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MARGARIDA HELOÍSA CÂMARA PEREIRA LOPES
DESCENTRALIZAÇÃO E CONTROLE DA POLÍTICA
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ESTADO DO CEARÁ:
um estudo de caso
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Profissional em Planejamento
e Políticas Públicas do Centro de
Estudos Sociais Aplicados da
Universidade Estadual do Ceará como
requisito parcial para obtenção do título
de Mestre.
Orientadora: Prof.ª Dra. Maria do
Socorro Ferreira Osterne.
FORTALEZA - CE
2008
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MARGARIDA HELOÍSA CÂMARA PEREIRA LOPES
DESCENTRALIZAÇÃO E CONTROLE DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
NO ESTADO DO CEARÁ: um estudo de caso
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Profissional em Planejamento
e Políticas Públicas do Centro de
Estudos Sociais Aplicados da
Universidade Estadual do Ceará como
requisito parcial para obtenção do título
de Mestre.
Aprovada em : _____/ ______/ _________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof.ª Dra. Maria do Socorro Ferreira Osterne
Universidade Estadual do Ceará
Orientador
____________________________________________
Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota
Universidade Estadual do Ceará
Titular
____________________________________________
Prof.ª Dra. Helena Selma Azevedo
Universidade Federal do Ceará
Titular
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3
Aos meus pais, Nelson e Myrian minha origem
e a Kerginaldo, companheiro, porto seguro.
DEDICO
4
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Maria do Socorro Ferreira Osterne, pelas orientações formuladas
levando a refletir sobre questões fundantes à concretização desse trabalho,
motivando, incentivando, sinalizando caminhos a serem percorridos.
Aos professores Francisco Horácio da Silva Frota e Helena Selma Azevedo, pela
participação e contribuições relevantes, quando nas bancas de qualificação e
defesa, do trabalho dissertivo.
Às professoras Irma Moroni e Alba Pinho, referências estadual e nacional, na
implantação e implementação da Política de Assistência Social, instigando-me à
produção acadêmica e abordagem dessa temática.
Aos meus pais Nelson (in memoriam) e Myrian Câmara Lopes, que não mediram
esforços para dar-me uma boa formação educacional, determinados no cumprimento
desta meta, exigentes para comigo, mas orgulhosos, frente a cada vitória alcançada.
A Kerginaldo Cavalcante, que sempre incentivou nas diferentes etapas percorridas,
pelo amor, paciência, compreensão dos momentos em que não estivemos
juntos,face à dedicação que um curso desta natureza exige.
À Regina Sales Praciano, amiga, irmã, companheira de estudo e trabalho, que sem
ela, não teria conseguido ultrapassar mais esse desafio.
À Izabel Cristina de Pontes Lima, competente, de inteligência privilegiada, por ter
socializado experiências, conhecimentos acumulados e referencial bibliográfico, na
área.
Aos profissionais da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, articuladores
regionais, que prestam assessoramento técnico aos municípios, em especial,
Silvana Simões, Maria de Lurdes Pitombeira, Célia Melo e Ivanisa Moraes Freitas,
5
pela sensibilidade e apoio à pesquisa, nas etapas de formulação e coleta dos dados,
junto aos municípios da amostra.
À Teresa Serra, Secretária Executiva do Conselho Estadual de Assistência Social,
por ter disponibilizado vasto material bibliográfico e documental para consulta.
À Jaqueline Pinheiro, que informou da seleção para o Mestrado, ou seja, intimando a
fazê-lo, sem ela certamente, também não chegaria aqui.
A então Secretaria de Ação Social, na época, cuja gestão apoiou a inserção no
Mestrado, financiando parte do curso.
Ao Claudemir Barbosa, colega de trabalho que colaborou na digitação deste
documento, bem como, de outras produções acadêmicas no decorrer do curso.
À Aparecida Cabral, ser humano de extrema bondade, doçura e solidariedade, por
ter participado na revisão ortográfica.
Ao Dr. Aluísio Cavalcante (in memoriam), professor, fundador e diretor, da então
Escola de Administração UECE, detentor de raro saber, que me proporcionou
momentos de valorosas discussões, incentivo à leitura e conseqüente inserção no
contexto da pesquisa acadêmica.
Aos professores, colegas do curso, por experiências vivenciadas, discussões
calorosas e momentos de descontração, que certamente ficarão em nossa memória.
Aos gestores, técnicos e conselheiros da Assistência Social dos municípios
pesquisados, pela colaboração, na etapa de coleta de dados, subsidiando com as
informações solicitadas.
Por fim, à população vulnerabilizada, em constante situação de risco pessoal e
social, público da Política de Assistência Social, que, nos impulsiona a dar
continuidade na luta pela vigência dos direitos sociais , num país tão desigual.
6
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
O operário em construção
(Vinicius de Moraes)
7
RESUMO
Este estudo tem como eixo temático a gestão da Política de Assistência Social, analisada
em três aspectos de extrema relevância: a descentralização, o controle social e a
participação. Diante de um vasto campo de indagações, foi difícil limitar este estudo a um
foco específico, porém, privilegiou–se a busca de respostas para uma questão peculiar à
efetivação do Sistema Único de Assistência Social no Ceará: Como se pode qualificar a
implementação dessa Política ? Tal questionamento convergiu para outras indagações,
não menos importantes. Como se opera o processo de descentralização político-
administrativa da Assistência Social no Estado? Como se processa seu controle social
através dos Conselhos Municipais? Qual a qualidade das informações disponibilizadas à
sociedade? A busca de respostas para tais questionamentos orientou a estruturação de um
estudo de caso, centrado numa amostra de cinco municípios. Para dar conta dos objetivos e
hipóteses delineados na pesquisa, utilizou-se como instrumento de análise uma Matriz de
Avaliação da Gestão”. Referida Matriz comporta seus itens subdivididos em dezenove
categorias, cujas pontuações vão qualificar a gestão municipal em três conceitos, que a
condicionam às tipologias “adequada”; ‘parcial” ou “precária”. Os resultados permitem
confirmar a hipótese de que no Ceará, a gestão da Política de Assistência Social, ainda não
se consolidou em conformidade com os pressupostos da NOB/SUAS (2005), face à
questões operacionais observadas no domínio municipal de seus pressupostos. Percebe-se
dificuldades gerenciais nas áreas de planejamento, monitoramento e avaliação da política,
como também no exercício do controle social pelos Conselhos Municipais de Assistência
Social.
Palavras chaves: assistência social; descentralização; controle social; participação.
8
ABSTRACT
This study has as its thematic axis the management of the Social Assistance Policy analyzed
in three aspects of significant relevance: Decentralization, social control and participation.
Because of the wide spectrum of this research, it was difficult to limit ourselves to a specific
focus. However, we privileged the search for answers to a peculiar matter related to the
implementation of the Single Social Assistance System in the State of Ceará, Brazil: How to
rate the implementation of such policy ? This question converged to other, not less important
ones. How is the Social Assistance political and administrative decentralization process
implemented in the State? How is its social control processed through the Municipal
Councils? What is the quality of the information made available to the public? The search for
answers to these questions led to a case study structure focused on a sample comprised of
five counties. In order to reach the goals and hypothesis established for this work we used a
“Management Evaluation Matrix” as an analysis tool. Such Matrix has 19 different categories
which scoring system assigns a grade to the municipal administration in three different
concepts, i.e. “adequate”, “partial” or “precarious”. The results let us confirm the hypothesis
that in the State of Ceará the management of the Social Assistance Policy is not yet
consolidated according to the NOB/SUAS (2005) assumptions and that this is due to
operational questions within the municipal area. We perceived managerial difficulties in the
fields of planning, monitoring and policy assessment, as well as in the exercise of the social
control by the Municipal Social Assistance Councils.
Key words: social assistance; decentralization; social control; participation.
9
LISTA DE ABREVIATURAS
ABB -
ASEF -
BID -
BIRD -
BPC -
CEAS -
CEPAL -
CIB -
CIT -
CMAS -
CNAS -
COMDICA -
CRAS -
CREA -
FMAS -
FMI -
IBGE -
IDH -
IDS-R -
IPECE -
IPEGE -
LOAS -
MDS -
MERCOSUL -
NOB -
ONG’S -
PAS -
PETI -
PNAP -
PNAS -
Associação do Banco do Brasil
Ação Sócio Educativa de Apoio à Família
Banco Interamericano de Desenvolvimento
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
Benefício de Prestação Continuada
Conselho Estadual de Assistência Social
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
Comissão Intergestora Bipartite
Comissão Intergestora Tripartite
Conselho Municipal de Assistência Social
Conselho Nacional de Assistência Social
Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente
Centro de Referência da Assistência Social
Centro de Referência Especializado de Assistência Social
Fundo Municipal de Assistência Social
Fundo Monetário Internacional
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Índice de Desenvolvimento Humano
Índice de Desenvolvimento Social de Resultados
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
Instituto de Planejamento, Economia e Gestão Estratégica
Lei Orgânica de Assistência Social
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Mercado Comum do Sul
Norma Operacional Básica
Organização não Governamental
Política de Assistência Social
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas
Política Nacional de Assistência Social
10
PNUD -
PPA -
PSE -
SAS -
SEMAS -
SMAS -
SMDS -
STDS -
SUAS -
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Plano Plurianual
Proteção Social Especial
Secretaria da Ação Social
Secretaria Municipal de Assistência Social de Fortaleza
Secretaria Municipal de Assistência Social
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social
Sistema Único de Assistência Social
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6
Quadro 7
Quadro 8
Modelo Matriz de Avaliação da Gestão ..............................................
Matriz de Avaliação da Gestão - Santana do Cariri -
Porte (I) ...............................................................................................
Ações de Proteção Social sica e Proteção Social Especial -
Santana do Cariri - Pequeno Porte (I) .................................................
Matriz de Avaliação da Gestão - Paracuru - Pequeno Porte (II) .........
Matriz de Avaliação da Gestão - Canindé - Médio Porte ....................
Ações de Proteção Social Básica - Canindé - Médio Porte ................
Matriz de Avaliação da Gestão - Maracanaú - Grande Porte .............
Matriz de Avaliação da Gestão - Fortaleza – Metrópole .....................
99
101
103
105
109
110
113
119
12
SUMÁRIO
1
2
2.1
2.2
2.3
3
3.1
3.2
3.3
4
4.1
4.1.1
4.1.2
4.1.3
4.1.4
4.1.5
5
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO ........................................................................................
ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL - DO ASSISTENCIALISMO À
POLÍTICA DE PROTEÇÃO SOCIAL: SISTEMATIZANDO SUA
TRAJETÓRIA E BASE CONCEITUAL ...................................................
Gênese e transformações da assistência social no Brasil ................
A condição de pobreza como elemento desafiador da política da
assistência social ...................................................................................
A assistência social como política de proteção social ......................
DESCENTRALIZAÇÃO, CONTROLE SOCIAL E PARTICIPAÇÃO:
EIXOS FUNDANTES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ÂMBITO LOCAL........................................
Capacitar para descentralizar e controlar: um projeto em curso .....
A lógica do controle social ...................................................................
A partici
pação como estratégia para legitimar a sociedade
política .....................................................................................................
OS CAMINHOS DA PESQUISA ..............................................................
Matriz de avaliação da gestão da política de assistência social
aplicada aos municípios selecionados ...............................................
Santana do Cariri - Pequeno Porte (I) ......................................................
Paracuru – Pequeno Porte (II) .................................................................
Canindé Médio porte .............................................................................
Maracanaú – Grande Porte ......................................................................
Fortaleza (Metrópole) ...............................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................
ANEXOS ..................................................................................................
13
18
18
31
39
54
54
66
76
89
96
101
105
109
113
119
125
141
150
13
1 INTRODUÇÃO
O debate acerca da Assistência Social vem ganhando espaço no meio
acadêmico, a partir dos anos oitenta, e expressa a complexidade e ambigüidade do
tema, bem como, a teia das relações sociais e das contradições que permeiam os
diferentes projetos sociais que mobilizam a sociedade brasileira.
Discutir a Assistência Social pública ou privada remete a pensá-la dentro
dos marcos históricos e políticos que caracterizam o enfrentamento da questão
social na sociedade de classes.
No Brasil, historicamente a Assistência Social vem se caracterizando
como uma estratégia reguladora das condições de reprodução social, não chegando
a constituir-se um conjunto de políticas que assegurem programas sociais de
qualidade.
As iniciativas voltadas a essa área sempre tiveram caráter paternalista,
excludente e secundário. Considerada campo de ação da igreja, da filantropia, da
sociedade civil e das primeiras damas, a Assistência Social não adquiriu, assim,
visibilidade, enquanto política pública.
Durante longo tempo, o Estado brasileiro atribuiu à Assistência Social um
conjunto de medidas de favor e proteção aos excluídos da riqueza social, de forma
clientelista e assistencialista, assumindo uma postura de benfeitor, evidenciando o
individualismo e o utilitarismo, aumentando a dependência da população pobre,
contribuindo para preservá-la na condição de miséria.
Mais recentemente, num contexto marcado por profundas contradições,
foi promulgada a Constituição de 1988, inovadora em aspectos essenciais, para a
consolidação do processo democrático nacional e, no que tange à assistência social,
reconheceu seu “status” de política pública, integrando o sistema de seguridade
14
social passando a exigir a necessidade de definição de princípios, diretrizes, normas
e regras, para orientar sua estruturação e implementação.
Entretanto, foi percorrida uma longa trajetória entre a promulgação da
Constituição de 1988 e a regulamentação da Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), somente aprovada cinco anos depois, em 1993. Mais do que um texto legal
composta de um conjunto de idéias, de concepção e de direitos, inscreveu uma nova
forma de discutir a questão da Assistência, substituindo a visão centrada na caridade
e no favor.
Correspondendo aos determinantes constitucionais, a assistência social é
política não contributiva de proteção social básica e especial, para atender as
necessidades de acolhida, convívio, autonomia, rendimento, equidade, travessia de
segmentos sociais vulneráveis e riscos sociais e pessoais que impeçam a autonomia
e o protagonismo.
Assim, a LOAS atribui à Assistência Social o “status de política pública”,
assumindo um novo desenho, ocupando o papel de política de enfrentamento à
pobreza, dirigida aos “que dela necessitam”, ou seja, um segmento populacional
incapaz de acessar bens, serviços e direitos.
A partir de então, registrou-se investimentos direcionados a reformas
institucionais, com a extinção de entidades representativas do governo federal e
adequação de instâncias estaduais e municipais, no sentido de fazer fluir os novos
determinantes legais. Dentre as iniciativas de maior visibilidade adotadas desde
então, ressalta-se investimentos na capacitação de gestores, técnicos e
conselheiros, modernização de equipamentos, mobilização da sociedade civil
organizada para capacitação e participação na elaboração dos sucessivos planos
plurianuais e o desenvolvimento de esforços, no sentido de fomentar uma nova
relação entre governo e sociedade através do incentivo às parcerias privilegiando-se
iniciativas de ações conjuntas, na perspectiva do desenvolvimento econômico com
justiça social.
15
Além dessas iniciativas, para satisfazer aos determinantes do artigo 30 da
LOAS, grandes foram os esforços desenvolvidos no sentido da criação dos
conselhos, planos e fundos, (estaduais e municipais de assistência social).
No aspecto técnico-operacional foram intensificados programas nas áreas
de geração de renda, qualificação profissional, capacitação das organizações,
sociais e voltados à priorização da família, crianças e adolescentes, privilegiando o
estabelecimento de parcerias e da descentralização, como estratégias que
garantissem a qualidade dos serviços prestados com conseqüentes resultados na
melhoria da situação de pobreza da população.
O aprimoramento gradativo da gestão da Política de Assistência Social
tem, no texto da atual Política de Assistência Social (PNAS/2004) e da Norma
Operacional sica (NOB/SUAS, 2005), diretivas para uma nova lógica de gestão
que exige aprofundamento de sua concepção, com o alargamento das
responsabilidades dos entes federados (União, Estados e Municípios) na
implementação de um Sistema Único que pressupõe, além de novos mecanismos de
gestão, a adoção de técnicas e tecnologias capazes de viabilizar o monitoramento e
a avaliação, indispensáveis ao controle social a ser exercido não pelos seus
operadores e conselhos, porém numa dimensão mais ampla que pressupõe a
visibilidade aos usuários e sociedade em geral, garantindo-se por essa via o
exercício democrático.
Partindo-se dessas referências, o estudo ora proposto tem como eixo
temático a gestão da política de assistência social, analisada de modo teórico-prático
em três aspectos de extrema relevância: a descentralização, o controle social e a
participação.
O fundamento que dá suporte a essa intenção é a própria experiência
vivenciada pela autora, experiência essa que vem reiterando a necessidade de
superação das tendências meramente instrumentais nos processos de análise dessa
Política, cujas iniciativas advindas de diferentes instâncias, não se articulam para
uma uniformidade na definição de categorias analíticas, e muito menos nos métodos
e técnicas essenciais à garantia do fomento, à cultura da avaliação processual.
16
A vivência compartilhada com diferentes atores que fazem acontecer a
Política de Assistência Social no Ceará, se traduz num vasto campo de indagações,
tendo sido difícil limitar este estudo a um campo específico.
O interesse pela temática delimitada neste estudo, envolve de um lado a
gestão municipal e de outro o controle social, através dos Conselhos Municipais de
Assistência Social e a participação da sociedade no acesso as informações
produzidas.
Essa perspectiva de análise foi desenvolvida a partir de algumas
observações que entrecruzam, teoria e prática, exercício que converge para uma
série de questionamentos. O primeiro remete a indagar com base nos elementos
disponíveis: Como se pode qualificar a implementação da Política de
Assistência Social no Ceará? Outros questionamentos derivados do primeiro
emergem de imediato, porque estão intimamente vinculados: como se opera o
processo de descentralização político-administrativa da assistência social; como se
dá o controle social dessa política, pela via dos Conselhos Municipais, e por fim, qual
a qualidade das informações disponibilizadas à sociedade.
Diante dessas perguntas centrais e considerando-se a relevância de se
buscar respostas para tais indagações, decidiu-se desenvolver esta pesquisa,
utilizando-se para tanto do método de estudo de casos formulados, a partir de uma
amostra que concentra 05 (cinco) dos 184 (cento e oitenta e quatro) municípios
cearenses, inseridos na classificação da NOB/2005 como Pequeno Porte I, Pequeno
Porte II, Médio Porte, Grande Porte e Metrópole. Para compor um quadro de
referências analíticas, utilizou-se de uma “Matriz de Avaliação da Gestão”,
instrumental formulado pelas Comissões Intergestoras Tripartite, em 2000 e aplicado
pelas Comissões Intergestoras Bipartites em todo o país, em 2001. Os resultados
serviram de base para a consolidação deste ensaio.
Decidiu-se que três partes configurariam as razões desta dissertação. A
primeira, discorre sobre a Assistência Social no Brasil, sistematizando sua trajetória
e base conceitual do assistencialismo até a condição de Política de Proteção Social.
Nele se destaca a questão da pobreza como elemento desafiador dessa Política.
17
A segunda parte é dedicada aos eixos conceituais fundantes deste
estudo: Descentralização, Controle Social e Participação. No curso da história essas
categorias ora se relacionam para compor o quadro democrático ora se dissociam
anunciando a ditadura.
A terceira parte detalha os caminhos da pesquisa, os todos, técnicas e
instrumental utilizado, declarando as dificuldades enfrentadas e as estratégias de
solução utilizadas para que se pudesse chegar a termo na consolidação deste
estudo.
Nas considerações finais procura-se destacar a idéia de que a situação
identificada concorre para confirmar hipótese a princípio formulada nos seguintes
termos:
“No Estado do Ceará, a gestão da Política de Assistência Social
organizada através de um sistema descentralizado e participativo, redesenhado sob
os fundamentos do SUAS, ainda não se consolidou, face às dificuldades
operacionais vigentes no domínio municipal de seus pressupostos.
Confirma-se ainda a hipótese de que o controle social constitui-se
imprescindível para a garantia dos direitos. Entretanto, observa-se fragilidades na
estruturação e desempenho dos Conselhos de assistência social, no exercício de
suas competências inerentes ao controle social dessa política.
Diante de tais achados, e considerando-se a dinâmica da realidade onde
gestores, técnicos, conselheiros e usuários da política de assistência social se
entrecruzam para dar sentido à relação teoria e prática, este estudo se coloca em
aberto para novas investidas, no sentido de refinamento de seus pressupostos e
premissas.
18
2 ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL - DO ASSISTENCIALISMO À
POLÍTICA DE PROTEÇÃO SOCIAL: SISTEMATIZANDO SUA
TRAJETÓRIA E BASE CONCEITUAL
A compreensão da Política de Assistência Social no Brasil, o pode se
efetivar isolada de seus determinantes históricos, muito menos do contexto político,
econômico e social em que, ao longo do tempo essa prática se insere. A partir desse
entendimento, inicia-se este estudo com foco para a gênese e transformações da
assistência social no País. Em seguida, destaca-se a condição de pobreza enquanto
elemento desafiador para a Política de Assistência Social. Culmina a primeira parte
numa abordagem sobre a assistência social, como política de proteção social. Esses
três sub-itens, assim se apresentam, como estratégia metodológica facilitadora;
entretanto, constituem-se de temáticas interdependentes e complementares.
2.1 Gênese e transformações da assistência social no Brasil
A prática da assistência constitui-se fenômeno tão antigo, quanto à
humanidade, expressando-se inicialmente em forma de caridade.
A condição de fragilidade humana revela-se nos primórdios dos tempos,
quando a história oficial registra um lento processo evolutivo das sociedades do
velho mundo.
Num breve resgate dos tempos da Idade Média, observa-se que os males
sociais, atingiam enormes proporções. A pobreza e a miséria se generalizavam,
ao ponto de serem compreendidas como naturais. Distantes do conhecimento
científico, os homens procuravam soluções para seus problemas, no imaginário
mitológico e nas superstições. Os flagelos originários das guerras ou epidemias,
ampliavam as multidões de mendigos desvalidos (VIEIRA, 1977, p.30).
19
O advento do cristianismo, transformou o contexto de caridade, que passa
a ser compreendido como “conseqüência do amor de Deus”; resposta do homem a
este amor (I Jo, 4 , 16). Manifesta-se sobretudo nas boas obras (Luc. 7, 47; I Jó. 2,
5-6). Foi com base nesses e em outros postulados bíblicos, que a Igreja Católica
tomou para si muitos dos encargos de beneficência, de tal modo que no primeiro
século criou os diáconos (ministros de seus bens materiais), a quem competia
recolher e distribuir auxílios.
Durante toda a Idade Média, a Igreja administrou obras de caridade no
interior dos mosteiros ou em suas circunvizinhanças, onde funcionavam
dispensários, leprosários, hospitais, orfanatos e escolas (VIEIRA, 1977, p. 31).
Nos culos XVIII e XIX, sugiram congregações religiosas, destinadas
especificamente à assistência social. Foi também nesse período, que sugiram as
corporações de ofícios e as confrarias, ligas ou irmandades que instituíram vários
sistemas de auxílio. Tais iniciativas se estenderam ao Novo Mundo, sob a influência
da Espanha e de Portugal, e algumas perduram até hoje.
Trazendo-se a questão da assistência à realidade brasileira, é importante
retomar, em breves linhas, o período da colonização, quando se inicia todo um
processo histórico determinante da realidade contemporânea.
Discutindo sobre o caráter geral da colonização brasileira, Caio Prado Jr.
(1975), considera que o próprio descobrimento não estava nos planos de Portugal,
tornando-se, portanto, um problema de difícil solução. Desprovido de condições
objetivas para desbravar a nova terra, decidiram distribuí-la em capitanias
hereditárias. Nesse sistema, a pequena propriedade não encontrou terreno
favorável, para se desenvolver.
A precariedade das condições do pequeno lavrador, torna-se
insustentável ante os poderosos latifundiários, que promovem conflitos sem trégua.
Pelas circunstâncias, os pequenos proprietários vão aos poucos, desfazendo-se de
suas posses, em benefício dos grandes domínios.
20
A sociedade colonial brasileira, reflete sua base material, através da
exploração econômica-agrária, em meio a uma população miserável de índios,
mestiços e negros escravos. “E, desde o início da colonização, é desta que se
constitui a nossa população, vivendo sob o domínio e dependência dos senhores
rurais” (Idem, 1977 - 20-36).
Assim, nos primeiros séculos, as desigualdades se reproduziam, em
meio aos interesses dos colonizadores em fortalecê-las. Diante dessa realidade, o
trabalho dos padres jesuítas na catequese e organização dos indígenas, não logrou
êxito. A sociedade de Jesus, extinta em 1768, interrompeu seu trabalho e a breve
experiência sem continuidade, não permitiu uma mudança cultural pela educação
dos povos indígenas.
No século XIX, o cenário começou a adquirir novos contornos,
principalmente depois da Independência. Embora prevalecendo a família patriarcal,
os latifúndios, a escravidão e a monocultura, esboçam-se nos primeiros sinais de
urbanização e industrialização.
A ajuda aos desamparados revestia-se de rias formas: esmolas dadas
nas igrejas ou em praças públicas, onde os mendigos se instalavam. As crianças
abandonadas, eram recolhidas na “roda dos expostos”, um dispositivo que
preservava o anonimato dos que abandonavam recém-nascidos. As Santas Casas
de Misericórdia, praticavam obras assistenciais.
Quando declinou a escravidão, o auxilio à pobreza envergonhada, se
dava através de atitudes paternalistas, gerando submissão e dependência às
classes dominantes.
Com o advento da República e a separação entre Igreja e Estado,
numerosas congregações religiosas passaram a desenvolver maior atuação no
campo social.
21
A industrialização, o progresso da tecnologia e o regime capitalista nos
primeiros anos do século XX, agravam a alienação das forças de trabalho e a
marginalidade em larga parcela da população.
Na década de 1930, o governo preocupado muito mais em dar suporte ao
desenvolvimento industrial, tomou uma série de medidas, dentre elas a promulgação
de leis trabalhistas e a criação da previdência social. A partir de 1940, se expressam
institucionalmente à articulação (nem sempre pacífica) entre o Estado e a sociedade,
com vistas à definição de direitos e políticas de conteúdo social.
Historicamente, no Brasil, a assistência revelou-se estratégica para o
enfrentamento da questão social. Sob a evidência das desigualdades, o Estado vem
idealizando e implementando políticas de caráter compensatório. “Para tanto,
concebe e implementa políticas e cria organismos responsáveis pela prestação de
serviços, direcionados às camadas mais pobres da população, com vistas a fazer
frente a precárias condições de vida das classes subalternizadas (BARROCAS,
2005, p.45).
As intervenções estatais direcionadas ao enfrentamento da pobreza, têm
sido marcadas pelo favor, clientelismo, dentre outras formas de criar dependência
dos beneficiários. Tais intervenções decorrem de uma matriz cultural conservadora e
oligárquica, onde os interesses do capital sempre foram privilegiados, em detrimento
dos interesses do trabalho. Tal postura política historicamente restringiu, ou mesmo
negou, as condições objetivas para a conquista da cidadania, pelas classes
empobrecidas, sendo portanto determinante para a permanência de gerações
sucessivas de atores sociais, cujas demandas não adquirem visibilidade na cena
estatal.
Nesse cenário, a assistência aos pobres manifestou-se por longo tempo,
através de ações eventuais associadas à idéia de caridade ou paternalismo, como
missão da igreja, da benevolência da sociedade civil, ou mesmo por iniciativas
governamentais, levadas a efeito pelas primeiras-damas.
22
Somente a partir da Constituição Federal de 1988, com a consolidação do
processo democrático nacional, a assistência social tem seu “status” de política
pública, formalmente reconhecido. No que tange à questão social, registra-se um
marco na reorientação da Assistência Social, que passa a ser definida como direito
do cidadão e dever do Estado, inserindo-se, juntamente com a Saúde e a
Previdência, no tripé da Seguridade Social.
Entre a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a conquista da
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), passaram-se cinco anos, vez que essa
lei foi aprovada em Dezembro de 1993, resultante de um amplo processo de
articulação da sociedade, em que atores manifestam-se nas lutas pelas garantias de
direitos sociais básicos, à população brasileira empobrecida.
Mais que um texto legal inovador, um conjunto de idéias, de concepção e
de direitos, a LOAS sugere mudanças significativas, que extrapolam a modernização
e introdução de novas técnicas ou formas de gestão.
A LOAS representa uma mudança fundamental na concepção da
Assistência Social, como política de seguridade social, passando a constituir-se em
salvaguarda da sociedade civil, contra as manipulações e práticas de corrupção e
clientelismo político (CARVALHO, 2001, p. 73).
Analisando se os brasileiros m assegurados seus direitos sociais,
Sposati tentou mostrar a tendência à particularização em que se assenta o campo
da Assistência Social, nos seguintes termos:
Superar a assistência social enquanto ajuda, significa conferir-lhe o estatuto
de uma política social, e articular a mesma como proposta universal.
Embora não se tenha perspectiva de cristaliza-la como forma discriminada
de atenção, é necessário que esta área ganhe nova visibilidade, saindo do
limbo. Deve-se lembrar que, embora conte com um aparato organizacional e
orçamentário, a assistência social blica não se explica como uma política
social, à medida que esta é conflito, oposição e contradição de interesses
(SPOSATI, 1991, p.16).
Tais observações remetem a se considerar que, atualmente, as políticas
sociais assumem caráter setorial, e se voltam para o universo da população. Nessa
23
perspectiva, destacam-se a educação e a saúde, entendidas como dever do Estado
e direito de todos os cidadãos. De modo diferente, a Assistência Social, assume
caráter transversal, ou seja destina-se, não ao universo populacional, mas aos
segmentos populacionais excluídos e vulnerabilizados, que enfrentam dificuldades
próprias, oriundas da situação de pobreza ou miséria.
Como política transversal, destinada “aos que dela necessitar”, a
assistência social estabelece direitos e prerrogativas sociais como a garantia dos
mínimos sociais, a todos os brasileiros. Conceituando os mínimos sociais, (BRANT,
2000, p.29) adverte que esse padrão “está diretamente relacionado ao patamar
civilizatório alcançado por determinada sociedade, acrescido das condições
socioeconômicas, políticas e culturais”. Observa também, que esses mínimos sociais
não são imutáveis, tendem a se alterar pela ação coletiva dos cidadãos, pelo avanço
da ciência, pelo grau e perfil das produções econômicas e pelas forças políticas.
Interferem, portanto, nos padrões dos mínimos sociais, fatores abrangentes, não se
limitando às condições de sobrevivência dos indivíduos, mas também, às garantias
de exercício da cidadania a que todos os cidadãos têm direito.
Assim compreendida, a Assistência Social, constitui-se política de longo
alcance, na medida em que a sociedade humana termina por criar exclusões e
vulnerabilidades, e as heterogeneidades dos seres humanos geram necessidades
especiais.
É, portanto, uma política pública que se ocupa em prover a sociedade,
para enfrentar as fragilidades de determinados segmentos sociais, superar
exclusões sociais, defender e vigiar os direitos mínimos de cidadania e dignidade. É
política de atenção e de defesa de direitos.
Ao discutir a Assistência Social sob a concepção de políticas públicas,
Demo (2004) observa que, além de significar direito à sobrevivência digna para os
grupos vulnerabilizados, incapazes de se auto-sustentar, não se configura, por si só,
estratégia de enfrentamento e resolução de desigualdades sociais. O combate à
pobreza, requer a introdução de outros componentes da política social, voltados
para processos emancipatórios.
