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UFRRJ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
TESE
Síntese de novos naftoimidazóis derivados de β
ββ
β-lapachona
e compostos relacionados, empregando irradiação na
região de microondas e reagentes suportados, e outras
sínteses.
ARI MIRANDA DA SILVA
SEROPÉDICA – 2008
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547
S586s
T
Silva, Ari Miranda da, 1978-
Síntese de novos naftoimidazóis derivados de B-
lapachona e compostos relacionados, empregando
irradiação na região de microondas e reagentes
suportados, e outras sínteses / Ari Miranda da Silva
2009.
2v. : il.
Orientador: Aurélio Baird Buarque Ferreira.
Tese (doutorado) Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em
Química.
Inclui bibliografia
1. Química orgânica - Teses. 2. Testes químicos e
reagentes Teses. 3. Irradiação Teses. 4. Ondas
eletromagnéticas Teses. 5. Microondas Teses. 6.
Nitração – Teses. I. Ferreira, Aurélio Baird Buarque,
1945-. II. Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro. Programa de Pós-Graduação em Química.
III. Título.
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
Síntese de novos naftoimidazóis derivados de β-lapachona e compostos
relacionados, empregando irradiação na região de microondas e reagentes
suportados, e outras sínteses.
ARI MIRANDA DA SILVA
Sob a Orientação do Professor
Aurélio Baird Buarque Ferreira
Tese submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de
Doutor em Ciências, no Programa
de Pós-
Graduação em Química,
Área de Concentração em Química
Orgânica
Seropédica, RJ
UFRRJ - 2008
ii
iii
"Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo. Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo. Não
viva de fotografias amareladas... Continue, quando todos esperam que desistas. Não deixe que
enferruje o ferro que existe em você. Faça com que em vez de pena, tenham respeito por você.
Quando não conseguir correr através dos anos, trote. Quando não conseguir trotar, caminhe.
Quando não conseguir caminhar, use uma bengala. Mas nunca se detenha"
(Madre Teresa de Calcutá)
"A realidade é uma ilusão, embora bastante persistente."
(Albert Einstein)
“...Assim ao gênio caberá, além da dor da morte da beleza alheia, e da mágoa de conhecer a
universal ignorância, o sofrimento próprio, de se sentir par dos Deuses sendo homem, par dos
homens sendo deus, êxul ao mesmo tempo em duas terras....”
(Fernando Pessoa, Páginas de Doutrina Estética)
“Há espíritos que chegam ao erro por meio de todas as verdades; e há os mais felizes que
chegam às grandes verdades por meio de todos os erros.”
(Joseph Joubert)
"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original."
(Albert Einstein)
"Para que levar a vida tão a sério, se a vida é uma alucinante aventura da qual jamais sairemos
vivos."
(Bob Marley)
“Os méritos não devem ser obstáculos ao progresso.”
(Biscoito da sorte)
"As grades nunca vão prender nosso pensamento."
(Mano Brown)
“Uma boa idéia é transparente.”
(Frase promocional da cachaça Pirassununga 51)
iv
Dedico ao meu pai, Seu Ari, a minha mãe,
Dona Zilda, e ao meu irmão, Rodrigo.
Os grandes responsáveis por tudo
que há de bom em mim.
v
Agradecimentos
Ao bom Deus, “...o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Leão de Judá, desafiante e
inconquistável, Jah Ras Tafari...”, que não se ocupa dos assuntos científicos. Por definição,
Ele não precisa, mas, por motivos além da imaginação humana, nos forças para
percebermos como é tamanha nossa ignorância.
A toda minha família, por todo suporte e encorajamento necessários para este trabalho.
Em especial, à tia Deniz, sempre presente na minha vida como exemplo de determinação; à
minha avó, Dona Sebastiana, por seu carinho interminável pelos seus; aos meus primos Tiago,
Verônica e Aline, pelo cuidado comigo e incentivo constante; e a minha cunhada Paula, por
fazer parte desta família.
Ao Professor Aurélio, pela amizade, confiança, paciência, incentivo, exemplo e
orientação.
As amigas Heloísa de Melo e Kênia Pissinate; pela contribuição valiosa e gratuita que
têm feito na minha vida; pela amizade e companhia, mesmo que virtualmente em parte do
tempo; e pela paciência, conselhos e preocupação nos meus desajustes de final de tese.
Aos amigos e conselheiros: Ildomar Alves do Nascimento (Ildo), Leonardo Silveira
Villar (Léo), Fábio da Alcântara Fonseca (Olhão), André (Barata), Daniel Bastos Chalita
(Chalita), Bauer de Oliveira Bernardes (Bauer), Christian Marcelo Paraguassu Cecchi (O
Argentino), Mário Sérgio da Rocha Gomes (Mário Sérgio), Luis Roberto Marques de
Albuquerque (Ratoeira), Josilene Seixas Albuquerque (Jose ou Arapuca), Virgínia Cristina
Silva (Vivizinha), Luciano Ramos Suzart (O Baiano), André Hilário (O Mineiro Baiano),
Júlia Turques de Andrade(Júlia) Breno Almeida Soares (Breno), Cláudio Eduardo Rodrigues
dos Santos (Gabeira), Welisson da Silva Ferreira (Welisson), Rodney Santos, Jorge Fábio
Correia Lopes (Fábio Jorge), Gabriel Freitas do Rio (O Filósofo), Luis Fernando Rodrigues
Gomes (Nando), Ises Queiroz (Ises), Rômulo Ribeiro (Piu), Rodrigo Teixeira (Presidente),
Vitor Hugo Rodrigues Gomes (Vitor) e Jocimar Ribeiro (Cimá); por todas as idéias trocadas
até então e por todas aquelas que ainda serão.
A amiga e companheira de laboratório: Andréa Rosane da Silva (Rose), por seu
exemplo de dedicação e responsabilidade profissional, pela paciência nos meus maus
momentos e por poder compartilhar do seu astral elevado nos muitos bons momentos.
Aos amigos paulistanos, Regina L. Pelachin Lianda e Alexandre Ulisses Comitre, pela
gratuidade com que têm dividido as suas experiências de vida, por suas franquezas e cuidados
com os amigos.
A amiga e companheira de muitas empreitadas, Renata Fernandes Cadorna Cervo
(Flor), pelos bons e maus momentos divididos, por seu carinho e sua vivacidade contagiantes.
vi
As amigas, Michele Branco Ramos, Letícia Quinello Pereira (Lê), Ana Paula da Silva,
Priscila Gama Santos, Clarisse Tavares Arraes Alencar, Hérica Franklin, Leandra Leal,
Marcela Arantes, pelos anos de convívio e amizade.
Aos amigos do Grupo Senzala de Capoeira da UFRuralRJ, a galera do ...esquerda
atrás...”: Bruno Rafael Mont`Alto Santos, Dênis Martins Santana, Leandro Soares (Frango),
Suelen Silva Santana, Amanda, Mariana Gomes Lima (Mari), Juliana Almeida Braga
(Sukita), Rosane Valéria Marcelino Matoso Silva, Rogério, Carol, Liana, Luzimar, Dick, pelo
acolhimento nesta família que é o Grupo Senzala e pelo astral elevado que tem sido
compartilhado ao longo dos anos.
Aos amigos do PPGQ, Andrea Janaína Macedo Nogueira, Alessandra Medeiros
Ribeiro, Ana Paula de Oliveira Amorim, Janaína Farias Rodrigues, Renata Duarte Fernandes,
Catarina de Nigris Del Cistia, Camilla Moretto dos Reis, Suzana Vieira da Silva, Letícia
Silotti Zampirolli, Cinthia Santos Soares, Henriqueta Talita Guimarães Barboza, Maritza Jojas
Sandoval, Adriana Siqueira de Sousa Rodrigues, Maria Cleonice Bezerra Souza Nascimento,
Miguel Rascado Fraguas Neto, William Pereira, Francisco Eduardo Aragão Catunda Júnior,
Adriano Farias de Paula, Marcelo Francisco de Araújo, Renato Vieira da Silva, José Geraldo
Rocha Júnior, Vinícius Tomaz Gonçalves e André Vinícius Canuto, pela amizade e pelo
convívio cordial.
As então alunas de graduação, Roberta Lindolfo da Costa, Kênia Duarte, Milene
Aparecida Pereira e Raquel Abiraude Pinheiro, pelo convívio e pela contribuição valiosa neste
trabalho.
Aos amigos, da época do colégio e de sempre, Luciano Barbosa dos Santos, Anderson
Braga Mendes, Cláudia Regina Freaza e Verônica Ramos Freire. Mutuamente, temos
acompanhado e torcido pelo sucesso das trajetórias escolhidas por cada um para a vida.
Aos amigos, Cléber Bonfim Barreto, Silvana Constantino Rocha Barreto, Fernanda
Constantino Rocha, Aline Santiago (Conforto), Cecília (Surfista), Raquel Duarte (Vandinha),
Tatiara Marinho de Castro, contemporâneos desde a graduação.
A funcionária Áurea Tatagiba (em memória), pela dedicação ao trabalho e pelos anos
de excelente convívio.
Aos funcionários ICE/DeQuim Frances, Maurício, Eli, Carlão, Aldir, Vitor, Osmar,
André, Fábio, Rui, Ademir, Renato, Conceição, Neli, Rubens, Pedro, Wagner, Eugênio, por
suas colaborações e pelo convívio cordial ao longo destes muitos anos.
vii
As funcionárias do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação, D. Wanda, Kátia e
Cremilda, por suas gentileza e solicitude às minhas necessidades acadêmicas ao longo desses
anos.
Aos Professores do ICE/DeQuim, que participaram e têm acompanhado o meu
processo de formação; em especial as professoras Aprecida Cayoco Icuhara Ponzoni, Áurea
Echevarria Aznar Neves e Eliane de Almeida Borges e aos professores Francisco da Assis,
João Batista Neves da Costa, Carlos Maurício Sant`Anna, José Horta Ferreira Rosa e Porfírio
Jesus das Neves.
A Central Analítica de Farmanguinhos-FIOCruz/RJ, pelos e espectros de RMN e
massas, inclusive espectros de massas de alta resolução. Em especial ao Drs. Leonardo
Coutada, Erika Martins e Carlos B. Bizarri e a Msc. Eliane G. Carvalho.
Ao Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas (I.Q.-Unicamp) pelos
espectros de massas de alta resolução. Em especial aos Drs. Marcos Eberlin e Regina
Sparrapan
Ao amigo Gilson (Gil), pela amizade e colaboração ao longo desses anos.
Aos bares de Seropédica, alentos nos momentos extenuantes do trabalho e inspiradores
nos momentos de descontração. Em especial aos bares do Felix (O Angolano), do Arnaldo
(Seu Arnaldo) e o PQ’’ (Pachecão).
A cidade de Seropédica que, por seu modo incomum de lidar com a diversidade que
acompanha a vida universitária, tem sido um dos locais mais proveitosos no meu crescimento
pessoal.
Aos demais amigos, colegas e conhecidos cujos nomes não foram citados, mas têm
participado positivamente do meu processo de formação.
A CAPES, pela bolsa de doutorado, ao CNPq e a FAPERJ, por demais fomentos.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, para a qual, mesmo com todas as
suas dificuldades, me faltam palavras para expressar o meu orgulho de ser mais um dos filhos
desta casa.
viii
Lista de Esquemas
Esquema 1. Ciclo redox parcial das quinonas. ......................................................................9
Esquema 2. Alguns derivados quinônicos obtidos por Hooker a partir do lapachol.......15
Esquema 3. Fenazinas de lapachonas com o-fenileno-diamina testadas como anti-
malariais. .................................................................................................................................18
Esquema 4. Fenazinas simétricas obtidas de lapachonas. ..................................................19
Esquema 5. Reação da β-lapachona com anilina.................................................................19
Esquema 6. Azinas da β-lapachona etileno-diamina e 5,6-diamino-uracil. ......................20
Esquema 7. Conversão de azinas em macrolactonas. .........................................................20
Esquema 8. Reação de lapachonas com aminas primárias.................................................21
Esquema 9. Oxazóis obtidos da reação de lapachonas com glicina. ..................................22
Esquema 10. Rotas sintéticas para obtenção de alguns cicloderivados de lapachonas....23
Esquema 11. Dioxo derivados da β-lapachona. ...................................................................24
Esquema 12. Síntese do diazo derivado da β-lapachona.....................................................24
Esquema 13. Síntese de oxiranos de lapachonas e conversão de oxiranos a aldeídos......25
Esquema 14. Reações de lapachonas com organometálicos ...............................................27
Esquema 15. Síntese de derivados arilimínicos da β-lapachona. .......................................27
Esquema 16. Síntese de fenil hidrazonas da β-lapachona...................................................27
Esquema 17. Reações ácido / base do imidazol....................................................................37
Esquema 18. Prototropismo de núcleos imidazólicos..........................................................38
Esquema 19. Formação do anel imidazólico por conexão do Tipo 1. ................................40
Esquema 20. Reação e mecanismo para a formação de imidazol por conexão do Tipo 2.
..................................................................................................................................................41
Esquema 21. Formação de imidazóis por trasnsferência de metileno para 1,3-diaza-1,3-
dienos. ......................................................................................................................................42
Esquema 22. Formação de ácidos 4-carboxílicos de imidazóis por conexão do Tipo 3. ..42
Esquema 23. Síntese de imidazóis, com conexão do Tipo 3, a partir de bromo-
isoianaacrilatos e aminas. ......................................................................................................42
ix
Esquema 24. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 3 a partir de cetonas α-
acilaminadas e acetato de amônio.........................................................................................42
Esquema 25. Formação de imidazol por conexão do Tipo 4 a partir de compostos
carbonílicos α-substituídos e derivados de amidina............................................................43
Esquema 26. Formação do anel imidazólico por conexão do Tipo 4 a partir de
equivalentes sintéticos de composto carbonílicos e N-cloro-N’-arilamidinas. ..................43
Esquema 27. Formação do anel imdazólico por conexão do Tipo 4 a partir de compostos
α-diazocabonílícos e uréias primárias. .................................................................................44
Esquema 28. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 5 a partir de TosMIC e
aldiminas. ................................................................................................................................44
Esquema 29. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 5 a partir BetMIC e
aldiminas. ................................................................................................................................44
Esquema 30. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 5, pelo acoplamento cruzado
de isocianetos...........................................................................................................................45
Esquema 31. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 6, pela cicloadição de α-ciano-
benzilidenenos-alquilaminas..................................................................................................45
Esquema 32. Reação geral para a primeira síntese do imidazol a partir de glioxal. .......46
Esquema 33. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 7 a partir de compostos α-
dicarbonílicos, aldeídos, amônia e aminas primárias..........................................................46
Esquema 34. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 7 a partir de benzoínas,
aldeídos, amônia e aminas. ....................................................................................................46
Esquema 35. Formação de benzimidazóis a partir de o-fenilenodiaminas e ácidos
carboxílicos..............................................................................................................................47
Esquema 36. Formação de benzimidazóis a partir de o-fenileno diaminas e aldeídos. ...47
Esquema 37. Formação de benzimidazóis a partir o-nitro-anilidas. .................................48
Esquema 38. Formação de benzimidazóis pela fragmentação de outros heterociclos.....48
Esquema 39. Formação de imidazol fundido a partir de 2-amino-piridina e 2-bromo-1,2-
difenil-etanona. .......................................................................................................................49
Esquema 40. Formação de imidazóis fundidos a partir de 1,2-dipiridin-2-il-etanodiona e
aldeídos aromáticos. ...............................................................................................................49
Esquema 41. Modelo geral para formação de imidazóis fundidos em processos
sequencias da reação de van Leusen, com fechamento de anel por metátese. ..................50
x
Esquema 42. Vias possíveis de desativação da formação do núcleo imidazólico em
reações de multicomponentes. ...............................................................................................82
Esquema 43. Formação do núcleo imidazólico e alguns modos de desativação para
reação da β-lapachona e compostos relacionados em condições ácidas. ...........................88
Esquema 44. Fragmento de massa obtido para o naftoimidazol (62) com ionização por
`electron spray`. ......................................................................................................................89
Esquema 45. Fragmentos de massas, mais importantes, obtidos para o naftoimidazol
(60) com ionização por impacto de elétrons .........................................................................89
Esquema 46. Fragmentos de massas, mais importantes, obtidos para o naftoimidazol
(61) com ionização por impacto de elétrons .........................................................................89
Esquema 47. Tautomeria e formação de derivado imidazólico a partir do lapachol.....115
Esquema 48. Proposta para a formação do compposto (79).............................................117
xi
Lista de Figuras
Figura 1. Azinas e hidroximas de lapachonas obtidas por Hooker. ..................................16
Figura 2. Áreas com risco de transmissão nas Américas....................................................28
Figura 3. Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi no inseto e no ser humano........................29
Figura 4. Derivados imidazólicos da β-lapachona...............................................................33
Figura 5. Análises por MEV das formas epimastigota (a-d) e tripomastigota (e-h) do
parasito tratadas por 24 h com N1, N2 e N3. a) controle; b) 40 µM de N1; c) 30 µM de
N2; d) 30 µM de N3; e) controle; f) 25 µM de N1; g) 10 µM de N2; e h) 10 µM de N3.
Barras em a, c, d, e, g, h = 1µm; barra em b = 0,5 µm; e barra em f = 2 µm....................36
Figura 6. Alguns tipos de conexões entre os átomos para a formação do anel imidazólico.
..................................................................................................................................................40
Figura 7. Regiões do espectro eletromagnético....................................................................52
Figura 8. Comparação entre os padrões de incidência de microondas em equipamentos
multi e mono modais. .............................................................................................................53
Figura 9. Adaptação de forno de microondas para reações fotoquímicas. .......................54
Figura 10. Comparação entre os padrões de transferência de energia para o etanol em
aquecimentos promovidos por microondas e em banho de óleo. .......................................55
Figura 11. Modelo de estruturas dipolares tentando orientar seus dipolos com o campo
elétrico das microondas..........................................................................................................55
Figura 12. Modelo para orientação dos dipolos das moléculas de um material dielétrico
na ausência e sob influência de um campo elétrico estático. ..............................................56
Figura 14. Imidazóis avaliados contra a forma tripomastigota do T. cruzi. .....................80
Figura 13. Mapa de densidade eletrônica do HOMO do composto (60). ........................107
xii
Lista de Gráficos
Gráfico 1. Crescimento do número de publicações em sínteses orgânicas e inorgânicas
assistidas por microondas no período de 1986 até 2003......................................................53
Gráfico 2. Variações das intensidades da permissividade dielétrica e do fator de perda
com a frequência da radiação, medida para água a 20° C. ................................................57
Gráfico 3. Ensaios de reprodutibilidade do aquecimento do forno de microondas. ........70
Dados de UV, Espectros 50 a 51 do caderno de espectros ..................................................93
xiii
Lista de Quadros
Quadro 1. Aplicações terapêuticas de espécies de Tabebuia na América Latina. ............11
Quadro 2. Ocorrência de lapachol em famílias e espécies vegetais. ..................................13
xiv
Lista de Tabelas
Tabela 1. Efeito de imidazóis derivados da β-lapachona contra a forma tripomastigota
do T.cruzi. ................................................................................................................................34
Tabela 2. Valores de CE
50
/ 24 h expressos em µM para o efeito de N1, N2 e N3 contra as
diferentes formas do T. cruzi. ................................................................................................35
Tabela 3. Valores das constantes dielétricas e das tangentes de perda de alguns
solventes...................................................................................................................................57
Tabela 4. Imidazóis preparados usando microondas em sistemas em solução.................60
Tabela 5. Imidazóis preparados usando microondas e suportes sólidos, em reações sem
solventes...................................................................................................................................61
Tabela 6. Rendimentos para a síntese de naftoimdazóis não substituídos nas
investigações sobre a natureza ácido / base dos suportes....................................................73
Tabela 7. Aldeídos empregados e rendimentos para a síntese de naftoimidazóis
substituídos..............................................................................................................................75
Tabela 8. Valores de IC
50
encontrados para os imidazóis availados contra a forma
tripomastigota do T. cruzi. .....................................................................................................80
Tabela 9. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) e
13
C (50 MHz,
CDCl
3
) da β
ββ
β-lapachona (46)...................................................................................................85
Tabela 10. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) e
13
C (50 MHz,
CDCl
3
) da nor-β
ββ
β-lapachona (58)............................................................................................86
Tabela 11. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, DMSO-d
6
) do ácido-β
ββ
β-
lapachona-3-sulfônico (59).....................................................................................................87
Tabela 12. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (60). ..........................................................................................90
Tabela 13. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C(100 MHZ,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (61). ..........................................................................................91
Tabela 14. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (62). ..........................................................................................92
Tabela 15. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do composto (63)........................................................................................................95
xv
Tabela 16. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, DMSO-d
6
) e
13
C (100 MHz,
DMSO-d
6
) do composto (64). .................................................................................................96
Tabela 17. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (500 MHz, CDCl
3
) do composto (65). .97
Tabela 18. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do composto (66)........................................................................................................98
Tabela 19. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, DMSO-d
6
) e
13
C (100 MHz,
DMSO-d
6
) do composto (67). .................................................................................................99
Tabela 20. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do composto (68)......................................................................................................100
Tabela 21. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (500 MHz, Acetona-d
6
) e
13
C (125 MHz,
Acetona-d
6
) do composto (69). .............................................................................................101
Tabela 22. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) da mistura dos
compostos (70) e (71). ...........................................................................................................104
Tabela 23. Interpretação do espectro 2D-NOESY(200 MHz, CDCl
3
) dos compostos (70)
e (71).......................................................................................................................................104
Tabela 24. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) do composto (70) 105
Tabela 25. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) do composto (71) 106
Tabela 26. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do composto (76). ...............................................................................................110
Tabela 27. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do composto (77). ...............................................................................................111
Tabela 28 Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do naftoimidazol (78). .............................................................................................116
Tabela 29. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (79). ........................................................................................117
xvi
Sumário
1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1
1.1
-
Q
UÍMICA DOS PRODUTOS NATURAIS
...........................................................................2
1.1.1
P
RODUTOS NATURAIS DE ORIGEM VEGETAL E O DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS
.2
1.2
Q
UINONAS NATURAIS
.................................................................................................5
1.2.1
A
TIVIDADE NO CICLO REDOX
................................................................................. 8
1.2.2
A
TIVIDADE POR INIBIÇÃO DAS TOPOISOMERASES
I
E
II .......................................... 9
1.3
L
APACHOL E QUINONAS RELACIONADAS
..................................................................11
1.3.1
M
ODIFICAÇÕES NO SISTEMA QUINOÍDICO DE LAPACHONAS
.................................. 17
1.4
T
RIPANOSSOMÍASE AMERICANA E A DOENÇA DE
C
HAGAS
.......................................27
1.4.1
D
ERIVADOS IMIDAZÓLICOS DE LAPACHONAS
:
S
UBSTÂNCIAS PROMISSORAS PARA
QUIMIOTERAPIA E PROFILAXIA DA DOENÇA DE
C
HAGAS
.................................................. 32
1.5
C
ARACTERÍSTICAS DO NÚCLEO IMIDAZÓLICO
..........................................................37
1.5.1
S
ÍNTESE DE IMIDAZÓIS
. ........................................................................................ 39
1.6
S
ÍNTESE ORGÂNICA ASSISTIDA POR MICROONDAS
(µO)...........................................50
1.6.1
C
ENÁRIO HISTÓRICO
............................................................................................ 51
1.6.2
A
QUECIMENTO POR MICROONDAS
:
O
AQUECIMENTO DIELÉTRICO
. ...................... 54
1.6.3
A
PLICAÇÕES EM SÍNTESE ORGÂNICA
.................................................................... 58
2 – OBJETIVOS .....................................................................................................................63
3 – MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................67
4 – EXPERIMENTAL ...........................................................................................................69
4.1
C
ALIBRAÇÃO DO FORNO DE MICROONDAS
...............................................................70
4.2
P
REPARO DOS REAGENTES SUPORTADOS
.................................................................71
4.2.1
R
EAGENTES PARA A SÍNTESE DE IMIDAZÓIS BASE DE MONTMORILONITA K
-10..... 71
4.2.2
R
EAGENTE A NITRAÇÃO EM SISTEMA HETEROGÊNEO
........................................... 71
4.3
S
ÍNTESE DOS IMIDAZÓIS
..........................................................................................72
4.3.1
S
ÍNTESE DE IMIDAZÓIS NÃO SUBSTITUÍDOS NA POSIÇÃO
2
DO NÚCLEO IMIDAZÓLICO
72
4.3.2
S
ÍNTESE DOS DEMAIS IMIDAZÓIS SUBSTITUÍDOS
................................................... 73
4.3.3
S
ÍNTESE DE IMIDAZÓIS NÃO SUBSTITUÍDOS A PARTIR DE BENZIL E FENANTRENOQUINONA
.
........................................................................................................................................ 76
4.4
M
ETILAÇÃO DO NAFTOIMIDAZOL
60........................................................................77
4.5–N
ITRAÇÃO DO NAFTOIMIDAZOL
60............................................................................77
4.5.1
R
EAÇÃO EM CONDIÇÃO HOMOGÊNEA
................................................................... 77
4.5.2
R
EAÇÃO EM CONDIÇÃO HETEROGÊNEA
................................................................ 78
xvii
4.6
D
IMERIZAÇÃO DO NAFTOIMIDAZOL
60 ....................................................................78
4.7
R
EAÇÃO COM LAPACHOL
.........................................................................................79
4.8
A
VALIAÇÕES BIOLÓGICAS
........................................................................................79
5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................81
5.1
I
NVESTIGAÇÕES DAS REAÇÕES COM MICROONDAS
..................................................82
5.1
S
ÍNTESE DE NAFTOIMIDAZÓIS
.................................................................................83
5.1.1
S
ÍNTESE DE NAFTOIMIDAZÓIS NÃO SUBSTITUÍDOS NA POSIÇÃO
2
DO NÚCLEO
IMIDAZÓLICO
................................................................................................................... 87
5.1.2
S
ÍNTESE DOS IMIDAZÓIS
2-
SUBSTITUÍDOS
. ........................................................... 93
5.2
S
ÍNTESE DE IMIDAZÓIS NÃO SUBSTITUÍDOS A PARTIR DE BENZIL E FENANTRENOQUINONA
.......................................................................................................................................102
5.3
M
ETILAÇÃO DO NAFTOIMIDAZOL
60......................................................................103
5.4
N
ITRAÇÃO DO NAFTOIMIDAZOL
60 ........................................................................107
5.4.1
N
ITRAÇÃO EM CONDIÇÃO HOMOGÊNEA
. ............................................................ 107
5.4.2
N
ITRAÇÃO EM CONDIÇÃO HETEROGÊNEA
........................................................... 108
5.5
D
IMERIZAÇÃO DO NAFTOIMIDAZOL
60 ..................................................................112
5.6
R
EAÇÃO COM LAPACHOL
37...................................................................................114
5.7
A
VALIAÇÃO BILÓGICA DOS DERIVADOS IMIDAZÓLICOS
..........................................118
5.8
P
RODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA
...................................................................................118
6 – CONCLUSÕES...............................................................................................................119
7 – REFERÊNCIAS .............................................................................................................121
xviii
Resumo
Silva, Ari Miranda da. Síntese de novos naftoimidazóis derivados de β-lapachona e
compostos relacionados, empregando irradiação na região de microondas e reagentes
suportados, e outras sínteses. 2008. 133p Tese (Doutorado em Química, Química Orgânica).
Instituto de Ciências Exatas, Departamento de Química, Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, Seropédica, RJ, 2008
Neste trabalho foi investigado o uso de microondas e reagentes suportados para a síntese de
naftoimidazóis derivados da β-lapachona, nor-β-lapachona e do ácido β-lapachona-3-
sulfônico. O objetivo foi desenvolver uma metodologia mais adequada às exigências
ambientais com minimização do uso de solventes, transferência de energia com mais
eficiência uso de microondas, maior rapidez e melhoria de rendimentos, pela escolha de
condições e dos melhores suportes.
Além da síntese dos naftoimidazóis, para o derivado imidazólico mais simples da β-lapachona
(sem substituinte na posição 2 do cleo imidazólico): a) avaliou-se sua reatividade frente à
reação de substituição eletrofilica aromática nitração, comparando a seletividade de
sistemas reacionais diferentes (homogêneo e heterogêneo utilizando reagente suportado); b)
verificou-se a distribuição tautomérica dos produtos da reação de substituição nucleofílica
sobre os átomos de nitrogênio do anel imidazólico – metilação; e, c) verificou-se a reatividade
deste composto na reação de dimerização, possível para compostos imidazólicos que possuam
algum modo de estabilização para os intermediários radicalares que são gerados durante a
reação. Alguns dos compostos preparados foram avaliados quanto sua capacidade inibitória
frente à forma tripomastigota do T.cruzi. Dentre os quais, o derivado imidazólico não
substituído da β-lapachona apresentou um dos melhores resultados encontrados nesta
avaliação.
Palavras-chaves: β-lapachona, imidazol, microondas, reagente supotado, nitração.
xix
Abstract
Silva, Ari Miranda da. Synthsis of new naphthoimidazole derivatives from β-lapachona
and related compounds, using irradiation on microwaves region and supported
reagents, and other synthesis. 2008. 133p Thesis (Doctorate in Chemistry, Organic
Chemistry). Instituto de Ciências Exatas, Departamento de Química, Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2008
In this work it was investigeted the use of microwaves and supported reagents to the synthesis
of β-lapachone, nor-β-apachone and β-lapachone-3-sulfonic acid naphthoimidazole
derivatives. The purpose was to develop a methodology in agreement with the environmental
exigencies, by the reduction of solvents use, more efficient energy transfer processes use of
microwaves, with fastness and yelds improvments, choosing the apropriate conditions and
supported reagents.
Beyond of the synthesis of the naphthoimidazoles derivatives, to the most simple β-lapachone
imidazole derivative (without substituint at the position 2 of the imidazole ring): a) it was
investigated its resactivity toward eletrophilic aromatic substitution nitration, comparing the
selectivity of diferent reactional systems (homogeneous and heterogeneous with supported
reagents); b) it was investigated the tautomeric distribution of the products of nucleophilic
substitution on the nitrogen atoms of the imidazolic ring – methylation; and, c) it was
investigated the reactivity of this compound toward dimerization reaction, which is possible to
those imidazole systems with stabilization possibilities to the radicalar intermediaries species
that are formed along the reaction. Some of the compounds prepaired were investigated about
their inhibitory activity against the tripomatigote form of T.cruzi. Among them, the imidazolic
derivative of β-lapachone with no substituint showed one of the better results found in this
investigation.
Keywords: β-lapachone, imidazole, mivrowaves, supported reagent, nitration.
