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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DESENVOLVIMENTO E ESPAÇO:
Da hierarquia da desconcentração industrial
da Região Metropolitana de São Paulo
à formação da Macrometrópole Paulista
Alexandre Abdal Cunha
São Paulo
2008
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Livros Grátis
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DESENVOLVIMENTO E ESPAÇO:
Da hierarquia da desconcentração industrial
da Região Metropolitana de São Paulo
à formação da Macrometrópole Paulista
Alexandre Abdal Cunha
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Sociologia, do
Departamento de Sociologia da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo, para a
obtenção do título de Mestre em
Sociologia.
Área de Concentração: Sociologia do
Desenvolvimento
Orientador: Prof. Dr. Alvaro Augusto
Comin
São Paulo
2008
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Alexandre Abdal Cunha
DESENVOLVIMENTO E ESPAÇO:
Da hierarquia da desconcentração industrial da Região Metropolitana de São Paulo à
formação da Macrometrópole Paulista
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Sociologia, do
Departamento de Sociologia da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, para a obtenção
do título de Mestre em Sociologia.
Área de Concentração: Sociologia do
Desenvolvimento
Data da aprovação:
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Alvaro Augusto Comin (Presidente)
Instituição: FFLCH/ USP Assinatura: _____________________
Prof. Dr.: Glauco Antonio Truzzi Arbix
Instituição: FFLCH/ USP Assinatura: _____________________
Prof. Dr.: Renato de Castro Garcia
Instituição: Escola Politécnica/ USP Assinatura: _____________________
A meu pai,
pela sua insistência em participar da minha vida.
AGRADECIMENTOS
A primeira coisa pela qual se deve ser grato em uma sessão de agradecimento é
por ter a quem agradecer. O simples fato de chegar ao final de um longo e solitário
trabalho com tantas pessoas dignas de agradecimento é, por si só, um fato
extremamente reconfortante.
Gostaria de começar pelo meu orientador, chefe, professor, colega e amigo
Alvaro. Foi quem me ensinou os primeiros passos do ofício, é quem me mostra como
“amarrar o sapato” como gosta de dizer, desde os tempos do PET até os dias de
hoje. Obrigado por todos os conselhos, as idéias, as dicas, as críticas, os estímulos
etc., além, é claro, de todas as oportunidades dadas.
Um obrigado muito especial a Glauco Arbix e Renato Garcia, que compuseram a
minha banca de qualificação e integrarão a minha banca de defesa. Quanto ao
primeiro, devo mencionar que muito me ensinou, seja como professor, chefe,
interlocutor ou amigo. em relação ao segundo, destaco toda a disponibilidade e
simpatia em aceitar participar de minha banca e em me receber mesmo sem ter a
obrigação de fazê-lo.
Agradeço especialmente à minha companheira, Daniela, mulher da minha vida,
que comigo sempre esteve, carinhosamente reclamando. Obrigado por ter lido meus
rascunhos, pelas intermináveis discussões e por todos os ensinamentos. Também a
meus pais, Luiz Carlos, que revisou minhas tabelas e a quem dediquei o trabalho; e a
Maria Tereza, que sempre me forneceu todo o apoio, aquele que só uma mãe sabe dar.
A meu sogro, Aloysio, por todas as horas de discussão desinteressada e comilança
interessada. À minha sogra, Ana Maria, pela ajuda fantástica com a prova teórica do
mestrado. A Alfredo, por toda a sua flexibilidade e ethos democrático e por ter ajudado
com a revisão do texto final. À Ana Paula, pela pessoa que é e por ter feito a revisão do
texto final. A Bartolomeu, que sempre esteve comigo, mesmo sem falar uma palavra.
Aos meus colegas e parceiros cebrapianos, com quem passei ótimas horas
discutindo, apreendendo, criticando e bebendo café, por me ensinarem que o trabalho
de pesquisa não é necessariamente um trabalho solitário e condenado ao
esquecimento. Marcinha, chefe e amiga, aprendi muito com você. Cris, me ensinou a
gostar da docência. Cláudio, obrigado pelos seus ótimos conselhos e, pelo bem do
grupo, reaproxime-se. Bernardo, me ajudou muito com o projeto de mestrado, mas
sumiu faz algum tempo. Alê, a melhor contratação da última temporada. Cadu, o
primogênito, obrigado por ter aberto o caminho e por ter aumentado a responsabilidade
dos próximos. Dona Zil, outro exemplo a seguir: que todos peguemos carona em seu
vôo. Demétrio, colega querido. Any, obrigado pela empolgação, vivacidade e alegria
contagiantes. Carol, obrigado por nunca deixar os lugares em silêncio. Gra, pela
felicidade e singelas risadas. Fred, amigo do peito, apesar de palmeirense,
acompanhou toda a minha curta trajetória. Bruno, companheiro de dados quantitativos.
Joana, sempre prestativa e interessada. Marina, companheira de sala, me ajudou muito
com o inglês, especialmente com o verbo to be. Edgard, pela ajuda com o SPSS.
Agradeço ainda à Maria, à Luciana e ao Davi, que, infelizmente, pouco ficaram
conosco, a Miriam, Adrian, Peter, Maurício, Osvaldo, Thiago, Tiarajú, Mônica, Gilsa,
Murilo e Pri, pessoas com quem tive menos contato mas com quem, com certeza, tenho
muito o que aprender.
No âmbito do Cebrap, gostaria de mencionar a pesquisa Desenvolvimento
regional e desigualdades sócio-produtivas: tendências recentes, redefinições
conceituais e desdobramentos em termos de políticas públicas, financiada pela
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), com a qual colaborei nos últimos três
anos e que me permitiu obter boa parte dos insumos necessários para a realização da
presente dissertação.
Agradeço também todas as pessoas que me ajudaram de forma mais ou menos
pontual nesses dois últimos anos. Daniel da Datamec, que me ensinou a usar a Rais.
Vagner do Seade, pela paciência de ler e discutir o meu projeto, além pelas dicas com
a Paep. Marisa e França, também do Seade, que me ajudaram com a Paep.
A todos os meus amigos, principalmente àqueles que acompanharam todo o
caminho que trilhei até aqui, desde os tempos de graduação: Tata, Gui 68, Dri, Brunão,
Stefan, Gustones, Renatinha, Rômulo, Lili, Balta, Tião, Bianca, Rento, Marília. Também
aos meus colegas de pós-graduação Gláucia, Célia, Maria, Tiarajú, Arthur,
Uvanderson e Fred, entre outros com os quais tive a oportunidade de discutir nossos
respectivos projetos, e, é claro, à professora Maria Arminda, que nos guiou nessa
empreitada.
Por fim, devo agradecer o apoio fornecido pela Fapesp, sem o qual a presente
dissertação seria inviável. Agradeço, ainda, ao meu parecerista anônimo, pois, embora
eu não o conheça, teceu importantes críticas ao trabalho.
RESUMO
O presente trabalho insere-se no debate sobre desenvolvimento regional
brasileiro. Parte da constatação de que a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)
foi o epicentro do processo de industrialização brasileira e de que, a partir de 1970,
apresenta fortes quedas em sua participação na produção industrial e no emprego. A
primeira forma de qualificação desse fenômeno o caracterizou como de
desindustrialização, porém tal tese foi refutada pela literatura mais recente sobre
desenvolvimento regional paulista, segundo a qual o fenômeno consistia em um
espraiamento da zona de influência da metrópole paulista para o seu interior adjacente,
conjuntamente com uma forte tendência de reestruturação produtiva desencadeada
pelos processos de abertura comercial, de desregulamentação da economia e de
privatizações. Tal espraiamento não se realizou de maneira aleatória, mas obedeceu a
uma hierarquia fundada no grau de modernidade e dinamismo, desconcentrando na
RMSP e em seu entorno as atividades econômicas mais rotineiras e ali concentrando
as mais modernas.
Além de realizar a verificação empírica dessa hipótese, intenta-se aqui investigar
as principais tendências locacionais presentes na economia paulista no pós 1985, com
especial atenção para a formação de um espaço econômico mais amplo, formado pela
RMSP e pelo seu entorno, também chamado de Macrometrópole Paulista. Sua
característica básica é a articulação entre indústria e serviços produtivos, com a
primeira tendendo a se tornar intensiva nas localidades adjacentes à metrópole paulista
e os segundos, na própria capital. Vale destacar, entretanto, que a indústria,
principalmente aquela de caráter mais moderno, permanece bastante concentrada na
RMSP, de forma que a ascensão de segmentos de serviços não ocorreu em contexto
de esvaziamento da indústria.
Palavras-chave: Região Metropolitana de São Paulo (RMSP); Macrometrópole
Paulista; localização; espaço; reestruturação produtiva
ABSTRACT
The present dissertation intends to deal with the Brazilian regional development
debate. It recognizes the fact that Sao Paulo Metropolitan Region (SPMR) was the most
important area of the Brazilian industrialization process, and since 1970 it has been
losing industrial weight concerning output and jobs. The phenomenon had been firstly
interpreted as a typical deindustrialization process. That notwithstanding, a more recent
literature has managed to prove the error of this sort of explanation. In this sense, they
have set an alternative interpretation for the phenomenon emerged which sees it as
being a result of the spread of SPMR influential area to its adjoining regions, in a context
of huge productive restructuring process caused by trade openness, economic
deregulation and privatizations. Such spread has not been realized in a random way.
Rather it has followed a kind of hierarchy based on a modernity and dynamism degree,
which have de-concentrated from SPMR the most routinized industrial activities and
concentrated there the most modern ones.
Beyond testing the addressed hypothesis, this dissertation aims also to
investigate Sao Paulo’s post 1985 locational patterns, with special attention to the
development of a wider economic territory, named Sao Paulo’s Macrometropolis
constituted by SPMR and its adjoining regions. Its main characteristic is the existence of
linkages amongst industry and productivity services, in such a pattern that the first tends
to become intensive outside SPMR and the second, inside it. A further issue must be
noted, however. The industry, especially the most modern one, remains highly
concentrated in SPMR. In other words, at least in the case of SPMR, the development of
productivity services should not be understood as a substitute for industry.
duas maneiras de se alcançar Despina: de navio ou de camelo. A
cidade se apresenta de forma diferente para quem chega por terra ou por mar.
O cameleiro que vê despontar no horizonte do planalto os pináculos do
arranha-céus, as antenas de radar, os sobressaltos das birutas brancas e
vermelhas, a fumaça das chaminés, imagina um navio; sabe que é uma cidade,
mas a imagina como uma embarcação que pode afastá-lo do deserto [...]
Na neblina costeira, o marinheiro distingue a forma da corcunda de um
camelo, de uma sela bordada de franjas refulgentes entre duas corcundas
malhadas que avançam balançando; sabe que é uma cidade, mas a imagina
como um camelo [...]
Ítalo Calvino. As cidades invisíveis. (1990).
São Paulo! Comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal! ...Traje de losangos... Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!...
[...]
Mário de Andrade. Paulicéia desvairada (1922).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 13
1
A CONSTRUÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA E O DEBATE SOBRE
A DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL 18
1.1
Carlos Roberto Azzoni e a noção de Campo Aglomerativo 19
1.2
Limitações e desdobramentos do trabalho de Azzoni 21
1.3
Clélio Campolina Diniz: ampliação dos fatores explicativos e a tese do
desenvolvimento poligonal 23
1.4
Wilson Cano: desenvolvimento complementar entre São Paulo e o
resto do país 27
1.5
Em busca de unidade: Carlos Américo Pacheco e a tese da
fragmentação da nação 29
1.6
Síntese 32
2
A OPERACIONALIZAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA: O RECORTE
TEMPORAL 37
2.1
A década de 1990 e a inflexão na trajetória de desenvolvimento da
economia brasileira 38
2.2
O período 1994-2005 41
2.3
Reestruturação produtiva: a dissociação entre a trajetória da produção
física e do emprego industrial 43
2.4
Digressão: o desenvolvimento o setor de serviços (produtivos) na
RMSP 46
2.5
Os impactos da reestruturação produtiva sobre o ESP 51
2.6
Síntese 63
3
A OPERACIONALIZAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA: O RECORTE
ESPACIAL 65
3.1
Especialização X diversificação produtiva 66
3.2
O Estado de São Paulo e suas localidades 68
3.3
Medidas de localização: a utilização do Quociente Locacional 71
3.4
A Região Metropolitana de São Paulo 73
3.5
A Região Metropolitana de Campinas 76
3.6
O Resto da Região Administrativa de Campinas 79
3.7
A Região Administrativa de São José dos Campos 82
3.8
A Região Administrativa de Sorocaba 84
3.9
A Região Metropolitana da Baixada Santista 85
3.10
As Demais Regiões Administrativas do Estado de São Paulo 87
3.11
Síntese 90
4
A VERIFICAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA 92
4.1
A Relação Anual de Informações Sociais 93
4.2
A intensidade tecnológica da atividade industrial 95
4.3
Análise exploratória da dinâmica locacional da indústria no Estado de
São Paulo entre 1985 e 2005 99
4.4
Análise da dinâmica locacional da indústria no Estado de São Paulo,
segundo o grau de intensidade tecnológica, entre 1995 e 2005 107
5 CONCLUSÕES 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 120
ANEXOS 125
1
Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 125
2
Municípios por localidades selecionadas do Estado de São Paulo 127
3
Classificação das atividades econômicas segundo a CNAE 1.0 - em
ramos de atividade 132
4
Classificação das atividades industriais segundo a CNAE 1.0 - em
grupos de intensidade tecnológica 135
13
INTRODUÇÃO
A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), vista da perspectiva do processo
histórico da industrialização brasileira, pode ser compreendida como uma ntese do
padrão de desenvolvimento de boa parte das sociedades periféricas. Aqui, síntese deve
ser entendida como uma condensação das contradições do processo de
desenvolvimento capitalista nessas sociedades, caracterizada por industrialização
acelerada e concentrada, êxodo rural e forte urbanização, desigualdades na densidade
do capital entre os diferentes setores de atividade econômica, desigualdades na
distribuição da renda e grande heterogeneidade estrutural no mercado de trabalho, com
a persistência de bolsões de informalidade (COMIN e AMITRANO, 2003, p.53-54).
Nesse sentido, as desigualdades sociais e regionais parecem ser elementos
constitutivos do próprio processo de desenvolvimento dessas sociedades. No caso
brasileiro, essas desigualdades aumentaram mesmo em ciclos de crescimento
econômico. Do ponto de vista regional, a trajetória econômica da RMSP no século XX
confirma a tendência à concentração da atividade econômica.
A não tão recente retomada do debate sobre desenvolvimento econômico,
frente às baixas taxas de crescimento que o País experimenta desde a década de
1980, converge no sentido de advogar a urgência do reingresso em um novo, robusto e
sustentável ciclo de crescimento econômico. Porém, diante da experiência histórica
brasileira, não há nada que sugira que esse possível novo ciclo venha a ser redutor das
desigualdades sociais e regionais. Muito pelo contrário: se políticas específicas não
forem implementadas, dificilmente verificar-se-á convergência dos níveis de renda e de
desenvolvimento regional.
Mesmo com a perda relativa da participação da RMSP em termos de produção
industrial e emprego frente ao Estado de São Paulo (ESP) e à nação, observável a
partir da década de 1970, não se configura um fenômeno de aumento da igualdade
regional e de distribuição mais eqüitativa da atividade econômica pelo espaço nacional.
Ao contrário, tal fenômeno tem a ver com o espraiamento da zona de influência da
14
RMSP rumo ao seu interior próximo
1
, com a conseqüente manutenção e o reforço da
posição central da RMSP na economia nacional. Nem o desenvolvimento de novos e
importantes pólos industriais em outras localidades da região Centro-Sul, como as
Regiões Metropolitanas de Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte e as cidades de
Uberlândia, Londrina, Maringá e Florianópolis, tiraram a RMSP dessa posição central.
Deve-se notar, ainda, que o dito processo de espraiamento da atividade
econômica não ocorre de maneira aleatória, mas segue uma certa hierarquia. Desse
modo, as atividades industriais que tendem a se desconcentrar da RMSP são aquelas
típicas da segunda revolução industrial
2
, ancoradas em padrão de competitividade
fundado no preço do produto e em mão-de-obra barata e pouco qualificada. Tais
atividades apresentam tendência de rumar para territórios com baixos custos de
localização, porém que ofereçam boa infra-estrutura. A infra-estrutura adequada é um
dos fatores que faz com que as atividades industriais em questão se reconcentrem em
localidades específicas do próprio ESP ou da região Centro-Sul.
O referido fenômeno de espraiamento da região de influência da RMSP, mais
visível nas décadas de 1970 e 1980, é seguido de forte processo de reestruturação
produtiva na década de 1990, o qual é realizado em contexto de abertura comercial, de
desregulamentação da economia e de privatizações. Os ditos processos implicaram o
abandono da estratégia histórica de desenvolvimento brasileiro, caracterizada por
modelo de industrialização por substituição de importações com foco no mercado
interno, por economia fechada e por um Estado com atuação fortemente
intervencionista, inclusive como produtor direto. Em decorrência desse novo padrão de
inserção da economia brasileira na economia internacional, as empresas instaladas no
País se depararam com a urgente necessidade de implementarem processos de
reestruturação produtiva com o objetivo de manutenção da competitividade.
Dois elementos próprios da reestruturação produtiva que se associam ao referido
esforço de manutenção da competitividade devem ser destacados. Vale notar que,
devido à posição central da RMSP na economia nacional, nela tais elementos são
especialmente intensos. O primeiro diz respeito à enorme queda da participação
1
Que inclui localidades como Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos, entre outras.
2
Exemplos dessas indústrias são as de alimentação, vestuário, calçados, química básica, plástico,
montagem de eletro-eletrônicos, siderurgia e celulose.
15
relativa e absoluta do emprego industrial, acompanhada de grande elevação da
produtividade. Nesse sentido, a década de 1990 experimenta uma inédita tensão entre
emprego e produção
3
. Em outras palavras, tal década assiste a períodos nos quais a
expansão da atividade industrial não é acompanhada por elevação no nível do emprego
industrial. A introdução de novos métodos e técnicas de gestão da produção, bem como
o acesso a insumos e equipamentos importados, figuram entre os principais fatores que
explicam tal fenômeno.
O segundo é o grande crescimento do emprego no setor de serviços,
compensando parcialmente as perdas da indústria. Esse movimento congrega, por um
lado, o processo de transferência para o setor de serviços de atividades rotineiras não
ligadas ao centro da produção
4
; e, por outro, forte crescimento de segmento moderno
de serviços especializados de apoio à produção
5
. Nesse sentido, o fenômeno do
crescimento do setor de serviços – ou pelo menos parte dele – na RMSP tem a ver com
a manutenção do vigor e do dinamismo da indústria na região.
Deve-se ressaltar, ainda, que o desenvolvimento de um segmento bastante
moderno e dinâmico de serviços prestados às empresas, intensivos em conhecimento,
tem relação com um movimento de promoção e manutenção da competitividade. Assim,
as atividades industriais inseridas em novo paradigma produtivo, com competitividade
baseada na diferenciação de produtos e diretamente dependentes dos processos de
inovação
6
, demandam grande rol de serviços especializados, além de relações estreitas
de cooperação com fornecedores e compradores, fluxos ágeis e flexíveis de
informações, mão-de-obra especializada e diversificada e proximidade com
universidades e institutos de pesquisa. Esse segundo tipo de indústria, ao contrário do
3
O ineditismo da situação deriva do fato de a redução do emprego industrial ocorrer em momento de
expansão do produto industrial. Ao se comparar o momento em questão com outros, também
caracterizados pela redução do emprego industrial, como a primeira metade da década de 1980, por
exemplo, percebe-se que a produção industrial também experimentou um movimento descendente. É
verdade que, em ambos os momentos, os resultados da combinação dos movimentos do emprego e
produto industrial são semelhantes, embora não se possa deixar de destacar que, apesar de
semelhantes, esses momentos encobrem arranjos spares. Tal assunto será melhor discutido no
capítulo dois da presente dissertação.
4
Atividades como segurança e vigilância, alimentação e limpeza, entre outras.
5
Entre tais serviços, destacam-se pesquisa e desenvolvimento, consultoria, marketing, informática e
telecomunicações, entre outros.
6
A indústria microeletrônica e a de informática constituem bons exemplos desse tipo de atividade.
16
anterior, tende a se concentrar em grandes áreas metropolitanas o que, no caso
brasileiro, significa, prioritariamente, a de São Paulo.
Ainda, concomitante aos processos de espraiamento de sua zona de influência e
de reestruturação produtiva, a RMSP além de manter sua posição de principal centro
industrial do país, de região atrativa para a porção mais moderna e dinâmica da
indústria e de pólo concentrador de serviços especializados assume novas funções.
Entre elas destacam-se as de centro de comando da economia nacional
7
, a de centro
articulador desta com a economia internacional expresso no fato de a RMSP ter se
tornado a principal opção de localização para sedes de empresas nacionais e sedes
regionais de empresas multinacionais e a de centro financeiro do país. Apesar de ser
tentador incluir São Paulo no grupo das cidades globais, argumentar-se-á que a cidade
conserva características qualitativamente distintas das de seus supostos pares do
Norte, de modo que não se deve rotulá-la sob tal alcunha. Opta-se, assim, por apontar
apenas que São Paulo assumiu certas funções próprias de uma cidade global. Esse
ponto será retomado no segundo capítulo.
Deve-se notar, no entanto, que, mais do que por um movimento de substituição
daquelas empresas regidas por paradigma produtivo fordista, por novas, inseridas
em regime de produção flexível, o ESP e a RMSP se caracterizam pela sobreposição
desses dois tipos de empresa. Ao contrário do que ocorreu nos países desenvolvidos,
que expulsaram suas manufaturas tradicionais, o Brasil promoveu a convivência de
ambos os tipos de indústria nos mesmos espaços, ou, pelo menos, em espaços muito
próximos, evidenciando, talvez, algo que constitua um marco dos chamados países
emergentes – ou, para usar um termo um pouco fora de moda, dos países periféricos.
Nesse contexto, a presente pesquisa tem por objetivo verificar a hipótese de que
o espraiamento da indústria no ESP segue, de fato, uma hierarquia fundada no grau de
modernidade e dinamismo. Embora essa hipótese tenha sido sugerida por diversos
autores
8
, ela ainda carece de adequada fundamentação empírica. Também é objetivo
da pesquisa investigar a existência e a qualidade das possíveis relações entre as
7
E, se não parecer exagerado, também centro de comando da economia da América do Sul.
8
Uma discussão sobre tais autores será feita no primeiro capítulo.
17
atividades econômicas das diversas localidades do ESP, em especial para aquelas que
se localizam na RMSP e no seu entorno próximo.
O primeiro capítulo abordará o modo pelo qual a hipótese da presente pesquisa
foi construída, a partir do debate recente sobre desenvolvimento regional. A discussão
será feita a partir de, basicamente, quatro importantes autores – Carlos Roberto Azzoni,
Clélio Campolina Diniz, Wilson Cano e Carlos Américo Pacheco e dará ênfase à
posição que a RMSP e o ESP ocupam na economia nacional, bem como às formas
com que as suas respectivas trajetórias foram afetadas pelas várias tendências de
localização da atividade industrial no Brasil pós 1970.
Nos capítulos dois e três, serão apresentadas as estratégias de verificação da
hipótese de pesquisa, ou seja, sua operacionalização. Duas dimensões são tidas como
fundamentais: a temporal e a espacial. A definição e a caracterização dos períodos de
análise será feita por meio da incorporação do debate acerca dos impactos das
reformas econômicas dos anos de 1990 sobre a estrutura produtiva brasileira; enquanto
a definição dos agregados territoriais de análise será feita a partir de considerações
sobre o debate do papel das cidades para o desenvolvimento econômico
9
. Dados
empíricos acerca da inserção do ESP e da RMSP nos processos de reestruturação
produtiva e das configurações produtivas das localidades do ESP serão apresentados
concomitantemente.
Por fim, no quarto capítulo, dois exercícios empíricos serão apresentados, a fim
de realizar a verificação da hipótese. O primeiro consiste em investigação acerca da
localização de doze setores industriais no ESP para o período 1985-2005. O segundo
tem o mesmo intuito do primeiro, porém incorpora uma classificação que permite a
hierarquização da atividade industrial segundo o seu grau de dinamismo e
modernidade, para os anos de 1995 e 2005. Ambos os exercícios foram feitos a partir
da Relação Anual de Informações Anuais (Rais). Dados complementares, elaborados a
partir da Pesquisa de Atividade Econômica Paulista (Paep), testarão a consistência da
referida classificação.
9
Vale notar que as definições tanto dos períodos de análise quanto dos agregados territoriais de análise
se baseiam em considerações teóricas. Nesse sentido, é a teoria que norteia o modo pelo qual os dados
empíricos são utilizados, ou seja, que lhes sentido. Há, entretanto, sérias limitações práticas para a
utilização dos dados, provenientes da sua disponibilidade, adequação e correção. Tais limitações serão
indicadas sempre que forem relevantes para a análise.
18
1 A CONSTRUÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA E O
DEBATE SOBRE A DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
Em 1970, a RMSP concentrava 44% de toda a produção industrial do País e
34% do emprego. Já em relação ao ESP, a RMSP concentrava 76% do valor de
transformação industrial e 70% do emprego. Porém, a partir dessa década a tendência
de concentração industrial na RMSP é revertida e, em 1999, a participação da RMSP
na produção industrial do País caiu para “apenas” 26%, e o emprego, para 24%; em
relação ao estado, caiu para 54% de todo o valor de transformação industrial e para
55% do emprego (DINIZ, 2002, p.88).
No que tange à sua estrutura ocupacional, a RMSP também apresentou grande
variação. Enquanto em 1985 o setor industrial era responsável por 32,8% do emprego e
o de serviços por 40,7%, em 2004 a indústria contabilizava 19,1% dos postos de
trabalho e os serviços 53,1% (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2005, p.71-72).
Tais evidências sugerem que não a posição da RMSP, do ponto de vista da
concentração da atividade industrial, se alterou num passado recente, como também
sua própria estrutura produtiva passou por profundas transformações. A forma como se
interpreta o referido fenômeno, ou, de modo mais amplo, como se compreende a
trajetória da RMSP e do ESP no pós 1970, é de fundamental importância para a
construção da hipótese da presente pesquisa. Nesse sentido, neste capítulo, serão
discutidas algumas das principais análises do campo do desenvolvimento regional que
tenham por objetivo explicar o processo de desconcentração industrial ocorrido no
Brasil a partir da década de 1970, com ênfase para a inserção da RMSP e do ESP
10
.
Autores como Carlos Roberto Azzoni, Clélio Campolina Diniz, Wilson Cano e
Carlos Américo Pacheco concordam no que diz respeito à desconcentração relativa da
produção industrial da RMSP no período que se inicia na década de 1970 e vai até
10
Deve-se salientar que a discussão das referidas análises tem o objetivo explícito de subsidiar a
construção da hipótese de pesquisa. Portanto, não será feita uma exposição exaustiva do debate sobre o
desenvolvimento regional brasileiro.
19
meados da década de 1980, apesar de seus diferentes referenciais teórico-
metodológicos
11
. O dissenso dessas análises aparece na compreensão de como tal
desconcentração se manifesta na trajetória da RMSP e no papel atribuído a ela na
economia estadual e na nacional, especialmente no período mais recente do pós-1985
(AMITRANO, 2004, p.90).
1.1 Carlos Roberto Azzoni e a noção de Campo Aglomerativo
No seu clássico livro Industrialização e reversão da polarização no Brasil,
Azzoni (1986) parte da crítica à tese da “reversão da polarização” da RMSP. Essa foi a
primeira forma de identificação do movimento de perda relativa da participação da
RMSP na produção industrial nacional
12
. Azzoni (1986, p.22-23) aponta que a noção de
reversão da polarização refere-se à situação na qual um ponto de mudança em relação
às tendências de polarização espacial na economia nacional pode ser observado. É
precisamente a partir desse ponto que o processo de concentração lugar a um
processo de dispersão da atividade econômica para fora da região original. A reversão
da polarização é associada ao surgimento de “deseconomias de aglomeração”
13
derivadas do crescimento dos grandes centros urbano-industriais, em paralelo ao
desenvolvimento de novas “economias de aglomeração” em espaços urbanos de menor
porte.
Apesar de Azzoni estruturar seu livro a partir da crítica à referida tese, ele
compartilha a centralidade explicativa que ela confere aos fatores aglomerativos e aos
custos locacionais, ao mesmo tempo em que visa dar um tratamento mais sofisticado a
estes. Os fatores aglomerativos são tradicionalmente divididos em economias de escala
(internas às plantas), economias de localização (internas ao setor) e economias de
11
Outro ponto de consenso é a recusa de interpretar o referido fenômeno como um processo de mera
substituição da indústria pelo setor de serviços.
12
Ver, por exemplo, Toewnroe e Keen (1984).
13
“Por ‘deseconomias de aglomeração’ entendia-se um conjunto de variáveis, entre as quais se
destacam os maiores custos de transporte, de terrenos, de serviços e de infra-estrutura urbana, incluindo-
se outras que provocam alteração na organização da produção e na sua produtividade, como ampliação
do poder sindical da classe trabalhadora, questões ambientais, com deterioração nas condições de vida
nos grandes centros urbanos, queda na produtividade do trabalho etc.” (NEGRI, 1996, p.15).
20
urbanização
14
. É sobre estas últimas que Azzoni estrutura seu argumento, ao entender
que as economias de urbanização não se restringem aos limites físicos dos centros
urbanos, sendo, portanto, regionalizadas e devendo ser concebidas como campos de
forças que atraem atividades econômicas dos mais diferentes tipos
15
.
os custos de localização basicamente, custo da mão-de-obra e custo da
terra – crescem com o tamanho urbano. Isso implica que as empresas que se localizam
nas grandes cidades são justamente aquelas que dependem mais decisivamente das
vantagens de aglomeração por elas oferecidas.
Dessa forma, é a partir da articulação entre economias de urbanização e custos
de localização que Azzoni realiza um deslocamento teórico-metodológico que lhe
permite romper com as análises precedentes de reversão da polarização da RMSP
sem, entretanto, romper com o seu referencial teórico. O referido deslocamento
consiste precisamente na possibilidade de uma empresa se situar dentro de uma dada
região e, assim, gozar de suas vantagens aglomerativas sem, contudo, localizar-se na
sua maior cidade, fugindo, portanto, dos custos locacionais mais elevados.
Assim, a RMSP não estaria inserida em um processo de reversão de polarização
– ou mesmo de desindustrialização –, mas em um processo de espraiamento da
indústria de transformação rumo ao seu interior próximo, num Campo Aglomerativo de
cerca de 150 km de raio, a partir do centro da cidade de São Paulo. Esse Campo
Aglomerativo, que também pode ser chamado de Macrometrópole Paulista,
compreende, além da RMSP, as cidades de Campinas, São José dos Campos,
Sorocaba, Santos e Jundiaí, entre outras. Esse fenômeno, foi denominado por Azzoni
de “desconcentração concentrada”.
14
As economias de urbanização, no entender de Azzoni (1986, p.73), são todas aquelas vantagens que
incentivam as empresas a se localizarem em grandes centros, como, por exemplo, um setor de serviços
bem desenvolvido, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada e o acesso a novas técnicas e a novos
produtos, entre outras.
15
O desenvolvimento tecnológico caminharia no sentido de reforçar o papel das economias de
urbanização, na medida em que reduzisse os custos de transportes (AZZONI, 1986, p.76).
21
1.2 Limitações e desdobramentos do trabalho de Azzoni
Apesar de Azzoni fornecer uma explicação muita atrativa para a dinâmica da
economia paulista no período 1970-1985, esse autor não esgota seus fatores
explicativos, além de desconsiderar a dinâmica da economia do resto do País. As
críticas à tese de Azzoni podem ser agrupadas em dois conjuntos, muito embora tal
separação seja apenas analítica, já que os dois conjuntos são interdependentes
16
.
O primeiro conjunto de críticas refere-se ao fato de Azzoni não incluir na análise
o desenvolvimento de outras localidades da região Centro-Sul do País e do próprio
ESP, mas fora do Campo Aglomerativo da RMSP. Além disso, pode-se questionar o
modo pelo qual Azzoni interpretaria as tendências locacionais no pós 1985.
o segundo conjunto de críticas deriva da insuficiência do binômio
economias/deseconomias de aglomeração para explicar a dinâmica locacional da
atividade industrial. Nesse sentido, importantes fatores explicativos, tais como o papel e
a qualidade da intervenção blica, o tipo da inserção da economia nacional na
internacional, o processo de unificação do mercado nacional, as transformações da
estrutura produtiva, a infra-estrutura sica e de P&D pré-existente e a disponibilidade
de recursos naturais, devem ser incorporados à análise.
A resposta do primeiro conjunto pode ser encontrada em trabalhos posteriores
de Azzoni, enquanto a do segundo, requer a expansão dos pressupostos explicativos
do autor. Tanto em Competitividade regional e reconcentração industrial: o futuro das
desigualdades regionais no Brasil (1998) quanto em Sobre a necessidade da política
regional (2002), Azzoni volta a tratar dos temas da localização da atividade econômica
e da produção e reprodução das desigualdades regionais associadas ao processo de
desenvolvimento econômico. Porém, pelo menos nesses dois artigos, ele deixa em
segundo plano o binômio economias/deseconomias de aglomeração, para centrar a
análise em indicadores de competitividade das unidades da federação
17
.
16
Outros modos de agrupar as críticas feitas à tese da desconcentração concentrada de Azzoni podem
ser encontrados em Clélio Campolina Diniz (1993, p.53), em Barjas Negri (1996, p.17-18) e em Carlos
Américo Pacheco (1998, p.213-214).
17
O pressuposto desse indicador é que uma região tende a atrair novos investimentos, de modo a
aumentar o seu grau de concentração da atividade econômica, na medida em que conta com veis de
lucratividade superiores aos da média nacional (AZZONI, 2002, p.24).
22
A análise do período que se inicia em 1970 e vai até o início do atual século
revela dois momentos distintos nos movimentos de concentração/desconcentração da
atividade industrial no País. No primeiro, que compreende o período 1970-1985, o ESP
apresenta tendência de queda nos índices de lucratividade, sendo ultrapassado pelos
estados de Minas Gerais e Paraná. A partir de 1985, o ESP reverte essa tendência
declinante e firma-se novamente, ao lado de Minas Gerais e Paraná, como um dos
estados com melhores índices de lucratividade. Assim, o primeiro momento é marcado
por desconcentração da atividade industrial; e no segundo, com a recuperação de São
Paulo, tal movimento é estancado.
Dentre as causas que explicariam a recuperação do ESP, Azzoni (1998, p.18-23;
2002, p.28-33) destaca elementos próprios da década de 1990, os quais se associam à
rápida abertura econômica, ao crescimento da internacionalização da economia e ao
abandono, por parte do Estado, de políticas de corte industrial e regional. Desse modo,
argumenta que certas alterações no âmbito da reestruturação produtiva downsizing,
alteração do padrão de propriedade e flexibilização das relações de trabalho –, bem
como a rápida entrada de novas tecnologias da comunicação e informática as quais
promoveram nova configuração das relações de produção –, tiveram efeitos
concentradores do ponto de vista territorial em prol das regiões mais desenvolvidas da
nação.