24
Essas estratégias emancipatórias se fundam na cidadania organizada dos
interessados, trabalha com sujeitos co-participantes e co-decisores, e não como
objetos manipulados necessários à manutenção do assistencialismo (idem, 2004).
Observa-se que a força dos movimentos sociais tem levado o Estado a
assumir políticas sociais participativas, onde a Assistência Social é política, não
pela referência legal que lhe confere a Constituição Federal de 1988 e a sua Lei
Orgânica, como também porque abriga e acomoda interesses de classes
constituindo-se base de consenso da ordem institucional; ao mesmo tempo, que é
espaço de resistência, de luta pela sobrevivência, de afirmação da cidadania e de
negação dos mecanismos que reduzem o trabalhador à condição de sua mão-de-
obra.
É compreensível que num Estado democrático, ampliem-se os níveis de
exigência da população e suas cobranças aos governantes, de alargamento do
acesso a programas e projetos sociais, nas lutas pelas conquistas de melhoria nos
níveis de qualidade de vida.
Nesse processo democrático, os avanços e conquistas na área da
assistência social são significativos; entretanto, convive-se com um duplo fenômeno:
no plano jurídico-institucional, a Assistência Social é reconhecida como política
pública, dimensionada como direito do cidadão e dever do Estado. No plano da
intervenção estatal, apesar dos esforços a então desenvolvidos, o Brasil ainda
apresenta graves indicadores de desigualdades.
No período compreendido entre os anos de 2000-2006, a economia
brasileira, analisada sob o prisma latino-americano e mundial, apresentou fraco
desempenho.
O desempenho negativo da economia da América Latina (-0,6%) deveu-
se, em parte, à continuada crise Argentina (-16,00%) que se arrasta desde 2000, e,
aos resultados negativos do Paraguai (-3,0%), Venezuela (-6,2%) e Uruguai
(-11,1%). O México e o Brasil, países de maior importância econômica relativa, na
25
região, apresentaram crescimentos modestos de, respectivamente 1,5% e 0,94%
(CEPAL, 2002).
Diante das contradições em seu desempenho econômico, o Brasil vem
enfrentando dificuldades para reduzir indicadores de pobreza e desigualdades, e
inserir-se na nova lógica da competitividade do mercado mundial.
O gigantismo da crise social brasileira vem provocando o agravamento da
violência urbana, denotando um quadro caótico, principalmente nas grandes
metrópoles.
A visibilidade dos efeitos da forte concentração de renda no Brasil é
transparente, pois no país esta concentração é uma das piores do mundo, e tal
realidade dificulta o êxito de iniciativas voltadas à superação da pobreza. Expressa
bem esse dilema, o que sugere Ricardo Paes de Barro: “o Brasil não é um país
pobre, é um país com muitos pobres”.
No caso do Ceará, as dificuldades são maiores. Diferente do Brasil, o
Estado é pobre, e possui muitos pobres; portanto, as condições gerais do país onde
30% da população é constituído de pobres, se reflete no Estado, onde 24,3%
(4.226.254 pessoas) sobrevivem em situação de extrema pobreza, com renda
mensal menor que ½ salário mínimo (IBGE/PNAP, 2003).
Diante dessa realidade, a Lei Orgânica da Assistência Social assume
dimensões que extrapolam preocupações, com o atendimento qualitativo das
necessidades básicas do cidadão, e introduz novas formas de gestão, passando por
uma redefinição de ações e competências no âmbito das instâncias de poder.
O município torna-se instância legítima para problematização e
equacionamento dos problemas vivenciados, no cotidiano popular.
Percebe-se que, quanto mais próximo da comunidade se efetivam as
decisões políticas, maior é a participação e o comprometimento das pessoas na
busca de soluções para suas questões concretas.
26
A gestão da política de Assistência Social, hoje, é norteada pelo Sistema
Descentralizado e Participativo, assim como a maioria das políticas sociais. Nesse
sentido, a política de Assistência Social se organiza por um conjunto de instâncias
de gestão, de negociação, consensos e deliberações nele incluídos, representação
governamental das três esferas de poder e da sociedade civil, através dos
Conselhos e Comissões Intergestoras Bipartite e Tripartite.
Numa avaliação do desempenho da política de Assistência Social, Silva
(2002) identifica:
“várias são as razões que vêm dificultando e/ou impedindo a implantação
do Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Social,
inviabilizando-o na sua totalidade: ... suas raízes históricas; ... a falta de
comando único das ações: ... a redução da descentralização ao simples
repasse de serviços, sem transferir poder decisório” (SILVA, 2002, p.4).
A partir dessa avaliação, Silva (2002) sugere, que o avanço qualificado na
operacionalização da política de Assistência Social indica a necessidade de reflexão
de algumas questões, colocando em destaque: o controle social, o qual não se
efetiva somente com a existência e funcionamento dos conselhos e fundos. Estes,
em geral, o se constituem espaços democráticos de interlocução blica e
deliberação colegiada, entre governo e sociedade civil, mas, ao contrário, limitam-se
à condição de cumpridores de meras formalidades. Assim compreendendo, a autora
sugere:
Enquanto a assistência social for tomada como política pública menor,
moeda de troca e instrumento de barganha nas composições políticas de
distribuições de campos para gestão, estará comprometida a sua
possibilidade de tornar-se uma política que contribua com o processo de
organização da população em defesa da democracia, pelo acesso aos bens
e riquezas produzidas no País. (SILVA, 2002, p.6).
Nesses termos, a Assistência Social, como política efetivada, determina
a ampliação do nível de exigência da população, nas condições de visibilidade dos
gastos públicos, de participação nas decisões, no usufruto de bens, serviços,
riquezas e pleno exercício da cidadania.
27
Desde o início da construção do Sistema Único de Assistência Social, em
2004, em cumprimento à deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência
Social, realizada em dezembro de 2003, a política de Assistência Social tem
passado por mudanças institucionais importantes.
A Norma Operacional Básica (NOB.2), definiu novas regras para o
financiamento da política de Assistência Social, vinculando valores ao piso de
atenção atribuído a cada município, considerando principalmente, o tamanho de sua
população.
A matricialidade familiar constitui-se ponto central. Nessa perspectiva,
são pensadas as ações de proteção social básica e especial.
A proteção social básica, destina-se a prevenir situações de risco e
fortalecer os vínculos familiares e comunitários de pessoas que vivem “em
situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (...) e/ou
fragilização de vínculos afetivos relacionais e de pertencimento social
(PNAS, 2004, p.27).
Dentre os serviços e benefícios de proteção social básica, destacam-se o
Programa de Atenção Integral à Família, que realiza a coordenação da rede de
serviços sócioassistenciais; em nível local, o Projeto Agente Jovem de
Desenvolvimento Social e Humano e o Benefício de Prestação Continuada.
A Proteção Social Especial destina-se à famílias em situação de risco
pessoal e social, isto é, famílias que tiveram seus direitos violados (...),
divide-se ainda entre serviços de média complexidade e alta complexidade,
sendo que os primeiros são aqueles destinados à famílias e indivíduos que
ainda preservam os vínculos familiares e comunitários, ao contrário dos
últimos (PAES – SOUSA, 2005, p.3).
Para restabelecer os direitos das famílias em situação de risco pessoal e
social, por exemplo, aquelas cujos filhos vivenciam situação de exploração no
trabalho infantil, exploração e/ou abuso sexual, a Política de Assistência Social
sugere a inter-setorialidade e articulação com o Poder Judiciário, Ministério Público e
outras instâncias do Poder Executivo.
28
A nova Política de Assistência Social idealizou a criação do Sistema
Nacional de Informação, com o objetivo de institucionalizar as práticas de
monitoramento e avaliação de um conjunto de ações, serviços e benefícios da
Assistência Social. A produção e utilização sistemática de informações, constitui-se
instrumento de gestão que implica investimentos em qualificação de pessoal para
que se efetive sua implementação.
Com a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, em Janeiro de 2004, ampliaram-se os instrumentos financeiros para a
arrecadação e repasse de recursos destinados ao público-alvo da política de
Assistência Social. Além do Fundo Nacional de Assistência Social, que tem na
COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), sua principal
fonte de recursos, foi criado o Fundo Nacional de Combate e Erradicação da
Pobreza, sendo este a principal fonte de verbas para a operacionalização do
Programa Bolsa Família. Vale salientar que este Programa não faz parte do Sistema
Único da Assistência Social (SUAS), sistema que representa a almejada unidade
dessa política, e cuja consolidação exige a adoção de estratégias de resistência,
contra o conservadorismo prevalecente que ainda manifesta-se no caráter residual
de alguns Programas, numa negativa do dever do Estado em reconhecer o direito de
todos os brasileiros.
A implantação do SUAS como sistema único, supõe unir para garantir, o
que implica em: romper com a múltipla fragmentação programática que hoje
existe, com a fragmentação das esferas de governo e o paralelismo de
gestão; com a fragmentação das ações por categorias ou segmentos
sociais, sem compromisso com a cobertura universal e a qualidade dos
resultados. (SPOSATI, 2004, p.2).
Além do desafio de efetiva organização do SUAS, a Política de
Assistência Social ainda se depara com dificuldades para efetivação do controle
social, tal como preconiza a Constituição Federal de 88 (Art. 2004, inciso II) e na
LOAS, em seu artigo 5º, inciso II, na seção que trata das diretrizes da organização
da Assistência Social. A perspectiva de controle contida nesses dispositivos legais,
está associada ao ideal de participação social, mas, a efetivação dessa premissa
ainda é modesta.
29
Muito embora os Conselhos de Assistência Social tenham sido
formalmente criados em todas as dimensões (nacional, estaduais e municipais), o
exercício da participação para o controle da política ainda é tímido pela fragilidade
de desempenho dos Conselhos, no cumprimento de suas atribuições. A esse
respeito, estudo de Campos (2006, p.1), levanta o seguinte questionamento: “É
possível a sociedade controlar as ações do governo na área da Assistência Social?
Objetivando responder a esse questionamento, Campos (2006) elenca
uma série de condições para o exercício do controle social. Em princípio, defende a
tese de que o controle social constitui-se instrumento de gestão democrática e
somente nesta, tem lugar.
A Assistência Social como política pública, organizada a partir das
diretrizes da descentralização e da participação, tem na sociedade civil a legítima
representação dos interesses coletivos. Nessa lógica, a responsabilidade pela
condução da Assistência Social como política pública é, em cada esfera de governo,
uma primazia do Estado (LOAS, art.5º, inciso III).
“A sociedade civil, quando executa, deve fazê-lo de modo complementar
(ib id, 2006, p.2)”. Com esse entendimento, a idéia de participação assume
significado de presença ativa da sociedade, na definição de prioridades, na
indicação de critérios de acesso e de fiscalização das ações governamentais. Difere,
portanto, da idéia de que a sociedade civil organizada em ONG’s ou outras
instâncias caberia participar, não da execução da política, porque essa competência
é do Estado, mas de seu controle em todas as dimensões.
Observamos contudo, que na denominada rede de prestação de serviços
assistenciais, predomina a presença de uma fração da sociedade civil com
forte experiência e inquestionável disposição para o trabalho executivo. Esta
é uma herança cultural que precisamos pautar, com urgência, em nossos
debates. Esta ação mais executiva e menos propositiva e fiscalizadora por
parte da sociedade civil, fortalece o ethos que identifica e assemelha
assistência social com assistencialismo, com caridade ou manifestação de
boa vontade (CAMPOS, 2006, p.3).
30
Reafirma-se a idéia de que numa gestão democrática, as atribuições da
sociedade civil não concorrem para a execução de políticas públicas, mas, para a
importante missão de controle e fiscalização das ações governamentais.
Os conselhos foram pensados nessa perspectiva, como destaca Teixeira
(2000), o processo de formação dos Conselhos .
O Conselho se insere num movimento maior de constituição de uma esfera
pública, que poderia ser melhor caracterizada como esfera ampliada, uma
vez que é uma extensão do Estado até a sociedade, através da
representação desta regida por critérios diferenciados da representação
parlamentar ou mesmo sindical (TEIXEIRA, 2000, p. 103).
Tal movimento foi gradativamente generalizando-se através da
disseminação da idéia de que os mecanismos tradicionais da democracia
representativa não se revelavam suficientes para legitimar as demandas populares,
cada vez mais abrangentes, exigindo portanto, novos mecanismos de expressão e
reconhecimento.
Nessa lógica, constituindo-se de forma paritária, o Conselho é concebido
como espaço efetivo para o exercício das relações democráticas entre o governo e a
sociedade civil. Fazer fluir essa possibilidade é o grande desafio para a gestão da
política de Assistência Social, orientada para o interesse público comprometido,
portanto, com a equidade e a justiça social. Mas, essa questão por sua relevância
explicativa da problemática delineada nesta pesquisa, tem destaque na segunda
parte quando se discute, com maior profundidade, os desafios do controle social
pelos Conselhos.
A contemporaneidade brasileira tem, portanto, determinantes históricos
incontestáveis. Sem maiores aprofundamentos das dimensões culturais,
econômicas, sociais e políticas, pode-se mesmo assim, recorrer a esses breves
comentários para discutir a Assistência Social em seus determinantes e desafios
presentes.
31
Percebe-se o quanto é recente a concepção da Assistência Social com
seus nexos internos, determinações histórico-estruturais, relações de causas e
efeitos e nculos orgânicos com outros fenômenos e processos, apesar de todo o
aparato legal vigente.
“..., a assistência social é comumente identificada como um ato subjetivo, de
motivação moral, movido espontaneamente pela boa vontade e pelo
sentimento de pena de comiseração ou, então quando praticada pelos
governos, como providencial administrativa emergencial de pronto
atendimento. Voltado tão somente, para reparar carências gritantes de
pessoas que quedaram-se em estado de pobreza extrema (PEREIRA, 1996,
p.219).
Diante dessa percepção dominante, muitos têm sido os entraves e
resistências, contra os esforços empreendidos para materializar os postulados da
Constituição Federal de 1988, que concorrem para transformar a assistência social
em política pública.
Como se tem clareza, o reconhecimento do dever legal da Assistência
Social como direito, não promoveu de imediato, uma inversão nas práticas
assistencialistas e clientelistas, culturalmente disseminadas no Brasil.
Os mais recentes pressupostos, métodos e técnicas formuladas no ideal
de consolidação do Sistema Único da Assistência Social, delineiam referências
anunciando novas perspectivas para o enfrentamento dos determinantes da pobreza
sendo esta, a temática que se passa a discutir.
2.2 A condição de pobreza como elemento desafiador da política de
assistência social.
A pobreza apresenta-se como um fenômeno multidimensional e
multifacetado, cuja complexidade remete para diferentes interpretações.
Por comportar diferentes definições, o conceito de pobreza é analisado a
partir de diversas referências metodológicas de mensuração. Dupas (2000), em suas
formulações sobre a pobreza, qualifica esse fenômeno como “incapacidade de
satisfazer necessidade básicas”, e destaca a complexidade em definir a linha que
32
demarca os pobres e os não pobres, em virtude das múltiplas características,
costumes, expectativas e hábitos das comunidades, sendo difícil ou mesmo
impossível definir uma única linha de pobreza que seja válida para todos os países e
realidades econômicas e sociais.
Concordando com essa linha de raciocínio, Jacooud (2007) sugere que a
pobreza revela-se como situação de destituição, e implica em carências e
necessidades não atendidas. No que concerne a definição de “linha de pobreza”,
esse autor destaca a parcialidade de tal definição, porque os conceitos do que são
bens e serviços essenciais, não se ancora em critérios absolutos, não havendo
consensos constituídos nesse âmbito.
Partindo dessa lógica, Jaccoud, defende que as “linhas de pobreza” têm
papel limitado:
“Facilitam a apreensão dos processos sociais em curso, em uma sociedade,
amparam decisões políticas e operacionais, face aos programas de
combate à pobreza, e possibilitam seu acompanhamento e avaliação.
Contudo, permitem uma apreensão apenas parcial sobre esse fenômeno
social referido à destituição e carências” (JACCOUD, 2007, p. 27.28).
Segundo Dupas (2000), a medida do universo de pobres em uma
determinada população deve considerar a “linha de pobreza”, parâmetro invariante
no tempo que mede as condições de vida dos indivíduos, em um país ou região.
A partir da classificação da “linha de pobreza”, Dupas (2000), qualificou o
fenômeno em pobreza absoluta e pobreza relativa. A pobreza absoluta expressa a
carência de bens e serviços de primeira necessidade, e a pobreza relativa refere-se
a situações em que as pessoas têm suas necessidades sicas satisfeitas, porém
não têm acesso a outros bens e serviços utilizados ou usufruídos habitualmente por
outras pessoas da comunidade.
Na opinião de Carneiro; Costa (2003, p.9) quase sempre a situação de
pobreza absoluta é persistente, e está associada a outras dificuldades como “baixas
expectativas quanto a futuras possibilidades e condições presentes e futuras de
seus filhos, baixa auto-estima, resignação, ressentimento e subalternidade em
33
relação a outros, etc.” Tais comportamentos derivam das relações que esses grupos
vivenciam em seu entorno, e com grupos de não pobres. (CARNEIRO; COSTA,
2003, p.9).
Paes de Barros; Henriques; Mendonça (2001) estudando a condição de
pobreza na realidade brasileira, admitem que o fenômeno não pode ser definido de
forma única e universal, e o identificam como “situações de carência em que os
indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as
referências socialmente estabelecidas, em cada contexto histórico (Idem, 2001,
p.02).
Outros estudos sobre a pobreza no Brasil, chamam a atenção para o fato
de que crescimento econômico, extremamente rápido, não significa diminuição
sensível da pobreza.
Nesse sentido é que Lopes (1993), analisando a pobreza metropolitana
traçou linhas distinguindo entre os pobres, um contingente persistente ou mesmo
fixo, e outro a que chama de “temporários”, conceituando-os como aqueles cuja
proporção pode ser diminuída pela intensificação da industrialização.
“e pobres são aqueles setores que com as imigrações inter-regionais
inserem-se nas regiões urbanizadas... na medida em que a industrialização
nessas regiões ainda é insuficiente para absorver toda essa força de
trabalho” (LOPES, 1993, p.181).
Essa mesma linha de raciocínio que vincula a pobreza às condições de
acesso ao trabalho no mundo capitalista industrializado, é defendida por Claus Offe
(1990).
Em sua concepção, os indivíduos atingidos por tais processos, entram
numa situação na qual não conseguem mais fazer de sua própria capacidade de
trabalho, a base de sua subsistência, vez que não controlam, seja em termos
individuais ou coletivos, as condições de utilização dessa capacidade. Isso não
significa que esses indivíduos, por si mesmos, tenham as condições de descobrir a
solução para enfrentar e resolver seus problemas, vez que consiste provavelmente
34
em alienar sua força de trabalho em troca de dinheiro, isto é, aparecem no mercado
de trabalho ao lado da oferta. Para especificar esse problema, Offe faz a distinção
entre proletarização ativa e passiva.
Entende por “proletarização passiva” algo contínuo, ou seja, “a destruição
das formas de trabalho e de subsistência, até então habituais” (OFFE, 1990, p.16)
considera a proletarização passiva como algo incontestável e de importante aspecto
social e estrutural, decorrente do processo de industrialização.
Argumenta ainda o autor que do ponto de vista sociológico, nada indica
que os indivíduos atingidos por essa “desapropriação” de suas condições de
utilização de seu trabalho, ou de outras condições de subsistência transitem
espontaneamente para o estado de “proletarização ativa, isto é, passem a oferecer
sua força de trabalho ao mercado .(Idem, 1990, p.16).
Claus Offe propõe ainda que do ponto de vista teórico, existem diferentes
alternativas, funcionalmente equivalentes a proletarização que se realizaram
historicamente e que continuam atuais:
emigrar com o objetivo de restabelecer, em outro lugar, uma existência
autônoma; assegurar a subsistência por meio de formas mais ou menos
organizadas de roubo; fugir para formas alternativas de vida e de economia,
muitas vezes sustentadas por auto interpretação religiosa; baixar o vel de
subsistência; recorrer a mendicância ou a assistência social... (OFFE, 1990,
p.16).
Tais considerações remetem a perspectiva da assistência social frente
aos desafios de promover a garantia de direitos aos empobrecidos, pela via do
sistema de proteção social.
O olhar de Castells (1999) sobre a pobreza, identifica esse fenômeno
como “uma norma definida institucionalmente”. Refere-se a definição de níveis de
recursos, abaixo dos quais não é possível atingir o padrão de vida, considerado
mínimo em dada sociedade, em época determinada. Este autor associa o conceito
da miséria à compreensão de padrões de pobreza extrema, onde se situam aqueles
35
com mais baixo nível de renda e bens, vivendo privações e desvantagens sociais e
econômicas (CASTELLS, 1999, p.96).
Na compreensão de Demo (1994), a pobreza material está associada ao
comportamento, atitudes e relações culturais, sociais e políticas. Não se restringe as
questões puramente econômicas, mas a outros problemas que limitam a capacidade
do pobre de apropriar-se de bens e serviços disponibilizados pelos governos.
Observando a realidade latino-americana, Kliksberg (2001) identifica dez
falácias relacionadas à pobreza, quais sejam:
1. A negação ou a minimização da pobreza: Alguns setores relativizam este
problema com argumentos do tipo: “Pobres em todos os lugares”. Tal postura
inviabiliza a postulação de políticas emancipatórias capazes de dar conta das
questões que permeiam à condição de pobreza;
2. A falácia da paciência: Costumeiramente os governos priorizam outras áreas
em detrimento dos problemas sociais. Os danos causados por essas atitudes podem
ser irreversíveis para as gerações presentes e comprometer o desempenho das
gerações futuras;
3. O crescimento econômico é suficiente: não se discute que o
desenvolvimento econômico, por si só, não é capaz de dar conta das múltiplas
facetas que comprometem o desenvolvimento social.
4. A desigualdade é um fato da natureza e não um obstáculo para o
desenvolvimento: Alguns economistas asseguram que a desigualdade é uma etapa
inevitável e até necessária ao desenvolvimento, mas essa falácia não se sustenta,
considerando-se que a desigualdade produz efeitos regressivos na economia e
impactos perversos na sociedade;
5. A desvalorização da política social: É preciso inverter a gica que tem
mantido a política social como compensatória aos efeitos da política econômica
36
excludente. Em vez de compensar os efeitos da lógica econômica, a política social
deve ser concebida como condição indispensável do desenvolvimento econômico.
6. A manifestação do Estado: O discurso sobre a ineficiência do Estado na
condução das políticas públicas não extrai desse poder a obrigação de garantir
direitos aos cidadãos. É mais pertinente que as instâncias de controle social cobrem
do Estado, o cumprimento de suas responsabilidades.
7. Sobre as possibilidades da sociedade civil contribuir para o desenvolvimento:
Algumas correntes do pensamento econômico desacreditam no trabalho das
organizações não governamentais. Essa rejeição “pura e simples”, o se justifica
frente a experiências exitosas do trabalho social desenvolvido por algumas ONG’s,
não sendo, portanto, coerente as posturas de negação, mas de maior controle sobre
tais entidades, na utilização de recursos públicos;
8. Participação da Sociedade: Ultrapassadas as barreiras da ditadura, os
discursos acalorados em defesa da abertura democrática, ressaltaram a importância
da participação popular nos determinantes políticos. Entretanto, essa participação
ainda não se efetivou integralmente, face a persistência das decisões tomadas no
interior dos gabinetes, restringindo-se as oportunidades de efetiva participação
popular, nas definições das prioridades políticas;
9. A esquivança ética: Os males sociais imputáveis à condição de pobreza,
não se justificam. Uma postura ética diante da realidade desigual, remete para a
necessidade de se discutir amplamente os princípios éticos, que norteiam decisões
políticas.
10. Não outra alternativa: O discurso do ‘pensamento único” defendido pela
economia ortodoxa acumulou sucessivos fracassos e o merece mais crédito. O
consenso intelectual sobre a globalização da economia foi rompido, ante a
postulação de que é possível trilhar novas vias para favorecer o desenvolvimento,
sem submeter extensas camadas da população a sacrifícios, em favor de pequenos
grupos.
37
O conceito de pobreza, para além das formas descritivas, incorporando a
vulnerabilidade política do pobre frente a uma história de subordinação, não constitui
uma concepção hegemônica.
Compreender a questão da pobreza no Brasil requer, não uma
concepção mais abrangente do fenômeno, como também uma percepção mais clara
de suas características, dentro do contexto nacional.
A noção de pobreza é, em princípio, impreciso e pressupõe graduações.
Enquanto fenômeno universal, é sempre condicionado e relativo às características
de uma sociedade. Trata-se de uma noção historicamente determinada.
Santos (1979), considera que a pobreza é gerada pela opção de
desenvolvimento econômico e social, que determinada sociedade venha a adotar.
Por comportar idéias de recursos, necessidades e escassez, jamais
poderia ser compreendida como noção estática e de igual significado, em toda a
sociedade. A partir dessa compreensão, sobre o conceito da pobreza, Santos (1979)
sugere:
A medida de pobreza é dada antes de mais nada pelos objetivos que a
sociedade determinou para si própria. É inútil procurar uma definição
numérica para uma realidade cujas dimensões agora e no futuro são
definidas pela influência recíproca dos fatores econômicos e sociais e
peculiares a cada país. (SANTOS, 1979, p. 9 –10).
Compreendida nesses termos a pobreza se configura como manifestação
direta das relações socioeconômicas, que se travam em uma dada sociedade, e
certamente não se reduz à condição de privações materiais.
Face à pluralidade de situações que a condição de pobreza comporta sua
noção, via de regra, é mediada por indicadores de renda, emprego e também de
acesso a recursos sociais significativos, para a garantia da qualidade de vida, a
exemplo de programas de saúde, habitação, educação, qualificação profissional,
trabalho, transporte, segurança e previdência social, dentre outros.
38
Sobre a condição de pobreza Yazbek (1993) identifica:
...São pobres aqueles que, temporária ou permanentemente, estejam
impedidos do acesso a um mínimo de recursos e, portanto, excluídos, em
níveis diferenciados, da riqueza social. Entre eles, estariam: os privados de
meios de prover a própria subsistência, e que sobrevivem com ajuda dos
outros; os trabalhadores assalariados ou por conta própria situados nas
mais baixas faixas de renda; os desempregados ou subempregados com
possibilidade remota ou nenhuma possibilidade de absorção pelo mercado.
(YAZBECK, 1993, p.62).
Os mais recentes estudos sobre pobreza (YAZBECK, 1993; JAGUARIBE,
1988; SANTOS, 1979; PEREIRA, 1996; dentre outros) são enfáticos em considerar
que suas dimensões extrapolam o caráter econômico. Na realidade brasileira, o lado
material, obviamente mais visível aos estudiosos do tema, têm merecido maior
abundância de formulações, mas entende-se que não é possível tratar um fenômeno
dessa natureza, isolando os aspectos econômicos daqueles políticos, culturais e
sociais, dentre outros.
não se discute o fato de que a pobreza não é fenômeno puramente
econômico. Ela não se caracteriza apenas pela falta de acesso às riquezas
produzidas, mas, também, pela falta de acesso à: educação, condição de vida
saudável, participação, enfim, aos direitos sociais e humanos.
Diante da retomada de compreensão dessas falácias é importante
destacar o papel do Estado, como indutor do desenvolvimento. A esse respeito vale
lembrar o pensamento de Stern (2001), economista chefe do Banco Mundial: “O
crescimento econômico é maior em países onde a distância entre ricos e pobres é
menor, e o governo possui programas para melhorar a equidade”.
A Assistência Social, entendida como política pública para a garantia dos
direitos aos que dela necessitam, tem diante de si um enorme contingente de pobres
nos quatro cantos do País. Assumir esse desafio, pressupõe compreender, antes de
mais nada, o caráter intersetorial indispensável à garantia dos direitos dessas
populações, permeados por acesso, a outras políticas de saúde, habitação,
saneamento sico, educação, profissionalização, trabalho e renda, dentre outras,
cujas dimensões se complementam e se ajustam ao paradigma do olhar para o ser
39
humano, em sua integralidade, em seu todo, privilegiando-se sua convivência
familiar, cujo fortalecimento dos laços se anunciam como indispensáveis ao
rompimento da condição secular de “ser pobre”.
2.3 A assistência social como política de proteção social
A Constituição de 1988, identifica a Assistência Social como Política de
Proteção Social não contributiva, componente do Sistema de Seguridade Social
brasileiro. Desde então, muitas iniciativas gerenciais foram adotadas para efetivar
esse preceito legal. Este texto apresenta a base conceitual formulada por diferentes
estudos e pesquisas, em torno da “proteção social”, enquanto categoria analítica da
Política de Assistência Social, no Brasil.
Considerando a proteção social como fator de justiça social, A. Euzéby
(2004), desenvolveu um estudo para identificar a relação entre os fundamentos
clássicos da justiça social com a noção contemporânea de proteção social.
A. Euzéby (2004), professor de Ciências Econômicas de uma
universidade francesa, recorreu a inúmeros trabalhos produzidos sobre o tema da
justiça social, com destaque para os estudos de Hayek (1899-1992), teórico que
originou a corrente de pensamento sobre o “libertarismo”, congregando o
pensamento de filósofos e economistas, para fundar sua concepção de justiça,
sobre a idéia do primado absoluto da liberdade individual, da defesa da propriedade
privada, da supremacia do mercado e do combate contra o poder do Estado. Para
esses pensadores, uma sociedade justa é acima de tudo uma sociedade livre.
A partir de tais referências, Hayek defende que a ordem do mercado
torna-se, graças ao mecanismo de preços, o único meio capaz de coordenar todas
as atividades individuais. Para ele, “justiça social é miragem, pesadelo, superstição
quase religiosa ou pretexto para ser usado como pressão sobre os outros homens”
(Hayek, 1980 apud Euzéby, 2004, p.13). Nessa lógica, a justiça social se configura
como uma proposição sem sentido e duplamente perigosa, porque procura
“personificar” a sociedade, esquecendo que esta é a soma de seus membros. A
justiça social quer considerá-la, não como uma ordem espontânea de homens livres,
40
mas como uma organização cujos membros devam servir a uma única escala de
objetivos. Na defesa dessa tese, Hayek (1981, p.80), afirma que o prestígio da
crença na “justiça social”, é provavelmente a ameaça que atinge mais gravemente a
maioria dos outros valores de uma civilização de liberdade e destaca: quanto mais a
crença na justiça social reger a ação política, mais o processo irá se aproximar de
um sistema totalitário (HAYEK, 1981, p.80 apud EUZÉBY, 2004, p.13).
Partidário das idéias de Hayek sobre justiça social, R. Nozick (2004)
sugere que uma sociedade pode ser considerada justa, se respeitar a liberdade
absoluta dos indivíduos e o caráter inviolável de seus direitos de propriedade. A
teoria de justiça formulada por Nozick, se baseia em três princípios: de apropriação;
de transferência e de retificação.
O princípio de apropriação se baseia na noção de que qualquer pessoa
pode tornar-se proprietário legítimo de um bem, que não tenha sido antes
propriedade de ninguém, desde que essa atitude não restrinja o bem-estar de
ninguém.
O princípio da transferência se sustenta na idéia de que qualquer um
pode tornar-se proprietário legítimo de uma coisa, ao fim de uma transformação
voluntária (troca, doação, herança);
O princípio da retificação consiste na crença de que as coisas adquiridas
ou transferidas de maneira legítima, estarão sujeitas à compensação ou reparação.
Para Nozick, o que importa não são as desigualdades de renda de
riqueza ou de vantagem, mas o fato de que o Estado deve respeitar e proteger os
direitos fundamentais do indivíduo: “direito de cada pessoa ter a plena propriedade
de si mesmo e das coisas de que é proprietária legítima” (NOZICK, apud EUZÉBY,
2004, p. 14).
