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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE MESTRADO
MESTRADO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
JANICE MARIE SMREKAR ALBUQUERQUE
REVOLUÇÃO FEMININA SILENCIOSA :
A Universitária Católica Recifense e a Construção de uma Nova Identidade Psicossocial
e Ético-Religiosa
RECIFE / 2007
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JANICE MARIE SMREKAR ALBUQUERQUE
REVOLUÇÃO FEMININA SILENCIOSA :
A Universitária Católica Recifense e a Construção de uma Nova Identidade Psicossocial
e Ético-Religiosa
Trabalho de dissertação apresentado como
requisito parcial à obtenção do título de
mestre em Ciências da Religião, pela
Universidade Católica de Pernambuco.
Orientador: Prof. Dr. Pe.Luiz Alencar
Libório
RECIFE / 2007
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A345r Albuquerque, Janice Marie Smrekar
Revolução feminina silenciosa : a universitária católica recifense
e a construção de uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa /
Janice Marie Smrekar Albuquerque ; orientador Luiz Alencar Libório,
2007.
269 f : il.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica de Pernambuco.
Pró-reitoria Acadêmica. Curso de Mestrado em Ciências da
Religião, 2007.
1. Mulheres - Vida religiosa - Recife. 2. Pluralismo religioso.
3. Magistério da Igreja. 4. Mulheres - Identidade. 5. Cristianismo. I.
Libório, Luz Alencar. II. Título.
CDU 396:2
JANICE MARIE SMREKAR ALBUQUERQUE
REVOLUÇÃO FEMININA SILENCIOSA :
A Universitária Católica Recifense e a Construção de uma Nova Identidade Psicossocial
e Ético-Religiosa
Dissertação apresentada à Universidade Católica de Pernambuco, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.
Aprovada em 28 de Março de 2007 com o conceito Distinção
Profª. Drª Giselda Brito Silva, Universidade Federal de Pernambuco
Prof. Dr. João Luiz Correia Jr, Universidade Católica de Pernambuco
Prof. Dr. Pe. Luiz Alencar Libório, Universidade Católica de Pernambuco
RECIFE / 2007
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às 178 universitárias católicas recifenses que participaram da
pesquisa com a esperança que suas experiências de vida e reflexões sobre a sua
espiritualidade pudessem contribuir para o repensar do “ser-mulher” pela Igreja Católica.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Bento, meu marido, e aos meus filhos Katy, Robby e Steve, e ao meu genro
Carlos, o seu apoio e estimulo irrestritos durante todo o processo do Mestrado, desde a
seleção até hoje;
Agradeço, também, a colaboração da direção e dos professores das instituições de ensino
superior envolvidas neste trabalho CATÓLICA e FAFIRE e das alunas participantes da
pesquisa, sem o que não teria sido possível a sua realização;
Agradeço ao Prof. Dr. Pe. Luiz A. Libório por sua competente orientação e avaliação ao longo
deste trabalho;
Agradeço, também, às pessoas que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho:
- Maristela Veloso, amiga, colega e incentivadora;
- Mary Freire, amiga, pela competente correção de português;
- Prof. Bartolomeu Santos pelo abrangente tratamento estatístico dos dados, inclusive
com sugestões que melhoraram o trabalho;
- Karla Cíntia, sempre disposta de executar os serviços de digitação.
RESUMO
A presente dissertação tem como objetivo geral detectar e analisar a construção de uma nova
identidade psicossocial e ético-religiosa feminina, através da vivência e das representações
que a universitária católica recifense faz sobre as orientações do magistério da Igreja Católica
concernentes à mulher diante os desafios do mundo contemporâneo. O trabalho visa resgatar
as principais orientações da Igreja sobre mulher depois do Concílio Vaticano II, levantar
dados sobre a realidade da mulher brasileira nos campos de corporeidade, sexualidade e saúde
reprodutiva e confrontar o magistério da Igreja com a espiritualidade vivenciada pela mulher
ante os desafios que enfrenta hoje. A hermenêutica de gênero é usada como instrumento de
interpretação na análise do magistério da Igreja e dos resultados da pesquisa. As duas
instituições de ensino superior (IES) de orientação religiosa católica, a Universidade Católica
de Pernambuco (CATÒLICA) e a Faculdade Frassinetti de Recife (FAFIRE), participantes da
pesquisa de campo, colaboraram na verificação, junto às suas alunas católicas, da construção
da sua identidade psicossocial e ético-religiosa e da vivência da sua espiritualidade feminina.
Como parte da metodologia, foi realizada uma pesquisa de campo com a aplicação de um
questionário fechado de 31 questões a uma amostra aleatória de um total de 178
universitárias, das duas IES. Houve análises quantitativa e qualitativa de dados, com a
proposta de posterior transferência de resultados às IES e outras instituições/conselhos
interessados no tema. Os resultados demonstram os elementos constitutivos da nova
identidade da universitária católica recifense nos aspectos psicológico, social, ético-religioso e
cultural no enfrentamento de desafios contemporâneos diante do Magistério da Igreja Católica
podem contribuir para estimular a reflexão sobre possíveis estratégias integradoras da
vivência da nova identidade psicossocial e ético-religiosa feminina na mesma.
Palavras-chave:
hermenêutica de gênero, identidade e pluralismo religioso, cristianismo e modernidade, ética
e práticas sócio-religiosas, magistério da Igreja
ABSTRACT
The principal objective of this dissertation is to detect and analyse the construction of a new
psicological, social and ethicalreligious identity of the female catholic university student in
Recife. By means of her life style and conceptual representations, she evidences a
confrontation between the Catholic Church´s magistery and the challenges she faces in
today´s world. This academic work proposes to indicate the Catholic Church´s principal
orientations about women elaborated since Vatican Council II, to identify problemas faced by
women referring to corporality, sexuality and reproductive health and to confront the
Church´s teachings with the living spirituality of the women as they face challenges in the
modern world. Gender hermeneutics is used as the interpretative instrument of analysis of the
Church´s magistery and the results of the reseach.A characterization of the two Institutions of
Superior Education, the Catholic University of Pernambuco (CATÒLICA) and the Frassinetti
College of Recife (FAFIRE), where the survey was conducted, has been elaborated, as well
as the verification of the catholic female students´ construction of their new psychological,
social and ethical-religious identity, and the day by day living of their feminine spirituality.
The methodology of the research involves a field survey of 178 catholic women, from the two
educational institutions, by means of a questionnaire with 31 closed questions. The
conclusions are a result of quantitative and qualitative analyses, which will later be socialized
with the educational institutions and other institutions and councils interested in this theme.
The results of the research are the identification of the psycological, social, ethical, religious
and cultural elements constituting the new identity of the female catholic university student in
Recife as she faces contemporary challenges in her relation with the Catholic Church
magistery. It is hoped that these results will contribute to a reflection about possible
integrative educational and pastoral strategies to help catholic women live their new identity
in this complex world.
Key words:
gender hermeneutics, identity and religious pluralism, ethics and social and religious
practices, christianity and modernity, Catholic Church magistery
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................9
2 HERMENÊUTICA DE GÊNERO.....................................................................................21
2.1 HERMENÊUTICA COMO CIÊNCIA E ARTE DE INTERPRETAÇÃO .......................22
2.2 PRODUZINDO GÊNERO .................................................................................................27
2.2.1 A Trajetória Histórica...................................................................................................27
2.2.2 Gênero como categoria de análise histórica ................................................................30
2.3 RETROSPECTIVA DA HERMENÊUTICA FEMINISTA LATINO-AMERICANA.....33
2.4 HERMENÊUTICA DE GÊNERO COMO INSTRUMENTO DE INTERPRETAÇÃO ..35
3 OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS ENFRENTADOS PELA MULHER
CATÓLICA NO BRASIL......................................................................................................49
3.1 MODERNIDADE, RELIGIÃO E SECULARIZAÇÃO....................................................50
3.2 PRINCIPAIS CATEGORIAS NA ANÁLISE DOS DESAFIOS ......................................54
3.2.1 Da esfera privada à esfera pública ...............................................................................54
3.2.2 Corporeidade: símbolo e poder....................................................................................62
3.2.3 Gênero, sexualidade e religião......................................................................................71
3.2.4 A crise da identidade religiosa feminina no mundo secularizado .............................80
4 O MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA VERSUS A ESPIRITUALIDADE
VIVIDA PELA MULHER .....................................................................................................93
4.1 A MULHER E A IGREJA NA AMÉRICA LATINA .......................................................95
4.2 A MULHER NOS DOCUMENTOS DE MEDELLIN (1968), PUEBLA (1979) E SANTO
DOMINGO (1992) ...................................................................................................................99
4.3 O MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA SOBRE A MULHER DEPOIS DO
VATICANO II VERSUS A VIVÊNCIA DA MULHER........................................................103
4.4 ALGUMAS INTERPRETAÇÕES DAS ORIENTAÇÕES DA IGREJA SOBRE A
MULHER REFERENTE À FAMÍLIA, À CORPOREIDADE, À SEXUALIDADE E À
SAÚDE REPRODUTIVA......................................................................................................133
4.4.1 Sexo e a Igreja ..............................................................................................................135
4.4.2 Casamento, divórcio, recasamento, anulação ...........................................................136
4.4.3 Homossexualidade .......................................................................................................137
4.4.4 O corpo da mulher.......................................................................................................138
5 A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E ÉTICO-
RELIGIOSA..........................................................................................................................141
5.1 O PERFIL DA UNIVERSITÁRIA CATÓLICA RECIFENSE.......................................141
5.2 A UNIVERSITÁRIA E SUAS REFLEXÕES SOBRE A SUA PARTICIPAÇÃO NA
PESQUISA .............................................................................................................................145
5.3 A BUSCA DA DEFINIÇÃO DA IDENTIDADE............................................................150
5.4 REVOLUÇÃO FEMININA SILENCIOSA: A NOVA IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E
ÉTICO-RELIGIOSA DA UNIVERSITÁRIA CATÓLICA RECIFENSE............................152
5.4.1 A revolução feminina silenciosa.................................................................................153
5.4.2 A nova identidade psicossocial e ético-religiosa ante os desafios.............................155
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................163
REFERÊNCIAS....................................................................................................................170
APÊNDICES .........................................................................................................................179
APÊNDICE A........................................................................................................................180
APÊNDICE B........................................................................................................................189
APÊNDICE C........................................................................................................................203
9
1 INTRODUÇÃO
A presente dissertação pretende analisar a construção de uma nova identidade
psicossocial e ético- religiosa da mulher universitária católica de duas Instituições de Ensino
Superior (IES) de orientação religiosa católica, no Recife, diante dos ensinamentos e
orientações da Igreja Católica sobre a mulher e dos desafios e problemas vividos e sofridos
por ela hoje, num mundo complexo e de valores psicossociais e ético-religiosos conflitantes.
A questão colocada é se as orientações teológicas / religiosas / pastorais estão atendendo aos
desafios contemporâneos enfrentados pela mulher católica universitária recifense e como o
magistério da Igreja está contribuindo para a construção da identidade e espiritualidade
femininas neste mundo dilacerado por problemas éticos, políticos sociais, familiares,
econômicos e culturais. Noutras palavras, qual é a influência da cultura e sociedade brasileiras
na fundamentação psicossocial e ético-religiosa das vivências e representações desta mulheres
e qual é o significado do papel da Igreja Católica na orientação da vida destas mulheres?
Esta pesquisa está dirigida à mulher universitária católica. Quem é esta mulher?
Porque somente ela, e não o universitário católico? Porque universitária? Porque católica?
A resposta a estas questões envolve uma percepção da dificuldade da mulher
construir a sua identidade psicossocial e ético-religiosa sendo bombardeada por várias forças
simultaneamente: as exigências econômicas, políticas, sociais, éticas e culturais da
modernidade; a situação de “ser-mulher”como mãe / esposa / filha, dona-de-casa / intelectual
/ trabalhadora / amiga / amante e as orientações do magistério da Igreja Católica sobre
questões pertinentes ao “ser-mulher” hoje.
O homem tem se afirmado historica, institucional e biblicamente. A sua afirmação
masculina tem tido implicações na sua relação com a mulher, subestimada, inferiorizada e
oprimida por ele, através da construção sócio-cultural das relações de gênero. A luta da
construção de identidade é mais um aspecto da luta feminina no contexto dessas relações.
O segmento da universitária católica foi priorizado por diversas razões.
Inicialmente porque ela é uma mulher mais instruída com uma proposta / projeto de vida; tem
tido e está tendo uma educação que valoriza a reflexão e a crítica; está inserida no contexto
contraditório e exigente da modernidade; está consolidando a construção da sua identidade
com a contribuição de todos os recursos acadêmico-intelectuais disponíveis; é acossada, por
um lado, pela secularização e suas conseqüências e, por outro lado, pelo tradicionalismo e
dogmatismo da Igreja Católica. É uma pessoa vivendo um conflito psicossocial e ético-
religioso.
10
A universitária tem uma necessidade premente, nesta fase da sua vida, de resolver
esses conflitos ou se anular psíquica, moral e religiosamente como pessoa. A pesquisa dirigiu-
se à mulher católica porque a Igreja Católica talvez tenha o mais vasto e profundo acervo de
orientações sistemáticas chamado magistério de que qualquer outra religião. Tem
posições, instruções e princípios sobre quase tudo da vida da pessoa católica no contexto
religioso, moral e social mundial. Dentro deste contexto, a mulher sofre mais na construção da
sua identidade porque precisa defender-se, proteger-se, assertar-se como mulher real contra a
construção dogmática da mulher ideal feita pela Igreja Católica.
A caracterização da mulher na Igreja Católica - seu papel, seu poder, seus direitos,
sua subordinação, sua liberdade é histórica e está sempre relacionada ao contexto de gênero,
fenômeno que se constitui de um conjunto de práticas, símbolos, representações, normas e
valores sociais elaborados pelas sociedades, em geral, a partir da diferença sexual anátomo
fisiológica que dominam às relações entre mulheres e homens. “Gênero” é uma construção
social e cultural, um modo de ser no mundo, exigindo uma abordagem ampla e
multidisciplinar, até na interpretação religiosa ou hermenêutica .
A condição das mulheres no Terceiro Mundo é ainda mais complexa ainda e
caracterizada, como afirma Gossman(1995), por uma trama de opressão feita de sexismo,
racismo e pobreza que mantém a maioria das mulheres em posição de subordinação e
exploração. As iniciativas dos movimentos de mulheres do Terceiro Mundo se preocupam
com o entrelaçamento entre a opressão universal e opressão específica das mulheres.
A necessidade de uma maior análise psicossocial e ético-religiosa sobre a questão
da mulher no mundo e na Igreja, tem sido estimulado nos Congressos Mundiais, tanto da
ONU, quanto do Conselho Mundial de Igrejas, inclusive com a proclamação da “Década da
Mulher” (1975-1985) pela ONU.
Está em processo, de modo geral, uma maior atenção à questão de gênero, e
especificamente, à relação gênero e religião, em nível mundial, nas Igrejas Cristãs, mormente,
na Igreja Católica, no mundo e no Brasil.
A pós-modernidade com novos questionamentos e posturas éticas está contibuindo
para a ruptura com tradições, inclusive religiosas. Estimula um processo de reflexão crítica e
pessoal radical que reavalia os conceitos e valores de acordo com sua pertinência à vida
social, como afirma Rodrigues ( 2003).
A crise da religião na modernidade virou irreversível, com múltiplas conseqüências
para todos os aspectos da vida econômico, político, social, psicológico, cultural e até
ambiental contribuindo para o fenômeno da secularização, definido por Martelli (1995)
11
como conseqüência do processo de racionalização que havia transformado o Ocidente. Esta
secularização marcou a ascensão e permanência da racionalidade instrumental que
influenciou, ao mesmo tempo, a marginalização da religião, a dessacralização e o
desaparecimento do sagrado.
A modernidade, e a pós-modernidade com os conseqüentes fenômenos de
secularização, pluralismo e subjetividade, têm contribuído para o surgimento histórico de uma
nova mulher, que nesta dissertação será estudada, em várias frentes relacionadas à sua própria
corporeidade, sexualidade e saúde reprodutiva. A mulher católica moderna está fazendo
releitura de fé, criando novos paradigmas num processo de ampliação da consciência pessoal
e social.
A construção da identidade na jovem adulta, em relação a sua religiosidade, é
influenciada pela maturação religiosa na resposta às necessidades, às exigências e valores que
dão significado à sua vida. Como afirma Fizzotti(1995), a jovem assume uma condição
religiosa não institucional. Neste processo, o significado da religião é elaborado a partir de
valores percebidos como prioritários para sua existência, valores afirmados na revisão crítica
da sua religião.
Libório (2005) ainda esclarece que os valores morais não dependem da crença
religiosa mas de uma interpretação pessoal e valorativa. Este quadro de referência valorativa
corresponde ao seu projeto de vida e a uma vivência religiosa interiorizada. O moderno plural
industrialização, modernização, urbanização, comunicação de massas, secularização leva
às crises de sentido e de identidade. O indivíduo cresce num mundo onde não há mais valores
comuns que determinam o agir nas diferentes áreas de vida, nem existe uma realidade única e
idêntica para todos. O moderno plural leva a uma perda de credibilidade da interpretação
religiosa na consciência, de acordo com Berger e Luckmann(2004). No pluralismo, os antigos
sistemas de valores são “descanonizados”. Neste contexto, a jovem prioriza a construção da
sua identidade pessoal, subordinada à busca do sagrado, em que a experiência religiosa é
vivida numa dimensão de sentido pessoal e interiorizado.
A identidade da mulher historicamente era referenciada pela religião que
estruturava um modo de entender a realidade e o mundo. A resposta para a construção da
identidade religiosa frente a uma crise generalizada de identidade e de sentido é encontrada
na análise do contexto sócio-cultural moderno global, que, ao questionar as tradições,
contribuem para uma fragmentação no sentido do ser humano, de acordo com
Rodrigues(2003).
12
Este processo de desconstrução e reconstrução aponta para novas formulações que
são reações às correntes teológicas e filosóficas existentes. É um passo metodológico que
afirma que a experiência da mulher é o ponto da partida da reflexão teológica dentro de uma
nova maneira de interpretar a realidade, chamado a hermenêutica de gênero ou a
hermenêutica feminista.
Zunhammer (1997) esclarece que hermenêutica é a ciência que se ocupa com a
interpretação de textos, relatórios e escritos de forma geral, e objetiva saber como as
decorrências de um contexto específico e histórico podem ser entendidas num contexto novo.
Implica num desafio, nos sentidos temporal e espacial, onde aquilo que aconteceu precisa ser
compreensível na sua relevância e pertença à nova situação. Para entender a relação da mulher
com a Igreja hoje, é necessário usar um novo paradigma, a hermenêutica de gênero.
A teoria crítica social exige da hermenêutica cientificidade, objetividade e
liberdade de valores. O ponto de vista da hermeneuta expressa uma nova perspectiva, uma
mudança de paradigma, que, para uma hermenêutica feminista ou de gênero, não seria
androcêntrica (visão dos homens e centrado neles: matriz cultural masculina), mas
antropocêntrica (visão de igualdade de gênero e centrado na pessoa humana), afirmando a
experiência da mulher como fonte de cientificidade para validar fenômenos políticos e sociais.
A partir da tese central, a hipótese principal é que a universitária católica recifense
está construindo uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa diante dos desafios da
sociedade moderna e do magistério da Igreja Católica. Afirma-se que é um processo
consciente de desconstrução de formas tradicionais de conceber e ordenar o “ser-mulher”
católico, influenciado pelos desafios da modernização, secularização e pluralismo da
sociedade ocidental. Nesta crise de identidade, que também é sócio, político, cultural e
religiosa, a mulher universitária católica está reconstruindo a sua identidade, através da
descoberta da necessidade existencial de ser coerente com seu próprio processo histórico que
é dinâmico.
A hipótese secundária é a “ausência de culpabilidade” das universitárias católicas
recifenses pelo comportamento que não seja de acordo com os ditames da Igreja Católica.
Historicamente e, conseqüentemente, teologicamente, a mulher foi considerada fonte de
pecado e suas ações na família, na Igreja, na educação, no trabalho e seu papel na sociedade
foram determinados pela Igreja dentro de uma perspectiva androcêntrica e patriarcal de
repressão da mulher sexual e intelectualmente. Afirma-se que na construção da nova
identidade, os valores psicossociais e ético religiosos impostos à mulher diante a
complexidade, multiplicidade e pluralismo da sociedade atual estão sendo reavaliados e
13
reconstruídos em sua psique / representação de si, e não na perspectiva masculina, machista,
opressora e geradora de culpa. A nova identidade implica em nova consciência, no âmbito
psicossocial e ético-religioso, liberada da ideologia histórica que representa a mulher como
essência de pecado.
Os procedimentos metodológicos da pesquisa abrangeram pesquisa bibliográfica e
documental e pesquisa de campo, através de questionário quali-quantitativo junto a mulheres
católicas universitárias de duas Instituições de Ensino Superior (IES) de orientação
confessional católica no Recife, Pernambuco.
A pesquisa bibliográfica reuniu fontes sobre os desafios contemporâneos
enfrentados pela mulher, utilizando livros, artigos de revistas acadêmicas e religiosas, jornais
e artigos por internet. Houve consulta ao IBGE Censo 2000 sobre família, nupcialidade,
fertilidade, além de pesquisas do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais
(CERIS) e da Fundação Perseu Abramo.
A pesquisa documental sobre o magistério da Igreja, recorreu a nove cartas,
declarações e encíclicas, publicadas pela Igreja Católica depois do Concílio Vaticano II, que
tratam de questões pertinentes à vida da mulher católica família, filhos, corporeidade e
sexualidade nos seus diversos e polêmicos aspectos, hoje. Incluiu também, avaliações sobre
os documentos de Medellin, Puebla e Santo Domingo, resultados das conferências do
Conferência do Episcopado da América Latina (CELAM). Foram tomadas em consideração
as reflexões de teólogos e teologias de renome nacional e internacional, que tenham se
posicionado enfática e publicamente contra e a favor da doutrina da Igreja sobre a vida e as
decisões do casal e da mulher referente família, corporeidade e sexualidade. Todas as opiniões
não são favoráveis nem tradicionais, existem polêmicas radicais que não se calam somente
por ordem da Igreja.
O estudo sobre a hermenêutica de gênero se embasa no pensamento de teólogas
que têm se dedicado à luta de reconhecimento desta nova e revolucionária epistemologia, que,
também, atende pelos nomes de hermenêutica feminista, hermenêutica de suspeito, teologia
feminista e teologia da mulher.
A pesquisa de campo foi aplicada em duas instituições, a Universidade Católica de
Pernambuco (CATÒLICA) e a Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE), junto a 178 alunas
declaradas católicas, sendo 116 na UNICAP e 62 na FAFIRE.
A elaboração do questionário envolveu extensivo e intensivo estudo teórico para
fundamentar o conteúdo do questionário na tentativa de garantir uma análise aprofundada da
construção de uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa da universitária católica
14
recifense frente ao magistério da Igreja ante os desafios da família, corporeidade e
sexualidade enfrentados por ela. O questionário foi composto de 31 questões em 4 setores
inter-relacionados sobre práticas e ensinamentos religiosos, vida, corpo e sexualidade,
pensamentos e sentimentos sobre a espiritualidade, além de informações pessoais, através de
197 variáveis, num total de 14 paginas(Apêndice B). Houve um pré-teste que estabeleceu um
tempo de preenchimento de 30 minutos, em média, e corrigiu algumas dificuldades de
entendimento de questões.
As questões foram de natureza fechada, mas exigiam reflexões aprofundadas dos
alunos para poder respondê-las, atendendo às características de pesquisa denominada quali-
quantitativa por revelar na sua elaboração, preenchimento e subseqüente interpretação, uma
qualificação do conhecimento. Há percepção das oposições contraditórias entre o todo e a
parte e os vínculos do saber e do agir com a vida concreta das mulheres. A quantificação
segue a linha de medida de atitudes, que estabelece uma escala de predisposição das mulheres
diante de um objeto social, o magistério da Igreja num mundo dos desafios contemporâneos
enfrentados pela mulher universitária católica, traduzida em escolha de posicionamento que
reflete uma orientação positiva ou negativa. Por meio de escalas, procura-se medir o grau de
aceitação ou rejeição da mulher a respeito da sua relação práticas e crenças com a Igreja
Católica hoje e da forma como conduz à sua existência de “ser- mulher” diante dos desafios.
Os conceitos principais: desafios contemporâneos, magistério da Igreja e
hermenêutica de gênero foram traduzidos em dados mensuráveis operacionalizados em
indicadores que permitiram registrar a presença ou ausência de comportamentos. Nos dados
observáveis, são evidentes as práticas, descritas através da sua freqüência, ou as respostas às
questões de crença e opinião. A combinação dos diferentes indicadores quantificáveis forma
um índice de dados que permitirão constatar a teoria em questão. Na valorização da
contradição dinâmica dos fatos observados, há um ativo descobrimento do significado
qualitativo das ações e das relações que se ocultam na complexidade do conceito de gênero na
estrutura da Igreja Católica hoje.
Na abordagem às alunas, em tempo de sala de aula cedido pelos professores,
orientados pela direção e chefes de departamentos das duas IES, a pesquisa foi, em todas as
salas, apresentada pela pesquisadora, indicando os objetivos da mesma, a sua importância
para a mulher e para a Igreja, o tipo de questionário (fechado) e o tempo médio de
preenchimento. Cada aluna recebeu uma carta de esclarecimentos para seu uso pessoal,
inclusive com os telefones da pesquisadora para qualquer contato futuro. A proposta da
pesquisa foi discutida inicialmente com a reitoria da CATÓLICA e direção da FAFIRE, cada
15
instituição responsabilizando setores pela colaboração na divulgação e realização junto aos
professores e alunos. A pesquisa cumpriu as exigências das comissões de ética do Ministério
de Saúde e de cada IES, cada aluna assinando um termo de consentimento antes de preencher
o questionário. O questionário era anônimo, sendo entregue à parte do consentimento,
dobrado e selado para garantir o anonimato.
Todas as alunas que preencheram o questionário, se ofereceram voluntariamente
para participar. Houve exposição pessoal da pesquisadora que também acompanhou a
totalidade do processo de aplicação, inclusive se dispondo à esclarecimentos necessários
durante a aplicação. Os critérios da participação foram: ter 20 anos ou mais, auto-denominar-
se católica, estar cursando os últimos 4 períodos. Este último critério garantiu a aluna ter uma
convivência universitária de pelos menos 2 anos.
A convivência universitária permitiria a exposição da aluna aos programas da
pastoral universitária, à filosofia de cada IES que é confessional e às discussões, debates e
atividades universitárias relacionadas às questões de gênero e religião.
O perfil geral das 178 universitárias católicas participantes da pesquisa demonstra
que elas são, na sua maioria, solteiras com a idade entre 20 e 29 anos, brancas, cursaram o
segundo grau em escola particular confessional, não têm filhos, advêm de famílias de
influência católica, têm renda familiar de mais de 5 salários e são alunas trabalhadoras através
de estágio ou emprego.
A pesquisa foi aplicada em 9 dos 29 cursos da CATÓLICA junto a 116 alunas e
em todos os 6 cursos da FAFIRE. Na CATÓLICA na época da pesquisa de campo, nos meses
de agosto e setembro, existiam 3 centros acadêmicos. De cada centro foram escolhidos os
cursos com maior freqüência feminina, sendo estes: Centro de Ciências Sociais: direito,
serviço social, comunicação social e administração; Centro de Teologia e Ciências Humanas:
história, psicologia e teologia; Centro de Ciências e Tecnologia: fisioterapia e biologia. Na
Fafire, alunas de todos os cursos participaram: turismo, psicologia, letras, ciências biológicas,
pedagogia e administração, totalizando 62 alunos. Foram aplicados 10 questionários em
média, em cada curso das duas IES.
Os resultados da pesquisa serão devolvidos e divulgados, em 2007, através de
seminários que serão organizados nas duas universidades e abertos a toda comunidade
universitária. Haverá uma chamada especial para as participantes conhecerem o valor da sua
colaboração coletiva para o êxito da investigação. Esta informação foi comunicada às
universitárias, enfatizando o direito delas e da sua universidade de saber dos resultados da
pesquisa da qual foi sujeito participante essencial. Todos gostaram da notícia e algumas
16
alunas concluintes enfatizaram que vão procurar notícias do seminário no primeiro semestre
de 2007 para voltar à universidade no intuito de assisti-lo.
A contextualização do universo da pesquisa contribuirá para a compreensão de
determinantes presentes na construção da nova identidade psicossocial e ético-religiosa da
universitária católica recifense.As duas IES são confessionais, seus princípios embasam-se em
congregações religiosas cujos fundadores adotaram posições, historicamente, referente a
importância da relação entre educação e religião. As duas instituições, também, têm
programas de pastoral dirigidos ao corpo discente de forma geral.
A Universidade Católica de Pernambuco ou CATÒLICA, como preferiu ser
chamada, em 2006, quando trocou a sua logomarca UNICAP pela designação CATÒLICA
com o qual é conhecida há décadas, foi fundada há 55 anos em 27 de setembro de 1951. Foi
iniciativa da Companhia de Jesus, e é a primeira universidade sob orientação religiosa no
Nordeste. Os padres da Companhia de Jesus, presentes no Brasil desde o século XVI, eram
conhecidos pelos trabalhos no Colégio Nóbrega, desde o início do século XX.
Hoje ocupa uma área de quase 66.000m
2
no bairro da Boa Vista no Recife, com
grande área arborizada, num complexo de 5 grandes blocos. Atende alunos de graduação, pós-
graduação lato senso (especialização, pós-graduação latu senso (MBA), pós-graduação strito
senso (mestrado), extensão e ensino fundamental e médio no Liceu de Artes e Ofícios, ,
totalizando cerca de 16 mil estudantes. Entre professores e funcionários técnicos e
administrativos, 1027 pessoas contribuem para o empenho institucional como agentes
participantes no processo de desenvolvimento da CATÓLICA. A CATÓLICA atualmente
oferece 29 cursos de graduação em 5 centros (criadas em outubro de 2006), com um total de
11.349 alunos, em 2006.
A Carta de Princípios da Universidade Católica de Pernambuco é o seu marco
referencial. Define os princípios que fundamentam a sua missão, orientam o seu
funcionamento, a visão da sua contribuição no Nordeste, e o seu comprometimento com a
ética cristã e humanista. Os princípios priorizam educar nos valores inspirados na visão cristã
do mundo e do ser humano e na tradição e atualidade da Companhia de Jesus, de modo a
formar pessoas capazes de preservar o primado do ser humano e de contribuir para a
construção de um mundo onde reinem a verdade e a justiça. É missão da CATÓLICA,
preservar, elaborar e transmitir o conhecimento, de modo a formar o ser humano para
desempenhar uma atitude construtiva a serviço de sua comunidade e de sua região.
A CATÓLICA conduz um serviço pastoral inspirado na espiritualidade de Santo
Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus, e tem por premissa básica “amar e
17
servir a todos”. A atuação da Divisão de Ação Pastoral (DAP) desenvolve-se a partir de três
dimensões: pastoral profética, que envolve as ações de batismo, crisma, primeira eucaristia,
semana bíblica e cursos bíblicos, momentos de oração e celebração eucarística; pastoral
litúrgica que abrange as missas diárias, especiais e aos sábados e o ofício divino das
comunidades. A terceira dimensão, a pastoral social, orienta múltiplas atividades: jornadas,
encontros, atendimento espiritual, orientação geral religiosa, campanhas, grupos do caminho e
do voluntariado, projetos sociais de assistência, universitário do Interior; grupo FLUI Fórum
Latino-Americano de Universitários Inacianos; semanas Inaciana, da mulher e da Bíblia, além
de momentos de confraternização.
A DAP calcula que em 2005, somente entre os universitários, houve um total de
19579 participações nas atividades oferecidas. O número total de participações é maior
porque funcionários, professores e pessoas externas a CATÓLICA também freqüentam
muitas atividades, sem contar com as pessoas beneficiadas pelas ações de assistência.
É requisito para todos os alunos de todos os cursos de graduação, freqüentar duas
disciplinas de teologia durante o decorrer da aprendizagem universitária. Estas disciplinas são
chamadas Introdução à Teologia e Humanismo e Cidadania, administradas pelo Departamento
de Teologia.
A Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE) surgiu no cenário político após a II
Guerra Mundial e o Estado Novo de Getúlio Vargas. As mulheres tinham pouco acesso a
educação superior, e 70% da população ainda viviam no campo. A FAFIRE foi inaugurada no
dia 13 de março de 1941, numa época que a graduação máxima para as mulheres era o
magistério. Foi concedido autorização para a criação do Instituto Paula Frassinetti em
novembro de 1940 abrangendo o funcionamento dos cursos de filosofia, matemática,
geografia, história, ciências sociais, pedagogia e letras neolatinas e anglo-germânicas.
O Instituto mudou seu nome para a Faculdade de Filosofia do Recife, e
posteriormente para a Faculdade Frassinetti do Recife. Em junho de 1941, a FAFIRE foi
incorporada a antiga Universidade do Recife, pois faltava à futura Universidade Federal
cursos na área de Humanas. Até 1974 funcionou como instituição de ensino superior só para
mulheres, quando começou a admitir alunos de ambos os sexos.
Em 2006, a FAFIRE completou 65 anos. Atualmente oferece cursos de graduação
em ciências biológicas, psicologia, turismo, administração, letras e pedagogia. Tem 58 cursos
de pós-graduação latu-sensu, perfazendo um total de cerca de 4000 alunos na faculdade e um
corpo docente de 170 professores. Há estudo para a implantação de dois novos cursos de
graduação a partir de 2007.
18
De acordo com o Balanço Social 2005 , o conjunto de princípios que fundamentam
a ação educativa da FAFIRE e a tornou uma instituição respeitada na comunidade acadêmica
de Pernambuco, tem sua inspiração no Evangelho, nas Diretrizes do Magistério da Igreja
Católica e na Intuição pedagógica de Paula Frassinetti, uma grande educadora do século XIX.
O seu slogan “Tradição e Modernidade”, espelha o sentido de sua missão que inclui abertura
diante das mudanças radicais que estão se processando. Ao afirmar que o ser humano é
transcendental, a FAFIRE orienta seu projeto de formação a ser vivenciado nas experiências
das práticas sociais planejadas que devem expressar valores, posicionamentos e
compromissos que traduzem nos objetivos últimos que orientam a natureza e a humanidade, a
teleologia. Para a FAFIRE estes constroem a plenitude da vida humana, expressando o
compromisso social da Instituição.
A FAFIRE, a partir do Plano Interprovincial de Educação (2003-2005), incorpora
em seu Plano Pedagógico Institucional (PPI), a perspectiva do Compromisso Social em todas
as suas ações, especialmente na docência, pesquisa e extensão. Esse compromisso vai se
realizando no desenvolvimento de projetos e ações específicas junto às populações, trazendo
uma nova contribuição para o processo de formação dos futuros profissionais, favorecendo-
lhes a oportunidade de vivenciar formas de organização social alicerçadas na solidariedade,
no respeito à dignidade da pessoa e na busca do bem coletivo.
O Serviço de Animação e Ação Pastoral tem como objetivo geral promover a
vivência dos valores evangélicos, em meio à comunidade acadêmica, através de aulas,
encontros, celebrações, palestras e práticas que respondam às exigências dos tempos atuais.
Promove a vivência dos valores Evangélicos, nas quatro dimensões: espiritualidade, ação
social, cultural e lazer. Atualmente, a Pastoral desenvolve mais de 30 projetos, com o apoio de
um grupo de voluntários, formado por alunos, professores e funcionários, articulando-se
regionalmente com outros serviços de igual motivação. É responsável pelo acolhimento aos
novatos, celebrações da Eucaristia, da Palavra de Deus, do Natal e da Páscoa.
Além do atendimento pessoal, assume a preparação para os sacramentos da
iniciação cristã e retiros universitários. Oferece apoio à formação de grupos, anima a
Campanha da Fraternidade; realiza confraternizações, o intervalo bíblico, o mês Mariano,
campanhas , publicações, momentos culturais. Suas linhas de ação envolvem também: missão
jovem com jovens no interior de Pernambuco,trabalho em comunidade popular; arte no
presídio, Fest Paula; mês das vocações e da Bíblia, celebrações e confraternizações, mês
Mariano, estudo de temas atuais; eventos interdepartamentais e encontros da articulação das
Pastorais Universitárias Católicas.
19
Na FAFIRE somente os cursos de licenciatura têm a disciplina “Cultura Religiosa”
como obrigatória.
O conhecimento construído na dissertação é organizado em quatro capítulos. A
hermenêutica de gênero é o assunto do primeiro capítulo, a partir da opção epistemológica do
significado de gênero como categoria de interpretação do processo da valorização-negação da
mulher historicamente pela Igreja Cristã, e especificamente Católica, até hoje. A reflexão
neste capítulo envolve a discussão de hermenêutica como ciência e arte de interpretação, uma
retrospectiva da hermenêutica feminista latino-americana e a hermenêutica de gênero como
instrumento de interpretação do posicionamento do magistério da Igreja Católica. Este quadro
teórico-metodológico embasa a interpretação das informações coletadas na pesquisa de
campo.
O segundo capítulo trata dos desafios contemporâneos enfrentados pela mulher
jovem no Brasil. Estes desafios foram analisados através de quatro categorias principais: a
mudança da participação social da mulher da esfera privada para a pública; a corporeidade,
seus símbolos e seu poder; gênero e sexualidade e a crise da identidade religiosa feminina no
mundo secularizado.
No terceiro capítulo é desenvolvida uma reflexão sobre o discurso do magistério
da Igreja Católica que versa sobre mulher, família e sexualidade, através do estudo de nove
documentos produzidos após o Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja de 1993, e dos
comentários de teólogas e teólogos que assumem um posicionamento crítico-analítico
referente aos ensinamentos da Igreja, diante das graves questões ético-religiosas e
psicossociais que ela enfrenta. Ao longo do capítulo, o discurso é confrontado pelas posições /
práticas / ações / sentimentos concretos da universitária católica recifense, expressos na
pesquisa.
O último capítulo interpreta os resultados gerais da pesquisa, afirmando a
construção de uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa da mulher universitária
católica recifense e a constatação dos elementos constitutivos desta identidade: psicológicos,
sociais, éticos, religiosos e culturais. Contempla uma inter-relação lógica de conceitos de
modernização, secularização, identidade cultural e desenvolvimento da religiosidade na jovem
na construção da identidade ético-religiosa. São elementos que influenciam o confronto da
condição “ser-mulher” hoje com o magistério da Igreja Católica.
As repercussões para a identidade religiosa da mulher católica incluem a
reavaliação da tradição religiosa e uma reinterpretação das questões relevantes à gênero,
confrontando os valores do catolicismo e suas orientações oficiais com os valores da
20
modernidade, vividos ou não pela universitária católica recifense diante de sérios desafios
contemporâneos. Os resultados do trabalho afirmam sua relevância para a área de ciências da
religião e pretendem contribuir para as áreas de identidade e pluralismo religioso e
cristianismo e modernidade através de uma análise da experiência e do sentido religioso da
mulher católica, a partir da perspectiva de hermenêutica de gênero. É uma interpretação que
confronta o patriarcalismo e o androcentrismo desenvolvidos por homens na Igreja e o
processo de construção da identidade da mulher católica na sua relação com a
institucionalização dessa cultura masculina. Sua proposta, como estudo na área de ciências da
religião, é independentizar-se dos estudos teológicos doutrinários / dogmáticos e/ou
missiológicos para apresentar um aspecto controverso do fenômeno religioso em questão.
21
2 A HERMENÊUTICA DE GÊNERO
Faz-se necessária, inicialmente, uma reflexão sobre hermenêutica como ciência de
interpretação para entender a hermenêutica de gênero, sua trajetória história na América
Latina e sua importância como instrumento de interpretação da experiência de “ser-mulher”
na Igreja Católica, assuntos principais deste capítulo.
O processo metodológico se expressa pela definição de meios e instrumentos de
ação a partir das seguintes condições: a especialidade da realidade de trabalho (a natureza
contextual), os objetivos a serem alcançados referentes ao objeto e as relações pedagógicas
entre o profissional e a população (o público como contexto). As competências em empregar
instrumentos e técnicas não podem ser confundidas ou identificadas como metodologia.
O processo metodológico, a metodologia, o quadro teórico metodológico implica
em três dimensões, todas interdependentes: a teórica, a técnica e a política.
A dimensão teórica fundamenta, a técnica operacionaliza e a política produz ou
reforça uma concepção do mundo com determinadas relações. Nenhuma metodologia é
neutra, toda e qualquer ação tem dimensão política, uma opção de perspectiva que pode ser
chamada de interpretação ou hermenêutica.
A técnica (as vezes chamada de método) é uma teoria em atos. Quando se fala em
instrumentos e técnicas não se refere simplesmente a uma mecânica, mas a um conjunto de
atos dentro de uma sistemática dada, que, implícita ou explicitamente, revela e se embasa na
existência de uma teoria subjacente. Um trabalho pretendendo cientificidade exige bases
teóricas devidamente explicitadas. A validade da teoria requer confrontos e reelaboração
contínuas a partir dos desvelamentos da realidade na sua dinâmica. Porém, a questão
pertinente é até que ponto a teoria identificada na dinâmica e sistemática dos instrumentos e
técnicas esclarece ou mistifica a realidade.
O instrumento teórico é um instrumental metodológico para pensar, interpretar e
definir a realidade, determina a técnica ou instrumental da investigação e sua justificativa. A
falta de uma consciência clara sobre o porquê de uma determinada técnica, sua significação
sócio-política, só tem a contribuir para a afirmação/reprodução de formas viciadas de pensar e
não para a criação de novo conhecimento do mundo. A percepção e aceitação da dimensão
política, presente sempre em toda metodologia, desnuda o cientista da sua neutralidade e,
conseqüentemente, o leva a se vestir com uma verdade cuja natureza é relativa.
Para analisar a questão da construção pela mulher de uma nova identidade ético-
religiosa, primeira, e imprescindivelmente, é preciso saber mais sobre como interpretar, mas
22
como interpretar a partir de uma perspectiva (ou paradigma) que hoje tem os nomes de
hermenêutica feminista, hermenêutica de gênero, teologia feminista, teologia da mulher, até a
hermenêutica de suspeita. Todos apontam para uma nova forma política e ética de discernir e
analisar as relações de gênero, a partir do cotidiano da mulher, no seu conhecimento de
Deus/Deusa, valorizando as experiências dela ao questionar as tradições androcêntricas da
Igreja Cristã, especialmente a Igreja Católica.
Esta reflexão antecede todas as outras, então é nela que serão centrados os esforços
teóricos sobre a hermenêutica. O quadro teórico-metodológico de investigação, a linguagem e
conteúdo dos próprios quesitos da pesquisa realizada junto à mulheres universitárias católicas,
a perspectiva de interpretação para orientar a análise de resultados tudo depende de um novo
paradigma teórico que dará cientificidade à análise, uma nova concepção do mundo, a
concepção feminista de ver a relação da mulher com a Igreja que tem representado
historicamente uma ideologia masculina. Ao mesmo tempo, este paradigma questiona as
interpretações patriarcais e faz coro com as reflexões de tantas outras teólogas e mulheres
cientistas da religião (são muitas do mundo inteiro cristão e de todas as religiões cristãs) sobre
a reconstrução, tanto da identidade e papel da mulher, como da sua experiência como fonte de
cientificidade e do fazer teologia.
2.1 HERMENÊUTICA COMO CIÊNCIA E ARTE DE INTERPRETAÇÃO
A hermenêutica, como arte e técnica de interpretação, não é uma ciência nova, mas
se reporta aos tempos da filosofia clássica grega e é desenvolvida dentro das práticas
exegéticas judaico-cristãs.
Foi depois da era renascentista que a hermenêutica definiu três categorias de
interpretação: teológica, filosófico-filológica e jurídica (BRAIDA, 2003). O filósofo e teólogo
alemão Friedrich Schleiermacher (1768-1834) é considerado o precursor da hermenêutica
como fundamento das ciências humanas ou compreensivas, em contrapartida às ciências
naturais ou explicativas. As ciências compreensivas objetivam a compreensão do sentido
intencional das ações históricas concretas da pessoa humana. Este modelo prioriza a relação
sujeito/objeto num contexto histórico/lingüístico e tem como premissa a mútua dependência
entre a parte e a totalidade. É uma pré-compreensão ou ponto de vista, não admitindo a
compreensão só por indução e desconfiando do dado empírico puro (BRAIDA, 2003).
Schleiermacher foi o primeiro filósofo a dar um tratamento sistemático à hermenêutica, uma
23
arte muito antiga, que a levasse a nível de ciência. Antes existiam regras para objetos
específicos, mas não princípios gerais de interpretação.
Braida (2003) esclarece que o mérito de Schleiermacher foi deslocá-la do domínio
técnico-científico para o filosófico, defendendo que a arte de compreender era
intrinsecamente dependente das artes de falar e de pensar. O filósofo ainda afirmava que a
compreensão do discurso do outro se realiza através do conhecimento da linguagem em que
expressou seu pensamento, como, também, o contexto da sua vida e da época em que viveu,
numa interpretação psicológica e “identificação empática” com o autor (BRAIDA, 2003,
p.20).
William Paden (2001) afirma, em concordância com Scheilermacher (quase 200
anos depois) que “três fatores altamente contextualizados se conjugam no momento da
interpretação: (1) o interesse, (2) o público do interprete e (3) o objeto da interpretação”
(PADEN, 2001, p. 200).
Dentro da discussão sobre interpretações Paden (2001) levanta duas expressões
que merecem ser enfocadas agora. A primeira é a famosa frase de Poincaré “a escala cria o
fenômeno” (2001, p.18) e a segunda é o “círculo hermenêutico”, (2001, p.203) que
representam a mesma prática interpretativa: “a posição que a pessoa assume para com um
objeto naturalmente condiciona o modo como o objeto aparece” (2001, p.203).
O estudo da interpretação, a hermenêutica em nosso caso, a interpretação das
relações de gênero no contexto da religião envolve formas de nomear e definir o que hoje é
um complexo campo de conhecimento e reconhecimento da pluralidade de visões do mundo.
É impossível uma única e verdadeira interpretação da religião, na opinião de Paden
(2001), porque cada perspectiva implica em posição, ângulo, linguagem, teoria, contradição,
fragmentação, compromisso, contexto, cultura, concepções de mundo diferentes. Lentes
diferentes, objetos diferentes. “As teorias são como lentes ou escalas conceituais complexas”
(PADEN, 2001, p.19). Paradigmas são esquemas mais amplos em que as teorias são
elaboradas. Tanto no mundo das ciências exatas, como nas humanas e religiosas, os
paradigmas dão coerência aos conceitos que explicam a realidade.
Paden (2001) enumera algumas características do interpretar. O objeto pode ser
um escrito, uma ação, um contexto histórico; o objetivo é revelar o significado do objeto;
pode ser simples ou complexo. Cada cultura produz seus modos de compreender seu mundo,
tem sinais, símbolos; a sua linguagem é o instrumento construído para nomear o mundo, mas
envolve, também, padrões valorativos. É uma construção do mundo, é científico, é criação.
24
Tem significado para pessoas, grupos e culturas determinados; é desenvolvido num contexto
específico: “nunca é desincorporada” (PADEN, 2001, 194).
A contribuição do entendimento sobre interpretação / hermenêutica é essencial
para poder aprofundar a discussão a seguir sobre hermenêutica de gênero. Tânia Sampaio
afirma que:
o proposto de mapear as relações sociais de gênero, na multiplicidade dos
movimentos cotidianos é uma tomada de posição teórico metodológica.
Esta, por sua vez, incide em uma atitude de ruptura epistêmica com as
pretensões de neutralidade na produção do conhecimento ou da
hermenêutica (SAMPAIO, 2004, p.7).
Sampaio esclarece que o marco teórico adotado revela a identificação do autor
com a escolha do objeto e do método do trabalho, que afasta a possibilidade de neutralidade e
da objetividade pura. Afirma “ser a objetividade situada a única concebível, [...] como
questionar o caráter genérico, universal e atemporal dos hermenêuticos” (SAMPAIO, 2004,
p.8).
Sampaio admite a necessidade da subjetividade integrar o método. Reconhece a
impossibilidade de produzir concepções absolutas e totalizantes por incluir a contextualização
da pessoa e seu posicionamento diante do mundo vivido. A escolha do objeto, metodologia e
conceitos fundantes refletem a dinâmica objetividade subjetividade, porém em nenhum
momento como relativização de métodos e conclusões. Esclarece que “admite-se aqui a
subjetividade como integrante do método e integrada ao arcabouço científico que possibilita a
análise e a produção de saber” (SAMPAIO, 2004, p.8).
Leonardo Boff reconhece que a categoria do feminino é objeto de várias ciências,
incluído a teologia. Tem na estrutura de sua construção, obstáculos epistemológicos de base.
Depende de outras ciências ao visar um conteúdo analítico que afasta categorias ingênuas ou
ideológicas que poderão pôr em risco o seu valor (BOFF, 2003). Primeiramente ele levanta
sete pressupostos fundamentais à hermenêutica que envolve o saber interdisciplinar e os
limites de cada ciência sobre o feminino.
“Conhecer é sempre representar o real” (BOFF, 2003, p.38). A realidade do
feminino só é possível ser representada, não reproduzida, e depende, necessariamente, de
conceitos não neutros existentes e herdados do passado.
“Conhecer é sempre construir o objeto do conhecimento” (BOFF, 2003, p.38).
Existe diferença entre o objeto real ou coisa em si cuja objetividade é desconhecida e o objeto
do conhecimento ou as idéias, paradigmas e conceitos construídos teoricamente para se
aproximar à aspectos do real. O real do feminino é um construto e não a sua verdade.
25
“Nosso conhecimento é sempre aproximativo” (BOFF, 2003, p.38). O
conhecimento do feminino não é a verdade absoluta, que em si é impossível de ser atingida. È
sempre uma aproximação, uma tentativa de aprofundar o conhecimento sobre o feminino, um
processo em construção.
“O conhecimento é sempre histórico” (BOFF, 2003, p.39). Depende de
determinantes como tempo, espaço, interesse, produção/construção anterior, instrumentos
teóricos e questões de classe/raça, etnia e religião.
“A tendência do conhecimento é transcender a idéia (construção teórica) e chegar
ao real em si, sem [...] consegui-lo plenamente” (BOFF, 2003, p.39). A experiência embasada
em teoria é essencial para desvendar aspectos novos e reformular as teorias, é o movimento
dialético do racional ao real e real do racional em que o dinamismo da análise crítica
questiona e constrói novo conhecimento.
“Importa pensar o que conhecemos” (BOFF, 2003, p.39). O conhecimento pauta
os nossos modos de ser masculino e feminino.
“Pode-se pensar todos os conhecimentos a partir do absoluto mistério, chamado
Deus” (BOFF, 2003, p.40).
O debate sobre o feminino, historicamente e hoje, é carregado de preconceitos,
considerados obstáculos epistemológicos de base. BOFF (2003b) indica os principais
obstáculos:
a) a soberania da razão analítica ou o racionalismo cientificista como mediação
única e reducionista para explicar o ser-feminino. Preciso estar aberto a outras
maneiras de acesso à realidade feminina;
b) a ausência da sexualidade e da realidade sexual na compreensão da totalidade
humana na filosofia, hermenêutica e ciências humanas, até na psicologia, que
tem reforçado preconceitos anti-feministas freudianos. Até a linguagem
identifica o ser humano com a palavra “homem”, num reducionismo e
esquema simplista antropológico;
c) o monismo sexual histórico através de práticas, idéias, conhecimentos, hábitos,
linguagens e atitudes das sociedades ocidentais e da Igreja que considera o
homem como princípio da humanidade e a mulher como derivado e
dependente dele. Boff (2003) afirma que o antifeminismo foi superado em
certo grau pela sociedade, mas não pela Igreja. Existe uma “teologia política
do sexo” (2003, p.43) que afirma que Deus e Cristo são masculinos e têm
direito de mandar;
26
d) a regionalização genital do sexo é considerada um dos mais perversos obstáculos
epistemológicos por Boff (2003) porque deturpa a imagem da mulher,
tornando-a objeto de realização biológica. A sexualidade é parte integral da
identidade e da totalidade da pessoa, não é somente um fenômeno genital;
e) a definição do que é “ser-mulher”, elaborada a partir da natureza biológica da
mulher, em vez de reconhecer que é o resultado histórico político-ideológico
levando a dominação, submissão e dependência da mulher;
f) a polarização dos sexos em vez da compreensão de sua complementaridade e
reciprocidade. As suas atribuições e qualidades não podem ser distribuídas em
pólos apostos e irredutíveis. A realidade humana, masculina e feminina, tem
“todas as qualidades em densidades diferentes” (BOFF, 2003, p.45);
g) a exaltação do feminino a mulher entronada e eternalizada que conceitua a
mulher como intemporal, ahistórica e virtuosa absolutamente. É uma forma
sutil de discriminação e dominação pelo patriarcalismo.
Boff (2003) resume os obstáculos em dois: falar do humano sem falar do sexo e
falar do sexo sem falar do ser humano. Para ele é essencial falar do “humano sexuado” e do
“sexo hominizado” (2003, p.46).
Oferece, ainda, proposições básicas pertinentes ao discurso sobre o feminino no
contexto ontológico da unidade e da pluralidade do ser humano (BOFF, 2003). Estas incluem
a diferença complexa e concreta entre os sexos; a interpenetração masculina / feminina em
densidades próprias a cada e a reciprocidade e descoberta mútua da vida face-a-face mulher e
homem. Boff propõe, ainda, a construção histórica e dialética do relacionamento mulher /
homem que tem aspectos negativos de relações antagônicas e dominadoras e outros positivos
de relações equilibradas e complementares. Para ele, é essencial a compreensão do ser
humano como “uma profundidade misteriosa e desafiadora, como uma unidade plural e uma
pluralidade una” (BOFF, 2003, p.72) em que o homem e a mulher devem ser caracterizados
nas expressões das dimensões da vida: profundidade, interioridade, misteriosidade e
religiosidade.
27
2.2 PRODUZINDO GÊNERO
2.2.1 A Trajetória Histórica
Ao analisar as relações entre mulheres e homens e a construção do pragmatismo
histórico feminino em oposição à opressão da mulher na sociedade, é imperativo acompanhar,
inicialmente, a trajetória das correntes feministas e de gênero na construção social do
feminino e do masculino. Uma rápida apreciação dos estudos de gênero no mundo e no Brasil
ajuda conhecer a elaboração de uma epistemologia de gênero que será o alicerce das seguintes
reflexões.
Elizabeth Bicalho (2003), referindo-se ao quadro de periodização de Gomariz
levanta seis fases de desenvolvimento da constituição da mulher como sujeito histórico,
iniciando com o movimento filosófico do liberalismo e a Revolução Francesa nos séculos
XVII e XVIII. Foi um momento político em que as mulheres começaram a luta pelos direitos
e para terem um lugar na cidade, apesar das afirmações de Locke e Rousseu que a mulher era
naturalmente mais fraca e cuja educação devia priorizar o ser mãe e o agradar aos homens. A
primeira Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, foi escrita por Olympe de
Gouges, guilhotinada, em 1793.
A brasileira Nísia Floresta, que traduziu o livro de Mary Wollestone-Craft escrito
em 1792 sobre a identidade e os direitos da mulher, é considerada a primeira feminista
brasileira.
No século XIX, as idéias-chave das feministas tratavam do direito das mulheres ao
trabalho e educação, contrastando com a preocupação das ciências sociais da condição de
mulher subordinada à família como determinante da estabilidade social. Neste período, o
marxismo desenvolveu a reflexão sobre a mulher trabalhadora explorada pelo Capitalismo e
na família, relacionando a opressão da mulher com a luta de classe (GOMARIZ apud
BICALHO, 2003).
O período de 1880 1940 corresponde à explosão do sufragismo e das ciências
sociais, cujas idéias centrais se desenvolviam em torno da mulher emancipada, família e
patriarcado e sexualidade feminina. É considerada a primeira onda de feminismo. As
feministas enfatizavam os direitos civis plenos, especialmente o voto. Dagmar Meyer (2003),
afirma que a luta pelo voto agregou outras reivindicações como educação superior, condições
dignas de trabalho, exercício da docência, direito de decidir sobre o corpo e pertencimento aos
sindicatos.
28
No Brasil, Berta Lutz, Deolinda Dalho e Carlota Queiroz se sobressaíam nas
mobilizações femininas, na política e no trabalho, fazendo eclodir um movimento heterogêneo
e plural, mas que ainda não abordara as questões de fertilidade, aborto, sexualidade,
corporeidade e orientação sexual.
Na fase clássica da reflexão feminista de 1940 1965, as idéias promulgadas pelos
cientistas sociais e autoras feministas como Beauvoir, Friedon, Parsons e Mead, versam sobre
os papéis sexuais, cidadania e autonomia, como, também, a influência da cultura na
estruturação das relações de gênero
O Novo Feminismo (1965 1979) estimula a polêmica da sexualidade e poder,
biologia e instintos, teoria do patriarcado e política sexual (GOMARIZ apud BICALHO,
2003). O novo feminismo se desenvolve num movimento social que levanta a bandeira do
controle da natalidade e inicia o estudo de gênero como categoria de análise, apesar da
Marcha com Deus pela Família e a Liberdade, no Brasil, em 1964, instigada pelos militares e
a Igreja Católica para dar apoio aos golpistas. “É uma mancha na história brasileira em que as
mulheres foram manipuladas, cumprindo um triste papel de submissão” (MEYER, 2003,
p.57).
A segunda onda do feminismo nos países ocidentais, inicia-se na França, nas
décadas 60 e 70, com a chamada “revolução sexual” que contestava costumes e idéias
tradicionais, discriminação contra mulheres, o patriarcalismo e machismo e a subalternidade
das mulheres, promovendo idéias libertárias e igualitárias. Em 1975, foi proclamado o Ano
Internacional da Mulher, uma marca do poder do feminismo no mundo (TELES, 2003).
No Brasil, na década de 1980, as mulheres tanto na cidade como no campo,
começaram a assumir as reivindicações de seus direitos. Nesta época, as mulheres
engrossaram os movimentos em oposição a ditadura e a favor da democratização, enquanto
chamavam a atenção para a sua nova condição feminina e os novos determinantes de sua
sexualidade e corporeidade: trabalhadora, chefe de família, liderança de organizações civis,
religiosas e políticas e, principalmente, das organizações que exigiam os direitos da mulher e
o fim da violência doméstica e sexual.
Esta trajetória da luta fundamenta a percepção da necessidade do desenvolvimento
da teoria de gênero nos estudos feministas, ampliando idéias sobre a condição econômica,
social e política da mulher e sobre as relações de gênero, determinadas culturalmente,
desbiologizando-as.
A partir da década de 80, desenvolve-se a teoria de gênero que é dividida em três
blocos:
29
a) a teoria das diferenças de gênero que prioriza a percepção e construção
diferenciada da realidade pelas mulheres por ter valores, interesses, sentido
de identidade, percepção do corpo e sexualidade diferentes do homem;
b) a teoria das desigualdades entre os gêneros, que levanta as condições sociais e
papéis desiguais entre mulher e homem;
c) a teoria da opressão de gênero que afirma que a situação da mulher é
conseqüência direta das relações de poder entre homem e mulher, mantidas
internacionalmente pelo patriarcado, o sistema institucionalizado de
manutenção do poder androcêntrico em todas as esferas da vida: religioso,
familiar, cultural, intelectual, político, educacional (BICALHO, 2003).
Cresce no mundo inteiro o reconhecimento da necessidade de investir na produção
de conhecimento para denunciar e compreender a “subordinação social e a invisibilidade
política a que as mulheres tinham sido historicamente submetidas” (MEYER, 2003, p.12).
Bicalho (2003), enfatiza a importância da perspectiva relacional na construção do masculino e
do feminino como sujeitos cujos corpos e mentes foram cultural e hierarquicamente
delimitados.
Sobre o gênero Meyer se expressa, assim:
“O conceito de gênero privilegia o exame dos processos de construção das
distinções biológicas, comportamentais ou psíquicas entre mulher e
homem; ele nos afasta de abordagens que tendem a focalizar apenas papèis
e funções de mulher e homem para aproximar-nos de abordagens muito
mais amplas, que nos levam a considerar que as instituições, os símbolos, as
normas, os conhecimentos, as leis e políticas de uma sociedade são
constituídas e atravessadas por representações e pressupostos de feminino e
masculino e, ao mesmo tempo, produzem e/ou ressignificam estas
representações” (MEYER, 2003, p.16).
As reflexões de Meyer reforçam a afirmação deste trabalho sobre a Igreja como
instituição que é atravessada por representações de feminino e masculino que enfatizam as
distinções construídas culturalmente e incorporadas no seu magistério.
Gênero é um conceito interdisciplinar refletido pelas áreas de conhecimentos as
mais diversas: antropologia, sociologia, teologia, psicanálise, psicologia, lingüística, história.
medicina, biologia, educação, entre outros, num enfoque dialético do privado e do público
como contradição da vida feminina (BICALHO, 2003).
30
2.2.2 Gênero como categoria de análise histórica
A teorização sobre gênero tem implicações teóricas e políticas, como ferramenta
de análise, conforme Meyer (2003), Ela aponta quatro considerações principais necessários
para esta análise:
a) existe uma articulação intrínseca entre gênero e os processos educativos na
família, escola, Igreja, comunicação de massa, literatura, leis e normas
onde múltiplas instituições e práticas sociais influenciam uma complexidade
de relações e processos que transformam indivíduos em homens e mulheres.
Além disso, fazem os homens e as mulheres se aceitarem conforme padrões
culturais considerados “naturais”;
b) o conceito de gênero enfatiza que existem diversos modos, muitos
antagônicos, de definir e viver a feminilidade e a masculinidade. A cultura,
em determinado contexto histórico, deve ser concebida como “um campo de
luta e contestação em que se produzem sentidos múltiplos e nem sempre
convergentes de masculinidade e feminilidade” (MEYER, 2003, p.17). A
pluralidade e a conflitualidade nos processos culturais constroem diferenças
entre os sexos; mas estas são marcadas por outros fatores como classe, raça /
etnia, sexualidade, geração, nacionalidade e religião. Estas articulações
geram modificações especificas em tempos distintos;
c) gênero tem como referência principal as relações de poder entre mulheres e
homens que as definam como “sujeitos de gênero” (MEYER: 2003, p.18);
d) o conceito de gênero exige uma abordagem ampla, rejeitando análises
simplificadoras que limitam a relação mulher/homem a um confronto de
papéis e funções, que inclui as instituições com seus símbolos, normas,
leis, doutrinas e políticas perpassados por representações de feminino e de
masculino (MEYER: 2003).
Meyer (2003) ainda afirma que o caráter histórico-cultural de gênero se embasa na
materialidade do corpo sexuado, focalizando não o corpo em si e seus processos biológicos,
mas as relações em que sua biologia determina as diferenças e atribuições sociais entre
mulheres e homens.
Scott (1995), reforçando o pensamento de Meyer, indica quatro elementos
embasando a categoria da análise histórica gênero: a formação de uma simbologia
31
globalizante de múltiplas representações sobre mulher e homem; conceitos normativos de
religião, educação, ciência, política que referem valor aos símbolos; as organizações sociais e
instituições onde se desenvolvem as relações; a identidade subjetiva ou a vida interior
profunda.
A categoria gênero é nova na tentativa de construir uma interpretação para a
desigualdade histórica entre homens e mulheres, uma desigualdade constituída, mantida e
reproduzida internacionalmente por uma multiplicidade de instituições. Os estudos de gênero
reflete um novo paradigma influenciado por uma epistemologia feminista que questiona
paradigmas tradicionais, define e amplia novos conceitos e conhecimentos,
... levando à descoberta de temporalidades heterogêneas, ritmos desconexos,
tempos fragmentados e descontinuidades, descortinando não somente o
tempo criador, dinâmico e das inovações e focalizando o relativo e a
multiplicidade de durações que convivem entre si urdidas (MATOS, 2003,
p.79).
Para entender a construção de uma nova identidade da mulher contemporânea, a
análise precisa ser desenvolvida a partir da categoria gênero que fornecerá elementos na
interpretação do contexto e das causas dos desafios seculares e religiosos, societárias e
institucionais nos espaços privados e públicos enfrentados pela mulher.
Ivone Gebara reflete sobre a significação histórica do conceito de gênero e sua
importância como instrumento de interpretação. Esclarece que o conceito de gênero, a partir
da década de 80, foi usado como meio de avaliar a multiplicidade de diferenças “entre
homens e mulheres, entre homens e homens e entre mulheres e mulheres” (2000, p.105) e de
compreender a complexidade e diversidade dos relacionamentos humanos, especialmente as
relações de poder, a alteridade e as suas contradições e conflitos. Afirma que o conceito de
gênero é mais que instrumento de análise, é mediação na “autoconstrução feminina e tentativa
de construção de relações sociais mais fundadas na justiça e na igualdade, a partir do respeito
pela diferença” (2001, p.105).
A utilização do conceito gênero questiona relações de poder consolidadas histórica
e institucionalmente com o objetivo de manter um sistema de dominação/subordinação.
Gebara alerta sobre dois perigos de interpretação geral da vida e da sociedade: o
androcentrismo (masculino como normativo) e o “assexualismo” (2001, p.105) da construção
de conhecimento cientifico. Para Gebara, gênero é um modo de ser, sentir, viver num mundo
de condicionantes e determinações sócio-culturais e políticas e de elementos que influenciam
as relações entre homens e mulheres. Ela levanta características do falar de gênero, como
32
modo especifico de ser, além do biológico, um modo de ser como fato de cultura, história,
sociedade, religião, ideologia, política e como construção de sujeitos históricos subjugados, “a
sexualidade é culturalizada a partir das relações de poder” (GEBARA: 2000, p.106).
Gebara ainda afirma que gênero é plural pela diversidade de culturas e vivências, é
alteridade. É também, mediação para entender aspectos específicos da relação humana: “sair
do universalismo do discurso masculino [...] entram na relatividade da diferença” (2000,
p.109) ao revelar o dinamismo e pluralidade das relações entre homens e mulheres; contribui
para desvendar a complexidade de elaborações simbólicas que sustentam o sistema de poder
construído historicamente e revelar o que foi encoberto, negado, oculto em paradigmas de
construção teórica da perspectiva histórica masculina (GEBARA, 2000).
Gênero ainda compreende certos aspectos da complexidade das relações humanas,
abrangendo questões de hegemonia masculina e da desconstrução de estruturas de poder e de
modelos simbólicos. A questão de gênero desvenda aspectos da realidade da exclusão
feminina que foram encobertos ideologicamente conforme a dominação masculina.
Gebara (2000) e Lamas (2000) utilizam os conceitos de Bourdieu para esclarecer
a categoria gênero. Com sua análise do habitus, ele afirma que a socialização constrói e
perpetua diferentes identidades atribuídas simbolicamente aos homens em oposição ao que é
atribuído simbolicamente às mulheres. Estas concepções penetram na cultura e no
inconsciente, são apresentadas como naturais e justificáveis.
Para Bourdieu, o habitus compõe o poder simbólico, “poder invisível o qual só
pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos
ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 1998, p.07). O poder simbólico é um poder de
construção da realidade, do sentido imediato do mundo. Os símbolos são instrumentos da
integração social que tornam possível um consenso sobre o mundo e contribuem para a
reprodução da ordem social.
Dentro dos sistemas simbólicos, o habitus é o princípio gerador que impõe
esquemas duráveis, mas flexíveis, estruturadores de práticas e de representações. O habitus
facilita a interação entre estruturas objetivas e as práticas dos indivíduos, é uma mediação.
Exige um mínimo de controle, pode ser não-consciente, está em constante re-atualização e
demarca os limites à consciência possível, sendo responsável pelo campo de sentido em que
operam as relações de forças (BOURDIEU, 2004). Reflete uma relação dialética entre um
contexto ou campo família, escola, trabalho, Igreja e sistemas individuais se interagindo
com as estruturas. As práticas resultam da relação dialética entre uma estrutura com o
habitus como forma de agir e uma conjuntura que permite ajustamentos.
33
O habitus definido por Bourdieu ( 2004) determina culturalmente as atividades e
expectativas das pessoas, compatíveis com as demandas pré-estabelecidas nas situações
sociais; quer dizer, o habitus incorpora uma construção social biologizada, uma construção
social do sexo. São inculcados normas e valores tácitos, considerados naturais, de forma
inconsciente como resultado da concretude da relação de poder “natural” de acordo com uma
ordem social masculina que não precisa ser justificada, é. “Os conceitos cotidianos sobre o
feminino e o masculino estruturam a percepção e a organização concreta e simbólica de toda
vida social” (LAMAS, 2000, p.20).
Para mudar a ordem simbólica, é preciso mudar relações no cotidiano e não
somente a consciência. A consciência crítica para desvendar a dominação masculina
inconsciente precisa aceitar que há coisas sobre as quais não se tem controle. Gebara afirma:
“O domínio da teologia é particularmente o domínio da produção simbólica de sentido, e é
também um lugar privilegiado do habitus” (2000, p.112).
Na análise de Pereira, gênero é uma categoria relacional analítica e histórica cujo
objetivo é a desconstrução de preconceitos que “excluem e impõem papéis às mulheres
interditadas como sujeitos” (2004, p.195). Ele aponta para a mediação de gênero como uma
“subversão paradigmática que gerou rupturas com conhecimentos canônicos” (2004, p.195).
Segundo Pereira (2004) as rupturas criadas pelo novo paradigma afetaram a
compreensão sobre a noção biológica de sexo e a noção social de gênero; a transversalidade
de gênero em sua diversidade de perspectivas disciplinares; a explicação sociológica de
caráter identitário e a natureza universal e determinista da diferença sexual homem/mulher; a
redefinição de processos de subjetividades e identidades. A nova perspectiva abalou a
racionalidade das ciências modernas, as explicações totalizantes do patriarcado e as
proposições funcionalistas da antropologia clássica.
2.3 RETROSPECTIVA DA HERMENÊUTICA FEMINISTA LATINO-AMERICANA
Nos últimos anos tem aparecido uma nova área de estudo das religiões: a análise
de gênero nas religiões. Esta nova perspectiva se encontra na intersecção de múltiplas
disciplinas: teologia, sociologia, filosofia, psicologia, antropologia, hermenêutica bíblica e
ética. Todas estas disciplinas são permeadas pela teoria das relações de gênero, que tem
contribuído para a produção teórica cristã, católica e protestante.
Os trabalhos não se detém somente em enfoques exclusivamente androcêntricos,
mas analisam como a religião institucionalizada é influenciada e influencia as relações de
34
poder, refletindo as mudanças, transformações, negociações, questionamentos e inovações,
especialmente referente a ambigüidade histórica e a natureza dinâmica de gênero. Gênero é
uma postura que está exigindo uma reconceituação das categorias hegemônicas do discurso
religioso (MARCOS, 2004).
O movimento atinge não somente a tradição católica e protestante, mas a judaica,
islâmica, asiática, incluindo budismo e hinduismo, e as indígenas americana, asiática e
africana (MARCOS, 2004).
Elza Tamez (2004) levanta uma versão panorâmica da teologia e da hermenêutica
de gênero na América Latina, principalmente nas últimas três décadas, delineando três fases.
A primeira fase na década de 1970 é considerada o despertar da teologia feminista,
em que a mulher é vista como sujeito oprimido que começa um processo de liberação e de
produção teológica.
