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Walberto Silva dos Santos
João Pessoa, Março de 2008
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Tese apresentada ao Programa de Doutorado
Integrado em Psicologia Social da Universidade
Federal da Paraíba / Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, por Walberto Silva dos Santos,
sob a orientação do Prof. Dr. Valdiney Veloso
Gouveia, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Doutor em Psicologia Social.
João Pessoa, Março de 2008
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2
EXPLICANDO COMPORTAMENTOS SOCIALMENTE DESVIANTES:
UMA ANÁLISE DO COMPROMISSO CONVENCIONAL E AFILIAÇÃO SOCIAL
Walberto Silva dos Santos
Banca avaliadora:
______________________________________________
Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia (UFPB, Orientador)
______________________________________________
Prof. Dr. Antonio Roazzi (UFPE, Membro)
______________________________________________
Prof. Dr. Julio Rique Neto (UFPB, Membro)
______________________________________________
Prof. Dr. João Carlos Alchieri (UFRN, Membro)
______________________________________________
Profa. Dra. Aline Lobato Costa (UEPB, Membro)
3
Aos meus pais
4
As ciências físicas atingiram um tal estado de
desenvolvimento que agora todos os homens podem
morrer juntos. Cabe agora às ciências sociais atingirem
um tal estado de desenvolvimento de forma que todos
os homens possam viver juntos.
Ross Stagner
5
AGRADECIMENTOS
A “dívida de gratidão” não tem preço; aqueles que a adquirem e conseguem
reconhecê-la, sabem que ela é eterna. Por este motivo, meus agradecimentos não poderiam
deixar de ser inicialmente dirigidos ao professor, orientador e amigo, Valdiney Veloso
Gouveia e a sua esposa Rildésia Silva Veloso Gouveia. Extensivamente, agradeço:
Aos professores Joseli Bastos da Costa, Cleonice Camino (Universidade Federal da
Paraíba) e José Queiroz Pinheiro (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) por
terem aceitado ser leitores desta tese em suas primeiras versões, contribuindo com
sugestões importantes; e Maria da Penha de Lima Coutinho, Leôncio Camino e Francisco
José Batista de Albuquerque (Universidade Federal da Paraíba) por todos os aportes que
ajudaram em meu desenvolvimento acadêmico. Paralelamente, ainda cabe agradecer aos
professores Ángeles Luengo Martín, Estrella Romero Triñanes e José Antonio Gomez
Fraguela, da Universidade de Santiago de Compostela, pela disponibilidade com que me
receberam em seu núcleo de pesquisa para realização de um estágio (Doutorado
Sanduíche), oferecendo recursos que auxiliaram em minha preparação acadêmica.
Aos professores Antonio Roazzi, Aline Lobato Costa, João Carlos Alchieri e Júlio
Rique Neto, por sua amabilidade em prontamente aceitar o convite para participar da banca
de defesa, compartilhando suas idéias, sugestões e pontos de vita.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por
conceder os recursos que possibilitaram meus estudos tanto no Brasil como no exterior,
durante o período de estágio (Sanduíche), referente ao Programa de Doutorado no País
com Estágio no Exterior (PDEE).
Ao Núcleo de Pesquisa Bases Normativas do Comportamento Social (BNCS),
representado pelos companheiros, de ontem, Estefânea Élida da Silva Gusmão, Tatiana
Cristina Vasconcelos, Carlos Eduardo Pimentel, Fabiana Queiroga, Josemberg Moura de
Andrade, Girlene Ribeiro de Jesus, Célia Maria Cruz Marques Chaves, Sandra Souza da
Silva Chaves, Viviany Silva Pessoa, Deliane Macedo Farias de Sousa, Marcílio Lira de
Silva Filho, Taciano Lemos Milfont e Jane Palmeira Nóbrega Cavalcanti, e de hoje,
Gislene Farias de Oliveira, Thiago Antonio Avellar de Aquino, Pollyane Kahelen da Costa
Diniz, Luciana Chacon Dória, tia Corrêa Vione, Luana Elayne Cunha de Souza, Tiago
Jessé Souza e Lima, Josélia de Mesquita Costa e Ana Karla Silva Soares.
De modo especial, sinto-me no dever de destacar alguns companheiros que, de
forma significativa, compartilharam momentos que ultrapassaram os muros da academia.
Muito obrigado aos amigos Jorge Artur Peçanha de Miranda Coelho, Priscilla Vicente
Ferreira, Valeschka Martins Guerra, Paulo Gustavo Fell Amado, Patrícia Nunes da
Fonseca, José Farias de Souza Filho, Emerson Diógenes de Medeiros, Paloma Cavalcante
Bezerra, Neemias Matias Alves, Tatiana Alves Olimpio Rosado Maia, Natalício
Emmanuel Quintella Lima, Adriano Henrique Targino, Jair Pessoa de Albuquerque e
Silva, e às amigas que estão além mar, Esther Lorenzo Vidal e Zaida Robles Pacho.
Finalmente, mas não menos importante, à minha esposa Sandra, por ser
simplesmente quem é, minha melhor amiga e fiel companheira de todas as horas; aos meus
pais Roberto e Waldinar e meus irmãos Walber e Roberta, por entenderem que sempre é
possível recomeçar; e meu tio Marcos Freire, por me ensinar o caminho de uma nova vida.
6
EXPLICANDO COMPORTAMENTOS SOCIALMENTE DESVIANTES:
UMA ANÁLISE DO COMPROMISSO CONVENCIONAL E AFILIAÇÃO SOCIAL
RESUMO A presente tese buscou conhecer em que medida os valores sociais
normativos, o compromisso religioso, o estilo de socialização parental autoritativo e a
identificação com grupos convencionais de referência atuam como inibidores (fatores de
proteção) de comportamentos socialmente desviantes (anti-sociais e delitivos). Procurou-
se, especificamente, verificar a contribuição destes construtos para explicar tais
comportamentos, identificando um modelo integrador denominado de compromisso
convencional e afiliação social. Neste sentido, realizaram-se quatro estudos empíricos. O
Estudo 1 teve como objetivo conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna
de quatro das medidas utilizadas. Participaram 317 pessoas com idade média de 16,6 anos.
Estes responderam um caderno composto por sete partes, dentre as quais o Questionário de
Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD), a Escala de Crenças Religiosas, a Escala
de Práticas Religiosas e a Escala de Identificação com Grupos de Referência, além de
perguntas demográficas. Os resultados sugeriram a pertinência de reduzir o CAD,
indicaram a adequação da estrutura fatorial das escalas de crenças e práticas religiosas e
permitiram ampliar a Escala de Identificação com Grupos de Referência. O Estudo 2
pretendeu desenvolver um índice de compromisso religioso, agrupando múltiplos
indicadores que atendessem aos critérios de validade, precisão e parcimônia. Neste sentido,
participaram 194 estudantes e dois grupos de religiosos (Católicos e Protestantes), cuja
idade média foi de 18,4 anos. Os resultados evidenciaram a confiabilidade do índice e a
pertinência de utilizá-lo como medida do compromisso religioso. O Estudo 3 testou as
hipóteses principais desta tese, proporcionando as primeiras aproximações para a
construção do modelo teórico referente à hipótese de compromisso convencional e
afiliação social. Participaram 528 estudantes dos ensinos fundamental, médio e superior,
com idades variando entre 10 e 22 anos (M = 15,5), a maioria do sexo feminino (63,1%).
Todas as hipóteses foram corroboradas, permitindo propor um modelo explicativo dos
comportamentos socialmente desviantes. Neste, os valores normativos, o estilo parental
materno denominado como autoritativo, o compromisso religioso e a identificação com
grupos convencionais de referência compuseram um fator geral (compromisso
convencional e afiliação social), que se correlacionou negativamente com os
comportamentos anti-sociais; estes, por sua vez, correlacionaram-se diretamente com os
comportamentos delitivos. Finalmente, o Estudo 4 replicou este modelo de compromisso
convencional e afiliação social, considerando uma amostra independente e tratando
homens e mulheres separadamente. Participaram 378 pessoas com idade média de 15,4
anos (amplitude 10 a 22 anos), a maioria do sexo feminino (59%). As análises
demonstraram a adequação deste modelo: χ² (9) = 14,48, p = 0,106, χ² / gl = 1,61, GFI =
0,99, AGFI = 0,99, CFI = 0,98 e RMSEA = 0,040 (IC90% = 0,000-0,077). Concluindo, os
objetivos da presente tese foram alcançados, referendando o marco teórico do
compromisso convencional e afiliação social que permite identificar fatores que inibem os
comportamentos socialmente desviantes. Não obstante, propuseram-se estudos futuros que
visem contribuir para esta área de interesse.
Palavras-chave: anti-social, valores, estilo parental, identificação grupal, religiosidade.
7
EXPLICANDO CONDUCTAS SOCIALMENTE DESVIANTES:
UN ANÁLISIS DEL COMPROMISO CONVENCIONAL Y AFILIACIÓN SOCIAL
RESUMEN La presente tesis buscó conocer en qué medida los valores sociales
normativos, el compromiso religioso, el estilo parental autoritativo y la identificación con
grupos convencionales de referencia actúan como inhibidores (factores de protección) de
las conductas socialmente desviantes (antisociales y delictivas). Se buscó, específicamente,
comprobar la contribución de éstos constructos para explicar tales conductas, identificando
un modelo integrador denominado compromiso convencional y afiliación social. En este
sentido, se realizaron cuatro estudios empíricos. El Estudio 1 tuvo como objetivo conocer
las propiedades psicométricas de cuatro de las medidas utilizadas. Participaron 317
personas con edad promedia de 16.6 años. Estos completaron un cuaderno compuesto por
siete partes, entre las cuales estaban: el Cuestionario de Conductas Antisociales y
Delictivas (CAD), la Escala de Creencias Religiosas, la Escala de Prácticas Religiosas y
la Escala de Identificación con Grupos de Referencia, además de ítems para la
caracterización de la muestra. Los resultados indicaron que es adecuado reducir el CAD,
revelaron la adecuación de la estructura factorial de las escalas de creencias y prácticas
religiosas, y permitieron ampliar la Escala de Identificación con Grupos de Referencia. El
Estudio 2 pretendió desarrollar un índice de compromiso religioso, agregando múltiples
indicadores que atendiesen a los criterios de validez, fiabilidad y parsimonia. En este
sentido, participaron 194 estudiantes y personals de dos grupos religiosos (católicos y
protestantes); éstos tenían una edad promedia de 18.4 años. Los resultados evidenciaron la
confiabilidad del índice y la pertinencia de utilizarlo como medida de compromiso
religioso. El Estudio 3 testeó las hipótesis principales de esta tesis, proporcionando las
primeras aproximaciones para la construcción del modelo teórico referente a la hipótesis
del compromiso convencional y afiliación social. Participaron 528 estudiantes, con edad
promedia de 15.5 años, la mayoría mujeres (63.1%). Se comprobaron todas las hipótesis,
permitiendo indicar un modelo explicativo de las conductas socialmente desviantes. En
este estudio, los valores normativos, el estilo parental autoritativo de la madre y la
identificación con grupos convencionales de referencia compusieron un factor general
(compromiso convencional y afiliación social) que se correlacionó negativamente con las
conductas antisociales; éstas, por su parte, se correlacionaron directamente con las
delictivas. Finalmente, el Estudio 4 replicó el test del modelo de compromiso convencional
y afiliación social con una muestra distinta de hombres y mujeres separadamente.
Participaron de este estudio 378 personas con edad promedia de 15.4 años (rango de 10 a
22 años), la mayoría mujeres (59%). Los análisis comprobaron su adecuación: χ² (9) =
14.48, p = 0.106, χ² / gl = 1.61, GFI = 0.99, AGFI = 0.99, CFI = 0.98 y RMSEA = 0.040
(IC90% = 0.000-0.077). Concluyendo, los objetivos de la presente tesis fueron alcanzados,
dando soporte al marco teórico del compromiso convencional y afiliación social que
permite identificar factores que inhiben las conductas socialmente desviantes. No obstante,
se han propuestas investigaciones futuras que contribuirán para este área de interés.
Palabras-clave: antisocial, valores, estilo parental, identificación grupal, religiosidad.
8
EXPLAINING SOCIALLY DEVIANT BEHAVIORS:
AN ANALYSIS OF CONVENTIONAL COMMITMENT AND SOCIAL AFFILIATION
ABSTRACT The present thesis examines to what extent normative social values,
religious commitment, authoritative styles of parental socialization, and identification with
conventional groups of reference inhibits (i.e., work as protective factors) socially deviant
behaviors (antisocial and delictive). Specifically, the main objective was to test the
contribution of these protective factors to explain deviant behaviors, proposing an
integrative model denominated of conventional commitment and social affiliation. Four
empirical studies were carried out. Study 1 tested the psychometric properties of four
measures used. Participants were 317 young students with mean age of 16.6 years. They
answered a survey questionnaire comprising seven parts, including the Questionnaire of
Antisocial and Delictive Behaviors (QADB), the Religious Beliefs Scale, the Religious
Practices Scale, the Identification with Groups of Reference Scale, and demographic
questions. Results suggested the adequacy of (1) reducing the QADB, (2) the factorial
structure of the scales of religious beliefs and practices, and (3) the enlargement of the
Identification with Groups of Reference Scale. Study 2 developed an index of religious
commitment, comprising multiple indicators to achieve validity, reliability, and parsimony.
In this study, participated 194 subjects identified as students or belongs to two religious
groups (Catholic or Protestant), with mean age of 18.4 years. Results supported the validity
and reliability of the religious commitment index. Study 3 tested the main hypotheses of
this thesis, providing the first attempt for proposing the theoretical model regarding
conventional commitment and social affiliation. Participated in this study 528 primary
school, high school and undergraduate students, with ages ranging from 10 to 22 years (M
= 15.5), most of them female (63.1%). All the hypotheses were confirmed, supporting the
proposition of an explanatory model of socially deviant behaviors. In this model,
normative values, authoritative style of maternal socialization, religious commitment, and
identification with conventional groups of reference formed a general factor (conventional
commitment and social affiliation), which correlated negatively with antisocial behaviors.
These behaviors were then positively correlated with delictive ones. Finally, Study 4
replicated the conventional commitment and social affiliation model in an independent
sample, considering male and female participants separately. The questionnaire was
administered to 378 participants, with mean age of 15.4 years (ranging from 10 to 22
years), most of them female (59%). The analyses demonstrated the adequacy of this model:
χ² (9) = 14.48, p = 0.106, χ² / df = 1.61, GFI = 0.99, AGFI = 0.99, CFI = 0.98, and RMSEA
= 0.040 (CI90% = 0.000-0.077). In conclusion, the objectives of the thesis were reached,
supporting the theoretical framework of the conventional commitment and social affiliation
model, which allows the identification of protective factors of socially deviant behaviors.
Future studies are also proposed that seek to contribute for this area of interest.
Keywords: antisocial, values, parental style, group identification, religiosity.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 14
PARTE I: MARCO TEÓRICO .................................................................................................... 20
1. COMPORTAMENTOS ANTI-SOCIAIS ................................................................................ 21
1.1. O Conceito de Comportamento Anti-social ......................................................................................... 22
1.1.1. Aproximação Sociológica ............................................................................................................ 24
1.1.2. Aproximação Clínico-psiquiátrica ............................................................................................... 25
1.1.3. Aproximação Jurídico-legal ......................................................................................................... 28
1.1.4. Aproximação Comportamental .................................................................................................... 32
1.2. A Dimensão Risco-Proteção ................................................................................................................ 35
1.2.1. Fatores Macro-sociais .................................................................................................................. 37
1.2.2. Fatores Micro-sociais ................................................................................................................... 38
1.2.3. Fatores Individuais ....................................................................................................................... 42
1.3. Teorias Explicativas do Comportamento Anti-social .......................................................................... 48
1.3.1. As Primeiras Aproximações Teóricas .......................................................................................... 49
1.3.1.1. A Escola Positivista Italiana ................................................................................................. 51
1.3.1.2. Teoria da Anomia ................................................................................................................. 52
1.3.1.3. Teoria da Associação Diferencial ......................................................................................... 54
1.3.1.4. Teoria da Aprendizagem Social ........................................................................................... 56
1.3.1.5. Teoria do Controle e Vínculo Social .................................................................................... 58
1.3.2. Teorias Centradas em Fatores Micro-sociais ............................................................................... 61
1.3.2.1. O Modelo Integrador de Elliott ............................................................................................ 61
1.3.2.2. O Modelo do Desenvolvimento Social................................................................................. 63
1.3.2.3. O Modelo da Coerção .......................................................................................................... 66
1.3.2.4. Teoria Geral da Anomia ....................................................................................................... 68
1.3.3. Teorias Centradas em Fatores Intrapessoais ................................................................................ 70
1.3.3.1. Teoria da Auto-rejeição ........................................................................................................ 71
1.3.3.2. Teoria do Autocontrole ........................................................................................................ 74
1.3.3.3. A Taxonomia de Moffitt ...................................................................................................... 76
1.3.3.4. O Equilíbrio do Controle ...................................................................................................... 79
1.3.3.5. Teoria das Personalidades Anti-sociais ................................................................................ 81
1.3.3.6. Teorias Evolucionistas ......................................................................................................... 82
1.3.4. Modelos Integradores de Amplo Espectro ................................................................................... 85
1.3.4.1. Teoria da Conduta-Problema................................................................................................ 85
1.3.4.2. Teoria Interacional ............................................................................................................... 89
2. COMPROMISSO CONVENCIONAL E AFILIAÇÃO SOCIAL ......................................... 91
2.1. Valores Humanos ................................................................................................................................. 95
2.1.1. Rokeach e a Natureza dos Valores Humanos ............................................................................... 95
2.1.2. O Conteúdo e a Estrutura Universais dos Valores ....................................................................... 99
2.1.3. Os Valores Materialistas e Pós-materialistas de Inglehart ......................................................... 103
2.1.4. A Teoria Funcional dos Valores Humanos ................................................................................ 105
2.1.5. Valores Humanos e Comportamentos Anti-socias ..................................................................... 110
2.2. Religião, Religiosidade e Compromisso Religioso ............................................................................ 113
2.2.1. A religião Intrínseca e Extrínseca de Allport ............................................................................. 118
2.2.2. Batson e a Religiosidade dos Tipos Meio, Fim e Busca ............................................................ 120
2.2.3. Religiosidade Compromissada e Consensual ............................................................................. 122
2.2.4. As Dimensões Religiosas de Glock ........................................................................................... 125
2.2.5. Compromisso Religioso e Comportamentos Anti-socias ........................................................... 127
2.3. Estilos de Socialização Parental......................................................................................................... 130
2.3.1. A Tipologia de Baumrind .......................................................................................................... 133
2.3.2. A Tipologia de Maccoby e Martin ............................................................................................. 137
2.3.3. O Modelo Relacional de Musitu e García .................................................................................. 140
2.3.4. Estilos de Socialização Parental e Comportamentos Anti-sociais ............................................. 145
10
2.4. Identificação com Grupos .................................................................................................................. 149
2.4.1. Perspectivas de Análise nos Estudos de Grupo .......................................................................... 150
2.4.1.1. Tese da Mente Grupal ........................................................................................................ 151
2.4.1.2. Tese do Individualismo ...................................................................................................... 152
2.4.1.3. Tese do Interacionismo ...................................................................................................... 153
2.4.2. Processos Grupais e Controle Social.......................................................................................... 155
2.4.3. Identificação com Grupos e Comportamentos Anti-sociais ....................................................... 159
PARTE II: ESTUDOS EMPÍRICOS ......................................................................................... 163
3. ESTUDO 1 PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DAS MEDIDAS ............................. 164
3.1. Método ............................................................................................................................................... 167
3.1.1. Delineamento ............................................................................................................................. 167
3.1.2. Amostra ...................................................................................................................................... 167
3.1.3. Instrumentos ............................................................................................................................... 168
3.1.4. Procedimento ............................................................................................................................. 170
3.1.5. Análise dos Dados ...................................................................................................................... 171
3.2. Resultados .......................................................................................................................................... 172
3.2.1. Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD) ........................................... 172
3.2.2. Escala de Identificação com Grupos de Referência ................................................................... 174
3.2.3. Escala de Práticas Religiosas ..................................................................................................... 177
3.2.4. Escala de Crenças Religiosas ..................................................................................................... 179
3.3. Discussão ........................................................................................................................................... 181
3.3.1. Questionários de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD) .......................................... 182
3.3.2. Escala de Identificação com Grupos de Referência ................................................................... 183
3.3.3. Escalas de Crenças e Práticas Religiosas ................................................................................... 184
4. ESTUDO 2 ÍNDICE DE COMPROMISSO RELIGIOSO ................................................ 187
4.1. Método ............................................................................................................................................... 189
4.1.1. Delineamento ............................................................................................................................. 189
4.1.2. Amostra ...................................................................................................................................... 189
4.1.3. Instrumentos ............................................................................................................................... 190
4.1.4. Procedimento ............................................................................................................................. 191
4.1.5. Análise dos Dados ...................................................................................................................... 191
4.2. Resultados .......................................................................................................................................... 191
4.3. Discussão ........................................................................................................................................... 194
5. ESTUDO 3 TESTE DAS HIPÓTESES ............................................................................... 196
5.1. Método ............................................................................................................................................... 197
5.1.1. Delineamento e Hipóteses .......................................................................................................... 197
5.1.2. Amostra ...................................................................................................................................... 198
5.1.3. Instrumentos ............................................................................................................................... 198
5.1.4. Procedimento ............................................................................................................................. 200
5.1.5. Análise dos dados ...................................................................................................................... 200
5.2. Resultados .......................................................................................................................................... 201
5.3. Discussão ........................................................................................................................................... 204
6. ESTUDO 4 - MODELO EXPLICATIVO DE COMPORTAMENTOS DESVIANTES ... 210
6.1. Método ............................................................................................................................................... 211
6.1.1. Delineamento e Hipótese ........................................................................................................... 211
6.1.2. Amostra ...................................................................................................................................... 212
6.1.3. Instrumentos ............................................................................................................................... 212
6.1.4. Procedimento ............................................................................................................................. 213
6.1.5. Análise dos Dados ...................................................................................................................... 213
6.2. Resultados .......................................................................................................................................... 213
6.3. Discussão ........................................................................................................................................... 215
7. DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES .............................................................................. 219
7.1. Resultados Principais ......................................................................................................................... 220
7.2. Limitações das Pesquisas ................................................................................................................... 221
7.3. Conclusões e Direções Futuras .......................................................................................................... 222
11
8. REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 228
ANEXOS ....................................................................................................................................... 279
ANEXO I Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos .................................................. 280
ANEXO II Escala de Práticas Religiosas .............................................................................................. 281
ANEXO III Escala de Crenças Religiosas ............................................................................................. 282
ANEXO IV Escala de Identificação com Grupos de Referência ........................................................... 283
ANEXO V Questionário dos Valores Básicos QVB .......................................................................... 284
ANEXO VI Escala de Percepção dos Pais EPP (Versão para o pai) .................................................. 285
ANEXO VII Escala de Percepção dos Pais EPP (Versão para a mãe) ............................................... 286
ANEXO VIII Caracterização da Amostra ............................................................................................. 287
ANEXO IX Termo de Consentimento ................................................................................................... 288
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Tipos de valores instrumentais e terminais propostos por Rokeach ........................................ 97
Tabela 2. Tipos motivacionais de valores ............................................................................................. 100
Tabela 3. Estilos educativos segundo Maccoby e Martin ..................................................................... 138
Tabela 4. Poder discriminativo, correlação item-total e precisão dos itens do CAD ............................ 173
Tabela 5. Análise paralela dos itens do Questionário de Identificação com Grupos de Referência .... 175
Tabela 6. Estrutura Componencial da Escala de Identificação com Grupos de Referência .................. 176
Tabela 7. Correlação item-total e precisão dos itens da Escala de Práticas Religiosas ......................... 177
Tabela 8. Correlação item- total e precisão dos itens da Escala de Crenças Religiosas ....................... 179
Tabela 9. Estrutura componencial do Índice de Compromisso Religioso ............................................ 193
Tabela 10. Correlatos dos Comportamentos Anti-sociais e Delitivos ................................................... 201
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Estrutura Bidimensional dos Tipos Motivacionais ........................................................ 101
Figura 2. Facetas, dimensões e sub-funções dos valores básicos .................................................. 107
Figura 3. Estrutura da congruência das sub-funções dos valores básicos ..................................... 109
Figura 4. Modelo bidimensional de socialização familiar ............................................................ 143
Figura 5. Estrutura Multifatorial da Escala de Práticas Religiosas ............................................... 178
Figura 6. Estrutura Multifatorial da Escala de Crenças Religiosas ............................................... 181
Figura 7. Modelo Explicativo (Causal) de Comportamentos Socialmente Desviantes ................. 202
Figura 8. Evidências Empíricas do Modelo de Comportamentos Socialmente Desviantes .......... 203
Figura 9. Comprovação do Modelo Causal de Comportamentos Socialmente Desviantes .......... 214
14
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De acordo com o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (Krug, Dahlberg,
Mercy, Zwi & Lozano, 2003), no ano 2000 morreram, em todo o mundo, vítimas de
homicídio, aproximadamente 199.000 (9,2 por 100.000 habitantes) crianças, adolescentes e
jovens adultos com idades entre 10 e 29 anos. Dependendo do continente ou país, as taxas
de homicídios na população geral apresentam considerável variabilidade, mas, na maioria
dos países, adolescentes e jovens configuram-se como as principais vítimas e praticantes
desse tipo de violência. Conforme o relatório, a análise destas informações, em conjunto
com dados provenientes de estudos sobre violência não letal, proporciona uma visão mais
ampla do problema. Estima-se que para cada jovem morto existam pelo menos 20 vítimas
de agressão que não resultou em morte, sendo a adolescência e os primeiros anos da idade
adulta o período de maior risco (Mercy, Butchart, Farrington & Cerdá, 2003).
No Brasil, em dez anos (1994 2004), o número de homicídios na população
sofreu um incremento de 48,4%, chegando a ser cerca de três vezes superior ao
crescimento populacional no mesmo período (16,5%). entre os jovens na faixa etária de
15 a 24 anos, os homicídios passaram de 11.330 (37,7 por 100.000 habitantes), no ano de
1994, para 18.599 (51,7 por 100.000 habitantes), em 2004, um incremento de 64,2%
(Waiselfisz, 2006). Dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública (2006) indicam
que 52,1% dos homicídios dolosos registrados neste último ano foram perpetrados por
adolescentes e jovens com idades entre 12 e 29 anos. Entre a população jovem, ainda
predominam o consumo abusivo de drogas, as apreensões por tráfico, lesões corporais,
extorsões mediante seqüestro e roubos, delitos que têm envolvido, a cada ano, mais
pessoas desta faixa-etária (Secretária Nacional de Segurança Pública, 2006). No país, os
números da violência juvenil parecem refletir na quantidade de menores internos no
sistema sócio-educativo de meio fechado, que passou de 12.051, em 2002, para 15.426, em
2006, e no perfil da população carcerária brasileira, composta, predominantemente, de
16
homens (94,43%) com idades entre 18 e 24 anos (60%; Departamento Penitenciário
Nacional, 2007; Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente,
2006).
Apesar do tema sempre ter estado presente na história (Dahlberg & Krug, 2003;
Rodrigues, Assmar & Jablonski, 2001), nas últimas décadas o incremento da violência, a
implicação cada vez mais precoce de jovens e os elevados custos pessoais, sociais e
econômicos decorrentes destes fatores impulsionaram pesquisadores de distintas áreas a
buscarem os possíveis explicadores desse fenômeno (Hawkins, Catalano & Miller, 1992;
Hemphill, Toumbourou & Catalano, 2005; Knapp, Scott & Davies, 1999; Krug & cols.,
2003; Waiselfisz, 2006). Possivelmente por este motivo, na atualidade, percebe-se um
avanço significativo nos estudos sobre comportamentos anti-sociais entre adolescentes e
jovens (Burke, Loeber & Birmaher, 2002; Loeber, Burke, Lahey, Winters & Zera, 2000;
Petraitis, Flay & Miller, 1995; Romero, 1998; Soria, 2005; Tittle, 2000).
Ainda que a expressão “delinqüência juvenil” suscite a imagem de jovens do sexo
masculino, pobres e moradores de bairros da periferia, nota-se que muitos dos delitos
cometidos por esta faixa etária têm como principais atores jovens economicamente
favorecidos (Formiga & Gouveia, 2005). O que, de certa forma, demonstra que o problema
da delinqüência não pode ser estudado considerando exclusivamente aspectos econômicos.
Tal fato tem direcionado os pesquisadores a analisarem, no estudo dos comportamentos
anti-sociais, proposições que sugerem a multiplicidade de variáveis contribuintes para a
sua explicação (Baker, 2006; Hawkins & cols., 1992; Herrenkohl & cols., 2000; Petraits,
Flay & Miller, 1995; Stueve, O`Donnell & Link, 2001).
Na Psicologia, podem-se encontrar diversos estudos relacionados com o tema,
principalmente na Psicologia do Desenvolvimento (Dogan, Conger, Kim & Masyn, 2007;
Scaramella, Conger, Spoth & Simons, 2002; Trzesniewski, Moffitt, Caspi, Taylor &
17
Maughan, 2006), Psicologia Jurídica (Penney & Moretti, 2007; Woodhams, Hollin & Bull,
2007) e, em particular, Psicologia Social (Greitemeyer & Weiner, 2006; Pardini, Barry,
Barth, Lochman & Wells, 2006). Além disso, uma quantidade expressiva de estudos
também é publicada em revistas de outras áreas, como The American Journal of
Psychiatry, American Sociological Review e Criminology. Tanto na Psicologia como nas
demais áreas, para explicar a etiologia dos comportamentos anti-sociais, os pesquisadores
têm buscado inter-relacionar diferentes variáveis; estima-se a contribuição daquelas de
natureza ambiental, genética, de ordem econômica, social e até demográficas (Baker, 2006;
Farrington, 2005; Granic & Patterson, 2006; Hemphill, Toumbourou & Catalano, 2005;
Herrenkohl, Hill, Hawkins, Chung & Nagin, 2006; Krueger & cols., 2002).
Adicionalmente, autores como Loeber (1982), Moffitt (1993) e Olweus (1979)
apontam que os comportamentos anti-sociais seguem, em muitos casos, um curso
evolutivo estável. Neste sentido, fatores observados na infância (por exemplo, déficit de
atenção, hiperatividade e agressividade) funcionariam como potenciais preditores das
condutas desviantes de maior gravidade, apresentadas na adolescência e idade adulta
(Bartusch, Lynam, Moffitt & Silva, 1997; Laub & Sampson, 1993; Loeber, 1990; Loeber
& Farrington, 2000; Patterson & Yoerger, 1999). Segundo Loeber (1982), a estabilidade e
a evolução destes comportamentos estão condicionadas a um conjunto de fatores, como a
idade de início, a freqüência com que ocorreram durante os anos escolares, a diversidade
dos comportamentos e a ocorrência em distintos cenários sociais (por exemplo, casa dos
pais, de familiares e escola). Logo, sob esta perspectiva, a presença simultânea destes
fatores ampliará significativamente a probabilidade de uma criança tornar-se um
delinqüente crônico.
Em síntese, o campo dos comportamentos anti-sociais conta, atualmente, com um
vasto e consistente corpo de conhecimentos. Não obstante, a maioria das pesquisas sobre
18
seus explicadores concentra-se, principalmente, em fatores de risco, como a afiliação com
companheiros delinqüentes (Bowman, Prelow & Weaver, 2007; Weaver & Prelow, 2005),
o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (Johnson & Kercher, 2007), a psicopatia
(Penney & Moretti, 2007) e os traços de personalidade desviantes: psicoticismo,
impulsividade, neuroticismo e busca de sensações (Miller, Lynam & Leukefeld, 2003;
Morizot & Le Blanc, 2005; Sobral, Romero, Luengo & Marzoa, 2000). Sendo ainda
escassos os estudos que dão ênfase a variáveis que possam funcionar como fatores de
proteção, a exemplo da adesão a valores sociais e do envolvimento com instituições e
atividades convencionais (Hirschi, 1969; Huebner & Betts, 2002; Newcomb & McGee,
1991; Romero, Sobral, Luengo & Marzoa, 2001).
Tais aspectos justificam a realização da presente tese, cujo objetivo principal é
conhecer em que medida os valores humanos, de maneira especial os sociais denominados
como normativos, o compromisso religioso, o estilo de socialização parental autoritativo e
a identificação com grupos convencionais de referência atuam como inibidores (fatores de
proteção) de comportamentos socialmente desviantes. Mais especificamente, procurar-se-
á: estimar a contribuição dos fatores de proteção para explicar os comportamentos anti-
sociais e delitivos; e, finalmente, identificar um modelo que permita integrar os diferentes
fatores, considerados nesta oportunidade como componentes da hipótese de compromisso
convencional e afiliação social, contribuindo assim para a compreensão destes
comportamentos socialmente desviantes no contexto brasileiro.
Portanto, visando a atender os objetivos propostos e conhecer algo mais acerca dos
construtos de interesse, a presente tese foi desenvolvida em duas partes principais. O
Marco Teórico (Parte I) compreende dois capítulos: (1) Comportamentos Anti-sociais, cujo
objetivo é definir este construto, apresentar estudos que analisam diferentes variáveis para
sua explicação, considerando especificamente seus distintos níveis de análise (macro-
19
social, micro-social e individual) e, finalmente, revisar as teorias explicativas de maior
expressão sobre o tema; e (2) Compromisso Convencional e Afiliação Social, em que serão
consideradas as especificidades da hipótese denominada compromisso convencional e
afiliação social, bem como as variáveis que a compõem, a saber: os valores humanos
(sociais normativos), o compromisso religioso, os estilos de socialização parental
(autoritativo) e a identificação com grupos convencionais de referência. Os quatro
capítulos seguintes compõem os Estudos Empíricos (Parte II) propriamente ditos: (3)
Estudo 1 Parâmetros Psicométricos das Medidas, que visa analisar a compatibilidade
teórica dos instrumentos em relação aos construtos acima mencionados, a adequação dos
seus parâmetros psicométricos (validade e precisão) para o contexto no qual se desenvolve
a pesquisa; (4) Estudo 2 Índice de Compromisso Religioso, que objetiva construir um
índice que possibilite analisar o compromisso religioso por meio de múltiplos indicadores,
de modo a utilizá-lo nos estudos subseqüentes; (5) Estudo 3 Teste das Hipóteses, em que
se comprovam as hipóteses acerca dos antecedentes dos comportamentos anti-socias, e
como estes se associam com os delitivos; e (6) Estudo 4 Modelo Explicativo dos
Comportamentos Socialmente Desviantes, cujo objetivo é testar o modelo explicativo
representado pela hipótese de compromisso convencional e afiliação social. Finalmente,
apresentam-se a (7) Discussão Geral e as Conclusões, indicando os principais resultados,
as possíveis limitações das pesquisas e algumas sugestões para estudos futuros.
20
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22
Os comportamentos anti-sociais têm sido objeto de estudo nas mais variadas áreas
do conhecimento. Com o propósito de compreender, avaliar, prevenir e tratar este
fenômeno, um número abrangente de teorias explicativas foi se desenvolvendo ao longo da
história (Soria, 2005). Segundo Romero (2006), durante muitos anos a filosofia se ocupou
em oferecer propostas de reflexão sobre suas possíveis causas. Contudo, foi com o
estabelecimento da criminologia positivista, a partir da segunda metade do século XIX, que
pesquisadores de áreas como Antropologia, Psiquiatria, Sociologia e Psicologia foram
motivados a aplicarem seus conhecimentos neste campo, produzindo-se, neste período, um
número expressivo de estudos (Otero-López, 1996; Romero, 1996). Entretanto, apesar dos
avanços, pouca relação foi estabelecida entre tais estudos (Tolan, Guerra & Kendall, 1995).
Nas duas últimas cadas, a necessidade de compreender aspectos não explicados
por variáveis isoladas impulsionou o desenvolvimento de diversos modelos teóricos
integrativos que abordam diferentes níveis de explicação para os comportamentos anti-
sociais (Romero, 1998; Soria, 2005). Porém, antes de seguir na explanação destas
aproximações teóricas e dos seus distintos níveis de explicação, faz-se necessário discorrer
sobre o que Hinshaw e Zupan (1997) consideram como a primeira barreira que o
pesquisador vai encontrar no estudo deste fenômeno, a saber: a ausência de clareza quanto
à definição de comportamento anti-social.
1.1. O Conceito de Comportamento Anti-social
A falta de uma definição clara e universalmente aceita sobre este construto
constitui, atualmente, um problema para pesquisadores e profissionais ligados ao estudo da
delinqüência (Luengo, Otero-López, Romero, Gómez-Fraguela & Tavares-Filho, 1999;
Otero-López, 1996). Neste campo, termos como delinqüência juvenil (Pridemore, 2002),
comportamento anti-social (van Lier, Vitaro, Wanner, Vuijk & Crijnen, 2005), transtorno
de personalidade anti-social (Holmes, Slaughter & Kashani, 2001), conduta problema
23
(Jessor & Jessor, 1977) e transtorno de conduta (American Psychiatric Association, 2000;
Loeber & cols., 2000) fazem referência ao estudo de um mesmo fenômeno abordado sob
diferentes âmbitos de pesquisa. Segundo Pimentel (2004, p.15), “apesar dos esforços para
definir estes termos, muitos deles se superpõem ou apresentam definições pouco claras,
que dificultam diferenciações precisas”. Este problema tem sido gerado por se tratar de um
fenômeno heterogêneo, com múltiplas causas, correlatos e conseqüências, estudado por
pesquisadores de distintas disciplinas (Otero-López, 1996).
Alguns autores, com o propósito de sistematizar e clarificar os conceitos acerca
deste construto, geralmente os dividem em categorias organizadas de acordo com as
orientações teóricas subjacentes (Otero-López, 1996; Rhee & Waldman, 2002; Romero,
Sobral & Luengo, 1999). Otero-López (1996), por exemplo, sublinha que as definições
neste campo polarizam-se entre duas perspectivas: legal (jurídica) e social; cada uma
destas orientações leva implícita uma concepção distinta da delinqüência. Segundo
Romero e cols. (1999), o acúmulo de conhecimentos nos últimos anos alcançou ampla
dimensão e gerou um número abrangente de vertentes e linhas de pesquisa que se
orientam, fundamentalmente, em função das aproximações sociológicas, legais, clínico-
psiquiátricas e comportamentais. De modo análogo, Rhee e Waldman (2002) assinalam
que, na maioria dos estudos, os comportamentos anti-sociais têm sido operacionalizados
desde três grandes orientações: (1) psiquiátrica; (2) em termos de violação da lei e/ou das
normas sociais; e (3) por meio do conceito de agressão.
Analisando estas considerações, percebe-se que, mesmo sob diferentes critérios, o
agrupamento teórico-conceitual proposto por estes autores é relativamente próximo. Neste
sentido, uma vez que a sistematização dos estudos apresentada por Romero e cols. (1999)
abrange quase todos os aspectos concernentes às demais considerações, optou-se por
24
seguir, na presente tese, a sua proposta, agrupando as aproximações conceituais no estudo
dos comportamentos anti-sociais em quatro áreas específicas, conforme descrição a seguir.
1.1.1. Aproximação Sociológica
O conceito de delinqüência construído desde a perspectiva sociológica tem como
base a concepção ampla de desviância (Romero, 1996). Considera-se anti-social qualquer
comportamento que se desvie das normas geralmente aceitas por uma sociedade. Tais
normas denotam dois campos semânticos inter-relacionados. Por um lado, são
consideradas como indicativo do freqüente, usual e estatisticamente “normal”. Assim, as
normas seriam critérios essencialmente descritivos que definem um conjunto de
comportamentos majoritários e típicos dentro de um determinado sistema sócio-cultural.
Por outro, além de descreverem o “freqüente”, têm um componente avaliativo e
prescritivo, que define o permitido, o apropriado, o bom, e contêm em si expectativas sobre
como se deve pensar e se comportar (Pimentel, 2004). Portanto, a desviância social além
de abranger o não freqüente, ainda apresenta conotações negativas, reprováveis ou
sancionáveis para, pelo menos, parte dos membros de uma estrutura social (Costello, 2006;
Tittle & Paternoster, 2000).
Além dos aspectos normativos, a desviância também pode ser concebida em função
do público e da reação que produz no mesmo. Neste caso, o comportamento desviante
ocorre quando um ato é avaliado negativamente e rotulado como desvio por determinado
grupo (Heckert & Heckert, 2002). Na concepção de Becker (1963), por exemplo, a
desviância não é uma qualidade de um comportamento específico, mas uma conseqüência
da aplicação de regras “impostas” por alguns grupos sociais. Deste modo, a formulação de
regras por tais grupos e a quebra delas pelos indivíduos de uma sociedade são aspectos
fundamentais para que a desviância se configure. Sob esta perspectiva, as reações e
avaliações do grupo são decisivas para a existência do desvio (Heckert & Heckert, 2002).
25
Em resumo, pelo menos três critérios determinam em que medida um ato pode ser
entendido com uma forma de desviância: (1) a audiência, ou seja, os grupos de referência
que julgarão e responderão diante da conduta, de acordo com as normas que regulam seu
funcionamento interno. Portanto, um mesmo ato poderá se constituir como desviante para
determinados setores sociais, embora apresente conotações inclusive positivas para outros
grupos normativos; (2) a situação, comportamentos que são habitualmente punidos podem,
dependendo da situação, converterem-se em algo comum e inclusive desejável (por
exemplo, o homicídio em situações de guerra); e, finalmente, (3) as características
próprias do ator, o grau de tolerância social frente ao “apartar-se das normas” dependerá
fortemente das características da pessoa que incorre no ato. Geralmente, o nível de
respeitabilidade do ator influirá na severidade ou conivência com que se avaliam e se
sancionam seus comportamentos potencialmente desviantes (Romero, 1996).
A definição de desviância baseada nestes critérios tem recebido diversas críticas,
sobretudo no que se refere à relatividade cultural (Heckert & Heckert, 2002). Segundo
Romero (1996), desde as aproximações sociológicas, a delinqüência, por ser considerada
uma conduta desviante, se contextualizada em função do ambiente cio-normativo; fica,
portanto, sujeita a uma ampla margem de relatividade. Neste sentido, os comportamentos
delitivos poderão ser desviantes desde o ponto de vista da sociedade majoritária, porém,
não são inaceitáveis nem “desviantes” desde a perspectiva de alguns dos subsistemas
sócio-culturais que os integram (Heckert & Heckert, 2002).
1.1.2. Aproximação Clínico-psiquiátrica
A psiquiatria tem uma tradição longa no estudo científico dos comportamentos anti-
sociais; seu conceito de anti-social é baseado em componentes mais ou menos definidores
de diversos tipos de transtornos ou desajustes mentais e comportamentais. O diagnóstico
destes transtornos, geralmente, fundamenta-se em sistemas de classificação como o
26
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV-R; American Psychiatric
Association, 2000) e a International Classification of Disorders (ICD-10; World Health
Organization, 1992). Nestes sistemas, os critérios de identificação dos transtornos de
comportamento na infância e adolescência são próximos (Hill, 2002). Contudo, enquanto o
DSM-IV apresenta o transtorno desafiador de oposição (Oppositional Defiant Disorder) e
o de conduta (Conduct Disorder) separadamente, a ICD-10 os aglutina no que se denomina
transtorno de conduta (Rowe, Maughan, Costello & Angold, 2005; Rutter, Harrington,
Quinton & Pickles, 1994).
Mesmo apresentando visões conceituais semelhantes, estes sistemas de
classificação incorporam regras diagnósticas distintas. No DSM-IV, para o diagnóstico do
transtorno de conduta são requeridos pelo menos três de uma lista de quinze sintomas, e,
para o de transtorno desafiador de oposição, quatro de oito; não pode o transtorno
desafiador de oposição ser diagnosticado na ocorrência do transtorno de conduta (Bordin &
Offord, 2000; Loeber & cols., 2000). Na ICD-10, os critérios diagnósticos para o
transtorno de conduta são divididos em 15 itens mais severos, semelhantes àqueles
dispostos no DSM-IV para o transtorno de conduta, e oito mais brandos, equivalentes ao
transtorno desafiador de oposição do DSM-IV. Entretanto, o diagnóstico do transtorno de
conduta é dado quando o paciente apresenta três ou mais dos sintomas mais severos. Na
ICD-10, o transtorno desafiador de oposição é tratado como um subtipo daquele de
conduta e é diagnosticado quando se constatam, pelo menos, quatro sintomas da lista
completa dos 23 itens, na qual não mais que dois podem ser da lista dos mais severos
(Rowe & cols., 2005).
Em ambos os sistemas, encontram-se incluídas múltiplas categorias diagnósticas
definidas por padrões comportamentais, cujos conteúdos se confundem, em maior ou
menor medida, com a esfera conceitual do anti-social (Rutter, Giller & Hagell, 1998).
27
Segundo Romero (1996), isto ocorre, por exemplo, com aqueles transtornos denominados
de controle de impulsos, tais como a cleptomania ou o transtorno explosivo intermitente,
que se caracteriza por episódios discretos de agressividade e violência contra pessoas ou
propriedades. Com o domínio do delitivo, o problema se apresenta de modo especialmente
claro quando se observam os dois transtornos que maior interesse têm suscitado nos
últimos anos dentro do estudo dos comportamentos anti-sociais: o transtorno de conduta e
o transtorno de personalidade anti-social ou dissocial, na nomenclatura da ICD-10 (World
Health Organization, 1992).
O transtorno de personalidade anti-social é uma das categorias em que os
comportamentos anti-sociais assumem caráter definidor (Rutter & cols., 1998). A
característica essencial do mesmo é o padrão geral de desprezo e violação dos direitos dos
outros, com início na infância ou na adolescência, persistindo até a vida adulta. Dentre os
principais critérios diagnósticos, encontram-se: a não adaptação às normas sociais e legais,
com a efetivação de atos que são passíveis de detenção; manifestações de irritabilidade e
agressividade, com episódios repetidos de agressão física; fracassos no cumprimento das
obrigações econômicas e de trabalho; e ausência de arrependimento (Farrington & Coid,
2003). Cabe destacar que tal “transtorno” vem sendo objeto de interesse e debate intenso
na literatura psiquiátrica e criminológica por sua polêmica proximidade com o conceito de
psicopatia (Hicklin & Widiger, 2005; Widiger & Sankis, 2000). Aponta-se, por exemplo,
que o DSM-IV equipara delinqüência e psicopatia, quando, na realidade, nem todos os
delinqüentes são psicopatas, assim como nem todos os psicopatas chegam a apresentar
problemas com a lei (Holland, Levi & Watson, 1980).
Dentro do enfoque clínico-psiquiátrico, pode-se observar um número significativo
de linhas de pesquisas sobre o comportamento anti-social, o que se constitui em um avanço
importante para o entendimento deste fenômeno. No entanto, desde a psicologia, diferentes
28
autores têm criticado a tendência em “patologizar” os comportamentos anti-sociais, ao
mesmo tempo em que se preocupam pela chamada “psiquiatrização” do delito (Romero &
cols., 1999). Apesar do valor heurístico e até mesmo prático de classificações, como as
propostas no DSM-IV (1995), a sintomatologia é identificada a partir de observações do
comportamento do paciente e de queixas levadas ao consultório. De modo geral, estas são
pouco precisas e difusas, reunindo e misturando tanto fatores físicos como psíquicos. De
acordo com Romero e cols. (1999, p. 22), “frente à noção da delinqüência como sintoma
ou síndrome patológica, as pesquisas psicológica e sócio-psicológica adquirem mais
sentido, sobretudo por conceberem a delinqüência como um contínuo comportamental”.
Para estes autores a concepção do anti-social como um fenômeno dimensional permite,
longe da rigidez e das conotações implícitas nas categorizações psiquiátricas, a realização
de análises mais completas e flexíveis dos mecanismos envolvidos na sua etiologia e no
seu desenvolvimento; e auxilia, finalmente, na construção de aproximações mais eficazes
para a prevenção e o tratamento.
1.1.3. Aproximação Jurídico-legal
Nas ciências jurídicas, os termos "crime" ou "delito" e "contravenção" são
utilizados para fazer referência a um conjunto de comportamentos anti-sociais,
genericamente denominados de "infração" (Jesus, 1985). Neste campo, segundo Jesus
(1985), quatro são os sistemas de conceituação do crime: (1) Formal. Formalmente, o
crime é conceituado sob o aspecto da técnica jurídica, segundo a perspectiva da lei, sendo,
portanto, um fato típico e antijurídico. Típico, porque faz parte do tipo penal, ou seja, es
elencado no que se denomina norma agendi ou mandamento regulamentador da conduta
humana, de modo que, se "matar alguém" não estivesse no Código Penal, não seria um fato
típico. Antijurídico, porque se o matar estiver encoberto por um manto de juridicidade,
não haverá crime, apesar de ser pico, como no caso da legítima defesa; (2) Material.
29
Neste sistema, dá-se importância à natureza danosa e à conseqüência do comportamento,
razões pelas quais o legislador pode concebê-lo como delito ou não. O crime é a violação
de um bem penalmente protegido; (3) Formal e material. O delito é definido como uma
infração da lei designada para proteger os cidadãos, o crime é um comportamento que pode
ser positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso; e (4) Formal,
material e sintomático. Define o crime como um fato previsto na lei, danoso aos bens ou
interesses jurídicos, que reflete a expressão reprovável da personalidade do agente. Dos
quatro sistemas, predominam o formal e o material (García-Pablos & Gomes, 2006; Jesus,
1985).
Segundo Romero, Luengo e Sobral (2001), os conceitos construídos nas
aproximações jurídico-legais assumem certo relativismo histórico-cultural. As leis, como
normas institucionalizadas e protetoras de "bens jurídicos", vêem-se sujeitas às múltiplas
variações no tempo e no espaço, em função de valores, ideologias e costumes dominantes
em diferentes sociedades e momentos. Os interesses a serem salvaguardados em um
determinado espaço social não necessariamente coincidirão com o que, em outro contexto,
se considere passível de ser protegido; o próprio transcurso histórico das comunidades
origina mudanças importantes na estrutura normativa e axiológica que serve de sustento
para a organização jurídica (Romero & cols., 2001). A relatividade que caracteriza as
organizações legais favorece para que o delito também se converta em uma realidade
multiforme e flutuante. Distante de representar uma categoria natural e prefixada de
comportamentos, o delitivo responde, portanto, a processos complexos de produção cio-
política e se converte num fenômeno cujo conteúdo é somente especificado em função dos
eixos espaciais e temporais nos quais se inscreve. O comportamento que é um delito numa
sociedade pode não sê-lo em outra; o que foi delito em dado momento histórico pode não
ser mais passível de pena em outro ponto do tempo (Clemente, 1995).
30
Além disso, a problemática conceitual da delinqüência acentua-se com a introdução
de outro conceito, também central, dentro das aproximações fundamentadas no jurídico:
"delinqüência juvenil". A expressão "delinqüente juvenil" designa-se àquelas pessoas que
cometem um ato proibido pelas leis e se encontram com idade inferior ao que a lei de um
país estabelece como de "responsabilidade penal" (Garrido, 1987; Liu, 2004). A menor
idade penal, sob esta perspectiva, faz com que um indivíduo não possa ser submetido às
mesmas sanções judiciais que um adulto; fica o menor, portanto, sujeito às ações de
juizados especiais, que somente poderão aplicar medidas teoricamente destinadas à
reabilitação. O termo "delinqüência juvenil" torna-se ainda mais relativo quando se analisa
o qualificativo "juvenil". Isto ocorre, sobretudo, porque os limites de idade que
estabelecem a maioridade penal são diferentes em distintos pontos do espaço sócio-cultural
e histórico; em determinadas sociedades, a fronteira de qualificação da delinqüência
juvenil se situa na idade de 15 anos, enquanto em outras jurisdições este limite localiza-se
nos 16, 17, 18 e até 20 anos (Otero-López, 1996).
Em suma, a relatividade que acompanha o conceito jurídico de delito, assim como o
conceito específico de delinqüência juvenil, constitui-se em um dos problemas principais
com que tradicionalmente m se esbarrado as disciplinas criminológicas; isso complica
notadamente o estudo científico do fenômeno delitivo. De fato, a comparação de resultados
e conclusões e a conseguinte acumulação e integração de conhecimentos têm-se visto
freqüentemente dificultadas, ainda que não impossibilitadas pela variabilidade espaço-
temporal que apresenta a realidade delitiva (García-Pablos & Gomes, 2006). Outra
limitação importante das definições legais encontra-se no modo como se especifica quem é
considerado delinqüente. Dentro do enfoque jurídico, o delinqüente é definido como
aquele indivíduo que tenha sido processado por um delito por meio do sistema de justiça
de uma comunidade. Para a perspectiva "legalista" ou "institucionalista" (Biderman &
31
Reiss, 1967), existirão delito e delinqüente quando se produzem as reações oportunas
por parte dos sistemas de controle oficial. Os processos legais de identificação, decisão e
imputação são essenciais para que a "etiqueta" de delinqüente possa ser aplicada ao
indivíduo (Olczak, Parcell & Stott, 1983).
A esta concepção de delinqüência como "etiqueta" atribuída a uma pessoa pelos
sistemas de controle formal se opõe a proposta que Biderman e Reiss (1967) denominam
de "realista". Segundo estes autores, delito e delinqüente possuem uma existência própria,
independente de que ambos cheguem a ser detectados pelos mecanismos de justiça oficial.
Por esta ótica, a delinqüência é entendida fundamentalmente como uma conduta, um
comportamento que pode ser realizado por qualquer componente de uma sociedade,
tenham sido ou não enquadrados na categoria sócio-legal de delinqüente. A necessidade de
diferenciar "etiqueta" e "conduta" vem sendo enfatizada, de uma forma ou de outra, por
diferentes pesquisadores (Binder, 1988; Farrington, 1987; Kaplan, 1984; Romero, 2006).
