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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA – PROLING
A METÁFORA CONCEPTUAL COMO RECURSO
ARGUMENTATIVO EM FOLDERES TURÍSTICOS
NATÁLIA DE SOUSA ALDRIGUE
João Pessoa – PB
Abril/ 2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA – PROLING
A METÁFORA CONCEPTUAL COMO RECURSO
ARGUMENTATIVO EM FOLDERES TURÍSTICOS
NATÁLIA DE SOUSA ALDRIGUE
Dissertação ligada à linha de pesquisa
Linguagem, Sentido e Cognição e
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Lingüística da UFPB,
como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre.
Orientadora Prof
a
Dra. Lucienne C. Espíndola
João Pessoa – PB
Abril/ 2007
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A 365m Aldrigue, Natália de Sousa
A metáfora conceptual como recurso argumentativo nos folderes
turísticos / Natália de Sousa Aldrigue – João Pesso, 2006.
77 p.
Orientadora: Lucienne C. Espíndola
Dissertação (mestrado) – UFPB / CCHLA
1. Metáfora – Propaganda Turística
UFPB / BC CDU: 801.541.251 (043)
DEDICO:
A todos que acreditaram em mim e me ajudaram durante toda a minha caminhada
para que aqui pudesse chegar e agora ir mais longe.
AGRADEÇO:
A Deus por me dar forças nos momentos em que mais precisava, fazendo-me
recordar que minha jornada está apenas começando.
À minha família e namorado pelo aconchego, incentivo e confiança sempre
constantes.
À professora e orientadora Lucienne Espíndola, pela sua sabedoria e paciência ao
longo deste processo, por mostrar o verdadeiro sentido do saber e me auxiliar a pôr
em prática este projeto que agora se realiza.
Aos professores e funcionários, que sempre me ajudaram desde o momento que
aqui ingressei com seus ensinamentos e apoio.
Aos meus amigos daqui e de fora da Lingüística, pela força dada durante esses dois
anos de vivência.
“Contentar-se em compreender e explicar uma obra
a partir das condições de sua época, a partir das
condições que lhe proporcionou o período contíguo, é
condenar-se a jamais penetrar as suas profundezas
de sentido. Encerrar uma obra na sua época também
não permite compreender a vida futura que lhe é
prometida nos séculos vindouros, e esta vida fica
parecendo um paradoxo. As obras rompem as
fronteiras de seu tempo, vivem nos séculos, ou seja,
na grande temporalidade, e, assim, não é raro que
essa vida seja mais intensa e mais plena do que nos
tempos de sua contemporaneidade”.
Mikhail Bakhtin
Resumo
Vinculada ao projeto Metáfora, Gêneros Discursivos e Argumentação do LASPRAT
(Laboratório Semântico Pragmático de Textos), esta pesquisa objetiva investigar o papel
desempenhado pela metáfora conceptual na propaganda turística em folderes. A nossa
hipótese é que, na propaganda turística, predomina a presença da metáfora conceptual
ontológica com função argumentativa. Com base nos postulados de Lakoff e Johnson
(1980), Zanotto (1995), Barcelona (2003), Ducrot (1988), Koch (1987) e outros,
comprova-se a partir da análise qualitativa das expressões metafóricas utilizadas no gênero
analizado, a presença de metáforas conceptuais e do papel argumentativo que estas
exercem na propaganda turística. Entende-se, aqui, a metáfora conceptual como sendo uma
forma de atividade cognitiva, ou seja, o resultado de uma construção mental, em que os
conceitos são estruturados metaforicamente em termos de outros. Sendo assim, as
metáforas diferem, de acordo com cada cultura e sua interpretação varia conforme o
contexto em que estão inseridas.
Abstract
The present research, part of the Metaphor, Discourse Genres, and Argumentation project
developed at the Semantic Pragmatic Text Laboratory (LASPRAT) aims at investigating
the role played by conceptual metaphors in touristic folders publicity. Our work hypothesis
is that ontological conceptual metaphors prevail in tourism publicity , with argumentative
function. Based on Lakoff and Johnson (1980), Zanotto (1995), Barcelona (2003), Ducrot
(1988), Koch (1987) and others, we confirm by qualitatevely analysing metaphorical
expressions present in the genre investigated, the presence of conceptual metaphors and the
argumentative role they exert in touristic publicity. Metaphor is here understood as a form
of cognitive activity, that is, as the result of a mental construction in which concepts are
metaphorically structured in terms of other concepts. Metaphors, thus, differ from culture
to culture and their interpretation varies according to the context in which they occur.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
10
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1. TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO
2.2. TRÊS PERCEPÇÕES DA METÁFORA
14
23
2.2.1. Concepção Referencialista
24
2.2.2. Concepção Descritivista
25
2.2.3. Visão Conceptual
27
2.2.3.1. Metonímia
35
3. DA PROPAGANDA AO FOLDER
3.1. A PROPAGANDA E SUA TRAJETÓRIA
3.1.1. A Imagem no Discurso da Propaganda
38
44
3.2.FOLDER TURÍSTICO: GÊNERO E SUPORTE?
47
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1.CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
52
4.2.ANÁLISE DOS FOLDERES TURÍSTICOS
54
4.2.1. As metáforas conceptuais na propaganda turística veiculada em
folderes
55
4.2.2. As metáforas conceptuais e a argumentação
4.2.2.1. A relação polifonia e metáfora conceptual em folderes
turísticos
64
68
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
71
REFERÊNCIAS
74
ANEXOS
1. INTRODUÇÃO
A elaboração desta pesquisa decorre de questões estudadas ao longo de 2003 e
2004, no LASPRAT
1
, onde se investiga o processo da argumentatividade em diferentes
gêneros, focalizando-os como manifestação de processos argumentativos. Atualmente, por
meio de um novo projeto, denominado Metáforas, Gêneros Discursivos e Argumentação, o
LASPRAT pretende descrever e identificar os efeitos e as funções semântico-discursivas
da metáfora conceptual em gêneros discursivos escritos e falados, visando a apresentar um
amplo panorama do funcionamento semântico-discursivo da metáfora conceptual sob o
prisma do gênero.
Esta pesquisa está vinculada ao LASPRAT como subprojeto, e tem, como objetivo
investigar a propaganda turística nos folderes, visto que, nos dias atuais a propaganda vem
sendo uma área de grande interesse para diversos estudos, uma vez que, desde a Revolução
Industrial, em meados do século XVIII, a busca pelo consumidor vem se tornando cada vez
mais acirrada na publicidade mundial, fazendo com que os profissionais desse meio
recorram ainda mais aos recursos da linguagem e recursos visuais, para atingir um número
maior de consumidores.
Para isso o universo publicitário sempre buscou trabalhar com a fantasia e o
devaneio junto ao seu público-alvo. O belo, a pessoa que está bem na vida, a alegria
sempre evidenciada tanto na tela da televisão, nas revistas, nos jornais, nos folderes, nas
rádios, nos outdoors e em outros meios de comunicação, são muito procurados e
enfocados, como uma forma de criar um mundo imaginário, um mundo melhor para se
viver.
Sendo assim, na publicidade, existem algumas metas a serem atingidas como:
chamar a atenção, despertar o interesse, estimular o desejo e induzir à ação
(VESTERGAARD e SCHORDER, 2000). Todos esses elementos fazem parte de uma
trilha para se chegar a um objetivo, no entanto, não podemos desconsiderar que os desejos,
sonhos e devaneios, embutidos em cada peça publicitária, são fatores preponderantes para
resultados satisfatórios.
1
Laboratório Semântico-Pragmático de Textos, coordenado pela professora Dr
a
. Lucienne Espíndola,
vinculado ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal da Paraíba – UFPB.
Desde o começo da publicidade, os profissionais procuraram utilizar recursos
verbais e visuais na elaboração de suas peças como uma forma de torná-las mais atrativas
aos olhos dos consumidores. Assim, esses recursos são divididos em duas categorias: os
verbais, em que está todo tipo de estratégia lingüística que é utilizada para que o produto
ou serviço seja visto e compreendido; e os não-verbais, ou visuais, onde encontramos todo
apelo visual que vai incrementar o texto e transformar a peça publicitária em uma obra
mais atrativa e desejada.
Porém, mesmo com imagens persuasivas, os homens de diferentes épocas sempre
dedicaram atenção especial à linguagem, mas é só com o surgimento da Lingüística
enquanto ciência que essas manifestações da curiosidade do homem tomam a forma de
uma ciência, com objeto e método próprios. A Lingüística, tal como posta por Saussure, é
uma ciência recente, inaugurou-se no começo do século XX e, para se firmar como tal,
teve de demonstrar o apuro de seu método e a configuração precisa de seu objeto. Ela
definiu-se, com bastante sucesso entre as Ciências Humanas, como o estudo científico que
visa à descrição ou à explicação da língua verbal humana.
Fazendo parte desse campo lingüístico estão as metáforas, e uma das razões pelas
quais o fenômeno metafórico vem sendo estudado é que, além de ser uma manifestação
estética muito presente em textos literários, faz parte da vida cotidiana e contribui para a
interação. Assim, a metáfora que antes era vista apenas como um recurso estilístico (visão
referencialista) passa a ser estudada também como um recurso que utilizamos, todos os
dias, em qualquer interação verbal (metáfora conceptual). Desse modo, pretendemos, com
este estudo, verificar como as metáforas conceptuais estão presentes no gênero publicitário
veiculado pelo folder, e se elas exercem um papel argumentativo nesse gênero.
Partindo de estudos da metáfora, baseados em alguns autores como Sam
Glucksberg (2001), Michael Leezenberg (2001), George Lakoff e Mark Johnson (1980),
primeiramente, levantamos questões pertinentes a algumas teorias metafóricas abordadas
por eles, para, em seguida, aprofundarmos nosso estudo especificamente na teoria da
metáfora cognitiva abordada por Lakoff e Johnson (1980).
Posteriormente, para alcançar o objetivo acima mencionado em relação à
argumentação em folderes, apoiamo-nos, sobretudo, na Teoria da Argumentação postulada
por Ducrot (1988) e colaboradores, e seguido por Koch (2001), entre outros lingüistas que
a estudam. Optamos por utilizá-la, principalmente, pelo fato de tal teoria levar em
consideração que os elementos marcados lingüisticamente podem apontar para o
direcionamento argumentativo (intenção) pretendido ou não pelo locutor do texto. Por esta
razão consideramos a teoria como suporte teórico adequado para a análise dos folderes.
Com base na tese de que “a língua e seus usos são fundamentalmente
argumentativos” (ESPÍNDOLA, 2003, p.01), mostra-se necessário descrever como a
metáfora conceptual
2
direciona (no processo de leitura) o modo como o dito deve ser lido,
tendo como hipótese que, na propaganda turística, predomina a metáfora conceptual
ontológica
3
exercendo papel argumentativo. E, também, a hipótese de que algumas
expressões metafóricas que atualizam essa metáfora, segundo Espíndola (2005), não são
propriamente do nosso cotidiano, elas são elaboradas pelos publicitários, e podem ou não
se tornar do nosso dia-a-dia.
Pelo fato de o folder ser um dos suportes através dos quais os anunciantes tornam
público um produto / serviço, torna-se necessário apresentarmos algumas características da
propaganda, bem como a concepção de folder, enquanto suporte, por nós adotada neste
trabalho.
Esta pesquisa está dividida em três capítulos: os dois primeiros são dedicados às
principais teorias que a embasam, sendo o primeiro, à Teoria da Argumentação, que é o
“carro chefe” da nossa pesquisa, e à Teoria da Metáfora Conceptual; no segundo, está
contida a trajetória da Propaganda, incluindo, aqui, um estudo sobre a importância da
linguagem visual (imagem) nesse gênero, e as teorias do Gênero e do Suporte, onde está a
definição do que consideramos como Folder; e, no terceiro, consta a análise dos dados
coletados durante a pesquisa, em que, após explicitar a forma metodológica do trabalho
(características do corpus, os procedimentos analíticos etc.), apresentamos a análise dos
folderes, com o levantamento das metáforas conceptuais e respectivo valor argumentativo,
levando em consideração os pressupostos teóricos que nortearam a pesquisa e sobre os
quais a análise se fundamenta.
Por fim, expomos nossas considerações finais acerca deste trabalho e as referências
bibliográficas que fizeram parte dos nossos estudos e que podem ajudar nas pesquisas a
serem realizadas acerca do tema aqui discutido.
2
Essa metáfora faz parte da Teoria Conceptual da Metáfora em que a metáfora é resultado de uma construção
mental, uma projeção de conceitos.
3
A metáfora ontológica é uma das metáforas que integram a classificação da Metáfora Conceptual,
estabelecida por Lakoff e Johnson (1980).
Salientamos que, apesar da existência da Teoria Conceptual da Metáfora, ainda são
poucas as pesquisas associadas aos gêneros propagandísticos. Sendo assim, esta concepção
metafórica continua a merecer atenção por parte de todos os que se preocupam com
questões relacionadas à construção do sentido.
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1.TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO
Antes de ser estudada sob a perspectiva lingüística de Ducrot (1988) e
colaboradores, a argumentação foi tratada sob diferentes pontos de vista, sendo, um deles o
olhar da Nova Retórica de Perelman (1999). Nessa perspectiva, o autor considera o
auditório (interlocutor) como elemento determinante para a escolha das estratégias
argumentativas.
O auditório é entendido por Perelman como “o conjunto daqueles que o orador
quer influenciar pela sua argumentação” (1999, p. 33). Sendo que este pode variar desde
o próprio locutor, quando muitas vezes “falamos com nós mesmos”, a um público
específico de interlocutores ou a uma comunidade em geral. Um exemplo deste último
caso seria a propaganda dos candidatos à presidência da República, esta que é voltada para
toda sociedade brasileira.
Para o autor supracitado, a argumentação não se faz por deduzir conseqüências,
mas por provocar ou aumentar a adesão de um determinado auditório, seja essa adesão por
meio do pensamento (intelecto) ou por meio da ação. Por isso, é tão importante saber se
adaptar ao auditório, escolhendo os recursos adequados, admitidos e entendidos pelos
interlocutores, na argumentação, pois, os mesmos, se bem selecionados, através dos
locutores, irão atrair os auditórios; por outro lado, se mal escolhidos, podem criar
inconvenientes e levar o discurso para um caminho não desejado pelo locutor.
Assim, Perelman coloca que
A escolha de elementos, escolha de um modo de descrição e
apresentação, juízo de valor ou de importância, todos esses elementos
são considerados tanto mais justificadamente como manifestando uma
tomada de posição quando mais nitidamente se veja que outra escolha,
outra apresentação, outro juízo de valor se lhes poderia impor (1999, p.
54).
