Download PDF
ads:
FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO
A INTERFACE ENTRE A RESILIÊNCIA E O
EMPREENDEDORISMO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO SOBRE O ATO DE EMPREENDER E
AS CINCO CARACTERÍSTICAS DA RESILIÊNCIA
SEGUNDO CONNER
L
L
E
E
O
O
N
N
A
A
R
R
D
D
O
O
D
D
I
I
R
R
E
E
Z
Z
E
E
N
N
C
C
H
H
I
I
O
O
R
R
I
I
E
E
N
N
T
T
A
A
D
D
O
O
R
R
A
A
:
:
P
P
R
R
O
O
F
F
.
.
D
D
R
R
ª
ª
F
F
L
L
A
A
V
V
I
I
A
A
D
D
E
E
S
S
O
O
U
U
Z
Z
A
A
C
C
O
O
S
S
T
T
A
A
N
N
E
E
V
V
E
E
S
S
C
C
A
A
V
V
A
A
Z
Z
O
O
T
T
T
T
E
E
Rio de Janeiro, 10 Agosto de 2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
v
“A INTERFACE ENTRE A RESILIÊNCIA E O EMPREENDEDORISMO: UM
ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O ATO DE EMPREENDER E AS CINCO
CARACTERÍSTICAS DA RESILIÊNCIA SEGUNDO CONNER”
LEONARDO DIREZENCHI
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado Profissionalizante em
Administração como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em
Administração.
Área de Concentração:
Administração Geral
ORIENTADORA: PROF. DRª FLAVIA DE SOUZA COSTA NEVES CAVAZOTTE
Rio de Janeiro, 10 de Agosto de 2008.
ads:
vi
“A INTERFACE ENTRE A RESILIÊNCIA E O EMPREENDEDORISMO: UM
ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O ATO DE EMPREENDER E AS CINCO
CARACTERÍSTICAS DA RESILIÊNCIA SEGUNDO CONNER”
LEONARDO DIREZENCHI
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado Profissionalizante em
Administração como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em
Administração.
Área de Concentração:
Administração Geral
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Profª Drª. FLAVIA DE SOUZA COSTA NEVES CAVAZOTTE - Orientadora
Instituição: IBMEC / RJ
_____________________________________________________
Prof. Drº. ERIC DAVID COHEN
Instituição: IBMEC / RJ
_____________________________________________________
Profª Drª. DANIELA ABRANTES FERREIRA SERPA
Instituição: UFRJ
Rio de Janeiro, 10 de Agosto de 2008.
vii
658.421
D598
Direzenchi, Leonardo.
A interface entre a resiliência e o empreendedorismo: um estudo
exploratório sobre o ato de empreender e as cinco características da
resiliência segundo Conner / Leonardo Direzenchi - Rio de
Janeiro: Faculdades Ibmec, 2008.
Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades
Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título
de Mestre em Administração.
Área de concentração: Administração geral.
1. Empreendedorismo. 2. Oportunidade de negócio. 3.
Administração de empresas - Adversidade.
viii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a D’US por estar sempre
presente em minha vida e ter-me dado a
oportunidade de transformar esta ideia em um
trabalho. Tenho a certeza de que os ensinamentos
aqui adquiridos servirão para eu prosseguir e driblar
os obstáculos encontrados na trajetória.
Aos meus pais Adolfo e Leila, por tudo que sou.
Aprendi com eles que uma vida sem objetivo, é uma
vida sem alegria. Com eles aprendi que da qualidade
de nossos objetivos, depende a qualidade de nossas
vidas. Sem eles jamais saberia que sem um grande
sonho e sem ser resiliente, não existe um grande
futuro.
À minha irmã, Hilana, agradeço por compartilhar
comigo desta jornada.
ix
AGRADECIMENTOS
À Prof. Dra. Flavia Cavazotte, o meu eterno agradecimento. Consegui percorrer
esta caminhada graças à sua competência, à sua capacidade e ao seu profissionalismo.
Obrigado tanto pela orientação, como pelo carinho e incentivo constantes. Que sejamos
então recompensados com a alegria da minha vitória.
Ao Prof. Dr. Omar Souki, o qual, por meio de seus livros, despertou em mim a
compreensão de que nada nasce grande. Nada pode nascer de fora para dentro. Ao
desbravar suas ideias e suas pesquisas, descobri que o sonho é a arte de vivenciar no
presente um acontecimento futuro e que os percalços encontrados no caminho
fazem aprimorar ainda mais o aprendizado.
Aos seis empreendedores entrevistados, minha gratidão pela disponibilidade,
informações e pelo interesse demonstrados. Tive o privilégio de poder compartilhar
com cada um dos senhores a perspectiva de que o mais instigante no ato de empreender
seja que, do desprendimento de alguns, depende a realização de muitos. O presente
trabalho é fruto das lições geradas ao longo de suas vidas.
Ao IBMEC, agradeço não pela minha formação acadêmica; mas, sim, por me
proporcionar desbravar tantos horizontes.
x
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo principal investigar a interface entre a
resiliência e o empreendedorismo, observando-se, através de um estudo exploratório, se
o conceito de resiliência – tal como definido pelas cinco características identificadas por
Carly R. Conner pode ajudar a explicar a excelência no processo de empreender.
Foram realizadas entrevistas com seis empreendedores de destaque e de sucesso dentro
os segmentos em que atuam. Cada um dos entrevistados está entre os mais
reconhecidos empresários que desempenham papel relevante em seus setores. A análise
qualitativa de cada uma das histórias de vida levantadas sugere que a resiliência parece
ser uma característica comum a todos os empresários entrevistados, que estes se
orientam pela oportunidade, e que compartilham a visão da mudança como uma
vantagem que deve ser explorada ao invés de evitada.
Palavras Chave: Resiliência, Adversidade, Empreendedorismo, Oportunidade.
xi
ABSTRACT
This dissertation had as its main objective to investigate the overlapping
boundaries of resiliency and entrepreneurship, observing through an exploratory study
if resiliency, defined by the five characteristics discussed by Carly Conner, can help
explain excellence in entrepreneurship. Interviews were conducted with six successful
and prominent entrepreneurs. Each participant was recognized by his/her relevant role
in a business segment. The qualitative analysis of each life story suggests that resiliency
seems to be a common characteristic to all interviewed entrepreneurs, that they tend to
guide themselves by the opportunities, and share a common view of change as an
advantage that should be explored instead of avoided.
Key Words: Resilience, Adversity, Entrepreneurship, Opportunity
xii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – RESUMO DOS ENTREVISTADOS...............................................................................43
TABELA 2 – RESPOSTAS SOBRE POSITIVIDADE.........................................................................64
TABELA 3 – RESPOSTAS SOBRE FOCO ..........................................................................................66
TABELA 4 – RESPOSTAS SOBRE FLEXIBILIDADE......................................................................68
TABELA 5 – RESPOSTAS SOBRE ORGANIZAÇÃO .......................................................................70
TABELA 5– RESPOSTAS SOBRE PRÓ- AÇÃO.................................................................................72
TABELA 6 - TABELA RESUMO DE RESPOSTAS............................................................................75
xiii
ÍNDICE
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................................... VIII
AGRADECIMENTOS .................................................................................................................................... IX
RESUMO............................................................................................................................................................X
ABSTRACT...................................................................................................................................................... XI
LISTA DE TABELAS....................................................................................................................................XII
ÍNDICE.......................................................................................................................................................... XIII
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................1
2 O PROBLEMA DA PESQUISA..............................................................................................................4
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO.................................................................................................................4
2.2 OBJETIVO
DA
PESQUISA.............................................................................................................6
2.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................................6
2.2.2 Objetivos Específicos...................................................................................................................6
2.2.3 Relevância ...................................................................................................................................7
3 REVISÃO DA LITERATURA................................................................................................................9
3.1 O
EMPREENDEDORISMO ............................................................................................................9
3.1.1 O Empreendedorismo no Brasil.................................................................................................12
3.1.2 O Conceito de Empreendedor....................................................................................................13
3.1.3 Fatores que Levam ao Empreendedorismo................................................................................17
3.1.4 Determinantes do Sucesso do Empreendedorismo ....................................................................19
3.2 A
RESILIÊNCIA............................................................................................................................23
3.2.1 Pesquisas Pioneiras sobre a Resiliência....................................................................................26
3.3 A
S
C
INCO
C
ARACTERÍSTICAS
B
ÁSICAS DA
R
ESILIÊNCIA
S
EGUNDO
C
ONNER
....................................33
3.3.1 Positividade ...............................................................................................................................34
3.3.2 Foco...........................................................................................................................................35
3.3.3 Flexibilidade..............................................................................................................................35
3.3.4 Organização ..............................................................................................................................35
3.3.5 Proatividade ..............................................................................................................................36
3.4 E
MPREENDEDORISMO E
R
ESILIÊNCIA
...............................................................................................36
4 METODOLOGIA...................................................................................................................................39
4.1 A
BORDAGEM
Q
UALITATIVA
.............................................................................................................40
4.2 C
ARACTERIZAÇÃO DA
P
ESQUISA
......................................................................................................41
4.3 P
ARTICIPANTES
................................................................................................................................42
4.4 P
REPARAÇÃO DOS DADOS PARA ANÁLISE
.........................................................................................44
5 RESULTADOS: AS HISTÓRIAS DE SEIS EMPREENDEDORES.................................................45
5.1 H
ISTÓRIA DOS
E
NTREVISTADOS
.......................................................................................................45
5.1.1 Eloísa Pimentel..........................................................................................................................45
5.1.2 Walter Pontual...........................................................................................................................48
5.1.3 Renato Duron.............................................................................................................................51
5.1.4 Luiz Grandel..............................................................................................................................54
5.1.5 Marcel Slim................................................................................................................................57
5.1.6 Julio Lopes.................................................................................................................................61
5.2 D
ESCRIÇÃO E
A
NÁLISE DOS
R
ESULTADOS
........................................................................................63
5.2.1 Positividade ...............................................................................................................................64
5.2.2 Foco...........................................................................................................................................66
5.2.3 Flexibilidade..............................................................................................................................68
5.2.4 Organização ..............................................................................................................................70
5.2.5 Pró-Ação....................................................................................................................................72
6 CONCLUSÃO.........................................................................................................................................77
APÊNDICE A: PROTOCOLO DE ENTREVISTA ......................................................................................81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................82
1
1 INTRODUÇÃO
Os empreendedores são indivíduos cujos perfis destacam-se tanto pelo
dinamismo e otimismo quanto pela motivação para inovar, dominância, energia para
realizar, persistência, criatividade e paixão pelo que fazem. O empreendedor é aquele
indivíduo que possui a capacidade de identificar e buscar os recursos para aproveitar
uma oportunidade (Degen, 1989); mas, para Dornelas (2002), o basta somente saber
detectar a oportunidade: o verdadeiro empreendedor precisa identificá-la e aproveitá-la
no momento propício. Para Dolabela (1999), a oportunidade configura-se como uma
ideia que, vinculada a um produto ou serviço, agrega valor ao seu consumidor seja a
partir da inovação, seja por meio da diferenciação. No entanto; sob a ótica de Dolabela;
o conceito de ideia diferencia-se do conceito oportunidade, pois que, embora atrás de
uma oportunidade sempre haja uma ideia, boas ideias não se materializam,
necessariamente, em (boas) oportunidades.
Considerando que o empreendedorismo seja a arte de identificar oportunidades
e partindo da premissa de que em todo processo de empreender há riscos iminentes, esse
estudo aborda a resiliência, conceito – talvez inerente – aos empreendedores bem
sucedidos. A resiliência, definida por Kaplan (1999) como a capacidade que o ser
humano tem de enfrentar, vencer e descortinar novas possibilidades frente à
2
adversidade, supõe ainda que o indivíduo tenha realizado uma adaptação positiva,
apesar de estar, ou haver estado exposto a uma situação de risco ou revés.
Na contemporaneidade em que tantas dificuldades se apresentam para cada
indivíduo, em que a busca por espaços próprios está tão acirrada, cada ser humano, cada
empreendedor, precisa se preservar a fim de que possa responder de forma consistente
aos desafios e obstáculos apresentados. Essa postura precisa ser compartilhada por uma
atitude sempre otimista, positiva e perseverante, para que o equilíbrio permaneça após a
passagem dos embates. Aqueles indivíduos que atravessam caminhos árduos, que se
submetem aos riscos e adversidades, e conseguem continuar a ter uma vida de
qualidade, sem autoflagelação e autopunição, são as verdadeiras pessoas resilientes.
Este trabalho tem por objetivo investigar a manifestação da resiliência no
processo de empreendedorismo, a fim de determinar qual seja o seu papel específico na
história de empreendedores altamente eficazes. Trata-se de uma pesquisa exploratória,
pelo fato de não haver, no meio acadêmico, um conjunto de estudos teóricos ou práticos
sobre o assunto específico. Nesse campo relativamente novo; onde é possível
estabelecer a junção do binômio empreendedorismo/resiliência; localizou-se somente
uma dissertação (Moeller, 2002) sobre resiliência no perfil do empreendedor”, na qual
o autor identifica a resiliência no perfil de um grupo de empreendedores catarinenses, a
partir do exame das cinco características identificadas por Conner (1995): flexibilidade,
foco, organização, positividade e pró-ação. Assim como em Moeller (2002), tais
características são igualmente pesquisadas no presente trabalho, que as investiga,
contudo, no contexto do sucesso no ato de empreender.
3
O primeiro capítulo deste trabalho apresenta a questão principal da pesquisa, sua
contextualização, os objetivos e a relevância do tema. O segundo capítulo apresenta o
problema da pesquisa e como esse problema foi concebido.
No terceiro catulo temos o início da revisão da literatura sobre o
empreendedorismo, as origens e conceitos pesquisados por seus principais autores,
assim como os fatores que levam à busca pelo empreender e as determinantes de
sucesso do empreendedorismo.
Neste capítulo também vemos o desenvolvimento do estudo da resiliência,
observando a origem desse conceito e as características dos indivíduos resilientes.
Ainda, no último item deste capítulo, o trabalho apresenta a interligação entre o
empreendedorismo e a resiliência, a partir das cinco características utilizadas por
Conner (1995) para explicar a interface entre os conceitos, destacando porque as
pessoas resilientes se orientam pelas oportunidades e como reagem às mudanças.
O quarto capítulo descreve a metodologia empregada na pesquisa de campo, os
dados obtidos e sua análise. No quinto capítulo apresentaremos um pouco da história
dos entrevistados, o porquê de terem sido selecionados bem como a superposição de
suas vidas reais com a visão teórica do que é apresentado ao longo da revisão da
literatura sobre resiliência.
No último capítulo temos as conclusões e as recomendações para que outros
pesquisadores possam aprofundar o tema central deste trabalho sobre o estudo da
resiliência aplicada ao empreendedorismo, um tema central na área de Administração.
4
2 O PROBLEMA DA PESQUISA
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Desde o final dos anos 90, segundo Dornelas (2001), o conceito de
empreendedorismo no Brasil tem sido muito difundido. Muitos fatores podem explicar
este interesse pelo termo. Se nos Estados Unidos, o termo entrepreneurship era
conhecido muitos anos, aqui no Brasil, devido ao crescente número de pequenas
empresas, este termo acabou sendo muito propalado.
O empreendedorismo tem recebido uma atenção especial por parte do governo e
entidades de classe, pois, após a estabilização da economia muitas empresas precisaram
buscar alternativas para aumentar sua competitividade e reduzir custos a fim de
manterem-se no mercado. A consequência imediata desta situação foi o aumento do
desemprego, visto que muitas empresas não se encontravam preparadas para atuar em
um mercado globalizado. Sem perspectivas de empregabilidade, muitos ex-funcionários
demitidos por estas empresas começaram a criar seus próprios negócios. Por não
possuírem, na maioria das vezes, qualquer estrutura financeira, gerencial ou mesmo
psicológica, alguns desses funcionários mantiveram-se na economia informal e outros
abriram seus próprios negócios. No Brasil, sabemos que a informalidade acaba por
5
absorver mais da metade da força de trabalho (Dornelas, 2001). Isso ocasiona um
incremento de novos empreendimentos, em especial, aqueles de pequeno porte, os
quais, muitas vezes, sobrevivem por pouco tempo, pois seus dirigentes o possuem
preparo adequado para gerir suas organizações, além de terem dificuldade em conseguir
crédito devido às barreiras burocráticas.
Esta junção de fatores, aliada à explosão de novos negócios, fez com que o
termo empreendedorismo começasse a ganhar no Brasil ênfase na última década.
Segundo Dornelas (2001), muitos programas começaram a ser criados para incentivar
este novo público empreendedor, entre eles: o programa Brasil Empreendedor,
instituído em 1999, que teve como meta inicial a capacitação de mais de um milhão de
empreendedores brasileiros na elaboração de planos de negócios.
Se quinze ou vinte anos um jovem empreendedor era considerado visionário,
por almejar aventurar-se em abrir seu próprio negócio”; atualmente o se pode
mais negar a importância do empreendedorismo dentro das nações e sua consequente
relevância nos estudos da administração. Se, no passado, as boas escolas de
administração repassavam para seus alunos a importância de um emprego estável;
alunos serão hoje incentivados à criação de suas próprias empresas.