Chama-se a atenção para o fato de que a atribuição da etiqueta "delinqüente" não vem dada
somente pelo comportamento transgressor, mas também por meio da ação dos agentes do
sistema policial e judicial. Ação esta que, como mostra a literatura (Blackburn, 1993),
ocorre com um alto grau de seletividade, ou seja, é influenciada por fatores como o status
sócio-econômico e a cor da pele.
Outro aspecto refere-se ao fato de que somente uma proporção muito pequena dos
delitos realizados chega a fazer parte das estatísticas oficias, ou seja, são detectados e
processados pelos sistemas policial e judicial. Além disso, as ações destas entidades de
controle, como mencionado previamente, parecem estar enviesadas por diversos fatores de
caráter claramente extralegal, a exemplo de raça, sexo ou nível sócio-econômico (Teilman
& Landry, 1981). Desta forma, os indivíduos com a "etiqueta" de delinqüentes podem
tornar-se bem pouco representativos do conjunto de pessoas que realmente estão
32
envolvidas em condutas delitivas. Portanto, para a psicologia e, sobretudo, para o
desenvolvimento de teorias e pesquisas sobre os processos que levam os indivíduos a
envolverem-se em comportamentos delitivos, a concepção da delinqüência enquanto
fenômeno comportamental parece mais apropriada do que como atributo estabelecido pelas
estruturas de controle oficial (Romero, 2006).
1.1.4. Aproximação Comportamental
Mesmo gozando de certa tradição, os conceitos produzidos nas perspectivas
anteriores têm sido objeto de diversas críticas (Romero, 1998). Como se destacou, no
campo psiquiátrico a definição de transtorno anti-social de personalidade se confunde com
o conceito de psicopatia (Salekin, Brannen, Zalot, Leistico & Neumann, 2006; Tomás,
1993; Vien & Beech, 2006; Warren & South, 2006), ao mesmo tempo em que as
definições sociológicas e jurídico-legais apresentam considerável relatividade (ver
comentários de Clemente, 1995; Garrido, 1987; Romero & cols., 2001). Por esta razão, a
construção de uma definição que supere tais dificuldades tornou-se foco de especial
atenção entre os pesquisadores (Farrington, 1987; Loeber, 1991; Scaramella & cols., 2002;
Tolan & cols., 1995).
Diante deste contexto, uma das principais propostas refere-se à inclusão, no
conceito de anti-social, tanto de comportamentos estritamente delitivos como daqueles que,
mesmo não sendo ilegais, são considerados danosos para a sociedade. De acordo com
Romero (1996), este aspecto assume significação especial a nível teórico porque, em
muitos casos, os comportamentos anti-sociais considerados “leves” apresentam
antecedentes e manifestações semelhantes àqueles de caráter mais grave (transgressões às
leis). Ao mesmo tempo, estudos apontam que, dentro do curso evolutivo dos indivíduos,
este tipo de conduta (leve) se apresenta como preditor do desenvolvimento de
comportamentos desviantes cada vez mais severos (Loeber, 1991; Loeber & Dishion,
33
1983). Portanto, sob esta perspectiva, a atividade delitiva é concebida como uma dimensão
do construto “anti-social” (Thornberry & Krohn, 2000).
Não obstante esta compreensão, ainda não há consenso sobre a natureza deste
construto, o que parece justificável, uma vez que se trata de um fenômeno heterogêneo,
com causas, correlatos e conseqüências múltiplas (Farrington, 1987; Otero-López, 1996).
Segundo alguns pesquisadores (por exemplo, Donovan & Jessor, 1985; Jessor, Donovan &
Costa, 1991), o comportamento anti-social compreende um fator de primeira ordem que
agrupa um conjunto de comportamentos desviantes (por exemplo, consumo de álcool e
drogas ilícitas, atividades delitivas, relações sexuais arriscadas), que são contrastados com
um fator pró-social caracterizado pelo envolvimento com agentes de socialização
convencionais (por exemplo, família, escola, igreja; ver Ary, Duncan, Duncan & Hops,
1999; Flannery, Williams & Vazsonyi, 1999).
Outra proposta defende a existência de padrões de evolução destes
comportamentos. Neste sentido, faz-se referência a um padrão manifesto (overt), que se
caracteriza pela presença de condutas agressivas; um encoberto (covert), relacionado com
os atos contra a propriedade; e um padrão de conflito frente às autoridades (authority
conflict), caracterizado por comportamentos desafiantes e de evitação do controle adulto
(Kelley, Loeber, Keenan & DeLamatre, 1997). Adicionalmente, Achembach (1991), em
seu modelo sobre a psicopatia infantil, diferencia problemas de internalização e
externalização. Este último engloba dois tipos de comportamentos anti-sociais: os delitivos
e os agressivos (Liu, 2004).
Na mesma direção, Storvoll, Wichstrøm, Kolstad e Pape (2002) apontam que os
comportamentos anti-sociais estruturam-se mais adequadamente em três dimensões
fortemente inter-correlacionadas. A primeira (destructive covert) inclui atos como roubo e
vandalismo; a segunda (nondestructive covert) refere-se à evitação do controle adulto; e,
34
finalmente, a terceira (overt) diz respeito às condutas agressiva e de oposição à escola.
Segundo estes autores, os índices de ajuste desta estrutura mostram-se bastante adequados
e invariáveis quando avaliados em função do sexo e da idade dos adolescentes. Além
destas propostas, quem sugira uma estrutura bidimensional, composta pelos fatores de
agressão socializada e não-socializada (Quay, 1987).
Uma proposta que parece interessante tem sido apresentada por Seisdedos (1988) e
Scaramella e cols. (2002). Estes admitem um modelo pragmático e simples, identificando
dois tipos de comportamentos socialmente desviantes: anti-sociais e delitivos ou
delinqüentes; não os propõem como antagônicos, mas como dois elementos ou duas
dimensões distintas, diferenciando-se em termos da gravidade dos atos praticados. Ainda,
segundo os autores, os comportamentos anti-sociais referem-se aos atos desviantes que se
destacam pelo rompimento de normas sociais, sem necessariamente consistirem em
violação das leis (por exemplo, jogar lixo em lugares impróprios; desrespeitar os colegas
com determinadas brincadeiras). Tais condutas caracterizam-se por causarem incômodo
aos demais, sem necessariamente provocarem danos físicos.
Os comportamentos delitivos são caracterizados como passíveis de punição, por seu
caráter transgressor das leis formais (Scaramella & cols., 2002; Seisdedos, 1998). Aponta-
se que estes são capazes de causar danos graves, morais e/ou físicos (Espinosa, 2000;
García-Pablos & Gomez, 2006). Desta forma, os comportamentos delitivos podem ser
considerados mais severos que os anti-sociais. Contudo, existe algo em comum nos
comportamentos anti-sociais e delitivos: o fato de ambos interferirem nos direitos e
deveres das pessoas, constituindo-se em uma ameaça ao bem-estar dos demais (Formiga,
2002).
Resumindo, conclui-se que tanto os comportamentos anti-sociais, em sentido
restrito, como os delitivos ferem as normas sociais; porém, apenas os delitivos ferem a
35
norma jurídica. Por sua parcimônia, este modelo bifatorial tem sido levado em conta na
presente tese.
1.2. A Dimensão Risco-Proteção
Os conceitos de “fator de risco” e “fator de proteção” gozam de certa notoriedade
nos estudos sobre comportamentos anti-sociais (Morrison, Robertson, Laurie & Kelly,
2003). Originalmente, estes termos tiveram sua popularidade na epidemiologia médica. No
entanto, com o passar do tempo, revelaram-se como úteis nos diversos campos das ciências
sociais; atualmente, falar de tais fatores é algo freqüente nos trabalhos sobre delinqüência
(Hartnagel, 1997). Essencialmente, um fator de risco é uma característica (pessoal,
familiar, grupal, social etc.) cuja presença aumenta a probabilidade de que se produza
determinado fenômeno (Little, Axford & Morpeth, 2004). Na psicologia, mais
especificamente no campo temático dos comportamentos anti-sociais, fator de risco refere-
se a uma característica que permite predizer o desenvolvimento da conduta problema; uma
variável que, em certa medida, coloca a pessoa em posição de vulnerabilidade frente a tais
condutas (Burton & Marshall, 2005; Dekovic, 1999).
Deve-se ter em conta que tanto o conceito de “fator de risco” como o de “fator de
proteção”, explorado mais detalhadamente no segundo capítulo, é probabilístico e não
determinista; portanto, um indivíduo sujeito ao risco não necessariamente desenvolverá
comportamentos anti-sociais. Mas, se comparado com uma pessoa não exposta aos
mesmos fatores, terá maior probabilidade de chegar a envolver-se em condutas-problema
(Loeber & Farrington, 2000). Com relação à esta idéia, é necessário enfatizar que os
fatores de risco não chegam a ter o status de “causas”. Entretanto, podem ser concebidos
como elementos preditores, o que não sugere uma relação direta e linear. É necessário
também observar que nenhum fator de risco ou proteção por si permite predizer
adequadamente o comportamento anti-social (Frick, 2004). Admite-se que estes fatores
36
atuam em inter-relação; as diferentes variáveis se modulam, interatuam e exercem
influência entre si (Sobral & cols., 2000). Neste campo, uma das dificuldades enfrentada
pelos pesquisadores refere-se ao fato de como se articulam as distintas variáveis (fatores).
Mesmo conhecendo diversos preditores dos comportamentos anti-sociais, ainda é
relativamente escasso o conhecimento de como estes se ordenam e se relacionam (Petraitis
& cols., 1995; Simons, Conger & Whitbeck, 1988).
Apesar do aumento significativo dos estudos sobre o tema, nos últimos anos,
destaca-se que a maioria deles enfoca muito mais os fatores de risco do que os de proteção.
A revisão realizada por Hawkins e cols. (1992), por exemplo, mesmo objetivando analisar
os fatores de risco e proteção, concentra pelo menos 95% dos mais de 120 estudos listados
unicamente nos fatores de risco. Estudar os fatores de risco é considerado um passo
importante; para alguns, o primeiro passo na fundamentação de estratégias de prevenção
empiricamente respaldadas (Herrenkohl & cols., 2000). Entretanto, como reconhecem
Hawkins e cols. (1992), alguns destes fatores são muito difíceis de modificar ou sua
modificação independe da vontade específica da pessoa diretamente envolvida (por
exemplo, privação econômica, experiência de familiares com drogas, fatores fisiológicos).
Neste sentido, estes autores apontam para a importância de pesquisas sobre os fatores de
proteção, que podem contribuir decisivamente para as políticas de prevenção.
Finalmente, é importante ressaltar que os fatores de risco e proteção classificam-se
de acordo com o nível de explicação em que se situam (Akers, 1997). Por um lado,
encontram-se duas categorias de fatores (macro-social e micro-social) topograficamente
externos ao indivíduo e enraizados no seu mundo social. A primeira delas, macro-social,
diz respeito ao ambiente mais amplo onde se localiza o sujeito; tal categoria aglutina
fatores referentes à estrutura econômica, legal e normativa de uma sociedade. Na segunda
(micro-social), em um plano mais próximo ao indivíduo, encontram-se outras variáveis
37
também sociais, mas relativas a âmbitos imediatos de interação; ambientes mais
específicos de relação interpessoal onde ocorre a socialização. Por outro lado, situam-se os
fatores individuais (por exemplo, personalidade, habilidade, atitudes, valores);
características internas ao indivíduo, ainda que, em última análise, também sejam geradas
em interação com seu mundo social. Uma descrição mais detalhada dos fatores localizados
em cada um desses níveis de explicação pode ser contemplada a seguir.
1.2.1. Fatores Macro-sociais
Diversos fatores de corte sócio-estrutural e sócio-normativo têm-se vinculado com
os comportamentos anti-sociais. Um dos aspectos que mais chama a atenção dos
pesquisadores refere-se ao fato de que, em determinadas zonas, os números da
delinqüência apresentam-se muito superiores. Estudos nesta direção buscam entender
como classe social, local de residência e outros fatores sócio-demográficos e econômicos
podem influenciar no incremento dos índices de delinqüência (Conger, Ge, Elder, Lorenz
& Simons, 1994; Muñoz-García & Navas-Collado, 2004). Contudo, ainda que tanto as
visões “legais” da delinqüência como certas tradições criminológicas atribuam à classe
social um papel determinante na gênese da delinqüência, as evidências empíricas não têm
confirmado tal relação (ver Romero & cols., 1999). Portanto, nas últimas décadas diversos
pesquisadores têm deslocado sua atenção das variáveis estruturais para os processos
comunitários (por exemplo, falta de apego à vizinhança, mobilidade social, densidade da
população), que parecem ter uma relação mais estreita com a delinqüência (Hawkins &
cols., 1992; Hemphill & cols., 2005).
Dentre os fatores relativos ao ambiente social “macro”, deve-se fazer referência
também ao efeito dos meios de comunicação de massa (Muñoz-García & Navas-Collado,
2004). No campo dos comportamentos anti-sociais, existem linhas sólidas de pesquisa
sobre os efeitos do conteúdo violento nos meios de comunicação. Ainda que, em alguns
38
momentos, tenha-se suposto que contemplar imagens violentas poderia inclusive reduzir as
condutas agressivas (a chamada hipótese da catarsis), dispõe-se de evidência ampla sobre
o efeito contrário. Desde os clássicos experimentos de Bandura, Ross e Ross (1963), têm-
se realizado numerosas pesquisas sobre este tema (Eron, Huessman, Lefkowitz & Waldern
1972; Williams, 1986). Os resultados sugerem que as exposições a mensagens violentas
reduzem a sensibilidade ante à violência e promovem a aprendizagem de condutas
agressivas como meio para a resolução de conflitos (Gorman-Smith, Henry & Tolan,
2004).
Durante décadas, os fatores “macro-sociais” m sido objeto de interesse para os
pesquisadores dos comportamentos anti-sociais. No entanto, nos últimos anos, uma
quantidade volumosa de estudos vem se concentrando nos âmbitos “micro-sociais” (Beyers
& cols., 2004; Brown, 2004; Farrington, 2005; Schonberg & Shaw, 2007), sobretudo, por
serem estes ambientes fontes de influência mais diretas e próximas ao indivíduo. Além
disso, se comparado com os fatores macro, os micro são mais passíveis de intervenção em
curto prazo. Concretamente, os contextos da família e escola e o grupo de amigos são os
“micros” de socialização que têm gerado mais pesquisas (Barnes, Farrell, & Cairns, 1986;
Brook, Nomura, & Cohen, 1989; Hawkins & cols., 1997; Mason & Windle, 2001).
1.2.2. Fatores Micro-sociais
O âmbito familiar tem sido um dos mais estudados na busca de fatores de risco e
proteção. A família é o primeiro ambiente social do indivíduo, o contexto mais primário de
socialização, no qual são transmitidos valores e visões do mundo, e é onde se instauram as
primeiras normas de conduta (Slovak, Carlson & Helm, 2007; Villar, Luengo, Gómez-
Fraguela & Romero, 2006). Dada a importância do ambiente familiar como “modulador”
de atitudes e estilos de vida, não é de se estranhar que os pesquisadores dos
comportamentos anti-sociais tenham lhe dado atenção especial como fonte de influência.
39
Além disso, o interesse prestado à família tem sido estimulado por perspectivas teóricas
que consideram a experiência familiar como um elemento central na compreensão do
processo de desviação social. As teorias com base no controle social (Catalano, &
Hawkins, 1997; Hirschi, 1969), por exemplo, têm sido firmes defensoras da importância do
meio familiar.
Os primeiros trabalhos sobre variáveis familiares e condutas-problema ocuparam-se
fundamentalmente da estrutura ou composição familiar (ver Hoffman, 1993): número de
irmãos, presença do pai e da mãe no lar etc. De acordo com Hoffman (1993), em alguns
destes estudos verificou-se que as condutas problemáticas estavam associadas com maior
número de irmãos e falta de um dos pais na casa (“lares quebrados”). Com o tempo, o
interesse neste tipo de variável decaiu, dando lugar a pesquisas que comprovaram o poder
preditivo de variáveis estruturais e outras variáveis relativas ao “funcionamento” da família
(por exemplo, práticas parentais, qualidade das relações); os resultados demonstraram que
o impacto destas últimas superava amplamente as variáveis estruturais (Selnow, 1987). Ao
mesmo tempo, começava-se a constatar que o efeito das variáveis estruturais era, na
realidade, um efeito indireto, mediado por variáveis funcionais (Fine, Donnelly &
Voydanoff, 1986; Hoffman, 1993). Por exemplo, um número maior de filhos faz com que
estes tenham um grau menor de supervisão; isso aumenta a probabilidade de ocorrência de
comportamento anti-social; e o efeito dos “lares quebrados” pode explicar-se pelo conflito
familiar que acompanha freqüentemente esta circunstância. Portanto, as pesquisas foram se
concentrando mais na qualidade das relações do que na quantidade de pessoas presentes no
núcleo familiar.
Neste tema, três campos são objetos de interesse: as relações afetivas, as práticas
educativas exibidas pelos pais e os processos de aprendizagem no que se refere às atitudes
e aos comportamentos desviantes. Por um lado, algumas pesquisas têm mostrado que a
40
delinqüência está associada com as relações tensas e conflituosas no meio familiar
(Lindahl & Malik, 1999; Simcha-Fagan, Gersten & Langner, 1986). Estas correlações se
observam tanto em famílias “intactas” (pai e mãe presentes no lar) como em “lares
quebrados” (Hawkins & cols., 1992). Além disso, de acordo com o que explicitamente
considerava Hirschi (1969), a falta de vínculos afetivos positivos, como a família, se
associa com a conduta desviante. A escassa intimidade com os pais, os padrões de
comunicação insuficientes e a alienação experimentada nas relações familiares são fatores
preditores para comportamentos problemáticos (Huebner & Betts, 2002; Sobral & cols.,
2000).
A respeito dos processos de aprendizagem no meio familiar, também existe um
corpo sólido de pesquisas sobre a relação entre conduta desviante dos membros da família
e os comportamentos do adolescente (Beyers, Toumbourou, Catalano, Arthur & Hawkins,
2004; Brook, Whiteman, Gordon & Brook, 1988; Newcomb, Huba & Bentler, 1983). No
âmbito do consumo de drogas, por exemplo, tem-se comprovado que o consumo parental
se associa com a iniciação da experiência dos adolescentes (Barnard & McKeganey, 2004;
Mason, Hitchings & Spoth, 2007). Da mesma maneira, tem-se sugerido que a adoção de
atitudes permissivas frente às drogas, por parte dos pais, pode ser tanto ou mais importante
que seu consumo na determinação do uso de drogas entre os adolescentes (McDermott,
1984). No que se refere às condutas anti-sociais, muitos pesquisadores têm estudado o
chamado “ciclo da violência” na família, observando que a violência por parte dos pais se
correlaciona com condutas problemáticas do adolescente (para uma revisão, ver
Ketterlinus & Lamb, 1994).
Outro ambiente com especial importância dentro dos fatores micro-sociais é o
escolar. Considerada como um órgão de socialização prioritário, a escola assume, entre
outras funções, a formação dos adolescentes e jovens para um funcionamento socialmente
41
ajustado (Brint, 2006; Fonseca, 2008). Nela, têm lugar as primeiras interações com os
iguais e o contato com as primeiras figuras de autoridade distintas das familiares; ao
mesmo tempo, é o ambiente no qual a criança tem a oportunidade de alcançar as primeiras
conquistas socialmente reconhecidas. Portanto, muitos pesquisadores têm considerado as
vivências no marco escolar como fatores de alto interesse para explicar os “desajustes” no
desenvolvimento social (Petraitis & cols.,1995).
Os resultados de estudos sobre variáveis escolares e comportamentos anti-sociais
têm-se apresentado muito consistentes. O consumo de drogas e a delinqüência, por
exemplo, correlacionam-se significativamente com o baixo rendimento escolar, o alto
absentismo e a baixa implicação nas atividades acadêmicas (McCord, Widom & Crowell,
2003; Svobodny, 1982; Thomas & Hsiu, 1993). Além disso, os jovens que apresentam
comportamentos anti-sociais tendem a mostrar certo desapego emocional com relação ao
ambiente escolar, atitudes mais negativas frente à escola, expectativas negativas com
respeito a seu êxito acadêmico e percebem a educação acadêmica como pouco útil ou
relevante (Marcos & Bahr, 1995; Swaim, 1991). Conclusivamente, parece que o “fracasso”
em ajustar-se a um meio que, precisamente, tenta promover estilos de vida convencionais,
deixa o adolescente em situação de vulnerabilidade frente às condutas desviantes.
Outro âmbito psicossocial de interesse prioritário para os pesquisadores da etiologia
dos comportamentos anti-sociais diz respeito ao grupo de amigos. Numerosos estudos têm
tentado examinar quais características do grupo de amigos se associam com a conduta-
problema do adolescente (ver Hawkins & cols., 1992; Morrison & cols., 2003). Os
resultados indicam que adolescentes implicados em condutas desviantes têm amigos que
também cometem atos desviantes. Este é um dos resultados mais encontrados nas
pesquisas sobre comportamentos-problema. Desde os primeiros estudos no tema até as
pesquisas mais atuais, isso tem sido constatado em várias ocasiões, com amostras diversas
42
e enfoques metodológicos distintos (Fischhoff, Nightingale & Iannotta, 2003; Thornberry
& Krohn, 1997).
A associação entre a conduta desviante dos amigos e a conduta desviante do
adolescente alcança uma intensidade relativamente elevada; em termos de “variância
explicada”, a desviação dos amigos é provavelmente um dos “fatores de risco” com maior
capacidade de “determinação” (Otero-López, Romero & Luengo, 1994). No entanto, deve-
se destacar que tanto o grupo de amigos como a família e a escola não são campos de
experiências isolados entre si. Os fatores destes âmbitos se afetam mutuamente e estão em
contínuo interjogo. Pode-se supor, por exemplo, que a tensão familiar afetará o ajuste
escolar e o tipo de amigos com que se relacionará o jovem; e que a falta de adaptação à
escola influirá na implicação com amigos problemáticos (Hoffmann, 1993). Além disso, a
influência exercida por estes fatores também pode, provavelmente, reduzir-se ou ampliar-
se em função dos chamados fatores individuais.
1.2.3. Fatores Individuais
Diversos fatores cognitivos, emocionais e comportamentais são associados na
explicação dos comportamentos anti-sociais (McCord & cols., 2003). No estudo do
consumo de substâncias psicoativas, por exemplo, tem-se comprovado que as crenças e as
atitudes frente às drogas se relacionam com o consumo dos adolescentes (Chassin, Presson,
Sherman, Corty & Olshavsky, 1984; Kandel, Kessler & Margulies, 1978). A importância
destas crenças e atitudes na explicação dos chamados comportamentos de risco tem sido
ressaltada por teorias de corte cognitivo, a exemplo da teoria da ação racional (Azjen &
Fishbein, 1980). Outra variável que tem despertado o interesse dos pesquisadores refere-se
à capacidade de interação social. Alguns estudos têm analisado se indivíduos que incorrem
em condutas desviantes apresentam déficits nas habilidades para estabelecer relações,
43
expressar as próprias opiniões e sentimentos e, finalmente, para interagir de um modo
socialmente eficaz (Scheier & Botvin, 1998).
Na área da delinqüência têm-se desenvolvido linhas de pesquisa em torno de um
componente específico da habilidade social: a empatia ou a capacidade para “colocar-se no
lugar” do outro. Estudos com delinqüentes institucionalizados têm demonstrado que estes
apresentam certos déficits na hora de identificar e compreender os estados internos
(pensamentos, perspectivas, sentimentos) de outrem (Broidy, Cauffman, Espelage,
Mazerolle & Piquero, 2003; Ellis, 1982; Jolliffe & Farrington, 2004; Kaplan & Arbuthnot,
1985). Tal déficit parece especialmente destacado na capacidade para “sentir” os afetos dos
demais; indivíduos anti-sociais parecem mostrar uma capacidade menor para “identificar-
se” com os sentimentos de outras pessoas (Mirón, Otero-López & Luengo, 1989; Romero,
1996). Estudos também demonstram que pessoas com dificuldades para expressar
abertamente suas opiniões ou se desenvolverem adequadamente em seu meio social,
poderão ser mais vulneráveis às pressões do meio; sugere-se, neste aspecto, que
adolescentes delinqüentes possuem menor capacidade para enfrentar as influências que
convidam à conduta-problema (Ellickson & Hays, 1992).
Os comportamentos anti-sociais ainda podem aparecer como um meio para
conseguir metas vitais desejadas, entre as quais se encontram, por exemplo, a aceitação por
parte dos amigos e as relações sociais satisfatórias. Quando o indivíduo não dispõe de
recursos pessoais ou psicossociais para alcançar tais metas (por exemplo, um repertório
adequado de habilidades sociais), o comportamento problemático aparecerá como uma via
alternativa (Jessor, 1987). Tem-se estudado, também, em que medida existe relação entre a
conduta-problema e a dificuldade para o controle das emoções. Algumas pesquisas têm
achado inter-relações com tendências à instabilidade emocional (Kagan, 1991), altos níveis
44
de ira (Colder & Stice, 1998) e a utilização de estratégias deficitárias na hora de regular ou
enfrentar as emoções (Eisenberg, Fabes, Guthrie, & Murphy, 1996; Kagan, 1991).
A auto-estima é outra característica que tem recebido grande atenção na área da
conduta-problema. Muitos autores têm assumido que, em alguma medida, a auto-imagem e
a auto-valorização são fatores relacionados com a etiologia da conduta desviante. na
década de 1950, certos representantes das teorias do controle social sustentaram que um
auto-conceito bom (positivo) era algo semelhante a um pilar de contenção que “isolava” a
pessoa de influências criminológicas (Reckless, Dinitz & Murray, 1956). De fato, os
resultados mostraram que, em condições sociais de alto risco, os indivíduos com auto-
conceito positivo apresentavam menor vulnerabilidade diante dos comportamentos anti-
sociais. Não obstante, determinados autores têm teorizado sobre a auto-estima como um
mecanismo de compensação (Kaplan, 1984; Steffenhagen, 1980; Toch, 1992); neste caso,
o comportamento anti-social seria um meio para restaurar a auto-estima deteriorada.
Portanto, como se pode perceber, as evidências empíricas acerca da relação auto-estima e
conduta-problema têm se mostrado contraditórias.
No que se refere à competência psicossocial, pode-se encontrar um número
expressivo de construtos relacionados com o comportamento anti-social, como, por
exemplo, a impulsividade e as dificuldades na hora de resolver problemas ou tomar
decisões (Farrington & Coid, 2003; Kazemian, 2007). Ainda que a confusão conceitual
seja uma das características mais dominantes do construto impulsividade, nele se conjugam
aspectos como as dificuldades para considerar as conseqüências da própria conduta, um
“estilo” rápido e pouco meditado na hora de tomar decisões, dificuldades em considerar o
próprio comportamento e incapacidade para exercer um controle sobre o próprio
comportamento (McCown & DeSimone, 1993). A conduta-problema tem-se mostrado
relacionada com estes aspectos em numerosas ocasiões (Li, 2004; McCown, Johnson &
45
Shure, 1993; Piquero, Moffitt & Wright, 2007; Wood, Cochran, Pfefferbaum & Arneklev,
1995). Alguns estudos que têm comparado delinqüentes “detectados” pelos sistemas de
justiça e sujeitos da população geral também mostram esta relação (Eysenck & McGurk,
1980; Royse & Wiehe, 1988).
A impulsividade ainda aparece associada com as dificuldades na resolução de
problemas interpessoais e na tomada de decisões. A incapacidade em parar para pensar
diante de uma situação conflituosa e avaliar as conseqüências da própria conduta permitem
que a resolução de problemas interpessoais torne-se pouco efetiva. Certos teóricos têm
considerado variáveis como a impulsividade e a tomada de decisões como elementos
fundamentais para explicar a conduta desviante (Gottfredson & Hirschi, 1990; Wilson &
Herrnstein, 1985). Wilson e Herrnstein (1985), por exemplo, indicam que a realização de
uma conduta desviante dependerá sempre, em último caso, de uma tomada de decisão. Na
hora de tomar uma decisão (delinqüir ou não delinqüir, por exemplo), o indivíduo valoriza
os benefícios e os custos que pode proporcionar-lhe tal conduta. O característico da
conduta desviante é que, em geral, seus benefícios são imediatos, mesmo que os custos
pareçam mais demorados (e também mais incertos). A pessoa impulsiva tende a priorizar o
imediato e a prestar menos atenção ao que é mais demorado temporalmente: os benefícios
serão mais “relevantes” na hora de decidir. Portanto, o indivíduo impulsivo apresentará
maior probabilidade de implicar-se em condutas problemáticas (Pechmann, Levine,
Loughlin & Leslie, 2005; Silberg, Rutter, D‟Onofrio & Eaves, 2003).
A necessidade de experimentar sensações novas e intensas é outra das
características que se tem revelado com maior consistência como preditora da conduta-
problema (Ames, Zogg & Stacy, 2002; Hemphill & cols., 2005). Na história da pesquisa
sobre comportamentos desviantes, muitos autores têm hipotetizado que a delinqüência
pode vir motivada por uma ânsia de estimulações fortes (Vasconcelos, 2004). Luengo e
46
cols. (1999), por exemplo, apontam que a conduta desviante pode ser resultado de uma
necessidade forte de sensações, combinada com um ambiente que não oferece
possibilidades para satisfazê-las; se um jovem não encontra vias para expressar essa
motivação de um modo socialmente aceitável, os comportamentos anti-sociais poderão ser
um meio alternativo para fazê-lo. Avaliando as “motivações” subjetivas dos jovens,
percebe-se que os desejos de estimulação e risco parecem desempenhar um papel
importante. Tem-se encontrado que a busca de risco e aventura, a curiosidade e o desejo de
superar o tédio são “razões” freqüentemente indicadas quando se pergunta aos jovens sobre
o porquê de sua conduta delitiva (Agnew, 1990). As pesquisas relacionadas com o tema
têm se concentrado na variável “busca de sensações” (Vasconcelos, 2004).
O termo “busca de sensações” surgiu em torno da idéia de que as pessoas diferem
com relação ao “nível ótimo” de estimulação. Enquanto algumas pessoas necessitam de
estímulos abundantes, outras se sentem incomodadas nestas circunstâncias. Esta hipótese,
que tem uma longa tradição na história da psicologia, foi retomada por Melvin
Zuckerman nos anos 1960. A partir de trabalhos sobre reações diante de situações de
privação de estímulos, Zuckerman (1979) conjeturou a existência de uma variável de
personalidade referida precisamente à necessidade de experiências e sensações variadas,
novas e complexas e a disposição para assumir riscos físicos e sociais a fim de conseguir
tais experiências. A busca de sensações está ligada a características bioquímicas; o
indivíduo “buscador de sensações” se caracteriza por uma atividade alta dos sistemas
cerebrais encarregados de regular a sensibilidade às experiências gratificantes (Ames &
cols., 2002; Zuckerman, 1993).
A busca de sensações tem-se conectado com estilos de relação interpessoal,
orientação vocacional, conduta sexual etc. Nos últimos anos, a análise de sua relação com
os comportamentos anti-sociais vem sendo objeto de muitas pesquisas (para uma revisão,
47
ver Vasconcelos, 2004). Desde os primeiros trabalhos sobre o tema, os resultados apontam
repetidamente sua inter-relação com atos desviantes. Na área do consumo de drogas,
observa-se que, nas medidas de busca de sensações, os consumidores pontuam mais alto
que os não-consumidores (Newcomb & McGee, 1991; Wood & cols., 1995). Da mesma
maneira, outros estudos sugerem que os indivíduos com um grau alto de conduta delitiva
pontuam mais em busca de sensações do que aqueles indivíduos menos anti-sociais
(Levenson, Kiehl, & Fizpatrick, 1995; Luengo, Otero-López, Romero & Gómez-Fraguela,
1996; Simó & Pérez, 1991).
Outro construto importante relacionado com o estudo dos comportamentos anti-
sociais são os valores. Durante muitos anos o tema dos valores tem chamado a atenção dos
estudiosos da desviação social. Algumas das teorias mais tradicionais sugerem que
indivíduos anti-sociais apresentam um sistema particular de valores (uma “sub-cultura”)
que, de alguma forma, os conduz a transgredir a lei (ver Romero & cols., 1999). Teóricos
do controle social, a exemplo de Hirschi (1969), enfatizam que, quando o indivíduo não
interioriza valores convencionais, sua tendência natural à transgressão se expressa sem
inibições. Em estudos recentes, os comportamentos anti-sociais correlacionaram-se
significativamente com certas prioridades axiológicas (Coelho Junior, 2001; Formiga,
2002; Pimentel, 2004). De acordo com estas pesquisas, indivíduos com pontuações altas
em comportamentos anti-sociais apreciam valores com relevância pessoal imediata (por
exemplo, prazer e estimulação) e priorizam menos valores com transcendência social (por
exemplo, justiça e ordem social). Segundo a teoria do controle social (Hirschi, 1969), tais
resultados são coerentes, uma vez que a conduta desviante se correlaciona negativa e
significativamente com prioridades valorativas relacionadas à socialização convencional.
Finalmente, é necessário apontar que os fatores mencionados compõem apenas um
conjunto das variáveis mais exploradas no estudo dos comportamentos anti-sociais,
48
devendo-se reconhecer, portanto, que a exposição de todos os construtos correlatos ao tema
seria excessiva para o espaço de uma tese. Concomitantemente, ressalta-se que os
comportamentos anti-sociais podem ser entendidos desde uma perspectiva multicausal,
que confluem diversos fatores (Muñoz-García & Navas-Collado, 2004; Navas-Collado &
Muñoz-García, 2005). Esta compreensão tem conduzido à formulação de modelos teóricos
cuja pretensão é inter-relacionar variáveis distintas e verificar como interagem e afetam
conjuntamente o comportamento anti-social; este empreendimento fica visível nos modelos
que a continuação são descritos.
1.3. Teorias Explicativas do Comportamento Anti-social
Alguns dos principais modelos teóricos que têm organizado e/ou integrado
diferentes variáveis explicativas do comportamento desviante são aqui considerados. Em
termos gerais, contemplam-se as teorias que vêm recebendo maior atenção e têm servido
de base para o desenvolvimento de estratégias de prevenção (Cordella & Siegel, 1996;
Lettieri, Sayers & Pearson, 1980; Navas-Collado & Muñoz-García, 2005; Petraitis & cols.,
1995; Romero, 1998). Contudo, dada a relevância que assumem na elaboração de distintos
modelos teóricos, sobretudo naqueles formulados a partir dos anos 1990, procurar-se-á
descrever, ainda que sucintamente, o desenvolvimento dos primeiros enfoques sobre o
tema e das aproximações teóricas mais importantes no estudo dos comportamentos anti-
sociais (Romero, 1998). Em seguida, apresentam-se modelos em que são organizados os
fatores relativos a ambientes micro-sociais, alguns que incorporam em seus núcleos
variáveis intrapessoais e, finalmente, aqueles que buscam integrar um amplo conjunto de
variáveis.
49
1.3.1. As Primeiras Aproximações Teóricas
Mesmo antes da publicação clássica de Cesare Lombroso (1876/2006), L'Uomo
Delinquente, citada geralmente como o ponto de partida para o estudo científico dos
comportamentos desviantes, diversos autores conjeturavam acerca das possíveis causas
da delinqüência (Shecaira, 2004). No período chamado pré-científico, desenvolveram-se
dois enfoques que, apesar de concomitantes, assumíam pressupostos completamente
distintos (García-Pablos & Gomes, 2006). O primeiro, denominado “clássico”, firmava
suas bases a partir do método abstrato, dedutivo e formal, enquanto o segundo (empírico-
dedutivo), substituiu a especulação, intuição e dedução pela análise, observação e indução.
A chamada Criminologia Clássica fundamentava-se na teoria do contrato social
(Rousseau, 1762/2006) e assumia o crime como uma infração à lei, constituída a partir de
“acordos” cujo propósito era garantir a ordem e a convivência social. Sob tal perspectiva, o
delito é um fato individual e isolado, resultante da livre decisão de um perpetrador que faz
um cálculo racional ponderando os custos e benefícios de sua própria ação; a ênfase está
no ato em si e não nos aspectos etiológicos (Romero, 1996). Segundo García-Pablos e
Gomes (2006, p. 136), “a Escola Clássica simboliza o trânsito do pensamento mágico,
sobrenatural, ao pensamento abstrato, do mesmo modo que o positivismo representará a
passagem ulterior para o mundo naturalístico e concreto”.
O enfoque empírico-dedutivo é considerado o precursor do positivismo
criminológico. Desenvolvido em diferentes campos de estudo, a exemplo da ciência
penitenciária, fisionomia, frenologia, psiquiatria e antropologia, concentra sua análise na
figura do delinqüente e seu ambiente (García-Pablos & Gomes, 2006). Na ciência
penitenciária, dois nomes mereceram destaque: John Howard (1726-1790), por reunir uma
grande quantidade de material empírico acerca da realidade penitenciária da Inglaterra e
Gales, influenciando reformas no sistema legal; e Jeremy Bentham (1748-1832), ao propor
50
a tese da reforma do delinqüente, fixando penas definidas e inflexíveis para cada classe de
delito, de modo que a dor da pena superasse apenas um pouco o prazer do delito (García-
Pablos & Gomes, 2006; Pimentel, 2004). Enquanto estes autores dedicavam-se à análise da
realidade penitenciária, outros, como os fisionomistas, preocupavam-se com o estudo da
aparência do indivíduo, ressaltando a relação entre dados fisionômicos e características
psíquicas, relacionando aspectos físicos à moral do delinqüente (Shecaira, 2004).
A fisionomia deu origem à cranioscopia que, com base em medições externas do
crânio, pretendia prever características de personalidade e o desenvolvimento das
faculdades mentais e morais dos seres humanos (Shecaira, 2004). Por meio dos avanços
desta, surgiu a frenologia, considerada como antecessora da neurofisiologia e
neuropsiquiatria (Lent, 2004). Para a frenologia e seu principal representante, Franz Joseph
Gall (1758-1828), a origem do crime reside no desenvolvimento incompleto e não
compensado do cérebro; pensando haver áreas cerebrais responsáveis por instintos
agressivos e homicidas, e sentimentos morais e de patrimônio (Venturi, 2007). No mesmo
período em que Gall desenvolveu suas idéias, surgiram, na psiquiatria, diversas hipóteses
explicativas para o comportamento delitivo; autores como Philippe Pinel (1745-1826),
Jean Etienne Dominique Esquirol (1772-1840) e Bénedict-Augustin Morel (1809-1873)
destacaram a existência de padrões de personalidade distorcidos associados com a
criminalidade (Romero, 1996).
Os antropólogos, ligados à psiquiatria e à frenologia, também exerceram forte
influência em muitas das idéias utilizadas por Lombroso (1876/2006), entre as quais se
pode destacar o conceito de atavismo; pressuposto de que características ancestrais podem
reaparecer no organismo após a ausência por várias gerações (Shecaira, 2004). De fato,
mesmo antes das proposições lombrosianas serem publicadas, autores como Gaspar
Virgílio (1836-1907) utilizavam termos como “criminoso nato” e faziam referência à
51
anormalidade do delinqüente. Além disso, muitas das influências do pensamento
criminológico deste período vieram do darwinismo e podem ser observadas em grande
parte dos teóricos da Escola Positivista Italiana, sobretudo no seu principal representante,
Cesare Lombroso (1835-1909), considerado o pai da criminologia científica (García-
Pablos & Gomes, 2006; Romero, 1996; Shecaira, 2004) e cujas idéias são resumidamente
apresentadas em seguida.
1.3.1.1. A Escola Positivista Italiana
Como mencionado no início desta seção, a origem do estudo científico dos
comportamentos desviantes está fortemente respaldada na publicação, em 1876 , do
L'Uomo Delinquente, de Cesare Lombroso. Dentre as muitas classificações dos
delinqüentes elaboradas por Lombroso (por exemplo, loucos morais, delinqüente por
ímpeto, instinto, hábito), a que mais se destacou foi a de criminoso nato (Lombroso,
1876/2006). Em seu famoso tratado, um dos pontos mais importantes é a concepção de que
alguns seres humanos nascem e se desenvolvem com uma inclinação inata para o crime.
Suas análises envolviam informações como a quantidade de cabelo, estatura, peso,
incidência maior ou menor de barba e até rugas frontais descritas com minuciosa precisão.
Utilizando parâmetros da frenologia, Lombroso (1876/2006) estudou a circunferência
craniana, formato, diâmetro, feição, índices nasais, detalhes da mandíbula e da fossa
occipital, características que, sob sua perspectiva, nos “criminosos natos” apresentavam
diferenças significativas (Shecaira, 2004).
A partir destes dados, Lombroso (1876/2006) confiava na possibilidade de se
identificar os delinqüentes e os potenciais criminosos. Segundo pensava este autor, tais
indivíduos eram seres menos evoluídos; sua interpretação do evolucionismo darwiniano o
fez pensar no criminoso como uma variedade antropológica de tipo regressivo semelhante
aos selvagens. Segundo Ferrajoli (1995), a antropologia criminal da Escola Positivista
52
apresenta explícito fundamento racista, o que pode ser observado na interpretação das
anomalias desviantes através das leis do atavismo e da degeneração, bem como nas
analogias estabelecidas entre os traços somáticos e fisiológicos regressivos dos diferentes
delinqüentes e os dos selvagens e grupos raciais não-brancos. Apesar disso, a idéia do
“atavismo moral” e, em geral, a ênfase na análise do crime desde uma perspectiva
biológica, teve grande repercussão no ambiente científico da época (Romero, 1996).
De fato, diversas hipóteses promovidas pela Escola Positivista Italiana foram alvos
de polêmica. Na Europa, por exemplo, a criminologia lombrosiana foi submetida a duras
críticas, especialmente por parte de teóricos como Gabriel Tarde e Alexandre Lacassagne,
que refutaram a possibilidade de existirem criminosos natos e enfatizaram a natureza social
do delito (Carlos, 2007; García-Pablos & Gomes, 2006). A partir deste período, rios
estudos voltados para aspectos sociais começaram a ser desenvolvidos. No entanto,
considerando a literatura vasta acerca do desenvolvimento das correntes explicativas do
comportamento desviante (para uma revisão, ver García-Pablos & Gomes, 2006; Maguire,
Morgan & Reiner, 1998; Serrano-Maíllo, 2007; Siegel, 2006), pretende-se, a seguir,
discorrer mais objetivamente sobre os seguintes modelos: Teoria da Anomia (Merton,
1938/1968), Associação Diferencial (Sutherland, 1939), Aprendizagem Social (Bandura &
Walters, 1963) e Controle e Vínculo Social (Hirschi, 1969), por terem exercido influência
decisiva na elaboração de diversos modelos teóricos recentes.
1.3.1.2. Teoria da Anomia
A teoria da anomia (Merton, 1938/1968) é, provavelmente, uma das que mais
influência exerceu no estudo dos comportamentos anti-sociais. A concepção de anomia,
proposta por Merton, inspirou-se nas observações de Durkheim (1897/2000) acerca do
suicídio e seu aumento nos períodos de turbulência social ou mudanças rápidas, quando as
normas que guiam o comportamento das pessoas são fragilizadas. Merton estendeu a noção
53
de ausência de normas e a aplicou às sociedades nas quais as metas não são consistentes
com as realidades objetivas da vida. De acordo com este autor, as entidades sociais podem
ser classificadas em função das ênfases relativas às metas que seus membros devem
procurar alcançar, em comparação com os meios disponíveis ou aceitos para atingi-las
(Merton, 1938/1968). Neste sentido, os indivíduos buscam aqueles objetivos que são
valorizados em suas sociedades. Quando as metas culturais desejadas e as oportunidades
estruturais para seu alcance são limitadas, desenvolve-se uma tensão (strain), uma situação
de anomia; uma das respostas que os indivíduos podem adotar frente à mesma é o
comportamento delitivo.
Para reagir à anomia, além do conformismo, as pessoas podem apresentar quatro
componentes comportamentais distintos: (1) o ritualismo, quando se rejeitam os objetivos
e abrem mão de tentar atingir o sucesso, mas continuam conformando-se às normas
sociais; (2) o afastamento, que se caracteriza pela rejeição tanto dos objetivos como meios,
gerando o distanciamento do indivíduo da participação ativa na sociedade por meio de
problemas como o alcoolismo, consumo abusivo de drogas etc.; (3) a inovação, quando as
pessoas continuam comprometidas com os objetivos, mas utilizam meios ilegais e
desaprovados socialmente para alcançarem suas metas; e a (4) rebelião, identificada pelas
tentativas que determinados indivíduos utilizam para subverter o sistema existente e criar
objetivos e meios diferentes dos culturalmente estabelecidos (Michener, DeLamater &
Myers, 2005).
De acordo com Merton (1938/1968), os comportamentos desviantes não são
produtos de uma patologia da estrutura social ou o resultado natural de fatores biológicos e
antropológicos. Desde que se mantenham em proporções razoáveis, os atos anti-sociais são
um fenômeno normal e necessário para o equilíbrio e desenvolvimento sócio-cultural.
Neste sentido, os delitos não se diferenciam de qualquer outra resposta que os indivíduos
54
possam apresentar frente à anomia social (Snell, 2006). Portanto, na concepção de Merton
(1938/1968), o delito configura-se como uma forma de inovação, ou seja, mais um dos
possíveis métodos utilizados pelas pessoas para alcançar, sem questionar, as expectativas
sociais (Baratta 2002).
Análises posteriores (por exemplo, Cloward, 1959) sugeriram o acesso aos papéis
desviantes como outra variável importante na adaptação dos atores sociais. Segundo
Cloward (1959), a utilização dos meios para atingir um objetivo requer o acesso a duas
estruturas: uma de aprendizagem e outra de oportunidade. A primeira refere-se ao
ambiente onde são proporcionadas informações e aprendizagens para o desenvolvimento
de habilidades necessárias à realização de atos ilícitos. A segunda, diz respeito às
possibilidades encontradas pelo indivíduo para desempenhar um papel, o que requer a
assistência de outras pessoas. De modo semelhante aos meios lícitos, o acesso aos meios
ilícitos é limitado. Portanto, somente as pessoas com estruturas de aprendizagem
desenvolvidas conseguem utilizar meios alternativos (por exemplo, roubo, prostituição
etc.) para alcançar suas metas (Michener & cols., 2005).
1.3.1.3. Teoria da Associação Diferencial
Desenvolvida por Edwin H. Sutherland, a “Teoria da Associação Diferencial”
representa um dos grandes avanços na explicação dos comportamentos anti-sociais.
Diferente de outros autores, os teóricos da associação diferencial (Sutherland & Cressey,
1974; Sutherland, Cressey & Luckenbill, 1992) vêem o crime como qualquer outro
comportamento, ou seja, pode ser aprendido a partir da convivência do indivíduo em seu
ambiente social. Deste modo, o delito seria aprendido a partir do envolvimento com
determinados grupos, onde o indivíduo assume suas características e se sente vinculado por
meio de uma aproximação voluntária, ocasional ou coercitiva (Matsueda, 1982). Segundo
Shecaria (2004), Sutherland foi fortemente influenciado por Tarde (1903/1976), para quem
55
o delinqüente era um tipo profissional que necessitava de um aprendizado. Pensamento que
é corroborado por meio da afirmação: “Todo comportamento tem sua origem social.
Começa com uma moda, torna-se um hábito ou costume. Pode ser uma imitação por
costume, por obediência, ou educação. O que é a sociedade? Eu já respondi, é uma
imitação” (Tarde, 1903/1976, p. 74).
Segundo Sutherland e Cressey (1974), a aprendizagem do comportamento
desviante está significativamente relacionada com a associação direta ou indireta que o
individuo mantém com determinadas pessoas ou grupos que praticam comportamentos
criminosos. Em função desta interação é que se desenvolvem, com maior ou menor
intensidade, as técnicas para o cometimento de delitos e as orientações específicas
referentes às motivações, aos impulsos e às atitudes, além da auto-justificativa para o
crime. A orientação das motivações e dos impulsos desenvolve-se a partir de definições,
favoráveis ou não, frente aos códigos legais (Shecaria, 2004). Dessa forma, uma pessoa
torna-se ou não criminosa de acordo com o grau relativo de freqüência e intensidade de
suas relações com os dois tipos de comportamento legal e ilegal. Isso é o que se denomina
propriamente de “associação diferencial”, que pode variar em freqüência, duração,
prioridade e intensidade (para uma revisão acerca destes aspectos, ver Shecaria, 2004).
Paralelo ao desenvolvimento desta teoria, Sutherland direcionou sua atenção para
um fenômeno ainda não contemplado satisfatoriamente na explicação do crime, a saber: os
comportamentos desviantes apresentados por “poderosos” e organizações (Sutherland,
1940, 1945). Para o estudo do chamado “crime do colarinho branco”, este autor partiu da
análise de casos e decisões judiciais e administrativas contra algumas das companhias mais
importantes dos Estados Unidos. Tal análise permitiu observar que as companhias
cometiam delitos na mesma proporção que os chamados delinqüentes comuns. Em função
destes resultados, Sutherland concluiu que o binômio pobreza/delinqüência é questionável;
56
embora exista alguma relação entre pobreza e criminalidade, não se pode afirmar que
aquela seja a exclusiva razão desta, sobretudo porque o crime também é encontrado em
grupos economicamente favorecidos (Sutherland, 1940).
As conclusões a que chegou Sutherland (1940) acerca do crime do colarinho
branco significaram o rompimento com algumas das hipóteses mais arraigadas nos
estudos sobre a etiologia dos comportamentos desviantes, ou seja, a associação entre
pobreza, patologias sociais e pessoais, e delinqüência. De acordo com Virgolini (2004),
este rompimento promoveu um salto qualitativo da teoria frente aos demais modelos
prevalecentes na época. A teoria da associação diferencial removeu a patologia do
delinqüente para a sociedade (Virgolini, 2004). Mesmo após décadas de sua publicação, as
idéias de Sutherland têm gerado repercussões, sejam em seus formatos originais ou em
muitas das reformulações desenvolvidas por diversos autores (por exemplo, Agnew 1991;
Akers, 1985; Marcos, Bahr & Johnson 1986; Massey & Krohn 1986; Warr & Stafford
1991).
1.3.1.4. Teoria da Aprendizagem Social
A teoria desenvolvida por Bandura e Walters (1963) se diferencia de outros
modelos teóricos quando desloca sua atenção dos processos centralizados no reforço para a
aprendizagem por observação, ao mesmo tempo em que introduz na explicação dos
comportamentos variáveis mediadoras de caráter cognitivo (Alvaro & Garrido, 2003).
Segundo Bandura e Walters (1963), ainda que o reforço facilite a aprendizagem, não é
absolutamente necessário para que esta ocorra. Na compreensão destes autores, a
aprendizagem ocorre, em sua maioria, de forma vicária, por meio da observação de
modelos simbólicos proporcionados, por exemplo, pelos meios de comunicação de massa
que expõem uma variedade de comportamentos e normas sociais. A exposição aos
57
modelos promove três efeitos sobre o comportamento: (1) de modelagem, que consiste na
aquisição de respostas novas frente ao repertório de respostas do indivíduo; (2)
inibidor/desibinidor, que se refere ao incremento ou diminuição da freqüência, latência ou
intensidade de respostas adquiridas previamente pelo observador, mais ou menos similares
àquelas que o modelo apresenta; e (3) o efeito de provocação, cuja observação das
respostas do modelo serve como sinal para que o observador “dispare” respostas
semelhantes que não são completamente novas, nem estão inibidas como resultado de uma
aprendizagem prévia.
A constatação experimental de que a produção e manutenção do comportamento
“imitativo” não dependem exclusivamente do reforço direto, mas também daquele
administrado ao modelo, levou os autores a incluírem no conceito de aprendizagem o
termo reforço vicário, que pode ser exemplificado pelos anúncios de publicidade. A
propaganda, em muitos casos, apresenta o efeito positivo proveniente da compra ou
utilização de produto anunciado, o que incentiva a imitação do comportamento proposto.
Além disso, Bandura ainda apresenta uma distinção entre aprendizagem e execução,
aspecto que justifica a perda da importância do reforço, sobretudo porque esta pressupõe o
caráter cognitivo do processo de aprendizagem (Bandura, 1986).
A influência do reforço vicário e o fato de que nem este nem o direto afetam
necessariamente a aprendizagem, sugere a existência de representações e imagens do
comportamento e do reforço. Portanto, o estímulo não provoca diretamente o
comportamento do observador, e sim a aquisição de um padrão cognitivo encoberto de tal
comportamento, independentemente de que este seja executado (Bandura, 1986). A
aprendizagem por observação encontra-se mediada por quatro processos, sendo os dois
primeiros de caráter cognitivo: processos de atenção e discriminação do comportamento do
modelo, de retenção do comportamento observado, de motivação, e de reprodução motora.
58
Além disso, a hipótese corroborada experimentalmente de que o comportamento não é uma
réplica exata do modelo, implica a existência de elaboração cognitiva do mesmo.
Esta teoria, da forma que a expõem Bandura e Walters (1963), ampliou os
mecanismos de aprendizagem postulados pelo comportamentalismo anterior
(condicionamento clássico e operante), com a inclusão da aprendizagem vicária. A
deficiência, tanto do condicionamento clássico como operante, em explicar a aprendizagem
que se dá em contextos sociais, conduziu Bandura a concentrar-se na aprendizagem por
observação, na qual que se ter em conta a intervenção de processos cognitivos, como
atenção, compreensão e lembrança (Alvaro & Garrido, 2003). De modo semelhante aos
demais modelos, a Teoria da Aprendizagem Social vem sendo amplamente utilizada no
estudo dos comportamentos anti-sociais, sobretudo naqueles sobre a agressão (Anderson &
Bushman, 2002; Bandura, 1973, 2001; Catalano & Hawkins, 1997; Tittle, 2004).