Oswald Ducrot, por sua vez, propõe uma revisão dos conceitos tradicionais de
argumentação considerando-a em uma perspectiva lingüística, afirmando que a
argumentação está marcada na própria língua e considerando o valor argumentativo como
o nível fundamental da descrição semântica. Para esse estudioso, o valor argumentativo de
uma palavra é definido pela orientação que esta palavra dá ao discurso, por exemplo, na
frase João é inteligente, por isso consegue resolver todas as questões da prova, a palavra
inteligente tem valor argumentativo, pois ela é fundamental (funciona como um orientador
argumentativo) para que o interlocutor tenha uma conclusão positiva de João.
En efecto, a mi juicio el empleo de uma palabra hace posible o
imposible uma cierta continuación del discurso y el valor argumentativo
de esa palabra es el conjunto de esas posibilidades o imposibilidades de
uma continuación discursiva que su empleo determina (DUCROT, 1988,
p. 51).
Assim, quanto ao valor argumentatico, Koch (2001) afirma que,
Quando interagimos através da linguagem (quando nos propomos a jogar
o “jogo”), temos sempre objetivos, fins a serem atingidos; há relações que
desejamos estabelecer, efeitos que pretendemos causar, comportamentos
que queremos ver desencadeados, isto é, pretendemos atuar sobre o(s)
outro(s) de determinada maneira, obter dele(s) determinadas reações
(verbais ou não verbais). É por isso que se pode afirmar que o uso da
linguagem é essencialmente argumentativo: pretendemos orientar os
enunciados que produzimos no sentido de determinadas conclusões (com
exclusão de outras) (p.29)
Sublinhe-se que, embora o teórico e lingüista Ducrot (1988) veicule que a língua é
essencialmente argumentativa, Espíndola (2005) faz um adendo a essa tese: o uso também
é argumentativo. Neste sentido,
Todo e qualquer gênero discursivo apresenta marcas lingüístico-
discursivas que imprimem, no discurso, a orientação
argumentativa apontada pelo locutor, considerando que a língua e
seus usos são fundamentalmente argumentativos (ESPÍNDOLA,
2005, p. 25).
Por essa teoria ser concebida, essencialmente, como uma teoria semântica de
interpretação de enunciados (cf. ESPÍNDOLA, 1998, p. 45), há alguns conceitos que
precisam ser descritos: argumentação, língua, discurso, enunciado, frase, significação e
sentido.
Para Espíndola,
A argumentação não está mais somente nos enunciados, mas também
nas palavras, expressões, isto porque a língua, nessa teoria, é
fundamentalmente argumentativa. A língua é um conjunto de frases que
servem para construir discursos e o discurso é o encadeamento de
enunciados. A frase, por sua vez, é uma construção do lingüista que
serve para explicar a infinidade de enunciados. Por outro lado, o
enunciado é uma das ocorrências da frase – é a manifestação, “na
superfície”, da estrutura profunda que é a frase. A significação é o valor
semântico da frase, consistindo em um conjunto de instruções diretivas
que permitem interpretar os enunciados da frase e o sentido de um
enunciado é a descrição que faz da sua enunciação (1998, p. 45).
Os mecanismos de que a língua dispõe para indicar a orientação argumentativa, de
acordo com Koch (2001), podem, assim, denominar-se: marcas lingüísticas da enunciação
ou da argumentação (estão incluídos: os operadores argumentativos, os marcadores de
pressuposição, os indicadores modais ou índices de modalidade, os indicadores atitudinais,
os tempos verbais, os índices de polifonia, entre outros) e modalizadores. Esses
determinam o modo como aquilo que se diz é dito (2001, p. 29). Assim, torna-se necessário
buscar as intenções, em alguns casos veladas, contidas no interior do discurso
principalmente porque “para que um ato de fala alcance os objetivos visados pelo locutor,
é necessário que o interlocutor seja capaz de captar a sua intenção; caso contrário, o ato
será inócuo” (2001, p. 23).
Para melhor compreensão dessas marcas lingüísticas, vamos apresentar algumas
delas, nas etapas pelas quais a teoria da argumentação na língua, de Ducrot e
colaboradores, passou. Sendo essas etapas conhecidas como Descritivismo Radical,
Descritivismo Pressuposicional, Argumentação como Constituinte da Significação,
Argumentatividade Radical e a mais recente, que não será aqui abordada, a Teoria dos
Blocos.
No Descritivismo Radical, primeira etapa da teoria, Ducrot e colaboradores viam a
língua e a argumentação separadas, e os conectores seriam responsáveis pelas relações
entre os fatos. Assim, não se considera essa primeira contribuição como argumentativa,
pois ela se refere somente ao poder que as palavras têm de descrever fatos. Porém, a
argumentatividade era produzida, segundo esses estudiosos, quando os conectores
estabeleciam as relações da língua com os fatos, como nos exemplos,
¾ Maria estudou pouco; e
¾ Maria estudou um pouco.
Nos enunciados acima, diferentes quantidades de estudo foram feitas por Maria, no
primeiro, ela estudou pouco, ou seja, não o suficiente para o que ela precisava, já no
segundo, ela estudou mais que no primeiro, ela estudou um pouco. Dessa forma, as duas
expressões se referem a fatos diferentes e assim se dá a argumentação, ainda com base em
fatos.
A segunda etapa é um ajuste da anterior. Nela, Ducrot dizia que apenas os fatos
afirmados (postos) eram argumentativos, a argumentação ainda era vista como algo
factual. Para o referido autor (1994, p. 77), “pressupor não é dizer o que o outro sabe ou o
que se pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar o diálogo na hipótese de que ele já
soubesse”. Ele ainda afirma que “o pressuposto está marcado na frase e desta é
transmitido ao enunciado” (1987, p. 33).
Logo, se voltarmos aos exemplos anteriores, podemos ver que as duas marcas
lingüísticas, pouco e um pouco, apresentam pressupostos diferentes e, por conseguinte,
conclusões distintas. No primeiro, Maria estudou pouco, o conteúdo posto é que a
quantidade que Maria estudou foi insuficiente, o pressuposto é que ela estudou, e a
conclusão diz respeito à intensidade do estudo de Maria. Já no segundo exemplo, Maria
estudou um pouco, o posto é que Maria realizou uma certa quantidade de estudo, o
pressuposto é que esta quantidade de estudo foi pequena, e a conclusão se refere à
existência de estudo.
A principal diferença desta etapa para a primeira, de acordo com Anscombre e
Ducrot (1994, p. 201), é que, na primeira etapa, a argumentação dos enunciados fora
descrita em termos quantitativos e, na segunda, estabelece-se potencialidades
argumentativas opostas entre, por exemplo, pouco e um pouco.
Na Argumentação como Constituinte da Significação, terceira etapa da referida
teoria, mais conhecida como Argumentação na Língua, os estudiosos passam a considerar
os conectores e operadores argumentativos como elementos lingüísticos que determinam e
introduzem o valor argumentativo nos enunciados. Assim, ele afirma que
Lo importante es que en el mismo contexto las conclusiones serán
opuestas. De esto concluyo que las posibilidades argumentativas no
están determinadas solamente por hechos sino que la forma lingüística
misma impone ciertas argumentaciones y no otras (DUCROT, 1988, p.
77).
Com isso, podemos dizer que a conclusão dos enunciados é indicada pelas formas
lingüísticas utilizadas nesses enunciados.
Ducrot postula a distinção entre sujeito empírico e locutor de um enunciado. O
primeiro desempenha o papel de produtor do enunciado, o individuo cujo trabalho físico e
mental permitiu produzir esse enunciado; o segundo corresponde à instância que assume a
responsabilidade do ato da linguagem.
No final desta terceira etapa, a teoria da argumentação é inserida definitivamente na
língua. Por isso, a argumentatividade do enunciado é orientada pelos conectores. Ducrot
(1988) levanta a tese de que há expressões na língua que têm, por si mesmas, um valor
argumentativo.
Decir que algunas expresiones son argumentativas significa que esas
expresiones imponen, determinan por sí mismas, el valor argumentativo
de los enunciados donde aparecen (DUCROT, 1988, p. 82).
Porém, na quarta etapa, Argumentatividade Radical, o autor percebe que somente
as formas lingüísticas não são suficientes, é preciso o contexto, o conhecimento de mundo
para que as expressões tenham valor argumentativo.
Ducrot (1988, p. 83) cita os adjetivos econômico e avaro, como análise de
expressões argumentativas que impõem valor argumentativo nos enunciados onde
aparecem e que vão depender do contexto. No enunciado Gosto muito de João: ele é
econômico, o fato de ser econômico é uma virtude que permite apreciar João e serve para
fazer um elogio. Já o enunciado Gosto muito de João: ele é avaro não seria possível em
um contexto em que ser econômico é positivo e avaro é negativo, porque, neste caso, não
serve para fazer um elogio, tampouco elogiar João. Assim, em um contexto em que esses
dois enunciados descrevessem a mesma realidade, eles se prestariam para indicar
orientações argumentativas diferentes, as palavras econômico e avaro apontam, portanto,
para pontos de vista argumentativos diferentes.
No entanto, é importante acrescentarmos que, somente em um contexto em que a
avareza não é considerada uma virtude, é que o segundo enunciado não é possível. Por
outro lado, em um contexto em que a avareza é considerada uma virtude, o segundo
enunciado não só é possível como também serve para fazer um elogio.
A Argumentatividade Radical vai, contudo, assinalar que a introdução de um
operador, em um enunciado, não limita as conclusões possíveis, pois, dependendo da
intenção do locutor e do contexto, a conclusão pode ser alterada.
Dessa forma, com base em Ducrot (1988) e reafirmado por Espíndola (2004), o
operador argumentativo é um elemento lingüístico que indica, mas nem sempre garante, a
orientação argumentativa do enunciado. A autora (2004, p. 65) classifica esses operadores
em três grupos:
1) Operador argumentativo (sentido estrito) – partícula da língua que,
aplicada a um enunciado, indicará o topos e a força com que este será
atualizado.
2) Conector argumentativo – partícula da língua que articula duas porções
textuais, indicando o topos e a respectiva força com que será atualizado.
3) Modificador (realizante e derrealizante) – palavra cuja função é
modificar os predicados de uma língua (nomes e verbos), indicando o
topos e a força com que serão aplicados a uma determinada situação /
pessoa / fato..
Além das expressões argumentativas, Ducrot (1988), retoma o conceito de
polifonia de Bakhtin, para mostrar como um locutor pode se valer de diferentes vozes e
pontos de vista para alicerçar seu discurso. Assim como para Bakhtin (1992), para Ducrot
todo discurso é polifônico.
O conceito de polifonia (DUCROT, 1988) parte da tese que todo texto traz em sua
formação uma pluralidade de vozes que podem ser atribuídas ou a diferentes locutores,
caso dos discursos relatados, das aspas, citações, referências, argumentação por autoridade,
etc, ou a diferentes enunciadores, quando se atesta que o locutor pode se inscrever no texto
a partir de diferentes pontos de vista. Nessa perspectiva, é que se define o dito e o não-dito
(a voz implícita). Por isso, falar em polifonia é falar de implícitos. A teoria de Ducrot (op.
cit.) pretende provar a não-unicidade do sujeito falante, porque, para ele, não há enunciado
monológico.
Para o sujeito da enunciação, Ducrot define três funções diferentes: locutor
enquanto tal (L), sujeito empírico (SE) e enunciador (E) (1988, p. 16).
O locutor (L) é aquele que se apresenta como responsável pelo discurso, a quem se
referem as marcas de 1
a
pessoa do discurso. Porém, para Ducrot (1988, p. 19), é possível
fabricar enunciado sem locutor. Isso se dá como um recurso argumentativo, a
impessoalidade, que pretende isentar o locutor de responsabilidades, ou demonstrar
imparcialidade, como em alguns textos jornalísticos ou em provérbios, por exemplo.
O sujeito empírico (SE) é o autor efetivo, o produtor do enunciado.
El sujeto empírico es el autor efectivo, el productor del enunciado. Pero
determinar quién es el autor efectivo del enunciado es mucho menos
fácil de lo que se podría creer (DUCROT, 1988, p. 16).
Para o referido autor, a determinação do SE não é um problema lingüístico, é muito
mais sociolinguístico. Para ele, o que interessa é o que está no enunciado e não as
condições externas de sua produção.
Segundo Ducrot (1988), todo enunciado apresenta um certo número de pontos de
vista relativos às situações de que se fala. Os enunciadores (E) são, assim, as origens
desses diferentes pontos de vista que se apresentam no enunciado, assumindo determinadas
posições a respeito desses enunciadores.
En la teoría de la polifonía, por el contrario, el enunciado presenta una
multitud de puntos de vista diferentes y el locutor toma una multitud de
actitudes en relación con esos puntos de vista (DUCROT, 1988, p. 68).
Podemos resumir então, que, sujeito empírico (SE) é o produtor do enunciado, o
locutor (L) é a pessoa que se apresenta como responsável por este enunciado e o
enunciador (E) é o responsável pelos pontos de vista gerados a partir do enunciado. Dessa
forma, a polifonia para Ducrot (1988) pode ocorrer tanto no nível do locutor como no do
enunciador.
A primeira, denominada polifonia dos locutores, é a polifonia explícita ou marcada.
É encontrada no discurso relatado, estilo direto e indireto, onde existem pelo menos dois
locutores distintos, como por exemplo, em Joana me disse: Eu voltarei amanhã, o primeiro
L1 (me) é o responsável pelo enunciado como um todo, o segundo L2 (eu) a quem se
atribui Eu voltarei amanhã.
Ducrot afirma que esse tipo de discurso é dizer através de palavras que foram
utilizadas pelo sujeito empírico, autor, desse discurso. Além do discurso relatado, também
há as aspas, citações, referências, uma das formas da argumentação por autoridade
(arrozoado por autoridade), etc., como exemplo de polifonia de locutores.
A segunda polifonia, a de enunciadores, é a polifonia não-marcada ou implícita.
Ocorre quando, no mesmo enunciado, são identificados pontos de vista diferentes,
colocados em cena pelo locutor. Logo, os enunciadores são esses pontos de vista que o
locutor traz para o seu discurso. O mais importante para Ducrot é que a presença dos
enunciadores está intrinsecamente relacionada com o sentido do enunciado. E, como
exemplo dessa polifonia, ele levanta a pressuposição, o humor e a ironia, os enunciados
formulados com mas, uma das formas da argumentação por autoridade (autoridade
polifônica), entre outros.
Ducrot (1988) diz que um locutor pode recorrer a diferentes vozes (outros
locutores) com diferentes intenções e assumindo diferentes posicionamentos com relação a
essas vozes, inclusive utilizando-as para fundamentar seus pontos de vista. Segundo o
autor, o locutor pode se posicionar de três maneiras distintas em relação ao enunciador.
