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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DES-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS
DELINEAMENTO E OTIMIZAÇÃO DE MISTURAS POZOLÂNICAS
TESE SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
DOUTOR EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS
JO VIDAL NARDI
FLORIANÓPOLIS, DEZEMBRO/2004
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ii
DELINEAMENTO E OTIMIZAÇÃO DE MISTURAS POZOLÂNICAS
JO VIDAL NARDI
ESTA TESE FOI JULGADA PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
DOUTOR EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO
MATERIAIS PARTICULADOS: CERÂMICA E METALURGIA DO PÓ
E APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELO PROGRAMA
DE PÓS-GRADUÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS
_____________________________________
Prof. Dachamir Hotza, Dr., Orientador
_____________________________________
Prof. Alexandre Lago, Dr., Coordenador
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof. Pedro A. Barbetta, Dr. (Coorientador)
_____________________________________
Prof. Wilson Acchar, Dr. (Relator)
_____________________________________
Prof. Marilena V. Folgueras, Dr.
_____________________________________
Prof. Antônio P. N. Oliveira, Dr.
_____________________________________
Prof. Marciano Maccarini, Dr.
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iii
À minha família.
No início da jornada, em 1975:
Palavras não expressariam, jamais, o suor e as lágrimas que por mim verteram e a
felicidade que me proporcionam.
No final da jornada, em 2004:
Se o tempo nos pregasse uma peça voltando ao passado, conscientemente seguiria pelo
mesmo caminho trilhado.
Germano Schwartz Filho João Nardi
Íris Emília Schwartz Lígia Haidee Nardi
Dayse Costa de Abreu Nardi
Eduard Wolfgang Von Eschenbach Nardi
Alessandra Natascha Nardi
iv
Agradecimentos
•Ao Professor Dachamir Hotza, orientador desta tese, os meus sinceros agradecimentos
pela sua atenção, incentivo e colaboração que recebi durante a elaboração deste
trabalho;
•Ao Professor Pedro Alberto Barbetta, pelos ensinamentos em estatística;
•Ao Professor Marciano Maccarini, pelas sugestões nos ensaios laboratoriais e
facilidades de trabalho nas dependências do Laboratório de Mecânica dos Solos da
UFSC;
•À Professora Marilena Valadares Folgueras, pela colaboração nos ensaios de difração
de raios X;
•À Professora Denise Antunes da Silva, pelos ensinamentos nas observações das
micrografias obtidas pelo MEV;
•Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de
Materiais, pelos conhecimentos adquiridos;
•Ao Eng
o
Rubens Murillo Schramm, pela amizade e facilidades de trabalho nas
dependências do Laboratório Central do DER/SC;
•Aos laboratoristas Carlos Cesar Rodrigues, José Carlos Schroeder, João José Leal e
João Tonelli Neto, pela agradável companhia e participação no árduo trabalho de
laboratório;
•Ao Eng
o
Cláudio Coelho, Geol
o
Gustavo Aristides Gruber e Deusa Maria Dias, pela
presença amiga;
•Ao Eng
o
Álvaro Siqueira Pitta, grande incentivador na área da pesquisa;
•Aos irmãos Renan Altair Nardi e Maria Ligia Nardi, pelas suas colaborações;
•A Catarina Nardi, pela nossa amizade e paciência, carinho e compreensão para com
João Nardi, meu pai;
•A todos os colegas, amigos e funcionários que, de forma direta ou indireta, contribuíram
para a realização deste trabalho.
v
Resumo
Tradicionalmente, a metodologia usada para formulação de misturas pozolânicas para
estabilização de solos é baseada na variação de um único componente, sendo os
demais mantidos constantes. A metodologia de delineamento de misturas e superfície de
resposta tem sido utilizada com sucesso em muitas áreas tecnológicas. Essa técnica
permite o estudo em um espaço experimental bem mais abrangente, além de
representar sob forma de equações as propriedades mecânicas dos materiais, levando
em consideração, simultaneamente, os efeitos dos componentes na mistura.
Este trabalho investiga as misturas pozolânicas, em escala laboratorial, tendo como
componentes a cal hidratada comercial, um resíduo proveniente de termoelétrica (cinza
volante) e a água necessária ao desenvolvimento das reações de hidratação. Os limites
de trabalhabilidade foram testados. Pontos experimentais, correspondendo à
combinação de 3 componentes foram definidos. Os corpos-de-prova foram elaborados
por compactação mecânica manual e avaliados após 28 dias de cura, tendo sido medida
a resistência à tração por compressão diametral.
O delineamento de misturas foi aplicado em etapas, chamadas de restrições sucessivas,
tendo como base os modelos de regressão quadrática e as superfícies de resposta.
Testes estatísticos foram feitos, de modo a determinar a significância estatística dos
modelos calculados. A otimização da composição foi executada buscando-se maximizar
a resistência mecânica, após ocorridas as reações pozolânicas.
Conclui-se que a aplicação da teoria de delineamento de misturas e superfície de
resposta em misturas pozolânicas, incluindo a otimização de composição, é possível. A
metodologia alternativa apresentada mostrou uma maior eficiência e abrangência que a
abordagem tradicional.
vi
Abstract
Traditionally, the methodology used for formulation of pozzolanic mixtures in soil
stabilization is based on the variation of a single component, being the further
components kept constant. The methodology of mixture design and surface response has
been successfully used in many technological fields. This technique permits to cover a
broad experimental space, as well as to represent the material properties in equations
taking into account the simultaneous effects of the mixture components.
This work investigated in a lab scale pozzolanic mixtures comprised from hydrated lime,
fly ash from a thermoelectrical plant, and water, for developing the hydration reactions.
The workability limits of the mixtures were tested. Experimental points, corresponding to
combinations of 3 components, were defined. Samples were produced by manual
compaction and evaluated after 28 days by measuring the mechanical strength under
diametrical compression.
The mixture design was applied stepwise or in successive restrictions, based on
quadratic regression models and on response surfaces. Statistical tests were performed
in order to determine the statistical significance from calculated models. Optimization of
compositions was carried out in order to maximize the mechanical strength after the
pozzolanic reactions occurred.
It is concluded that the application of the mixture design and response surface theory on
pozzolanic mixtures, including optimization of composition, is possible. The alternative
methodology presented showed a higher efficiency and broadness than the traditional
approach.
vii
Lista de Figuras
Figura 2.1 Micrografia eletrônica de varredura mostrando partículas de diversos
tamanhos da cinza volante utilizada nesse estudo (a), partícula sólida
(b), e plenosferas (c). 14
Figura 2.2 Resistência à compressão em função do teor de umidade, para
diferentes teores de cal hidratada. 20
Figura 2.3 Resistências máximas em função das percentagens de cal hidratada
nas 5 misturas. 21
Figura 2.4 Padrão aceitável de gráfico de resíduo em função do valor predito. 31
Figura 2.5 Padrão não aceitável de gráfico de resíduo em função do valor predito. 31
Figura 3.1 Micrografia da cinza volante utilizada. 38
Figura 3.2 Micrografia da cal hidratada utilizada. 39
Figura 3.3 Misturador mecânico para homogeneização das misturas. 40
Figura 3.4 Equipamento de compactação em miniatura. 40
Figura 3.5 Equipamento para controle individual da altura dos corpos-de-prova. 41
Figura 3.6 Detalhe da extração do corpo-de-prova do molde. 41
Figura 3.7 Sistema de proteção contra umidade e carbonatação. 42
Figura 3.8 Estufa com controle de temperatura utilizada na cura dos corpos-de-
prova. 43
Figura 3.9 Forma de imersão pelo período de 24 horas. 43
Figura 3.10 Máquina de ensaios mecânicos. 44
Figura 3.11 Sistema de posicionamento e centralização de corpos-de-prova. 44
viii
Figura 3.12 Ruptura de corpo-de-prova à tração por compressão diametral. 45
Figura 3.13 Parte do sistema projetado e de corpos-de-prova antes e depois da
ruptura. 45
Figura 4.1 Região de validade da Equação 4.4 representando todas as
combinações possíveis entre os componentes, respeitando as
restrições impostas. 53
Figura 4.2 Representação gráfica do planejamento experimental do 1
o
experimento laboratorial, expresso em coordenadas originais. 54
Figura 4.3 Padrão não aceitável de resíduos em função dos valores preditos pelo
modelo quadrático na Equação 4.6. 58
Figura 4.4 Delimitação visual das novas restrições nas imediações da região onde
ocorrem os maiores valores preditos de resistências à tração no
experimento inicial. 59
Figura 4.5 Padrão aceitável de resíduos em função dos valores preditos pelo
modelo quadrático após a 1
a
restrição. 63
Figura 4.6 Representação triangular da resistência à tração predita em função da
variação dos pseudocomponentes, dada pela 1
a
restrição segundo o
polígono a*b*c*d*. 64
Figura 4.7 Representação espacial da resistência à tração predita em função da
variação dos pseudocomponentes dada pela 1
a
restrição. 68
Figura 4.8 Representação espacial da solução obtida segundo a metodologia de
aproximações por restrições sucessivas sobre superfícies de resposta. 68
Figura 4.9 Visualização da influência da razão entre a cal hidratada e a cinza
volante na resistência à tração. 71
Figura 4.10 Micrografia de fragmento da amostra A: superfície de fratura. 72
Figura 4.11 Micrografia de fragmento da amostra A: detalhes de cristais. 72
ix
Figura 4.12 Micrografia de fragmento da amostra B: superfície de fratura. 73
Figura 4.13 Micrografia de fragmento da amostra B: detalhes de cristais. 73
Figura 4.14 Micrografia de fragmento da amostra C: superfície de fratura. 74
Figura 4.15 Micrografia de fragmento da amostra C: detalhes de cristais. 74
Figura 4.16 Micrografia de fragmento da amostra D: superfície de fratura. 75
Figura 4.17 Micrografia de fragmento da amostra D: detalhes de cristais. 75
Figura 4.18 Micrografia de fragmento da amostra E: superfície de fratura. 76
Figura 4.19 Micrografia de fragmento da amostra E: detalhes de cristais. 76
Figura 4.20 Micrografia de fragmento da amostra F: superfície de fratura. 77
Figura 4.21 Micrografia de fragmento da amostra F: detalhes de cristais. 77
Figura 4.22 Micrografia de fragmento da amostra G: superfície de fratura. 78
Figura 4.23 Micrografia de fragmento da amostra G: detalhes de cristais. 78
x
Lista de Figuras dos Anexos
Figura A.1 Difratograma da cal hidratada.
Figura A.2 Difratograma da cinza volante.
Figura A.3 Difratograma da amostra A (72,50% de cal hidratada, 10,00% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.4 Difratograma da amostra B (56,88% de cal hidratada, 25,62% de cinza
volante e 17,50% de água.
Figura A.5 Difratograma da amostra C (49,06% de cal hidratada, 33,44% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.6 Difratograma da amostra D (33,44% de cal hidratada, 49,06% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.7 Difratograma da amostra E (25,63% de cal hidratada, 56,87% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.8 Difratograma da amostra F (17,81% de cal hidratada, 64,69% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.9 Difratograma da amostra G (10,00%de cal hidratada, 72,50%
de cinza volante e 17,50% de água).
xi
Lista de Tabelas
Tabela 2.1 Misturas estudadas para construção de pista experimental. 20
Tabela 3.1 Composição química da cinza volante utilizada. 37
Tabela 3.2 Granulometria da cinza volante utilizada. 37
Tabela 3.3 Composição química da cal hidratada utilizada. 38
Tabela 3.4 Granulometria da cal hidratada utilizada. 38
Tabela 4.1 Delimitação inicial da mistura ternária. 50
Tabela 4.2 Detecção de inconsistência dos limites. 51
Tabela 4.3 Determinação da consistência dos limites. 52
Tabela 4.4 Região a ser estudada segundo o polígono abcd dado em
coordenadas originais. 52
Tabela 4.5 Coordenadas triangulares dos pontos pertencentes ao
planejamento do 1
o
experimento. 54
Tabela 4.6 Valores dos ensaios de resistência à tração, média e desvio
padrão para planejamento experimental referente ao 1
o
experimento. 56
Tabela 4.7 Valores da soma dos quadrados dos resíduos, dos graus de
liberdade e dos quadrados médios. 57
Tabela 4.8 Restrições impostas para a 1
a
aproximação, expressa através das
percentagens dos componentes originais. 59
Tabela 4.9 Planejamento experimental da 1
a
restrição, apresentando as novas
proporções para cada mistura. 60
Tabela 4.10 Valores dos ensaios de resistência à tração, média e desvio
padrão para a 1
a
restrição. 61
Tabela 4.11 Valores da soma dos quadrados dos resíduos, dos graus de
liberdade e dos quadrados médios. 62
xii
Tabela 4.12 Proporções dos componentes utilizados na visualização micro-
estrutural de pastas pozolânicas e respectivas resistências à
tração. 70
Tabela 4.13 Identificação das fases dos componentes e das pastas
pozolânicas. 79
xiii
Sumário
1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS..................................................................................1
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................4
2.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA.................................4
2.1.1 NOÇÕES DE GEOLOGIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA ...........................................4
2.1.2 GEOMORFOLOGIA DO LITORAL CATARINENSE ............................................................5
2.1.3 SOLOS CARACTERÍSTICOS EM SANTA CATARINA........................................................6
2.2 DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS......................................7
2.2.1 POLUIÇÃO E MEIO AMBIENTE....................................................................................7
2.2.2 RESÍDUOS E SEU APROVEITAMENTO..........................................................................9
2.2.3 USINAS TERMOELÉTRICAS E RESÍDUOS GERADOS ...................................................10
2.3 ENGENHARIA RODOVIÁRIA E ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS.............................................11
2.3.1 ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS .....................................................................................12
2.3.2 REAÇÕES POZOLÂNICAS ........................................................................................13
2.3.3 EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA ESTABILIZAÇÃO POZOLÂNICA.......................................15
2.3.4 METODOLOGIA TRADICIONAL DE FORMULAÇÃO DE MISTURAS POZOLÂNICAS..............17
2.3.5 METODOLOGIA ALTERNATIVA POR DELINEAMENTO DE MISTURAS ..............................22
2.4 DELINEAMENTO DE MISTURAS ..................................................................................25
2.4.1 DETERMINAÇÃO DA CONSISTÊNCIA DOS LIMITES DOS COMPONENTES........................25
2.4.2 PSEUDOCOMPONENTES .........................................................................................27
2.4.3 DETERMINAÇÃO DO SUBESPAÇO DELINEADO PELAS RESTRIÇÕES .............................28
2.5 MÉTODO DOS MÍNIMOS QUADRADOS.........................................................................29
2.5.1 ANÁLISE DOS RESÍDUOS ........................................................................................30
2.5.2 COEFICIENTE DE AJUSTE DO MODELO.....................................................................31
2.5.3 SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA DO MODELO ................................................................32
2.5.4 F
ALTA DE AJUSTE DO MODELO...............................................................................33
2.5.5 C
ÁLCULO DO PONTO ESTACIONÁRIO.......................................................................34
2.5.6 CÁLCULO DOS AUTOVALORES ................................................................................35
xiv
3 MATERIAIS E TODOS.......................................................................................37
3.1 MATERIAIS ..............................................................................................................37
3.1.1 CINZA VOLANTE ....................................................................................................37
3.1.2 CAL HIDRATADA ....................................................................................................38
3.1.3 ÁGUA ...................................................................................................................39
3.2 MÉTODOS DE PREPARAÇÃO DE CORPOS-DE-PROVA...................................................39
3.2.1 MISTURAS DOS COMPONENTES ..............................................................................39
3.2.2 MOLDAGEM...........................................................................................................40
3.2.3 C
URA ...................................................................................................................42
3.2.4 IMERSÃO...............................................................................................................43
3.2.5 E
NSAIO DE TRAÇÃO POR COMPRESO DIAMETRAL .................................................43
3.3 PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL...............................................................................45
3.4 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL .....................................................................48
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................49
4.1 DETERMINAÇÃO DA REGIÃO DE TRABALHABILIDADE DA MISTURA ...............................49
4.2 DETECÇÃO DE INCONSISTÊNCIA DOS LIMITES DAS MISTURAS......................................51
4.3 TRANSFORMAÇÃO PARA LIMITES CONSISTENTES.......................................................51
4.4 DEFINIÇÃO DO NÚMERO DE PONTOS EXPERIMENTAIS .................................................52
4.5 A
PLICAÇÃO DE RESTRIÇÕES SUCESSIVAS NA SUPERCIE DE RESPOSTA ....................55
4.6 O
TIMIZAÇÃO DO SISTEMA.........................................................................................65
4.7 CONSIDERAÇÕES GERAIS.........................................................................................67
4.8 ANÁLISE MICROESTRUTURAL DAS MISTURAS POZOLÂNICAS.......................................69
4.8 FASES DETECTADAS NAS PASTAS POZOLÂNICAS.......................................................78
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES .............................................................................80
5.1 CONCLUSÕES..........................................................................................................80
5.2 SUGESTÕES ............................................................................................................81
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................82
xv
7 ANEXOS..................................................................................................................88
1
1 Introdução e Objetivos
No litoral catarinense e proximidades existem importantes municípios que se destacam
economicamente pelos seus parques industriais mecânico, têxtil, moveleiro, elétrico,
cerâmico, turismo e o extrativismo animal referente a peixes, crustáceos e moluscos. A
grande maioria desses municípios é cortada pela Rodovia BR-101 e os contíguos
interligados por rodovias de acesso que transportam grande parte da riqueza produzida
no Estado.
