O hábito sedimentado nos atores do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida,
de promover a divulgação de dados, resultados e tecnologia produziu a dispersão e transmissão
do conhecimento, provocando a diminuição da assimetria da informação e fazendo da informação
um poderoso mecanismo de controle. A redução da assimetria de informações entre os atores
coletivos ou individuais envolvidos na cadeia produtiva é considerada como um dos principais
responsáveis pela estabilidade, melhor distribuição dos lucros e de uso dos recursos com mais
equidade na rede de decisões que sempre existe.
Em meados de outubro de cada ano, o U.S. Departament of Agriculture informa a
estimativa sobre a safra que se inicia. Nessa estimativa há informações sobre: o volume de fruta
por variedade, o rendimento esperado expresso em quantidade de suco e o rendimento de sólidos
solúveis contidos na fruta. A estimativa é atualizada no decorrer da safra, fornecendo
informações sobre o volume processado por variedade, o rendimento obtido por variedade, o
volume remanescente por variedade, e o rendimento esperado da fruta remanescente nos
pomares. Quando a safra se encerra, o último boletim emitido permite verificar o grau de precisão
entre os valores estimados e os reais ocorridos.
A divulgação dos resultados da estimativa de safra e dos testes de maturação é
realizada, em conjunto, pela: Florida Agricultural Statistics Service, Division of Marketing and
Development, Agricultural Marketing Service and National Agricultural Statistics Service do
U.S. Departament of Agriculture e Institute of Food and Agricultural Services.
A Florida Departament of Agriculture and Consumer Services é a organização
responsável por: determinar a forma da coleta da amostra representativa de cada lote de fruta que
chega nas unidades de processamento; processar a amostra; realizar os testes de maturação da
fruta; e informar à indústria, ao produtor de laranja e às organizações de controle as
características da fruta recebida e o rendimento esperado.
Anualmente a Cooperative Extension Service libera informações sobre as
estimativas realizadas que detalham os custos de produção dos cítricos na Flórida: em cada região
produtora do estado, em cada uma das operações de produção, em função da idade do pomar e
em função de a fruta ser destinada ao processamento ou ao consumo in natura.
84
3.6 Segmentos e atores relevantes na rede política citricola atual da Flórida
Produtores
O número de citricultores existentes na agroindústria de cítricos da Flórida
continua elevado. Entre os produtores rurais é variável o grau de instrução, é variável a idade dos
produtores, são variáveis os interesses individuais, existe proximidade na cultura e nos hábitos, é
forte o poder de representação e existe poder de aglutinação das organizações de defesa de
interesses.
A redução do número de pomares cítricos da Flórida ocorreu por diversos
motivos, entre eles: a pressão provocada pela expansão urbana; a ocorrência de furações; a
introdução doenças cítricas muito graves; o aumento dos custos de produção devido à
necessidade de novos tratos culturais; a competição pela mão de obra; e o aumento do risco do
negócio. Os pomares da Flórida variam quanto: à quantidade de árvores plantas por hectare, à
idade dos pomares e à produtividade obtida por hectare plantado.
Os diversos tipos de produtores negociam suas safras com poucos, bem
organizados e poderosos processadores, devido à existência de diversas organizações bem
organizadas e poderosas que agem na defesa de interesses dos produtores e das leis que
regulamentam a agroindústria da Flórida. A variação de preço pago pela fruta ao produtor é
pequena. Diferentes tipos de acordos e contratos são firmados entre produtores e processadores,
assim alguns produtores vendem suas frutas ao preço do dia, enquanto outros firmam contratos de
médio e longo prazo para o fornecimento de suas safras. Na Flórida, a colheita e o transporte da
fruta até o processador são feitos por empresas independentes pagas pelo produtor ou pelo
intermediário da negociação da fruta.
As informações e a troca de conhecimento sobre as práticas e procedimentos
agrícolas fluem com facilidade e rapidez entre os atores do elo produtivo. A mesma facilidade e
rapidez também são observadas com outros elos da cadeia produtiva e os atores do elo de ensino,
pesquisa e extensão, e as organizações do governo. A facilidade e rapidez com que a informação
e conhecimento são dispersos entre os atores imprimem características de cooperação, de
85
disposição para mudanças e reputação a alguns atores individuais ou coletivos. A abundância de
informações sobre o sistema agroindustrial de cítricos da Flórida mantém atualizado o
conhecimento dos produtores sobre aspectos de outros elos da cadeia.
A existência de leis claras para reger a agroindústria de citros da Flórida e a
presença de mecanismos para fazê-las cumprir diminuem o oportunismo de alguns atores. A
existência de vasta gama de informação confiável sobre os outros elos da cadeia sobre os custos e
as demandas amplia a ação dos citricultores, levando-os a agir de forma consciente sobre os
riscos inerentes ao negócio.
Processadores
O número de processadores em operação na Flórida tem apresentado redução nas
últimas décadas. Atualmente sete processadores respondem pelo processamento da maior parte
da safra do estado, conforme Quadro 23.
Processador
% do
processamento
% acumulada do
processamento
FCOJ NFC
Tropicana
19,0
19,0
+ +
Cutrale 16,1
35,1
+ +
Dreyfus 11,6
46,7
+ -
Southern Gardens 10,3
57,0
+ +
Citrosuco NA 9,8
66,8
+ +
FNG 9,7
76,5
+ +
Peace River 5,6
82,1
+ +
QUADRO 23. Processadores da Flórida, sua participação no processamento total e tipo de suco produzido na
safra 2003/2004
FCOJ = frozen concentrated orange juice
NFC = not from concentrated
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da FMC FoodTech e dados de campo.
As processadoras que atuam na Flórida possuem conhecimento acumulado e
informações sobre toda a cadeia produtiva desde a produção da fruta, a colheita, o transporte, o
processamento, o armazenamento, transporte e a comercialização do suco seja FCOJ ou NFC.
Esse conhecimento e informações geram para os processadores recursos de poder, porém, não
lhes atribui domínio sobre o sistema agroindustrial de cítricos.
Dentro da cadeia agroindustrial de cítricos da Flórida, os grandes processadores
adquiriram a confiança do setor. Apesar de alguns momentos difíceis, como a entrada de
86
organizações brasileiras e francesas, as processadoras gozam de boa reputação perante os outros
elos do sistema.
Os padrões de qualidade para o suco concentrado ou para o suco fresco estão
definidos por organismos oficiais da Flórida e adotado pelo organismo federal (United States
Department of Agriculture). O suco produzido em cada processador é amostrado e analisado pelo
organismo oficial para confirmar que a qualidade está de acordo com o padrão vigente.
Entre as principais processadoras há empresas pertencentes a grandes grupos
como: a Tropicana (Pepsico), a Southern Gardens (U.S. Sugar) e a Dreyfus (LD commodities);
outras são de origem brasileira, como a Cutrale e a Citrosuco; e uma cooperativa (FNG - Citrus
Word). Em 2007, a Cargill se retirou do processamento de frutas com a paralisação de suas
unidades, permanecendo no setor como blend house, e, em junho de 2008, a U.S. Sugar anunciou
a venda de todo seu patrimônio (agrícola, industrial e de transporte) para o South Florida Water
Management District uma organização do governo da Flórida.
Colhedores e transportadores
As organizações envolvidas na colheita e transporte da fruta são inúmeras,
heterogêneas, de ação regional e de interesse regional. As leis e normas específicas do governo da
Flórida controlam a ação dos colhedores e transportadores de frutas. A colheita e o transporte da
fruta são controlados pelo produtor ou pelo intermediário, dependendo do tipo de negociação de
compra e venda ocorrida entre as partes.
A organização de defesa de interesses das empresas ligadas à colheita e transporte
da laranja age localmente e defende os diferentes interesses regionais. Observa-se na
agroindústria de cítricos da Flórida representatividade e liderança de ator individual ou coletivo,
ligado ao setor de colheita e transporte de laranja.
87
Viveiristas
As organizações envolvidas na produção de mudas não são muitas, são
heterogêneas em tamanho, independentes, agem em todos os distritos ligados à citricultura e
buscam atender o interesse geral. São controlados pelas leis atuais vigentes para a agroindústria
de cítricos da Flórida.
O fluxo de informações e o do conhecimento fluem com facilidade entre as
organizações envolvidas na produção de mudas, como, também, com as organizações de ensino,
pesquisa e extensão da Flórida. Perante a constante atualização do elo e a postura de seus atores,
os demais atores da cadeia produtiva dos cítricos atribuem boa reputação e confiança aos atores
envolvidos na produção de mudas.
Organização de defesa de interesses dos produtores
São várias as organizações de representação de interesses dos produtores, são
heterogêneas quanto ao tamanho, atuam regionalmente e defendem diferentes interesses
regionais. O relacionamento entre produtores e as associações de representação de interesses é
intenso, e existe a aglutinação dos produtores em torno de uma única organização de defesa de
interesses, fato este que atribui característica de liderança e legitimidade a essas organizações. O
relacionamento entre as diferentes organizações de representação de interesses também é intenso.
Entre as organizações de defesa de interesses dos produtores se destaca a Florida Citrus Mutual.
As atividades formais e de bastidores do Florida Citrus Commission foram
importantes na criação do Florida Citrus Mutual Association, em 1949. É uma associação
cooperativa de marketing dos produtores de cítricos na qual, por contrato de adesão, podem se
afiliar transportadores, compradores e processadores. A sua missão é efetivamente servir todos
citricultores da Flórida, representando-os nas questões que afetam seus negócios.
Entre vários outros projetos em que se envolveu, a Mutual, em 1962, solicitou a
Ray A. Goldberg e Theodore Levitt, da Havard University Graduate School of Business
88
Administration, estudo sobre a atratibilidade de se estabelecer um mercado futuro de suco de
laranja concentrado congelado. O estudo mostrou que o mercado de futuros poderia beneficiar os
produtores de cítricos por, entre outros aspectos: promover um lucro adicional aos produtores,
por redução do risco de variação de preços; os processadores estarem mais confortáveis com
garantias contra a flutuação de preços do suco; e melhoria do ambiente entre os especuladores,
públicos ou privados, do mercado de suco concentrado.
Organizações de defesa de interesses dos processadores, engarrafadoras, distribuidores e
blend bouse
A Juice Products Association e a Florida Citrus Processors Association
representam os interesses dos processadores e exercem papel importante na agroindústria de
cítricos da Flórida, defendendo interesses comuns da citricultura floridiana, em diversas
organizações do governo; agindo também com organizações internacionais. Como organização
de representação de interesses dos processadores, possui conhecimento e informações sobre todos
os elos da cadeia produtiva de cítricos floridiana. Conquistou a liderança e reputação de outros
elos da cadeia citrícola pela forma de agir.
A Juice Products Association possui empresas como membros regulares e como
membros associados. São membros os: processadores; engarrafadores; produtores de sucos de
frutas e vegetais; produtores de bebidas com suco e bases para bebidas; fornecedores de
embalagens, etiquetas, rótulos e tampas para sucos e bebidas com sucos; fornecedores de
equipamentos e ingredientes; fornecedores de equipamentos para laboratórios; e entidades legais
envolvidas com contratos futuros e ou de opção em nome dos processadores membros da
associação.
89
Organização de defesa de interesses dos viveiristas
Os viveiristas são representados pelo Florida Citrus Nurserymen’s Association,
fundado em 1958 com o propósito de promover os interesses da agricultura da Flórida,
especialmente os relativos ao setor de produção de mudas, com os objetivos de: encorajar e
facilitar a produção; distribuição eficiente e economicamente viável das mudas cítricas e seus
derivados; servir como uma agência na defesa dos associados; requisitar serviços públicos
oferecidos pelas organizações públicas; representar os produtores de mudas no legislativo em
assuntos e questões de interesse público; e estabelecer um código de conduta ética nos negócios
para os produtores de mudas.
Perante a constante atualização do elo e a postura de seus atores e de sua
organização de defesa de interesses, os demais atores da cadeia produtiva dos cítricos atribuem
boa reputação e confiança aos atores envolvidos na produção de mudas. A organização de defesa
dos interesses do elo possui legitimidade e liderança perante seus representados, que lhe atribui
recursos de poder.
Canais de distribuição
O principal destino para o suco FCOJ ou NFC produzido pela agroindústria de
cítricos da Flórida é o mercado interno, sendo distribuído pelos supermercados (grocery stores) e
em lojas de conveniência (all-outlet stores), conforme Quadro 24. O papel das cadeias de
supermercados na distribuição de suco é fundamental. Entre essas cadeias, como a Northeast,
Publix, Kroger, Food Lion e Wal Mart, o Wal Mart se destaca por representar aproximadamente
30% do volume total do suco de laranja vendido em supermercados.
Os grandes compradores de suco, como a Minute Maid, a Tropicana, e o Wal Mart
entre outros, conhecem e possuem informações sobre o consumo, as tendências do mercado, as
estimativas de produção de suco e pressionam os processadores da Flórida no preço do suco
ofertado.
90
Período (outubro a setembro) Supermercados Outros tipos de venda
2004-2005 2.935,8 3.512,8
2005-2006 2.854,4 3.494,9
2006-2007 2.970,2 3.712,0
QUADRO 24. Vendas de suco de laranja (em milhões de dólares)
Fonte: elaborada pelo autor com base no Citrus Reference Book, may 2007.
Os canais de distribuição não possuem organizações de defesa de interesses na
agroindustrial de cítricos da Flórida. São organizações que adquiriram respeito, boa reputação e
confiança das organizações envolvidas nas transações de venda dos sucos.
Organizações de ensino, de pesquisa e de extensão
Grande é o número de organizações de ensino, pesquisa e extensão atuantes no
sistema agroindustrial de cítricos da Flórida, as quais são heterogêneas quanto ao tamanho e o
campo de atuação. O foco de atuação dessas organizações está relacionado à produção de frutas
cítricas, aos estudos econômicos e aos processos industriais. As organizações de ensino são
geradoras de conhecimento e divulgadoras de informações inerentes às áreas em que atuam.
Essas organizações adquiriram o respeito, a confiança e possuem boa reputação perante os
demais atores do sistema agroindustrial.
A Universidade da Flórida se destaca: no ensino, com a atuação do Institute of
Food & Agricultural Sciences; na extensão, com o Florida Citrus Extension e o Florida
Cooperative Extension; e na pesquisa, com os Researchs & Education Centers. No Florida
Southern College se destaca o Citrus Institute of Florida, que se dedica à formação de
profissionais com graduação em Citrus Business.
91
Organizações do governo
É grande o número das organizações do governo federal e estadual que estão
envolvidas na agroindústria de cítricos da Flórida; estas organizações são heterogêneas no
tamanho e no campo de atuação. Estas organizações são divulgadoras de informações nas áreas
em que atuam; conquistaram a confiança e boa reputação junto aos demais atores do sistema. A
interação entre as organizações públicas e privadas são observadas em várias ocasiões como no
Florida Citrus Commission e no Citrus Adminstrative Committee.
A organização responsável por toda a agroindústria da Flórida é a Florida
Department of Agriculture and Consumer Services que controla (a) a Division of Marketing and
Development responsável pela venda e promoção dos produtos agroindustriais, (b) o Division of
Plant Industry responsável pelo controle e erradicação de plantas, insetos, pestes e pela
movimentação de plantas e mudas, (c) o The Office of Agricultural Law Enforcement é o
organismo responsável por fazer cumprir a lei, (d) o Florida Agricultural Statistics Service
responsável pela na coleta de dados e na distribuição da informação aos atores do sistema
(informações necessárias a tomada de decisões pelos atores envolvidos).
New York Board of Trade’s
A Citrus Associates, afiliada a New York Cotton Exchange é uma organização não
lucrativa formada para criar condições de operação em mercados futuros, com o propósito de (a)
fornecer as instalações e os instrumentos para facilitar as negociações e regular as negociações e
publicar os preços de cada contrato negociado. Ela está regulada pelas normas da agência do
governo federal a Commodity Future Trading Commision. Os contratos futuros de FCOJ
negociados na Citrus Associate têm sido o instrumento do gerenciamento de risco e da redução
da flutuação de preços do mercado, utilizado pelos produtores, processadores e especuladores de
mercado.
92
3.7 Ligações relevantes e recursos de poder
As relações verticais, ou relações entre agentes de vários elos da cadeia produtiva,
normalmente estão representadas por transações comerciais de bens e serviços e por troca de
informações entre diversos agentes. Essas relações permitem o aumento da capacidade
competitiva e a adaptação organizacional necessária para a manutenção do sistema produtivo.
As relações horizontais, ou relações entre agentes do mesmo elo da cadeia
produtiva, normalmente estão representadas por transações pouco comerciais e pelo
relacionamento entre os atores de um mesmo elo e suas organizações de representação de
interesses. Essas relações buscam fornecer aos atores os recursos políticos, organizacionais,
jurídicos e de representação junto às organizações públicas e privadas. As interações e a
dependência dos atores, de diversos elos, e sua organização de representação de interesses, bem
como a interação entre diferentes organizações de representações, atores e o Estado, fornecem
contribuições sobre os mecanismos de coordenação existentes na cadeia produtiva.
O desenho das ligações relevantes do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida
(Figura 4) foi baseado em pesquisa de campo, em contatos com alguns atores, em estudos e nas
publicações a respeito do sistema. As indicações ou classificações das ligações fornecem visão
sobre as dinâmicas da coordenação que se estabelecem entre os atores do sistema. As ligações
entre os atores estão baseadas na interdependência de recursos de poder (Quadro 25), na
intensidade das relações existentes indicadas como intensas, muito intensas ou pouco intensas
(Quadro 26) e no tipo de fluxo existente.
Algumas das ligações fracas não foram incluídas neste trabalho, como, por
exemplo, entre produtores de frutas e as cadeias de supermercados na venda de suco, pois os
produtores não vendem suco aos supermercados.
93
Produtores – colhedores
A relação principal entre produtores e colhedores está restrita à contratação
temporária para a execução da colheita e carregamento das frutas. É considerada pouco intensa
devido à interdependência de recursos envolvidos. As relações ou transações entre essas partes
são recorrentes e ocorrem a cada safra. O principal fluxo de recursos nesta relação é o financeiro.
A competição por mão-de-obra na região produtora de cítricos e a sazonalidade da necessidade
deste trabalhador rural, são pontos preocupantes para o setor.
Produtores – transportadores
A relação principal entre produtores e transportadores está restrita à contratação
temporária para a execução da movimentação das frutas colhidas até os processadores, sendo
considerada como pouco intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação ou
transação entre as partes é recorrente e ocorre a cada safra. O principal fluxo nesta relação é o
financeiro.
Produtores – viveiristas
A ligação principal entre produtores e viveiristas está restrita à compra e venda de
mudas para a manutenção, renovação ou ampliação dos pomares. É vista como intensa devido à
interdependência de recursos envolvidos. As relações ou transações entre as partes é recorrente e
muitas vezes contínuas. Os principais fluxos nesta relação são o financeiro e o da
informação/conhecimento.
94
Forte
Moderado
Fraco
FIGURA 4. Rede de poder no sistema agroindustrial de cítricos da Flórida
Fonte: elaborada com dados de pesquisa do autor.
Produtores – processadores
O principal vínculo entre produtores e processadores está restrito à relação
comercial de compra e venda de frutas. É considerado muito intensa devido à interdependência
de recursos envolvidos. As transações entre essas partes são recorrentes e muitas vezes contínuas.
O principal fluxo nesta relação é o financeiro.
95
Recursos de poder Ligações relevantes
Constitucional Político Financeiro Tecnológico Organizacional Jurídico
Produtores/colhedores
X
Produtores/transportadores
X
Produtores/viveiristas
X X
Produtores/processadores
X
Produtores / associações de
representação produtores
X X X X X X
Produtores/ organizações de
ensino, pesquisa e extensão
X X X
Produtores/ organizações do
governo
X X X
Associações de
representação produtores/
processadores
X X X
Viveiristas/ organizações do
governo
X X X
Viveirista/
organizações de ensino,
pesquisa e extensão
X X X
Processadores/
organizações do governo
X X X
Processadores/ organização
de ensino, pesquisa e
extensão
X X X
Processadores/
distribuidores,
engarrafadoras e blend
house
X X X
Processadores/
canais de distribuição
X X X
Canais de distribuição/
distribuidores,
engarrafadoras e blend
house
X X X
Associação de
representação dos
processadores/
processadores
X X X X X X
QUADRO 25. Recursos de poder utilizados nas relações da rede citrícola da Flórida
Fonte: elaborado pelo autor.
96
Ligações relevantes
Intensidade Freqüência
Produtores / colhedores + Recorrente
Produtores / transportadores
+ Recorrente
Produtores / viveiristas
++ Recorrente e continua
Produtores / processadores
+++ Recorrente e continua
Produtores / organização de defesa de interesses dos produtores
+++ Recorrente e continua
Produtores / organizações de ensino, pesquisa e extensão ++ Recorrente e continua
Produtores / organizações do governo +++ Recorrente e continua
Organização de defesa de interesses dos produtores / processadores ++ Recorrente e continua
Viveiristas / organizações do governo +++ Recorrente e continua
Viveiristas / organizações de ensino, pesquisa e extensão ++ Recorrente e continua
Processadores / organizações do governo +++ Recorrente e continua
Processadores / organização de ensino, pesquisa e extensão ++ Recorrente e continua
Processadores / distribuidores, engarrafadoras e blend house +++ Recorrente e continua
Processadores / canais de distribuição +++ Recorrente e continua
Canais de distribuição / distribuidores, engarrafadoras e blend house +++ Recorrente e continua
Organização de defesa de interesses dos processadores, blend house,
engarrafadores e distribuidores / processadores
++ Recorrente e continua
Pouco intensa +
Intensa ++
Muito intensa +++
QUADRO 26. Ligações relevantes, graus de intensidade e freqüência
Fonte: elaborado pelo autor.