Em primeiro lugar, o locutor pode identificar-se com um dos enunciadores, como
na afirmativa, Pedro veio. Aqui o locutor assume esse ponto de vista. Ele admite a vinda
de Pedro, assimilando-se ao enunciador.
Uma segunda atitude possível consiste em dar aprovação a um enunciador. O
locutor indica que está de acordo com esse enunciador, ainda que o enunciado não tenha
como objetivo fazer admitir o ponto de vista desse enunciador. Um exemplo disso é a
pressuposição que nada mais é que aquilo ao qual o locutor dá sua aprovação. Assim, no
exemplo Pedro deixou de fumar, temos o pressuposto Pedro fumava antes (E
1
) e o posto
Pedro não fuma mais (E
2
). Observamos, então, que o locutor dá sua aprovação a E
1
(noção
de pressuposição) e se identifica com o E
2
(noção de afirmação).
Para finalizar, a terceira possível atitude do locutor frente ao enunciador é a de se
opor a ele, é a de rechaçar seu ponto de vista. Um exemplo disso seria o humor, pois
quando o enunciado é humorístico, significa que o locutor apresenta um ponto de vista
absurdo que ele mesmo rechaça sem apresentar nenhum outro ponto de vista capaz de
corrigir o primeiro.
Concluímos, assim, que a polifonia de Ducrot é demonstrada pela presença de
várias vozes (explicitas ou implícitas) nos enunciados, que constituem o seu dizer como
uma estratégia intencional, consciente que visa a atingir determinados intentos.
2.2. TRÊS PERSPECTIVAS DA METAFÓRA
Na primeira parte deste capítulo, vamos apresentar três visões da metáfora: a
referencialista, a descritivista e a conceptual. Adentraremos nessas perspectivas, lembrando
que elas não são as únicas teorias sobre a metáfora, mas, para compor este trabalho, essas
três visões são as mais relevantes para que possamos levantar as diferenças entre elas e,
assim, chegar ao nosso objetivo maior, qual seja, o de compreender o papel argumentativo
desempenhado pela metáfora conceptual no gênero em análise .
A metáfora na perspectiva referencialista faz parte da tradição retórica em que ela
era apenas um ornamento lingüístico sem nenhum valor cognitivo. Era tida somente em
linguagens especiais, como a poética. Fazia parte da literatura e da imaginação, por isso a
ciência não se permitia utilizar desses termos para tal, já que seu texto tinha função mais
objetiva, função de informar.
No entanto, a partir do século XX, os filósofos começaram a ver a metáfora como
figura de pensamento, e não só como figura de linguagem; cada vez mais ela é vista como
abstrata. E, no lugar de ornamento lingüístico, a metáfora passa a ser trabalhada como uma
projeção de conceitos. É a partir da década de 1970, que essa mudança paradigmática toma
forma, levando a uma reformulação na maneira de conceber a objetividade, a
compreensão, a verdade, o sentido e a metáfora. A idéia central do novo paradigma é de
que a cognição é o resultado de uma construção mental, ou seja, os conceitos são
estruturados metaforicamente em termos de outro; aparece aqui, então, o conceito da
metáfora conceptual.
Com esse percurso rápido, observamos que a metáfora realmente tem sido olhada
sob diferentes ângulos, cada perspectiva com características próprias, e a que nossos
estudantes aprendem nas cadeiras das escolas é apenas uma delas. Isso se torna verdadeiro,
talvez, por ser a metáfora referencialista a mais conhecida e estudada até o momento. São
essas teorias sobre a metáfora que esmiuçaremos a seguir, com base em seus principais
defensores, sendo que nos deteremos somente na perspectiva cognitiva, alicerce da nossa
investigação.
2.2.1. Concepção Referencialista
Esta perspectiva vê a metáfora como uma comparação entre coisas, entre referentes.
Ela é um elemento à parte da linguagem, é uma combinação estética, que surge para suprir
lacunas ao dizer as coisas, “enfeitar” o texto ou para dar mais ênfase à comparação. É
conhecida como a metáfora estilística, por isso não é aceita no discurso científico. Nessa
visão, portanto, a ciência se fazia com a razão e o literal, enquanto a poesia se fazia com a
imaginação e a metáfora. Nesse contexto, a metáfora e outras espécies de linguagem
figurada deveriam ser sempre evitadas quando se pretendesse falar objetivamente.
Desde os primórdios, Aristóteles afirmou que a metáfora originou-se da
necessidade que o homem tinha de expressar determinadas coisas para as quais não
existiam palavras. Cícero (1951) definiu metáfora como a compreensão de uma palavra
que é colocada em um lugar “estranho”; assim ele considera a metáfora como um desvio
da linguagem, porém esse desvio seria normal, já que a palavra está sendo usada num
contexto diferente do considerado corriqueiro. Zanotto (1995, p. 211) afirma que “a
metáfora foi tratada por muitos séculos como um ornamento, pois não acrescentava
nenhuma informação nova. Era um desvio da linguagem comum, e necessário à linguagem
poética e persuasiva”. Assim, para se chamar a atenção ou prender o leitor, as pessoas
recorriam à “troca” de palavras, utilizava aquelas que elas acreditavam dar mais brilho ao
texto.
Segundo Leezenberg (2001), a abordagem desse tipo de metáfora apresenta três
características relevantes. A primeira é que o sentido literal de uma metáfora é equivalente
à abreviação de uma comparação. Em O homem é um lobo estamos querendo dizer que O
homem é como um lobo, porém, utilizando a primeira expressão, a comparação fica mais
forte do que a segunda com a palavra como, por isso a omitimos. A segunda característica
é que os autores referencialistas afirmam que a metáfora utiliza os referentes de expressões
já conhecidas como determinantes da interpretação metafórica. Assim, tomando o mesmo
exemplo acima, o homem está sendo comparado a um lobo pois apresenta semelhanças e
características do animal e o mesmo faz parte do nosso referencial. Por último, a terceira
questão, que é derivada da segunda, é que os referencialistas vêem a metáfora com um
duplo significado: o sentido literal servindo como base e o figurativo que é derivado do
literal. Para melhor compreensão dessa característica, podemos comparar os sentidos
conotativos e denotativos, em que o conotativo representaria o sentido figurativo e o
denotativo, o literal.
Porém, Leezenberg (2001), baseado nessas características, levanta alguns
problemas que elas acarretam, tais como: a noção de comparação não reduz nem expande o
sentido figurativo da metáfora, pois esta não se resume somente a uma abreviação de uma
comparação, já que esta pode ser tão figurativa quanto a metáfora; outro problema que ele
aborda é que a metáfora é mais de que uma comparação. Ela é uma recuperação de termos,
ou seja, para entendermos a frase O presidente abriu caminho através da discussão,
precisamos resgatar os termos, suas características, para poder fazer dessa comparação
uma metáfora; e, finalizando, o referido autor coloca que é muito possível usar termos com
uma extensão metafórica vazia. Entendemos, aqui, por “extensão” o conjunto de coisas que
os termos nomeiam e como intensão o conjunto de traços que identifica a extensão. Assim,
a frase Sally é um dragão não deixa de ser metafórica pois, apesar de o termo dragão não
existir, há um estereótipo acerca de dragão, o que faz com que concluamos que há termos
da metáfora que são construídos em cima de estereótipos, ou seja, que não existem
concretamente.
Dessa forma, apesar de todos esses problemas levantados por Leezenberg (2001),
contrapondo as características básicas, a visão referencialista é a mais tradicional e a que
predomina até hoje nos livros didáticos.
2.2.2. Concepção Descritivista
A primeira diferença dos descritivistas para os referencialistas é que, para aqueles, é
possível entender uma metáfora independente da sua referência, bastando para isso
observar os traços que presumidamente a definem. Sendo assim, é importante abrir um
parêntese, aqui, para retomar os conceitos expostos logo acima, de extensão e intensão, em
que a extensão é o conjunto de coisas que o termo nomeia e a intensão é o conjunto de
traços que identifica a extensão.
Assim, a visão descritivista explica a interpretação metafórica em termos de
transferência de significado. Para eles, é exatamente a falta de semelhança entre as
palavras, chamada de “oposição lógica” ou “conflito semântico”, que autoriza o
reconhecimento da metáfora. Desse modo, a metáfora está além das palavras, descreve o
sentido, por isso a visão descritivista é mais abstrata que a referencialista, pois trabalha
com os conceitos das palavras.
Essa corrente teve como primeiro fundador Max Black e iniciou-se no século XX.
Black diz que o sentido das palavras é um sistema de implicações e exclui o referente da
metáfora. Essa visão é mais pragmática do que a exposta anteriormente. Segundo ele, a
dualidade da referência é marcada pelo contraste entre a afirmação metafórica “focus”, ou
seja, a palavra ou palavras usadas não - literalmente, e o “frame”. O foco não está
primeiramente ligado ao frame, é uma correlação de sistemas. Eles designam apenas a
ambientação contextual, ou seja, a sentença como um todo. O que importa para o
descritivista é a diferença, pois a metáfora nasce do choque. Assim, em Meu advogado é
um tubarão, meu advogado é o frame e é um tubarão é o foco. A incompatibilidade entre
advogado e tubarão é o conflito semântico, e é isso que leva à metáfora, pois a noção de
interação entre sujeitos de Black é aplicada da seguinte forma: a presença do primeiro
sujeito (homem) incita o ouvinte a selecionar algumas das propriedades do segundo sujeito
(tubarão). Dessa maneira, o ouvinte constrói um complexo implicativo paralelo, que possa
caber no primeiro sujeito e, reciprocamente, induz mudança no segundo sujeito.
Sendo assim, para essa visão, a metáfora parte de um sentido literal para um não-
literal via sentido da palavra. Tanto o sujeito primário (frame) quanto o secundário (focus)
são definidos a partir de um sistema e não de um pensamento individual. Os sujeitos que
interagem para Black devem ser vistos como significados.
Leezenberg (2001) apresenta três características principais dessa teoria.
Primeiramente ele levanta que o que determina a interpretação não está na visão metafórica
aplicada, mas sim no seu sentido ou intensão, entendendo intensão como já foi supracitado.
Segundo, ele nos mostra que há mudança de sentido ou significado e não de referência que
é o que ocorre na visão metafórica anterior. E, por último, ele nos fala da falta de ênfase na
similaridade como uma noção explanatória, entendendo que essa similaridade segue
diferentes regras daquelas na perspectiva referencialista. Na visão anterior, a similaridade
dos referentes é base para a interpretação, já na perspectiva descritivista é justamente essa
falta de similaridade expressa na oposição lógica, ou conflito semântico, entre as palavras,
que autoriza o reconhecimento da metáfora.
Porém, assim como na perspectiva referencialista, Leezenberg (op. cit.) aborda
alguns problemas referentes a essas características. Primeiro, ele diz que é duvidoso se há
qualquer traço lingüístico que distingue de um lado a metáfora da linguagem literal e de
outro da linguagem figurativa. E, em segundo ponto, ele coloca que ocorrem metáforas em
que não há o choque semântico, como na frase A vida não é um mar de rosas. Nessa frase
a expressão mar de rosas já faz parte do campo semântico de vida, por isso não há choque
semântico como na frase O meu advogado é um tubarão, mas, mesmo não havendo esse
choque, a frase não deixa de ser metafórica.
Concluímos então que, apesar dos problemas apontados por Leezenberg, para os
autores descritivistas, a metáfora não é uma questão de interpretação, mas sim de
construção de significado, levando em consideração o contexto. Tal atitude aponta para
uma forma mais pragmática de encarar a metáfora.
2.2.3. Visão Conceptual
Antes de abordarmos a Teoria da Metáfora Conceptual, falaremos aqui um pouco
da Semântica Cognitiva , pois nesta está inserida a referida teoria, que serviu de base para
o nosso estudo.
Mesmo tendo surgido em 1980, a Linguistica Cognitiva conta hoje com a
participação de diversos pesquisadores, trabalhando nos diferentes níveis de análise da
linguagem, da Fonologia à Pragmática. Parte-se, nesse modelo, da hipótese de que o
significado é que é central na investigação sobre a linguagem, chocando-se, portanto, com
as abordagens gerativistas, que defendem a centralidade da sintaxe. A forma deriva da
significação, porque é, a partir da construção de significados, que aprendemos, inclusive a
lógica e a linguagem.
A abordagem semântica defendida pela Linguistica Cognitiva quer combater a
idéia, de fato presente, em algumas abordagens formais, de que a linguagem está numa
relação de correspondência direta com o mundo. O significado, na Semântica Cognitiva,
não tem nada a ver com a relação de pareamento entre linguagem e mundo. Ao contrário,
ele emerge de dentro para fora, e por isso ele é motivado. A significação lingüística emerge
de nossas significações corpóreas, dos movimentos de nossos corpos em interação com o
meio que nos circunda.
A Semântica Cognitiva privilegia dois mecanismos, a metáfora e a metonímia.
Nela, nosso falar e pensar cotidianos são, na sua maior parte, metafóricos. A metáfora não
é aqui tratada como recurso poético, mas sim como uma metáfora conceitual, um recurso
de organização e produção cognitiva. A metáfora, para a Semântica Cognitiva, é um
processo cognitivo que permite mapearmos esquemas, aprendidos diretamente pelo nosso
corpo, em domínios mais abstratos cuja experimentação é indireta. Em palavras mais
simples, a metáfora, na visão cognitiva, é um conceito estruturado a partir de outro. Ela é
formada por um conceito origem, de onde parte a produção de sentido, e um conceito alvo,
que recorre ao significado anterior.
Deste modo, as metáforas variam de acordo com cada cultura e sua interpretação
vai depender do contexto em que está inserida. Lakoff & Johnson (1980) são seus
principais divulgadores e classificam a metáfora em três níveis diferentes: as estruturais, as
orientacionais e as ontológicas, que serão melhor explicadas mais adiante em que
abordaremos somente a metáfora conceptual.
Na Semântica Cognitiva, a metonímia também não se refere à figura de linguagem
que aprendemos nos manuais da retórica ou nas gramáticas tradicionais. Trata-se antes de
um processo cognitivo que permite criar relações de hierarquias entre conceitos. É, pois,
por meio dos processos cognitivos da metáfora e da metonímia, que estendemos nossos
esquemas e categorias para além das nossas experiências físicas imediatas na direção da
abstração.
Reddy (1979) contribuiu para o afastamento da visão tradicional da metáfora como
desvio da linguagem cotidiana e como fenômeno de linguagens especiais, como a poética e
a persuasiva, investigando, em enunciados lingüísticos, como nós conceptualizamos
metaforicamente o conceito de comunicação.