Em tempos de pós-modernidade, talvez seja até compreensível que muitos
indivíduos acabem por ceder à estagnação, em decorrência dos desequilíbrios ou
alterações sócio-econômico-político-sociais. No entanto, apesar de tantos obstáculos e
problemas enfrentados, eles conseguem lutar por seus ideais e sobreviver às crises e
adversidades encontradas. Apesar de não sabermos explicar integralmente o que faz
com que certos indivíduos se tornem empreendedores e nem quais são exatamente as
6
características dos empreendedores bem sucedidos, delineiam-se aqui duas questões
fundamentais deste trabalho: 1. existe uma relação entre empreendedorismo e
resiliência? e 2. Seria a resiliência um traço importante para o empreendedor?
2.2 OBJETIVO DA PESQUISA
2.2.1 Objetivo Geral
- Identificar a ocorrência da relação entre resiliência e empreendedorismo, e sua
excelência no processo de empreender
2.2.2 Objetivos Específicos
- Rever a literatura sobre o conceito de empreendedorismo, com foco na
compreensão no processo de busca pelo empreender e na capacidade de perceber
oportunidades;
- Rever a literatura sobre a resiliência, identificando a origem e as dimensões do
conceito;
- Aplicar as cinco características básicas da resiliência segundo Conner (1995),
para relacionar este conceito com o empreendedorismo, destacando as características
dos indivíduos resilientes que podem estar associadas com o empreendedorismo eficaz.
- Verificar o papel da resiliência no empreendedorismo, através da análise da
história de vida de empreendedores bem sucedidos.
7
2.2.3 Relevância
O mundo empresarial clama por pessoas com talentos diversificados, que
tenham foco, que criem sua trajetória, mudem sua história, antevejam o futuro e se
preparem para vivenciar oportunidades. Não mais espaço para aqueles indivíduos
que não sabem onde estão e onde querem chegar. O tempo demanda empreendedores
que superem obstáculos e que ainda vivificando-os saiam deles mais fortalecidos. Nesta
senda, a resiliência parece ser imprescindível.
A resiliência é um termo oriundo da física, que trata da capacidade dos materiais
resistirem aos choques. Este termo vem sendo aplicado em muitas outras áreas, e na
psicologia representa a capacidade que um ser humano possui de sobreviver aos traumas
e adversidades. Tais traumas não se relacionam somente à resistência física do
indivíduo; ao contrário, se referem à visão positiva de querer retomar e reconstruir seus
projetos pessoais e profissionais. Conforme Maerker Faria (2004), a resiliência é a
capacidade que as pessoas têm de atravessar situações de crise e de adversidade,
sabendo superá-las, saindo fortalecidos e transformados positivamente.
Segundo Conner (1995), um dos fatores mais centrais nas pessoas resilientes é a
capacidade de garantir a sua integridade nos momentos mais críticos. A resiliência
em sentido figurado significa a capacidade de resistência que o indivíduo tem frente aos
choques (Conner, 1995). Para o autor, as pessoas que se deixam levar mais pelas
oportunidades do que pelos perigos, se adaptam com maior facilidade às mudanças que
ocorrem em nossa sociedade, e, principalmente, nos ambientes organizacionais.
8
No contexto da contemporaneidade; cenário no qual, cada vez mais, as empresas
sofrem e refletem constantes mudanças e com riscos iminentes de adversidades, é
fundamental que existam indivíduos resilientes a fim de que se mantenham íntegros em
suas posturas e posicionamentos enquanto empreendedores que são e consigam manter
a empresa nos rumos previstos. Diante deste cenário, faz-se necessário um estudo para
investigar como a resiliência enquanto qualidade de resistência e perseverança do ser
humano face às dificuldades que encontra é relevante para o processo de
empreendedorismo.
9
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 O EMPREENDEDORISMO
O mundo sempre passou por grandes transformações, porém, segundo Dornelas
(2001) a maior parte das inovações que revolucionaram o estilo e a vida das pessoas
ocorreu no século XX. Estas invenções são fruto de inovações e de introduções que
alguém em algum momento realizou, alguém que conseguiu ter uma visão diferenciada
de coisas que já existiam, mas que nunca haviam sido visualizadas desta forma.
Estas invenções são resultados das iniciativas de um grupo de pessoas que são
visionárias, que gostam de ousar, de questionar e de empreender. A invenção é a ideia
de um empreendimento que surge da observação, da percepção e análise de atividades,
tendências e desenvolvimento, na cultura, na sociedade, nos hábitos sociais e de
consumo (Bernardi, 2003).
Segundo Drucker (2003), o empreendedorismo se caracteriza pela inovação. A
inovação é o instrumento específico do espírito empreendedor. Para Drucker (idem) os
empreendedores bem sucedidos são aqueles que se caracterizam pela prática sistemática
da inovação. A inovação seria o meio pelo qual estes indivíduos utilizam toda mudança
como uma oportunidade para desenvolver um negócio diferenciado. O
empreendedorismo o é um modismo, suas definições estão sempre relacionadas aos
indivíduos e as criações de inventos revolucionários. Apesar de não existir uma
definição absoluta sobre empreendedorismo, sabe-se que um consenso de que os
empreendedores são aqueles que conseguem detectar oportunidades, transformam-nas
em valores econômicos, e geram riqueza para a sociedade.
O empreendedorismo vem ganhando destaque cada vez maior em virtude dos
avanços tecnológicos, dos meios de produção e dos serviços estarem cada vez mais se
sofisticando. Se até então acreditava-se que um indivíduo nascia com espírito
empreendedor, ou se afirmava que não era possível desenvolver o espírito
empreendedor em um indivíduo, hoje esta visão se modificou, pois segundo Bernardi
(2003) o processo de empreender pode ser facilmente ensinado, compreendido e
assimilado por qualquer pessoa.
Presume-se que os empreendedores inatos continuem existindo; porém nada
impede que outros indivíduos possam ser educados a fim de criar e gerir negócios de
sucesso.
Em uma época em que ser empreendedor é quase que um imperativo, é
importante destacar que o empreendedorismo se tornou nas últimas décadas um objeto
de interesse em administração, pois é através dele que se eliminam barreiras comerciais
e culturais, encurtam distâncias, se globalizam e renovam conceitos econômicos.
O estudo do empreendedorismo tem sido foco de políticas públicas em vários
países do mundo. Segundo o estudo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 1999),
no final de 1998 o Reino Unido publicou um relatório que dizia respeito a seu futuro
competitivo, onde se afirmava a necessidade de desenvolver atividades com o fim
específico de intensificar o empreendedorismo.
Segundo Dornelas (2001), na Alemanha, inúmeros programas que viabilizam
recursos financeiros e apoio à criação de novas empresas têm acontecido. Desde 1995, a
Finlândia implantou o decênio do empreendedorismo, coordenado pelo Ministério do
Comércio e Indústria. Seu objetivo era dar respaldo à criação de novas empresas para
fomentar uma sociedade empreendedora, e fazer com que o empreendedorismo se
tornasse uma fonte de geração de empregos.
Por sua vez, em Israel, conforme Dornelas (2001) devido ao grande número de
imigrantes, uma infinidade de ações tem sido implementadas para desenvolver o
empreendedorismo. O Programa de Incubadoras Tecnológicas fez com que os
investimentos nas empresas israelenses triplicassem. Na França as iniciativas para se
promover o ensino do empreendedorismo nas instituições de ensino superior é uma
realidade, tendo inclusive uma Fundação de Ensino de empreendedorismo
estabelecida e consolidada.
O interesse pelo empreendedorismo se estende no mundo todo e atrai a atenção
de organizações multinacionais. Em 1998, por exemplo, a Organization for Economic
Co-operation and Development lançou o informe Fostering the Entrepreneurship: A
Thematic Reviewque tinha por objetivo compreender o empreendedorismo em várias
partes do mundo. Na Europa, existe uma convicção de que o poder econômico daquele
continente depende dos futuros empresários e da competitividade de seus
empreendimentos. Centenas de iniciativas do governo local e de empresas privadas
apoiam o empreendedorismo nos Estados Unidos, e por causa do sucesso destes
programas outros países acabam vendo-o como um modelo, seguindo seus passos para
também aumentar seu nível de atividade empresarial. Isto aconteceu com o Reino
Unido, que em 1999 criou a Agência de Serviços para Pequenas Empresas, baseada no
modelo do SBA (Small Business Administration) americano. Este dinamismo, este
aquecimento econômico que faz com que os índices de desemprego baixem, dão a
certeza de que realmente o empreendedorismo é o motor, é a força propulsora para o
crescimento econômico e para a prosperidade em todo o mundo.(Dornelas, 2001).
3.1.1 O Empreendedorismo no Brasil
Como explica Dornelas (2001, 25) “o movimento do empreendedorismo no
Brasil começou a tomar forma na década de 1990, quando entidades como o SEBRAE
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e Softex (Sociedade
Brasioleira para Exportação de Software) foram criadas”. Antes do SEBRAE, pouco se
falava de empreendedorismo e nem se tratava muito detalhadamente sobre pequenas
empresas no Brasil. O SEBRAE é um dos órgãos que muitos pequenos empresários
brasileiros buscam para obter orientação em sua trajetória empreendedora e consultoria
para seus problemas. Por outro lado, como explica Dornelas (2001), a Softex foi criada
para levar as organizações de software do país ao mercado externo, e isto colaborou
para que o empresário da área de informática conseguisse uma capacitação em gestão e
tecnologia. Através dos programas criados na SOFTEX junto com incubadoras de
empresas e com as universidades o tema do empreendedorismo começou a se destacar
no mercado brasileiro. Evidente que ainda faltam ainda muitas ações políticas para
solidificar o empreendedorismo no País.
3.1.2 O Conceito de Empreendedor
A palavra empreendedor ("entrepreneur") é originária do francês, e tem o
significado daquele que assume riscos e começa algo novo. Segundo Dolabela (1999), a
palavra empreendedor é utilizada para designar o perfil, as origens, o sistema de
atividades e o universo de atuação daquele que empreende.
Conforme analisa Dornelas (2001), o termo empreendedor foi utilizado
inicialmente por Marco Pólo. Foi ele quem tentou estabelecer uma rota comercial para o
Oriente. Enquanto Marco Pólo, como empreendedor assinava um contrato com um
homem que possuía dinheiro para vender suas mercadorias, ele assumia também um
papel ativo, correndo todos os riscos desta aventura.
Na Idade Média este termo foi usado para definir aqueles que gerenciavam
projetos de produção. O empreendedor naquela época não assumia riscos, somente
gerenciava os projetos. No século XVII o empreendedor chamava para si os riscos,
enquanto que o capitalista era quem fornecia o capital (Dornelas, 2001).
O capitalista e o empreendedor foram diferenciados no início do século XVIII,
devido à industrialização que começava a ocorrer em todo o mundo. No final do século
XIX e início do século XX, os empreendedores foram ainda confundidos com os
administradores, pois os empreendedores eram vistos como aqueles que organizavam a
empresa, planejavam, pagavam os empregados, mas estavam sempre à mercê e a
serviço dos capitalistas.
Para Hampton (1991), ao administrador cabe organizar, dirigir e controlar. O
maior divulgador deste princípio foi Henry Fayol no início do século XX. Com o passar
do tempo outros autores foram complementando este conceito. Os administradores de
forma geral se diferem pelo nível que ocupam numa hierarquia e pelo conhecimento que
possuem. Os administradores podem ser supervisores quando tratam de operações de
uma unidade ou setor específico. Podem estar num nível médio quando se situam entre
os mais baixos e mais altos níveis de uma hierarquia e podem estar no nível alto que são
os que possuem uma grande responsabilidade na organização. Por outro lado, os
administradores podem ser gerentes funcionais ou gerais. Os gerentes funcionais são
aqueles encarregados de uma parte específica da empresa, enquanto que os gerentes
gerais acabam assumindo funções mais amplas e abrangentes (Hamptom, 2001).
Kotter (1982) faz um estudo que trata das características destes gerentes gerais.
Para ele, esses administradores são aqueles que fazem o que é necessário ser feito. Eles
criam, modificam agendas, inserem planos e metas em sua organização. Quando se
analisam os estudos e as funções de um administrador pode-se dizer que pontos
comuns entre o administrador e o empreendedor. O empreendedor é um administrador,
que diferencia-se dos gerentes das organizações, pois o empreendedor é mais
visionário (Magretta, 2003).
A diferença entre o empreendedor e o administrador é que o empreendedor não
se limita às tarefas que são atribuídas aos administradores. O empreendedor possui
visão mais abrangente” e jamais se contenta em fazer somente o que precisa ser
feito” (Degen, 1989). O empreendedor quer sempre mais. Todo empreendedor precisa
ser um bom administrador para poder gerenciar e poder tomar as decisões certas no
momento exato. Por outro lado, nem todo administrador tem as características,
habilidades, anseios e desejos de um empreendedor.
O que realmente diferencia o administrador do empreendedor são as ideias
(Dornelas, 2003). São as ideias que fazem surgir à inovação. O empreendedor não é,
nem pode ser visto como um simples administrador, pois realiza ações que são distintas
das dos gerentes ou executivos, principalmente no que tange a visualização. Os
empreendedores conhecem profundamente o negócio onde atuam. Este conhecimento
faz com que tenham facilidade para planejar o futuro. Por este motivo que o
empreendedor prefere sempre cuidar dos aspectos mais estratégicos da organização,
deixando a parte operacional para seus funcionários.
Para Joseph Schumpeter (1994), o empreendedor é aquele que destrói a ordem
econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de
novas formas de organização ou pela exposição de novos recursos e materiais. O
empreendedor é mais conhecido como aquele que cria novos negócios, mas pode
também inovar dentro de negócios existentes. Mas de qualquer forma, se a criação
não estiver interligada ao comprometimento, à devoção, ao esforço e à ousadia, nenhum
empreendedor obterá sucesso seja dentro da criação de um novo negócio ou em um
negócio já existente.
Segundo Louis Jacques Filion (1999) o empreendedor é uma pessoa que
imagina, desenvolve e realiza visões. Ele é alguém que define o que se vai fazer e de
que maneira será feito.
Kirzner (1973) define o empreendedor como aquele que cria um equilíbrio,
encontra uma posição clara e positiva em um ambiente de caos e turbulência. Ele
identifica oportunidades na ordem presente.
O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa que, de acordo
com Schumpeter (1949 apud Degen 1983: 3) é o impulso fundamental que aciona e
mantém em marcha o motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos
métodos de produção, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos
métodos menos eficientes e mais caro.
Para Dolabela (1999), o empreendedor é aquele indivíduo que é o motor da
economia, é o agente de mudanças. É alguém capaz de desenvolver visão, mas o só.
Ele deve saber persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores, convencê-los de
que sua visão poderá levar todos a uma situação confortável no futuro (Dolabela, 1999).
Nem sempre a decisão de se tornar empreendedor acontece de forma pensada e
estruturada. Muitas vezes ela acaba acontecendo por acaso. É muito comum encontrar
empreendedores que declaram que nem eles mesmos sabem por que abriram suas
empresas.
Dertouzos (1999) explica que um indivíduo às vezes torna-se um empreendedor
sem ter planejado isto, porém devido a alguns fatores externos, ambientais, sociais,
aptidões pessoais ou mesmo pelo somatório de todos esses fatores, acaba tornando-se
um empreendedor. Todo talento do empreendedor resulta da percepção, direção,
dedicação e muito trabalho destas pessoas que fazem as coisas acontecerem. Porém,
uma coisa neste contexto é certa: não há talento e nem empreendedorismo que se
sustente sem ideias. É preciso que estes talentos do empreendedor associados à
tecnologia, ao conhecimento e ao próprio capital ocorram concomitantemente para
poder se afirmar que um novo negócio, um novo empreendimento está preste a nascer e
crescer.
3.1.3 Fatores que Levam ao Empreendedorismo
O empreendedorismo é um conjunto de conceitos, métodos, práticas e
instrumentos relacionados com a criação, implantação e gestão de novas empresas e
organizações, que precisa ser compreendido como um movimento social que gera
emprego e renda, podendo receber incentivos dos governos e instituições de diferentes
tipos (Longenecker, 1997)
Na tentativa de entender os fatores que levam uma pessoa a vivenciar o
empreendedorismo, vários estudiosos buscaram respostas nos traços pessoais e nas
atitudes do empreendedor. Max Weber (1930) foi um dos primeiros estudiosos a
analisar o comportamento empreendedor. Ele se remeteu aos sistemas de valores para
poder explicar este comportamento.
David MacClealland (1961) encontrou na história a razão para a existência das
grandes civilizações. Conforme dizia, os heróis nacionais deveriam ser tomados como
modelos para as futuras gerações. Eles imitariam a postura e o posicionamento de seus
antecessores e com isto estariam aptos a superar seus obstáculos. MacClealland afirma
que um povo estimulado por estas influências desenvolve uma grande necessidade de
realização pessoal. Por isto MacClealland definia os empreendedores como pessoas
voltadas para a auto-realização. Para ele todo gerente de uma grande empresa, que
controla uma produção que o vise só seu consumo, é um empreendedor. A
contribuição de McClelland reside no fato de que quando os indivíduos se miram nos
seus modelos, isto pode ter influência para que a pessoa deseje vir a ser empreendedora.
McClelland (1961) identificou três necessidades adquiridas socialmente no ato
de empreender que são: realização, afiliação e poder. Para ele cada indivíduo apresenta
níveis diferentes destas necessidades, mas uma delas sempre predomina denotando um
padrão de comportamento.
