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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL
DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL
CONTROLE E REPRESSÃO EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES: O ESTUDO
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO E DO PROCESSO EDUCATIVO DE DOIS
ABRIGOS INFANTIS EM BRAGANÇA PAULISTA
Orientadora: Profa. Dra. Myrian Veras Baptista
Doutoranda: MÔNICA NARDY MARZAGÃO SILVA
São Paulo
2009
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II
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL
DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL
CONTROLE E REPRESSÃO EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES: ESTUDO
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO E DO PROCESSO EDUCATIVO DE DOIS
ABRIGOS INFANTIS EM BRAGANÇA PAULISTA
Orientadora: Profa. Dra. Myrian Veras Baptista
Doutoranda: MÔNICA NARDY MARZAGÂO SILVA
Tese apresentada como exigência parcial à Pontifícia
Universidade Católica, sob orientação da Professora Doutora
Myrian Veras Baptista, para obtenção do grau de Doutora em
Serviço Social.
São Paulo
2009
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III
COMISSÃO JULGADORA
________________________________________
________________________________________
________________________________________
São Paulo, de de 2009.
IV
Aos meus queridíssimos pais Celina e Jarbas,
pela educação e orientação que me deram.
Ao Pedro,
meu compreensivo e preciosíssimo marido.
Vocês são meus eternos e definitivos
companheiros.
Amo demais vocês!
V
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Myrian Veras Baptista, que me acompanhou e
orientou durante o curso de Doutorado em Serviço Social, com quem aprendi
intelectual, espiritual e emocionalmente. Faltam-me palavras para conceituar este
ser humano de tamanha grandeza. Todos os encômios são insuficientes para
definir esta insigne mulher.
Aos professores e colegas do Curso de Doutorado, com os quais pude
trocar experiências.
Aos funcionários da Biblioteca e da Secretaria de Alunos da Pontifícia
Universidade Católica, pela grande ajuda que me deram com diligência.
Às excelentes profissionais da Câmara Municipal de Bragança Paulista
Carmem Frias, Fátima Pinheiro, Regina Zanini e Tereza - pelo imenso auxílio e
atenção.
Aos srs. Ariel Quadros e Raul Siqueira do Amaral e à sra. Kátia Tesoni,
membros das diretorias do ISE Instituto Social e Educacional e do SAMA
Serviço Médico Alimentar, respectivamente. Por me franquearem o acesso aos
documentos concernentes aos abrigos objetos desta Tese.
Ao advogado José Roberto Vasconcellos, pela solicitude com que me
forneceu documentos sobre Bragança Paulista, sobre o ISE Instituto Social e
Educacional e sobre o SAMA – Serviço Médico Alimentar.
Às senhoras Dinah Colombi Assis (em memória) e Cláudia Maria da Silva
Guimaro, ex-presidentes do ISE Instituto Social e Educacional e do SAMA
Serviço Médico Alimentar, respectivamente.
Às crianças e adolescentes com quem tive e continuo tendo o privilégio de
interagir.
Aos meus pais Jarbas e Celina, que, além de terem me proporcionado tudo
o que sou e tenho, foram, são e serão sempre os meus melhores amigos e
professores da vida.
Ao meu queridíssimo, amadíssimo e magnífico marido Pedro, que sempre
me apoiou.
VI
RESUMO
Este trabalho discute a institucionalização e a educação das crianças do ISE
Instituto Social e Educacional e do SAMA Serviço Médico Alimentar, ambos em
Bragança Paulista, Estado de São Paulo, a partir de suas fundações até os dias
atuais. Os estabelecimentos tinham e m por objetivo abrigar crianças
abandonadas (leia-se pobres), simbolizando uma ação política que tencionava
homogeneizar regras de vida e conduta para as mesmas, tendo por fundamento o
discurso médico-sanitário, em sua via profilática, de cunho extremamente
ideológico. O pressuposto teórico que embasou a discussão foram as obras de
Goldmann e Foucault, tendo sua articulação discursiva assentada em fontes
documentais dos agentes envolvidos no processo histórico constitutivo de cada
instituição analisada. A intenção motivadora da pesquisa foi a de reconhecer o que
estava subjacente nas duas instituições, a saber: a relação política entre a prática
do abrigamento e o ideário do Estado brasileiro, em sua vertente autoritária.
Resíduo da racionalização derivada da lógica capitalista atualizada, as práticas
educativas e corretivas, em ambas instituições, apresentaram-se como funções
disciplinadoras e excludentes, em atendimento às demandas das elites
dominantes, naquele momento histórico da realidade brasileira.
VII
ABSTRACT
This work discusses the institutionalization of children and education of ISE -
Institute of Social and Educational and Sama - Food Medical Service, both in
Bragança Paulista, São Paulo State, from its foundation until the present day. The
establishments had and are intended to house abandoned children (read poor),
symbolizing a political action intended to mix life and rules of conduct for them,
based health-medical discourse, in its way prophylactic in nature extremely
ideological. The theoretical assumption that the discussion Embase were the work
of Goldmann and Foucault, with its discursive articulation based on documentary
sources and of those involved in the historical process of incorporation of each
institution examined. The intention motivating the research was to recognize what
was behind the two institutions, namely the political relationship between the
practice of sheltering and ideals of the Brazilian state, in its authoritarian aspects.
Waste derived from the logic of capitalist rationalization updated, corrective and
educational practices in both institutions, had to be exclusionary and disciplinary
functions, in response to the demands of the dominant elites in that historical
moment of the Brazilian reality.
VIII
RESUMEN
En este artículo se analiza la institucionalización de los niños y la educación de
ISE - Instituto de Acción Social y de Educación y Sama - Servicio Médico de la
Alimentación, tanto en Bragança Paulista, São Paulo, desde su fundación hasta
nuestros días. Los establecimientos y se ha destinado a casa de los niños
abandonados (léase pobres), que simboliza una acción política destinada a la vida
y la combinación de normas de conducta para ellos, basados en la salud discurso
médico, en su forma profiláctica en la naturaleza extremadamente ideológica. El
supuesto teórico de que la discusión se Embase la labor de Goldmann y Foucault,
con su articulación discursiva basada en fuentes documentales de los
involucrados en el proceso histórico de incorporación de cada una de las
instituciones examinadas. La intención era motivar a la investigación para
reconocer lo que estaba detrás de las dos instituciones, a saber, la relación
política entre la práctica de los ideales de refugio y el estado brasileño, en sus
aspectos autoritarios. Residuos derivados de la lógica capitalista de
racionalización actualizado, correctivas y las prácticas educativas en ambas
instituciones, tiene que ser excluyente y funciones disciplinarias, en respuesta a
las demandas de las élites dominantes en ese momento histórico de la realidad
brasileña.
IX
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................01
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA............................................05
A pesquisa..............................................................................................................12
I - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: O HIGENISMO EUROPEU E SUA
PROPAGAÇÃO NO BRASIL. A CRIANÇA POBRE COMO OBJETO DA
ATENÇAO HIGIENISTA ........................................................................................20
1.1 – A construção dos referentes ideológicos a partir do final do século XIX.......27
1.2 - A ideologia do Higienismo..............................................................................32
1.3 - As Práticas da Medicina Social......................................................................38
II. A INTERVENÇÃO SOCIAL E A INFÂNCIA .......................................................42
2.1 – História da infância europeia institucionalizada.............................................42
2.2 – História da infância brasileira e de sua institucionalização............................46
Da conquista do Brasil pelos portugueses..............................................................46
Colonização............................................................................................................47
No período da monarquia.......................................................................................49
Nos primórdios da república...................................................................................52
Aparato jurídico/institucional...................................................................................59
2.3 - A História da Institucionalização da Infância em Bragança Paulista..............77
III. A perspectiva da análise e o espaço das instituições analisadas.....................81
3.1 - A perspectiva da análise.................................................................................81
3.2 - O espaço das instituições analisadas............................................................83
3.3 - História da Igreja Católica em Bragança Paulista..........................................87
Senhoras católicas bragantinas..............................................................................94
IV- O ISE - Instituto Social e Educacional..............................................................99
4.1- A Fundação, as regras, os estatutos, os personagens e os períodos.............99
4.2 - Práticas Pedagógicas...................................................................................113
4.3 - Rotina das Meninas......................................................................................116
V - SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar: direção, fundação, estatutos,
normas, agentes, momentos, denominações, desenvolvimento e
atendimento..........................................................................................................120
5.1 - O SAMA e o Estado de Bem-Estar Social no Brasil....................................123
X
5.2 - SAMA – sua história e seus agentes............................................................126
CONCLUSÃO.......................................................................................................148
REFERÊNCIAS....................................................................................................155
1 - DOCUMENTAIS..............................................................................................155
2 - LEGAIS............................................................................................................157
3 - BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................172
INSTITUIÇÕES CONSULTADAS.........................................................................193
GLOSSÁRIO DE SIGLAS.....................................................................................194
CONTROLE E REPRESSÃO EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES: ESTUDO
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO E DO PROCESSO EDUCATIVO DE DOIS
ABRIGOS INFANTIS EM BRAGANÇA PAULISTA
INTRODUÇÃO
Este tema, Controle e repressão em uma sociedade de classes: estudo
da institucionalização e do processo educativo de dois abrigos infantis em
Bragança Paulista, é fruto de uma pesquisa que se fundamentou na hipótese
de que nesta cidade, concretamente, os dois abrigos de crianças - ISE -
Instituto Social e Educacional e SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar -
em sua prática, assumiram os princípios e as bases ideológicas de uma
mentalidade sobre higiene, educação e saúde, vigente no Brasil desde o século
XIX. Esta ideologia tinha por escopo o controle social e a vigilância sobre os
filhos das camadas populares, e inspirava-se na concepção higienista europeia
precedente.
A Tese que deu ensejo a esta pesquisa e a motivou a afirmação de
uma relação entre as práticas higienistas, instituídas no Brasil, no início do
século XIX, com a gênese e a operacionalização desses dois abrigos infantis -
foi resultante de investigação anterior
1
, na qual alguns problemas postulados
referiam-se à função político-social dos abrigos. Esta função dos abrigos se
mostrou objeto temático relevante e merecedor de aprofundamento em uma
pesquisa que tivesse como escopo compreender e revelar as questões que
ensejaram o caráter ideológico presente em suas práticas, as quais
apresentavam-se como saneadoras, educativas e controladoras.
A importância do estudo desta modalidade de intervenção, referenciada
em preceitos de saúde, para o domínio político-ideológico direto sobre os filhos
1
Discussões realizadas para a construção do argumento da dissertação de mestrado “A
Institucionalização e a Educação das Crianças do Preventório Imaculada Conceição de Bragança Paulista
(1912 – 1996)”.
2
das populações mais pobres, abrigados na cidade de Bragança Paulista,
Estado de São Paulo, é um aspecto de uma compreensão maior, que extrapola
os limites da realidade local investigada. A universalidade paradigmática dos
efeitos pode ser apreendida na análise localizada, porque nela estão presentes
os pressupostos identificados no arcabouço do ideário estudado. Os modelos
institucionais criados na forma de dois abrigos infantis, o SAMA e o ISE,
configuraram-se como lugares privilegiados para investigação, por
apresentarem o resultado prático do referido controle social, tomado em sua
ampla abrangência.
Estas considerações referendam o cerne do problema que se buscou
compreender: Os filhos dos "pobres" no Brasil sempre foram alvo de um
normativismo assistencialista - quando conduzidos à internação - resultando na
segregação e no mascaramento da exclusão, feitos nos moldes da chamada
"medicina serviço" com função disciplinar. Cabe lembrar que a exclusão e a
ocultação da pobreza visavam minimizar a sensação de ameaça que pairava
sobre as elites econômicas nacionais em face às desigualdades de renda e de
oportunidades que agudizavam as relações de classe na época. Estas elites se
sentiam amedrontadas com o aumento demográfico da classe proletária nas
cidades, como resultado da concentração urbana por elas desencadeada e a
decorrente miséria e as más condições de vida que se generalizavam
velozmente.
Um dos meios utilizados para controle dessa população era segregá-la a
partir de um discurso médico que se prestava a legitimar algumas práticas,
apontadas como modos de preservação da saúde e de sua integridade. Isto
deu ensejo ao surgimento do processo de higienização urbana no Brasil, a
exemplo do que ocorria na Europa onde o higienismo se caracterizava como
um dos marcos ideológicos da grande racionalização da política burguesa. Sua
intenção subjacente era o controle difuso de todos os membros do corpo social,
a partir da anuência dos mesmos. Estava diretamente ligado à busca de novos
referentes científicos, cuja sofisticação pode ser observada a partir do século
XVIII, sendo que as práticas identificadas têm sua explicação também nessa
busca. Esta higienização, com função controladora, solidificou-se como um
3
dos aspectos do ideário capitalista na Europa. Inspiradas nele
foram
consolidadas as bases da Medicina Social no Brasil, recurso de dominação
capaz de efetivar um modelo de controle e interdição dos filhos das classes
populares. A opção pelo abrigamento foi um dos recursos utilizados,
objetivando preservar os preceitos de educação e saúde da ordem social
vigente.
Um dos pressupostos teóricos que amparam esta discussão é o de que
nas sociedades periféricas, os processos sociais se reproduzem de maneira
similar às sociedades avançadas, existindo, entretanto, diferenças quanto à
sua extensão e repercussão social. Isso significa dizer que, desde a expansão
internacional do capitalismo europeu, os espaços mundiais estariam imbricados
em um movimento histórico e geográfico amplo, que, não obstante sua força
totalizante, guardaria matizes demarcados pelas estruturas locais.
Fruto da indústria nascente, a cidade europeia moderna o era um
lugar exclusivo do mercado e da troca, mas também um lugar de produção e
de circulação de relações complexas que demandavam a força de um poder
político capaz de controlar eficazmente toda a população urbana. A finalidade
deste poder era subsidiar e prevenir revoltas e agitações provocadas pelas
lutas de subsistência, controlar e excluir a morbidade que se ampliava,
estabelecendo uma espécie de enfrentamento de interesses entre ricos e
pobres, plebeus e burgueses.
As cidades, por essa razão, foram se tornando ameaçadoras para a
população mais rica, fazendo surgir um "medo urbano", resultante do
descontrole e da dinâmica de sua constituição. As demandas urbanas
intensificavam-se e o medo dos "destituídos da sorte" pairava sobre as oficinas
e fábricas, sobre os amontoamentos da população, sobre os riscos de
epidemias urbanas. Como sinal das transformações, também os cemitérios
tornaram-se numerosos. Provocavam medo os esgotos e as valas sobre as
quais eram construídas as casas, oferecendo sempre o risco de
desmoronamento e de insalubridade.
4
A inquietação provocada pela urbanização aguçava a nova elite
econômica na busca por soluções para conter os riscos e as ameaças que, em
seu imaginário, eram oferecidos pelas classes populares que compunham o
grande contingente das cidades. Uma das soluções encontradas foi a
atualização do chamado "regulamento de urgência" que desde os fins da Idade
Média existia em todos os países da Europa, mas que raramente era utilizado.
Este plano de urgência era aplicado quando surgiam as doenças epidêmicas
ou alguma modalidade de peste. Desdobrava-se em controlar o movimento de
todas as pessoas mediante uma vigilância feita por uma autoridade designada
para cada bairro, com dever de registrar todos os acontecimentos, além da
contagem dos doentes e dos mortos. Casa por casa era vasculhada e
praticava-se a desinfecção com ajuda de perfumes e ervas que eram
queimados.
Esse esquema de quarentena foi consolidado como um meio político e
médico da boa organização sanitária das cidades, porque passou a definir a
ocupação do espaço público e o distanciamento social. A racionalização da
experiência urbana exigia pressupostos, credos e formas de ação comuns.
Suas teses corretoras e saneadoras advinham da crença no modelo capitalista,
na empresa privada e na competitividade. Os recursos saneadores provinham
da tecnologia, da ciência e da razão.
Fundamentando a imagem de sucesso nas teses do Darwinismo Social,
que afirmavam a superioridade moral, física e intelectual de alguns homens
sobre outros, foram criadas as estratégias segregadoras. A vasta literatura
produzida no século XIX e no início do século XX sobre esse tema, indicava a
reiteração das teses acerca da insanidade, da anormalidade, da
degenerescência, com a clara intenção de justificar as desigualdades sociais
pela ordem natural. A prescrição era observar, classificar, prevenir, corrigir e,
para isso, era necessário confinar.
As imagens sociais que nutririam os processos de distanciamento social
foram criadas e incorporadas na forma de crenças e valores que justificariam o
5
mundo e as relações do cotidiano, veiculados pelos canais de comunicação
disponíveis naquele momento, para reforçar a ordem vigente. Essas imagens
representavam as impressões relativas às ações humanas, tomadas como
acontecimentos naturais e não produzidos pelo próprio homem. Cabe lembrar o
imaginário social pertencente a uma estrutura de valores, de normas e de
símbolos historicamente constituídos. A finalidade dos chamados mitos
unificadores é a sedimentação de certas práticas sociais, naturalizando-as.
Nesse sentido, a higiene pública surge como uma variação sofisticada
do tema da quarentena, provindo daí a grande medicina urbana que aparece
na segunda metade do século XVIII, cuja função foi a de definir a prática de
controle social.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA
Para a apreensão da questão-tema desta tese foi necessário recorrer a
alguns elementos que caracterizassem teórica e metodologicamente a
estrutura da pesquisa. Da leitura das categorias desenvolvidas pela análise
marxiana, referendada como norte teórico das apreciações efetivadas, optou-
se pela orientação teórico-metodológica encontrada nas obras de Lucien
Goldmann que, conforme indica Baptista (2006: 38), configura-se como um
importante e atualizado suporte de base dialética:
Nossa reflexão (…) parte do suposto de que a sistematização do
método dialético realizada por Lucien Goldmann para
embasamento de seus estudos sobre a sociologia da cultura o
estruturalismo genético -, compõe uma metodologia geral para o
estudo das relações dos homens na sociedade, no mundo
burguês, e que essa seja a vertente metodológica mais fecunda
para apreensão da prática.
Lucien Goldmann, quando se refere ao fundamento ontológico da
história como uma relação do homem com os outros homens, afirma que:
6
(...) para estudar de maneira positiva e compreensiva a história
de um problema procurando apreender e compreender as
transformações que sofreu, (...) é-se obrigado a relacionar estes
fenômenos, que parecem depender unicamente da vida
intelectual, com o conjunto da vida histórica e social (...)
(Goldmann, 1972: 9).
Nesse sentido, conforme Goldman, para se fazer ciência no trato das
questões do homem e da sociedade, é imperativo balizar-se pela racionalidade,
lucubrar sobre a regulação do conhecimento e sobre seu espaço na percepção
das verdades: ao se fazer ciências humanas é preciso conjecturar a propósito
das condições do investigador, o panorama em meio ao qual trabalha e o
escopo de sua problemática científica. O risco consiste em cair no positivismo
e aceitar como fato o que é um dos aspectos da verdade. A meta é perpetrar
um trabalho que tenha rigor científico, na medida em que se esteja cônscio
dessa conjuntura, em que se possa alçar a dificuldade de seus entraves e de
seus sobrepujamentos.
Nesses termos Goldmann, em Ciências Humanas e Filosofia: O que é
sociologia aponta um caminho para a apreensão do movimento dialético das
relações das classes entre si, a partir de seu lugar de historiador:
O que os homens procuram na história são as transformações
do sujeito da ação no relacionamento dialético homem-mundo,
são as transformações da sociedade humana. Segue-se daí que
o objeto das ciências históricas é constituído pelas ações
humanas de todos os lugares e de todos os tempos, na medida
em que tiveram ou ainda têm importância ou influência na
existência e na estrutura de um grupo humano e, implicitamente
por meio deles, uma importância ou uma influência na existência
e na estrutura da comunidade humana presente ou futura (1993:
p.5).
Em termos procedimentais da pesquisa e da validade da perspectiva
7
dialética, Goldmann considera que:
(...) os fatos empíricos isolados e abstratos são o único ponto de
partida da pesquisa e também que a possibilidade de
compreendê-los e deles extrair as leis e a significação é o único
critério válido para julgar o valor de um método ou de um
sistema filosófico. Resta saber se é possível chegar a esse
resultado, tratando-se de fatos humanos, de outro modo que não
os concretizando por uma conceituação dialética (1979: p. 4).
Sua ponderação acerca do instituto do conhecimento e de seu lócus na
edificação da verdade como princípio metodológico, aponta que a mesma pode
ser aferida pelo método materialista histórico e dialético que se sustenta no
materialismo das relações sociais, sendo a sua concretude fornecida por estas.
Do ser social origina-se a consciência e o pesquisador trabalha com o
arcabouço da vida social do homem para encontrar os elementos subjacentes
às suas manifestações práticas.
Faz-se mister assinalar alguns princípios orientadores da teoria social de
base materialista, histórica e dialética: a história, a determinação econômica e
a luta de classes.
A história reporta que as estruturas e conjunturas dinâmicas da
sociedade conformam uma totalidade (que é histórica) cujas partes se
articulam determinando, em uma expressiva relação recíproca, os fatos que
compõem a realidade imediata pesquisada. Em outro texto, Goldmann
completa afirmando que essa relação entre o todo e as partes é
(...) o princípio fundamental do pensamento dialético (…) o
conhecimento dos fatos empíricos permanece abstrato e
superficial enquanto ele não foi concretizado por sua integração
ao único conjunto que permite ultrapassar o fenômeno parcial e
abstrato para chegar a sua essência concreta, e, explicitamente,
para chegar à sua significação (1979: p.7-8).
8
Goldmann afirma que pensamento e sentimento não são entidades
independentes em relação às ações e aos comportamentos dos homens.
Existem e podem ser compreendidos somente em meio às relações
interindividuais que lhes conferem conteúdo e riqueza.
Dialeticamente, esse modo de compreender a realidade sugere a
apreensão do fenômeno a ser examinado na essência do todo social, no cerne
da coesão do processo histórico, lugar de origem dos fatos, que precisam ser
diluídos e arquitetados como ocasiões deste processo singular. Em síntese, o
que os homens procuram na pesquisa social são as transformações do sujeito
da ação no relacionamento dialético homem-mundo, são as transformações da
sociedade humana.
O materialismo histórico e dialético parte da explicitação de que não
uma estrutura econômica separada do todo social, isto é, as relações humanas
se engendram essencialmente e é por meio delas que os homens produzem
suas vidas, suas sociedades, sua forma de existência. Esses modos de
produção das relações de sociedade derivam do conflito suscitado por duas
dinâmicas sociais: as forças produtivas (envergadura social do fazer) e as
relações sociais de produção (relações sociais constituídas para concretizar o
processo produtivo indispensável à vida).
Esta apreensão ultrapassa a abrangência exclusiva da realidade local. A
historicidade é fator constituinte da circunscrição do fato que se estabelece
como objeto desta análise, como opção metodológica do que se quer revelar e
compreender. Porém, o sujeito não deve ser concebido como antagônico ao
objeto, mas constitutivo do mesmo. O sujeito observador da sociedade reflete
sobre a mesma, inserido nessa própria sociedade. A reflexão é feita no interior
da sociedade, sendo organizada pelas categorias desta e o objeto analisado é
um elemento indispensável do arcabouço do pensamento. Essa estrutura é
dinâmica, formada geneticamente e em constante mutação (Goldmann, 1993).
9
O foco analítico do pensamento de Goldmann reporta-se ao fato de que
a filosofia das luzes ao vincular-se à burguesia e à racionalização dela
decorrente corresponde, proporcionalmente, à estrutura da troca comercial que
constitui o cleo da nascente sociedade burguesa. Isso vale para o contrato,
enquanto modo fundamental das relações humanas, tanto como para a
tolerância, a universalidade, a liberdade formal, a igualdade jurídica, a
propriedade privada.
Segundo Goldmann, no contexto do individualismo burguês, a
localização de um sistema particular de valores leva à chamada indiferença
axiológica do capitalismo. O pressuposto fundamental da economia política
clássica e da filosofia política liberal resume-se na compreensão de que a
realização do próprio interesse de cada um dos indivíduos conduz, por meio de
uma harmonia implícita (a mão oculta), ao interesse geral de todos. Nesta
ótica, toda norma ética torna-se, portanto, supérflua, se não prejudicial à
realização de certas metas individuais.
Em oposição a este explícito culto do indivíduo da racionalidade liberal,
Goldmann (1993) elege como sujeito de investigação uma coletividade - o
sujeito transindividual é o início da ação e do conhecimento em direção à
dialética, o alicerce ontológico da Historia é o relacionamento do homem com
os outros homens: quase nenhuma ação humana tem por sujeito um indivíduo
isolado. O sujeito da ação é um grupo, um ‘nós’, mesmo se a estrutura atual da
sociedade, pelo fenômeno da reificação, tende a encobrir esse “nós’ e a
transformá-lo numa soma de várias individualidades distintas e fechadas umas
às outras (1979: 18). O Eu individual ocorre na retaguarda da comunidade. O
sujeito da ação é continuamente expressão dos diversos grupos a que
pertence, sendo seu sumo exponente, as classes sociais.
Assim, no entender de Goldmann: as ações históricas, o domínio da
natureza, a criação cultural, não podem ser entendidos em sua significação,
nem explicados em sua gênese, senão partindo da perspectiva do sujeito
coletivo, ou antes, de um sujeito transindividual. A premissa metodológica
10
identificada na reflexão de Goldmann foi fundamental para a construção
argumentativa desta análise ao oferecer o recurso para a identificação, nas
classes sociais, do referido sujeito transindividual, que produz sua realidade
histórico-cultural e, em meio dela, os conflitos de interesses e as formas de
controlá-los.
Tal concepção dialética do sujeito histórico opõe-se às visões
individualistas do mundo, tanto quanto àquelas que, ao modo do
estruturalismo, eliminam o sujeito da teoria. Mais ainda, Goldmann pensa,
como Marx, que é preciso privilegiar o papel das classes sociais enquanto
agentes criadores da história, cuja ação é orientada para a universalidade, para
a estruturação da sociedade; que é preciso, também, ver nas relações entre as
classes a chave da compreensão da realidade social passada, presente e
futura.
É desta perspectiva que Goldmann assume a consciência possível como
categoria analítica, relacionando-a à celebre passagem de Marx que a
explicava, argumentando que não se trata de saber o que pensa este ou
aquele proletário, ou mesmo todos os proletários em conjunto, mas de saber
qual é a consciência de classe do proletariado (Goldmann, 1972: 8). Para essa
identificação que se esclarecer uma rede conceitual a fim de perseguir os
indicativos da coerência de uma visão de mundo, em que o conhecimento é
respeitado como “seiva produtiva” e fator de modificação social. Analogamente
a Marx, o conhecimento para Goldmann cumpre uma função política
revolucionária, posto que se coloca como transformador da realidade social. No
entanto, Goldmann, assim como Marx, entende que este conhecimento não
está a salvo da apropriação ideológica que o reifica e o submete.
Nos marcos dessa compreensão, na perspectiva apontada por
Goldmann, cabe lembrar que o objeto das ciências históricas é constituído
pelas ações humanas de todos os lugares e de todos os tempos, na medida
em que tiveram ou ainda têm importância ou influência na existência e na
estrutura de um grupo humano e da sociedade mais ampla. Isso esclarece que
11
por meio deles revela-se a importância ou a influência na existência e na
estrutura da comunidade humana presente ou futura. Nessa convicção
encontra o fundamento da análise aqui empreendida:
Nenhum inquérito, nenhuma monografia, pesquisas cuja
utilidade, aliás, não de ser contestada, poderão, enquanto
não forem enquadradas numa análise de conjunto e não
abrangerem um longo período histórico, por em evidência os
fatores de transformação e de renovação duma sociedade,
sobretudo porque esses fatores se acumulam frequentemente
durante longos períodos sem que suas expressões exteriores
sejam facilmente constatáveis (Goldman, 1993: 14).
Os dados como tais dependem também da visão consciente ou
implícita do investigador. Não fatos brutos. Nenhum inquérito,
nenhuma monografia é integral. Apenas coloca certas questões
à realidade e escolhe os fatos à luz dessas questões. Ainda
mais, na imagem que constrói, a importância conferida aos
diferentes fatos que aceita registrar é proporcional à que
apresentam os problemas para o pesquisador ou investigador.
Sempre mais visão prévia, um conjunto de pré-noções que
decidem: a) das questões colocadas e as não colocadas à
realidade; b) da importância que se confere aos diferentes
fatores considerados interessantes (op. cit.: 15).
Reiterando essa compreensão Goldmann encontra apoio em argumento
de Michel de Certeau, que, ao discutir a operação histórica, demonstra que a
articulação de toda pesquisa historiográfica toma como ponto de partida um
"lugar" de produção socioeconômica, política e cultural. Nesse sentido,
encontra-se submetida a opressões, privilégios, achando-se enraizada em uma
particularidade (1988:18).
Na aplicação dessa proposta metodológica, cabe lembrar que o modelo
capitalista, ao consolidar-se, forneceu a base estrutural para a organização de
ideários compatíveis com os interesses dominantes. A organização disciplinar
12
do higienismo pode ser caracterizada como um dos marcos ideológicos da
grande racionalização da política burguesa. Sua intenção subjacente era o
controle difuso de todos os membros do corpo social, a partir da anuência dos
mesmos. Estava diretamente ligado à busca de novos referentes científicos,
cuja sofisticação pode ser observada a partir do século XVIII, sendo que as
práticas identificadas não se explicam fora deles.
Um dos pressupostos teóricos que amparam esta discussão é o de que
nas sociedades periféricas, os processos sociais se reproduzem de maneira
similar às sociedades avançadas, existindo, entretanto, diferenças quanto à
sua extensão e repercussão social, o que significa dizer, que desde a
expansão internacional do capitalismo europeu, os espaços mundiais estariam
imbricados em um movimento histórico e geográfico amplo, que, não obstante
sua força totalizante, guardaria matizes demarcados pelas estruturas locais.
A pesquisa
Para formar um panorama histórico-educacional do ISE Instituto Social
e Educacional - e do SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar - foi
preciso manusear dados coletados das mais diversas fontes, acessar
documentos históricos e realizar pesquisa eletrônica como anteparos à
pesquisa bibliográfica. Igualmente, aqui, serviram de suporte argumentativo as
informações colhidas em documentos, almanaques, manuais e jornais, com
publicações que remontam o início das duas instituições em Bragança Paulista.
Foram analisadas, também, como substratos investigativos, as fontes primárias
disponíveis nos documentos das instituições, prescindindo-se de relato oral em
função da indisponibilidade dos agentes. Recorreu-se também ao apoio de
referência do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente- promulgado em
1990. Tais dados foram organizados e analisados por assunto e sua
apresentação teve como critério obedecer à disposição tópica vinculada a uma
ordem cronológica.
Com base na proposta goldmanniana, que tem seu fundamento na teoria
13
social de Marx, esta pesquisa procura desvelar as determinações dos
discursos higienizantes da sociedade a partir do século XVIII, tencionando
apreender o cerne de cada um deles, esquadrinhando a experiência da relação
entre as classes, que se expressam de maneiras variadas. Nessa acepção, os
discursos expressões de visões de mundo, sínteses entre tinturas sobre o
real e normas de conduta delas resultantes - têm relação com as ideologias.
Trata-se da consolidação dos sujeitos como grupos e classes sociais, em
diferentes fases de sua história, que arquitetam e avaliam a si mesmos na
qualidade de sujeitos coletivos, na realidade cabal em que estão inseridos.
A tarefa científica da pesquisa, identificada desde os primeiros passos,
levou aos objetivos: o primeiro foi discernir, em meio às vicissitudes da
realidade brasileira, quais eram as forças em presença e os modos de
explicitação da realidade impressos nas ações realizadas nos dois abrigos.
O segundo foi identificar as formas pelas quais se subscreviam os jogos
complexos de interações, deslocamentos e enfrentamentos entre os agentes e
suas práticas, identificações essas que evidenciaram a impossibilidade do
emprego de esquemas simplificadores.
Para o alcance desses objetivos algumas metas operacionais se
colocaram como prioritárias:
- Analisar os aspectos teóricos e práticos das questões conjunturais que
deram início ao ideário higienista e às decorrentes práticas segregadoras que
originaram os asilos (abrigos) no Brasil.
- Compreender os efeitos da ação interventora destas práticas na
realidade brasileira pela ação da Medicina Higienista, identificando, nos
documentos analisados, as intenções que nortearam as funções dos asilos na
cidade de Bragança Paulista.
- Evidenciar a eficácia da operacionalidade prática dos fatores
ideológicos nos asilos ISE Instituto Social e Educacional e SAMA Serviço
14
Médico Alimentar.
As duas instituições foram analisadas considerando-se,
fundamentalmente, aspectos conjunturais da realidade em questão: o processo
e as condições sociais em que essas entidades foram instituídas e o grau de
consciência dos agentes envolvidos nas práticas realizadas.
Nesse processo, pretendeu-se averiguar como a higienização repercutiu
nos dois modelos de abrigo tomados como referência e analisados. Para tanto,
houve necessidade de analisar o fenômeno da higienização, distinguindo sua
gênese, seus desdobramentos e a estruturação do ideário higienista,
decorrente do processo de urbanização e industrialização. Também, analisou-
se suas determinações e consequências na transposição dos marcos
ideológicos para a realidade brasileira, na forma de "assistência científica"
própria de modelos autoritários de organização social.
A necessidade dessa compreensão e dessa explicação instigou a busca
de categorias analíticas relacionadas aos determinantes concretos da gênese
dos discursos, das racionalizações em seu processo de ideologização da
realidade social e de suas resultantes, expressas na configuração da prática
dos dois abrigos da cidade de Bragança Paulista. A leitura dialética da
realidade conduziu a análise aos termos de um movimento que constitui o dado
ontológico da história, que é a relação do homem com os outros homens na
produção de sua realidade material e social.
Foi necessário recorrer também, em alguns momentos, à obra de
Foucault na sua discussão sobre o ideário higienista, tendo clareza da
necessidade de levar à sua análise a perspectiva histórica, uma vez que a
episteme - teoria do conhecimento assumida por Foucault, não contempla a
práxis histórica dos homens - como se encontram nas concepções de mundo
do marxismo. A necessidade dessa coerência levou – para a efetivação do
apoio analítico na proposta foucaultiana – à busca da superação de seus
limites, tendo por objetivo a recuperação da totalidade histórica do contexto
analisado. Essa apropriação de apoio analítico tem por base a convicção de
15
que a pluralidade de discursos é fator essencial e fecundo no procedimento
evolucionário das ciências sociais, sendo que para fazê-lo se torna necessário
conhecer os limites da teoria que os determinou e superá-los em coerência
com a teoria que informa o conhecimento trabalhado. Portanto, para essa
superação ocorrer, foi sentida a necessidade da compreensão do movimento
histórico instituinte da realidade, tomada em suas contradições.
O ideário higienista configura-se como um compêndio de regras de
pensamento derivado de uma racionalidade originária dos fins do século XVIII.
O discurso higienista, de vezo disciplinar, passou a valer para todos os
indivíduos de um determinado grupo social, infligindo-lhes critérios de
demarcação do que é ou não lícito, do que pode e do que não pode ser
pensado ou feito. Foucault atrelou o "discurso" dessa racionalidade à diluição
de "poder" político, deslocando o eixo de suas reflexões do plano
epistemológico para o plano das instituições reais localizadas, elaborando o
que cunhou de "microfísica do poder".
Pelo aprofundamento da reflexão sobre o discurso, foi possível perceber
que apesar da inspiração original advir de questões abertas por Michel
Foucault, a leitura empreendida vislumbrou a presença de interesses opostos
dos agentes históricos e suas contradições derivadas, reveladas no processo
constitutivo da realidade material e social. O aprofundamento da complexidade
do processo determinou um percurso analítico em uma dimensão mais ampla
do que aquela possibilitada pela obra foucaultiana. A possibilidade desta
análise amparou-se na apreensão de duas categorias: a totalidade e o
movimento histórico. Nesse sentido foi imprescindível o subsidio da concepção
histórico-dialética.
A base do processo histórico explicitou-se no aprofundamento e no
equacionamento que coloca em questão as relações entre a visão ideológica e
as determinações conjunturais desse processo e suas manifestações na luta
pela salvaguarda de interesses particularizantes. Nesse sentido, a
argumentação e a análise foram estabelecidas, com o objetivo de cotejar as
práticas realizadas em abrigos de Bragança Paulista, a saber, o ISE e o SAMA
16
com os referenciais do ideário médico-higienista, encontrados em uma série
de documentos escritos, presentes nas referidas instituições.
O pressuposto fundamental desta análise foi de que a realidade o é
um dado que se conheça imediatamente, por intermédio da observação
empírica tradicional. Ela é guarnecida de relações, mediações, processos e
estruturas que se envolvem de forma complexa e contraditória. Estes são os
nexos constitutivos da realidade (em movimento) analisados por Marx, na
procura da essência profunda e ontológica do homem na produção da história.
Em vista disso, foi preciso investigar as relações e as contradições por
meio das quais o real se revelava. O movimento social, nessa ótica, foi
considerado como um processo histórico-natural submetido a leis, que
independem da vontade, da consciência e do propósito dos agentes,
determinando-os.
Aplicando ao estudo das práticas (...) os princípios
metodológicos desenvolvidos por Goldmann, percebemos que
esse estudo deve se fazer em um único processo de apreensão
da realidade, em dois níveis que se reforçam o estrutural e o
funcional -, levando o pesquisador a transitar continuamente
entre um e outro, de modo a desvelar seu caráter significativo.
Este estudo é feito por meio:
- da conjugação da dimensão analítica interna, que procura
compreender a estrutura interna dessa prática e detectar o
processo pelo qual um sujeito coletivo (...) elabora e procura dar
coerência às suas respostas para as questões que lhe são
colocadas em suas relações com a sociedade, em termos de
ação;
- e da investigação da dimensão analítica externa, de vinculação
daquelas práticas à revolução sociohistórica das conjunturas, na
busca de uma explicação de sua gênese e de sua dinâmica
(Baptista, 2006: p.45-46).
Inicialmente procurou-se uma organização de ideias que permitisse
17
conjugar a justificativa da escolha do tema, a delimitação do mesmo e a
problematização das questões pertinentes à sua estrutura analítico-descritiva,
com a fundamentação teórica e metodológica, com os objetivos, e com a
demonstração da tese e de sua conclusão. Em seguida, a análise desdobrou-
se em etapas sequenciais, com vistas à explicação e à compreensão do
referido processo.
Na divisão temática e estrutural da tese, o que se buscou foi seguir
etapas argumentativas que permitissem perceber as relações e as
contradições presentes na conjuntura histórica brasileira, com vistas a elucidar
a política de atenção à criança pobre nos finais do século XIX e inícios do
século XX. A reflexão encaminhou-se para a análise do surgimento de um
ideário médico no Brasil, entre outras práticas regulatórias, instituído para
conformar as aspirações e hábitos de vida do proletariado urbano, como
ocorria nos países europeus. Os princípios do referido ideário trariam reflexos
que estruturariam a emblemática e complexa relação ‘família-filhos’ dos
segmentos mais pobres, como instância primeira e imediata da higienização
dos indivíduos, de forma a sujeitá-los a um controle indireto - "científico" - que
disciplinaria suas ações e práticas segundo as conveniências das ideias
dominantes nesse modelo de formação social.
Na apresentação desta tese o ponto de partida foi a explicação. Assim,
no primeiro capítulo, a reflexão necessitou apreender os elementos
conjunturais presentes na contextualização histórico-política, tomando como
referência uma periodização da realidade brasileira que se inicia no século XIX,
desdobrando-se até o surgimento da, propriamente chamada, Medicina Social.
Também foram demarcados os princípios do movimento higienista europeu e a
sua penetração no Brasil, vislumbrados nas práticas da referida Medicina
Social. Enfatizou-se, no contexto, a questão da saúde pública no Brasil, da
urbanização e da industrialização: suas causas e consequências; a distribuição
populacional nas cidades, a modernização urbana, a imigração e os bairros
operários.
No segundo capítulo, o raciocínio ateve-se à origem da intervenção
18
social no âmbito médico e seus desdobramentos nos estabelecimentos
asilares, instituindo a prática do confinamento. No contexto desta discussão, a
institucionalização é referenciada como um dos aspectos que compõem a
história da infância brasileira. Discute-se, ainda, a decorrência da
institucionalização da Infância em Bragança Paulista, enfatizando-se a
transposição do modelo higienista para a realidade bragantina, a partir de
alguns marcos específicos. Esta questão toma como pressuposto a instituição
do asilo como meio de controle, bem como os fatores intervencionistas e a
lógica assistencial e educacional.
