215
de sangue branco, produz o embranquecimento do brasileiro, o denominado ritual do
branqueamento.
889
Conforme demonstrou a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios –
PNAD, empreendida em 1976, pode-se afirmar que no Brasil há uma miscelânea
racial, isto porque, ao conceder a possibilidade ao entrevistado de se autoclassificar,
de maneira livre frente à pergunta: “Qual é a sua cor?” Obteve-se dos brasileiros, o
impressionante resultado de se auto-atribuírem 135 cores diferentes.
890
Do exposto, no Brasil, a miscigenação, combinada com o sistema de
autoclassificação, poderia inviabilizar o sistema de categorização racial, pois, nota-
se uma tendência de muitos brasileiros, recorrerem ao ideal de branqueamento. É o
que Carl Degler chamou de “válvula de escape do mulato”
891
, que constitui o
argumento principal da diferença no relacionamento racial existente no Brasil e nos
Estados Unidos, qual seja, os negros se casariam com os brancos, na esperança
que sua prole tivesse melhor sorte, na medida em que, seus descendentes não mais
889
Conforme Edith Piza afirma branqueamento é “um conjunto de normas, atitudes e valores que a
pessoa negra, e/ou seu grupo mais próximo, incorpora, visando atender à demanda concreta e
simbólica de assemelhar-se a um modelo branco e, a partir dele, construir uma identidade racial
positivada”. PIZA, E. Branco no Brasil? Ninguém sabe, ninguém viu... In: HUNTLEY, L.;
GUIMARAES, A. S. A. (Orgs.) Tirando a máscara: ensaios sobre o racismo no Brasil. São Paulo:
Paz e Terra, 2000, p.103. O ritual de branqueamento também pode advir da ascensão social,
assim no Brasil, sempre houve uma tendência em associar-se a cor à classe social à qual
pertençam.
890
Na ocasião os entrevistados, identificaram-se conforme a lista de cores, a seguir: Acastanhada,
Agalegada, Alva, Alva-escura, Alvarenta, Alvarinta, Alva-rosada, Alvinha, Amarela, Amarelada,
Amarela-queimada, Amarelosa, Amorenada, Avermelhada, Azul, Azul-marinho, Baiano, Bem-
branca, Bem-clara, Bem-morena, Branca, Branca-avermelhada, Branca-melada, Branca-morena,
Branca-pálida, Branca-queimada, Branca-sardenta, Branca-suja, Branquiça, Branquinha, Bronze,
Bronzeada, Bugrezinha-escura, Burro-quando-foge, Cablocla, Cabo-verde, Café, Café-com-leite,
Canela, Canelada, Cardão, Castanha, Castanha-clara, Castanha-escura, Chocolate, Clara,
Clarinha, Cobre, Corada, Cor-de-café, Cor-de-canela, Cor-de-cuia, Cor-de-leite, Cor-de-ouro, Cor-
de-rosa, Cor-firma, Crioula, Encerada, Enxofrada, Esbranquecimento, Escura, Escurinha, Fogoio,
Galega, Galegada, Jambo, Laranja, Lilás, Loira, Loira-Clara, Loura, Lourinha, Malaia, Marinheira,
Marrom, Meio-amarela, Meio-branca, Meio-morena, Meio-preta, Melada, Mestiça, Miscigenação,
Mista, Morena, Morena-bem-chegada, Morena-bronzeada, Morena-canelada, Morena-castanha,
Morena-clara, Morena-cor-de-canela, Morena-jambo, Morenada, Morena-escura, Morena-fechada,
Morenão, Morena-parda, Morena-roxa, Morena-ruiva, Morena-trigueira, Moreninha, Mulata,
Mulatinha, Negra, Negrota, Pálida, Paraíba, Parda, Parda-clara, Polaca, Pouco-clara, Pouco-
morena, Preta, Pretinha, Puxa-para-branca, Quase-negra, Queimada, Queimada-de-praia,
Queimada-de-sol, Regular, Retinta, Rosa, Rosada, Rosa-queimada, Roxa, Ruiva, Russo,
Sapecada, Sarará, Saraúba, Tostada, Trigo, Trigueira, Turva, Verde, Vermelha. Nesse sentido, ver
em VENTURI, G.; TURRA, C. (Org.). Racismo Cordial. Folha de São Paulo/Datafolha. A mais
completa análise sobre o Preconceito de cor no Brasil. São Paulo: Ática, 1995, p. 33 e 34.
891
DEGLER, C. Neither Black nor White, 1986, p. 182. Tradução livre. A pesquisa realizada pelo
Instituto DataFolha em 1995, revelou que a cor predileta para auto-atribuição do brasileiro é a cor
morena. Ver a respeito TELLES, E. E. Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica.
Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.