Pessoas motivadas para empreender por realização são aquelas orientadas para
tarefas, que procuram continuadamente a excelência, apreciam desafios significativos e
satisfazem-se ao completá-los. Os indivíduos motivados para empreender por afiliação
desejam estabelecer e desenvolver relacionamentos pessoais próximos, pertencer a
grupos, cultivar a cordialidade e afeto em suas relações e estimar o trabalho em equipe
mais do que o individual. Finalmente, aqueles motivados em empreender pelo poder
apreciam exercer inflncia sobre as decisões e comportamentos dos outros, fazendo
com que as pessoas atuem de uma maneira diferente do convencional, utilizando-se da
dominação (poder institucional) ou do carisma (poder pessoal). Gostam de competir,
vencer e de estar no controle das situações. (McClelland, 1961).
Até os dias de hoje não uma definição clara do perfil psicológico do
empreendedor. Sabe-se que alguns fatores interferem no perfil do empreendedor:
experiência de trabalho, região de origem, nível de educação, religião e cultura familiar
(Dolabela, 1999).
Segundo Dornelas (2001:39), “As habilidades requeridas para ser um
empreendedor podem ser classificadas em três áreas: técnicas, gerenciais e
características pessoais. As habilidades técnicas envolvem saber escrever, saber ouvir as
pessoas e captar as informações, ser um bom orador, ser organizado, saber liderar e
trabalhar em equipe e possuir know-how técnico em sua área de atuação. As habilidades
gerenciais incluem as áreas envolvidas na criação, desenvolvimento e gerenciamento de
uma nova empresa: marketing, administração, finanças, operacional, produção, tomada
de decisão, controle das ações da empresa e ser um bom negociador. Entre as
características pessoais estão: assumir riscos, disciplina, ser orientado a mudanças, ser
persistente e ser um líder visionário”.
Várias pesquisas demonstram que os empreendedores refletem as características
dos períodos e dos lugares onde vivem (Conner, 1995). Ainda que não haja um corpo
teórico definido sobre a diferenciação daquele que criou o negócio para aquele que
gerencia a empresa, todos os estudos tem facilitado o ensino do empreendedorismo.
Os objetivos sobre o ensino do empreendedorismo variam de instituição para
instituição. Mas, todo curso deve preferencialmente focar a caracterização e as
habilidades do empreendedor, deve enfatizar a importância do empreendedorismo, o
desenvolvimento econômico e fundamentalmente em como os empreendedores fazem
uma empresa crescer.
3.1.4 Determinantes do Sucesso do Empreendedorismo
Fillion (1999) afirma que a essência do empreendedorismo está na percepção e
no aproveitamento das oportunidades no âmbito dos negócios.
“Oportunidade é uma ideia que está vinculada a um produto ou serviço que
agrega valor ao seu consumidor, seja ela através da inovação ou diferenciação. Ela tem
algo novo e atende a uma demanda de clientes, representando um nicho de mercado. Ela
é atrativa, ou seja, tem potencial para gerar lucros, surge em um momento adequado em
relação a quem iaproveitá-la o que a torna pessoal e durável e baseia-se em
necessidades insatisfeitas” (Dolabella, 1999:87).
Baron (2007) diz que o empreendedorismo é a arte de ver oportunidades. Se o
processo do ato de empreender sempre busca uma oportunidade, a compreensão mais
abrangente deste processo deve identificá-la. Por isto não adianta o indivíduo perceber a
existência de uma oportunidade, é preciso saber aproveitá-la na hora exata.
Um dos maiores paradigmas que precisam ser desfeitos é que toda nova ideia
precisa ser singular. Como diz Dornelas (2003), o fato de uma ideia ser ou não única,
não tem qualquer significado no ato e no processo de empreender. O que interessa é
como o empreendedor usa esta ideia, seja ela inédita ou não, isto é, como ele transforma
esta ideia num produto ou serviço. O que tem que ser único e singular não são as ideias
e sim as oportunidades que vão fazer com que elas sejam aproveitadas com o objetivo
de desenvolver um novo produto, ganhar um novo mercado e se diferenciar de seus
concorrentes.
Todo empreendedor deve compreender que uma ideia sozinha de nada vale. No
processo de empreender, elas surgem diariamente. O que precisa é que esta ideia se
desenvolva, seja implementada e seja transformada em um negócio de sucesso.
Não qualquer dificuldade em se gerar boas ideias (Timmons, 1994). Uma
ideia não passa de um instrumento na mão de um empreendedor. Uma ideia depende
somente de um bom empreendedor para se transformar em um grande negócio de
sucesso.
O indivíduo ao ter uma ideia deve inicialmente fazer um percurso questionando
quais seriam os clientes em potencial que iriam adquirir o produto ou serviço de sua
empresa. Além disto, deveria perguntar a si mesmo como está o mercado para esta ideia
que se transformará em produto ou serviço e quem seriam seus concorrentes. Se
porventura estas questões não conseguirem ser respondidas, é porque o indivíduo
teve uma ideia e não uma oportunidade de mercado (Dornelas, 2001).
A identificação de uma oportunidade tem papel preponderante nas determinantes
de sucesso do empreendedorismo. A capacidade de identificar e buscar recursos para
aproveitar uma oportunidade é uma das maiores características de um empreendedor.
Segundo Dolabela (1999: 89) são algumas características das oportunidades:
“- surgem em função da identificação de desejos e necessidades insatisfeitos”;
- estão em qualquer lugar;
- são simples na sua concepção, pois coisas complicadas raramente dão certo;
- exigem grandes esforços, não podem ser tratadas superficialmente;
- devem se ajustar ao empreendedor: algo que pode ser uma oportunidade para
uma pessoa, pode não sê-lo para outra;
- são atraentes, duráveis, tem hora certa, ancoram-se em um produto ou serviço
que cria ou adiciona valor para seu comprador;
- são alvos móveis: se alguém as vê, ainda há tempo de aproveitá-las.
- são as fagulhas que detonam a explosão do empreendedorismo;
Toda oportunidade deve ser compatível com a personalidade e preferências do
empreendedor, pois é quase impossível alguém se dedicar a um ramo se não tiver
afinidade com ele. O empreendedor, além de emergir no mundo da ideia, da
oportunidade e do ramo, deve sempre acumular experiências, pesquisar, ter contatos
com clientes, pois são elas que vão fornecer-lhes dados para poder empreender e
perceber se o seu produto ou serviço irá dar certo ou não. É através da visão que o
empreendedor se torna capaz de adquirir conhecimento sobre seu novo negócio, sobre o
comportamento dos clientes e sobre a tecnologia utilizada.
Toda oportunidade precisa ser analisada observando-se as ameaças externas.
Porém, é fundamental que alguns aspectos sejam avaliados nas oportunidades, tais
como: compatibilidade com as características do empreendedor, sua personalidade, seus
valores, seus princípios, sua visão de vida, de mundo e de homem.
Se o capital é imprescindível para a concretização do processo do
empreendedorismo, se o “know how” do negócio é parte intrínseca para fazer com que
o sucesso ocorra, mais importante de tudo isto é a cultura empreendedora que precisa
estar focada na paixão por este empreendimento.
É fundamental que tal paixão seja diferenciada da razão. Não empreendedor
que tenha sucesso atuando num mercado que ele desconhece. É preciso que os
empreendedores saibam que o sucesso do ato de empreender, só ocorre quando o
indivíduo atua em algo que realmente gosta e conhece. Para conhecer, é preciso ter
informação. Conforme Magretta (2003) a informação é a base para novas ideias. É
através dela que o empreendedor seleciona aquilo que realmente lhe importa. Por isto
saber se uma oportunidade é boa, não é fácil, pois vários fatores estão envolvidos, entre
eles: ter informação, conhecer muito o assunto, detectar seu mercado, ver os diferenciais
competitivos existentes e acima de tudo não deixar que o entusiasmo da ideia e da
oportunidade sobressaiam isoladamente em relação ao ato de empreender (Dornelas,
2001). As ideias isoladas o levam ao sucesso. As ideias devem estar interligadas às
pessoas, ao capital e ao conhecimento.
Quando o empreendedor se guia somente pela criatividade e pelo entusiasmo das
ideias isoladas ele pode correr riscos, dissabores e indefinições no seu negócio. Nesta
hora que as incertezas permeiam o empreendedor e começam a afetar seu
empreendimento, é a hora que ele deve estar pronto para superar as adversidades
encontradas e sair destas desventuras sendo um empreendedor resiliente.
3.2 A RESILIÊNCIA
Segundo Pinheiro (2004), a palavra resiliência, etimologicamente do latim
resiliens”, significa saltar para trás, voltar, recuar, ser impelido, encolher-se, romper.
Pela origem inglesa, resilientremete à ideia de elasticidade e capacidade rápida de
recuperação.
Segundo Tavares (2002), no dicionário de língua inglesa Longman Dictionary
of Contemporary”, a palavra resiliência têm duas definições: a primeira se refere a
“habilidade do indivíduo de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de
espírito depois de passar por doenças ou dificuldades”, e a segunda a “habilidade de
uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida:
flexibilidade”. Esta última definição remete-se ao conceito original de resiliência
atribuído à Física, que busca estudar aque ponto um material sofre impacto e não se
deforma.
No dicionário Novo Aurélio (1999), a resiliência é definida como “a propriedade
pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a
tensão causadora duma deformação elástica”. no Dicionário de Língua Portuguesa
(Houaiss, 2001), o verbete contempla tanto o sentido físico (propriedade que alguns
corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma
deformação elástica) quanto o sentido figurado, remetendo a elementos humanos
(capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças).
Historicamente falando, segundo Tavares (idem), a noção de resiliência vem
sendo utilizada muito tempo na física e na engenharia. Um de seus precursores foi o
cientista Thomas Young, que no início do século XIX, considerando as palavras tensão
e compressão, introduziu pela primeira vez a noção de elasticidade. Este inglês
descreveu experimentos sobre tensão e compressão de barras, buscando a relação entre
a força que era aplicada num corpo e a deformação que essa força produzia. Para ele, a
energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão
causadora de uma deformação elástica. Isto significa dizer que quando a força que
causou tal deformação acaba, o material resiliente volta ao seu estado normal sem
qualquer deformação.
Se inicialmente o termo resiliência era utilizado somente na física e na
engenharia como a propriedade dos materiais de retornarem a sua forma inicial depois
de submetidos à pressão, na Medicina a resiliência é a capacidade que uma pessoa tem
de resistir a uma doença, seja pela sua própria resiliência ou pela ajuda de uma
medicação curativa ou preventiva (Ruegg, 1997).
Na Psicologia o termo resiliência aparece mais recentemente. Ele é um conceito
que encontra-se em fase de construção, debate e discussão. Evidente que devido a
grande multiplicidade de fatores envolvidos no estudo dos fenômenos humanos, definir
a resiliência na Psicologia não é algo tão simples como na física ou engenharia.
Segundo Tavares (2002:16), “os precursores do termo resiliência na Psicologia
são os termos invencibilidade ou invulnerabilidade”. Vários autores, tais como Rutter
(1985) relatam que foi o Psiquiatra E.J.Antony, em 1974, que introduziu e relacionou o
termo invulnerabilidade com a resiliência. Em seus estudos, ele descrevia crianças que
apesar de estarem passando por momentos cruciais de adversidades e stress psicológico,
conseguiam apresentar saúde emocional. Alguns anos depois se discutia a aplicação
mais geral deste termo.
Conforme Rutter (1985), um dos pioneiros no estudo da resiliência no campo da
Psicologia, invulnerabilidade passa a ideia de resistência total ao stress, como uma
característica imutável. Porém, Rutter coloca que tudo que se refere à resiliência ou
resistência ao stress é relativa, uma vez que o grau de resistência não tem uma medida
fixa ou padronizada, pois ela varia de acordo com as circunstâncias.
Conforme Zimmerman &Arunkumar (1994:4 apud Tavares 2001), “resiliência e
invulnerabilidade não são termos equivalentes”. Segundo eles, a resiliência refere-se a
uma habilidade de superar adversidades, não significando que o indivíduo saia da crise
incólume, como implica o termo invulnerabilidade.
3.2.1 Pesquisas Pioneiras sobre a Resiliência
Muitos pesquisadores tem desenvolvido estudos sobre a resiliência,
principalmente nos Estados Unidos e Reino Unido. Grande parte destes estudos
analisam crianças ou adolescentes como indivíduos com certos traços e disposições
sociais. Vários pesquisadores, estudam a adaptação individual da criança associada ao
ajustamento apresentado na idade adulta, isto é, procuram compreender como
adaptações deixam a criança protegida ou sem defesa quando vivenciam estressores
muito fortes (Yunes & Szymanski, apud Tavares, 2002).
Para o psiquiatra britânico Rutter (1985), um único estressor não tem um
impacto muito significativo para a pessoa. Para ele, a combinação de dois ou mais
estressores é que diminui a possibilidade do indivíduo experimentar conseqüências
positivas em seu desenvolvimento. Nos seus vários estudos sobre resiliência, após
definir resiliência como uma variação individual em resposta ao risco, Rutter afirma que
os mesmos eventos estressores podem ser experimentados de diferentes formas por
diferentes pessoas. De acordo com este psiquiatra (1985: 20), a resiliência não pode ser
vista como um “atributo fixo do indivíduo”, pois para ele se as circunstâncias se
modificam, a resiliência também pode se alterar.
Através dos estudos de Michael Rutter (idem) e de outros pesquisadores citados
ao longo deste trabalho, a questão da resiliência foi delimitada, em torno de alguns
eixos temáticos que passaram a fazer parte do universo do estudo da resiliência, como
risco, vulnerabilidade, estress, "coping" e competência. Apesar de desta pesquisa
utilizar o modelo de Daryl R. Conner (1995), pesquisador com grandes contribuições
sobre este tema que identifica cinco características da resiliência, faz-se necessário para
uma melhor compreensão do fenômeno da resiliência tecer algumas considerações sobre
estes conceitos acima mencionados.
Conceito de Risco
O conceito de risco surgiu, há séculos passados, quando os mercadores ao
perceberem os constantes desastres de cargas marítimas que aconteciam, precisavam
estimar o risco de suas perdas. No mundo científico, os estudos sobre riscos ocorreram
no campo da medicina e da epidemiologia, pois era necessário estudar os padrões de
certas doenças em determinadas populações e localidades. (Yunes e Szymanski, apud
Tavares, 2002).
A forma de se medir o risco foi se alterando com o passar do tempo. É muito
mais complexo se definir o que é risco quando se trabalha com questões de doenças
mentais do que com a probabilidade de se perder ou não determinadas mercadorias. O
conceito de risco teve sua abrangência aumentada quando se começou a estudar os
riscos psicossociais. (Cowan, Cowan & Shultz,1996).
É imprescindível perceber que quando se fala de fator de risco, sempre um
enfoque de vê-lo como uma conseqüência negativa. Por outro lado quando se fala em
resiliência o enfoque observado é sempre o resultado de alguma coisa positiva.
Conceito de Vulnerabilidade
Conforme Yunes & Szymanski (2002), a palavra vulnerabilidade deriva-se do
latim vulnerável que tem o significado de ferir e penetrar. Por isso que o termo
vulnerável significa predisposição às desordens ou ao estress. Muitas vezes o termo
vulnerável é utilizado no lugar da palavra risco. As palavras risco e vulnerabilidade são
distintas. Enquanto o risco foi usado, pelos epidemologistas que o associava a grupos e
populações, o termo vulnerável se associa mais ao indivíduo e suas predisposições que
são quase sempre negativas. A relação entre risco e vulnerabilidade ocorre conforme
Cowan, Cowan e Shultz (1996) da seguinte maneira: “vulnerabilidade opera apenas
quando o risco está presente; sem risco, vulnerabilidade não tem efeito”.
Relação entre Resiliência, Estresse e Coping
A palavra estresse é um conceito científico muito difícil de ser definido e
traduzido, mas é uma palavra muito usada em inglês. Hinkle (1987) chegou à conclusão
de que não ainda uma definição aceita por todos que estudam a questão do estresse.
Porém, é consenso que cada indivíduo tem uma reação diferente em uma situação
estressante.
O primeiro estudioso a introduzir este termo nas ciências humanas como cita
Pereira (1997), em 1936 foi Hans Selye. Seyle (1979) definiu o estresse como “uma
resposta específica do corpo a uma exigência feita a ele”, isto é, cada indivíduo
dependendo da forma que percebe, vivencia e interpreta uma determinada situação, é
que terá ou não uma condição de estresse.
Da mesma forma que o conceito de risco, se refere a situações negativas, o
conceito de estresse sempre surge acompanhado de circunstâncias que estão sendo
vivificadas pelo indivíduo. Se para uns o estresse pode ser visto como um grande
perigo, para outros a mesma situação pode ser vista simplesmente como um desafio.
Conforme citado em Tavares (2002) se por um lado o estresse seria o lado
negativo das experiências vividas pelo ser humano, a palavra "coping" que não tem
tradução para o português seria o lado positivo em uma situação de risco. O termo
coping, de origem anglo-saxônica, significa “forma de lidar comou “estratégias de
confronto”.
Resiliência e Competência
Da mesma forma que as pessoas reagem de diferentes maneiras diante de
ocasiões estressantes, segundo Luthar (1993) o uso de estratégias e recursos para reduzir
o estresse e fazer com que o indivíduo se adapte à situação vivenciada, é o que se chama
de competência no contexto de resiliência. Para ele, o conceito de competência refere-se
ao sucesso diante de tarefas de desenvolvimento esperadas para uma pessoa de
determinada idade, gênero no contexto de sua cultura, sociedade e época”.