No terceiro a argumentação voltou-se para a compreensão da
perspectiva da análise, do espaço das instituições analisadas e da História da
Igreja Católica em Bragança Paulista.
No quarto capítulo a alegação reportou-se à trajetória do ISE Instituto
Social e Educacional, em Bragança Paulista: sua fundação, suas regras, seus
estatutos, seus personagens, seus períodos, seus nomes, sua evolução e seus
modos de atendimento. Foi feito um desenho dos fatos ocorridos antes,
durante e depois da inauguração do ISE e a determinação de internar
precipuamente as filhas das classes populares mais pobres. Neste tópico, deu-
se também ênfase ao processo educativo das meninas asiladas, relacionando-
o à perspectiva higienista.
No quinto capítulo, discute-se a gênese e o processo de constituição da
entidade de confinamento conhecida como SAMA Serviço Assistencial
Médico Alimentar, em Bragança Paulista: direção, fundação, estatutos, normas,
agentes, momentos, denominações, desenvolvimento e atendimento. Discute-
se também a relação entre as práticas pedagógicas e o ideário em questão.
Outrossim, faz-se o percurso dos fatos ocorridos antes, durante e depois da
inauguração do SAMA, na verificação dos fatores subjacentes aos objetivos
proclamados.
Na conclusão, pretendeu-se ter identificado o intricado aparelhamento
de uma moral "característica" de bem-estar e de saúde, que fizeram surgir
19
estas práticas, ou seja, o estabelecimento de um controle grupal sobre as
populações pauperizadas, escorado nos contexto da higiene e de uma
metodologia científica de cuidados, conveniente a uma medicina privada e
atrelada ao ideário "liberal". Esta técnica nasceu associada a um
maquiavelismo de saúde, percebida como problema político e econômico.
20
I - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: O HIGENISMO EUROPEU E SUA
PROPAGAÇÃO NO BRASIL. A CRIANÇA POBRE COMO OBJETO DA
ATENÇAO HIGIENISTA
Fruto da indústria nascente, a cidade europeia moderna o era um
lugar exclusivo do mercado, mas o lugar de produção e de circulação que
demandariam a força de "um poder político capaz de esquadrinhar (...) a
população urbana" (Foucault, 1995: 86). A finalidade deste poder era buscar
maior eficiência contra revoltas e agitações provocadas pela luta pela
subsistência, pelo controle, pela exclusão e pela morbidade que se ampliava,
estabelecendo uma espécie de afrontamento de interesses entre ricos e
pobres, plebeus e burgueses.
As cidades, por essa razão, foram tornando-se ameaçadoras para a
população mais rica, fazendo surgir um "medo urbano", resultante do
descontrole e da velocidade com que elas se constituíam. Como sinal das
transformações, também os cemitérios tornaram-se numerosos. Provocavam
medo os esgotos e as "caves" sobre as quais eram construídas casas,
oferecendo sempre o risco de desmoronamento (Foucault, op. cit.: 87). As
demandas urbanas intensificavam-se e o medo dos "destituídos da sorte"
pairava em relação às oficinas e fábricas, aos amontoamentos da população,
aos riscos de epidemias urbanas.
A inquietação provocada pela urbanização aguçava a burguesia em
ascensão a buscar soluções para conter os riscos e as ameaças que, em seu
imaginário, eram provenientes das classes populares que compunham o
grande contingente das cidades. A vasta literatura, produzida no século XIX e
início do século XX sobre esse tema, indicava a reiteração das teses acerca da
insanidade, da anormalidade, da degenerescência com a clara intenção de
justificar as desigualdades sociais pela ordem natural. A prescrição era
observar, classificar, prevenir, corrigir e, para isso, era necessário confinar.
Fundamentadas na imagem de sucesso das teses do Darwinismo Social - que
afirmavam a superioridade moral, física e intelectual de alguns homens sobre
21
outros - foram criadas estratégias segregadoras.
Uma das soluções encontradas foi a atualização do chamado
"regulamento de urgência" que desde os fins da Idade Média existia em todos
os países da Europa, mas que raramente era utilizado. Este plano de urgência
era aplicado quando surgiam as doenças epidêmicas ou alguma modalidade de
peste. Desdobrava-se em controlar o movimento de todas as pessoas
mediante uma vigilância feita por uma autoridade designada para cada bairro,
com dever de registrar todos os acontecimentos, além da contagem dos
doentes e dos mortos. Casa por casa era vasculhada e praticava-se a
desinfecção com ajuda de perfumes e ervas que eram queimados.
Esse esquema de quarentena, segundo Foucault (op. cit.: 88) foi um
sonho político médico da boa organização sanitária das cidades porque passou
a definir a ocupação do espaço público e o distanciamento social. A
racionalização da experiência urbana exigia pressupostos, credos e formas de
ação comuns. Suas teses corretoras e saneadoras advinham da crença no
modelo capitalista, na empresa privada e na competitividade. Os recursos
saneadores provinham da tecnologia, da ciência e da razão.
As imagens sociais que nutriam os processos de distanciamento social
foram criadas e incorporadas na forma de crenças e valores que justificavam o
mundo e as relações do cotidiano. Essas imagens eram veiculadas pelos
canais de comunicação disponíveis naquele momento, para reforçar a ordem
vigente. Para compreender esse processo, cabe lembrar, que o imaginário
social pertence a estruturas de valores, normas e símbolos historicamente
constituídos e que a finalidade dos chamados ‘mitos unificadores’ é a
sedimentação de certas práticas sociais, naturalizando-as.
Nesse sentido, a higiene pública surge como uma variação sofisticada
do tema da quarentena, provindo daí a grande medicina urbana que aparece
na segunda metade do século XVIII, cuja função foi a de definir a prática de
controle social.
22
Convém ressaltar que os três grandes objetivos dessa medicina
eram: primeiro, analisar no espaço urbano, a fonte de doenças e os lugares de
formação e difusão de fenômenos epidêmicos ou endêmicos, os cemitérios -
nesta época, surge a organização das sepulturas reservadas às famílias, com a
individualização do caixão; segundo, controlar a circulação e a qualidade, não
dos indivíduos, mas dos elementos, essencialmente, a água e o ar, porque
estes eram considerados fatores patogênicos e necessitavam ser mantidos sob
vigilância o que significava o controle da condição do ar e dos corredores de
água em uma cidade; e, terceiro, distribuir a sequência dos elementos
necessários à vida comum, tais como fontes, esgotos ou barcos bombeadores.
Desta forma, os espaços comuns, os lugares de circulação, os
cemitérios e os matadouros foram sujeitados por um controle médico-sanitário.
Para cada situação relativa à higienização, os peritos médicos eram
consultados. Cabe admitir, na perspectiva apontada por Foucault, que a
medicalização da cidade, a partir do século XVIII, não era uma medicina dos
homens, corpos ou organismos, mas uma medicina das coisas, tais como o ar,
a água, as decomposições e os fermentos medicina esta voltada ao controle
das condições de vida e do meio de existência.
A evolução dessa medicalização urbana teve como alvo final, no século
XIX, segundo Foucault (1995) o "controle dos pobres" agora identificados como
elementos perigosos. Tal controle motivou o surgimento, na Inglaterra, da "Lei
dos Pobres”
2
. Convém apontar, de acordo com Foucault (1995: 95), que: vê-se
claramente a política da transposição, na legislação médica, do grande
problema da burguesia nessa época: a que preço, em que condições e como
assegurar sua segurança política.
2
Em 19 de dezembro de 1601, foi promulgada, pela Rainha Isabel I, a Lei dos Pobres, com o seu
surgimento, a medicina inglesa começa a tornar-se social. Essa legislação comportava um controle
médico do pobre. A partir do momento em que o pobre se beneficia do sistema de assistência, deve, por
isso mesmo, submeter-se a vários controles médicos (Foucault, 1995). A Lei dos Pobres assentava em
quatro princípios: 1- a obrigação do socorro aos necessitados; 2 - a assistência pelo trabalho; 3 - a taxa
cobrada para o socorro aos pobres; 4 a responsabilidade das paróquias pela assistência de socorros e
de trabalho (Guedes, 1942).
23
A Medicina Social, bem como o surgimento do hospital e,
posteriormente, dos asilos, mostra o quanto era necessário constituir uma
organização disciplinar, eminentemente política, sobretudo das crianças, que
tivesse total vigilância sobre a ocupação espacial, acompanhada de um
controle, não dos resultados, mas do processo propriamente dito. Daí dispor
sempre de sistemas de registros de teor classificatório e combinatório. A
exemplo da prática de distribuição dos membros do corpo social nos espaços
urbanos, segundo os critérios oferecidos pela medicina, além de julgá-los,
medi-los, localizá-los e utilizá-los ao máximo, também as crianças foram
controladas de forma especial em asilos, entendidos como espaços
privilegiados de saneamento e correção.
Assim, tanto a medicina quanto o hospital cumpriam funções
consideradas necessárias: saneadoras, disciplinares e controladoras,
definindo, pelas informações e registros, quem estaria ou não excluído da
circulação. Essa medicalização e saneamento atendiam, de forma substantiva,
aos interesses da aludida racionalização, criada pela ciência e pela técnica,
para o domínio completo e a sujeição individual e coletiva. O que ocorreu
posteriormente foi a transposição dessa modalidade de controle para o asilo.
Enquanto discurso ideológico, legitimador e segregacionista do ideário
burguês é possível compreender a relação entre a medicina e a higiene, que
embasou certas práticas e intervenções políticas sobre a vida das classes
alijadas da riqueza no Brasil, sobretudo as do universo urbano. Revestidas de
traços de cientificidade, a medicina e a higiene apresentavam-se, inicialmente,
como um recurso saneador contra o avanço da morbidade e das doenças,
inserido nas novas regras da lógica capitalista. Para os ajustes da referida
lógica, a higienização coletiva era uma exigência inequívoca para uma boa
vida, cuja tradução expressava elementos da racionalidade dominante, da
ordem liberal-burguesa. O médico de família apresentava-se, inicialmente,
como elemento central, intervindo na organização doméstica do lar, sugerindo
práticas de higiene de boa saúde. Era através de aparentes aconselhamentos
educativos, que ele realizava uma verdadeira gestão da vida doméstica
24
modificando, assim, substancialmente seu agenciamento interno (Donzelot,
1986: 156).
O que se depreende das indicações feitas por Donzelot e sobre as
bases extraídas dos documentos pesquisados é que houve uma pulverização
do controle sobre os estratos pobres da sociedade, viabilizada pela estratégia
de vigilância e controle. Tais ações, inicialmente exercidas sobre os "pobres
doentes", colocados à margem da absorção social e produtiva, era uma
demanda da racionalidade dominante, para tornar-se, posteriormente, uma
vigilância sobre todos, reiterada por um conjunto de saberes "científicos"
expressos como "práticas normais" da vida cotidiana.
É em Marx, como aponta Michel Löwy (1985), que se encontra a
observação, segundo a qual as ideologias segregacionistas e excludentes são
criações das classes sociais dominantes (as elites econômicas) em uma
determinada sociedade. Esse processo de produção da ideologia não se
realiza na esfera individual, mas coletivamente, constituindo visões de mundo –
superestruturas - em função da garantia de interesses particulares e
preponderantes naquela realidade, tal como a salvaguarda da riqueza
econômica.
No Brasil, assim como na Europa, a prática da medicina social sempre
esteve, essencialmente, assegurada primeiramente por dispensários (campo
médico). E na área social, por fundações de caridade, exercida,
invariavelmente, nos limites de uma organização de assistência conduzida por
leigos ou religiosos. Essas instituições atendiam a fins múltiplos, entre os quais
estavam as tarefas de distribuir víveres e vestuários, recolher crianças
abandonadas, fornecer educação elementar, fazer proselitismo moral e abrir
ateliês e oficinas para formação profissional.
Organizada sob a égide de uma técnica terapêutica, esta medicina ou
higienização praticada desde os séculos XVIII era controlada através do
discurso médico. Ocultava-se sob a declarada intenção de sanar a saúde
coletiva, o verdadeiro interesse de exercer jurisdição política, principalmente
25
sobre o "pobre necessitado" que era encaminhado para a internação em
instituições como abrigos, sanatórios, internatos, casas de correção, hospícios
ou prisões.
No conjunto dos elementos que precisavam ser controlados, além da
enfermidade, encontrava-se a idade, o gênero, o peso da hereditariedade
(entenda-se a origem étnica), os comportamentos na relação com a sociedade,
a impossibilidade de encontrar trabalho e a ausência de cuidados e recursos.
As postulações da Higienização Social foram, por conseguinte, fruto de
uma auspiciosa forma de ampliar, para além do hospital, as providências de
socorro e atendimento, mediante procedimentos mistos e polivalentes de
assistência, que nada mais eram do que recursos para definir espaços, limites
de circulação no espaço público e classificação dos lugares sociais autorizados
decorrentes das posições de classes.
Um dos argumentos desta pesquisa encaminhou-se na direção da
gênese da referida racionalidade que instou, em um primeiro momento, uma
reclassificação social das categorias “dos infelizes”, para as quais a caridade
se destinava. Desta forma, buscou-se o desvendamento de aspectos desta
racionalidade na problematização dos abrigos e orfanatos. Estes institutos
eram utilizados mediante artifícios sutis que viabilizavam o encaminhamento
dos filhos dos trabalhadores para uma modalidade de enquadramento
prevalente no circuito da produção. Em última instância, as novas funções que
surgiram no âmago do processo ressocializador da população, em nome da
prevenção da saúde, estavam voltadas para garantir a manutenção da ordem e
da organização do enriquecimento, afastando a ameaça que provinha das
chamadas "populações perigosas".
A investigação aqui proposta delimita-se, essencialmente, pelo recorte
acerca do caráter implícito da função política do abrigo, mediante a verificação
de como se realizava a prática educativa executada nos mesmos. Tomando
por pressuposta a ideia de que o Brasil configura-se como uma sociedade
excludente, parece correto afirmar que os privilégios sempre foram
26
resguardados por mecanismos de controle, organizados a favor da
"introjeção” de hábitos e costumes desejáveis nos estratos mais pobres da
população. Os marcos investigativos identificaram esse pressuposto em todas
as esferas analisadas.
O método dialético é invariavelmente genético e, como toda realidade
humana é, ao mesmo tempo, material e psíquica. O estudo genético dum fato
humano implica sempre um investimento em igual quantidade, tanto na sua
história material como na história das doutrinas que lhes diz respeito. Nada é
mais curioso do que o tema sempre retomado pelos detratores do marxismo
que recriminam a negligência das ideias e da vida espiritual de umtodo que
tem como uma de suas teses basilares a de que basta estudar seriamente a
realidade humana para sempre encontrar o pensamento, caso se tenha partido
de seu aspecto material, e os fatos sociais econômicos, caso se tenha partido
da história das ideias (Goldman, 1993: 15).
Em síntese, sobre essas bases teórico-metodológicas foi possível
investigar como a educação das crianças em dois abrigos específicos, permitiu
que se estabelecesse uma generalização, a saber: aquela que aponta para o
engendramento de formas de exclusão dos "filhos dos pobres", isto é, das
crianças abandonadas, ditas “de rua”, que lhes representavam uma forma de
ameaça, inicialmente à saúde e, posteriormente, à segurança da sociedade. As
iniciativas e estratégias desta modalidade de exclusão revelaram-se, ainda,
presentes em um ostensivo controle articulado com a educação, expresso em
documentos pesquisados. A intenção de “normalizar” certas regras de vida e
conduta a partir de um referencial idealizado e sancionado “cientificamente”
passou a atender ao mencionado discurso médico e sanitário, em sua
vertente profilática.
A escolha deste tema: Controle e repressão em uma sociedade de
classes: estudo de dois abrigos infantis em Bragança Paulista, tomou por base
a possibilidade de identificar - no processo de propagação dos procedimentos
controladores no contexto da sociedade brasileira, desde o início do século XIX
- as consequências do Higienismo Social aqui desenvolvidos, enquanto ideário
27
da burguesia industrial, no momento da consolidação do modelo industrial e
urbano de base capitalista. Em nome das novas definições desse modelo
foram postos em prática alguns mecanismos de vigilância sobre os "diferentes"
ou "anormais", antecipados por uma estratégia aliciadora no sentido de
preparar estes sujeitos para uma atitude de conformismo em relação a esse
fato.
Philippe Ariès (1981), ao discutir os meios através dos quais, no culo
XIX começou a ocorrer um processo de polarização da vida infantil (na
constituição de uma imagem social "oficial" da infância e, por extensão, da
própria adolescência) põe em relevo os novos papéis sociais atribuídos à
educação formal e à família nuclear. Nesses novos papéis emergem as
técnicas de vigilância, ao deixar claro que os rearranjos da sociedade liberal
passariam a exigir ações precisas de intervenção e controle sobre as massas
pauperizadas. Ariès, a exemplo de Foucault, demonstra como ocorria o
controle sobre aqueles que estivessem fora dos sinais genéricos das imagens
sociais alusivas à prosperidade e ao bem viver.
1.1 A construção dos referentes ideológicos a partir do final do culo
XIX
No último quartel do século XIX foram pródigas as transformações
econômicas, sociais e tecnológicas em escala planetária. Neste período,
conhecido como fase de transição do capitalismo liberal para o capitalismo
monopolista, com a consequente expansão mundial do capital, produziram-se
substanciais mudanças na distribuição populacional das cidades, sobretudo
naquelas que experimentaram processos dinâmicos de industrialização.
Essas mudanças determinaram alterações significativas também no
pensamento acerca da realidade social e na produção de práticas que visavam
solucionar a evidente contradição decorrente da apropriação da riqueza por
uns e a exclusão da mesma para a grande maioria, incluindo o aparecimento
de ideários relativos à organização da sociedade. Representantes das mais
28
diversas teorias visavam minimizar a intensa desigualdade gerada pelo
capitalismo. Uma das esferas dessa realidade social que se descortinava,
motivou toda uma teorização sobre o planejamento urbano, originando um
processo de definição de uma nova lógica atinente à disciplina urbanística que,
por sua vez, esteve bastante influenciada tanto pelos movimentos utópicos de
reforma social, quanto pelo pensamento higienista.
Nesse contexto das grandes transformações do final do século XIX, teve
início a industrialização no Brasil. A abolição da escravatura despertara as
energias nacionais, que até então estavam ocupadas pelo grande problema da
escravidão. O fim da escravatura possibilitou a transformação de milhares de
ex-escravos em assalariados e a migração europeia para substituir a o de
obra escrava no campo. Paralelamente, o império precisou amparar, por
intermédio de créditos, a poderosa classe dos ex-proprietários de escravos,
que manifestava seu descontentamento com a medida libertadora. O estímulo
governamental ampliou os numerosos ramos dos negócios destes, originando
empresas comerciais e industriais. Na proporção idêntica que ocorria a
acumulação de riqueza para uns a pauperização e a miséria alastravam-se
para muitos (Luz, 1975).
Graças à especulação desenfreada, derivada das inúmeras emissões
realizadas pelo recém-criado Estado republicano, as indústrias proliferaram
trazendo, como consequência, a concretização da vida urbana, principalmente,
nos grandes centros onde estavam reunidos os empreendimentos
empresariais.
A prosperidade urbana, decorrente das especulações facilitadas pelo
novo regime, definiu a presença de um grupo plutocrático, principalmente
banqueiros, que passou a normatizar o futuro do país, assim como a definir
meios para efetivar a exclusão da população periférica que se agregava às
cidades. O desenvolvimento urbano, entre o final do século XIX e início do XX,
é assinalado pela exclusão de grupos sociais que ficaram à margem da
socialização das riquezas produzidas pelo lucro do desenvolvimento do capital.
29
Cabe dizer que o processo de industrialização não diminuiu a
presença dos proprietários agropecuários no cenário histórico e de sua
capacidade de intervir nos negócios do Estado. Combinando forças com a
industrialização nascente, as oligarquias do nordeste, do sudeste e do sul
continuaram a exercer sua força política sobre a massa de trabalhadores que
acorreu para os centros urbanos na esperança de qualificar a vida em face de
novas oportunidades.
A partir de então, era possível notar nesses centros o aumento e a
presença de desempregados, de miseráveis, assim como de trabalhadores que
viviam de pequenos expedientes, ocasionando indicadores crescentes de
criminalidade e delinquência social. O crescimento considerável dos
desocupados, a volumosa incidência de pequenos delitos, bem como a onda
de violência cotidiana suscitava insegurança e aflição. Por conseguinte, levava
à exigência - por parte de determinadas esferas das classes proprietárias, da
classe média e mesmo do operariado - de que fosse dilatado o contingente
policial. Nesse sentido, um novo fragmento das classes destituídas era
sopesada como sendo violenta, temível e sem qualquer apreço pela legalidade.
A disseminação de formas de desventura urbana cooperava para o avanço
atemorizante dos indicadores de ofensivas noturnas e diurnas, de delinquentes
miseráveis, aos endinheirados e aos pobres. Ressalte-se que a divulgação dos
crimes, veiculada nos jornais acobardava a população, tornando o temor dos
assaltos um sentimento predominante na época (Moura, 1999: 85-102). A
descrição da miséria surgia personificada em crianças pálidas, que eram
exploradas e aliciadas por pessoas imorais que as contaminavam, por vícios e
por ações vis (Boito Jr., 2002). No final da década de 1910, o industrial Jorge
Street, via - por oposição ao trabalho infanto-juvenil - a convivência das ruas,
que considerava cheia de perigo, como oportunidade ímpar para que as
crianças ficassem predispostas às seduções e aos vícios, engrossando ainda
mais o número de abandonados e delinquentes de pouca idade (Marcovitch,
2003).
Termos como ociosidade, vício, delinquência e crime surgiram como
30
expressões que caracterizavam um contingente da grande massa urbana
que ocupava a rua, o espaço público coletivo e difuso porque, segundo Moura
(1999: 85-102), aglutinam e ao mesmo tempo excluem, sob seu significado,
uma extraordinária gama de personagens que se inserem na sua própria
dinâmica de forma diferenciada. A rua tornava-se sinônimo de pobreza,
inaugurando uma modalidade de delinquência identificável. Seus limites foram
estabelecidos pela referência ao crime e à delinquência com os quais
frequentemente se confundiam.
A evolução do processo industrial, as novas transformações oriundas
dele e o aumento da urbanização propulsaram as redefinições das ideias que
guiariam a política brasileira no final do culo XIX e nos anos subsequentes
do século XX.
Juntamente com a euforia nacional pela industrialização, a mencionada
redefinição dos espaços sociais re-alocou os milhares de trabalhadores, o
grande contingente de reserva de mão-de-obra, nas periferias dos centros
urbanos, tornando-os vítimas de circunstâncias materiais precárias, fato esse
que ampliou os focos de doenças e o surgimento de endemias e epidemias.
O processo de transformação da produção, que teve como centro a
economia cafeeira e a implantação da indústria, operou no Brasil a redefinição
da estrutura social, com o aparecimento de uma nova classe de trabalhadores,
cujos interesses definiriam sua oposição à força política dominante. A
organização progressiva da ordem interna, fundamentada na indústria, definiu,
principalmente nos centros urbanos mais desenvolvidos, os interesses
contraditórios referentes às elites proprietárias e aos trabalhadores. Essas
elites eram formadas por industriais, banqueiros, comerciantes, proprietários da
matéria prima e do capital. Os trabalhadores eram constituídos por operários
pobres, ferroviários, portuários e aqueles ligados a serviços em geral (Luz,
1975).
Data desta época a afluência sensível de trabalhadores do campo para a
31
cidade. Os resultados desse processo migratório tornaram-se mais cruciais
a redefinição do espaço público e a demarcação territorial da população, no
processo das denominadas “reformas urbanas” realizadas no final do culo
XIX e nas primeiras décadas do século XX. Esses programas poderiam ser
caracterizados como operações radicais de superação da forma urbana
colonial, na reprodução da forma urbana capitalista avançada nas cidades
brasileiras. Ou, ainda, como mais um exemplo de imposição autoritária das
práticas higienista, reflexo da nova lógica impressa à saúde pública, introduzida
pela racionalidade moderna, como havia ocorrido em outras cidades
mundiais.
O ingresso na vida urbana definia, por conseguinte, o acesso e a
participação do contingente laboral na produção. Este processo ocorria através
da especificação dos espaços e de sua qualificação, por meio de um programa
audacioso de modernização de recursos, que incluía a construção de rodovias
e, simultaneamente, a dilatação da transmissão e da distribuição de energia
elétrica.
A sociedade brasileira, já remodelada nesse processo de transformação,
amparou suas bases sociais e políticas constitutivas nas premissas do ideário
liberal, assimilando os modelos e práticas internacionais de representação da
realidade social. Sob o signo dessa participação, o Brasil incorporou a
experiência da racionalidade capitalista, no que se refere aos mecanismos de
controle do operariado urbano, definindo programas de intervenção e de
disciplina aos referidos contingentes populares, nos mesmos marcos do
empreendimento europeu. Referendando-se sobre as pesquisas científicas
desenvolvidas na Europa, foram criados modelos análogos para a educação e
a saúde, cunhando-se aqui um modelo peculiar de autoritarismo.
Nessa conjuntura, que se mencionar a preocupação com o controle
de doenças infecto-contagiosas, como a tuberculose e a peste bubônica. A
partir do culo XX, os debates apresentavam novas teses fundamentadas no
espectro da doença social. Para se ter a real dimensão das novas variáveis
sociais que estavam surgindo, convém que se coloque uma questão essencial:
32
como a pobreza era vista? Na perspectiva do ideário dominante,
representado pelo discurso médico, com o concurso de dados estatísticos,
atribuía-se à pobreza a responsabilidade pela incidência de doenças, por sua
incapacidade física e moral, e as suas precárias condições de vida.
As referidas teses, apoiadas nos princípios do Darwinismo Social,
relacionavam a pauperização popular à ausência de higiene, em razão da
qualidade de seus recursos ou de sua opção de vida. Sob esses argumentos
ficavam neutralizados quaisquer compromissos sociais do Estado com políticas
de qualidade que, pelo menos, minimizassem o padrão de vida dessas
populações e o aprofundamento das desigualdades entre as classes, o que se
processava rapidamente.
1.2 - A ideologia do Higienismo
O ramo da medicina que se ocupou da descrição e redescrição dos
objetos sociais atinentes a essa modalidade de controle foi cunhado de
"Higiene" (Gondra, 2000). A Higiene ou o Higienismo configurou-se como um
campo ideal de intervenção das elites dominantes sobre as camadas
populares, vinculando-se à necessidade de mudança de hábitos relativos ao
trato do corpo (de mulheres, homens e crianças) e dos espaços (cidade,
moradia, escola e instituições). A ênfase viria recair sobre a necessidade de
combater as práticas não consagradas pela ciência no trato da saúde. Tal fato
determinaria, por conseguinte, o surgimento de uma política médica, no século
XIX, isto é, uma política geral de saúde, na qual a ação médica, na sociedade,
estaria amparada em amplos estudos e pesquisas das relações entre doença e
meio.
O debate sobre a questão da saúde pública no Brasil introduziu-se pela
filantropia de Clemente Ferreira, médico tisiologista paulista, no atendimento às
pessoas com tuberculose em suas próprias casas, pois não havia hospitais
para elas. Porém havia, ainda, o problema dos filhos do doente, em constante
perigo de contaminação pela convivência com os pais, o que acrescentava um
problema a mais a ser equacionado pela saúde pública.
33
Na última década do século XIX, houve uma "epidemia de urbanização",
principalmente, na cidade de São Paulo. A cidade que possuía 65 mil
habitantes, em 1890, passou para 240 mil, em 1900 (Ribeiro, 1993). Os
migrantes, em sua maioria, não encontravam condições de moradia dignas,
graças ao fato de que a infraestrutura da cidade não acompanhava o fluxo
migratório decorrente, sobretudo, do êxodo rural. Os migrantes passavam a
morar em cortiços insalubres e sem higiene nas periferias da cidade (Ribeiro,
1993).
Nos bairros mais pobres, eram altos os índices de febre tifoide,
disenteria, sarampo, lepra, meningite-cérebro-espinhal e tuberculose (Decca,
1987) e as condições de higiene e saúde eram precárias e insuficientes. Era
necessário correr contra o tempo, evitando-se uma situação calamitosa.
Em 1899, o debate higienista voltou-se para a questão da limpeza
pública, em virtude da epidemia de peste bubônica e da tuberculose que
assolavam a população, tendo identificado, como o principal mecanismo/cadeia
de transmissão, a seguinte sequência: sujeira/rato/pulga/peste. O debate
higienista atribuía a proliferação das doenças à falta de limpeza pública e de
remoção de lixo. Entendiam os higienistas que este panorama de sujeira
acumulada nas ruas e nos terrenos baldios dos bairros pobres atraía ratos e
desencadeava, consequentemente, inúmeras doenças.
O medo às doenças epidêmicas provocou uma tomada de posição por
parte das elites dominantes, que logo se engajaram em movimentos de
assistência científica. No contexto desses acontecimentos, surge a
necessidade de se encontrar uma saída para conter ou pelo menos minimizar a
propagação destas doenças. Uma das prioridades era conter a “peste branca”,
responsável pela maior parte de óbitos registrados entre as camadas sociais
mais pobres da cidade.
A partir da indicação desses elementos conjunturais da realidade
brasileira, torna-se possível compreender porque as doenças infecto-
34
contagiosas tornaram-se objeto de controle ostensivo. A concepção de "mal
social" apresentava-se de forma significativa no imaginário coletivo, graças aos
processos de divulgação e vigilância impostos pelos médicos que acabavam de
consolidar seu campo de atuação na esfera político-administrativa. Mediante a
criação de um discurso próprio, estes atrelariam a si todas as decisões do
governo que dependessem desse "saber-poder". Esse fato, que resultou em
uma forte estigmatização da pobreza, trouxe como desdobramento a presença
incisiva de higienista, policiando a vida da rua, os espaços das casas,
buscando identificar perversões e catalogá-las.
Era necessário estimular o saneamento e o controle das ‘populações
perigosas’ para fazer surgir uma nova sociedade, nos moldes idealizados pelas
classes dominantes, pois, para estas, as grandes aglomerações e a
urbanização eram os responsáveis pelas doenças infecto-contagiosas.
Apesar desta associação das doenças às condições de vida, o Estado
exerceria sua intervenção no sentido de medicalizar os efeitos e o as
causas. Percebe-se que as orientações para o controle das doenças infecto-
contagiosas eram um tanto inócuas, reduzindo-se à interdição dos doentes e
de seus familiares. É interessante ressaltar que a “epidemia dos pobres”,
conforme o discurso higienista, vitimava pessoas que trabalhavam em
profissões desqualificadas, tais como: empregadas domésticas, operários,
comerciários, costureiras e cozinheiras.
Os médicos higienistas haviam se tornado, com o passar do tempo, os
porta-vozes mais expressivos da higienização social quer na Europa, quer no
Brasil. Utilizavam mecanismos suscitados pela "peste" para propor o
internamento para os doentes, o que representava não mais que a exclusão,
aludida, pela utilização do mecanismo de exílio, entendido pelo discurso
higienista, como o meio mais eficaz de purificação do espaço urbano. A
medicina da época apregoava a internação. Medicamentar significava tirar a
pessoa de circulação e, consequentemente, purificar o espaço urbano
(Foucault, 1995).
35
Essa política médica, entre diferentes ocorrências, possibilitaria não
o controle coletivo da higiene, mas também uma técnica científica de cura.
Contudo, desenvolveria igualmente uma forma mais perspicaz, voltada para
outros domínios, que se desdobravam sobre o orgânico, o biológico e sobre os
espaços naturais. Diversamente da disciplina que se dirige ao corpo, esta outra
forma iria dirigir-se à pluralidade dos homens. A nova ingerência saneadora
processar-se-ia sobre todo o conjunto de acontecimentos que incapacitassem
os indivíduos à produção, tais como senilidade, anomalias e doenças. Sua
preocupação estava também voltada para o domínio da população e para o
estudo dos agentes que, sob controle social, poderiam aprimorar ou
depauperar as características das vindouras gerações, seja física ou
mentalmente (Goldim, 1998:1).
Esta posição nem sempre foi pactuada com a população. Cabe lembrar
que o conhecimento científico vai aonde a classe capitalista permite, porque
a dominação de classe tem a capacidade de impor-se às demais através do
seu aparato repressivo, poder econômico e cultural. Quando um saber surge
no seio das classes laborais na tentativa de negar a hegemonia burguesa, esta
última se arma para defender seu poderio econômico, político e, sobretudo,
cultural e ideológico.
Para coibir o avanço das epidemias foram tomadas medidas práticas de
higienização. Com base nos relatórios realizados pelo Serviço Sanitário sobre
doenças infecto-contagiosas, em São Paulo, surgiu a ideia da construção de
sanatórios, como medida preventiva ao serviço da saúde pública para tratar de
tuberculosos e outros enfermiços (Ribeiro, 1993). O sanatório passou a
representar, assim, um meio para solucionar o problema do medo da
contaminação de doenças e por isso configurou-se como o lugar da interdição,
por excelência.
O Estado dava frequentemente mostras de sua preocupação com a
questão sanitária, de tal sorte que (...) o governo do Estado de o Paulo
nomeou um médico, Victor Godinho para estudar, na Europa, os diversos tipos
de sanatórios. Na Alemanha onde existiam 64, o maior número de sanatórios,
36
dispondo de 5.571 leitos para pobres (...) (Ribeiro, 1993: 126). Os
sanatórios, nesta época, tinham dupla função: isolar as doenças e fontes de
infecções da população em geral e fortalecer os doentes com repouso e dieta
apropriada.
Foi por essa época que se institucionalizou o movimento higienista com
matizes eugênicos. Este movimento para institucionalização do higienismo
nasceu de um pequeno grupo, em termos numéricos, formado por médicos em
sua maioria, além de alguns eruditos para os padrões da época.
Institucionalizaram-se, no Brasil, através da Sociedade Eugênica de São Paulo,
fundada pelo médico Renato Kehl, em 1917, sob o patrocínio do então diretor
da Faculdade de Medicina de São Paulo, o prof. dr. Arnaldo Vieira de Carvalho.
A Sociedade Brasileira de Higiene foi fundada em 1923, sendo a grande
maioria de seus membros pertencentes ao departamento de Saúde Pública e a
outras instituições da área, de vários estados brasileiros. Deve-se atribuir uma
importante projeção à Liga Brasileira de Higiene Mental (1923-1947), também
fundada em 1923, no Estado do Rio de Janeiro, pelo psiquiatra Gustavo Riedel,
após o mesmo ter sido agraciado com o Grande Prêmio da Exposição
Internacional de Higiene de Estrasburgo.
Estas agremiações tinham suas delegações em vários estados
brasileiros e seus integrantes, em geral, pertenciam a várias destas
sociedades. Um olhar atento à duração temporal destas associações indicará
que existiram durante um tempo relativamente curto e com algumas
dificuldades financeiras para se manter. Entretanto, este grupo de intelectuais
corporificou as ideias dominantes na sociedade brasileira do final do século XIX
e início do século XX. A não ser no caso da Sociedade Eugênica de São Paulo,
o encerramento das demais associações ocorreu a partir do encerramento de
suas publicações.
A eugenia visava à utilização de um conjunto de métodos que
melhorassem o patrimônio genético de determinados organismos vivos (Faria e
Veiga, 1999). Quando este ideário encontrou eco nos interesses estatais, o
37
olhar higienista e, em alguns casos, eugênico, passou a estar presente no
trabalho de médicos, de engenheiros, de antropólogos, de juristas e de
intelectuais que se vincularam à causa.
No Brasil, ao longo do século XX, a formulação e a implementação de
políticas de controle das doenças infecto-contagiosas foram assumidas por
instituições estatais e filantrópicas que atuavam, de forma diferenciada, no
decorrer do período.
A Reforma Carlos Chagas, em 1920, que deu origem ao Departamento
Nacional de Saúde Pública, inaugurou uma fase de maior intervenção do
Estado no combate às doenças infecto-contagiosas, criando Inspetorias de
Profilaxias. No Distrito Federal, tanto o poder público quanto as entidades
filantrópicas ampliaram a disponibilidade de atendimento, organizando
enfermarias e dispensários.
A mortalidade causada pelas doenças infecto-contagiosas na cidade de
São Paulo, entre 1925 e 1929, atingiu mais de mil óbitos e isto representava o
dobro dos índices levantados no período de 1910 a 1914. Isto se devia a
deterioração das condições de vida, em geral e à gritante pauperização da
população da capital. A incidência das moléstias estava atrelada às péssimas
condições de habitação da população pobre (Ribeiro, 1993).
Pactuando com o ideário higienista, que no Brasil expressava-se pelo
rótulo de ‘assistência científica’, os médicos higienistas - dentre eles: Clemente
Ferreira, Afrânio Peixoto, Adolfo Lutz, Carlos Chagas, Edson Dias, Emílio
Ribas, Henrique Figueiredo de Vasconcellos, João Florêncio de Sales Gomes,
Lemos Monteiro, Miguel Couto, Oswaldo Cruz e Vital Brasil - deram mostras do
teor do compromisso histórico com uma modalidade de exclusão referenciada
à saúde, através da qual o controle social começou a aprimorar-se.
A campanha contra as doenças infecto-contagiosas revestiu-se de uma
fisionomia de 'caridade cristã' exercida pela elite dominante, que apregoava
sua devoção aos pobres enfermos, colocando as crianças, filhas destes
38
enfermos, em “quarentena profilática” (leia-se asilo).
Na formulação desses espaços de “quarentena”, a concepção de
assistência científica, elaborada no início do século XX, pressupunha que o
atendimento aos pobres deveria ser feito sem muito ônus. A educação
assistencialista fomentava uma pedagogia de submissão, que intentava
subjugar os pobres à exploração social.
1.3 - As Práticas da Medicina Social
A partir do final do século XVIII, os dicos passaram a influenciar na
definição dos espaços de circulação das pessoas, como se afirmou
anteriormente. Para isso, formularam quatro condutas de cunho altamente
ideológico: a primeira, dizia respeito às localizações; a segunda, reorganizava
as formas de coexistência; a terceira, dispunha sobre as moradias; e, a quarta,
referia-se aos deslocamentos. Tudo visando ao controle social das camadas
pauperizadas da população.
Convém ressaltar os três grandes objetivos dessa medicina. Primeiro,
analisar no espaço urbano, as fontes de doenças e os lugares de formação e
difusão de fenômenos epidêmicos ou endêmicos, os cemitérios - nesta época,
como decorrência, tem início a prática da organização das sepulturas
reservadas às famílias, com a individualização do caixão. Segundo, controlar a
circulação, não dos indivíduos, mas dos elementos, essencialmente a água e o
ar, porque estes eram considerados fatores patogênicos e necessitavam ser
mantidos sob vigilância - foi quando se iniciou a preocupação com a qualidade
do ar e com os corredores de água. Terceiro, distribuir a sequência dos
elementos necessários à vida comum, tais como fontes, esgotos ou barcos
bombeadores de água.
Desta forma, os espaços comuns, os lugares de circulação, os
cemitérios, os matadouros foram sujeitados por um controle dico - sanitário.
Para cada situação relativa à higienização, os peritos médicos eram
consultados. Cabe admitir, que a medicalização da cidade, a partir do século
39
XVIII, não era na realidade uma medicina dos homens, corpos ou
organismos, mas das coisas, tais como o ar, a água, as decomposições, os
fermentados. Essas ações eram voltadas ao controle das condições de vida e
dos meios de existência. No final do século XIX, resultante da evolução dos
preceitos, já era possível o "controle dos pobres" então identificados como
elementos perigosos. Esse controle motivou o surgimento, na Inglaterra, da
chamada "Lei dos Pobres". Convém lembrar que se vê, na legislação médica, a
política da transposição do grande problema da burguesia dessa época: a que
custo e em que condições e como assegurar sua segurança política a partir
dos preceitos higienistas (Foucault, 1995).