Em seu ensaio The Conduit Metaphor, traduzido como Metáfora do Canal, o
referido autor percebeu que os enunciados podem ser organizados em quatro categorias
que formam a base da metáfora do canal, já que se evidenciou que
(1) a linguagem funciona como um canal, transferindo pensamentos
corporeamente de uma pessoa para outra; (2) na fala e na escrita, as
pessoas inserem seus pensamentos e sentimentos nas palavras; (3) as
palavras realizam a transferência ao conter pensamentos e sentimentos e
conduzi-los as outras pessoas; (4) ao ouvir e ler, as pessoas extraem das
palavras os pensamentos e os sentimentos novamente (REDDY, 1979, p.
290).
Dessa forma, a metáfora do canal, segundo Reddy (1979), seria uma forma
automatizada de se pensar, pela qual as pessoas interagem sem ter consciência dela. Ou
seja, a metáfora do canal não é simplesmente uma forma de falar sobre a comunicação,
mas uma forma de pensar e agir quando nos comunicamos, e nós a utilizamos, sem nos
darmos conta, com base em nossas experiências e conhecimento de mundo.
Com base nessas idéias de Reddy (1979), Lakoff e Johnson (1980) vão um pouco
mais além e descobrem as metáforas conceptuais subjacentes às expressões lingüísticas
metafóricas. Eles referem-se a essas expressões lingüísticas (palavra, sintagma, frase) que
realizam, na superfície textual, a projeção entre os domínios, como expressões metafóricas
e essas são manifestações lingüísticas de metáforas conceptuais (representadas por
maiúsculas), como por exemplo:
MENTE É UM RECIPIENTE (metáfora conceptual)
Não consigo tirar essa música da minha cabeça. (expressão metafórica)
Sua cabeça está recheada de idéias interessantes. (expressão metafórica)
Será que vou conseguir enfiar essas estatísticas na sua cabeça? (expressão
metafórica)
Esse conceito surge a partir da década de 70 quando a mudança pragmática é mais
marcante e leva a uma reformulação profunda na maneira de conceber a objetividade, a
compreensão, a verdade, o sentido e a metáfora passa a ser objeto de interesse central das
ciências humanas.
Os principais estudiosos e divulgadores dessa teoria, como já mencionados, são
George Lakoff e Mark Johnson que consolidam seus pensamentos no livro intulado
Metaphors we live by (1980), traduzido no Brasil como Metáforas da Vida Cotidiana
(2002).
A maioria das pessoas acha que pode viver perfeitamente sem metáfora.
Nós descobrimos ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida
cotidiana, não somente na linguagem, mas também no pensamento e na
ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só
pensamos mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por
natureza. (LAKOFF E JOHNSON, 1980, p. 45).
Na visão conceptual, a metáfora passa de uma simples figura de retórica para uma
operação cognitiva fundamental. Assim, idéias que percorreram as visões referencialistas e
descritivistas, como a concepção de metáfora como desvio da linguagem e/ou como
fenômenos pertencentes às linguagens especiais, como a poética e a persuasiva, perdem a
consistência teórica, pois a idéia central desse paradigma “é de que a cognição é o
resultado de uma construção mental” (LAKOFF E JOHNSON, 2002. p. 13).
Dessa forma,
A figura não é mais considerada algo desviante, marginal ou periférico,
mas sim um fenômeno central na linguagem e no pensamento, sendo
onipresente em todos os tipos de linguagem, na cotidiana e científica
inclusive (LAKOFF E JOHNSON, 1980, p. 21).
As metáforas como expressões lingüísticas são possíveis precisamente
por existirem metáforas no sistema conceptual de cada um de nós
(LAKOFF E JOHNSON, op.cit., p. 48).
Com isso, os referidos autores colocam em questão uma série de dicotomias
objetivistas, entre elas a distinção literal e metafórico, pois, já que, segundo Lakoff e
Johnson, grande parte dos enunciados da linguagem cotidiana são metafóricos, o literal
ficou limitado àqueles conceitos que não são compreendidos por meio da metáfora
conceptual. Portanto, os autores mostram que interpretamos o mundo grandemente através
de metáforas, pois muitos conceitos básicos e emoções, como quantidade, estado, amor e
vida, são compreendidos metaforicamente.
Ademais, para que a metáfora possa ser entendida, é necessário que esteja coerente
com o contexto social no qual está inserida, caso contrário poderá haver incompatibilidade
de entendimento. Por exemplo, aqui no Brasil entendemos o tempo como um bem valioso;
este é um valor cultural inserido no nosso país, assim, a metáfora conceptual TEMPO É
DINHEIRO é recorrente, porém, em outros países, isso pode não se confirmar já que, em
certas culturas, o tempo pode não ser um bem valioso.
Para os autores aqui referidos, a metáfora é um conceito estruturado a partir de
outro, é formada por um conceito origem, de onde parte a produção de sentido, e um
conceito alvo, o qual recorre ao significado anterior. Em outras palavras, a metáfora, no
sistema conceptual, é entendida como uma projeção (no sentido matemático do termo)
entre um domínio fonte, que serve como ponto de referência e onde se buscam conceitos e
terminologia, e um domínio alvo, aquele que é explorado e expresso com os elementos
fornecidos pelo primeiro. É importante salientarmos que para um domínio alvo podem ser
utilizados vários domínios fontes, como:
AMOR É INSANIDADE / DOENÇA – ex: Nosso relacionamento é uma
loucura sem fim. / Eu dei meu coração a você.
AMOR É FOGO – ex: Quando ela me beija uma chama se acende entre nós.
/ O nosso relacionamento é quente.
AMOR É UMA VIAGEM – ex: Nós devemos seguir caminhos diferentes. /
Nosso relacionamento não está indo a lugar nenhum.
Assim como um domínio fonte pode ser utilizado para vários domínios alvos, por
exemplo:
DISCUSSÃO É GUERRA – ex: Seus argumentos não vão me vencer.
AMOR É GUERRA – ex: Ela tentou lutar por ele, mas acabou perdendo a luta.
Isso se dá porque nossos conceitos têm um número de aspectos distintos em relação
a outros, e as metáforas endereçam esses aspectos distintos, ou seja, é difícil nós
relacionarmos apenas um único conceito a uma dada experiência ou estado; na maioria das
vezes, utilizamos diferentes conceitos para falarmos ou nos referirmos a tais.
Partindo dessa teoria conceptual, Lakoff & Johnson (1980) classificam a metáfora
em três níveis diferentes: as estruturais, as orientacionais e as ontológicas.
As estruturais, segundo Lakoff e Johnson, são aquelas em que um conceito é
estruturado metaforicamente em termos de outro, isto é, nós recorremos a um conceito para
falar de outro. Um exemplo disso seria a metáfora AMOR É GUERRA, em que utilizamos
do campo semântico guerra para falar sobre amor. Como na frase: Ela lutou por ele, mas
sua amante venceu; ou Ele é conhecido por suas inúmeras conquistas rápidas. Em ambas
as proposições expostas anteriormente, podemos ver que os verbos lutar, vencer e
conquistar pertencem ao domínio de origem guerra e estão sendo utilizados, para explicar
relações referentes ao domínio-alvo amor.
As metáforas orientacionais organizam um sistema de conceitos uns com relação
aos outros. Elas têm relação com o campo espacial, tais como: para cima – para baixo,
dentro – fora, frente – trás, em cima – em baixo, central – periférico, fundo – raso.
Segundo os autores, nossos conceitos são corpóreos. Assim, quando falamos Eu estou para
cima hoje, concretizamos a metáfora orientacional ALEGRE É PARA CIMA. Ou em Eu
acordei para baixo, observamos que TRISTE É PARA BAIXO. Nas palavras de Lakoff &
Johnson,
Embora uma estrutura conceptual claramente delineada para espaço
venha do nosso funcionamento motor-perceptivo, nenhuma estrutura
conceptual claramente delineada para as emoções vem exclusivamente
do nosso funcionamento emocional. Uma vez que há correlações
sistemáticas entre nossas emoções (tais como felicidade) e nossas
experiências sensoriais e motoras (tais como postura ereta), elas formam
as bases dos conceitos metafóricos orientacionais (tais como FELIZ É
PARA CIMA) (1980, p. 129).
Na publicidade, observamos alguns exemplos desse tipo de metáfora, em que os
conceitos BOM É PRA CIMA e RUIM É PRA BAIXO são bem trabalhados pelos
publicitários. Esses recursos são assim construídos não só através de palavras, da
linguagem verbal, mas também com recursos visuais, como setas, ou imagens que
indiquem subida e/ou descida, como na propaganda televisiva da loja de materiais de
construção Vergalhão em que temos a expressão metafórica “O Vergalhão qualidade lá
em cima”.
Como terceira classificação, temos as metáforas ontológicas, que, para Lakoff e
Johnson (1980), são motivadas pela nossa experiência com os objetos físicos. Nelas, um
conceito abstrato é transformado em entidades, objetos ou substâncias, ou seja, são formas
de conceber eventos, atividades, emoções, idéias etc., como substâncias e entidades. Por
exemplo, a vida pode ser expressa como um objeto, um recipiente, quando dizemos Tive
uma vida cheia; ou A vida é vazia para ele. Assim, temos a metáfora ontológica A VIDA É
UM RECIPIENTE.
A metáfora ontológica também aparece quando personificamos objetos como nestes
exemplos publicitários, retirados do trabalho A metáfora ontológica na publicidade, de
Espíndola (2005):
Vetisqueiro – uma generosa expressão de sabor. Impetuoso e marcante, como o
vento das cordilheiras. Único e inesquecível, como as geleiras do Chile” (Vinho
Vetisqueiro, Revista Veja).
Novo Samsung Light.Preços magros” (Vivo, Revista Veja).
“Saiba se o coração do seu carro anda bem. Faça revisão preventiva”
(WebMotors).
“Atenção mamães: está nascendo o novo sabão em pó da Assolan” (Publicidade
Televisiva).
A partir desses exemplos de metáforas ontológicas, podemos observar os objetos
sendo personificados, eles ganham características de seres humanos. Nenhum objeto é
magro, mas as pessoas são magras e esse é um novo padrão de beleza, por isso, para que o
celular também esteja nesse padrão, ele tem de “ser magro”. Um sabão em pó não nasce,
ele é criado, mas para se tornar mais próximo da dona de casa, que é quem compra o
produto, o publicitário utiliza essa linguagem e também a imagem de bebês. O mesmo
ocorre em outros exemplos em que o objeto ganha qualidades, atributos humanizados.
Dessa maneira, Espíndola (2005) levanta a hipótese de que, na propaganda, vai predominar
a presença desse tipo de metáfora, a ontológica.
Após alguns estudos, Espíndola (2005) revê a divisão da metáfora ontológica e
propõe três categorias: a coisificação, a animação e a personificação propriamente dita. Ao
falar em coisificação, a autora, se refere à metáfora conceptual ontológica, proposta por
Lakoff e Johnson (1980), em que conceitos abstratos são transformados em objetos. Para a
personificação, exposta pelos autores, Espíndola faz uma separação, subdividindo essa
segunda classificação em duas: a animação e a personificação propriamente dita. Segundo
a autora,
A primeira é aquela em que uma experiência ou objeto físico é
concebido como uma entidade animada (uso de características ou ações
próprias de um ser vivo). Ou seja, tomamos características do domínio
origem (um determinado ser animado) e as projetamos para o domínio
alvo (a experiência sobre a qual estamos fazendo referência). Nesse
caso, vamos observar uma animação (dotar uma experiência de traços de
um ser vivo) (ESPÍNDOLA, 2005).
A referida autora concretiza essa teoria utilizando o seguinte exemplo, retirado de
Lakoff e Johnson (1980, p. 87):
A inflação está devorando nossos lucros.
Os autores tratam desse exemplo como uma entidade, em que A INFLAÇÃO É
UM ADVERSÁRIO, porém Espíndola levanta a observação de que devorar não é uma
característica do ser humano, mas dos animais, por isso, essa não seria uma personificação
da inflação, mas sim uma animação. Outro exemplo que a autora apresenta, a partir dessa
divisão, é a propaganda da cerveja Cristal, retirada da Revista Veja:
“Sede de verdade a gente doma é no laço (Propaganda da Cerveja Cristal,
Revista Veja).
Nesse segundo exemplo, podemos ver claramente a questão da animação, essa
metáfora pertence ao campo dos animais, já que quem se doma no laço são os animais e
não os seres humanos, domar não faz parte das características humanas.
A segunda metáfora ontológica, dentro desta subdivisão, que a autora citada nos
coloca é a personificação, isto é, aqui os objetos, lugares e experiências são concebidas
como pessoas ou a elas são atribuídas características de pessoas. Nesse caso, constatamos,
de fato, a humanização, como podemos verificar através do exemplo apresentado por
Lakoff e Johnson (1980) para concretizar também a metáfora A INFLAÇÃO É UM
ADVERSÁRIO.
A inflação ludibriou as melhores mentes econômicas de nosso país.
Espíndola comprova essa personificação com alguns exemplos supracitados,
coletados da Revista Veja e expostos em seu trabalho, A metáfora conceptual ontológica
na publicidade (2005).
Segundo a referida autora, a personificação permite a compreensão de uma grande
variedade de experiências oriundas de entidades não-humanas em termos de motivações,
características e atividades humanas, tese à qual me filio. Acreditamos que a
predominância dessa metáfora, no gênero publicitário, ocorre por nos aproximar mais dos
produtos / serviços ofertados. Assim, os publicitários a utilizam para criar um elo entre
locutor e interlocutor, facilitando o objetivo a ser atingido, que é a aquisição desse produto
/ serviço.
2.2.3.1 Metonímia
Normalmente, a metáfora e a metonímia se entrecruzam tanto no plano cognitivo
quanto nas instâncias lingüísticas e cognitivas. Por isso, é relevante abrirmos, aqui, um
espaço para levantar algumas colocações acerca da metonímia que ajudarão na análise do
corpus, já que, em alguns casos, ficamos divididos entre a metáfora e a metonímia. Para
tais questões, apoiamo-nos em Barcelona (2003) e Lakoff e Johnson (1980).
Assim como as metáforas, os conceitos metonímicos estruturam não somente nossa
linguagem, mas também nossos pensamentos e ações, com base na nossa experiência de
vida, por isso também variam conforme o ambiente cultural em que se encontram. Tanto a
metáfora quanto a metonímia são tipos fundamentais de modelos cognitivos, são motivadas
experiencialmente e as duas podem ser usadas para um propósito pragmático imediato.
Para a Lingüística Cognitiva, ambas são mecanismos mentais convencionais e nos
permitem conceptualizar uma coisa por sua relação com outra. Então, qual seria a
diferença entre metáfora e metonímia? Segundo Lakoff e Johnson,
A metáfora é principalmente um modo de conceber uma coisa em termos
de outra, e a sua função primordial é a compreensão. A metonímia, por
outro lado, tem principalmente uma função referencial, isto é, permite-
nos usar uma entidade para representar outra (1980, p. 93)
Dessa forma, a metáfora utiliza um domínio conceptual em termos de outro,
enquanto que a metonímia faz uma projeção conceptual dentro de um único domínio.