A segunda fase é da feminização da teologia, correspondendo a década de 1980,
quando acontece uma reelaboração do discurso bíblico-teológico a partir das aspirações,
sofrimento e espiritualidade das mulheres. Este processo objetiva feminizar o discurso
teológico, é o início da desconstrução do discurso androcêntrico.
Na terceira fase, que acontece na década de 1990, se vislumbra um novo discurso,
uma reconstrução do discurso teológico enriquecido pelas teorias de gênero. Esta fase busca
desconstruir a teologia e os textos patriarcais para reconstruir novos discursos dentro da
hermenêutica de gênero e renovar os textos patriarcais.
Cada década responde a um contexto sócio-econômico-político, eclesial e
teológico na relação com o movimento feminista secular e com a formação de uma
consciência feminista.
Houve vários encontros teológicos que fortaleceram e estimularam a construção da
hermenêutica feminista, na ótica de Tamez (2004):
1985 Congresso Teológico Latino-Americano em Buenos Aires afirmou a nova
maneira de ler a Bíblia com a mulher como sujeito da produção do
discurso, utilizando uma cosmovisão própria.
1985 – Congresso de Teologia Negra no Brasil apontou a construção de sujeitos
específicos compostos por movimentos de mulheres, negros, índios,
inclusive com o início de uma teologia indígena, principalmente na
América Central.
1993 – Encontro de Teólogos no Rio de Janeiro e
35
2000 Encontro de Teólogos em Bogotá onde novos temas foram trabalhados:
ecologia e teologia; a graça frente “a lei absolutizada e escravizadora”
(TAMEZ, 2004, p.56); o sacrifício da mulhor rechaçando a teologia
sacrificial que exige a sua entrega total; alteridade e diálogo interreligioso e
intercultural; desafios para a estrutura da Igreja Patriarcal que exclui as
mulheres do sacrifício e questões sobre direitos reprodutivos e orientação
sexual.
Uma revolução se desencadeou na trajetória destes trinta anos de caminhos que
vão se definindo e se redefinindo na medida da prática e da reflexão, “ caminhos que não se
excluem e, ao contrário, se enriquecem e se desafiam mutuamente” (NÁVIA, apud TAMEZ,
2004, p.59, tradução nossa).
2.4 HERMENÊUTICA DE GÊNERO COMO INSTRUMENTO DE INTERPRETAÇÃO
Natalie Watson (2003) oferece uma reflexão sobre as duas dimensões que
compõem a teologia feminista, que ela também chama a hermenêutica feminista: a análise
crítica e a re-leitura / re-elaboração construtiva, ambas envolvendo um compromisso com a
transformação. Ela, assim, define a teologia feminista:
Teologia feminista é a re-leitura crítica, contextual, construtiva e a re-
elaboração criativa da teologia cristã. Percebe mulheres seus corpos
perspectivas e experiências como relevantes à agenda dos teólogos
cristãos e exige que elas sejam tratadas como sujeitos de discursos
teológicos e cidadãs plenas na Igreja (WATSON, 2003, p.2, tradução
nossa).
A teologia feminista objetiva a transformação de conceitos, métodos, linguagem e
imagem numa teologia mais holística, como meio e expressão da luta por libertação. Implica
na percepção da ambivalência que muitos símbolos e textos criam sobre a mulher e na
capacidade de questionar esta ambivalência. Isto exige identificar leituras que confrontam o
poder dos símbolos da Igreja que não refletem a realidade da mulher e construir novas leituras
que valorizam a sua humanidade plena (WATSON, 2003). As teólogas estão exigindo uma
nova leitura radical a qual compreende que as experiências das mulheres e a sua humanidade
plena sejam critérios pelo qual toda teologia deve ser analisada. Para Watson “a participação
36
acrítica em estruturas opressivas leva a perpetuação destas estruturas” (2003, p.4, tradução
nossa).
Deifelt (2003) reforça a opinião acima com a sua reflexão sobre a experiência das
mulheres como critério de discernimento:
O conceito de experiência é um elemento-chave dentro da teoria e prática
feminista porque reconhece o papel que os eventos de nossas vidas e nosso
envolvimento pessoal têm nas formulações teóricas, sejam elas de cunho
histórico, político ou teológico. Nossas experiências definem a nossa
percepção de Deus, de nós mesmos, das pessoas e do mundo à nossa volta.
Ao fazer esta afirmação, o feminismo rejeita a assim chamada neutralidade
[...] questiona as formulações neutras e universais, mas de cunho altamente
androcêntrico (DEIFELT, 2003, p.175).
Para Deifelt (2003) a força da teologia feminista advém do uso das experiências
das mulheres como critério de discernimento e de avaliação, podendo refletir marcas de
opressão, discriminação, submissão, libertação ou luta. A teologia feminista confronta e
contesta a ordem sócio-simbólica com suas regras, procedimentos e práticas.
Para compreender a hermenêutica feminista, é preciso reconhecer quatro
categorias básicas que têm influenciado as interpretações de textos bíblicos que iniciaram o
questionamento feminista teológico (WATSON, 2003):
a) o leitor: quem é? O importante é a significação de ser mulher numa
situação específica: classe, raça, etnia, condição socioeconômica;
b) o texto: qual é e porque este texto? Qual é o valor dado à mulher, o texto
tenta justificar a sua subordinação?
c) o contexto: reconhecer que as escrituras foram escolhidas nos primeiros
séculos pelas autoridades eclesiais masculinas. Quais foram os critérios?
d) a autoridade: a hermenêutica feminista precisa identificar a leitura como
processo interativo que cria significado entre o leitor e o texto, em vez de
ser um conteúdo autoritário e normativo.
Watson (2003) cita Carole Fontaine que reclama da ausência de valorização da
experiência da mulher nas leituras bíblicas:
Não acho salmos que expressam desespero sobre o aborto espontâneo ou que
procuram vingar a vítima de estupro ou incesto. Meu livro não tem salmos
que agradecem sobreviver ao parto ou louvam o milagre da primeira
menstruação (FONTAINE apud WATSON, 2003, p.11, tradução nossa).
37
Elizabeth Lacelle (2002) lembra que os estudos das teólogas e filósofas sobre a
mulher na Igreja colocam não-questões (impensáveis), não-dados (informações perdidas ou
ocultadas), recursos não-existentes (inexploráveis), não-método e não-tradição acadêmica, e
ainda questiona:
Como pode, a ciência dita objetiva, sustentar a sua ética da neutralidade
diante dessa situação de fato? O saber dito objetivo, rigoroso, universal
sobre o ser humano acusa, portanto, silêncios, esquecimentos,
interpretações unívocas [...] é posta em questão a verdade que pretende
transmitir no domínio religioso (LACELLE, 2002, p.10).
Lacelle (2002) reconhece que é difícil desenvolver reconstruções do conhecimento
para transformar as instituições religiosas, conforme as propostas das ciências religiosas
feministas. Novos métodos, novos questionamentos, novas teorias fazem tremer o mundo
acadêmico dos saberes tradicionais religiosos e até os corajosos mulheres e homens que estão
aventurando neste novo campo religioso, “a fim de que esse projeto seja um lugar de
realização humana e não de mistificação que mantém na ilusão” (LACELLE, 2002, p.17).
Os estudos religiosos feministas devem passar pela prova dos paradigmas
tradicionais nas diversas disciplinas. À medida que as pesquisadoras
reconhecem o objeto que, desde o início, consideram como objeto / sujeito
de sua pesquisa ligando-se a eles enquanto sujeitos que questionam e são
questionados, realizam um deslocamento paradigmático inédito. Além
disso, dão-se conta de que os métodos herdados não podem mais avaliar
adequadamente aquilo que se lhes revela como realidade (LACELLE, 2002,
p.10).
Elizabeth Lacelle (2002) oferece uma nova contribuição teórica para a
hermenêutica de gênero. Discute o que é e como foi constituída a hermenêutica de suspeita,
que faz reservas ao saber tradicional. Usa novas categorias de análise, que subsidiam o
questionamento e a desconstrução do saber tradicional e dinamizam a sua reconstrução. Três
conceitos heurísticos ou investigativos principais, o patriarcado, o androcentrismo e o sexismo
formam a hermenêutica de suspeita.
Lacelle (2002) afirma que a polêmica sobre a condição e identidade das mulheres
nas religiões e na sociedade se desenvolveu teoricamente com a articulação dos conceitos
mencionados, desde a década de 1940. Iniciou com O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir
em 1949 que acusou a sociedade ocidental de ter formas religiosas misogínas, denunciando o
gênero feminino como efeito mais de cultura do que natureza com a frase celebre: “Não se
nasce mulher, torna-se mulher”. A evolução do processo de reconstrução, na década de 1960
com a obra de Friedon (The Feminine Mystique), trouxe uma desmistificação do feminismo.O
38
questionamento das causas históricas do feminismo inferiorizado na Igreja foi aprofundado
por Mary Daly ( Beyond God the Father) e contribuiu para o movimento de pós-cristianismo.
A identidade feminina é assunto de reflexão das mulheres sobre si mesmos: função, destino,
vocação, essência, relação com o homem com Deus e como o universo (LACELLE, 2002).
Lacelle (2002) esclarece que esta etapa primordial significativa gerou a
hermenêutica da suspeita, porque impulsionou uma tomada de consciência das mulheres sobre
a necessidade de ter sua visão de gênero e seu projeto ético-político-histórico reconhecidos e
valorizados pela Igreja.
Referente ao primeiro conceito indicado o patriarcado Lacelle concorda com
Schüssler Fiorenza (2002) na sua definição do patriarcado como um sistema sócio-político-
religioso opressivo para as mulheres e sob o controle dos homens, como grupo humano.
Qualquer reforma neste sistema só será possível se “desconstruir de maneira revolucionária,
até as suas razões, toda a ordem social justificada e, em verdade, sacralizada [...] pela ordem
religiosa” (LACELLE, 2002, p.7).
A teoria androcêntrica, ou o androcentrismo, é considerada uma outra forma de
opressão, por que nele o sexo masculino é essencial e superior e o sexo feminino secundário e
inferior, um dualismo que marcou, durante séculos, as filosofias e teologias dos sistemas
religiosos ocidentais. Foi contestado nos últimos trinta anos pelas mulheres, a partir da sua
reflexão sobre sua experiência religiosa, cultural e social (LACELLE, 2002).
Sobre o terceiro conceito, o sexismo, entende-se atitudes e ações de discriminação
negativa e sistemática baseadas no sexo. Lacelle (2002) alerta contra o perigo do sexismo
dissimular sobre as idealizações em torno da mulher, que tem como objetivo real mantê-la
numa posição subordinada. Em 1974, o Conselho Ecumênico das Igrejas promoveu uma
conferência ecumênica em Berlim onde escutou a palavra de 170 mulheres de diversas
religiões do mundo sobre sexismo nas Igrejas.
Maria Conceição Pinto (1994) propaga que em Deus não há sexo. Se as mulheres
foram feitas na imagem de Deus, então Deus é necessariamente feminino, não somente
masculino, uma alteridade em ordenação mútua. A teologia feminista ao reivindicar a
dignidade da imagem de Deus para a mulher, de forma real e histórica, afirma que ela é
portadora da imagem de Cristo, e não a antiimagem de Deus e representante ou símbolo do
mal (JOHNSON, 1995).
Ainda sobre o conceito de patriarcado, Elizabeth Schüssler-Fiorenza tem uma
contribuição significativa. O conceito de kiriarquia elaborado por Schüssler-Fiorenza (2002)
é o resultado de uma reconceituação do patriarcado, além do sistema binário de sexo-gênero,
39
de dominação macho-fêmea numa tentativa de tornar o patriarcado um instrumento de análise
da entrelaçamento das estruturas de opressão e dominação sistemáticas. A edificação destas
estruturas é piramidal, onde a fundação são as crenças ideológicas sobre os quais a dominação
é construída, a partir das “diferenças naturais” assimétricas.
Para contrapor-se a esta elaboração ideológica que permeia toda a sociedade
ocidental, Schüssler-Fiorenza (2002) elabora uma visão crítica pela libertação através da
noção de ekklesia de mulheres, que expressa uma alternativa de democracia radical, “o
congresso de decisões para fazer cidadãos” (2002, p.8).
A expressão ekklesia para mulheres (wo/men) busca articular uma tensão
criativa entre o “já” e o “ainda não”, entre as imagens e o centro, entre a
pirâmide e o círculo [...] um quadro teórico que permite às feministas, na
religião bíblica, desconstruir o centro patri-kiriarcal das tradições bíblicas e
culturais ocidentais, elaborando simultaneamente a ekklesia para mulheres,
ambos como discursos democráticos e radicais e de formação política
(SCHÜSSLER-FIORENZA, 2002, p.8).
Na compreensão de Schüssler-Fiorenza (2002) a ekklesia de mulheres só
consolidará seu poder político quando existirem compreensão e construção de uma luta
político-ideológica de gênero nas esferas da kiriarquia cívica e religiosa, entre a política
pública e a religião privada. Para ela, uma crítica que parte da teologia feminista de libertação
na criação da ekklesia de mulheres, não é questão de uma política de identidade, mas de luta.
Elizabeth Schüssler-Fiorenza (2002) afirma que:
as teorias feministas são discursos opostos e alternativos as de natureza
teológica. Como tais, nunca são independentes dos discursos dominantes
[...] entrelaçados com o discurso acadêmico e religioso [...] como
intervenções retóricas e como luta em torno de significado, verdade, valores
e visões [...] constitui não somente uma intervenção intelectual como
política e religiosa (SCHÜSSLER-FIORENZA, 2002, p.1).
De acordo com ela, as mulheres precisam ser compreendidas como coletividade
sócio-política, e não simplesmente em termos de uma dualidade antropológica. Esta
coletividade abrange determinantes para a identidade e vida da mulher nos contextos de
classe, raça, etnia e gênero e dentro de uma política de luta global de libertação.
As opressões que afligem as mulheres são entendidas como resultado do
patriarcado ou dominação do homem sobre a mulher, como criação e manutenção do poder
masculino sexual, social, político, legal e ideológico. A mulher é excluída da política, cultura,
40
história e religião pela dominação patriarcal “onipresente, atravessando totalmente o tempo e
o espaço” (SCHÜSSLER-FIORENZA, 2002, p.4).
A hermenêutica de gênero também abrange a antropologia teológica feminista
referente ao que quer dizer ser humano para a mulher. Esta polêmica envolve dois aspectos
principais: o significado do corpo da mulher e a idéia de ser humano em relação (WATSON,
2003). Watson enfatiza que na tradição cristã histórica o corpo da mulher tem sido negado:
era ritualmente impuro, precisando de purificação; menstruação e os refluxos do parto são
poluidores e contaminadoras de tudo e todos que tocam. Nas Igrejas Ortodoxas, até hoje,
mulher menstruada não pode comungar: o seu corpo é seu destino e sua praga, como filha de
Eva (WATSON, 2003).
Teólogas feministas objetivaram uma teologia sacramental do corpo da mulher
como incorporação do corpo de Cristo em várias formas, numa teologia verdadeiramente
encarnacional. No passado, as mulheres só podiam superar a sua natureza pecadora e
poluidora negando a sua própria sexualidade e virando varão. Uma teologia sacramental e
encarnacional afirma as vidas e corpos das mulheres em relação humana como celebração da
encarnação no mundo (WATSON, 2003).
Num dos debates iniciais sobre reinterpretação feminista de símbolos e conceitos
foram refletidas as questões de pecado e redenção à luz da experiência da mulher, visto que o
pecado é tradicionalmente associado à mulher. Teólogos feministas argumentam que os
discursos tradicionais sobre pecado não são relevantes para a mulher porque excluem e
desvalorizam as experiências delas. Para estas teólogas, pecado é alienação do ser feminino e
da sua identidade porque nega a sua auto-consciência como mulher. Aqui a construção da
identidade da mulher é vista como resultado de uma complexa rede de opressão e dominação
masculina. As teólogas buscam redefinir pecado, rejeitando a idéia de contaminação do
mundo pela mulher e acusando as estruturas de dominação nas relações de gênero de associar
mulher e pecado (WATSON, 2003).
Não se pode falar da hermenêutica de gênero hoje sem incluir menção da
epistemologia ecofeminista, que tem como eixo principal a interdependência de todos os
elementos compondo ou se relacionando com o mundo humano. Para Gebara (2000):
interdependência significa acolher como fato básico que uma situação vital,
comportamento ou crença é fruto de todas as inter-relações que constituem
nossa vida, história, realidade terrena e cósmica mais amplas. Não se trata
apenas de interdependência e relação com os outros seres humanos, mas
com a natureza, as forças da Terra e do Cosmos (GEBARA, 2000, p.20).
41
Rosemary Ruether (2000) esclarece a importância do ecofeminismo, não somente
pela perspectiva de gênero mas pelo o que é chamada a “ecologia profunda”. Os ecologistas
profundos enfatizam que a destruição da terra não é resultado apenas da tecnologia e ação
humana, mas dos padrões simbólicos, culturais e psicológicos que alienaram os homens da
natureza, negando a realidade do seu ser como parte desta terra ao mesmo tempo que procura
dominá-la.
Ela acredita que uma percepção fundamental do ecofeminismo é a ligação entre a
dominação das mulheres e a dominação da natureza na cultura ocidental. Esta dominação
acontece primeiramente no nível simbólico-cultural onde as mulheres são definidas como
“mais próximas à natureza” através do corpo e do sexo, enquanto os homens são identificados
com a mente e o poder, soberanos tanto sobre as mulheres como sobre a natureza.
(RUETHER, 2000). Ruether ainda pergunta como a religião se relaciona com o
ecofeminismo. Ela mesma responde, afirmando que a religião cristã tem sido a fonte principal
“dos padrões simbólico-culturais que inferiorizam as mulheres e a natureza [...] ligados a
história ecofeminista sobre a queda do paraíso” (RUETHER, 2000, p.12).
Ivone Gebara (2000b) levanta algumas características da epistemologia
ecofeminista. Por ser contextual, exige ser entendida na dinâmica histórica global a partir dos
contextos locais e requer uma cosmologia / antropologia com perspectivas amplas e
interconectadas. “Mantém a tensão entre o caráter regionalista e o caráter universalista do
conhecimento humano” (GEBARA, 2000b, p.26). O conhecimento é universal, mas
apreendido num determinado espaço-temporal regional. É holística, por entender que somos
parte do todo, que o todo está em cada parte do todo e que o todo está em nós. O discurso
racionalista não abrange as múltiplas formas e capacidades cognitivas na construção do saber.
Ecofeminismo é relevante para teologia porque exige mais do que um discurso
limitado por ser catequético, dogmático, impositivo e punitivo sobre Deus. Aceita a múltipla
experiência humana de valores que oferecem significado à existência humana. Introduz a
afetividade e as emoções como fontes de conhecimento, ofuscando os limites entre
objetividade e subjetividade. Ao mesmo tempo que é inclusivo, não impõe limites rígidos ao
conhecimento. Tem conseqüências cognitivas e éticas, não se baseia num único critério para
aferir verdade, mas depende de saberes outros. Sua dimensão inclusiva é essencial para o
conhecimento teológico: “a experiência de Deus é inclusiva de outras [...] se expressa de mil e
uma maneiras” [...] é a “biodiversidade do Mistério de Deus” (GEBARA, 2000, p.27).
No Brasil e no mundo, Ivone Gebara é reconhecida como uma teóloga e filósofa
cujas ideias são importantes para a discussão da hermenêutica de gênero. O trabalho
42
interpretativo de Ivone Gebara (1994) sobre a hermenêutica feminista, focaliza o conjunto de
operações para compreender um texto, de efetivar uma aproximação à realidade atual. Ela se
refere mais especificamente à hermenêutica feminista em relação à Bíblia, mas admite a
transcendência de textos aos seus determinantes contextuais, se abrindo aos interesses de
múltiplos leitores. Na sua reflexão, Gebara elabora nove pontos para uma hermenêutica
feminista.
O principal ponto se refere a hermenêutica como “maneira de ser, de relacionar-se
e de compreender [...] a existência das mulheres, suas esperanças, seus gritos de dor, sua
cumplicidade com o mal do mundo e sua maneira de buscar um rosto novo para a sociedade”
(GEBARA,1994, p.31). Gebara indica que é um processo de “descontextuação” e
“recontextuação”, uma nova forma de conhecer Deus numa superação do patriarcalismo, do
androcentrismo e na perspectiva igualitária. A hermenêutica é fundamentalmente política e
ética, contestando as bases de sustentação da opressão e injustiça, valorizando a corporeidade
da mulher em oposição a visão dualista do patriarcalismo histórico. Para Gebara, a
hermenêutica feminista “pretende ir além da ética num sentido holístico, isto é, captando a
relação e interdependência de tudo contudo” (1994, p.38). Envolve o diálogo intra-religioso e
inter-religioso, um tipo de ecumenismo baseado na riqueza e multiplicidade da experiência
humana.
Na sua reflexão sobre gênero como instrumento hermenêutico, Gebara (2000)
afirma a mediação de gênero contextualizado numa construção social determinada por valores
biológico-culturais. Para ela gênero quer dizer masculinofeminino na sua relação de
produção social e cultural, na criação e na aprendizagem dos comportamentos e na
reprodução desses [...] uma teia complexa de relações culturais”( 2000, p. 111).
O mundo é apreendido a partir de um princípio dominante ideológico: é natural
que seja, e sempre foi, assim. Gebara (2000) lembra a conceituação de habitus de Bourdieu ,
baseado numa visão masculina que se auto-justifica do mundo. A mudança do mundo
simbólico não depende somente da tomada de consciência, mas da ordem simbólica através
de relações no cotidiano. Ela afirma o domínio da teologia como instrumental na produção
simbólica, que é masculina, e, conseqüentemente, na reprodução do habitus. A teologia
feminista tem como objetivo desconstruir a teologia patriarcal para reconstruir uma outra
visão do mundo, usando a categoria gênero como instrumento hermenêutico para criar novas
categorias de análise.
A questão de gênero é colocada dentro do contexto maior de construção de
conhecimento nas ciências humanas, de forma geral, onde a produção considerada científica
43
tem excluído as mulheres. Gebara (2000) justifica esta afirmação a partir da discussão de
quatro elementos essenciais para uma epistemologia feminista.
“Uma epistemologia que leva em conta o feminino vai criticar a identificação da
percepção masculina com a universalidade” (2000, p.116). A questão de gênero desvenda o
“universalismo” das ciências humanas como teoria masculina que reforça e reproduz seu
poder. As mulheres e suas ações são ocultadas, a sua história não é contada.
“Os conhecimentos são sempre relativos aos contextos históricos, às condições
culturais, às ideologias, às pessoas” (2000, p.118). A mediação de gênero exige a superação
do dualismo superior/inferior, bem/mal na relação homem/mulher, reforçando, entre questões
epistemológicas, questões éticas. Para Gebara(2000) toda epistemologia é uma ética e toda
ética é uma epistemologia. Se um conhecimento oculta a contribuição das mulheres e
promove o despeito e sentido de inferioridade ou falta de importância delas, então é anti-ético.
Afirma que o respeito pela diferença é tanto um elemento epistemológico como ético.
“A questão de gênero nos faz descobrir no relativismo cultural um dado positivo da
riqueza do humano” (2000, p.119). A herança sócio-cultural já constitui um relativismo
cultural dominado pelo modo masculino de ver o mundo, determinar papéis, estabelecer
normas, estruturar personalidades. Ver a realidade pela mediação de gênero implica numa
tentativa ético-epistemológica de valorizar a riqueza da diferença ao mesmo tempo que
contesta a imutabilidade designada.
“O cotidiano, e particularmente o cotidiano das mulheres, aparece como um lugar
em que a história se faz e onde as formas, as mais variadas, de opressão e produção do mal se
manifestam sem serem suficientemente reconhecidas” (2000, p.122). A compreensão sobre o
que constitui cotidiano é fundamental para a história da mulher e inclui influências
determinantes da estrutura político-econômica.
Inerente a mediação hermenêutica de gênero, há duas questões importantes para
Gebara (2000): o sacrifício na vida das mulheres e a culpabilidade pessoal e social delas. Ela
explica que a idéia da necessidade da mulher viver se sacrificando é ligado ao papel sócio-
político-religioso determinado para ela, implicando em relação de poder masculino-feminino.
A mulher precisa viver a serviço dos outros ou segundo os outros (homens), e nela é gerado
um medo que pode levar a alienação de si mesmo, aceitando o sofrimento como vontade de
Deus.
A questão da culpabilidade é, também, uma construção social, produto da cultura,
apontando pessoas mais culpáveis (mulheres) num contexto biológico cultural social que
se reproduz constantemente. Esta culpabilidade é imposta à mulher socialmente pelo sistema
44
patriarcal a partir de um modelo ideal, impossível de ser atendido concretamente. Gebara
indica, ainda, a necessidade de compreender a visão patriarcal do ser humano para
“desconstruir uma teoria que mantém a injustiça entre os seres e para tentar oferecer caminhos
concretos a partir do cotidiano” (GEBARA, 2000, p.141).
Carol Ann Drogus (2005) comenta a utilização do conceito de gênero como filtro
para a experiência religiosa, devido ao fato das mulheres na América Latina ter uma
participação maior nos movimentos religiosos. Ela chama a divisão sexual de trabalho
religioso como fator de gênero na percepção da mulher sobre a sua relação com a Igreja. Esta
divisão tem implicações sobre a forma da mulher fazer a sua interpretação do simbolismo
religioso, da tradição, da inovação e da participação. A perspectiva feminina produz leituras
diferenciadas de símbolos e valores considerados tradicionais e imutáveis pela Igreja. Esta
interpretação é um reflexo de uma divisão cultural mais ampla que, historicamente, delega o
trabalho feminino para a esfera privada e do masculino para a esfera pública.
Até a qualidade da experiência religiosa é diferenciada devido aos papéis
masculinos e femininos na divisão laboral. Para Drogus (2005), gênero é uma mediação na
experiência de ser uma pessoa religiosa referente à qualidade da sua participação,
responsabilidade e interesses, além das suas necessidades, demandas, percepções e do seu
desenvolvimento ético-moral. Ainda afirma que o desenvolvimento psicológico e moral
feminino leva a interpretações que diferem das normas definidas pelo homem. Ela questiona o
que acontece quando doutrina vira fé na prática? Quando a doutrina do clérigo masculino
intelectual se transforma na fé vivida da mulher leiga trabalhadora?
O debate de Drogus (2005) focaliza a interação de religião e gênero: gênero como
a mediação para a crença religiosa e a influência da religião nas atitudes sobre os papéis
masculinos e femininos. Ainda levanta a dúvida sobre até que ponto a participação das
mulheres na Igreja tem contribuído para sua consciência de gênero.
A experiência de ser mulher, o próprio “ser-mulher” é um critério de
discernimento e de avaliação; o “envolvimento pessoal tem um papel nas formulações
teóricas, sejam elas de cunho histórico, político ou teológico” (DEIFELT, 2003, p.175).
Deifelt, ainda, afirma a necessidade de uma “hermenêutica de suspeita” (2003, p. 174) para
avaliar e revisar os ensinamentos religiosos e as práticas que perduram até hoje num processo
de “desconstrução”e “reconstrução” (2003, p. 178).
Ela concorda com Sampaio, que esta perspectiva de análise não pode ser neutra,
reafirmando as experiências das mulheres como critério e como desafio à teologia patriarcal.
Para Deifelt, “mulheres também têm a experiência da revelação divina e [...] são fonte para se
45
fazer teologia” (2003, p.176), assim, assegurando que existem novas formas, novos horizontes
de compreensão.
A partir desta compreensão, pode se entender, também, a questão da
espiritualidade feminista, não somente como uma reação contra a teologia patriarcal e a praxis
sexista da Igreja Cristã, mas “como poder para, poder que habilita. Proclama a Deusa como
fonte deste poder [...] poder divino e energia dinâmica” nas palavras de Elisabeth Schussler-
Fiorenza (1993, p.107). Para ela, ser mulher é participar da força de criação, colaborar na
ampliação da vida, ter poder para “dar nome, para transformar religiões” (1993, p. 107). Ela
discute o princípio da encarnação, como revelação transmitida através de linguagens cultural e
socialmente determinadas:
Este princípio encarnacional exige uma compreensão hermenêutica
feminista que não seja apenas dirigida para [...] a compreensão perceptiva da
tradição cristã e da Igreja, mas antes para uma crítica da Bíblia, da tradição e
da Igreja na medida em que contribuem para a opressão e dominação das
mulheres, numa cultura e religião patriarcal e sexista. A espiritualidade
feminista deve tratar da teologia feminista, compreendida como teologia
crítica da libertação [...] de descobrir tradições e mitos teológicos cristãos
que perpetuam ideologias sexistas, violência e alienação (SCHUSSLER-
FIORENZA, 1994, P.116).
Wanda Deifelt oferece uma metodologia da teologia feminista em três passos, que
ela denomina “uma hermenêutica de desconstrução e reconstrução, juntamente com o
instrumental analítico das relações de gênero” (2003, p.178).
O primeiro passo é a percepção de exclusão das mulheres da história e da
literatura, sendo “silenciadas, marginalizadas e consideradas secundárias no fazer teológico”
(DEIFELT, 2003, p.179) pelo homem que é o ser normativo e dominante. A hermenêutica
feminista pode revisar e criticar a literatura existente, apontar novas formas de interpretação e
reconstruir a história a partir da nova consciência.
O objetivo da teologia feminista nesse primeiro passo metodológico é
criticar as formulações patriarcais em todos os seus aspectos: teológicos,
sociais, culturais, econômicos, políticos e ideológicos. Através de uma
análise das relações de poder, é possível identificar focos de resistência,
resgatar histórias perdidas, é desvelar novos universos à medida em que se
busca por uma tradição (como sinônimo de memória coletiva) em que as
mulheres são sujeitos presentes (DEIFELT, 2003, p.181).
O segundo passo envolve o reconhecimento da mulher como protagonista histórica
na cultura e na sociedade, como essencial nesta criação, embora excluída dos processos de
46
decisão política, a chamada “dialética da mulher na história” (LERNER apud DEIFELT,
2003, p.182), uma contradição entre o que é versus o que é permitido ser.
Para Deifelt o terceiro passo da “hermenêutica da afirmação da mulher” (2003, p.
182) implica na valorização do saber da mulher, uma nova epistemologia, a partir da
experiência da mulher do seu corpo, do cotidiano, da espiritualidade (experiência do sagrado)
e a sua cosmo-relação com o mundo. A reflexão teológica inclui as dimensões de gênero,
etnia, raça, classe, idade, religião, identidade sexual e sua habilidade física ao questionar os
dogmas eclesiásticos, numa dinâmica de reconstrução através de novas propostas
hermenêuticas.
Para Gebara “o gênero não é um tema suplementar oferecido a reflexão teológica,
mas antes uma modificação significativa que se introduz na estrutura antropológica e
epistemológica do pensamento teológico” (2000, p.109).
Sampaio concorda ao afirmar a necessidade do debate epistemológico e esclarece
que o seu fundamento aponta para as desconstruções e construções do conhecimento, para a
problematização de “posturas hermenêuticas que anunciam como pontos de chegada, portos
seguros e finais, aquilo que é parcial e transitório” (2004, p.190), para ruptura com o mito da
neutralidade. Nas palavras de Gebara: “contra dogmatismos... o movimento da vida!” (1997,
p.35).
A eclesiologia da Igreja, o complexo de doutrinas teológicas e da história da
Igreja, historicamente, tem legitimado a exclusão da mulher de espaços eclesiais. A
organização da Igreja é seletiva e polarizada em direção aos homens “como sujeitos da
atividade e da autoridade eclesial e que se apóia igualmente em princípios hermenêuticos
seletivos, de caráter patriarcal” (AQUINO, 1997, p.92). O resultado é a contradição entre o
discurso da “comunidade cristã” e a “comunidade ministerial igualitária” cujos princípios são
a participação criativa, o reconhecimento da alteridade e a responsabilidade equivalente
(AQUINO, 1997).
Na perspectiva feminista Aquino (1997) insiste que a Igreja só é comunidade de fé
valorizando a contribuição das mulheres, seu compromisso, sua crítica e criatividade, para
além das características sexuais ou raciais da existência humana. Precisa haver a identificação
e reconhecimento das contradições que ferem a dignidade humana, a rejeição das concepções
eclesiológicas excludentes e a proposição de novos rumos em que mulher e homem são,
igualmente, autores eclesiais no contexto da opressão do povo da América Latina.
Aquino (1997) afirma que o ponto de partida da reflexão eclesiológica feminina é
a experiência pessoal e coletiva das mulheres. Historicamente os leigos tem sido objetos
47
passíveis, o sujeito eclesiológico sendo sempre o clero que estabelece uma relação vertical
com o setor leigo subalterno, principalmente com a mulher. “No escalonamento jurídico da
Igreja as mulheres encontram-se na base, no fundo, destinadas à INSIGNIFICÂNCIA
teológica, espiritual, humana e eclesial”(AQUINO, 1997, p.97). Para ela, esta insignificância
é intrínseca ao contexto sócio-cultural patriarcal e ao dualismo filosófico-antropológico dos
padres. Ela (1997) ainda afirma que , neste contexto, o homem é o paradigma da humanidade
e a virilidade o símbolo do divino.
Ivone Gebara (1994) reforça o pensamento de Maria Pilar de Aquino, levantando
inicialmente os marcos históricos do “fazer teologia” da mulher na América Latina e depois
as características desta teologia.
Os marcos históricos são relacionados com a expressão da fé a partir da
experiência da opressão da mulher (GEBARA, 1994):
a) “a irrupção da história na vida das mulheres” (p.17): o surgimento da
consciência histórica e luta de libertação das mulheres como protagonistas
em vários campos: grupos, movimentos, sindicatos, pastoral;
b) “a descoberta da causalidade das coisas” (p.18): a compreensão dos
determinantes na vida da mulher como pessoa e como coletivo;
c) “o trabalho feminino” (p.19): a entrada da mulher no mundo do trabalho e
da sobrevivência onde Deus é o mediador, não só na área doméstica, mas
nos desafios sócio-econômico-políticos. A mulher torna-se militante e
muda sua compreensão da religião.
Gebara (1994) aponta três características desta nova compreensão da religião, ou
do fazer teologia. A teologia feminista sempre parte da experiência de vida da mulher e tem
duas perspectivas: a rejeição da linguagem abstrata diante da complexidade da relação
humana e o desmontar dos antigos conceitos teológicos para explicar a realidade com a
descoberta da sua relevância hoje. A tradição teológica formal precisa ser recusada como
legitimação e recriada para iluminar e explicar o presente. A vida precisa ser compreendida
na sua multiplicidade de experiências: opressão versus libertação, graça versus desgraça,
pluralidade e alteridade, contradições e diferenças, evitando posições dogmáticas e
excludentes.
Confrontando o Magistério da Igreja sobre mulher, nos documentos analisados,
com o pensamento das teólogas, percebe-se, claramente, que a contestação das mulheres da
sua exclusão eclesiológica histórica é um fenômeno que reflete a consolidação do papel da
48
mulher na Igreja hoje. Elas, também, afirmam a necessidade da Igreja dialogar com as
mulheres: solteiras, casadas, religiosas, teólogas, leigas. As mulheres precisam ser escutadas
sobre as questões da sua existência e os desafios nas suas vidas, sendo valorizadas na criação
da teologia feminista e na recriação da teologia da Igreja.
No capítulo a seguir, os desafios contemporâneos que a mulher enfrenta serão
analisados, servindo como base de subsídios concretos na pesquisa para entender o confronto
real entre as suas experiências de vida num mundo complexo de valores pssicosociais e ético-
religiosos conflitantes e os ensinamentos e orientação do magistério da Igreja Católica.
Os resultados da pesquisa mostram que as experiências de vida, de “ser-mulher” e
de religiosidade da universitária católica recifense apontam para uma revolução feminina em
processo, um confronto silencioso entre a católica universitária leiga, casada ou solteira, e o
magistério da Igreja. Estes resultados serão examinados no quarto capítulo, onde elas
expressam seus pensamentos sobre as suas práticas e ensinamentos religiosos, a sua vida,
corpo e sexualidade, além dos seus sentimentos e representações sobre religião e
espiritualidade.
49
3 OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS ENFRENTADOS PELA MULHER
CATÓLICA NO BRASIL
A vida é relação. Toda relação é complexa e simples, evidente e obscura,
particular e universal, cotidiana e transcendental. A mulher é relação e se produz em relações
de gênero. O homem também. Os dois, mulher e homem, são construções sociais, políticas,
biológicas, culturais e religiosas. Teórica, racional e inteligentemente homem e mulher são
iguais. Mas histórica, ideológica sócio-politicamente não os são. Existe um poder
androcêntrico que permeia, perpassa, transpassa, infiltra, domina e se universaliza na
explicação e na construção sócio-político-ética das relações de gênero. O poder é alimentado
por todos os aparelhos ideológicos existentes escola, família, meios de comunicação, direito
e, em especial, as Igrejas. Neste contexto, a Igreja Católica se sobressai na sua dominação
histórica de mentes e conhecimentos, de almas e de corpos, uma opressão particularmente
acentuada em relação a mulher e nas relações mulher homem, nas relações de gênero.
A questão de gênero crucial para entender a mulher universitária católica hoje é a
construção de uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa numa arena de confronto de
duas forças: as orientações do magistério da Igreja - que se contrapõe aos estudos de gênero-
concernentes à mulher e os desafios da contemporâneidade. Para entender os desafios que a
mulher enfrenta, estes precisam ser colocados no contexto em que foram, e ainda são gerados,
o das relações de gênero, antes de serem examinados na sua complexidade.
Neste capítulo pretende-se aprofundar questões da realidade da mulher brasileira
nos campos de corporeidade e sexualidade, de saúde reprodutiva com seus principais
problemas bio-psíquicos-éticos, bem como seu papel na família e na atuação pastoral e
religiosa. Todos estes temas são desafios cuja base analítica reporta-se às relações de gênero
e sua construção e perpetuação históricas, através duma sociedade androcêntrica, e,
especialmente, do patriarcalismo da Igreja Católica.
A mulher católica contemporânea vive num mundo de contestação, conflito,
questionamentos, dúvidas, confrontos entre a relação do viver cotidiano da sua experiência
religiosa e o seu pensar religioso sobre esta vida, levando à crise da sua espiritualidade numa
sociedade secularizada.
Esta crise se evidencia, para este trabalho, em quatro desafios principais
enfrentados pela mulher: a passagem da mulher na sociedade da esfera estritamente privada
para a esfera pública; uma nova percepção dos seus direitos sobre seu corpo; libertação e
autonomia em questões da sua sexualidade e a construção de uma identidade ético-religiosa e
50
psicossocial a partir do conceito de gênero. A Igreja Católica, através do seu magistério, tem
se pronunciado sobre todos estes assuntos, como veremos no próximo capítulo, na tentativa de
moldar a mulher católica de acordo com o seu ideal do “eterno feminino”. A mulher está
resistindo a aceitar este ideal a partir da sua vivência dos desafios contemporâneos concretos.
3.1 MODERNIDADE, RELIGIÃO E SECULARIZAÇÃO
Os desafios que a mulher enfrenta hoje se iniciaram com o processo de
secularização, que delineia seus primórdios no século XVI, na Europa Ocidental.
A mulher brasileira, no seu enfrentamento de desafios da modernidade, que
também são oportunidades de emancipação, manifesta os efeitos da secularização no seu
comportamento, desconstruíndo de uma lado formas de viver e pensar a sua realidade e, de
outro, as reconstruindo. Conseqüentemente, é preciso existir uma interpretação que valorize a
experiência da mulher como critério de discernimento na construção da sua identidade
psicossocial e ético-religiosa.
Maria Clara Bingemer (1992) esclarece que a relação religião versus modernidade
foi tema de discursos e debates num seminário que levantou duas questões principais: quais as
inter-relações entre a modernização e a religião? Quais os efeitos da modernidade nas crenças
religiosas? Destas questões aparece uma terceira: quais os impactos da modernidade sobre o
fenômeno religioso?
Para iniciar uma discussão sobre os impactos da modernidade, é interessante
definir o que se entende por modernidade. Para Pe. Henrique Vaz, já existe a modernidade há
26 séculos, por ser uma categoria de leitura do tempo histórico visto na concepção filosófica
“toda modernidade é filosófica ou toda filosofia é expressão de uma modernidade que nela se
reconhece como tal” (VAZ, 1992, p.85).
Pe. Henrique Vaz define a modernidade como representação do seu tempo
necessariamente histórico e diferente, “diferenciação modal do tempo histórico” (1992, p.88).
Porém, ele designa como “modernidade moderna” o período do século XIX em diante quando
se desenvolve um novo sistema das razões e das relações entre filosofia e religião, abolindo a
“estrutura onto-teológica, e substituindo-a por uma estrutura que propomos designar como
onto-antropológica” (1992, p.92). Afirma a necessidade da análise da modernidade moderna
por muitas perspectivas desde a da resolução científico-cnica até a das resoluções
econômico-social-políticas e filosóficas. Levanta a questão que considera mais importante, e
que vai pautar, também, a nossa reflexão: “as relações entre religião vivida e religião pensada
51
[...] a complexa e problemática modernidade” (VAZ, 1992, p.104). Ele ainda indaga as
conseqüências do pensar religioso sobre a vida religiosa concreta “o vivido religioso”, tema
considerado privilegiado por ele na reflexão teológica e na investigação das ciências da
religião.
Martelli continua esta discussão afirmando que a década de 80 consolidou
condições para a análise sociológica do fenômeno religioso que reconhece a religião como
“fator relevante da mutação social e política que está rapidamente mudando o rosto do mundo
contemporâneo [...] não apenas na periferia da modernidade [...] mas naquelas [sociedades]
modernizadas e forçadamente secularizadas” (MARTELLI, 1995, p.9).
A relação modernidade/religião não implica na destruição das religiões mas na
reflexão desta relação, numa perspectiva racional, levando a duas novas ciências: a filosofia
da religião e a ciência da religião. Nelas o princípio da unidade, o princípio da realidade, é a
razão, o que implica em criticidade, análise e investigação e não numa posição determinada
de fé. Luiz Felipe Pondé até questiona se um cientista ateísta terá neutralidade na sua
militância anti-religiosa, por falta do “tato religioso” (PONDÉ, 2001, p.47) ou da indagação
sobre o sentido essencial das coisas. Não concorda que precisa haver “ateísmo metodológico”
(2001, p.54) ao contrário, o cientista necessita do tato religioso para entender o fenômeno
religioso.
Paden afirma que a partir do século XIX houve a crença em que a ciência e a razão
podiam substituir a religião como fonte do verdadeiro conhecimento sobre o mundo, num
processo de emancipação do homem da escravidão intelectual, trocando um sistema de
interpretação sobrenaturalista para outro empiricista, no que ele chama “pensamento binário”
(PADEN, 2001, p.16).
A crise da religião virou irreversível, com múltiplas conseqüências para mulheres
e homens em todos os aspectos da vida econômico, político, social, psicológico, cultural e
até ambiental contribuindo para o fenômeno da secularização, definido por Martelli como
“uma conseqüência do processo de racionalização que havia transformado o Ocidente,
assinalando o triunfo da racionalidade instrumental [...] que comportava, ao mesmo tempo, a
marginalização da religião e a dessacralização [...] o desaparecimento do sagrado” (1995,
p.271).
O termo secularização surge no século XVI, na França, ao designar a condição do
religioso que voltava à sua situação de leigo, o conceito depois abrangendo a perda de
controle da Igreja sobre terra ou bens, no século XIX. Hoje, refere-se a libertação do homem
52
moderno da tutela da religião. Porém ainda persiste, em círculos ligados às Igrejas
tradicionais, o termo significando paganização ou descristianização.
Martelli aponta três concepções de secularização - libertação da alienação
religiosa, descristianização e purificação da fé cristã como sinais, para alguns, do declínio
do cristianismo numa perspectiva linear da história, que para ele é “um mito moderno” (1995,
p.278).
O autor que aprofunda o conceito de secularização é Peter Berger, no seu clássico
O Dossel Sagrado (1985), onde assume uma posição científica ao descrever o fenômeno
religioso, suas origens históricas e suas conseqüências. Para Berger a secularização foi,
efetivamente, a retirada do “dossel sagrado”, representação da Igreja e sua dominação pelas
instituições e símbolos religiosos, que afetou a totalidade da sociedade.
Berger aponta dois níveis de secularização: o objetivo e o subjetivo, resultados da
crise de credibilidade, ou crise de plausibilidade, diante das interpretações religiosas
tradicionais da realidade.
Os determinantes são múltiplos e envolvem desde a primazia da razão e a
dinâmica do capitalismo na economia moderna até uma tendência à secularização, afirmada
por Berger (1985), desde o tempo do Antigo Testamento. Para ele, a tradição religiosa
ocidental conteve suas próprias sementes da secularização.
A própria religião é fator da gênese histórica, da perda da sua tradição e da geração
da crise de plausabilidade. Para Berger (1985) a evolução das religiões de origem bíblica é
fator causal do processo de secularização, como é entendido no mundo moderno. A religião
que sofra as conseqüências da secularização é, ao mesmo tempo, protagonista e vítima. A
historicização das religiões, ou seu papel histórico “inserção-no-mundo”, como também a
racionalização ética da totalidade da vida como serviço a Deus, dará fundamento para a
crença da retribuição de Deus, no mundo concreto dos homens. Esta percepção influencia e é
influenciada pelo processo econômico moderno. O enraizamento da consciência religiosa se
encontra no mundo da práxis cotidiana. Berger afirma os reflexos maciços da secularização
da consciência, não somente no contexto das instituições tradicionais religiosas, mas fora
delas.
Um fenômeno, também, produto da modernidade, é o pluralismo religioso, um
correlato socioestrutural de secularização da consciência, levando à individualização ou à
predominância da religiosidade, na esfera privada da vida cotidiana. Para Berger, esta
religiosidade “limita-se a domínios específicos da vida social, que podem ser efetivamente
53
segregados dos setores sacralizados da sociedade moderna” (1985, p.145), numa ruptura com
a função tradicional da religião de dar sentido a um mundo comum.
A crise da plausibilidade contrapõe espaços contraditórios e visões antagônicas
que produzem, também, reações contraditórias. Como é possível? A antiga visão religiosa,
monopólica, exigindo submissão, principalmente da mulher e se auto-proclamando a única
verdade, se confronta com uma nova visão que percebe e aceita a pluralidade de mundos
político-social-religiosos, até com perspectivas antagônicas, um relativismo moderno, a
soberania da razão.
As reações não incompatíveis, embora pareçam à primeira vista, são a
secularização, já explicada, e ao mesmo tempo a contrasecularização, levando ao que
Berger(1996) chama “o fervor religioso” ou a redescoberta do sobrenatural.
Para ele, no seu livro Rumor de Anjos, “os anjos sinalizam a preocupação de Deus
por este mundo, no julgamento e na redenção” (1996, p.224). A redescoberta do sobrenatural
é uma reabertura à realidade e aos sinais de transcendência, através de cada gesto humano, às
vivências cotidianas, na confrontação com a época que a transcende.
Percebe-se aqui uma desconstrução da realidade vivida e entendida dentro de
parâmetros e paradigmas tradicionais/seculares num processo complexo chamado
“secularização”, e a reconstrução desta mesma realidade, com parâmetros e paradigmas
novos, no processo de contra-secularização. Nisso o religioso, o sagrado, não é negado mas
reconstruído, num processo dialético da tese, antítese e síntese, o resultado sendo um novo
conhecimento e um novo mundo.
Neste contexto de desconstrução e reconstrução, até pilares fundamentais da
modernidade Verdade, Razão, História e Progresso estão sendo substituídos por novos
valores, num processo de superação da modernidade: a pós-modernidade.
A chamada pós-modernidade inicia-se no século XX com a passagem das relações
de produção industrial para as pós-industriais baseadas em serviços e trocas de bens
simbólicos ou abstratos como saber tecnológico e informático. A contestação das verdades
dogmáticas se intensifica, especificamente, na segunda metade do século XX.
David Harvey (1993) considera que a principal característica da sociedade pós-
moderna é a contestação desconfiada das metanarrativas, metateorias e metalinguagens diante
do crescente pluralismo de discursos e interpretações que valorizam as diferenças sócio-
culturais, apagadas pela modernidade. Outras características refletindo a pós-modernidade, na
ótica de Harvey (1993) são, principalmente: a priorização do significante versus o significado;
a percepção da instabilidade dos discursos e da sua linguagem; a desagregação da identidade;
54
a busca da estética e do erotismo; a problematização das narrativas históricas e as dificuldades
de sustentar valores.
Dentro deste contexto pós-moderno, a experiência do sagrado, a dimensão sagrado
do mundo, está, paradoxalmente, sofrendo uma revitalização, não nos moldes tradicionais
institucionais religiosos, mas numa subjetivização e privatização do direito de dar significação
as suas experiências. “A religião passa a ser de foro íntimo, fruto da construção identitária
subjetiva e autônoma, que não precisa mais prestar contas a uma tradição / instituição”
(PORTELLA, 2007, p.5).
Queremos agora passar para a última parte desta reflexão, demonstrando algumas
manifestações concretas do fenômeno da secularização referentes à realidade da mulher
brasileira e usando uma interpretação a partir de gênero, para perceber a desconstrução e
reconstrução da sua identidade ético-religiosa e psicossocial.
3.2 PRINCIPAIS CATEGORIAS NA ANÁLISE DOS DESAFIOS
Os desafios à mulher brasileira só podem ser entendidos a partir da discussão de
gênero que é um conceito complexo “entendido como uma categoria ou um instrumento que
facilita o estudo e o diagnóstico das relações sociais, econômicas e políticas entre mulheres e
homens e como se dão as relações de poder destes sobre aquelas” (TELES, 2003, p.53). O
gênero como categoria de estudo influencia a compreensão do mundo e a ética da análise
destas relações. Os dados sobre a mulher precisam ser interpretados: a realidade é sempre
realidade interpretada. Não se tem acesso direto à realidade e, conseqüentemente, à verdade.
Neste trabalho as principais categorias que colocarão luzes sobre a análise dos
desafios, enfrentados pela mulher católica moderna, nas relações de gênero pessoais,
institucionais e societárias - são:
a) a mudança de participação social da mulher da esfera privada à esfera pública;
b) a corporeidade, seus símbolos e poder;
c) gênero, sexo e sexualidade;
d) subjetividade e desenvolvimento psicossocial e ético da religiosidade.
3.2.1 Da esfera privada à esfera pública
A condição feminina nas sociedades ocidentais começa a ser redefinida a partir
das transformações ocorridas nas primeiras décadas do século XX. No Brasil, o papel da
55
mulher era definido a partir da esfera doméstica, mas este conceito foi sendo alterado,
principalmente com as mudanças político-econômico-sociais da década de 70 no Brasil ao se
inserir maciçamente no mundo globalizado. Houve uma “revolução de gênero”, onde a
identidade social da mulher, limitada às suas atividades, papéis e trabalho na família, foi
desconstruída e reconstruída em novos paradigmas (WOODHEAD, 2002).
Woodhead (2002) esclarece que as sociedades ocidentais tem um alto grau de
diferenciação que implica na alocação de atividades sociais à diferentes instituições.
Exemplifica indicando governo, leis, educação, e trabalho como funções mantidas pela
divisão social do trabalho. Nas sociedades industrializadas, existem claras definições entre
vida privada e pública. Para ela, era uma distinção de gênero, em que as mulheres eram
designadas à esfera privada ou à instituição da família, associada mais à feminili dade, e os
homens assumiam as instituições públicas, como governo, exército, negócios, trabalho ou
instituições primárias. Woodhead (2002) ainda afirma que a instituição religião, forçada a sair
da esfera pública do poder, entrou na esfera privada, domínio da mulher. Assim, a própria
religião tornou-se uma questão privada, “guardiã da vida privada e dos valores da família e
ensina as virtudes ‘femininas’ do amor, da graça, da suavidade, da compaixão e outras que
sustentam a vida familiar” (WOODHEAD, 2002, p.3). No período do pós-guerra, múltiplos
fatores contribuíram para a entrada das mulheres nas instituições primárias públicas:
conquistaram direitos políticos, garantiam seu acesso à educação pública e superior,
ingressaram no mercado de trabalho, passando de status de mãe e esposa para o de
trabalhadora. “A busca por uma identidade própria e pelo reconhecimento social desta
identidade teve um impacto profundo sobre o modelo dominante de família baseado na ética
do provedor” (OLIVEIRA, 2004, p.35). A mulher saiu da invisibilidade a que estava relegada,
historicamente, na esfera privada, assumindo novos papéis e preenchendo novos espaços na
esfera pública. Foi o confronto da modernidade com a religião que educava para os papeis de
mãe e esposa.
Matos (2003) salienta que a presença feminina no trabalho e nas instituições
educacionais, como, também, a luta feminina de igualdade de direitos e pela liberdade nos
movimentos sociais, ampliaram o espaço público conquistado pelas mulheres brasileiras.
Concomitantemente, houve uma crescente participação feminina em pesquisas e estudos,
organizações, jornais, sindicatos e movimentos, reivindicando melhor qualidade de vida nas
esferas sociais, políticas e econômicas.
As mulheres se tornaram visíveis para a sociedade. A década de 70 no Brasil foi
decisiva para a participação da mulher, especialmente no espaço urbano, na “cultura de
56
resistência” (MATOS, 2003, p.73). Isto afetou as suas formas de conscientização na
construção de uma nova identidade como sujeito ativo que questionava a sua opressão
histórica.
Houve, necessariamente, a reconstrução das categorias pública e privada, na
perspectiva feminina de gênero, como também as categorias de cultura e natureza. Matos
explica que :
a representação do lar e da família, em termos naturais, e da esfera pública,
ao contrário, como instância histórica, foi uma herança vitoriosa da qual
emerge o dualismo público/privado, reafirmando o privado como espaço da
mulher, ao destacar a maternidade como necessidade, e o espaço privado
como locus da realização das potencialidades femininas. Da mesma forma,
questiona-se a noção de cultura e natureza, na qual cultura está para o
masculino assim como o feminino está para a natureza (MATOS, 2003, p.
79).
Nesta transição privada/pública, duas dimensões básicas se sobressaíam as quais
apresentam-se desafios sérios para a mulher contemporânea. A primeira dimensão se refere à
família e abrange os indicadores dos tipos e durabilidade das uniões, além dos seus vínculos
legais e religiosos, da mudança nas tendências de procriação e da constituição de grupos
familiares alternativos ao modelo tradicional de família baseado na ética patriarcal.
(OLIVEIRA, 2004).
A segunda dimensão reporta à própria condição feminina, incluindo mudanças
referentes à sexualidade, à liderança doméstica e chefia de família como provedor, à
escolaridade, à inserção da mulher com filhos na esfera pública do trabalho, à abertura nos
diversos espaços profissionais (OLIVEIRA, 2004).
A mulher se integra cada vez mais ao espaço público, reflexo de mudanças
culturais e tecnológicas da sociedade capitalista moderna que incluíram: as transformações no
mercado de trabalho; crescimento de possibilidades profissionais e educacionais; inovações
tecnológicas e biomédicas, na área de reprodução humana; a dinâmica dos movimentos
sociais das mulheres em várias frentes e a expansão e incorporação de valores do mundo
globalizado (OLIVEIRA, 2004). A articulação destes aspectos modificou as relações de
gênero, principalmente no espaço privado e provocou mudanças nos costumes e normas, na
sexualidade, no casamento e na família.
A revolução da mulher ocorre no cotidiano das relações de gênero e na consciência
e elaboração simbólica de sentidos.
Esta nova condição tem, também, implicações para as mulheres e a religião, de
acordo com Woodhead (2002):
57
a) a religião sustenta papéis tradicionais domésticos para as mulheres cuja família
permanece no espaço social primário;
b) a religião cria tensões para as mulheres que precisam articular o mundo
privado com o público, confrontando a religiosidade com a vida profissional;
c) a reinvenção da religião pelas mulheres para adequá-la à vida moderna,
deixando valores “tradicionais” para outros mais igualitários e liberais. Há
procura, também, de novas formas de religião e espiritualidade, confrontando-
as com a religião tradicional mais conservadora no que tange ao gênero,
identidade feminina e sexualidade.
Para documentar esta transição do privado para o público pela mulher brasileira,
com conseqüências para a (re)construção da sua identidade psicossocial e ético-religiosa,
existem inúmeras informações e estatísticas.
Libório (2006), explica as formas que a família pós-moderna está assumindo, além
do conceito da família tradicional nuclear pai/mãe/filhos com padrões de comportamento
estritamente determinados tanto pela sociedade como pela Igreja Católica. Estas formas
incluem o acasalamento amoroso com relacionamento conjugal; relacionamentos pré-
matrimoniais; famílias múltiplas envolvendo divorciados, uniões consensuais, pais solteiros,
casais de homossexuais; casais em segundo/terceiro casamento com os respectivos filhos e
família sem pais, mas com avós, tios, irmãos como chefes da família.
A família brasileira está passando por modificações significativas em sua natureza
que denotam a estruturação de novas relações de gênero. As estatísticas mostram tendências
significativas sobre a mulher brasileira na família.
O censo de IBGE de 2000 levanta dados específicos sobre nupcialidade e
fecundidade, publicados em 2003. Neste ano, o IBGE registrou 138,5 mil divórcios e 103,4
mil separações, sendo 45.3% de divórcios e 61.9% de separações consensuais. No Recife, até
novembro de 2005, houve 1.438 divórcios e 342 separações consensuais e, em 2004, 1.514
divórcios e 373 separações por mútuo consentimento.
Ao mesmo tempo, o IBGE constatou um aumento de 7.7% no número de
matrimônios, realizados em cartórios, entre 1991 e 2000: um total de 806.968 casamentos,
com um número crescente de viúvos ou divorciados casando de novo.
Os números sobre casamento, mostram os tipos de casamentos entre 1994 e 2004
(IBGE, 2004). Os casamentos entre solteiros diminuíram de 91,7% (1994) para 86,4% (2004).
Neste mesmo período, os casamentos entre solteiros e divorciados aumentaram em 3,6%, e
58
entre divorciados dobraram de 0,8% a 1,9%. A tendência marcante é a redução do número de
solteiros e o aumento de divorciados que se casam novamente.
Os regimes dos casamentos, também, se modificaram, comparando os dados dos
censos 1980, 1991 e 2000 (IBGE, 2000). Em 1980 o casamento civil e religioso compunha
63,9%, em 2000 baixou para 49,4%; o casamento somente no civil permaneceu o mesmo;o
casamento somente religioso baixou de 8,1% para 4,4% e a união consensual aumentou de
11,7% para 28,6%. Estes dados apontam para uma tendência de diminuição de uniões legais e
aumento de uniões consensuais, com rejeição da religião como validação do casamento.
O número de casamentos, divórcios e separações, entre 1994 e 2004, indica um
aumento significativo de divórcios e separações em relação aos casamentos. Em 1994, houve
763.129 casamentos, 84.805 separações e 94.818 divórcios, e, em 2004, houve 806.968
casamentos, 93.525 separações e 130.527 divórcios. O tempo médio do casamento ao separar
era de 11.5 anos.
A maior parte das famílias, ainda é composta por casais com filhos (53.3%), mas
há um grande número de famílias monoparentais femininas (20.6%) comparado às
monoparentais masculinas ( 2%).
Outras informações sobre a fecundidade iluminam mais a nova feição da família e
da mulher contemporânea. Desde o século XIX até a década de 40, o Brasil caracterizou-se
pela prevalência de altas taxas de natalidade e mortalidade. A partir desta época, com a
intensificação das políticas de saúde pública, acontece a primeira fase de transição
demográfica com quedas nas taxas de mortalidade. As taxas de natalidade continuam em alta
e só declinam, na década de 1960, com a introdução de anticoncepcionais. Até esta época
houve um crescimento populacional de 2.99% por década, mas de 1960 a 1970 foi de 2.89%,
de 1980 a 1991 de 1.93% e de 1991 a 2000 de 1.64%. As causas apontam para o declínio das
taxas de mortalidade e natalidade, desta principalmente pela tecnologia nova sobre
reprodução humana, anticoncepcionais e procedimentos de esterilização feminina e
masculina.
A evolução das taxas de fecundidade geral no Brasil(IBGE, 2003) refletem uma
série de fatores no embate gênero/religião discutido neste trabalho. De uma média de 6 filhos
por família em 1960, a taxa passou para 5.76 filhos em 1970 (no Nordeste era de 7.5 filhos),
2.9 em 1991 (3.7 no Nordeste) e 2.4 filhos em 2000 (2.7 filhos no Nordeste). A queda geral
foi de 17.7%, no Brasil, entre 1991-2000 (24.7% no Nordeste). O dado surpreendente foi o
aumento de fecundidade, na faixa de 15 a 18 anos.
59
A estatística do IBGE ( 2003), também, aponta para mais alguns condicionantes
socioeconômicos referentes à fecundidade:
a) cor ou raça: as mulheres consideradas pretas ou pardas têm mais filhos, uma
média de 2.8 filhos, enquanto as brancas têm 2.05 filhos, as amarelas 1.4 e as
indígenas 5.4 filhos;
b) anos de estudo: menos estudo, mais filhos. As taxas mostram que as mulheres
com 1 ano de estudo tem 4.1 filhos (no NE, 4.3); as com 1 a 3 anos tem 3.6
filhos (NE, 3.8); as com 4 a 7 anos tem 2.9 filhos (NE, 3.0); as com 8 a 10 anos
tem 2.2 filhos (NE,1.9) e as com mais de 11 anos tem1.5 filhos (Brasil e NE);
c) rendimento familiar mensal per capita: menos renda, mais filhos. As taxas
Brasil e Nordeste são compatíveis: as mulheres que ganham até ¼ salário
mínimo (SM) têm 5.3 filhos; de mais que ¼ a ½ SM, 3.9 filhos; de mais que ½
a 1 SM, 2.4 filhos; de mais que 1 a 2 SM, 1.8 filhos; de mais que 2 a 5 SM, 1.3
filhos e mais que 5 SM, 1.1 filhos;.
d) mulher economicamente ativa: 62% tem até 2 filhos e 27% de 3 a 4 filhos;
e) mães jovens: a gravidez na faixa de 15 a 24 anos está aumentando em geral, a
região Norte tem a maior proporção de jovens mães. No Brasil na faixa de 15 a
17 anos, 6.8% tinham um filho, e 11% dois filhos. Na população jovem de 18 a
24 anos, 36.5% tem um filho, mas na região Norte a taxa é de 52.2%.
A tendência à diminuição da fecundidade tem conseqüências para a capacidade da
família e, em especial, da mulher de conciliar trabalho e responsabilidade doméstica.Um outro
fator que tem influenciado a transição da mulher da esfera privada para pública, e afeta as
questões da família e da fecundidade, é o ingresso da mulher no mercado de trabalho,
principalmente depois da década pós-guerra de 40. Entre 1980 e 1991, a participação das
mulheres cresceu de 27.4% para 37.7%, e nos anos 1990 e 2000 continua crescendo. O
número de domicílios chefiadas por mulheres também cresceu passando de 18.1% para 24.9%
na última década.
Dados indicam que entre os domicílios chefiados por mulheres, 53.6% eram de
mulheres brancas em 1991 e 55.1% em 2000, enquanto 45.5% eram negras ou pardas em
1991 e 43.4% em 2000. A região Nordeste apresenta o maior número de famílias chefiadas
por mulheres, 29,3%, destacando o estado de Pernambuco com 31,6%. A faixa etária
demonstra que em 2000, 58.4% das jovens de 18 a 24 trabalham, sendo 61.5% de 25 a 49
anos e 39% de 50 a 59 anos (IBGE, 2000).
60
As mulheres foram basicamente para o mercado de trabalho na década de
90. Uma intensa mudança comportamental se aliou a queda de renda e ao
empobrecimento das famílias, empurrando seus membros para o mercado
de trabalho (Jornal do COMMÉRCIO, 23/05/05).
O fenômeno da incorporação das mulheres na economia é irreversível e traz
múltiplas conseqüências para a estrutura familiar-número de filhos, níveis de educação, papéis
femininos e masculinos, a independência e autonomia das mulheres, suas expectativas e
planos - e para as relações entre mulheres e homens na família, na sociedade e no trabalho, de
forma geral.
As manifestações de desigualdade no trabalho seguem as receitas históricas de
opressão da mulher: salários e condições de trabalho inferiores, aumento de empregos
informais, assédio moral e sexual no trabalho, discriminação pela presença e/ ou esperança de
filhos e gravidez, poucas oportunidades para cargos de direção. As mulheres estão
concentradas nos trabalhos em educação, saúde e serviços sociais, assim reproduzindo, na
divisão de trabalho, as tarefas tradicionais de cuidar da família, idosos e crianças.
Os indicadores das mulheres variam mais do que os dos homens, apontando para a
influência do tipo de família em que está incluído e o peso das responsabilidades familiares.
Mulheres trabalham 4.4 horas por dia em afazeres domésticos, mas 46.3% do que os homens
(CFEMEA, 2006). Das mulheres ocupadas, 91.3% se preocupam com estas tarefas, apontando
uma dupla jornada de trabalho, reproduzindo no novo contexto da mulher trabalhadora a
ideologia patriarcal da mulher que vive e se realiza no serviço da família. Não existe, na
realidade, igualdade entre homens e mulheres enquanto existem as desigualdades de
responsabilidades perante a família. A mulher assume mais papéis enquanto o homem
continua com os mesmos papéis tradicionais.
Dentro da reflexão sobre a transição da mulher da esfera privada para pública, é
essencial incluir mais um desafio: a mulher como sujeito político. Este conceito implica na
aceitação da igualdade entre gêneros e da necessidade da mulher construir esta igualdade
passando pela desestruturação da ordem social que hierarquiza as desigualdades. O modelo
clássico de igualdade, construído pelos homens para os homens não pode ser o ideal. Este
modelo histórico visa a igualdade masculina do homem ocidental, branco e proprietário como
sujeito político e rechaçava a mulher como igual ao homem, oprimindo-a. Para a mulher ter
direito de ter direitos, precisava criar um novo paradigma. “Pelo contrário, a possibilidade de
as mulheres alcançarem a igualdade implica na tarefa de desconstruir e transformar esse
61
modelo dominante de igualdade que se apresentava como projeto de um sujeito universal”
(ÁVILA, 2000, p.7).
Ávila (2000) afirma que o movimento feminista contribuiu para a constituição da
mulher como sujeito político no processo de transformação social, tirando-a da proibição de
ter acesso à esfera pública. A vida privada não era símbolo de privacidade, mas de privação,
com a restrição das mulheres ao espaço doméstico, subordinadas ao pai, irmão, marido, estes
apoiados pela e Igreja. Ela explica que “a opressão feminina foi introjetada pelas mulheres
como atributo da sua identidade, [...] pertencer ao homem era a forma de existência social das
mulheres” (ÁVILA, 2000, p.8). Casamento, sem questionamento, era o seu destino.
Era necessário romper com a idéia do destino pré-estabelecido para as mulheres na
sociedade, através da valorização do conceito de autonomia como fundamental para a prática
da liberdade. Para Ávila, “os homens tinham história, as mulheres tinham destino. Esse
destino heterônomo era ditado pelas normas patriarcais” (ÁVILA, 2000, p.9).
A ruptura da forma da mulher constituir a sua identidade historicamente possibilita
às mulheres conseguir a liberdade de ter acesso aos espaços públicos como contexto de sua
realização como mulher sujeito e como sujeito político, aspecto novo e positivo para sua vida.
Ávila (2000) faz um paralelo entre a vida cotidiana (esfera privada) e democracia
(esfera pública), afirmando que “a radicalização do projeto democrático exige que a vida
cotidiana seja tomada como uma questão fundamental da sua agenda política e da reflexão
teórica de quem pensa a transformação social” (ÁVILA, 2000, p.9).
Entende-se que a questão da mulher, como sujeito político, se refere à mulher na
família, na escola, na Igreja, na sociedade, na política, na luta por direitos em todos os
espaços. Infelizmente, ainda existe na cultura brasileira uma ótica sexista e discriminatória
referente às mulheres que as limita de usufruir com autonomia e dignidade os seus direitos
constitucionais e internacionais (PIOVESAN, 2005). As mudanças culturais e de valores são
imprescindíveis para garantir a queda da dupla moral que avalia diferentemente atos e atitudes
de homens e mulheres. A questão básica é de poder, de poder entre homem e mulher a
relação de gênero constituída e reificada cultural e institucionalmente.
Piovesan (2005) lembra o legado de Viena a Declaração Universal dos Direitos
Humanos ao afirmar que os direitos da mulher e o direito de ter direito é parte integral dos
direitos humanos universais. Os direitos humanos são uma unidade inter-dependente, inter-
relacionando direitos civis, políticas, sociais, econômicas e culturais. A mulher como sujeito
de direitos tem que ser respeitada em todas as esferas da vida, incluindo a esfera religiosa da
Igreja Católica.
62
Na transição do tradicional ao novo, o segundo grande desafio que a mulher
católica enfrenta na construção da sua identidade é a afirmação da sua corporeidade, seus
símbolos e seu poder no transitar do tradicional ao novo.
3.2.2 Corporeidade: símbolo e poder
O corpo é mais que um órgão biológico, mais que uma metade da dicotomia
histórica e religiosa corpo/ espírito (ou alma), mais que provisório, mutável e temporal. O
corpo é produzido culturalmente, é histórico, é constituído pela linguagem, é nossa identidade
e materialidade biológica, é uma realidade biopsicossocial e política. È uma construção
cultural, histórica e social, produto das relações de gênero.
A produção do corpo opera, simultaneamente no coletivo e no individual.
Nem a cultura é um ente abstrato a nos governar nem somos meros
receptáculos a sucumbir á diferentes ações que sobre nós se operam.
Reagimos a elas, aceitamos, resistimos, negociamos, transgredimos, tanto
porque a cultura é um campo político como o corpo, ele próprio é uma
unidade biopolítica [...] algo que se produz historicamente [...] produto do
nosso tempo [...] é único e revelador de um eu próprio, é também um corpo
partilhado (GOELLNER, 2003, p.39-40).
Goellner (2003) salienta que um corpo não é somente um corpo, mas todo o seu
entorno, conjunto biológico, sentidos, expressão, intervenções, imagens criadas, leis e códigos
morais, educação, linguagem, representações e poder. Para ela, “não são as semelhanças
biológicas que o definem mas, fundamentalmente, os significados culturais e sociais que a ele
se atribuem” (GOELLNER, 2003, p.29).
A linguagem tem um poder sobre o corpo e delega poder ao corpo ao classificar,
definir padrões, nomear e atribuir níveis e tipos de poder em determinado tempo e espaço,
mas sempre dinâmico e mutável.
Para Gebara (2000), o corpo feminino é, também, o corpo-objeto de dominação,
violência, desejo, posse, conquista, exclusão e exploração. A dominação se estabelece e se
perpetua com o reforço das estruturas e instituições socioculturais que declaram a
inferioridade existencial do corpo feminino. Esta idéia é legitimada pela cultura e reificada
nas suas elaborações. De acordo com Gebara (2003), a diferença feminina/masculina é um
processo histórico desenvolvido, através do “biológico culturalizado”, que atribui posições de
dominação versus marginalização para homens e mulheres. A diferença biológica
culturalizada fundamenta as diferenças sociopolíticas como “formas de dominação e formas
63
de manutenção de uma hierarquia social e sexual masculina [...] a diferença obrigou as
mulheres a assumir certos encargos e comportamentos como fazendo parte do seu destino
biológico”(GEBARA, 2000, p.124). Assim, a institucionalização das diferenças justificam as
desigualdades como naturais ou designadas por Deus. A afirmação das diferenças é afirmação
de dominação, violência e exclusão, não só fisicamente, mas psicológica, moral,
religiosamente, através do discurso ideológico e da linguagem.