A extensa área litorânea é caracterizada geologicamente pelas planícies costeiras,
onde o solo é predominantemente arenoso e a BR-101 cruza-as de norte-sul. Na área
da construção rodoviária o solo arenoso, desde que não sofra um processo
estabilizante, é tido por material não adequado para a construção de bases de
pavimentos, por não satisfazer às especificações rodoviárias. Têm-se desenvolvido
pesquisas no sentido do aproveitamento desses solos, na tentativa de contornar tal
problema. Levando em consideração a potencialidade econômica do litoral catarinense,
torna-se importante a utilização desses solos nas camadas mais nobres do pavimento,
quando da ampliação da malha rodoviária federal, estadual e municipal, vindo tal fato
resultar em economia ao erário público.
A região litorânea tamm se caracteriza pela grande densidade demográfica que,
associada a um parque industrial bem desenvolvido, tem contaminado o solo, a água e
o ar, pela deposição de seus resíduos no meio ambiente. Estudos no sentido do
aproveitamento desses materiais, na tentativa de solução desses problemas, deverão
ser constantemente efetuados e avaliados. Na ordem de prioridade estão os estudos
que levem aos mais diversos tipos de utilização desses resíduos, de forma que a oferta
das opções seja superior a demanda. Isso poderá garantir o uso contínuo dos mesmos,
vindo a sanear satisfatoriamente o meio ambiente, pelo grande leque de opções à
disposição.
Um dos resíduos que tem sido lançado no meio ambiente é a cinza proveniente da
queima do carvão mineral na produção de energia em usinas termoelétricas. É
necessário desenvolver e melhorar as formas para utilizá-la em grande escala, de
maneira a que não agridam o meio ambiente.
São várias as técnicas rodoviárias que permitem o aproveitamento de solos locais,
após alterações em suas propriedades físicas e/ou químicas, transformando-os em
2
materiais adequados para uso em camadas de pavimentos. Na técnica da estabilização
química, quando aplicada a materiais pozolânicos, como a cinza volante e a cal
hidratada, os solos arenosos são materiais de grande potencialidade na construção de
estruturas de pavimentos. O aproveitamento conjugado desses três materiais gerará
grande economia na área dos transportes. No hemisfério norte, principalmente nos
Estados Unidos, esse tipo de pavimentação tem sido utilizada com sucesso, por
exemplo, em rodovias e aeroportos [Fairweather, 1975; Nambisan, 2000; Turner-
Fairbank, 2004]. No Brasil não há, todavia, incentivo a essa forma de utilização.
As técnicas de estabilização de solos na área rodoviária são peculiares, mas sempre
apresentam o suporte tecnológico das normas atualmente vigentes. A estabilização
química possui procedimentos triviais, aqui denominados por “metodologia tradicional”.
Atualmente essa metodologia já não satisfaz as necessidades tecnológicas em muitos
casos, porque não permite um detalhamento minucioso da potencialidade dos novos
produtos, originados pelas transformações químicas que ocorrem na estabilização dos
componentes reagentes.
O desenvolvimento de pesquisas que supram as necessidades atuais deve ser
incentivado, no intuito de poder melhor explorar, técnica e economicamente, as
propriedades dos novos materiais desenvolvidos. Novas metodologias aplicáveis a
projetos de misturas têm sido utilizadas nas áreas de alimentação, metalurgia e
química entre outras. Têm-se alcançado grande sucesso com a teoria de delineamento
de misturas e superfície de resposta, onde as propriedades do produto resultante
poderão ser expressas por equações matemáticas e representadas graficamente por
superfícies de respostas num plano e/ou no espaço, proporcionando detalhamento
minucioso da potencialidade desses produtos. Trata-se de metodologia na qual estão
incorporados conceitos estatísticos, que permitem com maior clareza definir as opções
mais adequadas.
O objetivo geral deste trabalho é a verificação da possibilidade do uso da metodologia
de delineamento de misturas e superfície de resposta aplicada a misturas (pastas)
pozolânicas, como alternativa à metodologia tradicional.
Os objetivos específicos deste trabalho são:
Aproveitar resíduos, produzidos no Estado de Santa Catarina, na elaboração de
produtos cimentantes, no intuito de minimizar a poluição ambiental;
3
Empregar técnica de planejamento de experimentos em materiais de interesse na
área rodoviária, que tenham condições de estabilizar solos arenosos;
Constatar a possibilidade de compatibilizar, nos intervalos de variações dos
componentes, os procedimentos laboratoriais com a metodologia de delineamento
dada pela teoria;
Ajustar um modelo quadrático que descreva satisfatoriamente o processo de
estabilização química das misturas na obtenção da propriedade mecânica desejada;
Utilizar controle estatístico na avaliação do ajuste do modelo;
Simular e predizer, através de gráficos, os efeitos da interação entre os
componentes utilizados;
Otimizar a composição dos materiais na obtenção de uma resposta máxima na
propriedade mecânica estudada;
Visualizar a microestrutura da pasta pozolânica advinda do processo estabilizante; e
Caracterizar as fases cristalinas existentes.
4
2 Fundamentação Teórica
2.1 Geologia e Geomorfologia do Estado de Santa Catarina
Os dados geológicos aqui descritos estão baseados no “Atlas de Santa Catarina”
[Santa Catarina, 1986] e as noções sobre o solo aqui apresentadas foram obtidas em
“Classes Gerais de Solos do Brasil” [Oliveira, 1992].
2.1.1 Noções de Geologia do Estado de Santa Catarina
O Estado de Santa Catarina é uma das unidades da República Federativa do Brasil,
situado na Região Sul, com 95.985 km
2
de superfície total. Abrange 1,12% da
superfície brasileira e 16,61% da Região do Sul. Está localizado entre os paralelos 25
o
57’ 41’’ e 29
o
23’ 55’’ de latitude Sul e entre os meridianos 48
o
19’ 37’’ e 53
o
50’ 00’’ de
longitude Oeste.
Geologicamente o Estado pode ser delineado por três formações geológicas,
denominadas áreas do Escudo Atlântico, da Bacia do Paraná e de Sedimentos
Quaternários.
A área do Escudo Atlântico localiza-se, de forma aproximada, entre os paralelos 26
o
00’
S a 29
o
30’ S, limita-se ao oeste com as rochas sedimentares da Bacia do Paraná e ao
leste com o Oceano Atlântico. Tamm é denominado por Escudo Cristalino.
Corresponde a 17,60% da superfície do Estado. Nesses limites encontram-se as
rochas cristalinas, metamórficas e anquimetamórficas.
A área da Bacia do Paraná é formada por uma complexa fossa tectônica de forma
aproximadamente elipsoidal, abrangendo simultaneamente áreas marinha e
continental. Nessa última abrange Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai e parte da Argentina.
Essa grande bacia rasa encontra-se assoreada por sedimentos na maior parte
continental e na marinha chegando a 3600 m de espessura, aproximadamente.
A parte sedimentar da Bacia do Paraná no Estado de Santa Catarina é constituída de
sedimentos da idade carbonífera, permiana e triássica, pertencente ao Super-Grupo
Tubarão, Grupos Passa Dois e São Bento, representando 23,9% do Estado.
A área dos Sedimentos Quaternários são depósitos sedimentares inconsolidados,
situados na linha da costa atlântica, formados em ambientes fluviais, marinhos, eólicos,
5
lagunar ou misto, durante o Holoceno. Esses depósitos são formados por areias,
argilas, cascalhos, seixos e sedimentos síltico-argilosos.
Um pequeno resumo desses depósitos é apresentado a seguir.
Os depósitos aluvionares são sedimentos fluviais que formam, por vezes, extensas
planícies, podendo citar-se as formadas pelos rios Piraí, Itajaí-açú, Tijucas e
Araranguá. São constituídos por areias, argilas, cascalhos e materiais síltico-argilosos.
Os depósitos marinhos são constituídos pelos sedimentos praiais e os cordões
litorâneos, existentes ao longo de toda planície costeira do Estado. Os depósitos
praiais são formados por areia fina. Os cordões litorâneos são constituídos por areias
quartzosas contendo pouquíssima proporção de silte e/ou argila.
Os depósitos eólicos são as dunas, móveis ou não, existentes no litoral catarinense,
constituídas de areias finas e médias.
Os depósitos mistos são os depósitos constituídos por material dendrítico,
inconsolidado, de natureza mista, flúvio-marinhos e lagunares. São constituídos por
areias, siltes e argilas que geram lamas e lodos com alta porcentagem de matéria
orgânica em decomposição.
Os depósitos coluviais são acumulações localizadas na base das encostas, em muitos
pontos do Estado. Esses depósitos inconsolidados e mal classificados são constituídos
por cascalhos, seixos, areias e argilas.
2.1.2 Geomorfologia do Litoral Catarinense
A geomorfologia é a ciência que estuda a forma do relevo terrestre. As unidades
geomorfológicas consistem no arranjo de formas de relevo fisionomicamente
semelhantes em seus tipos de modelados. O relevo de Santa Catarina é caracterizado
por várias unidades geomorfológicas. As de interesse à área rodoviária, no que se
refere à estabilização química com cal hidratada e cinza volante, estão localizadas no
litoral catarinense e descritas a seguir.
A unidade geomorfológica planícies litorâneas situa-se na parte oriental de Santa
Catarina margeando o Oceano Atlântico, onde são características as praias e solos
arenosos formados, principalmente, por processos marinhos e eólicos. É uma estreita
faixa do litoral e corresponde a 4,39% da área do Estado. Estende-se desde a baía da
Babitonga, ao norte, até o cabo de Santa Marta, no centro. A partir desse ponto até a
6
divisa com o Rio Grande do Sul, a planície litorânea estende-se mais para o interior,
em direção à serra, onde com freqüência ocorrem acumulações dunares e formações
lacustres. Ao longo de toda a extensão essa unidade é muito diversificada, ocorrendo
inclusive baixadas litorâneas descontínuas e planícies arenosas que formam um
grande número de praias. As altitudes médias das planícies litorâneas variam em torno
de 10 m, atingindo alguns terraços bem mais afastados, nas proximidades das
montanhas e serras a oeste, altitudes de até 30 m, aproximadamente. Os principais
sistemas fluviais que recolhem as águas superficiais em toda essa região são formados
por rios recentes, sendo os principais: Itajaí-Açu, Itapocú, Tijucas, Tubarão e
Araranguá. Os sedimentos síltico-argilosos e as areias quartzosas, resultantes da
combinação de processos relacionados às dinâmicas fluviais e litorâneas, constituem o
componente geológico fundamental das planícies litorâneas.
A unidade geomorfológica planície colúvio-aluvionar é formada por uma superfície
aproximadamente plana, levemente inclinada para leste, localizada entre as planícies
litorâneas a leste e os relevos da Região Geomorfológica Planalto das Araucárias a
oeste. Cobre 1,27% da área do Estado, onde se localizam as cidades de Tubarão e
Araranguá. É uma área de transição entre influências continentais e marinhas, onde se
encontram muitos tipos de sedimentos, inclusive os arenosos.
2.1.3 Solos Característicos em Santa Catarina
Para efeito de classificação dos solos serão utilizados os conceitos e as normas
estabelecidas pelo Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos
(SNLCS). No estado são identificados 27 tipos de solos predominantes. Neste estudo,
em particular, apenas duas classes são de interesse: a podzol indiscriminado e as
areias quartzosas álicas e distróficas, como descrito a seguir.
A classe podzol indiscriminado compreende solos minerais hidromórficos. Em grande
parte da planície litorânea, esses solos ocorrem nas áreas de relevo plano, sendo
constituídos de sedimentos lacustres e marinhos do Holoceno. Estão associados às
areias quartzosas marinhas, tendo como inclusão solos de mangue em quantidades as
mais variadas. Foram identificados no litoral catarinense sob a denominação de areia
quartzosa marinha intermediária com podzol [EMBRAPA, 1980]. Correspondem a 0,9%
do Estado.
7
A classe das areias quartzos álicas e distróficas se distingue por diferentes
propriedades. A álica decorre da saturação da capacidade de troca de cátions (CTC)
efetiva por alumínio, igual ou maior que 50%. A distrofia e a eutrofia são propriedades
traduzidas pelo estado do solo quanto à saturação por bases. São denominados
distróficos quando a saturação por bases é considerada baixa, isto é quando o valor é
menor que 50%. Acima disso o solo é considerado eutrófico.
A classe das areias quartzosas corresponde a solos minerais, casualmente orgânicos
na superfície, hidromórficos ou não, geralmente profundos, essencialmente quartzosos,
com, pelo menos, uma profundidade de 2 m de espessura. As frações areia grossa e
areia fina desses solos são constituídas essencialmente de quartzo, sendo ausentes de
minerais primários facilmente intemperizáveis [Oliveira, 1992]. Correspondem a 1,62%
da área do estado. Associados a esses solos estão as areias quartzosas hidromórficas
e as areias quartzosas hidromórficas húmicas.
Os solos arenosos predominam nas planícies costeiras do litoral catarinense. É
importante salientar que os solos existentes no litoral catarinense não são utilizados
diretamente na construção de bases das estruturas de pavimentos. Isso ocorre por não
possuírem características adequadas para esse fim, pois não se enquadram nas
especificações gerais para obras rodoviárias.
2.2 Degradação Ambiental e Aproveitamento de Resíduos
O meio ambiente é constantemente agredido pelas atividades humanas, contaminando
a água, o solo e o ar, sejam pelas suas indústrias, pelas necessidades habitacionais ou
mesmo pelos meios de locomoção, de acordo com os diversos sistemas de transportes
viários. O ecossistema tem limites, em muitos casos já ultrapassados, como problemas
na camada de ozônio e extinção de várias espécies, entre outros. Caso os níveis de
resíduos lançados na natureza permaneçam no patamar atual, ou aumentem, a
sobrevivência da espécie humana, como do resto de muitas outras, estará
comprometida.
2.2.1 Poluição e Meio Ambiente
Poluição é a deterioração das condições físicas, químicas e/ou biológicas que afetam
negativamente a vida humana e de espécies animais e/ou vegetais. A poluição
modifica o meio ambiente, isto é: o sistema de relações onde a existência de uma
espécie depende dos mecanismos de equilíbrio entre processos naturais destruidores e
8
regeneradores. A poluição resulta da presença de uma quantidade inusitada de matéria
sólida, líquida e/ou gasosa lançada no meio ambiente e é obra do homem em sua
atividade industrial, principalmente.
Do meio ambiente depende a vida. A atividade clorofiliana produz o oxigênio
necessário a animais e vegetais. A ação dos animais, plantas e microrganismos
garantem a pureza das águas nos rios, lagos e mares. Os processos biológicos que
ocorrem nos solos possibilitam as colheitas. A vida no planeta está relacionada com o
conjunto desses fenômenos, cuja inter-relação se denomina ecossistema [Barsa,
1980].
A natureza tamm produz poluição através dos vulcões e tempestades de poeira. O
homem é mais devastador que a própria natureza, pois sua poluição afeta
profundamente o equilíbrio desses sistemas. O principal foco de poluição do solo nas
grandes aglomerações humanas é a destinação dos resíduos industriais e domésticos.
O crescimento populacional gera uma série de problemas, principalmente a
degradação ambiental. Logo, o meio ambiente está intimamente ligado com a
educação e o crescimento populacional [Matoski, 1997].
Devido ao desenfreado aumento demográfico e a carência de uma infraestrutura
adequada para suportar toda essa demanda de crescimento, o meio ambiente vem
paulatinamente sofrendo os mais variados tipos de degradação, chegando atualmente
a níveis alarmantes. Nos paises subdesenvolvidos, este fato tem colaborado
violentamente para a queda da qualidade de vida. A carência de condições básicas
como, saúde, alimentação e trabalho para essa massa emergente, contrasta
frontalmente com a conservação do meio ambiente.
Atualmente entidades governamentais e não governamentais tem tentado desenvolver
formas de conciliar o crescimento industrial e econômico no que se refere à
conservação do meio ambiente, procurando fórmulas que propiciem um
desenvolvimento ecologicamente sustentável. Os problemas ambientais se
desenvolvem, praticamente, em todas as áreas do conhecimento.
Igualmente, a construção de rodovias causa um impacto no meio ambiente.
Mundialmente, é um assunto que vem sendo discutido e, gradativamente, impõem-se
normas no intuito de minimizar esse problema. São várias as contribuições
relacionadas a esse assunto [Maderma Leite, 2002].
9
Os impactos das rodovias no ambiente são nocivos e demandam medidas
compensatórias. Os veículos obedecem a padrões de emissão de gases cada vez mais
rigorosos, procurando reduzir a poluição atmosférica. Igualmente, há legislação
específica para o transporte de cargas tóxicas e perigosas, sofrendo vigilância por
parte das agências ambientais. Além disso, as pessoas que trafegam e circulam ao
longo das rodovias tamm são agentes de poluição, ao lançarem grande quantidade
de lixo pelo referido percurso [Emerim, 1998].
Levando em consideração que os recursos naturais são esgotáveis, destaca-se a
pesquisa como uma das soluções na busca de novas alternativas, minimizando o uso
indiscriminado de matérias-primas e desenvolvendo técnicas de aproveitamento de
seus resíduos.
2.2.2 Resíduos e seu Aproveitamento
Levando em consideração ser necessário satisfazer as necessidades básicas do ser
humano, a indústria aumenta a produção e conseqüentemente gera mais resíduos que,
de forma imprópria, são lançados ao meio ambiente. Santa Catarina inclui-se no rol dos
Estados que geram grandes quantidades de resíduos sólidos [Estrella,1996].