Como nos mostram Lakoff e Johnson nos exemplos seguintes:
O sanduíche de presunto está esperando a conta. (PRODUTO CONSUMIDO
PELO CONSUMIDOR)
Eu terei um Lowenbrau. (PRODUTOR PELO PRODUTO)
Ela é apenas um rosto bonito. (FACE PELA PESSOA)
Com esses exemplos, podemos observar que os conceitos metonímicos
(representados por maiúsculas) fazem parte do nosso dia-a-dia, como pensamos e agimos.
Em parte, a metonímia tem o mesmo uso da metáfora, porém por a primeira
trabalhar dentro de uma mesma projeção de conceitos, “permite-nos focalizar mais
especificamente certos aspectos da entidade a que estamos nos referindo” (LAKOFF e
JOHNSON, 1980, p. 93).
É importante observar os princípios cognitivos mais fundamentais, a natureza
conceptual e a expressão lingüística, pertinentes aos dois processos, metafórico e
metonímico. Em resumo, a diferença entre uma e outra categoria deve-se ao fato de o
mapeamento envolver um único domínio (metonímia) ou dois domínios (metáfora).
Porém, para Barcelona (2003, p.11), essa relação entre as duas vai mais além, o
referido autor nos apresenta a existência da metáfora com base metonímica (the metonymic
conceptual motivation of metaphor), se assim entendermos. Isto se dá quando a metáfora e
a metonímia são compatíveis, ambas têm pessoas como domínio alvo. Ou seja,
inicialmente podemos verificar um processo metonímico oriundo de determinadas
expressões lingüísticas, porém, no caso dos folderes turísticos, as empresas ou localidades
4
passam a ter comportamentos próprios do ser humano, isto é, elas são personificadas,
caracterizando, dessa forma, uma metáfora com base metonímica. Em outras palavras, uma
metáfora com base metonímica é uma metonímia personificada. Podemos constatar isto no
exemplo seguinte, retirado de um folder institucional da cidade de Ilha Bela, SP:
¾ Ilha Bela surpreende com suas opções em hotéis, pousadas, chalés e
camping.”
Nesse caso, essa localidade primeiramente poderia ser entendida como metonímia,
pois Ilha Bela estaria representando as pessoas da ilha, teríamos, então, a metonímia
LUGAR PELAS PESSOAS. Porém, surpreende é uma característica do ser humano. Desse
modo, no exemplo supracitado, a cidade adquire o estatuto de humano para que possa se
dirigir ao interlocutor. Assim, ela (Ilha Bela) passa a poder realizar ações próprias do ser
humano, como surpreender. As localidades personificadas são concebidas como pessoas,
assim, caracterizamos uma metáfora com base metonímica, A LOCALIDADE É UMA
PESSOA.
4
Entendemos aqui localidades como cidades cujas propagandas foram coletadas em alguns folderes.
3. DA PROPAGANDA AO FOLDER
3.1.A PROPAGANDA E SUA TRAJETÓRIA
A força da expressividade da propaganda veiculada cotidianamente pela televisão,
rádio e imprensa escrita exerce um papel importante na sociedade. Se a característica
essencial da propaganda é o convencimento, por conseguinte, o texto propagandístico
seleciona informações, imagens e palavras mascarando, muitas vezes, a própria realidade,
para corresponder aos interesses dos proprietários dos meios de comunicação ou dos que
neles anunciam. Nesse sentido, através de uma comunicação quase instantânea, a
propaganda lança “nas linhas e entrelinhas, valores, mitos, idéias e outras elaborações
simbólicas” (COBRA, 1996. p. 34).
Conforme as palavras de Garcia (1994. p. 18), a propaganda é utilizada
Não apenas para divulgar algumas idéias e princípios, mas para incutir
toda uma visão do mundo e sua história, de idéias a respeito do papel de
cada indivíduo e sua família, da posição dos grupos e classes na
sociedade e para impor valores e padrões de comportamento com os
adequados e mais justos.
Assim, a primeira tarefa da linguagem publicitária é prender a atenção do
destinatário/ consumidor. Para isso, ela vem carregada de emoção, de conotação, e
polissemias, além de utilizar a retórica, entendida aqui como a arte de persuadir, de
convencer e de levar à ação por meio da palavra.
Dessa forma, os textos de propaganda, muitas vezes, são constituídos por frases ou
períodos incompletos e, em sua maioria, há a predominância da linguagem coloquial e do
pronome de tratamento você, que denota informalidade e também é uma forma de
aproximação com o leitor.
Essa maneira, digamos não-convencional, de apresentar o seu conteúdo ao público
gera um impacto, e é justamente esse jogo lingüístico que torna o texto criativo, para levar
o consumidor à compra. Entre os inúmeros recursos lingüísticos do texto publicitário,
destacamos alguns mais recorrentes: economia vocabular, elipse, repetição, utilização de
palavras-chaves, personificação do objeto, metáforas, neologismos, uso de superlativos,
exagero, subentendidos, ambigüidade etc. Assim sendo, é importante destacar o jogo que
se constrói marcado pela estrutura lingüística do texto. É também uma característica da
publicidade explorar os significados implícitos (pressupostos e subentendidos) e alguns
procedimentos mais sutis. Muitas vezes, o silêncio é necessário, ou melhor, é preciso não
dizer para dizer (cf. ORLANDI, 1983).
Assim, na busca de certos efeitos de sentido, a propaganda deixa sempre algo
sugerido e recorre a esse procedimento como um importante gerador de sentidos. Cabe,
então, ao interlocutor decifrar o enigma, preenchendo a lacuna dessa sugestão. Nesse
momento, instaura-se o jogo discursivo no texto publicitário, o prazeroso desvelo de
enigmas, o trilhar nos mistérios da construção dos sentidos.
É a partir daí que é construído o processo de comunicação que envolve
necessariamente duas pessoas: aquele que fala, denominado locutor, e aquele a quem se
fala, denominado interlocutor. No caso da propaganda, o locutor é o anunciante enquanto o
interlocutor é o leitor, o público a quem o anúncio se dirige.
O sentido é construído entre os dois participantes e refere-se ao produto/ serviço,
mais especificamente, representa uma tentativa de induzir o leitor a adquirir o produto/
serviço. Mas isso não pode ser transmitido em abstrato, tem de estar materializado em
algum código que os dois possam compreender e interagir, nesse caso seria a linguagem
verbal e um código visual, ferramentas utilizadas na publicidade, sobretudo, nos folderes.
Além disso, para que alguma coisa seja comunicada, o locutor e o interlocutor
devem estar em contato um com o outro, ou seja, a mensagem tem de ser comunicada
através de um suporte, que pode ser a televisão, o e-mail, o folder, o panfleto, a revista, o
rádio, o outdoor etc.
Todo ato de comunicação se verifica em dada situação, num contexto. Este vai
variar conforme se encontram o locutor e o interlocutor, a situação cultural e o
conhecimento que eles têm sobre determinada mensagem, por isso a importância de se
fazer um anúncio voltado para o público-alvo correto.
Nos anos 60 e 70, a propaganda começa a ser compreendida além da visão
mercadológica; ela passa também a ser conduzida como reforço a uma dada corrente
ideológica. É tão marcante esse aspecto, que leva muitos a pensarem na propaganda como
um discurso manipulador, de dimensão subliminar
5
, que impõe atitudes e opiniões à
sociedade, sem que ela se perceba disso. Seria, pois, oportuno reconhecer o universo
propagandístico como um espaço favorável à autonomia do sujeito. Perceber que esse não
5
Ao utilizarmos o termo subliminar, aqui neste estudo, o entendemos como um termo empregado no discurso
publicitário quando uma propaganda pretende agir nas mentes e nos hábitos dos indivíduos, sem que esses se
conscientizem da sua ação persuasiva.
é mais um indivíduo plenamente dominado, mas, sobretudo, é um participante ativo do
processo discursivo atuante nas suas próprias decisões de consumo, sujeito que faz parte,
que constrói a história e nunca objeto da própria história.
Os anos 80 marcam o início de um novo tempo para a humanidade, a era pós-
moderna. Segundo Santos (1986), esse período reflete as mudanças ocorridas nas
sociedades pós-industriais ao longo dos anos 50. Para esse autor, “tais mudanças afetaram
as ciências, a tecnologia, as artes, o pensamento, o social, o individual e começaram a
delinear um ambiente e condição inéditos para o homem” (SANTOS, 1986. p. 107). O
homem pós-moderno, mediante as transformações desse movimento cultural, adquire
comportamentos diferentes. Os novos modismos e as novas idéias interferem nas atitudes,
nos pensamentos e nas ações humanas.
Conforme o mesmo autor, a pós-modernidade encarna estilos de vida em que
vigoram o niilismo, o nada, o vazio, a ausência de valores e de sentido para a vida. Nessa
direção, o novo homem se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo e ao
individualismo. Diante de um indivíduo consumista, hedonista, narcisista não existe
momento mais favorável para o crescimento da propaganda, o apogeu dos anúncios
publicitários. É a necessidade de fantasia, do “espetáculo” para contrabalancear com a
saturação das angústias e dos tumultos do cotidiano. Nesse sentido, a propaganda manipula
de forma radical. Para dar forma ao desejo do consumidor, ela precisa atuar no lingüístico,
precisa desreferencializar o real para produzir o “espetáculo”.
Nos anos 90, a propaganda vai se tornando cada vez mais técnica, os apelos
lingüísticos, que antes eram mera coincidência, passam a fazer parte do cotidiano dos
publicitários que estudam cada vez mais a língua e suas técnicas de persuasão, além de
ornar a propaganda mais direcionada a um público específico. Novos meios de
comunicação publicitária são lançados, tais como o busdoor, a internet, entre outros. E é
assim que ela entra no século XXI, com força total.
Se considerarmos a obra de Geoffrey Leech, English in Advertising, podemos
afirmar que, há pelo menos 30 anos, a propaganda vem sendo estudada, sob a perspectiva
da Lingüística (FARIAS, 1996).
Etimologicamente, o termo propaganda origina-se do latimpangere – e,
semanticamente, corresponde ao verbo plantar. Assim sendo, nada mais coerente afirmar
que, ao se utilizar da propaganda, o locutor está “plantando” um efeito de sentido no seu
interlocutor. Isso fica mais evidente quando nos reportamos ao objetivo maior de um texto
propagandístico que é o de plantar o desejo em alguém, a “necessidade” de consumir algo.
Contudo, hoje, com a utilização não só do termo propaganda mas também do termo
publicidade, há muitas controvérsias, entre os que fazem comunicação, no que se refere à
definição desses termos, quer dizer, não há um consenso, pelo menos entre os que fazem
comunicação. Porém, Ramos (1998. p. 14) afirma que “uma corrente mais ou menos
atuante, formada em geral por professores e teóricos de comunicação, pretende que a
propaganda significa o genérico, publicidade o comercial”.
Entretanto, esse mesmo autor diz que esses termos, propaganda e publicidade, têm
as mesmas acepções e que inclusive as agências utilizam tais termos indistintamente, salvo
a “propaganda-política (nunca publicidade-política) e propagandista (denominação
reservada ao representante de produtos farmacêuticos)” (p.14).
Sampaio (1999), embora compartilhe dessa mesma problemática no que se refere às
definições dos termos supracitados, revela-nos algumas idéias pertinentes. Segundo esse
autor, há três termos da língua inglesa (advertising, publicity e propaganda), cujas
definições explicam a propaganda em diferentes aspectos. Contudo, no Brasil, tais termos
fundem-se em propaganda e publicidade, usados, como nos disse Ramos, como
sinônimos.
Existem muitas definições de propaganda. Todas mais ou menos
parecidas. Umas mais simples e outras menos, com algumas diferenças
no acessório, mas semelhantes na sua essência. (SAMPAIO, 1999, p. 24)
Como se pode perceber, até entre os autores mencionados, há dificuldade para se
distinguir propaganda de publicidade. Porém, diante da problemática exposta até aqui,
concordamos com algumas definições, mais ou menos parecidas, dadas por Sampaio
(1999) e que convergem para os propósitos deste estudo porque essas definições combinam
no que se refere à adesão intencionada pelo veículo de comunicação
6
postulada, também,
pela Teoria da Argumentação - base das pesquisas realizadas no LASPRAT.
6
É, nos termos do art. 10 do Dec. Nº 57.690/66, qualquer meio de divulgação visual, auditiva ou
audiovisual.”
Propaganda é a divulgação de um produto ou serviço com o objetivo de
informar e despertar interesse de compra/uso nos consumidores
(propaganda comercial). (1999, p.25)
Fundamentalmente, propaganda pode ser definida como a manipulação
planejada da comunicação visando, pela persuasão, promover
comportamentos em benefício do anunciante que a utiliza. (1999, p.24)
A par dessas definições, para corroborar essa discussão, tem-se que
No Brasil, para diferenciar os diversos tipos de propaganda, usamos
adjetivações, tais como propaganda política, propaganda ou publicidade
comercial, propaganda de utilidade pública, publicidade editorial etc.
(SAMPAIO, 1999, p.25)
Ainda que esse estudioso da comunicação nos revele algumas definições relevantes
da propaganda, devemos levar em consideração que, em determinados contextos, os termos
publicidade e propaganda podem ser empregados como sinônimos.
Para Sampaio (1999), de um modo geral, a propaganda segue certos padrões de
desenvolvimento. Inicialmente, definem-se os objetivos da propaganda, ou seja, que tarefa
ela deve cumprir (baixa de preço, serviços novos etc.), e quais informações serão
transmitidas para alcançar os objetivos.
Definidos os objetivos e as informações, realiza-se uma pesquisa de mercado para
definir o público-alvo. Nessa seleção, leva-se em consideração a idade, o sexo, classe
social, perfil econômico e cultural dos consumidores e quais argumentos reagem
favoravelmente, pois, de acordo com Sampaio, o método de persuasão varia conforme o
público-alvo. A par dessas informações, a próxima fase é a montagem da propaganda
através da qual se define o conteúdo do anúncio, os pontos que devem ser ressaltados, de
que modo os argumentos devem ser apresentados (comparando, persuadindo, informando
etc.), o período de duração da propaganda e o meio de comunicação que será utilizado.