Gebara (2000) esclarece que a violência institucionalizada contra a mulher não só
é particular, mas é uma organização social, cultural e religiosa. Bingemer (2006) chama a
mulher um elemento perturbador, discriminada nos espaços da Igreja, “através de sua
corporeidade que, sendo outra que a do homem, exprime e sinaliza a experiência de Deus de
maneira outra e própria” (BINGEMER, 2006, p.10).
Biblicamente, e historicamente, a mulher é considerada responsável pela
configuração do pecado na perda do paraíso e, conseqüentemente, pelo sofrimento e morte no
mundo. Na Igreja, a mulher foi sempre limitada na sua participação no sagrado e tudo que
envolve, como atos e objetos, na mediação com Deus, por não ter um corpo “puro” e ser
considerada “sedutora, inspiradora de medo, fonte de pecado para a castidade do homem e o
celibato do clero” (BINGEMER, 2006, p.11).
O poder do corpo da mulher era o próprio mal e referente as mulheres, o seu
ser, em si era mau: um maniqueísmo teológico. Para a Igreja, historicamente, só a
maternidade ou virgindade eterna salvava a mulher.
Gebara (1994) reflete que a mulher tradicionalmente foi temida pelo seu poder,
atribuído pela Igreja durante séculos, e até hoje, através do mito adâmico, de sensualidade,
tentação e fraqueza da carne, mas também força de vida, natureza, terra. Ela alega que a
grandeza da mulher e seu poder-mãe, como força misteriosa, amedrontava o homem que a
combateu ideologicamente e venceu. “A mulher tornou-se, simbolicamente, a exteriorização
deste medo, pois a sua própria realidade corpórea pareceu propicia a isto” (GEBARA, 1994,
p.87).
Todo este poder da mulher exigia controle e implicava em controlar o que ela
simbolizava. O símbolo mulher não será combatido em si, mas a sua realidade histórica, sua
condição feminina, através de mecanismos psicológicos, sociais, políticos, culturais e
religiosos que impediram a manifestação deste poder. Foram mecanismos de repressão,
reproduzidos conscientemente e inconscientemente durante séculos. A mulher foi
conceituada como objeto do homem e assexualizada pela Igreja como virgem e mãe.
Exemplos históricos refletem esta dicotomia. Desde a Renascença, as mulheres ou foram
64
colocadas no pedestal e veneradas como exemplos da perfeição e beleza da natureza, ou
foram consideradas como símbolo da natureza desordenada, descontrolada e perseguidas
como bruxas pela Inquisição.
Teologicamente, de acordo com Gebara (1994), o corpo humano foi desprezado, e
ainda mais o corpo da mulher que representava sexo e sexualidade. Rejeitou sexo, rejeitou a
mulher. O dualismo da Igreja precisa ser revisto, o medo do corpo da mulher refletido, o
poder dividido, o corpo redimido, reconstruido o moral que negava a “extraordinária
materialidade divina de nossos corpos” (GEBARA, 1994, p.94).
Leonardo Boff (2003) contribui na caracterização do que é o ser humano
masculino / feminino. Afirma que a dicotomia cultural que delegou o homem a ser o único
capaz de racionalidade, poder e construção, e limitou a mulher à esfera privada como objeto
de serviço e satisfação, “ambos se depuseram antropologicamente e mutilaram a construção
da figura do ser humano [...] padeceram as mulheres sob a opressão dos homens com formas
de crueldade inimagináveis” (BOFF, 2003, p.211).
No contexto brasileiro do confronto do simbolismo do corpo entre homens e
mulheres, há três desafios que são pertinentes para este trabalho: a exclusão social da mulher,
a violência contra a mulher, e a luta pelos direitos reprodutivos, todos aspectos da questão
corporeidade e poder pelo qual a Igreja, também, participou na sua configuração.
Maria Clara Bingemer (2006) faz uma reflexão sobre exclusão social da mulher,
que para ela é secular e diferenciada da do homem. “A compreensão sobre a condição
bipolarizda do sexo possibilita indicações das direções que torna a exclusão social
fundamentada na diferença” (BINGEMER, 2006, p.6). Ela reconhece que a exclusão é
presente em todos os segmentos, e é resultado de fatores culturais, educacionais, étnicos,
econômicos, políticos, de trabalho e de identidade.
BINGEMER (2006) apresenta um balanço de dados que refletem esta exclusão. A
cada ano 14 milhões de meninas entre 15 e 19 anos dão à luz enquanto meio milhão de
mulheres morre todo ano por complicações na gravidez. As mulheres são 70% dos 1.300
milhôes de pobres do mundo e um terço das famílias no mundo é dirigido por mulheres.
Mulheres são 65% dos analfabetos do mundo e 450 milhões delas tiveram desnutrição na
infância. A sua sexualidade é seriamente abalada: mais de 2 milhões de meninas sofrem
mutilação genital cada ano e a mulher é 40% dos infectados pelo HIV, no mundo. As
mulheres e seus dependentes são 80% dos 23 milhões de refugiados no mundo. Como sujeito
político, as mulheres em posições de decisão governamental de alto nível são escassas: mais
de 100 países não têm mulheres no seu parlamento.
65
Este balanço afirma uma condição degradante de gênero, incluindo extrema
pobreza, deterioração de saúde mental e física, violência social, falta de acesso à educação e
ao trabalho digno e ausência nos espaços de decisão política.
No Brasil, as taxas educacionais já melhoraram, mas as mulheres ainda apresentam
alto índice de mortalidade materna, baixos salários, carência de melhor atendimento referente
à saúde reprodutiva e falta de políticas para combater a violência contra a mulher.
No Brasil, durante séculos, as mulheres estiveram ausentes da história e da
participação político-econômico-social. Perpetuou-se uma situação de “normalidade social”
encobrindo relações hierárquicas cujos objetivos eram a dominação, exploração e opressão
levando às violações dos direitos humanos e à violência contra a mulher. Estabele ceram-se
relações de gênero baseadas no poder e controle do sexo masculino sobre o sexo feminino.
A questão da violência contra mulher numa perspectiva de gênero atinge as
mulheres independentemente de idade, classe social, religião, escolaridade, raça/etnia e
orientação sexual nos aspectos de violência física, sexual, psicológica, doméstica, verbal.
Inclui o assédio sexual e assédio moral, no próprio ambiente de trabalho, como, também, a
violência social, institucional, patrimonial, genética e simbólica.
Todo ato violento fere a mulher em toda sua plenitude, na sua existência/essência,
na sua identidade como mulher. É uma “forma de dilaceramento do ser social” (FRAGA,
2004, p.56). De acordo com Silva, “toda violência possui uma intencionalidade uma
teleologia e conta com operacionalizadores e justificadores. É, por isso, concreta, material e
historicamente situada” (SILVA, 2004, p.134). A violência tem seu nascimento nas estruturas
de poder nas esferas pública e privada, sendo reforçada por ideologias que lhe dão
legitimidade.
É uma manifestação clara da desigualdade social e racial, de poder entre homens e
mulheres, deixando visível a opressão social, através de marcas físicas, psicológicas e morais
naquelas que são metade da população brasileira. A violência só pode ser explicada no
contexto das relações de gênero. A compreensão do conceito de gênero implica em identificar
os valores atribuídos à homens e mulheres e às normas comportamentais embasadas neles.
Almeida (2004) enumera as conseqüências da interferência destes valores no funcionamento
das instituições sociais, a influência dessas questões na vida cotidiana e a possibilidade de ter
maior comprensão sobre as relações individuais e coletivas entre homens e mulheres. Para ela,
a assimetria de gênero é acentuada na sociedade onde o “gênero masculino é o pólo
hegemônico” ( 2004, p.15).
66
A violência contra mulher tem muitas faces e acontece em dimensões e espaços
diversos.
É na própria casa que a violência ocorre principalmente. No lar a mulher sofre
violência física, sexual, psicológica e moral. Violência doméstica é campeã entre todos os
tipos de violência contra mulher e expressa a desigualdade de poder nas relações afetivas e
sociais entre homens e mulheres.
A pesquisa “A mulher brasileira nos espaços público e privado” foi realizada em
2001 pela Fundação Perseu Abramo junto a 2502 mulheres, em 187 municípios de 24 estados,
incluindo todas as capitais e municípios com mais de 500,000 habitantes, sobre a questão das
desigualdades de gênero. O foco não foi somente registrar as condições objetivas de vida das
mulheres, mas incluir percepções e anseios sobre diversos aspectos da sua vida. (VENTURI;
RECAN; OLIVEIRA, 2001).
A pesquisa da Fundação revela que 19% das mulheres entrevistadas, falando
espontaneamente, admitiram ter sofrido violência em casa. Ao serem estimuladas pela
menção de diferentes tipos de violência física, psíquica e assédio 43% afirmaram ter sido
vítima: 33% de violência física, 27% de ameaças, 11% de assédio. A violência física incluiu
agressão, estupro, ameaça, abuso sexual.
A Revista Isto É (01/06/05) traz uma reportagem que aponta que, no Brasil a cada
15 segundos uma mulher é agredida por seu companheiro: das mulheres assassinadas 70%
foram vítimas do marido. O Brasil lidera o ranking da violência doméstica de 54 países: 23%
das mulheres já sofreram alguma violência. A mulher só faz a denúncia após levar, em média,
dez surras. De acordo com 30% da população, a violência é o principal problema da mulher,
depois do câncer de mama, câncer de útero e AIDS.
Na questão da violência doméstica, a polêmica do machismo, do poder do homem
sob a mulher, da pertença da mulher ao homem, começando com o pai, continuando com o
irmão e levando até o namorado e depois marido e companheiro, ainda é predominante no
Brasil. De novo, a mulher não é dona de si nem do seu corpo tem donos. E a mulher, o que
diz?
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo (VENTURI; RECAN; OLIVEIRA,
2001), levantou algumas respostas das mulheres, sobre o machismo no Brasil. Das mulheres
entrevistadas, 89% acusam os homens de machismo e, destas, 73% dizem que eles são “muito
machistas”. Na definição das mulheres do que seja machismo, elas concordam que o homem
machista pensa o seguinte sobre a mulher: mulher tem que obedecer; nunca tem razão; tem
67
menos direitos; tem que ficar em casa; não pode trabalhar fora, nem sair sozinha; é sua
propriedade.
Embora seja o tipo de violência que mais estampam as manchetes de jornais e
revistas e recebe maior cobertura da mídia (só em Pernambuco, no ano de 2006, quase 400
mulheres foram assassinadas), a violência tem outras faces.
No espaço do trabalho, ocorrem o assédio e a violência sexual, seguidos pelo
assédio moral que desqualifica o trabalho, humilha e desmoraliza a trabalhadora e causa
intenso sofrimento psicológico e moral. O homem, em geral, em posição superior e com mais
poder, assedia a mulher: o contrário é raríssimo.
O cumprimento dos direitos sociais que são necessários para garantir,
minimamente, uma qualidade de vida, e cuja violação condena a pessoa à exclusão social,
miséria e desumanização, é um dever do Estado para com todos os cidadãos. Porém, há
alguns segmentos da população cujos direitos são histórica e maciçamente violados, levando a
níveis intoleráveis de violência social. As mulheres, as crianças, os idosos são as pessoas que
mais sofrem, mas as mulheres como responsáveis e, muitas vezes, como chefes de família,
precisam lutar para assegurar não somente o seu acesso à saúde, educação, habitação, terra,
segurança e alimentação, como também o dos seus filhos e seus pais. Convivem com a
violência social triplamente qualificada, como mulher, mãe e filha, onde morte infantil,
mortalidade materna e do idoso são agravadas pela precariedade de garantias sociais.
A violência institucional é uma outra face que contribui para a exacerbação do
fenômeno geral de violência contra a mulher. É praticada pelos funcionários que ao prestarem
serviços públicos são omissos e perpetuem a discriminação e a violação de direitos invés de
proteger as mulheres vitimadas com uma atenção humanizada.
A violência patrimonial é pouco percebida e discutida, mas acontece quando a
sociedade dificulta a própria sobrevivência da mulher e o seu acesso ao trabalho, à
documentos, à bens, à recursos econômicos ou direitos, com conseqüências negativas para
seu crescimento pessoal e profissional e para sua autonomia.
Em todas estas situações, a condição do “ser-mulher” é agravada pela violência
racial/étnica. As mulheres negras são mais vítimas de violência sexual e turismo sexual, de
discriminação no trabalho, de tráfico de mulheres para prostituição e de assassinatos.
Uma outra face da violência contra a mulher que deve ser refletida é a violência
genética que reporta à área da bioética. A bioética começou a ser discutida no Brasil, na
década de 70. Os cientistas eram maioria absoluta e a Igreja Católica, com seu magistério
68
dirigida à mulher e à família, era hegemônica no campo. Grande número de médicos se
posicionava nesta área e, conforme Oliveira:
ao mesmo tempo constatava-se a ausência da perspectiva de gênero e de
uma abordagem anti-racista explicita, na bioética. Percebia-se também que
os movimentos feministas e negro não compreendiam a importância do
novo campo [...] a Igreja Católica mantém presença destacada [...] a
categoria médica é a predominante. Os fóruns de bioética ainda são feudos
masculinos e brancos (OLIVEIRA, 2000, p.30-1).
A bioética é a ética da vida, um novo tipo de humanismo, preocupada com a
reflexão e elaboração de normas para os comportamentos de maior aceitação ética nas áreas
de biociências. Os temas que mais se destacam são saúde e direitos reprodutivos referente
concepção, contracepção, esterilização, aborto, infertilidade e novas tecnologias reprodutivas
conceptivas. Outras questões abrangem saúde e direitos sexuais, saúde pública, transplantes,
doentes terminais, eutanásia e manipulações genéticas.
A bioética é necessariamente interdisciplinar porque exige a contribuição de
muitos campos de saber. É considerada, também, como espaço de luta que representa o
posicionamento científico e moral de movimentos e grupos da sociedade referente às
temáticas indicadas. “A bioética pensa, fundamentalmente, em como atuar no presente; em
delinear um projeto de futuro mais humanizado e na redistribuição dos cuidados com a saúde
de forma universalizada em condições de igualdade” (ALMEIDA, 2000, p.29).
A polêmica levantada indaga sobre se há uma presença expressiva de mulheres na
bioética e de mulheres que incorporam uma visão feminista de gênero. Para Oliveira, a
conseqüência principal da pouca atuação feminista nesta área é a falta de reflexão sobre
questões referentes à opressão e à perspectiva de gênero na abordagem bioética. Para ela:
os biocientistas tenham se referendado no mundo como as únicas pessoas
habilitadas a dizer qual o melhor caminho [...] em decisões éticas, inclusive
daquelas nas quais as mulheres são as principais interessadas: saúde e
direitos sexuais e reprodutivos. Em outras palavras, os homens, via bioética,
vêm retomando o poder de decidir sobre os corpos e a vida das mulheres
(OLIVEIRA, 2000, p.30).
A face da violência genética é menos conhecida e debatida por varias razões. Há
poucas mulheres bioeticistas e nem todas assumem a perspectiva de gênero. Existe, também,
uma descrença na bioética devido à consolidação histórica da ética patriarcal, aristotélica e
hipocrática, quase impossível de ser contestada ou confrontada. Oliveira (2000) reclama a
69
presença das mulheres na bioética como imprescindível para a elaboração teórico-
epistemológica de uma bioética que representa as discussões pertinentes à genética,
principalmente, nas temáticas que influenciam diretamente a vida da mulher.
Ao terminar esta reflexão, convém analisar o conceito de violência simbólica,
resultado do que Bourdieu chama de habitus, já visto na discussão de gênero.
Na interpretação de Lamas, a violência simbólica é “um mecanismo opressor
sumamente eficaz precisamente pela introjeção que as pessoas fazem do gênero, [...]
dominação com consentimento” (LAMAS, 2000), p.20). O corpo é simultaneamente um
objeto físico e simbólico, produzido natural e culturalmente e contextualizado num tempo e
espaço concretos. Neste tempo/espaço o social é vivenciado pelo corpo, mas a “sociedade lhe
impõe acordos e práticas psico-legais e coercitivos [...] a socialização tende a efetuar uma
somatização progressiva das relações de dominação de gênero [...] a somatização do arbítrio
cultural se torna uma construção permanente do inconsciente” (LAMAS, 2000, p.21).
O habitus é o resultado concreto da relação de poder que conceitua a dominação
masculina como natural. A dominação masculina está incorporada, no inconsciente, como
construção social biologizada, impondo a masculinidade aos corpos dos machos e a
feminilidade aos corpos das mulheres. De acordo com Lamas, a situação só vai mudar através
de uma luta que seja travada num terreno simbólico que envolva gênero, corpo e poder:
a revolução simbólica que questiona os próprios fundamentos da produção e
reprodução do capital simbólico e assinala que a liberação das mulheres só
poderá realizar-se mediante [...] uma luta simbólica capaz de desafiar, na
prática, o acordo imediato das estruturas encarnadas e objetivas (LAMAS,
2000, p.21).
A questão dos direitos reprodutivos é a última reflexão sobre o desafio da
corporeidade como símbolo e poder. Foi incluído aqui para ser considerado mais uma
polêmica de poder que de sexualidade, embora aspectos inclusos nestes direitos comporão a
discussão do terceiro grande desafio enfrentado pela mulher católica ante o magistério da
Igreja que é de gênero, sexo e sexualidade.
Em 1995, as Conferências Internacionais de Pequim e Copenhague apoiaram o
posicionamento da Conferência de Cairo sobre População e Desenvolvimento que reconheceu
os direitos reprodutivos como direitos humanos, envolvendo a concepção, o parto, a
contracepção e o aborto, como elementos interligados, onde a ausência de serviços de
orientação e tratamento relega a mulher a uma posição de não-cidadã e de falta de respeito
como ser humano.
70
A Conferência de Cairo reiterou princípios éticos, embasando os direitos
reprodutivos como o direito de ter controle sobre questões que envolvam sexualidade e saúde
reprodutiva, assim como o poder de decidir, livre de coerção, discriminação e violência.
Afirmou o direito individual e a responsabilidade social da mulher sobre a questão da
maternidade, o direito à informação e serviços e o dever do homen ter responsabilidade social
e pessoal, a partir das suas ações na área de sexualidade, para a saúde e bem estar das suas
mulheres e filhos (PIOVESAN, 2005).
Ao falar de direitos sexuais e reprodutivos, há dois aspectos a serem considerados:
a liberdade, autodeterminação individual, privacidade e intimidade da mulher e a garantia de
políticas públicas que assegurem a saúde sexual e reprodutiva.
A Constituição Federal Brasileira de 1988 avançou na garantia de direitos das
mulheres, especificamente referente as temas de igualdade entre homens e mulheres, a
discriminação no mercado de trabalho que proíbe atestados de gravidez ou esterilização, a
proteção da mulher no trabalho, planejamento familiar como livre decisão de casal com a
responsabilidade do Estado a propiciar serviços para garantir este direito e o dever do Estado
de coibir a violência familiar (PIOVESAN, 2005).
Os direitos reprodutivos e os direitos sexuais contíguos a eles aparecem na
modernidade num contexto global e nacional que, ao definir o que constitui a cidadania, inclui
os conceitos de alteridade e participação sócio-político-econômica da mulher. A violência
contra mulher nesta área é um grande desafio para a discussão dos direitos reprodutivos num
Estado hegemonicamente masculino, onde o Direito positivo encobre “o caráter sexista do
Estado falocrático dando-lhe a tão necessária aparência de neutralidade [...] de um Estado
masculino que regula e reforça a organização social de gênero, com todas as injustiças que
contêm” (BELTRAME, 2004, p.11).
Qualquer discussão hoje sobre direitos reprodutivos envolve questões éticas que
tem implicações morais sobre a vida humana, cidadania e garantia de direitos da mulher.
Costa (2005) informa que muitos conflitos e dúvidas são levantados, ao refletir sobre direitos
reprodutivos, em torno da questão sobre o que é e o que não é vida “obscurecida por escolhas
políticas e religiosas que também conformam imagens femininas, preceitos laicais e
formulações programáticas em saúde” (COSTA, 2005, p.122). Ela continua com sua reflexão
comentando que foi a luta política secular das mulheres que desvendou as dimensões políticas
da esfera privada. Enfatiza a influência das pressões religiosas que estabelecem regras morais
de normalização de prazer, sexualidade, cidadania. Afirma, ainda, que apesar do fato que
71
confrontam-se posições ambíguas entre os Estados laicos e as crenças religiosas das diversas
Igrejas, as pressões religiosas limitam direitos e cidadania.
Estados laicos não estão isentos de adesão a preceitos religiosos, por meio
das suas muitas formas de representação política. Mas de estados laicos
exigem-se preceitos constitucionais que abrigam princípios éticos não
religiosos, adequados aos novos tempos e às novas composições familiares.
(COSTA, 2005, p.137).
Na cultura brasileira, a ótica sexista e discriminatória referente às mulheres
dificulta o exercício pleno dos seus direitos. É embasada numa dupla moral que delega pesos
distintos e avaliações morais diferentes aos homens e às mulheres, tanto pela sociedade
quanto pela própria Igreja. Piovesan (2005) preconiza a criação de uma doutrina jurídica, sob
a ótica de gênero, que, ao perceber as relações de poder entre os homens e as mulheres,
elabore uma proposta de modificar este contexto. Porém, “incorporar a perspectiva de gênero
na doutrina jurídica impõe, sobretudo, o desafio de mudança de paradigmas [...] aponta à
necessidade de introjetar novos valores e uma nova visão de Direito, de sociedade e de
mundo” (PIOVESAN, 2005, p.35). A questão de gênero perpassa a relação homem/mulher e
permeia todas as relações que envolvem instituições de cunho androcêmtricas, como a Igreja
Católica, e as mulheres.
O terceiro desafio enfrentado pela mulher contemporânea diante das orientações
do magistério da Igreja concernentes à mulher, engloba gênero, sexo e sexualidade, com
dilemas específicos gerados para a mulher pela vivência do seu corpo e da sua sexualidade.
3.2.3 Gênero, sexualidade e religião
Para refletir sobre sexualidade, inicia-se, necessariamente, com o conceito de
pessoa, ser que incorpora as dimensões corpórea, psíquica e espiritual. A sexualidade abrange
a pessoa na sua integralidade porque só é possível se identificar como homem ou mulher. A
masculinidade e a feminilidade caracterizam as pessoas desde o seu nascimento (e hoje até
muito antes de nascer com as novas tecnologias reprodutivas). As células desde a concepção
são uma realidade sexuada. Ao nascer, o sexo é confirmado e o desenvolvimento da
personalidade é iniciado, embora num contexto cultural de gênero que determina,
conseqüentemente, as representações, relações, comportamento, valores e poder entre homens
e mulheres que, inclusive, abrangem a questão da opção sexual, a ser discutida mais a diante.
72
Sexo e gênero são conceitos diferentes. Sexo se refere aos aspectos físicos,
biológicos de masculino e feminino, as diferenças no corpo. Gênero se refere às relações de
poder entre mulheres e homens construídas pelas leis, costumes, religiões, políticas,
instituições.
A identidade de gênero é desenvolvida psicológica e sexualmente ao longo da
vida, a partir de valores e normas da sociedade introjetados conscientemente e
inconscientemente.
A sexualidade, também, é construída culturalmente. A pessoa nasce com um sexo,
mas as ações, atitudes, desejos, emoções e representações são diretamente relacionados com o
modo pelo qual as relações de gênero são geradas e consolidadas na sociedade através da
mediação de diversas instituições como família, escola, igreja, Estado. Estas formam a
estrutura que reforça e reproduz, historicamente, estas relações.
Para Almeida (2004), a questão de sexualidade remete às reflexões sobre gênero, o
sagrado e a modernidade, com a necessidade de “compreender o significado da sexualidade
no que diz respeito à conformação e ruptura de comportamentos no transcurso da história da
religiosidade judaico-cristã” (ALMEIDA, 2004, p.20). Ela ainda indaga como viver a
sexualidade na pós-modernidade em crise com os paradigmas tradicionais do mundo
ocidental.
O entendimento da sexualidade no cristianismo, a partir do Novo Testamento,
compreende casamento monogâmico e heterossexual, é contra a homossexualidade masculina
e feminina e contra orgias. Esta moral religiosa continua até a Idade Média, numa valorização
da virgindade e do celibato. Considera a sexualidade, principalmente, através da figura
feminina, como entrada do pecado no mundo (ALMEIDA, 2004). Constroi-se uma visão
dicotômica da mulher como Maria ou como Eva, com duas vocações possíveis para a mulher
virtuosa: mãe ou virgem consagrada.
A modernidade, com suas grandes transformações políticas, econômicas, sociais,
filosóficas, científicas, religiosas e culturais, inicia o processo de secularização onde velhos
valores religiosos são contestados e novos construídos.
O que a religião cristã normatizava referente as relações de gênero, passou a ser
regido pelas ciências como biologia, psicologia, sociologia, antropologia que permitiam
geralmente novas perspectivas de compreensão do mundo e, especificamente, novo enfoque à
relações de gênero, à sexualidade e ao papel das mulheres. A ruptura com o domínio total da
religião nestas esferas e as vitórias da emancipação feminina foram fenômenos
concomitantes.
73
A ruptura contribuiu para um:
hiato entre a orientação católica sobre sexualidade e a conduta sexual
consciente das mulheres católicas modernas. A modernidade e seu espírito
de liberdade e reflexão crítica legítimam as atitudes e escolhas para a
realização sexual, uma vez que ‘destradicionaliza’ o catolicismo. Suas
práticas sexuais são pertinentes ao contexto ético da modernidade,
possibilitando seus valores e conceitos sobre a sexualidade (RODRIGUES,
2003, p.43).
Ana Bidegain de Uran (1986) faz uma análise crítica da relação capitalismo, Igreja
e sexualidade, afirmando que a opressão da mulher foi fundamentada numa concepção de
sexualidade do cristianismo que favoreceu o desenvolvimento do sistema capitalista. Ela
alega que uma elaboração puritana de sexualidade serviu à Igreja e ao capitalismo e reforçou
o poder de ambos com conseqüências de dominação e submissão das mulheres.
O puritanismo contém uma concepção de sexualidade que reduz o corpo
humano a um meio de produção social da mais-valia, reforçando assim a
tendência natural do capitalismo de exploração do ser humano como força
de trabalho fundamental [...] domesticou a sexualidade e todo tipo de
relações humanas. Este puritanismo da Reforma coincidiu com a
ideologização tradicional do judeu-cristianismo no que se refere a
sexualidade. Esta é concebida essencialmente como uma energia maligna
que deve ser reprimida ou simplesmente orientada para a reprodução da
espécie (BIDAGAIN DE URAN, 1986, p.54).
Bidagain de Uran(1986) amplia a crítica afirmando que a sexualidade era vista
somente numa perspectiva individual, fragmentada e isolada da personalidade e da sociedade,
a-política e a-histórica. Para a Igreja, que passou a perder parte do seu poder temporal com a
marginalização de atividades sócio-políticas, à sexualidade foi atribuída a preocupação
pastoral eclesial principal, o pecado sendo identificado com a realidade sexual. Assim, não se
julgava o sistema ou estrutura sócio-econômica, mas o indivíduo, principalmente a mulher.
Ela foi relegada às relações familiares e afastada de qualquer atividade sócio-política, sendo
marginalizada da vida pública. As suas opções de vida foram a maternidade ou o convento. Só
os homens podiam conduzir as ações do mundo e da Igreja.
No cristianismo, e, em especial, no catolicismo, existe o princípio do controle do
corpo e da sexualidade da mulher. A igualdade de direitos sociais, a liberdade e a justiça são
princípios direcionados ao masculino, com as mulheres no plano da inferioridade, subjugadas
às decisões masculinas tanto no campo público como no privado. A sexualidade e a
reprodução são situadas na esfera do público onde é possível legislar, normatizar, controlar e
74
punir a mulher pelo seu comportamento. Mas a sexualidade pertence socialmente à esfera do
privado e da intimidade. Infelizmente, o Estado que se diz democrático, é submetido ao
controle religioso, onde as leis sobre família e reprodução são as leis da Igreja. As Igrejas,
historicamente, no Brasil detém um poder ideológico muito forte que vêm ao encontro de
outros segmentos androcêntricos, reforçando a tendência do controle das mulheres pelo
Estado. Porém, foi, no século XX, que a mulher começou a transformar o seu papel na
sociedade e na Igreja, dando novas interpretações à sua realidade e à sua sexualidade, no
mundo ocidental e no Brasil.
As mulheres estão fazendo uma nova leitura da realidade, através da sua
experiência de vida, que é construída socialmente, mas vivida subjetivamente, através de
reações à opressão de uma sociedade ainda bastante patriarcal. Os dados demonstram que as
mulheres estão construindo uma nova percepção do mundo em que elas podem determinar
que tipo de mulher quer ser.
Dados recentes demonstram algumas mudanças significativas na vida das
mulheres desafiadas pelas polêmicas sobre anticoncepcionais, aborto, gravidez, HIV/AIDS e
planejamento familiar.
Informações da Fundação Perseu Abramo (VENTURI; RECAN; OLIVEIRA,
2001) falam sobre o corpo e a sexualidade, assuntos que ainda são determinações
androcêntricas Igreja Patriarcal, pai, marido, namorado de poder, mas um poder que as
mulheres estão negando e reconstruindo. Os parâmetros sobre a vida sexual estão mudando:
das mulheres na sua pesquisa, 86% já tiveram relação sexual, tendo 95% daquelas mais de 25
anos; 33% tiveram a primeira relação sexual entre 15 e 17 anos, 14% antes dos 14 anos, 30%
entre 18 e 30 anos. É comum vários parceiros: 54% só tiveram 1 parceiro, 30% de 2 a 3
parceiros e 14% de 4 a 10 parceiros.
Elas falam da sua satisfação sexual: 79% têm satisfação com a vida sexual, 13%
não. Sobre o uso de anticoncepcionais afirmam: 59% usam anticoncepcionais, 41% não; os
mais utilizados são: pílulas (40%), laqueadura (25%) e camisinha (24%).
As mulheres admitem o aborto: 33% já tiveram uma gravidez interrompida, sendo
20% provocadas através de: remédio industrializado (36%), clínica (30%), remédio caseiro
(22%), parteira (13%). As atitudes do parceiro foram: 16% não sabiam, 38% eram a favor,
15% contra, 20% não opinara, 12% outras respostas. Elas opinaram sobre quem deve ser
responsável pela decisão de abortar: 61% a mulher, 18% o casal, 8% o homem, 10% outros.
AIDS ainda não é encarada com medo: 65% não usam nenhum método para se protegerem de
75
AIDS, 20% sempre usam; 15% outras respostas 73% nunca fizeram teste de AIDS, 25% sim,
2% sem resposta.
As informações anteriores demonstraram uma reação à tradição da Igreja Católica
que tratou de normatizar a relação da mulher com seu próprio corpo, estabelecendo doutrinas
morais que vêm se distanciando de uma realidade em constante mutação que questiona estas
doutrinas. Este processo de distanciamento das determinações eclesiais sobre as esferas de
sexualidade e reprodução, pelo padrão dominante e androcêntrico / patriarcal, é uma
resistência das mulheres às tentativas históricas de sua subordinação.
Ao mesmo tempo, aceleram as novas tecnologias reprodutivas lado a lado do
crescimento das desigualdades sociais e econômicas que condicionam a vivência da
sexualidade. Outras estatísticas revelam mais sobre a mulher brasileira e sua percepção e
crítica da tradição da Igreja que contribuiu para a opressão e dominação delas. Ao ditar o que
deve ser “ser-mulher”, a Igreja usou ideologias sexistas e alienantes colocadas como verdade
para a mulher na construção da sua própria identidade que está, indissoluvelmente, enraizada
no seu corpo.
Os dados do IBGE (2002) referentes à taxa de uso de métodos contraceptivos de
mulheres em idade reprodutiva indicam que 76,7% delas usam algum método. Dentre elas
70,3% usam um método moderno artificial como: pílula (20,7%), DIU (1,1%), injeções
(1,2%), preservativos (4,4%), esterilização feminina (40,1%), esterilização masculina (2,6%).
Os métodos tradicionais (naturais) compõem 6,1%, sendo 3,0% abstenção periódica, 3,1%
coito interrompido. Porém, 23,3% não utilizam nenhum método.
Na população jovem, entre 16 e 24 anos, conforme a pesquisa “Comportamento
sexual e Percepções da População Brasileira sobre HIV e AIDS “(Jornal do COMMÉRCIO,
10/12/2005), 78,4% dos homens entre 16 e 19 anos têm relações sexuais, enquanto que, entre
os jovens de 20 aos 24 anos, a percentagem é de 68,5%. A idade da primeira relação sexual
entre rapazes é 14,7% entre os 16 aos 19 anos e 15,3% entre os 20 aos 24 anos. Entre moças
de 16 aos 19 anos é de 15,3% e de 20 aos 24 anos é de 16,5%. O uso de preservativo na
primeira relação é de 65,8% no grupo de 16 aos 19 anos e 55,2% na faixa dos 20 aos 24 anos.
Um dado interessante foi o número de jovens que dizem não ter iniciado atividade
sexual porque pretendem casar virgem: 23,9% entre mulheres de 16 aos 19 anos e 40,4% de
20 aos 24 anos. Entre os homens de 20 a 24 anos o dado chega a 19,6%. As razões principais
são questões religiosas, não ter encontrado o parceiro ideal e falta de oportunidade.
Um outro desafio para a mulher contemporânea é a incidência crescente de
HIV/AIDS, no mundo e no Brasil. Os números da HIV/AIDS, em 2005 (Jornal do
76
COMMÉRCIO, 22/11/2005), demonstram que 40,3 milhões de pessoas vivem com HIV no
mundo. Na América Latina, há 1,8 milhões de portadores, com 650 mil no Brasil: 410 mil
homens e 240 mil mulheres (EPOCA, 19/06/2006). A razão entre homens e mulheres está 1,5
casos em homens para 1 caso em mulheres.
O crescimento da epidemia, entre 1994 e 2004, foi de 29% entre os homens e
17,5% entre as mulheres. O país acumulou cerca de 170 mil óbitos até dezembro de 2003. Há,
também, um índice alto de casos de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), no Brasil:
sífilis 843.300 pessoas, gonorréia 775.180 pessoas, clamidia 1.500.490 pessoas, herpes genital
89.110 pessoas e HPV 137.080 pessoas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
Um dos lados mais cruéis das mudanças no perfil da AIDS que já inclui mais
mulheres e mais crianças vítimas, é o número de crianças órfãs provocada pela AIDS. Entre
1987 e 1999, 30.000 crianças de até 15 anos perderam a mãe, 60.000 são filhos de mulheres
que já desenvolveram a doença e 137.000 tem mãe portadora (VEJA, 09/02/2000). O número
absoluto de crianças que adquiriram AIDS através da mãe tem diminuído devido às ações de
prevenção e controle da transmissão vertical.
Um dado novo é o aumento de AIDS, na faixa das pessoas com mais de 50 anos,
incluindo mulheres. As estatísticas, no Nordeste, apontam Pernambuco com maior número de
casos, 145 em 2004: seguido do Ceará com 109 casos e Bahia com 98, entre os 542 casos no
Nordeste (JORNAL DO COMMÉRCIO, 31/07/2005).
Estatísticas sobre casos de AIDS, só em Pernambuco (Governo de Pernambuco,
2005), no período 1983 (início de registro) a 2005, mostram que 71.690 dos casos são de
homens e 28.490 de mulheres. Dados de 1998-2004 revelam que 1 em cada 3 casos é de
mulher, enquanto de 1983-1987, 100% dos casos eram de homens. A distribuição por faixa
etária e sexo demonstra que é na faixa de 20-34 anos que estão localizados 48% dos casos
masculinos e 52% dos femininos; na faixa de 35-49, o sexo masculino tem 40% dos seus
casos e o feminino 34%. Um dado preocupante mostra a ocorrência de AIDS, na faixa de 50-
64 anos, sendo 8% dos casos masculinos e 6,5% feminino. Nenhuma idade é isenta. Crianças,
com menos de um ano até jovens de 18 anos compõem 5% do total de casos, em Pernambuco.
As estatísticas de Pernambuco acompanham o fenômeno da feminização nacional da
epidemia, além da pauperização, da interiorização no país e a diminuição da idade da
manifestação do HIV para a faixa de 20 e 34 anos.
Experiências pessoais, contadas por mulheres portadoras de HIV, chocam pela
falta de apoio da Igreja Católica, enquanto outras Igrejas promovem serviços de apoio e
assistência. A mulher que tem AIDS não pode ser discriminada, pois foi homem que a
77
infectou, geralmente o companheiro ou marido. Às vezes, o homem sabe que é portador e não
revela à mulher.
As estatísticas estão mostrando um distanciamento da Igreja da realidade da
mulher brasileira, altamente vulnerável aos problemas ligadas à saúde reprodutiva e à
sexualidade, numa omissão gritante de enfrentar a crueldade sexista e patriarcal imposta às
mulheres.
O último assunto deste desafio geral de gênero, sexualidade e religião é o mais
polêmico: o aborto. Envolve aspectos complexos da bioética, da ética e dos princípios
cristãos. Porém, quando se discute aborto, a sexualidade em questão é sempre a da mulher e
raramente existe a responsabilização e participação do homem na polêmica, embora ele tenha
culpabilidade igual no problema.
Recentemente, no Brasil, está acontecendo um debate envolvendo muitas
articulações do governo e da sociedade civil sobre a legalização do aborto e a defesa dos
direitos das mulheres, com a interferência maciça da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).
Algumas estatísticas e informações mostram a complexidade do panorama. A cada
ano ocorrem no Brasil cerca de 240 mil internações para tratamento de complicações de
aborto, uma das principais causas de mortalidade materna entre as brasileiras: entre 4
mulheres, uma morre de complicações de aborto provocado. Estima-se que são realizados
cerca de 1 milhão de abortos anualmente só o Brasil, o que faz a curetagem pós-aborto ser o
segundo procedimento obstétrico mais realizado (JORNAL DO COMMÉRCIO, 03/08/2005).
Três pesquisas recentes trazem novas informações. Uma pesquisa do IBOPE, entre
2002 brasileiras, sendo 1293 católicas, realizada em fevereiro de 2005, mostrou que 82% dos
católicos concordam com o aborto quando há risco de vida para a mulher, 80% quando o feto
tem grave defeito congênito e 67% quando houve estupro. Desses 78% são favoráveis à oferta
de aborto legal nos serviços públicos. A maioria defende a distribuição gratuita de
anticoncepcionais e acha que a Igreja deve rever a sua proibição de uso de métodos
anticoncepcionais e preservativos (JORNAL DO COMMÉRCIO, 13/03/2005).
Uma outra pesquisa sobre aborto encomendada pelo governo, para avaliar a
legislação sobre aborto, feita pelo Ministério da Saúde em junho de 2005 em 131 municípios,
revelou que só 11% dos entrevistados são favoráveis à descriminalização do aborto, 41% acha
que não deve mudar a lei e 36% são favoráveis à ampliação dos casos permitidos. Desses,
66% dizem concordar que a decisão sobre a continuidade da gravidez ou o aborto deveria ser
da mulher ou do casal, não da lei. Num paradoxo aparente com os dados anteriores, 65%
78
acham que a mulher que interrompe a gravidez, em casos não previstos na lei, deve receber
algum tipo de punição, enquanto 47% dizem que ela não deve ser presa (JORNAL DO
COMMÉRCIO, 28/07/2005). O papel do homem não foi discutido.
A terceira pesquisa, realizada em 2004 e publicado em julho de 2006, mostra que o
aborto provocado foi o desfecho da primeira gravidez de 16,7% das mulheres, entre 18 e 24
anos. Indicou que a condição social e o acesso à educação estão relacionados com a
interrupção da gravidez: maior renda e mais educação, mais abortos. A relação sexual precoce
não tem relação com o número de abortos. A pesquisa entrevistou 4.634 jovens de Salvador,
Rio e Porto Alegre pela UFBA, UERJ e UFRGS, e mostrou que o aborto está presente em
todas as faixas sociais (JORNAL DO COMMÉRCIO, 14/07/2006).
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo, já mencionada, traz mais informações
das mulheres entrevistadas (VENTURI; RECAN; OLIVEIRA, 2004). Sobre o direito ao
aborto, 61% acham que a decisão deve ser da mulher ou do casal, e não da lei, e num segundo
momento se contradizem: só 16% acham que o aborto deve deixar de ser crime, 22% acham
que deve ser proibido em todos os casos e 59% apóiam a lei como está.
Analisando as razões para o aborto indicadas nesta pesquisa, as maiores são:
financeiras 35%, estava sozinha 22%, medo de rejeição da família 14%, o companheiro
mandou tirar 15%. Todas são de profundo impacto negativo psicossocial na vida da mulher, e
evidenciam contradições existenciais . A própria mulher que faz é contra o aborto. A decisão
de abortar foi determinada pela falta de condições múltiplas de continuar com a gravidez:
pobreza, abandono e falta de apoio sócio-econômico e psicológico - todas causas estruturais.
Como de costume, a posição da Igreja é sexista e patriarcal. A posição da CNBB é
contra o aborto e a descriminalização do aborto. Defende o respeito à vida, mas não culpa
nem exige punição para o homem. Só a mulher deve ir presa, só a mulher é culpada, só a
mulher é pecadora. Aborto é questão da mulher, na percepção da Igreja Católica.
“Os debates que a sociedade brasileira realiza, em sua pluralidade cultural e
religiosa, são acompanhados e estimulados pelo nosso governo, que, no entanto, não tomará
nenhuma iniciativa que contradiga os princípios cristãos.” O trecho da carta enviada em
agosto pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Dom Geraldo Majella, que preside a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), provocou o protesto de organizações da
sociedade civil. Ignorado pela grande imprensa, o documento foi considerado ofensivo por
militantes pró-aborto, que estavam com a atenção voltada para o trabalho da comissão
tripartite, composto de 18 integrantes seis do Executivo, seis do Legislativo e seis da
sociedade civil que elaborava uma proposta de revisão da legislação sobre a interrupção
79
voluntária da gravidez. O projeto, que foi entregue ao Congresso, está sendo considerado por
entidades da sociedade civil, o passo mais concreto do movimento em defesa dos direitos das
mulheres rumo a legalização do aborto (RITS, 2005).
A proposta prevê que “toda mulher tem o direito à interrupção voluntária de sua
gravidez, realizada por médico e condicionada ao consentimento livre e esclarecido da
gestante” (RITS, 2005, p.2). E assegura essa interrupção nas seguintes condições: até 12
semanas de gestação; até 20 semanas, no caso de estupro; a qualquer momento, no caso de
grave risco à saúde da gestante e em situações de diagnóstico de má-formação congênita
incompatível com a vida ou de doença fetal grave e incurável.
A comissão considera que deu um passo importante ao propor também a
legalização do aborto, além da sua descriminalização, porque descriminalizando apenas tira a
responsabilidade do Estado. A partir do momento em que o aborto é descriminalizado, o
Estado é obrigado a prover a mulher de melhores serviços de saúde pública.
A polêmica que envolve o debate entre posições a favor e contra o aborto muitas
vezes gira em torno de quando começa a vida. O representante da Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia, do ponto de vista médico, entende que isso não
deve ser levado em consideração. Se fosse, o aborto só deveria ser permitido até as primeiras
seis semanas, quando não há nada formado no feto. Ele, no entanto, acredita que não se deve
misturar crenças religiosas à questão ( RITS, 2005).
Por outro lado, Dom Odilo Pedro Scherer, secretário geral da CNBB, considera
impossível olhar para o problema do aborto e considerá-lo separadamente da questão ética.
Ele acha que é inadequado tratar o aborto como problema de saúde pública: “ isso significaria
não reconhecer a complexidade da questão. Além disso, as questões de saúde pública devem
ser enfrentadas de outras maneiras, e não através de leis ou políticas públicas que promovam a
morte de seres humanos”, defende. Ele não admite a possibilidade de a Igreja mudar de idéia
no futuro, embora que houve situações em que a Igreja reviu suas posições. “Mas no caso da
gestação de um ser humano, as ciências, a psicologia e o bom senso evoluem justamente no
sentido de confirmar a convicção de que o ser humano não começa a existir com o
nascimento, mas na fecundação” (RITS, 2005, p.2).
Dentro do debate geral sobre aborto, uma questão tem polarizado a sociedade
brasileira como um todo: a antecipação do parto de fetos anencefálicos que não têm chance de
sobreviver fora do útero. A anencefalia é 100% fatal e não tem tratamento definitivo. Apesar
de viver algum tempo depois de nascer, a morte é considerada inevitável. O Brasil possui o 3º
maior número de partos de anencéfalos do mundo e as mulheres são obrigadas a manter a
80
gravidez não apenas por causa da lei (que só permite aborto legal em caso de estupro ou risco
à vida da mãe) mas por crenças pessoais, morais e religiosas de quem julga a situação. A
CNBB se coloca em oposição à liminar que autoriza o aborto em casos de anencefalia,
mediante autorização judicial, por achar que abre precedente perigoso que pode comprometer
a vida dos deficientes em geral. Na direção oposta, especialistas e representantes de
movimentos sociais que trabalham com pessoas com deficiências têm o cuidado de não
vincular o debate com religião e chamam atenção sobre o perigo da interferência religiosa
confundir a questão com posicionamentos ideológicos.
Além de aborto, a saúde reprodutiva traz mais um problema ético-religioso para a
mulher jovem. Este, porém, é referente à ausência de gravidez e a necessidade de recorrer a
reprodução assistida que envolve aspectos emocionais, éticos e religiosos. No Brasil existem
150 clínicas que assistem milhares de casais, nos diversos processos. A mais recente
controvérsia ética é referente aos milhares de embriões congelados, em clínicas de
reprodução, estimado em mais de 30.000 no Brasil e 500.000 pelo mundo. Existe pouca
legislação a respeito da questão do seu destino. No Brasil, é proibido a destruição
oficialmente. Os embriões armazenados há mais de três anos podem ser destinados a pesquisa
ou a casais interessados com o aval dos donos. Até a fixação no útero são considerados pré-
embriões, um conjunto de células vivas. A Igreja não admite, em nenhuma situação, a
reprodução assistida ou a fertilização in vitro, e considera o óvulo fertilizado como ser
humano desde o primeiro momento (VALE, 2006).
O quarto grande desafio que a mulher católica enfrenta diante o magistério da
Igreja sobre a mulher ante a realidade complexa do mundo contemporâneo, é a construção da
sua própria identidade psicossocial e ético-religiosa. Os desafios antes colocados configuram
aspectos do contexto maior em que a mulher vive, aprende, confronta, critica, cresce e se
afirma como pessoa.
3.2.4 A crise da identidade religiosa feminina no mundo secularizado
A mulher jovem vive num mundo complexo e em rápida mudança nas esferas
sócio-cultural-religioso-econômica e política, num contexto de crise da modernidade pós-
moderna, numa época de grandes paradoxos e contradições. No mundo globalizado, há um
acelerado processo de individualização, ao mesmo tempo existindo a busca de segurança na
coletividade. O indivíduo valoriza a máxima liberdade pessoal, ás vezes priorizando-a acima
de qualquer ordenamento ou organização sócio-legal-cultural. As tendências globalização
81
versus individualização são simultâneas onde o processo de libertação individual depende da
incorporação de valores de uma sociedade global. Esta sociedade é configurada pela estrutura
econômica capitalista, que é, também, uma estrutura valorativa e normativa, que desafia as
referências históricas teórico-ideológico-religiosas do indivíduo. Mota afirma que “há no ar
uma negação dos grandes pilares das ciências sociais, da cultura e da história, que edificaram
o sujeito e o mundo modernos. Esta incômoda posição do homem ocidental afeta todas as
dimensões da sua vida. Hoje vivemos sobre a égide de experiências: de fragmentos de
parcialidades, de relatividades [...] de colapso dos paradigmas que estruturavam nossas vidas”
(MOTA, 2004, p.2-3).
Este novo tempo, o tempo da indefinição, quando tudo é “pos” algo, existem
poucos com voz e vez, e muitos sem voz e vez, numa contradição da democracia e liberdade
propagadas pela globalização e “pos” modernidade. Estes nunca chegaram a modernidade,
quanto mais a sua “pos”.
A sociedade em que os jovens estão crescendo e se desenvolvendo bio-psico-
sócio-político-culturalmente é basicamente hipócrita porque, embora orientada pelo
capitalismo e o neoliberalismo onde “o mercado vai resolver todos os problemas”, não
consegue garantir espaços de cidadania e, conseqüentemente, sentido na vida dos jovens.
Falham as construções sociais com os valores éticos e morais que devem dinamizar as
potencialidades humanas em vez do modelo econômico consumista e dos regimes políticos
fisiologistas.
Dados do Relatório Mundial sobre a Juventude 2005 do Programa das Nações
Unidas para a juventude, oferece um perfil sombrio dos jovens diante dos objetivos do
Desenvolvimento do Milênio (LOIOLA, 2005): 200 milhões de miseráveis vivem com menos
de 1 dólar por dia; 515 milhões de pobres vivem com menos de 2 dólares por dia; 130 milhões
de analfabetos; 88 milhões de desempregados; 10 milhões com AIDS. Na economia, a
globalização tem produzido mudanças profundas, levando a manifestações de cidadania em
esfera mundial organizadas pelos jovens protestando contra a sua exclusão sócio-econômico-
política. Muitos jovens nos países em desenvolvimento não são beneficiados pelo processo de
globalização.
Na relação do jovem com a sociedade, o relatório demonstra que a inclusão social
do jovem depende de fatores como atividades de lazer, preocupação com o meio ambiente,
participação política nos processos de decisão, relações intergeracionais e tecnologias de
informação e comunicação. Os dados mostram processos de exclusão dos jovens pobres que
são sociais, culturais, políticos e digitais, apesar da influência exacerbada dos meios de
82
comunicação. Para outros jovens, a informática tem contribuído para uma “cultura mundial da
juventude”, uma redefinição dos aspectos fundamentais da sociedade (LOIOLA, 2005).
O último aspecto a ser analisado se refere as tendências mundiais de risco
referente a jovens que envolvem saúde, HIV, drogas, delinqüências; situação das mulheres,
violência e conflitos armados. Calcula-se que atualmente existem 10 milhões de jovens com
HIV, a maioria na África e na Ásia. Lá esta doença é a principal causa de mortalidade dos
jovens.
De acordo com o Mapa da Violência IV (WAISELFISZ, 2004), o Brasil é um dos
países mais violentos no mundo. Encontra-se em 4º lugar no mundo, com as taxas de
homicídios mais altos referentes à população em geral e em 5º lugar com maior número de
jovens mortos por homicídios. Da mortalidade juvenil no Brasil, 72% é por causas externas,
entre elas, sendo 40% de mortes de jovens por homicídio, 15% por acidente de trânsito e 3,4%
por suicídio, todos considerados morte violenta. Na população geral estas percentagens são de
9,8% por causas externas, sendo 3,39% homicídio, 2,7% acidente de trânsito e 0,7% por
suicídio (WAISELFISZ, 2004).
É na faixa jovem que as taxas de detenção e uso de drogas são mais elevadas. Há
forte ligação entre a vitimização dos jovens e criminalidade, acentuando a situação das
mulheres pela falta de acesso ao ensino superior e ao mercado de trabalho.
Em países na Ásia e na África, existem os fenômenos da criança-soldado, conflito
armado e terrorismo. O paralelo desta situação no Brasil se encontra na grande participação de
jovens nas gangues nas favelas que são envolvida em tráfico de drogas, assassinatos,
seqüestros e roubos.
O processo de assimilação do jovem na sociedade se encontra cada vez mais
difícil, contribuindo para dificuldades de independência financeira, de organização do seu
casamento, família e lar, da consolidação de valores e identidade, da autonomia pessoal. Mota
afirma que:
Diante do desmoronamento das ideologias modernas fica o modelo do
socialismo real e a desconfiança nas forças auto-reguladoras da economia
do mercado e a perda de afetividade nas agências tradicionais
socializadoras dos jovens família, escola, igreja. Hoje nos perguntamos se
existe um consenso básico, nos diversos setores jovens, que os vincule a
orientações, valores, normas, atitudes e conteúdos vitais (MOTA, 2005,
p.3).
Ele insiste na necessidade de entender a forma com que os jovens vão se inserir
neste contexto heterogêneo e contraditório, afetado pela crise da pós-modernidade. Esta crise
se manifesta na diminuição da qualidade de vida e nas decepções sofridas pelos jovens sobre
83
as suas expectativas do futuro: “o jovem não é só informação e reprodução do que a sociedade
lhe deu, ao contrário, também é postulante e gerador de propostas” (MOTA, 2005, p.5).
Convém esclarecer a diferença entre valores, motivos e normas de conduta, que
estão interrelacionados. Por valor se entende o conjunto de princípios que, por corporificarem
um ideal cultural, ideológico ou institucional de plenitude moral, deve ser buscado. Norma é
o padrão representativo do desempenho ou procedimento usual/tradicional de um dado grupo.
Ao entender o conceito de motivo, inclui-se a explicação das ações de alguém, sua intenção
ou incentivo, o que dá força psíquica para fundamentar seu agir.
A orientação valorativa na realidade se articula com normas e motivos para
estruturar uma visão do mundo e, conseqüentemente, o projeto de vida, para avaliar e tomar
decisões, para oferecer motivação e contribuir na integração social e na formação da
identidade individual. Diante das questões da pós-modernidade, é freqüente a reflexão sobre a
relação entre modernidade, pluralismo e crise do sentido ou identidade, que aflige tanto os
jovens quanto os adultos mais maduros.
Como se compreende a palavra crise? Dúvida existencial? Impotência diante do
contexto religioso atual? Indecisão sobre idéias, objetivos, o futuro? Confronto entre o que
queria na vida e o que alcançou? Realidade decepcionante versus utopia? Sentido de fracasso
versus realização pessoal? Dependência versus auto-determinação na vida? Confusão sobre
valores, moral, ética, ideais? Problemas referentes à sexualidade diante do ensinamento da
Igreja?A crise de subjetividade é uma crise de identidade, uma crise de sentido, uma crise de
consciência.
A consciência é sempre consciência de algo, existe somente em relação a um
objeto intencional que é constituído pelas diversas realizações de síntese da consciência. Esta
síntese envolve percepções no campo temático do objeto intencional, cercado por um
horizonte aberto em que a consciência da corporeidade é dada e vivenciada.
É evidente que a crise de subjetividade é uma crise de sentido. O sentido se
constitui na consciência humana, na consciência do indivíduo, que se individualizou num
corpo e se tornou pessoa através de processos sociais. A identidade, a subjetividade da pessoa,
envolve consciência, individualidade, corporeidade específica, sociabilidade e formação
histórico social. É uma forma complexa de consciência, não existe em si, mas na relação
entre outras experiências (BERGER; LUCKMANN, 2004).
84
O sentido das experiências individuais está localizado em esquemas de
experiências; o sentido dos esquemas de experiências em padrões de ações;
o sentido dos padrões de ações em categorias globais da conduta de vida
[...] armazenando em configurações supra-ordenados de valores (BERGER;
LUCKMANN, 2004, p. 86).
Os autores Berger e Luckmann (2004) afirmam que as questões sobre o sentido da
vida fazem parte dos desafios da modernidade onde o individualismo e o pluralismo
influenciam o estabelecimento de padrões de vida cheia de opções. Levantam três complexos
de questões. Como realizar “o sentido” diante de opções pluralistas? Como conservar uma
identidade estável? Que sistema de valores orienta as idéias, que tipo de sociedade constituem
as pessoas que tem padrões semelhantes do sentido / valores?
Para Berger e Luckmann (2004), o sentido, na sua complexidade consciente,
percebe a relação entre experiências e age no social através, prioritariamente, das formas
comunicativas de linguagem e dos seus símbolos. “A vida cotidiana está repleta de múltiplas
sucessões de agir social, e é somente neste agir que se forma a identidade pessoal do
indivíduo” (2004, p.17).
Problemas surgidos no agir social interativo são solucionados em comum: as ações
são transformadas em instituições sociais. Estas instituições formam o reservatório histórico
de sentido (configurações supra-ordenados de valores) ao qual a pessoa pode recorrer para
informar a sua vivência. Evidencie-se um processo em que o sentido é constituído
subjetivamente, mas objetivado intersubjetivamente, com a interferência determinante de
relações sociais dominantes institucionais na produção de sentido. Há tendências à controle, à
monopolização, onde elementos são ignorados por não serem considerados significativos, ou
são descartados como perigosos.
Os sistemas hierárquicos de valor e de saber ordenados, assim criados,
podem estar intimamente ligados [...] cortados na medida exata para
transmissões às gerações futuras, [...] as funções como censura,
canonização, sistematização e pedagogização, foram assumidos por peritos
especializados (BERGER; LUCKMANN, 2004, p.20).
O resultado é a estrutura histórica do reservatório social do sentido a partir de
conhecimento específico, que pretende regular o comportamento do indivíduo com a
sociedade. No caso da mulher cristã, o reservatório de sentido é a Igreja que se coloca como
certeza moral e religiosa doutrinária, acirrando conflitos entre o indivíduo e o macrosistema
moderno.
85
O esquema institucional de valores informa toda a vida e objetiva o
“reprocessamento social do sentido e [...] o controle da produção e transmissão de sentido”
(BERGER; LUCKMANN, 2004, p.22). A orientação doutrinária objetiva que o indivíduo só
pense e faça o que corresponde às normas. O controle e censura impedem opiniões
divergentes e competição interna e externa onde o ímpeto do agir na vida é imposto como
regra.
As condições gerais para o surgimento da crise de sentido são relacionadas com as
“reservas de sentido” objetivadas e processadas pela sociedade e “conservadas em
reservatórios históricos de sentido e administradas por instituições” (BERGER;
LUCKMANN, 2004, p.25). As reservas de sentido, quando se refere à Igreja Cristã, apontam
para suas doutrinas, cartas, pastorais, princípios, diretrizes, ideais e ideologias político-ético-
religiosas. O sentido objetivado da Igreja está em constante interação com o sentido
subjetivamente constituído no projeto individual do jovem e com a estrutura intersubjetiva das
relações sociais e, influencia de forma marcante e duradoura o desenvolvimento da sua
identidade pessoal.
A mulher jovem tem questionamentos e angústias existenciais e ético-sociais sobre
sua identidade, não apenas das suas crenças religiosas. A amplitude e abrangência da crise
envolve desde a sua visão do mundo, sua inserção / cooptação pelo sistema que abomina, sua
sexualidade expressa em termos diferenciados do magistério da Igreja, sua espiritualidade e
sua felicidade / liberdade.
A crise de subjetividade tem características específicas envolvendo corporeidade,
ética, realização e religião, enquanto a Igreja, como reservatório de sentido, percebe o seu
papel como produtor e transmissor monopolista de sentido, não admitindo contestação. A
Igreja tem pouca abertura para processos de revisão do sentido objetivado pelos jovens,
agravando a crise de identidade deles e sua própria crise institucional.
O processo de consolidação de identidade da mulher jovem na cultura pós-
moderna envolve a sua emancipação nos planos cognitivo (sistemas de idéias e crenças),
afetivo (referências plurais em confrontação) e social (independência econômica e integração
num contexto mais abrangente mediada pela família). Este processo de emancipação, frente a
pós-modernidade, se realiza numa sociedade mundial em grande transformação nas
dimensões político-econômico-social-cultural e ambiental; na transformação e diversificação
de modos de vida; no pluralismo ideológico-político; na revolução sexual e consumo
desenfreado “com um mínimo de autoridade e o máximo de desejo” (MOTA, 2005, p.10).
86
À crise de identidade da mulher acrescenta-se à crise de credibilidade no
cristianismo. Claude Geffre (2005) indica três fatores principais que abalam a credibilidade da
religião cristã. O primeiro fator é “o contraste entre o frescor inalterado da mensagem
evangélica e o peso da instituição eclesial” (GEFFRE, 2005, p.14 [278]), principalmente
depois de Vaticano II quando os católicos foram decepcionados ao não ver a renovação
revolucionária na Igreja e novas posturas diante os desafios da vida moderna. O segundo
afirma que “a mensagem cristã parece verificar a ruptura entre o dizer e o fazer” (GEFFRE,
2005, p.14 [275] no confronto com as questões urgentes, conseqüências da globalização a-
social e a-ética e das ameaças bio-psíquico-ético-social-político-culturais à humanidade. O
terceiro fator indica “um pluralismo religioso quase intransponível” (GEFFRE, 2005, p.14
[278]), que Geffre considera um desafio mais sério do que o ateísmo ou apatia religiosa,
porque questiona as pretensões de unicidade e universalidade da identidade cristã.
Na análise da crise de credibilidade da Igreja, José Faus (2005) aceita como
natural os conflitos na Igreja:
A vida humana é conflitiva e a vida de fé também. A conflitividade é
ocasião de riqueza e de crescimento humano. E a credibilidade de qualquer
instituição não está na ausência de conflitos (o que pode ser antes um
indício de falta de autencidade), mas na forma como se resolvem [...] a
Igreja do século XXI vive uma tentativa de superação da conflitividade
natural, baseada em concentrar a autoridade e a representatividade só na
facção mais conservadora, eliminando as outras formas de pluralidade
eclesial mediante o que caberia chamar de “golpe da cúria” (FAUS, 2005,
p.42 [306].
Faus (2005) aponta seis características do “golpe da cúria” que tem contribuído
para a crise de credibilidade da Igreja, e conseqüente crise de identidade cristã. Estas incluem
a infidelidade à eclesiologia do Vaticano II, desafiando a Igreja de ser uma Igreja-comunhão
que compartilha as alegrias, dores, sofrimentos e esperanças do dia-a-dia. Seu Cristo é um
Cristo sem rosto de Jesus mas com o rosto do poder eclesiástico que se tornou um poder
sagrado. Existe uma noção arbitrária de pecado desligado dos incontáveis sofrimentos
humanos. A Igreja usa uma linguagem teológica como explicação definitiva da Divindade,
esquecendo que a linguagem é um produto cultural e simbólico, cuja finalidade será estimular
a vida cristã-autêntica. Há, ainda, a perda de significado dos sacramentos ao tornar-se ritos ou
cultos vazios e uma tendência à sectarização para preservar a identidade da Igreja oficial.
O pensamento de muitos cristãos, colocado por Faus (2005), é que as autoridades
encarregadas de administrar a instituição Igreja não vivem a experiência espiritual, e que a
87
trajetória da instituição é contrária ao Evangelho. Ele também menciona a solidão em que
muitas pessoas vivem a sua fé cristã e a importância de movimentos e comunidades fraternas
dentro da Igreja, “numa instituição eclesial de aspecto exterior pouco fraterno” (FAUS, 2005,
p.50 [314]).
Dados de uma pesquisa realizada pelo Departamento de Teologia e Ciências da
Religião do PUC-SP em 2004 revelaram que seus 17 mil alunos dão mais valor à
religiosidade do que à religião (JORNAL DO COMMERCIO, 19 de junho de 2005). Para os
jovens, ter fé é mais importante do que ter crenças e religiões.
O professor coordenador da pesquisa analisa:
se a religião perdeu a importância que tinha, continua presente a
religiosidade, que pode levar à fé e ao contato com Deus [...] religiosidade é
a capacidade de elaborar sentidos e significados para a existência na sua
totalidade (JORNAL DO COMMERCIO, 19 de junho, 2005).
Conforme a pesquisa, os jovens não perdoam o moralismo das igrejas na questão
sexual, sexo antes do casamento, aborto e homossexualidade. Para eles estas posições acusam
falta de fé e exigência de limites fora da realidade. Condenam o dogmatismo das religiões e a
alienação à qual levam seus fiéis. Os resultados da pesquisa concluíram que os jovens tem um
senso crítico bastante apurado referente as religiões e uma visão de esperança na vida.
As reflexões de Maria Clara Bingemer, reforçam a análise do fenômeno da
religiosidade sem prática religiosa nos jovens. Bingemer, numa palestra, na Universidade
Católica de Pernambuco em outubro de 2005, sobre pertença religiosa, caracterizou-a como
difusa, como plural, como movediça, com motivações de pertença ligadas a afetividade e bem
estar: as pessoas precisam sentir valorizadas, aceitas e amadas. A adesão à religião é afetiva e
não intelectual, e a experiência religiosa não é sempre uma experiência de Deus, mas é do
sagrado.
A experiência religiosa mexe em profundidade com a pessoa, ou por atração ou
por temor, onde a pessoa sente-se esmagada por uma tutela culpabilidosa e quer se livrar.
Bingemer (2005) diferencia experiência religiosa e experiência de Deus, que ela explica como
sendo sempre uma experiência religiosa de encontros com a alteridade. Percebe-se, nos
tratados teóricos e na pesquisa da PUC-SP a existência de crise na identidade religiosa, de
forma geral, que tem repercussões específicas na construção da identidade psicossocial e
ético-religiosa da mulher.
88
No Dicionário de Houaiss (2004) a identidade é definida como a consciência da
persistência da própria personalidade, o conjunto de características e circunstâncias que
distinguem uma pessoa, graças as quais é possível individualizá-la. As elaborações teóricas
sobre identidade e juventude de dois psicólogos, Eric Erikson e Jean Piaget, aprofundam o
conhecimento deste processo.
Eric Erikson (1976), no seu livro clássico Identidade, Juventude e Crise, reflete o
desenvolvimento da identidade na adolescência e juventude. Para o adolescente, esta etapa do
seu desenvolvimento é marcada pela alienação ou confusão de identidade, mas é, também,
“regenerador vital no processo de evolução social, porque oferece suas lealdades e energias à
conservação daquilo que acha verdadeiro como à correção revolucionária” (ERIKSON, 1976,
p.134). Nesta fase, Erikson (1976) salienta a crise da intimidade. Da intimidade sexual
procede a capacidade de desenvolver uma autêntica e mútua intimidade psicossocial com
outras pessoas. Afirma que o jovem que não se sente seguro pode realizar atividades de
intimidade “promíscuas” sem uma entrega de si verdadeira, levando ao sentido de vazio e
isolamento. Antes da “maturidade genital (íntima mutualidade sexual)” (ERIKSON, 1976,
p.137) do adolescente e jovem, grande parte da sua vida sexual é ávida de descobrir-se, de
afirmar sua identidade.
Para Erikson (1976), o conceito de integridade compõe a identidade. Ele o define
como amadurecimento, zelo, adaptação aos triunfos e tristezas do ser. É originadora e
geradora de idéias, prioriza a ordem e o significado da vida, aceita o ciclo vital único do seu
ser e das outras pessoas, ama os pais como são e defende a dignidade do seu modo de vida. A
falta ou perda da integridade leva à repulsa ou desespero e ao desprezo crônico por
instituições e pessoas.
Sobre a juventude, especificamente, Erikson (1976) reflete que a variabilidade da
juventude procura durabilidade nas transformações que envolve sinceridade, veracidade,
autenticidade, fidelidade, idoneidade.
No jovem a força do ego emerge da confirmação mútua do indivíduo e da
comunidade: a sociedade reconhece o jovem como portador de novas
energias e o indivíduo reconhece a sociedade como um processo vivo
(ERIKSON, 1976, p.242).
Há três fontes principais da energia do jovem: o crescimento físico, o poder de
compreensão e cognição, e a maturação genital. Erikson (1976) enfatiza que nenhuma outra
fase vital da vida está ligado “à promessa de nos encontrarmos a nós próprios e à ameaça de
89
nos perdermos” (ERIKSON, 1976, p.245). Ele esclarece que nesta etapa de vida, o poder
cognitivo de raciocinar sobre considerações hipotéticas e escolher variáveis prováveis e
relações potenciais e o sentimento de identidade ( exigência problemática de consolidar uma
entre uma diversidade de identidades possíveis) são essenciais ao desenvolvimento de uma
perspectiva histórica ou percepção de irreversibilidade.
Na juventude a biografia cruza-se com a história; nela os indivíduos são
confirmados em suas identidades e as sociedades regeneradas em seu estilo
de vida [...] cada geração de jovens tem que descobrir uma identidade
consonante com a sua infância e com uma promessa ideológica no processo
histórico (ERIKSON, 1976, p.259).
Apesar de já se passarem 30 anos e mudanças radicais globais terem acontecido
em todas as dimensões, a reflexão de Erikson oferece elementos para a compreensão da crise
de identidade que a mulher jovem enfrenta hoje. Esta crise afeta a construção geral da
identidade, especialmente os aspectos específicos psicossocial e ético-religioso, temas desse
trabalho.
O renomado teórico Jean Piaget (1896-1980) investigou de modo experimental as
hipóteses teóricas e abstratas sobre o conhecimento ao longo do processo de desenvolvimento
do pensamento, que envolve o reconstruir, criar, inventar e descobrir valores e esquemas
cognitivos, afetivos e sociais e elaborar perspectivas sensório-motora, simbólica e operativa.
Ele foi criador de um ramo de epistemologia que ele mesmo chamou
Epistemologia Genética. É uma forma de reflexão teórica que analisa a evolução do
conhecimento menos estruturado para o estado de conhecimento mais estruturado
(GOULART, 2005). Procurou compreender o desenvolvimento do conhecimento desde o
nascimento (estádio sensóriomotor) até o raciocínio complexo (estádio das operações
abstratas). Para Piaget, o seu objeto de estudo e pesquisa não era o desenvolvimento, mas o
conhecimento, sua gênese e o processo de formação dos conceitos de tempo, espaço e
causalidade, sem se deter nas variáveis de história, contexto de vida e trabalho, classe social e
condições matériais da vida.
O sistema piagetiano é, também, chamado estruturalista genético, interacionista,
construtivista dialético, cujos aspectos principais ou conceitos são assimilação, acomodação e
adaptação. Acontecem numa estrutura psíquica em transformação através da qual cada criança
constrói o seu modelo de mundo. Por “assimilação”, entende-se a incorporação de um novo
objeto ou idéia ao que já é conhecido (esquema existente). A “acomodação” se refere a
transformação necessária para se relacionar com o ambiente, implica em modificação do
90
esquema anterior. A “adaptação” ou equilíbrio é o processo da organização progressiva do
desenvolvimento mental (GOULART, 2005).
Para Piaget, a pessoa passa por quatro estágios de desenvolvimento psíquico bem
delineados com funções afetivas, de conhecimento e de representação definidas, mas
interdependentes e progressivas.
No primeiro estágio ou fase sensóriomotor (0-2 anos), a criança não dispõe da
função simbólica, apoiando-se na relação com o meio, nos movimentos, sentidos e
percepções, numa inteligência anterior à linguagem. Há construção de uma base para a
organização da inteligência. O aspecto principal é a assimilação.
No segundo estágio ou fase objetivosimbólica ou pré-operatório (2-7 anos)
inicia-se a função simbólica, especialmente o uso da linguagem, através de um contato maior
com o mundo exterior, ou objetivo. A criança ainda não vê uma causalidade direta nas
atividades cotidianas, embora tenha uma “socialização de ação” (GOULART, 2005, p.26) ou
reconstituição de experiências no plano intuitivo (a capacidade intuitiva). A afetividade
evidencia sentimentos interindividuais e interiores.