É como se coping, competência e resiliência fossem sempre enaltecidos pelas
pessoas como algo positivo, enquanto que se o indivíduo estivesse contrário a esta
situação, ele seria um indivíduo incompetente e não resiliente.
Resiliência: Processo e Desafio
O maior desafio para o próximo milênio como afirma Pereira (2001) é tornar as
pessoas mais resilientes, tornando-as mais invulneráveis para que possam resistir às
problemáticas que surgirem em suas trajetórias de vida.
Segundo Conner (1995, p.27), “aprender os padrões e princípios que nos
permitirão administrar mudanças e aumentar a resiliência o é somente um luxo, mas
uma necessidade”.
Para Conner (idem), a agilidade e o entusiasmo que pessoas resilientes
demonstram ao enfrentarem obstáculos deriva-se da elasticidade que possuem em
permanecerem relativamente calmas em situações altamente indesejáveis e
imprevisíveis. Estas pessoas têm uma característica singular que é a de se recuperarem
rapidamente após um período vivido de grande estresse. Quando pessoas resilientes
enfrentam adversidades, ansiedade e muitas vezes aperda de controle, elas tendem a
se fortalecer em vez de se sentirem exauridas. As pessoas resilientes sentem medo,
apreensão e angústia quando estão numa situação de mudança, mas elas conseguem
alcançar tudo que almejam, pois seus índices de produtividade, seus objetivos, padrões
de qualidade, estabilidade física e emocional permanecem inalterados. Todo indivíduo
resiliente não se satisfaz com letargia, ele sempre busca mais.
Conforme Conner (1995, p.71) “as pessoas que gerenciam mudanças com
sucesso sabem por intuição que, uma vez que estejam se aproximando do limiar do
choque futuro, o podem mais apenas anunciar a mudança - devem orquestrá-la”. Isto
significa, segundo Moeller (2002) que as pessoas devem reger a mudança - vale lembrar
que reger é uma palavra definida como dirigir, governar, administrar, guiar, encaminhar.
Através desse exercício de significação, pode-se avaliar a importância de gerenciar
mudanças é necessário dirigir, controlar, encaminhar, administrar e, de certa maneira,
antecipar-se às mudanças.
A resiliência, segundo Conner (idem), é um processo, é uma combinação de
traços que se manifestam em várias proporções, e em pessoas diferentes. Quase todas as
pessoas reagem de forma diferente quando vivenciam certas mudanças. aquelas que
tendem a vê-la como um perigo e há as que a vêem como uma oportunidade.
Pessoas orientadas pelo Perigo
Seundo Conner (1995), as pessoas que visualizam a mudança como perigo, o
aquelas que acreditam que a crise da mudança é uma ameaça e podem se sentir vítima
dela. Essas pessoas são aquelas que não possuem objetivos e expectativas de vida. Por
isso que quando ocorre uma alteração em seu cotidiano, elas o conseguem se
reorientar facilmente. Para elas, a vida deveria seguir o curso retilíneo e como a
seqüência dos fatos não es correndo assim, elas acham que tais mudanças são
extremamente desagradáveis. Durante a turbulência da mudança esses indivíduos, se
sentem inseguros e criam barreiras de resistência. O grande problema destas pessoas é
que quando elas percebem que as grandes mudanças estão frente à sua im agem, ela não
tem tempo de planejar qualquer estratégia para dar resposta àquele desafio. Toda reação
e tática criadas repentinamente são ineficazes. Porém, as pessoas orientadas pelo perigo
acham que não têm capacidade e habilidade para antever a necessidade de mudar para
diagnosticarem os problemas da resiliência.
Essas pessoas são aquelas que vivem justificando situações ocorridas, como se o
mundo conspirasse contra ela. Sempre afirmam que o problema acontecido foi por culpa
de algo ou de alguém. São indivíduos que se sentem cada vez mais indefesos num
mundo que para eles é sempre imprevisível, contraditório e muito confuso.
Pessoas orientadas pela Oportunidade
Em contrapartida, diz Conner (idem) as pessoas que são orientadas pelas
oportunidades, são aquelas que reconhecem o perigo nas mudanças, mas visualizam-na
como um potencial que deve ser explorado ao invés, de ser um problema que precisa ser
evitado. Para elas a vida cada dia traz escolhas que são sempre novos desafios.
Esses indivíduos são otimistas, que apesar de saberem que a vida oferece
obstáculos, guiam-se a todo instante para reequilibrarem-se e reverem seus ideais, Essas
pessoas como todas as outras também se sentem desorientadas quando alguma mudança
ocorre. que ao contrário das pessoas que são orientadas pelo perigo, elas não se
omitem e nem ficam na defensiva. Elas encaram esta quebra e suas conseqüências como
parte de um processo de adaptação e crescimento.
As pessoas orientadas pela oportunidade jamais camuflam suas limitações. Elas
conhecem suas reais possibilidades e por isto mesmo são extremamente humildes e
sabem quando precisam pedir auxílio. São indivíduos independentes, auto-suficientes,
mas que sabem quando precisam pedir ajuda a quem estiver ao seu redor para poder
alcançar aquilo que almejam.
Estes pessoas vêem a mudança como parte natural da vida e não se surpreendem
com qualquer alteração inevitável Toda mudança para eles é vista como um grande
desafio repleto de problemas que precisam ser saciados e de oportunidades que devem
ser exploradas. Nenhuma mudança é vista como algo terrível que precisa ser evitado.
Ao contrário das pessoas orientadas pelo perigo, essas pessoas não enxergam a vida
retilínea e seqüencial. Elas sabem que apesar das adversidades, mudanças e obstáculos
conseguem equilibrar suas perspectivas. Conforme Conner (1995: 208) as pessoas
orientadas pela oportunidade “têm a habilidade de equilibrar suas perspectivas. Elas
vêem coisas como as oportunidades por trás de perigos, o humor de situações sérias, a
ordem do caos, a paciência necessária em circunstâncias urgentes, as alterações
necessárias para as coisas continuarem iguais, a constância que existe em uma transição
e o fato de que mesmo enquanto buscam a perfeição as pessoas devem aceitar sua
impossibilidade”.
Estas pessoas orientadas pela oportunidade, segundo Conner (1995) sentem-se
inicialmente muito vulneráveis às mudanças também, que a diferença entre elas e
aquelas orientadas pelo perigo é a maneira como reagem a estes sentimentos. Se os
indivíduos que são orientados pelo perigo ficam inertes, com medo e complacente das
mudanças, esses reconhecem a situação, o seu desconforto e se portam de tal forma que
acionam seus mecanismos de adaptação a estas novas circunstâncias. Se por um lado
estas pessoas são mais pidas para a resolução de problemas, não culpando ninguém
por causa deles, por outro lado sabem que assim que esta situação se normalizar, a
qualquer momento um novo problema, uma nova mudança, um novo processo pode
recomeçar.
3.3 As Cinco Características Básicas da Resiliência Segundo Conner
O teórico Conner (1995) identificou cinco características presentes na
resiliência. Segundo ele os indivíduos que apresentam estas cinco características de
maneira mais acentuada são as pessoas mais resilientes. Estas pessoas conseguem
adaptar-se com maior facilidade não só na sociedade como também aos ambientes
organizacionais.
As cinco características identificadas por Conner (op.cit: 209), positividade,
foco, flexibilidade, organização, e pró-ação, fazem com que os indivíduos resilientes
estejam melhores preparados para enfrentar qualquer situação que possa surgir. Os
indivíduos detentores destas características, apesar de se defrontarem com dificuldades
que aparecem em seus caminhos, conseguem de forma determinada perseguir os
objetivos que foram previamente traçados, sem terem comportamentos disfuncionais.
As cinco características básicas da resiliência que são manifestadas por meio de
comportamentos, habilidades e áreas de conhecimento, podem assim ser resumidas:
3.3.1 Positividade
Pessoas positivas são aquelas que vêem a vida como porfia, como um grande
desafio. Sabem que a vida é repleta de luta, mas que possui também intensas
oportunidades e possibilidades. Sabem que existem inúmeros problemas, diversos
paradoxos, mudanças por vezes desconfortáveis, mas acreditam que recompensas e
oportunidades em tudo que estão vivenciando. Sabem que cada experiência é uma fonte
de aprendizado e por isto mesmo sabem e encaram o mundo como algo dinâmico.
3.3.2 Foco
Pessoas que tem foco na vida são aquelas que sabem onde estão e onde querem
chegar. São aquelas que sabem que o foco é a bússola que os orienta, sabem que ter
foco significa saber onde está o norte de suas ações, sabem que este foco é a luz que os
orienta mesmo quando suas expectativas são quebradas e precisam ser restabelecidas.
3.3.3 Flexibilidade
Pessoas flexíveis são maleáveis quando se defrontam com dúvidas e incertezas,
mas ainda assim são extremamente tolerantes com os contratempos. Quando se
deparam com adversidades, se chocam, mas rapidamente conseguem superar a
decepção e o desapontamento. Reconhecem seus pontos positivos e negativos e
sabem reconhecer suas possibilidades e limitações. São pessoas muito sociáveis,
pacientes, compreensíveis e bem humoradas mesmo quando lidam com mudanças e
alterações.
3.3.4 Organização
Pessoas organizadas procedem constantemente à análises tentando ver de que
forma podem clarear temas e tópicos que estão presentes em situações confusas e
conflitantes. Quando percebem que precisam alterar algum projeto ou mudança,
renegociam rapidamente suas prioridades. Tal característica é muito própria dos
resilientes até porque, uma das características da resiliência é a flexibilidade. As pessoas
organizadas são aquelas que desenvolvem várias atividades ao mesmo tempo e todas
com muito sucesso. Quando percebem que necessitam de auxílio, pedem ajuda
imediata.
3.3.5 Proatividade
As pessoas pró-ativas incitam as mudanças e o as evitam. Elas percebem
quando uma mudança é inevitável e/ou vantajosa. Estas pessoas tem facilidade para
perceber se uma determinada situação pode angariar-lhe alguma primazia. De todas as
experiências vivenciadas gosta de extrair lições de aprendizagem para posteriormente
poder aplicar a outras situações. Tem facilidade de resolver conflitos e por isto mesmo
outras pessoas acabam sendo influenciados por elas.
3.4 Empreendedorismo e Resiliência
Como diz Baron (1997), o empreendedorismo é um processo, e como tal, ele
envolve fases distintas, que vão desde o momento da geração de ideias, reconhecimento
de uma oportunidade, reunião dos recursos, lançamento do novo empreendimento até a
supervisão do mesmo para que se possa colher seus frutos. Apesar desta seqüência
aparecer como fases, elas não necessariamente se apresentam nesta seqüência. Em
diversos momentos elas ocorrem concomitantemente e estão sempre intimamente
ligadas.
Da mesma forma que não há como explicar o processo do empreendedorismo
observando somente o enfoque do empreendedor (suas habilidades, técnicas e talentos),
pois há outras conjunturas a serem observadas como a relação com o contexto social em
que o empreendedor vai operar (políticas governamentais, condições econômicas e
tecnologia), há a questão de que o processo do empreendedorismo não requer somente a
criação ou o reconhecimento de uma aplicação comercial para algo novo no mercado.
Para Baron (2007:8), há também os “empreendedores internos que são aquelas pessoas
que criam algo novo, dentro de uma empresa existente, em vez de fundar um novo
negócio”. Ele afirma que o empreendedorismo não é mesmo um evento único. Os
empreendedores são pessoas diferentes. Como diz Dornelas (2001:19), os
“empreendedores são pessoas que possuem motivação singular, são apaixonadas pelo
que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e
admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado”.
Por isto que ao se discutir o processo do empreendedorismo buscou-se neste
trabalho observar as necessidades, habilidades, conhecimentos, características e valores
que são os fatores determinantes para a formação de um empreendedor. O que se
pretende nesta pesquisa é aplicar o conceito de resiliência segundo o modelo de Conner
e observar sua pertinência e relevância no perfil de um grupo de empreendedores, para
poder entender se e como cada uma das dimensões da resiliência afetou a forma como
estes indivíduos se comportaram perante às crises e infortúnios da vida. .
Se em sentido figurado a resiliência significa a capacidade de resistência a um
choque, segundo Conner (1995) as pessoas mais resilientes demonstram uma reação
melhor frente às mudanças vividas, apresentando poucas disfunções frente às situações
críticas a que podem estar sendo submetidas. Muitas vezes estas pessoas, por serem
empreendedores resilientes, acabam mesmo se antecipando às mudanças.
Como citado anteriormente, foi defendida na Universidade Federal de Santa
Catarina, em 2002, uma dissertação de Jaques Enrique Moeller, que estudou a
resiliência no Perfil dos proprietários gerentes de pequenos negócios catarinenses. Seu
objetivo era entender através do todo quantitativo a influência das cinco
características da resiliência baseadas em Conner no gerenciamento deste grupo de
empreendedores. O autor após pesquisar oitenta empreendedores concluiu que a maioria
deles apresentava um perfil mais orientado pela oportunidade; porém, destacou a falta
de planejamento existente e a aversão ao risco em boa parte da amostra pesquisada.
Neste trabalho o que se investiga é a contribuição das características
associadas à resiliência para o sucesso dos seis empreendedores estudados, verificando
se estes traços aparecem em suas histórias quando relatam as mudanças
experimentadas – e a forma como se saíram frente às experiências vividas.
4 METODOLOGIA
A pesquisa no sentido mais amplo, conforme Rudio (1999), é um conjunto de
atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. Para
adjetivamente ser científica, a pesquisa deve seguir um método, observar técnicas de
investigação, estar voltada para a realidade empírica e comunicar o resultado obtido de
acordo com as normas formalizadas. Para Rudio (1999: 9) “o termo realidade se refere a
tudo que existe, em oposição ao que é mera possibilidade, ilusão, imaginação e mera
idealização. Empírico refere-se à experiência. Chama-se realidade empírica tudo que
existe e pode ser conhecido através da experiência”.
Se a pesquisa científica em diversas áreas, como a médica ou física, existe
muito tempo, a social e a educacional surgiram muito recentemente “como tentativa de
transferir o método científico que vinha se mostrando fecundo nos outros campos”
(Gressler, 1989: 9). Além disso, a pesquisa nos dias atuais não está mais restrita
somente a área acadêmica. Ela está inserida também no mundo organizacional. A
importância desta prática advém do fato de que quem detém mais informações
peculiares sobre alguns assuntos no mundo empresarial, certamente obtém vantagens
altamente competitivas no mercado onde está inserido ou onde desejar se inserir e
expandir, pois consegue com mais facilidade detectar diferentes fenômenos que possam
estar ocorrendo.
4.1 Abordagem Qualitativa
Em alusão à abordagem qualitativa, faz-se necessário, primeiramente, delimitá-
la – a fim de configurá-la como um tipo de estudo. A pesquisa qualitativa pressupõe que
o pesquisador esteja em contato com a situação investigada. Conforme Haguette (1997),
o pesquisador, ao analisar um problema, precisa verificar nãocomo este se manifesta
nas atividades e procedimentos, como também nas interações do dia-a-dia.
Diferentemente do método quantitativo, que supõe uma população de objetos de
observação que são comparáveis entre si, o método qualitativo enfoca os determinantes
de um fenômeno em suas origens e em suas especificidades. Dentro desta abordagem
estão incluídas a entrevista e a história de vida, como também outros processos
metodológicos de natureza empírica, como as etnografias e os estudos de caso.
(Haguette, idem).
Enquanto técnica de pesquisa qualitativa, a hisria de vida narrada permite a
observação das interações do individuo com o contexto social, e a análise do conjunto
de acontecimentos ao longo do tempo para uma melhor compreensão do presente. A
história de vida pode ser observada através de depoimentos, entrevistas, autobiografias.
Quando o pesquisador se utiliza da história de vida para investigar uma questão, precisa
ter cuidado para que o entrevistado exponha todas as informações de que necessita, a
fim de que nenhum fato importante seja omitido. Além disso, ele precisa estar atento
para que as interpretações do narrador sejam verdadeiramente colocadas. Para Becker
(1969), a utilização da história de vida serve como uma referência para se avaliar teorias
que tratam de uma mesma problemática. A história de vida, segundo Haguette (1997), é
também de suma importância não só pela riqueza de detalhes que o pesquisador
consegue com o entrevistado, como também por sugerir novas variáveis, questões e
processos que podem levar o pesquisador a reorientar suas pesquisas.
Nesta pesquisa a história de vida dos participantes foi levantada através de
entrevistas. Como diz Haguette (1997:86), a entrevista pode ser definida como um
processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem
por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”.
A entrevista é uma técnica que traz em seu interior algumas limitações, porém, o
papel e a função do pesquisador é justamente evitá-las ao máximo possível e quando
não conseguir, aceitá-las sabendo da possibilidade de algumas distorções. As
informações de interesse relacionadas às experiências dos entrevistados foram
alcançadas neste trabalho através do foco dado pelo entrevistador no roteiro da
entrevista.
4.2 Caracterização da Pesquisa
Este trabalho es baseado em uma pesquisa de campo, exploratória, e
qualitativa com base em entrevistas (modelo no apêndice A). As entrevistas foram
guiadas por algumas questões abertas elaboradas para permitir que a história de cada
entrevistado emergisse. A entrevista, apesar de ser temática, também incluiu questões
para levantamento de dados biográficos, como idade, estado civil, formação acadêmica
e profissional de cada entrevistado.