A perspectiva de Estado, concebida por Nozick, converge para a idéia de
“Estado Mínimo”, cuja função limita-se a proteger os indivíduos contra a violência, o
roubo ou a fraude, e garantir o respeito aos contratos. Nessa gica, qualquer forma
41
de proteção social ou de Estado de Bem-Estar, é rejeitada completamente em nome
da liberdade individual e do respeito ao direito de propriedade.
Avançando em seus estudos sobre a noção explicativa da justiça social,
Euzéby (2004), destaca a doutrina utilitarista, não como apologia ao materialismo
egoísta, mas interessada na felicidade de todos os indivíduos. Nessa lógica, as
decisões, as políticas e as instituições, podem ser consideradas socialmente
justas, quando contribuírem para a maximização da utilidade coletiva, que será
entendida como a soma das utilidades individuais. (idem, 2004, p.15).
Sendo o utilitarismo uma doutrina interessada nas conseqüências das
ações das políticas e das instituições, a proteção social fica exposta à apreciações
negativas, sendo muitas vezes acusada de provocar impactos econômicos
desfavoráveis, além de sugerir que os subsídios destinados aos desempregados e
aos pobres, incitariam essas pessoas a permanecerem nessas situações em lugar
de lutarem por encontrar emprego e superarem os limites da situação de pobreza.
Ainda sob o ponto de vista utilitarista, outras considerações remetem a se
encarar a proteção social de forma positiva: redistribuindo rendas em função de
critérios de necessidade e em virtude do princípio da utilidade marginal decrescente,
os benefícios pagos têm boa possibilidade de representar para seus beneficiários
utilidade maior que as perdas de utilidade sofrida pelas pessoas, sobre as quais
incidiram coletas obrigatórias.
Sob a lógica do “utilitarismo de regras”, formulado por (HARROD, 1936,
p.137, apud EUZÉBY, 2004, p.33), o objetivo procurado é a escolha de regras cuja
utilidade total seja maximizada pelo respeito da coletividade. Nessa perspectiva, a
proteção social pode ser analisada como um conjunto de regras, que são justificadas
pela insuficiência de auto-proteção, de caridade, de solidariedade familiar e de
mecanismos de seguro privado. Os benefícios do auxílio social e as indenizações do
desemprego, contribuem também para sustentar o consumo e a atividade
econômica. Tais iniciativas ainda previnem a delinqüência e favorecem a paz e
coesão social. A proteção social concebida a partir desse entendimento, gera
42
vantagens que não são puramente individuais, mas que contribuem para o bem-
estar coletivo.
Euzéby (2004), destaca o ano de 1971 como marco histórico da “teoria da
justiça”, quando emerge nova filosofia política a partir da obra de J. Rawis, pelas
discussões e comentários que provocou e vem motivando ainda hoje. Preocupado
em desenvolver uma solução de reserva para o utilitarismo que por tanto tempo
dominou a tradição filosófica anglo-saxã, interessada somente na maximização da
forma das satisfações individuais, J. Rawls situa sua análise da justiça numa
perspectiva radicalmente diferente. Para ele, o objeto primeiro da justiça.
é a estrutura de base da sociedade ou, mais exatamente, a forma pela qual
as instituições sociais mais importantes repartem os direitos e deveres
fundamentais e determinam a distribuição das vantagens, a partir da
cooperação social (RAWLS, 1991, p.33, apud EUZÉBY, 2004, p. 17).
Assim, a justiça determina a divisão dos “bens sociais primeiros”, quais
sejam, as liberdades básicas (liberdade política, liberdade de expressão e de
reunião, liberdade de pensamento e de consciência, proteção da integridade da
pessoa, direito de propriedade pessoal, proteção contra detenção e prisão
arbitrária), chance de acesso às diversas funções e posições sociais, prerrogativas e
poderes ligados a elas, riqueza e renda, e bases sociais de respeito próprio.
Rawls (1991) defende os princípios de justiça de modo hierarquizado,
segundo uma ordem que qualifica como lexical: o princípio da igualdade de
liberdade de base (cada pessoa deve ter o direito legal ao conjunto mais amplo de
liberdades de bases iguais para todos), como prioritário em relação ao princípio da
justa igualdade de chances (as desigualdades econômicas e sociais, devem estar
em condições, tais que possam ser ligadas a posições e funções abertas para todos)
é estritamente prioritário em relação ao princípio da diferença (as desigualdades
econômicas e sociais devem gerar benefícios aos mais desfavorecidos da
sociedade). Tal hierarquia de princípios sugere que a melhoria da situação das
pessoas menos favorecidas não pode justificar atentados ás liberdades de base,
nem implicar restrições à justa igualdade de chances, enfim, que a origem social não
43
deve influenciar as oportunidades de acesso às diversas funções e posições na
sociedade.
Segundo Rawls, os princípios de justa igualdade de chances e da
diferença, justificam a existência de instituições voltadas para atenuar a influência
das contingências sociais e da sorte na vida das pessoas. Mesmo sem fazer uso do
termo “proteção social”, sua filosofia e mecanismos se inserem na concepção de
justiça, visto que defende a adoção de medidas educacionais, de formação e da
redução das desigualdades além de propor a garantia de um mínimo social, seja
sob a forma de alocações familiares e seguro-doença e desemprego, seja por meio
de um suplemento de renda escalonado, qualificado como imposto de renda
negativo (RAWLS, 1991, p. 316 apud EUZÉBY, 2004, p.19).
Nessa lógica, Rawls delineia o papel das instituições de proteção social
por entender que a divisão de renda resultante do livre funcionamento do mercado,
não considera as necessidades dos empobrecidos. Tais instituições devem,
portanto, objetivar a busca da justiça social através da garantia de mínimos sociais,
em respeito ao princípio de justa igualdade de chances e como mecanismo de
redistribuição de renda, para beneficiar os menos favorecidos pelo sistema
econômico.
Mesmo reconhecendo as contribuições de Rawls (1991), sobre justiça
social, Sen (2000), diverge dos limites que ele impôs a tal conceito. Sen insiste
sobre a diversidade e heterogeneidade fundamental dos seres humanos,
sublinhando que as diferenças ligadas a características físicas e intelectuais,
oferecem possibilidades distintas para que cada um possa escolher a vida
correspondente aos seus desejos.
Sen (2000) articula sua argumentação a partir de dois conceitos:
“capabilidades” e “funcionamento”. O primeiro concentra as possibilidades e as
chances que uma pessoa teria para realizar seus objetivos; o segundo representa
todos os modos de ser e de agir dos indivíduos. A partir da definição desses
conceitos, Sen defende sua tese sobre justiça social centrada nas pessoas,
considerando as diferenças de possibilidades que elas possuem para converter seus
44
bens sociais primeiros (inclusive renda), em liberdade de buscar seus objetivos, isto
é, suas capabilidades.
A justiça social para Sen, situa-se dentro de uma lógica de igualdade de
chances que respeite a visão de bem-estar de cada pessoa, e inclui a proteção
social entre cinco liberdades fundamentais: liberdades políticas, facilidades
econômicas, oportunidades sociais (serviços sociais de base como saúde e
educação), garantia de transparência (garantia de uma rede de proteção social para
as pessoas vulneráveis).
Seguindo a mesma linha de raciocínio desenvolvida por Sen, os estudos
de Fleurbaey (2004) destacam as “realizações fundamentais” dos indivíduos que são
influenciadas por três categorias de fatores: os recursos externos (principalmente
rendas e riquezas) e os fatores internos que os indivíduos não dominam (variáveis
fora do controle, dons naturais), e os fatores internos que se pode controlar tais
como o esforço ou as preferências e objetivos pessoais. A partir dessa
compreensão, a justiça social implica na redistribuição de recursos externos para
que se possa reduzir desigualdades injustas e que escapam ao controle dos
indivíduos. (FLEURBAEY, apud EUZÉBY, 2004, p. 21).
Diante da dificuldade de identificar com precisão os fatores sobre os quais
os indivíduos exercem domínios e responsabilidades, FLEURBAEY distingue nas
realizações fundamentais, aquelas que dependem da responsabilidade individual e
aquelas que demandam certa responsabilidade da sociedade, qualificando estas
últimas como “realizações sociais” que implicam ações redistributiva de proteção
social, destacando cinco dessas realizações: o respeito à vida privada, saúde,
educação e formação; a riqueza, o poder (influencia sobre decisões coletivas) e a
integração social (idem, 2004, p. 22).
Analisando os princípios de justiça formulados por Rawls (1991), Sen
(2000) e Fleurbaey (2004), Euzéby, destaca suas contribuições para o conceito de
proteção social sob o viés do plano ético.
45
Os princípios de justiça convergem portanto, para que se compreenda a
proteção social como:
um conjunto de mecanismos de redistribuição de rendas que tem por
missão beneficiar os menos protegidos pela eficácia do sistema econômico,
ampliar o leque de possibilidades oferecidas aos indivíduos no curso de sua
vida, favorecer a igualdade de chances, reduzir ou apagar as desigualdades
ligadas a fatores negativos que reduzem as potencialidades
(“capabilidades”) de certos indivíduos e, assim, contribuir para a realização
do bem-estar individual e do bem-estar coletivo (EUZÉBY, 2004, p.22).
Coerente com a realidade social, econômica e política mundial, Euzéby
analisa a condição da proteção social no contexto da globalização desencadeada a
partir dos anos de 1980, sob o impulso das teses neoliberais. Mesmo reconhecendo
o viés positivo que o processo de globalização comporta, crítica a adesão a esse
conceito como instrumento sociológico, tomado a serviço das idéias neoliberais
ancoradas sobre as exigências de competitividade entre diferentes países do
mundo, provocando múltiplas formas de redução do papel do Estado e da
administração pública, provocando dentre outras medidas, a redução da proteção
social, em detrimento da ampliação das necessidades dessa proteção, provocada
essencialmente pelos efeitos do processo de globalização.
Por ser administrada pelos poderes públicos (ou sob sua responsabilidade)
e financiada essencialmente pelas contribuições obrigatórias é que a
proteção social está exposta longo tempo a críticas que emanam,
sobretudo das organizações de empregadores, economistas e políticos
liberais (EUZÉBY, 2004, p. 23).
A proteção social tem sido assim, severamente criticada sob a alegativa
de ser um peso na economia com encargos dificilmente suportáveis, o que se faz em
defesa das privatizações e/ou transferência das responsabilidades do Estado para a
sociedade civil organizada. Nessa gica, a proteção social é concebida como uma
carga que precisa ser aliviada ou pelo menos, contida.
Contrariando os princípios da globalização da economia, observa-se um
crescimento sensível das desigualdades entre países e dentro deles, agravando-se
as ameaças a segurança das pessoas, o que se traduz na ampliação do sofrimento
46
para grandes faixas populacionais provocado pelo desemprego, redução de salários
e aumento de pobreza. Diante dessas evidências, promover a proteção social
pressupõe assumir os princípios de justiça social como estratégia para a mobilização
da solidariedade internacional.
A globalização da economia, muito embora o se constitua processo
recente, adquiriu características particulares a partir dos anos de 1980, sob o
impulso das teses neoliberais veiculadas pelo GATT (General Agreement on Tariffs
and Trade), depois pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo
Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCEDE). Assim, os princípios neoliberais orientaram
o processo de globalização da economia de modo hegemônico. Exaltados e
difundidos mundialmente pelas organizações internacionais mais influentes, os
princípios norteadores da globalização da economia determinam exigências de
competitividade que a concorrência internacional impõe aos diversos países do
mundo. Sendo assim, os princípios norteadores da globalização da economia se
articulam em três eixos fundamentais: “estabilização”; “ajuste estrutural” e
“privatizações”. Tal ideário se materializa na reforma do Estado, orientada pelas
seguintes determinantes: redução do aparelho do Estado, através de uma política de
incentivo do servidor público à demissão voluntária, aprimoramento dos padrões
tecnológicos para fortalecimento da produção capitalista e maior interdependência
dos agentes econômicos no mercado globalizado.
No Brasil, os impactos da globalização da economia na atual conjuntura,
favoreceram a adoção de medidas voltadas para o mercado através da liberalização
comercial, das privatizações e da desregulamentação financeira. Tais medidas
adotadas no campo das políticas sociais se evidenciam no permanente desafio de
redução do gasto público, limitando o acesso das populações aos serviços
essenciais de saúde, educação, assistência social, habitação, dentre outros,
agravando-se por essa via, o quadro social do país.
Firmando-se nas referências sobre justiça social formuladas na
declaração de Filadélfia, adotada em 1944, pela Conferência Internacional do
Trabalho, na concepção de desenvolvimento humano desenvolvido pelo Programa
47
das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUD) e no enunciado dos artigos 23 a
27 da Declaração dos Direitos do Homem, Euzéby sugere:
...a proteção social aparece como um pilar da justiça social... Se a proteção
se achar amplamente inscrita nos quadros da consciência universal é
porque deve ser considerada não como um simples privilégio que os
Estados podem escolher conceder aos seus cidadãos, mas como expressão
total de valores vinculados à desigualdade humana. Em tal condição a
promoção social através do mundo, merece o apoio da solidariedade
internacional. (EUZÉBY, 2004, p. 28).
Tal concepção se sustenta sob a compreensão de que é dever do Estado,
garantir os direitos econômicos, sociais e culturais das pessoas e para tanto,
compete ao Estado acumular meios materiais para garantí-los. Nessa lógica, a
proteção social vai depender do nível de riqueza de cada país. “se a maioria dos
países do mundo possui níveis muito frágeis de proteção social, isto se deve ao fato
de serem muito pobres “(EUZÉBY, 2004, p. 29). Por isso mesmo, a proteção social,
entendida como parte dos direitos do homem, deve ser objetivo comum de toda a
humanidade, implicando necessariamente numa justiça social mundial.
Assim sendo, a insuficiência de recursos dos países pobres para a
promoção da proteção social, deve ser coberta pelos países ricos, efetivando-se por
esse prisma a lógica da globalização que deve preocupar-se não somente com a
abertura de mercados e desenvolvimento econômico das nações, mas, também com
o desenvolvimento social de todos. Os países ricos teriam, portanto, obrigações com
os países ditos de Terceiro Mundo, para sustentar as instituições políticas e sociais
que garantem os direitos do homem.
A logística da globalização da economia se expressa com seus efeitos
mais evidentes, “no crescimento das desigualdades entre países e dentro deles”
(EUZEBY, 2004, p.25). Os impactos dessa lógica perversa, convergem para o
agravamento de sofrimentos para grandes faixas populacionais pelas ameaças à
segurança das pessoas, provocadas pelo desemprego, redução de salários e
aumento da pobreza.
Tais considerações fundamentam a proposta de criação de um Fundo
Social Internacional, com a missão de auxiliar os países em desenvolvimento, a
48
promover seu desenvolvimento social e humano e, em particular ampliar seus
sistemas de proteção social (EUZÉBY, 2004, p.30).
A canalização de recursos para o Fundo Social Internacional seria,
conforme pensamento de seu idealizador, proveniente da massa de riquezas no
mundo, assim como a vastidão dos ganhos realizados pelos principais beneficiários
da globalização da economia.
Firme defensor da proteção social, Euzéby (2004) sugere que, a
implementação do Fundo Internacional Social depende, tão somente da vontade
política da Comunidade Internacional em promover o desenvolvimento social, os
direitos do homem e a justiça social.
No Brasil, a perspectiva da proteção social se insere na Constituição
Federal de 1988, a partir de uma nova concepção sobre a Assistência Social.
Incluída no âmbito da busca do cumprimento do seu artigo 3º, que determina os
objetivos fundamentais da República, “construir uma sociedade livre, justa e
solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a
marginalização, reduzir desigualdades sociais e regionais, e promover o bem de
todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação” (CF, 1988).
Nessa perspectiva, a Assistência Social, direito subjetivo do necessitado,
vem disciplinada pelos artigos. 203 e 204 da Constituição, estabelecendo que esta
será prestada a quem dela necessitar, definida como direito do cidadão e dever do
Estado, inserindo-se juntamente com a Saúde e a Previdência, no tripé da
Seguridade Social.
Após cinco anos da Constituição de 1988, foi promulgada a Lei Orgânica
da Assistência Social (LOAS). Mais que um texto inovador, traz em seu conteúdo um
conjunto de idéias de concepção e de direitos, sugere significativas mudanças que
extrapolam a modernização e a introdução de novas técnicas ou formas de gestão.
49
A LOAS representa ainda uma mudança fundamental na concepção de
Assistência Social, como política de seguridade social, concentrando-se no caráter
de política de Proteção Social, articulada a outras políticas voltadas a garantia de
direitos e de condições dignas de vida.
Segundo Di Giovanni (2004) entende-se por Proteção Social.
As formas institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger
parte ou o conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas
vicissitudes da vida natural ou social tais como a velhice, a doença, o
infortúnio, as privações (GIOVANNI, 2004, p. 10).
A nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS), destaca que a
Proteção Social deve garantir as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência
(de rendimento e de autonomia), de acolhida, de convívio ou vivência familiar.
A segurança de rendimentos não significa compensação do valor do
salário mínimo inadequado, mas a garantia de que todos tenham uma forma
monetária de garantir sua sobrevivência. É o caso de pessoas com deficiência,
idosos, desempregados, famílias desprovidas das condições básicas, para sua
reprodução social.
A segurança de acolhida opera com a provisão de necessidades
humanas a começar pelo direito a alimentação, ao vestuário e ao abrigo. A provisão
dessas necessidades, pressupõe a conquista da autonomia do usuário, mas
entende que alguns indivíduos pelas próprias peculiaridades que vivenciam, não
conquistem tal autonomia.
A segurança da vivência familiar ou segurança do convívio é outra
necessidade a ser preenchida pela Política de Assistência Social, em sua missão de
efetivar a proteção social.
50
Sposati (2007) chama a atenção para a necessidade de se compreender
que a ação da política de assistência social está no campo da proteção social, mas,
toda proteção social não é campo da assistência social. Em sua lógica de raciocínio,
a autora sugere ainda:
A concepção de proteção social alarga o campo da assistência social pelo
próprio significado preventivo que contém a idéia de proteção. Estar
protegido significa ter forças próprias ou de terceiros, que impeçam que
alguma agressão/ precarização / privação venha a ocorrer, deteriorando
uma dada condição. Porém, estar protegido não é uma condição inata, ela é
adquirida o como mera mercadoria mas pelo desenvolvimento de
capacidades e possibilidade. No caso ter proteção e/ou estar protegido, o
significa meramente portar algo, mas ter uma capacidade de enfrentamento
e resistência (SPOSATI, 2007, p. 17).
As proteções afiançadas pela Assistência Social organizam-se em duas
dimensões: a Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de média e alta
complexidade.
A proteção social básica objetiva prevenir situações de risco, por meio do
desenvolvimento de potencialidade e aquisições e o fortalecimento de vínculos
familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e/ou fragilização de vínculos
afetivos relacionais e de pertencimento social.
Dentre os programas de proteção social básica em desenvolvimento no
País, destaca-se o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Constitui-se uma
garantia de renda básica no valor de 1 (um) salário mínimo, como direito
estabelecido pela Constituição Federal e regulamentado pela LOAS, dirigido às
pessoas com deficiência e aos idosos a partir de 65 anos de idade, observado, para
acesso, o critério de renda previsto na Lei. Tal direito à renda se constitui como
efetiva provisão, que traduzem o princípio da certeza na assistência social, como
política não contributiva de responsabilidade do Estado. Trata-se de prestação direta
de competência do Governo Federal, presente em todos os municípios.
51
Outra estratégia de garantia da proteção social, se organiza através da
concessão de benefícios eventuais, tratado no artigo 22 da LOAS. Tais benefícios se
traduzem como provisões gratuitas implementadas em espécie ou em pecúnia,
visando cobrir necessidades temporárias, em geral relacionadas ao ciclo de vida, ou
incertezas que representam perdas e danos. São ofertados em todos os municípios
com recursos próprios ou da esfera estadual, que deverão ser regulamentados
mediante definição de critérios e prazos.
De acordo com a nova Política Nacional de Assistência Social, os serviços
de proteção social básica devem ser executados de forma direta nos Centros de
Referência da Assistência Social (CRAS), e em outras unidades básicas e públicas
de assistência social, bem como de forma indireta nas entidades e organizações de
assistência social da área de abrangência dos CRAS.
São considerados serviços de proteção social sica de Assistência
Social, aqueles que potencializam a família como unidade de referência,
fortalecendo seus vínculos internos e externos de solidariedade através do
protagônimo de seus membros, tais como: Programas de atenção integral à família;
Programas de inclusão produtiva e Projetos de enfrentamento à pobreza; Centros de
convivência para idosos; Serviços para defesa dos direitos de crianças, de zero a 6
anos; Serviços sócio-educativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária
de 6 a 24 anos; Programas de incentivo ao protagonismo juvenil e centros de
informação e educação para o trabalho, voltados para jovens e adultos.
A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial
destinado a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e
social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou, psíquicos, abuso
sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas;
situação de rua, trabalho infantil, entre outros.
Os serviços de proteção social especial relacionam-se com o sistema de
garantia de direitos exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e
compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações
52
governamentais. Destacam-se,dentre eles o Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (PETI e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes.
A proteção social de média complexidade envolve a prestação de serviços
destinados a indivíduos e famílias, que tiveram seus direitos violados. São
executados através de serviços de orientação e apoio sócio-familiar, plantão socia,
abordagem de rua, cuidado no domicílio, serviço de habilitação e reabilitação de
pessoas com deficiência e medidas sócio-educativas em meio aberto (Prestação de
Serviços a Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA).
A proteção social especial de alta complexidade pressupõe a execução
de serviços de atenção integral (moradia, alimentação, higienização e trabalho
protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referências e/ou em
situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e/ou
comunitário, tais como: Atendimento Integral Institucional, Casa Lar, República,
Casa de Passagem, Albergue, Família Substituta, Família Acolhedora, Medidas
Sócio-educativas Restritivas e Privadas de Liberdade (semiliberdade, internação
provisória e sentenciada) e trabalho protegido).
As ações de proteção social sica e/ou especial devem organizar-se
conforme modelo de gestão definido pelo Sistema Único de Assistência Social
(SUAS). No atual contexto histórico, o Governo do Estado do Ceará, através da
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), mobiliza técnicos e
instâncias representativas da sociedade (Conselho Estadual de Assistência Social
CEAS; Comissão Intergestora Bipartite CIB e Colegiado Estadual de Gestores
Municipais – COEGEMAS) na perspectiva de pactuar o aprimoramento da gestão da
Política de Assistência Social, com base nas referências em destaque na nova
Norma Operacional Básica (NOB 2005), onde os serviços cio-assistenciais se
complementam nas dimensões de vigilância social; Proteção Social e Defesa Social
e Institucional.
53
Vale concluir essa abordagem lembrando as cinco afirmações de
Sposati, sobre proteção social no campo dos direitos sócio-assistenciais:
... é plenamente apropriado referir o campo da política de assistência social
à proteção social e o como tradicionalmente ao socorro, amparo, ajuda e
apoio... a assistência social possui dois campos: o da proteção social e o do
amparo/ apoio explicitamente estabelecido na Constituição de 1988... a
concepção de proteção social traz a necessidade de ser inaugurado no
âmbito da assistência social a dimensão preventiva... o campo da proteção
social é mais abrangente do que de uma só política social e, principalmente
no caso brasileiro quando está constitucionalmente referido que previdência
social, assistência social e saúde compõem a seguridade social... é preciso
localizar as particularidades das proteções sociais que competem à
assistência social (SPOSATI, 2007, p. 17).
Essas cinco afirmações colocam novos desafios para gestores, técnicos,
conselheiros e usuários da Política de Assistência Social, no Brasil. Remetem à
compreensão dos limites e possibilidades.da assistência social como política pública
para a garantia de direitos. Tal dimensão, embora universalizante , comporta limites
operacionais o que não concorre para restringir a proteção social, que “por direito”
deve ser garantida por outras vias.
Sem a pretensão de esgotar todas as dimensões que os três temas
debatidos nesta primeira parte ensejam, esta pesquisa desloca-se para outros
debates, desta feita em torno dos conceitos de descentralização, controle social e
participação, aqui compreendidos como eixos fundantes para a implementação da
Política de Assistência Social.
54
3 DESCENTRALIZAÇÃO, CONTROLE SOCIAL E PARTICIPAÇÃO:
EIXOS FUNDANTES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, NO
ÂMBITO LOCAL.
A escolha da temática desta parte, baseia-se no reconhecimento de que o
exame da problemática delineada neste estudo, exige o desvendar conceitual das
categorias “descentralização”, “controle social” e “participação”, compreendidas
como eixos fundantes essenciais para o desvelamento das questões manifestas na
dinâmica operacional da Política de Assistência Social, no atual contexto histórico.
Vale destacar que esses conceitos se apresentam de modo isolado, tão somente
para satisfazer a um requisito metodológico facilitador da compreensão da matéria
em debate, mas, na essência, eles se articulam entre si numa correspondência
dinâmica, difícil de balizar onde começam ou terminam, pelo próprio embricamento
que suas práticas ensejam.
3.1 Capacitar para descentralizar e controlar: um projeto em curso
Situar a descentralização como diretriz para viabilizar a efetivação do
Sistema Único da Política de Assistência Social, no Brasil, remete a importância de
se resgatar o histórico do município, no contexto brasileiro.
Tendo sua origem ancorada na Roma Antiga, o município se caracteriza
como a forma pela qual as comunidades organizam o governo e o poder local.
(LOPES, 1996, p.30).
A idéia de município vem atravessando longo processo histórico e
conseqüentes transformações. No Brasil, essa idéia foi experimentada inicialmente
pelos colonizadores portugueses, por meio da estruturação de conselhos, que se
efetivavam através da participação representativa dos colonos.
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Esse modelo foi mantido até o século XVII, quando a Lei da Metrópole
restringiu a participação das camadas populares, excluindo-as do acesso ao
Conselho, pois suas manifestações eram entendidas como abusivas. Essa tendência
de impedir a participação das camadas populares foi gradativamente aprofundando-
se com o passar do tempo, e para restringi-la, novos mecanismos e estratégias
passaram a ser adotadas.
A história brasileira mais recente, inaugurada com o fim do Estado Novo e
conseqüente queda de Vargas, em 1945, ampliou liberdades político-democráticas e
fortaleceu a gestão municipal através da Constituição de 1946 que, em seu art. 15,
determinava a obrigatoriedade da União de repassar aos Estados, Distrito Federal e
Municípios, proporcionalmente à sua superfície, população, produção e ao seu
consumo, o percentual de 60% da renda de impostos que lhe competia decretar.
Essa realidade prevaleceu até o golpe militar de 1964, cujo regime ditatorial anulou a
Constituição de 1946, e deliberou que a União se apropriasse de mais da metade
dos recursos nacionais arrecadados, colocando estados e municípios em situação
de subalternidade e dependência.
A partir da eleição de Tancredo Neves, pelo Colégio Eleitoral em 1985,
tomou corpo um movimento pela recuperação do poder político e econômico dos
municípios brasileiros. Essa tendência ganhou ruas e praças, tornando-se elemento
de plataforma política, sendo comum afirmativas do tipo: “as pessoas vivem nos
municípios. Estado e União são meras abstrações”.
Esse discurso favoreceu a eleição de vários governantes adeptos de
movimentos como a Frente Municipalista, cujos esforços conseguiram reabilitar os
municípios, recuperando-lhes na forma da lei a autonomia político-administrativa e
econômica. A Constituição de 1988 encerra um período de dependência municipal e
devolve aos municípios as prerrogativas e recursos perdidos durante o tempo da
ditadura.
No discurso dos municipalistas está presente a defesa do poder local
como o agente que, estando mais próximo da população, m mais possibilidade de
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conhecer a realidade do povo, suas aspirações, reclamos, necessidades e de,
agilmente, encaminhar soluções.
Mesmo estando legalmente amparada e apesar de contar com inúmeros
adeptos, a efetivação do processo de descentralização político-administrativa, no
que se refere mais especificamente à política de assistência social no Brasil, vem
enfrentando alguns obstáculos, dificilmente assumidos e declarados, mas
essencialmente mantidos em arranjos políticos-institucionais centralizadores. Assim,
as tentativas de democratização via partilha de poder, competência e recursos entre
as três esferas de governo, esbarram num conjunto velado de forças e frentes de
resistências. Desse modo, a descentralização vem sendo ao mesmo tempo
discursada por um lado e controlada por outro.
É importante que se tenha clareza de que a descentralização político-
administrativa da Assistência Social, pela via da consolidação de instrumentos
gerenciais viabilizadores da autonomia do poder local, ainda se mostra como
desafios, constituindo-se de processo gradual de conquistas o que envolve a
implementação de estratégias capazes de consolidar possibilidades do pleno êxito.
Pensar esse processo, remete a reconhecer seus limites e potencialidades a
despeito das deficiências e fragilidades locais, em relação às resistências veladas do
poder central da União e do Estado.
Vale aqui destacar o pensamento de Beretta e Martins (2004), sobre a
descentralização político-administrativa da assistência social no Brasil.
As prerrogativas da Constituição Federal de 1988, e a normatização das
ações sociais a partir de 1993, com a promulgação da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), redesenharam o sistema de proteção social
brasileiro no que se refere a descentralização política e administrativa das
políticas sociais, iniciando uma grande discussão acerca da atuação e
natureza do Estado e caminhos para a efetivação das propostas de
municipalização, bem como a transferência de competências, funções,
responsabilidades e destinação de recursos federais e estaduais, para as
esferas municipais de governo (BERETTA; MARTINS, 2004, p.65).
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A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), mais do que um texto legal,
produzido para expressar a concepção e garantia de direitos, exige, para sua
materialização, mudanças significativas orientadas para a introdução de novas
técnicas e formas de gestão.
A implementação da LOAS em suas mais recentes postulações
manifestas na criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) coloca, como
demanda essencial a sua consolidação que se instaure em nível nacional amplos
debates e divulgação de forma que se garanta uma apropriação de seu
conhecimento, pelas mais diversas camadas e extratos populacionais.
Analisando a reforma do Estado brasileiro, Arretche (2000), destaca uma
recuperação tanto das bases federativas do Estado como um impacto sobre a
reconfiguração do modelo nacional de prestação dos serviços sociais.
As eleições diretas em todos os veis de governo, a descentralização fiscal
e os municípios redefinidos como entes da federação autônomos pela
Constituição de 1988, trouxeram conseqüências profundas nas relações
Intergovernamentais no Brasil (ARRETCHE, 2000, p.56).
Os estudos de Arretche (2000), sobre a descentralização do Brasil,
apontam duas conseqüências básicas: a primeira destaca a criação do Estado
federativo, cuja efetivação pressupõe transferência de competências, o que requer
uma adesão para os que se destinam. Cada administração passa a ser autônoma,
sem a subordinação ao governo federal. Governadores e prefeitos definem idéias e
programas em seu território de ação. A segunda conseqüência se expressa na
transferência de responsabilidades identificada por Arretche (2000), como “barganha
federativa”, isto é, cada nível de governo tenta transferir à outra administração o
custo político, reservando para si os benefícios derivados da condição de gestão
descentralizada.
A descentralização no Brasil não se resume ao aspecto fiscal, mas
evidencia necessidades estratégicas de indução e incentivo face às desigualdades
regionais e as insuficiências locais.