Percebe-se nesses dois artigos que Azzoni tentou incorporar à análise dos
processos de concentração e desconcentração da atividade econômica tanto regiões
no caso estados não contempladas inicialmente quanto fatores explicativos que vão
além das economias de aglomeração. Entretanto, tais artigos tratam da dinâmica
locacional da atividade econômica ainda de forma simplificada por exemplo, têm os
estados como unidade de análise e apenas esboçam uma explicação mais eclética de
tal dinâmica. Daí a necessidade de se olhar para outros autores que tenham se
dedicado à explicação do mesmo problema, mas sob outro ponto de vista
18
.
18
Vale notar que embora esses autores não tenham lançado mão de um instrumental de análise tão
sofisticado quanto o de Azzoni, pode-se afirmar que a explicação que fornecem para o fenômeno é
relativamente mais complexa – ou eclética. O termo “complexo” aqui é utilizado no sentido de rompimento
com a barreira simplificadora da unicausalidade para o entendimento de um dado fenômeno.
23
Ainda em relação aos dois últimos artigos de Azzoni, deve-se considerar a
identificação que ele faz de tendências reconcentradoras da atividade econômica em
favor das regiões mais desenvolvidas do País. Tal noção reaparecerá na discussão dos
autores que se segue e será central para a construção da hipótese desta dissertação.
1.3 Clélio Campolina Diniz: ampliação dos fatores explicativos e a tese do
desenvolvimento poligonal
Com o objetivo de estabelecer um contraponto a Azzoni, tanto em termos de
pressupostos explicativos quanto de caracterização do fenômeno, será discutida agora
a tese do desenvolvimento poligonal” de Clélio Campolina Diniz. Segundo o autor
(1993, p.38-40), o estudo do “caso brasileiro” requer que o eixo da análise se desloque
dos problemas específicos dos países industrializados para as características
estruturais e setoriais da indústria brasileira, levando em conta sua atual etapa histórica
de desenvolvimento. Nesse sentido, além das deseconomias de aglomeração que
surgiram na RMSP desde a década de 1960
19
, é necessário atentar para outros fatores
como: (1) papel do Estado; (2) disponibilidade de recursos naturais; (3) unificação do
mercado nacional e mudanças na estrutura produtiva e; (4) concentração da atividade
de pesquisa e da renda.
Convém notar que, para Diniz, embora cada um dos fatores mencionados tenha
tido uma atuação e um peso diverso na dinâmica regional da economia brasileira no
pós 1970, no conjunto, produziram um padrão de dispersão produtiva batizado de
desenvolvimento poligonal. Caracteriza-se pela reversão da polarização da RMSP, com
a conseqüente expansão dos aglomerados industriais na região Centro-Sul,
notadamente nas regiões que compõem o polígono limitado pelas cidades de Belo
Horizonte, Uberlândia, Maringá, Porto Alegre, Florianópolis, São José dos Campos e
19
O surgimento dessas explicaria apenas o potencial de desconcentração da RMSP, mas não o
surgimento de economias de aglomeração em outras localidades.
24
Belo Horizonte, incluindo, portanto, a RMSP e as regiões que compõe o seu Campo
Aglomerativo
20
.
O referido padrão de dispersão produtiva da economia brasileira no pós 1970
pode ser dividido em pelo menos dois momentos (DINIZ, 2002, p.88-89). O primeiro tem
início na década de 1970 e vai até meados da de 1980. Caracteriza-se por processo de
desconcentração industrial mais geral, que beneficia não a região do polígono mas
também outras regiões brasileiras como Norte e Nordeste –, tendo sido realizado em
economia fechada, com forte intervenção estatal e dentro do mesmo padrão
tecnológico anterior, com ênfase em bens intermediários e insumos básicos. Seus
principais determinantes foram as deseconomias de aglomeração criadas na RMSP e a
criação de novas economias de aglomeração em outras cidades; a ação estatal, nas
formas de investimentos diretos, incentivos fiscais e construção de infra-estrutura; a
busca de recursos naturais, com a expansão da fronteira agrícola e mineral; e a
unificação do mercado nacional e seus conseqüentes efeitos da competição
interempresarial, a qual passou a ser regionalizada.
o segundo momento abrange o período do pós 1985, o qual é marcado por
profundas transformações políticas, estruturais e tecnológicas. Tais transformações
apontam no sentido da reconcentração industrial nas áreas mais desenvolvidas da
nação, ou seja, nas do polígono
21
. Convém, aqui, chamar a atenção para a mudança do
papel do Estado
22
a partir da crise fiscal do fim da década de 1980 e das
privatizações dos anos 1990 –, bem como para o pido processo de abertura
comercial e de desregulamentação econômica, que, ao lado da constituição do
Mercosul, reposicionaram a economia brasileira frente à economia internacional.
Diniz (2002, p.92-97) destaca que esses fatores devem ser considerados
conjuntamente com a profunda mudança estrutural que tem lugar no período. Tal
mudança envolveu o rápido processo de modernização tecnológica das empresas, o
aumento da produtividade, a introdução de novas formas de organização da produção e
20
O desenvolvimento do referido polígono “[...] é condicionado à existência de uma rede urbana dotada
de serviços básicos, infra-estrutura de ensino e pesquisa e alguma base industrial, além do maior nível
relativo de renda dessas regiões.” (DINIZ, 1993, p.39).
21
Deve-se destacar o relevante papel das cidades de porte médio e das metrópoles de segundo nível
nesse movimento de reconcentração da atividade industrial no polígono.
22
Com destaque para o fim do investimento estatal direto e dos incentivos regionais.
25
a emergência de novas áreas industriais com presença maciça de empresas de alta
tecnologia. Essas mudanças induziram a expansão dos setores que são mais
fortemente sustentados na ciência e na técnica e, segundo o próprio autor (1993, p.55;
1995, p.5; 1999, p.2), setores os quais contam com requisitos locacionais diferenciados,
articulados a (1) presença de centros de ensino e pesquisa; (2) disponibilidade de o-
de-obra qualificada, infraestrutura de transportes e serviços urbanos modernos; (3)
relações econômicas integradas geograficamente; (4) facilidade para contatos face-a-
face e para a inovação. Nesse sentido, tais requisitos tendem a se concentrar nas
regiões com grandes aglomerações urbanas ao mesmo tempo em que o crescimento
das atividades de alta tecnologia tendeu a aumentar a força aglomerativa dessas
regiões. No caso brasileiro, mais do que reforçar a concentração da atividade industrial
no polígono, esse fator específico parece reforçar a tendência de concentração de
determinados segmentos industriais notadamente os de alta tecnologia na RMSP e
seu entorno.
No que diz respeito à RMSP, mais especificamente, o autor reconhece em outro
trabalho (DINIZ e DINIZ, 2004, p.72-73) que a região não passou por um processo de
desindustrialização, mas por um forte processo de reestruturação produtiva, o qual se
caracterizou por queda no emprego industrial não acompanhada por queda da
produção –, aumento do emprego nos outros setores serviços e comércio –,
expansão dos serviços prestados às empresas e terceirizações. A RMSP assume,
portanto, novas funções, como as de centro financeiro e bancário do País, de centro de
comando da economia nacional quiçá da economia da América do Sul e de centro
articulador do País com a comunidade internacional. Ao mesmo tempo, torna-se muito
atrativa para a indústria de alta tecnologia como a de informática e de microeletrônica
–, dada a grande disponibilidade de fatores locacionais modernos que oferece.
Há, ainda, mais um ponto a ser destacado na noção de desenvolvimento
poligonal de Diniz. Em todos os trabalhos supracitados do autor, o processo de
desconcentração da atividade industrial no pós-1970 é caracterizado como um
processo de reversão da polarização da RMSP, no qual a desconcentração é apenas
parcial, ou seja, tende a privilegiar uma área restrita do território nacional o polígono.
26
A questão aqui não é refutar a noção de reconcentração no polígono, e sim, melhor
qualificar o que Diniz chama de “reversão da polarização da RMSP
23
.
Primeiro, essa reversão da polarização o deve ser entendida enquanto um
daqueles processos clássicos de reversão da polarização caracterizados pela economia
tradicional – o próprio Diniz é um crítico dos pressupostos clássicos da teoria da
localização, defendendo assim, uma perspectiva mais eclética.
Segundo, a reversão da polarização também não deve ser entendida como um
processo no qual a RMSP torna-se cada vez menos importante ou cada vez mais
irrelevante para a economia brasileira como um todo. Nesse sentido, a perda de
participação relativa da indústria da RMSP na indústria brasileira é concomitante ao
processo pelo qual a região assume novas funções, como as de centro de comando da
economia nacional, de centro de articulação da economia nacional com a internacional,
de centro financeiro e bancário brasileiro e de local concentrador de diversas atividades
de serviços, especialmente de serviços especializados de apoio à produção
24
.
Terceiro, o referido processo também não é equivalente a um processo de
desindustrialização. Se, por um lado, a RMSP experimenta desconcentração industrial –
a qual é relativa e não absoluta , por outro, conserva uma participação significativa na
indústria nacional, mantendo-se como o pólo industrial mais importante do País. Como
destacado pelo próprio Diniz, a RMSP é localidade atrativa e, portanto,
concentradora da indústria de alta tecnologia. Nesse sentido, a RMSP também não
experimentou um processo de substituição do setor industrial pelo de serviços.
Por fim, a articulação da discussão precedente, acerca das teses de Diniz, com a
idéia de espraiamento da área de influência da RMSP para suas adjacências, de
Azzoni, possibilita pensar como atrativas para os setores industriais intensivos em
ciência e tecnologia não só a RMSP, mas também as localidades que compõem o seu
Campo Aglomerativo desde que ofereçam infra-estrutura mínima para tais atividades.
Com a promoção de tal articulação, não as economias/deseconomias de
aglomeração, como também, todos os demais fatores destacados por Diniz concorrem
23
A esse respeito, ver também Aurílio Sérgio Costa Caiado (2002).
24
Segue que o crescimento do setor de serviços, ou pelo menos de parte dele, tem a ver com a
manutenção de setor industrial dinâmico na RMSP. Tal questão será melhor discutida ao longo do
trabalho.
27
para explicar o fenômeno. Entre estes fatores, merecem atenção a nova forma de
inserção da RMSP na economia nacional na década de 1990, com a conseqüente
assunção de novas funções, e a forte reestruturação produtiva pela qual passa, ambas
as quais, por sua vez, associadas à emergência de novas economias de aglomeração
qualitativamente distintas na RMSP e no seu entorno.
Essa forma de conceber a Macrometrópole Paulista, as tendências locacionais
que sobre ela pesam e os seus fatores explicativos ainda é insuficiente. Falta avançar
na sua caracterização tanto em direção às relações da RMSP e de seu Campo
Aglomerativo com as demais regiões do ESP e do Brasil quanto em direção a uma
melhor caracterização dos impactos locacionais dos processos de abertura comercial,
desregulamentação econômica e de reestruturação produtiva desencadeado pelos
dois anteriores.
1.4 Wilson Cano: desenvolvimento complementar entre São Paulo e o resto do
País
Em relação à primeira direção, a análise que Wilson Cano faz da
desconcentração industrial pode ser útil. Em Desequilíbrios regionais e concentração
industrial no Brasil: 1930-1970 e 1970-1995 (1998, p.312-318), Cano caracteriza o
período de 1930-1970 como um período em que a RMSP cresce a taxas acima da
média nacional, concentrando, portanto, significativa parcela do PIB nacional. Porém,
tal movimento não se desenrola em oposição ao crescimento das demais regiões, pois,
uma vez que se constata que as relações entre elas e a RMSP é intensificada, pode-se
afirmar que elas tiveram o seu crescimento “puxado” pela RMSP.
Na década de 1970, ocorre a consolidação da matriz industrial com centro na
RMSP, de modo que o crescimento da periferia, melhor dotada de recursos naturais e
minerais, passa a ser condicionante da manutenção do ritmo de crescimento da
economia nacional. Assim, a década de 1970 e a primeira metade da de 1980
assiste a um processo de desconcentração industrial no qual as demais regiões do País
crescem em ritmo mais acelerado do que o da RMSP. Entre os principais determinantes
da desconcentração, Cano destaca: (1) processo de integração do mercado nacional, o
28
qual teve impacto positivo sobre as estruturas produtivas regionais; (2) expansão da
fronteira agrícola e mineral; (3) políticas de desenvolvimento regional a partir de
meados dos anos de 1960 –; (4) políticas de incentivo às exportações, com impactos
positivos sobre a modernização da agricultura e da agroindústria também a partir da
metade dos anos 1960 –; (5) investimentos e incentivos no âmbito do II PND a partir
do segundo qüinqüênio da década de 1970 –; (6) intensificação da urbanização das
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; e (7) crise do início da década de 1980 a
qual atinge a RMSP de forma mais intensa e repercute sobre todas as demais
regiões
25
.
Nos anos de 1980 – principalmente a partir de 1985 –, a crise da dívida e o início
da implantação de certo conjunto de políticas, que Cano chama de “neoliberais”,
diminuem de forma significativa o processo mais geral de desconcentração da atividade
industrial. Segundo o autor (1998, p.328-333), essa diminuição de ritmo esconderia, na
verdade, o surgimento de tendências de reconcentração em determinados setores, as
quais convivem com outras tendências, novas e/ou renovadas, de desconcentração.
Dentre os principais fatores reconcentradores, vale destacar o processo que
Cano denomina de “desmantelamento do Estado nacional”, expresso em (1) fim da
política regional e na paralisação dos investimentos em infra-estrutura, tanto em âmbito
federal quanto estadual e municipal; (2) fim do ciclo de investimentos e incentivos
derivados do II PND; (3) rápida abertura do comércio exterior e a estabilização baseada
na valorização cambial; e (4) profunda alteração na estrutura econômica da RMSP, a
qual se transforma em uma metrópole de padrão internacional, ao mesmo tempo em
que vivencia intenso processo de modernização, tornando-a atrativa para os setores de
microeletrônica, informática, automação e telecomunicações.
entre os fatores que ainda incentivam a desconcentração no pós 1985, Cano
salienta os investimentos petrolíferos no Paraná, Rio de Janeiro e Nordeste, a
continuidade da expansão da fronteira agrícola, as políticas estaduais e municipais de
25
Os sete determinantes listados referem-se à desconcentração industrial nacional. Quando Cano olha
mais especificamente para a desconcentração industrial do ponto de vista interno ao ESP, acrescenta a
construção de infra-estrutura básica e de pesquisa pelo governo estadual, políticas municipais de atração
e deseconomias de aglomeração surgidas na RMSP (1998, p.325-326).
29
guerra fiscal
26
e a intensificação dos fluxos migratórios para outras cidades que não
São Paulo – em geral cidades médias.
Da discussão anterior, deve-se salientar as relações de complementaridade e
integração produtiva entre a RMSP e as demais regiões do País. Muito embora parte
desse quadro tenha se alterado na década de 1990
27
, vale reter a noção de que o
crescimento das demais regiões do País esteve condicionado ao da RMSP, mesmo na
fase mais intensa de desconcentração. Primeiro, porque corrobora a idéia de que não
houve desconcentração industrial absoluta na RMSP e, segundo, e mais importante,
porque ajuda a pensar o desenvolvimento das regiões do ESP que não fazem parte da
região macrometropolitana.
Ainda falta avançar na segunda direção, ou seja, rumo a uma melhor
caracterização dos impactos locacionais dos processos de abertura comercial, de
desregulamentação econômica, de privatizações e de reestruturação produtiva. Aliado
à referida necessidade de consideração conjunta das análises de Diniz e Cano, emerge
o desafio de identificar um elemento explicativo capaz de dar coerência aos diversos
determinantes das tendências de localização industrial verificadas desde os anos de
1970.
1.5 Em busca de unidade: Carlos Américo Pacheco e a tese da fragmentação da
nação
Carlos Américo Pacheco, em Fragmentação da nação (1998), fornece
instrumental adequado para a resolução das questões que permaneceram em aberto.
Segundo o autor (1998, p.229), o que confere unidade à análise do processo de
desconcentração industrial que se inicia em 1970 é a política econômica implementada
pelo governo, o perfil setorial dos investimentos e a qualidade da inserção internacional
da economia brasileira. Nesse sentido, a passagem da década de 1980 para a de 1990
é ponto marcante para a trajetória econômica do País, uma vez que consiste em
26
A respeito da guerra fiscal, ver Glauco Arbix (2001).
27
Tal ponto será melhor discutido a partir da tese de “fragmentação da nação”, de Carlos Américo
Pacheco (1998).
30
momento de transição entre duas formas de inserção no mundo, ambas caracterizadas
por políticas econômicas e padrões de investimentos setoriais radicalmente distintos.
De acordo com essa interpretação, a década de 1980 assiste à emergência de
novos determinantes para o processo de desconcentração sem, contudo, eliminar por
completo os antigos. É por isso que Pacheco (1998, p.21) afirma que a partir da
segunda metade dos anos de 1980 e, principalmente, dos anos de 1990, o conceito de
integração do espaço nacional deve ser visto cada vez com mais cautela.
De forma mais concreta, Pacheco (1998, p.223-241) baseia sua análise do
processo em questão nas diferentes conjunturas político-econômicas que marcam as
diversas formas de inserção da economia nacional na internacional para os períodos
1970-1985 e 1985-1995. São justamente o processo de abertura econômica e o de
integração ao mercado internacional
28
que fundamentam a mudança na caracterização
do fenômeno, devido à necessidade de incorporar à análise da economia brasileira os
novos paradigmas produtivos sem, entretanto, abandonar por completo o paradigma
fordista.
No primeiro período, a desconcentração tem caráter integrador e gerador de
interdependências e complementaridades entre as diversas regiões nacionais,
incentivando a formação do mercado nacional, além de ter sido impulsionada
diretamente por investimento estatal. Como já foi destacado, o autor afirma que, apesar
de a desconcentração ter forte caráter integrador, ela não implicou reversão da
polarização da RMSP, que o processo de acumulação continuou a ser comandado
pela região
29
. Nesse sentido, tal integração não suprimiu as diferenças regionais, mas,
ao contrário, promoveu o aumento das complementaridades econômicas via
diferenciação produtiva, em uma nova divisão regional do trabalho, mantendo a RMSP
como centro dinâmico da economia nacional.
no segundo período, uma parte importante da desconcentração adquiriu
novos determinantes, deixando de ter caráter integrador para se tornar fragmentadora
da economia nacional. A paralisia dos investimentos estatais bloqueou a
desconcentração mais intensa, enquanto apenas determinadas inversões pontuais nos
28
Ressalte-se, ainda, a criação do Mercosul.
29
Cumpre notar que os segmentos mais dinâmicos da indústria permanecem concentrados na RMSP
(PACHECO, 1999, p.10).
31
setores aptos à concorrência externa constituiram-se como focos de atividades
dinâmicas e incentivaram a desconcentração. Tais focos de atividades dinâmicas,
também chamados de “ilhas de produtividade”, promoveram parcos efeitos de
encadeamento, constituindo-se de tal forma que foram incapazes de promover
crescimento interno sustentado, ao mesmo tempo em que incentivaram o aumento da
heterogeneidade inter-regional e a competição estadual e municipal por
investimentos via guerra fiscal.
Pacheco (1998, p.243-249) aponta ainda que, frente ao novo contexto
econômico da década de 1990, inicia-se intenso processo de reestruturação produtiva,
o qual tende a introduzir novos condicionantes locacionais, típicos da produção flexível,
para a localização da atividade industrial. Dentre os novos fatores, o autor destaca: (1)
proximidade entre produtores e consumidores, especialmente para aqueles setores que
competem com base na qualidade e na diferenciação de produtos; (2) serviços
especializados; e (3) infraestrutura de pesquisa. Esses novos requisitos reforçariam o
poder de atração de certas regiões, justamente o daquelas mais desenvolvidas.
Ao mesmo tempo em que esses novos requisitos locacionais afetam
diferenciadamente a atratividade das regiões, os setores industriais são diversamente
atraídos por tais fatores. Isso significa que nem todos os setores são igualmente
atraídos pelas regiões que oferecem tais novos fatores. Pacheco (1999, p.6 e 12)
afirma em outro trabalho que, devido a tal fato, uma grande indefinição quanto a
movimentos de reaglomeração/desconcentração na economia brasileira como um todo,
a partir do final dos anos de 1980 e início dos de 1990.
Portanto, é possível identificar os referidos padrões apenas quando se olha para
os setores especificamente. De forma bem esquemática, os padrões setoriais de
localização industrial no pós 1985 que o autor aponta são: (1) desconcentração mais
ampla para as atividades industriais intensivas em salários; (2) “desconcentração
concentrada” no Centro-Sul para a indústria de bens duráveis; (3) bloqueio da
desconcentração para as indústrias com baixo índice de novos investimentos; e (4)
reaglomeração, especialmente na RMSP e no seu entorno, para os segmentos de
maior densidade tecnológica – com destaque para telecomunicações e informática.
32
1.6 Síntese
A discussão dos quatro autores da economia regional não pretendeu ser
exaustiva, mas, como salientado no início do capítulo, teve o objetivo claro de subsidiar
a tarefa de delineamento da hipótese de pesquisa e, ao mesmo tempo, explicitar certos
pressupostos que nortearão a continuidade do trabalho. De modo muito simples, a
hipótese aqui sustentada é a de que a desconcentração industrial que teve lugar a partir
da RMSP para as demais regiões do País não ocorreu de forma aleatória, mas seguiu
uma hierarquia fundada no grau de modernidade e dinamismo, ou seja, quanto mais
moderna e dinâmica a atividade em questão, maior a sua tendência para permanecer
ou até se reconcentrar na região correspondente à Macrometrópole Paulista, formada
pela RMSP e pelo seu entorno.
Desse movimento mais geral de desconcentração industrial cabe destacar, pelo
menos, dois momentos. Um, pré 1985, no qual a desconcentração ocorre de forma
mais ampla e beneficia, se não de forma igualitária, pelo menos de forma mínima, todo
o território nacional. Foi, ainda, realizada em contexto de economia fechada, sem
mudança do padrão tecnológico da base industrial e com forte atuação governamental
no sentido de promover tal desconcentração. Ao se olhar para a RMSP mais
especificamente não se deve interpretar o processo de perda de sua participação na
indústria nacional como um processo de reversão da polarização. O que ocorre é
justamente o inverso. Não a RMSP se mantém como principal pólo dinâmico da
economia brasileira, único com capacidade de promover um ciclo sustentado de
crescimento, como também expande sua área de influência direta mais
especificamente, estende as economias de aglomeração ofertadas para as empresas
localizadas em suas adjacências.
no segundo momento, que tem início em 1985, os movimentos mais amplos
de desconcentração são estancados, e grande parte da dinâmica locacional da
indústria adquire novos determinantes. Dentre esses, deve-se destacar, por um lado, a
paralisia dos investimentos estatais já no final da década de 1980, devido à forte crise
fiscal e à mudança do papel do Estado a partir da década seguinte, e, por outro, os
rápidos processos de abertura comercial, de desregulamentação da economia e de
33
privatizações, os quais levaram a um profundo processo de reestruturação produtiva e
mudança tecnológica. Isso implicou significativa alteração dos padrões locacionais das
empresas bem como alterações da mesma monta na capacidade das regiões em atrair
– e manter – a atividade econômica.
Analisando essa mesma questão por um outro ângulo, os processos de
reestruturação produtiva e de alteração do padrão tecnológico fizeram entrar em cena
um novo conjunto de economias de aglomeração, o qual pode ser chamado de
“moderno”, e que devido às suas características, encontra-se concentrado nos centros
urbanos mais desenvolvidos. Concretamente, como apontam Allen Scott e Michael
Storper (2003, p.11-14), os fatores que favorecem a aglomeração das atividades
econômicas mais avançadas são, além da densa infraestrutura urbana já instalada, que
permite grandes economias de escala, a dinâmica inter-relacional das empresas no
interior do sistema econômico, a formação de denso mercado de trabalho local
especializado e diversificado e a emergência de vantagens relacionais localizadas, as
quais potencializam efeitos de aprendizagem e inovação. Convém chamar a atenção
para o caráter não-transferível/comerciável de muitas dessas relações entre agentes
econômicos, uma vez que envolvem grande confiança e proximidade entre os agentes.
Esses fatores, aliados à atuação do Estado, ou melhor, à não-atuação do Estado nesse
período, levaram ao estancamento das tendências mais amplas de desconcentração da
atividade industrial, concomitante ao surgimento de movimentos específicos de
reconcentração.
De qualquer forma, olhar para o todo da indústria, ou seja, para a média da
indústria, possibilita apenas a identificação de um movimento um tanto amplo de
reconcentração na região Centro-Sul, o qual arrefece a partir de 1985. Portanto, para
captar os movimentos e tendências mais “finos” de concentração e desconcentração, é
necessário investigar os diversos padrões setoriais de localização da indústria. O
pressuposto aqui é o de que as diferentes atividades industriais são impactadas de
formas diversas por esses novos determinantes locacionais, ainda mais em um país
como o Brasil, no qual a indústria – e a economia como um todo permanece marcada
por grande heterogeneidade estrutural. Como em alguns casos, tal heterogeneidade é,
inclusive, intra-setorial, segue-se que olhar para o comportamento locacional setorial
34
pode, também, revelar-se insuficiente apesar de já representar um passo
considerável. Nesse sentido, é necessário avançar em direção à hierarquização das
atividades industriais, segundo seu dinamismo e grau de modernidade.
Em relação a esse último ponto, uma evidência a mais pode ser introduzida.
Mauro Borges Lemos et al (2005, p.348-349) apontam a aglomeração industrial de São
Paulo que corresponde a uma vasta área de 120 municípios e que coincide de forma
quase exata com a da Macrometrópole Paulista – como o centro urbano-industrial
primaz do território brasileiro. Segundo os autores, essa é a maior e mais importante
aglomeração brasileira de firmas que inovam, diferenciam produtos e obtém preço-
prêmio
30
. Esse tipo de firmas, em relação às demais, ou seja, às que não inovam e/ou
não diferenciam produtos e/ou não obtém preço-prêmio, têm padrão locacional
relativamente mais concentrado.
Retomando o argumento, deve-se notar ainda que a RMSP e o seu entorno,
além de serem uma região atrativa e concentradora dos segmentos mais modernos
da indústria, tiveram sua posição reforçada. Tanto porque, na medida em que
experimentou tendências de reconcentração desses segmentos, ampliou as vantagens
que os atraem, quanto porque não houve, no período, ações governamentais
suficientemente fortes para alterar tal quadro.
Diante do exposto, cabe agora realizar uma melhor formulação da hipótese de
pesquisa. Como discutido, o processo de desconcentração industrial não se realizou
de forma aleatória, mas seguiu uma hierarquia fundada no seu grau de modernidade e
dinamismo. De um lado, as indústrias mais maduras, baseadas em processos
tecnológicos convencionais e produtos padronizados e/ou muito intensivas em
matérias-primas e com padrão de competitividade fundado no preço e na mão-de-obra
barata e pouco qualificada tenderam a se deslocar para territórios onde os custos de
localização fossem mais baixos, desde que encontrassem condições adequadas de
infra-estrutura. Por outro, as indústrias com padrão de competitividade mais “nobre”
30
O referido estudo de Mauro Borges Lemos et al insere-se em uma coletânea mais ampla de artigos
(NEGRI e SALERNO, 2006) que tem como um de seus pontos de unidade a consideração do
desempenho das firmas industriais brasileiras a partir de sua subdivisão e de sua tipologização em firmas
A, B e C: A, as firmas que inovam e diferenciam produtos; B, as firmas especializadas em produtos
especializados; e C, as firmas que não diferenciam produtos e têm produtividade menor. Mais
informações podem ser obtidas em Glauco Arbix e João A. de Negri (2005).
35
baseado na diferenciação de produtos e diretamente dependentes de processos de
inovação e que, portanto, têm como principais fatores de aglomeração as chamadas
economias de aglomeração modernas vasto rol de serviços especializados, relações
estreitas de cooperação com fornecedores e compradores, grandes fluxos de
informações ágeis e flexíveis, mão-de-obra especializada e diversificada tendem a se
concentrar nos centros urbanos mais desenvolvidos, o que, no caso brasileiro, significa
a RMSP e o seu entorno. Para as empresas atuantes nessas atividades, concentrar-se,
mesmo que seja na RMSP, compensa em muito os seus elevados custos locacionais.
E, dado os tipos de relações econômicas existentes entre a RMSP e o seu entorno, é
esperado que o nível de integração e complementaridade entre as atividades
localizadas na RMSP e nas cidades do seu Campo Aglomerativo tenha se intensificado,
caracterizando um amplo espaço econômico integrado, chamado de Macrometrópole
Paulista.
Apesar de a hipótese proposta o pretender explicar a dinâmica locacional
recente de todo o Brasil, a noção de que o desenvolvimento de determinados territórios
brasileiros no caso o agregado de municípios que correspondem ao Campo
Aglomerativo da RMSP está ancorado no desenvolvimento da RMSP permanece
forte. Nesse sentido, pelo menos relativamente à RMSP e ao seu entorno, os processos
que Pacheco caracteriza como fragmentadores não estariam presentes ou não seriam
dominantes. Assim, deve-se explicitar que a tese de fragmentação da nação funciona
como hipótese negativa à hipótese da presente pesquisa, ou seja, como possibilidade
alternativa para a idéia de que a Macrometrópole Paulista constitui-se como um espaço
econômico amplo, integrado e passível de ser pensado como uma unidade.
Por fim, resta pontuar duas questões acerca da formulação da hipótese.
Primeiro, e como destacado, ela foi formulada tendo por base a discussão de quatro
importantes autores do debate sobre desenvolvimento regional, tendo todos os quatro
privilegiado a perspectiva da indústria, o que implica que, pelo menos nesse primeiro
capítulo, outros importantes debates que influenciam a interpretação da localização da
atividade econômica foram apenas parcialmente e insatisfatoriamente abordados.
De forma mais concreta, a referência precedente diz respeito: (1) ao debate sobre
reestruturação produtiva brasileira da década de 1990, com o crescente dinamismo (de
36
parcela) do setor de serviços; e (2) ao debate sobre a importância da cidade como lugar
específico de produção, principalmente de produção de um certo rol de serviços.
Segundo, e como decorrência do primeiro ponto, conforme a análise avançar,
deve incorporar as contribuições desses debates ainda “ocultos”. Nesse sentido, nos
dois próximos capítulos será cumprida tal tarefa. Porém, ela não será levada a cabo
apenas com o objetivo de buscar uma formulação mais adequada para a hipótese
inicial, e sim, buscando a sua operacionalização, através da definição dos recortes
temporais e espaciais da análise.
37
2 A OPERACIONALIZAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA: O
RECORTE TEMPORAL
No capítulo precedente, a partir da consideração do debate recente sobre
desenvolvimento regional brasileiro, foi formulada a hipótese da hierarquia da
desconcentração industrial brasileira. Ao seu final, foi discutida a necessidade de se
incorporar à análise as contribuições de dois outros importantes debates relacionados,
mas apenas parcialmente tratados.
Deve-se ressaltar, mais uma vez que, mais do que avançar em direção a uma
melhor e mais adequada formulação da hipótese inicial, o que se busca com a
consideração desses dois novos conjuntos de autores é avançar rumo à
operacionalização da hipótese. Nesse sentido, duas dimensões da pesquisa, ainda em
aberto, ganharão destaque neste e no próximo capítulo.
A primeira dimensão é transversal, refere-se à definição do recorte temporal da
pesquisa e se relaciona ao debate sobre as transformações macroeconômicas dos
últimos 20 anos e sobre o processo de reestruturação produtiva. Da discussão feita no
primeiro capítulo, ficou claro como, no “segundo período” – pós 1985 –, tanto as
tendências de desconcentração industrial se alteraram e adquiriram novos
determinantes, quanto novos requisitos locacionais emergiram. As regiões, a partir do
oferecimento desses novos requisitos, tenderam a reforçar ou não suas respectivas
posições de centros atrativos paras os segmentos mais dinâmicos e modernos da
indústria. Porém, ainda é necessário obter, por um lado, uma melhor compreensão dos
processos que estão por trás dessas novas tendências – abertura, desregulamentação,
estabilização, reestruturação produtiva e seus impactos regionais e, por outro, definir
subdivisões, por meio do estabelecimento de subperíodos, que viabilizem a realização
do trabalho empírico mais específico.
A segunda dimensão, que será apresentada no capítulo seguinte, é horizontal,
tem relação com o recorte espacial de pesquisa e se remete ao debate sobre a relação
38
entre espaço e produção. A partir da hipótese da hierarquia da desconcentração
industrial brasileira, conjuntamente com considerações acerca da natureza distinta dos
grandes centros urbanos para a produção, será desenvolvida uma divisão do ESP em
regiões que respeitem as peculiaridades do estado e que, ao mesmo tempo, seja
representativa da qualidade da sua localização.
Deve-se destacar, ainda, que dados empíricos serão apresentados com o
objetivo de auxiliar no processo de definição dos referidos recortes. Todos os dados
apresentados nesses dois capítulos foram construídos a partir da manipulação da Rais
(Relação Anual de Informações Sociais)
31
.
Nesse primeiro momento, a utilização da Rais se justifica, além de pela longa
série temporal que disponibiliza a partir de 1985 –, pela possibilidade de obtenção de
alto grau de desagregação geográfica e de atividade econômica que oferece
32
.
2.1 A cada de 1990 e a inflexão na trajetória de desenvolvimento da economia
brasileira
Ao se voltar a atenção para a dimensão temporal da análise mais propriamente,
deve-se salientar que a investigação empírica que será realizada tem o objetivo
explícito de ser representativa das transformações pelas quais a economia nacional e a
estrutura produtiva paulista passaram a partir da segunda metade da década de 1980.
Isso significa observar os padrões de localização da atividade econômica no ESP em
momentos bastante diferentes da trajetória econômica nacional, sendo a abertura
comercial do início dos anos de 1990, a estabilização econômica de 1994 e a
desvalorização cambial de 1999 identificadas como os pontos de inflexão da dita
trajetória nas duas últimas décadas.
Na discussão feita no capítulo anterior, o ano de 1985 foi caracterizado como
ponto de inflexão das tendências de desconcentração industrial até então em rumo.
31
No anexo 1 é apresentada uma caracterização da Rais, bem como o modo pelo qual os dados dela
derivados foram construídos.
32
Uma discussão mais pormenorizada das vantagens e desvantagens em utilizar a Rais, ou seja, uma
base de emprego para mensurar fenômenos próprios da produção, em detrimento de outras bases
geralmente mais indicadas como a Pesquisa Industrial Anual (PIA-IBGE), por exemplo será feita no
capítulo 4. Por hora, é importante apenas reter que a Rais fornece possibilidades de desagregação e
série histórica amplamente maiores que as demais bases de dados existentes no Brasil.
39
Não convém agora rediscutir os seus determinantes, mas apenas frisar que a mudança
no papel do Estado e a nova forma de inserção da economia nacional na internacional,
bem como a reestruturação produtiva levada a cabo pelas empresas no novo ambiente
econômico, foram fundamentais para o estancamento das tendências mais amplas de
desconcentração e para o surgimento de novas tendências de reconcentração.
Analistas de diferentes matizes teóricos e perspectivas políticas concordam que
a década de 1980 foi marcada por estagnação econômica, grande crescimento da
inflação, crise cambial e juros elevados. Assim, tal contexto de incerteza e instabilidade
macroeconômica impôs tanto a paralisia dos investimentos estatais quanto um ajuste
empresarial caracterizado por retração dos níveis de investimentos
33
, redução
deliberada do endividamento, política agressiva de preços e gestão financeira flexível e
super-atuante. Vale notar ainda que a estratégia mais geral de desenvolvimento
nacional não se alterou nessa década, ou seja, o modelo de substituição de
importações com Estado interventor e mercado interno protegido permaneceu.