Antes das entrevistas, foi traçado um roteiro a fim de que o entrevistado se
focasse nas questões de interesse relacionadas à sua história. Porém, em todos os
momentos o pesquisador sabia que estava recebendo informações valiosas do
entrevistado. Todas as entrevistas foram realizadas pessoalmente pelo autor, gravadas
através de fitas de áudio e/ou com gravações digitais. As entrevistas tiveram média de 3
horas de duração. No final de cada entrevista, procedeu-se à transcrição textual de cada
fita. O intervalo entre as entrevistas não foi regular devido à agenda dos entrevistados.
Todos os contatos com os entrevistados foram inicialmente feitos por telefone,
onde o autor se apresentava, explanava o objeto de seu estudo, explicava o porquê dele
estar em contato com aquele empreendedor, e, em seguida, solicitava um agendamento
para que a entrevista fosse realizada.
4.3 Participantes
A pesquisa foi realizada com empresários de destaque e de sucesso dentro do
segmento em que atuam. Cada um dos entrevistados está entre os mais reconhecidos
empreendedores que desempenham papel relevante em seus setores. Todos os
entrevistados são empreendedores e têm suas histórias de empreendimentos bem
difundidas pela mídia.
Foram entrevistados seis (06) empresários, sendo que todas as entrevistas
aconteceram nos seus respectivos locais de trabalho, com exceção de uma entrevista que
ocorreu na cidade de Passa Quatro (Sul de Minas Gerais), em um Hotel Fazenda onde o
entrevistado estava hospedado participando do Projeto “Caminhantes da Estrada Real”,
do qual é Presidente. Vale ressaltar que todos os entrevistados demonstraram grande
disponibilidade, espírito cooperativo e orgulho por estarem contribuindo de alguma
forma para este estudo.
O quadro a seguir apresenta a idade, o gênero, as áreas de atuação e o valor
aproximado dos empreendimentos de cada participante desta pesquisa:
Entrevistado Nascimento
Formação
superior
Sexo
Idade
Indústria
Faturamento
Aproximado
Ano
Eloísa
Pimentel
São João
Evangelista
Direito e História
Fem.
59 Cosméticos
R$ 100
Milhões
Walter Pontual
Oswaldo
Cruz
Engenharia
Elétrica
Masc.
48 Energia
R$ 60
Milhões
Renato Duron
Rio de
Janeiro
Engenharia de
Telecomunicação
Masc.
31
Tecnologia
em
Comunicação
R$ 15
Milhões
Luis Grandel São Paulo
Administração
(incompleto)
Masc.
44 Esportista N/A*
Marcelo Slim
Rio de
Janeiro
Matemática Masc.
N/A*
Marketing
Esportivo e
Tecnologia
N/A*
Júlio Lopes N/A* Administração Masc.
44
Consultoria
em RH
N/A*
N/A* - Informação Não Aplicável por não ter sido respondida ou por não se adequar ao
entrevistado
Tabela 1 – Resumo dos Entrevistados
Todas os empreendedores entrevistados têm empresas de capital fechado, sendo
que duas delas têm previsão de abertura de capital até o ano de 2015. Uma das empresas
pouco passou por um processo de fusão, o que diversifica ainda mais o conjunto de
fatores ambientais que influenciam a gestão e os resultados dos empreendimentos
realizados pelos participantes.
Quase que em sua totalidade, os empreendedores entrevistados m sócios, que
estão envolvidos desde o início nestas organizações. Todos os entrevistados fazem parte
de grupos e/ou entidades que apoiam o movimento empreendedor e difundem o
empreendedorismo, como o Sebrae, a Endeavor, e Conselhos de Universidades, dentre
outras.
4.4 Preparação dos dados para análise
Todas as entrevistas foram segmentadas em tópicos os quais serviram para
delinear diferenças tanto de atitudes quanto de comportamentos. Diversas rodadas de
análises e interpretação dos dados foram feitas para que se pudesse observar os padrões
seguidos por todos ou por parte dos entrevistados e ao mesmo tempo observar sua
associação com as dimensões da resiliência. A partir desta análise, categorias foram
abstraídas dos dados, representando as cinco dimensões segundo Conner (1995), sempre
apresentando os elementos que denotam ou se relacionam com cada uma das dimensões
referenciadas no discurso do entrevistado.
5 RESULTADOS: AS HISTÓRIAS DE SEIS EMPREENDEDORES
5.1 História dos Entrevistados
Este capítulo apresenta de forma sucinta a história de vida de cada participante
entrevistado. Vale ressaltar que os nomes apresentados não são verdadeiros para que a
identidade dos entrevistados seja preservada.
5.1.1 Eloísa Pimentel
Eloísa Pimentel mora em Belo Horizonte e tem três filhos. Ela nasceu na Cidade
de São João Evangelista, interior de MG, uma cidade que naquela época possuía cerca
de 10 mil habitantes.
Eloísa afirma ter tido uma educação moderna, diferente das demais pessoas de
sua época. Sua família era formada por fazendeiros e políticos, mas apesar disto não
eram machistas. Segundo Eloísa dentro de casa minha mãe tinha tanto poder quanto
meu pai, nem mais, nem menos”.
Aos 10 anos de idade, Eloísa foi estudar num internato. Suas amigas de escola
diziam que estavam estudando ali era uma forma de castigo. Ela não achava isto. Sabia
que havia ido para o colégio interno, pois aquela era a melhor escola da região. Sua mãe
sempre falava que não queria que ela fosse educada como as primas, que tinham por
objetivo de vida “crescer, aprender a cozinhar, costurar e casar”.
Heloísa hoje possui uma holding ligada ao mercado de cosméticos. Neste grupo
existem lojas, fábricas e outras empresas que integram a cadeia de produção o da
linha de cosméticos como também de produção de embalagens.
Sua vida profissional se iniciou na Câmara do Comércio de Belo Horizonte.
Naquele momento teve que lutar muito para conseguir uma autorização especial para
prestar concurso, pois naquela época mulher não podia fazer a prova. Finalmente teve
autorização, fez o concurso, foi aprovada e foi a primeira mulher a assumir esta
entidade.
Após alguns anos neste trabalho, ela resolveu que era hora de iniciar seu próprio
negócio e começou aos 24 anos com uma pequenas empresa de bijuterias.
Esta loja foi um verdadeiro sucesso, localizava-se no Bairro Savassi em Belo
Horizonte. Em 1976 percebendo seu crescimento resolve iniciar outra empresa também
em Belo Horizonte, no mesmo bairro, só que desta vez ligada ao ramo da perfumaria.
Um estrondoso sucesso aconteceu na vida empresarial de Eloísa. Só que a
empresa consumia tanto Eloísa que ela chegava a trabalhar 20 h por dia. Este
crescimento da perfumaria foi tão grande, que Eloísa precisou vender sua loja de
bijuterias. Neste momento da entrevista percebe-se grande emoção quando Eloísa diz
que isto até hoje isso a deixa muito triste, pois aquela empresa tinha sido de fato meu
primeiro negócio, senti muito por ter que vender algo que ia tão bem”. Eloísa acredita
que o sucesso de sua loja de perfumes se deveu à decoração e às embalagens, que ela
mesmo fazia com a ajuda de seu irmão.
Eloísa é formada em História, mas sempre teve o sonho de estudar direito.
que quando jovem isto nunca foi possível devido ao volume de trabalho que realizava.
Aos 50 anos, Eloísa achou que era hora de recomeçar novamente sua vida acadêmica e
aos 54 anos formou-se em Direito.
Segundo Eloísa esta não foi uma faculdade de direito. Na verdade este
curso foi muito mais um aprendizado de persistência”. A entrevistada fala isto porque
ela passava por um período conturbado tanto em sua vida profissional quanto sua vida
pessoal. pois além de estar passando por um divórcio com seu marido, ela levou um
golpe altíssimo de um de seus distribuidores e ainda havia pego um empréstimo de um
milhão de reais para construir sua fábrica em plena era da desvalorização do real. Com
estes dois golpes, sua empresa entrou em concordata. Na verdade, quase uma falência.
Mesmo com tudo isto, Eloísa tem várias vitórias em sua vida e chega a enumerá-
las:
- Ter concluído o caminho de Santiago de Compostela, sem ter se preparado
quanto os demais integrantes de seu grupo;
- Ter conseguido ter filhos, enquanto todos os dicos diziam que seria muito
difícil, pois possuía um grave problema congênito;
- Ter conseguido se restabelecer após a concordata;
- Ter se formado em Direito;
Em dado momento da entrevista Eloísa declara sob forte emoção Eu tenho
muita sorte. Deus me deu muita sorte. Deus me deu muito entusiasmo pela vida. Nada
para mim é obstáculo e quando vejo que posso vir a ter um obstáculo, eu tento me
divertir. Eu sei que as pessoas falam que sou meia doida, porque o que para todo mundo
às vezes é um problema desanimador, para mim serve como se fosse um choque. Sei
que vou conseguir o que quero. Eu herdei isso de meu pai e de minha mãe. Sabe essa
motivação contínua, esse não cansar nunca eu herdei de meu pai e de minha mãe. Eles
foram bons exemplos para minha vida. Eu herdei isso deles”.
5.1.2 Walter Pontual
Walter é do interior, de uma cidade chamada Oswaldo Cruz, próxima de
Araçatuba. Como ele mesmo gosta de falar com seu sotaque forte sou do interior de
São Paulo, da roça”. Seus pais eram agricultores e lá moraram até seus 11 anos. Nesta
época Walter estudava em escola rural e morava em um sítio. Ele se recorda que quando
tinha seus 11 anos seu pai trocou o sítio por uma máquina de beneficiar arroz. Com esta
troca a família se mudou para Rinópolis e permaneceram até que ele completasse 17
anos de idade.
Walter fala que sempre quis ser empreendedor. Ele se acha um verdadeiro
empreendedor e diz que aprendeu isto com seu pai que sempre estava fazendo “trocas”
com seus negócios.
Durante sua adolescência, Walter sempre foi incentivado por sua família. Para
comprar alguma coisa, ele tinha que trabalhar muito para poder adquirir o que desejava.
Walter diz que isto foi que fez com que ele quisesse trabalhar, para poder sempre
comprar o que desejasse. Walter afirma que nesta fase da vida dava um gostinho de
ganhar dinheiro, isto que me contaminava e por isto eu vivia fazendo bicos”. Ao
questionar que bicos” fazia, Walter disse que ele teve todo tipo de experiência nesta
área, desde vender sorvete na rua, consertar fogão até mesmo entregar gás nas casas
da cidade.
Aos 17 anos Walter foi morar sozinho em São Paulo para poder estudar, e
permanece até hoje. Ele cursou Engenharia Elétrica na Universidade de São Paulo
(USP). Mas mesmo nessa época continuava a fazer uns “bicos”. Só que com isso seus
horários não eram flexíveis e não conseguiu fazer estágio no período exigido na
Faculdade. Os “bicos” a que Walter se referia que fazia em São Paulo eram de outro
estilo. Ali ele ainda consertava fogão, mas fazia também instalação de painéis elétricos.
Quando percebeu que sua situação estava um pouco mais regularizada, começou a
estagiar. Acabou se formando e foi efetivado em uma multinacional. Por incrível que
pareça, ainda efetivado, continuava a fazer seus bicos”. Após dois anos de efetivação
na multinacional, ele percebeu que o valor que os “bicos” representavam em sua vida
era maior que o seu salário. Por conta disto ele achou que era o momento de sair
daquele emprego. Largou tudo.
A frase que mais chama atenção nos primeiros instantes da entrevista é quando
ele diz que a pior coisa que pode acontecer para um bom empreendedor é ter um
ótimo emprego”.
Quando ele largou o emprego na multinacional, foi muito criticado por estar
deixando o emprego formal e estável. É imprescindível ressaltar que quando tomou esta
decisão, tinha 25 anos, estava casado, com um filho pequeno. No entanto, ainda com
tantas críticas, ele se sentia realizado pela atitude tomada. Ele pulou forae se sentiu
um passarinho fora da gaiola. A partir desta decisão eu nunca mais parei de
empreender.
Atualmente Walter possui a maior empresa do país de geradores de energia.
Tudo começou quando foi contratado por um empresário, pois ele precisou alugar um
gerador. Ao tentar alugar o tal gerador, achou que foi mal atendido e que poderia fazer
melhor. Pegou todas as suas economias e resolveu comprar um caminhão. Como ele
mesmo fala, esse foi um ato de total loucura. Walter diz em tom emocionado que
aquele caminhão se transformou em mais de setenta caminhões e o gerador alugado
se transformou em mais 400 geradores”.
Walter não sua empresa como um sonho realizado. “Ela não é a
materialização do meu sonho, pois meu sonho sempre foi muito mais amplo. Acho que
ninguém sonha em ser dono de um monte de geradores”. Walter sempre quis ter algo
que lhe desse escala. Como ele mesmo afirma, até este momento, “esta empresa deu
muito certo, porém, penso que sempre posso encontrar algo novo que me realize mais”.
Toda a conversa com Walter foi realizada no seu escritório em São Paulo, que é
extremamente organizado. Um fato que chamou a atenção deste pesquisador, é que sua
biblioteca é composta quase que exclusivamente por biografias de pessoas de sucesso. É
interessante destacar que uma distância muito tida nas colocações de Walter
quando fala em realização pessoal e profissional. Para ele isto é tão nítido que ao
descrever seu auto-retrato ele fala que “... sonhar alto, acreditar nesse sonho, ser muito
focado e ser meio perfeccionista, é bom, mas quem paga este preço alto é a minha
casa”. Para ele a empresa tem que ter um diferencial, ser absolutamente bonita, limpa
e organizada”. Ele se intitula um “cara viciado em trabalho, mas que na vida pessoal
tem muitas dificuldades e por isso mesmo acaba cada vez mais tendo o foco de sua vida
no trabalho”.
A maior preocupação atualmente de Walter é conseguir que sua empresa seja
independente de sua pessoa, que possa “andar sozinha” e que assim possa se dedicar a
outras oportunidades”. Walter afirma que “tem muito desafio pela frente e que ele sabe
que” é hora de deixar de ser centralizador, para a empresa ganhar mais escala do que
tem. Para ele esse é um momento crítico, pois muitas empresas o conseguem passar
justamente desta etapa. Walter diz que “o negócio tem que andar para frente, mas sem
ter uma pessoa centralizadora”. Ele sabe que esse é um desafio grande para o
empreendedor. “Esse foi sempre meu sonho, mas a dificuldade é enorme".
5.1.3 Renato Duron
Duron é o mais novo de nossos entrevistados, e atua em um dos setores mais
agitados atualmente, que é a de tecnologias móveis em telecomunicações. Duron tem 31
anos e sua empresa tem oito anos. Assim como os demais entrevistados começou muito
jovem com seus negócios e atualmente é o segundo maior em seu setor no país. Sua
empresa atualmente passa por um processo de fusão com outra organização e desta
forma está conseguindo se consolidar ainda mais no mercado.
Sua vida profissional começou ao longo da faculdade. Sua empresa nasceu
dentro de uma incubadora de negócios, o que facilitou bastante seu início. Todos seus
sócios são amigos de faculdade e começaram a ver juntos esta oportunidade de
mercado.
Quando questionado sobre momentos difíceis dentro da empresa, Renato foi
rápido e de pronto lembrou de duas situações. Porém, após falar um pouco sobre a
primeira adversidade, o conseguiu classificá-la se realmente ela foi algo tão negativa.
Renato conta que logo nos primeiros anos da empresa, quando ainda tinha um
faturamento muito pequeno e não ganhava praticamente nada, ele e os sócios receberam
uma oferta para venderem a empresa para um grupo multinacional. “Foi uma decisão
muito difícil, pois era um valor razoável”. Depois de discutirem bastante, resolveram
recusar. Mas perceberam que se uma multinacional estava interessada no negócio deles,
era porque estavam no caminho certo. Apesar da proposta ser tentadora, ela foi
recusada.
O segundo fato marcante relatado por Renato aconteceu em 2005/2006. No ano
de 2005 o mercado se modificou de tal forma, que o crescimento da empresa foi muito
maior do que qualquer expectativa, e com isso o cenário para 2006 foi desenhado de
forma muito otimista. No entanto, as projeções em 2006 não se concretizaram e foi
necessário que se fizesse uma redução de 25% no quadro de funcionários de toda a
empresa, pois isto estava pesando excessivamente nos custos.
A preocupação de Renato neste contexto não era simplesmente a redução do
quadro de funcionários da empresa ou a situação dela no mercado, mas como essas
pessoas ficariam após esta demissão.
Renato declara que se “você imaginar que segunda-feira ao invés do dia começar
como sempre começou, vai começar com uma série de reuniões para dispensar quase
um quarto da empresa, um terço, isso afeta, afeta a vida pessoal de todo mundo”.
Continua emocionado a falar “é óbvio que a gente tenta separar, mas é
impossível dizer que no final de semana anterior a esse, foi um final de semana igual
aos outros, não foi. Isto de fato deixa a gente abalado. Tem pessoas que acreditam na
gente, dependem daquilo pra viver, se dedicam. Tem dívidas para pagar. Não tem como
o fim de semana anterior ser igual e isso me deixou muito abalado”. Renato relaciona
este momento com as teorias da administração quando diz “tivemos que fazer um
downsizing, mas isto nada mais é do que a palavra bonita que o mercado usa para fazer
a demissão em massa”.