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas, dada pela NBR 10004 [Brasil,
2000a], definem-se resíduos sólidos como: quaisquer resíduos nos estados sólidos ou
semi-sólidos, resultante de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Os resíduos de classe I (perigosos) são os resíduos sólidos, suas misturas ou
determinados resíduos líquidos que, de suas propriedades físicas, químicas ou de suas
características infecto-contagiosas, podem: apresentar riscos à saúde pública,
provocando ou contribuindo, de forma significativa, para um aumento da mortalidade ou
incidência de doença e/ou apresentar riscos ao meio ambiente, quando manuseados
ou destinados (transportados, armazenados, tratados) de forma inadequada.
Os resíduos de classe II (não perigosos e não inertes) são os resíduos sólidos que não
forem caracterizados como perigosos ou como inertes e são essencialmente insolúveis.
Esses resíduos podem ter propriedades tais como combustibilidade e bio-
degradabilidade. Esse tipo de resíduo poderá ter seus constituintes solubilizados além
dos limites de potabilidade, quando em contato com água destilada ou deionizada
(Bernardes Junior, 1983)
10
Os resíduos de classe III (inertes e essencialmente insolúveis) são os resíduos sólidos
ou mistura de resíduos sólidos que submetidos ao teste de solubilização, segundo a
NBR 10006, Solubilização de Resíduos Sólidos – Método de Ensaio [Brasil, 2000b],
comportam-se de acordo com a especificação. Essa norma fixa a condição exigível
para diferenciar os resíduos de classe II e III, sendo aplicada somente para resíduos
sólidos.
Os resíduos podem ser aproveitados pela adição a materiais para obtenção de
produtos através de processos industriais de fabricação, com modificação ou não de
seu uso original. O aproveitamento permite a obtenção de produtos com as mais
diversas aplicabilidades, proporcionando a geração de diferentes processos industriais,
novos empregos, fonte de divisas e principalmente um desenvolvimento
ecologicamente sustentável.
Deve-se ter em mente que a implantação de técnicas de produção mais limpa, em uma
planta industrial, deve ser vista como um processo de aperfeiçoamento contínuo na
busca do controle da geração de resíduos sólidos. São programas que necessitam de
pesquisas em parceria com universidades e outras entidades de desenvolvimento
científico. Tecnologia limpa é a aplicação contínua de estratégias ambientais
preventivas e integradas a processos e produtos, tendo como finalidade reduzir os
riscos para os indivíduos e o meio ambiente [Brasil, 1987a].
2.2.3 Usinas Termoelétricas e Resíduos Gerados
Na região sul do Brasil localiza-se o maior parque termoelétrico da América Latina. O
complexo é formado pelas usinas de Figueira (PR) com uma capacidade de geração de
15 MW, Jorge Lacerda (SC) com 857 MW, Charqueadas (RS) com 72 MW, Presidente
Médici (RS) com 446 MW e São Jerônimo (RS) com 17 MW. O combustível utilizado na
obtenção da energia térmica, para a produção de vapor de água, é o carvão energético
de origem mineral. Este vapor nas condições de alta temperatura e pressão é
transformado em energia mecânica nas turbinas, as quais, acopladas aos alternadores
permitem a geração da eletricidade [FINEP, 2000].
O resíduo finamente dividido resultante da combustão e arrastado pelos gases de
exaustão é denominado de cinza leve (cinza volante). Os norte-americanos a
denominam fly ash e os ingleses pulverized fuel ash. Flutuando em direção da
chaminé, a cinza volante é coletada por precipitadores eletrostáticos e retirada
11
pneumaticamente para silos de armazenagem. A cinza que se aglomera caindo no
fundo da câmara de combustão denomina-se cinza pesada ou cinza de fundo, também
conhecida por bottom ash. Nessa queda, submerge em água onde é resfriada e
umedecida. A remoção é por arraste hidráulico finalizando nas bacias de decantação.
No Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda a cinza resultante da queima do carvão
corresponde a 42% em peso. Desta quantidade, 70% corresponde à fração de cinza
leve e 30% de cinza pesada. A produção média mensal de cinza proveniente da
queima de carvão mineral é de 56.000 toneladas mensais [FINEP, 2000]. Grande parte
da cinza leve tem sido utilizada em misturas para a fabricação de cimento. A cinza
pesada é lançada em grande quantidade nas bacias de decantação, localizadas fora do
parque termoelétrico e na lateral à BR-101. A cinza leve quando não utilizada é
misturada a cinza pesada, tendo idêntico destino. As cinzas de termoelétricas
contaminam as águas superficiais e subterrâneas quando depositadas a céu aberto em
bacias de decantação. Além disso, ao serem transportadas pelos ventos, a poeira
silicosa exerce efeito nocivo à população. As cinzas de fundo e leve (cinza volante) são
consideradas como resíduos de classe II. Têm-se efetuado inúmeros estudos na
tentativa da utilização dos resíduos industriais na construção de camadas estruturais
de pavimentos. Na questão do aproveitamento das cinzas de termoelétricas, estudos
laboratoriais têm-se mostrados promissores [Nardi, 1998 ; 2003a].
Concluí-se que as cinzas, não sendo utilizadas, constituem-se em sérios problemas.
Pesquisas adicionais deverão ser efetuadas no desenvolvimento de um amplo e
diversificado leque de sua utilização, garantindo assim um destino contínuo, definitivo e
não poluente desses resíduos.
2.3 Engenharia Rodoviária e Estabilização de Solos
É freqüente na engenharia rodoviária a existência de solos locais não adequados para
a execução da estrutura de bases de pavimentos rodoviários. Levando em conta a
existência de normas que impõem especificações a se obedecer [BRASIL, 1986],
outros materiais, que não os locais, são importados para a execução dessas estruturas.
Considerando a dificuldade de localização de jazidas adequadas e que se enquadrem
nas normas rodoviárias, tornou-se comum no Brasil a utilização da brita graduada nas
estruturas de pavimentos. As rodovias com bases de brita graduada têm como
característica serem pavimentos onerosos.
12
A utilização do solo local é fator favorável à economia. Para isso, faz-se necessária a
alteração de suas propriedades mecânicas, de forma que o mesmo se enquadre nas
especificações rodoviárias. Isso é possível utilizando-se as técnicas de estabilização de
solos.
2.3.1 Estabilização de Solos
São muitos os procedimentos que se podem utilizar na alteração das propriedades dos
materiais, para torná-los aptos a usos específicos e é nisso que se constitui a técnica
da estabilização. Pode-se valer de meios mecânicos, da drenagem, de meios elétricos,
do calor ou calcinação e de meios químicos. A existência de um grande número de
tipos de estabilização provém da diversificação de solos existentes e em cada um a
própria variabilidade em suas propriedades físicas e/ou químicas. Na estabilização, as
propriedades físicas mais freqüentemente estudadas são a estabilidade volumétrica,
resistência mecânica, permeabilidade, compressibilidade e durabilidade.
A estabilização não é uma técnica que se possa utilizar em qualquer caso. Muitas
vezes pode ser antieconômica, devido aos processos que se fazem necessários para
as alterações das propriedades do solo. A utilização dessa tecnologia somente é
possível quando todos os fatores são balanceados tecnicamente, onde entram
simultaneamente em jogo as propriedades iniciais do solo, do processo estabilizante a
ser utilizado e da resposta final do material modificado. A decisão é dada em função da
viabilidade econômica do produto final.
Deve-se ainda ter em conta que essa técnica, embora podendo ser utilizada no
aproveitamento de solos locais, algumas vezes melhora certas propriedades
debilitando outras.
Neste trabalho, utilizam-se processos de estabilização de solos que alteram as
propriedade mecânica dos materiais, sendo adotados os da estabilização química
associada à compactação. A estabilização poderá ocorrer por diversas formas, com a
adição de um ou mais componentes, como: cloretos, bases, ácidos, cimento, cal
hidratada e cinza volante. Nesse caso, o processo se desenvolve por reações químicas
que ocorrem entre a cal hidratada e a cinza volante quando misturadas à água,
formando uma pasta cerâmica pozolânica. O desenvolvimento de pastas otimizadas,
adicionadas a solos adequados, origina um produto final com característica de
consistência sólida, podendo ser utilizado nas camadas da estrutura de pavimentos.
13
A pasta cumpre duas finalidades, a saber:
Envolver as partículas do solo preenchendo os vazios entre os mesmos; e
Cimentar os grãos formando um material sólido com as propriedades mínimas
desejadas, no que se refere à resistência, permeabilidade e durabilidade em
relação aos agentes agressivos.
Com relação ao solo (material inerte) sua função será:
Contribuir com grãos capazes de resistir aos esforços solicitados ao desgaste e
à ação das intempéries; e
Reduzir custos devido ao menor volume de pasta a ser utilizado.
É a pasta que influencia decisivamente na cimentação do material inerte, tendo como
fator preponderante a variação relativa entre as proporções da cinza volante, cal
hidratada e água. A adição do solo produz um conglomerado pozolânico maciço, de
características satisfatórias à pavimentação. Em função dos teores de água na mistura
pode-se utilizar a tecnologia do concreto ou da pavimentação. Para o último caso a
estabilização de solos, tradicionalmente, é baseada nas curvas de compactação.
Conclui-se que o processo de estabilização é uma tecnologia que oferece a
possibilidade de aproveitamento dos solos locais, embora no estado natural não
tenham características para serem utilizados em camadas estruturais de pavimentos.
2.3.2 Reações Pozolânicas
A pozolana, segundo a ASTM C 340-58T, é definida como um material silícico ou sílico-
aluminoso, que por sipossui pouco ou não possui nenhum valor cimentante, mas,
numa forma finamente dividida e na presença de umidade, reage quimicamente com o
hidróxido de cálcio em temperatura ambiente, formando compostos de propriedades
cimentantes.
A cinza volante é uma pozolana heterogênea, na qual as propriedades físicas e
químicas variam com a composição do carvão, temperatura de combustão e método de
retirada da mesma. A evidência micrográfica, segundo a Figura 2.1.a, b, c, mostra que
a maior parte das partículas ocorrem como esferas sólidas, mas as vezes podem
apresentar um pequeno número de esferas ocas. As partículas esféricas quando vazias
chamam-se cenosferas e quando preenchidas plenosferas.
14
(a)
(b)
(c)
Figura 2.1 Micrografia eletrônica de varredura mostrando partículas de diversos
tamanhos da cinza volante utilizada neste estudo (a), partícula sólida (b),
e plenosferas (c).
15
As reações que ocorrem em uma mistura constituída por cinza volante e cal hidratada
são muito complexas e ainda não definidas completamente [Mehta e Monteiro, 1994;
Neville, 1997]. Esta complexidade é realçada, principalmente, pela heterogeneidade
das composições físicas e químicas da cinza.
A reação mais importante é a que resulta num gel cimentante, ligando as partículas de
minerais inertes que fazem parte da mistura. É feita uma comparação entre algumas
reações que ocorrem com o hidróxido de cálcio do cimento Portland e a cinza volante.
Aparentemente, a reação crítica é entre o hidróxido de cálcio e os minerais de sílica e
alumínio presentes na cinza volante, produzindo silicatos e aluminatos de cálcio
hidratados, sendo o principal elemento formado o silicato de cálcio hidratado,
representado por C-S-H (C = CaO, S = SiO
2
, H = H
2
O, na terminologia do cimento), de
acordo com Collepardi [1978], Fraay [1989], Meta [1994] e Neville [1997].
A simbologia C-S-H significa que o composto não é bem definido, pois a relação C/S
varia entre 1,5 a 2,0 e o teor de água estrutural varia ainda mais. Sua morfologia varia
de fibras pouco cristalinas a um reticulado cristalino. A estrutura exata do C-S-H ainda
não é conhecida. Além da sílica (SiO
2
), a alumina (Al
2
O
3
) tamm produzirá compostos
cimentantes com o hidróxido de cálcio, de complexidade ainda maior. Existem muitas
dúvidas e divergências sobre a exatidão dessas reações químicas, que são
apresentadas sob os mais diversos aspectos.
As reações não se verificam caso não haja quantidade suficiente de água na mistura.
Muitas cinzas não são reativas e outras o são demais. Deve-se procurar usar cinzas de
boa reatividade para produzir uma mistura de boa qualidade.
Observações feitas no microscópio eletrônico de varredura (MEV), juntamente com
difração de raios X (DRX), têm identificado alguns produtos da cinza volante com os
formados na hidratação do cimento [Cordon, 1979; Meta, 1994 e Neville, 1997].
2.3.3 Experiência Brasileira na Estabilização Pozolânica
Em 1976, foi construída pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
(DNER), sob a responsabilidade do Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), a primeira
pista experimental desenvolvida, exclusivamente, com materiais cerâmicos com
características pozolânicas. O local escolhido foi Nova Brasília, no Município de
Imbituba, em Santa Catarina. Foi construída uma pista contendo 12 secções, na qual
as espessuras do pavimento variaram em função dos tipos de misturas pozolânicas
16
estudadas. Determinadas secções foram monitoradas, na vertical e a diferentes
profundidades da estrutura do pavimento, com células de pressão para medir as
tensões verticais produzidas pelas cargas dos veículos, com sensores
eletromagnéticos para avaliar as deformações das camadas e com termopares para
medir a temperatura a diferentes níveis de profundidade e do revestimento betuminoso.
Igualmente, foram instalados medidores de recalque na sub-base e subleito em todas
as secções do trecho retilíneo. Os trabalhos laboratoriais referentes às misturas
pozolânicas estão detalhados em “Estabilização de Areia de Duna com Cal e Cinza
Volante” [Nardi, 1977].
Em 1978 foi apresentado ao Núcleo de Desenvolvimento Tecnológico de Transportes
da Universidade Federal de Santa Catarina (NDTT-UFSC) o Projeto 03 para o
desenvolvimento do segundo trecho experimental, intitulado “Projeto e Construção de 1
km de Pista Experimental com Solo-Cal-Cinza Volante em Nova Brasília - SC (1
a
Etapa)” [Nardi, 1978a], tendo sido aprovado. Tamm foi apresentada na XIV Reunião
Anual de Pavimentação, a primeira tentativa de método de ensaio dirigido
exclusivamente para este tipo de mistura [Nardi, 1978b].
Com relação ao dimensionamento de pavimentos pozolânicos, em 1984, foi
apresentada uma tentativa inicial, dada pelo “Método de Projeto de Pavimento Semi-
Rígido: aplicação para o caso de base pozolânica” [Pinto, 1984].
Em 1985, foi apresentado ao Instituto de Pesquisas Rodoviárias o Relatório Final sobre
o “Projeto de Acréscimo de 1 km de pista Experimental com Solo-Cinza Volante-Cal
Hidratada em Nova Brasília” [Nardi, 1985a]. Devido aos resultados positivos obtidos,
tamm foi proposto para o DER/SC, um projeto de pavimentação entre as localidades
de Barra da Lagoa a Ingleses (Rodovia SC-406), localizadas na Ilha de Santa Catarina,
numa extensão de 18,5 km. Foram apresentadas duas alternativas: a primeira
utilizando-se o solo local, valendo-se da estabilização pozolânica e a segunda com
brita graduada. Na análise de custos, a primeira alternativa mostrou-se mais
econômica, possibilitando, por exemplo, a execução da terraplanagem de toda a
rodovia e parte da drenagem praticamente sem ônus para o órgão investidor. Tal
economia atingia níveis em torno de 14,43% do custo total da segunda solução [Nardi,
1985b]. A proposta vencedora foi a mais onerosa aos cofres públicos, tendo sido
alegada como restrição a cautela, por ser experiência construtiva inédita no país.
17
Em 1987, foi publicado um documento informativo sobre uma linha de pesquisa relativa
ao uso de cinza volante e cal hidratada na estabilização de solos arenosos para a
construção de sub-bases e bases de pavimentos [Nardi, 1987a]. Tamm foi
apresentada uma proposta analítica para controle e previsão do comportamento
estrutural na execução de pavimentos semi-rígidos [Nardi, 1987b], aplicada tamm a
esse tipo de estabilização. Igualmente, foi concluída a segunda pista experimental
utilizando-se do prolongamento da primeira e em by-pass à BR-101 [Nardi, 1987a]. O
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem edita, em primeira mão, os métodos
de ensaios DNER-ME 180/87 para a “Determinação da Resistência à Compressão
Simples” [Brasil, 1987b] e DNER- ME 181/87 para a “Determinação da Resistência à
Tração por Compressão Diametral” [Brasil, 1987c], exclusivamente direcionados para
solos estabilizados quimicamente com cinza volante e cal hidratada.
As tentativas de execução de pavimentos pozolânicos têm sido uma luta renhida e
constante no Estado de Santa Catarina, para demonstrar a confiabilidade desse tipo de
pavimentação. Conclui-se que, com relação à utilização de materiais cerâmicos com
propriedades cimentantes (reação entre a cal hidratada e cinza volante), no que se
refere às normas rodoviárias direcionadas às metodologias de ensaios e
dimensionamento dessas estruturas, na área de estabilização química de solos, o
conhecimento científico no Brasil deixa a desejar. Do mesmo modo, não se dispõe de
metodologia eficiente capaz de otimizar os componentes participantes nas misturas
pozolânicas.
2.3.4 Metodologia Tradicional de Formulação de Misturas Pozolânicas
A estabilização de solos é caracterizada pela utilização de qualquer processo, de
natureza física e/ou química, que imprima aos solos melhores características
mecânicas, ou melhoria de outras propriedades desejadas. Corresponde ao tratamento
aplicado a um solo a fim de torná-lo apto a suportar adequadamente, sem alterações
indesejáveis, cargas estáticas e/ou móveis e as variações climáticas [Brasil, 1983].