A evolução dessa modalidade de medicina social e o surgimento do
hospital, analisado por Focault, permitem afirmar que se tornara necessária,
para a garantia da tranquilidade das elites dominantes, a institucionalização de
uma organização disciplinar sutil, eminentemente política, capaz de estabelecer
total vigilância sobre a ocupação espacial dos indivíduos, acompanhada de um
controle, não dos resultados, mas do processo propriamente dito. Daí o fato do
surgimento de um acervo normativo que dispunha de sistemas de registros de
teor classificatório e combinatório. Sua prática consistia em distribuir os
membros da sociedade em função de origem e classe social nos espaços
urbanos, segundo os critérios oferecidos pela medicina, além de julgá-los,
medi-los, localizá-los e utilizá-los ao máximo.
Entre o final do culo XIX e início do XX, foram criadas inúmeras leis e
proliferaram-se instituições sociais nas áreas de educação e saúde pública com
um novo modelo de instituições jurídicas, sanitárias e educacionais que
substituíram as tradicionais instituições hospitalares e carcerárias do antigo
regime. A prática da medicina higienista conquistava, nesse período, um
espaço de poder político que consistia em distribuir os indivíduos, isolá-los e
vigiá-los, isto é, interná-los. A política médica infiltrava-se e beneficiava-se das
mais diversas instâncias do poder do Estado para por em execução essas
medidas preventivas.
Ganharam novos significados as palavras caridade e filantropia
40
(Kuhlmann Jr., 1998). Caridade é a virtude cristã essencial, consistindo no
preceito cristão fundamental de amar o próximo como a si mesmo e Filantropia
é a atitude de benevolência do ser humano (Abbagnano, 1996).
Os higienistas estavam convencidos do quanto era benéfico para
crianças pobres a internação. Nesse momento, suas preocupações estavam
voltadas às questões da infância e afirmavam, assim como os médicos
europeus de seu tempo: A proteção à infância não é só uma questão de
humanidade, é uma questão de patriotismo (Oliveira, 1957).
A história da educação infantil desta época exibe um processo
contraditório em que propostas ambíguas deixam entrever as vicissitudes
existentes nas instituições educacionais para as crianças que pertenciam aos
segmentos mais pobres da população, em geral, filhas de trabalhadores. Nesse
sentido, vale observar como a filantropia converteu-se em forma pedagógica,
na qual preponderava uma concepção educacional emblemática no tocante à
pobreza e, consequentemente, desobrigada de um atendimento de qualidade
(1998).
No final do século XIX, as instituições de educação popular foram
impulsionadas, inserindo-se em um contexto maior do que os sistemas
escolares, abrangendo as creches e pré-escolas, as escolas
profissionalizantes, a educação de jovens e adultos e o ensino primário. Essas
entidades, declaradamente destinadas às classes pobres, voltavam-se para o
atendimento aos mais necessitados e incapazes, tendo por objetivos explícitos
disciplinar e apaziguar as relações sociais.
A pedagogia dos estabelecimentos educacionais para os despojados era
uma pedagogia de submissão, uma educação assistencialista assinalada pela
soberba que degrada para depois proporcionar o atendimento como oblação,
como obséquio aos poucos escolhidos para auferi-la. Uma educação que partia
de uma compreensão não isenta da indigência e que, através de um
acolhimento de qualidade abominável, almejava aparelhar os acolhidos para
conservarem-se no ambiente social que lhes estaria reservado (Kuhlmann Jr.,
41
1998: 182-183).
Um grande exemplo da pedagogia da submissão transparece no
Instituto João Pinheiro, em Belo Horizonte, um asilo que pretendia preparar os
pobres para aceitar a exploração social, reforçando a noção de que o
atendimento à pobreza deveria ser feito sem grandes investimentos. Seus
fundadores queriam criar certos hábitos nas crianças de tal sorte que estas se
conformassem com sua condição: propunham que aceitassem roupas simples,
moradia despretensiosa e alimentação de baixo custo, para, ao sair do
Instituto, irem trabalhar no campo, sem aspirações e hábitos burgueses (Faria
Filho, 2001).
42
II. A INTERVENÇÃO SOCIAL E A INFÂNCIA
2.1 – História da infância europeia institucionalizada
Para esclarecer o conceito de internamento de crianças pobres foi
necessário contextualizar brevemente a história da infância na Europa e no
Brasil, lembrando que o sentimento de infância, de preocupação e investimento
da sociedade e dos adultos no cuidado de crianças, de criação das formas de
regulação da infância e da família o representações sociais que surgiram
com o advento da Modernidade ocidental e a partir das racionalizações
efetuadas pela burguesia europeia. Os reflexos das mesmas estarão presentes
no Brasil, em período posterior, a partir da vigência do Império.
Foi o historiador Philippe Ariès quem analisou com profundidade a
questão da instituição da imagem social da infância, estabelecendo os marcos
desse desvendamento e dessa compreensão no processo histórico. Ariès
busca o pré-estabelecimento da origem da mesma enquanto representação
social. Assim, para reconstituir a trajetória da história da inncia e a vida
familiar muitas foram as variáveis escolhidas para o testemunho da narrativa
empreendida. Sua análise percorreu as artes, os jogos, o vestuário e a escola.
Esta análise foi marcada pela intenção de captar um momento em que, na
racionalização das práticas cotidianas, irrompe a configuração da infância nos
moldes atuais. A nova metodologia por ele proposta contribuiu para alargar a
noção de documento histórico para fontes que pudessem servir de testemunho
para a descrição de um fenômeno em uma época determinada.
Convém ressaltar que foi Foucault que identificou na história ocidental
um ponto de inflexão: o surgimento de uma nova racionalidade política, no
interior da qual se desenvolveram estratégias de ação com a finalidade de
estabelecer uma organização da sociedade, que tornasse livre de ameaças o
novo contingente dominante - a burguesia. Trata-se do Liberalismo. A aludida
racionalidade não se configura como uma teoria, nem como uma ideologia,
43
(entendida como o modo pelo qual a sociedade se representa), mas como
uma prática, uma maneira de fazer” orientada para objetivos e regulada por
uma reflexão contínua que se repensa e aprimora-se constantemente. O
liberalismo se configura também como um princípio e um método de
racionalização do exercício da arte de governar que, segundo Foucault, é uma
atividade que consiste em dirigir a conduta dos homens em quadros
(enquadramentos) fazendo uso de instrumentos estatais.
Estudando, sobretudo, os quadros e a iconografia da época, Philippe
Ariès identificou os momentos referentes à construção da identidade
sociohistórica da infância: o primeiro, relativo aos séculos XIV e XV, quando
havia o que ele denominou de infância negada, inexistindo, portanto, como
uma identidade social distinta daquela do adulto. Esse período ficou então
definido pela ausência de referência à infância, o que significa dizer que não
havia evidências de sentimentos de afeto específico pelas crianças e que,
frequentemente, estas eram abandonadas ou desprezadas.
Na análise de Ariès encontra-se uma discussão consagrada à família.
Em primeiro lugar, ele toma a iconografia e demora-se na identificação das
imagens. Na Idade Média, a representação da família vincula-se ao trabalho,
porque a vida privada é, sobretudo vinculada a um ofício. Após o século XV, a
criança faz o seu aparecimento, sendo representada com sua família, em
momentos íntimos: no lavabo, no berço e em cenas domésticas, em geral. Por
último, ele se interessa pela descrição do sentimento familiar, partindo da
indicação de que na família medieval as crianças eram enviadas para o
convívio com outras famílias, com a finalidade de serem assim educadas.
Nessas condições, tornava-se muito mais difícil a emergência de um
sentimento familiar.
Seguidamente, Philippe Ariès mostra que, ao longo da Idade Média, a
representação da criança como ser cognoscente e particular com necessidades
de cuidados específicos, praticamente não existia, fato observável na
iconografia até o século XVII. O que ele notou é que as crianças eram
representadas apenas sob a forma de adultos, reproduzidos em menor escala.
44
A arte recusava a morfologia infantil registrando essa ausência.
A questão central do autor residia na indagação e no consequente
desvendamento, sobre a transição dessa referida ausência de representação
da criança na Idade Média, para o lugar tão preponderante que passou a
ocupar nas sociedades atuais. A partir do século XVII, Philippe Ariès detecta na
arte sinais denotadores de um lugar à parte atribuído à criança. Observou que
a criança Jesus, a partir do século XVII, torna-se tema recorrente na pintura.
Para o autor, este sinal constitui a manifestação de um prenúncio na
consciência coletiva, do progresso de redefinição do sentimento sobre a
infância. No culo seguinte, uma novidade aparece: a criança passa a ser
representada sozinha, tornando-se o centro de interesse do artista. Assim, a
novidade residia na distinção de crianças em relação aos adultos e a
indumentária infantil tornou-se específica como símbolo da distinção entre eles.
Entre os séculos XVI e XVII ocorreria uma nova representação da
infância caracterizada pela trilogia: “criança-filho-aluno”, ou seja, a criança
sendo vista como um ser cognoscente, o qual deveria ser encaminhado para
um local de aprendizagem. A saúde e a educação da criança passaram então a
se constituir em preocupações essenciais dos adultos, porque com a
convivência familiar estabeleceu-se o lugar da afeição entre pais e filhos. Os
pais passaram a se interessar pelos estudos de seus filhos e os
acompanhavam com intensidade.
Áries discute sobre a “vida escolar", interessando-se pela criança, agora
como aluno. Explica que, na Idade Média, as crianças de todas as idades eram
reunidas em uma mesma sala: a graduação e a seriação nos programas não
existiam. No culo XVII já há ensino escolar e é por ele que a população
instruída será formada no Antigo Regime. É igualmente no século XVII que
aparecem as classes escolares, dirigidas por um mestre, respondendo a uma
necessidade de instrução. Por esta época, a escola representava um momento
de passagem, porque ao ingressá-la a criança entrava propriamente na vida
adulta. A infância, nesse processo, foi tornando-se o centro do interesse
educativo dos adultos, ao mesmo tempo em que se desenvolviam sentimentos
45
de afetividade, cuidados, reconhecimento e continuidade da família. A
escola instituiu-se como um lugar privilegiado da educação, cabendo-lhe o
papel disciplinar por excelência.
Philippe Ariès interessa-se também pela história dos jogos quando
insiste na importância da dança e da música na vida diária. Nos séculos XVII e
XVIII, os jogos passaram a ser considerados como essenciais para preservar a
moralidade da criança e para educá-la. Ariès sublinha a evidência de um
sentimento de cuidado da infância, quando identifica a passagem de uma
ausência de pudor relativa à criança para o estabelecimento de um padrão de
inocência. Até o fim do século XVII, os adultos não se importavam em realizar
práticas sexuais na presença de crianças e, mesmo, de tocar, por graça, as
partes genitais destas. Após o século XVII, um pudor instala-se, por exemplo,
nos colégios jesuítas. Esse sentimento de respeito desloca-se rapidamente
para a noção de inocência infantil. Os jogos sexuais tornam-se, assim
suspeitos para a preservação da moralidade das crianças, sendo evitados.
No século XVII, a iniciação da criança no universo cristão através da
primeira comunhão constitui a grande festa religiosa da infância e é, aao fim
deste século, a manifestação mais visível desse novo sentimento.
Para Ariès (1981), nos séculos XVIII e XIX, a escola enclausurou uma
infância, anteriormente livre, num regime disciplinar cada vez mais austero, o
que implicou no confinamento absoluto no internato
3
. Philippe Ariès interessa-
se, então, pelo colégio interno, entendido como a gênese do que viria a ser no
futuro, o asilo para as crianças pobres.
Neste período, duas ideias novas surgiram ao mesmo tempo: a noção
da fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres
sobre as mesmas. As três características do sistema disciplinar da época
marcavam um novo domínio e o controle sobre a inncia: a vigilância
3
Entre os dados identificados por Áries, um bastante significativo que cabe menção,
relacionado à mortalidade infantil. Esta era considerada natural, haja vista o alto índice de óbitos e a
crença de inexistência de “alma” na criança. Os fatores dessa reincidência da morte prematura
encontram-se nas precárias condições de higiene e saúde.
46
constante, a delação assentada em princípios do governo das instituições, e
o emprego extenso de castigos corporais para os que transgredirem as regras.
A camaradagem escolar era contestada e a juventude foi reorganizada sobre
preceitos de comandos autoritários (Ariès, 1981).
Entre o final do culo XIX e início do XX, foram criadas inúmeras leis e
proliferaram-se instituições sociais nas áreas de educação e saúde pública com
um novo modelo de instituições jurídicas, sanitárias e educacionais que
substituíram as tradicionais.
2.2 – História da infância brasileira e de sua institucionalização
A história do atendimento institucionalizado à infância brasileira pode-se
dividir em fases: uma que vai da conquista do Brasil pelos portugueses, da
colonização, da monarquia, da república, até os momentos atuais.
Da conquista do Brasil pelos portugueses
Esta fase desvenda fatos complexos e conflitantes, conforme Baptista:
(...) os portugueses formularam um projeto de exploração das
novas terras e de aculturação de seus moradores, quando
chegaram ao Brasil, no século XVI, e depararam com as nações
indígenas que ocupavam o território. A estratégia incluía a vinda
dos jesuítas para catequizar os nativos e facilitar a colonização.
Diante da resistência dos índios à cultura europeia e à formação
cristã, os padres resolveram investir na educação e na
catequese das crianças indígenas, consideradas "almas menos
duras”.
Muitas dessas crianças eram deliberadamente afastadas de
suas tribos: entre 1550 e 1553 foram criadas as "Casas de
Muchachos" (...) custeadas pela Coroa Portuguesa. Essas
casas abrigavam os "curumins" ou "meninos da terra" (...) (2006:
25).
47
Colonização
Durante o período da possessão, o amparo à criança abandonada no
Brasil tinha por padrão os assentamentos de Portugal e era previsto nas três
Ordenações do Reino: manifestamente, era encargo das Câmaras Municipais
procurar os recursos para criar as crianças sem família, sendo forçadas a lhes
dedicar um sexto de seus emolumentos papel que volta e meia era
desempenhado a contragosto, com evidências de omissão, oposição, descuido
e falta de interesse: restringiam-se a pagar quantias insignificantes às amas-
de-leite para lactar e criar as crianças ou delegavam serviços especiais de
proteção a diferentes instituições, mormente às Santas Casas de Misericórdia.
Foi apenas no século XVIII que surgiram as primeiras instituições de
proteção à criança abandonada. Foram implantadas as três primeiras ”rodas de
expostos” em terras brasileiras — em Salvador (1726), no Rio de Janeiro
(1738) e em Recife (1789). Esse tipo de atendimento à infância, ao final do
século XIX existiu, institucionalmente, nas chamadas “casas dos expostos” ou
Roda, preceito idealizado na Europa medieval e que, no Brasil, foi abolido
apenas no decênio de 1950. Tratava-se de um recinto onde eram abandonadas
as crianças indesejáveis
4
.
Marcílio (2003, p. 55) nos conta que a quase totalidade destes pequenos
expostos nem chegavam à idade adulta. A mortalidade dos expostos,
assistidos pela roda, pelas câmaras ou criados em famílias substitutas, sempre
foi o mais elevado de todos os segmentos sociais do Brasil incluindo neles
os escravos. É importante assinalar que não era comum, nessa época, as
crianças africanas ou descendentes de africanos ficarem expostas: elas tinham
um valor de mercado, eram propriedade daqueles que as haviam adquirido ou
a seus pais, para serem seus escravos (Baptista, 2006: 26).
4
A Roda no Brasil foi uma expressão cunhada por Romão de Mattos Duarte no período imperial.
No geral, as Rodas surgiam nas Santas Casas de Misericórdia. Transformando-se com o tempo no
arquétipo do atendimento beneficente à infância, ministrado por ordens religiosas, que circunscreveu a
história da criança, em vigor até o final do século XIX no Brasil (Rizzini, 1997).
48
A história do abrigamento, no contexto da história da educação da
infância brasileira, teve seu desenvolvimento vinculado ao programa caritativo
do laicato católico, através do chamado "apostolado social". O "apostolado
social" possibilitou a criação de "instituições corporativistas" sujeitas ao controle
da hierarquia católica (Kishimoto, 1988).
Nesse período, as meninas órfãs contavam com recolhimento em
instituições asilares religiosas (Rizzini, 2004) e, para os meninos as instituições
educativas apareceram no Brasil colonial por intermédio dos jesuítas, que
foram os mais importantes agentes educativos do país até a metade do século
XVIII quando foram expulsos do território brasileiro. Convém ressaltar que para
Jurandir Freire Costa, o método utilizado pela higiene não difere muito do
método dos jesuítas:
O aparelho disciplinar jesuítico foi para os colégios o que o
dispositivo médico foi para as cidades. Os elementos básicos da
'redução' jesuítica dos homens encontravam-se na educação
higiênica da infância. As técnicas de adestramento de um e outro
método assemelhavam-se. Tanto a escolha de crianças como
meio de atingir os adultos, quanto o uso do corpo como via de
acesso ao espírito eram idênticos. Os fatores responsáveis pelo
sucesso educativo dos jesuítas foram, talvez, os mesmos
responsáveis pela eficiência da educação médica (1979: 204).
A finalidade original da criação de asilos era cuidar dos ‘menores’
abandonados, órfãos, desvalidos, delinquentes, viciosos e desocupados (leia-
se pobres), pois suas famílias eram inábeis e indolentes para educá-los
(Rizzini, 2004). Estas instituições asilares eram também chamadas de
Preventórios, isto é, lugares de prevenção. Enfatizando a importância da
prevenção aliada às práticas educativas para internados, o discurso dos
envolvidos omitia o caráter político da Instituição, bem como os efeitos sociais
requeridos para atingir os fins institucionais subjacentes: controle e interdição.
Educar sempre esteve relacionado a disciplinar o sujeito, mesmo que
implicasse na utilização de métodos mais radicais, como os castigos físicos
(Rizzini, 2004: 75).
49
O enunciado acima traduz as bases do modelo de internato de ‘menores’
que havia sido consolidado.
No período da monarquia
Com a independência, em 1822, o país sofreu uma "europeização"
cultural significativa, com a introdução de novos hábitos e ideias. Após a
abdicação de Dom Pedro, já sob o "Estado Nacional", buscou-se resolver
questões que passaram a ser centrais, como o repovoamento do país e a
manutenção da ordem pública, pois nas cidades o paradoxo social exigia um
movimento de reorganização. Enquanto trabalhadores pobres (negros forros ou
fugidos, mulatos e outros) não conseguiam penetrar na hermética estrutura
social, uma minoria branca adaptava-se e desfrutava da nova situação urbana.
Depois de proclamada a Independência (1822), as novas
conjunturas políticas e econômicas pressionaram a sociedade
para que fossem enfrentados os problemas da pobreza e da
criança carente. Sedimentava-se a ideia de que o aumento
populacional afetava negativamente o desempenho econômico,
uma vez que a pobreza tornava-se onerosa ao Estado e
propiciava o aumento do número de crianças abandonadas.
Essas ideias desencadearam iniciativas, tanto públicas quanto
privadas, para enfrentar essas questões, efetivando um
processo que gradativamente substituiu a atenção individual pela
asilar, por meio da institucionalização massiva, mantendo, em
condição de órfãos e abandonados, aqueles que, carentes de
apoio familiar, foram assumidos como problemas sociais
(Baptista, 2006: 27).
Em 1828, as obrigações das Câmaras Municipais foram
reformuladas com a Lei dos Municípios, a qual instituía que,
onde houvesse Santas Casas as Câmaras poderiam lhes
transferir oficialmente o seu dever de cuidar dos expostos. É
nesse período que, diante da relutância da municipalidade em
prover as necessidades materiais para os cuidados de crianças
50
e adolescentes desprovidos de apoio familiar, as
Assembleias Provinciais acabaram subsidiando as Santas Casas
para que elas desempenhassem essa função (Baptista, 2006:
27-28).
Nessa época, por ação da Igreja Católica, foram constituídas as Casas
de Recolhimento dos Expostos, estabelecimentos complementares à Roda,
que aceitavam infantes a partir de três anos (antes dessa idade, continuavam
com amas-de-leite assoldadas) até os sete anos, quando eram esquadrinhadas
formas de pô-las em casas de família (Marcílio, 1998: 144). Esse acolhimento
asilar era disposto por meio de separação por sexo e, em muitos episódios,
mediante a circunstância legal havia asilos unicamente para a proteção de
órfãos carentes, filhos de matrimônios autênticos, e distintos para miseráveis,
progênies naturais de genitoras necessitadas ou órfãs desvalidas. Haviam
também segmentações motivadas pelo critério racial, isto é, recintos para
“órfãos brancos” e, outros, para “garotos de cor”.
A regência institucional obedecia ao arquétipo monástico, os exercícios
espirituais e a limitada relação com o mundo externo eram peculiaridades
constitucionais dos colégios para meninos órfãos e das casas femininas, sendo
que, no segundo caso, a encerramento era infligido com maior austeridade
(Rizzini, 2004).
As crianças que moravam nos estabelecimentos de recolhimento dos
expostos não granjeavam educação formal alguma: careciam essas instituições
de planejamentos e escopos educacionais e profissionalizantes. Somente em
1829 foi criado um educandário no Recolhimento da Misericórdia da Bahia
(Marcílio, 1998). Em 1855, uma nova concepção de políticas públicas gerou os
“Asylos de Educandos”, reservados a fornecer ensino profissionalizante em
nove Províncias.
A partir da metade do século XIX, densas transformações advieram na
obra das Misericórdias atinentes às crianças atendidas: o preceito de amas
assalariadas foi extinto, suspeito de ser o agente basilar do elevado indicador
51
de obituário infantil dos expostos; foi adotada uma regra de escritório para
aceitação ampla, que admitia apreciar quem estava oferecendo as crianças; a
faixa etária aumentou, e crianças até sete anos começaram a ser abandonadas
nos acolhimentos de expostos onde antes eram aceitos bebês (Marcílio,
1998). Nesse século, as Casas de Misericórdia foram gradualmente perdendo
sua soberania, ficando a cargo do Estado e sob sua autoridade, que a ele
estavam sujeitas economicamente. É nesse alicerce que se edificaram as
propostas iniciais de políticas públicas voltadas para a criança desamparada.
Por esse período iniciava-se um movimento que partia da ação de
médicos higienistas, visando, através do "saber científico", modificar os hábitos
de higiene dessa população. Esse é o momento, na história do país, em que as
camadas populares foram lembradas e, consequentemente, suas crianças,
pois o ideário que se propagava tinha em sua formulação o pressuposto de que
da formação de um povo brasileiro dependia o desenvolvimento do Brasil.
Surge no Brasil-Império uma nova representação de infância, ao lado da
urbanização, da vida social nos salões e do "nacionalismo". A sociedade,
outrora patriarcal, começa a sofrer abalos profundos. Pode-se, então, observar
que, a partir das condições concretas de cada sociedade, as representações
sobre a infância e os seus cuidados vão se diferenciando, ou seja, em cada
momento histórico a imagem da infância modifica-se, transforma-se. A queda
da qualidade de vida, originada pelo aumento dos problemas socioeconômicos,
refletiu-se numa escalada de criminalidade e massa de miseráveis que
passaram a habitar a periferia das cidades. Isto inspirou a criação do Instituto
de Menores na Casa de Correção da Corte, em 1861, para as crianças e
adolescentes que praticassem "crimes" (Couto e Melo, 1998).
(...) de acordo com os preceitos morais da época, o simples fato
de assobiar ou perambular pelas ruas eram atitudes passíveis de
prisão, pode-se afirmar que o aparato policial passou a ter papel
relevante neste período, e que uma grande parte da população
urbana, principalmente a fadada à pobreza, passou a ser
depositada nas 'Casas de Correção', como eram chamados os
presídios na época (Couto e Melo, 1998: 24).
52
Até o presente momento pôde-se observar que o Brasil notabilizou-se
por possuir uma extensa tradição de internação de crianças e jovens em
instituições asilares, tendo sido o recolhimento das mesmas às instituições de
reclusão o recurso basilar de assistência à infância no país (Rizzini & Rizzini,
2004).
Nos primórdios da república
A proposta assistencial para a infância na Primeira República deriva da
articulação entre forças jurídicas, empresariais, políticas, médicas, pedagógicas
e religiosas.
Nesse final de século XIX e início do século XX novas propostas
pretenderam encontrar solução para os problemas trazidos pelas concepções e
pelas experiências em debate no período anterior. Criaram-se leis e
propagaram-se instituições sociais nas áreas de saúde blica, do direito da
família e do ‘menor’
5
das relações de trabalho, da educação. As instituições
jurídicas, sanitárias e de educação popular substituíram a tradição hospitalar e
carcerária do regime anterior. São iniciativas que expressavam uma concepção
assistencial que era denominada 'assistência científica' - por se sustentar na
confiança no progresso e na ciência característica daquela época (Marzagão-
Silva, 2002).
A influência desse ideário, de origem europeia, ganhou espaço tendo
vigorado nos fins do século XIX, com a introdução de uma prática higienista.
O grande investimento ocorreu sobre a família, produzindo uma idealidade do
modelo familiar, como o lugar de referência para a representação e o
desempenho de cada um, constituindo uma nova forma de racionalização de
espaços e de comportamentos. Através dela, um sistema repressivo e
controlador de caráter ideológico passou a definir e a normatizar os papéis
5
O uso do termo ‘menor’ aspeado se justifica pelo fato da legislação nesta época não ser destina
a regular as relações com crianças e adolescentes em geral mas apenas com aquelas que , por alguma
razão, sofria a ingerência do poder judiciário.
53
sociais e, consequentemente, toda a exigência social relativa à família, quer
do homem, quer da mulher, desde a mais tenra idade.
Nesse período, que se caracteriza pela constituição das instituições
educativas (creches, asilos e jardins de infância) no país, a atenção voltava-se
para o fato de que as concepções médico-higienistas o eram as únicas a
fundamentar o movimento de assistência à infância
6
. Tais interesses eram
sustentados por três influências: a médico-higienista, a jurídico-policial e a
religiosa (Marzagão-Silva, 2002). No final do século XIX, as pessoas
enquadradas na categoria jurídica ‘menor’, produto das três influências
anteriormente citadas, tornaram-se alvo de intervenção, em reformatórios, por
parte do Estado e de setores religiosos e filantrópicos da sociedade civil.
Por volta de 1930, os operários, trabalhadores do incipiente processo de
industrialização que se estabelecia no país, passaram a protestar contra as
precárias condições de vida e de trabalho. Nas grandes cidades, como se
afirmou, não havia uma infraestrutura urbana suficiente atinente ao
saneamento sico. Da mesma forma, as moradias eram precárias, estando a
população mais pobre sempre exposta ao perigo de constantes epidemias e
endemias. A intervenção para conter os surtos epidêmicos passou a ser objeto
de atenção tornando-se cada vez mais frequentes nos discursos dos
sanitaristas preocupados com as condições de vida da população operária.
A importância da concepção médico-higienista na sociedade,
particularmente na assistência à infância pobre, durante as primeiras cadas
do século XX, sopesou a influência de outros pontos de vista. Face à
movimentação operária, existiram situações em que os empresários, a fim de
oferecerem algumas respostas a esses movimentos, começaram a construir
creches e escolas maternais para os filhos dos mesmos. Por essa época , na
educação da infância, a influência médico-higienista se fazia também na
formação de professores, haja vista que os currículos das escolas normais
6
Ainda que este saber estivesse muito presente na constituição das creches e asilos em nosso
país, não se pode caracterizar este período como apenas médico-higienista, apesar deste ter influenciado
a educação e o glossário pedagógico, que por sua vez, espalhou-se pela sociedade (Marzagão-Silva,
2002).
54
incluíam puericultura, psicologia infantil e metodologia pedagógica para
crianças pequenas (Marzagão-Silva, 2002)
7
.
A situação crítica de novas castas sociais causada pelas variantes da
economia, do aumento demográfico, da aglomeração urbana das populações,
do acréscimo dos indicadores de pobreza e sua ascendente visibilidade
colocava em relevo, nos primos anos do século XX, a criança e o adolescente
abandonados, apodados de ‘menores em situação irregular’, ou ‘menores
infratores’, solicitando políticas públicas que respondessem à demanda, tal
como vinha se conformando (Baptista, 2006: 29). Os juristas e os médicos
introduziram uma nova forma de assistência à infância, a qual responsabilizava
as famílias pobres pelo aumento da criminalidade e pelo abandono de crianças;
em vista disso, eles solicitaram a intervenção do Estado para moralizar os
hábitos da população (Couto e Melo, 1998).
Os programas corretivos de intervenção sobre a denominada "questão
social" e sobre a infância miserável vieram acompanhados, desde o século
XIX, por uma produção intelectual preocupada com a infância, principalmente a
pobre. Nos términos desse século e princípios do culo XX, as obras
filantrópicas destinadas a crianças se prolificaram. Foi a partir desse período
que os médicos higienistas e os juristas, entusiasmados pelas ideias
complexificadas pelos Iluministas europeus, passaram a se incomodar com o
tema da criança abandonada e a erigir propostas de reformulação da política
assistencial, realçando a urgência em instituir novas práticas e procedimentos,
com utilização de técnicas ‘científicas’ (Baptista, 2006: 28-29).
Essa influência médico-higienista trouxe consequências ao atendimento
à infância por parte do Estado e da sociedade civil. As instituições escolares,
bem como as novas instituições voltadas para a educação da criança (creches,
jardins de infância, asilos, sanatórios) surgidas no século XIX, começaram a
7
Especialmente, a partir de 1930, a filantropia aspirou aparelhar a assistência dentro das novas
requisições sociais, políticas e econômicas, para acolhimento de crianças pobres. Em razão do
movimento que mobilizava diferentes grupos da sociedade para a proteção de crianças e adolescentes
pobres, grupos de mulheres de classes sociais mais abastadas, organizadas em associações religiosas
ou filantrópicas, entre as quais, a Liga das Senhoras Católicas e o Rothary Club, criaram instituições
asilares, de contorno assistencial.
55
embasar suas ações em princípios científicos disciplinadores voltados para
o enquadramento e o controle social. Esses novos princípios eram produto da
articulação de interesses jurídicos, empresariais, políticos, médicos,
pedagógicos e religiosos das classes dominantes, em torno das três influências
básicas: a jurídico-policial, a médico-higienistas e a religiosa. As referidas
instituições deram, então, início à propagação de métodos de proteção das
crianças - face às "doenças sociais" - e do mundo adulto contaminado pela
"nociva miséria".
Nesse sentido, a história do controle social protocolar da infância como
tática específica, forma um arquétipo paradigmático de construção da forma de
intervir em um conjunto de indivíduos impotentes para quem a proteção, muito
mais que constituir um direito, consistia numa cominação (Costa e Mendez,
1994).
A preocupação observada com a "causa da infância", em função das
denúncias e críticas sobre o abandono físico e moral em que se encontravam
no final do século XIX, não se transformou em ação efetiva na modalidade de
uma política para a infância. Sendo assim, tanto as famílias quanto as crianças
das classes populares continuaram a depender da filantropia para sobreviver.
A República havia herdado do Império muitas dívidas monetárias e
sociais, surgindo a "criança mão-de-obra", produto do aumento da pobreza. As
crianças permaneciam, como desde o início de nossa história, exploradas,
abandonadas e desprotegidas, o que fomentava a prática de atos infracionais
por parte das que precisavam sobreviver em uma sociedade desigual (Couto e
Melo, 1998).
No Brasil, nesses séculos (como ainda hoje), os logradouros achavam-
se apinhados de crianças abandonadas, de órfãos, de escravos, de imigrantes
pobres, por fim, de uma multidão infantil de marginalizados, errantes sem
destino, cujos valores, costumes e condutas eram bizarros ao protótipo
burguês de sociedade. Isto acendeu um anseio concernente à urgência da
moralização do caráter, quer pelo confinamento, quer pela regulação desta
56
população, em face ao temor que a mesma suscitasse inimagináveis
insurreições. Deste modo, esse sentimento em relação à infância pobre,
ocasionou a necessidade de educação e de aumento de escolas para as
massas. A moralização dos costumes, característica dos valores das famílias
burguesas, encentrou-se na figura da mãe e da mulher, considerada
responsável pela aleitação, pelos cuidados e instrução das crianças. Nessa
época, a qualidade sanitária era discutível e as mães criadeiras ou as amas, na
maioria das vezes atreladas à roda dos expostos - recebiam crianças
desamparadas, que frequentemente, não chegavam aos três anos (Baptista,
2006: 27).
A sociedade da época achava que o grande número de mortes de
crianças era devido aos nascimentos ilegítimos e à ausência de educação
moral, física, e intelectual das mães. Os motivos apontados incidiam sobre a
família sempre responsabilizada pela mortalidade infantil. Não eram apreciadas
as condições econômicas e sociais, nem a grande lacuna existente na gestão
da saúde pública e da assistência social.
A intenção, ao tornar a família uma instituição controlada, era atingir todo
o corpo social. Porém, a educação médico-terapêutica familiar não
correspondia de maneira satisfatória a toda prescrição de higiene requerida.
Buscou-se a alternativa do asilo, que possibilitava o controle da criança cuja
estrutura familiar não atendesse a um modelo sancionado socialmente.
O asilo, como mecanismo de controle social, passou a suprir a educação
familiar na sociedade, e era compreensível que este atuasse, também, como
uma instância cooptadora e "construtora" de futuros cidadãos. Ele oferecia, por
sua natureza, múltiplas possibilidades de intervenção, favoráveis aos preceitos
higienistas - não sobre a criança, mas, também, sobre toda a família -
aliando-se à pedagogia médico-educadora.
Nesse período, os asilos para pobres estiveram, portanto, a serviço dos
preceitos higienistas das classes dominantes, ratificando o ideário próprio da
sociedade europeia, em seu instante vigente. Era pressuposto que a atuação
57
sobre a educação da criança possibilitaria o controle da formação do
cidadão, adequado ao imaginário relativo à boa sociedade. Conforme Costa: A
higiene apropriou-se das crianças, separando-as dos pais e, em seguida, (...)
[elas foram] convertidas em soldados da saúde (1979: 204).
Apropriar-se da criança e convertê-la em "soldado da saúde" significava,
entre outras coisas, poder encerrá-la num internato, conduzir sua consciência e
então, submetê-la e moldá-la à disciplina do corpo. Contando com a
colaboração da pedagogia leiga, a higiene garantiu a necessidade dessa
internação. Como autoridades especializadas na distribuição do espaço, com
poder de estabelecer regras de disciplina sobre os corpos, os médicos atuavam
nos “colégios”, utilizando diversas técnicas corretivas. Indica Foucault:
A disciplina às vezes exige (...), a especificação de um local
heterogêneo a todos os outros e fechado em si mesmo. Local
protegido da monotonia disciplinar. Houve o grande
"encarceramento" dos vagabundos e dos miseráveis; houve
outros mais discretos, mas insidiosos e eficientes.
Colégios: o modelo do convento se impõe pouco a pouco; o
internato aparece como o regime de educação senão o mais
frequente, pelo menos o mais perfeito (...) (1999: 122).
O asilo prestava-se, também, para estabelecer, entre outras coisas, a
diferenciação de classes, de gênero e, de certa forma, para a reclassificação
dos sujeitos mediante o controle disciplinador subjacente. A gênese da
pedagogia dessas instituições educacionais para os pobres se apoiava em uma
ideologia que valorizava a submissão o que redundava em uma educação
assistencialista marcada pela arrogância que humilha para depois oferecer o
atendimento como dádiva e favor aos poucos selecionados para recebê-la.
Uma educação que se originava de um entendimento preconceituoso da
pobreza e que, por intermédio de um acolhimento de baixa qualidade, almejava
preparar os atendidos para permanecer no lugar social a que estariam
destinados (Marzagão-Silva, 2002).
A concepção higienista, como a analisava Foucault (1995) informava
58
que as meninas deveriam ser tranquilas e ter boas maneiras. E mais, que
as crianças precisavam ser disciplinadas para ter um adequado
desenvolvimento físico e intelectual. E, para que esta disciplina fosse
alcançada, era necessária a separação por faixa etária e por sexo, seja na
família, seja na escola.
A exemplo do que ocorria na Europa, no Brasil, os asilos atendiam aos
interesses das elites no que se referia aos processos de higienização social. O
pressuposto era que a inteligência infantil estava aberta para receber e aceitar
os preceitos higiênicos e multiplicá-los. Assim, as crianças deveriam
permanecer internadas, saindo nas férias e quando terminassem a
educação, principalmente a educação higiênica. Entre as tarefas educativas
encontravam-se a educação física, a educação moral e a educação intelectual.
As instituições utilizavam-se da disciplina como uma técnica de poder
que implicava em uma eterna e constante vigilância sobre as crianças, com
registro contínuo, tal como havia sido explicitado por Foucault (1995). As
instituições possuíam fins bem definidos: a retirada das crianças do meio
higiênico promíscuo em que viviam, corroborando o caráter de exclusão da
internação.
O pressuposto subjacente à medicalização social era o seguinte: um
corpo disciplinado e contido estaria em sintonia com uma sociedade
disciplinada e contida.
Os internatos de ‘menores’ visavam à educação dos pobres e a
reabilitação dos abandonados, órfãos e delinquentes (Rizzini, 2004). rios
médicos voltaram seus interesses para a criança e estes profissionais
ganharam um papel preponderante nas discussões sobre a criança (Marzagão-
Silva, 2002). Isto foi devido, sobretudo, ao destaque na imprensa e prestígio
pessoal.
As entidades beneficentes dedicadas ao acolhimento de adolescentes,
dada a ampliação da ‘questão social’, passaram a enjeitar meninos ou meninas
59
quando tinham uma história na qual haviam sido acusados judicialmente,
embora em suas instituições houvesse disponibilidade para ‘menores’
encaminhados pelo Estado. Ante a contenda, o Estado teve de criar instituições
públicas de recolhimento. À vista disso, no início do século XX, foram
organizadas as instituições correcionais, para menores de 21 anos e pequenos
pedintes, desocupados, corrompidos, abandonados, maiores de nove e
menores de 14 anos, que deveriam ficar até fazer 21 anos. O recobramento
desses meninos era alicerçado na pedagogia laboral e na guerra ao ócio.
Esses estabelecimentos eram geridos pela concepção de admoestação
preventiva de meninos desvirtuados pelo abandono ou pela nefanda educação
familiar, para o que era considerado imprescindível a existência de entidades
distintas das de caridade (Baptista, 2006: 29).
Aparato jurídico/institucional
As crianças, abandonadas ou em situação de rua, granjearam vultosa
proeminência na sociedade brasileira, nos primórdios do século XX. É visível
que esta ênfase existia, todavia a pujança da urbanização e do capitalismo
industrial arremessou-lhe um julgamento de inquietação. A apreensão com a
infância, no decorrer do culo, toma uma direção diversa, consolidando-se a
convicção do imperativo de proteger o ‘menor’. Fica evidente nos discursos,
nomeadamente jurídico e filantrópico, a divisão entre puerícia moralmente
desamparada e ‘menores’ delinquentes.
No ano de 1920 realizou-se o Congresso Brasileiro de Proteção à
Infância, sistematizando a agenda de proteção social. Em 1923, o Presidente
da República sancionou o regulamento da assistência e proteção aos
‘menores’ abandonados e delinqüentes. Contudo, o digo de Menores
somente foi promulgado em 1927, congregando as visões higienista - de
proteção do meio e do indivíduo - e jurídica, repressiva e moralista (Faleiros,
1995).
Fundamentando-se especialmente nas ideias médico-higienistas, as
ações de assistência infantil encaminharam-se para uma educação moralizante
60
(Couto e Melo, 1998). Assim, o 2º Congresso Brasileiro de Proteção à
Infância, realizado em 1922, destacava, de forma marcante e sistemática, a
discussão de temas educacionais, sem prejuízo de seu caráter assistencial,
ambicionando contribuir para minimizar a pobreza e difundir o pensamento
científico como um modo de educar que almejava a integração à nova
sociedade (Marzagão-Silva, 2002).
Entre 1920 e o fim da década de 1980 criou-se um significativo aparato
jurídico/institucional voltado ao atendimento à infância pelo Estado brasileiro. A
criação de órgãos estatais pró-infância, trouxe poucas ações concretas, apesar
da ampla difusão do ideário higienista de combate à miséria. Segundo estudos
de Marzagão-Silva (2002), essas ações se caracterizaram por seu sustentáculo
científico e implicaram no aviltamento dos que necessitavam de assistência.