Produtores – organizações de defesa de interesses dos produtores
A relação entre produtores e suas associações de representação é apontada como
intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. As relações ou transações entre essas
partes são recorrentes e contínuas. Os principais recursos envolvidos nessa relação são
financeiros, políticos, jurídicos e da informação. Algumas das diversas associações de
representação de interesses, como a Florida Citrus Mutual, atuam na elaboração e divulgação de
informações indicando o preço aceitável na negociação com os processadores, no lobby com as
organizações do governo, na defesa dos interesses dos produtores, na defesa dos interesses da
região em que atuam e nas relações com a mídia.
Essa relação é a base da rede de decisões da cadeia citrícola da Flórida, porque
trabalha no desenvolvimento e manutenção de um grassroots network dedicado a incrementar o
97
envolvimento político pela organização de grupos que compartilham da mesma visão, constituído
de citricultores e fornecedores que trabalham pelo sucesso, e a viabilidade em longo prazo da
indústria cítrica da Flórida.
Produtores – organizações de ensino, pesquisa e extensão
O vínculo entre produtores e as organizações de ensino, pesquisa e extensão é
citado como intenso devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação essas partes é
recorrente e continuada, sendo principal fluxo a informação. As organizações de ensino, pesquisa
e extensão desempenham papel fundamental na divulgação de tecnologia, no treinamento e
desenvolvimento dos produtores rurais, na elaboração e divulgação de informações que auxiliam
na administração dos riscos e nas tomadas de decisão.
Produtores – organizações do governo
A ligação entre produtores e as organizações do governo é considerada muito
intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. As relações entre essas partes são
recorrentes e contínuas. O principal fluxo nesta relação é o da informação. As organizações do
governo desempenham papel fundamental na regulamentação, normatização e no controle do
setor; também na divulgação de informações que auxiliam na administração dos riscos e nas
tomadas de decisão.
98
Organização de defesa de interesses dos produtores – processadores
A relação entre as associações de representação dos produtores, como a Florida
Citrus Mutual e os processadores é indicada como intensa devido à interdependência de recursos
envolvidos. A relação ou transação entre as parte é recorrente e continuada, tendo como principal
fluxo a informação.
Viveiristas – organizações do governo
A ligação entre os viveiristas e as organizações do governo é considerada muito
intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre as partes é recorrente e
continuada. O principal fluxo nesta relação é da informação. As organizações do governo
desempenham papel fundamental na regulamentação, na normatização e no controle do setor,
também na divulgação de informações que auxiliam na administração dos riscos e nas tomadas
de decisão.
Viveiristas – organizações de ensino, pesquisa e extensão
O vínculo entre viveiristas e as organizações de ensino, pesquisa e extensão é
considerado intenso devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre partes é
recorrente e continuada, sendo seu principal fluxo a informação. As organizações de ensino,
pesquisa e extensão desempenham papel fundamental na divulgação de tecnologia, no
treinamento e desenvolvimento dos produtores rurais, na elaboração e divulgação de informações
que auxiliam na administração dos riscos e nas tomadas de decisão.
99
Processadores – organizações do governo
Entre processadores e as organizações do governo a ligação é apontada como
muito intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre as partes é
recorrente e continuada, sendo o principal fluxo nesta relação o da informação. As organizações
do governo desempenham papel fundamental na regulamentação, na normatização e no controle
do setor, bem como na divulgação de informações que auxiliam na administração dos riscos e nas
tomadas de decisão.
Processadores – organização de ensino, pesquisa e extensão
Os processadores e as organizações de ensino, pesquisa e extensão mantêm
relações citada como intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre
as partes é recorrente e continuada, tendo como principal fluxo nesta relação a informação. As
organizações de ensino, pesquisa e extensão desempenham papel fundamental na divulgação de
tecnologia, no treinamento e desenvolvimento do setor e na elaboração e divulgação de
informações que auxiliam na administração dos riscos e nas tomadas de decisão.
Processadores – canais de distribuição
A ligação entre os processadores e os canais de distribuição é considerada muito
intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre as partes é recorrente e
continuada. Os principais fluxos nesta relação são o financeiro e da informação. Os canais de
distribuição desempenham papel fundamental na comercialização do suco, na consolidação do
tipo de suco a ser produzido e no preço do suco.
100
FIGURA 5. Diagrama esquemático dos fluxos físicos, de serviços, financeiros e de informações do sistema
agroindustrial de cítricos da Flórida
Fonte: elaborada pelo autor.
Produtor
Intermediário
Processador Packin
g
houses
Insumos
A
g
ente
Traders
B
lend houses
En
g
arrafadores
Institucional
Su
p
ermercados
Lo
j
as conveniência
Consumidores
Fluxos físico ou servi
ç
os
Fluxos financeiro ou de informações
Insumos
q
uinas
Im
p
lementos
Trans
p
orte
Colheita
Mudas
Insumos
Distribuidor
Mercado fruta fresca
101
Processadores – traders, distribuidores, engarrafadoras e blend house
Devido à interdependência dos recursos envolvidos a ligação entre os
processadores e os distribuidores, engarrafadores e blend house é considerada muito intensa. A
relação entre as partes é recorrente e continuada. Os principais fluxos nesta relação são o
financeiro e da informação. Os distribuidores, engarrafadores e blend house, como a Tropicana e
a Minute Maid, desempenham papel fundamental na comercialização do suco, na consolidação
do tipo de suco a ser produzido e na fixação do preço do suco. Alguns processadores integrados
à jusante possuem suas próprias engarrafadoras, como a Citrus Word e Duda.
Canais de distribuição - distribuidores, engarrafadores e blend house
O vínculo entre os canais de distribuição e os distribuidores, engarrafadores e
blend house é indicado muito intenso devido à interdependência de recursos envolvidos. A
relação entre parte é recorrente e continuada, sendo os principais fluxos nesta relação o financeiro
e da informação. Os canais de distribuição desempenham papel fundamental na comercialização
do suco, na consolidação do tipo de suco a ser produzido e no do preço do suco. Algumas
engarrafadoras, mesmo marcas consolidadas e líderes de mercado, estão subordinadas às
condições impostas pelas cadeias de distribuição, como o Carrefour e o Wal Mart.
Organização de defesa de interesses dos processadores, blend houses, engarrafadores e
distribuidores – processadores
A ligação entre os processadores e a associação de representação é considerada
intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. As relações entre essas partes são
recorrentes e contínuas. Os principais fluxos de recursos envolvidos nesta relação são políticos,
102
jurídicos e da informação. As associações de representação de interesses Juice Products
Association e a Florida Citrus Processors Association desempenham papel fundamental na
elaboração e divulgação de informações sobre práticas, tecnologia, comércio, propostas
regulatórias e ações que afetam os produtos e a imagem dos associados; na promoção e patrocínio
de pesquisas em organizações do governo; na criação, oficialização e na atualização de normas e
padrões para produção de sucos e bebidas; na eliminação das barreiras no comércio internacional
para os produtos de seus membros; nos assuntos referentes à identificação do país de origem,
tarifas de importação e quotas de restrição para vários tipos de produtos (sucos e derivados) e no
lobby e defesa dos associados nas organizações reguladoras federais, estaduais e locais, tanto nos
assuntos internos dos USA quanto nos externos.
3.8 Formas de coordenação na rede citrícola da Flórida
O foco dos itens anteriores deste capítulo foi breve descrição da evolução do
sistema agroindustrial de cítricos da Flórida, de sua transformação, de seus atores, de seu formato
e das principais formas de relacionamento existentes entre os atores.
Os direcionadores de coordenação, mencionados no capítulo Contribuições
Teóricas, são aplicados neste sub capítulo, para alguns atores, com o objetivo de entender um
pouco mais os relacionamentos e as ligações entre os atores apresentadas no capítulo anterior;
entender um pouco mais a dinâmica atual do funcionamento da cadeia desde a forma com que se
estabelece a representação de interesses, sua defesa perante outros e forma que ocorrem as
transações econômicas.
Para analisar as diferentes formas de coordenação estabelecidas na cadeia citrícola,
foram utilizados vários aportes teóricos, diminuindo assim o estreitamento analítico decorrente
do uso de um único aporte. O uso de direcionadores busca captar as relações verticais e
horizontais existentes e construir referencial das interações existentes nesse setor.
Para analisar os mecanismos de coordenação existentes na cadeia citrícola da
Flórida é relevante observar alguns aspectos relacionados à Organização Industrial, entre eles: a
especificidade dos ativos, ou ativos dedicados, afeta tanto os produtores quanto os processadores,
103
podendo ocorrer ações de oportunismo por ambas as partes, dependendo da condição do
ambiente quanto à demanda e oferta de produtos; a incerteza existente no mercado está
relacionada ao peso da influência do clima na produção de fruta, na demanda do produto final e
na importação de suco e derivados oriundos de outros centros produtivos dos Estados Unidos ou
não; e a enorme divulgação de informações sobre todas as etapas da cadeia produtiva reduz a
assimetria de informações entre os atores dos diversos elos da cadeia.
3.8.1. Direcionadores relacionados aos atores
Número e tamanho dos atores
Analisar a concentração existente em cada segmento da cadeia produtiva, ou seja,
o número e o tamanho dos atores, influenciará: a forma de coordenação de cada um dos elos da
cadeia produtiva; a forma de relacionamento com os demais elos; e a forma de relacionamento
com a sua organização de representação de interesses.
A análise, como exemplo, mostra que a concentração no segmento dos produtores
de frutas é baixa, pois é composto por grande número de atores heterogêneos com propriedades
que variam em tamanho, idade dos pomares e produtividades expressas em caixas de laranja por
pé plantado. A força do setor produtor de frutas é forte e pode ser explicado pela força e coalizão
das organizações de defesa de interesses dos produtores rurais. As relações entre produtores e
suas organizações são formalizados e com contribuições voluntárias para a manutenção e o
aprimoramento dessas organizações.
Também observa-se, pela análise, que a concentração no segmento dos
processadores de frutas é alta, pois é composto por poucas empresas heterogêneas quanto à
capacidade de processamento e o tipo de produto produzido. A força do setor de processamento é
reduzida e pode ser explicada pela força que o segmento produtor de fruta, engarrafadoras e
supermercados possui. Constantemente as processadoras são pressionadas pelos produtores para a
104
elevação dos preços a serem pagos pela fruta, como também são pressionados pelas
engarrafadoras e supermercados para reduzirem o preço do produto final.
Ainda os produtores possuem ativos específicos, expressos nas árvores plantadas e
nas máquinas e insumos necessários para a produção de cítricos destinados à produção de suco ou
para o mercado de fruta fresca. Caso ocorra a ação oportunista, os produtores poderão se tornar
reféns dos processadores. Na hipótese de o produtor decidir mudar a cultura da fazenda, terá que
realizar investimentos para a erradicação do pomar existente e a adequação necessária à nova
cultura.
A análise, como outro exemplo, evidência que os processadores possuem ativos
específicos expressos nos equipamentos e instalações necessárias para a produção e
armazenamento de suco, concentrado ou não. Caso ocorra a ação oportunista, os processadores
poderão se tornarão reféns dos produtores, engarrafadores e distribuidores. Na hipótese de o
processador decidir mudar as instalações e equipamentos para a produção de outros produtos, terá
que realizar investimentos para a adequação necessária das unidades de processamento com a
substituição e compra de novos equipamentos e sistemas.
Informação/conhecimento
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida constata a profusão e a
qualidade das informações disponíveis em diversos tipos de mídia, divulgadas antes, durante e
após o término de cada safra. Constata também que as informações fornecidas por diversas
organizações e distribuídas para todos os atores provocam a diminuição da assimetria
informacional e reduzem as incertezas do setor. As informações são ferramentas amplamente
utilizadas nas relações e nos mecanismos de controle entre os diversos elos da agroindústria. A
característica marcante da divulgação de informações e conhecimentos é um hábito sedimentado
nos atores e teve início com as primeiras organizações de defesa de interesses criadas no sistema.
A presença do Estado na divulgação das informações imputa confiabilidade ao setor, pois a
organização que divulga a informação é responsável pela confiabilidade dos dados emitidos.
105
Pela averiguação das informações disponíveis no sistema agroindustrial evidência-
se que elas são: atualizadas continuamente no decorrer da safra, comparadas com as estimativas
iniciais e com os valores obtidos na safra anterior, e que esta ação atribui credibilidade aos
mecanismos geradores das informações e indica o grau de precisão normalmente alcançado
nestas estimativas.
O estudo das informações sobre a produção agrícola cobre vários aspectos
importantes para a coordenação do setor, entre elas: a estimativa do custo de produção por
variedade e por região produtora, a estimativa da quantidade de fruta produzida, distribuída por
variedade e região produtora; a estimativa do rendimento de suco esperado; a qualidade da fruta
produzida; o destino final de cada tipo de fruta por região produtora; e as curvas de tendências
relacionadas à produção agrícola em cada região.
A análise das informações sobre o processamento cobre vários aspectos
importantes para a coordenação do setor, entre elas: a quantidade de fruta processada no período;
o rendimento obtido na fruta processada; a qualidade do produto produzido; o tipo de produto
produzido; a quantidade de produto enviado ao mercado; e a quantidade de produto em estoque.
O estudo das informações sobre o consumo de produtos abrange vários aspectos
importantes para a coordenação do setor, entre elas: são geradas nos supermercados e em outros
canais de distribuição; informam a quantidade de suco vendido no período; o tipo de suco
vendido; e o preço do produto vendido.
O fluxo das informações nas relações verticais (entre os elos da cadeia produtiva)
permite o aumento da capacidade competitiva e a adaptação organizacional necessária para a
manutenção do sistema produtivo, enquanto o fluxo das informações nas relações horizontais (em
cada elo da cadeia) fornece recursos políticos, organizacionais, jurídicos e de defesa de interesses
necessários aos mecanismos de coordenação existentes na cadeia produtiva.
Assim, como exemplo resultante da análise, as informações que são divulgadas e
atualizadas no sistema agroindustrial da Flórida sobre a produção agrícola, o processamento e o
consumo, fornecem ferramentas utilizadas: na formação do preço da fruta, na formação do preço
dos diversos tipos de sucos vendidos no mercado norte-americano, nas alterações e correções das
políticas de marketing e nos programas com o objetivo de aumentar a demanda do produto.
Informações como: volume e preço do suco importado produzido no Brasil, barreiras
106
alfandegárias existentes, preços relativos dos produtos substitutos, e a mudança da preferência do
consumidor também afetam as decisões dos atores da cadeia produtiva.
Também, observa-se pela análise que as informações que são divulgadas e
atualizadas no sistema agroindustrial da Flórida sobre os estoques de suco em poder dos
processadores, engarrafadores e distribuidores fornecem ferramentas utilizadas: para manter o
equilíbrio de preços durante a safra e entressafra; para promoções especiais de venda; no poder de
barganha entre engarrafadores e distribuidores com os processadores; sobre o volume de suco a
ser utilizado na entre safra; sobre o volume de suco a ser misturado com o suco produzido no
início da próxima safra; e para suprir eventual oscilação na oferta ocasionada por algum acidente
climático. Em casos recentes de acidentes climáticos ou quebra de produção, a alternativa da
importação foi amplamente utilizada na Flórida.
Ainda, como outro exemplo resultante da análise estão as informações que são
divulgadas e atualizadas pela The New York Board of Trade no sistema agroindustrial da Flórida
sobre os contratos ou opções de compra e venda e o preço futuro do suco que geram ferramentas
utilizadas no gerenciamento dos riscos associados a flutuações do preço do suco.
Liderança
A análise das informações e relações entre os atores do sistema agroindustrial de
cítricos da Flórida mostra que a principal liderança está no setor produtor de frutas, liderança esta
que é obtida pela ação das organizações de defesa de interesses dos produtores. Entre várias
ações encontra-se a sugestão do preço de venda aceitável para cada variedade de fruta; a qual es
calcada na análise e na geração de valores obtidos por meio das informações de produção,
consumo e dos custos de fabricação divulgados.
O estudo também revela que entre as diversas organizações se destaca a Florida
Citrus Mutual, com sua política de intenso relacionamento com outras organizações denominada
grassroots network. Devido a esse relacionamento e ao reconhecimento de sua liderança pelos
diversos atores, pressiona o Estado na defesa dos interesses de seus associados.
107
Outra liderança do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida evidenciada pela
análise está no setor de engarrafadoras e distribuidoras. As engarrafadoras e distribuidoras como
a Tropicana (Pepsico), a FNG (Citrus Word) e a Minute Maid (Coca-Cola), com suas marcas
dominam, o mercado de suco NFC e reconstituído pronto para beber. O valor da marca desses
atores lhe atribui poder com os processadores, os supermercados e demais canais de distribuição,
permitindo certo controle na fixação do preço na gôndola de distribuição. Também determinam a
tendência do tipo de suco a ser consumo no mercado.
A análise também retrata que outra liderança do sistema agroindustrial de cítricos
da Flórida está nos supermercados, destacando-se a rede Wall Mart, que responde por cerca de
30% do volume total de suco comercializado por este tipo de canal de distribuição. Essa
capacidade de venda atribui poder para fixar preços perante os processadores e engarrafadores,
influenciando toda a cadeia produtiva.
Reputação
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, a forma de proceder
dos atores (coletivos ou individuais) leva à conquista da reputação de respeitáveis e confiáveis, A
conquista da reputação de atores confiáveis permite que as transações comerciais e não
comerciais ocorram de forma ordenada entre os elos da cadeia produtiva.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos mostra que a existência de regras e
normas formais e informais, como as leis que regem a cadeia produtiva e a existência dos
mecanismos para fazê-las cumprir, criou nos atores um comportamento esperado e aceito pelos
demais e pela sociedade, levando alguns a conquistar a reputação de atores confiáveis. Para atuar
no setor, é necessário cadastrar-se nos órgãos governamentais e cumprir as exigências previstas
em lei. O recadastramento é obrigatório e anual.
108
Legitimidade
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, para que as relações
de poder sejam efetivas, os atores da cadeia produtiva devem considerá-las legítimas. E, quando
os atores atribuem legitimidade, as relações com as organizações de representações de interesses
influenciarão: na manutenção da organização, no aumento de associados, no reconhecimento da
organização pelas organizações governamentais, e na forma como será reconhecida pelos demais
atores e suas organizações de representação.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida observa que as diversas
organizações de representação de interesses, a maioria de associação e contribuição voluntária:
conquistaram a legitimidade perante seus associados, respondem pela defesa dos interesses de
seus associados e atuam em conjunto na defesa do interesse do sistema agroindustrial.
O estudo revela, como exemplo, que as organizações de representação de
interesses dos produtores apresentam legitimidade diante de seus associados, a qual contribui
para que tenham bom desempenho nas organizações governamentais e em outras organizações
que atuam no setor. Entre as organizações de representação de interesses dos produtores se
destaca a legitimidade atribuida à Florida Citrus Mutual fundada em 1949.
Outro exemplo resultante da análise evidencia que a organização de representação
de interesses dos processadores, engarrafadores e distribuidores, a Florida Citrus Processors
Association, fundada em 1931, e Juice Products Association também apresentam legitimidade
diante de seus associados, a qual contribui para que tenham bom desempenho nas organizações
governamentais e em outras organizações que atuam no setor.
Outros recursos de poder
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, o fato de os atores
(individuais ou coletivos) adquirirem legitimidade e reputação perante os outros influenciará em
como: (a) serão reconhecidos pelas organizações governamentais, (b) serão reconhecidos pelos
109
demais atores e suas organizações de representação, (c) responderão pela defesa dos interesses de
seus associados e (c) atuarão em conjunto na defesa do interesse comum.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida mostra que a
legitimidade atribuída e a reputação conquistada pelas organizações de representações de
interesses dos produtores e dos processadores, aliada à existência do Florida Citrus Commission /
Florida Department of Citrus, que é dirigido por representantes eleitos pelos atores do setor,
confere recursos de poder políticos, jurídicos, constitucionais, tecnológicos e organizacionais a
estas organizações e seus representados.
A análise, como exemplo, evidencia que as ações dessas organizações perante os
governos estadual e federal geraram normas e procedimentos relacionados à produção, controle,
qualidade e embalagem de produtos e políticas protecionistas com a criação de barreiras
comerciais, entre outras.
Estas organizações, conforme a análise, agem perante o congresso e senado para
criar atos que favoreçam o setor, vetar atos que o prejudiquem ou impedir que venham a ser
criados atos que prejudiquem o setor.
Também atuam nas organizações de ensino, pesquisa e extensão influindo no
direcionamento das pesquisas, dos estudos e no desenvolvimento e na disseminação de
tecnologias relativas à produção de frutas, no processamento e distribuição dos produtos cítricos.
A análise, como outro exemplo, retrata que as organizações de representação
possuem poder para revisar anualmente, se necessário, a Florida Citrus Code e as taxas de
contribuições obrigatórias que incidem sobre todo o sistema agroindustrial.
Confiança
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, a confiança dos
atores do setor em outros atores ou nas organizações envolvidas está baseada na existência de
leis, regras e procedimentos adotados e nos mecanismos que as fazem ser cumpridas. As regras
claras e bem definidas aliadas à freqüência do relacionamento e ao comportamento esperado dos
110
atores (coletivos ou individuais) contribuem para a atribuição da característica de confiabilidade
aos atores.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida mostra a existência: de
regras, normas formais e informais; dos mecanismos para fazê-las cumprir; bem como a
existência de comportamento esperado e aceito pelos demais e pela sociedade. Essa forma de
proceder levou os atores (coletivos ou individuais) a conquistar a reputação de respeitáveis e
confiáveis.