A propaganda pode ser feita diretamente pelo anunciante ou com o auxílio de
corretores através de agências. Pelo fato de a propaganda não agir sozinha sobre o seu
público-alvo, há setores especializados que ajudam a “fazer propaganda
7
”:
Anunciante – é a empresa, pessoa ou instituição que faz uso da propaganda,
geralmente, com a finalidade de vender produtos ou serviços;
Corretores e agenciadores – são as pessoas que cuidam da intermediação entre o
anunciante e o veículo e entre o cliente e os fornecedores;
Agência – é a empresa especializada na arte e na técnica da propaganda que
trabalha com um grupo de profissionais de diversas especializações estruturados
em departamentos com distintas funções;
Fornecedoras e produtoras – são empresas e pessoas especializadas na produção
de peças de propaganda – cartazes, anúncios, comerciais etc.;
Veículo – divulga as mensagens do anunciante aos consumidores;
Consumidor – empresa, grupo, pessoa ou instituição para quem são dirigidas as
mensagens e de quem se espera uma reação favorável ao anunciante.
Por não haver consenso entre os próprios teóricos da área, neste trabalho, também
utilizaremos os termos propaganda e publicidade como sinônimos para nos referirmos à
propaganda turística veiculada nos folderes. Isso porque não achamos relevante, para a
análise das metáforas, fazermos uma separação, no corpus, entre os folderes
propagandísticos e os publicitários, já que, em ambos, as expressões metafóricas podem ser
encontradas e nosso objetivo é confirmá-las como recurso argumentativo.
Além da linguagem verbal, a publicidade também vem carregada de linguagens
visuais que tornam o texto mais atrativo e que induzem o interlocutor a se interessar pelo
material. Por isso, levantamos, a seguir, algumas observações em relação a esses recursos,
pois se a linguagem não-verbal auxiliar no entendimento das metáforas estudadas, será de
grande valia para nossa pesquisa.
3.1.1. A Imagem no Discurso da Propaganda
7
Grifo nosso.
A maior parte dos anúncios é composta da comunicação verbal e não-verbal, isto é,
além de utilizar as palavras (linguagem verbal), a publicidade vem acompanhada de
imagens, gestos e posturas mediante os quais nos comunicamos de forma não-verbal.
Se, por um lado, dispomos de um corpo extenso e bem fundado de técnicas
lingüísticas para o estudo de textos escritos, por outro só agora começam a surgir pesquisas
sobre texto de comunicação de massa, produzidos industrialmente, conjugando elementos
verbais e visuais.
Atualmente, os estudos sobre o processo de significação da imagem estão, em
geral, divididos em duas vertentes principais: ou se toma a imagem da mesma forma como
se toma o signo lingüístico, discutindo-lhe as questões relativas à arbitrariedade, à
imitação, à referencialidade, ou se toma a imagem nos traços específicos que a
caracterizam, tais como extensão e distância, profundidade, verticalidade, estabilidade, cor,
sombra e textura, buscando-se a definição de que modo se dá a leitura da imagem naquilo
que lhe seria específico.
Para Vestergaard (2000), a diferença mais importante entre a imagem e o texto é
que este contém um verbo conjugado num tempo definido. Ao contrário das imagens que
são atemporais. Segundo Barthes (1987), as imagens não devem ser reconduzidas a
categorias lingüísticas e, sim, a um sistema lógico-simbólico de representação de
categorias visuais. Com isso, a relação imagem / coerência se definirá na distribuição
coordenada da informação visual no nível da expressão e na relação imagem / realidade.
Fernandes (2006) diz que, com alguns recursos visuais, como cores, variações e
desenho de letras, “é possível modificar ou reforçar um texto com o objetivo de melhorar a
compreensão e ao mesmo tempo proporcionar prazer” (p. 52). Para ele, é no texto onde se
executam as estratégias de informação e comunicação.
A relação entre texto e imagem é denominada por Barthes (1987) de “ancoragem”,
ou seja, o texto proporciona o elo entre a imagem e a situação espacial e temporal que os
meios puramente visuais de expressão não permitem estabelecer. Ao mesmo tempo, o texto
também permite delimitar uma das várias interpretações que a imagem pode oferecer.
A interpretação do texto não-verbal se efetiva, então, por um efeito de sentido que
se institui entre o olhar, a imagem e a possibilidade do recorte, a partir das origens do
locutor do texto não-verbal e do interlocutor. Ler uma imagem, portanto, é diferente de ler
a palavra: a imagem significa, não-fala, e vale enquanto imagem que é. Entender a imagem
como discurso, por sua vez, é atribuir-lhe um sentido do ponto de vista social e ideológico,
e não proceder à descrição dos seus elementos visuais.
Além da ancoragem, Barthes também introduz outro conceito para as outras
funções significativas do texto em relação à imagem, relé, que denota uma relação
recíproca entre texto e imagem na qual cada um contribui com a sua parte para o conjunto
da mensagem, um exemplo são os balões das histórias em quadrinhos.
Outro fato importante da imagem é que, muitas vezes, ela nos cria a possibilidade
de se falar de implícitos. As imagens implícitas funcionam como pistas, favorecendo a
compreensão da narratividade de uma publicidade, sem se ater exclusivamente ao verbal,
mas buscando uma articulação num plano discursivo não-verbal. A noção de implícito
formulada em Ducrot (1988) prevê modos de expressão implícita, que permitem deixar
entender sem ficar descoberto a responsabilidade de se ter dito. Ou se expressar de tal
forma de modo que a responsabilidade do dizer possa ser recusada. Há imagens que não
estão visíveis, porém sugeridas, implícitas a partir de um jogo de imagens previamente
oferecidas. No cinema, por exemplo, há elementos de imagem que sugerem a construção -
pelo interlocutor - de outras imagens. Esses elementos, muitas vezes, são sugeridos pelo
ângulo e movimento da câmara (quase sempre associado à sonoridade (música, ruído), ou à
própria interrupção do som), ou pelo jogo de cores, luzes etc. São elementos implícitos que
funcionam como índices, antecipando o desenrolar do enredo.
Devido à imagem no folder ser um elemento estático, parado, representativo e
isolado do movimento, o conjunto de elementos que a compõem tem sua função e deve
estar em total harmonia, para que a percepção visual seja completa recebendo informações,
em termos de “imagens mentais”, sob a forma de texto, imagens e cores.
A composição entre o slogan
8
, a foto, cuidadosamente escolhida a partir de um
determinado ângulo, e a legenda que acompanha a foto funciona como chamariz para o
texto da propaganda que a acompanha.
Por isso, torna-se importante levantarmos alguns elementos imprescindíveis para
uma imagem. A luz é essencial na fotografia, porque é o princípio vital da imagem. A
quantidade e tipo de luz são fatores importantes para a apresentação da imagem. O modo
de iluminar uma imagem cria luz e sombra, relevo e profundidade, com realce em certos
objetos, dando-lhes mais expressão e emoção.
8
Entendemos aqui por slogan a frase de efeito do folder, normalmente encontrada na capa antes ou depois do
nome do produto / serviço.
Angulação é a posição que a câmera tem em relação ao objeto, sempre colocada de
tal forma que possa melhor captar as características da imagem ou transmitir melhor seu
conteúdo. A câmera pode estar bem em frente, à direita ou à esquerda da imagem. De
frente, ela contempla pacificamente a figura, sendo seu uso mais comum. É colocada do
lado direito ou esquerdo para contemplar a imagem de outros pontos de vista mais
importantes ou para despertar mais atenção, interesse e emoção.
A junção desses efeitos, que formam a linguagem não-verbal, favorece ainda mais a
mensagem, criando um elo entre o textual e o visual, estimulando e persuadindo o
interlocutor na comunicação publicitária, pois “o olho não é só um receptor passivo, mas
formador de olhares, formador de objetos imediatos da percepção” (PLAZA apud
FERNANDES, 2006, p. 50).
Para maior compreensão do corpus trabalhado, levantaremos, a seguir, algumas
colocações, pertinentes para este estudo, sobre gênero e suporte e como conceberemos o
folder, objeto de investigação desta pesquisa.
3.2.FOLDER TURÍSTICO: GÊNERO E SUPORTE?
Ao buscarmos embasamento teórico para uma definição de folder, encontramos
algumas dificuldades. Os livros consultados (SAMPAIO, 1999; NICOLAU, 2001;
SANT’ANNA, 2001, entre outros) não levantam especificações suficientes sobre esse
suporte da propaganda, caracterizando-o, apenas, como um dos componentes da mídia
impressa
9
. Diante de tal dificuldade, consultamos alguns professores da área de
comunicação (UFPB, IESP) na tentativa de esclarecer a questão, porém, entre eles, não
houve consenso quanto à definição e/ou formato do folder.
Contudo, de acordo com Nicolau (2001, p. 37), a função do folder “é proporcionar
orientação para o consumidor, aumentando o seu conhecimento em relação ao produto”.
Em outras palavras, é nesse suporte que se encontram especificações, descrições e
informações sobre o produto ou serviço que estamos procurando conhecer e/ou adquirir. A
possível relação entre o folder e a propaganda reside no fato de que, em ambos, o objetivo
é semelhante; os consumidores podem estar mais informados sobre os produtos ou serviços
à sua disposição, além de possibilitar aos anunciantes o aumento de seus negócios através
da conquista de mais consumidores (SAMPAIO, 1999).
Quanto ao aspecto estrutural, Newton (2000) revela-nos que é comum aos folderes:
capa, interior e contracapa. Na capa, encontra-se o título ou chamada, composta de texto ou
texto mais ilustração, cujo objetivo é motivar a leitura, fazendo com que o leitor siga
adiante. Na parte interna, normalmente, encontram-se informações básicas ou detalhadas
sobre o que se quer divulgar e gráficos, fotos e diagramas que irão ilustrar e reforçar o
conteúdo do folder. Por último, a contracapa que traz dados institucionais como, por
exemplo, logomarcas e contatos da empresa responsável pelo serviço ou produto veiculado
no folder ou de eventuais patrocinadores.
Já no que se refere ao conteúdo, não encontramos subsídio teórico, entretanto, com
base em pesquisa anteriormente desenvolvida
10
, identificamos algumas características
comuns aos folderes. Um dos aspectos pertinentes é a linguagem (escolha lexical) que
varia de acordo com o público-alvo, ou seja, a partir do público ao qual se destinam os
serviços oferecidos, serão feitas as escolhas de vocábulos, que são direcionados para
determinado público.
9
Mala Direta – mensagem publicitária ou de marketing direto enviada pelo correio ou portadores
(SAMPAIO, 1999: 342).
10
Pesquisa realizada junto ao LASPRAT, intitulada A estrutura argumentativo-pragmática do folder
turístico x folder promocional.
Outro aspecto pertinente é o chamamento você. Em quase todo o corpus, está
presente a função conativa (para quem); de acordo com Chalhub (1987), essa função
ocorre quando a mensagem está orientada para o destinatário. A palavra conativa tem sua
origem no termo latino conatium, que significa tentar influenciar alguém através de um
esforço. A função conativa é também chamada de apelativa, numa ação verbal do emissor
de se fazer notar pelo destinatário, seja através de uma ordem, exortação, chamamento ou
invocação, saudação ou súplica
11
. Ainda de acordo com a referida autora, a função
conativa é marcada gramaticalmente pela presença do imperativo (também encontrada em
alguns folderes), do vocativo e pela segunda pessoa do verbo (p.22). Freqüentemente,
desde que haja tentativa de convencer o receptor de algo, a função conativa carrega traços
de argumentação / persuasão que marcam o remetente da mensagem (p.23).
Mas, então, diante dessa insuficiência teórica acerca do folder, como podemos
classificá-lo? Como denominá-lo? Para responder a essas questões, vamos adentrar na
Teoria de Gênero e de Suporte levantadas respectivamente por Bakhtin (1992) e Marcuschi
(2002).
Bakhtin (1992) considera a linguagem não como um sistema abstrato, mas sim
como uma criação coletiva, parte de um diálogo entre o eu e o outro, entre os muitos eus e
os muitos outros. Assim, para ele, a linguagem é um fato social e deve ser pensada na sua
relação com as diferentes esferas de atividades humanas.
Dessa forma, ao fazer uso da linguagem nas várias atividades sociais, o falante
utiliza-se de gêneros, que, por ser um fenômeno social, não se baseiam num motivo
individual, mas sim estão arraigados à coletividade, à época e ao meio social. Bakhtin
(1992) denominou de gênero do discurso os modelos socialmente determinados, nos quais
os fenômenos da linguagem podem ser apreendidos na interatividade dos textos através do
tempo.
Para Marcuschi,
Os gêneros discursivos contribuem na ordenação e estabilização das
atividades de comunicação do cotidiano, sendo fenômenos históricos e
entidades sócio-discursivas, que se caracterizam como eventos textuais
maleáveis e dinâmicos (2002, p.19).
11
Op. Cit. P. 22
Para Bakhtin (1992), apenas o Adão mítico enunciou um discurso original; depois
dele todos os discursos são originários das culturas existentes ou dos ditos pronunciados
por alguma outra pessoa anteriormente.
Fazendo um percurso histórico, o surgimento dos gêneros deu-se em três fases: a
primeira onde os povos desenvolveram um conjunto limitado de gêneros; a segunda, após a
escrita, quando surgiram vários gêneros que eram típicos dessa modalidade; e a terceira,
quando os gêneros expandiram-se com a cultura impressa.
Hoje, com o telefone, o gravador, o rádio, a televisão e a internet, presenciamos
uma explosão de novos gêneros e novas formas discursivas como: os telefonemas, os
noticiários, as videoconferências, as telemensagens, os e-mails etc. Bakhtin (1992) já havia
afirmado que um novo gênero surgia enquanto outros se transmutam.
Segundo Machado (2002, p.04), “Bakhtin denominou de gênero do discurso os
processos combinatórios de formas ou de códigos variados que gravitam em torno da
comunicação verbal, embora não se restrinjam a ela”.
Os gêneros discursivos não existem fora do texto, que sem eles se esfarela. Eles
determinam a fala, pois todas as enunciações do discurso mostram escolhas particulares de
formas construídas dentro de um todo. Bakhtin (1992) valorizou a pluralidade, afirmando a
não-existência de gênero no singular, pois esse nunca constitui uma classe e que um único
texto se constitui de vários gêneros do discurso comunicativo.
Para o estudo dos gêneros do discurso, é de fundamental importância ressaltar a
diferença existente entre texto e gênero. De acordo com Machado (2002), o texto é a
modalidade composicional, produto comunicativo, unidade de informação vinculada à vida
interativa, enquanto os gêneros são articulações discursivas que organizam e definem a
textualidade. Os gêneros discursivos, por reportarem a um grande tempo, acompanham a
variabilidade de usos da língua de um determinado tempo.
