redes físicas já instaladas, e operadora/s independentes (tratava-se de alguma das quase trezentas
cooperativas telefônicas existentes no país).
Os integrantes dos consórcios com intenções de ter acesso às novas licenças não deviam ter
nenhum vínculo societário com as LSB. Desta maneira, só a Movicom (associada posteriormente
a Bell South) e a CTI Móvil (controlada pelo grupo local Agea/Clarín e a americana GTE)
cumpriam, no campo da telefonia celular, esse critério, sendo que a Unifón, Telecom Personal e
Miniphone ficaram expressamente excluídas por estarem controladas pelas LSB.
Chambouleyron (1998) criticou esta medida argumentando que, desde um ponto de vista
econômico e tecnológico, não se justifica que o governo imponha barreiras legais à entrada. Para
Abdala e Spiller (1999), a experiência chilena determinou a decisão governamental na
Argentina
98
. Naquele país, a política de liberalização total tarifária e de entradas ao setor teria
levado à falência empresas como Télex Chile e provocado uma concentração ainda maior no
mercado das telecomunicações. Estes autores questionam se além da política regulatória, possam
ter sido também as más decisões empresariais quanto a acordos de interconexão, identificação
estratégica da clientela, falta de acordos de faturamento com a empresa dominante de serviços
locais e ineficiência em despesas de publicidade, que levaram à falência da empresa
99
.
Urbiztondo (1999) questiona duas das justificativas do governo para a desregulação
administrada: por um lado, o “reconhecimento” dos investimentos feitos por operadoras
independentes é um privilégio que poderiam reclamar muitas outras empresas ou indivíduos que
tenham investido seus recursos no país; em segundo lugar, a “concorrência ruinosa” é um
argumento que esgrime tipicamente desde o lado dos ofertantes do serviço, enquanto que:
“la regulación no debe orientarse a evitar dichas pérdidas sino que tiene como objetivo permitir a
los usuarios aprovechar las ventajas de la competencia, delegando a las empresas privadas las
decisiones de inversión que consideren más rentables para sí...”
(
id. ibid.
, 1999:2)
98
Chama a atenção o fato de que os potenciais novos ingressantes coincidiam com o diagnóstico do governo a
respeito de como encarar a transmissão. Por exemplo, o presidente da Movicom (Mauricio Wior) diz que na
desregulação total “...las tarifas bajan rápidamente pero luego se recuperan. A la larga no se invierte en el sector y
una empresa toma posición dominante con el 90% del market share, como sucede en Chile”. Por sua vez, o
presidente da CTI (Eduardo Menascé) apontava que “ este no es un mercado que empieza de cero. Requiere grandes
inversiones. Ya hay dos firmas monopólicas y, si se abre a todos, se va a concentrar más”. O titular da CNC
(Roberto Catalán) acrescentava que “es mejor que existan cuatro grandes que un gigante y quince jugadores
pequeños” (Citações da Revista Negócios, Ano 8, Nº82, julho de 1998)
99
De fato, quando ocorreu a liberalização do serviço de longa distância internacional no país vizinho, a Télex Chile
tinha desde 1992 25% do mercado e contava com uma rede própria de fibra ótica. O ingresso de cinco novas
operadoras em 1994, a pesar de ter diminuído os preços das tarifas aos consumidores finais em 80%, não afetou sua
participação no mercado. Os novos ingressantes careciam de rede própria e procuraram na Télex Chile melhores
condições de interconexão das que a CTC oferecia, mas a empresa se recusou a oferecer melhores acordos. Para
conhecer mais detalhes sobre o recente funcionamento das telecomunicações no Chile, ver Chambouleyron (1999).
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