1.3.1.5. Teoria do Controle e Vínculo Social
Diferente das teorias que procuram entender ou explicar porque alguns indivíduos
de uma sociedade cometem atos desviantes, os teóricos do Controle Social procuram
explicar por que algumas pessoas optam por conformarem-se às normas convencionais
(Britt & Gottfredson, 2003). De acordo com esta perspectiva, a inclinação ao delito é
universal. No entanto, o vínculo com a sociedade convencional adquirido por meio de
processos de socialização “impede” tal tendência da natureza humana. Em contrapartida,
quando o vínculo com as instituições convencionais apresenta-se com intensidade
insuficiente ou, por algum motivo, não se produz, a probabilidade de ocorrência dos
comportamentos anti-sociais aumenta.
Dentre os trabalhos mais proeminentes nesta linha de pensamento, destaca-se a
Teoria do Controle e Vínculo Social, de Travil Hirschi (1969). Sob esta perspectiva, o
vínculo é a base para a explicação das diversas formas de “desvios”. De acordo com
59
Hirschi (1969), o interesse fundamental de sua teoria não é explicar a razão da
delinqüência, mas apresentar as principais características que podem prevenir o
envolvimento de indivíduos em atos desviantes. Para tanto, ele identifica quatro
componentes que são responsáveis pelo vínculo entre as pessoas e a sociedade
convencional, a saber: o apego, o compromisso, as crenças ou os valores e o envolvimento.
Cada um desses componentes correlaciona-se positivamente com os demais, de modo que,
quanto mais vínculos uma pessoa possui, menor será a probabilidade de envolver-se em
comportamentos reprováveis socialmente. Para uma melhor compreensão do leitor,
procurar-se-á, a seguir, apresentar separadamente tais componentes.
Considera-se apego o vínculo existente entre o indivíduo e os demais membros de
sua sociedade. Na concepção de Hirschi (1969), as pessoas tornam-se “seres sociais” no
instante em que internalizam as normas da sociedade. Quando compartilhadas, as normas
produzem expectativas sobre como se deve agir no contexto social. Neste sentido, quanto
mais uma pessoa se encontra vinculada às outras, menor será a probabilidade de
desenvolver comportamentos desviantes. Contrariamente, a probabilidade aumenta quando
esta pessoa não se importa com os desejos e as expectativas dos demais ou está insensível à
opinião dos outros. As primeiras ligações (apego) e interações ocorrem com os pais,
seguido pelos pares, professores, líderes religiosos e outros membros da comunidade.
Hirschi (1969) aponta que a estrutura familiar e o seu funcionamento têm um papel
crucial na socialização, já que a família é tida como o primeiro agente socializador. Com o
tempo, o vínculo com os pais tende a diminuir, dando lugar gradativamente às relações
com os pares. Nesta ocasião, o grupo de amigos passa a configurar-se como um novo
contexto de socialização. Segundo Sánchez-Queija e Oliva (2003), a maioria dos estudos
demonstra que as crianças que estabelecem melhores vínculos afetivos com seus pais se
60
tornam mais preparadas para estabelecerem relações com seus companheiros e,
conseqüentemente, demonstram-se mais resilientes aos chamados fatores de risco.
Em síntese, o apego, da forma como é concebido na teoria de Hirschi (1969),
refere-se à unidade estabelecida por uma pessoa e grupos convencionais (familiares,
professores, pares etc.) por meio do respeito, do afeto e da internalização das normas do
grupo. Desta forma, o apego sensibiliza os indivíduos frente às expectativas dos outros,
estabelecendo limites para a realização dos comportamentos. Em situações de crise ou em
períodos de transição, tal como a adolescência, este construto torna-se de fundamental
importância.
O compromisso é definido por Hirschi (1969) como o “componente racional da
conformidade”, que é constituído por um investimento em atividades sociais e
institucionais. Indivíduos que investem tempo, energia e esforços em linhas de ações
convencionais (por exemplo, freqüentar a escola, montar um negócio, construir sua
reputação), quando pensam em desviar-se, ponderam entre os custos e os benefícios de
seus comportamentos. Portanto, pessoas com metas voltadas para projetos convencionais
apresentam menor probabilidade de desenvolver atos que podem pôr em risco a sua
posição social. Em outras palavras, compartilhar atividades convencionais une o individuo
ao código moral e ético da sociedade, o que promove forte compromisso e torna os
comportamentos anti-sociais menos “atrativos”.
Outro componente da teoria são as crenças. Hirschi (1969) argumenta que, quando
vivem em sociedade, as pessoas compartilham valores similares; portanto, se a crença
nestes valores for fraca ou ausente, estas naturalmente estarão mais propensas a desvios de
comportamento. O mesmo ocorre com as leis, que, quando são avaliadas como injustas, o
vínculo social torna-se enfraquecido e as chances de um indivíduo cometer atos
delinqüentes passam a existir. Sob este aspecto, encontra-se em jogo o grau em que uma
61
pessoa acredita que deve obedecer às leis e seguir um sistema de valores convencionais
comum.
Finalmente, o componente envolvimento refere-se à participação em atividades
convencionais. Para Hirschi (1969) uma pessoa que está envolvida com a escola, família,
religião, entre outras atividades ou entidades convencionais, dificilmente desenvolverá
algum tipo de comportamento desviante. Tal envolvimento leva as pessoas a
responsabilizarem-se, por exemplo, com horários, prazos e planejamentos, ao mesmo
tempo em que promove a internalização de valores convencionais. Neste sentido, quanto
maior o envolvimento, menores serão as chances de se cometer atos desviantes. Sob esta
linha de pensamento são conduzidos muitos dos programas de prevenção (Hass, 2001;
Huebner & Betts, 2002). De acordo com a proposta de Hirschi (1969), é provável que a
maior diferença entre um jovem envolvido em comportamentos anti-sociais e aqueles não
envolvidos, é que estes últimos estão intensamente comprometidos com a sociedade
convencional. Em diversos países, estudos têm demonstrado a relevância desta teoria na
explicação de problemas de comportamento (Erickson, Crosnoe & Dornbusch, 2000; Ford,
2005; Huebner & Betts, 2002; Kaplan & Lin, 2005; Özbay & Özcan, 2006; Wong, 2005).
1.3.2. Teorias Centradas em Fatores Micro-sociais
Os modelos expostos, a seguir, concentram-se especificamente na família, na escola
e nos grupos de referência. Embora alguns destes modelos também considerem fatores dos
níveis macro-sociais e individuais, suas explicações baseiam-se fundamentalmente nos
espaços psicossociais onde se produz a socialização de um modo mais direto.
1.3.2.1. O Modelo Integrador de Elliott
Desenvolvido por Elliott, Ageton e Canter (1979), este modelo integra três das
principais tradições teóricas dentro do estudo dos comportamentos anti-sociais. Em
62
primeiro lugar, encontram-se os pressupostos da teoria da anomia (Merton, 1938/1968),
cujo eixo central é a disparidade entre as metas ou aspirações adotadas pelos indivíduos e
os meios de que dispõem para consegui-las; quando a sociedade não facilita recursos para
se alcançar as metas que ela mesma inculca (por exemplo, êxito, status, poder econômico),
uma reação provável é o comportamento desviante. Em seguida, o modelo incorpora
aspectos das teorias do controle social (Hirschi, 1969). Como já comentado, de acordo com
estas teorias, os comportamentos anti-sociais aparecem quando não existe uma relação
estreita com a sociedade convencional; se o sujeito não se “apega” às instituições
convencionais e não assimila seus valores, tenderá a transgredir as normas. Por fim, são
consideradas aquelas correntes que concedem especial importância aos processos de
aprendizagem dentro dos grupos mais próximos, como, por exemplo, a teoria da
aprendizagem social e da associação diferencial (Bandura & Walters, 1963; Sutherland &
Cressey,1974); neste caso, dá-se especial ênfase a importância do grupo de amigos como
um contexto no qual se reforçam e se “modelam” as condutas desviantes.
Segundo Luengo e cols. (1999), este modelo pode ser considerado como uma
reformulação da teoria do controle social. Por meio de duas vias, ele complementaria as
colocações de Hirschi (1969). No primeiro momento, por especificar quais podem ser as
causas que levam um indivíduo a não vincular-se ao mundo convencional. Segundo Elliott
e cols. (1979), três fatores contribuem para a fragilidade deste vínculo: (1) “tensão” entre
as metas e os meios vividos na família e/ou escola. Quando faltam, por exemplo,
oportunidades para que o adolescente alcance uma relação ajustada com seus pais ou para
conseguir êxito acadêmico (duas metas pessoais freqüentes), a vinculação com esses
contextos será débil; (2) a desorganização social também debilita os vínculos
convencionais. Se a pessoa pertence a uma vizinhança conflituosa, com escassos laços
comunitários e dificuldades socioeconômicas, se implicará escassamente com as
63
instituições convencionais; finalmente, (3) as “falhas” na socialização por parte da família
ou da escola também serão determinantes da falta de apego a estes ambientes. Às vezes, os
pais ou a escola não desenvolvem práticas socializadoras adequadas; portanto, dificilmente
se estabelecerão vínculos convencionais fortes.
No segundo momento, a reformulação da teoria do controle seria dada pela
indicação de que a falta de vínculos convencionais não é suficiente para que apareça a
conduta desviante (Elliott & cols., 1979; Elliott, Huizinga & Ageton, 1985a). Para os
teóricos mais representativos do controle social, a motivação por transgredir é inerente à
natureza humana (Hirschi, 1969). Portanto, não é necessário aprender a violar as normas;
quando não existe apego ao mundo convencional, desenvolvem-se as tendências
desviantes. Para Elliot, no entanto, é necessário um passo a mais para que apareça
desviação: a pessoa deve entrar em contato com grupos desviantes, geralmente grupos de
iguais, que lhe reforcem e lhe induzam a realizar condutas-problema. Se o indivíduo possui
vínculos fracos com a família ou a escola, aumentará o risco de envolvimento com grupos
de amigos desviantes; isso será a “causa” mais direta de sua conduta-problema (Elliott,
Huizinga & Ageton, 1985b).
1.3.2.2. O Modelo do Desenvolvimento Social
O chamado “modelo do desenvolvimento social” (Catalano & Hawkins, 1997;
Catalano, Kosterman, Hawkins, Newcomb & Abbott, 1996; Hawkins & Weis, 1985),
como o anterior, incorpora elementos de outras teorias. Precisamente, as teorias de controle
social (Hirschi, 1969), aprendizagem social (Bandura & Walters, 1963) e associação
diferencial (Sutherland & Cressey,1974) são “fontes” em que o modelo retira hipóteses e
mecanismos. Os autores tentam organizar as evidências disponíveis em torno dos fatores
de risco e de proteção. Esta teoria pretende ser um esquema explicativo de diferentes tipos
64
de comportamentos anti-sociais, localizando o foco da atenção no processo de
socialização.
Seus proponentes partem do pressuposto de que comportamentos pró-sociais e
problemáticos originam-se através dos mesmos processos. Neste sentido, o tipo de conduta
apresentada dependerá dos vínculos que se estabelecem com os ambientes de socialização;
quando um indivíduo adquire vínculo forte com âmbitos pró-sociais, o resultado será um
comportamento pró-social. Ao contrário, o vínculo forte com ambientes anti-sociais
acarretará comportamentos anti-sociais (Hawkins & Weis, 1985). Quando avaliado sob a
perspectiva das teorias do controle social mais ortodoxas, este pressuposto torna-se
dissonante; para Hirschi (1969), por exemplo, os vínculos sociais (especialmente no
âmbito familiar) sempre são inibidores da conduta desviante. Segundo Catalano e Hawkins
(1996), no entanto, o vínculo forte com a família pode ser facilitador do consumo de
drogas, sempre quando os membros do grupo familiar são consumidores ou mostram
outras condutas desviantes.
Para que se formem vínculos com qualquer ambiente psicossocial, é preciso que
ocorra uma série de condições. O primeiro requisito é que a pessoa perceba as
oportunidades para interagir e participar deste meio social. Em segundo lugar, ela terá que
interagir com este ambiente, participando em suas atividades e sua dinâmica. Em terceiro,
terá que ter habilidades e recursos pessoais para desenvolver as interações. Finalmente,
deverá perceber que a implicação com o grupo social lhe proporciona algum tipo de
recompensa ou benefício. Catalano e Hawkins (1996) apontam que, ao longo da
socialização, produzem-se dois processos paralelos: o primeiro deles gera vínculos com
ambientes pró-sociais e, portanto, inibe o aparecimento de condutas desviantes; o segundo,
por outro lado, promove laços com meios anti-sociais e, portanto, contribui para o
aparecimento de condutas-problema. O resultado final dependerá da força relativa dos dois
65
processos. Quando os vínculos pró-sociais têm mais peso, não se desenvolvem
comportamentos anti-sociais, mas, se os vínculos anti-sociais são predominantes,
aparecerão as condutas desviantes.
Um ponto relevante no modelo do desenvolvimento social refere-se ao fato de os
autores apresentarem sub-modelos específicos, correspondentes a distintos períodos
evolutivos (Catalano & Hawkins, 1997); assume-se que os contextos de socialização
exercem influências distintas nos diferentes momentos da vida. Portanto, cada um dos sub-
modelos especifica como se concretizam os componentes do modelo geral. Nos anos pré-
escolares, as figuras familiares serão cruciais como fonte de influência sobre o indivíduo
(Catalano, Oxford, Harachi, Abbott & Abbott, 1999). O vínculo com famílias pró-sociais
gerará condutas pró-sociais; apegar-se a famílias violentas ou desajustadas facilitará o
aparecimento de condutas agressivas e disruptivas. Na escola primária, professores e
companheiros de classe adquirem importância, junto com a família, como contextos de
socialização. Posteriormente, os amigos e a comunidade vão se convertendo em ambientes
cruciais (Fleming, Catalano, Oxford & Harachi, 2002).
De acordo com Catalano e Hawkins (1996), para a promoção de programas de
prevenção, cada uma das variáveis deste modelo pode, em função do período evolutivo,
receber atenção diferenciada. Por exemplo, no período pré-escolar, poder-se-ia colocar em
prática programas de treinamento para pais, capacitando-os a reforçar adequadamente a
criança e estabelecer vínculos estreitos com ela. Depois da iniciação escolar, os programas
de treinamento a famílias poderiam complementar-se com estratégias que favoreçam o
envolvimento com o meio escolar. Na medida em que o indivíduo se aproxima da
adolescência, adquirem especial utilidade os programas de competência psicossocial,
permitindo capacitar os adolescentes com habilidades para reduzir a interação com grupos
66
delinqüentes e, sobretudo, para conseguir um funcionamento adequado nos ambientes p-
sociais (Herrenkohl & cols., 2001a; Herrenkohl & cols., 2001b).
1.3.2.3. O Modelo da Coerção
Proposto por Patterson e seus colaboradores (1989; Patterson, Reid & Dishion,
1992), este modelo se insere na linha de trabalho com famílias conflituosas (por exemplo,
crianças com problema de comportamento, maus tratos e delinqüência). Uma de suas
características mais específicas é a centralidade nas práticas disciplinares que têm lugar no
meio familiar. Partindo de uma ampla experiência de intervenção, os autores elaboraram
um marco teórico que especifica como se desenvolve a conduta anti-social (Reid & Eddy,
1997). Assim como as diversas teorias neste campo (ver Laub & Sampson, 1993; Sampson
& Laub, 1993), o modelo busca as raízes dos comportamentos anti-sociais crônicos nas
primeiras etapas da vida. Patterson e cols. (1989) apontam que, a partir dos momentos
iniciais da vida, a vivência de determinados eventos difíceis aumenta a probabilidade de
orientação para a um estilo de vida delitivo.
Partindo do Modelo da Coerção, o comportamento anti-social se desenvolve em
quatro etapas: no primeiro momento, as experiências familiares adquirem importância
fundamental; nesta etapa, ocorre o que os autores denominam de treinamento básico na
conduta anti-social. Quando as práticas dos pais com a criança não são adequadas (por
exemplo, ausência de normas claras, o não reforçar o sentimento oportuno dos
comportamentos dos filhos), ela percebe que emitir comportamentos aversivos (por
exemplo, chorar, quebrar objetos, bater, fazer chantagens emocionais) lhe traz benefícios;
isso permite-lhe escapar de situações desfavoráveis ou conseguir reforços positivos. Estas
serão as primeiras condutas anti-sociais da criança. A aprendizagem vai se produzindo de
um modo sutil e, cada vez mais, a criança segue exercendo comportamentos coercitivos ou
manipuladores sobre o resto dos membros da família. Neste marco, assume-se que um
67
ambiente de estresse familiar, com situações de divórcio, dificuldades sócio-econômicas e
temperamentos difíceis, propicia o surgimento deste tipo de interação (Patterson & cols.,
1989).
Quando a criança se insere no ambiente escolar, dá-se início à segunda etapa, em
que as pessoas reagem aos comportamentos indesejados. Por não estar dotada de
habilidades apropriadas de interação para as novas situações, a criança, com grande
probabilidade, ganha a rejeição dos seus companheiros. Nesta ocasião, geralmente se
tem aprendido a evitar tarefas difíceis, o que promove dificuldades no desenvolvimento
das habilidades acadêmicas; o desajuste escolar é um provável resultado nesta etapa, e
representa os primeiros fracassos no mundo convencional (Dishion & Patterson, 1997). Em
uma terceira etapa, aparecem a implicação com pares desviantes e o aperfeiçoamento das
habilidades anti-sociais. O fracasso acadêmico recorrente e a rejeição por parte dos colegas
convencionais fazem com que o adolescente se sinta excluído do mundo pró-social e, por
conseguinte, cada vez mais próximos dos pares semelhantes. As atividades anti-sociais vão
se ampliando e se tornando cada vez mais severas.
Finalmente, no início da idade adulta, desenvolve-se uma carreira anti-social
duradoura. Os déficits nas habilidades e na formação dificultam a permanência em um
trabalho estável. A ocorrência de institucionalizações reduz as oportunidades de adotar um
estilo de vida convencional. As relações conjugais são problemáticas. O álcool e outras
drogas impedem um funcionamento ajustado. Segundo Patterson, Reid e Dishion (1992), a
pessoa vai se confinando numa existência marginal e as atividades anti-sociais se
cronificam. Mesmo assim, a progressão ao longo destas etapas não é inevitável, mas
probabilística; quando uma pessoa está numa etapa, existe uma elevada probabilidade de
que passe à seguinte (Patterson, Shaw, Snyder & Yoerger, 2005). No entanto, muitos
indivíduos, por diversas razões (aprendizagem de habilidades, treinamento dos pais,
68
particularidades do contexto social etc.) interrompem tal progressão. O que pode explicar o
porquê da redução do número de indivíduos que são encontrados em cada etapa, ao se
avançar na seqüência (Patterson & cols., 1989).
Os autores colocam que a teoria aplica-se unicamente a um tipo de delinqüente,
aquele que inicia cedo na delinqüência. Sugere-se, em consonância com a proposta de
Moffitt (1993; Moffitt & Caspi, 2001), que além de delinqüentes crônicos, existem outros
indivíduos que apresentam um envolvimento tardio e uma implicação mais temporal nos
comportamentos anti-sociais; são pessoas com habilidades sociais, acadêmicas etc. A
ênfase nas experiências disciplinares na família é o tema central da progressão proposta
por Patterson e cols. (1992). Portanto, de acordo com estes autores, um treinamento para os
pais, com ênfase no desenvolvimento de habilidades ajustadas na criança, será fundamental
para a intervenção nos comportamentos anti-sociais (Patterson, Dishion & Bank, 1984).
1.3.2.4. Teoria Geral da Anomia
Apesar da influência marcante exercida pela teoria da anomia (Merton, 1938/1968),
muitos dos estudos demonstraram que a mesma apresentava limitações. Apesar de alguns
estudos tentarem buscar a relação entre delinqüência e disparidade entre aspirações e
expectativas, os dados não traçavam um panorama muito alentador (Elliott & Voss, 1974;
Tittle, 2000). Adicionalmente, como mencionado, a teoria “tradicional” da anomia, com
sua ênfase nos determinantes sócio-estruturais (classe social), enfrentava o fato de que, em
muitos estudos, a relação entre classe social e delinqüência apresentava-se controvertida.
Sua explicação da delinqüência encontrada na classe média (onde, supostamente, a anomia
ou tensão estrutural inexiste) era insuficiente, ao mesmo tempo em que não explicava por
que certos indivíduos, quando vivem a anomia, delinqüem, enquanto outros não o fazem.
Foram estas limitações que conduziram Agnew (1985, 1992, 1997) a revisá-la,
ampliá-la e refiná-la, elaborando a chamada Teoria Geral da Anomia. Esta teoria parte de
69
um nível de análise mais psicossocial e menos estrutural que a de Merton (1938/1968).
Suas hipóteses mostram certa proximidade com as tradições psicossociais, a exemplo das
teorias da frustração-agressão, da equidade ou do estresse (ver Romero, 1998). O modelo
se centra nas relações interpessoais como fontes de estresse ou tensão. As relações
negativas com os demais, ou seja, aquelas onde o indivíduo não é tratado como gostaria de
ser, dão lugar ao desenvolvimento de afetos negativos (por exemplo, a ira); isso pode ter
como conseqüência o aparecimento da delinqüência. Deve-se observar que Agnew se
distancia dos argumentos sociológicos (aspiração ao status de classe média) para
concentrar-se nas metas mais cotidianas e próximas ao indivíduo.
As relações interpessoais podem ser negativas por várias razões. Dentre elas, pelo
menos três podem ser destacadas: (1) quando não permitem ao indivíduo alcançar
objetivos desejados (por exemplo, popularidade entre os amigos ou autonomia com relação
aos adultos); (2) quando se produz uma perda de algum estímulo valioso (por exemplo, a
ruptura de um relacionamento); e, muitas vezes, (3) porque apresentam ao indivíduo
situações aversivas (por exemplo, maus tratos, experiências negativas na escola). Frente a
estas experiências estressantes, o indivíduo pode apresentar formas diferentes de
enfrentamento (coping); algumas delas podem conduzir ao delito, enquanto outras se
situam dentro da convencionalidade (Agnew, 1992; Walls, Chapple & Johnson, 2007). Por
exemplo, a pessoa pode enfrentar cognitivamente estas experiências minimizando o caráter
aversivo da situação (não é tão importante; não é tão negativo) ou se percebendo como
merecedor da situação (Dalbert & Filke, 2007).
Agnew (1985) supõe que as experiências negativas criam tensão somente quando o
sujeito considera que são injustas. Entretanto, outras formas de enfrentamento podem ser: o
abandono da situação aversiva (faltando ao colégio ou fugindo de casa, por exemplo), a
vingança contra os responsáveis por estas experiências, ou a alteração do estado emocional
70
(por meio das drogas) para aliviar a tensão sentida. A seleção de estratégias anti-sociais ou
convencionais virá condicionada por distintas variáveis, como, por exemplo, o
temperamento, as crenças do indivíduo ou a exposição prévia a modelos delinqüentes.
Além de indicar como seu modelo pode explicar diferentes “cifras” delitivas encontradas
nas comunidades, o autor explica como a teoria pode dar conta de questões tão atuais, a
exemplo da estabilidade e mudança da conduta delitiva (Agnew, 1997, 2001, 2006).
A estabilidade se produz porque certas características de personalidade (por
exemplo, tolerância à frustração, impulsividade), que influenciam a percepção e a reação
diante de estímulos aversivos, são traços estáveis ao longo da vida do indivíduo; ao mesmo
tempo, o pertencer a certos contextos sociais desfavorecidos lugar à vivência de tensões
desde a infância, criando um efeito “bola de neve” (Agnew, 1997). Para explicar a
mudança, Agnew argumenta que o aumento da conduta anti-social durante a adolescência
deve-se ao fato de o adolescente enfrentar situações novas que, em muitas ocasiões,
resultam aversivas (por exemplo, maiores exigências do mundo acadêmico, as relações
sociais que se tornam mais complexas e o aumento da percepção do mundo aversivo ao seu
redor). Além disso, o adolescente carece de recursos e poder para mudar seu ambiente, por
isso é mais provável que a conduta anti-social apareça como via de afrontamento. Isso
poderia explicar o pico de delitos que aparecem na adolescência e que descende com a
chegada da vida adulta.
1.3.3. Teorias Centradas em Fatores Intrapessoais
As próximas teorias prestam atenção especial aos fatores relacionados com a
personalidade e o âmbito emocional. Não obstante, não significa que sejam excluídas
variáveis de outros âmbitos. Como algumas teorias micro-sociais consideram fatores
individuais, mantendo a centralidade nos âmbitos de socialização, os modelos que seguem
71
focalizam a atenção principal nos fatores pessoais, mesmo que os contemple em interação
com outros contextos de influência.
1.3.3.1. Teoria da Auto-rejeição
No modelo desenvolvido por Kaplan (1972), a auto-estima é um construto
fundamental. Segundo este autor, diversos tipos de comportamentos anti-sociais na
adolescência (por exemplo, consumo de drogas, delinqüência, atividade sexual arriscada e
prematura) respondem a iguais determinantes e têm um mesmo tipo de conseqüência para
o indivíduo. Tais determinantes e conseqüências se relacionam com a auto-valorização
(Kaplan, Johnson & Bailey, 1988; Kaplan, Martin & Robbins, 1984). A teoria assume a
existência de um “motivo” de auto-estima; todas as pessoas têm uma motivação por manter
uma auto-estima positiva e tentam se comportar de modo que a auto-valorização se
fortaleça, mas, durante o processo de desenvolvimento, podem se desenvolver atitudes de
auto-rejeição (Kaplan, 1975). Isso pode ocorrer no contexto de experiências sociais
desagradáveis, como, por exemplo, a rejeição ou negligência por parte dos pais, a
incapacidade para conseguir êxito acadêmico, situações de preconceito social, falta de
estratégias de enfrentamento adequadas e a falta de apoio social. O modelo integra diversos
fatores de risco identificados em pesquisas e considerados por outras teorias; de acordo
com Kaplan, tais fatores exercerão sua influência por meio da auto-rejeição (Kaplan &
cols., 1984, 1988).
Quando as experiências de rejeição se repetem, o indivíduo se sente pouco
motivado para respeitar as normas dos grupos que ferem sua auto-estima; ao mesmo
tempo, produz-se o que o autor denomina de “exacerbação do motivo de auto-estima”, ou
seja, a busca por causas alternativas que permitam recuperar a auto-valorização. Deste
modo, aumenta-se a sensibilidade ante a existência de opções anti-sociais, a possibilidade
de implicação com grupos de amigos desviantes e, finalmente, o desenvolvimento de
72
comportamentos anti-sociais (Kaplan & Peck, 1992). O tipo de comportamento que se
desenvolve dependerá de fatores distintos. Dentre os quais, encontram-se a visibilidade das
condutas no ambiente do indivíduo (por exemplo, a acessibilidade às drogas e se tal
comportamento é freqüente no grupo desviante de pertença mais do que outros tipos de
comportamentos). Outro fator é a compatibilidade de cada conduta com os papéis
assumidos e aceitos pela pessoa; assim, se o papel de masculinidade é importante para ela,
optará por condutas que lhe permitam expressar tal papel e evitará comportamentos que,
mesmo sendo desviantes, podem amenizar parte dessa identidade (Kaplan, 1984).
Tem-se sugerido que, no desenvolvimento dos comportamentos anti-sociais,
influirá também o “estilo de enfrentamento” (coping style) característico de cada indivíduo
(Kaplan & Peck, 1992). Se, diante de situações problemáticas, a pessoa reagir com
negação, abandono ou negativismo, ou seja, utiliza estratégias de “evitação”,
provavelmente aparecerão condutas de consumo de drogas (que facilitam o escape, a
retirada, a evasão). Mas, por outro lado, se ela apresenta um estilo de “ataque”, reage com
ações diretas e hostilidade aberta, serão desencadeados atos agressivos e roubo, que
permitem expressar a violência frente às instituições convencionais (Kaplan, 1984).
O comportamento desviante pode facilitar a recuperação da auto-estima, se são
produzidas certas conseqüências. Para Kaplan (1972) a auto-estima se recupera quando o
comportamento desviante ajuda na redução das experiências de auto-desvalorização. Tal
redução pode produzir-se a nível intrapsíquico; o consumo de drogas, por exemplo, pode
alterar os estados de consciência, de modo que o sujeito deixa de perceber os atributos de
si mesmo que antes rejeitava. Portanto, entende-se que as drogas podem amortecer o mal-
estar emocional que antes produzia a auto-rejeição. Porém, a evitação pode produzir-se a
nível interpessoal, quer dizer, o comportamento anti-social pode permitir ao indivíduo
evitar a interação com os grupos que lhe avaliam negativamente e, desse modo, deixar de
73
sentir a auto-rejeição. Além da evitação, o comportamento desviante pode facilitar o
ataque; o indivíduo pode acometer abertamente contra os grupos que lhe evitam e, assim,
sentir-se poderoso e eficaz.
Finalmente, os comportamentos anti-sociais podem, ainda, desempenhar uma
função de substituição. As relações com os grupos convencionais são substituídas por
novas interações com ambientes anti-sociais que ajudam a reconstruir a auto-estima.
Quando se produzem a evitação, o ataque ou a substituição, a auto-valorização se
recuperará e a conduta desviante se manterá. Este efeito é designado na teoria com o termo
self-enhancement” (Kaplan, 1978). Se o comportamento realizado não permite o
restabelecimento da auto-estima, o indivíduo seguirá experimentando outros
comportamentos desviantes. Para que ocorra um abandono das condutas desviantes, será
necessária a produção de mudanças (maturacionais ou sócio-ambientais) que permitam
manter a auto-estima dentro dos grupos convencionais. As mudanças nas redes de apoio
social também aumentam a probabilidade da aquisição de habilidade para o ajustamento
adequado ao mundo convencional. Além disso, a incorporação ao mercado de trabalho e os
novos papéis familiares podem proporcionar oportunidades para a auto-valorização,
produzindo um distanciamento das condutas problemáticas (Kaplan & Lin, 2000, 2005).
De acordo com este modelo, a prevenção dos comportamentos desviantes deverá
promover o desenvolvimento de uma auto-valorização favorável. Por um lado, a teoria
sugere a necessidade de criar climas sociais (familiares e escolares) de aceitação e apoio ao
adolescente, por outro, recomenda que uma via útil na prevenção será proporcionar aos
adolescentes habilidades e recursos pessoais que permitam sustentar uma auto-imagem
positiva (Kaplan, 1972).
74
1.3.3.2. Teoria do Autocontrole
Para formular sua teoria, Gottfredson e Hirschi (1990) recorrem ao “classismo”
criminológico para entender a natureza do crime (Romero, 1996). Segundo estes autores, o
delito é uma manifestação da natureza humana, que, em si, é hedonista e egocêntrica.
Portanto, as pessoas buscam primordialmente o prazer e evitam a dor. Na hora de dirigir o
comportamento, realiza-se um “cálculo” racional, sopesando quais serão os custos e os
benefícios do mesmo e, em função disso, decide-se. O delito, neste caso, não corresponde a
motivações perversas ou diferentes dos demais comportamentos. O que caracteriza, de
forma distinta, o delito é o fato de o ator atender aos seus prazeres e benefícios imediatos,
ignorando os custos (Gottfredson & Hirschi, 1994). Este aspecto torna o crime muito
semelhante a outros comportamentos desviantes, como, por exemplo, o consumo de drogas
ou as condutas sexuais “ilegítimas”; o que é também aplicado aos comportamentos
imprudentes que promovem muitos dos acidentes de trânsito (por exemplo, o excesso de
velocidade). Gottfredson e Hirschi (1994) apontam que os indivíduos que cometem crimes
também apresentam estes outros comportamentos análogos. Neste sentido, os autores
propõem uma teoria “geral” que procura explicar não somente o crime, mas também
aqueles comportamentos que conceitualmente são considerados socialmente desviantes.
Uma idéia básica desta teoria é que tais comportamentos derivam-se da interação
entre uma “oportunidade” contextual e certas características do indivíduo (Hirschi &
Gottfredson, 1993). Especificamente, considera-se que alguns indivíduos adquirem certa
capacidade para conter o hedonismo, enquanto outros não interiorizam tais mecanismos,
ou seja, não chegam a adquirir autocontrole; isso faz deste construto um dos elementos
centrais do modelo. O autocontrole integra diversas características individuais que fazem
com que uma pessoa tenda (ou não) a ceder diante da “tentação” do delito. Entre estas
características encontram-se, por exemplo, a orientação voltada para o presente; o interesse
75
por experiências arriscadas e emocionantes; a preferência por tarefas simples frente às
complexas; a incapacidade de planificar o comportamento e de planejar objetivos a longo
prazo; o individualismo e a indiferença pelas necessidades e os desejos dos outros; e,
finalmente, a escassa tolerância frente à frustração e a alta frente à dor (Gottfredson &
Hirschi, 2003).
O autocontrole é adquirido por meio da socialização (especialmente a familiar), nas
etapas iniciais da vida. Uma vez estabelecido, permanece estável e durante toda a vida tem
influência nos comportamentos desviantes (Turner & Piquero, 2002). Neste caso, a
estabilidade do autocontrole explicaria porque os comportamentos anti-sociais são estáveis
ao longo da vida; aqueles indivíduos que cometem um número significativo de
comportamentos desviantes na infância provavelmente seguirão com tais condutas em
outros momentos do ciclo vital. Deve-se ressaltar que Gottfredson e Hirschi (1990)
desafiam muitas das idéias clássicas da criminologia tradicional. Por exemplo, negam a
importância de distinguir entre tipos de delinqüentes (todos os delitos, incluindo o de
“colarinho branco”, respondem a mecanismos explicativos iguais); e negam a importância
do grupo de iguais como agente de influência sobre o comportamento desviante. Segundo
pensam estes autores, a relação com amigos delinqüentes é conseqüência de um baixo
autocontrole; assim, é o próprio indivíduo quem seleciona os amigos delinqüentes.
Desde sua publicação, a teoria geral do crime vem recebendo críticas por diversos
motivos. A sua natureza tautológica tem sido, por exemplo, uma das mais repetidas (Akers,
1991; Meier, 1995). Aponta-se que Gottfredson e Hirschi (1990) não especificam como
operacionalizar o autocontrole sem recorrer aos indicadores comportamentais do construto
(só se pode saber se um indivíduo tem um baixo autocontrole examinando seus
comportamentos delitivos, desviantes ou imprudentes). Portanto, a idéia de que um
autocontrole baixo conduz ao delito não pode submeter-se à comprovação empírica
76
(Romero, Luengo & Otero-López, 1995). Embora as críticas referentes à natureza da teoria
tenham sido refutadas por Gottfredson e Hirschi (2000), outro ponto fica pendente: a teoria
não explica a “curva” da delinqüência em função da idade; tem-se constatado que a
adolescência é o momento onde a cifra de delitos aumenta, declinando progressivamente
com o avanço em direção à idade adulta (Moffitt, 1993). Apesar disso, de acordo com
Romero (1998), a simplicidade do seu esquema explicativo e a combinação de duas
correntes (individualista e classista), que raramente haviam tido pontos de encontro,
contribuem para a sua aceitação.
1.3.3.3. A Taxonomia de Moffitt
Se uma das limitações do modelo anterior é a incapacidade de explicar a relação
entre idade e delinqüência, um dos pontos de partida de Moffitt (1993, 2002) será
precisamente esse: a necessidade de explicar as diferenças que aparecem nos índices
delitivos, quando se observa o fator idade. Sabe-se que a delinqüência é um fenômeno com
certa estabilidade nos indivíduos (muitos delinqüentes adultos foram adolescentes
delinqüentes e crianças com problemas de conduta); porém, observa-se que as cifras
delitivas aumentam ao chegar a adolescência e decrescem posteriormente. O que leva,
portanto, a duas perguntas: como conjugar tais fatos e como dar conta, ao mesmo tempo,
da estabilidade e mudança destes comportamentos? Para explicar isso, Moffitt (1993,
2002) introduz uma distinção que vem chamando a atenção dos pesquisadores: existem
delinqüentes “persistentes”, ou seja, indivíduos anti-sociais desde a infância, que mantém
elevados níveis de delinqüência ao longo de suas vidas, e outros com uma carreira delitiva
de curta duração, “restrita” à adolescência. Estes últimos têm uma introdução abrupta na
delinqüência e realizam atos anti-sociais durante poucos anos. Os dois tipos de
delinqüência respondem a mecanismos causais diferentes, motivo pelo qual Moffitt
77
desenvolve duas teorias complementares (Moffitt, 2002; Moffitt, Caspi, Harrington &
Milne, 2002).
Segundo Moffitt (2002), a delinqüência persistente tem suas origens nas primeiras
etapas do ciclo vital. Uma combinação de características pessoais ou psicobiológicas e
outras de contexto educativo atuam como “motor” da conduta anti-social. Concretamente,
a cadeia que conduz à delinqüência teria seu primeiro elo em certos déficits
neuropsicológicos, observados nos primeiros anos de vida. Certas crianças apresentam
algumas características (por exemplo, irritabilidade, falta de atenção, impulsividade,
hiperatividade e dificuldades de aprendizagem) relacionadas a problemas neurológicos e
que têm sua origem em circunstâncias pré-natais (por exemplo, nutrição durante a
gravidez, exposição a agentes tóxicos, complicações durante o parto) ou em fatores
genéticos.
Os eventos citados tornam difíceis os processos educacionais, mesmo em situações
favoráveis. Além disso, visto que as características dos pais e dos filhos aparecem
correlacionadas, crianças mais “difíceis” geralmente possuem pais irritados e impacientes,
que dificilmente são capazes de compensar as dificuldades psicobiológicas dos filhos
(Moffitt, 1993). Isso início a um processo de interação recíproca entre a criança
vulnerável e o ambiente adverso. Os comportamentos das crianças evocam desconforto e
mal-estar nos pais, o que, por sua vez, exacerba os comportamentos problemáticos da
criança. Assim, a aprendizagem das normas torna-se difícil e o indivíduo desenvolve
comportamentos socialmente inadaptados. Esses comportamentos se mantêm ao longo de
todo ciclo vital devido a duas razões específicas: por um lado, as características
neuropsicológicas permanecem durante toda a vida, e, por outro, produz-se um efeito
acumulativo (“bola de neve”; Moffitt & cols., 2002).
78
A estabilidade do comportamento neste tipo de delinqüente, sua escassa freqüência
estatística (somente 5% dos homens são afetados) e a presença de bases biológicas
conduziram Moffitt a considerar que a “síndrome” da conduta anti-social persistente pode
ser considerada como uma forma de anormalidade psicopatológica (Moffitt, 2002).
Diferentemente, a delinqüência limitada à adolescência é considerada como algo normal,
não patológico. Segundo o autor, é um fenômeno muito freqüente que está presente em
adolescentes sem história prévia de conduta anti-social. Neste caso, o elemento motivador
é o lapso maturativo que ocorre habitualmente na vida adolescente; o jovem adquire
maturidade biológica, mas demora alguns anos para incorporar os aspectos positivos da
vida adulta. Diante do desnível entre a idade biológica e a social, os adolescentes reagem
buscando vias por onde expressar sua autonomia. Neste sentido, os delinqüentes
persistentes surgem como um grupo de referência que conquistou certos privilégios (por
exemplo, possessões através do roubo, experiências sexuais, “liberdade” para realizar
condutas arriscadas, independência de suas famílias). Produz-se, portanto, um “mimetismo
social: os adolescentes imitam os comportamentos dos jovens delinqüentes, pois os
consideram mais espertos. Este tipo de delinqüência é considerado como um fenômeno
praticamente normativo, que não tem relação com as características pessoais do indivíduo
e que desaparece progressivamente, à medida que se vai assumindo papéis mais adultos.
Como se pode ver, a taxonomia defendida por Moffitt (1993, 2002) propõe
examinar a delinqüência desde uma perspectiva evolutiva. Portanto, seu entendimento
implica na observação de diversos processos que vão se desencadeando ao longo da
história vital do indivíduo, e não unicamente das características estáticas ou circunstâncias
mais imediatas. Na hora de explorar os correlatos do delito, faz-se necessário diferenciar
entre os dois tipos. De outro modo, as relações entre as variáveis aparecerão debilitadas.
Este modelo tem alcançado grande importância na literatura da área; muitos dos dados
79
disponíveis corroboram adequadamente seus postulados e diversos autores têm começado a
aplicar esta visão a suas análises da delinqüência (Moffitt & cols., 2002; White, Bates &
Buyske, 2001).
1.3.3.4. O Equilíbrio do Controle
O marco teórico desenvolvido por Tittle (1995, 2004) procura identificar
mecanismos “causais” que permitam incorporar ou sintetizar idéias de outras perspectivas,
processo que se denomina “Equilíbrio do Controle”. Esta teoria se apresenta como uma
teoria geral dos comportamentos anti-sociais, pretendendo explicar todos os tipos de
condutas que a maioria de um grupo social considera inaceitáveis, ou que evocam uma
resposta coletiva de caráter negativo. Para a explicação de comportamentos desviantes, o
autor aponta que se devem conjugar elementos distintos. Por um lado, precisa existir, no
indivíduo, uma predisposição frente à desviação, e, por outro, ocorrer uma série de
circunstâncias situacionais (Tittle, 2004): a) uma provocação, ou seja, situações que
estimulam a predisposição inicial (por exemplo, insultos e desafios de outros); b) uma
oportunidade adequada para cometer um tipo específico de conduta (um roubo o poderá
ser realizado se não existir bens a subtrair); e c) a percepção da inexistência de restrições
para a realização do comportamento (ausência de mecanismos de controle que o impeçam
de realizar a atividade desejada).
Dentro do componente de predisposição, Tittle e Ward (1993) situam o ingrediente
mais central deste modelo: o equilíbrio de controle ou a razão de controle. A idéia
fundamental é: tanto a motivação para cometer comportamentos desviantes como o tipo
concreto de conduta dependerá da relação existente entre quantidade de controle (ou de
poder) que um indivíduo pode exercer e a quantidade de controle a que está submetido. Tal
relação é chamada razão de controle e está condicionada por diversas características, tanto
individuais (status ocupacional, inteligência, personalidade etc.) como organizacionais
80
(pertença a instituições poderosas, relações com indivíduos influentes etc.). Quando a
razão de controle se aproxima de 1, ou seja, quando a quantidade de controle a que se está
exposto é semelhante à quantidade que se pode exercer, diz-se que existe um equilíbrio de
controle. Nesta situação, é provável que não ocorram condutas desviantes. O
comportamento desviante, portanto, seria um dispositivo que as pessoas utilizam para
escapar da falta de controle ou para utilizar o superávit de controle.
Neste sentido, a relação entre a razão de controle e a probabilidade de desviação
tem forma de uma curva em “U”. Quanto mais alto for o equilíbrio na razão de controle
(em um dos dois sentidos), vai-se aumentando a probabilidade de ocorrência dos
comportamentos anti-sociais. A teoria ainda aponta que tipos específicos de desviação são
produzidos com distintos desequilíbrios. Quando existe um pequeno déficit de controle,
por exemplo, espera-se a ocorrência de delitos como agressão, manipulação, invasão de
propriedade etc. Se o indivíduo está submetido a mais controle do que pode exercer, mas
não tem muito restringidas suas possibilidades de ação, se sentirá motivado por superar
seus déficits tomando bens de outras pessoas o forçando-as a fazer o que ele deseja.
Quando o déficit de controle é maior, o indivíduo tem menos possibilidade de atuação;
seus atos desviados serão atos de desafio, protesto ou manifestações de hostilidade frente
ao contexto normativo (vandalismo, por exemplo). Quando a carência de controle é
extrema, a submissão às condutas desviantes é mais provável.
Com relação ao excesso de controle, diante de um desequilíbrio leve, o indivíduo
terá desejo de expressar seu controle, mas não poderá escapar totalmente ao controle dos
demais; portanto, se implicará em uma forma segura de delito: a exploração (delitos
indiretos por meio de intermediários ou de estruturas organizacionais, como, por exemplo,
delitos de “colarinho branco”, tráfico de influência). Quando o excesso de controle é
maior, o indivíduo percebe pouca restrição às suas ações. Neste caso, podem aparecer
81
delitos grandes contra coletividades (genocídio, delitos ecológicos etc.). E, ante a um
excesso extremo, são prováveis atos impulsivos ou carentes de organização racional.
Segundo Tittle e Ward (1993), suas hipóteses são compatíveis com diversas fontes de
evidências empíricas (por exemplo, a relação entre distintos tipos de delito e variáveis
sócio-demográficas, como a idade, o sexo ou a classe social). No entanto, segundo o
próprio Tittle, para utilização em novos estudos, sua teoria precisa de modificações (ver
Tittle, 2004).
1.3.3.5. Teoria das Personalidades Anti-sociais
Em muitas das teorias expostas até agora, certas características de corte
psicobiológico são contempladas como um elemento de interesse na hora de analisar a
delinqüência. Em diversos modelos (Agnew, 1985; Catalano & Hawkins, 1997; Moffitt,
2002; Patterson, Reid & Dishion, 1992) variáveis como hiperatividade, agressividade e
déficit de atenção assumem certa importância para explicar a origem dos comportamentos
anti-sociais. No modelo proposto por Lykken (1995), a dotação biológica do indivíduo
desempenha um papel fundamental. A idéia de partida é que, para se ter um funcionamento
adaptado à norma social, faz-se necessário um processo de socialização que inculque
hábitos conformados às regras. O resultado desse processo depende de dois fatores. Por um
lado, das práticas educativas dos pais, que devem trabalhar supervisionando a conduta da
criança, punindo comportamentos desviantes e estimulando aqueles alternativos, e, por
outro, da própria criança, que, segundo Lykken (1995), possui características
psicobiológicas herdadas que facilitam ou dificultam o processo de aquisição de normas. O
interjogo entre a atuação dos pais e as características da criança conduzirá uma
socialização satisfatória ou comportamentos delitivos.
Ao considerar os chamados delinqüentes crônicos, Lykken (1995) distingue dois
tipos: os sociopatas e os psicopatas. Os sociopatas (que representam o grupo mais
82
numeroso dentro das personalidades anti-sociais) estariam mais relacionados a uma
disciplina parental deficiente. Segundo este autor, os sociopatas têm um substrato
biológico normal, porém a ineficácia dos pais impede a aquisição das normas.
Contrariamente, os psicopatas são indivíduos que, devido a sua configuração
psicobiológica, são difíceis de socializar, inclusive aqueles que têm pais habilidosos e
competentes. Entre as características psicobilógicas que dificultam a socialização se
encontram a impulsividade, o afã pelo risco, a agressividade e, sobretudo, a falta de medo.
A socialização teria um de seus pilares fundamentais no castigo às condutas desviantes;
quando uma conduta é castigada na primeira vez que o indivíduo tem o impulso para
cometê-la, ele sentirá medo e se absterá de realizá-la. Mas, se ele é pouco propenso a sentir
medo, dificilmente poderá se produzir a aprendizagem das normas. Lykken (1995) reúne,
neste sentido, ampla evidência experimental que avalia a falta de medo nos psicopatas.
Para Lykken (1995), devido à orientação genético-biológica, certos indivíduos têm
dificuldades para aprender com o castigo; portanto, a socialização tem grande
probabilidade de fracassar. Segundo ele, uma saída provável está na prevenção. Os pais
devem ser treinados para conduzir com êxito o processo de socialização, especialmente
quando as crianças são difíceis. Têm que estar preparados para criar vínculos afetivos
fortes com seus filhos, supervisionar suas condutas e serem consistentes na sua educação.
Um processo de treinamento prévio à paternidade e a articulação de um sistema de
autorização para ser pai, são algumas das sugestões de Lykken para prevenir o
desenvolvimento de personalidades anti-sociais. Por suposto, não são estratégias simples
de serem implementadas.
1.3.3.6. Teorias Evolucionistas
O interesse por fatores genético-biológicos, enfatizado nos trabalhos de Lykken
(1995), torna-se ainda mais presente nas teorias evolucionistas. As hipóteses evolucionistas
83
partem do pressuposto de que nas condutas criminais subjaz um fator genético. Alguns
estudos com gêmeos e crianças adotadas parecem indicar que a criminalidade responde,
em alguma medida, a processos de hereditariedade biológica (Cloninger, Segvardsson,
Bohman & Von Knorring, 1982). Por isso, com base nas idéias do neodarwinismo, os
autores evolucionistas apontam que se existem genes que influenciam a criminalidade, esta
deve representar algum tipo de vantagem para a reprodução da espécie (Ellis, 1998; Ellis &
Walsh, 1997). As explicações evolucionistas não constituem uma grande teoria integrada
ou unificada, mas, sim, micro teorias que, por meio de diversas hipóteses, buscam sentido
para a conduta criminal. Em todo caso, a mensagem principal está sempre presente: o
crime contribui, de alguma maneira, para que os genes possam transmitir-se com êxito à
geração seguinte (Ellis, 1998).
Alguns dos autores evolucionistas oferecem explicações para tipos específicos de
delito. Assim, por exemplo, o estupro seria um meio para reproduzir-se de um modo
prolífico (Thornhill & Palmer, 2004). Os delitos de maus tratos contra a mulher teriam
como motivo fundamental a ameaça de infidelidade; se a mulher é infiel, o macho corre o
risco de criar indivíduos que não portam seus genes, por isso o maltrato aparece como um
meio de manter o acesso sexual exclusivo a sua mulher (Smuts, 1993). Belsky (1993)
propõe que estas condutas aparecem com maior probabilidade quando ocorrem
determinadas condições. Por exemplo, quando os recursos são limitados e o indivíduo tem
mais descendência do que se pode criar, neste caso a violência e o infanticídio aparecem
para poder concentrar os esforços na criação de um número menor de pessoas. Em outros
casos, o maltrato se dirige aos filhos que apresentam algum tipo de desvantagem
reprodutiva (anomalias sicas e mentais) e, portanto, podem não ser bons transmissores da
informação genética. Os autores evolucionistas insistem em afirmar que estes tipos de
comportamentos não são exclusivos da espécie humana. Em outras espécies animais se
84
produzem condutas análogas a estas, que podem ser interpretadas de igual modo que os
crimes humanos (Ellis, 1998).
Além destas perspectivas, ainda existem propostas evolucionistas que tentam
explicar a delinqüência em geral, sem centrar-se nos tipos específicos de delitos. Nesta
direção, existem teorias que apontam que o crime é o resultado de uma competitividade
extrema (Charlesworth, 1988). Todos os indivíduos têm certo grau de competitividade que
os permitem lutar pelos recursos necessários para sua sobrevivência. Não obstante, em
certos organismos, tal tendência estaria tão aguçada que daria lugar às atividades
consideradas criminais pela sociedade. Uma das teorias evolucionistas mais conhecidas é a
do contínuo “r/K” (Rushton, 1995) ou do mating/parenting (Rowe, 1996). O contínuo
“r/K” é um conceito amplamente utilizado na biologia evolucionista para se referir às
estratégias que utilizam os organismos a fim de reproduzir-se com êxito. A idéia de partida
é que existe um contínuo ao longo do qual podem situar-se todos os organismos animais.
Os organismos mais próximos ao pólo “r” têm uma reprodução rápida e abundante,
investindo pouco tempo e esforço na criação de uma descendência. Ao contrário, os
organismos próximos do pólo “Kse reproduzem lentamente, e dedicam muito tempo e
energia à criação. As diferentes espécies animais se situam em diferentes pontos deste
contínuo.
No que se refere ao ser humano, aponta-se que este segue uma estratégia
reprodutiva tipo “K”, mas, como existe uma ampla variabilidade entre os indivíduos de
uma mesma espécie, a criminalidade e a psicopatia seriam próprias de indivíduos tendentes
à estratégia “r”. Os indivíduos com traços “r” buscam uma reprodução extensa, sem
dedicar grandes esforços ao cuidado de suas crias e sem preocupação pela estabilidade
familiar ou econômica. A conseqüência deste estilo reprodutivo será a realização de atos
considerados como delitivos e psicopatas. Dado que os homens têm um potencial
85
reprodutivo maior, sem necessidade de tanto investimento parental como as mulheres, a
estratégia “r” seria mais comum nos homens. Ainda levanta-se a hipótese de que, em raças
ou grupos sociais nos quais as características “r” sejam mais comuns (maior número de
filhos, iniciação sexual precoce, nascimentos prematuros etc.), a conduta anti-social será
mais provável. Isso, segundo Ellis e Walsh (1997), explicaria, em parte, porque entre
indivíduos negros têm-se encontrado taxas mais altas de delitos do que entre os brancos, e
porque entre os brancos são mais altas do que entre os orientais.
As propostas evolucionistas não desfrutam de grande popularidade; muitas das suas
hipóteses são mais conhecidas em publicações da biologia. Como seus próprios defensores
reconhecem, este tema é ideologicamente sensível (Ellis, 1998); a imagem animal e a
maneira como abordam o assunto não é tão atrativa e fácil de assumir (Rowe, 1996). Por
outro lado, sublinham que, mesmo existindo influência genética, os genes não determinam
as condutas de modo inevitável. As experiências de aprendizagem são fundamentais na
configuração do comportamento, mas é necessário explicar por que certos indivíduos se
sentem motivados a aprender determinadas condutas.
1.3.4. Modelos Integradores de Amplo Espectro
Como se pode perceber, o panorama das teorias sobre comportamentos anti-sociais
é complexo. Portanto, alguns modelos ocupam-se, em maior medida, dos possíveis
mecanismos de interdependência entre as variáveis explicativas, e entre estas e o
comportamento, utilizando, para tanto, variáveis procedentes de diversos âmbitos e planos
de análise. Nesta direção, desenvolveram-se as duas teorias resumidas a seguir.