Em relação às estratégias mais específicas adotadas pelas empresas no
período, Antonio Barros de Castro (2001, p.3-5) destaca que a diversificação produtiva
e patrimonial funcionou como importante meio de proteção à referida instabilidade.
Embora tal procedimento tenha levado à ineficiência produtiva e operacional, não
implicou fonte de preocupações para as empresas e/ou perda de competitividade, dado
o contexto de economia fechada.
Nessa mesma linha de argumentação, porém em outros termos, Luciano
Coutinho e João Carlos Ferraz (1994, p.195) e Ferraz et al (1996, p.55-60) chamam a
atenção para o fato de que tal tipo de ajuste no referido contexto não contribuiu para a
modernização produtiva das empresas. Assim, a diversificação produtiva da estrutura
industrial brasileira não foi acompanhada pela atualização tecnológica de suas
empresas.
Mariano Laplane e Fernando Sarti (2006, p.302-303) destacam que as
empresas com potencial exportador voltaram suas estratégias competitivas para o
mercado externo. Tais empresas, ao contrário das demais, realizaram investimentos
33
Principalmente dos investimentos direcionados para a instalação e/ou expansão de unidades
produtivas.
40
pontuais com vistas a esse objetivo. As conseqüências disso realização de
investimentos pontuais por empresas com potencial exportador e retração dos níveis de
investimento das empresas em geral foi o aprofundamento da heterogeneidade
estrutural inter e intra-setorial, o que significou o aumento das distâncias entre setores
exportadores e não-exportadores e entre linhas e produtos modernos e não-modernos.
Por fim, David Kupfer (2003, p.1) conclui que, apesar de a indústria brasileira ter
conseguido sobreviver à chamada “década perdida”, mantendo uma estrutura
relativamente completa e bem integrada, ela não conseguiu se manter atualizada em
termos de tecnologias de processos, de produtos e de métodos de organização da
produção.
Desse rápido percurso pela segunda metade da década de 1980 conclui-se que
a indústria brasileira, do início da década de 1990, era uma indústria relativamente
defasada em termos de padrões tecnológicos e organizacionais, com tendência a
investimentos declinantes sobretudo aqueles ligados à expansão das atividades
produtivas e sob a qual o modelo de desenvolvimento em curso parecia não mais
produzir efeitos positivos
34
.
Assim, frente a tal contexto, e aliado à crescente influência de idéias de cunho
liberal nos meios político, econômico e acadêmico brasileiros, foi levado a cabo, no
início dos anos de 1990, um conjunto de reformas econômicas que significaram o
abandono da estratégia histórica de desenvolvimento nacional, bem como a inserção
da economia brasileira em um novo e inédito período de sua trajetória. Dentre as
medidas tomadas com o referido objetivo destacam-se a abertura comercial, a
desregulamentação financeira, as privatizações e a estabilização monetária com o
Plano Real
35
.
Embora a maior parte dessas medidas estivesse em curso desde o início da
década de 1990, considera-se aqui que o ano de 1994 é o ponto-chave de inflexão com
34
Barros de Castro (2001, p.5) aponta ainda que boa parte da diferença existente entre os preços
praticados no mercado doméstico e os praticados internacionalmente derivavam das próprias
ineficiências da indústria doméstica.
35
Reconhece-se que tais reformas inserem-se em movimento mais amplo, de caráter internacional.
Nesse sentido, a partir dos anos de 1980, não foi o Brasil que empreendeu reformas cuja unidade é
formada pela abertura comercial, pela desregulamentação da economia e pelas privatizações. Porém, o
caráter internacional das reformas não será discutido aqui, dado que uma discussão assim, desviaria em
muito a linha de raciocínio adotada no presente capítulo.
41
o contexto econômico herdado dos anos de 1980. A justificativa para tal opção deriva
da percepção de que é só a partir da estabilização econômica, propiciada pelo Plano
Real em 1994, que se fazem presentes e influentes todos os determinantes do novo
modelo de desenvolvimento econômico brasileiro, bem como do comportamento
empresarial nesse renovado ambiente macroeconômico
36
. Tal suposição não pretende
ignorar que muitos dos determinantes estivessem postos nos quatro primeiros anos
da década de 1990
37
principalmente aqueles associados aos efeitos da abertura
comercial –, mas, devido à persistência de importantes elementos de continuidade com
o passado imediato como a enorme instabilidade, a inflação galopante e os
desequilíbrios cambiais –, esses novos determinantes não puderam ser até então
sentidos em sua inteireza.
Antes, porém, de discutir as conseqüências sobre a estrutura produtiva brasileira
desse novo contexto macroeconômico, cabe realizar considerações de cunho um pouco
mais amplo, ou seja, perguntar sobre o que passa a dar unidade – se é que existe uma
– ao padrão de desenvolvimento econômico brasileiro no pós 1994.
2.2 O período 1994-2005
Nesse sentido, a análise que Cláudio Amitrano (2006, p.233-241) faz do período
1994-2005 pode ser bastante útil. Para o autor, o padrão de desenvolvimento da
economia brasileira do período em questão caracteriza-se pelo que chama de “modelo
de crescimento instável e de baixo dinamismo”. O baixo crescimento médio e a alta
volatilidade do produto são os elementos que definem e dão unidade ao modelo. Assim,
mesmo com os três fatores explicativos da dinâmica econômica do período momento
do ciclo internacional; política estrutural e de desenvolvimento em execução; e regime e
forma de operação da política monetária tendo atuado e se combinado de forma
diferenciada durante o período em questão, seus resultados sistematicamente levaram
a economia brasileira ao modelo de crescimento instável e de baixo dinamismo.
36
A esse respeito, ver também Barros de Castro (2001, p.6).
37
Por exemplo, é só a partir da estabilização econômica em 1994, com a paridade cambial, que os
efeitos da abertura comercial sobre a demanda foram plenamente realizados.
42
A partir da combinação e da atuação dos referidos fatores, Amitrano propõe uma
forma de subperiodicização do intervalo 1994-2005. O primeiro subperíodo, que abarca
os anos de 1994 a 1998, corresponde à fundação do modelo e tem a liberalização
comercial e financeira, a reestruturação produtiva e a política de estabilização como
seus condicionantes. É caracterizado por uma relativa melhora do ambiente
macroeconômico – devido à retomada da liquidez internacional para países emergentes
e pela estabilização da inflação e por um aumento da incerteza microeconômica
como conseqüência da liberalização comercial e da valorização cambial. Deve-se
considerar, ainda, que a demanda nesse subperíodo foi alavancada pelo aumento do
consumo das famílias e pelo aumento brutal das importações.
Quanto a esse subperíodo, Laplane e Sarti (2006, p.304-305) apontam como
característico a sua insustentabilidade, a qual é derivada da combinação entre a rápida
abertura comercial e a alta valorização do câmbio. Tal combinação levou a um aumento
sistemático dos déficits comerciais, os quais foram maiores justamente nos anos em
que houve expansão da indústria, dada a sua crescente dependência de insumos e
equipamentos importados, de modo que a desvalorização cambial – fato que inaugura o
próximo subperíodo – tornou-se imperativa.
o segundo subperíodo, que engloba os anos de 1999 a 2005, corresponde à
consolidação do modelo e tem a mudança da política macroeconômica e o início da
implantação da agenda microeconômica implementação de reformas que visam dar
nova forma à relação Estado-mercado como seus fatores condicionantes
38
. Dentre os
seus elementos mais importantes, deve-se ressaltar a reversão dos déficits da balança
de pagamentos, com as exportações experimentando grande crescimento e tornando-
se o elemento que impulsiona a demanda no subperíodo. Entretanto, como
destacado, o crescimento das exportações não foi capaz de impulsionar um novo ciclo
de expansão econômica endógeno, reforçando, assim, o modelo de crescimento
instável e de baixo dinamismo.
38
No interior desse subperíodo, Amitrano identifica mais um ponto de quebra, o ano de 2002, com a
introdução do que chama de política de desenvolvimento minimalista. O que caracteriza o intervalo 2002-
2005 é a ambigüidade da política estrutural, posta pela continuidade de implantação da agenda
microeconômica e pela introdução de política de desenvolvimento – mesmo que minimalista.
43
Uma vez estabelecida uma periodicização do pós 1985
39
, é conveniente focar o
olhar, especificamente, nos impactos que as reformas econômicas da década de 1990
tiveram sobre a estrutura produtiva brasileira e, principalmente, sobre o ESP e a RMSP.
Embora os analistas se dividam, basicamente, em duas formas de interpretar o
processo de reformas e suas conseqüências uma mais otimista e outra mais crítica –,
existem alguns pontos de consenso. Dentre tais pontos, o mais importante é,
certamente, a dissociação entre as trajetórias da produção física e do emprego
industrial, expressa no grande aumento da primeira e na diminuição do segundo
40
.
2.3 Reestruturação produtiva: a dissociação entre a trajetória da produção física
e a do emprego industrial
O exame da trajetória da produção física e do emprego na indústria de
transformação, a partir de 1985, permite vislumbrar como a dissociação se manifestou
na década de 1990. Kupfer e Rocha (2004, p.6-7) apontam que, entre 1985 e 1990, não
se verifica essa dissociação, uma vez que a produção física e o emprego apresentaram
um pequeno aumento entre 1985 e 1986 e, depois, ficaram relativamente constantes
até 1989.
A partir daí, entretanto, suas trajetórias se descolam. A produção física de 1989 a
1992 experimentou certa retração, revertida entre 1993 e 1997, quando contou com
grande crescimento. A partir de então, sofreu mais uma leve queda, nos anos de 1998
e 1999, e para, a partir de então, a ficar constante até 2003.
O emprego experimentou redução mais que proporcional à produção física, no
período 1989 e 1992. Entre 1993 e 1999, momento no qual a produção física voltou a
ter tendência de crescimento, o emprego apresentou intenso movimento de queda,
voltando a ficar estável a partir do ano de 1999, a qual durou até 2003.
39
Tal periodicização compreende os intervalos 1985-1993, 1994-1998, 1999-2005. Para efeito de
exposição dos dados, serão adotados os anos iniciais de cada subperíodo 1985, 1995,1999 e 2005
mais o ano de 2002, com o objetivo de conferir maior ênfase ao último intervalo. Em relação à adoção do
ano de 1995 e não de 1994, tal opção deve-se a limitações da classificação da atividade econômica da
base de dados adotada. Para mais informações, ver Anexo 1.
40
Tal fenômeno é bem documentado pela literatura especializada. Ver, por exemplo, Luciano Coutinho e
João Carlos Ferraz (1994), João Sabóia e Paulo G. M. Gonzaga (1997), Maria de Fátima I. Araújo (2001),
Carmem Aparecida Feijó at al (2003), Nelson Cavalheiro (2003) e David Kupfer e Carlos F. Rocha (2004).
Neste trabalho, entretanto, não será realizada uma análise aprofundada do tema.
44
Por meio da articulação da trajetória da produção física e do emprego na
indústria de transformação, observa-se que a produtividade mantém-se constante até
1990, experimentando a partir de então grande crescimento. Tal crescimento é bastante
intenso até 1998, arrefecendo entre 1999 e 2003. Esse arrefecimento, conforme os
autores indicam, com as mudanças do regime competitivo
41
, era previsível, pois as
estratégias de competição empresariais não estavam calcadas na expansão dos
negócios.
Analisando especificamente os anos no qual aumento da produtividade, João
Sabóia e Paulo G. M. Gonzaga (1997, p.37-38, 53-54 e 59-60) dividem-nos em dois
momentos, cada qual com dinâmicas próprias. Enquanto o aumento da produtividade
até 1993 ocorreu em ambiente recessivo, em que a queda do emprego foi mais que
proporcional que a queda da produção, no pós 1993 ocorreu em momento no qual a
indústria voltou a crescer, com o emprego, porém, mantendo movimento descendente.
Essa foi, segundo os autores, a primeira vez em que um fenômeno de diminuição do
emprego em um ambiente econômico não recessivo ocorreu no Brasil.
Dentre os seus determinantes, Sabóia e Gonzaga destacam a introdução de
amplo conjunto de métodos e técnicas de gestão e organização da produção, voltadas
para o aumento da competitividade das empresas. Em outros termos, o que esteve por
trás do aumento da produtividade da indústria brasileira nos anos de 1990 foi uma forte
onda de racionalização da produção, a qual foi alavancada pelo novo ambiente
competitivo introduzido pela rápida abertura comercial.
Sabóia (1997, p.57 e 61) aponta, em outro trabalho, que a conseqüência mais
sensível de tal processo sobre as empresas foi o forte movimento de redução do
tamanho dos estabelecimentos industriais ou, em outros termos, de downsizing. Além
disso, o autor indica que justamente os setores mais modernos – como de o material de
transportes e o de material elétrico e de comunicações e que adotaram em maior
escala os novos métodos de gestão da produção, aqueles que experimentaram maior
redução do porte médio das empresas.
Vale notar que a referida racionalização da produção, centrada em estratégias de
redução de custos, incluiu, além da adoção de novos métodos e técnicas de gestão da
41
Câmbio flutuante e desvalorização cambial.
45
produção, o abandono de uma série de linhas e produtos de baixa escala e/ou de baixa
competitividade (COUTINHO e FERRAZ 1994, p.196; CASTRO 2001, p.9).
Esse tipo de modernização foi alvo de, basicamente, dois conjuntos de
interpretações. O primeiro conjunto, marcado por forte otimismo, ressalta os benefícios
trazidos pela abertura e pelo “choque de competitividade” dela derivados
42
. Ricardo A.
Markwald (2001, p.2-3), um dos defensores da abertura e da liberalização, aponta que
a argumentação teórica por trás de tais medidas baseia-se na teoria das vantagens
comparativas. Nesse sentido, o fechamento da economia impede a alocação ótima dos
recursos produtivos, premiando os setores menos produtivos. No caso brasileiro, os
setores com vantagem comparativa tendem a ser os setores mais intensivos em
recursos naturais.
Antonio Barros de Castro e Adriano Proença (2001, p.3-4 e 7) destacam que
as estratégias empresariais do período 1994-1998, centradas na racionalização da
produção via redução dos custos novos métodos e técnicas de gestão da produção,
eliminação de linhas e produtos identificados pelas empresas como sem potencial e
amplo recursos às importações, principalmente de insumos e produtos intermediários
foram estratégias acertadas e adequadas às necessidades das empresas no momento.
Tais estratégias devem ser entendidas como um conjunto de ações coerentes, com o
objetivo de convergência com os processos produtivos dos países desenvolvidos.
Mesmo reconhecendo a insustentabilidade de tal modelo, devido ao fato de a expansão
da atividade industrial ser ligada a crescentes déficits comerciais, os autores salientam
que, uma vez atualizadas, as empresas deparam-se com a possibilidade de inflexão de
sua trajetória, ou seja, com a possibilidade de adoção de novas estratégias
competitivas centradas na conquista de novos mercados, inclusive no exterior, via a
originalidade.
O segundo conjunto de interpretações, por sua vez, tende a ser mais crítico das
reformas dos anos de 1990 e do conseqüente ajuste realizado pelas empresas. Além
de destacar o caráter defensivo das estratégias fundadas na redução de custos –
estratégias essas que não demandaram grandes investimentos e possibilitaram uma
42
Como o objetivo aqui não é realizar uma exposição exaustiva das interpretações, apenas alguns
poucos autores serão discutidos.
46
sobrevida às empresas menos competitivas (COUTINHO e FERRAZ 1994, p.197-199;
FERRAZ et al 1996, p.75-76) –, chamam a atenção para o fato de que o crescente
recurso à importação de insumos e bens intermediários implicou um rompimento de
cadeias produtivas e uma diminuição do valor agregado em território nacional
(COUTINHO 1997, p.95).
Kupfer (2003, p.18-19), por seu turno, sustenta que houve uma especialização
regressiva da indústria, a qual decorreu da ausência de condições estruturais para a
realização de investimentos em atividades de P&D e na expansão da capacidade
produtiva como apontado anteriormente, o ciclo de modernização industrial da
segunda metade dos anos de 1990 consistiu, basicamente, em estratégias de redução
de custos. Para o autor, nem mesmo a mudança de rumo da política macroeconômica
em 1999 foi capaz de mudar as características de tal especialização
43
.
Uma vez apontados os impactos das reformas econômicas dos anos 1990 em
âmbito nacional, pode-se agora discutir seus efeitos no ESP e na RMSP. Dado o peso
e a relevância da indústria paulista e principalmente da RMSP para a economia
nacional, pode-se afirmar que foram essas as regiões do País que sentiram de forma
mais intensa o processo de reestruturação produtiva.
2.4 Digressão: o desenvolvimento o setor de serviços (produtivos) na RMSP
Porém, é necessário fazer uma pequena digressão. Em relação à RMSP deve-se
reforçar algumas idéias que foram debatidas no capítulo primeiro e que se associam
com o modo pelo qual a reestruturação produtiva nela se manifestou. A partir desse
momento, será desenvolvida uma argumentação que entende que parte significativa do
crescimento do setor de serviços tem a ver com a manutenção do vigor da indústria na
RMSP e, inclusive, do crescimento industrial do Campo Aglomerativo da RMSP. Desse
ponto de vista, existe uma relação de funcionalidade ou de complementaridade entre
“tal parte do setor de serviços” e a indústria.
Para se entender essa relação, deve-se, antes, melhor qualificar o dito
crescimento do setor de serviços na RMSP. Grande parte dos diagnósticos de
43
Ver também Reinaldo Gonçalves (2001) e Fábio S. Erber (2000).
47
esvaziamento da indústria foi realizada a partir de dados da dinâmica do emprego,
ignorando as formas específicas de manifestação da reestruturação na estrutura
produtiva da RMSP. Nesse sentido, parte da diminuição do emprego industrial na
região deveu-se à expulsão de inúmeras atividades não relacionadas ao centro da
produção desde atividades de baixa complexidade, como limpeza, alimentação e
segurança, até atividades de alta complexidade, como publicidade, serviços jurídicos e
de informática. À supressão dessas atividades, seguiu-se a supressão das ocupações a
elas relacionadas, as quais reapareceram no setor de serviços, mas sem perder a
funcionalidade com a indústria (COMIN e AMITRANO 2003, p.57)
44
.
Assim, torna-se necessário pensar em uma classificação do setor de serviços
que conta da dita funcionalidade. Apesar de não se constituir como uma solução
perfeita, Alvaro Comin (2003, p.58-59) aponta que classificar o setor de serviços a partir
das similaridades e diferenças existentes na natureza do serviço prestado pode ser um
caminho útil. Segundo a classificação proposta, o setor de serviços deve ser
subdividido em (1) serviços produtivos: atividades intermediárias das empresas de
apoio à produção, como serviços financeiros, jurídicos, de informática, de pesquisa, de
engenharia, de consultoria, de propaganda e marketing, de seguro e de auditoria; (2)
serviços distributivos: atividades efetuadas após o término do processo produtivo, como
transporte, armazenamento e comunicação; (3) serviços sociais: atividades realizadas
para a sociedade, como saúde e educação; e (4) serviços pessoais: atividades
realizadas para atender a demanda individual, como hotelaria, restaurante e limpeza
45
.
A tabela 2.1 revela que, entre 1995 e 2005, o ramo de atividade econômica que
apresentou maior crescimento absoluto e relativo na RMSP foi justamente o de serviços
produtivos. Tal desempenho não abrange o Estado de São Paulo como um todo,
apesar de seu também expressivo crescimento, pois cerca de quatro quintos dos postos
criados localizam-se na RMSP.
44
Tal fenômeno, derivado do modo pelo qual os dados estatísticos são agrupados, pode ser chamado de
“ilusões estatísticas”, uma vez que encobre as relações de funcionalidades entre setores (COMIN 2003,
p.69). Ver também Mark Tomlinson (1997, p.4), Pierre Veltz (1997, p.81) e Stephen S. Cohen e John
Zysman (1987, p.4).
45
No Anexo 3 consta a referida classificação das atividades de serviços, incluindo atividades industriais,
primárias e de administração pública, a partir da CNAE 1.0.
48
Dando continuidade à argumentação, deve-se considerar que a indústria e os
serviços, ou pelo menos uma parte dos serviços no caso, uma parcela dos serviços
produtivos mantêm forte relação entre si. Assim, como mostram Stephen Cohen e
John Zysman (1987, p.12-14, 19-21 e 49), é incorreto falar em transição da produção
industrial para uma produção de serviços ou mesmo pós-industrial
46
. A única
transição que ocorreu, intensamente relacionada ao modo pelo qual as bases
estatísticas de emprego estão organizadas, é a de uma estrutura ocupacional intensiva
em empregos industriais para uma intensiva em empregos de serviços. A partir dessa
percepção, os autores cunham a noção de “ligação” para caracterizar as relações entre
aqueles serviços que mantêm relação de complementaridade e funcionalidade com a
atividade industrial
47
.
A ligação existente entre duas atividades econômicas pode ser de diferentes
graus, de modo que, quanto mais potente for essa ligação, maior será a dependência –
ou funcionalidade entre as atividades em questão. No caso da relação entre indústria
e serviços, os próprios Cohen e Zysman (1987, p.21) admitem que não o todos os
serviços que apresentam ligação imediata ou pelo menos mediada com a indústria.
Os serviços que possuem ligação imediata e/ou mediada com a indústria são,
46
É importante notar que na RMSP não houve transição para os serviços do ponto de vista da produção.
A diminuição de 10% da participação do valor adicionado fiscal (VAF) da indústria da RMSP frente o VAF
total da RMSP tem mais a ver com mudanças dos preços relativos, em detrimento da indústria, do que
com uma transição na produção de fato (AMITRANO, apud COMIN, 2003, p.68).
47
É devido à existência de forte relação de complementaridade entre a atividade industrial e um certo rol
de serviços de apoio à produção que a existência de serviços especializados em uma dada região é
incluída entre os principais fatores aglomerativos dessa região.
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Indústria
2.075.960
2.125.720
1.176.600
982.040
C. civil
346.740
4,5
332.240
3,4
224.100
5,0
191.640
3,5
S. distributivos
1.424.940
2.254.640
830.880
1.196.100
S. produtivos
1.243.380
1.823.980
855.260
1.294.720
S.sociais
548.980
7,2
755.140
7,7
307.700
6,8
423.860
7,8
S. pessoais
292.940
3,8
424.000
4,3
187.520
4,2
241.900
4,5
Governo
1.253.640
1.470.420
853.860
984.760
Atv. primárias
344.060
4,5
357.000
3,7
23.640
0,5
17.580
0,3
Outras atv.
120.660
1,6
217.620
2,2
58.740
1,3
97.520
1,8
Total
7.651.300 100,0 9.760.760 100,0 4.518.300 100,0 5.430.120 100,0
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 2.1: Distribuição do pessoal ocupado segundo ramo de atividade econômica, para o ESP e para
a RMSP (1995-2005)
1995 2005 1995 2005
ESP RMSP
49
justamente, os serviços produtivos. No caso da relação mediada, quem faz a mediação
é, em geral, uma outra atividade de serviço.
Porém, convém notar que na definição dada anteriormente para serviços
produtivos “atividades intermediárias das empresas de apoio à produção” não
nada que garanta que, mesmo de forma mediada, o apoio à produção signifique o apoio
à produção industrial. Aliás, o apoio à produção pode ser à produção agrícola, extrativa,
industrial ou de serviços, de forma que apenas um subgrupo de atividades de serviços
produtivos, que não necessariamente assume a forma de uma empresa exclusiva
48
,
que mantém ligações imediatas e/ou mediadas com a indústria. Assim, como
argumenta Carlos Eduardo T. Freire (2006, p.148), é mais fiel à realidade considerar o
ramo de serviços produtivos como um conjunto de atividades transversais a todos os
setores, inclusive aos próprios serviços, dado que apenas parte das ligações que esse
ramo mantém são com a indústria. Nesse sentido, não se pode ignorar que aquelas
atividades de serviços produtivos que mantêm ligações mais estreitas com a indústria
têm parcela importante de seu dinamismo derivado do dinamismo da indústria
49
.
Conjuntamente com o processo de crescimento quantitativo dos serviços
produtivos na RMSP, ocorre, também, um movimento de qualidade distinta, o qual
consiste no desenvolvimento de determinados serviços especializados relacionados
aos padrões internacionais mais modernos
50
. Quando ligados à indústria, esses
serviços reforçaram o potencial de atratividade da RMSP com relação aos segmentos
industrias mais dinâmicos e com padrão de competição baseado na qualidade e na
diferenciação de produtos (AMITRANO 2004, p.98-99).
Apesar de ser tentador relacionar o processo de surgimento e crescimento de
determinados serviços de qualidade distinta na RMSP, a partir da década de 1990, a
48
Em outras palavras, uma mesma empresa de serviços pode ser, ao mesmo tempo, fornecedora de
serviços – muito semelhantes para empresas de serviços, industriais e agrícolas, por exemplo. A
receita dessa empresa hipotética, nesse exemplo, viria dos três citados setores econômicos.
49
O contrário também é verdadeiro. Tais indústrias encontram nas suas ligações com tais serviços
importantes fontes de manutenção e ampliação de sua competitividade.
50
Uma evidência a respeito do surgimento de certo rol de serviços especializados extremamente
modernos na RMSP pode ser encontrada na citada obra de Freire (2006), na qual o autor examina um
grupo de atividades denominadas de Knowledge-Intensive Business Services (KIBS) – ou, em português,
Serviços Empresariais Intensivos em Conhecimento –, caracterizado de alta concentração na RMSP. Ver,
também, Vagner de C. Bessa (2004).
50
um movimento de incorporação da cidade de São Paulo à rede de cidades globais
51
,
desenhando um quadro no qual São Paulo surge como uma cidade global, tal qual
Nova York, Londres ou Tóquio, não é o que será feito aqui. Primeiro, porque São Paulo
ser ou não uma cidade global é irrelevante para a presente análise. Segundo, porque, a
rigor, São Paulo não pode ser considerada uma cidade global.
Sucintamente, a cidade global é um local de produção pós-industrial de serviços
especializados e de atividades financeiras necessárias às atividades de comando,
gerenciamento e organização da economia mundial, em um contexto no qual a
dispersão global das atividades mais rotineiras sejam industriais ou não, operado a
partir da década de 1960 impôs um concomitante processo de centralização dessas
atividades de comando, gerenciamento e organização da produção (SASSEN, 2001,
p.4-10, 23-26 e 127; SASSEN, 1998, p.100-101). São Paulo não se tornou um centro
de comando da economia mundial mas, no máximo, da América do Sul e, mesmo
assim, subordinado a outros centros do mundo desenvolvido nem centro pós-
industrial de produção de tais serviços e atividades financeiras. Se é verdade que
serviços especializados e atividades financeiras se desenvolveram em São Paulo, não
é verdade que a indústria paulistana tenha se dispersado e, muito menos, que o setor
de serviços não mantenha nenhuma relação com a indústria aqui presente
52
.
Além disso, São Paulo e o Brasil estão localizados muito mais próximos ao
pólo oposto do fenômeno observado por Sassen, no sentido de que a dispersão global
das atividades mais rotineiras, desde os anos de 1960, não foi operada a partir da
RMSP ou do Brasil. O que ocorreu foi justamente o contrário, com o Brasil e,
principalmente a RMSP, tendo absorvido parte das atividades vindas dos países
desenvolvidos. Tal percepção traz à cena elementos tradicionalmente esquecidos por
aqueles que tendem a ver São Paulo como uma cidade global, como divisão
internacional do trabalho e desigualdades existentes entre países e/ou regiões. Nesse
sentido, é correto afirmar que São Paulo adquiriu certas funções próprias de uma
cidade global, ou mesmo, que em certos aspectos se conectou a uma rede
51
A esse respeito, ver, por exemplo, Saskia Sassen (1998; 2001; 2005) ou Manuel Castells (1999).
52
Nesse sentido, qualificar São Paulo como uma cidade global é aceitável, apenas, metaforicamente.
51
internacional de cidades, mas não que tenha se tornado uma cidade global da mesma
qualidade que Nova York, Londres ou Tóquio.
Ao fim e ao cabo, convém chamar a atenção para a caracterização da cidade
como local de produção de certo rol de serviços especializados modernos de apoio à
produção, transversais aos demais setores da economia. Pelo menos no caso da
RMSP, a dinâmica de tais serviços não é completamente autônoma da dinâmica da
indústria, a qual mantém-se forte na RMSP, principalmente no seu Campo
Aglomerativo, de maneira que os serviços produzidos na RMSP não são apenas
funcionais à sua própria indústria, mas também à indústria do seu entorno. Como
discutido no primeiro capítulo, tais serviços modernos funcionam como importantes
forças atrativas, com impacto diferenciado segundo o tipo de indústria. As indústrias
mais dependentes desses serviços são justamente as mais modernas e dinâmicas.
2.5 Os impactos da reestruturação produtiva sobre o ESP
Com a dinâmica produtiva recente da RMSP mais bem compreendida, pode-se
voltar à investigação dos impactos da reestruturação produtiva no ESP. Como
argumentado anteriormente, deve-se lembrar que tais impactos foram especialmente
intensos no ESP e, principalmente, na RMSP, dada a centralidade que ambas mantêm
na indústria brasileira.
A exposição dos dados será realizada em duas partes. Na primeira, serão
apresentados dados relativos à indústria, para o período do pós 1985. Na segunda, o
ano de início será 1995, e os dados dizem respeito à indústria e aos serviços –
classificados segundo ramos de atividade econômica. Tal divisão da análise se justifica
pelo fato de não ser possível realizar, na Rais, a classificação de ramos de atividade
anteriormente a 1995
53
. A fim de não perder os efeitos da reestruturação produtiva no
pré 1995, será feita uma análise em separado para a indústria no período 1985-2005.
A tabela 2.2 apresenta a evolução do número de ocupados, de empresas e da
média de ocupados por empresa na indústria paulista entre 1985-2005. A partir da Rais,
53
A Rais adota a CNAE 1.0 – ponto de partida para a construção da referida classificação – só a partir de
1994. Para mais informações, ver nota 39 e Anexo 1.
52
não se pode captar dados de volume da produção industrial; porém, é possível
trabalhar com os dados de número de empresas. Embora tais dados sejam uma proxy
muito limitada em relação àqueles, a sua análise, combinada com a análise do número
de empregados e da média de empregados por empresa, permite a investigação da
amplitude e da magnitude da dissociação entre a trajetória da produção e a do emprego
industrial.
O primeiro dado que chama a atenção é a nítida linha de corte, representada
pelo ano de 1999, nas trajetórias do emprego, do número de empresas e do tamanho
médio dos estabelecimentos. A partir desse, as respectivas trajetórias dos três
indicadores em questão voltam a experimentar ou, a ampliar, no caso do número de
empresas tendências de crescimento. Mais do que apontar uma recuperação do
dinamismo da indústria no ESP
54
, o estancamento da tendência de diminuição do
tamanho dos estabelecimentos industriais, aliado à volta do crescimento do número de
empregos a partir de 1999, sugere que aquele movimento de ajuste empresarial,
ancorado em estratégias de redução de custos via adoção de métodos e técnicas de
gestão da produção, perdeu fôlego também ao se considerar o ESP especificamente.
Em relação à dinâmica do pré 1999, é patente a diferenciação entre os
subperíodos de 1985-1995 e 1995-1999. Enquanto o primeiro é caracterizado por
diminuição do nível de emprego, aumento do número de empresas e significativa
diminuição do tamanho do estabelecimento, o segundo apresenta queda do nível do
54
Note-se que, a partir de 2002, as trajetórias de crescimento dos três indicadores em questão o
intensificadas.
1985 1995 1999 2002 2005
Abs.
2.504.620 2.093.520 1.754.400 1.878.320 2.183.820
Var.*
-1,78 -4,32 2,30 5,15
Abs.
50.912 68.031 68.596 72.659 78.512
Var.*
2,94 0,21 1,94 2,62
Abs.
49,0 30,7 25,6 25,8 27,9
Var.*
-4,57 -4,40 0,31 2,61
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
Tabela 2.2: Evolução do número de ocupados, de empresas e da média de ocupados
por empresa na indústria paulista (1985-2005)
Ocupados
Empresas
Média
53
emprego com intensidade maior que o dobro que da anos anteriores, manutenção do
número de empresas e manutenção do ritmo de diminuição do tamanho dos
estabelecimentos industriais. Tais resultados sugerem que, entre 1995 e 1999, com os
efeitos plenos das reformas econômicas se fazendo presentes, o impacto sobre a
estrutura produtiva paulista foi especialmente intenso, tendo seu caráter de
sobrevivência em um ambiente adverso para as empresas sido ampliado. Nesse
sentido, pode-se afirmar que o subperíodo de 1995-1999 foi o de maior dificuldade para
a indústria paulista, o que se expressa no seu dinamismo relativamente baixo.
Os gráficos seguintes (2.1, 2.2 e 2.3) apresentam os mesmos indicadores, só
que para as regiões internas do ESP, com o objetivo de investigar como a
reestruturação produtiva nelas se manifestou. O ESP foi dividido em três regiões: (1)
RMSP; (2) Campo Aglomerativo da RMSP; e (3) Resto do ESP
55
.
A observação da dinâmica do emprego, a partir do gráfico 2.1, permite
compreender em que medida as regiões do ESP contribuíram para aquelas variações
nos movimentos de fechamento e de abertura de postos de trabalho identificadas na
tabela anterior. É gritante como o desempenho da RMSP está abaixo do das outras
duas regiões do estado. No período 1985-1999, no qual saldo negativo de 750.220
postos de trabalho industriais no ESP, 656.140 pertencem à RMSP, ou seja, ali estão
87,5% de todos os postos perdidos. A RMSP chegou a ter, no período 1995-1999, um
ritmo anual efetivo de fechamento de postos de 6,71%, enquanto nas outras duas
regiões tal ritmo não chegou a 2%. A partir de 1999, verifica-se o início de um
movimento geral de reversão da tendência de queda do nível de emprego, e, mais uma
vez, a RMSP apresenta desempenho relativamente inferior.
Deve-se notar ainda que, do ponto de vista das tendências do emprego próprias
das regiões do ESP, a trajetória da taxa de emprego no Campo Aglomerativo da RMSP
é análoga à da RMSP, com o movimento da sua variação anual média acompanhando
o da RMSP. Embora tais dados ainda sejam insuficientes, eles sugerem que a dinâmica
55
A referida divisão do ESP foi realizada a partir de agregação das regiões administrativas do estado.
Assim, as regiões administrativas do entorno da RMSP Campinas, Sorocaba, o José dos Campos
e a Região Metropolitana da Baixada Santista correspondem ao Campo Aglomerativo da RMSP; ao
passo que as demais regiões administrativas do interior do estado Araçatuba, Barretos, Bauru, Central,
Franca, Marília, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto – formam o Resto
do ESP.
54
do emprego industrial da RMSP tenha certa influência sobre a de seu Campo
Aglomerativo.
A observação da evolução do número de empresas no gráfico 2.2, reforça a
identificação da RMSP como uma região com performance relativamente inferior. Além
de, em momentos de crescimento do número de empresas – 1985-1995 e 1999-2005 –,
ter apresentado crescimento proporcionalmente menor, no intervalo 1995-1999, conta
com uma variação negativa, enquanto tanto o seu Campo Aglomerativo quanto o Resto
do ESP têm variação positiva. Devido a esse desempenho pífio da ocupação na RMSP,
o crescimento do número de empresas no ESP nos anos em questão foi estancado.