1
1 – Introdução
2
1.1 - Química dos produtos naturais
Costuma-se dividir as substâncias produzidas pelos organismos em metabólitos
primários e metabólitos secundários (sendo estes últimos, às vezes, chamados de metabólitos
especiais). Os primeiros são aqueles diretamente envolvidos nos processos vitais comuns a
praticamente todos os seres, ou seja, fontes de energia e constituição estrutural, e incluem, no
caso das plantas, os produtos dos processos fotossintéticos. Os segundos desempenham papéis
de regulação do organismo e também atuam na sua relação com o ambiente. A falta de um
metabólito secundário geralmente não acarreta morte a curto prazo e a sua ocorrência é
intrínseca às espécies e, por vezes, às condições ambientais a que estas têm sido submetidas
ao longo dos processos evolutivos. A produção de metabólitos secundários é, também,
característica dos vegetais.
1
Esta divisão tem sido criticada por vários autores, que sustentam
que todos os metabólitos são, de alguma forma, essenciais ao organismo, ou não seriam
produzidos. Ainda assim, a denominação metabólito secundário persiste.
2
As investigações químicas sobre os metabólitos especiais, geralmente micromoléculas,
formam a chamada Química de Produtos Naturais em contraposição à química do
metabolismo primário, domínio da Bioquímica e constitui um ramo das ciências químicas
de valor histórico reconhecido, importância científica destacada e que tem participação ativa
em importantes setores econômicos. Tamanho destaque e reconhecimento têm sido parte das
consequências do fascínio encantador exercido pela natureza sobre o homem, como sua maior
fonte de inspiração e aprendizado; na busca incessante pela compreensão das leis naturais, na
transposição das barreiras à sua existência.
3
A química de produtos naturais está presente em
diversas áreas de aplicações, tais como: medicamentos, cosméticos, alimentos e produtos
agroquímicos. Algumas das linhas de pesquisas acadêmico-científicas desenvolvidas no País
sobre o tema são: fitoquímica, metodologia analítica, atividade biológica, ecologia química,
síntese, biossíntese, biotransformação, biotecnologia, quimiossistemática, química de
produtos naturais marinhos e química de microrganismos/insetos.
4
1.1.1 – Produtos naturais de origem vegetal e o desenvolvimento de fármacos.
O uso de produtos naturais com finalidades terapêuticas acompanha a história e a
evolução da humanidade, se dando, principalmente, pelo uso de material vegetal na busca de
alívio e/ou cura de enfermidades. Além das propriedades terapêuticas, é observado ao longo
da história o uso de produtos naturais por suas características venenosas e entorpecentes,
também resultados de atividades biológicas. Do ponto de vista terapêutico, merece destaque o
volume de informação registrado pelas culturas egípcia, chinesa e greco-romana. Estes
conhecimentos têm servido de base para o uso popular e para pesquisa científica de produtos
naturais de origem vegetal.
4,5
As investigações sobre a composição química de produtos naturais sofreram avanços
significativos a partir do século XVIII, quando Lavoisier contrapõe-se a teoria do flogisto,
criando a base da química moderna ao estabelecer a natureza da combustão, o que possibilitou
a determinação da composição centesimal das substâncias orgânicas. Neste século são
isoladas as primeiras substâncias puras de material vegetal e até o século XIX estas
investigações caracterizavam-se, principalmente, por trabalhos de extração de ácidos
3
orgânicos e alcalóides.
4
Antes da Guerra Mundial, substâncias isoladas de plantas já eram
usadas como agentes clínicos e algumas continuam em uso até o presente, como, por
exemplo: a quinina (1) da quina (Chinchona ledgeriana), a morfina (2) e a codeína (3), da
papoula (Papaver somniferum), digoxina (4) da dedaleira (Digitalis lanata) e a atropina (5),
da beladona (Atropa belladona, solanáceas).
5
N
H
O
OHOH
CH
3
N
N
CH
2
OH
O
CH
3
2
morfina
1
quinina
3
codeína
N
H
O
OHO
CH
3
CH
3
O
OH
O
OH
CH
3
O
OH
O
CH
3
O
OH
O
CH
3
CH
3
CH
3
OH
H
H
O
H
O
OH
4
digoxina
N
O
O
OH
CH
3
R
ou
S
5
atropina
O período pós-guerra ficou marcado como de expansão dos fármacos sintéticos,
motivada pela necessidade de tratamentos para dor, infecções, processos alérgicos e depressão
durante o conflito. A pesquisa militar realizou estudos sobre a relação estrutura atividade para
o planejamento racional de fármacos e proporcionou grandes avanços na química sintética.
Neste período foram desenvolvidos fármacos como: anti-histamínicos (p. ex., mepirazina, 6),
antipsicóticos (p. ex., clorpromazina, 7), antidepressivos (p. ex., imipramina, 8), ansiolíticos
benzodiazepínicos (p. ex., clordiazepóxido, 9) e anti-inflamatórios não esteroidais (p. ex.,
indometacina, 10).
3
N
N
N
CH
3
CH
3
S
N
N
CH
3
CH
3
N
N
CH
3
CH
3
6
mepirazina
7 clorpromazina
8 imipramina
N
H
N
+
O
O
-
Cl
N
O
OH
CH
3
O
O
CH
3
Cl
9 clordiazepóxido 10 indometacina
4
Além do novo direcionamento, estabelecido no período do conflito, para a busca de
novos agentes terapêuticos sintéticos, a descoberta de produtos naturais com propriedades
antibióticas, oriundos de fermentação fúngica (p. ex.,, penicilina G (11) de Penicillium
chrysogenum, cefalosporina C (12), de Cephalosporium acremonium e estreptomicina (13) de
Streptomyces griseus), também contribuiu para o declínio na busca de novos agentes
terapêuticos de origem vegetal. A pesquisa fitoquímica empenhou-se, principalmente, na
compreensão dos processos de biossíntese e das funções ecológicas dos metabólitos, sendo os
isolamentos da reserpina (14), de espécies de Rauwolfia, da vimblastina (15) e da vincristina
(16), de Catharantus roseus, as contribuições mais significativas de produtos naturais de
origem vegetal à busca de entidades químicas bioativas na época: a reserpina integrando o
grupo das substâncias tranquilizantes e a vincristina e a vimblastina na quimioterapia contra
certos tipos de câncer.
5
N
S
NH
O
O
H H
CH
3
CH
3
O
OH
11
penicilna G
S
N
OOH
O CH
3
O
NH
H H
O
O
O
OH
NH
2
12
cefalosporina C
OH
OH
OH
NH
O
O
OH
CHO
OH
O
O
OH
OH
OH
OH
NH
2
NH
NH NH
2
NH
13
estreptomicina
N
H
N
OH
O
O
CH
3
O
CH
3
O
CH
3
O
O
CH
3
O
14
reserpina
N
H
N
N
OH
CH
3
O
O
CH
3
H
CH
3
O
O CH
3
N
R
OH
O
O
CH
3
H
15
R=Me
vimblastina
16 R=CHO
vincristina
Até a década de 90, seguindo a tendência despertada no período do último conflito
mundial, os investimentos da indústria farmacêutica estiveram concentrados no
desenvolvimento de fármacos sintéticos, configurando, por exemplo: o estabelecimento de
métodos de síntese combinatória, capazes de produzir em curto espaço de tempo quantidade
numerosa de moléculas novas, o aprimoramento dos ensaios biológicos, para avaliação em
larga escala, e o uso de métodos computacionais para planejamento racional de fármacos,
entre outros investimentos. Apesar de investimentos bilionários no número de moléculas e nos
métodos de avaliação, as descobertas inovadoras não foram proporcionais. Este fator, somado
do estabelecimento de algumas substâncias químicas naturais e/ou seus derivados semi-
sintéticos como agentes clínicos contra alvos terapêuticos importantes no anos 90 - o taxol
(17), extraído das cascas de Taxus brevifolia, e seu derivado semi-sintético taxotere (18) no
tratamento de cânceres de mama e de ovário, o etoposídeo (19) e o teniposídeo (20),
derivados semi-sintético da podofilotoxina (21) (obtida das raízes de Podphylum pelatum),
contra câncer de pulmão e testículo, e a artemisina (22) e seus derivados (β-arteméter (23),
arte-éter (24) e artesunato de sódio (25), no tratamento de infecções causadas por cepas
resistentes de Plasmodium falciparum (causador da malária cerebral humana maligna); e da
mudança de paradigma das civilizações ocidentais na busca de terapias baseadas em produtos
de plantas (em 1990 a estimativa desta procura era 80% da população mundial); reativou o
5
interesse da indústria farmacêutica por medicamentos de origem vegetal, sendo observado o
aumento de investimentos em pesquisas de bioprospecção.
6
CH
3
CH
3
CH
3
CH
3
OH
H
OAcO
OH
O
CH
3
Ph
OH
NH
O
Ph
O
AcO
OCOPh
17 taxol
CH
3
CH
3
CH
3
CH
3
OH
H
OHO
OH
O
CH
3
Ph
OH
NH
O
O
O
AcO
OCOPh
CH
3
CH
3
CH
3
18 taxotere
O
O
O
OH
OH
O
O
O
O
CH
3
O
H
O
CH
3
O
O
R
19 R= CH
3
etoposídeo
20 R= tenopsídeo
S
O
O
O
O
CH
3
O
H
O
CH
3
O
OH
21 podofilotoxina
O
O
O
O
O
CH
3
CH
3
CH
3
H
H
O
O
O
O
CH
3
CH
3
CH
3
H
H
OR
H
22 artemisina
23 R= CH
3
β-arteméter
24 R= CH
2
CH
3
arte-éter
25 R= C(O)CH
2
CH
2
COO
-
Na
+
artesunato de sódio
De forma geral, os produtos naturais são responsáveis por grande parte das substâncias
orgânicas conhecidas, sendo dos produtos de origem vegetal a contribuição mais significativa
no fornecimento de moléculas úteis nos tratos à saúde humana. Os produtos naturais
micromoleculares pertencem a várias classes químicas (p. ex. lignóides, flavonóides,
terpenóides, compostos fenólicos, alcalóides, etc.) e são resultantes dos processos evolutivos
no metabolismo dos organismos, decorrentes dos diversos modos de interação entre
plantas/animais/insetos/microorganismos, e dos processos de adaptação às modificações
ambientais.
6
Em meio a esta diversidade encontra-se a classe das quinonas, que será abordada a
seguir.
1.2 – Quinonas naturais
As quinonas formam um grupo extenso e diversificado de metabólitos especiais de
ampla distribuição natural, estando presentes em diversas famílias de vegetais superiores,
fungos, liquens, bactérias, artrópodes e equinodermos.
7
São substâncias do tipo dienodionas
cíclicas e estão divididas em grupos diferentes, de acordo com o hidrocarboneto aromático
básico que sustenta o sistema quinonoídico, como: benzoquinonas, naftoquinonas,
antraquinonas, entre outras.
6
O
O
O
O
O
O
benzoqinona
naftoquinona
antraquinona
As posições das carbonilas são variáveis e dependentes das possibilidades isoméricas
do anel que as sustenta e estas formas diferem muito em suas propriedades (físicas, químicas
e atividades biológicas). Quinonas com as carbonilas adjacentes são conhecidas como orto-
quinonas e com as carbonilas opostas, separadas por dois átomos de carbono, como para-
quinonas. Compostos meta-quinonóides são instáveis e conhecidos apenas sob as formas
radicalares. A química destes compostos está amplamente descrita na literatura.
8
Os
compostos quinoidais caracterizam-se também por suas cores que variam do amarelo pálido
ao negro, passando por tons alaranjados e vermelhos.
9
Benzoquinonas apresentam cor amarela e são encontradas em artópodes, fungos e
vegetais superiores. Alguns exemplos de benzoquinonas naturais: metil-1,4-benzoquinona
(26), etil-1,4,-benzoquinona (27), 2,3-dimetil-1,4-benzoquinona (28), 2-metoxi-1,4-
benzoquinona (29) e 2-metoxi-3-metil-1,4-benzoquinona (30), que são metabólitos irritantes
produzidos por artrópodes; espinolusina (31), com propriedade complexante, e fumigatina
(32), complexante e bacteriostática, que são obtidas dos fungos Penicillium spinulosum e
Aspergillus fumigatus; e 6,7-desidroroleanona (33), que é encontrada nas raízes de Salvia
officinalis (as preparações com esta planta tem ações estimulante, cicatrizante e diurética,
entre outras).
9
O
O
R
1
R
2
26 R
1
=CH
3
R
2
=H Metil-1,4-benzoquinona
27
R
1
=C
2
H
5
R
2
=H
Etil-1,4-benzoquinona
28 R
1
=R
2
=CH
3
. 2,3-dimetil-1,4-benzoquinona
29 R
1
=OCH
3
R
2
=H. Metoxi-1,4-benzoquinona
30 R
1
=OCH
3
R
2
=CH
3
.
2-metoxi-3-metil-1,4-benzoquinona
O
O
OH
O
CH
3
CH
3
R
CH
3
CH
3
CH
3
H
CH
3
CH
3
OH
O
O
33
6,7-desidroroileanona
31 R=OH espinolusina
32 R=H fumagatina
Naftoquinonas são substâncias com colorações que variam de amarelo a vermelho
intenso. São encontradas em maior quantidade nos vegetais superiores do que em fungos e
equinodermos. A lawsona (34) é uma naftoquinona simples, extraída dos talos e folhas de
Lawsonia inermis (hena) e L.spinosa (litráceas), que é capaz de formar complexos coloridos
com sais de alumínio, bismuto, cobalto, cobre e ferro e é amplamente utilizada na indústria de
cosméticos, como um dos ingredientes da pasta de hena; a plumbagina (35) é encontrada em
espécies do gênero Plumbago (plumbagináceas), Drosera (droserdáceas) e Dyospiros
7
(ebenáceas), é usada no tratamento da leishmaniose; a alcanina (36) é encontrada nas raízes de
Alkanna tinctoria, e é usada como corante vermelho em alimentos, cosméticos e
medicamentos.
9
O lapachol (37) e seus isômeros, as lapachonas (alfa e beta) são
naftoquinonas de grande importância farmacológica e são encontradas em espécies vegetais
de várias famílias e, devido a esta importância, serão abordados com um pouco mais de
detalhes mais adiante no texto.
O
O
R
1
R
3
R
2
34 R
1
=OH, R
2
=R
3
=H, lawsona
35 R
1
=CH
3
, R
2
=OH, R
3
=H, plumbagina
O
O
CH
3
CH
3
HOH
OH
OH
36 alcanina
O
OH
O
CH
3
CH
3
37 lapachol
As antraquinonas constituem o grupo mais extenso das quinonas naturais, podendo ser
encontradas em vegetais de diversos gêneros e espécies das famílias rubiáceas, ramnáceas,
poligonáceas, leguminosas, escrofulariáceas, liliáceas e verbenáceas; em liquens e fungos e
em insetos tintórios da família dos coccídeos. A alizarina (38) é um representante histórico
por sua propriedade corante, presente nos extratos de Rubia tinctorum (ruiva, rubiáceas),
utilizados como corante por persas, egípicios, gregos e romanos. Sua síntese, em 1868,
estabeleceu os princípios químicos da indústria dos corantes antraquinônicos, que se
desenvolveu rapidamente e ocupou o lugar dos produtos da Ruiva. A emodina (39) é uma das
poliidroxiantraquinonas mais importantes, presente em plantas do gênero Rhamnus
(ramnáceas) e com propriedades laxantes.
9
O
O
OH
OH
38 alizarina
O
O
OHOH
CH
3
OH
39 emodina
Compostos quinônicos atuam em processos bioquímicos vitais em diversos
organismos (animais, vegetais superiores, fungos, bactérias e vírus), bem como têm recebido
atenção em rias investigações farmacológicas. Da participação das quinonas no ciclo de
vida dos seres vivos, destacam-se, principalmente, a atuação de benzoquinonas, as
ubiquinonas, p. e.x., UQ-9 (40), no transporte de elétrons em etapas da cadeia respiratória e,
em etapas da fotossíntese, as plastoquinonas, p. ex.,, PQ-9 (41) e de naftoquinonas, como as
vitaminas K, p. ex., vitamina K1(42), como mediadoras na regulação da coagulação
sanguínea.
10
O
O
R
1
R
2
R
3
CH
3
CH
3
CH
3
8
40 R
1
= R
2
= OMe, R
3
= Me
UQ-9
41 R
1
= R
2
= Me, R
3
= H PQ-9
O
O
CH
3
CH
3
CH
3
CH
3
CH
3
2
42 vitamina K1
8
Para as atividades biológicas observadas para compostos exógenos desta classe, em
nível celular, são considerados, principalmente, dois modos de ação: interferência no ciclo
redox e inibição das enzimas topoisomerases I e II.
11
1.2.1 – Atividade no ciclo redox
A participação das quinonas em processos de oxirredução em sistemas biológicos,
evidenciada em investigações eletroquímicas para alguns destes compostos,
12,13,14
as torna
capazes de interferir nas atividades regulatórias dos processos de oxirredução nos organismos,
induzindo nas células o estresse oxidativo, que se pela formação de espécies reativas de
oxigênio (
1
O
2,
O
2
-
, HO
e H
2
O
2
) e do radical semiquinona, o que favorece a ocorrência de
lesões em estruturas celulares (peroxidação lipídica, destruição de proteínas, danificação de
ácidos nucleicos e quebra das fitas do ADN), que podem provocar a morte celular. Além do
estresse oxidativo, as quinonas também são capazes, diretamente ou através de intermediários,
de formar ligações covalentes com estruturas celulares (proteínas e ácidos nucléicos),
podendo também ocasionar a morte celular. A ação de quinonas sobre diferentes formas do
protozoário Trypanosoma cruzi vem sendo estudada detalhadamente e as etapas bioquímicas
deste processo são apresentadas, resumidamente, no Esquema 1.
11,15
O ciclo redox é iniciado pela redução do composto quinonoídico (Q) à semiquinona
(Q
-
), mediada por flavoenzimas (NADPH citocromo P-450 redutase, NADPH citocromo b5
redutase ou NADPH ubiquinona oxiredutase). Na seqüência do ciclo, a semiquinona reduz o
oxigênio molecular ao ânion superóxido (O
2
-
) e este, sob ação da enzima superóxido
desmutase (SOD), pode ser convertido em H
2
O
2
ou HO
. O ânion superóxido também pode
sofrer reação catalisada por metais de transição ou reagir com H
2
O
2
para formar o radical
HO
. As espécies H
2
O
2
e HO
são consideradas as principais responsáveis pelo estresse
oxidativo celular.
O estresse oxidativo é consequência do desequilíbrio entre a formação e remoção de
radicais livres do organismo, decorrente da diminuição dos níveis dos antioxidantes
endógenos ou o aumento da formação das espécies oxidantes.
9
O O
Quinona
Radical Semiquinona
O O
FAD
RED
FAD
OX
NADP
+
NADPH
O
2
O
2
Superóxido
desmutase
O
2
H
2
O
2
Fe
+3
OH + O
2
Catalase
H
2
O + O
2
2 GSH
GS-SG
Glutationa
peroxidase
NADPH
NADP
+
Glutationa
redutase
2 H
2
O
Estresse Oxidatitvo
Geração de intermediários bio-alquilantes
-ligação covalente com ácidos nucléicos
-ligação covalente com proteínas (inativação de enzimas)
Estresse oxidativo
-peroxidação lipídica
-destruição de proteínas
-danificação de ácidos nucleicos
-quebra das fitas do DNA
Citocromo
P450 redutase
Via das pentose-fosfato
Esquema 1. Ciclo redox parcial das quinonas.
1.2.2 – Atividade por inibição das topoisomerases I e II
Como mencionado anteriormente, o outro modo importante de atividade biológica
relacionado aos compostos quinonoídicos ocorre pela inibição das enzimas topoisomerases.
Estas enzimas são essenciais para o funcionamento normal de qualquer célula, atuando nas
funções de reparação, transcrição, replicação e estruturação do cromossomo. Atuam sobre o
ADN, alterando sua topologia, promovendo cortes e o desenovelamento das fitas para que
estas funções ocorram. As enzimas do tipo I cortam apenas uma das fitas e as do tipo II,
ambas as fitas. Por suas participações fundamentais ao ciclo de vida celular, alterações no
funcionamento destas enzimas são suficientes para induzir a apoptose (auto-destruição
celular). A inibição da atividade destas enzimas é uma abordagem aplicada no tratamento de
tumores. São variados os modos pelos quais pode ocorrer a inibição destas enzimas, entre
estes: estabilização do complexo ADN-enzima, inativação do sítio catalítico da enzima e
intercalação no ADN, impedindo a ação enzimática.
11
10
A participação de compostos quinoidais nestas atividades pode ser exemplificada pelas
substâncias mitomicina C (43), saintopina (44), eleuterina (45) e β-lapachona (46).
N NH
O CH
3
O
NH
2
O
O
43 mitomicina C
OH
OH O
O
OH OH
OH
O
O
O
CH
3
CH
3
O
CH
3
45 eleuterina
O
O
O
CH
3
CH
3
46
β
-lapachona
44 saintopina
A ação da mitomicina C (43) ocorre pela participação deste composto no ciclo redox,
para a qual é proposta a formação de espécies bioalquilantes que se ligam ao ADN.
16
Para
saintopina (44)
17
e eleuterina (45)
18
é observada a inibição de enzimas topoisomerases; e a β-
lapachona (46) é capaz agir tanto através do ciclo redox,
15
como pela inibição das enzimas
topoisomerases.
18,19,20
O lapachol, β-lapachona e outras naftoquinonas relacionadas serão abordadas no
tópico a seguir.
11
1.3 – Lapachol e quinonas relacionadas
O lapachol e quinonas relacionadas a este composto são representantes importantes da
contribuição dos conhecimentos etnofarmalógicos dos povos da América Latina aos tratos à
saúde humana. São constituintes químicos de espécies vegetais, várias espécies de Tabebuia,
que tem sido utilizadas culturalmente, em diversas regiões do continente, no combate a uma
extensa gama de enfermidades, como mostrado no Quadro 1.
21
Quadro 1. Aplicações terapêuticas de espécies de Tabebuia na América Latina.
Região ou país Uso
Região amazônica
Resfriado, tosse, febre, gripe, leishmaniose,
feridas e infecções no sistema urinário
Argentina
Diarréia, infecções respiratórias e infecções
no sistema urinário
Bahamas
Dor nas costas, gonorréia, dor de dente,
incontinência e desordens urinárias
Brasil
Artrite, asma, pé-de-atleta, infecções
bacterianas, incontinência urinária, anemia,
furúnculos, bursite, câncer, dores
relacionadas ao câncer, candidíase,
circulação, resfriado, colite, constipação,
cistite, diabete, disenteria, eczema, febre,
gripe, infecções fúngicas, gastrite, gengivite,
gonorréia, hérnia, hemorróidas, hemorragias,
herpes, linfoma de Hodgkin, desordens do
sistema imunológico, impetigo, coceira,
leishmaniose, leucemia, desordens hepáticas,
malária, parasitas, prostatite, psoríase,
problemas respiratórios, reumatismo,
lombriga, sarna, problemas de pele, mordida
de cobra, dor de garganta, estomatite,
problemas estomacais, sífilis, tendinite,
úlceras, infecções no sistema urinário,
desordens uterinas, corrimento vaginal,
varizes, verrugas, feridas, adstringente,
diurético, analgésico e tônico.
Costa Rica
Câncer, resfriados, febres, dores de cabeça e
mordida de cobra.
México Febre e anemia.
Outros países da América do Sul
Alergias, anemia, artrite, infecções
bacterianas, furúnculos, câncer, problemas de
circulação, colite, resfriado, constipação,
tosse, cistite, diabetes, diarréia, disenteria,
12
febre, gripe, infecções fúngicas, gastrite,
problemas gastrointestinais, inflamações,
malária, faringite, prostatite, doenças
respiratórias, mordida de cobra, sífilis,
úlceras e desordens urinárias.
As investigações sobre esses compostos têm seu início com o isolamento do lapachol
(37), atribuído a Paternó, do cerne da árvore conhecida na Argentina como “lapacho”
(Tabebuia avellanadae - bignoniáceas).
22
Além do lapachol, outras naftoquinonas foram
isoladas desta espécie: menaquinona-1 (47), lapachol metil éter (48), desoxilapachol (49), α-
lapachona (50), β-lapachona (46) e a desidro α-lapachona (α-xiloidona) (51).
23
O
C
H
3
O
C
H
3
C
H
3
O
O
O
C
H
3
C
H
3
O
O
O
C
H
3
C
H
3
C
H
3
O
O
O
C
H
3
C
H
3
47 menaquinona-1
48 lapachol metil éter
O
O
C
H
3
C
H
3
49
deoxilapachol
50
α
-lapachona
51
xiloidona
O
O
H
O
C
H
3
C
H
3
37
lapachol
O
O
O
C
H
3
C
H
3
46
β
-lapachona
Dentre as quinonas obtidas o lapachol é o mais abundante e de extração mais fácil.
Está presente também em outras espécies de Tabebuia, de ampla distribuição no continente, e
representa de 3-7% da composição do material vegetal (lenho), dependendo da espécie. No
Brasil as espécies de Tabebuia são conhecidas popularmente como ipê ou pau d’arco. A
ocorrência do lapachol não se restringe às espécies deste gênero nem apenas à família das
bignoniáceas, tendo sido ele identificado como constituinte de diversas espécies vegetais em
famílias variadas, sumarizadas no Quadro 2.
24, 25
13
Quadro 2. Ocorrência de lapachol em famílias e espécies vegetais.
Família Espécies
bignoniáceas Tabebuia avellanedae
T. bata
T. flavescens
T. guayacan
T. heptaphylla
T. pentapphylla
T. rosea
T. serratifolia
Haplophragma adenophyllum
Heterophragma adenophyllum
Kigelia pinnata
Phyllarthron comorense
Radermachera sínica
Paratecoma peroba
Tecoma araliaceae
T. undulata
Stereospermum kunthianum
S. personatum
S. suaveolens
S. tetragonum
Zeyera digitalis
Z. tuberculosa
Catalpa longíssima
Cybistax antisyphilitica
Macfadyena ungis-cati
Melloa quadrivalvis
Newboudia laevis
14
verbanáceas Tectona grandis
Avicennia tomentosa
A. offcinalis
proteáceas Conospermum teretifolium
leguminosas Diphysa robinoide
sapotáceas Bassia latifólia
malváceas Hibiscus tiliaceus
escrofulariáceas Paulownia kawakamii
A estrutura do lapachol foi definida corretamente por Hooker, após extensas e
laboriosas investigações químicas, pelas quais também foram preparados seus isômeros e
outros derivados quinônicos, bem como demonstradas suas interconversões (Esquema 2);
nestas investigações estruturais também foram preparadas azinas e hidroximas (Figura 1) a
partir de lapachonas.
26,27,28,29,30
15
CH
3
CH
3
O
O
OH
CH
3
CH
3
O
O
OH
Br
Br
CH
3
CH
3
O
O
OH
OH
OH
O
O
O
CH
3
CH
3
Br
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
O CH
3
CH
3
O
O
O
OH
CH
3
CH
3
O
O
CH
3
CH
3
O
+
+
O
O
OH
CH
3
CH
3
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
O
CH
3
CH
3
HCl
H
2
SO
4
HCl
H
2
SO
4
H
2
SO
4
H
2
SO
4
HBr
HBr
K
M
n
O
4
/
O
H
-
Br
2
NaOH
H
2
SO
4
KOH
CH
3
CH
3
O
O
OH
OH
KOH
O
O
OH
CH
3
CH
3
OH
O
O
O
CH
3
CH
3
N
a
O
H
(
d
i
l
.
)
Esquema 2. Alguns derivados quinônicos obtidos por Hooker a partir do lapachol.
16
C
H
3
C
H
3
O
N
N
H
C
H
3
N
O
N
C
H
3
C
H
3
C
H
3
O
N
N
H
C
H
3
C
H
3
N
N
O
C
H
3
C
H
3
N
O
N
C
H
3
C
H
3
C
H
3
Br
C
H
3
C
H
3
O
N
N
H
O
H
C
H
3
CH
3
CH
3
O
N
OH
O
H
CH
3
CH
3
O
N
OH
OH
O
H
N
O
O
CH
3
CH
3
O
H
O
N
O
CH
3
CH
3
O
H
Figura 1. Azinas e hidroximas de lapachonas obtidas por Hooker.
Apesar do uso medicinal de espécies de Tabebuia ser conhecido desde os períodos
coloniais (e certamente) pelos povos autócctones da América Latina, os relatos mais
consistentes datam do início das avaliações sistemáticas sobre as atividades biológicas
desenvolvidas por seus componentes, nos anos 40 do século passado, quando da busca por
agentes anti-malariais a partir de compostos quinônicos, dentre os quais o lapachol.
31
Desde
então, o lapachol, seus isômeros e derivados são de grande interesse em diversos tipos de
avaliações, como apresentado em revisão recente.
25
Nos últimos anos, a β-lapachona tem sido
motivo de grande interesse em diversos grupos de pesquisa no mundo, principalmente devido
à sua atividade citotóxica contra várias linhagens de células tumorais humanas; como único
agente terapêutico, ou em combinação com outro quimioterápico ou associado à radiação
ionizante.
25,32
No contexto nacional, é destacada a importância dos trabalhos pioneiros
desenvolvidos por Oswaldo Gonçalves de Lima atividade antimicrobiana e antineoplásica;
33
Martha C. Wanick, atividade antiinfalmatória;
34
Ivan Leôncio D’Albuquerque atividade
antineoplásica;
35
e Benjamin Gilbert atividade antiparasitária
36
. A importância destes
trabalhos também pode ser observada no cenário internacional, visto que são citados em boa
parte dos artigos sobre o tema. Dentre os grupos consolidados no país, como resultado dos
trabalhos destes pioneiros, o grupo liderado pelo professor Antônio Ventura Pinto é um dos
mais proeminentes.
11
17
Em decorrência do reconhecimento das propriedades terapêuticas das quinonas
derivadas de espécies de Tabebuia: o lapachol é comercializado pelo Laboratório
Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE) como coadjuvante no tratamento de
algumas neoplasias; e a β-lapachona também encontra-se em fase de desenvolvimento como
medicamento antitumoral neste laboratório e em outros centros de pesquisa no mundo; e é
ampla a comercialização, no varejo popular, de derivados de ipê – material vegetal par
confecção de chás, bem como extratos – com finalidades terapêuticas (anunciadas) diversas.
B. Gilbert foi um dos pioneiros no País na difusão da idéia da necessidade de
investigações químicas e biológicas de compostos naturais de ocorrência abundante na flora
brasileira, inclusive lapachol e lapachonas. Parte destes esforços pode ser observada na
exploração da reatividade destas quinonas, sob diferentes condições, buscando a
transformação do grupo quinonoídico em novos sistemas, incluindo a formação de ciclos e
heterociclos. Um dos objetivos destas modificações estruturais, além da melhor compreensão
do comportamento químico destes sistemas, é a obtenção de novos agentes contra doenças
parasitárias endêmicas das regiões tropicais.