Em 1923, sob a influência da primeira “Declaração dos Direitos da
Criança” - chamada também de “Declaração de Genebra” - os médicos e
juristas, que queriam moralizar os costumes da população carente, idearam um
juízo exclusivo para ‘menores’ e obtiveram sucesso na empreitada, com a
criação do Juizado Privativo de Menores Abandonados e Delinquentes pelo
decreto 16.272, sendo nomeado juiz para o Rio de Janeiro o Dr. Mello
Mattos. Postos aqui na grafia original, dizem os artigos 37 e 38 deste Decreto:
Art. 37. É creado no Districto Federal um Juizo de Menores, para
assistencia, protecção, defesa, processo e julgamento dos
menores abandonados e delinquentes.
Art. 38. Ao juiz de menores compete:
I, processar e julgar o abandono de menores, nos termos deste
regulamento, e os crimes ou contravenções por elles
perpetrados;
II, inquirir e examinar o estado physico, mental e moral dos
menores, que comparecerem a juizo, e, ao mesmo tempo, a
situação social, moral e economica dos paes, tutores e
responsaveis por sua guarda;
III, ordenar as medidas concernentes ao tratamento, collocação,
guarda, vigilancia e educação dos menores abandonados ou
61
delinquentes;
IV, decretar a suspensão ou a perda do patrio poder ou a
destituição da tutela, e nomear tutores;
V, praticar todos os actos de jurisdicção voluntaria tendentes á
protecção e assistencia aos menores;
VI, impôr e executar as multas a que se refere este regulamento;
VII, fiscalizar os estabelecimentos de preservação e de reforma,
e quaesquer outros em que se achem menores sob sua
jurisdicção, tomando as providencias que lhe parecerem
necessarias;
VIII, exercer as demais attribuições pertencentes aos juizes de
direito e comprehensivas na sua jurisdicção privativa;
IX, cumprir e fazer cumprir as disposições deste regulamento,
applicando nos casos omissos as disposições de outras leis, que
forem applicaveis ás causas civeis e criminaes da sua
competencia;
X, organizar uma estatistica annual e um relatorio documentado
do movimento do juizo, que remetterá ao Ministro da Justiça.
A mesma Lei criou o Abrigo de Menores:
Art. 62. Subordinado ao juizo de menores, haverá um Abrigo,
destinado a receber provisoriamente, até que tenham destino
definitivo, os menores abandonados e delinquentes.
Art. 63. O Abrigo compor-se-ha de duas divisões, uma masculina
e outra feminina; ambas subdividir-se-hão em secções de
abandonados e delinquentes; e os menores serão distribuidos
em turmas, conforme o motivo do recolhimento, sua idade e gráo
de perversão.
Art. 64. Os menores se occuparão em exercicios de leitura,
escripta e contas, lições de cousas e desenho, em trabalhos
manuaes, gymnastica e jogos desportivos.
Art. 65. Qualquer menor, que de entrada no Abrigo, será
recolhido a um pavilhão de observação, com aposentos de
isolamento, depois de inscripto na secretaria, photographado,
submettido á identificação, e examinado pelo medico e por um
professor; e ahi será conservado em observação durante o
62
tempo necessario.
O juizado firmou-se como um protótipo de categorização e ingerência
sobre o ‘menor’, um legado policialesco, que, por meio das chefaturas de
policia, identificava, encaminhava, transferia e desligava das instituições
crianças e adolescentes considerados abandonados e delinquentes (Vianna,
2000).
Também foi sob a influência de médicos e juristas que ambicionavam
moralizar os hábitos da população pobre que foi promulgado, em 1927, o
Código de Menores, conhecido como Código Mello Mattos.
Este Código, que consolidou as leis de “assistência e proteção a
menores” abandonados e delinquentes com menos de 18 anos
de idade, vigorou por 52 anos, sendo, portanto, a legislação
normatizadora sobre os menores (...) (Fávero, 1999: 35).
O Código de Menores descrevia, como aquele que precisava de
assistência do Estado, o ‘menor’, de um ou de outro sexo, abandonado ou
delinqüente, com menos de 18 anos de idade, ou seja, crianças carentes que
estavam em situação temerária. Este ‘menor’ seria enquadrado pela autoridade
competente nas medidas de amparo e proteção nele inseridas. Por essa
época, no que se refere à intervenção do Estado, não havia distinção entre o
infrator e a criança que era negligenciada pela família, pela sociedade ou pelo
Estado.
Com o advento do Código de Menores, o vocábulo ‘menor de idade’
principiava a surgir repetidamente na documentação, em virtude da
preocupação com a criança largada, não tutorada e que, em vista disso,
andava a esmo pelos logradouros, exposta a diferentes experimentos, entre os
quais a prática de pequenos delitos.
Desta forma, institui-se o termo
depreciativo 'menor', para designar crianças pobres submetidas à ação da
justiça. Seu conceito era subdividido em três categorias: abandonadas
aquelas que não tinham pais; moralmente abandonadas - com pais sem
63
condições financeiras e morais; delinquentes - as que praticavam crime ou
contravenções (Couto e Melo, 1998).
Independentemente da categoria, a competência do juiz sobre a família
e a criança era irretorquível. O controle sobre a mesma configurava-se como
correção basal no Decreto nº 17.943-A/1927:
Art. Toda creança de menos de dous annos do idade
entregue a criar, ou em ablactação ou guarda, fóra da casa dos
paes ou responsaveis, mediante salario, torna-se por esse facto
objecto da vigilancia da autoridade publica, com o fim de lhe
proteger a vida e a saude.
Art. 3º Essa vigilancia comprehende: toda pessoa que tenha
uma creança lactante ou uma ou varias creanças em ablactação
ou em guarda, entregue aos seus cuidados mediante salario; os
escriptorios ou agentes de informações que se occupem de
arranjar collocação a creanças para criação, ablactação ou
guarda.
Art. A recusa de receber a autoridade, encarregada da
inspecção ou qualquer pessoa delegada ou autorizada em
virtude de lei, é punida com as penas do crime de
desobediencia, e em caso de injuria ou violencia com as do
crime de desacato.
Este preceito congregou leis e decretos que desde 1902 ensaiavam
aprovar legalmente assuntos relativos aos menores de idade. Alterou e
substituiu concepções obsoletas como as de discernimento, culpabilidade,
responsabilidade, disciplina, ainda, que a assistência à infância deveria passar
da esfera punitiva para a educacional. (Veronese, 1997: p. 10)
O Código de Menores Mello Mattos, nos artigos 14, 15 e 16, intitulou de
“infantes expostos” as crianças abandonadas com até sete anos de idade e
definiu modos de intervenção sobre a questão:
Art. 14 - São considerados expostos os infantes até sete annos
64
de idade, encontrados em estado de abandono, onde quer
que seja.
Art. 15 - A admissão dos expostos á assistencia se fará por
consignação directa, excluido o systema das rodas.
Art. 16 - As instituições destinadas a recolher e crear expostos
terão um registro secreto, organizado de modo a respeitar e
garantir o incognito, em que se apresentem e desejem manter os
portadores de creanças a serem asyladas.
As crianças expostas, abandonadas, mendigas, vadias e libertinas,
nomenclaturas aplicadas à época pela legislação, deslocavam-se,
prontamente, da tutela da família para a do juiz de menores, que deliberava
seu destino de modo discricionário, ou melhor, sem as garantias processuais
recentemente contempladas pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente,
promulgado em 1990. O atendimento a essa população se concentrava no juiz,
o qual tinha a competência para remover a criança da família, restituí-la ou
assentá-la, sob guarda, em outra família, decidir-lhe a internação por período
indefinido ou tomar alguma diferente medida que considerasse indispensável.
No entanto, a prevalência da condição marginal e os paradoxos vividos pelas
crianças e jovens marginalizados exacerbaram-se na experiência da
institucionalização. A institucionalização parece historicamente ter tido como
efeito o reverso do esperado pela sociedade, tendo exposto a criança a toda
sorte de riscos e violências.
Com constância, a família era acusada e considerada inabilitada para
cuidar de suas crianças.
A intervenção sobre as famílias pobres, promovida pelo Estado,
desautorizava os pais em seu papel parental. Acusando-os de
incapazes, os sistemas assistenciais justificavam a
institucionalização de crianças. Os saberes especializados
vieram confirmar a concepção da incapacidade das famílias,
especialmente as mais pobres, em cuidar e educar seus filhos e
foram convocados a auxiliar na identificação daquelas
merecedoras da suspensão ou cassação do pátrio-poder.
65
(Rizzini e Rizzini, 2004: 70).
As crianças e os adolescentes, conforme o artigo 55 do decreto 17.943-
A/1927, com procedimento ‘normal’ (na perspectiva das classes dominantes)
estavam sujeitos, como meio de controle social, às ações judiciais e à
internação em instituições fechadas:
Art. 55 - A autoridade, a quem incumbir a assistencia e
protecção aos menores, ordenará a aprehensão daquelles de
que houver noticia, ou lhe forem presentes, como abandonados
os depositará em lugar conveniente, o providenciará sobre sua
guarda, educação e vigilancia, podendo, conforme, a idade,
instrucção, profissão, saude, abandono ou perversão do menor e
a situação social, moral e economica dos paes ou tutor, ou
pessoa encarregada de sua guarda, adoptar uma das seguintes
decisões.
a) entregal-o aos paes ou tutor ou pessoa encarregada de sua
guarda, sem condição alguma ou sob as condições que julgar
uteis á saude, segurança e moralidade do menor;
b) entregal-o a pessoa idonea, ou internal-o em hospital, asylo,
instituto de educação, officina escola da preservação ou de
reforma;
c) ordenar as medidas convenientes aos que necessitem de
tratamento especial, por soffrerem de qualquer doença physica
ou mental;
d) decretar a suspensão ou a perda do patrio poder ou a
destituição da tutela;
e) regular de maneira differente das estabelecidas nos
dispositivos deste artigo à situação do menor, si houver para isso
motivo grave, e fôr do interesse do menor.
O Abrigo de Menores do então Distrito Federal (já referido), criado em
função do decreto 16.272 de 1923, em 1929, passou a chamar-se Instituto
Sete de Setembro, pelo decreto nº 18.923, de 30 de setembro de 1929:
66
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil,
usando da attribuição que lhe confere o art. 48, n. 1, da
Constituição Federal e considerando que, conforme a pratica
tem demonstrado, a denominação dada ao estabelecimento de
que trata o art. 62 do regulamento annexo ao decreto n. 16.272,
de 20 de dezembro de 1923, não corresponde aos serviços
prestados pelo mesmo aos menores alli internados, nem
contribue para estimular a formação civica destes, resolve dar ao
referido estabelecimento a denominação de “Instituto Sete de
Setembro (Abrigo de Menores)”.
No período de 1930 a 1970, o país vivenciou uma democracia debilitada
com um processo desordenado de industrialização, redundando no interesse
pelas medidas de promoção de saúde junto à população mais pobre, com o
objetivo de evitar a marginalidade de crianças e jovens. Isto fez com que
alguns representantes dos interesses sociais dominantes continuassem na sua
defesa da internação de crianças como promoção de condições de bem-estar
social.
Desta forma, as instituições asilares continuaram sendo consagradas
como “colégios” acolhedores dos desafortunados, com o objetivo de controlar,
disciplinar e interditar a infância pobre, não colocando em questão a política da
desigualdade socioeconômica existente. Os internatos atuavam, pois, como
uma "saída pela tangente", ou seja, uma "política do disfarce". (Oliveira, 1992).
Diferentes ações públicas e particulares assinalaram as décadas desse
período. Realçam-se, em 1941, a mudança de nomenclatura e de função do
Instituto 7 de Setembro, o qual passa da alçada da justiça para a do executivo,
pelo decreto-lei 3.799 (conforme pode ser verificado na transcrição de seus
artigos 1º e 2º abaixo), promulgado pelo então presidente da República, Getúlio
Vargas. O antigo Instituto passou a chamar-se SAM - Serviço de Assistência
ao Menor, com a finalidade de congregar os aparatos públicos e particulares de
atendimento à infância, ditando-lhes normas e regras de funcionamento,
provenientes de estudos científicos elaborados por juristas e médicos (Couto e
Melo, 1998).
67
Art. 1º O Instituto Sete de Setembro, criado pelo decreto n.
21.548, de 13 de junho de 1932, e reorganizado pelo decreto-lei
n. 1.797, de 23 de novembro de 1939, fica transformado em
Serviço de Assistência a Menores (S. A. M.), diretamente
subordinado ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores e
articulado com o Juízo de Menores do Distrito Federal.
Art. 2º O S. A. M. terá por fim:
a) sistematizar e orientar os serviços de assistência a menores
desvalidos e delinquentes, internados em estabelecimentos
oficiais e particulares ;
b) proceder à investigação social e ao exame médico-
psicopedagógico dos menores desvalidos e delinqüentes;
c) abrigar os menores, á disposição do Juízo de Menores do
Distrito Federal;
d) recolher os menores em estabelecimentos adequados, a fim
de ministrar-lhes educação, instrução e tratamento sômato-
psíquico, até o seu desligamento;
e) estudar as causas do abandono e da delinquência infantil para
a orientação dos poderes públicos;
f) promover a publicação periódica dos resultados de pesquisas,
estudos e estatísticas.
Na realidade, o SAM - Serviço de Assistência ao Menor notabilizou-se
por sua política de coerção intensa contra as crianças e os adolescentes
institucionalizados. Posteriormente, com o golpe militar de abril de 1964, o SAM
foi extinto, após 23 anos de vigência, sendo substituído pela recém-criada
FUNABEM - Fundação Nacional do Bem Estar do Menor, consoante a Lei
4.513, de 1º de dezembro de 1964:
Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir, dentro de
noventa dias, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, que
se regerá por estatutos aprovados por decreto do Presidente da
República.
Art. 2º A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor será uma
68
entidade autônoma e adquirirá personalidade jurídica, a partir
da inscrição, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, do seu ato
constitutivo, com o qual serão apresentados os estatutos e o
decreto que os aprovar.
Parágrafo único. A União representar-se-á, no ato da instituição,
pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
Art. 3º A Fundação Nacional do Bem-Estar do menor gozará de
autonomia administrativa e financeira terá sede e fôro no Distrito
Federal e jurisdição em todo o território nacional.
Art. 4º O Patrimônio da Fundação Nacional do Bem-Estar do
Menor será constituído:I-
a) pelo acervo do Serviço de Assistência a Menor (SAM), bens
móveis e imóveis pertencentes à União, atualmente ocupados,
administrados ou utilizados por êsse Serviço e para cuja doação
fica desde logo autorizado o Poder Executivo;
Não foi por acaso que a extinção do SAM foi simultânea à criação da
FUNABEM e de suas unidades executivas, as Febems (Santos, 2004). A
FUNABEM não apenas herdou toda estrutura do SAM, incluindo-se o seu
patrimônio, mas também passou a ponderar o ‘menor’ como ‘objeto de
segurança nacional’ (Couto e Melo, 1998).
Nas décadas de 60 e 70 multiplicaram-se as ações de assistência social.
A FUNABEM passou a desenvolver políticas de atendimento voltadas a
"menores em situação irregular", assim considerados os "menores moralmente
abandonados" - que passaram a ser chamados "menores carentes" - e os
"delinquentes", denominados "menores de conduta antissocial" (Couto e Melo,
1998).
As instituições para a infância, na proporção em que evocavam para si a
responsabilidade pela educação da criança, passaram a elaborar um discurso
próprio sobre as condições de permanência em seu interior, seja das crianças
e adolescentes, seja dos profissionais que nelas atuavam. Os internatos eram
referenciais significativos das novas bases teóricas sobre as quais
assentavam-se as atividades educacionais das populações mais pobres,
69
consideradas numerosas e perigosas, ou vitimizadas pelo crescimento
urbano desordenado.
O código menorista de 1927 vigorou por 52 anos até 1979 sendo
fundante das ações do Juizado de Menores junto à infância e à adolescência.
Durante sua vigência sofreu algumas alterações no que se alude à adoção, à
infração e ao trabalho (Fávero, 1999).
Em 1979, um novo digo de Menores consolidou a doutrina da
"situação irregular" e a perda e suspensão do pátrio poder que haviam sido
introduzidos pelo Código de Menores de 1927 (Earp, 1998), dando ao juiz de
menores amplos poderes para retirar crianças pobres de seu meio sociofamiliar
e interná-las em instituições como a FEBEM - Fundação Estadual do Bem
Estar do Menor. Este Código de Menores classificava o "abandono" ou o
"desvio" como um problema de classe social, especificamente de seu
segmento mais pobres (Couto e Melo, 1998).
O Código de Menores de 1979 versava sobre assistência, proteção e
vigilância a ‘menores’ (das classes pauperizadas), conforme seus artigos e
2º, trazendo como concepção basilar para sua compreensão o termo ‘situação
irregular’:
Art. - Este Código dispõe sobre assistência, proteção e
vigilância a menores:
I até dezoito anos de idade, que se encontrem em situação
irregular;
II – entre dezoito e vinte e um anos, nos casos expressos em lei.
Parágrafo único As medidas de caráter preventivo aplicam-se
a todo menor de dezoito anos, independentemente de sua
situação
.
Art. Para os efeitos deste Código, considera-se em situação
irregular o menor:
I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e
instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;
70
b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para
provê-las;
Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos
pais ou responsável;
III - em perigo moral, devido a:
a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos
bons costumes;
b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;
IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta
eventual dos pais ou responsável;
V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação
familiar ou comunitária;
VI - autor de infração penal.
Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não
sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção
ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder
ou companhia, independentemente de ato judicial.
O termo ‘situação irregular’ foi entendido como a privação das condições
de subsistência, de saúde e de instrução, por omissão dos pais ou
responsáveis, além da situação de maus tratos e castigos, de perigo moral, de
falta de assistência legal, de desvio de conduta por inadaptação familiar ou
comunitária, e autoria de infração penal (Motti & Silva, 2001: 25).
A afirmação de situação irregular poderia provir, em igual quantidade, de
verificação de comportamento tanto do ‘menor’ (infrações ou desvio de
conduta), como da família (maus-tratos) e/ou da sociedade (desamparo).
Apontava a existência de uma situação irregular, uma enfermidade social, sem
assinalar, com nitidez, circunstâncias derivadas do procedimento do jovem ou
daqueles que o circundavam. Manteve-se a ideia dos amplos educandários
para ‘menores’ (as cognominadas instituições totais, ainda presentes em
determinadas esferas dos costumes pátrios), lugar, em espaços distintos, em
que se emaranhavam transgressores, abandonados e vítimas de maus-tratos,
partindo-se da hipótese de que todos se encontravam na mesma ‘situação
irregular’ (Saraiva, 2006:24).
Esse tratamento dado a eles, de ‘menor’, como
71
casta jurídica, lembrava que a pessoa, ainda que fosse sujeito de direitos,
não se achava capaz de desempenhar integralmente a cidadania (Arantes,
1995: 207).
A doutrina excludente da situação irregular perpassou as legislações
menoristas até o advento do ECA Estatuto da Criança e do Adolescente,
configurando:
uma cultura que, baseando-se na exclusão social, reforça e
legitima esta situação introduzindo uma dicotomia perversa no
mundo da infância. Uma cultura que constrói um muro jurídico de
profundas consequências reais, destinado a separar crianças e
adolescentes dos 'outros', dos 'menores', o qual constrói como
uma espécie de categoria residual e excrescência a respeito do
mundo da infância (Mendez, 1993:14).
Ocorria uma inquietação unicamente em relação aos que estavam à
margem da lei, na delinqüência, que cometiam furtos, vagavam pelas ruas ou
participavam de crimes de maior circunspecção, em muitos episódios, com
adultos. Habitualmente, a apreensão não se desdobrava aos outros
segmentos. Eram assistidos aqueles que estavam na alcunhada situação
irregular. O acolhimento ocorria em um único lugar (em ambientes diferentes),
uma vez que não havia distinção entre os que empreenderam algum delito e os
que eram a vítimas de agressão, violência ou estavam abandonados. Com
essa visão, o Código de 1979 deixava tácito o ponto de vista de que a família
e/ou a criança eram culpados pelas anomalias. A norma abonava
imperiosamente a internação e o abrigamento.
Nos anos iniciais da década de 1980, a atenção dos pesquisadores
orbitava em torno do tentame de encontrar a fidedigna conjuntura na qual se
achavam as crianças de camadas populares, notadamente a infância
institucionalizada e as crianças e os adolescentes que moravam nas ruas. Por
isso, começaram a aparecer esboços, com aproximações qualitativas, que
arguiam o modo como as crianças e adolescentes pobres eram assumidos pelo
72
Estado e, ainda, o emprego da expressão ‘menor’. Estes assinalavam a
criança e o adolescente como criaturas que seriam alvo de ações políticas (sob
autoridade do Estado) e confessionais, sem direito a aspirações. Ressalta-se a
faceta populista assistencial dessas práticas, como sustentáculo da
organização social.
Concomitantemente, a sociedade brasileira vivenciou um momento de
vigorosas transformações entre as décadas de 1970 e 1980. Em uma
totalidade histórica, distinguida pelo processo de democratização e
movimentação extensa da sociedade, encetavam-se as exigências relativas à
melhor qualidade de vida para a infância. Essas ações renovadoras
evidenciaram outras configurações de trabalhos assistenciais, distinguidas por
uma ampliação do contato com os infantes e diferentes contornos relacionais
entre educadores, crianças e adolescentes (Motti & Silva, 2001). Ainda por esta
época, no tocante à proteção à criança e ao adolescente, ressalta-se a
ocorrência sincrônica de ações repressivas, baseadas no conceito de situação
irregular, em oposição às ações ascendentes firmadas na educação pública.
Produto dessa alternância assistencial, o MNMMR - Movimento Nacional
de Meninos e Meninas de Rua é instituído em 1985 e esta entidade, que
dispunha de educadores, militantes e cooperadores espontâneos, foi basal
para a biografia e estabilização do movimento em defesa da criança e do
adolescente (Motti & Silva, 2001: 49).
No final da década de 1970, iniciou-se a abertura política, pós-golpe
militar de 1964, sendo que isto propiciaria a eclosão de vários movimentos
sociais, entre eles, o movimento pelos direitos da infância liderado pelas
organizações não-governamentais Pastoral do Menor e Movimento Nacional de
Meninos e Meninas de Rua (Couto e Melo, 1998).
Esta mobilização resultou num reordenamento jurídico-institucional
formulando-se uma nova doutrina de atenção à infância - a doutrina da
proteção integral, que vinha sendo discutida na Convenção Internacional dos
Direitos da Criança.
Com o advento do ECA - Estatuto da Criança e do
73
Adolescente, em 13 de julho de 1990, a criança deixava de ser vista como
objeto de tutela em situação irregular, passando a ter reconhecida sua
cidadania, seu lugar como sujeito de direitos. Convém observar que o ECA
surgiu em uma época em que, por um lado, a sociedade brasileira vivia um
momento de euforia com a nova democracia que se implantava e por outro
lado, tinha pela frente o desafio de vencer a situação de miserabilidade e
violência em que viviam crianças e adolescentes brasileiros.
Com a promulgação do ECA, uma nova cidadania foi reconhecida em
relação à infância (Bazílio, Earp e Santos, 1998):
Deve-se reconhecer que, no campo das leis, o ECA representou,
de fato, uma reviravolta completa, proporcionando condições
legais para a reformulação das políticas públicas em favor da
infância e da juventude. As políticas assistenciais passaram,
então, a ser dirigidas ao atendimento compensatório a toda
criança de que delas necessitassem. O ECA manteve-se fiel à
Convenção Internacional dos Direitos da Criança e, também à
nova Constituição do Brasil de 1988. Pela primeira vez em nossa
história, seguindo a tendência instaurada em outros países
ditos avançados, as crianças deixam de ser objeto e passam a
ser sujeitos de Direitos (art. 227 da Constituição Federal)
(Marcílio, 1998: 227-228).
Para que adviesse um deslocamento real do status de menor’ a
cidadão, foi cogente um preceito que verdadeiramente tratasse com seriedade
os direitos da infância e da adolescência – a doutrina de proteção integral.
A doutrina da proteção integral, abraçada pela Constituição Federal de
1988 e consolidada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente Lei Federal
8.060/90 - representou uma mudança jurídica expressiva no atendimento dado
a crianças e adolescentes; desfez o modelo pré-concebido e sorveu os valores
esculpidos na Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Pela prima
vez, crianças e adolescentes tornaram-se titulares direitos capitais, como
quaisquer seres humanos. Passou a existir um Direito da Criança e do
74
Adolescente - substitutivo do Direito do Menor - amplo, abarcante, total e,
nomeadamente, mandatório (Amim, 2006: 17).
A doutrina da proteção integral está expressa no art. 227 da Constituição
Federal quando determina que
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
lo a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
Assim, estão sob o manto da doutrina da proteção integral todas as
crianças e adolescentes, independentemente da sua condição e não apenas
aquelas consideradas em situação de abandono ou de risco.
Da mesma maneira, o ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
estabelece em seu Art. 1º: Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e
ao adolescente.
Nessa perspectiva, é basilar não submergir o atendimento às crianças e
adolescentes, em decorrência de serem pessoas em desenvolvimento, há que
se distinguir, ressaltando-se determinantes como sua maturação, estabilidade
emocional, capacidade de discernimento e desenvolvimento físico, não
podendo ser tratados da mesma maneira que um adulto. Nesse sentido, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, ratifica a Constituição Federal
assinalando o preceito da prioridade absoluta em todos os campos, seja na
preparação de políticas de atendimento, seja na previsão de recursos
financeiros por parte do Estado:
Art. É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
75
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas
sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
A doutrina da proteção integral, abraçada pelo ECA, está firmada em um
triplo sistema de garantias. O sistema primário voltado às Políticas Públicas de
atendimento às crianças e adolescentes, previsto, notadamente, nos artigos 4 e
85 a 87, do ECA. O sistema secundário versando sobre medidas protetivas
que tem por objetivo resguardar quando transgressão dos direitos previsto
nos artigos 98 a 101, do ECA - para crianças e adolescentes em situação de
risco pessoal ou social (vítimas), onde também se inclui autores de ato
infracional. E o sistema terciário que aborda as medidas socioeducativas a
serem aplicada em adolescentes em conflito com a lei, autores do ato
infracional, normatizadas nos artigos 103 a 122 do ECA.
Não obstante, o ECA, com seu papel proeminente, não afiança com sua
existência transformações estruturais. Antes, há que se conjugar aos direitos
uma política social eficaz, que de fato assegure materialmente os direitos
positivados (Veronese, 1997: 15).
Para efetivação de seus propósitos, o ECA, ao substituir o Código de
Menores de 1979, ampliou o escopo da justiça na defesa da criança e do
adolescente brasileiros. Inseriu inúmeras alterações na política de atendimento,
realçando o seu processo de descentralização e de municipalização e
enfatizando a participação da sociedade civil por meio de Conselhos
(Veronese, 1997: 46). Esta respeitável modificação, isto é, a descentralização
76
da competência no campo da infância e da juventude, equilibrou a relação
de responsabilidades pelo atendimento, entre a União, os Estados e as
municipalidades. Ressaltou a obrigação da instância local e dos conselhos
municipais de direitos de formularem políticas públicas e afiançarem os direitos
de crianças e adolescentes, com a participação dos conselhos tutelares (Costa,
1994). Nesta conjuntura de descentralização, a implementação e a instalação
dos conselhos municipais de direitos exercem papéis singulares, já que a
sociedade civil organizada compartilhou deste processo.
Essa nova atitude da sociedade e do Estado, que tem como baldrame a
convicção de que a criança e o adolescente são credores de direitos peculiares
e exclusivos, reforçou a Doutrina da Proteção Integral. Nesse contexto,
substituiu o termo ‘menor’ por criança e adolescente, os quais adquirem a
condição de sujeitos de direitos, alvo da proteção do Estado, da família e da
sociedade. Outra característica importante é que crianças e adolescentes são
tratados como pessoas em desenvolvimento, que precisam de uma proteção
individualizada, característica e integral, exigindo-se prioridade absoluta no
atendimento de suas necessidades, independentemente da situação em que
eles se encontram. Ou seja, não importa se se tratar de um adolescente
infrator, ou de vítima de maus-tratos, ou abandonado, ou menino de rua ou
qualquer outra situação, ele tem a garantia constitucional e do Estatuto da
Criança e do Adolescente que lhe conferem prioridade no alcance de seus
direitos.
Isto significa que o ECA necessita derrotar a exclusão, que é resultado
da violência social mais extensa, que alcança a infância pobre
8
. Essas
crianças, habitualmente abusadas são as que se ressentem de insuficiência da
Declaração Universal dos Direitos da Criança porque não são consideradas
crianças e sim pivetes, ou seja, crianças abandonadas, marginalizadas,
toleradas pelo sistema social censurável que as gerou e as recusa (Azevedo &
Guerra, 2000 : 235).
8
AZEVEDO, Amélia e GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. Infância e violência doméstica:
fronteiras do conhecimento. São Paulo, Cortez, 2000, p. 235. Dizem as autoras que sob a rubrica de
infância pobre incluíam-se os contingentes de “menores carentes”, “menores abandonados” e “menores
infratores”.
77
No entanto, ainda hoje o maior de todos os desafios é o ECA ser
efetivamente implantado a fim de que sejam assegurados os direitos da
infância brasileira, afinal de contas, o enclausuramento de crianças tem sido o
mais estável instrumento de assistência à infância, no Brasil, até nestes inícios
do século XXI.
A história da internação das crianças em asilos exibe um processo
contraditório em que propostas ambíguas deixam entrever as vicissitudes
existentes nas instituições educacionais para as crianças que pertencem aos
segmentos mais pobres da população, em geral, filhas da classe trabalhadora.
Nesse sentido, o assistencialismo tem sido uma das formas pedagógicas nas
quais prepondera uma concepção educacional preconceituosa e autoritária, um
arbítrio cultural e intervencionista.
2.3 - A História da Institucionalização da Infância em Bragança Paulista
Nos primeiros anos do século XX sob a influência do higienismo, o
médico Clemente Ferreira fundou o Preventório Imaculada Conceição. Este
Preventório, que foi o primeiro abrigo de Bragança Paulista, iniciou suas
atividades em abril de 1912, sob a presidência da Senhora Viscondessa da
Cunha Bueno
9
, tendo por finalidade asilar os filhos dos tuberculosos pobres,
poupando-os do contágio da tuberculose pelos pais doentes. A escolha de
Bragança Paulista atendia aos critérios vislumbrados pelo médico relativos ao
clima e à proximidade de São Paulo. Este intuito oficial do Preventório - cuidar
dos filhos dos tuberculosos, enquanto eles se tratavam determinou a sua
denominação, que tinha por significado ser uma instituição voltada à
prevenção. Ressaltava a importância da prevenção aliada às práticas
educativas para internados. O discurso dos envolvidos não deixava antever o
9
MARZAGÃO SILVA, Mônica Nardy. A institucionalização e a educação das crianças no
preventório Imaculada Conceição de Bragança Paulista 1912 a 1996. Dissertação de mestrado.
Bragança Paulista: USF, 2002.
78
caráter político da Instituição, nem os efeitos sociais demandados para
atingir os fins institucionais requeridos: de controle e interdição. Publicamente,
o objetivo da entidade mudou um pouco ao longo dos anos, como é
possível verificar-se, confrontando-se os estatutos de 1914 e de 1992
(Marzagão-Silva, 2002).
As palavras de Clemente Ferreira deixam antever, com clareza, o
propósito da Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres,
entidade mantenedora do Preventório Imaculada Conceição:
No dia 3 de abril de 1908 constituiu-se, graças à intervenção
benéfica e aos esforços dedicados e carinhosos de uma pleiade
de senhoras das mais importantes famílias da capital, a "Obra de
Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres", destinada a
amparar, proteger e preservar do contágio familiar, da
contaminação doméstica, as crianças das famílias dos clientes
do dispensário, 'desideratum' que vínhamos desde longo tempo
alimentando, pois o considerávamos um anexo essencial do
Instituto da Liga Paulista Contra a Tuberculose, para a
integração de seu objetivo profilático, do seu eficiente programa
de preservação social e de defesa coletiva (Ferreira, 1938: 17).
O Estatuto da Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres,
elaborado em 1908 e editado em 1914, diz o seguinte. Em seu artigo 1º:
Artigo 1º. Sob a denominação de "Obra de Preservação dos
Filhos de Tuberculosos Pobres", fica constituída, podendo mais
tarde ter autonomia juridica a parte, uma associação de caridade
e de hygiene preventiva, complementar do Dispensario Anti-
Tuberculoso "Clemente Ferreira", e tendo como objectivo
subtrair durante um prazo indispensavel a juizo dos medicos,
senão definitivamente, ao meio familiar antihygienico e
contaminante, onde se acham dia e noite expostas ao contagio
da tuberculose, as creanças ainda sans, ainda indemnes do mal,
embora muitas vezes fracas e predispostas, recorrendo á
assistencia em casa de familias idoneas e moralizadas, no
79
campo, mediante uma pequena retribuição mensal de
25$000 a 30$000; ou collocando-as em orphanatos agricolas ou
sanatorios de preservação situados nos campos, nas montanhas
e a beira-mar que por ventura a Liga Paulista venha a installar
ou lançando mão de outros meios julgados proveitosos.
A séde da "Obra", cuja duração é ilimitada, será nesta Capital,
na séde da "Liga Paulista contra Tuberculose".
Já, de acordo com o artigo do Estatuto de 1992, a obra de
Preservação passa a ter por escopo:
I - Retirar, temporariamente, segundo juízo médico, do meio anti-
higiênico, e contaminante, onde se achem expostos ao contágio
da tuberculose, os menores, ainda sãos, recorrendo em casas
de famílias idôneas ou abrigando-as em internatos próprios
situados nos campos, montanhas ou à beira mar;
II - Manter, administrar e aperfeiçoar o seu Preventório
"Imaculada Conceição" de Bragança Paulista; bem como outros
que vier a instalar disciplinando-lhes o funcionamento do
Regimento Interno da Fundação, aprovado pela Assembleia
Geral;
III - Lançar mão de outros meios proveitosos à orientação dos
menores, bem como à orientação e controle das suas famílias.
§ 1. º - O atendimento será feito aos menores em tela, sem
qualquer discriminação de etnia, credo político e religioso e
condições sociais.
§ 2. º - Em havendo disponibilidade, poderão ser atendidos,
dentro do mesmo critério, menores não filhos de tuberculosos,
portadores de desnutrição em segundo grau.
Os enunciados acima revelam as bases do modelo higienista e
assistencialista sobre as quais havia sido concretizada a organização do
Preventório. Este Preventório foi fechado por determinação judicial em 1996.
80
Na mesma perspectiva higienizadora outras instituições asilares
foram criadas em Bragança, permanecendo em atividades até o dia de hoje.
São elas, o ISE e o SAMA que serão objeto de análise dos capítulos que se
seguem.
81
III. A perspectiva da análise e o espaço das instituições analisadas
3.1 - A perspectiva da análise
A análise aqui estabelecida não pode prescindir de identificar a
importância fundamental atribuída à historicidade (dialeticamente construída)
dos fatos sociais. O que está em questão são as forças políticas que
impulsionam o movimento de conjuntura. Conforme Goldman (1993) é
imperativo balizar-se pela racionalidade, lucubrar sobre a regulação do
conhecimento e do seu espaço na manifestação das verdades.
A ponderação acerca do conhecimento e seu lócus na edificação da
verdade como princípio metodológico, aferido pelo método dialético, sustenta-
se em meio às relações sociais, sendo o real fornecido por estas. Do ser social
originam-se os níveis de consciência que se evidenciam como o arcabouço da
vida e suas respectivas práticas. A forma narrativa de alguns dados aqui
transcritos não contradiz essa compreensão, ao contrário, tem como propósito
circunscrever elementos dessa conjuntura que determinaram as ações dos
agentes analisados, haja vista que foram trabalhadas fontes primárias tais
como atas e estatutos.
No entender de Goldmann é necessário ater-se à coletividade - o sujeito
transindividual que é o início da ação e do conhecimento em direção à
dialética, não perdendo de vista que o alicerce ontológico da Historia é o
relacionamento do homem com os outros homens. O Eu individual ocorre na
retaguarda da comunidade. O sujeito da ação é um grupo e seus interesses -
sendo seu sumo expoente, as classes sociais.
Assim, no entender de Goldmann: as ações históricas, o domínio da
natureza, a criação cultural, não podem ser entendidos em sua significação,
nem explicados em sua gênese, senão partindo de um sujeito coletivo, ou
82
antes, de um sujeito transindividual. A premissa metodológica identificada
na reflexão de Goldmann foi fundamental para a construção argumentativa
desta análise ao oferecer o recurso para a identificação, nas classes sociais, do
referido sujeito transindividual, que produz sua realidade histórico-cultural e,
em meio dela, os conflitos de interesses e as formas de controlá-los.
Tal concepção dialética do sujeito histórico opõe-se às visões
individualistas do mundo, tanto quanto àquelas que, ao modo do
estruturalismo, eliminam o sujeito do processo de construção do conhecimento.
Mais ainda, Goldmann pensa então, como Marx, que é preciso privilegiar o
papel das classes sociais enquanto agentes criadores da história, cuja ação é
orientada para a universalidade, para a estruturação da sociedade. Nesse
sentido, é preciso ver, também, nas relações entre as classes a chave da
compreensão da realidade social passada, presente e futura.
Analogamente a Marx, o conhecimento para Goldmann cumpre uma
função política revolucionária, posto que se coloca como transformador da
realidade social. Goldmann, assim como Marx entende que este conhecimento
não está a salvo da apropriação ideológica que o reifica e o submete.
Faz-se mister assinalar alguns princípios orientadores do materialismo
histórico e dialético: a totalidade, a determinação econômica e a luta de
classes, igualmente a constituição de um juízo dialético da realidade. A
totalidade reporta que o todo e a parte se articulam formando uma expressiva
relação recíproca. Dialeticamente, esse modo de compreender a realidade
sugere a apreensão da instituição a ser examinada na essência do todo social,
no cerne da coesão do processo histórico, lugar de origem dos fatos, que
precisam ser arquitetados como ocasiões deste processo singular (Löwy,
1998).
A investigação dialética incide sobre o modo pelo qual os homens reais
se reproduzem; a relação mantida com a natureza mediada pelo trabalho,
como são produzidas e reproduzidas suas relações sociais - a partir das
83
relações de produção, da divisão social do trabalho e das formas de
propriedade. E também, como os homens interpretam as relações, quer como
ideologia, quer como conhecimento. O que se aspira encontrar é a forma pela
qual o movimento histórico se delineia.
O pressuposto fundamental desta análise é a ideia de que a realidade
não é um dado que se conheça imediatamente, por intermédio da observação
empírica tradicional. Ela é guarnecida de relações, mediações, processos e
estruturas que se envolvem de forma complexa e contraditória. Estes são os
nexos constitutivos da realidade (em movimento) analisada por Marx, na
procura da essência profunda e ontológica do homem na produção da história.
Para Lukács, o método dialético tem por escopo o conhecimento da
totalidade do processo histórico. A história de um determinado problema torna-
se efetivamente uma história dos problemas. A expressão literária ou científica
de um problema aparece como expressão de uma totalidade social, como
expressão de suas possibilidades, de seus limites e de seus dilemas (Lukács,
2003: 117).
A análise do ISE - Instituto Social e Educacional localizado em Bragança
Paulista percorreu alguns aspectos considerados relevantes para a
identificação do mesmo, em meio à conjuntura social brasileira. Foram
consideradas algumas determinações estruturais e conjunturais, da sua
trajetória histórica, da história da cidade, da Igreja Católica, da fundação da
Instituição confessional provedora, das regras, dos estatutos, dos personagens,
ressaltando os períodos, a evolução e o atendimento à criança abrigada.
3.2 - O espaço das instituições analisadas
Nos manuais que descrevem a gênese de Bragança os dados coletados
são sempre reiterativos. O que se segue tem caráter narrativo e obedece a
historiografia da cidade vista por autores locais. A finalidades desta opção foi
84
circunscrever, resumidamente, como os moradores relatam suas origens.
São poucas as fontes e o que está descrito na sequência ateve-se à forma
como se lê nos referidos manuais.
A cidade de Bragança Paulista fundada em 15 de dezembro de 1763,
pelo casal paulista Antonio Pires Pimentel e sua esposa Dona Ignácia da Silva
Pimentel é o local da implantação dos abrigos denominados ISE - Instituto
Social e Educacional e SAMA – Serviço Assistencial Médico Alimentar.