A análise, como exemplo, mostra que a conquista da reputação de atores
(individuais ou coletivos) confiável permite que as transações comerciais e não comerciais
ocorram de forma ordenada entre os elos da cadeia produtiva e auxilia na divulgação e
disseminação das informações e do conhecimento em todos os elos do sistema produtivo.
Características culturais
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, as características
culturais dos atores influenciam a forma que as organizações são moldadas, a forma do
relacionamento entre atores e a forma da coordenação estabelecida na cadeia produtiva. Todas as
características, como hábitos, culturas, valores, ética e comportamento que estão cristalizados no
indivíduo, mais o papel que a sociedade espera de cada um, são transportados para dentro do
sistema e irão o moldar e serem moldados pelo sistema.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida mostra que as
características da cultura americana influenciaram e influenciam os relacionamentos entre os
atores do mesmo elo ou de elos distintos da cadeia produtiva. A formação, transformação,
consolidação, organizações de interesses dos atores da cadeia produtiva foram articuladas por
atores que apresentavam o traço cultural de cooperação, do desenvolvimento regional, da geração
e da permanência da riqueza na região em se encontravam, tendo o mesmo ocorrido com a
criação, transformação e consolidação das leis, regras e procedimentos adotados e os mecanismos
que as fazem ser cumpridas.
111
A análise, também, mostra que a criação, manutenção e o direcionamento das
organizações de ensino, pesquisa e extensão são outro importante traço da cultura americana, pois
do conhecimento, da aplicação desse conhecimento e do domínio da forma de aplicar esse
conhecimento foram criadas, desenvolvidas, adaptadas e mantidas diversas cadeias produtivas,
entre elas a de cítricos.
3.8.2 Direcionadores relacionados às relações dos atores em rede
Centralidade
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, é possível inferir a
capacidade que um ator tem para coordenar os demais atores da cadeia produtiva pelo número de
conexões que passa por ele.
No caso do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida, a análise evidencia que as
várias organizações possuem um número de conexões maior do que outros atores envolvidos nas
relações que ocorrem no sistema.
A análise, como exemplo, mostra que por serem organizações de representação de
interesses regionais, a Peace River Valley Citrus Growers, a Association Indian River Citrus
League e a Peace River Valley Citrus Growers Association apresentam quantidade menor de
relações quando comparado ao total de relações do Florida Citrus Mutual, pois esta atua em área
mais abrangente, inclusive atuando com organizações regionais. A proximidade dessas
organizações com seus associados é evidente, bem como sua intermediação nas relações com
outros elos da cadeia, com as organizações do governo e com as organizações de ensino, pesquisa
e extensão.
Já a organização de representação de interesses dos processadores, a Florida
Citrus Processors Association, aparenta deter índice de centralidade menor, pois as processadoras
não são dependentes da organização para operarem. Há considerável proximidade da organização
112
com seus associados e sua intermediação com outros elos está mais voltada às relações com as
organizações do governo e com as organizações de ensino e pesquisa.
A análise, também revela que as organizações de ensino, pesquisa e extensão
possuem número de conexões importantes, pois estão diretamente relacionadas com a divulgação
de informações e de conhecimentos a todos os atores da cadeia produtiva. E as organizações do
governo possuem número de conexões relevantes, pois estão diretamente relacionadas com a
manutenção das leis, normas e padrões, e dos mecanismos de fazê-las cumprir, com a divulgação
de informações e de conhecimentos a todos os atores da cadeia produtiva.
Frequência
Conforme os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, a freqüência com
que os relacionamentos ocorrem entre os atores influencia nas formas de coordenação que haverá
entre estes atores, bem como nas características cognitivas que poderão reger estas relações.
Assim, relações continuadas podem levar à conquista da confiança entre os atores e à criação e
manutenção de regras formais ou informais para controle do sistema produtivo.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida mostra que vários atores,
individuais ou coletivos, possuem diferentes freqüências nos relacionamentos que ocorrem com
outros atores do sistema.
Revela também que é alta a freqüência do relacionamento entre produtores e
processadores, o qual ocorre de forma recorrente e contínua nas operações de compra e venda
durante as safras, pois os processadores buscam conquistar novos fornecedores ofertando
melhores condições e preços para a fruta. Devido à incidência de furacões, surgimento de novas
doenças e a diminuição da oferta de fruta, atualmente os processadores voltados à produção de
suco fresco pasteurizado pagam mais pela fruta que os voltados à produção de suco concentrado,
favorecendo a relação com os produtores que possuem fruta de boa qualidade.
Ocorre também alta freqüência de relacionamento entre processadores,
engarrafadores e canais de distribuição, relacionamento este que se dá de forma recorrente e
continuada. Muitas dessas relações comerciais estão atreladas a contratos de longo prazo e com
113
aportes de investimentos em ativos específicos pelos processadores, criando dependência no
relacionamento.
Alta é, ainda, a freqüência do relacionamento entre produtores e suas organizações
de interesses, relacionamento que ocorre de forma recorrente e continuada. Os recursos de poder
representados por esses relacionamentos indicam a razão dessa freqüência. Já a freqüência de
relacionamento entre processadores e sua organização de interesse é menor, pois os
processadores dependem menos dessa organização.
A análise, como outro exemplo, mostra que é média a freqüência do
relacionamento entre produtores e as organizações de ensino, pesquisa e extensão,
relacionamento este que ocorre de forma continuada e está focado na dependência dos produtores
devido à transferência de conhecimento e informação.
Velocidade
De acordo com os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, a velocidade
com que as informações fluem entre os atores do mesmo elo ou de diferentes elos impacta na
velocidade da adequação da cadeia produtiva.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida mostra a importância da
velocidade no fluxo de informações na cadeia produtiva. A eficiência e a velocidade desse fluxo
na migração da produção de FCOJ para a produção de NFC como produto principal da cadeia de
produção são mostradas pela análise. Apesar dos investimentos em ativos específicos necessários
e na adequação de tecnologias de outras áreas, o setor cítrico da Flórida reagiu e respondeu à
ameaça constituída pela importação de suco concentrado de outras regiões produtoras, criando
demanda por um produto diferenciado e com maior grau de dificuldade, para ser substituído por
suco originado de outras regiões.
114
Cooperação
Considerando os conceitos discutidos nas Contribuições Teóricas, tem-se que a
cooperação entre os diversos atores do mesmo elo ou de elos distintos de uma cadeia produtiva
impacta no fluxo de informações e na velocidade da adequação da cadeia produtiva.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida evidencia que a
cooperação entre os elos da cadeia produtiva ocorre em grau moderado. Que as diversas barreiras
comerciais impostas contra produtores e produtos cítricos do Brasil são exemplo do resultado da
cooperação entre os atores do sistema. Retrata ainda que existe nos atores a consciência de
cooperar para a defesa do sistema por seus integrantes, e que a ação de lobistas, mantidos pelas
organizações de interesses tanto dos produtores quanto dos processadores e engarrafadores, é
atuante e reconhecida como essencial no contexto local.
3.9 Considerações finais do capítulo
O sistema agroindustrial de cítricos da Flórida é o segundo maior sistema produtor
de suco de laranja do planeta, menor apenas que o instalado em São Paulo. A origem desse
sistema, como de outros instalados no planeta, está relacionada com o hábito de consumir cítricos
durante as grandes navegações feitas pelos espanhóis e portugueses.
Vários pontos da história do setor são importantes para o entendimento da
organização, dos mecanismos de controle e da distribuição dos recursos de poder. A produção de
cítricos evoluiu dos pomares das missões espanholas e dos pomares espalhados pelo estado para
os primeiros pomares plantados, com o objetivo de produzir frutas para vendê-las em outros
estados norte-americanos ou exportá-las para a Europa. Desde o início da citricultura comercial, a
fruta era destinada principalmente ao mercado interno norte-americano, localizado nos estados do
norte. No início, a cadeia produtiva era controlada pelos transportadores e comerciantes de fruta
que impunham o momento da colheita e fixavam os preços a serem pagos para os produtores.
115
A primeira organização de defesa de interesses, surgida em 1880 (baseada em
conceitos aplicados na Califórnia), estava voltada a expandir a venda de fruta e equilibrar as
forças entre produtores, transportadores e comerciantes. Essa organização introduziu vários
conceitos no sistema, como padrões de qualidade da fruta, embalagens e procedimentos de
controles e divulgação de informações. Esses conceitos foram sendo modificados e adaptados,
enquanto eram transferidos de uma organização para outra. Com a evolução do sistema de
cítricos, a necessidade de uso desses conceitos foi se cristalizando nos atores individuais e
coletivos do sistema. A disputa entre produtores, transportadores e comerciantes forçou a
intervenção do Estado, que resultou na criação de organizações específicas para estabilizar o
setor, as quais são dirigidas por atores do sistema.
O Estado, pressionado pelos produtores e suas organizações de defesa de
interesses, promulgou em 1911 a primeira lei para proteger o setor. A evolução e o
aprimoramento dessa lei resultaram em vários outros mecanismos complexos que atualmente
regem e controlam o sistema agroindustrial de cítricos da Flórida. O Estado incentivou a
instalação de organizações de ensino, pesquisa e extensão, responsáveis pelo desenvolvimento de
tecnologias que melhoraram a competitividade e produção dos cítricos. O modelo americano de
produção de suco foi utilizado como padrão por vários outros sistemas agroindustriais de cítricos
instalados no planeta. Desse modo, o Estado sempre esteve presente na defesa do sistema
agroindustrial de cítricos.
A análise do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida revela vários pontos
importantes para o entendimento da organização, dos mecanismos de controle e da distribuição
dos recursos de poder. Independente da heterogeneidade dos produtores e do baixo grau de
concentração, o setor é forte na coordenação do sistema. A força do setor provém da ação das
organizações de defesa de interesses, das leis existentes, da forma de pagamento da fruta pela
quantidade de sólidos solúveis que possuem.
Mesmo com a heterogeneidade dos processadores, o alto grau de concentração e a
organização das empresas, o setor não é forte na coordenação do sistema. Perde força perante os
produtores, engarrafadores, distribuidores e pelos canais de distribuição. Alguns processadores
integram as funções de engarrafadores e distribuidores. Também, independente da
heterogeneidade dos engarrafadores, distribuidores e do alto grau de concentração, o setor é forte
116
na coordenação do sistema. Apesar de forte, é pressionado pelas grandes cadeias de
supermercados.
A capacidade de divulgação de informações confiáveis entre os diversos elos da
cadeia produtiva é característica importantíssima da agroindústria de cítricos da Flórida. É um
mecanismo eficiente na coordenação vertical, reduzindo a assimetria informacional, e age na
capacidade de adaptação da cadeia, em função das mudanças provocadas pelos ambientes
institucional e organizacional. As divulgações das informações também agem nas formações dos
preços da fruta e do suco, provocando a distribuição do ganho econômico entre todos os atores
envolvidos no sistema agroindustrial.
A liderança do sistema agroindustrial está presente nas organizações de defesa de
interesses, nas engarrafadoras e nos supermercados. Como destaque, está na organização de
defesa de interesses dos produtores.
Os atores desse sistema conquistaram a reputação de confiáveis com base nos
comportamentos adotados que são esperados e aceitos pelos demais atores e pela sociedade. O
comportamento esperado está relacionado à existência de regras, normas e procedimentos
formais e informais existentes no sistema agroindustrial. Ao atribuem legitimidade às suas
organizações de defesa de interesses melhoram o desempenho destas organizações, junto às
organizações do governo, nos assuntos pertinentes ao sistema agroindustrial.
Como exemplo da conquista de recursos de poder está a Florida Citrus
Commission / Florida Department of Citrus que é controlada por representantes do setor e possui
poderes para alterar as leis e padrões existentes e em vigor.
No sistema agroindustrial da Flórida, a característica cultural dos atores é fator
chave na organização e coordenação do sistema. A característica cultural voltada para o
desenvolvimento local promoveu a melhoria das organizações e instituições focadas na
citricultura e influenciou nos programas de divulgação dos benefícios do consumo de cítricos e
na divulgação das informações e conhecimento.
As organizações de defesa de interesses apresentam maior centralidade nas
relações, fato este que se deve à importância destes atores coletivos no sistema agroindustrial. Já
a freqüência dos relacionamentos no sistema agroindustrial é variável e depende da relação entre
os atores dos diferentes elos - apesar de alguns atores apresentarem relacionamentos com maior
freqüência, não apresentam forte influência na coordenação do sistema.
117
A velocidade da adaptação do sistema agroindustrial está relacionada com o fluxo
e a velocidade da circulação de informações por todos os elos da cadeia, enquanto a característica
cultural dos atores explica a cooperação que existe entre os elos. As normas, os padrões e a
defesa dos interesses mútuos mostram a cooperação na defesa de interesses comuns.
Atualmente a agroindústria da Flórida sofre pressões de diversas origens. As
alterações que irão ocorrer na estrutura atual podem permitir a permanência da agroindústria
cítrica no estado ou, talvez, criar ou revitalizar outro pólo produtor em outra região do planeta.
Independente do grau ou sofisticação tecnológica ou da grande quantidade de
informações disponíveis, a cadeia citrícola do Estado foi abalada por geadas que provocaram a
expansão e a criação de outros sistemas cítricos produtores de suco fora dos Estados Unidos da
América, e por furacões que disseminaram pragas e doenças.
O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo, inicialmente projetado para
abastecer a escassez de suco concentrado no mercado americano, tornou-se o grande competidor
do sistema agroindustrial da Flórida. As associações de representação de interesses, de produtores
e processadores, se articularam com os organismos do Estado para analisar a agroindústria de
cítricos de São Paulo e, a partir daí, defender a cadeia da Flórida, impondo barreiras comerciais,
tais como as quotas e taxas de importação. Se houver eliminação das barreiras alfandegárias
sobre a importação de sucos cítricos, o sistema agroindustrial de cítricos da Flórida sofrerá fortes
mudanças na sua organização e mecanismo de coordenação.
Os estudos produzidos pelas associações de representação de interesses e dos
organismos do Estado foram utilizados pelos atores privados no desenho estratégico e na
reformulação das organizações e tecnologias utilizadas, passando a dar ênfase na produção de
suco pronto para beber do tipo pasteurizado não congelado, como alternativa para competir e
sobreviver ao sistema agroindustrial de cítricos paulistas.
Apesar da estabilidade produzida pelas taxas de importação, os furacões recentes,
a pressão imobiliária e o aparecimento de novas pragas e doenças diminuíram a oferta de fruta,
elevando os preços dos sucos de laranja nas gôndolas dos supermercados. Os engarrafadores
novamente buscam suprir a demanda com produto importado de outros sistemas agroindustriais.
Apesar do custo de armazenamento, manuseio e transporte de suco pronto para beber tipo
pasteurizado e não congelado, empresas brasileiras, como a Fischer (Citrosuco), a Cutrale e
recentemente a Dreyfus, adaptaram suas unidades no Brasil para atender os acordos firmados
118
com a Tropicana e a Coca-Cola para o envio de suco para os Estados Unidos da América e a
Europa.
A recente aquisição de todos ativos da U.S. Sugar (Southern Gardens) pelo South
Florida Water Management e o destino que será dado a estes ativos cria expectativa sobre o
impacto que irá ocorrer no sistema agroindustrial. Ainda não é possível visualizar os
desmembramentos desse fato.
119
4 O SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE CÍTRICOS DE SÃO PAULO: PROCESSO
HISTÓRICO E PRINCIPAIS ASPECTOS ORGANIZACIONAIS DA REDE DE
DECISÕES
4.1 Introdução
O sistema agroindustrial dos cítricos é antigo. Originou-se com a introdução das
frutas cítricas no Brasil. Evoluiu com o aparecimento dos primeiros pomares comerciais, com a
instalação de pomares em terras não adequadas à cultura do café, com a exportação de frutas
frescas para a Europa, com a introdução de novas tecnologias que levou à criação de novos
produtos e com os efeitos desta tecnologia na formação da citricultura e do mercado atual.
Este capítulo apresenta: análise estrutural do ambiente institucional à rede de
governança, do sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo; caminho de análise baseado
principalmente nas condições organizacionais coletivas em que ocorreram os processos de
constituição do sistema; o mapeamento e explicação das principais relações da cadeia citrícola,
por meio das identificações das rotinas estabelecidas entre os atores coletivos, públicos e
privados; as diversas relações existentes entre os atores que geram as formas de coordenação em
rede existentes atualmente na agroindústria dos cítricos.
O segundo item deste capítulo aborda algumas observações sobre a organização da
indústria processadora de sucos cítricos de São Paulo, mostrando a sua importância no contexto
dos demais estados produtores e como a laranja é distribuída entre os dois mercados existentes (o
de fruta fresca destinada ao consumo direto e o de fruta destinada ao processamento de suco).
Apresenta também a evolução da concentração no segmento processador em número de empresas
e o modo de distribuição do volume de suco industrializado.
O terceiro item relata as condições históricas em que o sistema agroindustrial de
cítricos foi formado e o quarto discorre sobre as diversas organizações de interesses existentes no
sistema agroindustrial de São Paulo e como a falta de continuidade da ação dessas organizações
influenciou na formação da base da governança atual.
120
O quinto contempla o ambiente institucional do setor, enfatizando aspectos como:
a realização contínua de cursos e encontros técnicos (patrocinados pelos atores e com a
participação de representantes de toda a cadeia; o uso da propaganda como ferramenta de
divulgação de idéias e construções de hábitos; validações de leis envolvendo todos os membros
das cadeias (garantindo legitimidade para o cumprimento das normas estabelecidas entre os
atores produtivos); e a divulgação de informações confiáveis entre os atores.
No sexto item aborda os segmentos e atores relevantes do sistema. Relata aspectos
relacionados à importância do ator dentro do sistema, à quantidade de atores e a algumas
características do ator e do elo a que pertence.
O sétimo trata das ligações relevantes e dos recursos de poder envolvidos no
relacionamento entre os diversos atores do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida, suas
principais conexões, apoiado nas variáveis de grau de intensidade e de recursos de poder.
O oitavo contempla as formas de coordenação existentes no sistema apoiados nos
direcionadores mencionados no capítulo Contribuições Teóricos e o nono item tece as
considerações finais.
4.2 Evolução da produção de laranja e da concentração industrial citrícola no Brasil
O estado de São Paulo possui a maior área plantada com cítricos no Brasil, sendo o
maior produtor de laranja brasileiro, além de produzir tangerinas, grapefruit e outros híbridos.
Como principal estado produtor do país, São Paulo possui também o maior número de unidades
de processamento de laranja para produção de suco instalada no país.
A produção de laranja do estado representa 70% de toda a laranja produzida no
Brasil. Os estados de Sergipe, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina
respondem pela produção entre 70 a 90 milhões de caixas, sendo a maior parte dela destinada ao
mercado de fruta fresca. O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo responde pela
exportação de 98% do suco produzido no Brasil e por 99% da exportação brasileira de laranja in
natura. O Quadro 27 mostra os volumes, expressos em porcentual, da distribuição do
121
processamento de laranja no Brasil, e o Quadro 28, o volume de fruta produzido no Estado de
São Paulo.
Estado % processamento
São Paulo 94,43
Sergipe 2,52
Paraná 1,92
Rio Grande do Sul 0,81
Bahia 0,18
Santa Catarina 0,13
Pará 0,02
QUADRO 27. Distribuição percentual do processamento de laranja no Brasil - safra 2007/2008
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados internos da FMC Foodtech – São Paulo.
No Brasil considera-se que 25% do volume de laranja produzidos ou
aproximadamente 100 milhões de caixas de 40,8 quilos, são consumidos no mercado de fruta
fresca. Esse segmento do sistema agroindustrial citrícola paulista está voltado aos consumos
interno e externo, sendo conduzido por inúmeros packinghouses que operam com diferentes
capacidades e diferentes formas de operação, são independentes e competitivos e atuam no
mercado. A distribuição da fruta fresca se dá por canais comerciais, sendo a maior parte
distribuída por grandes cadeias de revenda no mercado interno brasileiro.
Ano Produção Ano Produção Ano Produção
1979/80
155,0
1988/89
221,0
1997/98
428,0
1980/81
170,0
1989/90
296,0
1998/99
330,0
1981/82
180,0
1990/91
262,7
1999/00
388,0
1982/83
195,0
1991/92
285,5
2000/01
356,3
1983/84
200,0
1992/93
300,0
2001/02
328,2
1984/85
205,0
1993/94
307,0
2002/03
361,8
1985/86
218,0
1994/95
311,0
2003/04
327,1
1986/87
190,0
1995/96
357,3
2004/05
360,7
1987/88
234,0
1996/97
363,0
2005/06
352,1
QUADRO 28. Produção de laranja – São Paulo (volume em milhões de caixas de 40,8 Kg)
Fonte: ABECITRUS – Associação Brasileira de Exportadores de Cítricos.
O mercado de suco de laranja do sistema agroindustrial dos cítricos paulistas é
conduzido por poucas processadoras, que apresentam diferentes capacidades, alto grau de
concentração e respondem pela maior parte do suco de laranja e outros produtos da laranja
exportados pelo Brasil. Essas empresas oferecem ao mercado suco concentrado congelado, suco
fresco pasteurizado, a casca da laranja seca e peletizada, o cold pressed oil, o oil phase, a wather
phase e o terpeno (ou delimoneno).