37
Algumas destas modificações são apresentados
a seguir.
1.3.1 – Modificações no sistema quinoídico de lapachonas
Fenazinas derivadas de lapachonas são, possivelmente, os primeiros compostos
heterocíclicos obtidos pela reação de sistemas quinonoídicos com reagentes nucleofílicos (o-
diaminas aromáticas), como parte das investigações estruturais de Hooker sobre o lapachol e
seus derivados.
27
As azinas preparadas por Hooker e compostos análogos foram sintetizadas
(Esquema 3) e avaliadas quanto a sua atividade frente a diferentes cepas de Plasmodium
falciparum, agente responsável pela forma maligna da malária, dentre os compostos testados,
aqueles com grupos ionizáveis apresentaram os melhores resultados. Apesar das quantidades
inibitórias serem maiores que as observadas para a cloroquina, droga anti-malarial usada
como referência, estas estruturas são sugeridas como compostos protótipos para novos
agentes anti-malariais, dada sua preparação barata e fácil; e as concentrações inibitórias em
escala de micromolar.
38
18
CH
3
CH
3
O
O
OH
CH
3
CH
3
O
O
O
H
O
O
O
CH
3
CH
3
R
a: R= H
b: R= Br
c: R= I
d: R= CH2CH=CH2
e: R= SO3H
N
H
2
N
H
2
AcOH / AcoNa
NH
2
NH
2
AcOH / AcoNa
N
O
N
CH
3
CH
3
R
CH
3
CH
3
N
N
OH
Esquema 3. Fenazinas de lapachonas com o-fenileno-diamina testadas como anti-malariais.
Fenazinas simétricas foram obtidas como sub-produtos da reação de lapachonas com o
ácido aminado glicina (Esquema 4). Estes derivados mostraram-se interessantes pelas
possibilidades decorrentes de suas propriedades fotofísicas.
39
19
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
O
CH
3
CH
3
Gllicina
EtOH / NaHCO
3(aq.)
, refluxo 24h.
N
N
O
O
C
H
3
C
H
3
C
H
3
C
H
3
N
N
O
CH
3
CH
3
O
C
H
3
C
H
3
+
(3 %)
(7 %)
Gllicina
EtOH / NaHCO
3(aq.)
, refluxo 24h.
N
N OO
C
H
3
C
H
3
C
H
3
C
H
3
(20 %)
Esquema 4. Fenazinas simétricas obtidas de lapachonas.
Na reação da β-lapachona com anilina formou-se uma azina que apresentou maior
atividade tripanossomicida que a quinona originária (Esquema 5).
40
O
O
O
CH
3
CH
3
N
H
2
N
O
N
CH
3
CH
3
N
H
N
/ H
+
60 °C / 16 h.
Esquema 5. Reação da β-lapachona com anilina.
Azinas de β-lapachona também foram obtidas nas reações com etileno-diamina e 5,6-
diamino-uracil (Esquema 6).
41
20
O
O
O
CH
3
CH
3
N
H
2
N
H
2
N
H
N
H
N
H
2
N
H
2
O O
N
O
N
CH
3
CH
3
N
O
N
CH
3
CH
3
N
H
N
H
OO
N
O
N
CH
3
CH
3
N
H
N
H
O
O
ou
Esquema 6. Azinas da β-lapachona etileno-diamina e 5,6-diamino-uracil.
Azinas de lapachonas orto-quinonoídicas e outras pirano e furano-orto-naftoquinonas
são convertidas a macrolactonas por reação de ozonólise (Esquema 7).
42
O
O
O
R
1
R
2
R
3
n
N
O
N
R
1
R
2
R
3
R
R
n
O
N
N
O
O
R
1
R
2
R
3
R
R
n
R
NH
2
R
NH
2
n R
1
R
2
R
3
a. 1 Ph H H
b. 0 -C(OH)(CH
3
) H H
c. 1 Me Me H
d. 1 Me Me OH
e. 1 Me Me Br
f. 0 Ph H H
g. 1 Me Me -OCO(CH
3
)
10
CH
3
tolueno, peneira molecula 4 A, 24 h.- 2 dias
1 ou 2
1. etilendiamina R= H
2. trans-cicloexeno-1,2-diamino R= -(CH
2
)
2
-
1 (a-e)
2 (b-g)
1 (a-e)
2 (b-g)
i. O
3
, -78°C, CH
2
Cl
2
, 10-20 min.
ii. MeS
Esquema 7. Conversão de azinas em macrolactonas.
Lapachol e β-lapachona reagem diretamente com aminas primárias para formar
oxazóis. Oxazóis derivados do lapachol com aminas primárias, com nitrogênios ligados a
carbonos primários, podem ser acetilados, bem como convertidos em oxazóis derivados da β-
xiloidona (desidro-β-lapachona) sob condição básica. Estes últimos também são obtidos
quando se aumenta o tempo de reação entre o lapachol e o composto nitrogenado, e podem,
por sua vez, ser convertidos em oxazóis derivados da β-lapachona por hidrogenação catalítica.
o oxazol formado entre lapachol e uma amina cujo nitrogênio esteja ligado a um carbono
secundário tem sua estrutura clivada a compostos quinônicos em condições ácidas, básicas ou
redutoras (Esquema 8).
43
21
CH
3
CH
3
O
O
OH
CH
3
NH
2
NH
2
CH
3
CH
3
O
N
CH
3
OH
CH
3
CH
3
O
N
O
H
O
N
O
C
H
3
C
H
3
NH
2
NH
2
4 h. /
8 h. /
CH
3
CH
3
O
O
N
NaOH, 1M
H
2
/ Pt
O
N
O
CH
3
CH
3
NH
2
O
O
CH
3
CH
3
O
N
/ Ac
2
O
CH
3
CH
3
O
N
CH
3
O
Ac
NaOH, 1M
O
N
O
CH
3
CH
3
C
H
3
lapachol
β
ββ
β
-lapachona
NaOH, 1M
CF
3
COOH
H
2
/ Pt
CH
3
CH
3
O
O
OH
β
ββ
β
-lapachona
lapachol
Esquema 8. Reação de lapachonas com aminas primárias.
Oxazóis de lapachonas, não substituídos na posição 2 do heterociclo adicionado à
estrutura, foram obtidos pela reação do ácido aminado glicina com os compostos quinônicos,
em uma reação que envolve a descarboxilação de espécie intermediária. A etapa de
descarboxilação foi caracterizada na degradação do oxazol obtido a partir do éster etílico da
glicina com a β-lapachona (Esquema 9).
44,45
22
CH
3
CH
3
O
O
OH
lapachol
O
NH
2
OH
glicina
EtOH / H
2
O
CH
3
CH
3
O
N
O
H
O
O
CH
3
CH
3
O
O
NH
2
OH
glicina
piridina / H
2
O
β
ββ
β-lapachona
O
CH
3
CH
3
O
N
H
2
O / OH
-
O
NH
2
O
Et
a
m
i
n
o
a
c
e
t
a
t
o
d
e
e
t
i
l
a
EtOH
O
CH
3
CH
3
O
N
O
O
Et
O
CH
3
CH
3
O
N
O
O
H
O
O
O
CH
3
CH
3
nor
-β
ββ
β-lapachona
O
NH
2
OH
glicina
piridina / H
2
O
O
CH
3
CH
3
O
N
parafomaldeído
AcOH / AcONH
4
Esquema 9. Oxazóis obtidos da reação de lapachonas com glicina.
Oxazóis e imidazóis foram obtidos na reação entre aldeídos e as lapachonas 1,2-
dicarboniladas (β-lapachona e / ou nor-β-lapachona) em sistemas amoniacais; a reação de
aldeídos alifáticos, nestas condições, forneceu exclusivamente oxazóis. A reação destes
compostos quinônicos com acetilacetona e acetoacetato de etila, em condições básicas,
levaram a carbociclização, fomando naftociclopentenonas hidroxiladas, que sofreram
desidratação formando ciclopentadienonas ou foram rearranjadas a derivados pirânicos. A
reação da β-lapachona com acetona em meio amoniacal levou a formação de um isoazol e a
um imidazol quinonimínico, dependendo da fonte de nitrogênio empregada. A reação do
lapachol com o-amino-fenol levou à formação de uma fenoxazina. Estas transformações são
apresentadas no Esquema 10, no qual se consideram apenas as modificações do sistema
quinonoídico.
44
23
O O
N O
R
N N
H
R
N O
O
O
H
R
N
C
H
3
O
H
O
H
N N
C
H
3
C
H
3
O
R
O
O
R
Ac
CH
3
R
O
R= Ac ou R= COOEt
H
+
AcOH
CH
3
CH
3
O
CH
3
CH
3
O
NH
2
OH
H
+
RCHO / NH
3
R= Aril ou R= Alquil
+
imidazóis e oxazóis fenoxazina
ciclopentenonas
ciclopentadienonas
lapachonas
isoazol
imidazol quininimínico
derivado pirânico
AcONH
4
NH
4
OH
Esquema 10. Rotas sintéticas para obtenção de alguns cicloderivados de lapachonas.
Compostos obtidos pelas rotas apresentadas no Esquema 10 foram avaliados quanto a
suas ações tripanossomicidas frente às diferentes formas do Trypanosoma cruzi, parasita
causador da doença de Chagas. Foram observadas atividades promissoras para alguns destes
compostos.
37, 46
1,4-dioxinas da podem ser obtidos em reações fotoquímicas de cicloadição não
concertadas do tipo [4 + 2], pela irradiação de olefinas, ricas em elétrons e cujo radical
formado não possa ser desativado por rotação ao longo da ligação sigma carbono-carbono
residual, com a β-lapachona. Um dioxol foi obtido na reação entre a β-lapachona e o diazo-
difenil-metano. Estas transformações são apresentadas no Esquema 11.
41
24
O
O
O
CH
3
CH
3
OO
benzeno / hν
νν
ν (> 300 nm)
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
C
-
N
+
N
N
benzeno / t.a. / 24 h.
O
O
O
CH
3
CH
3
N
O
O
O
CH
3
CH
3
N
ou
O
CH
3
CH
3
O
O
Esquema 11. Dioxo derivados da β-lapachona.
Um diazo derivado da β-lapachona foi sintetizado (Esquema 12), testado para
atividade antimicrobiana e estudado quanto a seu comportamento eletroquímico. Foi cerca de
dez vezes menos ativo que a quinona originária contra diferentes cepas de Staphylococcus
aureus.
47
O
O
O
CH
3
CH
3
p-MePhSO
2
NHNH
2
MeOH, 1-5 h.
N
2
O
O
CH
3
CH
3
Esquema 12. Síntese do diazo derivado da β-lapachona.
Lapachonas reagem com diazometano formando oxiranos, estes compostos
apresentaram atividade tripanocida promissora e baixa toxidez a células de mamíferos.
48
Sob
ação de um ácido Lewis oxiranos podem ser convertidos em aldeídos.
49
Estas transformações
são apresentadas no Esquema 13.
25
O
O
O
CH
3
CH
3
R
O
O
O
C
H
3
C
H
3
n
CH
2
N
2
CH
2
Cl
2
/ Et
2
O
CH
2
N
2
CH
2
Cl
2
/ Et
2
O
a. n=0 R=H
b. n=1 R=H
c. n=1 R=SO
2
Me
O
O
CH
3
CH
3
R
O
n
O
O
C
H
3
C
H
3
O
a. n=0 R=H
b. n=1 R=H
c. n=1 R=SO
2
Me
BF
3
.Et
2
O
CH
2
Cl
2
/ 24 h.
O
CH
3
CH
3
R
CHO
O
H
a. n=0 R=H
b. n=1 R=H
n
NaHCO
3
O
C
H
3
C
H
3
CHO
O
H
R
n
a. n=0 R=H
b. n=1 R=H
Esquema 13. Síntese de oxiranos de lapachonas e conversão de oxiranos a aldeídos.
Modificações do sistema quinonoídico de lapachonas também foram realizadas em
reações com organometálicos. Estas investigações foram feitas empregando reagentes de
Grignard e outros organometálicos (organo-estanho e organo-índio), formados em reações do
tipo Barbier, nas quais se usou água como co-solvente – diferentemente das condições anidras
necessárias para o emprego dos reagentes de Grignard e outros. Na comparação de
metodologias, as reações do tipo Barbier levaram aos melhores rendimentos.
50
Resultados
destas modificações estão no Esquema 14.
26
O
O
O
CH
3
CH
3
CH
3
MgI
a ou b
a= CH
2
Cl
2
b= CuI / Et
2
O
O
O
CH
3
CH
3
OH
CH
3
a (21%)
b (24%)
C
6
H
5
CH
2
Cl
Mg / THF
O
O
CH
3
CH
3
OH
(34%)
C
2
H
5
CH
2
Br
a, b ou c
a= Mg / Et
2
O
b= Sn / THF.H
2
O
c= In / THF.H
2
O
O
O
CH
3
CH
3
OH
CH
2
C
2
HCH
2
Br
a, ou b
a= Sn / THF.H
2
O
b= In / THF.H
2
O
O
O
CH
3
CH
3
OH
CH
a (50%)
b (54%)
c (87%)
a (14%)
b (55%)
CH
3
MgI
Et
2
O
C
6
H
5
CH
2
Cl
Mg / THF
C
2
H
5
CH
2
Br
a, b ou c
a= Mg / Et
2
O
b= Sn / THF.H
2
O
c= In / THF.H
2
O
C
2
HCH
2
Br
In / THF.H
2
O
O
O
O
C
H
3
CH
3
O
O
CH
3
CH
3
O
H
C
H
3
(60%)
O
O
C
H
3
C
H
3
OH
(30%)
O
O
C
H
3
CH
3
O
H
CH
2
O
CH
3
C
H
3
O
OH
CH
2
a (11%)
b (50%)
c (75%)
a (9%)
O
O
C
H
3
C
H
3
O
H
CH
O
O
C
H
3
CH
3
O
H
C CH
2
(15%)
(28%)
C
6
H
5
CH
2
Cl Mg / THF
C
2
H
5
CH
2
Br
a ou b
a= Sn / THF.H
2
O
b= In / THF.H
2
O
C
2
HCH
2
Br
O
O
OCH
3
CH
3
CH
3
O
OCH
3
CH
3
CH
3
OH
O
OCH
3
CH
3
CH
3
OH
CH
2
(8%)
a (14%)
b (80%)
In / THF.H
2
O
O
OCH
3
CH
3
CH
3
OH C CH
2
(7%)
O
O
O
C
H
3
C
H
3
C
2
H
3
CH
2
Br
Mg / Et
2
O
O
O
CH
3
CH
3
CH
2
CH
2
(18%)
27
Esquema 14. Reações de lapachonas com organometálicos
Derivados arilimínicos de β-lapachona também foram preparados (Esquema 15).
Estes compostos foram expressivamente mais ativos que a quinona originária contra 12
linhagens de células tumorais.
51
O
O
O
CH
3
CH
3
NH
2
R
CH
2
Cl
2
/ TiCl
4
/ Et
3
N
a. R= H
b. R= CH
3
c. R= OCH
3
d. R= NO
2
N
O
O
CH
3
CH
3
R
Esquema 15. Síntese de derivados arilimínicos da β-lapachona.
Fenil hidrazonas da β-lapachona são obtidas da reação entre a quinona e cloridrato de
fenil hidrazina com um padrão de seletividade bem definido, Esquema 16.
52
O
O
O
CH
3
CH
3
NH
NH
2
. HCl
MeOH / t.a. / 27 h.
N
O
O
CH
3
CH
3
N
H
O
O
N
CH
3
CH
3
N
H
+
97%
3%
Esquema 16. Síntese de fenil hidrazonas da β-lapachona.
As modificações de lapachonas apresentadas fazem parte dos poucos exemplos das
reações destes compostos em que se altera drasticamente a porção estrutural que confere as
características redox destas moléculas, apontadas ao longo do texto como um dos fatores
importantes para a promoção das atividades biológicas.
Um dos objetivos propostos para as modificações estruturais em lapachonas, na linha
da proposta difundida por B. Gilbert, é a obtenção de agentes terapêuticos mais eficientes para
o tratamento de doenças endêmicas das regiões tropicais. Dentre estas, a tripanossomíase
americana, que pode evoluir para as condições clínicas da doença de Chagas, é uma das
enfermidades que têm sido motivos dos esforços desenvolvidos em diversos grupos de
pesquisas. A tripanossomíase americana, alguns aspectos terapêuticos e o uso de derivados de
lapachonas no combate a esta enfermidade serão abordados a seguir.
1.4 – Tripanossomíase americana e a doença de Chagas
28
A tripanossomíase americana é uma infecção parasitária zoonótica, que tem por agente
etiológico o cinetoplastídeo Trypanosoma cruzi. É uma doença endêmica das Américas, cuja
ocorrência coincide com a distribuição natural dos vetores (insetos hematófagos da família
reduviídeos e subfamília dos triatomíneos, comumente denominados barbeiros (ou vinchuca,
na Hispano-américa), somando 19 gêneros em um total de 137 espécies, das quais
aproximadamente a metade pode ser infectada com o protozoário), que estão presentes do
paralelo 40° Norte, no sul dos Estados Unidos da América, ao paralelo 45° Sul, na província
de Chubut, Argentina (Figura 2).
53,54,55
Figura 2. Áreas com risco de transmissão nas Américas.
Do ponto de vista histórico, a presença da infecção nas populações americanas data de
aproximadamente 9000 anos; foram encontradas evidências moleculares consistentes para
infecção por T. cruzi em múmias destas regiões em estudos paleoparasitológicos. O início da
ocorrência desta infecção se deu com o maior contato das populações ameríndias com o ciclo
de vida selvagem do parasito, o qual dispõe de uma quantidade numerosa de mamíferos que
servem de hospedeiros naturais. Como numerosos também são os vetores, posteriormente
ocorreu o estabelecimento do ciclo de vida doméstico para a infestação, uma vez que as
habitações destes povos ancestrais compreendiam ambientes hospitaleiros para a adaptação de
espécies de triatomíneos, inclusive T. infestants principal responsável pela infecção
domiciliar até hoje. Além da transmissão vetorial, o consumo de carne contaminada também
constituiu uma das vias de infecção.
56
A identificação e as observações iniciais do ciclo de vida do patógeno foram feitas
pelo médico sanitarista Carlos Chagas em 1909, que pôde descrever a divisão das formas
epimastigota e tripomastigota metacíclica do Trypanosoma cruzi nas porções anterior e
posterior, respectivamente, do aparelho digestivo de espécimes do triatomíneo Panstrongylus
megistus, capturados em uma casa rudimentar no interior de Minas Gerais. Posteriormente,
encontrou a forma tripomastigota no sangue de um animal doméstico, um gato, e no sangue
de uma criança de 1 ano que sofria de uma febre de origem desconhecida.
57
A descrição atual
do ciclo de vida do parasito, tendo o homem como um dos hospedeiros, possui diferentes
fases a partir da infecção.Inicialmente, a forma flagelada tripomastigota metacíclica do
29
parasito, ao entrar no corpo humano,e prontamente invade células sadias e se converte à
forma arredondada amastigota, que sofre sucessivos ciclos de reprodução assexuada no
citoplasma da célula hospedeira. Posteriormente, a forma amastigota diferencia-se para a
forma flagelada tripomastigota, que rompe a estrutura celular e alcança a corrente sanguínea,
pronta para infectar outras células do corpo. Além da infecção de outras células do
hospedeiro, a forma tripomastigota pode ser reabsorvida pelos vetores hematófagos, nos quais
sofre nova diferenciação para forma epimastigota, que se multiplica e, quando alcança a
porção posterior do aparelho digestivo do inseto, sofre outra diferenciação para a forma
tripomastigota metacíclica, fechando o ciclo Figura 3.
58
Figura 3. Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi no inseto e no ser humano.
No inseto, a forma infectante do parasito se encontra nas suas fezes, que defeca
enquanto se alimenta de sangue. A infecção se quando o parasito alcança a lesão
provocada pela mordida do inseto, ou através de mucosas permissivas ou pelas membranas
conjuntivas; geralmente ocorre quando o indivíduo atacado pelo triatomíneo coça a região
lesionada, promovendo o contato do parasito com a ferida, ou ainda com a mão contaminada
pelas fezes do inseto toca a região ocular, cujas membranas conjuntivas constituem outra
porta de acesso ao organismo. Além da infecção promovida pelo vetor, os outros modos
possíveis de infecção são: por via oral – pela ingestão de material contaminado com as formas
infectantes, por transfusão de sangue contaminado, por infecção congênita ou acidentalmente
em unidades de saúde. A exceção dos neurônios, qualquer célula do organismo humano pode
ser parasitada.
58
A doença de Chagas compreende as manifestações clínicas provocadas pela infecção e
se divide, basicamente, em duas fases: aguda e crônica. A fase aguda caracteriza-se pela
presença da forma tripomastigota do parasito na circulação sanguínea, que é prontamente
diagnosticada pelo exame microscópico do sangue contaminado. Frequentemente esta fase da
infecção não é percebida pelos pacientes, sendo assintomática em 95% dos casos. Quando se
30
manifestam, os sintomas da fase aguda da doença de Chagas incluem: febre, mal-estar, dores
em músculos e articulações, sonolência, câimbras, diarréia, edemas, distúrbios respiratórios,
cianose e coma. Nesta fase da infecção o índice de mortalidade é inferior a 5% do número de
pacientes sintomáticos, como consequência de miocardite ou meningoencefalite, que podem
ser acompanhadas de outras complicações como broncopneumonia. Este quadro clínico
diminui de intensidade espontaneamente, de 3-4 meses após seu início, progredindo para a
fase crônica da infecção.
58
A fase crônica da doença de Chagas é caracterizada por: promover cardiopatias
alterações que resultam no aumento do tamanho do órgão em até duas vezes; em
modificações na sua estrutura, como resultado do quadro inflamatório que se instala com a
infecção, que, consequentemente, levam ao seu mau funcionamento (insuficiência cardíaca e
arritmia) em 94,5% dos pacientes que desenvolvem esta fase da doença; e por promover a
síndrome dos megaórgãos (megaesôfago e megacolo) nos 5,5% restantes dos casos, sendo
características a dilatação das vísceras associada à perda da coordenação destes segmentos do
tubo digestivo. O diagnóstico da fase crônica necessita de procedimentos para amplificação da
quantidade de parasitos, antes que estes possam ser observados diretamente em microscópio,
ou se vale de ensaios para a detecção anticorpos específicos para T. cruzi.
58
Curiosamente, apenas um terço dos indivíduos infectados desenvolve os sintomas da
fase crônica.
58
Existem duas teorias que explicam o modo como se desenvolve o quadro patogênico
da infecção. Uma considera as lesões observadas como consequência direta da persistência do
parasito, que causa ruptura mecânica das células, com inflamação subsequente. A outra
explica estas lesões como resultadas da modificação da resposta auto-imune pela infecção,
onde os agentes do sistema imunológico (linfócitos) desenvolvem algum modo de rejeição
por células não-parasitadas, provocando suas lises e consequente inflamação no órgão.
58
Apesar de muitos pesquisadores concordarem que a persistência do parasito no ser
humano possa levar a ruptura das células colonizadas na fase aguda da infecção, evidências de
análises microscópicas também mostraram a ruptura de células não parasitadas promovidas
por linfócitos, colocando em dúvida qual seria a característica principal da infecção nesta fase.
Além disso, foi observado que 80% dos pacientes que morreram da doença de Chagas não
possuíam colônias da forma amastigota do parasito em seções histopatológicas do coração e,
também, havia falta de proximidade física entre as lesões inflamatórias e as colônias das
formas amastigotas, em corações chagásicos infestados por esta forma do parasito. Por essas e
outras observações conflitantes, concluiu-se que a austeridade das lesões cardíacas e a
evolução da doença não podem ser associadas à persistência do parasito no organismo,
cabendo para a modificação da resposta auto-imune a maior importância nestes processos
patogênicos.
58
A justificativa para tal modificação, cuja importância é observada em resultados
experimentais, baseia-se na hipótese de que a infecção induza a mutação das células do
hospedeiro por transferência horizontal do ADN do cinetoplasto do T. cruzi, o que foi
detectado no genoma de hospedeiros mamíferos. Também foi observado que a mutação é
capaz de alterar a carga do material genético das células reprodutivas, mostrando que a
infecção pode ser transmitida hereditariamente.
58
O parasito infecta muitas espécies de mamíferos e a espécie humana é um hospedeiro
incidental. Esta parasitose é transmitida principalmente em áreas onde a infra-estrutura
habitacional permite a presença do vetor no ambiente doméstico e peridoméstico.
53
Dessa
31
forma, a causa primária dessa infestação decorre de problemas de natureza sócio-econômica.
Dada sua natureza zoonótica, urbana e silvestre, sua completa erradicação não é possível,
visto que sempre haverá o risco da infecção humana. A fase aguda é imperceptível na maioria
dos casos, impedindo a prevenção secundária. E a infecção congênita não é passível de
prevenção. Diante destas circunstâncias, cabe, portanto, a redução das chances de contato
entre o vetor e a espécie humana, como alternativa para o controle da transmissão natural, e
aumentar os níveis de controle sanitário em bancos de sangue, para evitar a contaminação por
transfusão.
55
São observados grandes avanços no controle do vetor e na redução da contaminação
transfusional nos países do Cone Sul e Venezuela, a partir das medidas implantadas pela
iniciativa conjunta da Organização Pan Americana de Saúde e Organização Mundial de
Saúde, entre 1991 / 2001.
55, 59
Contudo, o número de infectados nestas regiões estava, no período de 1991-2001,
entre 18 e 20 milhões de pessoas, aproximadamente 40 milhões se encontravam em risco de
infecção ocorrem aproximadamente 200.000 novas infecções anualmente e o número de
óbitos consequentes é próximo de 20.000 por ano.
60
Também são observadas situações
críticas em alguns países da América Latina, Bolívia e México, onde os níveis de infecção
alcançam até 80% da população em algumas regiões.
61
Outro fator a ser considerado é o
êxodo rural, que levou milhões de pessoas infectadas para os grandes centros urbanos, na
busca por educação e emprego, aumentando os riscos de transmissão da infecção por
transfusão e o seu espalhamento para outros grupos sócio-econômicos.
58
Apesar da gravidade desta infecção em termos de saúde pública, dada sua abrangência
e o grau de morbidez que pode alcançar, dispõe-se de poucos agentes terapêuticos e
profiláticos para o combate desta enfermidade, que, mesmo assim, apresentam moderada
aplicabilidade.
61, 62
Benznidazol (52) e nifurtimox (53) têm sido os únicos agentes terapêuticos
empregados no tratamento da fase aguda da doença de Chagas; ambos apresentam efeitos
colaterais severos que, por vezes, inviabilizam o tratamento.
62
Para a fase crônica não
medicamento eficaz em uso corrente.
58
O cristal violeta é recomendado pela OMS como
agente profilático em bancos de sangue, contudo, são reportados, como efeitos indesejáveis do
emprego desta substância, a microaglutinação sanguínea, a mutagenicidade potencial e a
coloração residual que fica no sangue e nos tecidos dos pacientes.
61
Por se tratar de uma
doença que afeta, na maior parte dos casos, nichos populacionais de baixo poder aquisitivo,
não é atrativa para o desenvolvimento de pesquisas por parte das grandes companhias
farmacêuticas – devido aos elevados custos em investimentos e a baixa rentabilidade de
retorno, integrando o grupo das doenças negligenciadas.
58, 62
O
N
+
O
-
O
N
N
S
O O
C
H
3
N
N
N
H
O
N
+
O
-
O
52
benznidazol
53
nifurtimox
N
+
N N
C
H
3
C
H
3
C
H
3
C
H
3
C
H
3
C
H
3
Cl
-
54
cristal violeta
32
Em meio ao descaso das grandes companhias farmacêuticas é possível encontrar o
registro de avanços importantes, tanto no que diz respeito à compreensão dos processos
biológicos da infecção como na busca por agentes terapêuticos mais eficientes e seguros, para
os quais já foram identificados alguns ciclos bioquímicos de interesse como alvos, por
exemplo, os que envolvem proteinases, as biossínteses do ergosterol e de poli-isoprenóides, o
metabolismo redox dependente de grupos tióis, e a glicólise, entre outros.
60,61,63
No que se refere à busca de novos agentes terapêuticos contra esta parasitose, são
observados resultados promissores para alguns dos derivados de lapachonas, em que houve
modificação das carbonilas quinônicas, pela incorporação de um núcleo heterocíclico à
estrutura – um anel imidazólico. Estes derivados serão abordados a seguir.
1.4.1 Derivados imidazólicos de lapachonas: Substâncias promissoras para
quimioterapia e profilaxia da doença de Chagas.
Derivados semi-sintéticos de lapachonas têm sido preparados e avaliados contra
enfermidades e / ou patógenos endêmicos.
37
Parte dos derivados obtidos nestas abordagens
compreende substâncias onde houve alteração na porção estrutural característica destes
compostos, com incorporação, ou não, de anel heterocíclico à estrutura, como apresentado
anteriormente (seção 1.3.1). As sínteses de derivados imidazólicos da β-lapachona estão entre
estas modificações,
37
que foram feitas pela condensação de aldeídos aromáticos com a orto-
quinona em meio amoniacal, conforme estabelecido para ntese destes sistemas a partir de
compostos α-dicarbonilados.
64
Estes compostos têm sido investigados contra o T. cruzi e
tiveram como motivação inicial a avaliação do seu potencial quimioprofilático em bancos de
sangue, visto que a contaminação por transfusão é a segunda via mais importante de infecção,
além de somar esforços à busca de agentes terapêuticos mais eficientes contra esta doença
parasitária. Foram preparados 30 derivados imidazólicos da β-lapachona, com padrões
estruturais apresentados na Figura 4.
37,44,45,46,65
Estes compostos foram testados
preliminarmente contra a forma tripomastigota do parasito em presença de sangue (5%),
comparados com a quinona originária e com o cristal violeta. Os resultados destes ensaios
preliminares estão apresentados na Tabela 1.
37,65
33
O
N
H
N
C
H
3
C
H
3
R
1
R
2
R
3
R
4
R
5
O
N
H
N
N
H
C
H
3
C
H
3
O
N
H
N
C
H
3
C
H
3
N
A
B
C
O
N
H
N
C
H
3
C
H
3
N
D
1. R
1
=R
2
=R
3
=R
4
=R
5
=
H
2, 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23, 26. R
1
=X R
2
=R
3
=R
4
=R
5
=
H
3, 6, 9, 12, 15, 18, 21, 24. R
2
=X R
1
=R
3
=R
4
=R
5
=H
4, 7, 10, 13, 16, 19, 22, 25. R
3
=X R
1
=R
2
=R
4
=R
5
=
H
2-4.