O ato de fundação da primeira comunidade ocorreu mediante um
documento lavrado para a doação de um terreno à Igreja Católica, no qual foi
erguida a Capela de Nossa Senhora da Conceição, próxima ao Morro do Lopo,
na Serra da Mantiqueira, nas adjacências de Atibaia, dando procedência a um
povoado denominado originalmente de Conceição do Jaguari. (Aguirre, 1919).
A cidade integra a alcunhada região cristalina ao norte da Área
Metropolitana da Cidade de São Paulo, distando desta apenas 80 km. O clima
predominante na região é o subtropical e a hidrografia é composta por dois
rios: o Jaguari e o Atibaia que compõem a bacia do Paraná. Sua área territorial
é constituída, predominantemente, por serras permeadas por acanhadas
planícies (Silva, s.d.).
A vegetação é fundada, em parte, por formações arbóreas secundárias e
o relevo é composto por bossas cristálias (daí o nome região cristalina), colinas
e várzeas quaternárias.
A cidade é montanhosa, sendo uma das quinze estâncias climáticas do
Estado de São Paulo, sua altitude mínima é 817 m, a média 850 m e a máxima
1.700 m (Pico do Lopo) – o excelente clima foi a razão pela qual o município foi
escolhido, pelo viés da proposta sanitária do médico higienista Clemente
Ferreira para sediar o Preventório Imaculada Conceição -
e entre suas serras
principais destacam-se as do Lopo (pertencente ao sistema da Mantiqueira),
Itapechinga (a oeste), do Guaripocaba (ao leste), morro da Bocaina (ao sul) e
85
do Pântano, de Araras, Anhumas e Serrinha (ao norte) (Lima, 1902).
Em 17 de outubro de 1797 o antigo povoado tornar-se-á vila, recebendo
o nome de Vila Nova Bragança, em homenagem à Dinastia Portuguesa de
Bragança, então reinante em Portugal (Laurito & Martins, 1943). Somente em
24 de abril de 1856 é que foi alçada a cidade, com o nome de Bragança como
se lê nos relatos de Laurito & Martins (1943).
Em 24 de outubro de 1856, a vila emancipou-se de Atibaia e recebeu o
nome de Bragança.
Em 25 de outubro de 1874, foi fundada a Irmandade do Senhor dos
Passos da Santa Casa de Misericórdia de Bragança (onde passou a funcionar
a Roda de Expostos da cidade), por iniciativa do Padre Simplício Bueno de
Oliveira, do Coronel Luiz Manuel da Silva Leme e do Sr. José Gomes da Rocha
Leal (Caldeira, 1929). As crianças desamparadas recebidas na Roda de
Expostos eram encaminhadas para
mulheres que exerciam a atividade de
mães criadeiras e/ou de amas, corroborando a afirmação de Baptista (2006:
27).
No final do século XIX, a cidade teve um salto de desenvolvimento,
sendo inaugurados, em 1884, o telégrafo e a Estrada de Ferro. Nesta época, o
município de Bragança apresentava um colégio primário e outro secundário
para meninos - com um anexo para meninas - e cinco escolas públicas rurais
isoladas (Laurito e Martins, 1943).
O serviço de água, na cidade, foi inaugurado, em 1893. Em 8 de maio de
1896 inaugurou-se o prédio do Fórum e da Cadeia. O Grupo Escolar Dr. Jorge
Tibiriçá (...) foi concebido em agosto de 1897. A 15 de novembro de 1906 foi
lançada sua pedra fundamental. O funcionamento deu-se com o início das
aulas em 27 de fevereiro de 1909 (Mathias, 1999).
86
A Empresa Telefônica Bragantina, inaugurada em 17 de julho de
1896, foi um dos grandes empreendimentos do município por seu pioneirismo.
Até 1898, as linhas telefônicas eram somente municipais (Laurito e Martins,
1943). A cidade adentrou o século XX com serviços públicos de água e
telefone e recebeu seu primeiro cabo de eletricidade em 10 de julho de 1905
(Laurito e Martins, 1943).
O Clube Atlético Bragantino, time de futebol da cidade, foi fundado em 8
de janeiro de 1928.
Em matéria de instrução pública e particular, Bragança possuía, em
1943, um Colégio Confessional para meninas: o Sagrado Coração de Jesus
(com curso ginasial e escola normal), além do Colégio Diocesano São Luiz (só
para meninos), a Escola de Comércio Rio Branco (com curso de contador,
propedêutico e preparatório), a Escola de Datilografia “Torpedo”, escolas de
Corte e Costura, os Grupos Escolares “Jorge Tibiriçá” e “José Guilherme”.
Possuía também cinquenta e três escolas isoladas, sendo trinta estaduais e
vinte e três municipais, além de outras particulares (Laurito e Martins, 1943).
A cidade, em 1943 possuía também um hospital: a Santa Casa de
Misericórdia, com um pavilhão para tuberculosos e uma Maternidade
denominada Maria Macedo Ferreira (com 198 leitos). Também possuía um
Preventório (Imaculada Conceição - um abrigo com 200 leitos para o cuidado
de filhos de tuberculosos) além de um asilo para Idosos, nomeado Mendicidade
São Vicente de Paulo, com 53 leitos (Laurito e Martins, 1943).
Em 30 de novembro de 1944, com a nova divisão territorial do País, a
cidade passou a chamar-se “Bragança Paulista” - para diferenciá-la de sua
homônima do Estado do Pará - pelo Decreto-Lei nº 14.334, de 30 de novembro
de 1944.
Em função do bom clima citado , a Lei Estadual 8.389 de 28 de
outubro de 1964, alçou Bragança Paulista a categoria de estância climática, por
proposição do então deputado estadual Nabi Abi Chedid.
87
Em 29 de novembro de 1984, o então governador estadual André
Franco Montoro elevou Bragança Paulista à sede de Região do Governo do
Estado de São Paulo, composta por treze cidades que formam a Macro Região
Bragantina.
3.3 - História da Igreja Católica em Bragança Paulista
Considerando que uma das instituições estudadas, o ISE, foi fruto da
iniciativa da Igreja Católica e de seu laicato foi necessário também estabelecer
uma analogia histórica com a força interventora do catolicismo no contexto da
cidade, na formação de muitas de suas referências ideológicas. Por essa
razão, foi imprescindível indicar que a história da Igreja Católica em Bragança
Paulista entrelaça-se com a historia da cidade. Também aqui a narrativa
permanece fiel às fontes documentais encontradas sobre os dados acima
mencionados.
A presença da Igreja inicia-se em um passado remoto, segundo um
documento, datado de setembro de 1749, alusivo ao Bairro do Jaguari,
pertencente à Paróquia de Atibaia, que era afastado desta, seis léguas.
Consta que os habitantes do lugar, de formação católica, pediram a presença
de um clérigo que ministrasse os sacramentos e de uma capela para
participarem da missa. Os moradores prontificaram-se a construí-la. No
entanto, não apresentavam recursos para a paramentarem e sustentarem um
cura, por se tratar de pessoas muito pobres (Paróquia de Nossa Senhora da
Conceição, 2008).
No dia 15 de Dezembro de 1763, o atibaiense Antonio Pires Pimentel e
sua esposa Dona Ignácia da Silva, por escritura lavrada, doaram à Igreja
Católica o terreno em que foi construída a Capela de Nossa Senhora da
88
Conceição, realizando o sonho da comunidade de origem (Aguirre, 1919). O
primeiro batizado ocorrido nesta Capela aconteceu no dia 17 de fevereiro de
1765. Seu primeiro vigário, Padre Jerônimo Bueno de Camargo, batizou uma
menina que foi chamada Maria (Paróquia de Nossa Senhora da Conceição,
2008).
No entanto, um relato divergente e complementar desses mesmos
fatos, datado de 1929, que indica que a primeira paróquia teria sido criada em
1766:
A creação da parochia,(...), data de 6 de Fevereiro de 1766, dois
annos após a erecção do patrimônio, sendo nomeado vigário o
Rvmo. P. Hyeronimo de Camargo Bueno que realizou o primeiro
baptisado em 17 de Fevereiro do mesmo anno, recebendo o
sacramento a menina Maria, filha de João Paes Domingues e d.
Leonor Pedrosa.Faziam parte da parochia, nesse tempo, as
villas de Amparo, Soccorro e S. Sebastião de Tuyuty (Caldeira,
1929: 52).
Em 22 de outubro de 1800, foi fundada a Irmandade do Santíssimo
Sacramento. Como marco da centralidade da cidade foi edificada a Igreja do
Rosário, em 1827, em estilo gótico com arcobotantes, arcos, abóbadas ogivais
e paredes com grandes vitrais (Caldeira, 1929).
A Capela de Nossa Senhora da Conceição foi reformada em 1837 e em
1858 - este derradeiro reparo deu-se em seguida à primeira visita pastoral de
D. Antonio Joaquim de Mello, o então Bispo de São Paulo (Caldeira, 1929). Em
1874, por iniciativa do Padre Simplício Bueno de Siqueira foi criada a
Irmandade do Senhor dos Passos da Santa Casa de Misericórdia: Reuniu-se a
Irmandade no Consistório da Igreja do Rosário (...) a 25 de Outubro do mesmo
anno, procedia-se a eleição da sua primeira mesa administrativa (Caldeira,
1929: 42).
89
Por esta ocasião, em 1897, a cidade recebeu outra visita pastoral,
agora do Cardeal Joaquim Arcoverde. Após a visita do prelado, foram
fundadas várias associações católicas, entre elas: o Apostolado da Oração
(1898), a Conferência São Vicente de Paula (1898), as Damas de Caridade
(1900), o Centro Catholico de Bragança (1902), a Congregação da Doutrina
Cristã (1906), a Pia União das Filhas de Maria (1911), a Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário e São Benedito (1913) e a Obra dos Tabernáculos (1915)
(Caldeira, 1929).
Em 1909, Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus (nascida
Amábile cia Visintainer), a Santa Paulina, foi deposta, pelo então Arcebispo
Metropolitano de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, do cargo de
Superiora Geral da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. A
religiosa deixou o Paulo e foi enviada para Bragança Paulista onde o seu
grupo mantinha uma casa de freiras - a fim de cuidar dos idosos do Asilo
São Vicente de Paula e dos doentes na Santa Casa de Misericórdia. Em 1918,
por determinação da mesma autoridade eclesiástica, retornou a São Paulo,
onde permaneceu até 9 de julho de 1942, quando faleceu (Congregação das
Irmãzinhas da Imaculada Conceição, 1980).
Em 1912, começaram os trabalhos do primeiro asilo infantil, já aqui
referido, o Preventório Imaculada Conceição:
Devido aos sentimentos altamente philantropicos da exma. Sra.
Viscondessa da Cunha Bueno, possue Bragança um sanatório
destinado a recolher os filhos de tuberculosos afim de preserval-
os do terrível contágio. A direcção está entregue ás virtuosas
irmãs do Santíssimo Sacramento, sendo Madre Superiora a
nobre Irmã Dolores, carácter puríssimo e alma de escol, que tem
como abnegadas cooperadoras as irmãs Carmelina, Theresa,
Antonietta, Crescencia, Julia, Vicentina e Athanasia (...) abriga o
Sanatório 145 creanças sendo 50 meninos e 95 meninas
(Caldeira, 1929: 38 e 42).
90
A primeira escola católica de Bragança, o Colégio Sagrado Coração
de Jesus, somente para meninas, foi criado em 1914, concebido pelo
Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, e dirigido
pela Congregação Espanhola Filhas de Jesus:
O Colégio Sagrado Coração de Jesus (1914), surgiu a partir da
ideia do Arcebispo Metropolitano Duarte Leopoldo e Silva que
abriu subscrição e obteve 14 contos de réis, quantia essa com a
qual foi adquirido prédio na rua do Commercio, (...) que foi
reformado e colocado à disposição das Filhas de Jesus por todo
o tempo que desejassem (...) iniciou suas atividades com 38
alunas (Mathias, 1999: 152).
Em 1919 foi demolida a Igreja que deu início à cidade, construída em
1764, dando lugar à primeira Catedral de Bragança Paulista. Esta Sé, de
arquitetura clássica, foi construída em 1920 e demolida em 1965.
No ano de 1925 começou movimento para pleitear a criação da Diocese
de Bragança Paulista. Em 24 de julho de 1925, o Papa Pio XI, através da Bula
Ad Sacram Petri Sedem, criaria no Brasil a Diocese de Bragança e
estabeleceria que sua Catedral seria a Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Conceição. O seu território, em quase toda a extensão, foi extraído da
Arquidiocese de São Paulo e, em parte, da Diocese de Campinas - da qual
Bragança Paulista tornou-se Diocese Sufragânea, em 1958, com a criação da
Província Eclesiástica de Campinas. A Diocese de Bragança foi concretizada
em 4 de fevereiro de 1927, sendo escolhido para ser seu primeiro bispo, Dom
José Maurício da Rocha (Laurito e Martins, 1943).
A Diocese de Bragança Paulista, tem 4.400 Km quadrados, englobando
o norte da Região Metropolitana da Cidade de São Paulo e faz divisa com o
Estado de Minas Gerais até a Serra da Mantiqueira. Compreendendo 18
Municípios e 49 Paróquias. Cidades compreendidas pela Diocese: Socorro,
Pinhalzinho, Tuiuti, Pedra Bela, Vargem, Joanópolis, Piracaia, Morungaba,
Jarinu, Perdões, Nazaré Paulista, Francisco Morato, Franco da Rocha, Caieiras
91
e as Foranias de Itatiba, Atibaia, Mairiporã e Bragança Paulista. Perfazendo
um total de 49 paróquias e cerca de 1 milhão de fiéis. A mitra de Bragança
Paulista divide-se em quatro foranias: Bragança, Atibaia, Itatiba e Mairiporã. A
Diocese tem, ainda, vinte e duas comunidades religiosas, femininas e
masculinas, bem como o Seminário da Imaculada Conceição que compreende
o Propedêutico em Bragança Paulista, e as faculdades de Filosofia e de
Teologia em Campinas.
Desde a sua criação, o episcopado foi conduzido por cinco bispos
diocesanos e um administrador apostólico. O primeiro bispo diocesano foi Dom
José Maurício da Rocha
10
que assumiu a diocese no dia 19 de junho de 1927
(Diocese de Bragança Paulista, 2008).
Em 1928 foi fundado o primeiro colégio católico para meninos,
encetando suas atividades como um internato. Este colégio encerrou suas
atividades em 1968:
O Colégio São Luiz iniciou suas atividades a 21 de maio de
1928, com 50 alunos (...) A Diocese dirigia o Colégio, para
depois, sob contrato datado de 11 de outubro de 1939, transferi-
lo aos padres Agostinianos (...) O Colégio São Luiz funcionou até
1º de janeiro de 1968 (...) (Mathias, 1999: 150).
Em 19 de março de 1960, foi fundado por Dom José Maurício da Rocha,
primeiro bispo diocesano de Bragança Paulista e confiado à Congregação
“Irmãs de Jesus Crucificado” a fim de que estas o gerissem, o asilo infantil
católico ISE Instituto Social e Educacional (o qual é objeto de estudo desta
Tese). O acolhimento era para meninas pobres (Estatuto, 1960).
Durante o bispado de Dom José Maurício, a atual Catedral de Nossa
Senhora da Conceição começou a ser erigida no ano de 1966 com estilo
10
Dom José Maurício da Rocha, que nasceu em Lagoa da Canoa, no Estado de Alagoas, em 18
de junho de 1885, ordenou-se padre na Igreja Episcopal de Maceió, em 29 de Junho de 1908. Foi
nomeado bispo pelo Papa Bento XV, sendo destinado à Diocese de Corumbá. Sagrou-se Prelado em 20
de Julho de 1919.
92
arquitetural influenciado pelo cubismo, ou seja, com formas geométricas e
predomínio de linhas retas:
A igreja Catedral atual é um prédio de concepção moderna. Sua
construção teve inicio, sob orientação de Mons. Pedro Paulo
Farhat, em dezembro de 1966, após demolição da igreja antiga,
condenada por laudo técnico. Os trabalhos prosseguiram no
governo de D. José Lafayett Ferreira Álvares, segundo bispo
diocesano.As obras foram dirigidas por comissão formada por
Dr. Affonso Risi, Alberto Diniz, Oswaldo Russomano e outros
homens e mulheres que, durante mais de 15 anos, promoveram
grandes festas e movimentaram barracas montada à frente da
Catedral. Em março de 1973, ainda em obras, a nova igreja
começou a ser utilizada para o culto (Paróquia de Nossa
Senhora da Conceição, 2008).
Considerando-se a idade avançada e as condições precárias de saúde
de Dom José Maurício, o Papa Paulo VI nomeou, em 7 de dezembro de 1968,
o Bispo Diocesano de Jundiaí, Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, como
Epíscopo Administrador Apostólico da Diocese de Bragança Paulista. Neste
ínterim, faleceu Dom José Maurício, em 24 de novembro de 1969, sendo
sepultado na cripta da Catedral. Dom Gabriel, sem deixar o cargo de Bispo de
Jundiaí, tomou posse em 11 de Janeiro de 1969 e dirigiu a Diocese até 7 de
março de 1971 (Diocese de Bragança Paulista, 2008).
Dom José Lafayette Ferreira Álvares
11
, segundo bispo diocesano de
Bragança Paulista, foi presidente de honra do ISE – Instituto Social e
Educacional. Sua posse episcopal deu-se em 7 de março de 1971. Conduziu a
Diocese até 1 de janeiro de 1977. Morreu em 7 de março de 1997, sendo
também enterrado na cripta da Catedral.
11
Dom José Lafayette Ferreira Álvares, natural de Conceição do Rio Verde, Estado de Minas
Gerais, em 30 de novembro de 1903. Foi ordenado padre em 15 de agosto de 1934, em o Paulo.
Sagrou-se bispo auxiliar de São Paulo em 8 de setembro de 1965, foi designado pelo Papa Paulo VI
como segundo bispo Diocesano de Bragança Paulista em 1 de fevereiro de 1971.
93
O terceiro bispo diocesano, Dom Antonio Pedro Misiara
12
, administrou a
Diocese até 20 de agosto de 1995. Residiu, com Dom Bruno, na Casa da
Diocese de Bragança Paulista até seu falecimento em 11 de maio de 2004.
Em 1977, durante o episcopado de Dom Antônio Pedro Misiara, foi
concluída a construção da nova Catedral, que foi consagrada a Virgem Maria
no dia 8 de dezembro do mesmo ano:
Os trabalhos foram encerrados em meados de 1977 sob
orientação de Mons. Domingos Bonucci e pelo empenho direto
do terceiro bispo diocesano, D. Antônio Pedro Misiara, que
acabava de tomar posse da diocese (Paróquia de Nossa
Senhora da Conceição, 2008).
Dom Bruno Gamberini
13
, em 17 de maio de 1995, foi nomeado pelo
Papa João Paulo II, quarto Bispo Diocesano de Bragança Paulistão qual tomou
posse em 20 de agosto de 1995.
O quinto e atual bispo diocesano, Dom Jo Maria Pinheiro
14
, foi
nomeado pelo Papa João Paulo II no dia 9 de março de 2005. No dia 8 de maio
do mesmo ano, foi realizada a solenidade de sua posse em missa campal, em
frente à Catedral de Nossa Senhora da Conceição, em Bragança Paulista.
Senhoras católicas bragantinas
12
Dom Antonio Pedro Misiara, nasceu em Tietê, Estado de São Paulo, em 1 de dezembro de
1917. Foi ordenado presbítero na Basílica de São João de Latrão, em Roma, no dia 24 de abril de 1945.
Dom Antonio foi investido como terceiro bispo diocesano de Bragança Paulista pelo Papa Paulo VI, em 1
de novembro de 1976. Sagrado bispo na Catedral de Sorocaba em 1 de janeiro de 1977.
13
Dom Bruno Gamberini, nascido em Matão, Estado de São Paulo, em 16 de Julho de 1950, foi
ordenado padre na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus de Matão em 11 de dezembro de 1974. Foi
ordenado bispo em 16 de julho de 1995 na Catedral de São Carlos Borromeu em São Carlos, Estado de
São Paulo. Após seu bispado em Bragança Paulista, foi designado arcebispo de Campinas em 02 de
junho de 2004.
14
Dom José Maria Pinheiro, nasceu em Nazaré Paulista, Estado de São Paulo, em 31 de julho de
1938. Estudou no Seminário Menor Metropolitano do Imaculado Coração de Maria, onde ingressou em
1951 e permaneceu até 1957. Foi nomeado bispo auxiliar de Guajará-Mirim, Estado de Rondônia, sendo
sagrado no dia 19 de abril de 1997, em Nazaré Paulista. Em 6 de agosto de 2003 foi designado bispo
auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, onde permaneceu por dois anos.
94
A compreensão de certas práticas realizadas no contexto das chamadas
obras assistenciais católicas pressupõe uma análise do envolvimento dos
agentes em uma estrutura maior e os compromissos com a situação de classe
que representam, como já se explicitou anteriormente. Lucien Goldmann
(1972a e 1972b)
motiva a reflexão para o fato de que no desenvolvimento de
uma economia capitalista, na modalidade em que esta se desenvolveu no
Brasil, acentua-se a tendência a reduzir a realidade política a expressões que
se pretendem ativas e autônomas, mas que são, na realidade, mais ou menos
passivas da única realidade efetiva e essencialmente atuante: a vida
econômica e os interesses das classes dominantes.
Quanto ao setor propriamente espiritual da superestrutura - a religião, a
moral, a vida intelectual, a literatura, a arte, a filosofia - o mesmo processo se
verifica, em grau mais elevado. Em uma sociedade capitalista clássica, a
economia - que é o setor mais extenso da vida social - goza de autonomia
quase total e se ela ainda sofre em pequena escala a ação da vida jurídica e
política, escapa, por outro lado, a qualquer ação da religião, da moral e da vida
intelectual, ao passo que continua a agir poderosamente sobre elas.
Goldmann (1979:17-20) aponta para os problemas do papel ativo da
consciência, do indivíduo, assim como dos grupos humanos, na compreensão
de sua realidade de entorno. Estes constituem totalidades parciais que não
podem ser seccionadas para deles se fazer realidades autônomas. Não
pensamento independente do comportamento ou da afetividade, nem
comportamento independente da consciência de sua realidade social de
origem. O estudo do pensamento, da afetividade e do comportamento de um
indivíduo isolado vai mostrar que estas suas expressões constituem uma
unidade coerente e significativa, cuja estruturação passa por um grande
número de mediações das quais o sujeito não é, ou o é muito pouco,
consciente e, por isso, dificilmente revelável. Por conseguinte, Goldmann
considera ser mais fácil evidenciar a coerência que rege o comportamento, a
afetividade ou a consciência de um grupo social dentro do qual as inúmeras
95
parcelas individuais se anulam mutuamente.
Referindo–se a Marx, Goldmann
(1967 e 1979) reitera a questão das
relações entre a infraestrutura e a superestrutura, afirmando que inexiste
história autônoma da economia, do pensamento, da religião e por outro lado,
que o há, no conjunto da história, primazia de qualquer setor particular da
vida social sobre outro. A vida social constitui sempre uma totalidade
estruturada e cada esfera particular dessa estrutura varia com diferentes
dinâmicas no decorrer do tempo. As imagens sociais que nutrem os processos
de distanciamento social têm sido criadas e incorporadas na forma de crenças
e valores que justificam o mundo e as relações do cotidiano, veiculados pelos
canais de comunicação disponíveis no momento, para reforçar a ordem
vigente. Essas imagens representam as impressões relativas às ações
humanas, tomadas como acontecimentos naturais e não produzidos pelo
próprio homem. Cabe lembrar, que o imaginário social pertence a uma
estrutura de valores, normas e símbolos historicamente constituídos. A
finalidade dos chamados mitos unificadores é a sedimentação de certas
práticas sociais, naturalizando-as.
Uma vez traçadas as bases desta discussão, apresentam-se algumas
questões tópicas relativas aos agentes propagadores das práticas sociais.
Assim, a primeira pergunta que se apresenta para análise referente às fontes,
visa caracterizar social e culturalmente as mulheres que protagonizaram as
práticas pedagógicas e devocionais da entidade. Quem seriam elas? Como
identificá-las enquanto sujeitos históricos?
Partiu-se da reconstituição da trajetória biográfica da senhora Dinah
Colombi de Assis, filha primogênita de fazendeiros, que em 1945, ingressou no
prestigiado Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Bragança Paulista, centro
de formação da elite social da cidade. Ela representa um padrão da
consciência da elite que operacionalizava os abrigos em geral. Dona Dinah,
diferentemente das demais contemporâneas, não era professora, pois havia
cursado uma escola técnica de contabilidade. Demonstrou sempre gostar de
96
tarefas administrativas, tendo trabalhado na secretaria do Externato Pio XII,
uma escola católica da cidade, de propriedade de sua prima Jaci Costa Valente
Leme. No decorrer de sua trajetória foi curadora da Universidade São
Francisco, também em Bragança Paulista. Em Campinas, foi administradora do
Colégio Dom Barreto.
Seu desenvolvimento pessoal e profissional ocorreu a partir de seus
relacionamentos com os segmentos mais elitizados e católicos de Bragança
Paulista - igualmente à grande parte das diretoras da Instituição, que advieram
do mesmo núcleo sociocultural. Essa modalidade de pertença social é
explicada por Gallian (1997): a seu ver, muitas das mulheres que
esquadrinhavam os conventos e entidades beneficentes confessionais
católicas eram moças do alto mundo, cultas e instruídas que viam na vida
meditativa e caritativa um fascinante caminho de realização e santificação.
Esse atrelamento social das mulheres da elite dos centros urbanos
brasileiros com a Igreja Católica é ratificado ainda nos registros de sóror
Gemma d’Alba em suas Cartas a uma devota (Castro, 2002). As destinatárias
dessas missivas eram do círculo social da autora, ou seja, as noelistas
brasileiras - movimento dedicado à formação da verdadeira mulher cristã da
elite, fundado pela Igreja Católica na França no final do culo XIX, tendo
aportado no Brasil em 1914 (Castro, 2002).
Os eventos passados identificam esta agregação entre o catolicismo e
as mulheres do escol social. A maior parte dos católicos praticantes no Brasil
do princípio do século XX era composta por mulheres (ainda hoje é), as quais
eram formadas em colégios confessionais, dirigidos por freiras, edificados nas
principais cidades brasileiras e destinados às classes sociais mais abastadas
da população (Castro, 2002). Esta é uma das modalidades da alienação que se
estende a todos os domínios da vida social e intelectual, mas o que está em
pauta aqui é o processo de modificação da prática dessa elite.
Essa tendência geral, contudo, assumiu em cada terreno particular
97
formas diferentes. Distinguem-se aqui pelo menos duas estruturas
diferentes: os domínios mais estreitamente ligados à vida econômica, ao direito
e à política, e os mais afastados desta: a vida intelectual, moral e religiosa,
entre outras. A ênfase circunstancial nessa análise recai sobre esta última
estrutura.
As mulheres católicas adquiriram, sobretudo a partir dos anos 20-30,
uma identidade grupal própria, vinculada a um catolicismo participativo, isto é,
tornaram-se panegiristas do embate da Igreja Católica versus o modernismo, o
liberalismo e, mormente, o comunismo. Atuavam decididamente nas práticas
litúrgicas católicas e no catecismo. O espaço institucional da Igreja constituía,
para as mulheres da elite, a probabilidade de adquirir novos papéis e serem
providas de prestígio social. Apesar das sujeições sociais e ideológicas, estas
mulheres católicas atuaram terminantemente na compleição de suas
identidades e de novas sociabilidades no ambiente religioso das primeiras
décadas republicanas.
O perfil de Dona Dinah Colombi de Assis encaixa-se na feição dessas
noelistas, isto é, de mulheres católicas das camadas sociais mais privilegiadas,
e isto caracterizou sua trajetória no ISE. Desde a fundação do Instituto até
1973, ela foi voluntária na entidade onde também fazia a escrita contábil
institucional graciosamente. Em 1975, tornou-se a primeira diretora (presidente)
da instituição que era oriunda do laicato católico. Enquanto perdurou sua
gestão, residiu na entidade.
Conforme os documentos pesquisados, dona Dinah implantou uma
granja, uma horta e um pomar no colégio (como era chamado o asilo).
Ministrava aulas diárias de religião na capela, além de participar da missa,
juntamente com as meninas. Durante o período em que dona Dinah esteve à
frente do estabelecimento, as senhoras bragantinas católicas vocacionadas por
perfil similar ao da gestora, realizavam festa temáticas, a fim de que a
arrecadação suprisse as necessidades financeiras do ISE.
98
Dona Dinah renunciou a diretoria em 15 de fevereiro de 1975, sendo
substituída pela vice-diretora, Sra. Luiza Nogueira conforme consta na Ata de
03/03/1975.
Dona Luiza assumiu em 3 de março de 1973, permanecendo como
presidente da entidade por mais tempo de existência da mesma, isto é,
dirigindo-a por vinte e oito anos. Ela passou a residir em Bragança, em virtude
de ser a governanta do Bispo Diocesano - Dom Lafayette - integrando sua
comitiva permanente, juntamente com as sras. Maria Helena e Neuza.
Ao tomar posse como diretora do ISE, a Sra. Luiza Nogueira conferiu ao
Bispo Dom José Lafayette Ferreira Álvares o título de presidente de honra (Ata
de 15/02/1975).
99
IV- O ISE - Instituto Social e Educacional
4.1- A Fundação, as regras, os estatutos, os personagens e os períodos
O ISE Instituto Social e Educacional, foi fundado em 19 de março de
1960, por Dom José Maurício da Rocha, primeiro bispo diocesano da cidade de
Bragança Paulista, e pela Congregação “Irmãs de Jesus Crucificado”, com
sede na cidade de Campinas. Este Instituto se acostava no modelo higienista e
assistencialista sobre o qual havia sido consolidado o aparelhamento do
Preventório Imaculada Conceição primeiro asilo da cidade. A Diocese de
Bragança Paulista é a mantenedora do Instituto Social e Educacional, que por
sua vez proo Educandário Nossa Senhora da Glória. É uma instituição de
natureza beneficente, educacional e assistencial, como consta no art. 1º de
seu Estatuto:
Artigo 1) Sob a denominação de Instituto Social e Educacional
de Bragança Paulista, fica fundada uma sociedade civil de
caráter beneficente, educacional e assistencial, com séde e foro
nésta cidade de Bragança Paulista, Estado de São Paulo, à rua
Cel. Afonso Ferreira, s/nº., que se rege pelos presentes
Estatutos.
Os documentos da entidade e as pesquisas realizadas em jornais e
depoimentos orais sobre a época permitem confirmar o pressuposto inicial
deste trabalho, segundo os quais os propósitos formadores do ISE são
compatíveis com o ideário de uma pedagogia científica e saneadora. A
entidade em questão havia sido concebida para abrigar meninas carentes, a
fim de elevar o coeficiente religioso e social das mesmas, conforme ata de
fundação: (...) amparar meninas abandonadas, preparando-as para a vida,
mantendo cursos de artes femininas e promovendo a elevação do nível social e
religioso das referidas assistidas, através de recreação sadia e educativa (...)
(Ata de 19/03/1960).
100
A ata de fundação do ISE - Instituto Social e Educacional possibilita a
percepção das intenções dos mentores da instituição que congregadas às
práticas higienista, realçavam o caráter assistencialista, clientelista e
segregador da entidade. O intuito explícito era coibir os risco de propagação da
miséria financeira e moral. Entre os objetivos evidenciáveis do ISE estava a
tarefa de cuidar das meninas, religiosa e socialmente, pauperizadas.
Aparentemente as freiras não demonstravam possuir consciência sobre os fins
institucionais, porque nos documentos destacava-se um forte discurso altruísta
das gestoras da obra para com as garotas e suas famílias.
Sua fundação insere-se na história da infância brasileira da segunda
metade do século XX, sob as influências médico-higienista e jurídico-policial,
citadas anteriormente, nas quais juristas e médicos organizaram-se para
promover a ingerência do Estado na moralização dos hábitos da população
pobre (Couto e Melo, 1998). Esta influência implicava a introdução de uma
nova forma de assistência à infância, a qual responsabilizava as famílias
pobres pelo aumento da criminalidade e pelo abandono de crianças, tornando-
as necessitadas de orientação e controle.
Este Instituto configurava-se como uma entidade confessional católica,
para meninas de 7 a 17 anos, conforme o seu primeiro estatuto. No entanto,
sem nenhuma modificação estatutária, o ISE alterou a faixa etária de
atendimento para iniciá-lo aos 3 anos de idade:
Artigo 2 – O Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista,
que se orienta pelos princípios cristãos, ao se constituir em
pessoa jurídica, declara respeitar e obedecer em sua
organização e atividades, não os dispositivos das leis
vigentes do país, como ainda as prescrições do Código do
Direito Canônico que forem atinentes.
O escopo do ISE, conforme os artigos e de seu primeiro estatuto,
são os que se seguem:
101
Artigo 3 – São suas finalidades:
a Amparar e dar assistência a meninas e à juventude feminina,
preparando-as para a vida prática;
b – Manter cursos de artes femininas;
c Promover a elevação do nível social e religioso das referidas
assistidas;
d – Encaminhar para os estabelecimentos de ensino locais as que
manifestarem capacidade para os estudos;
e – Promover educação sadia e educativa.
Artigo 4 O Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista,
manterá também um trabalho de assistência às famílias
desprovidas de recursos financeiros, por meio de visitas
domiciliares, levando-lhes juntamente com o conforto moral o
auxílio material.
O artigo 3º do estatuto, as atas de reuniões e de assembleias
corroboram que as crianças de famílias pobres, quando procuravam auxílio
estatal, estavam fadadas a serem institucionalizadas como se fossem órfãs ou
abandonadas. Desta maneira confirma-se a análise de Rizzini (2004), quando
afirma que, em nossa história, diversas gerações de crianças passaram a
infância e a adolescência internadas em grandes instituições fechadas.
O local inicial de funcionamento uma antiga casa que pertencia à
Paróquia de Santa Teresinha teve que ser substituído por um novo local
para poder cumprir suas finalidades. Isso ocorreu quando o Bispo de Bragança
fez a doação à Congregação de um imóvel localizado à Rua Cel. Afonso
Ferreira, a fim de que esta assumisse a manutenção do abrigo Nossa Senhora
da Glória, por meio da instituição recém criada. Consta que o referido imóvel
havia sido anteriormente doado à Diocese de Bragança Paulista pela Sra.
Amélia Eugênia Leme Fagundes, com a condição de nele perpetuar um
estabelecimento de amparo a crianças abandonadas.
A Congregação responsável, mediante doações, fez reformas no ISE -
102
Instituto Social e Educacional, as quais eram consideradas imperiosas
(construção de muro, ampliação dos quartos, construção de sala de reuniões e
colocação de vitrais na capela) para abrigar as meninas.
A partir da inauguração da nova sede do ISE, em 3 de março de 1963,
este foi consolidado como entidade assistencial, administrada pela
Congregação das “Irmãs de Jesus Crucificado”. Sua primeira diretora época
não era utilizada a nomenclatura de presidente) a Irmã Maria Philomena de
Oliveira, ficou no cargo até 28 de março de 1968, quando foi transferida de
cidade por determinação da Congregação.
Além da Irmã Maria Philomena de Oliveira, outras religiosas merecem
destaque: Rachel de Almeida Prado (vice-diretora e assistente social), Ilda
Pedro (secretária e professora), Ignez Guarnieri (tesoureira), Judith Villela,
Maria do Carmo Barão, Maria de Lourdes Franco, Maria Tereza Figueiredo,
Maria Helena Ferreira Cintra, Neuza Rita Cassiani, Lídia Souza Franco e
Noême Santos Borges (Ata de 19/03/1960). Estas, auxiliavam na educação, na
catequese e no acompanhamento do dia-a-dia das meninas.
A entidade é uma construção clássica em forma de cruz - que é o
contorno da capela que se localiza no térreo - com grandes escadas e
corrimões de madeira, quartos, refeitório com imensas mesas, sala de
televisão, biblioteca, cozinha ampla, lavanderia, farmácia, consultório, pomar,
horta, granja e escola. Nos seus primórdios não apresentava parquinho e/ou
quadra para recreação infantil.
Havia uma combinação de assepsia com regras austeras. Inicialmente, o
atendimento às crianças era feito em forma de externato: as meninas tinham
aulas de trabalhos domésticos, culinários e manuais. Aquelas que colaboravam
com os movimentos dos trabalhos da Obra eram premiadas em comemorações
religiosas e festivas (Ata de 09/11/1961).
Com a mudança de sede, o ISE passou a ser organizado como um
internato, estruturando-se sobre bases tradicionalistas como disciplina, religião
103
e esquecimento do passado. As crianças passavam o dia todo com o
uniforme. Até quatro anos de idade, as meninas repousavam depois de comer.
Havia ausência de privacidade entre elas. Os banheiros não tinham trancas.
O ISE sempre teve fotografias do presidente da República e do
governador do Estado no saguão. Quando a diretora e/ou a presidente
passavam pelo prédio todas as meninas ficavam de pé, como se estivessem
prestando continência.
As meninas recebiam os sacramentos do batismo, da eucaristia e da
crisma, para tais cerimônias ganhavam roupa e crucifixo, os padrinhos eram
conhecidos da diretoria da entidade. O rito era preparado em minúcias pelas
religiosas, na temporada em que estas comandavam o ISE, sendo tão
irreprochável quanto as dezenas de camas dos dormitórios das meninas: todas
forradas com colchas brancas.
Havia uma massificação das crianças, que se pareciam com o lugar e
entre si. Cumpria-se uma rotina expressa em um organograma pendurado na
parede. Até a saúde estava planejada: no asilo havia um consultório médico e
dentário e o atendimento obedecia a um cronograma sequencial.
É interessante observar que no ISE não registros de crianças que
teriam sido adotadas, bem como, de casos de perda do pátrio poder. A maioria
das internas permanecia sempre na instituição por mais de dez anos, não
havendo informação de seu destino após sua desinternação.
O ISE, assim como as instituições asilares do mesmo período, embasou
suas ações em princípios voltados para o enquadramento e o controle social,
disseminando a proteção das crianças das “doenças sociais” e do mundo
adulto contaminado pela “nociva miséria” (Marzagão-Silva, 2002). Os
internos deviam readquirir, no interior do asilo, os valores perdidos com as
enfermidades sociais e a perniciosa pobreza, a fim de estarem aptos a retornar
à convivência social (Foucault, 1985). Tinha por escopo, portanto, com a
interdição infantil, a obtenção da liberação da mulher-mãe para o mercado de
104
trabalho e o aparelhamento de pessoas alimentadas e sem enfermidades
para seu futuro ingresso no mercado de trabalho.
Na perspectiva apontada por Foucault (2004), o ISE - como as
instituições asilares congêneres voltadas ao controle de crianças - foi fruto da
junção de interesses jurídicos, políticos, médicos, confessionais e
educacionais. A entidade visava, pelo controle nomeadamente social,
estabelecer um papel de classificação, de hierarquização e de distribuição de
lugares por meio da disciplina e do poder das normas - tal como a vigilância e,
acoplada a ela, a regulamentação - como grandes instrumentos de poder. Os
sinais que denotavam a posição das suas alunas na sociedade eram
acrescidos de um conjunto de normalidades, que se constituíam em balizas de
filiação a um corpo social homogêneo, o que tem em si mesmos um papel de
categorização, de hierarquização e de distribuição de lugares. Nessa acepção,
o poder de regulamentação força à homogeneidade.
Inicialmente o ISE abrigou somente nove meninas, dando início a um
regime de internato, juntamente com o semi-internato, em 1964, conforme
critérios do Serviço Social da Obra (Ata de 06/01/1964) - convém lembrar, que
sempre a Congregação manteve no ISE uma religiosa assistente social. Com
relação às primeiras garotas que foram recolhidas e abrigadas, em decorrência
da falta de arquivos e registros, perderam-se os dados cadastrais das mesmas.
Após 1965, houve um vultoso aumento de meninas atendidas. Isto se deveu a
um explícito propósito social da Instituição, conforme consta de documento. A
Instituição havia sido organizada, naquele momento, para proporcionar a
manutenção de cento e seis alunas gratuitamente (Ata de 25/01/1965).
Os relatos, na sequência, têm a finalidade de descrever a organização
administrativa do ISE ao longo dos anos, desde sua fundação.