No terceiro estágio ou fase operacional concreto (7-11 anos) a criança efetua
operações lógicas ou associações na manipulação e contato direto com o concreto, o real,
onde consegue distinguir o seu ponto de visto dos outros. Esta forma de abordar o mundo
permite organizá-lo interiorizar, agrupar, construir, anular através de operações lógicas
chamadas “classificação, seriação, compensação, razão-proporção, probabilidade”
(GOULART, 2005, p.26).
O último estágio ou fase operatório formal(11anos e mais) é das operações
abstratas ou formais. O essencial desta fase é a capacidade de distinguir entre o concreto (real)
e o possível, podendo prever e avaliar o que poderia acontecer no futuro. A jovem é capaz de
raciocínio lógico e abstratamente, de elaborar representações e conceitos, resolver problemas
complexos cotidianamente. A adolescência (14-17) e juventude (18-25) ainda estão muito
influenciadas pelas emoções e sentimentos, mas seu pensamento está se libertando do
concreto, se orientando para o futuro.
Piaget realiza muitas pesquisas concernentes à experiência religiosa da criança e
do adolescente, em cada fase do seu desenvolvimento e faixa etária, vendo as capacidades
mentais e comportamentais. Ele associa o desenvolvimento religioso ao seu desenvolvimento
intelectual, considerando como irrelevante a experiência religiosa se não estiver ligada à
modalidade global de organização do pensamento, inclusive o que se refere à religião.
91
Ao fazer uma síntese religioso-cognitivo-psicanalítico-motivacional de
desenvolvimento intelectual global, segundo Piaget, este trabalho enfatizará a quarta fase,
especificando a da jovem de 18-25 anos, que é pertinente à este trabalho. As características
das dimensões citadas acima são resumidas no Quadro da Quarta Fase Operatório Formal
(Apêndice A), salientando que foi imprescindível incluir, também, informações sobre o
adolescente, porque é justamente nesta fase que a crise de identidade inicia-se, levando à
construção da sua integridade na fase do jovem adulto. Estas informações são essenciais para
entender a construção da nova identidade psicossocial e ético-religiosa da mulher católica
universitária recifense, a ser analisada a partir dos resultados da pesquisa, nos próximos
capítulos.
O quadro apresentado aponta as características principais do
desenvolvimento religioso cognitivo psíquico motivacional do jovem referente a sua
existência psico-religiosa:
a) personalização da religião e da sua relação com Deus;
b) individualização do sagrado;
c) crítica dos valores religiosos diante das exigências da modernidade;
d) conflito entre conhecimento científico e crença religiosa;
e) a religiosidade se expressa através da fé e não dos ritos;
f) a identidade religiosa não corresponde a uma convicção confessional;
g) falta de sentido de culpabilidade;
h) integração da sua própria personalidade e religiosidade;
i) experiência religiosa interiorizada;
j) elaboração de um projeto de vida pessoal coerente com seus valores.
Percebe-se que as características representam a identidade do sujeito pós-moderno.
Stuart Hall (2005) oferece uma contribuição à discussão sobre identidade, ao distinguir três
concepções de identidade: o sujeito do Humanismo, o sujeito Sociológico e o sujeito Pós-
moderno. Ele esclarece que o sujeito do Humanismo era o indivíduo com a capacidade de
razão, de consciência e de ação, uma concepção individualista. A complexidade do mundo
moderno se refletia no sujeito Sociológico, percebido na sua relação interativa com a
sociedade. A identidade mediava o mundo público com o mundo pessoal. O processo pós-
moderno que contribui para o pluralismo e a fragmentação, o desencanto com a cultura, a
sensação de incerteza e a perda de ilusões, está produzindo o sujeito Pós-moderno. A sua
identidade não é estável ou permanente, mas transformada constantemente em relação ao
92
contexto em que vive, historicamente. “A identidade plenamente unificada, completa, segura
e coerente é uma fantasia” (HALL, 2005, p.13). Existem identidades, não identidade.
A sua reflexão tem pertinência para a construção da identidade religiosa e a
sexualidade da mulher católica moderna discutida por Cátia Rodrigues (2003). Ela enfatiza
que a construção da identidade é um processo dialético, um recriar-se, uma metamorfose ou
transformação evolutiva. Para ela, as fases de vida no desenvolvimento pessoal envolvem
novos papéis, dinâmicas e valores que proporcionam possibilidades de transformar e
consolidar a identidade através de novas interpretações da realidade objetiva.
Mulheres católicas que percebem incompatibilidade entre os valores
da sua religião e os desejos pessoais diante da vida buscam novos
caminhos e interpretações da sua crença [...] é possível elaborar uma
identidade religiosa alternativa para vivenciar sua espiritualidade
(RODRIGUES, 2003, p.44).
A mulher aceita os valores do catolicismo mas reinterpreta questões referentes à
família, corporeidade e sexualidade no contexto dos desafios que enfrenta na modernidade,
indagando sobre as verdades absolutas da tradição religiosa. Ela age de acordo com sua
consciência, aceitando o pensamento que lhe dá sentido existencial e rejeitando certas
orientações da Igreja, mantendo sua identificação como católica. Rodrigues (2003) afirma que
o nível de consciência crítica que reflete o processo intelectual e social, facilita a adaptação
das normas doutrinárias à sua vida, assim fortalecendo o seu equilíbrio pessoal e
desvinculando-o do poder da Igreja. Para Rodrigues (2003) as mulheres continuam a sua
pertença ao catolicismo devido ao sentido que a religião tem nas suas vidas e na sua relação
pessoal com Deus, e não pela aceitação do ensinamento da Igreja referente à sua sexualidade.
“Utilizam a interpretação pessoal da Bíblia para aplicar em sua vida prática, o que demonstra
pensamento crítico e alto nível de autonomia pessoal” (RODRIGUES, 2003, P.49).
Rodrigues (2003) levanta um questionamento que, também, perpassa a análise dos
resultados da pesquisa deste trabalho: de que forma essa modificação das ações, atitudes e
valores pessoais vai gerar alterações institucionais na Igreja?
O próximo capítulo confrontará os ensinamentos da Igreja Católica, referentes á
família, casamento, corporeidade e sexualidade, com os resultados da pesquisa, demonstrando
o processo da construção da nova identidade psicossocial e ético-religiosa da mulher católica
universitária recifense.
93
4 O MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA VERSUS A ESPIRITUALIDADE
VIVIDA PELA MULHER
Este capítulo resume os principais ensinamentos da Igreja Católica após o Concílio
Vaticano II que regem a vida da mulher referente à seu corpo, à sua sexualidade e ao seu
papel na sociedade e na família, e oferece algumas interpretações de teólogas e teólogos dos
documentos produzidos pela Igreja. Ao mesmo tempo o discurso oficial será confrontado com
a realidade da espiritualidade vivida pela universitária católica recifense.
Claude Geffré (2005) fala da crise da identidade cristã na era do pluralismo
religioso ao mesmo tempo que aponta no mundo todo, com a exceção da Europa, um novo
dinamismo e ressurgimento da religiosidade e de novas religiões. Para ele, crise faz parte da
trajetória histórica do cristianismo e sua mensagem, ou no questionamento sobre o caminho
de salvação ou na sua interpretação junto às culturas contemporâneas. Ele afirma que está
acontecendo um ‘desencanto’ com as verdades e o discurso do cristianismo tradicional.Um
novo cenário está se desenhando para a religião e o sentido do sagrado.
Alguns dados expressam esta nova condição das religiões no Brasil com extrema
clareza: a diminuição da percentagem de católicas de 83,8% em 1991 para 73,8% em 2000, o
aumento da percentagem de Igrejas evangélicas de 5,9%, em 1991, para 15,45%, em 2000, e o
aumento dos que se declaram sem religião de 4,8%, em 1991, para 7,3%, em 2000. Outros
resultados apontam para uma pesquisa do CERIS, em seis regiões metropolitanas, que
registrou que 25% dos entrevistados freqüentam mais de uma religião e a metade faz isso
costumeiramente (ANTONIAZZI, 2003). Antoniazzi analisa que, ao comparar estes dados
com outros sobre nupcialidade, fertilidade e escolaridade, torna-se evidente uma
modernização com o aumento do individualismo e subjetivismo, sujeita à crescente influência
da mídia. Ele discorda que o país esteja ficando menos religioso, e afirma que o povo
continua muito religioso, mas, mais descrente das instituições, levando a uma
“desinstitucionalização da religião e a emergência da chamada religião invisível”
(ANTONIAZZI, 2003, p.2).
É dentro deste contexto que as mulheres estão se expressando, através da
construção de uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa, que pode ser chamada,
também, uma nova cidadania na Igreja. Cea-Naharro (2002) esclarece que o direito de
cidadania das mulheres na Igreja não acompanhou as suas conquistas políticas, econômicas e
sociais. Esta plena cidadania foi admitida nas primeiras comunidades cristãs, reflexo da
valorização da mulher por Jesus, e foi uma revolução contra a ideologia androcêntrica judaica.
94
Durou pouco. No processo de consolidação da Igreja como religião política, com uma
hierarquia patriarcal imperial, esta cidadania foi esvaziada, mas não completamente, porque
“sempre houve movimentos de mulheres que a [cidadania] exerceram no seio das próprias
comunidades, às vezes, de maneira invisível aos olhos das sociedades do momento, mas
sempre com espírito de reivindicação” (CEA-NAHARRO, 2002, p.85(661)).
Politicamente, as mulheres conquistaram, ou melhor, reconquistaram, os seus
direitos, embora no século XX, contra a oposição do poder patriarcal da sociedade e da Igreja
Católica. No início do cristianismo, quando a Igreja política se integrou ao Império, as
mulheres foram destituídas das suas posições de direção na Igreja e privadas de sua cidadania
eclesial. Foi alegado que elas suprimiam as virtudes atribuídas às mulheres como silêncio,
castidade, obediência e pudor. Passaram de mediadoras do divino para servidoras
subordinadas dentro da Igreja. Por muitos séculos, a historiografia católica propositalmente
eliminava as referências ao ministério feminino e à presbítera (CEA-NAHARRO, 2002).
Cea-Naharro (2002) afirma que ainda hoje as mulheres católicas são desprovidas
da cidadania eclesial, mas com uma crescente cidadania político-social-cívica. Para ela, o
discurso da Igreja defende a cidadania das mulheres e os direitos humanos, mas a sua prática
nega às mulheres a plena cidadania e o acesso ao poder na tomada de decisões, apesar dos
exemplos do Novo Testamento e do cristianismo primitivo. “As bases exegéticas, teológicas e
históricas para a recuperação desta cidadania já estão fixadas” (CEA-NAHARRO, 2002, p.92
(668)).
Para assegurar a cidadania plena da mulher na Igreja, Cea-Naharro propõe o
reconhecimento da mulher como: a) sujeito moral na fraternidade / sororidade e não do poder
patriarcal, b) sujeito teológico ao repensar a fé a partir da subjetividade feminina e a
hermenêutica de gênero e c) sujeito eclesial com direitos e liberdades de expressão,
consciência, investigação, pensamento, crítica e dissensão. Um processo de democratização
da Igreja. A teologia, também, exige a cidadania no âmbito sacral, a mulher deixando de ser
somente receptora e ouvinte para ser interprete e mediadora (CEA-NAHARRO, 2002).
Esta reflexão inicia a polêmica sobre o magistério da Igreja concernente à mulher,
à família, à corporeidade, à saúde reprodutiva e à sexualidade. Primeiramente, é ess encial
entender um pouco sobre a mulher e a Igreja no Brasil para depois entender as razões das
ações da mulher hoje.
No século XVIII, no Brasil colônia, três grandes códigos determinavam as
atribuições de mulher, controlando seus corpos e mentes e regulando o que era lícito e ilícito:
o direito canônico, a pastoral cristã e a lei civil. O sacramento de confissão tinha a obrigação
95
de ordenar, além das relações entre homens e mulheres, a justiça, medicina, pedagogia,
família e relações amorosas, por meio de conhecimento dos pecados, dos desejos, dos
pensamentos e até dos sonhos (BANDINI, 2005). O comportamento feminino, para ser
virtuoso, seguia um padrão moral imposto pela Igreja Católica, o Estado e o patriarcado. As
esferas da família e da religião eram espaços de concreção do poder de classe e,
particularmente, de gênero. À mulher era delegada a preservação e gestão do lar, só isso. A
Igreja nomeou nove pecados relacionados a sexualidade e estes eram, também, contra a lei,
tornando o pecador / a pecadora um criminoso a ser julgado nos tribunais. Esta dominação
conjunta Igreja / Estado manteve as desigualdades sociais de classe, raça e gênero e garantiu
um poder absoluto sobre as mulheres. Apesar de existir vários tipos de concubinato praticados
pelos homens, a Igreja raramente admitia ou julgava estes casos (BANDINI, 2005).
O controle sexual contribuiu para as formas de relacionamento de gênero que só
foram sendo rompidas, no século XX, tanto no Brasil como no mundo ocidental, em geral,
onde a dominação androcêntrica Igreja / Estado também era a regra. Para Bandini:
as diferenças sexuais, enquanto construções culturais, lingüísticas e
históricas, incluem relações de poder que não estão presentes somente no
masculino, mas numa teia de processos históricos que implica em ações que
constrange, disciplina, esconde, negocia e resiste (BANDINI, 2005, p.7).
Dentro da perspectiva de gênero assumida neste trabalho, o magistério da Igreja
concernente à mulher tem, histórica e sistematicamente, ignorado a cidadania moral, teológica
e eclesial das mulheres, principalmente referente ao seu corpo, à sua sexualidade e ao seu
papel na sociedade e na família. Há uma vasta produção de cartas, documentos, encíclicas e
exortações que não respondem plenamente à complexidade da vida contemporânea em meio à
crise de credibilidade da instituição patriarcal Igreja.
4.1 A MULHER E A IGREJA NA AMÉRICA LATINA
Nos anos após o Concílio Vaticano II o marco histórico da abertura da Igreja
Católica à renovação e à uma maior liberdade e compromisso com os pobres foram
elaborados documentos que abordavam questões pertinentes à condição da mulher, sua
sexualidade e à relação familiar. O Concílio foi o ponto de partida para as Conferências
Gerais do Episcopado Latino Americano (CELAM) de Medellín (1968), Puebla (1976) e
Santo Domingo (1992), com seus respectivos documentos que demonstram mudanças sobre o
96
posicionamento e a importância da mulher na Igreja. A história da Igreja no Brasil é
caracterizada tanto antes do Concílio quanto pelo pós-Concílio, pela atuação de leigos,
religiosos, teólogos e grupos diversos como a Ação Católica e as Comunidades de Base, que
direcionaram os rumos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, fundada em
1952.
Depois do Concílio, foram elaboradas, também, várias encíclicas, cartas
apostólicas e instruções da Congregação para a Doutrina da Fé, nove das quais serão
discutidas neste trabalho por ter uma relevância para o desenvolvimento da reflexão do
magistério da Igreja sobre a mulher, após o Vaticano II. Essa reflexão é fundamental para
confrontar a construção de uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa da universitária
católica recifense diante dos desafios da sociedade contemporânea e do magistério da Igreja
que se posiciona sobre a mulher.
Uma busca de material teórico-analítico referente às concepções e orientações do
magistério da Igreja sobre a mulher mostra um número limitado de obras que analisam essas
orientações específicas a partir da “perspectiva da mulher”, chamada de “hermenêutica de
gênero”.
A proposta deste trabalho é refletir sobre esses documentos, não se detendo
somente nos seus pontos principais, mas avaliando o seu conteúdo no confronto com os
desafios atuais, na área da corporeidade, sexualidade, saúde reprodutiva e da família,
enfrentados pela mulher contemporânea.
Para ajudar nesta tarefa, teólogas da América Latina como Maria do Pilar Aquino,
Tereza Cavalcanti, Maria Clara Bingemer, Ivone Gebara e Silvia Baeske vão iluminando o
caminho, com reflexões sobre o Ano Internacional da Mulher, promovido pela ONU (1985), o
II Encontro de Teologia Feminina (1986), o III Encontro Nacional de Teologia na Perspectiva
da Mulher (1988) e a Década Ecumênica de Solidariedade das Igrejas com a Mulher (1988
1998), além de análises sobre os documentos de Medellin e Puebla.
Em junho de 1985, houve o encontro do primeiro grupo de teólogas do Brasil, em
Petrópolis, cuja polêmica era “Mulher: aquela que começa a desconhecer seu lugar [...] Para
se descobrir como pessoa e se afirmar, ela precisa primeiro desconhecer este lugar que lhe foi
imposto e que foi por ela introjetado” (TEPEDINO apud BINGEMER, 1986, p.374).
O próximo evento, referente à trajetória da mulher brasileira e latino-americana em
busca de um novo ser-teológico, foi em Buenos Aires em novembro de 1985, sob o patrocínio
da Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo. As mulheres presentes, teólogas e
especialistas em outras ciências afins discutiram a temática “Que é ser mulher?” O encontro
97
tratava de sua identidade, experiência de Deus, forma de viver a fé e a religião. As teólogas
propuseram uma nova metodologia teológica, integradora das diversas dimensões humanas:
comunitária, acolhedora, alegre, plural e baseada nas relações com os outros e com Deus
(BINGEMER, 1986).
Em 1988, iniciou-se a Década Ecumênica de Solidariedade das Igrejas com a
Mulher, acolhida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC), que enfatizou
a valorização da mulher como cidadã nas Igrejas e na sociedade.
No mesmo ano, houve o III Encontro Nacional de Teologia na Perspectiva da
Mulher, no Rio de Janeiro, discutindo a relação mulher-homem-terra, a mulher e poder e a
força e espiritualidade que movem a mulher.
A decisão de promover a Década Ecumênica foi tomada, em 1987, dois anos
depois do Iº Ano Internacional da Mulher da ONU (1985) que objetivou capacitar as mulheres
para se oporem às estruturas opressoras no seu país e nas suas Igrejas e afirmar sua
contribuição em compartilhar, não somente o trabalho, mas as decisões, a reflexão teológica e
a espiritualidade (BAESKE, 2001).
A partir da Década Ecumênica, as Igrejas resolveram celebrar anualmente, o Dia
Internacional da Mulher, aos 08 de março, formando comissões específicas de estudo,
seminários e eventos, no Brasil, inclusive no Recife.
A avaliação da Década Ecumênica, cujo roteiro de novo incluiu Recife, estimulou
a Igreja Católica a aumentar o número de teólogas e de cientistas da religião. A Década
Ecumênica também contribuiu para uma série de encontros no Rio Grande do Sul; o Encontro
Mundial de Mulheres Episcopais Anglicanas em Salvador em 1992; Mulheres da América
Latina e Caribe em 1994; a 1ª Jornada Ecumênica em 1994; articulações com o CONIC e
Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), a partir de 1994; a IV Conferência Mundial
sobre a Mulher em 1995; o Encontro Ecumênico de Mulheres em 1996; o Encontro
Internacional de Solidariedade entre Mulheres em 1998. A Década Ecumênica terminou com
o Festival da Década da Mulher em Zimbábue em 1998, com um posicionamento global
através da “Carta Viva” (BAESKE, 2001).
Há claramente uma trajetória da consolidação da teologia feminista no Brasil e na
América Latina que é uma “reflexão crítica sobre a experiência de Deus vivida na prática
libertadora das mulheres, formada nas tradições libertadoras da Escritura, pela tradição viva
da Igreja e pela realidade atual” (AQUINO, 2001, p.9).
Aquino afirma que, historicamente, a teologia tradicional serviu para legitimar
uma ordem superior patriarcal e androcêntrica onde as relações, a teologia, a religião e a
98
moral embasaram a indiferença e a hostilidade com os pobres e, especialmente, com as
mulheres. Para Aquino, só recentemente as mulheres latino-americanas estão exigindo o seu
direito de refletir a sua condição e sua consciência peculiar de mulher na sua relação com
Deus, tornando-se sujeito de pleno direito, sujeito histórico, eclesial e teológico (AQUINO,
2001). A participação da mulher na teologia latino-americana é uma experiência inovadora,
de forte influência e conseqüências.
A reflexão teológica aborda, segundo Aquino (2001), as seguintes principais
linhas: a) é uma teologia da libertação da mulher oprimida em sua condição de mulher pelas
estruturas repressoras da sociedade e da Igreja; b) tem a participação criativa da mulher, como
teóloga leiga, frequentemente casada; c) a prática da fé precisa ser entendida dentro do
“sistema tríade”: o capitalismo, o patriarcado e o colonialismo. Aquino enfatiza a relevância
da vida cotidiana que expressa atividades transformadoras pessoais e privadas contra a visão
androcêntrica que não dá nenhum valor epistemológico à vida cotidiana e sua contribuição à
teologia.
O trabalho teológico feminino é contextual, evidenciado pelo caráter histórico de
revelação versus um caráter imutável. Rejeita a teologia tradicional prejudicial aos pobres e às
mulheres e exige a recuperação da herança milenar de cultura, saber, ações e símbolos das
mulheres e a reabilitação da experiência histórica, física e espiritual das mulheres na sua
libertação da teologia excludente e sexista (AQUINO,2001).
Maria Clara Bingemer (1987), na sua reflexão sobre o(a) leigo(a) na Igreja
Católica no Brasil, enfatiza os novos fenômenos do aumento de teólogos(as) leigos(as), e da
emersão da mulher como sujeito eclesiológico ativo e do novo modo de ser Igreja, que é o das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), com sua maioria de militantes mulheres: um novo
tipo de ministério leigo.
Ela afirma que “o centro da Igreja está no povo [...] não deveria haver [...] uma
parte da comunidade subordinada a outra, passivamente executando ordens e apreendendo
lições, mas todos seriam ativos e co-responsáveis e edificadores de um mesmo projeto
comum” (BINGEMER,1987, p. 41).
Pergunta Bingemer, ainda, sobre espiritualidade para os leigos, alegando que o
conceito histórico de espiritualidade de dentro da Igreja se remetia ao monopólio monastical
das ordens religiosas. Levanta questões sobre como deve ser chamada esta espiritualidade
vivida por leigos: falar na forma leiga de viver ou melhor falar simplesmente da
espiritualidade cristã? Coloca o confronto entre práxis e motivação transcendente como uma
das grandes preocupações da teologia latino-americana (BINGEMER, 1987).
99
Bingemer reflete sobre o aparecimento sempre mais freqüente de teólogos(as)
leigos(as), com presença marcante na comunidade eclesial nacional e internacional. Mas
considera a pista mais relevante a “emersão da mulher enquanto sujeito eclesiológico” (1987,
p.45) que executa ações, responsabiliza-se e ocupa um espaço cada vez maior do trabalho
concreto na Igreja, “dando o melhor de si mesmo, seu tempo, seu carinho, suas forças, suas
entranhas, sua vida e mesmo seu sangue” (1987, p.46).
Bingemer, Aquino, Gebara e outras teólogas desafiam a Igreja ser
verdadeiramente universal dentro do espírito dos documentos conciliares e concretamente,
dos documentos das conferências do CELAM.
4.2 A MULHER NOS DOCUMENTOS DE MEDELLÍN (1968), PUEBLA (1979) E SANTO
DOMINGO (1992)
A II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano aconteceu, em Medellín,
Colômbia, em 1968 e a III Conferência, em Puebla, México, em 1979, estimuladas pelos
avanços do Concílio Vaticano II.
Maria do Pilar Aquino (1997) reflete a importância dos documentos de Medellín e
Puebla para a mulher latino-americana, porque eles iniciam a discussão sobre a situação
concreta das mulheres. Suas propostas influenciam como as mulheres compreendem o seu ser
e seu trabalho no âmbito eclesial e nos movimentos sociais dos seus países. “Medellín e
Puebla não são neutros nem alheios à experiência histórica, física e espiritual das mulheres
comprometidas com os processos de mudança, na América Latina” (AQUINO, 1997, p.67).
Porém, ela mesma levanta ressalvas sobre os documentos, mostrando que Medellín
só se refere explicitamente às mulheres em duas ocasiões, e acusa a Igreja de perpetuar a
visão androcêntrica tanto no conteúdo como na linguagem sexista excludente (1997). Apesar
da pouca referência à problemática da mulher, o valor do Documento de Medellin (DM) é a
abertura de eixos de reflexão teológica que potencializam o processo de participação da
mulher na renovação da Igreja da América Latina, diz Aquino (1997). O primeiro eixo é o
novo modelo de Igreja do povo, comunitária, buscando alternativas libertadoras em
consonância com as aspirações dos pobres, marginalizados e oprimidos, de forma geral que
servirá de base para a incorporação das necessidades das mulheres que saíam da abstração de
ser sujeito eclesial para ser sujeito real de direito.
Existe um posicionamento claro a favor da libertação integral dos pobres como
forma de realizar a salvação: a miséria exige soluções concretas, justiça social para todos. A
100
libertação das mulheres é condição desta libertação, “a partir das suas experiências históricas
concretas, físicas e espirituais” (AQUINO, 1997, p.71).
O reconhecimento pela Igreja da sua missão de serviço ao povo, não a si mesma, e
do seu compromisso com a justiça social e promoção humana abre possibilidade para uma
nova forma de entender e integrar a experiência, luta, capacidade e consciência da mulher na
Igreja. A Teologia da Libertação dá acesso às mulheres à inteligência da fé como agentes da
fé, na construção da teologia, acesso proibido há 500 anos.
O Documento de Puebla (DP) reforça a opção metodológica e teológica de
Medellín: libertação integral dos povos, rejeição da pobreza extrema e demanda de
transformações políticas, econômicas e sociais. A problemática da mulher não é focalizada,
mas as linhas gerais abrem possibilidades para contribuições à experiência e reflexão eclesial
a partir da perspectiva da mulher (AQUINO, 1997).
Aquino aponta versões de interpretação contraditórias sobre a mulher no
documento. Tem aspectos que apóiam o modelo histórico androcêntrico / sexista, ao mesmo
tempo que outros convergem para as aspirações das mulheres. Uns aspectos apóiam o novo
papel da mulher em contribuir teológica e eclesiologicamente, enquanto outros limitam a
libertação da mulher das amarras históricas patriarcais (1997).
As linhas relevantes, assinaladas por Aquino (1997), do DP, incluem o
reconhecimento da situação de dupla opressão da mulher como pobre e como mulher
ainda mais se for indígena ou negra, mas sem questionar o atual modelo patriarcal e nuclear
da família. O documento reconhece a organização das mulheres como indispensável na luta
pelos direitos e do papel da Igreja em capacitá-las, como, também, a contribuição das
mulheres na evangelização, depois de ter sido subestimada e limitada a sua participação,
historicamente. Porém, levanta a ressalva da participação nos “ministérios não ordenados”. O
documento afirma a dignidade da mulher como ser co-criador com Deus e admite a presença
de sexismo e machismo na Igreja e da necessidade das mulheres recuperarem o seu passado
eclesial para reformá-lo.
A IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano aconteceu, em Santo
Domingo, capital da República Dominicana, em outubro de 1992, cujo documento foi
aprovado pelo Papa João Paulo II, em novembro de 1992. O documento tem como tema
central “Nova Evangelização, Promoção Humana, Cultura Cristã”. Neste documento, já se
percebe avanços no reconhecimento e confirmação do papel da mulher como sujeito histórico,
eclesial e teológico na família, na Igreja e na sociedade. O Documento de Puebla se refere à
mulher especificamente na família e como leiga evangelizadora, aprofundando a abertura para
101
os leigos dada em Medellín. Santo Domingo consolida a possibilidade de a mulher ser
realmente uma participante ativa na missão da Igreja.
O Documento de Santo Domingo assume as opções de Medellin e Puebla de forma
plena e as aprofunda. A promoção humana é seu tema, o CELAM dando largos passos, em 24
anos, da opção preferencial da Igreja pelos pobres para um compromisso com o
desenvolvimento sócio-econômico-político do povo. Enumera no documento preocupação
com questões específicas de saúde, sexualidade, violência de direitos, divórcio e aborto, entre
outras. O documento lista claramente os desafios à família e à vida hoje e se posiciona
enfática e concretamente diante deles. Denuncia as expressões da realidade de miséria em que
vivem as famílias, como, também, denuncia aqueles que exploram crianças, adolescentes,
mulheres e trabalhadores das mais diversas formas.
A situação da mulher é enfatizada, o documento admitindo:
Em nosso tempo, a sociedade e a Igreja têm crescido em consciência da
igual dignidade da mulher e do homem. Ainda que teoricamente se
reconheça esta igualdade, na prática, ela freqüentemente é desconhecida. A
nova Evangelização deve ser promotora decidida e ativa da dignificação da
mulher. Isto supõe aprofundar o papel da mulher na Igreja e na sociedade
(SANTO DOMINGO, 1992, p.126).
Avanços do Documento de Santo Domingo, baseados na trajetória da Igreja
Latino-Americana iniciado com o Documento de Medellín (DM), referente a mulher,
incluem:
a) enfrentamento das questões sociais específicas, sofridas por todo povo e,
especialmente, pela família e a mulher, considerando os efeitos da conjuntura
sócio-econômico-político-ecológico-cultural do mundo e da América Latina,
na elaboração da injustiça social e agravamento de problemas dos
marginalizados. Sobre isso se expressa Pires:
São Domingos caracteriza como violação dos direitos humanos a existência
de condições de extrema pobreza e de estruturas injustas que originam
grandes desigualdades [...] não teme afirmar que nós, cristãos, somos os
responsáveis por essa situação (PIRES, 1992, p.55);
b) ênfase na necessidade de uma Nova Evangelização, inculturada, mais atuante,
dinâmica e dialogal com a modernidade e a pós-modernidade, através de novo
102
entusiasmo, métodos, expressões e símbolos, considerando a riqueza e
diversidade cultural, especialmente, a indígena e afro-americana. Pires indaga:
A grande pergunta é: vai ser possível o índio e o negro viverem e
expressarem sua fé em Jesus Cristo e na Igreja, sem renunciarem a cultura
de seus antepassados? E o homem moderno, a mulher moderna? Vai ser-lhes
permitido viver a fé dentro da cultura urbana ou se vai continuar separando
Fé e Modernidade, como se fossem conceitos e realidades contraditórios?
(PIRES, 1992, p.57);
c) denúncia de tudo o que atenta contra a vida e contra a dignidade da mulher, sua
sexualidade e saúde reprodutiva, seu trabalho e condições sócioeconomicas
precárias ou de exploração;
d) análise dos novos sinais dos tempos: direitos, ecologia, terra, trabalho,
migração, urbanização, empobrecimento, terrorismo, estruturas econômicas
injustas, em especial contra crianças, mulheres, camponeses e indígenas;
e) exigência da participação da própria Igreja no processo de justiça social e
promoção humana, salientando o papel das mulheres como evangelizandoras
leigas com o tríplice ofício sacerdotal, profético e régio e do dever da Igreja de
criar espaços para a descoberta dos seus valores, tanto por parte do clero como
do laicato:
... a maior contribuição da IV Conferência é convocar os leigos para a Nova
Evangelização [...] todos os leigos são protagonistas da nova evangelização,
da promoção do laicado, livre de todo o clericalismo e sem redução ao intra-
eclesial [...] quem ocupa a linha de frente nas comunidades humanas não é o
clero, são os leigos (PIRES, 1992, p.60);
f) discussão de problemas específicos confrontando a família, com a quebra de
valores morais e éticos influenciados pela situação de miséria e fome: métodos
anticoncepcionais, uniões livres/divórcio, a “cultura de morte” e crianças e
jovens de rua / abandonadas / prostituídas. È o cotidiano da mulher na família.
O documento reflete um compromisso, sem reservas, com o homem e a mulher
concretos e históricos, e não com o “homem abstrato”, e com a libertação integral da pessoa,
abrindo novos espaços para a atuação e reflexão da mulher sobre a sua experiência como
mulher, exercitando novos papéis, principalmente no processo de tomada de decisões na
família, na sociedade e na Igreja, especialmente, a pós-conciliar.
103
4.3 O MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA SOBRE A MULHER DEPOIS DO
VATICANO II VERSUS A VIVÊNCIA DA MULHER
Depois do Concílio Vaticano II, foram produzidos vários documentos, além do
Novo Catecismo, que tratam de temáticas da família e da mulher. Sobre a mulher há dois
pronunciamentos específicos. Destas orientações, nove serão comentadas e confrontadas com
a análise das respostas da pesquisa junto às universitárias católicas recifenses.
a) 1966 – Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II sobre a
Igreja no mundo de hoje;
b) 1968 Carta Encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, sobre a regulação da
natalidade;
c) 1981 Exortação Apostólica Familiaris Consortio do Papa João Paulo II sobre a
missão da família cristã no mundo de hoje;
d) 1987 Instrução sobre o Respeito à Vida Humana nascente e a dignidade da
procriação, da Congregação para a Doutrina da Fé;
e) 1988 Carta Apostólica Mulieris Dignitatem do Papa João Paulo II, sobre a
dignidade e a vocação da mulher;
f) 1994 – Carta às Famílias, do Papa João Paulo II;
g) 1995 Orientação sobre Sexualidade Humana: Verdade e Significado, do
Conselho Pontifício para a Família;
h) 1995 – Carta do Papa João Paulo II às Mulheres;
i) 2004 Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da
Mulher na Igreja e no Mundo, da Congregação para a Doutrina da Fé.
Inclui-se também nesta reflexão, as principais diretrizes do Catecismo da Igreja
Católica (CIC) de 1994.
a) Gaudium et Spes (1966)
A encíclica Gaudium et Spes (1966) expõe o pensamento da Igreja sobre a sua
presença e atividade no mundo de hoje, iniciando com uma análise sócio-econômico-política
e espiritual da condição do homem no mundo hoje. Indica a complexidade do
desenvolvimento contemporâneo que dificulta a percepção de valores permanentes espirituais,
ao mesmo tempo que exalta as ciências e as técnicas que rapidamente transformam a vida do
104
homem. Para a Igreja, as transformações levantam dúvidas sobre valores, especialmente para
os jovens, e evoluem tão rapidamente que geram contradições, desequilíbrios e
desordenamentos na vida e nas exigências da consciência moral. A doutrina enfatiza que a
família sofre tensões e pressões econômicas e sociais, problemas entre gerações e novos tipos
de relações sociais entre homens e mulheres.
O documento se divide em duas partes: a) a Igreja e a Vocação do Homem e b)
Alguns Problemas Mais Urgentes. É na segunda parte que são levantadas considerações sobre
a promoção da dignidade do matrimônio e da família, refletindo sobre o seu papel importante
em manter o amor e o respeito pela vida. Denuncia a poligamia, pela freqüência do divórcio e
o amorlivre e outras “deformações” como aborto que chama de “homicídio” e “infanticídio”
e “crimes abomináveis”. Afirma que não é lícito regular os nascimentos e enfatiza o papel de
educador da família em orientar os filhos a escolher um estado de vida, priorizando sempre a
castidade. Urge aos cientistas prestar um grande serviço para o bem do matrimônio,
esclarecendo uma “honesta regulação da procriação humana” (Gaudium et Spes, 1966, p.52).
b) Humanae Vitae (1968)
A Carta Encíclica Humanae Vitae(HV) foi escrita, em 1968, pelo Papa Paulo VI e
coloca claramente o posicionamento doutrinário moral sobre a regulação da natalidade.
Reconhece as muitas e variadas mudanças no desenvolvimento sócio-econômico mundial e
levanta quatro questões que responde no decorrer da encíclica: É preciso uma revisão das
normas éticas vigentes que exigem sacrifícios “por vezes heróicos”? A fecundidade mais
racional não é um legítimo controle de nascimentos? A fecundidade pertence ao conjunto da
vida conjugal mais do que a cada ato? O homem moderno deve confiar à sua razão e sua
vontade, mais do que aos “ritmos biológicos do seu organismo” a tarefa de regular a
natalidade?
A encíclica, de antemão, diz “não”, enfaticamente, a todas estas questões e
confirma a competência do Magistério da Igreja e só dele de interpretar a lei moral natural
e de declarar os princípios da doutrina moral do matrimônio. Admite que permitiu que
“alguns casais de esposos” fizessem parte da Comissão de Estudo. Nesta Comissão, as
pessoas não chegaram a pleno acordo sobre todas as normas e tinham sugerido alguns
critérios de solução que se “afastava da doutrina moral sobre o matrimônio”. Apesar disso, a
Igreja se pronuncia, dizendo representar a santidade de Deus.
105
O resultados da pesquisa revelam o que a universitária católica pensa sobre quem
deve decidir em assuntos que tratam do seu corpo e sua sexualidade: eu, casal, família, igreja
ou sociedade. Os assuntos se referem as práticas sexuais, sexo antes do casamento,
anticoncepcionais, virgindade, aborto, inseminação artificial, masturbação, homossexualismo,
prazeres sexuais, planejamento familiar e gravidez ( Apêndice B, q. 14).
A distribuição de respostas sobre quem deve decidir sobre as questões relacionadas
à sexualidade da mulher indicadas acima, em quase todos os casos, com três únicas exceções,
mostra que a resposta é “eu”. Nas situações de planejamento e inseminação artificial, a
mulher universitária respondeu “casal”. Em nenhum caso a Igreja foi considerada como o
fator determinante (Tabela 3.3.7, Apêndice C, p.250).
Este posicionamento da mulher universitária evidencia uma confirmação da sua
identidade ético-religiosa e psicossocial. É uma construção de novas normas e valores, sem
culpa, que prioriza a sua experiência de “ser-mulher” como critério de discernimento.
As discussões iniciais da encíclica tratam de uma visão global do homem e do
amor conjugal e suas características. Enfatiza a natureza e a finalidade do “ato matrimonial”
que é união e procriação. Em nenhum momento, utiliza as palavras sexo, sexualidade ou
relação sexual. Qualquer ação que pode prejudicar a disponibilidade para transmitir a vida é
considerada contraditório à vontade de Deus. Todas as vias “ilícitas”, como anticoncepcionais
ou esterilização de homem ou mulher, são condenadas, sem reserva, como, também, o aborto,
mesmo por razões terapêuticas. Tudo é considerado “fazer mal”.
A Igreja não condena os meios terapêuticos para curar doenças, embora considere
que constitui um impedimento não desejado à procriação. Recomenda somente os ritmos
naturais às funções geradoras nos períodos férteis para evitar a fecundação como meio de não
ofender os princípios morais. Considera este recurso “natural” e os outros métodos de evitar a
gravidez como “impedimentos” à fecundação, e, consequentemente ilícitos. Para a Igreja um
ato conjugal, tornado voluntariamente infecundo, é desonesto, desordenado, é fazer o mal.
Levanta ainda a sua análise das graves conseqüências dos métodos de regulação
artificial da natalidade: infidelidade; degradação da moralidade; falta de respeito pela mulher,
considerando-a um instrumento de prazer egoísta, e por último, arma para autoridades
públicas, que têm pouca preocupação com exigências morais, de impôr métodos de
contracepção às populações. Termina afirmando que não pode expor ao arbítrio dos homens a
missão de gerar a vida. A Igreja afirma o seu papel de depositária e intérprete de uma lei
moral dada por Deus; ela diz que não é a autora desta lei.
106
A pesquisa aborda a questão da mulher discordar da Igreja e ainda se considerar
católica(Apêndice B, q.15). As possíveis respostas são divididas em duas posições: “sim,
pode discordar” porque a Igreja precisa se atualizar, temos direito de analisar e para ser
católica não precisa acreditar cegamente em tudo que a Igreja diz versus “não pode discordar”
porque ser católica é obedecer a Igreja, acredito que a Igreja sabe o que é certo, se discordar
eu devo procurar outra religião.
A mulher universitária não hesita em afirmar que pode discordar da Igreja e ainda
se considerar católica. Algumas mulheres indicaram mais que uma resposta, e os índices
demonstram que 94,5% das respostas foram “sim pode discordar” versus 5,5% “não pode
discordar” e ainda se considerar católica. A posição da mulher universitária é muito clara: o
critério de discernimento não é a orientação da Igreja. A mulher exige o “direito de não ser
direita”, de refletir e criticar ( Tabela 3.3.8.1 A, Apêndice C, p.251).
No desdobramento da mesma questão, “se sente culpa ao discordar ou questionar
a orientação da Igreja sobre seu corpo e sexualidade”, a mulher continua afirmando a sua
identidade e renega culpabilidade ao ter discordado concretamente. Nesta questão também
houve múltiplas respostas (194), mas 78,4% das respostas afirmaram que “não sente culpa”
porque segue a consciência e porque acha que a Igreja não acompanha a realidade, versus
21,6% que responderam “sim sente culpa” porque faz coisa que a religião proíbe e foi
ensinado a obedecer a Igreja em tudo (Tabela 3.3.8.2A, Apêndice C, p.252).
O desenvolvimento das respostas à questões diferentes, mas com conteúdos inter-
relacionados, aponta uma coerência no pensamento da mulher: consistentemente ela assume e
afirma uma posição íntegra. Não estão aparecendo contradições existenciais.
A encíclica indica diretivas pastorais enfatizando a “educação para castidade, ao
triunfo da liberdade sã sobre a licenciosidade; condenando depravações com pretensões
artísticas ou científicos” (PAULO VI, 1968, p.20). Apela aos governantes para solucionar o
problema demográfico e respeitar os valores sociais e humanos. Dirige-se, ainda aos
cientistas, médicos, casais, bispos e sacerdotes para orientarem os esposos dentro dos
ensinamentos da Igreja
Em 1988, houve uma avaliação desta encíclica, no II Congresso Internacional de .
Teologia Moral, em Roma, onde foram repetidas as orientações sobre contraceptivos
artificiais por João Paulo II, alegando que a transgressão desta norma envolve a própria
santidade de Deus. Não deixou nenhuma margem para exceção, sob pena de se esvaziar a cruz
de Cristo. Qualquer exceção, no rigor da HV é “anti-vida, anti-homem, anti-Deus” (SNOECK,
1989, p.305). A doutrina contida na HV é considerada infalível.
107
Houve forte reação à HV, Snoeck comparando-a ao terremoto de Armênia.
“Parece que a volta à grande disciplina chegou ao limite do tolerável. A fidelidade à HV
tornou-se teste de ortodoxia” (SNOECK, 1989, p.306). As reações deram origem a
“Declaração de Colônia” e a carta aberta ao Papa, incluindo a denúncia de o magistério
pontifício ter levado a sua competência além do permissível, e sugerindo pesquisa junto às
bases da Igreja que servirá como fundamento para um diálogo aberto sobre a questão do
controle de natalidade.
A crítica à HV sobre o completo desprezo do laicato em formular doutrina,
encontra eco entre as mulheres universitárias. No questionário foi pedido se discorda ou
concorda com os ensinamentos da Igreja referente a mulher e o casal.(Apêndice B, q. 16a)
As afirmações das universitárias das duas IES, cujas tendência geral de resposta
(T.G.R.) na forma “concordo plenamente” e “concordo em parte” são significativas (Tabela
3.4.1.1B, Apêndice C, p.254). Todos têm a ver com o processo de “ser-mulher”. As mulheres
concordam que os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade, reprodução e corporeidade da
mulher precisam ser atualizados para os dias de hoje e que a mulher deve ser mais valorizada
dentro da Igreja.
As afirmações com os quais “discordo em parte” (não houve “discordo
completamente” neste segmento), se referem a dogmaticidade dos ensinamentos da Igreja
para sua vida. As universitárias discordam que a Igreja tem o dever de dizer o que é certo e
errado; que viver junto, sem casar na Igreja, é contra a lei de Deus; que se for católica, tem
que obedecer todos os ensinamentos da Igreja e que padre saber o que é melhor para o casal e
para a mulher.
Foi feito um comparativo nesta questão entre quatro cursos da CATÓLICA e três
da FAFIRE, com perspectivas filosóficas acadêmicas diferentes: psicológica, social, legal e
biológica. Os resultados não demonstram diferenças significativas nem entre as IES nem entre
os cursos. A comparação foi feito com o intuito de descobrir se a visão de mundo
diferenciada dos cursos, de acordo com a sua perspectiva específica, influencia ou interfere
na construção da identidade da universitária. As universitárias católicas têm o mesmo
pensamento, independentemente de curso ou da IES.
A revelação, sempre mais consolidada através da pesquisa, é que a experiência
difícil, sofrida, angustiada, confusa, profunda de “ser-mulher”, é a base da nova identidade e
da nova religiosidade e espiritualidade da mulher, passando primeiramente pela desconstrução
da imagem da mulher ilusão / ideal e a construção da mulher concreta / real na sua relação
com a Igreja.
108
Referente a HV , houve divisão do clero em posicionamentos distintos: um era de
solidariedade ao Papa e de concordância com o conteúdo essencial da HV, embora com
ressalvas, o outro de enfrentamento e questionamento. “Um conflito latente de vinte anos
estourou. Não adianta pôr panos quentes. Estamos perante duas posições irredutíveis”
(SNOECK, 1989, p.308).
Snoeck (1989) reflete sobre duas vertentes da crise, e afirma que a Igreja não
chegou a um consenso, continuando em crise. Ele esclarece a posição das duas alas principais.
A primeira colocação é sobre a existência de duas filosofias sobre uso de
contraceptivos e de duas visões de sexualidade. Esta questão envolve o horizonte global da
teologia moral: existência x essência, cultura x natureza, historicidade x imutabilidade,
subjetivo x objetivo, indutivo e teleológico x dedutivo e ontológico. As duas visões da
sexualidade dependem das interpretações da lei natural: proibição aos contraceptivos é
expressão de lei natural e divina versus autonomia da razão e da liberdade com consciência
criativa. As posições são polarizadas.
A segunda questão é sobre o papel do magistério em assuntos de moral,
destacando o isolamento de Paulo VI em preparar o documento. Uma conseqüência disso foi a
falta de aceitação da HV por segmentos significativos da Igreja, inclusive com
questionamentos sobre a doutrina oficial sobre contraceptivos.
Esta divisão na Igreja resulta em ambivalência na vida cotidiana das paróquias e
comunidades, com o resultado do casal católico, na maioria das vezes, determinar com
subjetividade e razão, o melhor caminho do planejamento familiar. A mulher moderna
percebe o seu direito de usar a razão ao decidir sobre controle de natalidade. Ela, também, tem
opinião sobre o que é pecado. A pesquisa mostra as posições e as razões delas( Apêndice B, q.
4).
O dado mais significativo desta questão é que 21% das mulheres não acreditam em
pecado, pelas razões principais que é uma forma de controle da Igreja e porque acredita que
Deus perdoa quem erra.
As que acreditam em pecado, 79%, alegam que existem atos contrários às leis de
Deus e que pecado é fazer mal ( Tabela 3.2.4.1.A, Apêndice C, p.222).
A existência do pecado é fundamental em todo ensinamento da Igreja Católica,
inclusive com divisões sobre tipos e graus de pecado. Existe um controle sobre o direito da
pessoa em relação a Deus, até logo ao nascer com a rotulação da existência no recém-nascido
de pecado original. Este, se morrer sem se batizar, vai para “limbo”, nunca vai ter direito ao
Céu. Então a afirmação pela mulher que não existe pecado, é também afirmação que ela não
109
peca na sua construção de ser mulher com a percepção da sua sexualidade e corporeidade
diferente a da Igreja, como será visto mais adiante.
A universitária católica define claramente o que é considerado pecado. Este item é
o complemento do anterior e foi respondido somente pelas mulheres que indicarem acreditar
na existência de pecado. Elas têm uma percepção de pecado pela ótica de mulher. Para elas
pecado é violência contra mulher em diversos sentidos, enquanto o seu controle de decisões
sobre a sua vida e o próprio corpo não é pecado. Todos os itens da questão são considerados
pecados pela Igreja, mas não pela mulher (Tabela 3.2.4.2B, Apêndice C, p.225 ).
Ela está refletindo a sua vida a partir da percepção de ser mulher num mundo de
desafios, confiando na sua capacidade de perceber o que é certo ou errado. Vem de dentro do
âmago mulher, pouco considerado pelo patriarcalismo da Igreja com os ensinamentos
referentes à mulher elaborados por homens celibatos sem consultar as mulheres e, raramente,
os casais. As universitárias católicas das duas IES foram unânimes em indicar o que “sempre
é pecado” (tendência global): violência contra mulher; não dizer ao companheiro(a) que tem
AIDS ou doença venérea; traição, infidelidade; incesto; sexo grupal; faltar com a caridade.
Para elas o que “nunca é pecado” (tendência global): usar anticoncepcional;
divórcio; casar de novo; vasectomia; inseminação artificial; laqueadura; masturbação. Sobre
todas as outras treze alternativas (ver tabela), a resposta foi: “depende da situação”.
De novo advem a polêmica sobre quem e porque declarou que tal atitude ou ato é
ou não é pecado, e quais interesses históricos e contemporâneos o “ser-pecado” serve. As
mulheres ousam, silenciosamente no seu cotidiano, redesenhar o sentido de pecado, não com
o intuito de escolher o que lhe serve, mas como resultado da sua reflexão sobre “ser-mulher”
neste mundo de desafios. Não são posições levianas nem libertinas, mas afirmações
ponderadas. Para elas está se tornando mais e mais evidente o distanciamento pela Igreja
Católica da vida atribulada da mulher. Pela perspectiva de gênero e da necessidade de ser
coerente com o seu próprio processo histórico, a universitária católica recifense rejeita a
culpabilidade imposta socialmente pelo sistema patriarcal e está reconstruindo novos
parâmetros sobre o que é certo ou errado para a sua corporeidade e sexualidade.
b) Familiaris Consortio (1981)
O documento Familiaris Consortio (1981) é um longo tratado sobre a missão da
família cristã no mundo de hoje. Depois da introdução que afirma a missão da Igreja ser a
serviço da família, o documento é dividido em quatro partes: luzes e sombras da família de
hoje, que discute as condições e os desafios que a família enfrenta; o desígnio de Deus sobre o
110
matrimônio e a família incluindo o dom de filhos e matrimônio e virgindade; os deveres da
família cristã e sua participação na Igreja e na sociedade; a pastoral familiar e sua estrutura e
responsabilidades.
A Carta reforça a doutrina expressa em Humanae Vitae referente à sexualidade e à
reprodução humana, se colocando a favor da castidade definida como “a energia espiritual
que se propõe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade e orientá-lo para
sua plena realização” (p.33), conceito vago e filosófico e contra qualquer tipo de
contracepção ou reprodução assistida (inseminação). Orienta sobre os deveres entre cônjuges
e eles com os filhos, principalmente na preparação de jovens para o matrimônio, para a
castidade (que inclui a virgindade masculina e feminina até o casamento) e para os fins de
união e reprodução. O documento conceitua a família como célula base da sociedade e sujeito
de direitos e deveres. Inclui a carta de direitos da família contra desigualdades sociais e falhas
na garantia de direitos pela sociedade e pelo Estado.
Na última parte, a encíclica trata de “situações irregulares” às quais precisam de
consideração pastoral especial:
a) o matrimônio à experiência (convivência), admitindo que é útil questionar as
causas psicossociais para “chegar a uma terapia” (p.80);
b) uniões livres de fato, sem nenhum vínculo institucional reconhecido,
considerados de graves conseqüências religiosas, morais e sociais;
c) católicos unidos só em matrimônio civil, não aceitável pela Igreja ao ponto de
não admití-los aos sacramentos;
d) separados e divorciados sem segunda união, que só recebem a aprovação da
Igreja aos sacramentos e apoio se mantiverem a vida solteira e casta;
e) divorciados que contraem nova união, chamada “uma praga” (p.84) de que deve
ser oferecido às pessoas “os meios de salvação” (p.84).
Ranke-Heineman (1996) faz uma crítica contundente sobre o Papa João Paulo II e
sua encíclica Familiaris Consortio (1981). Diz ela, o Papa permitiu a continência periódica
como método para evitar filhos, como concessão ao prazer, e assim, entrou em oposição a
Santo Agostinho em considerar a procriação como o fator mais importante do ato conjugal.
“Na verdade, o motivo da procriação como exigência para todo ato conjugal foi descartado,
mas não o ódio ao prazer [...] a verdadeira força motriz, oculta por traz da moralidade sexual
de Agostinho” (RANKE-HEINEMAN, 1996, p.297). Ela ainda critica a encíclica Humane
Vitae (1968) que embasou a Familiaris Consortio, alegando que a preocupação não é com o
111
número de filhos, mas em restringir o prazer. A continência é considerada pela Igreja a chave
para todos os problemas do casamento, “é um rico veio espiritual” (RANKE-HEINEMAN,
1996, p.298).
Ranke-Heineman (1996) assegura que neste documento João Paulo II afirma que
toda a salvação é essencialmente fundamentada no método correto de fazer a contracepção.
Ela reivindica um posicionamento dos casais em refutar o mando da Igreja sobre o ato
conjugal e tomar para si as decisões sobre sexo e contracepção. O medo da Igreja é perder
prestígio e poder.
Leonardo Boff (1996), também, critica a posição da Igreja referente a sexualidade,
o prazer e a mulher:
É uma moralidade do terror, conseqüência de mentes sexualmente
problemáticas. Os celibatários que formularam as doutrinas [...] não
mostram a menor idéia da sexualidade da mulher e da espiritualidade que se
realiza entre esposos que se amam. A Igreja dos celibatários diz um não a
praticamente tudo que se refere à esfera do sexo, do prazer, da
contracepção, do jogo difícil da intimidade entre um homem e uma mulher.
É insensatez um cristão orientar-se pelo ensino da Igreja em questões de
moral sexual [...] sua moralidade não é moralidade porque é baseada no
terror das consciências (BOFF, 1996, Separata de: RANKE-HEINEMAN,
1996).
As universitárias recifenses tem posições definidas sobre esta questão ( Apêndice
B, q.17) e fazem uma avaliação do posicionamento da Igreja diante da realidade da mulher
católica hoje A tabela de distribuição de freqüência trabalhou com 1102 respostas das 178
universitárias, sendo indicadas aqui as oito mais freqüentes, em ordem descrente, entre as 18
alternativas possíveis (Tabela 3.4.2A, Apêndice C, p.263). Os pensamentos das universitárias
refletem que a Igreja:
-deve escutar mais as mulheres em assuntos de casamento, sexualidade, família:
115 respostas (10,4% do total);
- cria culpa, muitas proibições, tudo é pecado: 92 respostas (8,3%);
- oferece apoio através de grupos e atividades nas paróquias: 86 respostas (7,8%);
- dá conforto e consolo nos momentos difíceis: 80 respostas (7,3%);
- preocupada com a mulher na família e na sociedade: 79 respostas (7,2%);
- acolhe a mulher com problemas: 75 respostas (6,8%);
- manda em assuntos que devem ser decididos pelo casal ou pela mulher: 68
respostas (6,2%);
- distante das questões que as mulheres enfrentam:66 respostas (6,0%).
112
As respostas demonstram duas tendências principais e antagônicas. As
universitárias afirmam tanto a resistência da Igreja de escutar a mulher sobre os desafios que
ela enfrenta quanto a preocupação e acolhimento da mulher pela Igreja. Parece que estamos
à frente de uma posição crítica e de outra de aceitação. A contradição entra em confronto com
as respostas às questões anteriores e posteriores (Apêndice B, q.16 e 18).
d) Instrução sobre o Respeito à Vida Humana Nascente e a Dignidade da Procriação
(1987)
Este documento foi produzido pela Congregação para a Doutrina da Fé, em 1987,
durante o pontifício do Papa João Paulo II. É uma reflexão sobre a vida humana a partir de
uma visão antropológica do homem, discutindo questões da procriação artificial humana e os
valores que devem ser respeitados. Levanta o debate sobre embriões humanos considerados
seres humanos desde o primeiro instante da sua existência e sua eliminação, reforçando o
ensinamento imutável da Igreja sobre o aborto provocado como condenável em qualquer
circunstância. O caso do diagnóstico pré-natal é aceito no intuito de providenciar intervenções
terapêuticas médicas para a saúde do feto, mas não de fundamentar uma decisão de abortar,
apesar de deformações ou doenças hereditárias detectadas. Outras questões sobre
intervenções, pesquisa e experimentação são respondidas, a Igreja sempre voltando a
afirmação do respeito à dignidade, à integridade e à identidade humana.
A fecundação artificial heteróloga (usar esperma ou óvulo de uma terceira pessoa)
é expressamente proibida, como também a maternidade substitutiva.
O posicionamento da Igreja na avaliação moral da fecundação artificial homóloga
(entre esposos), “in vitro” ou através de inseminação artificial é igualmente de condenação
por não ser resultado do ato específico conjugal e por destruir embriões humanos. O
documento lamenta o sofrimento da esterilidade conjugal, mas não aceita os procedimentos
antes mencionados e urge aos cientistas de prosseguir as suas pesquisas sobre esterilidade
para permitir a procriação através do ato matrimonial, o único meio aceito pela Igreja.
Urge valores e obrigações morais que a legislação civil deve respeitar e ratificar
sobre as questões levantadas no documento, oferecendo orientações sobre as relações entre lei
moral e lei civil, a respeito de técnicas de procriação artificial, embriões e fetos humanos.
O documento conclui reconhecendo os graves problemas morais com relação ao
respeito devido ao ser humano desde a sua concepção, envolvendo sua sexualidade e a
transmissão da vida.
113
A mensagem aos casais é clara: todo método de fecundação artificial é proibido. A
consciência da mulher e do homem contemporâneos não aceita esta condenação geral,
principalmente porque a medicina é vista como tendo o objetivo final de promover e estimular
a saúde bio-psíquico-social da pessoa humana. De novo, a Igreja ou afasta casais ou os força a
afirmar e seguir a sua própria consciência e razão referente à condução das suas vidas
conjugal e familiar.
Sobre este assunto, as universitárias colocaram o seu pensamento sobre família,
casamento, divórcio e educação sexual. As práticas do casal e da família, demonstradas
através de distribuição de freqüência( Tabela 3.4.1.2A, Apêndice C, p.255), mostra as
percentagens de concordância e discordância, mas a mensuração mais válida é a tendência
global de resposta (TGR). A TGR ( Tabela 3.4.1.2B, Apêndice C, p.256) sobre os assuntos
em que a universitária diz que “concordo plenamente” indica a valorização quase unânime da
família como célula fundamental da sociedade ao mesmo tempo que “concordo em parte”
que as funções da família são a união, a procriação, ajuda mútua e prazer. Ao se tratar das
decisões do casal sobre questões que afetam a sua vida conjugal, o posicionamento é a favor
do direito do casal decidir: vida sexual e contraceptiva, permanência ou não no casamento
(divórcio), vida espiritual e participação plena na Igreja após divórcio, inseminação artificial,
sexo antes do casamento incluindo o(a) namorado(a) dormir em casa dos pais com a(o)
namorada(o).
Sobre assuntos relacionados aos direitos homossexuais e educação sexual, a
tendência geral é “nem concordo nem discordo”, que não significa falta de opinião, mas falta
de uma tendência geral distinta. É significativo que o item “casamento é para sempre” esteja
neste grupo. Percebe-se que a valorização da família não depende da permanência do
casamento. O casamento indissolúvel não é condição da vida em família, posição
radicalmente oposta ao magistério da Igreja. A mulher universitária está indicando o seu
pensamento sobre a família real (contemporânea) o que se contrapõe à família ideal da
doutrina, e, com isso, afirma que tem muitas formas dela constituir família, inclusive uma
família composta de casais homossexuais, assim questionando os paradigmas tradicionais.
Esta posição reafirma a necessidade da Igreja de reconceituar “família” como
primeiro passo de trabalhar com a “nova família” contemporânea. Família, sociologicamente
interpretada hoje, tem duas características principais: laços de consangüinidade ou afeto e
garantia de manutenção bio-psícossocial. A família hoje se caracteriza de formas diversas
que divergem da família ideal representada na doutrina da Igreja
114
e) Síntese de inter-relação dos documentos Mulieris Dignitatem (1988), a Carta às
Famílias (1994) e Sexualidade Humana: verdade e significado (1995)
Três documentos produzidos entre 1988 e 1995 tratam basicamente das mesmas
orientações da Igreja Católica sobre mulher, família, matrimônio, sexualidade e criação dos
filhos, interreferenciando-se constantemente ao longo dos seus discursos e argumentações
religiosas. A fundamentação das orientações teológicas se reporta tanto à Bíblia, aos
documentos da Igreja Católica e aos grandes filósofos e teólogos como às outras ciências
como biologia, medicina, psicologia, comunicação social, pedagogia e antropologia.
Os documentos que serão aqui comentados são: Mulieris Dignitatem: a dignidade
e a vocação da mulher, de João Paulo II (1988); Carta às Famílias de João Paulo II (1994);
Sexualidade Humana: verdade e significado, do Conselho Pontifício para a Família (1995).
Nesses documentos, a Igreja Católica avança a partir da orientação sobre
sexualidade, matrimônio e família da encíclica Humanae Vitae para posicionamentos
específicos sobre como a família deve educar os filhos diante da moral da Igreja, levantando
assuntos como HIV, homossexualismo, aborto, masturbação, promiscuidade, relações pré-
matrimoniais, castidade e virgindade. Cada documento aprofunda os ensinamentos do
documento anterior. Eles se interrelacionam, inclusive reportando-se com muita freqüência ao
Catecismo da Igreja Católica (1993), Humanae Vitae (1968), Carta dos Direitos da Família
(1983) e Familiaris Consortio (1981).
A carta apostólica Mulieris Dignitatem focaliza a mulher à luz da realização do
feminino, através do exemplo de Maria, mãe de Deus. Enfatiza a igualdade entre o homem e a
mulher, criados à imagem de Deus, para ser a “unidade dos dois” como reflexo da comunhão
divina, a Trindade. A carta recorda as intervenções do Magistério da Igreja desde o Concílio
Vaticano II, como também as posições pré-conciliares sobre a dignidade e responsabilidade
das mulheres, em comemoração do ano Mariano (1988).
Há uma análise da relação Eva-Maria e do comportamento de Jesus em relação às
mulheres que “às vezes, provocava estupor, surpresa, muitas vezes, beirando ao escândalo”
(João Paulo II, 1988, p.50). A Carta elogia as mulheres do Evangelho e aprofunda as duas
dimensões da vocação da mulher: maternidade e virgindade. Termina com a analogia da
Igreja como Esposa de Cristo.
O documento, em nenhuma parte, fala da mulher concreta, sofrida, discriminada,
explorada, que enfrenta os desafios de miséria, pobreza e marginalização e cuja dignidade é
violada cotidianamente. Coloca somente duas dimensões possíveis para sua vida, cuja missão
115
é servir e amar. Não aborda a realidade da sexualidade ou corporeidade da mulher na entrada
do Século XXI. Assume uma perspectiva teológico-filosófica desligada do real ao desejar que
todas as mulheres encontrem no mistério bíblico da mulher a sua suprema vocação.
Sobre o assunto mulher, sua vida, seu corpo a universitária reflete a sua vida e
sua corporeidade através de assuntos do seu cotidiano e existência feminina.( Apêndice B,q.
16c) A universitária católica deixa poucas dúvidas sobre o seu pensamento, que trará
implicações sobre suas ações, muitas já demonstradas em questões anteriores (Tabela
3.4.1.3B, Apêndice C, p.259).
O conjunto de afirmações “concordo plenamente” e “concordo em parte”, como
também “discordo totalmente” e “discordo em parte”, revela uma segurança da mulher
universitária no processo de construção da sua identidade ético-religiosa e psicossocial. A
universitária acredita que:
- não é Eva, não é menos que o homem nem submissa a ele, não é pecadora e
destinada a se vilificar como sacrifício pelo pecado de ser mulher;
- tem direito de seguir a sua consciência nas decisões sobre sua corporeidade e
sexualidade;
- seu Deus é mulher e homem, Deus e Deusa, feminino e masculino;
- a virgindade não é um valor absoluto.
A posição é radical, é revolucionária. A universitária está se colocando em
confronto aberto, mas silencioso, com a Igreja. Até os papéis/funções da mulher estão sendo
reelaborados por ela.
Outros itens( ver a mesma tabela) aos quais as universitárias responderam “nem
discordo nem concordo” que foram tirados dos ensinamentos da Igreja sobre o que pode ser
chamado a filosofia do “eterno feminino” ou conceituação da mulher ideal, não demonstram
uma posição definida da maioria. A indefinição se refere aos itens a seguir, afirmados pela
Igreja : a Virgem Maria é o modelo ideal da mulher, a mulher é naturalmente religiosa, a
sexualidade caracteriza a mulher nos planos físico, psíquico e espiritual, os papéis mais
importantes da mulher são de mãe e esposa e o corpo da mulher é o templo do Espírito Santo.
O ideal da mulher é fortemente defendido ainda pelo pensamento tradicional da sociedade e
da Igreja e continua influenciando a concepção da universitária sobre si, contribuindo para
uma culpabilidade em não ser ideal que é imposta pelo sistema patriarcal.
Ela “discorda totalmente” que a mulher é um homem incompleto, ou um ser
inferior e subjugado ao pensar masculino, ao contrário, é igual em todos os aspectos: moral,
emocional, intelectual, racional. Também contesta, sem vacilar, que o corpo da mulher é fonte
116
de pecado e rejeita o mito da mulher Eva, condenadora da raça humana e tentadora do
homem. Discorda ainda que a mulher deve ser submissa ao homem nas suas relações, tanto
na relação individual quanto institucional, através de ideais e posições institucionalizados no
androcentrismo e patriarcalismo da Igreja.
A universitária “discorda em parte” que o homem deve casar virgem, que a
identidade da mulher depende da capacidade de ajudar os outros e que a virgindade é
essencial para a mulher antes do casamento. Estas colocações fazem parte do “eterno
feminino” dos documentos da Igreja que estão sendo questionados e reelaborados. Com isso,
a mulher, também, percebe Deus de acordo com a sua experiência de “ser-mulher”.
Ela está conceituando um Deus novo e diferente, um Deus, também, feminino,
que se reflete na mulher, um Deus com rosto e sensibilidade femininos.
A “Carta às Famílias” (1994) foi elaborada em comemoração ao ano
Internacional da Família, salientando que “a Igreja toma parte nas alegrias e nas esperanças,
nas tristezas e nas angústias do caminho cotidiano dos homens” (João Paulo II, 1994, p.5).
Afirma que no caminho o elemento mais importante é a família que tem uma estreita relação
com a Encarnação do Filho de Deus.
Neste documento, João Paulo II aprofunda a reflexão e o ensinamento da Igreja
sobre a família, o matrimônio e seus objetivos de união e procriação, a paternidade e a
maternidade responsáveis. Analisa o papel principal dos pais como educadores, a família
como instituição fundamental para a vida da sociedade e a importância da atividade das
mulheres no núcleo familiar. A Carta termina com uma reflexão sobre a relação família /
Igreja como esposa de Jesus, o exemplo da Sagrada Família e do papel de Maria na família.
Esta Carta foi uma preparação ao documento elaborado, em 1995, sobre
Sexualidade Humana, porque fundamenta filosófica, antropológica e teologicamente a
organicidade e a centralidade da família para o desenvolvimento da personalidade e da
religiosidade e da retidão moral da pessoa. É uma base para refletir o papel da família
contemporânea, de forma geral, e serviu para subsidiar a Campanha da Fraternidade da
CNBB, de 1994, sobre a família.
A promulgação do documento “Sexualidade Humana” enfocando as orientações
educativas que a família deve realizar sobre a verdade e significado da sexualidade,
inicialmente oferece um diagnóstico sobre o novo contexto global que a família enfrenta.
Enfatiza a quebra ou distorção de valores fundamentais e a banalização do sexo. Reconhece as
dificuldades da família em dar orientação aos filhos e se propõe a indicar linhas de caráter
117
pastoral. Define a sexualidade como referência ao núcleo íntimo e não só biológico da
pessoa.
O documento aborda uma série de direitos e deveres dos pais, através de passos
de conhecimento, princípios sobre informação e sexualidade, as fases de desenvolvimento da
criança, recomendações, orientações práticas, princípios operativos e suas normas e métodos
particulares. Discute assuntos polêmicos como masturbação, homossexualismo, relações pré-
matrimoniais e aborto, condenando todos como “imoralidade”, “intrinsecamente
desordenados e contrários à lei natural” (CONSELHO PONTIFICIO PARA A FAMÍLIA,
1995, p.91). A tônica declarada de todo documento é a formação dos jovens para a castidade,
uma educação cristã da castidade. É assim definida pelo Catecismo da Igreja Católica (1993):
“Castidade significa a integração da sexualidade adquirida pela pessoa e daí a unidade interior
do homem no seu ser corporal e espiritual”. A palavra “castidade” é utilizada 52 vezes no
documento, sem contar as palavras “virgindade” e “celibato”, que expressam o mesmo
conceito de controle sexual, que o documento descreve como renúncia, sacrifício e espera. É
considerada uma “energia espiritual” contra o egoísmo, a agressividade e a promiscuidade.
O posicionamento da universitária católica recifense sobre a sua sexualidade é
impressionantemente claro. Seus pensamentos são expressos, mais especificamente, através
de duas questões na pesquisa.
A primeira questão trata do pensamento sobre religião e espiritualidade referente
a sexualidade da mulher (Apêndice B, q. 16d). Neste item, práticas e pensamentos referentes a
assunto pessoal e íntimo da sexualidade da mulher são refletidos. O processo de revelação da
reflexão qualitativa da universitária católica recifense acompanha a desconstrução e
reconstrução da sua nova identidade ético-religiosa e psicossocial (Tabela 3.4.1.4B, Apêndice
C,p.262).
As afirmações mais enfáticas demonstram uma segurança crítica que contesta as
orientações da Igreja sobre:
- a necessidade da educação sexual: elas concordam com o papel da escola, que
assume uma posição científico-biológica e não moral, perspectiva considerada uma
“mentalidade contraceptiva” pela Igreja;
- opção sexual como direito da mulher, como, também, a descriminalização do
aborto e o aborto provocado do feto que não sobreviverá: elas entram em confronto direto
com as posições da Igreja;
- gravidez fora do casamento e masturbação: não são considerados pecados;
118
- para evitar AIDS, a única forma de sexo seguro, para elas, não é fidelidade no
casamento, como conclama a Igreja;
- anticoncepcional: elas acrditam que qualquer tipo é aceitável.
Referente a decisão em de abortar, as respostas ecoam outras pesquisas, citadas
anteriormente, sobre culpa, remorso, dúvida em provocar o aborto, inclusive citando pressões
da família, da sociedade e do companheiro como as razões principais da sua decisão de
abortar.
As universitárias mostram, também, algumas indecisões significativas:
- a resposta “nem discordo nem concordo”, foi dado para “abortar é decisão do
casal” e “abortar é decisão da mulher”. Em questão anterior sobre quem deve decidir sobre o
aborto, a resposta geral ficou entre “eu” e “casal”;
-“opção sexual é direito da mulher” (concordo em parte) versus
“homossexualismo/lesbianismo é contra a natureza humana” (nem discordo nem concordo).
Percebe-se lacunas na coerência, ao ver que os dois itens tratam do mesmo assunto.
As respostas evidenciam a necessidade de um maior e melhor pensar das
universitárias sobre alguns assuntos. Algumas mulheres, ao terminar a pesquisa, comentaram
(por escrito) que pela primeira vez sentiram-se compelidas a posicionar-se sobre assuntos os
quais não tinham refletido antes.