1985 1995 1999 2002 2005
RMSP
1.557.920 1.190.580
901.780
912.500 1.021.000
( Abs. e var.*)
-2,65 -6,71 0,39 3,82
Campo Ag. da RMSP
643.840 602.360 561.380 613.660 742.200
( Abs. e var.*)
-0,66 -1,75 3,01 6,54
Resto do ESP
302.580 300.580 291.240 352.160 420.620
( Abs. e var.*)
-0,07 -0,79 6,54 6,10
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
Gráfico 2.1: Evolução do número de ocupados industriais segundo
regiões do ESP (1985-2005)
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
1985 1995 1999 2002 2005
Ano
Ocupados
RMSP
Campo Ag. da RMSP
Resto do ESP
55
Embora ainda não seja possível explicar o porquê desse desempenho tão
discrepante da RMSP, pode-se levantar algumas suposições. Seguindo a hipótese mais
geral de pesquisa, é provável que a diminuição brutal do número de empresas entre
1995 e 1999 encerre tanto um movimento de fechamento de empresas, devido à
pressão competitiva trazida pelo novo ambiente macroeconômico, quanto um
movimento de fechamento de empresas ou de unidades produtivas que já o
encontram mais vantagens em localizar-se na RMSP
56
.
Por fim, o gráfico 2.3 apresenta a evolução do tamanho médio dos
estabelecimentos industriais segundo regiões do ESP. Cabe observar que nas três
regiões, apesar de os respectivos tamanhos dos estabelecimentos serem diferentes,
56
Como o indicador de variação do número de empresas diz respeito ao saldo do movimento de abertura
e fechamento de empresas no período em questão, um saldo negativo pode encobrir intenso movimento
de abertura de empresas, que seria, no caso específico, mais que compensado pelo fechamento de
outras.
1985 1995 1999 2002 2005
RMSP
30.864 38.172
35.279
35.760 37.641
( Abs. e var.*)
2,15 -1,95 0,45 1,72
Campo Ag. da RMSP
11.410 17.388 19.116 20.937 23.089
( Abs. e var.*)
4,30 2,40 3,08 3,32
Resto do ESP
8.613 12.471 14.201 15.962 17.782
( Abs. e var.*)
3,77 3,30 3,97 3,66
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
Gráfico 2.2: Evolução do número de empresas industriais segundo região
do ESP (1985-2005)
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
1985 1995 1999 2002 2005
Ano
Empresas
RMSP
Campo Ag. da RMSP
Resto do ESP
56
verifica-se uma tendência de downsizing entre os anos de 1985 e 1999. Vale notar que
o resto do ESP volta a apresentar crescimento do indicador já entre 1999 e 2002,
enquanto que a RMSP e o seu Campo Aglomerativo apresentam crescimento a
partir de 2002, o que sugere conjuntamente com o fato da diminuição do tamanho dos
estabelecimentos ter sido maior nessas regiões que o movimento de downsinzing
tenha sido mais intenso ali.
A partir da observação conjunta dos três gráficos, é possível tecer, pelo menos,
duas afirmações. A primeira é a de que, do ponto de vista do ESP, a RMSP foi a região
mais atingida pelos efeitos da reestruturação produtiva, o que pode ser verificado pelos
movimentos do emprego e das empresas industriais. Tal fato corrobora a idéia de que
foi justamente a região mais desenvolvida da nação a mais afetada pela reestruturação
produtiva.
1985 1995 1999 2002 2005
RMSP 50,4 31,0
25,6
25,5 27,1
( Abs. e var.*)
-4,72 -4,72 -0,12 2,10
Campo Ag. da RMSP
56,4 34,6 29,4 29,3 32,1
( Abs. e var.*)
-4,76 -4,05 -0,06 3,13
Resto do ESP
34,7 23,8 20,6 22,0 23,9
( Abs. e var.*)
-3,70 -3,65 2,28 2,79
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
Gráfico 2.3: Evolução do tamanho médios dos estabelecimentos
industriais segundo região do ESP (1985-2005)
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
1985 1995 1999 2002 2005
Ano
Tamanho do
estabelecimento
RMSP
Campo Ag. da RMSP
Resto do ESP
57
A segunda, é a de que a RMSP, entre os anos de 1985 a 1999, foi alvo sim de
desconcentração do emprego industrial – um fenômeno que também se reflete na
tendência, existente apenas na RMSP para o período 1995-1999, de variação negativa
do número de estabelecimentos industriais. Em outras palavras, o recuo da ocupação
na indústria da RMSP no período não foi só relativo, mas, também, absoluto. Como tem
sido argumentado ao longo deste trabalho, isso não significa um processo de
desindustrialização ou mesmo de reversão de polarização, mas encobre três
movimentos distintos: (1) fechamento de empresas inaptas ao novo ambiente
competitivo da década de 1990; (2) relocalização de empresas e/ou unidades
produtivas, que não encontravam mais vantagens de localizar-se na RMSP, em outras
regiões do próprio ESP ou do resto do Brasil; e (3) transferência de inúmeras atividades
sejam elas modernas ou não não relacionadas ao centro da produção, mas
tradicionalmente efetuadas pelas empresas industriais, para o setor de serviços.
Embora seja praticamente impossível mensurar com exatidão a magnitude de
cada um desses três movimentos, é esperado que nenhum deles seja irrelevante. Além
disso, devido à recuperação do dinamismo da indústria da RMSP no pós 1999, fica
evidenciado que a RMSP continua como importante pólo concentrador da atividade
industrial. Cabe, agora, olhar com maior carinho para o modo pelo qual a reestruturação
produtiva se manifestou nos serviços, dado que uma idéia-força do presente trabalho
diz respeito à existência de ligações imediatas e/ou mediadas entre a indústria e parte
do setor de serviços. Nesse sentido, o grande crescimento dos serviços produtivos na
RMSP é sintomático da manutenção da posição da região como importante pólo
industrial, bem como do dinamismo de seu Campo Aglomerativo.
Na tabela 2.3, é possível observar a evolução do número de ocupados, de
empresas e da média de ocupados por empresa para a indústria e para os ramos de
atividades de serviços paulistas, entre 1995 e 2005. Do ponto de vista do setor de
serviços como um todo, o ano de 1999, tal qual para a indústria, é importante ponto de
inflexão, o que pode ser constatado, principalmente, pelas tendências da ocupação.
Porém, se, para a indústria, o intervalo 1995-1999 se caracteriza por um intenso
movimento de fechamento de postos de trabalho, para os serviços, verifica-se uma
expansão dos empregos, a qual, entretanto, é significativamente inferior à expansão
58
verificada dos subperíodos de 1999-2002 e 2002-2005. A partir de 1999, com exceção
dos serviços produtivos, o ritmo da expansão do emprego é de pelo menos o dobro do
ritmo observado no período precedente. Deve-se notar que, no caso dos serviços
produtivos, o movimento de expansão permaneceu elevado mesmo durante o primeiro
subperíodo, o que sugere que o movimento de transferência de atividades para o setor
de serviços foi forte entre 1995 e 1999.
Em relação à evolução do número de empresas, tal movimento mostra-se
bastante mais dinâmico para as empresas de serviços do que para as industriais.
Constatou-se, portanto, tendência de saldo positivo amplo para todos os subperíodos,
em todos os ramos. Contudo, ao contrário do movimento do emprego, não é possível
identificar nenhuma tendência relevante de inflexão em 1999 ocorre apenas que o
ritmo de aumento do número de empresas torna-se inferior ao de aumento do emprego,
fato que vai impactar o tamanho dos estabelecimentos de serviços.
Quanto ao tamanho médio dos estabelecimentos de serviços, percebe-se, em
primeiro lugar, que eles são significativamente menores que os estabelecimentos
industriais e que não passaram por processo de downsizing. Assim, sua dinâmica no
1995
Abs.
Abs.
Var.* (95-99)
Abs.
Var.* (99-02)
Abs.
Var.* (02-05)
Indústria
2.075.960
1.730.260
-4,45
1.846.020
2,18
2.125.720
4,81
S. distributivos
1.424.940
1.527.500
1,75
1.829.240
6,19
2.254.640
7,22
S. produtivos
1.243.380
1.430.300
3,56
1.596.840
3,74
1.823.980
4,53
S. sociais
548.980
586.420
1,66
659.940
4,02
755.140
4,59
S. pessoais
292.940
309.840
1,41
356.100
4,75
424.000
5,99
Total**
7.651.300
7.635.260
-0,05
8.563.880
3,90
9.760.760
4,46
Indústria
66.842
67.122
0,10
70.645
1,72
75.886
2,41
S. distributivos
177.681
206.654
3,85
244.933
5,83
285.442
5,23
S. produtivos
81.718
97.173
4,43
106.784
3,19
112.953
1,89
S. sociais
32.700
42.045
6,49
45.963
3,01
48.912
2,09
S. pessoais
41.932
46.314
2,52
50.789
3,12
57.254
4,07
Total**
481.153
546.127
3,22
609.318
3,72
673.272
3,38
Indústria
30,9
25,8
-4,44
26,1
0,41
28,1
2,50
S. distributivos
8,0
7,4
-1,94
7,5
0,39
7,9
1,65
S. produtivos
15,2
14,7
-0,81
14,9
0,51
16,1
2,69
S. sociais
17,3
13,9
-5,19
14,4
0,97
15,5
2,51
S. pessoais
7,0
6,8
-0,63
7,0
1,09
7,3
1,36
Total**
15,9 14,0 -3,17 14,1 0,18 14,5 1,04
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
** Inclui construção civil, governo, atividades agrícolas e outras atividades.
Ocupados
Número de
empresas
Média de
ocupados
Tabela 2.3: Evolução do pessoal ocupado, do número de empresas e da média de ocupados por empresa para o
ESP, segundo ramo de atividade econômica (1995-2005)
1999 2002 2005
59
período é bastante diferente da dinâmica da indústria, tendo experimentado um singelo
movimento de encolhimento entre 1995 e 1999 e um também pequeno movimento de
expansão entre 1999 e 2005.
Por fim, deve-se destacar, ainda, que os serviços produtivos, apesar de seu
expressivo dinamismo ao longo de todo o período e de terem se constituído como o
único ramo de serviços que o mantiveram estável, chegam a 2005 com o menor ritmo
de incremento do número de empregos e empresas – “apenas” 4,53% e 1,89% –, o que
sugere que os determinantes de seu crescimento sejam diferentes dos determinantes
dos demais ramos. Aparentemente, o comportamento dos serviços distributivos, sociais
e pessoais é muito mais pró-cíclico ao movimento da indústria – e, de forma mais geral,
da economia como um todo do que os serviços produtivos, cujo dinamismo está, pelo
menos no período em questão, atrelado ao movimento de reestruturação produtiva e a
seus efeitos tanto com relação à transferência de atividades não centrais à produção
quanto à emergência de segmento extremamente moderno.
Com o intuito de investigar o modo pelo qual as regiões do ESP se comportaram
no período no que tange aos ramos de serviços, as tabelas 2.4, 2.5 e 2.6 apresentam
as respectivas evoluções do número de ocupados, de empresas e de porte do
estabelecimento para a RMSP, para o seu Campo Aglomerativo e para o Resto do
ESP.
A partir da evolução do número de ocupados, três pontos merecem destaque. O
primeiro diz respeito à inflexão representada pelo ano de 1999, a qual é relevante
também no âmbito das regiões do ESP. De novo, com exceção dos serviços produtivos,
os demais ramos de serviços tendem a apresentar movimento de expansão do
emprego significativamente maior a partir de 1999.
O segundo ponto relaciona-se aos diferenciais de comportamento entre as
regiões do ESP. Com exceção dos serviços produtivos, nota-se que o desempenho da
RMSP nos serviços distributivos, sociais e pessoais tendeu a ser relativamente inferior
que ao do seu Campo Aglomerativo e ao do Resto do ESP – vale lembrar que a mesma
tendência foi verificada para a performance da indústria. Nesse sentido, a RMSP pode
ser considerada como uma região com desempenho relativamente inferior, pelo menos
do ponto de vista da geração de empregos, também para os serviços. Essa afirmação,
60
entretanto, não viabiliza a conclusão de que a RMSP não se constitui como uma região
dinâmica o que é desmentido, principalmente, ao se observar a dinâmica da RMSP a
partir de 1999. Convém notar que, para o Resto do ESP e para o Campo Aglomerativo
da RMSP o ramo de serviços distributivos é, além do mais dinâmico dos quatro ramos
de serviços, o maior empregador – porém não se torna, ainda, maior empregador que a
indústria. Já para a RMSP, o ramo de serviços distributivos rivaliza com o de serviços
produtivos, de modo que, se, por um lado, a partir de 1999, passa a ter ritmo de
geração de empregos pouco maior que o dos serviços produtivos, por outro, ocupa
menos indivíduos que este último aliás, ambos os ramos, a partir de 1999, passam
a empregar mais pessoas que a indústria.
Por fim, cabe tratar os serviços produtivos em separado. Primeiro, em
decorrência do fato de seus determinantes de dinamismos serem de ordem diferente
dos determinantes dos demais serviços; e depois, devido ao fato de ocuparem posição
central na discussão que o presente trabalho se propõe a fazer.
1995
Abs.
Abs.
Var.* (95-99)
Abs.
Var.* (99-02)
Abs.
Var.* (02-05)
Indústria
1.176.600
883.200
-6,92
888.880
0,21
982.040
3,38
S. distributivos
830.880
846.860
0,48
997.780
5,62
1.196.100
6,23
S. produtivos
855.260 995.220 3,86 1.099.340 3,37 1.294.720 5,60
S. sociais
307.700
318.700
0,88
362.300
4,37
423.860
5,37
S. pessoais
187.520
185.120
-0,32
208.960
4,12
241.900
5,00
Total**
4.518.300 4.423.080 -0,53 4.872.120 3,28 5.430.120 3,68
Indústria
599.580 557.520 -1,80 607.000 2,87 726.220 6,16
S. distributivos
366.460
421.400
3,55
516.140
6,99
659.820
8,53
S. produtivos
261.440
311.220
4,45
348.140
3,81
377.400
2,73
S. sociais
143.320 160.740 2,91 173.260 2,53 194.960 4,01
S. pessoais
73.140 84.880 3,79 100.840 5,91 125.100 7,45
Total**
1.871.920
1.981.980
1,44
2.246.220
4,26
2.672.640
5,97
Indústria
299.780
289.540
-0,87
350.140
6,54
417.460
6,04
S. distributivos
227.600 259.240 3,31 315.320 6,75 398.720 8,14
S. produtivos
126.680 123.860 -0,56 149.360 6,44 151.860 0,55
S. sociais
97.960
106.980
2,23
124.380
5,15
136.320
3,10
S. pessoais
32.280 39.840 5,40 46.300 5,14 57.000 7,18
Total**
1.261.080 1.230.200 -0,62 1.445.540 5,52 1.658.000 4,68
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
** Inclui construção civil, governo, atividades agrícolas e outras atividades.
RMSP
Campo Ag. da
RMSP
Resto do ESP
Tabela 2.4: Evolução do pessoal ocupado segundo região do ESP e ramo de atividade econômica (1995-
2005)
1999 2002 2005
61
Verifica-se tanto que o movimento de expansão do contingente de postos de
trabalho dos serviços produtivos está concentrado, basicamente, na RMSP, e também
em seu Campo Aglomerativo, quanto que não apresenta diferença significativa de
comportamento nos subperíodos pré e pós 1999 na RMSP, o ritmo de criação de
postos de trabalho se manteve estável até 2002, ano a partir do qual tal ritmo é
ampliado; no Campo Aglomerativo da RMSP, esse ritmo experimentou redução leve,
porém constante, entre 1995 e 2005.
No que diz respeito à evolução do número de empresas segundo as regiões do
ESP, a tabela seguinte (2.5) é elucidativa. Para começar, observa-se que o movimento
de incremento do contingente de empresas para os ramos de serviços tende a ser mais
dinâmico que para a indústria nas três regiões analisadas. É, portanto, bastante intenso
e relativamente estável para todo o período contudo, parece ser um pouco menos
intenso no pós 1999. Quanto aos ramos específicos, deve-se chamar a atenção para o
ramo de serviços distributivos, o qual se configura como o mais dinâmico do ponto de
vista de crescimento do número de empresas em todas as três regiões do estado, para
o período em questão.
1995
Abs.
Abs.
Var.* (95-99)
Abs.
Var.* (99-02)
Abs.
Var.* (02-05)
Indústria
37.434 34.277 -2,18 34.588 0,30 36.156 1,49
S. distributivos
84.038 93.164 2,61 107.166 4,78 121.059 4,15
S. produtivos
47.675 56.226 4,21 61.311 2,93 64.099 1,49
S. sociais
15.430 18.996 5,34 20.447 2,48 21.319 1,40
S. pessoais
22.278 23.399 1,23 24.726 1,86 26.974 2,94
Total**
221.387 242.542 2,31 265.246 3,03 286.625 2,62
Indústria
17.048 18.593 2,19 20.365 3,08 22.313 3,09
S. distributivos
54.107 65.018 4,70 77.950 6,23 91.935 5,65
S. produtivos
23.130 28.066 4,95 31.093 3,47 33.164 2,17
S. sociais
9.881
13.109
7,32
14.502
3,42
15.716
2,72
S. pessoais
12.670 14.484 3,40 16.173 3,75 18.421 4,43
Total**
144.299 169.299 4,08 191.372 4,17 214.455 3,87
Indústria
12.360 13.956 3,08 15.692 3,99 17.417 3,54
S. distributivos
39.536 48.362 5,17 59.817 7,34 72.448 6,59
S. produtivos
10.913 12.706 3,88 14.380 4,21 15.690 2,95
S. sociais
7.389 9.832 7,40 11.014 3,86 11.877 2,55
S. pessoais
6.984 8.421 4,79 9.890 5,51 11.859 6,24
Total**
115.467 133.388 3,67 152.700 4,61 172.192 4,09
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
** Inclui construção civil, governo, atividades agrícolas e outras atividades.
RMSP
Campo Ag. da
RMSP
Resto do ESP
Tabela 2.5: Evolução domero de empresas segundo região do ESP e ramo de atividade econômica (1995-
2005)
1999 2002 2005
62
Com relação à evolução do tamanho dos estabelecimentos (tabela 2.6), o
primeiro ponto a se notar é que o tamanho dos estabelecimentos dos ramos de serviços
é pequeno – principalmente para os serviços pessoais e distributivos – e que, de
maneira geral, se mantiveram relativamente estáveis ao longo do intervalo 1995-2005
apesar de terem experimentado uma pequena diminuição entre 1995 e 1999 e um leve
aumento entre 1999-2005. Tal fato consolida a idéia de que não ocorreu, no setor de
serviços – ou seja, com nenhum de seus ramos em nenhuma das regiões do ESP –, um
processo de downsizing.
Ao se comparar as três regiões, percebe-se também que o tamanho dos
estabelecimentos de serviços tende para todos os quatro ramos a ser maior na
RMSP do que no seu Campo Aglomerativo ou no Resto do ESP. Destaque para os
serviços produtivos, que, ao lado dos serviços sociais com estabelecimento médio
ocupando, aproximadamente, 20 funcionários –, o os ramos que chegam ao final do
período comportando os maiores estabelecimentos médios entre os serviços.
1995
Abs.
Abs.
Var.* (95-99)
Abs.
Var.* (99-02)
Abs.
Var.* (02-05)
Indústria
31,3
25,7
-4,84
25,7
0,02
27,2
1,90
S. distributivos
9,8
9,1
-1,89
9,4
0,84
9,8
1,66
S. produtivos
18,0
17,7
-0,53
17,9
0,44
20,2
4,15
S. sociais
20,3
16,8
-4,65
17,8
1,95
19,8
3,62
S. pessoais
8,4
8,1
-0,67
8,5
1,38
8,9
1,56
Total**
20,4
18,2
-2,82
18,4
0,33
18,9
0,97
Indústria
35,2
29,9
-4,05
29,9
0,01
32,7
3,12
S. distributivos
6,8
6,5
-1,06
6,6
0,82
7,1
2,45
S. produtivos
11,1
10,9
-0,28
11,1
0,62
11,4
0,65
S. sociais
15,5
12,1
-6,03
12,1
-0,04
12,4
0,83
S. pessoais
5,9
5,9
0,11
6,2
1,46
6,7
2,61
Total**
13,0
11,7
-2,62
11,7
0,22
12,4
1,95
Indústria
24,0
20,7
-3,59
22,2
2,36
24,2
2,88
S. distributivos
5,8
5,3
-2,11
5,3
-0,48
5,5
1,60
S. produtivos
11,3
9,7
-3,73
10,3
1,88
9,6
-2,33
S. sociais
13,3
11,0
-4,70
11,0
0,17
11,8
2,34
S. pessoais
4,5
4,6
0,44
4,8
1,21
4,8
-0,15
Total**
10,9 9,2 -4,08 9,4 0,69 9,7 0,89
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
* Variação efetiva anual, em %.
** Inclui construção civil, governo, atividades agrícolas e outras atividades.
RMSP
Campo Ag. da
RMSP
Resto do ESP
Tabela 2.6: Evolução da média de ocupados por empresa segundo região do ESP e ramo de atividade
econômica (1995-2005)
1999 2002 2005
63
2.6 Síntese
Na investigação precedente, mais do que expor de forma minuciosa em que
consistiu a reestruturação produtiva, seus impactos sobre a estrutura industrial e a
maneira pela qual se manifestou no ESP e em suas regiões
57
, objetivou-se estabelecer
uma subdivisão do período do pós 1985 a partir da consideração das suas principais
transformações econômicas e de como elas impactaram o ESP. Do ponto de vista
locacional, os impactos dessas transformações haviam sido discutidos no primeiro
capítulo; porém, faltava um melhor entendimento do como elas influenciaram os
comportamentos e estratégias empresariais.
O acirramento da competição, próprio da década de 1990, o tipo de estratégias
competitivas caracterizadas pela redução de custos e o abandono de políticas de corte
regional e industrial pelo Estado permitem a interpretação de que os fatores
aglomerativos tenham se tornado ainda mais importantes para a localização industrial.
Da mesma forma, aquelas regiões melhor ofertantes de tais fatores também foram
beneficiadas – as quais são, no caso brasileiro, justamente as mais desenvolvidas
58
.
Além disso, deve-se manter em mente a noção de que as atividades industriais
são diferencialmente atraídas pelos fatores aglomerativos, os quais, por sua vez,
possuem distribuição regional também desigual. Por isso, as regiões com capacidade
de concentrar em maior intensidade os fatores aglomerativos modernos constituem-se
como localidades preferenciais para a localização dos segmentos industriais mais
dinâmicos, inovadores e intensivos em tecnologia. Nesse sentido, não é à toa que o
setor de serviços no ESP tenha apresentado tamanho dinamismo, uma vez que o
próprio setor de serviços, ou pelo menos sua parcela mais moderna, está sujeito às
novas economias de aglomeração, ao mesmo tempo em que pode ser considerado
como um importante fator aglomerativo para as atividades que com ele mantém relação
de funcionalidade.
Se é verdade que os ramos de serviços distributivos, sociais e pessoais possuem
dinâmica pró-cíclica à dinâmica industrial, o mesmo não vale para os serviços
57
Mesmo porque, além de existir literatura relativamente vasta sobre tal tema, a Rais não é a base de
dados mais adequada para a tarefa em questão.
58
A esse respeito ver também Ann Markusen e Clélio Campolina Diniz (2004).
64
produtivos. Estes, por sua vez, têm o seu intenso crescimento no período analisado,
relacionado aos efeitos da reestruturação produtiva, a saber: absorção de um
contingente de atividades e de pessoas não mais realizado no interior da firma
industrial; e desenvolvimento de um segmento extremamente moderno e dinâmico, o
qual se conecta à manutenção da competitividade das atividades industriais também
mais modernas e dinâmicas
59
. Deve-se notar, aqui, que a região que puxa o
crescimento quantitativo e qualitativo dos serviços produtivos é a RMSP, justamente
aquela região que foi diagnosticada como padecendo do mal da desindustrialização.
A importância dos serviços produtivos não apenas ajuda a explicar a retomada
do dinamismo industrial na RMSP, em um momento no qual a reestruturação produtiva
perde força, mas, também, o relevante dinamismo do seu Campo Aglomerativo. Basta
lembrar a possibilidade de gozo das vantagens aglomerativas próprias da RMSP a
partir de uma localização no seu Campo Aglomerativo.
Cabe, agora, voltar um pouco o foco da investigação para as relações entre
espaço e produção, tendo a subdivisão do ESP como principal objetivo. A continuidade
do presente estudo requer, não apenas uma periodização do passado recente, a partir
das transformações econômicas que nele ocorreram, mas, também, considerar o ESP a
partir do modo pelo qual suas regiões se relacionam com a localização da atividade
econômica; e verificar em que medida se constituem como localidades atrativas para
determinadas atividades.
59
E o das atividades industriais, uma vez que, dada a transversabilidade dos serviços, todos os
setores da economia tendem a ser beneficiados.
65
3 A OPERACIONALIZAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA: O
RECORTE ESPACIAL
Com o objetivo de operacionalizar a verificação da hipótese da hierarquia da
desconcentração, o ESP foi dividido em sete localidades RMSP, Região
Metropolitana de Campinas
60
(RMCam), Resto da Região Administrativa de Campinas
(Resto da RAC), Região Metropolitana da Baixada Santista
61
(RMBS), Região
Administrativa de São José dos Campos (RASJC), Região Administrativa de Sorocaba
(RASor) e Demais Regiões Administrativas do ESP (Outras RAs)
62
. Essa forma de
agregar os municípios do ESP encerra, por um lado, a necessidade de separar o ESP
em três regiões RMSP, Campo Aglomerativo da RMSP e Resto do ESP, cada qual
possuidora de uma dinâmica econômica e locacional particular no passado recente; e,
por outro, a necessidade de se dividir a Macrometrópole Paulista em localidades
selecionadas RMSP, RMCam, Resto da RAC, RMBS, RASJC e RASor a fim de
investigar a dinâmica produtiva própria de cada uma delas, bem como a qualidade das
suas respectivas inserções na Macrometrópole
63
.
Sobre essa seleção de localidades, dois comentários mais gerais devem ser
feitos. O primeiro diz respeito à agregação de todos os municípios que não
correspondem à área macrometropolitana em categoria única Outras RAs. Tal opção
se justifica tanto pelo fato de os objetivos da presente pesquisa estarem associados,
sobretudo, à investigação da dinâmica interna à Macrometrópole Paulista, quanto pela
60
A Região Metropolitana de Campinas é constituída por dezenove municípios paulistas. Criada pela lei
complementar estadual 870, de 19 de junho de 2000, é hoje, a décima maior região metropolitana
brasileira.
61
A Região Metropolitana da Baixada Santista foi criada por Lei Complementar Estadual, em 30 de julho
de 1996. Foi a primeira região metropolitana brasileira sem status de capital estadual.
62
O Anexo 4 apresenta a lista de municípios pertencentes a cada uma das respectivas localidades.
63
Embora não seja o ideal, a seleção da agregação municipal que deu origem às localidades
selecionadas do ESP seguiu de forma muito próxima à divisão administrativa do ESP. Se, por um lado,
essa forma de agregação constitui-se como uma proxy adequada para os exercícios aqui realizados, uma
análise ainda mais pormenorizada da dinâmica econômica e locacional interna à Macrometrópole
Paulista requereria uma agregação municipal mais fiel aos seus limites econômicos.
66
baixa representatividade econômica das Outras RAs segundo a Secretaria de
Economia e Planejamento do Governo do ESP (2003 a, b, c, d, e, f), estes municípios,
em conjunto, concentravam apenas 19,9% da população do ESP, e 17,7% do PIB,
estadual em 2003.
O segundo ponto tem a ver com a divisão da Região Administrativa de Campinas
em RMCam e em Resto da RAC. Tal divisão visa captar as diferenças relativas à
estrutura produtiva entre esses dois espaços do estado. Conforme se argumentará, os
espaços metropolitanos constituem-se como espaços qualitativamente diferenciados
para a localização da atividade econômica, de modo que é esperado que existam
significativas diferenças entre as estruturas produtivas dessas duas localidades
64
.
3.1 Especialização X diversificação produtiva
Em seu clássico ensaio The economy of cities (JACOBS, 1970, p.58-59, 82 e 96-
97), Jane Jacobs, ao analisar os fatores determinantes do desenvolvimento e as formas
de divisão do trabalho a eles relacionados, estabelece uma divisão de grande valia para
o presente estudo. Tal divisão consiste em diferenciar a atividade de especialização
produtiva, definida como um modo de organizar a produção com o objetivo de aumentar
a sua eficiência ou seja, produzir mais do mesmo –, da atividade de diversificação
produtiva, que consiste na criação de novas atividades a partir de atividades pré-
existentes. Para a autora, é fundamentalmente essa segunda forma de divisão do
trabalho, expressa no sistemático incremento de novos bens e serviços a partir de bens
e serviços já existentes, que gera desenvolvimento e dinamismo econômico
65
.
Entretanto, a atividade de diversificação produtiva não se desenrola no ar, ou
seja, Jacobs aponta que um lugar específico para ocorrer: a cidade, ou melhor, a
metrópole é o lugar por excelência no qual tal processo acontece. Partindo da
constatação de que as condições que promovem a eficiência não são necessariamente
64
É importante lembrar, que a RMCam, além de possuir mercado qualificado e diversificado de trabalho e
infra-estrutura adequada para as atividades industriais mais modernas e dinâmicas, nela se localizam
importantes universidades como a Unicamp e a Puccamp e instituições de pesquisa – como o Centro
de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD), a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec) e o
Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS).
65
A esse respeito, ver também, Jane Jacobs (1984; 2001).
67
as mesmas que promovem o desenvolvimento de novos trabalhos, a autora identifica
fatores associados à dinâmica urbana tais como um intenso fluxo de idéias
potencializado pela imensa quantidade de contatos face-a-face e o processo de
concorrência como determinantes desse tipo de divisão do trabalho, o qual, por sua
vez, constitui o fundamento do desenvolvimento e do dinamismo econômico.
Nesse sentido, argumenta Alexandre Tinoco (2003, p.7-10), a utilização das
idéias de Jacobs possibilita olhar para um lado da divisão do trabalho tradicionalmente
esquecido pela teoria clássica da localização. As economias de aglomeração podem
ser divididas em dois conjuntos. O primeiro consiste nas economias de aglomeração de
tipo marshalianas, para as quais o fator gerador de externalidades positivas em um
certo setor/atividade industrial é a sua especialização urbana, sendo a mera
proximidade de localização suficiente para a geração de tais externalidades. O segundo
são as economias de aglomeração de tipo jacobiano, as quais, como discutido
anteriormente, derivam da grande diversidade do trabalho encontrado nos ambientes
metropolitanos.
Dada essa diferenciação entre especialização e diversificação, torna-se
fundamental, portanto, considerar o espaço metropolitano como qualitativamente
diferenciado do ponto de vista produtivo. Seja porque concentra o processo de
incorporação de novos bens e serviços ou, para usar um termo mais em voga, é local
produtor de inovações seja porque concentra as atividades mais dinâmicas da
economia, sendo as atividades mais dinâmicas
66
não as de tecnologia de ponta,
mas, inclusive, todas aquelas que se caracterizam pela realização de inovação não-
tecnológica. Assim, não admira que os serviços especializados de apoio à produção,
principalmente aqueles de caráter mais moderno, estejam concentrados em regiões
metropolitanas. De uma outra perspectiva, como aponta Sassen (2001, p.127-130), a
própria cidade deve ser entendida como o principal sítio produtor desses serviços
67
.
Em relação às diferentes atividades industriais, quanto mais dependentes das
economias de aglomeração de tipo jacobiano o que inclui toda a diversidade própria
das grandes cidades, tanto do ponto de vista da produção quanto do mercado de
66
O adjetivo “dinâmico” pode também, ser pensado em oposição ao adjetivo “rotineiro”.
67
Para a autora (SASSEN, 2005, p.31), tal percepção só é possível na medida em que se desloca o foco
da análise para as categorias de “lugar de trabalho” e de “processo de trabalho”.
68
trabalho –, maior se sua propensão a se concentrarem em tais espaços. Tal
tendência ganha força, principalmente, em um contexto econômico, como o brasileiro
do pós-1985, caracterizado pelo enfraquecimento de todos os fatores capazes de
atenuar a localização da atividade industrial, segundo a racionalidade econômica.
3.2 O Estado de São Paulo e suas localidades
Com a definição do recorte espacial, é possível, agora, avançar em direção a
uma melhor caracterização da estrutura produtiva das sete localidades selecionadas.
Antes, porém, convém observar a trajetória de cada localidade frente ao ESP ao longo
do período estudado
68
. O gráfico 3.1 possibilita a observação da distribuição dos
ocupados na indústria por localidade selecionada do ESP.
68
A ordem de apresentação dos dados sea mesma adotada no capítulo anterior, ou seja: primeiro,
serão apresentados dados relativos apenas à indústria, para o período 1985-2005; e, depois, dados para
a indústria e para os serviços, para os anos de 1995 a 2005.
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
RMCam
175.580
7,0
164.640
7,9
152.500
8,7
172.620
9,2
211.700
9,7
Resto RAC
193.580
7,7
200.940
9,6
185.000
10,5
205.560
10,9
247.220
11,3
RASJC
110.680
4,4
90.380
4,3
83.080
4,7
92.140
4,9
102.540
4,7
RASor
126.560
5,1
120.260
5,7
114.180
6,5
124.840
6,6
158.840
7,3
Outras RAs
302.580
12,1
300.580
14,4
291.240
16,6
352.160
18,7
420.620
19,3
RMBS
37.440
1,5
26.140
1,2
26.620
1,5
18.500
1,0
21.900
1,0
RMSP
1.557.920
62,2
1.190.580
56,9
901.780
51,4
912.500
48,6
1.021.000
46,8
Total
2.504.620
100,0
2.093.520
100,0
1.754.400
100,0
1.878.320
100,0
2.183.820
100,0
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria.
2005
1985
1995
1999
2002
Gráfico 3.1: Distribuição dos ocupados na indústria por localidade selecionada do
ESP (1985-2005)
0
10
20
30
40
50
60
70
1985
1995
1999
2002
2005
Ano
%
RMCam
Resto RAC
RASJC
RASor
Outras RAs
RMBS
RMSP
69
O primeiro fato que chama a atenção é a perda de importância da RMSP em
relação a todas às demais localidades selecionadas, com exceção da RMBS. Assim,
mesmo mantendo participação significativa, a RMSP chega ao fim do período com
participação no emprego industrial do estado inferior a 50%.
Em relação às localidades específicas do Campo Aglomerativo da RMSP,
destaca-se o crescimento expressivo da RMCam, do Resto da RAC e da RASor, as
quais experimentaram crescimento relativo e absoluto do seu nível de emprego. A
RMSJC, apesar de ter tido certo crescimento relativo, apresenta, em 2005, uma
população ocupada inferior à de 1985. Por fim, a RMBS parece viver um movimento
bastante distinto das demais localidades da Macrometrópole, tendo tido uma expressiva
perda absoluta e relativa do seu nível de emprego, principalmente a partir de 1999.
Quanto ao desempenho das Outras RAs do ESP, convém destacar o grande
crescimento registrado. Em termos absolutos, um aumento de quase 30% no
número de postos de trabalho oferecidos entre 1985 e 2005, enquanto que em termos
relativos, atinge, em 2005, um peso próximo à casa dos 20%. Configuram-se, assim,
como a segunda maior localidade do ESP, atrás apenas da RMSP, e como a localidade
que experimentou maior crescimento no período.