No que se refere à pavimentação, a estabilização é utilizada onde solos são tratados
com ou sem outros produtos, de modo que a estrutura do pavimento, ou o próprio sub-
leito, sejam capazes de suportar as cargas impostas pelo tráfego que sobre o
pavimento transita.
18
A estabilização dos solos é uma ciência que envolve a manipulação de misturas de
materiais que, geralmente fora das especificações rodoviárias, proporcionem, após
estudos laboratoriais, um novo produto. A aprovação do produto impõe que seja capaz
de suportar os esforços mecânicos das cargas que transitam sobre o pavimento,
incluindo as intempéries que atuam negativamente sobre o mesmo. Isto deverá ocorrer,
pelo menos, no tempo de projeto para o qual o pavimento é destinado. Considere-se
ainda que o produto final, além de satisfazer todas as condições técnicas, deverá ser
economicamente viável e competitivo em relação aos tradicionalmente utilizados. O
sucesso da ciência da estabilização de solos depende, de modo intensivo, de ensaios
laboratoriais, nos quais são determinadas as propriedades do novo produto final.
Simplificando, pode-se dividir a estabilização dos solos em dois grupos: a estabilização
mecânica e a estabilização por adição. Na estabilização mecânica, a granulometria do
solo é conservada ou corrigida pela mistura com um ou mais outros solos, antes da
compactação, procurando-se assim aumentar a coesão e/ou o ângulo de atrito. A
estabilização por adição é feita mediante a mistura com outro solo, material ou
substância química.
Podem ser citados vários tipos de estabilização de solos, como: granulométrica,
química, com materiais betuminosos e outros.
No caso da estabilização química podem-se citar como substâncias estabilizantes: cal
hidratada, cimento, cloreto de sódio, sulfato de lignina, cloreto de cálcio, ácido fosfórico
e misturas constituídas por cal hidratada e cinza volante.
Em projetos de misturas, quando se utilizam os procedimentos da estabilização de
solos, geralmente, são fixadas as proporções entre os componentes a serem
estudados, menos um, que variará ao longo do processo, servindo como referência de
sua ação sobre os outros no produto final. Esse procedimento poderá ser utilizado para
cada componente em particular. Os resultados da análise, tradicionalmente, são
representados em duas dimensões e sob a forma gráfica cartesiana. Isto ocorre
mundialmente na área da estabilização de solos, quando se refere ao aproveitamento
de um solo, de mais solos locais ou mesmo no desenvolvimento de novos materiais a
serem utilizados na área rodoviária.
A partir do momento em que as misturas são formadas com ummero acima de dois
componentes, a representação analítica dada em função de duas dimensões começa a
19
apresentar deficiências, que aumentam substancialmente em razão do crescimento do
número de componentes na mistura.
Como exemplo, pode ser citada a construção da pista experimental paralela à BR-101,
na cidade de Nova Brasília, em Santa Catarina [Nardi, 1977]. Dispunha-se de um solo
tipo A-3 (segundo a Classificação Highway Research Board), inerte e não reativo, que
não se enquadrava nas especificações rodoviárias para ser utilizado como base e sub-
base de pavimentos, mas se constituía da única jazida existente nas proximidades.
Pesquisou-se sua utilização através da estabilização química de solos, usando-se dois
materiais disponíveis: cal hidratada e cinza volante. Portanto, foram inicialmente três os
componentes a utilizar: solo, cal e cinza.
A tecnologia rodoviária na construção de pavimentos, exceto de concreto de cimento
Portland, tem como base a teoria da compactação, na qual é necessária a
determinação laboratorial da curva de compactação. Desse ensaio são obtidos dados
importantes para a execução das camadas do pavimento. Para que isto ocorra é
necessário um quarto componente, a água, para o processo de hidratação dos
componentes cerâmicos reagentes. Sob diferentes condições de umidade, determina-
se a curva de compactação e conseqüentemente o teor de umidade ótima e a massa
específica aparente máxima da mistura.
Cada um dos 4 componentes da mistura pode variar num intervalo de 0% a 100%. A
tarefa do projetista é determinar as proporções a serem testadas e a sua ordem de
adição, além de otimizar a composição da mistura para obtenção da resistência
máxima ou da mistura mais econômica.
Devida à pequena capacidade de expressão da representação cartesiana em função
do número de componentes, foi necessária a limitação dos intervalos, atribuindo-se os
valores das percentagens dos componentes por tentativas. Fixou-se o teor de cinza em
13%. Então, foram adotadas e testadas as proporções entre a cal hidratada e o solo,
obtendo-se em laboratório os diversos valores correspondentes à propriedade
mecânica desejada. Sendo a cal hidratada o produto mais oneroso, o estudo foi
abordado através da influência da mesma na mistura pozolânica. Considerou-se uma
proporção tomada como referência básica e constituída por 13% de cinza volante, 4%
de cal hidratada e 83% de solo granular tipo A–3, denominada por mistura 3.
Apresentam-se na Tabela 2.1 as cinco misturas utilizadas. Observe-se que nesse tipo
de mistura o solo tipo A-3 é inerte, não reativo e considerado como o agregado.
20
Tabela 2.1 Misturas estudadas para construção de pista experimental.
Componentes Mistura 1
( % )
Mistura 2
( % )
Mistura 3
( % )
Mistura 4
( % )
Mistura 5
( % )
Cal hidratada
2 3 4 5 6
Cinza volante
13 13 13 13 13
Solo A-3
85 84 83 82 81
A metodologia tradicional é tipicamente empírica e desenvolvida ponto a ponto pelo
processo de tentativas seqüenciais. Procura-se, então, determinar a potencialidade das
misturas, Figura 2.2, em curvas de resistência à compressão simples (R) em função
dos teores de umidade (h%). A representação cartesiana tem como finalidade verificar
onde ocorrem os máximos em função do aumento gradativo das percentagens de água
nas misturas. Observa-se que a partir de um determinado teor de umidade a
incorporação de água na mistura é prejudicial ao ganho de resistência.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
024681012
Teor de umidade ( h%)
Resistência (MPa)
2% de cal
3% de cal
4% de cal
5% de cal
6% de cal
Figura 2.2 Resistência à compressão em função do teor de umidade, para diferentes
teores de cal hidratada.
21
A família de curvas que representa a resistência à compressão simples é muito
limitada, pois deixa a desejar quando se pretende uma visão global da potencialidade
de todas as outras infindáveis misturas possíveis e não estudadas, igualmente
pertencentes aos intervalos em que as misturas iniciais foram testadas. Seus valores
são pontuais e nada podem informar com relação à variação da cinza volante, que
corresponde ao outro componente participante da mistura. Tamm nessa metodologia
não se dispõem de correlações triaxiais que englobem, simultaneamente, os efeitos
dos três componentes que formam a pasta cimentante, ou sejam, as relações
existentes entre a cal hidratada, cinza volante e água.
Da Figura 2.2 ainda pode-se obter outro gráfico, Figura 2.3, que representa a
resistência máxima (R
max
) de cada mistura em função do teor de cal hidratada
correspondente. Constata-se que existem misturas capazes de desenvolver maior
resistência em função do aumento da cal hidratada, embora tal representação continue
oferecendo limitações.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
01234567
Percentagem de cal (%)
Resistência máxima (R, MPa)
Figura 2.3 Resistências máximas em função das percentagens de cal hidratada nas
5 misturas.
Deve-se ter em mente que nada se pode afirmar com relação a um valor máximo
absoluto obtido da Figura 2.3. O procedimento teria que ser repetido para percentagens
de cinza volante diferentes de 13%. O ideal seria a existência de metodologia que
otimizasse as proporções dos componentes, maximizando o valor da propriedade
Mistura 1
Mistura 2
Mistura 3
Mistura 4
Mistura 5
22
mecânica desejada, sendo esse um dos objetivos específicos perseguido nesse
trabalho.
Conclui-se que a metodologia tradicional, embora seja normalmente utilizada em
projeto de estabilização de solos, não satisfaz as atuais necessidades tecnológicas,
porque não permite um detalhamento mais apurado da potencialidade da mistura.
2.3.5 Metodologia Alternativa por Delineamento de Misturas
Neste trabalho, apresenta-se a teoria de delineamento de misturas e superfície de
resposta como metodologia alternativa para formulação de pastas pozolânicas
cimentantes. A utilização do planejamento experimental em misturas vêm despertando
interesse na produção de novos materiais e no melhoramento dos já existentes. Esta
metodologia tem aplicações na formulação de polímeros [Yang, 1997], tintas e
camadas de cobertura [Anderson, 1996; Cornell, 1990a], surfactantes e produtos
farmacêuticos [Martimestres, 1997; Campisi, 1998], vidros [Chick, 1984; Piepel,1997],
fritas cerâmicas [Schabbach, 1999], entre outros.
Para melhor firmar as noções básicas desta técnica, diga-se que em função da mistura
de três componentes, pretende-se obter, combinando suas proporções, um novo
material e conhecer a variação do valor de uma determinada propriedade mecânica,
como por exemplo, a resistência à tração. Todas as vezes que forem alteradas as
proporções iniciais dessa mistura, novos valores para a resistência à tração do produto
final serão obtidos, resultantes das alterações das misturas dos componentes. Aqui
chama-se de resposta a resistência à tração que, representada sob forma de equação,
corresponderá à variável dependente. As diversas proporções dos componentes, que
são as variáveis que influenciam nos valores da resposta são os fatores, que
corresponderão às variáveis independentes. A função que representa
matematicamente a resposta (y) e os fatores (x
1
, x
2
e x
3
) poderá ser representada por
uma equação do tipo y = f(x
1
, x
2
, x
3
). A função que descreve toda essa influência é
chamada de superfície de resposta. Além disso, pode-se também querer otimizar o
sistema, como por exemplo: determinar quais serão as proporções dos fatores
(componentes) que proporcionarão o máximo valor para a resposta (neste caso, a
resistência à tração).
Esta metodologia alternativa é eficiente porque faz variar todos os componentes ao
mesmo tempo. A interação entre os componentes é um fenômeno que ocorre
23
freqüentemente. Dificilmente ocorrem situações em que os mesmos atuem
independentemente.
Essa técnica foi introduzida por G. E. P. Box na década de 1950, sendo que a partir
desta data tem sido utilizada nos mais diversos processos industriais. Há excelentes
subsídios em Box [1978], Piepel [1983], Crosier [1984], Cornell [1990b], Juran [1993],
Barros Neto [1995], Myers [1995], Statistica [1995]; Khuri [1996], Montgomery [1996] e
Deming [1999].
Barros Neto [1995] exemplifica que: “ao estudar a influência da temperatura e da
concentração no rendimento de uma reação, se os valores dessas variáveis forem
dobrados naturalmente espera-se que o rendimento seja afetado e que as
propriedades do produto final, como, por exemplo, viscosidade e densidade ótica,
tamm sejam alteradas. Com as misturas a situação é diferente. Se dobram-se, por
exemplo, as quantidades dos ingredientes de uma mistura de bolo, tendo o cuidado de
não variar as outras condições, espera-se obter apenas um bolo duas vezes maior,
porém com o mesmo sabor, a mesma textura e a mesma cor. Em outras palavras, as
propriedades de uma mistura são determinadas pelas proporções de seus ingredientes
e não pela sua quantidade total”.
Em uma mistura a soma das proporções de todos os componentes sempre deverá ser
igual a 100%, pois as proporções dos mesmos não são independentes. Logo, no
delineamento de misturas a região estudada e disponível para a experimentação
sempre será reduzida, levando em consideração que a adição total dos componentes
completarão os 100% da mistura.
Este trabalho refere-se exclusivamente ao planejamento e otimização de misturas. A
metodologia tem como base a realização de um número mínimo de combinações dos
fatores (componentes) para os ensaios laboratoriais, obtendo-se o máximo de
informação possível. Evita-se dessa forma um longo período de tempo em ensaios
laboratoriais e um custo excessivo na manutenção da pesquisa.
O planejamento de misturas tem como finalidades a seleção das variáveis que afetam
significativamente a resposta, a análise da variação individual de cada componente na
região de validade do estudo e a determinação da composição que otimiza a resposta
na propriedade de interesse estudada.
24
Para tanto, obtém-se um modelo matemático de regressão, obtido através do método
dos mínimos quadrados. Procura-se construir uma superfície de resposta a partir dos
valores obtidos em laboratório. O princípio fundamental da metodologia é uma
seqüência de modelagens e deslocamentos. Estas seqüências deverão ser repetidas
até se atingir o objetivo, que corresponde ao valor otimizado da região investigada da
superfície de resposta, seja ela um máximo, mínimo ou um ponto de sela. A
modelagem é efetuada ajustando-se equações aos resultados laboratoriais provindos
do planejamento inicial. O deslocamento será ao longo direção na qual a resposta varia
de forma mais pronunciada. Assim, pode-se obter um modelo de ajuste, para um
número definido de componentes, a partir de valores experimentais medidos nas
combinações entre os mesmos.
Em seguida é necessária a avaliação do modelo, que neste trabalho é efetuada,
analiticamente, através da análise da variância (ANOVA), na determinação da
significância estatística e da falta de ajuste do modelo, e, graficamente, pelos resíduos
em função dos valores preditos. Para este trabalho o modelo ajustado será aceito
quando satisfizer aos três itens anteriores, simultaneamente.
Esta metodologia permite a composição entre q componentes, sendo que quanto maior
for q mais complexa será a solução. Os modelos de regressão mais utilizados são os
polinomiais, principalmente os tipos linear, quadrático, cúbico especial e cúbico
completo [Cornell, 1990a, b].
O modelo de mistura pode ser expresso em componentes originais ou
pseudocomponentes. Os pseudocomponentes são utilizados quando um ou mais
componentes originais sofrem restrições, em seus limites inferiores e/ou superiores.
Restrições nos componentes provocam diminuição na região de experimentação, fato
que reduz o número de ensaios e aumenta a precisão do modelo, diminuindo o tempo
e o custo da pesquisa.
Assim, há necessidade da verificação das possibilidades da utilização desses novos
conceitos, inicialmente, na formulação de pastas pozolânicas. Isso ocorrendo, a
metodologia prestar-se-á à estabilização química no uso de materiais pozolânicos
cimentantes, podendo vir a substituir o uso da metodologia tradicional.
25
2.4 Delineamento de Misturas
Neste capítulo, serão apresentados tópicos referentes ao planejamento e análise
estatística de experimentos, com ênfase no delineamento de misturas.
2.4.1 Determinação da Consistência dos Limites dos Componentes
Seja o conjunto de intervalos para uma mistura de componentes expresso pelas
seguintes equações:
10
iii
UxL
1
1
=
=
q
i
i
x
(2.1)
qi ....,,2,1= ; e
q= mero de componentes.
São consistentes os limites das Equações 2.1 quando a região formada pelas possíveis
combinações dos ,....,,2,1 qx
i
= para todas as proporções dos componentes (não
necessariamente todas simultaneamente), atendam aos limites inferiores (
i
L ) e aos
limites superiores (
i
U ) dos intervalos de variação dos componentes. A verificação da
consistência desses limites foi estudada por Piepel [1983].
Para as Equações 2.1, a consistência dos limites dos componentes pode ser
determinada através das fórmulas enumeradas a seguir:
iii
LUR =
=
=
q
i
i
i
i
L
R
R
1
1
'
(2.2)
qi ....,,2,1=
Se para qualquer 1,
'
>
i
Ri , ou seja :
=
>
q
i
ii
LR
1
1
26
ou (2.3)
1>+
q
ij
ji
LU
então, o limite superior
i
U será inaceitável.
Caso ocorra que:
<
q
ij
i
R 1'
ou (2.4)
1<+
q
ij
ji
UL
o limite inferior
i
L será inaceitável.
Quando houver limite inferior ou limite superior inaceitável,
i
L e
i
U assumirão novos
valores, devendo ser corrigidos através das Equações 2.5.
1
*
=
q
ij
ji
UL
ou (2.5)
=
q
ij
ji
LU 1
*
Outra forma de verificar a consistência dos intervalos é através do tamanho linear do U-
simplex (
U
R ) e do tamanho linear do L-simplex (
L
R ), definidos por:
1
1
=
=
q
i
iU
UR
ou (2.6)
=
=
q
i
iL
LR
1
1
Segundo Crosier [1984], tem-se que:
27
Se para qualquer
i
,
Ui
RR > , então
i
L é inaceitável
ou (2.7)
Se para qualquer
i
,
Li
RR > , então
i
U é inaceitável.
Quando houver limite inferior ou limite superior inaceitável,
i
L e
i
U assumirão novos
valores, devendo ser corrigidos através das Equações 2.8:
Uii
RUL =
*
ou (2.8)
Lii
RLU +=
*
Exemplos numéricos são encontrados em Schabbach [1999].
2.4.2 Pseudocomponentes
Para o caso geral, no qual os limites inferiores e superiores de todas as proporções dos
componentes são restritas, requer-se a presença de todos os componentes em
quaisquer proporções das misturas. O planejamento experimental para o ajuste do
modelo torna-se mais simplificado quando desenvolvido sob a forma de
pseudocomponentes, que são combinações das proporções dos componentes
originais.
Segundo Cornell [1990a] e Khuri [1996], os L-pseudocomponentes (
'
i
x ) são definidos
em função dos componentes originais (
i
x ) e seus limites inferiores (
i
L ).