Em 28 de março de 1968, assumiu como diretora a Irmã Martha
Peregrino da Silva, permanecendo até 18 de fevereiro de 1969 quando
assumiu a Irmã Neuza Rita Cassiani.
105
Em 1970 foi fechado o semi-internato (assim considerado o regime
no qual as meninas passavam o fim de semana com suas famílias) devido a
problemas considerados sérios, que envolviam práticas, incluindo as
alimentares, das famílias das meninas atendidas - dessas, 75% cursavam da
pré-escola à quarta série do Ensino Fundamental. O encerramento do semi-
internato tinha por objetivo dificultar o contato das abrigadas com os pais,
porque, segundo relatos informais, havia grande preocupação com a
alimentação (influência higienista) que as mesmas traziam depois da visita que
faziam às suas famílias.
O ISE, assim como os demais asilos femininos, era mantido em regime
claustral, inviabilizando o relacionamento das internas com o mundo externo
(Rizzini & Rizzini, 2004). Esse padrão responde ao que Foucault denominava
de estruturas de controle "normalizadoras" de hábitos e costumes infligidos
pelas classes dominantes às classes pobres. O domínio acerca da sexualidade
feminina foi fortemente desempenhado nos asilos de meninas até meados do
século XX (Rizzini & Rizzini, 2004).
Em 14 de fevereiro de 1973, ocorreu uma reunião extraordinária para
alterar o estatuto da entidade, ficando os artigos 1º, 3 º com a seguinte
redação:
Artigo 1) O Instituto Social e Educacional de Bragança
Paulista, fundado no dia 19 de março de 1960, é uma sociedade
civil, de caráter privado, que tem finalidade beneficente,
educacional e assistencial, sem fins lucrativos e sem distinção
de raça, cor, sexo, condição social, credo político ou religioso.
Artigo 2) São finalidades específicas do Instituto Social e
Educacional de Bragança Paulista:
a) Promover integralmente menores pobres da região bragantina
nos aspectos educacional, assistencial, social e moral;
b) Amparar e dar assistência aos menores;
c) Proporcionar um treinamento semiprofissional aos menores
através de ensinamento teórico e prático;
106
d) Encaminhar os menores para colégios e escolas do
município, conforme suas aptidões;
e) Atingir as famílias dos menores através da assistência
promocional.
Artigo 3) O Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista,
funcionará por tempo indeterminado e terá sua sede na cidade
de Bragança Paulista, Estado de São Paulo.
Na diretoria da Instituição permaneceu a Irmã Neuza Rita Cassiani a1
de março de 1973, quando a Congregação renunciou ao compromisso de
mandato, devolvendo o imóvel a Dom José Lafayette Ferreira Álvares, segundo
Bispo Diocesano de Bragança Paulista.
Em 3 de março de 1973, a direção do ISE passou a ser secular,
assumindo a Senhora Dinah Colombi Assis. Neste mesmo ano, Dom José
Lafayette Ferreira Álvares transferiu a propriedade do referido imóvel ao ISE -
Instituto Social e Educacional, por intermédio de doação condicionada a
cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade vitalícias, bem como a
reversão pura e simples em caso de descumprimento, por parte do ISE, das
condições estabelecidas para direção do Educandário Nossa Senhora da
Glória.
Com isto, facultou-se ao ISE desonerar-se da incumbência
espontaneamente a qualquer tempo (Ata de 03/09/1973). Em virtude da
doação do imóvel ao internato, em 1974, houve alteração do quadro social
deste, ingressando como associados os seguintes membros do clero local:
Dom José Lafayette Ferreira Álvares, Monsenhor Lélio Mendes Ferreira,
Monsenhor Pedro Paulo Farhat, Padre Arthur Bigon Júnior, Monsenhor Tito
José Felice, Padre Aldo Bollini e Padre Donato Vaglio (Ata de 05/06/1974).
Com a saída da Congregação “Irmãs de Jesus Crucificado” da entidade,
o regime de internação das crianças abrigadas passou por modificação,
transformando-se em um internato que autorizava às meninas irem à casa de
suas famílias nos finais de semana. O cotidiano das crianças do Instituto
107
manteve-se - do mesmo modo que o de outras crianças brasileiras
institucionalizadas - disciplinado, intransigente e metódico, com exagero de
ocupações para fazê-las obedientes.
A Senhora Dinah Colombi Assis permaneceu no cargo de diretora até 15
de fevereiro de 1975, quando renunciou e foi substituída pela vice-diretora, Sra.
Luiza Nogueira. Esta o assumiu em 3 de março de 1973, ficando no mesmo por
vinte e oito anos (Ata de 03/03/1975).
Ao tomar posse como diretora, a Sra. Luiza Nogueira conferiu ao Bispo
Dom José Lafayette Ferreira Álvares o título de presidente de honra do ISE
(Ata de 15/02/1975). Em 1976, ocorreram mudanças no estatuto referentes à
composição administrativa.
Artigo 10 - Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista
será administrado por uma diretoria composta pelos seguintes
cargos: Presidente, Vice-Presidente, Secretário, Tesoureiro, um
Conselho Fiscal com três membros e três suplentes e
Assembleia Geral (Ata de 13/09/76).
Dona Luiza, assim como a Senhora Dinah, enquanto esteve à cabeceira
da Instituição nela residiu, corroborando a racionalidade existente, na época,
para as instituições em prol da infância, ao abraçarem o encargo da educação
de crianças, tecem uma alocução peculiar sobre a detença das mesmas em
seu interior, igualmente dos profissionais que nelas atuam (Earp, 1998).
A condição do ISE não de alterou com o novel Código de Menores
(1979), continuando a ser regido pelas mesmas bases segregacionistas do
anterior, solidificando exclusivamente o preceito da "situação irregular"
(estabelecida pelo Código de Menores de 1927) (Earp, 1998).
No que se refere à permanência das crianças no internato, articulado ao
ideal higienista, o propósito continuou sendo que fosse tão longa como o
período de seu desenvolvimento, pois seus pais eram considerados
108
incompetentes para criá-las. Nessa instituição continuaram a ser
ministrados: instrução escolar e prática, aulas de educação física, trabalhos
domésticos e outros ofícios.
O novo código atribuía ao juiz de menores, uma vasta competência para
extrair crianças pobres de seu meio sociofamiliar e interná-las em instituições
como a FEBEM - Fundação Estadual do Bem Estar do Menor e o ISE quando
ocorresse a referida situação irregular, que o Código de Menores
considerava o "abandono" ou "desvio" como um problema de classe social das
populações carentes (Couto e Melo, 1998). informação de meninas que
residiram no asilo dos 4 aos 18 anos, sem jamais ter sido aberto um
procedimento de adoção - apenas eram retiradas judicialmente do inóspito
meio familiar pauperizado. Nunca houve, também, uma ocorrência de menina
haver sido removida de sua família de origem que tivesse sido assentada em
família substituta.
Entretanto, ao findar a década de 1970, principiou-se a abertura política,
pós-golpe militar de 1964, favorecendo o surgimento de diversos movimentos
sociais, dentre eles, o movimento pelos direitos da infância, liderado por
organizações não-governamentais tais como a Pastoral do Menor e o
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (Couto e Melo, 1998).
No educandário, o reflexo do interstício político do decênio de 1970,
manifestou-se na acanhada criação de um externato informal para crianças na
primeira infância, acessível a meninos.
As iniciativas da cada de 1980, que tiveram como consequência a
reordenação jurídico-institucional, estabelecendo uma nova doutrina da infância
referente à sua proteção integral, tardaram a chegar no ISE, se é que o
atingiram. Com os novos empreendimentos, a criança deixava de ser vista
como objeto de tutela em situação irregular, passando a ter dignidade de
cidadã como titular de direitos, consagrados com o aparecimento do ECA -
Estatuto da Criança e do Adolescente, em 13 de julho de 1990 (Ferreira e
Noronha, 1998).
109
O ECA foi firmado num momento em que derrotar a situação de
miserabilidade e violência em que viviam as crianças e adolescentes brasileiros
era um repto. Ainda hoje, o maior de todos os desafios do ECA é o de ser
efetivamente implantado em sua integralidade, a fim de que sejam afiançados
os direitos da infância brasileira. Porém o ECA não teve o impacto inicial sobre
a entidade de Bragança Paulista em questão. Com as modificações
estatutárias ocorridas em 1976, facultou-se, na década de 1990, ao ISE alocar
uma ala do gigantesco prédio à APAE Associação de Pais e Amigos de
Excepcionais de Bragança Paulista. O citado contrato persistiu até 1994
A diretoria da entidade, veladamente, defendia o Código de Menores,
legislação anterior ao Estatuto da Criança e do Adolescente, pregando o abrigo
como saída para o abandono e servindo-se de uma pedagogia pautada na
disciplina. A organização das crianças era elevada, não haviam coisas fora do
lugar. A regra para as desobedientes era clara: quem não arrumava ficava de
castigo, isto é, sem televisão.
Mais uma vez, o bispo emérito de Bragança Paulista, Dom José
Lafayette Ferreira Álvares (2º Bispo Diocesano), foi empossado como
presidente de honra do ISE - Instituto Social e Educacional, em 1990. Em 8 de
junho de 1993, ocorreram novas modificações no estatuto da entidade no
sentido de atender ao reordenamento recomendado pelo ECA:
Artigo O Instituto Social e Educacional de Bragança
Paulista, também designado pela sigla ISE, constituído em 19 de
março de 1960, é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que
terá duração por tempo indeterminado, sede na cidade e foro na
comarca de Bragança Paulista, Estado de São Paulo.
Artigo - O Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista
tem por finalidade:
a) Manter o Educandário Nossa Senhora da Glória;
b) Promover integralmente menores pobres da região bragantina
nos aspectos educacional, assistencial, social e moral;
110
c) Amparar e dar assistência aos menores;
d) Encaminhar os menores para colégios e escolas do município,
conforme suas aptidões;
O artigo 3º explicita que no desenvolvimento de suas atividades,
o Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista, não fará
distinção de raça, cor, sexo, condição social, credo político ou
religioso.
A ata de 3 de março de 1994 deixa antever a afirmação de que o ECA
Estatuto da Criança e do Adolescente impactou de maneira leve a Instituição:
(...) para dar cumprimento aos Estatutos cuja faixa etária é de 3
a 14 anos, 70 (setenta) menores de ambos os sexos cursam o 1º
grau (atual Ensino Fundamental) na Rede estadual continuando
a frequentar o ISE participando do programa: recebem reforço
escolar com professora paga pelo ISE. Para as meninas:
treinamento doméstico, balé-aeróbica; para os meninos
capoeira; para todos: atividades esportivas, música, educação
física com aulas semanais.
Em 1997, o ISE criou o Colégio (particular) Dom JoLafayette Ferreira
Álvares - este nome foi definido em homenagem ao então Bispo Emérito de
Bragança Paulista, que residiu na instituição até o seu falecimento em 7 de
março do mesmo ano. Concomitantemente, extinguiu-se o internato, sendo
que, a partir de então, o atendimento às meninas passou a ser realizado nos
moldes de externato. O colégio começou a funcionar em 1998. Os dizeres do
ato inaugural reiteram o caráter assistencialista que sempre o caracterizou, não
obstante a vigência do ECA:
Aos vinte e um (21) dias do mês de março de 1998, realizou-se a
inauguração solene do Colégio Dom José Lafayette Ferreira
Álvares, na sede social do Instituto Social e Educacional de
Bragança Paulista (...) o Instituto Social e Educacional, tornou-se
entidade mantenedora do Educandário Nossa Senhora da
Glória, cuja denominação foi atribuída em homenagem a Dona
111
Maria da Glória Leme de Oliveira (...) a consolidação do
Instituto verificou-se no dia 15 de setembro de 1973, quando
Dom José Lafayette atendendo solicitação da Diretoria da
entidade(...) decidiu transferir o domínio deste prédio ao ISE,
com as cláusulas estabelecidas e que ainda o prendem à
autoridade diocesana, ressaltando os objetivos idealizados pela
doadora, qual seja, a promoção de menores carentes, sem fins
lucrativos e sem distinção de raça e credo político ou religioso.
Abrange essa promoção aspectos pedagógicos, psicológicos e
sociais. Os menores recebem treinamento semiprofissionalizante
através de ensinamentos teóricos e práticos; esforça-se a
entidade por atingir às famílias dos menores, e por integrá-los
socialmente (...) diante das necessidades presentes que o ISE
atravessa, a Diretoria desta casa resolveu fundar o Colégio que
hoje inauguramos, como um departamento que dará recursos
financeiros para manutenção do Educandário Nossa Senhora da
Glória, que continuará a atender os menores desta cidade (...) a
decisão foi unânime em atribuir o nome de Dom José Lafayette.
(Ata de 21 de março de 1998).
Em 5 de maio de 1998 foi convocada uma Assembleia Geral
Extraordinária com o intuito de reformar parcialmente o Estatuto do Instituto
Social e Educacional de Bragança Paulista, aditando os artigos 16 e 27:
Artigo 16 A Diretoria será constituída por um presidente de
honra, que será sempre o senhor Bispo Diocesano de Bragança
Paulista, um Presidente, um Vice-Presidente, Primeiro e
Segundo Secretário, Primeiro e Segundo tesoureiro.
Parágrafo primeiro O presidente somente exercerá seu voto,
em caso de desempate.
Parágrafo segundo O mandato da diretoria será de três (03)
anos, não devendo haver mais de uma reeleição consecutiva.
Artigo 27 – As atividades dos diretores e conselheiros serão
inteiramente gratuitos, sendo-lhes vedado o recebimento de
qualquer lucro, bonificação ou vantagem.
Parágrafo único As rendas, recursos e eventual resultado
112
operacional na manutenção e desenvolvimento dos objetivos
institucionais serão aplicados integralmente no território nacional.
(Ata de 5 de maio de 1998).
Este acontecimento, coibindo as reeleições sucessivas, provocou a
renúncia da Sra. Luiza Nogueira. Esta havia permanecido quase trinta anos na
presidência da entidade até o momento da renúncia, motivada por uma
auditoria interna (Ata de 16/06/2003). Em seguida, a Senhora Dinah Colombi
Assis reassume a presidência do ISE, permanecendo um triênio no cargo
(duração de cada mandato da diretoria desde a fundação), tendo permanecido
no cargo até 2006 e, deste ano ao seu falecimento, em 2008, foi sua vice-
presidente.
No término do segundo mandato da Senhora Dinah Colombi Assis, em
2006, a Mitra Diocesana ingressou com uma ação judicial de reintegração de
posse do terreno doado em 16 de novembro de 1973 contra o abrigo, por este
ter desativado o Educandário Nossa Senhora da Glória. Em virtude deste
litígio, o atual presidente, Luiz Benedito Roberto Torricelli (Delegado de
Polícia), convocou uma nova assembleia geral extraordinária, em 8 de janeiro
de 2007, com o intento de alterar o estatuto, mantendo o Educandário Nossa
Senhora da Glória:
Art. O Instituto Social e Educacional de Bragança Paulista,
também designado pela sigla ISE, constituído em 19 de março
de 1960, é uma associação, sem finalidade lucrativa e natureza
privada, e será regido pelo presente Estatuto Social e pelos
diplomas legais e aplicáveis.
Art. - O ISE, com sede social e foro na cidade de Bragança
Paulista, Estado de São Paulo, República Federativa do Brasil,
tem como localidade a Rua Coronel Afonso Ferreira, nº 174.
Art. 3º - O prazo de duração do ISE é indeterminado.
Art. 4º - O ISE tem por principal objetivo:
113
A) Manter o Educandário Nossa Senhora da Glória,
destinado a ações e projetos de cunho educacional, a título
gratuito. O ISE como mantenedor dessa associação filantrópica
concede a crianças carentes bolsas de estudo educacionais cem
por cento.
B) Manter o Colégio Dom José Lafayette Ferreira Álvares, de
ensino formal, unidade esta autorizada a funcionar pela Diretoria
Regional de Ensino de Bragança Paulista.
Art. - No desenvolvimento de suas finalidades cabe ao ISE
observar os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência.
§ Único Poderá o ISE criar unidades de serviços para
execução de atividades visando sua autossustentação, utilizando
todos os meios lícitos, aplicando seu resultado operacional
integralmente no desenvolvimento dos objetivos institucionais.
4.2 - Práticas Pedagógicas
As atas e os estatutos referentes aos anos que antecederam a 2007, e
que foram objeto de análise desta pesquisa, acomodam uma leitura indicativa
das ações pedagógicas, psicológicas e sociais, demonstrando o enfático
caráter de uma educação voltada para o assistencialismo, na qual as práticas
eram eminentemente laborais.
Entre os preconceitos identificados nesses documentos colimava a
explícita preocupação com a sexualidade das meninas. A instituição,
igualmente às similares, tinha dificuldade em administrar os problemas
atinentes à sexualidade das internas, razão pela qual investiam na
intensificação das atividades diárias até a exaustão, visando minimizar o
problema. É apropriado explicitar que os recursos para coibirem as
manifestações de sexualidade das internas originaram um severo comando das
atividades, um rigor no controle, ratificando a compreensão apontada por
Foucault referente à interdição dos corpos e o aprisionamento dos pobres para
114
controle.
Foi possível identificar em meio às práticas uma ansiedade com a
formação para o trabalho das garotas, em sua educação, como meio de conter
quaisquer procedimentos identificados como anomalias de ordem sexual,
finalidade esta, subjacente à imposição e ao regramento do trabalho.
Interrogados sobre questões desse teor, os diretores do ISE não
quiseram gravar entrevistas, porém teceram contundentes críticas ao ECA -
Estatuto da Criança e do Adolescente pelo fato do mesmo não consentir
nenhum indício de "iniciação ao trabalho". As críticas sopesavam como
maléfico o fato de a criança, a partir do ECA, receber amparo para
exclusivamente estudar e brincar, uma vez que a pertença ideológica dos
entrevistados conduzia-os à categorização de que os desprovidos devem
reger-se por padrões de sujeição ao trabalho.
Os documentos acerca das práticas de teor pedagógico, psicológico e
social, segundo as atas da Instituição, confirmam a priorização do trabalho em
detrimento dos estudos, sendo que o primeiro sempre antecedeu a este no rol
de atividades das crianças. Também, esse caráter de formação com ênfase
laboral é evidenciado nos incisos “a”, “b”, “c” e “d” do artigo do seu Estatuto
de 14 de fevereiro de 1973, pois só iriam para a escola as meninas que
manifestassem capacidade para estudar. As demais aprenderiam as artes
femininas e atividades domésticas tais como limpar, cozinhar, roçar ou produzir
artesanalmente flores e malhas, sempre obedecendo a um rodízio ou a uma
escala de tarefas.
O trabalho para as meninas era indicado como atividade positiva e
saneadora. Os documentos possibilitam vislumbrar que o trabalho chegou a se
tornar um encargo pesado para as meninas. Mesmo após o ECA, os
documentos analisados da instituição não abarcam o trabalho precoce como
uma violência contra a infância, e sim como um processo que facultaria a
ascensão religiosa e social da mesma, como método terapêutico para canalizar
as energias infantis contra quaisquer males advindos da sexualidade. Era visto,
115
portanto, como uma obrigação das crianças abrigadas, como um meio de
prepará-las para os afazeres futuros.
Também a punição era assumida como prática educativa, muito embora
haja um consenso na sociedade, hoje, acerca da punição: esta não promove o
desenvolvimento, pelo contrário, favorece a submissão (Freitag, 1997).
A educação infantil no ISE - Instituto Social e Educacional edificava-se
na tríade de assistência: dica, pedagógica e social. De acordo com a
apreciação documental, as assistentes sociais, membros da diretoria, faziam
um trabalho com as mães, tendo como preocupação a assistência promocional,
isto é, doutriná-las a propósito de saúde e higiene, efetivando as estruturas de
controle social dentro da instituição.
A força da norma (Foucault, 1987) se refletia na ação que era
desenvolvida com as meninas do ISE. Estavam presentes nas apreciações
diagnósticas, na fabricação de um saber sobre as crianças e na necessidade
de seu condicionamento à autoridade da ciência.
Nos processos de individualização das meninas do ISE, as ciências
médicas tiveram seu espaço. No momento em que foi transposto o mecanismo
histórico de constituição de suas individualidades assentou-se a inovação
técnica do poder e da nova anatomia política de controle do corpo dessas
crianças. (Foucault, 1987).
O controle imperante no ISE anestesiou o poder das meninas de
conduzir a própria vida. Sublinha-se aqui a presença de duas estratégias de
intervenção: a ampliação das disciplinas do corpo e a regulação das infantes. A
junção desses dois mecanismos de poder na harmonização da vida configura o
que Foucault alcunhou de biopoder (1977).
No ISE, a harmonização da vida (disciplinação do corpo) das meninas -
assim como em outras instituições congêneres o biopoder, conformou-se no
controle dos modos de viver, da destreza no enfrentamento das possibilidades
116
da vida, do cultivo da saúde e da sexualidade, de tal modo que as angústias
existenciais daquelas crianças não eram objeto de preocupação, nem
interferiam na execução das normas. A vida das meninas era normalizada pela
categorização que tinham apoio em marcos diagnósticos de sua vida biológica,
abalizados em lineamentos epidemiológicos, os quais eram determinados pelas
políticas de saúde, arraigadas no que foi intitulado por Foucault (1977) como
microfísica do poder sobre os corpos
As bases assistencialistas desse modelo formativo incidiam sobre a
preocupação com a atividade física, a formação moral e intelectual, com
práticas através das quais as crianças iam aprendendo a trabalhar em serviços
de acordo com a sua idade e capacidade, preparando-as para a vida futura. A
ênfase dos discursos proclamados recaia sobre o fato de que o trabalho
deveria ser construtivo e dosado, para não acarretar fadiga às crianças.
4.3 - Rotina das Meninas
É importante analisar alguns pontos da rotina diária das meninas no ISE
- Instituto Social e Educacional, a fim de evidenciar os procedimentos
excludentes que ocorreram nos mais variados períodos.
Deduz-se, dos levantamentos bibliográfico e documental, que a rotina
impressa na vida das crianças no ISE, além de disciplinadora, era de
incondicional controle do tempo. Em outras palavras, a ordem era concentrar;
distribuir no espaço, ordenar o tempo, compor o espaço-tempo - cujo efeito
deveria ser o confinamento físico e intelectual de cada menina. Este tipo de
procedimento é analisado por Deleuze (2005), quando, a partir do conceito de
sociedades disciplinares estudado por Foucault, aponta que estas procedem ao
aparelhamento dos variados meios de confinamento: o sujeito não para de ir de
um recinto fechado a outro, cada um com suas regras - primeiro a família, em
seguida a escola, após o quartel, depois a brica, eventualmente o hospital,
ocasionalmente a prisão, que é o meio de confinamento por excelência.
As meninas, seguindo rigorosamente um organograma, despertavam, às
117
cinco horas e trinta minutos, oravam, às seis horas e vinte e cinco minutos,
tomavam café da manhã às seis horas e trinta minutos, a seguir iam à missa,
às sete horas e trinta minutos. Às oito horas e trinta minutos limpavam a
entidade, cozinhavam e trabalhavam no campo até às nove horas e quarenta e
cinco minutos, quando se banhavam, às dez horas, as meninas que estavam
na escola faziam as lições de casa; às onze horas e trinta minutos almoçavam
– as meninas maiores serviam as menores - então rumava à escola.
À tarde era invertido o procedimento, as que estiveram na escola pela
manhã iam à horta e faziam o jantar. A ida à "roça" não era avaliada como um
trabalho e sim como aprendizagem para a vida prática, considerando-se de que
se tratavam de “meninas carentes”. Os afazeres não eram lúdicos e sim
forçosos, não obstante, como todo asilo infantil, fosse ressaltada a sua face
edificante. As crianças recebiam um total de cinco refeições por dia. À tarde,
depois da escola, brincavam até a hora do jantar, às dezoito horas e trinta
minutos. Viam televisão das dezenove às vinte horas, quando tomavam chá e
leite. Deitavam-se às oito horas e trinta minutos.
As demais atividades - horta, fruticultura, galinheiro, apicultura,
tecelagem, limpeza e cozinha - organizavam-se de acordo com o estatuto do
Instituto Social e Educacional, com a supervisão de uma religiosa. No tocante
às tarefas escolares, as meninas mais velhas orientavam as mais novas.
A rotina diária das crianças do ISE, igualmente à de outras crianças
institucionalizadas em todo Brasil, era disciplinada, rígida e sistemática, com
excesso de tarefas para seu disciplinamento.
O Instituto, a partir da década de 1970, modificou seu regime de
internação, isto é, transformou-se em um internato que liberava as meninas
para irem à casa de suas famílias nos finais de semana.
Nessa década, tornou-se ainda mais marcante o controle e a ocupação
cronometrada do tempo útil das crianças. As meninas com até seis anos
acordavam, lavavam o rosto e escovavam os cabelos e os dentes, às seis
118
horas e trinta minutos. Café da manhã às sete horas, ginástica orientada, às
sete horas e trinta minutos. Após a ginástica, às oito horas e trinta minutos, as
que estavam no pré iam estudar e as do maternal para o parquinho. Faziam um
lanche às nove horas e trinta minutos. Então, às nove horas e quarenta, as
meninas do ptomavam um banho. Às dez horas as do maternal iam estudar.
Almoçavam, às onze horas e trinta minutos. Repouso do maternal às doze
horas. As meninas do pré, às doze horas e dez minutos, iam para a escola. As
crianças do maternal tomavam banho e lanchavam às quatorze horas e trinta
minutos. Ao retornarem das aulas, às dezesseis horas e quinze minutos, as
garotas do pré trocavam o uniforme e tinham ”conversação livre”. Jantavam, às
dezoito horas, e podiam dedicar-se à recreação a partir das dezoito horas e
trinta minutos. Ensaiavam canto, rezavam o terço e iam para o recreio
orientado, às dezenove horas e trinta minutos. Tomavam mingau, às dezenove
horas e quarenta e cinco minutos. Faziam a oração da noite, às vinte horas e
vinte minutos. Recolhiam-se para dormir às vinte horas e trinta minutos.
As atividades das crianças e das adolescentes da primeira a oitava série
do ensino fundamental eram as seguintes: acordavam, às seis horas e trinta
minutos, oravam, higienizavam-se, trocavam de roupa e arrumavam a cama.
Café da manhã, às sete horas. As meninas da quarta a oitava série, iam à
escola às sete horas e vinte e cinco minutos, enquanto as da primeira à terceira
série limpavam, cozinhavam e roçavam até às nove horas e trinta minutos,
quando lanchavam. Tomavam um banho, às nove horas e quarenta e cinco
minutos. Faziam os deveres de casa, às dez horas e trinta minutos.
Almoçavam às onze horas e quarenta minutos e iam para a escola, às doze
horas e quinze minutos.
As meninas da primeira a oitava série retornavam da escola e
almoçavam, às onze horas e quarenta e cinco minutos. Trocavam de roupa, às
doze horas e quinze minutos. Trabalhavam das doze horas e trinta minutos até
quinze horas e quinze minutos, quando lanchavam. Tomavam banho, às
quinze horas e trinta minutos, em seguida, estudavam a partir das dezesseis
horas. Nesse horário, as que estudavam no período da tarde retornavam da
escola, trocavam de roupa e faziam passeio ou trabalho dirigido.
119
As crianças e adolescentes do Ensino Fundamental jantavam, às dezoito
horas e escovavam os dentes às dezoito horas e trinta minutos. Ensaiavam
canto, rezavam o terço e participavam de reuniões de grupo às dezenove
horas. Faziam a oração da noite e tinham momentos de formação, a partir das
vinte horas. Deitavam-se às vinte horas e trinta minutos, para dormir.
Haviam inúmeras ocasiões para prática de afazeres predeterminados
impedindo-as de exercitarem o lado subjetivo. Tratadas como um corpo
disciplinado, tal qual versa Foucault (1987), o aparelhamento do tempo e do
espaço, (...) tinha por escopo disciplinar os corpos bem como as almas (...)
(Blard, Coelho, Couto e Noronha, 1998, p. 68).
Toda a vida das meninas abrigadas era cronometrada tendo em vista a
ocupação de todo o tempo útil. Havia a intenção de conservar as crianças
confinadas, entretidas em atividades na “roça” no período em que não estavam
na escola. As ações no campo eram desenvolvidas no cultivo das hortas e
fruticulturas (Ata de 09/11/1961).
Da mesma forma como analisa Foucault, este internato, como muitos
existentes na mesma época, era modelo de austeridade, isto é, exercia sobre
as crianças controle e vigilância excessivos, disciplinando-as severamente.
Dentro da entidade, o poder era distribuído entre os funcionários, que
controlavam, vigiavam e puniam as meninas tornando-as “corpos dóceis”. Esta
prática se adequou àquela que Goffman, considerava como a que leva à
mutilação do eu, diluindo a individualidade dos internos (1999: 31).
120
V - SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar: direção, fundação,
estatutos, normas, agentes, momentos, denominações, desenvolvimento
e atendimento
A análise desta instituição não pode alhear-se da identificação do valor
conferido à sua historicidade (dialeticamente estabelecida). No entendimento
de Goldmann (1967) o plice plano no qual é necessário estudar os
acontecimentos históricos e sociais igualmente implica duplo discernimento
para as ponderações de valor que precisam dar conta tanto do nexo humano e
da força criadora dos indivíduos como da relação entre suas consciências
individuais e a realidade objetiva. Esta consideração assenta um dos basilares
problemas de toda a sociologia de espírito: o problema das ideologias.
Nesse mesmo texto, Goldmann admite a dificuldade de enfrentar o
problema das ideologias, porque, não sendo as ciências históricas e humanas
fatos exteriores aos homens, mas um estudo de um mundo sobre o qual recai
sua ação, aquele que as estuda está nelas implicado. A questão da ideologia
remete às intencionalidades da ação propriamente dita, conformando sua
estrutura e as aspirações que a animam e, nesse sentido, as alterações que
sofre.
Sendo assim, entende Goldmann que a consciência é mais do que um
aspecto do real, constituindo um dado parcial da atividade humana. Por essa
razão, considera que o estudo histórico não pode limitar-se aos fenômenos
conscientes, mas “vincular as intenções conscientes dos agentes da história à
significação objetiva de seu comportamento e de suas ações”
(1993, p. 9).
Nesse sentido, o investigador que se propõe a compreender a
natureza da consciência de agentes históricos, sempre deve esforçar-se por
apreender a realidade total e concreta que a determina, ainda que saiba
poder alcançá-la de uma forma parcial e limitada. Diz Goldmann:
Resta-lhe integrar no estudo dos fatos sociais a história das
121
teorias a respeito desses fatos, assim como por ligar o
estudo dos fatos de consciência à sua localização histórica e à
sua infraestrutura econômica e social (1993, p. 9).
Identificado, mais uma vez, o pressuposto teórico que abarca toda
análise que tem sido desenvolvida, que se discutir, topicamente, o asilo
infantil denominado SAMA -- Serviço Assistencial Médico Alimentar, situado
também em Bragança Paulista, no Estado de São Paulo, como uma das
ferramentas reiterativas dos aspectos mais significativos da tese proposta.
Entre os anos de 1960 e 1970, houve no Brasil, a exemplo do que
ocorria internacionalmente, a ampliação do percentual de mulheres
trabalhadoras, em decorrência de modificações sociais e da abertura do
mercado de trabalho para o labor feminino. Isto provocou o aumento da
procura pelos serviços para a infância, constatando-se deste modo um boom
de asilos infantis - de creches e de jardins de Infância - de caráter particular e
assistencial. No que toca à população mais pobre, devido à lógica
circunstanciada daquele momento, privilegiava-se o recolhimento de crianças
nos denominados asilos, em detrimento de quaisquer projetos pedagógicos
que visassem à emancipação e a formação das mesmas.
Tal ausência, bem como a inexistência de conhecimentos que
respaldassem maiores consideração pela individualidade dos infantes -
característica que ainda persiste em algumas instituições - transformava os
asilados em vítimas de equivocados e perversos projetos educativos e
moralizantes, cuja função era eminentemente controladora e corretiva.
É mister perceber o aparecimento de protetorados e escolas
correcionais como o SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar,
compreendendo o contexto social vivido por crianças e jovens, no período em
que vigiu a ditadura militar de 1964, ou seja, quando o mote do Estado era o
desenvolvimento com segurança nacional (Passetti, 1996: 161).
122
Em decorrência do êxodo rural, do crescimento urbano, do
desemprego e da ausência de políticas públicas nas áreas de educação, lazer
e saúde, no Brasil, a situação de abandono em que se encontravam as
crianças e jovens oriundos das classes economicamente desfavorecidas
tornou-se alarmante. Em Bragança Paulista a situação não era diferente. A
infância depauperada vivia em constante ameaça à sobrevivência devido às
carências de toda sorte relacionadas à ampliação da pobreza e da
miserabilidade. Contudo, o contingente infantil e jovem continuava a ser visto
e tratado por determinadas esferas da sociedade como um seguimento
assustador dos redutos da pobreza, do sistema social vigente (Barroso Filho,
1985).
O desenvolvimento urbano, em franco crescimento no Brasil, provocou
nas elites, conjuntamente com os poderes públicos, um impulso para a criação
de estratégias de controle, repressão e combate a tudo que representasse
revés ao incremento econômico e social das grandes cidades. A preocupação
era o aumento da marginalização social, fruto da exclusão e do inacesso aos
bens sociais por um seguimento populacional que, a cada dia, ampliava-se e
que devia ser contido.
Através do emprego de um regime disciplinar nos inúmeros abrigos
constituídos na época, as crianças e os jovens dessas classes desfavorecidas,
em nome das referidas estratégias de controle, eram submetidos a uma rie
de preceitos comportamentais e ao regime de uma educação
profissionalizante. O SAMA, assim como as demais Instituições totais, foi
programado para atender ao processo de regeneração dos membros das
camadas sociais mais pauperizadas.
Isto pode ser verificado nos anais que registram a fundação do SAMA ,
onde são assinaladas diferentes causas para a problemática da ‘menoridade
pobre’ do Brasil, e realçados os serviços assistenciais que vinham sendo
desenvolvidos em muitos municípios brasileiros, incluindo Bragança Paulista,
no Estado de São Paulo.
123
O SAMA enquadra-se na definição de instituição total, por ser um
local de moradia, de formação e de trabalho, onde um volumoso número de
crianças e adolescentes vivem em condições análogas à maior parte dos
abrigos brasileiros. Um grande número foi compelido ao afastamento da
convivência com a sociedade mais ampla, por vultoso período de tempo,
levando uma vida fechada e formalmente administrada (Goffman, 1999).
A edificação do SAMA, assim como das demais escolas e protetorados
correcionais, representou uma forma de acolher as pretensões das elites da
época, para tratar da “questão social”. Formalizou e efetivou processos re-
educativos e correcionais, nos quais crianças e jovens eram assumidos como
pessoas que precisavam ser redirecionadas em sua educação para não
comprometer a ordem que se buscava estabelecer.
Para efeitos desta Tese, por meio da análise dos registros documentais
disponíveis acerca da instituição aludida, buscou-se traçar um panorama da
política institucional desenvolvida no SAMA, com vistas à identificação de
parâmetros significativos de seu funcionamento, em seus aspectos
universalizantes.
5.1 - O SAMA e o Estado de Bem-Estar Social no Brasil
O Brasil não organizou um Estado de Bem-Estar-Social, nos mesmos
moldes dos países de Primeiro Mundo: o Welfare State social-democrata.
Esse modelo político, nascido de muitas lutas sociais de inclusão, buscava
promover a igualdade com melhores padrões de qualidade. Pelo fato de não
ter sido adotado o caminho da social-democracia, em nome da permanência de
um modelo de Estado autoritário, a questão social, no Brasil, foi tratada
segundo os princípios do pensamento conservador ajustado às culturas
institucionais. O capitalismo instituído nos países periféricos nessa época,
entre eles o Brasil, fez como que se estabelecesse, como base estrutural de
suas políticas, a ênfase no mercado, daí decorrendo a forma de ser e de tratar
a questão social. Pastorini ( apud Heidrich, p.8) afirma que:
124
(...) as principais manifestações da `questão social´ a
pauperização, a exclusão, as desigualdades sociais são
decorrências das contradições inerentes ao sistema capitalista,
cujos traços particulares vão depender das características
históricas da formação econômica e política de cada país e ou
região.Diferentes estágios capitalistas produzem distintas
expressões da `questão social´.
15
A implementação de uma política de assistência social com vínculos
profundos de dependência à ordem internacional, ressoou na estruturação das
instituições que operavam práticas relativas aos segmentos mais pobres da
população a partir da década de 1960. Pode-se dizer que, genericamente, a
inauguração do novo modelo de Estado, com vistas ao posicionamento
assumido frente à nova ordem internacional, levou a ajustamentos no
arcabouço assistencial.
No Brasil, a política de assistência social, justaposta a uma lógica
própria referente à infância pauperizada, levou a respostas políticas em um
plano de modernização social que não logrou modificações significativas.
Por essa razão, houve necessidade que seus dirigentes se explicassem, por
meio de um discurso pseudoprogressista, a fim de acalmar a oposição política
mais radical, ante às crescentes dificuldades sociais e o crescimento do
contingente de miseráveis.
Nesse período, as ocorrências sociais começaram a ser explicadas por
meio de um discurso paradoxal, com práticas assistenciais que eram levadas a
termo por instituições de cunho também autoritário como o SAMA e similares,
como será visto adiante.
Esse processo de distorção do real foi qualificado pelo General Carlos
de Meira Mattos, como derivado do impacto da revolução científica e
tecnológica, cuja finalidade, o era obter a liberdade política, e sim, o bem-
15
Cf.HEIDRICH ,Andréa Valente. Transformações no estado capitalista: refletindo e refratando
transformações na questão social. In Revista Textos & Contextos. Nº 5, ano V, nov. 2006, p.8.
125
estar comum (Passetti, 1996: 161). O regime militar-ditatorial necessitava
para manter-se incólume á oposição popular, incidir sobre o imaginário social
programando-o para reiterar, na prática, suas teses relativas à administração
estatal.
Esse formato de Estado acostado num contexto político ditatorial, em
que os militares precisavam modernizar o panorama econômico, sem perder a
centralidade do poder político, deveria garantir que as modificações oferecidas
à sociedade impedissem quaisquer mutações que ocasionassem uma anarquia
social. Temia-se que um estopim de discórdia pudesse ser garreado pelas
esquerdas em proveito de suas utopias revolucionárias.
Tal arquétipo de Estado de desenvolvimento com segurança nacional
(Passetti, 1996: 161), foi assumido como um aparelho social que precisava
legitimar-se franqueando instituições e discursos sociais, mas prevenindo-se de
conflitos que culminassem em insurreições populares. Assim sendo, abria-se a
uma aleivosa participação da uma determinada sociedade civil organizada,
visando atenuar as sequelas do pretenso progresso social, que os
presságios, dos corredores do caudilhismo militar brasileiro, sugeriam que o
choque dessa mudança ocasionaria incontáveis burburinhos políticos e
rupturas sociais.
Em face do ideário que respaldava o Estado brasileiro, o formato de
desenvolvimento escolhido exacerbava a indigência, o êxodo rural e a
perseguição aos oponentes do modelo político vigente.
Convém lembrar que a ditadura desfraldada no Brasil, em 1964, ajustou
seu alicerce político-ideológico de defesa no binômio ”segurança e
desenvolvimento” e que essa transformação seria encentrada e cordata.
Evitava-se, assim, que o cadinho opositor do país lucrasse com um momento
de vicissitude social para sublevar a sociedade. Concentrou-se, então, o
domínio político de caráter autocrático, com um forte esquema de controle
político-ideológico dos mais amplos setores da realidade social.
126
Como decorrência, as alterações sócio-econômicas de modernização
do país ampliaram-se, impelindo a reorganização das políticas assistenciais em
benefício de um real ajustamento das instituições. Esse processo, por
conseguinte, atingiu as práticas de assistência voltadas ao denominado
menor’, cuja problemática era avaliada como de “máxima relevância”,
abordava uma proeminente inadequação social que se deteriorizava ainda
mais como custo do progresso e da modernização da economia.
Alçou-se, pelo olhar ditatorial, o problema dos ‘menores’ à emblemática
posição de questão de segurança nacional, por considerar que os mesmos
carregavam um sentimento nato de rebeldia e desvio de conduta.