1.3.4.1. Teoria da Conduta-Problema
O modelo proposto por Jessor e Jessor (1980) destaca-se por sua amplitude; nele
são organizados, aproximadamente, 50 fatores diferentes (Donavan, 1996), pertencentes a
86
campos como personalidade, contexto socializador e cultural. Propondo-se a explicar o
desenvolvimento de comportamentos considerados como problemáticos durante a
adolescência (por exemplo, consumo de drogas, delinqüência e atividades sexuais
prematuras e/ou arriscadas), esta teoria foi uma das primeiras a reconhecer que diferentes
tipos de comportamentos derivavam dos mesmos determinantes. Utilizou-se pela primeira
vez o termo “conduta-problema” para referir-se a diversos comportamentos adolescentes,
objeto de reprovação por parte da sociedade convencional (Jessor & Jessor, 1980).
Concretamente, os autores definem as condutas-problema como tipos de atividades
reconhecidas como socialmente problemáticas, que são fontes de preocupação ou se
consideram indesejáveis pelas normas convencionais; a sua ocorrência elicia algum tipo de
resposta de controle que pode ser leve (a reprovação, a admoestação por parte dos adultos)
ou severa (o encarceramento).
Segundo Jessor (1992), as condutas-problema formam parte de uma mesma
“síndrome de desviação” ou de um mesmo “estilo de vida”. Os autores do modelo se
opõem frontalmente àquelas perspectivas que tentam explicar ou intervir sobre tais
condutas de um modo diferenciado, como se fossem comportamentos de natureza distinta
(Jessor & Jessor, 1980). De acordo com esta teoria, a conduta-problema é propositiva,
instrumental, funcional. O adolescente se implica nestes comportamentos com o propósito
de conquistar certas metas importantes em seu desenvolvimento. Por exemplo, a conduta-
problema pode ser uma via para ganhar respeito e aceitação no grupo de amigos,
estabelecer a autonomia frente aos pais e/ou enfrentar a ansiedade ou a frustração, a
antecipação ao fracasso etc. Jessor (1992) sustenta que não nada irracional ou
psicopatológico em tais metas; são objetivos característicos do desenvolvimento
psicossocial, de modo que a intervenção deve proporcionar recursos para ajudar os jovens
a alcançar essas metas de modo saudável.
87
Para explicar a aparição da conduta-problema, são apontados sistemas distintos de
influência psicossocial, que atuam sempre em interação. Primeiramente, o modelo
apresenta uma série de variáveis “antecedentes”, que servem de “pano de fundo” para a
aparição de outras influências mais diretas. Entre estas variáveis se encontram fatores de
caráter sócio-demográfico (estrutura familiar, ocupação e educação dos pais) e fatores
relacionados com experiências de socialização (ideologia dos pais, clima familiar, a
exposição aos meios de comunicação). O cleo da teoria está representado pela interação
entre dois tipos de fatores: pessoais e sócio-ambientais. Estes componentes recebem o
nome de “sistema de personalidade” e “sistema de ambiente percebido”, respectivamente.
Cada um deles está configurado por diferentes variáveis; algumas são mais distais,
enquanto outras, mais próximas da conduta problema. Portanto, existem fatores que
favorecem a conduta-problema e outros que funcionam como inibidores.
Dentro do sistema de personalidade, encontram-se três conjuntos de variáveis. O
primeiro deles refere-se à chamada “estrutura motivacional”, ou seja, o tipo de objetivo
pelo qual luta o indivíduo e as expectativas para alcançá-los; incluem-se aqui o valor
concedido ao rendimento acadêmico ou à independência. O adolescente estará em risco de
incorrer na conduta-problema se a independência dos pais é uma meta fundamental, se o
rendimento acadêmico é pouco valorizado ou se tem expectativas baixas de êxito no
mundo escolar. Um segundo conjunto está representado pela estrutura de crenças pessoais,
no qual se integram crenças distintas sobre a sociedade, o próprio indivíduo e as relações
entre o indivíduo e a sociedade. Fazem parte desta estrutura a auto-estima, o conformismo,
a alienação com relação à sociedade convencional e o lócus de controle. O indivíduo será
vulnerável à conduta-problema se é crítico em relação à sociedade e está culturalmente
distanciado dela, se tem uma auto-estima baixa e se apresenta lócus de controle externo.
Finalmente, no sistema de personalidade, encontram-se outros fatores mais próximos da
88
conduta-problema; especificamente, apontam-se as atitudes frente à desviação (estrutura
pessoal de controle); quanto maior a tolerância frente à desviação maior o risco de
envolver-se em conduta-problema. Neste caso, os autores sugerem que o envolvimento
religioso funcionaria como um fator inibidor da conduta desviante (Jessor, Donovan &
Costa, 1990).
Com relação ao componente sócio-ambiental, o modelo enfatiza a dimensão
subjetiva do ambiente, ou seja, o ambiente tal qual é percebido pelo indivíduo. Nele,
integram-se dois sub-componentes: (1) a estrutura distal, que diz respeito à orientação do
adolescente frente à sua família e seus amigos. Nesta, incluem-se seis variáveis (apoio
percebido por parte dos pais e dos amigos, controle percebido por parte dos pais e dos
amigos, compatibilidade entre pais e amigos). A pessoa semais vulnerável à conduta-
problema se for mais influenciada por seus amigos do que por seus pais; e (2) a estrutura
próxima na qual se incluem variáveis mais diretamente relacionadas com a conduta-
problema. Estas variáveis referem-se à prevalência e à aceitação da conduta-problema nos
contextos psicossociais. A integração em contextos em que se realizam e se aprovam
comportamentos desviantes produz a aparição de condutas-problema.
A inter-relação entre fatores pessoais e o ambiente percebido dará lugar a um
padrão de condutas desviantes (estrutura da conduta-problema) ou ajustado às normas
(estrutura de condutas convencionais); tais estruturas estão inversamente relacionadas entre
si, e, dentro de cada uma delas, as condutas estão relacionadas entre si. Os indivíduos com
uma estrutura comportamental problemática mostrarão diferentes modalidades de
comportamentos desviantes; o mesmo ocorrerá com as condutas convencionais. A teoria
proposta por Jessor e Jessor (1980) é um dos primeiros modelos multivariados sobre a
conduta desviante. Segundo Petraitis e col. (1995), é também um dos mais influentes e
ambiciosos modelos que tem inspirado múltiplos programas de prevenção.
89
1.3.4.2. Teoria Interacional
Outro modelo importante, no estudo dos comportamentos anti-sociais, é a teoria
interacional proposta por Thornberry (1987). De acordo com este autor, a explicação da
delinqüência é mais complexa do que mostram os modelos tradicionais. Segundo ele, o
comportamento anti-social não responde a uma causa simples e unidirecional. A
delinqüência é resultado de processos bidirecionais complexos que ocorrem ao longo do
desenvolvimento. Portanto, o indivíduo não se limita a “receber” as influências do meio
(familiar, escolar, grupal) como propõem as demais teorias, mas o próprio comportamento
dele influencia os agentes causais (Simons & cols., 1988).
Thornberry (1987, 1996) aponta que a debilidade do apego à família ou à escola é
um dos fatores mais importantes para o início da delinqüência. Contrariamente ao que
propõem as teorias do controle social, a teoria interacional aponta que, para o surgimento
do comportamento anti-social, faz-se necessário um contexto de aprendizagem. De acordo
com Hirschi (1969), todas as pessoas estão intrinsecamente motivadas e preparadas para
delinqüir; uma vez debilitados os laços com a sociedade convencional, não será necessário
nenhum processo de aprendizagem ou de socialização desviante. Thornberry (1996), no
entanto, assume que, mesmo desligado do mundo convencional, o indivíduo precisa
aprender a delinqüir participando de contextos desviantes (por exemplo, o grupo de
amigos). O contexto reforçará a aquisição de valores e comportamentos problemáticos.
Este conjunto de processos não é unidirecional. A falta de apego aos espaços
convencionais influencia a delinqüência; contudo, a própria delinqüência contribui para
debilitar ainda mais os vínculos com estes espaços. O envolvimento com amigos
desviantes aumenta a probabilidade de o indivíduo cometer atos delitivos, mas, ao mesmo
tempo, a atividade anti-social o levará a envolver-se com maior intensidade com pares
delinqüentes (Thornberry, 1996). Por meio destes mecanismos, agrava-se a situação de
90
risco do indivíduo, de forma que as condutas delinqüentes se cronificam. De alguma
forma, tal conduta contribui para sua própria causação. Este modelo assume que existe um
processo contínuo de interação entre o comportamento e seu ambiente. A própria conduta
desviante é um elemento dinâmico que modela seu meio, criando um espiral de
influências.
Em resumo, o modelo proposto por Thornberry (1987), além de analisar os
antecedentes da conduta desviante, também presta atenção às suas conseqüências
psicossociais, dado que estas desempenham um papel importante na sustentação dos
comportamentos anti-sociais. Não obstante, mesmo as teorias expostas apresentando um
significativo número de elementos contribuintes para explicação dos comportamentos anti-
sociais, neste campo, ainda são escassos os modelos que se concentram especificamente
nos fatores de proteção. Portanto, o desenvolvimento de estudos que primam por conhecer
quais variáveis poderiam atuar inibindo os comportamentos anti-sociais torna-se de
fundamental importância, sobretudo, no contexto brasileiro. A presente tese concentra-se
nos fatores que priorizam orientações sociais fundamentadas na busca da inserção social do
jovem, no seu ajustamento a padrões culturais e a papéis sociais que tornam a harmonia e a
estabilidade social possível. Esta concepção origem ao que é proposto como Hipótese
do Compromisso Convencional e Afiliação Social, descrita no capítulo a seguir.
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92
A análise dos modelos expostos no capítulo anterior sugere a importância dos
vínculos sociais e afetivos para a explicação do fenômeno delinqüência. Teorias como a do
desenvolvimento social (Catalano & Hawkins, 1997; Hawkins & Weis, 1985) e o modelo
proposto por Elliott e cols. (1985a) indicam que a fragilidade desses nculos é um dos
elementos principais da etiologia e do desenvolvimento dos comportamentos anti-sociais.
Com base nos pressupostos da teoria do controle social (Hirschi, 1969), tais modelos
assumem que os impulsos desviantes que as pessoas presumivelmente compartilham são
controlados por meio da adesão à sociedade convencional; aponta-se que os indivíduos
com vínculos convencionais frágeis não se sentem “controlados” ou compelidos a aderirem
a padrões convencionais de comportamento. Sob esta perspectiva, a frase “vínculo
convencional frágil” expressa dois aspectos fundamentais: (1) a falta de compromisso com
a sociedade convencional, seus valores, suas instituições e forças socializadoras (por
exemplo, escola, religião); e (2) a debilidade da adesão e identificação com modelos de
papéis convencionais, a exemplo dos pais, professores e familiares em geral (Petraitis &
cols., 1995).
A fragilidade do vínculo convencional, além de predispor os comportamentos anti-
sociais, promove sua continuidade e desenvolvimento por meio de aprendizagem social
(Elliott & cols., 1985a). Um adolescente com vínculo convencional fraco tem possibilidade
ampla de se envolver e/ou se identificar com indivíduos ou grupos desviantes e,
conseqüentemente, maiores oportunidades para observar, imitar e sentir-se socialmente
recompensado ao perpetrar atos anti-sociais. Logo, o vínculo convencional frágil torna o
indivíduo vulnerável às pressões do meio, à aprendizagem e ao desenvolvimento de
comportamentos desviantes. De modo oposto, quanto mais vinculado à sociedade
convencional ele estiver, maior será a probabilidade de que venha a ponderar o que pode
perder ao se associar com companheiros delinqüentes (Hawkins, Catalano & Arthur, 2002;
93
Petraitis & cols. 1995). Segundo Hirchi (1969), esta análise de “custo/benefício” tende a
aumentar se o adolescente está envolvido em atividades convencionais paralelas, como,
por exemplo, a prática de esportes e o escotismo.
Diversos estudos dão suporte empírico a tal hipótese, Petraitis e cols. (1995), por
exemplo, citam pelo menos 30 publicações nesta direção. No entanto, a maioria destas
pesquisas aborda variáveis isoladas, e as que consideram fatores múltiplos tendem a se
concentrar naqueles de risco. De fato, estudar tais fatores é um passo importante; para
alguns, o primeiro passo na fundamentação de estratégias de prevenção empiricamente
embasadas (Herrenkohl & cols., 2000; Nightingale & Fischhoff, 2003). Contudo, como
reconhecem Hawkins e cols. (1992), alguns fatores de risco são muito difíceis de modificar
ou sua modificação independe da vontade específica da pessoa diretamente envolvida (por
exemplo, privação econômica, experiência de familiares com drogas, fatores fisiológicos).
Portanto, a necessidade de conhecer que fatores poderiam inibir os comportamentos anti-
sociais entre os jovens torna-se evidente. Tais aspectos, como mencionado, contribuem
para justificar a realização da presente tese, que se centra na hipótese de compromisso
convencional e afiliação social (Petraitis & cols., 1995), representada didaticamente por
duas facetas, intimamente interligadas, as quais são nomeadas a seguir:
Compromisso Social. Implica uma adesão à sociedade convencional em geral, aos
seus valores e suas instituições socializadoras, especialmente à escola e religião. Os fatores
desta faceta inibem os comportamentos anti-sociais, no sentido de que os indivíduos que se
sentem envolvidos ou comprometidos com a sociedade convencional logram internalizar
valores e padrões promotores de comportamentos tipicamente convencionais.
Compromisso Afetivo. Sugere que a adesão aos modelos de papéis convencionais,
incluindo os professores, os membros da família e, especialmente, os pais, encoraja
comportamentos convencionais e inibe aqueles desviantes. Portanto, indivíduos que
94
apresentam compromisso ou identificação com tais papéis são menos prováveis de
manifestar comportamentos anti-sociais, principalmente porque estão “privados” do
envolvimento com companheiros socialmente desviados (por exemplo, usuários de drogas
ilícitas, vândalos).
Apesar da gama de fatores que poderiam ser incluídos como exercendo um papel
importante para inibir os comportamentos anti-sociais, no marco do compromisso
convencional e afiliação social, os quatro seguintes são freqüentemente citados (Benda &
Corwyn, 2000; Hawkins & cols., 2002; Petraitis & cols., 1995): (1) os valores sociais
normativos, (2) o compromisso religioso, (3) o estilo parental autoritativo e (4) a
identificação com grupos convencionais de referência. Os dois primeiros fatores compõem
a faceta compromisso social, enquanto os dois últimos representam o compromisso afetivo.
É possível presumir que estas variáveis funcionam como moderadores dos efeitos da
exposição ao risco, isto é, elas permitem que, em uma população exposta ao risco, alguns
subgrupos podem negociar ou lidar mais eficazmente com esta ameaça, tornando-se menos
vulnerável. Trata-se de assegurar a proteção por meio da promoção de respostas resilientes
à exposição ao risco, diminuindo a vulnerabilidade do jovem e, por conseguinte,
protegendo-o de envolver-se em comportamentos desviantes.
Neste marco, os fatores de proteção não devem ser vistos como uma oposição
àquelas variáveis identificadas como fatores de risco. Se assim fosse, estar-se-ia
unicamente distinguindo níveis extremos de uma mesma dimensão, o que pode não ser útil
para explicar o envolvimento em comportamentos anti-sociais (ver Hawkins & cols.,
1992). Tais fatores atuam produzindo as condições necessárias para que, mesmo sendo
exposto a riscos, o jovem seja capaz de resistir (Little & col., 2004); ele seria menos
vulnerável, por exemplo, à influência de amigos delinqüentes, usuários de drogas ou
pessoas que buscam o prazer em atividades arriscadas. Uma exposição mais detalhada dos
95
construtos (fatores de proteção) que compõem a hipótese de compromisso convencional e
afiliação social pode ser contemplada a seguir.
2.1. Valores Humanos
Os valores humanos são estudados desde diferentes perspectivas. Referências sobre
o tema podem ser encontradas em campos distintos, como filosofia, antropologia,
sociologia e psicologia (Gouveia, 2003; Ros, 2001). Na psicologia e, mais precisamente,
na psicologia social, as prioridades axiológicas têm sido amplamente exploradas,
provavelmente pelo papel importante que exercem no processo seletivo das ações humanas
(Rokeach, 1973). Bardi e Schwartz (2001) apontam os valores como um construto de
relevância especial para o entendimento de diversos fenômenos sócio-psicológicos. De
fato, pesquisas nesta direção corroboram a afirmação destes autores, demonstrando a
importância dos valores para explicação, por exemplo, de atitudes e comportamentos
ambientais (Coelho, Gouveia & Milfont, 2006), religiosidade (Schwartz & Huismans,
1995), preconceito (Vasconcelos, Gouveia, Souza Filho, Sousa & Jesus, 2004), consumo
de drogas (Coelho Júnior, 2001) e, especialmente, comportamentos anti-sociais (Pimentel,
2004; Vasconcelos, 2004). A presente seção tem como propósito expor estudos que
relacionam estes comportamentos e os valores humanos. No entanto, antes de apresentá-los
de forma mais detalhada, torna-se necessário discorrer acerca de algumas das teorias mais
proeminentes no estudo dos valores.
2.1.1. Rokeach e a Natureza dos Valores Humanos
Rokeach é, provavelmente, um dos autores que mais contribuiu para os estudos
recentes sobre valores (Gouveia, Andrade, Milfont, Queiroga & Santos, 2003). Sua teoria
parte de cinco pressupostos básicos: (1) o número de valores que uma pessoa possui é
relativamente pequeno; (2) independentemente da cultura na qual estejam inseridas, as
96
pessoas possuem os mesmos valores, diferenciando apenas o grau de importância atribuído
a cada um deles; (3) os valores são organizados em sistemas de valores; (4) os
antecedentes dos valores podem ser determinados pela cultura, pela sociedade e por suas
instituições, além da própria personalidade dos indivíduos; e (5) as manifestações dos
valores se dão em fenômenos considerados dignos de serem estudados e entendidos pelos
cientistas sociais.
De acordo com Rokeach (1973, p. 5), um valor pode ser definido como “a crença
duradoura de que um modo específico de comportamento ou estado final de existência é
pessoal ou socialmente preferível a um modo de comportamento ou estado final de
existência oposto ou inverso”. Em síntese, os valores podem ser entendidos como crenças
prescritivas/proscritivas que permitem aos indivíduos julgarem objetos ou ações como
desejáveis, indesejáveis, recomendáveis ou reprováveis. Os valores, segundo Rokeach
(1973), distinguem-se em instrumentais (os comportamentos) e terminais (o próprio
desejável). Os instrumentais podem ser morais e de competência. A violação destes
últimos provoca sentimentos de vergonha ou de inadequação pessoal; já os primeiros
(morais) correspondem a uma perspectiva interpessoal, provocando sentimentos de culpa
quando são transgredidos. Os valores terminais também apresentam duas tendências,
podendo estar centrados no indivíduo (pessoais) ou na sociedade (sociais). Uma
compreensão dessa estrutura pode ser apreciada na Tabela 1, a seguir:
97
Tabela 1. Tipos de valores instrumentais e terminais propostos por Rokeach (1973)
Tipos de Valores
Terminais
Estados finais de existência
Instrumentais
Modos de comportamento
Pessoais
Centrados na própria pessoa, foco intrapessoal.
Exemplos: salvação, harmonia interior.
De competência
Sua transgressão provoca vergonha, foco
intrapessoal.
Exemplos: lógico, inteligente.
Sociais
Centrados na sociedade, foco interpessoal.
Exemplos: um mundo de paz, amizade
verdadeira.
Morais
Sua transgressão provoca culpa, foco
interpessoal.
Exemplos: honesto, responsável.
Sob a perspectiva de Rokeach, os valores se estruturam em conjunto ou sets que
conformam um sistema de valor, definido por ele como “uma organização duradoura de
crenças referentes a modos de conduta ou estados finais de existência ao longo de um
contínuo de relativa importância” (Rokeach, 1973, p. 5). O sistema de valor se organiza de
forma hierárquica, em que cada valor é ordenado em função de sua prioridade ou
importância em relação aos demais valores. Os valores podem se reordenar em função das
prioridades, mas o sistema total de valores permanece relativamente estável ao longo do
tempo. Segundo Gouveia (1998), a mudança ou reordenação dos valores é uma
conseqüência tanto de experiências culturais e sociais como pessoais (por exemplo,
desenvolvimento intelectual, grau de internalização de valores culturais e institucionais,
identificação política). Este fenômeno é de grande importância para a compreensão das
mudanças sociais (Rokeach, 1973), embora esta análise não seja o objetivo desta tese.
Outra qualidade importante deste modelo é a menção que o autor faz às funções dos
valores. Para Rokeach (1973), os valores têm as seguintes funções: (1) ego-defensiva, uma
vez que sentimentos ou ações pouco aceitas, pessoal ou socialmente, podem se
transformar, por meio de processos de racionalização e formação defensiva, em algo mais
aceitável, de modo que socialmente, sob a forma de valores, representem conceitos
culturalmente justificáveis; (2) de conhecimento ou auto-realização, que alguns valores,
98
implícita ou explicitamente, promovem a busca de significado e compreensão, o que
implica em conhecimento e, concretamente, em auto-realização; (3) critério de orientação
para posicionamentos diante de problemas, predisposição favorável ou não perante uma
ideologia, tarefas como avaliar, julgar, emitir elogios a si e a outrem, comparar, persuadir,
influenciar, racionalizar crenças, atitudes e comportamentos que de outro modo seriam
pessoal ou socialmente condenados moralmente e necessários à manutenção da auto-
estima; (4) motivacional, pois guiam as ações humanas em situações do dia-a-dia e
fornecem expressão às necessidades humanas básicas; e (5) adaptativa, que o conteúdo
de certos valores (por exemplo, obediência, cordialidade, autocontrole) acentua
diretamente modos de conduta ou estados finais que são de orientação adaptativa, ou
orientados para a utilidade.
Como se observa, a publicação do livro The nature of human values, de Milton
Rokeach (1973), trouxe contribuições significativas para a consolidação do avanço dos
estudos sobre valores. Suas contribuições podem se resumidas nos seguintes termos: a
proposta de uma abordagem que reuniu aspirações de diversas áreas, como a antropologia,
a filosofia, a sociologia e, por suposto, a psicologia; a diferenciação dos valores de outros
construtos com os quais costumavam ser relacionados, como as atitudes, os interesses e os
traços de personalidade; a apresentação de um instrumento que, pela primeira vez, buscava
medir os valores como um construto legítimo e específico; e, finalmente, a demonstração
da centralidade dos valores no sistema cognitivo das pessoas, reunindo dados sobre seus
antecedentes e conseqüentes (Gouveia, Martínez, Meira & Milfont, 2001).
Entretanto, segundo Gouveia e cols. (2001), na teoria de Rokeach alguns pontos
resultam problemáticos, a exemplo do tipo de medida empregada, que é de natureza
ipsativa (implica uma dependência entre as pontuações de um mesmo sujeito), a
indefinição da estrutura dos valores e a restrição das amostras dos seus estudos, realizados,
99
principalmente, com estudantes universitários estadunidenses (ver Gouveia, 2003; Gouveia
& cols., 2001). Frente a estas limitações, outros modelos teóricos têm sido propostos
(Gouveia, 1998, Gouveia, Fischer & Milfont, 2008), entre os quais se destaca o de Shalom
H. Schwartz e seus colaboradores (Schwartz, 2001; Schwartz & Bilsky, 1987, 1990).
2.1.2. O Conteúdo e a Estrutura Universais dos Valores
O modelo desenvolvido por Shalom H. Schwartz é, na atualidade, a principal
referência no campo dos valores. De acordo com este autor, a concepção do valor como
uma crença pertencente a fins desejáveis ou à forma de comportamentos, que transcendem
situações específicas, que guia as ações humanas e se ordena por sua importância com
relação a outros valores, é consensual na literatura da área (Schwartz, 1992, 2001;
Schwartz & Bilsky, 1987, 1990). Entretanto, Schwartz aponta que, apesar da utilidade
desta definição para diferenciar os valores de outros construtos (por exemplo, necessidade,
atitudes), ela nada diz a respeito acerca do conteúdo substancial e da estrutura dos valores.
Em função destas críticas, ele afirma que a identificação da estrutura das relações entre os
valores permite avançar no estudo das associações entre um valor isolado e outras
variáveis e, ao mesmo tempo, com o sistema global de valores (Schwartz, 2001).
Schwartz (2001) apresenta uma tipologia da estrutura e do conteúdo universais dos
valores humanos, sugerindo sua validade tanto intra como intercultural. Apesar de
incorporar elementos conceituais mencionados anteriormente, este autor reelabora seus
conteúdos e define os “valores como metas desejáveis e trans-situacionais, que variam em
importância, que servem como princípio na vida de uma pessoa ou de outra entidade
social” (Schwartz, 2001, p. 55). Desta definição sobressaem algumas características
importantes dos valores, a saber: (1) servem a interesses de alguma entidade social; (2)
podem motivar a ação, dando-lhe direção e intensidade emocional; (3) funcionam como
100
padrões para julgar e justificar as ações; e (4) são adquiridos tanto pela socialização de
valores do grupo dominante como por meio das experiências singulares dos indivíduos.
Segundo Schwartz (2001), os valores expressam as necessidades inerentes à existência
humana, sendo estes respostas para três requisitos universais: as necessidades humanas
(organismo biológico), os motivos sociais (interação) e as demandas institucionais (bem-
estar e sobrevivência dos grupos). Em função destes requisitos, ele deriva os dez tipos
motivacionais descritos na Tabela 2.
Tabela 2. Tipos motivacionais de valores (Schwartz, 2001)
Definição
Exemplo de Valores
Fontes
Poder. Status social e prestígio, controle ou domínio
sobre as pessoas e os recursos.
Poder social, Autoridade,
Riqueza
Interação
Grupo
Realização. Sucesso pessoal por meio da
demonstração de competência, segundo os padrões
sociais.
Bem sucedido, Capaz,
Ambicioso
Interação
Grupo
Hedonismo. Gratificação sensual e prazer para si
mesmo.
Prazer, Apreciar a vida
Organismo
Estimulação. Excitação, novidade e desafio na vida.
Ousadia, Vida variada,
Vida excitante
Organismo
Autodireção. Independência de pensamento e ação,
criando, explorando.
Criatividade, Curiosidade,
Liberdade
Organismo
Interação
Universalismo. Compreensão, tolerância, estima e
proteção para com o bem-estar de todas as pessoas e
da natureza.
Tolerância, Justiça social,
Igualdade, Proteção do
meio ambiente
Grupo
Organismo
Benevolência. Preservação e aumento do bem-estar
das pessoas com quem se tem contato pessoal
freqüente.
Prestativo, Honesto, Não
rancoroso
Organismo
Interação
Grupo
Tradição. Respeito, compromisso e aceitação dos
costumes e das idéias que a tradição cultural ou a
religião fornecem.
Humilde, Devoto
Grupo
Conformidade. Contêm as ações, inclinações e
impulsos que possam fazer mal ou causar sofrimento
a outros, ou que violem as expectativas ou normas
sociais.
Bons modos, Obediente,
Honra aos pais e os mais
velhos
Interação
Segurança. Segurança, estabilidade e harmonia da
sociedade, dos relacionamentos ou da própria pessoa
Segurança nacional,
Ordem social, Limpo
Organismo
Interação
Grupo
101
De acordo com esta teoria, os tipos motivacionais apresentam relações dinâmicas
entre si. Schwartz (1992) esclarece que, quando se age tomando um dos valores como
meta, as conseqüências práticas, psicológicas ou sociais podem ser conflitantes ou
compatíveis com algum outro valor que se persiga. Esse padrão de compatibilidade e
conflito entre os tipos motivacionais de valores é representado na Figura 1, onde os tipos
conflitantes aparecem em direções apostas com relação ao centro da figura, enquanto
aqueles compatíveis se situam adjacentes ao longo do círculo.
Figura 1. Estrutura Bidimensional dos Tipos Motivacionais
(adaptado de Schwartz, 2001, p. 59).
Mesmo diferenciando tipos de valores, o modelo assume que os valores formam um
contínuo de motivações, representado por uma estrutura circular (Figura 1). O
entendimento desta proposição torna-se mais claro com a especificação da ênfase
102
motivacional compartilhada por cada um dos tipos valorativos subjacentes. Conforme a
descrição de Schwartz (2001, pp. 58-59):
“a) poder e realização enfatizam a superioridade e a estima social; b)
realização e hedonismo se concentram na satisfação pessoal; c) hedonismo e
estimulação implicam a busca efetiva por excitação; d) estimulação e
autodireção compartilham o interesse pela novidade e exploração; e)
autodireção e universalismo expressam confiança no próprio julgamento e
conforto com a diversidade da existência; f) universalismo e benevolência
ocupam-se do bem-estar dos demais e de transcender interesses egoístas; g)
benevolência e conformidade demandam comportamentos normativos que
promovem relações próximas; h) benevolência e tradição promovem a
dedicação ao próprio grupo; i) conformidade e tradição implicam subordinação
do self em favor de expectativas sociais impostas; j) tradição e segurança
destacam a preservação dos acordos sociais existentes para dar segurança à
vida; k) conformidade e segurança enfatizam a proteção da ordem e harmonia
nas relações; e l) segurança e poder sublinham a evitação ou superação do
medo e das incertezas mediante o controle das relações e dos recursos.”
Esta estrutura ainda apresenta duas dimensões bipolares básicas. Cada pólo
constitui um tipo de valor de ordem superior que combina dois ou mais dos dez tipos de
valores. Uma das dimensões põe em oposição a Abertura a Mudanças (Autodireção e
Estimulação) à Conservação (Conformidade, Tradição e Segurança); a outra opõe a Auto-
Transcendência (Universalismo e Benevolência) à Auto-Promoção (Realização e Poder).
Cabe destacar que o Hedonismo está relacionado tanto com a Abertura a Mudanças como
com a Auto-Promoção (Schwartz, 2001). Como se pode perceber, e segundo o próprio
Schwartz (2001), esta tipologia se assemelha a proposta de Rokeach (1973) em ao menos
dois aspectos: adota o mesmo conceito de valor, com algumas reformulações, e utiliza
como base a mesma metodologia para medí-los. Como se comentou, a proposta teórica
deste autor desfruta hoje de grande popularidade no meio científico e tem sido utilizada em
diversos estudos da psicologia social, contudo não está isenta de falhas. Autores como
Gouveia (1998) e Molpeceres (1994) têm levantado uma série de questões acerca deste
modelo.
103
2.1.3. Os Valores Materialistas e Pós-materialistas de Inglehart
Se Schwartz é considerado, na atualidade, um dos autores mais proeminentes nos
estudos sobre valores no campo da psicologia, Ronald Inglehart é, sem dúvida, possuidor
do mesmo prestígio nas ciências sociais e políticas (Gouveia, 1998). Desde a década de
1970, este autor tem realizado pesquisas acerca da transmissão cultural em sociedades
industrializadas; a ênfase de seus estudos reside, fundamentalmente, nas mudanças no
plano dos valores e das práticas dos indivíduos de diferentes gerações (Inglehart, 1991).
Com base na teoria das necessidades de Maslow (1954/1970), Inglehart (1977, 1991)
sugere que os valores concentram-se em duas dimensões: materialista, relacionada com as
necessidades fisiológicas, e pós-materialistas, associada às necessidades sociais e de
atualização.
Segundo Inglehart (1977), a transição cultural de valores materialistas para pós-
materialistas produz modificações na concepção de existência dos indivíduos. Tais
alterações ocorrem de forma progressiva, uma vez que são reflexo da evolução nas
múltiplas experiências vivenciadas pelas diferentes gerações. Deste modo, diante de
transformações na sociedade, as gerações mais antigas preservam os valores tradicionais,
mas, ao mesmo tempo, também evidenciam o cenário cultural por meio de novos matizes e
com intensidades distintas. As gerações mais novas se situam na condução das orientações
culturais e, pouco a pouco, vão substituindo as gerações precedentes; estes aspectos
produzem inevitavelmente modificações na mentalidade e no sentido dos valores vigentes
e legitimados socialmente.
As pesquisas conduzidas por Inglehart (1991) corroboram a existência de uma
evolução nos sistemas de valores de países menos e mais desenvolvidos. Dentro de cada
país, os resultados demonstram diferenças significativas entre as prioridades valorativas de
indivíduos jovens e velhos, ricos e pobres. Seus estudos conduzem ao pensamento de que,
104
com grande probabilidade, na maioria dos países, as transformações nas prioridades
valorativas seguem uma trajetória previsível, devendo-se reconhecer que as diferenças
culturais tradicionais não desaparecem (Inglehart & Baker, 2000). As transformações
culturais são ilustradas por Inglehart (1994) por meio de uma dimensão com dois pólos,
correspondendo ao materialismo e pós-materialismo, descritos a seguir:
Materialismo diz respeito à predominância de valores tradicionais e religiosos. As
sociedades situadas no pólo tradicional privilegiam a religião e os valores tradicionais
relacionados à família, promovem a existência de famílias numerosas e defendem a vida;
são contra o aborto, a eutanásia e o suicídio. Nestas sociedades, produz-se uma preferência
pelo conformismo social; ante às iniciativas individuais, privilegia-se o consenso; mais que
o conflito político, valoriza-se o respeito criado em torno da autoridade local.
Pós-materialismo é relacionado com o trânsito ou a modificação dos valores de
subsistência frente aos valores de auto-realização, expressividade e bem-estar. As
sociedades que priorizam valores de subsistência caracterizam-se por níveis relativamente
baixos nos indicadores de bem-estar objetivo (saúde, educação, renda etc.) e de confiança
interpessoal. De acordo com Inglehart (1991), ao conhecer a posição relativa de uma
sociedade sobre uma variável como a religião, o pesquisador poderá predizer sua posição
relativa com relação a outros valores e orientações que adotam nos planos político,
econômico, educacional etc.
Segundo Gouveia (1998, p. 273), “parece adequado concluir que „existe‟ uma
estrutura trans-cultural dos valores”. Não obstante, o que não se sustenta é a hipótese de
que as orientações materialista e pós-materialista se apresentem em los opostos. De
acordo com este autor, em alguns países é mais provável que estas dimensões se
confundam ou se mesclem, sem contar que a proposta de um modelo dicotômico parece
pouco adequada para o estudo dos valores. Em função das restrições deste modelo,
105
Gouveia (1998, 2003) apresenta uma tipologia nova acerca da natureza e função dos
valores humanos.
2.1.4. A Teoria Funcional dos Valores Humanos
Em sua revisão dos principais referenciais teóricos no campo dos valores, Gouveia
(1998) identificou que, em geral, os modelos sobre valores não apresentam critérios na
hora de identificar a fonte e a natureza deste construto. Segundo ele, raramente as
propostas teóricas partem de uma concepção de homem, o que pode sugerir a composição
de uma lista de valores tanto positivos como negativos (contra-valores). Além disso,
destaca que autores como Schwartz (1992) incluem, em seus modelos, valores sem
conteúdo ou direção clara (por exemplo, limpo) e omitem outros de fundamental
importância, como critérios de orientação do comportamento (por exemplo,
sobrevivência). Rokeach (1973), de quem Schwartz deriva 40% dos valores utilizados em
seu modelo, assume que a eleição dos valores que compõem seu instrumento foi intuitiva.
Inglehart (1990), apesar de reconhecer a teoria das necessidades de Maslow como a base
de sua teoria, não intenciona, com seu modelo, predizer comportamentos sociais, mas
comparar culturas, por meio de uma dimensão bipolar dos valores (materialismo e pós-
materialismo).
Partindo destas críticas, mas sem deixar de reconhecer as contribuições dos
modelos existentes, Gouveia (1998, 2003, Gouveia & cols., 2008) propõe um modelo
alternativo, mais parcimonioso e que, apesar de ainda pouco difundido no contexto
internacional, tem apresentado padrões satisfatórios de adequação. De acordo com Gouveia
e cols. (2008), os valores são critérios de orientação que guiam as ações do homem e
expressam as suas necessidades básicas. Sua concepção de valores inclui três suposições
teóricas, a saber: (1) assume a natureza benevolente do ser humano; (2) os valores são
representações cognitivas das necessidades individuais, demandas da sociedade e
106
instituicionais, que restringem os impulsos pessoais e asseguram um ambiente estável e
seguro; e (3) todos os valores são terminais, ou seja, expressam um propósito em si, sendo
definidos como substantivos.
O modelo acerca da natureza motivacional dos valores humanos, desenvolvido por
Gouveia, tem como foco principal as funções dos valores. Este autor aponta que são
poucos os estudos que fazem referência a este aspecto, e a partir da análise dessas
publicações identifica duas funções consensuais dos valores: eles guiam as ações do
homem (tipo de orientação) e expressam suas necessidades (tipo de motivador). Outro
aspecto inovador do modelo se refere à inclusão do critério de orientação central. Rokeach
(1973) divide os valores terminais em sociais, que compreendem àqueles de caráter
interpessoal, e pessoais, considerados de foco intrapessoal. Revisando estudos empíricos
sobre o tema, Gouveia (2003) observou que alguns valores figuram entre e são congruentes
com os pessoais e sociais; tais valores são denominados por ele de centrais, indicando seu
caráter central ou adjacente.
Segundo este autor, embora não haja uma correspondência perfeita entre
necessidades e valores, é possível identificá-los como expressões das necessidades
humanas; todos os valores podem ser classificados em termos materialistas (pragmáticos)
ou humanitários (idealistas). Valores materialistas referem-se a idéias práticas, e a ênfase
nestes valores implica numa orientação para metas específicas e regras normativas. Valores
humanitários demonstram uma orientação universal, baseada em princípios mais abstratos
e idéias. Tais valores são coerentes com um espírito inovador, sugerindo menos
dependência de bens materiais. A partir destas considerações, Gouveia e cols. (2008)
apresentam a estrutura teórica de seu modelo de valores.
As duas dimensões funcionais dos valores formam dois eixos principais, sendo o
eixo horizontal correspondente ao tipo de orientação e o vertical ao tipo de motivador.
107
Tais dimensões podem ser combinadas em uma estrutura três por dois, ou seja, com três
critérios de orientação (social, central e pessoal) e dois tipos de motivadores (materialistas
e humanitários), compondo seis quadrantes: social-materialista, social-humanitário,
central-materialista, central-humanitário, pessoal-materialista e pessoal-humanitário. A
partir das interações dos valores ao longo dos eixos, são identificadas seis sub-funções
distribuídas equitativamente nos critérios de orientação social (interacionais e normativos),
central (suprapessoal e existência) e pessoal (experimentação e realização). Deste modo,
os tipos de motivadores são representados por meio de três sub-funções cada: no tipo
materialista localizam-se os valores de existência, realização e normativos, e no
humanitário, os suprapessoais, de experimentação e interacionais. Uma apresentação
esquemática destas interações pode ser observada na Figura 2, sendo a descrição de cada
uma das sub-funções apresentada em seguida.
Figura 2. Facetas, dimensões e sub-funções dos valores básicos
(adaptado de Gouveia & cols., 2008)
Valores de Existência. São compatíveis com as orientações social e pessoal dentro
do domínio motivador materialista; o propósito principal destes valores é assegurar as
condições básicas de sobrevivência biológica e psicológica. Estes valores são referência
108
para os valores de realização e normativos, e são os mais importantes na representação do
motivador materialista (estabilidade pessoal, saúde e sobrevivência).
Valores de Realização. Representam o motivador materialista com orientação
pessoal; pessoas orientadas por tais valores são focadas em realizações materiais e buscam
praticidade em decisões e comportamentos (êxito, poder e prestígio).
Valores Normativos. Expressam uma orientação social, sendo focados em regras
sociais, e um princípio-guia materialista, que reflete a importância da preservação da
cultura e das normas sociais. Estes valores enfatizam a vida social, a estabilidade grupal e
o respeito por símbolos e padrões culturais que prevaleceram durante anos. A obediência é
valorizada acima de qualquer coisa (obediência, religiosidade e tradição).
Valores Suprapessoais. Apresentam orientação central e motivador humanitário. Os
seres humanos possuem uma necessidade biológica por informação (curiosidade) que os
conduzem a uma melhor compreensão e domínio do mundo físico e social. Esta sub-função
é referência para os valores interacionais e de experimentação, e é a mais importante na
representação do motivador humanitário (beleza, conhecimento e maturidade).
Valores de Experimentação. São representados pelo motivador humanitário, com
uma orientação pessoal; contribuem para a promoção de mudança e inovação na estrutura
das organizações sociais (emoção, prazer e sexualidade).
Valores Interacionais. Correspondem às necessidades de pertença, amor e afiliação,
enquanto estabelecem e mantêm as relações interpessoais do indivíduo. Representam o
motivador humanitário com orientação social (afetividade, apoio social e convivência).
Finalmente, Gouveia e cols. (2008) apresentam a hipótese da congruência entre os
valores; eles observaram que as correlações entre as sub-funções dos valores são
predominantemente positivas, podendo variar entre os indivíduos em termos de força.
Segundos tais autores, apesar dos termos “congruência” e “compatibilidade” serem
109
freqüentemente tidos como sinônimos, é preciso fazer algumas considerações.
Congruência refere-se à consistência interna do sistema funcional dos valores, a
compatibilidade sugere a validade discriminante destas sub-funções em relação a critérios
externos. No modelo, a congruência entre as sub-funções dos valores pode ser representada
pela figura de um hexágono (Figura 3).
Figura 3. Estrutura da congruência das sub-funções dos valores básicos
(adaptado de Gouveia & cols., 2008).
O hexágono sugere três níveis de congruência: (1) Congruência baixa. Concentra
as sub-funções que apresentam diferentes orientações e motivadores; estas se localizam em
lados opostos do hexágono. Por exemplo, valores de experimentação e normativos, e
valores de realização e interacionais. Os autores apontam que a baixa congruência deve-se
ao princípio-guia relativamente independente destes grupos de valores; (2) Congruência
moderada. Reúne as sub-funções com o mesmo motivador, mas com orientações
diferentes; corresponde aos pares de sub-funções dos valores de realização-normativo e
experimentação-interacional, cujas metas são extrínsecas e intrínsecas, respectivamente; e
(3) Congruência alta. Agrupa os valores com a mesma orientação, mas com motivador
110
diferente; esta corresponde aos pares experimentação-realização e normativo-interacional,
situados em lados adjacentes do hexágono.
Gouveia e cols. (2008) ressaltam que os valores de existência e suprapessoais não
foram incluídos na hipótese de congruência por duas razões teóricas. Primeiro, por serem
valores centrais, estes apresentam correlações positivas e fortes com todas as outras sub-
funções; os valores de existência apresentam correlações mais fortes com os de realização
e normativos, e os valores suprapessoais com os de experimentação e interacionais.
Segundo, a não inclusão destas sub-funções está relacionada com firme distinção teórica
entre os valores; a diferença principal dentro do sistema de valores ocorre entre os sociais e
pessoais, e não entre os materialistas e humanitários, porque aqueles refletem a unidade
principal de sobrevivência (indivíduo ou sociedade). Ao longo dos anos, diversos estudos
têm corroborado a adequabilidade deste modelo por meio dos parâmetros psicométricos e
de sua relação com outros construtos (Chaves, 2006; Coelho Júnior, 2001; Formiga, 2002;
Maia, 2000; Pimentel, 2004; Vasconcelos, 2004). Como se pode constatar, o mesmo
apresenta vantagens contundentes frente às demais teorias até aqui expostas, o que o faz
ser adotado como referencial na presente tese.
2.1.5. Valores Humanos e Comportamentos Anti-socias
É possível que os valores humanos compreendam uma das variáveis mais
mencionadas como relacionada com os comportamentos anti-sociais (Coelho Júnior, 2001;
Formiga, 2002; Tamayo, Nicaretta, Ribeiro & Barbosa, 1995). No entanto, a menção que
se faz deste construto é geralmente muito vaga, como se observa em Petraitis e cols.
(1995). De acordo com o que se verifica na literatura, os valores surgem como um fator de
proteção no marco das teorias sociológicas clássicas de controle social (Hirschi, 1969).
Estes passam, então, a serem contemplados em diversos estudos da área, mas sempre de
modo superficial e auto-explicativo, como se a própria menção aos valores não carecesse
111
de uma estruturação teórica. Fala-se em sistemas de valores que diferenciam delinqüentes
dos não delinqüentes, mas sem indicar precisamente que valores estão sendo considerados
(ver Gordon, Short Jr., Cartwright & Strodtbeck, 1970; Kobrin, 1970).
No campo da psicologia, especificamente, os valores têm tradicionalmente recebido
pouca atenção na explicação dos comportamentos anti-sociais. Porém, nos últimos dez
anos este quadro parece começar a se modificar com o aparecimento de alguns estudos
mais sistemáticos. Por exemplo, Romero e seus colaboradores (2001) referem-se aos
valores humanos como um explicador direto dos comportamentos anti-sociais entre os
adolescentes espanhóis. Sua abordagem, entretanto, foi tipicamente exploratória, derivando
os valores em função das amostras consideradas (adolescentes delinqüentes vs. não
delinqüentes), dificultando comparações e mesmo a replicação dos seus resultados. Apesar
desta limitação, seu estudo teve o mérito de considerar jovens estudantes, isso porque a
maioria das pesquisas se limita a um delineamento known-groups”, isto é, compara
adolescentes institucionalizados com os não-institucionalizados, assumindo que estes não
são delinqüentes. Em resumo, seus resultados evidenciam a importância dos valores para
entender os comportamentos anti-sociais. Especificamente, as pontuações nos fatores
religiosidade (amostra de rapazes, n = 435) e convencionalismo (amostra de moças, n =
529) se correlacionaram negativamente com a pontuação total da medida de
comportamentos anti-sociais (r = -0,20 e -0,30, respectivamente).
Tamayo e cols. (1995) também procuraram conhecer a importância dos valores para
explicar um tipo específico de conduta socialmente desviante: o consumo de drogas. Sua
amostra foi composta por estudantes universitários que faziam uso de drogas pelo menos
uma vez durante a semana (grupo experimental, n = 92) e aqueles que relataram nunca
terem consumido drogas (grupo controle, n = 102). Comparando as pontuações destes
grupos em relação aos tipos motivacionais de valores de Schwartz (Tamayo & Schwartz,
112
1993), observaram que o tipo conformidade tinha um papel de proteção da conduta de
consumir drogas. Portanto, pessoas que assumem como prioritários em suas vidas valores
desta natureza (por exemplo, autodisciplina, bons modos e obediência), procuram limitar
suas ações, inclinações e impulsos que possam prejudicar outros e violar expectativas ou
normas sociais, sendo menos prováveis apresentarem comportamentos anti-sociais.
Resultados semelhantes foram observados no estudo efetivado por Konty (2005),
cujo propósito foi verificar o quanto a “microanomia” (experiência vivenciada por
indivíduos cujos valores de autopromoção suplantam os de autotranscendência) poderia
contribuir para predição de atitudes e comportamentos anti-sociais. O estudo contou com a
participação de 177 estudantes universitários de ambos os sexos que responderam o
Schwartz Value Survey (SVS; Schwartz, 1992) e duas medidas comportamentais e
atitudinais referentes a comportamentos desviantes. De acordo com os resultados,
estudantes que priorizam valores de autopromoção em detrimento dos de
autotranscendência apresentam atitudes favoráveis aos comportamentos anti-sociais; a
“microanomia” predisse as atitudes desviantes = 0,20, p < 0,001, R
2
= 0,09), que, por
sua vez, apresentaram efeito direto e significativo nos comportamentos anti-sociais.
Buscando analisar a relação dos valores terminais (Rokeach, 1973), uso de drogas,
delinqüência e comportamento sexual, Goff e Goddard (1999) desenvolveram uma
pesquisa que contou com a participação de 544 estudantes de ensino dio. Por meio das
repostas à lista de valores de Kahle (LOV; Kahle, 1983), os participantes foram
classificados de acordo com suas prioridades valorativas, sendo comparados os grupos com
relação aos indicadores de uso de substância, atividade sexual e delinqüência. Nos grupos
onde a prioridade se concentrou em valores relacionados com a diversão/prazer e
segurança, observaram-se pontuações significativamente elevadas nos comportamentos
delinqüentes e no uso de substâncias. Nos grupos que priorizavam auto-respeito,
113
reconhecimento social, sentimentos de realização, amabilidade e pertença, as pontuações
nos comportamentos delinqüentes e uso de drogas foram claramente opostas àquelas do
primeiro grupo.
Como se observa, não são todos os valores que atuam como um inibidor (fator de
proteção) dos comportamentos socialmente desviantes, mas sim aqueles que põem ênfase
na manutenção do status quo (convencionalismo, religiosidade e conformidade). Estes
resultados são reforçados pelas pesquisas realizadas no Brasil por Coelho Júnior (2001),
Pimentel (2004) e Vasconcelos (2004). O primeiro destes estudos observou que a
importância dada a valores normativos (religiosidade, tradição e obediência) se
correlacionou inversamente com um índice de potencial usuário de drogas maconha e
álcool (r = -0,25, p < 0,001). De modo análogo, no segundo estudo, desenvolvido por
Pimentel (2004), os mesmos valores apresentaram correlações inversas com as atitudes
favoráveis frente ao uso de maconha (r = -0,30, p < 0,001) e os comportamentos anti-
sociais (r = -0,30, p < 0,001) e delitivos (r = -0,21, p < 0,001); resultados que foram
corroborados pelo terceiro estudo (Vasconcelos, 2004). Neste sentido, os estudos a respeito
deveriam se centrar neste conjunto de valores, procurando conhecer em que medida
poderia explicar os comportamentos anti-sociais. Portanto, em conformidade com o
anteriormente exposto, parece plausível esperar que os valores sociais normativos
desempenhem um papel importante como um fator inibidor dos comportamentos anti-
sociais.
2.2. Religião, Religiosidade e Compromisso Religioso
A religião pode ser considerada uma manifestação característica da humanidade,
bem como um aspecto presente em todas as raças e culturas, o que a faz ser compreendida
como um fenômeno universal e tipicamente humano (Wilges, 1994). Segundo Rampazzo
(1996), o homem vem desenvolvendo atividades religiosas desde sua primeira aparição no
114
cenário da história. Hellern, Notaker e Gaarder (2000) apontam que questões existenciais
(por exemplo, quem é o homem, de onde veio, para onde vai) sempre estiveram presentes
em todas as culturas e que, embora nem sempre expressas de maneira sucinta, estas
questões formam a base das diferentes religiões. Nesta direção, a religião se constitui,
também, como um fato humano, cultural, social e histórico, ou seja, a experiência religiosa
se desenvolve na experiência da vida em sociedade (Oliveira, 1998), tendo as crenças e os
costumes religiosos uma influência forte na formação dos sistemas de valores morais,
sociais e, inclusive, políticos e econômicos (Basáñes & Moreno, 1994).
O termo “religião”, apesar de largamente utilizado entre os cientistas sociais, não
goza de unanimidade em suas definições (Wilges, 1994). Desde as tentativas semânticas
até os esforços mais objetivos de tratá-la, percebe-se que durante muito tempo o que
realmente se obteve foram conceitos e definições parciais, as quais serviram para orientar o
método e a pesquisa neste campo (Mendonça, 1998). Sob a ótica de Durkheim
(1912/2003), a religião pode ser definida em função das características que se
encontram por toda parte do globo terrestre onde houver religião. Com isso, pode-se dizer
que qualquer tentativa de definição pode apresentar limitações ou mesmo ser incoerente.
Não obstante, um aspecto não deve deixar de ser ressaltado na caracterização e definição
da religião: o fato de ser atribuído um dom sobrenatural a tudo que é religioso.
De acordo com Wilges (1994, p. 15), em sentido real objetivo, a “religião é o
conjunto de crenças, leis e ritos que visam um poder que o homem, atualmente, considera
supremo, do qual se julga dependente, com o qual pode entrar em relação pessoal e pode
obter favores”; em sentido subjetivo é “o reconhecimento pelo homem de sua dependência
em relação a um ser supremo e aceitação de várias crenças, leis e ritos referentes a este
ser”. Em sua obra, Hellern e cols. (2000, p. 17) apresentam alguns conceitos de religião,
entre os quais o de Schleiermacher, que a define como “um sentimento ou uma sensação de
115
absoluta dependência”, e o de Tiele, quando diz que a “religião significa a relação entre o
homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente”.
Adicionalmente, o termo “religião” ainda pode ser entendido como um conjunto de
sentimentos, atos e experiências do ser humano, em sua solidão, enquanto se situa numa
relação com o divino; esta seria uma relação entre o ser humano e qualquer outra coisa,
desde que ele a conceba como sendo realidade última dotada de significado (ver Hellern &
cols., 2000). Embora seja evidenciada uma pluralidade de conceitos e definições de
religião e, mesmo sabendo que toda a tentativa de definição será incompleta devido à
multidimensionalidade do fenômeno religioso, verifica-se uma convergência de idéias que
incluem a dependência do homem em relação a um ser supremo e a necessidade de seguir
determinadas crenças de cunho religioso.
Cabe ainda considerar que, muitas vezes, os termos “religião” e “religiosidade” são
usados como equivalentes, levando à idéia de que a religiosidade é um componente
exclusivo da religião. Desta maneira, possuiria religiosidade o indivíduo comprometido
com uma forma institucional de religião, isto é, com uma religião organizada (Mendonça,
1998). Crer em um deus pessoal ou numa realidade transcendente, a importância de um
deus na vida, obtenção de consolo na religião, ter momentos de oração ou contemplação;
todos estes traços e atitudes referem-se ao que se denomina de religiosidade. Ser religioso
pode resultar, por exemplo, em apenas uma orientação axiológica, embora o indivíduo não
pertença ou não se sinta atraído por nenhuma religião institucional (Halman & Moor,
1994). A religião, por sua vez, no sentido institucional, deve ser entendida como uma
forma explícita, organizada e reconhecível de crenças e práticas, com doutrina e ética
peculiares a determinado grupo social (Mendonça, 1998).