X=CH
3
; 5-7.
X=CN
; 8-10.
X=CF
3
; 11-13.
X=OCH
3
;
14-16.
X=F
; 17-19.
X=Cl
; 20-22.
X=Br
; 23-25.
X=NO
2
;
26.
X=OH
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
O
E
Figura 4. Derivados imidazólicos da β-lapachona.
34
Tabela 1. Efeito de imidazóis derivados da β-lapachona contra a forma tripomastigota do
T.cruzi.
Composto CE
50
/24 h (µM) AR
CV 536,0 ± 3,0 1,00
β-lapachona 391,5 ± 16,5 1,37
A1 37,0 ± 0,7 14,49
A2 90,8 ± 5,8 5,90
A3 37,5 ± 12,8 14,29
A4 15,5 ± 2,9 34,58
A5 > 8000 -
A6 518,5 ± 78,9 1,03
A7 1095,9 ± 92,9 0,49
A8 448, 0 ± 55,7 1,20
A9 128,7 ± 29,4 4,16
A10 227,5 ± 58,0 2,36
A11 6444,6 ± 483,7 0,1
A12 3057,8 ± 836,7 0,2
A13 259,3 ± 40,4 2,1
A14 243,3 ± 24,6 2,20
A15 372,0 ± 38,7 1,44
A16 98,0 ± 4,8 5,47
A17 39,4 ± 8,1 13,60
A18 1064 ± 61,6 0,50
A19 2286,3 ± 21,1 0,23
A20 2004,0 ± 22,9 0,27
A21 147,8 ± 12,5 3,63
A22 84,9 ± 3,2 6,31
A23 1858,1 ± 366,7 0,3
A24 579,3 ± 52,5 0,9
A25 303,6 ± 12,2 1,8
A26 4455,5 ± 465,8 0,1
B 15,4 ± 0,2 34,81
C 1850,5 0,3
D 154,9 ± 10,4 3,46
E 190,5 ± 30,3 2,81
CE
50
– concentração efetiva para matar 50% da quantidade da população de parasitas estudada.
CV – cristal violeta.
AR – atividade relativa (CE
50
CV/CE
50
composto).
Das estruturas apresentadas na Figura 4 (pág. 37), 60% dos compostos foram mais
ativos que a droga de referência. Para as estruturas aril-monossubstituídas do tipo A, não se
pôde estabelecer uma relação de estrutura atividade consistente,
65
embora seja possível
observar maior atividade quando os substituintes estão na posição para do anel aromático,
exceto quando os substituintes foram CN, CF
3
e Cl. Entre estes derivados, obtidos a partir de
aldeídos benzóicos, os compostos A1, A3, A4 e A17 (Figura 4, pág. 37) apresentaram
atividades mais expressivas, acima de treze vezes maior que a do cristal violeta.
35
Os imidazóis formados a partir de aldeídos heteroaromáticos (estruturas B, D e E da
Figura 4, pág. 37) também foram mais ativos que o cristal violeta, sendo a estrutura B a que
forneceu o resultado mais promissor, acima de trinta vezes mais ativo. Para estes derivados há
distância de três ligações entre os nitrogênios provenientes dos aldeídos heterocíclicos e a
posição 2 do anel imidazólico formado,
65
diferençando o fato de que, nas estruturas dos
compostos D e E, o par de elétrons não ligante destes nitrgênios não participa da conjugação
do sistema, enquanto que na estrutura do composto B o par de elétrons equivalente está
comprometido com a conjugação do sistema aromático.
Dentre os compostos sintetizados, os três mais ativos (estruturas A1, A4 e B da Figura
4, g 37) foram submetidos a outras avaliações de atividades biológicas, tendo sido testados
contra todas as formas do parasito e quanto à sua toxicidade frente às células de mamíferos.
Também foram observadas alterações morfológicas nas formas epimastigota e tripomastigota
do parasito, com a identificação das organelas afetadas em análises ultra-estruturais e de
alguns possíveis processos bioquímicos envolvidos. As estruturas A1, B e A4, foram
denominadas como N1 (55), N2 (56) e N3 (57), respectivamente, por seus autores.
66,67
O
N
H
N
C
H
3
C
H
3
O
N
H
N
C
H
3
C
H
3
C
H
3
O
N
H
N
C
H
3
C
H
3
N
H
55
N1 56
N2
57
N3
Nestas avaliações subseqüentes, em que foram determinadas as atividades dos
compostos contra as formas tripomastigota na ausência e na presença de 100% de sangue
epimastigota e amastigota em meio de cultura e intracelular –, foi observada a redução da
atividade dos compostos contra a forma tripomastigota quando na presença de sangue e,
muito embora não tenham sido determinadas precisamente as causas desta alteração, ela tem
sido explicada como resultado da ação das enzimas sanguíneas DT-diaforases, capazes de
converter os imidazóis em compostos não tóxicos; ou ainda pela interação dos heterociclos
com proteínas do soro sanguíneo, o que reduziria a quantidade das substâncias livres no meio.
Estas vias de redução da atividade de compostos, frente à forma sanguínea do parasito, foram
descritas para as naftoquinonas, entretanto outros mecanismos não podem ser descartados,
sendo necessárias investigações para o esclarecimento deste processo. Alguns resultados
destas avaliações estão apresentados na Tabela 2.
66,67
Tabela 2. Valores de CE
50
/ 24 h expressos em µM para o efeito de N1, N2 e N3 contra as
diferentes formas do T. cruzi.
Tripomastigotas Amastigotas Compostos
0% de
sangue
100% de
sangue
Epimastigotas
Extracelular
Intracelular
N1 35,8 ± 1,2 62,1 ± 3,0 82,8 ± 7,4 13,4 ± 1,1 9,0 ± 2,9
N2 12,3 ± 1,2 61,6 ± 3,6 36,0 ± 1,9 12,4 ± 1,9 6,5 ± 1,0
N3 28,2 ± 0,9 68,3 ± 7,3 30,7 ± 3,6 9,7 ± 0,2 7,2 ± 0,2
36
As avaliações da toxicidade destes imidazóis sobre células de mamíferos foram feitas
por microscopia ótica, para as quais foram observados danos às estruturas celulares quando as
concentrações destes compostos foram superiores a 100 µM.
66,67
Através de análises de microscopia eletrônica de varredura (MEV), foi observado um
mesmo padrão nas alterações morfológicas causadas ao parasito pela ação destes compostos,
com retração dos corpos do parasito na forma epimastigota, passando de alongada para
arredondada; e torção dos corpos na forma tripomastigota (Figura 5). Foram identificadas
como organelas alvo, para a forma epimastigota, a mitocôndria, os reservossomos, o núcleo e
o complexo de Golgi; e, para a forma tripomastigota, a mitocôndria, os acidocalcissomos, o
cinetoplasto – com fragmentação do kADN – e o núcleo, onde o ADN também sofreu
fragmentação.
66,67
Figura 5. Análises por MEV das formas epimastigota (a-d) e tripomastigota (e-h) do parasito
tratadas por 24 h com N1, N2 e N3. a) controle; b) 40 µM de N1; c) 30 µM de N2; d) 30 µM
de N3; e) controle; f) 25 µM de N1; g) 10 µM de N2; e h) 10 µM de N3. Barras em a, c, d, e,
g, h = 1µm; barra em b = 0,5 µm; e barra em f = 2 µm.
Pelos resultados obtidos em análises ultra-estruturais, por avaliações da fluorescência
de citometria de fluxo e em estudos de alguns ciclos bioquímicos, é sugerida a interferência
dos naftoimidazóis no metabolismo energético do parasito, causando as alterações
morfológicas citadas e interferindo em etapas do seu ciclo de vida. Entre estas interferências
estão impedimento da diferenciação da forma epimastigota em tripomastigota, possivelmente
pelo efeito direto na síntese de ácidos nucleicos, e os danos causados ao material genético da
forma tripomastigota, tanto o nuclear quanto o do cinetoplasto.
66,67
Esta última interferência é
de grande importância ao se considerar que a transferência horizontal do kADN do parasito
para as células humanas é uma das explicações da evolução para o quadro crônico da
infecção;
58
e que estes compostos têm sítio(s) de atividade(s) sobre o kADN.
67
Uma vez que
fragmentos deste material genético são encontrados nas células parasitadas de hospedeiros,
58
a
observação destas atividades para os naftoimidazóis derivados da β-lapachona pode
configurar, também, o estabelecimento de um campo novo e promissor de pesquisas para o
tratamento desta fase da infecção também.
O caráter promissor destes compostos se faz presente nos meios de divulgação
científica para o público leigo.
68
37
A alta atividade observada para estes naftoimidazóis contra T.cruzi também é
percebida como consequência da modificação da quinona pela adição da porção imidazólica,
que está presente em várias substâncias com funções e atividades biológicas diversas,
inclusive tripanossomicida, como no caso benznidazol e outros imidazóis. Alguns aspectos
dos núcleos imidazólicos serão abordados a seguir.
1.5 – Características do núcleo imidazólico.
Núcleos imidazólicos compreendem heterociclos aromáticos de cinco membros com
dois átomos de nitrogênio nas posições 1 e 3 do anel, um deles semelhante ao nitrogênio
piridínico e o outro, ao nitrogênio pirrólico. O nitrogênio deste último tipo participa do
sexteto eletrônico do sistema aromático com seu par de elétrons não ligantes; e o nitrogênio
piridínico tem seu par de elétrons não ligantes em orbital ortogonal ao sistema de elétrons π
do anel, participando com apenas um elétron do sexteto aromático. Embora os elétrons não
ligantes do nitrogênio piridínico não participem do conjunto eletrônico aromático, este átomo
aumenta a estabilização do sistema. Esta influência é percebida ao se comparar sua energia de
ionização com a do pirrol, para as quais o maior valor é observado para o composto 1,3
diazólico, 8,78 eV e para o imidazol 8,23 eV. Imidazóis estão presentes na estruturas dos
compostos como anéis substituídos e também fundidos a outros sistemas cíclicos.
69,70
Quanto à reatividade, compostos imidazólicos são capazes de participar de reações
ácido / base, sendo considerados bases moderadamente fortes (pK
a
~7,0 para o imidazol),
capazes de formar sais com diferentes ácidos e, quando não substituídos na posição 1,
também reagem como ácidos fracos, sendo desprotonados por bases fortes. Em ambos os
casos as estruturas iônicas formadas apresentam distribuição simétrica de carga entre os
átomos de nitrogênio, como apresentado para o caso do imidazol no Esquema 17.
69,70
N
-
N
N N
-
N N
H
N
H
+
N
H
N
H
N
H
+
+ H
+
- H
+
+ H
+
- H
+
pK
a
~14 pK
a
~ 7
Esquema 17. Reações ácido / base do imidazol.
A distribuição das cargas geradas sobre os átomos de nitrogênio, em ambos os casos,
faz com que estes átomos tenham comportamento em comum, resultante da combinação das
características dos dois tipos de nitrogênios, piridínico e pirrólico, conferindo aos compostos
imidazólicos um caráter anfótero. Estas propriedades são alteradas com a presença de grupos
substituintes, onde grupos retiradores favorecem o caráter ácido e grupos doadores favorecem
o caráter básico.
69
Como consequência deste caráter anfótero, imidazóis não substituídos nos nitrogênios
sofrem tautomerização pelo prototropismo entre estes átomos, processo que se estabelece
rapidamente em solução, não sendo possível a separação das espécies formadas neste
38
equilíbrio quando os substituintes das posições 4 e 5 do anel imidazólico são diferentes
(Esquema 18). Em alguns casos, os grupos substituintes nestas posições podem direcionar
este equilíbrio para um dos lados.
69
N
3
2
4
N
H
1
5
R
2
R
3
R
1
N
H
1
2
5
N
3
4
R
2
R
3
R
1
Esquema 18. Prototropismo de núcleos imidazólicos.
Imidazóis reagem com espécies eletrofílicas para formar produtos de substituição.
Haletos de alquila, cloretos de ácidos, cloretos de sulfonila e cloro-silanos dão produtos de N-
substituição. Os haletos de alquila reagem com imidazóis sem a necessidade de meio básico
devido ao caráter nucleofílico do nitrogênio piridínico, capaz de atacar o carbono eletrofílico
do derivado halogenado. O intermediário quaternário formado é desprotonado, fornecendo o
derivado alquilado, e este pode sofrer outra alquilação, formando um haleto de dialquil-
imidazólio. Melhores rendimentos para a formação de derivados N-substituídos são obtidos
pelo emprego de condições básicas, com a formação inicial do ânion imidazolídio que reage
posteriormente com o centro eletrofílico. Devido à distribuição da carga entre os átomos de
nitrogênio das espécies aniônicas e a tautomeria das espécies neutras, imidazóis assimétricos
reagem formando mistura de produtos, sendo a composição desta mistura controlada por
fatores estéricos e eletrônicos.
69
Compostos imidazólicos também sofrem reações de substituição eletrofílica nos
átomos de carbono. A halogenação e o acoplamento de sais de diazônio ocorrem em meio
básico e são favorecidas pela alta reatividade do ânion imidazólico que se forma neste meio
reacional. Nitração e sulfonação ocorrem com velocidades de conversão relativamente baixas,
estas reações são realizadas em meio ácido, para a formação das espécies eletrofílicas e,
consequentemente, diminuição da reatividade do anel imidazólico pela formação do cátion
imidazólio, sendo, às vezes, necessárias condições reacionais mais enérgicas (temperaturas
elevadas) para efetuar a susbstituição.
69
Reações com espécies nucleofílicas necessitam de condições drásticas. O ataque
destas espécies ocorre na posição 2 do anel, como na formação de uma imidazol-2(3H)-ona
pela reação de 1-metil-3,4-difenilimidazol com hidróxido de potássio, que se dá a 300°C.
69
A litiação de imidazóis 1-substituídos ocorre na reação destes compostos com n-butil-
lítio, formando os 2-lítio-imidazóis correspondentes, sujeitos a agirem sobre espécies
eletrofílicas. Imidazóis 1,2-dissubstituídos são convertidos a 5-lítio-imidazóis. Outros
imidazóis metalados são preparados a partir dos derivados halogenados correspondentes por
reação de troca metal-halogênio.
69
Imidazóis também podem agir como agentes complexantes. O nitrogênio piridínico,
com seu par de elétrons não ligantes, age como espécie doadora. A ação complexante de
imidazóis pode ser observada na hemoglobina, que apresenta a coordenação entre o átomo de
ferro central da estrutura porfirínica, e um anel imidazólico, resíduo do aminoácido histidina
que compõe a estrutura proteica.
69
39
Devido às possibilidades reacionais, os núcleos imidazólicos formam uma importante
classe de heterociclos e estão presentes em muitas substâncias de interesses
químicos / tecnológicos e biológicos.
No que se refere à importância para os sistemas biológicos, imidazóis são partes das
estruturas de um grande número de biomoléculas, estando presentes nas bases purínicas do
(adenina e guanina) ADN; na estrutura da histidina e compostos relacionados (proteínas,
enzimas e derivados metabólicos);
69
e em alcalóides imidazólicos
71
. Devido ao papel
desempenhado nos organismos por moléculas contendo o anel imidazólico, a inserção deste
núcleo em várias estruturas tem se constituído em estratégia para a descoberta de
medicamentos. Compostos contendo o anel imidazólico são responsáveis por um amplo
espectro de atividades terapêuticas em muitas áreas da clínica médica, tais como:
antibacterial, antifúngica, antiprotozoário, anti-infectiva, antiretroviral, antitumoral,
antiinflamatória, anti-hipertensiva, agonista / antagonista de receptores (como os de
histamina) e de enzimas (como as farnesil transferases envolvidas na ativação de proteínas
do tipo RAS pela transferência do grupo farnesil que, quando ativadas, participam de
processos que controlam a proliferação celular).
72
Também são encontrados núcleos
imidazólicos na composição de poliamidas desenvolvidas como modelos moleculares capazes
de reconhecer e se ligarem a sequências específicas de pares de bases do ADN, para os quais
é prevista a possibilidade de que possam atuar na regulação da expressão gênica.
73
Quanto ao uso de substâncias contendo o núcleo imidazólico em áreas de aplicações
de interesses químicos / tecnológicos, é observado seu emprego em tratamentos anti-
corrosivos, como base estrutural para líquidos iônicos (investigados como sistemas
eletrolíticos para dispositivos de armazenagem de energia e como meio reacional),
74
na
estrutura de compostos investigados como corantes sensibilizadores para dispositivos para
absorção de energia solar,
75
corantes fluorescentes,
76,77
substratos para fotoiniciadores de
polimerização
78
e como agentes complexantes capazes conservar o spin nuclear das espécies
queladas (como parte das pesquisas por materiais organo-metálicos que possam integrar
dispositivos eletrônicos, cujo funcionamento baseia-se no momento magnético de spin),
79
entre outras aplicações.
80
1.5.1 – Síntese de imidazóis.
Por esta variedade de aplicações compostos contendo o núcleo imidazólico são muito
investigados, tendo sido estabelecido um conjunto amplo de metodologias para a síntese deste
sistema.
1.5.1.1 – Imidazóis substituídos.
A formação de imidazóis substituídos é possível empregando reações em que se
formam as ligações entre os átomos do anel por diferentes tipos de conexões, como
apresentado na Figura 6.
70,81
40
N
C
C
N
C
R R
R
R
C
R
N
C
C C
R
R R
N N
R
C C
R R
N
R
N
C
C
N
R
R
R
C
R
N
C
R
C
N
C
RR
R
N
C
C
N
C
R R
R
R
N
C
N
R
R
C C
R R
N
C
C
R
R
N
C
R
R
Tipo 1
Tipo 2
Tipo 3
Tipo 4
Tipo 5
Tipo 6
Tipo 7
Figura 6. Alguns tipos de conexões entre os átomos para a formação do anel imidazólico.
A conexão do Tipo 1 é observada na ciclização de bases de Schiff α-acil aminadas,
pela reação destes compostos com cloreto de fosforila, POCl
3
, formando imidazóis
substituídos na posição 1 (Esquema 19)
70
.
C
H
C
N
H
C
R
N
R
O
R R
POCl
3
N
C
C
N
C
R R
R
R
Esquema 19. Formação do anel imidazólico por conexão do Tipo 1.
A conexão do Tipo 2 ocorre na reação entre N-[(tolil-imino)(fenil)metil]-
carbotioamidas de aminas secundárias com éster dimetílico do ácido 2-butinodióico levando à
41
formação de imidazóis com um padrão de funcionalização ímpar, cujo mecanismo proposto
envolve a passagem por intermediários zwiteriônicos heterocíclicos não aromáticos, de sete
membros, sofrendo em seguida contração para o anel aromático imidazólico, com eliminação
de um tioaldeído (Esquema 20).
82
N
H
C
C
N
S
C
H
3
N
C
C
OO
O O
C
H
3
C
H
3
+
N
C N
C S C
C
H
3
C
O
O C
H
3
O
O
C
H
3
H
N
N
H
C
C
N
S
C
H
3
R
C
C
OO
O O
C
H
3
C
H
3
+
N
C
C
N
C
O
O
C
H
3
R
C
H
3
CH
2
Cl
2
/ agitação
temperatura
ambiente
R = NMe
2
, , , .
N
O
N
N
65 - 71%
N
C
C
N
S
C
-
C
H
N
+
C
H
3
O
O
C
H
3
O
O
C
H
3
N
C
C
N
S
+
C
-
C
N
C
H
3
O
O
C
H
3
O
O
C
H
3
H
N
C
C
N
+
S
C
H
C
-
N
C
H
3
O
O
C
H
3
O
O
C
H
3
C
N
N
C
C
S
O
O
C
H
3
O
O
C
H
3
N
C
H
3
N
C
C
N
C
O
O
C
H
3
N
C
H
3
S
H O
O
C
H
3
-
Esquema 20. Reação e mecanismo para a formação de imidazol por conexão do Tipo 2.
42
Outro exemplo para a formação do anel imidazólico por este tipo de conexão é o que
ocorre na reação de transferência de metileno para 1,3-diaza-1,3-dienos, empregando o
reagente de Simmons-Smith (Esquema 21).
83
N
C
C
N
Ar
R
Ph
X(Me)n
X= S, n=1
X= N, n=2
N
C
C
N
Ar
R
Ph
X(Me)n
CH
2
Zn
CH
2
I
I
C
N
N
C
C
Ar
Ph
R
X(Me)n
H
H
N
C
C
N
CH
Ar
Ph
R
CH
2
I
2
, Zn(Cu)
Et
2
O / THF
Esquema 21. Formação de imidazóis por trasnsferência de metileno para 1,3-diaza-1,3-
dienos.
A conexão do Tipo 3 é encontrada na formação de ácidos-4-carboxilicos de imdazóis
pela reação de 3-N,N (dimetilamino)isocianoacrilatos, ligados a um suporte polimérico, com
aminas primárias e ativação por microondas. O ácido formado é removido da resina com
ácido triflúor acético (Esquema 22).
84
R O
C
O
CH
N
+
C
-
N
CH
3
CH
3
+
NH
2
R
R O
O
C
N
CH
CH
N
R
CF
3
COOH
µ
µµ
µ-ondas
220°C
OH
O
C
N
CH
CH
N
R
Esquema 22. Formação de ácidos 4-carboxílicos de imidazóis por conexão do Tipo 3.
Bromo-isocianoacrilatos reagem de forma semelhante com aminas, em meio básico,
para formar imidazóis substituídos, também por conexão do Tipo 3 (Esquema 23).
85
O
C
O
C
N
+
C
-
R
Br
CH
3
+
NH
2
R
Et
3
N , DMF
25°C
O
O
CH
3
C
N
C
CH
N
R
R
Esquema 23. Síntese de imidazóis, com conexão do Tipo 3, a partir de bromo-
isoianaacrilatos e aminas.
O aquecimento de cetonas α-acilaminadas com acetato de amônio também leva a
formação do anel imidazólico por conexão do Tipo 3 (Esquema 24).
70
C
C
NH
CH
R
R
O
O
R
O
-
CH
3
O
NH
4
+
AcOH,
N
C
C
NH
C
R
RR
Esquema 24. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 3 a partir de cetonas α-
acilaminadas e acetato de amônio.
43
A formação do anel imdazólico por conexão do Tipo 4 é caracterizada pela
participação de compostos carbonílicos α-substituídos, por hidroxila ou halogênios, com
derivados de amidína (Esquema 25).
69,81
C CH
X
R
O
R
+
NH
C
NH
R
R
N
C
C
N
C
R
RR
R
Esquema 25. Formação de imidazol por conexão do Tipo 4 a partir de compostos
carbonílicos α-substituídos e derivados de amidina.
N-cloro-N’-arilamidinas reagem com equivalentes sintéticos de compostos
carbonílicos, enol-silil éteres e morfolil-enaminas, formando regiosseletivamente imidazóis
substituídos também por conexão do Tipo 4 (Esquema 26).
C C
X
R
2
R
1
R
3
NH
C
NH
R
4
R
5
N
C
C
N
C
R
4
R
3
R
2
R
5
+
R
1
=
Me
3
SiO,
.
O N
Esquema 26. Formação do anel imidazólico por conexão do Tipo 4 a partir de equivalentes
sintéticos de composto carbonílicos e N-cloro-N’-arilamidinas.
A conexão do Tipo 4 ainda é observada para a formação de imidazóis substituídos em
um processo de várias etapas, que se inicia pela reação de compostos α-diazo carbonílicos
com uréias primárias, etapa na qual ocorre a reação de inserção de N-H ao carbono diazotado,
com extrusão de nitrogênio, catalisada por complexo de ródio, octanoato de ródio II
(Rh
2
Oct
4
). O aduto formado na primeira etapa é ciclisado à imidazolona correspondente, com
ácido triflúor acético, e esta é convertida, com POBr
3,
ao derivado imidazólico bromado na
posição 2 do heterociclo que sofre reação de Suzuki para formar o imidazol arilado nesta
mesma posição (Esquema 27).
86
44
C C
RR
O N
+
N
-
+
C
N
H
2
N
H
O
R
Rh
2
Oct
4
(2 mol %)
tolueno / 1,2-dicloroetano 1:1
80°C, 30 min.
C C
H
RR
O N
H
C
O
N
H
R
+
N
2
F
3
CCOOH
N
H
C
C
N
C
O
R
R R
N
C
C
N
C
Br
R
R R
POBr
3
benzeno,
refluxo, 6h.
ArB(OH)
2
,
Pd(dppf)
2
.CH
2
Cl
2
,
Cs
2
CO
3
tolueno,
reluxo, 2h.
N
C
C
N
C
Ar
R
R R
Esquema 27. Formação do anel imdazólico por conexão do Tipo 4 a partir de compostos α-
diazocabonílícos e uréias primárias.
O Tipo 5 de conexão é o que se dá na reação de van Leusen para a síntese de
imidazóís, em que é explorada a reatividade de tosil-metil-isocianetos (TosMIC) com
aldiminas em meio básico. Cloro aldiminas reagem com tosil-metil-isocianetos para formar
imidazóís tosilados Por este método é possível preparar imidazóis 1,5 e 1,4,5-substituídos
(Esquema 28).
87, 88
CH
R
1
N
+
C
-
Tos
CH
N
R
2
R
3
+
N
CH
C
N
C
R
1
R
2
R
3
base
CH
2
N
+
C
-
Tos
C
N
R
1
R
1
Cl
+
N
CH
C
N
C
Tos R
2
R
1
base
Esquema 28. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 5 a partir de TosMIC e aldiminas.
De forma comparável, benzotriazol-1-il-metil-isocianetos (BetMIC) reagem com
aldiminas em meio básico para formar imidazóis 1,5 e 1,4,5 substituídos por este mesmo tipo
de conexão (Esquema 29).
89
CH
R
1
N
+
C
-
N
N
N
CH
N
R
2
R
3
+
N
CH
C
N
C
R
1
R
2
R
3
base
Esquema 29. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 5 a partir BetMIC e aldiminas.
Pela reação entre isocianetos de metila, substituídos por grupos retiradores de elétrons
(GRE), e isocianetos de compostos arílicos catalisada por cobre, formam-se imidazóis 1,4-
45
dissubstituidos, produtos de cicloadição, resultantes do acoplamento cruzado entre estas
espécies (Esquema 30);
90,91
processo que se dá pelo Tipo 5 de conexão.
CH
2
GRE
N
+
C
-
C
-
N
+
Ar
+
N
CH
C
N
CH
GRE
Ar
Cu
2
O
1,10-fenantrolina
THF, 80°C
Esquema 30. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 5, pelo acoplamento cruzado de
isocianetos.
A formação de imidazóis por ciclização do Tipo 6 é a que se dá na reação de
cicloadição entre duas moléculas de α-ciano-benzilidenenos-alquilaminas, em meio básico,
cuja proposta mecanística passa pela eliminação dos grupos ciano. Além disso, é observada
regiosseletividade neste método, de forma que os anéis aromáticos dos grupos benzilidenos
originários ocupem as posições 4 e 5 do heterociclo. Sob condição básica há desprotonação da
α-ciano-benzilideneno-alquilamina e a espécie aniônica formada reage com a molécula
neutra, resultando no anel imidazólico (Esquem 31).
92
N
C
C
NC
Ar
R
H
H
Base
N
C
C
-
NC
Ar
R
H
N
C
C
NC
Ar
R
H
H
N
-
C
C
N
C
H R
NC
Ar Ar
CN
CH
2
R
- CN
-
N
C
C
N
C
H R
Ar
CN
CH
2
R
Ar
Base
N
C
-
C
N
C
Ar
CN
CH
2
R
Ar
R
- CN
-
N
C
C
N
C
CH
2
R
Ar
R
Ar
Esquema 31. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 6, pela cicloadição de α-ciano-
benzilidenenos-alquilaminas.
E, por fim, tem-se as reações multicomponentes que ilustram o Tipo 7 de conexão
para a formação de imidazóis substituídos. Este tipo de conexão está diretamente ligado ao
início do estudo da síntese de imidazóis, uma vez que a primeira preparação de imidazol se
valeu deste modo conectivo para alcançar a estrutura do heterociclo, pela reação de glioxal,
um composto α-dicarbonílico, com formaldeído sob condição amoniacal, formando o
composto inicialmente denominado glioxalina (Esquema 32).
64
46
+
N
H
3
2
+
C
H
2
O
C
H
N
C
H
C
H
2
N
C
H
C
H
O
O
N
CH
C
H
N
H
C
H
Esquema 32. Reação geral para a primeira síntese do imidazol a partir de glioxal.
A síntese de imidazóis empregando compostos α-dicarbonílicos tem importância no
que diz respeito à assunção das cores que permeiam boa parte da nossa realidade, cuja
tecnologia é baseada nas propriedades fotoquímicas de hexaarilbisimidazóis (HABIs),
93
obtidos a partir de 2,4,5-triaril-imidazóis, que, por sua veze, são preparados pela reação de
diaril-α-dicetonas com aldeídos aromáticos e meio amoniacal. A reação de compostos α-
dicarbonílicos com aldeídos em meio amoniacal e em presença de aminas primárias leva à
formação de imidazóis 1,2,4,5-substituídos (Esquema 33).
64
O
C
O
C
Ar Ar
+
C
Ar
O
H
N
H
3
/
H
+
N
C
C
N
H
C
Ar
Ar
Ar
O
C
O
C
R R
+
C
R
O
H
N
H
3
/
H
+
N
C
C
N
C
R
R
R
R
+
N
H
2
R
Esquema 33. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 7 a partir de compostos α-
dicarbonílicos, aldeídos, amônia e aminas primárias.
Benzoínas ou seus acetatos também reagem com aldeídos em meio amoniacal e em
presença de aminas para formar imidazóis substituídos por este mesmo tipo de conexão
(Esquema 34).
O
C
OH
CH
Ar Ar
+
C
R
O
H
NH
3
/
H
+
N
C
C
N
C
Ar
R
Ar
R
+
NH
2
R
O
C
O
CH
Ar Ar
Ac
+
C
R
O
H
NH
3
/
H
+
N
C
C
N
C
Ar
R
Ar
R
+
NH
2
R
Esquema 34. Formação de imidazóis por conexão do Tipo 7 a partir de benzoínas, aldeídos,
amônia e aminas.
47
1.5.1.2 – Imidazóis fundidos a outros sistemas cíclicos.
Imidazóis fundidos a outros sistemas cíclicos podem ser divididos em duas categorias,
para as quais são mostrados alguns métodos de preparação. Em uma delas não átomo de
nitrogênio na posição de junção dos ciclos e na outra há.