Desde o período inicial da produção de suco concentrado congelado no Brasil,
entre 1960 e 1970, a capacidade de processamento de fruta esteve distribuída entre poucos
122
processadores (Tabela 6), indicando alto grau de concentração na indústria de suco de laranja
brasileira, característica esta que perdura até hoje.
TABELA 6. Volume de processamento (%) por processador paulista
Safra
Processador
00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08
Agromex - - - - 0,16 0,10 - -
Bascitrus 3,04 2,19 1,53 2,45 2,91 - 2,22 2,71
Branco Peres 2,28 - - - - - - -
Brasil Citrus 0,02 0,04 0,09 0,20 0,10 0,10 0,09 0,07
Bungue & Gutierres 0,08 0,09 0,06 0,08 0,06 0,07 0,03 0,02
Cargill 11,30 9,90 10,56 9,83 10,80 - - -
Citrovita 13,11 12,10 13,37 14,07 19,68 22,31 22,37 23,82
Citrus Kiki 0,04 - - - - - - -
Cutrale 23,22 30,71 29,38 29,36 29,33 26,51 33,85 32,36
Natural Sucos 0,04 0,04 - - 0,03 0,07 0,30 0,30
Fischer Citrosuco 27,21 25,72 26,47 26,51 24,12 30,22 27,82 28,46
Fruthil 0,04 0,04 0,03 0,04 0,03 0,03 0,15 0,15
KB Citrus - JLG 0,57 0,04 0,46 0,61 0,32 0,90 0,91 0,60
LDC - Dreyfus 14,30 13,65 13,16 11,34 11,75 18,20 11,49 10,53
Natura Sucos - - - - - - 0,01 0,01
Nova América - Guacho 0,27 0,66 0,61 0,73 0,57 0,48 0,60 0,57
M.A. Participações - - - - - - - 0,01
Selial - - 0,12 0,16 013 - 0,12 0,30
Suco Roque 0,11 0,13 0,09 0,12 - - 0,03 0,08
Sucorrico 4,37 4,69 4,07 4,49 - - - -
Vita Sucos - - - 0.01 0,01 0,01 0,01 0,01
Fonte: Elaborada pelo autor com base em dados internos da FMC Foodtech – São Paulo .
O alto grau de concentração da indústria de suco de laranja brasileiro se deve a
várias razões, entre elas: a abrupta necessidade de iniciar a produção de suco concentrado
congelado para suprir o mercado norte-americano prejudicado pela quebra de produção
provocada pela forte geada de 1962; a disposição de algumas poucas empresas da Flórida em
investir ou desenvolver parceiros produtores de FCOJ fora do contexto de sua agroindústria; o
volume de capital necessário à instalação das processadoras; e a cultura de alguns dos
produtores/comerciantes que iniciaram a produção de suco concentrado congelado no Brasil.
O Quadro 29 mostra algumas das organizações voltadas ao processamento de
cítricos, principalmente da laranja, após 1962. Das unidades de processamento instaladas
algumas continuam em operação, enquanto outras foram desativadas ou absorvidas durante o
período.
123
Organização
Início de
operação
Local Condição
Companhia Mineira de Conservas 1962 Bebedouro Absorvida
Sanderson (adquirindo a Cia. Mineira de Conservas) 1970 Bebedouro Absorvida
Frutesp S.A. Agroindustrial (o Estado assumindo a Sanderson
e a transferindo para a Coopercitrus)
1975 Bebedouro Absorvida
Coinbra-Frutesp (quando a Frutesp foi comprada pela Dreyfus,
atual LDC Commodities)
1992 Bebedouro Ativa
Abraham Nierbal (nas instalações da Citrobrasil) 1962 Bebedouro Desativada
Suconasa 1963 Araraquara Absorvida
Sucocítrico Cutrale (adquirindo a Suconasa) 1967 Araraquara Ativa
Citrosuco Paulista (montada pela Pasco Packing Company,
Eckes e Carl Fischer, atualmente Fischer)
1964 Matão Ativa
Citrobrasil (aproveitando as instalações do packing house) 1964 Bebedouro Absorvida
Cargill (adquirindo a Citrobrasil) 1976 Bebedouro Absorvida
Universal Citrus 1965 Barretos Desativada
Frular/Sucolanja 1968 Limeira Absorvida
Avante (adquirindo a Frular/Sucolanja; hoje Fischer) 1970 Limeira Absorvida
Citral (adquirida pela Citrosuco) 1971 Limeira Absorvida
Central Citrus ~1975 Matão Desativada
Tropisuco (adquirida pela Citrosuco) 1970
Santo Antônio de
Posse
Absorvida
Sucorrico (adquirida pela Cutrale) 1973 Araras Absorvida
Tabatinga Citrus 1976 Tabatinga Desativada
Frutropic (adquirida pela Louis Dreyfus) 1978 Matão Absorvida
Branco Peres (adquirida pela Cutrale) 1979 Itápolis Absorvida
Citrovale (adquirida pela Cutrale) 1980 Olímpia Absorvida
Citromojiana (adquirida pela Cutrale) 1980 Conchal Absorvida
Bascitrus 1983 Mirassol Ativa
Royal Citrus 1990 Taquaritinga Absorvida
Citrovita (grupo Votorantin) 1992 Catanduva Ativa
Laticínios Avaré 1992 Avaré Desativada
Cambuhy - Cambuhy/Montesucos (adquirida pela Citrovita) 1993 Matão Absorvida
Sun Home 1994 Araraquara Desativada
Bunge & Gutierrez 1995 Ribeirão Preto Ativa
Frutax 1995
Monte Azul
Paulista
Desativada
Ice Fruit - Xandô 1995 Itapira Desativada
Yolat - Parmalat 1995 Jundiaí Desativada
MGS Sucos Tropicais 1995 Matão Desativada
Sucorrico (adquirida pela Citrovita) 1996 Araras Absorvida
Rodobens 1996
São José do Rio
Preto
Desativada
Citrus Kiki (adquirida pela Dreyfus) 1997
Engenheiro
Coelho
Absorvida
Fruthil 1998 São Carlos Ativa
Frucamp 1999 Catanduva Desativada
JLG atualmente KB Citrus 1999 Dobrada Ativa
SM roque 2000 Limeira Ativa
Natural Citrus (Fazenda do Suco) – adquirida pela M.A.
participações
2001
Monte Azul
Paulista
Ativa
Brasil Citrus (nas instalações da Tabatinga Citrus) 2001 Tabatinga Ativa
Selial 2002 Rio Claro Ativa
124
Organização
Início de
operação
Local Condição
Brasil Citrus (nas instalações da Tabatinga Citrus) 2001 Tabatinga Ativa
Selial 2002 Rio Claro Ativa
Agromex 2004 Itajobí Desativada
Vitasucos 2004 Mogi Guaçu Ativa
Natura Citrus 2005 Bebedouro Ativa
MA participações 2007 Araraquara Ativa
Delta Citrus 2008 Bebedouro Ativa
QUADRO 29. Organizações voltadas ao processamento após 1962
Fonte: elaborado pelo autor com base em Hasse (1987) e dados internos da FMC FoodTech – São Paulo.
O mercado relevante do suco e subprodutos dos cítricos produzidos em São Paulo
é o da exportação para a União Européia, o NAFTA (North America Free Trade Accord), a Ásia,
o Mercosul e outros, como indicado pela ABECITRUS na Tabela 7. Para distribuir seus produtos,
os grandes processadores possuem terminais graneleiros nos portos paulistas e em portos na
Europa, Estados Unidos, Austrália e Japão; navios graneleiros exclusivos; e possuem integração
com traders, blending houses, base makers e engarrafadoras.
TABELA 7. Exportações de suco concentrado de Laranja (FCOJ) – Brasil ano civil 2007 – volume em
toneladas
Mês União Européia NAFTA Ásia Mercosul Outros Total
Janeiro 112.088 28.282 16.233 300 8.984 165.887
Fevereiro 32.252 4.915 16.572 202 4.048 57.989
Março 76.483 26.608 8.199 476 4.972 116.738
Abril 101.084 22.928 6.283 192 8.223 138.710
Maio 85.159 31.235 16.190 431 7.354 140.369
Junho 75.749 30.613 5.555 264 10.229 122.410
Julho 51.940 8.276 19.574 450 5.538 85.778
Agosto 84.602 21.298 4.752 894 11.188 122.734
Setembro 50.681 7.443 5.707 558 6.856 71.245
Outubro 81.431 42.101 10.092 427 14.280 148.331
Novembro 73.084 23.535 11.001 329 5.762 113.711
Dezembro 49.936 27.246 18.190 671 11.024 107.067
Total 874.489 274.480 138.348 5.194 98.458 1.390.969
Fonte: Abecitrus citando SECEX - Secretaria de Comercio Exterior.
O ano de 1996 marca o início da penetração das organizações brasileiras no
sistema agroindustrial da Flórida com a aquisição das unidades de processamento pertencentes à
Coca-Cola instaladas nas cidades de Auburndale e Leesburg pela Sucocitrico Cutrale. Seguindo
essa tendência, a Cargill Citrus adquiriu as unidades de Frostproof e Fort Pierce (posteriormente a
Cargill retirou-se do setor de processamento de cítricos); a Citrosuco adquiriu a unidade de
processamento da Alcoma; e a Dreyfus, as unidades de Winter Garden e Indiantown.
A mudança no padrão de preferência do consumidor externo obrigou algumas das
processadoras que permaneceram no mercado a realizarem pesados investimentos, adequando e
125
modificando a linha de produção, o armazenamento e o transporte de FCOJ para a produção,
armazenamento e transporte de NFC e FCOJ, enquanto outras continuaram produzindo somente
FCOJ. O crescimento da produção paulista de NFC destinado à exportação, conforme Figura 6,
foi provocado pela demanda imposta pela Tropicana (Pepsico) e posteriormente seguida por
outros engarrafadores e distribuidores. Os grandes produtores e exportadores paulistas do suco
NFC são a Fisher (Citrosuco) e a Cutrale. A LDC (Dreyfus ou Coinbra) está iniciando a
adequação das suas linhas de produção e armazenamento para a produção de NFC neste ano de
2008. Investimento em navios graneleiros exclusivos para o transporte de FCOJ e de NFC
representa mudança de postura, pois, tradicionalmente, utilizava o sistema da Fischer para
transporte de seu suco.
FIGURA 6. Exportações brasileiras de FCOJ e NFC - safra 2000/2001 a safra 2007/2008
Fonte: Dados da FMC FoodTech com base na SECEX.
Atualmente os grandes processadores de São Paulo não possuem unidades para
engarrafamento em embalagem final de suco concentrado congelado, ou de suco pronto para
beber, ou de suco reconstituído; não possuem marcas próprias no mercado interno ou externo;
mantêm acordos de fornecimento de suco concentrado ou suco fresco pasteurizado com outros
126
processadores ou com engarrafadoras que são proprietários de marcas distribuídas no mercado
interno ou externo.
O desempenho da citricultura paulista incentivou a instalação da maioria das
unidades de processamento em outras regiões do Brasil, como na Bahia, Sergipe, Rio Grande do
Sul, Paraná, Santa Catarina e Pará. Algumas organizações fora do estado de São Paulo foram
pioneiras em suas atividades.
Organização
Início de
operação
Local Condição
Indústrias Reunidas Jaraguá (Duas Rodas)* 1926 Jaraguá do Sul - SC
D
esativada
Aripê Agro Industrial (Bio Citrus) 1974 Montenegro - RS
A
tiva
Suvalan 1976 Bento Gonçalves - RS
A
bsorvida
Tecnovin (adquirindo a Suvalan) -x- Bento Gonçalves - RS
A
tiva
Frutene 1976 Estância - SE
A
bsorvida
Frutos Tropicais 1977 Estância – SE
D
esativada
Cooperativa de Citricultores do Vale do Caí
(adquirida pela Cervejaria Antártica)
1983 Montenegro – RS
A
bsorvida
Montesucos (adquirindo a fábrica da Antártica) -x- Montenegro - RS
A
tiva
Utiara 1984 São Gonçalo dos Campos - BA
A
tiva
Maraú (adquirida pela Parmalat)* 1984 Feira de Santana – BA
D
esativada
Cooperativa Central Oeste Catarinense 1984 Pinhalzinho - SC
D
esativada
Bob’s – Lefrut ~1985 Rio de Janeiro - RJ
D
esativada
Paraná Citrus (Cocamar) 1992 Paranavaí – PR
A
tiva
Citropar - Estacon 1992 Benevides - PA
D
esativada
Corol 1996 Rolândia - PR
A
tiva
IPCC – Café Campinho 1995 Alfenas - MG
D
esativada
Tropfruit 1995 Estância - SE
A
tiva
PROA 1995 Porto Alegre - RS
D
esativada
Incon 1996 Ilhéus - BA
D
esativada
Cajuba atual CCB 1996 Nova Soure - BA
A
tiva
Citri 1998 Paranavaí - PR
A
tiva
Maratá (adquirindo a Frutene) 1999 Estância - SE
A
tiva
NovaAmafrutas 2003 Benevides - PA
D
esativada
Primor 2004 Tijucas - SC
A
tiva
Sumo Industrial 2005 Boquim - SE
A
tiva
Fischer Videira 2005 Videira - SC
A
tiva
SM Roque 2007 Castanhal - PA
A
tiva
Citro Food 2008 São Carlos – SC
A
tiva
Exotic Juice -x- Monte Alegre - MG
A
tivada
MonteAlegre -x- Frederico Westfalen - RS
D
esativada
Citusa -x- Itapiranga SC
D
esativada
QUADRO 30. Organizações voltadas ao processamento de cítricos fora do Estado de São Paulo
Fonte: elaborado pelo autor com base em Hasse (1987), dados internos da FMC FoodTech – São Paulo e dados de
campo
* desativou a unidade de processamento de cítricos, porém continuam ativas em outras áreas.
O Quadro 30 mostra as organizações que introduziram em suas regiões a produção
de suco de laranja concentrado e congelado e os subprodutos resultantes do processamento de
127
laranja. Em alguns estados as unidades processavam vários tipos de frutas, aproveitando a
disponibilidade das frutas locais.
4.3 O papel do Estado e o avanço tecnológico para a institucionalização da cadeia citrícola
em São Paulo
Durante a época das navegações e dos descobrimentos, os europeus levaram as
plantas cítricas para diversas regiões do planeta. Os frutos eram carregados nas embarcações e
suas sementes plantadas em cada parada realizada.
Para a conquista de novas terras e a consolidação do poder dos colonizadores
(Espanha e Portugal), foi necessária a compilação de conhecimentos, novos ou existentes, que
permitissem navegar por longo tempo. Entre os navegadores era estratégico o uso de cítricos na
alimentação da tripulação durante as viagens, já que esta agia na prevenção do escorbuto (falta de
vitamina C). Assim os Açores e Canárias tornaram-se grandes pomares estratégicos, plantados
no meio da rota para a Ásia e América.
Segundo Hasse (1987), acredita-se - não há registros precisos - que os primeiros
cítricos foram cultivados nas pequenas feitorias portuguesas criadas logo após a descoberta do
Brasil. Com a criação das capitanias hereditárias a partir de 1530, o traço cultural brasileiro de
produzir para enviar para a Europa (exportação) foi implantado com o cultivo da cana para
produção do açúcar, destinada ao abastecimento dos países europeus por meio de Portugal. Com
o aumento da instalação de engenhos de açúcar, aumentava a colonização portuguesa, pois junto
aos engenhos eram instaladas as colônias e com estas o hábito da criação de animais, da
agricultura de subsistência e do pomar de árvores frutíferas.
A primeira menção da produção de cítricos no Brasil está na carta escrita por um
viajante espanhol, datada de cerca de 1540, que comenta sobre quantidade de laranjeiras, limões e
cidras deixadas pelo bacharel - sabe-se por registro que em 1502 um bacharel foi largado na ilha
de Cananéia por ter sido condenado ao degredo pela corte portuguesa. Para alguns, o princípio da
citricultura no Brasil se dá a partir de 1530/1540. O crescimento das vilas, ao longo de quase todo
128
o litoral fez a presença das árvores frutíferas trazidas pelos europeus, uma constante por toda a
costa brasileira.
Relatórios ou cartas feitos pelos religiosos nos primeiros tempos de colonização
confirmavam esse fato. Vários artigos e livros mostram que as frutas cítricas estavam muito bem
adaptadas e produzindo no Brasil, conforme mostra a Quadro 31. Com a vinda da família real
portuguesa para o país, aumentou o interesse europeu em conhecer melhor a região. Muitos
europeus percorreram o país descrevendo-o e fazendo menção sobre variedades de laranjas que
são comercializadas até hoje. Em 1817, o padre Manuel Aires de Casal, comenta sobre da laranja
seleta que encontrou no Espírito Santo e as de umbigo encontradas na Bahia. Auguste de Saint
Hilare, nos relatórios de suas viagens, afirma ser a laranja seleta a melhor. Johann Baptist Von
Spix e Karl Friedrich Phillipp Von elogiam a qualidade das laranjas seleta e de umbigo da Bahia
e informam que grande quantidade dessas laranjas eram enviadas para a corte no Rio de Janeiro.
Nessa fase do desenvolvimento do Brasil, os cítricos eram cultivados basicamente para o uso
local e para a comercialização entre os moradores locais. A propagação das plantas era feita por
sementes e a mutação natural produzia alterações nas variedades existentes.
Não é conhecido com precisão quando a laranja se transformou em produto
comercial no país. Os primeiros pomares comerciais organizados surgiram na periferia das
grandes cidades e capitais, como Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre e São Paulo, entre
outras. No interior, devido ao isolamento, as fazendas mantinham o conceito dos primeiros
assentamentos portugueses, o de produzir quase tudo que era necessário para a alimentação e
sustento de seus habitantes. O excedente de produção dos pomares frutíferos, às vezes, era
enviado para ser comercializado nas cidades vizinhas ou em entrepostos comerciais.
Da citação de Johann Baptist von Spix e Karl Friedrich Phillipp von Martius de
que a laranja baiana era enviada em grandes quantidades da Bahia para o Rio de Janeiro, por
volta de 1820, observa-se manifestação organizada para a produção, transporte e comercialização
da laranja.
A laranja bahia, baiana ou de umbigo, derivada da laranja seleta, deve ter surgido
por volta de 1800 na cidade de Salvador, no bairro da Cabula, e é considerada como o marco do
início da citricultura organizada no Brasil. Por ser uma fruta com ausência de sementes, forçou a
adoção da técnica de enxertia para sua propagação, mudando o conceito tecnológico de produção
de pomares. Em função da boa aceitação comercial da laranja baiana, vários pomares desta
129
variedade foram instalados em diversas cidades e estados, como na cidade de Limeira, em São
Paulo. Inclusive, mudas foram enviadas para a Califórnia nos Estados Unidos e lá a fruta foi
rebatizada de Washington Navel Orange.
Documento Observações de cítricos Data
Criação de vilas e povoados Ao longo de todo o litoral 1530
Carta de um viajante espanhol Cananéia – São Paulo 1540
Cartas de Padre Anchieta e Manuel da Nóbrega São Paulo e Bahia -x-
Documentos do Mosteiro de São Bento Santos e São Vicente 1540
História da Província de Santa Cruz, de Pero de
Magalhães Gandavo
Várias regiões do país 1576
Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares
de Souza
Bahia 1587
História Natural do Brasil, de Guilherme Piso -x- 1648
A República Comunista Cristã dos Guaranis
1610-1768, de Clóvis Lugon
-x- -x-
Anais da Província de São Pedro de José
Feliciano Fernandes Pinheiro
-x- -x-
Corografia Brasílica do padre Manuel Aires de
Casal
Várias regiões, e Espírito Santo
(seleta) e Bahia (de umbigo)
1817
Auguste de Saint Hilare
Desde a Bahia ao Rio Grande do
Sul
1816 a 1822
Viagem pelo Brasil, de Johann Baptist von Spix e
Karl Friedrich Phillipp von Martius
-x- -x-
Diário de Uma Viagem ao Brasil de Maria
Graham
Rio de Janeiro e Recife 1824
Corografia da Bahia, de Domingos Rebelo Bahia 1829
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, de Jean
Baptiste Debret
-x- 1839
Viagem a Volta ao Mundo, de Charles Darwin Ilhas da foz do rio Paraná -x-
QUADRO 31. Citações sobre a existência de pomares no período inicial da citricultura no Brasil
Fonte: elaborado pelo autor com base em Hasse (1987).
Mudanças no ambiente institucional causadas pela independência do país, pela
substituição da mão-de-obra escrava, pelo crescimento da cultura do café e o crescimento
econômico de outras regiões, além do Rio e Bahia, provocaram a expansão das lavouras de
cítricos, especialmente da laranja no Brasil.
Com vocação secular para a exportação, as manifestações de incentivo e as
tentativas de exportação da laranja começavam a aparecer no final do século XIX e início do
século XX. O texto publicado, em junho de 1900, na revista “A Lavoura”, da Sociedade Nacional
de Agricultura, ressaltava a exportação de laranjas pelo México e criticava o atraso do Brasil no
tocante ao aproveitamento das laranjas para exportação. Em São Paulo, para aproveitar as terras
não aptas à produção de café e induzir ao desenvolvimento de cultura alternativa, o Estado
distribuiu gratuitamente mudas de cítricos.