A condição de contorno para o limite inferior e a relação entre os pseudocomponentes
e componentes originais estão nas Equações 2.9:
ii
xL 0 , qi ....,,2,1=
L
Lx
x
ii
i
=
1
'
(2.9)
1
1
<=
=
q
i
i
LL
28
Os U-pseudocomponentes (
'
i
u ) são definidos em função dos componentes originais
(
i
x ) e seus limites superiores (
i
U ).
A condição de contorno para o limite superior e a relação entre os pseudocomponentes
e componentes originais estão nas Equações 2.10:
1
ii
Uu , qi ....,,2,1=
1
'
=
U
xU
u
ii
i
(2.10)
1
1
>=
=
q
i
i
UU
2.4.3 Determinação do Subespaço Delineado pelas Restrições
Segundo Khuri [1996], quando os limites inferiores e superiores dos componentes
possuem restrições, o subespaço resultante não será mais um simplex. A forma
originada pela nova região delineada será uma poligonal irregular fechada. Para o caso
de três componentes, sendo seus limites consistentes, seu contorno pode ser
representado através de seus 6 vértices em função de coordenadas triangulares,
obtidas por fórmulas expressas através dos componentes originais, dadas pelas
Equações 2.11:
),,(
321
xxx = )](1,,[
2121
LULU +
),,(
321
xxx = ]),(1,[
3311
LLUU +
),,(
321
xxx = ],),(1[
3232
LULU +
),,(
321
xxx = )(1,,[
1221
LUUL + ]
(2.11)
),,(
321
xxx = ]),(1,[
3131
ULUL +
),,(
321
xxx = ],),(1[
3223
ULLU +
A determinação das coordenadas de um ponto médio de um segmento de reta
qualquer é dada pela média aritmética das coordenadas dos pontos extremos
correspondentes.
29
As coordenadas triangulares ),,(
321
xxx tamm podem ser expressas pelos
pseudocomponentes ),,(
'
3
'
2
'
1
xxx , através das Equações 2.9 ou 2.10, conforme o caso
requeira.
2.5 Método dos Mínimos Quadrados
O método dos mínimos quadrados pode ser usado para ajustar modelos matemáticos a
um conjunto de observações, de tal forma que a soma dos quadrados dos resíduos
seja mínima. Uma representação teórica usual de forma matemática, ajustada aos
resultados de experimentos com misturas contendo m componentes, é expressa pela
Equação 2.12 [Myers, 1995; Montgomery, 1996]:
j
m
i
m
ji
iijii
xxxyE
∑∑
=<
+=
1
)(
ββ
(2.12)
onde
)(yE : Valor esperado da equação ajustada;
i
β
,
ij
β
para mji ,....,3,2,1, = com
i
<
: coeficientes da equação ajustada; e
iji
xx , para mji ,....,3,2,1, = com
i
<
: proporções relativas a cada componente da
equação ajustada.
A Equação 2.12, com a restrição 2.1, é o chamado modelo quadrático, bastante usual
na metodologia de superfície de resposta. Porém, outros modelos matemáticos
poderiam ser considerados.
A Equação matricial 2.13 dá a solução geral para o ajuste de um modelo obtido pelo
método dos mínimos quadrados, obtendo-se desta forma estimativas para os
coeficientes da Equação 2.12 [Myers, 1995].
b = (X
t
X)
-1
X
t
y (2.13)
sendo
b : vetor de estimativas dos coeficientes
iji
bb , na Equação 2.12;
X: matriz dos valores das proporções dos componentes utilizadas em laboratório;
30
X
t
: matriz transposta de X;
(X
t
X)
-1
: matriz inversa do produto X
t
X; e
y: vetor dos valores observados nos ensaios de laboratório.
Neste trabalho, aborda-se exclusivamente o modelo quadrático desenvolvido para 3
componentes (m = 3). Nesse caso, obtém-se o valor predito (ŷ) pela Equação 2.14.
322331132112332211
ˆ
xxbxxbxxbxbxbxby +++++=
(2.14)
sendo:
y
ˆ
: Valor predito pela equação ajustada;
iji
bb , para ,3,2,1, =ji com
i : coeficientes da equação ajustada; e
iji
xx , para ,3,2,1, =ji com
i
: variáveis independentes correspondendo às
proporções relativas de cada componente da equação ajustada.
2.5.1 Análise dos Resíduos
Um modelo de regressão é utilizado como representativo em um estudo, quando as
hipóteses atribuídas na sua construção são válidas. Caso alguma hipótese não se
confirme, o modelo é considerado inadequado com relação a sua utilização. Ocorrendo
isso, deverá ser utilizado um modelo mais adequado ou procurada outra forma de
análise do problema.
Definem-se os resíduos (e
i
) como as diferenças entre os valores observados em
laboratório (y
i
) e os valores preditos (ŷ
i
) pelo modelo de regressão, segundo mostrado
na Equação 2.15:
e
i =
y
i
- ŷ
i
(2.15)
i = 1, 2, 3, ....., n
A análise da adequação de um modelo pode ser desenvolvida através do gráfico dos
resíduos em função valores preditos. A verificação da forma de distribuição dos pontos,
segundo padrões determinados, vai permitir a visualização da adequação do modelo
em questão.
31
O padrão apresentado na Figura 2.4, onde os resíduos estão sempre centrados no
valor igual a zero (prova-se que
0=
i
i
e
) e distribuídos segundo uma faixa horizontal,
corresponde a uma característica favorável e satisfatória para a adequação do modelo.
Valor predito
Resíduo
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
1000 1500 2000 2500 3000
Figura 2.4 Padrão aceitável de gráfico de resíduo em função do valor predito.
O padrão da Figura 2.5 é característica de inadequação do modelo, indicando a não
linearidade. Apresenta concentração de valores dos erros, alternadamente, ora na
região positiva e ora na região negativa.
Valor predito
Resíduo
-500
-400
-300
-200
-100
0
100
200
300
400
500
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Figura 2.5 Padrão não aceitável de gráfico de resíduo em função do valor predito.
Este padrão impõe a necessidade da inclusão de novas variáveis no modelo, como
exemplo, os termos quadráticos em x, como também pode exigir adoção de
transformadas na variável dependente y.
2.5.2 Coeficiente de Ajuste do Modelo
A verificação do ajuste do modelo quadrático pode ser efetuada através da análise da
variância (ANOVA). Observe-se que a equação do modelo ajustado foi obtida através
do método dos mínimos quadrados, sendo y
i
os valores observados da variável
32
dependente nos ensaios laboratoriais,
y
a média dos valores observados e x
i1
, x
i2
, x
i3
as proporções de cada componente para cada mistura efetuada individualmente, sendo
i
y
ˆ
os valores preditos pela equação ajustada aos dados.
A soma quadrática em torno da média (SQ
T
) será igual a soma das parcelas relativas a
soma quadrática da regressão (SQ
R
) com a soma quadrática dos resíduos (SQ
r
).
A soma quadrática da regressão (SQ
R
) e a soma quadrática total (SQ
T
), tendo como
fonte de variação o ajuste do modelo, são dadas pelas Equações 2.16 e 2.17:
2
)
ˆ
( yySQ
i
m
i
n
j
R
i
=
∑∑
(2.16)
2
)(
∑∑
=
m
i
n
j
iT
i
yySQ
(2.17)
O ajuste do modelo pode ser mensurado pelo coeficiente de ajuste (r
2
), sendo seu valor
máximo igual a 1, o que ocorre quando todos os resíduos forem nulos. O coeficiente de
ajuste é dado pela Equação 2.18:
r
2
= SQ
R
/ SQ
T
(2.18)
2.5.3 Significância Estatística do Modelo
Para a avaliação da adequação do modelo de regressão, podem ser utilizados testes
de hipóteses sobre os parâmetros do modelo. Empregando o teste de significância
estatística da regressão, considerando três componentes, as hipóteses são:
H
0
: β
1
= β
2
= β
3
= β
12 =
β
13 =
β
23
= 0
H
1
: β
i
, β
ij
0 para pelo menos um i ou ij, sendo i > j
A rejeição de H
0
tem o significado que pelo menos uma das variáveis da equação
ajustada (x
1,
x
2,
x
3,
x
12,
x
13
ou
x
23
) contribui de modo significativo para o modelo. A
estatística do teste é dada por:
33
r
R
QM
QM
F =
0
(2.19)
onde
1
)
ˆ
(
2
=
∑∑
p
yy
QM
i
m
i
n
j
R
i
pn
yy
QM
m
i
n
j
ii
r
i
=
∑∑
2
)
ˆ
(
sendo:
QM
R
: quadrado médio da regressão;
QM
r
: quadrado médio dos resíduos;
p: número de parâmetros do modelo;
n: número total de observações (
=
i
nn ); e
p-1, n – p: são os números de graus de liberdade de QM
R
e QM
r
, respectivamente.
Supondo que os resultados laboratoriais constituem-se de amostras independentes
com distribuições normais de mesma variância, a estatística F
0
tem distribuição F, com
(p - 1, n - p) graus de liberdade, sob a hipótese H
0
.
Para um teste, com um nível de significância α, a região de rejeição de H
0
é da forma:
),1(,0 pnp
FF
>
α
(2.20)
2.5.4 Falta de Ajuste do Modelo
O teste da falta de ajuste pode ser usado para verificar a qualidade do ajuste do
modelo. O teste é desenvolvido da seguinte forma:
H
0
: a equação se ajusta aos dados; e
H
1
: a equação não se ajusta aos dados.
34
A estatística desse teste é dada por:
ep
faj
faj
QM
QM
F =
(2.21)
onde
pm
yy
QM
i
m
i
n
j
i
faj
i
=
∑∑
2
)
ˆ
(
mn
yy
QM
i
m
i
n
j
ij
ep
i
=
∑∑
2
)(
sendo:
QM
faj
: quadrado médio da falta de ajuste;
QM
ep
: quadrado médio do erro puro;
m: números de níveis (valores) distintos para x;
p: número de parâmetros do modelo; e
n: número total de observações.
Considerando as mesmas suposições vista no teste anterior, F
faj
tem distribuição F,
com (m - p, n - m) graus de liberdade, nas condições da hipótese H
0
.
Em um teste, utilizando-se um nível de significância α, a região de rejeição de H
0
é da
forma:
F
aj
> F
α, (m-p, n-m)
(2.22)
2.5.5 Cálculo do Ponto Estacionário
A interpretação do modelo ajustado pode ser feita através do cálculo do ponto
estacionário, que representa um ponto de resposta máxima, mínima ou um ponto de
sela. Esses procedimentos têm como finalidade a verificação da otimização das
35
misturas. Seja uma equação de segunda ordem ajustada aos dados experimentais, a
sua representação em forma matricial é dada segundo a Equação 2.23:
+=
0
ˆ
by
x’b + xBx
(2.23)
onde: b
0
corresponde ao termo independente; e
x =
3
2
1
x
x
x
; b =
3
2
1
b
b
b
; B =
332313
232212
131211
2/2/
2/2/
2/2/
bbb
bbb
bbb
O ponto estacionário x
0
corresponde à solução da Equação 2.24:
=
y
ˆ
b + 2Bx = 0
(2.24)
A solução do sistema é dada por:
X
0
= 0,5B
-1
b
(2.25)
2.5.6 Cálculo dos Autovalores
O ponto estacionário poderá representar um ponto de resposta máxima, mínimo ou um
ponto de sela. Se todos os autovalores (λ) da matriz B forem negativos, representa um
ponto de resposta máxima; se todos positivos, um ponto de resposta mínima; e se com
sinais alternados, um ponto de sela. Para um modelo de segunda ordem ajustado aos
dados laboratoriais, os autovalores sob a forma matricial estão expressos segundo o da
Equação 2.26:
B =
λ
λ
2212
1211
2/
2/
bb
bb
(2.26)
Da resolução da Equação 2.26 obtém-se os valores para os autovalores
1
λ
e
2
λ
nas
Equações 2.27 e 2.28:
2
2
2112
2
22
2
11
2
22
2
112211
1
bbbbbbbb ++++
=
λ
(2.27)
36
e
2
2
2112
2
22
2
11
2
22
2
112211
2
bbbbbbbb +++
=
λ
(2.28)
A resposta predita no ponto estacionário é dada pela solução da Equação 2.29:
+=
0
ˆ
by 0,5
x’
0
b
(2.29)
x’
0
: ponto estacionário.
37
3 Materiais e Métodos
Neste capítulo, são descritas as matérias-primas utilizadas para a formulação dos
materiais pozolânicos, bem como os procedimentos experimentais de preparação dos
corpos-de-prova e da medição da propriedade mecânica de interesse.
3.1 Materiais
Nas composições das misturas pozolânicas foram usados 3 componentes: cinza
volante, cal hidratada e água, como descritos a seguir.
3.1.1 Cinza Volante
A cinza volante utilizada foi a produzida no complexo termoelétrico Jorge Lacerda,
situado em de Capivari de Baixo no Estado de Santa Catarina.
A Tabela 3.1 apresenta o resultado da análise química por fluorescência de raios X,
efetuada na cinza volante. Seus constituintes predominantes são SiO
2
e Al
2
O
3
, sendo
considerada de baixo teor de cálcio, portanto, não reativa (dado por teor abaixo de 10%
de CaO).
Tabela 3.1 Composição química da cinza volante utilizada.
Compostos
SiO
2
Al
2
O
3
Fe
2
O
3
CaO Na
2
OK
2
O MnO TiO
2
MgO P
2
O
5
P.F.
% 59,04 25,77 7,09 1,92 0,41 2,93 0,06 1,30 0,55 0,07 0,87
Obs.: Perda ao fogo (PF).
Na Tabela 3.2 apresenta-se o resultado da análise granulométrica, tendo como
referência o material retido nas peneiras números 200 e 325.
Tabela 3.2 Granulometria da cinza volante utilizada.
Peneira (número)
200 (75 µm) 325 (44 µm)
% de material retido 37,95 55,75
A Figura 3.1 mostra a micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV)
da cinza volante utilizada nos estudos laboratoriais. As estruturas típicas esferoidais
38
podem ser identificadas. Nota-se ainda uma aglomeração de partículas primárias
menores, em torno de 1 µm, formando uma partícula secundária, em torno de 25 µm.
Figura 3.1 Micrografia da cinza volante utilizada.
3.1.2 Cal Hidratada
A cal hidratada utilizada foi a comercial marca Cem, tipo CH III, cuja composição
química, medida por fluorescência de raios X, encontra-se na Tabela 3.3.
Tabela 3.3 Composição química da cal hidratada utilizada.
Compostos
SiO
2
Al
2
O
3
Fe
2
O
3
CaO Na
2
OK
2
O MnO TiO
2
MgO P
2
O
5
PF
% 7,58 0,14 <0,01 37,65 <0,01 <0,01 0,01 <0,01 27,13 0,01 27,47
Na Tabela 3.4 apresenta-se o resultado da análise granulométrica da cal hidratada
utilizada, tendo como referência o material retido nas peneiras de números 200 e 325.
Tabela 3.4 Granulometria da cal hidratada utilizada.
Peneira (número)
200 (75µm)
325 (44µm)
% de material retido 15,25 26,35
A Figura 3.2 mostra a micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura, onde
se visualizam partículas da cal hidratada utilizada nos estudos laboratoriais. Nota-se
um aspecto superficial rugoso e irregular. Além da partícula central, com cerca de 100
39
µm, encontram-se várias partículas menores que 10 µm, em concordância com a
análise granulométrica.
Figura 3.2 Micrografia da cal hidratada utilizada.
3.1.3 Água
Utilizou-se água da rede pública, fornecida pela Companhia Catarinense de Águas e
Saneamento (CASAN).
3.2 Métodos de Preparação de Corpos-de-prova
Os ensaios e análises laboratoriais foram realizados no Laboratório Central do
Departamento de Estradas de Rodagem de Santa Catarina, no Laboratório de
Mecânica dos Solos do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de
Santa Catarina, no Laboratório Interdisciplinar de Materiais do Departamento de
Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina e no Laboratório do
Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Santa Catarina.
3.2.1 Misturas dos Componentes
Inicialmente, a mistura foi trabalhada manualmente a seco até atingir homogeneização
constante em sua coloração. Em seguida, mecanicamente, em misturadora marca Solo
Test, modelo PU 20, durante 5 minutos à velocidade de 80 rpm (Figura 3.3), sendo, a
seguir, adicionada a água para obtenção da percentagem calculada na composição
final da mistura. O trabalho prosseguiu, então, por mais 5 minutos.
40
Figura 3.3 Misturador mecânico para homogeneização das misturas.
3.2.2 Moldagem
Para cada mistura foram produzidos 3 corpos-de-prova,com 5 cm de altura por 5 cm de
diâmetro, confeccionados imediatamente após a mistura. A compactação foi executada
manualmente por um compactador miniatura com soquete cilíndrico de aço (Figura
3.4), compactando-se o material em uma única camada e em cilindros apropriados
[DER-SC – Laboratório Central].
Figura 3.4 Equipamento de compactação em miniatura.
Cada face do corpo-de-prova (base e topo) recebeu 6 golpes do soquete com sapata
cilíndrica de 0,0497 m de diâmetro, peso de 4,54 kg e altura de queda de 0,305 m,
sendo essa energia distribuída uniformemente em ambas as superfícies. O controle
41
individual da altura de cada corpo-de-prova foi efetuado por relógio comparador, marca
Mitutoyo, graduado em 1/1000 mm, provido de conta-giros e a prova de choque (Figura
3.5). Na moldagem, a variação da altura de cada corpo-de-prova ficou restrita a ± 0,5
mm.
Figura 3.5 Equipamento para controle individual da altura dos corpos-de-prova.