Na tabela 3.1 é possível observar a distribuição dos ocupados nos quatro ramos
de serviços por localidade selecionada do ESP. Deve-se atentar, primeiro, para o fato
de que, ao final do período, pelo menos do ponto de vista do emprego, todos os quatro
ramos permaneceram relativamente mais concentrados na RMSP que a indústria
69
, o
que o se verifica em 1995, quando os serviços produtivos e os sociais
encontravam-se com participação na RMSP maior que a indústria. Essa observação
geral indica que o movimento de perda de peso relativo da RMSP foi mais intenso na
indústria do que em qualquer um dos ramos de serviços.
69
Os ramos de serviço apresentaram, em 2005, participação relativa na RMSP acima da casa dos 50%,
enquanto a da indústria caiu para “apenas” 46,8%.
70
Também é necessário chamar a atenção para a performance diferencial dos
serviços produtivos em relação aos demais ramos de serviços, seja porque é o ramo de
serviços mais concentrado na RMSP, seja porque, ao contrário dos demais ramos, sua
participação na região não diminuiu ao longo do tempo, e sim aumentou – tendo
chegado em 2005 a concentrar 71% dos empregos. aqui, mais uma evidência da
natureza ímpar desse conjunto de atividades de serviços.
no que concerne às Outras RAs do ESP ressalta-se apenas que, para os
serviços distributivos, sociais e pessoais elas tenderam a absorver o recuo da RMSP de
forma relativamente proporcional. Para os serviços produtivos, a única localidade – com
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
RMCam
85.980
6,0
107.200
7,0
132.820
7,3
176.080
7,8
RAC
94.160
6,6
111.520
7,3
137.040
7,5
182.880
8,1
RASJ
56.860
4,0
66.120
4,3
79.840
4,4
95.580
4,2
RASor
65.120
4,6
73.960
4,8
93.880
5,1
114.300
5,1
Outras RAs
227.600
16,0
259.240
17,0
315.320
17,2
398.720
17,7
RMBS
64.340
4,5
62.600
4,1
72.560
4,0
90.980
4,0
RMSP
830.880
58,3
846.860
55,4
997.780
54,5
1.196.100
53,1
ESP
1.424.940
100,0
1.527.500
100,0
1.829.240
100,0
2.254.640
100,0
RMCam
60.420
4,9
76.360
5,3
90.100
5,6
108.220
5,9
RAC
68.040
5,5
70.320
4,9
82.560
5,2
91.860
5,0
RASJ
32.980
2,7
44.240
3,1
56.480
3,5
62.160
3,4
RASor
50.860
4,1
68.580
4,8
66.860
4,2
55.040
3,0
Outras RAs
126.680
10,2
123.860
8,7
149.360
9,4
151.860
8,3
RMBS
49.140
4,0
51.720
3,6
52.140
3,3
60.120
3,3
RMSP
855.260
68,8
995.220
69,6
1.099.340
68,8
1.294.720
71,0
ESP
1.243.380
100,0
1.430.300
100,0
1.596.840
100,0
1.823.980
100,0
RMCam
37.420
6,8
45.120
7,7
49.860
7,6
53.880
7,1
RAC
38.420
7,0
44.740
7,6
47.720
7,2
54.860
7,3
RASJ
24.920
4,5
23.980
4,1
28.280
4,3
33.020
4,4
RASor
23.300
4,2
24.580
4,2
23.920
3,6
29.220
3,9
Outras RAs
97.960
17,8
106.980
18,2
124.380
18,8
136.320
18,1
RMBS
19.260
3,5
22.320
3,8
23.480
3,6
23.980
3,2
RMSP
307.700
56,0
318.700
54,3
362.300
54,9
423.860
56,1
ESP
548.980
100,0
586.420
100,0
659.940
100,0
755.140
100,0
RMCam
17.300
5,9
22.880
7,4
27.140
7,6
32.660
7,7
RAC
17.640
6,0
19.760
6,4
21.760
6,1
27.220
6,4
RASJ
13.260
4,5
16.720
5,4
21.160
5,9
24.460
5,8
RASor
12.600
4,3
12.100
3,9
16.000
4,5
22.640
5,3
Outras RAs
32.280
11,0
39.840
12,9
46.300
13,0
57.000
13,4
RMBS
12.340
4,2
13.420
4,3
14.780
4,2
18.120
4,3
RMSP
187.520
64,0
185.120
59,7
208.960
58,7
241.900
57,1
ESP
292.940
100,0
309.840
100,0
356.100
100,0
424.000
100,0
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
S. DistributivosS. ProdutivosS. Pessoais S. Sociais
Tabela: 3.1: Distribuição dos ocupados nos serviços distributivos, produtivos, sociais e pessoais
segundo localidade selecionada do ESP (1995-2005)
1995 1999 2002 2005
71
exceção da RMSP – que não experimentou perda de peso relativo foi a RMCam, o que
sugere que essa região pode vir a firmar-se como um pólo alternativo e/ou
complementar de serviços produtivos à RMSP, ao menos em algumas atividades
específicas.
3.3 Medidas de localização: a utilização do Quociente Locacional
Com a trajetória da representatividade econômica das localidades do ESP
explicitada, pode-se agora avançar em direção a uma melhor caracterização das
estruturas produtivas das localidades em questão. Para tanto, além das participações
relativas de cada setor industrial e ramo de atividade econômica, será utilizado o
quociente locacional (QL), que consiste em uma medida locacional
70
que tem por
objetivo auxiliar na identificação de especialização produtiva de uma dada região em
um determinado setor/ramo. A utilização do QL, ao lado das participações relativas,
permite minimizar problemas relativos à sobrestimação/subestimação de setores e/ou
ramos mais ou menos intensivos em trabalho, o que seria impossível fazer caso a
análise fosse feita exclusivamente a partir das participações relativas.
O uso do QL é tradicional na literatura sobre desenvolvimento regional. Por meio
dele é possível comparar duas estruturas setoriais-espaciais, a fim de identificar se uma
dada região possui especialização em alguma atividade particular. Para tanto, compara
a participação de uma região em um setor específico com a participação do mesmo
setor no total da economia. Se o valor do QL desse setor na região em questão for
maior que um, significa que a importância do setor nessa região frente à economia
como um todo é maior do que a importância do conjunto dos setores dessa região
frente essa economia.
Sua fórmula é dada por
71
:
70
Paulo Roberto Haddad (1989, p.233) indica que as medidas de localização têm natureza setorial e se
preocupam com a identificação de padrões de concentração ou dispersão espacial da atividade
econômica. Estes podem ser medidos por meio do emprego, do número de empresas ou do valor
adicionado em cada setor. Dentre as medidas locacionais mais usadas, destacam-se, ao lado do QL, o
Coeficiente de Localização, o Coeficiente de Associação Geográfica e as Curvas de Localização.
71
A fórmula do QL apresentada já está adaptada para o universo de análise da presente pesquisa.
72
QL =
E
a
j
/ E
a
ESP
/
E
atv
j
/ E
atv
ESP
Onde se lê:
E
a
j
: emprego da atividade específica na região específica
E
a
ESP
: emprego da atividade específica no ESP
E
atv
j
: emprego na região específica
E
atv
ESP
: emprego no ESP
Marco A. Crocco et al (2006, p.220) apontam que, embora muito úteis para a
identificação da especialização produtiva de uma dada região, os resultados do QL
devem ser interpretados com cautela. Primeiro, a interpretação de seu resultado deve
considerar as características da economia de referência no caso, o ESP. Segundo,
em economias com elevado grau de disparidade regional, como o Brasil, pode ocorrer
de o QL ser acima de um, sem que isso represente uma especialização produtiva, mas
apenas uma diferenciação produtiva, derivada das diferentes características das
regiões. Terceiro, em pequenas regiões, com número diminuto de ocupados e estrutura
produtiva pouco diversificada, o QL tende a sobrevalorizar o peso de um ou de alguns
setores. Em regiões muito grandes, com alto número de empregados e estrutura
produtiva muito diversificada, ao contrário, o QL tende a subvalorizar o peso de alguns
setores, mesmo que sejam relevantes para a economia como um todo.
Os potenciais perigos de viés associados ao QL podem, entretanto, ser
minimizados. Primeiro, a real consideração das características específicas do ESP, bem
como a consideração de dados complementares ao QL, podem evitar a fetichização do
índice.
Segundo, o ESP é um espaço muito mais homogêneo do que o Brasil, sendo
que a consideração apenas do setor industrial e a utilização de uma classificação
relativamente bastante agregada, como a de ramos de atividade econômica, contribui
para tornar esse espaço ainda mais homogêneo. Nesse sentido, é possível, com a
ajuda do QL, identificar quais setores tendem a se concentrar em cada localidade do
ESP.
73
O problema da sub ou sobrestimação de determinados setores se constitui como
o problema mais complexo associado ao uso do QL. Mas, com a exceção da RMSP, as
demais localidades são de tamanho relativamente próximo, o que minimiza a questão
da sobrevalorização de setores. Porém, o problema da subvalorização de certos
setores atinge em cheio a RMSP, o que pode ser observado na comparação da
distribuição setorial da indústria por localidade do ESP. Dessa forma, comparações a
partir do QL de um mesmo setor entre as diferentes localidades não são
recomendáveis. Por outro lado, não problema nenhum em realizar tais comparações
entre diferentes setores de uma mesma localidade.
3.4 A Região Metropolitana de São Paulo
72
Embora nos últimos vinte anos a indústria da RMSP tenha diminuído seu peso
relativo no estado para “apenas” 46,8% dos empregados industriais do ESP, é a
localidade do estado que possui o parque industrial mais denso e diversificado esse
tema será discutido a seguir, a partir da tabela 3.3. Por hora, convém voltar a atenção
para a tabela 3.2, na qual é possível observar a evolução dos ocupados e os QLs na
RMSP para todos os ramos de atividade econômica.
À primeira vista, conclui-se realmente que a RMSP passou por um processo de
desconcentração absoluta e relativa expresso na diminuição do QL e da participação
relativa da indústria. Porém, uma análise mais cuidadosa permite um entendimento
mais adequado do fenômeno. Primeiro, deve-se lembrar que, a partir de 1999, a RMSP
reverte as tendências de fechamento de postos de trabalho industriais, o que significa
uma retomada do dinamismo da indústria. Segundo, nota-se que, no período estudado,
do ponto de vista da geração de empregos, o setor de serviços como um todo é
bastante mais dinâmico que a indústria, o que se explica pelo impacto diferencial do
processo de reestruturação produtiva sobre os diferentes ramos de atividade
72
Quanto à ordem de exposição dos dados, a partir de agora e até o final do capítulo, será operada uma
inversão, ou seja, serão primeiro apresentados dados relativos a todas as atividades econômicas e
depois aos setores industriais. Tal alteração justifica-se pelo fato de que, embora os dados exclusivos da
indústria tenham série histórica maior, referem-se não mais à indústria como um todo, e sim a uma
desagregação da indústria, em 12 setores, significando um aprofundamento da análise que se inicia a
partir da investigação dos ramos de atividade econômica.
74
econômica. Assim, a indústria não deve ser vista como um setor que tende
univocamente a abandonar a RMSP; quem tende a abandoná-la são determinados
setores industriais que não encontram mais vantagem em ali se localizar.
Ainda em relação à indústria da RMSP, nunca é demais salientar que ela
permanece como um dos setores mais importantes em termos de participação relativa,
tanto é, que chega a 2005 empregando quase um quinto de todos os ocupados na
região em questão, o que significa, aproximadamente, um milhão de trabalhadores.
Parte do dinamismo da indústria o só da indústria da RMSP mas também da
indústria das localidades que compõe o seu Campo Aglomerativo –, como argumentado
no capítulo anterior, é fruto do desempenho extremamente positivo dos serviços
produtivos na RMSP, os quais ultrapassam a indústria e o governo em termos de peso
relativo, constituindo-se como o ramo que mais emprega na região. Tal fato ganha em
significância pela percepção tanto de que os serviços produtivos são, apenas, o terceiro
setor que mais emprega no ESP atrás dos serviços distributivos e da indústria –,
quanto pela de que o seu QL, o qual era mais alto do que o QL dos demais ramos da
RMSP em 1995, não se mantém como o mais alto também em 2005, como
experimentou relevante tendência de crescimento.
É o bom desempenho dos serviços produtivos que dá força ao argumento de que
a RMSP, ao longo do período aqui analisado, assumiu novas funções, as quais podem
ser pensadas de forma análoga às funções de uma metrópole de serviços. Entretanto,
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
1.176.600
26,0
0,96
982.040
18,1
0,83
Construção civil
224.100
5,0
1,09
191.640
3,5
1,04
S. distributivos
830.880
18,4
0,99
1.196.100
22,0
0,95
S. produtivos
855.260
18,9
1,16
1.294.720
23,8
1,28
S. sociais
307.700
6,8
0,95
423.860
7,8
1,01
S. pessoais
187.520
4,2
1,08
241.900
4,5
1,03
Governo
853.860
18,9
1,15
984.760
18,1
1,20
Atv. primárias
23.640
0,5
0,12
17.580
0,3
0,09
Outras atv.
58.740
1,3
0,82
97.520
1,8
0,81
Total
4.518.300 100,0 1,00 5.430.120 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.2: Distribuição dos ocupados e QLs na RMSP por ramo de atividade
econômica (1995 e 2005)
1995 2005
75
deve-se sempre lembrar que a RMSP mantém-se como importante pólo industrial, cujo
dinamismo está fortemente ligado a tais serviços do ponto de vista dos serviços
produtivos, a indústria é apenas um consumidor entre outros, ou seja, entre outras
atividades de serviços, atividades agrícolas, administração pública etc. aqui,
portanto, um importante ponto de distinção da RMSP em relação às grandes
metrópoles ou cidades globais dos países desenvolvidos, a saber: o fato de a
RMSP não ter vivido um processo de desindustrialização, tendo se mantido como
importante pólo industrial.
Em relação aos demais ramos de serviços, vale a pena destacar que os três
apresentam concentração bastante próxima da média estadual, o que sugere que a
RMSP é um lugar como qualquer outro para sua localização
73
. Os serviços distributivos
configuram-se como o segundo mais importante empregador em 2005, na frente,
inclusive, da indústria. Por fim, deve-se atentar para o alto QL do governo segundo
maior da região o qual deve-se ao fato de a cidade de São Paulo ser, também, a
capital do estado. Como se verificará, nenhuma outra localidade do ESP contará com
uma concentração de empregos na administração pública acima da média estadual.
Centrando a análise nos setores industriais, mais especificamente (ver tabela
3.3), percebe-se que a RMSP mantém-se não só como o mais importante pólo industrial
do ESP, como é, também, a localidade do estado que possui o parque industrial mais
denso e diversificado. Fato o qual é expresso pelo alto número de setores sete com
QL maior que um, sem falar no fato de que, dos cinco com concentração menor que a
média estadual, dois aumentaram o seu grau de concentração, com um deles o
mecânico chegando a, praticamente, equiparar a média estadual. Assim, em ordem
de importância, os setores com concentração relativamente elevada na RMSP são:
papel e gráfica; químico; material elétrico e de comunicações; borracha, fumo e couro;
metalúrgico; material de transporte; têxtil; e mecânico.
73
Nenhuma outra localidade com a exceção dos serviços distributivos na RMBS, por conta do porto de
Santos – apresenta grau de concentração significativo para os serviços distributivos, sociais e pessoais, o
que sugere que o espaço é menos relevante para a localização desses serviços do que para a indústria e
para os serviços produtivos.
76
Quanto ao peso relativo dos setores em termos ocupacionais, o destaque vai
para a relativamente bem distribuída estrutura de emprego, com cinco setores em 2005
– químico, metalúrgico, têxtil, material de transporte e alimentos e bebidas – com
participação acima da casa dos 10%, e mais dois papel e gráfica e mecânico na
faixa dos 8%. Todos juntos, são responsáveis por 82,5% dos empregos industriais da
RMSP.
3.5 A Região Metropolitana de Campinas
A RMCam (ver tabela 3.4), ao contrário da RMSP, tem na indústria não a sua
maior fonte de empregos, como também, o seu maior grau de concentração o QL da
indústria mantém-se elevado ao longo do período, apesar do peso relativo da indústria
ter experimentado queda de cerca de 7 pontos percentuais. Tal queda de participação
da indústria tem relação com o processo de reestruturação produtiva, com destaque
para o fenômeno chamado de downsizing que atingiu a indústria do ESP – e a do Brasil
durante o segundo qüinqüênio da década de 1980 e a de 1990, do que com qualquer
outra coisa.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
81.680
5,2
0,51
106.140
10,4
0,64
borracha, fumo e couro
123.040
7,9
1,12
63.960
6,3
1,15
mat. elétrico/comunic.
153.980
9,9
1,22
57.940
5,7
1,16
calçados
11.600
0,7
0,27
4.240
0,4
0,17
mecânica
129.340
8,3
0,94
86.720
8,5
0,99
metalúrgica
218.720
14,0
1,14
131.940
12,9
1,12
química
192.020
12,3
1,19
184.040
18,0
1,30
têxtil
226.660
14,5
1,00
125.580
12,3
1,03
madeira e mobiliário
50.380
3,2
0,84
25.920
2,5
0,73
mat. de transporte
212.500
13,6
1,14
117.420
11,5
1,07
minerais não metálicos
54.320
3,5
0,78
26.680
2,6
0,63
papel e gráfica
103.680
6,7
1,19
90.420
8,9
1,34
Total
1.557.920 100,0 1,00 1.021.000 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.3: Distribuição dos ocupados e QLs na RMSP por setor industrial (1985 e 2005)
1985 2005
77
Entretanto, mais do que discutir as esperadas tanto porque já havia sido
apontado pela literatura quanto porque já foi discutido no capítulo anterior alta
participação e grau de concentração da indústria na RMCam, convém voltar a atenção
para a performance da indústria articulada à dos serviços produtivos. Primeiro, a forma
dessa articulação é semelhante para todas as localidades que compõe o Campo
Aglomerativo da RMSP, com exceção da RMBS. Depois, a explicação para o referido
padrão da indústria – relativamente mais concentrada no Campo Aglomerativo da
RMSP do que na própria RMSP – e dos serviços produtivos relativamente mais
concentrados na RMSP é comum às seguintes regiões: RMCam, Resto da RAC,
RASJC e RASor.
Assim, enquanto a indústria apresenta concentração acima da média estadual,
os serviços produtivos contam com concentração abaixo dessa média no caso da
RMCam, o grau de concentração dos serviços produtivos é o mais alto das localidades
pertencentes ao Campo Aglomerativo da RMSP, com exceção da RMBS, o que sugere
algumas particularidades. Isso, porém, não significa que a sua indústria não dependa
de serviços produtivos, mas apenas que tal indústria se sirva dos serviços produtivos
produzidos na RMSP. Nesse sentido, o que se verifica é uma dinâmica na qual a
localização na RMCam ou melhor, no Campo Aglomerativo da RMSP não implica
não-acesso às vantagens aglomerativas da RMSP, com grande destaque para os
serviços produtivos, principalmente aqueles de caráter mais moderno.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
163.800
37,1
1,37
205.940
30,2
1,39
Construção civil
22.520
5,1
1,12
17.940
2,6
0,77
S. distributivos
85.980
19,5
1,04
176.080
25,8
1,12
S. produtivos
60.420
13,7
0,84
108.220
15,9
0,85
S. sociais
37.420
8,5
1,18
53.880
7,9
1,02
S. pessoais
17.300
3,9
1,02
32.660
4,8
1,10
Governo
37.740
8,5
0,52
55.700
8,2
0,54
Atv. primárias
11.300
2,6
0,57
12.940
1,9
0,52
Outras atv.
5.500
1,2
0,79
17.820
2,6
1,17
Total
441.980 100,0 1,00 681.180 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.4: Distribuição dos ocupados e QLs na RMCam por ramo de atividade
econômica (1995 e 2005)
1995 2005
78
De qualquer forma, o relativamente alto QL dos serviços produtivos em
comparação ao de outras localidades do Campo Aglomerativo da RMSP, com exceção
da RMBS sugere que a RMCam possa ser ofertante de certos serviços produtivos
mais rotineiros ou não – complementares e/ou alternativos à RMSP.
Voltando à estrutura produtiva da RMCam, deve-se notar, ainda, que os demais
ramos de serviços mantêm graus de concentração bastante próximos à média estadual,
e que os serviços distributivos constituem-se como o segundo ramo que mais emprega
na região, atrás, apenas, da indústria.
Em relação à dinâmica dos setores industriais, pela tabela 3.5 percebe-se que a
estrutura industrial da RMCam tendeu à diversificação setorial, o que é expresso no
aumento do número de setores com QL maior que um, chegando a seis em 2005, e
perdendo, somente, para a RMSP. Assim, a RMCam chega a 2005 com os setores
têxtil, de material elétrico e de comunicações, de material de transporte, de minerais
não-metálicos, mecânico e químico com concentração acima da média estadual. Em
relação a 1985, as principais alterações foram o crescimento da concentração das
indústrias de material de transporte e química em face da diminuição das de borracha,
fumo e couro e de madeira e mobiliário.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
10.540
6,0
0,59
20.100
9,5
0,58
borracha, fumo e couro
12.860
7,3
1,04
6.600
3,1
0,57
mat. elétrico/comunic.
17.760
10,1
1,25
13.780
6,5
1,33
calçados
1.460
0,8
0,30
420
0,2
0,08
mecânica
16.880
9,6
1,09
20.640
9,7
1,13
metalúrgica
12.660
7,2
0,59
21.080
10,0
0,86
química
17.220
9,8
0,95
32.700
15,4
1,12
têxtil
45.500
25,9
1,78
41.060
19,4
1,62
madeira e mobiliário
6.760
3,9
1,00
5.360
2,5
0,73
mat. de transporte
19.380
11,0
0,92
29.760
14,1
1,31
minerais não metálicos
9.360
5,3
1,19
10.820
5,1
1,23
papel e gráfica
5.200
3,0
0,53
9.380
4,4
0,67
Total
175.580 100,0 1,00 211.700 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.5: Distribuição dos ocupados e QLs na RMCam por setor industrial (1985 e
2005)
1985 2005
79
Quanto aos setores que mais empregam, destaca-se o setor têxtil, que, embora
tenha diminuído seu peso relativo e fechado postos de trabalho, permaneceu como o
setor com maior participação na estrutura ocupacional da RMCam. Deve-se chamar a
atenção, também, para o crescimento das indústrias química, de material de transporte,
metalúrgica e de alimentos e bebidas, que, ao lado da indústria mecânica, representam
78,1% do emprego industrial em 2005.
3.6 O Resto da Região Administrativa de Campinas
A dinâmica da indústria e dos serviços produtivos no Resto da RAC (ver tabela
3.6) é relativamente semelhante à da RMCam, no sentido de a indústria apresentar alto
grau de concentração e os serviços produtivos, baixo. As diferenças entre as duas
localidades, por sua vez, consistem no fato de o grau de concentração da indústria em
2005, bem como a magnitude de sua expansão entre 1995 e 2005, no Resto da RAC
ter sido maior; e no movimento dos serviços produtivos do Resto da RAC ter sido de
queda, enquanto que RMCam se manteve estável. De qualquer forma, a mesma
explicação fornecida para a RMCam é válida para o Resto da RAC
74
.
74
Como é válida, também, para as localidades de RASJC e de RASor. Assim, não será repetida aqui e
nem nas respectivas análises dessas regiões, desenvolvidas nas sessões 3.7 e 3.8.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
200.620
36,9
1,36
245.920
31,7
1,45
Construção civil
18.100
3,3
0,73
32.860
4,2
1,24
S. distributivos
94.160
17,3
0,93
182.880
23,5
1,02
S. produtivos
68.040
12,5
0,77
91.860
11,8
0,63
S. sociais
38.420
7,1
0,98
54.860
7,1
0,91
S. pessoais
17.640
3,2
0,85
27.220
3,5
0,81
Governo
48.240
8,9
0,54
71.040
9,1
0,61
Atv. primárias
52.620
9,7
2,15
53.960
6,9
1,90
Outras atv.
6.300
1,2
0,73
16.000
2,1
0,92
Total
544.140 100,0 1,00 776.600 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.6: Distribuição dos ocupados e QLs no Resto RAC por ramo de
atividade econômica (1995 e 2005)
1995 2005
80
Mais dois pontos devem ser notados em relação ao Resto da RAC. O primeiro é
a proximidade do QL dos demais ramos de serviços a um, com destaque para os
serviços distributivos, que se constituem como o segundo maior empregador da região.
o segundo, diz respeito ao alto grau de concentração das atividades primárias,
significativamente mais alto que o QL das atividades primárias da RMCam.
A estrutura setorial da indústria do Resto da RAC, do ponto de vista de seu grau
de concentração, tende à especialização produtiva no segmento de minerais não-
metálicos. Como pode ser observado na tabela 3.7, essa indústria foi a única das que
possuíam QL maior que um em 1985 que ampliou o seu grau de concentração em
2005. Deve-se notar, também, o crescimento da concentração nos setores de
metalurgia, de material de transportes e de material elétrico e de comunicação; o
primeiro chega a ultrapassar a média estadual enquanto os dois últimos dela se
aproximam. Porém, tal crescimento não permite ainda falar em concentração
significativa nesses setores.
Ainda em relação ao QL, a trajetória dos setores de alimentos e bebidas e de
calçados sugere um movimento de desconcentração no Resto da RAC dessas
indústrias. Enquanto o setor de alimentos e bebidas embarca em um movimento de
desconcentração relativa diminuição do grau de concentração, em comparação à
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
36.360
18,8
1,84
41.980
17,0
1,04
borracha, fumo e couro
7.800
4,0
0,57
8.700
3,5
0,65
mat. elétrico/comunic.
5.420
2,8
0,35
9.260
3,7
0,77
calçados
8.400
4,3
1,58
460
0,2
0,08
mecânica
24.660
12,7
1,45
26.480
10,7
1,25
metalúrgica
23.100
11,9
0,97
32.940
13,3
1,15
química
11.120
5,7
0,55
28.400
11,5
0,83
têxtil
23.380
12,1
0,83
25.520
10,3
0,86
madeira e mobiliário
8.800
4,5
1,19
9.020
3,6
1,05
mat. de transporte
13.520
7,0
0,59
24.640
10,0
0,93
minerais não metálicos
17.380
9,0
2,00
23.920
9,7
2,34
papel e gráfica
13.640
7,0
1,26
15.900
6,4
0,97
Total
193.580 100,0 1,00 247.220 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.7: Distribuição dos ocupados e QLs no Resto da RAC por setor industrial (1985
e 2005)
1985 2005
81
concentração do setor no ESP, porém, não acompanhada por diminuição da
participação do setor na localidade –, a indústria de calçados entra em ciclo de
desconcentração relativa e absoluta expresso pela diminuição do QL acompanhado
pela significativa diminuição de seu peso relativo na localidade.
Quanto à participação dos setores industriais no emprego total, pode-se afirmar
que a ocupação é relativamente bem distribuída. Em 2005, havia seis setores com peso
relativo acima dos 10% alimentos e bebidas, metalurgia, química, mecânica, têxtil e
material de transporte e um muito próximo a 10% minerais não-metálicos. Juntos,
empregavam 82,5% dos empregados industriais do Resto da RAC.
A comparação entre as estruturas produtivas da RMCam e a do Resto da RAC
evidencia que a decisão de separar a Região Administrativa de Campinas em duas
localidades foi acertada. Em relação à estrutura produtiva, de uma forma mais geral,
algumas diferenças podem ser listadas: (1) apesar do alto grau de concentração da
indústria em ambas as regiões, a composição interna das respectivas indústrias é
bastante diferente; (2) a performance dos serviços produtivos também é marcada por
movimentos distintos; e (3) a importância das atividades primárias para o Resto da RAC
configura-se como mais um ponto de diferenciação.
No que diz respeito às respectivas estruturas setoriais da indústria, é necessário
tecer um comentário um pouco mais aprofundado pois, além de serem bastante
diferentes, encontram-se em trajetórias com sentidos distintos. Enquanto a estrutura
produtiva na RMCam é mais estável, no sentido de ter tido menores variações em
termos de níveis setoriais de concentração espacial, não apresentando especialização
produtiva explícita em nenhum setor, mas apenas grau de concentração maior que a
média estadual em seis setores, no Resto da RAC a estrutura produtiva está em
processo de transição, ou seja, contém movimentos significativos de ascensão e queda
dos níveis de concentração setorial. Assim, a estrutura produtiva desta última, em 2005,
é radicalmente diferente da que exibia em 1985, especialmente pelo fato de ter se
especializado na indústria de minerais não-metálicos nesses últimos 20 anos.
82
3.7 A Região Administrativa de São José dos Campos
Tal qual verificado para a RMCam e para o Resto da RAC, a RASJC (ver tabela
3.8) também apresenta uma relativamente alta principalmente quando comparada à
RMSP concentração da indústria e baixa do ramo de serviços produtivos. Porém,
aqui, a concentração da indústria o é tão elevada como nas duas localidades
anteriores, nem a dos serviços produtivos é tão baixa como a do Resto da RAC e da
RASor – que será apresentada na próxima sessão. Em relação aos serviços produtivos,
o seu dinamismo, em termos de grau de concentração e de participação relativa,
sugere que a localidade em questão possa vir a se constituir como um pólo secundário
de fornecimento de serviços produtivos, ao lado da RMCam. Uma outra possibilidade,
mais realista e que não está em oposição à última, é a possibilidade de os serviços
produtivos na RASJC possuírem fortes ligações com a indústria de material de
transporte mais especificamente, com a aeronáutica que, como se verá adiante, é
fortemente concentrada na região.
Quanto aos demais ramos de serviços, nota-se que todos apresentam
concentração próxima às médias estaduais, com a exceção dos serviços pessoais
porém, o relativamente alto QL dos serviços pessoais não se reflete em alto nível de
emprego. Além disso, os serviços distributivos o bastante relevantes do ponto de
vista do emprego, chegando em 2005 a praticamente empatar com a indústria.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
89.920
31,9
1,18
100.420
24,8
1,14
Construção civil
11.100
3,9
0,87
12.220
3,0
0,89
S. distributivos
56.860
20,2
1,08
95.580
23,6
1,02
S. produtivos
32.980
11,7
0,72
62.160
15,4
0,82
S. sociais
24.920
8,9
1,23
33.020
8,2
1,05
S. pessoais
13.260
4,7
1,23
24.460
6,0
1,39
Governo
36.380
12,9
0,79
54.300
13,4
0,89
Atv. primárias
11.240
4,0
0,89
11.760
2,9
0,79
Outras atv.
4.900
1,7
1,10
10.680
2,6
1,18
Total
281.560 100,0 1,00 404.600 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.8: Distribuição dos ocupados e QLs na RASJC por ramo de atividade
econômica (1995 e 2005)
1995 2005
83
Com relação à composição setorial da indústria na RASJC (ver tabela 3.9),
observa-se que se caracteriza pela alta especialização produtiva no setor de material
de transporte
75
, a qual tendeu a se ampliar entre 1985 e 2005. Além da alta
concentração nesse setor, apenas as indústrias de material elétrico e de comunicação,
de química e de metalurgia contam com grau de concentração ligeiramente acima da
média. Todos os demais setores industriais apresentam grau de concentração
significativamente abaixo do todo do ESP.
O setor de material de transporte, sozinho, é responsável por um terço das
ocupações industriais da RASJC. Com peso relativo acima da casa dos 10%,
apenas os setores de química e metalurgia; todos os demais não chegam a 8%. Nesse
sentido, pode-se afirmar que a especialização em material de transporte na RASJC é
tão forte que fez convergir, inclusive, a estrutura de emprego da localidade.
75
Com grande destaque para a indústria aeronáutica, a qual conta com elevada concentração na
RASJC. Além da Embraer manter a sua sede, centro de P&D e unidade produtiva de aviões comerciais
na localidade, alguns de seus principais fornecedores também nela se localizam. A respeito da indústria
aeronáutica no ESP, ver Marcos José Barbieri Ferreira (2008).
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
3.940
3,6
0,35
8.120
7,9
0,49
borracha, fumo e couro
9.940
9,0
1,28
2.420
2,4
0,43
mat. elétrico/comunic.
11.700
10,6
1,31
6.160
6,0
1,23
calçados
2.160
2,0
0,71
20
0,0
0,01
mecânica
5.160
4,7
0,53
7.980
7,8
0,91
metalúrgica
11.540
10,4
0,85
12.200
11,9
1,03
química
11.380
10,3
0,99
14.460
14,1
1,02
têxtil
9.220
8,3
0,57
5.000
4,9
0,41
madeira e mobiliário
1.240
1,1
0,29
2.020
2,0
0,57
mat. de transporte
36.740 33,2 2,78 37.160 36,2 3,37
minerais não metálicos
3.560 3,2 0,72 3.300 3,2 0,78
papel e gráfica
4.100 3,7 0,66 3.700 3,6 0,55
Total
110.680 100,0 1,00 102.540 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.9: Distribuição dos ocupados e QLs na RASJC por setor industrial (1985 e 2005)
1985 2005
84
3.8 A Região Administrativa de Sorocaba
A estrutura produtiva da RASor é relativamente semelhante à do Resto da RAC
(ver tabela 3.10). que, enquanto a indústria conta com alto grau de participação,
ampliado no período, os serviços produtivos trilharam o caminho inverso. O seu QL, que
já não era tão alto em 1995, tendeu a diminuir ainda mais em 2005.
Outro ponto de comparação são os relativamente elevados peso e grau de
concentração das atividades primárias. em relação aos demais ramos de serviços,
via de regra, tendem a ter concentração próxima à média estadual.
A estrutura setorial da indústria da RASor pode ser considerada como em meio a
um processo de transição (tabela 3.11). Tal processo se caracteriza pela
desconcentração relativa de setores que tradicionalmente gozavam alto grau de
concentração, como os de minerais não-metálicos e o têxtil, e pela a elevação do grau
de concentração de setores que 20 anos atrás não figuravam entre os com maior
concentração na RASor, como os de material de transporte, de material elétrico e de
comunicações e de madeira e mobiliário. Em relação a este último, o seu significativo
crescimento sugere o início de uma trajetória de especialização produtiva.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
119.660
32,5
1,20
154.060
29,5
1,36
Construção civil
10.240
2,8
0,61
17.960
3,4
1,01
S. distributivos
65.120
17,7
0,95
114.300
21,9
0,95
S. produtivos
50.860
13,8
0,85
55.040
10,5
0,56
S. sociais
23.300
6,3
0,88
29.220
5,6
0,72
S. pessoais
12.600
3,4
0,89
22.640
4,3
1,00
Governo
39.920
10,8
0,66
60.960
11,7
0,78
Atv. primárias
40.640
11,0
2,46
55.920
10,7
2,93
Outras atv.
5.640
1,5
0,97
11.820
2,3
1,02
Total
367.980 100,0 1,00 521.920 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.10: Distribuição dos ocupados e QLs na RASor por ramo de atividade
econômica (1995 e 2005)
1995 2005
85
Quando se olha para os setores que mais empregam, verifica-se que os que
mais ampliaram o seu grau de concentração não foram aqueles com maior peso
relativo. A indústria com maior participação no emprego é a de alimentos e bebidas,
cujo grau de concentração se manteve relativamente estável e próximo à média
estadual. A esta, segue-se a têxtil, que passou por processo de desconcentração
relativo; e a metalúrgica, que se encontra em situação semelhante à de alimentos e
bebidas. O único setor que ampliou seu grau de concentração de forma significativa e
que conta com peso relativo acima de 10% é o de material de transporte. Esses quatro
setores, tomados em conjunto, mais o químico, que apresenta participação bastante
próxima a casa dos 10%, são responsáveis por 63,5% dos empregos industriais da
RASor.