130
Nessa fase da citricultura havia o produtor, não especializado, que freqüentemente
tentava agir no comércio, sem sucesso; o comerciante, que raramente estava envolvido na
produção; e o técnico, que prestava serviços como a venda de insumos, mudas, livros, entre
outros. Normalmente a laranja era comprada pelos comerciantes, em diversas fazendas, colhidas
e levadas para os centros de consumo. Apesar de ser uma lavoura dedicada a abastecer o mercado
interno, a possibilidade da exportação de laranja interessava a alguns cafeicultores.
Na cidade de Limeira, em 1911, Mario de Souza Queiroz adquiriu área de 520
hectares e iniciou o plantio de laranjas baseado nos conceitos da Califórnia. Para dar seqüência ao
seu projeto, contratou o técnico agrícola alemão Edmundo Hess. Com a finalidade de obter boas
mudas, instalou um viveiro organizado e montou uma grande coleção de variedades comercias
produtiva. Em 1920 havia 50.000 árvores plantadas na fazenda. Também em Limeira, em 1918,
José Levy Sobrinho aderiu à produção de laranja para aproveitar as terras fracas não aptas para a
produção de café.
O início da exportação de frutas paulistas com sucesso para a Europa é
considerado a partir da primeira exportação feita por João Dierberger Jr., em 1926, com frutas
compradas da fazenda de José Levy Sobrinho.
O padrão de qualidade utilizado no início da exportação para a Europa foi o norte-
americano para comercialização de frutas frescas. Durante este período de aprendizado dos
comerciantes brasileiros sobre as preferências dos Europeus, as relações comerciais já existentes
com os importadores europeus de café foram de muita importância.
Após o início das exportações para a Europa, a citricultura paulista passou por
transformações que a levaram à produção especializada, para atender o gosto do consumidor
europeu. O Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, no seu Serviço de Citricultura,
trabalhou para a melhoria da qualidade da produção e na infra-estrutura existente no Estado,
possibilitando produzir com custo baixo quando comparado a outros estados brasileiros.
Grandes comerciantes exportadores apareceram no período entre 1930 e 1940 e,
posteriormente, deram sustentação na introdução da produção de suco concentrado congelado,
como Carl Fischer, Egisto Ragazzo Jr., Alberto Cocozza, Edmond Van Parys e José Cutrale
Junior.
O baixo custo de produção obtido em São Paulo levou ao crescimento do volume
de exportação e ao aparecimento de barreiras tarifárias em diversos países importadores. A visão
131
de alguns comerciantes de vender barato para segurar e garantir o mercado fazia a fruta paulista
chegar ao mercado europeu com preço abaixo do preço dos concorrentes da época, como
Espanha, Itália, Japão e Estados Unidos.
A segunda Guerra Mundial provocou queda das exportações e causou devastação
nos pomares paulistas. O excesso de fruta para o mercado interno e a queda dos preços da fruta
provocaram o abandono dos pomares, levando à disseminação de doenças, como a tristeza dos
cítricos.
Os esforços de reconstrução da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, fizeram
ressurgir o mercado consumidor europeu de frutas e as antigas ligações com exportadores
brasileiros foram retomadas. Como a exportação de laranjas voltou a ser relevante e o combate à
tristeza foi efetivo, vários empresários voltaram a investir na citricultura paulista.
Até a década de 1950, o produtor vendia toda a safra do pomar para o comerciante,
que colhia, classificava, embalava e a distribuía tanto para o mercado interno quanto para o
mercado externo. As exportações ocorriam por meio de agente ou representante do importador
europeu. Na compra da safra no pomar ainda em flor, o produtor recebia adiantamento de parte
do pagamento. O dinheiro do adiantamento era enviado pelo importador, para que seu agente ou
representante realizasse a operação de compra.
A década de 1950 é marcada pelo começo da produção de laranja por grandes
comerciantes, como Carl Fischer, José Cutrale Junior e Edmond Van Parys. O governo do Estado
de São Paulo atuava com a indústria incentivando a melhoria da qualidade das frutas,
estabelecendo normas para exportação, trabalhando na extensão rural no combate a pragas, na
pesquisa e no ensino.
O excesso de produção e a oscilação do consumo no mercado externo sempre
foram motivos de preocupação para os citricultores de São Paulo. A queda do preço da fruta
sempre esteve atrelada ao volume que excedia ao consumo e às mudanças no ambiente. O
excedente de produção permanecia nos pomares e os descartes dos packinhouses eram jogados
em valas ou em terras não cultivadas.
Algumas organizações privadas e o Estado tomaram ações que pretendiam levar
ao aproveitamento total das safras produzidas, porém os resultados não foram significativos. No
Quadro 32 estão relacionadas as organizações voltadas ao processamento de cítricos antes de
1962.
132
As unidades de processamento paulistas eram dependentes da tecnologia e da
produção de equipamentos, a princípio européia e posteriormente norte-americana, para o
processamento dos cítricos, com exceção de algumas máquinas para recuperação de óleo
essencial.
Organização Início da operação Local
Dierberger Agrícola 1893 Limeira
Lutero Gianoni 1929 Sorocaba
Casa da Laranja de Limeira 1930 Limeira
Ramicel S.A. 1940 Taubaté
Companhia Industrial de Conservas Delrio 1940 -x-
Citropectina 1954 Limeira
SEIVA – Sociedade Elaboradora Industrial de Alimentos Vegetais 1959 Bebedouro
QUADRO 32. Organizações paulistas voltadas ao processamento de cítricos antes de 1962
Fonte: elaborado pelo autor com base em Hasse (1987).
Os eventos inesperados, provocados por mudanças no ambiente institucional,
pressionam e promovem mudanças em todo o sistema (Quadro 33). As organizações e as
instituições mudam, as relações de poder são alteradas e novas configurações são construídas
para produzir a adequação necessária para a sobrevivência das organizações. Esses novos
arranjos estarão buscando o que se considera a melhor situação para os atores individuais ou
coletivos envolvidos no contexto.
Eventos inesperados Efeito
Segunda Grande Guerra Redução do volume de exportação de fruta fresca para Europa
Excesso de oferta no mercado interno
Abandono dos pomares e proliferação de doenças
Geada na Flórida em 1962 Instalação de processadoras apoiadas por empresas norte-americanas
Produção de frutas para processamento e não somente para mercado interno
Desenvolvimento de novas tecnologias de armazenamento e transporte de suco FCOJ
Financiamento para modernização das processadoras
Expansão da indústria
QUADRO 33. Eventos inesperados e seus efeitos
Fonte: elaborado pelo autor com base em Hasse (1987) e ABECITRUS (2005).
Guerra
O evento da Segunda Guerra Mundial provocou mudanças no cenário
internacional que resultou na queda das exportações de frutas dos pomares paulista. Com a queda
133
da demanda internacional ocorreu excesso de oferta de fruta no mercado interno de São Paulo
derrubando o preço do produto. O excesso de produção aliados ao baixo preço do produto
causaram devastação nos pomares paulistas - muitos produtores reduziram os tratos culturais ou
abandonaram seus pomares. Este comportamento permitiu que várias doenças fossem
disseminadas nos pomares, entre elas a tristeza dos cítricos.
Os esforços de reconstrução da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, fizeram
ressurgir o mercado consumidor europeu de frutas e as antigas ligações com exportadores
brasileiros foram retomadas. Com a retomada das exportações de laranja a citricultura voltou a
ser atrativa e o combate à tristeza foi efetivo. Vários empresários voltaram a investir na
citricultura paulista.
Geadas
As geadas que ocorreram na Flórida, principalmente a partir de 1962,
impulsionaram o processamento de laranja para a produção de suco concentrado congelado em
São Paulo. Utilizando de equipamentos e tecnologia norte-americana, a produção de suco
concentrado aumentou de forma significativa a partir da safra 1965/66.
Em São Paulo, como ocorrido na Flórida, a produção de suco concentrado
congelado mudou o ambiente produtivo da citricultura, pois: modificou o foco da utilização da
fruta, passando da produção destinada ao consumo in natura para a produção voltada à produção
de suco; possibilitou o armazenamento da fruta na forma de suco concentrado congelado;
permitiu a distribuição da fruta na forma de suco, durante todo o ano, reduzindo o efeito da
sazonalidade da safra; ampliou o limite geográfico do mercado, possibilitando a distribuição da
fruta paulista, em forma de suco, em outros países do mundo; e alterou as relações de poder na
cadeia produtiva, passando o suco concentrado a ser o produto principal, e não mais a fruta para o
mercado in natura.
O sistema agroindustrial de cítrico paulista começou a se estruturar em função de
um mercado agroindustrial globalizado e commoditizado, voltado ao mercado de suco
concentrado congelado. Esse movimento reduziu o poder dos compradores e exportadores de
134
fruta na coordenação na cadeia produtiva paulista e aumentou o poder de coordenação na cadeia
produtiva paulista das processadoras que compravam a fruta, processavam e comercializavam o
seu suco concentrado congelado no mercado externo.
As geadas freqüentes na Flórida eram consideradas uma benção na desgraça para
os paulistas, pois promoviam enormes lucros inesperados. Como havia ocorrido na Flórida
também ocorreu em São Paulo: a expectativa de lucros altos induzia o aumento do número de
produtores; o crescimento da área plantada no estado; e o aumento do número ou tamanho dos
produtores e processadores. O Estado, interessado no aumento das exportações dos produtos
brasileiro, financiou, pela utilização de vários mecanismos, a implantação de novos pomares, o
custeio de pomares existentes, a instalação de novas processadoras ou a modernização e
ampliação das processadoras existentes.
A exportação de suco concentrado congelado para os Estados Unidos abriu a
oportunidade de escoar a produção de laranja paulista para o mercado norte-americano. A
conquista do mercado europeu ocorreu em seguida - pela trilha aberta pelos antigos exportadores
de café começavam a transitar os exportadores de suco de laranja paulista.
4.4 Atores coletivos na institucionalização da rede política de São Paulo
A existência de organizações fortes e efetivas que aglutinem, que defendam e se
articulem pelos interesses de todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva do sistema
agroindustrial de cítricos não é percebida com freqüência na citricultura paulista. Pode-se
observar que as organizações de representação de interesses que existiram ou que existem na
citricultura paulista estão voltados para a representação isolada dos agentes, para a criação e
divulgação de técnicas, normas e leis destinadas à produção de frutas de melhor qualidade ou
para o combate a doenças endêmicas.
As ações de alguns atores coletivos em defesa de interesses mútuos, preocupados
com a manutenção e o desenvolvimento da cadeia produtiva, obtiveram resultados expressivos
durante alguns períodos da citricultura paulista. A criação do FUNDECITRUS – Fundo Paulista
de Defesa da Citricultura, a introdução do contrato padrão na negociação de compra de fruta e a
135
atuação da ABECITRUS na representação de interesses paulistas fora do Brasil são exemplos
dignos de nota.
Organização Fundação Interesses de
Federação da Agricultura do Estado de São Paulo – FAESP 1940 Produtores rurais
Associação Brasileira de Citricultores – ASSOCITRUS 1974 Citricultores
Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores do Estado de São Paulo –
COOPERCITRUS
1976 Produtores rurais
Fundo Paulista de Defesa da Citricultura – FUNDECITRUS 1977
Citricultores e empresas processadoras
de cítricos
Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos– ABECITRUS 1990 Processadores de cítricos
Associação Brasileira de Agribussiness – ABAG 1993 Envolvidos em agronegócios
Grupo de Consultores em Citros – GCONCI 1996 Técnicos em citricultura
Associação Paulista dos Viveiros Certificados de Citros – Vivecitrus 1998 Produtores de mudas
Sanicitros 1999 Produtores de mudas
Grupo Técnico de Assistência e Consultoria em Citros – GTACC 1999 Técnicos em citricultura
Laranja Brasil 2001 Envolvidos no agronegócio Cítrico
Associação dos Citricultores do Estado de São Paulo - ACIESP -x- Citricultores
Associação Brasileira de Citros de Mesa – ABCM -x- Citricultores
QUADRO 34. Algumas das organizações de representação de interesses do sistema agroindustrial de cítricos
de São Paulo
Fonte: elaborado pelo autor.
O Quadro 34 apresenta as organizações de representação de interesses, sua data de
fundação e a quem representa. No entanto várias mudanças ocorridas no ambiente fizeram com
que muitas perdessem o poder de representar os interesses dos atores individuais ou coletivos do
sistema agroindustrial cítrico paulista.
Organizações de ensino, pesquisa e extensão
As organizações de ensino, pesquisa e extensão foram e continuam sendo
construtoras das competências necessárias para o desenvolvimento e a sobrevivência do setor de
citros. A ação do Estado no ensino, na pesquisa e na extensão para o sistema agroindustrial dos
cítricos em São Paulo é privilegiada, conforme mostra a Quadro 35. O ensino, a pesquisa e a
extensão no estado, estão voltados mais para a produção agrícola do que para a produção
industrial.
136
Organização Início das atividades Foco da atuação
Instituto Agronômico – IAC – vinculado à APTA da
Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo
1887 Pesquisa e extensão
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” –
ESALQ – Universidade de São Paulo – USP
1901 Ensino e pesquisa
Instituto Biológico – IB – vinculado à APTA da Secretaria
da Agricultura do Estado de São Paulo
1927 Pesquisa, extensão e ensino
Centro APTA Citros Sylvio Moreira – vinculado ao
Instituto Biológico
1928
Pesquisa, extensão e ensino
em citricultura
Instituto de Economia Agrícola – IEA – vinculado ao
APTA da Secretaria da Agricultura do Estado de São
Paulo
1940 Pesquisa e extensão
Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL – vinculado
ao Instituto Agronômico
1963 Pesquisa e extensão
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária – FCAV –
Jaboticabal – Universidade Estadual “Julio de Mesquita
Filho” – UNESP
1964 Ensino, pesquisa e extensão
Fundação Educacional de Barretos – FEB – curso de
Engenharia de Alimentos
1964 Ensino
Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu – FCA –
Universidade Estadual “Julio de Mesquita Filho” UNESP
1965 Ensino e pesquisa
Faculdade de Engenharia de Alimentos de Campinas –
Universidade de Campinas – UNICAMP
1966 Ensino e pesquisa
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura – Centro Nacional de
Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical – Cruz das
Almas – BA
1975 Pesquisa
Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores do Estado de
São Paulo – COOPERCITRUS
1976 Extensão
Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro 1983 Pesquisa e extensão
Programa de Estudos dos Negócios do Sistema
Agroindustrial – PENSA – Departamentos de Economia e
Administração da FEA-USP, São Paulo e Ribeirão Preto –
Universidade de São Paulo – USP
1990 Pesquisa, ensino e extensão
Fundo de Apoio à Pesquisa Agrícola – FUNDAG 1991
Apoio à realização de
projetos de pesquisa
Departamento de Engenharia de Produção – curso de
Engenharia de Produção Agroindustrial – Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar
1993 Ensino
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração
Regional de São Paulo – SENAR/SP
1993 Ensino
Fundo Paulista de Defesa da Citricultura FUNDECITRUS 1977 Pesquisa e extensão
QUADRO 35. Organizações de ensino, pesquisa e extensão no Estado de São Paulo
Fonte: elaborado pelo autor.
Com a expansão e o crescimento da importância econômica da agroindústria
paulista, as organizações de ensino, pesquisa e extensão de São Paulo promovem o intercâmbio
do conhecimento formado com organizações de ensino, pesquisa e extensão de outros estados do
Brasil, como também de outros países. Esse intercâmbio promove a atualização constante do
conhecimento e beneficia toda cadeia produtiva. Entre tantos exemplos podem ser citados os
estudos sobre hbl (greening), cancro e o mapeamento do genoma da Xylella fastidiosa, causadora
137
da Clorose Variegada de Citros. Grande parte desse conhecimento está voltada ao elo produtor de
frutas da cadeia citrícola paulista.
Organizações do governo
A presença do governo na agroindústria citrícola de São Paulo sempre esteve mais
relacionada com o desenvolvimento do elo produtor de cítricos. Atuou pouco no estabelecimento
de normas eficazes, regras, padrões de qualidade para o controle dos mercados de frutas e sucos.
Grande parte das normas e padrões atuais é derivada das normas e padrões norte-americano ou
europeu.
A ação do governo estadual para o desenvolvimento da agroindústria citrícola
paulista, sempre foi grande e atuante no elo produtor de laranja. As companhias e coordenadorias
atuais resultaram da evolução e adaptação ao ambiente de organizações existentes (tabela 36) há
mais de 100 anos.
Organização Início Foco da atuação
Secretaria da Agricultura e Abastecimento -x-
- Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo –
CODASP
1928 Visão de cadeia de produção
- Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI 1967 Serviços de moto mecanização
- Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios –
CODEAGRO
1998
Extensão rural, controle de qualidade e
fornecimento de mudas e sementes
- Coordenadoria de Defesa Agropecuária – CDA -x-
Formulação de políticas públicas para as
cadeias produtivas agropecuárias
- Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA -x-
Assegurar agroprodutos seguros e sadios
Desenvolvimento do agronegócio na
visão de cadeia de produção
Secretaria de Comércio Exterior – SECEX – vinculada ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior
-x-
Políticas e programas de comércio
exterior, negociações em acordos ou
convênios internacionais e mecanismos
de defesa comercial
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo –
CEAGESP – vinculada ao Ministério da Agricultura e do
Abastecimento
1930 Armazenamento e comercialização
QUADRO 36. Organizações do Estado de São Paulo
Fonte: elaborado pelo autor.
Essas organizações atuam nas mais diversas áreas, como o assentamento de mão-
de-obra, obras de terraplanagem e terraplenagem, açudes, estradas, sistemas de armazenagem,
138
distribuição e comercialização de produtos, produção de mudas e sementes, extensão rural,
controle de qualidade entre vários outros.
Taxas e contribuições
A indústria cítrica de São Paulo apresenta poucas organizações atuantes e com
poder de representatividade que defendem os diferentes interesses dos diversos segmentos da
cadeia; definem os padrões de qualidade da fruta e dos produtos industrializados; interagem com
o governo estadual e com o governo federal na proteção e divulgação da indústria; e são
formados por representantes do governo e do setor privado.
Essas poucas organizações são mantidas por contribuições voluntárias ou por
taxas impostas pelo governo e representam custo adicional de produção que devem reverter como
benefícios de proteção da indústria. Um exemplo a ser citado é o valor pago pelo produtor à
FUNDECITRUS; taxa esta que está relacionada ao volume de fruta processada, e que é recolhida
pelo processador e repassada a FUNDECITRUS, para ser utilizada nos programas de controle
fitos sanitários e para o desenvolvimento e manutenção da citricultura paulista.
4.5 Ambiente institucional
O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo se desenvolveu a partir dos
primeiros plantios de frutas pelos colonizadores e exploradores portugueses e se transformou no
decorrer do tempo. Durante a evolução do sistema, várias normas, regras e procedimentos foram
criados e adaptados ao momento, porém a base ou o conceito principal foi sendo sedimentado na
cultura dos atores. A transformação radical do sistema agroindustrial citrícola, passando de
produtor de fruta fresca para sistema produtor de suco, mudou o ambiente, porém o conceito ou
base das normas, regras e procedimentos permaneceu e permitiu a criação de outras instituições
específicas para coordenar o sistema e adequá-lo aos novos desafios ou oportunidades.
139
Cursos e encontros técnicos.
Para a cultura difundida dentro da indústria citrícola no Estado de São Paulo, a
ocorrência de cursos e seminários sobre tecnologia e assuntos pertinentes à produção de frutas
são comuns e patrocinados por organizações de ensino, associações de classe, associações de
produtores, processadores, fornecedores de máquinas e equipamentos, entre outros.
Situação semelhante ocorre com as publicações sobre a agroindústria citrícola,
estando a grande maioria focada na produção agrícola. Diversas organizações, públicas ou
privadas, publicam suas revistas, boletins, informativos e trabalhos de pesquisa.
Anualmente ocorrem encontros técnicos, alguns de caráter internacional. Entre os
diversos cursos, destacam-se os encontros e cursos promovidos pelo Centro Avançado de
Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Citros Sylvio Moreira, conforme Quadro 37 abaixo.
Encontro Edição em 2007
Semana do Citricultor 29ª
Curso de Citricultura 14ª
Dia do Viveirista 13ª
Dia do Consultor 12ª
Dia da Tangerina 10ª
Dia da Laranja
Dia do Limão Thaití
Dia de Campo da Tangerina
QUADRO 37. Cursos e encontros técnicos promovidos pelo Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do
Agronegócio de Citros Sylvio Moreira
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados do Centro APTA Citros Sylvio Moreira.
Propaganda para divulgação dos cítricos
Os programas elaborados para a divulgação da importância dos sucos e frutas
cítricas na melhoria da qualidade de vida da população são poucos e resultam de ações isoladas
na indústria paulista. As ações políticas para o uso de suco de laranja em escolas, creches e
hospitais esbarram nas lutas de poder travadas entre os diversos grupos de interesses existentes
no ambiente político.
140
O trabalho de divulgação dos benefícios do uso de produtos e subprodutos da
laranja realizado pela organização Laranja Brasil é digno de nota. Como base utiliza muitas das
informações oriundas de trabalhos semelhantes e de pesquisas patrocinadas pela cadeia
agroindustrial citrícola da Flórida.
Os programas de divulgação dos benefícios, visando a ampliar a demanda do
produto no mercado interno, não é um valor existente nas organizações e nos atores envolvidos
na indústria paulista.
Leis na agroindústria
A necessidade de existência de instituições ou regras formais, limitações informais
e mecanismos responsáveis pela eficácia das normas está ligada ao relacionamento humano. São
as estruturas cognitivas, normativas e reguladoras que suportam a estabilidade, ordenam a
realidade e dão significado ao espaço, ao tempo e ao ambiente social; permitem aos atores
individuais ou coletivos produzirem e reproduzirem sua subsistência material e organizarem seu
espaço e tempo.