A retirada do corpo-de-prova do interior do molde foi efetuada por extração mecânica,
como mostrado na Figura 3.6.
Figura 3.6 Detalhe da extração do corpo-de-prova do molde.
A energia de compactação utilizada foi de 169.253 kg
f
.m/m
3
(energia intermediária,
Método DNER-ME 48-64), sendo o número de golpes calculado pela fórmula da
energia de compactação por unidade de volume de material compactado.
42
E = Ng.Nc.Ps.Hq/Vc
(3.1)
onde:
E: Energia de compactação por unidade de volume;
Ng: número de golpes por camada;
Nc: número de camadas;
Ps: peso do soquete;
Hq: altura de queda do soquete; e
Vc: volume da amostra compactada.
Cada ponto representa a média de 3 corpos-de-prova confeccionados, para um teor
de umidade variando de ±0,3% em relação à média.
3.2.3 Cura
Cada corpo-de-prova foi lacrado em três sacos plásticos (Figura 3.7), evitando assim
um fator sem controle, oriundo da perda ou acréscimo de umidade e da carbonatação
devido ao dióxido de carbono (CO
2
) contido no ar. O tempo de cura adotada foi de 28
dias.
Figura 3.7 Sistema de proteção contra umidade e carbonatação.
O processo de cura ocorreu em estufa (marca Fanem, modelo 320-SE) com circulação
de ar (Figura 3.8) e à temperatura de 40°C ± 0,5°C controlada automaticamente por
adaptação de equipamento eletrônico (marca InControl).
43
Figura 3.8 Estufa com controle de temperatura utilizada na cura dos corpos-de-
prova.
3.2.4 Imersão
Todos os corpos-de-prova foram imersos em água (Figura 3.9) por 24 horas, após o
período de cura e antes do ensaio de tração por compressão diametral.
Figura 3.9 Forma de imersão pelo período de 24 horas.
3.2.5 Ensaio de Tração por Compressão Diametral
A determinação da resistência à tração, por compressão diametral, apresenta
dificuldades especialmente quando:
O material é heterogêneo, como exemplo em um solo coesivo natural. Nesse
caso, ocorre ruptura progressiva; e
O perímetro externo da parede do corpo-de-prova não é regular. Nesse caso, as
tensões tendem a não ser uniformemente distribuídas.
44
A adoção da escolha desse ensaio tem como fundamento que as misturas, no estudo
em questão, não se enquadram nestas condições. Por outro lado, a compressão
diametral apresenta a vantagem de reduzir o volume do material a ser utilizado.
Todos os ensaios foram efetuados em triplicatas e tomadas as médias com tensões
calculadas em kPa. O intervalo de variação admitido, em torno da média, foi de mais ou
menos 10%. A prensa utilizada (Wykeam Farrance, capacidade 10 toneladas, modelo
n
0
10071) nos ensaios de tração foi operada a uma velocidade de ruptura constante de
1,5 mm/min, Figura 3.10.
Figura 3.10 Máquina de ensaios mecânicos.
O sistema de posicionamento e centralização dos corpos-de-prova (Figura 3.11) foi
projetado e adaptado, especialmente, para a prensa utilizada.
Figura 3.11 Sistema de posicionamento e centralização de corpos-de-prova.
45
Para a tração por compressão diametral, a superfície de ruptura tem como
característica ser plana e passar pelo eixo do corpo-de-prova, como mostrado na
Figura 3.12.
Figura 3.12 Ruptura de corpo-de-prova à tração por compressão diametral.
A Figura 3.13 mostra comparativamente o sistema em miniatura projetado para este
tipo de ensaio, juntamente com corpos-de-provas em dois estágios diferentes, antes e
após a ruptura.
Figura 3.13 Parte do sistema projetado e de corpos-de-prova antes e depois da
ruptura.
3.3 Planejamento Experimental
Aqui se expõem os procedimentos adotados para a aplicação da teoria de
delineamento de misturas e superfície de resposta em pastas pozolânicas, após
ocorrência das reações químicas entre os componentes participantes da mistura.
Tamm procura-se verificar a possibilidade da determinação das percentagens dos
componentes que maximizam a resistência à tração por compressão diametral,
otimizando desta forma a mistura.
46
A seqüência da metodologia se descreve a seguir:
Determinação da região de trabalhabilidade da mistura
Corresponde à realização de ensaios iniciais e expeditos, tendo como finalidade à
verificação do comportamento físico das misturas e a delimitação das primeiras
restrições em cada componente participante das mesmas. Esse procedimento permite
a definição do intervalo de variação de cada componente, de acordo com as técnicas
referentes às manipulações físicas das misturas em laboratório, desde o processo
inicial de mistura até a elaboração final dos corpos-de-prova, destinados as mais
diferentes mensurações propostas;
Detecção de inconsistência dos limites das misturas
É a verificação da compatibilidade entre os resultados experimentais exeqüíveis em
laboratório e as particularidades matemáticas da teoria. Consiste na coerência entre os
valores dos intervalos dos componentes inicialmente obtidos em laboratório e as
condições impostas pela teoria de delineamento de misturas;
Transformação para limites consistentes
Verificada a inconsistência no sistema formado pelos intervalos de variações dos
componentes, faz-se necessária a modificação desses valores. As correções não mais
se farão em laboratório, dependendo agora somente das condições matemáticas
referentes a teoria em questão. A partir deste momento, um ou mais intervalos
passarão a sofrer novas restrições;
Definição do número de pontos experimentais
Os intervalos de variações dos componentes originados da seqüência anterior definem
o planejamento experimental inicial, que será dado por um polígono. Sua área
corresponde a todas as combinações possíveis entre os componentes, satisfazendo
simultaneamente as condições teóricas e laboratoriais. Os vértices do polígono são os
pontos a serem testados em laboratório.
Levando em consideração a possibilidade das propriedades mecânicas das misturas
não terem uma variação linear, podem ser introduzidos no planejamento os centróides
dos lados e da área do polígono. Todos os pontos, aqui mencionados, correspondem
às proporções das misturas a serem testadas em laboratório.
47
Aplicação de restrições sucessivas sobre a superfície de resposta
Aos resultados laboratoriais aplica-se a teoria do método dos mínimos quadrados,
obtendo-se os coeficientes para o modelo e, na seqüência, os valores preditos no
modelo ajustado. Observe-se que neste trabalho a equação a ser testada refere-se
exclusivamente ao modelo de segunda ordem. Quando a superfície modelada tem a
forma de pico (máximo), nas proximidades do ótimo, usualmente esse modelo é
empregado, porque sua interpretação se aproxima da realidade do processo,
correspondendo ao comportamento físico esperado.
A aceitação do modelo é efetuada pela análise de variância, dada pela significância
estatística do modelo e ausência de falta de ajuste. Neste trabalho, a aceitação é dada
ao nível de significância de 5%. Faz-se também a verificação do ajuste mediante
visualização gráfica, representando os resíduos em função dos valores preditos.
Caso o modelo quadrático não satisfaça às condições de significância estatística ou se
detecte falta de ajuste, necessitando uma melhor adaptação, esse deverá ser
recusado. Um novo planejamento experimental deverá ser desenvolvido.
No gráfico triangular da área no polígono inicial, visualizam-se as curvas de mesmos
valores (superfície na forma de curvas de nível) e correspondentes a propriedade
mecânica em estudo. Na região onde a figura prediz os valores mais elevados
superpõe-se um novo polígono, por meio de um novo planejamento experimental dado
pela imposição de outras restrições nos componentes. Utilizando-se dos mesmos
procedimentos anteriores, obtém-se os valores de laboratório e o novo modelo
ajustado. Constatada a significância estatística e não detectada a falta de ajuste, ao
nível desejado, o modelo será aceito para representar matematicamente os valores
preditos da propriedade mecânica estudada. Caso isto não ocorra, necessário se faz
um novo planejamento experimental, restringindo-se ainda mais o planejamento
anterior. A esse procedimento se denomina, neste trabalho, de “metodologia de
restrições sucessivas sobre superfícies de resposta” [Nardi,2004a, b].
Otimização do sistema
Conhecendo-se o modelo adotado, parte-se para a otimização do sistema, que
corresponde inicialmente à determinação do ponto estacionário do mesmo. A partir
dessa etapa, todos os procedimentos são definidos por desenvolvimento de cálculos
matemáticos, como indicados na revisão da literatura.
48
Em seguida, procede-se à verificação do tipo de ponto estacionário, isto é: a
determinação dos autovalores para o modelo de segunda ordem ajustado aos dados
laboratoriais, expressos sobre a forma matricial, podendo resultar em um máximo, um
mínimo ou um ponto de sela.
Na seqüência, determina-se o valor máximo predito que a mistura poderá apresentar,
caso os autovalores da matriz do modelo sejam negativos. Obtém-se a predição da
propriedade mecânica, em estudo, substituindo os valores do ponto estacionário nas
respectivas variáveis independentes do modelo.
Todo o processo é desenvolvido utilizando-se os pseudocomponentes. Esses valores
não correspondem às percentagens dos componentes, mas estão a eles linearmente
relacionados. O modelo final deverá ser representado em função dos componentes
originais, podendo desta forma utilizar-se as percentagens dos componentes na
avaliação dos valores preditos.
Todas as proporções possíveis entre os componentes formarão ummero infindável
de misturas (pontos), que poderão ser visualizadas espacialmente na forma de
pseudocomponentes ou de componentes originais. Para tal, no gráfico triangular
bastam levantar as perpendiculares correspondentes aos valores da propriedade
mecânica estudada, nos pontos cujas coordenadas pertençam à área do polígono
ajustado, que para esse caso se referem aos valores das resistências à tração predita.
A composição desses pontos delineará a superfície de resposta na forma espacial.
3.4 Caracterização Microestrutural
Sete amostras, dentre as misturas preparadas, foram selecionadas para a análise
microestrutural.
Micrografias foram obtidas, a partir das superfícies de fratura, por microscopia
eletrônica de varredura (Microscópio da Phillips, modelo XL 30). As análises foram
feitas no Laboratório Interdisciplinar de Materiais do Departamento de Engenharia
Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina.
As análises difratométricas para a determinação das fases cristalinas foram realizadas
no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Santa
Catarina. O difratômetro de raios X utilizado foi o Shimadzu, modelo XDR 600, com
alvo de cobre com emissão no comprimento de onda K
α
= 1,5406 Å.
49
4 Resultados e Discussão
Neste capítulo, são apresentados os resultados referentes ao desenvolvimento de uma
nova metodologia de formulação de misturas pozolânicas, bem como a visualização da
microestrutura e a caracterização das fases cristalinas detectadas nessas pastas.
4.1 Determinação da Rego de Trabalhabilidade da Mistura
São freqüentes as ocorrências de situações que impõem restrições aos componentes
da mistura, sejam em seus limites inferiores, superiores ou em ambos. Para a
localização aproximada desses valores limite, inicialmente, eliminam-se as situações
inexistentes e/ou inexeqüíveis em laboratório, determinando assim uma região de
trabalhabilidade da mistura. A referida área corresponde, aproximadamente, aos limites
dos intervalos de variação dos componentes da mistura, de tal forma que para qualquer
combinação, entre suas proporções, obtenham-se corpos-de-prova que satisfaçam,
integralmente, as condições estipuladas pela metodologia desenvolvida.
As misturas aqui estudadas são as ternárias, correspondendo à participação de três
componentes, a saber: cal hidratada, cinza volante e água. A combinação dos
componentes dois a dois, ou 100% de um componente correspondem a situações não
existentes, pois não ocorrem reações químicas para esses casos. Então, como ponto
de partida se formula, inicialmente, uma composição protótipo (primeira verificação)
com as seguintes restrições:
10%
cal 90%
10% cinza 90%
(4.1)
10% água 90%
No processo de compactação, na confecção dos corpos-de-prova,a água exerce papel
fundamental na trabalhabilidade da mistura. Em excesso poderá criar situações
impraticáveis para a elaboração dos corpos-de-prova, como: exsudação da água pela
superfície do corpo e/ou fuga do material no momento da compactação.
Nesse tipo de mistura, o componente que mais retém água é a cal hidratada. Como
opção inicial, fixou-se uma mistura, binária, constituída de 90% de cal hidratada e 10%
50
de cinza volante, respeitando-se a inequação em (4.1). Mediante uma série de
tentativas laboratoriais, obedecendo a metodologia proposta, adicionou-se, de forma
crescente, a água até, durante o processo de compactação, constatar-se vestígio do
início de exsudação na superfície do espécime ou o início de fuga do material no
processo de compactação. Tal fato é indicativo que a quantidade de água utilizada está
próxima ao limite de trabalhabilidade. Os estudos iniciais de laboratório com os
materiais utilizados neste trabalho (cal hidratada, cinza volante e água) indicam que,
para a mistura anteriormente proposta, o teor de umidade variou em torno de 31%.
Introduzindo o componente água na mistura binária, têm-se as proporções da mistura
ternária, como mostra a Tabela 4.1.
Tabela 4.1 Delimitação inicial da mistura ternária.
Mistura Binária (%) Teor de Umidade (%) Mistura Ternária (%)
cal cinza água cal cinza água
90 10 31 68,70 7,63 23,67
Deve-se observar a possibilidade da existência de inúmeras formulações para esta
etapa inicial, que dependem da escolha das restrições dos intervalos limites. Do
mesmo modo, a tentativa inicial na determinação da variação dos extremos dos
componentes, que formarão o contorno de todas as combinações possíveis das
misturas, não segue uma regra fixa, podendo os mesmos variar de várias unidades, em
percentagem.
Aborda-se o caso geral para misturas pozolânicas, referindo-se à situação em que a
compatibilidade entre teoria e prática impõe à delimitação de restrições em todos os
componentes e em seus limites inferiores e superiores. Aos poucos, vai-se delineando
o espaço formado pelas restrições, mediante combinações entre os componentes.
Optou-se pela adoção de 25% de água como o limite superior. Logo; a região de
trabalhabilidade para a mistura ternária passa a ser representada por:
0,10 cal 0,90
0,10 cinza 0,90
(4.2.)
0,10 água 0,25
51
Até essa fase as restrições são impostas por ensaios expeditos realizados em
laboratório.
4.2 Deteão de Inconsisncia dos Limites das Misturas
Esta etapa consiste na verificação da consistência das restrições iniciais impostas aos
limites dos componentes. Caso sejam inconsistentes, redefinem-se esses valores. Para
tal, denominam-se a cal hidratada por x
1
, a cinza volante por x
2
e a água por x
3
,
obtendo-se o seguinte sistema de inequações:
0,10 x
1
0,90
0,10 x
2
0,90
(4.3)
0,10 x
3
0,25
A Tabela 4.2 resume os cálculos de verificação de inconsistência dos limites dos
componentes, segundo teoria apresentada anteriormente.
Tabela 4.2 Detecção de inconsistência dos limites.
i L
i
x
i
U
i
R
i
R’
i
1 0,10 x
1
0,90 0,80 1,14
2 0,10 x
2
0,90 0,80 1,14
3 0,10 x
3
0,25 0,15 0,21
0,30 2,05 1,75
Segundo a Equação 2.2, para qualquer R
i
' > 1, tem-se inconsistência em U
i
. Logo: U
1
e
U
2
são inaceitáveis, não podendo assumir valores tão elevados. Inexistem misturas dos
componentes com x
1
= U
1
= 0,90 e x
2
= U
2
= 0,90.
4.3 Transformação para Limites Consistentes
O ajuste do sistema em (4.3), quando suas inequações são transformadas para limites
consistentes, define a região de validade de todas as combinações possíveis dos
componentes, delineando a forma e o tamanho do experimento. Para tal, U
1
e U
2
devem ser recalculados através das Equações 2.8, segundo exposto na Tabela 4.3.
52
Tabela 4.3 Determinação da consistência dos limites.
i L
i
R
L
U
i
*
1 0,10 0,70 0,80
2 0,10 0,70 0,80
Desta forma, são definidos os valores de
*
1
U = 0,80 e
*
2
U = 0,80, obtendo-se a região a
ser estudada, como apresentada em:
0,10 x
1
0,80
0,10 x
2
0,80
(4.4)
0,10 x
3
0,25
4.4 Definição do Número de Pontos Experimentais
A região a ser estudada foi definida nas Equações 4.4, correspondendo à situação
onde todos os componentes estão restritos a seus limites inferiores e superiores. É
representada por um sistema de coordenadas triangulares, onde a área escolhida é
contornada, neste caso, pelo polígono quadrangular abcd, cujos valores dos vértices
são mostrados na Tabela 4.4 e dados pelas Equações 2.11.
Tabela 4.4 Região a ser estudada segundo o polígono abcd dado em coordenadas
originais.
Componentes Originais
Pontos
Cal (x
1
) Cinza (x
2
) Água (x
3
)
a
80,00 10,00 10,00
b
10,00 80,00 10,00
c
10,00 65,00 25,00
d
65,00 10,00 25,00
A Figura 4.1 corresponde à representação gráfica do polígono abcd, obtida dos valores
da Tabela 4.4.
53
Cal (x
1
)Cinza (x
2
)
Água (x
3
)
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
a
b
c
d
Figura 4.1 Região de validade da Equação 4.4 representando todas as combinações
possíveis entre os componentes, respeitando as restrições impostas.