Considerando a religiosidade enquanto construto, observa-se que sua estrutura
fatorial não se constitui em um ponto pacífico para as ciências sociais. Schwartz e
116
Huismans (1995) citam diversos estudos que abordam esta questão, e reconhecem que a
medida de religiosidade como fenômeno multidimensional e/ou variável unidimensional
depende do propósito e no contexto da pesquisa. Um desses estudos é o de Roof (1979), no
qual se menciona que a religiosidade deve ser considerada como unidimensional quando
(1) a pesquisa busca observar sua relação com atitudes culturais ou valores humanos, (2)
um mesmo set de hipóteses para diferentes religiões e (3) as amostras estudadas são da
população geral, que é heterogênea. Para considerá-la como multidimensional, faz-se
necessário identificar seus componentes, conceituá-los e operacionalizá-los. A
sistematização deste conjunto de fatores pode ser denominada de compromisso religioso.
A religiosidade pode, ainda, ser considerada como um valor humano e, por
conseguinte, ser utilizada em tipologias que pretendam contemplar os valores básicos ou
universais (ver Gouveia, 1998; Schwartz, 1994). No âmbito da presente tese, pretende-se
analisar o compromisso religioso; como dito anteriormente, este pode ser avaliado por um
conjunto de variáveis ou indicadores. Nesta direção, uma das alternativas seria medir este
compromisso por meio de variáveis, como: crenças, conhecimentos, experiências, práticas
rituais e práticas devocionais (Davidson, 1975). Finney (1978), por exemplo, apresenta um
modelo hierárquico relacionando estes fatores e outras variáveis de caráter descritivo,
como sexo, estado civil e idade. Apesar de seu caráter heurístico, o modelo apresentado
por este autor parece pouco adequado para pesquisas que envolvem contextos
caracterizados pela diversidade religiosa, sobretudo porque não especifica os meios pelos
quais todas estas variáveis podem ser mensuradas.
Outro aspecto importante a ser considerado na avaliação do compromisso religioso
refere-se à distinção entre compromisso e envolvimento (Longshore, Chang, Hsieh &
Messina, 2004). Em muitos casos, o compromisso é analisado a partir de itens que
abordam implicitamente ou explicitamente o tempo gasto em atividades ou metas
117
religiosas (Krohn, Massey, Skinner & Lauer, 1983). De fato, a freqüência com que se
pratica uma atividade religiosa é reconhecida na literatura como uma variável importante
(Johnson, De Li, Larson & McCullough, 2000). Entretanto, estudos que avaliam o
compromisso por meio de itens exclusivamente desta natureza podem não alcançar dados
confiáveis acerca do compromisso religioso de seus participantes; embora compromisso
implique em envolvimento, o envolvimento religioso não necessariamente representa o
compromisso.
Nos diversos estudos encontrados sobre o tema, a religiosidade ou o compromisso
religioso tem sido mensurado por um número diversificado de fatores (Johnson & cols.,
2000). Dentre as muitas varáveis incluídas, encontram-se: a importância atribuída à
religião na vida, o envolvimento religioso, as medidas de crença religiosa, as práticas
religiosas, a participação em atividades ligadas à religião, o tempo dedicado para estas
atividades e os valores relacionados à religiosidade (Dalgalarrondo, Soldera, Corrêa Filho
& Silva, 2004). Como recomendado por Gorsuch e McFarland (1972), na presente tese o
compromisso religioso é avaliado por múltiplas variáveis que envolvem aspectos centrais,
como: a) o nível de religiosidade ou a percepção do quanto se é religioso; b) a freqüência
às reuniões religiosas; c) a afiliação religiosa; e d) as crenças e as práticas religiosas,
representadas por um conjunto de pensamentos e ações específicos de cada grupo
religioso. Espera-se que a congruência destes indicadores proporcione um índice fidedigno
e parcimonioso do compromisso religioso, permitindo analisar sua relação com os
comportamentos anti-sociais.
A influência do compromisso religioso na explicação da delinqüência ainda tem
sido motivo de debate entre os pesquisadores. Segundo Tittle e Welch (1983), esta
controvérsia origina-se basicamente no fato de que muitos destes autores utilizam, em suas
pesquisas, métodos pouco precisos de análise. Nos últimos anos, diversas publicações têm
118
apontado para a importância do compromisso religioso como um inibidor dos
comportamentos anti-sociais. Recentemente Johnson e cols. (2000) realizaram uma revisão
dos estudos, nos quais as variáveis religiosidade e delinqüência foram consideradas; os
resultados demonstraram que geralmente a religiosidade se correlaciona negativamente
com os comportamentos desviantes. Estes aspectos reforçam a importância da inclusão
deste construto neste marco teórico.
Antes de explorar um pouco mais a relação entre compromisso religioso e
comportamentos anti-sociais, procura-se apresentar algumas das contribuições teóricas
principais para o estudo da religião ou religiosidade. Provavelmente, estes são fenômenos
estudados por um número amplo de áreas do conhecimento. Portanto, agrupar em um
único volume os estudos sobre o tema requereria seguramente do pesquisador exclusiva
dedicação. Além disso, por mais sistemática que tente ser a exposição, não conseguiria
fugir completamente da arbitrariedade. Autores como Durkheim, Weber e Berger, na
sociologia, James, Freud e Jung, na psicologia, e outros de campos como a antropologia e a
teologia são reconhecidos por suas contribuições importantes no estudo do fenômeno
religioso. No entanto, em função dos objetivos desta tese e da perspectiva empírica que
adota, sua exposição teórica sobre o tema concentra-se na revisão proposta por Lotufo
Neto (1997), que se pautou nas tipologias referidas a seguir.
2.2.1. A religião Intrínseca e Extrínseca de Allport
Em seu livro clássico, O indivíduo e sua religião, publicado em 1950, Allport
afirma que as pessoas usam a religião de duas formas: uma madura, cuja aproximação
religiosa é dinâmica, de mente aberta e capaz de manter relações entre as inconsistências; e
outra imatura, que é auto-provedora e que geralmente representa os estereótipos negativos
que se tem sobre a religião. Após revisar estas definições, Allport apresentou dois novos
conceitos, que são atualmente utilizados em diversos estudos sobre o tema: os de religião
119
“intrínseca” e “extrínseca” (Allport, 1950; Allport & Ross, 1967). A religião intrínseca é a
crença profunda, na qual o indivíduo encontra a estrutura fundamental da sua existência,
que significado à vida e em termos da qual tudo compreende; enquanto a extrínseca é a
religião do conforto e da convenção social, e constitui um elemento auto-suficiente que
satisfaz o sujeito (Kahoe, 1985; Reitsma, Scheepers & Janssen, 2007)
O religioso do tipo intrínseco é comprometido. Trata-se de uma pessoa que vive a
religião como um fim em si mesmo, buscando mais seus princípios do que suas
conseqüências; preocupa-se com padrões morais, disciplina, consistência entre suas
crenças e suas práticas, consciência e resistência às pressões externas para se desviar
(Reitsma & cols., 2007). O extrínseco busca conforto na convenção social; é utilitário,
busca seus próprios interesses e subordina a religião aos seus objetivos não-religiosos.
Neste caso, a religião pode apresentar utilidade para aspectos, como: segurança, consolo,
sociabilidade, distração, status e auto-justificação; o envolvimento religioso é
caracterizado pela busca das próprias necessidades (Allport & Ross, 1967).
Allport (1950) relacionou estas dimensões com a personalidade e os níveis de
maturidade dos indivíduos. Enquanto a religiosidade intrínseca é apresentada por pessoas
equilibradas e sensatas, a extrínseca é própria dos mais inseguros e imaturos. Conforme
Lotufo Neto (1997), a religiosidade extrínseca correlaciona-se positivamente com
preconceito, dogmatismo, ansiedade do tipo traço, medo da morte; correlaciona-se
negativamente com altruísmo. Patock-Peckham, Hutchinson, Cheong e Nagoshi (1998)
observaram que religiosos intrínsecos exibem maior controle frente ao consumo de álcool.
No entanto, a comparação destes resultados com os de outros estudos permitem concluir
que algumas destas proposições não são consensuais. No estudo levado a cabo por Haerich
(1992), a religiosidade intrínseca demonstrou-se negativamente correlacionada com
medidas de permissividade sexual e a extrínseca positivamente. Porém, outros autores
120
observaram que religiosos intrínsecos tendem a ser mais preconceituosos com relação aos
homossexuais do que os extrínsecos (por exemplo, Bassett & cols., 2001). Estes aspectos
parecem refletir as diversas críticas levantadas com relação aos conceitos de religiosidade
intrínseca e extrínseca (para uma revisão, ver Donahue, 1985).
Segundo Donahue (1985), a dimensão intrínseca pode ser útil como um indicador
de religiosidade, uma vez que não contempla crenças religiosas associadas com
determinados grupos, nem orientações teológicas específicas (por exemplo, liberal,
conservador). Segundo este autor, a falta de conteúdo doutrinário e a definição aberta de
religião tornam a medida dessa dimensão aplicável a pessoas não-cristãs e até mesmo a
participantes sem afiliação religiosa; o que não ocorre com a dimensão de religiosidade
extrínseca, dada a sua vinculação com aspectos mais práticos da vida religiosa. Kirkpatrick
e Hood (1990) vêem este aspecto como uma falha, assinalando que a definição de
religiosidade intrínseca parece pobre tanto conceitual como empiricamente. Apesar de
considerarem o conceito de religiosidade extrínseca bem construído, concluem que Allport
não considera o conteúdo e a natureza das crenças as quais os indivíduos podem se dedicar.
Afirmam, ainda, que o instrumento proposto por Allport (1950; Allport & Ross, 1967)
compõe-se de itens que podem sofrer influência forte da desejabilidade social (Hathaway
& Pargament, 1990). Estes são alguns dos motivos que levaram pesquisadores como
Batson (1976) a redefinir e ampliar os conceitos de religiosidade intrínseca e extrínseca.
2.2.2. Batson e a Religiosidade dos Tipos Meio, Fim e Busca
De acordo com Batson (1976), apesar de considerarem a religiosidade como um
fenômeno importante, os pesquisadores empreenderam poucos esforços para o
desenvolvimento de medidas operacionais da orientação religiosa. Para este autor a
proposta de uma medida válida deste construto, além de solucionar o problema da
121
operacionalização, ainda promove a oportunidade de correlacioná-la com outros construtos
e diversos comportamentos.
Como dito antes, Batson (1976; Batson & Ventis, 1982) apresenta uma série de
questionamentos com relação ao conceito e à medida de religiosidade intrínseca e
extrínseca propostos por Allport (1950; Allport & Ross, 1967); dentre as críticas, aponta-se
que tal classificação deixa de lado aspectos importantes da experiência religiosa. Com o
propósito de preencher estas lacunas, Batson (1976; Batson & Ventis, 1982) apresenta um
modelo composto por três dimensões da experiência religiosa: (1) a religiosidade do tipo
meio (extrínseca), referindo-se à religiosidade utilizada para atingir outras finalidades (por
exemplo, sucesso nos negócios, status social mais elevado); (2) a religiosidade do tipo fim
(intrínseca) que envolve a “verdadeira” crença, na qual a religião é realmente vista como a
resposta final ao ser humano; e (3) a de tipo interacional ou de busca, sugerindo uma
abordagem que envolve o enfrentamento das questões existenciais em toda a sua
complexidade, resistindo às respostas simples e concretas. Esta seria uma religião ou
religiosidade mais madura, cética em relação às crenças ortodoxas tradicionais e suas
respostas, e aberta à sensação de incompletude e a novas experiências (Batson &
Schoenradec, 1991a; Batson & Ventis, 1982).
Apesar do suporte empírico a favor da ampliação do modelo de Allport (1950), a
proposta de uma “religiosidade de busca” foi bastante criticada; os argumentos para a
crítica baseavam-se na forma como este tipo de orientação religiosa foi operacionalizado e
na consideração de que esta dimensão é pouco útil para as pesquisas na área ( Hood &
Morris, 1985). Para responder as críticas, Batson e Schoenradec (1991a) analisaram
diversos estudos, nos quais o fator “religiosidade de busca” foi operacionalizado por meio
dos mesmos itens da medida proposta por Batson (1976). Segundo esses autores, a
proposta deste fator encontra suficiente evidência empírica para ser considerada válida,
122
sendo incisivos na afirmação de que a escala avalia de fato uma dimensão de orientação
religiosa distinta das religiosidades intrínseca e extrínseca. Concomitante aos testes de
validade, Batson e Schoenradec (1991b) apresentam resultados referentes à precisão teste
re-teste dos mesmos itens (r = 0,60; p < 0,01) e sugerem uma nova versão da medida cujo
índice consistência interna (Alfa de Cronbach) é superior a 0,75. O modelo proposto por
Batson (1976; Batson & Ventis, 1982) ainda tem sido utilizado em diversas pesquisas
(Ramírez, 2006; Reitsma & cols., 2007), contudo, nos últimos anos, este autor parece ter
deixado-o de lado, voltando seu interesse para temas correlatos, como o altruísmo.
2.2.3. Religiosidade Compromissada e Consensual
O estudo desenvolvido por Allen e Spilka (1967), apesar de não buscar
necessariamente desenvolver uma tipologia do compromisso religioso, traz contribuições
significativas para as pesquisas neste campo. Analisando os resultados de diversos estudos
sobre preconceito e religiosidade, tais autores apresentam uma série de aspectos que
podem explicar a incongruência dos estudos que relacionam tais variáveis. Para eles o viés
fundamental da maioria das pesquisas sobre o tema compreende a maneira como a
religiosidade ou o compromisso religioso é medido. Em função disso postulam que, a
partir de crenças, atitudes e comportamentos, é possível distinguir tipos distintos de
pessoas preconceituosas, e por isso buscam analisar como os indivíduos formulam e
estruturam suas crenças religiosas. De acordo com esta proposta teórica, a religiosidade se
estrutura nas dimensões compromissada e consensual, sendo cada uma composta por cinco
componentes:
Conteúdo. Refere-se ao modo como os indivíduos definem aspectos relacionados à
religiosidade. Na religiosidade compromissada, este componente assume um caráter
abstrato-relacional; a religião se fundamenta em princípios abstratos, idéias intangíveis e
expressões de relacionamento, utilizando-se categorias gerais, noções filosóficas ou
123
formulações teológicas. Na religiosidade consensual, o conteúdo define-se como concreto-
literal; concentra-se em declarações concretas, tangíveis, específicas, em julgamentos
literais e caracteriza-se pela praticidade e observação, pelo privilégio de aspectos concretos
e pragmáticos frente às idéias filosóficas.
Clareza. Implica na precisão e coerência das crenças do indivíduo, na habilidade
para perceber os significados e nas implicações da religião. Tratando-se da religiosidade
compromissada, o fator clareza sugere a ordenação de idéias e conceitos religiosos; nos
indivíduos compromissados, evidencia-se pela perspicácia, utilização de palavras claras e
esquivas de referenciais ambíguos. Na dimensão consensual, a clareza é caracterizada por
um caráter vago, conceitos ambíguos, gerais e de pouca consistência, geralmente isentos de
referência e muito subjetivos.
Complexidade. Compõe-se de categorias, elementos e aspectos da religiosidade
utilizados pelos indivíduos, e exprime o grau pelo qual se podem realizar comparações
entre os diferentes aspectos da religião. Quando analisada na dimensão religiosidade
compromissada, a complexidade reporta a religião diferenciada, composta por um número
relativamente grande de categorias ou elementos; ajuda a distinguir e delinear tanto
atributos e características como as funções complexas da religiosidade, nas quais as idéias
tendem a ser amplas e as categorias religiosas podem agrupar-se de formas diferenciadas.
Sob a dimensão consensual, a religiosidade complexa assume caráter monopolista-
dicotômico; as idéias religiosas costumam ser compostas por uma única categoria
conceitual e o discurso se apresenta por meio de pensamentos diametralmente opostos, ou
seja, a linguagem religiosa baseia-se em idéias e julgamentos bipolares.
Flexibilidade. Reflete a qualidade da adaptação e acomodação das idéias, crenças e
atitudes religiosas, quando o indivíduo compara suas crenças com as de outros ou avalia
componentes de sua própria crença ou descrença. Na dimensão religiosidade
124
compromissada, a flexibilidade expressa sinceridade e abertura, relativa tolerância à
diversidade. A expressão “sinceridade” denota a honestidade ao expressar uma avaliação
de idéias e práticas semelhantes ou diferentes, a “abertura” representa uma tendência para
o exame ou reflexões acerca de opiniões, crenças e sentimentos diferentes. Indivíduos com
alta religiosidade compromissada tendem a ser relativamente acessíveis ou abertos a idéias
e crenças discrepantes. Por outro lado, na dimensão consensual, a flexibilidade apresenta-
se como restritiva, portanto, caracteriza-se pela rejeição, distorção ou “blindagem” para
crenças e práticas religiosas externas. É representada pela insistência nas idéias, no próprio
comportamento, nas crenças e nos pensamentos místicos.
Importância. Caracteriza-se pela força, importância ou valor da religiosidade no
funcionamento diário dos indivíduos; a pergunta central é: em que medida a religiosidade é
central ou relativa nas preocupações diárias de uma pessoa? Quando analisada na
religiosidade compromissada, este aspecto assume relevância intensa, pois indivíduos
compromissados concebem a religiosidade como uma preocupação central e pessoal;
exibem compromisso emocional com as crenças, os ideais e os valores religiosos. As
crenças influenciam diretamente suas atividades diárias. Contrariamente, pessoas cuja
orientação esteja vinculada à religiosidade consensual consideram a religião importante,
mas a separam de suas experiências individuais; dificilmente as idéias religiosas
influenciam suas atividades ou decisões, pois a religiosidade geralmente se resume a
alguns comportamentos específicos. A importância da religiosidade é neutralizada ou
reduzida por outras preocupações ou por falta de afeto positivo.
Estes fatores, como mencionado, constituem as duas dimensões do modelo de Allen
e Spilka (1967). A religiosidade compromissada, segundo Lutufo Neto (1997), apresenta-
se como uma opção para a resolução de conflitos pessoais e situacionais, pois permite aos
indivíduos utilizarem uma perspectiva abstrata e filosófica, na qual as muitas idéias
125
religiosas têm significado claro, são abertas e flexíveis, podendo-se relacionar a religião
com as atividades diárias. A consensual resultaria em uma visão superficial e conformista
da vida, sendo concreta e restritiva, conformando-se aos valores e às idéias tradicionais,
mas estes são vagos, indiferenciados, neutralizados ou adotados de modo seletivo. Allen e
Spilka (1967) apontam que o preconceito está relacionado com esta dimensão da
religiosidade. Apesar do caráter heurístico desta proposta, deve-se reconhecer que a mesma
ainda carece de comprovações empíricas por meio de análises mais robustas que poderão
apoiar ou refutar sua adequação.
2.2.4. As Dimensões Religiosas de Glock
A tipologia desenvolvida por Glock (1962) é um ponto de referência para diversos
estudos sobre religião e religiosidade (Chu, 2007; Haber, Jacob & Spangler, 2007;
Reitsma, Scheepers & Grotenhuis, 2006; Wimberley, 1989). Glock é um dos autores que,
ao estudar o fenômeno religioso, procura distinguí-lo de outros sistemas de pensamento ou
tradição que obtetivam outorgar significado à realidade. A ênfase de seu modelo está no
compromisso religioso, estruturado, segundo ele, em cinco dimensões básicas: ritualística,
vivencial, intelectual, conseqüencial e ideológica. Estes fatores, embora possam ser
considerados independentes, podem apresentar correlações entre si e com outras variáveis
clássicas no estudo da religiosidade, a exemplo das crenças, práticas e experiências
religiosas (Roldán, 1999). Conforme a proposta de Glock (1962), as cinco dimensões
religiosas podem ser definidas da seguinte forma:
Dimensão ritualística. Refere-se à freqüência das práticas religiosas por parte dos
membros de uma determinada religião, como, por exemplo, freqüência a cultos,
participação em sacramentos e realização de jejuns. De acordo com Lutufo Neto (1997),
uma limitação desta dimensão é a ênfase nas ações das pessoas, subestimando o
significado que tais atos têm para elas.
126
Dimensão vivencial. Diz respeito à experiência religiosa vivenciada por uma
pessoa. A conversão, a mediunidade e as confissões são exemplos desse tipo de
experiência subjetiva, que sempre vêm atribuídas de certo valor ou significado para o
indivíduo. Para Glock (1962) tais experiências não são abertamente expressas e
diferenciam-se em quatro tipos: preocupação (necessidade de se ter uma ideologia com
base transcendental); cognição (consciência religiosa pública ou particular); confiança ou
(a crença de que a vida está sob o controle de um ser sobre-humano); e medo
(sentimentos de temor diante da crença na existência de um ser divino).
Dimensão intelectual. Sugere que a pessoa religiosa conhece bem o conteúdo
básico de sua fé, assim como da literatura que rege sua religião. Lutufo Neto (1997) aponta
que diferença entre as diversas religiões quanto ao que requerem em termos de
conhecimento religioso, como também de sua qualidade. Atitudes acerca do conhecimento,
grau de sofisticação com que os textos são lidos e a presença de crítica nestas leituras
podem ser avaliadas e relacionadas de formas diferentes com o fim de assegurar uma
compreensão melhor do lado religioso do homem.
Dimensão conseqüencial. Envolve as implicações religiosas quanto à conduta de
um indivíduo, ou seja, todas as prescrições acerca do que a pessoa deve fazer e as atitudes
que deve tomar são conseqüências da sua religião. Por exemplo, as recompensas e
responsabilidades esperadas, as atitudes e os valores individuais, os efeitos da educação, a
subscrição a padrões morais e éticos.
Dimensão ideológica. Diz respeito às convicções religiosas e consistência delas na
vida de uma pessoa. Estas incluem crenças sobre a natureza da divindade, o destino ou
propósito da vida e os caminhos que devem ser seguidos para cumprir tal propósito.
Tarakeshwar, Stanton e Pargament (2003) apontam que, entre as culturas, as pessoas
apresentam visões diferentes acerca da natureza de Deus.
127
As dimensões apresentadas por Glock têm o mérito de tratar o fenômeno religioso
como multidimensional, quando a maioria dos modelos busca analisar a religiosidade
desde perspectivas dicotômicas, a exemplo da religião neutralizada e séria (Adorno,
Frenkel-Bruswik, Levinson & Sanford, 1950), humanista e autoritária (Fromm, 1950). A
consideração da religiosidade e do compromisso religioso como construtos
multidimensionais ou formados por múltiplos indicadores permite avaliar diferentes níveis
de envolvimento, crenças, convicções e, conseqüentemente, do compromisso dos
indivíduos com a religião que proferem. Estes aspectos são de importância fundamental
nos estudos que buscam conhecer a relação desta variável com os comportamentos anti-
sociais (Johnson, Jang, Larson & De Li, 2001).
2.2.5. Compromisso Religioso e Comportamentos Anti-socias
Embora seja freqüentemente sugerido que a religião e a religiosidade das pessoas
atuam como inibidores dos comportamentos anti-sociais (Gannon, 1970; Petraitis & cols.,
1995; Tarter, 1988), ainda são escassos os estudos empíricos a respeito. Uma busca nas
bases de dados Index Psi (2007) e Google Acadêmico (2007), usando como entrada os
termos “crime”, “delito”, “delinqüência”, “comportamento anti-social”, “religião”,
“compromisso religioso” e “religiosidade”, sem limitação de ano, não localizou, no Brasil,
estudo relacionando estas variáveis. Em outros contextos, muitas das pesquisas que
analisam esta relação têm se limitado a tratar a visita à igreja ou as atitudes religiosas em
termos de simples porcentagens, dificultando estabelecer conclusões mais contundentes.
Gannon (1970) afirma que a religião é uma forma a mais de controle social que não se
diferencia de outras formas. Ressalta-se, todavia, que nenhum esforço foi empreendido por
ele para comparar os resultados das diversas formas de controle social, nem procurou
conhecer a contribuição do compromisso religioso na explicação de comportamentos
socialmente desviantes.
128
A relação entre a religiosidade ou compromisso religioso e os comportamentos
desviantes tem sido motivo de muita controvérsia. Alguns autores fazem referência à
religiosidade como um construto pouco consistente na explicação da delinqüência, além de
mencionarem que os resultados dos estudos sobre o tema são ambíguos e confusos (Ellis,
1987; Evans, Cullen, Dunaway & Burton, 1995; Tittle & Welch, 1983). Contudo, revisões
sistemáticas efetivadas na última década têm corroborado a importância deste construto
como fator de proteção frente aos comportamentos anti-sociais (Butts III, Stefano,
Fricchione & Salamon, 2003; Johnson & cols., 2000; Pearce, Jones, Schwab-Stone &
Ruchkin, 2003; Rew & Wong, 2006), demonstrando que a possível inconsistência dos
resultados se deve a problemas metodológicos de alguns estudos.
Nesta direção, Johnson e cols. (2001) realizaram um estudo com o propósito de
controlar os possíveis erros correspondentes à medida da religiosidade e verificar os efeitos
de interação entre este construto e algumas variáveis relacionadas com o vínculo (apego
familiar e escolar, compromisso com a escola e crenças) e a aprendizagem social
(associação com delinqüentes). Contando com uma amostra de 1305 adolescentes, os
autores analisaram por meio de modelagens por equações estruturais a interveniência
destas variáveis entre a religiosidade e a delinqüência, e observaram as relações entre elas
e seus efeitos na delinqüência. Os resultados indicaram que, independente do controle
teórico ou estatístico de diversas variáveis consideradas no modelo, a religiosidade
apresenta efeito direto e significativo sobre a delinqüência. Não obstante, Johnson e cols.
(2001) ressaltam que a religiosidade reduz a delinqüência em parte, pois o compromisso
religioso predispõe a atitudes negativas frente aos atos delinqüentes e o envolvimento com
redes de amigos convencionais. Apesar da relação entre estas variáveis, os autores
reconhecem que não podem confirmar a religiosidade como um fator de proteção frente
aos comportamentos desviantes; segundo eles, a ausência de itens na pesquisa que
129
permitissem analisar esta relação (por exemplo, a avaliação de diferentes níveis de
compromisso religioso) impede tal conclusão.
Baier e Wright (2001) apresentam resultados de uma meta-análise realizada com 60
estudos associando religiosidade e comportamento criminal. Em tais estudos, as
correlações entre as variáveis oscilaram entre 0,00 e 0,47, com uma média de 0,12. No
entanto, apesar da pouca expressividade das correlações, os autores apontam que os
resultados apresentaram um dado importante, isto é, em nenhum dos estudos analisados o
tamanho do efeito apresentou direção positiva, o que para eles sugere uma relação negativa
entre religiosidade e delinqüência. Além das pesquisas que se propõem verificar a relação
entre compromisso religioso e comportamentos anti-sociais em termos gerais, estudos que
analisam a relação do compromisso com comportamentos desviantes mais específicos
podem ser encontrados, a exemplo do consumo de drogas lícitas e ilícitas (Heath & cols.,
1999; Kendler, Gardner & Prescott, 1999).
Um estudo realizado com gêmeos adultos, no estado da Virgínia, Estados Unidos
(Kendler & cols., 2003), verificou correlações negativas do compromisso religioso com
comportamentos externalizantes (agressividade física e/ou verbal, comportamentos
opositores ou desafiantes e condutas anti-sociais) e uso abusivo de drogas, resultados que
se mantiveram, inclusive, após o controle de variáveis como idade, sexo e nível de
escolaridade. Para o estudo, os pesquisadores empregaram 78 itens referentes à
religiosidade, distribuídos em sete fatores específicos e, dentre os quais, seis se
correlacionaram entre si (religiosidade geral, social, envolvimento com Deus, perdão,
Deus como juiz e gratidão). Revisando a literatura da área, Gorsuch (1995) observou que
estudos longitudinais dão suporte a hipótese de que o compromisso religioso exerce efeito
negativo no envolvimento com drogas.
130
Em termos gerais, o comprometimento religioso pode atuar como um inibidor (fator
de proteção) dos comportamentos de risco entre os jovens. Estima-se que, quando estes
aderem a uma religião, conseguem mais eficazmente internalizar os valores convencionais
da sociedade, tornando-se, assim, mais resistentes aos fatores de risco que poderiam levar a
comportamentos anti-sociais (Pearce & cols., 2003; Petraitis & cols., 1995). Apesar da
escassez de pesquisas e dos resultados considerados ambíguos sobre o compromisso
religioso como inibidor dos comportamentos anti-sociais, como ficou evidenciado,
evidências empíricas permitem pensar que o maior compromisso das pessoas,
independentemente do tipo de orientação religiosa (Católica, Protestante, Espírita etc.),
está correlacionado com a importância atribuída a valores de tradição e conformidade
(Schwartz & Huismans, 1995). Este tipo de orientação valorativa, como anteriormente
discutido, torna menos provável o envolvimento com pessoas ou situações que possam
favorecer o cometimento de atos desviantes. Portanto, parece justificável considerar o
compromisso religioso como um fator de proteção.
2.3. Estilos de Socialização Parental
A socialização é um processo essencial à vida de qualquer indivíduo (Becoña-
Iglesias, 2007). Nesse processo, a família é, sem dúvida, um dos agentes mais importantes,
pois é no ambiente familiar que inicialmente se adquirem e se desenvolvem valores,
crenças, atitudes, normas e comportamentos considerados culturalmente adequados
(Arnett, 1995; Steinberg, 2000). Independente do conteúdo normativo de cada grupo
social, cultural e de cada família particular, geralmente os pais reforçam os
comportamentos dos filhos indicando se estes são ou não apropriados (Emde, Biringen,
Clyman & Oppenheimer, 1991; Larzelere, 2000; Wang & Li, 2003). A responsabilidade
dos pais frente aos comportamentos dos filhos é uma constante que transcende a
diversidade das normas sociais (Darling & Steinberg, 1993; Moraes, Camino, Costa,
131
Camino & Cruz, 2007). Em função disso, é possível identificar características de
comportamentos dos pais com os filhos em situações múltiplas e distintas, o que permite
definir estilos diferentes de atuação (Musitu & García, 2001).
Uma das primeiras variáveis relacionadas com os processos de socialização familiar
é a classe social (Jacquet & Costa, 2004). Estudos nesta direção buscam contrapor as
diferentes classes, analisando aspectos distintos da interação familiar (ver, por exemplo,
Hughes & Perry-Jenkins, 1996; Kohn, 1959). Geralmente, partem do pressuposto de que
toda família socializa os filhos de acordo com seu modo de vida particular, condicionado
pela realidade social, econômica e histórica da sociedade onde está inserida; a divisão da
sociedade em classes faz com que existam práticas de socialização próprias de cada uma
(Kohn, 1959, 1977; Xiao, 2000). Tal proposição, no entanto, parece insuficiente para
explicar as diferenças na socialização familiar, sobretudo porque em cada classe social
constata-se a ocorrência de processos intra-grupo significativos (Jacquet & Costa, 2004).
Para analisar esses processos, desenvolveram-se diversos modelos que de forma direta ou
indireta, contribuem para as construções teóricas mais recentes (Darling & Steinberg,
1993).
Uma referência importante é o estudo de Orlansky (1949), que, tentando relacionar
as práticas concretas de socialização dos pais e seus efeitos sobre a personalidade dos
filhos, concluiu que uma disciplina parental específica não exerce influência invariável e
concreta nos filhos, devendo-se ponderar dita influência com as atitudes parentais
associadas. Baldwin (1949), tratando da dimensionalidade dos estilos parentais, sugeriu a
existência de dois tipos de estilos, autocrático e democrático, sendo o primeiro
caracterizado pela imposição, hostilidade e insensibilidade dos pais frente aos sentimentos
dos filhos, enquanto o segundo o seria pela abertura, complacência e envolvimento ativo
dos filhos nas decisões da família (Grolnick & Ryan, 1989; Oliveira & cols., 2002). Na
132
mesma direção, Schaefer (1959), analisando comportamentos maternos, verificou que estes
podem ser ordenados dentro de um modelo bidimensional, composto pelos eixos afeto-
hostilidade e autonomia-controle. Publicações posteriores seguiram mencionando
estruturas semelhantes a estas, a exemplo da proximidade-distância e permissividade-
restrição, de Erikson (1963), afeto-hostilidade e permissividade-restrição, de Becker
(1964), e as dimensões apoio e controle, propostas por Rollins e Thomas (1979), após
revisarem um número extenso de publicações sobre o tema.
Na maioria dos estudos, a variabilidade dos comportamentos emitidos pelos pais na
socialização dos filhos tem sido explicada satisfatoriamente por dois fatores ou duas
dimensões básicas que, a despeito dos termos utilizados pelos pesquisadores, podem ser
nomeadas de apoio (afeto-hostilidade) e controle parental (permissividade-rigidez)
(Musitu, Estévez, Martínez & Jiménez, 2008; Rollins & Thomas, 1979). De acordo com
Musitu e cols. (2008), foi a partir destas dimensões que se desenvolveu a maioria das
tipologias modernas de estilos parentais, proporcionando avanços na análise dos
antecedentes e conseqüentes das formas de socialização no âmbito da família. No entanto,
antes de descrever algumas destas tipologias, faz-se necessário diferenciar os estilos das
práticas parentais, principalmente porque, em muitos estudos, estes conceitos parecem se
confundir.
Darling e Steinberg (1993) distinguem estilos e práticas parentais, referindo-se aos
estilos como atitudes frente ao filho que, consideradas conjuntamente, promovem um
clima emocional no qual os pais expressam seus comportamentos. Tais comportamentos
contemplam tanto atos que pretendem promover a socialização (práticas parentais) como
outros que não buscam este fim, a exemplo dos gestos, das mudanças no tom de voz e
expressões corporais ou emocionais espontâneas. As práticas parentais o tidas como um
conjunto de comportamentos exercidos pelos pais cujo propósito último é a socialização
133
dos filhos. Em síntese, enquanto o estilo envolve uma variável latente, isto é, o clima
emocional no qual se desenvolve a relação entre pais e filhos, as práticas referem-se aos
comportamentos observados nesta relação. Esta distinção é de fundamental importância,
uma vez que determinada prática pode ter efeitos diferentes em função do clima emocional
em que ocorre (Darling & Steinberg, 1993). Segundo Moraes e cols. (2007, p. 168), nos
últimos anos, vários estudos “têm demonstrado a influência dos estilos parentais no
comportamento social das crianças e em diversas áreas do desenvolvimento psicossocial
dos adolescentes”. A maioria destas pesquisas faz referência ao modelo proposto por
Baumrind (1966), exposto resumidamente a seguir.
2.3.1. A Tipologia de Baumrind
Diana Baumrind é considerada por diversos autores como pioneira nos estudos
sistemáticos sobre estilos parentais (Grusec, Goodnow & Kuczynski, 2000; Moraes &
cols., 2007; Papalia & Olds, 2000). Baumrind (1966, 1980, 1996, 1997) construiu seu
modelo a partir da análise dos modelos de disciplina comuns às famílias de classe média
dos Estados Unidos, representados por dois pólos: conservador e liberal. O conservador ou
autoritário (authoritarian) sustenta-se em convicções religiosas fundamentalistas e é
caracterizado pela disciplina, às vezes punitiva, aplicada na socialização das crianças que,
sob tal perspectiva, são consideradas como seres “teimosos e egoístas” por natureza. O
pólo liberal ou permissivo (permissive), por outro lado, tem como principal característica o
incentivo à iniciativa própria e à autonomia, rejeitando o castigo como meio de disciplina.
Em sua análise, Baumrind (1996, 1997) verificou que se adotados de forma extrema,
nenhum dos dois pólos representa um modelo eficaz para socialização.
Em função destas observações, Baumrind (1966, 1980, 1996, 1997) desenvolveu
um modelo alternativo que, para explicar a realidade educativa familiar da época, incluía
nas propostas vigentes uma categoria nova, concebendo os pais como pessoas autorizadas
134
ou com autoridade (authoritative, Oliveira & cols., 2002). Neste modelo, o pólo autoritário
apresenta características próprias do extremo “hostil” da dimensão afeto-hostilidade das
tipologias de Schaefer (1959) e de Becker (1964), junto com qualidades atribuídas ao
controle e restrição observadas, respectivamente, nas dimensões autonomia-controle
(Schaefer, 1959) e permissividade-restrição (Becker, 1964). No pólo permissivo,
agruparam-se atributos do afeto presentes nas tipologias citadas e características do
extremo “autonomia” pertencente à dimensão autonomia-controle de Schaefer (1959) e
aspectos correspondentes à permissividade encontrada na segunda dimensão do modelo de
Becker (1964).
O fator authoritative, proposto por Baumrind (1966), integra ambos os extremos do
pólo autoridade-permissividade. Segundo esta autora, “a obediência e a autonomia
psicológica não são vistas como mutuamente excludentes, mas como objetos bastante
interdependentes” (Baumrind, 1997, p. 322). Neste sentido, crianças que convivem com
pais autoritativos se vêem habitualmente motivadas a responderem de modo pró-social, a
serem autônomas em suas avaliações sobre problemas morais, a respeitarem a autoridade
dos adultos e a pensarem de forma independente. Apesar da referência a aspectos
relacionados à autonomia dos filhos frente aos pais, Baumrind (1996, 1997) considera o
uso prudente do castigo uma ferramenta necessária à disciplina (Camino, Camino &
Moraes, 2003). Portanto, a prática de uma disciplina específica não é responsável por
promover determinados problemas, mas o modo como se administra e o contexto em que
ocorre é que determinarão a eficácia de seus efeitos na socialização dos filhos a longo
prazo.
Analisando as diferenças no efeito da autoridade e do controle parental, Baumrind
(1965, 1966) agrupou traços relevantes dos distintos tipos de pais e as características que
estes transmitem para seus filhos. Observando crianças em situação escolar, a autora
135
constatou que o comportamento delas poderia estar relacionado com os estilos de
paternidade/maternidade dos pais. Em seguida, entrevistando os pais destas crianças, tanto
individual como coletivamente, ela verificou que o comportamento dos pais em 77% das
famílias ajustava-se em um dos três estilos parentais propostos, a saber: autoritário,
permissivo e autoritativo (Baumrind, 1980; Cole & Cole, 2004).
Os pais autoritários atribuem valor excessivo à obediência. Pais que seguem um
padrão de comportamento autoritário tentam moldar, controlar e avaliar o comportamento
e as atitudes de seus filhos, segundo um conjunto de padrões tradicionais. Geralmente,
utilizam códigos de conduta absolutos e não abrem espaço para discussões referentes às
suas decisões, costumam ignorar a individualidade e as opiniões, mostrando-se pouco
afetivos e bastante afastados emocionalmente dos filhos. Ao mesmo tempo, defendem
medidas punitivas para reprimir comportamentos indesejáveis e, sempre que algo não está
de acordo com sua opinião, usa a força para impor o respeito. O estilo autoritário está
associado com a tendência à timidez e ao retraimento dos filhos, que têm maiores
probabilidades de serem insatisfeitos e descontentes com o ambiente familiar.
Os pais denominados de permissivos apresentam comportamentos completamente
opostos àqueles demonstrados pelos autoritários; caracterizam-se pelo escasso ou
inexistente padrão de controle e dificilmente exercem algum tipo de autoridade para obter
a conformidade no comportamento dos filhos. Tendem a conversar e a consultar os filhos
sobre as decisões familiares, estimulando-os a serem independentes. Costumam ser
afetuosos e abertos, dando aos filhos muito espaço para determinarem seus próprios
horários e suas atividades. Apesar de estes aspectos serem avaliados no senso comum
como positivos, Baumrind (1966) aponta que o afeto simplesmente não chega a ser
suficiente para promover a responsabilidade social, a independência e a autonomia
pessoais. Os filhos de pais permissivos têm maior probabilidade de serem pessoas pouco
136
confiantes em si mesmas, com pouca iniciativa ou tendência exploratória e maior baixo
autocontrole.
Os pais chamados autoritativos (authoritative), segundo Baumrind (1966),
apresentam uma associação de aspectos observados em ambos os estilos anteriores;
mostram-se afetuosos, receptivos e racionais com seus filhos e, ao mesmo tempo, são
controladores e exigentes, exercendo sobre eles um controle razoável; a autoridade é
exercida em um contexto de normas que são claras e que intencionam a conformidade dos
comportamentos dos filhos a padrões social e moralmente aprovados. De modo
equilibrado, buscam dirigir os filhos de forma racional, fomentam a discussão e o diálogo
aberto entre os dois lados, valorizam o comportamento disciplinado sem inibir os estímulos
à auto-estima, autoconfiança, independência e individualidade da criança ou do
adolescente. Além de estabelecer normas e reforçá-las, os pais têm em conta as diferenças
individuais dos membros do grupo familiar, reconhecendo seus direitos e os de seus filhos.
A disciplina exercida no estilo autoritativo pode ser concebida como de tipo indutivo.
Geralmente, os filhos de pais autoritativos são independentes, socialmente responsáveis e
possuem capacidade destacada de autocontrole, apresentando potencial explorador e
autoconfiança.
Alguns anos depois de propor o modelo original, Baumrind (1996) acrescentou a
este um estilo novo, denominado por ela de negligente e caracterizado, principalmente,
pelo escasso interesse dos pais por seus filhos. Seus estudos trouxeram contribuições
significativas no campo da socialização. Não obstante, como sua proposta parece sugerir
uma forma correta de educar filhos, causou controvérsias (Papalia & Olds, 2000). Uma das
questões mais relevantes refere-se à influência da hereditariedade no processo de
socialização. Aponta-se, por exemplo, que estudos com gêmeos e crianças adotadas
revelaram influência genética forte nas diferenças relacionadas com a personalidade e
137
inteligência (Scarr, 1992). Baumrind (1993) desconhece este aspecto, porém argumenta
que, apesar da possível influência genética, o ambiente é uma variável importante no
processo de socialização e os padrões adotados pelos pais são cruciais para a compreensão
do desenvolvimento normal ou anti-convencional dos filhos. Segundo esta autora, diversos
fatores demonstram que as análises da hereditariedade são problemáticas e possuem
aplicabilidade limitada (ver Baumrind, 1993).
Outro aspecto criticado foi a pouca representatividade das famílias estudadas. No
estudo, as famílias consideradas apresentavam uma série de características que poderiam
influenciar os resultados; por exemplo, em geral eram suburbanas, de classe média e com o
pai e a mãe presentes (Cole & Cole, 2004). De fato, alguns estudos (Dornbusch, Ritter,
Leiderman, Roberts & Fraleigh, 1987; Lamborn, Dornbusch & Steinberg, 1996)
demonstraram que, em determinados grupos (por exemplo, famílias euro-americanas e
asio-americanas), as respostas diante dos padrões de socialização parental se
diferenciavam. Entre adolescentes euro-americanos, o estilo educativo com autoridade
(authoritative) está associado ao bom rendimento escolar, mas, quando considerados os
estudantes asio-americanos da mesma faixa etária, o melhor desempenho se associa com o
padrão autoritário. Estes resultados parecem indicar que, em função de algumas variáveis,
os estilos parentais podem não ser bons preditores do comportamento, mas isso de
nenhuma forma invalida a utilidade deste construto para as pesquisas sociais.
2.3.2. A Tipologia de Maccoby e Martin
Eleanor Maccoby e John Martin (1983) ampliaram a tipologia de Baumrind,
propondo um modelo composto por duas dimensões globais: o grau de exigência ou
controle e a quantidade de aceitação ou afeto. O controle implica cobrança, supervisão e
exigências impostas pelas figuras materna e paterna, enquanto o afeto envolve a
sensibilidade, a aceitação e o compromisso dos pais frente aos seus filhos (Weaver &
138
Prelow, 2005). Estas dimensões foram operacionalizadas por um continuum cuja interseção
origem a quatro estilos de influência progressivo-regressiva referentes aos estilos
educativos: autoritativo-recíproco, autoritário-repressivo, permissivo-indulgente e
permissivo-negligente. Uma apresentação didática destes estilos é apresentada na Tabela 3.
Tabela 3. Estilos educativos segundo Maccoby e Martin (1983)
Aceitação ou Afeto
(Responsiveness)
Alta
Baixa
Controle ou Exigência
(Demandingness)
Alto
Autoritativo-recíproco
Autoritário-repressivo
Baixo
Permissivo-indulgente
Permissivo-negligente
De acordo com a Tabela 3, os índices elevados de controle e afeto originam o estilo
autoritativo-recíproco; quando o controle permanece alto e o afeto apresenta-se baixo,
desenvolve-se o estilo autoritário-repressivo; controle e afeto baixos constituem o estilo
permissivo-negligente; finalmente, a aceitação alta associada com o controle baixo
descreve o estilo permissivo-indulgente. Como se pode observar, alguns dos termos
empregados neste modelo aproximam-se daqueles utilizados em modelos como os de
Schaefer (1959), Becker (1964) e Baumrind (1966). De fato, Maccoby e Martin (1983)
partiram das definições propostas por estes autores para apresentar o conteúdo de cada
estilo proposto em sua tipologia, conforme pode se verificar a seguir:
Autoritativo-recíproco. Descreve um ambiente familiar onde os filhos são
estimulados a responder às expectativas dos pais; estes, por sua vez, promovem a
responsabilidade recíproca atendendo, dentro do possível, as exigências dos filhos,
buscando sempre analisar seus pontos de vista. São pais que mantêm o equilíbrio entre
níveis altos de exigência e de sensibilidade, exercem uma supervisão consistente dos
comportamentos dos filhos com o fim de discipliná-los, preferem utilizar métodos
indutivos ao invés dos punitivos. Freqüentemente, reforçam as condutas socialmente
139
responsáveis e maduras por meio de elogios e manifestações de afeto, oferecem apoio,
fomentam a comunicação e, como foi mencionado, valorizam o ponto de vista dos
filhos, reconhecendo o direito de todos os membros da família.
Autoritário-repressivo. Os pais autoritários são altamente exigentes e insensíveis,
tentam moldar e controlar os comportamentos e as atitudes de seus filhos, segundo um
conjunto de normas, freqüentemente baseadas em uma moral externa, e impõem limites
estritos às expressões normalmente esperadas em crianças e adolescentes. Enfatizam a
obediência, o respeito pela autoridade, o trabalho, a tradição, a manutenção do poder e da
ordem, por meio de uma disciplina baseada na afirmação do poder e castigo severo
(geralmente físico); esperam que as normas sejam cumpridas sem negociá-las com os
filhos e sem lhes dar qualquer explicação; as exigências sobre os filhos não estão em
equilíbrio com as necessidades normais destes. Os pais autoritários desprezam a
comunicação verbal como meio para resolver conflitos.
Permissivo-indulgente. Este tipo de estilo caracteriza pais tolerantes, afetuosos e
que aceitam seus filhos, ao mesmo tempo em que exercem pouca autoridade sobre eles, são
pouco exigentes quanto aos comportamentos dos filhos e delegam a estes considerável
liberdade para tomar decisões e guiarem suas próprias vidas.
Permissivo-negligente. Provavelmente este seja o aspecto inovador da tipologia de
Maccoby e Martin (1983); está relacionado com nível de implicação dos pais, ou seja, o
quanto um pai ou uma mãe está comprometido com seu papel de educador e o
desenvolvimento saudável de seus filhos. O pai permissivo-negligente revela-se motivado
a fazer o que for necessário para minimizar os gastos referentes ao tempo e esforço na
interação com seus filhos. Estes pais, geralmente, são mais preocupados com seus próprios
problemas do que com suas responsabilidades parentais; não supervisionam os
140
comportamentos dos filhos nem dão apoio afetivo a seus interesses; tendem a orientar-se
para a evitação de inconvenientes e costumam atender todos os desejos dos filhos, não por
expressão de afeto, mas para que fiquem livres de qualquer situação que exija deles o
exercício da supervisão e do controle.
Além de reinterpretar a tipologia de Baumrind (1966), tornando-a abrangente para
alcançar aspectos até então não observados, o modelo proposto por Maccoby e Martin
(1983) ampliou o conceito de responsividade (responsiveness). Segundo Esteve-Rodrigo
(2005, p. 34), este termo “foi empregado pela primeira vez por Ainsworth, Bell e Stayton
(1971) com um enfoque marcadamente comportamental para referir-se à contingência ou
ocorrência de respostas maternas aos sinais dos filhos”. Segundo Maccoby e Martin
(1983), a definição de responsividade leva implícita a disposição parental para responder
aos sinais emitidos pelos filhos, mas também implica reciprocidade, comunicação aberta e
bidirecional. Finalmente, outra contribuição importante, talvez a de maior destaque, foi a
divisão do estilo permissivo de Baumrind (1966) nos estilos indulgente e negligente.
2.3.3. O Modelo Relacional de Musitu e García
A proposta teórica de Musitu e García (2001) parte da hipótese de que a relação
familiar é dinâmica, congruente e bidirecional. Sob esta perspectiva, mesmo em um
contexto de situações diversificadas, é possível identificar padrões de comportamentos
exercidos pelos pais diante de seus filhos, denominados de estilo de socialização. Segundo
tais autores (2001, p. 9), “os estilos de socialização parental se definem pela persistência de
certos padrões de atuação e as conseqüências que estes padrões têm para a relação entre
pais e filhos”. Neste sentido, os estilos não representam apenas um conjunto de técnicas de
socialização. Moraes e cols. (2007, p. 168) apontam que os estilos parentais incluem,
141
“além de técnicas, uma série de atitudes dos pais, que, por sua vez, dependem dos
comportamentos dos filhos e do próprio contexto onde se realiza a socialização”.
Nesta direção, Musitu e García (2001, 2004) buscam desenvolver um modelo
teórico que contemple a dinâmica relacional, sem desconsiderar o consenso existente
acerca das duas dimensões dos estilos educativos (aceitação e coerção). Bastante próximo
ao que propõem Maccoby e Martin (1983), o modelo compõem-se de quatro estilos de
socialização parental, devendo-se considerar algumas diferenças. Musitu e García (2001,
2004) postulam que é possível encontrar traços correspondentes aos quatro estilos em
qualquer família, diferenciando-se somente a intensidade dos mesmos. Como em outros
modelos expostos, os dois eixos da socialização parental são concebidos como dimensões
cujo cruzamento possibilita a identificação de quatro estilos específicos, que permitem
estabelecer uma tipologia dos estilos parentais.
Na dimensão aceitação, expressam-se reações parentais de satisfação, aprovação e
afeto quando os filhos desenvolvem comportamentos condizentes com as normas de
funcionamento familiar. A baixa aceitação se caracteriza por reações de indiferença frente
aos comportamentos adequados às normas familiares (Musitu & García, 2001). A ênfase
na aceitação está na afirmação da autonomia dos filhos e na consideração das expectativas
tanto deles como dos pais. Este aspecto sugere um ambiente de reciprocidade; sempre que
os filhos emitem comportamentos desejáveis, os pais demonstram sua satisfação por meio
do afeto e da amabilidade, porém, diante de comportamentos inadequados, os pais
recorrem ao diálogo e à negociação. A aceitação baixa reflete a indiferença dos pais diante
dos comportamentos adequados de seus filhos e a displicência frente àqueles inadequados.
Os pais que pontuam alto em aceitação tendem a utilizar a indução como “tática”
para reforçar os comportamentos adequados de seus filhos. Deste modo, eles esperam que
142
os filhos sejam complacentes diante de suas exigências, evitando a confrontação (Musitu,
Roman & Gracia, 1988). A indução nestas famílias é potencializada pelo apoio emocional
(afeto, aceitação e reconhecimento dos pais) destinado aos filhos, aspecto que proporciona
um ambiente reforçador da auto-estima, do autocontrole, da capacidade de adaptação e,
conseqüentemente, da estabilidade psíquica e social (Musitu & García, 2001, 2005).
Segundo Musitu e cols. (1988), o apoio se configura pelas seguintes vias: emocional, na
qual os filhos recebem afeto e percebem que são aceitos pelos pais; assistência
instrumental, revelada por meio de conselhos, orientação, ajuda nas tarefas diárias, cuidado
e atenção; e expectativas sociais, ou seja, a orientação sobre quais comportamentos são ou
não socialmente adequados.
A coerção revela-se a partir da transgressão por parte dos filhos das normas
familiares. Sua característica fundamental é a repressão dos comportamentos inadequados
por meio de privação e coerção verbal ou física, que podem ser utilizadas de forma
simultânea ou independente (Musitu & García, 2001). Contempla-se, nesta dimensão, tanto
comportamentos orientadores (conselhos, conversas, sugestões etc.) como aqueles mais
coercitivos (ameaças de castigos, retirada de alguns privilégios, castigos físicos etc; Musitu
& Cava, 2001). Tais características se aproximam da classificação das estratégias
disciplinares propostas por Hoffman (1970): afirmação de poder (power assertion), que
envolve castigos físicos, ameaças verbais, retirada de privilégios etc; retirada de afeto (love
withdrawal), cujas características principais são a desaprovação e a irritação diante dos
comportamentos negativos dos filhos, seguidas de hostilidade e desprezo; e indução
(induction), que implica aspectos positivos, como explicação de normas, princípios e
valores, e o esclarecimento das razões por que não se deve agir de determinadas maneiras.
Seu propósito é induzir a motivação intrínseca da criança ou do adolescente. Como
143
mencionado, o cruzamento dos eixos correspondentes às dimensões aceitação e coerção
dão origem aos estilos de socialização parental: autoritativo, autoritário, indulgente ou
permissivo e negligente, este modelo é apresentado na Figura 4 a seguir.
Figura 4. Modelo bidimensional de socialização familiar
(adaptado de Musitu & García, 2004).