A segunda questão pertinente a esta reflexão se refere a vida sexual concreta da
mulher (Apêndice B, q.12). Esta questão teve onze desdobramentos que tratam de vários
aspectos da vida sexual concreta das universitárias católicas recifenses (Tabelas 3.3.5.1 a
3.3.5.11 Apêndice C, p.237 a 247).
A primeira questão (12a) da série, mostra que 80,8% das universitárias já
tiveram/têm relações sexuais. A proibição de sexo antes do casamento, para elas, é rejeitada
como controle da sua vida, como também a condenação do uso de anticoncepcionais: 75,7%
das solteiras e 55,3% das casadas usam.
Há críticos da juventude de hoje, que a acusam de “relativismo” e “secularismo”
referindo-se as suas práticas na vida sexual, mas há uma necessidade premente de analisar
estas acusações à luz de gênero. Quem acusa? Porque? Quais são seus interesses? As
mulheres foram consultadas / ouvidas? Qual é o espaço de diálogo disponível? De que mulher
se fala, a ideal ou a real? Até que ponto o machismo e o androcentrismo querem impor seu
poder sobre as mulheres? Qual é o poder simbólico sublimado?
119
Os comentários, a seguir, serão sobre o conjunto das questões que têm
aplicabilidade sobre os 80% das mulheres que responderam “sim” à questão de ter relações
sexuais, confrontando as respostas das solteiras com as daquelas em união conjugal.
A idade mais comum da primeira relação sexual, foi de 19 anos ou mais jovem
adulta por 56% das universitárias, embora que 44% teve a primeira relação entre 13 a 18
anos (adolescente). Existem inúmeros fatores (biológicos, psicológicos, sociais) que
influenciam a decisão de ter relações sexuais, mas o fator religioso é pouco presente. A
percentagem entre solteira e união conjugal é igual, mostrando que o comportamento é
comum, seja qual for o estado civil (Tabela 3.3.5.2).
O parceiro na última relação sexual, tanto de solteiras quanto casadas, foi estável
(97,2%) sendo 94,9% do segmento união conjugal e 98% das solteiras,0 (Tabela 3.3.5.3).
É um prenúncio da percepção de sexo como atividade normal na relação estável.
Quem foi este parceiro? Para 93,1% das solteiras é o namorado ou companheiro e daquelas
que tem ou teve uma relação conjugal, 97,4% dizem que é o marido, companheiro ou
namorado. Relações com parceiros eventuais são raras (Tabela 3.3.5.4).
Sobre anticoncepcionais, existe pouca diferença das respostas das duas
categorias: 29,8% das mulheres não usam anticoncepcionais e 70,2% usam, seja artificial
65,2% ou natural 4,3%, ou ambos 0,7%. Um dado significativo é que a percentagem das
solteiras que usam, 75,7%, é maior que as em união conjugal, 55,3% (Tabela 3.3.5.5).
Sobre o uso de anticoncepcionais, as universitárias tinham se pronunciado que
“nunca é pecado”, em questão anterior, também, ratificando a posição das mulheres sobre sua
sexualidade, desvinculando-a das orientações da Igreja, que elas consideram ultrapassadas e
irreais diante da vida da mulher hoje. Seria leviano julgar que a atitude é resultado de
libertinagem ou imoralidade da mulher, um relativismo diante de seus impulsos e\ou
irresponsabilidade. As constatações da pesquisa afirmam a construção de uma identidade
ético-religiosa alternativa daquela que a Igreja demanda e quer regular.
Referente a prática de ligação de trompas, condenada pela Igreja, poucas
solteiras (10%) fizeram, mas 38,5% em união conjugal fizeram ligação de trompas, num total
geral de 11,1% das mulheres (Tabela 3.3.5b).
O número de parceiros vasectomizados, demonstra que no grupo união conjugal
5,1% dos homens fizeram vasectomia e ninguém do grupo de solteiros (Tabela 3.3.5.7). Em
número absoluto, foram 2 homens ao total, demonstrando ser uma prática infrequente. Quem
permanece responsável para evitar gravidez é a mulher.
120
Os dados sobre o assunto de medo de AIDS e DST (Tabela 3.3.5.8), mostram
algumas tendências significativas:
- nas duas categorias a resposta mais freqüente, 40,8%, é que tem medo de AIDS
e DST porque não pode confiar cegamente em ninguém;
- as mulheres do grupo união conjugal (31,6%) não tem medo porque confiam
mais no companheiro que as solteiras (14,4%);
- das solteiras, 24% não tem medo porque só transam com proteção e 5,8% tem
medo porque nem sempre usam, enquanto 7,9% de grupo união conjugal não tem medo
porque usam proteção e 13,2% tem medo porque nem sempre usam.
AIDS e as doenças sexualmente transmissíveis são ameaças graves para a saúde
física e mental das mulheres, de forma geral, hoje. As universitárias, que devem ser melhor
informadas, demonstram conhecimento, têm medo e tomam medidas para tentar evitar. A
Igreja Católica, irredutível na sua posição sobre anticoncepcionais na proteção contra AIDS,
sofre pressões de todo mundo que percebe que esta posição prejudica, em vez de contribuir,
para diminuir as incidências de AIDS no mundo, especialmente entre mulheres, as mais
freqüentes vítimas.
Entre 141 mulheres que responderam sobre aborto (37 não responderam),
somente 12 (8,5%) já abortaram, e destas, 8 tiveram aborto espontâneo e 4 (2,8% do total de
respostas) provocaram o aborto por vergonha, não tinham condições de criar ou o pai exigiu
(Tabela 3.3.5.9).
Esta questão é relacionada às indagações anteriores sobre o que é pecado. Para a
universitária, usar anticoncepcional “nunca é pecado”, mas abortar “depende da situação”. Na
questão 14 que indaga sobre quem deve decidir sobre aborto, 93% responderam “eu”. A
questão 16c, também, trata da questão de aborto e seus resultados demonstram que as
tendências gerais são que elas concordam em parte que pode abortar um feto com defeito.
Sobre os ítens desta questão se abortar é decisão do casal, se abortar depende da situação
sócio-econômico e se abortar é decisão da mulher, as tendências gerais de resposta indicam
que elas nem concordam nem discordam ( Tabela 3.4.1.3B, Apêndice C, p.259).
O assunto é complexo e polêmico, eivado de inúmeras implicações e dúvidas,
éticas e religiosas, o que não se encontra sobre o uso de anticoncepcionais. Existe uma clara
percepção da diferença entre evitar de engravidar e terminar uma gravidez ao abortar um feto.
Referente a idade mais freqüente de ter o primeiro filho, 56,4% da união
conjugal e 1,9% solteiras indicaram que foi com mais de 21 anos nas duas categorias. A
gravidez na adolescência, considerado um problema de saúde pública hoje, não foi
121
significativa (1,4% das mulheres, 1% das solteiras e 2,6% união conjugal). Das solteiras,
97,1%, não tiveram filho versus 17,9% do grupo união conjugal (Tabela 3.3.5.10).
Referente o planejamento do primeiro filho, 15,4% planejaram e 9,8%
responderam que a gravidez foi sem querer. O restante não tem filho (Tabela 3.3.5.11).
Estes dados podem ser correlacionados com os dados sobre uso de
anticoncepcionais, demonstrando a decisão por parte da mulher universitária de ser dona do
seu corpo em duas frentes: sua sexualidade e a prática de sexo com proteção, afirmando que
engravidará no tempo e espaço que acha mais adequado para si. Isto não é individualismo,
nem egoísmo, nem relativismo, nem pecado, é o apoderamento de si mesmo, contrastando
com o controle que a Igreja que manter sobre ela.
A Igreja afirma que, na educação sobre sexo, a família tem uma responsabilidade
maior junto às filhas do que junto aos filhos, um posicionamento tradicionalmente patriarcal e
androcêntrico. O documento enfatiza a educação feminina sobre a sexualidade e mostra
oposição à “mentalidade contraceptiva”. A contradição no seu discurso é alarmante porque
reforça a filosofia da mulher como fonte de pecado: se ela se contiver não vai acontecer sexo
antes do casamento. A Igreja ainda concorda sobre a importância de falar dos ciclos de
fertilidade, mas alerta que não é necessário “dar explicações pormenorizadas sobre a união
sexual.” (CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA, 1994, p.80).
È importante saber quais as práticas e ensinamentos religiosos das universitárias,
porque fornecem informações sobre como conduzem a sua vida espiritual e suas atividades
ligadas a religiosidade na vida pessoal / familiar e junto à Pastoral da sua universidade.
(Apêndice B,q.1e2)
As principais práticas exercidas “freqüentemente” entre as mulheres de forma
geral (Tabelas 3.2.1 A e B, Apêndice C, p.216 e 217) são:
- oração pessoal (92,1% );
- ajuda aos necessitados (48,9%);
- ir a missa (46,9%);
- ir a casamentos (45,1%).
A espiritualidade se evidencia pela predominância da oração, que é individual e
pessoal. Todas praticam a oração, embora 7,9% dizeram “raramente”. A ajuda aos
necessitados é considerada uma prática individual de expressão religiosa, enquanto missa e
casamento são eventos coletivos e sociais. A freqüência às atividades coletivas, vem em
segundo plano.
122
Os dados refletem a pouca freqüência às várias e possíveis atividades religiosas,
mas a quase totalidade de adesão à oração pessoal e ajuda aos necessitados no plano
individual, e ir a Missa e casamentos no plano coletivo / social.
As práticas infrequentes de resposta “raramente” (Tendência Global das
Respostas-TGR) são: ir a batizados; confessar-se ; comungar ; leitura religiosa; procissão;
pastoral familiar; retiros e atividades/grupos de jovens na paróquia.
As atividades de resposta “nunca” (TGR) são: acampamentos e encontro de
casais com Cristo. A distribuição de freqüência (Tabela 3.2.1 A) indica participação em todas
as atividades, mas a validação é pela TGR.
A sinceridade com qual as universitárias responderam as questões é pertinente para
a Igreja Católica, que é hoje a igreja que mais perde fiéis e destes, jovens, devido a sua
omissão em enfrentar dilemas contemporâneos. Não existe falta de número e opção de
atividades, as tendências das jovens têm que ser explicadas por outros motivos.
A participação nas atividades da Pastoral nas duas IES, de forma geral, é
“raramente”, com alta percentagem de respostas (TGR) sendo de nenhuma participação ou
“nunca” (Tabelas 3.2.2 A e B, Apêndice C, p.218 e 219). As duas atividades mais freqüentes
são campanhas beneficentes e Missa. O restante das possíveis atividades listadas recebem a
mensuração de “nunca” pela TGR, embora a distribuição de freqüência indica uma pouca
participação.
A falta geral de participação, apesar dos grandes esforços e inúmeros projetos
diversificados nas duas IES, reforça a conclusão da espiritualidade pessoal sem expressão
coletiva ou participação em eventos ou grupos de orientação religiosa. Percebe-se, também o
baixo índice de procura de orientação espiritual e/ou material religioso junto aos setores
pastorais.
Então, onde ou como é que a universitária aprende os ensinamentos e orientações
da Igreja? ( Apêndice B, q.5) As respostas da universitárias (Tabela (3.2.5. A, Apêndice C,
p.226) são iguais nas duas IES (em ordem decrescente): catecism na Primeira
Eucaristia(13,5%); na família (12,8%); missa (12,7%); aula de religião no colégio (12,5%);
disciplinas de teologia / humanismo na universidade (8,5%); curso para crisma (7,3%);
discussão com amigos (6,9%); leituras religiosas (6,8%); eventos religiosos (6,0%).
As maiores influências são institucionais, na infância e na adolescência: família,
catecismo, missa, aula no colégio. É evidente que na fase jovem adulto, as influências são
menos institucionais e mais conviviais, a partir da busca pessoal.
123
Percebe-se que os ensinamentos com os quais a mulher mais pauta sua vida não
são adquiridos enquanto adulta. Não convêm aqui um debate sobre os espaços e as formas que
a Igreja propaga seus ensinamentos para as mulheres nesta faixa de idade. Porém, a posição
da Igreja é dogmática referente a proibições e pecados e omissa quando se trata de diálogo
com mulheres e sua compreensão sobre o que é “ser-mulher” diante de tantos desafios
enfrentados por ela na modernidade.
Sobre o conhecimento a cerca dos documentos da Igreja (Gráfico 3.2.6.1,
Apêndice C, p.227) que fale sobre mulher, família, sexualidade e corporeidade, 47%
responderam que não têm conhecimento, enquanto 53% têm. Este dado demonstra as
dificuldades da Igreja disseminar os seus ensinamentos de forma compreensível e abrangente.
Os dados, em geral, indicam a aproximação limitada das mulheres com os
ensinamentos ortodoxos da Igreja, uma condição que facilita a criticidade e o pensar objetivo,
ao mesmo tempo que dificulta a percepção de parâmetros religiosos do catolicismo.
As exortações da Igreja sobre o papel educador da família na sexualidade na
“Carta às Famílias” são pertinentes, mas a falta de enfrentamento dos problemas concretos
desafiando famílias e, especialmente, seus adolescentes, é gritante. Há constantes
condenações sobre a educação sobre a sexualidade oferecida nas escolas e por terapeutas do
sexo, por ser considerada “anti-natalista” e promotora de mentalidade contraceptiva. Esta
educação é considerada em oposição aos princípios e normas morais da Igreja, se auto-
conceituando como a única instituição que expressa os valores humanos na vida cotidiana.
Na reflexão anterior foi registrada a influência da família como a segunda mais
importante na vida religiosa da mulher universitária. As respostas à questão da influência da
família (Apêndice B, q.7) reforçam as constatações em todo o trabalho sobre o perfil religioso
da família e sua importância na vida da universitária. (Tabela 3.2.6.2A, Apêndice C, p.228).
Para a universitária recifense, a família é uma força significativa porque(respostas mais
freqüentes): orienta sobre a importância da religião na vida (25,9%); é aberta a novas idéias e
discussões sobre religião (19,7%); é muito religiosa (14,5%); segue a orientação tradicional
da Igreja (12,6%).
As respostas seguintes mais freqüentes mostram outras tendências: a família tem
um posicionamento crítico sobre a Igreja (7,3%), e, em grau menor, é pouco religioso (6,8%).
De novo, é relevante refletir sobre as repercussões positivas das famílias na vida
das universitárias recifenses, enquanto ao mesmo tempo, as mulheres vão transcendendo esta
influência a partir das suas experiências, questionando paradigmas tradicionais e construindo
novos.
124
O documento “ Carta às Famílias” é fiel aos ensinamentos do Magistério da
Igreja elaborados em Cartas e encíclicas anteriores, e à condução histórica da sua reflexão ao
não permitir nenhuma consideração ou abertura para dialogar com problemas reais e graves
que leigos famílias, casais, jovens, teólogos(as) e membros do clero e religiosos(as) -
enfrentam nas suas vidas e nas relações com o povo de Deus.
Aonde recorrer para ajuda espiritual, se não encontrá-la na Igreja? A universitária
acha que outras religiões e crenças ajudam a aprofundar a sua espiritualidade e procura outros
caminhos (Apêndice B, q.8). Os dados (Tabela 3.2.3 A, Apêndice C, p.221) espantam pela
sinceridade pessoal e preocupam pela necessidade tão gritante da universitária de buscar ajuda
em outras crenças para a sua espiritualidade. Das universitárias pesquisadas, 73% acham que
outras religiões e crenças contribuem para o seu crescimento espiritual.
A crença mais procurada é o espiritismo, por 37% das mulheres, com altos
índices também de procura por crenças evangélicas (13%) e budismo (9,1%). O uso do
horóscopo, embora que não seja uma crença, é considerado uma ajuda por um grande número
das mulheres (13%).
A reflexão sobre estas informações demonstra algumas tendências gerais:
a) A busca pelas mulheres de ajuda para a sua espiritualidade;
b) esta busca não se limita por dentro da sua religião declarada;
c) o espiritismo é a religião mais procurada pelas mulheres;
d) as crenças afro-brasileiras são os menos procurados.
A tendência geral é intensificar a espiritualidade interior, o contato da mulher
consigo mesma, através de respostas não encontradas da forma mais plenamente possível na
sua religião, embora que haja uma grande “oferta” de práticas nas Igrejas e dentro das IES.
Aqui convêm refletir sobre as taxações de “relativismo” ou “super-mercado
espiritual” que são expressas críticas usados para caracterizar o fenômeno das pessoas
buscarem outras orientações, além da sua religião declarada. Em vez de acusar quem procura
outros caminhos, parece mais coerente a religião em questão examinar-se para descobrir
porque não atende as necessidades espirituais dos seus fieis, empurrando-os a procura de
outras respostas. Chamar “relativismo” nestas condições pode ser considerado um
absolutismo sem autocrítica por parte da instituição religiosa.
Dentro das perspectivas apresentadas pelos três documentos, a mulher latino-
americana se encontra num impasse, que, paradoxalmente é levantado na “Sexualidade
Humana”. O documento admite que cada pessoa tem sua
125
consciência moral que é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem,
como afirma o Concílio Vaticano II que o obriga no momento oportuno, a
fazer o bem e a fugir do mal [...] é um juízo da razão mediante o qual a
pessoa humana reconhece a qualidade moral de um ato concreto
(CONSELHO PONTÍFICIO PARA A FAMÍLIA, 1994, p.84).
Ao mesmo tempo, todos os passos, pensamentos e ações da mulher referidos
neste documento são determinados por ensinamentos da Igreja díspares dos graves desafios
do cotidiano que ela enfrenta. O seu recurso é agir de acordo com sua consciência.
Os maiores problemas ou desafios que a mulher, de forma geral, enfrenta hoje, na
percepção da universitária, (Apêndice B, q.8), são resolvidos por uma consciência do que é
“ser-mulher” a partir de valores ético-religiosos (re)construidos por ela frente a omissão da
Igreja. Os nove maiores problemas ou desafios (Tabela 3.3.1A, Apêndice C, p.230)
unanimemente indicados pelas universitárias, são (em ordem decrescente):
a) conciliar família, trabalho e educação;
b) apelo à estética;
c) apelo ao consumismo;
d) violência social;
e) discriminação contra mulher;
f) machismo;
g) educação profissional;
h) violência doméstica;
i) gravidez indesejada.
Várias alunas, ao responder o questionário, perguntaram se esta questão era
dirigida especificamente à sua vida ou às mulheres de forma geral. Foi esclarecido que era
sobre as mulheres na sociedade brasileira, embora que elas tenham vivido, também, alguma
situação destas.
Os desafios afirmados por elas são relacionados com a vida íntima suas relações em
todos os seus espaços e as demandas postas à mulher moderna com a exceção de um
problema de cunho coletivo, a violência social.
Os desafios colocados referente a religiosidade (ver tabela) não foram
considerados desafios ou problemas maiores para sua vida: religiosidade, espiritualidade e
relação com Deus.
Percebe-se o processo e a qualificação da construção da identidade psicossocial e
ético-religiosa da mulher universitária recifense. Esta qualificação se aprofunda com as
respostas a cada questão sucessivamente. Na indagação sobre os valores mais importantes na
126
sua vida, questão que segue a dos desafios (Apêndice B, q. 9), as respostas revelam
espiritualidade (vivência interior da fé) como um valor importante, como também, temor a
Deus. Indicados como valores menores são: respeito à doutrina da Igreja, oração ( embora que
100% oram) e religiosidade (práticas religiosas).
Os outros valores mais significativos podem ser qualificados em duas dimensões
gerais (Tabela 3.3.2 A, Apêndice C, p.232).O valor mais importante para todas é o amor,
seguido de amizade, honestidade, relacionamento com a família, auto-realização e respeito
aos outros.
A segunda escalão de valores se refere a: dedicação ao trabalho ou estudo, saúde
física e mental, solidariedade, respeito às diferenças, justiça social e consciência crítica.
A sua vida pessoal é a sua maior preocupação: amizade, família, trabalho, estudo,
saúde, auto-realização. Mas existe uma preocupação social evidenciada pela solidariedade,
justiça social e o respeito às diferenças como valores que confirmam o reconhecimento da
violência social e doméstica como um desafio contemporâneo sério, indicado anteriormente.
f) Carta do Papa João Paulo II às Mulheres (1995)
Ao aproximar-se a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, em
setembro de 1995, o Papa João Paulo II enviou a Carta às Mulheres, elogiando a iniciativa da
ONU e colocando a Igreja à disposição para contribuir com a defesa da dignidade, dos
direitos e do papel da mulher. Nesta Carta o Papa reconhece a necessidade de assumir
perspectivas mais amplas sobre problemas enfrentados pelas mulheres no mundo
contemporâneo.
O Papa João Paulo II afirma que é preciso iniciar o diálogo com cada mulher e
todas as mulheres através do “obrigado”: a Deus pela vocação da mulher, à mulher-mãe, à
mulher-esposa, à mulher-trabalhadora, à mulher-filha e à mulher-consagrada.
Enfatiza os “condicionalismos” (p.8), que dificultam a vida da mulher,
marginalizando-a, empobrecendo-a, desrespeitando-a e, até mesmo, escravizando-a.
Reconhece a contribuição da mulher, ao longo da história, embora reduzida à inferiorização e
ao anonimato, com muitos documentos elaborados pelas mulheres perdidos ou sepultados,
porque “o tempo sepultou os vestígios documentais” (p.9).
Urge a igualdade efetiva dos direitos como ato de justiça e como necessidade para
facilitar a presença ativa da mulher perante as contradições sócio-econômicas e políticas da
nossa época e no futuro. Nesta parte do documento, João Paulo condena o aborto como
127
sempre um pecado grave, mas responsabiliza tanto o homem quanto a mulher. Lembra as
violências domésticas e sexuais sofridas pelas mulheres e condena a cultura “hedonista e
mercantilista que promove a exploração sistemática da sexualidade” ( p.11).
Os dados da pesquisa sobre violências sofridas pela universitárias entrevistadas
(Apêndice B, q.13), infelizmente, são impressionantes: 20,8% ou 37 universitárias, que advém
em geral da classe média e alta, tem sofrido algum tipo de violência. Precisa destacar a
ocorrência, para a maioria, de múltiplas violências, abrangendo violência psicológica, assédio
moral, controle (opressão), ameaça espiritual, discriminação, violência sexual e assédio sexual
(Tabela 3.3.6 A, Apêndice C, p.249).
As violências mais comuns são :
a) violência psicológica, 31,8%;
b) assédio moral, 15,2%.
c) violência física, 12,1%;
d) discriminação, 12,1%;
e) violência sexual, 7,6%;
f) assédio sexual, 7,6%.
Esta situação é gravíssima. Infelizmente a Igreja, nos seus documentos, ainda não
se pronunciou contra a prática universal de violência contra a mulher católica nas famílias que
se dizem católicas. Ainda mais grave é a constatação de múltiplas violências sofridas por 19
(mais que 50%) das 37 mulheres. A pesquisa não registra nem quantas nem por quanto tempo
as mulheres sofreram as violências, que pode qualificar melhor ainda a situação.
A Carta às Mulheres faz referência ao Livro do Gênesis e à criação do homem e da
mulher à imagem de Deus, usando o termo “o gênio da mulher” para enfatizar a sua
contribuição na dimensão educadora ético-social, na maternidade cultural e espiritual, na
colaboração nas obras de evangelização. Recorda a Carta Mulieris Dignitatem que discute a
vocação de servir, como Maria, de inspiração e expressão do “gênio feminino”.
No fim do documento, afirma que a Igreja “confiou somente aos homens de ser
ícone da sua imagem de pastor” (p.20) mas afirma que isto não diminui o papel da mulher.
Fala em complementaridade dos papéis masculino e feminino que evidenciam “duas
dimensões imprescindíveis da Igreja: o princípio ‘mariano’ e o princípio apostólico-petrino”
(p. 21).
Nas relações construídas social e culturalmente, a Igreja determina tanto os papéis
quanto as características que devem representar a mulher e o homem. A universitária tem a
sua a percepção sobre estas características. O conjunto de informações desta questão com as
128
duas questões subseqüentes sobre feminismo(Apêndice B, q.10,11,12) contribuem para
entender a construção da nova identidade psicossocial e ético-religiosa da mulher universitária
católica recifense. Aqui tem pistas sobre como ela se percebe como mulher, em relação ao
homem e no seu posicionamento frente aos seus direitos (Tabela 3.3.3, Apêndice C, p.234).
As características femininas mais definidas são (em ordem decrescente):
sensibilidade; intuição; compaixão; agressividade; acolhimento; ser responsável por afazeres
domésticos; preocupar-se com os outros; cuidar dos filhos e a família; guardar no coração
(interioridade); poder gerador e nutridor; subjetividade ; ficar na defensiva.
As características mais comuns aos homens foram discriminadas (em ordem
decrescente) como: individualismo; pensar com o corpo; razão, objetividade; mandar, chefiar.
Os homens são definidos como individualistas, pensando em satisfazer seus desejos sexuais.
A espiritualidade foi atribuída a ambos, como, também, respeito à vida, como
características ético-religiosas. As outras características de ambos são: ambição profissional,
conquista no amor, materialismo e querer poder: valores que reportam ao ser e ter num mundo
competitivo.
A tendência facilmente percebida nesta classificação é a interioridade da mulher
entendida como vida de reflexão e compadecimento para com os outros. Até a agressividade
pode ser compreendida como vontade de lutar por seus objetivos e ideais e dos outros,
evidenciado na sua definição de feminismo. A experiência interior dela é o critério de
discernimento sobre o “ser-mulher”.
Existem diferenças claras entre os dois sexos, indicadas pelas mulheres. Diante
das afirmação delas, a compreensão da razão/necessidade da mulher definir e construir
claramente sua identidade torna-se essencial para enfrentar os desafios modernos. Ao mesmo
tempo, a Igreja quer mandar nelas diante destes desafios. Ela está dizendo: “quem sabe quem
sou, sou eu”, um apoderamento de si mesma, uma resistência a ser moldada pelos outros,
como tem sido historicamente.
Feminismo é uma palavra polêmica para a Igreja. Na sua opinião, a mulher não
deve ser feminista, é contra a sua natureza bradar as suas críticas e agir de acordo com sua
interpretação do mundo. Mas as universitárias católicas têm outros pensamentos( Tabela 3.3.4
A, Apêndice C, p.235).
A concordância geral sobre o que é ser feminista se desenvolve em torno das
seguintes atribuições (em ordem decrescente): lutar pelos direitos da mulher; denunciar
abusos e violência; ter igualdade de direito no trabalho e na família; questionar as relações
de poder e opressão sobre a mulher; ser contra o machismo na família, sociedade e Igreja; ser
129
mulher livre e independente; viver de acordo com o que acha ético e moral em sua vida e ter
pensamento próprio sobre sua vida e seu corpo, sua sexualidade.
O processo de construção da nova identidade está claramente em andamento,
principalmente diante da próxima questão sobre se a universitária se considera feminista. As
que disseram “sim” ou “sim em parte”, foram 84,3% do total (Gráfico 3.3.4, Apêndice C,
p.236).
As conclusões inevitáveis apontam para novos símbolos, normas e valores sendo
reconstruídos, enquanto os tradicionais estão sendo criticados, repensados e desconstruídos. A
universitária católica está exigindo o direito de garantir seus direitos tanto legais quanto
éticos, porque tratam da sua vida, sua corporeidade e sua sexualidade. Neste processo de
construção, as orientações patriarcais da Igreja que objetivam o controle do corpo da mulher,
são rejeitados violentamente, mas silenciosamente. A mulher pouco fala (os seus comentários
sobre a falta de espaço para se pronunciar diante a Igreja é assunto no próximo capítulo), mas
muito pensa e faz o que acha que é ético para ela, rejeitando as culpabilidades que a Igreja
quer inculcar.
Ela prioriza a sua compreensão da validade da sua experiência de “ser-mulher”
acima das proibições da Igreja.
No fim deste documento papal, apesar do elogio à mulher, ao seu gênio e à sua
missão de serviço, o Papa João Paulo II confirma duas posições radicais da Igreja em relação
à mulher: a proibição ao aborto provocado em qualquer circunstância e a impossibilidade do
ministério ordenado para a mulher. Pouco diálogo, muita proibição. A luta da mulher por seus
direitos de cidadã eclesial está longe de terminar.
g) A Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do Homem e da Mulher na
Igreja e no mundo (2004)
A Carta aos Bispos da Igreja Católica, escrita, em 2004, pela Congregação para a
Doutrina da Fé, sobre a colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo reforça os
pensamentos colocados quase quarenta anos antes no documento Gaudium et Spes (1966) e
há quase vinte anos no Mulieris Dignitatem (1988). Propõe algumas reflexões de temas da
antropologia bíblica sobre a colaboração ativa do homem e da mulher, na Igreja e no mundo,
mas aprofunda a questão da sexualidade na relação homem/mulher como uma componente
fundamental da personalidade nos planos físico, psicológico e espiritual. Reafirma que a
dimensão antropológica da sexualidade é inseparável da teológica.
130
Infelizmente, o documento utiliza como justificativa para suas posições sobre sexo
os mitos de Adão, Eva e a serpente no Jardim do Paraíso e de Noé e o flagelo da enchente, e
reduz o Cântico dos Cânticos à uma alusão ao amor de Deus para seu povo e à relação da
Igreja com Cristo. (Lembramos as críticas de Ranke-Heinemann sobre Familiaris Consortio:
o prazer sexual é tolerado como conseqüência do ato conjugal de procriação e não justificado
em si ).
As terceira e quarta partes da Carta priorizam a atualidade dos valores femininos
na vida da sociedade e da Igreja que são a capacidade para o outro e capacidade física de dar a
vida, repetindo a frase de João Paulo II sobre o “gênio da mulher”. Isso implica na presença
ativa da mulher na família, no trabalho e na sociedade. Alerta, porém, que a articulação
família / trabalho é diferente para a mulher do que para o homem e pede o apoio da sociedade
e do Estado para que as mulheres possam se dedicar totalmente à família e aos filhos sem ser
“socialmente estigmatizadas e economicamente penalizadas” (p.13).
Para a Igreja, “o sinal da mulher é central e fecundo. Depende da própria
centralidade da Igreja” (p.15) que, refletindo sobre os papéis do homem e da mulher, revela
uma identidade mística profunda com Deus. A figura de Maria constitui a referência
fundamental para conhecer a intimidade de Cristo. A Carta esclarece que ao imitar Maria não
recomenda seguir “uma passividade inspirada numa concepção superada da feminilidade, e
condená-la a uma vulnerabilidade perigosa” (p.16), mas aprender com ela o caminho do amor.
No fim, reforça a posição de outros documentos que a ordenação sacerdotal é exclusiva dos
homens, mas que as mulheres são chamadas a ser modelos de “como a Esposa [Igreja] deve
responder com amor ao amor do Esposo: Cristo” (p.16).
Percebe-se uma reflexão teológica Mariana clássica, mas que tem pouco a ver com
a realidade concreta, complexa, sofrida e desafiadora da mulher de hoje. Os documentos não
apontam caminhos para a resolução dos graves problemas bio-psicossociais que o homem e a
mulher estão enfrentando nas suas vidas, nas suas relações, nas suas famílias e com seus
filhos. Além disso, os caminhos traçados para as mulheres maternidade e virgindade não
tem paralelo para os homens nos documentos do Vaticano II.
Nesta Carta, o Vaticano critica as mulheres que ousam desafiar os imperativos da
Igreja. Elas estão causando a ruína da família tradicional. Bonavoglia (2005) retruca que
mulheres assim estão recusando “sua natureza fundamental” de acordo com a Igreja, em ser
não-virgens, não-mães, ativas sexualmente, usando anticoncepcionais, fazendo abortos e
chefiando famílias lésbicas. Tudo isso foge do controle do Vaticano. Se a Igreja não pode
131
controlar a família, perde poder sobre a mulher. Porém a Igreja afirma dogmaticamente que
sabe sempre o que é moralmente certo em todas as situações para todas as pessoas.
Apesar do dogmatismo, as universitárias católica recifenses mantêm uma relação
profunda com a Igreja Católica. Revelam os sentimentos que alicerçam a construção da
identidade ético-religiosa e psicossocial. Recorda-se a reflexão de Maria Clara Bingemer
sobre a importância dos sentimentos para a espiritualidade e religiosidade no catolicismo na
busca geral de sentido. Esta busca é pertinente para a mulher universitária ao procurar
fortalecer a sua espiritualidade.
As respostas sobre a “importância da religião católica na minha vida” ( Apêndice
B, q.18) revelam uma religiosidade significativa. A tabela de distribuição de freqüência
trabalhou com 1721 respostas das 178 universitárias. Elas expressam uma espiritualidade que
surpreendeu pela intensidade da sua ligação com Deus, mas não com a instituição Igreja. As
mais freqüentes, em ordem decrescente( Tabela 3.5.1A, Apêndice C, p.265), são:
a) tenho fé no amor de Deus e seu perdão: 149 respostas (8,7% do total
das respostas);
b) gosto de rezar:120 respostas ( 7,0% do total);
c) tenho Jesus como senhor da minha vida:112 respostas (6,5% do total);
d) tenho paz espiritual:110 respostas (6,4% do total);
e) procuro conforto nas horas difíceis; 108 respostas (6,3% do total);
f) sinto-me apoiada / amada por Deus: 106 respostas ( 6,2% do total);
g) tenho sentido na vida:103 respostas (6,0% do total).
As respostas de menor freqüência foram: faço parte de grupos, fazendo novas
amizades com 26 respostas (1,5% do total); tenho medo do inferno com 21 respostas (1,2%);
ofereço amor e obediência ao Papa, bispos e sacerdotes com10 respostas (0,6%).
A universitária católica sente-se bem no seu relacionamento com a Igreja
(Apêndice B, q.19), apesar da discordância com as suas orientações. Os resultados das 848
respostas de 178 universitárias (Tabela 3.5.2 A, Apêndice C, p.266)demonstram que a
universitária sente-se :
a) amada por Jesus: 120 respostas(14,5% do total das respostas);
b) tranqüila: 114 respostas (13,8% do total);
c) abençoada: 94 respostas (11,4% do total);
d) fortalecida: 92 respostas (11,1% do total);
e) acolhida: 87 respostas (10,5% do total).
132
As respostas de menor freqüência foram: indignada com 9 respostas (1,1% do
total); perdida com 5 respostas (0,6%); ameaçada com 5 respostas (0,6%) e longe de Deus
com 4 respostas(0,5%).
A sua religião é uma força positiva na vida, o que torna a mulher uma força
positiva na família, no trabalho, na sociedade e na Igreja. Está sendo formada uma nova
mulher católica, que valoriza a sua religião e nela encontra força espiritual para construir a
sua identidade psicossocial e ético-religiosa. Ela precisa ser mais reconhecida e valorizada na
Igreja.
h) O Catecismo da Igreja Católica (CIC)
O Catecismo da Igreja Católica de 1993 orienta sobre a sexualidade humana e o
papel da família conjuntamente no sexto mandamento que inclui assuntos referentes à
castidade, às ofensas à castidade, à homossexualidade, às leis do matrimônio, à regulação dos
nascimentos e às ofensas à dignidade do matrimônio.
As orientações principais do CIC sobre a castidade partem da afirmação que o
amor é a vocação fundamental do ser humano. Deus dá a dignidade pessoal de maneira igual
ao homem e a mulher. Cada um deve reconhecer e aceitar sua identidade sexual.
A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa, sua unidade interior
em seu ser corporal e espiritual. Inclui a aprendizagem do domínio de si e o comando das suas
paixões, para ser feliz. A castidade nos reconduz à “unidade perdida na multiplicidade” (uma
frase obscura do texto), exige temperança, tem leis de crescimento e passa por graus de
imperfeição e pecado. Todo batizado é chamado à castidade, especialmente os noivos. Há três
formas de virtude da castidade: dos esposos, da viuvez e da virgindade ou celibato.
As ofensas à castidade são a luxúria (o prazer em si), a masturbação (ato
gravemente desordenado), a fornicação (sexo fora do casamento entre um homem e uma
mulher livre), a pornografia, a prostituição, o estupro, a homossexualidade (depravação grave
contrária à lei natural).
Referente ao matrimônio, o CIC afirma que a aliança dos esposos implica num
amor fiel, num casamento indissolúvel. A sexualidade no casamento é fonte de alegria e de
prazer e diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana. A fecundidade é um dom, um fim
no matrimônio; os dois significados do ato conjugal são o unitivo e o procriador.
A regulação da natalidade é um aspecto da paternidade e da maternidade
responsáveis. Não existe justificativa ao recurso de meios moralmente inadmissíveis como
133
esterilização, contracepção artificial ou inseminação, que são intrinsecamente más. O Estado
não está autorizado a fornecer meios de regulação da população contrários à moral.
O filho não é algo devido, mas um dom. Os casais sem filhos são proibidos de usar
técnicas de inseminação ou de fecundação tanto homólogas (entre o casal) quanto heterólogas
(com uma terceira pessoa). A recomendação ao casal infértil é adotar uma criança
desamparada.
As ofensas à dignidade do matrimônio são o adultério (infidelidade conjugal), o
divórcio (ofensa grave à lei natural de caráter imoral), a poligamia, o incesto, a união livre e o
direito à experiência.
O CIC não deixa dúvidas sobre as orientações da Igreja referente os assuntos em
discussão, mas existem interpretações diferenciadas sobre o seu Magistério que surgem de
dentro da própria Igreja.
4.4 ALGUMAS INTERPRETAÇÕES DAS ORIENTAÇÕES DA IGREJA SOBRE A
MULHER REFERENTE À FAMÍLIA, À CORPOREIDADE, À SEXUALIDADE E À
SAÚDE REPRODUTIVA
Os questionamentos sobre a doutrina da Igreja têm partido não somente de
religiosos e leigos, mas de teólogos e teólogas e clérigos, principalmente depois do Concílio
Vaticano II. Tentativas de apresentar novos pontos de vista e estimular novas reflexões têm
resultado em fracasso, permanecendo a Igreja imutável na sua doutrina em relação aos
desafios contemporâneos e recentes progressos tecnológicos. Estes, de acordo com muitos
pensadores da Igreja, não ferem os preceitos religiosos sobre a sacralidade da vida, regulação
da natalidade e saúde reprodutiva da mulher e do homem.
O que várias ciências humanas antropologia, psicologia, sociologia, história
aceitam como ações constituindo o processo de desenvolvimento humano, a Igreja repudia.
Exemplos são a masturbação, o sexo nas relações entre homens e mulheres sem casamento,
inclusive usando métodos de prevenção contra DST e AIDS e as separações e divórcios que,
entre muitas situações de vida, permitem que a mulher que sofre violência por parte do
marido não esteja condenada à vida com ele ou à vida solitária sem ele.
Os casais sem filhos sofrem uma tripla censura da Igreja: são doutrinados que um
fim principal do matrimônio é a procriação, querem filhos mas não podem usar os meios mais
modernos de inseminação para gerá-los e são aconselhados a adotar uma criança
desamparada, que é frequentemente uma criança rejeitada ou gerada sem amor. Às vezes, é
134
fruto de incesto ou estupro e sofrendo traumas psicológicos intrauterinos. Podem considerar
esta criança filho, não gerado por eles, mas não podem, através das novas tecnologias, gerar
seu próprio filho com o óvulo e o esperma do casal.
Os separados/divorciados, apesar do discurso da Igreja de ter atenção e
consideração pastoral, na verdade são quase considerados parias se não forem celibatos
depois da separação/divórcio legal. Casar de novo - proibido. Aproximar-se de Cristo pela
Eucaristia nunca mais. Os filhos de novo casamento ilegítimos. A Igreja não permite o
divórcio, mas a anulação (cada vez mais freqüente hoje), que significa que o casamento nunca
teve legitimidade aos olhos de Deus e da Igreja e que os filhos são frutos de um casamento
que nunca existiu, é um processo degradante e desonesto na opinião de muitos teólogos.
A homossexualidade masculina e feminina (lesbianismo), considerada pela Igreja
como depravada, antinatural, perversa e patológica, é uma outra polêmica em que a Igreja é
irredutível. A única redenção do homossexual é a castidade e a abstinência sexual. Existe uma
aproximação estatística (RYAN, 1999) que 10% da população tem orientação homossexual. A
homossexualidade hoje é considerada, primeiramente, como orientação biologicamente
determinada (não é doença) que em conseqüência, influencia a opção sexual. A maioria das
vezes, a opção da pessoa é muito sofrida e sujeita à discriminação e hostilidade da família e
da sociedade. Pernambuco, por exemplo, é o terceiro estado no Brasil que mais registra
assassinatos de homossexuais.
Duas teólogas, Penélope Ryan e Marcella Althaus-Reid, levantam análises críticas
das posições da Igreja e justificam o comportamento de católicos que discordam da Igreja,
agem de acordo com sua consciência e continuam a se considerar “católicos praticantes”.
4.4.1 Sexo e Igreja
A teóloga Penélope Ryan (1999) coloca com discernimento a posição e razão de
muitos católicos que deixaram de seguir as instruções da Igreja sobre controle de natalidade,
aborto e métodos de fertilização, por achar uma intromissão nas suas vidas íntimas, únicas e
sagradas. Ela tem a esperança de que a Igreja repense suas posições, em conjunto com os
leigos, à luz das novas descobertas e tecnologias científicas no contexto contemporâneo. Para
Ryan, definir-se como católico não é tão simples hoje como era no passado. Dos 130 milhões
de católicos, no Brasil, muitos estão em desacordo com a Igreja, com os sermões na Missa e
com os pronunciamentos do Vaticano. “Este é um tempo de conflito interno e externo, na
135
medida em que os católicos lutam, com sua consciência, com sua razão e com a cultura
secular do mundo moderno” (RYAN, 1999, p.18).
Ela afirma que para muitos católicos a Igreja “se tornou irrelevante [...] fora de
sintonia com a vida deles e com a experiência humana em geral” (RYAN, 1999, p.19). Ela
questiona a legitimidade de homens celibatários decidirem sobre a vida do nascimento à
morte sem compartilhar o poder com os leigos e, especialmente, com as mulheres, que são a
maioria na Igreja.
Partindo de uma análise das doutrinas da Igreja sobre sexo e sexualidade a partir
das Escrituras, Ryan (1999) levanta um problema teológico: se as Escrituras são culturalmente
condicionadas, como interpretá-las hoje? Lembra o desenvolvimento científico sobre o corpo
humano e o processo de procriação / fertilidade desde o século XIX. Houve apoio de bispos,
em 1930, a favor do controle de natalidade, contestada depois por Pio XI como grave pecado
e antinatural. Em 1963, foi criada a Pontifica Comissão sobre População Família e
Natalidade, composta de sete clérigos e dois leigos, que fez consulta a casais católicos, e
recomendou mudanças na doutrina oficial. Porém, em 1968, ao sair a encíclica Humanae
Vitae, “ela zombava da comissão [...] zombava da abordagem personalista do sexo abraçada
pelo Vaticano II” (RYAN, 1999, p.123).
O documento teve como conseqüência grave uma crise de credibilidade, com
desilusão e desconfiança no magistério da Igreja. Os católicos discordaram com a doutrina em
si, e com as pressões da Igreja junto à instituições nacionais e internacionais sobre os
anticoncepcionais, principalmente diante da epidemia mundial de AIDS, extrema pobreza e
negligência da saúde reprodutiva de mulheres (RYAN, 1999). Já passaram quase 40 anos
desde a Humanae Vitae e, no período, houve significativas mudanças sociais, políticas,
econômicas e científicas, mas a doutrina da Igreja não muda ou é reforçada em todos os novos
documentos sobre o assunto.
A questão do aborto, muito mais complexa, é relacionada estreitamente com a
crença sobre o começo da vida humana. Ryan (1999) relata que a Igreja consulta cientistas
sobre pena de morte, trabalho e guerra, mas ignora as informações dos especialistas relativas
ao sexo, controle de natalidade, aborto e homossexualidade. O resultado é que as doutrinas
oficiais são rejeitadas e ignoradas por boa parte dos católicos. Para Ryan, a polêmica do
aborto é entrelaçada com o controle de natalidade: mais controle permitido, menos abortos;
mais clareza sobre o começo da vida, menos abortos clandestinos.
A infertilidade, que causa extremo sofrimento psicológico para casais que querem
filhos, recebe um tratamento irredutível pela Igreja: há proibição de qualquer procedimento de
136
fertilização que substitua a relação sexual. Para Ryan (1999), o ato conjugal é priorizado
sobre o aspecto unitivo do relacionamento do casal. Em 1977, a Sociedade Teológica Católica
Americana concluiu que a priorização dos valores unitivo e procriativo deveria ser mudada
para a dos valores criativo e integrativo como normas da sexualidade (RYAN, 1999). A
afirmação da Igreja das suas doutrinas como imutáveis, isola-a dos fiéis que praticam sua
religião apesar dos conflitos de consciência criados pela Igreja.
4.4.2 Casamento, divórcio, recasamento, anulação
Ao refletir sobre o casamento, Ryan concorda com a Igreja e outras igrejas que o
ideal do casamento é um compromisso assumido por toda vida, como base do equilíbrio
sócio-jurídico-ético de uma sociedade e da família, especialmente quando há filhos. A
polêmica gira em torno da contradição da condição real versus a ideal em que o católico que
se separa tem que decidir: viver uma vida mais realizadora e feliz num segundo casamento ou
viver separado dos sacramentos da Igreja. Hoje um número maior de pessoas está resolvendo
se separar/divorciar na crença de que Deus é mais compreensivo no seu amor do que a Igreja
hierárquica e patriarcal. Para quem justifica a indissolubilidade do casamento pelas palavras
de Jesus, há a necessidade de entender o contexto cultural-moral judaico em que ele falou,
reagindo contra a injustiça social do divórcio para a mulher naquela época (RYAN, 1999).
Historicamente, o casamento era tolerado, mas o celibato e a virgindade foram
considerados estados de maior graça. Depois do Concílio Vaticano II, foi realmente assumido
o status do amor conjugal como reflexo do amor divino, um sinal da presença de Deus.
Enquanto a Igreja valoriza o casamento teologicamente, os católicos estão se divorciando na
mesma porcentagem do resto da sociedade: um casamento em três.
Ryan (1999) sustenta que a pessoa que está passando pelo momento difícil do seu
casamento em desintegração, precisa mais do que nunca do apoio da Igreja e não do seu
repúdio. Os problemas pastorais mais enfrentados pelos católicos e pela Igreja hoje são o
divórcio, o recasamento e a anulação, motivos que levaram o Sino dos Bispos (1980) ser a
favor da Igreja aceitar os recasados à vida sacramental. Uma pesquisa Gallup em 1993
mostrou que 62% dos católicos afirmaram ser possível ser um bom católico sem obedecer ao
magistério da Igreja sobre divórcio e recasamento (RYAN, 1999). Acham a punição (negação
aos sacramentos) da Igreja dura demais, até ser anticristã, porque afeta os esposos e os filhos,
afastando-os da vida católica.
137
Ryan (1999) urge a Igreja buscar a experiência dos casais para fundamentar as
suas considerações teológicas. Acha que o magistério está se realizando “num vácuo”,
teologizando sobre o que os celibatários desconhecem e que precisa dos casados para criar
uma teologia reflexiva sobre sexo e sexualidade no casamento.
4.4.3 Homossexualidade
Existem muitas tentativas de entender e aceitar os homossexuais como
participantes criativos da Igreja, por parte de religiosos e padres todos censurados pela
hierarquia da Igreja que considera homossexualismo intrinsecamente mal. Pronunciamentos
científicos, em 1973, de psiquiatrias tiraram a homossexualidade da lista de doenças e
negaram que seja apta a ser curada ou modificada (RYAN, 1999).
Enquanto o Vaticano se posiciona oficialmente acerca de homossexualidade em
1975, 1986, 1992 e 2006, movimentos de teólogos, pesquisadores, educadores e bispos têm
exigido uma posição de garantia dos direitos dos homossexuais, incluindo seu papel na
comunidade cristã e na família. Organizações diversas de reivindicação incluindo os gays,
lésbicas, transvestidas e simpatizantes (GLTS) , têm aumentado dentro e fora da Igreja com o
apoio de grande parte da sociedade.
É considerado chocante e contraditório a Igreja confiar em especialistas nos
campos sócio-econômico-políticos, enquanto rejeita aprender com os estudos contemporâneos
para fundamentar sua posição sobre homossexualidade. Ryan alega que a Carta de 1986
escrita pela Igreja favoreceu a discriminação e ódio contra homossexuais, ao dizer:
a justificação da reação aos crimes cometidos contra pessoas homossexuais
não deve servir como alegação de que a condição homossexual não é um
distúrbio [...] nem a Igreja, nem a sociedade como um todo deve se
surpreender quando [...] aumentam as reações irracionais e violentas (Carta
aos bispos da Igreja Católica sobre o cuidado pastoral para com pessoas
homossexuais apud RYAN, 1999).
Grupos católicos alegam que o homossexualismo tem que ser refletido numa
teologia moral centrada na pessoa. Acreditam que pode existir compromisso, fidelidade,
crescimento cristão e profundidade como expressão real de amor humano e de santidade.
Ryan (1999) acha que “talvez seja a hora de a Igreja considerar a homossexualidade como um
modo de alguém vivenciar seu chamado à santidade, em vez de tentar frustrar o amor
138
homossexual e as possibilidades de crescimento criativo para as pessoas homossexuais”
(RYAN, 1999, p.178).
4.4.4 O corpo da mulher
A teóloga Althaus-Reid (2002) assume um posicionamento contundente ao
comparar teologia, Igreja e pornografia em sua reflexão sobre a sexualidade da mulher. Por
pornografia, ela entende “algo que ofende pelo fato de ser estático e desligado [...] fixa e
coisifica não só um corpo mas também a sexualidade. Essa fixidez é quase de natureza
exegética; é o corpo interpretado, porque a reificação é em si uma interpretação”
(ALTHAUS-REID, 2002, p.95-96). A comparação com a teologia remete à ideologia
heterossexual que exclui qualquer reflexão epistemológica sobre valores duais, hierarquias e
preceitos institucionalizados: ideais são priorizados e não pessoas que são os reais sujeitos da
história. “O círculo hermenêutico da ideologia transforma as pessoas em seguidores de
ideologias, em vez de atores da história” (ALTHAUS-REID, 2002, p.96).
A questão do prazer permeia a sua reflexão, como outras já apresentadas, que
acusa a teologia de trocar o prazer por dádivas divinas, dentro de um círculo viciado de
perdão e confissão. O que pornografia, teologia e capitalismo têm em comum é a coisificação
da mulher, da sexualidade e da valorização do lucro, em que não há espaço na ordem política
patriarcal para posicionamentos / resistências / questionamentos não aprovados.
A reflexão exige uma mudança de atitude sobre a mulher na Igreja:
as mulheres precisam reivindicar seus direitos humanos na Igreja, não para
reformar a Igreja, mas para transformá-la radicalmente. Essa transformação
precisa mudar a forma de pensar Deus e o mundo que abusa sexual e
politicamente das pessoas e até de Deus (ALHAUS-REID, 2002, p.98).
As características de fixidez ou imobilidade do corpo numa posição sexualmente
explicita, para Alhaus-Reid (2002), tanto define um fato ou filme ou texto da Bíblia como
pornográficos. Isto implica em interpretar o corpo através de esquemas imóveis e imutáveis,
estereotipados, com identidades pré-estabelecidas e o amor coisificado. Acusa a teologia de
manter as ideologias políticas dominantes, em que existia a necessidade de “imobilizar a
mulher no confinamento sexual [...] uma ordem fortemente conceitualizada do ponto de vista
sexual” (ALTHUS-REID, 2002, p.99).
139
As mulheres têm direitos na Igreja, mas a questão é: que direitos são? De
igualdade a quem? Alhaus-Reid (2002) reivindica o direito de não ser direita, de não ser
coisificada segunda a visão da Igreja, como direito de alteridade das pessoas serem elas
mesmas, no caminho de encontrar Deus, ou “de libertar Deus” (ALTHAUS-REID, 2002,
p.99). Ela ainda exige uma exegese do corpo da mulher, contestando a pornografia na teologia
que determina a imobilidade sexual da mulher, uma construção teológica patriarcal
hetereossexual sacralizada. Esta teologia determina os limites do corpo da mulher, que ela
chama, “o corpo imaginário da mulher cristã em que o corpo exegético ilusório criado pela
interpretação do que é uma mulher passar a determinar, na realidade, como essa mulher se
realiza na vida” (ALTHAUS-REID, 2002, p.100).
Para a mulher exigir seus direitos na Igreja, primeiramente tem que perder a sua
crença absoluta no sistema ideológico sexual da Igreja. O primeiro direito é de ser ela mesma,
o direito de não ser direita. Tem que perceber o caráter pornográfico da teologia cristã em que
corpos são determinados, identidades estabelecidas, mulheres coisificadas e Deus
ideologizado (ALTHAUS-REID, 2002). O trabalho de certas teólogas é considerado
antipornográfico porque desconstruiu as interpretações históricas do corpo escravizado
teologicamente. A luta é contra os espaços de exclusão teológica, sexual, econômica e social.
É reconhecido o apoio da Igreja nas lutas pelos direitos humanos da mulher, porém, somente
dentro de uma estrutura doutrinária patriarcal imutável.
O corpo da mulher é profético, como, também, o seu sofrimento nos abusos
afligidos. Gebara (2000) assume esta perspectiva quando afirma que o corpo da mulher é
objeto de dominação, conquista, violência e exclusão, configurado numa hierarquia sexual
masculina. A reivindicação da mulher sobre seus direitos é uma forma de contribuir com a
Igreja, porque expõe a realidade de muitas polêmicas da teologia serem desenvolvidas sobre o
corpo da mulher. Para isso, exige tentar achar Deus além das ideologias sexuais, de raça e
classe, que são necessárias às ideologias políticas. No direito de não ser direita “a ortopraxis
do amor deveria ser mais importante do que sua ortodoxia baseada numa posição acrítica
radicada numa ideologia (hetero) sexual” (ALTHAUS-REID, 2002, p.104).
A leitura de críticas diversas dentro e fora da Igreja de inúmeros teólogos e
teólogas, leigos e religiosos expressam uma dúvida da competência e do direito da Igreja de
se pronunciar sobre certos aspectos da família, da corporeidade, da sexualidade e da saúde
reprodutiva da mulher. A infalibilidade da Igreja, também, é questionada em relação a
assuntos que envolvem a idealização da mulher.
140
Há mulheres que estão exigindo o direito de não ser direita. A universitária
católica recifense, do seu modo, está processando a desconstrução e reconstrução da sua
identidade psicossocial e ético-religiosa, questionando o direito da Igreja de determinar
aspectos da sua vida que ela considera do seu domínio, da sua condição de “ser-mulher”, e
não da Igreja.
Está havendo a construção de uma nova identidade ante os desafios
contemporâneos, envolvendo percepções, sentimentos, vivências, representações e novas
interpretações de normas e valores, assuntos tratados a seguir.
141
5 A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E ÉTICO-
RELIGIOSA
Para se chegar às considerações conclusivas sobre a construção de uma nova
identidade psicossocial e ético-religiosa da universitária católica recifense, faz-se mister
contextualizar esta mulher: seu perfil, sua reação ao refletir sobre sua identidade durante a
pesquisa, sua afirmação sobre o processo de construção da sua identidade.
A análise das respostas da pesquisa só tem significado dentro do seu contexto
histórico-existencial específico, resultado de múltiplas determinantes já discutidas nos
capítulos anteriores. O contexto é complexo, e a análise reconhece seus limites : a verdade é
sempre parcial e relativa por ser processo.
Esclarece-se que todas as tabelas e gráficos referente à este capítulo se encontram
no Apêndice C deste trabalho e as referências às questões do questionário no Apêndice B.
5.1 O PERFIL DA UNIVERSITÁRIA CATÓLICA RECIFENSE
As principais características sócio-demográficas das 178 universitárias
participantes da pesquisa são: idade, curso, periodicidade, turno, escola anterior, estado civil,
filhos, procedência, religião dos pais, renda familiar, trabalho e cor.
Em relação à idade da amostra de 178 participantes (q.22), 76,2% delas estão
entre 20 e 29 anos , 14,3% tem entre 30 e 39 anos e 9,5% tem 40 anos ou mais. (Gráfico 3.1.1
A, p.206). Como se percebe, a maioria está na faixa mais jovem, mas um grande número de
universitárias mais maduras fizeram questão de participar. No entanto, enriquecerá análises
futuras a visão da mulher com mais de 30 anos que certamente tem uma vivência maior de
família, trabalho e desafios vários na vida de forma geral.
É relevante, para fins de análise das respostas sobre mulher e religião, que quase
todas as mulheres freqüentaram o ensino médio em escola confessional (q.23), o que leva a
supor que receberam alguma orientação do magistério da Igreja nessa escolas. O gráfico
(3.1.1 B, p.207) que indica onde cursou o ensino médio, chama atenção para três faixas
significativas: 4,0% estudaram em escola pública ou em ambas pública e particular; 94,1% em
escola particular e/ou confessional, 3,3% só em escola particular.
A predominância de universitárias em de escola particular remete a num nível de
vida condizente com a classe média, o que contribui para a construção da identidade dessa
mulher cujas percepções, ações e aspirações vêm deste meio.
142
Além de haver participação de universitárias de cursos de cada centro da Católica
e de cada curso na FAFIRE, a escolha dos cursos (Gráfico 3.1.1 C, p.207) obedeceu um outro
critério comparativo, utilizado na questão 16 (Apêndice B) sobre “meus pensamentos sobre
religião e espiritualidade” , discutida no capítulo anterior.
Houve comparação de respostas das entrevistadas dos diversos cursos para se
detectar se o enfoque do curso influenciaria a forma de entender a relação mulher e religião.
Os cursos escolhidos nas duas IES foram:
a) perspectiva legal: direito;
b) perspectiva social: serviço social e turismo;
c) perspectiva biológica: fisioterapia, biologia;
d) perspectiva psicológica: psicologia.
Os resultados (já analisados no capítulo anterior) mostraram que não houve
influências diferenciadas nem entre as IES nem entre os cursos sobre o pensamento da
universitária.
Sobre a periodicidade do estudo universitário (q.24), a maioria (65,7%) está
cursando entre o 6º e 9º períodos (Gráfico 3.1.1. D, p.208), o que provavelmente sugere uma
aluna com mais convivência universitária, mais oportunidade de participar de atividades de
toda natureza, mais conhecimento intelectual e mais maturidade pessoal, fatores que
implicam na seriedade e ponderação das suas respostas, fruto da bagagem de estudo e
experiência de vida como mulher mais adulta. Os turnos (q.24)mais freqüentados (Gráfico
3.1.1 E, p.208) são noite: 49,7% e manhã: 42,9%.
A universitária católica, na sua maioria, é uma aluna trabalhadora, o que
influencia a sua escolha de turno. Comparando este dado com os dados sobre se trabalha ou
não (q. 28), 68,5% indicam que trabalham de alguma forma. O ambiente de trabalho ou
estágio sempre é um espaço de relacionamentos e idéias diversas, uma nova abertura para
opiniões e discussões, somando com o ambiente familiar e universitário (Gráfico 3.1.2 B,
p.212).
O estado civil (q.25) é fator fundamental na compreensão da construção da
identidade. O número de solteiras predomina (78,1%), enquanto 21,9% ou vivem ou já
viveram algum tipo de união / vivência conjugal (Gráfico 3.1.1F, p.209). As duas categorias
foram comparadas na vivência sexual (questões 12 e 16d, Apêndice B) que poderá enriquecer
a visão da sexualidade da mulher universitária. As confrontações dos dados delas com o
143
magistério da Igreja sobre a sexualidade da mulher são significativas, porque 76,2% das
solteiras têm vida sexual ativa.
Somente 18% delas têm filhos: 43,8% têm 1 filho, 40,6% 2 filhos e 15,6% 3
filhos (Gráfico 3.1.2 A, p.209). A questão de ter filhos é importante por refletir, em geral, o
embate da mulher com o planejamento familiar e os problemas de anticoncepcional, aborto,
inseminação artificial, sexualidade e direitos do casal.
Referente a procedência (q. 27) as alunas vêm de todo Recife e área metropolitana
(Tabela 3.1.2, p.210). Existe uma concentração significativa em duas zonas consideradas de
maior poder aquisitivo. Zona Sul, composta de Boa Viagem, Piedade, Candeias, Vila do Ipsep
e Barra de Jangada, está representada com 16,1% das alunas. A Zona Central, incluindo os
bairros de Casa Forte, Aflitos, Graças e Espinheiro, com 15% das alunas.
Este dado sobre procedência foi levantado para tentar descobrir se havia algumas
áreas predominantes. Presume-se que estas teriam em suas igrejas atividades paroquiais e
orientações religiosas. Para esta pesquisa a procedência não se demonstrou significativa para
relacionar com os resultados da pesquisa.
Informação importante é a religião da família (q. 29). A grande maioria (93,5%)
das universitárias vem de família com influência católica, onde mãe e pai são católicos, pai
católico e mãe não católica ou mãe católica e o pai de outra religião. Se incluir pais não
católicos, mas esposo / companheiro católico, esta influência passa para 94,7% (Tabela 3.1.3,
p.213). Os dados do Censo do IBGE 2000 indicam que no Brasil 73% da população se
considera católica. As famílias das alunas das duas IES superam a média nacional, que é fator
determinante para entender, posteriormente, a influência da família no posicionamento
religioso das alunas participantes da pesquisa.
A renda familiar (q.30)apresenta o seguinte panorama (Gráfico 3.1.3 A, p.214):
64,5% das suas famílias têm entre 5 e 20 salários mínimos, pertinentes às faixas de classe
média, média alta e alta, favorecendo o acesso a educação, bens, lazer, leitura, divertimento e
eventos diversos, maior e mais variada socialização, maior liberdade pessoal. Estes fatores
contribuem para a percepção e criticidade do mundo e de si neste mundo. As famílias que
ganham até 5 salários são 35,5%.
Teoricamente, a cor (q.31) não deveria influenciar decisões ou pensamentos sobre
religião, mas nas IES é significativo que 65% das mulheres são brancas, e apenas 27% negras
ou pardas (Gráfico 3.1.3 B, p.215). Isto reforça o perfil da mulher universitária como mulher
branca, com suas implicações culturais e religiosas históricas do povoamento católico das
camadas altas de Portugal no Nordeste. O negro / pardo é o excluído historicamente nas
144
universidades, na sociedade, na Igreja, recorrendo em geral a crenças não católicas ou
sincréticas. Durante a pesquisa, uma aluna de história, negra, confessou ser ao mesmo tempo
católica e candomblezeira. O candomblé é herança histórico-cultural da sua família, como,
também, o catolicismo. Ela freqüenta os dois cultos e os vê como complementares e não
antagônicos, ao ponto de se considerar apta a responder o questionário por se considerar
católica.
A universitária católica recifense, participante desta pesquisa, revela pertencer a
um segmento bastante específico e privilegiado, o que favorece o entendimento do seu
processo de construção de identidade psicossocial e ético- religiosa. No Brasil, a mulher
católica não é una, mas compartilha com muitas mulheres a experiência de “ser-mulher”, que
em si, é uma experiência plural.
O perfil da universitária católica não pode ser comparado com o da católica da
classe popular na mesma faixa de idade de 20 a 29 anos, que é a faixa predominante das
mulheres entrevistadas. Então a primeira afirmação é a especificidade do universo escolhido
que configura um contexto que poderia ter implicações para outras universitárias católicas,
mas não, necessariamente, para todas as mulheres católicas nesta idade.
Outras características dela se referem a ensino médio, onde a quase totalidade
freqüentou escola particular e/ou confessional. Apesar da pesquisa exigir que a universitária
se autodenominasse católica, 5,3% delas se definem com católica, mas não acusaram
influência católica familiar, enquanto o esperado era que 100% tinham esta influência na
família. A universitária vem de uma família com uma renda considerada média alta e alta no
Brasil, de 5 a 20 salários, que reforça as conclusões sobre as repercussões do seu meio na
construção da sua identidade.
Em geral, ela é branca, solteira, trabalhadora e cursa os últimos períodos da
universidade. Pode se considerá-la uma cosmopolita, exposta às diversas situações urbanas
políticas, sociais, econômicas, educacionais, religiosas e, principalmente, culturais de uma
cidade capital e metrópole, que é Recife. Ela vive num contexto urbano plural, complexo e
contraditório, sacudido pela secularização e a pós-modernidade, e o seu processo de
construção da sua identidade refletirá estas mesmas características.
145
5.2 A UNIVERSITÁRIA E SUAS REFLEXÕES SOBRE SUA PARTICIPAÇÃO NA
PESQUISA
É preciso enfatizar que todas as participantes da pesquisa foram voluntárias e
utilizaram de 30 a 40 minutos no preenchimento do questionário e que das 178 entrevistadas,
59 delas acharam importante incluir comentários pessoais (opcionais) sobre a pesquisa. Estes
comentários são significativos para a análise final dos resultados, principalmente, por
demonstrarem a necessidade das mulheres de se fazerem ouvidas sobre aspectos fundamentais
e importantes de suas vidas, do seu processo de construção da sua identidade psicossocial e
ético-religiosa e da sua experiência e afirmação do “ser-mulher”.
Os comentários, a seguir, abordam cinco áreas principais:
a) a importância da pesquisa;
b) o espaço para expor suas idéias;
c) a sua reflexão pessoa sobre identidade;
d) a Igreja no contexto atual;
e) interesse nos resultados e sugestões.
a) a importância da pesquisa
“Esse questionário é muito importante porque nos faz pensar realmente na
resposta que vamos dar... tem assuntos bastante polêmicos” (FAFIRE, 21 anos).
“Pesquisa inteligente para se detectar o universo pessoal da universitária católica
recifense” (FAFIRE, 58 anos).
“Dá abertura para o conhecimento e a seriedade na busca de aprofundar o papel
da mulher na sociedade, família e valor pessoal, para uma nova visão da
autenticidade feminina” (CATÓLICA, 44 anos).
“É importante saber que existe alguém preocupado com as jovens universitárias
católicas, não me sinto esquecida” (FAFIRE, 23 anos).
146
“Ao lerem vão encontrar respostas de alguém que está precisando muito de ajuda.
Acredito que nada é por acaso, se você veio aqui até nós, foi Deus quem enviou”
(FAFIRE, 47 anos).
“A pesquisa se mostra atualizada sobre o viver da mulher” (CATÓLICA, 20
anos).
“Tem todas as perguntas necessárias para que se saiba a influência verdadeira da
Igreja na vida da mulher” (CATÓLICA, 21 anos).
“Foi uma forma de auto-avaliação” (CATÓLICA, 21 anos).
“Questionário com perguntas objetivas e atuais para a nossa vida, nosso
crescimento pessoal e profissional, acima de tudo ser humano (sic)”
(CATÓLICA, 34 anos).
“Pesquisas como esta deveriam ser feitas mais vezes e com mais pessoas”
(FAFIRE, 22 anos).
As universitárias são unânimes na sua aprovação da pesquisa, revelando uma
percepção da validade das suas respostas para si e para a Igreja.
b) o espaço para expor suas idéias
“Agradeço pela oportunidade. Gostaria de poder comentar que tenho fé, acredito
muito em Deus. Sinto que a religião é muito importante, mas não gosto das
imposições” (FAFIRE, 24 anos).
“A mulher precisa realmente dizer o que sente, falar de sua fé, seu relacionamento
com Deus, com a família” (CATÓLICA, sem idade).
“Achei-me muito importante em poder expressar o que sou, como sou e como
gosto de ser” (CATÓLICA, 46 anos).
147
“Faz com que paremos para refletir sobre alguns questionamentos do dia-a-dia
que passam despercebidos e que podemos até levar para serem questionados em
família” (FAFIRE, 37 anos).
“Foi uma forma de mostrar meus pensamentos ‘meio diferentes’ sobre a posição
da Igreja” (CATÓLICA, 20 anos).
“Aqui se tem a oportunidade de definir bem o que se acha acerca da mulher e da
sua atuação na sociedade” (CATÓLICA, 20 anos).
Os comentários demonstram que as universitárias, anteriormente, não conseguiram
espaços para expressar o seu pensamento aberto e livremente sobre sua vida em família, sua
sexualidade e corporeidade, sua espiritualidade, sua relação com a Igreja. A pesquisa
ofereceu esta oportunidade.
c) a reflexão pessoal sobre sua identidade
“Sou católica e sou espírita, pois estes dois segmentos me completam. As duas
concepções visam o mesmo Deus” (FAFIRE, 42 anos).
“Muitas vezes [a pesquisa] me deixou confusa sobre minhas convicções”
(FAFIRE, 23 anos).
“As questões me fizeram parar para pensar e refletir sobre meus valores morais,
éticos e, sobretudo, religiosos” (FAFIRE, 23 anos).
“Parar para responder me permitiu refletir um pouco mais sobre quem sou, o que
pretendo realizar, conquistar, reivindicar, rever conceitos, aprimorar”
(CATÓLICA, 29 anos).
“Tento ver hoje a religião como uma diretriz, que pode ajudar na vida. Porém,
ainda sinto culpa em relação a determinados assuntos, porque aprendi desde
pequena que era pecado” (CATÓLICA, 21 anos).
148
“Hoje me encontro em um momento conflitante da minha vida diante da Igreja,
pois o que eu viso no meu trabalho espiritual não é o mesmo objetivo que a Igreja
‘medieval’ prega” (CATÓLICA, 20 anos).
“Tento seguir minha vida de forma sensata, mas não sigo rigidamente os
mandamentos religiosos. Tenho Deus no coração e uma espiritualidade saudável,
acredito que a Igreja poderia rever alguns conceitos, mas sempre prezando pela
família” (FAFIRE, 21 anos).
“É sempre bom nos analisarmos como mulher e como fazermos valer nossos
objetivos e direitos” (FAFIRE, 22 anos).
“Gostei do questionário porque me colocou em situações que me deixaram em
dúvida” (CATÓLICA, 23 anos).
“Ao responder este questionário, desencadeou em minha mente muitos
pensamentos e reflexões acerca de tantos questionamentos, aspectos que há algum
tempo não eram mencionados na minha vida” (CATÓLICA, 21 anos).
As reflexões estimuladas pela pesquisa são bem-vindas na vida das universitárias,
que constatam a importância de avaliarem o processo de construção da sua identidade e sua
relação com o magistério da Igreja. A menção de conflitos, dúvidas, culpas, questionamentos
e valores é geral em todos os comentários, que indicam as dificuldades e ambigüidades neste
processo.
d) a Igreja no contexto atual
“Acho que a religião católica foi criada e construída por HOMENS (sexo
masculino) que visavam seus próprios objetivos e interesses. Em suas visões,
subestimam a mulher, fazendo dela uma utilidade doméstica e sexual. Hoje a
mulher evoluiu, cresceu diante da sociedade, atingiu méritos próprios, e por isso,
continua sendo julgada e discriminada pela Igreja, que não acompanhou esse
crescimento. O papel da Igreja seria de orientação espiritual e de melhora
149
comportamental e não de decisão sobre a vida sócio-particular de ninguém”
(CATÓLICA, 21 anos).
“Sou católica convicta, porém tenho uma visão crítica sobre a Igreja, sobretudo
nas questões referente à mulher. Almejo uma atualização da Igreja com menos
preconceito e discriminação que impedem o desenvolvimento sem ‘culpa’ da
mulher” (FAFIRE, 45 anos).
“Sou católica, mas acredito que a Igreja precisa rever seus conceitos. Da forma
autoritária que atualmente se impõe, acaba afastando principalmente os jovens”
(FAFIRE, 26 anos).
“Espero que esta pesquisa venha contribuir para reflexão a respeito do papel da
mulher dentro e fora da Igreja, apesar de achar que, como uma instituição
conservadora e dogmática, as nossas reflexões não penetrem nem influenciem a
sua cúpula, o que é uma pena” (CATÓLICA, 41 anos).