1.5.1.2.1 – Imidazoís fundidos sem átomo de nitrogênio na junção dos ciclos.
Imidazóis fundidos a outros sistemas cíclicos, sem átomo de nitrogênio na posição de
junção dos ciclos, têm suas sínteses relacionadas, principalmente, aos métodos de preparação
de benzimidazóis. Benzimidazóis são obtidos, convencionalmente, pela reação de o-
fenilenodiaminas com ácidos carboxílicos em meios que conduzem à desidratação, nos quais
podem ser empregados diferentes reagentes, em condições que variam de drásticas a suaves
(Esquema 35).
94
NH
2
NH
2
R
+
OH
R
O
N
N
H
RR
a
a
= ácido polifosofórico, HCl,
H
3
BO
3
, p-TSOH, ácidos de
Lewis, argilas ou ácidos
minerais
Esquema 35. Formação de benzimidazóis a partir de o-fenilenodiaminas e ácidos
carboxílicos.
Além dos ácidos carboxílicos, seus derivados, cloretos de ácidos, nitrilas, imidatos,
ortoésteres, anidridos e lactonas, também reagem com o-fenilenodiaminas, formando
benzimidazóis.
94
Benzimidazóis também são formados pela reação de aldeídos com o-fenilenodiaminas,
sendo necessário o emprego de oxidantes para a obtenção do núcleo heterocíclico aromático
(Esquema 36).
94
NH
2
NH
2
R
+
RH
O
[O]
R
N
H
N
H
R
H
R
N
N
R
H
R
N
H
N
R
[O]
= nitrobenzeno, benzoquinona, Na
2
S
2
O
5
,
HgO, Pb(OAC)
4
, I
2
, Cu(OAc)
2
, perfluorocatano
sulfonatos de índio, perfluorocatano sulfonatos
de itérbio, MnO
2
, NiO
2
ou Ba(MnO
4
)
2
.
Esquema 36. Formação de benzimidazóis a partir de o-fenileno diaminas e aldeídos.
48
O-nitro-anilidas também são empregadas como susbstratos para a síntese de
benzimidazóis, em processo de duas etapas. Na primeira etapa ocorre a redução do grupo
nitro a amina, para a qual existe uma diversidade de reagentes que podem ser empregados
(Zn, Fe, SnCl
2
, H
2
ou Ni de Raney, por exemplo). A segunda etapa deste processo é onde
ocorre a ciclização, com formação do heterociclo (Esquema 37).
94
NO
2
NH
R
R
O
[H]
NH
2
NH
R
R
O
R
N
H
N
R
Esquema 37. Formação de benzimidazóis a partir o-nitro-anilidas.
Alternativamente, a fragmentação de alguns sistemas heterocíclicos aril substituídos
também pode levar à formação de benzimidazóis. Esta fragmentação pode ser rmica ou
fotoquímica, em ambos os casos formação de nitrenos de imidoílas como espécies
intermediárias, a partir das quais formam-se os anéis imidazólicos fundidos como no caso da
termólise do 1,5-difenil-tetrazol ou nas fotólises de oxadiazolinonas e oxatiodiazolinonas
(Esquema 38).
70
N
N
N
N
N
O
N
O
N
O
S
N
O
-
N
2
h
ν
ν
ν
ν
-
S
O
2
h
ν
νν
ν
- CO
2
N
N
N
H
N
Esquema 38. Formação de benzimidazóis pela fragmentação de outros heterociclos.
Estas, entre outras metodologias, exemplificam os modos sintéticos aplicados à síntese
convencional de imidazóis fundidos a outros sistemas cíclicos, onde não átomo de
nitrogênio em posição de junção destes anéis, notadamente os benzimidazóis. A seguir, serão
apresentados algumas metodologias para a síntese da outra categoria de imidazóis fundidos a
outros sistemas cíclicos, em que há presença de átomo de nitrogênio em posição de junção
dos anéis.
49
1.5.1.2.2 – Imidazóis fundidos com átomo de nitrogênio na junção dos ciclos.
A maior parte das sínteses deste tipo imidazol fundido baseia-se na ciclização de
heterociclos nitrogenados apropriadamente substituídos, em posição adjacente à do nitrogênio
do ciclo, pelo grupo amino, como observado na reação da 2-amino-piridina com uma α-
halocetona (Esquema 39). Por este processo formam-se imidazo[1.2-a]piridinas.
70
N
N
H
2
+
O
Br
N
N
Esquema 39. Formação de imidazol fundido a partir de 2-amino-piridina e 2-bromo-1,2-
difenil-etanona.
Imidazo[1.5-a]piridinas são obtidas em rendimentos variáveis na reação entre 1,2-
dipiridin-2-il-etanodiona com aldeídos aromáticos em meio amoniacal. Além dos
heterocilclos fundidos, também são formados os imidazóis substituídos (Esquema 40).
95
N
N
O
O
+
O
R
AcONH
4
, AcOH
140 °C
N
N
N
O
R
+
N
N
N
H
N
R
(42-68%)
Esquema 40. Formação de imidazóis fundidos a partir de 1,2-dipiridin-2-il-etanodiona e
aldeídos aromáticos.
Também é possível formar este tipo de sistema por reação multicomponentes, na qual
se emprega seqüencialmente a metodologias de van Leusen, para a formação de uma espécie
intermediária inicial, um imidazol substituído nas posições vicinais 1,5 por grupos alifáticos
que contenham insaturação nas posições terminais das cadeias e, em seguida, a reação de
fechamento de anel por metátese, catalisada pelo reagente de Grubbs, à base de rutênio. Na
formação da espécie intermediária inicial é empregado além do reagente de van Leusen, o
isocianeto de aril-tosil-metila e um aldeído, uma olefína terminal, e uma amina olefínica,
também em posição terminal da sua cadeia (Esquema 41). Estes dois últimos formam in situ
a aldimina necessária a reação de van Leusen.
96
50
N
+
C
-
Tos
O
C
H
2
H
N
H
2
C
H
2
+
+
DMF / K
2
CO
3
1. p-TsOH, CH
2
Cl
2
2.
N
N Mes
Mes
Ru
Cl
Cl
PCy
3
Ph
, CH
2
Cl
2
N
N
Ph
C
H
2
C
H
2
N
N
Ph
Esquema 41. Modelo geral para formação de imidazóis fundidos em processos sequencias da
reação de van Leusen, com fechamento de anel por metátese.
As metodologias apresentadas até aqui compreendem uma pequena porção do
conjunto de métodos sintéticos que se aplicam ao preparo de núcleos imidazólicos e se valem
de modos convencionais de ativação dos sistemas reacionais, sendo possível encontrar na
literatura química um número valioso de compilações que contemplam este tema.
.........
Nos últimos anos, tem sido observada uma intensificação no desenvolvimento,
aprimoramento e emprego de metodologias mais adequadas às necessidades ambientais e,
consequentemente, econômicas. Algumas das características observadas nesta tendência
compreendem: a busca por meios reacionais mais versáteis e seguros para as necessidades
humanas e para o ambiente, com a redução dos rejeitos produzidos e o emprego de fontes não
convencionais de energia de ativação para diferentes processos, visando um aproveitamento
mais racional da energia empregada. No que se refere ao uso de fontes não convencionais de
energia de ativação, o emprego da radiação na região das microondas tem se estabelecido
como uma alternativa eficiente ao aquecimento efetuado classicamente por meio de banhos de
óleos, banhos de areia, mantas de aquecimento e congêneres. Processos anteriormente
executados empregando as formas convencionais de aquecimento, têm sido realizados sob
ação de microondas, com, por exemplo: redução do tempo de reação e aumento de
seletividade. O tópico seguinte se ocupará de algumas explicações a cerca do emprego deste
tipo de energia em síntese orgânica, com destaque para alguns métodos de síntese de
imidazóis, principalmente métodos que têm compostos dicarbonílicos como reagentes de
partida.
1.6 – Síntese orgânica assistida por microondas (µO).
Em concordância com a necessidade da obtenção de novos compostos para os mais
diversos fins e a necessidade do desenvolvimento de processos mais adequados às
necessidades do meio ambiente, o uso de microondas, como fonte não convencional de
energia de ativação, tem proporcionado avanços significativos em síntese orgânica
97
.
5
1
1.6.1 – Cenário histórico
O desenvolvimento da tecnologia de microondas, aplicada à transformação da matéria,
é mais um exemplo de um universo de avanços que são sempre impulsionados pela
necessidade da dominação do homem pelo homem. Surgiu como subproduto da melhoria dos
sistemas de radares e de comunicações militares na Ingleterra, que ocorreu poucos anos antes
do início e durante a Segunda Guerra Mundial. Nos anos que antecederam o início do
conflito, cientistas ingleses desenvolveram o magnetron, dispositivo eletrônico, um diodo, que
fornecia radiação eletromagnética em freequências mais elevadas que as até então empregadas
nos sistemas de vigilância e de comunicação militares. O magnetron fornecia radiação na
região das microondas e as primeiras transmissões nesta faixa foram realizadas em 1940.
98
Este dispositivo foi aprimorado no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT
EUA) como forma de proteger esta nova tecnologia de rastreamento das forças que, no
cenário político, mostravam sinais de insurgência contra “a moral e os bons costumes da
sociedade”. Também ocorreu o aprimoramento dos equipamentos militares, com ligação
direta à Companhia Raytheon, mais especificamente à figura de Percy L. Spencer que foi
quem conseguiu dar solução aos problemas que dificultavam a produção em massa do
dispositivo.
98
Cabe ressaltar que esse Spencer possuía vasto conhecimento em eletrônica que
fora obtido por meios não formais de educação.
Nesse período, o entusiasmo das pesquisas em que se buscava dar aplicação às
propriedades das ondas desta porção do espectro eletromagnético esteve basicamente voltado
às aplicações militares. Contudo, também foi observado o aquecimento de materiais, como
resultado da ação deste tipo de radiação, resultando nas primeiras patentes para tal aplicação,
a partir de 1945. Somente após o fim do conflito foram desenvolvidos equipamentos que
utilizavam a radiação de microondas para o aquecimento, que culminou com a
democratização do emprego de tais equipamentos para uso doméstico no preparo de
alimentos, bem como, a incorporação deste uso da radiação em processos industriais, que não
se restringem apenas ao setor alimentício.
98
No espectro eletromagnético, as microondas estão localizadas entre as regiões do
infravermelho e das ondas de rádio, com comprimentos de ondas que variam entre 1m e 1mm,
correspondentes à faixa de freequências entre 0,3 a 300GHz (Figura 7).
98
52
Figura 7. Regiões do espectro eletromagnético.
Os equipamentos destinados ao aquecimento de materiais empregando microondas
operam nas freequências destinadas ao uso Industrial, Científico e Médico (bandas ISM), que
são de: 27,12 MHz (λ=11,05 m), 915 MHz (λ=37,24 cm) e 2,45 GHz (λ=12,24 cm). A
freequência de 2,45 GHz é a empregada nos equipamentos domésticos. Esta especificidade,
quanto às freequências utilizadas, se deve ao fato de que boa parte da faixa das microondas é
utilizada em sistemas telecomunicações e radares, o que evita possíveis interferências. Além
disso, o emprego destas freequências também leva em consideração o fato de que os
elementos de produção e de transmissão de microondas devem ser da mesma ordem de
grandeza do comprimento da onda, justificando que, para o emprego doméstico, a freequência
de 2,45 GHz (λ=12,24 cm) seja a utilizada, considerando-se as dimensões das cavidades dos
aparelhos e dos alimentos que são preparados.
98
O emprego do aquecimento por microondas nas atividades dos laboratórios de química
acompanha a democratização desta tecnologia para as atividades domésticas, sendo relatado
que a partir dos anos 70 do último século, que foi quando se iniciou esta democratização, são
encontrados trabalhos sobre tal aplicação; e estes trabalhos iniciais, na maioria das vezes,
devotados a química analítica e inorgânica, em atividades como, por exemplo: digestão de
amostras para análise elementar; na extração de diversas substâncias; ou desorção térmica de
compostos.
99
O uso em química orgânica data dos meados dos anos 80 e tem os trabalhos de
Gedye e Giguere como marcos iniciais das primeiras avaliações positivas para este fim.
100
A
demora para o uso em síntese orgânica se deu por causa da ausência de controle e de
reprodutibilidade que acompanharam as primeiras investigações, além disso, não se tinha uma
compreensão adequada do aquecimento promovido pelas microondas.
101
À medida que essas
dificuldades têm sido superadas, o número acumulado de publicações, a partir destes
trabalhos, até o ano de 2003, apresentou um padrão exponencial de crescimento (Gráfico
1),
102
ratificando o título de “bico de Bunsen do século XXI” que tem sido atribuído a essa
forma não convencional de fornecer a energia para que ocorram as transformações
químicas.
103
53
Gráfico 1. Crescimento do número de publicações em sínteses orgânicas e inorgânicas
assistidas por microondas no período de 1986 até 2003.
Da superação das dificuldades citadas surgiram os aprimoramentos para o emprego de
microondas em síntese orgânica; foram desenvolvidas técnicas para reações em solução e sem
solventes, sem ou com o emprego de suportes ou reagentes suportados,
104
aplicados tanto ao
padrão tridimensional adquirido pela radiação eletromagnética na cavidade dos aparelhos que
geram esta radiação em um padrão de multi-modos, como é o caso dos fornos domésticos que
até hoje são empregados em estudos preliminares, bem como aos equipamentos
desenvolvidos com finalidade específica, nos quais a radiação incide na cavidade de um modo
unidirecional e é possível ter um controle mais preciso de variáveis como: pressão,
temperatura e potência da radiação incidente e que, além disso, podem ter sistema de agitação
magnética acoplado (Figura 8).
105
Para os aparelhos multi-modos, também são observáveis
adaptações em que se busca melhorar o controle de algumas destas variáveis, como: a
adaptação de condensadores e/ou outras modificações para se realizar diferentes tipos de
reações (Figura 9)
102
e a modificação do sistema eletrônico destes equipamentos, para o
melhor controle da potência
106
.
Figura 8. Comparação entre os padrões de incidência de microondas em equipamentos multi
e mono modais.
54
Figura 9. Adaptação de forno de microondas para reações fotoquímicas.
Como consequência direta dos benefícios alcançados (ambientais e econômicos) com
o maior domínio do emprego de microondas em síntese orgânica redução do tempo de
reação, aumento de seletividade, redução do emprego de solventes, entre outras esta
tecnologia tem se tornado ferramenta cada vez mais presente e importante nos setores de
pesquisa e desenvolvimento em química, já sendo expressivo o seu uso setor farmacêutico,
tanto no desenvolvimento de novas moléculas candidatas ao uso terapêutico, como na
melhoria dos processos estabelecidos com o aquecimento que é convencionalmente
praticado.
104
Outros avanços incluem desenvolvimento de reatores para processos em maior
escala
107
e a adaptação para sistemas em fluxo
108
.
Tamanha aplicabilidade de microondas em síntese é consequência direta do modo
particular com que essa radiação eletromagnética gera calor nos meios reacionais, para o qual
serão apresentadas algumas explicações a seguir.
1.6.2 – Aquecimento por microondas: O aquecimento dielétrico.
Como mencionado, o diferencial que faz tão interessante o emprego de microondas no
aquecimento dos materiais, inclusive na ativação de reações químicas, reside no modo
particular pelo qual se a transferência de energia. No aquecimento convencional, no que se
refere à maioria dos sistemas reacionais normalmente empregados em síntese orgânica, a
energia, sob forma de calor, é transferida para o meio reacional através das paredes dos
equipamentos usados como reatores, sendo posteriormente dissipada, de maneira lenta, para o
resto do sistema por mecanismos de condução e por correntes de convecção. Por esse modo
de transferência, a superfície torna-se uma área superaquecida que, além de fornecer energia
para as reações, pode levar produtos, reagentes e substratos a transformações indesejadas ao
longo do tempo (decomposição, polimerizações, rearranjos, etc.). Por outro lado, no
aquecimento por microondas a energia é transferida através das paredes dos reatores (sem que
estas sejam, em princípio, significativamente aquecidas), provocando o aquecimento direto
das espécies (reagentes, solventes, etc.). Na Figura 10 é possível ter alguma noção do modo
diferenciado como ocorre a transferência de energia nos diferentes modos de
aquecimento.
98,109,110,111
55
Figura 10. Comparação entre os padrões de transferência de energia para o etanol em
aquecimentos promovidos por microondas e em banho de óleo.
A elevação da temperatura é consequência da habilidade das espécies em converter a
radiação eletromagnética em calor, permitindo que, por essa especificidade, os reatores
possam ser desenvolvidos para serem transparentes às microondas, permitindo que o
aquecimento ocorra de modo mais uniforme e que seja minimizada a ocorrência de reações
secundárias indesejáveis, pelo contato das paredes superaquecidas com o meio reacional. No
aquecimento por microondas a elevação da temperatura ocorre mais rapidamente do que no
modo convencional e são alcançadas temperaturas elevadas em um curto espaço de tempo,
resultando na aceleração das reações. Além disso, como a exposição às temperaturas elevadas
se por um período de tempo mais reduzido, reduz-se também a possibilidade das espécies
sofrerem transformações indesejadas, uma vez que foi demonstrado que, na maioria dos
casos e respeitando as suas reatividades, as espécies são capazes de resistir estavelmente em
tais condições, o que justifica o fato de ser observado, em boa parte das reações, o aumento da
seletividade, quando comparadas às condições de aquecimento
convencional.
98,99,101,102,104,109,111
Microondas compreendem radiações eletromagnéticas não ionizantes, cuja transição
energética é associada às rotações moleculares. Este tipo de transição energética é o resultado
da reorientação do sentido dos dipolos existentes nas espécies com o sentido do componente
elétrico da radiação (Figura 11), em consequência das suas características dielétricas. A
reorientação dos dipolos é denominada polarização dipolar.
98,99,101,102,104,109,111,112
Figura 11. Modelo de estruturas dipolares tentando orientar seus dipolos com o campo
elétrico das microondas.
56
A constante dielétrica (ε
S
) é uma dessas características e mede as tendências do
comportamento dipolar das moléculas em um campo elétrico estático; quanto maior for este
valor, mais permanente, ou intenso, é o momento dipolo na estrutura e maior sua
suscetibilidade ao efeito das microondas.
98,99,101,102,104,109,111,112
Um material dielétrico apresenta um dipolo permanente, ou induzido, e quando
submetido à ação de um campo elétrico estático, ao reorientar-se (por distorção das nuvens
eletrônicas ou movimento rotacional das espécies) no sentido do campo externo, permite que
a energia eletrostática surgida seja armazenada, sem que haja condução (movimento
translacional das espécies), Figura 12.
98,99,101,102,104,109,111,112
Figura 12. Modelo para orientação dos dipolos das moléculas de um material dielétrico na
ausência e sob influência de um campo elétrico estático.
O aquecimento gerado pala ação das microondas resulta do atraso na reorientação dos
dipolos moleculares que interagem com o componente elétrico da radiação, em consequência
do estado condensado da matéria; no qual, a proximidade entre as espécies e as forças
intermoleculares que atuam sobre elas impedem que essa reorientação ocorra na mesma taxa
em que o campo elétrico se alterna a faixa de frequência das microondas. O aquecimento é
governado pela relação entre os componentes dielétricos característicos das espécies no estado
condensado [a permissividade dielétrica (ε) e o fator de perda dielétrica (ε”)] e a freequência
da radiação incidente. εdescreve a habilidade da molécula ser polarizada pelo campo elétrico
e εmede a eficiência com que a energia da radiação eletromagnética pode ser convertida em
calor. A relação que se estabelece entre estes termos, a razão entr ε e ε’, corrresponde à
tangente do chamado ângulo de perda (tanδ), Equação 1. O valor dessa razão expressa a
capacidade, ou habilidade, da espécie em converter a radiação de microondas em calor a uma
dada freequência e temperatura.
98,99,101,102,104,109,111,112
tanδ = ε”/ε (1)
A influência da frequência da radiação incidente sobre os valores dos componentes
dielétricos pode ser vista no Gráfico 2, construído para água a partir dos valores destes
componentes em diferentes frequências.
112
57
Gráfico 2. Variações das intensidades da permissividade dielétrica e do fator de perda com a
frequência da radiação, medida para água a 20° C.
Na Tabela 3 são apresentados valores de constantes dielétricas (ε
s
) e das tangentes de
perda (tanδ) para alguns solventes normalmente empregados em síntese orgânica.
101
Tabela 3. Valores das constantes dielétricas e das tangentes de perda de alguns solventes.
Solvente Constante dielétrica (ε
s
)
a
Tangente de perda (tanδ)
b
Hexano 1,9 -
Benzeno 2,3 -
Tetracloreto de carbono
2,2 -
Clorofórmio 4,8 -
Ácido acético 6,1 0,091
Acetato de etila 6,2 0,174
Tetraidrofurano 7,6 0,059
Diclorometano 9,1 0,047
Acetona 20,6 0,042
Etanol 24,6 0,054
Metanol 32,7 0,941
Acetonitrila 36,0 0,659
Dimetil formamida 36,7 0,062
Dimetil sulfóxido 47,0 0,161
Ácido fórmico 58,0 0,722
Água 80,4 0,123
a- ε
s =
ε’, em campo elétrico estático e a temperatura ambiente.
b- Valores determinados a 2,45 GHz e temperatura ambiente.
58
Explicações em maior nível de complexidade, contemplando um número maior de
parâmetros físicos, no que se refere às variáveis que possam interferir neste tipo de interação
entre radiação eletromagnética e a matéria, podem ser encontradas em revisões e livros
dedicados ao assunto utilizados na elaboração deste tópico.
A seguir serão apresentadas algumas das aplicações de microondas em síntese
orgânica, em particular à síntese de imidazóis a partir de compostos dicarbonílicos.
1.6.3 – Aplicações em síntese orgânica
Como mencionado, é crescente o emprego de microondas em ntese orgânica, sendo
possível encontrar metodologias consolidadas para uma gama variada de reações,
contemplando desde as operações comuns às reações de maior especificidade. Dentre as
operações comuns, estão reações de desidratação, condensação, substituições nucleofílicas
alifáticas, substituições nucleofílicas em núcleos aromáticos, esterificações,
transesterificações, oxidação de alcoóis a compostos carbonílicos, alquilações, acilações, entre
outras. Nas operações de maior especificidade são encontrados métodos para reações de
cicloadição, acoplamentos e outras reações catalisadas por metais, métodos de proteção e
desproteção de grupos funcionais e muitos outros. Em ambos os tipos de operações são
diversificados os sistemas reacionais empregados, que variam entre as técnicas desenvolvidas
para o emprego de microondas, mencionadas anteriormente reações em solução e métodos
sem solventes em fase sólida.
109
Entre as reações de cicloadição, figuram os métodos para formação de compostos
heterocíclicos, dentre os quais aqueles destinados à formação de núcleos imidazólicos. A
formação de imidazóis empregando microondas será abordada considerando compostos
dicarbonílicos como reagentes de partida.
1.6.3.1 – Síntese de imidazóis a partir de compostos dicarbonílicos
As sínteses de imidazóis a partir de compostos dicarbonílicos compreendem reações
de multicomponentes, que têm como demais reagentes um aldeído (totalizando os três átomos
de carbono do heterociclo) e aminas primárias e/ou amônia (como fontes dos átomos de
nitrogênio da estrutura). Por estas metodologias foram obtidos imidazóis mono-, di-, tri- e
tetra-substituídos; quando aminas também são empregadas como fonte de nitrogênio, são
obtidos imidazóis substituídos na posição 1 do anel. Nestes trabalhos respeita-se o observado
para este tipo de reação quando se faz uso do aquecimento convencional, de que melhores
rendimentos são obtidos em sistemas reacionais de características ácidas; resultados
expressivos foram obtidos para sistemas em solução, sem o emprego de suporte ou reagentes
suportados e, em fase sólida, com o emprego de suporte e/ou reagentes suportados.
113,114,115,116
Para as reações em solução, além do solvente, é geralmente empregado ácido acético
para garantir acidez necessária à melhor eficiência da reação e em alguns casos o próprio
ácido foi o solvente de adoção; acetato de amônio como fonte de átomos de nitrogênio
(amônia) para heterociclos sem substituintes na posição 1; e, para obtenção dos anéis
59
tetrassubstituídos, além acetato de amônio, também são empregadas aminas primárias. Por
estes processos pôde-se obter imidazóis nestes padrões de substituições com rendimentos que
alcançaram até 99%, com redução da escala de tempo de horas para minutos, Tabela 4.
113,114
60
Tabela 4. Imidazóis preparados usando microondas em sistemas em solução.
O O
R
1
R
2
O H
R
3
+
NH
4
OAc (NH
3
)
N
H
2
R
4
µ
µµ
µO, 5-15 min., 160-180°C
solvente, AcOH
N N
R
1
R
2
R
3
R
4
# R
1
/R
2
R
3
R
4
%
a
# R
1
/R
2
R
3
R
4
%
a
# R
1
/R
2
R
3
R
4
%
a
1
Ph Ph Bn 90
c*
21
1-Me-Ph Ph H
94
c
41
H i-Prop Ph <10
*
2
Ph Ph Ph 30
b*
22
4-Me-Ph Ph H
94
c
42
H i-Prop i-Prop
<10
*
3
Ph Ph i-Prop 69
b*
23
Me Ph Bn 76
*
43
H i-Prop H 45
c*
4
Ph Ph H
74
*
/98
c
24
Me Ph Ph 47
*
44
H H Bn 29
*
5
Ph i-Prop Bn 90
*
25
Me Ph i-Prop
61
b*
45
H H Ph 32
*
6
Ph i-Prop Ph 50
*
26
Me Ph H 83
*
46
H H i-Prop
<10
*
7
Ph i-Prop i-Prop 65
*
27
Me i-Prop
Bn 66
*
47
H H H 60
*
8
Ph i-Prop H 85
*
28
Me i-Prop
Ph 85
*
48
Me / Ph Ph Bn 90
*
d=6,5
9
Ph H Bn 90
*
29
Me i-Prop
i-Prop
35
*
49
Me / Ph Ph Ph 73
*
d=4,2
10
Ph H Ph 47
b*
30
Me i-Prop
H 83
*
50
Me / Ph Ph i-Prop
55
*
d=6,5
11
Ph H i-Prop 53
*
31
Me H Bn 12
*
51
Me / Ph Ph H 86
*
12
Ph H H 80
*
32
Me H Ph 67
c*
52
Me / Ph i-Prop Bn 84
*
d=10
13
Ph 4-F-Ph H
97
c
33
Me H i-Prop
15
*
53
Me / Ph i-Prop Ph 36
*
d=4,0
14
Ph 4-CN-Ph H
88
c
34
Me H H <10
*
54
Me / Ph i-Prop i-Prop
60
*
d=2,1
15
Ph 4-MeO-Ph
H
87
c
35
1-Prop / Me Ph H 93
c†
55
Me / Ph i-Prop H 90
*
16
Ph 3-THFil H
93
c
36
H Ph Bn 20
*
56
Me / Ph H Bn 30
*
d=4,5
17
Ph 4-Py-3-In H
90
c
37
H Ph Ph <10
*
57
Me / Ph H Ph 65
*
d=1,8
18
3-Furil Ph H
89
c
38
H Ph i-Prop
<10
*
58
Me / Ph H i-Prop
67
*
d=3,8
19
4-(MeO
2
C)-Ph Ph H
95
c
39
H Ph H <10
*
59
Me / Ph H H 81
20
4-MeO-Ph Ph H
99
c
40
H i-Prop
Bn <10
*
a=rendimentos determinados por
1
H RMN; b=rendimentos determinados por LC-MS/UV, quando os dados de
1
H RMN não foram suficientes; c=rendimentos de produtos isolados; d= razão entre os dois isômeros
(R
1(Me)
:R
1(Ph)
); * – tempo de reação de 15 min, CHCl
3
como solvente e 160°C; † – tempo de reação de 5 min, AcOH como solvente e 180 .
61
Nas reações em fase sólida também foi constatada a necessidade de um sistema
reacional com característica ácida, aminas e acetato de amônio foram as fontes dos
nitrogênios estruturais nestes métodos também, de acordo com o padrão de substituição
desejado. Os melhores rendimentos para a conversão dos reagentes no anel heterocíclico
ocorreram quando suportes de natureza fortemente ácida foram usados, quando os suportes
apresentavam uma natureza não tão ácida, a adição complementar de ácido se fez necessária
para elevar os rendimentos. Alguns destes resultados estão na Tabela 5.
115,116
Tabela 5. Imidazóis preparados usando microondas e suportes sólidos, em reações sem
solventes.
O O
R
1
R
2
O H
R
3
NH
4
OAc (NH
3
)
N
H
2
R
4
N N
R
1
R
2
R
3
R
4
+
µ
µµ
µ
O, 6-20 min, 130-850W
suporte
Rendimentos por suporte
# R
1
/R
2
R
3
R
4
Zeolita HY Sílica gel
Alumina
ácida
1
Ph Ph H 81 68 78
2
Ph 4-Me-Ph H 87 65 -
3
Ph 4-MeO-Ph H 92 68 -
4
Ph 4-NO
2
-Ph H 94 89 -
5
Ph 4-Cl-Ph H 85 65 67
6
Ph 2-HO-Ph H 80 62 -
7
Ph 2,6-Cl
2
Ph H 91 88 -
8
Ph 4-Me
2
N-Ph H 80 54 -
9
Ph 2-Tiofenil H - - 82
10
4-Me-Ph 2-Tiofenil H - - 71
11
Ph Ph 2-Ph-Etil - - 80
12
Ph 2-Tiofenil 2-Ph-Etil - - 78
13
4-Me-Ph Ph 2-Ph-Etil - - 68
14
Ph 4-Et-Ph 3-Cl-Bn - - 72
......
Nas ginas que se seguiram foram apresentados, de forma generalizada, informações
sobre as aplicações e algumas das possibilidades de modificações do sistema quinonóidico
das lapachonas encontradas em espécies de Tabebuia, com algum destaque para os compostos
estruturalmente relaccionados à β-lapachona; e, entre estes, os derivados imidazólicos desta
quinona mostram-se como compostos muito promissores, dada a possibilidade do emprego
destas espécies como agentes quimioterápicos no tratamento da Doença de Chagas, que
integra um conjunto significativo de doenças para as quais não são observados esforços
intensos por parte do setor farmacêutico, uma vez que o poder aquisitivo da maioria do
público, a quem se destinariam tais esforços, é baixo, significando um retorno financeiro
demorado ou inexistente; fato que coloca as necessidades de saúde destas pessoas em
condição de desprezo perante as necessidades das pessoas que dispõe de algum recursos
financeiro. Além da aplicação terapêutica, a versatilidade reacional do núcleo imidazólico
amplifica ainda mais o interesse por esta nova classe de substâncias.