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Nos limites desta pesquisa, considera-se que descentralizar significa para
o campo da Política de Assistência Social, implementar condições essenciais para o
exercício da gestão social pelo município. Nessa lógica, descentralizar é sinônimo de
municipalizar. O município torna-se instância legítima, onde se verificam os
problemas e a necessidade de equacionamento dos impasses, vivenciados no
cotidiano da população.
É somente nesta esfera do município que a indignação cidadã pode, além
de se expressar, obter respostas, somente nesta esfera a cultura da
subalternidade, a submissão aos ditames do ”senhor” pode mudar. Somente
nesta esfera a transparência das ações blicas locais pode ser conhecida,
exigida, alterada (JOVCHELOVITCH, 1995, p.8).
Tal compreensão remete ao entendimento de que a descentralização
político-administrativa, deverá ocorrer via municipalização das políticas públicas,
com conseqüente deslocamento do poder para o município.
A descentralização, compreendida como municipalização é portanto, a
passagem de serviços e encargos, que podem ser desenvolvidos mais
satisfatoriamente pelo poder público local. É a descentralização das ações político-
administrativas com adequada distribuição de poderes político e financeiro. Concorre
para a desburocratização, participação e ampliação das conquistas democráticas,
posto que, descentraliza o poder.
Por descentralização, Pereira (1996) entende o processo de redistribuição
de poder em duas principais direções: a) da esfera federal para estadual e a
municipal e b) do Estado para a sociedade. Em ambos os casos, prevê o
deslocamento dos espaços de planejamento e de tomada de decisão de uma
instância central para outras, intermediárias e locais, bem como dos recursos
materiais, humanos e financeiros, necessários ao exercício do poder nas diferentes
instâncias. É o fortalecimento e a autonomia relativa das esferas intermediárias e
locais e das instituições democráticas.
Fortalecer a autonomia das esferas intermediárias e locais, e das
instituições democráticas, pressupõe disseminar conhecimentos, enfim, capacitar
gestores técnicos e conselheiros para o exercício profissional. Requer a
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implementação de uma política de recursos humanos, capaz de abranger as
condições concretas para a prática balizada nas concepções teóricas e legais, que
orientam a Política de Assistência Social, no país.
A idéia de “capacitar para organizar” revela-se estratégica, quando se
assume a opção pelo reconhecimento de que é necessário desvendar uma
concepção de desenvolvimento que ultrapasse a noção de que o crescimento
econômico em si mesmo, é capaz de promover desenvolvimento social.
O novo paradigma de desenvolvimento social pressupõe a
descentralização político–administrativa, como indutora. Por sua vez, os municípios
precisariam estar fortalecidos em suas capacidades de efetivar os determinantes
legais e burocráticos, derivados desse processo.
Para Augusto de Franco, destacado teórico brasileiro, os principais
ingredientes do desenvolvimento são: o capital humano, entendido principalmente
como capacidade de empreendedorismo, e capital social, entendido como confiança
reciprocidade e relações de cooperação (FRANCO, 2004, p.12).
Uma das mais recentes tendências no debate sobre desenvolvimento
social reconhece a “capacidade humana” como expressão de liberdade, isto é, a
própria capacidade que as pessoas têm para fazer uso das capacidades adquiridas.
Sen (2000).
evidências de que a municipalização e o desenvolvimento local, não
se promete sem investimento nas pessoas que habitam o município.
A tese de Sen (2000), em favor de uma visão mais ampla de
desenvolvimento, foi assumida pelo Programa das Nações Unidas (PNUD), ao
conceber o desenvolvimento humano como um processo, mediante o qual se
ampliam as oportunidades dos indivíduos, as liberdades política econômica e social
são valorizadas, tal como a possibilidade de ser criativo e produtivo, o respeitar-se a
si mesmo e o desfrutar da garantia de direitos humanos.
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A concepção do PNUD, fundamentada na tese de SEN, destaca, não só a
“formação de capacidades”, mas, também o aspecto relativo ao uso que as pessoas
fazem das capacidades adquiridas.
Ao aplicar a metodologia para identificação do Índice de Desenvolvimento
Humano entre diferentes nações, o PNUD (1999, p. 129) constatou que o
desenvolvimento humano pressupõe ação pública deliberada e efetiva, que
possibilite às pessoas participarem do processo de desenvolvimento, e dele
beneficiar-se, para desenvolver suas capacidades individuais de modo mais criativo
e produtivo possível.
O apelo à participação e à descentralização está presente, nas mais
recentes recomendações do BID, PNUD, CEPAL e BIRD, numa perspectiva que de
responsabilizar o Estado, quanto a investimentos em capital humano e a previsão
dos serviços sociais básicos.
O informe de 1999 do Banco Mundial, destaca que o fracasso de bons
projetos voltados ao desenvolvimento, deveu-se a deficiência no campo político.
Revela ainda, que o processo de reforma da gestão pública tem menos possibilidade
de êxito quando as instituições públicas, e os governos são deficientes e
desqualificados, para promover o desenvolvimento de base local.
Tais referências concorrem para fundamentar o pressuposto de que o
processo de descentralização da política de Assistência Social, reivindica
investimentos na ampliação do capital humano, na dimensão territorial do município,
como condição determinante para o êxito da implementação do seu Sistema Único.
Descentralizar, portanto, o se resume à mera transferência de encargos
responsabilidades e competências funcionais, mas requer correspondente
redistribuição de poder e autonomia política.
Estudos de Sposati (2003), consideram que muito embora os avanços
alcançados até então para a implementação da LOAS, há muito ainda por fazer para
que, de fato, as bases de um processo descentralizado e participativo de gestão se
instale no Brasil, nesse campo de ação governamental. Entende que a consolidação
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de conselhos, fundos, fóruns da sociedade civil, conferências locais, municipais,
estaduais e nacional são seguramente avanços que marcam uma ruptura com o
modelo patrimonial, pelo qual, o Estado brasileiro desenvolveu a assistência social
tradicionalmente, antes da promulgação da LOAS. Mas, quando se refere a
descentralização, a autora destaca: “o centralismo burocrático” ainda hegemoniza
esse processo de gestão, cuja municipalização “está mais para desejo, do que fato”.
Na atual sociedade brasileira, embora as leis tenham garantido aos
cidadãos direitos de primeiro mundo, na prática, esses direitos não ocorrem.
Exemplo claro disso, vem a ser a descentralização político-administrativa que não se
efetiva dentre outros motivos, por vir o Estado se comportando como único
protagonista econômico-social.
Buscando-se nos estudos de Jovchelovitch (1992), elementos para
análise da condição municipal, percebe-se a descentralização definida como efetiva
partilha do poder entre o Estado e as coletividades locais, implicando à autogestão.
Envolve uma definição da estrutura do poder no sistema governamental, que se
realiza pelo remanejamento de competências decisória e executiva, assim como dos
recursos financeiros necessários, para financiá-las. Tal concepção está alinhada ao
pensamento do BID, PNUD e Banco Mundial sobre a necessidade de investimento
em capital humano e social, como ao desenvolvimento local.
A descentralização e a municipalização – consolidação democrática –
estão intimamente ligadas à participação. Brandt: (2000) afirma que municipalização
sem participação das sociedades locais é suicídio, porque se transfere para as
prefeituras uma autonomia sem controle.
evidências de que não se pode cair no sonho da descentralização por
decreto. A descentralização envolve processo de transição, condição para
autonomia maior dos estados e municípios. Não significa uma mera transferência de
ações e serviços por meio de repasse de recursos. É muito mais ampla e pressupõe
exercício democrático. Envolve todos os cidadãos organizados e conscientes, ao
lado das entidades e instituições que devem assumir, co-participadamente, a
execução das ações em nível local.
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Tomando-se ainda como referência estudos de Brandt (2000), observa-se
que a municipalização e a consolidação do poder local ainda são um desafio. É
processo e, como tal, deverá caminhar gradualmente, implantando estratégias que
garantam o seu êxito dadas as peculiaridades, as deficiências locais, as dificuldades
e resistências do poder central (União e Estado).
Entretanto, faz-se mister pensar este processo, conhecer suas
possibilidades e limites, ensejando o fortalecimento do poder local, pela via da
capacitação de seus recursos humanos, o que representa real contribuição para a
retomada da democracia e da cidadania no país.
Apesar de todos os esforços a então empreendidos no sentido do
fortalecimento do Sistema Único da Assistência Social no Brasil, a descentralização
político-administrativo permanece um desafio.
Quando se destaca a dimensão geográfica brasileira, os limites para o
alcance dos direitos cio-assistenciais, dos povos que vivem em terras mais
longínquas dos grandes centros urbanos, são visíveis não somente pela distância
física, mas pelas peculiaridades regionais, seja no aspecto climático, cultural,
econômico ou político, que se articulam ao redor de seus contornos.
Diante da extensão geográfica nacional e, ao mesmo tempo do seu alto
grau de heterogeneidade e desigualdade socioterritorial, o processo de
descentralização político-administrativa da Assistência Social tem por desafio, a
articulação de meios, esforços e recursos capazes de ultrapassar o legalmente
instituído para o formalmente executado.
Pensar na política a partir do território, exige também um exercício de
revisita à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive
nesse território (...). A perspectiva da totalidade, de integração entre os
setores para uma efetiva ação pública... vontade política de fazer valer a
diversidade e a inter-relação das políticas locais (KOGA, 2003, p.25).
A descentralização compreendida sob o enfoque da realidade territorial
brasileira, afirma a necessidade da consolidação das práticas cotidianas, efetivadas
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pela via de uma rede socioassistencial, cuja capilaridade seja potencializada para a
qualidade interventiva. Tal pressuposto exige a definição de balizas onde as
comunidades sejam compreendidas a partir da realidade que manifestam.
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2005) seguindo a trilha
da descentralização, caracteriza os municípios brasileiros de acordo com seu porte
demográfico, tomando por referência os indicadores socioterritoriais disponíveis, a
partir dos dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
Censo 2000), com maior grau de desagregação territorial. Isto é, quanto maior a taxa
de densidade populacional, maior sea necessidade de considerar as diferenças e
desigualdades existentes entre os vários territórios de um município ou região. Com
base nessas referências, a PNAS, 2005 avança na caracterização dos municípios
como pequeno, médio e grande porte, e descreve suas peculiaridades nos seguintes
termos:
- Municípios de Pequeno Porte 1. Aqueles cuja população chega a 20.000
habitantes (até 5.000 famílias em dia). Possuem forte presença da
população em zona rural, correspondendo a 45% da população total.
Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de proteção
social básica, considerando-se que os níveis de coesão social, as
demandas potenciais e redes sócio-assistenciais, não justificam serviços
de natureza complexa. Nesses municípios a demanda por proteção
social especial não se mostra significativa, e, para casos isolados a
PNAS (2005) sugere a utilização dos serviços disponíveis na região.
- Municípios de Pequeno Porte 2. Neles, o contingente populacional varia
entre 20.001 até 50.000 habitantes (cerca de 5.000 a 10.000 famílias em
média). Mantêm as mesmas características dos municípios de Pequeno
Porte I, distinguindo-se destes na concentração populacional rural, que
corresponde a 30% de sua população total.
- Municípios de Médio Porte. Aqueles cuja população está entre 50.001 e
100.000 habitantes (cerca de 10.000 a 25.000 famílias). Demonstram
maior autonomia na estruturação de sua economia, sediam algumas
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indústrias de transformação e contam com maior oferta de comércio e
serviços. Necessitam de uma rede mais ampla de serviços de
assistência social, particularmente na rede de proteção social básica, e,
eventualmente de proteção social especial, podendo manifestarem
demandas que justifiquem a implementação de serviços dessa natureza,
em seus territórios ou em seu entorno.
- Municípios de Grande Porte. Aqueles cuja população é de 101.000 até
900.000 habitantes (cerca de 25.000 a 250.000 famílias). São mais
complexos em sua estruturação econômica, pólos de regiões e sedes de
serviços mais especializados. Concentram mais oportunidades de
empregos, e oferecem maior diversificação de serviços blicos,
contando também com melhor infra-estrutura. Apresentam grande
demanda por serviços de diferentes áreas inerentes às políticas
públicas. Com tais características, demandam uma rede
socioassistencial mais complexa e diversificada, envolvendo além da
proteção social, serviços de proteção social especial, nos níveis de
média e alta complexidade.
- Metrópoles. Aqueles com mais de 900.000 habitantes (atingindo uma
média superior a 250.000 famílias, cada). Para além das características
dos municípios de grande porte, as metrópoles apresentam o agravante
dos chamados territórios de fronteira”, que significam zonas de limites
configurando as regiões metropolitanas e via de regra com forte
ausência de serviços do Estado.
A partir dessa classificação, a Política Nacional de Assistência Social,
pressupõe um processo de descentralização onde a Proteção Social Básica se faça
presente na totalidade dos municípios brasileiros, e, as ações de Proteção Social
Especial de média e alta complexidade, devem corresponder às necessidades dos
municípios de médio e grande porte e das metrópoles.
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Sob essa classificação da base municipal, a PNAS-2005 idealizou o
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), como unidade pública de base
territorial, com capacidade para atendimento até 1.000 famílias/ ano, tendo por
objetivo executar serviços de Proteção Social Básica, organizar e coordenar a rede
de serviços sociassistenciais, locais da política de assistência social.
Para ser contemplado com a partilha de recursos federais, os municípios
devem, por ordem de prioridade, aderir ao SUAS, e habilitar-se aos níveis de gestão
plena ou básica. A partilha de recursos considera, além desses requisitos a condição
do porte municipal, relacionada ao quantitativo de CRAS, na cobertura aos serviços
socioassistenciais, nas seguintes proporções:
Pequeno Porte 1. Mínimo 1 CRAS para até 2.500 famílias;
Pequeno Porte 2. Mínimo 1 CRAS para até 3.500 famílias
Médio Porte. Mínimo 2 CRAS, para até 5.000 famílias;
Grande Porte. Mínimo de 4 CRAS, para até 5.000 famílias;
Metrópoles. Mínimo de 8 CRAS, para até 5.000 famílias.
A Proteção Social Especial, se expressa em modalidade de atendimento
destinada a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por
ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de
substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua,
trabalho infantil, dentre outras. Sua municipalização está pensada na PNAS/ NOB/
2005, sob a mesma lógica da Proteção Social Básica, diferindo desta justamente na
base da realidade com que em cada município, se delineiam as situações que
induzem a violação dos direitos, em especial entre as populações que vivenciam
situação de risco pessoal ou social.
A gestão dos serviços de Proteção Social Especial, requer estreita
interface com o sistema de garantia de direitos, exigindo via de regra o compartilhar
de responsabilidades do executivo com o poder judiciário e Ministério Público.
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Além dos serviços de média e alta complexidade, a PNAS/ NOB (2005)
sugerem a implantação dos CREAS. Centros de Referência Especializados de
Assistência Social, com definição de critérios de partilha de recursos cujo
escalonamento segue critérios de priorização, em conformidade com a realidade
apresentada pelos municípios.
O Piso de Proteção Social Especial de Média Complexidade, concorre
para a manutenção dos CREAS, onde se desenvolvem serviços com maior área de
abrangência que os de Proteção Básica, e se operam na perspectiva do co-
financiamento e pela via do estabelecimento de critérios, que definem pisos de
transição e pisos fixos, para aporte de recursos destinados às ações de média e alta
complexidade.
Assim pensada, a descentralização supera gradativamente os impasses
denunciados pela inexistência de condições objetivas, para o município assumir a
gestão da Política de Assistência Social. Em termos de pensamento estratégico
que se considerar amplas, as possibilidades de efetivação da gestão municipal. Em
se tratando das múltiplas dimensões que esse desafio apresenta, que se
observar a persistência dos limites operacionais que ainda se manifestam no âmbito
do município.
3.2 A lógica do controle social
A expressão “controle social”, pressupõe compreensão diferenciada, a
depender do olhar que a ela é direcionado. Essa expressão tem sido empregada
tanto para designar o controle do Estado sobre a sociedade, quanto para referir-se
ao controle da sociedade sobre as ações do Estado. Tal como sugere Correia
(2005), a compreensão do termo “controle social” é diferenciada devido ao
entendimento da função do Estado e da extensão do seu poder, e/ou devido à forma
de como se concebe a sociedade civil.
A temática do controle social adquiriu relevância no Brasil, a partir da
década de 1980, acompanhando o rítmo do debate sobre o processo de
democratização, na perspectiva da institucionalização dos mecanismos de
67
participação nas políticas públicas, tendo adquirido legitimidade a partir da
Constituição Federal de 1988, e nas leis orgânicas posteriores.
Elegendo o conceito gramsciano de Estado, que se amplia com sua
função de manutenção do consenso de uma classe sobre a outra, através dos
aparelhos privados da sociedade civil, Correia (2005), situa o controle social nessa
relação, destacando por essa via, a disputa entre as classes para impor seus
interesses, e a condução do Estado em busca da hegemonia. Nessa lógica, o
controle social seria movido pelas contradições presentes na sociedade civil, ora
pendendo para a classe dominante, ora para as classes subalternas, dependendo
da correlação de forças entre elas.
Na perspectiva das classes subalternas, o controle social seria praticado
como estratégia facilitadora de acesso popular aos espaços de decisão política, na
busca da conquista de poder e formação, de consensos em torno de um projeto
contra- hegemônico. Em tal situação o Estado, dependendo da correlação de forças
que se estabelece, atende (ou não) as demandas populares.
A partir dessas experiências, emergem oportunidades de controle social
dessas camadas populacionais sobre a ão do Estado. Esse controle se fortalece
no campo de lutas de classes, na disputa pela imposição de suas demandas. O
poder desse controle social sobre o Estado vai depender da capacidade dos atores
sociais, em formar consensos para a hegemonia na defesa de seus projetos.
O conceito de hegemonia defendido por Gramsci (2000), refere-se ao
predomínio ideológico de valores e normas de uma classe sobre a outra. Esse
processo de formação de consensos se fortalece através dos aparelhos ideológicos,
que podem emergir da sociedade civil, num contraponto aos aparelhos ideológicos
do Estado. Segundo Carnoy (1990), hegemonia é a síntese de consentimento e
repressão. É nesse sentido que Gramsci contribui para o entendimento do controle
social nas relações que se estabelecem entre sociedade civil e Estado, ou vice
versa.
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Em Gramsci (2000), a relação orgânica entre o Estado e a sociedade civil
se explica através do controle social que se manifesta na disputa entre classes, pela
hegemonia.
“... o controle social é contraditório ora é de uma classe, ora é de outra, está
balizado pela correlação de forças. Na perspectiva das classes subalternas
o controle social deve se dar no sentido destas controlarem as ações do
Estado, para que esse incorpore seus interesses, na medida que este tem
representado hegemonicamente os interesses da classe dominante”
(CORREIA, 2005, p.172).
As contribuições teóricas sobre o conceito de controle social na
perspectiva de Gramsci, se aplicam ao seu exercício pelos conselhos em geral e da
assistência social em particular, por se constituir como instância resultante de um
processo de democratização, inserido num movimento de constituição de uma
esfera pública, ampliada como extensão do Estado até a sociedade, o que se dá por
sua representação paritária.
Nas últimas décadas, generalizou-se a convicção de que os mecanismos
tradicionais de democracia representativa no Brasil, não se revelavam capazes de
corresponder às demandas sociais, cada vez mais abrangentes requerendo,
portanto, um repensar das práticas até então disseminadas.
No contexto do exercício democrático, os elos entre a sociedade política e
a sociedade civil, tornam-se cada vez mais necessários. Emerge o debate sobre as
relações entre democratização e representação dos interesses populares, na esfera
das decisões políticas.
O agravamento da questão social associado ao descrédito na ação
governamental, mobilizou a produção de idéias sobre a necessidade de alargamento
dos espaços, de formulação e gestão das políticas públicas, para inserir a
participação de novos atores sociais, no campo das decisões políticas.
As possibilidades de mudanças nesse cenário surgiram a partir da
conjuntura dos anos 80, quando em meio à crise social e aos esforços
democratizadores, propiciou-se novo cenário político aberto à perspectiva do
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controle social das ações governamentais de modo legitimado pela avaliação oficial
de instâncias representativas da sociedade civil.
O momento de inflexão nessa trajetória foi a Constituição Federal de 1988,
que definiu instrumentos de participação da sociedade civil, na formulação e
no controle da gestão das políticas públicas. (RAICHELIS, 1998, p.21).
No campo da Assistência Social, esse mecanismo constitucional foi
configurado em termos operacionais pela LOAS (Lei 8.742 de 7/12/93), com a
criação dos Conselhos de Assistência Social, nas três esferas governamentais.
Ao reconhecer a importância da criação dos Conselhos no âmbito da
Política de Assistência Social, vale considerar que tal iniciativa não se opera dentro
de uma arena pacífica e homogênea, pela própria condição representativa de
interesses antagônicos de seus atores, e dentre outros motivos pela dificuldade
cultural de rompimento com antigas posturas de subordinação.
Segundo Chiavenato (1999), a palavra controle pode assumir vários
significados. Em administração, o controle pode ser compreendido como função
restritiva e coercitiva. Assim compreendido, o controle assume conotações negativas
podendo ser interpretado como coerção, inibição ou manipulação. Em outra
perspectiva, a palavra controle é entendida como sistema automático de regulação.
Nesse sentido, o mecanismo de controle identifica possíveis desvios e
irregularidades e disponibiliza informações essenciais para o alcance dos objetivos e
metas desejadas. Enfim, a palavra controle assume o sentido de função
administrativa. É o controle como parte do processo gerencial de planejamento,
monitoramento e avaliação processual.
Com base nesses postulados, entende-se que o controle é inerente a
qualquer organização e a toda atividade, principalmente em se tratando de políticas
públicas, como é o caso da política de assistência social, cujo desempenho exige,
segundo seus estatutos contemporâneos, o compromisso do Estado na garantia dos
direito do cidadão, e de outro lado a participação da sociedade na formulação de
demandas, monitoramento dos resultados e avaliação do desempenho estatal.
70
A concepção do controle social formulado pela Constituição Federal de
1988 (art. 5º, inciso III), é compreendida como instrumento de efetivação da
participação popular no processo de gestão político-administrativa-financeira e
técnico-operativa, com caráter democrático e descentralizado.
Para efetivar-se, o controle social pressupõe além do envolvimento e
participação popular, o compromisso do Estado, com a criação e fortalecimento de
mecanismos operacionais e instâncias representativas da territorialidade nacional.
O significado político da ação dos Conselhos, no âmbito da Política de
Assistência Social, tem despertado posições críticas e questionadoras quanto a real
expressão e impacto da participação da sociedade civil nesses espaços.
A análise que se pretende formular sobre o controle social praticado sob a
responsabilidade dos Conselhos de Assistência Social, pode convergir para reduzir a
distância entre posições extremadas, que colocam no pólo das virtudes o
compromisso da sociedade civil, e no pólo oposto dos defeitos ou das maldades a
ineficiência do Estado, identificado como único responsável por todos os problemas
que afetam a sociedade.
Distante dessa visão dicotômica pretende-se refletir em torno dos limites e
possibilidades concretas para a consolidação dos Conselhos de Assistência Social,
como instâncias de Controle Social.
As reflexões desenvolvidas por Raichelis (1998), sobre ação dos
Conselhos de Assistência Social, apontam múltiplos desafios para a consolidação
dessas instâncias, tanto no campo governamental, quanto da sociedade civil. As
principais dificuldades percebidas pela autora concorrem para a identificação de um
duplo conflito. No campo governamental, prevalece a resistência à participação e
controle social por parte de atores representantes da sociedade civil. Do lado da
sociedade civil, a heterogeneidade dos atores e de suas concepções, práticas e
experiências geradoras de interesses divergentes, desafiando o consenso orientador
das decisões coletivas.
71
Mesmo compreendendo-se as dificuldades e impasses existentes para o
efetivo desempenho dos conselhos, em sua missão de controle social, não se pode
deixar de reconhecer, que na esfera da Política da Assistência Social, a criação dos
Conselhos, vem repercutindo positivamente na publicização dessa política, cujos
determinantes legais convergem para a definição de regras e critérios, além da
incorporação de mecanismos de acesso, garantia de direitos socioassistenciais, co-
financiamento, monitoramento, avaliação e transparência, dentre outros requisitos
para a consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Importa, no
entanto, tentar identificar até que ponto os atores sociais, sejam representantes
governamentais, sejam integrantes da sociedade civil, estarão aptos ao exercício de
uma nova cultura política, expressa na prática do controle social.
Sobre a realidade organizacional dos Conselhos de Assistência Social no
País, a “Pesquisa de Informações Básicas Municipais”, desenvolvida pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a colaboração do Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, com resultados publicados em 2005, identificou que dos 5.564
municípios, 5.497 possuem um Conselho, o que representa uma presença em
98,8% dos municípios brasileiros. No Ceará, a Pesquisa registra 184 conselhos
portanto, em 100% dos municípios cearenses os Conselhos Municipais da
Assistência Social estão implantados e em funcionamento.
Mesmo sem um maior aprofundamento para identificar características da
gestão desses Conselhos, no cumprimento de suas funções principalmente no que
se refere ao exercício do controle social da Política de Assistência Social, pode-se
ressaltar a validade do quantitativo dos atores diretamente envolvidos no processo
de formulação e gestão dessa política, o que se constitui importante avanço,
mesmo sem maiores referências para a compreensão da qualidade do trabalho dos
conselheiros e seus impactos, para o aprimoramento da gestão da política de
assistência social.
Há que se destacar, no entanto, a compreensão de que para se evoluir na
construção de uma nova cultura política-institucional na área da Assistência Social, o
papel dos Conselhos no exercício do controle social, se mostra determinante desde
72
que seja orientado a superar práticas hegemonistas, expedientes de cooptação e
outros mecanismos de manipulação, presente tanto em atitudes governamentais,
quanto entre lideranças da sociedade civil.
Tal compreensão remete a destacar que o fortalecimento de relações
democráticas, entre estes e as instâncias governamentais estão relacionadas à
capacidade dos conselheiros, no aprimoramento e na conjugação de suas
habilidades em protestar contra injustiças e discriminações sociais, para reivindicar
pela ampliação de direitos e recursos destinados ao atendimento de demandas
sociais. É mister ainda, que os conselheiros se apropriem de propositividade, no
sentido de saber oferecer possíveis respostas aos problemas sociais, afirmando sua
capacidade de exercer com ética e competência sua missão de controle social.
As reflexões de Campos (2007), sobre os limites e possibilidades do
controle social no âmbito da política de assistência social, se delineiam a partir da
hipótese de que esse conceito, entendido como conjunto de ações e práticas sócio-
políticas da sociedade civil, com vistas a influenciar nas agendas governamentais, a
fiscalizar a execução das atividades e a gestão dos recursos e a construir um novo
“Ethos” no âmbito da assistência social, é um desafio possível, mediante o
atendimento de duas pré-condições:
A existência dos governos democráticos e a presença de uma sociedade
civil organizada e motivada para o interesse público. A participação da
sociedade civil é um dos fundamentos desse modelo de assistência social, o
qual exige a constituição de conselhos (instâncias organizadas de forma
paritária entre governo e a sociedade civil) e investidas de prerrogativas
decisórias. Neste sentido, o papel da sociedade civil adquire proeminência,
posto que, a ela, por meio dos referidos conselhos, é assegurada a
competência legal para o exercício do controle social sobre as ações do
governo no campo assistencial da sua juridição (CAMPOS, 2007, p.99).
A partir da formulação dessa hipótese que se ancora em dois
pressupostos indissociáveis (democracia e participação), Campos (2007) considera
ainda que o exercício do controle social, contempla três dimensões distintas: a
política, a técnica e a ética.
73
A dimensão política do controle social se delineia no empoderamento da
sociedade civil, que passa a ser investida de prerrogativas para intervir
positivamente na agenda do governo. Sendo assim, do ponto de vista teórico, o
controle social se insere num processo democrático, onde a Política de Assistência
Social é objeto e têm objetivos de interesse público.
A efetivação dessa perspectiva pressupõe duas condicionalidades
interdependentes: de um lado o governante democrático, aberto e motivado a
compartilhar poder com a sociedade civil; do outro a existência de uma sociedade
civil politicamente ativa e motivada para a defesa dos interesses públicos.
A dimensão técnica do controle social é identificada por Campos (2007)
como “um conjunto de saberes, competências e habilidades, para o exercício da
fiscalização sobre as ações governamentais”. Destaca a importância do
acompanhamento da gestão dos recursos financeiros, da avaliação da qualidade
dos serviços prestados e de seus impactos na vida dos usuários da política.
A competência técnica mostra-se essencial ao exercício do controle
social. Os atores sociais responsáveis por essa tarefa, devem ser dotados de
conhecimentos específicos nas áreas de administração, contabilidade e avaliação de
políticas públicas, cujos conteúdos autorizem recomendações e deliberações
pertinentes.
A dimensão ética do controle é delineada por Campos (2007), sob a
perspectiva de ações capazes de reduzir desigualdades e promover justiça social.
Para balizar sua noção de ética no exercício do controle social, o autor recorre ao
pressuposto da “responsabilidade moral”, que nenhum governo sério deve abdicar, e
do geral, a sociedade civil não pode prescindir. Nessa lógica, o exercício do controle
social em sua dimensão ética remete para o compromisso do Estado e da sociedade
civil com a construção da cidadania dos usuários, o que se afirma no
reconhecimento e efetivação plena dos direitos civis, políticos e social, no esteio da
liberdade, igualdade de oportunidades e pertencimento à sociedade.
74
Diante de tais pressupostos, Correia (2005) elenca três limites para o
exercício do controle social no campo da política de assistência social, quais sejam:
a baixa adesão governamental, a frágil representatividade da sociedade civil e a
insuficiência dos instrumentos legais, disponíveis para esse fim.
A baixa adesão governamental se manifesta na predominância de
posturas de gestores centralizadores, autoritários, pouco atentos a probidades
administrativa, pouco abertos ao diálogo com seus discordantes.
Indiferentes as determinantes legais, que primam pela gestão
democrática, persiste no cenário nacional comportamentos negligentes no trato da
gestão pública. Quando se trata da política de assistência social, muitos são os que
insistem em preservar prática tradicionalista que, na compreensão de Correia
(2005), desdenha dos direitos sociais, tenta desqualificar politicamente o campo
assistencial, não reconhecendo sua relevância civilizatória. “Esse estilo de
comportamento gerencial não viabiliza o exercício do controle social”. Quando muito,
deixa transparecer as manobras políticas, forjadas justamente para contradizer a via
da legalidade.
Outro obstáculos apontado por Correia (2005), para o exercício do
controle social, consiste da inexistência, nos conselhos, “de um quadro de
profissionais habilitados e politicamente independentes, do Poder Executivo”. Tal
constatação evidência em si todos os impasses para a efetivação das
responsabilidades formais, atribuídas aos conselheiros. Desqualificados
profissionalmente e comprometidos politicamente com gestores públicos, vivenciam
o teatro ao “faz de conta”, e ainda se revestem da figura de “conselheiros”, para
deliberar em função do que não sabem ou daquilo que mesmo sabendo, não se
sentem na condição de contradizer ou negar.
Além dos argumentos já elencados, vale destacar ainda como impasse ao
exercício do controle social, a frágil representação da sociedade civil. Tal,
75
consideração está fundamentada no comportamento das organizações não
governamentais, que se prestam à mera execução de serviços assistenciais.
Um número expressivo delas tem o seu funcionamento e a sua vida social
condicionados ao repasse de recursos financeiros, conveniados com entes
governamentais... É desta base organizativa que são eleitas as
representações da sociedade civil, para comporem os Conselhos de
Assistência Social, nos três níveis de governo (CAMPOS, 2007, p. 102).