Leis específicas e extensas sobre a agroindústria dos cítricos, como as existentes
na Flórida, não estão presentes na agroindústria dos cítricos de São Paulo. Existem somente leis
específicas sobre a produção agrícola no caso do cancro cítrico, da produção e transporte de
mudas e do greening.
Durante o período de vigência do Contrato Padrão para compra de fruta, as regras
formais da negociação entre os produtores e os processadores eram claras e de conhecimento de
todos; esse mecanismo de controle atrelava o preço a ser pago pela fruta ao preço de venda do
suco concentrado com base nos dados da bolsa de New York e a eficiência das processadoras.
Havia semelhança com os antigos procedimentos de compra de fruta para o mercado de fruta
fresca, pois o processador comprava a fruta no pomar, com adiantamento de parcela do valor de
venda, colhia e transportava a fruta até as unidades de processamento.
Os padrões de qualidade para os diversos produtos oriundos dos cítricos obedecem
às normas definidas por organismos oficiais e privados dos países importadores. A coleta da
141
amostra e as análises necessárias para comprovar que os produtos estão dentro dos parâmetros e
limites estabelecidos pelas normas são feitas pelos próprios processadores - alguns laboratórios
externos são utilizados para confirmar os resultados obtidos. A auditoria externa, promovida
pelos clientes finais, é rotina nas unidades de processamento instaladas em São Paulo.
Divulgações das informações e mecanismos de controle
A redução da assimetria de informações entre os atores coletivos ou individuais
envolvidos na cadeia produtiva é considerada como um dos principais responsáveis pela
estabilidade, melhor distribuição dos lucros e de uso dos recursos e pela distribuição com mais
equidade na rede de decisões que sempre existe.
Não há o hábito sedimentado nos atores do sistema agroindustrial de cítricos de
São Paulo de promover a divulgação de dados, resultados e tecnologias, como ocorre entre os
atores do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida. Esse fato provoca aumento da assimetria
da informação, fazendo com que a retenção de informação se torne poderoso mecanismo de
controle.
Diversas organizações públicas, privadas, de ensino, pesquisa ou extensão ou
organizações de defesa de interesses do sistema agroindustrial paulista passaram a utilizar o
recurso da internet para a divulgação das mais variadas informações sobre o setor. O uso dessa
ferramenta aumentou a exposição dos atores às informações, tanto brasileiras quanto americanas,
sobre o sistema agroindustrial dos cítricos, tendendo a diminuir a assimetria de informações no
sistema.
A estimativa do custo de produção dos cítricos em São Paulo é realizada
anualmente pelo Instituto de Economia Agrícola e detalha: os custos em cada região produtora do
estado, os custos em cada uma das operações de produção, os custos em função da idade do
pomar e os custos da fruta em função da estimativa de produção.
Em meados de abril de cada ano, o IEA informa a estimativa do volume de fruta
da safra que se inicia. Como ocorrido em 2008, informações divergentes circulam pelos diversos
elos da cadeia produtiva contestando os volumes estimados para a safra paulista.
142
As informações sobre os estoques de suco em poder das processadoras paulistas,
não são facilmente obtidas no mercado, pois podem ser utilizadas como ferramentas de pressão
pelos compradores de suco em condições de eventual excesso de produto no estoque, na
passagem de uma safra para outra. Os estoques de suco em poder dos processadores são
utilizados para manter o equilíbrio de preços durante a safra e na entressafra. É comum, no final
da safra, a decisão de manter determinada quantidade de suco em estoque para ser consumido na
entressafra, ser misturado com o suco produzido no início da próxima safra e suprir eventual
oscilação na oferta ocasionada por algum acidente climático.
4.6 Segmentos e atores relevantes na rede política citrícola atual de São Paulo
Produtores
O número de citricultores existentes na agroindustrial citrícola paulista, continua
elevado, apesar da grande redução ocorrida. Em 1990 o estado contava com 28 mil citricultores e
em 2004 a quantidade reduziu a 12 mil. O grupo de produtores rurais não apresenta
uniformidade, pois varia o grau de instrução entre os atores; é variável a idade destes; são
variáveis os interesses dos atores individuais; há atores com diferentes hábitos e culturas; existe
reduzido poder de representação entre os atores; há ausência do poder de aglutinação das
associações de defesa de interesses.
A redução no número de pomares cítricos paulista ocorreu por diversos motivos,
entre eles: a pressão provocada pela expansão da cultura canavieira; os baixos preços pagos pela
fruta; a introdução de doenças cítricas muito graves; o aumento dos custos de produção devido à
necessidade de novos tratos culturais; a diminuição do volume de fruta produzido levando ao
desinteresse econômico; e o aumento do risco do negócio. Os pomares paulistas variam na
quantidade de árvores plantas por hectare, na idade dos pomares e na produtividade obtida por
hectare plantado.
143
Atualmente, do volume de fruta destinado ao processamento e produção de suco,
70% são fornecidos por produtores independentes, enquanto os 30% restantes são supridos pelos
pomares de propriedades das processadoras. O Quadro 38 mostra a distribuição de tamanho, a
produtividade obtida e o volume correspondente ao total produzida no sistema agroindustrial
paulista.
Porte do produtor % da produção total Número de árvores Produtividade média em caixas por
Grande 45 Mais de 150 mil 2,46
Médio 30 Entre 50 a 150 mil 2,16
Pequeno 25 Menos que 50 mil 1,66
QUADRO 38. Produtores – distribuição por tamanho e produtividade
Fonte: IEA
Os diversos tipos de produtores negociam suas safras com poucos, bem
organizados e poderosos processadores, levando a diferentes tipos de acordos e contratos
firmados entre partes. Assim, alguns produtores vendem suas frutas no preço do dia, enquanto
outros firmam contratos de médio e longo prazo para o fornecimento de suas safras. Em São
Paulo, atualmente, a colheita e o transporte da fruta até o processador são feitas pelo produtor.
Em alguns casos, o intermediário compra a fruta, colhe e a transporta até o processador.
As informações e a troca de conhecimento sobre as práticas e procedimentos
agrícolas para produção de cítricos fluem com facilidade e rapidez entre os atores do elo
produtivo. A mesma facilidade e rapidez também são observadas com outros elos da cadeia
produtiva, como entre os atores do elo de ensino, pesquisa e extensão e as organizações do
governo. Essa facilidade e rapidez da disseminação da informação e do conhecimento das
práticas de produção agrícola entre os atores imprimem características de cooperação, de
disposição para mudanças e reputação a alguns atores individuais ou coletivos. A abundância de
informações, brasileiras ou não, sobre o sistema agroindustrial de cítricos está aumentando o
conhecimento dos produtores sobre aspectos de outros elos da cadeia, como a demanda e preço
por diferentes tipos de suco.
A falta de leis claras para reger a agroindústria de citros paulista, a falta de
mecanismos para fazê-las cumprir, o oportunismo de alguns atores e a falta de informação
confiável sobre custos, demandas, estoques etc. de outros elos da cadeia limitam a ação dos
citricultores, levando-os a agir de forma cautelosa e gerando desconfiança entre alguns atores.
144
Processadores
O número de processadores em operação no estado de São Paulo sempre foi
reduzido. Atualmente quatro respondem pelo processamento da maior parte da safra paulista,
conforme Quadro 39.
As grandes e algumas das pequenas processadoras possuem pomares de laranja
próprios - é possível dizer que essas pequenas processadoras são produtores que expandiram sua
atuação na cadeia produtiva, passando a atuar no setor de processamento e comercialização dos
produtos e subprodutos.
Processador % do processamento % acumulado FCOJ NFC Pomares próprios
Sucocítrico Cutrale 32,36 32,36 + + +
Fischer (Citrosuco) 28,46 60,82 + + +
Citrovita (Votorantim) 23,82 84,64 + - +
LDC (Dreyfus) 10,53 95,17 + - +
QUADRO 39. Processadores paulistas, sua participação no processamento total, tipo de suco produzido na
safra 2007/2008 e pomares próprios
+ produz
- não produz
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da FMC FoodTech e dados de campo.
As processadoras que atuam em vários elos da agroindústria dos cítricos paulistas
possuem conhecimento acumulado e informações sobre toda a cadeia produtiva, desde a
produção da fruta, a colheita, o transporte, o processamento, o armazenamento, o transporte e
comercialização do suco, seja FCOJ ou NFC. Esse conhecimento e informações geram para os
processadores recursos de poder que lhes atribui domínio sobre o sistema agroindustrial dos
cítricos paulistas.
A liderança exercida pelos processadores ocorre em função do tamanho e do poder
que os grandes grupos, como Cutrale, Fischer, Citrovita e Dreyfus, possuem. Os grandes
processadores adquiriram a confiança do setor. Apesar de alguns momentos difíceis, gozam de
boa reputação com os outros elos do sistema.
145
Colhedores e transportadores
As organizações envolvidas na colheita e transporte da fruta são inúmeras,
heterogêneas, de ação regional e de interesse regional. Não existem normas específicas do
governo paulista como as existentes na Flórida, que controlam a ação dos colhedores e
transportadores de frutas.
Após a extinção do Contrato Padrão e a desobrigação das processadoras com a
colheita e transporte da fruta, foram criadas várias organizações espalhadas por todo o cinturão
citrícola paulista, algumas delas cooperativas, prestadoras de serviços de colheita e transporte de
frutas. Atualmente a maior parte da colheita e do transporte da fruta é controlada pelo produtor ou
pelo intermediário, dependendo do tipo de negociação de compra e venda ocorrida entre as
partes.
Os sindicatos regionais ligados à colheita e transporte da laranja agem localmente
e defendem os diferentes interesses regionais. Não se observam na agroindústria de cítricos
paulistas representatividade e liderança de um ator, individual ou coletivo, ligado ao setor de
colheita e transporte de laranja.
Viveiristas
As organizações envolvidas na produção de mudas não são muitas, são
heterogêneas em tamanho, independentes, agem em todo o cinturão e buscam atender o interesse
geral. São controladas pelas atuais leis vigentes para a agroindústria dos cítricos de São Paulo.
O fluxo de informações e do conhecimento flui com facilidade entre as
organizações envolvidas na produção de mudas, como também com as organizações de ensino,
pesquisa e extensão brasileiras ou não. Perante a constante atualização do elo e a postura de seus
atores, os demais atores da cadeia produtiva dos cítricos atribuem boa reputação e confiança aos
atores envolvidos na produção de mudas.
146
Organizações de defesa de interesses dos produtores
As organizações de representação de interesses dos produtores são poucas,
heterogêneas quanto ao tamanho, atuam regionalmente e defendem diferentes interesses
regionais. Alguns produtores formam grupos denominados pools que negociam a fruta de todo o
grupo em condições mais favoráveis com os processadores, pois com maior volume de fruta para
negociar maior se torna o poder de barganha do grupo. Utilizando o mesmo conceito foram
formados grupos de produtores que negociam a compra de insumos e de diversos produtos
utilizados na produção agrícola. Entre esses grupos podem ser citados a Montecitrus, a Allcitrus,
a Banco Peres e Guacho, entre outros.
A Coopercitrus, como cooperativa de cafeicultores e citricultores, atua em vários
segmentos da manipulação de fertilizantes a até nas operações bancárias de rotina, além de na
obtenção de crédito agrícola ou outros benefícios bancários pela Credicitrus. Atualmente a
Associtrus luta para voltar a atuar no setor e ter representatividade no elo produtor de laranja. Os
sindicatos rurais atuam localmente e defendem os interesses regionais.
O relacionamento entre alguns produtores e algumas das associações de
representação de interesses é intenso, mas não há aglutinação dos produtores em torno de uma
única organização de defesa de interesses - fato que não atribui característica de liderança e
legitimidade a essas organizações. O relacionamento entre as diferentes organizações de
representação de interesses também não é intenso.
Organização de defesa de interesses dos processadores
A ABECITRUS representa os interesses dos processadores e exerceu papel
importante na agroindústria dos cítricos de São Paulo, defendendo interesses comuns da
citricultura paulista perante as organizações do governo; agindo também junto com as
organizações internacionais. Como possui conhecimento e informações sobre todos os elos da
cadeia produtiva dos cítricos paulistas, conquistou a liderança e reputação em outros elos da
147
cadeia citrícola pela forma de agir. No entanto após a saída de alguns dos associados, a
ABECITRUS perdeu muito do poder que detinha.
Organização de defesa de interesses dos viveiristas
Os viveiristas são representados pela Associação Paulista de Viveiros Certificados
de Citros – Vivecitrus, fundada em 1998. A organização de defesa dos interesses do elo possui
legitimidade e liderança perante seus representados que lhe atribui recursos de poder. Age em
organizações do governo no tocante às leis que regem a produção de mudas entre outros.
Perante a constante atualização do elo e a postura de seus atores e de sua
organização de defesa de interesses, os demais atores da cadeia produtiva dos cítricos atribuem
boa reputação e confiança aos atores envolvidos na produção de mudas.
Canais de distribuição
O principal destino para o suco FCOJ ou NFC produzido pelas processadoras
paulistas é o mercado de exportação, sendo a maior parte da exportação do suco feita pelos
processadores. Os grandes compradores de suco como a Minute Maid, a Tropicana, o Carrefour,
o Wal Mart, a Mitsubishi, entre outros, conhecem e possuem informações sobre o consumo, as
tendências do mercado, as estimativas de produção de suco nas diversas regiões do planeta e
pressionam e buscam impor aos processadores paulistas o preço do suco ofertado.
Os canais de distribuição internacionais ou brasileiros não possuem
organizações de defesa de interesses no sistema agroindustrial dos cítricos paulistas. São
organizações que adquiriram respeito, boa reputação e confiança das organizações envolvidas nas
transações de venda e transferência dos sucos paulistas.
148
Organizações de ensino, de pesquisa e de extensão
Grande é o número de organizações de ensino, pesquisa e extensão atuantes no
sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo. São heterogêneas quanto ao tamanho e o campo
de atuação. O foco principal de atuação de grande parte dessas organizações está relacionado à
produção de frutas cítricas, aos estudos econômicos e aos processos industriais.
As organizações de ensino são geradoras de conhecimento e divulgadoras de
informações inerentes às áreas em que atuam. Essas organizações adquiriram o respeito, a
confiança e possuem boa reputação perante os demais atores do sistema agroindustrial.
Organizações do governo
Não é grande o número das organizações dos governos federal e estadual que estão
envolvidas na agroindústria dos cítricos de São Paulo – a Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo é a organização que se destaca como uma das mais atuantes no sistema agroindustrial
de cítricos do estado. Essas organizações são heterogêneas no tamanho e no campo de atuação.
São divulgadoras de informações nas áreas em que atuam; conquistaram a confiança e boa
reputação com os demais atores do sistema. A interação entre as organizações públicas e privadas
são observadas em algumas poucas organizações ou câmaras setoriais como a Câmara Setorial de
Cítricos.
4.7 Ligações relevantes e recursos de poder
As relações verticais, ou relações entre agentes de vários elos da cadeia produtiva,
normalmente estão representadas por transações comerciais de bens e serviços e por troca de
149
informações entre diversos agentes Elas permitem o aumento da capacidade competitiva e a
adaptação organizacional necessária para a manutenção do sistema produtivo.
As relações horizontais, ou relações entre agentes do mesmo elo da cadeia
produtiva, normalmente estão representadas por transações pouco comerciais e pelo
relacionamento entre os atores de um mesmo elo e suas organizações de representação de
interesses. Essas relações buscam fornecer aos atores os recursos políticos, organizacionais,
jurídicos e de representação em organizações públicas e privadas. As interações e a dependência
dos atores de diversos elos, e sua organização de representação de interesses, bem como a
interação entre diferentes organizações de representações, atores e o Estado, fornecem
contribuições interessantes sobre os mecanismos de coordenação existentes na cadeia produtiva.
O desenho das ligações relevantes do sistema agroindustrial de cítricos de São
Paulo (Figura 7) foi baseado em pesquisa de campo, em contatos com alguns atores, em estudos e
em publicações a respeito do sistema.
As indicações ou classificações das ligações fornecem uma visão sobre as
dinâmicas da coordenação que se estabelece entre os atores do sistema. As ligações entre os
atores estão baseadas na interdependência de recursos (Quadro 40), na intensidade das relações
existentes indicadas como intensas, muito intensas ou pouco intensas (Quadro 41) e no tipo de
fluxo existente (Figura 8).
Algumas das ligações fracas não foram incluídas neste trabalho, como, por
exemplo, entre produtores de frutas e as cadeias de supermercados na venda de suco, pois os
produtores não vendem suco aos supermercados, e entre produtores de frutas e as exportadoras de
suco, pois nem todos os produtores vendem suco diretamente aos exportadores.
Produtores – colhedores
A relação principal entre produtores e colhedores está restrita na contratação
temporária para a execução da colheita e carregamento das frutas. É citada pouco intensa devido
à interdependência de recursos envolvidos. As relações ou transações entre essas partes são
recorrentes e ocorrem a cada safra, sendo o principal fluxo de recursos nesta relação o financeiro.
150
A competição por mão-de-obra na região produtora de cítricos e a sazonalidade da necessidade
deste trabalhador rural são dos pontos preocupantes para o setor.
Produtores – transportadores
A relação principal entre produtores e transportadores restringe-se à contratação
temporária para a execução da movimentação das frutas colhidas até os processadores. É
evidenciado como pouco intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação
ou transação entre as partes é recorrente e ocorre a cada safra. O principal fluxo nesta relação é
o financeiro. Muitos dos transportadores são contratados por organizações responsáveis pela
colheita e transporte da fruta.
Produtores – viveiristas
A ligação principal entre produtores e viveiristas resume-se à compra e venda de
mudas para a manutenção, renovação ou ampliação dos pomares. Apresenta-se como intensa
devido à interdependência de recursos envolvidos. As relações ou transações entre as partes são
recorrentes e muitas vezes contínuas. Os principais fluxos nesta relação são o financeiro e o da
informação/conhecimento.
Produtores – processadores
A principal ligação entre produtores e processadores limita-se à relação comercial
de compra e venda de frutas. É muito intensa devido à interdependência de recursos envolvidos.
151
As transações entre essas partes são recorrentes e muitas vezes contínuas, sendo o principal fluxo
o financeiro.
Ocorre fora do limite geográfico brasileiro
Ocorre dentro do limite geográfico brasileiro
Forte
Moderado
Fraco
FIGURA 7. Relações de poder no sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo
Fonte: elaborada pelo autor com base em dados de campo.
Produtores – associações de representação de produtores
Pouco intensa é considerada a ligação entre produtores e suas associações de
representação devido à interdependência de recursos envolvidos, sendo as relações ou transações
entre essas partes recorrentes e contínuas, tendo como principais recursos envolvidos nesta
relação são financeiros, políticos, jurídicos e da informação. Algumas das diversas associações de
representação de interesses atuam na elaboração e divulgação de informações, no lobby com as
152
organizações do governo na defesa dos interesses dos produtores, na defesa dos interesses da
região em que atuam e nas relações com a mídia.
Recursos de poder Ligações relevantes
Constitucionais Políticos Financeiros Tecnológicos Organizacionais Jurídicos
Produtores/colhedores
X
Produtores/transportadores
X
Produtores/viveiristas
X X
Produtores/processadores
X
Produtores / associações de
representação produtores
X X X X X X
Produtores/ organizações de
ensino, pesquisa e extensão
X X X
Produtores/ organizações do
governo
X X X
Associações de
representação produtores/
processadores
X X X
Viveiristas/ organizações do
governo
X X X X
Viveirista/
organizações de ensino,
pesquisa e extensão
X X X
Processadores/
organizações do governo
X X
Processadores/ organização
de ensino, pesquisa e
extensão
X X
Processadores/
distribuidores,
engarrafadoras e blend
house
X X X
Processadores/
canais de distribuição
X X X
Canais de distribuição/
distribuidores,
engarrafadoras e blend
house
X X X
Associação de
representação dos
processadores/
processadores
X X X X X X
QUADRO 40. Recursos de poder utilizados nas relações da rede citrícola de São Paulo
Fonte: Elaborado pelo autor.
153
Produtores – organizações de ensino, pesquisa e extensão
A ligação entre produtores e as organizações de ensino, pesquisa e extensão é vista
como intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre as partes é
recorrente e continuada, sendo o principal fluxo nesta relação o da informação. Essas
organizações desempenham papel fundamental na divulgação de tecnologia, no treinamento e
desenvolvimento dos produtores rurais, na elaboração e divulgação de informações que auxiliam
na administração dos riscos e nas tomadas de decisão.
Produtores – organizações do governo
A relação entre produtores e as organizações do governo é apontada pouco intensa
devido à interdependência de recursos envolvidos, é recorrente e contínua, tendo como principal
fluxo o da informação. As organizações do governo desempenham papel fundamental na
regulamentação, normatização e no controle do setor; também na divulgação de informações que
auxiliam na administração dos riscos e nas tomadas de decisão.
Organização de defesa de interesses dos produtores – processadores
O vículo entre as associações de representação dos produtores com os
processadores é considerado pouco intenso devido à interdependência de recursos envolvidos. A
relação ou transação entre as parte é esporádica e não recorrente. O principal fluxo nesta relação é
a informação.
154
Ligações relevantes
Intensidade Freqüência
Produtores / colhedores + Recorrente
Produtores / transportadores
+ Recorrente
Produtores / viveiristas
++ Recorrente
Produtores / processadores
+++ Recorrente e continua
Produtores / organização de defesa de interesses dos produtores
+ Recorrente e continua
Produtores / organizações de ensino, pesquisa e extensão ++ Recorrente e continua
Produtores / organizações do governo + Recorrente e continua
Organização de defesa de interesses dos produtores / processadores + Recorrente e continua
Viveiristas / organizações do governo ++ Recorrente e continua
Viveiristas / organizações de ensino, pesquisa e extensão ++ Recorrente e continua
Processadores / organizações do governo ++ Recorrente e continua
Processadores / organização de ensino, pesquisa e extensão + Recorrente e continua
Processadores / distribuidores, engarrafadoras e blend house +++ Recorrente e continua
Processadores / canais de distribuição ++ Recorrente e continua
Canais de distribuição / distribuidores, engarrafadoras e blend house +++ Recorrente e continua
Organização de defesa de interesses dos processadores / processadores + Não frequente
Pouco intensa +
Intensa ++
Muito intensa +++
QUADRO 41. Ligações relevantes, graus de intensidade e freqüência
Fonte: dados de pesquisa do autor.
Viveiristas – organizações do governo
A conexão entre viveiristas e as organizações do governo é vista como intensa
devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre parte é recorrente e
continuada. O principal fluxo nesta relação é da informação.
Viveiristas – organizações de ensino, pesquisa e extensão
A ligação entre viveiristas e as organizações de ensino, pesquisa e extensão é
citada como sendo intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre as
partes é recorrente e continuada, sendo seu principal fluxo o da informação.
155
FIGURA 8. Diagrama esquemático dos fluxos físicos, de serviços, financeiros e de informações do sistema
agroindustrial de cítricos de São Paulo.
Fonte: Dados de pesquisa do autor
p
rodutor
intermediário
p
rocessador packing houses
insumos
a
g
ente
traders
b
lend houses
en
g
arrafadores
institucional
su
p
ermercados
lo
j
as conveniência
consumidores
fluxos físico ou serviços
fluxos financeiro ou de informações
insumos
q
uinas
im
p
lementos
trans
p
orte
colheita
mudas
insumos
mercado fruta fresca
156
Processadores – organizações do governo
A relação entre processadores e as organizações do governo é vista como intensa
devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre parte é recorrente e
continuada, sendo seu principal fluxo o da informação.
Processadores – organizações de ensino, pesquisa e extensão
O vículo entre os processadores e as organizações de ensino, pesquisa e extensão é
indicado como pouco intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. A relação entre
as partes é recorrente e contínua, sendo seu ; o principal fluxo o da informação.
Processadores – traders, distribuidores, engarrafadoras e blend house
A ligação entre os processadores e os exportadores, distribuidores, engarrafadores
e blend house é apontada como muito intensa devido à interdependência de recursos envolvidos.
A relação entre as partes é recorrente e continuada, sendo seus principais fluxos o financeiro e o
da informação. Os traders, engarrafadores e blend house desempenham papel fundamental na
comercialização do suco, na consolidação do tipo de suco a ser produzido e na fixação do preço
deste.
157
Processadores – canais de distribuição
O vínculo entre os processadores e os canais de distribuição é considerado muito
intenso tendo em vista a interdependência de recursos envolvidos. A relação entre as partes é
recorrente e continuada, sendo o financeiro e o da informação os princípios fluxos desta relação.
Os canais de distribuição desempenham papel fundamental na comercialização do suco, na
consolidação do tipo de suco a ser produzido e no preço deste.
Canais de distribuição - distribuidores, engarrafadores e blend house
Considera-se muito intensa a relação entre os canais de distribuição e os
distribuidores, engarrafadores e blend house devido à interdependência de recursos envolvidos. A
relação entre parte é recorrente e continuada e os principais fluxos nesta relação são o financeiro
e o da informação. Os canais de distribuição desempenham papel fundamental na
comercialização do suco, na consolidação do tipo de suco a ser produzido e no do preço do suco.
Algumas engarrafadoras, mesmo marcas consolidadas e líderes de mercado, estão subordinadas
às condições impostas pelas cadeias de distribuição, como o Carrefour e o Wal Mart, por
exemplo.
Associação de representação dos processadores – processadores
Entre os processadores e a associação de representação a relação é vista como
pouco intensa devido à interdependência de recursos envolvidos. As relações entre essas partes
são recorrentes e contínuas. Os principais fluxos de recursos envolvidos nessa relação são
políticos, jurídicos e da informação.
158
4.8 Formas de coordenação na rede citrícola de São Paulo
As formas de coordenação existentes na cadeia citrícola de São Paulo refletem o
modo com que este setor foi moldado e organizado no decorrer do tempo. A falta de regras
formais bem definidas não criou ambiente de confiança no qual os atores puderam atuar. A
evolução e o aparecimento de novos produtos modificaram as relações existentes, algumas foram
enfraquecidas e outras fortalecidas, enquanto outras permaneceram iguais.
O foco do capítulo dos Cítricos em São Paulo foi breve descrição da evolução da
rede citrícola, de sua transformação, de seus atores, de seu formato e das principais formas de
relacionamento existentes entre os atores.
Os direcionadores de coordenação, mencionados no capítulo das Contribuições
Teóricas, são aplicados neste capítulo com o objetivo de entender um pouco mais os
relacionamentos e as ligações entre os atores apresentadas no capítulo anterior; entender um
pouco mais a dinâmica atual do funcionamento da cadeia desde a forma com que se estabelece a
representação de interesses, sua defesa perante outros e a forma que ocorrem as transações
econômicas.
Para analisar as diferentes formas de coordenação estabelecidas na cadeia citrícola,
foram utilizados vários aportes teóricos diminuído assim o estreitamento analítico decorrente do
uso de um único embasamento. O uso de direcionadores de coordenação busca captar as relações
verticais e horizontais existentes e construir um referencial das interações existentes no setor.
As relações verticais, ou relações entre agentes de vários elos da cadeia produtiva,
normalmente estão representadas por transações comerciais de bens e serviços e por troca de
informações entre diversos agentes. Essas relações permitem o aumento da capacidade
competitiva e a adaptação organizacional necessária para a manutenção do sistema produtivo.
As relações horizontais, ou relações entre agentes do mesmo elo da cadeia
produtiva, normalmente estão representadas por transações pouco comerciais e pelo
relacionamento entre os atores de um mesmo elo e as organizações de representação de interesses
deste segmento. Essas relações buscam fornecer aos atores os recursos políticos, organizacionais,
jurídicos e de representação nas organizações públicas e privadas. As interações e a dependência
dos atores, de diversos elos, e sua organização de representação de interesses, bem como a
159
interação entre diferentes organizações de representações, atores e o Estado, fornecem
contribuições importantes sobre os mecanismos de coordenação existentes na cadeia produtiva.
Para analisar os mecanismos de coordenação existentes na cadeia citrícola de São
Paulo, é relevante ter presente observar alguns aspectos relacionados à Organização Industrial,
entre eles: (a) a especificidade dos ativos, ou ativos dedicados, afeta tanto os produtores quanto
os processadores, podendo ocorrer ações de oportunismos por ambas as partes, dependendo da
condição do ambiente quanto à demanda e oferta de produtos; (b) a incerteza existente no
mercado está relacionada ao peso da influência do clima na produção de fruta e na demanda do
produto final; e (c) a falta da divulgação de informações sobre todas as etapas da cadeia produtiva
aumenta a assimetria de informações entre os atores dos diversos elos da cadeia.
4.8.1. Direcionadores relacionados aos atores
Número e tamanho dos atores
A concentração existente em cada segmento da cadeia produtiva, ou seja, o
número e o tamanho dos atores, influenciam a forma de coordenação de cada um dos elos da
cadeia produtiva, a forma de relacionamento com os demais elos e a forma de relacionamento
com a sua organização de representação de interesses.
No segmento dos produtores de frutas, a concentração é baixa, pois o segmento é
composto por grande número de atores heterogêneos com propriedades que variam em tamanho,
idade dos pomares e produtividade expressa em caixas de laranja por pé plantado. A falta de
força do setor produtor de frutas pode ser explicada pela ausência de organização forte e de
coalizão entre as organizações de defesa de interesses dos produtores rurais. A falta de
valorização das organizações de defesa de interesses pode ser explicada, entre outros fatores,
como decorrentes da: característica cultural criada na trajetória dependente, enraizada nos hábitos
dos produtores em relação às antigas práticas de compra da fruta por comerciantes que a
compravam no pomar em flor, adiantavam parte do pagamento e se responsabilizavam pela sua
160
colheita e transporte; (b) desconfiança dos produtores para com os demais atores do sistema, (c)
pela falta da característica cultural dos produtores em participar das organizações de
representação de interesses; e (c) falta da característica cultural de agir para o desenvolvimento
regional. As relações entre produtores e suas organizações são formalizadas e com nível de
intensidade baixa.
No setor de processamento de frutas, a concentração é maior e composta por
quatro empresas de grande porte que respondem pelo processamento de mais de 95% do volume
total processado. Nem todas as empresas participam da organização de representação de
interesses. A força do setor de processamento está: no conhecimento e nas informações que
possui; no volume de fruta própria; na atuação no elo de transporte e armazenagem do suco; na
comercialização do suco com os compradores internacionais e locais; e no assumir a posição dos
compradores na cultura enraizada nos hábitos dos produtores em relação às antigas práticas de
compra da fruta. A força dos processadores é diminuída pelo poder que os compradores, as
engarrafadoras e os supermercados possuem.
Informação/conhecimento
A divulgação de informações sobre todos os elos do sistema agroindustrial de
cítricos de São Paulo não é uma característica do setor. Algumas organizações de defesa de
interesses publicam informações pertinentes ao seu setor e a presença do Estado na divulgação de
informações ao setor está mais vinculada ao elo dos produtores de fruta.
A falta de um fluxo das informações entre os elos e nos elos da cadeia não gera o
conhecimento necessário para a formação de preços, para a tomada de decisão relativa à
investimentos e à administração do risco no setor.
A evolução da mídia eletrônica vem ampliando o contato dos atores, dos diversos
elos, do sistema agroindustrial paulista com informações, brasileiras ou não, pertinentes do setor.
Essa tendência deve acentuar o conhecimento dos atores e aumentar a pressão sobre os
processadores atuais.
161
Liderança
O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo é liderado pelas processadoras de
frutas. A liderança exercida deriva do poder conquistado pelas processadoras, poder este oriundo
de informações e do conhecimento decorrentes da atuação em diversos elos da cadeia produtiva,
partindo da produção de mudas até a comercialização do suco, passando por diversas etapas,
como a produção de frutas, colheita, transporte, processamento, armazenamento e transporte do
suco.
Atualmente as organizações de representação de interesses pouco se destacam no
cenário. Algumas se sobressaem pela atuação regional, porém permanecem com campo de ação
restrita e não conseguem influenciar outras organizações do setor ou do governo.
Reputação
A ausência de leis efetivas e aceitas que regem a cadeia produtiva e a inexistência
dos mecanismos para fazê-las cumprir criam condições para a ocorrência de ações oportunistas
entre os atores. Algumas empresas do sistema agroindustrial paulista adotam normas e regras
próprias para conquistar a reputação de empresas confiáveis, melhorando as relações comerciais e
não comerciais, diminuindo os custos de transação existente.
Legitimidade
Para que as relações de poder sejam efetivas, os atores da cadeia produtiva devem
considerá-las legítimas. A legitimidade atribuída às organizações de representação de interesses
influenciará na manutenção e no aumento de associados, em como será reconhecida pelas
162
organizações governamentais e na forma que será reconhecida pelos demais atores e suas
organizações de representação.
Algumas das organizações de representação de interesses da agroindústria de
cítricos de São Paulo apresentam legitimidade diante de seus associados, porém nenhuma de
destaca e obtém prestígio perante os demais atores e o governo.
Confiança
Como na reputação, a confiança dos atores do setor em outros atores ou nas
organizações envolvidas está baseada na existência de leis, regras e procedimentos adotados e
nos mecanismos que as fazem ser cumpridas. A ausência de leis efetivas e aceitas que regem a
cadeia produtiva e a inexistência dos mecanismos para fazê-las cumprir criam condições para a
ocorrência de ações oportunistas entre os atores. A falta de regras claras e bem definidas aliada à
falta de confiabilidade das informações divulgadas geram desconfiança nos atores do setor.
Algumas empresas do sistema agroindustrial paulista adotam normas e regras próprias para
conquistar a reputação de empresas confiáveis, na tentativa de melhorar as relações comerciais e
não comerciais, diminuindo os custos de transação existente.
Características culturais
As características da cultura paulista influenciaram e influenciam os
relacionamentos entre os atores do mesmo elo ou de elos distintos da cadeia produtiva. A cultura
cristalizada no setor, aliada ao fato de alguns dos comerciantes de fruta terem assumido o papel
de processadores, permitiu a continuidade dos processos aceitos e legitimados da compra de fruta
no pomar, da antecipação de parte do pagamento total e do comprador assumindo as obrigações
de colheita e transporte.
163
4.8.2 Direcionadores relacionados às relações
Centralidade
Analisando as relações entre os atores da cadeia produtiva, pode-se observar o
número de conexões que passa por determinado ator e inferir sua capacidade de coordenar os
demais atores da rede. A ausência de organizações de representação, de interesses fortes e
expressivos no sistema agroindustrial de cítricos paulistas empurra a análise deste item para as
relações das processadoras com os outros elos do sistema existente.
A centralidade das relações das processadoras com os demais elos do sistema está
relacionada ao poder e à força das grandes processadoras, porém nenhuma delas se sobressai
sobre as demais nas relações de intermediação com outros elos da cadeia, com as organizações do
governo e com as organizações de ensino, pesquisa e extensão.
Freqüência
As relações entre atores do mesmo elo ou de diferentes elos de uma cadeia
produtiva podem variar em relação ao número de vezes que ocorrem em determinado período. A
freqüência de ocorrência desses relacionamentos interfere nas formas de coordenação que haverá
entre esses atores, bem como nas características cognitivas que poderão reger essas relações.
Assim, relações continuadas podem levar à conquista da confiança entre os atores, bem como à
criação de manutenção de regras formais ou informais para controle do sistema produtivo.
Apesar da alta freqüência do relacionamento entre produtores e processadores e de
este relacionamento ser recorrente e muitas vezes contínuo, nas operações de compra e venda
durante as safras, a possibilidade da ocorrência de ações oportunistas levou à criação de
desconfiança entre os atores.
164
É alta a freqüência do relacionamento entre processadores, traders, engarrafadores
e canais de distribuição, o qual ocorre de forma recorrente e continuada. Muitas dessas relações
comerciais estão atreladas a contratos de longo prazo e com aportes de investimentos em ativos
específicos, criando dependência dos processadores no relacionamento com os traders,
engarrafadores e canais de distribuição.
O relacionamento entre produtores e as organizações de ensino, pesquisa e
extensão apresentam freqüência média, ocorrendo de forma continuada, pois é alta a dependência
dos produtores na transferência de conhecimento e informação feita pelas organizações de ensino,
pesquisa e extensão.
Velocidade
A velocidade com que as informações fluem entre os atores do mesmo elo ou de
diferentes elos impacta na velocidade da adequação da cadeia produtiva. Em determinados elos
da cadeia, a velocidade de informações é alta, por exemplo, entre produtores e viveiristas,
enquanto em outro é baixa, como é o caso entre produtores e processadores. A adequação da
cadeia produtiva paulista está ligada à agilidade e aos objetivos dos grandes processadores
voltados a penetrar e dominar os mercados norte-americanos, europeus e asiáticos. Como
exemplos dessa agilidade podem ser citados: o desenvolvimento e consolidação do transporte de
suco a granel com instalações portuárias e navios dedicados; a utilização de combustível sólido
(principalmente com o bagaço de cana) em substituição ao combustível líquido derivado de
petróleo; mudança no sistema de geração de vapor para permitir a geração de energia elétrica nas
unidades de processamento; e a adaptação das linhas de produção e da logística para permitir a
produção de NFC.
165
Cooperação
Não existe grande cooperação entre os elos da cadeia produtiva da agroindústria de
cítricos de São Paulo e é baixa a consciência coletiva para defesa do sistema por seus integrantes.
A ação de lobistas mantidos pelas organizações de defesa de interesses, com as organizações do
Estado é baixa e não reconhecida como essencial no contexto local. A incapacidade de romper as
diversas barreiras comerciais impostas contra produtores e produtos cítricos paulista resulta da
falta de cooperação entre os atores do sistema.
4.9 Considerações finais do capítulo
Um dos maiores sistemas agroindustriais de cítricos do planeta está localizado no
estado de São Paulo, no Brasil. Esse sistema cresceu consideravelmente na produção de suco e
fruta fresca nas últimas décadas, não apenas por causa das geadas da Flórida, mas pelo esforço
dos atores que seguiram as trilhas abertas pelos exportadores de café e conquistaram os mercados
Europeu e Asiático.
A produção de cítricos, em especial a laranja, evoluiu dos pomares espalhados
aleatoriamente pelo litoral e de povoados estabelecidos pelos colonizadores, para uma
agroindústria de alto padrão técnico. Sistemas de governança, redes de poder bem estruturado,
quebraram as barreiras temporais e geográficas e expandiram o mercado da fruta paulista para
outros países em diversos continentes do planeta. As processadoras de laranja espalhadas pelo
planeta, inclusive nos Estados Unidos, berço da indústria, buscam seguir os padrões adotados e os
procedimentos criados em São Paulo. Assim, o que a rede de decisões da agroindústria citrícola
de São Paulo desenvolve torna-se referência para outros países produtores e competidores. Isso
não deve acontecer somente na dimensão tecnológica, mas principalmente nas dimensões
institucionais e organizacionais.
As instituições e os mecanismos de governança criados e recriados no decorrer da
evolução da agroindústria citrícola do Estado permitiram seu crescimento, expansão, adaptação e
166
sobrevivência até os dias de hoje. Essa agroindústria sofre pressões diversas, como o
crescimento: do consumo de água e bebidas gaseificadas; da competitividade de cadeias citrícolas
de outros países; de outros tipos de sucos; de bebidas de reposição energética; da expansão da
cultura da cana-de-açúcar; da escassez de mão-de-obra; do custo da energia; e da introdução de
doenças exógenas. As alterações que possam vir a ocorrer na estrutura atual podem permitir a
permanência da agroindústria cítrica no estado de São Paulo, ou, talvez, criar ou revitalizar outro
pólo produtor em outra região do país ou do planeta.
O setor citrícola atual é resultado da evolução de um sistema focado na produção
de fruta fresca, inicialmente plantado como fonte de suprimento de vitamina C, que migrou para
um sistema voltado para a produção de suco. Essa migração foi o resultado da mudança
provocada por alguns dos atores envolvidos, pela geada na Flórida, pela importação da
tecnologia, pelo apoio de organizações norte-americanas. A determinação de alguns atores chaves
(pessoas) na cadeia produtiva foi muito importante e decisiva.
O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo foi moldado por normas, regras,
leis e padrões pouco definidos e que se alteraram e adequaram no decorrer do tempo. Também a
falta da divulgação de informações confiáveis entre os diversos elos da cadeia produtiva é uma
característica da cadeia citrícola do Estado. A assimetria informacional é utilizada como
mecanismo eficiente na coordenação vertical e age na capacidade de adaptação da cadeia, em
função das mudanças provocadas pelos ambientes institucionais e organizacionais. A falta da
divulgação de informações confiáveis também age nas formações dos preços das frutas, afetando
a distribuição do ganho econômico entre todos os atores envolvidos no sistema agroindustrial.
Independente do grau ou sofisticação tecnológica, a cadeia citrícola de São Paulo
foi abalada por eventos que provocaram a expansão da cultura da cana e pela disseminação de
novas pragas e doenças que põem em risco a sobrevivência da cadeia citrícola.
As associações de representação de interesses, de produtores e processadores, não
se articularam com os organismos do Estado para analisar a agroindústria citrícola paulista e de
outros estados e, a partir daí, defender as cadeias citrícolas, trabalhando com as organismos
internacionais para derrubar as barreiras alfandegárias ou para criar mecanismos que aumentem o
consumo dos produtos oriundos dos cítricos.
As informações recebidas da Flórida foram utilizadas pelos atores privados no
desenho estratégico e na reformulação das organizações e tecnologias utilizadas, passando a dar
167
ênfase na produção de suco pronto para beber do tipo pasteurizado, não congelado, como
alternativa para permanecerem competitivos e sobreviverem às mudanças de mercado.
Apesar de certa estabilidade, o aparecimento de novas pragas e doenças diminuiu a
oferta da fruta, elevando a competição entre os processadores pela compra da laranja. Essa
competição provocou a elevação do preço da laranja e a conseqüente alta dos custos de produção
dos sucos produzidos e exportados por São Paulo. A elevação dos custos aliada à redução dos
preços internacionais tende a provocar a redução das margens de lucro e o enfraquecimento das
processadoras.
Por ser uma das atividades agrícolas importantes de São Paulo, a intervenção do
governo estadual deveria ser mais decisiva nas relações de poder entre os atores do sistema. Com
a intenção declarada de promover a estabilização da indústria citrícola e de defender os interesses
do Estado, deveriam ser estabelecidas leis como o Florida Citrus Code, 601 F.S. e o Marketing
Order No. 905, Oranges, Grapefruit, Tangerines, and Tangelos Grown in Florida, que limitam
as ações dos atores privados fortalecendo as ações do atores públicos e dos atores público-
privados.
168
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dificuldade inerente da obtenção de informações nos estudos multidisciplinares
foi agravada neste estudo pela falta de informações e pela cultura de retenção de informações
paulistas. Em contrapartida, as informações sobre a Flórida foram facilmente obtidas, inclusive
com envio de textos separados e enviados pela biblioteca do Citrus Institute of Florida.