O nível de criticidade das universitárias surpreende e revela um posicionamento
reflexivo sobre a relação da Igreja com a mulher. É unânime o pensamento sobre o descaso,
o autoritarismo, a discriminação e o distancionamento da Igreja da realidade da mulher. As
universitárias sentem-se abafadas, e, apesar da oportunidade de se expressarem, duvidam do
interesse da Igreja em escutá-las.
e) interesse nos resultados e sugestões
“Faço votos que esta pesquisa possa influenciar na vida da Igreja e ajudá-la a
abrir-se mais para questões relacionadas à mulher. Na verdade ela é que mais atua
e leva para frente à Igreja nas comunidades de base” (FAFIRE, 42 anos).
“Adorei ter participado da pesquisa. Espero poder ter contribuído e quero ver os
resultados” (CATÓLICA, 21 anos).
150
“Gostei muito da pesquisa e me deixou com grande curiosidade sobre as respostas:
como a mulher universitária está vivendo a sua espiritualidade?” (CATÓLICA, 24
anos).
“Acho que os homens poderiam estar inclusos na pesquisa” (FAFIRE, 20 anos).
“Faltou questões para quem é religioso de vida conventual (sic)” (CATÓLICA, 38
anos).
“Na pergunta nº 18 deveria ter a opção: tenho medo de santos (imagens)”
(FAFIRE, 24 anos).
As posições pessoais da universitária católica recifense demonstram a faceta
qualitativa da pesquisa ao afirmar a importância da contribuição da pesquisa em revelar uma
nova maneira da mulher compreender e viver a sua identidade psicossocial e ético-religiosa.
Neste novo viver da sua identidade, que é decidido e assumido, a mulher afirma a sua
catolicidade, reinterpreta as orientações da Igreja em que acredita e não vai deixar e oferece a
sua crítica como contribuição. Agradece o espaço oportunidade dada para colocar seu
pensamento e tem esperança que a Igreja escute as mulheres. As dúvidas e contradições neste
processo de construção são evidentes, não é um caminho sem dificuldades, tem pedras no
caminhar que levam a tropeços e desvios psicossociais e ético-religiosas.
Os ganhos pela realização da pesquisa são múltiplos: para a universitária que
participou em refletir sobre a sua vida e contribuir com suas idéias; para a Igreja que terá mais
uma avaliação, entre muitas, sobre as críticas e demandas da mulher católica diante dos
desafios que enfrentam ante a incompreensão da Igreja; para todos, mulheres e homens, que
querem participar desta reflexão tão atual.
5.3 A BUSCA DE DEFINIÇÃO DA IDENTIDADE
Como a universitária católica recifense define a sua identidade como mulher
católica e como se sente na construção / busca da sua identidade psicossocial e ético-
religiosa? Como ela avalia o seu próprio processo de crescimento de ser-mulher, do
apoderamento de si, dos seus sentimentos diante a Igreja? (Apêndice B, q. 20 e 21)
151
A universitária católica recifense revela aspectos que definam a sua identidade
como mulher católica. (Tabela 3.5.3 A, Apêndice C, p.268). De 1308 respostas, de 178
universitárias, as mais freqüentes são:
a) aceito muitos ensinamentos da Igreja, mas não todos: 132 respostas (10,1%
do total das respostas);
b) preocupo-me com os outros, sou solidária e tento ajudar: 130 respostas (10%
do total);
c) acredito que Jesus me ama, vê a minha vida e perdoa minhas falhas: 119
respostas (9,1% do total);
d) tenho momentos fortes e fracos de fé: 115 respostas (8,8%);
e) minha consciência é tranqüila, acho que faço o que é certo para mim e para
os outros: 112 respostas (8,6%);
f) acredito que a mulher sabe o que é melhor para seu corpo, sua saúde, sua
sexualidade, não a Igreja: 105 respostas ( 8,6% do total));
g) acho que a Igreja deve escutar mais a mulher e seus problemas: 100 respostas
(7,6%);
h) gosto dos valores ensinados pela Igreja, mas não todas as exigências /
mandamentos: 99 respostas ( 7,4% do total das respostas).
Ela, também avalia o seu processo de construção / busca da sua identidade
psicossocial e ético-religiosa de forma segura e confirma a importância da família e da
religião. De 890 respostas das 178 mulheres (Tabela 3.5.4A, Apêndice C, p. 269), as mais
indicadas são:
a) tenho uma consciência tranqüila sobre o que faço: 105 respostas (11,8% do
total das respostas);
b) minha família me apóia e orienta: 103 respostas ( 11,6% do total);
c) sinto-me autêntica comigo mesmo e com os outros: 85 respostas ( 9,6% do
total);
d) a religião é importante para o meu bem estar psicológico: 71 respostas (8,0%
do total);
e) a religião é fundamental na definição da minha identidade: 64 respostas
(7,2%);
f) tenho alcançado um certo nível de equilíbrio bio-psíquico-espiritual: 63
respostas ( 7,1% do total das respostas).
152
Está existindo, simultaneamente, a fusão de dois movimentos dinâmicos que se
complementam e se enriquecem. O aspecto significante é que o processo de construção e os
parâmetros que o fundamentam são determinados pela universitária católica. Não são os
sugeridos pela Igreja.
Percebe-se, por parte da universitária, uma incorporação da religião como fator
secundário na definição da identidade no seu aspecto ético-religioso, fruto da sua experiência
refletida de ser-mulher. É algo novo, ou seja, os dados confirmados na pesquisa revelam a
concretude do processo de desconstrução e reconstrução de identidade, um processo de
resistência ao magistério da Igreja e de desalienação de si mesmo.
Em todo processo de busca, desconstrução e reconstrução da identidade, a
religiosidade e espiritualidade são fortemente presentes. Boa parte das universitárias se define
como tranqüila em relação ao que pensa e faz, discordando criticamente da Igreja,
valorizando a família e seu apoio e reconhecendo a importância da religião católica em sua
vida. Neste processo afirma que se sente autêntica, segura, sabedora do que é melhor para si,
com uma consciência tranqüila e um equilíbrio bio-psíquico-espiritual.
É o manifestar-se de uma nova mulher que a Igreja androcêntrica ainda não
enfrentou seriamente e, pior, continua resistindo a enfrentar. Não se sabe se é por ignorância,
medo, ilusão, sede de poder ou convencimento do seu direito de ter/ser o único saber
inquestionável referente às questões pertinentes às vidas da mulher, casal e família.
5.4 REVOLUÇÃO FEMININA SILENCIOSA : A NOVA IDENTIDADE PSICOSSOCIAL
E ÉTICO-RELIGIOSA DA UNIVERSITÁRIA CATÓLICA RECIFENSE
A construção da identidade pessoal é um processo que se realiza desde a
concepção até a morte. O moldar dessa identidade é um dos maiores desafios da vida de
qualquer pessoa por incluir tudo que percebemos, concebemos, sentimos, vivenciamos,
pensamos, agimos, representamos e relacionamos. Por ser a identidade tão essencial, a sua
compreensão torna-se é fundamental. Fundamental, primeiramente, para a própria mulher, em
segundo lugar, para as pessoas que convivem com ela e se relacionam em todos os espaços da
vida e, em terceiro lugar, para as instituições que a procuram, a acolhem, a incorporam,
dependem dela e a empregam. A mulher constitui mais da metade da população mundial, para
não falar somente do Brasil. É, também, o segmento majoritário na Igreja Católica. Por esta
razão presume-se que a própria Igreja teria interesse em se abrir para escutar, compreender,
153
repensar-se em relação à mulher porque ela já está se repensando em relação à Igreja e ao seu
magistério.
5.4.1 A revolução feminina silenciosa
Este re-pensar feminino está conduzindo, evidentemente, a mulher à construção de
uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa. O processo é revolucionário e refletido a
partir da vivência do “ser-mulher”, e, por isso mesmo, é crítico, silencioso e complexo.
Por “construção” de identidade entende-se um processo dinâmico que engloba
infinitos traços que constituem ou criam um novo modo de ser que não é linear, envolvendo
a constante formação, desconstrução e reconstrução, num processo que se conduz
dialéticamente, que implica em progresso, retrocesso e aprofundamento. “Revolução”, de
acordo com Houaiss, é uma grande transformação ou mudança profunda, sendo um
movimento de revolta contra poder estabelecido por um número significativo de pessoas.
Envolve “críticas”, ou exames racionais e julgamentos que são indiferentes a preconceitos,
convenções ou dogmas, tendo em vista algum juízo de valor. Entende-se “silencioso” como
ausência de barulhos ou ruídos, espaço intimista do auto-avaliar-se. O “complexo” envolve
um todo coerente cujos componentes funcionam entre si em numerosas relações de
interdependência e de apreensão desafiadora.
O conceito de complexidade de acordo com Edgar Morin, “faz-nos compreender
que não poderemos nunca escapar à incerteza e que não poderemos ter um saber total. A
totalidade é a não verdade” (MORIN, 1990, p.100). Para Morin (1990), nas ciências sociais,
uma abordagem unidimensional é pobre, reducionista. A complexidade coloca o paradoxo do
uno e do múltiplo, onde há aparência de desordem, ambigüidade, incerteza e confusão. É
justamente o tarefa do conhecimento pôr ordem nos fenômenos e dá-lhes inteligibilidade, sem
simplificar, promovendo ordem, clareza e precisão. Exige, pois, o pensamento complexo.
Enquanto o pensamento simplificador desintegra a complexidade do real, o
pensamento complexo integra o mais possível os modos simplificadores de
pensar, mas recusa as conseqüências mutiladoras, redutoras,
unidimensionais e, finalmente, ilusórias de uma simplificação que se toma
pelo reflexo do que há de real na realidade (MORIN, 1990, p.9).
Os resultados da pesquisa estão demonstrando que a universitária católica
recifense tem uma percepção das tentativas da Igreja, através do seu magistério ainda muito
estático, dogmático e simplificador, de moldar a sua identidade. Mas, esta mulher resiste a
154
partir do seu âmago e insiste existencialmente na sua auto-construção, sem culpas, com certa
tranqüilidade.
Este processo não nega o valor das instituições e tradições, mas luta pela
desconstrução e reconstrução do conjunto de crenças e valores transmitidos na infância e
adolescência pela família, escola e Igreja. Ela reconstrói uma nova identidade psicossocial e
ético-religiosa mais autêntica com seu viver de mulher, de um lado enfrentando os constantes
e fortes desafios da contemporaneidade, e, de outro, avaliando a validade do magistério da
Igreja como orientação para sua vida. A universitária católica recifense demonstra que está
reinterpretando concepções, ações e valores da religião católica no seu dia-a-dia e está se
aproximando mais dos conceitos e ações dos valores da pós-modernidade. Ela resiste ao
sistema patriarcal da Igreja, por considerá-la distante dos problemas que a mulher enfrenta e
faz a sua reflexão crítica, tentando conduzir com coerência a sua vida psicossocial e ético-
religiosa.
Para aceitar a experiência da mulher como fonte de cientificidade, alguns
pressupostos precisam ser considerados: a importância da utilização da hermenêutica de
gênero como forma de interpretação da relação mulher / homem no mundo e a relação
mulher/magistério androcêntrico da Igreja. A hermenêutica é uma nova linguagem para
nomear este mundo de relações como padrão valorativo alternativo. Outro pressuposto é a
secularização e contra-secularização como fenômenos não contraditórios, mas
complementares, num contexto complexo onde o sagrado não é negado, mas reconstruído.
Um terceiro é a subjetivação da pós-modernidade levando à privatização do direito de dar
sentido às suas experiências. Inclui-se, ainda, os pressupostos referentes à experiência da
mulher como critério de discernimento e base da sua relação com Deus e à crise de
plausibilidade da Igreja diante das novas interpretações religiosas. A complexidade prevalece
e exige enfrentar o “jogo infinito das inter-retroações, a solidariedade dos fenômenos entre
eles, a bruma, a incerteza, a contradição” (MORIN, 1990, p.21). O pensamento simplificador
ofusca a diversidade sem perceber a unidade.
Algumas questões teóricas levantadas por Maria Clara Bingemer, Berger e
Luckmann e Cea-Naharro podem orientar a análise dos resultado que oferecem subsídios para
configurar a nova identidade da universitária católica recifense. Bingemer questiona os
impactos da modernidade no fenômeno religioso e nas crenças religiosas, enquanto Berger e
Luckmann indagam sobre como realizar o sentido diante de opções pluralistas e que tipo de
sociedade constituem as pessoas com seus valores reformulados. Diante deste contexto Cea-
Naharro levanta a polêmica sobre o direito de cidadania da mulher na Igreja.
155
Percebe-se que as reflexões teóricas se referem à desafios concretos que a mulher
enfrenta no seu processo do “ser-mulher” hoje, enquanto orientada pela Igreja. A Igreja
elaborou, historicamente, o que a mulher deve sentir, pensar, fazer, viver e ser. Alguns
documentos valorizam a mulher e outros só valorizam a mulher ideal concebida a partir de
conceitos androcêntricos patriarcais dogmáticos que não correspondem à realidade vivida pela
mulher hoje.
A universitária católica recifense não dá resposta teórica aos desafios que enfrenta:
a sua resposta é sua vida. A vida dela é práxis: ação objetiva que, superando e concretizando a
crítica meramente teórica, permite ao ser humano construir a si mesmo e seu mundo, de forma
livre e autônoma, em oposição ao que é dado. Kosik (1976) define a práxis como:
a revelação do segredo do homem como ser ontocriativo, como ser que cria
a realidade humano-social e compreende a realidade na sua totalidade. É
atividade que se produz historicamente e se renova continuamente [...] não é
determinação exterior do homem (KOSIK, 1976, p.202-3).
A construção da identidade pela mulher é um movimento dialético da práxis e se
desenvolve através das suas percepções, sentimentos, vivências e representações, a partir do
enfrentamento de quatro grandes desafios, já analisados no segundo capítulo .
5.4.2 A nova identidade psicossocial e ético-religiosa ante os desafios
O primeiro desafio, a passagem da mulher da esfera privada para a pública, revela
a importância da educação como fundamental para a universitária realizar-se e trabalhar fora
de casa. Ela percebe a sua inserção pública como um valor que contribui para o
enriquecimento de sua identidade, não existindo dúvida nem contradição em ser mulher, mãe
e trabalhadora. Diante desse desafio, ela afirma o valor da família, mas não confirma o
casamento como indissolúvel, segundo a Igreja. Ela reduz o número de filhos por meios
anticoncepcionais artificiais ou laqueadura. Exige ser considerada sujeito político na família,
na sociedade e na Igreja e que as decisões sobre sua vida familiar e conjugal, sua
corporeidade e sexualidade são dela e/ou do casal e nunca da Igreja, contrariando o seu
magistério.
O sentimento não é de rejeição à Igreja, mas maior aproximação a Deus, tendo
uma vivência subjetiva da religião. A universitária discorda do magistério da Igreja e critica
os seus valores religiosos diante das exigências da pós-modernidade, mas permanece como
156
“católica”. Está existindo uma redefinição da identidade católica; a religiosidade tem como
fundamento a fé, experienciando uma relação pessoal e direta com Deus. É ela quem define o
que é ser católica; a experiência de ser católica é uma experiência religiosa interiorizada. Este
sentimento se traduz numa vivência de acordo com o que acha certo e errado para si. Ela
valoriza sua própria consciência e age de acordo com ela, o que é etica e moralmente correto.
Referente a corporeidade, seus símbolos e poder o segundo desafio que a mulher
enfrenta na construção da sua identidade os mandantes são múltiplos. Na família, na
sociedade, nas leis, no homem, na Igreja e em outras instituições e estruturas sócio-culturais,
existiam e ainda existem o poder sobre o corpo da mulher. A universitária católica rejeita esta
dominação que se manifesta através de repressão sexual, opressão psicológica simbólica e
violência doméstica e institucional numa sociedade com códigos morais e culturais de
avaliações diferentes para homens e mulheres. Há uma percepção por parte da universitária
das relações de gênero como construto sócio-histórico-cultural que estimula suas reflexões e
reações embasadas na sua “vivência-mulher”. Esta vivência contribui para novas
configurações no processo de construção de sua identidade.
O corpo da mulher é dela. A universitária católica recifense não deixa dúvida
sobre isso. Ela age diante da família, do companheiro, da sociedade e da Igreja de acordo com
sua consciência e com um mínimo de culpa. Até a existência de pecado está sendo revista
como, também, em que consista pecado. A representação da universitária sobre
culpabilidade vai de encontro a da Igreja, inclusive porque ela desconfia das tentativas
históricas de manipulação do pecado como instrumento de poder e repressão da Igreja.
A diminuição do sentimento de culpabilidade, é, em si, uma revolução. Com isso,
a universitária católica solta as correntes do cativeiro mental e declara a sua libertação dos
critérios dos outros para determinar o que é “ser mulher”. A revolução envolve a percepção
de ter sido historicamente despossuída de si, o sentimento de fúria e náusea, e a vivência da
consciência e não do mandamento. A conseqüência é o apoderamento de si mesma. Certa
parte da culpabilidade imposta socialmente pelo sistema patriarcal na família e na sociedade
para garantir o seu poder sobre o corpo da mulher, fundamentada pelo magistério da Igreja
Católica, está sendo rejeitada. A Igreja contribui para a manutenção da ordem simbólica pela
imposição dos esquemas de percepção e ação e pelo combate no terreno, também simbólico,
de tentativas de subverter esta ordem (BOURDIEU, 2004). A revolução está acontecendo,
mas silenciosamente. Está acontecendo pelo agir, pelo pensar, não pela fala. Ainda não há
espaço para isso, nem na família e nem na Igreja, como confirmaram as respostas e os
comentários das universitárias entrevistadas.
157
É no terceiro desafio referente à sua sexualidade que o embate da universitária
católica recifense com a Igreja é quase total. O uso de anticoncepcional artificial, fazer
laqueadura ou vasectomia, recorrer a inseminação artificial, masturbar-se, divorciar-se e casar
de novo para elas nunca é pecado. Para a Igreja, sempre é pecado, e “mortal” para a vida
espiritual da mulher. Para a universitária católica a sua relação é com Deus, tendo um
conceito próprio e experiencial de um Deus que oferece proteção, compreensão e consolação.
Deus é amor, não mistério! O Deus da universitária não é o Deus da Igreja. O Deus da Igreja,
para ela, é uma contradição: Ao mesmo tempo, Ele é representado como compreensivo e
vingativo. Apesar disso, ela vive a dinâmica conflitual entre a demanda religiosa individual e
as exigências da religião institucionalizada.
A vivência da sexualidade pela universitária católica recifense é similar a mulher
brasileira, de forma geral, de acordo com pesquisas anteriormente discutidas (Capítulo 2).
Valores religiosos tradicionais estão sendo contestados e novos valores construídos que
envolvem não somente a condução da vida sexual, mas a opção sexual. O pensamento da
Igreja é simples e simplificado. Faz parte do “império dos princípios de disjunção, de redução
e de abstração, cujo conjunto constitui [...] o “paradigma da simplificação” (MORIN, 1990,
p.16).
O princípio de controle do corpo e da sexualidade da mulher pela Igreja Católica,
considerado até um direito incontestável e um dever intransferível, está sendo confrontado
pela universitária católica recifense. Ela luta e defende o direito e o dever do controle do
corpo como sendo dela, e exige a transferência de decisão para si. Rejeita o reservatório de
sentido da Igreja com sua certeza moral e doutrinário sobre a sexualidade da mulher. A
mulher afirma uma sexualidade que dá direito à ela determinar quando iniciar a vida sexual (a
maioria após os 19 anos), com quem (parceiro estável), ser casada (23,6%) ou solteira
(76,4%), usar anticoncepcionais (70%). O número de solteiras que ainda são virgens (23,6%)
é maior do que nos dados da pesquisa nacional, já mencionada (Capítulo 2). Ela opta,
também, embora em grau menor, por permanecer virgem.
A universitária católica recifense discorda da Igreja, age de acordo com sua
consciência e, ainda, se considera católica. Para ela, isso não é incoerência nem relativismo.
Quase todas (94,5%) acreditam, a partir da sua vivência de “ser-mulher”, que podem
discordar e ser católica. Alegam que têm direito de criticar uma Igreja que precisa atualizar
seu ensinamento sobre a mulher. A sua vivência ético-religiosa é reforçada pela incorporação
da falta de culpa ao discordar da Igreja, o que demonstra, também uma segurança e equilíbrio
psicossocial.
158
O único assunto sobre sexualidade que aparenta indecisão para a universitária
católica é o aborto. Para ela o aborto provocado pode ser pecado, dependendo da situação.
Sobre a questão “quem decide sobre aborto”, metade afirma que é a mulher e a outra metade o
casal. Nas outras questões sobre aborto (Apêndice B, q. 16d) não existem posicionamentos
claros, mas incertezas. Assim se pode perceber que a maioria das mulheres não se defrontou
ainda com este problema, ou foi e não abortou. A sua percepção e sua representação
apontam para um dilema ético-religioso e psicossocial. Não foi possível descobrir na pesquisa
se as restrições sobre aborto são religiosas ou existenciais.
O último desafio que a mulher enfrenta é a crise da identidade religiosa feminina
num mundo secularizado, que incorpora os outros três desafios já refletidos. A construção da
identidade é uma complexidade e exige uma abordagem complexa. Falar somente de
modernidade e pós-modernidade ou de secularização é insuficiente. Para a Igreja Católica
tratar as questões dogmaticamente como sabedora de toda certeza, sem considerar a
complexidade da vida da mulher, é uma redução. A simplificação da moral é uma rejeição da
verdade do real que é incompreensível absolutamente. A identidade da mulher em espaços e
tempos complexos e plurais não pode ser decretada. A sua lógica não segue a tendencia
reducionista , como a da lógica do Ocidente, conforme Morin, que é:
uma lógica homoestática, destinada a manter o equilíbrio do discurso pelo
banimento da contradição e da errância; controlava ou guiava todos os
desenvolvimentos do pensamento, mas ela própria se colocava à evidência
como impossível de desenvolver (MORIN, 1990, p.81).
Para Morin (1990), a paradigma da simplicidade coloca ordem no universo, uma
ordem que é lei, que separa o que está ligado e unifica o que é disperso. Para ele, “ a aceitação
da complexidade é a aceitação de uma contradição e a idéia que não pode escamotear as
contradições [...] o nosso mundo comporta harmonia, mas esta harmonia está ligada a
desarmonia” (MORIN, 1990, p.94-5).
É só a partir destas afirmações que se pode refletir a construção da nova identidade
psicossocial e ético-religiosa em tempos de crise: da plausibilidade e credibilidade da Igreja,
das grandes narrativas do mundo sócio-político-econômico, da secularização e contra-
secularização, da modernidade e pós-modernidade, do sentido, da subjetividade e da
consciência, da globalização e da individualização.
Todos estes fatores e sua inter-relação tem conseqüências ou implicações para as
percepções, sentimentos, vivências e representações envolvidas na construção da nova
159
identidade da universitária católica recifense. A visão não pode ser unidimensional, ou
propriedade de uma única ciência, porque “a incapacidade de conceber a complexidade da
realidade antropo-social na sua micro-dimensão (o ser individual) e na sua macro-dimensão (o
conjunto planetário da Humanidade) conduziu a infinitas tragédias” (MORIN, 1990, p.19).
A universitária católica recifense se encontra nesta complexidade de inter-relações
e retroações e seu processo de construção, evidenciada nas respostas já analisadas, não é só
certeza e tranqüilidade. Tem dúvidas, contradições, ambigüidades, falta de reflexão e
posicionamento, crise de valores, conflitos pessoais, embate do conhecimento científico com
a crença religiosa. Existe, também, a procura de crenças e religiões outras, além do
catolicismo, para ajudar a sua espiritualidade neste tempo de crises.
A percepção do mundo, da Igreja, da sociedade, da família e de si envolve uma
criticidade sobre as teses religiosas transmitidas pela catequese e pelos colégios frente aos
novos conhecimentos adquiridos na universidade e na sua vivência como jovem adulta. Há
uma consciência da disfuncionalidade das orientações religiosas precedentes ante a
complexidade da existência individual e coletiva. A religião é percebida como uma das
múltiplas respostas para os problemas de ordem pessoal / familiar e societária, não a única
resposta. Para as universitárias, o magistério da Igreja não apresenta respostas satisfatórias
diante da complexidade do real, em geral, e do “ser-mulher”, em particular. A distância
intelectual/espiritual/moral entre a nova consciência e espiritualidade delas e as posições
institucionais da Igreja é percebida claramente, gerando ambivalências e incertezas. Quem
está certo? Sociedade, família, Igreja, eu?
Esta ambigüidade / ambivalência sobre a posição da Igreja diante da realidade da
mulher foi vista claramente nas respostas à questão, no capítulo anterior (Apêndice B, q.17).
Metade das respostas apresenta uma posição crítica e a outra metade uma posição de
aceitação da relação atual da Igreja com a mulher.
Esta aparente ambigüidade é analisada por Mary Daly como parte do processo que
ela chama “estupro cerebral” ou “mind-rape”, a violação da mente das mulheres e da sua
fortaleza de espírito, independência, saúde, paixão e crescimento espiritual. É através do
oferecimento de “alimento espiritual imprestável” ou “spiritual junk food” (DALY, 1985,
p.XXII) que não nutre nem fortalece, ao contrário, suga energia espiritual que a Igreja
paga a lealdade das mulheres aos varões divinos (DALY, 1985).
Pode se considerar a crítica de Daly válida ou simplesmente aceitar a ambivalência
como fraqueza espiritual ou falta de criticidade?
160
O sentimento é outro aspecto fundamental na discussão da identidade psicossocial
e ético-religiosa da universitária católica recifense. Ao atribuir qualidades à mulher, os
sentimentos predominaram e a sensibilidade foi a mais indicada por elas, seguida de intuição,
compaixão, agressividade e acolhimento. Depois foram nomeadas suas responsabilidades. Os
sentimentos / emoções prevalecem, também, no seu relacionamento intimista e pessoal com
Deus, de forma geral, evidenciados nas respostas às últimas questões que se referiram aos
“meus sentimentos sobre religião e espiritualidade” já refletidas (capítulo 4).
Os sentimentos da universitária em relação à Igreja (Apêndice B, q.19) são
positivos. Ela se sente amada, tranqüila, abençoada, fortalecida e acolhida. Eis uma
contradição aparente, mas não real: critica e discorda da Igreja, age de acordo com a
consciência, mas permanece católica dentro desta mesma Igreja. Não existe contradição real,
mas uma complexidade de múltiplos determinantes que exige reflexão abrangente e não
simplificação ou redução de explicações. Para ela, esta posição não é contraditória, mas é uma
reconstituição da sua relação com a Igreja dentro de uma coerência que precisa ser entendida
por parâmetros novos.
Lembramos os comentários de Maria Clara Bingemer que afirma a questão do
sentimento e da afetividade como base da espiritualidade hoje ao ponto de prevalecer na
experiência religiosa. A pesquisa de jovens universitários, em São Paulo (Cap.2), evidenciou
o mesmo fenômeno: a subjetivação da religião e de sua relação com Deus numa experiência
religiosa interiorizada.
Os valores priorizados pelas universitárias também refletem os seus sentimentos :
amor, amizade, honestidade, relacionamento familiar. Elas têm uma satisfação em concretizar
estes valores, incluindo a espiritualidade ou vivência interior da fé para direcionar os seus
projetos pessoais de vida. Percebe-se uma segurança em respeito aos valores escolhidos que
oferecem maior coerência na construção da sua identidade, respondendo às suas expectativas
pessoais. Concomitantemente, há maturação religiosa com afirmação crítica aos valores e sua
interiorização, assumidos como prioridade na vida.
A vivência da universitária católica recifense, a partir das suas percepções e
sentimentos, é o critério principal de discernimento e a base da sua verdade de “ser-mulher”.
Esta vivência é complexa, tumultuada, confusa, contraditória, cheia de ambivalências, mas,
também, de crescimento, autenticidade e maturação. A prioridade é o desenvolvimento da
própria pessoa, o sujeito psicológico, principalmente na faixa de 20-29 anos, nesta idade do
jovem adulto. Existe uma espontaneidade da religiosidade (interiorização) como resposta a
institucionalização, sem culpa ou sentido de pecado. A religião é considerada fundamental,
161
embora não o fator mais importante, na definição da identidade. Porém, a identificação
religiosa não corresponde a uma convicção confessional, mas a um credo teista: Deus sim,
Igreja não.
A vivência envolve aspectos dos papéis, corporeidade e sexualidade já discutidos,
mas inclui a identificação da universitária com as lutas pelos direitos da mulher, o chamado
movimento feminista. Existe a concordância de 84,3% que se consideram feministas, pelo
menos em parte, ao incorporar o valor da luta pelos direitos da mulher, contra o abuso e a
violência e a favor da igualdade no trabalho e na família. Além disso, na construção da sua
identidade, ela questiona e condena as relações de opressão contra a mulher decorrentes do
machismo na família, sociedade e Igreja.
Ao incluir a questão da cidadania, tanto na sociedade quanto na Igreja, como
componente da sua identidade, ela faz eco às preocupações de Cea-Naharro. Enquanto afirma
a sua cidadania em todas as frentes sócio-econômico-político-religiosoas ela rejeita a
concepção do “eterno feminino” da Igreja, que espelha a mulher ideal no exemplo de Maria, e
que condena a sexualidade real da mulher em Eva.
Para Mary Daly (1985), apesar da tendência de muitos teólogos e teólogas
católicas progressistas refletir sobre a mulher a partir de uma hermenêutica de gênero, ainda
existem pensadores que querem manter a mulher no pedestal com o movimento do “eterno
feminino”. Daly afirma que esta tendência paralisa a vontade de liberação e desenvolvimento
do “ser-mulher”: é contrário à emancipação feminina. Ela condena esta escola de pensamento
como inimiga da mulher que procura a sua auto-realização e a expansão criativa da sua
identidade como católica. O simbolismo do “eterno feminino” elaborado dentro da filosofia
androcêntrica da Igreja favorece os homens e tenta imputar à mulher uma natureza imutável.
“Maria como modelo de mulher” não foi acatado pela universitária católica
recifense, o que não indica falta de devoção, mas criticidade sobre as implicações desta
afirmação para sua identidade. Não está disposta a deixar o magistério da Igreja moldá-la
numa imagem simplista baseada na relação Cristo-Maria (DALY, 1985). Daly critica os
excessos do Marianismo, criado largamente por um clero celibatário cujo estilo de vida não o
capacita a criar modelo real sobre casamento e vida sexual, como também o distância de
relações cotidianas que fornecem uma compreensão real de mulheres. Ela salienta que a maior
distorção ainda é a afirmação que a relação entre Cristo e Maria deve servir como modelo das
relações entre homens e mulheres (DALY, 1985). Para ela, está existindo uma perspectiva
estática e simbólica da mulher que não considera pluralidade nem diversidade.
162
Da mesma forma que a universitária católica recifense não aceita Maria como seu
único modelo, ela repulsa a idéia da mulher como Eva, pecadora e incentivadora do pecado do
homem. As respostas referentes à corporeidade e à sexualidade expressam o processo de
construção de um novo modelo de mulher: nem Maria, nem Eva. O mito de mulher como
Eva, historica e teologicamente, só serviu para legitimar a posição de inferioridade da mulher
e sua discriminação e opressão. Lembramos as críticas de Ranke-Heineman, Boff e Althaus-
Reid sobre a posição da Igreja em relação à sexualidade, corporeidade e prazer sexual, um
círculo viciado de pecado, perdão e confissão, uma moralidade de terror e condenação à
sexualidade elaborada por celibatários.
A universitária católica recifense exige ser respeitada pela sua concretude de “ser-
mulher”. Busca uma identidade autêntica através da sua experiência de vida, com erros e
acertos, certezas e incertezas, e não por representar um símbolo.
A vivência e a representação da sua própria identidade são inexoravelmente
interligadas, componentes do mesmo processo. As suas respostas sobre o “valor da pesquisa e
sua participação” demonstram que a importância do espaço para a “mulher comum” tem sido
negado, reduzido ou subestimado até hoje, embora as teólogas e filósofas do movimento
internacional de teologia feminista e hermenêutica de gênero, tanto católicas quanto de outras
religiões, estejam se pronunciando e provocando reflexões e reações. O pronunciamento de
uma universitária expressa bem o valor de sua representação: “achei-me importante em
poder expressar o que sou, como sou e como gosto de ser”.
A pesquisa teve como objetivo geral analisar a construção de uma nova identidade
psicossocial e ético-religiosa feminina, através da vivência e das representações da
universitária católica recifense. O espaço que foi aberto possibilitou um início de
representação para ela.
Dentro do contexto complexo da pós-modernidade com suas múltiplas crises, a
universitária católica está desenvolvendo, no seu processo de construção da identidade
psicossocial e ético-religiosa, novas interpretações às normas e valores que embasam suas
experiências e papéis na família e na sociedade, condizentes com sua realidade. A sua
vivência revela dúvidas e sentimentos de incerteza e até culpa, ao mesmo tempo que afirma
um esforço racional e consciente de viver a sua vida, sua corporeidade e sexualidade, suas
relações em família e com o marido/companheiro e sua espiritualidade de forma mais
equilibrada e autêntica.
163
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O poder de nomear é um dos poderes mais influentes do mundo. Quem nomeia
pessoa, instituição, sistema ou teoria quase sempre domina. Se quem nomear já tiver
nomeando a partir de uma estrutura consolidada historicamente, domina ainda mais. E se esta
estrutura for patriarcal e androcêntrica, a sua dominação é ideologicamente sexista e impõe
silêncio às mulheres. Este poder usa a palavra nomeia “relativismo” para caracterizar as
tentativas de discórdia e resistência de pessoas. Ao pensamento das pessoas que discordam da
lógica da Igreja, evidenciada, por exemplo, em seus ensinamentos, ela taxa, nomeia, como
relativismo, sem seriedade. Mas, esse agir da Igreja é reducionista e simplificador.
Por ideologia, entende-se um sistema de idéias (crenças, tradições, princípios e
mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de uma natureza ou dimensão
específica, que reflete, racionaliza e defende os próprios interesses e compromissos
institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos. Estas idéias são
transmitidas como tendo valor e validade universal para os outros grupos ou instituições da
sua influência. A ideologia da Igreja androcêntrica, patriarcal e sexista permeia seu
magistério e tem tentado, historicamente, dominar e silenciar as mulheres intelectual e
espiritualmente.
A questão do reducionismo, um dos três graves pecados na elaboração de
conhecimento, conforme Morin (1990), pode ser entendida como a tendência de reduzir o
conhecimento do conjunto ao conhecimento das partes que o constituem e de considerá-las
mais fundamentais do que o próprio fenômeno(conjunto). Este conhecimento ignora a
complexidade do fenômeno na sua totalidade e na interdependência e inter-relação
inextricável de suas partes.
A totalidade do “ser-mulher” não pode ser reduzida aos seus papéis e funções
biológicas. Leve-se em consideração o argumento de Boff (2003b) que enfatiza os obstáculos
em pensar o ser-feminino, principalmente a razão analítica como mediação única e
reducionista para explicar o ser-feminino, a regionalização genital do sexo e a polarização da
realidade mulher-homem.
A simplificação do “ser-mulher”, o antifeminismo histórico, o mito do “eterno
feminino” fazem parte da trajetória reducionista do magistério da Igreja referente à mulher. O
entendimento das relações de gênero, construídas sócio-político-econômico e culturalmente,
ajuda a desmistificar a simplificação.
Na Igreja, até hoje, a mulher tem sido tanto a maioria silenciosa, quanto a “maioria
silenciada” nas palavras de Schussler-Fiorenza (1993).
164
Até no Novo Testamento ( ICorintios:15) é exigido que a mulher se cale e escute a
orientação da Igreja em silêncio e submissão. Esse ensinamento ainda fundamenta as reações
da Igreja ao constatar as resistências religiosas femininas à sua doutrina.
A experiência do “ser-mulher”, diante dos múltiplos desafios enfrentados por ela
na sociedade contemporânea pós-moderna, é negada como critério de verdade e silenciada
como razão de discernimento. Pior de tudo, o agir da mulher é chamado de relativismo, nome
usado como um instrumento de opressão simplificador daqueles que querem repudiar a
resistência à sua ideologia e vilipendiar posições de confronto ou contestação.
É uma acusação a partir da assertação dogmática que posições valorativas críticas
contrárias não apresentam validade diante dos valores já declarados universais e absolutos. A
razão alegada pela Igreja é que estas novas idéias são reações transitórias e levianas, frutos
das novas circunstâncias históricas, políticas e culturais.
A Igreja, ao taxar as posições novas ético-religiosas e psicossociais da mulher de
relativismo, tenta tirar da mulher o seu poder de dizer a sua palavra, de nomear as suas
experiências, de construir o seu “ser-mulher”, de falar por si própria, de apoderar-se de si
mesma. A proposta é silenciá-la. Schüsser-Fiorenza (1995) afirma que a teologia patriarcal
tem uma função opressora que precisa ser desmascarada. Ela denuncia que o silenciamento -
proposital ou inconsciente - das mulheres pela Igreja provoca uma invisibilidade eclesial e
teológica das mulheres. Elas são condenadas a serem invisíveis pela lei patriarcal, cuja atual
política oficial procura legitimar essa posição com argumentos teológicos.
Schussler-Fiorenza acusa a Igreja de usar uma linguagem androcêntrica, “uma
cosmovisão de linguagem, mentalidade ou ideologia que legitima o patriarcado” (1995). Além
dela, outros teólogas e filósofas reivindicam o direito de nomear, de revelar a sua verdade de
“ser-mulher”, de sair da invisibilidade imposta, através de conceitos genéricos e sexistas que
abstraem do gênero natural das coisas, mas são quase todos conceitos masculinos. A
linguagem é um reflexo do patriarcalismo, reforçando seus mecanismos de opressão e
discriminação. São conceitos reducionistas que simplificam contextos / espaços complexos.
Mudanças de linguagem são perigosas porque são expressões de novas relações de
poder. Hildburg Wegener(1996) explica que a teologia feminista, baseada na hermenêutica de
gênero, questiona a representação da mulher criada pela Igreja. Esta teologia critica o nível de
linguagem e os conceitos e “metáforas” usadas, além de qualquer nuança do patriarcalismo
legitimador de dominação manifesto no simbolismo consolidado através desta linguagem.
A compreensão da nova identidade psicossocial e ético-religiosa da universitária
católica recifense passa pela aceitação das premissas teóricas levantadas neste trabalho. A
165
perspectiva de análise empregada a hermenêutica de gênero não é um paradigma neutro.
A hermenêutica representa uma posição clara de confronto e contestação da ordem sócio-
simbólica com suas normas e práticas, refletindo as marcas de opressão, discriminação e
submissão sofridas pela mulher na Igreja Católica. A subjetividade integra o método de
análise e reflete sua dinâmica dialética.
A universitária católica recifense afirma o direito da mulher de não ser direita”
ao questionar e desmistificar o “ser-mulher”, de desconstruir as ilusões e mitos do passado e
de reconstruir um novo perfil da mulher real no enfrentamento dos desafios contemporâneos.
As suas respostas na pesquisa deram subsídios contundentes para analisar a construção de
uma nova identidade psicossocial e ético-religiosa diante os ensinamentos da Igreja Católica
sobre a mulher e dos desafios enfrentados por ela no mundo plural, secular e pós-moderno .
Os resultados da pesquisa validam as duas hipóteses levantadas na mesma. A
hipótese principal afirma que a universitária católica recifense está construindo uma nova
identidade psicossocial e ético-religiosa a partir da sua experiência. As repostas confirmam
que é um processo consciente de desconstrução e reconstrução, em que as formas tradicionais
de “ser-mulher católico”, de conceber a mulher como “ o eterno feminino”, estão sendo
contestadas, confrontadas, refletidas, analisadas e reelaboradas a partir da sua vivência
concreta. Porém, o processo em si tem turbulências existenciais, psicológicas, morais e
religiosas; existem ambigüidades, dúvidas e incertezas.
A segunda hipótese, a ausência de culpabilidade, também encontra fundamento
tanto nas respostas sobre pecado (forma de controle da Igreja), o que é pecado ( violação dos
direitos da mulher) e o sentido de culpa, quanto na afirmação que a mulher pode discordar da
Igreja e continuar a se considerar católica. Ela não se vê como pecadora na vivência da sua
corporeidade e sexualidade, porque segue a sua consciência , acredita em Deus e seu amor e
desconfia das tentativas da Igreja de inculcar culpa na mulher.
Na operacionalização da pesquisa não foi encontrada nenhuma dificuldade. O
trabalho contou com o completo apoio e disponibilidade da direção e dos professores das
duas IES, além do seu interesse na pesquisa em si e nos resultados finais. Por parte da
universitárias, o seu compromisso e participação foi total e sem reservas, como, também, o
seu engajamento na reflexão qualitativa que a pesquisa exigiu. Todas que começaram a
pesquisa, responderam às questões apresentadas, e, ainda, muitas fizeram comentários.
Reconhece-se os limites do saber produzido pela pesquisa, mas a proposta foi
humilde: ser uma pequena contribuição do pensar sobre a relação da mulher com a Igreja.
Uma reflexão maior desse assunto vem sendo conduzida por renomados teólogos, teólogas e
166
filósofas de todo mundo preocupados com o papel da mulher na Igreja, evidenciado através
dos posicionamentos da Igreja e seus discursos patriarcais e androcêntricos. Os dados da
pesquisa reforçam a afirmação da revolução feminina silenciosa ocorrendo na relação da
universitária católica recifense com a Igreja, uma constatação localizada, mas que
complementa o movimento geral do pensar sobre e pela mulher através da hermenêutica de
gênero.
As revelações das universitárias são apaixonantes, no sentido de incentivar, de
forma irresistível, a busca de maiores conhecimentos sobre a vivência da espiritualidade
feminina e a luta das mulheres na legitimação e validação desta vivência como critério de
discernimento e verdade. A pesquisa se limitou a um segmento específico, a universitária
católica recifense. Outras investigações se tornam imprescindíveis junto a outras categorias
mulher da classe popular, mulher trabalhadora, mulher da 3ª idade, religiosas sem medo de se
colocarem (sugestão na pesquisa), por exemplo - para conhecer ainda melhor a realidade da
espiritualidade resultante do “ser-mulher” católico brasileiro.
A experiência das universitárias entrevistadas é um determinante principal na
definição da sua identidade porque reflete a importância de sua vivência, eivada de eventos,
situações, dúvidas, afirmações, percepções e sentimentos na construção da sua identidade. As
suas respostas revelam a percepção de Deus, delas mesmas, da família, das pessoas e do
mundo à sua volta com critérios de juízo de valores e avaliação do “ser-mulher” no seu
relacionar-se com Deus e na sua experiência religiosa.
Muitas das percepções e desafios enfrentados pela universitária católica recifense e
brasileira não são temas de um diálogo aberto para a Igreja. A própria elaboração de
documentos pela Igreja referente à condição da mulher e da família é feita de forma
unilateral, hierárquica e vertical. È criticada não somente pelos filósofos e teólogos, mas por
segmentos do próprio clero que exigem abertura e discussões mais democráticas e dialogais
de todos os envolvidos, principalmente leigos, mulheres e homens, solteiros e casados, jovens
e adultos.
Uma multiplicidade de fatores está contribuindo para a construção e consolidação
da nova identidade psicossocial e ético-religiosa da universitária católica recifense, que
manifesta características específicas detectadas na pesquisa, como se verá a seguir.
A crença absoluta no sistema ideológico sexual da Igreja está evidenciando abalos.
Existe um movimento contestatório contra os espaços de exclusão e de dominação, contra as
construções ilusórias sobre a mulher, seu corpo e sua sexualidade. A suposta inerrância da
Igreja nesses temas, o poder de condenar ao inferno e criar culpabilidades são rejeitados pela
167
universitária católica recifense. Em vários assuntos do questionário, ela foi sempre coerente
“quem sabe o que é melhor, o que é certo ou errado para mim, sou eu: sigo a minha
consciência”. Uma consciência em formação, uma consciência com dúvidas e ambivalências,
uma consciência em conflito com o que foi inculcado pela família e Igreja contra as
experiências e análises da lógica interior e interiorizada do seu processo de “ser-mulher”
diante da sociedade e da Igreja.
Não é um processo linear de causalidade, mas um processo em espiral da
“circularidade retroativa” ou “circularidade autoprodutiva” (MORIN, 2000) que reconhece o
indivíduo como “produto-produtor”. A realidade é percebida pela universitária como
multidimensional e multicausal. Ela se percebe, também, como pessoa multidimensional.
Nesta realidade, ela vive criticamente com questionamentos sobre valores e paradigmas
tradicionais da Igreja, da família, da sociedade e se recria a partir da sua experiência
diária.
Por não ser linear, mas circular, o processo de construção da identidade procede
com angústias existenciais, psicossociais e ético-religiosas, que, ao mesmo tempo dificultam
e impulsionam este processo. A identidade não envolve só a percepção de si, mas uma
cosmovisão que abrange o mundo, Deus e o embate da inserção versus cooptação pelo
sistema capitalista e pela sociedade de consumo com valores questionáveis. Esse processo,
por si próprio, abrange as escolhas que levam à autonomia, independência, felicidade e
liberdade: a multidimensionalidade do “ser-mulher”.
Para a universitária católica, pecado é considerado uma alienação para o processo
de “ser-mulher”e da sua identidade. A dogmaticidade da Igreja sobre pecado é visto por ela
como negação da sua consciência como mulher. A sua espiritualidade feminina está lhe
revelando tradições e mitos teológicos que perpetuam ideologias sexistas alienantes. Essas
estão sendo rejeitadas, apesar de ainda influenciar um certo nível de culpabilidade da
universitária.
O seu “ser-mulher” que envolve a sua vida, sua corporeidade, sua sexualidade,
sua família, é o seu desafio e seu destino. Contempla suas percepções, seus sentidos,
expressões, intervenções, imagens, leis e códigos morais e éticos, educacão, linguagem e
representações. É, também, a fonte do seu poder de ser uma nova mulher.
Ela está reconhecendo que a linguagem ( símbolo) ao nomear tem um poder sobre
o corpo. Ao delegar um poder ao corpo, a linguagem define normas, nomeia e atribui valores
em determinado tempo e espaço, num movimento que é sempre dinâmico. Ela rejeita e
repensa os padrões perenizados pela Igreja que não passam por sua experiência e vivência de
168
“ser-mulher”. A sua imagem e entendimento de Deus como masculino e feminino, também
são novos. Quando ela diz “Deus”, pensa e transmite a imagem de Deus que tem
características femininas de amor, compaixão, compreensão e perdão. Deus é feito à imagem
dela e não só à do homem.
A universitária católica recifense valoriza a família: a boa convivência familiar, o
apoio recebido, a sua importância como fundamental à organização da sociedade e a sua
influência religiosa, tanto tradicional quanto crítica. O relacionamento com a família é um
dos seus valores mais importantes e o consenso é que a família apóia e orienta na construção
de sua nova identidade.
Apesar das divergências com o magistério da Igreja, a universitária se considera
católica e permanece fiel à Igreja. A questão é o que a Igreja está fazendo por ela para
fortalecê-la no seu processo de “ser-mulher”, ao enfrentar os desafios contemporâneos, em
vez de condená-la por se desviar da imagem ideal e das práticas determinadas pelo seu
magistério?
Quais são os espaços abertos e não condenatórios de escuta, diálogo e reflexão da
Igreja? Quando é que a mulher terá uma posição de decisão na Igreja sobre sua identidade,
corporeidade e sexualidade, em vez de receber a doutrina pronta de celibatários que querem
sustentar o mito do “eterno feminino”? Como protestar contra as idéias pré-estabelecidas da
salvação, da perdição ou culpabilidade e do antifeminismo prevalente na sociedade e nas
Igrejas, o antifeminismo disfarçado de democrático e amoroso (GEBARA, 2000)? Como
entender a construção das relações de gênero entre a mulher universitária recifense e uma
Igreja construída androcêntricamente?
Por enquanto a universitária católica recifense está resistindo àquilo com o qual
não concorda, de forma silenciosa: seu grito é interiorizado, seu choro sem lágrimas, sua
resistência sem passeata ou bandeiras, sua luta individual e ainda não coletiva nem familiar.
A sua consciência, fundamentada por valores éticos e religiosos definidos, embasa a sua
vivência e suas mais variadas experiências e desafios no seu processo de “ser-mulher”. Ela
busca aprofundar a sua espiritualidade, dentro e fora da Igreja Católica, que ela percebe como
falível e omissa referente às necessidades existenciais da mulher.
Ela não aceita viver cheia de culpas como a sua mãe e sua avó. Ela está
desconstruindo e reconstruindo a sua identidade para essa ser mais verdadeiramente autêntica
de acordo com a sua vida. Mas a revolução não é somente dela. Além dessa sua revolução
silenciosa, mais uma revolução está em andamento: o crescimento das suas filhas num
ambiente religioso familiar mais aberto e menos opressivo, eivado de reflexões, críticas e
169
posicionamentos novos. Elas e as filhas vão permanecer católicas? Silenciosas ou ativas?
Ativas para ficar e protestar ou sair da Igreja?
Concorda-se com Gebara (2000) que implora o repensar do antifeminismo na
Igreja como ação imprescindível daqueles que estão no poder e que evidenciam medo de
reavaliar os impactos da sua racionalidade masculina. Para Gebara e muitas outras teólogas e
filósofas, o antifeminismo da Igreja esconde o medo da condição humana, condição que
exige repensar as “certezas” e aprender a respeitar divergências e diversidade. Este repensar é
contra a violência da dogmaticidade e a favor da abertura de espaços para escutar novas e
diferentes vozes . Gebara (2000) afirma que estas vozes são incômodas, confusas e irritantes,
mas que são capazes de dinamizar e mexer com a vida, num movimento que vai garantir
“novas esperanças e novos desafios”.
Finalmente, pode-se questionar se a elaboração do discurso deste trabalho
construído com a participação das percepções, sentimentos e representações da universidade
católica recifense na busca da sua identidade psicossocial e ético-religiosa diante dos
múltiplos desafios que enfrenta vai poder contribuir para algo novo? Para as mulheres,
conforme seus depoimentos, já contribuiu para aguçar suas reflexões e repensar as suas
crenças. E para a Igreja? As universitárias recifenses, junto com muitas outras mulheres,
querem que suas vozes sejam escutadas, querem dar nome nomear - a realidade da sua
identidade psicossocial e ético-religiosa como católicas.
170
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179
APÊNDICES
180
APÊNDICE A QUARTA FASE: OPERATÓRIO-FORMAL (11 13 ANOS E MAIS)
(Gráfico elaborado a partir da apostila do Prof. Dr. Pe. Luiz Alencar Libório (2005) por Janice MS Albuquerque e Maristela FS Velozo.
DIMENSÕES
RELIGIOSA COGNITIVA PSICANALÍTICA MOTIVACIONAL
*Adolescente (11-17 anos)
Conflitualidade entre o pensamento
religioso e os novos conhecimentos
científicos adquiridos.
Percepção da falta de coerência entre
as teses religiosas transmitidas pela
catequese e pela escola com os novos
conhecimentos científicos do mundo e
de sua própria religiosidade.
Desenvolvimento de uma certa
relativização do pensamento religioso,
conseqüência da maturação cognitiva
e dos novos conhecimentos
adquiridos.
A religião não é a única resposta mas
uma das respostas aos problemas do
mundo.
Tomada de consciência da
disfuncionalidade da religiosidade
infantil precedente.
Revisão das próprias concepções de
acordo com os próprios esquemas
mentais e as novas convicções
adquiridas.
*Adolescente (11-
14
anos)
Caracterizado por
um forte senso de
privatização do
fenômeno
religioso;
Idade das crises dos
valores religiosos;
Dimensão religiosa
com um sentido
mais pessoal;
Tendência à
subjetivação
permitindo ao
rapaz o
desenvolvimento
protagonista na
expressão da
própria fé.
Respostas
diferenciadas que
respondem aos
seus nov
os
esquemas
*Adolescente (11-17 anos)
Subjetivização da fé, autonomia de
valores, relativização da crença =
maturação psíquica
Comportamento “autocêntrico e
subjetivista”, conflito com pais,
família sobre o que é certo e errado e
justo/injusto
Dúvida religiosa, racionalização,
crise da adolescência leva a crise de
religião
Religiosidade pessoal a partir de
problemas e experiências
emocionais
Revisão da religiosidade infantil para
religião ser fator de integração da
personalidade, responde a impulsos
interiores = influência
relacionamento consigo e com os
outros
*Jovem (18-25 anos)
“Identificação religiosa” mas não
necessariamente “concepção
*Adolescente (11-17 anos)
Crítico com sua
religiosidade: procura
sentido para sua vida
Subjetivação do
relacionamento com Deus,
vivência da própria
religiosidade
Prevalece o aspecto moral:
confia em Deus para ajudar
a organizar o seu ideal de
vida
Aspecto moral permeado de
contradições:
comportamento ético
institucional versus novos
valores
Motivação religiosa:
fundamento do credo e do
comportamento moral
Religiosidade aumenta
valores morais ao responder
às expectativas psicológicas,
mas ser praticante não
181
Reavaliação da própria adesão ao
credo religioso em vista de uma
impostação diferente.
Possibilidade de evoluir para uma
religiosidade mais madura,
desenraizando-se dos resíduos
infantis.
Aos 14 anos começa a desaparecer a
concepção material de Deus para o
conceito personalizado e experiencial
de Deus; Deus o pai ideal.
A religião serve como fator de
integração da personalidade em
função dos processos de maturação.
*Jovem (18-25 anos)
O relacionamento pessoal com Deus
varia de acordo com os momentos
fortes da adolescência e independe de
sua prática religiosa.
A religiosidade vai responder aos
impulsos interiores ou centrar-se na
percepção de Deus e responde as
expectativas individuais do
adolescente.
Repercussão do fenômeno religioso da
“personalização” no próprio
comportamento: relação consigo
mesmo e com os outros.
Privilegia os valores e assume
modelos partilhados.
Ativa dentro de si o senso de respeito
esquemas
cognitivos.
Diminuem algumas
convicções
religiosas,
adquiridas antes
por assimilação
pessoal causando
inquietude.
Conflitualidade
entre o pensamento
religioso e os
novos
conhecimentos
científicos
adquiridos.
Percepção da falta
de coerência entr
e
as teses religiosas
transmitidas pela
catequese e pela
escola com os
novos
conhecimentos
científicos do
mundo e de sua
própria
religiosidade.
Desenvolvimento de
uma certa
relativização do
pensamento
religioso,
confissional” ao estabilizar a própria
personalidade
Crê em Deus, mas pratica do seu
jeito = ambivalência psico-moral
Concepção de Deus mais
personalista e crítica com religião
oficial e ações rituais
Crise de plausibilidade do discurso
religioso, relativismo moral
Maior coerência e conformidade com
seus valores escolhidos, não se sente
culpado ou pecador
Crítica negativista da fé “religiosa”
(da Igreja) como irracional, acrítica
e alienada, sua religiosidade
autodeclarada
Integração da sua própria
personalidade e religiosidade:
coerência
implica ser mais moral
Religião contribui para a
construção do próprio
projeto de vida
Conversão tem significado
motivacional de procura de
sentido p
ara a vida: vida
plena e sadia, saúde
psicológica
Religião contribui para
adaptação psicológica às
novas situações, reduz
sentido de solidão
Percepção do valor da
vivência da fé para a vida
Religiosidade como escolha
pessoal e livre
Aspecto motivacional
in
flluencia mudanças na vida
e no comportamento:
satisfação ao perseguir
valores, estima positiva, de
si, convicções religiosas para
direcionar objetivos ao longo
da vida
*Jovem (18-25 anos)
Religiosidade juvenil:
percepção do valor global da
religião
Matur
ação religiosa como
resposta às necessidades, às
exigências, aos valores da
182
e de obediência daquilo que vem de
Deus e garante “segurança pessoal”,
principalmente se inserido num grupo
de amigos, amadurecendo o
afastamento do núcleo familiar.
No homem (juvenil), Deus é
concebido como pessoa que age e se
mescla no próprio mundo do jovem.
Também se mostram mais sensíveis as
conseqüências que a morte.
Na mulher (juvenil), sensibilidade ao
relacionamento pessoal e intimista
com Deus.
Deus é percebido, nela, como alguém
que oferece proteção e consolação.
As jovens tem mais medo da morte
porque causa a perda da própria
identidade.
A fé, tanto de um como de outro, está
ligada a religiosidade infantil e não há
ainda uma fé precisa.
A vivência do credo que professam
concentra-se nas vivências imediatas
e intensas.
religioso,
conseqüência da
maturação
cognitiva e dos
novos
conhecimentos
adquiridos.
A religião não é a
única resposta mas
uma das respostas
aos problemas do
mundo.
Tomada de
consciência da
disfuncionalidade
da religiosidade
infantil precedente.
Revisão das próprias
concepções de
acordo com os
próprios esquema
s
mentais e as novas
convicções
adquiridas;
Reavaliação da
própria adesão ao
credo religioso em
vista de uma
impostação
diferente.
Possibilidade de
evoluir para uma
religiosidade mais
exigências, aos valores da
vida
Opções: integração de
estrutura de valores maduros
ou exclusão de valores
religiosos da vida
Interiorização de valores
éticos, depois revisão crítica
da religião, assumidos co
mo
prioridade na vida
Religiosidade centrada no
homem: interpretação
personalística, vivência
intrínseca da fé e de valores
morais
Identidade como centralidade
da dimensão interior
Subjetivização da busca
religiosa: distancia-
se das
formas de entender
prec
edentes (infância e
adolescência) e constrói uma
visão do sagrado de acordo
com a vida interior
Experiência religiosa:
dimensão funcional e
psicologizante
Hiato percebido entre sua
nova consciência e
religiosidade e as posições
oficiais institucionais:
amb
ivalências no
comportamento
183
religiosidade mais
madura,
desenraizando-se
dos resíduos
infantis.
Aos 14 anos começa
a des
aparecer a
concepção material
de Deus para o
conceito
personalizado e
experiencial de
Deus; Deus o pai
ideal.
A religião serve
como fator de
integração da
personalidade em
função dos
processos de
maturação;
*Dos 15 aos 17 anos
O relacionamento
pessoal c
om Deus
varia de acordo
com os momentos
fortes da
adolescência e
independe de sua
prática religiosa.
A religiosidade vai
responder aos
comportamento
Jovens engajados em grupos
tem melhor prospectiva de
fé, jovens não participantes
tem maior ruptura entre
desenvolvimento subjetivo e
religiosidade tradicional
Projeto de vida pessoal:
responsabilidade, coerência,
consciência sócio-
humanitária, fraternidade,
solidariedade para uma vida
melhor
Jovens agregados com
sistema de significado mais
orgânico, jovens não
participantes com sistema
heterogêneo e privatização
de valores
Prioridade à própria pessoa
(sujeito psicológico) do que
à
religião (ideologia)
Processo de síntese mais
consciente, mas com
situações fortes e fracos de fé
Impacto da mobilidade social
(participação plena no
contexto): criticidade diante
das instituições de mediação
religiosa
Espontaneidade da
religiosidade (i
nteriorização)
como resposta à
184
responder aos
impulsos interiores
ou centrar-
se na
percepção de Deus
e responde as
expectativas
individuais do
adolescente.
Repercussão
do
fenômeno religioso
da
“personalização”
no próprio
comportamento:
relação consigo
mesmo e com os
outros.
Privilegia os valores
e assume modelos
partilhados.
Ativa dentro de si o
senso de respeito e
de obediência
daquilo que vem
de Deus e garante
“segurança
pessoal”,
principalmente se
inserindo num
grupo de amigos,
amadurecendo o
afastamento do
como resposta à
institucionalização da
religiosidade (sim a Deus,
não à Igreja) ou
ideologização do sagrado
como valor cultural ou sócio-
político
Grupos religiosos podem
enriquecer ou alienar os
jovens
Vive a dinâmica conflitual
entre a dema
nda religiosa
individual e as exigências de
religiosidade institucional.
185
núcleo familiar.
Tende a conservar
concepção
alternativa de Deus
como alguém
punitivo e
controlador se
fortemente ainda
dependente dos
pais exigentes e
controladores.
Dar aos textos
sagrados um
significado muito
mais
espiritualizado:
Fonte da religião;
Livro da revelação;
Comunicação das
experiências
espirituais dos
homens com
Deus.Colocam em
dúvida a
veracidade das
estórias e do
significado além
descritos na Bíblia.
*Juvenil (18-25 anos)
Revelação de uma
maior estabilização
186
da própria
personalidade e
dos
relacionamentos
com o ambiente
que o circunda.
Diferenciação do
comportamento
com o sagrado: ou
muito envolvido ou
se abstendo da
prática religiosa.
Influenciados
pela
transmissão dos
valores tradicionais
por causa do grupo
de referência e das
interferências
culturais,
alimentam um
senso de
religiosidade
comum.
A identificação
religiosa não
corresponde a uma
concepção
confessional.
O termo fé
representa um
modo mais
amplo
de entender a
187
própria
religiosidade.
Favorabilidades a
um credo teísta que
a um confessional.
Concepção de um
“Deus Amor”,
distante das
concepções
teológicas
“Deus
mistério, eterno,
justo, luz.
Aqueles que
praticam o seu
credo confessional
e parti
cipam das
diferentes funções
religiosas tem uma
sensibilidade de
que Deus é
protetor e dá
segurança.
Aqueles agregados a
grupos religiosos
significativos
assimilam uma
concepção
teologicamente
correta esse
referem a um Deus
positivo, cheio de
amor, sem sair da
188
ótica confessional
e institucional.
Aqueles que não
estão empenhados
numa religiosidade
externa e vão
menos a Igreja,
tendem a um credo
teísta e filosófico,
não confessional,
fiéis ao grupo de
pertença e colocam
a margem a
conduta religiosa.
Propensos
a uma
certa religiosidade
se diferenciando
nos termos que a
exprimem,
dependendo do
nível religioso que
vivenciam.
Crêem em Deus,
mas não praticam
aquilo que crêem
ou o praticam, em
níveis diferentes.
189
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO
PESQUISA: “A universitária católica recifense e a construção de uma nova identidade
psicossocial e ético-religiosa”
A) MINHAS PRÁTICAS E MEUS ENSINAMENTOS RELIGIOSOS
1) Minhas práticas religiosas e sua freqüência:
Freqüentemente Raramente Nunca
Ajuda aos necessitados ( ) ( ) ( )
Atividades / grupos juvenis da paróquia ( ) ( ) ( )
Assisto programas religiosas no rádio/TV ( ) ( ) ( )
Ir a Batizados ( ) ( ) ( )
Ir a Casamentos ( ) ( ) ( )
Costumo Comungar ( ) ( ) ( )
Costumo Confissar- me ( ) ( ) ( )
Encontro de casais com Cristo ( ) ( ) ( )
Leitura religiosa / bíblica ( ) ( ) ( )
Missa ( ) ( ) ( )
Renovação carismática ( ) ( ) ( )
Novena ( ) ( ) ( )
Oração pessoal ( ) ( ) ( )
Pastoral familiar ( ) ( ) ( )
Assisto Programas religiosos no rádio / tv ( ) ( ) ( )
Procissão ( ) ( ) ( )
Retiros ( ) ( ) ( )
Terço ( ) ( ) ( )
Outros. Quais? ______________________________________________________________
2) Minha participação em atividades da Pastoral da Universidade
Freqüentemente Raramente Nunca
Campanha da Fraternidade ( ) ( ) ( )
Campanhas beneficentes( ronda,doações) ( ) ( ) ( )
Crisma ( ) ( ) ( )
Encontros de oração ( ) ( ) ( )
Encontros outros ( ) ( ) ( )
Grupos de reflexão ( ) ( ) ( )
Missa ( ) ( ) ( )
Pedido de orientação espiritual ( ) ( ) ( )
Semana bíblica ( ) ( ) ( )
Usar material didático religioso/vídeos ( ) ( ) ( )
Voluntariado ( ) ( ) ( )
Outros (indicar) ______________________________________________________________
190
3) Você acha que outras religiões e crenças ajudam a sua espiritualidade?
a) ( ) Não
( ) Sim
b) Se respondeu “sim”, indicar quais já praticou ou procurou.
( ) Budismo
( ) Búzios, tarô, cartas
( ) Candomblé
( ) Espiritismo
( ) Islamismo
( ) Evangélicas ,qual___________________
( ) Horóscopo
( ) Judaísmo
( ) Mormon
( ) Pentecostalismo,qual__________________
( ) Religião indígena, animismo (reverência as coisas da terra)
( ) Simpatias
( ) Outros,qual __________________________________________
4) Você acredita que existe pecado?
( ) Não, por que ( ) pecado e inferno são formas da Igreja controlar as pessoas
( ) acredito que toda pessoa erra e que Deus vai perdoar quem
se arrepende
( ) não tenho clareza sobe o que é pecado
( ) outro____________________________________________
( ) Sim, por que ( ) existem atos que são contra as leis de Deus
( ) pecado é fazer mal aos outros
( ) aprendi que existe pecado e devemos ser perdoados para não
ir para inferno
( ) outro____________________________________________
a) Indicar abaixo o que é pecado, ou não (responder todos):
Sempre Nunca
Depende da
Situação
Aborto provocado ( ) ( ) ( )
Casar de novo, depois de divorciado ( ) ( ) ( )
Comungar sem confessar ( ) ( ) ( )
Divórcio
Embriagar-se,
Drogar-se
( )
( )
( )
( )
( )
( )
( )
( )
( )
Homossexualismo ( ) ( ) ( )
Gravidez sem casamento ( ) ( ) ( )
Incesto ( ) ( ) ( )
Ligação de trompas(laqueadura) ( ) ( ) ( )
Lesbianismo ( ) ( ) ( )
Masturbação
Inseminação artificial
( )
( )
( )
( )
( )
( )
191
Sempre Nunca
Depende da
Situação
Faltar com a caridade ( ) ( ) ( )
Não batizar os filhos ( ) ( ) ( )
Não casar na Igreja ( ) ( ) ( )
Não dizer que tem AIDS ou doença venérea ao
companheiro(a)
( ) ( ) ( )
Não ir a Missa aos Domingos ( ) ( ) ( )
Não participar das pastorais ou práticas da paróquia ( ) ( ) ( )
Receber comunhão enquanto divorciada ( ) ( ) ( )
Sexo antes do casamento ( ) ( ) ( )
Sexo grupal ( ) ( ) ( )
Sexo sem amor, “ficar” ( ) ( ) ( )
Traição, infidelidade ( ) ( ) ( )
Usar anti-concepcionais (pilula,DIU,camisinha) ( ) ( ) ( )
Vasectomia ( ) ( ) ( )
Violência contra mulher ( ) ( ) ( )
5) Onde aprendeu sobre os ensinamentos da Igreja (múltipla resposta)
( ) Aula de religião no colégio
( ) Catecismo na 1ª comunhão
( ) Disciplinas teologia/humanismo na universidade
( ) Curso para o batismo
( ) Curso para a crisma
( ) Curso de noivas
( ) Discussão com amigos
( ) Eventos religiosos / carismáticos
( ) Grupo da paróquia
( ) Grupos da pastoral da Universidade
( ) Leituras religiosas
( ) Missa
( ) Mídia (tv, revista,filmes, jornal)
( ) Na família
( ) outro, indicar_______________________________________
6) Você conhece ou ouviu falar de algum documento da Igreja que fala sobre mulher, família,
sexualidade, procriação / anticoncepcionais?
( ) Não ( ) Sim
7) Qual é a influência religiosa da família na sua vida (multipla resposta).
( ) Ela é aberta a novas idéias e discussões sobre religião
( ) A religião tem pouca influência em minha casa
( ) Exige de mim cumprimento das normas e práticas da Igreja
( ) É muito religiosa (oração, práticas)
( ) É pouco religiosa (oração, práticas)
( ) Orienta sobre a importância da religião na vida
( ) Segue a orientação tradicional e práticas da Igreja
( ) Tem um posicionamento crítico sobre a Igreja
( ) Nehuma influência
( ) Outra, indicar_______________________________________
192
B) MINHA VIDA, MEU CORPO, MINHA SEXUALIDADE
8) Quais os maiores desafios que a mulher universitária católica enfrenta hoje a nível
psicossocial e ético-religioso? (múltipla resposta)
( ) Alcoolismo
( ) Apelo ao consumismo( obsessão em comprar)
( ) Apelo à estética( preocupação excessiva com a aparência)
( ) Assegurar os seus direitos
( ) Conciliar família, trabalho e educação
( ) Conflitos familiares
( ) Desejo de ser valorizada / amada pelos outros
( ) Depressão, falta de ânimo para vida
( ) Doenças sexualmente transmisiveis como Aids
( ) Dominação masculina na família, igreja, sociedade
( ) Definição de sua identidade pessoal
( ) Dóminio do efêmero( nada de compromissos duradouros)
( ) Drogas
( ) Dúvidas sobre orientações éticas, bioéticas e religiosas
( ) Discriminação contra mulher
( ) Espiritualidade (a busca de vida interior profunda)
( ) Religiosidade ( vivenciar práticas,crenças)
( ) Enfrentar proibições sexuais
( ) Conseguir formação profissional
( ) Fazer ligação de trompas
( ) Gravidez indesejada
( ) Hedonismo(domínio do prazer)
( ) Homossexualismo, lesbianismo
( ) Individualismo
( ) Inversão de valores
( ) Ingresso / permanência no mercado de trabalho
( ) Machismo
( ) Materialismo
( ) Maternidade responsável
( ) Participação política para garantir seus interesses / direitos
( ) Potente influência da mídia nos valores
( ) Relacionamento com namorado(a), companheiro(a) ou esposo(a)
( ) Relação com Deus
( ) Ter liberdade sexual
( ) Uso de anticoncepcionais
( ) Violência doméstica
( ) Violência social
( ) Outros, indicar______________________________________________________
9) Valores mais importantes na minha vida ( múltipla resposta)
( ) Amor ( ) Prazer sexual
( ) Amizade ( ) Religiosidade ( vivenciar prática
religiosas)
( ) Auto-realização ( ) Respeito à doutrina da Igreja
( ) Autenticidade pessoal
( ) Respeito às diferenças (religião,
193
opção sexual, cor)
( ) Bondade ( ) Relacionamento com a família
( ) Consciência crítica ( ) Relacionamento com namorado(a)
/ companheiro(a) / esposo(a)
( ) Dedicação ao trabalho ou estudo ( ) Respeito aos outros
( ) Espiritualidade ( ter uma vida interior
profunda)
( ) Saúde física, aparência física
( ) Honestidade ( ) Sexualidade livre
( ) Justiça social ( ) Solidariedade
( ) Liberdade individual ( ) Temor a Deus
( ) Oração ( ) Outros. _____________________
10) Quais destas características representam a mulher, quais o homem, quais ambos?