Os Conselhos, assim constituídos, se transformam em arenas
despolitizadas, onde os figurantes, investidos da função de conselheiros, advogam
em causa própria, em detrimento dos interesses coletivos. Assim, arquitetados, em
que medida seus atores desempenham o exercício do controle social?
Parece óbvio que em tais circunstâncias, não se exercita controle, mas
uma formalidade burocrática ensaiada para corresponder a exigências legais. Os
conselheiros, falam e votam pelos usuários, mas não os representam efetivamente”
(ibid, 2007, p. 102).
Os usuários, por sua vez, canalizam suas energias nas lutas cotidianas
pela sobrevivência, e, desconhecem o emaranhado do jogo político praticado por
aqueles que se autodelegam como representantes de seus interesses.
Outro limite ao exercício do controle social pelos Conselhos, está na
fragilidade dos instrumentos legais, disponíveis para este fim. Na análise de Campos
(2007), alguns aspectos são elencados, a saber:
As deliberações dos conselhos não têm poder vinculativo, ou seja, não
dispõem de força legal para abrigar o governo a cumprí-las (...) a legislação
em vigor não estabelece faltas ou negligências; (...) a composição paritaria
dos Conselhos, entre governo e sociedade civil, tende a minimizar as
chances da sociedade, para aprovar matérias contrárias aos interesses
governantes” (CAMPOS, 2007, p. 103).
Pelo exposto, pode-se inferir que a persistência dos limites e impasses
aqui destacados, comprometem a viabilidade de um projeto civilizatório orientado
pelos valores da democracia, da justiça social e da emancipação humana, sem o
firme propósito do controle social, distancia-se o horizonte da política de assistência
social, exercitada pela via da garantia de direitos.
76
3.3 A participação como estratégia para legitimar a sociedade política
No curso das mudanças verificadas nas relações sociais, econômicas,
geopolíticas, científicas e tecnológicas, as organizações (públicas e/ou privadas), se
encontram diante de um cenário que abre perspectivas inusitadas.
McLagan e Nel (2000), referem-se aos dias contemporâneos, como uma
nova era da participação, elevando esse conceito ao nível da opção social e
filosófica, em seu desafio maior de emocionar e envolver pessoas.
(...) a era da participação demanda uma mudança no que pensamos ser.
Não somos fenômeno de causa e efeito (...) A crença de que podemos
construir uma mudança na organização do esforço humano, torna-se em si
mesma, uma interferência na participação (McLAGAN; NEL, 2000, p.14).
Nesse sentido, a caminhada rumo a participação organizacional autêntica,
exige a confrontação de crenças e a quebra de paradigmas sobre a natureza das
pessoas. Por muito tempo, transmitiu-se a noção de que as pessoas precisavam de
controle e liderança forte, de recompensa. Essa aprendizagem foi sedimentada
tradicionalmente por uma visão economista e mecânica, do comportamento humano.
Essa quebra de paradigma é, segundo McLagan; Nel (2000), a única
maneira de se emergir para a era da participação. Esses autores acreditam que os
sistemas humanos são, por natureza, auto organizados. Assim, cada unidade, cada
organização precisa determinar e escolher o próprio caminho, para promover
participação.
Essa compreensão é pactuada por Dowbor (1998), em seus estudos
,sobre a participação no âmbito governamental, nos seguintes termos:
(...) na visão tradicional, mais capacidade de governo deve implicar mais
poder em cima, no topo da pirâmide. Na sociedade que despontar para o
terceiro milênio, mais capacidade de governo significará maior capacidade
de gestão e decisão política, na própria base da sociedade (DOWBOR,
1998, P. 358).
77
Tradicionalmente, a forma autoritária do exercício do poder prevaleceu
desde os tempos mais remotos, até que insatisfeitas com essas práticas, as pessoas
começaram a organizar instituições políticas, sociais e econômicas.
Nos sistemas tradicionais de estilo autoritário, o poder e o direito eram
reservados para pequenos grupos, em detrimento do poder e do direito das grandes
massas. Foi assim, por exemplo, na sociedade feudal, até que em certo momento os
camponeses começaram a se organizar para a busca de autoproteção contra o
poder dos senhores feudais e invasores armados.
Uma característica muito visível nos sistemas autoritários, é que nele,
poucos pensam, ou expressam seus pensamentos; poucos são sujeitos de direitos,
ou esses lhes são concedidos formalmente, mas lhes são negados na prática; a
maioria cumpre ordens, sem questioná-las, ou quando questionam são punidos ou
vistos com indiferença; não se rebelam contra a opressão, mas a ela se submetem.
Historicamente, em diferentes sociedades e distintos momentos, os
caminhos empreendidos rumo às lutas por espaços de participação popular, nem
sempre alcançaram o êxito desejado.
A idéia de participação no campo da gestão pública, vem adquirindo
maior visibilidade, a partir das duas últimas décadas do século XX, em todo o
mundo. Essa idéia vem se consolidando e expressa avanços democráticos pela via
da progressiva abertura à participação popular.
Até bem pouco tempo, prevalecia entre representantes governamentais a
convicção de que a participação, efetivada pela via dos mecanismos de consulta
popular, negociação e formulação de consensos, poderia interferir contra o
crescimento econômico, por dificultar a tomada de decisões rápidas, prolongando
indevidamente o tempo de formulação e implementação das políticas.
78
Gradativamente, esse pensamento foi se transformando a tal ponto, que
os processos participativos converteram-se em condições estratégicas, para
viabilizar o desenvolvimento sustentável e a formulação de políticas, principalmente
na área social.
Estudo desenvolvido por Nogueira (2004), discute a aceitação
generalizada da gestão participativa. As considerações que se seguem
acompanham as reflexões desse autor.
O novo “status adquirido pela participação no campo da gestão pública
corresponde, não apenas, nem principalmente a uma mudança política e
teórico-ideológica, mas antes de tudo às exigências da modernidade
radicalizada e da globalização capitalista (NOGUEIRA, 2004, p. 121).
Ao sugerir esse argumento, Nogueira se reporta aos episódios verificados
nas últimas décadas, quando a sociedade passou a manifestar sua insatisfação com
a gestão pública. Tal insatisfação se justifica pela qualidade dos serviços
públicos e sua superação pressupõe que o usuário encontre ao seu dispor um
servidor dotado de isenção, impessoalidade, presteza cnico-normativa, agilidade,
iniciativa e criatividade, características exigidas ao gerente moderno.
As pressões da sociedade por uma gestão pública eficiente, decorrem do
aprofundamento do processo de democratização das mudanças culturais, da
reestruturação produtiva e de outros fatores, que repercutem na dinâmica funcional e
social, portanto no plano da organização dos interesses da sociedade civil.
Outra pressão inferida à gestão pública, deriva da ação combinada entre
o mercado e o Estado, “duas entidades contraditórias que se completam e se
repelem o tempo todo” (Idem, 2004, p. 124). À medida que o mercado avança na
realização de serviços que supostamente deveriam ser garantidos pelo Estado,
(educação, saúde, segurança, etc), ele próprio estabelece mecanismos de proteção
social que não correspondem aos interesses da sociedade.
79
Extensa literatura Castells, 1999; Habermas, 2001; Ianni, 1996; Santos,
2000, reconhece o enfraquecimento do Estado, no contexto da liberação do
mercado provocado pelo processo de globalização da economia, e nessa lógica,
“Estados fracos não podem produzir governos fortes” (NOGUEIRA, 2004 p. 125).
Diante de tais impasses, diferentes instâncias governamentais são
levadas a agir sob pressão social. Trata-se do movimento identificado por Nogueira,
(2004) como “cerco aos governos” através do qual, quatro grandes fontes geradoras
de pressão transitam e agem em favor de suas demandas, reivindicações e
interesses: sociedade civil, mercado, transnacional e subnacional. Essas forças se
articulam e pressionam o governo a responder favoravelmente aos seus anseios.
As pressões ao governo oferecem ao mesmo tempo situações de risco e
de oportunidades.
O cerco subnacional (governos estaduais e municipais pressionando o
governo federal), se exerce a partir de influências territorialmente diferenciadas,
mas, o Estado ou município sofrem as mesmas pressões que sufocam o Governo
Federal, pela via transnacional emitida por blocos e acordos multilaterais
(MERCOSUL, FMI, Comunidade Européia, etc).
Por sua vez, as pressões exercidas contra o governo pelo mercado e
sociedade civil, agem por motivos dinâmicos diferentes, ainda que contraditórios, o
mercado com o foco no lucro e a sociedade civil com o olhar voltado para a
afirmação de seus interesses, valores e direitos.
Para cada campo de força (subnacional, transnacional, mercado e
sociedade civil) o governo lança mão de diferentes estratégias para emitir respostas.
A participação das pressões transnacionais são respondidas pela
abertura econômica e criação de mecanismos protecionistas, para atenuar a força
reivindicatória desse movimento.
80
Aos ataques subnacionais, o governo responde através da
descentralização político-administrativa. Se, por um lado a municipalização garante
abertura à participação popular, por outro, gera constrangimentos:
A tentativa de Estado reafirmar seu poder na arena global pelo
desenvolvimento de Instituições supranacionais, acaba comprometendo
ainda mais sua soberania. E, os esforços do Estado para restaurar sua
legitimidade por meio da descentralização do poder administrativo,
delegando-o a esferas regionais e locais, estimulam as tendências
centrífugas ao trazer os cidadãos para a órbita do governo, aumentando,
porém, a indiferença destes em relação ao Estado Nação (CASTELLS,
1999, p. 278).
O processo de descentralização político-administrativa analisado sob esse
prisma, contribui para ampliar espaços de participação popular ao mesmo tempo em
que reduz a soberania do Estado–Nação, concorrendo para que este passe a
compartilhar decisões e afirmar sua soberania de estilo compartilhada.
Para responder às pressões do mercado, o Estado tem fomentado o
processo de privatizações. Essa resposta tem correspondido a efeitos antagônicos,
onde o dever do Estado de provedor de serviços públicos é transferido para a
iniciativa privada concorrendo para uma série de constrangimentos.
Às pressões da sociedade civil, o Estado responde com a participação.
Essa decisão, no entender de Nogueira (2004), terminou por reduzir a força ou
capacidade de coordenação dos governos, ainda que nem sempre de modo
negativo. “A participação tornou-se, ao mesmo tempo, uma demanda social e uma
resposta governamental” (NOGUEIRA, 2004, p. 129).
O tema participação, comporta forte conteúdo ideológico, portanto,
diferentes conceitos e definições.
A rigor, ainda que nem toda participação seja imediatamente política, não
há participação que não se oriente por algum tipo de relação com o poder, –
tanto com o poder de outros atores quanto com o de determinados centros
organizacionais e decisórios (NOGUEIRA, 2004, p. 129).
A participação comporta um componente de ordem psicológica. Quem
participa, procura projetar-se como sujeito que admite e sustenta seus próprios
81
valores, interesses, aspirações e se reconhece como sujeito de direitos. Sob essa
compreensão de si próprio, constrói sua identidade e passa agir movido por seus
ideais.
Tomando por base o mundo contemporâneo, Nogueira (2004), identifica
quatro grandes modalidades de participação que, em sua opinião coexistem e se
combinam de diferentes maneiras, e, em conformidade com as circunstâncias
histórico-sociais, e expressam diferentes graus de consciência política: participação
assistencialista, participação corporativa; participação eleitoral e participação
política.
A participação assistencialista é, segundo Nogueira, uma atividade
universal. Corresponde à natureza gregária humana, portanto, verifica-se em todas
as épocas da história e em todas as sociedades. Mostra-se particularmente
relevante entre segmentos sociais empobrecidos, funcionando como estratégia de
sobrevivência, e, se expressa na prática de auxílio mútuo e de mutirão ao lado de
ações filantrópicas, para otimizar recursos, neutralizar conflitos ou resolver
problemas.
Antes do Estado afirmar os direitos de cidadania, a participação de estilo
assistencialista era prática comum. Essa modalidade tende a predominar em
comunidades destituídas de maturidade e organicidade dos seus grupos sociais, ou
entre aquelas de menor consciência política coletiva.
A participação corporativa se afirma quando exercitada em defesa de
interesses específicos de determinados grupos sociais ou de categorias
profissionais. Trata-se, segundo Nogueira (2004), de uma participação fechada em
si, tendo sido essa a modalidade que originou o sindicalismo moderno.
Em comum, a participação assistencialista e a participação corporativa
acumulam o estilo universal. Ambas interpenetram-se, porque estão articuladas
intimamente aos problemas existenciais imediatos, práticos, e quase sempre
voltados para questões de sobrevivência, com forte componente econômico. Na
concepção de Nogueira, esses estilos integram uma dimensão “pré-política”, mas
82
nem por isso irrelevante, negativa ou inferior. Através delas, pessoas e grupos se
reconhecem pela necessidade de união, em torno da defesa ou negociação de seus
interesses. Por essa via, o associativismo adquire seus contornos e se lança para
além dos interesses meramente assistencialistas ou corporativos.
A participação eleitoral, conforme descrita por Nogueira (2004), projeta-se
para o campo político, porque não se limita à defesa de interesses particulares, mas
interfere diretamente na governabilidade e repercute em toda coletividade. Nela se
pode observar, consciência mais clara do poder político. Sob essa dimensão, os
atores sociais se reconhecem e se manifestam não somente em relação a seus
direitos individuais, mas também em relação aos direitos coletivos de caráter político.
A participação eleitoral, porém, tem seus limites e não necessariamente leva
a uma reorganização sustentada do Estado ou do poder político... Está
muito condicionada por atos e escolhas individuais, particulares, operando
de modo muitas vezes episódico, flutuante, despojado de estratégias ou de
cálculos de longo prazo... Por mais que os rumos políticos de um país
democrático resultem do voto, tal método de combinar preferências, termina
por limitar o envolvimento do cidadão (NOGUEIRA, 2004, p. 132).
O autor não superestima a participação eleitoral. Argumenta que sem a
definição dos critérios do sufrágio, o caráter do eleitorado, quem pode eleger e ser
eleito, a participação eleitoral pode não ser legítima. Os critérios eleitorais
comportam concepções que determinam a política, o estilo de vida e a capacidade
eleitoral de cada sociedade. O simples ato de votar é em maior ou menor medida,
uma forma política de participação.
A participação política, conforme compreendida por Nogueira (2004)
“complementa e supera” tanto a participação eleitoral, quanto a participação
corporativa. Ela expressa a “vontade geral” da sociedade. Através dela, indivíduos e
grupos interferem para fazer com que diferenças e interesses se explicitem numa
arena comum legalmente instituída e organizada, onde o poder se consolida e é
compartilhado. Essa participação dinamiza o exercício da cidadania.
No mundo contemporâneo, os grupos sociais mais politizados se
transformam em partidos. Lutam entre si e prevalecem uns sobre os outros fazendo
83
fluir “a hegemonia de um grupo social fundamental sobre uma série de outros grupos
subordinados” (GRAMSCI, 2000, p. 41).
Nas sociedades atuais, esses quatro tipos de participação:
assistencialista, corporativa, eleitoral e política, se articulam e desafiam a validade
da “representação, maior referência da democracia moderna(NOGUEIRA, 2004, p.
134).
Sociedades pluralistas e complexas demonstram, nos últimos anos,
dificuldades de convivência com a democracia representativa. Nessas sociedades, a
solução dos conflitos sociais, passa a depender muito mais dos acordos entre as
grandes organizações do que da existência do bom governo.
A continuidade e o alargamento do processo de democratização levará a
sociedade a exigir sempre mais participação e presença ativa no próprio
teatro em que são tomadas as decisões. Aumentam assim, os espaços em
que os cidadãos exercem algum poder de voto ou de veto com o que se
altera o peso relativo da representação política (idem, 2004, p. 135).
A partir da complexificação dos problemas, suas soluções passam a exigir
sempre mais conhecimento especializado. Para equacioná-los, o Estado precisa de
técnicos com renomado saber em diferentes áreas. Assim, na medida em que o
cidadão pressiona por participação, pode ser barrado no terreno em que decisões
complexas exigem conhecimento aprimorado.
Por outra via, os avanços tecnológicos e de comunicação passam a afetar
pesadamente os mecanismos e valores da representação da governabilidade
democrática e do Estado. A política perde eficácia diante da velocidade com que a
informática produz informação e mobiliza opiniões divergentes.
Nesse novo cenário, a democracia representativa de conteúdo liberal, até
então hegemônica, tende a entrar em crise operacional.. A tensão entre democracia
representativa e democracia direta, se evidencia no conflito social contemporâneo.
Nesse cenário, a idéia de Nogueira (2004), se volta para sugerir que novos atores
irão instaurar uma disputa pelo significado da democracia participativa.
84
Tendo evoluído historicamente, a participação política esteve direcionada
a promover a participação da sociedade nas diferentes instâncias do Estado. Mas, a
democracia representativa, principalmente no aspecto da ação dos conselhos de
participação da sociedade, deu sinais de ineficiência. Diante desse impasse emergiu
o alerta de que a solução dos problemas econômicos e sociais não passaria por
esse modelo de representatividade, e os Conselhos, por sua fraca atuação, tal como
outros organismos do Estado passaram a ser considerados como dispensáveis.
A alternativa do republicanismo cívico ou comunitarismo republicano,
passou a ser discutida, demonstrando particular eficiência na crítica ao
individualismo liberal, que concorre para a democracia representativa, onde a
participação da sociedade não logrou o êxito almejado.
Independentemente de se avaliar a validade das postulações vico-
republicanas e das críticas que tem sido a elas dirigidas, é inquestionável
que o comunitarismo ajudou a emprestar dignidade à participação e ao ideal
de democracia direta, contribuindo para reduzir a força argumentativa da
democracia representativa (NOGUEIRA, 2004, p. 137).
Apesar de todas as restrições e conflitos entre os diferentes estilos de
participação e suas influências sobre o Estado, Nogueira sugere que qualquer visão
competente interessada em interpretar a sociedade contemporânea e seus desafios,
não pode colocar a democracia direta e a democracia representativa em posições
antagônicas ou excludentes. Para ele, não existe incompatibilidade entre “cidadania
republicana” e “democracia moderna”, enfim, advoga que a “liberdade negativa não
precisa excluir a participação política e a virtude cívica”.
A participação cidadã, por sua via, manifesta-se nas sociedades atuais,
de modo amplo e variado. Dedica-se a compartilhar decisões governamentais, a
garantir direitos, a interferir na elaboração orçamentária, a exercitar o controle social
das políticas públicas.
Desse estilo de participação cidadã Nogueira (2004), sugere emergir outro
tipo de participação orientada por uma idéia de política, como troca entre
governantes e governados. A esse estilo, denomina de participação gerencial.
85
A participação gerencial favorece, segundo Nogueira (2004), interações
cooperativas entre Estado e sociedade. Ao mesmo tempo, que contém importantes
elementos de democratização, pode também produzir efeitos incômodos quando os
governantes administram a participação, impedindo-a de radicalizar posturas em
defesa de interesses contrários. Assim, os atores sociais que supostamente
“participam”, podem permanecer subalternos às decisões governamentais.
No caso brasileiro, o fenômeno da participação política, tal como se
conhece atualmente, seja como expressão dos cidadãos ou de sujeitos sociais
coletivos (organizações sociais), é relativamente recente com marco histórico nos
anos de 1980. (OLIVEIRA, 2003, p.61). Tradicionalmente, apenas pequenos grupos
abastados da sociedade mantiveram-se à frente do poder decisório.
Mais recentemente, as demandas por participação, em todas as
dimensões: na família, no trabalho, no aparato institucional ou nos governos, estão
se ampliando. As pessoas, as organizações e até mesmo os países que em passado
recente permaneciam relativamente isolados, agora se encontram frente a frente por
meio da televisão, do telefone celular e da Internet. Assim, o acesso à informação
elimina fronteiras e favorece a participação das pessoas, abrindo horizontes para
que cada um faça suas escolhas, conseqüentemente, uma maior independência,
exige participação ativa. Os relacionamentos globais dependem da participação
efetiva, o que vem contribuindo sobremaneira, para a queda do autoritarismo.
Em se tratando da participação popular no domínio das políticas públicas
brasileiras, desde a década de 1980, no contexto das lutas pela abertura
democrática, um clima nacional favorável à participação e na mesma proporção
contrária ao autoritarismo.
Na Política Nacional de Assistência Social, a participação popular
constitui-se ao lado da descentralização, da responsabilidade do Estado e da
centralidade na família, uma diretriz assumida em observância aos determinantes da
LOAS.
86
Diferentes dos modelos e experiências de assistência social que
antecederam a LOAS, a diretriz em torno da participação da sociedade civil,
constitui-se um fator condicionante para a consolidação da assistência social como
política blica. Destaca-se que em cada esfera de governo, o Estado é o
responsável por sua gestão (LOAS, art. inciso III). A idéia de participação está,
segundo Campos (2007), associada ao protagonismo.
Participar na condição de definidor de prioridades, de elaborador de
políticas, de normalizador de critérios de acesso e de fiscalizador das ações
do governo, nesta área (CAMPOS, 2007, p.95).
Protagonizar, no entanto, não é tarefa simples. Tal iniciativa,
principalmente em se tratando de sua efetivação na arena de lutas políticas, exige
conhecimento, vontade e determinação.
Voltando-se o olhar para o ângulo da identidade do sujeito social, como
argumento explicativo de sua postura participativa, estudos de Hall (1999),
concorrem para a compreensão de que as mudanças atuais estão pondo em xeque
as identidades consolidadas.
Na sua opinião, “a identidade do sujeito social resulta de sua construção e
experiência vivida, é algo formado ao longo do tempo através de processos
conscientes (e
inconscientes) e não inatos...”
(HALL, 1999, p.38).
Assim compreendida, a identidade dos sujeitos sociais é determinante
quanto à natureza, estilo e prática de cada um sobre essa questão. Estudos de
Ernesto Laclau (1997), tem contribuído para análises em torno do fenômeno da
participação e proposição política de sujeitos diferentes, em trabalhos de grupo.
Para ele, quanto mais particular for o grupo, menos ele será capaz de controlar o
terreno comunitário global no interior do qual opera, e tanto mais universalmente
fundamentada, terá que ser a justificação de suas pretensões (LACLAU, 1997 p.11).
A participação é ato humano, e sua compreensão não pode se dar isolada
de um olhar sobre a condição dos atores sociais, em legitimarem suas posturas nos
espaços de participação política, tal como se postula, por exemplo, nas funções
87
atribuídas aos Conselhos de Assistência Social nas três esferas de governo federal,
estadual e municipal.
A participação orientada para a decisão, caracteriza-se por exigir dos
sujeitos sociais uma intervenção qualificada, organizada. É mais que tomar
conhecimento a ser comunicado, é mais que estar presente.
A participação política, efetivamente, “pressupõe uma relação de poder
Teixeira (2000), que não se limita à relação do Estado com a sociedade civil, mas
entre os próprios sujeitos dos processos participativos”.
Apesar da histórica inexistência da participação política do expressivo
contingente populacional brasileiro, vem se delineando, nas últimas décadas, um
novo cenário em conseqüência do processo de democratização efetivado, a partir da
Constituição de 1988.
A participação institucionalizada foi introduzida no cenário nacional pelo
texto Constitucional, seguido de Leis complementares, sendo a LOAS a referência,
da participação da sociedade civil pela via dos Conselhos, em sua função mais
expressiva de controle social.
Na visão de Teixeira (2000), controle social não é simples operação
técnica de apurar irregularidades ou mesmo indícios de fraudes do poder público.
Assim compreendendo, é pela via da participação nos Conselhos, que os sujeitos
sociais potencializam a participação, conferindo-lhe caráter político transformador
ou, do contrário fragilizam a perspectiva da participação assumindo posturas de
indiferença ou alienação diante das pautas levadas a termos, em ocasiões concretas
de decisão política.
Com essas reflexões, esta pesquisa se encaminha para culminar com a
descrição do procedimento metodológico, cujos métodos e técnicas convergem para
a análise da matriz de avaliação da gestão da política de assistência social, aplicada
nos municípios selecionados, para finalmente destacar a condição atual da Política
88
de Assistência Social, sob a visão de instâncias representativas da sociedade, e dos
técnicos da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Ceará.
89
4 OS CAMINHOS DA PESQUISA
As contribuições teóricas discutidas ao longo desta dissertação,
fundamentam o entendimento de que historicamente no Brasil, a legalidade de um
direito não garante sua disseminação e apropriação por seus destinatários, ou seja,
o reconhecimento legal de reivindicações populares, não se revela suficiente para
legitimá-las. Tal situação aplica-se à Lei Orgânica da Assistência Social, cujo
estatuto legal não representou a concomitante efetivação dos direitos, nela
descritos. Tal realidade constituiu-se no incentivo maior para a realização deste
estudo, cuja relevância consiste na perspectiva de estudar a assistência social, no
âmbito do Estado do Ceará, combinado-se intencionalmente um problema de
natureza teórico-prática, na perspectiva de desvendar alternativas para sua
consolidação, como Política aplicada para o exercício do direito socioassistencial.
O interesse pelo desenvolvimento deste estudo, emergiu a partir de uma
prática profissional, exercida há mais de 20 (vinte) anos, na Secretaria da Ação
Social do Estado do Ceará, instância coordenadora local da Política de Assistência
Social.
Na realidade concreta, as dificuldades para se efetivar essa política
chamam sempre a atenção dos profissionais, que analisando criticamente o
cotidiano, se interrogam quanto à validade e alcance de suas ações.
A decisão pela abordagem temática desta dissertação se deu, portanto,
ancorada na justificativa de sua relevância de natureza teórico-prática, pelas
contribuições para uma propositura interventiva conseqüente, capaz de referendar
novas posturas, na condução dos impasses cotidianos do pensar e agir profissional.
A base crítica de um estudo desta natureza, também mostrou-se
relevante para o campo das políticas blicas. O resgate histórico da assistência
social disponibiliza enfoques que sinalizam noções explicativas da realidade
contemporânea, ao mesmo tempo em que suscita a emergência da adoção de
90
medidas para a superação do quadro de pobreza e exclusão, verificados no Estado
do Ceará.
O caráter ideológico que tem norteado a prática profissional do assistente
social como agente institucional, enseja uma complexidade de dimensões múltiplas
e, como não poderia deixar de ser, foi também determinante para a seleção da
temática em foco neste estudo.
Os incontestáveis desafios impostos aos operadores da Política de
Assistência Social no Ceará apresentam exigências concretas a quem cabe
coordenar, executar, explicar, conceituar, financiar, monitorar, avaliar, enfim,
legitimar ações estratégicas de enfrentamento à pobreza e exclusão social. Nessa
perspectiva, residem possibilidades de inserir contingentes empobrecidos, na
dinâmica do sistema de garantia de direitos para o acesso aos bens e serviços
essenciais ao cumprimento de seu papel, no campo reprodutor da força de trabalho,
onde se desenvolvem as possibilidades reais do sujeito, protagonizar sua
sustentabilidade, na dinâmica do modo de produção capitalista vigente.
A escolha da temática trabalhada nesta dissertação, teve presente
questionamentos forjados no âmbito sócio-cultural, compreendendo-se que as
demandas ou necessidades não surgem ao acaso, mas emergem fundadas em
valores assimilados gradativamente, incorporando-se às necessidades coletivas,
exigindo dos profissionais da assistência social, em particular, a capacidade de
transformar a cultura do assistencialismo, em garantia de direitos, o que remete a
novas posturas e novos modos de ser, agir e estar numa sociedade que reclama por
justiça social e qualidade de vida, para todos.
Coerente com os limites e possibilidades que um estudo desta natureza
traz em seu bojo, decidiu-se balizar esta pesquisa, na busca de respostas para uma
questão peculiar à efetivação do Sistema Único no Ceará: “como a política de
assistência social vem se consolidando nos municípios cearenses, identificados a
partir das categorias de pequeno, médio, grande porte e metrópole, tomando-se
como referencial o novo modelo de gestão descrito pela Norma Operacional Básica
(NOB/SUAS) ?”
91
Essa questão central convergiu para outras indagações a ela vinculadas e
indissociáveis: quais os instrumentos gerenciais empregados para avaliar as
condições operacionais dos municípios que se inserem em gestão inicial, básica ou
plena? Como se estrutura a gestão básica municipal pela via da implementação dos
Centros de Referência da Assistência Social? Com base nos elementos disponíveis,
como se pode qualificar a implementação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) no Estado do Ceará? Configurava-se a partir de tais questionamentos as
balizas do objeto de estudo em foco nesta dissertação: Investigar a trajetória de
implementação da política de assistência social no Estado do Ceará, tomando-se
como indicadores os pré-requisitos legais para sua efetivação no âmbito local.
A definição deste objeto de estudo foi delineada a partir da hipótese de
que no Estado do Ceará, a efetivação da política de assistência social organizada
através de um sistema descentralizado e participativo, redesenhado sob os
fundamentos do SUAS, ainda o se consolidou, face às dificuldades operacionais
vigentes, no domínio municipal, de seus pressupostos. Percebe-se fragilidades
gerenciais no que concerne ao planejamento, monitoramento e avaliação da política,
como também no exercício da participação e do controle social pelos Conselhos
Municipais de Assistência Social.
Outra hipótese levantada foi a de que a assistência social, apesar de
todos os avanços em seu conteúdo legal, continua a ser desenvolvida pelo poder
público municipal, como política assistencialista, residual, individual, através de
programas, projetos e serviços de caráter segmentado, descontinuado e pouco
qualificados, incapazes, portanto, de gerar transformação positivas na vida dos
cidadãos, em situação de pobreza.
Hipotetizou-se também, que o controle social constitui-se imprescindível
para a garantia dos direitos. Entretanto, observam-se fragilidades na estruturação e
desempenho dos Conselhos de Assistência Social, no acompanhamento e
monitoramento da Política Nacional de Assistência Social.
92
Coerente com a natureza do problema, o objeto de estudo e as hipóteses
levantadas, percebeu-se a necessidade da realização de uma pesquisa de campo.
Sendo o universo composto por 184 municípios, identificou-se a possibilidade de
delimitar uma amostra centrada em características geográficas, políticas e de
quantitativo populacional, capazes de representar o quadro da realidade em sua
totalidade. Foi então, que decidiu-se adotar o método de estudo de caso com apoio
na concepção de dinâmica da realidade e das relações dialéticas entre
conhecimento e ação, entre teoria e prática. Privilegiou-se, portanto, experiências
práticas, processuais, históricas e análise contextualizada. Essa opção metodológica
está baseada na proposta de Oliveira (2000), o qual sistematizou a elaboração de
estudo de casos em gestão organizacional.
Vários pontos convergentes entre a proposta metodológica de Oliveira
(2003), e os interesses desta pesquisa, podem ser elencados. Em princípio, importa
considerar a flexibilidade desse método, vez que para seu emprego, “não regras
estabelecidas, tampouco existem procedimentos férreos para reduzir uma análise de
caso. (Ibid. idem, 2003, p17).
Com base nessas considerações, reuniu-se elementos para compor esta
dissertação. Compartilha-se a flexibilidade do método e a utilidade que esse tipo de
estudo oferece para o profissional envolvido na análise operacional de uma política
com compromisso, de nela destacar indicadores essenciais e recomendáveis ao
aprimoramento da gestão da política de assistência social.
Elencar-se-á, ao longo deste trabalho, um conjunto de informações
discutidas a partir do referencial teórico, apresentado o que converge para uma
análise intencional de ultrapassar a compreensão unilateral do caso, pelo
envolvimento de diferentes atores sociais, participantes da gestão da política de
assistência social no Ceará. Essa possibilidade referenda a opção assumida pelo
método em destaque, vez que identificam-se os protocolos empregados na
investigação postulada. Trata-se, portanto do desenvolvimento de um estudo de
caso relativo ao processo de descentralização e controle da Política de Assistência
Social no Ceará.