A análise comparativa dos processos históricos da construção dos sistemas
agroindustriais de cítricos dos estados da Flórida (EUA) e São Paulo (Brasil), descritos nos
capítulos 3 e 4, confirma que esses sistemas de origem comum apresentam na atualidade
mecanismos de governança e coordenação distintos, cumprindo com os objetivos gerais e
específicos propostos para este trabalho.
A origem comum desses dois sistemas agroindustriais está no uso das frutas
cítricas como fator de prevenção contra o escorbuto, durante o período das grandes navegações.
O hábito cristalizado de consumir cítricos desses colonizadores espalhou as frutas por todos os
lugares que percorreram.
A princípio a citricultura nos dois sistemas, Quadro 42, evoluiu dos plantios
aleatórios para pomares organizados, voltados para a produção e comercialização das frutas
cítricas no mercado interno de cada país.
Características EUA Brasil
Introdução dos cítricos Espanhóis Portugueses
Época Período das grandes navegações Período das grandes navegações
Tipo de plantio Aleatório Aleatório
Pomares comerciais organizados 1763 (Flórida) 1820 (Bahia)
Flórida São Paulo
Início da citricultura Cultura principal Cultura secundária
Uso da fruta
Principalmente para consumo de
fruta fresca até 1940
Consumo de fruta fresca até 1962
Destino da fruta Mercado interno
Mercado interno
Mercado externo após 1926
Início da industrialização da fruta Após 1915 Após 1950
Intensificação da produção de suco Após 1940 Após 1962
Destino do suco Mercado interno Mercado externo
QUADRO 42. Algumas das características dos sistemas agroindustriais da Flórida e de São Paulo
Fonte: dados da pesquisa do autor
A diferenciação entre os sistemas se inicia com a citricultura organizada na
Flórida caminhando como cultura principal, voltada ao consumo local e exportação para outros
169
estados norte-americanos; enquanto a citricultura no Brasil, por conseqüência em São Paulo,
caminha de forma secundária, à sombra de outras culturas, voltada ao consumo local e
exportação para outros estados brasileiros.
A diferenciação se acentua com a citricultura na Flórida voltada à geração de
renda e ao sustento da família, provocando a migração e fixação de pessoas dedicadas ao cultivo
de cítricos, transformando-os no principal produto agrícola do Estado e promovendo o
desenvolvimento da região. A característica da cultura norte-americana, Quadro 43, aumentou a
diferenciação, pois provocou a criação de mecanismos de controle no sistema produtivo, devido
às ações oportunistas de alguns atores. Esses mecanismos se transformaram nas leis atuais pela
ação do Estado, na criação do Florida Citrus Commission / Florida Department of Citrus em
1935.
Características Flórida São Paulo
Traços da cultura
Desenvolvimento da região
Participação em associações
Cumprir o papel esperado pela
sociedade
Explorar a região que habita
Submissão em troca de benefícios
Figuras fortes e poderosas
Ausência da necessidade de
cumprir o papel esperado pela
sociedade
Resultados das características culturais
Organizações de defesa de
interesses forte e atuantes
Mecanismos de controle
Leis específicas e efetivas
Mecanismos rígidos para fazer
cumprir as leis
Organizações de defesa de
interesses fracas e não atuantes
Mecanismos de controle
Ausência de leis específicas e
efetivas
QUADRO 43. Alguns traços e resultados das culturas da Flórida e de São Paulo
Fonte: dados da pesquisa do autor.
A citricultura de São Paulo iniciou as exportações à Europa em 1926. A mudança
no ambiente forçou a adaptação da estrutura organizacional e dos mecanismos de coordenação,
atendendo às exigências dos importadores, principalmente dos consumidores europeus. Porém, o
Estado não agiu criando leis específicas e mecanismos rígidos para fazer com que essas leis
fossem cumpridas, como o que ocorria na Flórida.
A ação e o relacionamento entre atores individuais e coletivos da Flórida, com a
presença das organizações de ensino, pesquisa e extensão, resultaram na criação de novos
produtos comercializáveis, como o suco, o uso dos resíduos na alimentação de gado, o
aperfeiçoamento dos processos de recuperação de aromas e o desenvolvimento do processo da
concentração do suco de laranja ou grapefruit.
170
A mudança do ambiente provocada pelo impacto da Segunda Grande Guerra,
Quadro 44, afetou positivamente o ambiente do sistema agroindustrial da Flórida: com a presença
forte do Estado no sistema; com o fortalecimento da produção do FCOJ; com mudanças na
estrutura organizacional; e com o crescimento do sistema. A Segunda Grande Guerra afetou
negativamente o ambiente do sistema agroindustrial de São Paulo. Provocou estagnação e
retrocesso no sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo, devido à queda drástica do volume
de exportações e ao abandono de pomares.
Eventos Flórida São Paulo
Geadas
Movimentação dos pomares
Lucros não previstos
Expansão da área plantada
Crescimento de outros sistemas
agroindustriais de cítricos no planeta
As geadas na Flórida provocaram:
- a industrialização em São Paulo
- lucros não previstos em São Paulo
- a expansão da área plantada em
São Paulo
Segunda Grande Guerra
Controle dos preços pelo Estado
Compras estatais de suco concentrado
Crescimento da produção e consumo de
suco concentrado
Modernização e crescimento das
processadoras
Crescimento do sistema agroindustrial
Redução das exportações de frutas
Excesso de oferta no mercado interno
Abandono de muitos pomares
Disseminação de pragas e doenças
QUADRO 44. Eventos e seus resultados nos sistemas da Flórida e de São Paulo
Fonte: dados da pesquisa do autor.
A ação das organizações de defesa de interesses e a ação do Estado da Flórida
aprimoraram, aperfeiçoaram e adaptaram as leis do mercado de fruta fresca para o mercado de
FCOJ. Como as leis, as organizações de interesses também foram aprimoradas ou adaptadas; o
hábito cristalizado da divulgação de informações continuou e se aprimorou no ambiente do
sistema voltado para a produção de FCOJ.
Após o término da guerra, na Europa, e o controle da tristeza descoberto pelas
organizações de ensino e pesquisa do Estado, a citricultura paulista voltou a crescer e continuou
voltada aos mercados externo e interno. Poucas tentativas de industrialização para a produção de
suco ocorreram antes de 1962. Continuou o hábito cristalizado com produtores de vender a fruta
no pomar para comerciantes que as colhiam, transportavam e distribuíam no mercado.
O sistema agroindustrial de cítricos de São Paulo mudou de foco (de fruta fresca
para FCOJ) devido à mudança no ambiente provocado pela geada de 1962. O Estado apoiou, por
meio de financiamentos e incentivos, o crescimento do sistema agroindustrial paulista. Os
grandes comerciantes e produtores de frutas se tornam grandes produtores, processadores e
comerciantes de suco exportando para EUA e posteriormente para a Europa e a Ásia.
171
Enquanto o sistema de cítricos de São Paulo crescia, inovava e reduzia seus custos
na produção de FCOJ, os pomares da Flórida eram replantados, voltando a abastecer o mercado
norte-americano. Para proteger e incentivar o sistema da Flórida, as organizações de defesa de
interesses pressionaram o Estado para que os mecanismos de proteção, como as barreiras
alfandegárias, continuassem severos e rígidos.
O preço praticado no mercado internacional de suco FCOJ pelos paulistas
pressionava o sistema da Flórida, pois os compradores internos norte-americanos (da Flórida ou
não) balizavam suas compras pelo preço paulista, acrescido dos custos de transporte, aduana e
taxas de importação. Mesmo com margem para aumentar os preços de venda, o sistema da
Flórida era indiretamente controlado pelo preço praticado por São Paulo. Aproveitando a
condição do mercado, processadoras paulistas compraram unidades na Flórida.
Os atores da Flórida, pressionados pelo preço do suco FCOJ paulista,
revitalizaram o suco NFC (iniciado em 1953), como alternativa para manutenção do sistema.
Esse relançamento provocou forte mudança no ambiente e no arranjo organizacional do sistema
floridiano.
A partir da safra 2000/2001, a Fischer (Citrosuco) adequou suas instalações de São
Paulo, seu sistemas de armazenamento e transporte, para ofertar NFC aos processadores ou
engarrafadores norte-americanos, europeus e asiáticos, seguida pela Cutrale e, na safra
2008/2009, pela Dreyfus. Atualmente o preço de venda desse produto praticado pelos paulistas
pressiona o preço praticado pelos atores do sistema da Flórida.
Os principais aspectos organizacionais da rede de decisões dos sistemas
agroindustriais de cítricos dos estados da Flórida e São Paulo, descritos nos capítulos 3 e 4,
confirmam que esses sistemas, de origem comum, apresentam mecanismos de governança
distintos e formas de coordenações específicas, cumprindo com os objetivos geral e específicos
propostos para este trabalho.
Como o foco do sistema agroindustrial de cítricos da Flórida é o mercado interno,
a grande maioria dos atores está na região geográfica norte-americana, e, como o foco do sistema
paulista é o mercado externo, alguns atores estão localizados fora da região geográfica do Brasil
Essa característica impacta, entre outras, na freqüência e no grau de intensidade das relações
existentes entre os atores.
172
Assim, a análise entre o elo produtor e o processador, Quadro 45, situados na
mesma região geográfica dos sistemas em questão, indica que a concentração destes setores
mostra poucas diferenças entre estes dois sistemas - em ambos a concentração dos produtores é
baixa e a concentração dos processadores é alta. O setor produtor é forte no sistema da Flórida,
enquanto o setor processador é forte no sistema de São Paulo.
Atores Flórida São Paulo
Produtores
Vários
Fortes
Vários
Fracos
Processadores
Poucos
Fracos – Médios
Alguns Integram as funções de
engarrafadores e distribuidores
Alguns possuem marcas próprias
Poucos
Fortes
A maioria é produtora de frutas
Alguns integram as funções de traders
Nenhum possui marca própria
QUADRO 45. Comparação entre produtores e processadores do sistema da Flórida e de São Paulo
Fonte: dados da pesquisa do autor.
O poder do setor produtor da Flórida é explicado pela força, coalizão e ação das
organizações de defesa dos interesses regionais e comuns aos citricultores, confiança existente
entre os produtores, característica cultural voltada à participação em organizações de
representação de interesses e característica cultural voltada para o desenvolvimento da região em
que habita.
O poder do setor processador de São Paulo é explicado pela ausência das
organizações fortes e atuantes na defesa dos interesses dos produtores, assimetria de informações
existentes no sistema e integração das funções de traders, transportadores e comerciantes de
sucos e produtos derivados.
Para as análises com os setores dos engarrafadores, distribuidores e canais de
distribuição, Quadro 46, é necessário salientar que os principais atores desses setores do sistema
paulista estão na maioria localizados em região geográfica diferente da dos produtores e
processadores. A análise indica que a concentração desses setores mostra poucas diferenças entre
os dois sistemas. Os setores dos engarrafadores, distribuidores e canais de distribuição são fortes
em ambos os sistemas.
O setor processador de São Paulo possui características distintas de poder: quando
analisados na região geográfica do Brasil, os processadores são fortes perante os produtores, mas,
quando analisados em outras regiões geográficas, perdem força perante os engarrafadores,
distribuidores e canais de distribuição.
173
O arranjo organizacional dos dois sistemas é complexo com fluxos físicos de
serviços, financeiros e de informações semelhantes, mas não idênticos. A grande diferença entre
os dois sistemas está no fluxo de informações que transita na cadeia produtiva, apesar de os
fluxos serem semelhantes as informações que circulam variam em abrangência, qualidade,
precisão e confiabilidade.
Atores Flórida São Paulo
Processadores
Poucos
Fraco – Médio
Mercado interno norte-americano
Poucos
Forte - Médio
Mercado externo – EUA, Europa, Ásia e outros
Traders
Poucas
Fortes
Poucas
Fortes
Blend Houses
Poucas
Fortes
Poucas
Fortes
Engarrafadores
Poucos
Fortes
Poucos
Fortes
Supermercados
Vários
Fortes
Vários
Fortes
QUADRO 46. Comparação entre processadores, engarrafadores, distribuidores e canais de distribuição dos
sistemas da Flórida e de São Paulo
Fonte: dados da pesquisa do autor.
O fluxo de informações impacta, de forma diferente, o mecanismo de coordenação
dos dois sistemas, Figura 9, na Flórida está cristalizada a cultura da disseminação da informação
como mecanismo para equilíbrio e estabilização, enquanto em São Paulo está cristalizada a
cultura da retenção de informação como mecanismos de poder e controle, levando ao acúmulo de
riquezas por alguns atores em detrimento de outros.
A diferença na forma com que a informação é tratada influi na distribuição de
poder nos dois sistemas. Na Flórida a difusão de informações tende a provocar maior distribuição
horizontal de poder, enquanto em São Paulo a assimetria de informações tende a provocar maior
distribuição vertical de poder.
O sistema paulista, dentro dos limites geográficos do Brasil, é liderado pelos
grandes processadores que impõem suas vontades e objetivos, enquanto centralizam as relações
no sistema, a imposição de vontades e objetivos, mais a centralização nas relações afetam a
velocidade de adaptação do sistema; diferentemente da Flórida, onde os objetivos comuns são
discutidos entre todos os atores.
O traço da cultura paulista da submissão pessoal em troca de benefícios de quem
detém o poder implica: na transferência da defesa de seus interesses para o ator que lidera (ou que
possui o maior poder) no sistema; na redução da cooperação entre os atores; e em aguardar o
174
posicionamento dos líderes para depois decidir sobre sua tomada de decisões. E o traço da cultura
floridiana, de cooperação, desenvolvimento, geração, permanência e distribuição da riqueza na
região induz os atores a defenderem seus interesses e os interesses coletivos do sistema e da
região em que estão instalados.
Distribuição do Poder
Horizontal
Vertical
+
Interesse próprio
-
+
Obrigação
-
FIGURA 9. Modo de coordenação e motivo para ação - comparativo entre Flórida e São Paulo
Fonte: elaborada pelo autor utilizando conceitos de HOLLINGSWORTH & BOYER, 1995.
A ausência de “regras do jogo” claras e específicas, no sistema de São Paulo,
derivada, ou não, da ausência de organizações de defesa de interesses fortes e das características
culturais paulistas, moldou o sistema com a possibilidade de ações oportunistas por ambos os
atores. Alguns adotam normas e regras próprias para conquistar reputação e a confiança dos
outros atores, melhorando as relações comerciais e não-comerciais, diminuindo os custos de
transações existentes.
A existência ou ausência de “regras do jogo” claras e específicas influi nos
mecanismos de coordenação nos dois sistemas, Figura 10. Na Flórida, com a existência das
“regras do jogo”, o mecanismo de coordenação tende a um modelo de estrutura de controle
administrativo burocrático, enquanto em São Paulo, com a ausência das “regras do jogo”, o
mecanismo de coordenação tende a um modelo com ausência de estrutura discreta.
São Paulo
Flórida
175
Se houvesse em São Paulo um conjunto semelhante ao da Flórida de organizações
de defesa de interesses fortes em todos os setores do sistema, as relações e os mecanismos de
coordenação poderiam ser diferentes essas organizações poderiam, por exemplo, atuar nas
organizações de relações internacionais do governo federal na tentativa de eliminar ou reduzir as
barreiras dos produtos citrícolas.
Ausência de estrutura discreta
Estrutura de controle administrativo
burocrático
+
Atores individuais
moldados pelo interesse
próprio
-
+
Atores individuais
pressionados e informados
pelas organizações
-
FIGURA 10. Mecanismos de coordenação, diferenças entre Flórida e São Paulo
Fonte: elaborada pelo autor utilizando conceitos de HOLLINGSWORTH & BOYER, 1995.
Adotar um modelo de leis específicas do setor semelhante ao da Flórida em São
Paulo reduziria a possibilidade de ação oportunista entre os atores e contribuiria para a
estabilização do sistema paulista. Para ser efetiva a adoção da política de pagamento de frutas da
Flórida em São Paulo, seria necessário o desenvolvimento de um sistema de divulgação de
informações semelhantes ao da Flórida, para permitir a formação do preço de venda da fruta.
Também, adotar o modelo do foco das organizações de ensino, pesquisa e extensão da Flórida em
São Paulo, impactaria positivamente em vários setores da economia paulista.
Como no Brasil, também ocorre nos Estados Unidos a disputa entre os diversos
setores produtivos pela conquista de benefícios do Estado. Assim, outros setores produtivos
americanos, que defendem interesses distintos aos do setor citrícola da Flórida, forçam a ruptura
São Paulo
Flórida
176
no bloqueio comercial que protege o setor. Ausência de tarifas ou taxas de importação incidentes
sobre o suco de laranja irá impactar no setor exigindo reação e nova conformação da cadeia
produtiva e, certamente, mudanças nas formas de coordenação atualmente observadas.
Os processadores paulistas adaptaram seus sistemas de geração de vapor para uso
de combustíveis sólidos, principalmente o bagaço da cana, em substituição aos combustíveis
líquidos, reduzindo o custo da produção de suco e a poluição do ambiente. Apesar de estarem na
região produtora de cana na Flórida, os processadores seguem consumindo óleo, combustível e
gás.
Como os processadores paulistas fazem parte do sistema agroindustrial da Flórida,
estão expostos às leis e à convivência com os hábitos, cultura e procedimentos cristalizados nos
atores deste sistema, bem como expondo seus hábitos, cultura e procedimentos aos atores da
Flórida. O resultado desse embate pode resultar em alterações recíprocas, ou não, nos dois
sistemas. Um estudo acadêmico mais detalhado deste item poderia vir a ser relevante para o setor.
Outro estudo acadêmico importante seria a inferência do efeito da eliminação das
taxas e barreiras alfandegárias existentes sobre os produtos paulista; tanto no ambiente
organizacional e de coordenação da Flórida como no de São Paulo.
A condição de produção e demanda mundial de suco FCOJ e NFC seria outro
estudo acadêmico importante, pois as curvas de exportação paulista e do consumo mundial
mostram tendência de estabilização, com algum grau de redução nos últimos dez anos.
A competição entre produtos similares ou substitutos dos sucos FCOJ e NFC seria
outro estudo acadêmico de valor, pois o consumo e o preço declarado mostram tendências de
estabilização e redução. Deste estudo, poderiam surgir indicações como de: quanto tão baixo
deveria ser o preço do suco para crescer a demanda no mercado ou de quão tão alto deveriam ser
os subsídios ou barreiras alfandegárias para proteger e manter os sistemas instalados atualmente.
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do Título de Livre Docente. Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo.
189
Apêndice A
Roteiro – Entrevista e conversas – produtores
1 – Como funciona a compra de fruta?
2 – Quem decide sobre o início da colheita da fruta?
3– A fruta tem que atingir um padrão mínimo para que ocorra o início da colheita?
4 – Se existe o padrão mínimo quem o especifica?
5 – Quem contrata a colheita e o transporte da fruta?
6 – Como é estabelecido o preço da fruta?
7 – Você participa de alguma organização de defesa de interesses?
8 – A organização de defesa de interesses é atuante?
9 – Quais os benefícios que ela proporciona?
10 – Como é a relação com as organizações de ensino, pesquisa e extensão?
11 – Qual o benefício dessa relação?
12 – Como é a relação com as organizações do governo?
13 – Qual o benefício dessa relação?
14 – Como é decidida a ampliação ou não dos pomares?
15 – Existe algum financiamento para a expansão dos pomares?
16 – No seu parecer como o Estado atua na agroindústria dos cítricos?
17 – Como são as leis específicas que controlam a citricultura?
18 – Como as informações da cadeia produtiva influem no seu negócio?
19 – Existem informações sobre todos os aspectos do setor?
20 – Como é o acesso a estas informações?
190
Apêndice B
Roteiro – Entrevista e conversas – processadores
1 – Como funciona a compra de fruta?
2 – Quem decide sobre o início da colheita da fruta?
3– A fruta tem que atingir um padrão mínimo para que ocorra o início da colheita?
4 – Se existe o padrão quem o especifica?
5 – Quem contrata a colheita e o transporte da fruta?
6 – Quem realiza a análises das frutas recebidas na unidade de processamento?
7 – Como é estabelecido o preço do suco?
8 – Existem padrões para a produção de suco?
9 – Quem realiza as inspeções finais do suco no momento do embarque?
10 – Se existem quem as define?
11 – Você participa de alguma organização de defesa de interesses?
12 – A organização de defesa de interesses é atuante?
13 – Quais os benefícios que ela proporciona?
14 – Como é a relação com as organizações de ensino, pesquisa e extensão?
15 – Qual o benefício dessa relação?
16 – Como é a relação com as organizações do governo?
17 – Qual o benefício dessa relação?
18 – Como é decido o tipo e o volume do suco a ser produzido?
19 – Existe algum financiamento para a expansão dos pomares?
20 – No seu parecer como o Estado atua na agroindústria dos cítricos?
21 – Como são as leis específicas que controlam a citricultura?
22 – Como as informações da cadeia produtiva influem no seu negócio?
23 – Existem informações sobre todos os aspectos do setor?
24 – Como é o acesso a estas informações?
191
Apêndice C
Roteiro – Entrevista e conversas – outros atores
1 – Qual a razão para a cadeia citricola apresentar a organização atual?
2 – Como são tratados os interesses comuns da cadeia citricola?
3 – O comprador de suco pressiona e obtêm vantagens sobre os processadores?
4 – As operações de mercado futuro de suco de laranja ocorrem na BM&F-BOVESPA?
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