Formado em Engenharia de Computação pela PUC, iniciou sua vida profissional
ajudando a criar e a desenvolver a Empresa Jr. da PUC . Logo depois, Duron
tentou criar duas empresas. Uma delas não chegou a se transformar em realidade. A
outra era ligada a área de eventos. Pela falta de tempo e de recursos financeiros esta
também foi abortada. Duron em sua entrevista explica que ainda a possibilidade de
reativar esta ideia das duas empresas. Ele fala que “ainda existe este espaço.
Sua história e formão o totalmente ligadas ao empreendedorismo,
atualmente Renato é professor universitário e sua principal missão é “despertar o
empreendedorismo nos alunos” pois acredita que isto é que fará o país se desenvolver e
isto é que faz com que as pessoas gerem valor para a sociedade.
Uma de suas grandes preocupações atualmente é fazer com que sua empresa se
desenvolva cada vez mais sem que precise de sua presença direta no dia-a-dia. Seu
objetivo maior é fazer com que o desenvolvimento desta empresa gere oportunidades
para sua cidade, para o Rio de Janeiro e, consequentemente, para o Brasil.
5.1.4 Luiz Grandel
Grandel é um caso um pouco diferente dos demais. Ele não é um empreendedor
por ter uma grande empresa ou por ter tentado iniciar várias delas. Ele é sua própria
empresa, desenvolve diversas atividades independentes, como Ongs, iniciativas no
governo, órgãos públicos, dentre outros. Mas todas suas iniciativas são ligadas ao
esporte, pois Grandel é esportista, um velejador, um campeão olímpico.
Sua vida esportiva começou ainda quando criança. Foi uma espécie de herança
trazida da família que tem origem Dinamarquesa. Seu pai era brasileiro do interior de
São Paulo, de uma pequena cidade chamada Dois Córregos, e foi precursor do pára-
quedismo no Brasil atuando no serviço público como oficial do exército.
Por parte de mãe toda a família é velejadora. Seus avós trouxeram essa cultura
Vickingpara o Brasil em 1924. Esta cultura foi passada para os filhos e com isso seu
tio entrou profissionalmente na vida esportiva e foi tri campeão mundial nos anos 60,
medalhista de ouro e prata em jogos Pan Americanos, além de ter participado de duas
Olimpíadas.
Grandel diz “isso veio no sangue, né? Veio no coração de querer a paixão de
velejar”. Ele explica que desde pequeno vinha batalhando para velejar, mas o era
fácil, pois a vela era rotulada como esporte de elite.”
O início não foi cil. Grandel não tinha como comprar um barco próprio, era
muito caro. “Eu vivia buscando oportunidades, me desdobrava, sempre como tripulante
do barco de alguém”. Apesar destas enormes dificuldades, ele nunca pensou em
abandonar o esporte e aos 16 anos pela primeira vez Grandel foi campeão brasileiro,
sendo tripulante do barco de seu irmão.
Esta vitória como campeão brasileiro trouxe novas oportunidades e ele resolveu
que era hora de entrar na vela olímpica. Em 1982, aos 20 anos de idade, chegou a sua
primeira Olimpíada. Nela ele ganhou cinco medalhas. No ano seguinte outra disputa
mundial e outro campeonato ganho.
De lá para cá, foram mais de cinqüenta títulos entre mundiais e nacionais.
Porém, como nem sempre a vida é feita de glórias, Grandel no dia 6 de setembro de
1998 sofreu um acidente, quase que fatal, que o deixou impossibilitado de continuar
competindo como antes.
Tudo aconteceu muito rapidamente. Ao se preparar para mais uma disputa, uma
lancha invadiu o espaço da prova e o atropelou, Grandel foi sugado pela hélice da
lancha e sua perna direita foi cortada da coxa para baixo. “Tive duas paradas cardíacas a
caminho da clínica. Fui levado para UTI inconsciente, mas sabia que havia perdido
minha perna direita. Recebi cinco litros de sangue e graças ao meu estado atlético e
minha luta pela vida não morri. Quando os dicos tiraram os aparelhos de respiração
artificial, senti uma enorme força de viver.”.
No entanto, ao contrário do que a maioria das pessoas faria, Grandel não se
deixou abalar e como ele mesmo explicou sua paixão não era simplesmente praticar o
esporte”. Ele sempre foi um apaixonado por esporte em sentido amplo, não somente
pela vela que lhe deu a oportunidade de poder competir. Grandel explica que quando
tive este acidente, talvez por eu estar exposto na mídia, fui convidado para ser um
diretor do Ministério do Esporte e Turismo, depois fui Secretário Nacional de Esporte.
Eu aceitei como uma possibilidade de preencher um fato predestinado à gestão
esportiva. Penso que se não fosse preenchido por mim, por quem tem compromisso
sério com o setor, quem poderia preencher”?
Grandel explana que tinha uma vontade depois de tudo que passou em dar uma
contribuição as pessoas. Ele “não queria que ninguém pensasse ou confundisse isso
com trajetória política ou com candidaturas”. Afinal, “eu nunca pensei nisso, né? eu só
queria dar uma contribuição as pessoas e eu acho que essa contribuição foi dada”.
Atualmente Grandel participa de ONGs, possui projetos sociais, valoriza
iniciativas empreendedoras como o Endeavor, participa do conselho de uma empresa de
energia, profere palestras em todo o país com o objetivo de mostrar toda sua garra e
determinação. Hoje ele está de volta ao cenário esportivo como pára-atleta.
Ao ser questionado sobre o crescimento de sua visibilidade no meio nacional
após este acidente, Grandel afirma que sabe que isto realmente ocorreu, mas que não foi
fácil assimilar. Na verdade sei que obtive mais notoriedade através do infortúnio do
meu acidente, da superação, da luta pela vida do que através das próprias conquistas
esportivas”.
Neste momento, o entrevistador questiona como ele analisa isso e Grandel
responde que “se a gente pára para refletir, vemos que não é que o brasileiro faz
simplesmente culto ao sofrimento alheio, eu acho que o brasileiro é solidário, ele se
identifica. No meu caso, potencializou-se a imagem do atleta com o acidente que tive,
com a volta por cima, com o retorno à vela, com os cargos públicos que eu ocupei, mas
isso tudo eu sei que teve uma dimensão maior do que representava a minha vida
enquanto eu era só atleta.”.
Grandel sabe que isto tudo trouxe para ele uma maior responsabilidade, porque
“você passa a ser referência para muitos e pode ser uma referência positiva ou não.
Então você tem que lutar pra que você possa atender as expectativas que as pessoas
fazem sobre você. Isto de certa forma ajudou e muito na minha recuperação. Eu sei que
as pessoas me vêem como um lutador, um guerreiro, um resiliente, um cidadão que não
se entrega, um homem que volta as suas atividades, que mantém o espírito público, que
foi defensor do seu país, através do esporte”. Um outro exemplo disso o os convites
para palestras. Após o acidente eu já proferi cerca de 200 palestras em todo o país. Isso
mostra a minha própria história”.
5.1.5 Marcel Slim
Slim é Formado pela UFRJ em Matemática, fez Mestrado em Engenharia de
Sistemas na COPPE com ênfase em Computação Gráfica. Slim sempre teve uma paixão
por carros e sempre quis ter empreendimentos ligados a isto. Quando criança sua
vontade era ser dono de postos de gasolina ou trabalhar na indústria automobilística e
conforme ele diz “essa vontade veio por causa de meu pai que era piloto”.
Por isto ele resolveu fazer mestrado em computação gráfica, pois sua intenção
era trabalhar com esta indústria. Porém como aluno do Mestrado, Slim acabou
descobrindo outras áreas que lhe interessaram. Foi contratado como pesquisador.
Slim fala que sua vida sempre foi dividida em ciclos. Quando um acaba, outro
inicia. Assim foi que ao terminar seu Mestrado, achou também que era hora de largar a
pesquisa na UFRJ.
Observa-se pela entrevista que as decisões que Slim toma em sua vida são
sempre determinadas sem que tenha algum outro destino ou oportunidades traçadas.
Quando largou sua pesquisa na UFRJ, havia a possibilidade de fazer o doutorado fora
do país. Este doutorado apareceu como uma oportunidade única. Era um curso onde
estaria se especializando em animação computadorizada. Este convite foi feito pelo seu
orientador de mestrado que desejava que ele se aprofundasse na sua dissertação de
mestrado.
Slim diz que “tinha a possibilidade de esticar e fazer um doutorado lá fora, nos
Estados Unidos e trabalhar também com uma empresinha que estava começando. Meu
orientador tinha bons contatos, fizemos alguns projetos para essa empresa e era sem
dúvida uma possibilidade interessante”. Essa empresa que Slim cita é a Pixar, que na
época nada mais era do que uma pequena empresa, era somente uma possibilidade. Mas
resolvi não ir, pois na época minha namorada, futuramente minha esposa, não queria
morar fora e eu também não estava muito animado. Com isso resolvemos ficar no
Brasil”.
Com esta decisão, Slim começou a enviar currículo para o mercado. Logo foi
chamado para uma entrevista e começou a trabalhar no Centro Cientifico da IBM, que é
uma escie de laboratório onde os estudos são desenvolvidos”. Após um ano ele
percebeu que a IBM não tinha grandes interesses nos centros do Brasil e resolveu que
era hora de mudar e que queria ir para o Core Business da própria IBM.
Ele permaneceu na IBM por seis anos. Um dia olhou para seu chefe, sentiu uma
grande angústia e viu que não queria ser como ele. Pediu demissão, sem ter para onde ir.
A experiência foi de grande valia para Slim tenho coisas boas para falar da IBM,
evidente que os stress nas viradas de noites, as chateações que qualquer emprego tem,
foram momentos difíceis, mas muito legais, aprendi muito”.
Segundo Slim, aquele foi um tempo meio recluso, onde nem ele mesmo sabia
muito bem o que queria fazer de sua vida. Havia acabado de se separar de sua esposa e
tinha um filho pequeno. As pessoas perguntavam para ele o que ele ia fazer e ele
respondia: eu meio Mario de Andrade na Semana de Arte Moderna. Eu não sei o
que eu quero, mas sei o que eu não quero. Resolveu que viajaria por dois meses.
Foram dois meses que não fiz absolutamente nada, só passeava”.
Após este período, voltou para o Brasil e uma oportunidade apareceu. Uma
empresa americana estava abrindo uma filial no Brasil e precisava de um presidente
para operar todo o processo. Esta oportunidade o entusiasmou. Ele tinha apenas 30
anos, e seria o presidente de uma grande organização. que junto com esta
oportunidade quatro amigos da época da IBM resolveram montar uma empresa e o
chamaram. Acabou aceitando a proposta dos amigos.
A empresa vingou. Deu certo. estava com cerca de 50 funcionários quando
precisou ir morar em São Paulo para cuidar de uma filial da empresa e lá ficou seis
anos. Ao longo deste tempo uma nova oportunidade de mercado foi identificada, e ele
juntamente com os sócios resolveram abrir uma nova empresa na área de informática.
Esta nova empresa teria sua matriz em Boston.
Ambas as empresas operavam bem. A de Boston tinha funcionários americanos
que levavam a operação e na brasileira eles cuidavam do cotidiano. Neste momento
alguns desentendimentos entre os sócios começaram a surgir.
O tempo passou e no ano de 2000 houve o “estouro da bolha da internet”. Eles
estavam no epicentro de todos acontecimentos. Segundo Slim de repente deu tudo
errado, foi um estresse miserável, a gente estava no meio daquele filme Mar em Fúria.
Quando vimos tínhamos tomado decisões que nos levaram no encontro de três
tempestades. Nós permanecemos juntos, o barco não afundou, mas as relações
mudaram muito entre os sócios”.
Slim nesta época era o presidente das duas empresas do grupo. Resolveu que
estava na hora de sair desta posição. Num primeiro momento ele voltou a cuidar
somente da empresa brasileira e deixou para um dos seus sócios a função de presidente
da empresa dos EUA.
Quando tomou esta decisão ele já sabia que mais um ciclo começava a se fechar
em sua vida. Aos poucos resolveu deixar por completo a operação da empresa. Vendeu
grande parte de suas cotas e manteve uma posição minoritária como sócio.
Neste instante entrou para a vida acadêmica. Slim, atualmente é professor e
coordena uma área que desenvolve o empreendedorismo. Está para iniciar um novo
projeto na área de marketing esportivo, porém preferiu não dar maiores detalhes sobre o
mesmo.
Quando Slim foi questionado sobre a capacidade de sonhar e ainda empreender,
ele respondeu que a capacidade dele de empreender não acabou, mas ela amadureceu
muito. Sonha muito,mas o entusiasmo selvagem, aquela capacidade de se jogar, de se
atirar, de resistir a tudo e a todos não é mais como era”. Hoje Slim diz que não resiste
mais a qualquer problema. Ele resiste aos problemas que fazem sentido resistir. Se
não faz sentido, a pessoa tem que “pular fora”.
Ao ser indagado sobre sua sorte ele garante que não é um homem de sorte”.
Mas tem uma enorme admiração por quem tem. Ele não reclama da vida, pois ele acha
que tudo que ela faz sempre certo, mas tem consciência que as coisas não são fáceis
para ele. Ele finaliza dizendo que conhece pessoas que são triplo-negativos: o cara
não tem sorte, é ruim e tudo que faz dá errado”.
5.1.6 Julio Lopes
Lopes é nascido em uma cidade pequena no interior do Rio de Janeiro. Sua
família sempre foi muito simples, ficou órfão de pai aos cinco anos de idade. Seu pai foi
assassinado durante um assalto em uma farmácia, enquanto estava comprando um
remédio. Tinha ido comprar remédio para o filho de um vizinho que havia passado mal
e estava internado em um hospital. Com a falta do pai, a vida foi ficando muito difícil
em casa e aos oito anos Lopes começou a vender laranjas na feira. Ele não lamenta por
isso, diz que esta experiência foi boa, pois aprendeu a se virar, aprendeu a trabalhar
como feirante, e teve que ficar muito “esperto” em vendas e contas para ninguém passá-
lo para trás.
Lopes passou muito tempo como feirante. Fazia outros bicos também. Ele
cresceu, estudou, conseguiu cursar uma Faculdade de Administração e se tornou
consultor. Trabalhou durante vários anos como consultor em uma empresa de Recursos
Humanos até que com 23 anos resolveu que era hora de iniciar sua própria empresa,
tendo uma equipe e desenvolvendo sua própria metodologia e assim criou a empresa
que possui hoje. Atualmente a empresa de Julio é uma das lideres do mercado, e realiza
toda a parte de recursos humanos, desde a seleção de pessoas até o desenho das vagas
de uma empresa. Sua empresa atualmente faz consultoria para grandes corporações em
todo o país.
Sua empresa existe há 21 anos. Ele diz que só criou esta empresa porque sempre
quis fazer algo que realmente gostasse. Sua empresa é fruto de um sonho construído ao
longo do tempo e que não pára de evoluir. É reconhecida pelos métodos que aplica. Ele
desenhao perfil de cada profissional através de uma metodologia inovadora, pioneira
no Brasil.
Segundo Lopes sua “empresa acaba de entrar numa fase adulta, onde conseguiu
desenvolver produtos e serviços que dão escala e fazem a empresa de fato crescer”.
Quando questionado, Lopes não consegue ver distinção entre ele enquanto
pessoa e enquanto profissional. Para ele ambos estão interligados. Assim como outros
entrevistados ele também quer “libertara empresa de sua imagem e de si próprio. Mas
ressalta que tem que fazer isso para poder fazer com que o capital trabalhe para ele e
não ele trabalhe mais para o capital.” Lopes ressalta que não se considera um
workholic (viciado em trabalho) mas sim um worklover (apaixonado pelo trabalho).
Quando foi indagado sobre suas maiores dificuldades, Lopes lembra de seu
principal parceiro/fornecedor que resolveu “disputar forças” com sua empresa e passou
a acreditar que tinha mais poder de mercado do que ele. s tínhamos um parceiro e
esse parceiro achava que era melhor do que a gente. Era como se ele fornecedor, fosse
melhor do que nós que éramos clientes. O resultado disto é que ele perdeu seu principal
cliente, seu principal parceiro e de quebra ainda ganhou o principal concorrente".
Para solucionar o problema da falta deste fornecedor Lopes acabou
desenvolvendo seu próprio sistema e acabou entrando num novo mercado, o que foi
bem visto pelos seus clientes e pelo mercado como um todo.
5.2 Descrição e Análise dos Resultados
Os entrevistados neste estudo foram selecionados para a representação de
empreendedores que atuaram em diferentes segmentos. A partir da análise das
entrevistas, algumas constatações foram realizadas com relação às características dos
entrevistados e as dimensões da resiliência: flexibilidade, foco, organização,
positividade e pró-ação.
A partir daqui os resultados são analisados separadamente para cada dimensão
da resiliência indicada por Conner (1995). Nessas seções, os quadros destacam
categorias relacionados a cada uma das dimensões, indicando na primeira coluna a
proporção de histórias nas quais as categorias foram observadas, e na seqüência em que
casos especificamente. Finalmente, os quadros são comentados e ilustrados com
extratos das entrevistas.
