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2.2.3 Antiinflamatórios não-esteroidais: Possível efeito hipertensor ocular?
A terapia antiinflamatória teve evolução significativa a partir de 1971 com as
descobertas de John Vane sobre os mecanismos de ação das drogas antiinflamatórias, e no
final dos anos 80, com a descoberta da existência de duas isoformas de ciclooxigenase. Sendo
assim os pesquisadores passaram a buscar uma conduta terapêutica antiinflamatória mais
eficaz e com menor incidência de efeitos colaterais como observado com o uso dos
glicocorticóides (ALENCAR et al.,2003). Os antiinflamatórios não-esteroidais (AINE) têm
como efeito a inibição das enzimas cicloxigenases (COX), assim inibindo também os
componentes do sistema enzimático no metabolismo do ácido araquidônico e formação de
prostanóides (STREPPA et al.,2002; TEIXEIRA, 2005). Portanto a ação destes medicamentos
baseia-se principalmente na sua habilidade de inibir a produção de prostaglandinas pró-
inflamatórias pela COX (WANNMACHER & BREDEMEIER, 2004; GIERSE et al.,1995).
Os antiinflamatórios não-esteroidais são medicamentos para tratamentos inespecíficos,
não interferindo na história natural das doenças inflamatórias. Possuem ações terapêuticas de
caráter periférico, destacando além da ação antiinflamatória, propriedade analgésica,
antitrombótica e antiendotóxica, e central, destacando a ação antipirética e analgésica
(TASAKA, 1999; WANNMACHER & BREDEMEIER, 2004). Os antiinflamatórios não-
esteroidais são comumente utilizados na medicina veterinária de pequenos animais e têm se
tornado medicamentos de escolha por muitos veterinários não só pela ação antiinflamatória,
mas também com o objetivo de debelar a dor de leve a moderada, febre, artrite, além da
possibilidade do uso em cirurgias abdominais com o intuito de reduzir a formação de adesões
e o uso tópico em tratamento dermatológico e oftalmológico (TASAKA, 1999; WILSON et
al.,2004; TEIXEIRA, 2005).
Mas a descoberta da isoforma COX-2 em 1991 (WILSON et al.,2004) revelou a
importância da utilização de antiinflamatórios não-esteroidais mais seletivos para esta enzima
(GIERSE, 1995; GIULIANO, 2004; TEIXEIRA, 2005; WANNMACHER, 2005), visto que
os antiinflamatórios não-esteroidais utilizados até então inibiam não só as prostaglandinas
pró-inflamatórias originadas da atividade da COX-2, mas também as prostaglandinas
derivadas da COX-1, de função homeostática (DENEUCHE et al.,2004). Como a isoforma
COX-1 está presente nos mais variados tecidos como estômago e rins, sua inibição acarreta
efeitos colaterais como discrasia sanguínea, melena, vômito, diarréia, hematemese, gastrites
difusas, erosões gástricas, ulcerações, gastroenterite hemorrágica fatal, falhas renais agudas,
injúrias renais crônicas, síndromes necróticas e nefrites, anormalidades no metabolismo
hídrico e desequilíbrios nos níveis de sódio e potássio, hipoproteinemia, broncoconstricção,
hepatopatia, anormalidades fetais quando administrados em animais prenhes, celulite,
tromboflebite, e necrose tecidual nos locais de aplicação parenteral (TASAKA, 1999;
DENEUCHE et al.,2004; GIULIANO, 2004). Os sinais gástricos estão entre os efeitos
colaterais mais observados com a utilização dos antiinflamatórios não-esteroidais por
qualquer via de administração (DENEUCHE et al., 2004), e os cães parecem possuir menor
tolerância, principalmente gástrica, quando comparados aos humanos (WILSON et al.,2004).
Este efeito adverso resulta tanto de uma ação irritativa local, como da inibição da biossíntese
de PGI
2
e PGE
2
,
importantes prostaglandinas que controlam a secreção de HCl, promovem a
secreção de muco citoprotetor, aumentam a secreção de bicarbonato, aumentam o fluxo
sanguíneo e mantém a integridade endotelial (ALENCAR et al.,2003).
A partir da década de 1990, o mercado vem sendo abastecido por antiinflamatórios
não-esteroidais com maior especificidade para COX-2, como por exemplo, o meloxicam, que
representaria então uma vantagem em relação aos antiinflamatórios não-esteroidais
convencionais (ALENCAR et al.,2003; WANNMACHER & BREDEMEIER, 2004).