Para uma melhor definição da região a ser estudada, acrescentam-se os centróides no
referido planejamento experimental [Myers, 1995]. Para tal, adotam-se, no polígono
abcd, os centróides dos lados (pontos 1, 2, 3, e 4) e o centróide do referido polígono
(ponto 5), como mostra a Figura 4.2, sendo calculados através das médias dos
extremos de seus segmentos. Este tipo de planejamento foi escolhido por possibilitar o
conhecimento da varião do comportamento da mistura em composições
intermediárias. Tais valores são apresentados na Tabela 4.5, em componentes
originais e pseudocomponentes, correspondendo ao planejamento experimental para o
1
o
experimento laboratorial.
54
Tabela 4.5 Coordenadas triangulares dos pontos pertencentes ao planejamento do
1
o
experimento.
Componentes Originais Pseudocomponentes
Pontos
x
1
(%) x
2
(%) x
3
(%) x'
1
x'
2
x'
3
a 80,00 10,00 10,00 1,0000 0,0000 0,0000
b 10,00 80,00 10,00 0,0000 1,0000 0,0000
c 10,00 65,00 25,00 0,0000 0,7857 0,2143
d 65,00 10,00 25,00 0,7857 0,0000 0,2143
1 45,00 45,00 10,00 0,5000 0,5000 0,0000
2 10,00 72,50 17,5 0,0000 0,8929 0,1071
3 37,50 37,50 25,00 0,3929 0,3929 0,2142
4 72,50 10,00 17,50 0,8929 0,0000 0,1071
5 41,25 41,25 17,50 0,4464 0,4464 0,1072
A Figura 4.2 representa, em coordenadas triangulares, o polígono referente à Tabela
4.5, expresso em componentes originais.
Cal (x
1
)Cinza (x
2
)
Água (x
3
)
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
a b
c
d
1
2
3
4
5
Figura 4.2 Representação gráfica do planejamento experimental do 1
o
experimento
laboratorial, expresso em coordenadas originais.
55
Logo; a Figura 4.2 corresponde a malha teste experimental, onde cada ponto
representa as proporções dos componentes da mistura a ser testada em laboratório.
Neste trabalho, cada ponto correspondente à média de ensaios realizados em triplicata
[Brasil, 1987c].
Deve-se observar que poderiam ser utilizados outros planejamentos experimentais,
como por exemplo:
Outros tipos de polígonos com números de lados menores ou maiores que o
adotado neste trabalho (quatro); e
Outros posicionamentos de centróides como em D- e A-Optimal Designs. [Myers,
1995].
4.5 Aplicação de Restrições Sucessivas na Supercie de Resposta
Neste item são abordados todos os resultados laboratoriais obtidos segundo
planejamento experimental anteriormente definido. Dá-se por encerrado o experimento,
somente, quando a aproximação por restrição sucessiva sobre a superfície de resposta
se enquadre ao nível de significância desejado, que para este trabalho é de 5%.
O primeiro experimento se inicia pela área total formada pela combinação da variação
dos três componentes, obtido segundo o planejamento experimental representado pelo
polígono abcd, definido na Tabela 4.5 e visualizado na Figura 4.2. Os resultados
laboratoriais do 1
o
experimento provêm do desenvolvimento de 9 diferentes misturas,
que correspondem aos 9 pontos do planejamento experimental.
Na Tabela 4.6 é apresentado o resultado dos ensaios laboratoriais das misturas
oriundas da Tabela 4.5. São mostrados, para cada proporção, os valores da resistência
à tração por compressão diametral (y
1
, y
2
e y
3
), medidos em triplicata, a média (y
méd
) e
o desvio padrão (s), todos calculados em kPa.
56
Tabela 4.6 Valores dos ensaios de resistência à tração, média e desvio padrão para
o planejamento experimental referente ao 1
o
experimento.
Pontos y
1
(kPa) y
2
(kPa) y
3
(kPa) y
méd
(kPa) s (kPa)
a 239 251 259 250 10,1
b 829 805 721 785 56,7
c 911 880 836 876 37,7
d 512 551 484 516 33,7
1 749 769 801 773 26,2
2 1786 1738 1544 1689 128,1
3 1165 1078 1279 1174 100,8
4 591 646 599 612 39,7
5 2783 2735 2842 2787 53,6
Aplica-se o método dos mínimos quadrados utilizando-se dos dados da Tabela 4.5 e
Tabela 4.6 à Equação 2.13, obtendo-se os coeficientes para o modelo quadrático
teórico (Equação 2.12), sendo aqui a equação apresentada sob a forma ajustada aos
dados laboratoriais e expressa em termos dos pseudocomponentes:
'
3
'
223
'
3
'
113
'
2
'
112
'
33
'
22
'
11
y
ˆ
xxbxxbxxbxbxbxb +++++=
(4.5)
Assim, a resistência à tração predita (ŷ) é expressa em função dos valores de x'
1
, x'
2
e
x'
3
, para qualquer valor pertencente às restrições impostas aos componentes no 1
o
experimento, como mostrado na Equação 4.6.
ŷ = -64,70x'
1
+656,52x'
2
-64416,04x'
3
+3679,74x'
1
x'
2
+84468,78x'
1
x'
3
+ 84646,43x'
2
x'
3
(4.6)
Alternativamente, a equação acima poderá tamm ser apresentada com os
coeficientes estimados em termos de componentes originais.
Conhecendo-se a Equação 4.6 e as Tabelas 4.5 e 4.6, efetua-se o estudo de
verificação da adequação do modelo quadrático, utilizando-se as expressões 2.16 a
2.22. Os valores da soma dos quadrados dos resíduos, dos graus de liberdade e dos
seus quadrados médios referentes a Equação 4.6 são apresentados na Tabela 4.7:
57
Tabela 4.7 Valores da soma dos quadrados dos resíduos, dos graus de liberdade,
dos quadrados médios.
Fonte de
Variação
Soma dos
Quadrados
gl Quadrados dios F
0
e F
aj
Regressão 11282200 5 2256431
Resíduo 2997696 21 142747
F
0
= 15,81
Falta de ajuste 2923912 3 974637
Erro puro 73783 18 4099
F
aj
= 237,77
Total 14279900 26 549225
Coeficiente de ajuste (r
2
) = 0,7901; gl = graus de liberdade; F
0
= significância
estatística e F
aj
= falta de ajuste do modelo.
Utilizando-se da tabela de pontos de percentagem da distribuição F, para um nível de
significância de 5%, obtém-se o valor de F
5, 21
= 2,68 e F
3, 18
= 3,16.
Através da análise de variância, conclui-se:
O modelo é estatisticamente significativo, ao nível de 5%, levando em consideração
ser satisfeita a expressão
pnp
r
R
F
MQ
MQ
F
>=
,1
, isto é: 15,81 > 2,68. Logo, a
Equação 4.6 é aceita.
Há falta de ajuste, porque não é satisfeita a expressão
mnpm
ep
faj
faj
F
MQ
MQ
F
<=
,
, isto
é: 237,77 > 3,16. Logo, a Equação 4.6 deverá ser recusada.
Conhecendo-se o modelo quadrático (Equação 4.6), a análise da adequação do
modelo pode , também, ser desenvolvida através do gráfico dos resíduos em função
dos valores preditos (ŷ
i
), como apresentado na Figura 4.3.
58
Valor predito ( kPa )
Resíduo ( R , kPa )
-800
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
-500 0 500 1000 1500 2000 2500
Figura 4.3 Padrão não aceitável de resíduos em função dos valores preditos pelo
modelo quadrático na Equação 4.6.
O padrão da Figura 4.3 é característico de inadequação do modelo, indicando a não
linearidade, pois apresenta concentração de valores dos erros, alternadamente, ora na
região positiva e ora na região negativa. Confirma o já indicado na análise de variância
efetuada.
É necessário, portanto, o desenvolvimento de um segundo planejamento experimental.
Inicia-se pela tentativa de uma 1
a
restrição dirigida. Para tal, representa-se a Equação
4.6 pela sua superfície de resposta, visualizada pelas curvas de nível contidas no
polígono abcd, como mostra a Figura 4.4. Na área delimitada pelas curvas com
tonalidades de cores mais intensas, as quais correspondem as curvas de nível com os
valores mais elevados de resistência à tração predita, escolhe-se visualmente outra
área pela superposição de um novo polígono sobre o inicial, caracterizando desta
forma a adoção da 1
a
restrição, a qual é visualizada pelo polígono a*b*c*d*.
Neste trabalho, o posicionamento do polígono, obtido pela nova restrição, tem como
finalidade a otimização do sistema. Caso a equação a ser obtida pela 1
a
restrição não
passe pelos testes de análise de variância, uma 2
a
restrição necessária se fará e assim
sucessivamente. Deve-se lembrar que, nesse caso, as curvas de nível com os valores
59
mais elevados, região predita do ponto máximo da função anteriormente ajustada,
deverão estar contidas nas novas restrições impostas.
650
850
1050
1250
1450
1650
1850
2050
above
Cal (x'
1
)Cinza (x'
2
)
Água (x'
3
)
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
acima
a
b
d
c
d* c*
b*a*
Figura 4.4 Delimitação visual das novas restrições nas imediações da região onde
ocorrem os maiores valores preditos de resistências à tração no
experimento inicial.
Dando seqüência à metodologia, apresentam-se na Tabela 4.8 as novas restrições
referentes a 1
a
aproximação. Estes valores foram obtidos pela superposição do novo
contorno poligonal sobre a já mencionada região do delineamento inicial,
correspondendo ao polígono a*b*c*d*, superposto ao polígono abcd, como visualizado
na Figura 4.4. Esta escolha deverá ser orientada de tal forma que os limites dos
intervalos dos componentes obedeçam às condições de consistência.
Tabela 4.8 Restrições impostas para a 1
a
aproximão, expressa através das
percentagens dos componentes originais.
Componentes Variação ( %)
Cal (x
1
) 25,625 a 41,25
Cinza (x
2
) 37,50 a 60,625
Água (x
3
) 13,75 a 21,25
(ŷ ,kPa)
60
Este processo de restrição sucessiva sobre superfície de resposta, facilitado pela
visualização das tonalidades das cores (procura da região onde se concentram os
maiores valores das curvas de nível), tem como finalidade a obtenção da máxima
resistência à tração predita. Repetindo a mesma seqüência de procedimentos utilizada
no 1
o
experimento, obtém-se a Tabela 4.9.
Este novo planejamento experimental é desenvolvido segundo um delineamento pré-
estabelecido (Tabela 4.8), representa outros pontos a serem novamente testados em
laboratório e correspondem as novas misturas com diferentes proporções dos
componentes a serem estudadas.
Tabela 4.9 Planejamento experimental da 1
a
restrição, apresentando as novas
proporções para cada mistura.
Componentes Originais Pseudocomponentes Pontos
x
1
(%) x
2
(%) x
3
(%) x'
1
x'
2
x'
3
a* 41,2500 45,0000 13,75 0,6757 0,3243 0
b* 25,6250 60,6250 13,75 0 1,0000 0
c* 25,6250 53,1250 21,25 0 0,6757 0,3243
d* 41,2500 37,5000 21,25 0,6757 0 0,3243
1* 33,4375 52,8125 13,75 0,3378 0,6622 0
2* 25,6250 56,8750 17,50 0 0,8358 0,1622
3* 33,4375 45,3125 21,25 0,3378 0,3378 0,3244
4* 41,2500 41,2500 17,50 0,6757 0,1622 0,1621
5* 33,4375 49,0625 17,50 0,3378 0,5000 0,1622
Na Tabela 4.10 é apresentado o resultado dos ensaios laboratoriais das misturas
oriundas do novo planejamento experimental. São mostrados, para cada proporção, os
valores da resistência à tração por compressão diametral (y
1
, y
2
e y
3
), confeccionados
em triplicata, a média (y
med
) e o desvio padrão (s), todos mensurados em kPa.
61
Tabela 4.10 Valores dos ensaios de resistência à tração, média e desvio padrão para
a 1
a
restrição.
Pontos y
1
(kPa) y
2
(kPa) y
3
(kPa) y
med
(kPa) s (kPa)
a* 1679 1552 1659 1630 68,3
b* 1426 1410 1552 1463 77,8
c* 1663 1623 1525 1604 71,0
d* 1884 1754 1869 1836 71,1
1* 1849 1706 1730 1762 76,6
2* 2865 2711 2798 2791 77,2
3* 1904 1746 1884 1845 86,0
4* 2783 2735 2842 2787 53,6
5* 2889 3071 3099 3020 114,0
Dando reinício ao processo de resolução, os dados das Tabelas 4.9 e 4.10 são
introduzidos nas matrizes propostas em capítulo anterior, obtendo-se a Equação 4.7
correspondendo à 1
a
aproximação. A solução matemática é apresentada segundo o
modelo quadrático e expressa em pseudocomponentes, isto é, a resistência à tração
predita (ŷ) é uma função dos valores de x
1
, x
2
e x
3
.
ŷ = 1111,05x'
1
+1505,06x'
2
-28373,99x'
3
+1667,62x'
1
x'
2
+46689,72x'
1
x'
3
+ 44727,01 x'
2
x'
3
(4.7)
Conhecida a Equação 4.7 e as Tabelas 4.9 e 4.10, efetua-se o estudo de verificação da
adequação do modelo quadrático, utilizando-se as expressões 2.16 a 2.22.
Os valores da soma dos quadrados dos resíduos, dos graus de liberdade e dos
quadrados médios referentes à Equação 4.7 são apresentados na Tabela 4.11.
62
Tabela 4.11 Valores da soma dos quadrados dos resíduos, dos graus de liberdade e
dos quadrados médios.
Fonte de
Variação
Soma dos
Quadrados
gl Quadrados dios F
0
e F
aj
Regressão 8690893 5 1738179
Resíduo 166620 21 7934
F
0
= 219,07
Falta de ajuste 54793 3 18264
Erro puro 111827 18 6213
F
aj
= 2,94
Total 8857513 26 340674
Coeficiente de ajuste (r
2
) = 0,9812; gl = graus de liberdade; F
0
= significância
estatística e F
aj
= falta de ajuste do modelo.
Utilizando-se da tabela de pontos de percentagem da distribuição F, para um nível de
significância de 5%, obtém-se o valor de F
5, 21
= 2,68 e F
3, 18
= 3,16.
Após a análise de variância, conclui-se:
O modelo é aceito pelo teste de significância estatística, ao nível de 5%, levando
em consideração ser satisfeita a expressão
pnp
r
R
F
MQ
MQ
F
>=
,1
, isto é: 219,07 >
2,68. Logo a Equação 4.7 é aceita.
Não há falta de ajuste, porque é satisfeita a expressão
mnpm
ep
faj
faj
F
MQ
MQ
F
<=
,
, isto
é: 2,94 < 3,16. Logo, a Equação 4.7 não deverá ser recusada.
A partir da Equação 4.7 faz-se a análise gráfica da adequação do modelo quadrático,
representando os resíduos em função dos valores preditos (ŷ
i
), como apresentado na
Figura 4.5.
63
Valor predito ( kPa )
Resíduo ( R , kPa )
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200
Figura 4.5 Padrão aceitável de resíduos em função dos valores preditos pelo modelo
quadrático após a 1
a
restrição.
Como se observa no padrão apresentado pela Figura 4.5, os resíduos estão sempre
centrados no valor igual a zero e distribuídos segundo uma faixa horizontal. Tal fato
corresponde a uma característica favorável e satisfatória à adequação do modelo.
Os testes efetuados constatam que as três condições foram satisfeitas
simultaneamente, comprovando o aceite do modelo relativo à Equação 4.7, fato que
permite encerrar o método de aproximação por restrições sucessivas sobre superfícies
de resposta. Como constatado, os testes estatísticos permitem definir a escolha do
ajuste de um modelo matemático [Nardi, 2004b].
A Figura 4.6 representa a Equação 4.7, expressa em coordenadas triangulares, onde
relacionam-se as resistências à tração predita (ŷ) em função das percentagens dos
pseudocomponentes (x'
1
, x'
2
e x'
3
), visualizando-se a nova superfície de resposta. Esta
área é constituída por uma família de curvas de nível, sendo individualmente cada uma
formada por um valor constante da resistência à tração predita pela Equação 4.7.
Observe-se que essa equação, representada pelas suas curvas de nível, tem validade
somente na área delineada pelas novas restrições impostas e localizada no interior do
64
polígono a*b*c*d*. Valores fora dessa região são extrapolações e não devem ser
utilizados.
1750
1900
2050
2200
2350
2500
2650
2800
above
Cal (x'
1
) Cinza (x'
2
)
Água (x'
3
)
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
acima
d* c*
b*
a*
3*
2*
4*
1*
5*
Figura 4.6 Representação triangular da resistência à tração predita em função da
variação dos pseudocomponentes, dada pela 1
a
restrição segundo o
polígono a*b*c*d*.
A Figura 4.6 mostra que na área de validade da Equação 4.7:
Inúmeras proporções dos componentes podem fornecer um mesmo valor para a
resistência predita, quando dadas pelo contorno da curva de nível referida;
É possível representar, simultaneamente, todos os componentes que influenciam na
qualidade da mistura, obtendo-se como resposta as propriedades mecânicas do
novo produto a ser industrializado [Nardi, 2003b];
A representação na forma triangular, a partir de um ponto sobre sua superfície,
permite a determinação da composição do produto em questão [Nardi, 2004c];
É possível definir os componentes que mais influenciam na propriedade mecânica
em estudo;
Pode-se viabilizar economicamente a utilização de misturas através de análise de
custos [Nardi, 2004d].
(ŷ ,kPa)
65
Os procedimentos aqui indicados poderão também ser utilizados em outras sub-regiões
do domínio do intervalo de variação dos componentes. Este caso não se refere à
otimização do sistema, mas sim na adaptação de um modelo matemático ajustado a
uma parte qualquer da área formada pelo intervalo acima mencionado [Nardi, 2004e].