Os gêneros discursivos se distribuem nas modalidades de oralidade e escrita, que
estão relacionadas entre si, desde os mais formais aos mais informais contextos da vida
cotidiana. Mas, em alguns casos, os gêneros que foram produzidos na forma escrita são
recebidos na forma oral, como as telenovelas, as orações etc. “Eles não são entidades
naturais como as borboletas, as pedras, os rios e as estrelas, mas são artefatos culturais
construídos historicamente pelos homens” (MARCUSCHI, 2002, p.30).
Paralelo aos gêneros, encontramos o suporte que existe desde os primórdios e vai
evoluindo junto à sociedade, partindo desde a época das cavernas, onde os antigos
pintavam inscrições nos interiores de suas paredes, passando pelos outdoors até chegar ao
mundo virtual.
Marcuschi (2003, p. 09) levanta a tese central de que “todo gênero tem um suporte,
mas a distinção entre ambos nem sempre é simples e a identificação do suporte exige
cuidado”. O referido autor comprova essa tese, pois, segundo ele, “os gêneros se dão
materializados em linguagem e são visíveis em seus habitats”. Ele diz ainda que o suporte
é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na
natureza do gênero suportado” (p. 10). Em outras palavras, é através do suporte que o
gênero atinge a sociedade.
Porém, com isso não se está querendo dizer que o suporte determina o gênero, mas
sim que o gênero exige um determinado suporte. Por outro lado, há mensagens que
colocadas em diferentes suportes resultam em gêneros distintos, como no exemplo que
Marcuschi cita em seu artigo (2003, p. 10), “Paulo, te amo, me ligue o mais rápido que
puder. Te espero no fone 55 44 33 22. Verônica.” Segundo o autor (2003, p. 10),
Se isto estiver escrito num papel colocado sobre a mesa da pessoa
indicada (Paulo), pode ser um bilhete; se for passado pela secretária
eletrônica é um recado; remetido pelos correios num formulário próprio,
pode ser um telegrama; exposto num outdoor pode ser uma declaração
de amor. O certo é que o conteúdo não muda, mas o gênero é aqui
identificado na relação com o suporte.
Dessa forma, entendemos que, nas palavras de Marcuschi (2003, p. 11), “suporte de
um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um
texto”. É uma superfície física por se tratar de algo real, ou virtual quando ocorrido na
internet. Tem formato específico porque sempre aparece numa forma pré-determinada, seja
em livro, revista, jornal, outdoor, folder etc. E, por fim, a principal função de um suporte é
tornar um texto acessível para fins comunicativos, por isso o fixa e mostra.
É preciso ressaltar, ainda, que nem sempre é fácil distinguir os limites entre gêneros
e suportes. O folder, por exemplo, já foi tratado como gênero. Em trabalhos anteriores, o
classificamos como um gênero com características próprias, porém, depois de analisados
vários folderes e feitas algumas leituras, constatamos e adotamos a teoria de Marcuschi
(2003), que postula que o folder é um suporte para vários gêneros como publicidade,
propaganda, comunicados, convites, instruções de uso, campanhas governamentais e assim
por diante. Além desses, também existem folderes com mais de um gênero, como um
comunicado junto a um convite.
Marcuschi (2003), em seu ensaio, ainda levanta uma outra diferença entre suportes;
ele os classifica em duas categorias, os convencionais e os incidentais. Os convencionais
são os que foram elaborados com a função de fixar um texto, tais como o jornal, a revista,
o livro etc. E os incidentais são aqueles que operam como suportes ocasionais ou
eventuais, como por exemplo o corpo humano que pode servir de suporte para textos (colas
de estudantes), imagens ou declarações (tatuagens). Assim como os muros, paradas de
ônibus e pára-choques de caminhão.
Com essa rápida trajetória sobre o gênero e o suporte, decidimos, então, que o
folder será considerado, aqui, neste estudo, como um suporte convencional. Assim, nosso
objeto de investigação será a propaganda turística veiculada pelo folder.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1.CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
O texto publicitário é uma escultura que ganha sentido no conjunto e que tem como
objetivo comunicar uma idéia, propagar uma ação. Sob a visão de Sampaio (1999), as
propagandas devem conter, na sua essência, alguns traços de ousadia, provocação ou
insinuação. Isso porque, segundo ele, sem a adoção desses elementos, esse tipo de texto
dificilmente iria chamar a atenção do público-alvo e cumprir a sua função de divulgar um
determinado produto ou serviço.
Dessa forma, é possível perceber que a tarefa de um folder, corpus de estudo deste
trabalho, consiste justamente em aplicar seu apelo publicitário de forma contundente,
instantânea e persuasiva, uma vez que a mensagem deve, geralmente, ser passada para o
público em apenas um primeiro olhar, pois se este não se sentir atraído pelo material,
dificilmente utilizará esse folder para uma busca de informação.
Para analisar se a metáfora conceptual é um recurso argumentativo recorrente nos
folderes turísticos, escolhemos, de forma intencional, 32 (trinta e dois) folderes que
veiculam propagandas turísticas de localidades, hotéis, restaurantes e outros serviços que
fazem parte do cenário do turismo. Esses folderes foram coletados, no período de
julho/2005 a dezembro/2006, em diferentes locais onde ocorre a distribuição de material
turístico, como: hotéis, centros governamentais de turismo e centro de informações
turísticas. Apesar da referida data de início de coleta, muitos deles foram veiculados
anteriormente.
É importante salientar que esta pesquisa não se pretende quantitativa, pois trabalha
com um corpus ilustrativo, pequeno para ser quantificado. Tratando-se, portanto, de um
estudo de caráter teórico, analítico e qualitativo.
Para a realização da pesquisa, esmiuçamos a peça publicitária, a partir das
expressões metafóricas utilizadas e da função argumentativa que exercem. A análise do
corpus tem como base a Teoria da Metáfora Cognitiva estabelecida por Lakoff & Johnson
(1980) e a Teoria da Argumentação de Ducrot e colaboradores (1988). Recorremos,
também, a Marcuschi (2003), para caracterizar o folder como suporte.
Assim, a análise dos folderes turísticos selecionados é apresentada em duas etapas:
a primeira diz respeito ao levantamento das expressões metafóricas encontradas nos
folderes, agrupadas por metáforas conceptuais referentes a cada uma dessas expressões,
salientando que abordaremos a imagem no folder como apelo visual, quando ela corroborar
para a compreensão da metáfora; a segunda etapa se constitui de uma discussão no que se
refere à presença da metáfora e de sua respectiva função semântico-argumentativa,
buscando a função argumentativa que as metáforas conceptuais levantadas anteriormente
exercem no corpus.
4.2.ANÁLISE DOS FOLDERES TURÍSTICOS
Com esta pesquisa, pretendemos verificar o uso da expressão metafórica como
recurso argumentativo no folder turístico, partindo da hipótese de que a metáfora
conceptual ontológica é a predominante no gênero propagandístico veiculado pelo folder e
exerce função argumentativa. Para isso, embasamos a análise do nosso corpus nos
postulados teóricos de Lakoff & Johnson (1980) e de Ducrot (1988) e colaboradores,
suporte para as questões argumentativas, enquanto aqueles, para a identificação das
metáforas conceptuais. Desse modo, trabalhamos com a análise de expressões metafóricas,
encontradas nos folderes turísticos, embora sem deixar de lado o todo de que elas fazem
parte, considerando-o enquanto contexto necessário para a identificação de uma metáfora.
Primeiramente, identificamos as expressões metafóricas contidas no corpus e as
relacionamos às metáforas conceptuais subjacentes linguisticamente. Salientamos que as
metáforas conceptuais são apresentadas sempre em letras maiúsculas, conforme propõe
Lakoff e Johnson (1980).
Após essa primeira etapa, passamos para a investigação de cunho argumentativo
dessas expressões metafóricas: que função (ções) argumentativa (s) elas exercem. Para
isso, é relevante ressaltar a importância do auditório, que, segundo Perelman (1999, p.33),
é “como o conjunto daqueles que o orador
12
quer influenciar pela sua argumentação”.
Conforme visto em estudos anteriores, a linguagem da maioria dos folderes varia conforme
o público-alvo / auditório; o que implica dizer que, de acordo com os diferentes auditórios,
serão feitas escolhas de elementos persuasivos distintos, mecanismos que “influenciam” de
determinada maneira, conforme o público ao qual se destina o folder, logo, a linguagem
adapta-se ao público-alvo. Para apoiar essa constatação, Perelman (1999, p. 41) diz que “O
orador que queira agir eficazmente pelo seu discurso deve adaptar-se ao seu auditório”.
Em outras palavras, para que o locutor do texto alcance seus objetivos, será importante que
a linguagem esteja de acordo com dado interlocutor / auditório; caso contrário, poderá não
ser bem compreendida, conseqüentemente, aquele não conseguirá adesão/atenção de seu
interlocutor. Verificamos, também, se a ocorrência de expressões metafóricas pode ser
caracterizada como recurso polifônico.
12
Deve-se entender orador como locutor.
Ainda buscamos testar a hipótese de Espíndola (2005) de que as expressões
metafóricas que atualizam metáforas conceptuais, no gênero propaganda, não são do nosso
cotidiano. Elas são elaboradas, ou seja, há um cuidado dos publicitários ao criar
determinadas expressões metafóricas, já que estas terão de atrair interlocutores específicos.
Porém, muitas delas, devido ao seu aceite, podem terminar por virar expressões do nosso
dia-a-dia, e muitas vezes nem nos damos conta de onde elas surgiram.
4.2.1. As Metáforas Conceptuais nas Propagandas Turísticas veiculadas pelo
Folder
Conforme vimos anteriormente, na teoria conceptual, os autores Lakoff & Johnson
(1980) classificam a metáfora em três tipos diferentes: as estruturais, as orientacionais e as
ontológicas. Para uma melhor compreensão, optamos por separar o corpus não pelos
folderes analisados, mas pelas metáforas conceptuais encontradas, sendo que todas elas
vão estar numeradas conforme os folderes, em anexo.
Partimos, primeiramente, das estruturais que, segundo Lakoff e Johnson, são
aquelas em que um conceito é estruturado metaforicamente em termos de outro, isto é, nós
recorremos a um conceito para falar de outro.
METAFÓRA CONCEPTUAL
ESTRUTURAL
LOCALIDADE É ALIMENTO
A Paraíba ainda tem tempero e sabor
de dar água na boca, além de uma
hospitalidade de deixar saudade. (folder
06)
Expressões Metafóricas
O sabor de Gramado é o sabor que
você aprova. (folder 20)
METAFÓRA CONCEPTUAL
ESTRUTURAL
TEMPO É DINHEIRO
Você não precisa perder horas no
trânsito para encontrar lazer e
sofisticação. (folder 21)
Expressões Metafóricas
Venha hoje mesmo para o THE TIME,
e ganhe mais tempo para o seu lazer.
(folder 21)
Em ambos os exemplos retirados dos folderes, observamos a presença da metáfora
conceptual estrutural. No primeiro, temos a metáfora conceptual estrutural LOCALIDADE
É ALIMENTO em que é utilizado o conceito de alimento para falar de um lugar, uma
cidade, já que tempero e sabor pertencem ao domínio de origem alimento. Assim, nessas
expressões metafóricas, as palavras (em negrito) estão sendo utilizados para explicar
relações referentes ao domínio-alvo localidade, neste caso a Paraíba e Gramado,
respectivamente, ambas as localidades são tratadas como produto alimentício.
No segundo exemplo, as expressões metafóricas, também, apresentam um conceito
estruturado em termos de outro. Recorremos a expressões utilizadas do conceito de
dinheiro (em negrito), como perder e ganhar, para falar de tempo, como sendo um bem
valioso como o dinheiro. Dessa maneira, observamos a metáfora estrutural, já levantada
por Lakoff e Johnson (1980), TEMPO É DINHEIRO.
A seguir, observamos metáforas ontológicas, que, para Lakoff e Johnson (1980),
são motivadas pela nossa experiência com os objetos físicos. Nelas, um conceito abstrato é
transformado em entidades, objetos ou substâncias, ou seja, são formas de conceber
eventos, atividades, emoções, idéias etc. como substâncias e entidades.
METÁFORA CONCEPTUAL
ONTOLÓGICA
MENTE É UMA MÁQUINA
Curta sua viagem sem esquentar a
cabeça. (folder 12)
Expressões Metafóricas
Refresque o seu pensamento.(folder
22)
Aqui, a mente, expressa pelas palavras cabeça e pensamento, é compreendida como
uma máquina que, com seu funcionamento, pode esquentar ou refrescar (esfriar); assim,
temos a metáfora ontológica MENTE É UMA MÁQUINA; esta também já levantada por
Lakoff e Johnson (1980).
Também encontramos, no folder turístico, a metáfora ontológica em que um
conceito abstrato, aqui no caso pecado, é transformado em objeto, cor, que pode ser
impresso: pecado não possui cor, mas ele recebe essa característica para que possa ser
menos abstrato, para que possa ser visto como um objeto.
METÁFORA CONCEPTUAL
ONTOLÓGICA
PECADO É UM OBJETO
Expressões Metafóricas
Outra falta grave é desconhecer a cor do
pecado impressa na natureza nua e cru
desse cenário tropical. (folder 01).
A metáfora ontológica também ocorre quando personificamos lugares. Conforme
exposto anteriormente, Espíndola (2005) a subdivide em animação, que ocorre quando as
localidades adquirem características animadas, não necessariamente do ser humano, mas
de um animal, e a personificação propriamente dita, em que tratamos de localidades como
se elas fossem pessoas, com características próprias de um ser humano, como nos
exemplos publicitários a seguir, retirados de folderes turísticos do nosso corpus.
METÁFORA CONCEPTUAL
ONTOLÓGICA –
PERSONIFICAÇÃO
LUGAR É PESSOA
João Pessoa nasceu às margens do rio e
seguiu seu destino a caminho do mar.
(folder 03)
A Paraíba herdou uma saudável
diversidade cultural. (folder 07)
O instituto, que nasceu em 2002 com o
objetivo de levar oportunidades inéditas.
(folder 09)
A praia mais charmosa de Florianópolis
ganhou um presente que a deixou ainda
mais fascinante. (folder 15)
O Canadá é um ótimo país para se visitar
e estudar – um país sereno e tranqüilo.
(folder 16)
A Paraíba é simplesmente encantadora
... (folder 19)
Expressões Metafóricas
... uma cidade singular e plural que
encanta a todos que a visitam. (folder 23)
João Pessoa nasceu cidade. (folder 27)
... a Paraíba, mesmo envolvida na árdua
batalha da conquista, consolidou o seu
nascimento através de um gesto de paz.