3.9 A Região Metropolitana da Baixada Santista
Como pode ser observado na tabela 3.12, a RMBS apresenta estrutura produtiva
bastante discrepante das apresentadas pelas demais localidades do Campo
Aglomerativo da RMSP. É possível que grande parte dessas diferenças seja explicada
pela sua vocação para o desenvolvimento de serviços distributivos especialmente
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
11.660 9,2 0,90 25.060 15,8 0,97
borracha, fumo e couro
4.360 3,4 0,49 6.980 4,4 0,81
mat. elétrico/comunic.
8.940 7,1 0,87 9.480 6,0 1,22
calçados
2.080 1,6 0,60 60 0,0 0,02
mecânica
10.680 8,4 0,96 13.320 8,4 0,98
metalúrgica
16.780 13,3 1,08 20.420 12,9 1,11
química
5.780 4,6 0,44 15.020 9,5 0,68
têxtil
32.140 25,4 1,74 23.580 14,8 1,24
madeira e mobiliário
7.640 6,0 1,57 10.820 6,8 1,97
mat. de transporte
10.060 7,9 0,67 16.780 10,6 0,98
minerais não metálicos
12.440 9,8 2,19 11.080 7,0 1,68
papel e gráfica
4.000 3,2 0,56 6.240 3,9 0,59
Total
126.560 100,0 1,00 158.840 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.11: Distribuição dos ocupados e QLs na RASor por setor industrial (1985 e 2005)
1985 2005
86
daqueles relacionados às atividades portuárias
76
devido a sua localização litorânea e
dado a sua proximidade da região mais desenvolvida da nação. Assim, a RMBS é a
única localidade do ESP que apresenta especialização em tal ramo de atividade
econômica.
Convém atentar para o fato de que os serviços produtivos também contam com
um alto grau de concentração na RMBS, superior ao de todas as demais localidades do
Campo Aglomerativo da RMSP. Entretanto, tudo indica que tais serviços possuam mais
ligações com as atividades portuárias do que com a indústria. Por fim, serviços sociais e
pessoais também têm QL acima de um, com destaque para os pessoais, cujo QL é
elevado e aumenta no período em questão.
Em relação à indústria, o que salta aos olhos é o baixo grau de concentração e a
baixa participação na estrutura do emprego, ambos declinantes ao longo do período.
Nesse sentido, é possível falar que a indústria da RMBS passa por um processo de
desconcentração absoluta e relativa. De qualquer forma, conforme pode ser observado
na tabela 3.13, a RMBS apresenta uma estrutura setorial da indústria bastante
concentrada em alguns poucos setores, visível tanto quando se compara a
concentração desses com a média estadual quanto quando se focaliza a estrutura do
emprego.
76
O porto de Santos é o maior porto da América Latina e o mais importante porto brasileiro.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
25.580
10,8
0,40
19.880
6,9
0,32
Construção civil
17.260
7,3
1,61
14.640
5,1
1,49
S. distributivos
64.340
27,2
1,46
90.980
31,6
1,37
S. produtivos
49.140
20,8
1,28
60.120
20,9
1,12
S. sociais
19.260
8,2
1,14
23.980
8,3
1,07
S. pessoais
12.340
5,2
1,36
18.120
6,3
1,45
Governo
24.640
10,4
0,64
37.700
13,1
0,87
Atv. primárias
3.260
1,4
0,31
1.720
0,6
0,16
Outras atv.
20.440
8,7
5,49
21.200
7,4
3,30
Total
236.260 100,0 1,00 288.340 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.12: Distribuição dos ocupados e QLs na RMBS por ramo de atividade
econômica (1995 e 2005)
1995 2005
87
O setor de metalurgia apresenta alto grau de concentração o que sugere uma
especialização da RMBS –; enquanto os setores de química e de alimentos e bebidas
contam com uma concentração relativamente maior que a média estadual. Em relação
aos dois últimos, cabe chamar a atenção para a sua dinâmica diferenciada. Enquanto o
de alimentos e bebidas apresenta um movimento de ampliação de seu grau de
concentração, o químico apresenta um movimento de desconcentração absoluta e
relativa, o que sugere que, num futuro próximo, deixará de ser um dos setores da
RMBS com grau de concentração acima da média estadual.
Muito em decorrência do referido alto grau de concentração, os setores de
metalurgia, alimentos e bebidas e o químico são responsáveis por 61,2% dos empregos
industriais da RMBS. O quarto setor que mais emprega é o têxtil, que conta com peso
relativo de apenas 6,7%.
3.10 As Demais Regiões Administrativas do Estado de São Paulo
Na tabela 3.14 observa-se a distribuição dos ocupados e dos QLs nas Outras
RAs do ESP para os anos de 1995 e 2005. Para começar, deve-se notar a significativa
tendência de aumento do grau da concentração da indústria, a qual se situava abaixo
da média estadual em 1995 e tornou-se superior a essa média em 2005 com o QL,
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
3.700
9,9
0,97
4.880
22,3
1,37
borracha, fumo e couro
1.700
4,5
0,64
360
1,6
0,30
mat. elétrico/comunic.
240
0,6
0,08
20
0,1
0,02
calçados
420
1,1
0,41
0
0,0
0,00
mecânica
440
1,2
0,13
1.460
6,7
0,78
metalúrgica
14.180 37,9 3,08 7.060 32,2 2,79
química
10.320
27,6
2,66
4.180
19,1
1,38
têxtil
1.460 3,9 0,27 1.460 6,7 0,56
madeira e mobiliário
640
1,7
0,45
260
1,2
0,34
mat. de transporte
1.400
3,7
0,31
280
1,3
0,12
minerais não metálicos
1.260
3,4
0,75
580
2,6
0,64
papel e gráfica
1.680
4,5
0,80
1.360
6,2
0,94
Total
37.440 100,0 1,00 21.900 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.13: Distribuição dos ocupados e QLs na RMBS por setor industrial (1985 e 2005)
1985 2005
88
por exemplo, semelhante ao da RASJC. Esse movimento sugere que as Outras RAs do
ESP estejam experimentando um processo de industrialização. A fim de investigar mais
a fundo esse possível processo recente de industrialização pelo qual tal localidade
estaria passando, seria necessário utilizar um nível de desagregação maior para o
estudo do que aqui se chamou Outras RAs do ESP. Tal aprofundamento do estudo,
porém, não será levado a cabo pelo presente trabalho, pois demanda uma abordagem
que está além de seus objetivos.
Com relação aos serviços, nota-se, que, com a exceção dos serviços produtivos,
os demais ramos tendem a ter grau de concentração próximo à média estadual. Os
serviços produtivos, por sua vez, apresentaram diminuição no seu já baixo grau de
concentração e na sua participação relativa – apesar de terem experimentado aumento,
é verdade que menos que proporcional do que o aumento dos outros ramos de
atividades econômicas, de seu contingente de trabalhadores. De qualquer forma, vale
lembrar aqui um importante componente da hipótese de pesquisa: as empresas
industriais que se localizam nas Outras RAs do ESP são, justamente, aquelas que
menos dependem dos fatores modernos de aglomeração, o que do ponto de vista dos
serviços significa que essas empresas se utilizam menos de fontes externas de
atividades de serviços produtivos; e, quando as utilizam, tais atividades não tendem a
ser as mais modernas. Assim, é provável que a oferta local seja suficiente.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
Indústria
299.780
23,8
0,88
417.460
25,2
1,16
Construção civil
43.420
3,4
0,76
44.980
2,7
0,80
S. distributivos
227.600
18,0
0,97
398.720
24,0
1,04
S. produtivos
126.680
10,0
0,62
151.860
9,2
0,49
S. sociais
97.960
7,8
1,08
136.320
8,2
1,06
S. pessoais
32.280
2,6
0,67
57.000
3,4
0,79
Governo
212.860
16,9
1,03
205.960
12,4
0,82
Atv. primárias
201.360
16,0
3,55
203.120
12,3
3,35
Outras atv.
19.140
1,5
0,96
42.580
2,6
1,15
Total
1.261.080 100,0 1,00 1.658.000 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.14: Distribuição dos ocupados e QLs nas Outras RAs por ramo de
atividade econômica (1995 e 2005)
1995 2005
89
Por fim, deve-se salientar o grande peso e grau de concentração das atividades
primárias da localidade em questão. Como é sabido, a agricultura paulista, que se
caracteriza por ser uma agricultura bastante moderna e dinâmica, está,
majoritariamente, localizada nas Outras RAs do ESP.
Com relação à indústria, agora a partir da sua composição setorial, percebe-se
que as Outras RAs do ESP, de forma análoga à RMBS, contam com estrutura setorial
concentrada em poucos setores (ver tabela 3.15): o de calçados, o de alimentos e
bebidas, o de madeira e mobiliário e o de borracha, fumo e couro. Destacam-se a
enorme concentração da indústria de calçados e a também grande concentração de
alimentos e bebidas
77
aliás, é provável que existam fortes ligações entre esta última e
as atividades primárias, bastante fortes na localidade. Deve-se notar, ainda, que os
setores de mecânica e de minerais metálicos passaram por processo semelhante,
experimentando um movimento que levou seus respectivos graus de concentração
abaixo das médias estaduais.
Em relação à distribuição do emprego, percebe-se que, com exceção dos
setores de alimentos e bebidas e calçados, os quais tem peso relativo de,
77
Embora a indústria de alimentos e bebidas tenha diminuído o seu grau de concentração nas Outras
RAs do ESP, o que sugere um processo de desconcentração relativa.
Abs.
%
QL
Abs.
%
QL
alimentos e bebidas
107.020
35,4
3,47
149.700
35,6
2,18
borracha, fumo e couro
16.600 5,5 0,78 29.520 7,0 1,29
mat. elétrico/comunic.
4.800 1,6 0,20 10.140 2,4 0,49
calçados
42.460 14,0 5,12 48.480 11,5 4,69
mecânica
33.300
11,0
1,25
31.180
7,4
0,86
metalúrgica
11.500 3,8 0,31 26.520 6,3 0,55
química
11.820 3,9 0,38 23.560 5,6 0,40
têxtil
27.240 9,0 0,62 38.740 9,2 0,77
madeira e mobiliário
20.540
6,8
1,77
22.300
5,3
1,53
mat. de transporte
5.360 1,8 0,15 9.060 2,2 0,20
minerais não metálicos
13.820 4,6 1,02 14.060 3,3 0,81
papel e gráfica
8.120 2,7 0,48 17.360 4,1 0,62
Total
302.580 100,0 1,00 420.620 100,0 1,00
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 3.15: Distribuição dos ocupados e QLs nas Outras RAs do ESP por setor industrial
(1985 e 2005)
1985 2005
90
respectivamente, 35,6% e 11,5%, todos os demais setores contam com participação
inferior a 10%.
3.11 Síntese
A análise precedente visou demonstrar que as localidades do ESP apresentam
estruturas produtivas bem diferentes umas das outras, além de caracterizá-las a partir
de suas especificidades. De modo geral, pode-se afirmar que as três regiões do ESP
RMSP, Resto do ESP e Campo Aglomerativo da RMSP, este último composto pelas
localidades da RMCam, Resto da RAC, RASJC, RASor e RMBS contam com
estruturas produtivas bastante díspares umas das outras, as quais não tendem à
convergência. Enquanto a RMSP caracteriza-se por se constituir como o pólo de
produção de serviços produtivos, especialmente daqueles de caráter mais moderno,
mais importante da nação quiçá da América do Sul sem, entretanto, deixar de ser
um significativo centro industrial, as localidades que compõem o seu Campo
Aglomerativo constituem-se como espaços propícios ao desenvolvimento industrial,
cujas empresas auferem as vantagens aglomerativas da RMSP, com destaque para o
vasto rol de serviços especializados. o Resto do ESP é marcado tanto por uma
aparentemente intensa onda de industrialização quanto pela força de sua agricultura, a
qual, além de ser a mais moderna e dinâmica do país, mantém fortes ligações com a
indústria – especialmente com o setor de alimentos e bebidas.
De modo mais específico, agora voltando a atenção para a composição setorial
das indústrias das respectivas localidades do ESP, duas considerações podem ser
feitas a partir da noção de que os espaços metropolitanos são locais qualitativamente
diferenciados para a produção.
A primeira é que justamente as duas maiores e mais diversificadas localidades
do ESP RMSP e RMCam se caracterizam pela diversificação e pela densidade de
seu parque industrial, manifestas em uma quantidade relativamente elevada de setores
com grau de concentração acima da dia do ESP. Portanto, não é possível identificar
em nenhuma dessas localidades um movimento unívoco de especialização produtiva
em torno de um único setor.
91
A segunda diz respeito a uma tendência própria das outras cinco localidades do
ESP. O Resto da RAC, a RASJC, a RASor, a RMBS e as Outras RAs do ESP se
caracterizam pela especialização produtiva em um ou dois setores. Aqui, a tendência
geral é que tal especialização produtiva se reflita na estrutura de emprego, de modo a
fazer com que o setor em que há a especialização seja o maior ou um dos maiores
gerador de empregos industriais da localidade.
92
4 A VERIFICAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA
Este capítulo é dedicado à verificação da hipótese de pesquisa, a partir das
formas específicas pelas quais as dimensões temporal e espacial foram definidas e
operacionalizadas nos capítulos precedentes. Começar-se-á pela exposição de um
exercício exploratório, a fim de proporcionar uma primeira aproximação com a hipótese
de pesquisa. O exercício consiste na investigação dos padrões de distribuição setorial
da indústria segundo as regiões do ESP, a princípio, tendo o País como referência, e,
posteriormente, o próprio ESP. Utiliza-se aqui um nível de desagregação da atividade
industrial relativamente agregado, apesar de este ser o nível com maior abertura
disponibilizado pela Rais para todo o período considerado
78
, de modo que, se, por um
lado, os movimentos de (des)concentração mais finos são perdidos, por outro, ganha-
se em abrangência temporal. A principal conseqüência dessa limitação é que não é
possível, para o período 1985-2005, adotar uma classificação que hierarquize a
atividade industrial segundo seu grau de modernidade e dinamismo.
Depois, passar-se-á à apresentação de um exercício cujo objetivo é o de
examinar os padrões de distribuição da atividade industrial das regiões do ESP,
classificadas segundo uma tipologia de intensidade tecnológica da atividade industrial
proposta pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) (HATZICHRONOGLOU, 1997) e adaptada à realidade da indústria brasileira
pelo IBGE (2003), tendo o Brasil e o próprio estado como referência. Este segundo
exercício, ao contrário do anterior, abarca o período de 1995 em diante, em decorrência
do fato de a tipologia em questão ser construída a partir da CNAE 1.0. A grande
vantagem em utilizar tal classificação consiste na possibilidade de hierarquização da
78
Como já dito anteriormente, é só a partir de 1995 que a Classificação Nacional da Atividade Econômica
(CNAE 1.0) é disponibilizada pela Rais. Entre 1985 e 1994, a classificação mais desagregada disponível
é o subsetor do IBGE, a qual conta com apenas 12 setores industriais.
93
atividade industrial, a qual pode ser considerada como uma proxy do seu grau de
dinamismo e modernidade
79
.
Antes de iniciar a investigação dos padrões locacionais da indústria no ESP, é
necessário explicitar alguns pontos e tecer certas considerações a respeito: (1) da
motivação que conduziu à adoção da Rais, ou seja, de uma base de emprego, para a
realização de análise de um fenômeno próprio da dinâmica produtiva
80
; e (2) da
justificativa para a utilização de uma classificação que agrupa a atividade industrial
segundo sua suposta intensidade tecnológica.
4.1 A Relação Anual de Informações Sociais
Em relação à Rais, dois conjuntos de dificuldades devem ser explicitados. É
importante salientar, logo de início, que, embora tais dificuldades tragam obstáculos e
limitações à análise, não a inviabilizam e nem a tornam pouco confiável. O primeiro
conjunto de dificuldades diz respeito a problemas da própria Rais, independentemente
da análise que seja feita a partir de sua manipulação. O segundo é relativo a uma
utilização da Rais pouco recomendável em situações ideais
81
, ou seja, a adoção de
uma base de emprego para análises da dinâmica produtiva.
No primeiro grupo, como apontam Wilson Suzigan et al (SUZIGAN, 2003), a Rais
apresenta certos problemas associados ao seu método de coleta de dados, a saber, a
autoclassificação. Por um lado, a ausência de exame de consistência pelo Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE) das informações coletadas pode acarretar em viés; por
outro, à empresa declarante é facultada a escolha por respostas únicas, o que pode
levar a dois tipos de distorções: (1) reunião de todas as unidades produtivas da
empresa, mesmo que dispersas, em um único endereço; e (2) reunião de todas as
unidades produtivas da empresa, mesmo que dispersas, em uma única declaração.
79
A compatibilização da CNAE 1.0 à tipologia de intensidade tecnológica adaptada ao Brasil pode ser
encontrada no Anexo 4.
80
À primeira vista, a Rais seria muito mais apropriada para análises do mercado de trabalho das regiões
e/ou localidades do ESP ou mesmo Brasil do que para análises da localização industrial nessas
regiões e/ou localidades.
81
Por “situação ideal” entenda-se aquela na qual o analista dispõe de fontes de informações o
confiáveis, completas, robustas e amplas quanto a sua imaginação é capaz de fantasiar. É evidente que
situações desse tipo são bastante distantes da realidade, de modo que o analista deve conformar-se com
fontes de informações imperfeitas por excelência, capazes de refletir apenas parte da realidade.
94
Além disso, a Rais capta somente o emprego formal, não incorporando, portanto,
o vasto rol de trabalhadores inseridos em relações de trabalho informais – sem a
“carteira de trabalho assinada”. Dadas as diferenças das taxas de formalização entre as
várias regiões do País, atividades econômicas, setores de atividade etc., as análises
feitas a partir da Rais podem vir a subestimar e/ou superestimar determinadas regiões,
atividades econômicas, setores de atividade etc
82
.
No segundo conjunto, deve-se notar a existência de dificuldades relacionadas à
utilização de dados de emprego para o estudo da localização da atividade econômica.
Como é sabido, o exame exclusivo de empregos encobre os diferenciais regionais de
produtividade, diferenciais os quais podem ter se intensificado com a reestruturação
produtiva, especialmente naquelas regiões/atividades que adotaram mais intensamente
os novos métodos de gestão e organização da produção.
Em contrapartida, a Rais conta com vantagens quase únicas, que justificam a
sua utilização mesmo para análises que não sejam de mercado de trabalho, como a
realizada pela presente pesquisa e que ganham destaque, principalmente, quando
comparadas às demais bases de dados nacionais
83
.
Primeiro, deve-se atentar para a sua extensa série histórica, disponível para
tabulações a partir do ano de 1985. Uma série histórica longa, que cubra o passado
recente da economia brasileira, caracterizado pela descontinuidade e ausência dos
dados estatísticos mais adequados
84
, é condição para o monitoramento, mensuração e
investigação de fenômenos de médio e longo prazo.
Segundo, devido ao fato de ser censitária quanto ao emprego formal, a Rais
permite ao analista trabalhar com grandes níveis de desagregação geográfica e setorial
– a desagregação geográfica chega ao âmbito municipal, enquanto a setorial chega aos
82
Um exemplo é bem-vindo. No caso das regiões brasileiras, é sabido que as regiões Sul e Sudeste
apresentam taxas de formalização relativamente superiores às do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte.
O mesmo acontece para a comparação entre o setor público e o privado, para a comparação entre as
atividades industriais e as de serviços, e assim sucessivamente.
83
Como outras bases de empregopor exemplo, a Pesquisa Mensal do Emprego e Desemprego (PME)
e a Pesquisa do Emprego e Desemprego (PED) – ou de atividade econômica – como a Pesquisa
Industrial Anual (PIA), a Pesquisa Anual de Serviços (PAS), a Pesquisa de Inovação Tecnológica
(PINTEC) e a Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (Paep), entre outras.
84
Sobre a ausência de dados estatísticos acerca da dinâmica econômica brasileira do final dos anos de
1980 e início de 1990, ver Caiado (2002, p.47-61).
95
quatro gitos da CNAE. Em comparação às outras bases comumente utilizadas em
estudos de desenvolvimento regional, justamente pelo fato de não ser amostral, a Rais
abre enormes possibilidades em termos de desagregação.
Por fim, como aponta Carlos Américo Pacheco (1999, p.18-19), as dificuldades
referentes aos diferenciais de produtividade não são tão importantes a ponto de impedir
um estudo do gênero aqui realizado. O autor afirma que as tendências locacionais
identificadas a partir da análise dos dados de produção física para o período 1970-1997
são corroboradas pelos dados de emprego – mais especificamente pelos dados da Rais
–, o que indica que, pelo menos até 1997, o ajuste derivado da reestruturação produtiva
não havia provocado descontinuidades significativas do ponto de vista da localização
da atividade industrial.
Como o presente estudo tem foco no ESP e nas suas regiões e tendo em vista
que o ESP é um espaço econômico relativamente mais homogêneo que o País, os
diferenciais de produtividade entre as suas regiões o relativamente menores vis-à-vis
às regiões do Brasil.
4.2 A intensidade tecnológica da atividade industrial
Com relação à classificação da atividade industrial segundo o grau de
intensidade tecnológica, deve-se explicitar as suas características, o modo pelo qual foi
construída e seus objetivos. A tipologia em questão consiste em uma agregação da
atividade industrial que divide a indústria em quatro grupos: alta intensidade
tecnológica, média-alta intensidade tecnológica, média-baixa intensidade tecnológica e
baixa intensidade tecnológica. O critério para a formação dos grupos é a quantidade de
gastos diretos e indiretos com P&D.
Deve ficar claro que a classificação adotada pelo presente trabalho é uma
adaptação feita pelo IBGE (2003) da tipologia de intensidade tecnológica da atividade
industrial, originalmente proposta pela OCDE (HATZICHRONOGLOU, 1997). A
adaptação do IBGE seguiu os mesmos critérios para a determinação dos grupos de
intensidade tecnológica, com a diferença de que os gastos diretos e indiretos em P&D
dizem respeito à realidade da indústria brasileira.
96
No grupo de alta intensidade tecnológica estão as atividades voltadas para a
produção de bens de capital e de consumo duráveis, consideradas difusoras de
progresso técnico e que realizam intensamente o desenvolvimento de novas
tecnologias. O grupo de média-alta intensidade tecnológica é mais heterogêneo que o
anterior, englobando atividades produtoras de bens intermediários e de consumo
duráveis e incluindo setores caracterizados por economias de escala, recursos naturais
ou conhecimento. O grupo de média-baixa intensidade tecnológica inclui atividades
produtoras de bens intermediários que visam minimizar custos via aquisição de
máquinas e equipamentos. Por fim, o grupo de baixa intensidade tecnológica agrega
atividades mais tradicionais e que inovam apenas através da incorporação de
tecnologias desenvolvidas em outros setores (IBGE 2003, p.4-5).
Embora a adoção de tipologia baseada na intensidade tecnológica possa
funcionar como proxy adequada para os objetivos da presente pesquisa, algumas
limitações a ela associadas que também devem ser explicitadas. Primeiro, a
intensidade tecnológica é tomada como um indicador de modernidade e dinamismo de
uma determinada indústria, relação que não necessariamente é direta. Segundo, o
modo de mensurar a intensidade tecnológica, baseado nos gastos em P&D, supõe que
quanto maior o gasto em P&D mais inovadora a indústria em questão será e,
conseqüentemente, maior será a sua intensidade tecnológica; não considerando,
portanto, todo tipo de inovação não-tecnológica.
Em relação à consistência da tipologia, os dados que serão apresentados a
seguir são elucidativos. Construídos a partir da Pesquisa da Atividade Econômica
Paulista (Paep)
85
, fornecem indicadores de valor adicionado, receita líquida e
produtividade aparente
86
, além de população ocupada, número de empresas e porte do
85
A Paep foi realizada pela Fundação SEADE para os anos de 1996 e 2001 e constitui-se como
importante fonte para avaliação e mensuração da atividade econômica no ESP. A sua manipulação,
permite a construção de indicadores capazes de sinalizar as recentes mudanças promovidas pelo
processo de reestruturação produtiva no estado, além de conter informações acerca dos requisitos
locacionais das diversas atividades econômicas, efeitos de encadeamento e complementaridades entre
firmas, inovação e difusão tecnológica, tecnologias da informação e comunicação, técnicas de gestão,
processos de terceirizações, demanda por mão-de-obra e informações estruturais da atividade setorial
como população ocupada, valor adicionado e número de empresas. Deve-se notar que o setor de
serviços como um todo foi incorporada à Paep no ano de 2001 (EQUIPE CNICA DA PAEP, 2004;
EQUIPE TÉCNICA DA PAEP s/d).
86
A produtividade aparente é calculada pela relação entre valor adicionado e pessoal ocupado (BESSA,
2006, p.14).
97
estabelecimento estes últimos dados também disponíveis na Rais para os quatro
grupos de intensidade tecnológica da indústria paulista (tabela 4.1).
Os dados fornecidos pela tabela indicam que uma profunda cisão entre a
porção de alta e média-alta intensidade tecnológica da indústria em comparação ao
quinhão de baixa e média-baixa intensidade tecnológica. Enquanto o primeiro grupo é
responsável por apenas um quarto das unidades produtivas e dois quintos dos
ocupados, o segundo responde por três quartos das unidades produtivas e por três
quintos dos ocupados na indústria paulista. Porém, é a partir da observação dos
indicadores de tamanho do estabelecimento, média salarial, média de receita líquida,
média de valor adicionado e produtividade aparente que se nota a real distância entre
ambos os agregados. Verifica-se que a indústria de alta e dia-alta intensidade
tecnológica, em comparação à de baixa e média-baixa, conta com: (1) estabelecimento
médio quase que duas vezes maior; (2) salário médio três vezes maior; (3) receita
líquida média três vezes maior; (4) valor adicionado médio cerca de quatro vezes maior;
e (5) produtividade aparente duas vezes maior. Tais diferenças, portanto, sugerem a
existência de um verdadeiro fosso em termos de dinamismo entre as referidas porções
da indústria.
Unidades Locais (UL)
6.509 4.993 15.610 19.169 46.281
%
14,1
10,8
33,7
41,4
100,0
Pop. Ocupada (PO)
367.364 299.881 546.064 632.839 1.846.148
%
19,9
16,2
29,6
34,3
100,0
Média de PO por UL
56 60 35 33 40
Massa Salarial em R$*
7.938.061.977
6.156.782.854
6.821.940.495
7.202.052.135
28.118.837.460
%
28,2 21,9 24,3 25,6 100,0
Salário médio em R$*
1.219.470
1.233.004
437.033
375.719
607.566
Receita Líquida (RL)
95.382.609.607 60.693.872.864 54.284.923.622 74.289.437.730 284.650.843.822
%
33,5
21,3
19,1
26,1
100,0
Média de RL por UL
14.652.975 12.155.017 3.477.646 3.875.554 6.150.470
Valor Adicionado (VA)
36.841.751.799
27.545.279.063
26.416.705.432
30.607.057.676
121.410.793.970
%
30,3 22,7 21,8 25,2 100,0
Média de VA por UL
5.659.745
5.516.427
1.692.329
1.596.719
2.623.331
Proditividade aparente
100.287 91.854 48.377 48.365 65.764
FONTE: Fundação Seade, Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (Paep 2001). Elaboração própria.
* Valores em Reais de 2001.
Tabela 4.1: Indicadores básicos para o conjunto das unidades locais industriais do ESP, segundo grupo de
intensidade tecnológica (2001)
Alta Média-Alta Média-baixa Baixa ESP
98
Entretanto, não existe distância análoga entre a indústria de alta e média-alta
intensidade tecnológica ou entre a de baixa e a de média-baixa. Vale notar que todos
os indicadores anteriores são relativamente semelhantes, tanto para os dois grupos do
quinhão de cima quanto para os de baixo. De qualquer forma, como se observará mais
adiante, convém manter a divisão da atividade industrial em quatro grupos, devido à
tendência de apresentarem padrões locacionais distintos.
A Rais que, como dito, apresenta a enorme vantagem da série histórica e
dos níveis de desagregação –, mesmo possibilitando a construção de uma menor
quantidade de indicadores, com os poucos que possibilita, mostra que a referida cisão
se mantém ao longo do período estudado. A tabela 4.2 apresenta indicadores de porte
do estabelecimento, proporção de ocupados com nível superior e salário médio para a
indústria do ESP. Tomando os três indicadores em conjunto, percebe-se que a
distância entre a parcela de alta e média-alta intensidade tecnológica da indústria
paulista e a de baixa e média-baixa não é só grande para o ano de 2001, mas, também,
para os vinte anos cobertos pelo trabalho.
Não obstante, convém atentar para a evolução do tamanho do estabelecimento,
indicador o qual permite a elaboração de considerações acerca da magnitude daquele
processo de downsizing discutido no capítulo segundo que afetou a indústria do
ESP de forma bastante intensa nos anos de 1985 a 1999. Salta aos olhos como a
indústria de alta intensidade tecnológica foi a mais afetada por esse processo, enquanto
a de média-alta foi a menos. Um tal diferencial de impactos relacionados a certos
efeitos da reestruturação produtiva relaciona-se tanto com a extensão da adoção de
novos métodos e técnicas de gestão e organização da produção quanto com o
abandono de linhas de produtos não competitivos e conseqüente manutenção daqueles
percebidos como de maior potencialidade.
A percepção de que foi a indústria de alta intensidade tecnológica aquela que
experimentou de forma mais intensa o processo de downsizing não permite, entretanto,
concluir que a indústria paulista – ou mesmo a brasileira, dada a centralidade do ESP
tenha passado por um processo de especialização regressiva. Permite apenas a supor
que a reestruturação produtiva impactou diferenciadamente sobre a indústria, a qual,
99
provavelmente, adotou estratégias competitivas de caráter mais ou menos diverso. Tal
questão será retomada mais adiante.
4.3 Análise exploratória da dinâmica locacional da indústria no Estado de São
Paulo entre 1985 e 2005
Na tabela 4.3 é possível observar a evolução do emprego industrial por regiões
do ESP, tendo o Brasil como referência. Com respeito à variação absoluta do emprego,
como já destacado durante a análise dos impactos da reestruturação produtiva no ESP,
observa-se uma trajetória diferencial da RMSP quando comparada à trajetória ao do
seu Campo Aglomerativo, à do ESP e do à resto do Pais. Concretamente, em termos
de dinamismo do emprego industrial, a RMSP situa-se significativamente abaixo das
demais, responsabilizando-se por grande parte dos postos de trabalho fechados entre
1995
1999
2002
2005
Porte do estab.
Alta
52
41
38
42
Média-alta
47
41
43
47
Média-baixa
29
24
23
25
Baixa
24
20
20
22
ESP
31
26
26
28
PO com N. Sup.
Alta
9,5 11,2 12,0 13,7
Média-alta
10,0 12,2 13,1 14,7
Média-baixa
4,0 4,7 4,4 4,9
Baixa
4,1 5,2 4,2 5,2
ESP
6,1 7,3 7,3 8,4
Salário médio*
Alta
2498,1 2322,9 2247,8 2349,5
Média-alta
2477,0 2298,5 2228,4 2329,6
Média-baixa
1496,7 1414,4 1263,8 1333,1
Baixa
1304,5 1272,6 1088,2 1119,1
ESP
1778,0
1681,8
1561,9
1632,4
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
*Valores em Reais de 2005. Inflator: INPC/IBGE
Ano (em %)
Tabela 4.2: Indicadores selecionados para a atividade industrial
do ESP segundo grupos de intensidade tecnológica (1995-2005)
100
1985 e 1999
87
. Mesmo após 1999, quando volta a aumentar seu nível de emprego, a
performance da RMSP permanece abaixo da do ESP, a qual, por sua vez, também se
mantém inferior à nacional
88
.
O fenômeno, como discutido nos capítulos anteriores, inclui três tendências
distintas, as quais são de difícil mensuração. A primeira diz respeito a um movimento de
fechamento das empresas incapazes de se adequarem ao novo contexto competitivo
da década de 1990. Sobretudo, daquelas empresas que não foram capazes de operar
uma reestruturação minimamente bem-sucedida em outras palavras, que permitisse,
ao menos, a sobrevivência da empresa.
A segunda relaciona-se à continuidade do processo de desconcentração
industrial a partir da RMSP, o qual atingiu, mais diretamente, as atividades industriais
de menor dinamismo e que não competem via diferenciação de produtos, sendo,
portanto, menos dependentes dos fatores aglomerativos próprios de uma região como a
RMSP. Parte dessas atividades tendeu a fugir não da RMSP, mas, também, do seu
entorno. Rumaram para territórios nos quais os custos de localização e do trabalho
fossem menores e que, ao mesmo tempo, dispusessem de infraestrutura minimamente
adequada.
A terceira consiste na forma particularmente intensa pela qual a reestruturação
produtiva se manifestou na região mais desenvolvida do País, ou seja, na
Macrometrópole Paulista, caracterizada pela transferência de inúmeras atividades para
87
Nesses anos, o Brasil fechou cerca de 610 mil postos de trabalho, enquanto o ESP, 750 mil, e a
RMSP, 655 mil, o que significa que, se o desempenho do ESP fosse descontado do brasileiro, a variação
do emprego industrial no período teria sido positiva.
88
Enquanto entre 1999 e 2005 a RMSP abriu aproximadamente 120 mil postos de trabalho, o ESP abriu
430 mil, e o Brasil, 955 mil.
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Brasil
5.213.804 100,0 4.897.517 100,0 4.603.893 100,0 5.179.631 100 6.133.461 100
ESP
2.504.620 48,0 2.093.520 42,7 1.754.400 38,1 1.878.320 36,3 2.183.820 35,6
Macrometpole
2.201.760 42,2 1.792.940 36,6 1.463.160 31,8 1.526.160 29,5 1.763.200 28,7
Campo Ag.
643.840 12,3 602.360 12,3 561.380 12,2 613.660 11,8 742.200 12,1
RMSP
1.557.920 29,9 1.190.580 24,3 901.780 19,6 912.500 17,6 1.021.000 16,6
FONTE: Rais/MTE. Elaboração ppria.
Tabela 4.3: Evolução do emprego industrial por reges do ESP, Brasil = 100 (1985-2005)
1985 1995 1999 2002 2005
101
o setor de serviços e pela emergência de segmentos de atividades de serviços
produtivos altamente dinâmicos e modernos. Do ponto de vista das empresas
industriais que nessa região permaneceram, muito em decorrência de um perfil mais
moderno e dinâmico, é razoável supor que obtiveram ganhos de produtividade de maior
monta que a média da indústria nacional, o que se reflete na pior performance da
RMSP em termos de emprego.
Na tabela, observa-se, também, uma tendência à diminuição da participação
relativa do ESP, da macrometrópole e da RMSP. A RMSP, aliás, foi a região do estado
responsável por tal desempenho, que o seu Campo Aglomerativo mantém um peso
relativo constante em torno de 12%, e o Resto do ESP experimenta um ligeiro aumento
do seu. Contudo, deve-se notar a significativa participação que o ESP, a RMSP e,
principalmente, a Macrometrópole conservam no emprego industrial nacional. Esta
última, chega em 2005, com participação próxima a 30% e com uma tendência de
diminuição que vem arrefecendo nos últimos anos.
na tabela 4.4, visualiza-se a evolução do emprego industrial setorial para o
ESP e para a macrometrópole, tendo o Brasil como referência
89
. Tal qual a trajetória
agregada da indústria, todos os 12 setores em questão, tanto para a RMSP quanto para
a Macrometrópole, experimentaram perda de participação relativa no período 1985-
2005. Porém, mesmo dentro desse movimento mais geral, coexistiram trajetórias
setoriais bem distintas, dependentes da forma específica pela qual as três tendências
discutidas foram combinadas no interior de cada setor. As diferenças de trajetórias são
expressas nos níveis de concentração que cada um deles mantém, em 2005, na
Macrometrópole e no ESP, bem como nos respectivos ritmos de perda de peso relativo
que cada setor detém ao longo do período.
