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A gente se organizou, eram três comunidades, só trabalhador de
fazenda, morador e alguns pequenos proprietários. No início eram
100 famílias, ficamos procurando, chamando os vizinhos,
conseguimos nos reunir. Aí a gente foi procurar uma área que
pudesse fazer uma ocupação. Era 30 de setembro de 1991. A data
da nossa primeira saída para procurar uma área, a ocupação foi
neste mesmo dia, agente já tinha mapeado a área que íamos nos
estabelecer, pelo menos à princípio, para a notícia poder chegar lá
na Secretaria de Agricultura, na Polícia, na Prefeitura, seja onde
fosse. A primeira área ocupada, era uma terra da União Era a
fazenda Rockfeler no município de São Gonçalo-RN que era do
Estado. Sabíamos que era da União, por isso tivemos essa escolha
por essa área desocupada e improdutiva, do Estado. Não tínhamos
preparo nem a intenção de nos confrontar com nenhum fazendeiro
da região, sabíamos que eles contratavam pistoleiros para matar,
queríamos um negócio mais fácil, pois quem estava no grupo eram
trabalhadores rurais e suas famílias em busca de uma terra para
trabalhar. (...) Logo quando chegamos lá mandaram o pessoal da
polícia fazer investigação. Começamos a negociação com o Secretário
da Agricultura de São Gonçalo. Tudo isso depois da ocupação. O
confronto foi muito difícil, eles diziam que a gente estava na área
da União. A gente insistia que queria uma área não importava
onde. Nesses dias a gente ia fazendo nossas barracas, fazíamos
fogueira, e começamos a plantar uma horta. O pessoal da cidade e
da igreja mandava feira, tinha umas irmãs (freiras) que vinham
trazer coisas (alimentos e roupas) para a gente. Não tivemos
resultados, os homens da Secretária de Agricultura, não cederam,
eles perguntavam: se vocês concordaram em sair porque estavam
plantando e limpando o local? Nós respondíamos queríamos a
indicação de uma terra para fazer nosso acampamento. Essa
discussão levou algum tempo, foi um momento de muito nervosismo,
eu não sei ao certo mas ainda ficamos lá uns trinta dias. Depois
desse tempo tivemos que procurar outra área para fazer uma
segunda ocupação. O pessoal já estava ficando desanimado, mas
ninguém tinha desistido ainda, algumas mulheres foram com suas
crianças pequenas para a casa de seus pais e parentes em
Riachuelo, mas continuávamos resistindo. A Segunda ocupação foi
na região do Marajó-RN, era uma terra desocupada, eles falaram
que iriam nos dar uma área para a construção de um assentamento
rural, mandaram um caminhão de comida, mas o resultado da
terra ainda não tinha sido acertado. Nós ficamos um pouco