Mulher Homem Ambos
Acolhimento ( ) ( ) ( )
Ambição profissional ( ) ( ) ( )
Combate defensivo ( ) ( ) ( )
Combate ofensivo ( ) ( ) ( )
Compaixão ( ) ( ) ( )
Conquista amorosa ( ) ( ) ( )
Cuidar dos filhos e da família ( ) ( ) ( )
Espiritualidade ( ) ( ) ( )
Guardar no coração( interioridade) ( ) ( ) ( )
Individualismo ( ) ( ) ( )
Intuição ( ) ( ) ( )
Mandar, chefiar ( ) ( ) ( )
Materialismo ( ) ( ) ( )
Pensar com o corpo ( ) ( ) ( )
Poder gerador e nutridor ( ) ( ) ( )
Poder, combatividade ( ) ( ) ( )
Preocupar-se com os outros ( ) ( ) ( )
Razão, objetividade ( ) ( ) ( )
Respeito à vida ( ) ( ) ( )
Responsável por afazeres domésticos ( ) ( ) ( )
Sensibilidade ( ) ( ) ( )
Subjetividade ( ) ( ) ( )
Outros,qual_________________________________
11) a) O que é ser feminista? (multipla resposta)
( ) Criticar a posição da Igreja sobre mulher e seu papel na família (normas,
proibições)
( ) Lutar pelos direitos da mulher, denunciar abusos / violências
( ) Mulher com liberdade sexual
( ) Mulher somente doméstica
( ) Mulheres em luta contra os homens
( ) Mulher livre e independente
( ) Mulheres que se julgam superiores aos homens
( ) Pensamento próprio sobre sua vida e seu corpo, sua sexualidade
( ) Questionar as relações de poder e opressão sobre a mulher (relações de gênero)
194
( ) Ser contra o machismo na família, sociedade e Igreja
( ) Ter igualdade de direito no trabalho, na família
( ) Viver de acordo com o que acha ético e moral em sua vida
( ) Outros. _______________________________________________________
11) b)Você se considera feminista?
( ) Sim
( ) Sim em parte
( ) Não
12) a) Você já teve / tem relações sexuais?
( ) Não
( ) Sim (se for sim, continue com as questões dos itens b até k )
b) Idade em que teve a 1ª relação sexual (genital)?
( ) Até 12
( ) 13 – 14
( ) 15 – 16
( ) 17 – 18
( ) 18 ou mais
c) A última relação sexual foi com parceiro sexual estável ou eventual?
( ) Estável
( ) Eventual
d) Vínculo com último(a) parceiro(a)?
( ) Namorado(a)
( ) Marido / Esposa
( ) Amigo(a)
( ) Desconhecido(a)
( ) Companheiro(a)
( ) Alguém, com que “ficou”
( ) Outro
e) Você usa anticoncepcional
( ) Sim qual?( ) natural (tabela, método Billings)
( ) artificial (pilula, DIU,camisinha, cremes)
( ) Não
f) Você fez ligação de trompas?
( ) Sim
( ) Não
g)ele fez vasectomia?
( ) Sim
( ) Não
( )
Não sei
195
h) Você tem medo de AIDS e DST (doenças sexualmente transmissíveis)
( ) Não. Por que? ( ) só transo com proteção
( )confio no(a) companheiro(a)
( )outro____________________________________________
( ) Sim. Por que? ( ) não sempre uso proteção
( ) não se pode confiar cegamente em ninguem
( ) outro____________________________________________
i) Você já abortou?
( ) Não
( ) Sim (espontâneo)
( ) Sim (provocado), por que?
( ) eu não tinha condições de criar
( ) o pai não queria assumir
( ) o pai exigiu
( ) tinha vergonha de ter errado e a familia saber
( ) outro, indicar_________________________________________________
j) Idade em que teve o primeiro filho
( ) até 15 anos ( ) 16 a 18 anos ( ) 19 a 21 anos ( ) + 21 anos ( ) ainda não tive
k ) Planejamento do 1º filho
( ) planejei ( ) a gravidez foi sem querer ( ) não tive
13) Você já sofreu violência por parte do esposo(a), companheiro(a), namorado(a), familiar,
outra pessoa?
( ) Não
( ) Sim Favor indicar o tipo abaixo.
( ) Física
( ) Psicológica
( ) Sexual
( ) Assédio moral (sofrer opressões)
( ) Controle total dos seus atos
( ) Ameaças espirituais( é pecado, vai para inferno)
( ) Assédio sexual
( ) Discriminação
( ) Outro. ________________________________
14) Sobre seu corpo e sua sexualidade, quem deve decidir.
Eu Casal Família Igreja Sociedade
Práticas sexuais (oral, anal, grupal, etc.) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Sexo antes do casamento ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Método anticoncepcional ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Virgindade ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Aborto ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Inseminação artificial ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Masturbação ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Homossexualismo, lesbianismo ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Prazeres sexuais vários / diferentes ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Planejamento familiar(no.de filhos) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Gravidez ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
196
15a) Você acha que pode discordar da Igreja e ainda se considerar católica?
( ) Sim, por que ( ) a Igreja precisa atualizar as sua posições
( ) temos direito de analisar e criticar
( ) para ser católica não precisa acreditar cegamente em tudo que a
Igreja diz
( ) outro ,indicar______________________________________
( ) Não, por que ( ) ser católica é obedecer a Igreja
( ) acredito que a Igreja sabe o que é certo
( ) se eu discordar, eu devo procurar outra religião
( ) outro, indicar_______________________________________
b) Você sente ou já se sentiu culpada em discordar ou questionar a orientação da Igreja sobre
a mulher, seu corpo e sua sexualidade?.
( ) Não, por que ( ) sigo a minha consciência, sei o que é certo para mim
( ) acho que a Igreja não acompanha a realidade
( )outro,indicar____________________________________
( ) Sim, por que ( ) tem coisa que faço que a religião proibe
( ) foi ensinado que temos que obedecer a Igreja em tudo
( ) outro, indicar________________________________
C) MEUS PENSAMENTOS SOBRE RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE
16) Grau de concordância ou discordância com as seguintes afirmações. (Favor responder
a todas)
1. Discordo totalmente (Disc)
2. Discordo em parte (Disc em P)
3. Nem concordo, nem discordo (Nem C/D)
4. Concordo em parte (Conc em P)
5. Concordo plenamente(Conc)
a) Ensinamentos da Igreja
Disc
Disc
em P
Nem
C/D
Conc
em P
Conc
A Igreja não leva em conta os desafios
enfrentados pela mulher hoje
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A Igreja tem o dever de dizer o que é certo e
errado
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher deve ser mais valorizada dentro da
Igreja
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher precisa da orientação da Igreja para
avaliar questões sobre família e sexualidade
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Mulheres devem ser ordenadas para poder
orientar mulheres
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade,
reprodução e corporeidade da mulher
precisam ser atualizados para os dias de hoje
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Padre sabe o que é melhor para o casal e para
a mulher
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
197
Se for católica, tem que obedecer todos os
mandamentos e ensinamentos da Igreja
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Viver junto, sem casar na Igreja, é contra a lei
de Deus
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
b) Práticas do casal, da família
Disc
Disc
em P
NemC/D
Conc
em P
Conc
A educação sexual é um direito dos pais e
deve ser controlada por eles
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A família é a célula fundamental da
sociedade
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
As funções da família são a união, a
procriação, ajuda mútua e prazer
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
As pessoas divorciadas devem poder
comungar na Missa
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Casamento é para sempre ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Homossexuais não devem se casar
Homosexuais devem ser permitidos a
adotar uma criança
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O casal deve determinar sua vida sexual e
contraceptiva
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O casal que não tiver filhos naturalmente
pode fazer inseminação artificial
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O(a) namorado(a) pode dormir na casa dos
pais com a(o) namorada(o)
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Se o casal não viver bem, deve poder se
divorciar e casar de novo
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Uniões homossexuais são contrárias à lei
natural
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
c) A mulher, sua vida, seu corpo
Disc
Disc
em P
Nem
C/D
Conc
em P
Conc
A maternidade realiza a mulher ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher deve decidir o que é certo ou errado
na sua vida
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher deve seguir a sua consciência nas
decisões sobre seu corpo, sua sexualidade
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher deve ser submissa ao homem ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher é naturalmente religiosa ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher é um homem incompleto ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A identidade da mulher depende de sua
doação aos demais
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A sexualidade caracteriza a mulher nos planos
físico, psicológico e espiritual
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A sexualidade humana faz parte da
capacidade de amar que Deus deu a mulher e
ao homem
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A Virgem Maria é o modelo ideal da mulher ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
198
A virgindade é essencial para a mulher antes
do casamento
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Deus é homem e mulher ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O corpo da mulher é fonte de pecado ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O corpo da mulher é sagrado, é templo de
Espirito Santo
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O homem deve casar virgem ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Os papéis mais importantes da mulher são de
mãe e esposa
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
d) Sexualidade
Disc
Disc
em P
Nem
C/D
Conc
em P
Conc
A gravidez só deve acontecer após o
casamento
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
A mulher que pratica um aborto deve ir presa ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Abortar é decisão da mulher ou do casal ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Abortar ou não depende da situação sócio-
econômica e psicológica da mulher
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Abortar um feto com defeito que certamente
não vai sobreviver, é um direito da mulher
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Educação sexual deve começar com as
crianças na família e na escola
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Gravidez fora do casamento é pecado ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Homossexualismo/lesbianismo é contra a
natureza humana
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Masturbação é pecado e a prática está sob o
poder do demônio
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
O único sexo seguro para evitar AIDS é
através da fidelidade no casamento
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Disc
Disc
em P
Nem
C/D
Conc
em P
Conc
O uso de embriões humanos guardados para
fins científicos é antiético
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Só métodos naturais de contracepção(tabela,
método Billings) são certos
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Todo tipo de anticoncepcional é sempre
errado
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
“Ficar” é natural na vida da pessoa ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Opção sexual é um direito da mulher ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
17) Como você avalia o posicionamento da Igreja diante da realidade da mulher católica hoje.
(múltipla resposta)
( ) Preocupada com a mulher na família e na sociedade
( ) Está abrindo mais espaço para a participação da mulher
( ) Acolhe a mulher com problemas
( ) Afasta a mulher com problemas
( ) Cria culpa ( muitas proibições, tudo é pecado)
( ) Orienta para viver na atualidade
199
( ) Dá conforto e consolo nos momentos difíceis
( ) Desconsidera a opinião da mulher sobre sua corporeidade e sexualidade
( ) Deve escutar mais as mulheres em assuntos de casamento, sexualidade, família
( ) Distante das questões que as mulheres enfrentam
( ) Manda em assuntos que devem ser decididos pelo casal ou pela mulher
( ) Oferece apoio através de grupos e atividades nas paróquias
( ) Orienta moralmente diante de questões éticas e religiosas/espirituais
( ) Orientações idealistas, longe da realidade
( ) Reprime, domina
( ) Tenta aproximar-se das mulheres
( ) Está motivando mais a mulher a participar
( ) Outro, indicar
D) MEUS SENTIMENTOS SOBRE RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE
18) Qual é a importância da religião católica na minha vida? (múltipla resposta)
( ) Ela me orienta bem moral e éticamente
( ) Sinto-me pertencer a uma religião séria
( ) Sinto-me apoiada/amada por Deus
( ) Faço parte dos grupos, criando novas amizades
( ) Sinto solidariedade com os outros, ajudar os outros
( ) Procuro conforto nas horas difíceis
( ) Sinto que alguém se importa comigo
( ) Gosto de rezar
( ) Reconheço na Igreja tem uma preocupação com a justiça social
( ) As missas e cerimônias são bonitas, nos elevam
( ) Acredito que os santos podem nos auxiliar
( ) Pertenço a mesma religião da minha família, tradição
( ) Acredito em vida depois da morte
( ) Tenho medo do inferno
( ) Tenho fé no amor de Deus, seu perdão
( ) Gosto das leituras católicas / bíblicas
( ) Tenho paz espiritual
( ) Tenho sentido na vida
( ) Amo a Virgem Maria e os santos
( ) Tenho Jesus como senhor da minha vida
( ) Ofereço amor e obediência ao Papa, bispos e sacerdotes
( ) Os ensinamentos da Igreja ajudam o meu crescimento espiritual e psicológico
( ) Outro, indicar
19) No relacionamento com a Igreja Católica eu me sinto: (múltipla resposta)
( ) Acolhida
( ) Abençoada
( ) Amada por Jesus
( ) Ameaçada
( ) Apoiada
( ) Compreendida
( ) Culpada
( ) Descrente
200
( ) Desvalorizada
( ) Fortalecida
( ) Indiferente
( ) Indignada
( ) Insegura da salvação
( ) Longe de Deus
( ) Perdida
( ) Reconfortada
( ) Salva
( ) Tranqüila
( ) Valorizada
( ) Outro , indicar________________________
20) Como defino a minha identidade como mulher católica? (múltipla resposta)
( ) Sou fiel a todos os ensinamentos da Igreja
( )
Acredito que a mulher sabe o que é melhor para seu corpo, sua saúde, sua
sexualidade, não a Igreja
( ) Aceito muitos ensinamentos da Igreja, mas não todos
( ) Acho que a Igreja deve escutar mais a mulher e seus problemas
( ) Acredito que é a melhor religião para mim
( ) Acredito que Jesus me ama, vê a minha vida e perdoa minhas falhas
( ) Cuidar bem dos pais, do marido e dos filhos é fundamental
( )
Gosto dos valores ensinados pela Igreja, mas não todas as exigências /
mandamentos
( ) Minha consciência é tranqüila que faço o que é certo para mim e para os outros
( ) Os santos e a Virgem Maria me ajudam e me protegem
( ) Preocupo-me com os outros, sou solidária e tento ajudar
( ) Tenho momentos fortes e fracos de fé
( ) Tenho uma posição crítica sobre a Igreja e seus ensinamentos
( ) Tenho uma vivência interiorizada de fé e de Deus
( ) Outro, indicar
21) Como considero a construção / busca da minha identidade psico-social e ético- religiosa:
(múltipla resposta)
( ) Ainda estou buscando sentido na vida
( ) Sinto-me segura do que sou
( ) Estou confusa sobre quem sou e o que quero para mim
( ) Não sei se sou católica por tradição, convicção ou culpa
( ) A religião é fundamental na definição da minha identidade
( ) Evito pensar nisso, vivo a minha vida
( ) Tenho alcançado um certo nível de equilíbrio bio-psiquico-espiritual
( )
Tenho conflitos de consciência entre a minha liberdade pessoal e minhas
responsabilidades religiosas
( ) Sinto-me autêntica comigo mesmo e com os outros
( ) Tenho uma consciência tranqüila sobre o que faço
( ) Vivo com problemas de consciência sobre o que faço
( ) A religião é importante para meu bem estar psicológico
( ) A religião não influi no meu sentido de bem-estar
( ) Minhas amizades ajudam construir a minha personalidade
201
( ) Minhas amizades estão prejudicando / confundindo quem sou
( ) Minha família me apóia e orienta
( ) Minha família não me entende
( ) Sinto um vazio na minha vida
( ) Tenho uma espiritualidade feminista, ao meu modo
( ) Outro, indicar
INFORMAÇÕES PESSOAIS
22) Idade (a partir dos 20 anos) ____________
23) Cursou ensino médio onde?
( ) Escola Pública. Qual? ____________________________________________
( ) Escola Particular. Qual? ___________________________________________
( ) Escola Particular confessional (de um grupo religioso). Qual?
________________________________________________________________
( ) Outro. Qual? _________________________________________________
24) Curso que está fazendo agora
Curso: ____________________________________________________________
Período: ___________________
Turno: ( ) M ( ) T ( ) N
25) Estado civil
( ) Casada no civil ( ) Casada no religioso ( ) Casada no civil e religioso
( ) Vivo com alguém ( ) Separada ( ) Divorciada
( ) Viúva ( ) Solteira
26) Tem filhos?
Quantos: __________Idade de cada: ____________________________________
27) Bairro onde mora: _________________________________________________
28) Você trabalha?
( ) Não
( ) Sim, em que trabalha:
( ) Estágio ( ) Serviços,indicar ( ) público ( )privado
( ) Comércio ( ) Autônoma
( ) Indústria ( ) Outros,indicar__________________________
29) Religião da família
Mãe: __________________________________________________________
Pai: ____________________________________________________________
Esposo / alguém com quem vive: _______________________________________
30) Renda familiar mensal (em Salários minimos- SM)
( )até 2 SM ( ) de 2 a 5 SM ( ) de 5 a 10 SM
( ) de 10 a 20 SM ( ) mais de 20 SM
202
31) Cor ou raça
( )amarela ( ) branca ( ) indigena ( ) parda ( ) negra ( )outra
Comentário:
OBRIGADO PELA PARTICIPAÇÃO !!
203
APÊNDICE C RELATÓRIO ESTATÍSTICO DA
PESQUISA
204
APÊNDICE C RELATÓRIO ESTATÍSTICO DA PESQUISA
METODOLOGIA ESTATÍSTICA:
1.Técnicas
Nas análises estatísticas foram utilizadas técnicas de Estatística Descritiva tais
como: média aritmética, moda desvio padrão, distribuições de freqüências e gráficos. Além
disso, foram utilizadas técnicas de inferência estatística, tais como: Teste exato de Fisher
(por haver células com freqüências esperadas menores que 5) de homogeneidade de grupos,
nas análises das tabelas cruzadas: de 1.3.5.1 a 1.3.5.11, (CATÓLICA) de 2.3.5.1 a 2.3.5.11
(FAFIRE), e de 3.3.5.1 a 3.3.5.11 (GLOBAL); Testes de Kruskal-Wallis e de Análise de
variâncias (ANOVA), nas análises das tabelas: de 1.4.1.1.C a 1.4.1.4.C (CATÓLICA) e de
2.4.1.1.C a 2.4.1.4.C (FAFIRE); Teste de Tamhane de comparações múltiplas (para o
modelo ANOVA, no caso de grupos de variâncias diferentes), nas situações em que
ocorreram diferenças significativas. Foram também utilizados previamente, os testes de
Shapiro-Wilk (para a verificação de distribuição normal dos dados, em cada grupo envolvido)
e de Levene (para a verificação de homogeneidade de variâncias entre os grupos envolvidos).
Esses dois testes foram utilizados para decidir se seriam utilizados testes paramétricos ou não-
paramétricos e que testes em cada variável, seriam utilizados na comparação dos grupos
(cursos ou universidades) envolvidos.
Para as análises das variáveis relacionadas nas referidas tabelas de 1.4.1.1.C a
1.4.1.4.C (CATÓLICA) e de 2.4.1.1.C a 2.4.1.4.C (FAFIRE), utilizou-se o seguinte critério:
(i) Onde não houve normalidade de distribuições para todas as categorias (cursos) da
variável, mas houve homogeneidade de variâncias, se aplicou o teste não-paramétrico de
Kruskal-Wallis para verificar a igualdade entre as médias dos grupos (cursos) envolvidos; ii)
Onde não houve normalidade de distribuições, para todas as categorias da variável e não
houve homogeneidade de variâncias, foi aplicado o teste ANOVA one-Way (considerando
que os grupos são de “tamanhos suficientemente grandes”). Convém observar que quando as
suposições básicas do teste ANOVA (de normalidade de distribuições e homogeneidade de
variâncias) são violadas, ele só deve ser utilizado quando as amostras são de tamanhos
suficientemente grandes (maiores que 30). Nas análises das referidas tabelas de comparação
entre os grupos (cursos) as amostras são de tamanhos menores que 30. Mesmo assim, foi
aplicado o teste ANOVA , mas recomenda-se que os resultados obtidos para as variáveis onde
o teste ANOVA foi aplicado, sejam vistos apenas como indicativos. Por este motivo,
recomenda-se aos pesquisadores que venham futuramente desenvolver pesquisas sobre esse
205
mesmo tema e que necessitem também comparar grupos ou cursos em relação a algumas
variáveis, que para os grupos (cursos) a serem comparados, considerem amostras de tamanhos
maiores que 30.
Para as análises das variáveis relacionadas nas referidas tabelas de 3.4.1.1.C a
3.4.1.4.C (GLOBAL), utilizou-se o seguinte critério: (i) Onde não houve normalidade de
distribuições para todas as categorias (as duas universidades) da variável, mas houve
homogeneidade de variâncias, se aplicou o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para
verificar a igualdade entre as médias dos dois grupos (as duas universidades) envolvidos; ii)
Onde não houve normalidade de distribuições, para todas as categorias da variável e não
houve homogeneidade de variâncias, foi aplicado o teste t-Student assintótico (para todas as
variáveis envolvidas, as amostras são de “tamanhos suficientemente grandes”, isto é, maiores
que 30: para a CATÓLICA, o menor tamanho foi 113 e o maior foi 116; enquanto que para a
FAFIRE, o menor tamanho de amostra foi 57 e o maior foi 62) para verificar a igualdade
entre as médias dos dois grupos (as duas universidades).
O nível de significância adotado em toda pesquisa foi de 5,0% (α = 0,05). Os
dados foram analisados através do software de estatística SPSS (Statistical Package of the
Social Sciences) na versão 13. Para as comparações múltiplas (pareadas) do teste de Kruskal-
Wallis, também foi utilizado um programa em linguagem Pascal, desenvolvido (em 1984)
pelo professor Bartolomeu José dos Santos, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza
(C.C.E.N) da Universidade Federal de Pernambuco Os gráficos foram rodados no software
Excel 97.
2. Amostra
Para essa pesquisa, foram selecionadas aleatoriamente, duas amostras: uma de
tamanho 116, da Universidade Católica de Pernambuco e outra de tamanho 62, da Faculdade
Frassinete de Recife (FAFIRE). O estudo foi realizado em três etapas: a primeira etapa consta
da análise dos dados do grupo da Universidade Católica, na segunda etapa analisa-se os dados
da FAFIRE e a terceira etapa é um estudo global, reunindo os dois grupos de dados e também
estabelecendo comparações entre eles em relação a algumas características (variáveis das
tabelas 3.4.1.1.C a 3.4.1.4.C).
206
3. Estudo da amostra global
Nesse estudo a amostra considerada foi de tamanho N = 178, pois, é constituída
pela união das duas amostras selecionadas das duas referidas faculdades : FAFIRE e
CATÓLICA .
3.1. Caraterização da amostra
3.1.1- Idade, Escolaridade e Estado Civil:
Apurou-se que a variação de idade foi entre 20 e 58 anos e que dentre as 178
estudantes entrevistadas exatamente 10, deixaram de declarar a sua idade. O gráfico 3.1.1.A
ilustra que das 168 estudantes que declararam a sua idade: 104 (61,9%) têm idade entre 20 e
24 anos, 24 (14,3%) têm idade entre 25 e 29 anos, 10 (6,0%) têm idade entre 30 e 34 anos, 14
(8,3%) têm idade entre 35 e 39 anos e 16 (9,5%) têm idade superior ou igual a 40 anos.
Gráfico 3.1.1.A Distribuição das idades das estudantes por faixa etária.
Onde cursou o ensino médio?
Apurou-se que 5 estudantes deixaram de responder sobre onde cursaram o ensino
médio. Dentre as 173 estudantes que responderam a esta pergunta, o gráfico 3.1.1.B
ilustra
que: 1 (0,6%) estudante cursou o ensino médio em escolas da rede pública e da rede
particular, 34 (19,7%) cursaram o ensino médio em escolas da rede pública, 3 (1,7%)
cursaram o ensino médio em escolas da rede particular e particular confessional, 109 (63,0%)
cursaram em escolas da rede particular e finalmente, 26 (15,0%) cursaram o ensino médio em
escola particular confessional.
De 20 a 24 anos
61,9%
De 30 a 34 anos
6,0%
De 35 a 39 anos
8,3%
40 anos ou mais
9,5%
De 25 a 29 anos
14,3%
207
Administração
11,3%
Fisioterapia
9,6%
Teologia
2,8%
Biologia
14,7%
Letras
4,5%
Pedagogia
0,6%
Turismo
6,8%
Psicologia
18,6%
Direito
11,3%
Serviço Social
8,5%
História
6,8%
Publicidade e
Propaganda
4,5%
Gráfico 3.1.1.B Distribuição das resposta das estudantes segundo a rede de ensino
onde cursou o ensino médio.
Qual o curso que você está fazendo?
Com respeito ao curso que estão fazendo agora, apurou-se que apenas uma
estudante não respondeu. O gráfico 3.1.1.C ilustra que: dentre as 177 estudantes que
responderam a esta pergunta, 33 (18,6%) estão fazendo Psicologia, 20 (11,3%) fazem Direito,
15 (8,5%) fazem Serviço social, 12 (6,8%) fazem História, 8 (4,5%) fazem Publicidade e
propaganda, 20 (11,3%) fazem Administração, 17 (9,6%) fazem Fisioterapia, 5 (2,8%)
fazem Teologia, 26 (14,7%) fazem Biologia, 8 (4,5%) fazem Letras, 1 (0,6%) faz Pedagogia e
12 (6,8%) fazem Turismo. Os cursos mais concorridos são: Psicologia (1
0
lugar), Biologia (2
0
lugar), Serviço social e Administração ocupam o 3
0
lugar. Pedagogia, Teologia, Letras e
Publicidade e propaganda ocupam respectivamente os quatro últimos lugares (12
0
, 11
0
, 10
0
e
9
0
).
Gráfico 3.1.1.C Distribuição das respostas das estudantes em relação aos cursos
Escola Particular
2,0%
Escola Particular
e Escola
particular
confessional
22,4%
Escola Pública e
Escola Particular
3,3%
Escola Pública
0,7%
Escola Particular
confessional
71,7%
208
9º Período
6,5%
8º Período
37,9%
11º Período
1,8%
6º 7º 8º
0,6%
3º Período
2,4%
2º Peródo
0,6%
4º Período
16,0%
5º Período
4,7%
6º Período
18,3%
7º Período
10,7%
Último
0,6%
Noite
49,7%
Manhã e Tarde
1,1%
Manhã
42,9%
Tarde
6,3%
Que período você está cursando?
Com respeito ao período que estão cursando, apurou-se que exatamente 9
estudantes não responderam. O gráfico 3.1.1.D ilustra que: dentre as 169 estudantes que
responderam a esta pergunta: 27 (16,0%) estão fazendo o 4
0
período, 8 (4,7%) estão no 5
0
período, 31 (18,3%) estão no 6
0
período, 18 (10,7%) estão no 7
0
período, 64 (37,9%) estão no
8
0
período, 11 (6,5%) estão no 9º período, 4 (2,4%) estão no 3
0
período, 1 (0,6%) está
fazendo o 2
0
período, 1 (0,6%) está cursando simultaneamente o 6
0
, 7
0
e 8
0
períodos, 3 (1,8%)
estão cursando o 11
0
período e 1 (0,6%) está cursando o último período.
Gráfico 3.1.1.D Distribuição das respostas das estudantes em relação aos períodos.
Em que turno você estuda?
Com respeito ao turno que estudam, apurou-se que 3 estudantes não responderam.
O gráfico 3.1.1.E, ilustra que: dentre as 175 estudantes que responderam a esta pergunta: 2
(1,1%) estudam nos turnos da manhã e da tarde, 75 (42,9%) estudam no turno da manhã, 11
(6,3%) estudam no turno da tarde e 87 (49,7%) estudam no turno da noite. Os turnos da Noite
(1
0
lugar) e Manhã (2
0
lugar) são os mais preferidos.
Gráfico 3.1.1.E Distribuição das respostas das estudantes em relação ao turno em que
estão estudando.
209
Solteira
78,1%
Casada no civil e
religioso
5,6%
Divorciada
3,9%
Casado no civil
4,5%
Viúva
0,6%
Seperada
0,6%
Vivo com alguém
5,6%
Casada no religioso
1,1%
2 Filhos
40,6%
3 Filhos
15,6%
1 Filho
43,8%
Estado Civil?
Com respeito ao estado civil, o gráfico 3.1.1.F ilustra que: dentre as 178
estudantes: pesquisadas, 8 (4,5%) são casadas no civil, 10 (5,6%) vivem maritalmente, 1
(0,6%) é viúva, 2 (1,1%) são casadas no religioso, 1 (0,6%) é separada, 139 (78,1%) são
solteiras, 10 (5,6%) são casadas no civil e no religioso e 7 (3,9%) são divorciadas.
Gráfico 3.1.1.F Distribuição das respostas das estudantes em relação ao estado civil.
3.1.2 – Número de filhos, Bairro onde mora, Ocupação (Trabalho)
Você tem filhos? Quantos?
Com respeito às perguntas se tem filhos e o número de filhos, apurou-se que
dentre as 178 estudantes entrevistadas, 32 (18,0%) têm filhos e 146 (82,0%) não têm filhos.
Das 32 estudantes que têm filhos, o gráfico 3.1.2.A, ilustra que: 14 (43,8%) têm apenas 1
filho, 13 (40,6%) têm 2 filhos e 5 (15,6%) têm 3 filhos.
Gráfico 3.1.2.A Distribuição das respostas das estudantes em relação ao número de
filhos.
210
Bairro onde moram?
Com respeito ao bairro onde moram, apurou-se que 4 estudantes não
responderam. A tabela 3.1.2 representa a distribuição de freqüência das estudantes em relação
ao bairro onde moram. Dentre as 174 que responderam, destaca-se que o bairro de boa
viagem é o de maior freqüência (28), isto significa que 16,1% dessas estudantes moram em
Boa Viagem. A Segunda maior freqüência é 9 e se verificou para o bairro da Boa vista,
indicando que 5,2% das estudantes moram nesse bairro, em terceiro lugar vem os bairros de
Candeias, Cordeiro e espinheiro com 6 (3,4%) estudantes e em quarto lugar, vem os bairros
de Tamarineira, Torre e Várzea com 5 (2,9%) estudantes.
Tabela 3.1.2 Distribuição das respostas das estudantes em relação ao Bairro onde
moram.
Bairro Freqüência
Freqüência
%
Boa Viagem 28 16,1
Casa Forte 3 1,7
Aflitos 6 3,4
Graças 2 1,1
Engenho do Meio 2 1,1
Tamarineira 5 2,9
Boa Vista 9 5,2
Forno da Cal 1 0,6
Jordão Baixo 1 0,6
Nova Olinda 1 0,6
Parnamirim 3 1,7
Aguazinha 1 0,6
Candéias 6 3,4
Cordeiro 6 3,4
Imbiribeira 3 1,7
Rosarinho 2 1,1
Hipódromo 1 0,6
Poço da Panela 1 0,6
Prado 1 0,6
Estância 2 1,1
Torre 5 2,9
Iputinga 3 1,7
Piedade 3 1,7
Espinheiro 6 3,4
Torrões 2 1,1
São Lourenço da Mata 1 0,6
Brasília Teimosa 1 0,6
Jardim São Paulo 4 2,3
Rio Doce 1 0,6
211
Alameda Paulista 1 0,6
Bongi 1 0,6
Barra de Jangada 2 1,1
Casa Amarela 3 1,7
Torreão 1 0,6
Cavaleiro 1 0,6
Madalena 1 0,6
Mustardinha 3 1,7
Beberibe 1 0,6
Bairro Presidente Vargas
(Paulista)
1 0,6
Águas Compridas 2 1,1
Cidade Universitária 1 0,6
Três Carneiros (Ibura) 1 0,6
Cidade Tabajara (Olinda) 1 0,6
Curado II 1 0,6
Cascata 1 0,6
Bairro Novo 4 2,3
Cruz de Rebouças (Igarassu) 2 1,1
IPSEP 3 1,7
Jardim Atlântico 2 1,1
Arruda 2 1,1
Várzea 5 2,9
Varadouro (Olinda) 1 0,6
Campo Grande 1 0,6
Casa Caiada 2 1,1
Soledade 1 0,6
Areias 1 0,6
Barro 1 0,6
Vila Cohab (Cabo) 1 0,6
Tejipió 2 1,1
Jardim Beira Rio 1 0,6
Encruzilhada 2 1,1
Pina 1 0,6
Jaqueira 1 0,6
Bairro Aurora (Paulista) 1 0,6
Janga 1 0,6
Guardalupe 2 1,1
Vitória de Santo Antônio - PE 1 0,6
Afogados 1 0,6
Caxangá 1 0,6
Cidade de Igarassu 1 0,6
San Martin 1 0,6
Total 174 100,0
212
Industria
4,1%
Comércio
6,6%
Serviço público
10,7%
Serviço privado
10,7%
Autônoma
3,3%
Outros
9,8%
Estágio e Comércio
0,8%
Estágio e Serviço
privado
0,8%
Estágio
53,3%
Você trabalha? em que?
Com respeito às pergunta você trabalha e em que trabalha? apurou-se que das
178 estudantes pesquisadas, 2 não responderam e 54 responderam que não trabalham.
O gráfico 3.1.2.B ilustra que dentre as 122 estudantes que trabalham: 1 (0,8%) faz
estágio e trabalha no comércio, 1 (0,8%) faz estágio e trabalham no serviço privado, 65
(53,3%) fazem estágio, 8 (6,6%) trabalham no comércio, 5 (4,1%) trabalham na indústria, 13
(10,7%) trabalham no serviço público, 13 (10,7%) trabalham no serviço privado, 4 (3,3%)
trabalham como autônomos e 12 (9,8%) responderam “Outro”. Destaca-se que a maioria das
estudantes (53,3%) trabalham somente como estagiárias, em segundo lugar vem os serviços
público e privado com 13 (10,7%) estudantes em cada um.
Gráfico 3.1.2.B Distribuição das respostas das estudantes em relação a ocupação.
3.1.3 – Religião da família, Renda familiar, Cor ou Raça
Religião da Família?
Com respeito a religião da família, apurou-se que 2 estudantes não responderam a
essa pergunta. A tabela 3.1.3 representa a distribuição de freqüência das respostas das
estudantes. Destaca-se que das 176 estudantes que responderam a essa pergunta, a maior
freqüência é 85, indicando que 48,3% dessas estudantes têm mãe Católica, pai Católico e
esposo ou alguém com quem vive, de religião não informada e a segunda maior freqüência foi
32, indicando que 18,2% dessas estudantes têm mãe católica, pai católico e esposo ou alguém
com quem vive, também católico.
213
Tabela 3.1.3 Distribuição de freqüências das respostas das estudantes em relação a
religião da Família.
Religião da Família Freqüência Freqüência %
Mãe Católica e (não sabe a religião dos demais) 6 3,4
Mãe Católica, Pai Católico e esposo alguém com quem vive não sabe a
religião
85 48,3
Mãe Católica, Pai Católico e esposo alguém com quem vive Católico 32 18,2
Mãe Evangélica, Pai Evangélico e esposo alguém com quem vive não sabe a
religião
3 1,7
Mãe Católica, Pai Evangélico e esposo alguém com quem vive não sabe a
religião
4 2,3
Mãe Católica, Pai Católica e esposo Alguém com quem vive sem religião 5 2,8
Mãe Espírita, Pai Católico e esposo alguém com quem vive não sabe a
religião
2 1,1
Mãe Católica, Pai Espírita e esposo alguém com vive Católico 1 0,6
Mãe Cand., Pai Cand. e esposo alguém com quem vive Católico 1 0,6
Mãe, Católica, Pai ateu e esposo alguém com quem vive Evangélico 1 0,6
Mãe Católica, Pai Rosa Cruz esposo alguém com quem vive Ateu 1 0,6
Mãe Católica, Pai ateu e esposo alguém com quem vive não sabe a religião 2 1,1
Mãe Católica, Pai sem religião e esposo alguém com quem vive Católico 2 1,1
Mãe Evangélica Pai Agnóstico e esposo alguém com quem vive Evangélica 1 0,6
Mãe Católica, Pai sem religião e esposo alguém com quem vive não sabe a
religião
3 1,7
Mãe Espírita e não sabe a religião dos demais 1 0,6
Mãe Católica, Pai Católica e esposo alguém com quem vive Espírita 2 1,1
Todos os membros sem religião 1 0,6
Mãe Evangélica, Pai Católica e esposa alguém com quem vivi Católico 1 0,6
Não sabe a religião de nenhum dos membros 1 0,6
Mãe Evangélica, Pai não sabe a religião e esposo alguém com quem vive
Católico
1 0,6
Mãe Católica, Pai Espirita e esposo alguém com quem não sabe a Religião 5 2,8
Mãe Católica, Pai Católica e esposo Evangélico 1 0,6
Mãe sem Religião, Pai Espirita e esposo alguém com quem vive Católico 1 0,6
Mãe Católica, Pai Católica, esposo Judeu 1 0,6
Mãe Evangélica, Pai Católico, (não sabe a religião dos demais) 2 1,1
Mãe não sabe, Pai não sabe, esposo alguém com quem vive Católico 1 0,6
Mãe Católica, Pai não sabe Religião, Esposo Alguém com quem vivi Católico 1 0,6
Mãe sem religião, Pai sem religião, esposo alguém quem vive sabe a religião 1 0,6
Mãe Católica, Pai estudante Rosa Cruz, Esposo Alguém com quem vive
Católico
1 0,6
Mãe Espírita, Pai sem religião esposo Alguém com vive não sabe religião 1 0,6
Mãe Falecida, Pai Católico esposo Alguém com quem vivi não sabe religião 1 0,6
Mãe Católica, Pai Maçon, Esposo alguém com quem vive não sabe Religião 1 0,6
Mãe Católica, Pai Ateu e esposo Alguém com quem vive Católico 1 0,6
Mãe Espirita, Pai Católico esposo Alguém com quem vive Católico 1 0,6
Mãe Espírita, Pai n sabe Religião e esposo Alguém com quem vive Espírita 1 0,6
Total 176 100,0
214
Mais de 2 até 5
salários mínimos
32,0%
Mais de 5 até 10
salários mínimos
28,5%
Mais de 10 até 20
salários mínimos
20,9%
Até 2 salários
mínimos
3,5%
mais de 20 salários
mínimos
15,1%
Renda familiar
Com respeito à renda familiar mensal, apurou-se que exatamente 6 estudantes
deixaram de responder a essa pergunta e dentre as 172 que responderam, o gráfico 3.1.3.A
ilustra que: 6 (3,5%) têm renda familiar até 2 salários mínimos, 55 (32,0%) têm renda familiar
de mais 2 até 5 salários mínimos, 49 (28,5%) têm renda familiar de mais de 5 até 10 salários
mínimos, 36 (20,9%) têm renda familiar de mais de 10 até 20 salários mínimos e 26 (15,1%)
têm renda familiar de mais de 20 salários mínimos.
Gráfico 3.1.3.A Distribuição das respostas das estudantes em relação a renda familiar
mensal (em salários mínimos).
Cor ou Raça?
Com respeito à cor ou raça das estudantes, apurou-se que exatamente 4 estudantes
não responderam a essa pergunta e dentre as 174 que responderam, o gráfico 3.1.3.B ilustra
que : 7 (4,0%) são da raça amarela, 113 (64,9%) são da raça branca, 5 (2,9%) são da raça
indígena, 35(20,1%) são de cor parda 12 (6,9%) são da raça negra e 2 (1,1%) responderam
“outra”.
215
Indígena
2,9%
Parda
20,1%
Negra
6,9%
Amarela
4,0%
Outra
1,1%
Branca
64,9%
Gráfico 3.1.3.B Distribuição das respostas das estudantes em relação a cor ou raça.
3.2. Minhas Práticas e meus Ensinamentos religiosos.
3.2.1. Minhas práticas religiosas.
As respostas das estudantes são mostradas a seguir de duas formas diferentes:
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
A tabela 3.2.1.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito às práticas
religiosas, em que as possíveis respostas foram ordenadas e categorizadas da seguinte forma:
1 = Freqüentemente, 2 = Raramente e 3 = Nunca.
O número entre parêntese ao lado de cada freqüência designa o percentual de
estudantes associado a resposta correspondente. Por exemplo, para a afirmação 1, Ajuda
aos necessitados”, apurou-se que 4 estudantes não responderam e dentre as 174 que
responderam a essa pergunta:: 85 (48,9%) estudantes responderam Freqüentemente”, 88
(50,6%) responderam “Raramente”, e 1 (0,6%) estudante respondeu “Nunca”. Para cada
afirmação registrou-se a freqüência percentual máxima e a correspondente resposta mais
provável (a moda). Para o referido exemplo, o percentual máximo dessa afirmação é 50,6% e
a correspondente resposta mais provável é Raramente”. Destaca-se que em 1 (5,6%)
afirmação (13), a resposta Freqüentemente”, figurou com o percentual máximo, em 11
(61,1%) afirmações (1, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 16 e 18), a resposta “Raramente”, figurou
com o percentual máxima e finalmente em 6 (33,3%) afirmações (2, 3, 8, 14, 15 e 17) a
resposta “Nunca“, figurou com o percentual máximo.
216
Tabela 3.2.1.A Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
Respostas
Item Práticas religiosas
N
(1)
Freqüentemente Raramente Nunca
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
1 Ajuda aos necessitados 174 85 (48,9) 88 (50,6 1 (0,6) 50,6 Raramente
2
Atividades/grupos juvenis da
paróquia
173 21 (12,1) 60 (34,7) 92 (53,2) 53,2 Nunca
3 Acampamentos 171 6 (3,5) 38 (22,2) 127 (74,3) 74,3 Nunca
4 Ir a Batizados 175 41 (23,4) 121 (69,1) 13 (7,4) 69,1 Raramente
5 Ir a Casamentos 175 79 (45,1) 95 (54,3) 1 (0,6) 54,3 Raramente
6 Costumo Comungar 175 64 (36,6) 85 (48,6) 26 (14,9) 48,6 Raramente
7 Costumo Confessar-me 173 21 (12,1) 101 (58,4) 51 (29,5) 58,4 Raramente
8 Encontro de casais com Cristo 172 7 (4,1) 25 (14,5) 140 (81,4) 81,4 Nunca
9 Leitura religiosa/bíblica 175 51 (29,1) 98 (56,0) 26 (14,9) 56,0 Raramente
10 Missa 177 83 (46,9) 86 (48,6) 8 (4,5) 48,6 Raramente
11
Renovação carismática
(louvação)
170 18 (10,6) 88 (51,8) 64 (37,6) 51,8 Raramente
12 Novena 172 11 (6,4) 82 (47,7) 79 (45,9) 47,7 Raramente
13 Oração Pessoal 177 163 (92,1) 14 (7,9) (0,0) 92,1 Freqüentemente
14 Pastoral familiar 170 11 (6,5) 66 (38,8) 93 ( 54,7) 54,7 Nunca
15
Assisto Programas religiosos no
rádio/tv
178 27 (15,2) 74 (41,6) 77 (43,3) 43,3 Nunca
16 Procissão 175 12 (6,9) 85 (48,6) 78 (44,6) 48,6 Raramente
17 Retiros 177 14 (7,9) 61 (34,5) 102 (57,6) 57,6 Nunca
18 Terço 177 43 (24,3) 78 (44,1) 56 (31,6) 44,1 Raramente
(1) Número de respostas válidas.
(2) Resposta mais provável
B) Mensuração e valorização das respostas das estudantes
Na mensuração e valorização das respostas sobre Práticas religiosas, utilizou-se
como critério a Média e o Desvio padrão das respostas das estudantes (Tabela 3.2.1.B), as
quais foram ordenadas e categorizadas da seguinte forma: 1 = Freqüentemente, 2 =
Raramente e 3 = Nunca. Dessa forma valores da média próximos de 1, indica a resposta
Freqüentemente, próximos de 2, indica a resposta Raramente e próximos de 3 indica a
resposta Nunca.
Destaca-se da tabela 3.2.1.B a seguir, que as atividades religiosas mais praticadas
(de resposta Freqüentemente as médias mais próximos de 1) pelas estudantes são:
Oração pessoal (Média = 1,08 e D.P = 0,271) e
Ajuda aos necessitados (Média = 1,52 e D.P = 0,513).
Destaca-se também, que: dentre as atividades religiosas valorizadas na
categoria raramente:
(a) - As três mais praticadas (as médias mais baixas dessa categoria) pelas estudantes são:
Ir a casamentos (Média = 1,55 e D.P = 0,510);
217
Missa ( Média = 1,58 e D.P = 0,580);
Costumo comungar (Média = 1,78 e D.P = 0,685) e
(b) As três menos praticadas (as médias mais altas dessa categoria) pelas estudantes são:
Retiros (Média = 2,50 e D.P = 0,641)
Pastoral familiar (Média = 2,48 e D.P = 0,618) e
Atividades/grupos juvenis da paróquia (Média = 2,41 e D.P = 0,698).
Destaca-se também que as atividades menos praticadas pelas estudantes
entrevistadas (de resposta nunca - as médias mais próximas de 3) são:
Encontro de casais Com Cristo (Média = 2,77 e D.P = 0,508) e
Acampamentos (Média = 2,71 e D.P = 0,528).
Tabela 3.2.1.B Estatísticas descritivas das respostas das estudantes, em ordem
crescente da média aritmética.
Item Práticas Religiosas N
(1)
Média D.P
(2)
T.G.R
(3)
13 Oração pessoal 177 1,08 0,271
Freqüentement
e
1 Ajuda aos necessitados 174 1,52 0,513
Freqüentement
e
5 Ir a Casamentos 175 1,55 0,510 Raramente
10 Missa 177 1,58 0,580 Raramente
6 Costumo Comungar 175 1,78 0,685 Raramente
4 Ir a Batizados 175 1,84 0,533 Raramente
9 Leitura religiosa/bíblica 175 1,86 0,650 Raramente
18 Terço 177 2,07 0,746 Raramente
7 Costumo Confessar-me 173 2,17 0,623 Raramente
11 Renovação carismática (louvação) 170 2,27 0,642 Raramente
15
Assisto Programas religiosos no
rádio/tv
178 2,28 0,713 Raramente
16 Procissão 175 2,38 0,612 Raramente
12 Novena 172 2,40 0,608 Raramente
2 Atividades/grupos juvenis da paróquia 173 2,41 0,698 Raramente
14 Pastoral familiar 170 2,48 0,816 Raramente
17 Retiros 177 2,50 0,641 Raramente
3 Acampamentos 171 2,71 0,528 Nunca
8 Encontro de casais com Cristo 172 2,77 0,508 Nunca
(1) Número de respostas válidas.
(2) Desvio padrão.
(3) Tendência global das respostas.
218
3.2.2. Minha participação em atividades da Pastoral
As respostas das estudantes são mostradas a seguir de duas formas diferentes:
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
A tabela 3.2.2.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito a participação
em atividades da pastoral, em que as possíveis respostas foram ordenadas e categorizadas
como em 3.2.1.A : 1 = Freqüentemente, 2 = Raramente e 3 = Nunca.
De maneira análoga, o número entre parêntese ao lado de cada freqüência designa
o percentual de estudantes associado a resposta correspondente. Destaca-se que em 11
(100,0%) atividades (todas), a resposta “Raramente”, figurou com o percentual máximo.
Tabela 3.2.2.A Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
Respostas
Item Atividades
N
(1)
Freqüentemente Raramente Nunca
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
1 Campanha de Fraternidade 178 13 (7,3) 46 (25,8) 119 (66,9) 66,9 Nunca
2
Campanhas beneficentes (ronda,
doações)
178 19 (10,7 67 (37,6) 92 (51,7) 51,7 Nunca
3 Curso de Crisma 169 9 (5,3) 14 (8,3) 146 (86,4) 86,4 Nunca
4 Encontros de oração 178 7 (3,9) 36 (20,2) 135 (75,8) 75,8 Nunca
5 Encontros religiosos outros 177 9 (5,1) 43 (24,3) 125 (70,6) 70,6 Nunca
6 Grupos de reflexão 177 8 (4,5) 30 (16,9) 139 (78,5) 78,5 Nunca
7 Missa 177 30 (16,9) 73 (41,2) 74 (41,8) 41,8 Nunca
8 Pedido de orientação espiritual 177 11 (6,2) 32 (18,1) 134 (75,7) 75,7 Nunca
9 Semana/Bíblica 176 4 (2,3) 36 (20,5) 136 (77,3) 77,3 Nunca
10
Usar material didático
religioso/vídeos
177 9 (5,1) 42 (23,7) 126 (71,2) 71,2 Nunca
11 Voluntariado 173 11 (6,4) 28 (16,2) 134 (77,5) 77,5 Nunca
(1) Número de respostas válidas.
(2) Resposta mais provável
B) Mensuração e valorização das respostas das estudantes.
A mensuração e valorização das respostas das estudantes foi feita da mesma
forma como no parágrafo 3.2.1.B.
Observa-se da tabela 3.2.2.B a seguir, que as duas atividades, de maior destaque
são :
219
Missa (Média = 2,25 e D.P = 0,727).
Campanhas beneficentes rondas doações (Média = 2,41 e D. P = 0.677) e
e mesmo assim, são raramente praticadas pelas estudantes.
As demais atividades estão relacionadas na referida tabela, de modo que as
maiores médias (médias próximas 3) favorecem a resposta nunca. Assim, as duas atividades
de uma forma geral, nunca praticadas (as duas maiores médias) pelas estudantes desse grupo
são:
Curso de crisma (Média = 2,81 e D.P = 0,511) e
Semana bíblica (Média = 2,75 e D.P = 0,484).
Tabela 3.2.2.B Estatística Descritivas em ordem crescente da média.
Ite
m
Atividades N
(1)
Média D.P
(2)
T.G.R
(3)
7 Missa 177 2,25 0,727 Raramente
2
Campanhas beneficentes (ronda,
doações)
178 2,41 0,677 Raramente
1 Campanha da Fraternidade 178 2,60 0,624 Nunca
5 Encontros religiosos outros 177 2,66 0,574 Nunca
10 Usar material didático religioso/vídeos 177 2,66 0,572 Nunca
8 Pedido de orientação espiritual 177 2,69 0,582 Nunca
11 Voluntariado 173 2,71 0,578 Nunca
4 Encontros de oração 178 2,72 0,531 Nunca
6 Grupos de reflexão 177 2,74 0,533 Nunca
9 Semana bíblica 176 2,75 0,484 Nunca
3 Curso de Crisma 169 2,81 0,511 Nunca
(1) Número de respostas válidas.
(2) Desvio padrão.
(3) Tendência global das respostas.
3.2.3. Ajuda à espiritualidade Crenças.
Você acha que outras religiões ou crenças ajudam à sua espiritualidade?
O gráfico 3.2.3, ilustra que das 178 estudantes pesquisadas: 130 (73,0%)
acham que outras religiões e Crenças ajudam à sua espiritualidade, enquanto que 48 (27,0%)
acham que não.
220
Sim
73,0%
Não
27,0%
Gráfico 3.2.3 Distribuição das respostas das estudantes conforme acreditem se outras
religiões ou crenças ajudam na sua espiritualidade.
Religiões ou Crenças que já procuraram ou praticaram?
Com relação às religiões ou Crenças que as estudantes já procuraram ou
praticaram, as respostas válidas e não válidas (N.R= Não respondeu), das 178 estudantes,
estão registradas na tabela 3.2.3 e foram rotuladas da seguinte forma:
1. Budismo
2. Búzios, tarô, cartas
3. Candomblé
4. Espiritismo
5. Islamismo
6. Evangélicas
7. Horóscopo
8. Judaísmo
9. Mormon
10. Pentecostalismo
11. Religião indígena, animismo (reverência as coisas da terra)
12. Simpatias
13. Outros
As seqüências de números mostradas nessa tabela, são combinações desses
principais rótulos. Por exemplo, a resposta 1-4 significa que 5 (2,8%) estudante já procurara
ajuda no Budismo e Espiritismo. A resposta N.R, significa que 50 (28,1%) estudantes não
responderam a essa pergunta. Destaca-se que Espiritismo, com uma freqüência 43 (24,2%)
221
foi a mais solicitada pelas estudantes. Os demais destaques estão relacionados na referida
tabela com asteriscos ao lado das freqüências percentuais.
A tabela 3.2.3A representa a distribuição de freqüência da série dos 12 números
(1-2-3-4-5-6-7-8-9-11-12-13) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de
números da tabela 3.2.3. O total (230) na tabela 3.2.3A representa o total de repetições (soma
de todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.2.3.A Distribuição de freqüências da referida série de números que figuram
na tabela 3.2.3.
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 21 9,1
2 10 4,3
3 6 2,6
4 85 37,0
5 2 0,9
6 30 13,0
7 30 13,0
8 1 0,4
9 5 2,2
11 8 3,5
12 18 7,8
13 14 6,1
Total 230 100,0
3.2.4- Pecado
3.2.4.1. Você acredita que existe pecado ?
A tabela 3.2.4.1 a seguir, revela as respostas das estudantes sobre se acreditam
ou não na existência do pecado. Essas respostas foram rotuladas da seguinte forma:
1. Não, porque pecado e inferno são formas da Igreja controlar as pessoas.
2. Não, porque acredito que toda pessoa erra e que Deus vai perdoar a quem se
arrepende.
3. Não porque não tenho clareza sobre o que é pecado.
4. Não, outro.
5. Sim, porque existem atos que são contra as leis de Deus.
6. sim, porque pecado é fazer mal aos outros.
222
7. Sim, porque aprendi que existe pecado e devemos ser perdoados para não ir
para o inferno.
8. Sim, Outro.
Destaca-se que a maior freqüência foi 57, indicando que 32,0% das estudantes
responderam “Sim, porque existem atos que são contra as leis de Deus”. A Segunda maior
freqüência foi 47, indicando que 26,4% das estudantes responderam “Sim, porque pecado é
fazer mal aos outros. A terceira maior freqüência foi 13, indicando que 7,3% das estudantes
tiveram como resposta a união das respostas anteriores (5 e 6).
A tabela 3.2.4.1A representa a distribuição de freqüência da série dos 8 números
(1-2-3-4-5-6-7-8) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da
tabela 3.2.4.1. O total (223) na tabela 3.2.4.1A representa o total de repetições (soma de
todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.2.4.1A Distribuição de freqüências da referida série de números que figuram
na tabela 3.2.4.1
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 12 5,4
2 15 6,7
3 9 4,0
4 5 2,2
5 80 35,9
6 74 33,2
7 12 5,4
8 16 7,2
Total 223 100,0
3.2.4.2. O que é pecado?
As respostas das estudantes são mostradas a seguir de duas formas diferentes:
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
A tabela 3.2.4.2.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito as
afirmações sobre o que é pecado, em que as possíveis respostas foram ordenadas e
categorizadas da seguinte forma: 1 = Sempre é, 2 = Depende da situação e 3 = Nunca é.
223
O número entre parêntese ao lado de cada freqüência designa o percentual de
estudantes associado a resposta correspondente. Por exemplo, para a afirmação 6, “Drogar-
se”, apurou-se que 24 estudantes não responderam. Dentre as 154 que responderam a esta
pergunta:: 94 (61,0%) estudantes responderam Sempre é”, 32 (20,8%) responderam
“Depende da situação”, e 28 (18,2%) estudantes responderam “Nunca é”. Para cada
afirmação registrou-se a freqüência percentual máxima e a correspondente resposta mais
provável (a moda). Para o referido exemplo, o percentual máximo dessa afirmação é 61,0% e
a correspondente resposta mais provável é Sempre é”. Destaca-se que em 9 (33,3%)
afirmações (6, 9, 14, 15, 17, 22, 23, 24 e 27), a resposta Sempre é”, figurou com o
percentual máximo, em 4 (14,8%) afirmações (1, 3, 5 e 18), a resposta Depende da
situação”, figurou com o percentual máxima, em 14 (51,9%) afirmações (2, 4, 7, 8, 10, 11,
12, 13, 16, 19, 20, 21, 25, e 26) a resposta “Nunca é”, figurou com o percentual máximo.
Tabela 3.2.4.2.A Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
Respostas
Item O que é pecado ?
N
(1)
Sempre é
Depende da
situação
Nunca é
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
1 Aborto provocado 156 67 (42,9) 82 (52,6) 7 (4,5) 52,6
Depende da
situação
2
Casar de novo depois de
divorciado
152 11 (7,2) 43 (28,3) 98 (64,5) 64,5 Nunca é
3 Comungar sem confessar 154 44 (28,6) 59 (38,3) 51 (33.1) 38,3
Depende da
situação
4 Divórcio 154 6 (3,9) 52 (33,8) 96 (62,3) 62,3 Nunca é
5 Embriagar-se 152 47 (30,9) 59 (38,8) 46 (30,3) 38,8
Depende da
situação
6 Drogar-se 154 94 (61,0) 32 (20,8) 28 (18,2) 61,0 Sempre é
7 Homossexualismo 153 42 (27,5) 29 (19,0) 82 (53,6) 53,6 Nunca é
8 Gravidez sem casamento 154 16 (10,4) 51 (33,1) 87 (56,5) 56,5 Nunca é
9 Incesto 146 112 (76,7) 16 (11,0) 18 (12,3) 76,7 Sempre é
10 Ligação de trompas (Laqueadura) 153 5 (3,3) 32 (20,9) 116 (75,8) 75,8 Nunca é
11 Lesbianismo 152 45 (29,6) 26 (17,1) 81 (53,3) 53,3 Nunca é
12 Masturbação 152 23 (15,1) 22 (14,5) 107 (70,4) 70,4 Nunca é
13 Inseminação artificial 154 13 (8,4) 44 (28,6) 97 (63,0) 63,0 Nunca é
14 Falar com a caridade 155 89 (57,4) 51 (32,9) 15 (9,7) 57,4 Sempre é
15 Não batizar os filhos 154 60 (39,0) 48 (31,2) 46 (29,9) 39,0 Sempre é
16 Não casar na Igreja 154 23 (14,9) 64 (41,6) 67 (43,5) 43,5
Nunca é
17
Não dizer que tem AIDS ou
doença ao companheiro(a)
155 127 (81,9) 8 (5,2) 20 (12,9) 81,9 Sempre é
18 Não ir a Missa aos Domingos 154 19 (12,3) 69 (44,8) 66 (42,9) 44,8
Depende da
situação
19
Não participar das pastorais ou
práticas da paróquia
153 5 (3,3) 60 (39,2) 88 (57,5) 57,5 Nunca é
20
Receber comunhão enquanto
divorciada
154 23 (14,9) 26 (16,9) 105 (68,2) 68,2 Nunca é
21 Sexo antes do casamento 154 19 (12,3) 37 (24,0) 98 (63,6) 63,6 Nunca é
224
22 Sexo grupal 154 106 (68,8) 21 (13,6) 27 (17,5) 68,8 Sempre é
23 Sexo sem amor, “ficar” 153 65 (42,5) 49 (32,0) 39 (25,5) 42,5 Sempre é
24 Traição, infidelidade 154 109 (70,8) 30 (19,5) 15 (9,7) 70,8 Sempre é
25
Usar anticoncepcionais (pílula,
DIU, camisinha)
153 6 (3,9) 21 (13,7) 126 (82,4) 82,4 Nunca é
26 Vasectomia 154 7 (4,5) 32 (20,8) 115 (74,7) 74,7 Nunca é
27 Violência contra mulher 155 138 (89,0) 6 (3,9) 11 (7,1) 89,0 Sempre é
(1) Número de respostas válidas.
(2) Resposta mais provável.
B) Mensuração e Valorização das respostas das estudantes.
Na mensuração e valorização das respostas sobre o que as estudantes consideram
como pecado, utilizou-se como critério a Média e o Desvio padrão das respostas das
estudantes (Tabela 3.2.4.2.B), as quais foram ordenadas e categorizadas da seguinte forma: 1
= Sempre é, 2 = Depende da situação e 3 = Nunca é. Dessa forma valores da média
próximos de 1, indica a resposta Sempre é pecado, próximos de 2, indica a resposta Depende
da situação e próximos de 3 indica a resposta Nunca é.
Destaca-se, da tabela 3.2.4.2.B a seguir, que os quatro atos mais sérios, no sentido
que sempre é pecado, (em ordem de prioridade, das quatro menores médiasas mais
próximas de 1), considerados pelas estudantes, são:
Violência contra a mulher (Média = 1,18 e D.P = 0,540);
Não dizer ao companheiro que tem AIDS ou doença venérea (Média = 1,31 e
D.P = 0,689);
Incesto (Média = 1,36 e D.P = 0,692) e
Traição, Infidelidade (Média = 1,39 e D.P = 0,660).
Destaca-se também, que os quatro atos mais valorizados (as quatro maiores
médias), no sentido que as estudantes têm mais segurança em afirmar que nunca é pecado,
são:
Usar anticoncepcionais - Pílula, Diu, Camisinha (Média = 2,78 e D.P = 0,499);
Ligação de trompas - Laqueadura (Média = 2,73 e D.P = 0,516);
Vasectomia (Média = 2,70 e D.P = 0,550);
Divórcio (Média = 2,58 e D.P = 0,568);
225
Tabela 3.2.4.2.B Distribuição das respostas das estudantes em relação a o que é
pecado.
Item O que é pecado ? N
(1)
Média D.P
(2)
T.G.R
(3)
27 Violência contra mulher 155 1,18 5,40 Sempre é
17
Não dizer que tem AIDS ou doença venérea ao
companheiro(a)
155 1,31 0,689 Sempre é
9 Incesto 146 1,36 0,692 Sempre é
24 Traição, infidelidade 154 1,39 0,660 Sempre é
22 Sexo grupal 154 1,49 0,777 Sempre é
14 Faltar com a caridade 155 1,52 0,668 Sempre é
6 Drogar-se 154 1,57 0,783 Depende da situação
1 Aborto provocado 165 1,62 0,573 Depende da situação
23 Sexo sem amor, "ficar" 153 1,83 0,809 Depende da situação
15 Não batizar os filhos 154 1,91 0,827 Depende da situação
5 Embriagar-se, 152 1,99 0,785 Depende da situação
3 Comungar sem confessar 154 2,05 0,787 Depende da situação
11 Lesbianismo 152 2,24 0,882 Depende da situação
7 Homossexualismo 153 2,26 0,864 Depende da situação
16 Não casar na Igreja 154 2,29 0,711 Depende da situação
18 Não ir a Missa aos Domingos 154 2,31 0,680 Depende da situação
8 Gravidez sem casamento 154 2,46 0,678 Depende da situação
21 Sexo antes do casamento 154 2,51 0,707 Depende da situação
20 Receber comunhão enquanto divorciada 154 2,53 0,742 Depende da situação
19 Não participar das pastorais ou práticas da paróquia 153 2,54 0,562 Depende da situação
13 Inseminação artificial 154 2,55 0,648 Nunca é
12 Masturbação 152 2,55 0,744 Nunca é
2 Casar de novo depois de divorciado 152 2,57 0,626 Nunca é
4 Divórcio 154 2,58 0,568 Nunca é
26 Vasectomia 154 2,70 0,550 Nunca é
10 Ligação de trompas (laqueadura) 153 2,73 0,516 Nunca é
25 Usar anticoncepcionais (pilula, DIU,camisinha) 153 2,78 0,499 Nunca é
(1) Número de respostas válidas.
(2) Desvio padrão.
(3) Tendência global das respostas.
3.2.5 – Aprendizagem dos ensinamentos da Igreja.
Com relação a aprendizagem dos ensinamentos da Igreja (onde aprenderam),
as respostas das 178 estudantes, estão registradas na tabela 3.2.5 e foram rotuladas da seguinte
forma, onde os asteriscos ao lado das freqüências percentuais indicam as respostas de
destaque, que para essa tabela, esses percentuais são baixos (a maior freqüência foi 8 e
verificou-se para a seqüência 1-2-5-12-14) :
1. Aula de religião no colégio
226
2. Catecismo na 1ª comunhão
3. Disciplinas teologia / humanismo na universidade
4. Curso para o batismo
5. Curso para a crisma
6. Curso de noivas
7. Discussão com amigos
8. Eventos religiosos / carismáticos
9. Grupo da paróquia
10. Grupos da pastoral da Universidade
11. Leituras religiosas
12. Missa
13. Mídia (tv, revista, filmes, jornal)
14. Na família
15. Outro
A tabela 3.2.5A representa a distribuição de freqüências da série dos 16
números (1-2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-12-13-14-15-19) que figuram nas 178 seqüências
(respostas das estudantes) de números da tabela 3.2.5. O total (1158) na tabela 3.2.5A
representa o total de repetições (soma de todas as freqüências) dos referidos números da
seqüência.
Tabela 3.2.5A Distribuição das respostas das estudantes segundo onde aprenderam
sobre os ensinamentos da Igreja.
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 145 12,5
2 156 13,5
3 98 8,5
4 22 1,9
5 85 7,3
6 11 0,9
7 80 6,9
8 70 6,0
9 44 3,8
10 8 0,7
11 79 6,8
12 147 12,7
13 58 5,0
227
Não
45,7%
Sim
54,3%
14 148 12,8
15 6 0,5
19 01 0,1
Total 1158 100,0
3.2.6 - Documento da Igreja sobre a Mulher e Influência religiosa da família na sua
vida.
3.2.6.1 - Você conhece ou ouviu falar de algum documento da Igreja que fale sobre
mulher, família, sexualidade, procriação / anticoncepcionais?
Com respeito a esta pergunta, apurou-se que 5 estudantes não responderam. O
gráfico 3.2.6.1 ilustra que das 173 estudantes que responderam: 94 (54,3%) responderam
Sim” e 79 (45,7%) responderam “Não”.
Gráfico 3.2.6.1 Distribuição das respostas das estudantes com respeito a pergunta
3.2.6.1
3.2.6.2 - Qual é a influência religiosa da família na sua vida ?
As respostas das 178 estudantes, estão registradas na tabela 3.2.6.2 e foram
rotuladas da seguinte forma, onde os asteriscos ao lado das freqüências percentuais indicam
as respostas de destaque.
1. Ela é aberta a novas idéias e discussões sobre religião
2. A religião tem pouca influência em minha casa
228
3. Exige de mim cumprimento das normas e práticas da Igreja
4. É muito religiosa (oração, práticas)
5. É pouco religiosa (oração, práticas)
6. Orienta sobre a importância da religião na vida
7. Segue a orientação tradicional e práticas da Igreja
8. Tem um posicionamento crítico sobre a Igreja
9. Nenhuma
10. Outra
A tabela 3.2.6.2A representa a distribuição de freqüência da série dos 10
números (1-2-3-4-5-6-7-8-9-10) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de
números da tabela 3.2.6.2. O total (468) na tabela 3.2.6.2A representa o total de repetições
(soma de todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.2.6.2A Distribuição das respostas das estudantes com respeito a pergunta
3.2.6.2.
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 92 19,7
2 20 4,3
3 28 6,0
4 68 14,5
5 32 6,8
6 121 25,9
7 59 12,6
8 34 7,3
9 4 0,9
10 10 2,1
Total 468 100,0
3.3. Minha vida, Meu corpo, Minha sexualidade
3.3.1 - Quais os maiores problemas ou desafios que a mulher universitária católica, de um
modo geral enfrenta hoje em nível psicossocial e ético-religioso ?
As respostas das 178 estudantes, estão registradas na tabela 3.3.1 e foram rotuladas da
seguinte forma:
1. Alcoolismo
229
2. Apelo ao consumismo
3. Apelo à estética
4. Assegurar os seus direitos
5. Conciliar família, trabalho e educação
6. Conflitos familiares
7. Desejo de ser valorizada / amada pelos outros
8. Depressão, falta de ânimo para vida
9. Doenças: AIDS, doenças sexualmente transmissíveis
10. Dominação masculina na família, igreja, sociedade
11. Definição de sua identidade pessoal
12. Domínio do efêmero( nada de compromissos duradouros)
13. Drogas
14. Dúvidas sobre orientações éticas, bioéticas e religiosas
15. Discriminação contra mulher
16. Espiritualidade ( vida interior profunda)
17. Religiosidade ( práticas, crenças)
18. Enfrentar proibições sexuais
19. Educação profissional (estudos)
20. Fazer ligação de trompas
21. Gravidez indesejada
22. Hedonismo(domínio do prazer)
23. Homossexualismo, lesbianismo
24. Individualismo
25. Inversão de valores
26. Ingresso / permanência no mercado de trabalho
27. Machismo
28. Materialismo
29. Maternidade responsável
30. Participação política para garantir seus interesses / direitos
31. Potente influência da mídia
32. Relacionamento com namorado(a), companheiro(a) ou esposo(a)
33. Relação com Deus
34. Ter liberdade sexual
35. Uso de anticoncepcionais
230
36. Violência doméstica
37. Violência social
38. Outros.
Como pode-se observar, a referida tabela 3.3.1, não apresenta destaques (a maior
freqüência é 2).
A tabela 3.3.1A representa a distribuição de freqüência da série dos 38 números
(1-2-3-...-38) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da tabela
3.3.1. O total (2461) na tabela 3.3.1A representa o total de repetições (soma de todas as
freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.3.1A Distribuição de freqüências da referida série de números que figuram
na tabela 3.3.1
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 47 1,9
2 112 4,6
3 136 5,5
4 88 3,6
5 143 5,8
6 89 3,6
7 77 3,1
8 51 2,1
9 57 2,3
10 49 2,0
11 61 2,5
12 56 2,3
13 51 2,1
14 34 1,4
15 94 3,8
16 46 1,9
17 31 1,3
18 68 2,8
19 82 3,3
20 14 0,6
21 81 3,3
22 24 1,0
23 38 1,5
24 59 2,4
25 70 2,8
26 77 3,1
27 91 3,7
28 68 2,8
29 57 2,3
30 54 2,2
231
31 54 2,2
32 71 2,9
33 37 1,5
34 58 2,4
35 38 1,5
36 93 3,8
37 102 4,1
38 3 0,1
Total 2461 100,0
3.3.2 - Valores mais importantes em minha vida
As respostas das 178 estudantes, estão registradas na tabela 3.3.2 e foram
rotuladas da seguinte forma:
1. Amor
2 Amizade
3. Auto-realização
4. Autenticidade pessoal
5. Bondade
6. Consciência crítica
7. Dedicação ao trabalho ou estudo
8. Espiritualidade ( vivência interior da fé)
9. Honestidade
10. Justiça social
11. Liberdade individual
12. Oração
13. Prazer sexual
14. Religiosidade (vivenciar prática religiosas)
15. Respeito à doutrina da Igreja
16. Respeito às diferenças (religião, opção sexual, cor)
17. Relacionamento com a família
18. Relacionamento com namorado(a) / companheiro(a) / esposo(a)
19. Respeito aos outros
20. Saúde física e mental
21. Aparência física
22. Sexualidade livre
23. Solidariedade
232
24. Temor a Deus
25. Outros.
Como pode-se observar, a referida tabela, não apresenta destaques (a maior
freqüência é 2).
A tabela 3.3.2A representa a distribuição de freqüência da série dos 25 números
(1-2-3-...-25) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da tabela
3.3.2. O total (2607) na tabela 3.3.2A representa o total de repetições (soma de todas as
freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.3.2A Distribuição de freqüências da referida série de números que figuram
na tabela 3.3.2.
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 168 6,4
2 163 6,3
3 148 5,7
4 100 3,8
5 108 4,1
6 123 4,7
7 135 5,2
8 110 4,2
9 163 6,3
10 122 4,7
11 89 3,4
12 96 3,7
13 46 1,8
14 57 2,2
15 56 2,1
16 139 5,3
17 149 5,7
18 100 3,8
19 143 5,5
20 131 5,0
21 38 1,5
22 16 0,6
23 129 4,9
24 73 2,8
25 5 0,2
Total 2607 100,0
233
3.3.3 - Características que podem representar a mulher / o homem / ambos.
A tabela 3.3.3 relaciona as respostas das estudantes com respeito a quais das
características representa a mulher, quais o homem e quais ambos. O número entre parêntese
ao lado de cada freqüência, designa o percentual de estudantes associado a resposta
correspondente (Mulher, Homem, Ambos), por exemplo: Para a característica “ficar na
defensiva”, apurou-se que houve 173 respostas válidas, das quais 73(42,2%) estudantes
responderam que essa característica representa a mulher, 42 (24,3%) responderam que
representa o homem e 58 (33,5%) responderam que essa característica representa ambos. Para
cada característica registrou-se a freqüência percentual máxima e a correspondente resposta
mais provável (a moda: Homem, Mulher ou Ambos), para o referido exemplo, o percentual
máximo dessa característica é 42,2% e a correspondente resposta mais provável é mulher.