Como se pode observar na figura acima, o estilo autoritativo envolve aceitação e
coerção altas. Os pais cujo estilo de socialização predominante é o autoritativo revelam-se
como abertos ao diálogo com os filhos, comumente expressam sua satisfação quando
observam que estes seguem as normas familiares, são afetuosos e costumam negociar as
regras do relacionamento, estabelecendo acordo com os filhos. Mas, ao mesmo tempo,
conseguem conciliar a afetuosidade e a abertura com a disciplina e a autoridade; pais
autoritativos caracterizam-se pelo equilíbrio entre a figura da autoridade e da amizade;
geralmente proporcionam um ambiente familiar onde os filhos se sentem seguros,
amparados e confortáveis para compartilhar seus medos, planos, dificuldades etc.
Raramente chegam a utilizar da força física na disciplina, buscam sempre a coerção verbal
e agem com base na indução, associando disciplina, repreensão e consistência ao longo do
144
tempo entre declaração e ação (Baumrind, 1966; Moraes & cols., 2007; Musitu & García,
2001).
No quadrante inferior direito, encontra-se o estilo permissivo, que envolve
aceitação alta e coerção baixa. Tais pais são comunicativos com seus filhos e, quando estes
agem de forma incorreta, geralmente não utilizam a coerção (Moraes & cols., 2007).
Frente à indisciplina, optam pelo diálogo como instrumento para fixar os limites,
considerando os filhos como pessoas maduras e, por isso, buscam evitar que estes se
desviem das normas familiares, fazendo-os pensar nas conseqüências de atos inadequados.
Sempre consultam os filhos nas decisões importantes da casa e evitam o controle
impositivo e coercitivo (Musitu & García, 2001).
Os pais autoritários apresentam aceitação baixa e coerção alta. Independente da
idade de seus filhos, estes pais exercem sobre eles níveis elevados de exigência.
Simultaneamente, são pouco atentos e bastante insensíveis às necessidades e aos desejos
do filho. Nas famílias cujo estilo predominante é o autoritário, a comunicação é mínima e
unidirecional e as mensagens são basicamente ordens. Os pais com estilo autoritário não
oferecem razões quando emitem ordens, não estimulam o diálogo e são intransigentes em
modificar suas posições ante qualquer argumentação dos filhos, valorizando a obediência
incondicional e castigando energicamente seus filhos (Baumrind, 1966; Musitu & García,
2001).
O estilo negligente se caracteriza pela aceitação baixa, refletida em sua pouca
implicação com os filhos, e nível baixo de coerção ou imposição de normas. Este estilo
oferece uma interação pouco consistente com os pais, que são geralmente indiferentes,
permissivos e passivos. Os pais negligentes tendem a ignorar o comportamento de seus
filhos, não oferecem apoio quando estes passam por situações estressantes e outorgam
demasiada independência e responsabilidade tanto nos aspectos materiais como afetivos;
145
não costumam fomentar o diálogo, são pouco afetuosos, prestam pouca atenção às
necessidades e aos comportamentos dos filhos, e têm dificuldade para se relacionarem com
eles.
Como pode-se perceber, a tipologia proposta por Musitu e García (2001), apesar de
indicar alguns avanços no entendimento dos estilos parentais, a exemplo da reciprocidade
na relação entre pais e filhos, parece não diferir muito dos modelos anteriores, com relação
à dimensionalidade do construto. A maioria dos estudos desenvolvidos ao longo dos
últimos anos tem corroborado esta estrutura e, ao mesmo tempo, reforçado a importância
deste construto para a explicação de distintas variáveis, tanto cognitivas como
comportamentais (Aavik, Aavik & Kõrgesaar, 2006; Baptista, 2005; Baumrind, 1996;
Bowman, Prelow & Weaver, 2007; Darling & Steinberg, 1993; Maccoby & Martin, 1983;
Martínez & García, 2007; Moraes & cols., 2007; Musitu & García, 2005). Mesmo
apresentando alguns problemas quando os estudos envolvem análises trans-culturais
(Musitu & García, 2005), a família e, mais especificamente, os estilos de socialização por
ela empregados, têm se revelado uma variável bastante importante na explicação de
distintos fenômenos sociais, a exemplo dos comportamentos anti-sociais.
2.3.4. Estilos de Socialização Parental e Comportamentos Anti-sociais
A família compreende um elemento preponderante na explicação de
comportamentos anti-sociais (Bonino, Cattelino & Ciairano, 2005). Vuchinich, Bank e
Patterson (1992), por exemplo, comentam que alguns pais, ainda que de modo não
intencional, promovem os comportamentos anti-sociais de seus filhos por meio da prática
de disciplinas pouco adequadas e da expressão equivocada de raiva. Scaramella e cols.
(2002) comentam que o envolvimento parental no ambiente social da criança não é
específico da infância ou pré-adolescência, mas também ocorre durante toda a
adolescência. Apesar de se tornarem paulatinamente autônomos e independentes com a
146
idade, os adolescentes continuam a ser influenciados por seus pais, principalmente no que
se refere às suas relações sociais. Portanto, os pais e suas práticas educativas podem se
constituir em um fator tanto de risco (Hawkins & col., 1992; Herrenkohl & cols., 2000)
como de proteção (Benda & Crowyn, 2000; Vitaro, Brendgen & Tremblay, 2000) em
relação aos comportamentos socialmente desviantes.
O´Connor e Dvorak (2001), em uma amostra de 402 jovens com idades entre 14 e
21 anos, observaram que, independentemente do sexo do jovem, a delinqüência estava
inversamente correlacionada com o apoio parental do pai (r = -0,30 para rapazes e -0,25
para moças; p < 0,001); resultado similar foi comprovado para o apoio da mãe (r = -0,30
para rapazes e -0,36 para moças; p < 0,001). No caso do controle (autoridade) do pai, este
se correlacionou diretamente com a delinqüência (r = 0,25 para rapazes e 0,21 para moças;
p < 0,01), tendo ocorrido um resultado similar quando observado o controle da mãe (r =
0,20 para rapazes e 0,29 para moças; p < 0,01).
Scaramella e cols. (2002), em sua revisão sobre os efeitos dos estilos parentais com
os comportamentos anti-sociais dos jovens, encontraram evidências empíricas que dão
suporte à concepção de que o envolvimento parental diminui o risco da afiliação com
companheiros delinqüentes. Seus resultados também foram contundentes a respeito,
assinalando que tais estilos dos pais promovem a afiliação dos seus filhos com
companheiros convencionais, afastando-os de condutas de risco (por exemplo, uso de
drogas, brigas de gangues). Resultados similares foram encontrados por Brody e cols.
(2001), que partiram da premissa de que os jovens que recebem menos apoio emocional de
seus pais carecem de uma fonte primária de socialização em valores convencionais,
aceitando, em menor medida, tais valores, e sendo, portanto, mais dispostos a se afiliarem
a companheiros desviantes durante a adolescência, aumentando a possibilidade do
desenvolvimento de condutas de risco. Especificamente, em uma amostra de 867 jovens
147
afro-americanos com idades entre 10 e 12 anos, observaram que o envolvimento parental
reduziu a probabilidade de afiliação com grupos socialmente desviantes.
Em outro estudo, considerando uma amostra de 387 jovens que freqüentavam
regularmente uma igreja protestante nos Estados Unidos, Benda e Corwyn (2000)
observaram que seus índices de crime e uso de drogas estiveram negativamente
correlacionados com a proximidade emocional com os pais (r = -0,11 e -0,25,
respectivamente; p < 0,01) e as mães (r = -0,25 e -0,21, respectivamente; p < 0,01). Não
obstante, comprovaram igualmente que a supervisão parental, isto é, o monitoramento que
os pais fazem das atividades dos adolescentes (por exemplo, controle do horário de
chegada em casa, das amizades, do dinheiro gasto, dos filmes assistidos) também se
correlacionou negativamente com estes dois indicadores de condutas desviantes (r = -0,24,
p < 0,01; para ambos). Resultados muito similares foram obtidos por Vitaro e cols. (2000),
considerando uma amostra de 567 crianças canadenses com idade média de 6 anos. Estes
autores observaram que seu índice de delinqüência estava negativamente correlacionado
com a proximidade emocional com os pais (r = -0,20, p < 0,01) e o monitoramento
parental (r = -0,34, p < 0,01).
Empregando um delineamento de known-groups”, Pasquali e Andrade (1986)
consideraram a relação das práticas parentais entre três grupos de jovens do Distrito
Federal: “normais” (n = 127), usuários de drogas (n = 57) e delinqüentes
institucionalizados (n = 25). Seus resultados indicaram que a figura paterna tinha uma
presença emocional reduzida na vida de todos estes jovens, porém, em relação à figura
materna, observaram que esta era muito saliente, sendo percebida, ao mesmo tempo, como
amiga e controladora entre os jovens “normais” e usuários de drogas, e como rejeitadora
entre aqueles que eram delinqüentes institucionalizados.
148
Em alguns programas de prevenção, o treinamento dos pais em práticas de
disciplina mais indutivas apresentou resultados importantes na redução dos índices de
comportamentos anti-sociais entre adolescentes (ver, por exemplo, Dishion, Nelson &
Kavanagh, 2003). Adicionalmente, Wright e Cullen (2001) verificaram que aspectos como
confiança e apoio parental correlacionaram-se significativa e inversamente com medidas
de delinqüência. Analisando dados longitudinais, observaram que, mesmo com o avanço
da idade, os estilos de socialização parental, com base no apoio e na confiança, seguiram
como uma variável eficaz na prevenção da delinqüência. Recentemente, um estudo
desenvolvido com uma amostra de 2335 estudantes, de ambos os sexos, identificou a
percepção dos estilos parentais como um preditor significativo dos comportamentos
violentos (Blitstein, Murray, Lytle, Birnbaum & Perry, 2005). De acordo com os
resultados, a percepção dos pais como autoritativos está negativamente associada com
comportamentos violentos; entre os participantes do sexo feminino este aspecto mostrou-se
mais significativo frente à percepção da mãe. O mesmo estudo indicou que pontuações
baixas na percepção do estilo autoritativo do pai apresenta relação positiva com
comportamentos violentos, tanto em participantes do sexo masculino como feminino.
Os resultados a respeito dos estilos de socialização parental parecem ser unânimes
sobre o papel preponderante da relação afetividade-controle para inibir as condutas
socialmente desviantes. Verifica-se que pais autoritativos, que não se limitam a controlar
as atividades dos filhos por meio da punição e do castigo pelas condutas não
convencionais, favorecem o desenvolvimento de indivíduos mais resilientes. Os padrões
autoritativos de socialização parental, por associar afetividade e controle, reduzem
significativamente a probabilidade de envolvimento com grupos de risco para a
delinqüência. Segundo Bonino e cols. (2005), a abertura dos pais ao diálogo, a
aproximação dos filhos e o exercício do controle sem constrangimento favorecem a
149
interiorização de valores sociais, empatia, respeito pelos adultos, e ajudam a desenvolver
nos adolescentes a habilidade para se colocarem no lugar do outro. Neste sentido, parece
justificável ter em conta esta variável, para conhecer sua contribuição na explicação dos
comportamentos anti-sociais.
2.4. Identificação com Grupos
As pesquisas sobre identificação com grupos começaram a ser desenvolvidas
pelo menos quatro décadas (Sussman, Pokhrel, Ashmore & Brown, 2007). O tema tem
sido estudado sob diferentes perspectivas e definições; alguns autores consideram, por
exemplo, a associação com grupos de pares (Sussman & cols., 1990), a auto-identificação
com grupos (Sussman, Unger & Dent, 2004) e a afiliação com amigos (Prinstein & La
Greca, 2002). Dentre as diferentes possibilidades para conceituar este construto, destacam-
se as definições de Kiesner, Cadinu, Poulin e Bucci (2002, p. 197), que mencionam “a
importância subjetiva do grupo para o indivíduo”, e a de Krech, Crutchfield e Ballachey
(1962/1975), que expressa a identificação grupal como “o processo de procurar ser como
outro indivíduo ou grupo”.
Apesar dos esforços, segundo Herrera (2006), na literatura ainda não há uma
definição consensual de identificação com grupos. Mesmo assim, em pelo menos um
aspecto os conceitos parecem convergir, a saber: quando se referem à influência que a
identificação com determinados grupos exerce em atitudes, sentimentos e comportamentos
das pessoas. De acordo com esta autora, aí reside a base da teoria dos grupos de referência.
Pimentel, Gouveia e Fonseca (2005), analisando as definições mencionadas acima,
parecem corroborar este posicionamento apontando que, por meio da identificação, as
pessoas tendem a incorporar as características do outro indivíduo ou grupo, manifestando
comportamentos semelhantes. Segundo estes autores, a identificação grupal está na base de
vários processos e variáveis psicossociais. Dentre os quais, cabem mencionar o processo de
150
formação, mudança e manutenção das atitudes, a auto-estima, os valores sociais, a
influência social, a busca por aceitação e evitação da rejeição, a auto-avaliação e o
comportamento anti-social. No entanto, antes de relacionar a identificação com o principal
construto desta tese (comportamentos anti-sociais), pretende-se apresentar um resumo das
principais perspectivas de estudo dos grupos encontradas no campo da psicologia social.
2.4.1. Perspectivas de Análise nos Estudos de Grupo
A preocupação pelo fenômeno agregacional dos seres humanos sempre despertou a
atenção e o interesse de teóricos das mais diversas áreas, como, por exemplo, historiadores,
filósofos, sociólogos e antropólogos. Na psicologia e, sobretudo, na psicologia social, as
primeiras aproximações sobre o tema podem ser observadas a partir do final do século
XIX, com os estudos acerca do comportamento social (Alvaro & Garrido, 2003; Vala &
Monteiro, 2002). Durante as últimas décadas, os pesquisadores têm discutido diversos
aspectos referentes ao funcionamento dos grupos, sendo os seguintes destacados dentre os
tópicos principais: a análise do grupo enquanto entidade à parte de seus membros; o
entendimento do grupo como um agregado de pessoas; questões referentes às fronteiras ou
aos limites dos grupos, onde começam e terminam, e quais são seus campos e níveis de
influência; o estudo dos processos que ocorrem no interior e exterior dos grupos; e a
identificação com grupos.
Na psicologia social, tradicionalmente, o estudo dos grupos tem sido orientado por
três perspectivas distintas, denominadas como segue: (1) tese da mente grupal, que entende
o grupo como uma realidade substancialmente distinta dos indivíduos que o compõem.
Assume-se que, quando estão em grupo, as pessoas ultrapassam seus limites individuais e
são guiadas por uma mente grupal superior (group mind), que as faz apresentar padrões
emocionais distintos daqueles observados quando estão sozinhas; (2) tese do
individualismo, que assume o grupo como um conjunto de pessoas que reúnem e
151
compartilham valores, crenças e ideais. Entretanto, sob tal perspectiva, o grupo não se
constitui em uma realidade à parte de seus membros; e (3) tese do interacionismo, que
busca integrar os posicionamentos anteriores, considerando a mente individual como o
resultado da relação do indivíduo com o grupo; tal proposta tem sido a mais aceita entre os
psicólogos sociais (Morales & Huici, 1994; Vala & Monteiro, 2002). A seguir, apresenta-
se uma síntese de cada uma destas teses ou hipóteses.
2.4.1.1. Tese da Mente Grupal
No final do século XIX e início do XX, alguns teóricos passaram a defender que,
em uma situação de grupo, os indivíduos são tomados por uma “mente grupal” que altera
seus padrões de comportamento; uma espécie de arquétipo mental somente encontrado nas
relações de grupo. Dentre os principais representantes desta perspectiva encontram-se Le
Bon e McDougall (Morales, 1994). De acordo com Turner (1994), a análise de Le Bon
permite identificar três mecanismos responsáveis por este fenômeno: a desindividuação, a
sugestão e o contágio. Mecanismos que, em situações de grupo, são compartilhados de
forma inconsciente pelos indivíduos.
A desindividuação, segundo Turner (1994), refere-se aos processos pelos quais a
pessoa, em grupo, perde seu “eu individual e, conseqüentemente, o sentido de
responsabilidade por seus atos. O contágio corresponde ao processo pelo qual os
sentimentos e as ações se estendem pelo grupo com a ajuda da imitação mútua, e tem como
base a sugestão ou sugestionabilidade, que diz respeito à disposição das pessoas para
influenciarem-se mutuamente por meio de processos de submissão irracional e emocional
quando estão em situações de grupo (Michener & cols., 2005). Como se observa, a
hipótese da mente grupal implica na existência de uma mente diferente da do indivíduo,
sugerindo que, na multidão, a personalidade consciente deste se anula e sua submersão no
grupo faz surgir uma espécie de inconsciente coletivo. Apesar da importância destas idéias
152
para o desenvolvimento dos estudos sobre grupo, Turner (1994) aponta que a psicologia
social moderna refuta qualquer hipótese referente à existência de uma mente grupal,
“mente da raça” ou “inconsciente coletivo”. Os argumentos principais para tal refutação
são apresentados pelos teóricos que estudam o grupo sob a perspectiva individualista.
2.4.1.2. Tese do Individualismo
O modelo individualista parte da hipótese de que somente os indivíduos são reais e
que os conceitos grupais não passam de meros resumos das atividades dos componentes de
um grupo. Neste sentido, o grupo não é mais que um termo utilizado para designar um
conjunto ou agregado de pessoas, não surgindo nada de especial ou diferente das interações
decorrentes dele. Em termos específicos, tal perspectiva defende que o grupo não é mais
que a soma de seus membros, sem a existência de qualquer estrutura supra-individual;
descarta-se toda possibilidade de uma mente do grupo (Turner, 1994). Um dos principais
representantes desta linha de pensamento é Floyd Allport.
Em seu artigo The group fallacy in relation to social science, Allport (1924) expõe
diversas razões para rejeitar a explicação do comportamento grupal por meio de variáveis
que ultrapassam as condutas e características individuais das pessoas. Dentre tais razões,
apontam-se: (1) a hipótese de mente grupal não resiste às provas empíricas, os termos que
implicam tal hipótese não explicam os fenômenos grupais, simplesmente os descreve; e (2)
a idéia de “mente grupal”, no sentido utilizado, diz respeito a uma mente estática, é o
resultado, não uma causa, do comportamento individual. Segundo Allport (1924), estes
aspectos demonstram que, empregar o grupo como princípio explicativo em lugar dos
indivíduos do grupo é um erro.
De acordo com Turner (1994), a tese do individualismo não nega que as pessoas
podem comportar-se de forma diferente quando estão em situação de grupo. No entanto,
tais comportamentos ocorrem em função da aprendizagem; as situações de grupo são
153
estímulos que desencadeiam comportamentos. Portanto, se as condições do estímulo
mudam, também mudam as respostas individuais. Allport (1924) considera que os outros
não passam de estímulos sociais que fazem com que as pessoas, diante deles, respondam
de forma considerada apropriada. Deste modo, em situação de grupo, os indivíduos são
agentes responsáveis, ao mesmo tempo, por suas ações e por aquelas apresentadas pelo
grupo, uma vez que fazem parte do mesmo. A tese do individualismo supõe a existência de
uma psicologia básica para explicar o comportamento dos indivíduos; parte-se do
pressuposto de que as pessoas existem e funcionam de maneira independente do contexto
social, mas, em algumas situações, podem reagir de forma diferente em função dos
estímulos sociais (Turner, 1994).
Como é possível perceber, as duas teses ou conjuntos de idéias previamente
expostos representam perspectivas que podem ser vistas como radicalmente opostas. Neste
sentido, tem lugar uma tese ou abordagem mais conciliadora, que procura -las em conta:
o interacionismo, como se expõe a seguir.
2.4.1.3. Tese do Interacionismo
Diferente das duas teses anteriores, o interacionismo propõe que a mente individual
é o resultado da relação do indivíduo com o grupo, e que o grupo também é influenciado
pelos indivíduos por meio de sua participação interativa. Tal perspectiva recebe influência
dos princípios gestálticos, como o que indica que o todo é maior que a soma das partes. Os
teóricos do interacionismo defendem que a compreensão do grupo não pode ser reduzida
ao estudo dos seus membros, pois, como argumenta Turner (1994), a organização dos
elementos em um sistema produz algumas propriedades de nível superior que não podem
ser encontradas nos seus elementos isoladamente. Entre os principais autores deste campo,
encontram-se Muzafer Sherif, Solomon Asch e Kurt Lewin (Alvaro & Garrido, 2003,
Turner, 1994).
154
Kurt Lewin (1978), por exemplo, com sua teoria de campo, influenciou
substancialmente os estudos nesta área. Lewin (1978) sugere que a concepção de grupo
como um todo dinâmico envolve uma definição que tem como base a interdependência de
seus membros, ou seja, das sub-partes do grupo. O grupo, portanto, é considerado como
um todo integrado e dinâmico, que é submetido constantemente à influência de diversas
forças que estão em mudança contínua. Em sua teoria, este autor propõe que os indivíduos
em situações de grupo são motivados por suas próprias necessidades e metas pessoais.
Segundo Lewin (1978), as pessoas vivem em um espaço vital subjetivo (campo) que, ao
ser compartilhado com outros, as tornam interdependentes e promovem a criação de um
espaço comum; desta forma, deixam de ser um simples agregado de pessoas para se
constituírem em um grupo. Tal espaço comum é mantido pela coesão do grupo, a atração
de seus membros e o desejo de estarem juntos para alcançar metas em comum. A
interdependência entre os membros e a coesão do grupo é resultado da comunicação, da
qualidade e quantidade de interações.
Por meio dessas interações, as pessoas que compõem os grupos criam modos de
comportamento social, a exemplo das normas sociais, dos estereótipos e das crenças e
metas coletivas; conteúdos que são interiorizados pelos membros dos mais diversos
grupos. Notadamente, o interacionismo não explica o fenômeno dos grupos pela redução
dos aspectos sociais às estruturas individuais, tampouco os amplia às estruturas
supraindividuais. Nesta direção, os padrões sociais resultam da participação dos indivíduos
e são construídos a partir de diferentes processos decorrentes da interação (Vala &
Monteiro, 2002). Esta perspectiva é assumida na presente tese, cuja ênfase se concentra na
identificação com grupos e nos processos de controle social decorrentes destes. Como dito,
postula-se que esta variável assume um papel importante entre os principais fatores
inibidores (de proteção) dos comportamentos anti-sociais.
155
2.4.2. Processos Grupais e Controle Social
Para alcançarem objetivos e satisfazerem um conjunto de necessidades, que
sozinhas não poderiam ou não saberiam como fazer, as pessoas tendem, naturalmente, a
filiar-se a outras. Desde os primeiros anos, as crianças desenvolvem vínculos com aquelas
pessoas com quem têm contato regular, a exemplo de pais, familiares, vizinhos, colegas da
escola e professores (Michener & cols., 2005). De acordo com Morales (1994), a função
principal da afiliação e dos vínculos sociais consiste em garantir a sobrevivência, tanto do
indivíduo como da espécie; a afiliação pode promover o alcance de metas ou objetivos que,
buscados individualmente, seriam mais difíceis de serem obtidos, como, por exemplo,
diversão, entretenimento e manutenção da auto-estima. Adicionalmente, o processo de
afiliação também serve para reduzir a ansiedade e o medo, e proporcionar diversos critérios
de comparação para a formação das atitudes e dos comportamentos das pessoas (Rodrigues
& cols., 2001). Dentre os principais aspectos relacionados com o processo de afiliação,
destacam-se a formação de normas e a identificação grupal.
A formação de normas é de importância fundamental para a sobrevivência de um
grupo social, pois são elas que governam as linhas gerais do comportamento de seus
membros. Rodrigues e cols. (2001, p. 378) definem normas sociais como sendo padrões
ou expectativas de comportamentos partilhados pelos membros de um grupo”. As normas
especificam como se espera que os integrantes de um grupo se comportem em
determinadas circunstâncias; elas geralmente refletem o sistema de valores fundamentais
do grupo (Michener & cols., 2005). Nesta direção, Michener e cols. (2005) apontam que as
normas assumem basicamente três funções principais para o grupo: (1) estimulam a
coordenação entre os membros do grupo para a realização de seus objetivos; (2) fornecem
a estrutura cognitiva de referência por meio da qual os integrantes do grupo interpretam e
analisam o seu ambiente. Tal fato é particularmente importante em situações novas e
156
ambíguas, nas quais as normas funcionam como indicadores de como se deve agir; e (3)
definem e reforçam a identidade comum dos integrantes do grupo, exigindo que estes
apresentem padrões de comportamento diferentes daqueles apresentados por indivíduos de
exogrupos (aqueles que não são grupos de pertença).
A influência social é considerada um dos principais fatores responsáveis pela
formação de normas sociais (Michener & cols., 2005; Myers, 2000; Vala & Monteiro,
2002). Segundo Jesuíno (2002), as conseqüências dos processos de interação o múltiplas
e complexas, sendo bastante difícil determinar a ordem de influência de determinadas
variáveis. De acordo com o que comenta este autor, “a influência social, possivelmente,
estará presente antes dos processos de interação através das expectativas que os membros
trazem para o grupo que vão integrar” (p. 325). Durante o envolvimento com o grupo, as
pessoas tendem a atenuar, reforçar ou modificar tais expectativas. Por outro lado, a
influência social, além de estar presente no cotidiano dos grupos estabelecidos, também é
co-extensiva à vida dos indivíduos por meio, por exemplo, dos veículos de comunicação de
massa (Herrera, 2006; Myers, 2000). De modo que, mesmo sem estarem integradas
efetivamente a um determinado grupo, as pessoas podem receber influência direta ou
indireta deste, por meio da identificação. Como exposto anteriormente, nesta tese o
interesse se volta, fundamentalmente, para a identificação com grupos convencionais (pais,
professores, vizinhos), dada a importância presumível que estes assumem como inibidores
(fator de proteção) de comportamentos socialmente desviantes.
Segundo a teoria do controle social (Hirschi, 1969), quanto maior a integração de
uma pessoa à sociedade convencional, menor será a probabilidade desta vir a cometer
delitos. Tanto para crianças como para adolescentes e jovens adultos, os principais agentes
de integração social são a família, a escola e os amigos. Tais agentes podem tanto
favorecer como desfavorecer o desenvolvimento de vínculos entre os jovens e a ordem
157
social convencional. Portanto, quando tais vínculos são satisfatoriamente estabelecidos,
espera-se que os jovens sintam-se dissuadidos a violar as normas ou as leis sociais. Neste
sentido, as pessoas cuja identificação e os vínculos apresentam-se mais fortes para grupos
convencionais e mais fracos para grupos não-convencionais, tendem a envolver-se menos
em atividades desviantes (Elliott & cols., 1979).
A identificação com os pais e, em termos gerais, com a família, ocupa, na teoria de
Hirschi (1969), um lugar fundamental; não obstante, o exercício do controle sobre o
comportamento dos filhos é relativo. Segundo este autor, na hora de incorrer em algum
tipo de comportamento anti-social, o que contará mais significativamente é a “presença
psicológica” dos pais. Desta maneira, quanto mais identificado (apegado) estiver o jovem
com sua família, menor será a probabilidade de que venha a cometer atos desviantes.
Como foi exposto, além da família, a escola e a vizinhança também compreendem
contextos importantes de socialização. A identificação com pessoas destes ambientes
constitui-se um fator relevante de proteção, considerando que estas exercem sobre os
jovens um tipo de controle considerado informal (Laub & Sampson, 2001; Sampson &
Laub, 1993). Entretanto, deve-se ressaltar que tais ambientes se tornam inibidores dos
comportamentos anti-sociais quando seus agentes assumem papéis que reforçam atitudes e
comportamentos pró-sociais ou convencionais.
O contexto dos amigos ou pares aparece na literatura como outro ambiente
importante na socialização dos indivíduos; diversos autores apontam o grupo como
responsável por exercer influência preponderante nos comportamentos dos jovens, sejam
estes adaptados ou não (Fischhoff & cols., 2003; Sussman & cols., 2004, 2007). Neste
sentido, à medida que os jovens incrementam seus níveis de interações fora do marco
familiar, a influência do grupo de amigos na determinação de normas de conduta torna-se
cada vez mais evidente. Os amigos proporcionam informação direta ou indireta sobre os
158
comportamentos considerados apropriados e/ou valorizados em situações que diferem
daquelas apresentadas no contexto familiar (Tarolla, Wagner, Rabinowitz & Tubman,
2002). Assim, a aprendizagem do jovem no grupo (tanto das interações afetivas como dos
padrões normativos comportamentais) se converte em um agente de socialização, tal como
postulam algumas das teorias psicossociais apresentadas no Capítulo 1, a exemplo da
teoria da associação diferencial (Sutherland & Cressey, 1974) e da aprendizagem social
(Bandura & Walters, 1963).
De acordo com a teoria da associação diferencial, a associação com companheiros
desviantes provoca a exposição a padrões de comportamentos anti-sociais, os quais o
aprendidos pelo indivíduo por meio da comunicação verbal e comportamental produzida
entre os membros do grupo. Desta forma, são estabelecidos dois tipos de associação
diferencial: (1) associação com atitudes diferenciais, na qual as comunicações verbais com
pares desviantes provocam a formação, no adolescente, de atitudes ou definições
favoráveis frente à desviação; e (2) associação com atividades diferenciais, sugerindo que a
observação de atividades desviantes realizadas pelos pares promove a imitação destes
comportamentos por parte do adolescente. Akers (1985), com base na teoria da
aprendizagem social, sugere que, para o desenvolvimento ou a aprendizagem do
comportamento anti-social, ocorrem quatro mecanismos inter-relacionados: (1) a
associação diferencial com pessoas que apresentam hábitos e atitudes favoráveis aos
comportamentos anti-sociais; (2) a aquisição, por parte do indivíduo, de definições ou
pensamentos favoráveis a tais comportamentos; (3) o reforço de seus comportamentos; e
(4) a imitação de modelos anti-sociais.
Por outro lado, autores como Sampson e Laub (1993; Laub & Sampson, 2001)
apontam que o controle social informal exercido por identificação ou apego a papéis
convencionais apresenta-se com uma variável bastante importante na predição de
159
comportamentos anti-sociais. Conforme estes autores, tal identificação torna os jovens
mais resilientes frente às oportunidades para delinqüir; geralmente, indivíduos que
apresentam grau elevado de identificação com papéis convencionais costumam sopesar as
conseqüências de seus atos tendo como referência tais papéis. Elliott e cols. (1985a),
combinando elementos da teoria da anomia, do controle social e da aprendizagem social,
sugerem que os vínculos fracos com agentes de socialização convencionais (por exemplo,
familiares, professores) aumentam a probabilidade da identificação e, conseqüentemente,
associação com pares desviantes, aspectos tidos como um dos principais fatores
determinantes de comportamentos anti-sociais (Ronis & Borduin, 2007).
De acordo com Elliott e cols. (1979), no processo de socialização as pessoas
desenvolvem níveis diferentes de identificação, compromisso e integração com
determinados grupos sociais convencionais. Segundo pensam, quando a socialização
ocorre de forma inadequada (por exemplo, negligência ou autoritarismo dos pais, vínculos
fracos com o ambiente escolar), cria-se uma fonte de tensão; quanto maior for essa tensão e
menores os níveis de controle ou vínculos sociais, maior a possibilidade de que se
desencadeiem comportamentos anti-sociais. Deste modo, indivíduos cuja identificação
com grupos não-convencionais é forte, tendem a apresentar níveis baixos de identificação
com aqueles convencionais.
2.4.3. Identificação com Grupos e Comportamentos Anti-sociais
O compromisso com grupos convencionais (por exemplo, familiares, pais,
professores), os quais assumem a função de transmissão de valores sociais que garantem a
harmonia social e a manutenção do status quo, é considerado um inibidor (fator de
proteção) de comportamentos anti-sociais (Benda & Corwyn, 2000; Hirschi, 1969; Petraitis
& cols., 1995; Sussman, Dent & McCullar, 2000; Tarter, 1988). Não obstante, esta
variável, da maneira como se explora na presente tese, tem sido pouco considerada nas
160
pesquisas sobre este tema. O mais comum é analisar a identificação com grupos não-
normativos ou desviantes (gangues, companheiros que usam drogas, praticam delitos),
procurando estimar em que medida esta pode explicar tais comportamentos (Hawkins &
cols., 1992; Herrenkohl & cols., 2000).
Um estudo desenvolvido por Heaven, Caputi, Trivellion-Scotte e Swinton (2000),
por exemplo, comprovou que os comportamentos delitivos estavam positivamente
correlacionados com dois fatores de identidade juvenil delinqüente: companheirismo
delinqüente (r = 0,46, p < 0,001) e normas comportamentais delinqüentes (r = 0,35, p <
0,001). Vitaro e cols. (2000) observaram que ter como melhor amigo alguém que se desvia
das normas sociais se correlacionou positivamente com indicadores de delinqüência e
atitudes favoráveis em relação à delinqüência (r = 0,15, p < 0,05 para ambos). Esta
direção de pesquisa, não obstante, põe ênfase nos fatores de risco para o surgimento de
comportamentos anti-sociais, não sendo o interesse principal desta tese.
Alguns estudos recentes têm tratado de conhecer a correlação entre a identificação
com grupos convencionais e os comportamentos anti-sociais. Coelho Júnior (2001)
observou que a pontuação total de identificação com grupos ou papéis convencionais (por
exemplo, família, familiares, vizinhos, professores) se correlacionou inversamente com os
fatores de comportamentos anti-sociais e delinqüência juvenil compartilhada (r = -0,15, p
< 0,001, para ambos), e com um índice de potencial consumo de drogas (r = -0,15, p <
0,001). Consistentemente, a identificação com as pessoas que formam o grupo de pertença
primário (pai, mãe e irmãos) se correlacionou mais fortemente com estes três indicadores
(r = -0,10, -0,18 e -0,17, respectivamente; p < 0,001 para todos). Resultados muito
parecidos foram relatados por Formiga (2002). Este autor comprovou que a pontuação total
de identificação com cinco grupos de relacionamento (família, familiares, companheiros de
estudo, vizinhos e professores) se correlacionou negativamente com os comportamentos
161
anti-sociais (r = -0,16, p < 0,001) e delitivos (r = -0,13, p < 0,001). Neste último estudo, a
identificação com os professores apresentou a maior correlação negativa com os
comportamentos anti-sociais (r = -0,14, p < 0,001), enquanto que a identificação com a
família (pai, mãe e irmãos) o fez em relação aos comportamentos delitivos (r = -0,10, p <
0,01).
No estudo efetivado por Pimentel (2004), em que foram analisadas as relações entre
variáveis como identificação com grupos, valores humanos, preferência musical e
comportamentos anti-sociais, verificou-se, por meio de uma análise de regressão, que a
identificação com grupos não convencionais (alternativos; β = 0,21, t = 4,26, p < 0,001) e a
orientação pelos valores de experimentação = 0,15, t = 3,57, p < 0,001) tornaram mais
provável a apresentação de comportamentos anti-sociais entre jovens. Ao mesmo tempo,
os jovens que se identificaram com grupos convencionais (de relacionamento; β = -0,29, t
= -6,36, p < 0,001) e se guiaram por valores normativos = -0,14, t = -3,05, p < 0,01)
apresentaram menor probabilidade de envolverem-se nestes tipos de comportamentos.
Quando considerada a dimensão delitiva do comportamento anti-social, os resultados
foram semelhantes; este tipo de conduta foi predita inversamente pela identificação com
grupos convencionais = -0,19, t = -3,89, p < 0,001), e diretamente quando analisada em
função dos grupos alternativos (β = 0,15, t = -2,74, p < 0,01).
Frente ao apresentado, considera-se coerente esperar que a identificação com
grupos convencionais de referência atuem como uma variável inibidora dos
comportamentos anti-sociais. Neste sentido, torna-se justificável replicar os estudos antes
descritos, considerando a possibilidade de incluir novos grupos. Isso permitirá tanto
conhecer a consistência dos resultados como estimar a contribuição desta variável no
conjunto daquelas que compõem o modelo teórico que fundamenta esta tese.
162
Em resumo, parece haver suficiente razão para conhecer a adequação da hipótese
de compromisso convencional e afiliação social como base para explicar os
comportamentos anti-sociais. Como mencionado, objetiva-se conhecer em que medida os
valores humanos, de maneira especial os sociais denominados como normativos, o
compromisso religioso, o estilo de socialização parental autoritativo e a identificação com
grupos convencionais de referência atuam como inibidores (fatores de proteção) de
comportamentos socialmente desviantes. Mais precisamente, procura-se: (1) estimar a
contribuição dos fatores de proteção para explicar os comportamentos anti-sociais e
delitivos; e (2) identificar um modelo que permita integrar os diferentes fatores,
considerados nesta oportunidade como componentes da hipótese de compromisso
convencional e afiliação social, contribuindo assim para a compreensão destes
comportamentos socialmente desviantes no contexto brasileiro. Para a consecução de tais
objetivos, pensaram-se em quatro estudos empíricos, os quais são detalhadamente descritos
a seguir.
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165
Como exposto nos capítulos anteriores, esta tese envolve um conjunto de variáveis
psicossociais: comportamentos socialmente desviantes, valores humanos, compromisso
religioso, estilos de socialização parental e identificação com grupos de referência. Em
alguns casos, estes construtos são empregados em sua totalidade e, em outros, a partir de
fatores específicos que os compõem, como, por exemplo, o estilo de socialização
autoritativo, os valores sociais normativos e a identificação com grupos convencionais de
referência. Para análise de todas estas variáveis faz-se necessário utilizar instrumentos que
reúnam evidências de validade e precisão, condições sinequanon para o uso de qualquer
medida em estudos de natureza empírica (Anastasi & Urbina, 2000; Nunnally, 1991;
Pasquali, 2003).
Nesta tese a inclusão dos instrumentos teve como base três critérios principais: (1)
sua compatibilidade teórica com relação aos construtos que se pretendem analisar; (2) a
adequação dos seus parâmetros psicométricos (validade e precisão) para o contexto no qual
se desenvolve a pesquisa; e (3) seu caráter parcimonioso, isto é, que sejam curtos, breves,
facilitando sua administração junto a outras medidas. A maioria dos instrumentos
selecionados para compor o conjunto de medidas atendeu tais critérios. Não obstante,
inclusive nestes casos, parece necessário oferecer algumas informações que visam
justificar e orientar os objetivos aqui estabelecidos:
a) O Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD; Seisdedos,
1988). Apesar de tal instrumento contemplar as dimensões principais correspondentes à
teoria acerca dos comportamentos socialmente desviantes e demonstrar parâmetros
psicométricos satisfatórios em diversos estudos realizados no Brasil e, sobretudo, na cidade
de João Pessoa (Chaves, 2006; Formiga, 2002; Pimentel, 2004; Vasconcelos, 2004),
configura-se relativamente extenso (40 itens). Neste sentido, um dos objetivos deste estudo
é analisar a homogeneidade e precisão dos itens que compõem esta medida e avaliar, a
166
partir de grupos critérios internos, seu poder discriminativo (Pasquali, 1997). Este
empreendimento visa obter um instrumento mais breve, selecionando-se para cada
dimensão os dez itens mais adequados que serão considerados nos estudos subseqüentes.
b) A medida de identificação com grupos é originalmente composta por um
conjunto de 14 itens, no qual não se expõem seus parâmetros psicométricos (Vasconcelos,
2004). A partir destes itens, C. E. Pimentel derivou duas escalas de identificação com
grupos: Escala de Identificação com Grupos Alternativos (Pimentel, 2004; Pimentel,
Gouveia & Fonseca, 2005) e Escala de Identificação com Grupos de Relacionamento
(Pimentel, 2004). Neste estudo, pretende-se ter em conta os itens propostos por estes
autores e acrescentar outros, de modo a alcançar grupos de referência anteriormente não
incluídos (por exemplo, amigos do bairro, tios, avós). Estes aspectos exigem, portanto, a
realização de análises complementares que possam explorar a estrutura fatorial que melhor
corresponde à matriz de correlações entre os itens destas medidas. Conhecidos os fatores,
calculam-se os respectivos coeficientes de consistência interna (Alfa de Cronbach).
c) Finalmente, a Escala de Crenças Religiosas (Andrade, Gouveia, Jesus, Santos &
Lopes de Andrade, 2001) e a Escala de Práticas Religiosas (Meira, Gouveia, Socorro,
Oliveira & Silva Filho, 2001) atendem satisfatoriamente a todos os critérios de inclusão
mencionados. Especificamente, estas foram construídas na cidade de João Pessoa, tendo
sido reunidas evidências acerca de sua validade e precisão. Compõem-se, ademais, de um
número reduzido de itens que, mesmo não abarcando a diversidade de seguimentos
religiosos existentes, envolvem aqueles mais predominantes (católicos, espíritas e
protestantes) no contexto paraibano (IBGE, 2000). Contudo, uma vez que se pretende
incluir estas medidas como indicadores de compromisso religioso, decidiu-se analisar
empiricamente seus itens e comprovar, por meio de análises fatoriais confirmatórias, a
167
adequação da estrutura proposta nos estudos originais. Uma melhor compreensão das
especificidades deste estudo pode ser contemplada no método a seguir.
3.1. Método
3.1.1. Delineamento
Tratou-se de um estudo correlacional, ex post facto. Basicamente, a ênfase foi
psicometrista, procurando reunir evidências sobre a validade e precisão das medidas
previamente listadas. No caso do Questionário de Comportamentos Anti-sociais e
Delitivos, por exemplo, objetivou-se, principalmente, reduzir o montante de itens que
compõem sua versão original, tornando-o mais parcimonioso. Neste caso, procedeu-se,
inicialmente, a uma análise empírica de tais itens (Pasquali, 2003).
3.1.2. Amostra
Participaram deste estudo 317 pessoas com idades variando entre 10 e 45 anos (M =
16,6; DP = 5,24; 86,2% com até 20 anos), sendo a maioria do sexo feminino (53,6%).
Destes, 34,3% eram estudantes do ensino fundamental, 40,7% do ensino médio e 25% do
superior. Quanto à religião, estes se confessaram católicos (59,6%), evangélicos (28,5%),
espíritas (1,9%), sem religião (8,7%) e pertencentes a outros grupos religiosos (1,3%). A
amostra foi de conveniência (não-probabilística), considerando-se as pessoas que
concordaram em participar do estudo.
Como regra de exclusão, deixaram de compor a amostra os indivíduos que: (1) não
responderam a pelo menos uma das medidas; (2) deixaram mais de 10% dos itens de uma
medida sem resposta; (3) responderam de forma diferente ou utilizando escala diferente da
proposta no estudo; e (4) apresentaram idade inferior a 10 anos.
168
3.1.3. Instrumentos
Os participantes responderam um livreto composto por sete partes. No entanto, em
razão dos objetivos deste estudo, consideram-se unicamente os seguintes instrumentos:
Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos CAD. Proposta por
Seisdedos (1988), tal medida é composta por 40 itens distribuídos em duas dimensões:
Comportamentos anti-sociais e delitivos. O fator denominado delitivo ou delinqüente
abrange condutas que se caracterizam por infringirem leis formais; nele incluem-se itens
como Portar uma arma (faca ou canivete) caso considere necessário em um briga ou
Conseguir dinheiro ameaçando pessoas mais fracas”. No fator anti-social, encontram-se
itens correspondentes a comportamentos que não são expressamente delitivos, isto é, ainda
que alguns elementos estejam próximos do delito, podem ser considerados como
travessuras típicas de adolescentes, como, por exemplo, “Negar-se a fazer as tarefas
solicitadas (no trabalho, na escola ou em casa) ou Riscar em lugares proibidos
(paredes, mesas, etc.) (Anexo I). Em sua versão original, a consistência interna do CAD
foi avaliada pelo método de duas metades (Spearman-Brown), verificando-se um índice de
0,86 para ambos os fatores. No Brasil, em um estudo desenvolvido por Formiga e Gouveia
(2003), comprovou-se o modelo bi-fatorial desta medida; os resultados evidenciaram
índices de bondade de ajuste adequados: χ
2
/ gl = 1,78, GFI = 0,91, AGFI = 0,90 e RMSR =
0,04; sua consistência interna (Alfa de Cronbach) foi satisfatória tanto para o fator delitivo
(α = 0,86) como anti-social (α = 0,92).
Escala de Práticas Religiosas (Meira & col., 2001). Composta por 16 itens, esta
escala possibilita a mensuração de práticas correspondentes a três grupos religiosos:
católicos (por exemplo, rezar o terço; assistir à missa), espíritas (por exemplo, ler livros
psicografados; procurar desenvolver dons mediúnicos) e protestantes (por exemplo, pregar
o evangelho para outras pessoas; dar o dízimo). Todos os itens são respondidos em escala
169
de cinco pontos, do tipo Likert, com os seguintes extremos: 1 = Nunca e 5 = Sempre
(Anexo II). No estudo de sua validação, este instrumento apresentou parâmetros
psicométricos aceitáveis. As análises exploratórias apontaram a existência de três fatores
(foram considerados os itens com cargas fatoriais superiores a 0,30) que explicaram
conjuntamente 52,5% da variância total, com os seguintes índices de consistência interna
(Alfas de Cronbach): 0,93 para as práticas católicas e 0,76 tanto para as espíritas como as
protestantes.
Escala de Crenças Religiosas (Andrade & cols., 2001). Este instrumento permite
avaliar o quanto o respondente concorda com diferentes crenças religiosas, podendo ser um
indicativo do seu grau de religiosidade. Seus 18 itens dividem-se eqüitativamente entre as
crenças católicas (por exemplo, imagens de santos devem ser respeitadas; é importante
fazer a primeira comunhão), protestantes (por exemplo, a vocação para o trabalho é um
dom divino; Jesus Cristo é o único intercessor entre Deus e o homem) e espíritas (por
exemplo, é possível a comunicação com pessoas que faleceram; Jesus foi um espírito
evoluído que passou pela terra). Para respondê-los, o participante utiliza uma escala de sete
pontos, do tipo Likert, com os seguintes extremos: 1 = Discordo totalmente e 7 =
Concordo totalmente (Anexo III). Em seu estudo original, foi realizada uma análise de
componentes principais (rotação varimax) que permitiu identificar claramente os três tipos
de crenças (consideraram-se itens com cargas fatoriais superiores a 0,30), que explicaram
conjuntamente 61,4% da variância total. Observaram-se os seguintes índices de
consistência interna (Alfa de Cronbach): 0,96 (crenças católicas), 0,93 (crenças espíritas) e
0,65 (crenças protestantes).
Escala de Identificação com Grupos de Referência. Esta medida compreende à
fusão de duas das escalas utilizadas por Pimentel (2004): Escala de Identificação com
Grupos de Relacionamento (por exemplo, familiares, professores, vizinhos) e Escala de
170
Identificação com Grupos Alternativos (por exemplo, punks, hippies, skatistas). Totalizam-
se 19 itens / grupos para os quais o participante deve indicar em que medida se identifica
com cada um, empregando, para tanto, uma escala de resposta de cinco pontos, definida
pelos seguintes extremos: 0 = Nada identificado a 4 = Totalmente identificado (Anexo IV).
De acordo com Pimentel (2004), as análises efetuadas corroboram a existência de um
único fator em cada escala. A primeira (Identificação com Grupos de Relacionamento) e a
segunda (Identificação com Grupos Alternativos) escalas se mostraram unifatoriais
(agruparam-se os itens com cargas fatoriais ≥ 0,46), explicando 42,2 e 56,4% da variância
total e apresentando Alfas de Cronbach de 0,76 e 0,87, respectivamente. Nesta tese, com o
propósito de compor uma nova versão desta medida, foram acrescentados quatro grupos de
referência (amigos do bairro, primos, tios e avós).
A última parte do livreto, denominada Caracterização da Amostra, consta de
perguntas como sexo, idade e religião, além de dois itens referentes à religiosidade auto-
percebida e à freqüência com que o respondente participa das reuniões de sua religião. O
primeiro item (Em que medida você se considera religioso?) é respondido em uma escala
de cinco pontos, com os extremos 0 = Nada e 4 = Muito, e o segundo (Com que freqüência
você vai às reuniões da sua religião?), por meio de uma escala de freqüência, variando de
0 = Nunca a 7 = Sempre.
3.1.4. Procedimento
Os participantes responderam os questionários individualmente, ainda que em
ambiente coletivo de sala de aula. Os instrumentos foram distribuídos por cinco
aplicadores devidamente instruídos para controlar os fatores que pudessem comprometer as
respostas dos participantes. Na ocasião, as mesmas instruções foram dadas para todos os
respondentes, enfocando-se a possibilidade de dúvidas quanto ao formato de resposta, mas
não em relação ao conteúdo abordado. Enfatizou-se o caráter voluntário da participação e a
171
garantia de que toda informação seria confidencial. O tempo médio de resposta foi de 50
minutos.
3.1.5. Análise dos Dados
Seguindo os objetivos deste estudo, além das estatísticas descritivas (medidas de
tendência central, dispersão e freqüência), foram efetuadas, por meio do SPSS 15, as
seguintes análises: Teste t de Student, análises de componentes principais e consistência
interna (Alfa de Cronbach). A propósito, é preciso indicar que, com a finalidade de
conhecer se a matriz de correlação entre os itens da medida de identificação com grupos
era fatorializável, calcularam-se o índice KMO e o Teste de Esfericidade de Bartlett. O
número de componentes a extrair se pautou na análise paralela. Finalmente, empregou-se o
AMOS 7 para comprovar, por meio de análises fatoriais confirmatórias, a estrutura das
escalas de crenças e práticas religiosas.
Nas análises fatoriais confirmatórias foi considerada a matriz de covariância,
empregando-se o método de estimação ML (Maximum Likelihood). O ajuste dos modelos
foi analisado em função dos seguintes indicadores: (1)
² (Qui-quadrado). Este índice
proporciona um teste de significância do grau em que o modelo se ajusta aos dados,
representando valores altos um ajuste ruim, devendo-se reconhecer que este indicador sofre
bastante influência do tamanho da amostra, podendo não funcionar adequadamente com
amostras grandes (n > 200); (2) Razão
² / gl (graus de liberdade). É considerada uma
bondade de ajuste subjetiva. Ainda que não exista um valor crítico exato para decidir sobre
a adequação ou não do modelo, na prática, são recomendáveis valores entre 2 e 3,
aceitando-se até 5 (Byrne, 1989, 2001); (3) Goodness-of-fit index (GFI). Reflete uma
medida de variabilidade explicada pelo modelo, no qual seus valores podem variar entre
172
zero (ajuste ruim) e um (ajuste perfeito), considerando-se aceitáveis valores de 0,90 ou
mais (Marsh, Hau & Wen, 2004); (4) Comparative fit index (CFI). Para este indicador se
recomenda um valor igual ou superior a 0,90; e (5) Root-mean-square error of
approximation (RMSEA), cujos valores mais próximos de zero sinalizam um ajuste melhor;
são recomendados valores iguais ou inferiores a 0,08, embora se admita até 0,10 como
expressando um ajuste meritório (Joreskög & Sörbom, 1989).
3.2. Resultados
Os objetivos do presente estudo foram estabelecidos em função de algumas
necessidades peculiares de quatro das seis medidas consideradas nesta tese. Para
sistematizar a apresentação dos resultados, as análises necessárias são apresentadas em
quatro subseções.
3.2.1. Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD)
Para atender os objetivos apresentados, buscou-se, inicialmente, selecionar os itens
com maior poder discriminativo, isto é, aqueles com capacidade para diferenciar
respondentes com magnitudes próximas. Neste sentido, estabeleceram-se grupos-critério
internos considerando os participantes com pontuações totais abaixo (grupo inferior) e
acima (grupo superior) da pontuação mediana desta medida (Pasquali, 1997). Mediante o
teste t de Student, foram comparadas as médias do grupo inferior e superior para cada item
do instrumento. Em seguida, efetuaram-se cálculos das correlações item-total corrigidas e,
finalmente, do Alfa de Cronbach tanto para os fatores isolados como o conjunto total de
itens. Os resultados destas análises são resumidos na Tabela 4.
173
Tabela 4. Poder discriminativo, correlação item-total e precisão dos itens do CAD
Item
Grupo Inferior
Grupo Superior
t
r
i.t
Precisão do
item
M
DP
M
DP
Fator I (α = 0,88)
38
1,28
0,75
3,69
2,59
11,20**
0,61
0,88
15
1,95
1,58
4,84
2,86
11,06**
0,54
0,88
30
1,55
0,86
3,82
2,60
10,40**
0,55
0,88
09
1,49
0,84
3,68
2,55
10,24**
0,58
0,88
04
2,07
1,61
4,72
2,87
10,08**
0,48
0,88
37
2,13
1,76
4,82
2,95
9,79**
0,52
0,88
29
1,82
1,41
3,94
2,44
9,42**
0,44
0,88
21
1,92
1,36
4,16
2,79
9,04**
0,51
0,88
18
1,16
0,46
2,62
2,00
8,90**
0,55
0,88
05
1,29
0,86
3,10
2,46
8,73**
0,53
0,88
12
1,71
1,20
3,61
2,63
8,25**
0,47
0,88
28
2,32
1,48
4,39
2,79
8,23**
0,48
0,88
02
1,78
1,33
3,70
2,66
8,08**
0,51
0,88
24
1,97
1,53
3,97
2,81
7,83**
0,45
0,88
34
1,44
1,09
3,12
2,56
7,58**
0,51
0,88
11
1,11
0,40
2,44
2,19
7,49**
0,55
0,88
10
1,34
0,93
2,68
2,12
7,25**
0,47
0,88
35
1,05
0,29
2,04
1,75
6,99**
0,52
0,88
26
1,16
0,43
2,02
1,51
6,83**
0,45
0,88
01
1,46
1,05
2,75
2,26
6,45**
0,52
0,88
Fator II (α = 0,90)
36
1,09
0,45
2,28
2,07
7,03**
0,51
0,90
40
1,05
0,39
2,08
2,12
5,99**
0,45
0,90
08
1,11
0,63
1,89
1,53
5,92**
0,54
0,89
13
1,16
0,80
2,24
2,27
5,65**
0,42
0,90
33
1,03
0,29
1,84
1,90
5,27**
0,46
0,90
20
1,05
0,33
1,65
1,50
4,89**
0,65
0,89
14
1,08
0,51
1,73
1,64
4,79**
0,57
0,89
25
1,01
0,26
1,36
1,01
4,23**
0,72
0,89
27
1,01
0,18
1,46
1,38
4,10**
0,47
0,89
03
1,04
0,39
1,64
1,81
4,10**
0,42
0,90
31
1,01
0,22
1,34
0,99
4,01**
0,68
0,89
16
1,04
0,30
1,40
1,12
3,87**
0,51
0,89
39
1,00
0,16
1,36
1,15
3,86**
0,59
0,89
32
0,99
0,14
1,20
0,76
3,37**
0,69
0,89
06
1,01
0,19
1,31
1,07
3,37**
0,75
0,89
17
1,01
0,19
1,25
0,86
3,34**
0,61
0,89
23
1,01
0,26
1,25
0,90
3,31**
0,70
0,89
22
1,03
0,32
1,28
1,03
2,97*
0,63
0,89
07
1,04
0,30
1,26
0,89
2,96*
0,66
0,89
19
1,03
0,41
1,31
1,12
2,95*
0,67
0,89
Notas: * p < 0,01; ** p < 0,001; r
i.t
= Correlação item-total corrigida; Fator I = Comportamento Anti-social;
Fator II = Comportamento Delitivo.