62
Soma-se a estas observações a possibilidade do emprego de fontes não convencionais
de energia para a formação destes núcleos, que combinam um aproveitamento mais eficiente
da energia, o aumento da seletividade nos processos e redução da escala de tempo das
transformações.
63
2 – Objetivos
64
Diante das possibilidades sintéticas apresentadas e das características reacionais das
carbonilas quinonoídicas das lapachonas, pretendeu-se neste trabalho:
1 Investigar o uso de microondas/reagente suportado na síntese de compostos
naftoimidazólicos, derivados da β-lapachona (46) e de alguns compostos relacionados nor-
β-lapachona (58) e o ácido-β-lapachona-3-sulfônico (59) e investigar a influência da
natureza ácido / base do suporte sólido empregado na síntese destes compostos, pelo uso de
montmorilonita k-10 (natureza ácida) e alumina básica (natureza básica)
O
O
O
C
H
3
C
H
3
(46)
β
-lapachona
(58)
nor-
β
-lapachona
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
O
C
H
3
C
H
3
SO
3
H
(59)
ác.-
β
-lapachona-3-sulfônico
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
SO
3
H
NH
N
O
CH
3
CH
3
O
O
+
O
H H
n
AcONH
4
, suporte
µ
µµ
µ
-ondas
(60)
(61)
(62)
65
2 - Sintetizar novos naftoimidazóis derivados da β-lapachona empregando microondas e
reagentes suportados.
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
Cl
Cl
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
Cl
Cl
O
NH
N
CH
3
CH
3
OH
O
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
S
(63)
(64)
(65)
(66)
(
67
)
(68)
(69)
3 Considerando o efeito tautomérico do derivado imidazólico de β-lapachona, sintetizar os
dois possíveis produtos na reação de metilação para futuras investigações.
O
N
N
CH
3
CH
3
CH
3
O
N
N
CH
3
CH
3
CH
3
(70) (71)
66
4 Investigar a reatividade do imidazol da β-lapachona (60) na reação de nitração
empregando diferentes sistemas reacionais, homogêneo e heterogêneo, utilizando reagente
suportado – claycop.
O
NH
N
CH
3
CH
3
NO
2
+
?
(60)
5 Investigar a dimerização do imidazol da β-lapachona (60). Esta investigação baseia-se na
formação da lofina, dímero do 2,4,5-trifenil-imidazol
117
.
O
NH
N
CH
3
CH
3
K
3
[Fe(CN)
6
] / OH
-
(60)
O
N
N
CH
3
CH
3
2
6 – Investigar a possibilidade de inserção do núcleo imidazólico no lapachol.
O
OH
O
CH
3
CH
3
+
O
H H
n
AcONH
4
, suporte
µ
µµ
µ-ondas
?
(37) lapachol
7 Realizar avaliações biológicas com alguns dos compostos sintetizados contra
Trypanosoma cruzi.
67
3 – Materiais e métodos
68
A fonte de microondas empregada foi um aparelho de uso doméstico, Panasonic Piccolo,
modelo: NN-S42BH, freequência 2,45GHz e potência máxima 800W.
Os solventes utilizados, com procedência de vários fornecedores, foram previamente
destilados quando necessário.
Para a remoção do solvente foi utilizado um evaporador rotatório IKA-WERK modelo
RV0593.
Na cromatrografia em camada fina analítica (CCF) utilizaram-se placas de alumínio com
gel sílica Kieselgel 60 F254, Merck, com 0,2 mm de espessura e indicador de fluorescência,
reveladas com lâmpadas ultravioleta nos comprimentos de onda 254 nm e 366 nm. Na
cromatografia em coluna utilizou-se como adsorvente gel sílica 60, com partículas de 35-70
mesh(Vetec). As análises por cromatografia em camada fina preparativa foram realizadas em
placas de vidro com 2 mm de espessura, preparadas com sílica Vetec para cromatografia
preparativa em camada fina, com indicador de fluorescência.
Espectros de massa foram obtidos nos aparelhos Varian Saturn 2000 or Agilent
6890N/5973, e Micromass ZQ.
Espectros de Ressonância Magnética Nuclear de
1
H, e
13
C, correlações homonuclear
(HOMOCOSY) e heteronuclear (HSQC,
1
J, e HMBC,
2,3
J) e NOESY foram obtidos em
espectrômetros Bruker AC200 (UFRRJ), Bruker Advance400 e Bruker Advance500
(FIOCRUZ-RJ), como referência interna foi usado tetrametilsilano (TMS), com os
deslocamentos químicos dados em ppm(δ) e as constantes de acoplamento (J) dadas em hertz
(Hz); as multiplicidades dos sinais foram assinaldas como simpleto (s), simpleto largo (sl),
dupleto (d), duplo-dupleto (dd), tripleto (t) e multipleto (m); e os solventes utilizados foram
MeOD-d
4,
CDCl
3
, Acetona-d
6
, DMSO-d
6
.
Pontos de fusão, não corrigidos, foram obtidos e aparelho Büchi 510.
Espectros de ultravioleta foram obtidos em espectrofotômetro Shimadzu 1240 e foram
empregados solventes de grau espectroscópico.
Espectros na região do infravermelho foram obtidos em espectrômetro Perkin-Elmer
1605 ou Nicolet STIR-740. As amostras foram analisadas sob a forma de pastilhas de KBr.
A nomenclatura dos compostos foi atribuída utilizando o software ACD Name do pacote
ACD Labs.
69
4 – Experimental
70
4.1 – Calibração do forno de microondas
O forno de microondas foi calibrado de acordo com método estabelecido
118
, para a
verificação da reprodutibilidade do aquecimento e para a determinação dos valores reais das
potências programáveis do aparelho. Para a verificação de reprodutibilidade do aquecimento,
com os dados obtidos, foi construído o Gráfico 3, de temperatura em função do tempo;e os
valores reais das potências programáveis do aparelho foram determinados como: P1=81,4 W
(potência usada); P2=162,8 W; P3=221,0 W; P6=290,7 W; P8=372,0 W; e P10=535,0 W.
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Temperatura (°C)
tempo (s)
Ensaios de reprodutibilidade do aquecimento com forno de microondas
Exp 1
Exp 2
Exp 3
Gráfico 3. Ensaios de reprodutibilidade do aquecimento do forno de microondas.
71
4.2 – Preparo dos reagentes suportados
Para a síntese dos imidazóis foram empregados reagentes suportados que diferiam,
principalmente, entre si quanto à natureza ácido/base do sólido usado como suporte. Como
suporte de natureza ácida foi usado a montmrilonita k-10 (Acros) e como suporte básico foi
utilizada a alumina básica (Riedel-de Haën). A reação de nitração em sistema heterogêneo foi
feita empregando Claycop,
119
nitrato cúprico (Cu(NO
3
)
2
) impregnado em montmorilonita k-
10. Para os preparos destes reagentes foram obedecidas às relações entre os comopnentes
descritas nos procedimentos que seguem abaixo. Os reagentes preparados foram armazenados
em dessecador.
4.2.1 – Reagentes para a síntese de imidazóis base de montmorilonita k-10
4.2.1.1 – A base de montmorilonita k-10
O reagente suportado com montmorilonita foi preparado pela adição de 9,3g da argila
a uma solução de 4,4g de acetato de amônio em 100 mL de metanol, anteriormente preparada,
em balão de fundo redondo contendo barra de agitação magnética. A mistura resultante foi
mantida sob agitação magnética vigorosa por 2 horas; após este tempo de agitação, o solvente
foi removido em evaporador rotatório, obtendo-se ao fim o reagente suportado, que foi
pulverizado, transferido para um recipiente adequado e armazenado em dessecador.
4.2.1.1 – A base de alumina básica
O reagente suportado com alumina básica foi preparado homogeneizando 9,3g de
alumina e 4,4g acetato de amônio em almofariz com pistilo. O material obtido ao fim deste
processo foi transferido para um recipiente adequado e armazenado em dessecador.
4.2.2 – Reagente a nitração em sistema heterogêneo
Em um balão apropriado dissolveu-se 10 g de Cu(NO
3
)
2
.3H
2
O em 135 mL de acetona
e à solução adicionou-se 15 g de montmorilonita k-10, mantendo este sistema sob agitação
vigorosa por cinco minutos. Em seguida evaporou-se o solvente no evaporador rotatório a
uma temperatura inferior a 50 C. Formou-se um material de cor azulada, que ficou aderido no
balão, sendo removido, pulverizado e guardado em um recipiente fechado dentro de um
dessecador.
72
4.3 – Síntese dos imidazóis
As sínteses dos imidazóis foram realizadas com uso de microondas, como fonte de
energia de ativação, e reagentes suportados.
115
4.3.1 – Síntese de imidazóis não substituídos na posição 2 do núcleo imidazólico
O
O
O
C
H
3
C
H
3
(46)
β
-lapachona
(58)
nor
-
β
-lapachona
O
O
O
CH
3
CH
3
O
O
O
C
H
3
C
H
3
SO
3
H
(59)
ác.-
β
-lapachona-3-sulfônico
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
SO
3
H
NH
N
O
CH
3
CH
3
O
O
+
O
H H
n
AcONH
4
, suporte
µ
µµ
µ-ondas
(60)
(61)
(62)
Nas sínteses destes naftoimidazóis foi empregada a seguinte proporção entre os
reagentes: 0,5 mmol de quinona, 2,5 g de reagente suportado (alumina básica ou
montmorilonita k-10/acetato de amônio) e 3 mmol de paraformaldeído.
Nas investigações com os diferentes reagentes suportados o paraformaldeído foi
misturado ao suporte antes da adição da quinona, em excesso estequiométrico devido a
problemas de solubilidade. As reações foram realizadas como descrito a seguir: em um bécher
contendo o reagente suportado e o paraformaldeído, previamente homogeneizados, adicionou-
se a quinona, solubilizada em quantidade mínima de CH
2
Cl
2
(cerca de 2mL); o solvente
permitiu-se evaporar a temperatura ambiente; o bécher foi coberto com vidro de relógio para
evitar qualquer projeção de material. O sistema reacional foi submetido à irradiação de
microondas, ajustada na potência 1 do aparelho (84 W), por períodos de 10-15 min. Parte da
mistura reacional obtida foi dissolvida em CH
2
Cl
2
para avaliar sua composição e estabelecer
as condições da purificação cromatográficas.
Nas investigações empregando montmorilonita, os produtos brutos foram extraídos do
suporte lavando as mistura reacionais resultantes em funil de filtração simples. Estas
extrações foram acompanhadas por CCF. As soluções obtidas tiveram o solvente evaporado
em evaporador rotatório e os produtos brutos foram submetidos a separação cromatográfica.
Nas investigações empregando alumina básica, as misturas reacionais resultantes
foram transferidas para balões de 25 mL, com uso de solvente (acetato de etila), nos quais
foram preparadas as pastilhas cromatográficas, sendo o próprio suporte empregado (alumina)
usado como adsorvente.
73
Em ambas as investigações, as separações cromatográficas foram feitas em coluna
aberta, utilizando-se como fase estacionária sílica gel e, como fases móveis hexano /acetato de
etila (4:1) l, para as reações com β-lapachona e nor- β-lapachona, e metanol/ ácido
acético(19:1) para a reação com o ácido β-lapachona-3-sulfônico
Foram usadas as seguintes quantidades dos compostos quinoidais:
- Reagente de montmorilonita k-10: β-lapachona (121 mg, 0,5 mmol), nor-β-lapachona (50
mg, 0,22 mmol), ácido β-lapachona-3-sulfônico (51 mg, 0,16 mmol).
- Reagente de alumina básica: β-lapachona (484 mg, 2 mmol), nor-β-lapachona (70 mg, 0,29
mmol), ácido β-lapachona-3-sulfônico (70 mg, 22 mmol).
Os rendimentos obtidos nestas investigações e os valores dos pontos fusão (p.f.)
medidos estão dispostos na Tabela 6, que segue abaixo,
Tabela 6. Rendimentos para a síntese de naftoimdazóis não substituídos nas investigações
sobre a natureza ácido / base dos suportes.
Naftoimidazol (p.f.) / rendimento(%)
Suporte
60 (296-298°C) 61 (246-248°C) 62 (350°C, decomp.)
montmorilonita k10 70 19 46
alumina básica 81 85 81
Estes produtos foram caracterizados pelos seguintes métodos físicos de análise: RMN
1
H,
13
C,
1
Hx
1
H,
1
H x
13
C (
1
J),
1
H x
13
C,
(
2,3
J); EM e UV. Os dados espectrais serão
apresentados na seção destinada aos resultados e discussões.
4.3.2 – Síntese dos demais imidazóis substituídos.
As sínteses dos demais naftoimidazóis propostos também foram realizadas
empregando microondas e reagentes suportados. As proporções dos reagentes utlizados
diferem da descrição do item anterior apenas na quantidade dos aldeídos empregados. Nestas
reações os aldeídos foram empregados em quantidades próximas às equimolares em relação à
quinona, como apresentado a seguir: 0,5 mmol de quinona, 2,5 g de reagente suportado
(alumina básica ou montmorilonita k-10 / acetato de amônio) e cerca de 0,5 mmol de aldeído.
A quinona utilizada nestas reações foi a β-lapachona (46), 121 mg (0,5 mmol) em
todas as reações; o reagente suportado usado foi o preparado a partir da montmorilonita k-10;
o procedimento para estas sínteses segue o que foi descrito no pico anterior para a síntese
dos naftoimidazóis não substituídos, diferindo apenas no fato de que o aldeído foi
solubilizado junto com a quinona em cada reação, como apresentado a seguir: em um becher
74
contendo o reagente suportado, foram adicionados a quinona e o aldeído, solubilizados em
quantidade mínima de CH
2
Cl
2
(cerca de 2mL), o solvente permitiu-se evaporar à temperatura
ambiente. O becher foi coberto com vidro de relógio para evitar qualquer projeção de
material. O sistema reacional foi submetida à irradiação de microondas, ajustada na potência 1
do aparelho, por períodos de 10-15 min. Os produtos brutos foram submetidos às separações
cromatográficas, tendo como fase estacionária sílica gel e fase móvel composta por hexano /
acetato de etila, com gradiente crescente de polaridade, variando de 8:2 a acetato de etila
puro. Em alguns casos a composição inicial do eluente foi de 33:1, quando buscou-se
identificar outros componentes presentes nos produto brutos.
Os aldeídos empregados e os rendimentos obtidos para as sínteses destes imidazóis
estão apresentados na Tabela 7.
75
Tabela 7. Aldeídos empregados e rendimentos para a síntese de naftoimidazóis substituídos.
Aldeídos (pureza) Quantidade [mg (mmol)] Naftoimidazol, p.f (°C); rendimento (%)
OH
1-naftaldeído
(95%)
73 µL = 80 mg (0,51 mmol)
63, 210 °C; (81%)
O
H
2-naftaldeído
(98%)
80 mg (0,50 mmol) 64, 288-290°C; (45%)
H
O
trans-cinamaldeído
63 µL = 66 mg (0,50 mmol)
65, 172°C; (22%)
H
Cl
OCl
2,6-dicloro-benzaldeído
90,2 mg (0,52 mmol) 66, 159°C; (68%)
H
ClCl
O
2,4-dicloro-benzaldeído
90 mg (0,51 mmol) 67, 218°C; (31%)
S
O
H
2-tiofenfenocarboxaldeído
50 µL = 60 mg (0,53 mmol)
68, 183°C; (16%)
H
HO
O
O
vanilina
77 mg (0,51 mmol) 69, 196°C; (54%)
76
Os naftoimidazóis isolados foram analisados por EM e RMN
1
H,
13
C,
1
Hx
1
H,
1
H x
13
C
(
1
J),
1
H x
13
C,
(
2,3
J). Os dados dos espectrais serão apresentados na seção destinada aos
resultados e discussões.
Uma vez percebida a influência da natureza ácido / base do suporte sobre o
rendimento da reação, decidiu-se repetir a reação para a formação do composto (68), que
apresentou o pior rendimento entre os imidazóis isolados. Esta reação obedeceu às mesmas
condições e quantidades entre os reagentes que a anterior, diferindo apenas o fato de que o
suporte empregado foi a alumina básica. Por esta alteração houve aumento no rendimento da
reação que se elevou de 16 para 38%.
4.3.3 – Síntese de imidazóis não substituídos a partir de benzil e fenantrenoquinona.
Em adição às sínteses dos imidazóis derivados da β-lapachona e dos seus análogos
estruturais, foram sintetizados os imidazóis não substiuídos a partir dos compostos
dicarboínlicos benzil (72) e fenanternoquinona (73), a fim de se verificar se havia
generalização para metodologia, ou se o comportamento observado, quando se fez emprego
do suporte de natureza básica, foi específico para as orto-quinonas derivadas do lapachol.
O O
O
O
(72)
(73)
O
O
O
H H
n
+
NHN
AcONH
4
, Al
2
O
3
µ
µµ
µ
-ondas
NHN
NHN
(74)
(75)
Estes compostos foram preparados obedecendo a relação entre os reagentes
estabelecida para a formação do anel imidazólico a partir das lapachonas (0,5 mmol de
quinona, 2,5 g de reagente suportado alumina básica/acetato de amônio e 3 mmol de
paraformaldeído). Foram reagidos 50 mg (0,24 mmol) de benzil e 50 mg (0,24 mmol) de
fenantrenoquinona. Os produtos brutos obtidos foram submetidos a separação por
cromatografia e foram isoladas 7,3 mg do composto (74) reação com benzil e 26,8 mg do
composto (75) reação com fenatrenoquinona, correspondentes a rendimentos de 14% e
51%, respectivamente, para a conversão destes compostos 1,2-dicarbonilados nos imidazóis
correspondentes.
77
4.4 – Metilação do naftoimidazol 60
O
NH
N
CH
3
CH
3
(CH
3
)
2
SO
4
/ NaOH
O
N
N
CH
3
CH
3
CH
3
O
N
N
CH
3
CH
3
CH
3
(70)
(71)
(60)
+
Em um balão de 10 mL foram adicionados 27 mg de hidróxido de sódio, 0,7 mL de
água e uma solução alcóolica do naftoimidazol (60), 150 mg (0,60 mmol) em 0,05 mL de
metanol. A mistura inicial foi submetida à agitação magnética em banho de óleo. Adicionou-
se o sulfato de dimetila (0,06mL). À boca do balão, foi acoplado um condensador de tubo reto
e o sistema foi submetido a aquecimento até o refluxo, que foi mantido por 2 horas. Após o
tempo de refluxo o aquecimento foi desligado deixando o sistema resfriar até a temperatura
ambiente, mantendo a agitação.
A mistura reacional foi vertida em salmoura (NaCl) e em seguida extraída com
CH
2
Cl
2
. A fase orgânica foi seca com Na
2
SO
4
e o solvente evaporado no evaporador rotatório
a pressão reduzida. O produto bruto foi submetido à cromatografia em coluna com sílica gel
na fase estacionária e hexano / diclorometano (1:1) como fase móvel. Foram isolados 11 mg
de produto, correspondendo a 7% de rendimento para metilação do imidazol.
A reação foi repetida e o tempo refluxo foi aumentado para 6 horas, além disso, após o
tempo de refluxo estabelecido manteve-se agitação durante a noite. Ao fim da separação
cromatográfica, que procedeu como descrito anteriormente, foram obtidos 90 mg do produto,
57% de rendimento. O produto foi analisado por RMN
1
H e NOESY.
4.5–Nitração do naftoimidazol 60
O
NH
N
CH
3
CH
3
NO
2
+
?
(60)
4.5.1 Reação em condição homogênea
Em um balão de 5 mL, com barra de agitação magnética, foi adicionado 1,5 mL de
anidrido acético e 0,09 mL de HNO
3
concentrado
,
com resfriamento em banho de gelo, e
78
submetido à agitação durante 15 minutos. 50,4 mg (0,2 mmol) do naftoimidazol (60) foi
dissolvido em 0,5 mL de anidrido acético e adicionado ao balão, deixando-se reagir por 4
horas. Em seguida a mistura reacional foi transferida para um funil de decantação e extraída
com água e CH
2
Cl
2
. A fase orgânica foi lavada com solução saturada de bicarbonato de sódio,
e em seguida seca sobre Na
2
SO
4
, filtrada e evaporada. Foram obtidos 60,2 mg de produto
bruto, que foram submetidas à separação cromatográfica, por cromatografia preparativa em
camada fina, tendo por eluente misturas de hexano:acetato de etila em diferentes proporções e
por várias eluições. Os resultados obtidos nesta reação serão apresentados no capítulo de
resultados e discussões.
4.5.2 Reação em condição heterogênea
A relação empregada entre os reagentes usados foi de: Claycop - 0,50 g / mmol de
substrato; CCl
4
- 5,3 mL / mmol de substrato aromático; Ac
2
O - 1 mL / mmol de substrato
aromático. Esta relação foi estabelecida em trabalhos anteriores.
120
Em um balão de 10 mL, com barra de agitação magnética, foram adicionados 0,1 g de
Claycop, 1,5 mL de CCl
4
e 0,2 mL de Ac
2
O, deixando sob agitação magnética, a temperatura
ambiente e protegidos da umidade com proteção de CaCl
2
, por um período de indução de 15-
20 min, onde se observa a mudança da coloração de azul claro para outro tom de azul, de
maior intensidade da coloração. Após este período adicionou-se 51,6 mg (0,20 mmol) do
nafotimidazol (60) e manteve-se a agitação por um período de 20 h. Passado o tempo de
reação, a mistura reacional foi filtrada em pequena quantidade de sílica cromatográfica, tendo
diclorometano como solvente de arraste, para eliminar os sais de cobre presentes. O solvente
foi evaporado do filtrado em evaporador rotatório. Foram obtidos 64,3 mg de produto bruto,
que foram submetidos à separação cromatográfica, por cromatografia preparativa em camada
fina, tendo por fase estacionária gel de sílica e como fase móvel misturas de hexano e acetona
em várias proporções. Os resultados obtidos nesta reação serão apresentados no capítulo de
resultados e discussões.
4.6 – Dimerização do naftoimidazol 60
O
NH
N
CH
3
CH
3
K
3
[Fe(CN)
6
] / OH
-
(60)
O
NH
N
CH
3
CH
3
N
H
N
O
CH
3
CH
3
Em um balão de 250 mL, contendo barra de agitação magnética, preparou-se uma
suspensão de 252 mg (1 mmol) do naftoimidazol (60) em benzeno, com auxílio de ultra-som.
Em seguida adicionou-se 40 mL de solução de KOH a 12% e o sistema reacional foi posto
sob agitação. À boca do balão foi acoplado um funil de adição contendo 40 mL solução de
250 mg de K
3
[Fe(CN)
6
], que foi adicionada lentamente a mistura reacional. A mistura
79
reacional, emulsão benzeno / água, apresentava, antes da adição do K
3
[Fe(CN)
6
], cor bege
pálida. A medida que se adicionava o oxidante, a mistura foi mudando de cor, passando de
levemente violáceo a uma tonalidade intensa na cor de vinho tinto. Esta coloração, após o fim
da adição do oxidante perdeu intensidade, gradativamente, dando lugar a uma esverdeada de
tom parco. Manteve-se a agitação por 3 horas após a adição total do oxidante. Em seguida,
com funil de separação, foram separadas as fases aquosa e orgânica. A fase orgânica obtida
foi extraída com CH
2
Cl
2
(3 x 50 mL). A nova fase orgânica foi reunida a primeira e extraída
com água destilada (3 x 30 mL). A porção orgânica foi seca sobre sulfato de sódio, filtrada e
teve o solvente evaporado no evaporador rotatório. Ao fim foram obtidos 202 mg de produto
bruto, que foi suubmetido à separação cromatográfica, por cromatografia preparativa em
camada fina, tendo por fase estacionária gel de sílica e por fase móvel misturas de
CH
2
Cl
2
:AcOEt em várias proporções. Os resultados obtidos nestas reações serão apresntadas
no capítulo destinado aos resultados e discussões.
4.7 – Reação com lapachol
A reação com lapachol obedeceu às condições e relações entre reagentes estabelecidas
para as reações das orto-quinonas com paraformaldeído. Foram reagidas 121 mg de lapachol
(0,50 mmol). Estas reação foi realizada empregando o suporte a base de alumina básica. O
produto bruto da reação com lapachol foi submetido à separação cromatográfica por
cromatografia em coluna, tendo como fase estacionária gel de sílica e por fase móvel a
mistura dos solventes CHCl
3
/AcOEt, em um gradiente crescente de polaridade variando-se as
proporções entre os solventes de [9:1] até [1:15]. Os resultados obtidos nestas reações serão
apresentados no capítulo destinado aos resultados e discussões.
4.8 – Avaliações biológicas
Para alguns dos imidazóis sintetizados foram realizadas avaliações biológicas contra a
forma tripomastigota do protozoário causador da Doença de Chagas. Estas avaliações foram
realizadas no Laboratório de Biologia Celular do Instituto Oswaldo Cruz (FIOCruz-RJ) e
coordenadas pela Drª. Solange L. de Castro. Na Figura 14 são apresentadas as estruturas dos
compostos empregados nestas avaliações.
80
NH
N
O
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
SO
3
H
O
NH
N
CH
3
CH
3
S
O
NH
N
CH
3
CH
3
Cl
Cl
O
NH
N
CH
3
CH
3
Cl
Cl
O
NH
N
CH
3
CH
3
O
NH
N
CH
3
CH
3
OH
O
CH
3
(60)
(
61
)
(
62
)
(
63
)
(
66
)
(67)
(
68
)
(
69
)
Figura 14. Imidazóis avaliados contra a forma tripomastigota do T. cruzi.
Os ensaios foram realizados tratando-se culturas da forma tripomastigota do parasito,
por 24 horas e à temperatura de 4° C, com diferentes concentrações dos compostos; sendo que
5% da composição do meio de cultura eram de sangue. Na Tabela 8 são apresntados os
valores de IC50 encontrados para estes compostos, como drogas de referência foram
utilizados benznidazol (52) e o cristal violeta (54).
Tabela 8. Valores de IC
50
encontrados para os imidazóis availados contra a forma
tripomastigota do T. cruzi.
Composto IC
50 (24 h. em 5% de sangue)
(µM)
60 89,5±5,1
61 177,2±23,1
62 > 4000
63 1680,7±47,5
66 2118,8±546,1
67 4116,0±281,7
68 170,2±20,4
69 251,8±28,0
Benznidazol 107,1±6,1
Cristal Violeta
536,0±3
81
5 – Resultados e discussões
82
Apesar da síntese de imidazóis a partir de compostos α-dicarbonílicos ter sido a
primeira via reacional de obtenção do núcleo heterocíclico, nos idos da segunda metade do
século XIX, os rendimentos obtidos nas investigações iniciais, relatados como tipicamente
inferiores a 15%, não encorajaram o emprego imediato desta metodologia para tal fim.
Contudo este processo ainda permaneceu tentador aos olhos dos pesquisadores, dada sua
simplicidade aparente e o baixo custo dos reagentes. A maior aplicabilidade desta via sintética
foi alcançada após a avaliação da influência da acidez do meio na obtenção do núcleo
imidazólico, em que foram observados rendimentos melhores quando do emprego de meio
reacional com característica ácida. À melhora dos rendimentos foi sugerido que, em meio
ácido, ocorre supressão das vias alternativas que formam os produtos indesejados. Dentre
estas estão às possibilidades de formação de bases de Schiff lineares ramificadas
(“polimerização”) e o rearranjo de Cannizzaro das bases de Schiff, que são processos
favorecidos em condições reacionais básicas (Esquema 42).
64
O
O
2 NH
3
CH
2
O
N NCH
2
n
+
N NCH
2
CH
2
OH OH
m
+
...
O
O
2 RNH
2
N
NHR
R
OH
NH
NHR
R
O
Esquema 42. Vias possíveis de desativação da formação do núcleo imidazólico em reações
de multicomponentes.
5.1 – Investigações das reações com microondas
As investigações das reações com microondas para a síntese de imidazóis a partir de
orto-quinonas tiveram por base os resultados anteriormente obtidos para a síntese de
imidazóis 2,4,5-substituídos e 1,2,4,5-substituídos, obtidos pela reação de benzil, ou seus
derivados, com aldeídos aromáticos e acetato de amônio, para a formação dos primeiros, e
pela reação dos compostos dicarbonílicos com aldeído aromáticos, acetato de amônio e
aminas para a formação últimos.
115
Foram possíveis algumas observações que, em investigações posteriores, podem
auxiliar no melhor desenvolvimento da técnica, bem como, por estes métodos, foram
preparados novos derivados imidazólicos de orto-quinonas derivadas do lapachol e para
alguns destes foram investigadas suas atividades biológicas contra T. cruzi, bem como foram
realizadas outras avaliações, buscando maior compreensão do comportamento químico do
imidazol mais simples da β-lapachona.
83
5.1 – Síntese de naftoimidazóis
Os naftoimidazóis foram sintetizados com o emprego de microondas associadas ao uso
de reagentes suportados. Como suporte foi empregado inicialmente a montmorilonita k-10,
sólido inorgânico de característica ácida que havia sido descrito como promissor na síntese de
imidazóis
115
e era disponível no laboratório, contudo o preparo do reagente suportado
empregado nas reações foi modificado. O acetato de amônio foi depositado sobre a argila a
partir de uma solução em metanol, ao invés de serem homogeneizados em almofariz com
pistilo, dado o aspecto lamacento obtido para o reagente suportado inicialmente preparado por
esta mistura direta, devido, talvez, a sua pequena granulometria e higroscopicidade do acetato
de amônio, o que se pensou que pudesse afetar o contato dos reagentes com a superfície do
suporte, ou que a água absorvida pudesse interferir no curso da reação.
Anterior à produção em série destes compostos foram realizados testes acerca da
viabilidade sintética; estes foram monitorados por CCF, eluindo-se com hexano:acetato de
etila (7:3). A avaliação da possibilidade de formação do núcleo imidazólico foi feita
buscando-se sintetizar o naftoimidazol, derivado da β-lapachona, sem substituinte na posição
2 do referido sistema heterocíclico. O aldeído necessário para esta intenção é o formaldeído,
contudo sua forma livre mais amplamente comercializada é uma solução aquosa a 37%, (o
CH
2
O é gás à pressão e temperatura ambientes), o que seria um empecilho direto. As
condições reacionais investigadas se valem do emprego de recipientes abertos e são realizadas
à pressão atmosférica, além disso, como regra geral da metodologia investigada, é permitida a
evaporação do(s) solvente(s), após a deposição dos reagentes sobre o suporte, que resultaria
em uma mistura reacional livre do aldeído; e, caso se procedesse sem deixar evaporar o(s)
solvente(s), a água associada ao formaldeído poderia acirrar a formação de oxazol, em vez de
imidazol, nesta reação.