Dessa forma, é possível identificar conjuntos de setores com trajetória
semelhante. O primeiro grupo é composto pelos setores de material de transportes,
químico, de material elétrico e de comunicação, mecânico, de papel e gráfica e de
metalurgia, que mantêm concentração relativamente elevada na Macrometrópole em
89
Nesse primeiro momento, será feita apenas uma investigação acerca da importância da macrometrópole e do ESP
frente à nação. Mais adiante, será realizada uma análise mais minuciosa, considerando as Outras RAs do ESP e
desagregando a macrometrópole em RMSP e Campo Aglomerativo.
102
2005. Assim, pelo menos um terço de cada uma dessas indústrias se localizava na
Macrometrópole, significando um mínimo de 9 pontos percentuais acima da média da
indústria. Dentre elas, deve-se destacar a de material de transportes, que chega a 2005
com peso relativo maior que 50%; e as de papel e gráfica, química e mecânica, as
quais apresentam um ritmo de perda de participação bastante inferior à média da
indústria.
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Indústria de alimentos e bebidas
Brasil
809.986
100,0
1.054.062
100,0
952.195
100,0
1.098.336
100,0
1.404.677
100,0
ESP
255.080
31,5
309.860
29,4
253.040
26,6
282.880
25,8
355.980
25,3
Macrometrópole
147.880 18,3 195.780 18,6 161.760 17,0 165.040 15,0 206.280 14,7
Indústria de borracha, fumo e couro
Brasil
343.878
100,0
237.741
100,0
207.496
100,0
237.440
100,0
277.578
100,0
ESP
176.320 51,3 117.140 49,3 92.560 44,6 100.480 42,3 118.540 42,7
Macrometrópole
159.700
46,4
97.960
41,2
74.740
36,0
78.620
33,1
89.020
32,1
Indústria de material elétrico e de comunicação
Brasil
299.616 100,0 213.875 100,0 171.911 100,0 180.063 100,0 225.437 100,0
ESP
202.840
67,7
127.920
59,8
98.800
57,5
89.780
49,9
106.780
47,4
Macrometrópole
198.040
66,1
123.220
57,6
92.800
54,0
82.620
45,9
96.640
42,9
Indústria de calçados
Brasil
242.533
100,0
196.462
100,0
211.582
100,0
262.085
100,0
298.659
100,0
ESP
68.580
28,3
42.760
21,8
41.480
19,6
46.980
17,9
53.680
18,0
Macrometrópole
26.120 10,8 12.020 6,1 6.280 3,0 6.160 2,4 5.200 1,7
Indústria mecânica
Brasil
356.876
100,0
298.290
100,0
254.208
100,0
308.288
100,0
366.600
100,0
ESP
220.460 61,8 175.800 58,9 139.140 54,7 163.960 53,2 187.780 51,2
Macrometrópole
187.160
52,4
149.500
50,1
115.120
45,3
133.840
43,4
156.600
42,7
Indústria metalúrgica
Brasil
592.593 100,0 514.985 100,0 473.929 100,0 509.395 100,0 603.961 100,0
ESP
308.480
52,1
239.300
46,5
206.220
43,5
214.840
42,2
252.160
41,8
Macrometrópole
296.980
50,1
220.560
42,8
186.440
39,3
190.440
37,4
225.640
37,4
Indústria química
Brasil
480.527
100,0
487.155
100,0
475.718
100,0
544.754
100,0
635.730
100,0
ESP
259.660
54,0
266.160
54,6
243.520
51,2
267.760
49,2
302.360
47,6
Macrometrópole
247.840 51,6 253.460 52,0 227.340 47,8 247.900 45,5 278.800 43,9
Indústria têxtil
Brasil
744.208
100,0
688.275
100,0
641.519
100,0
725.131
100,0
833.365
100,0
ESP
365.600 49,1 285.140 41,4 209.780 32,7 226.400 31,2 260.940 31,3
Macrometrópole
338.360
45,5
258.580
37,6
186.160
29,0
196.480
27,1
222.200
26,7
Indústria de madeira e mobiliário
Brasil
358.034 100,0 332.109 100,0 374.400 100,0 411.492 100,0 429.044 100,0
ESP
96.000
26,8
73.640
22,2
71.400
19,1
71.640
17,4
75.700
17,6
Macrometrópole
75.460
21,1
55.600
16,7
47.520
12,7
46.560
11,3
53.400
12,4
Indústria de material de transportes
Brasil
388.155
100,0
316.605
100,0
276.994
100,0
314.775
100,0
411.394
100,0
ESP
298.960
77,0
217.140
68,6
175.060
63,2
190.340
60,5
235.100
57,1
Macrometrópole
293.600 75,6 211.800 66,9 169.340 61,1 183.760 58,4 226.040 54,9
Indústria de minerais não metálicos
Brasil
307.730
100,0
239.752
100,0
266.091
100,0
282.023
100,0
308.861
100,0
ESP
112.160 36,4 85.760 35,8 83.960 31,6 85.520 30,3 90.440 29,3
Macrometrópole
98.320 32,0 74.920 31,2 70.360 26,4 72.780 25,8 76.380 24,7
Indústria de papel e gráfica
Brasil
289.668 100,0 318.206 100,0 297.850 100,0 305.849 100,0 338.155 100,0
ESP
140.480 48,5 152.900 48,1 139.440 46,8 137.740 45,0 144.360 42,7
Macrometrópole
132.300
45,7
139.540
43,9
125.300
42,1
121.960
39,9
127.000
37,6
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.4: Evolução do emprego por setor industrial e por regiões do ESP, Brasil = 100 (1985-2005)
1985 1995 1999 2002 2005
103
O segundo grupo é integrado pelos setores de borracha, fumo e couro, têxtil e de
minerais não-metálicos, que se caracterizam por um grau de concentração na
Macrometrópole próximo ao da indústria como um todo nessa região entre 2 pontos
percentuais acima e 4 abaixo da indústria agregada. Destaca-se apenas o setor de
minerais o-metálicos, que apresenta ritmo de perda de peso relativo bem inferior ao
da média da Macrometrópole.
O terceiro conjunto congrega os setores de calçados, de madeira e mobiliário e
de alimentos e bebidas e se caracteriza pelo baixo grau de concentração na
Macrometrópole entre eles, o de alimentos e bebidas é o que tem grau de
concentração mais elevado, equivalente à metade do da indústria na região
macrometropolitana. Deve-se chamar a atenção aqui para a existência praticamente
nula da indústria de calçados nessa região: apenas 1,7% dos nela ocupados então na
região em questão.
Com a investigação da trajetória da concentração dos setores industriais na
Macrometrópole Paulista tendo o Brasil como referência realizada, deve-se, agora,
avançar rumo a uma investigação mais minuciosa da dinâmica locacional interna ao
ESP, a qual será realizada a partir da análise das regiões do ESP RMSP, Campo
Aglomerativo da RMSP e Outras RAs do ESP –, e terá o próprio ESP como referência.
A tabela 4.5 revela, em primeiro lugar, um movimento de perda na participação
relativa do emprego industrial na Macrometrópole, o qual é ligeiramente mais forte entre
1985 e 1999, tendendo a se arrefecer a partir de tal ano. as Outras RAs do ESP
experimentaram um significativo crescimento, chegando a quase um quinto dos
ocupados industriais do ESP, em 2005.
%
%
%
%
%
ESP
2.504.620
100,0
2.093.520
100,0
1.754.400
100,0
1.878.320
100,0
2.183.820
100,0
Outras RAs
302.860
12,1
300.580
14,4
291.240
16,6
352.160
18,7
420.620
19,3
Macrometrópole
2.201.760 87,9 1.792.940 85,6 1.463.160 83,4 1.526.160 81,3 1.763.200 80,7
Campo Ag.
643.840 25,7 602.360 28,8 561.380 32,0 613.660 32,7 742.200 34,0
RMSP
1.557.920 62,2 1.190.580 56,9 901.780 51,4 912.500 48,6 1.021.000 46,8
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.5: Evolução do emprego industrial por reges do ESP, ESP = 100 (1985-2005)
1985 1995 1999 2002 2005
104
Em segundo lugar, deve-se atentar para o fato de que é a dinâmica da RMSP
que puxa a diminuição do peso relativo da Macrometrópole, uma vez que sofre perda
de cerca de 15 pontos percentuais na sua participação, a qual cai de 62,2% em 1985
para 46,8% em 2005. Esse movimento é mais intenso entre 1985 e 1999 e tende a
arrefecer a partir de então. a trajetória do Campo Aglomerativo da RMSP é marcada
por uma ampliação da participação ao longo do período, compensando parcialmente as
perdas da RMSP o seu crescimento é mais intenso entre 1985 e 1999, tendendo a
diminuir o seu ritmo entre 1999 e 2005.
O movimento de perda de participação relativa da RMSP, parcialmente
compensado pelo aumento de peso do seu Campo Aglomerativo, configura-se como
forma alternativa de acessar aquela tendência discutida no terceiro capítulo de
consolidação da RMSP como centro produtor de serviços produtivos e do seu entorno
como região com grau de concentração industrial bastante alto. Contudo, o fato de a
RMSP consolidar-se como centro produtor de serviços produtivos não faz dela um ex-
pólo industrial. Como os dados da própria tabela 4.5 mostram, em 2005, a RMSP
concentrava, nada menos, que 46,8% dos empregos industriais, o que equivale a,
aproximadamente, um milhão de ocupados, distribuídos em cerca de 37 mil empresas.
A partir de 1999, a RMSP recupera o seu dinamismo em termos de geração de
empregos industriais, o que significa que a região não se tornou repulsiva à indústria,
pelo menos, não a certos setores da indústria.
Na tabela seguinte (4.6), é possível observar a dinâmica setorial do emprego
industrial segundo as regiões do ESP. Percebe-se que os doze setores industriais
apresentam padrões locacionais distintos. Apenas o mecânico conta com padrão de
distribuição espacial quase que congruente com o da média da indústria no ESP. O
padrão de localização predominante é o que elege a Macrometrópole como o espaço
do ESP prioritário para sua concentração.
sete setores material de transportes, químico, material elétrico e de
comunicações, metalúrgico, papel e gráfica, têxtil e minerais não-metálicos – que
tendem a se localizar prioritariamente na Macrometrópole, conservando, em 2005, uma
participação relativa mínima de 84,5%. Deve-se destacar que os três primeiros mantêm
105
grau de concentração especialmente alto na região em questão, com peso relativo
acima da casa dos 90%.
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Indústria de alimentos e bebidas
ESP
255.080
100,0
309.860
100,0
253.040
100,0
282.880
100,0
355.980
100,0
Outras RAs
107.200
42,0
114.080
36,8
91.280
36,1
117.840
41,7
149.700
42,1
Macrometrópole
147.880
58,0
195.780
63,2
161.760
63,9
165.040
58,3
206.280
57,9
Campo Ag.
66.200
26,0
94.720
30,6
73.380
29,0
82.320
29,1
100.140
28,1
RMSP
81.680
32,0
101.060
32,6
88.380
34,9
82.720
29,2
106.140
29,8
Indústria de borracha, fumo e couro
ESP
176.320
100,0
117.140
100,0
92.560
100,0
100.480
100,0
118.540
100,0
Outras RAs
16.620
9,4
19.180
16,4
17.820
19,3
21.860
21,8
29.520
24,9
Macrometrópole
159.700
90,6
97.960
83,6
74.740
80,7
78.620
78,2
89.020
75,1
Campo Ag.
36.660
20,8
24.920
21,3
19.980
21,6
23.940
23,8
25.060
21,1
RMSP
123.040 69,8 73.040 62,4 54.760 59,2 54.680 54,4 63.960 54,0
Indústria de material elétrico e de comunicação
ESP
202.840
100,0
127.920
100,0
98.800
100,0
89.780
100,0
106.780
100,0
Outras RAs
4.800
2,4
4.700
3,7
6.000
6,1
7.160
8,0
10.140
9,5
Macrometrópole
198.040
97,6
123.220
96,3
92.800
93,9
82.620
92,0
96.640
90,5
Campo Ag.
44.060
21,7
37.640
29,4
35.540
36,0
28.680
31,9
38.700
36,2
RMSP
153.980 75,9 85.580 66,9 57.260 58,0 53.940 60,1 57.940 54,3
Indústria de calçados
ESP
68.580
100,0
42.760
100,0
41.480
100,0
46.980
100,0
53.680
100,0
Outras RAs
42.460
61,9
30.740
71,9
35.200
84,9
40.820
86,9
48.480
90,3
Macrometrópole
26.120
38,1
12.020
28,1
6.280
15,1
6.160
13,1
5.200
9,7
Campo Ag.
14.520
21,2
6.940
16,2
2.020
4,9
1.260
2,7
960
1,8
RMSP
11.600
16,9
5.080
11,9
4.260
10,3
4.900
10,4
4.240
7,9
Indústria mecânica
ESP
220.460
100,0
175.800
100,0
139.140
54,7
163.960
100,0
187.780
100,0
Outras RAs
33.300
15,1
26.300
15,0
24.020
17,3
30.120
18,4
31.180
16,6
Macrometrópole
187.160
84,9
149.500
85,0
115.120
82,7
133.840
81,6
156.600
83,4
Campo Ag.
57.820
26,2
48.880
27,8
44.040
31,7
54.660
33,3
69.880
37,2
RMSP
129.340
58,7
100.620
57,2
71.080
51,1
79.180
48,3
86.720
46,2
Indústria metalúrgica
ESP
308.480
100,0
239.300
100,0
206.220
100,0
214.840
100,0
252.160
100,0
Outras RAs
11.500
3,7
18.740
7,8
19.780
9,6
24.400
11,4
26.520
10,5
Macrometrópole
296.980
96,3
220.560
92,2
186.440
90,4
190.440
88,6
225.640
89,5
Campo Ag.
78.260
25,4
67.440
28,2
71.760
34,8
72.580
33,8
93.700
37,2
RMSP
218.720
70,9
153.120
64,0
114.680
55,6
117.860
54,9
131.940
52,3
Indústria química
ESP
259.660
100,0
266.160
100,0
243.520
100,0
267.760
100,0
302.360
100,0
Outras RAs
11.820
4,6
12.700
4,8
16.180
6,6
19.860
7,4
23.560
7,8
Macrometrópole
247.840
95,4
253.460
95,2
227.340
93,4
247.900
92,6
278.800
92,2
Campo Ag.
55.820
21,5
67.820
25,5
71.800
29,5
82.060
30,6
94.760
31,3
RMSP
192.020
74,0
185.640
69,7
155.540
63,9
165.840
61,9
184.040
60,9
Indústria têxtil
ESP
365.600
100,0
285.140
100,0
209.780
100,0
226.400
100,0
260.940
100,0
Outras RAs
27.240
7,5
26.560
9,3
23.620
11,3
29.920
13,2
38.740
14,8
Macrometrópole
338.360
92,5
258.580
90,7
186.160
88,7
196.480
86,8
222.200
85,2
Campo Ag.
111.700
30,6
92.220
32,3
75.580
36,0
83.500
36,9
96.620
37,0
RMSP
226.660
62,0
166.360
58,3
110.580
52,7
112.980
49,9
125.580
48,1
Continua...
Tabela 4.6: Evolução do emprego por setor industrial e por regiões do ESP, ESP = 100 (1985-2005)
1985 1995 1999 2002 2005
106
Ao desagregar-se a Macrometrópole em RMSP e Campo Aglomerativo, novas
distinções devem ser feitas entre esses sete setores. Uma primeira diz respeito aos três
setores – material elétrico e de comunicação, metalúrgico e têxtil –, que apresentam um
padrão de localização que tende a privilegiar a RMSP e o seu Campo Aglomerativo ao
mesmo tempo, ou seja, ambas as regiões conservam um grau de concentração desses
setores acima das respectivas concentrações da indústria agregada. Porém, é provável
que esse padrão possa estar em vias de se alterar, pelo menos para os dois primeiros
setores, uma vez que a RMSP vem perdendo peso relativo em ritmo mais que
proporcional ao da indústria como um todo. Tal perda é majoritariamente absorvida pelo
Campo Aglomerativo da RMSP, o que mantém ambos os setores com altíssimo grau de
concentração na Macrometrópole.
Um segundo grupo de setores – químico e de papel e gráfica – tende a privilegiar
a RMSP em detrimento do Campo Aglomerativo. Chega a 2005 com participação
relativa na RMSP acima da casa dos 60%, constituindo-se, assim, como os dois setores
com maior grau de concentração na RMSP. Embora as suas respectivas participações
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Indústria de madeira e mobiliário
ESP
96.000 100,0 73.640 100,0 71.400 100,0 71.640 100,0 75.700 100,0
Outras RAs
20.540 21,4 18.040 24,5 23.880 33,4 25.080 35,0 22.300 29,5
Macrometrópole
75.460 78,6 55.600 75,5 47.520 66,6 46.560 65,0 53.400 70,5
Campo Ag.
25.080
26,1
22.640
30,7
23.360
32,7
22.500
31,4
27.480
36,3
RMSP
50.380
52,5
32.960
44,8
24.160
33,8
24.060
33,6
25.920
34,2
Indústria de material de transportes
ESP
298.960 100,0 217.140 100,0 175.060 100,0 190.340 100,0 235.100 100,0
Outras RAs
5.360 1,8 5.340 2,5 5.720 3,3 6.580 3,5 9.060 3,9
Macrometrópole
293.600 98,2 211.800 97,5 169.340 96,7 183.760 96,5 226.040 96,1
Campo Ag.
81.100 27,1 67.940 31,3 68.260 39,0 82.200 43,2 108.620 46,2
RMSP
212.500 71,1 143.860 66,3 101.080 57,7 101.560 53,4 117.420 49,9
Indústria de minerais não metálicos
ESP
112.160 100,0 85.760 100,0 83.960 100,0 85.520 100,0 90.440 100,0
Outras RAs
13.840 12,3 10.840 12,6 13.600 16,2 12.740 14,9 14.060 15,5
Macrometrópole
98.320 87,7 74.920 87,4 70.360 83,8 72.780 85,1 76.380 84,5
Campo Ag.
44.000 39,2 39.940 46,6 42.520 50,6 45.520 53,2 49.700 55,0
RMSP
54.320 48,4 34.980 40,8 27.840 33,2 27.260 31,9 26.680 29,5
Indústria de papel e gráfica
ESP
140.480 100,0 152.900 100,0 139.440 100,0 137.740 100,0 144.360 100,0
Outras RAs
8.180 5,8 13.360 8,7 14.140 10,1 15.780 11,5 17.360 12,0
Macrometrópole
132.300 94,2 139.540 91,3 125.300 89,9 121.960 88,5 127.000 88,0
Campo Ag.
28.620 20,4 31.260 20,4 33.140 23,8 34.440 25,0 36.580 25,3
RMSP
103.680
73,8
108.280
70,8
92.160
66,1
87.520
63,5
90.420
62,6
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.6: Continuação
1985 1995 1999 2002 2005
107
não sejam irrelevantes no Campo Aglomerativo, são proporcionalmente bem menores
ali que na RMSP.
os setores de material de transporte e de minerais não-metálicos constituem
um terceiro grupo, que se caracteriza por uma preferência pelo Campo Aglomerativo da
RMSP face à própria RMSP. Enquanto o primeiro setor apresenta concentração
significativa, inclusive na RMSP, com participação próxima da média da indústria, o
segundo tem um peso relativo na RMSP bem abaixo dessa média. Tal diferenciação
evidencia que, enquanto a indústria de material de transportes não tende a sair da
RMSP, mas apenas a privilegiar o Campo Aglomerativo a RASJC mais
especificamente –, a indústria de minerais não-metálicos apresenta tendência à saída.
Por fim, as indústrias de borracha, fumo e couro, de madeira e mobiliário, de
alimentos e bebidas e de calçados apresentam graus de concentração relativamente
inferiores na Macrometrópole que a indústria agregada. As três primeiras, mesmo com
uma concentração abaixo da dia, chegam a 2005, com concentração relevante,
enquanto a de calçados, praticamente desapareceu da região macrometropolitana
cerca de 90% dos empregos que gera, em 2005, localizam-se nas Outras RAs.
Tomados os três primeiro setores individualmente, percebe-se que o de borracha, fumo
e couro apresenta um padrão que tende a privilegiar, simultaneamente, a RMSP e as
Outras RAs; o de madeira e mobiliário conta com um padrão que prioriza o Campo
Aglomerativo da RMSP e as Outras RAs; e a indústria de alimentos e bebidas privilegia
apenas as Outras RAs.
4.4 Análise da dinâmica locacional da indústria no Estado de São Paulo,
segundo o grau de intensidade tecnológica, entre 1995 e 2005
Como no exercício anterior, o presente começa tendo o Brasil como referência. A
tabela 4.7 apresenta a composição da indústria brasileira a partir da tipologia de
intensidade tecnológica. Nota-se que a estrutura industrial, vista a partir da classificação
apresentada anteriormente, mantém-se estável ao longo do tempo, com a indústria de
alta e média-alta intensidade tecnológica representando cerca de um quarto dos
108
empregos industriais, a de média-baixa, um outro quarto, e a de baixa,
aproximadamente, dois quartos.
Pelo menos do ponto de vista do emprego, não se pode afirmar que o Brasil
passou – ou esteja passando – por um processo de especialização regressiva da
indústria. Mais uma vez, a estabilidade da composição da atividade industrial é
impressionante. Porém, apenas os dados de emprego não são suficientes nem para a
confirmação nem para a refutação da hipótese da especialização regressiva, uma vez
que dados referentes ao valor agregado em território nacional seriam necessários. De
qualquer forma, o presente trabalho não pretende e nem se propôs a entrar nesse
debate, além de que ele também não se constitui como essencial para o seu adequado
desenvolvimento
90
.
A estabilidade da composição da indústria classificada segundo sua intensidade
tecnológica, observada com relação ao País, também vale para o ESP (ver tabela 4.8).
Com a diferença de a participação dos grupos de alta e média-alta intensidade
tecnológica contabilizar quase dois quintos dos empregados na indústria, o que sugere
que essa participação é mais intensiva nesses grupos vis-à-vis ao País. os
90
A mera mensuração do valor agregado pela indústria como um todo pode ser um caminho atrativo para
a elaboração de um diagnóstico geral da indústria. Mas, como tudo que é muito geral, pode se revelar
simplificador da realidade e insuficiente para o seu entendimento. Para não entrar na relação entre
competitividade industrial e serviços, a qual tende a tornar-se cada vez mais complexa, basta mencionar
o fato de que os setores industriais, além de exibirem características competitivas e estruturação de seus
mercados bastante distintos, levam a cabo diferentes estratégias competitivas as quais se ligam de modo
também diferenciado aos processos econômicos globais e regionais. A indústria aeronáutica constitui-se
como um bom exemplo. As atividades de montagem, geralmente percebidas como atividades rotineiras,
no caso de aeronaves, são uma das atividades mais complexas de toda cadeia produtiva, de modo que
haver no Brasil, uma empresa como a Embraer, que “só” monta aviões não é nenhuma evidência de
como o Brasil ficou para trás no setor. Sobre a Embraer, ver Zil Miranda (2007).
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Alta
713.280
14,7
584.640
12,9
651.200
13,2
782.640
13,5
Média-alta
520.000
10,7
509.740
11,2
567.380
11,5
677.260
11,7
Média-baixa
1.392.560
28,7
1.350.420
29,8
1.441.300
29,1
1.650.300
28,5
Baixa
2.232.780
46,0
2.093.720
46,1
2.286.260
46,2
2.674.980
46,2
Brasil
4.858.620
100,0
4.538.520
100,0
4.946.140
100,0
5.785.180
100,0
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.7: Distribuição dos ocupados industriais por classificação de intensidade tecnológica,
Brasil (1995-2005)
1995 1999 2002 2005
109
segmentos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica contribuem com,
aproximadamente, 30% dos empregos industriais cada.
Pode-se perceber, ainda, que, no ESP, uma leve tendência ao aumento do
peso relativo da indústria de média-alta intensidade tecnológica e uma diminuição do
peso da de baixa intensidade. De qualquer forma, também no ESP não se verifica um
movimento em direção aos segmentos industriais de menor intensidade tecnológica
pelo menos, não em termos de emprego.
Na tabela 4.9, é possível observar o comportamento dos ocupados industriais em
cada um dos quatro grupos de intensidade tecnológica, ao longo do período estudado
para a Macrometrópole Paulista, o ESP e o Brasil. Nota-se, por um lado, que todos os
quatro grupos de intensidade tecnológica diminuíram as suas respectivas participações
relativas tanto no ESP quanto na Macrometrópole; e, por outro, que a diminuição do
peso da Macrometrópole foi pouco superior à do ESP, o que evidencia que este último
compensou parte das perdas da primeira.
Outra observação geral que também deve ser feita é a de que, de forma análoga
ao que acontece ao conjunto da indústria, a Macrometrópole, puxada pela RMSP, tem
performance relativamente inferior ao ESP e ao Brasil. Assim, mesmo com a retomada
do crescimento absoluto do emprego, a partir de 1999, para os grupos de alta e média-
alta intensidade tecnológica e a partir de 2002 para os de baixa e média-baixa, o
movimento de diminuição de seu peso relativo persiste porém, aparentemente, de
forma menos intensa.
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Alta
423.700
20,4
323.620
18,7
341.180
19,0
392.180
19,0
Média-alta
309.000
14,9
283.980
16,4
313.720
17,5
365.920
17,7
Média-baixa
599.620
28,9
522.660
30,3
534.520
29,8
613.660
29,7
Baixa
742.480
35,8
597.440
34,6
605.280
33,7
692.280
33,5
ESP
2.074.800
100,0
1.727.700
100,0
1.794.700
100,0
2.064.040
100,0
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.8: Distribuição dos ocupados industriais por classificação de intensidade
tecnológica, no ESP (1995-2005)
1995 1999 2002 2005
110
Analisando os dados de forma mais detalhada, a primeira diferenciação que
pode ser realizada é entre a parte de cima e a de baixo da classificação, ou seja, entre
os grupos de alta e média-alta intensidade tecnológica e o de baixa e média-baixa.
Enquanto a parte de cima da classificação mantém concentração acima da média da
indústria na Macrometrópole e no ESP, a de baixo conta com participação ou muito
próxima à referida média para o caso do grupo de média-baixa intensidade
tecnológica – ou bastante abaixo para o grupo de baixa intensidade. Portanto, há
diferenças significativas nos padrões locacionais dos grupos em questão,
principalmente, quando se estabelece uma linha de corte entre os grupos de média-alta
e média-baixa intensidade tecnológica. Tal fato configura-se como uma evidência
bastante forte da qualidade diferencial da região macrometropolitana para a localização
das atividades industriais mais dinâmicas e modernas.
Em relação ao topo da classificação, apesar da semelhança em todos os
indicadores apresentados no início do capítulo, existem importantes diferenças em
relação aos padrões locacionais próprios dos grupos de alta e média-alta intensidade
tecnológica. Enquanto o primeiro experimenta um forte movimento de diminuição de
peso relativo cai cerca de 11 pontos percentuais na Macrometrópole e 9 no ESP a
segunda vivencia um movimento bastante limitado de diminuição de participação
relativa – apenas cerca de 6 pontos percentuais na Macrometrópole e 5 no ESP. Assim,
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Alta
Brasil
713.280
100,0
584.640
100,0
651.200
100,0
782.640 100,0
ESP
423.700
59,4
323.620
55,4
341.180
52,4
392.180 50,1
Macrometrópole
386.040
54,1
286.960
49,1
295.620
45,4
342.000 43,7
Média-alta
Brasil
520.000
100,0
509.740
100,0
567.380
100,0
677.260 100,0
ESP
309.000
59,4
283.980
55,7
313.720
55,3
365.920 54,0
Macrometrópole
293.440
56,4
267.160
52,4
296.160
52,2
343.400 50,7
Média-baixa
Brasil
1.392.560
100,0
1.350.420
100,0
1.441.300
100,0
1.650.300 100,0
ESP
599.620
43,1
522.660
38,7
534.520
37,1
613.660 37,2
Macrometrópole
518.380
37,2
431.620
32,0
428.000
29,7
489.820 29,7
Baixa
Brasil
2.232.780
100,0
2.093.720
100,0
2.286.260
100,0
2.674.980 100,0
ESP
742.480
33,3
597.440
28,5
605.280
26,5
692.280 25,9
Macrometrópole
577.260
25,9
452.660
21,6
428.460
18,7
477.480
17,8
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.9: Distribuição dos ocupados da indústria, classificados a partir do grau de intensidade tecnológica,
para Macrometrópole Paulista, ESP e Brasil, Brasil = 100 (1995-2005)
1995 1999 2002 2005
111
se em 1995 a Macrometrópole apresentava concentrações do emprego industrial
semelhantes para ambos os grupos, em 2005 há uma diferença relativamente grande
o da indústria de média-alta conta com 50,7% de seus empregados e o de alta, com
43,7%.
Uma possível explicação para os respectivos diferenciais de desempenho reside
na forma de manifestação e arranjo específicos, segundo o grupo de intensidade
tecnológica, das três tendências identificadas para o todo da indústria fechamento de
empresas, relocalização de empresas e/ou plantas e efeitos da reestruturação produtiva
sobre o nível de emprego. Como demonstrado no anteriormente, foi a indústria de alta
intensidade tecnológica aquela que passou por processo mais vigoroso de downsizing,
o que é expresso no maior ritmo de diminuição do tamanho médio dos
estabelecimentos (ver tabela 4.2). Além desse fato, deve-se considerar, também, que o
processo de downsizing foi mais forte justamente na Macrometrópole Paulista, de
maneira que boa parte do diferencial de desempenho da indústria de alta intensidade
tecnológica pode ser explicado pelo modo especialmente intenso com que estratégias
de downsizing foram implementadas pelas empresas integrantes desse grupo. De
qualquer modo, para a elaboração de conclusões mais consistentes a respeito dos
determinantes dos diferenciais de desempenho seriam necessários dados com série
histórica e possibilidades de desagregação semelhantes aos fornecidos pela Rais.
Os grupos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica, por sua vez, chamam
a atenção pelos seus relativamente baixos níveis de concentração na Macrometrópole
e no ESP. Tal fato é especialmente agudo para a indústria de baixa intensidade
tecnológica, a qual apresenta concentração bastante abaixo da média da indústria
apesar de, em 2005, reunir um quarto de todos os empregos do grupo no Brasil, o que
expõe, mais uma vez, o peso da indústria nas localidades que compõe a
Macrometrópole.
A fim de investigar a dinâmica locacional mais específica da indústria, segundo o
seu grau de intensidade tecnológica no ESP, a partir de agora, a análise será focada no
próprio ESP (ver tabela 4.10). Serão apresentados, conjuntamente com os dados
absolutos e relativos da evolução do emprego, os QLs para os respectivos grupos de
intensidade tecnológica. Embora existam perigos relativos à comparação de QLs de
112
diferentes segmentos em localidades de tamanhos variados
91
, no caso específico da
atividade industrial segundo as regiões do ESP, as vantagens trazidas pelo QL
superam os perigos
92
. Três cuidados que permitem a minimização dos problemas
associados à sub e à sobrestimação de certos segmentos: (1) trabalhar com as
regiões do ESP – e não com as localidades – contribui para que as unidades de análise
sejam de tamanhos relativamente mais próximos; (2) focar nos quatro grupos de
intensidade tecnológica e não nos doze setores industriais também contribui para
deixar o universo de análise mais homogêneo; e (3) dar mais peso ao fato de o grupo
específico na região em questão apresentar concentração maior ou menor do que o
todo da indústria no estado, bem como a sua tendência ao longo do tempo, do que
supervalorizar o valor numérico do QL como uma evidência em si mesma.
91
As potencialidades e perigos associados ao uso do QL foram mais bem discutidos no terceiro capítulo.
92
Ver sessão 3.3.
Abs.
%
QL
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
QL
Alta
ESP
423.700
100,0
1,00
323.620
100,0
341.180
100,0
392.180 100,0
1,00
Outras RAs
37.660
8,9
0,62
36.660
11,3
45.560
13,4
50.180 12,8
0,64
Macrometrópole
386.040
91,1
1,06
286.960
88,7
295.620
86,6
342.000 87,2
1,09
Campo Ag.
124.840
29,5
1,02
104.580
32,3
116.060
34,0
146.920 37,5
1,10
RMSP
261.200
61,6
1,09
182.380
56,4
179.560
52,6
195.080 49,7
1,08
Média-alta
ESP
309.000
100,0
1,00
283.980
100,0
313.720
100,0
365.920 100,0
1,00
Outras RAs
15.560
5,0
0,35
16.820
5,9
17.560
5,6
22.520 6,2
0,31
Macrometrópole
293.440
95,0
1,11
267.160
94,1
296.160
94,4
343.400 93,8
1,17
Campo Ag.
85.500
27,7
0,96
102.040
35,9
116.800
37,2
140.160 38,3
1,12
RMSP
207.940
67,3
1,19
165.120
58,1
179.360
57,2
203.240 55,5
1,21
Média-baixa
ESP
599.620
100,0
1,00
522.660
100,0
534.520
100,0
613.660 100,0
1,00
Outras RAs
81.240
13,5
0,94
91.040
17,4
106.520
19,9
123.840 20,2
1,01
Macrometrópole
518.380
86,5
1,01
431.620
82,6
428.000
80,1
489.820 79,8
1,00
Campo Ag.
170.640
28,5
0,99
168.840
32,3
168.760
31,6
201.260 32,8
0,96
RMSP
347.740
58,0
1,02
262.780
50,3
259.240
48,5
288.560 47,0
1,02
Baixa
ESP
742.480
100,0
1,00
597.440
100,0
605.280
100,0
692.280 100,0
1,00
Outras RAs
165.220
22,3
1,54
144.780
24,2
176.820
29,2
214.800 31,0
1,56
Macrometrópole
577.260
77,7
0,91
452.660
75,8
428.460
70,8
477.480 69,0
0,86
Campo Ag.
218.100
29,4
1,02
180.920
30,3
189.980
31,4
216.540 31,3
0,92
RMSP
359.160
48,4 0,85
271.740
45,5
238.480
39,4
260.940 37,7
0,82
FONTE: Rais/MTE. Elaboração própria.
Tabela 4.10: Distribuição dos ocupados da indústria e QL, classificados a partir do grau de intensidade
tecnológica, para as regiões do ESP, ESP = 100 (1995-2005)
1999 2002 20051995
113
Em primeiro lugar, deve-se destacar a enorme predominância da
Macrometrópole Paulista na localização da atividade industrial, chegando a 2005 com
cerca de 80% de todos os empregos industriais do ESP e com QL igual ou superior a
um para os grupos de média-baixa, média-alta e alta intensidade tecnológica. Dos
quatro grupos de intensidade tecnológica, o de baixa intensidade apresenta
concentração abaixo da casa dos 80% na região macrometropolitana; os demais
apresentam um grau de concentração congruente à média da indústria paulista – para o
caso da indústria de média-baixa intensidade tecnológica ou superior com grande
destaque para o grupo de média-alta intensidade, que mantém participação relativa de
93,8%. Quanto às Outras RAs do ESP, é gritante o alto grau de concentração da
indústria de baixa intensidade tecnológica, o que sugere que tal região seja uma
localidade extremamente atrativa para esse tipo de atividade industrial, principalmente
em um contexto no qual, a RMSP e o seu Campo Aglomerativo, tendem a se tornar
cada vez menos intensivas nestas atividades.