4.6 Otimização do Sistema
A otimização do sistema é efetuada através da determinação do ponto estacionário da
Equação 4.7, que poderá ser representada pela Equação 4.8:
ŷ = -28374 +76174,77x'
1
+74606,06x'
2
-89749,10x'
1
x'
2
-46689,72
2
'
1
x -44727
2
'
2
x
(4.8)
Observar que a Equação 4.8 corresponde à Equação 4.7, onde substitui-se
'
3
x por
'
2
'
1
1 xx .
A adequação dos coeficientes da Equação 4.8 na Equação 2.23 é dada em:
+=
0
ˆ
ˆ
by xb + xBx
(4.9)
onde:
0
ˆ
b = -28374; b =
06,74606
77,76174
; B =
4472755,44874
55,4487472,46689
; x =
2
1
x
x
O ponto estacionário x
0
=
'
2,0
'
1,0
x
x
é a solução da Equação 2.24 dado pela Equação 2.25,
sendo:
x
0
= 0,5B
-1
b
(4.10)
Resolvendo, tem-se:
X
0
= 0,5
44
44
10.262,610.018,6
10.018,610.998,5
06,74606
77,76174
=
436,0
3967,0
Logo:
x
0,1
= 0,3967 e x
0,2
= 0,436
Recordando que as percentagens dos componentes devem respeitar o sistema de
inequações em (2.1), obtém-se o último valor do ponto estacionário:
66
1
1
=
=
q
i
i
x
(4.11)
x
0,3
= 1 - 0,3967 - 0,4360
x
0,3
= 0,1673
A distinção entre os tipos de pontos estacionários é efetuada através do cálculo dos
autovalores da matriz B dada em (2.26), com as devidas substituições em (4.12):
B =
λ
λ
4472755,44874
55,4487472,46689
(4.12)
Resolvendo, tem-se:
λ
2
+ 91416,73λ + 46689,72 = 0 (4.13)
Logo:
λ
1
= -90593,76 e λ
2
= -822,96.
Desta forma se conclui que o ponto estacionário é um máximo, pois ambos os valores
de λ
1
e λ
2
são negativos.
O valor máximo predito na adaptação do modelo quadrático otimizado é dado pela
Equação 2.29, apresentada em (4.14):
+=
00
ˆ
ˆ
by 0,5x
0
b
(4.14)
0
ˆ
y = -28374 +
[]
06,74606
77,76174
436,03967,05,0
0
ˆ
y = 2999,39
Logo, o valor da resistência à tração predita será na ordem de grandeza de,
aproximadamente, 3000 kPa.
67
4.7 Considerações Gerais
Todas as operações desenvolvidas foram efetuadas em pseudocomponentes,
necessitando agora representá-los em função dos componentes originais. Tal
transformação é efetuada pelas Equações (2.9) e Tabela 4.8.
L
Lx
x
=
1
11
'
1
Æ
76875,01
25625,0
3967,0
1
=
x
Æ x
1
= 0,347986 Æ 34,80%;
L
Lx
x
=
1
22
'
2
Æ
76875,01
375,0
4360,0
1
=
x
Æ x
2
= 0,475825 Æ 47,58%; e
L
Lx
x
=
1
33
'
3
Æ
76875,01
1375,0
1673,0
3
=
x
Æ x
3
= 0,176188 Æ 17,62%.
Logo, os valores de 34,80% de cal hidratada 47,58% de cinza volante e 17,62% de
água maximizam o valor da resistência à trão predita.
A Equação 4.15 corresponde à solução matemática da Equação 4.7 expressa em
função dos componentes originais:
ŷ = -36854,44x
1
-26400,93x
2
-569986,83x
3
+31184,21x
1
x
2
+873087,62x
1
x
3
+
836385,16x
2
x
3
(4.15)
A Equação 4.7 poderá tamm ser representada na forma espacial, segundo o
visualizado na Figura 4.7. Para tal, basta substituir na referida equação os valores dos
componentes dos pontos correspondentes e levantar perpendicularmente a esses
pontos, no gráfico triangular , os valores das resistências à tração, correspondentes.
68
1900
2050
2200
2350
2500
2650
2800
2950
above
Cal (x'
1
)
Cinza (x'
2
)
Água (x'
3
)
acima
Figura 4.7 Representação espacial da resistência à tração predita em função da
variação dos pseudocomponentes dada pela 1
a
restrição.
A representação gráfica a partir dos pseudocomponentes distorce a forma real da
figura, apresentando um aspecto fictício mas quando apresentada em função das
coordenadas originais, visualiza-se a figura em sua forma real.
A Figura 4.8 apresenta a Equação 4.15 em função das coordenadas originais.
Figura 4.8 Representação espacial da solução obtida segundo a metodologia de
aproximações por restrições sucessivas sobre superfícies de resposta.
(ŷ ,kPa)
69
Como constatado, os procedimentos adotados foram eficazes em todas as etapas
percorridas, mostrando ser possível o uso da metodologia de delineamento e superfície
de resposta aplicada à pastas pozolânicas e ao que se refere à propriedade mecânica
desejada, obtidos através da:
Adaptação de modelo matemático de segundo grau;
Representação em gráficos nas formas triangular e espacial; e
Otimização do sistema.
A metodologia tradicional anteriormente explanada, embora normalmente utilizada em
projetos de estabilização química, não satisfaz adequadamente às atuais necessidades
tecnológicas, porque não permite um detalhamento mais apurado da potencialidade da
mistura a ser estudada.
A metodologia de delineamento de misturas (metodologia alternativa) tem como
finalidade correlacionar de modo mais abrangente as propriedades mecânicas de uma
pasta pozolânica em função de seus componentes. Tal fato proporciona um maior grau
de confiabilidade no produto final, quando da utilização desses materiais no processo
de estabilização.
Uma vantagem adicional é poder representar, ao mesmo tempo, todos os componentes
que influenciam na qualidade das misturas, obtendo-se como resposta as propriedades
mecânicas do novo produto a ser industrializado. Isso pode ser visualizado através dos
gráficos de superfícies de resposta nas formas bi e/ou tridimensional, elaborados em
função de equações adaptadas ao problema em questão. O método alternativo permite
ainda prever a existência de inúmeras combinações dos componentes, que geram os
mesmos valores para a resistência mecânica.
Sendo uma teoria aplicada ao desenvolvimento de produtos cimentantes, em função da
hidratação de seus componentes, poderá ser estendida, por exemplo, à produção de
argamassas e concretos de cimento Portland.
4.8 Análise Microestrutural das Misturas Pozolânicas
O objetivo desse estudo, em particular, consiste na apresentação da microestrutura do
produto desenvolvido, não sendo caracterizados nominalmente os tipos de cristais
observados. A microestrutura foi observada através de imagens obtidas por
70
microscópio eletrônico de varredura (MEV), tendo como campo visual a superfície de
fratura do corpo-de-prova.
Os silicatos de cálcio hidratados, denominados por tobermorita, correspondem às
principais fases de endurecimento de uma pasta pozolânica. Sua hidratação é bastante
complexa, originando uma série de silicatos de cálcio hidratados, cujas fases variam de
amorfas a cristalinas. Isso se deve à variação da relação C/S e à quantidade de água
quimicamente combinada. As demais fases hidratadas que contêm alumina, em função
de sua alta complexidade, não são comentadas.
Em condições normais, os cristais nos vazios começam a ser visualizados a partir de
10 µm e as agregações de partículas dos silicatos de cálcio hidratados a partir de 2 µm,
aproximadamente. O aumento do tamanho dos cristais dependerá da quantidade de
água nos vazios, permitindo o desenvolvimento dos mesmos [Mehta, 1999].
Para a visualização da morfologia de pastas pozolânicas foram desenvolvidas sete
misturas, fixando-se a percentagem de água e variando-se a cal hidratada e a cinza
volante, como mostrado na Tabela 4.12. Os corpos-de-prova foram obtidos segundo
metodologia descrita nos procedimentos adotados nos ensaios laboratoriais.
Tabela 4.12 Proporções dos componentes utilizados na visualização microestrutural
de pastas pozolânicas e respectivas resistências à tração.
Amostras % de Cal % de Cinza % de Água R (kPa)
A 72,50 10,00 17,50 612
B 56,88 25,62 17,50 1936
C 49,06 33,44 17,50 2539
D 33,44 49,06 17,50 3020
E 25,63 56,87 17,50 2792
F 17,81 64,69 17,50 2399
G 10,00 72,50 17,50 1689
71
A escolha da variação das proporções dos componentes sólidos, também, tem como
finalidade mostrar a influência da variação entre os mesmos na resistência à tração por
compressão diametral, como mostrado na Figura 4.9.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
012345678
Razão entre a cal e cinza (cal/cinza)
Resistência à tração (kPa)
Figura 4.9 Visualização da influência da razão entre a cal hidratada e a cinza volante
na resistência à tração.
As micrografias apresentadas para a visualização da microestrutura das pastas
pozolânicas estão ampliadas em 300X e para o detalhamento dos cristais acima de
1500X.
No conjunto de micrografias com ampliação de 300X, observam-se nas amostras A
(Figura 4.10), B (Figura 4.12), C (Figura 4.14), E (Figura 4.18), F (Figura 4.20) e G
(Figura 4.22) estruturas mais abertas do que na amostra D (Figura 4.16).
Nas micrografias ampliadas a partir de 1500X visualizam-se os detalhes dos cristais
formados no interior dos vazios das amostras, como observados nas Figuras 4.11,
4.13, 4.15, 4.17, 4.19, 4.21 e 4.23.
Constatou-se que para as amostras onde se necessitava ótima definição visual dos
cristais, para as ampliações focadas com a barra de referência a partir de 2 µm, o
campo visual da superfície de fratura perdia a nitidez.
A
B
C
D
E
F
G
72
Figura 4.10 Micrografia de fragmento da amostra A: superfície de fratura.
Figura 4.11 Micrografia de fragmento da amostra A: detalhes de cristais.
73
Figura 4.12 Micrografia de fragmento da amostra B: superfície de fratura.
Figura 4.13 Micrografia de fragmento da amostra B: detalhes de cristais.
74
Figura 4.14 Micrografia de fragmento da amostra C: superfície de fratura.
Figura 4.15 Micrografia de fragmento da amostra C: detalhes de cristais.
75
Figura 4.16 Micrografia de fragmento da amostra D: superfície de fratura.
Figura 4.17 Micrografia de fragmento da amostra D: detalhes de cristais.
76
Figura 4.18 Micrografia de fragmento da amostra E: superfície de fratura.
Figura 4.19 Micrografia de fragmento da amostra E: detalhes de cristais.
77
Figura 4.20 Micrografia de fragmento da amostra F: superfície de fratura.
Figura 4.21 Micrografia de fragmento da amostra F: detalhes de cristais.
78
Figura 4.22 Micrografia de fragmento da amostra G: superfície de fratura.
Figura 4.23 Micrografia de fragmento da amostra G: detalhes de cristais.
4.9 Fases Detectadas nas Pastas Pozolânicas
O objeto desse estudo, em particular, consiste na determinação das fases cristalinas
presentes em todas as amostras do item anterior, incluídas as da cal hidratada e cinza
volante. Espera-se detectar fases dos silicatos de cálcio hidratados, como comentado
no capítulo relativo a reações pozolânicas.
Cada composto cristalino apresenta um padrão difratométrico com padrões dado pelo
International Center for Diffraction Data, através do Joint Committee on Powder
Diffraction Standard (JCPDS), que permite a identificação através das posições
angulares e intensidades relativas dos picos difratados.
79
A Tabela 4.13 resume todas as fases identificadas na cal hidratada, na cinza volante e
nas sete amostras de pastas pozolânicas com diferentes proporções, após ocorrerem
as reações de hidratação. Os respectivos difratogramas encontram-se nos anexos.
Tabela 4.13 Identificação das fases dos componentes e das pastas pozolânicas.
AMOSTRAS FASES IDENTIFICADAS
Cal hidratada Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; MgO; SiO
2
e CaMg(CO
3
)
2
Cinza volante SiO
2
(quartzo) e mulita
A Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; Mg
4
Al
2
(OH).H
2
O; SiO
2
(quartzo) e mulita
B Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; Mg
4
Al
2
(OH).H
2
O; SiO
2
(quartzo) e mulita
C Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; Mg
4
Al
2
(OH).H
2
O; SiO
2
(quartzo) e mulita
D Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; Mg
4
Al
2
(OH).H
2
O; SiO
2
(quartzo) e mulita
E Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; Mg
4
Al
2
(OH).H
2
O; SiO
2
(quartzo) e mulita
F Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; Mg
4
Al
2
(OH).H
2
O; SiO
2
(quartzo) e mulita
G Ca(OH)
2
; CaCO
3
; Mg(OH)
2
; SiO
2
(quartzo) e mulita
Não foram identificados os silicatos de cálcio hidratados em nenhuma das amostras da
pasta pozolânica. Tal fato pode ter origem na relação entre CaO/SiO
2
(C/S) e na
própria quantidade de água necessária à hidratação [Collepardi, 1978; Fraay, 1989;
Mehta, 1994; Neville, 1997]. Os picos formados tamm poderão estar sobrepostos,
com intensidade relativa muito baixa ou mesmo na forma amorfa, dificultando dessa
forma a identificação das fases formadas. Tal fato tamm poderá ter origem na grande
quantidade de sílica presente na cinza, por possuir um pico muito intenso poderá estar
dificultando a identificação das outras fases, como ocorre na hidratação do cimento
Portland.
80
5 Conclusões e Sugestões
Neste capítulo, estão relacionadas as principais conclusões deste estudo, bem como
sugestões para futuros trabalhos.
5.1 Conclusões
Em misturas (pastas) pozolânicas constituídas por cal hidratada, cinza volante e água
concluí-se pela presente pesquisa que:
É conciliável o uso de resíduo (cinza volante), produzido no Estado de Santa
Catarina, na elaboração de produtos cimentantes, visando minimizar a poluição
ambiental;
É possível, através da imposição de restrições nos componentes da mistura,
compatibilizar procedimentos laboratoriais com a teoria de delineamento de
misturas;
O método dos mínimos quadrados permite ajustar um modelo matemático do
segundo grau, o qual descreve satisfatoriamente o processo de estabilização
química;
A utilização seqüencial da verificação da falta de ajuste, da significância estatística
e da adequação do modelo dado pelo gráfico dos resíduos em função do valor
predito, mostra-se como uma ferramenta eficaz na avaliação do ajuste do modelo;
A equação ajustada juntamente com os gráficos triangular e/ou espacial permitem
simular e predizer os efeitos de interação entre as diversas percentagens dos
componentes, na formação das propriedades mecânicas do produto final;
Os procedimentos adotados possibilitam a otimização de uma composição simples
entre os componentes, resultando em uma resposta máxima na propriedade
mecânica predita;
As afirmações acima confirmam à possibilidade da aplicação da teoria de
delineamento de misturas e superfície de resposta em pastas pozolânicas;
O procedimento denominado por “Metodologia de Restrições Sucessivas sobre
Superfícies de Resposta” mostra-se eficaz na otimização de misturas;
81
A metodologia utilizada neste trabalho mostra-se mais eficaz que a convencional,
possibilitando a substituição da metodologia tradicional pela metodologia alternativa;
A visualização da microestrutura das pastas pozolânicas, por microscopia eletrônica
de varredura, apresenta nas superfícies de ruptura observadas a presença de
poros, fases cristalinas e amorfas; e
Os ensaios de difração de raios X detectaram nas amostras a presença de sílica
amorfa e das seguintes fases cristalinas: Ca(OH)
2
[44-1481], CaCO
3
[47-1743],
Mg(OH)
2
[44-1482], MgO [45-0946], SiO
2
[43-0596], Mg
4
Al
2
OH.H
2
O [35-0964] e
mulita [15-0776].
5.2 Sugestões
Este trabalho abre caminho para a utilização da teoria de delineamento de misturas e
superfícies de resposta na formulação de misturas pozolânicas. Apresenta
potencialidade de aplicação no desenvolvimento de pastas pozolânicas, em misturas
com cimento Portland e na área rodoviária, em particular na execução de estruturas de
pavimentos. Recomendam-se outros estudos, como:
Verificar a aplicabilidade desses procedimentos para outras propriedades
mecânicas, como resistência à compressão simples e módulo de elasticidade;
Testar misturas pozolânicas com quatro ou mais componentes (incluindo
agregados);
Testar diversos tipos de solos arenosos compatíveis com esse tipo de pasta
cimentante;
Desenvolver estudo detalhado sobre as reações que ocorrem entre a cal hidratada,
cinza volante e água; e
Testar a metodologia de restrições sucessivas sobre superfícies de resposta na
formulação de misturas na produção de argamassas e concretos de cimento
Portland.
82
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88
Anexos
Figura A.1 Difratograma da cal hidratada
Figura A.2 Difratograma da cinza volante
Figura A.3 Difratograma da amostra A (72,50% de cal hidratada, 10,00% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.4 Difratograma da amostra B (56,88% de cal hidratada, 25,62% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.5 Difratograma da amostra C (49,06% de cal hidratada, 33,44% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.6 Difratograma da amostra D (33,44% de cal hidratada, 49,06% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.7 Difratograma da amostra E (25,63% de cal hidratada, 56,87% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.8 Difratograma da amostra F (17,81% de cal hidratada, 64,69% de cinza
volante e 17,50% de água).
Figura A.9 Difratograma da amostra G (10,00% de cal hidratada, 72,50% de cinza
volante e 17,50% de água).
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