93
a pesquisa científica permite garantir a produção de um conhecimento
fiel, sobre a realidade que se deseja desvendar. “O conhecimento científico só
merece este nome se for elaborado segundo as regras da metodologia científica”
(BRUYNE et al, 1990, p.27).
Mas, é pertinente lembrar que a prática científica não se reduz a uma
seqüência de operações, de procedimentos necessários e imutáveis e de protocolos
codificados. Essa concepção repousa sob o rigor burocrático e contradiz o
entendimento de que a complexidade dos problemas em ciências sociais, exige
interpretações e voltas constantes, entre os pólos epistemológicos, teóricos,
morfológicos e técnicos, selecionados e alinhados para a produção do
conhecimento,
Nessa lógica, os achados da pesquisa de campo são analisados a partir
do conteúdo selecionado nas pesquisas bibliográfica e documental.
A pesquisa bibliográfica utilizou-se de obras clássicas e contemporâneas
relativas aos conceitos pertinentes a este estudo. Entre os clássicos, destaca-se os
estudos de Gramsci (2000), cuja teoria sobre os “aparelhos ideológicos do Estado”
contribuíram para fundamentar argumentos acerca das relações entre o Estado e a
sociedade, mais especificamente na condição relacional que se delineia entre os
executores da política de assistência social, num conjunto que reúne agentes
públicos e representantes de organizações não-governamentais, inseridos em duas
frentes complementares: as instituições blicas (Secretarias estadual e municipais)
de um lado e as instâncias representativas dos interesses da sociedade (Conselhos
da Assistência Social e Comissão Intergestora Bipartite) de outro.
Entre os contemporâneos é extensa a produção teórica utilizada, pela
própria natureza recente do fenômeno, cujo ineditismo presente na dinâmica de
implantação e implementação de novos instrumentos e modelo gerencial contidos na
idealização do SUAS, se revelam como campo de interesse de diferentes estudos.
A pesquisa documental consolidou-se pela análise de matérias oficiais
disponíveis e inerentes à assistência social no Brasil, a exemplo da Constituição
94
Federal de 1988, Lei Orgânica da Assistência Social; Política Nacional de
Assistência Social , Norma Operacional Básica (NOB), dentre outros, material esse
que disponibiliza informações mais amplas e de dimensão nacional.
Para uma análise mais direcionada a satisfazer os objetivos declarados
neste estudo, foram também tomados como fontes de pesquisa documental, matéria
produzida por instâncias representativas da Política de Assistência Social, nos
limites do Estado do Ceará, quais sejam:
- Planos Plurianuais de Assistência Social. (Estadual e dos municípios
selecionados);
- Relatórios de Gestão (Estadual e dos municípios selecionados);
- Álbum de Fotografia Local, documento produzido por ocasião das
conferências municipais, que subsidiaram a IV Conferência Nacional
da Assistência Social na produção do “SUAS, Plano 10”.
Como se fez referência, a pesquisa de campo efetivou-se no período
entre dezembro de 2006 a abril de 2007 e aplicada em 05 (cinco) dos 184
municípios cearenses. Tal delimitação comporta uma amostragem de 2,72% do total
de municípios, com destaque para uma análise geo-referenciada pelas
características particulares que esses cinco municípios representam dentro do
universo local.
A seleção da amostra observou, portanto, os critérios, a saber:
Indicadores oficiais utilizados pela Norma Operacional Básica de
Assistência Social (NOB/SUAS 2005), para qualificar municípios na condição de
Pequeno Porte (I) e (II); Médio Porte, Grande Porte e Metrópole.
Essa referência foi adotada para configurar uma noção socioterritorial que
comporta na amostra cinco municípios, classificados em cada uma das cinco
modalidades definidas, como referência privilegiada de análise da gestão da política
de assistência social.
95
Vale declarar que a escolha da amostra em destaque neste estudo, além
de corresponder aos indicadores para a condição de municípios: pequeno porte I e
II, médio porte, grande porte e metrópole, foi definida também em função da
disponibilidade dos articuladores regionais da Secretaria do Trabalho e
Desenvolvimento Social, em aderirem a proposta aqui delineada, tendo sido
oportuno visitar municípios correspondentes aos critérios amostrais que na ocasião
estavam inseridos em cronograma oficial e roteiros de viagem, para assessoramento
técnico.
que se ressaltar, a participação determinante dos articuladores
regionais da STDS, para a consolidação desta pesquisa.
Identifica-se, no quadro I, a seguir, o panorama dos 05 (cinco) municípios
cearenses, inseridos em cada uma das 05 categorias oficialmente delimitadas.
Quadro I
Fonte: Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004 e SAS/CIB/2006).
Como se pode observar, a seleção da Metrópole (Fortaleza), não se
submete a critério de escolha, posto que no Estado do Ceará é referência única.
No que concerne aos demais municípios selecionados para
representação das categorias de Pequeno Porte (I), Santana do Cariri; Pequeno
Porte (II), Paracuru; Médio Porte, Canindé; e, Grande Porte, Maracanaú, destaca-se,
que essa escolha se deu de forma aleatória, tendo sido determinada pela
Classificação dos
Municípios
(Categorias)
Referência para Nº de
Habitantes
(UNIVERSO) Nº
de Municípios
Cearenses
(AMOSTRA) Municípios
Selecionados por
Categorias
Municípios
Pequenos (I)
Até 20.000 habitantes 98
Santana do Cariri
Municípios
Pequenos (II)
Entre 20.001 a 50.000
habitantes
62
Paracuru
Municípios Médios Entre 50.001 a 100.000
habitantes
18
Canindé
Municípios Grandes Entre 100.001 a 900.000
habitantes
05
Maracanaú
Metrópole > que 900.000
habitantes
01 Fortaleza
96
disponibilidade de técnicos da STDS em visitá-los em tempo hábil, essencial a
consolidação deste estudo.
A concretização da pesquisa de campo, contou com o apoio de técnicos
da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, os quais foram orientados na
aplicação da “Matriz de Análise”. (Anexo I). referido instrumental, é subdividido entre
questões (de 1 a 5) direcionadas aos Secretários Municipais de Assistência Social
ou congêneres e, (item 6) aplicado junto aos Conselheiros Municipais de Assistência
Social em cada unidade territorial, definido como abrangência deste estudo.
A entrevista constituiu-se na técnica empregada para efeito do
preenchimento da “Matriz de Avaliaçãoem trabalho de campo. Assim, o estudo de
caso consolida-se com foco para as categorias de análise e indicadores
correspondentes. O cruzamento das informações colhidas nas pesquisas
bibliográficas, documental e de campo autorizam as análises que se passa a
discorrer.
4.1 Matriz de avaliação da gestão da política de assistência social aplicada aos
municípios selecionados.
No ano de 2000, a Comissão Intergestora Tripartite (CIT), idealizou uma
matriz de referência, para avaliar a gestão da Política de Assistência Social em
dimensão nacional. No Ceará, a pesquisa foi levada a efeito pela Comissão
Intergestora Bipartite, CIB - Ce. Na ocasião, interessava delinear um panorama
nacional da gestão da política, através do exame de cinco referências: 1. Gestão
Organizacional; 2. Ação Programática/ Financiamento; 3. Instrumentos para a
formulação, gestão e avaliação; 4. Intersetorialidade com as demais políticas e 5.
Apoio do gestor para o funcionamento do Conselho Municipal de Assistência Social.
Em todo o país, os gestores da assistência social, na figura dos
secretários estaduais e municipais, foram mobilizados a participarem dessa
iniciativa.
97
No Estado do Ceará, dos 184 municípios, 66 (35,8%) se credenciaram
espontaneamente a participar desse estudo. Os resultados foram sistematizados,
apresentados em relatório e encaminhados a CIT para consolidação nacional.
Avaliar a gestão da política de assistência social, mostrou-se um desafio.
Não só pela dimensão geográfica do país, mas, principalmente por não se ter
consolidada a cultura avaliativa.
É indiscutível que o ato de avaliar envolve necessariamente um
julgamento a partir de certa concepção (implícita ou explícita) de certo ou errado,
justo ou injusto, avanço ou retrocesso, enfim de pólos opostos que concorrem para a
inexistência de neutralidade.
Aplicada à gestão de uma política pública, a avaliação processual
representa chances à monitoração dos processos, responsáveis pela produção do
efeito esperado (Figueiredo e Figueiredo, 1986), tanto quanto da própria dinâmica do
curso das decisões e atividades – meio, sendo essa uma perspectiva bastante
promissora (Perez, 2001). Mas, é preciso destacar que não se instaurou um
“processo” de avaliação da gestão da política de assistência social no país,
verificando-se um intransponível hiato, entre o diagnóstico inicialmente produzido
(entre 2000-2001) até os dias atuais (2007-2008), quando nessa dimensão temporal
não mais se desenvolveu um esforço no sentido de reproduzir ou aprimorar métodos
e técnicas para uma avaliação continuada, processual e conseqüente da gestão da
política de assistência social nesses mesmos padrões.
Destaca-se a ocorrência de avaliações isoladas, a exemplo do que se
verifica por ocasião das Conferências municipais, estadual e nacional, mas no nível
da gestão não se pode ainda referendar a pertinência das iniciativas, que no curso
do tempo em destaque se efetivaram.
A avaliação, compreendida como suporte essencial ao controle e
aprimoramento da gestão, vem sendo implementada com a recente criação da
REDE SUAS/ Gestão do Sistema de Informações. Essa iniciativa está fundada no
entendimento de que as dificuldades enfrentadas na gestão, planejamento e
98
avaliação das ações de Proteção Social, estão diretamente relacionadas com
deficiências de produção, tratamento, armazenamento e disseminação de fluxos e
dados. consenso entre estudiosos da matéria, que o êxito de uma política requer
profundidade analítica dos dados produzidos e sua conseqüente transformação, em
informações e conhecimentos, assim como a periodicidade de sua revisão e
atualização.
Hoje, a gestão da informação integra a agenda estratégica do Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS/SUAS), através do SUAS/web,
um dos aplicativos da Rede SUAS, que possibilita a fiscalização das ações e a
obrigatoriedade do acompanhamento tanto do planejamento estadual e municipal,
quanto da gestão físico-financeiro da prestação de contas. É, portanto condição para
a implementação da política que gestores, cnicos e conselheiros estejam
qualificados para interagir com o SUAS/web. Do contrário, é impossível avançar na
operacionalização do Sistema Único, sendo prática recente ainda, apresenta
distorções e requer aprimoramento.
A Matriz de Informações Sociais (MIS), é uma ferramenta de
monitoramento idealizada para o acompanhamento dos programas federais. Há,
portanto, lacunas a serem superadas vez que a própria LOAS, determina que a
Política de Assistência Social é responsabilidade dos três entes federados (União/
Estado e Município) e um olhar focado nas ações de apenas um deles, não
expressa a totalidade.
Isto posto, apresenta-se a “Matriz de Avaliação da Gestão”, Instrumental
Idealizado pela CIT (2000), e utilizada como referência analítica neste estudo.
99
Quadro 1 Modelo Matriz de Avaliação da Gestão
Município:
Dimensões de
Avaliação
Pontuação
Máxima
Referências
Pontuação
Obtida
1.1. – Pessoal
1.2. – Espaço Físico
1. Estrutura
Organizacional
25
1.3. – Equipamento
2.1. – Ações/Fonte de Recursos
2.2. – Ações Inovadoras
2. Ação
Programática/Finan
ciamento
25
2.3. – Destinação de recursos
próprios
3.1. – Política Municipal de
Assistência Social
3.2. – Plano Plurianual
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS)
3.4. – Monitoramento e Avaliação
3. Instrumento para a
formulação, gestão
e avaliação da
Política de
Assistência Social
20
3.5. – Relatório de Gestão
4. I
ntersetorialidade as
demais políticas
públicas
10
5.1. – Plano/Programa
5.2. – Equipe (método e
instrumento)
5.3. - Destinatários
5. Capacitação 10
5.4. - Parceria
6.1. – Papel do Gestor x Função
do Conselho
6.2. – Condições técnico –
operacionais para funcionamento
6.
Apoio do Gestor
para o
funcionamento do
Conselho Municipal
de Assistência
Social.
10
6.3. – Relação entre o CMAS e o
órgão gestor.
Total 100 - -
Destaca-se, que os técnicos responsáveis pela aplicação da entrevista
junto aos gestores e conselheiros municipais, foram orientados para direcionamento
de seus olhares, focados nas mesmas representações simbólicas (ver orientações
gerais, Anexo I).
A metodologia empregada como parâmetro de análise, destacou três
situações distintas para qualificar a gestão municipal, em categorias conceituais nas
seguintes tipologias:
100
Conceito A - Destinado aos municípios cuja gestão foi balizada entre 80 e
100 pontos, compreendido como “município que detém condições adequadas para a
coordenação da Política de Assistência Social”;
Conceito B - Destinado aos municípios, que na avaliação acumularam
entre o mínimo de 50 e o máximo de 79 pontos, identificados como “municípios com
condições parciais, para a coordenação da política de assistência social”;
Conceito C - Atribuído dos municípios que obtiveram menos de 50 pontos,
qualificados conceitualmente por aqueles “com precárias condições para a
coordenação da Política de Assistência Social”.
Vale destacar que não foi possível realizar uma análise comparativa entre
os resultados da primeira avaliação e os atuais, porque dentre os cinco municípios
selecionados para este estudo, nem todos integraram a primeira amostra.
Feitos esses esclarecimentos, este estudo converge para o detalhamento
dos resultados identificados.
101
4.1.1 Santana do Cariri: Pequeno Porte (I)
Quadro 2 Matriz de Avaliação da Gestão
Dimensões de
Avaliação
Pontuação
Máxima
Referências
Pontuação
Obtida
1.1. – Pessoal 05
1.2. – Espaço Físico 05
1. Estrutura
Organizacional
25
1.3. – Equipamento 05
2.1. – Ações/Fonte de Recursos 05
2.2. – Ações Inovadoras -
2. Ação
Programática/Finan
ciamento
25
2.3. – Destinação de recursos
próprios
05
3.1. – Política Municipal de
Assistência Social
-
3.2. – Plano Plurianual 05
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS)
-
3.4. – Monitoramento e Avaliação -
3. Instrumento para a
formulação, gestão
e avaliação da
Política de
Assistência Social
20
3.5. – Relatório de Gestão 03
4. Intersetorialidade
as demais políticas
públicas
10
05
5.1. – Plano/Programa -
5.2. – Equipe (método e
instrumento)
-
5.3. - Destinatários 02
5. Capacitação 10
5.4. - Parceria 01
6.1. – Papel do Gestor x Função
do Conselho
01
6.2. – Condições técnico –
operacionais para funcionamento
01
6. Apoio do Gestor
para o
funcionamento do
Conselho Municipal
de Assistência
Social.
10
6.3. – Relação entre o CMAS e o
órgão gestor.
02
Total 100 45
Fonte: Pesquisa
Situação Identificada
O município de Santana do Cariri, situa-se na mesorregião sul cearense,
ocupando uma área absoluta de 768,77Km
2
. Dista 475 Km de Fortaleza, e tem
16.847 habitantes (IBGE, IPECE, 2007).
102
O Índice de Desenvolvimento Social do Município (IDS-R) calculado para
2005, é de 0,3666, posicionando-o no 139º lugar entre os 184 municípios cearenses,
o que concorre para destacar grandes dificuldades dos gestores municipais, no
enfrentamento das questões sociais, principalmente nas áreas de educação, saúde,
moradia, emprego, renda e desenvolvimento rural, que, agrupadas, compõem o
IDS-R municipal.
No que se refere à Assistência Social, o município encontra-se em Gestão
Básica. Para efeito organizacional, conta com a Secretaria Municipal de Assistência
Social estruturada, com quadro de pessoal composto por 07 (sete) trabalhadores,
dentre eles uma Secretária Municipal; uma assessora técnica, uma assistente social,
um advogado e três gerentes administrativos. Esse pessoal, em termos
quantitativos, se relacionado ao contingente populacional local, não satisfaz às
exigências da NOB/2005.
No que se refere ao espaço físico, a SMAS de Santana do Cariri ocupa
duas salas do prédio, onde funciona a prefeitura local, e desenvolve programas e
projetos em outros equipamentos sociais instalados na sede e na zona rural.
A SMAS dispõe de telefone, fax, três computadores, restrita quantidade
de mobiliário para arquivamento documental, e atendimento aos usuários e viabilizar
a coordenação e execução da Política de Assistência Social, no âmbito local.
O financiamento da PMAS, se dá através de recursos próprios do
município e co-financiada pela União, para programas de transferência de renda, a
exemplo do Bolsa Família.
As ações de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial
desenvolvidas no município, bem como os profissionais disponíveis para executá-
las, estão descritas nos quadros que se seguem.
103
Quadro 3 Ações de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial
Proteção Social Básica
Programas/ Projetos Equipe Técnica
01 CRAS
(co-financiado pela União)
01 Coordenadora; 01 Assistente Social;
01 auxiliar administrativo e 03 auxiliares.
ASEF
(co-financiado pela União)
Desenvolvido na sede e na zona rural
em 11 localidades. Contam com 01
assistente social, 01 psicólogo e
profissionais do PSF(Programa Saúde
da Família) (médico, enfermeiros,
dentistas, agentes comunitários de
saúde e pessoal de apoio).
BPC (Recurso da União) 01 Assistente Social.
Agente Jovem
(co-financiado pela União)
Para 01 turma com 25 adolescentes,
trabalham 01 coordenador e 01
orientador social.
Grupo de Convivência com Idosos
(Recurso do Município)
Para 02 grupos (01 na sede e 01 na
zona rural) contam com assistente
social, médico, enfermeiros. Agentes de
saúde e agentes sociais.
Brinquedoteca
(Recurso do Município)
Parceria com SEDUC - Municipal
Para 100 crianças de 02 a 06 anos, em
dias alternados, contam com 02
auxiliares de serviços gerais e 2
cozinheiras.
Proteção Social Especial
Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (PETI)
(Recurso da União)
Para 150 crianças e adolescentes, com
02 grupos funcionando na sede e 03 na
zona rural.
O Centro de Referência em Educação Infantil, é destaque como ação
inovadora. Atende 350 crianças de 01 ano e 8 meses a 06 anos, na sede do
município, contando com infra-estrutura para berçário e atividade de educação
infantil. Tem funcionamento em horário integral e conta com parcerias da Secretaria
de Saúde e Educação do Município.
O Plano Municipal de Assistência Social de Santana do Cariri, foi
elaborado pela equipe técnica do município, tendo sido aprovado pelo Conselho
Municipal, mas a exemplo do que ocorre com a gestão da Política em outros
municípios cearenses, a elaboração do Plano não contou com a participação da
população local, como também não houve divulgação de seu conteúdo .
104
Vale ressaltar que a gestão municipal não observa critérios de partilha de
recursos.
A Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), não trabalha
orientada por um Plano de Monitoramento das Ações. Sendo assim, elaboram o
Relatório de Gestão tomando por base as metas e recursos alocados nos diversos
programas, projetos, serviços e benefícios executados.
A perspectiva da intersetorialidade sinais de desenvolvimento,
evidenciando-se na responsabilidade de execução de programas, de modo
compartilhado entre a assistência social, saúde, educação e obras/habitação.
O município não elaborou um Plano de Capacitação. Eventualmente
realiza oficinas de capacitação para atender demandas de conselheiros locais, como
também participa dos eventos de capacitação oferecidos pela STDS e MDS.
O Conselho Municipal de Assistência Social se reúne para deliberar em
torno de demandas de aprovação de matérias, que exigem resoluções e
encaminhamento à Comissão Intergestora Bipartite (CIB - CE). O Conselho
Municipal não exercita sua função de Controle Social.
A Secretaria Municipal de Assistência Social, com apoio da Prefeitura
local, colabora para o funcionamento do CMAS, disponibilizando local para reuniões,
material de expediente, transporte e pessoal de apoio.
O gestores vêm realizando as Conferências Municipais a cada dois anos,
mas a fragilidade dos conselheiros no exercício do Controle Social da Política; a
inexistência de Plano de Capacitação, a ausência da população local na elaboração
do Plano Municipal de Assistência Social, por exemplo, o agravantes que
merecem maior atenção e desenvolvimento para superá-los.
Seguindo-se as referências quantitativas para pontuação dos
mecanismos de gestão utilizados pelo município por ocasião da pesquisa, destaca-
se que o mesmo obteve 45 (quarenta e cinco) pontos, o que lhe confere a condição
105
de “gestão C” (menos de 50 pontos), situando-se qualitativamente entre os
municípios que apresentam condições precárias para a coordenação da política de
assistência social.
4.1.2. Paracuru: Pequeno Porte (II)
Quadro 4 Matriz de Avaliação da Gestão
Dimensões de
Avaliação
Pontuação
Máxima
Referências
Pontuação
Obtida
1.1. – Pessoal 05
1.2. – Espaço Físico 05
1. Estrutura
Organizacional
25
1.3. – Equipamento 05
2.1. – Ações/Fonte de Recursos 05
2.2. – Ações Inovadoras -
2. Ação
Programática/
Financiamento
25
2.3. – Destinação de recursos
próprios
05
3.1. – Política Municipal de
Assistência Social
-
3.2. – Plano Plurianual 05
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS) -
3.4. – Monitoramento e Avaliação -
3. Instrumento para
a formulação,
gestão e
avaliação da
Política de
Assistência
Social
20
3.5. – Relatório de Gestão
03
4. Intersetorialidade
as demais
políticas públicas
10
05
5.1. – Plano/Programa -
5.2. – Equipe (método e
instrumento)
-
5.3. – Destinatários 02
5. Capacitação 10
5.4. – Parceria 01
6.1. – Exercício do controle social 01
6.2. – Condições técnico –
operacionais para funcionamento
01
6. Apoio do Gestor
para o
funcionamento
do Conselho
Municipal de
Assistência
Social.
10
6.3. – Relação entre o CMAS e o
órgão gestor.
02
Total 100 - 45
Fonte: Pesquisa
106
O município de Paracuru se insere em uma área de 303,25 Km
2
,
ocupando 0,20% do território cearense. Situado no litoral oeste, o município tem
população estimada para 2006 em 32.418 habitantes (IBGE, IPEGE, 2007).
O índice de Desenvolvimento Social por Resultado (IDS-R) de Paracuru é
de 0,5076, o que lhe confere o 11º lugar no “ranking” dos municípios cearenses.
Considerando o número de habitantes de Paracuru em relação à sua
presumida situação de vulnerabilidade, pode-se inferir que no tocante à Política de
Assistência Social, a administração local não disponibiliza quadro de profissionais
em quantitativo suficiente, para cobertura à demanda em potencial.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social conta com uma
Secretaria e duas assistentes sociais. O Centro de Referência de Assistência Social
CRAS, funciona com 02 (duas) Assistentes Sociais e 02 (dois) psicólogos. O
Cadastro Único (CAD-Único) é alimentado por 02 pedagogos, o Centro de
Referencia Especializado de Assistência Social – CREAS, tem uma assistente social
e um psicólogo. A Secretaria Municipal de Assistência Social - SMDS de Paracuru,
conta ainda com o trabalho de 08 (oito) auxiliares administrativos.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, possui sede própria
com algumas atividades executadas de modo descentralizado, em 06 equipamentos
distintos, muito embora alguns se mostrem inadequados ao trabalho, principalmente
àqueles voltados ao atendimento com crianças.
O SMDS de Paracuru conta com 05 computadores, equipamentos e
mobiliário para arquivo de documentos e demais ações burocráticas essenciais ao
controle e organização dos trabalhos.
Conforme Plano de Ação elaborado pelos gestores e aprovados pelo
Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS, o município executou em 2007,
90% do programado; tendo ampliado o atendimento a demandas reprimidas com os
seguintes valores:
107
- Recursos transferidos do FNAS – R$ 329.819,75
- Recursos Próprios Alocados – R$ 97.500,86
O Plano Municipal de Assistência Social, foi elaborado pelos gestores e
aprovado no CMAS. Entretanto, não fizeram mobilização da sociedade local para
participação na definição de prioridade, como também não divulgaram o conteúdo
do Plano que não se vincula à definição de critérios de partilha de recursos.
O município não elaborou Plano de Monitoramento para a Política de
Assistência Social. Utiliza-se de Relatórios Mensais, como instrumento de controle
interno.
O Relatório de Gestão, como exigência da NOB/SUAS/2005 é elaborado
e encaminhado à Comissão Intergestora Tripartite - CIT regularmente.
A intersetorialidade, compreendida como divisão de responsabilidades
das políticas públicas em geral, para atendimento às necessidades da população
local, vem sendo exercitada principalmente entre as políticas de assistência social,
saúde e educação.
A SMDS de Paracurú não tem um Plano Municipal de capacitação.
Entretanto, participa dos eventos (cursos, seminários, oficinas, conferências, dentre
outros) promovidos pela STDS e MDS. A gestão municipal desenvolve um plano de
trabalho orientado, junto aos agentes sociais.
O trabalho dos agentes sociais é destinado a 25 (vinte e cinco) mães do
Projeto Cidadãs (ASEF) pela via da intervenção local, quando levam às
comunidades mais distantes informações sobre direitos sociais, organização,
articulação e mobilização comunitária.
A gestão municipal prestigia o exercício do controle social, apoiando o
trabalho dos Conselhos da Assistência Social (CMAS) e Crianças e Adolescentes
(COMDICA). Esses Conselhos se orientam por Plano Operativo. Todas as matérias
de interesse dos usuários, são remetidas para análise e deliberação desses
108
conselhos, inclusive a prestação de contas dos recursos do Fundo Municipal de
Assistência Social (FMAS), com periodicidade trimestral.
Referidos Conselhos contam com espaço físico e equipamentos
necessários ao trabalho, como também, secretaria técnica estruturada.
As conferências municipais são planejadas, executadas e avaliadas com
o apoio técnico da STDS.
Atualmente, o município está estruturando os Conselhos do Idoso e o de
Segurança Alimentar e Nutricional.
Segundo parecer do cnico da STDS, que acompanha o trabalho da
Gestão Municipal, “o município de Paracuru vem dando um salto de qualidade na
Política de Assistência Social, nos 06 (seis) últimos anos” (sic).
Observa-se, no entanto, que o mesmo permanece na condição de Gestão
Básica.
A análise dos itens de avaliação descritos na matriz, que serviu de
referência para este estudo sobre o desempenho municipal na gestão da Política de
Assistência Social, converge para situá-lo na categoria de “gestão C”, tendo obtido o
total de 45 (quarenta e cinco) pontos, o que concorre para a compreensão de que o
mesmo detém condições precárias, para a coordenação da política de assistência
social.
109
4.1.3 Canindé: Médio Porte
Quadro 5 Matriz de Avaliação da Gestão
Dimensões de
Avaliação
Pontuação
Máxima
Referências
Pontuação
Obtida
1.1. – Pessoal 05
1.2. – Espaço Físico -
1. Estrutura
Organizacional
25
1.3. – Equipamento 03
2.1. – Ações/Fonte de Recursos 05
2.2. – Ações Inovadoras 05
2. Ação
Programática/
Financiamento
25
2.3. – Destinação de recursos
próprios
02
3.1. – Política Municipal de
Assistência Social
-
3.2. – Plano Plurianual 05
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS) -
3.4. – Monitoramento e Avaliação -
3. Instrumento para
a formulação,
gestão e
avaliação da
Política de
Assistência
Social
20
3.5. – Relatório de Gestão
03
4. Intersetorialidade
as demais
políticas públicas
10
-
5.1. – Plano/Programa -
5.2. – Equipe (método e
instrumento)
-
5.3. - Destinatários 02
5. Capacitação 10
5.4. - Parceria 01
6.1. – Exercício do controle social 01
6.2. – Condições técnico –
operacionais para funcionamento
01
6. Apoio do Gestor
para o
funcionamento do
Conselho
Municipal de
Assistência
Social.
10
6.3. – Relação entre o CMAS e o
órgão gestor.
02
Total 100 - 35
Fonte: Pesquisa
O município de Canindé ocupa área geográfica de 3.212,42 km
2
, o que
equivale a 2,16% do território cearense. Situado no sertão central, tem 75.347
habitantes, segundo estimativas para o ano de 2006 (IBGE, IPECE, 2007).
No que se refere à Política de Assistência Social, o município encontra-se
na Gestão Básica. A Secretaria Municipal só foi criada em 2006, após a intervenção
da SAS estadual à época, através do assessoramento técnico.
110
A Secretaria de Ação Social funciona hoje no Centro Social Urbano. Sua
organização estrutural conta com uma secretária, um secretário adjunto e 14
funcionários (05 agentes administrativos; 04 agentes comunitários; 03 agentes
administrativos para atendimento em unidade da junta militar; 02 organização
comunitária); os demais servidores municipais se dividem organizacionalmente na
execução da Proteção Social Básica e Especial, nas dimensões descritas no quadro
a seguir:
Quadro 6 Ações de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial
Ações de Proteção Social Básica
Ação Quadro de Pessoal
CRAS
(02 Unidades)
04 assistentes sociais; 04 psicólogos e
03 agentes administrativos.
ASEF
(Recursos da União com atendimento
exclusivo na Sede do Município).
01 pedagogo (coordenador) e 04
monitores.
BPC 01 assistente social.
Agente Jovem
(Recursos da União – 05 turmas com 25
jovens)
02 coordenadores (Pedagogo).
Centro de Convivência do Idoso
(145 idosos)
09 servidores, nas funções de agente
administrativo, serviços gerais e
monitores.
Pólo de Atendimento
(Recursos Próprios – 120 crianças e
adolescentes)
13 servidores, nas funções de
coordenador, pedagogo, agente
administrativo e serviços gerais.
Projeto ABB
(120 crianças e adolescentes em
parceria com o Banco do Brasil)
05 servidores nas funções de monitor
merendeiras.
Ações de Proteção Social Especial
Ação Quadro de Pessoal
PETI
02 coordenadores; 02 monitores de
esportes. (A jornada ampliada é da
responsabilidade da Secretaria de
Educação do Município).
Asilo para Idosos
07 profissionais, nas funções de
cuidadores e serviços gerais.
PSE/ SOS Criança, Abrigo Domiciliar
para Crianças e Adolescentes
(média complexidade). Uma assistente
social concursada e 04 apoio
administrativo.
111
Na categoria Vigilância Social, o município conta com equipe do Cadastro
Único composta por 20 servidores, sendo 01 (um) gestor e os demais se dividem
nas funções de cadastradores e revisores.
A defesa civil do município conta com um coordenador e três agentes
administrativos.
Quanto à infra-estrutura, destaca-se que o espaço onde funciona a SAS
municipal é o mesmo ocupado por um Centro Social Urbano (CSU), cuja antiguidade
deixa prevalecer no imaginário popular remotas práticas assistencialistas, o que de
certo modo dificulta o rompimento com esse passado histórico. Ressalta-se ainda,
que a SAS utiliza alguns equipamentos essenciais (computadores/ internet;
telefone/fax; xerox) da prefeitura local. Dispõe de 01 veículo para deslocamento de
seus profissionais às áreas e mais 02 à disposição dos CRAS.
Como ações inovadoras, o município tem destaque para a Pastoral
Social, uma entidade vinculada a Igreja de São Francisco, desenvolvendo ações nas
modalidades de intervenção do PSE, num trabalho com crianças e adolescentes,
com familiares mantidos no sistema presidiário, incluindo-se no trabalho social, apoio
à moradia e geração de renda.