Por isso, o ‘menor’ era concebido como ponto nevrálgico de
convergência de desordem e desgoverno social e/ou político, o que exigiu do
governo autoritário, recém instalado em moldes mais modernos, um novo
trabalho profilático. Nesse episódio, em nome da precaução, foi considerado
necessário adotar medidas legais, governamentais e políticas, ambicionando
separar esse ‘menor’ dos agentes externos, ‘causadores’ de sua
marginalização - a rua e os lares esdrúxulos - bem como abduzi-lo de uma
presumível relação com os opositores do país, isto é, os disseminadores das
drogas e aqueles que disseminavam a doutrina bolchevista.
5.2 - SAMA – sua história e seus agentes
Após o esboço dos alicerces desta discussão, bem como da
periodização dos acontecimentos, é preciso discutir algumas questões
atinentes aos disseminadores das práticas sociais de então. A interrogação
inicial que se apresenta é alusiva às fontes que possibilitam distinguir social e
culturalmente as personagens mais importantes das práticas pedagógicas
institucionais. Quem foram elas? Como reconhecê-las como indivíduos
históricos?
Partiu-se da recomposição de aspectos da biografia da senhora Saada
Nader Abi Chedid, então primeira dama de Bragança Paulista, em razão do
127
fato de ter sido a mesma a fundadora do SAMA - Serviço Assistencial
Médico Alimentar, permanecendo presidente da referida instituição de 1969 a
1983. Cumpre assinalar que esta senhora sempre conviveu em meio à política
partidária da região bragantina, quer como esposa, quer como genitora de
políticos expressivos da esfera municipal e estadual.
A referida fundadora foi um expoente da mentalidade das elites
econômicas e políticas brasileiras, acerca da aplicação de medidas de
promoção de bem-estar estatal impostas às camadas pauperizadas da
população, com o escopo de impedir a marginalidade de crianças e jovens.
Como representante desses interesses, defendia a internação de crianças e
jovens como meio para atingir esta ascensão de qualidade de bem-estar
social, conforme está expresso no primeiro estatuto da instituição recém criada
em 1969:
ARTIGO DÉCIMO-TERCEIRO: - Compete a Diretoria:
a) Estabelecer os setores de atividade nos quais incluirá
obrigatoriamente:
I) - Promoção e assistência social;
II) – Puericultura, higiene e saúde pública;
III) – Corte, costura e trabalhos manuais;
IV) – Visitadores sociais e
V) – Relações públicas.
O que se verifica é que as bases da propositura da citada instituição
convergiam para o contexto da política nacional de atendimento ao ‘menor’
tratada sob o domínio da doutrina da segurança nacional. Na esteira da criação
da FUNABEM - de suas unidades gerenciadoras, as Febems - que passaram a
ponderar o ‘menor’ como ‘objeto de segurança nacional’ foi fundado o SAMA -
Serviço Assistencial Médico Alimentar, em 16 de abril de 1969, sob a
denominação de AFAN Associação Filantrópica de Amparo aos
Necessitados, pela então primeira dama do município de Bragança Paulista,
Senhora Saada Nader Abi Chedid, conforme artigo 1º. Do seu estatuto de
fundação:
128
Artigo 1º. Sob a denominação de Associação Filantrópica
de Amparo aos Necessitados “AFAN”, foi constituída em de
março de 1969, nesta cidade da estância de Bragança Paulista,
Estado de São Paulo, uma sociedade civil sem fins lucrativos,
com personalidade jurídica distinta de seus associados, com o
objetivo de praticar a filantropia no seu mais elevado sentido.
PARÁGRAFO PRIMEIRO: Serão beneficiados da “AFAN” todos,
os desprotegidos da sorte, crianças, moços e velhos, de ambos
os sexos, sem distinção de raça, cor ou religião que provem,
pela via mais fácil essa condição.
PARÁGRAFO SEGUNDO: O campo de ação da “AFAN” se
estenderá sempre que possível à prática da colaboração aos
pais e mestres na orientação e educação dos analfabetos e
ignorantes de
todas as idades, do atendimento médico e
hospitalar e da assistência social gratuita, dentro dos mais
nobres princípios de respeito e solidariedade humana.
Em 1972, a instituição foi declarada de utilidade pública pela Lei
Municipal 72, de 14 de dezembro de 1972, pelo então prefeito de Bragança,
Haffiz Abi Chedid, marido da presidente da entidade, nos seguintes termos:
Declara de utilidade pública o Serviço Assistencial Médico
Alimentar - "SAMA", de Bragança Paulista.
Artigo - É declarado de utilidade pública o Serviço Assistencial
Médico Alimentar - "SAMA", com sede em Bragança Paulista.
As atas de reuniões e de assembléias do Serviço Assistencial Médico
Alimentar confirmam que as crianças de famílias carentes, quando buscavam
subsídio estatal, estavam predestinadas a serem institucionalizadas como se
fossem órfãs ou desamparadas. Desta maneira, ratifica-se a apreciação de
Rizzini (2004), quando afiança que, “em nossa história, várias gerações de
crianças passaram a infância e a adolescência internadas em imensos
estabelecimentos cerrados”. Ressalvando-se que o contexto histórico é outro,
que se lembrar as palavras de Deleuse (2005), concordando com Foucault
em Microfísica do Poder, sobre o tratamento dessa questão nos moldes
129
capitalistas:
Não são apenas os prisioneiros que são tratados como crianças,
mas as crianças como prisioneiras. As crianças sofrem uma
infantilização que não é a delas. Neste sentido, é verdade que as
escolas se parecem um pouco com as prisões (...).
16
O plano de trabalho, de janeiro a agosto de 1974, da entidade, ratificava
esse conceito:
(...) desde os seus primórdios, vem o SAMA amparando os
menos favorecidos, proporcionando-lhes toda sorte de
assistência, abrangendo não a cidade de Bragança Paulista
(sede), como também seus distritos, zona rural e outros
municípios do estado e do país.
Dinamizando sua obra, que cresce a cada momento, o SAMA
proporciona a milhares de dependentes registrados e inúmeros
eventuais assistência alimentar, higiênica elementar,
farmacêutica, enfermagem, odontológica, médico-hospitalar,
funerária, pré-natal domiciliar, corte e costura, arte culinária,
transporte e orientação geral.
Paralelamente, o SAMA preocupa-se com a orientação às donas
de casa através do clube de mães, em reuniões, ministrando
educação do lar e cuidados de maior importância a serem
dispensados às famílias.
Mantém ainda a entidade, um grupo de pavilhões recém-
construídos, onde está instalada a Escola Vocacional, já
funcionando em parte, em aulas de profissionalização em
técnicas de cerâmica, cestaria e escovaria, couro, eletricidade,
encadernação, madeira, metal, serigrafia e tecelagem, com
professores altamente especializados. No mesmo local,
16
FOUCAULT, M. Os Intelectuais e o Poder: Conversa entre Michel Foucault e Gilles
Deleuze. In Microfísica do Poder, 23. ed. São Paulo: Graal, 2007, p. 41.
130
ministram-se cursos do MOBRAL para elementos da zona
rural, numa contínua solidariedade às iniciativas do governo
federal.
Pelo volume do trabalho desenvolvido, o SAMA deixou de ser a
carinhosa sombra acolhedora dos humildes para transformar-se
no gigantesco abrigo regional a toda classe de necessitados
(1974: 10 -11).
Em 25 de março de 1974, a instituição passou a chamar-se SAMA -
Serviço Assistencial Médico Alimentar funcionando em regime de internato e
creche:
Art 1º. O Serviço Assistencial Médico Alimentar, também
designado pela sigla SAMA, constituído em 25 de março de
1974, é uma entidade civil sem fins lucrativos (...)
Parágrafo único – A unidade SEDE (...) funcionará em regime de
internato de segunda-feira a segunda-feira e creche de
segunda-feira a sexta-feira, designada “Centro Filantrópico
Educacional Vicente Filócomo CFEVF e a segunda unidade (...)
funcionará em regime de creche de segundas-feiras as sextas-
feiras também permanecendo fechada nos sábados, domingos e
feriados e por ocasião das férias coletivas dos funcionários.
Consoante o artigo 3º do mesmo estatuto são fitos do asilo:
Artigo 3º - São suas finalidades:
a) a prática da colaboração com pais e mestres na orientação e
educação dos analfabetos e ignorantes de todas as idades;
b) o atendimento médico hospitalar;
c) a assistência social gratuita.
§ - Como instituição filantrópica a sociedade se obriga, dentro
de suas finalidades, dispensar atendimento gratuito a todos os
desprotegidos da sorte crianças-moços e velhos de ambos os
sexos, sem distinção de raça, cor ou religião, que provem pela
131
via mais fácil, essa condição e dentro das proporções
estabelecidas pelas normas legais e regulamentares vigentes.
§ Não podem ser recebidos, nem atendidos enfermos que
sofram de moléstias epidêmica ou contagiosa.
Conforme as atas de reunião de 19 de abril de 1974 e de 6 de abril de
1982, a fundadora foi reeleita presidente da instituição por aclamação.
O plano de trabalho institucional elaborado em 22 de outubro de 1974,
dispunha sobre a Escola Vocacional:
Mantém ainda a entidade, um grupo de pavilhões (...), onde está
instalada a Escola Vocacional, (...) em aulas de
profissionalização em Técnicas de Cerâmica, Cestaria e
Escovaria, Couro, Eletricidade, Encadernação, Madeira, Metal,
Serigrafia e Tecelagem (...)
O mesmo plano detalha educação e trabalho:
05.2 – EDUCAÇÃO E TRABALHO
Os componentes da corporação Bandeirantes Mirins, estão
divididos em duas turmas, pelo motivo dos mesmos estarem
cumprindo com as obrigações escolares em um dos períodos, o
que após são reunidos na sede da corporação, onde recebem
ensinamentos de Relações Públicas, Ordem Unida, Educação
Física, Socorros de Urgência, Noções de Policiamento e etc.
No que tange ao trabalho, os Bandeirantes Mirins são
encaminhados para prática auxiliando através de uma
gratificação recebida, seus familiares.
A Corporação Bandeirantes Mirins sofreu influência direta do Decreto
58.023, de 21 de março de 1966, no que tange à obediência às leis, a ordem
unida, conforme artigo 2º:
Art. 2º A educação cívica visa a formar nos educandos e no povo
132
em geral o sentimento de apreço à Pátria, de respeito às
instituições, de fortalecimento da família, de obediência à Lei, de
fidelidade no trabalho e de integração na comunidade, de tal
forma que todos se tornem, em clima de liberdade e
responsabilidade, de cooperação e solidariedade humanas,
cidadãos sinceros, convictos e fiéis no cumprimento de seus
deveres.
O plano educacional do SAMA, além de assimilar o autoritarismo da
Escola Superior de Guerra idealizadora da Educação Moral e Cívica -
também refletia o acordo MEC/ USAID, celebrado em 1968. Tanto na economia
quanto na Educação, o desenvolvimentismo submisso aos organismos
internacionais funcionava como um argumento que dava sentido a todos os
atos perpetrados pelo governo ditatorial. Isso fica claramente perceptível em
vários fragmentos da legislação educacional, nas falas dos presidentes
militares e na propaganda do Estado. Exemplificado pelo intróito do Ministro da
Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, que acompanhou o projeto de lei da
Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus enviado ao presidente Médici e ao
Congresso Nacional, que se tornaria a Lei nº 5.692/71 (Reforma Passarinho):
Agora, Vossa Excelência não proporá ao Congresso nacional
apenas mais uma reforma, mas a própria reforma que implica
partir vigorosamente para um sistema educativo de 1º e 2º
graus voltado para as necessidades de Desenvolvimento (...),
preparando os técnicos de vel médio de que tem fome a
empresa privada como a pública (...). Em uma palavra, é o que
Vossa Excelência preconiza: A Revolução pela Educação
(BRASIL, 1971).
Na mesma Lei fica explícito que a disciplina Moral e Cívica foi
introduzida, transformada em conteúdo obrigatório das escolas no Brasil. A
moral e cívica constituía um preceito complexo que serviria de anteparo à
Segurança Nacional, seguindo-a paralelamente. A ação de introduzir a referida
133
disciplina no currículo escolar fazia parte do projeto de construção de um
“BRASIL GRANDE” ou “BRASIL POTÊNCIA”, como ambicionavam os militares.
Em obediência aos ditames dessa política, a diretoria do SAMA providenciou a
criação da miliciana Corporação Bandeirantes Mirins:
A formação básica proposta inspira-se na filosofia político-social
do País. O Brasil insere-se no mundo democrático e, tendo em
vista o princípio da unidade nacional e os ideais de liberdade e
solidariedade humana, dispõe-se a oferecer à sua população (...)
uma educação fundamental (...) em face da Constituição Toda
pessoa, natural ou jurídica, é responsável pela segurança
nacional, nos limites definidos em lei (art. 86)”. Tal
responsabilidade pressupõe uma base de formação moral e de
educação para a cidadania, condições vivificantes da
democracia (BRASIL, 1971).
Em conformidade com as Leis 4.024/61 (Lei das Diretrizes e Bases) e
5.692/71 (Reforma Passarinho), as “práticas laborais” previstas na parte de
“formação especial” do “currículo pleno”, eram limitadas às quatro últimas
séries do 1º Grau (5ª a série). Estas não deveriam exceder a 30% (trinta por
cento) da carga horária letiva. De acordo com esses dispositivos legais o
grosso das crianças internas no SAMA não deveriam ter “práticas laborais”.
As leis menoristas também não previam trabalho para menores de 12
anos - Decreto 5.083/26, Decreto 17.943-A/27, Lei nº 4.655/65, Lei
5.258/67, Lei nº 5.439/68 e, posteriormente, a Lei nº 6.697/79.
O Código de Menores, modificado em 10 de outubro de 1979, pela Lei
nº. 6.697, derivou do anteprojeto apresentado pela Associação Brasileira de
Juízes de Menores, adotando as disposições da Associação Internacional de
Juízes de Menores (Teixeira, 1986). A norma asseverava manifestamente a
doutrina jurídica da situação irregular, destinada à contenção sociodisciplinar,
promovida pelas instituições totais de disciplina e correição. Lê-se na
deliberação contida em seu artigo 2º, parágrafos V e VII, que a ‘irregularidade’
deveria ser entendida como um desvio de conduta, assim como uma incidência
134
de transgressão penal.
Melhor andou o legislador brasileiro ao acolher a doutrina do
menor em situação irregular, esposada pela Associação
Brasileira dos Juízes, relacionando exaustivamente no artigo
da Lei 6.697/79 as seis categorias de situação irregular
(Teixeira, 1986: 14-15)
Mais adiante, expor-se-á a importância deste fato na história do Serviço
Assistencial Médico Alimentar.
O relatório geral de 1982 assevera que a entidade desde 1969, recebeu
em regime de internato um total de 4.000 crianças. Este relatório discrimina os
atendimentos que teriam sido efetuados com saúde, vestuário, educação e
recreação:
SAÚDE
1 Para atender o setor, o SAMA mantém 2 gabinetes médicos
e 1 gabinete odontológico (...)
VESTUÁRIO
1 Todas as crianças tiveram e tem 2 trocas de roupas,
calçados (...)
EDUCAÇÃO
1 Todas as crianças freqüentam a rede escolar, estando
matriculadas no CEMABA e na Escola Estadual anexa a
Unidade de Acolhimento nº 2.
2 – Sempre procuramos dar para as crianças condições de
aprender profissões, pois mantemos convênio com a LBA e
PIPMO.
3 – Os resultados apresentados até o presente são os seguintes:
Torneiros mecânicos..................................................................45
Ajustador mecânico....................................................................38
Eletricista residencial..................................................................28
Carpinteiro..................................................................................15
Pedreiro......................................................................................16
135
Datilógrafo................................................................................
..20
Encanador..................................................................................13
Crocheteira.................................................................................15
Pintura em objetos artesanais....................................................21
5 Nossa fanfarra e demais componentes tem freqüentado
todas as solenidades cívicas e participado em solenidades fora
de Bragança Paulista (...)
6 A parte religiosa também nunca teve descuido pois todas as
semanas frequentam a igreja (leia-se salão dentro da
instituição).
RECREAÇÃO
1 Por motivo de segurança, as crianças não estão utilizando a
piscina (...)
O SAMA, como toda instituição total, mantinha sob sua guarda um
amplo número de crianças pobres (aproximadamente duzentas) em
circunstâncias análogas, seqüestradas da sociedade por um período
considerável de tempo, vivendo enclausuradas, sendo-lhes bloqueada a
relação social com o mundo exterior, com a proibição de saída.
De acordo com as demais chamadas Instituições totais, o SAMA
controlava as esferas basilares da vida da criança, isto é, dormir, brincar e
trabalhar; desenvolvia todas essas atividades em um mesmo contexto e sob
uma única autoridade; estabelecia horários para a rotina diária, que deveria ser
seguida por todos; o que resultava no caráter majoritariamente grupal das
atividades.
Também, como as demais instituições totais, conforme assevera
Goffman (1999) era conflitante com outro elemento decisivo na vida da criança
na sociedade: a família. O contato com esta era impedido ou controlado, seja
porque a situação familiar tivesse sido o motivo da institucionalização, seja pelo
fato da família inexistir em sua vida
136
O ajuste do SAMA com a FEBEM foi renovado em 20 de janeiro de
1983
17
, nos seguintes termos do convênio nº 190/83:
(...) ficou decidida a celebração de Convênio mediante as
cláusulas e condições que se seguem:
- CLÁUSULA PRIMEIRA O (A) CONVENIADA (A) coloca a
disposição da FEBEM-SP, para preenchimento exclusivo desta,
em sua(s) Casa(s) (...) 200 (duzentas) vagas para matrícula de
menores normais, ambos os sexos, de 2 a 16 anos para
admissão e permanência até 18 anos, sendo todas as vagas
para o Conveniado.
- CLÁUSULA SEXTA Como subvenção para o custeio das
despesas decorrentes deste Convênio, a FEBEM se obriga a
pagar ao (à) CONVENIADO (A), por vaga preenchida, a título de
“per-capita”, a importância de Cr$ 8.150,00 (oito mil, cento e
cinquenta cruzeiros).
Em 1983, a entidade sofreu sua primeira intervenção judicial, tendo sido
depostas a sua presidente e toda a sua diretoria, pelo então juiz de menores de
Bragança Paulista, Nagashi Furukawa. Tal ação foi possibilitada pela
modificação do Código de Menores que majorou os poderes dos magistrados
sobre a esfera infantil.
Em decorrência disto, em 25 de março de 1983, a presidente deposta, a
Senhora Saada solicitou (sem êxito), por intermédio de ofício, à então
presidente da FEBEM, Sra. Maria Cecília Ziliotto, o cancelamento do convênio
de internação:
mais de 13 anos vimos nos dedicando aos serviços de
assistência social em Bragança Paulista, zelando pela saúde e
educação de menores que, por vezes abandonados devido à
precária condição financeira de seus pais são entregues à nossa
instituição.
17
A citação que é feita trata apenas de renovação de convênio - sem explicitar o anterior - em
razão da pesquisadora não ter tido acesso a documento ou referencias relacionados ao
mesmo.
137
Entretanto, embora envidando todos os esforços de que
dispomos, nossa missão chegou a tal ponto, que não mais será
possível continuar nossa obra.
Motivos alheios à nossa vontade, aliados à incompreensão de
pessoas que, embora jamais tenham prestado qualquer
colaboração a nossa instituição ou a outra do mesmo caráter,
têm se tornado obstáculo dos mais sérios à continuidade de
nosso trabalho. E, tais incompreensões, atingem, principalmente,
a parte do internato, cujas crianças, são aqui recebidas a pedido
da FEBEM, de Juizados de Menores, etc.
Temos, Dra. Presidente, atualmente, 200 menores em regime de
internato, sendo: 96 de São Paulo, 26 recolhidos por estarem
abandonados, 58 internados a pedido do Juizado de Menores de
várias comarca, 8 desta cidade, 1 de Piracaia, 4 de Caieiras, 4
de Mairiporã e 4 de Atibaia.
Assim sendo e, usando da faculdade conferida pela cláusula 11,
do Convênio 109/83, datado de 20 de janeiro de 1983, vimos
RENUNCIAR ao mesmo, a partir do dia 1º de agosto do corrente
ano.
Creia Vossa Senhoria, que não é sem mágoa que, após tantos
anos, sejamos obrigados a encerrar nossas atividades com
relação à parte do internato.
Creia, também que, o fazemos, na certeza de ter cumprido
nosso dever, com nossa consciência tranqüila e, como dizia São
Paulo Apóstolo “certos de termos combatido o bom combate”.
Cabe observar que a presidente do SAMA não poderia jamais transferir
as crianças e adolescentes sub-judice sem autorização do juiz de menores,
conforme artigo 12, da Lei nº 6.697/79 (Código de Menores):
Art. 12. É vedado à entidade particular entregar menor sub-
judice a qualquer pessoa, ou transferi-lo a outra entidade, sem
autorização judicial.
138
A decisão judicial foi posterior a uma sindicância que visava apurar
irregularidades e culminou com a intervenção do estabelecimento. Sabe-se
que, de fato, foram apuradas irregularidades graves, porém não foi facultado a
esta pesquisadora o acesso ao processo que correu em segredo de justiça. O
início do mesmo ocorreu em virtude de uma representação feita por uma mãe
ao Centro de Triagem da FEBEM, que intrigada com a desaparição de seus
filhos do ‘Colégio SAMA’, encaminhados pela FEBEM ao SAMA, em
decorrência do convênio que mantinham entre si, em 17 de janeiro de 1983.
Em outra ocasião, a mesma mãe que representou à FEBEM, ao
intentar localizar a progênie, visando desinterná-la, por encontrá-la sem
cuidados, foi impedida pela diretoria do SAMA, sob a alegação de prejuízo de
ordem financeira que o fato causaria à Instituição, conforme ofício
encaminhado pela presidente da instituição ao juiz Furukawa, em 22 de abril de
1983.
De acordo com a determinação de Vossa Excelência (...)
tomamos ciência da desinternação das menores (...).
Após tomarmos ciência sobre o ofício, mantivemos contato com
Vossa Excelência, esclarecendo que iríamos ter um prejuízo
financeiro com a desinternação das menores, sendo que tivemos
a orientação de receber da referida senhora o valor.
Assim exposto conversamos com a Sra. (...) reportando o que
havíamos conversado e talvez não conversando ela foi embora
não nos dando qualquer satisfação a respeito.
Este fato põe em evidência que o SAMA, em seus convênios com a
FEBEM - recebia verba per capita o que parecia levar a entidade a não ter
interesse em redução dos internos, fato esse que se caracterizava em
desestimular o contato deles com suas famílias e a impedir a própria
desinternação, aumentando a fragilidade dos vínculos familiares,
esgarçados.
139
Em 11 de junho de 1983, foi efetivada a intervenção judicial pelo
magistrado Furukawa.
Esta pesquisadora, à época dos fatos - semana da intervenção era
aluna do curso de Habilitação em Magistério do Instituto Educacional Coração
de Jesus escola católica da cidade citada nesta tese. Este educandário fez
um acordo com o juiz de menores e levou as normalistas para estagiarem no
SAMA, isto é, auxiliarem nos cuidados de crianças menores de dez anos, na
unidade I, por uma semana, as quais se encontravam em total estado de
abandono, o qual se caracteriza, segundo Deslandes (1994: 17)
como a
ausência do responsável pela criança ou adolescente.
As então normalistas do referido Educandário encontraram crianças
negligenciadas com piodermite, escabiose, pediculose e miíase. Não havia
cuidado com a higiene pessoal das crianças, pela falta de chuveiros, o banho
era efetuado por intermédio de uma mangueira ligada a um compartimento
inadequado e insalubre. Os dormitórios não apresentavam ventilação
adequada e havia um excesso de camas justapostas, sem um espaço mínimo
entre uma e outra, necessário para a locomoção das crianças. O internato não
contava com filtros d’água. Suas mesas, cadeiras e camas eram em número
insuficiente dormiam duas crianças na mesma cama, em colchões sem
revestimento. Esses colchões tiveram que ser desinfetados com formol após a
intervenção. Também, na lavanderia da instituição, encontrava-se uma
máquina lavadora de roupas que não era utilizada.
Na instituição não havia pessoal técnico, mas apenas um reduzido corpo
administrativo, que não conseguia conduzir, adequadamente, o conjunto de
serviços essenciais de cozinha, de lavanderia, de faxina e de escritório.
A negligência tomada como uma subcategoria do conceito de maus–
tratos e configurada como qualquer forma de descuido com a alimentação e
higiene e/ou falta de apoio psicológico e emocional para com crianças e
140
adolescentes vitimados (Marzagão-Silva, 2007) - explicitava-se também no
desrespeito à individualidade até as roupas eram coletivas - e na formação
de vínculos afetivos difusos e complicados, o que acarretava prejuízo na
subjetividade das crianças. Sendo o estabelecimento dos vínculos capital para
o desenvolvimento apropriado da personalidade, aquelas crianças, sem ter
alguém dedicado nomeadamente às suas necessidades, não conseguiam
constituir uma relação eficiente com o mundo externo. Do mesmo modo, sem
alguém para dar-lhe gratificações espontâneas e satisfatórias, elas não
conseguiam desvendar seu próprio corpo nem desenvolver uma personalidade
integrada (idem, 2007).
Em decorrência da aludida negligência, as crianças encontradas no
SAMA aparentavam ter atraso nos desenvolvimentos psicomotor, social e no
uso da linguagem, permanecendo em calamitoso estado de abandono. Não
havia professores, monitores e/ou cuidadores. Inexistiam recreação e
ludicidade. A entidade não contava com brinquedos - embora tivesse um
parque infantil desativado - nem com equipamentos pedagógicos. Esse
descuido com a ludicidade infantil, certamente, trouxe prejuízos àquelas
crianças: de acordo com estudos de Marzagão-Silva (2002) consenso sobre
os estudiosos que é brincando que a criança desenvolve-se afetiva, cognitiva
(capacidade de síntese e jogo simbólico) e emocionalmente. A brincadeira lhe
possibilita que exercite suas potencialidades, que apure sua sociabilidade,
conduzindo-a à aprendizagem e ao seu comprometimento com atividades, pelo
encanto de compartilhar, sem recear punições ou almejar recompensas,
tornando-se produtiva.
A negligência do SAMA insidia, ainda, na ausência de cuidados
médicos, de alimentação adequada, de vestuário, de monitoria o que
ampliava a precipitação de acidentes. Insidia ainda na privação de afeto e de
apoio emocional, na lacuna de escolaridade sica, no absentismo escolar e
na supressão de acompanhamento das atividades discentes das crianças. Esta
pesquisadora testemunhou toda sorte de descaso e desrespeito ao mínimo
conforto e segurança dos internos.
141
Com a intervenção judicial, toda a diretoria foi destituída, tendo
assumido como presidente provisória a Sra. Maria Galeazzi Parisi. Em um
segundo momento, esta também foi substituída pela Sra. Alzira Qüilice,
professora de Filosofia, que permaneceu no cargo de 1983 a 1988. As
mudanças levaram à superação dos problemas de abandono e negligência aos
quais as crianças estavam expostas, mas permaneceram as características
mais amplas de instituição total e autoritária.
Em 1988, foi investida na função de presidente do SAMA a Sra. Ângela
Maria de Oliveira Lucena, advogada e comissária de menores, a qual convocou
uma assembléia geral que foi realizada em 6 de janeiro de 1989, com a
finalidade de modificar o estatuto da entidade e a própria finalidade da
instituição, como se lê no artigo 2º:
Artigo 2º - São fins da Sociedade:
Dispensar atendimento assistencial e promocional gratuito às
crianças carentes de ambos os sexos, sem distinção de raça,
cor, condição social, religião e política, visando
fundamentalmente a sua integração sócio-familiar.
§ único Não poderão ser recebidas e atendidas crianças
portadoras de moléstias infecto-contagiosas, epidêmicas ou
endêmicas.
Em 1990, a promulgação do ECA Estatuto da Criança e do
Adolescente provocou um reordenamento jurídico institucional no país, porém
não no SAMA. Inserir os princípios do ECA na entidade, exigiria afastamento
da pedagogia da submissão e da tirania das tradições e das gerações
antecedentes, implicaria em invalidar a ordem disciplinar e atenuar as
abscissas. Denotaria, ainda, amolecer as normas do controle total sobre o
corpo e a mente, expedientes de domínio sobre o futuro adulto (Marzagão-
Silva, 2002).
A visão curadora do "ponto de vista oficial", concebida pela diretoria
institucional, está apregoada na conservação do plano de trabalho e das
142
atividades da Escola Vocacional, infligidas às crianças, ainda no decênio de
1990: as crianças internas que estudavam à tarde, freqüentavam a Escola
Vocacional pela manhã e aquelas que estudavam pela manhã, iam à Escola
Vocacional à tarde - alternando o uso dos equipamentos..
O manifesto inadimplemento ao ECA, no que tange à permanência do
trabalho infantil, corrobora para a constatação de que vigorava um ideário
policialesco, implícito no modelo pedagógico ali aplicado. As crianças que não
cumpriam as atividades laborais estabelecidas eram cominadas com
penalidades. A racionalidade germinada no século XVIII, ainda no século XX,
precisava de pessoas ligadas a instituições sociais e educativas que servissem
de agentes a seu serviço. Para isso era necessário o convencimento de que,
com punições, poderiam edificar personalidades morais idôneas e submissas
às regras convencionadas pela sociedade.
Em razão disso, muitas vezes, uma lei (como o ECA) que
restabelecesse a cidadania e os direitos às crianças expropriadas, era vista
com desconfiança e desdém, porque se apresentava como revolucionária e
causadora de “insubmissão” e de valoradora de“autonomia” (Marzagão-Silva,
2002).
A Sra. Ângela Lucena voltou à presidência da instituição em 1999, tendo
convocado nova assembléia geral para modificar o estatuto da entidade em 30
de junho de 2000. Os motivos se esclarecem pelo texto transcrito abaixo:
Art 1º. O Serviço Assistencial Médico Alimentar, também
designado pela sigla SAMA, constituído em 25 de março de
1974, é uma entidade civil sem fins lucrativos que terá duração
por tempo indeterminado, com sede no município de Bragança
Paulista, Estado de São Paulo e foro em Bragança Paulista.
Parágrafo único A unidade SEDE, situada na Av. Alziro de
Oliveira s/nº, bairro Santa Lúcia, município de Bragança Paulista,
funcionará em regime de internato de segunda-feira a segunda-
feira e creche de segunda-feira à sexta-feira, designada “Centro
143
Filantrópico Educacional Vicente Filócomo” CFEVF e a
segunda unidade na Rua Benedito Baságlia, nº 20, Jardim Santa
Rita de Cássia, funcionará em regime de creche, de segundas-
feiras às sextas-feiras também permanecendo fechada nos
sábados, domingos e feriados e por ocasião das férias coletivas
dos funcionários.
Art. - SAMA tem por finalidade, dispensar atendimento
assistencial e promocional gratuitos, às crianças e adolescentes
de ambos os sexos, cuja família for comprovadamente
necessitada.
Parágrafo único São condições de admissão e permanência
dos menores na entidade:
a) Na unidade sede: admissão de zero (00) anos até treze (13)
anos e onze (11) meses, e permanência, se necessária, até
completar dezoito (18) anos, se do sexo feminino.
b) Na segunda unidade: admissão e permanência de zero
(00) anos a seis (06) anos e onze (11) meses.
c) Não poderão ser recebidas e atendidas, nas duas
unidades, crianças infratoras e/ou portadoras de moléstias
infecto-contagiosas, epidêmicas ou endêmicas.
Cabe lembrar que, no decorrer de 1998, quando era presidente o Sr.
Sebastião Filócomo filho do sr. Vicente Filócomo doador do terreno no qual
funcionava a unidade I do SAMA, ocorreu uma segunda intervenção na
entidade, pelo descumprimento ao ECA. Todavia, não ocorriam na
instituição as atrocidades de 1983. Esta pesquisadora foi membro da comissão
interventora de 1998, nomeada pelo então Juiz da Vara da Infância e da
Juventude, Dr. Paulo Lúcio Nogueira Filho. Entretanto não houve autorização
para analisar e/ou publicizar atos do processo alusivo a esta nova intervenção,
em decorrência também do segredo de justiça.
Em vista deste panorama, a pesquisadora que conhece o teor do
procedimento judicial limita-se a asseverar que não havia transgressões
severas ao ECA, que embasassem o pedido de intervenção judicial da
representante do Ministério Público. A entidade precisava, sim, adequar-se à
legislação vigente em quesitos como estrutura física e ampliação do corpo
144
técnico, não tendo sido verificado, nessa oportunidade, maus-tratos às
crianças.
Com a segunda intervenção, tomou posse como presidente transitória a
advogada Cleuza Ritton, que, como a sra. Ângela Lucena, era comissária de
menores. Em 1999, a Sra. Ângela Lucena foi reconduzida presidindo o abrigo,
no qual permaneceu até seu falecimento em 2003.
Em 30 de junho de 2000, novamente, ocorreram mudança nas
finalidades do abrigo, conforme artigos 2º e 3º do novo estatuto:
Art. - O SAMA tem por finalidade dispensar atendimento
assistencial e promocional gratuitos às crianças e adolescentes
de ambos os sexos, cuja família for comprovadamente
necessitada.
Parágrafo único São condições de admissão e permanência
dos menores na entidade:
a) Na unidade sede: admissão de zero (00) até treze (13) anos e
onze (11) meses, e permanência, se necessária, até completar
dezoito (18) anos, se do sexo feminino;
b) Na segunda unidade: admissão e permanência de zero (00) a
seis (6) anos e onze (11) meses;
c) Não poderão ser recebidas e atendidas, nas duas unidades,
crianças infratoras e/ou portadoras de moléstias infecto-
contagiosas, epidêmicas ou endêmicas.
Art. - No desenvolvimento de suas atividades, o SAMA não
fará distinção alguma quanto à raça, cor, condição social, credo
político e religioso.
Em 2006, a então presidente, a psicóloga Claudia Maria da Silva
Guimaro, procurou implementar o ECA na entidade, modificando novamente o
estatuto, conforme os artigos 2º e 3º:
Art. - O Serviço Assistencial Médico Alimentar tem por
145
finalidade dispensar atendimento assistencial e promocional
gratuitos a crianças e adolescentes de ambos os sexos em
situação de risco e/ou abandono, promovendo sua integração na
comunidade, na família de origem ou em lar substituto,
prestando também assistência a crianças e adolescentes
procedentes de famílias comprovadamente carentes.
Convém ressaltar que é nefando e avesso à lei que meninos e meninas
ainda sejam separados de suas famílias, tendo como pretexto a inópia, uma
vez que o artigo 23, do Estatuto da Criança e do Adolescente, é explícito ao
assegurar que a auncia ou a insuficiência de recursos materiais não
constitui motivo aceivel para a perda ou a suspensão do poder familiar.
Contudo, não é isso o que se ainda hoje na prática do SAMA, e,
possivelmente, de inúmeros abrigos brasileiros.
Segundo o artigo 3º, do novo estatuto do SAMA:
Art. - São condições de admissão e permanência dos
menores na entidade:
I Em regime de abrigo/residencial: crianças e adolescentes de
ambos os sexos encaminhadas pela Vara da Infância e da
Juventude e pelo Conselho Tutelar residentes no município de
Bragança Paulista sendo que os do sexo feminino serão
admitidos até os 13 (treze) anos e 11 (onze) meses de idade,
podendo permanecer na associação até completar a maioridade
civil ou 18 (dezoito) anos e os do sexo masculino somente
poderão permanecer até completar 12 (doze) anos de idade,
após o que serão encaminhados para outras entidades de
assistência.
II Em meio aberto, ou seja, em atividades sócio-educativas,
crianças e adolescentes de ambos os sexos desde os 03 (três)
anos até os 14 (quatorze) anos de idade, de acordo com a
disponibilidade e critérios da entidade.
Parágrafo único Não poderão ser recebidas e atendidas,
146
crianças infratoras e/ou portadoras de moléstias infecto-
contagiosas, epidêmicas ou endêmicas.
Atualmente, o SAMA tem em funcionamento apenas a unidade I,ou seja,
a sede localizada no periférico e paupérrimo bairro Jardim Santa Lúcia, na
zona norte da cidade de Bragança Paulista, sendo a atual presidente da
entidade a Sra. Sandra Lúcia de Oliveira Teixeira. Nesta unidade são atendidas
trinta crianças e adolescentes. A maior parte dos acolhidos estão
compreendidos na faixa etária de seis a doze anos.
Os internos têm o dia todo ocupado; se não estão na escola, estão
realizando afazeres escolares, serviços artesanais, atividades recreativas e de
lazer, o que evita a disponibilidade do tempo ocioso individual. Convém aqui
ressaltar um argumento de Foucault acerca da questão (1987): (as crianças)
tratadas como um corpo disciplinado, são submetidas à organização do
tempo e do espaço, que objetiva (...) disciplinar os corpos bem como as almas
(...).
O SAMA firmou recentemente um convênio com o Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente de Bragança Paulista com vistas a
obter recursos para implementar projetos. O FUMDICAD - Fundo Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente de Bragança Paulista, nesse momento,
está financiando dois projetos do SAMA: um deles é o "Projeto Pedagógico",
que visa contratar uma pedagoga para interagir com as crianças da entidade,
desenvolvendo um trabalho psicossocial, inclusive com a inserção de
musicalidade, de trabalhos manuais e de ações relacionadas ao meio
ambiente, como por exemplo, a horta comunitária. O outro projeto, denominado
"Casa Nova", se destina a melhorar o atendimento na entidade. Pretende
construir um novo dormitório e, assim, disponibilizar um espaço mais adequado
às 32 crianças e adolescentes atendidas no local. O valor que será repassado
à entidade é de R$ 19.600. Para a presidente do SAMA este é um sonho que
está se tornando realidade (informações extraídas do site do CMDCA de
Bragança, 2008).
147
Na esfera educacional, a instituição conserva uma escola conexa à
sua unidade e uma Fanfarra da Guarda Bandeirantes, que ainda funciona na
instituição.
A evolução dessa entidade assistencial, aqui descrita, demonstra que as
medidas assistencialistas que motivaram a abertura dos antigos abrigos
atendiam, historicamente, às demandas de natureza político-ideológicas
relativas aos temores sociais provocados pelas possibilidades futuras de
comportamentos inadequados das crianças das classes excluídas. Em face
disto, demonstra-se o ardiloso comprometimento da ação pedagógica como
mecanismo de controle social, fato esse que permite afirmar o caráter político
no qual se reverteram as instituições –não apenas as estudadas mas também
as congêneres a esta - a serviço de escusos preceitos relacionados à
manutenção da ordem social e ao modelo de sociedade conveniente às elites
dominantes.
148
CONCLUSÃO
O estudo preparatório da pesquisa que fundamentou esta Tese nos
mostrou que o processo histórico de formação das instituições de educação da
infância pobres, no Brasil, assumiu por arquétipo a Europa, cujo escopo era
conter as crianças e suas famílias, controlá-las e discipliná-las. Esse
expediente teve por resultado o desenvolvimento e a disseminação da
alcunhada pedagogia da submissão, estruturando seus moldes em base de
uma sociedade disciplinar.
O desígnio cardeal deste modelo educacional não era o
desenvolvimento cultural e da personalidade e sim, submeter os internos dos
estratos sociais mais pobres da sociedade ao conformismo social e à
conversão das representações grupais a modelos condizentes com os
interesses dominantes. O estudo realizado, cujo universo foi o ISE e o SAMA,
em Bragança Paulista, Estado de São Paulo mostrou que os mesmos
estabeleceram-se como dois protótipos de abrigamento que desenvolveram
esta educação segregadora, ao promoverem o isolamento de filhos de pobres
do convívio social.
Essas duas entidades movidas por concepções que renovavam os
princípios normatizadores da medicina higienista do século XVIII em sua
versão atualizada, configuram-se portanto como o recurso empírico que deu
suporte a esta Tese, cujo título é O Controle e a repressão em uma sociedade
de classes: estudo da institucionalização e do processo educativo de dois
abrigos infantis em Bragança Paulista.
O desdobramento da análise empreendida permitiu confirmar a tese
assumida pela pesquisadora, segundo a qual os dois abrigos de crianças - ISE
- Instituto Social e Educacional e SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar
de fato adotaram os princípios e os baldrames ideológicos sobre higiene,
educação e saúde, em vigência no Brasil desde o século XIX, atualizados
histórica e politicamente na preservação da racionalidade burguesa assumida
149
pelo Estado brasileiro. Os dois asilos tinham por finalidade o domínio social
e a vigilância sobre os filhos das classes pauperizadas, guiados pelo
higienismo europeu antecedente.