5.2.1 Positividade
Categorias
Observadas
Eloísa
Pimentel
Walter
Pontual
Renato
Duron
Luis
Grandel
Marcel
Slim
Júlio
Lopes
1.1
Crença em si mesmo
como pessoa de sorte
Sim Sim Sim Não Não Sim
1.2
Empreendedorismo
como meio da
realização pessoal
Sim Não Sim N/A* N/A* Sim
1.3
Aprendizagem
através do fracasso
Sim Sim Sim Não Sim Sim
1.4
Persistência Sim Sim Sim Sim Sim Sim
1
POSITIVIDADE
100% 75% 100% 33% 67% 100%
N/A* - Informação Não Aplicável por não ter sido respondida ou por não se adequar ao
entrevistado
Tabela 2 – Respostas sobre Positividade
POSITIVIDADE
100%
75%
100%
33%
67%
100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Elsa Pimentel Walter Pontual Renat Duron Luis Grandel Marcel Slim Júlio Lopes
Ao analisar o atributo positividade, Conner destaca que pessoas positivas vêem a
vida como um grande desafio, mas cheio de oportunidades. No caso de Eloísa Pimentel,
Renato Duron e Julio Lopes eles acreditam serem pessoas de sorte, sabem que o
empreendedorismo é que os fazem ser indivíduos plenamente realizados, compreendem
que seus fracassos valorizam suas aprendizagens e a persistência de cada um perante a
vida é algo que os estimula sempre.
Estes dados ficam muito claros quando Pimentel em sua entrevista nos fala “Se
me fosse dado a chance de nascer de novo eu nasceria na mesma família, do mesmo
jeito, sem mudar absolutamente nada. Eu acho que sou uma pessoa abençoada. Tenho
muita sorte, Deus me deu sorte. E também me deu entusiasmo muito grande pela vida.
Nada pra mim é um obstáculo, tudo é um novo desafio. Acho que sou meio doida, o que
pra todo mundo é algo desanimador, pra mim é como se fosse um choque, que me
ânimo. Sabe, essa motivação contínua, esse não cansar, essa força contínua, isso herdei
dos meus pais”.
Duron declara “fracassar é saber lidar com o risco. Porque quem sabe lidar com
o risco o abaixa a cabeça quando dá errado, o joga tudo pro alto quando dá errado.
Isso é parte do processo de aprendizado nos negócios e na vida”. Por sua vez, Julio
Lopes nos diz que “o que a gente deve fazer na vida e na atividade empresarial é sempre
buscar um Sim”. Então a gente busca o “Sim” todos os dias, seja na venda de um
produto, seja num convencimento de uma tecnologia, seja na busca de um parceiro.
Então eu acho que eu vejo o “Sim” como a resposta natural que as pessoas sempre terão
que me dar.”
Walter Pontual difere dos demais, ele não enxerga o empreendedorismo como
meio de realização pessoal e também não a interligação de satisfação pessoal com a
profissional. Mas acredita que ambos podem acontecer em conjunta ou mesmo
separadamente. Para ele vida pessoal e profissional são vidas independentes. Ele afirma
isto quando declara “... leio muito sobre isso. Você pega a Exame, você lê livros, assiste
palestras de executivos e todos falam” se o cara não tiver sucesso pessoal ele não
consegue sucesso profissional “. Eu não acredito nisso! Às vezes o cara está
profundamente infeliz na vida pessoal (e eu conheço muita gente com problemas
pessoais enormes) que conseguem se superar incrivelmente no trabalho!”. Mas conclui
que sua vida profissional é um sucesso.
Com base nestas observações, os atributos da positividade parecem estar
presentes nas histórias da maioria dos entrevistados, pois praticamente todos
interpretam suas vidas como dinâmicas, esperam que o futuro se apresente com
constantes modificações, sabem que tudo que é desconhecido medo, mas enfrentam
as situações, acreditam que existam oportunidades que podem ser descortinadas nestas
inovações, confiam que sempre lições a serem apreendidas com os desafios e
adversidades vividas, tem uma intensa alegria de viver, pois para eles a vida é
recompensadora. Somente um dos entrevistados sente maior dificuldade em superar os
desafios que a própria vida lhe impôs, mas ainda assim caminha no sentido desta
superação.
5.2.2 Foco
Categorias
Observadas
Eloísa
Pimentel
Walter
Pontual
Renato
Duron
Luis
Grandel
Marcel
Slim
Júlio
Lopes
2.1
Alto Grau de
Envolvimento com o
trabalho
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
2.2
Sacrifício da vida
pessoal pelo
trabalho
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
2.3
Intenso
comprometimento
com o trabalho
Sim Sim Sim N/A* Não Sim
2.4
Planejamento do
futuro
Sim Sim Sim N/A* N/A* Sim
2
FOCO
100% 100% 100% 100% 67% 100%
N/A* - Informação Não Aplicável por não ter sido respondida ou por não se adequar ao
entrevistado
Tabela 3 – Respostas sobre Foco
FOCO
100%
67%
100%
100%
100%
100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Eloísa Pimentel Walter Pontual Renato Duron Luis Grandel Marcel Slim Júlio Lopes
Quando analisa este atributo, Conner (1995) afirma que indivíduos com foco são
pessoas que sabem o que realmente querem atingir. Mesmo quando têm quebras de suas
expectativas, restabelecem o curso de seus propósitos.
No caso de Eloísa Pimentel, Walter Pontual, Renato Duran e Julio Lopes, todas
as histórias de vida indicar que justamente por saberem o que querem alcançar, eles têm
um alto grau de envolvimento com o trabalho, sacrificam sua vida por ele, têm um
intenso comprometimento com aquilo que desenvolvem e continuam a planejar o
futuro. Nas entrevistas, Pontual, chega a dizer e eu fiquei sempre procurando alguma
coisa que tivesse mais escala. O meu sonho desde pequeno sempre foi ter um negócio
grande. Algo que tivesse como eu ganhar escala. Até agora esta minha empresa foi o
que eu mais consegui, mas se eu achar algo que consiga ainda mais, posso até tentar
começar de novo. Nunca sonhei em ser dono de empresa de energia, mas este foi o
negócio que se encaixou no que eu sempre sonhei. Sou totalmente envolvido com isto”.
Slim afirma sobre seu comprometimento com o trabalho: “quando você vai
fazer algo e sabe que é doloroso, mas sabe que tem uma saída, sabe que tem uma luz no
fim do túnel, acaba que vontade de perseguir este túnel de qualquer forma. Mas
quanto mais opções você tem de saídas, mais difícil você ser resiliente. Não dizendo
que não dá, mas fica bem mais difícil. Quando você não tem muitas opções, fica muito
mais fácil construir a tua estrada. Porque você sabe que ali é o único caminho que tem”
Apesar deste depoimento, o entrevistado parece ter foco extremamente apurado, pois
consegue ver as diversas saídas e ainda conclui que, a dificuldade é a porta do maior
sucesso.
Devido a história de vida diferenciada que teve, Grandel preferiu não responder
as perguntas referentes ao seu comprometimento com as atividades desenvolvidas. Pelo
fato dele ter hoje diversas outras atividades que o são ligadas diretamente ao seu
“negócio principal” que é ser um atleta, ele não falou muito sobre o planejamento do
futuro.
5.2.3 Flexibilidade
Categorias Observadas
Eloísa
Pimentel
Walter
Pontua
l
Renat
o
Duron
Luis
Grande
l
Marcel
Slim
Júlio
Lopes
3.1
Disponibilidade para voltar
ao papel de "executivo"
Não Não Não Sim Sim Não
3.2
Experiência inicial como
colaborador em negócio não
próprio
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
3.3
Abertura para começar de
novo
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
3.4
Disponibilidade para mudar
diante de obstáculos
Sim Sim Sim Sim Não Sim
3
FLEXIBILIDADE
75% 75% 75% 100% 75% 75%
Tabela 4 – Respostas sobre Flexibilidade
FLEXIBILIDADE
75%
75%
100%
75%
75%
75%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Eloísa Pimentel Walter Pontual Renato Duron Luis Grandel Marcel Slim Júlio Lopes
No que tange ao atributo da flexibilidade, a teoria de Conner (1995) indica que a
maior característica das pessoas flexíveis é que elas são complacentes ao responderem
às dúvidas apresentadas no decorrer da vida. Todos os entrevistados, com exceção de
Grandel e Slim, afirmam que não tem mais disponibilidade para voltarem a ser
executivos de empresas. Slim diz que não tem mais disponibilidade para mudar de
posição diante de novos obstáculos. Isto fica muito claro quando ele relaciona sua visão
entre o empreendedorismo e idade o tempo, vai passando e, sobretudo se você nunca
passou sempre a primeira vez. Talvez por isso alguns comecem aos 60 anos. Eles
começam aos 60 porque nunca começaram aos 30 anos e ainda não experimentaram
esta emoção. Mas na medida em que você passou por essa fase, voltar a passar por
ela é muito desagradável. Fazendo uma comparação meio de mau gosto é tipo um jogo
de vídeo game! Você está na fase oito, você perde a sua última fase e tem que
voltar pra fase um! Você sabe fazer a fase um? Claro! Você está na fase oito, um dia
você passou pela fase um, pela dois, pela três. pra passar? Dá! Isso não quer dizer
que é gostoso. Eu não sei se ainda tenho paciência pra tudo de novo! comecei tudo
umas três ou quatro vezes. Se você me perguntar assim: Então você não é mais
resiliente? Eu vou te responder, sou! Mas com seletividade. Tem resiliências que eu
quero ter, têm outras que eu não quero ter mais não na minha vida”.
Os outros empresários acreditam que toda mudança é um processo que pode ser
administrado, todos dizem que conseguiram adquirir uma grande condescendência nos
momentos de crises, sabem que necessitam de um pequeno tempo para se adaptarem às
novas situações, reconhecem seus pontos positivos e negativos, bem como suas forças e
fraquezas diante dos limites impostos pelas situações vivenciadas, contam com o apoio
de amigos nas horas estressantes e demonstram muita paciência, compreensão e
principalmente humor ao lidar com os obstáculos. Exemplos claros disto, podem ser
vistos quando Pimentel, Pontual Duron, Grendel e Julio Lopes afirmam que a adaptação
é sempre necessária para a sobrevivência e todos já tiveram que se reinventar para
sobreviverem no mundo empresarial.
5.2.4 Organização
Categorias
Observadas
Eloísa
Pimentel
Walter
Pontual
Renato
Duron
Luis
Grandel
Marcel
Slim
Júlio
Lopes
4.1
Histórico familiar em
superação de
obstáculos
Não Sim Não Não Sim Sim
4.2
Base financeira
inicial
Sim Não Sim Sim Sim Não
4.3
Ordem/ Rigor/
Estrutura
Sim Sim Sim Sim Não Sim
4.4
Captação
sistemática de
informações
Sim Sim Sim Sim Sim Sim
4
ORGANIZAÇÃO
75% 75% 75% 75% 75% 75%
Tabela 5 – Respostas sobre Organização
ORGANIZAÇÃO
75% 75% 75% 75% 75% 75%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Eloísa
Pimentel
Walter
Pontual
Renato
Duron
Luis
Grandel
Marcel Slim Júlio Lopes
Sobre a característica da organização, metade dos entrevistados tiveram uma
sustentação e uma base financeira inicial e possuem um senso de ordem e estruturação
nas situações apresentadas. Todos deram a entender que às vezes você pode até ter
vários projetos de mudança que são interdependentes entre si, mas que no fundo escoam
para um único tema quando é necessário. Suas histórias falam da importância no
redirecionamento de prioridades durante as adversidades, no gerenciamento de várias
tarefas simultâneas com obtenção de êxito em todas elas, na segmentação do estresse
para que este não venha a interferir em outros aspectos da vida e finalmente na
solicitação de pedir ajuda e auxílio quando reconhecem tal necessidade.
Pontual explica que um assunto que tem que ser discutido, pois pessoas
que foram muito pobres quando criança e que acabam exagerando dizendo até que
“mendigaram”. Para ele, uma cultura que tem que ser discutida na vida empresarial,
pois quem ache que para o cara ter valor hoje em dia, ele tem que ter saído do
nada. Isso não existe. O cara pode ter vindo de uma família bem sucedida e estar
fazendo ou ter feito uma grande empresa. Ninguém tem mais ou menos valor por causa
disso. No meu caso, hoje nos somos grandes, mas isso não quer dizer que não tenha
que ter organização, pois a qualquer hora podemos perder tudo. Tem que ter cuidado
para que o negócio se mantenha. As coisas estão mudando muito rápido, os diferenciais
das empresas estão sendo copiados, a gente tem que estar reinventando toda hora o
negócio, senão ele pode acabar porque a concorrência é tremenda. Isto gera estresse e
eu não posso permitir que isto interfira no meu sonho. Eu tenho um sonho, mas este
sonho está sempre aumentando de tamanho, está sempre crescendo. Aqui a gente
costuma dizer que está mirando nas estrelas pra chegar no céu”.Este exemplo
demonstra uma das categorias observadas na organização sobre a importância da
captação sistemática da informação para supervisionar os empreendimentos.
5.2.5 Pró-Ação
Categorias
Observadas
fEloísa
Pimentel
Walter
Pontual
Renato
Duron
Luis
Grandel
Marcel
Salim
Júlio
Lopes
5.1
Toma a iniciativa Sim Sim Sim Sim Sim Sim
5.2
Traços de
empreendedorismo
Pré-Profissional
Sim Sim Sim Sim Não Não
5.3
Empreendedorismo
em série
Sim Sim Sim Não Não Não
5.4
Abertura para novas
experiências
Sim Sim Sim Não Sim Sim
5
PRÓ-AÇÃO
100% 100% 100% 50% 50% 50%
Tabela 5– Respostas sobre Pró- Ação
PRÓ-AÇÃO
50%
50%
50%
100%
100%
100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Eloísa Pimentel Walter Pontual Renato Duron Luis Grandel Marcel Salim Júlio Lopes
Conner (1995) define a característica pró-ação como a tendência a sempre
induzir mudanças, ao invés de evitá-las. A título de ilustração, pode-se destacar o que
Pimentel, Pontual ou Duron falaram sobre esta temática, e sobre os negócios que já
faziam quando crianças ou adolescentes. Pontual conta, Desde criança sempre
trabalhei, sempre gostei de fazer bicos, mesmo durante a faculdade quando vim morar
em São Paulo gostava de fazer bicos, sempre quis criar algo e esse era meu jeito.
Desde pequeno quando queria comprar algo, eu dava um jeito, ou ia vender picolé na
rua, ou entregar gás nas casas da cidade”.Duron foi um dos precursores da empresa Jr.
da PUC Rio me envolvi com os alunos de períodos mais avançados num processo de
fundação da empresa, eu ainda estava no terceiro período. A gente queria mostrar pra
universidade que isso era legal; que dava para prospectar alunos pra trabalhar na
empresa júnior; prospectar clientes através dos próprios alunos. Isso durou uns bons
dois anos. E foi ali que eu aprendi bastante empreendedorismo, sobre as suas
dificuldades, seus desafios, suas conquistas e principalmente sobre tomar a iniciativa.
Hoje vejo a empresa júnior como uma grande realização porque todo o esforço que a
gente aplicou ali foi um esforço pra que ela se perdurasse e isso aconteceu. A gente ia
de sala em sala pra tentar conseguir gente pra trabalhar e hoje quando tem processo
seletivo tem sempre uns sessenta alunos querendo participar do processo”.
Todos os entrevistados utilizam vários recursos e por isso acabam sendo pró-
ativos. Eles criam situações novas para obter vantagens competitivas e como afirma
Conner (1995), reconhecem que precisam saber quando uma mudança é inevitável,
necessária ou vantajosa. Além disso eles se arriscam, apesar de saber que podem
deparar-se com conseqüências negativas. Este ponto fica nítido no caso de Lopes,
quando ele diz que precisei ficar independente de meu principal e único fornecedor. E
assim criei meu próprio produto”. Pimentel explicou que quando tinha cerca de vinte
anos queria começar algo, mas não sabia o quê. Foi então procurar uma amiga. Virou-se
para ela e disse: Vamos montar um negócio nosso?”. E nos conta que no Bairro da
Savassi em Belo Horizonte havia uma loja muito grande chamada TOULON que hoje é
muito conhecida. Ele sabia que a amiga queria abrir uma loja deste tipo de jeans. Ela diz
que olhava aquela loja e pensava: Como é que s vamos enfrentar uma loja como
esta?”
Eloísa disse para esta amiga que antes de tudo deviam ir para São Paulo, ir ao
shopping Iguatemi, ver o que tinha e que não tinha em Belo Horizonte. Foram para
São Paulo e no primeiro dia, por volta das cinco horas das tarde, ela falou para a
amiga que tudo que havia em São Paulo, já tinha também em Belo Horizonte. Ela
percebeu que a única diferença é que em São Paulo havia mais luxo e riqueza. E assim
teve a ideia de montar uma loja de algo que ela chamava de água de cheiro. Como a
amiga foi nascida e criada em Belo Horizonte, ela nunca havia ouvido falar sobre o que
era uma água de cheiro”. Pimentel explicou que desde criança ouvia sua avó contando
que as escravas lavavam a roupa das sinhazinhas com “água de cheiro”. Só que a amiga
continuava sem saber o que era isso. Ela então disse para sua amiga que sua avó lhe
explicava que no último enxágüe, as escravas apertavam uma folha de laranjeira na
roupa, enxaguavam e colocavam para secar. Isto era a tal água de cheiro”.