Os recursos da Prefeitura Municipal destinados à Política de Assistência
Social, limitam-se ao cumprimento obrigatório de contra partida de Projetos co-
financiados pela União e destinados a manutenção da Secretaria Municipal com
pagamento de pessoal, para concessão de Benefícios Eventuais, e ações do Pólo
de Atendimento e dos Abrigos (PSE).
O Plano Plurianual de Assistência Social, constitui-se instrumento de
gestão elaborado nos limites institucionalizados, isto é, não conta com mobilização e
participação da sociedade, ficando portanto restrito a determinações de ordem
técnica. Como agravamento, a gestão municipal ainda não desenvolveu quadro de
referência com indicadores para balizamento dos critérios de Partilha de Recursos.
Destaca-se também a inexistência de um Plano de Monitoramento e Avaliação da
Política, pois mesmo estando previsto no Plano Plurianual, ainda não se efetivou na
112
prática. As análises técnicas sobre o desempenho da suas ações são apresentadas
no Relatório de Gestão, para cumprimento das exigências da NOB/SUAS 2005. O
conteúdo do Relatório de Gestão do Município “é uma síntese das ações executadas
conforme previsto no PPA, apresentadas de forma sintética, pouco analítica, fazendo
apenas uma resenha da política e do financeiro” (sic).
equívocos na compreensão do conceito de intersetorialidade.
Confundem parceria com ação intersetorial na execução do PSB, ASEF e Agente
Jovem. De fato, a Secretaria de Educação do Município realiza através de seus
pedagogos, um acompanhamento a esses programas sem compartilhar com a SAS
Municipal, um planejamento para intervenção conjunta.
A gestão municipal ainda não elaborou seu Plano de Capacitação. Seus
técnicos participam dos eventos promovidos pela Secretaria Estadual (cursos,
palestras, seminários, oficinas, conferências, etc), e não desenvolvem capacitação
para seus usuários.
Os técnicos o seguem instrumentais de trabalho para a dinâmica
operacional da Política.
As parcerias existentes, foram firmadas por ocasião de negociações com
o Governo Federal ou Estadual, para desempenho de programas/ ações que
requeriam o compartilhar de responsabilidades.
O Conselho da Assistência Social foi legalmente criado e encontra-se em
funcionamento. Entretanto, observa-se tão somente o cumprimento de formalidades
burocráticas no tocante à aprovação de matérias apresentadas por força de
exigências legais.
A relação entre os conselheiros e a gestão municipal, se estabelece no
nível do “acordo de cavalheiros”, sem que se verifiquem maiores embates sobre
conteúdos de proposituras levadas ao plenário, prevalecendo sempre, as decisões
encaminhadas “para aprovação”, conforme interesse da gestão municipal.
113
Os itens avaliados conforme pontuação atribuída às categorias em
destaque na matriz de referência, situa a gestão municipal de Canindé em seu
desempenho para o desenvolvimento da Política de Assistência Social na condição
de “gestão C”, tendo obtido 33 pontos. Está qualificada segundo o conceito obtido,
em precárias condições, para a coordenação da Política de Assistência Social.
4.1.4. Maracanaú: Grande Porte
Quadro 7 Matriz de Avaliação da Gestão
Dimensões de
Avaliação
Pontuação
Máxima
Referências
Pontuação
Obtida
1.1. – Pessoal 06
1.2. – Espaço Físico 10
1. Estrutura
Organizacional
25
1.3. – Equipamento 06
2.1. – Ações/Fonte de Recursos 07
2.2. – Ações Inovadoras 07
2. Ação
Programática/Fin
anciamento
25
2.3. – Destinação de recursos
próprios
07
3.1. – Política Municipal de
Assistência Social
02
3.2. – Plano Plurianual 05
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS) 02
3.4. – Monitoramento e Avaliação -
3. Instrumento para
a formulação,
gestão e
avaliação da
Política de
Assistência
Social
10
3.5. – Relatório de Gestão
04
4. Intersetorialidade
às demais
políticas públicas
10
05
5.1. – Plano/Programa -
5.2. – Equipe (método e instrumento)
-
5.3. – Destinatários 02
5. Capacitação 10
5.4. - Parceria 01
6.1. – Exercício do controle social 02
6.2. – Condições técnico –
operacionais para funcionamento
02
6. Apoio do Gestor
para o
funcionamento do
Conselho
Municipal de
Assistência
Social.
10
6.3. – Relação entre o CMAS e o
órgão gestor.
02
Total 100 - 70
Fonte: Pesquisa
O município de Maracanaú ocupa área de 105,70 Km
2
, equivalente a
0,07% do território cearense, situando-se na Região Metropolitana de Fortaleza
114
numa proximidade separada por apenas 22 Km de distância, em linha reta. A
população total de Maracanaú é de 196.422 habitantes, calculada por estimativa
para o ano de 2006 (IBGE, IPECE, 2007). O Índice de Desenvolvimento Social de
Resultado (IDS-R) do município é de 0,5609, ocupando a posição no total do
Estado.
A política de Assistência Social é desenvolvida sob a responsabilidade da
Secretaria de Assistência Social e Cidadania, funcionando em sede própria, num
complexo que comporta as instalações administrativas da Prefeitura Local. O espaço
físico é adequado ao porte e nível de gestão plena. Na Secretaria, são realizados
apenas a gestão dos serviços e benefícios, os quais são executados de forma
territorializada e descentralizada, através dos CRAS e CREAS e outras unidades de
Proteção Social Básica e Especial, com prédios padronizados, no que se refere a
espaço físico e pintura de suas instalações.
Considerando-se as referências descritas na NOB/SUAS/2005, o número
de habitantes, e dentre eles a população que vivencia situação de vulnerabilidade e
risco social, o município ainda não alcança satisfatoriamente a relação entre
demanda e cobertura, no tocante a disponibilidade quantitativa de técnicos e pessoal
de apoio.
A Secretaria Municipal está equipada com recursos tecnológicos e
materiais, os quais, ainda não correspondem em quantidade, ao ideal para viabilizar
excelência, na qualidade dos serviços, muito embora a aquisição e melhoria dos
equipamentos estejam em fase de expansão, os veículos em maioria são alugados,
porque os patrimoniais existentes não comportam o volume de trabalhos, em
deslocamento para distritos e comunidades.
As ações programáticas e financiamento, se estruturam nas modalidades
de Proteção Social Básica e Especial, nos seguintes termos: para ações de Proteção
Social Básica, o município conta com 04 (quatro) CRAS, sendo 01 (um) co-
financiado pela União; PSB Infância; PSB Idoso; Casa do Cidadão; 05 (cinco) Pólos
de Atendimento; Inclusão Produtiva e Projeto de Atenção à Juventude.
115
Encontram-se em construção o Centro de Convivência do Idoso (emenda
parlamentar) e 02 (dois) restaurantes populares.
Para executar a Proteção Social Especial, o município conta com um
CREAS, 02 Abrigos (um patrimonial e um conveniado com as Irmãs Missionárias),
uma casa de passagem e um Abrigo em fase de construção, por iniciativa de uma
Organização Não Governamental Sociedade para o Bem Estar da Família – SOBEF,
com recursos de Emenda Parlamentar.
As fontes de recursos destinadas à execução da Política, são oriundos da
União; recursos próprios do Município e de parcerias com empresas privadas. Os
serviços são implantados/ implementados, conforme a demanda local, embora ainda
não tenham alcançado a universalização do atendimento aos usuários da Política
em potencial.
O destaque para Ações Inovadoras, consiste no acompanhamento
socioassistencial às famílias do Benefício de Prestação Continuada (BPC); Serviço
de Acompanhamento às Medidas cio-Educativas de Liberdade e Prestação de
Serviços à Comunidade, em parceria com o poder judiciário, através do CREAS;
descentralização dos Serviços, via CRAS e articulação com a Secretaria de
Desenvolvimento Econômico, para potencializar o processo de intermediação de
mão-de-obra dos beneficiários do Bolsa Família e do BPC.
A destinação de recursos próprios do município para a Política de
Assistência Social, equivale a 50% do total do orçamento, que, para o exercício de
2005, gastou R$ 192.788,12, conforme consta no Relatório de Gestão do Município,
relativo ao exercício do ano de 2005.
Como instrumentos para a Formulação, Gestão e Avaliação da Política de
Assistência Social, a Secretaria elabora periodicamente, conforme prazos e
instruções contidas na NOB/ SUAS 2005, a Conferência Municipal com a
participação e deliberação do Conselho Municipal. O Plano Plurianual de Assistência
Social foi elaborado em observância ao diagnóstico local e construído pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE).
116
O município definiu seus critérios de Partilha de Recursos, para as
Entidades Não Governamentais e para destinação dos Benefícios Eventuais. Todos
os recursos inerentes às ações, serviços, benefícios, Programas e Projetos, são
submetidos e aprovados pelo CMAS.
O município ainda não elaborou seu Plano de Monitoramento e Avaliação.
Sendo assim, realizam acompanhamento tradicional conforme descrito em cada
projeto, com análise focada em objetivos/ metas, sem a adoção de uma metodologia
capaz de legitimar a análise do alcance dos resultados e impactos na vida dos seus
beneficiários e da coletividade em geral.
O Relatório de Gestão, apresenta portanto, os limites da inexistência de
um Plano de Monitoramento. Os avanços da Política são registrados a partir do
cruzamento de informações, metas alcançadas e recursos previstos no orçamento.
A gestão municipal declara o desenvolvimento da intersetorialidade em
suas práticas, envolvendo outras políticas públicas. Registra também a realização de
parcerias com Organismos Não Governamentais e a classe empresarial. Destaca a
saúde e a educação como duas setoriais mais presentes, principalmente no
acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa Família; no
atendimento aos doentes que realizam tratamento de hemodiálise, quimioterapia e
radiologia, contando com 134 pessoas acompanhadas de modo articulado entre
técnicos dos CRAS e da Secretaria Municipal de Saúde. A concessão do Auxílio
Funeral e dos Benefícios Eventuais, o compartilhados intersetorialmente com
equipes do Serviço Social do Hospital de Maracanaú.
A equipe técnica dos CRAS, vem procurando desenvolver a
intersetorialidade através de um plano operativo de intervenção junto às famílias,
com as demais Secretarias Municipais e rede socioassistencial local.
A Secretaria Municipal em intersetorialidade com a Secretaria do Meio
Ambiente e Habitação, realiza o cadastro e seleção de famílias a serem beneficiadas
com residências e/ou melhoria habitacional.
117
Com a Secretaria Municipal de Empreendedorismo, a Assistência Social
intersetorializa projeto de inclusão produtiva para famílias do Benefício de Prestação
Continuada e também com o Sistema Nacional de Emprego (SINE) e Secretaria de
Desenvolvimento Econômico.
A Secretaria Municipal não elaborou Plano de Capacitação.
Eventualmente, para atender a necessidades específicas realizam capacitações,
como também participam dos eventos promovidos pela Secretaria do Trabalho e
Desenvolvimento Social - STDS (estadual) e Secretaria Nacional de Assistência
Social - SNAS.
O exercício do Controle Social é compreendido como o encaminhamento
da burocracia, para análise e deliberação do CMAS. A gestão municipal disponibiliza
espaço físico “Casa dos Conselhos”, onde funcionam, vinculados à Secretaria
Municipal os Conselhos da Assistência Social; dos Direitos da Criança e do
Adolescente, Tutelar, e dos Direitos da Pessoa com Deficiência, estando em fase de
estruturação a criação do Conselho da Mulher. Além do espaço físico, os
Conselheiros contam com infra-estrutura necessária para a execução de seus
trabalhos (tecnologia e equipamentos em geral), como também de transporte e
ambiente climatizado. Disponibilizam também de uma Secretária Executiva
(assistente social), com carga horária de 40 horas semanais, que num breve
comentário sobre o desempenho dos Conselheiros, destaca: “mesmo com as
condições de trabalho oferecidas, os Conselheiros não fiscalizam os serviços e
entidades” (sic). Sendo assim, o exercício do Controle Social está comprometido.
Destaca-se que as relações entre o CMAS e o Órgão Gestor são amistosas, embora
haja embates naturais nas defesas de pontos de vista antagônicos, nas Reuniões.
As matérias aprovadas são encaminhadas para a publicação de Resoluções.
Mesmo na condição de Gestão Plena, o município apresenta algumas
restrições e limites para qualificar a gestão conforme a NOB/ SUAS. Dentre esses
limites, observa-se à inexistência dos critérios de Partilha de Recursos, de modo
universal, a inexistência de Plano de Capacitação e também do Plano de
Monitoramento e Avaliação. Sem capacitar técnicos e conselheiros, as dificuldades
118
operacionais se agigantam destituídos de fundamentos técnicos, com base num
instrumento de planejamento, com ações periódicas, o trabalho dos Conselheiros
fica comprometido, no que se refere ao papel que representam para o Controle
Social. Outro limite a ser superado, consiste no Cadastro de Entidades, como pré-
requisito para a estruturação da Rede Socioassistencial. Outro desafio está na
compreensão e operacionalização da intersetorialidade como indispensável, para
que se verifiquem impactos positivos na vida dos cidadãos.
A definição de índice e indicadores de vulnerabilidade e risco ainda se
mostra um desafio, como também a destinação de recursos próprios em percentual
equivalente à cobertura das demandas por atendimento.
A mensuração dos pontos atribuídos à gestão municipal de Maracanaú
nas 06 (seis) dimensões avaliadas, remetem ao somatório de 70 escores. Tal
pontuação concorre para qualificar seu “status” na “gestão B” cujo significado
qualifica seu desempenho”, com condições parciais para a coordenação da Política
de Assistência Social.
119
4.1.5 Fortaleza (Metrópole)
Quadro 8 Matriz de Avaliação da Gestão
Dimensões de
Avaliação
Pontuação
Máxima
Referências
Pontuação
Obtida
1.1. – Pessoal 08
1.2. – Espaço Físico 08
1. Estrutura
Organizacional
25
1.3. – Equipamento 08
2.1. – Ações/Fonte de Recursos 07
2.2. – Ações Inovadoras 07
2. Ação
Programática/
Financiamento
25
2.3. – Destinação de recursos
próprios
06
3.1. – Política Municipal de
Assistência Social
05
3.2. – Plano Plurianual 05
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS) -
3.4. – Monitoramento e Avaliação 04
3. Instrumento para
a formulação,
gestão e
avaliação da
Política de
Assistência
Social
20
3.5. – Relatório de Gestão
04
4. Intersetorialidade
às demais
políticas públicas
10
05
5.1. – Plano/Programa -
5.2. – Equipe (método e
instrumento)
-
5.3. – Destinatários 02
5. Capacitação 10
5.4. – Parceria 01
6.1. – Exercício do Controle Social 02
6.2. – Condições técnico –
operacionais para funcionamento
02
6. Apoio do Gestor
para o
funcionamento
do Conselho
Municipal de
Assistência
Social.
10
6.3. – Relação entre o CMAS e o
órgão gestor.
02
Total 100 - 76
Fonte: Dados da Pesquisa
Situação Identificada
O município de Fortaleza tem população estimada para 2006, em
2.416.920 habitantes (IBGE) e uma densidade demográfica calculada para o ano
2006, em 6.854,68 habitantes por Km
2
. Tal população em termos econômicos,
vivencia os extremos das desigualdades, o que concorre para evidenciar um cenário,
120
onde a beleza arquitetônica que se estende pelos bairros “nobres” é circundada por
casebres, que aglomerados formam o fenômeno das favelas numa expansão visual
pelos quatro cantos da cidade. Os extremos da riqueza se avizinham aos extremos
da pobreza e da miséria, numa expressão nítida das desigualdades de
oportunidades iguais para todos. São, portanto, gigantescos os desafios impostos à
Política de Assistência Social, na capital cearense.
A organização administrativa municipal é descentralizada em 06 (seis)
Regionais, com equipamentos instalados em bairros eqüidistantes geograficamente,
numa estratégia facilitadora do acesso da população, em geral, aos serviços
ofertados pela Prefeitura como um todo. A administração municipal promoveu
recentemente um reordenamento institucional, tendo criado a Secretaria Municipal
de Assistência Social (SEMAS).
A gestão da Política de Assistência Social através da SEMAS, é
executada em 39 (trinta e nove) unidades sociais e nos 18 (dezoito) Centros de
Referência da Assistência Social (CRAS), funcionando com quadro de pessoal
composto por 97 (noventa e sete) trabalhadores, entre servidores, terceirizados e
estagiários.
A condição de vida da expressiva maioria dos fortalezenses pode ser
analisada, a partir do seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é de 0,786
equivalendo a uma posição indicativa de precário desenvolvimento humano. Vale
destacar que o IDH do Ceará, situa-se entre os menores do Brasil, que concorre
para um cenário onde 54% da população total do Estado é classificada como pobre
(4.420.054 pessoas vivendo com menos de meio salário mínimo ao mês). Destes,
20% (1.637.057 pessoas) residem em Fortaleza, portanto a condição de pobreza
deste contingente os qualifica como usuários em potencial, da Política de
Assistência Social no Município (IBGE, População recenseada e estimada – 2007).
A partir de tais referências, pode-se considerar que a relação entre o
número de profissionais disponíveis pela Secretaria Municipal de Assistência Social
de Fortaleza, e a demanda de usuários em potencial, residentes no município, não
equivale ao ideal. o apenas 97 técnicos para cobertura a 1.637.057 pessoas, em
121
situação de pobreza, sendo portanto um quantitativo irrelevante, no que concerne
aos padrões estabelecidos pela NOB/ SUAS, 2005.
A SEMAS está sediada em área 972 m
2
, e em razão de sua recente
criação, tanto a sede, quanto os CRAS estão sendo gradativamente equipados para
viabilizar atendimento das demandas e normatização, conforme estabelece a
Política de Assistência Social.
Quanto ao Plano Plurianual do Município de Fortaleza, para o período
2006-2009, não obtivemos os dados em sua totalidade, embora inúmeras tentativas
foram empreendidas. Registramos informações de 2005 a 2008, extra-oficial, cujo os
valores próprios, totalizaram R$ 50.146.456,00 (Fundo Municipal de Assistência
Social).
O financiamento dessa política, conta ainda com o co-financiamento da União na
ordem de R$ 29.198.100,00 (Fundo Nacional de Assistência Social) valores
referentes ao período acima citado.
A proteção social básica, como se fez referência, vem sendo
organizada e implementada através dos 18 (dezoito) CRAS, com atendimento médio
mensal para 90.000 famílias referenciadas, ficando uma lacuna no que se refere à
cobertura universalizante aos potenciais usuários dessa política.
Como ações inovadoras, a SMAS destaca na linha de Proteção Social
Básica, o Programa de Inclusão Produtiva, para atendimento a 1.500 (mil e
quinhentos) mulheres beneficiadas com o Bolsa Família.
A Proteção Social Especial conta com 01 (um) CREAS.
Como inovação destaca o Centro de Atendimento para Pessoas em
Situação de Rua e o Núcleo de Atendimento ao Idoso Vitimizado.
Quando se examina o Balancete de 2005, observa-se o valor de
R$ 300,00 utilizados como recursos orçamentários, planejados e alocados no
co-financiamento das ações prioritárias da Política de Assistência Social.
122
A Política de Assistência Social do Município para a gestão vigente, foi
elaborada “com a participação dos técnicos e aprovada pelo Conselho Municipal de
Assistência Social (CMAS)” (sic).
O Plano Plurianual de Assistência Social, “como outros planos dessa
gestão que é democrática e participativa” (sic), é resultante de proposições
apresentadas nos fóruns participativos da gestão, priorizando as necessidades dos
destinatários dessa potica e as perspectivas da NOB/ SUAS.
A gestão municipal ao presente, não elaborou critérios de partilha de
recursos. Os programas e ações executadas, definem e priorizam áreas de
abrangência, em conformidade com indicadores do IDH dos bairros, dados do
Cadastro Único, e pesquisas sobre a realidade local.
Um Plano de Monitoramento e Avaliação foi elaborado para os programas
da Rede Conveniada e CRAS. Para a Proteção Social Especial, está sendo
elaborado outro Plano de Monitoramento e Avaliação, como também os
instrumentais específicos para sua operacionalização. Este trabalho conta com uma
equipe técnica, e um supervisor de monitoramento e avaliação.
O Relatório de Gestão encontra-se em fase de elaboração pela equipe
responsável, levando em consideração todos os instrumentos definidos pela Política.
A intersetorialidade entre as políticas públicas ainda consiste num grande
desafio para a gestão municipal. Compartilham algumas ações da assistência social
com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), através do Programa de
Economia Solidária, com Projetos de Inclusão Produtiva e com a Secretaria
Municipal de Saúde, com prioridade para atendimento às pessoas com direitos
violados, a exemplo de idosos vitimizados.
A Secretaria Municipal de Assistência Social de Fortaleza ainda não
dispõe de um Plano de Capacitação, mas a gestão atual vem se preocupando com a
qualificação de recursos humanos próprios, e da rede conveniada, tendo promovido
123
capacitação com conteúdo programático sobre a Política Nacional, NOB/ SUAS,
dentre outros temas referentes às normas, métodos e técnicas para o
aprimoramento da gestão da Política. Os atuais gestores, reconhecem a
necessidade de articulação com outros parceiros, e de contratação de consultoria
para a formalização de um Plano de Capacitação. Planejam a realização de 44
(quarenta e quatro) eventos de capacitação sobre temas diversos relativos a Política
de Assistência Social, destinados a gestores, técnicos e representantes da rede
socioassistencial.
A gestão atual vem mantendo parceria com diferentes instituições e
entidades, para a implementação da política.
Para viabilizar o exercício do controle social, o gestor declara que envia
sistematicamente todos os programas, projetos, ações e outras matérias da
Assistência, para deliberação pelo Conselho Municipal de Assistência Social,
cumprindo o que determinam as Resoluções deste Conselho, na operacionalização
da Política.
A Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS), informa que
dispensa plenas condições de funcionamento do Conselho Municipal de Assistência
Social, a exemplo de instalações físicas, pessoal, apoio e transporte.
O Conselho Municipal do Idoso, foi recém-criado, portanto as condições de
funcionamento estão sendo providenciadas. O município ainda não estruturou o
Conselho Municipal de Segurança Alimentar. Os demais Conselhos de participação
de sociedade estão sob a responsabilidade de outras secretarias municipais.
A articulação entre o CMAS e a SMAS “se de forma satisfatória” (sic),
para o desenvolvimento da Política de Assistência Social no município, cumprindo-
se as definições legais que orientam o fluxo e competências de cada instância.
Também desenvolvem ações compartilhadas a exemplo das Conferências
Municipais, possibilitando o controle social, transparência e participação popular.
Diante do que foi possível identificar como equivalência aos indicadores
destacados na Matriz de Avaliação da Gestão, o Município de Fortaleza alcança 76
124
pontos, inserindo-se, portanto, no estilo de “gestão B”, cujo conceito convencionado
em termos qualitativos, sugerem que a atual administração apresenta condições
parciais para a coordenação da política de Assistência Social.
125
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca de noções explicativas para referendar a descrição de um
cenário ilustrativo do Processo de Descentralização Controle e Gestão da Política de
Assistência Social, no Estado do Ceará, encontra, na produção deste trabalho,
alguns fundamentos que se passa a relacionar.
Sem a pretensão de assumir posturas definitivas ou verdades últimas, os
achados descritos ao longo deste estudo, concorrem para confirmar a hipótese a
princípio levantada de que “No Estado do Ceará, a gestão da Política de Assistência
Social, organizada através de um sistema descentralizado e participativo,
redesenhado a partir dos fundamentos do Sistema Único da Assistência Social
(SUAS), ainda não se consolidou face às dificuldades operacionais vigentes no
domínio municipal de seus pressupostos”.
Outra hipótese que se pode confirmar a partir dos achados elencados
nesta pesquisa, refere-se ao Controle Social, que se constitui imprescindível para a
garantia dos direitos. Entretanto, observam-se fragilidades na estruturação e
desempenho dos Conselhos de Assistência Social, no acompanhamento e
monitoramento da Política.
O objetivo de avaliar a trajetória de implementação da Política de
Assistência Social, no Estado do Ceará, mostra-se um grandioso desafio. Foi
quando analisou-se as condições objetivas para a consolidação desta tarefa, e
decidiu-se pela opção metodológica do Estudo de Casos, reunindo-se para tanto,
amostra aleatória de cinco municípios, qualificados, segundo modelo de gestão
pela NOB/SUAS 2005, em: pequeno porte I; pequeno porte II; médio porte, grande
porte ou metrópole. Tal iniciativa mostrou-se exeqüível, portanto, é nos limites desse
método que se apresentam as considerações gerais, sobre os resultados
encontrados neste estudo.
126
Tomando-se por referência a sistematização dos achados inerentes a
cada um dos cinco municípios participantes, foi possível estruturar um quadro
síntese, da Matriz de Avaliação da Gestão (Anexo II), onde se inserem os seis
componentes avaliados e suas respectivas categorias, culminando com o somatório
das pontuações atribuídas a cada um, por critérios de desempenho na condução da
gestão relativa à sua funcionalidade e impacto, na consolidação da Política de
Assistência Social, em seu domínio de responsabilidade.
Destacam-se entre os achados, três gestões municipais, avaliadas com
pontuação inferior a 50 (Santana do Cariri, Paracu e Canindé), qualificando-as
como “em precárias condições para a coordenação da Política de Assistência Social,
e dois municípios (Maracane Fortaleza) com pontuação entre 50 a 79 escores,
qualificando-os entre aqueles que apresentam condições parciais para a
coordenação da Política de Assistência Social”.
A partir dos elementos expostos no “Quadro Síntese da Matriz de
Avaliação da Gestão”, é possível apresentar as reflexões que se seguem,
organizadas seqüencialmente pela lógica em que se apresentam. Considera-se para
suporte analítico, a fundamentação teórica que balizou este estudo, o aparato legal
vigente e os achados na pesquisa empreendida pelos articuladores regionais.
A Matriz de Avaliação utilizada como referência para análise da “Estrutura
Organizacional” dos municípios selecionados comporta 03 (três) categorias: Pessoal,
Espaço Físico e Equipamentos.
No que se refere ao item “Pessoal”, as orientações concorrem para
observar, se o quadro disponível no município, está constituído de técnicos de nível
superior e de apoio administrativo em número suficiente, e qualificados para o
desempenho das funções técnico-gerenciais e administrativas, na implementação da
Política e do Plano Municipal de Assistência Social.
No conjunto dos 05 (cinco) municípios participantes da amostra desta
pesquisa, este foi um limite identificado em maior ou menor grau, mas em todos
eles.
127
É indiscutível que os resultados dos serviços dispensados pelo Estado à
sociedade no campo das políticas públicas, estão diretamente relacionados com a
quantidade e a qualidade do seu quadro de recursos humanos.
Para compreender a atual situação dos serviços públicos no Brasil é
preciso retomar aspectos relativos à reforma do Estado da década de 1990,
idealizada pelas necessidades de desenvolvimento econômico no contexto do
processo de globalização, onde o argumento da máquina administrativa revelou-se
como um dos determinantes associados às privatizações e redução do gasto
público, principalmente no campo social.
A realidade presente na discussão sobre o tema “recursos humanos” no
campo da assistência social, não difere do cenário maior, onde o Estado brasileiro
compõe sua dinamicidade executiva, implicando precarização das condições de
trabalho e conseqüentemente do atendimento à população.
A intervenção dos trabalhadores da Política de Assistência Social, por sua
vez, vem sendo diversificada conforme vão se delineando novas demandas
operacionais, para atender à complexidade dos problemas que se agravam
justamente pela ineficiência das políticas públicas.
Em síntese, pode-se afirmar que a prática profissional dos trabalhadores
da assistência social, o corresponde aos avanços sugeridos pela Legislação em
vigor, como também não se mostra correspondente em quantitativo para satisfazer
aos requisitos declarados no texto da Política Nacional e da Norma Operacional
Básica de Assistência Social (2005).
O novo cenário exige, além do compromisso dos profissionais com a
assistência social enquanto política pública, a oportunidade de qualificação
continuada de modo a que se promova qualidade na gestão praticada por seus
operadores.
Os resultados observados na amostra selecionada para esta pesquisa no
aspectos quantitativo de pessoal, demonstram toda a fragilidade provocada pela
128
reforma empreendida na máquina estatal, cujos efeitos preconizaram além de seus
recursos humanos, os financeiros, físicos e materiais restringindo a capacidade da
Política impactar positivamente para a garantia dos direitos socioassistenciais.
Sendo a qualidade, um conceito de significado subjetivo, não parece
coerente, nos limites deste estudo, fazer referência a este aspecto.
No que concerne ao “espaço físico”, as referências de análises propostas
pela Matriz de Avaliação utilizada, orientaram observações em torno do quantitativo
de unidades disponíveis e utilizadas, para a execução da Política de Assistência
Social, no município. Observar em cada unidade, se oferecem as condições
necessárias em termos de tamanho e qualidade das instalações, iluminação e
temperatura entre outras, para o exercício pleno das funções técnico-gerenciais e
para o atendimento público que busca serviços e informações de qualidade.
Na verdade, pode-se afirmar também neste aspecto muitas dificuldades
para a operacionalização da Política de Assistência Social, entre os municípios
participantes deste estudo. Vale considerar no entanto que tal constrangimento não
é exclusividade deles, mas a situação que vivenciam é exemplo do que se verifica
entre os demais.
No que concerne aos equipamentos, o roteiro explicativo da Matriz de
Avaliação, sugere identificar se os equipamentos (computadores, telefones, fax,
xerox e outros), e os veículos disponíveis, atendem em termos de quantidade e
condições de uso, observando as necessidades dos órgãos gestores para o
cumprimento de suas competências e responsabilidades.
Trata-se de mais um constrangimento verificado entre os municípios
participantes deste estudo, tendo-se verificado entre eles, que em Santana do Cariri
a Secretaria Municipal não tem espaço físico próprio, mas funciona nas
dependências da Prefeitura local. A Secretaria Municipal de Canindé ocupa antigo
espaço, onde funcionava um Centro Social Urbano, até bem pouco tempo, Fortaleza
não tinha uma Secretaria Municipal de Assistência Social independente, vez que era
estruturalmente vinculada à Secretaria da Educação.
129
Tais aspectos denunciam as fragilidades verificadas entre esses
municípios, pois tais restrições, associadas a outros elementos, também
insuficientes, ou inoperantes concorrem para comprometer seriamente a qualidade
de atendimento aos usuários.
Tais argumentos podem ser melhor explicitados, focalizando-se por
exemplo, o suporte tecnológico disponível nas secretarias municipais, defasados na
que se refere a versão dos sistemas disponíveis, sem provedor eficiente para acesso
a internet, sem pessoal qualificado para operar os recursos tecnológicos disponíveis,
enfim, representam verdadeiro atraso e impedem avanços na área de comunicação
e outros, requeridos ao funcionamento do sistema de monitoramento e avaliação da
política.
Incorporam-se à análise das “Ações Programáticas/ Financiamento”, três
aspectos relevantes, que associados delineiam a realidade municipal, quais sejam:
ações/ fonte de recursos; ações inovadoras e destinação de recursos próprios.
A análise da relação entre ações X fontes de recursos, foi orientada a
identificar se elas, (Proteção Social Básica e Proteção Social Especial) estavam
sendo implementadas em função das demandas, objetivos, metas e recursos
orçamentários próprios ou recebidos por transferências do Estado, da União ou de
outras fontes.
Uma abordagem analítica sobre o financiamento da Política de
Assistência Social, (mesmo restrita aos cinco municípios, objetos de investigação
nesta pesquisa), sugere a necessidade de algumas considerações de caráter geral
para que se possa nortear qualquer compreensão sobre este aspecto.
A começar pelos determinantes da Constituição Federal de 1988,
destaca-se a seguridade social, incluída em seu Cap. II, do Título “Da Ordem
Social”, cujo financiamento está previsto em seu artigo 195, Instituindo que, através
de orçamento próprio, as fontes de custeio das políticas que compõem o tripé
(saúde, assistência social e seguridade), devem ser financiadas por toda a
130
sociedade, mediante recursos provenientes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e das Contribuições Sociais.
A Política Nacional de Assistência Social e a Norma Operacional sica
(PNAS/ NO/ SUAS 2005), amparadas no texto Constitucional (1988) e na LOAS
(1993), reiteram que a instância de financiamento desta política é representada
pelos Fundos de Assistência Social, nas três esferas de governo, cujo objetivo geral
consiste em proporcionar recursos e meios, para financiar o benefício de prestação
continuada e apoiar serviços, programas e projetos de assistência social.
Sob este enfoque, o financiamento dos beneficiários, se dá de forma
direta aos seus usuários, enquanto o financiamento da rede socioassistencial ocorre
mediante aporte próprio e repasse de recursos fundo a fundo, como também os
repasses de recursos para programas e de caráter relevante para o desenvolvimento
da política, o que, no entanto, deve se dar conforme os critérios de partilha e
elegibilidade, de áreas conforme pactuados nas comissões intergestoras e
deliberados pelos Conselhos de Assistência Social.
Sem dúvida, o texto legal e normativo assume o propósito de legitimar as
instâncias de gestão compartilhada, como também os critérios de transparência na
destinação de recursos para execução da política.
Observando-se ainda, as diretrizes da descentralização, destaca-se o
co-financiamento que concorre para determinar a participação dos três entes, no
financiamento da política numa divisão de responsabilidades, com vistas a garantia
da Proteção Social brasileira.
Em linhas gerais, o financiamento da política de assistência social deve
ter, como base:
- Diagnóstico socioterritorial apontado pelo Sistema Nacional de
Informação de Assistência Social;
- A capacidade de gestão, de atendimento e de arrecadação de
cada município/ região;
- Os diferentes níveis de complexidade dos serviços;
131
- O co-financiamento;
- As pactuações (CIT/ CIB) e deliberações (CNAS/ CEAS ou
CMAS).
Outra referência associada à análise das ações programáticas/
Financiamento é o conteúdo das ações inovadoras. A crítica sob este aspecto foi
orientada no sentido de identificar se o município desenvolve ações de conteúdo
diferenciado ou metodologia específica, ou ainda, utilizando-se de nova estratégia
com vistas ao atendimento quantitativo e qualitativo dos destinatários e o impacto
social efetivo dessas ações para a população beneficiária.
Entre os municípios inseridos na amostra deste estudo, alguns fizeram
referências a essa prática. Entretanto, quando colocadas sob o foco da análise,
percebe-se que não conseguem ultrapassar antigas práticas, mudam os rótulos, sem
alterar o conteúdo.
Na verdade, não avançam para novas metodologias ou estratégias.
Reproduzem antigos modelos ou colocam a intersetorialidade como prática
inovadora, o que deveria ser considerado imprescindível, evidenciando-se larga
distância entre inovar e preservar no estilo de pensar, agir e financiar ações, no
esteio da Política de Assistência Social.
Tradicionalmente o financiamento da assistência social efetiva-se por
práticas centralizadas, genéricas e segmentadas, decorrentes de uma rie histórica
de padrões “engessados”, que se reproduz ao longo do tempo. Esse modelo
concorre para o atendimento pontual, que muitas vezes não corresponde às
características das necessidades locais; inibe a capacidade criativa dos gestores
impedindo que sejam lançadas propostas inovadoras e complementares para o
impacto positivo na vida dos usuários, permitindo-os transitar, da condição de pobres
para não-pobres.
O financiamento da assistência social fixa valores “per capita”, que
atribuem recursos com base no número total de atendimentos, e não pela
adequação do serviço às necessidades da população, quando práticas equivocadas,
132
principalmente quando direcionado a atendimentos de longa permanência,
acabando por manter condições irreversíveis de mudanças positivas na vida de seus
usuários.
Além desses constrangimentos, o financiamento da Política de
Assistência Social, se depara com a equivalência das “emendas parlamentares”,
totalmente desarticuladas do conjunto das necessidades reais do Sistema Único,
posto que favorecem pleitos eleitoreiros, que se distanciam da lógica do direito,
privilegiando conteúdos de práticas assistencialistas.
As freqüentes denúncias em torno do uso indevido dos recursos
brasileiros, em geral destinados ao enfrentamento da pobreza e em particular ao
financiamento da Política de Assistência Social, fomentavam reivindicações de
ordem técnica, apresentadas oficialmente por ocasião das sucessivas conferências
efetuadas no país desde a criação da LOAS, portanto, há 15 (quinze) anos.
A distinção de recursos próprios, constitui-se mais um elemento
relacionado na análise deste item. Sua análise teve como referência, identificar via
Plano Municipal, vigente de cada um dos integrantes desta amostra, balancete, os
recursos orçamentários planejados e alocados no co-financiamento das ações
prioritárias.
Vale destacar que a perspectiva do co-financiamento ainda não se
consolidou entre os municípios analisados. Todos eles tem em seus planos
municipais a previsão de recursos para a Política de Assistência Social entretanto a
burocracia e outros entraves de natureza operacional, concorrem para o acumulado
de saldos ou “restos a pagar”, nos relatórios financeiros de prestação de contas.
Cometem equívocos no Planejamento, superestimando a própria capacidade
operacional instalada.
Dentre as reivindicações postuladas na última Conferência Nacional sobre
o financiamento desta política, destacam-se:
133
- Instituir nova sistemática de financiamento, ultrapassando o modelo
convencional e estabelecendo o repasse automático, fundo a fundo
para financiamento de serviços, programas e projetos;
- Extinguir a tradicional fixação de valores “per capita”, primando
pelo co-financiamento baseado no piso de atenção, em função dos
níveis de complexidade, os quais devem ser progressivamente
avaliados e substituídos, conforme atendimento das necessidades
de famílias e indivíduos, frente aos direitos afirmados pela política
de assistência social;
- Revisar os atuais instrumentos de planejamento público, em
especial o Plano Plurianual. Tal revisão deve primar pela
construção de novo processo, sem uma ruptura radical que
caracterize descontinuidade nos atendimento atualmente
prestados. Como proposta de transição, deve projetar a
universalização dos serviços de Proteção Social Básica, em
revisão também de suas regulações. necessidade também em
ampliar a cobertura da Proteção Social Especial, considerando as
estatísticas norteadas da realidade do País;
- Pactuar com as políticas de saúde e educação a transição do
financiamento dos serviços afetos a essas áreas, que ainda são
assumidos pela assistência social;
- Definir responsabilidades para as Entidades sociais declaradas de
utilidade Pública Federal, Estadual e/ou Municipal, e inscritas nos
respectivos Conselhos de Assistência Social, no que tange a
prestação de serviços inerentes a esta prática, incluindo-se as
organizações não governamentais, que contam com financiamento
indireto, mediante isenções oportunizadas pelo Certificado de
Entidades Beneficentes de Assistência Social;
- Vinculação constitucional de no mínimo 5% do orçamento da
Seguridade Social para esta política em âmbito Federal e de
minimamente 5% dos orçamentos totais dos Estados e Municípios
para que o co-financiamento não se limite a relatórios, e possa ser
viabilizado com igualdade, em todo território nacional.
134
Para compor um quadro de referências sobre os “Instrumentos para
Formulação Gestão e Avaliação da Política de Assistência Social”, a Matriz de
Avaliação da Gestão sistematiza neste item, cinco categorias representativas dos
instrumentos essenciais a serem produzidos e trabalhados, cuja aplicabilidade e
eficiência concorrem para a qualidade das ações de assistência social.
A Política Municipal configura-se nesta categoria como primeiro
instrumento de análise. Sua compreensão deve observar se esta foi elaborada,
aprovada pelo CMAS; divulgada amplamente, e se seu texto relaciona os
indicadores, para avaliação de seus resultados. Pressupõe ainda observar se o
conteúdo faz referência e verificar a realidade local, a partir de um diagnóstico. Se as
metas e ações previstas expressam as demandas dos usuários, e se para
desenvolvê-las estão destinados recursos oriundos das três esferas de governo.
Entre os municípios integrantes da amostra desta pesquisa, apenas 02
(dois) contam com a Política Municipal de Assistência Social, elaborada, no caso
Maracanaú (Grande Porte) e Fortaleza (Metrópole).
Analisados sob a perspectiva da nova NOB/SUAS, pode-se inferir que
ambos os textos apresentam diagnóstico da realidade, formulados a partir de dados
primários, oriundos de fontes legítimas. Entretanto, na esfera propositiva seus
conteúdos mais se assemelham às cartas de boas intenções sem que lhes sejam
atribuídas referências mais precisas, para monitoramento de seus resultados a curto,
médio e longo prazo.
Sem postular noções estratégicas para implementação de ões capazes
de impactar positivamente na realidade, a gestão municipal revela, por um lado
incompreensão dos postulados teóricos pensados nacionalmente como balizas
norteadoras para o tratamento da questão social, pela via da garantia de direitos.
Por outro lado, a inexistência da Política Municipal, pode representar inoperância, o
que agrava as condições práticas para uma gestão de estilo democrático e
emancipatório.
135
Quando se observa a destinação de recursos, a timidez com que são
postulados, remete a verificação de que seus valores não correspondem a
resolutividade do diagnóstico apresentado.
“Os critérios de Partilha de Recursos” outro instrumento balizador da
qualidade da gestão da política, foi afirmado somente pela gestão de Maracanaú.
Ao definir critérios de partilha de recursos pactuados na Comissão
Intergestora Bipartite e deliberados pelo Conselho Estadual de Assistência Social, a
gestão financeira da política, adquire critério técnico racionalizador que integra o
processo de construção democrática, reforça diretrizes para o controle social, vez
que relaciona informações sociais, econômicas e cadastrais com escalas territoriais
definidoras da destinação de recursos. A combinação desses critérios, viabiliza
equalizar, priorizar e projetar a universalização da assistência social, pela garantia
de direitos.
Sem a adoção dos critérios de partilha de recursos, prevalece a gestão
tradicional, cujo comportamento se orienta na destinação de verbas, pela via do
critério do favor ou da troca de interesses políticos escusos.
O “Monitoramento e Avaliação” é ressaltado como mais um instrumento
para compor a análise da gestão municipal neste estudo. Entre os municípios
participantes, apenas Fortaleza (Metrópole), elaborou plano de monitoramento e
avaliação, entretanto restrito para os programas da Rede Conveniada e CRAS, não
comportando toda a dimensão da política.
Nega-se com tais atitudes as possibilidades de mensuração da eficiência
e eficácia das ações previstas, nos Planos de Assistência Social. Impede-se a
transparência e a adoção de medidas fundamentadas em dado da realidade, para
novo patamar de desenvolvimento.
O “Relatório de Gestão”, instrumento elencado na Matriz de Avaliação que
serve de referência para este estudo, foi elaborado por todos os municípios
integrantes da amostra. A análise de seu conteúdo foi orientada no sentido de
136
verificar se este propicia análise qualitativa das ações desenvolvidas, como também
a compatibilidade entre as metas e os recursos previstos no Plano Plurianual de
Assistência Social.
Enquanto instrumental de conteúdo burocrático e instruído com modelo e
prazos requeridos para liberação de novos recursos, é priorizado pela gestão
municipal.
A assistência social compreendida sob o enfoque da “Intersetorialidade
com as Demais Políticas blicas”, se insere numa dimensão mais ampla do
sistema de proteção social brasileira. Tal compreensão deriva do entendimento de
que nenhuma política, por si só, poderá corresponder aos anseios por justiça e
equidade.
Os espaços do campo socioassistencial, configuram-se dentro de uma
nova ótica, onde o exercício de poderes devem sinalizar rearranjos e acomodações
das práticas, na perspectiva da garantia do direito do cidadão como fundamental
para a superação de uma sociedade desigual e limitadora, de uma vivência com
padrões igualitários.
A intersetorialidade pressupõe a noção de pessoa como ser inteiro que
para atingir plenitude, merece atenção múltipla e combinada entre diferentes áreas
(saúde, educação, assistência social, segurança, habilitação, etc); por este prisma, a
matriz de avaliação da gestão municipal postula observar se existe a real integração
das ações de assistência social, com as demais políticas sociais, visando o alcance
dos objetivos e metas comuns voltadas para a proteção e inclusão social. Sugere
ainda que sejam identificadas em cada ação as vantagens advindas dessa atuação
conjunta para os destinatários no atual contexto e suas possibilidades futuras.
Destaca-se que entre os municípios investigados, todos afirmaram
exercitar a intersetorialidade. Observam-se, porém, incompreensões de estilo
conceitual, do que entendem por intersetorialidade. Idealizam arranjos e
compartilham eventos, em nome da intersetorialidade, lutam entre si por ocupar
espaços institucionais e fazer o poder, sem uma preocupação maior com o usuário.
137
Trata-se, portanto, de eventuais ensaios, cuja compreensão do significado exige
quebra de paradigmas, entre diferentes atores para que esta se verifique de fato.
A análise do desempenho da gestão municipal sob o enfoque da
“capacidade” tal como desenhado na Matriz de Avaliação, utilizada nesta pesquisa,
concorre para uma subdivisão em quatro categorias interdependentes e
complementares.
A começar pelo destaque ao “Plano/ Programas de Capacitação”, cabe
identificar se o órgão gestor dispõe deste instrumento orientado para qualificação de
gestores, técnicos e conselheiros municipais, com referências aos temas
selecionados para a capacitação.
Entre os municípios participantes da amostra selecionada, nenhum deles
elaborou esse instrumento de gestão.
Uma das novas tendências no debate sobre desenvolvimento social situa
a valorização do capital humano, por meio do qual se ampliam as oportunidades dos
indivíduos pelo acesso à educação e aos recursos necessários, para nível de vida
desejável. Sem investimento em recursos humanos, compromete-se inclusive a
capacidade dos atores sociais de compreensão, acerca dos novos determinantes da
Política, Norma Operacional e Sistema Único da Assistência Social.
Sem plano de capacitação formulado, os municípios em foco
conseqüentemente não definiram equipe, método, instrumento, enfim, não
estruturaram as condições sicas, para implementação de um Plano de
capacitação conseqüente.
Quanto aos destinatários da capacitação, observou-se que todos os
municípios encaminham seus gestores, técnicos e conselheiros para participarem de
eventos de capacitação, promovidos pela Secretarias Estadual, Nacional ou outras
instituições.
138
Para tanto, não existe uma parceria formalizada, mas esta se verifica
ocasionalmente, quando o promotor do evento (em geral a Secretaria estadual),
reivindica o custeio pelo município, de passagens, com a finalidade de deslocamento
do município até a capital, para viabilizar a participação de seus diferentes atores
sociais, nos cursos promovidos.
O debate sobre as relações entre democratização e representação dos
interesses populares, passa irremediavelmente pela condição de funcionamento dos
conselhos.
A discussão em torno do “Apoio Governamental para Funcionamento dos
Conselhos Municipais de Assistência Social” adquire relevância, justamente pelas
contradições que a operacionalização desta política enseja.
A polêmica em torno do apoio do Estado para dinamizar a vida dos
Conselhos, é formulada com base no comprometimento que esse apoio pode gerar,
interferindo na postura dos conselheiros, cuja liberdade de deliberação ficaria
alienada aos interesses governamentais, em detrimento das reivindicações da
sociedade civil, ameaçando a legitimidade dessa representação.
A Matriz de Avaliação da Gestão Municipal ao direcionar seu foco para
esta questão, coloca como referência 03 (três) categorias, cujas condições
verificadas passam a ser descritas.
O “Controle Social” é a primeira categoria, e sua análise consiste em
identificar se o gestor encaminha sistematicamente os atos que legalmente devem
ser submetidos à apreciação e deliberação do Conselho Municipal de Assistência
Social e se este divulga seus resultados.
Sob este prisma, todos os municípios componentes da amostra,
participantes deste estudo, correspondem às exigências legais vigentes com seus
Conselhos de Assistência Social estruturados e funcionando conforme a burocracia
determina.
139
Ultrapassada a etapa de estruturação dos Conselhos, o que está em
questão é justamente a capacidade destes, no exercício da representação efetiva
dos interesses populares, como forças autônomas, para disputa no campo de
prioridades divergentes e antagônicas.
Sem entrar no mérito da capacidade individual dos conselheiros
integrantes da amostra neste estudo, mas levando em consideração outros
elementos significativos do resultado nacional em torno do exercício do controle
social por esses atores, pode-se argumentar que se trata de uma presença
importante no cenário das disputas que se verificam entre o Estado e a sociedade.
Entretanto, não se pode deixar de fazer referência às críticas imputadas às
fragilidades com que esses conselheiros se colocam nas instâncias de lutas, por
garantia de direitos. Na verdade, na arena das disputas ensaiam posturas de
resistência, mas acabam por legitimar interesses corporativos, beneficiando
categorias que representam o Estado, a quem supostamente “devem” o
reconhecimento da condição de “ser conselheiro”.
Quando se destacam as “Condições Técnico-Operacionais”, cabe
identificar, se o gestor colabora efetivamente no sentido de proporcionar requisitos
indispensáveis ao controle da assistência social e de outras políticas sociais, cujo
desempenho é determinante para a intersetorialidade à proteção e à inclusão dos
usuários.
Destacam-se como requisitos indispensáveis, a própria autonomia dos
conselheiros, associada à infra-estrutura básica para o seu funcionamento, o que
requer espaço físico, telefone, fax, computador, transporte, dentre outros
equipamentos. De modo geral, os municípios participantes deste estudo referiram
apoiar essas iniciativas e viabilizar, cada um dentro de seus próprios limites, os
recursos básicos indispensáveis ao funcionamento de seus respectivos conselhos.
Outro componente em destaque nesta análise, concorre para que se
identifique se as matérias encaminhadas pelo gestor, para apreciação pelo Conselho
transformam-se em medidas que beneficiam os destinatários da Assistência Social.
Orienta-se, também no sentido de observar se estão sendo desenvolvidas ações
140
conjuntas de planejamento, controle social, cursos de capacitação, conferências
municipais, reuniões técnicas, dentre outras ações articuladas entre a Secretaria
Municipal e o Conselho Municipal de Assistência Social.
Como se fez referência, um conjunto de forças que se entrecruzam
simbolicamente para determinar ações e reações entre as partes que representam
interesses nas instâncias formais, onde se desenvolvem os mecanismos
operacionais para o planejamento, execução, monitoramento, controle social e
avaliação de política de assistência social.
No curso da história, verificam-se os fatos que em si mesmos podem
servir de base, para a compreensão da realidade.
Considerando-se a persistência dos extremos das desigualdades, que
se declarar os limites da representação política da assistência social, quer seja pela
competência social, quer seja pela competência do Estado, ou da sociedade civil em
seus diferentes arranjos, seja na condição de organizações não governamentais,
conselheiros ou outras formas instituídas
Frente ao exposto me sinto autorizada em finalizar que a gestão sob o
viés do SUAS se efetivará, na medida em que, iniciativas sejam empreendidas,
direcionadas a mudanças de paradigmas, cujos pilares de sustentação estejam
fundamentados na descentralização e intersetorialidade das políticas públicas. Caso
contrário, avançaremos no âmbito legal e metodológico, mas não conseguiremos
impactar diretamente na vida do público beneficiário da Assistência Social.
141
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150
ANEXOS
151
ANEXO I
PROJETO: DESCENTRALIZAÇÃO E CONTROLE DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ESTADO DO CEARÁ: um estudo de casos.
Roteiro para Entrevista com Sujeitos Investigados
Matriz de Avaliação da Gestão
Município:
Dimensões de Avaliação Referências
1.1. – Pessoal
1.2. – Espaço Físico
1. Estrutura Organizacional
1.3. - Equipamento
2.1. – Ações/Fontes de Recursos
2.2. – Ações Inovadoras
2. Ação
Programática/Financiamento
2.3. – Destinação de recursos próprios
3.1. – Política Municipal de Assistência Social
3.2. – Plano Plurianual
3.3. – Critérios de Partilha (FMAS)
3.4. – Monitoramento e Avaliação
3. Instrumento para a formulação,
gestão e avaliação da Política
de Assistência Social
3.5. – Relatório de Gestão
4. Intersetorialidade às demais
políticas públicas
5.1. – Plano/Programa
5.2. – Equipe (método e instrumento)
5.3. - Destinatários
5. Capacitação
5.4. - Parceria
6.1. – Controle Social
6.2. Condições técnico
operacionais para
funcionamento
6. Apoio do Gestor para o
funcionamento do Conselho
Municipal de Assistência
Social.
6.3. – Relação entre o CMAS e o órgão gestor.
Situação Identificada
152
Orientações Gerais
1 Estrutura Organizacional
1.1 Pessoal: Identificar se o quadro disponível no município está constituído de
técnicos de nível superior e de apoio administrativo, em número suficiente e
qualificados, para o desempenho das funções técnico-gerenciais e administrativas,
na implementação da Política de Assistência Social e do Plano Municipal de
Assistência Social.
Deve ser observada a relação existente entre o número de técnicos e pessoal
administrativo, em função da população municipal usuária em potencial e atendida
de fato.
1.2 Espaço Físico: Identificar o quantitativo de unidades disponíveis e utilizadas
para a execução da Política de Assistência Social, no município.
Observar em cada unidade se oferecem as condições necessárias em termos de
tamanho e qualidade das instalações, iluminação e temperatura, entre outras, para o
exercício pleno das funções técnico-gerenciais e para o atendimento ao público, que
busca serviços e informações de qualidade.
1.3 Equipamentos: Identificar se os equipamentos (computadores, telefones, fax,
xerox e outros) e os veículos disponíveis, atendem em termos de quantidade e
condições de uso observando as necessidades do órgão gestor para cumprimento
de suas competências e responsabilidades.
2 Ações Programáticas/Financiamento
2.1 Ações/Fonte de Recursos: Identificar se as ações de assistência social
(Proteção Social sica e Proteção Social Especial), estão sendo implementadas
em função das demandas, objetivos, metas e recursos orçamentários próprios ou
recebidos, por transferências do Estado, da União ou de outras fontes.
153
2.2 Ações Inovadoras: Identificar se o município desenvolve ações de conteúdo
diferenciado ou metodologia específica, ou ainda utilizando-se de nova estratégia,
com vistas ao atendimento quantitativo e qualitativo dos destinatários e o impacto
social efetivo dessas ações, para a população beneficiária.
2.3 Destinação de Recursos Próprios: Identificar via Plano Municipal vigente e
Balancete, os recursos orçamentários planejados e alocados no co-financiamento
das ações prioritárias.
3 Instrumentos para a Formulação, Gestão e Avaliação da Política de
Assistência Social
3.1 Política Municipal de Assistência Social: Identificar se esse instrumento foi
elaborado, aprovado pelo CMAS, divulgado amplamente e citar indicadores de sua
execução.
3.2 Plano Plurianual de Assistência: Observar se esse instrumento foi elaborado, de
forma participativa entre representantes da sociedade civil organizada e das outras
políticas sociais presentes, no município. Observar se o conteúdo faz referência à
realidade local a partir de um diagnóstico; se as metas e ações previstas expressam
as demandas dos destinatários da Assistência Social, e se para desenvolvê-las
estão previstos recursos oriundos das três esferas de governo e definidas as
estratégias de monitoramento e avaliação.
Analisar se o plano está de acordo com a perspectiva da nova NOB/SUAS.
3.3 Critérios de Partilha: verificar se o gestor municipal elaborou critérios de partilha
de recursos, tendo como referência indicadores sócio-economicos oficiais, da
realidade local. Deve ser visto, ainda, se esses critérios foram pactuados na CIB e
aprovados pelo CMAS.
3.4 Monitoramento e Avaliação: Identificar se o município elaborou e vem
desenvolvendo um Plano de Monitoramento e Avaliação, como também se existe
equipe e/ou técnico e recursos, para sua implementação de acordo com as
peculiaridades da rede de Proteção Social local.Deve ser analisado se o processo
154
apresenta resultados para subsidiar tomadas de decisões, para a melhoria da
qualidade dos serviços prestados.
3.5 Relatório de Gestão: observar se o Relatório foi elaborado e se seu conteúdo
propicia uma análise qualitativa das ações desenvolvidas. ver também a
compatibilidade entre as metas e os recursos previstos no Plano Plurianual de
Assistência Social.
4. Intersetorialidade com as Demais Políticas Públicas:
4.1 Intersetorialidade: Identificar se existe a real integração das ações de
assistência social com as demais políticas sociais, visando o alcance dos objetivos e
metas comuns, voltadas à proteção e à inclusão social. Devem ser identificadas em
cada ação, as vantagens advindas dessa atuação conjunta para os destinatários no
atual contexto e suas possibilidades futuras.
5. Capacitação
5.1 Plano/Programas de Capacitação: analisar se o órgão gestor dispõe de Plano
ou Programa de capacitação destinado a gestores/técnicos e conselheiros
municipais. Fazer referência aos temas selecionados para a capacitação.
5.2 Equipe, Método, Instrumento: verificar se a Secretaria Municipal dispõe das
condições básicas para a implementação de seu Plano/Programa de capacitação, a
exemplo de: equipe ou pessoas com formação específica, para utilização e/ou
negociação dos métodos e instrumentos específicos de capacitação com outros
parceiros.
5.3 Destinatários da Capacitação: Identificar o número de eventos e suas
temáticas, desenvolvidas e o quantitativo de participantes entre técnicos, gestores,
conselheiros dirigentes e trabalhadores de entidades e organizações de Assistência
Social.
155
5.4 Parceria: observar se estão sendo planejadas e executadas as ações de
capacitação em parceria, visando a otimização de recursos e a qualidade das ações.
6. Apoio do Gestor para o Funcionamento do Conselho Municipal de Assistência
Social
6.1 Exercício do Controle Social: analisar se o gestor encaminha sistematicamente
os atos que legalmente devem ser submetidos à apreciação e deliberação do CMAS,
e divulga os resultados obtidos.
6.2 Condições Técnico-Operacionais: identificar se o órgão gestor colabora
efetivamente no sentido de proporcionar as melhores condições técnico-
operacionais para o funcionamento regular do Conselho Municipal de Assistência
Social e dos demais Conselhos, responsáveis pelo controle das Políticas Sociais,
cuja intersetorialidade é especial para a proteção e inclusão do público-alvo da
Assistência Social, a exemplo do CMDCA; Conselho Municipal do Idoso, Conselho
Municipal de Segurança Alimentar, Conselho Municipal da Saúde, Conselho
Municipal da Educação, dentre outros.
6.3. Relações entre o CMAS e o Órgão Gestor: observar se as matérias
encaminhadas pelo gestor para apreciação pelo Conselho, transformam-se em
medidas que beneficiam os destinatários da Assistência Social. ver se estão sendo
desenvolvidas ações conjuntas de planejamento, controle social, cursos de
capacitação, conferências municipais, reuniões técnicas, dentre outras ações
articuladas entre a Secretaria Municipal e o Conselho Municipal de Assistência
Social.
ANEXO II
Matriz de Avaliação da Gestão
Quadro Síntese
ORDEM
ITENS DE AVALIAÇÃO SUB ITENS
PONTUAÇÃO
MÁXIMA
SANTANA DO
CARIRÍ
PEQUENO
PORTE (I)
PARACURÚ
PEQUENO
PORTE (II)
CANINDÉ
MÉDIO PORTE
MARACANAÚ
GRANDE
PORTE
FORTALEZA
METRÓPOLE
SINTESE
RESULTADOS OBTIDOS
COM BASE NOS
CONCEITOS DE
PONTUAÇÃO
CONVENCIONADOS
1.1. Pessoal 05 05 05 06 08
1.2. Espaço Físico 05 05 - 10 08
01
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
1.3. Equipamento 05 05 03 06 08
PONTUAÇÃO OBTIDA 25
15 15 08 22 24
2.1. Ações/ Fontes de Recursos
05 05 05 07 07
2.2. Ações Inovadoras
- - 05 07 07
02
AÇÃO PROGRAMÁTICA/
FINANCIAMENTO
2.3. Destinação de Recursos Próprios
05 05 02 07 06
PONTUAÇÃO OBTIDA 25
10 20 12 21 20
3.1. Política Municipal de Assistência Social
- - - 02 05
3.2. Plano Plurianual
05 05 05 05 05
3.3. Critérios de Partilha
- - - 02 -
3.4. Monitoramento e Avaliação
- - - - 04
03
INSTRUMENTOS PARA
FORMULAÇÃO, GESTÃO E
AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL
3.5. Relatório de Gestão
03 03 03 04 04
PONTUAÇÃO OBTIDA 20
08 08 08 13 18
04
INTERSETORIALIDADE COM AS DEMAIS POLÍTICAS
10
05 05 - 05 05
5.1. Plano/ Programas
- - - - -
5.2. Equipe
- - - - -
5.3. Destinatários
02 02 02 02 02
05
CAPACITAÇÃO
5.4. Parceria
01 01 01 01 01
PONTUAÇÃO OBTIDA 10
03 03 03 03 03
6.1. Exercício do Controle Social
01 01 01 02 02
6.2. Condições Técnico-Operacionais para
Funcionar
01 01 01 02 02
06
APOIO DO GESTOR PARA
FUNCIONAMENTO DO
CONSELHO MUNICIPAL DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL
6.3. Relação entre o CMAS e o órgão
gestor
02 02 02 02 02
PONTUAÇÃO OBTIDA 10
04 04 04 06 06
PONTUAÇÃO TOTAL MÁXIMA OBTIDA 100
45 45 35 70 76
GESTÃO A . De 80 a 100
pontos
Municípios com
condições adequadas
para a coordenação da
PAS.
GESTÃO B. De 50 a 79
pontos
Municípios com
condições parciais para a
coordenação da PAS.
GESTÃO C. < 50 pontos
Municípios com precárias
condições para
coordenação da PAS.
Legenda
Pontuação Máxima por categoria
01. Estrutura Organizacional – 25
02. Ação Programática/ Financiamento – 25
03. Instrumentos para Formulação, Gestão e Avaliação da PAS – 20
04. Intersetorialidade com as Demais Políticas Públicas – 10
05. Capacitação – 10
06.
Apoio do Gestor para Funcionamento do CMAS – 10
156
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
MARGARIDA HELOÍSA CÂMARA PEREIRA LOPES
DESCENTRALIZAÇÃO E CONTROLE DA POLÍTICA
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ESTADO DO CEARÁ:
um estudo de caso
FORTALEZA - CEARÁ
2008
158
L864d _____ Lopes, Margarida Heloísa Câmara Pereira
Descentralização e controle da política de assistência
social no Estado do Ceará: um estudo de caso/ Margarida
Heloísa Câmara Pereira Lopes. – Fortaleza, 2008.
156p.
Orientadora: Profª. Dra. Maria do Socorro Ferreira
Osterne.
Dissertação (Mestrado Profissional em Planejamento e
Políticas Públicas) Universidade Estadual do Ceará, Centro
de Estudos Sociais Aplicados.
1. Assistência social. 2. Descentralização. 3. Controle
social. 4. Participação. I: Universidade Estadual do Ceará,
Centro de Estudos Sociais Aplicados.
CDD: 361.3
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