A pesquisa que buscou as determinações dos discursos higienizantes da
sociedade a partir do século XVIII, ao apreender o cerne de cada um deles,
esquadrinhou a experiência da relação entre as classes, que se manifestaram
de modos diversos. Nesse sentido, os discursos expressões de visões de
mundo, sínteses entre tinturas sobre o real e as normas de conduta delas
resultantes neste caso concreto, têm relação com a racionalização das
práticas capitalistas acerca da sociedade, em sua vertente autoritária, naqueles
momentos históricos.
A gênese, a operacionalização e a função político-social do ISE e do
SAMA vincularam-se aos preceitos higienistas, instituídos no Brasil, no início
do século XIX. Este papel configurado na estrutura dos abrigos expôs o caráter
ideológico presente em suas práticas, as quais eram saneadoras, educativas e
controladoras. Seu aparato de vigilância, sua estrutura, seu funcionamento, sua
prática pedagógica e suas finalidades expressas determinaram suas funções
no tocante à educação em meio à realidade vivenciada,. Ambas instituições
sempre estiveram, desde sua gênese, articuladas ao ideário fundeado na
vigilância e na disciplina, proclamada pelos interesses dominantes. Adaptada e
aperfeiçoada ao longo da histórica constituição dos abrigos no Brasil, essa
racionalidade disciplinadora afirmava-se mais e mais na intenção de limitar a
circulação da cognominada "população perigosa".
A gênese dos discursos, das racionalizações em seu processo de
ideologização da realidade social e de suas resultantes, expressou-se na
configuração da prática dos dois abrigos para a “perigosa” população infantil
pobre da cidade de Bragança Paulista. A leitura dialética da realidade guiou a
análise às balizas de um movimento que constitui o dado ontológico da história,
que é a relação do homem com os outros homens na produção de sua
realidade material e social.
150
Os dois abrigos foram analisados, considerando-se os aspectos
conjunturais da realidade: o processo e as condições sociais em que essas
instituições foram geradas e o grau de consciência dos agentes envolvidos nas
práticas realizadas. A higienização ecoou, pelo menos, nas bases sobre as
quais foram edificados os dois abrigos analisados em seus desdobramentos
históricos.
Nas análises feitas pode-se apreender que o ISE e o SAMA, assim como
outras instituições totais da época, tinham por finalidade cultivar crianças
trabalhadoras, resistentes às enfermidades derivadas da miséria e exclusão
social, conformando-os à subserviência. A lógica evidenciada dos interesses
dominantes, em sua prática de teor preventivo, incumbiu-se de atenuar o
cerceamento das tradições e das gerações antecedentes, ratificando a
preponderância de uma concepção educacional assistencialista, interditiva e
preconceituosa concernente à pobreza.
Esta modalidade de ingerência, referenciada em normas de saúde, para
o controle político-ideológico sobre os filhos das populações mais pobres,
interditados na cidade de Bragança Paulista, Estado de São Paulo, é uma
faceta de uma determinação cuja apreensão é maior, porque ultrapassa as
fronteiras da realidade local averiguada. A universalidade padrão dos
resultados foi percebida em exame de uma realidade circunscrita, porque nela
estavam presentes os pressupostos identificados na estrutura do ideário
estudado. O SAMA e o ISE proporcionaram a implicação prática do
mencionado controle social, tomado em sua larga abrangência. Endossando a
essência do problema aqui discutido, a saber: de que os filhos dos "pobres", no
Brasil, continuamente, foram objetos de um normativismo assistencialista,
quando dirigidos à internação. As duas instituições analisadas evidenciaram a
segregação e o mascaramento da exclusão, padronizados pela "medicina
serviço" com emprego disciplinar.
Os dois asilos infantis aqui analisados utilizavam artifícios para
controlarem essa população, segregando-a a partir de um discurso médico que
se ofereceu para validação dessas práticas, assinaladas como atitudes
151
defensivas da saúde e da integridade infantil. Distinguiram-se também pela
prática de uma racionalização eficaz que atendia à lógica da vigilância, ao
aperfeiçoarem os mecanismos de regulação do conhecimento e dos espaços
de circulação autorizados, e de atilamento das verdades.
Assim, na instância do abrigamento, o modelo de contrato perfilhado
pelo ISE e pelo SAMA preocupava-se em formar trabalhadores braçais e rurais,
enunciados verificados nos documentos dos dois asilos analisados nesta
pesquisa. O foco da ação recaía sobre as atividades agrícolas e braçais em
detrimento à educação formal e integradora. Isto deixa antever a cognominada
indiferença axiológica do capitalismo. A compreensão de que a realização do
interesse particular de cada pessoa conduz, por meio de uma harmonia
implícita (a mão oculta), ao interesse geral de coletividade tinha sua aplicação
relacionada, de maneira implícita aos interesses de uma única classe, a dos
que detinham o poder. Nesta perspectiva, todo preceito ético tornou-se
supérfluo – nomeadamente no SAMA - se não nocivo à concretização de certas
metas individuais das crianças e adolescentes abrigados.
A indiferença axiológica verificada nos projetos pedagógicos aplicados
aos abrigados, permite afirmar que estes eram relegados a um plano inferior
nas entidades estudadas. Esta mesma afirmação poder-se-ia inferir em relação
às estratégia assumidas na educação institucionalizada praticada no Brasil até
poucos anos atrás. Em contrapartida, nos dois abrigos, o controle médico dos
internos era austero, pelo que se pode verificar através do material colhido nos
arquivos das entidades, fixando o suporte desta pesquisa. O uso das fontes
primárias permitiu o desvendamento do verdadeiro intento do processo
educativo desenvolvido, ao longo de um grande período, na cidade de
Bragança Paulista. Cabe lembrar, que o ISE e o SAMA possuíam estruturas
organizativas similares às demais instituições totais voltadas à educação de
crianças pobres do país.
O viés norteador do "pensamento oficial" de uma modalidade de poder
implícito historicamente na realidade brasileira, aparece aqui representado pela
diretoria das duas entidades. Ele se manifesta claramente mediante a
152
observação da rotina imposta às crianças abrigadas, ainda na década de
1990: internos que estudavam à tarde trabalhavam na roça, no período
antecedente, e vice-versa para os que estudavam pela manhã.
Evidenciou-se, com isto, um reiterado descumprimento ao Estatuto da
Criança e do Adolescente- ECA, notadamente no que se refere ao trabalho
infantil, ao ser enfatizada a intenção de contê-las pela ocupação e pelo
cansaço, a fim de controlá-las e discipliná-las. As crianças trabalhavam
diariamente na “roça” - lavoura - por um significativo período, em detrimento de
atividades de aprendizagem e/ou lúdicas (o brincar). O trabalho era obrigatório
para as crianças, sendo cominadas as que não tinham acabado o serviço ou
não tinha feito direito, sendo observadas por uma religiosa no ISE e por uma
funcionária no SAMA. O trabalho infantil gerava danos físicos e psicológicos,
muitas vezes, irreversíveis às crianças.
Contudo, no momento histórico perquirido, os agentes participantes do
processo educativo do ISE e do SAMA estavam convencidos de que o trabalho
infantil distanciava a criança da ociosidade e da erotização precoce,
disciplinando os corpos e as mentes, com vistas à obediência e à submissão.
Não estavam em questão as possíveis conseqüências psicológicas e
emocionais geradas por essa prática danosa, nem o embaraço físico e moral
decorrentes das punições pelo não cumprimento das tarefas impostas.
Não havia nada de dico ou terapêutico programado. Assim, toda
ludicidade foi afastada e o ato de brincar - termo este que abrange jogos e
brinquedos - representava desperdício de tempo para as tarefas propostas. Ao
recusarem para as crianças a oportunidade de brincar, retiravam das mesmas
recursos para a promoção de sua interação social, para o relacionamento
saudável com os outros e para a percepção do mundo à sua volta.
Recusavam também oportunidade para seu melhor desenvolvimento, uma vez
que é brincando que a criança cresce afetiva, cognitiva (capacidade de síntese
e jogo simbólico) e emocionalmente (Weiss, 1993). Brincando a criança
exercita suas potencialidades, desenvolve a sociabilidade, aprende a engajar-
se em atividades, pelo prazer de participar, sem recear punições ou almejar
153
recompensa, tornando-se operativa (Cunha, 1994).
Tudo isso permite afirmar a força e o vigor do ideário subjacente das
referidas práticas adotadas nesses abrigos. As crianças que não cumprissem
com a meta estipulada para o dia, eram punidas, impedidas de assistir
televisão, de fazer lição de casa, entre outras punições.
Cabe assinalar como complemento da compreensão totalizadora da
inserção do projeto desenvolvido nas duas instituições a esquemas autoritários,
que as necessidades infantis de afeto eram desconsiderada dentro dessas
instituições. Há que se assinalar que a função política dessas entidades voltada
para a contenção da disseminação da maléfica pobreza, não permitia o
desenvolvimento da afetividade, prática essa que o se alterou muito com o
passar dos anos. Ambas as entidades tiveram tempo hábil para se adequarem
ao ECA, sem o fazerem, apesar de passados tantos anos após o seu advento.
O que redundou no fato de que o SAMA tenha sofrido intervenção em 1998.
Implantar os preceitos do ECA, nas duas entidade, demandaria abrir
mão da pedagogia da submissão e da opressão, resquício das tradições e das
gerações anteriores. Implicaria, de fato, em ruptura ideológica com a ordem
disciplinar dominante, em favor da diminuição das distâncias. Significaria
afrouxar as regras do controle total, subverter, revolucionar os princípios de
controle sobre o corpo e a mente, tal como aludiu Foucault ao referir-se aos
expedientes de contenção da infância pobre.
Em síntese, pode-se afirmar que o ISE e o SAMA poderiam, e ainda
podem, transformar-se em abrigos consoantes aos ditames do ECA Estatuto
da Criança e do Adolescente. No entanto, a orientação prevalente ainda é a de
severas práticas disciplinares, emanadas de um poder difuso, perdendo-se as
excelentes oportunidades para a realização das potencialidades da infância na
comunidade de Bragança Paulista. O desafio que lhes é posto é a promoção
de uma educação de qualidade, tanto intelectual quanto moral e afetiva para
as crianças abrigadas, em atendimento aos mais veementes clamores da
justiça social e da cidadania.
154
REFERÊNCIAS
1- DOCUMENTAIS
1.1 – ISE – Instituto Social e Educacional
- Ata do ISE de 19/03/1960;
- Ata do ISE de 09/11/1961;
- Ata do ISE de 06/01/1964;
- Ata do ISE de 25/01/1965;
- Ata do ISE de 03/09/1973;
- Ata do ISE de 05/06/1974;
- Ata do ISE de 15/02/1975;
-Ata do ISE de 03/03/1975;
- Ata do ISE de 13/09/76;
- Ata do ISE de 3 de março de 1994;
- Ata do ISE de 21 de março de 1998;
- Ata do ISE de 5 de maio de 1998;
- Estatuto do ISE de 1960;
155
- Estatuto do ISE de 14 de fevereiro de 1973;
- Estatuto do ISE de 8 de junho de 1993;
- Estatuto do ISE de 8 de janeiro de 2007.
1.2 - SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar
- Convênio nº 190/83 SAMA - FEBEM de 20 de janeiro de 1983;
- Estatuto do SAMA de 1969;
- Estatuto do SAMA de 25 de março de 1974;
- Estatuto do SAMA de 6 de janeiro de 1989;
- Estatuto do SAMA de 30 de junho de 2000;
- Estatuto do SAMA de 2006;
- Ofício do SAMA de 25 de março de 1983;
- Ofício do SAMA de 22 de abril de 1983;
- Plano de trabalho do SAMA de janeiro a agosto de 1974;
- Plano de trabalho institucional do SAMA de 22 de outubro de 1974 da Escola
Vocacional;
- Relatório geral do SAMA de 1982.
156
2- LEGAIS
BRASIL. Decreto nº 13.064/1918 - novo regulamento ás Escolas de
Aprendizes Artífices.
BRASIL. Decreto nº 13.706/1919 - NOVA ORGANIZAÇÃO AOS
PATRONATOS AGRÍCOLAS
BRASIL. Decreto 16.272/1923 - APROVA O REGULAMENTO DA
ASSISTÊNCIA E PROTEÇÃO AOS MENORES ABANDONADOS E
DELINQUENTES.
BRASIL. Decreto nº 5.083/1926 - Institui o Código de Menores.
BRASIL. Decreto 17.943-A/1927 - Consolida as Leis de Assistência e
Proteção a Menores - Disposições referentes ao Distrito Federal.
BRASIL. Decreto 19481/1930 - TRANSFERE PARA O MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA OS PATRONATOS AGRÍCOLAS A QUE SE REFERE O
DECRETO NÚMERO 13.706 , DE 25 DE JULHO DE 1919.
BRASIL. Decreto 24.303/1934 - PERMITE AOS FILHOS DE BRASILEIROS
EM SERVIÇO DO GOVERNO DA REPÚBLICA, NO ESTRANGEIRO, A
PRESTAÇÃO DE EXAMES NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO
SECUNDÁRIO OU SUPERIOR, INDEPENDENTEMENTE DAS EXIGÊNCIAS
DE FREQUÊNCIA E MÉDIA CONDICIONAL, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 3.200/1941 - Dispõe sobre a Organização e Proteção
da Família.
BRASIL. Decreto-Lei 3.617/1941 - ESTABELECE AS BASES DE
ORGANIZAÇÃO DOS DESPORTOS UNIVERSITÁRIOS.
BRASIL. Decreto-Lei 4.048/1942 - CRIA O SERVIÇO NACIONAL DE
157
APRENDIZAGEM DOS INDUSTRIÁRIOS (SENAI).
BRASIL. Decreto-Lei 4.936/1942 - AMPLIA O ÂMBITO DE AÇÃO DO
SERVIÇO NACIONAL DE APREDIZAGEM DOS INDUSTRIÁRIOS, E DÁ
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 8.621/1946 - DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DO
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL E DA OUTRAS
PROVIDENCIAS.
BRASIL. Lei nº 3.133/1957 - ATUALIZA O INSTITUTO DA ADOÇÃO
PRESCRITA NO CODIGO CIVIL.
BRASIL. Decreto 50.368/1961 - DISPÕE SOBRE O ATENDIMENTO DE
EDUCAÇÃO GRATUITA, A FILHO MENOR DE EX-COMBATENTE E AOS
ORFÃOS CARENTES DE RECURSOS.
BRASIL. Decreto 51.129/1961 - DISPÕE SOBRE A AGREGAÇÃO DE
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR NÃO FEDERAIS A
UNIVERSIDADES FEDERAIS.
BRASIL. Lei 4.024/1961 - FIXA AS DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
NACIONAL.
BRASIL. Lei nº 4.375/1964 - LEI DO SERVIÇO MILITAR.
BRASIL. Lei 4.737/1965 - CÓDIGO ELEITORAL, para permitir o voto, ao
eleitor que se encontra no exterior, nas eleições para governador, vice-
governador e senador.
BRASIL. Decreto 55.613/1965 - TORNA OBRIGATÓRIO O REGISTRO DE
ESTUDANTES ESTRANGEIROS BENEFICIÁRIOS DE CONVÊNIOS
CULTURAIS (ESTUDANTES-CONVÊNIOS) E DA OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
158
BRASIL. Decreto 57.654/1966 - DO REGULAMENTO DA LEI DO
SERVIÇO MILITAR.
BRASIL. Decreto nº 57.662/1966 - DISPÕE SOBRE AREAS DESTINADAS A
CANTINAS ESCOLARES.
BRASIL. Lei 5.258/1967 - DISPÕE SOBRE MEDIDAS APLICÁVEIS AOS
MENORES DE 18 ANOS PELA PRÁTICA DE FATOS COMO INFRAÇÕES
PENAIS E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 200/1967 - QUE DISPÕE SOBRE A ORGANIZAÇÃO
DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
BRASIL. Decreto-Lei 204/1967 - DESTINA A FUNDAÇÃO NACIONAL DO
BEM ESTAR DO MENOR PARTE RECEBIDA PELO DEPARTAMENTO DE
IMPOSTO DE RENDA NA ARRECADAÇÃO DA LOTERIA ESPORTIVA
FEDERAL, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.292/1967 - DISPÕE SOBRE A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO
MILITAR PELOS ESTUDANTES DE MEDICINA, E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.400/1968 - PROVÊ SOBRE A ALFABETIZAÇÃO DE
ADULTOS EM IDADE MILITAR.
BRASIL. Lei 5.439/1968 - ALTERA A LEI 5258, DE 10.04.67, QUE DISPÕE
SOBRE MEDIDAS APLICÁVEIS AOS MENORES DE 18 ANOS PELA
PRÁTICA DE FATOS DEFINIDOS COMO INFRAÇÕES PENAIS E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 63.223/1968 - PROMULGA A CONVENÇÃO RELATIVA À
LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO NO CAMPO DO ENSINO, ADOTADA
PELA CONFERÊNCIA GERAL DA UNESCO, EM PARIS, A 14 DE
159
DEZEMBRO DE 1960.
BRASIL. Lei 5.507/1968 - ESTABELECE PRIORIDADE PARA MATRÍCULA
NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PÚBLICO DE CURSO MÉDIO E
DISPÕE SOBRE A CONCESSÃO DE BOLSAS DE ESTUDO PARA OS
FILHOS DE EX-COMBATENTES E ÓRFÃOS MENORES CARENTES DE
RECURSOS.
BRASIL. Lei 5.525/1968 - DISPÕE SOBRE A DESTINAÇÃO DO FUNDO
ESPECIAL DA LOTERIA FEDERAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.537/1968 - CRIA O INSTITUTO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E PESQUISA (INDEP), E DÁ OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.540/1968 - 'FIXA NORMAS DE ORGANIZAÇÃO E
FUNCIONAMENTO DO ENSINO SUPERIOR E SUA ARTICULAÇÃO COM A
ESCOLA MÉDIA', INSTITUINDO MATÉRIA OBRIGATÓRIA.
BRASIL. Constituição Federal de 1969.
BRASIL. Decreto-Lei 464/1969 - ESTABELECE NORMAS
COMPLEMENTARES A LEI 5.540 DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968 E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 532/1969 - DISPÕE SOBRE A FIXAÇÃO E O
REAJUSTAMENTO DE ANUIDADES, TAXAS E DEMAIS CONTRIBUIÇÕES
DO SERVIÇO EDUCACIONAL.
BRASIL. Decreto-Lei 574/1969 - DISPÕE SOBRE O AUMENTO DE
MATRíCULAS EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR.
BRASIL. Decreto-Lei 594/1969 - INSTITUI A LOTERIA ESPORTIVA
FEDERAL, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
160
BRASIL. Decreto-Lei nº 705/1969 - ALTERA A REDAÇÃO DO ART. 22 DA LEI
4024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961, QUE FIXA AS DIRETRIZES E BASES
DA EDUCAÇÃO NACIONAL.
BRASIL. Decreto-Lei nº 715/1969 - ALTERA DISPOSITIVOS DA LEI 4.375,
DE 17 DE AGOSTO DE 1964, (LEI DO SERVIÇO MILITAR).
BRASIL. Decreto-Lei 842/1969 - ALTERA A REDAÇÃO DO ARTIGO 47 DA
LEI 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968 E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 863/1969 - AUTORIZA O PODER EXECUTIVO A
INSTITUIR, NOS MINISTÉRIOS DA MARINHA, DO EXÉRCITO E DA
AERONÁUTICA, UM PROGRAMA ESPECIAL DE BOLSAS DE ESTUDO A
ACADEMIA DE MEDICINA E FACULDADE OFICIAL OU RECONHECIDA.
BRASIL. Decreto-Lei 869/1969 - DISPÕE SOBRE A INCLUSÃO DE
EDUCAÇÃO MORAL E CÍIVICA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA, NOS
SISTEMAS DE ENSINO DO PAÍS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 872/1969 - COMPLEMENTA DISPOSIÇÕES DA LEI
5.537, DE 21 NOVEMBRO DE 1968, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 874/1969 - PROVÊ SOBRE A INCLUSÃO
OBRIGATÓRIA DO TITULAR DA DIRETORIA DE ENSINO SUPERIOR NA
COMPOSIÇÃO DO CONSELHO FEDERAL DA EDUCAÇÃO.
BRASIL. Decreto-Lei nº 900/1969 - ALTERA DISPOSIÇÕES DO DECRETO-
LEI 200, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1967, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto-Lei 922/1969 - ALTERA A REDAÇÃO DO PARAGRAFO 2
DO ARTIGO 8 DA LEI 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961.
BRASIL. Decreto-Lei 1.043/1969 - ESTABELECE NOVA EXIGÊNCIA PARA
161
REGISTRO DE DIPLOMA DE PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CONFERIDO POR ESTABELECIMENTO MILITAR DE ENSINO.
BRASIL. Decreto-Lei 1.044/1969 - DISPÕE SOBRE O TRATAMENTO
EXCEPCIONAL PARA OS ALUNOS PORTADORES DAS AFECÇÕES QUE
INDICA.
BRASIL. Decreto-Lei 1.051/1969 - PROVE SOBRE O APROVEITAMENTO
EM CURSOS DE LICENCIATURA, DE ESTUDOS REALIZADOS EM
SEMINÁRIOS MAIORES, FACULDADES TEOLÓGICAS OU INSTITUIÇÕES
EQUIVALENTES DE QUALQUER CONFISSÃO RELIGIOSA.
BRASIL. Lei 5.566/1969 - ASSEGURA INSCRIÇÃO NOS CONCURSOS DE
HABILITAÇÃO PARA INGRESSO NOS CURSOS DE ENSINO SUPERIOR
AOS GRADUADOS EM ESCOLAS NORMAIS.
BRASIL. Decreto 66.280/1970 - DISPÕE SOBRE CONDIÇÕES PARA O
TRABALHO DE MENORES DE 12 A 14 ANOS.
BRASIL. Decreto nº 66.544/1970 - DISPÕE SOBRE A COMPOSIÇÃO DO
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO.
BRASIL. Decreto nº 67.348/1970 - INSTITUI O PROGRAMA INTENSIVO DE
PÓS-GRADUAÇÃO, NAS ÁREAS LIGADAS AO DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO DO PAÍS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 68.065/1971 - REGULAMENTA O DECRETO-LEI 869, DE
12 DE SETEMBRO DE 1969, QUE DISPÕE SOBRE A INCLUSÃO DA
EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA, NAS
ESCOLAS DE TODOS OS GRAUS E MODALIDADES DOS SISTEMAS DE
ENSINO DO PAÍS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.664/1971 - ACRESCENTA PARÁGRAFO ÚNICO AO
ARTIGO 1 DO DECRETO-LEI 705 DE 25 DE JULHO DE 1969 QUE ALTERA
162
A REDAÇÃO DO ARTIGO 22 DA LEI 4024 DE 20 DE DEZEMBRO DE
1961, QUE FIXA AS DIRETRIZES E BASE DA EDUCAÇÃO NACIONAL.
BRASIL. Decreto 68.908/1971 - DISPÕE SOBRE CONCURSO
VESTIBULAR PARA ADMISSÃO AOS CURSOS SUPERIORES DE
GRADUAÇÃO.
BRASIL. Decreto 69.053/1971 - FIXA NORMAS PARA A PARTICIPAÇÃO
DE ESTUDANTES EM CONGRESSOS CIENTÍFICOS OU COMPETIÇÕES
ARTÍSTICAS OU DESPORTIVAS DE ÂMBITO NACIONAL OU
INTERNACIONAL, BEM COMO DELEGA COMPETÊNCIA AO MINISTRO DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO E CULTURA PARA REGULAMENTAÇÃO DOS
CASOS CONCRETOS.
BRASIL. Decreto 69.450/1971 - REGULAMENTA O ARTIGO 22 DA LEI
4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961, E A ALÍNEA C DO ARTIGO 40 DA LEI
5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968 E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5692/1971 - FIXA AS DIRETRIZES E BASES PARA E ENSINO
DE PRIMEIRO E SEGUNDO GRAUS.
BRASIL. Lei 5.731/1971 - NOVA REDAÇÃO AOS ARTIGOS 2,3,4 E 6
DO DECRETO-LEI 863, DE 12 DE SETEMBRO DE 1969, QUE AUTORIZA O
PODER EXECUTIVO A INSTITUIR NOS MINISTÉRIO DA MARINHA, DO
EXÉRCITO E DA AERONÁUTICA UM PROGRAMA ESPECIAL DE BOLSAS
DE ESTUDOS A ACADÊMICO DE MEDICINA DE FACULDADE OFICIAL OU
RECONHECIDA.
BRASIL. Decreto 69.927/1972 - INSTITUI, EM CARÁTER NACIONAL, O
PROGRAMA BOLSA DE TRABALHO.
BRASIL. Decreto 70.185/1972 - DISPÕE SOBRE O PROGRAMA
NACIONAL DE TELEDUCAÇÃO (PRONTEL) E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
163
BRASIL. Decreto 70.763/1972 - REGULAMENTO PARA PROGRAMA
DE BOLSAS DE ESTUDO EM HOSPITAIS MILITARES.
BRASIL. Lei 5.789/1972 - NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 6 DO
DECRETO-LEI 464, DE 11 DE FEVEREIRO DE 1969, QUE ESTABELECE
NORMAS COMPLEMENTARES À LEI 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE
1968, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.802/1972 - DISPÕE SOBRE A INSCRIÇÃO EM PROVA DE
HABILITAÇÃO A LIVRE-DOCÊNCIA.
BRASIL. Decreto 71.244/1972 - ESTABELECE NORMAS PARA A
CONCESSÃO DE AUXÍLIO FINANCEIRO AOS SISTEMAS ESTADUAIS DE
ENSINO.
BRASIL. Lei 5.855/1972 - NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 10, DA LEI
4.024, DE 1961, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961, QUE FIXA AS DIRETRIZES
E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL.
BRASIL. Lei nº 5.869/1973 - Código de Processo Civil.
BRASIL. Decreto 71.835/1973 - DISPÕE SOBRE A MATRÍCULA EM
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR DE DEPENDENTES DE
REPRESENTANTES DIPLOMÁTICOS E CONSULARES DE CARREIRA
ACREDITADOS JUNTO AO GOVERNO BRASILEIRO, E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 5.889/1973 - ESTATUIU NORMAS REGULADORAS DO
TRABALHO RURAL.
BRASIL. Decreto 72.434/1973 - CRIA A COORDENAÇÃO NACIONAL DO
ENSINO AGRÍCOLA - COAGRI NO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E
CULTURA, ATRIBUINDO-LHE AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E
FINANCEIRA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
164
BRASIL. Decreto 72.495/1973 - ESTABELECE NORMAS PARA A
CONCESSÃO DE AMPARO TÉCNICO E FINANCEIRO AS ENTIDADES
PARTICULARES DE ENSINO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 72.532/1973 - CRIA O CENTRO BRASILEIRO DE
CONSTRUÇÕES E EQUIPAMENTOS ESCOLARES - CEBRACE, E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 73.079/1973 - DISPÕE SOBRE O SISTEMA DE
CLASSIFICAÇÃO DOS CANDIDATOS NO CONCURSO VESTIBULAR PARA
ADMISSÃO AOS CURSOS SUPERIORES DE GRADUAÇÃO.
BRASIL. Decreto 73.411/1974 - INSTITUI O CONSELHO NACIONAL DE
PÓS-GRADUAÇÃO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 73.626/1974 - APROVA REGULAMENTO DA LEI 5.889,
DE 8 DE JUNHO DE 1973.
BRASIL. Decreto 73.681/1974 - DISPÕE SOBRE O PROGRAMA DE
DESENVOLVIMENTO DO ENSINO MÉDIO (PRODEM) E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 73.857/1974 - REESTRUTURA A COMISSÃO ESPECIAL
PARA EXECUÇÃO DO PLANO DE MELHORAMENTO E EXPANSÃO DO
ENSINO SUPERIOR (CEPES) E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 6.168/1974 - CRIA O FUNDO DE APOIO AO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL - FAS - E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 75.081/1974 - VINCULA AO MINISTÉRIO DO TRABALHO
O PROGRAMA INTENSIVO DE PREPARAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA - PIPMO,
APROVADO PELO DECRETO 53.324, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1963, E DÁ
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
165
BRASIL. Decreto 75.508/1975 - REGULAMENTA A LEI 6.168, DE 9 DE
DEZEMBRO DE 1974, QUE CRIOU O FUNDO DE APOIO AO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL - FAS.
BRASIL. Lei 6.202/1975 - ATRIBUI A ESTUDANTE EM ESTADO DE
GESTAÇÃO O REGIME DE EXERCÍCIOS DOMICILIARES INSTITUÍDO PELO
DECRETO-LEI 1.044, DE 1969, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 75.781/1975 - DISPÕE SOBRE O PROGRAMA
ESPECIAL DE BOLSAS DE ESTUDO - PEBE.
BRASIL. Decreto-Lei 1.422/1975 - DISPÕE SOBRE O CUMPRIMENTO DO
ARTIGO 178 DA CONSTITUIÇÃO POR EMPRESAS E EMPREGADORES DE
TODA NATUREZA, MEDIANTE A MANUTENÇÃO DO ENSINO DE 1 GRAU
GRATUITO OU RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO DO SALÁRIO-
EDUCAÇÃO.
BRASIL. Lei 6.236/1975 - DETERMINA PROVIDÊNCIAS PARA
CUMPRIMENTO DA OBRIGATORIEDADE DO ALISTAMENTO ELEITORAL.
BRASIL. Lei 6.251/1975 - INSTITUI NORMAS GERAIS SOBRE
DESPORTOS.
BRASIL. Decreto 76.436/1975 - ALTERA O DECRETO 72.434, DE 9 DE
JULHO DE 1973, QUE CRIOU A COORDENAÇÃO NACIONAL DO ENSINO
AGRÍCOLA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA.
BRASIL. Lei 6.297/1975 - DISPÕE SOBRE A DEDUÇÃO DO LUCRO
TRIBUTÁVEL PARA FINS DE IMPOSTO SOBRE A RENDA DAS PESSOAS
JURÍDICAS DO DOBRO DAS DESPESAS REALIZADAS EM PROJETOS DE
FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 77.354/1976 - DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO, NO
166
MINISTÉRIO DO TRABALHO, DO SERVIÇO NACIONAL DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL RURAL, (SENAR), ASSEGURANDO-LHE AUTONOMIA
TÉCNICA, ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA, E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto nº 77.362/1976 - DISPÕE SOBRE A INSTITUIÇÃO E
ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE MÃO-DE-
OBRA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 77.463/1976 - REGULAMENTA A LEI 6.297, DE 15 DE
DEZEMBRO DE 1975, QUE DISPÕE SOBRE A DEDUÇÃO DO LUCRO
TRIBUTAVEL PARA FINS DE IMPOSTO SOBRE A RENDA DAS PESSOAS
JURÍDICAS DO DOBRO DAS DESPESAS REALIZADAS EM PROJETOS DE
FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 77.797/1976 - DISPÕE SOBRE A APLICAÇÃO DA LEI
5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei nº 6.368/1976 - Lei Antitóxico.
BRASIL. Decreto 79.298/1977 - ALTERA O DECRETO 68.908, DE 13 DE
JULHO DE 1971, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 80.228/1977 - REGULAMENTA A LEI 6.251, DE 8 DE
OUTUBRO DE 1975, QUE INSTITUI NORMAS GERAIS SOBRE DESPORTOS
E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei nº 6.420/1977 - ALTERA A LEI 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE
1968, QUE 'FIXA NORMAS DE ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO
ENSINO SUPERIOR E SUA ARTICULAÇÃO COM A ESCOLA MÉDIA, E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 80.536/1977 - REGULAMENTA A LEI 6.420, DE 3 DE
JUNHO DE 1977 , E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
167
BRASIL. Lei nº 6.478/1977 - APLICA AOS DIPLOMAS EXPEDIDOS PELA
COMISSÃO DE DESPORTOS DA AERONÁUTICA O DISPOSTO NO ARTIGO
1 DO DECRETO-LEI 1.043, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969.
BRASIL. Lei 6.494/1977 - DISPÕE SOBRE OS ESTÁGIOS DE
ESTUDANTES DE ESTABELECIMENTO DE ENSINO
PROFISSIONALIZANTE DO SEGUNDO GRAU E SUPLETIVO E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei nº 6.503/1977 - DISPÕE SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA, EM
TODOS OS GRAUS E RAMOS DO ENSINO.
BRASIL. Lei 6.533/1978 - DISPÕE SOBRE AS PROFISSÕES DE ARTISTA
E DE CNICO EM ESPETÁCULOS DE DIVERSÕES, E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei nº 6.536/1978 - DÁ NOVA REDAÇÃO A DISPOSITIVOS DO
DECRETO-LEI 835, DE 8 DE SETEMBRO DE 1969, E DA LEI 5.692, DE 11
DE AGOSTO DE 1971.
BRASIL. Lei 6.625/1979 - ACRESCENTA DISPOSITIVO AO ARTIGO 26 DA
LEI 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968, QUE 'FIXA NORMAS DE
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO ENSINO SUPERIOR E SUA
ARTICULAÇÃO COM A ESCOLA MÉDIA', INSTITUINDO MATÉRIA
OBRIGATÓRIA.
BRASIL. Lei nº 6.638/1979 - ESTABELECE NORMAS PARA A PRÁTICA
DIDÁTICO-CIENTÍFICA DA VIVISSECÇÃO DE ANIMAIS E DETERMINA
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 83.556/1979 - DISPÕE SOBRE A LIBERAÇÃO E
APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS
ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS, DO FUNDO DE
168
PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS, DO FUNDO ESPECIAL E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 6.660/1979 - NOVA REDAÇÃO A ALÍNEA E, DO ARTIGO
2, DO DECRETO-LEI 869, DE 12 DE SETEMBRO DE 1969, QUE DISPÕE
SOBRE A INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA, COMO DISCIPLINA
OBRIGATÓRIA, NOS SISTEMAS DE ENSINO DO PAÍS, E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS'.
BRASIL. Decreto 83.857/1979 - DELEGA COMPETÊNCIA AO MINISTRO
DA EDUCAÇÃO E CULTURA PARA CONCEDER RECONHECIMENTO DE
CURSOS E PRATICAR OUTROS ATOS.
BRASIL. Lei 6.680/1979 - DISPÕE SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE O
CORPO DISCENTE E A INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR, E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 84.035/1979 - DISPÕE SOBRE A DESTITUIÇÃO DAS
DIRETORIAS DE ENTIDADES DE REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL NA
HIPÓTESE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 2 DA LEI 6.680, DE 16 DE
AGOSTO DE 1979.
BRASIL. Lei nº 6.697/1979 - DISPÕE SOBRE A LEGITIMIDADE ADOTIVA.
BRASIL. Lei 6.717/1979 - ALTERA A REDAÇÃO DO ARTIGO PRIMEIRO
DA LEI 6686, DE 1979.
BRASIL. Lei 6.870/1980 - INSTITUI, NA FUNDAÇÃO PROJETO RONDON,
A CONCESSÃO DE BOLSAS ESPECIAIS A ESTUDANTES, NAS
CONDIÇÕES QUE ESPECIFICA, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 85.843/1981 - DISPÕE SOBRE A REORGANIZAÇÃO DO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA.
169
BRASIL. Decreto 85.862/1981 - ATRIBUI COMPÊTENCIA AS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR PARA FIXAR AS CONDIÇÕES
NECESSÁRIAS AO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES DE MONITORIA E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 86.324/1981 - DISPÕE SOBRE O REGISTRO
PROFISSIONAL DOS PROFESSORES E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 86.791/1981 - EXTINGUE O CONSELHO NACIONAL DE
PÓS-GRADUAÇÃO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 86.816/1982 - DISPÕE SOBRE A COORDENAÇÃO DE
APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR (CAPES), E
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 87.043/1982 - REGULAMENTA O DECRETO-LEI 1.422,
DE 23 DE OUTUBRO DE 1975, QUE DISPÕE SOBRE O CUMPRIMENTO DO
ARTIGO 178 DA CONSTITUIÇÃO POR EMPRESAS E EMPREGADORES DE
TODA NATUREZA, MEDIANTE A MANUTENÇÃO DO ENSINO DE GRAU
GRATUITO OU RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO DO SALÁRIO-
EDUCAÇÃO.
BRASIL. Decreto 87.062/1982 - DISPÕE SOBRE A ORGANIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 87.497/1982 - REGULAMENTA A LEI 6.494, DE 07 DE
DEZEMBRO DE 1977, QUE DISPÕE SOBRE O ESTÁGIO DE ESTUDANTES
DE ESTABELECIMENTOS DE ENSINO SUPERIOR E DE GRAU
REGULAR E SUPLETIVO, NOS LIMITES QUE ESPECIFICA E OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 87.596/1982 - DISPÕE SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DE
170
ÓRGÃO DE DELIBERAÇÃO COLETIVA NA ÁREA DO MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO E CULTURA.
BRASIL. Lei 7.037/1982 - NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 100 DA LEI
4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961, RELATIVO À TRANSFERÊNCIA DE
ALUNOS, DE QUALQUER NÍVEL, DE UMA PARA OUTRA INSTITUIÇÃO DE
ENSINO.
BRASIL. Lei 7.044/1982 - ALTERA DISPOSITIVOS DA LEI 5.692, DE 11
DE AGOSTO DE 1971, REFERENTES À PROFISSIONALIZAÇÃO DO
ENSINO DE 2º GRAU.
BRASIL. Decreto 87.801/1982 - ALTERA O DECRETO 68.065, DE 14 DE
JANEIRO DE 1971, QUE REGULAMENTA O DECRETO-LEI 869, DE 12 DE
SETEMBRO DE 1969, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Decreto 87.814/1982 - APROVA O II PLANO NACIONAL DE PÓS-
GRADUAÇÃO.
BRASIL. Decreto 87.911/1982 - REGULAMENTA O ARTIGO 47 DA LEI
5.540 DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
BRASIL. Lei 8.069/1990 - DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
BRASIL. Lei 8.742/1993 - Dispõe sobre a organização da Assistência Social
e dá outras providências.
BRASIL. Lei 9.131/1995 - Altera dispositivos da Lei 4.024, de 20 de
dezembro de 1961, e dá outras providências.
.
171
BRASIL. Lei nº 9.192/1995 - ALTERA DISPOSITIVOS DA LEI 5.540, DE 28
DE NOVEMBRO DE 1968, QUE REGULAMENTAM O PROCESSO DE
ESCOLHA DOS DIRIGENTES UNIVERSITÁRIOS.
BRASIL. Lei 9.394/1996 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
3- BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, Nicola. Diccionario de Filosofiá. México: Fondo de Cultura
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INSTITUIÇÕES CONSULTADAS
Acervo da Biblioteca particular do advogado José Roberto Vasconcellos,
Bragança Paulista.
Biblioteca da Câmara Municipal de Bragança Paulista.
CDAPH - Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa em História da
Educação da Universidade São Francisco, Bragança Paulista.
Felasp - Federação das Entidades da Luta Antituberculose de São Paulo, São
Paulo.
Fundação Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos, São Paulo.
Instituto Clemente Ferreira, São Paulo.
ISE - Instituto Social e Educacional, Bragança Paulista.
SAMA – Serviço Assistencial Médico Hospitalar, Bragança Paulista.
192
GLOSSÁRIO DE SIGLAS
- AFAN – Associação Filantrópica de Amparo aos Necessitados;
- APAE – Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Bragança Paulista;
- CF - Constituição Federal;
- CFEVF - Centro Filantrópico Educacional Vicente Filócomo;
- ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente;
- FEBEM - Fundação Estadual do Bem Estar do Menor;
- FUNABEM - Fundação Nacional do Bem Estar do Menor;
- ISE - Instituto Social e Educacional;
- LBA – Legião Brasileira de Assistência;
- MEC – Ministério da Educação e Cultura;
- MNMMR - Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua;
- MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização
- PIPMO – Programa Intensivo de Preparo de Mão de Obra;
- SAM - Serviço de Assistência ao Menor;
- SAMA - Serviço Assistencial Médico Alimentar;
- USAID - United States Agency for International Development (Agência Norte-
Americana para o Desenvolvimento Internacional).