Como salientado anteriormente, também para o ESP, verificam-se importantes
diferenças entre os padrões locacionais dos grupos de alta e média-alta intensidade
tecnológica, derivas, justamente, da performance específica da RMSP. Apesar de a
RMSP contar com grau de concentração acima da média para ambos os grupos, o de
média-alta intensidade tecnológica é relativamente mais concentrado com QL 1,21,
contra 1,08 da indústria de alta intensidade, para o ano de 2005. No Campo
Aglomerativo da RMSP, a diferença o pode ser percebida pelo menos para o ano
de 2005. Em 1995, o grau de concentração do grupo de dia-alta intensidade
tecnológica era mais elevado na RMSP do que no seu Campo Aglomerativo, o que
sugere que o ritmo de crescimento da concentração desse grupo foi mais intenso no
Campo Aglomerativo. Caso essa tendência persista, num futuro próximo, poderá vir a
produzir o mesmo fenômeno que o observado para a indústria de alta intensidade
tecnológica. Em outras palavras, o que se quer afirmar, é, simplesmente, que o grupo
de média-alta intensidade tecnológica tende a ser mais concentrado na Macrometrópole
Paulista do que o de alta; embora ambos os grupos tenham concentração acima da
média na indústria nessa região.
114
Para finalizar, é necessário, ainda, rever a evidência fornecida pela empiria – não
no presente capítulo, mas ao longo de todo o trabalho – à luz da hipótese de
pesquisa e de toda discussão teórica que esta encerra. Em outros termos, resta, agora,
desenvolver as articulações e mediações de caráter mais geral e abstrato entre todo o
trabalho empírico feito até aqui e a hipótese da hierarquia da desconcentração industrial
brasileira. Isso será realizada no próximo e último capítulo, no qual também será
esboçada uma tentativa de reflexão crítica acerca dos fatores que limitaram o trabalho
em questão, assim como das possibilidades que abre.
115
5 CONCLUSÕES
A primeira parte da conclusão é dedicada à consolidação, em formato muito mais
sintético e, portanto, geral, dos achados teóricos e empíricos
93
obtidos durante todo o
processo de pesquisa e materializados ao longo dos quatro capítulos anteriores. A fim
de tornar a exposição mais simples e acessível, ela será estruturada em forma de itens.
(1) Supondo de que a utilização de dados de emprego não inviabilizam a
investigação e a adequação da tipologia da indústria por intensidade
tecnológica
94
, pode-se afirmar que as atividades industriais mais dinâmicas e
modernas – caracterizadas por um padrão competitivo fundado na qualidade e
na diferenciação de produtos, tendo, portanto, a inovação como elemento
central para a manutenção da competitividade; e que encontram na
diversificação
95
significativo fator aglomerativo apresentam tendência de
manter alto grau de concentração na RMSP e no seu Campo Aglomerativo.
Dessa maneira, a Macrometrópole Paulista constitui-se como espaço
econômico privilegiado para a localização de tais atividades industriais.
(2) Em contrapartida, as atividades industriais de menor grau de dinamismo e
modernidade – caracterizadas por um padrão competitivo baseado na redução
de custos de localização e de mão-de-obra, com a inovação não
desempenhando papel tão determinante para a competitividade, e, também,
pouco propícias a ter a diversificação como fator aglomerativo relevante –,
principalmente aquelas representadas pelo grupo de baixa intensidade
tecnológica, tendem a ser cada vez menos concentradas na região
macrometropolitana. Em termos empíricos, os dois movimentos em questão
93
O fato de o termo “teórico” vir antes do termo empírico” não é casual. Deriva da percepção de que a
teoria precede a empiria, de forma que o “empírico”, por si só, não é dotado de sentido.
94
Ou seja, que essa tipologia é uma boa proxy para o grau de dinamismo e modernidade da indústria.
95
Diversificação aqui tem sentido muito mais amplo do que a mera diversificação do parque industrial.
Embora esta seja importante, deve-se considerar a diversificação como relativa também ao mercado de
trabalho, às instituições de pesquisa e aos demais setores econômicos, com grande destaque para a
produção de serviços especializados de apoio à produção.
116
manifestam-se no fato de a estrutura produtiva do ESP, a qual é puxada pela
a da macrometrópole, ser bastante mais intensiva nas indústrias de alta e
média-alta intensidade tecnológica do que o País como um todo.
(3) Assim, se por um lado parte-se daquela noção bastante consolidada pelos
autores do desenvolvimento regional de que no pós 1985 o processo de
desconcentração industrial adquiriu novos determinantes; por outro, percebe-
se que tais novos determinantes só se fazem plenamente influentes a partir de
1994, com a ausência – desde o segundo qüinqüênio da década de 1980 – de
uma política industrial e regional por parte do Estado e com a completude dos
processos de abertura comercial e desregulamentação econômica, os quais
intensificaram o de reestruturação produtiva. O principal resultado, do ponto
de vista locacional, foi a atenuação de todos aqueles fatores capazes de
enfraquecer a localização, segundo uma racionalidade que não fosse
estritamente econômica, o que se verifica no fortalecimento das economias de
aglomeração.
(4) Para fins analíticos, a dinâmica interna à Macrometrópole Paulista deve ser
dividida em duas regiões, a RMSP e o seu Campo Aglomerativo composto
pelas localidades da RMCam, Resto da RAC, RASJC, RASor e RMBS –, pois
cada uma delas apresenta uma dinâmica própria embora interligada. Dessa
maneira, a relação entre ambas é muito mais do que mera competição, sendo
também, complementar em certos sentidos.
(5) A RMSP caracteriza-se por ter-se tornado um centro produtor de serviços
produtivos, os quais, do ponto de vista da indústria
96
, constituem importante
fator aglomerativo para as atividades mais modernas e dinâmicas. Junto com
a diversificação dos serviços especializados, a RMSP oferece toda a
diversificação típica de uma metrópole, reunindo o que normalmente se
denomina de fatores aglomerativos modernos.
96
Contudo, do ponto de vista dos próprios serviços produtivos, são atividades muito mais funcionais de
apoio à produção – a todos os setores da economia do que à indústria exclusivamente. Assim, devem ser
entendidas como atividades transversais.
117
(6) Se é verdade que São Paulo assume certas funções que podem ser
entendidas como próprias de uma cidade global
97
, devidos aos efeitos dos
processos de abertura econômica, de desregulamentação da economia e de
privatizações, conforme a definição de Sassen
98
, não é verdade que se tenha
tornado uma cidade global em sentido estrito. Primeiro, porque não
desenvolveu uma capacidade de comando e gerenciamento da economia
global – mas apenas, se tanto, da América do Sul –, de modo que o sentido de
sua inserção na economia mundial permanece bastante subjugado. Depois,
porque São Paulo se mantém como importante lo industrial, atrativo,
inclusive, para a porção mais dinâmica e moderna da indústria. Assim, uma
cidade como São Paulo está muito mais no pólo oposto do observado por
Sassen, ou seja, do lado das regiões receptoras daquelas atividades que
tenderam a se dispersar do mundo desenvolvido, do que do lado do comando
propriamente dito. O que não necessariamente significa que não possa
exercer certas funções de comando em uma área mais limitada do que o
âmbito do global, como por exemplo, o próprio Brasil ou a América do Sul.
(7) O Campo Aglomerativo da RMSP, por sua vez, constitui-se como uma região
alternativa para a atividade industrial, em termos de localização,
principalmente, para a de alta e média-alta intensidade tecnológica, onde
encontram tanto infraestrutura adequada e custos locacionais relativamente
menores que os da RMSP, quanto a possibilidade de obtenção das economias
de aglomeração que a RMSP desenvolveu nos últimos vinte anos. Portanto,
não é a toa que enquanto a estrutura produtiva da RMSP é caracterizada pelo
alto grau de concentração do emprego nos serviços produtivos, a do seu
Campo Aglomerativo o é pelo alto grau de concentração do emprego na
indústria, com destaque para a sua parcela mais moderna e dinâmica.
Finalmente, chega-se, agora, à considerações acerca da estruturação de uma
agenda de pesquisa, a partir de tudo o que foi realizado pela presente dissertação.
97
Como de sítio produtor de serviços produtivos, por exemplo.
98
Ver discussão do segundo capítulo do presente trabalho.
118
Convém iniciá-la pela explicitação de determinadas limitações que pesaram sobre o
trabalho. Tais limitações podem ser divididas em duas famílias, uma de ordem teórica e,
outra, de ordem empírica.
Quanto à primeira família, ressalta-se que nem sempre trilhar os caminhos
aparentemente mais fáceis para a construção de interpretações e de modelos
explicativos para o entendimento de certos fenômenos localizados no tempo e no
espaço, ao mesmo tempo em que se conectam com fenômenos globais, é o melhor
caminho. Em termos mais específicos, o mero transplante de teorias desenvolvidas
para a explicação de realidades diversas por mais sofisticadas que sejam não
ajudam na compreensão dos fenômenos e processos que se desenrolam na realidade
socioeconômica brasileira, a qual é perpassada por requisitos próprios. Se tais teorias
não forem submetidas a um processo de inversão, a fim de serem funcionalizadas ao
ponto de vista específico dessa realidade, mais a escondem do que a esclarecem. No
caso brasileiro, por exemplo, é imprescindível que as profundas desigualdades que
conformam e aderem significados próprios a todas as relações sociais e econômicas
sejam consideradas.
Por outro lado, é quase impossível desenvolver interpretações e modelos
explicativos adequados se as várias contribuições exteriores forem ignoradas. Parece
que um dos pontos fundamentais é encontrar o diapasão mais adequado, aquele que
não torne o analista nem um macaco adestrado e nem um provinciano míope.
Quanto às limitações de ordem empírica, a primeira é, evidentemente, a
utilização de uma base de emprego para a investigação dos fenômenos próprios da
produção. Como discutido anteriormente, a análise seria muito mais completa caso
incorporasse indicadores de produção física, valor agregado, produtividade etc. A
utilização complementar de diferentes bases de dados possibilitaria, por exemplo, a
estimação na Rais de diferenciais de produtividade para determinados agregados
espaciais e/ou grupos de atividade econômica, a partir de indicadores produzidos em
outras bases.
A segunda diz respeito a inadequações associadas às classificações utilizadas
pela presente pesquisa, a saber: a classificação dos municípios do ESP em localidades
selecionadas e a tipologia de intensidade tecnológica da atividade industrial. Embora
119
ambas tenham funcionado como proxies adequadas para os objetivos aqui
perseguidos, classificações mais fiéis à realidade poderiam ter sido adotadas e/ou
desenvolvidas. Enquanto a classificação de municípios apresenta o problema de as
localidades selecionadas terem sido construídas a partir de fronteiras muito mais
políticas do que econômicas no caso, as fronteiras das próprias regiões
administrativas ou das regiões metropolitanas –; a tipologia da intensidade tecnológica
mantém viés predominantemente tecnológico, o que faz surgir uma identidade artificial
entre dinamismo econômico e alta tecnologia.
Assim, pensar em uma agenda subseqüente de pesquisa, envolve o importante
trabalho de repensar as classificações a serem utilizadas. É de igual importância
expandir a unidade de análise, a fim de abarcar todo o território nacional. Dada a
formação de um espaço econômico integrado, aqui denominado de Macrometrópole
Paulista, emerge a questão de qual papel desempenha e qual ou quais o(s) sentido(s)
das relação(ões) que mantém com as demais regiões do País, especialmente com as
outras regiões metropolitanas brasileiras, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba,
Porto Alegre, Salvador e Recife. Além disso, qual papel tais regiões desempenham,
elas mesmas, na economia brasileira.
Essa tarefa, por sua vez, deve ser executada não só do ponto de vista da
indústria, mas, também, do dos serviços, de modo que questões relativas às relações
existentes entre indústria e serviços ou, de forma mais ampla, entre os serviços e as
demais atividades econômicas, permanecem como um importante ponto de
investigação.
120
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125
ANEXOS
1 Relação Anual de Informações Sociais (Rais)
O principal objetivo desse anexo é explicitar os princípios que nortearam a
construção dos dois bancos de dados a partir dos quais foram produzidas as
tabulações aqui utilizadas. Esses dois bancos foram construídos a partir da Relação
Anual de Informações Sociais (Rais).
A Rais é uma importante fonte de dados sobre o mercado de trabalho formal no
Brasil, tendo sido instituída pelo Ministério do Trabalho (atualmente, Ministério do
Trabalho e Emprego MTE) em 1975. Ela permite análises em série histórica a partir
de 1985. A declaração da Rais é preenchida anualmente por todos os estabelecimentos
com inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) inclusive pelas
empresas individuais, mantidas apenas pelo proprietário que devem prestar
informações sobre os trabalhadores com vínculo empregatício formal, ou seja, regidos
pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT.
As informações são coletadas para todo o território nacional e todas as
atividades econômicas, sendo possível desagregá-las por município e por classe da
Classificação Nacional da Atividade Econômica CNAE 1.0 a partir de 1995.
Anteriormente a esse ano, uma agregação da atividade econômica do IBGE era
utilizada.
Os microdados são disponibilizados para o acesso público em CD-Rom, no qual
as informações são organizadas separadamente para o estabelecimento e para o
trabalhador. A Rais Estabelecimentos RAISESTB trata da atividade econômica,
localização e tamanho da organização empresarial, bem como da movimentação da
força-de-trabalho nela empregada. A Rais Pessoas RAISTRAB informa o estoque
de mão-de-obra e suas características.
O primeiro banco de dados foi construído a partir da RAISESTB, tendo como
objetivo captar a dinâmica da localização dos estabelecimentos produtivos do ESP.
Para tanto, foram selecionadas variáveis relativas à localização do estabelecimento e
126
ao setor produtivo ao qual pertence. Também foram incorporadas à base variáveis
relativas ao tamanho do estabelecimento e ao estoque de trabalhadores.
Optou-se por considerar apenas aqueles estabelecimentos do ESP que
possuíam empregados em 31 de dezembro os estabelecimentos que declararam
“Rais negativa não”
99
, que, embora, não possuíam empregados nessa data, foram
descartados. Todos os estabelecimentos que satisfizeram tais condições foram
incluídos na base, de modo que esta é uma base censitária.
O segundo banco de dados tem função semelhante à do anterior, que do
ponto de vista da força de trabalho. Além das variáveis de localização do
estabelecimento no qual o indivíduo trabalha e do setor desse estabelecimento,
variáveis relativas ao tamanho do estabelecimento, ao grau de instrução, ao gênero, à
idade e à renda foram selecionadas. Estas permitem uma melhor caracterização dos
setores e das regiões do ESP.
Aqui, foram considerados todos aqueles indivíduos que estavam ocupados em
31 de dezembro. Devido ao grande número de ocupados no ESP, decidiu-se pela
realização de uma amostra representativa da força de trabalho do estado. Esta
corresponde a 5% da população total, e a seleção dos casos seguiu o método aleatório
simples. Posteriormente, tal amostra foi expandida, de modo que as tabulações aqui
expostas contêm números absolutos aproximados ao universo de pesquisa.
99
A Rais negativa é a declaração da Rais na qual são fornecidos dados dos estabelecimentos que não tiveram
nenhum empregado durante o ano-base.
127
2 Municípios por localidades selecionadas do Estado de São Paulo
2.1. Municípios da Região Metropolitana de São Paulo
Arujá, Barueri, Biritiba, Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema,
Embu, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha,
Guararema, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira,
Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá,
Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santana do Parnaíba,
Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Lourenço da Serra,
São Paulo, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.
2.2. Municípios da Região Metropolitana de Campinas
Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho,
Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa,
Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d´Oeste, Santo Antonio de Posse, Sumaré, Valinhos
e Vinhedo.
2.3. Municípios do Resto da Região Administrativa de Campinas
Aguaí, Águas da Prata, Águas de Lindóia, Águas de São Pedro, Amparo,
Analândia, Araras, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Brotas,
Cabreúva, Caconde, Campo Limpo Paulista, Capivari, Casa Branca, Charqueada,
Conchal, Cordeirópolis, Corumbataí, Divinolândia, Elias Fausto, Espírito Santo do
Pinhal, Estivo Gerbi, Ipeúna, Iracemápolis, Itapira, Itirapina, Itobi, Itupeva, Jarinu,
Joanópolis, Jundiaí, Leme, Limeira, Lindóia, Louveira, Mococa, Mogi Guaçu, Moji Mirim,
Mombuca, Monte Alegre do Sul, Morungaba, Nazaré Paulista, Pedra Bela, Pinhalzinho,
Piracaia, Piracicaba, Pirassununga, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, Saltinho, Santa
Cruz da Conceição, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra,
Santo Antonio do Jardim, o João da Boa Vista, São José do Rio Pardo, o Pedro,
128
São Sebastião da Grama, Serra Negra, Socorro, Tambaú, Tapiratiba, Torrinha, Tuiuti,
Vargem, Vargem Grande do Sul e Várzea Paulista.
2.4. Municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista
Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande,
Santos e São Vicente.
2.5. Municípios da Região Administrativa de São José dos Campos
Aparecida, Arapeí, Areias, Bananal, Caçapava, Cachoeira Paulista, Campos do
Jordão, Canas, Caraguatatuba, Cruzeiro, Cunha, Guaratinguetá, Igaratá, Ilhabela,
Jacareí, Jambeiro, Lagoinha, Lavrinhas, Lorena, Monteiro Lobato, Natividade da Serra,
Paraibuna, Pindamonhangaba, Piquete, Potim, Queluz, Redenção da Serra, Roseira,
Santa Branca, Santo Antonio do Pinhal, São
Bento do Sapucaí, São José do Barreiro, São José dos Campos, São Luís do
Paraitinga, São Sebastião, Silveiras, Taubaté, Tremembé e Ubatuba.
2.6. Municípios da Região Administrativa de Sorocaba
Águas de Santa Bárbara, Alambari, Alumínio, Angatuba, Anhembi, Apiaí,
Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Arandu, Areiópolis, Avaré, Barão de Antonina, Barra
do Chapéu, Bofete, Boituva, Bom Sucesso de Itararé, Botucatu, Buri, Campina do
Monte Alegre, Capão Bonito, Capela do Alto, Cerqueira César, Cerquilho, Cesário
Lange, Conchas, Coronel Macedo, Fartura, Guapiara, Guareí, Iaras, Ibiúna, Iperó,
Iporanga, Itaberá, Itaí, Itaóca, Itapetininga, Itapeva, Itapirap
Paulista, Itaporanga, Itararé, Itatinga, Itu, Jumirim, Laranjal Paulista, Mairinque,
Manduri, Nova Campina, Paranapanema, Pardinho, Pereiras, Piedade, Pilar do Sul,
Piraju, Porangaba, Porto Feliz, Pratânia, Quadra, Ribeira, Ribeirão Branco, Ribeirão
Grande, Riversul, Salto, Salto de Pirapora, São Manuel, São Miguel Arcanjo, São
129
Roque, Sarapuí, Sarutaiá, Sorocaba, Taguaí, Tapiraí, Taquarituba, Taquarivaí, Tatuí,
Tejupá, Tietê, Torre de Pedra e Votorantim.
2.7. Municípios das Demais Regiões Administrativas do Estado de São Paulo
Região Administrativa de Araçatuba: Alto Alegre, Andradina, Araçatuba,
Auriflama, Avanhandava, Barbosa, Bento de Abreu, Bilac, Birigüi, Braúna, Brejo Alegre,
Buritama, Castilho, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Gastão Vidigal, General
Salgado, Glicério, Guaraçaí, Guararapes, Guzolândia, Ilha Solteira, Itapura, Lavínia,
Lourdes, Luiziânia, Mirandópolis, Murutinga do Sul, Nova Castilho, Nova
Independência, Nova Luzitânia, Penápolis, Pereira Barreto, Piacatu, Rubiácea, Santo
Antonio do Aracanguá, Santópolis do Aguapeí, São João do Iracema, Sud Mennucci,
Suzanápolis, Turiúba e Valparaíso.
Região Administrativa de Barretos: Altair, Barretos, Bebedouro, Cajobi, Colina,
Colômbia, Embaúba, Guaíra, Guaraci, Jaborandi, Monte Azul Paulista, Olímpia, Pirangi,
Severínia, Taiaçu, Taiúva, Terra Roxa, Viradouro e Vista Alegre do Alto.
Região Administrativa de Bauru: Agudos, Arealva, Avaí, Balbinos, Bariri, Barra
Bonita, Bauru, Bocaina, Boracéia, Borebi, Cabrália Paulista, Cafelândia, Dois Córregos,
Duartina, Getulina, Guaiçara, Guaimbê, Guarantã, Iacanga, Igaraçu do Tietê, Itaju,
Itapuí, Jaú, Lençóis Paulista, Lins, Lucianópolis, Macatuba, Mineiros do Tietê,
Paulistânia, Pederneiras, Pirajuí, Piratininga, Pongaí, Presidente Alves, Promissão,
Reginópolis, Sabino, Ubirajara e Uru.
Região Administrativa Central: Américo Brasiliense, Araraquara, Boa Esperança
do Sul, Borborema, Cândido Rodrigues, Descalvado, Dobrada, Dourado, Fernando
Prestes, Gavião Peixoto, Ibaté, Ibitinga, Itápolis, Matão, Motuca, Nova Europa, Porto
Ferreira, Ribeirão Bonito, Rincão, Santa Ernestina, Santa Lúcia, Santa Rita do Passa
Quatro, São Carlos, Tabatinga, Taquaritinga e Trabiju.
Região Administrativa de Franca: Aramina, Batatais, Buritizal, Cristais Paulista,
Franca, Guará, Igarapava, Itirapuã, Ituverava, Jeriquara, Miguelópolis, Patrocínio
Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina, São José da Bela Vista,
Ipuã, Morro Agudo, Nuporanga, Orlândia, Sales Oliveira e São Joaquim da Barra.
130
Região Administrativa de Marília: Álvaro de Carvalho, Alvinlândia, Arco Íris,
Assis, Bastos, Bernardino de Campos, Borá, Campos Novos Paulista, Cândido Mota,
Canitar, Chavantes, Cruzália, Echaporã, Espírito Santo do Turvo, Fernão, Florínia,
Gália, Garça, Herculândia, Iacri, Ibirarema, Ipaussu, João Ramalho, Júlio Mesquita,
Lupércio, Lutécia, Maracaí, Marília, Ocauçu, Óleo, Oriente, Oscar Bressane, Ourinhos,
Palmital, Paraguaçu Paulista, Parapuã, Pedrinhas Paulista, Platina, Pompéia, Quatá,
Queiroz, Quintana, Ribeirão do Sul, Rinópolis, Salto Grande, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Pedro do Turvo, Tarumã, Timburi, Tupã e Vera Cruz.
Região Administrativa de Presidente Prudente: Adamantina, Alfredo Marcondes,
Álvares Machado, Anhumas, Caiabu, Caiuá, Dracena, Emilianópolis, Estrela do Norte,
Euclides da Cunha Paulista, Flora Rica, Flórida Paulista, Iepê, Indiana, Inúbia Paulista,
Irapuru, Junqueirópolis, Lucélia, Marabá Paulista, Mariápolis, Martinópolis, Mirante do
Paranapanema, Monte Castelo, Nantes, Narandiba, Nova Guataporanga, Osvaldo
Cruz, Ouro Verde, Pacaembu, Panorama, Paulicéia, Piquerobi, Pirapozinho, Pracinha,
Presidente Bernardes, Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Presidente Venceslau,
Rancharia, Regente Feijó, Ribeirão dos Índios, Rosana, Sagres, Sandovalina, Santa
Mercedes, Salmourão, Santo Anastácio, Santo Expedito, São João do Pau d’Alho,
Taciba, Tarabaí, Teodoro Sampaio e Tupi Paulista.
Região Administrativa de Registro: Barra do Turvo, Cajati, Cananéia, Eldorado,
Iguape, Ilha Comprida, Itariri, Jacupiranga, Juquiá, Miracatu, Pariquera-Açu, Pedro de
Toledo, Registro e Sete Barras.
Região Administrativa de Ribeirão Preto: Altinópolis, Barrinha, Brodowski, Cajuru,
Cássia dos Coqueiros, Cravinhos, Dumont, Guariba, Guatapará, Jaboticabal,
Jardinópolis, Luis Antônio, Monte Alto, Pitangueiras, Pontal, Pradópolis, Ribeirão Preto,
Santa Cruz da Esperança, Santa Rosa do Viterbo, Santo Antonio da Alegria, São
Simão, Serra Azul, Serrana, Sertãozinho e Taquaral.
Região Administrativa de São José do Rio Preto: Adolfo, Álvares Florence,
Américo de Campos, Aparecida d'Oeste, Ariranha, Aspásia, Bady Bassitt, Bálsamo,
Cardoso, Catanduva, Catiguá, Cedral, Cosmorama, Dirce Reis, Dolcinópolis, Elisiário,
Estrela d'Oeste, Fernandópolis, Floreal, Guapiaçu, Guarani d'Oeste, Ibirá, Icém,
Indiaporã, Ipiguá, Irapuã, Itajobi, Jaci, Jales, José Bonifácio, Macaubal, Macedônia,
131
Magda, Marapoama, Marinópolis, Mendonça, Meridiano, Mesópolis, Mira Estrela,
Mirassol, Mirassolândia, Monções, Monte Aprazível, Neves Paulista, Nhandeara, Nipoã,
Nova Aliança, Nova Canaã Paulista, Nova Granada, Novais, Novo Horizonte, Onda
Verde, Orindiúva, Ouroeste, Palestina, Palmares Paulista, Palmeira d'Oeste, Paraíso,
Paranapuã, Parisi, Paulo de Faria, Pedranópolis, Pindorama, Planalto, Poloni,
Pontalinda, Pontes Gestal, Populina, Potirendaba, Riolândia, Rubinéia, Sales, Santa
Adélia, Santa Albertina, Santa Clara d'Oeste, Santa do Sul, Santa Rita d'Oeste,
Santa Salete, Santana da Ponte Pensa, São Francisco, São João das Duas Pontes,
São José do Rio Preto, Sebastianópolis do Sul, Tabapuã, Tanabi, Três Fronteiras,
Turmalina, Ubarana, Uchôa, União Paulista, Urânia, Urupês, Valentim Gentil, Vitória
Brasil, Votuporanga e Zacarias.
132
3 Classificação das atividades econômicas segundo a CNAE 1.0 - em ramos de
atividade
100
Indústria:
15 - Fabricação de produtos alimentícios e de bebidas (todas as classes da divisão)
16 - Fabricação de produtos do fumo (todas as classes da divisão)
17 - Fabricação de produtos têxteis (todas as classes da divisão)
18 - Confecção de artigos do vestuário e acessórios (todas as classes da divisão)
19 – Prep. de couros e fab. de artefatos de couro, art. de viagem e calçados (todas as classes da divisão)
20 - Fabricação de produtos de madeira (todas as classes da divisão)
22 - Edição, impressão e reprodução de gravações (todas as classes da divisão)
21 - Fabricação de celulose, papel e produtos de papel (todas as classes da divisão)
23 - Fab. de coque, ref. de petróleo, elab. de comb. nuc. e prod. de álcool (todas as classes da divisão)
24 - Fabricação de produtos químicos (todas as classes da divisão)
25 - Fabricação de artigos de borracha e material plástico (todas as classes da divisão)
26 - Fabricação de produtos de minerais não-metálicos (todas as classes da divisão)
27 - Metalurgia básica (todas as classes da divisão)
28 - Fab. de prod. de metal – exceto máquinas e equip. (todas as classes da divisão)
29 - Fabricação de máquinas e equipamentos (todas as classes da divisão)
30 - Fab. de máquinas para escritório e equip. de informática (todas as classes da divisão)
31 - Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (todas as classes da divisão)
32 - Fab. de mat. eletrônico e de ap. e equip. de comunicação (todas as classes da divisão)
33 - Fab. de equip. de inst. médico-hospitalares, inst. de precisão e ópticos, equip. para automação ind.,
cronômetros e relógios (todas as classes da divisão)
34 - Fab. e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias (todas as classes da divisão)
35 - Fabricação de outros equipamentos de transporte (todas as classes da divisão)
36 - Fabricação de móveis e indústrias diversas (todas as classes da divisão)
37 - Reciclagem (todas as classes da divisão)
Construção Civil:
45 - Construção (todas as classes da divisão)
Serviços Distributivos:
50 - Comércio e reparação de veículos automotores; comércio a varejo de combustíveis. Classes:
50.10-5 - Comércio a varejo e atacado de veículos automotores
50.30-0 - Comércio a varejo e atacado de peças e acessórios para veículos automot.
100
Baseado em classificação proposta por Alexandre Abdal e Bruno Komatsu (2008), a partir da
adaptação de Comin (2003).
133
50.41-5 - Comércio a varejo e por atacado de motocicletas, partes, peças e acessórios
50.50-4 - Comércio a varejo de combustíveis
51 - Comércio por atacado, rep. comerciais e agentes do comércio (todas as classes da divisão)
52 - Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio. Classes:
52.15-9 - Comércio varejista não esp., sem predominância de prod. alimentícios
52.21-3 - Comércio varejista de produtos de padaria, de laticínio, frios e conservas
52.22-1 - Comércio varejista de balas, bombons e semelhantes
52.23-0 - Comércio varejista de carnes - açougues
52.24-8 - Comércio varejista de bebidas
52.29-9 - Comércio varejista de outros prod. alimentícios não esp. e de prod. do fumo
52.31-0 - Comércio varejista de tecidos e artigos de armarinho
52.32-9 - Comércio varejista de artigos do vestuário e complementos
52.33-7 - Comércio varejista de calçados, artigos de couro e viagem
52.41-8 - Comércio varejista de prod. farmacêuticos, art. médicos e ort., de perf. e cosméticos
52.42-6 - Comércio varejista de maq. e aparelhos de usos dom. e pessoal, discos e inst. musicais
52.43-4 - Comércio varejista de móveis, artigos de iluminação e outros para residência
52.44-2 - Comércio var. de mat. de const., ferragens e ferramentas manuais; vidros, esp. e vitrais;
tintas e madeiras
52.45-0 - Comércio varejista de equip. e materiais para escritório; informática e comunicação
52.46-9 - Comércio varejista de livros, jornais, revistas e papelaria
52.47-7 - Comércio varejista de gás liquefeito de petróleo (GLP)
52.49-3 - Comércio varejista de outros produtos não especificados anteriormente
52.50-7 - Comércio varejista de artigos usados
52.62-0 - Comércio em vias públicas - exceto em quiosques fixos
52.69-8 - Outros tipos de comércio varejista
60 - Transporte terrestre (todas as classes da divisão)
61 - Transporte aquaviário (todas as classes da divisão)
62 - Transporte aéreo (todas as classes da divisão)
63 - Atividades anexas e auxiliares dos transp. e agência de viagem (todas as classes da divisão)
Serviços produtivos:
40 - Eletricidade, gás e água quente (todas as classes da divisão)
41 - Captação, tratamento e distribuição de água (todas as classes da divisão)
64 - Correio e telecomunicações (todas as classes da divisão)
65 - Intermediação financeira (todas as classes da divisão)
66 - Seguros e previdência complementar. Classes:
66.21-4 - Previdência complementar fechada
66.22-2 - Previdência complementar aberta
134
67.20-2 - Atividades auxiliares dos seguros e da previdência complementar
67 - Atividades aux. da intermediação financeira, seguros e prev. comp. (todas as classes da divisão)
70 - Atividades imobiliárias (todas as classes da divisão)
72 - Atividades de informática e serviços relacionados (todas as classes da divisão)
73 - Pesquisa e desenvolvimento (todas as classes da divisão)
74 - Serviços prestados principalmente às empresas (todas as classes da divisão)
90 - Limpeza urbana e esgoto e atividades relacionadas (todas as classes da divisão)
92 - Atividades recreativas, culturais e desportivas (todas as classes da divisão)
Serviços Sociais:
80 - Educação (todas as classes da divisão)
85 - Saúde e serviços sociais (todas as classes da divisão)
66 - Seguros e previdência complementar
66.30-3 - Planos de saúde
Serviços Pessoais:
50 - Comércio e reparação de veículos automotores; comércio varejista de combustíveis. Classes:
50.20-2 - Manutenção e reparação de veículos automotores
50.42-3 - Manutenção e reparação de motocicletas
52 - Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio. Classes:
52.71-0 Reparação e manutenção de máquinas e de aparelhos eletrodomésticos
52.72-8 Reparação de calçados
55 - Alojamento e alimentação (todas as classes da divisão)
93 - Serviços pessoais (todas as classes da divisão)
95 - Serviços domésticos (todas as classes da divisão)
Governo:
75 - Administração pública, defesa e seguridade social (todas as classes da divisão)
Atividades primárias:
01 - Agricultura, pecuária e serviços relacionados (todas as classes da divisão)
02 - Silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados (todas as classes da divisão)
05 - Pesca (todas as classes da divisão)
10 - Extração de carvão mineral (todas as classes da divisão)
11 - Extração de petróleo e serviços relacionados (todas as classes da divisão)
13 - Extração de minerais metálicos (todas as classes da divisão)
14 - Extração de minerais não-metálicos (todas as classes da divisão)
Outras Atividades (ou atividades mal definidas):
91 - Atividades associativas
99 - Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais
135
4 Classificação das atividades industriais segundo a CNAE 1.0 - em grupos de
intensidade tecnológica
101
Atividade industrial
102
CNAE
(a dois e três
dígitos)
Alta intensidade
tecnológica
- Outros equip. de transporte
- Equip. de instrumentação médico- hospitalares,
instrumentos de precisão ópticos, equip. p/ automação ind.
e cronômetros e relógios
- Maquinas, aparelhos e mat. elétricos
- Mat. eletrônico e de aparelhos e equip. de comunicação
- Máquinas para escritório e equip. de informática
- Máquinas e equipamentos
- Veículos automotores, reboques e carrocerias
- Refino de petróleo
35
33
31
322, 323
30
29
341-343, 345
232
Média-alta intensidade
tecnológica
- Produtos farmacêuticos
- Material eletrônico básico
- Produtos do fumo
- Produtos químicos
- Peças e acessórios para veículos
- Produtos diversos
- Celulose e outras pastas para fab. de papel
245
321
16
241-244, 246-
249
344
369
211
Média-baixa intensidade
tecnológica
- Produtos siderúrgicos
- Artigos de borracha e plástico
- Produtos de metal
- Metalurgia de materiais não ferrosos e fundição
- Papel, embalagens e artefatos de papel
- Produtos de minerais não-metálicos
- Couros, artefatos de couro, artigos de viagem e calçados
271-273
25
28
274, 275
212-214
26
19
Baixa intensidade
tecnológica
- Produtos têxteis
- Produtos alimentícios
17
151-158
101
Baseado em IBGE (2003).
102
Foi considerado, apenas, indústria de transformação.
136
- Artigos do mobiliário
- Confecção de artigos do vestuário e acessórios
- Produtos de madeira
- Edição, impressão e reprodução de gravações
- Bebidas
- Coque, álcool e elaboração de combustíveis nucleares
361
18
20
22
159
231, 233, 234
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