Antes do emprego do paraformaldeído, a possibilidade da formação do naftoimidazol
60 foi avaliada, inicialmente, utilizando N,N-dimetil-formamida como fonte do carbono
suplementar necessário. Nestas investigações preliminares buscou-se verificar, por CCF, a
formação de produtos mais polares que a β-lapachona, que foram observados; contudo os
produtos brutos das reações apresentavam-se como misturas complexas de componentes.
A busca por componentes mais polares que a β-lapachona pautou-se na especulação de
que a formação do naftoimidazol levaria a um composto poliaromático condensado, com 3
anéis fundidos, ao invés de 1, e mesmo número de átomos eletronegativos capazes de formar
pontes de H e, além disso, a presença de hidrogênio ligado a nitrogênio, também passível
de interação via ligação de hidrogênio com a fase estacionária.
O emprego inicial da amida no lugar do aldeído baseou-se no fato de que o grupo
nitrogenado dimetilado não poderia participar da formação do núcleo imidazólico, a não ser
que, nesse caso, houvesse perda de cátion metila; o que, por regra geral, não é favorável, pois
se trataria da formação de uma espécie altamente reativa sem qualquer forma evidente de
estabilização. Em contrapartida, este mesmo grupo poderia fornecer dimetil-amina como
‘grupo de saída’, ao se considerar a natureza ácida do suporte, o excedente de amônia e a
disponibilidade de energia, proveniente das microondas, para superar barreiras de ativação.
Nestas investigações preliminares pôde-se perceber a formação de uma mistura reacional
complexa (o que se repetiria, também, mesmo com o emprego de paraformaldeído quando do
emprego do suporte com característica ácida).
84
Após algum tempo, imaginou-se a possibilidade do emprego do paraformaldeído e
foram iniciadas as investigações com este reagente como a fonte do carbono suplementar
necessário; também foi observado o problema da solubilidade do reagente, o que levaria ao
conseqüente menor contato entre as espécies. Este fator foi minimizado, neste caso, com o
excesso estequiométrico. Os produtos brutos das reações com paraformaldeído foram
comparados, por CCF, com os das reações em que foi usada a N,N-dimetil-formamida com a
quinona, quando pôde-se observar, em ambos os casos, manchas mais polares que a quinona
com mesmo comportamento cromatográfico, supostamente o imidazol. Em algumas destas
reações teste foram feitas cromatografias em coluna para o isolamento deste componente, que
foi caracterizado por RMN
1
H confirmando a formação do imidazol. Foram então variados os
tempos e as potências usadas, sendo, por fim, estabelecida para condição reacional a potência
de 81,4 W e tempos entre 10 e 15 minutos para todas as reações com montmorilonita como
suporte.
Uma vez estabelecidas às condições reacionais para a reação das quinonas sobre a
montmorilonita, foram conduzidas as reações para a formação dos demais imidazóis
propostos, um período ao qual me refiro como “o milagre do crescimento”.
Após uma atenção mais cuidadosa aos primeiros resultados quantitativos obtidos,
considerou-se alguma dependência do rendimento da reação, nas condições estabelecidas,
com as características ácido / base do suporte. Esta dependência foi analisada pelo uso de
alumina básica como suporte em algumas destas nteses, nas reações de β-lapachona, nor-β-
lapachona e ácido β-lapachona-3-sulfônico com paraformaldeído
A β-lapachona (46), nor-β-lapachona (58) e o ácido β-lapachona-3-sulfônico (59)
estavam disponíveis no laboratório, suas atribuições espectroscópicas de RMN
1
H e/ou
13
C
estão apresentadas nas Tabelas 9, 10 e 11 (Espectros de 1 a 5 do caderno de espectros). Estes
dados serviram para comparação dos valores de deslocamentos químicos dos compostos
formados.
85
Tabela 9. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) e
13
C (50 MHz, CDCl
3
)
da β-lapachona (46).
1
2 3
4
5
6
6a
7
8
9
10
10a
10b
4a
O
O
O
Posição
δ
δδ
δ
13
C (ppm) δ
δδ
δ
1
H (ppm) / m / J (Hz)
2
79,2 -
3
31,4 1,8 / t / 6,7
4
16 2,5 / t / 6,7
4a
112,6 -
5
178,4 -
6
179,5 -
6a
132,5 -
7
134,7 8,0 / dd / 7,4; 1,4
8
130,5 7,5 / td / 7,4; 1,1
9
128,4 7,6 / td / 7,4; 1,3
10
124,0 7,8 / dd / 7,7; 1,1
10a
130,0 -
10b
162,0 -
m=multiplicidade do sinal
86
Tabela 10. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) e
13
C (50 MHz, CDCl
3
)
da nor-β-lapachona (58).
O
CH
3
CH
3
O
O
8
9a
9b
9
3
1
7
6
3a
5
4
2
5a
1'
1''
Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
2 76- -
3 39,22 2,95 / s
3a 93,67 -
4 175,61 -
5 181,28 -
5a 128 -
6 131,62 8,07 / d
7 124,55 7,67-7,61 / m
8 113,2 7,67-7,61 / m
9 134,4 7,67-7,61 / m
9a 131 -
9b 93,68 -
1’ 28,37 1,61 / s
1`` 28,37 1,61 / s
m=multiplicidade do sinal
87
Tabela 11. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, DMSO-d
6
) do ácido-β-
lapachona-3-sulfônico (59).
8
10
9
3
1
6a
7
6
4a
5
4
2
10a
10b
O
CH
3
CH
3
SO
3
H
O
O
1'
1''
Posição δ
1
H (ppm) / m
2 -
3 2,83 / m
4 2,5 / m
4a -
5 -
6 -
6a -
7 7,90 / d
8 7,59 / m
9 7,75-7,73 / m
10 7,75-7,73 / m
10a -
10b -
1’ 1,75 / s
1’’ 1,42 / s
m=multiplicidade do sinal
5.1.1 – Síntese de naftoimidazóis não substituídos na posição 2 do núcleo imidazólico
Nestas sínteses buscou-se sintetizar os naftoimidazóis 60 (6,6-dimetill-3,4,5,6-
tetraidrobenzo [7,8] cromeno[5,6-d] imidazol); 61 (5,5-dimetil-4,5-diidro-3H-furo[3',2':3,4]
nafto [1,2-d] imidazol); e 62 (ácido 6,6-dimetil-3,4,5,6-tetraidrobenzo [7,8] cromeno [5,6-
d] imidazol-5-sulfônico). Estas reações foram idealizadas como modelo geral para a síntese de
naftoimidazóis derivados de naftoquinonas e também foram investigadas quanto à influência
do caráter ácido / básico do suporte.
Nas sínteses empregando montmorilonita k-10 como suporte e paraformaldeído como
aldeído, pôde-se observar uma variação significativa nos rendimentos para obtenção dos
imidazóis, 60 (70%), 61 (19%) e 62 (46%). Já no caso das reações empregando o suporte de
natureza básica foram observados rendimentos de 81 a 85%. Uma das razões possíveis para o
sucesso do uso da alumina básica (pH 9,5 a 10% em água) como suporte nas reações
estudadas pode estar relacionada a natureza das orto-quinonas usadas, que possuem um grupo
88
alcoxi conjugado com uma das carbonilas. Esta característica, além de diminuir a
eletrofilicidade desta carbonila, também fornece uma via de tautomerização em meio ácido,
que pode levar a formação dos produtos indesejáveis. No Esquema 43 são apresentadas estas
idéias, sobre as vias de desativação da formação do núcleo imidazólico a partir da β-
lapachona e compostos relacionados, junto com uma das proposta mecanística de Orru
114
para
a síntese de imidazóis.
2 NH
2
+ CH
2
O
- H
2
O
NH
2
NH
2
(CH
2
)n
O
CH
3
CH
3
X
O
O
+
- H
2
O
(CH
2
)n
O
CH
3
CH
3
X
N
O
NH
2
- H
2
O
(CH
2
)n
O
CH
3
CH
3
X
NH
N
(CH
2
)n
O
CH
3
CH
3
X
N
O
NH
3
+
H
+
H
+
(CH
2
)n
O
+
CH
3
CH
3
X
N
O
NH
2
H
(CH
2
)n
O
CH
3
CH
3
X
N
O
+
NH
2
H
(CH
2
)n
O
N
O
NH
2
H
X
CH
3
CH
3
- H
+
produtos
indesejados
Esquema 43. Formação do núcleo imidazólico e alguns modos de desativação para reação da
β-lapachona e compostos relacionados em condições ácidas.
A identificação dos compostos foi feita por EM, com ionização por impacto de
elétronse ionização com ‘electron spray’ em alta resolução; RMN
1
H e
13
C e suas correlações
1
Hx
1
H e
1
Hx
13
C; e também foram medida suas absorções de UV.
Nos espectros de massas dos compostos (60) e (61), obtidos por CG / EM (impacto de
elétrons) foi possível detectar os íons moleculares de cada um deles (m/z 252 e m/z 238,
respectivamente), que por sua vez também correspondiam aos picos base dos espectros. Esta
observação é coerente ao se considerar às possibilidades de estabilização possíveis, para os
cátions radicais gerados, ao longo da conjugação dos sistemas. Estes compostos também
foram analisados por EM em alta resolução, com ionização por ‘electron spray’, e foram
detectados os íons referentes aos fragmentos de M
+1
para ambos os compostos com m/z de
253.1262 para (60) e 239.1065 para (61), Espectros 6 a 9 do caderno de espectros.
Para naftoimidazol 62, a obtenção do espectro de massas foi realizada com ionização
por ‘electron-spray’ em alta resolução (devido à incompatibilidade da função ácido sulfônico
muito pouco volátil com a cromatográfia em fase gasosa, integrante da técnica de c.g.-
e.m. com ionização por impacto de elétrons). Foi observado o fragmento com m/z 331,0768
(M
-1
), referente à massa do ânion gerado durante a ionização, por perda de próton do grupo
ácido sulfônico, e o fragmento do íon molecular com m/z 332,0798, Espectros 10 do caderno
de espectros. O fragmento de M
-1
correspondeu ao pico base do espectro, Esquema 44.
89
(6)
O
NH
N
H
SO
3
H
e
-
spray / - H
+
O
NH
N
H
SO
3
-
m/z = 331,3
Esquema 44. Fragmento de massa obtido para o naftoimidazol (62) com ionização por
`electron spray`.
As fragmentações de massas mais importantes de (60) e (61), obtidas com ionização
por impacto de elétrons, estão dispostas a seguir nos Esquemas 45 e 46, respectivamente.
(4)
O
NH
N
H
70 ev / - e
-
- CH
3
m/z = 237
O
NH
N
H
-
m/z = 196
O
NH
N
H
m/z = 252
O
NH
N
H
;
Esquema 45. Fragmentos de massas, mais importantes, obtidos para o naftoimidazol (60)
com ionização por impacto de elétrons
70 ev / - e
-
NH
N
H
O
(5)
m/z = 238
NH
N
H
O
- CH
3
m/z = 223
NH
N
H
O
Esquema 46. Fragmentos de massas, mais importantes, obtidos para o naftoimidazol (61)
com ionização por impacto de elétrons
A análise dos dados espectroscópicos de RMN permitiu fazer as atribuições dos
valores de deslocamentos químicos dos átomos de hidrogênio e carbono que estão
apresentados a seguir, que somam ao conjunto de dados que permitiu a confirmação da
formação destes compostos. Sendo as observações mais importantes, em comparação com os
substratos, o aparecimento, nos espectros de RMN
1
H, do sinal referente ao hidrogênio da
posição 2 das estruturas, em torno de 8,1 ppm; e, nos espectros de RMN
13
C, o
desaparecimento dos sinais referentes às carbonilas quinonoídicas, que aparecem em torno
179 ppm. A atribuição dos dados de RMN para os compostos 60, 61 e 62 estão dispostos nas
90
Tabelas 12, 13 e 14, respectivamente. As tabelas estão referenciadas aos espectros do
caderndo de espectros, relativos às atribuições.
Tabela 12. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (60).
O
N
N
H
1
2
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1' 2'
1
H x
13
C COSY Posição δ
13
C (ppm)
δ
δδ
δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
2
J
CH
3
J
CH
2 139,16 8,08 / s - - -
3b
106,00
- - H4 H5
4 19,81 3,04 / t H5 - -
5 33,34 2,00 / t H4 H4 H1’, H2’
6 75,70 - - H1’, H2', H5 H4
146,66 - - - -
8 123,80 8,21 / d H9 H9 -
9 124,90 7,41 / t H8, H10 H8 -
10 127,18 7,51 / t H9, H11 - -
11 122,00 8,29 / d - - H9
1’ 27,08 1,46 / s - - H2’, H5
2’ 27,08 1,46 / s - - H1’, H5
m=multiplicidade dos sinais
Espectros de 11 a 24 do caderno de espectros
91
Tabela 13. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C(100 MHZ,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (61).
1
2
3
4
6 5
7
8
9
10
3a
3b
1'
2'
O
N
N
H
6a
6b
10a
10b
1
H x
13
C COSY Posição δ
13
C (ppm)
δ
δδ
δ
1
H (ppm) / m
2
J
CH
3
J
CH
2 139,37 8,11 / s - -
3a
132,50
- H2
3b 108 - H4
4 42,99 3,37 / s H1’, H2’
5 88,95 - H1’, H2’
152,78 - H4, H7
6b 125,62 - H8, H10
7 123,55 7,97 / d H8
8 127,17 7,54 / t H7
9 125,05 7,43 / t - -
10 122,60 8,34 / d H9
10ª 120,22 H9
10b
130,02
H2, H10
1’ 28,89 1,61 / s H2’, H4
2’ 28,89 1,61 / s H1’, H4
m=multiplicidade dos sinais
Espectros de 25 a 33 do caderno de espectros
92
Tabela 14. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (62).
O
N
N
H
SO
3
H
H
H
1
2
3
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1' 2'
4
4a
4b
Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
2 139,16 8,12 / s -
3b 104,45 - -
H4a= 3,34 / m H4b, H5 4 24,19
H4b= 3,50 / m H4a, H5
5 63,15 3,42 / m H4a, H4b
6 78,27 - -
7a 145,94
8 123,82 8,20 / d H9
9 124,94 7,43 / t H8, H10
10 127,40 7,55 / t H9, H11
11 122,16 8,35 / d H10
1’ 20,65 1,49 / s -
2’ 29,92 1,93 / s -
m=multiplicidade dos sinais
Espectros de 34 a 46 do caderno de espectros
Das atribuições apresentadas nas tabelas, os valores em negrito, para os deslocamentos
químicos de alguns átomos de carbono, foram obtidos a partir dos espectros de correlações
1
H
x
13
C. Nestes espectros, não foi possível observar o hidrogênio ligado ao heteroátomo nos
compostos, devido à sua participação no equilíbrio tautomérico característico de imidazóis
com hidrogênio lábil,
121
o que aumenta a possibilidade de troca com deutério do solvente
(Me
3
OD-d
4
) ou do monóxido de deutério-hidrogênio normalmente associado ao solvente e
visivelmente presente nos espectros (δ ~ 4,8 ppm).
O composto (61) teve os valores de deslocamentos químicos atribuídos para todos os
átomos de carbono e hidrogênio da estrutura, exceto para o hidrogênio heteroatômico, cuja
labilidade já foi ressaltada. Neste caso também foi observado o efeito da restrição
conformacional, do anel furânico presente na estrutura, em relação ao valor do deslocamento
químico do hidrogênio da posição 7 da estrutura, quando comparado com os valores do
deslocamento químico das posições equivalentes nos derivados com anel pirânico. A variação
observada, redução do valor de deslocamento químico, pode ser explicada como resultado da
maior distância imposta entre o oxigênio do anel alifático e o referido hidrogênio, o que reduz
o efeito anisotrópico dos pares de elétrons não ligantes do oxigênio sobre o núcleo em
questão.
Para estes compostos foram obtidos os seguintes dados espectroscópicos nas regiões
do infravermelho e do ultra-violeta.
Dados de IV, Espectros 47 a 49 do caderno de espectros:
93
(60) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3409; 3144; 3083; 3010; 2973; 2924; 2844; 2816; 2615; 1666;
1652; 1605; 1588; 1486; 1451; 1367; 1257; 1161; 1120; 1056; 948; 770.
(61) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3394; 3116; 3065; 2966; 2845; 2630; 1665; 1619; 1592; 1490;
1467; 1442; 1366; 1249; 1148; 1051; 945; 855; 757; 649.
(62) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3448; 3423; 3135; 3010; 2981; 2938; 2853; 1650; 1617; 1591;
1559; 1490; 1374; 1225; 1180; 1049.
Dos dados de infravermelho obtidos, foram importantes, para confirmar a
incorporação do anel imidazólico as estruturas, as bandas de absorção nas seguintes regiões:
de 3450-3390 cm
-1
(ν N-H); 2800-2600 cm
-1
(ν N-H de ligação de hidrogênio); 1660-1610,
1605-1580, 1560-1520 cm
-1
(ν C=C e C=N do anel imidazólico).
Dados de UV, Espectros 50 a 51 do caderno de espectros
(60) – UV
CH
3
CN
(λmáx
(nm);
ε): 332 nm (2700).
(61) – UV
CH
3
CN
(λmáx
(nm);
ε): 337 nm (3700).
(62) – UV
CH
3
CN
(λmáx
(nm);
ε): 331 nm (3200).
Os dados de ultravioleta corroboram a observação feita na discussão dos dados das
análises de ressonância magnética nuclear do composto (61) em relação aos demais
componentes desta série, onde o oxigênio do anel heterocíclico apresenta contribuições
diferenciadas no comportamento espectroscópico destes homólogos em função do tipo de que
ele participa – levando em consideração as possibilidades conformacionais. Por estes dados de
espectroscopia no ulvtravioleta foi possível sugerir uma maior participação de um dos pares
eletrônicos do oxigênio heterocíclico de (61) na conjugação do sistema de elétrons π da
estrutura, em função da restrição conformacional imposta pela maior rigidez do anel furânico
do composto, resultando em um sistem de elétrons π mais rico em densidade eletrônica, o que,
em comparação com os demais membros da séria, levaria a diminuição da quantidade de
energia necessária para que ocorressem algumas transições eletrônicas, com maiores valores
comprimento de onda, como observado para os valores de λ
(MÁXIMO)
.
5.1.2 – Síntese dos imidazóis 2-substituídos.
Os resultados obtidos, para as nteses dos imidazóis substituídos na posição 2 do anel
heterocíclico adicionado à estrutura, mostraram uma grande variação nos valores dos
rendimentos, o que pode ser em parte explicado pelo fato de que nestas reações o suporte
empregado foi a montmorilonita k-10, para a qual foi sugerida a sua influência no curso
destas transformações com este tipo de composto dicarbonílico. Além do possível efeito do
suporte de natureza ácida sobre a reação, é possível que esta variação dos rendimentos seja
conseqüência da diversidade estrutural dos aldeídos usados e, em consequência destas
diferenças estruturais, que os rendimentos sejam afetados por fatores diferentes nos aldeídos,
considerando-se as espécies intermediárias que venha a ser formadas ao longo da reação,
dentre estes: as possibilidades de estabilização de intermediários através da extensão de
94
conjugação, a presença de grupos retiradores / doadores de elétrons, os efeitos estéricos, etc.
Além disso, nestas reações, a quantidade dos aldeídos foi próxima à estequiométrica, que, em
comparação com as reações com paraformaldeído, usado em excesso, pode ser também um
dos motivos para os rendimentos observados. Estas reações foram realizadas antes de ter sido
dada atenção à influência da característica ácido / base do suporte sobre a reação.
Os compostos (63) (6,6-dimetil-2-(1-naftil)-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-
d]imidazol), (64) (6,6-dimetil-2-(2-natil)-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol),
(65) (6,6-dimetil-2-[(E)-2-fenilvinil]-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol),
(66) (2-(2,6-diclorofenil)-6,6-dimetil-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol),
(67) (2-(2,4-diclorofenil)-6,6-dimetil-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol),
(68) (6,6-dimetil-2-(2-tienil)-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol), (69) [4-
(6,6-dimetil-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol-2-il)-2-metoxi-fenol]; que
foram isolados e tiveram os rendimentos calculados, foram analisados, inicialmente, por
espectrometria de massas(ionização por impacto de elétrons, 70 eV), exceto o composto (64),
a fim de confirmar suas obtenções. Os dados espectrométricos obtidos foram condizentes para
as estruturas supostas, nos quais os íons moleculares também foram os picos bases dos
espectros: compostos: (63), m/z 379 (Espectro 53 do caderno de espectros); (65), m/z 354
(Espectro 54 do caderno de espectros); (66), m/z 397 (Espectro 55 do caderno de espectros);
(67), m/z 397 (Espectro 56 do caderno de espectros); (68), m/z 334 (Espectro 57 do caderno
de espectros); e (69), m/z 374 (Espectro 58 do caderno de espectros). A exceção nesses casos
foi o espectro de massas obtido para o suposto composto (63), para o qual foi registrado o íon
molecular, também pico base, m/z 379 (M
+1
). Este valor equivale ao valor esperado para o íon
molecular do(s) oxazol(óis) correspondente(s). Contudo o conjunto das demais informações
obtidas nas análises espectroscópicas da amostra permitiu concluir que a estrutura
correnpondente seria a do derivado imidazólico.
O resultado observado na espectrometria de massas pode ser resultado de “auto-
ionização química”. Este fenômeno pode ocorrer em detetores com do tipo “íon trap”, devido
ao seu modo de funcinamento que impõe um tempo de residência maior para os íons antes da
detecção, possibilitando que fragmentos iônicos possam reagir com as moléculas da
substância analisada com transferência de um átomo de hidrogênio, resultando no acréscimo
de uma unidade de massa ao valor de fragmentos.
122
As atribuições dos valores de deslocamentos químicos obtidos nas análises de RMN
estão apresentadas nas Tabelas 15 a 21, que seguem, e estas são referenciadas aos espectros
relativos do caderno de espectros.
95
Tabela 15. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do composto (63).
O
NH
N
CH
3
CH
3
11
8
10
4'a
11a
11b
1''
9
3
1
3b
7
6
3a
5
4
2
2'
4'
3'
5'
8'
7'
1'''
8'a
6'
1'
Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
4 32,23 2,04 / t H5
5 18,88 3,10 / sl H4
6 74,54 - -
8 126,06 8,80 / sl H9
9 127,20 7,58 / m H8, H10
10 126,33 7,58 / m H9, H11
11 122,79 8,34 / d H10
2’ 125,03 7,58 / m H3’
3’ 126,16 7,58 / m H2’
4’ 129,86 7,94 / m H3’
5’ 127,42 7,87 / d H6’
6’ 123,95 7,49 / m H5’, H7’
7’ 125,03 7,58 / m H6, H8’
8’ 128,38 7,94 / m H7’
1’’ 26,75 1,50 / s -
1’’’ 26,75 1,50 / s -
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 59 a 70 do caderno de espectros
96
Tabela 16. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, DMSO-d
6
) e
13
C (100 MHz,
DMSO-d
6
) do composto (64).
O
NH
N
CH
3
CH
3
11
8
10
11a
11b
9
3
1
3b
7
6
3a
5
4
2
2'
4'
3'
5'
8'
7'
6'
1'
7b
8'a
7a
4'a
1'' 1'''
Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
3b 102,37 - -
4 18,80 3,09 / sl H5
5 31,45 2,01 / sl H4
6 74,37 - -
8 121,18 8,45 / m H9
9 125,89 7,54 / m H8, H10
10 123,44 7,45 / t H9, H11
11 122,14 8,17 / d H10
1’ 124,55 8,78 / s -
3’ 128,19 8,08 / m H4’
4’ 124,05 8,45 /m H3’
5’ 128,19 8,08 / m H6’
6’ 126,81 7,59 / m H5’
7’ 126,81 7,59 / m H8’
8’ 127,77 7,98 / m H7’
1’’ 26,48 1,44 / s -
1’’’ 26,48 1,44 / s -
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 71 a 80 do caderno de espectros
97
Tabela 17. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (500 MHz, CDCl
3
) do composto (65).
O
NH
N
CH
3
CH
3
11
8
10
11a
11b
9
3
1
3b
7
6
3a
5
4
2
2'
4''
3''
5''
6''
1'
7b
7a
1''
2''
1'''
1''''
Posição δ
1
H (ppm) / m
4 3,02 / sl
5 1,90 / sl
8 8,42 / sl
9 7,52 / t / 6,4 Hz
10 7,44 / t / 6,4 Hz
11 8,24 / d / 6,4 Hz
1’ 7,17 / d / 13,2 HZ
2’ 7,68 / d / 13,2 Hz
2’’ 7,4 / sinal encoberto
3’’ 7,07 / sl
4’’ 7,07 / sl
5’’ 7,07 / sl
6’’ 7,4 / sinal encoberto
1’’’ 1,41 / s
1’’’’ 1,41 / s
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 81 a 83 do caderno de espectros
98
Tabela 18. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do composto (66).
O
NH
N
CH
3
CH
3
Cl
Cl
11
8
7
3a
6
4
5
3
9
11a
11b
10
1
2
6'
5'
3'
1'
3b
2'
4'
1'''
7b
7a
1''''
Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
4 18,78 3,15 / sl H5
5 32,11 1,90 / t H4
6 74,45 -
8 122,60 8,29 / m H9
9 123,89 7,41 / m H8, H10
10 126,02 7,41 / m H9, H11
11 121,53 8,29 / m H10
1’ 130,28 - -
2’ 136,51 - -
3’ 128,07 7,25 / m H4’
4’ 131,15 7,25 / m H3’, H5’
5’ 128,07 7,25 / m H4’
6’ 136,51 - -
1’’ 26,74 1,44 / s -
1’’’ 26,74 1,44 / s -
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 84 a 91 do caderno de espectros
99
Tabela 19. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, DMSO-d
6
) e
13
C (100 MHz,
DMSO-d
6
) do composto (67).
O
NH
N
CH
3
CH
3
Cl
Cl
11
8
7
3a
6
4
5
3
9
11a
11b
10
1
2
6'
5'
3'
1'
3b
2'
4'
1'''
7b
7a
1''''
1
H x
13
C COSY Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
2
J
CH
3
J
CH
144,00
- - - H4
4 18,45 3,02 / t H5 H5 H1’’, H1’’’
5 31,43 1,97 / t H4 H4 -
6 74,40 - - H5 H4, H1’’, H1’’’
7b 129,12 - - - -
8 121,16 8,37 / d H9 - H8, H10
9 125,98 7,58 / m H8, H10 - -
10 123,82 7,46 / m H9, H11 - -
11 122,21 8,17 / d H10 - H9
11ª 122,98 - - - H10
11b
144,00
- - - H11
1’ 132,96 - - H6’ H3’
2’
144,50
- - - -
3’ 129,70 7,86 / d - - -
4’ 134,57 - - - -
5’ 127,55 7,64 / dd H6 - H3’
6’ 133,29 7,89 / d H5 - -
1’’ 26,42 1,43 / s - - -
1’’’ 26,42 1,43 / s - - -
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 92 a 106 do caderno de espectros
100
Tabela 20. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz,
CDCl
3
) do composto (68).
11
8
7
3a
6
4
5
3
9
11a
11b
10
1
2
5'
3'
1'
3b
2'
4'
1'''
7b
7a
1''''
O
NH
N
CH
3
CH
3
S
1
H x
13
C COSY Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
2
J
CH
3
J
CH
2 147,42 - - - H4’, H5’
147,81 - - - H4
3b 101,71 - - H4 H5
4 17,43 3,09 / t H5 H5 -
5 31,72 1,98 / t H4 H4 H1’’, H1’’’
6 75,25 - - H1’’, H1’’’, H5 H4
156,70 - - - -
7b 129,67 - - H8 -
8 121,92 8,44 / d H9 - H10
9 126,69 7,60 / m H8, H10 - H11
10 124,51 7,48 / m H9, H11 H9 -
11 122,64 8,28 / d H10 - H9
11ª 123,99 - - - H8, H10
11b 125,17 - - H11 -
2’ 130,57 - - - -
3’ 128,01 7,85 / dd H4’ - H5’
4’ 128,01 7,16 / dd H3’, H5 H5 -
5’ 128,39 7,47 / dd H4’ H4’ H3’
1’’ 26,74 1,48 / s - - H4, H1’’’
1’’’ 26,74 1,48 / s - - H4, H1’’
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 107 a 122 do caderno de espectros
101
Tabela 21. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (500 MHz, Acetona-d
6
) e
13
C (125 MHz,
Acetona-d
6
) do composto (69).
O
NH
N
CH
3
CH
3
OH
O
CH
3
1''
3'a
6
4
5
3
10'
11'
1
2
6'
5'
3'
1'
3'b
2'
4'
1'''
11'b
11'a
1''''
8'
7a'
9'
7'
7b'
Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1 148,78 -
2 149,10 -
3 120,55 7,97 / d
4 124,50 -
5 116,20 7,76 / dd
6 110,94 6,94 / d
2’ 146,03 -
3’b 105 -
4’ 32,80 3,11 / t
5’ 19,67 1,99 / t
6’ 75,22 -
7’a 149,77 -
8’ 124,39 8,51 / d
9’ 123,43 7,41 / t
10’ 126,65 7,51 / t
11’ 122,32 8,22 / d
1’’ 56,57 3,93 / s
1’’’ 27,00 1,45 / s
1’’’’ 27,00 1,45 / s
m= multiplicidade dos sinais
Espectros de 123 a 129 do caderno de espectros
Também foram obtidos os dados de espectroscopia na região do infra-vermelho.
Dados de IV, Espectro 130 a 135 do caderno de espectros.
(63) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3411, 3050, 3016, 2972, 2929, 2875, 2848, 1635, 1618, 1587,
1541, 1516, 1502, 1444, 1429, 1385, 1367, 1340, 1323, 1282, 1261, 1236, 1159, 1146,
1122, 1074, 1057, 1030, 1016, 968, 951, 941, 883, 800, 773.
(65) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
:3421, 3141, 3093, 3060, 3027,2971,2921,2850,1650, 1637,1587,
1448,1436, 1382, 1367, 1344, 1332,1261, 1244, 1205, 1160, 1120, 1060, 1016, 968,
952, 881, 765, 754, 696,647.
102
(66) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3386, 3070, 3012, 2973, 2927, 2869, 2850, 1631, 1602, 1587,
1560, 1545, 1521, 1481, 1464, 1433, 1379, 1369, 1342, 1333, 1321, 1284, 1259, 1242,
1194, 1161, 1120, 1063, 1053, 968, 953, 883, 791, 777, 766, 739, 719, 663, 648.