Vê-se por estas histórias que os empreendedores analisados parecem tirar
importantes lições das experiências vivenciadas, e tendem a aplicá-las a outras situações
vividas. O que chama a atenção em todos os relatos é que esses indivíduos parecem ter
em destaque a capacidade de estar sempre influenciando outras pessoas ao longo de sua
vida.
Característica
Eloísa
Pimentel
Walter
Pontual
Renato
Duron
Luis
Grandel
Marcel
Salim
Júlio
Lopes
Positividade 100% 75% 100% 33% 67% 100%
Foco
100% 100% 100% 100% 67% 100%
Flexibilidade 75% 75% 75% 100% 75% 75%
Organização 75% 75% 75% 75% 75% 75%
Pró-Ação 100% 100% 100% 50% 50% 50%
90% 85% 90% 71% 67% 80%
Tabela 6 - Tabela Resumo de Respostas
Resumo
90%
85%
90%
71%
67%
80%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Eloísa Pimentel Walter Pontual Renato Duron Luis Grandel Marcel Salim Júlio Lopes
Por este quadro percebe-se a relação entre o perfil dos seis empreendedores
entrevistados e as cinco características da resiliência segundo Conner. Observa-se que
pelas histórias de seus empreendimentos a agilidade e principalmente o entusiasmo das
pessoas resilientes são marcas indeléveis de cada um deles. A característica mais
importante é que praticamente todos eles permaneceram relativamente calmos em
ambientes e situações imprevisíveis e saíram destas muito mais fortificados. Ainda que
sejam empreendedores resilientes, podem ter sentido medo e receio em algumas
situações vividas, mas continuam estáveis emocionalmente e fisicamente, além de
manterem a produtividade, foco, organização e seus padrões de qualidade em seus
investimentos e na sua vida.
6 CONCLUSÃO
Considerando-se que na contemporaneidade as situações manifestam-se com
intensa velocidade, tem-se que fronteiras e obstáculos são desafios que devam ser
ultrapassados rapidamente e ser empreendedor seja “quase que uma regra”. Apesar de
não haver uma definição unânime entre os estudiosos do assunto sobre este termo, é
possível detectar alguns princípios e valores básicos que norteiam as características e
motivações dos empreendedores bem sucedidos.
Muito mais do que ser empreendedor que possui visão de futuro, sabe-se que o
empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade, consegue criar um negócio e
assume certos riscos. Mas de todas as características que marcam realmente a
personalidade de um empreendedor aquela que o distingue definitivamente: a paixão
pelo que faz. A paixão que consegue ultrapassar seus próprios limites e contamina seus
colaboradores, que percebem que a empresa em que trabalham tem a imagem de seu
criador. Dolabela em seu artigo “Porque você deve ser um empreendedor” (2004) diz
que a empresa tem a cara do dono, pois ela é uma extensão do ego de seu criador.
Evidentemente que se o empreendedor é aquele que cria algo novo, que
transforma o ambiente onde atua e está inserido, que sabe onde está e onde quer chegar,
que por viver motivado acaba sempre inovando e por isso mesmo é sujeito de sua
própria história, sabe que poderá encontrar em seu caminho muitas desventuras.
Drucker (1986) afirma que o verdadeiro empreendedor é aquele que compreende que a
essência de toda decisão é a incerteza. Todo empreendedor sabe que pode correr o risco
de se deparar com grandes obstáculos e adversidades em sua trajetória.
A resiliência é justamente a capacidade que o indivíduo tem de se adaptar às
mudanças sem perder sua base ao atravessar estas adversidades. O empreendedor que
possui resiliência consegue se recuperar e sair mais fortalecido a cada desafio
enfrentado.
Todo o conceito de resiliência, seu desenvolvimento histórico e as definições
que a envolvem possibilitam compreender que a resiliência é um processo e como tal
deve se apreendida para que ela não se limite somente a ser uma resposta aos obstáculos
que a vida apresenta. Seu objetivo maior é o benefício extraído das experiências
vivificada.
Com base na análise de dados e informações obtidas na pesquisa que norteou
este trabalho, retoma-se agora a questão principal: como identificar a relação entre a
resiliência e o empreendedorismo e como compreender de que maneira a resiliência
pode ajudar a explicar a excelência no processo de empreender, a partir das cinco
características da resiliência segundo Conner.
Por este estudo percebeu-se que as cinco características da resiliência, segundo
Conner (1995), apresentaram-se de forma geral no perfil dos seis entrevistados, sendo
que quase todos orientaram-se pela oportunidade, uma vez que colocaram a mudança
como uma vantagem que devesse ser explorada ao contrário de um problema que
precisasse ser evitado. Por outro lado, eles possuem uma visão muito otimista da vida,
mesmo quando por alguma razão o inesperado e o inexplicável acontecem em certas
situações. Quase todos conseguem se reorientar revendo seus objetivos e ideais e
quando aparece algum problema, eles se posicionam diante dele com tamanha
determinação que acabam enxergando-o como um novo ciclo que está se iniciando em
suas vidas. A partir disto assumem a postura de que novas oportunidades estão por
aparecer e novos desafios estão por surgir.
Ao observar de que forma a teoria apreendida com este estudo impacta na
prática, fica nítido perceber que todo empreendedor só pode realmente ser considerado
resiliente após ter passado por uma crise ou obstáculo e ter se adaptado à nova situação
positivamente. Se isso não ocorrer, não como se afirmar que estes indivíduos são
resilientes, pois se a resiliência é um processo, ela deve permitir que haja uma adaptação
e uma superação desta adversidade.
Algumas limitações deste trabalho ocorreram e precisam aqui ser descritas para
que se compreenda sua contextualização. Pelo fato de não terem sido encontrados
livros, periódicos, anais e trabalhos científicos que tratassem da resiliência no mundo
empresarial, cabe um estudo mais aprofundado sobre o comportamento humano nestes
ambientes. É necessário perceber que o enfoque da resiliência representa uma
verdadeira mudança de paradigma, uma vez que inclui a capacidade do indivíduo
enfrentar as adversidades, estimular suas potencialidades e manter sua integridade em
momentos cruciais e críticos de sua vida.
Seria importante que os próximos trabalhos sobre este tema estudassem a
resiliência de uma forma mais integrada, com subsídios de outras ciências,
principalmente da Psicologia, para que se pudesse ter uma compreensão de que a
resiliência não é um estado definitivo. Como diz Vasconcelos, no artigo Resiliência,
“não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal”. Conforme
Tavares (2002) a “resiliência não deve ser apenas um atributo individual, mas deve estar
presente nas instituições/organizações, gerando uma sociedade mais resiliente”. Para
Tavares (idem) uma organização resiliente é uma organização inteligente, reflexiva,
onde todas as pessoas são livres, responsáveis, competentes e funcionam numa relação
de confiança, empatia, solidariedade.
Para que este pesquisa tenha uma continuidade, é ideal que os próximos estudos
se aprofundem em uma amostra maior, utilizando-se também aspectos quantitativos a
fim de se analisar uma maneira possível de medição do processo da resiliência, e,
assim, obter estudos cada vez mais densos sobre o binômio
resiliência/empreendedorismo.
APÊNDICE A: PROTOCOLO DE ENTREVISTA
Nome: _____________________________________________________
1. Qual sua idade?
2. Qual seu nível de escolaridade?
3. Fale um pouco de sua história de vida
4. Quantos anos o Sr (a) tinha quando iniciou seu primeiro negócio?
5. Quais são os fatos mais marcantes de sua vida empresarial?
6. Dentre os fatos acima relatados, algum ou alguns foram resultados
de um sonho?
7. Ainda tem sonhos?
8. Dentre os incidentes críticos, quais os que mais lhe marcaram?
9. Quais as lições positivas que tirou destes incidentes?
10. O que é o sucesso?
11. A que se deve seu sucesso?
12. Na sua história de vida, o Sr.(a) tem ou teve algum mentor em
quem se espelhou?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACKER, Joel . A Questão dos paradigmas. ChartHouse. 1987
BARROS, S. A. de. A resiliência da cultura. Disponível em:
http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=barros-amoedo-Resiliencia-Cultura.html,
1997.
BARON, Robert A. Empreendedorismo: uma visão do processo. Trad. All Tasks.SP:
Thomson Leraning, 2007.
BECKER, H.S. e Blanche, GEER. Participant and Interviewing: A Comparision. In:
G. Mc Call e J.H. Simmons (ed.). Issues in participant Observation, a Tex and Reader,
Massachussets, Addison-Wesley Publishing Company, 1969, p. 322-331.
BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de empreendedorismo e gestão: Fundamentos,
estratégias e dinâmicas. São Paulo: Atlas, 2003. 314 p.
BERNHOEFT, R. Como se tornar empreendedor (em qualquer idade). São Paulo:
Nobel, 1996.
BIANCHI, E.M & IKEDA, A. Analisando a grounded theory em administração.
USP.
BOCK, Ana. M.B et all. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São
Paulo. Saraiva, 1999.
BROCKHAUS, R. H. Sr. (1982), The Psychology of the Entrepreneurs. In: Kent et
al. (Eds.) (1982), Encyclopedia of Entrepreneurship, Englewoods Cliffs, N. J.: Prentice
Hall, p. 39-57.
CASTRO, J. Maurício de. Os Novos Desafios do Sucesso. Editora Atalaia, 1998.
___________________. Como Planejar seu Sucesso Pessoal. Cuiabá, Atalaia, 2005.
CHIAVENATO, Idalberto . Introdução à Teoria Geral da Administração. Editora
Campus Ltda, RJ, 2ª ed. 2000.
CHINELATO, João Filho. As Sete Ferramentas do Administrador. Tipogresso
Editora, Brasilia, DF, 1997
CONNER, Daryl R. Gerenciando na Velocidade da Mudança. RJ, Infobook, 1995.
Trad.
Andréa Alves.
COWAN, P.A; COWAN,P.C & SCHULTZ, M.S (1996). Thinking about risk and
resilience in families. In: HETHERINGTON, E. M (org). Stress, coping and resilieny
in children and families. Nova Jersey, Lawrence Erlbaum Associatrs, pp.1-38.
DAVIDOFF, Linda. L. Introdução à Psicologia. São Paulo, Makron Books, 2001.
Trad. Lenke Perez.
DEGEN, Ronald Jean; MELO, Alvaro Augusto Araújo. O empreendedor:
fundamentos da iniciativa empresarial. 8. ed São Paulo: Makron Books, 1989. 368 p.
DERTOUZOUS, M. Four Pillars of Innovation. MIT’S Magazine of Innovation
Technology. 1999. In: DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo:
transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro, Campos, 2001.
DILTS, Roberto B. Indução do Sonhador. In: Strategies of Genius. Vol III. Trad:
Virgílio Vasconcelos Vilela. 2004.
DOLABELA, Fernando. O Segredo de Luísa. São Paulo, Cultura Editores Associados,
1999.
____________________. Oficina do empreendedor. São Paulo, Ed. De cultura, 1999.
_____________________. A Vez do Sonho. São Paulo, Cultura Editores Associados,
2000.
_____________________. Por que você deve ser um empreendedor. Disponível em:
http://www.companyweb.com.br/lista_artigos.cfm?id_artigo=46. 2004.
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em
negócios. Rio de Janeiro, Campos, 2001.
_______________________. Empreendedorismo Corporativo: como ser
empreendedor, inovar e se diferenciar em organizações estabelecidas. Rio de
Janeiro, Elsevier, 2003.
DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e Espírito Inovador: prática e princípios.
São Paulo, Pioneira Thomson, 2003.
FILION. L. J. Empreendedorismo e Gerenciamento: Processos distintos rém
complementares. Workshop do Softsart, 1999. In: Dolabela .F. Empresa Emergente de
base tecnológica. IX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de
Empresas. Porto Alegre, 1999.
FIORELLI. José Osmir. Psicologia para administradores: integrando teoria e
prática. SP, Atlas, 2001.
FREUD , Sigmund. A Interpretação de Sonhos. São Paulo, Imago, 2000.
GOULDING, Christina. Grounded Theory: A magical formula or a potential
nightmare. The Marketing Review, v. 2, n.1, 2001.
GRESSLER, Alice Lori. Pesquisa Educacional: importância, modelos, validade,
variáveis, hipóteses, amostragem, instrumentos.o Paulo, Edições Loyola, 1989.
GROTBERG, E. A guide to promoting resilience in children: strengthening the
human spirit. Practice and Reflections, 1995.
HAGUETTE, T.M. Frota. Metodologias Qualitativas na Sociologia. Ed. Vozes.
Petrópolis, 1997.
HAMPTON, D.R. O Trabalho do Administrador. In: Administração Contemporânea.
São Paulo, Makron Books, 1991.
HINKLE, T.H. Stress and disease: the concept after 50 years. Social Science and
Medicie, 25.pp.561-6.
HUTCHINSON, Sally. Education and grounded theory. In: SHERMAN, Robert R.;
WEBB, Rodman D. Qualitative research in education: focus and method. Londres:
Falmer Press, 1988.
KAPLAN, H. (1999). Toward an understanding of resilience: A critical review of
definitions and models, en Glantz,M; Johnson,J. Resilience and development: New
Yok, Plenum Publishers, p.17-84.
KIRZNER,L.M. Competition and entrepreneurship. Chicago, Chicago University,
1973.
KOTTER, J.P. What effective general managers really do. Harvard Business Review.
1982.
LAZARUS & FOLKMAN, S. Stress, appraisal and coping. Nova York, Springer,
1984.
LEVACOV,Marília. Teoria Fundamental (nos ou em dados). Disponível em
http://www.levacov.eng.br/marilia/grounded_theory.html
LUTHAR, S.S. Vulnerability and resilience: a study of high-risk adolescents. Child
Development, 1993.
LONGENECKER, J.C; Moore, C.W. e Petty, J.W. Administração de Pequenas
Empresas – ênfase na gerência empresarial. São Paulo: Makron Books, 1997.
MACCLELLAND, David. C. Business drive and national achievement. Harvard
Business, 1961. In: DEGEN, Ronald Jean. O Empreendedor Fundamentos da Iniciativa
Empresarial. São Paulo, McGraw- Hill,1989.
MAGRETTA, Joan. O que é Gerenciar e Administrar. RJ, Elsevier. 2003.
MELILLO, A (org.). Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas. Porto Alegre.
Artmed, 2005. Trad. Valério Campos.
MOELLER, E. Jaques. A Resiliência no Perfil do Empreendedor Catarinense, a
Partir da Aplicação das Cinco Características Identificadas por Daryl R. Conner.
Dissertação de Mestrado. UFSC, 2002.
MOURA, Moacir. Gestor dos Sonhos, disponível em:
http://www.ogerente.com.br/novo/colunas_ler.php?canal=8&canallocal=29&canalsub2
=95&id=393 , 2003.
PEREIRA, A.M.S. Resiliência e estratégias no Encontro do Terceiro Milênio. In:
TAVARES, J (ed). Investigar e Formar em Educação. IV Congresso da Sociedade
Portuguesa de Ciência da Educação. Vol. I, Aveiro, 2001.
PINHEIRO, N.P. Débora . A Resiliência em Discussão. In: Psicologia em Estudo,
Maringá, v. 9, n. 1, p. 67-75, 2004
ROBBINS, Sthepen Paul. Comportamento Organizacional. São Paulo. Prentice Hall,
2002. Trad. Reynaldo Marcondes.
RODRIGUES, Aroldo. Psicologia Social. Evelin Maria L. Assmar, Bernardo Jablonski.
Petrópolis, RJ, Vozes, 1999.
RUDIO, Franz Vitor. Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. Petrópolis, 1983.
RUEGG, F. Valorizar as potencialidades da criança. A Resiliência, conceitos e
perspectivas. Cadernos de Educação de Infância. 1997.
RUTTER, M. Resilience in the face of adversity: Protective factors and resistence
to psychiatric disorder. British Journal of Psychiatry, 1985.
SELYE, H. Stress witout distress. New York. McGraw Hill, 1979.
SOTO, Eduardo. Comportamento Organizacional: O Impacto das Emoções. São
Paulo, Pioneira, 2002. Trad. Jean Pierre Marras.
SOUKI, Omar. Gênio & Gestão: descubra as 7 chaves do sucesso de Bill Gates,
Walt Disney e Ted Turner. Belo Horizonte, UMA Editoria, 1998.
SHUMPETER, J. The teory of economic development. Harvard Timmons, J.A. New
Venture Creation. Boston, McGraw Hill, 1994. In: Dornelas, José Carlos Assis.
Empreendedorismo Corporativo : como ser empreendedor, inovar e se diferenciar
em organizações estabelecidas. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003.
SZYMANSKI, H., Yunes.M.A.Maria apud TAVARES, J. Resiliência: Noção,
Conceitos Afins e Considerações Críticas. In: Resiliência e Educação. 2001.
TAVARES, José (org). Resiliência e Educação. SP, Ed. Cortez, 2002.
TIMMONS, J.A. New Venture Creation. Boston: Mc Graw-Hill, 1994
VASCONCELOS, F Maria Sandra. Resiliência. Disponível em
http://www.reacao.com.br/programa_sbpc57ra/sbpccontrole/textos/sandravasconcelos-
resiliencia.htm
ZIMERMAN, M.A & ARUNKUMAR, R (1994). Resiliency research: implications
for scholls and policy. Social Policy Report: Society for Research in Child
Development, VIII.4, pp.1-18.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo