(...) sabe-se medir com precisão, mas não sabemos amar e viver,
refletir e dialogar melhor do que faziam os gregos na antiguidade (...).
Eles buscavam, a exaustão, soluções para os problemas éticos,
estéticos e filosóficos. Consideravam tais dificuldades questão de vida
ou morte, de felicidade ou desespero (...). Durante dez séculos todas
as maiores inteligências do Mediterrâneo foram preparadas,
educadas, aguçadas, enobrecidas e exaltadas para atingir o auge da
beleza e da virtude. (p.237).
N
o mundo atual, com a mesma fúria dos gregos clássicos, o homem pós-
moderno seleciona, adestra e põe em disputa milhares de inteligências, tentando
inventar soluções ousadas para problemas práticos. Nesse novo cenário, “a
civilidade existe quando uma pessoa não se torna um fardo para as outras”.
(SENNETT, 1998, p.329). Por isso mesmo, ao mudarem os valores, transforma-
se também o modo de ser e estar no circuito da vida institucionalizada, onde a
perspectiva emancipatória qualifica a cidadania e contraditoriamente justifica o
Estado mínimo.
Descrevendo a evolução do modelo de administração gerencial, Rua
(1997) constata que esse modelo puro, importado diretamente do setor privado,
exibia inicialmente características que o tornavam inadequado à administração
pública, por ser “totalmente apolítico”.
No entender de Sennett (1998) a história das palavras “público e privado” é
uma chave para se compreender transformações básicas em termos de cultura
ocidental. E observa:
Em 1470, por exemplo, Malory fala do imperador Lucius
(...) ditador ou procurador do bem público em Roma. Setenta anos
mais tarde havia-se acrescentado ao sentido de público aquilo que é
manifesto e está aberto à observação geral. (...) Perto do século XVII
a oposição entre “público” e “privado” era matizada de modo mais
semelhante ao de seu uso atual. “Público” significa aberto a
observação de qualquer pessoa, enquanto “privado” significava uma
região protegida da vida, definida pela família e pelos amigos (...). A
luta pela ordem pública na cidade, no século XVIII, e a tensão entre as
exigências da vida pública e da vida privada constituíam os elementos
de uma cultura coerente, embora fossem, como o são, em qualquer
período, exceções, desvios, modalidades alternativas. (p.30-34).
Esse entendimento da relação entre público e privado, como “exceções”,
“desvios”, “alternativas”, veio se incorporar aos discursos e propostas
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