(67) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3446, 3147, 3066, 3052, 3016, 2973, 2950, 2929, 2850, 2821,
1629, 1600, 1587, 1554, 1520, 1469, 1458, 1444, 1425, 1382, 1376, 1369, 1342, 1333,
1317, 1282, 1266, 1259, 1240, 1159, 1144, 1119, 1105, 1061, 1047, 955, 879, 864,
827, 806, 769, 735, 717, 646, 629.
(68) – IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3421, 3212, 3104, 3075, 2974, 2939,2927, 2850, 1652, 1616, 1604,
1585, 1459, 1444, 1429, 1383, 1367, 1259, 1240, 1159, 1120, 1053, 879, 852, 771,
721, 709.
(69) IR
KBr
ν
(cm
-1
)
: 3421, 3178, 3072, 2971, 2927, 2848, 1655, 1610, 1587, 1549,
1529, 1508, 1493, 1464, 1383, 1367, 1346, 1323, 1282, 1259, 1242, 1223, 1161, 1144,
1120, 1055, 1030, 980, 970, 953, 881, 870, 822, 789, 766, 729, 719, 704, 669, 650.
Para a confirmação da formação do anel imidazólico foram importantes as mesmas
regiões de sinais destacadas na avaliação dos dados de infravermelho dos compostos (60),
(61) e (62).
5.2 Síntese de imidazóis não substituídos a partir de benzil e
fenantrenoquinona
Como mencionado, a síntese destes imidazóis serviu para verificar se havia alguma
generalização quanto a eficiência do emprego do suporte de natureza básica para conversão de
compostos dicarbonílicos no referido sistema heterocíclico.
Anologamente as metodologias que empregam aquecimento convencional, no
emprego de microondas, como fonte de energia de ativação para síntese destes ssistemas,
também são observados melhores rendimentos na conversão quando a natureza do meio
reacional é ácida, alcançando valores de até 98% de rendimento.
Os resultados obtidos estão de acordo com estas observações, dados os baixos valores
de rendimentos obtidos – 14% para (74) e 51% para (75), uma vez que nas reações avaliadas a
natureza dos meio reacional (suporte sólido) foi básica, para a qual foram apresentadas
justificativas para a baixa conversão de compostos dicarbonílicos em imidazóis.
Por estes resultados é possível peceber a influência da natureza básica do suporte
sólido, na melhor conversão de compostos dicarbonílicos em imidazóis, como um
comportamento próprio das quinonas utilizadas, para o qual foi sugerida alguma
explicação, que considera a participação dos átomos de oxigênio dos anéis pirânico ou
furânico em vias de desativação da formação do anel imidazólico, quando a natureza do
suporte é acida. A formação destes imidazóis foi confirmada com análise dos produtos
isolados por espectrometria de massas, em que foram observados os íons moleculares dos
imidazóis. Espectros 136 e 137 do caderno de espectros.
103
5.3 – Metilação do naftoimidazol 60
Nas sínteses dos compostos (70) (3,6,6-trimetil-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]-
cromeno[5,6-d]imidazol) e (71) (1,6,6-trimetil-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]-
imidazol) pôde-se observar a variação de rendimento (7% e 57%) em função dos diferentes
tempos de refluxo estabelecidos nas reações, que pode estar relacionada ao elevado valor de
pK
a
, calculado para a desprotonação do naftoimidazol (60) sugerindo que a maior exposição
ao aquecimento facilite a desprotonação, uma vez que a concentração de hidróxido na solução
não é tão elevada; por outro lado, a manutenção da agitação por um período mais prolongado,
após retirar o aquecimento, pode ter influenciado também o rendimento.
As análises cromatográficas preliminares dos produtos brutos isolados, após as
extrações das misturas reacionais, mostraram apenas uma “mancha” mais intensa que se
diferenciava do reagente de partida, ainda presente nos produtos brutos isolados. Esta
observação inicial sugeriu, erroneamente, alguma seletividade quanto a formação de algum
derivado metilado para esta reação, que foi desmentida após a análise do produto isolado na
separação cromatográfica realizada empregando o mesmo eluente usado nas análises por
CCF por RMN
1
H, no qual foram observados os sinais referentes aos grupos metila dos
isômeros possíveis para a reação. Esta constatação apontou a coeluição dos produtos com o
eluente empregado. Além da coeleuição, os dados de RMN
1
H também mostraram a formação
dos produtos em quantidades equivalentes pela integração dos sinais referentes às
metilas(~1:1), o que afastou definitivamente qualquer idéia de seletividade na formação dos
mesmos.
Muito embora os valores dos deslocamentos químicos destes sinais fossem suficientes
para prever de quais derivados eles seriam referentes, considerando-se os efeitos estéreo-
eletrônicos a que estes grupos estariam sujeitos nas diferentes porções das estruturas
sintetizadas, foi realizado o experimento de NOESY na análise de RMN
1
H buscando-se esta
confirmação. Por este experimento pôde-se observar a interação espacial do sinal em 4,27
ppm, referente a uma das metilas, com o sinal da região de hidrogênios aromáticos em 7,96
ppm, referente ao hidrogênio do núcleo imidazólico de uma das estruturas; e a interação entre
o sinal em 4,07 ppm, da metila da outra estrutura, com o sinal em 7,79 ppm, também
imidazólico. Uma resposta mais efetiva para esta questão seria a execução do experimento de
NOE-diferencial com irradiação nos sinais das metilas, no qual deveria ser observada a
intensificação dos sinais do hidrogênio imidazólico e de hidrogênios aromáticos, em um dos
casos; e do hidrogênio imidazólico e de hidrogênios alifáticos no outro. Cabe ainda sugerir,
considerando a anisotropia mencionada acima, mesmo sem comprovação espectroscópica,
que os sinais em 4,27 ppm e 7,96 ppm pertençam ao derivado com a metila voltada para a
porção aromática da estrutura (71); e os sinais em 4,07 ppm e 7,79 ppm pertençam ao
derivado com a metila voltada para a porção alifática da estrutura (70). As atribuições dos
dados de RMN
1
H da misturas estão apresentados na Tabela 22 e a interpretação dos espectro
de NOESY encontra-se na Tabela23.
104
Tabela 22. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) da mistura dos
compostos (70) e (71).
2
3'
O
N
N
1
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
6'
6''
(70)
6' 6''
O
N
N
1
2
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1'
(71)
Posição δ
1
H (ppm) / m
7,96 / s 2
7,79 / s
4 3,19 / m
5 1,95 / m
8 8,40 /d // 8,50 / d
9 7,50 / m
10 7,50 / m
11 8,23 / d
1’ 4,27 / s
3’ 4,07 / s
6’ 1,43 (s)
6’’ 1,43 (s)
m=multiplicidade dos sinais
Espectro 138 do caderno de espectros
Tabela 23. Interpretação do espectro 2D-NOESY(200 MHz, CDCl
3
) dos compostos (70) e
(71).
1
H {
1
H} - NOE
H
3
C δ
H (ppm)
1’ 8,23 (H11)
3’ 3,19(H4)
Espectro 139 do caderno de espectros
A possibilidade da observação destas evidências espectroscópicas tornou-se mais
evidente uma vez que foi possível separar os dois produtos. Esta separação foi possível pela
modulação da característica ácido / base do eluente. Foram testadas as seguintes composições
105
e proporções de eluentes em separações por cromatografia em camada fina, analítica para
estabelecer a melhor cindição de separação – e preparativa:
hexano / acetato de etila / ácido acético - (95:95:10), (85:85:30) e (70:70:60); e
hexano / acetato de etila / trietilamina - (95:95:10), (85:85:30) e (70:70:60)
Em ambos os casos foi possível observar a separação das espécies, contudo a melhor
separação foi observada com o solvente de característica básica na proporção (70:70:60), que
foi empregado na eluição de placas cromatográficas preparativas. A separação foi alcançada
ao custo de duas corridas por placa, antes da remoção das substâncias do leito cromatográfico.
As substâncias isoladas foram analisadas por RMN
1
H, confirmando as previsões dos
valores dos deslocamentos químicos, que são apresentados nas Tabelas 24 [composto (70)] e
25 [composto (71)], Espectros 140 e 141 do caderno de espectros, respectivamente.
Tabela 24. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) do composto (70)
2
3'
O
N
N
1
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
6'
6''
(70)
Posição δ
1
H (ppm) / m
2 7,75 / s
4 3,11 / m
5 1,89 / m
8 8,50 / d
9 7,45 / t
10 7,58 / t
11 8,25 / d
3’ 3,97 / s
6’ 1,42 / s
6’’ 1,42 / s
m=multiplicidade dos sinais
106
Tabela 25. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (200 MHz, CDCl
3
) do composto (71)
6' 6''
O
N
N
1
2
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1'
(71)
Posição δ
1
H (ppm) / m
2 8,10 / s)
4 3,17 (m)
5 1,98 (m)
8 8,40 (d)
9 7,54 (m)
10 7,54 (m)
11 8,25 (d)
1’ 4,26 (s)
6’ 1,42 (s)
6’’ 1,42 (s)
Para a formação dos derivados metilados do naftoimidazol (60) pressupõe-se o
seguinte mecanismo:
N
N
O
H
-
OH
S
O O
O OH
3
C CH
3
N
N
O
N
N
O
+
N
N
O
CH
3
N
N
O
H
3
C
+
(70)
(71)
107
5.4 – Nitração do naftoimidazol 60
A reação de nitração foi escolhida para investigação da reatividade do composto (60)
em reações de substituição eletrofílica. Também foi investigada a influência de dois sistemas
reacionais sobre a seletividade da reação, em fases homogênea e heterogênea, uma vez que
para esta reação competição entre dois tipos de mecanismos, iônico e radicalar. Estes são
dependentes da característica do substrato, onde substratos ricos em elétrons ou com grupos
doadores são suscetíveis, também, a processos envolvendo espécies radicalares; e das
caractarísticas do meio reacional. Os sistemas homogêneos comumente empregadas
misturas contendo ácido nítrico favorecem ao mecanismo iônico; e o favorecimento do
mecanismo que envolve espécies radicalares ocorre no sistema heterogêneo utilizado, para o
qual foi observada a modificação do padrão de seletividade da posição de substituição em
alquil-benzenos e 1,ω-difenil alcanos e trifenil-alcano {[5-fenil-3-(2-feniletil)pentil]benzeno},
nesses casos houve aumento da substituição em para.
As posições favoráveis a nitração foram investigadas empregando modelagem
molecular com o método semi-empírico AM1 (MOPAC), pelo qual foi construído o mapa de
densidade eletrônica para o orbital molecular ocupado de mais alta energia (HOMO).
Figura 13. Mapa de densidade eletrônica do HOMO do composto (60).
Pelo mapa de densidade eletrônica construído, é possível perceber as posições 1(ou 3,
considerando a tautomeria),2,8,9 e 11 como as mais propensas a reagir com espécies
eletrofílicas.
5.4.1 – Nitração em condição homogênea.
Da separação cromatográfica efetuada para o produto bruto obtido desta reação foram
isoladas nove frações com as seguintes massas, as frações estão dispostas em ordem crescente
de polaridade:
Fração 1 – 15,7 mg
Fração 2 – 12,5 mg
O
N
N
H
1
2
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1' 2'
108
Fração 3 – 7,6 mg
Fração 4 – 4,6 mg
Fração 5 – 0,8 mg
Fração 6 – 1,7 mg
Fração 7 – 3,1 mg
Fração 8 – 1,9 mg
Fração 9 – 1,0 mg
Estas frações, ainda, aguardam análises espectroscópicas.
A massa total de produtos isolados somou 48,9 mg, que, em se considerando estas
como produtos de nitração, corresponde a 82% de rendimento para a conversão do
naftoimidazol (60) em nitro derivados, sendo que as frações, majoritárias, 1, 2 e 3
compreendem seletividades de 32, 26 e15%, respectivamente.
5.4.2 – Nitração em condição heterogênea.
Como mencionado anteriormente, a avaliação da nitração em condição heterogênea
considerou o fato de que o sistema empregado favorece que a reação ocorra por um
mecanismo radicalar, no qual há inicialmente a formação de um complexo de transferência de
carga entre o susbtrato aromático e o íon nitrônio que evolui, pela transferência de um elétron
do composto aromático para o eletrófilo, para a formação do par de radicais que se combina
formando os produtos de nitração. Sendo a densidade de spin o fator que governa esta
combinação entre as espécies radicalares formadas no curso da reação, o que conduz a um
processo mais seletivo. Contudo este tipo de processo ocorre preferencialmente quando o
substrato aromático é rico em elétrons, como no caso do composto avaliado. Esta reação
também serviria de espelho para outras reações do cátion radical deste derivado imidazólico.
Da separação cromatográfica foram isoladas sete frações com as seguintes massas, em
ordem crescente de polaridade:
Fração 1 – 4,3 mg
Fração 2 – 1,8 mg
Fração 3 – 3,5 mg
Fração 4 – 6,6 mg
Fração 5 – 2,9 mg
Fração 6 – 4,2 mg
Fração 7 – 3,7 mg
Estes compostos também aguardam análises espectroscópicas.
A massa total desses produtos soma 27 mg, que correspondem a 44 % de rendimento
para a conversão a produtos nitrados. As frações majoritárias, 1, 4 e 6, correspondem a 16, 24
e 15 % de seletividade para a formaçaos de produto nitrados.
Muito embora não se tenha informações estruturais sobre os produtos formados, é
perceptível, pelo menos, que diferença significativa entre as metodologias para a formação
de derivados nitrados do naftoimidazol (60), o que pode ser justificado, em se pensando no
sistema reacional, pelo longo período ao qual foi submetida a reação em condição
109
heterogênea (20 horas), sob condição oxidante, e pela natureza ácida do suporte empregado,
montmorilonita k-10. Estes fatores somados podem ter contribuído para a formação de
produtos não cromatografáveis nas condições da separação, com possível degradação dos
produtos e / ou reagentes.
Além das reações apresentadas para esta investigação, que aguardam tomada de dados
espectrais para identificação das substâncias formadas, foi realizada uma reação teste, em
condição homogênea, em que foram reagidos 48 mg do naftoimidazol (60). Após separação
cromatográfica do produto bruto obtido, foi isolado um nitro derivado, composto (76) (6,6-
dimetil-2-nitro-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol), em quantidade
correspondente a cerca de 15% de rendimento, o qual foi analisado por RMN
1
H,
13
C,
13
C
(DEPT)
,
1
H x
1
H,
1
H x
13
C (
1
J),
1
H x
13
C (
2,3
J), Espectros 142 a 158 do cadernoa de
espectros. Com os dados obtidos foram feitas as atribuições dispostas a seguir, na Tabela 26.
110
Tabela 26. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do composto (76).
O
N
N
H
N O
O
1
2
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1' 2'
1
H x
13
C COSY Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
2
J
CH
3
J
CH
3b 179,00 - H4 H5
4 59,99 3,78 / t H5 H5 -
5 40,22 2,43 / t H4 H4 H1’, H2’
6 86,47 - H1’, H2’
202,21 - H8
7b 136,81 - - H9
8 129,29 7,86 / d H9 H9
9 135,91 7,56 / t H8, H10 H8
10 127,67 7,25 / t H9, H11 H11
11 123,12 7,88 / d H10 H10
11ª 130,45 - - H1O
11b 137,64 - - H11
1’ 28,89 1,42 / s - H2’
2’ 29,09 1,48 / s - H1’
m=multiplicidade dos sinais
Nos mesmos espectros também foram observados alguns sinais que não poderiam ser
atribuídos a estrutura do composto (76) . Estes dados, após uma atenção maior aos espectros
de correlação heteronuclear, sugeriram que durante a reação também formação do
composto (77) (6,6-dimetil-3-nitro-3,4,5,6-tetraidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol), cujas
atribuições são apresentadas na Tabela 27.
111
Tabela 27. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do composto (77).
O
N
N
N
O
O
1
2
3
4
6
5
7
8
9
10
11
11a
11b
7a
7b
3a
3b
1' 2'
1
H x
13
C COSY Posição δ
13
C (ppm) δ
1
H (ppm) / m
1
H x
1
H COSY
2
J
CH
3
J
CH
H4(a)= 2,38 / m H4(b), H5 - - 4
36,21
H4(b)= 2,54 / m H4(a), H5 - -
5
39,74
2,16 / m H4(a), H4(b) H4(b) -
6
86,28
- - - H4(a)
202,21 - - - H8
7b 136,81 - - - H9
8 129,29 7,86 / d H9 H9 -
9 135,91 7,56 / t H8, H10 H8 -
10 127,67 7,25 / t H9, H11 H11 -
11 123,12 7,88 / d H10 H10 -
11ª 130,45 - - - H10
11b 137,64 - - - H11
1’ 28,89 1,42 / s - - H2’
2’ 29,09 1,48 / s - - H1’
m= multiplicidade dos sinais
Na atribuição dos sinais referentes ao composto (77) levou-se em consideração a
redução dos valores dos deslocamentos químicos dos hidrogênios da porção alifática da
estrutura, possivelmente pela maior perturbação estérica sofrida pelo grupo nitro adicionado
na posição 3 da estrutura inicial, o que impediria sua participação efetiva na conjugação com
o sistema hetroaromático tricíclico e , conseqüentemente, reduziria a ‘intensidade’ do efeito
eletrônico retirador que este substituinte causaria sobre os elétrons pi dos anéis fundidos.
Além disso, o desdobramento dos sinais dos hidrogênios da posição 4 implica a existência de
alguma distinção dos ambientes químicos a que esses núcleos estão sujeitos, o que mostra
alguma coerência com a estrutura proposta, ao se considerar as posições pseudo-axial e
pseudo-equatorial ocupadas pelos núcleos em questão e a anisotropia que estes estariam
sujeitos pela ação da nuvem eletrônica do grupo nitro torcido em relação ao plano do conjunto
aromático; outra evidência que corrobora a não participação efetiva na conjugação / torção do
grupo nitro em relação ao sistema aromático e / ou anisotropia é o menor valor de
deslocamento químico atribuído para o átomo de carbono desta posição, que diferencia cerca
de 23,7 ppm do derivado nitrado (76) para a mesma posição.
No derivado (76) menos perturbação estérica em relação à participação do grupo
nitro na conjugação com os elétrons pi aromáticos, pelo contrário, possibilidade de
formação de ligação de hidrogênio intramolecular com o hidrogênio imidazólico, que
‘forçaria’ uma retenção conformacional favorável à conjugação efetiva do sistema pi do
substituinte com o restante da estrutura.
Na tabela com os dados do derivado (77), os valores em negrito foram observados
apenas nos espectros de correlação heteronuclear e os valores em itálico, que são os mesmos
observados para o composto (76), foram atribuídos, também para o (77), uma vez que não
112
foram observadas alteração na região de núcleos aromáticos no espectro de RMN
1
H nem nos
espectros de correlação heteronuclear.
O mecanismo proposto para a formação do composto (76) é:
O
CH
3
CH
3
O
O
N
+
O
O
-
O
H
+
O
CH
3
CH
3
O
+
O
H
N
+
O
-
O
-
O
+
CH
3
O
OH
+
CH
3
O
N
+
O
O
-
O
CH
3
O
N
+
O
O
-
O
CH
3
O
O
-
+
N
+
O
O
O
NH
N
CH
3
CH
3
N
+
OO
O
NH
N
+
CH
3
CH
3
N
+
H
O
-
O
CH
3
O
O
-
O
NH
N
CH
3
CH
3
N
+
O
-
O
Já para o composto (77), o mecanismo proposto é:
O
N
N
CH
3
CH
3
H
O
N
N
CH
3
CH
3
H
N
+
OO
O
N
+
N
CH
3
CH
3
H
N
+
O
-
O
CH
3
O
O
-
O
N
N
CH
3
CH
3
N
+
O
-
O
Também foi obtido o EM em alta resolução para o derivado nitrado (76), no qual foi
registrado o fragmento de massa relativo ao íon positivo do composto nitrado acrescido de
uma metila, proveniente do metanol empregado como solvente, cujo valor de m/z foi de
312,1006, Espectro 159 do caderno de espectros.
5.5 – Dimerização do naftoimidazol 60
Da separação cromatográfica do produto bruto da reação de dimerização foram
separados doze frações com as seguintes massas, em ordem crescente de polaridade:
Fração 1 – 1,4 mg
Fração 2 – 0,9 mg
Fração 3 – 0,5 mg
113
Fração 4 – 1,2 mg
Fração 5 – 3,1 mg
Fração 6 – 7,2 mg
Fração 7 – 5,0 mg
Fração 8 – 46,4 mg
Fração 9 – 3,0 mg
Fração 10 – 9,7 mg
Fração 11 – 6,6 mg
Fração 12 – 13,5 mg
As frações majoritárias 8 e 12 for submetidas a análises por RMN de
1
H, para ambas, e
13
C, para 12, contudo os resultados obtidos nestas análises foram muito complexos para se
extrair alugma informação conclusivas a cerca de que espécies possam ter sido formadas,
Espectros 160 a 170 do caderno de espectros.
Resta apenas conjecturar a formação de algum produto pelas frações obtidas na
separação cromatográfica e pela informação visual extraída durante a reação, onde ao longo
da adição de K
3
[Fe(CN)
6
] observou-se a mudança gradativa da cor da solução, de bege pálido
a cor de vinho tinto, supostamente referente a formação da espécie radicalar:
+ Fe
+
2
N
N
O
H
-
OH
N
N
O
N
N
O
Fe
+3
N
N
O
N
N
O
N
N
O
Para o radical formado pressupõe-se a contribuição de um conjunto complexo de
estrturas de estabilização. Duas tautoméricas, com a localização do elétron desemparelhado
nos orbitais sp
2
dos átomos de nitrogênio, e nas demais estruturas este elétron estaria
deslocalizado nos orbitais π da estrutura conjugada, nos vários componentes mesoméricos
possíveis.
Dentre as várias estruturas que contribuem para a estabilização do radical supõe-se,
novamente, que três delas seriam mais importantes na formação dos dímeros possíveis, que
são as seguintes espécies radicalares:
N
N
O
N
N
O
N
N
O
(I)
(II) (III)
114
Esta especulação leva em consideração o fato de que nos produtos possíveis de serem
formados, a partir das demais estruturas que contribuem para a estabilização do radical,
haveria perda completa da aromaticidade do sistema; enquanto que pelos radicais suscitados,
ocorrendo o simples acoplamento das espécies radicalares, haveria, pelo menos, a manutenção
da aromaticidade do anel formado pelos carbonos 7b, 8, 9, 10, 11 e 11a. Em ambos os casos
há possibilidade de rearranjo para o restabelecimento da aromacidade total do sistema.
Maiores esclarecimentos sobre a especulação acima só serão possíveis após uma
caracterização mais adequada para os produtos formados, o que permitirá estabelecer
hipóteses em torno das estabilidades termodinâmica e cinética das espécies envolvidas, que se
tornarão um pouco mais explícitas.
Considerando apenas os radicais citados e as restrições estereoquímicas de
aproximação entre as estruturas, bem como as possíveis restrições rotacionais ao longo das
ligações formadas; são possíveis quatorze produtos de acoplamento direto entre os radicais e
três se houver rearranjo para restabelecer a aromaticidade, nos casos possíveis, o que
totalizam dezessete produtos possíveis, por exemplo:
N
N
O
N
N
O
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
O
N
N
N
N
O
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
O
N
N
N
N
O
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
5.6 – Reação com lapachol 37
A reação do lapachol foi planejada considerando a participação da espécie orto-
quinonoídica no equilíbrio tautomérico desta espécie. O tautômero orto da quinona seria
passível de sofrer esta transformação, levando a formação de seu derivado imidazólico
(Esquema 47).
CH
3
CH
3
O
OH
O
CH
3
CH
3
O
O
OH
+
O
H H
n
AcONH
4
, suporte
µ
µµ
µ
-ondas
CH
3
CH
3
OH
NH
N
115
Esquema 47. Tautomeria e formação de derivado imidazólico a partir do lapachol.
Da separação cromatográfica realizada, foram agrupadas nove frações, sendo que as
frações 2 e 9, em ordem de eluição, as que possuíam maior grau de pureza, de acordo com o
acompanhamento feito por cromatografia em camada fina. Foram obtidas 25,2 mg de porduto
na fração 2, correspondentes a 20 % de rendimento e 29 mg na fração 9. Estas, foram
analisadas por RMN
1
H e
13
C e caracterizadas como 4-(3-metil-but-2-en-1-il)-3H-nafto[1,2-
d]imidazol-5-ol, (78), e 6,6-dimetil-3,6-diidrobenzo[7,8]cromeno[5,6-d]imidazol, (79),
respectivamente. As atribuições dos deslocamentos químicos que foram possíveis de se fazer
estão apresentadas nas Tabelas 28 [composto (78), Espectros 171 a 177 do caderno de
espectros] e 29 [composto (79), Espectros 178 a 183 do caderno de espectros], que seguem.
116
Tabela 28 Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, CDCl
3
) e
13
C (100 MHz, CDCl
3
)
do naftoimidazol (78).
NH
N
CH
3
CH
3
OH
8
9
3
1
5a
7
6
3a
5
4
2
2'
4'
3'
1'
9b
9a
1''
δ
1
H (ppm) / m Posição δ
13
C (ppm)
2 137,34 8,13 / s
4 106,29 -
5 150,10 -
6 122,43 8,41 / d
7 121,74 7,53 / t
8 124,84 7,63 / t
9 120,15 8,24 / d
1’ 27,68 3,78 / d
2’ 25,84 5,46 / t
3’ 128,53 -
4’ 25,84 1,84 / s
1’’ 24,09 1,93 / s
117
Tabela 29. Deslocamentos químicos de RMN
1
H (400 MHz, MeOD-d
4
) e
13
C (100 MHz,
MeOD-d
4
) do naftoimidazol (79).
11
8
7
3a
6
4
5
3
9
11a
11b
10
1
2
3b
1'
7b
7a
1''
O
NH
N
CH
3
CH
3
Posição δ
13
C
(ppm)
δ
1
H
(ppm)
/ m / J (Hz)
2 139,30 8,16 (s)
3b 107,21 -
4 119,02 6,94 / d / 7
5 131,07 5,84 / d / 7
6 77,93 -
8 123,46 8,22 / d / 8,5
9 125,42 7,45 / t / 8,5
10 127,84 7,55 /t / 8,5
11 122,20 8,27 / d / 8,5
1’ 27,81 1,54 / s
1’’ 27,81 1,54 / s
m=multiplicidade dos sinais
Para a formação do composto (79) sugere-se que a reação ocorra a partir do tautômero
para da quinona, onde o ataque inicial ocorreria no carbono que sustenta a hidroxila, com
substituição por um dos grupos amino do intermediário formado entre o aldeído e a amônia,
como na proposta de Orru
114
, seguido de posterior adição do grupo amino remanescente a
carbonila vicinal. O intermediáriio gerado nessa última etapa sofreria ação da natureza básica
do suporte sendo desprotonado no grupo metileno exocíclico. Por esta desprotonação se
formaria o intermediário que, por ciclização eletrocíclica, se converte em uma espécie
portadora de anel pirânico e esta, por sua vez, por processos oxidativos, aromatizaria a porção
diazólica da estrutura, formando por fim o núcleo imdazólico, como apresentado no Esquema
48.
CH
3
CH
3
O
OH
O
2 NH
2
+ CH
2
O
- H
2
O
NH
2
NH
2
+
- H
2
O
CH
3
CH
3
O
NH
O
NH
2
CH
3
CH
3
NH
O
N
H
OH
H
H
B
-
- BH / OH
-
O
NH
NH
CH
3
CH
3
O
CH
3
CH
3
NH
NH
[ O ]
O
CH
3
CH
3
NH
N
Esquema 48. Proposta para a formação do compposto (79)
118
5.7 – Avaliação bilógica dos derivados imidazólicos
Por se tratar de uma avaliação preliminar a informação direta que se extrai destes
resultados é a de que entre os compostos avaliados existem substâncias que são mais ativas e
outras menos. Contudo, ao se pensar nos resultados que estão acumulados na literatura
sobre esta classe de compostos, os dados obtidos somam-se ao conjunto de informações e
amplia o escopo estrutural avaliado a o momento, o que permitirá que possam ser feitas
correlações entre estrutura e atividade com uma maior variabilidade estrutural.
Das substâncias avaliadas o composto (60) foi o que apresentou maior atividade, cerca
de seis vezes maior que a do cristal violeta. O fato interessante é que este derivado não possui
substituintes na posição 2 do anel imidazólico, o que, pelos resultados registrados
anteriormente, parecia condição indispensável para uma boa atividade. Apesar do bom
resultado este composto é cerca de cinco a seis vezes menos ativo que o derivado imidazólico
mais ativo da β-lapachona preparado até o momento. Por outro lado, dada sua maior
simplicidade estrutural, pode constituir modelo estrutural para avalições posteriores, devido às
possibilidades de modificação estrutural.
5.8 – Produção bibliográfica
119
6 – Conclusões
120
O uso de microondas e reagente suportado na síntese de imidazóis derivados de orto-
quinonas, tais como: β-lapachona, ácido β-lapachona-3-sulfônico e nor-β-lapachona
possibilitou a formação de novos compostos com rendimentos satisfatórios, além de mostrar
viável o emprego desta metodologia para a formação destes compostos a partir de compostos
quinonoídicos com boa seletividade.
O emprego de paraformaldeído na síntese dos naftoimidazóis não substituídos,
empregando microondas, é uma alternativa que se mostrou viável e permitiu outras
investigações sobre a reatividade do sistema formado.
Para a síntese de imidazóis a partir de β-lapachona e dos compostotos relacionados, os
melhores rendimentos para a conversão foram alcançados quando o meio reacional (suporte
sólido) possuía natureza básica.
Através da investigação da reatividade desses imidazóis, frente às reações de
substituição eletrofílica aormática (nitração) e substituição nucleofílica alifática (metilação),
pôde-se obter, até o momento, 4 novos derivados, sendo 2 derivados metilados e 2 derivados
nitrados.
A análise dos métodos espectroscópicos permitiu a atribuição de valores de RMN para
as estruturas obtidas. Para os derivados nitrados, os dados espectroscópicos permitiram a
identificação dos dois derivados, mesmo um deles tendo sido considerado inicialmente como
impureza. Para a reação de metilação, os dados de NOESY permitiram a identificação dos
dois derivados metilados, quando ainda em mistura.
A variação característica ácido/base do sistema de eluentes permitiu a separação
cromatográfica dos dois derivados metilados, o que não foi observado em condição neutra.
A observação visual durante a reação de dimerização e os resultados preliminares das
análises espectroscópicas de algumas das frações isoladas indicam que houve formação de
produtos.
A reação com o lapachol forneceu dois novos derivados imidazólicos.
A presença de substituintes na posição 2 do anel imidazólico do naftoimidazol
derivado da β-lapchona não é condição indispensável para uma boa atividade contra a forma
tripomatigota do T.cruzi.
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