De acordo com esta tabela, todos os itens desta medida diferenciaram
significativamente (p < 0,01) os indivíduos com alta e baixa pontuações no Questionário
174
de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos. Contudo, analisando os valores t, percebe-se
que, no conjunto, alguns itens são possivelmente mais eficazes para diferenciar os
respondentes que outros. Quanto à homogeneidade, as correlações (r
i.t
) variaram entre 0,44
[Negar-se a fazer as tarefas solicitadas (no trabalho, na escola ou em casa)] e 0,61
[Riscar em lugares proibidos (paredes, mesas, etc.)], no fator I (Comportamento Anti-
social), e entre 0,42 (Gastar freqüentemente no jogo mais dinheiro do que pode) e 0,75
(Roubar roupas de um varal ou objetos dos bolsos de uma roupa pendurada em um
cabide), no fator II (Comportamento Delitivo), porém todas acima do mínimo aceitável
(0,20; Clark & Watson, 1995). Estes valores refletem nos respectivos Alfas de Cronbach,
que foram 0,88 para o primeiro fator e 0,90 para o segundo.
Finalmente, apesar de compreender uma medida adequada dos comportamentos
anti-sociais e delitivos, o CAD é extenso, dificultando sua incorporação em estudos que
consideram múltiplos construtos, como aqueles da presente tese. Neste sentido, procurou-
se reduzi-lo, vendo a pertinência de considerar os dez itens em cada dimensão que se
mostraram mais discriminativos. Feito isso, voltou-se a checar a consistência interna de
cada sub-escala, que apresentou Alfa de Cronbach que cumpre o ponto de corte
estabelecido na literatura (0,70; Nunnally, 1970): Anti-social (α = 0,82) e Delitivo =
0,81). Como estes fatores apresentam-se correlacionados entre si (r = 0,55, p < 0,01),
decidiu-se calcular a consistência interna para o conjunto total de 20 itens, observando-se
um Alfa de 0,86.
3.2.2. Escala de Identificação com Grupos de Referência
Antes de efetuar a análise de Componentes Principais da Escala de Identificação
com Grupos de Referência, procurou-se verificar dois aspectos fundamentais: (1) avaliar, a
partir do índice KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) e do Teste de Esfericidade de Bartlett, se é
possível realizar este tipo de análise estatística com a matriz de correlações entre os itens
desta medida (Tabachnick & Fidel, 2001); e (2) conhecer, por meio de uma análise
175
paralela, a estrutura fatorial (número de fatores) que melhor se ajusta à matriz de
correlações. Ressalta-se que a opção pela análise paralela, frente aos critérios de Kaiser e
Cattell, se justifica por serem estes critérios mais passíveis de imprecisão (Hayton, Allen &
Scarpello, 2004).
Os resultados são favoráveis à realização da análise de componentes principais:
KMO = 0,90 e Teste de Esfericidade de Bartlett,
2
(190) = 2560,89 p < 0,001. Neste
sentido, comprova-se ser esta uma matriz de covariância e não de identidade. Resta,
entretanto, conhecer o número de componentes a reter. Neste caso, como antes foi dito,
realizou-se uma análise paralela. Esta contrasta os eigenvalues (valores próprios) gerados
pela matriz de componentes (observados) com aqueles gerados aleatoriamente (simulados),
em função do tamanho da amostra e do número de itens do instrumento. Cada valor
observado maior que o valor médio resultante das matrizes aleatórias corrobora a
existência do fator. Os resultados desta análise podem ser observados na Tabela 5.
Tabela 5. Análise paralela dos itens do Questionário de Identificação com Grupos de
Referência (n=317)
VALORES PRÓPRIOS
Observados
Simulados
Médios
Percentil 90%
6,76
1,47
1,56
2,56
1,38
1,44
1,28
1,32
1,37
1,02
1,27
1,31
0,86
1,21
1,26
0,81
1,17
1,20
0,75
1,12
1,15
0,73
1,08
1,12
0,63
1,04
1,07
0,60
1,00
1,04
0,55
0,96
1,00
0,53
0,92
0,96
0,47
0,89
0,92
0,46
0,85
0,88
0,43
0,82
0,85
0,37
0,78
0,81
0,34
0,74
0,78
0,31
0,70
0,74
0,29
0,66
0,70
0,25
0,61
0,65
176
Conforme a Tabela 5, parece pertinente extrair dois componentes para o conjunto
dos 20 itens do CAD. Em função disso, procedeu-se a uma análise de Componentes
Principais com rotação varimax, fixando a extração de dois componentes. Os resultados a
respeito são apresentados na Tabela 6.
Tabela 6. Estrutura Componencial da Escala de Identificação com Grupos de Referência
Conteúdo do Item
Componentes
h
2
I
II
Tios (as)
0,74*
0,20
0,59
Primos (as)
0,74*
0,24
0,60
Familiares em geral (tios, primos, etc.)
0,70*
0,24
0,54
Avós
0,68*
0,14
0,48
Companheiros (as) de estudo ou trabalho
0,63*
0,19
0,44
Irmãs (os)
0,63*
0,01
0,40
Amigos (as) em geral
0,62*
0,05
0,39
Amigos (as) do bairro
0,60*
0,30
0,45
Professores (as)
0,60*
0,23
0,41
Vizinhos (as)
0,57*
0,45
0,53
Mãe
0,52*
-0,11
0,28
Pai
0,51*
0,02
0,26
Punks
-0,01
0,82*
0,68
Head Bangers (Metaleiros)
0,04
0,72*
0,52
Skatistas
0,15
0,71*
0,53
Funkeiros
0,17
0,69*
0,50
Hippies
0,07
0,68*
0,47
Skin Heads (Carecas)
0,26
0,67*
0,52
Surfistas
0,35
0,66*
0,56
Namorado (a) ou esposo (a)
0,35
0,17
0,15
Número de Itens
12
7
Valor Próprio
6,76
2,56
% Variância Total Explicada
33,82
12,78
Alfa de Cronbach (α)
0,88
0,85
Nota: * carga fatorial considerada satisfatória 0,40.
Como se verifica, a estrutura bidimensional desta medida parece coerente;
excetuando o item referente à identificação com Namorado (a) ou Esposo (a), todos os
itens apresentam saturações dentro do que foi estabelecido como satisfatório, isto é, igual
ou superior a 0,40. O primeiro componente pode ser adequadamente nomeado como
Grupos Convencionais de Referência, reunindo 12 itens (por exemplo, tios, primos,
177
familiares em geral). Este apresentou valor próprio de 6,76, explicando 33,8% da variância
total; sua consistência interna (alfa de Cronbach) foi 0,88. No caso do segundo
componente, este foi denominado de Grupos Alternativos de Referência, tendo reunido
sete itens (por exemplo, punks, head bangers, skatistas). Seu valor próprio foi 2,56,
correspondendo à explicação de 12,8% da variância total, com consistência interna de 0,85.
3.2.3. Escala de Práticas Religiosas
Antes de efetuar a análise fatorial confirmatória, buscou-se analisar os itens por
meio da correlação item-total corrigida (r
i.t
) e precisão. Neste caso, considerando o valor
do Alfa de Cronbach para o conjunto de itens e a possível alteração deste valor, caso se
exclua o item em apreço. A Tabela 7 apresenta os resultados destas análises.
Tabela 7. Correlação item-total e precisão dos itens da Escala de Práticas Religiosas
Conteúdo dos Itens
r
i.t
Precisão do item
Fator I Prática Católica (α = 0,85)
01. Confesso-me com o padre ou durante a missa.
0,61
0,83
02. Assisto à missa.
0,69
0,81
06. Sigo os conselhos do padre.
0,64
0,82
13. Participo de procissões ou romarias.
0,68
0,82
14. Rezo o terço.
0,66
0,82
15. Benzo-me ao passar em frente à igreja.
0,57
0,84
Fator II - Prática Espírita (α = 0,56)
05. Procuro desenvolver meus dons mediúnicos.
0,39
0,47
07. Tomo água fluidificada (abençoada, purificada).
0,44
0,43
08. Procuro a reforma íntima, reduzir os defeitos e vícios.
0,10
0,65
09. Converso com pessoas que já morreram.
0,39
0,47
16. Leio livros psicografados.
0,35
0,49
Fator III Prática Protestante (α = 0, 65)
03. Dou o dízimo.
0,48
0,60
04. Oro antes das principais refeições.
0,59
0,55
10. Vou aos cultos da igreja.
0,62
0,53
11. Prego o evangelho a outras pessoas.
0,50
0,60
12. Participo de eventos profanos (carnaval, boites, etc)
-0,06
0,78
Nota: r
i.t
= Correlação item-total corrigida.
178
Como se pode observar, a maioria dos itens apresenta homogeneidade satisfatória,
o que reflete nos valores dos Alfas de Cronbach correspondentes a cada fator. Entretanto,
os itens 8 [Procuro a reforma íntima (reduzir os defeitos e vícios)], no Fator II (Prática
Espírita), e 12 [Participo de eventos profanos (carnaval, boites, etc)], no Fator III
(Prática Protestante), contribuem significativamente para a redução da consistência
interna. Portanto, sugere-se a exclusão dos respectivos itens a fim de realizar as próximas
análises. Esta decisão torna o instrumento mais homogêneo, elevando os Alfas de
Cronbach para 0,65 e 0,78 nos fatores II e III, respectivamente. Após estas considerações,
tendo-se em conta que as análises exploratórias do estudo original indicam a pertinência de
estruturar os itens desta medida em três fatores, realizou-se uma análise fatorial
confirmatória para sua comprovação. Neste caso, considerou-se a versão reduzida
composta por 14 itens, resultado das análises prévias. A representação desta estrutura é
apresentada na Figura 5, a seguir.
Figura 5. Estrutura Multifatorial da Escala de Práticas Religiosas
179
O resultado da análise fatorial confirmatória permitiu comprovar a adequação deste
modelo; todas as saturações (lambdas) foram estatisticamente diferentes de zero (z > 1,96,
p < 0,001); a menor saturação (0,41) correspondeu ao item 16 (Leio livros psicografados)
do Fator II (Prática Espírita), sendo a maior (0,76) observada para o item 10 (Vou aos
cultos da igreja) do Fator III (Prática Protestante). O modelo apresentou os seguintes
índices de ajuste: χ² (74) = 186,41, p < 0,001, ² / g.l = 2,52, GFI = 0,92, CFI = 0,92 e
RMSEA = 0,069 (IC90% = 0,06 0,08).
3.2.4. Escala de Crenças Religiosas
De modo análogo ao que ocorreu com a escala anterior, procurou-se realizar
algumas análises preliminares da Escala de Crenças Religiosas e, posteriormente, checar
sua adequação fatorial. Portanto, buscou-se, inicialmente, verificar as correlações item-
total para cada um dos 18 itens que compõem esta medida, como descrito na Tabela 8.
Tabela 8. Correlação item- total e precisão dos itens da Escala de Crenças Religiosas
Conteúdo dos Itens
r
i.t
Precisão
do item
Fator I Crenças católicas (α = 0,89)
02. Imagens de santos devem ser respeitadas.
0,68
0,87
03. Maria, mãe de Jesus, pode interceder entre Deus e o homem.
0,70
0,87
05. É importante fazer a 1ª comunhão.
0,75
0,86
07. As crianças devem ser batizadas preferencialmente ainda bes.
0,66
0,87
09. O Papa é o representante de Deus na terra.
0,69
0,87
16. Os santos atendem às promessas dos fiéis.
0,72
0,86
Fator II Crenças espíritas (α = 0,84)
04. A reencarnação é possível.
0,62
0,82
10. É possível a comunicação com pessoas que já faleceram.
0,64
0,81
11. As pessoas não morrem, desencarnam.
0,64
0,81
13. Existem espíritos mais e menos evoluídos.
0,62
0,81
15. As pessoas sofrem as conseqüências de suas atitudes nas vidas passadas.
0,59
0,82
17. Jesus foi um espírito evoluído que passou pela Terra.
0,61
0,82
Fator III Crenças protestantes (α = 0,60)
01. A vocação para o trabalho é um dom divino.
0,34
0,56
06. É necessário vestir-se de maneira composta.
0,43
0,52
08. Os ensinamentos bíblicos devem ser seguidos à risca.
0,51
0,48
12. Jesus Cristo é o único intercessor entre Deus e o homem.
0,39
0,53
14. Deve-se orar antes das refeições.
0,50
0,50
18. Não se deve adorar imagens.
0,01
0,71
Nota: r
i.t
= Correlação item-total corrigida.
180
Como é possível observar nesta tabela, apenas o item 18 (Não se deve adorar
imagens) do Fator III (Crenças Protestantes) não apresentou homogeneidade satisfatória,
isto é, igual ou superior a 0,20. As correlações item-total mais baixas corresponderam aos
itens deste fator. Porém, mesmo apresentando valores inferiores àqueles encontrados nos
demais fatores, estas correlações se situaram acima do valor previamente mencionado
como aceitável. No que se refere à precisão dos itens, constata-se que, em função de sua
homogeneidade baixa, o item 18 compromete de forma expressiva a consistência interna
do fator Crença Protestante. Portanto, em conformidade com os procedimentos utilizados
na análise da Escala de Práticas Religiosas, optou-se por excluir este item nas próximas
análises.
Após estas análises preliminares, buscou-se conhecer a adequação do modelo que
agrupa os itens em três fatores de crenças correspondentes àqueles teorizados: Católicas,
Espíritas e Protestantes. De acordo com os resultados da análise fatorial confirmatória,
esta estrutura é corroborada de modo satisfatório. As saturações foram estatisticamente
diferentes de zero (z > 1,96, p < 0,001); a menor (0,42) correspondeu ao item 1 (A vocação
para o trabalho é um dom divino) do fator Crenças Protestantes, sendo que as demais
variaram entre 0,51 (É necessário vestir-se de maneira composta) e 0,79 (É importante
fazer a 1ª comunhão), como se pode verificar na Figura 6.
O modelo representado por esta figura apresentou índices de ajuste considerados
adequados, a saber: χ² (116) = 274,49, p < 0,001, ² / g.l = 2,37, GFI = 0,90, CFI = 0,92 e
RMSEA = 0,066 (IC90% = 0,06 0,08). Como é possível observar na Tabela 8, os fatores I
(Crença Católica) e II (Crença Espírita), com seis itens cada, apresentaram consistência
interna (Alfa de Cronbach) de 0,89 e 0, 84, respectivamente; no caso do Fator III (Crença
Protestante), apesar de ter tido um item eliminado, passando a ser formado por cinco itens,
demonstrou Alfa igualmente satisfatório (α = 0,71).
181
Figura 6. Estrutura Multifatorial da Escala de Crenças Religiosas
3.3. Discussão
Como mencionado no princípio deste estudo, o mesmo teve como objetivo
principal analisar aspectos psicométricos específicos de algumas das medidas empregadas.
Concretamente, buscou-se conhecer evidências de consistência interna dos fatores do
Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD; Seisdedos, 1988); reunir
em um único instrumento a Escala de Identificação com Grupos Alternativos e a Escala de
Identificação com Grupos de Referência (Pimentel, 2004; Pimentel & cols., 2005),
conhecendo seus parâmetros psicométricos; e comprovar, por meio de análises fatoriais
confirmatórias, a estrutura teórica da Escala de Crenças Religiosas (Andrade & cols.,
182
2001) e Escala de Práticas Religiosas (Meira & cols., 2001). As considerações acerca
destas medidas são apresentadas a seguir.
3.3.1. Questionários de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD)
No caso do Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (CAD;
Seisdedos, 1988), buscou-se avaliar seus itens por meio de correlações item-total
corrigidas, consistência interna e poder discriminativo. O propósito destas análises foi
selecionar um conjunto de dez itens para cada fator, tendo em conta o não
comprometimento de sua consistência interna e sua eficácia para diferenciar respondentes
com magnitudes próximas nos construtos medidos. Os resultados permitem afirmar que o
objetivo principal aqui foi alcançado, isto é, chegou-se a uma versão abreviada desta
medida, sem comprometer sua consistência interna.
Apesar do que foi comentado anteriormente, não é possível deixar de assinalar
alguns aspectos. Especificamente, como observado, no primeiro fator (Anti-social), os
valores do t de Student foram todos significativos e relativamente mais altos que os
encontrados para o segundo fator (Delitivo). Isso parece coerente, pois, de acordo com as
características da amostra (estudantes), é provável que estes apresentem maior
variabilidade de respostas em comportamentos anti-sociais do que nos delitivos. Outro
aspecto que merece destaque é a redução do conjunto de itens deste instrumento, sem
comprometer sua consistência interna; a diminuição dos Alfas, neste contexto, parece
plenamente justificável em razão da relação inversa existente entre o número de itens e o
valor do Alfa de Cronbach (Pasquali, 1997).
Em resumo, o Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos pode ser
considerado um instrumento adequado (consistência interna), permitindo identificar dois
fatores que, embora correlacionados diretamente entre si, constituem-se em dois construtos
legítimos, facilmente discerníveis em razão do tipo de conduta que expressam: romper
183
normas sociais (comportamentos anti-sociais) ou infringir leis (comportamentos delitivos).
Nesta oportunidade, apresenta-se um instrumento mais parcimonioso, breve, que permite
capturar as mesmas dimensões que a versão original, constituída pelo dobro de itens. A
versão nova favorece seu uso em pesquisas, sobretudo quando se consideram múltiplas
medidas ou se procura realizar um levantamento rápido dos tipos de comportamentos que
avaliam.
3.3.2. Escala de Identificação com Grupos de Referência
De acordo com o que foi proposto, as análises correspondentes a esta medida
pretendiam verificar a estrutura fatorial de um conjunto de itens derivados de dois
instrumentos específicos, além de ter em conta itens que foram adicionados. Isso foi
plenamente cumprido. Como foi possível comprovar, as medidas utilizadas por Pimentel
(2004) podem ser agrupadas em um único instrumento bifatorial, como propunha
inicialmente Vasconcelos (2004); estas modificações não comprometeram seus parâmetros
psicométricos. Somente o item referente à identificação com Namorado (a) ou Esposo (a)
apresentou carga fatorial abaixo do ponto de corte estabelecido (isto é, |0,40|).
Provavelmente, este aspecto deve-se à instabilidade dos níveis de relacionamento da
amostra, que é relativamente jovem, muitas vezes não tendo um relacionamento fixo que
possa ser denominado de namorado(a) ou esposo(a). Portanto, isso torna a identificação
difícil, pois nem sempre um referencial a ser considerado na hora da resposta. Pode-se
conjeturar que, se contemplar pessoas de maior idade e casadas certo tempo, este item
poderia ser mais pertinente. Contudo, isso demanda comprovação em estudo futuro.
Analisando os demais itens, verifica-se que, em cada dimensão, saturaram aqueles
cujos conteúdos são coerentes como o que se estabelece teoricamente. Portanto, o Fator I
(Grupos Convencionais de Referência) agrupa itens considerados por Pimentel (2004)
como referentes a grupos de relacionamento. No entanto, deve-se destacar que este fator
184
reúne grupos ou pessoas que se inserem no contexto micro-social dos indivíduos,
traduzindo, sobretudo, a socialização primária, proporcionada por tios, primos, avós e
familiares em geral. Tais grupos, de acordo com as teorias do controle social (Hirschi,
1969), inserem-se fundamentalmente em modelos de papéis convencionais. Não obstante
tenha Pimentel (2004) reconhecido estes grupos como convencionais, decidiu denominá-
los como “grupos de relacionamento”, o que parece não descrever precisamente seu
conteúdo semântico, principalmente porque os demais grupos ou pessoas também se
configuram como de relacionamento no cotidiano dos jovens. Neste sentido, sugeriu-se
denominá-lo mais especificamente como Grupos Convencionais de Referência, o que é
claramente diferente de Grupos Alternativos de Referência (Fator II).
Resumindo, comprovou-se a adequação de considerar conjuntamente duas escalas
empregadas previamente por Pimentel (2004) para se referir à identificação grupal dos
jovens. Basicamente, tais medidas foram identificadas no presente estudo, configurando os
dois fatores deste construto: grupos convencionais de referência e grupos alternativos de
referência. Estes últimos, de acordo com a literatura e os achados deste autor, favorecem
os comportamentos anti-sociais e delitivos, não sendo de interesse principal desta tese.
Portanto, a ênfase, nesta oportunidade, recai no primeiro fator, isto é, identificação com
grupos convencionais de referência, que, presumivelmente, funciona como um fator
inibidor (proteção) de comportamentos socialmente desviantes (Coelho Júnior, 2001). Sua
medida apresentou evidências de validade fatorial e consistência interna, justificando que
seja empregada em pesquisas futuras.
3.3.3. Escalas de Crenças e Práticas Religiosas
Consideraram-se duas medidas independentes de religiosidade: Escala de Crenças
Religiosas e Escala de Práticas Religiosas. Inicialmente, a análise destes instrumentos
consistiu em verificar sua consistência interna, por meio da Alfa de Cronbach, e a
185
homogeneidade dos seus itens. Posteriormente, testaram-se as estruturas teóricas
correspondentes, que assumiram três fatores (católicos, protestantes e espíritas) tanto para
crenças como práticas religiosas. Devido à semelhança das análises efetuadas e dos
resultados encontrados, decidiu-se considerar conjuntamente as discussões referentes a
estas duas medidas.
Em termos dos aspectos mais relevantes destas escalas, destaca-se a necessidade de
excluir alguns itens em função de sua pouca homogeneidade. Contudo, verificou-se que tal
procedimento não as comprometeu; pelo contrário, contribuiu para elevar a confiabilidade
(consistência interna), pois os Alfas, após a exclusão de determinados itens, se mostraram
mais altos. Este procedimento foi adotado para o Fator III (Crença Protestante) da Escala
de Crenças Religiosas, bem como nos fatores II (Crença Espírita) e III (Crença
Protestante) da Escala de Prática Religiosa.
Com relação às análises fatoriais confirmatórias, os resultados apóiam a coerência
do modelo teórico, que conjetura a existência de três fatores para os dois instrumentos; os
índices de ajuste observados atendem ao que tem sido considerado apropriado na literatura
(Byrne, 2001; Marsh, Hau & Wen, 2004), sugerindo a adequação de diferenciar as crenças
e práticas católicas, espíritas e protestantes.
Finalmente, a especificidade destas medidas deve também ser olhada com algum
ceticismo; estes instrumentos têm se limitado a mensurar crenças e práticas de três
religiões singulares, que, embora possam predominar no país, não apreendem o significado
último deste construto na população brasileira (IBGE, 2000). Não obstante esta limitação,
a utilidade de tais escalas é patente, sobretudo quando os outros grupos religiosos são
menos proeminentes. Ademais, como previamente mencionado no marco teórico, a
pretensão nesta tese não é trabalhar com indicadores isolados de religiosidade, mas compor
186
um índice geral de compromisso religioso, que considera estas duas medidas, mas não se
limita a elas; este empreendimento é descrito com mais detalhe no Estudo 2.
187
4
4
.
.
E
E
S
S
T
T
U
U
D
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2
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R
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l
i
i
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g
i
i
o
o
s
s
o
o
188
A elaboração de um Índice de Compromisso Religioso (ICR), apesar de não ser
objetivo último desta tese, assume papel relevante neste contexto. Como mencionado no
Capítulo 2, a religião e a religiosidade podem ser definidas sob diferentes perspectivas, o
que tem dificultado obter consenso acerca da direção e magnitude das correlações destas
variáveis com outras nas diversas pesquisas que têm sido realizadas. Neste sentido, uma
alternativa viável refere-se à construção de um índice que envolva diferentes variáveis
relacionadas com a religião e/ou a religiosidade. Para a consideração destas variáveis,
alguns aspectos devem ser observados, dentre os quais, destacam-se: a possibilidade de se
contemplar indivíduos pertencentes ou não a grupos religiosos, a avaliação de crenças e
práticas peculiares à religião de pertença das pessoas e o tempo dedicado às atividades
relacionadas à religião.
Em função destas considerações, buscou-se verificar que variáveis poderiam ser
contempladas como indicadoras do compromisso religioso. A primeira variável
considerada se referiu à religiosidade auto-percebida; em termos específicos, reconhece-se
que apesar de algumas pessoas confessarem não ter uma religião específica, elas tendem a
assumir algum nível de religiosidade. Outro aspecto envolveu crenças e práticas religiosas
específicas das religiões ou seguimentos religiosos; indivíduos com comprometimento
religioso alto tendem a conhecer o sistema de crenças de seu grupo e apresentar coerência
entre tais crenças e suas práticas. Conseqüentemente, as pessoas comprometidas com a
religião costumam ser fiéis na participação em reuniões e eventos ligados ao seu grupo
religioso. Seguramente, deve existir uma série de outras variáveis que envolvem direta ou
indiretamente a religião e/ou a religiosidade. Contudo, como o foco nesta oportunidade se
concentra de modo específico no compromisso religioso, assume-se que estes indicadores
descrevem satisfatoriamente tal construto. Neste sentido, este estudo tem como objetivo
189
principal construir um Índice de Compromisso Religioso (ICR) que contemple a
participação, a religiosidade auto-percebida, as práticas e as crenças religiosas.
No caso concreto da construção do ICR, seguiu-se o procedimento que tem sido
amplamente empregado pelas Nações Unidas e Organização Mundial da Saúde para a
elaboração de diversos índices, como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
(Sliwiany, 1997; Ugá & cols., 2001). Portanto, fixaram-se valores teóricos mínimo e
máximo, de acordo com a escala de resposta e/ou pontuação total em cada medida,
transformando a pontuação bruta de cada participante, de modo a obter para cada indicador
um valor variando de 0 (escasso compromisso religioso) a 1 (total compromisso religioso).
4.1. Método
4.1.1. Delineamento
Tratou-se de uma pesquisa correlacional, isto é, ex post facto, tendo sido
considerados quatro indicadores de religião e/ou religiosidade informados pelos
participantes do estudo.
4.1.2. Amostra
Contou-se com a participação de 194 pessoas com idade média de 18,4 anos (DP =
6,24; amplitude 10 a 43 anos), a maioria do sexo feminino (67,5%) e participante das
religiões católica (48,2%) e protestante (40,9%); alguns se confessaram espíritas (3,1%) e
outros se denominaram sem afiliação religiosa (7,3%). Esta amostra foi de conveniência,
isto é, não-probabilística, tendo participado as pessoas que, solicitadas, concordaram em
colaborar com a pesquisa. O contato com os participantes foi realizado em escolas das
redes de ensino público e privado, bem como em reuniões de grupos religiosos. Nesta
amostra, foram desconsiderados os participantes que deixaram de responder pelo menos a
190
duas das medidas, responderam utilizando escala diferente das propostas no estudo, e/ou
apresentaram idade abaixo de 10 anos.
4.1.3. Instrumentos
Os participantes responderam um livreto composto pelo mesmo conjunto de
medidas utilizado no estudo anterior. Entretanto, no presente caso foram incluídas duas
medidas específicas, cujos parâmetros psicométricos foram relatados no Estudo 1:
Escala de Práticas Religiosas (Meira & col., 2001). Considerou-se um versão
composta por 14 itens, distribuídos entre práticas católicas (6 itens; por exemplo, Rezo o
terço; Assisto à missa), espíritas (4 itens; por exemplo, Leio livros psicografados; Procuro
desenvolver meus dons mediúnicos) e protestantes (4 itens; por exemplo, Prego o
evangelho para outras pessoas; Dou o dízimo). Todos os itens são respondidos em escala
de cinco pontos, do tipo Likert, com os seguintes extremos: 1 = Nunca e 5 = Sempre
(Anexo II).
Escala de Crenças Religiosas (Andrade & cols., 2001). Esta medida, após o Estudo
1, ficou composta por 17 itens, que contemplam crenças católicas (6 itens; por exemplo,
Imagens de santos devem ser respeitadas; É importante fazer a primeira comunhão),
espíritas (6 itens; por exemplo, É possível a comunicação com pessoas que faleceram;
Jesus foi um espírito evoluído que passou pela terra) e protestantes (5 itens; por exemplo,
A vocação para o trabalho é um dom divino; Jesus Cristo é o único intercessor entre Deus
e o homem). Com o fim de respondê-los, o participante utiliza uma escala de sete pontos,
do tipo Likert, com os seguintes extremos: 1 = Discordo totalmente e 7 = Concordo
totalmente (Anexo III).
Finalmente, além dos itens para caracterização da amostra (por exemplo, sexo,
idade, estado civil), foram consideradas as seguintes perguntas: Em que medida você se
considera religioso? e Com que freqüência você vai às reuniões da sua religião? A
191
primeira deveria ser respondida em uma escala de cinco pontos, variando de 0 = Nada a 4
= Muito, e a segunda por meio de uma escala de freqüência, variando de 0 = Nunca a 7 =
Sempre.
4.1.4. Procedimento
A aplicação dos instrumentos foi realizada em escolas e reuniões religiosas de
grupos católicos e protestantes. Esta coleta contou com a colaboração de quatro bolsistas
de Iniciação Científica, que foram devidamente instruídos para controlar fatores que
poderiam comprometer as respostas dos participantes, evitando dar esclarecimentos de
conteúdo das medidas; estas eram todas auto-aplicáveis. A todos os respondentes foi
informado que: (a) sua participação seria voluntária; (b) não seria necessária sua
identificação; e (c) que o anonimato das informações obtidas seria assegurado, explicando
que todos os dados seriam tratados estatisticamente no seu conjunto. Para esta aplicação foi
necessário um tempo médio de 40 minutos.
4.1.5. Análise dos Dados
Utilizando o programa SPSS 15, calcularam-se inicialmente estatísticas descritivas
(média, desvio padrão, distribuição de freqüência). Em seguida, efetuaram-se
transformações lineares de variáveis, análise de componentes principais e lculo da
consistência interna (Alfa de Cronbach, ) para o índice (componente) resultante.
4.2. Resultados
Prévia a elaboração do ICR, realizaram-se três passos principais. Primeiro, em
razão do Estudo 1, eliminaram-se os itens 8 do fator II (espírita) e 12 do fator III
(protestante) da Escala de Práticas Religiosas, e o item 18 do terceiro fator (protestante)
da Escala de Crenças Religiosas. Segundo, nos casos em que os respondentes confessaram
192
não ter religião ou indicaram pertencer a grupos religiosos minoritários (por exemplo,
judeu, mórmon, testemunha de Jeová), atribuíram-se constantes para tais medidas. No
primeiro caso, fixou-se o valor 1; no segundo, as constantes corresponderam às medianas
teóricas das escalas de resposta, isto é, 3 e 4 para as medidas de práticas e crenças
religiosas, respectivamente. Finalmente, criaram-se pontuações totais de crenças e práticas
religiosas em função da religião do participante. Especificamente, em se tratando dos
católicos, foram consideradas unicamente as médias correspondentes aos fatores “práticas
católicas” e “crenças católicas”; o mesmo procedimento foi realizado para os espíritas e os
protestantes. Lembrando, os que não indicaram pertencer a qualquer grupo religioso
receberam a pontuação mínima (1), enquanto os que pertenciam a outros grupos menos
predominante receberam as pontuações medianas 3 (práticas) e 4 (crenças).
Sumarizando o antes descrito, criaram-se duas pontuações de compromisso
religioso (crenças e práticas), independentemente da religião do respondente. Além destas
pontuações, tiveram-se em conta as respostas a duas outras variáveis: auto-percepção
acerca do quanto se considera religioso (escala de resposta de 0 = Nada a 4 = Muito) e
freqüência de participação às reuniões da religião confessada (escala de resposta de 0 =
Nunca a 7 = Sempre). Como estas variáveis apresentam métricas diferentes, decidiu-se
padronizá-las, criando sub-índices de compromisso religioso, admitindo a seguinte
equação:
Sub-índice =
X - V
min
V
max -
V
min
Onde:
X = Pontuação bruta (real)
V
max
= Pontuação máxima na escala de resposta (teórica)
V
min
= Pontuação mínima na escala de resposta (teórica)
193
Calculados os quatro sub-índices, parecia indispensável reunir provas de que
representavam um mesmo construto latente, cujo marco teórico sugeria nomeá-lo como
compromisso religioso. Contudo, previamente comprovou-se a possibilidade de realizar
este tipo de análise com o banco de dados tido em conta. Neste caso, os indicadores
favorecem pensar na adequação de extrair ao menos um componente: KMO = 0,74 e Teste
de Esfericidade de Bartlett, ² (6) = 247,93, p < 0,001. Restaria, entretanto, checar quantos
componentes extrair; o critério de Kaiser pareceu suficiente, indicando a existência de um
único valor próprio (eigenvalue) maior do que 1. Portanto, esperar-se-ia identificar um
único componente interpretável, conforme foi previamente assinalado. Os resultados a
respeito podem ser vistos na Tabela 9 a seguir.
Tabela 9. Estrutura componencial do Índice de Compromisso Religioso
Sub-índice
Saturação
Saturação
Religiosidade auto-percebida
0,87*
0,76
Freqüência às reuniões religiosas
0,87*
0,76
Crença religiosa
0,78*
0,61
Prática religiosa
0,69*
0,48
Valor Próprio
2,60
% Variância Total Explicada
65,00
Número de itens / sub-índices
4
Alfa de Cronbach
0,81
Notas: * saturação considerada satisfatória (|0,40|); h² = comunalidade.
Como é possível constatar nesta tabela, todos os itens (sub-índices) apresentaram
saturações que superaram o ponto de corte mais exigente da literatura, isto é, |0,40|.
Considerando que se trata de um único componente, as saturações podem ser consideradas
coeficientes de correlação (r de Pearson), possibilitando calcular, em razão do tamanho da
amostra e da magnitude dos coeficientes, se estes são estatisticamente diferentes de zero, o
que é corroborado (p < 0,001). O valor próprio deste componente foi de 2,60, explicando
65% da variância total na medida. Além disso, apesar de reunir unicamente quatro itens,
este índice apresentou consistência interna elevada ( = 0,81).
194
Em resumo, parece existirem evidências empíricas suficientes que favorecem
pensar na possibilidade de contar com um Índice de Compromisso Religioso. Este reúne
diferentes dimensões (ou sub-índices) de religiosidade, representando uma medida enxuta,
breve e independente da religião do participante. Considerando que as saturações de tais
sub-índices são elevadas, não diferenciando substancialmente entre elas, decidiu-se não
ponderar a importância de cada um, admitindo pesos idênticos. Neste sentido, o ICR
representou a média dos quatro sub-índices, apresentando pontuações empíricas variando
de 0,13 (religiosidade baixa) a 0,98 (religiosidade alta).
4.3. Discussão
O propósito deste estudo foi construir um índice de compromisso religioso que
satisfizesse a três critérios implícitos específicos: validade, precisão e parcimônia. Em
função dos resultados, estima-se que este tenha sido satisfatoriamente alcançado. Como
especificado no Capítulo 2, em diversas pesquisas a religiosidade ou o compromisso
religioso tem sido mensurado por uma diversidade de indicadores (Dalgalarrondo & cols.,
2004). No entanto, na maioria destas pesquisas tais indicadores são considerados de forma
isolada, e naquelas em que se agrupam múltiplas variáveis os resultados são analisados a
partir de pontuações médias sem apresentar qualquer critério de validade e precisão. Neste
sentido, os procedimentos aqui adotados sugerem alguns avanços importantes.
Inicialmente, cabe ressaltar que não foi encontrada na literatura brasileira qualquer
medida ou índice que contemple o compromisso religioso por meio de diferentes variáveis.
Portanto, a apresentação deste índice, além de trazer contribuições específicas no âmbito
da presente tese, poderá auxiliar novos estudos acerca deste construto. Este aspecto pode
ser assegurado, sobretudo, por ser esta uma medida curta, aplicável a indivíduos de
diferentes segmentos religiosos e, inclusive, às pessoas que confessam não ter religião.
195
Como se observa, seus parâmetros psicométricos são considerados bastante aceitáveis. A
estrutura fatorial identificada foi coerente com o esperado, ou seja, que os sub-índices
considerados em conjunto pudessem representar adequadamente a dimensão latente do
compromisso religioso; esta interpretação se torna mais inequívoca quando se observa a
variância explicada por este componente. Com relação à precisão, pode-se considerar que o
ICR apresentou consistência interna (Alfa de Cronbach) bastante satisfatória, uma vez que,
mesmo sendo composto por apenas quatro itens, seu Alfa foi consideravelmente superior
ao valor comumente proposto na literatura como ponto de corte (0,70; Nunnally, 1991).
Como se pode observar, os resultados encontrados reúnem evidências para as
conclusões referentes à parcimônia, validade e precisão do ICR. No entanto, ao menos duas
possíveis limitações deste estudo devem ser reconhecidas. A primeira diz respeito à
amostra que, por ser de conveniência (não-probabilística), não permite a generalização dos
resultados; e a segunda refere-se à pouca representatividade de alguns grupos religiosos e a
especificidade das religiões contempladas nas escalas de crenças e práticas religiosas.
Apesar disso, o ICR pode ser adequadamente utilizado nos estudos subseqüentes desta tese,
uma vez que estes não objetivam a generalização de resultados. Quanto à pouca
representatividade de alguns grupos religiosos, segundo o IBGE (2000), no Brasil observa-
se a seguinte distribuição: católicos (73,6%), protestantes (15,4%), espíritas (1,3%),
umbandistas (0,3%), pessoas de outras religiões (1,8%) e que confessam não ter religião
(7,4%,). Neste sentido, a amostra contemplada não discrepa tanto da realidade deste país.
Em síntese, para o fim que se propõe nesta tese, o ICR atende aos objetivos de modo
satisfatório. Este índice será, portanto, utilizado nos Estudo 3 e 4 apresentados a seguir.
196
5
5
.
.
E
E
S
S
T
T
U
U
D
D
O
O
3
3
T
T
e
e
s
s
t
t
e
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d
a
a
s
s
H
H
i
i
p
p
ó
ó
t
t
e
e
s
s
e
e
s
s
197
Este estudo teve como objetivo principal comprovar as hipóteses acerca dos
antecedentes do comportamento anti-social, e como este se associa com o comportamento
delitivo. Pretendeu-se, finalmente, estruturar um modelo explicativo destes
comportamentos (anti-sociais e delitivos), reunindo as primeiras evidências sobre sua
adequação. Descrevem-se a seguir o método e os resultados correspondentes.
5.1. Método
5.1.1. Delineamento e Hipóteses
O presente estudo se pauta em delineamento do tipo correlacional, de natureza ex
post facto, considerando dois conjuntos principais de variáveis: critério (comportamentos
anti-sociais e delitivos) e antecedentes (valores sociais normativos, compromisso religioso,
percepção dos estilos parentais autoritativos e identificação com grupos convencionais de
referência). Tomando como referência o marco teórico (Capítulos 1 e 2) e levando em
conta os objetivos anteriormente mencionados, foram formuladas as seguintes hipóteses:
Hipótese 1.
As pontuações nos valores normativos se correlacionarão negativamente
com aquelas em comportamentos anti-sociais.
Hipótese 2.
As pontuações no compromisso religioso se correlacionarão negativamente
com as apresentadas em comportamentos anti-sociais.
Hipótese 3.
As pontuações na medida de identificação com grupos convencionais de
referência se correlacionarão negativamente com aquelas em
comportamentos anti-sociais.
Hipótese 4.
As pontuações no estilo parental autoritativo se correlacionarão
negativamente com as obtidas em comportamentos anti-sociais.
Hipótese 5.
As pontuações nos comportamentos anti-sociais se correlacionarão
diretamente com aquelas da medida de comportamentos delitivos.
198
5.1.2. Amostra
Participaram desta pesquisa 528 estudantes dos ensinos fundamental (38,4%),
médio (38,5%) e superior (22,9%), distribuídos entre instituições de ensino público
(52,8%) e privado (47,2%). Estes apresentaram idade média de 15,5 anos (DP = 3,24;
amplitude de 10 a 22 anos), sendo a maioria do sexo feminino (63,1%). Quanto à religião,
61,4% deles se confessaram católicos, 24,1% evangélicos, 8,1% sem religião e 6,4%
disseram-se espíritas ou pertencentes a outros grupos religiosos (por exemplo, mórmon,
budista, judeu). Esta amostra foi de tipo intencional ou de conveniência (não-
probabilística), considerando as pessoas que, convidadas, concordaram em participar do
estudo. Do mesmo modo que nos estudos anteriores, foram excluídos da amostra os
participantes que deixaram ao menos duas medidas sem responder, utlizaram escalas de
resposta diferentes daquelas apresentadas nos instrumentos e eram menores de 10 anos.
5.1.3. Instrumentos
Os participantes responderam, além das medidas apresentadas nos estudos
anteriores, os seguintes instrumentos:
Questionário de Valores Básicos QVB (Gouveia (1998, 2003). Este instrumento é
composto por 18 itens (valores básicos), distribuídos em seis sub-funções psicossociais:
experimentação (emoção, prazer e sexual), realização (êxito, poder e prestígio), existência
(estabilidade pessoal, saúde e sobrevivência), suprapessoal (beleza, conhecimento e
maturidade), interacional (afetividade, apoio social e convivência) e normativa
(obediência, religiosidade e tradição). Para respondê-lo, o participante deve ler a lista de
valores e indicar em que medida cada um deles é importante como um princípio que guia
sua vida. Para tanto, utiliza uma escala de resposta com os seguintes extremos: 1 =
Totalmente não Importante e 7 = Totalmente Importante (Anexo V). De acordo com as
199
análises fatoriais confirmatórias efetuadas por Gouveia (2003), este instrumento apresenta
índices de bondade de ajuste satisfatórios:
2
/g.l = 2,67, GFI = 0,91, AGFI = 0,89 e
RMSEA = 0,05; sua consistência interna (Alfa de Cronbach) média foi de 0,51 para o
conjunto das seis sub-funções.
Escala de Percepção dos Pais (Schneider, 2001). Adaptada do Questionário de
Percepção dos Pais QPP (Pasquali & Araújo, 1986), esta escala dividi-se em duas
versões que avaliam separadamente a percepção do respondente com relação a seu pai e
sua mãe. Cada versão compõe-se de 20 itens, dez expressando a percepção de afetividade
(por exemplo, Fica feliz de me ver quando volto da escola ou de um passeio; Consola-me
quando estou com medo) e os demais de disciplina, autoridade (por exemplo, Acha que
deve me castigar para me corrigir e melhorar; Fica sempre me lembrando das coisas que
não posso fazer). Estes são respondidos por meio de uma escala de sete pontos, variando
de 1 = Nada Aplicável a 7 = Totalmente Aplicável. A versão para o pai (Anexo VI)
apresentou índices de consistência interna (Alfa de Cronbach) de 0,86 e 0,77 para os
fatores afetividade e autoridade, respectivamente; resultados semelhantes foram
observados para a versão da e (Anexo VII): 0,85 e 0,73, respectivamente. O cruzamento
das duas dimensões propostas por esta medida, em função da mediana empírica de sua
pontuação total, origem a quatro estilos de socialização parental: autoritário,
corresponde ao afeto baixo e à autoridade alta; negligente, afeto e autoridade baixos;
autoritativo, afeto e autoridade altos; e permissivo, que envolve o afeto alto e a autoridade
baixa.
Caracterização da Amostra. Esta página atendeu ao mesmo padrão do Estudo 1 e
Estudo 2. No caso do compromisso religioso, consideraram-se as seguintes perguntas: Em
que medida você se considera religioso? (respondida em uma escala de cinco pontos: 0 =
Nada religioso a 4 = Totalmente religioso); e Com que freqüência você vai às reuniões da
200
sua religião? (respondida numa escala de oito pontos, variando de 0 = Nunca a 7 =
Sempre). Finalmente, perguntou-se qual a religião do participante.
5.1.4. Procedimento
Como nos demais estudos, os participantes responderam os questionários
individualmente, ainda que em ambiente coletivo de sala de aula. Os instrumentos foram
distribuídos por seis aplicadores (dois homens e quatro mulheres), devidamente instruídos
para controlar os fatores que pudessem comprometer as respostas. Na ocasião, as mesmas
instruções foram dadas para todos os respondentes, sendo enfatizado o caráter voluntário
da participação e a garantia de que toda informação era confidencial. O tempo médio
utilizado para preencher o instrumento foi de, aproximadamente, 50 minutos.
5.1.5. Análise dos dados
Além das estatísticas descritivas (medidas de dispersão e tendência central), foram
empregadas correlações r de Pearson para testar as hipóteses acerca das relações entre as
variáveis antecedentes (valores normativos, compromisso religioso, percepção do estilo
parental autoritativo e identificação com grupos convencionais de referência) e critérios
(comportamentos anti-sociais e delitivos). Estas análises foram efetuadas por meio do
SPSS 15. Com o fim de estruturar o modelo explicativo dos comportamentos socialmente
desviantes e reunir evidências acerca da sua adequação, decidiu-se utilizar o AMOS 7. No
caso, considerou-se a matriz de covariância como entrada, tendo sido empregado o
estimador ML (Maximum Likelihood); os mesmos indicadores de ajuste adotados no
Estudo 1 foram considerados nesta oportunidade.
201
5.2. Resultados
Inicialmente, procurou-se testar as cinco hipóteses previamente apresentadas. Neste
caso, embora o conjunto de hipótese se restrinja aos antecedentes dos comportamentos
anti-sociais e delitivos, com o fim de oferecer ao leitor um quadro completo de como se
relacionam as múltiplas variáveis deste estudo, apresentam-se na Tabela 10 os resultados
com todos os pares de variáveis de interesse.
Tabela 10. Correlatos dos Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (n = 528)
1. Anti-social
2. Delitiva
0,58**
3. Compromisso Religioso
-0,24**
-0,17**
4. Estilo Autoritativo
-0,11**
-0,08*
0,20**
5. Grupos convencionais
-0,16**
-0,11**
0,20**
0,24**
6. Valores normativos
-0,33**
-0,30**
0,46**
0,31**
0,28**
1
2
3
4
5
Notas: * p < 0,01, ** p < 0,001 (teste uni-caudal; eliminação por pares de itens em branco).
A primeira hipótese alternativa (Hipótese 1) estabelecia que os participantes que
pontuassem alto nos valores normativos apresentariam pontuações baixas em
comportamentos anti-sociais (correlação negativa). Este foi exatamente o resultado
observado (r = -0,33, p < 0,001), corroborando a referida hipótese.
De acordo com a Hipótese 2, os participantes que pontuassem alto no índice de
compromisso religioso obteriam menores pontuações nos comportamentos anti-sociais.
Isso pôde ser constatado (r = -0,24, p < 0,001), o que corrobora a citada hipótese.
No caso da Hipótese 3, afirmava-se que as pontuações na medida de identificação
com grupos convencionais de referência estariam correlacionadas negativamente com
aquelas na medida de comportamentos anti-sociais. Como é possível observar na tabela
anteriormente apresentada, foi exatamente isso que ocorreu (r = -0,16, p < 0,001), o que
confirma esta hipótese.
202
A penúltima hipótese (Hipótese 4) indicava que seria esperada uma correlação
negativa entre as pontuações no estilo parental autoritativo dos pais, como percebido por
seus filhos, e as pontuações destes na medida de comportamentos anti-sociais. Embora não
muito forte, a correlação observada foi significativa e na direção esperada (r = -0,11, p <
0,001). Portanto, corrobora-se esta hipótese.
Finalmente, enquanto as hipóteses anteriores procuram relacionar variáveis sociais
e afetivas com os comportamentos anti-sociais (Hipóteses 1 a 4), indicando aquelas como
inibidoras destes, a Hipótese 5 estimou uma correlação positiva entre tais comportamentos
e aqueles medidos como delitivos. Este resultado foi corroborado no presente estudo (r =
0,58, p < 0,001).
Em resumo, todas as hipóteses alternativas foram corroboradas. Portanto, os
resultados pareceram consistentes com o que indica a literatura. Não obstante,
consideraram-se pares de variáveis e foram efetuadas apenas estatísticas exploratórias.
Deste modo, demanda-se testar a hipótese geral de compromisso convencional e afiliação
social, isto é, o modelo que pode ser derivado do marco teórico ainda não foi posto à
prova. Neste sentido, procedeu-se a uma análise confirmatória por meio de modelagem por
equações estruturais, tomando como referência o modelo descrito na Figura 7 a seguir.
Figura 7. Modelo Explicativo (Causal) de Comportamentos Socialmente Desviantes
203
Conforme esta figura, o construto compromisso convencional e afiliação social é
representado por quatro indicadores (variáveis observadas): identificação com grupos
convencionais, percepção do estilo parental autoritativo, índice de compromisso religioso
e sub-função dos valores normativos. Estes podem ser compreendidos como fatores
inibidores (de proteção) dos comportamentos socialmente desviantes. Especificamente,
influenciam negativamente a manifestação de comportamentos anti-sociais e estes, por sua
vez, tenderão a levar a comportamentos delitivos. A análise do modelo contemplou
inicialmente a percepção do estilo parental autoritativo do pai e, em seguida, da mãe. Os
indicadores de ajuste do modelo considerando a percepção do pai foram os seguintes: GFI
= 0,98, AGFI = 0,94, CFI = 0,94 e RMSEA = 0,079 (IC90% = 0,055-0,106). No entanto, o
modelo parece ajustar-se melhor quando considerada a percepção do estilo autoritativo da
mãe, o que se confirma por meio dos indicadores: GFI = 0,99, AGFI = 0,98, CFI = 0,99 e
RMSEA = 0,039 (IC90% = 0,000-0,069). É importante mencionar que todos os pesos de
regressão são padronizados, tendo sido estatisticamente diferentes de zero (z > 1,96, p <
0,05). Finalmente, os parâmetros deste modelo são mostrados na Figura 8.
Figura 8. Evidências Empíricas do Modelo de Comportamentos Socialmente Desviantes
204
5.3. Discussão
De acordo com a revisão apresentada na primeira parte desta tese (marco teórico),
dentre as principais variáveis apontadas como fatores de proteção frente à possibilidade de
um jovem envolver-se em comportamentos anti-sociais, estão os valores normativos, o
estilo educativo parental autoritativo, a identificação com grupos convencionais de
referência e o compromisso religioso. Esperava-se que estas variáveis se apresentassem
positivamente correlacionadas entre si e negativamente com os comportamentos anti-
sociais. Os resultados foram consistentes com esta expectativa; como se observou, todas as
hipóteses foram confirmadas de modo compatível com a literatura, o que permitiu
estruturar um modelo explicativo (causal), conforme proposto nos objetivos. No entanto,
antes de comentar especificamente este modelo, torna-se imprescindível discutir cada uma
das hipóteses confirmadas.
A primeira hipótese versou sobre a correlação negativa entre os valores normativos
e os comportamentos anti-sociais. O resultado observado neste e em outros estudos
permitiu sugerir tais valores como efetivamente “contrários à apresentação de
comportamentos desviantes. Por exemplo, nas pesquisas realizadas por Coelho Júnior
(2001), Formiga (2002), Pimentel (2004) e Vasconcelos (2004), que consideraram as
prioridades de valores representados pela sub-função normativa (Gouveia & cols., 2008),
foram observados resultados convergentes com os descritos nesta oportunidade. Podendo-
se, portanto, considerar a adesão a tais valores como uma espécie de “cinturão” ou
“escudo” de proteção que impede os jovens de se desviarem de normas sociais (Formiga,
2002).
As pessoas que priorizam valores normativos comumente apresentam
comportamentos mais adaptativos, conformam-se às normas sociais, seguem as leis e
tradições de seu país e buscam manter o respeito pelos mais velhos, sobretudo, os pais
205
(Gouveia & cols., 1998; Gouveia, 2003). Coerente com o que postula a teoria do controle
social (Hirschi, 1969), os valores normativos apresentam-se em todos esses estudos como
promotores do status quo (convencionalismo, conformidade, tradição), o que implica no
fortalecimento de vínculos com a sociedade convencional. Neste sentido, a confirmação da
Hipótese 1 reforça a coerência de se incluir este construto no modelo explicativo proposto;
ressalta-se que, do conjunto de variáveis consideradas, os valores normativos
apresentaram, consistentemente, as correlações mais fortes com a dimensão compromisso
convencional e afiliação social.
