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movimento feminista não era objetivo de todas. Rachel de Queirós
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, por exemplo, ao
assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras, por conta das discussões, acerca do
feminismo brasileiro, faz questão de destacar que não era feminista e que sua entrada na
Academia dava-se, estritamente, por ser uma “profissional de letras”.
Como não sou feminista, não posso entender essa vitória de uma única
escritora a todas as mulheres. Entendo que sim, vitória foi a ABL consentir
na entrada das mulheres. Valorizo este posto pela oportunidade de reunião
com escritores, pois o convívio é benéfico à vida literária e à cultura.
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A abertura da ABL às mulheres era vista pela escritora como um grande salto para a
cultura brasileira, não identificando esse acontecimento como uma vitória feminina. Segundo
Rachel, quem mais ganhou com essa medida foi a ABL, porém, ao contrário do que disse a
escritora, a entrada das mulheres na ABL pode ser interpretada como uma conquista, não
apenas para a Academia, mas também para as mulheres, visto que novos espaços estavam se
redefinindo e atribuindo outros significados à esfera pública. Isso a permitia refletir com um
novo olhar ao universo feminino. Além de ser escritora, Rachel de Queirós, na década de
1930, militou no Partido Comunista Brasileiro, participou da campanha que tirou Getúlio
Vargas do Governo em 1945 e articulou juntamente com os militares o golpe de 1964. Filiada
à Arena, foi convidada pelos militares para ser ministra da Educação, mas não aceitou.
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No Piauí, além dos novos espaços, novos temas foram configurando o cotidiano
piauiense, como o divórcio. Ainda em 1974 o divórcio, começava a ser discutido por juristas,
parlamentares e religiosos. Entre eles, o senador Nelson Carneiro
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destacava-se como um
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Rachel de Queirós. Nasceu em 17 de novembro de 1910 em Fortaleza. Foi a primeira mulher a ingressar na
Academia Brasileira de Letras. VER: SCHUMAHER, Schuma. Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a
atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 476.
177
RACHEL diz que não é feminista. O Dia. Teresina, ano XXVI, n. 4856, p. 13, 6 ago. 1977.
178
SCHUMAHER, op. cit., p. 476-477.
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O senador Nelson Carneiro sempre teve uma atuação voltada para a luta dos direitos em defesa da mulher.
Segundo ele, esse interesse pelo tema surgiu em sua atividade enquanto advogado, ao aproximar-se da condição
jurídica da mulher ainda na década de 1940, observando que a mulher era representada secundariamente pela lei
civil brasileira. Anterior à defesa do divórcio na década de 1970, outros projetos foram apresentados pelo
senador defendendo e protegendo as mulheres. Na década de 1940, enquanto deputado federal, Nelson Carneiro
encaminhou um projeto que assegurava “à mulher casada, à companheira do homem desquitado, à solteira ou
viúva, os direitos de pensão, montepio, soldo, ou pensão de alimentos, direitos que até então não existiam”. Em
1949, conseguiu a aprovação de uma lei que contemplava com alimentos os filhos considerados ilegítimos, filhos
de mães não casadas oficialmente. Entre outros projetos, na década de 1970, como senador, conseguiu vetar a
dispensa da empregada grávida, como também garantir pagamento em dobro para a mulher despedida por
motivo de casamento ou gravidez, melhorias nas condições de trabalho feminino, aposentadoria proporcional às
mulheres após 25 anos de serviço, através do antigo INPS. No final da década de 1970, o senador participou
ativamente da Comissão Parlamentar de Inquérito que examinou a condição da mulher, as lutas e conquistas da
mulher brasileira, as leis protecionistas do trabalho feminino, a mulher fora do lar, o planejamento familiar, o
aborto, a mulher como adorno ou objeto sexual, a Consolidação das Leis Trabalhistas, CLT, a ação parlamentar e