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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC- SP
Jussara Tânia Silva Moreira
REPRESENTAÇÃO DOS MORADORES DA CIDADE DE ITAPETINGA SOBRE
A UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESB: A
CONSTRUÇÃO DE UM OLHAR
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
São Paulo
Março/2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC- SP
Jussara Tânia Silva Moreira
REPRESENTAÇÃO DOS MORADORES DA CIDADE DE ITAPETINGA SOBRE
A UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA–UESB: A
CONSTRUÇÃO DE UM OLHAR
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, como requisito
parcial para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Sociais,
Área de Concentração em Sociologia, sob a orientação da Profª.
Dra. Marisa do Espírito Santo Borin.
São Paulo
Março /2009
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Banca Examinadora
__________________________________________
__________________________________________
____________________________________
AGRADECIMENTOS
Por acreditar que nenhuma jornada acontece individualmente, pois o universo é formado
por uma encruzilhada de um único labirinto, é que, ao optar por elaborar um estudo acerca
da representação dos moradores da cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia-UESB, acreditei piamente na participação e cooperação de sua
população, no processo de construção dessa caminhada acadêmica. Por essa razão:
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer, mui respeitosamente, a todos os entrevistados,
pela paciência, compreensão e acolhimento ao pedido de utilização das suas histórias de
vida neste trabalho.
Ainda da Cidade de Itapetinga, abro espaço para agradecer ao Excelentíssimo Senhor
Prefeito Michel J. Hagge Filho (mandato 2004/2008), ao Ilmo Presidente do Rotary Clube
de Itapetinga Senhor Maurício Gomes da Silva (exercício 2007/2008), a Ilma Secretária de
Educação Senhora Ivanilde Teixeira Aguiar Silva (exercício 2007/2008) e, ao Ilmo Pastor
da Igreja Batista Nacional “Nova Aliança” Senhor Amilton Nunes de Carvalho, pela
recepção e compreensão dos objetivos desta pesquisa, fornecendo as informações
solicitadas, nos questionários aplicados.
Entre as empresas existentes em Itapetinga, que muito contribuíram para este estudo, sou
especialmente grata: à Prefeitura Municipal, Secretaria de Educação do Município, à
Biblioteca Infantil Municipal, ao Jornal Dimensão, ao Sindicato Rural, ao Sindicato dos
Professores, ao Rotary Clube, ao IBGE e, não menos importantes, agradeço igualmente à
contribuição dos setores da UESB do Campus de Itapetinga: aos Colegiados de Pedagogia,
Zootecnia, Engenharia de Alimentos, Engenharia Ambiental, Química e Ciências
Biológicas; à Secretaria de Cursos; à Prefeitura de Campus; à Gerência de Recursos
Humanos e aos Departamentos de Estudos Básicos e Instrumentais (DEBI) e de
Tecnologia Rural e Animal (DTRA). Esses parceiros disponibilizaram informações, tanto
para compor o grupo de trabalho dos entrevistados para relatos das histórias de vida, como
disponibilizaram documentações existentes, acerca do nosso objeto de pesquisa para, para
consultas.
De uma maneira não menos especial, agradeço a minha Orientadora Professora Dra.
Marisa do Espírito Santo Borin, pelo respeito, apreciação e acolhimento dos meus ideais e
ideias, nunca desfazendo aquilo que eu acreditava, mas sempre incentivando e mantendo,
acima de tudo, uma orientação atenta, receptiva e criteriosa.
Nesse mesmo sentido, agradeço também aos Professores do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP: Dra. Ana Amélia da Silva, Dr. Claudio
Gonçalves Couto, Dra. Maria Celeste Mira e Dr. Rinaldo Sérgio Vieira Arruda, que muito
contribuíram, em suas aulas, para o meu amadurecimento acadêmico.
Com muita satisfação, agradeço ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley (PUC-
SP) e à Profª Dra. Yvone Dias Avelino (PUC-SP), pelos valiosos conselhos, por ocasião da
minha Qualificação em novembro de 2008, que auxiliaram, sobremaneira, para a atual
revisão deste trabalho.
Agradeço à Profª. Dra. Maria de Fátima de Andrade Ferreira (UESB) pela atenção e dicas
em relação à análise dos dados empíricos da pesquisa.
Ao Professor Luciano Lima Souza, minha gratidão pela disponibilidade de fazer uma
leitura crítica e revisar este texto.
Agradeço à inesquecível turma de Mestrado do MINTER em Ciências Sociais, nas pessoas
de Romildo, Dina, Raquel, Lea e Virgínia, pela amizade fiel, e, pelas horas que
compartilhamos nossas ideias e angústias, pois esse foi um período de muitas risadas, que
nos ajudaram a vencer, principalmente no tempo em que passamos em São Paulo.
Não posso deixar de fora dessa relação, Professores, Funcionários e alunos da UESB,
destacando os Professores José Valdir Santana e Moisés Viana que, com paciência e
cordialidade, cooperaram muito, com conselhos e aconchegos, o que me ajudou no período
de pesquisa.
Agradeço a minha mãe, mulher de garra, que sempre possibilitou a minha caminhada e,
aos meus irmãos, irmãs e sobrinhos pelo constante apoio e confiança. Incentivo necessário,
para prosseguir na vida acadêmica.
Agradeço a Samuel Moreira, meu filho e amor, meu tesouro mais precioso, pelos dias que
sem a minha presença, ainda assim, sempre tinha um sorriso nos lábios, o que determinou a
minha luta nessa jornada e ao meu Esposo Elck Borges, pela compreensão, sendo um
grande companheiro nessa difícil, mas doce jornada.
Agradeço ao Programa de Capacitação de docentes da UESB, que proporcionou a minha
participação no MINTER (Mestrado Interinstitucional) em Ciências Sociais, por meio de
um convênio entre a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), com a cooperação da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Agradeço a todos aqueles que de alguma maneira estiveram ao meu lado nessa batalha.
Finalmente, agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP,
pela oportunidade de desenvolver este trabalho, que muito serviu e contribuiu para a minha
formação acadêmica.
A Samuel, Elck e Tereza com todo o meu amor
Toda representação social é constituída como um processo em que
pode localizar uma origem, mas uma origem que é sempre
inacabada, a tal ponto que outros fatos e discursos virão nutri-la ou
corrompê-la. É ao mesmo tempo importante especificar como esses
processos se desenvolvem socialmente e como são organizados
cognitivamente em termos de arranjos de significações e de uma
ação sobre suas referências.
Serge Moscovici
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo identificar as representações que foram construídas pelos
moradores da cidade de Itapetinga a partir da inclusão da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia – UESB, em seu território. O recorte temporal que circunscreve a
pesquisa está direcionado aos vinte e cinco (25) anos de existência da universidade na
cidade, mais especificamente, entre o período de 1980 a 2008. Para tal fim, foi necessário
entrar por um caminho peculiar: a constituição social e histórica da cidade. Zona pastoril
em que ocorreu a inserção da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB - que,
após uma década de existência excedeu a fronteira urbana imposta pelas fazendas
pecuaristas, criando o “Campus Juvino Oliveira”. Momento marcado de lutas e
reivindicações, cujos embates, originaram mobilizações simbólicas. Esse cenário serviu
para a elaboração da hipótese de que: as representações construídas em um espaço social
são circunstanciadas pelas determinações das “práticas “educacionais”. Por ter como eixo
central a “representação”, a pesquisa respalda-se, prioritariamente na teoria de Pierre
Bourdieu, mas dada a complexidade dessa abordagem, houve, em alguns momentos, a
necessidade da apreciação de outras análises teóricas. A partir da ideia de que a
representação se constitui em uma matriz de percepção/ação, objetividade/subjetividade
que no “campo social” exerce influência mútua entre sujeitos e objetos, este estudo está
intimamente relacionado com a cultura e a memória, o que garante a construção da
“identidade social”. Adotou-se como procedimentos metodológicos: a história de vida, o
questionário semi estruturado e análises documentais. Dessa maneira, os resultados da
investigação foram analisados através da pesquisa qualitativa à luz da revisão da literatura,
tendo como suporte para interpretação as fontes orais e escritas.
Palavras-Chave:
Representação; Memória; Universidade; Itapetinga.
ABSTRAT
This work has as objective to identify the representations that were constructed by the
inhabitants of the city of Itapetinga from the inclusion of the State University of Southwest
Bahia - UESB - , in its territory .The clipping the time that circumscribes the research is
directed to the twenty-five (25) years of existence of the university in the city, more
specifically, the period of 1980 the 2008. For such end, it was necessary to enter for a
peculiar way: the social and historical constitution of the city. Pasture area in where the
insertion of the State University of southwestern Bahia, after one decade of existence
exceeds the limit imposed by the cattle farms in the urban area inaugurating “campus
Juvino Oliveira”. Moment, which required claims and struggles whose clashes have
brought, symbolic mobilizations. This motivation, which served for the hypothesis that: the
social representations constructed in a social space are specified / determined by the
"relations" and "practical" education. Why have as a central axis "representation", the
research support is primarily in the theory of Pierre Bourdieu, but given the complexity of
this approach, there was, at times, the need for consideration of other theoretical analysis.
Since the representation is a matrix of perception / action, objectivity / subjectivity and as
"social field" exercise mutual influence between subjects and objects, this study is closely
related to culture and memory, which ensures construction of "social identity". Was used
as methodological procedures, the story of life, the semi structured questionnaire and
documentary analysis. Thus, research results were analyzed by qualitative research in the
light of literature review, with support for interpreting the spoken and written sources.
Key-words
Representation; Memory; University; Itapetinga
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
CAPÍTULO I.
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DE ITAPETINGA .............................................. 23
Labirintos de Uma Cidade ................................................................................................... 25
Instituições: Apogeu e Crise ................................................................................................ 32
CAPÍTULO II.
UNIVERSIDADE: FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
NA REGIÃO SUDOESTE DA BAHIA ........................................................................... 46
A Constituição da Universidade Multicampi........................................................................ 46
UESB: Desafios e Realizações ............................................................................................. 50
CAPÍTULO III.
BASES CONCEITUAIS: UM DEBATE SOBRE
O SIGNIFICADO DE REPRESENTAÇÃO .................................................................... 67
O “Habitus” na Construção das Representações ................................................................. 67
Cultura, Memória e Representação ...................................................................................... 71
CAPÍTULO IV.
SOBRE A UESB: AS VOZES DOS MORADORES
DE ITAPETINGA ............................................................................................................. 85
O Olhar Inicial ...................................................................................................................... 86
Iluminando a Zona Pastoril .................................................................................................. 91
Conclusão: Breve Discussão .............................................................................................. 114
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 122
FONTES ..........................................................................................................................
128
BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................
136
ANEXOS ........................................................................................................................... 140
1- Carta de Solicitação/Seleção de Entrevistados............................................................... 141
2- Etapas do Processo das Entrevistas de Histórias De Vida ............................................. 142
3- Modelo de Documento de Autorização para as Entrevistas de Histórias de Vida ......... 143
4- Questionários e Documentos de Autorizações Digitalizados ........................................ 144
5- Carta de Solicitação para Consultas Documentais ......................................................... 160
6- Entrevista: Relato de História de Vida ........................................................................... 161
7- Painel 1 - Fotos de Itapetinga ......................................................................................... 162
8- Painel 2 – Fotos da UESB – Campus de Itapetinga/BA ................................................ 167
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico1- Evolução no Quadro de Qualificação – Efetivos da UESB................................58
Gráfico 2- Evolução no Quadro de Vagas...........................................................................59
Gráfico 3- Evolução do Quadro de alunos Matriculados na Graduação.............................60
Gráfico 4- Evolução do Quadro de Vagas de alunos Inscritos no Vestibular.................... 60
Gráfico 5- Evolução no Quantitativo de Bolsas..................................................................61
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Distribuição dos Docentes com Curso Stricto Sensu – (Base 2005)................58
Quadro 2 - Grupos de Pesquisa - UESB (Base 2005).........................................................62
Quadro 3 - Distribuição de Vagas Por Curso Campus Itapetinga (Base: 2008).................64
Quadro 4 - Infra-Estrutura Laboratorial – UESB (Itapetinga)............................................65
Quadro 5 - Impacto Direto e Indireto Na Economia Local...............................................109
Quadro 6 - Múltiplos Aspectos de Impacto na Economia Local......................................109
Quadro 7 - Egressos da UESB / Itapetinga de 1987 A 2008............................................111
Quadro 8 - Disposição dos Entrevistados: Escolarização.................................................118
Quadro 9 - Disposição Geral dos Entrevistados: Condição Funcional.............................118
Quadro 10 - Disposição Geral dos Entrevistados: Idade Aproximada e Gênero..............119
Quadro 11 - Disposição Geral dos Entrevistados por Condição Sócio-Econômica.........119
INDÍCE DE SIGLAS
ACI Associação Cultural Itapetinguense
ARI Associação Rural Itapetinguense (Sindicato Rural)
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
CFE Conselho Federal de Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DOE Diário Oficial do Estado da Bahia
DOU Diário Oficial da União
DTRA Departamento de Tecnologia Rural e Animal
EMARC-IT Escola Média em Agropecuária da CEPLAC – Itapetinga
ENOC Centro de Ensaios Nutricionais com Ovinos e Caprinos
FAMESF Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco
FAPESB Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
FAPEX Fundação de “Apoio à Pesquisa e Extensão
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FUNESA Fundação Universidade Estadual de Alagoas
GT Grupo de Trabalho
IBB Indústria Brasileira de Bicicletas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ISP Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público
MAFRIP Matadouro Frigorífico do Médio Rio Pardo S/A
PFL Partido da Frente Liberal
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PMI Prefeitura Municipal de Itapetinga
PR Partido Republicano,
PROLER Programa Nacional de Leitura.
PRP Partido Republicano Progressista.
PSD Partido Social Democrata
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itapetinga-BA
SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
SEPLANTEC Secretaria do Planejamento Ciência e Tecnologia da Bahia
SUDENE Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste
UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina
UDN União Democrática Nacional
UECE Universidade Estadual do Ceará
UECO Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
UEL Universidade Estadual de Londrina
UEM Universidade Estadual de Maringá
UEMA Universidade Estadual do Maranhão
UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais
UEPA Universidade do Estado do Pará
UEPB Universidade Estadual da Paraíba
UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UESPI Universidade Estadual do Piauí
UFBA Universidade Federal da Bahia
UNEB Universidade Estadual da Bahia
UNEMAT Universidade do Estado de Mato Grosso
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UNICENTRO Universidade Estadual do Centro-Oeste
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UNITINS Fundação Universidade do Tocantins
UPE Fundação Universidade de Pernambuco
URCA Universidade Regional do Cariri
URRN Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
USP Universidade de São Paulo
UVA Universidade Estadual do Vale do Acaraú
15
INTRODUÇÃO
A pesquisa é a fusão, em um só crisol, de observações, teorias e hipóteses. Para
ver se cristalizar algumas parcelas de verdades (MARTIN)
1
.
Este trabalho marca nossa caminhada no mundo acadêmico pelos desafios e
aprendizagens que nos proporcionaram. Foi desafiante termos uma ideia e transformá-
la em uma investigação científica, a partir de uma realidade social e, enriquecedor e
necessário, para a realização de tal pleito, modificarmos pensamentos, ideias e
conceitos para uma construção intelectual mais alicerçada do ponto de vista
teórico/científico. Isso, no entanto, seria impossível, se não houvesse a oportunidade
trazida pelo Curso de Ciências Sociais da PUC-SP, através de um Programa
Interinstitucional.
Esse curso, muito mais, que a concretização de sonhos e de anseios pessoais,
representou, principalmente, para a Região Sudoeste da Bahia, onde a UESB está
situada, a ampliação dos horizontes educacionais. Haja vista, que a formação de
pesquisadores e o acesso ao saber científico propiciam competências necessárias, para
a promoção de projetos de pesquisa e extensão, originando assim, contribuições para a
melhoria da qualidade de vida das populações mais periféricas do Brasil.
Dessa forma, esta pesquisa que concebemos a partir de múltiplas experiências,
tempos, espaços, reflexões e histórias, no nosso exercício em sala de aula, pôde
finalmente tomar “forma”. O que era pretensão, pois tínhamos o desejo de analisar a
trajetória urbana de Itapetinga, identificando o antes e o depois da inclusão da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), gradativamente, acabou por se
concretizar, em um caminho, que estruturamos a partir da seguinte problemática: quais
são as representações construídas e incorporadas pelos moradores de Itapetinga acerca
da UESB, em seus vinte e cinco (25) anos de existência? Ou seja, que impactos a
UESB causou na cidade, sob o imaginário de seus moradores?

1
- Trecho da poesia de: MARTIN, Gerard - B. Au fil des événements. Jornal da Universidade de Laval, 6 de
dezembro de 1994 (NASCIMENTO, 2002, p. 57).
16
Com essa questão geramos uma hipótese de que: as representações construídas
em um espaço social são circunstanciadas pelas determinações das “práticas
educacionais”. Assim sendo, equivale pontuarmos que, a representação construída
pelos moradores de Itapetinga em relação à Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia:
- Tem estreita ligação, com os cursos de licenciatura, considerados veículos de
desenvolvimento para melhoria do ensino, o que instituiu, ampliou e qualificou as práticas
escolares na cidade.
-Que as intervenções educativas, além de formarem uma elite intelectual, ainda
conduzem, através de projetos de pesquisa e extensão, um movimento simbólico
reorganizador das práticas culturais que repercutem em desenvolvimento social para a
cidade.
- É atrelada ao fato dela ser um mecanismo de veiculação financeira, pois além de
ser um agente empreendedor, ainda produz uma mão de obra especializada, atendendo
assim, às exigências do mercado produtivo, que na realidade da cidade possibilita uma
maior rotatividade para as práticas econômicas.
A partir desses pressupostos, estabelecemos como objetivo geral do trabalho:
identificar as representações que foram construídas pelos moradores da cidade de
Itapetinga, ocasionadas pela inclusão da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –
UESB- em seu território.
Os objetivos específicos, assim delineamos:
1. Construir um quadro teórico sobre o conceito de representação, como
fundamento para o levantamento e análises dos dados a serem pesquisados;
2. Contextualizar o processo de urbanização de Itapetinga e a inserção da UESB na
cidade;
3. Apresentar a atuação da UESB através dos seus 25 anos de existência.
4. Analisar, a partir de construções teóricas, as representações enquanto produções
objetivas, sem perder o caráter da subjetividade, inerente à individualidade humana.
17
O significado de “representação” encontramos em Bourdieu (2004, 2007b, 2007d)
pilares essenciais, com distinção para: a “incredibilidade” (crítica) em uma “ciência pura”
que separa a “objetividade da subjetividade”, a consideração pela “dimensão histórica” das
relações e produções, que ocorrem em um “espaço social” e como ponto central de sua
teoria, o conceito de “habitus”, que justifica todo o jogo que existem nas práticas sociais.
Haja vista que: “esse conceito está na base da reprodução da ordem social. Por isso, como
princípio de conservação, ele também, pode se tornar um mecanismo de invenção e,
conseqüentemente, de mudança”. (BONNEWITZ. 2005, p. 75).
No entanto, pela complexidade da abordagem, também foi necessário, procurarmos
por outros teóricos, pois somente de maneira interdisciplinar, teremos possibilidades de
ampliar conhecimentos acerca das práticas existentes do mundo social. Logo, esses
diversos olhares, corroboraram para entender que as representações que existem entre os
indivíduos com o mundo dos objetos, evidenciam-se através dos “costumes”, “mitos”,
“símbolos”, “valores”, “crenças” e “visões de mundo”. E, suas configurações, que são
determinantes para os comportamentos humanos, são construídas empírica e racionalmente
e, efetivadas concretamente pelo senso comum.
Por conseguinte, para compreendermos como se formam as representações, é
necessário percebermos que, concomitantemente, interagem, em uma eterna “relação
dialética”, os fenômenos de “memória” e “cultura”. Assim, é que se criam, renovam e
mantém as “estratégias de mobilizações simbólicas”, dentro do universo social.
Dessa maneira, foram os moradores de Itapetinga, através de suas vozes que nos
forneceram o alicerce para esse conhecimento. Conforme Bourdieu (2004), para chegar a
um “domínio científico”, não precisamos desprezar, pelo contrário, devemos considerar
uma “série de construções do senso comum”, pois essas são as formas pré-selecionadas
para apreender “a realidade da vida cotidiana”.
Foi a partir dessas interpretações que podemos perceber como era importante
(re)conhecermos toda a “trajetória de urbanização de Itapetinga” e, o que estava implícito
e explícito como trama social, para a construção das suas condições econômicas,
“culturais, políticas, religiosas e educacionais”, fundamentos esses, que nos fizeram atingir
interpretações sobre a formação e a constituição da Universidade Estadual do Sudoeste da
18
Bahia e como, a introdução desta “luz do saber”, em uma zona pastoril, começou a ser
interpretada pelos moradores da cidade.
Por outro lado, tornou-se necessário, também, conhecermos a percepção daqueles
que acompanharam o processo da implantação dessa Instituição Universitária. O que
suscitou alguns questionamentos: o que estava sendo representado no “jogo” do poder
econômico, para a construção do campus universitário? Como a universidade, começou a
ser representada pelos agentes sociais dentro do cotidiano? A Universidade foi
representada pelos “quatro cantos da cidade”, como uma instituição pública e de prestígio
social, que (re)produziu a melhoria de vida na população Itapetinguense?
As respostas para esses questionamentos foram encontradas na própria história da
trajetória urbana de Itapetinga, mas que dentro da investigação se converteram em
desafios. O maior deles foi: como trazer para o “presente”, o que tinha sido originado há
vinte e cinco anos (25) e, ao mesmo tempo, considerar, não só essas evocações “passadas”,
mas também, aquelas que são construídas dentro do cotidiano do “tempo presente”?
Esse contraste acabou por sinalizar, que tal dúvida somente teria um caminho a ser
percorrido: fazer uma “investigação qualitativa”. Pois, essa forma de pesquisa, permite
explorar a complexidade de certos fenômenos sociais e históricos de tal maneira, que
sucumbe a dualidade entre a objetividade científica e a subjetividade humana. Desse
modo, o investigador deve ser um “Sujeito-observador”, pois, como parte integrante do
processo de conhecimento ele: “interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado”.
(CHIZZOTTI. 1991, p. 79).
Nesse sentido, para compormos os “sujeitos da pesquisa”, adotamos três
procedimentos, mas com a seguinte ressalva: “a confrontação dos dois tipos de fontes
permite direcionar a reflexão para o problema do tempo, tão essencial na construção da
cidade, e para as relações entre os políticos e os homens "da arte" na orientação das formas
urbanas” (VALDMAN, 2002, p.247).
O primeiro procedimento metodológico utilizado foi o de trabalhar com a história
oral de vida. Pois essa forma de investigação nos fornece uma visão, entre o “tempo
passado”, o “tempo presente”, e todas as inclusões que este pode ter com o “tempo futuro”,
19
portanto: “o pesquisador obtém dados relativos às experiências vividas”. (NASCIMENTO.
2002, p. 92). E, ainda:
Podemos acrescentar que a história em particular a história do tempo presente
pode contribuir para criar a lacuna que cada geração nova, cada ser humano deve
descobrir e preservar mediante um trabalho assíduo. Não é por acaso que o
pequeno ensaio de Hannah Arendt começa com uma citação de René Chair:
"Nosso legado não foi precedido de nenhum testamento", citação que descreve
perfeitamente a situação da história do tempo presente e suas relações
ambivalentes com o passado e diante do futuro (PASSERINI, 2002, p. 214).
São essas relações ocorridas no “tempo”, necessárias como um mecanismo de
colaboração, para interpretar proximidades e distâncias estabelecidas, entre os grupos
sociais. Processo, que para Bourdieu (2002) evita ter meramente uma visão “simplista”,
levando a retratar processos sociais complexos de forma “mal analisada”, deixando de fora,
aquilo que está implícito na realidade de um cotidiano.
O que equivale a dizer que não podemos compreender uma trajetória (...) sem
que tenhamos previamente construído os estados sucessivos do campo no qual
ela se desenrolou e, logo, o conjunto das relações objetivas que uniram o agente
considerado – pelo menos em certo número de estados pertinentes – ao conjunto
dos outros agentes envolvidos no mesmo campo e confrontados com o mesmo
espaço dos possíveis (BOURDIE, 2002, p. 190).
Ao trabalharmos com relatos orais, tivemos um cuidado criterioso, pois apesar da
riqueza que a utilização da história de vida nos oferece, ela é muito perigosa, pois está
revestida de subjetividades e, o seu valor “reside não na imediata verídica referência aos
fatos, mas sim nas suas interpretações” (ARRUDA, 1999, p. 123).
Essas ponderações serviram para considerar que, não poderíamos fazer uma
investigação, que ficasse restrita apenas a um universo de atores de um mesmo círculo
social. Assim, para a seleção dos entrevistados para as histórias de vida, optamos como
técnica, escolher algumas empresas e órgãos públicos
2
na cidade, cujo contato foi feito,
através de cartas consultas
3
.

2
- As Empresas e órgãos procurados pela pesquisadora em janeiro de 2008 foram formados por: sindicatos,
escolas, igrejas, jornais, indústrias, bancos, bibliotecas, pontos comerciais, Prefeitura e Secretarias do
Município de Itapetinga e, Departamentos, Colegiados, Secretarias de Curso e Prefeitura de Campus da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
3
- Essas cartas foram entregues por contato direto e, continha em seu teor a solicitação de informações sobre
pessoas que fossem residentes na cidade pelo menos há vinte e cinco anos e, que pudessem ser procuradas.
A atividade de entrega das cartas se prolongou até o final de janeiro de 2008. O modelo dessa carta consulta
encontra em anexo (1), nesse trabalho.
20
Dessa maneira obtivemos a indicação
4
de pessoas oriundas de diversos segmentos
da cidade. Após os primeiros contatos, tarefa que não foi fácil, pois ainda enfrentamos a
resistência de muitos “atores sociais” em conceder as entrevistas. A resistência foi
quebrada somente com o compromisso assumido de preservação da identidade dos
entrevistados, o que nos levou a optar na transcrição das entrevistas pela utilização das
letras do alfabeto de (A) a (M.) para identificar o Grupo de Trabalho (GT), formado por
treze (13)
5
pessoas, que através das histórias de suas vidas contribuíram para o andamento
desta pesquisa.
Algumas regras foram estabelecidas
6
para realização das entrevistas. Consideramos
também que, só seria possível ter uma representação da população de Itapetinga, se a
amostra para a pesquisa fosse o mais semelhante possível, ao perfil populacional da cidade.
Sendo assim, para formar esse grupo, além da clássica pergunta no encontro inicial (se
queriam participar da pesquisa), ainda nos preocupamos em saber sobre a “formação
escolar”, “idade” e “situação sócio-econômica”.
O segundo procedimento metodológico utilizado, para garantirmos representações
de cunho coletivo, foi a utilização de questionários
7
semi-estruturados aplicados de forma
direta. Para tal fim, procuramos pessoalmente na cidade por autoridades constituídas de
organizações políticas e civis para estabelecemos então, outro GT
8
. Com a aproximação
das representações individuais e coletivas, conseguimos finalizar as “fontes orais”, para a
coleta de dados. Essa etapa da pesquisa (entrevistas e questionários) transcorreu entre os
meses de março a dezembro de 2008.
Finalmente, optamos por utilizar como terceiro procedimento metodológico, para
coleta de dados: textos escritos, ou seja, recursos documentais, como dissertações de

4
- A partir da consulta feita através das cartas, houve a indicação das empresas e dos órgãos, (através de
ofícios, contatos pessoais ou telefonemas) para a pesquisadora, daqueles prováveis nomes que poderiam ser
procurados. Essas pessoas eram trabalhadores, aposentados, estudantes e egressos. Portanto, o processo da
entrega das cartas e respostas dessas, sucedeu entre os meses de janeiro/fevereiro de 2008.
5
- Por opção durante o transcorrer da escrita da pesquisa, as entrevistas efetuadas pela pesquisadora através
da história de vida questionários estarão em destaque no texto. Todas as informações dos entrevistados para
a história de vida constam nas Fontes Primárias (orais).
6
- Constam em anexo (2) regras definidas, perguntas e material utilizado. Em anexo (3) consta o modelo do
documento de autorização para a utilização das entrevistas de História de vida.
7
- Constam em anexo (4-), os modelos dos questionários aplicados e transcritos. E em anexo (4.1) constam
as devidas autorizações dos entrevistados para a utilização de suas respostas e nomes.
8
- Consta nas Fontes Primárias (orais) a relação com os dados do Grupo de Trabalho, como também, local,
data e tempo utilizado em cada entrevista.
21
Mestrado; livros com relatos autobiográficos, narrativas e homenagens; artigos científicos,
literários e jornalísticos; Publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE); pesquisas da Secretaria do Planejamento Ciência e Tecnologia da Bahia
(SEPLANTEC) e da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI),
Exemplares do Diário Oficial da Bahia e do Diário Oficial da União; documentos,
publicações e informações dos órgãos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –
UESB -; e, Documentos da Prefeitura Municipal de Itapetinga- PMI.
Muitos desses registros são restritos a determinados setores de empresa e órgãos
públicos. Por conseguinte, para a manipulação desse material, entregamos (pessoalmente)
ao setor responsável, uma carta solicitando a consulta desses documentos
9
. De posse dos
dados coletados através das fontes primárias (orais e escritas), sistematizamos e
interpretamos as informações obtidas, tomando por base, como recurso, fontes
secundárias
10
e teorias utilizadas.
Dessa forma, o trabalho foi dividido em cinco etapas. Inicialmente, com a
apresentação, demonstramos a origem e discussão do tema, delimitação do problema,
objetivo geral da pesquisa, a abordagem científica, a metodologia empregada e descrição
da pesquisa de campo e, todas as demais informações que foram consideradas importantes
para compreendermos a ordem pela qual perpassou todo o processo de investigação.
No Capitulo I: “O Processo de Urbanização de Itapetinga”, pela necessidade de
interação entre o eixo norteador da pesquisa as “representações” e o cotidiano a ser
investigado, traçamos um panorama de contextualização histórica da urbanização
Itapetinguense, considerando, como ocorreu o seu desenvolvimento social, político,
econômico, religioso e educacional.
No Capítulo II: “Universidade: Formação e Desenvolvimento na Região Sudoeste
Da Bahia”, narramos sobre a fundação e existência da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, apreciando os desafios e as realizações da UESB no território Itapetinguense.
No capítulo III: “Bases Conceituais: Um Debate Sobre o Significado de
Representação Social” apresentamos um panorama sobre o “fenômeno da Representação

9
- O modelo desta carta consulta de documentos consta em anexo (5) nesse trabalho.
10
- Autores que leram e interpretaram teóricos utilizados nesse trabalho.
22
Social”, instituído pelo “tempo” das teorias científicas, por acreditarmos que existe uma
interação indissociável do conhecimento teórico/prático, pois essas são formas
inseparáveis, dentro da vida cotidiana.
No capítulo IV: “Sobre a UESB: as Vozes dos moradores de Itapetinga”, através
das vozes Itapetinguenses, demonstramos o entrecruzamento de significados objetivamente
instituídos, determinante para apreendermos quais as formas de “representações
construídas pelos moradores de Itapetinga, circunstanciadas pelas relações com a
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e, como essas formas são incorporados pelas
práticas sociais.
Por fim, com base no referencial teórico e, no que analisamos nos capítulos
anteriores, apresentamos algumas conclusões e considerações finais.
23
CAPÍTULO I
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DE ITAPETINGA
Itapetinga teve a sua formação urbana a partir da prática econômica, baseada na
tradição ruralista, que foi determinada pela cultura da pecuária. Decisivamente, esse
modelo foi responsável pelas atividades de produção e de subsistência de sua população.
No entanto, a partir da consolidação do modelo produtivo industrial, Itapetinga, em menos
de dez anos, perdeu toda a tranquilidade em que vivia.
Mesmo sendo uma “jovem” urbe, com uma população urbana inexpressiva,
Itapetinga possui toda uma representação e coexistência vinculada aos resquícios da
herança ruralista,
onde a confiança ainda está vinculada à força na “lei da palavra dada”.
Convive, atualmente, com as mazelas existentes nas grandes metrópoles, mergulhada em
crises de valores morais e sociais, ou seja, encontra-se inserida em meio à violência,
drogas, desemprego e o medo.
Mas apesar de tudo isso, temos como resultado um projeto deslumbrante sobre a
passagem aberta por aqueles que construíram essa cidade. Esse projeto foi determinado
pela chegada do primeiro “homem branco”, registrado pela história oficial da cidade, como
aquele que foi o desmatador das novas terras, Bernardino Francisco de Souza, que no
princípio do século XX, por volta do mês de maio no ano de 1912, estava ele em busca de
terras férteis e junto:
Com seu irmão [Tercílio Francisco de Souza]
11
e seu sogro [Possidônio
[Antônio de Carvalho]
12
contrataram homens trabalhadores para saírem à
procura de novas terras. Naquela época, quase toda a região sudoeste era
formada por matas virgens em grandes extensões. Para desbravá-las era preciso
muita determinação e coragem. O intercâmbio entre os municípios já existentes
era muito dificultado pelas péssimas condições de locomoção, quer fosse por
rodovias, em lombo de animais, ou até mesmo quando os interessados se
aventuravam a enfrentar longas distâncias a pé (GOMES, 2006, p. 11).
Tal discurso nos revela como ocorreu o desbravamento da “nova terra” e, como
nesse local, em suas origens, sucedeu o uso de práticas agressivas da exploração da

11
- Grifo nosso.
12
- Grifo nosso.
24
natureza e o uso da força das armas diante dos nativos
13
que ali habitavam. Dessa forma, na
região:
O mar verdejante da mata foi bólido, e surgiu a primeira ilha de derrubada. Os
índios sentiram a presença de estranhos nos seus domínios, os bichos das matas
perceberam a presença do invasor, nos rios, antas, capivaras e lontras ouviram e
sentiram o troar das espingardas. Acordava a região, o toque desbravador do
homem e a área de Itapetinga começavam a ser integrada ao mundo “civilizado”.
Caçadores, viajantes e jagunços tinham dado noticias desta região onde andaram:
- A terra era boa, que as elevações eram pequenas, que os rios constantes
garantiriam a vida de quem dessas áreas se apossassem (WANDERLEY, M.
apud NERY, 1995 p. 101).
Nessas passagens, o que ocorreu foi o equívoco
,
existente dentro da própria
estrutura histórica da “modernidade”, herdada principalmente, a partir da colonização
européia, pois para aqueles que chegavam nesse território, os “nativos locais”, tinham uma
representação “lendária”, tidos como “selvagem”, sem sabedoria, ou seja, não havia o
respeito às “culturas diferenciadas”. Portanto, os novos moradores com a sua visão
“etnocêntrica”, aos poucos foram evadindo com os “índios”, até tomar a área encontrada, e
substituir a representação cultural da região (LARAIA, 2006).
Naquele tempo era tudo diferente, mais bonito, todos eram amigos de todos....
Cortei a primeira árvore dessa terra para construir o barraco, mas aqui era índio
pra todo lado, eles eram como os bichos, bem selvagens, às vezes era preciso
bronquear com eles, resistir até que tentaram, mas a gente dava um jeito neles.
(risos)
14
Depois, ah! De alguma forma, foram sumindo, sumindo, até que um dia
sumiram de verdade e, ninguém mais ouviu falar deles, e aqui brotou o pasto da
comunidade pecuarista (B
15
, 2008).
A resistência dos “nativos”, aos poucos foi sendo substituída, por um novo
“costume”, que trazia como promessa: transformar a terra encontrada, em um novo mundo
“civilizado”. Mas nesse relato tem outro ponto importante. O “saudosismo” expresso nas
palavras de (B), demonstrou o quanto ainda é presente em sua memória, as representações
dos fatos passados da Itapetinga nascente, quando diz que: “antes todos se conheciam,
todos eram amigos”. Tal comentário, só pôde ocorrer por um motivo latente: pelos

13
A Região do Sudoeste da Bahia, atualmente composta pelas cidades de Itapetinga, Maiquinique e
Itarantim, era habitada pelos Índios Mongoyós. Com a chegada do “homem branco”, concentrou as
comunidades tribais na Serra D’ Anta, localizada na Região de Itapetinga, mas com o desenrolar da “historia
civilizada”, o desenvolvimento urbano e a extensão pastoril, viram-se obrigados a evadir cada vez mais,
avançando rumo ao litoral. Assim, os Mongoyós, para sobreviver fundiu com os pataxós-hã-hã-hães e
passaram a habitar na região Sul da BA. Informações colhidas pela pesquisadora, atraves dos relatos dos
entrevistados.
14
-Grifo nosso.
15
- A Entrevista de (B) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 18 de março de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
25
labirintos da cidade, atualmente, também se encontra em um universo de transformações
de sociais.
Labirintos de uma Cidade
A narrativa de (B, 2008) sobre Itapetinga, também, pode ser lida da seguinte
maneira: “o vizinho de antigamente era o pai, irmão, parente...”, Tinha um corpo e um
rosto, tinha uma identidade, atualmente, as casas adquiriram muros e grades e o rosto é
aquele que se esconde atrás da porta. O discurso que baliza essas passagens, não importa se
afirma a mais pura verdade ou se são apenas relatos fantasiosos. Aqui, eles devem ser
vistos, enquanto uma exposição, que permite estabelecer correspondências entre os
elementos de uma cultura já construída e edificada, com aquilo que Bourdieu (2004)
institui por novas “mobilizações simbólicas”, incorporadas, criando todo um movimento de
rupturas e ampliação com as culturas já edificadas.
Essa interpretação sucede também, de outra expressão, produzida por 80% dos
entrevistados em suas histórias de vida: essa é uma comunidade pecuarista”.
Encontramos nesse aspecto representado por essas palavras, o que Bauman (2003) teoriza
sobre os “homens” e a suas relações com as “comunidades”.
Para Bauman (2003), os homens mantêm relações “tensas e paradoxais”, entre as
ideias e o que de fato é uma comunidade. Vivendo entre o desejo da “segurança” ofertado,
mas sabe que a “comunidade” existente, quando doa a “proteção” é “dura” e exige “troca”
para todos os “serviços” que possam ser ofertados. Por isso, fazer parte de uma
“comunidade”, no sentido dado por Bauman é saber que ela, como agrupamento humano,
possui formas consideradas como mecanismos de dominação que congregam todas as
relações das produções sociais.
Por isso, atualmente, os grupos sociais, vitimados pela “modernidade capitalista”,
tornaram-se mais “consumidores, fluidos, líquidos e desregulamentados”, onde o
“desengajamento” convive lado a lado, com o “excesso”, que:
Em verdade, como diria Bourdieu mais tarde, a tentação e a sedução acabaram
substituindo a regulação normativa e a vigilância ostensiva como principais
meios de construção do sistema e de integração social. O principal efeito da
26
tentação e a essência da sedução é a ruptura da norma (ou antes, a transcendência
perpétua da norma, com uma pressa que nega aos hábitos o tempo de que
precisam para fixar-se em normas). E na ausência da norma, o excesso é a única
esperança da vida. Numa sociedade de produtores, o excesso era equivalente ao
desperdício e por isso rejeitado e condenado; mas nasceu como uma luta da vida
com a norma (uma doença terminal, como se sabe). Num mundo desprovido de
normas, o excesso deixou de ser um veneno e tornou-se o remédio para as
doenças da vida; talvez o único apoio disponível. O excesso, esse inimigo
declarado da norma, se tornou a própria norma; talvez a única norma.
Certamente uma norma curiosa, que escapa à definição. Tendo rompido as
algemas normativas, o excesso perdeu seu sentido. Nada é excessivo se o
excesso é a norma (
BAUMAN, 2003, p. 118).
Essa situação, balizadora da cultura local, presente na vida das pessoas, traz medo e
angústia, mas também, é construtora de novos caminhos. O que significa para Bourdieu
(2007d), que as formas que se solidificam no senso comum, ocorrem, a partir do “poder”
deliberado pela cultura. Cenário, onde o “habitus” pode ser utilizado para compreender
como as representações, interferem diretamente na construção dos “estilos de vida” em um
“espaço social”, criando, além de antagonismos, também, as similaridades. E são essas
semelhanças que aparece na “opinião” Itapetinguense. Dessa maneira, falar da história de
Itapetinga é como irromper na trajetória de um labirinto social complexo e, ao mesmo
tempo fascinante, onde:
Para encontrar uma cidade antiga no labirinto das novas ruas, que pouco a pouco
circundaram e transformaram casas e monumentos, que ora descobriram e
apagaram bairros antigos, ora encontraram o seu lugar no prolongamento e nos
intervalos das construções de outrora, não voltamos do presente ao passado,
seguindo em sentido inverso e de modo contínuo a série dos trabalhos,
demolições, traçados das ruas, etc., que modificaram progressivamente o aspecto
dessa cidade. Para reencontrar caminhos e monumentos antigos, conservados,
aliás, ou desaparecidos, nós nos guiamos, pelo plano geral da cidade antiga, nos
transportamos para ela em pensamento, o que sempre é possível, para os que nela
viveram, antes que houvessem ampliado e reconstruído os velhos bairros, e pelos
pedaços de muro que permaneceram de pé, essas fachadas de outro século, esses
trechos de ruas guardam sua significação de outrora (HALBWACHS, 2006, p,
152).
É na vastidão desse caminho, na construção de sua “memória” e “tempo”, que se
encontraram homens, mulheres e crianças que construíram trilhas. Muitas das quais as
narrativas oficiais não relataram e, outras tantas documentadas e registradas, a partir de
1912, quando outros companheiros de Bernardino - que já tinham a posse da terra a qual
deram o nome de Fazenda Astrolina, também vieram para o “novo local”, onde se
instalaram. Entre esses desbravadores, podemos enfatizar a chegada de Augusto Andrade
de Carvalho (1892/1956), que além da terra que marcou como sua, ainda, comprou a
27
Fazenda Astrolina e desta: “em 1923, separou dentro da mata bruta um pedaço de terra de
10 ha. para a formação do povoado” (OLIVEIRA. N, 2003, p. 54).
Foi assim que se formou Itapetinga que possuía apenas “cinco casas de taipa”. No
início,
por ser uma região de pedras brancas foi batizada pelo nome de “Itatinga”, palavra
que se origina dos Idiomas tupi e guarani (ita significa pedra e tinga significa branca). O
objetivo do fundador era concentrar na área o “abastecimento de alimentos”. Suprimentos
necessários, para os pioneiros que “trafegavam a pé ou no lombo de jumentos e cavalos”.
Surgem então, ritmos de trabalho e cultura que marcavam o “habitus” (re) produtor da
nova definição social (OLIVEIRA, 2003).
Dois anos mais tarde, Itatinga possuía quarenta casas registradas e, cerca de mil
habitantes, sendo elevada a condição de Vila
16
, que aconteceu devido à condição da terra
para o desenvolvimento agro-pastoril, cujo desenvolvimento da “prática econômica” estava
se tornando notório. Esse é o prenúncio da substituição da mata fechada pelo centro urbano
(GOMES, 2006).
Como ainda era um local isolado em meio da floresta, pois se encontrava longe de
qualquer centro civilizado, teve, por condição, de virar Distrito de Itambé
17
. Tem então em
seu nome adicionado o termo “PE”, (contam os mais idosos do grupo de trabalho de
História de Vida, que PE foi adicionado pelo sentido de raiz, pé no chão, exatamente por se
sentir assim, o povo da Vila) e Itatinga se transforma em Itapetinga
18
.
Por sua condição distrital, em 1934 elegeu três vereadores, Augusto Andrade de
Carvalho, Juvino Oliveira e Mariano Campos, que a representava na Câmara Municipal da
Sede. Com o transcorrer do tempo, em um período de mais ou menos quinze (15) anos foi
se tornando um dos centros mais ricos e populosos do Estado, pois durante essa época, o
território foi marcado pela expansão intensiva da cultura da pecuária, como demonstra o

