31
1.4.2 Entrevista: gênero discursivo
O estudo de textos, numa perspectiva de classificação em Gêneros,
remonta a muitos séculos, mais precisamente à Grécia clássica – por meio de
Platão, Aristóteles, Horácio e Quintiliano, dentre outros, como objeto de
investigação do âmbito estrito da Poética.
Na tradição ocidental, durante algum tempo, a expressão “gênero”
esteve ligada aos gêneros literários. Atualmente, essa expressão está
espraiada em outros domínios das ciências humanas, como a Etnografia, a
Sociologia, a Antropologia, o Folclore, a Retórica, a Lingüística, embora não
representando a mesma idéia em todos eles.
No campo da lingüística, especificamente, há uma enorme variedade de
tipologias, resultante do interesse sobre os gêneros. Essa variedade pode ser
comprovada pela metalinguagem utilizada e pelo uso indistinto de termos como
gênero, tipos, modos, modalidades de organização textual, espécies de texto e
de discurso. Embora muitos estudiosos, como os citados por Bronckart (1999,
p. 138) constatem que “os gêneros nunca podem ser objetos de uma
classificação racional, estável e definitiva”, do ponto de vista teórico e
terminológico é importante que se distingam essas noções.
16
A questão do gênero voltou ao debate lingüístico motivada em grande
parte pelas idéias de Bakhtin (1992), segundo a qual a comunicação humana
seria dificultada se, a cada vez que o locutor fosse interagir, tivesse que criar
um gênero. Os gêneros estão, assim, presentes no cotidiano das pessoas,
relacionados às diferentes situações sociais.
16
Com relação à distinção entre tipo textual e gênero textual, Marcuschi (2000, p.22-3),
baseando-se em autores como Swales (1990), Adam (1987) e Bronckart (1999), define tipo
textual como uma espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua
composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). São tipos textuais
narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. A expressão gênero textual é
utilizada para designar textos materializados que se utilizam cotidianamente e que apresentam
características sócio-comunicativas, definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e
composição característica. Entre os inúmeros gêneros estão: telefonema, sermão, carta
pessoal, outdoor, notícia jornalística e assim por diante. Portanto, percebemos que a noção de
texto está relacionada aos aspectos lingüísticos, enquanto a de gênero volta-se para o
discurso, para o uso efetivo da língua em interações sociais.
A classificação tradicional de gênero, que se restringe à narração, descrição e dissertação,
está sendo substituída pelo termo “seqüência”, defendida por Adam (1987), pela expressão
“modalidade discursiva” (Meurer, 1997) e por “tipo de texto” (Marcuschi, 2000).