Destaca-se que em 11 (50,0%) características (1-3-5-7-9-11-15-17-20-21-22), a resposta
“mulher’ figurou com o percentual máximo, em 5 (22,7%) características (10-12-14-18-19), a
resposta “homem’ figurou com o percentual máximo e em 6 (27,3%) características (2-6-8-
13-16-19) a resposta ambos figurou com o percentual máximo.
Destaca-se também que para as características 8, 10, 12 e 22 foram registrados
percentuais altos para duas respostas conjuntamente, a saber:
8. Espiritualidade (vida interior da fé) os dois maiores percentuais foram para as
respostas: Ambos (53,1%) e Mulher (46,9%);
10. Individualismo - os dois maiores percentuais foram para as respostas: Homem
(54,0%) e Ambos (45,5,0%);
12. Mandar, Chefiar Os maiores percentuais foram para Homem (52,0%) e Ambos
(45,2%).
22. Subjetividade - os dois maiores percentuais foram para as respostas: Mulher
(43,9%) e Ambos (41,5,0%);
234
Tabela 3.3.3 Distribuição das respostas em relação a cada Característica,
percentual máximo e resposta mais provável.
Respostas
Item Características
N
(1)
Mulher % Homem % Ambos %
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
1 Acolhimento 172 134 (77,9)
2 (1,2) 36 (20,9) 77,9 Mulher
2 Ambição profissional 172 2 (1,2)
43 (25,0) 127 (73,8) 73,8 Ambos
3 Ficar na defensiva 173 73 (42,2)
42 (24,3) 58 (33,5) 42,2 Mulher
4 Agressividade 174 0 (0,0)
135(77,6) 39 (22,4) 77,6 Homem
5 Compaixão 174 130 (74,7)
2 (1,1) 42 (24,1) 74,7 Mulher
6 Conquista amorosa 175 43 (24,6)
26 (14,9) 106 (60,6) 60,6 Ambos
7 Cuidar dos filhos e da família 177 108 (61,0)
0 (0,0) 69 (39,0) 61,0 Mulher
8 Espiritualidade (vida interior da fé) 177 83 (46,9)
0 (0,0) 94 (53,1) 53,1 Ambos
9 Guardar no coração (interioridade) 177 104 (58,8)
5 (2,8) 68 (38,4) 58,8 Mulher
10 Individualismo 176 1 (0,6)
95 (54,0) 80 (45,5) 54,0 Homem
11 Intuição 177
157 (88,7)
2 (1,1) 18 (10,2) 88,7 Mulher
12 Mandar, chefiar 177 5 (2,8)
92 (52,0) 80 (45,2) 52,0 Homem
13 Materialismo 175 15 (8,6)
62 (35,4) 98 (56,0) 56,0 Ambos
14 Pensar com o corpo 178 32 (18,0)
94 (52,8) 52 (29,2) 52,8 Homem
15 Poder gerador e nutridor 173 91 (52,6)
32 (18,5) 50 (28,9) 52,6 Mulher
16 Querer poder 174 13 (7,5)
59 (33,9) 102 (58,6) 58,6 Ambos
17 Preocupar-se com os outros 175 114 (65,0)
1 (0,6) 60 (34,3) 65,1 Mulher
18 Razão, objetividade 176 23 (13,1)
83 (47,2) 70 (39,8) 47,2 Homem
19 Respeito à vida 176 51 (29,0)
0 (0,0) 125 (71,0) 71,0 Ambos
20 Responsável por afazeres domésticos 176 131 (74,4)
0 (0,0) 45 (25,6) 74,4 Mulher
21 Sensibilidade 177 158 (89,3)
0 (0,0) 19 (10,7) 89,3 Mulher
22 Subjetividade 171 75 (43,9)
25 (14,6) 71 (41,5) 43,9 Mulher
(1) Numero de resposta válidas.
(2) Resposta mais provável.
3.3.4 – O que é ser feminista ?
A tabela 3.3.4 relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números, cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1. Criticar a posição da Igreja sobre mulher e seu papel na família (normas, proibições)
2. Lutar pelos direitos da mulher, denunciar abusos / violências
3. Mulher com liberdade sexual
4. Mulher somente doméstica
5. Mulheres em luta contra os homens
6. Mulher livre e independente
7. Mulheres que se julgam superiores aos homens
8. Pensamento próprio sobre sua vida e seu corpo, sua sexualidade
9. Questionar as relações de poder e opressão sobre a mulher (relações de gênero)
10. Ser contra o machismo na família, sociedade e Igreja
235
11. Ter igualdade de direito no trabalho, na família
12. Viver de acordo com o que acha ético e moral em sua vida
13. Outros.
Os asteriscos ao lado das freqüências percentuais indicam as respostas de
destaque associadas àqueles percentuais. Por exemplo, a maior freqüência percentual é 7,9%.
Isto significa que 14 (7,9%) estudantes acham que o conceito de feminista é definido pela
união dos itens: 2-6-8-9-10-11 e 12. Este conceito, coincide com o conceito dado pelos dois
grupos individualmente (Universidade Católica e FAFIRE - os mesmos itens da maior
freqüência percentual)..
A tabela 3.3.4A representa a distribuição de freqüências da série dos 13
números (1-2-3-...-13) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números
da tabela 3.3.4. O total (1010) na tabela 3.3.4A representa o total de repetições (soma de
todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.3.4A Distribuição de freqüências da referida série de números que figuram
na tabela 3.3.4.
Respostas
Freqüência Freqüência %
1 36 3,6
2 152 15,0
3 57 5,6
4 3 0,3
5 42 4,2
6 111 11,0
7 38 3,8
8 97 9,6
9 123 12,2
10 114 11,3
11 133 13,2
12 101 10,0
13 3 0,3
Total 1010 100,0
Você se considera feminista?
Com relação a pergunta você se considera feminista? O gráfico 3.3.4, a seguir
ilustra que das 178 estudantes pesquisadas: 39 (21,9%) responderam “sim”, 111 (62,4%)
responderam ‘Sim em parte” e 28 (15,7%) responderam “Não”.
236
Sim em parte
62,4%
Sim
21,9%
Não
15,7%
Gráfico 3.3.4 Distribuição das respostas das estudantes conforme se considerem
feminista ou não.
3.3.5 – Relação sexual, Idade da primeira relação, Última relação, Vínculo com o
último parceiro, etc.
Nesse estudo, comparou-se o grupo de estudantes que vive em algum tipo de
união conjugal, com o grupo de estudantes solteiras, com relação a cada uma das seguintes
perguntas de 3.3.5.1 a 3.3.5.11:
3.3.5.1 - Você já teve / tem relações sexuais ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que somente 1 (0,6%) estudante não
respondeu e das 177 estudantes que responderam, 143 (80,8%) responderam Sim” e 34
(19,2%) responderam “Não”.
A tabela 3.3.5.1
compara, no grupo total das 177 respostas válidas das
estudantes, os dois grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida
pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,000, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta Sim”, o
237
percentual (100,0%) no grupo União conjugal é significativamente maior que o
correspondente (75,4%) no grupo “Solteiras”, enquanto que na resposta “Não”, o percentual
(0,0%) no grupo União conjugal”, é obviamente significativamente menor que o
correspondente (24,6%) no grupo “Solteiras”.
Tabela 3.3.5.1 Comparação entre os grupos união conjugal e solteiras em relação a
pergunta 3.3.5.1.
Você já teve / tem relações sexuais
Grupo Freqüências
Sim Não
Total P
(1)
Freqüência
39 0
3
9
União conjugal
Freq. Esperada
31,5 7,5
3
9,0
% Linha
100,0%
0,0
%
1
00,0%
Freqüência
104 34
1
38
Solteiras
Freq. Esperada
111,5
26,
5
1
38,0
% Linha
75,4%
24,
6%
1
00,0%
Freqüência
143 34
1
77
Total
Freq. Esperada
143,0
34,
0
1
77,0
% Linha
80,8%
19,
2%
1
00,0%
0
,000
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.2 - Idade em que teve a 1
a
relação sexual genital ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 37 estudantes não responderam e
dentre as 141 que responderam: 1 (0,7%) teve a 1
a
relação sexual genital com idade inferior
ou igual a 12 anos, 2 (1,4%) tiveram a primeira relação sexual genital, na faixa de 13 a 14
anos, 15 (10,6%) com idade na faixa de 15 a 16 anos, 43 (30,5%) na faixa de 17 a 18 anos e
80 (56,7%) tiveram a primeira relação sexual genital, com idades na faixa de 19 anos ou mais.
A tabela 3.3.5.2
compara, no grupo total das 45 respostas válidas das estudantes,
os dois grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,921, que não existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P > 0,05), em termos populacionais. As diferenças amostrais
observadas são, em termos populacionais, não significativas.
238
Tabela 3.3.5.2 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.2.
Idade em que teve a 1ª relação sexual (genital)
Grupo Freqüências
Até 12 13 – 14 15 - 16 17 - 18 19 ou mais
Total P
(1)
Freqüência
0
1
4 12
22
39
Freq. Esperada
0,3
0,6
4,1 11,9
22,1
39,0
União
conjugal
% Linha
0,0%
2,6%
10,3% 30,8%
56,4%
100,0%
Freqüência
1
1
11 31
58
102
Freq. Esperada
0,7
1,4
10,9 31,1
57,9
102,0
Solteiras
% Linha
1,0%
1,0%
10,8% 30,4%
56,9%
100,0%
Freqüência
1
2
15 43
80
141
Freq. Esperada
1,0
2,0
15,0 43,0
80,0
141,0
Total
% Linha
0,7%
1,4%
10,6% 30,5%
56,7%
100,0%
0,921
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.3 – A Última relação sexual foi com parceiro estável ou eventual ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 37 estudantes não responderam e
dentre as 141 que responderam: 137 (97,2%) foi com parceiro estável e 4 (2,8%) com
parceiro eventual.
A tabela 3.3.5.3
compara, no grupo total das 141 respostas válidas das estudantes,
os dois grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,306, que não existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P > 0,05), em termos populacionais. As diferenças amostrais
observadas são, em termos populacionais, não significativas.
239
Tabela 3.3.5.3 Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.3.
A última relação sexual foi com
parceiro Sexual estável ou
eventual
Grupo Freqüências
Estável Eventual
Total P
(1)
Freqüência 37 2 39
União
conjugal
Freq. Esperada
37,9 1,1 39,0
% Linha 94,9% 5,1% 100,0%
Freqüência 100 2 102
Solteiras
Freq. Esperada 99,1 2,9 102,0
% Linha 98,0% 2,0% 100,0%
Freqüência 137 4 141
Total
Freq. Esperada 137,0 4,0 141,0
% Linha 97,2% 2,8% 100,0%
0,306
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.4 – Vínculo com último(a) parceiro(a) ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 37 estudantes não responderam e
dentre as 141 que responderam: 96 (68,1%) estudantes, responderam que o parceiro era seu
namorado, 27 (19,1%) informaram que era seu marido / esposa, 3 (2,1%) informaram que
era amigo(a), 9 (6,4%) informaram que era o companheiro(a), 3 (2,1%) informaram que era
alguém com quem ficou e 3 (2,1%) responderam outro.. Destaca-se que o vínculo maior
desse grupo de estudantes é com o namorado(a).
A tabela 3.3.5.4
compara, no grupo total das 45 respostas válidas, das estudantes,
os dois grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,000, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta “Namorado(a)
o percentual (12,8%) no grupo União conjugal é significativamente menor que o
correspondente (89,2%) no grupo Solteiras, na resposta “Marido / esposo(a)”, o percentual
(69,2%) no grupo União conjugal é (obviamente) significativamente maior que o
correspondente (0,0%) no grupo Solteiras, na resposta “Companheiro(a)”, o percentual
(15,4%), no grupo União conjugal é significativamente maior que o correspondente (2,9%),
no grupo Solteiras. Nas respostas “Amigo(a)”, “Alguém com quem ficou” e “Outro”, não
240
aparenta haver diferenças significativas, pois as freqüências esperadas não estão muito
afastadas das freqüências observadas.
Tabela 3.3.5.4 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.4.
Vínculo com último(a) parceiro(a)
Grupo Freqüências
Namorado
(a)
Marido /
Esposa
Amigo(a)
Companhei
ro(a)
Alguém,
com que
“ficou”
Outro
Total P
(1)
Freqüência
5 27 0 6 1
0 39
Freq. Esperada
26,6 7,5 0,8 2,5 0,8
0,8 39,0
União
conjugal
% Linha
12,8% 69,2% 0,0% 15,4% 2,6%
0,0% 100,0%
Freqüência
91 0 3 3 2
3 102
Freq. Esperada
69,4 19,5 2,2 6,5 2,2
2,2 102,0
Solteiras
% Linha
89,2% 0,0% 2,9% 2,9% 2,0%
2,9% 100,0%
Freqüência
96 27 3 9 3
3 141
Freq. Esperada
96,0 27,0 3,0 9,0 3,0
3,0 141,0
Total
% Linha
68,1% 19,1% 2,1% 6,4% 2,1%
2,1% 100,0%
0,000
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.5 – Você usa anticoncepcional ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 37 estudantes não responderam e
dentre as 141 que responderam: 6 (4,3%) respondeu que usa anticoncepcional natural, 92
(65,2%) usam anticoncepcional artificial, 42 (29,8%) Não usam anticoncepcional e 1 (0,7%)
usa anticoncepcional natural e artificial.
A tabela 3.3.5.5
compara, no grupo total das 141 respostas válidas, os dois grupos
(União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,021, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta Sim, artificial”,
o percentual (47,4%) no grupo União conjugal” é significativamente menor que o
correspondente (71,8%) no grupo Solteiras”; na resposta Não”, o percentual (44,7%) no
grupo União conjugal” é significativamente maior que o correspondente (24,3%) no grupo
Solteiras”; nas respostas: Sim, natural” e “Sim, natural e artificial”, não aparenta haver
diferenças significativas, pois as freqüências esperadas não estão muito afastadas das
freqüências observadas.
241
Tabela 3.3.5.5 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.5.
Você usa anticoncepcional
Grupo Freqüências
Sim, natural Sim, artificial Não
Sim, natural e
artificial
Total
P
(1)
Freqüência
3 18 17 0 38
União conjugal
Freq. Esperada
1,6 24,8 11,3 0,3 38,0
% Linha
7,9% 47,4% 44,7% 0,0%
100,
0%
Freqüência 3 74 25 1 103
Solteiras
Freq. Esperada 4,4% 67,2 30,7 0,7 103,
0
% Linha 2,9% 71,8% 24,3% 1,0% 100,
0%
Freqüência 6 92 42 1 141
Total
Freq. Esperada 6,0 92,0 42,0 1,0 141,
0
0,02
1
% Linha 4,3% 65,2% 29,8% 0,7% 100
,0%
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.6 – Você fez ligação de trompas ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 34 estudantes não responderam e
dentre as 144 que responderam:16 (11,1%) responderam que Sim” e 128 (88,9%)
responderam “Não”.
A tabela 3.3.5.6
compara, no grupo total das 144 respostas válidas das estudantes,
os dois grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,000, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta Sim” o
percentual (38,5,0%) no grupo União conjugal é significativamente maior que o
correspondente (1,0%) no grupo Solteiras, enquanto que na resposta Não”, o percentual
(61,5%) no grupo União conjugal é significativamente menor que o correspondente (99,0%)
no grupo Solteiras.
Tabela 3.3.5.6 Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 2.3.5.6
Você fez ligação de trompas
Grupo Freqüências
Sim Não
Total P
(1)
Freqüência
15 24
3
9
0
,000
242
União
conjugal
Freq. Esperada
4,3 34,7
3
9,0
% Linha
38,5% 61,5%
1
00,0%
Freqüência
1 104
1
05
Solteiras
Freq. Esperada
11,7 9,3
1
05,0
% Linha
1,0% 99,0%
1
00,0%
Freqüência
16 128
1
44
Total
Freq. Esperada
16,0 128,0
1
44,0
% Linha
11,1% 88,9%
1
00,0%
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.7 – Ele fez vasectomia ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 37 estudantes não responderam e
dentre as 141 que responderam: 2 (1,4%) responderam “Sim”; 135 (95,7%) responderam
Não” e 4 (2,8%) respondeu “Não sei”.
A tabela 3.3.5.7
compara, no grupo total das 141 respostas válidas, os dois grupos
(União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,027, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta Não”, o
percentual (89,7%) no grupo União conjugal”, é significativamente menor que o
correspondente (98,0%) no grupo “Solteiras”. Nas respostas “Sim” e “Não sei”, não aparenta
haver diferenças significativas entre os correspondentes percentuais. As diferenças amostrais
observadas são, em termos populacionais, não significativas (as freqüências esperadas, não
estão muito afastadas das freqüências observadas).
243
Tabela 3.3.5.7 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.7.
Ele fez vasectomia
Grupo Freqüências
Sim Não Não sei
Total P
(1)
Fr
eqüência
2 35 2 39
União
conjugal
Fr
eq. Esperada
0,6 37,3 1,1 39,0
%
Linha
5,1% 89,7% 5,1% 100,0%
Fr
eqüência
0 100 2 102
Solteiras
Fr
eq. Esperada
1,4 97,7 2,9 102,0
%
Linha
0,0% 98,0% 2,0% 100,0%
Fr
eqüência
2 135 4 141
Total
Fr
eq. Esperada
2,0 135,0 4,0 141,0
%
Linha
1,4% 95,7% 2,8% 100,0%
0,027
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.8 – Você tem medo de AIDS e DST (doenças sexualmente transmissíveis) ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 36 estudantes não responderam e
dentre as 142 que responderam: 28 (19,7%) responderam “Não, só transo com proteção”, 27
(19,0%) responderam Não, confio no companheiro”, 2 (1,4%) responderam “Não, outro”;
11 (7,7%) responderam “Sim, porque nem sempre uso proteção”; 58 (40,8%) responderam
Sim, porque não se pode confiar cegamente em ninguém”; 10 (7,0%) responderam “Sim,
outro”; 3 (2,1%) responderam Não, porque só transo com proteção e confio no
companheiro” e finalmente 3 (2,1%) responderam “Sim, porque nem sempre uso proteção
e não se pode confiar cegamente”.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,057, que não existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P > 0,05), em termos populacionais. Convém observar, que a
referida probabilidade de significância é praticamente, um caso fronteira em relação ao nível
de significância (α = 0,05) adotado. A dimensão da tabela (2 X 8) é muito grande em relação
ao total de observações, dando origem a muitas células (50,0%) com freqüências esperadas
menores que 5. Mesmo com a utilização do teste exato de Fisher (indicado para tais
situações de freqüências esperadas), esta decisão estatística não é confiável, pois para um
tamanho de amostra maior (suficientemente grande), haveria um destaque mais evidente entre
244
o valor de P e o valor de αα , que poderia inclusive, reverter (ou não) a referida decisão
estatística.
Tabela 3.3.5.8 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.8.
Você tem medo de AIDS e DST (doenças sexualmente transmissíveis)
Grupo Freqüências
Não, só
transo
com
proteção
Não,
confio
no
companh
eiro(a)
Não,
outro
Sim
porque
nem
sempre
uso
proteção
Sim, não
se pode
confiar
cegamen
te em
alguém
Sim,
outro
Não,
porque
só transo
com
proteção
e confio
no
companh
eiro
Sim, por
que nem
sempre
uso
proteção
e não se
pode
confiar
cegament
e
Total P
(1)
Freqüência 3
12
0 5 16 1 1 0
38
Freq. Esperada 7,5
7,2
0,5 2,9 15,5 2,7 0,8 0,8
38,0
União
conjugal
% Linha 7,9%
31,6%
0,0% 13,2% 42,1% 2,6% 2,6% 0,0%
100,0%
Freqüência 25
15
2 6 42 9 2 3
104
Freq. Esperada 20,5
19,8
0,5 8,1 42,5 7,3 2,2 2,2
104,0
Solteiras
% Linha 24,0%
14,4%
1,9% 5,8% 40,4% 8,7% 1,9% 2,9%
100,0%
Freqüência 28
27
2 11 58 10 3 3
142
Freq. Esperada 28,0
27,0
2,0 11,0 58,0 10,0 3,0 3,0
142,0
Total
% Linha 19,7%
19,0%
1,4% 7,7% 40,8% 7,0% 2,1% 2,1%
100,0%
0,057
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.9 –Você já abortou?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 37 estudantes não responderam e
dentre as 141 que responderam: 129 (91,5%) responderam Não”; 8 (5,7%) responderam
Sim, espontâneo”; 1 (0,7%) respondeu “Sim, provocado, eu não tinha condições de
criar”; 2 (1,4%) responderam “Sim, provocado, tinha vergonha de ter errado e a família
saber” e finalmente, 1 (0,7%) respondeu “Sim, provocado, eu não tinha condições de criar,
o pai não queria e exigiu”.
A tabela 3.3.5.9
compara, no grupo total das 141 respostas válidas, os dois grupos
(União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,000, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta o”, o
percentual (73,0%) no grupo União conjugal”, é significativamente menor que o
correspondente (98,1%) no grupo Solteiras”; na resposta “Sim, espontâneo”, o percentual
(18,9%), no grupo União conjugal” é significativamente maior que o correspondente (1,0%)
no grupo Solteiras”; nas demais respostas não aparenta haver diferenças significativas entre
os correspondentes percentuais, as diferenças amostrais observadas são, em termos
245
populacionais, não significativas (as freqüências esperadas não estão muito afastadas das
freqüências observadas).
Tabela 3.3.5.9 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 2.3.5.9.
Você já abortou
Gênero Freqüências
Não
Sim,
espontâneo
Sim,
provocado
eu não tinha
condições
de criar
Sim,
provocado,
tinha
vergonha de
Ter errado e a
família saber
Sim,
provocado
eu na tinha
condições
de criar, o
pai não
queria e
Total P
(1)
Freqüência 27
7 0 2 1 37
Freq.
Esperada
33,9
2,1 0,3 0,5 0,3 37,0
União
conjugal
% Linha 73,0%
18,9% 0,0% 5,4% 2,7% 100,0%
Freqüência 102
1 1 0 0 104
Freq.
Esperada
95,1
5,9 0,7 1,5 0,7 104,0
Solteiras
% Linha 98,1%
1,0% 1,0% 0,0% 0,0% 100,0%
Freqüência 129
8 1 2 1 141
Freq.
Esperada
129,0
8,0 1,0 2,0 1,0 141,0
Total
% Linha 91,5%
5,7% 0,7% 1,4% 0,7% 100,0%
0,000
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.10 – Idade em que teve o primeiro filho ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 35 estudantes não responderam e
dentre as 143 que responderam: 2 (1,4) responderam que tiveram o 1
0
filho entre 16 e 18 anos,
9 (6,3%) tiveram o 1
0
filho com idade entre 19 e 21 anos, 24 (16,8%) com mais de 21 anos e
108 (75,5%) responderam que ainda não tiveram filhos.
A tabela 3.3.5.10
compara, no grupo total das 143 respostas válidas, os dois
grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0,000 que existe diferença significativa entre as respostas
dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta 19 a 21 anos” o
percentual (23,1%) no grupo “União conjugal”, é significativamente maior que o
correspondente (0,0%) no grupo Solteiras”; na resposta mais de 21 anos”, o percentual
(56,4%) no grupo “União conjugal”, é significativamente maior que o correspondente (1,9%)
no grupo “Solteiras”; na resposta “ainda não tive”, o percentual (17,9%) no grupo “União
conjugal é significativamente menor que o correspondente (97,1%), no grupo “Solteiras”; na
resposta “16 a 18 anos”, não aparenta haver diferença significativa entre os correspondentes
percentuais, as diferenças amostrais observadas são não significativas em termos
246
populacionais (as freqüências esperadas não estão muito afastadas das freqüências
observadas).
Tabela 3.3.5.10 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 3.3.5.10.
Idade em que teve o primeiro filho
Grupo Freqüências
16 a 18 anos 19 a 21 anos + 21 anos
Ainda não
tive
Total P
(1)
Freqüência 1 9 22 7 39
União conjugal Freq. Esperada 0,5 2,5 6,5 29,5 39,0
% Linha 2,6% 23,1% 56,4% 17,9% 100,0%
Freqüência 1 0 2 101 104
Solteiras Freq. Esperada 1,5 6,5 17,5 78,5 104,0
% Linha 1,0% 0,0% 1,9% 97,1% 100,0%
Freqüência 2 9 24 108 143
Total Freq. Esperada 2,0 9,0 24,0 108,0 143,0
0,00
0
% Linha 1,4% 6,3% 16,8% 75,5% 100,0%
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.5.11 – Planejamento do primeiro filho ?
Com respeito a essa pergunta, apurou-se que 35 estudantes não responderam e
dentre as 143 que responderam: 22 (15,4%) responderam “planejei”, 14 (9,8%) responderam
a gravidez foi sem querer” e 107 (74,8%) responderam “não tive”.
A tabela 3.3.5.11
compara, no grupo total das 143 respostas válidas, os dois
grupos (União conjugal “versus” Solteiras), com respeito a referida pergunta.
O teste exato de Fisher, de homogeneidade de grupos, revela com uma
probabilidade de significância P = 0.000, que existe diferença significativa entre as
respostas dos dois grupos (P < 0,05), em termos populacionais. Na resposta “planejei”, o
percentual (53,8%) no grupo “União conjugal” é significativamente maior que o
correspondente (1,0%) no grupo Solteiras”; na resposta a gravidez foi sem querer”, o
percentual (28,2%) no grupo União conjugal” é significativamente maior que o
correspondente (2,9%) no grupo “Solteiras”, finalmente, na resposta “não tive”, o percentual
(17,9%) no grupo União conjugal” é significativamente menor que o correspondente
(96,2%), no grupo Solteiras”.
247
Tabela 3.3.5.11 - Comparação entre os grupos, união conjugal e solteiras com respeito a
pergunta 2.3.5.11.
Planejamento do 1º filho
Grupo Freqüências
Planejei
A gravidez foi
sem querer
Não tive
Total P
(1)
Freqüência 21 11 7 39
União
conjugal
Freq. Esperada
6,0 3,8 29,2 39,0
% Linha 53,8% 28,2% 17,9% 100,0%
Freqüência 1 3 100 104
Solteiras Freq. Esperada 16,0 10,2 77,8 104,0
% Linha 1,0% 2,9% 96,2% 100,0%
Freqüência 22 14 107 143
Total Freq. Esperada 22,0 14,0 107,0 143,0
% Linha 15,4% 9,8% 74,8% 100,0%
0,000
(1) Probabilidade de significância do teste exato de Fisher.
3.3.6 - Você já sofreu violência por parte do esposo(a), companheiro(a), namorado(a),
familiar, outras pessoas?
A tabela 3.3.6 relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1 = Não;
2 = Sim, violência física;
3 = Sim, violência psicológica;
4 = Sim, violência sexual;
5 = Assédio moral (sofrer opressões);
6 = Controle total dos seus atos;
7 = Ameaças espirituais (é pecado, vai para o inferno);
8 = Assédio sexual;
9 = Discriminação;
10 = Outro
O maior destaque é que 141 (79,2%) estudantes nunca sofreram quaisquer tipo de
violência; o segundo maior destaque é que 7 (3,9%) estudantes sofreram violência psicológica
e o terceiro maior destaque é que 4 (2,2%) estudantes sofreram violência sexual.
248
Tabela 3.3.6 Distribuição das respostas das estudantes com respeito a pergunta 3.3.6.
Respostas Freqüência Freqüência %
1 141 79,2*
2-3-5 1 0,6
2-3-6 1 0,6
2-3-7 1 0,6
2-3 3 1,7
2 2 1,1
3-10 1 0,6
3-5-6-9 1 0,6
3-5-9 3 1,7
3-7 1 0,6
3-9 2 1,1
3 7 3,9*
4-5-9 1 0,6
4 4 2,2*
5-7-8 1 0,6
5-8 1 0,6
5 2 1,1
6-9 1 0,6
7 1 0,6
8-10 1 0,6
8 2 1,1
Total 178 100,0
(*) Indica as respostas de destaque.
Informações adicionais sobre a tabela 3.3.6:
A tabela 3.3.6A representa a distribuição de freqüência da série dos 10 números
(1-2-3-...-9 -10 ) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da
tabela 3.3.6. O total (207) na tabela 3.3.6A representa o total de repetições (soma de todas as
freqüências) dos referidos números da seqüência.
249
Tabela 3.3.6A Distribuição de freqüência da referida série de números que figuram na
tabela 3.3.6A
Respostas Freqüência Freqüência %
1 141 68,1
2 8 3,9
3 21 10,1
4 5 2,4
5 10 4,8
6 3 1,4
7 4 1,9
8 5 2,4
9 8 3,9
10 2 1,0
Total 207 100,0
3.3.7 – Sobre seu corpo e sua sexualidade, quem deve decidir ?
A tabela 3.3.7 relaciona as respostas das estudantes com respeito a pergunta 3.3.7
em que as possíveis respostas são: Eu, Casal, Família, Igreja ou a Sociedade. O número entre
parêntese ao lado de cada freqüência designa o percentual de estudantes associado a resposta
correspondente. Por exemplo para o ato “aborto”, item 5, apurou-se que ouve 169 respostas
válidas, das quais: 88 (93,0%) estudantes responderam Eu”, 7 (4,1%) responderam o
“Casal”, 2 (1,2%) respondeu a “Família” e 3 (1,8%) responderam a “Igreja” . Para cada ato
ou prática, registrou-se a freqüência percentual máxima e a correspondente resposta mais
provável (a moda: Eu, Casal, Família, Igreja ou Sociedade). Para o referido exemplo, o
percentual máximo desse ato é 52,1% e a correspondente resposta mais provável é Eu”.
Destaca-se que em 8 (72,7%) atos ou práticas (1,2,3,4,5,7,8,9), a resposta “Eu”, figurou com
o percentual máximo e em 3 (27,3%) atos ou práticas (6,10,11), a resposta “Casal”, figurou
com o percentual máxima.
Destaca-se também que para os atos / práticas 1, 3, 5, 6 e 9 foram registrados
percentuais relativamente altos para duas respostas conjuntamente, a saber:
1. Práticas sexuais (oral, anal, grupal, etc) Os dois maiores percentuais foram para as
respostas: Eu (64,0%) e Casal (33,7%);
3. Método anticoncepcional - Os dois maiores percentuais foram para as respostas: Eu
(67,4%) e Casal (29,7%);
5. Aborto Os dois maiores percentuais foram para: as respostas: Eu (52,1%) e Casal
(34,3%);
250
6. Inseminação artificial Os dois maiores percentuais foram para as respostas: Casal
(58,9%) e Eu (36,3%).
9. Prazeres sexuais vários / diferentes Os dois maiores percentuais foram para: Eu (60,2%) e
Casal (31,3%).
Tabela 3.3.7 Distribuição das respostas das estudantes sobre seu corpo e sua
sexualidade (quem deve decidir?) e a resposta mais provável.
Quem decide
Item Atos / Práticas
N
(1)
Eu Casal Família Igreja Sociedade
Percentual
Máximo
R.M.P
(
2)
(moda)
1
Práticas sexuais (oral, anal,
grupal, etc)
175
112
(64,0)
59 (33,7) 0,0
3 (1,7)
1 (0,6) 64,0 Eu
2 Sexo antes do casamento 172
133
(77,3)
34 (19,8) 1 (0,6)
3 (1,7)
1 (0,6) 77,3 Eu
3 Método anticoncepcional 172
116
(67,4)
51 (29,7) 1 (0,6)
3 (1,7)
1 (0,6) 67,4 Eu
4 Virgindade 171
159
(93,0)
7 (4,1) 2 (1,2)
3 (1,8)
0,0 93,0 Eu
5 Aborto 169 88 (52,1) 58 (34,3) 8 (4,7)
12 (7,1)
3 (1,8) 52,1 Eu
6 Inseminação artificial 168 61 (36,3) 99 (58,9) 3 (1,8)
2 (1,2)
3 (1,8) 58,9 Casal
7 Masturbação 171
145
(84,8)
17 (9,9) 3 (1,8)
5 (2,9)
1 (0,6) 84,8 Eu
8
Homossexualismo,
lesbianismo
167
137
(82,0)
8 (4,8) 7 (4,2)
12 (7,2)
3 (1,8) 82,0 Eu
9
Prazeres sexuais vários /
diferentes
166
100
(60,2)
52 (31,3) 4 (2,4)
8 (4,8)
2 (1,2) 60,2 Eu
10
Planejamento familiar
(números de filhos)
174 19 (10,9)
152
(87,4)
3 (1,7)
0,0
0,0 87,4 Casal
11 Gravidez 172 24 (14,0)
147
(85,5)
1 (0,6)
0,0
0,0 85,5 Casal
(1) Número de estudantes que responderam a correspondente pergunta (respostas válidas).
(2) Resposta mais provável.
3.3.8 – Discordância da Igreja / Sentimento de culpa em discordar ou questionar a
orientação da Igreja
3.3.8.1 – Você acha que pode discordar da Igreja e ainda se considerar católica ?
A tabela 3.3.8.1, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de
seqüências de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1 = Sim, porque a Igreja precisa atualizar as suas posições;
2 = Sim, porque temos direito de analisar e criticar;
3 = Sim, porque para ser católica não precisa acreditar cegamente em tudo que a
igreja diz.
4 = Sim, outro.
5 = Não, porque ser católica é obedecer a igreja.
251
6 = Não, porque acredito que a Igreja sabe o que é certo.
7 = Não porque se eu discordar, eu devo procurar outra religião.
8 = Não, outro.
As três respostas de maior destaque foram:
Sim, porque temos direito de analisar e criticar 58 (32,6%) estudantes;
Sim, Porque para ser católico, não precisa acreditar cegamente em tudo que a igreja diz
42 (23,6%) estudantes;
Sim, porque a Igreja precisa atualizar as suas posições 24 (13,5%).
Os demais destaques encontram-se, na referida tabela 3.3.8.1, com asteriscos ao
lado da freqüências percentuais.
A tabela 3.3.8.1A a seguir, representa a distribuição de freqüência da série dos
8 números (1-2-3-4-5-6-7-8) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de
números da tabela 3.3.8.1. O total (236) na tabela 3.3.8.1A representa o total de repetições
(soma de todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.3.8.1A Distribuição de freqüência da referida série de números que figuram
na tabela 3.3.8.1
Respostas Freqüência Freqüência %
1 47 19,9
2 92 39,0
3 75 31,8
4 9 3,8
5 1 0,4
6 4 1,7
7 5 2,1
8 3 1,3
Total 236 100,0
3.3.8.2 Você se sente ou já se sentiu culpada em discordar ou questionar a orientação
da Igreja sobre a mulher, seu corpo e sua sexualidade ?
A tabela 3.3.8.2 a seguir, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de
seqüências de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1 = Não, porque sigo a minha consciência, sei o que é certo para mim.
252
2 = Não, porque acho que a Igreja não acompanha a realidade.
3 = Não, outro.
4 = Sim, porque tem coisas que faço, que a religião proíbe.
5 = Sim, porque foi ensinado que temos que obedecer a Igreja em tudo.
6 = Sim, outro
Os três maiores destaques são: (a) 78 (43,8%) estudantes responderam: Não,
porque sigo a minha consciência, sei o que é certo para mim; (b) 37 (20,8%) estudantes
responderam: Não, porque acho que a Igreja não acompanha a realidade; (c) 22 (12,4%)
estudantes responderam: Sim, porque tem coisas que faço, que a religião proíbe. Os demais
destaques encontram-se na referida tabela, com asteriscos ao lado das freqüências
percentuais.
A tabela 3.3.8.2A representa a distribuição de freqüências da série dos 6
números (1-2-3-4-5 -6) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números
da tabela 3.3.8.2. O total (194) na tabela 3.3.8.2A representa o total de repetições (soma de
todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.3.8.2A Distribuição de freqüência da referida série de números que figuram
na tabela 3.3.8.2
Respostas Freqüência Freqüência %
1 90 46,4
2 48 24,7
3 14 7,2
4 26 13,4
5 14 7,2
6 2 1,0
Total 194 100,0
3.4. Meus pensamentos sobre Religião e Espiritualidade
3.4.1. Ensinamentos da Igreja, Práticas do casal, A mulher, sua vida, seu corpo e sua
sexualidade
253
Pretende-se a seguir, avaliar o grau de concordância ou discordância de
afirmações sobre: Ensinamentos da Igreja; Práticas do casal; A mulher, sua vida, seu corpo; e
sua sexualidade.
3.4.1.1 – Ensinamentos da Igreja
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes.
A tabela 3.4.1.1.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito as
afirmações sobre os ensinamentos da Igreja, em que as possíveis respostas são: Discordo
totalmente, Discordo em parte, Nem concordo e nem discordo, Concordo em parte ou
Concordo plenamente. O número entre parênteses ao lado de cada freqüência designa o
percentual de estudantes associado a resposta correspondente. Por exemplo, para a afirmação
3, A mulher deve ser mais valorizada dentro da igreja”, apurou-se que somente 1
estudante não respondeu e dentre as 177 que responderam a esta pergunta: 11 (6,2%)
estudantes responderam Discordo totalmente”, 10 (5,6%) responderam “Discordo em
parte”, 18 (10,2%) responderam “Nem concordo e nem discordo”, 30 (16,9%) responderam
“Concordo em parte” e 108 (61,0%) estudantes responderam “Concordo plenamente”.
Para cada afirmação registrou-se a freqüência percentual máxima e a correspondente resposta
mais provável (a moda). Para o referido exemplo, o percentual máximo dessa afirmação é
61,0% e a correspondente resposta mais provável é “Concordo plenamente”. Destaca-se que
em 5 (55,6%) afirmações (2,5,7,8 e 9), a resposta Discordo totalmente”, figurou com o
percentual máximo, em 2 (22,2%) afirmações (1 e 4), a resposta Concordo em parte”,
figurou com o percentual máximo e também, em 2 (22,2%) afirmações (3 e 6) a resposta
Concordo plenamente”, figurou com o percentual máximo.
B) Mensuração e valorização das respostas das estudantes:
Na mensuração e valorização das respostas sobre esta questão, utilizou-se como
critério a Média e o Desvio padrão das respostas das estudantes (Tabela 3.4.1.1B), as quais
foram ordenadas e categorizadas da seguinte forma: 1 = Discordo totalmente, 2 = Discordo
em parte, 3 = Nem concordo e nem discordo, 4 = Concordo em parte e 5 = Concordo
plenamente. Dessa forma valores da média próximos de 1, indica a resposta Discordo
254
totalmente, próximos de 2, indica a resposta Discordo em parte, próximos de 3 indica a
resposta nem concordo e nem discordo, próximos de 4 indica a resposta Concordo em
parte e próximos de 5 indica a resposta Concordo plenamente.
Destaca-se da tabela 3.4.1.1.B a seguir, que a afirmação mais valorizada, no
sentido de maior concordância por parte das estudantes (de resposta Concordo plenamente
a média mais próxima de 5) é
Os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade, reprodução e corporeidade da mulher
precisam ser atualizados para os dias de hoje (Média = 4,57 e D.P = 0,927)
Destaca-se também, que: a Segunda afirmação mais valorizada (na resposta
Concordo em parte) é:
A mulher deve ser mais valorizada dentro da Igreja ( Média = 4,21 e D.P = 1,209).
Destaca-se também que as duas afirmações de maior grau de discordância por
parte das estudantes (mesmo assim, de resposta Discordo em parte - as duas menores
médias, próximas de 2) são:
Padre sabe o que é melhor para o casal e para a mulher (Média = 1,82 e D.P = 1,132).
Se for católica tem que obedecer todos os mandamentos e ensinamentos da igreja (Média =
2,11 e D.P = 1,290).
Observa-se que ninguém discorda totalmente.
Tabela 3.4.1.1. B Estatísticas Descritivas, em ordem decrescente da média aritmética.
Item Afirmações N
(1)
Média D.P
(2)
T.G.R
(3)
6
Os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade,
reprodução e corporeidade da mulher precisam ser
atualizadas para os dias de hoje.
177 4,57 0,927 Concordo plenamente
3 A Mulher deve ser mais valorizada dentro da Igreja. 177 4,21 1,209 Concordo em parte
1
A Igreja não leva em conta os desafios enfrentados
pela mulher hoje.
176 3,23 1,397
Nem concordo e nem
discordo
4
A Mulher precisa da orientação da Igreja para avaliar
questões sobre família e sexualidade.
177 3,09 1,493
Nem concordo e nem
discordo
5
Mulheres devem ser ordenadas sacerdotisas (padres)
para poder orientar mulheres.
177 2,58 1,554
Nem concordo e nem
discordo
2 A Igreja tem o dever de dizer o que é certo e errado. 178 2,54 1,454 Discordo em parte
9
Viver junto, sem casar na Igreja, é contra a lei de
Deus.
177 2,14 1,429 Discordo em parte
8
Se for católica, tem que obedecer todos os
mandamentos e ensinamentos da Igreja.
175 2,11 1,290 Discordo em parte
7
Padre sabe o q
ue é melhor para o casal e para a
mulher.
177 1,82 1,132 Discordo em parte
(1) Número de respostas válidas
(2) Desvio padrão.
(3) Tendência global das respostas
255
3.4.1.2 – Práticas do casal, da família:
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes
A tabela 3.4.1.2.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito as
afirmações sobre Práticas do casal, em que as possíveis respostas são como em 3.4.1.1.A..
Destaca-se que em 9 (75,0%) afirmações (2, 3, 4, 7, 8, 9, 10, 11 e 12), a resposta “Concordo
plenamente”, figurou com o percentual máximo; em 2 (16,7%) afirmações (5 e 6), a resposta
Discordo totalmente”, figurou com o percentual máximo e finalmente, em 1 (8,3%)
afirmação (1) a resposta “Concordo em parte”, figurou com o percentual máximo.
família
Respostas
Item Afirmações
N
(1)
Discordo
totalmente
Discordo em
parte
Nem
concordo
, nem
discordo
Concordo
em parte
Concordo
plenamente
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
1
A educação sexual é um direito
dos pais e deve ser controlada
por eles
178 46 (25,8) 29 (16,3)
10 (5,6) 53 (29,8)
40 (22,5)
29,8
Concord
o em
parte
2
A família é a célula fundamental
da sociedade
176 2 (1,1) 2 (1,1)
3 (1,7) 14 (8,0)
155 (88,1)
88,1
Concord
o
plename
nte
3
As funções da família são a
união, a procriação, ajuda mútua
e prazer
177 12 (6,8) 10 (5,6)
10 (5,6) 64 (36,2)
81 (45,8)
45,8
Concord
o
plename
nte
4
As pessoas divorciadas devem
poder comungar na Missa
177 7 (4,0) 2 (1,1)
15 (8,5) 13 (7,3)
140 (79,1)
79,1
Concord
o
plename
nte
5 Casamento é para sempre 176 60 (34,1) 28 (15,9)
19 (10,8) 42 (23,9)
27 (15,3)
34,1
Discord
o
totalmen
te
6
Homossexuais não devem se
casar
170 61 35,9) 19 (11,2)
30 (17,6) 11 (6,5)
49 (28,8)
35,9
Discord
o
totalmen
te
7
Homossexuais devem ser
permitidos a adotar uma criança
176 40 (22,7) 15 (8,5)
27 (15,3) 38 (21,6)
56 (31,8)
31,8
Concord
o
plename
nte
8
O casal deve determinar sua
vida sexual e contraceptiva
177 5 (2,8) 1 (0,6)
6 (3,4) 9 (5,1)
156 (88,1)
88,1
Concord
o
plename
nte
9
O casal que não tiver filhos
naturalmente deve poder fazer
inseminação artificial
178 12 (6,7) 7 (3,9)
9 (5,1) 15 (8,4)
135 (75,8)
75,8
Concord
o
plename
nte
256
10
O(a) namorado(a) pode dormir
na casa dos pais com a(o)
namorado(o)
178 28 (15,7) 13 (7,3)
28 (15,7) 51 (28,7)
58 (32,6)
32,6
Concord
o
plename
nte
11
Se o casal não viver bem, deve
poder se divorciar e casar de
novo
177 7 (4,0) 3 (1,7)
5 (2,8) 22 (12,4)
140 (79,1)
79,1
Concord
o
plename
nte
12
Uniões homossexuais são
contrárias à lei natural
177 43 (24,3) 14 (7,9)
32 (18,1) 19 (10,7)
69 (39,0)
39,0
Concord
o
plename
nte
(1) Número de estudantes que responderam a correspondente afirmação (respostas válidas).
(2) Resposta mais provável.
B) Mensuração e valorização das respostas das estudantes
A mensuração e valorização das respostas para essa questão foi feita de maneira
análoga à questão 3.4.1.1.B
Destaca-se da tabela 3.4.1.2.B a seguir que as três afirmações mais valorizada, no
sentido de maior concordância por parte das estudantes (de resposta Concordo plenamente
as médias mais próximas de 5) são:
A família é a célula fundamental da sociedade (Média = 4,81 e D.P = 0,630);
O casal deve determinar sua vida sexual (Média = 4,75 e D.P = 0,794);
Se o casal não viver bem, deve poder se divorciar e casar de novo (Média = 4,61
e D.P = 0,936) e
As pessoas divorciadas devem poder comungar na Missa (Média = 4,56 e D.P =
0,0,981).
As duas afirmações menos valorizadas, no sentido de maior discordância por parte
das estudantes ( mesmo assim, de respostas Nem concordo e nem discordo as duas
menores médias, próximas de 3) são:
Casamento é para sempre (Média = 2,70 e D.P = 1,517).
Homossexuais não devem se casar (Média = 2,81 e D.P = 1,657) e
Tabela 3.4.1.2.B - Estatísticas Descritivas, em ordem decrescente da média aritmética.
Item Afirmações N
(1)
Média D.P T.G.R
(2)
2 A família é a célula fundamental da sociedade 176 4,81 0,630 Concordo plenamente
8
O casal deve determinar sua vida sexual e
contraceptiva.
177 4,75 0,794 Concordo plenamente
11
Se o casal não viver bem, deve poder se divorciar e
casar de novo
177 4,61 0,936 Concordo planamente
257
4
As pessoas divorciadas devem poder comungar na
Missa
177 4,56 0,981 Concordo planamente
9
O casal que não tiver filhos naturalmente deve poder
fazer inseminação artificial.
178 4,43 1,183 Concordo em parte
3
As funções da família são a união, a procriação, ajuda
mútua e prazer.
177 4,08 1,162 Concordo em parte
10
O(a) namorado(a) pode dormir na casa dos pais com
a(o) namorado(o).
178 3,55 1,414 Concordo em parte
12 Uniões homossexuais são contrárias à lei natural 177 3,32 1,621
Nem concordo e nem
discordo
7
Homossexuais devem ser permitidos a adot
ar uma
criança
176 3,31 1,549
Nem concordo e nem
discordo
1
A educação sexual é um direito dos pais e deve ser
controlada por eles.
178 3,07 1,550
Nem concordo e nem
discordo
6 Homossexuais não devem se casar 170 2,81 1,657
Nem concordo e nem
discordo
5 Casamento é para sempre 176 2,70 1,517
Nem concordo e nem
discordo
(1) Número de respostas válidas.
(2) Tendência global das respostas.
3.4.1.3 – A mulher, sua vida, seu corpo:
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes
A tabela 3.4.1.3.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito as
afirmações sobre A mulher, sua vida, seu corpo, em que as possíveis respostas são como em
3.4.1.3.A. Destaca-se que em 6 (37,5%) afirmações (1, 2, 3, 9, 10 e 12), a resposta
Concordo plenamente”, figurou com o percentual máximo, em 8 (50,0%) afirmações (4, 6,
7, 11, 13, 14, 15 e 16), a resposta “Discordo totalmente”, figurou com o percentual máxima,
em 1 (6,25%) afirmação (5), a resposta nem concordo e nem discordo”, figurou com o
percentual máximo e finalmente em 1 (6,25%) afirmação (8), a resposta concordo em
parte”, figurou com o percentual máximo.
Tabela 3.4.1.3.A: Distribuição das respostas das estudantes, com respeito a mulher, sua
vida, seu corpo.
Respostas
Item Afirmações
N
(1)
Discordo
totalmente
Discordo
em parte
Nem
concordo,
nem
discordo
Concordo
em parte
Concor
do
plenam
ente
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
258
1
A maternidade
realiza a mulher
177 11 (6,2) 3 (1,7) 7 (4,0) 61 (34,5)
95
(53,7)
53,7
Concordo
plenamente
2
A mulher deve
decidir o que é certo
ou errado na sua vida
177 2 (1,1) 3 (1,7) 4 (2,3) 27 (15,3)
141
(79,7)
79,7
Concordo
plenamente
3
A mulher deve
seguir a sua
consciência nas
decisões sobre seu
corpo, sua
sexualidade
175 3 (1,7) 2 (1,1) 2 (1,1) 17 (9,7)
151
(86,3)
86,3
Concordo
plenamente
4
A mulher deve ser
submissa ao homem
176 161 (91,5) 8 (4,5) 1 (0,6) 4 (2,3) 2 (1,1) 91,5
Discordo
totalmente
5
A mulher é
naturalmente
religiosa
174 45 (25,9) 18 (10,3) 49 (28,2) 44 (25,3)
18
(10,3)
28,2
Nem
concordo,
nem
discordo.
6
A mulher é um
homem incompleto
174 134 (77,0) 9 (5,2) 20 (11,5) 8 (4,6) 3 (1,7) 77,0
Discordo
totalmente
7
A identidade da
mulher depende de
sua capacidade de
ajudar os outros
175 91 (52,0) 31 (17,7) 22 (12,6) 24 (13,7) 7 (4,0) 52,0
Discordo
totalmente
8
A sexualidade
caracteriza a mulher
nos planos físico,
psicológico e
espiritual
176 34 (19,3) 25 (14,2) 35 (19,9) 50 (28,4)
32
(18,2)
28,4
Concordo em
parte
9
A sexualidade
humana faz parte da
capacidade de amar
que Deus deu a
mulher e ao homem
176 17 (9,7) 6 (3,4) 18 (10,2) 29 (16,5)
106
(60,2)
60,2
Concordo
plenamente
10
A Virgem Maria é o
modelo ideal da
mulher
175 32 (18,3) 18 (10,3) 41 (23,4) 40 (22,9)
44
(25,1)
25,1
Concordo
plenamente
11
A virgindade é
essencial para a
mulher antes do
casamento
176 126 (71,6) 10 (5,7) 14 (8,0) 12 (6,8)
14
(8,0)
71,6
Discordo
totalmente
12
Deus é homem e
mulher
176 25 (14,2) 2 (1,1) 44 (25,0) 7 (4,0)
98
(55,7)
55,7
Concordo
plenamente
13
O corpo da mulher é
fonte de pecado
175 146 (83,4) 6 (3,4) 11 (6,3) 8 (4,6) 4 (2,3) 83,4
Discordo
totalmente
14
O corpo da mulher é
sagrado, é templo de
Espírito Santo
174 62 (35,6) 25 (14,4) 28 (16,1) 21 (21,1)
38
(21,8)
35,6
Discordo
totalmente
15
O homem deve casar
virgem
176 118 (67,0) 7 (4,0) 32 (18,2) 12 (6,8) 7 (4,0) 67,0
Discordo
totalmente
16
Os papéis mais
importantes da
mulher são de mãe e
esposa
176 65 (36,9) 26 (14,8) 9 (5,1) 48 (27,3)
28
(15,9)
36,9
Discordo
totalmente
(1) Número de estudantes que responderam a correspondente afirmação (respostas válidas).
(2) Resposta mais provável.
B) Mensuração e valorização das respostas das estudantes
A mensuração e valorização das respostas para essa questão foi feita de maneira
análoga à questão 3.4.1.2.B.
259
Destaca-se da tabela 3.4.1.3.B a seguir, que as afirmações mais valorizada, no
sentido de maior concordância por parte das estudantes (de resposta Concordo plenamente
as médias mais próximas de 5) são:
A mulher deve seguir a sua consciência nas decisões sobre seu corpo, sua
sexualidade (Média = 4,78 e D.P = 0,688) e
A mulher deve decidir o que é certo ou errado na sua vida (Média = 4,71 e D.P =
0,702).
As duas afirmações menos valorizadas, no sentido de maior discordância por
parte das estudantes ( de resposta Discordo totalmente as duas menores médias - as mais
próximas de 1) são:
A mulher deve ser submissa ao homem (Média =1,17 e D.P = 0,654 e
O corpo da mulher é fonte de pecado (Média = 1,39 e D.P = 0,958)
Tabela 3.4.1.3.B - Estatísticas Descritivas, em ordem decrescente da média aritmética.
Item Afirmações N
(1)
Média D.P
(2)
T.G.R
(3)
3
A mulher deve seguir a sua consciência nas
decisões sobre seu corpo, sua sexualidade.
175 4,78 0,688 Concordo plenamente
2
A mulher deve decidir o que é certo ou errado na
sua vida.
177 4,71 0,702 Concordo plenamente
1 A maternidade realiza a mulher. 177 4,28 1,064 Concordo em parte
9
A sexualidade humana faz parte da capacidade
de amar que Deus deu a mulher e ao homem.
176 4,14 1,304 Concordo em parte
12 Deus é homem e mulher. 176 3,86 1,457 Concordo em parte
10 A Virgem Maria é o modelo ideal da mulher. 175 3,26 1,418
Nem concordo nem
discordo
8
A sexualidade caracteriza a mulher nos planos
físico, psicológico e espiritual.
176 3,12 1,387
Nem concordo nem
discordo
5 A mulher é naturalmente religiosa. 174 2,84 1,338
Nem concordo nem
discordo
16
Os papéis mais importantes da mulher são de
mãe e esposa
176 2,70 1,569
Nem concordo nem
discordo
14
O corpo da mulher é sagrado, é templo de
Espírito Santo
174 2,70 1,577
Nem concordo nem
discordo
7
A identidade da mulher depende de sua
capacidade de ajudar os outros.
175 2,00 1,250 Discordo em parte
15 O homem deve casar virgem 176 1,77 1,199 Discordo em parte
11
A virgindade é essencial para a mulher antes do
casamento
176 1,74 1,314 Discordo em parte
6 A mulher é um homem incompleto. 174 1,49 0,984 Discordo totalmente
13 O corpo da mulher é fonte de pecado. 175 1,39 0,958 Discordo totalmente
4 A mulher deve ser submissa ao homem. 176 1,17 0,654 Discordo totalmente
(1) Número de respostas válida.
(2) Desvio padrão
(3) Tendência global das respostas.
260
3.4.1.4 – Sexualidade da mulher:
A) Distribuição de freqüências das respostas das estudantes
A tabela 3.4.1.4.A, relaciona as respostas das estudantes com respeito as
afirmações sobre Sexualidade, em que as possíveis respostas são como em 3.4.1.3.A..
Destaca-se que em 10 (62,5%) afirmações (1, 2, 3, 5, 8, 10, 11, 12, 13, 14), a resposta
Discordo totalmente”, figurou com o percentual máximo e em 6 (37,5%) afirmações (4, 6,
7, 9, 15, 16), a resposta “Concordo plenamente”, figurou com o percentual máximo.
Tabela 3.4.1.4.A: Distribuição das respostas das estudantes, com respeito a sexualidade.
Respostas
Item Afirmações
N
(1)
Discordo
totalment
e
Discordo
em parte
Nem
concordo,
nem
discordo
Concordo
em parte
Concordo
plenamen
te
Percentual
Máximo
R.M.P
(2)
(moda)
1
A gravidez só deve
acontecer após o
casamento
177 52 (29,4) 19 (10,7) 23 (13,0) 43 (24,3) 40 (22,6) 29,4
Discordo
totalmente
2
A mulher que
pratica um aborto
deve ir presa
175 66 (37,7) 33 (18,9) 21 (12,0) 32 (18,3) 23 (13,1) 37,7
Discordo
totalmente
3
Abortar é decisão
da mulher
171 46 (26,9) 33 (19,3) 8 (4,7) 43 (25,1) 41 (24,0) 26,9
Concordo
totalmente
4
Abortar é decisão
do casal
175 40 (22,9) 15 (8,6) 12 (6,9) 49 (28,0) 59 (33,7) 33,7
Concordo
plenament
e
5
Abortar ou não
depende da
situação sócio-
econômica e
psicológica da
mulher
176 55 (31,3) 18 (10,2) 8 (4,5) 43 (24,4) 52 (29,5) 31,3
Concordo
totalmente
6
Abortar um feto
com defeito que
certamente não vai
sobreviver, é um
direito da mulher
177 24 (13,6) 3 (1,7) 11 (6,2) 35 (19,8)
104
(58,8)
58,4
Concordo
plenament
e
7
Educação sexual
deve começar com
as crianças na
família e na escola
177 4 (2,3) 3 (1,7) 1 (0,6) 10 (5,6)
159
(89,8)
89,8
Concordo
plenament
e
8
Gravidez fora do
casamento é
pecado
176
111
(63,1)
14 (8,0) 17 (9,7) 11 (6,3) 23 (13,1) 63,1
Discordo
totalmente
9
Homossexualismo/
lesbianismo é
contra a natureza
humana
173 52 (30,1) 15 (8,7) 26 (15,0) 26 (15,0) 54 (31,2) 31,2
Concordo
planament
e
10
Masturbação é
pecado e a prática
está sob o poder do
demônio
177
140
(79,1)
9 (5,1) 16 (9,0) 7 (4,0) 5 (2,8) 79,1
Discordo
totalmente
261
11
O único sexo
seguro para evitar
AIDS é através da
fidelidade no
casamento
177 81 (45,8) 16 (9,0) 9 (5,1) 24 (13,6) 47 (26,6) 45,8
Discordo
totalmente
12
O uso de embriões
humanos
guardados para
fins científicos é
antiético
177 66 (37,3) 27 (15,3) 23 (13,0) 34 (19,2) 27 (15,3) 37,3
Discordo
totalmente
13
Só métodos
naturais de
contracepção
(tabela, método
Billings) são certos
177
140
(79,1)
12 (6,8) 9 (5,1) 7 (4,0) 9 (5,1) 79,1
Discordo
totalmente
14
Todo tipo de
anticoncepcional é
sempre errado
177
150
(84,7)
14 (7,9) 5 (2,8) 7 (4,0) 1 (0,6) 84,7
Discordo
totalmente
15
"Ficar" é natural
na vida da pessoa
176 38 (21,6) 26 (14,8) 28 (15,9) 38 (21,6) 46 (26,1) 26,1
Concordo
plenament
e
16
P16cd16: Opção
sexual é um direito
da mulher
116 18 (10,3) 6 (3,4) 13 (7,4) 22 (12,6)
116
(66,3)
66,3
Concordo
plenament
e
(1) Número de estudantes que responderam a correspondente afirmação (respostas válidas).
(2) Resposta mais provável.
B ) Mensuração e valorização das respostas da estudantes.
A mensuração e valorização das respostas para essa questão foi feita de maneira
análoga à questão 3.4.1.3.B
Destaca-se da tabela 3.4.1.4.B a seguir, que a afirmação mais valorizada, no
sentido de maior concordância por parte das estudantes (de resposta Concordo plenamente
a média mais próxima de 5) é:
Educação sexual deve começar com as crianças na família e na escola (Média =
4,79 e D.P = 0,743)
As duas afirmações menos valorizadas, no sentido de maior discordância por parte
das estudantes (de resposta Discordo totalmente as duas menores médias, as mais próximas
de 1) são:
Todo tipo de anticoncepcional é sempre errado (Média = 1,28 e D.P = 0,752) e
Masturbação é pecado e a prática está sob o poder do demônio (Média = 1,46 e D.P =
1,006).
262
Tabela 3.4.1.4.B - Estatísticas Descritivas, em ordem decrescente da média aritmética
Item Afirmações N
(1)
Média D.P
(2)
T.G.R
(3)
7
Educação sexual deve começar com as crianças
na família e na escola.
177 4,79 0,743 Concordo plenamente
16 Opção sexual é um direito da mulher 175 4,21 1,329 Concordo em parte
6
Abortar um feto com defeito que certamente não
vai sobreviver, é um direito da mulher
177 4,08 1,393 Concordo em parte
4 Abortar é decisão do casal. 175 3,41 1,573
Nem concordo nem
discordo
15 "Ficar" é natural na vida da pessoa 176 3,16 1,503
Nem concordo nem
discordo
5
Abortar ou não depende da situação sócio-
econômica e psicológica da mulher
176 3,11 1,668
Nem concordo nem
discordo
9
Homossexualismo/lesbianismo é contra a
natureza humana
173 3,09 1,642
Nem concordo nem
discordo
3 Abortar é decisão da mulher 171 3,00 1,579
Nem concordo nem
discordo
1 A gravidez só deve acontecer após o casamento 177 3,00 1,563
Nem concordo nem
discordo
11
O único sexo seguro para evitar AIDS é através
da fidelidade no casamento
177 2,66 1,738 Discordo em parte
12
uso de embriões humanos guardados para
fins
científicos é antiético.
177 2,60 1,516
Nem concordo nem
discordo
2 A mulher que pratica um aborto deve ir presa 175 2,50 1,473 Discordo em parte
8 Gravidez fora do casamento é pecado 176 1,98 1,472 Discordo em parte
13
Só métodos naturais de
contracepção (tabela,
método Billings) são certos
177 1,49 1,098 Discordo totalmente
10
Masturbação é pecado e a prática está sob o
poder do demônio
177 1,46 1,006 Discordo totalmente
14 Todo tipo de anticoncepcional é sempre errado 177 1,28 0,752 Discordo totalmente
(1) Número de respostas válida.
(2) Desvio padrão
(3) Tendência global das respostas.
3.4.2 Como você avalia o posicionamento da igreja diante da realidade da mulher
católica hoje ?
A tabela 3.4.2, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1. Preocupada com a mulher na família e na sociedade
2. Está abrindo mais espaço para a participação da mulher
3. Acolhe a mulher com problemas
4. Afasta a mulher com problemas
5. Cria culpa ( muitas proibições, tudo é pecado)
6. Orienta para viver na atualidade
7. Dá conforto e consolo nos momentos difíceis
263
8. Desconsidera a opinião da mulher sobre sua corporeidade e sexualidade
9. Deve escutar mais as mulheres em assuntos de casamento, sexualidade, família
10. Distante das questões que as mulheres enfrentam
11. Manda em assuntos que devem ser decididos pelo casal ou pela mulher
12. Oferece apoio através de grupos e atividades nas paróquias
13. Orienta moralmente diante de questões éticas e religiosas/espirituais
14. Orientações idealistas, longe da realidade
15. Reprime, domina
16. Tenta aproximar-se das mulheres
17. Está motivando mais a mulher a participar
18. Outro, indicar
Como pode-se observar, a referida tabela, apresenta apenas dois destaques de
freqüências comum 6 e freqüências percentuais comum 3,4% (muito baixas).
A tabela 3.4.2A representa a distribuição de freqüência da série dos 18 números
(1-2-3-...-18) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da tabela
3.4.2. O total (1102) na tabela 3.4.2A representa o total de repetições (soma de todas as
freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.4.2.A Distribuição de freqüência da referida série de números da tabela 3.4.2
Respostas Freqüência Freqüência %
1 79 7,2
2 77 7,0
3 58 5,3
4 22 2,0
5 92 8,3
6 37 3,4
7 80 7,3
8 61 5,5
9 115 10,4
10 66 6,0
11 68 6,2
12 86 7,8
13 63 5,7
14 62 5,6
15 55 5,0
16 32 2,9
17 47 4,3
18 2 0,2
Total 1102 100,0
264
3.5 - Meus sentimentos sobre Religião e Espiritualidade
3.5.1 – Qual é a importância da religião católica na minha vida?
A tabela 3.5.1, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1. Ela me orienta bem, moral e eticamente
2. Sinto-me pertencer a uma religião séria
3. Sinto-me apoiada/amada por Deus
4. Faço parte dos grupos, criando novas amizades
5. Sinto solidariedade com os outros, ajudar os outros
6. Procuro conforto nas horas difíceis
7. Sinto que alguém se importa comigo
8. Gosto de rezar
9. Reconheço na Igreja tem uma preocupação com a justiça social
10. As missas e cerimônias são bonitas, nos elevam
11. Acredito que os santos podem nos auxiliar
12. Pertenço a mesma religião da minha família, tradição
13. Acredito em vida depois da morte
14. Tenho medo do inferno
15. Tenho fé no amor de Deus, seu perdão
16. Gosto das leituras católicas / bíblicas
17. Tenho paz espiritual
18. Tenho sentido na vida
19. Amo a Virgem Maria e os santos
20. Tenho Jesus como senhor da minha vida
21. Ofereço amor e obediência ao Papa, bispos e sacerdotes
22. Os ensinamentos da Igreja ajudam o meu crescimento espiritual e psicológico
23. Outro, indicar
Observa-se, da referida tabela, que todas as respostas (seqüências de números) são
distintas (todas as freqüências são iguais a 1) e portanto, não existe respostas de destaque.
A tabela 3.5.1A representa a distribuição de freqüência da série dos 23 números
(1-2-3-...-23) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da tabela
3.5.1. O total (1721) na tabela 3.5.1A representa o total de repetições (soma de todas as
freqüências) dos referidos números da seqüência.
265
Tabela 3.5.1A Distribuição de freqüência da referida série de números da tabela 3.5.1.
Respostas Freqüência Freqüência %
1 71 4,1
2 48 2,8
3 106 6,2
4 26 1,5
5 80 4,6
6 108 6,3
7 51 3,0
8 120 7,0
9 54 3,1
10 83 4,8
11 74 4,3
12 84 4,9
13 95 5,5
14 21 1,2
15 149 8,7
16 71 4,1
17 110 6,4
18 103 6,0
19 73 4,2
20 112 6,5
21 10 0,6
22 67 3,9
23 5 0,3
Total 1721 100,0
3.5.2– No relacionamento com a Igreja católica, como você se sente ?
A tabela 3.5.2, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1. Acolhida
2. Abençoada
3. Amada por Jesus
4. Ameaçada
5. Apoiada
6. Compreendida
7. Culpada
266
8. Descrente
9. Desvalorizada
10. Fortalecida
11. Indiferente
12. Indignada
13. Insegura da salvação
14. Longe de Deus
15. Perdida
16. Reconfortada
17. Salva
18. Tranqüila
19. Valorizada
20. Outro, indicar
Os asteriscos ao lado das freqüências percentuais indicam as respostas de
destaque, que neste caso, são freqüências muito baixas.
A tabela 3.5.2A representa a distribuição de freqüências da série dos 20
números (1-2-3-...-20) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números
da tabela 3.5.2. O total (828) na tabela 3.5.2A representa o total de repetições (soma de todas
as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.5.2A Distribuição de freqüência da referida série de números da tabela 3.5.2
Respostas Freqüência Freqüência %
1 87 10,5
2 94 11,4
3 120 14,5
4 5 0,6
5 49 5,9
6 51 6,2
7 19 2,3
8 13 1,6
9 8 1,0
10 92 11,1
11 17 2,1
12 9 1,1
13 7 0,8
14 4 0,5
267
15 5 0,6
16 57 6,9
17 23 2,8
18 114 13,8
19 44 5,3
20 10 1,2
Total 828 100,0
3.5.3 – Como defino a minha identidade como mulher católica?
A tabela 3.5.3, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1. Sou fiel a todos os ensinamentos da Igreja
2. Acredito que a mulher sabe o que é melhor para seu corpo, sua saúde, sua sexualidade,
não a Igreja
3. Aceito muitos ensinamentos da Igreja, mas não todos
4. Acho que a Igreja deve escutar mais a mulher e seus problemas
5. Acredito que é a melhor religião para mim
6. Acredito que Jesus me ama, vê a minha vida e perdoa minhas falhas
7. Cuidar bem dos pais, do marido e dos filhos é fundamental
8. Gosto dos valores ensinados pela Igreja, mas não todas as exigências / mandamentos
9. Minha consciência é tranqüila que faço o que é certo para mim e para os outros
10. Os santos e a Virgem Maria me ajudam e me protegem
11. Preocupo-me com os outros, sou solidária e tento ajudar
12. Tenho momentos fortes e fracos de fé
13. Tenho uma posição crítica sobre a Igreja e seus ensinamentos
14. Tenho uma vivência interiorizada de fé e de Deus
15. Outro, indicar
Como pode-se observar, a referida tabela, praticamente não apresenta destaques
(a maior freqüência é 3).
A tabela 3.5.3A representa a distribuição de freqüência da série dos 16 números
(1-2-3-...-16) que figuram nas 178 seqüências (respostas das estudantes) de números da tabela
3.5.3. O total (1308) na tabela 3.5.3A representa o total de repetições (soma de todas as
freqüências) dos referidos números da seqüência.
268
Tabela 3.5.3A Distribuição de freqüências da referida série de números da tabela 3.5.3
Respostas Freqüência Freqüência %
1 10 0,8
2 105 8,0
3 132 10,1
4 100 7,6
5 39 3,0
6 119 9,1
7 81 6,2
8 99 7,6
9 112 8,6
10 75 5,7
11 131 10,0
12 115 8,8
13 97 7,4
14 89 6,8
15 3 0,2
16 1 0,1
Total 1308 100,0
3.5.4 Como você considera a construção / busca da identidade psicossocial e ético-
religiosa ?
A tabela 3.5.4, relaciona as respostas das 178 estudantes, em forma de seqüências
de números cujas respostas básicas estão rotuladas da seguinte forma:
1. Ainda estou buscando sentido na vida
2. Sinto-me segura do que sou
3. Estou confusa sobre quem sou e o que quero para mim
4. Não sei se sou católica por tradição, convicção ou culpa
5. A religião é fundamental na definição da minha identidade
6. Evito pensar nisso, vivo a minha vida
7. Tenho alcançado um certo nível de equilíbrio bio-psíquico-espiritual
8. Tenho conflitos de consciência entre a minha liberdade pessoal e minhas
responsabilidades religiosas
9. Sinto-me autêntica comigo mesmo e com os outros
10. Tenho uma consciência tranqüila sobre o que faço
11. Vivo com problemas de consciência sobre o que faço
12. A religião é importante para meu bem estar psicológico
269
13. A religião não influi no meu sentido de bem-estar
14. Minhas amizades ajudam construir a minha personalidade
15. Minhas amizades estão prejudicando / confundindo quem sou
16. Minha família me apóia e orienta
17. Minha família não me entende
18. Sinto um vazio na minha vida
19. Tenho uma espiritualidade feminista, ao meu modo
20. Outro, indicar
Como pode-se observar, da referida tabela 3.5.4, praticamente não existe
respostas de destaque (a maior freqüência é 4). A tabela 3.5.4A representa a distribuição de
freqüência da série dos 20 números (1-2-3-...-20) que figuram nas 178 seqüências (respostas
das estudantes) de números da tabela 3.5.4. O total (890) na tabela 3.5.4A representa o total
de repetições (soma de todas as freqüências) dos referidos números da seqüência.
Tabela 3.5.4A Distribuição de freqüência da referida série de números da tabela 3.5.4
Respostas Freqüência Freqüência %
1 38 4,3
2 86 9,7
3 26 2,9
4 32 3,6
5 64 7,2
6 22 2,5
7 63 7,1
8 36 4,0
9 85 9,6
10 105 11,8
11 16 1,8
12 71 8,0
13 21 2,4
14 49 5,5
15 2 0,2
16 103 11,6
17 16 1,8
18 15 1,7
19 36 4,0
20 4 0,4
Total 890 100,0
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