A Hipótese 2 sugeriu que o comportamento anti-social estaria negativamente
correlacionado com o compromisso religioso. A confirmação desta hipótese segue na
direção das publicações mais recentes sobre o tema (Baier & Wrigth, 2001; Johnson &
cols., 2000). Se considerada a forma como o compromisso religioso foi avaliado neste
estudo (um índice que apreende aspectos distintos da religiosidade), os resultados podem
ser interpretados como ainda mais consistentes. Com efeito, a correlação positiva entre as
variáveis que compõem esta hipótese a corrobora. O fato de os valores normativos se
correlacionarem com o compromisso religioso pode ser compreendido como um critério
externo que referenda a pertinência teórica dos resultados.
De acordo com os proponentes de duas das tipologias acerca dos valores,
apresentadas no Capítulo 2 (Gouveia & cols., 2008; Schwartz & Huismans, 1995), a
religiosidade está diretamente associada com os valores normativos ou convencionais (por
exemplo, obediência, tradição). Segundo Gouveia (2003), os valores normativos são
bastante adequados para explicar atitudes, crenças e comportamentos que promovem a
ordem social. De fato, o compromisso religioso, pelo menos da forma como foi avaliado
neste estudo, parece promover efetivamente a resiliência ou proteção dos jovens frente aos
206
comportamentos anti-sociais; razão esta que sugere sua inclusão como um dos
explicadores deste fenômeno.
Na mesma direção das anteriores, a Hipótese 3 sugeriu que as pontuações na
medida de identificação com grupos convencionais de referência estariam correlacionadas
negativamente com aquelas na medida de comportamentos anti-sociais. Esta hipótese tem
sido proposta e confirmada em diversos estudos onde foi considerada a importância de
grupos convencionais, como os amigos, os professores, os pais e os familiares em geral
(Dishion, Patterson, Stoolmiller & Skinner, 1991; Fisher & Fagot, 1993; Formiga, 2002;
Heaven & cols., 2000; Miller, 1997; Pimentel, 2004; Scaramella & cols., 2002; Vitaro &
cols., 2000; Whright & Cullen, 2001). No Brasil, por exemplo, em uma amostra de
aproximadamente 550 jovens, Pimentel (2004) constatou a importância da identificação
com tais grupos para a explicação de comportamentos anti-sociais. Especificamente, este
autor comprovou em seu estudo que tal construto se correlacionou negativamente com os
fatores anti-social (r = -0,29, p < 0,001) e delitivo (r -0,20, p < 0,001) da medida original
de Seisdedos (1988).
Como mencionado, a identificação com grupos é um elemento importante para a
formação de crenças, valores, atitudes e comportamentos. Por este motivo, é
imprescindível sua inclusão em estudos cujo propósito é explicar os comportamentos anti-
sociais. Esta afirmação se fundamenta nas principais teorias explicativas do
comportamento anti-social. A teoria da associação diferencial, por exemplo, afirma que
este tipo de comportamento não se diferencia daqueles considerados convencionais; para o
desenvolvimento de ambos, faz-se necessário o envolvimento com determinados grupos, o
que permite aos indivíduos se sentirem vinculados e assumirem suas características
(Matsueda, 1982; Sutherland & cols., 1992).
207
Neste processo a aprendizagem social assume importância fundamental, pois, em
muitos casos, a influência do grupo é indireta, o sendo necessário o envolvimento direto
para a aprendizagem do comportamento (Akers, 1985). Segundo Hirschi (1969), o vínculo
com grupos convencionais é uma das bases do controle social. O modelo de
desenvolvimento social (Catalano & cols., 1996; Catalano & Hawkins, 1997; Hawkins &
Weis, 1985) absorve elementos das teorias citadas previamente, sugerindo que a
identificação ou o vínculo com grupos de referência promove a modelagem do
comportamento social. Neste sentido, em função do grupo de referência, a identificação
pode se constituir tanto como fator de risco (grupos alternativos) como de proteção (grupos
convencionais). Sob esta perspectiva, a confirmação da Hipótese 3 apóia a consideração
desta variável no modelo referente à hipótese de compromisso convencional e afiliação
social.
Outra variável antecedente incluída no presente estudo foi a percepção do estilo de
socialização parental autoritativo que, de acordo com a Hipótese 4, deveria apresentar
correlação negativa com os comportamentos anti-sociais. Esta hipótese, a semelhança das
demais que compõem o estudo, foi corroborada. A formulação da mesma levou em conta a
influência da família, mas especificamente dos pais, no processo de socialização. Os
estudos apontam que os pais exercem influência marcante no comportamento dos filhos
por meio de diversos mecanismos, dentre estes o mais citado tem sido o tipo de estilo de
socialização adotado (Darling & Steinberg, 1993; Emde & cols., 1991; Moraes & cols.,
2007). O estilo de socialização que enfatiza componentes de autoridade e afeto vem sendo
apontado como uma espécie de modelo educacional, sendo mais eficaz na prevenção dos
comportamentos anti-sociais e de risco, como é o caso do uso abusivo de drogas (Benda &
Crowyn, 2000; Scaramella & cols., 2002).
208
Os resultados previamente descritos confirmam a relevância do estilo parental
autoritativo como um fator de proteção. Entretanto, como se pode verificar, dentre as
variáveis consideradas, esta apresentou a correlação mais baixa com o comportamento
anti-social. Se analisadas algumas peculiaridades da amostra e desta variável, tal aspecto
não invalida sua inclusão no modelo. Observando, por exemplo, a idade dos participantes,
percebe-se que a maioria (68,4%) concentra-se na faixa de 14 a 22 anos (M = 17,2; DP =
2,21). Provavelmente, a influência dos pais, embora continue atuando durante todo o
desenvolvimento, tenda a reduzir com o aumento da idade, dando lugar a variáveis de
cunho mais pessoal como são os valores e o compromisso religioso. Adicionalmente, deve-
se considerar que a percepção dos estilos parentais é uma variável dummy (variável que
assume valores 0 e 1), o que por si pode tornar as correlações mais baixas em razão de ser
empregado o coeficiente r de Pearson (Kubinger, 2003).
A última Hipótese (5) fez referência à correlação positiva entre as duas dimensões
dos comportamentos socialmente desviantes (anti-social e delitivo). Os resultados são
contundentes; as duas dimensões apresentam-se positivamente correlacionadas entre si,
confirmando esta hipótese, que é coerente com o que vem sendo observado na literatura
(Chaves, 2006; Formiga, 2002; Pimentel, 2004; Siesdedos, 1988; Vasconcelos, 2004). Não
obstante, esta correlação não permite chegar a conclusões mais precisas acerca do papel
mediador que o comportamento anti-social ocupa na hipótese de compromisso
convencional e afiliação social. Contudo, como sugerem alguns autores, por exemplo,
Romero (1996), os comportamentos anti-sociais (considerados “leves”) apresentam-se
como uma variável antecedente às condutas de caráter mais grave (comportamento
delitivo). Como exposto previamente no Capítulo 1, esse tipo de conduta (leve) configura-
se como um preditor do desenvolvimento de comportamentos desviantes mais severos
(Loeber, 1991; Loeber & Dishion, 1983). Estas considerações justificam a estrutura do
209
modelo explicativo representado pela Figura 7, cuja elaboração e testagem constituíram-se
no último objetivo deste estudo.
A revisão da literatura e a confirmação das hipóteses formuladas legitimaram a
proposta de agrupamento das variáveis que compõem a hipótese de compromisso
convencional e afiliação social. Claramente, trata-se de um construto latente legítimo,
como os indicadores de ajuste do modelo possibilitam pensar. No entanto, é preciso
ressaltar que tal modelo apresenta melhor adequação quando considerada, especificamente,
a percepção do jovem com relação ao estilo autoritativo da mãe. Este aspecto parece
convergir com o que apresenta alguns estudos. Por exemplo, aponta-se que, independente
da estrutura da família, a figura da e exerce maior influência na socialização e, por
conseguinte, no comportamento dos filhos (Pasquali & Andrade, 1986; Schneider, 2001).
Em resumo, os resultados aqui descritos confirmam permitem atender
satisfatoriamente os objetivos da presente tese. Entretanto, o modelo que se apresenta pode
ser visto como circunstancial, uma vez que, embora teoricamente embasado, considerou a
mesma amostra a partir da qual se checaram as correlações entre todas as variáveis que o
integram. Por este motivo, procurou-se realizar o Estudo 4, cuja finalidade volta-se
especificamente para testar o ajuste do modelo previamente descrito. Neste sentido,
considerou-se uma amostra independente, tendo-se em conta, a partir do que foi observado,
unicamente o estilo autoritativo da mãe.
210
6
6
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E
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211
O Estudo 3 enfocou cada uma das variáveis do modelo de compromisso
convencional e afiliação social. Coerente com o que tem sido proposto na literatura, seus
resultados revelaram que é possível admitir como válida a proposição de que existem
fatores inibidores de comportamentos anti-sociais. No mesmo estudo se deu o primeiro
passo para comprovar o funcionamento do modelo como um todo. Apesar disso, em razão
de este ter sido comprovado na mesma amostra em que foram testadas as hipóteses acerca
dos fatores de proteção específicos, sugerindo relações ou restrições impostas a posteriori,
demanda-se checar em amostra independente os parâmetros e índices de ajuste do referido
modelo teórico (Figura 7).
Estas razões conduziram à realização deste estudo. Seu objetivo principal é,
essencialmente, testar o modelo causal que explica os comportamentos socialmente
desviantes, isto é, anti-sociais e delitivos. Replicar os resultados previamente encontrados é
fundamental no sentido de contribuir com o marco teórico de compromisso convencional e
afiliação social. Como foi indicado na introdução, pesquisas nesta direção ainda são
ecassas, sobretudo no contexto brasileiro. Portanto, justifica-se plenamente a realização de
um estudo desta natureza. Finalmente, o presente estudo, além de replicar a pesquisa
prévia, pretende-se igualmente conhecer se o modelo funciona adequadamente quando se
consideram por separados os homens e as mulheres.
6.1. Método
6.1.1. Delineamento e Hipótese
Tratou-se de uma pesquisa correlacional, isto é, ex post facto. Consideraram-se
como variáveis exógenas (independentes, antecedentes) os fatores inibidores (estilo
parental autoritativo da mãe, compromisso religioso, identificação com grupos
convencionais de referência e a sub-função normativa dos valores) de comportamentos
212
anti-sociais e delitivos. Esta última é uma variável classicamente endógena (dependente,
conseqüente, critério), enquanto o fator de comportamentos anti-sociais cumpre o papel de
uma variável mediadora. A hipótese alternativa indica a adequação do modelo causal
descrito na Figura 7, demandando que seja testada.
6.1.2. Amostra
Participaram do presente estudo 378 pessoas com idade média de 15,4 anos (DP =
3,29; amplitude 10 a 22 anos), a maioria do sexo feminino (59%). Estes se definiram
majoritariamente como católicos (58,5%) e protestantes (27%); alguns se confessaram
espíritas (2,1%), outros disseram pertencer a outro preceito religioso (3,4%) e também
tiveram os que dissertam não ter qualquer religião (9%). Tais participantes foram
distribuídos em diferentes níveis escolares, como se especifica: no ensino fundamental,
foram da (5%), (19%) e (18,8%) séries; no caso do ensino médio, foram do
(19%) e (18,5%) anos; e, finalmente, participaram também estudantes universitários
(19,6%). Esta amostra foi de conveniência, isto é, não-probabilística; participaram as
pessoas que, estando presentes em sala de aula e sendo solicitadas a colaborar,
concordaram em fazer parte da pesquisa. Neste estudo, foram utilizadas as mesmas regras
de exclusão do participante descritas nos estudos anteriores.
6.1.3. Instrumentos
Os participantes responderam os mesmos instrumentos descritos no Estudo 3,
lembrando: Escala de Práticas Religiosas (Meira & col., 2001), Escala de Crenças
Religiosas (Andrade & cols., 2001), Escala de Percepção dos Pais (Pasquali & Araújo,
1986; Schneider, 2001), Escala de Identificação com Grupos de Referência (Pimentel,
2004), Questionário dos Valores Básicos (Gouveia, 2003) e Questionário de
Comportamentos Anti-sociais e Delitivos (Seisdedos, 1988). Incluíram-se também duas
213
perguntas sobre a religiosidade dos participantes: (1) Em que medida você se considera
religioso? Esta foi respondida em escala de cinco pontos, variando de 0 = Nada a 4 =
Muito; e (2) Com que freqüência vovai às reuniões da sua religião? Sua resposta foi
dada por meio de uma escala de freqüência, variando de 0 = Nunca a 7 = Sempre.
Finalmente, foram incluídas perguntas demográficas (por exemplo, sexo, idade).
6.1.4. Procedimento
A aplicação dos instrumentos foi realizada em escolas e universidades. Esta coleta
contou com a colaboração de três bolsistas de Iniciação Científica, que foram devidamente
instruídos, evitando dar esclarecimentos de conteúdo das medidas. A todos os participantes
foi informado que: (a) sua participação era voluntária; (b) não seria necessária sua
identificação; e (c) que o anonimato das informações obtidas seria assegurado, explicando
que todos os dados seriam tratados estatisticamente no seu conjunto. Em média, 40
minutos foram suficientes para concluir esta atividade.
6.1.5. Análise dos Dados
Considerando o objetivo deste estudo, decidiu-se focar as análises a partir de uma
perspectiva confirmatória. Neste sentido, empregou-se o programa AMOS 7. Considerou-se
como entrada a matriz de covariância, adotando-se o estimador ML (Maximum Likelihood).
Os mesmos indicadores de ajuste do Estudo 3 foram considerados nesta oportunidade.
6.2. Resultados
Lembrando, tomou-se como referência o modelo teórico apresentado na Figura 7.
Considerando a amostra total de participantes, observou-se que tal modelo é bastante
satisfatório: χ² (9) = 14,48, p = 0,106, χ² / gl = 1,61, GFI = 0,99, AGFI = 0,99, CFI = 0,98 e
RMSEA = 0,040 (IC90% = 0,000-0,077). Todas as saturações (lambdas, λ) foram
214
estatisticamente diferentes de zero (z > 1,96, p < 0,05), apoiando a adequação do conjunto
de variáveis exógenas incluídas no estudo.
Um resumo a respeito do modelo causal que explica os comportamentos
socialmente desviantes pode ser contemplado na Figura 9. Consistentemente, o construto
compromisso convencional e afiliação social explica satisfatoriamente a agrupação dos
quatro fatores exógenos, com lambdas variando de 0,39 (estilo autoritativo) a 0,62 (sub-
função normativa). Este construto, ademais, funciona, segundo o previsto, como fator de
inibição de comportamentos anti-sociais = -0,32), e estes claramente predizem de forma
direta os comportamentos delitivos (λ = 0,52).
Figura 9. Comprovação do Modelo Causal de Comportamentos Socialmente Desviantes
Fica, portanto, evidente a adequação do modelo explicativo aqui proposto e testado.
Entretanto, caberia indagar se este funciona adequadamente com independência do sexo
dos participantes. Neste sentido, decidiu-se dividir a amostra em dois grupos de pessoas,
segundo o sexo: masculino (n = 154) e feminino (n = 222); duas pessoas não indicaram o
sexo, tendo sido excluídos destas análises. Considerando cada um destes grupos,
reproduziu-se o teste do modelo previamente tratado.
No caso dos participantes do sexo masculino, obtiveram-se indicadores favoráveis
[χ² (9) = 8,11 p = 0,523, χ² / gl = 0,90, GFI = 0,98, AGFI = 0,96, CFI = 1,00 e RMSEA =
215
0,000 (IC90% = 0,000-0,085)], com todos os lambdas sendo estatisticamente diferentes de
zero (z > 1,96, p < 0,05). Estes variaram de 0,47 (estilo autoritativo materno) a 0,63 (sub-
função normativa).
Resultados parecidos aos antes descritos foram observados para as participantes do
sexo feminino [χ² (9) = 8,01 p = 0,533, χ² / gl = 0,89, GFI = 0,99, AGFI = 0,97, CFI = 1,00
e RMSEA = 0,000 (IC90% = 0,000-0,070)]. Porém, um dos fatores inibidores (percepção
do estilo autoritativo da mãe) apresentou lambda muito baixo, não sendo estatisticamente
diferente de zero = -0,03; z = -0,29, p > 0,05). O fator inibidor que apresentou maior
saturação no construto latente correspondente, isto é, compromisso convencional e
afiliação social, foi a sub-função valorativa normativa (λ = 0,55).
Em resumo, independentemente do sexo dos participantes, a “hipótese” de
compromisso convencional e afiliação social se confirma. Fica evidente que a adesão aos
valores normativos, a percepção do estilo parental autoritativo da mãe, a identificação
com grupos convencionais de referência e o compromisso religioso atuam como inibidores
de comportamentos anti-sociais e, por extensão, podem prevenir aqueles delitivos. Neste
marco destaca-se, particularmente, a contribuição da sub-função valorativa normativa.
Pondere-se, entretanto, que existe alguma especificidade quando se consideram
separadamente as mulheres; neste grupo a percepção do estilo autoritativo materno da mãe
não foi relevante para compor a dimensão inibidora prevista no modelo teórico analisado.
6.3. Discussão
Este estudo teve como objetivo principal testar o modelo explicativo (causal) dos
comportamentos socialmente desviantes (anti-sociais e delitivos) e, adicionalmente,
conhecer sua adequabilidade quando analisados separadamente os participantes do sexo
masculino e feminino. Conforme esperado, a análise fatorial confirmatória apresentou
índices de bondade de ajuste bastante satisfatórios, apoiando a adequação da hipótese de
216
compromisso convencional e afiliação social. As variáveis que constituem este modelo
figuram entre as mais mencionadas na literatura, porém, como se evidencia na revisão
levada a cabo por Petraitis e cols. (1995), a maioria dos estudos as considera de forma
isolada, sendo escassas as pesquisas sobre fatores de proteção que intencionam integrar
múltiplos construtos. Neste sentido, a adequação deste modelo, apesar de não encerrar os
estudos sobre o tema, representa um avanço no entendimento sobre o funcionamento dos
fatores responsáveis por inibir o desenvolvimento de comportamentos socialmente
desviantes.
No entanto, antes de passar às considerações finais da presente tese, alguns
comentários acerca do modelo proposto precisam ser destacados, dentre os quais cabe
mencionar, inicialmente, a contribuição dos valores. Em diversas pesquisas este construto
surge como uma variável eficaz na explicação de distintos comportamentos (Coelho &
cols., 2006; Schwartz & Huismans, 1995; Vasconcelos & cols., 2004). No campo da
delinqüência, os valores aparecem tanto como fator risco como proteção. Por exemplo, a
priorização de valores da sub-função de experimentação é destacada por alguns autores
como promovendo comportamentos anti-sociais (Chaves, 2006; Pimentel, 2004;
Vasconcelos, 2004). Por outro lado, os valores sociais, especificamente aqueles da sub-
função normativa, adquirem importância significativa como um fator de proteção, pois
reduzem a probabilidade dos jovens se envolverem em tais comportamentos. Na teoria
funcional dos valores (Gouveia & cols., 2008), esta sub-função reflete a importância dada à
cultura e às normas sociais, com ênfase na vida social e estabilidade do grupo. Portanto,
assumir tais valores como princípios-guia implica em envolvimento alto com modelos de
papéis convencionais. Este dado é compatível com os pressupostos da teoria do controle
social (Hirschi, 1969), do modelo integrador de Elliott (Elliott & cols., 1979) e, inclusive,
217
do modelo de desenvolvimento social mais recentemente proposto (Hawkins & cols.,
1996).
A identificação com grupos é outra variável que, segundo a literatura, exerce
influência forte no desenvolvimento de comportamentos anti-sociais. Este construto está
presente em grande parte das teorias psicossociais que buscam explicar a delinqüência,
mas, como mencionado, na maioria delas tem-se analisado mais a sua influência como
fator de risco (Hawkins & cols., 1992). No modelo exposto, o efeito do vínculo com
grupos convencionais em relação ao construto latente compromisso convencional e
afiliação social ficou evidente, ressaltando sua importância como um fator de proteção. De
fato, a identificação com grupos convencionais de referência assume um papel relevante
no conjunto das variáveis. Isso seria esperado, uma vez que no processo de socialização
estes grupos são os principais responsáveis por “inculcar” alguns valores sociais (por
exemplo, ordem social, tradição), cuja prioridade por parte do indivíduo contribui para a
manutenção da harmonia social. Além disso, a identificação com grupos também
influencia o desenvolvimento do compromisso religioso, dado que, geralmente, a
participação religiosa é feita em pareceria com outros que seguem os mesmos princípios
axiológicos. Os aspectos mencionados são fundamentais para a internalização de normas
que, ao serem compartilhadas, produzem expectativas de como se deve agir no contexto
social (Hirshi, 1969).
De acordo com o que se verificou no Estudo 3, as variáveis que representam o
compromisso convencional e a afiliação social influenciam-se mutuamente; a
adequabilidade do modelo corroborou esta hipótese. No entanto, é possível que, devido a
aspectos particulares, algumas variáveis apresentem efeito escasso ou não significativo
sobre o construto latente. No presente estudo, as análises esatísticas efetuadas
separadamente nos grupos de homens e mulheres revelaram que, neste último, a percepção
218
do estilo materno autoritativo não contribuiu significativamente para o construto latente.
Este aspecto pode dever-se a que, na amostra do sexo feminino, provavelmente a
identificação com a figura materna pode não ser tão acentuada. Neste sentido, é possível
que o efeito do estilo autoritativo, nesta amostra, se apresentasse mais preponderante
quando observada a percepção do estilo autoritativo do pai. Entretanto, isso é tão somente
uma conjetura; demandam-se estudos futuros com o propósito de comprovar esta
possibilidade. Em síntese, apesar da não significância do estilo autoritativo da mãe na
amostra do sexo feminino, os índices de ajuste indicam a adquabilidade do modelo, como
seria esperado (Akers, 1985; Hawkins & cols., 1992, 1996; Hirschi, 1969).
Em resumo, o presente estudo reúne evidências de que a hipótese de compromisso
convencional e afiliação social, ao menos no presente contexto cultural, funciona
adequadamente para explicar os comportamentos socialmente desviantes. Concretamente,
reuniram-se informações que apóiam a hipótese de que este conjunto de variáveis pode ser
tido como inibidor de tais comportamentos. Não obstante, não se apresenta aqui um
receituário, um livro de dicas para solucionar uma panacéia que se apresenta sob o título de
“desvio” das normas sociais. Este aspecto será retomado no próximo capítulo, quando se
expõem as conclusões desta tese.
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220
Esta tese buscou conhecer em que medida os valores sociais normativos, o
compromisso religioso, o estilo de socialização parental autoritativo e a identificação com
grupos convencionais de referência atuam como inibidores (fatores de proteção) de
comportamentos socialmente desviantes (anti-sociais e delitivos). Procurou-se,
especificamente, verificar a contribuição destes construtos para explicar tais
comportamentos, identificando, finalmente, um modelo integrador denominado de
compromisso convencional e afiliação social. Para tanto, desenvolveram-se quatro estudos
independentes cujas metas específicas foram atingidas, permitindo concluir que o objetivo
proposto foi alcançado satisfatoriamente. Nesta oportunidade, pretende-se apresentar
algumas considerações finais acerca dos resultados principais encontrados, das possíveis
limitações dos estudos e aplicabilidades desta tese. Faz-se igualmente um esforço por
oferecer direções futuras, o que possibilitará ampliar o conhecimento acerca do modelo de
compromisso convencional e afiliação social.
7.1. Resultados Principais
Os quatro estudos que compuseram a parte empírica trouxeram diversas
contribuições. O Estudo 1, por exemplo, que avaliou as propriedades psicométricas das
medidas, apresentou informações relevantes acerca dos isntrumentos de crença (Andrade
& cols., 2001) e práticas (Meira & col., 2001) religiosas. Estes dispunham unicamente de
informações resultantes de análises exploratórias, impossibilitando maiores conclusões
acerca de sua dimensionalidade. A análise fatorial confirmatória efetuada permitiu
observar a adequação de sua estrutura fatorial; este resultado possibilitou ainda o
desenvolvimento do Índice de Compromisso Religioso (ICR), a então inexistente no
contexto brasileiro.
Portanto, como se indicou previamente, uma das conseqüências diretas do primeiro
estudo foi a construção do ICR. Isso foi levado a cabo no Estudo 2. Como mencionado, a
221
proposta deste índice deveu-se, fundamentalmente, a ausência de instrumentos que
permitissem mensurar o compromisso religioso por meio de múltiplos indicadores. Sua
construção se apresentou como uma oportunidade de minimizar, se não todos, alguns dos
principais vieses apontados na literatura (Gorsuch & McFarland, 1972). Seguramente, sua
proposição facilitará a análise do fenômeno religioso de forma mais parcimoniosa; além
disso, a padronização de medidas com diferentes escalas de resposta, concentrando-as em
uma única medida intervalar com amplitude pré-definida (0 a 1), auxiliará a comparação e
replicação dos resultados, com independência do contexto e das variáveis com as quais
possa se pretender correlacioná-lo.
Nos dois últimos estudos (3 e 4), ressaltam-se as correlações entre as variáveis
antecedentes e sua contribuição para explicar os comportamentos socialmente desviantes.
No Estudo 3 foram apresentados resultados que corroboram as proposições de outros
autores (por exemplo, Hawkins & cols., 1996; Hirschi, 1969; Pimentel, 2004) e sugerem a
coerência destes construtos como fatores de proteção no contexto brasileiro, referendando
o que tem sido observado também em outras culturas, a exemplo da Espanha (Romero &
cols., 2001). Entretanto, este estudo não se limitou a correlacionar cada par de variáveis;
foi mais além, permitindo testar o conjunto de correlações, sugerindo um modelo causal
explicativo dos comportamentos socialmente desviantes. Isso foi corroborado no Estudo 4.
Deste modo, os resultados dos estudos 3 e 4 se complementam e evidenciam que é possível
indicar estes construtos como fatores inibidores de tais comportamentos desviantes.
7.2. Limitações das Pesquisas
Apesar do que antes se comentou, mesmo admitindo as evidências empíricas acerca
das contribuições desta tese, é necessário reconhecer que, por não ser diferente de outros
estudos, as pesquisas previamente descritas apresentam potenciais limitações. Poder-se-ia
conjeturar, por exemplo, que em razão de não serem probabilísticas, as amostras
222
consideradas são enviesadas, não considerando toda a população brasileira, nem mesmo a
paraibana. Ficou evidente que os resultados parecem refletir mais a situação de indivíduos
escolarizados, de diferentes níveis (ensinos fundamental, médio e superior), o que, por si,
torna menos prováveis os comportamentos socialmente desviantes (Coelho Júnior, 2001;
Gouveia, Coelho Júnior, Gontiés, Andrade & Andrade, 2003). Em muitos casos,
indivíduos considerados delinqüentes crônicos (Moffitt, 1991) deixam a escola logo no
início do ensino médio (Dishion & Patterson, 1997). Além disso, mesmo considerando
estudantes de escolas públicas e privadas, não se pode afirmar que as amostras contemplam
pessoas de diferentes classes sociais. A delinqüência, embora não seja, em princípio, tida
como um problema de classe (Formiga, 2002), não se pode negar, o nível sócio-econômico
dos jovens parece ser uma variável importante no contexto brasileiro, sobretudo no caso
daqueles que vivem em condições adversas (por exemplo, favelas, subúrbios com taxas
elevandas de delinqüência).
Outro aspecto refere-se ao compromisso religioso. O compromisso é apresentado
na teoria do controle social (Hirschi, 1969) como um dos componentes do vínculo social
convencional. Contudo, conforme a teoria, além do compromisso religioso, outros tipos de
atividades também são responsáveis por fortalecer os vínculos convencionais, como é o
caso da prática esportiva. Neste sentido, a não inclusão desta variável pode sugerir uma
limitação desta pesquisa. Contudo, apesar de pertinente, esta crítica não invalida os
resultados encontrados, que são consistentes com aqueles da literatura.
7.3. Conclusões e Direções Futuras
Cabe nesta oportunidade assinalar o que faz esta tese diferente, o que a legitima.
Falar em ineditismo é algo estranho em um mundo que avança a galope, quando a ciência
muda a cada instante. Portanto, resta tão somente mencionar o que uma identidade ao
empreendimento aqui apresentado. Neste sentido, destaca-se inicialmente um marco
223
concreto e específico acerca dos valores humanos (Gouveia, 1998, 2003). Diferentemente,
a maioria dos estudos na área tem considerado os valores de forma muito ampla, pouco
definida, auto-explicativa, considerando-os quase como algo similar a atitudes (por
exemplo, Romero & cols., 2001). Além deste aspecto, quando são consideradas teorias e
medidas específicas dos valores, os estudos tendem a se concentrar unicamente nos valores
(Formiga, 2002) ou em pares de variáveis, como, por exemplo, personalidade e valores
(Vasconcelos, 2004) e preferência musical e valores (Pimental, 2004).
A consideração da religiosidade, como aqui medida, isto é, por meio do
compromisso religioso, parece também uma tentativa inovadora. É possível que parte dos
resultados dissonantes observados na literatura se devam a diferentes medidas específicas a
respeito. Nesta ocasião, decidiu-se, em lugar de simplesmente tratar de um item isolado
sobre auto-percepção de religiosidade ou freqüêencia com que se participa de eventos
ligados à religião, ter em conta diferentes indicadores, construindo um índice independente
da religião do participante. Isso era algo esperado e recomendado na literatura (Gorsuch &
McFarland, 1972), não tendo sido encontrado qualquer estudo em que esta possibilidade
tenha sido efetivada.
Além disso, embora exista uma hipótese de compromisso convencional”, a maior
parte do que se sabe é fruto estrito de ensaio teórico, de natureza sociológica. Percebe-se
claramente que, em termos de modelos integrativos, tudo o que se sabe tem origem em
outros contextos culturais, a exemplo do Reino Unido e dos Estados Unidos. Portanto,
aporta-se aqui um modelo teórico consistente e os dados que permitem corroborá-lo,
constituindo, presumivelmente, o primeiro esforço concreto por desenvolver uma teoria
sobre os fatores inibidores dos comportamentos socialmente desviantes no Brasil.
Apesar do que antes se comentou, este modelo não deve ser entendido como uma
panacéia, nem a possibilidade de inibir os comportamentos anti-sociais como um “toque de
224
mágica”. De fato, os fatores de proteção podem ser muito importantes, sobretudo quando
avaliados e trabalhados na adolescência, período em que parece “normal” desviar das
normas sociais (Coelho Júnior, 2001). Porém, o compromisso convencional exacerbado
pode ser um impecílio ao avanço social, no sentido de dificultar mudanças sociais,
inovações úteis à adequação aos novos tempos. Sabe-se, por exemplo, que os valores de
experimentação, embora possam não inibir os comportamentos anti-sociais, têm um papel
importante em promover a abertura a mudanças por parte das pessoas. Do mesmo modo,
quando se fala sobre o estilo parental autoritativo, não se pretende divulgar como o único
viável ou o mais adequado para todos os contextos. Os estudos trans-culturais indicam que
podem funcionar no padrão de família existente no Ocidente, mas não no Oriente (ver, por
exemplo, Cole & Cole, 2004).
A identificação com os grupos, não se deve esquecer, é parte importante das
escolhas dos jovens, numa tentativa por definir sua identidade pessoal e social (Papalia &
Olds, 2000). Portanto, embora seja desejável que estes tenham identificação com grupos
convencionais de referência, a ligação com grupos alternativos pode ajudá-los a pensar
“diferente”, colocando-se no lugar do outro, sendo menos discriminadores e
preconceituosos. Identificar-se com grupos convencionais é tornar o jovem mais resiliente,
evitando sua exposição ao risco ou minimizando o impacto deste; não significa isolá-lo ou
criá-lo em um mundo à parte, como se existissem grupos “bons” e “ruins”. Este
pensamento em nada contribui para as relações de igualdade e respeito entre as pessoas.
Na linha do que vem sendo comentado, é possível também advertir acerca do
exagero religioso. A religiosidade pode se constituir em um fator de proteção para
comportamentos anti-sociais e delitivos. Não obstante, a história está repleta de
acontecimentos que relevam não ser, exatamente, a religião a solução de todos os males
sociais; contrariamente, exagerar no compromisso religioso pode implicar atos ilícitos e
225
criminais. O leitor pode dar-se conta disso quando considera grupos religiosos que, em
nome da religião, discriminam, consideram todos os demais como inferiores, indignos etc.
Neste contexto, talvez tal exagero expresse uma religiosidade extrínseca, instrumental,
voltada para reafirmar posturas ou obter benefícios pessoais (Allport, 1950; Allport &
Ross, 1967).
Um aspecto que parece comum na vida social diária é o tipo de identificação que
filha e filho mantêm com seus pais. Não raramente, admite-se que os meninos se
identificam mais com sua mãe e, mais consistentemente, que as meninas são mais
prováveis se identificarem com seu pai. Por suposto, casos existem que contradizem esta
“suposição”. Entretanto, caberiam pesquisas com o propósito de dirimir as dúvidas,
estendendo este conhecimento do senso comum e comprovando em que medida esta
presumível identificação repercutiria na influência que os estilos parentais do pai e da mãe
poderiam ter sobre seus filhos de diferentes sexos.
Considerar os estilos parentais percebidos pelos filhos é, sem dúvida, relevante.
Mas, se poderia ter em conta outras variáveis, como os próprios valores que os pais
indicam priorizar ou, inclusive, os valores que os seus filhos percebem como próprios de
seus pais. Schneider (2001) mostrou que os valores dos filhos eram muito similares àqueles
que percebiam como sendo dos seus pais; os valores que os pais diziam possuir e os
valores que seus filhos listavam, diferentemente, tinham menos a ver. Portanto, as
prioridades valorativas apresentam um componente importante para compreender a forma
que pais e filhos se identificam e como estes últimos passam a adotar determinados
comportamentos que “satisfaçam o padrão valorativo percebido como sendo dos seus
pais. Este mesmo autor comprovou esta hipótese, sobretudo, quando os filhos percebiam
seus pais como mais afetivos, o que denotou uma relação interessante dos valores com os
estilos parentais, reclamando estudos futuros nesta direção.
226
No âmbito dos estudos acerca dos comportamentos desviantes é comum serem
considerados grupos pré-determinados, reconhecidamente delinqüentes (Romero & cols.,
2001), evitando medidas de natureza psicométrica, a exemplo do CAD. Efetivamente, não
tem sentido testar o modelo previamente apresentado neste tipo de grupo, pois,
provavelmente, existirá invariabilidade nas variáveis-critério, isto é, comportamentos anti-
sociais e delitivos. Não obstante, poder-se-ia comparar pessoas “delinqüentes” (submetidas
ao regime carcerário ou disciplinar) e “não-delinqüentes” (por exemplo, estudantes) em
termos de cada um dos indicadores que compõem o construto compromisso convencional e
afiliação social.
Possivelmente, seria interessante explorar em que medida o modelo teórico
previamente aprensentado é invariante em relação às diferentes faixas-etárias e tipos de
escolas (públicas versus privadas, por exemplo). Isso pode ser útil, sobretudo por indicar se
o efeito de todas as variáveis é constante, se sofrem mudanças, em que direções o fazem, e
quando isso ocorre. Por exemplo, talvez os estilos parentais sejam mais preponderantes
entre pessoas mais jovens, pré-adolescentes; na adolescência pode prevalecer a
identificação grupal. Porém, estes são aspectos conjeturais, demandando estudos futuros.
Nesta tese reuniram-se evidências de que o compromisso convencional e a afiliação
social constituem um fator geral, um todo integrado, um conjunto de fatores inibidores dos
comportamentos anti-sociais e, conseqüentemente, daqueles delitivos. Entretanto, cabe
conjeturar se não seria possível um modelo mais complexo, reunindo múltiplos indicadores
de compromisso convencioanl, por um lado, e afiliação social, por outro. Isso seria
importante, sobretudo, para ponderar o peso que cada elemento da teoria teria na
explicação dos comportamentos anti-sociais e delitivos. A propósito, poder-se-ia,
inclusive, indagar acerca da natureza de sua relação: seriam ambos antecedentes de tais
227
comportamentos? Poderia a afiliação social anteceder o compromisso convencional?
Unicamente estudos futuros poderiam dirimir as dúvidas.
Finalmente, apesar de não ter sido pensado como um projeto aplicado, um ensaio
com o propósito de responder práticas sociais ou estratégias políticas, não é possível deixar
de reconhecer a aplicabilidade desta tese. Particularmente, presume-se que esta pode guiar
ações que visem tornar os jovens mais resilientes, enfocando, principalmente, uma
educação em valores. Como foi visto, com bastante consistência, os valores da sub-função
normativa (Gouveia, 1998, 2003) constituem o principal fator de proteção frente aos
comportamentos anti-sociais, o que também tinha sido constatado em estudos prévios
(Chaves, 2006; Formiga, 2002; Pimentel, 2004; Vasconcelos, 2004). Este aspecto parece
mais interessante e socialmente viável, uma vez que a própria escola, por meio dos seus
professores, poderia reforçar a socialização parental, permitindo que os jovens reconheçam
em tais valores aspectos que podem ser importantes no seu dia a dia.
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279
ANEXOS
280
ANEXO I Questionário de Comportamentos Anti-sociais e Delitivos
INSTRUÇÕES. A seguir são apresentados alguns comportamentos que as pessoas podem
apresentar no dia a dia. Por favor, pedimos-lhe que indique com que freqüência já os fez
em algum momento da sua vida. Utilize a seguinte escala de resposta, anotando ao lado de
cada frase o número que melhor expressa a intensidade do seu comportamento.
NUNCA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 SEMPRE
01.____ Fazer brincadeiras pesadas com as pessoas, como empurrá-las a lama ou tirar-lhes a
cadeira quando vão sentar.
02.____ Sair sem permissão (do trabalho, de casa ou do colégio).
03.____ Pegar escondido o carro ou a moto de um desconhecido para dar um passeio, com única
intenção de se divertir.
04.____ Comer em locais proibidos (trabalho, escola, cinema, etc.).
05.____ Bagunçar ou assobiar em uma reunião, lugar público ou de trabalho.
06.____ Roubar roupas de um varal ou objetos dos bolsos de uma roupa pendurada em um cabide.
07.____ Conseguir dinheiro ameaçando pessoas mais fracas.
08.____ Destruir ou danificar coisas em lugares públicos.
09.____ Responder mal a um superior ou autoridade (no trabalho, na escola ou na rua).
10.____ Arrancar ou pisar flores ou plantas em parques ou jardins.
11.____ Incomodar pessoas desconhecidas ou fazer desordens em lugares públicos.
12.____ Chegar de propósito mais tarde do que o permitido (em casa, trabalho, compromisso, etc.).
13.____ Gastar freqüentemente no jogo mais dinheiro do que pode.
14.____ Portar uma arma (faca ou canivete) caso considere necessário em um briga.
15.____ Dizer palavrões ou expressões pesadas.
16.____ Roubar coisas de grandes armazéns, supermercados, entre outros, estando abertos.
17.____ Roubar objetos dos carros.
18.____ Entrar em um local proibido (jardim privado, casa vazia, etc.).
19.____ Entrar em uma loja que está fechada, roubando algo ou não.
20.____ Resistir a briga para escapar de um policial.
21.____ Jogar lixo no chão (quando há perto um cesto de lixo).
22.____ Entrar em um apartamento ou casa e roubar algo (sem ter planejado antes).
23.____ Planejar de antemão entrar em uma casa ou apartamento para roubar coisas de valor.
24.____ Apanhar frutas em um jardim ou pomar alheio.
25.____ Pegar escondido a bicicleta de um desconhecido e ficar com ela.
26.____ Quebrar ou jogar no chão coisas dos outros.
27.____ Roubar coisas ou dinheiro em máquinas de refrigerantes, telefones públicos, etc.
28.____ Chegar tarde ao trabalho, colégio ou reunião.
29.____ Negar-se a fazer as tarefas solicitadas (no trabalho, na escola ou em casa).
30.____ Brigar com os outros (com golpes, insultos ou palavras ofensivas).
31.____ Roubar coisas de um lugar público (trabalho ou colégio) com um valor de mais de R$
10,00.
32.____ Roubar materiais ou ferramentas de pessoas que estão trabalhando.
33.____ Usar drogas.
34.____ Trapacear (em provas, competição importante, gabarito de resultado, etc.).
35.____ Sujar as ruas ou calçadas quebrando garrafas ou virando depósitos de lixo.
36.____ Entrar em um clube proibido ou comprar bebidas proibidas.
37.____ Tocar a campainha na casa de alguém e sair correndo.
38.____ Riscar em lugares proibidos (paredes, mesas, etc.).
39.____ Forçar a entrada em um armazém, garagem, depósito ou mercearia.
40.____ Pertencer a uma turma que arma confusões, se mete em briga ou cria baderna.
281
ANEXO II Escala de Práticas Religiosas
INSTRUÇÕES. Abaixo estão listadas algumas práticas religiosas incentivadas nas
diversas religiões, que podem ou não ser importantes para você. Sabendo-se que os dados
serão tratados de maneira confidencial, indique com que freqüência você as realiza. Para
tanto, utilize a escala de resposta abaixo:
1
2
3
4
5
Nunca
Poucas Vezes
Algumas Vezes
Freqüentemente
Sempre
01. Confesso-me com o padre ou durante a missa.
1 2 3 4 5
02. Assisto à missa.
1 2 3 4 5
03. Dou o dízimo.
1 2 3 4 5
04. Oro antes das principais refeições.
1 2 3 4 5
05. Procuro desenvolver meus dons mediúnicos.
1 2 3 4 5
06. Sigo os conselhos do padre.
1 2 3 4 5
07. Tomo água fluidificada (abençoada, purificada).
1 2 3 4 5
08. Procuro a reforma íntima (reduzir os defeitos e vícios)
1 2 3 4 5
09. Converso com pessoas que já morreram.
1 2 3 4 5
10. Vou aos cultos da igreja.
1 2 3 4 5
11. Prego o evangelho a outras pessoas.
1 2 3 4 5
12. Participo de eventos profanos (carnaval, boites, etc)
1 2 3 4 5
13. Participo de procissões ou romarias.
1 2 3 4 5
14. Rezo o terço.
1 2 3 4 5
15. Benzo-me ao passar em frente à igreja.
1 2 3 4 5
16. Leio livros psicografados.
1 2 3 4 5
282
ANEXO III Escala de Crenças Religiosas
INSTRUÇÕES. Considere o conjunto de afirmações abaixo e indique em que medida
você concorda ou discorda com cada uma delas. Para tanto, assinale na escala de resposta
ao lado o número que melhor expressa sua opinião. Por favor, O DEIXE DE
RESPONDER A NENHUM DOS ITENS.
1
Discordo
Totalmente
2
Discordo
Muito
3
Discordo
4
Indeciso
5
Concordo
6
Concordo
Muito
7
Concordo
Totalmente
01. A vocação para o trabalho é um dom divino.
1 2 3 4 5 6 7
02. Imagens de santos devem ser respeitadas.
1 2 3 4 5 6 7
03. Maria, mãe de Jesus, pode interceder entre Deus e o
homem.
1 2 3 4 5 6 7
04. A reencarnação é possível.
1 2 3 4 5 6 7
05. É importante fazer a 1ª comunhão.
1 2 3 4 5 6 7
06. É necessário vestir-se de maneira composta.
1 2 3 4 5 6 7
07. As crianças devem ser batizadas preferencialmente ainda
bebês.
1 2 3 4 5 6 7
08. Os ensinamentos bíblicos devem ser seguidos à risca.
1 2 3 4 5 6 7
09. O Papa é o representante de Deus na terra.
1 2 3 4 5 6 7
10. É possível a comunicação com pessoas que já faleceram.
1 2 3 4 5 6 7
11. As pessoas não morrem, desencarnam.
1 2 3 4 5 6 7
12. Jesus Cristo é o único intercessor entre Deus e o homem.
1 2 3 4 5 6 7
13. Existem espíritos mais e menos evoluídos.
1 2 3 4 5 6 7
14. Deve-se orar antes das refeições.
1 2 3 4 5 6 7
15. As pessoas sofrem as conseqüências de suas atitudes nas
vidas passadas.
1 2 3 4 5 6 7
16. Os santos atendem às promessas dos fiéis.
1 2 3 4 5 6 7
17. Jesus foi um espírito evoluído que passou pela Terra.
1 2 3 4 5 6 7
18. Não se deve adorar imagens.
1 2 3 4 5 6 7
283
ANEXO IV Escala de Identificação com Grupos de Referência
INSTRUÇÕES. Dos grupos ou pessoas listadas a seguir, indique em que medida você se
identifica com cada um (a) deles (as). (Circule um dos números na escala de resposta ao
lado).
01. Seu pai
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
02. Seus familiares em geral (tios, primos, etc.)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
03. Seus (suas) companheiros (as) de estudo ou
trabalho
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
04. Hippies
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
05. Seus (suas) vizinhos (as)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
06. Head bangers (Metaleiros)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
07. Sua mãe
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
08. Seu (sua) namorado (a) ou esposo (a)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
09. Funkeiros
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
10. Seus (suas) amigos (as) em geral
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
11. Punks
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
12. Seus (suas) amigos (as) do bairro
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
13. Skatistas
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
14. Suas (seus) irmãs (os)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
15. Seus avós
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
16. Skin heads (Carecas)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
17. Seus (suas) tios (as)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
18. Surfistas
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
19. Seus (suas) primos (as)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
20. Seus (suas) professores (as)
Nada
0 1 2 3 4
Totalmente
284
ANEXO V Questionário dos Valores Básicos QVB
INSTRUÇÕES. Por favor, leia atentamente a lista de valores descritos a seguir,
considerando seu conteúdo. Utilizando a escala de resposta abaixo, escreva um número ao
lado de cada valor para indicar em que medida você o considera importante como um
princípio que guia sua vida.
1
Totalmente não
Importante
2
Não
Importante
3
Pouco
Importante
4
Mais ou menos
Importante
5
Importante
6
Muito
Importante
7
Extremamente
Importante
01._____SEXUALIDADE. Ter relações sexuais; obter prazer sexual.
02._____ÊXITO. Obter o que se propõe; ser eficiente em tudo que faz.
03._____APOIO SOCIAL. Obter ajuda quando a necessite; sentir que não está no
mundo.
04._____CONHECIMENTO. Procurar notícias atualizadas sobre assuntos pouco
conhecidos; tentar descobrir coisas novas sobre o mundo.
05._____EMOÇÃO. Desfrutar desafiando o perigo; buscar aventuras.
06._____PODER. Ter poder para influenciar os outros e controlar decisões; ser o chefe de
uma equipe.
07._____AFETIVIDADE. Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; ter alguém
para compartilhar seus êxitos e fracassos.
08._____RELIGIOSIDADE. Crer em Deus como o salvador da humanidade; cumprir a
vontade de Deus.
09._____SAÚDE. Preocupar-se com sua saúde antes mesmo de ficar doente; não estar
física ou mentalmente enfermo.
10._____PRAZER. Desfrutar da vida; satisfazer todos os seus desejos.
11._____PRESTÍGIO. Saber que muita gente lhe conhece e admira; quando velho receber
uma homenagem por suas contribuições.
12._____OBEDIÊNCIA. Cumprir seus deveres e obrigações do dia a dia; respeitar seus
pais, os superiores e os mais velhos.
13._____ESTABILIDADE PESSOAL. Ter certeza de que amanhã terá tudo o que tem
hoje; ter uma vida organizada e planificada.
14._____CONVIVÊNCIA. Conviver diariamente com os vizinhos; fazer parte de algum
grupo, como: social, esportivo, entre outros.
15._____BELEZA. Ser capaz de apreciar o melhor da arte, música e literatura; ir a museus
ou exposições onde possa ver coisas belas.
16._____TRADIÇÃO. Seguir as normas sociais do seu país; respeitar as tradições da sua
sociedade.
17._____SOBREVIVÊNCIA. Ter água, comida e poder dormir bem todos os dias; viver
em um lugar com abundância de alimentos.
18._____MATURIDADE. Sentir que conseguiu alcançar seus objetivos na vida;
desenvolver todas as suas capacidades.
285
ANEXO VI Escala de Percepção dos Pais EPP (Versão para o pai)
INSTRUÇÕES: Considere por um momento a lista de frases a seguir. Todas se referem
ao seu PAI. Utilizando a escala de resposta abaixo, indique o quanto cada uma é
aplicável a ele ou pode descrever-lhe adequadamente. Por favor, responda a todas as frases
da forma mais sincera possível; saiba que não existem respostas certas ou erradas. Todas as
informações prestadas serão tratadas em seu conjunto de forma estatística e confidencial.
1
Nada
Aplicável
2
Pouco
Aplicável
3
Algo
Aplicável
4
Medianamente
Aplicável
5
Bastante
Aplicável
6
Muito
Aplicável
7
Totalmente
Aplicável
01.____Fica sempre me lembrando das coisas que não posso fazer.
02.____Está sempre me dizendo como devo me comportar.
03.____Quando estou fora de casa quer saber exatamente onde estou e o que estou
fazendo.
04.____É durão comigo.
05.____Acredita que todos os meus comportamentos maus devem ser castigados de
alguma forma.
06.____Passa muito tempo comigo.
07.____Não esquece facilmente as coisas que eu faço errado.
08.____Faz-me sentir melhor depois que falo com ele sobre meus problemas.
09.____Acha que devo obedecer todas as suas ordens.
10.____Procura me animar quando estou triste.
11.____É fácil conversar com ele.
12.____Gosta de falar comigo a respeito do que lê.
13.____É muito interessado naquilo eu aprendo na escola.
14.____Não quer se incomodar de fazer com que suas regras sejam obedecidas.
15.____Diz-me quando gosta de mim.
16.____Permite que eu receba meus amigos em casa.
17.____Aceita minhas opiniões mesmo quando diferem das suas.
18.____Não parece notar muito se me comporto bem em casa ou me saio bem na escola.
19.____Castiga-me quando eu não o obedeço.
20.____Fica feliz de me ver quando volto da escola ou de algum passeio
286
ANEXO VII Escala de Percepção dos Pais EPP (Versão para a mãe)
INSTRUÇÕES: Considere por um momento a lista de frases a seguir. Todas se referem
a sua MÃE. Utilizando a escala de resposta abaixo, indique o quanto cada uma é
aplicável a ela ou pode descrevê-la adequadamente. Por favor, responda a todas as frases
da forma mais sincera possível; saiba que não existem respostas certas ou erradas. Todas as
informações prestadas serão tratadas em seu conjunto de forma estatística e confidencial.
1
Nada
Aplicável
2
Pouco
Aplicável
3
Algo
Aplicável
4
Medianamente
Aplicável
5
Bastante
Aplicável
6
Muito
Aplicável
7
Totalmente
Aplicável
01.____Fica feliz de me ver quando volto da escola ou de um passeio.
02.____Passa muito tempo comigo.
03.____Fica sempre me lembrando das coisas que não posso fazer.
04.____Tenta ser minha “amiga” ao invés de uma “chefe”.
05.____Gostaria que eu ficasse mais em casa onde ela pode cuidar de mim.
06.____Quando estou fora de casa quer saber realmente onde estou e o que estou fazendo.
07.____Consola-me quando estou com medo.
08.____Quer saber realmente como penso sobre certos acontecimentos.
09.____Castiga-me severamente.
10.____Acha que deve me castigar para me corrigir e melhorar.
11.____Não parece notar muito se me comporto bem em casa ou me saio bem na escola.
12.____Gosta de falar comigo a respeito do que lê.
13.____Procura me animar quando estou triste.
14.____É fácil conversar com ela.
15.____Castiga-me quando eu não a obedeço.
16.____Está sempre me dizendo como devo me comportar.
17.____Se eu quebro uma promessa fica por algum tempo sem confiar em mim.
18.____Gosta de discutir os assuntos e conversar comigo.
19.____Acredita que todos os meus comportamentos maus devem ser castigados de
alguma forma.
20.____É muito interessada naquilo que aprendo na escola.
287
ANEXO VIII Caracterização da Amostra
Finalmente, gostaríamos de saber alguns dados sobre você:
1. Idade:_______ anos 2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Em que medida você se considera religioso? Nada 0 1 2 3 4 Muito
4. Com que freqüência você vai às reuniões da sua religião?
Nunca 0 1 2 3 4 5 6 7 Sempre
5. Qual a sua religião?
( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Espírita ( )Nenhuma
( )Outra:_________________________
288
ANEXO IX Termo de Consentimento
Universidade Federal da Paraíba
CCHLA Departamento de Psicologia
Programa de Pós-graduação em Psicologia Social
58059-900 João Pessoa, PB Brasil
Tel./Fax 55 83 216 7006
Prezado (a) Coordenador (a),
Estamos realizando uma pesquisa na cidade de João Pessoa com a finalidade de conhecer
possíveis fatores contribuintes para a prevenção de comportamentos de risco em
adolescentes e jovens adultos. Neste sentido, para efetivação deste estudo, gostaríamos de
contar com a colaboração da vossa instituição de ensino, disponibilizando o acesso a
algumas turmas de alunos. Para tanto, de acordo com o disposto nas resoluções 196/96 e
251/97 do Conselho Nacional de Saúde, faz-se necessário o vosso consentimento. O tempo
estimado da pesquisa é de 50 minutos, onde será aplicado, em sala de aula, um livreto com
diferentes questionários (anexo). Os dados coletados nesta pesquisa serão considerados em
conjunto, garantindo seu caráter anônimo. Por fim, nos colocamos a inteira disposição de
V.Sª. para, ao final do estudo, apresentar um relatório com os resultados encontrados.
Termo de Consentimento
Assinando este termo, estou consentindo a participação dos alunos no estudo:
Compromisso convencional e comportamentos anti-sociais em diferentes idades: Um
estudo transversal, do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social (doutorado) da
Universidade Federal da Paraíba, sob a coordenação do doutorando Walberto Silva dos
Santos.
João Pessoa, ___de _________ de ______.
_____________________________________________________
Carimbo e assinatura do Coordenador/Diretor da Instituição
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