16
-, Decreto Estadual por nº. 8.499, de 22 de junho de 1933 - Distrito de Vitória da Conquista. Com a
expansão econômica, “no dia 30 de março do ano de 1938, Decreto Estadual nº. 10.724, sede elevada à
categoria de Vila”
16
(GOMES, 2006, p.23).
17
Pela divisão administrativa interna do Estado da Bahia, Itatinga se transpõe para o Município de Itambé.
Pelo Decreto Estadual n.º 11.089 de 30 de novembro, publicado em 03 de dezembro de 1938 (DOE-BA).
18
- Getulio Vargas -Presidente do Brasil – institui a lei de nº. 5.901 de 23 de outubro de 1943. Normatizando
a divisão administrativa e judiciária do País. “Localidades com a mesma denominação, prevalece na seguinte
ordem de preferência: “Capital, Sede de: Comarca, Termo, Município, Distrito”. (ART. 7º, I); “localidade da
mesma categoria com o mesmo nome, quem possuir a mais tempo” (ART. 7º, II). Itatinga estava enquadrada
em ambos os itens (CAMPOS, 2006, p. 145).
28
Líder Político Juvino Oliveira, através de uma carta enviada ao Deputado Estadual
Adelmário Pinheiro em 1951, cujo texto dizia: “que nessa época Itapetinga, contava com
um rebanho bovino superior a cem (100.000) cabeças de gado e começava a produção em
média escala da suinocultura e de lanígeros” (OLIVEIRA, J. Apud NERY, 1995, p.28).
Evidente que essa produção, em nada utilizava dos conhecimentos tecnológicos e
científicos, somente a exploração dos produtores do solo, haja vista, a adequação
necessária do clima, cujo lema era: “pouco gasta, muito ganha”, formando, rapidamente,
uma maior concentração do “capital econômico”. Essa é a primeira forma de representação
constituída do poder do “capital econômico”. Causa que muito deveu a sua posição
territorial privilegiada, o que possibilitou cada vez mais, abrir novos pastos, que por sua
vez significava extrair e queimar a floresta. Motivo que conduz ao extermínio da mata
atlântica na região, mas isso não era razão, naquele momento, para qualquer
questionamento.
Esse desmatamento trazia benefícios como relata a carta de Juvino Oliveira (1951)
primeiro: pelo amplo “desenvolvimento da indústria extrativa de madeira”, fazendo com
que a Vila exportasse cerca de “50.000 pranchões, ripões e tábuas mensalmente”; segundo:
isso transformava, e ainda de forma lucrativa, tudo no seu entorno, em um grande campo
verde. Espaço maior, produção melhor para a cultura pecuarista; terceiro: gerou uma
grande fonte de “renda privada” e, publicamente o aumento do “comércio interno”; quarto:
com a produção primária, surgiu o desenvolvimento de “fábricas de calçados, laticínios,
saboarias, curtumes”; quinto, com a arrecadação financeira em alta, logo passam a “possuir
agências bancárias”, coisa que não existia ainda em suas proximidades; e finalmente, para
viabilizar essa produção era preciso mão-de-obra, mais pessoas chegavam à vila em busca
desses empregos (JUVINO OLIVEIRA, 1951)
19
.
O Distrito da Comarca de Itambé crescia velozmente, possuindo uma arrecadação
bem maior do que a sua sede. O que gerou diversas negociações políticas. Portanto, foi
nos bastidores da história, que se consagrou a emancipação Itapetinguense em 12 de
dezembro de 1952
20
. Isto aconteceu originado pelo poder econômico constituído, pois:
“tornava-se inaceitável para suas lideranças continuar a depender política e

19
- “Carta de Juvino” In: (NERY, 1995).
20
- O Governador Régis Pacheco desmembra Itapetinga do Município de Itambé, (...) como consta na lei nº.
“508 de 12 de dezembro de 1952” (IBGE, 1959, p 322-325).
29
administrativamente de Itambé, uma vez que o Distrito em vários aspectos ultrapassara em
muito a Sede, inclusive no volume de impostos arrecadados” (OLIVEIRA, 2003, p.66).
Sucede então, em 1954 a primeira eleição para o Município emancipado,
concomitante com a do Estado. Pela primeira vez, os habitantes de Itapetinga nomeariam
prefeito e vereadores para a cidade, governador, dois senadores, deputados federais e
deputados estaduais, como representantes da Bahia.
Mediante a tal condição, foram criados no Município de Itapetinga os diretórios
compostos pelos partidos: ‘PSD, UDN, PTB, PR e PRP’
21.
Desses diretórios nasceram duas
coligações: uma composta pela PR-PTB que apoiou a candidatura de Juvino Oliveira, e a
outra coligação PSD - PRP que amparou a candidatura de José Vaz Espinheira.
Como resultado, Juvino Oliveira foi nomeado e, ainda trouxe pela sua coligação
dez (10) dos doze (12) vereadores eleitos. Para melhor confirmar o exposto é que
escrevemos a partir de agora, alguns trechos do discurso proferido pelo designado Prefeito
Juvino Oliveira, que governou a cidade de Itapetinga de 1955 a 1959.
Dizer das nossas necessidades é falar de quase tudo, ou seja: luz e energia
diurna, hospital, grupos escolares, prédio próprio da prefeitura, arborização,
calçamentos, etc., Melhor seria reunir-se isto em duas palavras: precisamos de
tudo: mas precisando de tudo, seguirei apenas a minha legenda: DO PRECISO O
MAIS PRECISO (OLIVEIRA, J. Apud CAMPOS, 2006, p. 210).
A Política em Itapetinga foi então, marcada por dois grupos na visão de seus
moradores, nesse sentido:
Itapetinga, sempre foi marcada, por ter uma grande concentração de terra nas
mãos de pouquíssimos latifundiários, Por isso, sempre atribuir o seu crescimento
ao seu contexto político. Neste, como linha de frente, a presença de dois grandes
mitos
22
: Juvino Oliveira e José Vaz Espinheira. Como homem público, Juvino
Oliveira era um humanista, preocupava com a saúde e educação local. Tinha
uma grande apreensão com o isolamento da cultura erudita em que vivia a
cidade. Motivo que o levaria a convidar fazendeiros (não muito diferente dos
demais, mas tinha uma melhor escolarização), para fazer reuniões pelo menos

21
- Consta no Índice de Siglas.
22
- Juvino Oliveira (1904/1987) nascido na cidade de Guanambi, filho de fazendeiros dedicados a
agricultura, aos dezoito anos, como vendedor ambulante veio parar em Itatinga, em meados de 1933 adquiriu
umas terras, conhecida como Lagoa de Josué, esse foi o início para a consolidação de seu patrimônio. E,
José Vaz Espinheira (1914/1983) Também, de outra região. Filho de Pompílio Espinheira, pecuarista de
nome no Estado da Bahia e de quem, José Vaz Espinheira junto com seu irmão Alípio, herdou a Fazenda
Astrolina Por aqui já instalado, como era Engenheiro Civil e, visão t futurista. Dividiu uma grande
quantidade de terra para loteamentos. - Dados colhidos pela pesquisadora nas entrevistas de história de vida,
em 2008.
30
uma vez por mês para ler e discutir um jornal. Processo esse, que acabou por
culminar, na criação do clube ACI (Associação Cultural Itapetinguense
).
momento marcante para a cultura erudita Itapetinguense. Fato que só foi
possível, com a doação de um terreno feito por Juvino Oliveira e, da chegada do
primeiro médico, trazido por ele, para a cidade: o Sr. Orlando Borges Bahia, que
ficou no local até 1939. José Vaz Espinheira possuía uma visão totalmente
futurista, era um grande empreendedor. Claro que como capitalista, o lucro
também era seu objeto de desejo. Só que por essa determinação, criou um
sistema de loteamento que fez com que chegassem à cidade novos fazendeiros,
novas culturas. Esses novos moradores se misturaram a população já existente, o
que provocou o desenvolvimento urbano de Itapetinga. Além disso, Espinheira
criou a Estação de Captação de água
23
- SAAE- para o abastecimento de
Itapetinga, em uma terra doada da Fazenda Astrolina que, acredito, que até 2050
não teremos nenhum problema com a captação de água. (M
24
, 2008)
Pela explanação de (M), nasce o segundo tipo de poder em Itapetinga, procedente
da prática política. Pois, durante o período de transição e definição da cidade, a história
política foi marcada por esses homens que foram formadores de opinião e, ao mesmo
tempo, por pertencerem a forças partidárias políticas opostas, acabou, durante as suas
trajetórias públicas, constituindo dois grupos opostos, o que contribuiu para transformar o
futuro da zona pastoril.
Essas “hierarquias dominantes” galgaram pelo relato, representações mitológicas,
que se traduziram para os moradores de Itapetinga, por duas expressões comuns:
“humanistas e futuristas”. Esse sentido é configurado por Bourdieu (2007d) como um
mecanismo do “capital simbólico”, geralmente é chamado de “prestígio, reputação e fama”
na prática é “percebida e reconhecida como legítima”. Demonstra então, que as
representações, estão intimamente ligadas à cultura e à memória, pois juntas criam as
identificações e fornecem todos os “costumes”, “mitos”, “valores”, “crenças” e “visão de
mundo”, já que:
Sociedades religiosas, políticas, econômicas, familiares, grupos de amigos,
relações, e até reuniões efêmeras num salão, numa sala de espetáculos, na rua -
todas imobilizam o tempo à sua maneira, ou impõem a seus membros a ilusão de
que por menos por algum tempo, num mundo que está sempre mudando, certas
zonas adquiriram uma estabilidade e um equilíbrio relativo (HALBWACHS,
2006, pp. 155-156).
Assim, a memória desse tempo, concretizou e identificou a prática econômica e
política, originando outra prática, as:

23
- Foi no segundo mandato do Governo de Espinheira entre os anos de 1967 a 1971 que foi criado o SAAE
Serviço Autônomo de Água e Esgoto - Informação obtida pela pesquisadora através das entrevistas efetuadas
em 2008.
24
- A Entrevista de (M) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 12 de junho de
2008. Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
31
Relações de trabalho (...) de total submissão do trabalhador em relação ao
pecuarista que assumia uma postura paternalista. Desta forma, o trabalhador
rural subordinava-se ao patrão em todos os níveis – econômico e político -. Essa
relação criou espaço para a hegemonia política dos produtores através da
formação dos denominados “currais eleitorais”, onde a escolha dos governantes
estaria sempre definida, pelo chamado “voto de cabresto”(OLIVEIRA, 2003: p
71).
Portanto, a eleição em Itapetinga era vencida pelo candidato que recebesse maior
número de adeptos dos grandes produtores pecuaristas, (isso incluía a Indicação de Juvino
Oliveira ou José Vaz Espinheira) o que confirma a “existência” de “disposições” definidas
nesse “espaço social”. Para haver a aprovação, do candidato era preciso: em primeiro
lugar, apoiar o grupo dos produtores rurais, legando a esse, todos os incentivos para o
desenvolvimento da pecuária dentro da zona rural da cidade. É evidente que, em nível
Estadual e Federal, também só seriam eleitos àqueles que defendessem a “mesma
bandeira”. Assim, a cidade somente se beneficiaria, se a “distribuição dos poderes” fosse
de pleno acordo entre os produtores rurais que constituíam o grupo dominante na cidade.
Nesse sentido:
A política é o lugar, por excelência, da eficácia simbólica, ação que se exerce por
sinais capazes de produzir coisas sociais e, sobretudo, grupos. Pelo poder do
mais antigo dos efeitos metafísicos ligados à existência de um simbolismo, a
saber, aquele que permite que se tenha por existente tudo o que pode ser
significado (BOURDIEU, 2007e, p, 159).
A política enquanto representante da pecuária, aos poucos vai exercendo “sinais”
cada vez mais dominantes, enquanto que, na prática, a Itapetinga Urbana, se desenvolvia
ao lado de problemas não muito diferentes de outros lugares do interior do Brasil. Como
demonstrou o estudo de Oliveira (2003) as: “condições sanitárias eram precárias”, na havia
“saneamento público”, o que propiciava o surgimento de diversos tipos de doenças. Não se
possuía “saúde pública, hospitais, escolas”. A maioria da população nem mesmo assinava
o nome.
Referenda ainda Oliveira (2003), que a própria instalação da eletricidade
25
, como
“fator preponderante” para o desenvolvimento do “progresso” em uma “zona urbana”,
desde a sua organização através da iniciativa privada, era destinada apenas aos
consumidores capitalizados. E esta exclusividade, foi estendida para todos os moradores da
cidade, na década de 70, quando passou a funcionar como entidade pública.

25
- Desde a fase em que Itapetinga era ainda considerada como área territorial de Itambé, que a energia
elétrica já tinha sido implantada, através da organização da iniciativa privada (OLIVEIRA, 2003).
32
Diante de tal situação, é preciso analisar os fatores que conduziram a cidade do
apogeu à crise econômica, para isso é preciso transcorrer pelo nascimento e edificação de
suas instituições.
Instituições: Apogeu e Crise
Os grupos sociais de Itapetinga foram originados através da formação da mão de
obra ligados à zona rural. Entre os seus moradores, poucos eram os indivíduos que não
eram empregados diretamente nas fazendas, mesmo assim, ainda dependiam inteiramente
da produção da atividade pecuarista. Essa base de produção econômica pecuarista,
também, organizou a política local, e, por sua vez foi estabelecendo novas diretrizes de
instituição de poder. Consequentemente, no início da construção da zona pastoril de
Itapetinga, a sua economia nasceu sob uma força de mão de obra de base familiar, e foi:
“constituída nos moldes do interior brasileiro, à base da honradez, (...) mas a média social e
cultural, alcançava um nível muito aquém do desejado, mesmo para um núcleo ainda em
formação.” (BAHIA O. Apud NERY, 1995, p, 57).
Devido aos hábitos simples e o nível cultural do pecuarista, que teve origem
semelhante à maioria dos seus trabalhadores, as diferenças sociais não se
mostrava muito evidente inicialmente. Essa aparente semelhança cultural e
social conseguia dissimular conflitos e proporcionar uma relação de total
cooperação do trabalhador em relação ao produtor rural, o que propiciou uma
velocidade maior do capital econômico, fazendo com que as diferenças se
manifestassem mais adiante de forma muito mais evidente (OLIVEIRA, 2003, p.
58).
Principalmente, pelo fato da cidade está situada na zona pastoril, onde bastava saber
tratar do boi no pasto, não havia muita necessidade de uma mão de obra especializada. O
nível de instrução existente era somente para uma pequena parte da população que contava
apenas com o curso primário, - ou seja, o equivalente aos quatro primeiros anos do atual
ensino fundamental -, o que para aquelas pessoas não fazia diferença, por que “se quase
todos os ricos de então foram, no início de suas vidas, vaqueiros, tropeiros, boiadeiros,
machadeiros na derrubada das matas, etc., não havia como fazer a separação” (BAHIA, O.
Apud NERY, 1995: p. 59)
A partir da consagração do poder do grupo político de Juvino Oliveira, começa a
existir um desejo, pela sistematização de uma cultura com um tom mais erudito. Portanto,
33
direcionadora, para que no seio do pequeno povoado, fossem organizados costumes
diferenciados daqueles, até então, existentes. Ocorre em quatorze (14) de novembro de
1936, a fundação da ACI.
26
, com essa associação principia na cidade:
Cursos gratuitos de música, inglês e geografia, e onde se colocou uma estante
com vários livros que viria a se tornar a primeira biblioteca da cidade. Ali
também, se jogava xadrez e se realizava bailes. A partir de então, eram feitas
reuniões semanais, onde aconteciam desde ‘bate-papos’ sobre assuntos culturais
até as decisões mais importantes sobre os rumos da comunidade Itatinguense.
ACI esteve, a partir de então, no centro de todos os acontecimentos importantes
de Itapetinga. Em todos os setores de atividade, qualquer que fosse a iniciativa, a
ACI estaria lá a capitanear (OLIVEIRA, 2003, p 61).
Era o prenúncio de um “emaranhado”, que vai sendo tecido, para marcar as
“diferenças culturais”, consequentemente, novas representações sociais para a cidade.
Futuro anunciado também, porque aos poucos vai desembarcando em Itapetinga, “pessoas
de outras regiões”, como das cidades de “Vitória da Conquista e Porções”, ou então, de
“localidades bem mais distantes”. Como estes eram centros urbanos mais desenvolvidos,
muitos do que chegavam, eram “filhos de famílias tradicionais” em seus territórios e, se
deslocavam para Itapetinga por causa da facilidade para “comprar uma terra barata” e de
garantia de boa produção (NERY, 1995).
Entre esses novos fazendeiros, alguns possuíam formação escolar, outros, traziam
do berço familiar a constituição de uma cultura mais tradicional. Desta forma, da mistura
desses novos “produtores” pecuaristas, com os “ricos” já existentes, formaram um grupo
de “agentes sociais”, bem mais elitizados, começando então, a dar sinais das diferenças
sociais, até o momento, não percebidas. Esse grupo composto por essa nova “Elite
Itapetinguense”, abre o caminho para novas representações, o que acaba por incidir, na
construção da trajetória de urbanização da cidade, a solidificação de algumas instituições
(CAMPOS, 2006).
Essas formas, de maneira nenhuma, são impostas ou arbitrárias, muito menos,
ocorrem em um “vazio social”, mas pelas formas que socialmente vão sendo mobilizadas.
Razão em que nas práticas sociais: “a dominação não é o efeito direto e simples da ação
exercida por um conjunto de agentes, investidos de poderes e coerção,” (BOURDIEU,
2004a, p, 52).

26
- Consta na Lista de Siglas.
34
É “nessas redes cruzadas” entre “dominantes e dominados”, que vão sendo
engendradas a sistematização da formação religiosa e da educação sistematizada. Assim, a
primeira capela católica havia sido edificada no povoado em 1926. Desse modo, até 1927,
o arraial estava sob a administração da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, com sede na
Cidade de Vitória da Conquista, após esse ano, passa para o poder da Paróquia de São
Sebastião em Itambé. E, agora em solo Itapetinguense surgia o clamor para a formação de
um “corpo de especialistas” que dentro do local proporcionassem a “gestão dos bens de
salvação” religiosa. No entanto, vários foram os problemas que surgiram para formar uma
Paróquia.
Quando abordo a configuração de uma Paróquia, estou falando em ter um Padre
permanentemente instalado na cidade, que possa ser encarregado de encaminha
suas ovelhas para a salvação. Decorre que para existir uma paróquia, a cidade
deveria ser emancipada e, este não era o caso do povoado. Além, do que
Itapetinga, mesmo tendo a sua capela construída, tinha uma grande dificuldade,
naquela época o transporte era feito no lombo de cavalo, ficava então, pela
própria distância de Itambé, a espera de um padre, já que este só vinha à
localidade quando tinha condições para se dirigir ao arraial. Todos esses fatores
foram agravados pelo sistema hierárquico que até hoje existe na Igreja católica.
Onde todas as decisões passam pelo poder central conferida na pessoa do Papa
no Vaticano, seguido pelo domínio das Arquidioceses, e posteriormente pelo
comando das Dioceses até chegar as Paróquias. Dessa forma, a população da
cidade, que desejava ter uma edificação religiosa organizada, vivia submetida às
ocorrências que são preponderantes dessa hierarquia, portanto, refém de ser
submetidos a uma religiosidade periódica. (H
27
, 2008).
Por causa do panorama desenhado por (H), abre espaço, para a solidificação na
cidade da Religião Batista. Ocasionada pela “Fundação da 1ª Igreja Batista” (CAMPOS,
2006, p.115). Sobre esse acontecimento:
A história da cidade de Itapetinga e da 1ª Igreja batista se confunde. Não
podemos pensar no nascimento de uma independentemente do nascimento da
outra. Quando os desbravadores da região, os pioneiros da cidade, chegaram
derrubando matas, abrindo fazendas, semeando capim e dando início ao arraial
batizado de Itatinga, chegaram com eles alguns crentes batistas de diferentes
regiões do Estado, notadamente do Sertão de Vitória da Conquista, que
buscavam as matas mais ao sul do estado, para possuir a terra. Vinham no
propósito de derrubar florestas, abrir clareiras, plantar capim, criar gado e levar o
evangelho a todas as criaturas. Aqueles Batistas traziam, sem sombra de dúvida,
além do propósito de progredir, também a decisão de, ao lado da semeadura do
capim, semear o que traziam no coração e na alma, a semente do evangelho.
(SANTOS Apud CAMPOS, 2006, p. 119).

27
- A Entrevista de (H) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 28 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
35
O que está contido nesse relato, perpassa pelo próprio entendimento dos “agentes
sociais”, em ver a Religião, não somente como um “veículo de fé”, mas também, como
uma organização para a manutenção da tradição e dos “bons costumes”. Como análise,
para essa estrutura religiosa ansiada pela coletividade Itapetinguense, podemos confirmar
com Bourdieu (2007c), quando analisou que o desenvolvimento das “religiões universais”,
constituídas como “campos” relativamente “autônomos” foram na história humana, um dos
marcos para a ampliação das “Urbanizações”. Haja vista, que não seria impertinente
lembrar, que a “dispersão espacial rural”, atrapalhava as trocas “econômicas e simbólicas”,
por conseguinte, a tomada de “consciência” dos interesses “coletivos”. Nesse sentido:
O maior mérito de Weber foi o de haver salientado o fato de que a urbanização
(com as transformações que provoca) contribui para a “racionalização” e para a
“moralização” da religião apenas na medida em que a religião favorece o
desenvolvimento de um corpo de especialistas incumbidos da gestão dos bens de
salvação. (BOURDIEU, 2007c, p. 35).
Bourdieu (2007c) considera ainda, que a religião constituída, enquanto “campo”,
assume não somente uma representação “ideológica e prática”, mas também, no campo da
“política”, conduz a absoluta legitimação do poder, pois: “reforça a força material ou
simbólica, possível de ser mobilizada por um grupo social e (...) permite a legitimação de
todas as propriedades características de um estilo de vida”. (Idem. p. 35).
Existem assim campos fundados sobre umhabitus”, como o do religioso, por
exemplo, que se constitui como algo não interessado em trocas monetárias, pois a sua
lógica repousa no fato da “oferenda” e do “sacrifício”. Por isso, essa “consagração”
religiosa, efetuada na prática social, serve como justificativa para que grupos sociais
dominantes mantenham uma hegemonia recebida e legitimada pelos dominados. Pois para
esses, “simbolicamente”, são instituídas as compensações da “promessa de salvação”
divina, portanto uma aceitação pacífica da sua condição terrena dentro do espaço social.
Se a religião, que possui esse efeito ideológico, prático e político de legitimação do
poder foi difícil de se estabelecer dentro do território de Itapetinga, o que falar então, sobre
a educação escolar, instituição que, simbolicamente, é legitimadora da “reprodução social”
e, tem o poder de representação estabelecida, tanto no “senso comum das práticas do
cotidiano”, como, pelas “obras objetivadas”, pois:
A escola que deveria fornecer a educação para todos os indivíduos,
proporcionando-lhes instrumentos que pudessem garantir não só a sua
36
liberdade, mas também a sua ascensão social. Crença amplamente
compartilhada foi contestada por duas obras publicadas por P. Bourdieu e
seus colaboradores: Les héritiers (1964), referente à universidade, e La
reproduction (1970), que se propõe a construir uma teoria geral do
funcionamento do sistema escolar. Os resultados desses estudos são
conclusivos: a escola, longe de reduzir as desigualdades sociais, contribui
para reproduzi-las. (BONNEWITZ. 2005, p. 113).
Para “garantir a ascensão, pois a cidade precisava de professores para avançar em
seu crescimento”, foram palavras proferidas por Juvino Oliveira, em seu discurso de
inauguração da Escola Normal que recebeu seu nome para homenageá-lo. A escola foi
instalada, como uma parte anexa ao Colégio Alfredo Dutra, marco na história educacional,
não somente em Itapetinga, mas em toda a região circunvizinha, pois, muitos daqueles que
não podiam ir para longe, agora possuíam um ponto de referência para seus estudos. O
Colégio Alfredo Dutra foi edificado no dia 14 de julho de 1951 e, foi por muitas vezes
considerado como um “grande divisor” na história da cidade. Com o tempo, e, a partir do
mandato do Prefeito de José Vaz Espinheira, cresceu o número de escolas públicas e
particulares na zona urbana e rural de Itapetinga. (GOMES. 2006).
No entanto, sem querermos entrar no mérito discursivo sobre esse momento de
atividade escolar sistematizada, pois já havia outro processo econômico, que originou uma
fase de extrema pobreza e miséria em Itapetinga, agravando a vida de toda a sua
população. Recorremos ao depoimento da Sra. Athenée Ribeiro de Oliveira Cruz, cujo
resgate através de suas palavras, corroborou para entendermos, como na prática social foi
se manifestando a construção das diferenças sociais em Itapetinga. Todavia, ao entrar com
o recurso da história dessa vida, a intenção está vinculada ao fato, dela ser um grande
resgate da memória “vivida (...)num panorama vivo (...) para reencontrar a imagem do
passado” (HALBWACHS. 2006, p, 152)
Como também demonstramos aquilo que interessa a um grupo é sedimentado em
sua memória e, nesse tecer e remexer de “relações sociais”, a teia da “ordem social”
Itapetinguense, vai sendo instalada. Pois, como diz Bourdieu (2003), o importante é
compreender o “campo” com o qual e contra o qual cada um se faz. Ao problematizar essa
questão, o teórico nos instiga a traçar um quadro formado por dois diálogos: pela entrevista
supramencionada e por um relato, recolhido pela pesquisadora, em outra história de vida.
Deste modo, pelas Memórias de Itapetinga:
37
a- Início e desenrolar das Práticas Educativas.
“- Nasci depressa, sem esperar pela parteira. Na sede da fazenda dos meus avós maternos, Minha mãe
doente, motivo para cuidar dos meus irmãos e sobre os grandes lajedos, lavava as suas roupinhas. Aos (9)
nove anos já lia e escrevia orientada por minha mãe. O curso primário foi realizado em regime de internato
no Colégio Marcelino Mendes, em Conquista, o curso ginasial no Colégio Taylor-Egydio, em Jaguaquara”.
(ATHENÉE CRUZ
28
. 2002)
“- Nasci na roça, pela mão de uma parteira, quando pequena meu pai, trabalhava nessa área rural de
Itapetinga, roçando, plantando capim e, minha mãe lavava roupa de ganho. Eu tinha seis (6) irmãos, todos
menores do que eu, E veja eu era bem pequena, mas mesmo assim, cuidava de todos os afazeres da casa.
Havia uma grande dificuldade em ir à escola.... Eu não estudei... Aqui não tinha escola. Além do que, meus
pais eram muito pobres, não sabiam ler nem escrever, não dava muito valor para essas coisas, o importante
era aprender a lavar bem, passar bem, saber cozinhar, enfim ser uma boa dona de casa”. (A
29
. 2008)
b- O Término das Práticas educativas
“ Para cursar a Universidade, fui levada ao Rio de Janeiro, sendo graduada em Nutrição pelo Instituto de
Nutrição da Guanabara, em (1952). Acredito ter sido a primeira pessoa residente em Itapetinga, juntamente
com a prima Eneclydes Campos, depois Wilson Ribeiro, a sair da cidade e concluir um curso universitário.
Depois de formada, passei a residir no Recife em razão do casamento (1953). Nutricionista na cidade do Recife
e professora da Universidade Federal de Pernambuco até a aposentadoria” (ATHENÉE CRUZ. 2002)
“-Eu era analfabeta. Éramos então, preparadas para casar bem cedo. Com 15 anos me casei. Ele também,
não sabia ler nem escrever. Morei na zona urbana uns tempos. Aí meu marido foi trabalhar na roça, e por
isso, acabamos morando um bom tempo em uma fazenda. Pouco depois de ter tido o meu quinto filho me
separei. Eles eram pequenos, fiquei sozinha, deve ter uns 20 anos que não sei onde ele está. Assim que voltei
para a cidade, tinha que sustentar a casa e criar os filhos. Como lavava muito bem, me transformei em
lavadeira de roupa”. (A. 2008)
c- O Resultado das Praticas educativas.
“- Atualmente retornei à Universidade para revisão do meu livro Técnicas de Per Capita em Preparações,
com previsão de ser editado em 2003. Para diversificar minhas atividades, tornei-me artista plástica,
dedicando-me à pintura de porcelana, vidro, tela e tecido. As horas vagas, completo com a leitura de bons
livros, principalmente de poesias, que gosto de declamar. Sou casada há 49 anos. Mãe de um doutor em
Física teórica pela Universidade de Oxford-Inglaterra, e professor de uma Universidade e, de uma
nutricionista e psicóloga, que exerce a profissão no Ministério da Saúde, em Salvador”. (ATHENÉE CRUZ.
2002).
-Atualmente sou aposentada como lavadeira, e foi assim que criei os meus cinco filhos naturais e mais três
adotados. Mas diante da minha vida, eu falei com as minhas filhas, que elas tinham obrigação em estudar,
porque eu sou para elas o maior espelho. Acredito que todo esforço que tive, valeu à pena, porque minhas
filhas hoje estão formadas. Uma fez o curso de Pedagogia e, as outras fizeram o curso médio. Só tenho um
filho, que não quis nada com o estudo. Passo meu tempo nas atividades do PROLER
30
, nas escolas dando
depoimento para ver se esses jovens querem voltar e se interessam por estudar e nas minhas horas de folga
adoro ver televisão”. (A. 2008)

28
- A entrevista contendo a história de vida da Sra. Athenée Ribeiro de Oliveira Cruz, foi elaborada e
veiculada pelo Jornal Dimensão, em dezembro de 2002, para homenagear os 50 anos de emancipação política
da cidade – (JORNAL DIMENSÃO, 2002) – A entrevista completa se encontra em anexo (6) nesse
trabalho.
29
- A Entrevista de (A.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 15 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
30
- PROLER - Curso de extensão Organizado pela UESB.
38
Como expõe a Sra. Athenée Cruz (2002), os moradores de Itapetinga em seus
primórdios, não tinham nenhuma percepção das diferenças “culturais” e sociais.
Percebemos pelo depoimento, que, “patrões e “vaqueiros” formavam juntos uma única
família. Não havia “proibições”, nem “distinções”, muito menos, “disposições
diferenciadas na ocupação do espaço social”, pelo menos, na aparência da realidade
prática, dentro do cotidiano Itapetinguense.
É por isso, que primeiro médico de Itapetinga Orlando Bahia (1936), disse que nas
“festas”, fossem essas: “casamento, aniversário, festa religiosa” ou ligada à “produção
pecuarista”, estavam lá “todos” os Itapetinguenses sem exceção. O que ainda se
encontrava nessa ocasião, de acordo com o médico, era que, “entre essas pessoas” havia
“um pequeno desnível econômico”. Mas isso não conduzia nesse momento histórico, a
estabelecermos, “nenhuma espécie de dominação”.
Ao enfatizarmos a “não existência de grupos dominantes e dominados”, no início
da história Itapetinguense, Bahia (1936) nos mostra que, no movimento de formação da
cidade, havia toda uma “dignidade entre os seus grupos sociais”. Mas, este é apenas um
elemento, que possibilita a identificação de novos elementos se entrecruzando com outros,
já instalados. Motivo que nos leva a refletir que as representações que permearam o
processo de formação de Itapetinga de maneira nenhuma, podem ser analisadas, fora dos
conflitos dos jogos sociais, mas observadas, na própria sucessão dos fatos relatados por
(CRUZ. 2002) e (A. 2008), isto por que:
De acordo com Abric (1998), a representação funciona como um sistema de
interpretação da realidade que rege as relações dos indivíduos com o meio físico
e social: ela vai determinar seus comportamentos e suas práticas. Para ele, a
representação é um guia para a ação, ela orienta as ações e as relações sociais.
(MENDES. 2004, p. 109).
Essa ação é comprovada então, pelo diálogo, que no princípio não tinha muita
diferença, entre a educação recebida pela a Sra. Athenée Cruz (2002) filha de um grande
proprietário de terra e por (A. 2008) filha de um trabalhador rural. Esse fato também
apareceu em outros depoimentos, quando 60% dos entrevistados, falaram das suas histórias
familiares. Ficando comprovado que a educação era mais ou menos igual para as crianças,
tomando por base a referência da idade dessas duas entrevistas. Ou seja, para as meninas
Itapetinguenses era reservada a aprendizagem do exercício doméstico. Isso não significava
que, se a representação determinava os comportamentos, os propósitos fossem os mesmos,
39
pois, pelas palavras das depoentes, uma era pelo prazer de auxiliar a “mãe” e, a outra era
por obrigação.
Ao demonstrarmos essas oposições sociais, percebemos a necessidade de
examinarmos como foram estabelecidos e definidos os “estilos de vida” que se formaram
na cidade. E se essas oposições sociais, não foram conscientemente constituídas, elas
foram muito bem fincadas, nas relações ratificadas através da própria realidade das práticas
educativas. Basta analisarmos que as filhas dos grandes produtores rurais, “eram enviadas”
para os grandes centros urbanos para estudar e, muitas vezes construíam as suas vidas
nestas localidades, enquanto que, as filhas dos trabalhadores rurais, casavam e assim,
reproduziam a sua vida. Não muito diferente era a educação voltada para os homens. Dessa
maneira, enquanto os filhos dos pobres viravam trabalhadores rurais, os filhos dos ricos
usufruíam dos benefícios dados pela terra. Efeitos do sistema capitalista e, do grande
apogeu pecuarista Itapetinguense.
O contraste legitima outra questão: as diferenças educacionais, decorrentes das
próprias “disposições ocupadas” no “espaço social”, acabam por induzir também, a
“posição” que se ocupa no “espaço físico”: “uma foi para a cidade grande e a outra para a
fazenda”. Sentido que Bourdieu (2007e) diz ser necessário saber que o “campo social”,
por ser dinâmico, se amplia e cria “estilos de vida” com opiniões e práticas diferenciadas.
Retratando: a entrevistada (A. 2008) gosta de “assistir televisão”; mantém ações
beneficentes através de um programa da UESB; e, entre os seus descendentes tem uma
filha que conseguiu chegar a um curso superior. A entrevistada Cruz (2002) gosta de ler e
escrever; produz e admira artes práticas; mantém atividades beneficentes em suas horas
vagas; e, os seus descendentes mantiveram o mesmo padrão de vida. Esses são fatores
“simbólicos” importantes na determinação e configuração do próprio posicionamento
“social dos atores”, pois:
As representações dos agentes variam segundo sua posição (e os interesses que
estão associados a ela) e segundo seu habitus como sistema de esquemas de
percepção e apreciação, como estruturas cognitivas e avaliatórias que eles
adquirem através da experiência durável de uma posição do mundo social. O
habitus é ao mesmo tempo um sistema de esquemas de produção de práticas e
um sistema de esquemas de percepção e apreciação das práticas. E, nos dois
casos, suas operações exprimem a posição social em que foi construído.
(BOURDIEU. 2004, p 158).
40
Sendo assim, torna-se possível, distinguir dois fortes “estilos de vida” em
Itapetinga: herdeiros dos pecuaristas, cujo papel é de distinção, marcado pelo capital que
possuem, portanto, dominante e, outros herdeiros dos trabalhadores rurais, que se
converteram em dominados. Por causa, dessa separação, houve uma falta de incentivo
inicial para as práticas educativas, o que gerou graves problemas para o futuro da cidade.
Mas, longo ainda seria o tempo que se teria o reconhecimento dentro das práticas
econômicas e sociais do Itapetinguense, a necessidade de ter em sua cidade, os
conhecimentos científicos e tecnológicos, para a organização da sua cadeia produtiva.
No entanto, essa ainda era uma época áurea e, foi a partir daí que houve algumas
reuniões na ACI, onde Juvino Oliveira, como Prefeito, começou a projetar o lançamento
do nome da cidade para além de seu entorno. Assim, junto com outros membros do grupo
social composto pelos pecuaristas, materializou-se a primeira exposição agropecuária de
Itapetinga
31
. Para viabilizar esse movimento:
O primeiro passo foi à criação da Associação Rural de Itapetinga (ARI),
[atualmente Sindicato Rural de Itapetinga]
32
em 1956, que coordenaria todas as
ações para viabilizar o evento, começando pela construção do parque que foi
localizado ao lado de um campo de pouso para aviões. Em pouco tempo, foi
executada toda a infra-estrutura necessária para a realização da primeira
exposição, pistas arquibancadas e pavilhões cobertos de palha, além de
numerosos currais e barracas. [No episódio
33
], havia visitante de todo o país, (...)
O sucesso alcançado na primeira Exposição abriu espaço para que ai fosse
realizado a primeira Exposição Agropecuária Estadual no interior da Bahia,
conjuntamente com a segunda Exposição agropecuária de Itapetinga, no ano de
1958. Atrelado a isto, foram destinadas verbas federais para a construção
definitiva de pavilhões e outras obras no parque de Exposições e verbas
consecutivas para criar na cidade as condições necessárias para receber os
ilustres visitantes. (OLIVEIRA, N. 2003, pp. 69-70).
Com evidência, a Exposição Agropecuária arremessou o nome de Itapetinga tanto
para o cenário Estadual quanto para o cenário Federal. E as exposições passaram a
acontecer sucessivamente de dois em dois anos. Então, a cidade foi proclamada como “A
Capital da Pecuária”, cujos criadores rurais estavam cada vez mais capitalizados. Dessa
maneira, a vida econômica de Itapetinga era resumida da seguinte maneira: “até 1968, 60%
dos fazendeiros da região se dedicavam exclusivamente à engorda de bois, os demais 40%
recriavam bezerros e os vendiam aos engordadores”. (CAMPOS. 2006: p 292).

31
- 1º Exposição Agropecuária de Itapetinga de 20 a 23 de maio de 1956.
32
- Grifo nosso.
33
- Grifo nosso.
41
Herdeira desse contexto, no início da década de 80, Itapetinga foi marcada, mais
uma vez, pelo agravamento de uma crise econômica, responsável por um alto índice de
desemprego, e forte “exclusão social”. Para HASSEGAWA (1992), isto leva a cidade a
vivenciar um período de crise, cuja história já havia começado a se evidenciar nos anos 60,
quando a crise nacional se fez sentir mais fortemente, também em caráter regional.
Continua o autor a dizer que, a crise produtiva pecuarista na região, foi o verdadeiro
motivo que levou a ter todo um movimento populacional, para se buscar novas
possibilidades de investimentos econômicos. Nesse processo, finalmente, o pecuarista
procurou introduzir “novas raças”
34
, transformando a cultura da pecuária de Itapetinga em
mista – corte e leiteira-. Mas igualmente, segundo Oliveira (2003), essa situação para a
“mão de obra do trabalhador”, não representou “uma melhoria financeira”, ou abertura de
novos postos de trabalho, foi antes, “um retrocesso”, em relação à “remuneração anterior”,
pois o “proletarizou” ainda mais, terminando com qualquer “mobilidade social” que
pudesse até então, existir.
O crescimento pecuarista da produção leiteira, de acordo com HASSEGAWA
(1992), atraiu grandes “empresas multinacionais”. O que abriu novos postos de trabalho.
Lógico que para a implantação dessas empresas, foi necessário a oferta de incentivos
fiscais da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Como
exemplo desse acordo, podemos citar: a inauguração da fábrica de leite em pó “Leite
Glória do Nordeste LTDA”, em 1969, do grupo multinacional “CARNATION”, sediada em
Los Angeles” dos Estados Unidos.
Contudo, mesmo com todas as “alterações processadas” a partir da “crise”, o
“pecuarista” nada modificou, no que diz respeito aos “investimentos em tecnologia” para o
incremento da produção. O motivo estava atrelado aos “resquícios históricos” que, desde o
inicio da produção, utilizava somente recursos naturais. Este fato acabou gerando “grandes
conflitos entre as empresas e produtores rurais”. Pois as empresas, que têm por base
empreendimentos capitalistas, estavam em busca de lucros maiores e, determinavam
através de pressões a aceleração da modernização do setor pecuarista rural. Por outro lado,

34
Até a crise o tipo bovino existente na região era da criação do boi crioulo, com a crise foram introduzidas
às raças zebu, holandês e pardo-suiço. (Informações obtidas nas entrevistas de histórias de vida, coletadas
pela pesquisadora.
42
“os grandes pecuaristas” que conseguiram realizar tal pleito deixaram de “fora os médios e
os pequenos produtores”, que foram obrigados a sair do “mercado”. (CAMPOS. 2006)
Logo, além da pobreza gerada pela grande maioria da mão de obra sem
especialização, que era refém os produtores ruralistas, ainda havia a expropriação do
pequeno e médio pecuarista. O que se comprova pelas palavras de Bourdieu (2004) quando
coloca que a “prática” só pode ser entendida como o “produto de uma relação dialética
entre uma situação e um habitus” e que esse é forjado no interior das relações sociais
“exteriores”, “necessárias” e “independentes das vontades individuais”.
Avaliamos, então que, mesmo tendo um desenvolvimento econômico, causado pela
implantação de novas empresas, o fato de não existir um costume local, no sentido de
construir uma consciência coletiva da grande maioria dos produtores e trabalhadores rurais,
não produziu uma mobilidade econômica nesse espaço social. Isto confirma que até a
década de 90 na cidade, todas as modificações dependiam dos interesses dos “agentes”
detentores do poder econômico e consequentemente político.
A partir das eleições municipais ocorridas em 1996, quando o “Grupo Carlista”,
que tinha perdido o poder na década de 80, regressa a liderança do Município, o Governo
Estadual voltou a investir na cidade. Período caracterizado por um grande volume de
verbas estaduais. Só que: “mais uma vez, nessa situação, pôde se perceber que as ações do
Estado são canalizadas na direção de atender aos interesses daqueles que detém o domínio
econômico. Ignorando as verdadeiras demandas da cidade”. (OLIVEIRA. 2003, p 113)
Consequentemente, a primeira preocupação do “Grupo Carlista junto com o grupo
dominante de Itapetinga” foi diversificar a economia. A partir desse contexto, ocorreu a
implantação de “duas grandes indústrias”: a IBB (Indústria Brasileira de Bicicleta) em
setembro de 1997 e A Azaléia (Azaléia do Nordeste S/A) em 12 de dezembro de 1998.
Além destas, a economia também, se viu movimentada pelo Frigorífico do Grupo Bertin,
revendendo a carne de produção Itapetinguense para outros mercados consumidores. Para
que houvesse a vinda dessas empresas, principalmente, a “Azaléia”, foi preciso ofertar
incentivos de caráter fiscal, onde “Estado e Município”, arcaram com investimentos como:
a instalação de “galpões industriais, de água, de energia, das comunicações”. (GOMES.
2006).
43
Ao mesmo tempo, com a implantação das novas indústrias, surgiu dentro da cidade,
a possibilidade da oferta de trabalho para a população local e do seu entorno, o que trouxe
uma imigração de mão de obra maior do que a necessidade das empresas. Fato originado,
principalmente pela indústria calçadista, - Azaléia -. Essa empresa possui uma
intensificação de utilização de mão-de-obra, já que suas operações básicas para a produção
perpassam por: corte do couro, preparação, costura, montagem e acabamento. Ou seja, um
trabalho que tem uma divisão baseada na teoria taylorista-fordista
35
. Onde: ”a necessidade
de um grande contingente de trabalhadores conduz a baixos níveis salariais, alto índice de
rotatividade, parcelização e simplificação do trabalho e, a utilização de trabalhadores não
qualificados”. (SEPLANTEC. 2000, p.14).
Podemos perceber que o pólo calçadista do Estado da Bahia foi firmado, mediante a
fundação de ações no fornecimento de artefatos e insumos. Nessa conjuntura: “toda essa
cadeia produtiva calçadista da Bahia somente se mantém competitiva no mercado, por
causa dessas empresas fornecedoras de insumos especializados, cujos instrumentos estão
nos componentes, equipamentos, serviços educacionais, suporte técnico etc.”.
(SEPLANTEC. 2000, p, 52)
Esse fato, no entanto, segundo a pesquisa de Oliveira (2003) alterou a estrutura
urbana Itapetinguense e, a cidade começou a demonstrar sinais de crescimento
desordenado próprios de regiões periféricas de grandes cidades. Atualmente, apesar de ser
uma cidade com apenas 60 mil habitantes, já possui em seu interior a vivência de uma
onda de violência só vista nos grandes centros urbanos. Justifica assim, as novas
mobilizações simbólicas que estão sendo construídas. Apesar de que a imagem de
Itapetinga ainda é representada como um lugar tranquilo e, que está em pleno
desenvolvimento, servindo até mesmo como base de várias investigações científicas, como
demonstra a pesquisa feita por Nery:

35
- Taylorista – Teoria elaborada por Frederick W Taylor (1856-1915): visava o aumento da produtividade
através da racionalização do trabalho, para isto, deveria simplificar ao máximo a produção, tornando as
operações únicas e repetitivas. Fordista – Metodo elaborado Henry Ford (1863-1947), onde a racionalização
da produção aprimora os princípios de Taylor, o autor, elabora um plano para diminuir os custos, assim, a
produção deveria ser em massa e aparelhada com tecnologia capaz de desenvolver ao máximo a
produtividade por operário. Veja esse quadro teórico mais detalhado em: RODRIGUES NETO, B. Marx.
Taylor. Ford. São Paulo: Brasiliense, 1988.
44
O pólo calçadista da Bahia promoveu uma reestruturação da produção e
provocou impactos de diversa natureza, dentre estes, destaca-se a geração de
emprego e renda, com resultados expressivos para a economia local e regional.
A escala de abrangência ultrapassa os limites regionais e dinamiza setores da
economia, sobretudo, o comércio, que absorve a injeção de capital através dos
salários percebidos pelos funcionários diretamente envolvidos nas relações de
trabalho. Queiroz (1997: pp.49-50) assinala que em Itapetinga a indústria
calçadista é responsável pela reestruturação local, em virtude da inserção do
grande capital através da implantação de estabelecimentos industriais, em
conseqüência, gerou um número de empregos significativos. Acrescenta que,
esses projetos podem causar impactos regionais mais expressivos, em relação
aos investimentos, que estão sendo direcionados para áreas mais dinâmicas da
economia. (...) Dessa forma, o município de Itapetinga torna-se sede de um dos
maiores empreendimentos no setor de calçados, através da empresa Azaléia que
representa uma das maiores indústrias da América Latina. O projeto visa gerar
dez mil empregos diretos provocando assim, impactos significativos em escala
regional e nacional cuja inserção reflete-se no contexto global. “(
NERY.
2003, pp. 136-137)
Nessa condição, a cidade já totalmente urbanizada (Painel de Fotos 1)
36
- adquiriu
uma forma de cultura própria, cuja função específica é mediada por interesses políticos e
econômicos em torno do movimento pecuarista. Desse modo, sempre existiu duas cadeias
produtivas totalmente envolvidas: uma ligada à atividade extrativa e desmatamento do
solo; e a outra, pela formação do pasto para a engorda dos bois. Isso serviu para marcar
duas “ações” dentro das relações de trabalho na cidade: por um lado, as ações paternalistas
do patrão com o empregado, fato marcante, para desenrolar das produções sociais que
foram determinantes para as diferenças sociais neste território e, por outro lado, a
manutenção de status e conservação de posses (grandes latifúndios), cuja dominação não
foi apreendida apenas pela força do “capital econômico”, mas de uma forma muito mais
violenta, pela força da imposição do “capital simbólico”.
Segundo a ótica de Bourdieu (2007c), mesmo que os primeiros (empregados)
ocupem posições dependentes dos segundos (patrões), isso não implica que esta “ordem”
seja eternamente cristalizada, pois, se existem indivíduos em posições dominantes que
elaboram táticas para a manutenção do seu status quo, toda regra pode ser quebrada. Por
essa razão, a população de Itapetinga, como qualquer outra, deve ser vista como um
conjunto de “campos”, cuja movimentação estará sempre designada por uma relação de
“jogos” e “forças”, mesmo que esses não sejam delimitados por uma linha territorial.
Razão pela qual, Bourdieu (2007e) ao analisar o “estado do campo”, vislumbra as “formas

36
- O Painel de fotos com a Itapetinga antiga e desbravadores e a Itapetinga urbanizada se encontra no anexo
(7) nesse trabalho.
45
incorporadas”, que correspondem em atitudes, tanto para a manutenção como para o
combate das representações.
Dessa maneira, as perspectivas de aceitação, concorrência e competição
simbolicamente instituídas através do poder da dominação da cultura pecuarista,
orientaram as ações práticas representadas, nas relações sociais, culturais, econômicas,
políticas, religiosas e educacionais de Itapetinga. Assim, possibilita-nos, então, esclarecer
como nesse território de hierarquizações consolidadas ocorreu à inserção da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), que será conhecida no capítulo II, deste trabalho.
46
CAPÍTULO II.
UNIVERSIDADE: FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NA
REGIÃO SUDOESTE DA BAHIA
Entre o período de “1962 até o início de 1970” foi implantada a pedra fundamental
para o surgimento de “três Universidades Baianas
37
(UEFS, UNEB e UESB)
38
”. Entre
essas, destacamos aqui, a criação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB),
cujo alicerce de construção foi ocasionado, pela possibilidade de instalar no interior
baiano, cursos de “licenciatura curta” para a formação de professores. Sobre esse aspecto
o que ocorreu “foi uma tentativa incipiente do governo em trazer para o interior da Bahia
esse nível de ensino, que naquela época estava todo centralizado na Capital”. (BARBOSA,
2001. p.53).
Essa descentralização, para Barbosa (2001) teve um “caráter utilitarista”, visando
superar dois grandes problemas, primeiro, possibilitou ao Estado reorganizar de uma
maneira mais equitativa, a “distribuição da população estudantil”, que aumentava
gradativamente e, começava a “superlotar a Capital”; segundo, com a implantação das
faculdades de formação de professores, haveria o atendimento a um “mercado” que estava
“aberto”, e tinha uma grande demanda de ofertas de vagas. Fato abraçado politicamente
pelas localidades, pois essa constituição para formar universidades, atendia a uma
necessidade dessas regiões em aventarem as próprias educações locais.
A Constituição da Universidade Multicampi
Na Região Sudoeste da Bahia, inicialmente, surgiu a “Fundação Educacional do
Sudoeste”, que passou a ser a mantenedora das faculdades de formação para professores
em Jequié e Vitória da Conquista. Com a sua extinção, ou seja, seis anos após a integração

37
-Até a década de 60, no Estado da Bahia: “existiam apenas duas Universidades e algumas instituições de
ensino superior”. Com: “O plano Integral de educação do governo do estado em 1969”, instituiu a
“interiorização do ensino superior”, o que efetivou a “Lei nº. 1.802 de 25 de outubro de 1962”, voltada para a
criação das “faculdades de filosofia, Ciências e Letras de Vitória da Conquista, Jequié, Feira de Santana,
Ilhéus, Caetité e Juazeiro”. Além dessas, a Bahia tinha a “Faculdade de agronomia do médio São Francisco
FAMESF”, que tinha sido criada na década de cinqüenta. (CONHECENDO A UESB. 1999, p, 8).
38
- Consta na lista de siglas.
47
e o funcionamento como Autarquia Universidade do Sudoeste, a Instituição foi autorizada
pelo MEC identificada juridicamente, como Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -
UESB, através do Decreto Nº 94.250, de 22/04/1987, que autorizou o funcionamento da
UESB, em sistema multicampi, vinculada à Secretaria da Educação e Cultura.
(CONHECENDO A UESB. 1999).
Foram então, extintas as Faculdades, cedendo lugar aos “campi” universitários de
Itapetinga, Jequié e Vitória da Conquista, sendo este último Município considerado Sede
da Administração da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Finalmente se
tem aprovado a “Autarquia Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia”
39
.
(RELATÓRIO DE RECREDENCIAMENTO DA UESB. 2006)
O período final, entre a incorporação das faculdades de licenciatura até a formação
da universidade foi marcado por crises econômicas para a Região Sudoeste, motivadas
pelas falências das monoculturas: pecuarista e cafeicultora. Sendo que a integração dos três
Campi da Universidade foi proposta pelo Governo do Estado e forças políticas. Nessas
circunstâncias, se configurou diversos seminários, em torno da “Carta-Consulta”
40
, que foi
encaminhada à população. Discussões foram ostentadas entre os segmentos políticos e
civis organizados. Em um desse debates, acontece a seguinte explanação feita pelo então,
Secretário da Educação e Cultura do Estado da Bahia, Eraldo Tinoco Melo:
A elaboração dessa Carta Consulta procurou atender precipuamente aos
interesses da comunidade, de forma que, ao lado das pesquisas e dos
levantamentos realizados na região, achamos por bem debater o assunto
amplamente com toda a coletividade de Vitória da Conquista e da região no
sentido de identificar os reais interesses da comunidade. (...) resultando a
definição dos cursos que a Universidade deveria ter e também o cronograma de
implantação da Universidade. (...) A previsão era de um Curso de Zootecnia em
Itapetinga e um Curso de Agronomia com especialidade em Fitotecnia em
Vitória da Conquista. (...) Diante dessas palavras introdutórias, quero propor a
seguinte metodologia para esse encontro: ouviremos, em primeiro lugar, uma
explanação do professor Juscelino Barreto, técnico do CEFET, que participou
desde o inicio dos trabalhos de elaboração da Carta Consulta e de definição dos
cursos, (...) em seguida, ouviremos o representante do CREA; depois, ouviremos
os representantes da Associação de Engenheiros Agrônomos e, depois,

39
- Em 25 de agosto de 1981, com o Decreto nº. 28.169, foi aprovado o regulamento de implantação da
Universidade, incorporando a ela “a Faculdade de Administração de Vitória da Conquista e outras unidades
que viessem a ser instituídas”. (CONHECENDO A UESB. 1999. p. 10).
40
Em 1984, sob a Coordenação do “Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público – ISP -, da
Universidade Federal da Bahia - UFBA” - convênio celebrado entre a “Universidade Estadual do Sudoeste” e
a Fundação de “Apoio à Pesquisa e Extensão – FAPEX” -, foi contratado o Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento, para elaborar um documento norteador, denominado: “Carta Consulta”. Este documento
tramitou no Conselho Federal de Educação (CFE), objetivando autorização da Universidade pelo órgão
competente. (CONHECENDO A UESB).
48
transferiremos a qualquer pessoa, a qualquer entidade a possibilidade de opinar
e, diante dos argumentos, diante daquilo que for debatido conjuntamente,
tomaremos uma decisão - a de prosseguir na implantação desses cursos já em
1982 ou "tirar o pé do acelerador" e fazermos uma revisão de todo trabalho até
agora realizado.
(MELO. 2001, pp. 151-154).
Identificamos neste pronunciamento, a existência do poder econômico e político
por trás da materialização para a presença física da Universidade para o Sudoeste da Bahia.
Forças essas que teciam os “jogos sociais”, recorrendo a um bem público com um único
objetivo: alternativa para tirar a região da crise e estagnação. Ao fortalecer as zonas
produtivas, continuava toda manutenção da força hierárquica da dominação existente.
Evidências comprovadas até mesmo, na determinação para que se pudessem pronunciar
durante o transcorrer da plenária. Assim, estão instituídas as bases para a formação dessa
universidade multicampi
Com tal propósito, alguns anos mais tarde se constituiu a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), instituída pela Lei Delegada Nº 12 de 30 de dezembro de
1980, autorizada pelo Decreto Federal Nº 250, de 22 de abril de 1987, reestruturada pela
Lei Nº 7.176, de 10 de setembro de 1997 e credenciada através do Decreto Estadual Nº
344, de 27 de maio de 1998 como uma Entidade Autárquica, dotada de personalidade de
Direito Público Interno e Regime Especial de Ensino, Pesquisa e Extensão, de caráter
multicampi. (RELATÓRIO DO RECREDENCIAMENTO DA UESB. 2006, p, 45).
A UESB nasce inserida em uma situação de precária “condição” em “infra-
estrutura” pela qual sofre as Universidades Estaduais no “Brasil”; baixa qualificação
profissional, falta de participação dos docentes e discentes em produções científicas,
nenhuma realização de projetos de pesquisas e extensões. Situação ainda agravada pela
falta de condições para a fixação do pessoal titulado e pelo fato de serem os “professores
mal remunerados pela UESB. Quando faziam pós-graduação, terminavam sendo
recrutados por outras escolas”. (MEDEIROS, 2001, p, 423).
No Brasil, qualquer instituição de ensino superior, para ser considerada uma
universidade inclui o caráter para Souza (2001), daquilo que foi definido nos “artigos 43 e
44 da Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996”, ou no “Artigo 207 da Constituição Cidadã de
1988”, que rege: “as Universidades gozam de autonomia didático-científica e de gestão
financeira e patrimonial, mas, obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão” (SOUZA, 2001, p, 157).
49
Portanto, desenvolver o ensino é função axial das universidades, mas nela também,
deve ser inseparável, o ensino da pesquisa, como ambos da extensão, pois:
Assim como o ensino e a pesquisa nasceram com a instituição universitária lá
pelo século XII, e a pesquisa, com precedência sobre o ensino, foi modelo
construído por Humboldt para a reforma universitária alemã do século XIX, a
extensão adviria principalmente da concepção norte-americana de universidade.
Gente pragmática e utilitária em tudo que pensa e faz, os americanos, a partir da
instituição das Land Grants no século XIX, foram forjando um modelo de
universidade capaz de abrir-se para a comunidade externa, extra acadêmica, que
passaria a receber todos os benefícios dos avanços e das inovações obtidos em
seus cursos e programas. Incluem-se como atividades extensionistas das
Universidades as campanhas, programas culturais e de assistência social
dirigidos a não alunos, outro tanto endereçado a alunos, professores e
funcionários da própria Universidade. (SOUZA, 2001, p, 157).
Esse caminho apontado por Souza (2001) é privilegiado para a “conquista do
saber”. Mas entre as Universidades que possuem esse triplé estão as Instituições de Ensino
Superior, como é o caso da UESB, que são consideradas como multicampi. Sobre esse
aspecto, Fialho (2005), com base em uma pesquisa de sua autoria em 1996, diz que a idéia
de universidade Multicampi surgiu no cenário brasileiro, como “herança”, principalmente
dos “Estados Unidos”, e, prioritariamente, ocorreu no território nacional, em “instituições
estaduais”. A autora diz que no Brasil de “31 (trinta e uma) universidades estaduais”,
enquanto aparato educacional superior, “25 (vinte e cinco)” são universidades multicampi.
São elas: UEPA, UNITINS, FUNESA, UECE, URCA, UVA, UEMA, UEPB, UPE,
UESPI, URRN, UNEMAT, UEMG, UERJ, UNESP, USP, UNICAMP, UEL, UEM,
UEPG, UNICENTRO, UNIOESTE, UDESC, UNEB e UESB
41
.
As “instituições multicampi”, geralmente, ficam situadas em “áreas geográficas
diversificadas”, proporcionando, principalmente, “Formação de professores”, o acesso ao
“curso superior das camadas mais populares” e mais “distantes dos grandes centros
urbanos”. Então, quando falamos em universidade multicampi, devemos considerar a grave
“diferença” entre os “orçamentos” que são destinados, em grande parte para instituições
que faz parte do eixo “Sul- Sudeste” e, o descaso existente para aquelas que estão situadas
no eixo “Norte-Nordeste (FIALHO. 2005).
No entanto, por volta do “Recredenciamento” da UESB, que ocorreu 11 de abril de
2006, tendo como Relatora: Conselheira Renée Albagli Nogueira, a respeito da situação
multicampi da UESB, foi emitido pela comissão verificadora o seguinte parecer:

41
- Consta na lista de siglas.
50
O fato de ser uma universidade multicampi, antes de ser um fator limitante, no
sentido da necessidade de maior volume de recursos para atendimento a
demandas diversificadas, contribuiu para ampliação de sua área de influência
atingindo regiões estratégicas do Estado da Bahia, o que tem favorecido uma
maior participação na problemática regional. (RELATÓRIO DO
RECREDENCIAMENTO DA UESB. 2006, p, 45).
Essa Universidade que alcançou a aprovação do seu “Recredenciamento”, pelo
período de oito anos a partir da data mencionada, teve a incorporação da Faculdade de
Zootecnia
42
de Itapetinga, autorizada em 23 de janeiro de 1985. Mas o curso de Zootecnia
já existia em Itapetinga e, três foram os fatores básicos que levaram a sua criação:
desenvolvimento da pecuária e sistematização de uma “formação técnica”, gestada na
própria região; necessidade do Estado em “descentralizar” a oferta do ensino e por
questões políticas partidárias, pois para Oliveira (2003, p.100): “se deu num período pré-
eleitoral; por exclusiva vontade do poder Executivo em nível municipal e estadual”. Assim,
cabe relatarmos seus desafios e realizações no Sudoeste da Bahia.
UESB: Desafios e Realizações
A criação do curso de zootecnia em Itapetinga foi por uma vontade política, que
tinha uma clara intenção, de acordo com Oliveira (2003): “ganhar a eleição municipal e
estadual”. Razão, que determinou que houvesse na época políticos de todas as instâncias -
municipais e estaduais – induzindo para que a população se organizasse e, clamasse pela
vinda da faculdade para o território. Como demonstrou o discurso proferido por Melo
(2001) que foi referido anteriormente. Tão bem presente representado nessa “memória
viva” a lembrança daqueles primeiros dias:
Há 25 anos... quando cheguei a Itapetinga a UESB ainda não existia. A cidade
naquela época era muito pequena, pacata e vivia da monocultura. O fazendeiro
era criador de gado e, como tal, criava o gado solto, esperando apenas ganhar
peso para vender. Dessa forma o fazendeiro era acostumado a depender da
chuva para que o gado engordasse, com o capim que crescia com as queimadas
do solo. Era uma criação sem assistência sem conhecimento técnico. Nesse
mesmo período chegava a Itapetinga, também, o Banco do Nordeste,
financiando a pecuária de corte e de leite, houve uma mudança importantíssima,

42
- Foi autorizada, pelo Decreto Federal nº. 90.841de 23 de janeiro de 1985, publicado no D.O.U. de 24.01.85
e reconhecido pela portaria nº. 447, de 14 de março de 1991. No período inicial, esse curso, contava com o
número de 40 vagas. Posteriormente, houve outra resolução interna, elaborada pelo CONSEPE com o n°
19/98, que autorizou a ampliação de vagas em Zootecnia de 40 para 60 vagas anuais. Sendo, são ofertadas 30
(trinta) vagas por semestre, através do concurso de vestibular. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DE
ZOOTECNIA, 2008).
51
que foi a mentalidade desta comunidade pecuarista. Nesse período eu já
trabalhava na EMARC-CEPLAC-IT, por eu ser, naquela época, uma das poucas
licenciadas na cidade, eu tinha um espaço muito grande na comunidade
educacional. E foi através da luta de um grupo elitizado, do qual eu fazia parte e,
com o incentivo político do Prefeito Espinheira, que o curso de Zootecnia
chegou a Itapetinga. Isto ocorreu, com os trabalhos da equipe do Departamento
de Ensino Superior da Secretaria de Educação e Cultura. ( L
43
.
2008.)
Esse depoimento descreve, portanto, como nasceu o embrião para “formar o curso
superior em Itapetinga”. Ou seja, de acordo com a depoente, ratificamos que essa ação
somente ocorreu por decisão de um grupo que estava no centro do poder político e cultural
da cidade. Outro aspecto a ser observado é a “mudança de mentalidade”. Para que a região
angariasse recursos em crédito rural, concedidos pelo sistema financeiro para se livrar da
crise seria uma exigência dos investidores a modernização da atividade pecuarista. E, foi
através desse movimento político e cultural fortalecido pelo viés econômico, que ocorreu
em agosto de 1982 a implantação do alicerce da Faculdade de Zootecnia em Itapetinga,
que inicialmente:
Havia sido instalada, mas ainda, não se constituía em uma universidade estadual.
Começou todo um processo para que isto ocorresse. Aos poucos esse processo
acaba por acontecer, e assim, com meninos e meninas que vinham de outros
Estados. A UESB de Itapetinga passa a ser referência nacional, pela qualidade
do ensino ministrado, como também contribuiu muito para a mudança da
mentalidade dos fazendeiros. (L
44
. 2008)
Pelas palavras de (L), o primeiro passo estava dado, “para romper com barreiras
colocadas pelos costumes criados pela produção pecuarista”. É nesse sentido que surgem
os “conflitos simbólicos” e ao mesmo tempo a “imposição” que garante toda a “reprodução
da ordem social”. Mas nem sempre a difusão de uma nova cultura é automaticamente
legitimada. (BONNEWITZ 2005).
Como não era amplamente aceita, a Faculdade de Zootecnia, enfrentou descaso e
descrédito da população, a tal ponto que não tinha mesmo, o reconhecimento da sua
existência, como prova:
No inicio, existia certa barreira entre os pecuaristas e a Universidade, tanto que,
quando cheguei aqui e perguntei onde ficava o Curso de Zootecnia, duas ou três
pessoas não souberam me informar e me perguntaram: "Emarc?" Eu disse, não, o
Curso de Zootecnia. Hoje, com o trabalho que desenvolvemos, nós conseguimos

43
- A Entrevista de (L.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 19 de junho de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais)..
44
- idem
52
modificar essa história. Hoje, a UESB é extremamente respeitada na região. Os
pecuaristas, os produtores rurais nos procuram muito e temos desenvolvido um
trabalho de parceria em prol do desenvolvimento regional. ( RECH, C
45
. 2001,
p, 108)
De acordo com o depoimento da Professora, a Faculdade de Zootecnia dada à
circunstância de sua implantação, não teve a aceitação imediata da população mais carente,
pois eram alheios a todo o processo de construção do Curso, nem tampouco tinha a
ascendência de uma grande parcela dos “pecuaristas”, que mesmo fazendo parte do
domínio político e econômico, estavam acostumados apenas, a utilizar o solo sem nenhum
tipo de investimento tecnológico ou científico. Finalmente, podemos comprovar a partir
desse relato e dos fatos históricos, que a vinda da UESB para a Região representou apenas
um jogo de domínio político. E foi assim que esse curso se implantou e fez com que
alguns nomes se tornassem parte deste momento da Faculdade no território Itapetinguense.
Foram eles:
O professor Ivan Costa Quaresma, diretor Fundador, e onze funcionários
técnico-administrativos e de apoio: Regina Célia Ferreira Silva; Carlos Augusto
Ferrari; Tércia Maria Lucas Pegado de Azevedo; Lucimar Santana de Oliveira;
Adalice Gustavo da Silva; Diniz Cáscia dos Santos; Clarice Souza Lima; Manoel
Pereira; Edilsa Santos Costa e Arnaldo Ferreira dos Santos. E os docentes:
Marcondes Viana da Silva; Everaldino Celestino dos Santos; Hamilton Farias de
Lima; Maria Helena Sousa Ribeiro; José Vieira dos Santos; Dermeval Araújo
Furtado; João Teodoro de Almeida Neto; Ermival Carneiro e Silva; Antônio
Pitágoras de Freitas Filho; Antônio Roberto da Paixão Ribeiro; Eronides Vieira
de Azevedo; Eron Sardinha; Maria Déa Ramos Carneiro e Elly Aparecida Rozzo
Perez Ferrari. (COSTA
46
. 2001, p, 447)
Nessa trajetória esses pioneiros vivenciaram problemas que ocorrem em qualquer
atividade de “direitos sociais”, principalmente, quando se trata do “campo educacional”,
historicamente, no Brasil, negligenciado. Pois a “tão discutida Universidade”, somente
possuía três salas no prédio de uma escola do Estado chamado: Ginásio Agro-Industrial,
sendo que, uma sala era o espaço destinado para aulas, uma para o já constituído,
Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais - DEBI e a terceira sala, reservada para
a Secretaria de Curso e a Biblioteca.
Em vários dos relatos das histórias de vida das fontes escritas, apresenta-se que no
ano de 1984, era a “Professora Maria Déa Ramos Carneiro” a “Diretora Departamental”.

45
- Depoimento da Professora Carmem Lúcia de Souza Rech do Departamento de Tecnologia Rural e
Animal – DTRA – Campus Itapetinga. In UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
46
- Depoimento da Técnica Administrativa Sebastiana Marcelino Costa - UESB do Campus de Itapetinga.
In: UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
53
Período em que, a Faculdade de Zootecnia passa a funcionar no Anexo de uma Escola do
ensino Fundamental - Nair D' Esquivel Jandiroba. Nesse contexto, a Faculdade de
Zootecnia:
Apresentava diversas deficiências do ponto de vista da infra-estrutura, da
produção cientifica, e da sua própria dinâmica. Vivíamos uma série de
deficiências, inclusive com o pessoal mais novo que tinha entrado na
Universidade. Tínhamos (...) a necessidade da transferência da Faculdade para
uma área maior, onde pudesse programar a área de experimentos para o Curso de
Zootecnia com instalações adequadas. Foi uma luta muito grande e um dos
momentos mais significativos foi quando, numa reunião em 1988, com
representações estudantis das vinte e seis escolas de zootecnia do Brasil, em
Itapetinga. O próprio movimento estudantil entendeu que o mais importante
naquele momento era justamente travar uma luta a fim de adquirir uma área para
funcionamento do curso. Desse evento saiu um grande movimento. E a
Prefeitura de Itapetinga junto com o Governo do Estado e alguns pecuaristas
fizeram uma parceria e adquiriu a área onde hoje é o Campus Juvino Oliveira,
isso no ano de 1988. (MEIRA F
47
. 2001, p 26)
Sobre esse aspecto, podemos complementar como ocorreu o processo de
Construção do Campus Juvino Oliveira:
Somente quando ganhei a eleição Municipal, substituído então, o
Prefeito José Vaz Espinheira, que junto ao Governador do Estado e
comunidade dos pecuaristas fizemos a aquisição do terreno onde está
instalado o campus Juvino Oliveira, Isto aconteceu por volta de 1988.
Assim, fizemos a doação do valor, na época simbólico, pois a terra (de
Dó de Oliveira, filho de Juvino), tinha um preço muito maior do o que
nos foi cobrado. A negociação para a cotização foi feita por mim. A
arrecadação do valor financeiro ocorreu na seguinte ordem: PMI
48
entrou
com 500 mil cruzeiros, Pecuaristas da cidade com um milhão de
cruzeiros e o Estado com um milhão de cruzeiro, formou então, o valor
total de dois milhões e 500 mil cruzeiros. (MICHEL HAGGE
49
. 2008)
Esse relato que o Prefeito nos faz só aconteceu e foi possível, depois de uma época,
em o bloco Carlista estava no comando da política Estadual, liderado então, pelo falecido
Senador Antônio Carlos Magalhães. Esse poder incorporado por tal grupo o tornava, além
de porta voz, também um retaliador de toda ação populacional do Estado. Como Itapetinga
ousou ir de encontro à manutenção desse domínio, elegendo um prefeito de outro partido
político, sofreu represálias que foram causadoras de um processo pela análise de Oliveira
(2003) “de sua maior estagnação populacional”. Haja vista, que a grande maioria dos

47
- Depoimento do Professor Aderbal de Castro Meira Filho do Departamento de Tecnologia Rural e Animal
– DTRA- Campus de Itapetinga. In UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
48
- Consta na lista de siglas.
49
- A Entrevista do Excelentíssimo Prefeito Michel Hagge (em seu segundo exercício) foi concedida a
Pesquisadora, através de questionário semi estruturado, em 18 de dezembro de 2008. Dados do depoente
consta nas Fontes Primárias (Orais).
54
jovens da cidade, migrou para outros centros urbanos em busca de emprego. Pouco tempo
depois, ocorre também, uma transformação da política do Estado.
Derivado do supramencionado contexto político, a UESB, que tinha começado a
sua existência em 1982 e se estadualizado três (3) anos após, vivia sem um local próprio.
A partir das mudanças políticas no Estado e Município, finalmente, houve toda a
mobilização de professores, alunos para ter um espaço que de fato pudesse comportar uma
universidade. (OLIVEIRA. 2003)
Dessa forma, se houve o interesse político, em trazer esse curso superior, como
meio, para compor uma profissionalização, visando, unicamente, o desenvolvimento agro-
pastoril, aos poucos, o que se tem é a substituição da força da cultura produtiva pecuarista,
até então dominante, por uma nova dominação, não menos política, apenas transfigurada
com a pele da educação. Pelo menos essa é a maneira como ela está representada pela
memória. Como afirmação:
O que mais me chama a atenção é a representação que a Universidade tem
exercido na comunidade, porque, aqui em Itapetinga, praticamente quase não se
viam jovens. Só havia pessoas muito novas ou então de idade bem avançada,
pessoas que já estavam com o lar formado. A Universidade, até nesse sentido,
teve influencias e contribuição, pois já se vêem jovens na cidade, e isso fez com
que a economia também mudasse: são pensionatos, restaurantes, proporcionando
mais trabalho para as pessoas. Surgiu uma novo grupo social, pois antes havia
apenas aquelas pessoas de poder aquisitivo muito baixo ou muito alto. Agora tem
um grupo, formado por professores e alunos que vêm de fora. Vejo também que
hoje há mais respeito com a qualidade nas Coisas por que há profissionais
qualificados que podem opinar. Há uma contribuição dos profissionais nas
atividades da comunidade. (BARBOSA
50
, M. 2001, pp. 353-354).
O dado novo que aparece no relato é o sentido do “poder da UESB” em ampliar a
população, pois se transformou em um mecanismo de manter a presença de jovens na
cidade, esse motivo também apareceu em 70% das entrevistas, organizadas por nós. Esse
entrecruzamento, para os “agentes sociais”, se transformou em um pólo de modificações,
onde a Universidade passa a ser vista como um aparato para a “melhoria social”. Isto fica
muito claro na entrevista do Professor José Luís Rech
51
, ao dizer que:
Lembro-me de uma reunião que tivemos, no dia dez ou doze de agosto de 1984,
quando a Diretora Maria Déa chamou algumas pessoas da comunidade, de

50
- Depoimento da Professora Márcia Prates Barbosa do Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais –
DEBI – Campus de Itapetinga. In UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
51
- Depoimento do Professor do Departamento de Tecnologia Rural e Animal – DTRA – Campus de
Itapetinga. In UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
55
instituições, como Maçonaria, Rotary e outras, para apresentar os novos
professores. Na verdade, achei de início aquilo meio provinciano, mas, por
respeito, eu aceitei. Apresentavam-nos às pessoas, e até foi bom, porque tivemos
um primeiro contato com a comunidade, discutimos o Curso de Zootecnia e uma
série de coisas do próprio plano do curso. Lembro-me de um senhor, Rômulo
Coelho que disse que a Universidade, campus de Itapetinga, iria passar o
progresso para Itapetinga e aquilo me marcou. Recentemente, nos dezoito anos
do Curso de Zootecnia, quando dávamos uma palestra, vi aquele senhor e me
lembrei do que ele disse. Realmente nós constatamos que toda parte social e até
política de Itapetinga é discutida dentro da Universidade. Eu falei recentemente
no Rotary que não foi a Azaléia quem trouxe esse progresso para Itapetinga.
Quem trouxe o progresso cultural, de formação, de base, de nova visão para
algumas classes sociais foi a UESB. Todos aqueles movimentos de greve, que
fazíamos, provocavam discussões, e as pessoas começaram a se interessar por
uma nova visão. Conseguimos abrir caminhos numa terra onde existia certo
domínio dos fazendeiros, que se fechava em cúpula. Hoje há uma resposta tão
concreta, que, por exemplo, eu e os professores da Universidade começamos a
ser convidados para instituições e, até, a participar de governos municipais.
(RECH. J. 2001, p, 245).
Como declara o Professor: “achei de início aquilo meio provinciano”, era um
costume de Itapetinga apresentar, pelo menos para a sua elite, qualquer novo membro que
se integrasse a terra, mas com a chegada de muitos outros professores e alunos de fora, ela
foi perdendo esse caráter rural e se tornando, cada vez mais, urbana. Essas pessoas
importadas pela Universidade vinham com novas idéias, criavam novas atitudes. Outro
momento da entrevista que vale uma apreciação é: “a Universidade traria o progresso para
Itapetinga”. Ora de que “progresso” está se falando? Seria aquele, onde, se abriria
“caminhos numa terra onde existia certo domínio dos fazendeiros”, para atingir novos
valores dominantes, oriundos da cultura erudita? Como resposta a essa reflexão:
As frações dominantes, cujo poder assenta no capital econômico, têm em vista
impor a legitimidade da sua dominação quer por meio da própria produção
simbólica, quer por intermédio dos ideólogos conservadores os quais só
verdadeiramente servem os interesses dos dominantes por acréscimo, ameaçando
sempre desviar em seu proveito o poder de definição do mundo social que detêm
por delegação; a fração dominada (letrados ou “intelectuais” e “artistas”,
segundo a época) tende sempre a colocar o - capital especifico a que ela deve a
sua posição, no Topo da hierarquia dos princípios de hierarquização.
(BOURDIEU, 2007d, p. p12)
Em outras palavras, o ensino acadêmico serve como mecanismo para moldar os
homens “dotados” de um programa homogêneo de “percepção” e de “ação”, que pode ser
considerado como definidores: “no interior de um espaço” (BOURDIEU. 2007c, p, 214).
Essa força dominante ainda tardaria a se efetivar, pois conforme Barbosa (2001),
enquanto os campi de Vitória da Conquista e Jequié ampliavam os cursos ofertados, e já
anunciavam um princípio da sistematização de pesquisa e extensão. Em “Itapetinga”,
56
devido às “barreiras” existentes, continuou ainda por “muito tempo”, apenas com um
curso: “Zootecnia”.
A década de 90 foi marcante por dois grandes motivos para Itapetinga: primeiro, os
fatores econômicos agravados pela falência da monocultura, que deixou a região em um
universo de extrema pobreza; segundo, a pressão feita pelos latifundiários produtores de
leite e carne, por uma política que possibilitasse na região a expansão da sua zona
industrial. Esses foram os motivos que conduziram o Itapetinguense a principiar uma
cobrança dos setores públicos e institucionais, para o fortalecimento da área educacional.
(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PEDAGOGIA. 2003).
Foi então, realizada uma carta consulta para Itapetinga e micro região, que veio
como resposta da população, a solicitação para que a UESB oferecesse uma formação na
área educacional. Surge então, o Curso de Pedagogia
52
. Sobre o período compreendido
entre implantação do curso de Zootecnia até a ampliação do curso de Pedagogia
transcorreram dezesseis 16 anos, ainda podemos acrescentar que:
O curso de Zootecnia foi criado de uma forma imposta, sem haver uma pesquisa
para saber se realmente, era uma profissão que se queria para Itapetinga. Foi
simplesmente, uma postura política, a de dizer que aqui era região de pecuária,
sem saber se era isso que a população queria. (...) Muitas dificuldades existiram,
mas, com o tempo, principalmente com a implantação do Curso de Pedagogia, a
UESB começou realmente a se consolidar como Instituição de Ensino Superior,
por atender com esse curso a uma demanda muito grande formada pelos
professores de 1° e 2° graus das Redes Municipais e Estaduais da Região.
(NASCIMENTO
53
, F. 2001, p, 214)
Após essa abertura, foram criados: o Curso de Engenharia de Alimentos (1997);
Curso de Engenharia Ambiental (2005); Curso de Licenciatura em Química (2005); Curso
de Licenciatura em Biologia (2006); especialização modalidade Lato Sensu em Meio
Ambiente, dois cursos de pós-graduação modalidade – Mestrado - em Zootecnia (2003) e
Engenharia de Alimentos (2005) e finalmente um doutorado em Zootecnia (2007). Assim,
a trajetória percorrida pela UESB campus de Itapetinga, em seus vinte e cinco (25) anos de

52
- Autorização, conforme a Resolução do Conselho Estadual de Educação - CEE-, de nº. 084/97, publicada
no Diário Oficial da Bahia de 24/12/1997, no ano de 1998. 2001. Reconhecido em 19 de julho de 2005, pelo
Decreto-Lei nº. 9.522 de 23 de agosto de 2005, publicado no Diário Oficial de 24 de agosto de 2005.
(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PEDAGOGIA. 2006)
53
- Depoimento do Professor João Cardoso do Nascimento Filho do Departamento de Estudos Básicos e
Instrumentais – DEBI – Campus de Itapetinga. In. UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
57
existência foi marcada por dificuldades, desafios, mas também por realizações. (PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PEDAGOGIA, 2008).
A década de 90 também foi desafiante para a UESB, pois além de elaborar o seu
Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) ainda teria que cumpri-lo. O PDI é o
documento onde estão definidas as Diretrizes Pedagógicas que orientam as ações de uma
Instituição de Educação Superior. Esse Plano deve ser elaborado a cada período de cinco
anos. Nele devem estar explicitadas a Estrutura Organizacional da Instituição do Ensino
Superior (IES) a e as Atividades e Programas Educacionais que ela almeja desenvolver
nesse período.
O PDI da UESB elaborado em maio de 1998, foi construído de maneira a observar
a necessidade de identificar as potencialidades de crescimento da Universidade. Ele foi
criado e trouxe como principal missão para a UESB: “Produzir, sistematizar e socializar
conhecimentos para a formação de profissionais e cidadãos, visando à promoção do
desenvolvimento e a melhoria da qualidade da vida”. (DADOS INSTITUCIONAIS DA
UESB. 2002)
Ao chegar a sua maturidade a Universidade está caminhando para a consolidação
desse objetivo. E ao gerar programas estratégicos, que indiscutivelmente, serviram para
transformar a imagem da instituição perante a coletividade Itapetinguense, destacaram-se:
a política de capacitação docente; políticas de atendimento aos discentes; iniciação
científica; financiamento e incentivo a pesquisa; infra-estrutura, e etc., (Idem. 2002)
As sistematizações dessas metas foram de suma relevância para a universidade,
pois, proporcionaram o seu recredenciamento em 2006. Com base no relatório do
recredenciamento, demonstramos três (3) critérios que foram considerados mais
importantes:
1º critério - A “política de Capacitação Docente” cuja “evolução no quantitativo de
Mestres e Doutores” foi considerado como um dos pontos mais relevantes, para o
“Recredenciamento” em 2006. Demonstrativo contido no gráfico abaixo:
58
1- Evolução no Quadro de Qualificação dos Professores Efetivos da UESB – Período:
2001 a 2005
Fonte: Organizado pela Comissão Para o Recredenciamento da UESB.
A base de dados de 2001 a 2005 foi aqui considerada, pois foi a referência de
recredenciamento da UESB. Assim, para análise do gráfico, apresentamos no quadro, a
seguir, a distribuição dos docentes com Curso “Stricto Sensu”, por área de conhecimento,
conforme classificação do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ).
Fonte: Organizado pela Comissão Para o Recredenciamento da UESB.
Para acelerar o Processo de Capacitação Docente e Técnico, com o objetivo de
ampliar o quadro de programas Stricto Sensu, a UESB, fechou convênios com Instituições
do país que têm os seus cursos de pós-graduações recomendados pela CAPES. Assim, tem
convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de
Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade
Federal de Viçosa (UFV), Universidade Nacional de Brasília (UNB), Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE) e convênios internacionais com a Universidade de Liegé e
Gembloux-Bélgica e com a Universidade de São Carlos da Guatemala. Além disso,
Quadro 1 - Distribuição dos Docentes Com Curso Stricto Sensu – (Base 2005)
ÁREA Nº. DE MESTRES Nº. DE DOUTORES
Ciências Agrárias 37 31
Ciências Biológicas 25 31
Engenharias 11 02
Ciências Exatas e da Terra 56 20
Ciências Humanas 131 23
Ciências da Saúde 31 07
Ciências Sociais e Aplicadas 38 02
Lingüística, Letras e Artes. 20 10
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100
150
200
250
300
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MESTRES
DOUTORES
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349
46
232
268
314
54
75
99
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59
existem mais dois programas conveniados após 2006, que foi firmado com a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Universidade Federal do Estado da
Bahia (UFBA).
2º critério - Também que merece destaque, para o recredenciamento da UESB, foi à
política de atendimento aos discentes, nas questões relativas ao acesso, onde, foram
considerados os cursos criados e a ampliação das vagas, que segundo o relatório, foi de
“aproximadamente 200% na oferta anual, aumentando de 480 vagas em 1997 para 1635
em 2005”. De acordo, apresenta o Gráfico do período.
2 - Evolução do Quadro de Vagas - Período de 1998 a 2005
Fonte: PROGRAD, 2004. Organizado pela Comissão de Recredenciamento da UESB.
Pela análise do gráfico, podemos verificar que a partir de 2003 a cada ano vem
aumentando, consideravelmente, o ingresso de alunos na Instituição, atingindo um grande
crescimento no número de matrículas nos Cursos de Graduação em seus três “campi”.
Portanto, em 1998, a comunidade estudantil era “formada por 2.430 graduandos”; no ano
de 2003, esse número foi ampliado “para 6.020”. Em 2004 atingiu o número de “6.269”,
alunos, chegando em 2005 com o total de “7.022 alunos”. O aumento deste número de
alunos reflete em toda região Sudoeste, “confirmando a importância social da
Universidade” (RELATÓRIO RECREDENCIAMENTO DA UESB, 2006, p. 22).
Essa evolução é demonstrada no gráfico abaixo:
10
11
12
13
14
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61
mil, quinhentos e oitenta e quatro) “Essa expansão da Educação Superior” foi considerada
pela Comissão como “positiva” tanto para o Recredenciamento(2006) quanto para o
crescimento da Região.
3º critério - Outro fator considerado foi à política de atendimento aos discentes, por
provocar a iniciação científica, que compôs um dos principais mecanismos de formação e
de consolidação da Pesquisa e da Pós-Graduação Institucional. Além de trazer, toda uma
indissociabilidade entre a pesquisa e os alunos da graduação.
5 - Evolução do quantitativo de bolsas, no período de 1999 a 2004
1999 2000 2001 2002 2003 2004
Fonte: PROGRAD, 2004. Organizado pela Comissão de recredenciamento.
Em 2004, de acordo com o relatório (2006) entre as diversas instituições
financiadoras, incluindo-se a própria UESB, a Universidade atingiu o quantitativo de 107
bolsas de estudo, como demonstrou o gráfico.
Quanto à pesquisa científica, ainda é muito recente na história da UESB, mas
atualmente, conforme informou a PROGRAD
54
(2008) existe junto ao Conselho Nacional
de Pesquisa – CNPQ, o cadastramento, em torno de sessenta e cinco (65) grupos de
pesquisa, certificados pela instituição.
Em 2006, época da avaliação para o recredenciamento, esse número estava em
torno de cinqüenta (50) grupos. Assim, quando o Relatório de Recredenciamento (2006)
fez referência aos Projetos de Pesquisa, estava relatando o que ocorria naquele período.
Portanto, fez o levantamento dos seguintes Grupos de Pesquisa existentes na época:

54
- Informações obtidas pela pesquisadora junto a PROGRAD em dezembro de 2008.
0
20
40
60
80
100
120
PIBIC
UESB
FABESB IC
FABESB ICJ
EM BRAPA
TO TAL
62
Quadro 2 - Grupos de Pesquisa - UESB (Base 2005)
Área Pesquisas
Ciências Agrárias Agricultura Tropical
Manejo e Produção de Culturas
Produção e Conservação de Forragens
Produção Animal na Bahia
Manejo Integrado de Pragas
Engenharia de Processos de Alimentos
Programa de Avaliação Genética Animal da Bahia
Controle Biológico de Pragas
Ciências Biológicas
Biologia e Genética Animal
Genética e Biotecnologia da Resistência de Plantas a Patógenos
Biotecnologia
Genética Vegetal e Melhoramento de Plantas
Grupo de Estudo e Pesquisa em Florística e Fitossociologia
Fitossociologia e Conservação da Biodiversidade
Biodiversidade do Semi-árido
ECOFAU - Ecologia e Conservação da Fauna
Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão Socioambiental
Ciências da Saúde
Grupo de Estudos Filosóficos
Representações Sociais e Saúde da Família
Pesquisa do Envelhecimento
Saúde e Qualidade de Vida
Núcleo de estudos em Atividade Física e Saúde
Saúde e Grupos Populacionais
Ciências Humanas
Museu Pedagógico: a Educação Não Escola
NUPIE - Núcleo de Pesquisa em Informática Educativa
GEEM Grupo de Estudos em Educação Matemática
Linguagem e Educação
Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Política e Sociedade
NEPEM - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Materialismo Histórico/Dialético
Estudos Regionais em Memória Social
Núcleo de Educação e Estudos das Culturas Afro-brasileiras;
Grupo de Estudos e Pesquisa em Formação de Educadores em Ciências - GEP/FEC.
Ciências Exatas e da
Terra
Grupo de Física Aplicada
Química Analítica e Ambiental
Grupo Catálise e Cinética Química
Física Básica
Grupo de Estudos em Redes Neurais Artificiais
Laboratório de Química Analítica
Lingüística, Letras e
Artes a abordagem da
Pesquisa.
Análise do Discurso
Grupo de Pesquisa em Estudos Lingüísticos.
Grupos de Pesquisa do Direito da UESB
Comunicação e Semiótica: linguagens e Leituras.
FONTE: Relatório de Recredenciamento da UESB – Organização: Jussara Moreira
De acordo com a Comissão do relatório de recredenciamento da UESB: “a
quantidade e qualidade dos Projetos elaborados pelos pesquisadores, contém propostas
relevantes e inovadoras, desenvolvendo temas voltados para o desenvolvimento regional”
(RELATÓRIO DO RECREDENCIAMENTO DA UESB. 2006, p, 48).
63
Dessa maneira, nos últimos dois anos, os Projetos de Pesquisa elaborados pelos
pesquisadores da UESB, sendo alguns deles feitos em parcerias com outras Universidades,
têm sido reconhecidos pelo mérito técnico-científico. Motivo pelo qual tem ampliado a
possibilidade de captação de recursos externos. Destacam-se como agências financiadoras
de projetos da UESB: FINEP, CNPq, FAPESB
55
entre outras agências fomentadoras.
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, aos pouco está consolidando o
pretendido pela sua missão e, ao mesmo tempo, conciliando o “ensino/pesquisa/extensão.
Assim sendo, atualmente possui 36 cursos de graduação, 22 cursos em pós-graduação -
lato sensu - (distribuídos pelas áreas de Ciências Biológicas, Exatas, Agrárias, Humanas,
Educação, Saúde, e Letras.). Ainda, conta com sete pós-graduações –- stricto sensu -
(modalidade mestrado: Zootecnia; Agronomia; Engenharia de Alimentos; Química;
Memória: Linguagem e Sociedade; e, Enfermagem; e, modalidade doutorado: em
Zootecnia).
Estes cursos são difundidos em seus três campi, e para compor as necessidades
dessas diferentes áreas: “possui 160 laboratórios, auditórios, ginásios de esportes,
cantinas, postos médicos e bibliotecas equipadas com um acervo de mais de 178 mil
títulos, com destaque para a construção da nova biblioteca do campus de Itapetinga, recém
inaugurada em 2008, quando recebeu 452 novos títulos”. (FREITAS, ON LINE, 2008)
Em Itapetinga, a ampliação para os novos cursos de graduação
56
, provocou na
UESB em Itapetinga, modificações em seu funcionamento, pois, no presente atua em
diferentes áreas, mesmo que ainda sejam distribuídas apenas entre dois departamentos:
Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais (DEBI), que subsidia as questões
teóricas das disciplinas e o Departamento de Tecnologia Rural e Animal (DTRA), que
fornece assistência às atividades práticas.
Com a instituição desses novos cursos de graduação, alargou-se a demanda de
vagas por vestibular, que são distribuídas conforme demonstramos no quadro abaixo:

55
- Consta na Lista de Siglas
56
- As especialização modalidade lato sensu em Meio Ambiente, dois cursos de Pós Graduação modalidade
– Mestrado - em Zootecnia (2003) e Engenharia de Alimentos (2005) e finalmente um doutorado em
Zootecnia (2007). (PROPOSTA PARA REFORMA CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA. 2008).
64
Quadro 3 - Distribuição de Vagas Por Curso Campus Itapetinga - (Base: 2008)
Curso Ano
Inicial
Graduação
Pós Graduação
Lato Sensu
Pós Graduação
Stricto Sensu
Total
Ano
Período/Modalidade I PL II PL Mestrado Doutorado Vagas
Zootecnia 1982 30 30 20 16 96
Pedagogia 1997 40 40 20 (
57
) 100
Engenharia
de Alimentos
1997 40 12 52
Engenharia
Ambiental
2005
30 30
Licenciatura
em Química
2005
20 20
Licenciatura
em Ciências
Biológicas
2006 20 30 (
58
) 50
Vestibular/ Seleção 180 70 50 32 16 408
Fonte: Secretaria de Cursos – Campus Itapetinga 12/2008 - Organização: Jussara Moreira
( Corresponde Período Letivo. I = 1º semestre / II = 2º semestre
59
)
O número de vagas, cursos e egressos, ainda é pequeno, se comparado aos outros
campi da UESB, mas já ocorreu evoluções significativas ao analisar o que existia entre
1982 a 1997 e, o avanço nessa última década. Existe no Campus, a previsão de um
vestibular em julho de 2009, para o ingresso de alunos em dois (2) novos curso, o
Bacharelado em Química e Bacharelado em Ciências Biológicas
60
.
Para procurar “solucionar os problemas da produção agropecuária local”, o Campus
possui: Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos (UECO) sediada pelo Departamento
de Tecnologia Rural e Animal (DTRA), pelo Programa de Pós-Graduação em Zootecnia e
Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos; o Centro de Ensaios Nutricionais com
Ovinos e Caprinos (ENOC); laboratórios de Análises Químicas de Carnes; Sala de
Pesquisas e Estudos e etc., Dentre essas Unidades, para o atual Reitor Professor Dr. Abel
Rebouças, “o ENOC é um espaço onde a prática do ensino e da produção científica está

57
- O curso de especialização em educação Infantil é ligado ao Curso de educação, começou em 2008.
58
- O curso de Meio Ambiente e Desenvolvimento é ligado ao curso de Ciências Biológicas, começo no ano
de 2006.
59
- Em virtude da paralisação grevista em 2006, até o ano de 2008 o I período corresponde ao segundo
semestre do ano.
60
- Informação concedida à pesquisadora pela Prefeitura de Campus de Itapetinga em novembro de 2008.
65
sendo ampliada. Com essas unidades, ganham os alunos, com a qualidade do ensino e
ganha a comunidade, que terá a oportunidade de obter conhecimentos com profissionais
qualificados”. (BONFIM, ON LINE, 2006).
A UESB em Itapetinga, também conta com uma infra-estrutura laboratorial que
visa dotar o espaço acadêmico das condições necessárias ao bom desempenho das
atividades práticas do ensino e produções científicas, sendo assim distribuídos:
Quadro 4 - Infra-Estrutura Laboratorial – UESB (Itapetinga)
Departamento Laboratório
DEBI Anatomia e Fisiologia dos Animais Domésticos; Assessoria Pedagógica;
Biologia I; Biologia II; Bonica; Ciências Ambientais; Ciências Ambientais;
Desenho; Desenho Técnico; Física e Matemática; Forragicultura e
Pastagens; Laboratório de Instrumentação e Computação Aplicada;
LABAVE - IT Laboratório de avicultura; LAP- Laboratório de Pedagogia;
Ludopedagogia; Microbiologia; Microbiologia de Alimentos; Pesquisa em
Química do Estado Sólido; Pesquisa em Química dos Alimentos; Química I;
Química II; Química III; Química IV; e, Unidade de Assessoria e Estudos
Pedagógicos
DTRA Analise de Alimentos; Análise Sensorial de Alimentos; Digestibilidade;
Embalagens e Materiais na Indústria de Alimentos; Experimental de
Apicultura; Experimental de Avicultura e Cunicultura; Experimental de
Bovinocultura; Experimental de Caprinocultura e Ovinocultura;
Experimental de Piscicultura e Carcinocultura; Experimental de Ração;
Experimental de Ranicultura; Experimental de Sericicultura; Experimental
em Suinocultura; Experimental de Tecnologia de Pescado; Máquinas e
Motores Agrícolas; Meteorologia e Bioclimatologia; Nutrição Animal;
Parasitologia Animal e Microbiologia Animal; Pré-Processamento;
Processamento de Carnes e Derivados; Processamento de Leite e Derivados;
Processos de Separação e Transporte; Produção e Tecnologia de Sementes
Forrageiras; Reprodução Animal; Solos; Tecnologia e Processamento de
Carne; e, Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal.
Fonte: Prefeitura de Campus de Itapetinga. Organização: Jussara Moreira
Além das atividades de ensino, pesquisa e extensão ligados diretamente aos cursos
de graduação e pós-graduação, a UESB - Campus de Itapetinga, como mecanismo de
interação entre a cidade e a universidade, ofertou o “Curso de Pedagogia” em convênio
com a Prefeitura Municipal de Itapetinga para a formação específica dos professores deste
município; conta, também, com um “Calendário de Eventos Culturais promovidos pela
“Biblioteca Regina Célia Ferreira Silva”
61
que apresenta os artistas da cidade e, um curso

61
- Nome da Biblioteca foi dado em homenagem a uma servidora técnica administrativa da UESB em
Itapetinga.
66
de Pré-Vestibular ofertado gratuitamente para alunos oriundos da escola pública. De uma
maneira geral, os campi em 2009 estarão colocando em prática as ações afirmativas para a
inclusão de negros, índios, quilombolas e alunos oriundos da escola pública.
Com o conhecimento da trajetória urbana de Itapetinga de como aconteceu e
desenvolveu a existência da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, percebemos,
principalmente, esse campo cultural como aquele que:
Transforma-se por reestruturações sucessivas e não através de revoluções
radicais, alguns temas são levados a primeiro plano enquanto outros são
relegados sem ser completamente abolido, o que assegura a continuidade da
comunicação entre as gerações intelectuais. Não obstante, em todos os casos, os
esquemas que organizam o pensamento de uma época somente se tornam
inteiramente compreensíveis se forem referidos ao sistema escolar, o único capaz
de consagrá-los e constituí-los, pelo exercício, como hábitos de pensamentos
comuns a toda uma geração. (BOURDIEU. 2007c, p, 208).
Essa modificações são causadas pelas revoluções simbólicas, onde os agentes são
orientados pelas disposições do “habitus”, imbuídos de critérios por fazê-los participar do
sentido do jogo social. Como bem explicita Bourdieu (2003, 2004, 2007b, 2007d), os
agentes envolvidos num determinado campo possuem certo número e interesses que os
liga e, ao mesmo tempo, criam uma cumplicidade objetiva subjacente a todos os conflitos e
antagonismos ali existentes. Dessa forma, possibilita-nos, então, buscar por análises
teóricas, que justifiquem e, ao mesmo tempo, elucidem o eixo norteador desse trabalho: a
abordagem da “representação”, que será conhecida no capítulo III, deste trabalho.
67
CAPÍTULO III
BASES CONCEITUAIS: UM DEBATE SOBRE O SIGNIFICADO DE
REPRESENTAÇÃO
Em Bourdieu, houve uma mediação entre as questões objetivas e subjetivas na
realidade do espaço social. Essa apreciação é que nos conduz a afirmação de que uma
investigação deve ter o desejo da objetividade, mas de maneira nenhuma, pode perder o
sentido da subjetividade. Pois, se de um lado permanece um processo dentro da realidade
prática, em que se depara com todo o jogo social, onde temos os ganhos e as perdas
decorrentes dos mecanismos de dominação que é analisado objetivamente; por outro lado,
o grupo social do qual se é membro, tem uma significação para o homem, que pode ser
representado e definido, pelas características de “significados”
62
e “significantes”
63
que o
ser humano constrói e, de como compreende, participa e se sente inserido, onde somente
subjetivamente pode ser interpretado.
Porém como um alerta, para Bourdieu (2007d) as “questões que são triviais”
devem ser vistas, a partir de uma “reflexividade”, principalmente, quando se trata do
“habitus” em sua relação “condicionada” com “campo cultural”, pois é o “habitus que
contribui para constituir o “campo” como “mundo significante.
O “Habitus” na Construção das Representações
Para Bonnewitz (2005), Bourdieu traz para a “ciência social”, um cunho de que
esta, nem se organiza unicamente no “indivíduo”, nem tampouco, na “estrutura social”,
mas na reciprocidade entre os sistemas de “percepção/representação e ação”, que por ela é
revelada, como “habitus”
64
. Termo, que tem a sua raiz originada na “filosofia escolástica”,

62
- Significado corresponde ao conceito. Para maior esclarecimento ver Ferdinand Saussure -(1857-1913)
em Curso de Lingüística Geral, publicado pela Editora Cultrix em 1995.
63
-Significante corresponde à forma e tem todo um código informativo. (idem)
68
que nas palavras de Bourdieu: “permitia-me romper com o paradigma estruturalista sem
cair na velha filosofia do sujeito ou da consciência, a da economia clássica e do seu homo
economicus, que regressa hoje com o nome de individualismo metodológico
65
(BOURDIEU, 2007d, p.61).
Tal noção pressupõe dois componentes, resgatados por Bourdieu da “velha noção
aristotélica”: a “hexis”, que corresponde às posturas – disposições - corporais interiorizadas
inconscientemente pelo indivíduo em sua história de vida e, o “ethos”, que designa os
valores em estado prático. Assim, como esquema de percepção e de ação interiorizada
coloca: “em evidência as capacidades criadoras, ativas, inventivas do habitus e do agente
(que a palavra hábito não diz). O habitus como indica a palavra, é um conhecimento
adquirido”. (Idem, p. 61). Mas o “habitus”, igualmente pode ser usado, num sentido
diferente, ou seja:
Hegel também recorre na mesma perspectiva a noção de ethos, a noção de hexis,
(equivalente no grego a habitus), exprime a vontade de romper com o dualismo
kantiano e de reintroduzir as disposições duradouras constitutivas da moral
realizada, em oposição ao moralismo abstrato da moral pura e formal do dever;
como em Husserl, o mesmo conceito e noções vizinhas, como a de habitualität
assinalam o esforço para sair da filosofia da consciência reintroduzindo – como
em Heidegger e Merleau-Ponty, que, de resto, não empregam a palavra - uma
relação de cumplicidade ontológica com o mundo; ou ainda no caso – em que
Mauss, o qual reconhece a dimensão corporal da hexis, como porte ou postura -,
a noção serve para referir o funcionamento sistemático do corpo socializado
(Op. Cit. p. 62).
O “habitus” bourdesiano deve ser visto como “princípio gerador e produtor das
representações”. Sendo assim, ele auto-organiza e tem toda uma característica objetiva,
mas, também subjetiva, quando envolve os “agentes”. Para Bourdieu (2007b), quando ele é
percebido como uma “estrutura estruturada” estabelece redes de ligação, entre a
“exterioridade e interioridade”, onde expressa o diálogo e troca mútua “entre o mundo
objetivado e o mundo subjetivado”. Por isso, que se constitui em uma matriz de
percepção/representação e ação, capaz de criar “táticas individuais e coletivas” para lidar
com as questões cotidianas e inferir ou criar os “estilos de vida”.

64
- Habitus é uma palavra latina presente na tradição escolástica e expressa “a noção grega de hexis utilizada
por Aristóteles para designar então características do corpo e da alma adquiridas em um processo de
aprendizagem” In (SETTON, 2002, p. 61).
65
Teoria da socialização oposta a da visão holística: “consideram que as normas e os valores são apenas
possibilidades, oferecidas ao individuo, que conserva sempre uma margem de liberdade nos exercícios de
seus papeis sociais. A ação individual se explica em termos de estratégias racionais: o indivíduo faz escolhas
para maximizar um resultado; a lógica de suas práticas é a do homo economicus”. (BONNEWITZ. 2003,
p.81)
69
Estilo de vida resulta do fato de que condições semelhantes produzem habitus
substituíveis que engendram, por sua vez, segundo sua lógica específica, práticas
infinitamente diversas e imprevisíveis em seu detalhe singular, mas sempre
encerradas nos limites inerentes às condições objetivas das quais elas são o
produto e às quais elas estão objetivamente adaptadas. Constituído num tipo
determinado de condições materiais de existência, esse sistema de esquemas
geradores, inseparavelmente éticos ou estéticos, exprime segundo sua lógica
própria a necessidade dessas condições em sistemas de preferências cujas
oposições reproduzem, sob uma forma transfigurada e muitas vezes
irreconhecível, as diferenças ligadas à posição na estrutura da distribuição dos
instrumentos de apropriação, transmutadas, assim, em distinções simbólicas
(BOURDIEU, 2003, pp. 73-74).
Um estilo de vida, geralmente é ligado a um conjunto de “gostos e crenças”,
portanto, caracteriza-se, não somente como: “as opiniões políticas, convicções morais,
preferências éticas ou estéticas, reflexões filosóficas”, mas também, como aquelas de
natureza prática, como, “sexuais, alimentares, vestuários, culturais”. Nesse sentido, o
habitus pode ser utilizado para compreender as representações, que interferem diretamente
na construção dos “estilos de vida” e toda a movimentação simbólica instituída. Bourdieu
(2004) ratifica essa ideia, quando enfatiza, que na realidade social, o habitus: “produz a
filiação de indivíduos, reproduzindo ao mesmo tempo, enquanto grupo que compartilha o
mesmo habitus. Por isso, como princípio de conservação, ele também pode tornar-se um
mecanismo de invenção e, consequentemente de mudança” (BONNEWITZ, 2005, p. 75).
O “habitus” é então definido como o:
Princípio gerador de práticas objetivamente classificáveis e, ao mesmo tempo,
sistema de classificação (principium divisionis) dessas práticas. Na relação entre
duas capacidades que definem o habitus, ou seja, capacidade de produzir práticas
e obras classificáveis, além da capacidade de diferenciar e de aprender essas
práticas e os produtos (gosto), é que se constitui o mundo social representado, ou
seja, o espaço dos estilos de vida (BOURDIEU, 2007b, pp. 163-164).
Tal conceito se incide na “prática social”, em diferentes “campos”, sejam eles:
“religioso”, “artístico”, “filosófico”, “sociológico”, “educacional”, “cultural” etc. onde,
cada “campo” tem uma “lógica” própria de funcionamento. Logo, o desenvolvimento da
“sociedade” fez com que originassem universos e “áreas”, constituídas por um conjunto de
“microcosmos sociais”, dotados de “autonomias” respectivas, com “lógicas próprias e
particulares”, tendo como interesse, “as disputas irredutíveis”. Essa noção de “sociedade”
foi então, “substituída por Bourdieu”, pela “noção de campo” (CATANI, 2002).
70
Sentido em que, Bourdieu (2003) chamou a atenção, ao dizer que existe entre o
“campo e o habitus”, uma relação condicionada, onde o “campo” estrutura o “habitus
que, por sua vez, contribui para construir o “campo”. Exatamente por essa razão que não
podemos reportar às “relações” ocorridas em um “espaço social”, apenas dentro de uma
“racionalidade objetivista”, pois, implicitamente no “jogo social”, também são inerentes as
“subjetividades”. E qualquer que seja a construção cientificamente estabelecida sobre uma
relação social: “são, por assim dizer (...) construções das construções feitas pelos atores da
cena social". (BOURDIEU, 2004, p. 151).
No entanto, existe sempre uma oposição, entre essas “construções” representadas,
pois:
No primeiro caso, o conhecimento científico só é obtido mediante uma ruptura
com as representações primeiras - chamadas "prenoções" em Durkheim e
"ideologia" em Marx -: que conduz às causas inconscientes. No outro caso, ele
está em continuidade com o conhecimento de senso comum, já que não passa de
uma "construção das construções". (...) De um lado, as estruturas objetivas
descartando as representações subjetivistas dos agentes, (...) mas, de outro lado,
essas representações também devem ser retidas, sobretudo se quisermos explicar
as lutas cotidianas, individuais ou coletivas, que visam transformar ou conservar
essas estruturas. Isso significa que os dois momentos, o objetivista e o
subjetivista, estão numa relação dialética. (Idem, pp. 151-152).
Por essa razão, existe toda uma representação originada por “títulos escolares” e
“códigos culturais”. Dito em outras palavras, quando o sujeito está inserido em meio de
uma cultura erudita, defende-a, como forma de garantia social. E a relação não está
diretamente ligada ao sucesso comercial, mas ao capital a ser acumulado que é cultural
(BOURDIEU, 2003).
Sendo assim, aqueles que têm um volume maior incorporado, que pode ser
proveniente não só do capital: “econômico ou social”, mas, principalmente, do “capital
cultural”, são os que possuem as posições sociais chamadas de dominantes. Logo, esses se
destacam, em detrimento das posições ocupadas pelos dominados e, cada uma dessas
posições, dentro do espaço social, corresponde também, a um “habitus”, que “produz
representações na prática” e, ao mesmo tempo, também é produto das “condições
objetivas” (BOURDIEU, 2007 d).
Condição que repercute dentro dos grupos sociais e assim, quem possui os
emblemas garantidos por uma titulação acadêmica tem uma valorização maior do que, a
71
daqueles considerados como “incultos”. A “cultura erudita” então, se torna um mecanismo
que cria “distinção” e define dentro da realidade prática social, o princípio de uma
“hierarquia”. Dessa forma:
O estilo de vida (...) representa uma forma de adaptação à posição ocupada na
estrutura social: encerra sempre, por esse fato, nem que seja sob a forma do
sentimento da incapacidade, da incompetência, do fracasso ou, aqui, da
indignidade cultural, uma forma de reconhecimento dos valores dominantes
(BOURDIEU, 2003, p. 91).
Podemos então analisar, que o conceito de habitus bourdesiano, permite superar o
dualismo entre o “objetivismo” e o “subjetivismo”. Ao compor essa indissociabilidade,
percebemos que as representações das práticas sociais não podem ser vistas, apenas, como
simples execuções de normas prescritas, pelo contrário, essas realidades estão imbuídas de
“jogos sociais”. O que requer para entendê-las uma reflexão consciente sobre a “lógica” do
que é instituído e definido, a partir das determinações do “lugar que se ocupa no espaço
social”. Por esse motivo, ao buscarmos apreender a abordagem da representação, em
hipótese nenhuma, podemos deixar de fora dessa análise, duas condições especificamente
humanas: o significado de cultura e o poder de identificação da memória.
Cultura, Memória e Representação.
Cultura, memória e representação são formas que vivem intimamente em uma
“relação dialética”, estabelecidas pelo “tempo” e em um “espaço que funcionam como um
sistema de interpretação que, na realidade conduz para o (re)conhecimento do “mundo
social”. Nesse sentido existem dentro dessas formas as:
Estratégias de condescendências, através das quais agentes que ocupam uma
posição superior em uma das hierarquias do espaço objetivo negam
simbolicamente a distância social, que nem por isso deixa de existir, garantindo
assim as vantagens do reconhecimento concedido a uma denegação puramente
simbólica da distância (...) que têm lugar nesse universo social. Esses poderes
sociais fundamentais são, de acordo com minhas· pesquisas empíricas, o capital
econômico, em suas diferentes formas, e o capital cultural, além do capital
simbólico, forma de que se revestem as diferentes espécies de capital quando
percebidas e reconhecidas como legítimas. Assim, os agentes estão distribuídos
no espaço social global, na primeira dimensão de acordo com o volume global de
capital que eles possuem sob diferentes espécies, e, na segunda dimensão, de
acordo com a estrutura de seu capital, isto é, de acordo com o peso relativo das
diferentes espécies de capital, econômico e cultural, que forma o volume total de
seu capital (BOURDIEU, 2004, p. 154).
72
Para Bourdieu (2007c), as “disposições” de lugares, ocupados pelos “agentes”
dentro da realidade prática do “espaço social”, igualmente, é o lugar de origem, das
“distâncias representadas”, entre ricos e pobres, perpetuados pelo “capital econômico” que
é ligado diretamente, à detenção de bens de consumo e, pelo “capital cultural”, entre, os
“intelectuais e incultos”, (chamado por ele também de “produtores de bens culturais e não-
produtores”). É nesse sentido, que a forma de “capital cultural”, incorporada
simbolicamente, por “títulos acadêmicos”, revela dentro das disposições de um jogo social,
conflitos que na maioria das vezes, não é percebido conscientemente, pelos “agentes
sociais” e que definem: “nos diferentes campos a distribuição dos poderes” (BOURDIEU,
2007d, p. 134).
Bourdieu (2003) considera então, que a “cultura erudita” é “indissociável” da
“dominação”. Em outras palavras: a cultura erudita permite que o dominado se sinta
sempre aquém do “dominante”, pois: “a cultura é também um sistema de significações
hierarquizadas, onde se torna um móvel de lutas entre grupos sociais, cuja finalidade é
manter os distanciamentos distintivos” (BONNEWITZ, 2005, p. 93).
Por essa razão, ao processarmos os determinantes para as “representações” de
“agentes sociais”, temos que incutir nessa interpretação, os conjuntos de “disposições”
gerados pela cultura erudita, pois essa manutenção de “hierarquia” dominante produz (in)
diferenças, dentro de um “espaço social”. Sobretudo, pelo: “capital simbólico, geralmente,
chamado de prestígio, reputação, fama, etc. que é a forma percebida e reconhecida como
legítima das diferentes espécies de capital” (BOURDIEU, 2007d, pp. 134-135).
Situamos nessa afirmação algumas das formas de mobilizações simbólicas,
congregadas e representadas nas práticas sociais. Deste modo, a cultura costuma ser
incorporada e representada pelo senso comum, como um sistema de idéias
predominantemente dominantes e eruditos. O que distorce na maioria das vezes, o sentido
da noção dos “costumes e crenças”, que existem dentro das realidades das práticas sociais.
Assim, sua visão nunca foi ponto pacífico em nenhuma discussão teórica.
Nessa lógica, a cultura, portanto, faz parte de um sistema dentro de uma “estrutura
social”, onde a sua construção é histórica e, como termo, Bonnewitz (2005) coloca que ela
passa por duas grandes “acepções”: a visão “antropológica” e a visão “sociológica”.
Dentro da perspectiva antropológica, o autor diz que existe um sentido dado à cultura,
73
quando ela é alcunhada pelo “sentir e pensar”, próprios da representação de uma
“coletividade”. Onde o seu sentido é tido muito mais do que um conceito, ela é um
“fenômeno”, pois ela é estabelecida pela condição da “existência” humana.
Corresponde percebermos que, qualquer sociedade ao elaborar as suas “regras de
conduta” e estabelecer a sua cultura, também, constrói a “representação de mundo”,
fundamentando-se no cotidiano das práticas a “identidade coletiva”. Nesse contexto, de
acordo com Bonnewitz (2005), a cultura transpõe por edificações de certas “imagens”,
visões, procedimentos e “costumes” que são incorporados e “representados” pelas
populações. Posto isso:
A cultura, no sentido corrente, designa os conhecimentos científicos, artísticos,
literários de um individuo; ela opõe o homem culto ao indivíduo inculto. Em
nível da sociedade global, ela designa o patrimônio das obras intelectuais e
artísticas. (...) trata-se da cultura da elite intelectual. A interrogação maior a
respeito dessa concepção de cultura é a de suas relações com a cultura de massa,
conjunto dos conhecimentos e dos valores veiculados pelos mass media, os
meios de comunicação de massa (imprensa, rádio, televisão) e outras empresas
culturais (indústrias do cinema, disco, etc.). A difusão de uma cultura
padronizada seria a base da uniformização cultural (BONNEWITZ, 2005, p.
94).
A segunda acepção para Bonnewitz (2005) está diretamente ligada ao sentido dado
pela “Sociologia”, cuja definição é extremamente delicada, já que engloba “diferentes
significados”, ou seja, como diretriz para a cultura o “sentido sociológico”, corresponde ao
“conjunto dos valores, normas e práticas adquiridas e compartilhadas por uma pluralidade
de pessoas. (...) tal abordagem integra, na cultura, a cultura erudita, mas não a reduz às
práticas “nobres” mais intelectuais” (Idem, p. 95).
O que presenciamos então dentro da história de um espaço social, quando tratamos
de buscar uma análise objetiva, para interpretarmos ações e representações de grupos
sociais em suas subjetividades é a consideração de que o "capital cultural” está
representado por trás de qualquer “imagem” social. É nesse sentido, que: “Bourdieu
considera a cultura não apenas, como acesso a um patrimônio artístico, literário e
cientifico, mas também, como uma hierarquia de valores e de práticas” (Op.Cit., p. 96).
Dessa maneira, para Bonnewitz (2005) a matriz do “pluralismo cultural” nos remete
a pensar que, não existe “cultura única”, nem uma mesma cultura, no “seio” de uma
sociedade. Existe ainda, toda uma “elaboração” cultural que é formulada por indivíduos,
74
cuja “autoridade” é “legitimada” pelo “capital cultural”, mas a “difusão” destas
“representações”, geralmente, não tem uma “aceitação automática” pela sociedade. Assim,
surgem os “conflitos simbólicos”, e a “imposição” que garante toda a “reprodução da
ordem social”. Sentido em que “a tese de Bourdieu revela que a cultura dominante é a
cultura (...) da legitimação”. (Op. Cit., p. 98).
A construção da cultura humana, vista dessa maneira, pode servir para refletirmos
sobre o processo que conduz “as ideias” para serem “edificadas historicamente” e,
representadas socialmente, ao mesmo tempo em que, demonstra o quanto a cultura é
responsável por tudo que é criado e representado na memória humana. Para auxiliar nessa
questão, Halbwachs (2006), como diz Jean Duvignaud (2006)
66
tem toda uma “análise
clássica” atribuída ao contexto “social da memória”, abrindo assim, todo um “caminho”
para o estudo sociológico de uma vida citadina cotidiana. Pois:
Em sua obra de 1925, os contextos sociais da memória, Maurice Halbwachs se
mostra um rigoroso durkheimiano. Ao falar de classes sociais e logo depois, do
suicídio, ele vai além do pensamento do mestre da Escola Francesa: sua análise
da memória se parece muito com a inspiração das Formas elementares da vida
religiosa. O autor mostra que é impossível conceber o problema da recordação e
da localização das lembranças quando não se toma como ponto de referência os
contextos sociais reais que servem de baliza a essa reconstrução que chamamos
memória (DUVIGNAUD, 2006, pp. 7-8).
De fato, Halbwachs (2006), nos fornece a percepção de que nenhuma consciência
funciona sozinha, ou então, está contida em si mesma. Já que tudo que o “ser” passa está
intimamente arrolado com as relações existentes no grupo do qual se faz parte. Para isto,
segundo o teórico, existem dois conjuntos fundamentais, que ocorrem tanto para a criação,
como para a manutenção da memória, essas categorias condizem com o “tempo” e o
“espaço”. O “tempo” se renova, divide, diferencia e regula pela seqüência das “imagens” e
a representação dos objetos exteriores e o “espaço” pode ser representado, recortado,
medido, por diversas maneiras, em cada sociedade.
A “imagem do espaço”, por dar a idéia de “estabilidade”, fornece a “ilusão” de que
ele, “não se modifica através do tempo”. Dessa maneira, toda “memória” tem como
suporte um grupo, que por sua vez é enunciado pelo “tempo e pelo “espaço”. Insere-se aí
para Halbwachs (2006), o encontro do “passado no presente”, onde todas as lembranças

66
- Jean Duvignaud – Professor da faculdade de Letras e Ciências Humanas de Orléans - Tours. In: Prefácio
do livro de HALBWACHS. M., A memória Coletiva, 2006.
75
permanecem “coletivas”, haja vista, que “cada memória individual é um ponto de vista
sobre a memória coletiva, que este ponto de vista, muda segundo o lugar que ali eu ocupo,
e que este mesmo lugar muda segundo as relações que mantenho com outros ambientes”
(HALBWACHS, 2006, p. 69).
Halbwachs (2006) afirma ainda sobre a existência de uma distinção entre história e
a construção da “memória coletiva”. A história seria a codificação de fatos, que sustentam
um maior “espaço” dentro da “memória” dos homens. A partir desta perspectiva, podemos
perceber que a memória seria aquilo que ocorre dentro da vida e, se apresenta como um
retrato bem mais contínuo e diferente de modelos autobiográficos ou históricos, mesmo
que estes tenham uma interdependência entre eles. Isto por que:
A história que deseja examinar muito de perto o detalhe dos fatos se torna
erudita e a erudição é condição de uma pequena minoria. Quando, ao contrário,
ela se atém a conservar a imagem do passado que ainda pode ter lugar na
memória coletiva hoje, dela retém apenas o que ainda interessa (...). A memória
coletiva se distingue da história sob pelo menos dois aspectos. Ela é uma
corrente de pensamento contínuo de uma continuidade, que nada tem de
artificial, pois retém do passado, senão, o que ainda está vivo ou é capaz de viver
na consciência do grupo que a mantém. Por definição, não ultrapassa os limites
desse grupo. Quando um período deixa de interessar o período seguinte, não é
um mesmo grupo que esquece uma parte de seu passado: na realidade, há dois
grupos que se sucedem. (Idem, p. 102).
Portanto, se a “memória” cultiva a consciência de um “grupo” em uma
“continuidade” possibilitadora de definir o que é comum a esse grupo, podemos ressaltar
que: “a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual
como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do
sentimento de continuidade e coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução” (POLLACK Apud MENDES, 2004, p. 54).
Logo, quando colocamos que a memória possui esse poder de organização,
podemos considerá-la como “social”, pois ela: “Não é meramente retrospectiva; é também
prospectiva. A memória dá uma perspectiva para interpretação das nossas experiências no
presente e para a previsão do que virá” (FENTRESS E WICKHAM Apud MENDES, 2004, p.
54).
Assim, a memória vista como “retrospectiva”, mas também, “prospectiva”, conduz
a nossa reflexão ao que expõe Gilmar Arruda (1999), se a “história é um instrumento da
memória”, “a memória” é também um instrumento “da história”, pois através desta,
76
podemos chegar às mudanças, apresentadas pela cultura, portanto, ao que está sendo
representado pela sociedade de determinada época. Para o autor, só através dos dados
históricos, é que podemos perceber as características adquiridas e solidificadas no
transcorrer da vida social. Assim, “a memória é também um objeto da história e, portanto,
a periodização operada pela memória deve ser levada em conta nas explicações das
mudanças significativas” (ARRUDA, 1999, p. 129).
Nesse mesmo caminho, ao abordar a representação, Bourdieu, diz que:
Contra a representação comum que consiste em associar sociologia e coletivo, é
preciso lembrar que o coletivo está dentro de cada indivíduo sob a forma de
disposições duráveis, como as estruturas mentais. (...) os sistemas de
classificação incorporados que, produzidos na história coletiva, são adquiridos na
história individual, como por exemplo, os que se referem ao gosto (pesado/leve,
quente/frio, brilhante/fosco, etc.) (BOURDIEU, 1983, p. 26).
Consequentemente, a abordagem da representação social, não pode ser vista apenas
por meras suposições científicas, retiradas da análise teórica de outrem. Não que queiramos
negar a “validação científica”, pelo contrário, mas se essa abordagem exige o
conhecimento teórico, muito maior é a sua exigência, sobre os elementos constitutivos da
própria realidade em que as práticas sociais se desenrolam, principalmente, pelo fato de
que todo comportamento humano é efetivado por uma representação, que consiste como
coloca Schopenhauer em um “mundo como vontade”, cuja experimentação do “Ser” é feita
pelo seu agir, pensar, decidir, amar, odiar, isto internamente se transforma em
manifestações, que parece vir diretamente do desejo “interior”. Ou seja, “a vontade tornada
objeto é representação (...), no entanto, tais ideias se manifestam em indivíduos (...)
unicamente mediante ao tempo e ao espaço” (SCHOPENHAUER, 1999, p. 21).
“Durkheim” como precursor da “abordagem da representação” o faz não pelo
sentimento individual, mas, pelo sentido de “analisar a coletividade”, enquanto expressão
de “conhecimentos das crenças e sentimentos do grupo social”. Desta forma, para Mendes
(2004), Durkheim ao elaborar o conceito de “representação coletiva”, traz a visão de que as
“categorias” que organizam o “pensamento”, pelas quais os grupos sociais criam e
reelaboram a sua realidade social, não são dados a “priori”, elas se originam dos “fatos
sociais”. Contexto este, em que as representações fazem parte da própria “trama social”.
Assim:
Durkheim ressalta a essência social das representações quando assinala que elas:
“traduzem antes de tudo estados de coletividade: dependem da maneira pela qual
é constituída e organizada de sua morfologia, de suas instituições religiosas,
77
morais, econômicas etc.”. Afirma ainda que, entre duas espécies de
representações, individuais e coletivas: “existe toda a distância que separa o
individual do social e tanto que não se podem derivar as segundas das primeiras,
quando não se pode deduzir a sociedade do indivíduo, o todo da parte, o
complexo do simples. A sociedade é uma realidade sui generis, ela tem seus
caracteres próprios que não se reencontram, ou não se reencontram sob a mesma
forma no resto do universo”. Para Durkheim, então as representações coletivas
têm suas leis próprias e têm uma natureza diferenciada do pensamento individual
(MENDES, 2004, p. 74).
A autora nos diz ainda que o conceito de representação coletiva, através da
psicologia social de Serge Moscovici, promove a substituição do termo que Durkheim
utilizou como “coletivo”, por outra modalidade: “social”, justificando que:
Nas lacunas teóricas dos estudos de Durkheim, Moscovici encontra terreno próprio
“a constituição do campo das representações sociais. Entretanto diante das
complexidades, Moscovici de antemão sinaliza que “se a realidade das
representações sociais é fácil de apreender: não o é o conceito”. (...) Pontua
elementos fundantes que nos permitem apreender o significado das representações
sociais na sua ótica, quando diz que: “a representação social é uma modalidade de
conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos” (Idem, p. 75).
De acordo com Gerad Duveen (2005)
67
, enquanto Durkheim teve nas
“representações coletivas” formas para compreender a totalidade da “integração” da
sociedade, Moscovici explorou a própria “diversidade” das representações sociais dentro
dos “atos práticos”. Assim, estabeleceu que as “representações sociais” ocorrem pelo
“poder das ideias” sendo, “concretizadas” pelo “senso comum”. Esse caminho trilhado lhe
mostrou que:
Dentro de qualquer cultura há pontos de tensão, mesmo de fratura, e é ao redor
desses pontos de clivagem no sistema representacional duma cultura que novas
representações emergem (...) o fenômeno das representações está, por isso,
ligado aos processos sociais implicados com diferenças na sociedade. E é para
dar uma explicação dessa ligação que Moscovici sugeriu que as representações
sociais são uma forma de criação coletiva (DUVEEN, 2005, pp. 15-16).
A “representação social”, para Moscovici (2005), não um mero “conceito”, ela é
um “fenômeno”, pois atua, como uma atividade de (re)construção no espaço social.
Sendo, a representação social circula no meio social, tanto através de “gestos”, como nas
“falas” que existem dentro de um “cotidiano”. No entanto, para o teórico é preciso atentar
que para classificar uma “representação” dentro do “social”, não basta apenas definir
aquele que é o seu “produtor”, ou muito menos o “sistema” no qual é “produzido”.

67
- Gerad Duveen. Ver na Introdução, intitulado: O poder das Idéias. In: MOSCOVICI S. Representações
Sociais: Investigações em psicologia social. 2003.
78
Para saber, como acontece uma representação no social é preciso tomar como
“ponto de partida”, a “diversidade” dos indivíduos e, procurar observar, como existe a
transformação de algo “não familiar” em “familiar”. É na “soma” de muitas
“experiências”, culturas e “memórias comuns” que, o homem consegue “extrair” as
“imagens” e “linguagens”, para superar aquilo que ele não conhece. Ou seja: “A história, a
natureza, todas as coisas que são responsáveis pelo sistema, são igualmente responsáveis
pela hierarquia de papeis e classes” (MOSCOVICI, 2005, p. 52).
Nesse sentido, o teórico das representações sociais, elucida quatro implicações. Na
primeira delas aponta que “o estudo destas representações”, jamais, pode ficar restrito: “a
um mero salto do nível emocional para o intelectual.” O que requer analisar todo o
“aspecto simbólico”, que perpetuam nos “relacionamentos” e nos “universos consensuais”.
Pois:
Toda cognição, toda motivação e todo comportamento, somente existem e têm
repercussões, uma vez que eles signifiquem algo e, significar implica por
definição, que pelo menos duas pessoas compartilhem uma linguagem comum,
valores comuns e memórias comuns (Idem, p. 105).
Na segunda implicação, avalia que: “representações sociais”, requerem que se
tenha, nesse estudo, cuidado e seja totalmente motivado pelos “métodos de observação”,
devendo-se evitar “os métodos experimentais”. Pois, esses só podem ser utilizados, quando
o “estudo” for de um “fenômeno” mais “simples”, que de maneira nenhuma é “o caso das
representações sociais que são armazenadas na nossa linguagem e que são criadas em um
ambiente humano complexo” (Op. Cit., p. 106).
Na terceira implicação, “conseqüência” da segunda, faz reverência à “descrição” de
como efetuar a coleta de dados, sem seguir os critérios estabelecidos por uma “ciência
pura”, quando se trata de abordar as representações sociais. Ou seja:
Quaisquer que sejam as razões permanecem o fato de que somente uma
descrição cuidadosa das representações sociais, da sua estrutura e da sua
evolução nos vários campos, nos possibilitará entendê-las e que uma explicação
válida só pode provir de um estudo comparativo de tais descrições (Op. Cit., p.
107).
E, finalmente, na quarta implicação:
As representações sociais são históricas na sua essência e influenciam o
desenvolvimento do indivíduo desde a primeira infância, desde o dia em que a
mãe, com todas as suas imagens e conceitos, começa a ficar preocupada com o
seu bebê. Estas imagens e conceitos são derivados dos seus próprios dias de
escola, de programas de rádio, de conversas com outras mães e com o pai e de
79
experiências pessoais e, elas determinam seu relacionamento com a criança, o
significado que ela dará para os seus choros, seu comportamento e como ela
organizará a atmosfera na qual ela crescerá. A compreensão que os pais têm da
criança modela sua personalidade e pavimenta o caminho para sua socialização
(MOSCOVICI, 2005, p. 108).
Para Serge Moscovici (2005), para apreender sobre as “representações sociais” é
preciso primeiro saber, como “um fenômeno”, encontra-se nessa abordagem, as
experiências, conhecimentos e modelos que circulam nos grupos sociais e que são
recebidos e transmitidos pelas “tradições”, pela “educação” e pela “comunicação social”.
Posto isso, não podemos deixar de fora das representações sociais, os acontecimentos
culturais, econômicos ou políticos.
Moscovici (2005) diz que as “representações sociais”, ocorrem a partir de dois
processos interligados: “ancoragem” e “objetivação”. A objetivação, “parte primeiramente
do Intelectual” até a realidade física. É nesse percurso, que ocorrem as possibilidades de
estabelecer o conhecimento do senso comum, pois esse conhecimento é sempre
direcionado para os “aspectos concretos do objeto” e, tem a disposição de considerar todos
os fatos como fossem “naturais”. Por exemplo: a materialização de ideias políticas,
filosóficas, religiosas, culturais e científicas etc., em imagens cultivadas. Isto é, efetua-se
um deslocamento das suas “dimensões” originais, para a “representação”, que possa ser o
mais “familiar” para o sujeito. A ancoragem diz respeito aos aspectos “informativos,
conotativos e práticos das representações sociais”. Consequentemente, o processo de
ancoragem, situado numa relação dialética com a objetivação, articula os três desempenhos
básicos da representação: o papel “cognitivo de integração”, a “interpretação da realidade”
e a orientação das conduções sociais.
Portanto, como “fenômeno”, as representações sociais são complexas e, perpassam
por uma “multiplicidade de significados”, somente sendo possível “(re)construí-la”, dentro
das próprias “práticas sociais”. Também, essa perspectiva de observação da “prática
social”, condiz com o pensamento de Bourdieu, apesar de que para ele:
Na verdade, sabe-se que as interações simbólicas no interior de um grupo
qualquer dependem não somente, como bem o vê a psicologia social, da
estrutura do grupo de interação no qual elas se realizam, mas também das
estruturas sociais nas quais se encontram inseridos os agentes em interação
(
BOURDIEU, 2003, p. 45).
Razão, que para explicar, como ocorrem as relações de construções das
representações entre os “agentes” e as práticas sociais, Bourdieu (2003), o faz através do
80
“habitus”, pois, esse, preserva os valores simbolicamente incorporados. Desta maneira, o
habitus” pode ser visto como um resultado organizador dentro da “ação social”, pois
tendo um mesmo “modus operandi”, “(re)produz a disposição durável e transferível” que
é a própria: “retradução simbólica de diferenças, objetivamente inscritas nas condições de
existência” (BOURDIEU, 2003: p. 73).
Nessa abordagem, o “habitus”, com propósitos determinados seria precursor do
processo de “representação” disponibilizado em um espaço social. Haja vista que:
Se o mundo social tende a ser percebido como evidente e a ser apreendido, para
empregar os termos de Husserl, segundo uma modalidade dóxica, é porque as
disposições dos agentes, o seu habitus, isto é, as estruturas mentais através das
quais eles apreendem o mundo social, são em essência produto da interiorização
das estruturas do mundo social. Como as disposições perceptivas tendem a
ajustar-se à posição, os agentes, mesmo os mais desprivilegiados, tendem a
perceber o mundo como evidente e a aceitá-lo de modo muito mais amplo do que
se poderia imaginar, especialmente quando se olha a situação dos dominados
com o olho social de um dominante (BOURDIEU, 2004, p. 158).
Assim, de acordo com Bourdieu (2004) deve existir sempre uma investigação pelas
“formas invariantes” da percepção/representação, quando o objeto de estudo é a
“construção do cotidiano”, pois:
Primeiro, que essa construção não é operada num vazio social, mas está
submetida a coações estruturais; segundo, que as estruturas estruturantes, as
estruturas cognitivas, também são socialmente estruturadas, porque tem uma
gênese social· terceiro que a construção da realidade social não é somente um
empreendimento individual, podendo também tomar-se um empreendimento
coletivo. Mas a chamada visão microssociológica esquece muitas outras coisas:
como acontece quando se quer olhar de muito perto, a árvore esconde a floresta;
e, sobretudo, por não se ter construído o espaço, não se tem nenhuma chance de
ver de onde se está vendo o que se vê (Idem, p. 158)
Essas condições, “marcam” todo conhecimento “prático ou erudito”. E dentro desse
sistema de “disposições generativas”, ao qual Bourdieu (2003, 2004, 2007b, 2007c, 2007d)
chama por: “habitus” e que “exprime, na lógica específica de cada um dos subespaços
simbólicos, a mesma intenção expressiva, princípio da unidade de estilo que se entrega
diretamente à instituição e que a análise destrói ao recortá-lo em universos separados”
(BOURDIEU, 2003, p. 74).
Bourdieu (2004) acena então, para a existência de uma ação sutil, constituída a
partir dos diferentes “campos” que em uma correspondência com o “habitus”, tem as suas
definições estreitamente ligadas com as condições: econômicas, sociais e culturais.
81
Formas essas, que permitem compreender a “posição” de um “indivíduo ou grupo” em
seus diferentes estilos de vida, como também, sendo uma (re)produção configurada por um
“poder simbólico”, dentro de um espaço, torna-se condição imprescindível, para dar
formato ao “mundo social”. Portanto:
O poder simbólico dos agentes, como poder de fazer ver - theorein - e de fazer
crer, de produzir e de impor a classificação legítima ou legal, depende, com
efeito, (...) da posição ocupada no espaço (e nas classificações que nele estão
potencialmente inscritas). Mas objetivar a objetivação é, antes de mais, objetivar
o campo de produção das representações objetivadas do mundo social, e em
particular das taxionomias legiferantes, em resumo, o campo de produção
cultural ou ideológica (BOURDIEU, 2003. p. 151).
Para Bourdieu (2007d), essa “análise estrutural, traz a organização de um
“instrumento metodológico” que nos permite alcançar a “lógica específica” existente nas
“formas simbólicas”, pois, ao “isolarmos” a “estrutura” “imanente”
68
, contrastamos ou
delimitamos o que coexiste dentro de cada produção simbólica. Portanto, podemos então
conjecturar que, o sentido “prático do Habitus” define a “aptidão para mover e agir” e nos
faz entender que as condições de existências práticas como formas representadas são
“orquestradas” pelo “poder simbólico”. E como forma de representação instituída, cria as
mobilizações simbólicas, como instrumentos de dominações, que são difundidas e
(re)produzidas pelos agentes no cotidiano social.
Cada pensamento exposto nos valeu para ponderar apreciações, sobre a linha tênue
que separa os conceitos científicos, daquilo que “ideologicamente” é incorporado pelo
senso comum. Assim, buscar por uma objetividade científica requer que o pesquisador,
elabore interpretações sobre as representações construídas, sabendo que ele próprio, em
sua “prática comum”, também é sujeito do “mundo social”, assim:
A sociologia deve incluir uma sociologia da percepção do mundo social, isto é,
uma sociologia da construção das visões de mundo, que também contribuem
para a construção desse mundo. Porém, dado que nós construímos o espaço
social, sabemos que esses pontos de vista são como a própria palavra diz visões
tomadas a partir de um ponto, isto é, a partir de uma determinada posição no
espaço social. E sabemos também que haverá pontos de vista diferentes, e
mesmo antagônicos, já que os pontos de vista dependem do ponto a partir do
qual são tomados, já que a visão que cada agente tem do espaço depende de sua
posição nesse espaço (BOURDIEU, 2004, pp. 157).

68
- Conceito que defende a idéia de transcendência. (BOURDIEU, 2007d)
82
Por conseguinte, não podemos deixar de fora dessa análise, que dentro da
disposição ocupada na realidade prática social, existe o “gosto” (ou seja, as “preferências
manifestadas”), continuamente presente no senso comum. Essa forma, geralmente,
apresenta-se como uma disposição adquirida, que visa “estabelecer ou marcar diferenças”.
Mas, que através do habitus, por sua vez, gera “condicionamentos”, produzidos na
“condição social”. Assim, existe um “juízo classificatório”, que estabelece as relações
entre as “práticas ou representações” dentro das “posições” ocupadas no “espaço social”,
onde: “através do habitus, temos um mundo de senso comum, um mundo social que parece
evidente. (...) pela intermediação dos habitus, das disposições, dos gostos, entre as
posições e as práticas, as preferências manifestadas e as opiniões expressas” (BOURDIEU,
2004, p. 159).
No entanto, o “gosto” não pode ser visto, como um conhecimento “distintivo” e
elaborado, sobre o (re)conhecimento do “objeto”. Pois: “Os esquemas do habitus, como
um conhecimento “distintivo”, formas de classificação originárias, devem sua eficácia
própria, ao fato de funcionar aquém da consciência e do discurso, portanto, fora das
tomadas do exame e do controle voluntário” (BOURDIEU, 2007b, p. 434).
É preciso resignar-se a admitir, que na tradição tipicamente positivista da crítica
da introspecção, que a reflexão mais eficaz é aquela que consiste em objetivar o
sujeito da objetivação; com isto quero dizer aquela que, destituindo o sujeito
conhecedor do privilégio de que ele se sente investido, se arma de todos os
instrumentos de objetivação disponíveis (levantamento estatístico, observação
etnográfica, pesquisa histórica etc.) para revelar os pressupostos que ele ostenta
por conta de sua inclusão no objeto de conhecimento (BOURDIEU, 2007e, p.
20).
Por causa disso, em um “espaço”, o “habitus” ao organizar as práticas sociais,
organiza-as, independentemente da vontade de seus agentes, o que leva a abranger no
“objeto o conhecimento que os agentes fazem, têm e a contribuição que tal objeto traz a
realidade do objeto (...) não se pode esquecer que todo conhecimento e, em particular, o do
mundo social é um ato de construção” (BOURDIEU, 2007b, pp. 434-435).
Nesse sentido, existe uma consequência para Bourdieu (2004), pois o “habitus”
como produtor das “práticas e representações”, enquanto sistema de “classificação”, só
pode ser percebido enquanto tal, em um universo composto por “agentes sociais” que
tenham como conhecimento, todo um “sistema de códigos” instituídos. Fator que requer
considerar “três diferentes categorias”:
83
1ª a mais superficial, “aqueles derivados da ocupação de uma posição no espaço
social, da trajetória particular conducente a tal posição, bem como do fato de
pertencer a um sexo (capaz de afetar de muitas formas a relação com o objeto, na
medida em que a divisão sexual do trabalho se inscreve nas estruturas sociais e
nas estruturas cognitivas, orientando, por exemplo, as escolhas de objeto). 2ª Em
seguida, os pressupostos constitutivos da doxa própria a cada um dos diferentes
campos (religioso, artístico, filosófico, sociológico etc.) e, mais precisamente,
aqueles que cada pensador particular deve à sua posição num campo. 3ª - Enfim,
os pressupostos constitutivos da doxa genericamente associada à skhole, ·ao
lazer, que vem a ser a condição para a existência de todos os campos eruditos.
(...) A lógica específica de um campo se institui em estado incorporado sob a
forma de um habitus específico, ou melhor, de um sentido do jogo,
ordinariamente designado como um "espírito" ou um "sentido" ("filosófico",
"literário", "artístico" etc.), que praticamente jamais é posto ou imposto de
maneira explícita. Pelo fato de operar de modo insensível, ou seja, gradual,
progressiva e imperceptível, a conversão mais ou menos radical (conforme a
distância) do habitus originário requerido pela entrada no Jogo e conseqüente
aquisição do habitus específico acaba passando despercebida quanto ao
essencial” (BOURDIEU, 2007e, p. 21).
Tomando essas hierarquias categóricas, como base de reflexão, finalmente,
podemos observar o quanto que, as “estruturas cognitivas”, utilizadas pelos “agentes” para
conhecer o “mundo”, são condicionadas pelas suas “estruturas sociais incorporadas”.
Portanto, compreender o “mundo social”, não é meramente um “jogo de sorte”, pois, não
existe a discutida “igualdade de oportunidades”, quem fala dessa forma, esquece que em
meio aos “jogos sociais”, tem-se uma “história”, que independe da “vontade” de seus
“jogadores” (BOURDIEU, 2007e).
Motivo, para levar em conta, quando Bourdieu (2007e) alerta que fazer ciência, não
deve ser: resultado de “vocações”, “paixões”, “devoções” e “adesões”, isto seria
“absurdo”. Pois o que torna possível toda a especulação científica são, não somente as
“hipóteses, observações e experiências”, mas também, as "variações imaginárias”, que
“incita o cientista” como “uma criança”, conduzindo-o, a entrar em um “mundo lúdico” da
“proposição teórica”, a fim de “consagrar ou revelar”, quando se está a fim de “suscitar
problemas”.
Todavia, para Bourdieu (2007b), não é somente descrever a realidade, que
transforma o “conhecimento comum ou erudito”, em um “esclarecimento real e universal”
das “práticas” em suas “representações”. Logo, para não nos prendermos apenas em um
universo de classificações, devemos considerar os conhecimentos “práticos” preexistentes.
Essa fusão decorre por sabermos, que tanto as práticas do senso comum, como as
“obras objetivadas do espaço social”, possuem um emaranhando de significados,
84
comumente engendrados, por acontecimentos que são inseparáveis de “um mundo já
conquistado, colonizado por palavras, um mundo com pesada crosta de discursos. Os fatos
de nossas vidas já estão classificados, julgados, comentados, antes mesmo que ocorrerem.
Vivemos em um mundo onde tudo já foi lido, antes mesmo de existir” (CALVINO, 2002,
p. 143).
Nesse mundo “conhecido/estranho” as representações são permeadas por um
emaranhando de significados “já colonizados”, onde, se o desejo da “incitação imaginária”
for “consagrar” ou “revelar” coisas que já existem”, temos a necessidade de um “olhar” de
observação em um “espaço” totalmente vivo. Isto nos fez gerar o capítulo IV, que dentro
do seu desígnio, busca pelas vozes de Itapetinga e o que elas têm a dizer sobre a
representação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
85
CAPÍTULO IV
SOBRE A UESB: AS VOZES DOS MORADORES DE ITAPETINGA
As “vozes de Itapetinga” lembram à narrativa bíblica: "Havia trevas sobre a face do
abismo", mas com a “palavra”, apareceu a luz, separando dia e noite. Surgiram estrelas e
delas se fez o Sol, com ele deu a vida aos planetas, e entre esses apareceu a terra. Foram
então, criados os “céus e a terra”. Em seguida do “barro da terra” abrolhou a vida e, da
vida a humanidade para governar toda essa grandeza.
O que nos interessa aqui não é o princípio da criação, mas, a “palavra”, esta que fez
surgir tudo. Palavras, que possibilitam a “comunicação” e através delas, ilustram toda a
diversidade da vida. Palavras, suas formas simbólicas baseadas em letras. Portanto, “o que
faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder manter a ordem ou subvertê-la, é a
crença na legitimidade das palavras, daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é
da competência das palavras” (BOURDIEU, 2007, p.14).
Porém, em relação ao “poder simbólico” que trama as realidades sociais pela sua
produção, Bourdieu (2007, p.15) o caracteriza: “como poder de constituir o dado pela
enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e,
deste modo, a ação sobre o mundo”. Presente, então, no desenrolar das histórias de vida do
Itapetinguense e das representações de sua divisão social. É nesse sentido que, se do
“verbo se fez a vida” e se da vida se faz os verbos diferentes, iguais ou similares, do
habitus” se produz a filiação de indivíduos, ao mesmo tempo em que reproduz o grupo
que compartilha o mesmo “habitus”(BOURDIEU. 2004).
Em virtude, principalmente, de Itapetinga está situada em uma área de produção
pecuarista, onde se acreditava que o solo perpetuaria para sempre toda a origem de
riquezas e que os conhecimentos científicos e tecnológicos somente far-se-iam necessários
para um novo olhar, quando o meio natural começou a demonstrar deteriorização,
impedindo o acúmulo capital, trocando então, o hábito da prática Itapetinguense.
86
O olhar inicial
A história da UESB nessa região, durante seu período de implantação,
evidentemente, não significou nenhum reconhecimento, pelo menos não “concretamente
representado pelo senso comum”. Pois, no período inicial, o que se tinha era à força das
“palavras” de um poder “político e cultural” se fazendo valer.
Assim, não podemos perder nas lembranças, aquilo que Oliveira (2003) colocou
“era tempo das eleições municipais e estaduais” e muito menos, deixar de fora o que a
cultura local, incumbiu de construir, pois dentro de uma terra pecuarista, onde se tinha
como “lei” que as “palavras” dos latifundiários eram verdades absolutas (afinal, essa era
uma terra do “voto do cabresto”). Isso desencadeou toda uma força hegemônica para a
mobilização da população, clamada a reivindicar por essa instituição. Sendo assim:
A primeira reunião para trazer a UESB para Itapetinga foi realizada na
maçonaria. Naquela época quem estava na frente das negociações para a
efetivação da UESB em Vitória da Conquista, era Pedro Gusmão
69
. Junto com
ele estava o Prefeito de Itapetinga e O secretário de educação da Bahia. Ao
discutir sobre a possibilidade de Itapetinga também, incorporar em seu território
um campus da UESB, um determinado Doutor disse: Eu não vejo precisão de
instalar uma Universidade Estadual aqui, pois mando os meus filhos estudar para
fora, como faz a maior parte desta sociedade. Foi aí que levantei... e, pedir a
palavra: - O Sr está falando isso por que não é do mesmo grupo político aqui
constituído. E o Sr. não tem problema, por que tem condições, e eu estou aqui e
peço a Deus nesse momento que a Universidade venha para Itapetinga, pois aqui
tem, o filho do vaqueiro, do pedreiro, da lavadeira, do varredor de rua, da
doméstica, esses também, precisam estudar e mudar de vida. Bem a partir dessa
reunião houve outras e os fazendeiros acabaram por organizar e fundar a
Universidade (A, 2008)
70
O “jogo social” então se fez fortemente. Dentro das “realidades práticas”, ideias
influentes foram transformadas em “mediações simbólicas”, e por sua vez, edificadas pelo
“senso comum”. Dessa maneira, aos poucos vão sendo “incorporadas e representadas
concretamente” pelos dominados. Ou seja, encontramos localizado o conceito de
Moscovici (2005) na realidade de Itapetinga. Pois, o testemunho da entrevistada, quando
disse: “aqui tem o filho do vaqueiro, do pedreiro, da lavadeira, do varredor de rua, da
doméstica que também precisam estudar e mudar de vida” nos fez notar uma percepção,

69
- Professor Aposentado do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas- DFCH (Campus de Vitoria da
Conquista). Na época foi o Reitor da UESB. In: UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
70
- A Entrevista de (A.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 25 de junho de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
87
gerada pela ideia que a Faculdade de Zootecnia, no território de Itapetinga, seria destinada
aos filhos dos trabalhadores rurais e ou urbanos e, não apenas, que serviria como
instrumentalizadora para fortalecer, através da construção dos conhecimentos científicos, o
“capital econômico”.
A presença dessa forma de “representação da universidade”, que de um lado serviu
para a cultura baiana da “manipulação política”, de outro lado, estava inserida, no processo
em que Bourdieu (2007) determinou como sendo viabilizado por toda uma “dinâmica
histórica” e que, quando esta se amplia dentro de um “campo social”, produz as
representações, sempre implícitas, em um jogo, onde qualquer ação, só pode ser
determinada, se houver uma compatibilidade entre os “campos de forças dominantes”.
Em Itapetinga, o poder estava constituído entre os pecuaristas e os políticos. Mas
aos poucos vai se estruturando outra força dominante, oriunda dessa instituição que se
encarregaria de ser a representante da cultura erudita na cidade. É assim que a UESB
excede a fronteira do limite urbano em Itapetinga, imposto pelas fazendas pecuaristas, e
cria o Campus Juvino Oliveira:
Onde hoje funciona o Campus Juvino Oliveira, era totalmente área de pasto, veja
bem, que a cidade só ultrapassou a BA 263, depois que a UESB conseguiu essa
proeza [risos]
71
e atrás dela veio um bocado de gente. Já com o terreno em
mãos, fizemos festas, bingos, arrecadamos dinheiro, pegamos na enxada para
construir esse campus. Quando digo, eu estou falando da comunidade de
Itapetinga. Naquela época, não tinha lugar para prática, não tinha laboratório,
tudo era feito no improviso. A biblioteca se tinha muito, eram uns duzentos
livros. Hoje a biblioteca totalmente reformada possui um acervo bem superior a
uns 10 mil títulos e ainda é pouco. Temos dois mestrados um doutorado, e, creio
isto é só o começo, pois a UESB representa para essa cidade toda uma condição
de crescimento cultural (E
72
, 2008)
O relato nos sinaliza que finalmente, após uma década de existência a UESB
excede as fronteiras do perímetro urbano com a construção do Campus Juvino Oliveira,
que por sua vez, foi responsável pela cidade conseguir, “ultrapassar a BA 263
73
”. Haja
vista, que a zona urbana de Itapetinga sempre foi rodeada por fazendas pecuaristas. Logo a
instituição criou novos costumes, que começaram a ser infiltrados nos vários segmentos da

71
- Grifo nosso.
72
- A Entrevista de (E.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 29 de maio de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
73
- BA-263 liga a cidade de Vitória da Conquista a cidade de Ilhéus. Aproximadamente uns 100 km depois
de Itapetinga se transforma na BR 415. A zona Urbana de Itapetinga tem limites com as fazendas pecuaristas
sendo entrecortada pela BA 263. (Informações obtidas pela pesquisadora no IBGE de Itapetinga. Maio de
2008)
88
população, pois à medida que, ela avançou surgiram novos bairros em seu entorno.
Dessa maneira, pela ênfase dada ao discurso do entrevistado, quando fala do “papel
importante da UESB”, demonstra como são eficientes os esquemas do habitus,
74
como um
conhecimento “distintivo”, pois as suas “formas de classificação originárias, devem sua
eficácia própria, ao fato de funcionar aquém da consciência e do discurso. (...) Além disso,
envolvem os princípios mais fundamentais da construção e avaliação do mundo social”
(BOURDIEU, 2007b p, 434).
Portanto, a presença da UESB em Itapetinga, nesse cenário de extrema pobreza e
miséria, significou depois da sua efetivação, um prenúncio de “representações
diferenciadas” daquelas que foram originadas pela cultura pecuarista, haja vista que:
Com a compra simbólica do terreno de uma grande fazenda pecuarista, nós
alunos, participamos diretamente da construção do Campus, aproveitando as
aulas de macro motores. Além disso, os estudantes do curso de zootecnia iam
para Praça mostrar tudo o que estava acontecendo, Assim, em meados de 95
houve um inicio de clamor da população pela melhoria do ensino superior em
Itapetinga. Surgem então, novas mobilizações e movimentos para se trazer novos
cursos, principalmente que fossem ligados à educação. Era o desejo de mudança
(J
75
, 2008)
Evidenciamos pelas palavras da depoente, que os alunos da universidade ao
incorporarem novas atitudes e, ao demonstrá-las, começam a ter como resposta,
possibilidades de novas representações para o cotidiano Itapetinguense, essas novas formas
mobilizadas ocorreram e foram proporcionadas, através dos embates em “praça pública”,
fato inédito para a população de Itapetinga, o que possibilitou a construção de novas
representações, dentro de um território marcadamente tradicionalista, como pôde ser visto
pela declaração da Professora Maria Déa Ramos Carneiro
76
: “os alunos de Zootecnia já
estavam se sentindo realmente, a nata da intelectualidade do Município” (CARNEIRO,
2001, p, 314).
É nesse sentido que:

74
- Os dois esquemas são: “hexis”, que corresponde às posturas – disposições - corporais interiorizadas
inconscientemente pelo indivíduo em sua história de vida e, pela “ethos”, que designa os valores em estado
prático. (BOURDIEU. 2007).
75
- A Entrevista de (J.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 27 de março de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
76
- Depoimento da Professora aposentada do Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais – DEBI –
Campus de Itapetinga. In: UESB: Memória, Trajetória e Vivências.
89
A cultura dominante contribui para (...) desmobilização (falsa consciência) dos
dominados; para a legitimação da ordem estabelecida por meio do
estabelecimento das distinções (hierarquias) e para a legitimação dessas
distinções. Este efeito ideológico produz a cultura dominante dissimulando a
função de divisão na função de comunicação: a cultura que une (intermediário de
comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e que
legitima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como
subculturas) a definirem-se pela sua distância em relação à cultura dominante
(BOURDIEU, 2007d, pp 10-11 ).
Esse quadro ainda é fortalecido, no final da década de 90 em decorrência de dois
motivos: a falência da pecuária e a entrada do capital industrial em Itapetinga. Assim:
Com a decadência da pecuária em Itapetinga desencadeou dois grandes fatores,
primeiro: aquelas pessoas, que trabalhavam ligadas ao produtor rural –
geralmente um vaqueiro - estavam desempregadas. Segundo, muitos jovens que
terminavam seus cursos médios - magistério ou técnico em contabilidade - não
arrumavam trabalho, porque não tinha circulação financeira e, acabavam por ir
embora da cidade. Nesse quadro, Itapetinga não tinha futuro, ou era migração, ou
então viver no ócio. Para mim, esse foi o motivo que levou a comunidade ir para
as ruas, após quase dez anos que a universidade já estava em Itapetinga, criando
um movimento e luta para a ampliação de novos cursos na UESB. Isto se
fortaleceu. Então houve pesquisas, através de uma carta consulta, em todas as
cidades que compõem a micro Região Pastoril de Itapetinga, para saber quais os
cursos eram de interesse para essa comunidade pecuarista. Dentro das entrevistas
nas escolas, associações e residências, o que se tinha como resposta era -
queremos cursos ligados a Educação. O curso mais fácil de implantar era
pedagogia. Pois este, já possuía dentro da UESB, em Vitória da Conquista,
profissionais que poderia dar um suporte inicial. Agora sim, tínhamos um curso
que acontecia pela solicitação da comunidade como um todo, e não apenas para
atender a uma elite. Agora teríamos através da educação as estratégias
necessárias para gerar uma qualidade de instituir uma sociedade pensante.
Portanto, houve a circulação de outras idéias. Isto influiu até mesmo, na posição
de políticas voltadas para a região, pois o próprio Governo do Estado percebeu a
necessidade de alternar as formas produtivas da cidade. O que levou a fazer
investimentos para a ampliação da expansão industrial na zona urbana de
Itapetinga. Ou seja, houve todo um movimento dialético, pois se a UESB estava
sendo solicitada para atender certas demandas das empresas, muitas delas
chegaram aqui por causa da UESB (J
77
, 2008).
Se a inserção da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia ocorreu para servir de
“cabo eleitoral”, para a entrevistada, a sua ampliação não ocorreu gratuitamente, pois
demandou “lutas e reivindicações”, cujos embates e debates no campo social ocasionaram
a entrada e a diversificação de novas “mobilizações simbólicas”. No entanto, não podemos
deixar de registrar que o crescimento da UESB foi marcado pela “expansão industrial em

77
- A Entrevista de (J.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 27 de março de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
90
Itapetinga”, pois foi através dela que surgiu a necessidade do fortalecimento da área
educacional.
A partir desta realidade, tal mobilização, pelas palavras de (J.), representou para a
“comunidade Itapetinguense” novas “estratégias para gerar uma qualidade vida e de
instituir uma sociedade pensante”, o que nos demonstra que a presença da universidade na
cidade possui uma simbologia que determina posições privilegiadas para os sujeitos que
nela possam se ingressar. Portanto, a universidade passa a ser constituída como um
símbolo de esperança e como tal:
Os símbolos são os instrumentos por excelência da “integração social”: enquanto
instrumentos de conhecimento e de comunicação eles tornam possível o
consensus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente
para a reprodução da ordem social: a integração “1ógica” e a condição da
integração “moral” (BOURDIEU, 2007d p. 11).
E esse poder do símbolo enquanto força de comunicação, gera toda uma idéia de
transformação no senso comum e deixa implícito a existência de uma “relação de forças”,
que ao ser historicamente “produzida”, não é facilmente percebida na realidade prática.
Essa “dominação”, por ser originada pelos “diversos tipos de capitais”, consente o controle
que os “dominantes” infligem aos “dominados, legitimando todas as relações de poder”. E
os dominados por sua vez, aceitam sem questionar, exigir ou rechaçar tais determinações
(BOURDIEU 2007e).
Concepção, que está muito bem representada no desabafo abaixo:
A universidade era muito fechada para a comunidade, mesmo para os
pecuaristas. A partir da formação do curso de Pedagogia, houve uma eficiência
melhor dessa Instituição junto à comunidade. Pois ela passou a comunicar e a
envolver as pessoas da cidade e de seu entorno, de tal modo, que até os
vestibulares, atualmente mexe com a sociedade, pois representa novas
possibilidades, portanto considero que a Universidade trouxe luzes do saber para
essa zona pastoril (D
78
, 2008).
Consequentemente, como declara (D.) foi o Curso de Pedagogia no cenário
Itapetinguense que possibilitou a “eficácia” da apropriada “comunicação” da
Universidade com a população da cidade. Fato comprovado, além da entrevista
mencionada, em 90% das vozes dos relatos da história de vida e nos questionários

78
- A Entrevista de (D.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 10 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
91
aplicados. Outra referência que a entrevista faz é que: “a universidade trouxe luzes do
saber à zona pastoril”, fato que merece ser discutido.
Iluminando a Zona Pastoril
Os objetos ao serem construídos pelas representações humanas advêm diretamente
e são relacionadas ao lugar que o indivíduo ocupa no “espaço social” na qual está inserido.
Nesse sentido, a representação fica refém daquilo que se acredita, motivo impulsionado,
sobretudo pela:
Luta simbólica pela produção do senso comum ou, mais exatamente, pelo
monopólio da nominação legítima, os agentes investem o capital simbólico que
adquiriram nas lutas anteriores e que pode ser juridicamente garant
ido. Assim, os
títulos de nobreza, bem como ostulos escolares, representam autênticos títulos
de propriedade simbólica que dão direito às vantagens de reconhecimento
(BOURDIEU, 2004, p.58).
Consequentemente segundo o teórico, por um lado se tem a determinação da
“classificação objetiva” e a “hierarquia dos valores” que são conferidos aos “indivíduos e
aos grupos”, mas por outro lado, nem todos ocorrem sob uma base de “juízos” possuidores
de um “mesmo valor”. Para aqueles que são “detentores” de “poder”, proveniente de
qualquer “campo”, dentro da sociedade detêm uma espécie de “monopólio” – “a exemplo o
sistema escolar" -, que estabelece e garante “oficialmente” esses postos de detenção de
conhecimento, por isso muitas vezes é considerado como o “lugar” do privilégio exclusivo
das “luzes do saber”. Posto assim:
O capital simbólico pode ser oficialmente sancionado e garantido, além de
instituído juridicamente pelo efeito de nominação oficial. A nominação oficial,
isto é, o ato pelo qual se outorga a alguém um tulo, uma qualificação
socialmente reconhecida (...). Um título como o título escolar é capital simbólico
universalm
ente reconhecido e garantido, válido em todos os mercados. Enquanto
definição oficial de uma identidade oficial, ele liberta seu detentor da luta
simbólica de todos contra todos, impondo a perspectiva universalmente aprovada
(Idem, p.58).
São as estruturas simbólicas então, que explicam as relações entre o homem e a
sociedade. Assim, Bourdieu (2007d) coloca a noção de “habitus” para nos ajudar a
apreender a dimensão do poder presente na disputa pela construção dos sentidos de uma
determinada cultura. Pois através desse conceito, que se pode observar nas falas de 80%
dos entrevistados, o quanto que os “esquemas mentais” que são ao mesmo tempo,
92
“duráveis e flexíveis”, são construídos desde a “mais tenra infância dentro do próprio seio
familiar”, mas também, na trajetória de vida do indivíduo.
Principalmente, pelo fato que não existem, para Moscovici (2005) “representações
sociais” que não sejam “compartilhadas” pelo poder das palavras é com essas, que se
atingem toda uma “comunicação”. No entanto:
Contra todas as formas do erro “interacionista” o qual consiste em reduzir as
relações de força a relações de comunicação, não bastam notar que as relações de
comunicação são de modo inseparável, sempre, relações de poder que dependem,
na - forma e no conteúdo, do poder material ou simbólico acumulado pelos agentes
(ou pelas instituições) envolvidos nessas relações e que, como o dom ou o
potlatch, podem permitir acumular poder simbólico. É enquanto instrumentos
estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os “sistemas
simbólicos” cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de
legitimação da dominação (BOURDIEU. 2007d, p.11).
Todas essas questões são relevantes, para entendermos que, desde a sua
implantação até o momento que ganhou representação junto à população de Itapetinga, o
ápice da UESB foi marcado pelo jogo existente dentro do “poder político”, seja dos
governantes locais ou representantes estaduais, ou dos próprios atores sociais envolvidos
em seu processo de desenvolvimento.
Nesse sentido, uma das formas de representação para os moradores de
Itapetinga sobre a universidade se potencializou pela “melhoria do ensino” que foi
respaldada pela ampliação “das práticas escolares” na cidade. Pois de acordo com os
relatos, a UESB “organizou e qualificou essas práticas”. Por esse caminho, algumas
elocuções que serviram como mediadoras para as categorias de análises, aqui serão
apresentadas por blocos.
Primeiro bloco de discussões sobre as percepções das práticas escolares
79
:
Entrevistados Data Representações
(F) (13/08/2008) “A UESB iluminou a cidade pois o seu saber originou um incentivo
para o jovem em querer estudar, e não estou falando apenas da elite
mas principalmente das pessoas que tem um poder aquisitivo pequeno.
Hoje é comum a gente ver as pessoas ficarem com vergonha se não
forem para a escola”

79
Entrevistas realizadas pela pesquisadora através de História de Vida e Questionários. Dados dos
entrevistados constam na relação das Fontes Primárias (orais).
93
(B) (18/03/2008) “A UESB representa aqui nessa região que muitos (como meu bisneto)
possam estudar, e não passar a vergonha que sinto quando junto com
minha filha, vamos, refazer os documentos, para pegar o dinheiro da
aposentadoria. Nenhum de nós dois sabemos assinar o nome. Aí temos
sempre que sujar o dedo com aquela tinta azul para estar colocando no
papel. Sinto muita vergonha.”
(I) (16/07/2008) “A UESB representou a melhoria educacional para as camadas mais
populares, pois ao formar professores que ficam por aqui, aumentou o
número de escolas com uma mão de obra mais qualificada, ao mesmo
tempo em que possibilitou a gente não ter mais tanto despreparados,
analfabetos, pelo menos, nas áreas centrais da cidade”.
(K) “Essa é uma região muito carente. Onde se tem pouco recurso voltado
para educação. Os professores, até a vinda do Curso de Pedagogia para
Itapetinga, em sua maioria tinham apenas o curso médio - Magistério -,
(em muitos casos nem mesmo o ensino médio). Com essa formação,
melhorou bastante o nível educacional da cidade. Basta ver, por
exemplo, que atualmente tem um planejamento pedagógico, que pensa
na qualidade de ensino, através de planejamentos sistematizados e
construções de currículos referentes as necessidade da região. Com isto
é mais gente da camada popular chegando ao ensino médio e
conseqüentemente à Universidade. O professor adquiriu respeito.
Portanto, a entrada do curso de Pedagogia, na UESB, mudou toda a
prática educativa nessa comunidade pecuarista”.
Secretária de
Educação
26/ 12/ 2008 “A UESB ao oferecer a licenciatura oportunizou a qualificação para
docentes. Em Itapetinga, boa parte que faz cursos ligados a licenciatura
permanecem na cidade. Esse fato provoca desenvolvimento da prática
escolar, o que traduz como desenvolvimento educacional da população
de Itapetinga, se transformado aos poucos em desenvolvimento social.
Atualmente, além de não termos mais professores leigos na rede, ainda
temos, através dos planejamentos pedagógicos, que encaminhou um
relatório para negociação com a política local, uma escola municipal,
que foi pioneira na Bahia, pois desde 2007 que o ensino fundamental
passou a ter nove (9) anos de duração. Como os nossos professores são
qualificados, as escolas do município mantêm um bom índice de
aproveitamento, sendo relativamente baixa a reprovação, ampliando
assim, o aproveitamento anual.”.
Presidente do
Rotary Clube
de Itapetinga
15/ 12/ 2008
“Potencializou toda uma transformação da própria prática escolar na
cidade, hoje não tem mais professores que não tenham uma formação
superior, até mesmo aqueles antigos, já está fazendo o curso de
formação de professores”.
Prefeito
Municipal
18/12/2008 “Ao aprimorar o conhecimento dos professores e especializar esse quadro
desenvolveu o nível escolar, portanto qualificou a prática educacional
voltada para o povo da cidade”.
Desta forma, com a implantação do Curso de Pedagogia, de acordo com os relatos
de (K.), Secretária de Educação, Presidente do Rotary Clube e do Prefeito do Município de
Itapetinga, houve uma significativa ampliação das “práticas escolares”, constituindo no
Município uma sociedade mais escolarizada. Em contrapartida, nos discursos de (B), (F) e
94
(I), percebemos que essa nova prática trouxe outros fatores, a começar pelos seus limites,
que mesmo nessas visões, evidenciam também, os constrangimentos sociais, culturais,
políticos e econômicos, postos em funcionamento, ou impostos, sobretudo, aos grupos
subalternos, pela generalização de uma cultura escolar, portanto, escrita.
Logo, a representação da qualidade pela “melhoria da prática escolar”, que serviu
como aparato para uma nova representação dessa Instituição Superior, tão bem vista pelas
autoridades públicas e alguns indivíduos da sociedade Itapetinguense e aquelas que foram
apontadas, principalmente, pelos depoimentos de (F) e (B), trouxeram alguns aspectos que
merecem ser discutidos.
Por um lado, se a UESB ampliou a qualidade da “prática escolar”, através dos
cursos de licenciatura, agregando as camadas mais populares da cidade, por outro lado,
esses discursos só reforçam as “ideologias”, circunstanciadas por todas as “relações
sociais”, nomeadamente, as “educacionais”, pois essa, entre outras, é uma força
representativa, que atua simbolicamente sendo: “objetivamente inscritas nas condições de
existência (...) da realidade social” (BOURDIEU, 2003: p 73).
Além disso, ao ampliar o número de docentes, a representação originada por
“títulos escolares” faz com que a “cultura erudita”, seja vista, pelos “agentes sociais” mais
desprivilegiados economicamente, como uma forma de garantia social. Possibilidade que
tem ainda como acréscimo, se transformar em professores, cujo significante, está no
sentimento de ser a “nata do conhecimento cultural” em uma cidade, onde a renda per
capita é gerada por empregos sem muita valia em indústrias ou na zona rural.
O que nos faz relembrar Bourdieu (2004) quando realizou a sua pesquisa na
(Argélia), onde os “arranjos” familiares faziam do “casamento uma forma de
sobrevivência” tanto pela “economia” como pelo “reconhecimento social”. Nesta pesquisa
ele nos mostrou um ponto importante, para analisar a representação da UESB por essa via
de pensamento, pois:
No caso de Cabília, os grupos, famílias, clãs ou tribos, e os nomes que os
designam, são os instrumentos e os alvos de incontáveis estratégias e que os
agentes estão continuamente ocupados em negociar a propósito de sua
identidade: por exemplo, eles podem manipular a genealogia, como nós
manipulamos, e com os mesmos fins, os textos (...). Ao nível coletiv
o, mais
propriamente político, há todas as estratégias que visam impor uma nova
construção da realidade social. As mais típicas dessas estratégias de construção
95
são as que visam reconstruir retrospectivamente um passado ajustado às
necessidades do presente ou construir o futuro, por meio de uma predição
criadora, destinada a delimitar o sentido, sempre aberto, do presente
(BOURDIEU, 2004, p.162).
Quando nos reportamos à ideia da Prática Escolar, no sentido chamado por
Bourdieu(2004) de “estratégias de construção”, a sua representação vem sempre marcada
pelas palavras dos entrevistados em torno da “aprendizagem, conhecimento, educação,
concepção, realização e avaliação”. Sendo assim, a escola em sua prática educativa forma
um conjunto de ações, processos de influências e estruturas que intervêm no
desenvolvimento humano de indivíduos e nos grupos da sua relação.
No Brasil alguns “documentos legais norteiam o trabalho educacional” são eles: a
Constituição Federal 1.988 (art. 206); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) – lei nº 9.394/96; o Plano Nacional de Educação (PNE) – Lei nº 10.172 de nove (9)
de janeiro de 2001; e, as Diretrizes Curriculares para o Ensino. Não é raro se ter como
conceito e ponto comum nessas leis, que a educação escolar é uma “elucidação da
realidade”, onde o seu conhecimento permite o entendimento das questões: “físicas e
humanas” (SOUZA, 2001).
Esse conceito presente nas “Leis” normatizadoras da educação Brasileira, e a
própria realidade da cidade de Itapetinga, faz com que viajemos pelo tempo e relembremos
KILPATRICK, quando defendia a “escola renovada” e observava que a partir do avanço
da industrialização, a prática da educação escolar se tornou mais necessária, pois aumentou
a “especialização das funções dos indivíduos, a agregação dos indivíduos em grupos cada
vez mais numerosos e a integração desses grupos para solucionar os problemas de mútuo
interesse”. Nesse contexto a escola, para ele, caminhou por duas vias de compensação:
“conhecer o individual e saber que trabalha com o coletivo” (KILPATRICK, 1978, 20)
Comparando a época estudada por KILPATRICK com a atualidade, onde a vida
Itapetinguense passou por grandes transformações trazidas pela necessidade da
aprendizagem técnica industrial, fazemos uma reflexão: teria a UESB, sido representada
por ter nesse território desenvolvido a “prática escolar” para a disseminação de uma
aprendizagem voltada para as camadas populares, apenas como condição de poder
aprender as atividades produtivas de uma vida urbana, ou a sua representação se deu por
96
causa realmente, dela proporcionar em Itapetinga a “melhoria educacional”, mecanismo
definidor para a qualidade social? Para debater essa questão:
Não. A UESB em sua prática cotidiana, ainda não atingiu a melhoria
educacional, no sentido de trazer e fazer com que todos possam estar realmente
inseridos em uma educação de qualidade. O que é diferente de ter aumentado a
“prática escolar. Muito ainda tem que se fazer, para isso, é preciso que
desenvolva mais projetos é para isso que o conhecimento científico serve e, que
esses envolvam mais a comunidade, principalmente os alunos, para que possam
estar trabalhando junto à própria comunidade. Para isto, é preciso com certeza,
ter mais investimento na pesquisa, na extensão. Hoje em dia, a prioridade esta
voltada apenas para o ensino, com uma carga horária bem maior, como consta na
própria resolução interna. É necessário se pensar na pesquisa e na extensão, são
esses que falam muito mais claro para a Região. Esse tripé é que pode trazer para
a cidade uma socialização mais equitativa, menos diferenciada, se não a única
coisa que a UESB estará é criando na prática real, profissionais que vão
trabalhar em indústrias ou em escolas particulares e públicas mantendo nessas,
sempre as mesmas diferenciações sociais (K
80
, 2008)
Essa posição colocada por (K) encontra como fonte de análise as palavras de Louro
(2000), que além de nos convidar a olhar a escola em sua prática real, ainda nos diz que na
atualidade não existe um único tipo de escola, mesmo aquelas que pertencem a uma
mesma rede, pois elas são diferentes entre si a depender de onde estão localizadas. Por
isso, existem formas diferentes de socialização do sujeito. Assim:
As passagens pelos bancos escolares deixam marcas. Permite que se estabeleçam
– ou se reforcem – as distinções entre os sujeitos. Ali adquire todo um jeito de
ser e estar no mundo. Aqueles e aquelas que estiveram na escola – e em alguns
casos em determinadas escolas - têm um modo especial de falar, argumentar, de
vestir ou se movimentar. Seus gestos, seus passos, suas palavras e seus ouvidos
foram treinados e afinados por e para um tipo de ritual que é distinto diverso dos
outros (LOURO, 2000, p.125).
Por essa visão, existe a imposição de um ritmo próprio para a prática escolar, onde
a sua representação é marcada por “sinais” (como sinetas, gestos e olhares dos/as
professores/as diretores ou funcionários), pela limitação daquilo que “pertence à sala de
aula” e o que fica for
a dela. Sobre esses aspectos Escolano nos diz que: “entre os diversos
símbolos escolares, o relógio, em quase todas as escolas, ocupa fisicamente um lugar
importante, muitas vezes central e, servem para regular a conduta daqueles/as que ali
vivem” (ESCOLANO Apud LOURO, 2000, p, 126).
E, se é dessa prática escolar que alude os depoimentos mencionados, podemos
deduzir que as efetivações das diferentes escolas existentes em Itapetinga convergem, cada
uma a sua maneira, para um ponto em comum na sua prática educativa: organizar "a

80
- A Entrevista de (K) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 29 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
97
internalização dos valores de exatidão, aplicação e regularidade" para os agentes dentro do
espaço social e na vida cotidiana, Espaço onde se treinam os sujeitos para a aquisição de
uma “postura e uma disposição” que vai ser ocupada na realidade dos grupos sociais.
Disposições vistas “como necessárias” pelos entrevistados, demonstrando na realidade por
que socialmente existe a priorização para “às atividades intelectuais”.
Nesse sentido, se a educação escolar é tão imperativa à vida humana, que ela seja
feita como nos disse (K) proporcionada por um conhecimento científico que possa romper,
ou pelo menos minimizar as “diferenças sociais”. Isso significa, que como a escola não se
desenvolve na realidade prática por esses mecanismos, da forma que ela existe, cria os
“gostos”, e por ser essa disposição adquirida, cria: “os condicionamentos sociais
vinculados a uma condição social”(BOURDIEU, 2007b, p. 439).
Bourdieu (2007b) lido por Silva (1996) nos traz como interpretação que o “sistema
de ensino”, promove a institucionalização para as “classificações”, dele próprio, e ao
mesmo tempo por ser um “sistema objetivado de classificação” reproduz sob uma forma
transformada as hierarquias do mundo social. Opera então, sobre as divisões de acordo
com os "níveis" correspondentes dos estratos sociais, que nos faz relembrar o discurso de
(I) “a UESB representou a melhoria educacional para as camadas mais populares”.
Essas divisões são as especialidades e disciplinas que refletem ao infinito as
“divisões sociais”, o que confirmaria a “oposição entre a prática, e a teoria” que transforma
a “aparência de neutralidade” e as “classificações sociais” em classificações escolares,
referenciado muito bem pelas palavras de (F): “Hoje é comum a gente ver as pessoas
ficarem com vergonha se não forem para a escola”. Hierarquias essas, que não são vividas
como puramente técnicas, portanto, “parciais e unilaterais”. Mas, no entanto, como
hierarquias são totais, levando assim, a identificar o “valor social e valor pessoal",
portanto, as dignidades escolares se refletem na dignidade humana, colocadas na expressão
de (B) “A UESB representa aqui nessa região que muitos (como meu bisneto) possam
estudar, e não passar a vergonha que sinto (...) junto com minha filha”.
Nesse sentido, a cultura escolar é a “cultura dominante”, transformada em legítima.
Objetivada e classificatória” define no mundo social aquilo que é aristocrático, estimável,
requintado, nobre do que é vulgar. A escola recebe a delegação, pelo grupo dominante de
um poder de imposição, isto é, de poder impor conteúdos de acordo apenas com os
98
interesses deste grupo. Logo os critérios do sucesso (conteúdos, provas, aprovações
repetências e etc.) de sua prática cotidiana, o critérios sociais e não escolares.
Assim, para Bonnewitz (2005) a hierarquia escolar é, de fato, uma hierarquia social
velada pela ideologia do “dom”. Esta ideologia é primordial, para que a escola cumpra a
sua função de legitimação da “ordem social”. Pois ao negar as diferenças inegáveis dos
desprivilegiados, nega as diferenças entre o “habitus”. Por essa razão, ao mesmo tempo,
que mostra "indiferente às diferenças", cultiva e gera uma aculturação específica dos
membros dos grupos dominados. O que justifica em sua prática:
Estudar Maupassant e não a história em quadrinhos, a pintura acadêmica e não as
produções dos "grafiteiros", a música clássica e não a música "tecno". Do mesmo
modo, fundamentar os critérios de excelência na matemática e não no latim ou
no grego, é arbitrio. A seleção das disc
iplinas ensinadas, assim como a escolha
dos conteúdos disciplinares é o produto de relações de força entre grupos sociais.
A cultura escolar não é uma cultura neutra, mas uma cultura de classe. Assim,
quanto mais fraca for à distân
cia entre a cultura escolar e o meio de filiação,
cultural ligada à socialização, mais o sucesso na instituição será elevado. (...)
Assim, não é surpreendente que os "herdeiros", estudantes oriundos da elite,
sejam super-representados nas universidades, em relação aos de origem
social
modesta ( BONNEWITZ, 2005, pp- 115-116).
Em suma, “os saberes escolares” são fortemente marcados pelo tempo,
organização, repartição, seqüência, exercícios e controle: onde: “a cultura escolar” se
apresenta subordinada inteiramente a uma função de “mediação didática” e determinada
pelos “imperativos que decorrem dessa função”. E, em nada essa “Reprodução Escolar” se
difere da realidade da prática educativa de Itapetinga (SILVA, 1996).
O universo da prática escolar transforma na realidade social aquilo que é de
interesse de alguns, desejado como um interesse coletivo, ou seja, um interesse “comum
para todos”. Essa verificação bourdesiana, relatada por Bonnewitz (2005) e Silva (1996),
se
mostrou real, pelo menos, no caso de Itapetinga, pois 60% dos depoentes (tanto dos
representantes individuais como coletivos) acreditam que a intervenção educativa da
UESB, além de transformar a prática escolar da cidade, ainda propiciou uma elevação do
nível intelectual, o que conduziu a ascensão social de seus moradores. Partindo desse
ponto de vista acreditamos que houve toda uma modificação da história da cidade.
Segundo bloco de discussões sobre as intervenções educativas
81
:

81
Entrevistas realizadas pela pesquisadora através de História de Vida e Questionários. Dados dos
entrevistados constam na relação das Fontes Primárias (orais).
99
Entrevistados Data Representações
(A) (25/04/2008) “A UESB representou para Itapetinga o valor da leitura de mundo”
(D). (10/04/2008) “A UESB é referência de desenvolvimento social em Itapetinga.”
(J).
(27/03/2008) “Quanto a Itapetinga enquanto cidade, sem dúvida foi a UESB quem
deu a oportunidade de crescimento. Essa para mim foi à maior
referência de transformação da prática na cidade. Pois a vinda de um
grande número de estudantes de fora, e a possibilidade de que os
nascidos aqui permanecem na cidade foi um fator preponderante, para
as mudanças dos hábitos da cidade, que originou um crescimento
intelectual. O que colocou Itapetinga em um patamar de
desenvolvimento sequer sonhado a vinte e cinco anos atrás. Isto é
muito mais forte do que a própria extensão ocorrida dentro do próprio
zoneamento territorial urbano da cidade. O Itapetinguense pode ir
para qualquer lugar do mundo. Hoje se tem o nome de Itapetinga e da
UESB dentro de todo o Brasil e também, no exterior, por causa de
que? Da formação e trabalho da Universidade”
Secretária
de
educação
26/12/2008
“A UESB tem sido um Veículo de desenvolvimento social.
Como Secretária de Educação posso atestar que atualmente na
cidade, todos os professores possuem um curso superior, e 90%
deles fizeram o curso na UESB. Aqueles professores da rede,
que ainda não possuíam o curso superior, tiveram a
oportunidade de fazer o Curso de Formação, através do
convênio entre a Prefeitura e a UESB. tanto que agora no mês
de dezembro, tivemos a colação de Grau,. Isso significa muito
para a Região. Além disso, acredito que de uma maneira geral,
o que a gente escuta entre professores, alunos e muitos pais é
que a UESB tem contribuído muito para a elevação intelectual
e educacional da cidade”.
Presidente do
Rotary Clube
15/12/2008
Foi por uma vontade política ainda vinculada ao
desenvolvimento da cultura pecuarista, que originou a vinda do
Curso de Zootecnia. No entanto, a UESB a partir do momento
que foi edificada na cidade, fez a História Itapetinguense, tomar
novos rumos, pois causou uma total reestruturação das
representações que as pessoas tinham. Primeiro, modificou o
pensamento até então arraigado, de viver aqui refém dos
fazendeiros, ou então abandonar a cidade por falta de
oportunidades. Isto levou a uma reestruturação política.
Segundo, a partir do momento em que a Instituição foi
edificada, pode ofertar uma melhoria das condições de
trabalho, ao mesmo tempo, oportunizando que os filhos de
Itapetinga ficassem aqui na cidade, reestruturando o próprio
núcleo familiar. E terceiro isto proporcionou que pessoas de
média e baixa renda pudessem fazer um curso superior, antes
permitido apenas aos ricos, que podiam enviar os seus filhos
para fora. Essas condições na prática transformaram qualquer
realidade, qualquer história de uma população. por isso
considero que a intervenção educativa da UESB, trouxe toda
uma elevação intelectual.
100
Nesses depoimentos, podemos observar o quanto que, as “estruturas cognitivas”,
utilizadas pelos “agentes” para conhecer o “mundo”, são condicionadas pelas “estruturas
sociais incorporadas”. Se ao longo de um tempo, a UESB viveu um processo de
subordinação, pela natureza do ambiente que estava inserida, pois não tinha como crescer,
a partir de 1998 começou através de suas intervenções educativas e, decorrente de seus
projetos de pesquisa e extensão, proporcionar dentro da cidade representações como: “o
valor da leitura de mundo”, “crescimento”, “
elevação intelectual e educacional” que
“na prática”, “transforma qualquer realidade e qualquer história”.
Levando ainda, em consideração o fato que dentro da instituição, docentes e
discentes, constituem-se em “agentes sociais”, que vivem em constantes “disputas
simbólicas”, tendo de desenvolver estratégias para alcançar posições e distinções, que
podem ser alcançadas através de premiações, bolsas de estudo, qualificações profissionais,
homenagens, bolsas de iniciação científica, monitoria (de preferência ao lado dos
professores mais consagrados). Então, chegamos ao desígnio que esse “prestígio” sendo
adquirido, por esses “atores”, faz com que eles se sintam portadores de uma “distinção”
social, tanto dentro da instituição, como em seus próprios meios sociais. E esse
reconhecimento cultural, começa a legitimar na prática a representação de um status quo,
portanto, cria um “estilo de vida”.
Os discursos dos depoentes, também marcam o significado expressivo do “poder
simbólico” em gerenciar novas “estratégias”, substituindo na região tudo aquilo que se
acreditava como verdade. Percebemos então, que existe uma “apropriação” de um
habitus” sendo determinado por uma força hegemônica que passou a ser incorporada
dentro da realidade prática do Itapetinguense. O conceito de apropriação é:
Parte do esquema conceitual de Roger Chartier para explicitar os processos de
produção de sentido que configuraram a leitura como criação, matizando a
compreensão das várias “interpretações” feitas entre nós. Chartier refere-se ao
conceito sustentando que “a apropriação” tal como a entendemos visa a uma
história social dos usos e interpretações referidos a suas determinações
fundamentais e inscritos nas práticas específicas que os produzem. Dar, assim,
atenção às condições e aos processos que, concretamente, conduzem as
operações de construção do sentido (na relação de leitura e nos outros casos
também), é reconhecer, contra a antiga história intelectual, que nem as
inteligências nem as idéias são desencarnadas e, contra os pensamentos do
universal, que as categorias dadas como invariantes, sejam filosóficas ou
fenomenológicas, estão por se construir na descontinuidade das trajetórias
históricas (CATANI, 2001, p. 64).
101
Consiste então em saber, que o “capital cultural” dentro de um cotidiano, constrói
um conjunto de “qualificações intelectuais”, onde os “produtores” dessa cultura têm por
tarefa, produzir “códigos simbólicos” organizados. Designando com essa ação/percepção,
toda uma ascendência de uns indivíduos sobre os outros. Atos próprios de uma instituição
universitária. Por conseguinte, torna o espaço social, em um “jogo de disputas” pela
apropriação da “autoridade científica”, ou seja, pela capacidade de “falar e agir”, de modo
legítimo, em nome da ciência (BOURDIEU, 2007d).
Ao narrar sobre a capacidade simbólica quando se refere à UESB:
Então, nasci nessa cidade, e posso dizer que de forma simbolicamente muito
forte a UESB trouxe todo um significado, Poderia dizer que a cidade foi se
modelando a esse símbolo, o que determinou muito a nossa vida social, cultural,
econômica e até mesmo toda uma reestruturação do pensamento político (H
82
,
2008).
(H), principalmente na sua frase “a cidade foi se modelando a esse símbolo”,
indiscutivelmente, nos conduz a retomada da discussão de Bourdieu (2007d), quando fala
sobre o “poder simbólico”, dentro de um “campo” e, coloca que jamais a sua observação
pode ser a de um mero espectador, pois ele é “imperativo”, restando a “consciência” de
saber que ele existe como em “uma espécie de círculo”, que ao rodopiar está em todo lugar
mesmo que seja ignorado ou reconhecido.
Essa condição se encaixa na frase: “a cidade foi se modelando a esse símbolo”,
demonstrando a força que o “poder simbólico” tem ao exercer uma força que em maior
parte é “invisível”, mas que só existe, porque se tem uma “cumplicidade” de qualquer lado
que se esteja, ou seja, tanto faz participar dele sem o exercer ou vice versa. Portanto, o
“poder simbólico pode ser visto por um lado, como “estruturas estruturantes”, que têm no
modus operandi” a produção da “consciência”, mas por outro lado, pode ser visto como
“estruturas estruturadas”, onde existe o “opus operatum”, buscando “isolar” a estrutura
existente em cada produção simbólica. A partir dessa contestação, Bourdieu nos trouxe
como proposição que todo sistema simbólico “só pode exercer um poder estruturante
porque são estruturados”. “O poder simbólico é um poder de construção da realidade que
tende a estabelecer uma ordem gnosiológica: o sentido imediato do mundo” (BOURDIEU,
2007d, pp 9- 10).

82
- A Entrevista de (H.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 28 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
102
Partindo desse pressuposto, quando tratamos da representação construída por
sujeitos, diretamente ligados à instituição, não foi raro encontrarmos em alguns desses
depoimentos a seguinte disposição:
A representação da UESB, é a própria experiência, é a luz a zona pastoril, são
experimentos riquíssimos. O meio acadêmico por ser ele elitizado, como também
hierarquizado, proporciona uma maneira mais rica, em estar com outro. É o
conhecimento cultivado (K
83
, 2008).
Considerando a UESB, parte de um “campo científico”, que tem posições distintas
e “hierarquizadas”, fica evidente que, como “instituição”, nem mesmo dentro dela, os seus
“agentes” ocupam “os mesmos lugares”, nem tampouco gozam da mesma legitimidade e
reconhecimento simbólico. Pois quando a representação está diretamente ligada ao
conhecimento “cultivado”, entende-se bem por que os “agentes sociais”, situados no
“campo científico”, gozam uma posição melhor e detêm maior prestígio e distinção social.
Motivo, para supormos que o real é impor aos demais o modelo de universidade e de
práticas que consideram mais “verdadeiras”, mais legítimas para a Ciência.
Assim, a transmissão da cultura erudita se torna uma prática de muitos “agentes
sociais” inseridos dentro da escola, que se sentem no direito de impor “um corpo comum
de categoria de pensamentos” onde se torna possível, toda uma comunicação. Daí o sentido
de que o “habitus cultivado” fornece ao pensamento que a escola é um aparato capaz de
disseminar as diferenças sociais, ou seja, nas palavras de Bourdieu: “os indivíduos
programados, que dizer, dotados de um programa homogêneo de percepção de pensamento
e de ação, constituem o produto mais específico de um sistema de ensino” (BOURDIEU,
2007c, p. 206). Ou seja:
Enquanto "força formadora de hábitos", a escola propicia aos que se encontram
direta ou indiretamente submetidos à sua influência, não tanto esquemas de
pensamento particulares e particularizados, mas uma disposição geral geradora
de esquemas particulares capazes de serem aplicados em campos diferentes do
pensamento e da ação, aos quais se pode dar o nome de
habitus
cultivado
(BOURDIEU, 2007, p. 211).
Desta maneira, um campo, ao definir os interesses e objetos específicos de disputa,
molda o sujeito pela disposição que ele possui e ocupa no espaço social, sendo que, as suas

83
- A Entrevista de (K.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 29 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
103
representações são construídas condizentes pelos sentimentos aí instituídos. Pois, se o
indivíduo faz parte de um corpo que produz e trabalha em uma universidade, passa a
acreditar que essa é a melhor maneira de apropriação do conhecimento. Essas ideias são
difundidas com tanta força, que dentro da realidade prática o seu significado ganha
consolidação.
Em Itapetinga isso foi representado pela crença de que a UESB, através de suas
intervenções educativas, ao alargar o meio educacional, proporcionou uma elevação
intelectual. Mas, isto não significa que, no cotidiano, as diferença entre os indivíduos ou
grupos que foram marcados por toda uma herança ruralista tenham se modificado;
comprova apenas, que a partir de uma prática educativa mais equitativa esses aspectos
foram incorporados simbolicamente pelo senso comum, que:
De acordo com Abric (1998), a representação funciona como um sistema de
interpretação da realidade que rege as relações dos indiduos com o seu meio
físico e social: ela vai determinar seus comportamentos e suas práticas. P
ara ele,
a representação é um guia para a ação, ela orienta as ações e as relações sociais.
O cotidiano que permeia a nossa trajetória é um emaranhado de significados,
institdos pelas relações humanas, sendo possível capt
á-los e interpretá-los. Os
processos e mecanismos que engendram representações sociais aparecem,
portanto, entrelaçados nas práticas sociais dos discursos, diálogos, rituais,
símbolos e mitos, em ntese, na memóri
a de um grupo (MENDES, 2004, p.109).
A “Teoria do Núcleo Central” proposta por “Jean-Claude Abric (1998)” pondera
que toda “representação social” se constitui de duas formas: a primeira forma é um “núcleo
central”, onde se institui toda “organização interna” com a sua “significação”, por isso está
totalmente ligada à “memória coletiva” do grupo que a produziu, ou seja, os valores e as
normas existentes, que são construídos dentro de um cotidiano. A segunda forma são os
“elementos periféricos”, que junto com o núcleo central, criam mudanças e/ou
comparações entre representações (ABRIC. Apud MENDES, 2004).
Assim, elas são construídas socialmente e se reproduzem com base nas estruturas e
categorias do pensamento “coletivo e social”. Categorias que também servem para
demonstrar por que a “qualificação das práticas escolares e as intervenções educativas,
como forma de elevação intelectual na cidade”, encontraram lugar na coletividade do
grupo pesquisado, pois elas se converteram em desenvolvimento das práticas econômicas.
104
Terceiro bloco de discussões Sobre o Mecanismo de Veiculação Financeira
84
:
Entrevistados Data
Representações
Secretária de Educação 26/12/2008
“A UESB contribuiu para a melhoria da qualidade de vida
da comunidade, no momento em que abriu perspectivas
para que essa pudesse ver os seus filhos (e até mesmo, os
próprios pais), como é o meu caso, ter acesso ao saber.
Assim, por possuir um curso dentro do ensino superior,
levou-nos a conquistar um melhor espaço no mercado de
trabalho”
Presidente do Rotary
Clube
15/12/2008
A UESB fomentou a economia local, pois gerou renda,
ao injetar mais de dois (2) milhões de reais na Receita
Itapetinguense. além do que como indicador econômico a
UESB, já ajudou muito o Turismo em Itapetinga, pois
existe uma divulgação da cidade através dos alunos que
são de outras localidades”.
(A.)
25/06/2008
“A Universidade em Itapetinga mudou a história de cidade,
porque ela foi vista muito pela necessidade, em trazer a justiça
para um povo sofrido. Veja um exemplo você só pode ser aceita
socialmente e angariar uma colocação no mercado de trabalho,
se souber ler e escrever crêem que este é o motivo principal,
pois a partir dessas possibilidades, ela provocou mudanças em
todas as questões sociais e econômicas, que até a sua fundação
sequer era sonhado por essa comunidade pecuarista”.
Prefeito Municipal
18/12/2008
A UESB pelo contrário, potencializa no mercado de
trabalho, a formação de mão de obra especializada para
ocupar os bons empregos, melhorou o mercado
imobiliário, pois trouxe gente de fora, o que aumentou a
receita municipal, Ela própria é um grande agente
empregador, pois hoje já tem professores e funcionários
que são filhos da terra. Além disto, indiretamente tem
auxiliado, através de seminários e palestras, que orientam
aos fazendeiros sobre a criação bovina, a melhoria da
produção leiteira e investimentos em melhoramento
genético, que muito tem contribuído para a produção e
escoamento da atividade pecuarista. Todas essas
atividades sócio-educativas têm originado para Itapetinga,
um melhor desenvolvimento da produção e consumo
bovino. Tudo isto, representa para diversos segmentos da
cidade um desenvolvimento da qualidade de vida. Pois
hoje até mesmo para consumir uma carne aqui dentro da
cidade, do pobre ao rico, só faz, se essa passar pelo
padrão de qualidade. Isto significa conhecimento e saúde
pública”.
(E) 29/05/2008 “A UESB representa igualdade de crescimento intelectual e
profissional.”
(C) 16/05/2008 “A UESB representa para os jovens de Itapetinga, a oportunidade
de se ter uma igualdade de oportunidade na hora de obter os
melhores empregos”.

84
Entrevistas realizadas pela pesquisadora através de História de Vida e Questionários. Dados dos
entrevistados constam na relação das Fontes Primárias (orais).
105
(M) 19/06/2008 “A UESB Representa um grande empreendimento em
Itapetinga, pois além de ser uma empresa na região ainda é
mecanismo para capitalizar recursos através do seu público
alvo: alunos e professores. O que faz ter uma distribuição
financeira mais justa na cidade”
Vista dessa maneira, a UESB, em certa medida, realmente auxiliou para que “os
filhos da cidade, pudessem estudar e permanecer no local”, “pois além de melhorar o
ensino”, “ainda evitou migrações” - que foram alastradas na década de 80 do século XX,
por causa da crise pecuarista -. Começamos, portanto, a perceber como é forte a
representação dessa instituição, atrelada ao fato, dela ser um mecanismo de veiculação
financeira, pois além de ser um agente empreendedor, ainda produz uma mão de obra
especializada, atendendo às exigências do mercado produtivo, que na realidade da cidade
possibilitou uma maior rotatividade para as práticas econômicas.
Por um lado, essa ‘“força” ocorreu, e galgou notoriedade na mentalidade do
Itapetinguense, de acordo com a Sra. Ivanilde
85
(2008), por ter sido a Universidade
decisiva para a “melhoria da qualidade de vida” da cidade e região, pois despertou na
população, o interesse, voltado para a produção do “saber”, enquanto aparato da ciência,
vinculado a (re)construção de uma nova cadeia produtiva.
Por outro lado a UESB, ao ampliar a demanda dos cursos de Graduações,
consequentemente, aumentou o número de Professores e Servidores técnicos, acarretando
dentro da cidade, a melhoria do mercado financeiro em diversos setores, já que existem
impactos financeiros, que incidem diretamente na economia municipal. Sobre esse fato,
Lopes elenca vários aspectos, sendo eles originados por:
Salários de professores e funcionários, investimentos em obras e equipamentos,
gastos dos alunos oriundos de outros municípios que dão origem a variados,
efeitos multiplicadores, que se auto-reforçam e se propagam de maneira
cumulativa. Essa movimentação de recursos produz impactos financeiros que, no
caso da UESB, ganham maior significado quando inseridos no contexto da
economia dos municípios onde a Universidade mantém Campus (LOPES, 2003,
p, 155).
Pela apreciação do autor, ainda se tem uma grande rotatividade de “empregos”, pois
existe sempre a contratação de servidores em caráter “temporário” ou em “regimes especiais
de trabalho”, o que traz melhoria, inclusive, para o “mercado imobiliário”. Essa afirmação se
confirmou nas palavras do Presidente do Rotary Clube e do Prefeito Municipal de Itapetinga

85
- Secretária de Educação do Município de Itapetinga (exercício 2007/2008)
106
ao deixarem claro que a UESB trouxe impactos financeiros, pois como agente
empreendedor, a partir de seus dividendos, devido aos gastos financeiros, com a manutenção
do material físico e humano, a transformou em uma empresa de “grande” participação na
“receita municipal”. Fato para eles, que se converteu socialmente em um mecanismo de
distribuição de renda.
Além dos próprios recursos, essa instituição, é propulsora do desenvolvimento do
“turismo”, trazendo pessoas que somente estão ligadas à cidade pela sua intervenção
educativa. Ao gerar essa maior rotatividade de pessoas em Itapetinga e, injetar uma receita
maior na economia local, incide sobre empregos diretos e indiretos, Por isso, pelas palavras
dos referidos entrevistados no parágrafo anterior, a UESB, representa para a coletividade
Itapetinguense um grande “agente empreendedor”, pois proporcionou novos recursos
financeiros, o que fez surgir e modificar o mercado produtivo, que até a sua presença na
região, dependia unicamente dos produtores pecuaristas capitalizados.
Dentro dessa ótica, a UESB em nada se difere de outras Universidades, pois, toda a
sua ação pedagógica, tende a instituir como cursos de especializações, cada vez mais
voltados para a preparação de mão-de-obra, o que a leva a atender apenas às perspectivas
do mercado produtivo, deixando fora de seus orçamentos, projetos voltados para a área de
humanas. O que não é nada diferente da natureza que a Universidade tomou no cenário
mundial, já que “com a revolução industrial e a consolidação do modo de produção
capitalista, surgiram exigências de especializações e técnicas que se ajustassem à nova
divisão social do trabalho” (WANDERLEY, 2003: p. 18).
Essa perspectiva recai na condição que foi várias vezes mencionada nas entrevistas,
em se ter uma representação da Universidade, apenas por ela proporcionar a formação
superior técnica. Nesse contexto, a Universidade é vista como profissionalizante ainda
herança do cenário moderno. Mas esse fato, desde o século XIX, foi chamado à atenção,
quando HUMBOLDT (2003, p.88) dizia que: “(...) não pode tratar universidades como se
fossem escolas de primeiro e segundo grau ou de ensino profissionalizante”.
Por ser a Universidade um centro de cultura erudita, ela possui outros mecanismos
para compor a sua função social. Além da probabilidade econômica e técnico-
profissionalizante apontada, ela inclui também, todo um viés simbólico e político,
107
possibilitador de instituir “legitimações nas relações sociais” e, por causa disso, ela é um
mecanismo de “capital cultural” catalisador de transformação do “capital social”.
Quando essa função social não ocorre, existe uma responsabilidade da própria
instituição, que não demarca outra história. Um caso típico desse exemplo está anunciado
pelas fragilidades e emoções contidas nos outros relatos, que expressam uma vontade de
acreditar que a Universidade inserida em Itapetinga, seria um espaço de oportunidade para
a construção de uma “sociedade mais justa e mais igualitária para todos”. Lógico que essa
imagem, não passa de uma visão “utópica” do senso comum que costuma edificar tradições
e transformá-las em questões “concretas” passando então a ser acreditada por uma boa
parcela da população. No entanto:
Até no seu corpo. Quando um homem sonha na vida cotidiana, ele se projeta e
se transcende para um futuro que anima a sua esperança. Quando um homem
tem fome e busca como satisfazê-la, também se manifesta como um ser animado
pela utopia de não ter mais fome. Como nunca vai poder satisfazê-la
inteiramente, todos os dias vão inventar e, portanto, transformar o mundo de
maneira a permitira ele e aos outros satisfazer sua fome. Ainda mais profu
ndo e
íntimo, o homem não tem só fome biologicamente, mas psicologicamente. De
novo estamos encontrando o motivo do desejo. Esta fome generalizada, que leva
sempre o homem em frente, para frente e à frente, demonstra, paradoxalmente,
que ele é, no fundo, um ser de coerência. Ao homem falta sempre algo. E'
profundamente imperfeito, mas, também, tem sempre algo para aperfeiçoa
r.
As raízes da utopia consistem no fato de que o homem ainda não é um ser
satisfeito, porque ainda não é perfeito, porque o mundo ainda não é acabado.
O homem e o mundo pertencem ao ainda não. Conforme E. Bloch, não
devemos, no entanto, pensar que este ainda nãoimplica o que nunca
será.
Tal nos levaria ao desespero niilista. Ao contrário. Temos a esperança poderosa
de que o que “ainda não é” poderá ser um dia (FURTER, 1987, pp. 45-46)
Neste sentido, as representações são também construídas porque existem mudanças
e essas se congregam nas práticas humanas. Ainda existem as questões práticas que muito
corroboram para esse discernimento, pois, de acordo com informações do Setor de
Recursos Humanos - campus de Itapetinga
86
(RH), atualmente, a maioria dos profissionais
dos dois departamentos existentes na UESB já possuem “cursos stricto senso”.
Portanto, ao ter ampliado os “conhecimentos científicos”, esses professores
adéquam a cada dia o incremento a pesquisa e a extensão, fazendo com que o Campus
desenvolva cada vez mais, o quadro das Graduações, o que se configura em uma maior
demanda de oferta para cursos e vagas.

86
- Informações do Setor de Recursos Humanos do Campus de Itapetinga para a Pesquisadora em agosto de
2008.
108
Por ter aumentado o número de graduação, o campus de Itapetinga alargou a
contratação do número de professores e funcionários
87
. Atualmente, possui cento e
quarenta e quatro servidores dentro do seu quadro efetivo. Desses, cento e seis (106) são
professores (60% tem Doutorado, 30% mestrado e 10% são especialistas) e, trinta e oito
(38) técnico-administrativo (20% possuem pós-graduação stricto senso, 40% têm pós-
graduação lato sensu, 30% graduação completa e 10% o ensino médio). Além do quadro
efetivo, atualmente existe no campus, cerca de trinta e seis (36) servidores (professores,
funcionários e estagiários), que são contratados em caráter provisório. (SETOR DE
RECURSOS HUMANOS DO CAMPUS DE ITAPETINGA, 2008).
Equivale a dizer que, com a ampliação das vagas, aumentou o número de empregos
diretos, mas também, diretamente ligada à preparação educacional escolar, houve a
ampliação da formação do “capital humano”. Sobre esse aspecto, de acordo com Lopes
(2003, 92), entre os precursores da “Teoria do Capital Humano”, ganha, destaque na visão
de “Schultz” três nomes: “Adam Smith (1723-1790), J. H. Von Thunen (1783-1850) e
Irving Fischer (1867-1947)”, que voltaram seus estudos para analisar “os seres humanos
como capital”.
Além desses autores, Lopes (2003, 92) lembra das “contribuições” que foram dadas
por “Marshall” em “Princípios da Economia”, quando afirma que:
Esta teoria surge da constatação de que indivíduos com maior nível educacional
tinham maior renda, justificando esse diferencial de renda pela maior
qualificação dos mais educados. A versão moderna dessa teoria se estruturou
com base em um programa de pesquisa liderado por Becker e Schultz. O
objetivo explícito da pesquisa era explicar, analisar e avaliar as diferentes
qualificações do trabalho e seus impactos econômicos e os determinantes do
investimento em qualificação do trabalho, mais especificamente, em educação
(LOPES, 2003, p. 92).
Por acreditar que o “maior nível educacional gera maior renda”, em sua pesquisa
Lopes (2003, p. 102) aborda que entre os tipos de investimento em capital humano, a
“educação escolar universitária” contribui para o crescimento econômico e para o “bem
estar social”. Apenas analisando pelo imediato, para o autor, “as economias locais” são
duplamente beneficiadas pelas universidades localizadas em suas “fronteiras”. Primeiro,

87
- Informações fornecidas à pesquisadora em março de 2008, pelo RH - Setorial (Recursos Humanos de
Itapetinga).
109
“pelos gastos das universidades nessas localidades”, segundo, pela “formação do capital
humano”.
Sobre o primeiro aspecto referenciado por Lopes (2003), e os depoimentos do
Prefeito municipal e do Presidente do Rotary clube, podemos desenhar um quadro
demonstrativo dos impactos econômicos causados pela UESB através de seus empregos
diretos que incidem na economia local de Itapetinga.
Quadro 5 - Impacto Direto e Indireto na Economia Local
Fonte Lopes (2003) - Organização: Roberto Paulo Machado Lopes (2003)
Essa movimentação de recursos financeiros originam os múltiplos aspectos da
economia, o que causa impactos diretamente na “receita municipal” de Itapetinga e,
indiretamente na receita da Microrregião Agro Pastoril, Sendo:
Quadro 6 - Múltiplos Aspectos De Impacto Na Economia Local
Gastos do Campus Gastos de Professores
Funcionários e alunos
Incide Diretamente Incide Indiretamente
Água
Alimentação
Combustível
Construção
Diárias
Água
Alimentação
Alugueis
Combustível
Curso de idiomas
Agencias imobiliárias
Bancos
Bares
Clínicas
Clubes
Empregos indiretos
Impostos
110
Eletricidade
Folha de pagamento
Ligações telefônicas
Material didático
Material elétrico
Material de informática
Material de laboratório
Material de Limpeza
Móveis e acessórios
Peças de reposão
Segurança
Transporte
Vale Re
feição
Cursos de informática
Eletricidade
Lazer
Livros
Material de construção
Mensalidade escolar
Móveis
Planos de saúde
Remédio
Serviços domésticos
Telefonia
Transporte
Vestuários
Viagens
Concessionárias
Empregados domésticos
Empreiteiros
Empresas de segurança
Empresas de transporte
Escolas particulares
Farmácias
Hospitais
Hotéis
Lavanderias
Lojas de confecções
Marcenarias
Oficinas mecânicas
Pape
larias
Postos de gasolina
Restaurantes
Sindicatos
Supermercados
Fonte: Entrevistados da História de vida– Organização Jussara Moreira
Em resumo, podemos considerar essa situação como condição trazida pela UESB
para a região como sendo: a- uma experiência econômica concreta; b- um meio de
desenvolvimento coletivo dos indivíduos; c- uma simulação da vida produtiva. No entanto,
mesmo abordando a representação da UESB pelo viés econômico, a representação dessa
escola para a maioria dos entrevistados não foi de ver essa escola apenas como uma
“fabrica”, pois, segundo alguns depoimentos, principalmente da história de vida, ficou
muito claro que a vida é muito mais do que apenas uma lógica do trabalho.
Entretanto, se os aspectos ideológicos da educação condizem com a análise de
Lopes 2003, sobre o segundo aspecto analisado como vetor de desenvolvimento local que
foi a “formação do capital humano”, de acordo com a Secretaria de Cursos
88
, as
“matrículas dos alunos, ampliaram muito na última década na UESB em Itapetinga, pois
aumentou dos primeiros 60 alunos anuais do curso de Zootecnia para as matrículas de
1.039 alunos em 2008, distribuídos entre os cursos de graduação e pós-graduação”.
Portanto, na voz da funcionária da secretaria, a “UESB enquanto aparato escolar preparou
um número maior de sujeitos, que possuem uma formação exigida pelas necessidades das
atividades produtivas”. O quadro abaixo ratifica a afirmação da funcionária, ao mostrar o
número de egressos entre 1987 a 2008.

88
- Informações obtidas pela pesquisadora, em 18 de dezembro de 2008, através de consultas em relatórios
da Secretaria de Cursos do Campus de Itapetinga.
111
Quadros 7 - Egressos da UESB / Itapetinga de 1987 a 2008
Formandos Por Período 83/87 87/91 91/95 95/99 99/03 03/07 I PL/2008 Total /Curso
Zootecnia 38 41 40 44 73 148 18 402
Pedagogia 00 00 00 32 184 265 33 504
Engenharia Alimentos 00 00 00 00 15 133 12 160
Lic. Química 00 00 00 00 00 00 14 14
Lic.Ciências Biológicas 00 00 00 00 00 00 00 00
Engenharia Ambiental 00 00 00 00 00 00 00 00
Total /Período 38 41 40 76 272 546 77 1.090
Fonte: Atas dos Colegiados de Curso
89
( I PL – Primeiro Período Letivo, e os Cursos ainda não possuem nenhuma turma que colou Grau devido ao
tempo e existência, que pode ser verificado no Quadro Dez (10) no segundo capítulo desse trabalho).
Através de uma análise do quadro podemos perceber que o número de egressos
aumentou a partir do acréscimo das graduações oferecidas pelo campus. A Secretaria de
cursos, ainda informou que entre os 1.090 alunos egressos das graduações e pós-
graduações, 42% são moradores de Itapetinga, 20% de seu entorno e 38% de outras
localidades.
Portanto, entre os 1.039 alunos atualmente matriculados e os 1.090 egressos, de
acordo com os Colegiados de Cursos (2008) existem alunos que são ligados diretamente a
pesquisas, que não atendem somente a Itapetinga, por isso mesmo, servem como
mecanismo de desenvolvimento econômico e cultural de forma disseminada por lugares
que vão além da região.
Além do que o Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (Mestrado e Doutorado)
com Área de Concentração em Produção de Ruminantes, tem como objetivo o
desenvolvimento de pesquisas voltadas para a solução dos principais problemas da
pecuária regional. Essa geração de tecnologia voltada à realidade regional possui o intuito
de mudar o cenário da produção animal na região, com alternativas que visem o aumento
da produção, a redução dos custos de produção e, consequentemente, o aumento da

89
- Informações obtidas pela pesquisadora com a Secretaria de cursos e Colegiados em dezembro de 2008.
112
lucratividade dos produtores rurais e das empresas que atuam no meio rural. (Colegiado do
Curso. 2008)
90
.
A UESB, nesse aspecto, tem se consolidado na região através de suas atividades,
objetivando o desenvolvimento da produção dos conhecimentos científicos, que subjazem
à ciência e à técnica moderna, cuja, intervenção na realidade regional é solidificada pelas
relações de intercâmbio dentro do município, fomentadas pelos produtos: escolar,
educativo e econômico.
Quarto e último bloco de discussões descrito pelas vozes Itapetinguense: a
representação da UESB
91
.
Entrevistado Data Representações
Presidente do
Rotary Clube.
15/12/2008
“Como posso falar em nome da comunidade. Digo que A UESB
representa e representou desde o momento de sua chegada o
veículo que economicamente socialmente e Culturalmente tem
auxiliado Itapetinga, realmente chegar a um pólo de
desenvolvimento. Ela tem se tornado um patrimônio público para
a cidade”.
Prefeito do
Município de
Itapetinga
18/12/2008 “Sempre ouço nas reuniões com empresários e fazendeiros
pecuaristas, que a UESB é um patrimônio cultural e intelectual
que a cidade possui. Pois a UESB tem potencializado um
mercado de trabalho mais intelectualizado. O que traz riqueza e
b
eneficio. E através do campo da educação, a UESB, tornou
Itapetinga dentro da região um pólo educacional, Isto é
transformação simbólica Nesse aspecto, houve uma melhoria
sócio-cultural e educacional que tem transformado a população
de Itapetinga”.
(D)
“A cidade não ultrapassava a BA 263, ficava restrita ao pedaço central,
depois vimos o desenvolvimento de novos bairros, bairros antigos que se
expandiram e melhorou sua estrutura física, a UESB teve grande
influencia sobre essas questões. Assim ela se tornou um patrimônio
p
ublico. e como se fosse uma pessoa, a UESB, possui identidade. De
tal forma que para chegar ao Bairro Primavera, o endereço de localização
é a UESB. Ela é referência, e a partir daí , a gente vê o quanto se tornou
importante. Eu estava até comentando esses dias, que o Campus Juvino
Oliveira, em breve vai ficar dentro da cidade, porque a gente vê o
campus fora, mas os bairros estão se aproximando, acho que isso
contribuiu muito, se tem uma universidade ali, porque não nos aproximar
mais, já que a UESB é Itapetinga”.
(J) 27/03/2008
“A UESB e o patrimônio cultural intelectual dessa cidade. Isto, ninguém
tira do Itapetinguense. Hoje se tem o nome de Itapetinga e da UESB
dentro de todo o Brasil e também, no exterior, por causa de que? Da
formação e trabalho da Universidade”.

90
- Informações obtidas pela pesquisadora com o Colegiado de Zootecnia em dezembro de 2008.
91
Entrevistas realizadas pela pesquisadora através de História de Vida e Questionários. Dados dos
entrevistados constam na relação das Fontes Primárias (orais).
113
Pelos depoimentos, as representações instituídas acerca da UESB, embora de
segmentos diferenciados da sociedade, como também de gerações distintas, evidenciam
que a instituição educacional superior possui um “poder simbólico”, que nas edificações
sociais traz toda uma mobilização para a construção e manutenção de um novo “Habitus”.
Nesses quatro blocos de discussões apresentados anteriormente, fica explicitado,
por que o “habitus” faz a mediação do “agente social individual”, com o coletivo dentro
das subjetividades por que passam as representações do universo humano, pois ele pode ser
utilizado para produzir e reproduzir as “estruturas mentais”. Sendo adquirido passa dentro
da ação prática a representar, algo que está ali instalado no cotidiano, como mais
significante em detrimento de outro não-significante, ou seja, a condição da UESB
substituindo a condição da produção pecuarista, assim, nessa cidade, a imagem da UESB
passa a ser tida como “patrimônio cultural, público e intelectual”.
Pelo pensamento bourdesiano, podemos inferir que essas construções dos
Itapetinguenses sobre a UESB nesses vinte e cinco anos de existência, perpassam por
incorporar o poder proveniente do campo científico, dando uma autoridade que até então,
pertencia aos latifundiários da cidade. Em outras palavras, a base de organização fundado
na “crença”, não modificou em nada a prática do Itapetinguense, apenas teve a sua
representação deslocada de um foco, que era originada pelo poder da cultura pecuarista
para outro como forma de poder proveniente da cultura erudita, que hegemonicamente,
obriga a linguagem ao falar sobre ela, cair em uma teia simbólica socialmente criada, que
coletivamente transformam o “capital científico” em detentor de “mobilização social”
(BOURDIEU, 2004).
Nesse sentido Bourdieu (2003 e 2007c) distingue frequentemente três conjuntos de
disposições e de estratégias de investimento escolar, que seriam adotados pelos diferentes
grupos existentes nas complexas teias sociais. O primeiro desses grupos, ao ser desprovido
do poder econômico e cultural, tenderia a investir de modo moderado no sistema de ensino.
Contrapondo a esse grupo, os grupos médios investem sistematicamente na escolarização
dos filhos. Esse comportamento se encontra presente pela busca da ascensão social. As
elites pela posse dos bens culturais e econômicos, mesmo investidas na escola, não fazem
da mesma maneira que os grupos médios, mas de uma forma “laxista”, já que eles ocupam
114
as posições dominantes da sociedade, não dependendo, portanto, do sucesso escolar dos
filhos para ascender socialmente.
Assim, podemos compreender porque os discursos dos sujeitos envolvidos na
pesquisa condiziam com a posição ocupada por eles ou elas dentro da estrutura social
Itapetinguense. Deste modo, o processo educativo da UESB tem representação para os
moradores de Itapetinga vinculados ao “capital cultural”, quando os discursos são de atores
sociais, diretamente ligados à universidade; atreladas ao “capital econômico”, quando as
pessoas são provenientes da elite econômica, ou então, entre os mais jovens; acoplado ao
“capital social”, por aqueles que não se sentem reconhecidos dentro da cidade, e acreditam
que a universidade pode lhes reservar esse direito; e, ligado a todas essas formas de
capitais, por todos aqueles que lideram ou exercem algum tipo de dominação na cidade.
Conclusão: Breve Discussão
Pelas discussões podemos chegar a três conclusões apontadas a partir de agora:
a- No decorrer dos vinte e cinco anos (25) de vivência da UESB (Fotos no Painel
2)
92
, a sua representação dentro do senso comum decorreu no momento em que ela
conseguiu ultrapassar a dominação, impetrada pelos latifundiários locais que, não apoiava
qualquer “tomada de decisão” dentro da cidade, quando essa não estivesse de acordo com
os seus ideais, criando então novo “habitus”.
b – Foi através da noção de “habitus” dada por Pierre Bourdieu (2004, 2007b,
2007d) como um princípio gerador das práticas e das representações e seu conceito de
“campo” como o espaço de forças opostas, que obtivemos o sustentáculo para localizar
aspectos, característicos em um universo acadêmico. Assim, nos possibilitou a
interpretação da representação dos moradores de Itapetinga sobre a Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia, a partir dos três grupos de análises: as percepções sobre as práticas
escolares; as representações pelas intervenções educativas como forma de elevação
intelectual; e a representação como mecanismo de veiculação financeira.

92
- O Painel de fotos da UESB se encontra no anexo (5.1) nesse trabalho.
115
c – Finalmente, depois de toda análise desenvolvida no corpo do trabalho,
apontamos que as argumentações aqui relacionadas somente foram possíveis, a partir das
entrevistas realizadas com as (13) pessoas, que contaram a sua história de vida e dos
resultados adquiridos nos 04 questionários semi-estruturados que aqui serviram para
averiguação.
Tomando por base esse três pontos de conhecimento, recorremos a algumas
transcrições de depoimentos de estratos sociais diferenciados, a fim de exemplificar, um
processo real de incorporação de novas representações através dos elementos considerados
pelos moradores de Itapetinga, como base para a prática educativa da UESB.
O que levou a criação da Zootecnia e não de outro curso, ou seja, o que levou a
existência da Zootecnia, ofertado pela UESB, foi à própria constituição
produtiva da cidade. Naquela época a cidade era conhecida como a “Capital
Baiana da Pecuária”, daí o lema: “terra firme gado forte”, inclusive era a maior
produtora de leite da Bahia, também era tida como instrumento de avaliação do
preço da arroba boi no Brasil. Quando assistia ao Globo Rural, programa da
Rede Globo se via como modelo de cotação da arroba de boi, preços elaborados
por Itapetinga da Bahia e Cuiabá do Mato Grosso. Era referência na pecuária não
só na Bahia, mas também no Brasil. As exposições agropecuárias de Itapetinga
eram conhecidas até mesmo no exterior, onde se tinha animais vindos até mesmo
do Texas – Estados Unidos – para cá. Então, tinha se esse ícone que Itapetinga
precisava de um curso ligado à pecuária, para poder instrumentalizar essa coisa
de “grande” na produção da pecuária. Eu me lembro que meu pai, que também,
era produtor rural, tinha o costume apenas de ter um único gasto com os animais,
as vacinas, e não existia nem esse negócio de botar ração e sal para os animais.
Foi uma época, que não se tinha a ideia de investir na tecnologia para se ter uma
melhor produção. Não se tinha a ideia de que o investimento era à base de um
lucro maior. Como meu pai muito outros fazendeiros pensavam e agia igual. Por
causa dessa mentalidade é que muitos formandos em zootecnia, foram para
outras regiões. Aqueles formandos em zootecnia que ficavam por aqui, também
acabavam ficando sem campo de produção dentro de suas áreas, sendo obrigados
a exercer outros tipos de trabalho. Do embate entre zootecnistas e produtores, o
que restou de herança dessa luta foi que, Itapetinga acabou por perder o posto de
grande produtora pecuarista. E quanto aos produtores daqui, acabaram por ser
conhecidos apenas como “gigolôs de vacas”. Que era soltar a vaca no pasto e
esperar apenas o lucro. (risos), hoje os herdeiros em maioria, pensam de forma
diferenciada. A mentalidade está modificada e a UESB foi responsável por isso
(J
93
, 2008).
Esse elemento está baseado no início da prática educativa da UESB na zona
pastoril, que pelo depoimento de (J), esta nova forma de representação cultural, provocou
“nova mentalidade”, para os moradores de Itapetinga, pois:

93
- A Entrevista de (J.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 27 de março de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
116
Aqui em Itapetinga sempre existiu uma disputa entre os espaços para se firmar as
suas duas religiões dominantes. Por um lado tínhamos o catolicismo, que de um
modo geral tem a sua força dentro da humanidade que é histórica. Mas por outro
lado, o que se manifestou mesmo em Itapetinga, foi o protestantismo. Talvez seja
porque a Igreja Batista é quase que fundadora da cidade. Pois os Batistas
trilharam juntos com os pioneiros para a construção dessa cidade. E nesse
território, acoplado ainda por uma estrutura, onde 2% eram de uma população
formada pelos grandes produtores pecuaristas, universo do gado e de
monocultura, que entrou a UESB, laica, leiga. Eu comecei a entender a UESB
por esse universo de ligação. Assim, acredito que a influência da UESB em
Itapetinga existe por diversos fatores: econômico, político, social e também
cultural. Como Itapetinga tem uma historia baseada em estratos de poder de uma
elite pecuarista e de uma religião protestante dominante, a formação de uma elite
intelectual, mudou totalmente essa base. Pois na UESB, se formam líderes, mas
lá dentro também se têm lideres. Assim, temos pessoas que pensam na
comunidade, pensam na sociedade, pensam na tecnologia. Conduz através das
pesquisas as melhorias de vida da comunidade, e levam também por esse
mecanismo o nome de Itapetinga para outros locais. A UESB vai assim,
reconstruindo a historia de Itapetinga e, vai se mostrando como parte desta
comunidade. (I
94
, 2008)
O elemento considerado, para a forma de representação está ligado ao desenrolar da
prática educativa da UESB que para (I), trouxe uma “influência política, econômica, social
e também cultural”, já que:
Itapetinga sempre foi igual e muito diferente de outras cidades, quando eu
viajava, percebia que era igual, na aparência, algumas casas, algumas ruas,
algumas, pessoas, mas também muito diferente. As pessoas de Itapetinga,
tipicamente só se encontravam aqui. Sempre mantendo uma relação de uma
superioridade em relação a outras pessoas, elas se posicionavam de uma forma a
se sentir superiores. E não estou falando da elite, mas da população em geral,
claro que existem as exceções, é que as pessoas queriam ser o que elas não são.
Hoje eu faço uma reflexão, como Itapetinga é uma cidade que traz uma raiz
protestante de acúmulo de bens e, o bem principal de valor é a terra. E a terra ela
não traz só um status econômico, mas um estado de poder simbólico. Você ter
terra é ter um símbolo de poder. E esse poder tem que ser transmitido mostrado
de alguma maneira. E, essa maneira bem expressava é pela roupa, pelo carro,
pela forma de se comportar em relação às outras pessoas. Por ex: Se no Rio de
janeiro lançasse uma moda no outro dia Itapetinga já estava participando, era
famosa. E eu percebi que isso mudou muito depois da UESB. Hoje não se vê
mais aquela disputa na praça para ver que estava na moda. Hoje se vê outras
palavras, e são palavras que falam do conhecimento, em como adquirir, em como
fazer parte dele. Isso para mim.... Representa crescimento Eu tenho 26 anos, a
UESB 25 e Itapetinga é uma jovem senhora, creio que um futuro nos aguarda
(H
95
, 2008)
Com esse depoimento demonstramos finalmente, que na realidade prática a
incorporação das representações sobre a UESB ocorreu para os moradores de Itapetinga,

94
- A Entrevista de (I) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em e6 de julho de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
95
- A Entrevista de (H.) foi concedida a Pesquisadora através de sua história de vida em 28 de abril de 2008.
Dados do depoente consta nas Fontes Primárias (Orais).
117
porque, como justifica(H) ela trouxe “crescimento” para a cidade. Assim, a UESB passou
por momentos distintos em sua história, o que provocou para os moradores de Itapetinga,
Um papel muito importante na cidade, basta analisar a história que é
produzida pelos jovens, que hoje já formados, tem contribuído para o
crescimento da cidade. Pois, os jovens que estudam na UESB, estão
construindo e melhorando a cidade. Dessa forma, tem modificado o
perfil cultural, pedra fundamental para edificar as transformações
sociais, as questões políticas. Atualmente a UESB é uma fonte de
esperança, pois tem melhorado a vida da comunidade Itapetinguense.
Além disso, a UESB contribui muito para a vida religiosa, pois através
dos esclarecimentos de conceitos em áreas específicas da ciência, traz
para dentro da Igreja, pessoas mais esclarecidas, capazes de suscitar
debates e ter ideias para alavancar novas alternativas na resolução de
problemas, muitas vezes tidos como insolúveis (PASTOR AMILTON
96
,
2008)
Esse depoimento demarca um território diferente da maneira que o entrevistado (I)
relacionou ao vislumbrar que a entrada de uma elite intelectual aboliu a elite protestante,
pelo contrário, pois nos utilizando das colocações de Alvarez-Uría fazemos delas a
resposta e análise ideal para essas suposições:
Weber escreveu que "o capitalismo não pode utilizar como trabalhador o
representante prático do Liberum arbitrium indisciplinado, assim como
tampouco pode usar (como ensinava Franklin) o homem de negócios que
não
sabe guardar a aparência, pelo menos, de escrupulosidade". No interior desse
importante processo de educação de trabalhadores disciplinados e de homens de
negócios metó
dicos e escrupulosos, a instrução escolar desempenhou, sem
vida, um importante papel tanto nos países católicos quanto nos protestantes.
Nesse sentido, os trabalhos de Michel Foucault sobre os mecanismos de poder, e
mais co
ncretamente sobre o papel do poder disciplinar na produção de sujeitos
dóceis e úteis, prolongam e completam as linhas de investigação marcadas por
Max Weber. A análise histórica dos process
os de formação do capitalismo, em
íntima relação com a gênese das instituições escolares, nos permite compreender
melhor por que a escola apresenta fortes analogias com as instituições totais,
assim como carac
testicas pprias das instituições vorazes: o convento e a
entrega vocacional própria dos eleitos são duas dimensões ocultas que subjazem
na lógica do funcionamento da escola; uma lógica destinada a se perpetuar
enquanto o desco
nhecimento siga servindo de aval ao reconhecimento de sua
legitimidade. (ALVAREZ-URÍA. 2000, p. 140).
Ou seja, pela ideia do autor, a forma de conhecimento teológico não tem uma
aceitação dócil, afoita ou de embate em relação à ciência, como quis demonstrar o
depoimento de (I) e do Pastor, mas pela força do capital, pois na realidade prática elas se
complementam. Talvez agora pela exposição de (I) e de (H) ao localizarem na cidade um

96
- A Entrevista do Pastor da Igreja Batista Nacional “Nova Aliança, concedida a Pesquisadora, através de
questionário semi estruturado, em 15 de dezembro de 2008. Dados do depoente consta nas Fontes Primárias
(Orais).
118
berço totalmente protestante, então justificaria, porque as rupturas, até mesmo, com certos
costumes arraigados entre os jovens, foram descartados com tanta facilidade.
Portanto feito essa breve discussão, apresentamos através dos quadros abaixo, os
dados do GT da História de Vida, que foram organizados pela: Disposição de:
Escolarização; Situação Funcional; Aproximação da Idade Cronológica e Gênero; e,
Disposição Sócio-Econômica.
Quadro 8 - Disposição dos Entrevistados: Escolarização
Escolarização Natural de Itapetinga Outras localidades
T
otal por Grau
Analfabeto 1 1 2
Ensino Médio 3 - 3
Graduando 2 - 2
Graduado 1 - 1
Pós- graduado (Lato sensu) 1 - 1
Pós- graduado (stricto Sensu) 2 2 4
Total Geral de Entrevistados 10 3 13
Fonte: Entrevistados: História de vida. (Organização: Jussara Moreira)
Fonte: Entrevistados: História de vida. (Organização: Jussara Moreira)
Quadro 9- Disposição Geral dos Entrevistados: Condição Funcional
Aposentado Empresário Funcionário Estudante Professor(a)
Rural Outro Pecuarista Outro Publico Privado Médio Superior Fund. Superior
02 01 01
-
02 01 01
02 01
02
119
Quadro 10 - Disposição Geral dos Entrevistados: Idade Aproximada e Gênero
Idade
Sexo Feminino
Sexo Masculino
Total
15 a 25
01
02
03
25 a 35 03 02 05
35 a 45 - 01 01
45 a 55 01 - 01
55 a 65 01 - 01
Acima de 65 01 01 02
Fonte: Entrevistados: História de vida. (Organização: Jussara Moreira)
Quadro 11 - Disposição Geral dos Entrevistados por Condição Sócio-Econômica
Renda Familiar Aposentado Trabalhador
Estudante Total
Faixa Salarial
0 a 3 mínimos 02 02
01 05
3 a 5 mínimos - 02 - 02
5 a 10 mínimos - 02 01 03
Acima de 10
mínimos
01 01 01 03
Fonte: Entrevistados: História de vida. (Organização: Jussara Moreira)
A amostra, referente aos entrevistados dos questionários, nos apresenta os seguintes
dados: a faixa etária foi acima de 30 anos de idade, 90% possuíam o curso superior
completo ou então estavam em curso; todos são casados; residentes ou naturais de
Itapetinga; e, exercem profissões políticas ou são representantes de organizações civis.
Entre as perguntas estruturadas dos questionários: 100% conheciam a UESB, 75% já
tinham feito algum tipo de curso dentro da instituição, 75% acreditam que a UESB tem
uma boa oferta e qualidade de ensino, 50% acreditam que a UESB atua muito bem como
agente empreendedor, principalmente, por regular o mercado profissional dentro da cidade
e, 50% acreditam que ela é um agente empreendedor, mas ainda tem que dinamizar suas
atividades para galgar uma melhor representação junto à população da cidade. 25%
acreditam que o espaço físico é bom para os populares da cidade, 50% sabem dos projetos
120
de extensão e de pesquisa, por diversos motivos, ou porque já estiveram envolvidos em
alguma atividade, ou por terem sido veiculados por propagandas. E finalmente, apenas
50% dos entrevistados acreditam que existe uma disponibilidade do acervo da biblioteca
para a cidade.
De uma maneira geral tanto as fontes individuais como coletivos consideraram
alguns pontos negativos sobre o desempenho da UESB:
1- Sobre a prática no cotidiano: “A universidade precisa “sair do mundo fechado
em si mesma” e avançar para uma “maior integração com a comunidade Itapetinguense”.
2 - Sobre oferta e qualidade de ensino: “a universidade precisa ampliar o número de
graduações, a exemplo de Jequié e Vitória da Conquista, pois não justifica até o presente
momento eles ainda serem tão restritos”.
3- Sobre o aspecto físico da UESB: “o local se destaca pelo amplo espaço, que além
de ser muito bem situado, quando olhado pelo aspecto cultural, viabiliza um grande desejo
da população de frequentar e estar naquele cenário, mas, no entanto, a UESB precisa
constituir-se como um local que possa ser frequentado pelos jovens da cidade, fazendo
ponto de interação entre programas educacionais e incentivo à produção educacional.
4- Sobre a Biblioteca: “apesar do incentivo aos jovens artistas da cidade, os atores
sociais ainda a relacionam como um patrimônio intelectual e de difícil acesso. Poderia
despertar o interesse das pessoas, se houvesse uma divulgação de que esse é um espaço
público, portanto à disposição da comunidade local e em seu entorno”.
5- Sobre a prática cultural/pesquisa e extensão: “falta à realização de eventos
científicos e atividades culturais, principalmente que sejam divulgadas para a comunidade
esclarecendo o que é, para que serve e quais os benefícios que trazem”. “É preciso ainda à
realização de eventos como: o artesanato, música, a dança, o teatro, o que não tem sido
(re)significado pela UESB”. “É preciso uma valoração maior da cultura popular”.
No entanto, houve um ponto contraditório nas respostas dos questionários, pois
mesmo a Universidade tendo sofrido algumas críticas sobre o seu desempenho, adquiriu
100% de aprovação em seus mecanismos de mobilização para o desenvolvimento da
121
prática cultural, para ampliação e formação profissional, incentivo para a transformação da
prática política (com uma pequena ressalva de 25%, que denunciou a não participação dos
professores da UESB em importantes decisões políticas, como por exemplo, a “construção
do plano Diretor da Cidade”) e, por fim, sobre a melhoria social da cidade, 100%
acreditam que é ótima, pois “a
UESB, tem sido e representado para os
moradores
de
Itapetinga como um veículo de desenvolvimento social, ao contribuir para a
melhoria da qualidade de vida da comunidade”.
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise para o desenvolvimento dessa pesquisa, somente foi possível pela busca
exaustiva do processo histórico da formação do jogo social da cidade de Itapetinga. O que
nos possibilitou discorrer sobre duas questões:
1º - Em Itapetinga, mesmo que sejam apresentadas características de sua
organização histórica e cultural que a diferencia de outras cidades, à medida que ela se
desenvolveu, se estratificou e se tornou mais complexa e diversificada, ela se torna igual a
qualquer outra sociedade existente principalmente, nos grandes centros urbanos.
2º - Nesse processo complexo de relações sociais, o “habitus”, enquanto
“representação e ação das práticas” submetem aos indivíduos (mesmo que essas
construções não sejam operadas em um “vazio social”), que se tornem dominados pelas
condições “estruturadas” socialmente. O que nos leva, a definir o “gosto”, pensado
geralmente, como uma escolha de livre arbítrio, mas que não passa de uma condição dada
pela “disposição” do sujeito dento do espaço social. Sendo assim, os significados
socialmente aceitáveis, dependem dessa hierarquia, onde nascem também, as opções pelos
tipos de roupa, livros escolhidos, moradia, tipo de educação, e etc. Assim, vamos
perpetuando, através da cultura pelas gerações, tudo o que faz parte do universo e da
sociedade na qual se está inserido.
Nesse sentido, as distinções de uma sociedade mesmo que, necessariamente, não
sejam com propósitos conscientes, impõem para o sujeito a maneira que acredita ser
“certa” para pensar e agir. Foi na busca desse entendimento, que procuramos investigar
dentro da prática de uma realidade social, como ocorrem as construções das
Representações.
Esse conhecimento sendo objetivado nos esclarece como dentro das relações
práticas, pode haver a conformação pelo “habitus” e, como esse pode influenciar em todas
as dimensões sobre as representações, que os atores sociais em suas singularidades
específicas criam, estabelecem e transmitem entre os seus pares.
123
Além do que, outro ponto foi levado em consideração: A vida moderna por ser tão
conturbada faz com que se queiram tanto buscar apreender as subjetividades humanas?
Questão que só pode ser compreendida, se levarmos em conta, que no jogo da vida, o
observado e o apreendido, são as “convenções subjacentes”, pois permitem interações em
ações e pensamentos, ao mesmo tempo, em que, permanecem “inconscientes” delas. Para
uma melhor análise dessa afirmação, podemos conjecturar que:
Essa rede de crenças, cada fio depende dos outros fios e um Zande
97
não pode
deixar esse esquema, único mundo que ele conhece. A rede o é uma estrutura
externa em que ele está preso. (...) E ele não pode pensar que seu pensamento
esteja errado (EVANS-PRITCHARD Apud MOSCOVICI, 2005, p. 35).
Assim, todo grupo humano, por mais que tente buscar a liberdade de pensamento e
ação, ao viver dentro do social, não tem como escapar das imposições presentes, pode até,
por um esforço muito grande ter-se a consciência dos aspectos convencionais existentes,
mas não eliminar todas as estratégias convencionais instituídas e, que conduzem à
elaboração de todos os “pré-conceitos”. Entre esses, estão localizados sentimentos e
razões, crenças e valores em relação aos objetos. Destarte, as representações:
Em primeiro lugar, elas convencionalizam os objetos, pessoas ou
acontecimentos que encontram. Elas lhes dão uma forma definitiva, as
localizam em uma determinada categoria e gradualmente as colocam
como um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo
de pessoas. Todos os novos elementos se juntam a esse modelo e se
sintetizam nele. Assim, nós passamos a afi
rmar que a terra é redonda,
associamos comunismo com a cor vermelha, inflação com o decréscimo
do valor do dinheiro. Mesmo quando uma pessoa ou objeto não se
adéquam exatamente ao modelo, nós o forçamos a assumir determinada
forma, entrar em determinada categoria, na realidade, a se tornar intico
aos outros, (...) Em segundo lugar, as Representações são prescritivas,
isto é, elas se i
mpõem sobre nós com uma força irresistível. Essa força é
uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós
comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve ser
pensado (MOSCOVICI, 2005, pp, 31-37).
Configurar então, as “convenções subjacentes e as representações prescritivas” é
que impõe as representações sociais. Possibilidade que fez parte do tema dessa
investigação. Pois ao aproximar da assimilação das representações dos “agentes sociais”
que, dentro de um “tempo” determinado foi erguido pela cidade de Itapetinga acerca da
instituição universitária, alcançou como percepção, que todo o processo de construção da

97
- Trabalho em 1937 de Evans-Pritchard sobre a tribo étnica africana (MOSCOVICI. 2005, p, 34)
124
representação que nesse “espaço social” foi estabelecido, diretamente estava ligado aos
fatores culturais, provenientes da própria formação social e histórica da cidade.
É essa incorporação que Bourdieu (2003, 2004, 2007c, 2007e), chama por
“habitus”, e que, igual a qualquer outro local, em Itapetinga, não ocorreu somente no
início da sua constituição de agrupamento humano, pois ele produziu mobilizações de
novas simbologias, e dentro do tempo está sempre sendo adquirido pelos “agentes sociais”,
mais desprivilegiados, como também, pelos detentores do poder da cidade.
Por essa razão que, subjetivamente, temos incutido representações sobre a cidade
em que se habita, as ruas que se passa, os patrimônios públicos, as igrejas, as casas, a
história de vida, enfim, também, sobre a universidade em que se estuda ou não se estuda
por falta de oportunidade. Representações que passam pelo desejo de estar nela, por causa
da visão que através dela temos a possibilidade das riquezas culturais e econômicas. O
desejo de sair dela por que a descobriu, como um lugar fechado em si mesmo. A ideia de
que ela é manipuladora e está a serviço da elite dominante. A ideia de que ela é um veículo
de desenvolvimento humano e social. Que a universidade se constitui em uma instituição
meramente voltada para a cultura erudita, ou então, que tem condições de divulgar a
cultura popular local.
Portanto, a maior análise que podemos fazer desse processo investigativo, reside
nos elementos do senso comum, pois, foi através desse que ficou claro, o quanto que os
indivíduos de um determinado grupo pensam a respeito de seu universo social e, sobre a
importância de regras de conduta e sua funcionalidade, cuja convenção de limites, está
voltada para estabelecer a própria convivência social.
Essas comprovações possibilitaram que essa pesquisa pudesse nos demonstrar o
tanto que nessa cidade, marcada por suas idiossincrasias, ao ter nascido o embrião
universitário, com ele surgiu “mobilizações” culturais, políticas e econômicas. A
universidade passou então, a ser representada como veículo de transformação, mas
também, como detentora de poder. Essa caminhada da Universidade não foi rápida,
portanto a sua ascensão teve que esperar por dez anos para finalmente se deslanchar no
território Itapetinguense, questão muito bem retratada por todos os depoimentos e história
documental.
125
Sobre a trajetória da UESB, no desenrolar de suas práticas educativas em
Itapetinga, podemos retratar em um breve resumo analítico, começando pela seguinte
reflexão: porque a UESB, não foi um acontecimento social de quinta grandeza em sua
chegada na cidade? Ao usar a “incitação imaginária”, (no decorrer da pesquisa)
localizamos através das entrevistas, como era a cidade de Itapetinga, na época da Fundação
da Universidade. Era uma cidade que tinha um pouco menos de quarenta mil habitantes
98
,
onde a maioria “era criança ou já havia passado dos trinta anos”.
De repente, neste espaço, se tem anunciado que virá uma universidade para a
cidade, agito geral. “Qual o curso”? “Zootecnia”. Mas que “curso é esse”? A “quem ele
serve”? “Obviamente, para os fazendeiros”. Nessa época, o quadro dos grandes, médios e
pequenos fazendeiros em Itapetinga, segundo o depoimento de (I) era de “2% da
população”, pela crise que ocorreu na cidade, esse quadro estava sendo colocado em
perigo. No entanto, apenas parte abraçou a ideia da Universidade. Sendo assim, a maior
parte da comunidade Itapetinguense não tinha nenhuma representação dessa instituição,
mas no transcorrer do tempo ela foi se convertendo em uma representação de “esperança”.
Para Cristovam Buarque (2003)
99
, o planeta do “século XXI”, convive em meios a
uma “imensa desarticulação ideológica”, que abarca toda uma “dissociação política” e
amplia a “desigualdade social”. Neste processo, “a universidade” representa um
“patrimônio intelectual”, possuidora de toda uma “independência política e crítica social”.
Por ter essas “características”, a universidade, entre todas as “instituições” é a que está,
para o autor, “mais preparada” para ser a “esperança” que a humanidade pode desejar.
Encontramos, pois, de acordo com a visão de Buarque, que as outras formas de criação
humana, tem-se configurado em “verdadeiros fracassos” sociais.
Como exemplo, Buarque (2003) cita: que “a economia”, passou a ser instrumento
de uma “brutal desigualdade entre os seres humanos”, “os partidos políticos, deixaram de
gerar esperança”, “as religiões”, que historicamente foram as “guardiãs da cultura”, não
refream mais o “individualismo”, “as empresas”, geradoras de emprego, perderam essa
ferramenta de reestruturação social, “a ciência e a tecnologia”, grande “orgulho da
humanidade” desde a consagração do período moderno, vive a maior crise de moralidade,

98
- Informações obtidas junto ao IBGE pela pesquisadora.
99
- Essas inferências constam em um Trabalho apresentado na Conferência Mundial de Educação Superior,
realizado pela ela UNESCO em Paris, de 23 a 25 de junho de 2003.
126
sobretudo, pelo “fato da ciência e a tecnologia serem usadas em benefício de uma
minoria”. Assim:
Resta pouca esperança de que um novo sistema global de idéias venha a ser
criado para renovar a crença na utopia de um mundo em que o sonho humano de
progresso tecnológico se alie à liberdade e à igualdade. Essa crença implicava
confiança nos políticos, nos líderes religiosos e nos juízes, de quem se esperava a
invenção de meios para a criação de coalizões entre os seres humanos. No
entanto, se examinarmos as instituições que sobreviveram ao longo desses
últimos mil anos, podemos ainda nos permitir ter esperanças, se voltarmos nosso
olhar para a universidade (BUARQUE. 2003, p, 4).
Quando o olhar em construção é sobre a representação que se estabelece nas
relações sociais sobre uma Universidade, originada pela importância de perceber que essa,
mesmo com representações positivas ou negativas dentro do senso comum, ainda é o locus
que pode conduzir a transformação social. Não apenas no sentido capitalista de capacitação
para o trabalho, ou de minimização das diferenças sociais, mas pelo fato de permitirem que
possamos chegar ao conhecimento sistematizado pela humanidade e sobre esse, refletir
para agir.
A representação que ocorrem no senso comum, em nada condiz com uma real
reflexão sobre aquilo que a Universidade seja enquanto instrumentalizadora dessa reflexão
do conhecimento, apenas, sobrevém pelo fato de que essas são visões que temos, ou não
temos “resultado” da própria interação simbólica ao qual se é exposto, no decurso do
“tempo”. Podemos também, observar nas palavras dos entrevistados, que as representações
são interações “simbólicas”, que dependem das “estruturas sociais” nas quais se encontra
inserido o grupo. Afirmação comprovada pela diferença obtida nas palavras dos
entrevistados, a depender da sua posição escolar ou situação sócio-econômica.
Nesse percurso o conceito de habitus enquanto conhecimento adquirido pode ser
(re)produtor das representações, que no caso da UESB apareceu, entre os menos
escolarizados, como se ela fosse “forte”, “poderosa”, “centro de poder para transformar
economicamente as práticas e vida da população da cidade de Itapetinga”; nos
entrevistados economicamente e socialmente mais bem posicionados na cidade as
representações construídas , que ela é apenas mais uma instituição entre todas as outras
que existem e, que apenas atende aos dominantes; e, nos entrevistados com um “capital
127
cultural” maior a representação encontrada, foi que ela é incondicionalmente o espaço da
cultura e da ampliação dos horizontes do pensamento reflexivo.
Demonstramos então, nas construções práticas, que as ideias a partir do capital
cultural, viram crenças que são construídas e instituídas e, que acabam por ser
compartilhadas por todos. Assim, ideologicamente, o capital cultural se transforma em
verdadeiras “redes” ou “correntes” que interligadas, criam novas mobilizações
“simbólicas”. Portanto é perfeitamente possível afirmarmos que as práticas educacionais,
oriundas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, ao chegarem a um contexto
como o de Itapetinga, modificou as “mentalidades”, portanto simbolicamente as
representações dos seus moradores. Esse é o maior legado e contribuição que obtivemos
com essa pesquisa.
Um último ponto a ser debatido, pois quando falamos de representação jamais
podemos finalizar em um único estudo, foi ter localizado na cidade de Itapetinga um berço
totalmente protestante, cujas tradições são vinculadas ao padrão de crenças que conduzem
aos comportamentos nessa sociedade.
No entanto, como foi citado por um dos entrevistados era uma cidade que por essa
tradição tinha na posse da “terra o símbolo do poder” e, esse poder era demonstrado até
mesmo pela discussão sobre a “última moda”. A partir da construção da representação da
UESB para esses moradores, essas discussões foram trocadas, por outras, que são
mecanismos próprios do poder da cultura erudita. Assim se esse fator
religioso/capitalista/erudição instituiu novas representações em Itapetinga, essa questão
somente poderá alcançar respostas, através de outra pesquisa.
128
FONTES PRIMÁRIAS
1 Fontes Orais
a As Entrevistas: História de vida - (Já destacamos na Apresentação desse trabalho a
opção metodológica pela não identificação desses entrevistados, por essa razão serão
descritos através de Letras do Alfabeto)
(A.) – Analfabeta, aposentada, tem setenta e dois (72) anos, natural da zona rural de
Itapetinga, (Entrevistas realizadas em 15 de abril e 25 de junho de 2008. Com o tempo
aproximado de 30 minutos para cada etapa).
(B.) – Analfabeto, aposentado, tem noventa e nove (99) anos, reside em Itapetinga desde a
década de 30 do século XX. (Entrevistas realizadas em 04, 12 e 18 de março, de 2008.
Com o tempo aproximadamente de 20 minutos para cada etapa.).
(C.) - Estudante do terceiro ano do ensino médio, tem 17 anos, natural de Itapetinga.
(Entrevista realizada em 16 de maio de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 40
minutos).
(D.) – Possui formação em Magistério (equivalente ao ensino médio), funcionária pública
estadual, tem trinta e dois (32) anos, natural de Itapetinga. (Entrevista Realizada em 10 de
abril de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 40 minutos).
(E.) Possui formação em Magistério (equivalente ao ensino médio), funcionário municipal,
tem quarenta (40) anos, é natural de Itapetinga. (Entrevistas Realizadas em 16 e 29 de
maio. Com o tempo, aproximadamente de 30 minutos para cada etapa).
(F.) Estudante Nível Superior, tem dezoito (18) anos, natural de Itapetinga. (Entrevistas
Realizadas em: 13 e 26 de agosto de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 30 minutos
para cada etapa).
129
(G.) Estudante Nível Superior, tem dezenove (19) anos, natural de Itapetinga. (Entrevistas
Realizadas em 17 e 23 de julho de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 30 minutos
para cada etapa).
(H.) - Pós Graduado lato sensu, jornalista, tem 26 anos, natural de Itapetinga. (Entrevistas
Realizadas em 10, 14 e 28 de abril de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 30
minutos para cada etapa).
(I.) Graduado, empresário e fazendeiro, tem trinta e oito (38) anos, natural de Itapetinga.
(Entrevista realizada em 16 de julho de 2008. Com tempo aproximadamente de 40
minutos).
(J.) – Pós-Graduada stricto sensu - modalidade mestrado-, funcionária pública municipal e
estadual, tem trinta e cinco (35) anos, natural de Itapetinga. (Entrevistas Realizadas em 06,
14 e 27 de março de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 30 minutos para cada
etapa).
(K.) Pós-Graduada stricto sensu - modalidade mestrado-, professora, tem trinta (30) anos,
trabalha em Itapetinga desde a década de 90. (Entrevistas Realizadas em 14, 22 e 29 de
abril de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 30 minutos para cada etapa).
(L.) Pós-Graduada stricto sensu - modalidade mestrado-, aposentada, tem sessenta e três
(63) anos, reside em Itapetinga desde a década de 80. (Entrevista Realizada em 19 de
junho de 2008. Com o tempo, aproximadamente de 50 minutos).
(M.) Pós-Graduado stricto sensu - modalidade mestrado -, professor , tem (cinqüenta e
três) 53 anos, natural de Itapetinga. (Entrevistas Realizadas em 12 e 19 de junho de 2008.
Com o tempo, aproximadamente de 30 minutos para cada etapa).
OBS: Foram feitas vinte e seis etapas de entrevistas em 21 dias distribuídos entre os meses
de março a agosto de 2008, totalizando 12h20minh de diálogo.
130
b – Entrevistas: Questionários (Com esse grupo de trabalho, a opção metodológica foi
pela identificação, plenamente acordado entre pesquisadora e entrevistados. Por isso em
anexo (4 e 4.1) encontram-se as respostas obtidas nos questionários aplicados e as
autorizações, para utilização dos depoimentos, digitalizadas).
Amilton Nunes de Carvalho (Pastor da Igreja Batista Nacional “Nova Aliança”) – natural
de Itapetinga, Tempo de aplicação do questionário: 38 minutos. Realizado em 15 de
dezembro de 2008.
Ivanilde Teixeira Aguiar Silva (Secretária de Educação de Itapetinga – (exercício:
2007/2008) – Reside em Itapetinga desde 1969. Tempo de aplicação do questionário: 35
minutos. Realizado em 26 de dezembro de 2008.
Maurício Gomes da Silva, exercício (Presidente do Rotary Clube 2007/2008) – natural de
Itapetinga. Tempo de aplicação do questionário: 40 minutos. Realizado em 20 de dezembro
de 2008.
Michel J. Hagge Filho (Prefeito Municipal de Itapetinga – Mandato: 2004/2008) – reside
em Itapetinga desde 19. Tempo de aplicação do questionário: 45 minutos. Realizado em 18
de dezembro de 2008.
OBS: Foram feitas 04 etapas de entrevistas em 04 dias distribuídos em dezembro de 2008,
totalizando 2h38minh de diálogo.
131
1.1 Fontes Impressas e Manuscritas
BAHIA. Centro de Estatística e Informações. CEI. Informações Básicas dos Municípios
Baianos: Região Sudoeste. Salvador, 1994.
BAHIA. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração. Relatório de Atividade: 1998.
Salvador, 1998.
BAHIA. Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia. SEPLANTEC:
Superintendência de Planejamento Estratégico - SPE. A Indústria Calçadista na Bahia.
Salvador: Série Estudos Estratégicos, no. 2, 2000.
BAHIA. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. (SEI).
Desempenho da Economia Baiana no ano 2000 e tendências para 2001. Bahia
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04.pdf.
140
ANEXOS
141
1 Carta de Solicitação Encaminhada às Empresas e Órgão Públicos para
Seleção de Entrevistados / Historia de Vida
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA: MINTER
EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL – CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA____/______/______.
Ilmo. (a) Senhor (a), ______________________________________________
Sou aluna do Mestrado
em Ciências Sociais da PUC/SP, com o nº. de
matrícula 07101279, onde estou desenvolvendo uma pesquisa que tem por título:
Representação dos Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de Um Olhar
Essa pesquisa tem por objetivo: investigar as representações sociais que foram
construídas pelos moradores da cidade de Itapetinga, ocasionadas pela inclusão da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB- em seu território. Pretendo fazer
essa investigação, mediante entrevistas, que relate dados sobre o histórico da cidade, ou
sobre a instalação e existência da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Desta
forma, gostaria de saber sobre sua disponibilidade em colaborar conosco informando e
recomendando dentro da sua instituição, pessoas, preferencialmente, que moram na
cidade há mais de 25 anos, para que possa entrar em contato e, assim, dar continuidade
a realização dessa pesquisa.
Espero contar com sua valiosa colaboração.
Se desejar maiores
informações, entre em contato
comigo ou com minha orientadora através dos
telefones ou e-mail informados
abaixo.
Agradeço sua atenção.
Atenciosamente,
Orientadora. Profa. Dra. Professora Marisa do Espírito Santo Borin.
Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais
Rua Monte Alegre, 984 – Prédio Novo – Sala 4E-20 –
Fone: 3670-8517
Jussara Tânia Silva Moreira (Aluna do Mestrado da PUC-SP)
Fone – UESB – (77) 32618610
142
2 Processo da Entrevista da História Oral
Questões levantadas, Regras definidas e material utilizado
Questões Levantadas
Etapa Inicial Entrevistas – 1ª fase
- Relatar a história de vida na cidade até esse
momento.
- Fases de vida em Itapetinga.
- Relação do entrevistado com a cidade.
- Os fatos históricos importantes para as suas vidas na
história da cidade.
- O (re) conhecimento sobre a UESB
Entrevistas – 2ª fase Entrevistas 3ª fase
- Questionamentos em torno da implantação
da Universidade na cidade.
- Representação da UESB
- Práticas decorrentes da UESB
- Relacionar a UESB a palavras
Regras Definidas
Etapa inicial - Transcorrer das entrevistas
-Carta de Apresentação.
-Documento para a Autorização do uso da
Entrevista.
Documento para a devida autorização do uso
da entrevista.
- Acordo para o uso da Identificação dos
depoentes.
1
- Definição de datas, horários e local para as entrevistas.
2
Material Utilizado
Etapa inicial Transcorrer das entrevistas
- Gravações das entrevistas
- Diário.
- CD-ROM.
- As entrevistas, por medida preventiva foram gravadas e,
depois – individualmente - copiadas para um CD-ROM.
- Gravação do CD-ROM e a as transcrições das entrevistas
devolvidas ao depoentes.

1
- Esse foi um momento exaustivo da pesquisa, pois em alguns casos, a resistência em querer conceder a
entrevista, somente foi dissolvido com o compromisso assumido entre pesquisadora e entrevistados, de
que manteria a preservação das respectivas identidades. Assim em dez de 2008, através do último
contato com o grupo para a entrega do CD ROOM, com as entrevistas gravadas e transcritas ficou
acertado, que no trabalho, eles seriam identificados através de letras.
2
- As datas e o tempo das entrevistas, constam nas fontes orais. Não houve determinação do local para
fazer as entrevistas. Assim, cada entrevistado escolhia onde melhor fosse para ele o encontro. Que podia
ser em suas residências, local de trabalho e espaços na UESB.
143
3 Modelo do Contrato para a Utilização dos Depoimentos Colhidos, em
acordo Estabelecido entre a Pesquisadora e os Participantes da História de
Vida.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA: MINTER
EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA _____/_______/________
Eu,________________________________________, venho, pelo presente instrumento,
formalizar as condições para utilização do conteúdo da(s) entrevista(s), que foi por mim
concedido (a) à aluna do Mestrado em Ciências Sociais,
Jussara Tânia Silva
Moreira,
que tem como matrícula o nº. 07101279, em sua pesquisa: Representação dos
Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UESB: a Construção de Um Olhar.
a - Concordo que os meus relatos, sejam nessa pesquisa exclusivamente
utilizados, como fins de utilização no meio acadêmico.
() sim
() não
b - Desejo que, ao fazer referência às minhas explanações, seja utilizado meu
nome, ou a preservação da minha identidade?
() Nome.
() Preservação
() Outros - Especifique _____________________
Declaro que tenho Consciência da entrevista concedida, através da minha
história de vida e, estou ciente do conteúdo da mesma, podendo ser utilizada para os
fins mencionados.
_____________________________________
144
4 Questionários Aplicados de Forma Direta e Documentos de Autorizações
Digitalizados Concedidos pelos Representantes de Organizações Políticas e
Civis de Itapetinga Entrevistados.
a - Questionário Aplicado a Ilmª. Sra. Secretaria de Educação do Município de
Itapetinga – BA (exercício 2007/2008)
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA: MINTER
EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL – CONVÊNIO UESB/PUC
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO:
Representação dos Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de Um Olhar
LOCAL E DATA DE APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Itapetinga – BA - 26/ 12/ 2008.
QUESTÕES
I. Dados Gerais:
1- Nome: - Ivanilde Teixeira Aguiar Silva
2- Idade entre:
15 a 25 () 25 a 35 ()
35 a 45 () 45 a 55 (x)
55 a 65 () acima de 65 ()
3- Sexo:
Masculino () Feminino (x)
4- Estado Civil:
Solteiro (a) () Casado (a) (x) Outros ()
5 - Escolaridade:
a) Pós-Graduação (stricto sensu) Doutor () Mestre () Outros ()
b) Pós-Graduação (lato sensu) Especialista (x) Outros ()
c) Ensino Superior (curso) Pedagogia/ Letras
completo (x) incompleto ()
d) Ensino Médio completo () incompleto ()
e) Ensino Fundamental completo () incompleto ()
6- Tempo que reside em Itapetinga:
a) Menos de um ano ()
b) De um e cinco anos ()
c) De 5 a 10 anos ()
d) Mais de 10 anos (x) (Resido na cidade desde 1969)
e) Sempre morou (nasceu na cidade) ()
II. Atividade Profissional
a) Atividade principal – Professora e Coordenadora Escolar
b) Área de atuação:
c) Área Administrativa (x)
d) Área Financeira ()
e) Área Técnica ()
f) Outra. Qual?_________________________
g) Cargo ou função que ocupa: Secretária de educação do Município de Itapetinga – Período 2007/2008
III. Informações sobre a UESB:
145
1 – O (a) senhor (a) conhece a UESB?
Sim (
x
) não ()
2- Se a resposta for positiva. De que maneira a conheceu?
Conheci a UESB através do Programa de Extensão PROLER, mais ou menos, a quinze (15)
anos. e participo deste Curso desde a primeira etapa. Atualmente, participei do 15º encontro
do Programa que houve em 2008.
IV - Em sua opinião, quando se fala da UESB, como o Sr. (a) percebe o serviço e apoio que ela
oferece para a população de Itapetinga:
a. Oferta de ensino superior Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
b. Qualidade de ensino Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c. Agente empreendedor na cidade Bom () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
d. UESB no Mercado Profissional Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe Informar ()
e. Espaço físico Bom (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
f. Produção de Projetos de pesquisa Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
g. Produção de Projetos de Extensão Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
h Disponibilidade e acervo da Biblioteca Boa () Regular (x) Ruim () Não sabem informar ()
i Outra questão que queira destacar: Acho interessante existência de um campus da UESB no Bairro
Primavera, pois é nesse espaço físico que ocorre uma maior interação entre a sociedade mais carente e a
universidade. Como exemplo pode-se citar o curso de pré-vestibular, a Ludoteca, o curso de formação
oferecido pelo convênio entre a Prefeitura e a UESB.
V- Em sua opinião qual e a imagem (representação social) da UESB tem para a coletividade de
Itapetinga como contribuição para a organização e desenvolvimento da:
a- prática cultural Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
b- prática da transformação política Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c- prática educacional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- ampliação da formação profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- -para a melhoria social Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
VI- Qual o curso de Graduação ofertado pela UESB (Campus de Itapetinga) que o Sr (a)
considera mais valorizado pela população de Itapetinga?
Engenharia de Alimentos
Engenharia Ambiental
Ciências Biológicas
Química
Pedagogia
X
Zootecnia
a- Por quê?
Pedagogia é o curso que tem mais estudante da cidade. A UESB ao oferecer a licenciatura oportunizou a
qualificação para docentes. Em Itapetinga, boa parte que faz cursos ligados a licenciatura permanecem na
cidade. Esse fato provoca desenvolvimento da prática escolar, o que traduz como desenvolvimento
educacional da população de Itapetinga, se transformado aos poucos em desenvolvimento social.
Atualmente, além de não termos mais professores leigos na rede, ainda temos, através dos planejamentos
pedagógicos, que encaminhou um relatório para negociação com a política local, uma escola municipal,
que foi pioneira na Bahia, pois desde 2007 que o ensino fundamental passou a ter nove (9) anos de
duração. Como os nossos professores são qualificados, as escolas do município mantém um bom índice
de aproveitamento, sendo relativamente baixo a reprovação, ampliando assim, o aproveitamento anual.
b- Qual é a representação social (percepção) dos moradores
de Itapetinga
sobre a
UESB? Ou
seja, o (a) Senhor (a) acredita que houve transformações coletivas em Itapetinga a partir
da inserção da UESB? Se sim, poderia relacionar algumas?
A UESB tem sido um Veículo de desenvolvimento social. Como Secretária de Educação posso
atestar que atualmente na cidade, todos os professores possuem um curso superior, e 90%
deles fizeram o curso na UESB. Aquele professores da rede, que ainda não possuíam o curso
superior, tiveram a oportunidade de fazer o Curso de Formação, através do convênio entre a
Prefeitura e a UESB. tanto que agora no mês de dezembro, tivemos a colação de Grau. Isso
significa muito para a Região. Além disso, acredito que de uma maneira geral, o que a gente
146
escuta entre professores, alunos e muitos pais é que a UESB tem contribuído muito para a
elevação intelectual e educacional da cidade. Portanto a UESB é tida como um patrimônio
publico. Como exemplo: é através da UESB que Itapetinga ganhou uma participação e
compartilhamento de ideias de pessoas de outras localidades, muitas das quais acabam por
fixar residência na cidade, como é o caso dos Professores da UESB.
VII – Gostaria de Justificar alguma resposta, positiva ou negativa, até agora concedida?
Sim, não apenas uma, mas algumas. Posso? Quando respondi sobre o Incentivo da UESB, como agente
empreendedor na cidade, conceituando por Regular, o fiz por acreditar que tem aspectos que podem ser
melhorados, como por exemplo, criar grupos de estagiários da instituição que possam sair junto com a
secretaria de educação e secretaria de saúde, para bairros carentes, instrumentalizando as pessoas que
vivem nesses locais, através de oficinas literárias, educação, meio ambiente, saúde e etc., esse tipo de
empreendimento levaria a ter mais interação entre a UESB e a coletividade. O que justificaria a minha
resposta de Regular também para a Imagem da UESB, pois à medida que projetos de pesquisa e extensão
comecem a ser estendido para todos, as questões financeiras acabam por também, se compor. Por
exemplo, na área de Educação temos bons cursos de Extensão – Tudo bem que esse já é um grande
mecanismo de abertura para que a instituição universitária e a população possam caminhar juntos. Mas
em contrapartida o curso de Zootecnia que tem um conceito muito bom, nacionalmente reconhecido,
ainda falta fazer algo para marcar, também aqui no espaço da cidade. A biblioteca precisa divulgar
entre a população mais carente o seu acervo e disponibilidade Pública. Daí que, considero esses itens
ainda regular.
VIII – Quais são as palavras que Representam a UESB.
coletividade; instrumentalizando;
perspectiva de vida; mobilização simbólica; formação;
educação;
desenvolvimento transformação
.
IX - Fale livremente sobre a UESB na história da cidade.
A UESB contribuiu para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, no momento em que
abriu perspectiva de que essa pudesse ver os seus filhos (e até mesmo os próprios pais) como é
o meu caso, a terem acesso ao saber, isto no meu entender é criar novas mobilizações
simbólicas. Pois, o acesso ao ensino superior, conduz a conquistar um melhor espaço na
sociedade, enfim, no mercado de trabalho. Mas, não é só no campo da educação que a UESB
conseguiu se inserir na cidade de Itapetinga. O trabalho cultural que o PROLER, desenvolve e
que começou em 1992 foi talvez a carta de apresentação da UESB a sociedade Itapetinguense.
Hoje, podemos afirmar que não há uma separação entre a educação de Itapetinga e a UESB.
Elas fazem parte de um mesmo contexto, contribuindo para a formação inclusive, de novos
educadores.
Muito obrigada pela colaboração!
Orientadora. Profa. Dra. Professora Marisa do Espírito Santo Borin.
Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais
Rua Monte Alegre, 984 –Prédio Novo –. Sala 4E-20 –
Fone:3670-8517
Jussara Tânia Silva Moreira (Aluna do Mestrado da PUC-SP)
E-Mail Jussam[email protected] ou jussasam@hotmail.com
Fone – UESB – (77) 32618610
OBS. Tempo gasto para a entrevista – 35 minutos
147
b- Questionário Aplicado ao Ilmº. Sr. Presidente do Rotary Clube de Itapetinga – BA (exercício
2007/2008)
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO:
Representação dos Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de Um Olhar
LOCAL E DATA DE APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Itapetinga – BA - 15/ 12/ 2008
QUESTÕES.
I. Dados Gerais:
1- Nome: - Maurício Gomes da Silva
2- Idade entre:
15 a 25 () 25 a 35 ()
35 a 45 (x) 45 a 55 () têm 39 anos
55 a 65 () acima de 65 ()
3- Sexo:
Masculino (x) Feminino ()
4- Estado Civil:
Solteiro (a) () Casado (a) (x) Outros ()
5 - Escolaridade:
a) Pós-Graduação (stricto sensu) Doutor () Mestre () Outros ()
b) Pós-Graduação (lato sensu) Especialista () Outros ()
c) Ensino Superior (curso) Pedagogia
completo () incompleto (x)
d) Ensino Médio completo () incompleto ()
e) Ensino Fundamental completo () incompleto ()
6- Tempo que reside em Itapetinga:
a) Menos de um ano ()
b) De um e cinco anos ()
c) De 5 a 10 anos ()
d) Mais de 10 anos ()
e) Sempre morou (nasceu na cidade) (x)
II. Atividade Profissional
a) Atividade principal – Servidor Público Municipal como Auxiliar administrativo do SAAE
b) Área de atuação:
c) Área Administrativa (x)
d) Área Financeira ()
e) Área Técnica ()
f) Outra. Qual? / Historiador da cidade de Itapetinga
.
g) Cargo ou função que ocupa: Presidente do Rotary Clube do Município de Itapetinga –2007/2008
III. Informações sobre a UESB:
1 – O (a) senhor (a) conhece a UESB?
Sim (
x
) não ()
2- Se a resposta for positiva. De que maneira a conheceu?
Conheci a UESB por participar de eventos e movimentos populares, pois quando era
Presidente da associação dos Moradores da ECOSANE, houve um convênio entre a
UESB/Caixa Econômica Federal e A associação dos Moradores para financiar o PRODEC
(Programa de Desenvolvimento Comunitário). Era um programa financiado pela Caixa e
administrado pela UESB, cujo objetivo era envolver os moradores do Bairro. Isto ocorria
através de oficinas literárias, pedagógicas, culturais e profissionalizantes. Foi um programa
muito bom, que naquele momento serviu muito para desenvolver o Bairro da ECOSANE que
estava começando a se firmar em Itapetinga.
148
IV - Em sua opinião, quando se fala da UESB, como o Sr. (a) percebe o serviço e apoio que ela
oferece para a população de Itapetinga:
a. Oferta de ensino superior Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
b.A Qualidade de ensino Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c. agente empreendedor na cidade Bom (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d. UESB no Mercado Profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe Informar ()
e. Espaço físico Bom (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
f. Produção de Projetos de pesquisa Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
g. Produção de Projetos de Extensão Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
h Disponibilidade e acervo da Biblioteca Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
i Outra questão que queira destacar: O uso cultural do espaço físico da Biblioteca, que tem oportunizado
o (re) conhecimento dos artistas locais.
V- Em sua opinião qual e a imagem (representação social) da UESB tem para a coletividade de
Itapetinga como contribuição para a organização e desenvolvimento da:
a- prática cultural Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
b- prática da transformação política Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c- prática educacional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- ampliação da formação profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- -para a melhoria social Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
VI- Qual o curso de Graduação ofertado pela UESB (Campus de Itapetinga) que o Sr (a)
considera mais valorizado pela população de Itapetinga?
Engenharia de Alimentos
Engenharia Ambiental
Ciências Biológicas
Química
Pedagogia 2º
Zootecnia 1º
Gostaria de não nominar apenas com um x, mas explicar a minha resposta. Considero que em um
primeiro momento foi o curso de Zootecnia o mais valorizado, pela própria cultura produtiva da cidade.
Em um segundo momento foi o curso de Pedagogia o mais valorizado, pela necessidade educacional,
pois potencializou toda uma transformação da própria prática escolar na cidade, hoje não tem mais
professores que não tenham uma formação superior, até mesmo aqueles antigos, já está fazendo o curso
de formação de professor. Mas agora, acredito que o curso mais valorizado é o de Ciências Biológicas,
pela vinculação desse com a própria vida.
a- Por quê?
Acredito que seja o Curso de Ciências Biológicas, pela demanda que tem como causa o próprio campo
que hoje se constitui um mercado aberto.
b- Qual é a representação social (percepção) dos
moradores
de Itapetinga
sobre a
UESB? Ou
seja, o (a) Senhor (a) acredita que houve transformações coletivas em Itapetinga a partir
da inserção da UESB? Se sim, poderia relacionar algumas?
Você já sabe que sou historiador “Como posso falar em nome da comunidade. Digo que A
UESB representa e representou desde o momento de sua chegada o veículo que
economicamente socialmente e Culturalmente tem auxiliado Itapetinga, realmente chegar a um
pólo de desenvolvimento”. Ela tem se tornado um patrimônio público para a cidade. Vou
esclarecer como: Economicamente, a UESB ao se estabelecer em Itapetinga enquanto pólo
educacional, fomentou a economia local, pois gerou renda, ao injetar mais de dois (2) milhões
na Receita Itapetinguense. incluindo a UESB, já ajudou muito o Turismo em Itapetinga, pois
existe uma divulgação da cidade através dos alunos que são de outras localidades. Além disso,
a UESB, pelo poder de mobilizar, também melhorou os aspectos sociais, posso dizer, que
quando fui Presidente do Rotary foi firmado um convênio com a UESB para a arrecadação de
149
agasalhos e alimentos para a comunidade mais carente da cidade. A própria constituição do
PRODEC como já fiz citação, faz parte de programas de incentivo para a melhoria do social
no espaço de Itapetinga. Culturalmente, a UESB, tem promovido festivais de música, através
do Programa de Extensão do PROLER, constituiu-se o Projeto Café com Letras, que é um
Projeto local, onde reúne artistas do ramo literário, plástico, musical. existe também uma
Parceria entre a Academia de Letras de Itapetinga e a UESB, para a publicação anual de um
livro de um dos Acadêmicos. Também existe um convênio entre a UESB e a Fundação de
Corais cantos das Artes, para a aquisição de instrumentos humanos e materiais. além do que
através desse convênio, possibilitou o fornecimento de transporte para que o Coral de
Itapetinga possa participar de vários Programas Nacionais de Música Clássica. O que
conduziu o nome de Itapetinga para fora de seu entorno. e tudo graças à participação da
UESB nessa Cidade.
VII – Gostaria de Justificar alguma resposta, positiva ou negativa, até agora concedida?
Sim, Quando considerei que a biblioteca é ainda regular, foi no sentido que ela precisa ser mais
divulgada para a população da cidade. e quanto à oferta de ensino, também considerada como regular é
por que acredito que está na hora da UESB em Itapetinga ampliar o numero de cursos ofertados.
VIII – Quais são as palavras que Representam a UESB.
instrumentalização; mobilização; educação; modificação; condução; incentivo a produção;
conhecimento; ciência; desenvolvimento; reconhecimento; participação, prestígio; cultura;
política.
IX - Fale livremente sobre a UESB dentro da história da cidade?
Considero aquilo que provocou a vinda da UESB para Itapetinga. Itapetinga é hoje pela
valoração da educação. Creio que em princípio, partiu muito da vontade política dos próprios
administradores municipais que tinham como meta trazer a educação, como ideal e mola
mestra, para o desenvolvimento da cidade. Mas era uma vontade política ainda vinculada ao
desenvolvimento da cultura pecuarista. portanto, foi por uma vontade política ainda vinculada
ao desenvolvimento da cultura pecuarista, que originou a vinda do Curso de Zootecnia. No
entanto, a UESB a partir do momento que foi edificada na cidade, fez a História
Itapetinguense, tomar novos rumos, pois causou uma total reestruturação das representações
que as pessoas tinham. Primeiro, modificou o pensamento até então arraigado, de viver aqui
refém dos fazendeiros, ou então abandonar a cidade por falta de oportunidades. Isto levou a
uma reestruturação política. Segundo, a partir do momento em que a Instituição foi edificada,
pode ofertar uma melhoria das condições de trabalho, ao mesmo tempo, oportunizando que os
filhos de Itapetinga ficassem aqui na cidade, reestruturando o próprio núcleo familiar. E
terceiro isto proporcionou que pessoas de média e baixa renda, pudessem fazer um curso
superior, antes permitido apenas aos ricos, que podiam enviar os seus filhos para fora. Essas
condições na prática transformam qualquer realidade, qualquer história de uma população.
por isso considero que a intervenção educativa da UESB, trouxe toda uma elevação
intelectual, transformando a própria realidade ideológica familiar. E em um jogo dialético
acabou por readaptar a própria política, como a economia local.
Muito obrigada pela colaboração!
Orientadora. Profa. Dra. Professora Marisa do Espírito Santo Borin.
Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais
Rua Monte Alegre, 984 –Prédio Novo –. Sala 4E-20 –
Fone:3670-8517
Jussara Tânia Silva Moreira (Aluna do Mestrado da PUC-SP)
E-Mail Jussamoreira@oi.com.br ou [email protected]
Fone – UESB – (77) 32618610
OBS: Tempo Gasto para a entrevista 40 minutos
150
c - Questionário Aplicado ao Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal do Município de Itapetinga – BA
(exercício 2004/2008)
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO:
Representação dos Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de Um Olhar
LOCAL E DATA DE APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Itapetinga – BA - 18/ 12/ 2008.
QUESTÕES
I. Dados Gerais:
1- Nome: - Michel J. Hagge Filho
2- Idade entre:
15 a 25 () 25 a 35 ()
35 a 45 () 45 a 55 ()
55 a 65 () acima de 65 (x) – 81 anos de idade
3- Sexo:
Masculino (x) Feminino ()
4- Estado Civil:
Solteiro (a) () Casado (a) (x) Outros ()
5 - Escolaridade:
a) Pós-Graduação (stricto sensu) Doutor () Mestre () Outros ()
b) Pós-Graduação (lato sensu) Especialista () Outros ()
c) Ensino Superior (curso)
completo () incompleto ()
d) Ensino Médio completo () incompleto ()
e) Ensino Fundamental completo () incompleto (X)
6- Tempo que reside em Itapetinga:
a) Menos de um ano ()
b) De um e cinco anos ()
c) De 5 a 10 anos ()
d) Mais de 10 anos (x) (Resido na cidade desde 1954 e já fui Prefeito duas vezes e deputado estadual
uma)
e) Sempre morou (nasceu na cidade) ()
II. Atividade Profissional
a) Atividade principal – Pecuarista
b) Área de atuação:
c) Área Administrativa (x)
d) Área Financeira ()
e) Área Técnica ()
f) Outra. Qual?_________________________
g) Cargo ou função que ocupa: Prefeito do Município de Itapetinga – Período 2004/2008
III. Informações sobre a UESB:
1 – O (a) senhor (a) conhece a UESB?
Sim (x) não ()
2- Se sim de que maneira a conheceu?
Conheci a UESB na sua fundação, quando se discutiu dentro do Salão de Reunião da
Maçonaria a possibilidade de implantação da Universidade e, qual seria o espaço físico que
seria ocupado por ela. Nessa época o Prefeito era Espinheira, lembro que foi grande a
confusão, onde se localizaria a UESB. E ela acabou sendo um anexo de uma escola lá no
Bairro Primavera. Mas tarde, como ganhei a eleição Municipal, substituído então, o Prefeito
José Vaz Espinheira, junto com o Governador do Estado, e comunidade dos pecuaristas de
151
Itapetinga, fizemos a doação do valor simbólico, Pois na época a terra de Dó de Oliveira, que
foi um espaço desejado para construir a UESB, tinha um valor muito maior do que nos foi
cobrado, por ele. A negociação para a cotização foi feita por mim. Assim, após algumas
reuniões, houve a arrecadação do valor financeiro, que ocorreu na seguinte ordem: PMI
entrou com 500 mil cruzeiros, Pecuaristas da cidade doaram um milhão de cruzeiros e o
Estado participou com um milhão de cruzeiro, formando o valor total de dois milhões e 500
mil cruzeiros. Preço que custou o terreno, onde hoje é instalado o Campus Juvino Oliveira.
IV - Em sua opinião, quando se fala da UESB, como o Sr. (a) percebe o serviço e apoio que ela
oferece para a população de Itapetinga:
a. Oferta de ensino superior Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
b.A Qualidade de ensino Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c. agente empreendedor na cidade Bom (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d. UESB no Mercado Profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe Informar ()
e. Espaço físico Bom (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
f. Produção de Projetos de pesquisa Boa () Regular () Ruim () Não sabe informar (x)
g. Produção de Projetos de Extensão Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
h Disponibilidade e acervo da Biblioteca Boa () Regular () Ruim () Não sabe informar (x)
i Outra questão que queira destacar: Acredito que falta a integração entre a comunidade dos professores
da UESB com a sociedade de Itapetinga
V- Em sua opinião qual e a imagem (representação social) da UESB tem para a coletividade de
Itapetinga como contribuição para a organização e desenvolvimento da:
a- prática cultural Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar
b- prática da transformação política Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c- prática educacional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- ampliação da formação profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- -para a melhoria social Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
Gostaria de justificar por que considero a UESB Regular, nas questões de transformar e participar
ativamente da política da cidade. Por exemplo, na construção do Plano Diretor da Cidade, não teve uma
maior participação, que seria extremamente necessária, dos professores da UESB, a exceção de uma
Professora. Outro exemplo, é que eu até agora, além de Abel Rebouças, não vi nenhum profissional
falando ou incentivando a construção da melhoria do saneamento básico. A cidade que caminha para
100% de saneamento básico, não tem apoio da UESB. O que é muito difícil de acreditar, exatamente por
ser a UESB, essa instituição de grau tem elevado no conceito do Itapetinguense. Para você ter ideia
minha filha Deputada Estadual, eleita por essa cidade, estudou aqui no Campus Juvino Oliveira. Então a
UESB aqui representa, para o filho do pobre e daqueles que têm uma melhor condição econômica, a
mesma moeda, ela serve como veículo de qualidade educacional para todos.
VI- Qual o curso de Graduação ofertado pela UESB (Campus de Itapetinga) que o Sr (a)
considera mais valorizado pela população de Itapetinga?
Engenharia de Alimentos
Engenharia Ambiental
Ciências Biológicas
Química
Pedagogia
X
Zootecnia
a- Por quê?
Ao aprimorar o conhecimento dos professores e especializar esse quadro desenvolveu o nível escolar,
portanto qualificou a prática educacional voltada para o povo da cidade.
b- Qual é a representação social (percepção) dos
moradores
de Itapetinga
sobre a
UESB? Ou
seja, o (a) Senhor (a) acredita que houve transformações coletivas em Itapetinga a partir
da inserção da UESB? Se sim, poderia relacionar algumas?
152
Sim, sempre ouço nas reuniões com empresários e fazendeiros pecuaristas, que a UESB é um
patrimônio cultural e intelectual que a cidade possui. Pois a UESB tem potencializado um
mercado de trabalho mais intelectualizado. O que traz riqueza e beneficio. E através do
campo da educação, A UESB, tornou Itapetinga dentro da região um pólo educacional, Isto é
transformação simbólica Nesse aspecto, houve uma melhoria sócio-cultural e educacional que
tem transformado a população de Itapetinga. Por exemplo, diz-se que a mudança estrutural de
Itapetinga ocorreu com a vinda da Azaléia para a cidade, a de convir que essa empresa tenhas
como emprego trabalhos que podem ser ofertados, apenas para jovens sem escolarização. A
UESB pelo contrário, potencializa no mercado de trabalho, a formação de mão de obra
especializada para ocupar os bons empregos, melhorou o mercado imobiliário, pois trouxe
gente de fora, o que aumentou a receita municipal, Ela própria é um grande agente
empregador, pois hoje já tem professores e funcionários que são filhos da terra. Além disto,
indiretamente tem auxiliado, através de seminários e palestras, que orientam aos fazendeiros
sobre a criação bovina, a melhoria da produção leiteira e investimentos em melhoramento
genético, que muito tem contribuído para a produção e escoamento da atividade pecuarista.
Todas essas atividades sócio-educativas têm originado para Itapetinga, um melhor
desenvolvimento da produção e consumo bovino. Tudo isto, representa para diversos
segmentos da cidade um desenvolvimento da qualidade de vida. Pois hoje até mesmo para
consumir uma carne aqui dentro da cidade, do pobre ao rico, só faz, se essa passar pelo
padrão de qualidade. Isto significa, conhecimento e saúde pública.
VII– Gostaria de Justificar alguma resposta, positiva ou negativa, até agora concedida?
Sim, os dois quesitos que não soube informar, decorrem do fato de acreditar que poderia haver uma
maior integração dos profissionais da UESB e a populão de Itapetinga. Nesse sentido, acredito que
Projetos de pesquisa e acervo bibliotecário, devem servir de incentivos e serem bem divulgados entre os
jovens Itapetinguenses, assim como os próprio profissionais da UESB, precisam sair mais para a cidade,
pois continuam muito presos aos muros da instituição.
VIII – Quais são as palavras que Representam a UESB.
Produção; Diversificação; simbolismo possibilidades; educação; Prestígio; conhecimento;
ciência; desenvolvimento; reconhecimento; cultura; transformação.
IX - Fale livremente sobre a UESB dentro da história da cidade.
A UESB representou um papel muito importante na cidade quando se tratou de incentivar a
educação. Apesar da distância existente, como foi o caso do plano Diretor, dentro da história
de Itapetinga a vinda da UESB representou coletivamente um avanço significativo. Digo isto,
pois antes éramos restritos apenas aos cursos secundários ofertados em nível público, com
uma melhor qualidade pela EMARC-IT, hoje o jovem Itapetinguense pode ter um curso
superior. Sem precisar abandonar a cidade como antes acontecia. Com a UESB, acabou em
parte a migração dos jovens de Itapetinga. Ainda temos jovens que saem da cidade para
estudar fora, pois ainda não são oferecidos pela UESB uma diversificação maior de
possibilidades, mas com o tempo acredito que a tendência é abrir novos cursos, permitindo de
fato que os filhos de Itapetinga possam progredir aqui mesmo, na cidade. Isto representou um
desenvolvimento social, para a população. Apesar de que na vinda da UESB, o curso de
Zootecnia não tenha sido bem aceito, hoje já se ver novos alicerces sendo edificados, através
de outros cursos. Hoje a mentalidade do jovem Itapetinguense é bem diferente, antes era ficar
no ócio ou sair da cidade, hoje é entrar na UESB. Então, valeu muito a vinda para Itapetinga
da UESB.
Muito obrigada pela colaboração!
Orientadora. Profa. Dra. Professora Marisa do Espírito Santo Borin.
Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais
Rua Monte Alegre, 984 –Prédio Novo –. Sala 4E-20 –
Fone:3670-8517
Jussara Tânia Silva Moreira (Aluna do Mestrado da PUC-SP)
E-Mail [email protected].br ou jussasam@hotmail.com
Fone – UESB – (77) 32618610
153
OBS: Tempo Gasto para a Entrevista: 45 minutos
d- Questionário Aplicado ao Ilmº. Pastor da Igreja Batista Nacional Nova Aliança.
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO:
Representação dos Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de Um Olhar
LOCAL E DATA DA APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Itapetinga – BA - 20/ 12/ 2008.
QUESTÕES
I. Dados Gerais:
1- Nome: - Sr. Amilton Nunes de Carvalho
2- Idade entre:
15 a 25 () 25 a 35 ()
35 a 45 () 45 a 55 ()
55 a 65 (x) acima de 65 ()
3- Sexo:
Masculino (x) Feminino ()
4- Estado Civil:
Solteiro (a) () Casado (a) (x) Outros ()
5 - Escolaridade:
a) Pós-Graduação (stricto sensu) Doutor () Mestre () Outros ()
b) Pós-Graduação (lato sensu) Especialista () Outros ()
c) Ensino Superior (curso) Veterinária
Completo () Incompleto ()
d) Ensino Médio Completo () Incompleto ()
e) Ensino Fundamental Completo () Incompleto (X)
f - Outros Bacharel em Teologia
6- Tempo que reside em Itapetinga:
a) Menos de um ano ()
b) De um e cinco anos ()
c) De 5 a 10 anos ()
d) Mais de 10 anos ()
e) Sempre morou (nasceu na cidade) (x)
II. Atividade Profissional
a) Atividade principal – Pastor da Igreja Batista Nacional Nova Aliança.
b) Área de atuação:
c) Área Administrativa (x)
d) Área Financeira ()
e) Área Técnica ()
f) Outra. Qual? Religiosa
g) Cargo ou função que ocupa: Pastor
III. Informações sobre a UESB:
1 – O (a) senhor (a) conhece a UESB?
Sim (x) não ()
2- Se a resposta for positiva. De que maneira a conheceu?
Conheci a UESB mais de perto após passar para o vestibular de ciências biológicas, mas já
conhecia antes pela comunidade religiosa da Igreja “Nova Aliança” por ter uma grande
quantidade de jovens que passam no vestibular e entram na UESB.
IV - Em sua opinião, quando se fala da UESB, como o Sr. (a) percebe o serviço e apoio que ela
oferece para a população de Itapetinga:
154
a. Oferta de ensino superior Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
b.A Qualidade de ensino Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c. agente empreendedor na cidade Bom (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d. UESB no Mercado Profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe Informar ()
e. Espaço físico Bom () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
f. Produção de Projetos de pesquisa Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
g. Produção de Projetos de Extensão Boa () Regular (x) Ruim () Não sabe informar ()
h Disponibilidade e acervo da Biblioteca Boa () Regular (x) Ruim () Não sabem informar ()
i Outra questão que queira destacar: Acredito que falta a mecanismo para a divulgação do trabalho da
UESB para a comunidade.
VII –
V- Em sua opinião qual e a imagem (representação social) da UESB tem para a coletividade
de Itapetinga como contribuição para a organização e desenvolvimento da:
a- prática cultural Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
b- prática da transformação política Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
c- prática educacional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- ampliação da formação profissional Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
d- -para a melhoria social Boa (x) Regular () Ruim () Não sabe informar ()
VI- Qual o curso de Graduação ofertado pela UESB (Campus de Itapetinga) que o Sr (a)
considera mais valorizado pela população de Itapetinga?
Engenharia de Alimentos
Engenharia Ambiental
Ciências Biológicas
Química 3º
Pedagogia
Zootecnia
Gostaria de justificar a minha resposta. por grau de valoração pela comunidade se tem em 1º lugar o
curso de Pedagogia, em 2º lugar o curso de Ciências Biológicas e em 3º lugar o curso de Química.
Discuto sempre esses aspectos com o grupo de jovens da Igreja.
a- Por quê?
São Cursos que Chegam para as necessidades básicas da comunidade, inclui-se nesse cenário a
educação como mediadora para o desenvolvimento.
b- Qual é a representação social (percepção) dos
moradores
de Itapetinga
sobre a
UESB? Ou
seja, o Senhor (a) acredita que houve transformações coletivas em Itapetinga a partir da
inserção da UESB? Se sim, poderia relacionar algumas?
Para a Cidade de Itapetinga a representação social da UESB é ímpar, pois viabilizou
oportunidades dos alunos filhos da comunidade permanecer em suas casas, e não ter que sair
como foi o meu exemplo que tive que ir estudar na UFBA.
Sim, além do ensino potencializou uma
nova dinâmica cultural para a cidade, como também tem incentivado na construção de ideários políticos
que antes sequer eram sonhados. Ou seja, a vinda da UESB em Itapetinga dinamizou a própria vida da
cidade.
VII – Gostaria de Justificar alguma resposta, positiva ou negativa, até agora concedida?
Sim, gostaria de justificar os quesitos que acredito que ainda são regulares na UESB, primeiro considero
a oferta de ensino regular, pois ainda não chega para todos os necessitados da cidade. Quanto à
pesquisa, extensão e biblioteca, faz-se preciso um trabalho de divulgação para chegar ao povo todo o
conhecimento que é potencializado por essa instituição. Para isto, requer um trabalho criterioso de
divulgação da própria instituição, acredito que esse seja o maior pecado da UESB, ainda continua muito
155
fechada em si mesma. como era toda universidade.
VIII – Quais são as palavras que Representam a UESB.
Trabalho; juventude; renovação; construção; educação; valoração; desenvolvimento; poder.
IX- Fale livremente sobre a UESB dentro da história da cidade.
A UESB teve um papel muito importante na cidade, basta analisar a história que é produzida
pelos jovens, que hoje já formados, tem contribuído para o crescimento da cidade. Pois, os
jovens que estudam na UESB, estão construindo e melhorando a cidade. Dessa forma tem
modificado o perfil cultural, base que se torna pedra fundamental para edificar as
transformações sociais. Atualmente a UESB é uma fonte de esperança para a cidade, mesmo
levando em conta que o Governo Federal e Estadual deva investir mais na educação, processo
esse longe de ser alcançado, pois para chegar a essa vertente se torna necessário ouvir o
aluno, ouvir os educadores, ouvir enfim os pais. É preciso ver que nesse novo tempo, como
espaço de comunicação, a educação é o ponto alto de qualquer transformação social. Mas
mesmo com esse entrave governamental, gradativamente a UESB, tem melhorado a vida da
comunidade Itapetinguense. Além disso, a UESB contribui muito para a vida religiosa, pois
através dos esclarecimentos de conceitos em áreas específicas da ciência, traz para dentro da
Igreja, pessoas mais esclarecidas, capazes de suscitar debates e ter ideias para alavancar
novas alternativas na resolução de problemas, muitas vezes tidos como insolúveis.
Muito obrigada pela colaboração!
Atenciosamente,
Orientadora. Profª. Dra. Professora Marisa do Espírito Santo Borin.
Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais
Rua Monte Alegre, 984 –Prédio Novo –. Sala 4E-20 –
Fone: 3670-8517
Jussara Tânia Silva Moreira (Aluna do Mestrado da PUC-SP)
Fones – UESB – (77) 32618610
Tempo gasto para a Entrevista 38 minutos.
156
4.1. Autorizações Digitalizadas dos Representantes das Organizações
Políticas e Civis para a Utilização das Respostas dos Questionários
Aplicados.
a - Autorização para a utilização das Respostas da Secretária de Educação do
Município de Itapetinga.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO–PUC PROGRAMA: MINTER EM
CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL – CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA - 26/ 12/ 2008.
Eu, Ivanilde Teixeira Aguiar Silva venho, pelo presente instrumento, formalizar as
condições para utilização do conteúdo da(s) entrevista(s), que foi por mim concedido (a)
à aluna do Mestrado em Ciências Sociais,
Jussara Tânia Silva Moreira,
que tem
como matrícula o nº. 07101279, em sua pesquisa: Representação dos Moradores da
Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB: a
Construção de Um Olhar
a - Concordo que as minhas respostas, sejam nessa pesquisa exclusivamente
utilizados, como fins de utilização no meio acadêmico.
() sim
() não
b - Desejo que, ao fazer referência às minhas explanações, seja utilizado meu
nome ou um pseudônimo?
(X) Nome.
() Pseudônimo
() Outros - Especifique _____________________
Declaro que tenho Consciência da entrevista concedida, através de um
questionário e, estou ciente do conteúdo da mesma, podendo ser utilizada para os fins
mencionados.
157
b - Autorização para a utilização das Respostas do Presidente do Rotary Clube de
Itapetinga
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA:
MINTER EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL –
CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA - 15/ 12/ 2008.
Eu, Maurício Gomes da Silva, venho, pelo presente instrumento, formalizar as
condições para utilização do conteúdo da(s) entrevista(s), que foi por mim concedido (a)
à aluna do Mestrado em Ciências Sociais,
Jussara Tânia Silva Moreira,
que tem
como matrícula o nº. 07101279, em sua pesquisa:
Representação dos Moradores da
Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB: a
Construção de Um Olhar
a - Concordo que as minhas respostas, sejam nessa pesquisa exclusivamente
utilizados, como fins de utilização no meio acadêmico.
() sim
() não
b - Desejo que, ao fazer referência às minhas explanações, seja utilizado meu
nome ou um pseudônimo?
(X) Nome.
() Pseudônimo
() Outros - Especifique _____________________
Declaro que tenho Consciência da entrevista concedida, através de um
questionário e, estou ciente do conteúdo da mesma, podendo ser utilizada para os fins
mencionados.
158
c - Autorização para a utilização das Respostas do Prefeito Municipal de Itapetinga.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA:
MINTER EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL –
CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA - 18/ 12/ 2008.
Eu, Michel J. Hagge Filho venho pelo presente instrumento, formalizar as condições
para utilização do conteúdo da(s) entrevista(s), que foi por mim concedido (a) à aluna
do Mestrado em Ciências Sociais,
Jussara Tânia Silva Moreira,
que tem como
matrícula o nº. 07101279, em sua pesquisa:
Representação dos Moradores da Cidade de
Itapetinga sobre a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de
Um Olhar
a - Concordo que as minhas respostas, sejam nessa pesquisa exclusivamente
utilizados, como fins de utilização no meio acadêmico.
() sim
() não
b - Desejo que, ao fazer referência às minhas explanações, seja utilizado meu
nome ou um pseudônimo?
(X) Nome.
() Pseudônimo
() Outros - Especifique _____________________
Declaro que tenho Consciência da entrevista concedida, através de um
questionário e, estou ciente do conteúdo da mesma, podendo ser utilizada para os fins
mencionados.
159
d - Autorização para a Utilização das Respostas do Pastor da Igreja Nova Aliança
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA:
MINTER EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL –
CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA – 20/ 12/ 2008.
Eu, Amilton Nunes de Carvalho, venho, pelo presente instrumento, formalizar as
condições para utilização do conteúdo da(s) entrevista(s), que foi por mim concedido (a)
à aluna do Mestrado em Ciências Sociais,
Jussara Tânia Silva Moreira,
que tem
como matrícula o nº. 07101279, em sua pesquisa: Representação dos Moradores da
Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB: a
Construção de Um Olhar
a - Concordo que as minhas respostas, sejam nessa pesquisa exclusivamente
utilizados, como fins de utilização no meio acadêmico.
() sim
() não
b - Desejo que, ao fazer referência às minhas explanações, seja utilizado meu
nome ou um pseudônimo?
(X) Nome.
() Pseudônimo
() Outros - Especifique _____________________
Declaro que tenho Consciência da entrevista concedida, através de um
questionário e, estou ciente do conteúdo da mesma, podendo ser utilizada para os fins
mencionados.
160
5 Carta de Solicitação para Consultas de Documentos
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC PROGRAMA: MINTER
EM CIÊNCIAS SOCIAIS/ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL – CONVÊNIO UESB/PUC
Itapetinga – BA _____/_______/________
Ilmo. (a) Senhor (a),
Sou aluna do Mestrado
em Ciências Sociais da PUC/SP, com o nº. de
matrícula 07101279, onde estou desenvolvendo uma pesquisa que tem por título:
Representação dos Moradores da Cidade de Itapetinga sobre a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB: a Construção de Um Olhar.
Essa pesquisa tem por objetivo: investigar as representações sociais que foram
construídas pelos Moradores da cidade de Itapetinga, ocasionadas pela inclusão da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB- em seu território. Para atingir tal
pleito, pretendo analisar documentos, tais como textos oficiais, cartografias, relatórios
produzidos por área ou setor sobre as questões relativas à vida Urbana e Rural em
Itapetinga. Também, a legislação vigente de cada época, bem como, cartas, ofícios e
outros registros que tenham sidos elaborados que relate dados sobre o histórico da
cidade, ou sobre a inserção da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia nesse
território. Desta forma, gostaria de saber sobre sua disponibilidade em colaborar
conosco informando se tais documentos existem e onde podem ser encontrados.
Espero contar com sua valiosa colaboração.
Se desejar maiores informações,
por favor, entre em contato
comigo ou com minha orientadora através dos
telefones ou e-mail informados
.
Agradeço desde já sua atenção.
Atenciosamente,
Orientadora. Profa. Dra. Professora Marisa do Espírito Santo Borin.
Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais
Rua Monte Alegre, 984 – Prédio Novo – Sala 4E-20 –
Fone: 3670-8517
Jussara Tânia Silva Moreira (Aluna do Mestrado da PUC-SP)
Fone – UESB – (77) 32618610
161
6 Entrevista.
História de vida da Sra. Athenée Ribeiro de Oliveira Cruz, (Jornal Dimensão on-line,
Edição Especial de 2002: p 1 e 2).
E D I Ç Ã O E S P E C I A L 2 0 0 2
Assim vi Itapetinga
Athenée Ribeiro de Oliveira Cruz
A minha tia Hermelinda se valeu se
g
urando o mourão de amarrar cavalos para não ser levada
p
vento.
Nasci depressa, sem esperar pela parteira, numa linda madrugada de agosto, na fazenda José Jacinto, e
n
município de Conquista e propriedade do meu pai, Manoel Ribeiro (Nezin
h
Quando tinha 7 anos (1931) conheci a antiga Vila de Itatinga ao passar temporada na sede da fazenda (o
n
é hoje o Banco do Brasil) dos meus avós maternos, Antônia e Cassiano Soares de Oliveira, ocasião em
q
cuidava dos irmãos Wilson e Milton, por ausência da minha mãe, em tratamento de saúde. Desde então,
c
orgulho, tornei-me Itapetinguense por adoção.No povoado, naquela época, havia poucas casas e não h
a
hospedaria. Então, na praça principal foi montado um barracão onde acampavam os viajantes e mascate
i
e aos domingos se realizava a feira, que foi mudada posteriormente para o sábado, devido a um vend
a
ocorrido no domingo, que assustou os residentes e feirantes, carregando seus pertences. A minha
Hermelinda se valeu segurando o mourão de amarrar cavalos para não ser levada pelo vento.Sentia praze
r
ir até a lagoa à tarde (no local da atual praça Dairy Valley) para apreciar o pôr-do-sol. "Achava o céu se
m
lindo, adormecia sorrindo e despertava a cantar".O rio Catolé era límpido e caudaloso, as margens cobe
r
de densa mata, e das cachoeiras se ouvia o sussurrar das águas. Sobre os grandes lajedos eu lavav
a
roupinhas dos meus irmãos.Aos 9 anos já lia e escrevia, orientada por minha mãe. O curso primário
realizado em regime de internato no Colégio Marcelino Mendes, em Conquista, para onde viajava
fazenda por três dias a cavalo, na chuva ou no sol, acompanhada por meu pai, que assim se sacrificou
p
ver os filhos instruídos, pelo que sempre sou agradecida. Terminei o primário em 1941, iniciando
seguida o curso ginasial no Colégio Taylor-Egydio, em Jaguaquara, o que me obrigava a viajar novam
e
p
or três dias de marinete e trem, o que fiz regularmente até a conclusão do curso em 1948.Para curs
a
Universidade, fui levada ao Rio de Janeiro, sendo graduada em Nutrição pelo Instituto de Nutrição
Guanabara, em 1952. Recebi o abrigo e o carinho dos tios Hermelinda e Almerindo, então residentes
Niterói-RJ. Acredito ter sido a primeira pessoa residente em Itapetinga, juntamente com a prima Enecl
y
Campos, depois Wilson Ribeiro, a sair da cidade e concluir um curso universitário. Depois de formada,
e
trabalhando na minha profissão, no Hospital Antônio Pedro, em Niterói, vim residir no Recife em razã
o
casamento (1953). Passei então a ser a primeira nutricionista na cidade do Recife e professora
Universidade Federal de Pernambuco, iniciando na Escola de Enfermagem (1954 a 1959) e
Departamento de Nutrição, de 1960 até a aposentadoria, em 1994. Atualmente retornei à Universidade
p
revisão do meu livro Técnicas de Per Capita em Preparações, com previsão de ser editado em 2003.
P
diversificar minhas atividades, tornei-me artista plástica, dedicando-me à pintura de porcelana, vidro, te
l
tecido, atividades gratificantes e que me têm levado a participar de exposições diversas, sem fins lucrati
v
As horas vagas completo com a leitura de bons livros, principalmente de poesias, que gosto de decla
m
Sou casada com Ivanildo Cruz há 49 anos. Mãe de Beber (doutor em Física teórica pela Universidad
e
Oxford-Inglaterra, e professor da Universidade Federal de Alagoas) e que me deu um casal de netos.
M
também de Letícia (nutricionista e psicóloga, exercendo a profissão no Ministério da Saúde, em Salvad
o
alegrando-me novamente com mais duas netas. Hoje continuo ainda com muita coragem, fé, esperanç
a
vida e na providência de Deus
162
7. PAINEL 1 - FOTOS DE ITAPETINGA
Itatinga e seus Desbravadores – 1912 - 1923
Foto 3 - 1º Barracão de Itapetinga
Fotos – Acervo Particular de Maurício Gomes
Foto -1 Bernardino Francisco de Souza
Foto 2 - Augusto de Carvalho - Fundador
163
ITAPETINGA EM CONSTRUÇÃO
Foto 5 - Praça Dairy Walley e Prefeitura
Municipal
Foto 6 Praça Augusto de Carvalho e 1ª Igreja
Batista
Foto 7 - Colégio Alfredo Dutra - 1ª Escola de Itapetinga
Foto 8 - 1º Hospital de Itapetinga
Fotos – Acervo Particular de Maurício Gomes
164
ITAPETINGA: APOGEU
Fotos 9 – 10 Inauguração do Museu – (Área
externa e Interna do Museu Atualmente Extinto)
Foto 11 - Utensílios da Fazenda (Museu)
Foto 12- Casa do Vaqueiro (Museu)
Foto 13 - 7ª Exposição Agropecuária
14 Fundação - Associação Cultural de Itapetinga
Fotos: Acervo Particular de Maurício Gomes
165
ITAPETINGA URBANIZADA – DÉCADA DE 70 ( SÉCULO XX)
Foto 16 - Prédio para Elite
17 – Construção - Casas Populares
Fotos – Acervo Particular de Maurício Gomes
Foto 15 - Vista Aérea Da Cidade Antiga
166
ITAPETINGA CONTEMPORÂNEA
Fotos 18 e 19 – Bairros Populares e Médios de
Itapetinga
Fotos 20, 21, 22 - Área Nobre E Central
Fotos – Acervo Particular de Maurício Gomes
167
8
- PAINEL DE FOTOS DA UESB
Campus I Da UESB Em Itapetinga
Foto 1- Construção Do Campus Primavera – Área Central de Itapetinga
Foto 2 - Placa 18 anos da UESB em Itapetinga
168
Foto 3 – Acesso na BA 263 Para o Campus II
Juvino Oliveira
Foto 4- Quadra Poliesportiva
Campus Juvino Oliveira
Foto 5 Pavilhão administrativo
Campus Juvino Oliveira
Foto 6 - Lateral do Auditório
Campus Juvino Oliveira
Foto 7 - Pavilhão De Aula - Campus Juvino Oliveira
Foto 8 - Biblioteca Regina Célia Ferreira Silva
169
Fotos 9, 10,11, 12- Laboratórios e Unidades - Campus Juvino Oliveira
170
Fotos 13 E 14 - Área Interna do Campus Juvino Oliveira
Foto 14 - Bairro Periférico. Ao Lado Do
Campus Juvino Oliveira
Foto 15 – BA 263 Limites Entre O Campus Juvino
Oliveira E A Zona Urbana
Fotos da UESB. Acervo Particular de Jussara
Moreira
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