(folder 28)
Com as expressões metafóricas acima, podemos observar os lugares sendo
personificados. Eles ganharam características de seres humanos, pois nenhuma cidade
nasce, mas é construída e se forma; nenhum lugar encanta, essa é uma característica do
humano que enfeitiça, assim como nenhuma cidade tem o poder de herdar, somente no
campo humanístico é que temos essas possibilidades. Além desses, outros adjetivos, como
carinho, atenção, tranqüilo, formosa e charmosa, aparecem aqui atribuindo características
humanas aos lugares.
Através dessa recorrência da personificação de localidades, corroboramos com
Espíndola (2005) quando ela afirma que isso se dá para que o anunciante torne o lugar
mais próximo do seu cliente, apresentando características que a ele pertencem e que dele
são conhecidas, fazendo com que, dessa forma, o cliente adquira o serviço ou visite o
lugar.
Além dos lugares serem personificados, também levantamos metáforas em que
objetos são personificados, e eles o são com o mesmo objetivo, ou seja, são tratados como
seres humanos, para serem aproximados de seus clientes.
METÁFORA CONCEPTUAL
ONTOLÓGICA –
PERSONIFICAÇÃO
OBJETO É PESSOA
Para iluminar e aquecer as Américas o sol
primeiro pede licença à Ponta dos
Seixas, extremo oriental do Continente.
(folder 05)
Casarios no mais autêntico estilo barroco
e neo-clássico, igrejas e fortalezas que
contam a história das conquistas e
edificações de toda uma cultura. (folder
25)
Os apartamentos oferecem o conforto e
a tranqüilidade que você merece. (folder
21)
... a natureza exibe suas maravilhas e
encantos. (folder 26)
A alegria e a irreverência do Major
Ciraulo ganham homenagem do Folia de
Rua no ano em que o Bloco das Virgens
completa a maioridade. (folder 29)
Suas ruas contam um pouco da história
da cidade e seus casarões. (folder 04)
Folhetos e mapas trabalham juntos.
(folder 30)
Expressões Metafóricas
... que invariavelmente termina junto, aos
últimos suspiros do sol, nesse verdadeiro
santuário de beleza inigualável. (folder
31)
Outro exemplo de personificação que levantamos, no folder turístico, foi a metáfora
ALIMENTO É PESSOA, que podemos comprovar pela expressão metafórica, Bem, as
nossas carnes não precisam de apresentação (folder 15). Aqui, as carnes são
explicitamente tratadas como pessoas, pois normalmente se apresentam pessoas, umas para
as outras, porém, nessa expressão encontrada em um folder de um restaurante, as carnes
são tão boas que não precisam nem ser apresentadas.
Conforme já evidenciamos quando abordamos a teoria da metonímia, Barcelona
(2003) nos apresenta a existência da metáfora com base metonímica (the metonymic
conceptual motivation of metaphor). Isso porque, em muitos casos, a metáfora e a
metonímia se cruzam. De início vemos, nas expressões metafóricas seguintes, uma
metonímia, já que os nomes das localidades estão representando as pessoas responsáveis
por determinados lugares. Porém, aqui, os lugares passam a ter comportamentos próprios
do ser humano, isto é, assim como nos exemplos anteriores, eles são personificados,
caracterizando, dessa forma, uma metáfora com base metonímica. Assim, uma metáfora
com base metonímica é uma metonímia personificada. Dessa forma, classificaremos como
metáfora com base metonímica todas as expressões metafóricas em que as localidades,
apesar de substituirem as pessoas que por elas são representadas, também agregam
características do ser humano. Verificamos isso nos recortes seguintes.
METÁFORA COM BASE
METONÍMICA –
PERSONIFICAÇÃO
LUGAR É PESSOA
Todo final de tarde, bares do lugar
convidam para pôr do sol... (folder 01)
Bananeiras espera por você. (folder 02)
Bananeiras prima por sua cultura, usos e
costumes, além de ostentar um ar de
beleza e um clima muito agradável.
(folder 02)
... uma cidade que adora fazer amigos.
(folder 03)
A cidade de João Pessoa recomenda um
despertar vagaroso. (folder 03)
Vamos juntos conhecer melhor a cidade
que lhe espera de braços e coração
abertos. (folder 03)
A CIDADE rica em história e cultura
convida os visitantes a uma volta aos
tempos antigos. (folder 04)
A Paraíba quer te conhecer. (folder 05)
João Pessoa aprendeu como é que se faz
e como não se faz. (folder 05)
O VELHO MADALOSSO aguarda sua
visita com um cardápio tradicional
italiano. (folder 10)
Santa Felicidade guarda para seus
visitantes um lugar requintado,
aconchegante... (folder 10)
O mundo recebe bem quem tem American
Express Travels Cheques. (folder 12)
Expressões Metafóricas
Ilha Bela surpreende com suas opções
em hotéis, pousadas, chalés e camping.
(folder 18).
Durante anos a Paraíba se preparou
para recebê-lo com todo o carinho e
atenção. (folder 05)
O Hotel Vinocap oferece para seus
hóspedes... (folder 08)
O Maladosso tem parcerias de
translados de hotéis para restaurantes e
dos restaurantes para os Hotéis. (folder
10)
Todo fim de tarde, os bares
localizados, convida você para assistir o
pôr-do-sol ao som do Bolero de Ravel...
(folder 31)
A Linha Verde desvendou recantos e
belezas naturais ainda primitivas do
Litoral Norte da Bahia. (folder 32)
Os exemplos acima referendam a idéia de que em todas essas expressões, os nomes
dos lugares vêm para substituir as pessoas que ali habitam, constituindo, dessa forma, num
primeiro momento, uma metonímia. Porém, em todos os exemplos, também, conforme já
foi observado, esses locais apresentam características próprias do ser humano, tais como:
convidar, espera, prima, fazer amigos, recomenda aguarda, quer conhecer, guarda,
recebe bem e surpreende. Uma cidade não pode convidar, nem fazer amigos, nem receber
bem, muito menos surpreender, mas o homem, sim, possui todas essas características.
Então, com isso, confirmamos a metáfora com base metonímica, LUGAR É PESSOA,
conceito de Barcelona (2003).
A partir desses exemplos, podemos afirmar que a hipótese levantada por Espíndola
(2005), de que, na propaganda, vai predominar a presença da metáfora ontológica tende a
se confirmar, pois no corpus constatamos a recorrência da metáfora conceptual estrutural,
porém em número menos significativo.
4.2.2. As Metáforas Conceptuais e a Argumentação
Após o levantamento das metáforas conceptuais atualizadas por expressões
metafóricas, nos folderes turísticos analisados, podemos constatar que elas exercem papel
argumentativo, pois, segundo tese de Espíndola (2005), essas metáforas são recursos
utilizados pelo locutor para atrair o cliente (interlocutor), fazendo com que a propaganda
fique mais próxima deste. Para tanto, é indispensável que o locutor saiba exatamente quem
é seu auditório (interlocutor), para que a metáfora exerça o direcionamento argumentativo
pretendido pelo locutor e faça com que o interlocutor adquira o produto / serviço.
Através da metáfora conceptual, atualizadas em expressões lingüísticas metafóricas,
são estabelecidos efeitos que o locutor pretende causar, assim como comportamentos que
ele quer desencadear nos interlocutores, isto é, a metáfora é um recurso que, com ela, o
locutor deseja obter do seu auditório determinada reação, a de aceitação do produto /
serviço.
Quando sabemos que alguém quer nos conhecer, elevamos nosso ego e nos
tornamos mais interessados. A mesma idéia ocorre quando vemos a expressão metafórica
A Paraíba quer te conhecer, em que a metáfora conceptual ontológica utilizada, além de
personificar a Paraíba, também, vem aproximá-la do interlocutor e o induz a adquirir o
serviço, porque ele quer te conhecer. A Paraíba argumenta com o interlocutor que não
pode deixar de visitar a localidade pois ela (a Paraíba) “quer te conhecer”. Com isso o
locutor encaminha a leitura e a adesão do auditório.
Também verificamos que a linguagem da maioria dos folderes, em relação às
metáforas conceptuais, é semelhante. Isso porque se trata de um mesmo público alvo /
auditório, que são pessoas que viajam, seja a trabalho ou a lazer, o que implica dizer que,
como os auditórios pertencem a uma mesma classe, as expressões metafóricas
atualizadoras de metáforas conceptuais escolhidas como elemento de persuasão,
mecanismos que “influenciam” de determinada maneira conforme o público ao qual se
destina o folder, são parecidas. É tanto que, na análise, no item anterior, podemos ver isso
claramente, quando as separamos em quadros agrupados pelo tipo de metáfora conceptual
observada. Devemos salientar que, ao afirmarmos que se trata de um mesmo auditório, não
estamos querendo dizer que as mesmas pessoas que viajam para João Pessoa, por exemplo,
são exatamente as mesmas que viajam para Gramado ou para o Canadá, mas que essas
pessoas, apesar de destinos distintos, pertencem a uma mesma classe, a de viajantes.
Assim, é importante relembrar que, para que o locutor / produtor do discurso
alcance seus objetivos, será importante que a linguagem esteja de acordo com dado
interlocutor / auditório; caso contrário, poderá não ser bem compreendida.
Conseqüentemente, o locutor não conseguirá atenção e adesão de seu interlocutor.
No folder 03, que fala da cidade de João Pessoa situada no Nordeste brasileiro, em
que a expressão metafórica é Nasceu às margens de um rio e seguiu seu destino a caminho
do mar, o governo utiliza o recurso da metáfora conceptual ontológica, como elemento
argumentativo. O mesmo ocorre no folder 16, que veicula a propaganda do Canadá, país na
América do Norte, em que o anunciante fala desse país como um país sereno e tranqüilo.
Apesar dos folderes 03 e 16 serem de localidades muito distintas, temos uma mesma
metáfora conceptual, LUGAR É PESSOA, pois, em ambos, os anunciantes personificam
os lugares, para ficarem mais perto do mundo do cliente; mesmo sendo tão diferentes, os
folderes têm a mesma finalidade: fazer com que as pessoas conheçam aquelas localidades,
adquirindo seus produtos e serviços. Note-se que a linguagem utilizada por eles em relação
à metáfora é semelhante, apesar de atraírem pessoas distintas, mas de uma mesma classe.
Essa mesma semelhança de linguagem / estratégia, para um mesmo público
(viajantes), pode ser identificada na análise dos textos dos folderes 06 e 20
13
. Nesses dois
folderes, a metáfora conceptual é classificada como uma metáfora estrutural em que
LOCALIDADE É ALIMENTO, pois, em ambos, os locutores recorreram a expressões
oriundas de alimentos, sabor e tempero, para falar das localidades, Paraíba e Gramado: A
Paraíba tem tempero e sabor de dar água na boca, além de uma hospitalidade de deixar
saudade (folder 06) e, O sabor de Gramado é o sabor que você aprova.
13
Vide anexo.
O fato de ser o mesmo público-alvo, nos folderes analisados, parece determinar a
linguagem, isto é, os serviços oferecidos apresentam-se, argumentativamente, de maneira
semelhante, ajustando-se ao auditório. Isso porque, retomando as palavras de Koch (2001),
quando atuamos sobre o outro, temos determinadas intenções e são essas intenções que
determinarão o modo como estruturaremos o nosso discurso. Logo, o efeito de sentido
provocado por determinada escolha precisa ser levado em consideração porque
a questão está em saber como as intenções se dão a conhecer ao ouvinte.
E o problema se põe porque as palavras, as frases não dizem uma só e
única coisa em todas as situações em que são usadas. (GUIMARÃES,
1995, p. 32)
Partindo do objetivo principal do folder que é “vender um serviço”, os argumentos
– sempre favoráveis para os vários auditórios – são apresentados de maneira a somar
sempre vantagens, argumentos positivos em favor de uma mesma conclusão: mostrar,
quase sempre, um algo a mais, um diferencial.
Sabemos, contudo, que não só de linguagem verbal é formado o folder. Ele também
é composto pela linguagem visual ou não-verbal, que, como dito anteriormente, vem aliar-
se ao texto, tornando o folder mais atrativo aos olhos do interlocutor. Para isso, é
importante que todas as imagens estejam muito bem casadas com o verbal para que o
interlocutor realize a percepção completa do folder e, assim, tenha interesse de adquirir o
produto/ serviço.
De acordo com o corpus analisado, podemos afirmar que a imagem também é um
recurso argumentativo utilizado pelos publicitários no folder, para atrair ainda mais o
interlocutor (cliente) e argumentar de forma indireta, ou muitas vezes implícita, que, se ele
não adquirir aquele produto ou serviço, estará perdendo tudo aquilo.
No folder turístico, essas imagens são ainda mais importantes, pois o turismo
trabalha com um produto intangível, ou seja, quando vendemos uma cidade, o cliente não
pode pegá-la, experimentá-la, e, se não gostar, devolvê-la. Assim, ele tem de se sentir
atraído para visitar tal localidade, sem medo de gastar seu tempo ou seu dinheiro lá, e a
imagem no folder é um dos meios pelo qual o locutor vai tornar essa intangibilidade mais
próxima do interlocutor.
Por isso, observamos, nos folderes analisados, que todos trazem a beleza como
principal recurso para convencer o interlocutor, para argumentar com o interlocutor, sejam
essas belezas, naturais, históricas, ou de conforto. Essas imagens bonitas, atrativas, limpas
aos olhos humanos, dos locais que estão sendo apresentados como disponíveis para a
visita, para o consumo, são muito mais que isso: apresentam-se como um meio para que
essas localidades ou esses serviços se tornem indispensáveis de serem conhecidos.
Podemos dizer, então, que a linguagem não-verbal é um recurso argumentativo
utilizado pelos publicitários, uma vez que ela favorece ainda mais a mensagem,
estimulando e persuadindo o interlocutor. Mas será que essa imagem, no corpus analisado,
vem corroborar para a compreensão das metáforas conceptuais, que, como vimos também
é um recurso argumentativo?
Em alguns casos, a imagem corrobora com a metáfora conceptual, pois quando
vemos as fotografias e lemos as expressões metafóricas logo relacionamos uma a outra.
Porém, em outros casos, e podemos dizer que em sua maioria, a imagem ali exposta não
está relacionada com as expressões metafóricas. Por exemplo, na metáfora conceptual
estrutural LOCALIDADE É ALIMENTO, destacamos duas expressões metafóricas
encontradas em folderes distintos: em uma, observamos a ligação da imagem com a
expressão metafórica, já, na outra, essa relação não se verifica.
Ainda em relação a essa metáfora, temos a expressão metafórica, A Paraíba ainda
tem tempero e sabor de dar água na boca, além de uma hospitalidade de deixar saudade,
encontrada no folder 06, em que não há nenhuma imagem de alimentos; nesse folder, só
existem duas imagens próximas à metáfora, que são fotografias de um ponto turístico da
cidade de João Pessoa, capital do estado citado, e outra foto das pegadas dos dinossauros
encontradas no interior desse estado, também alvo do turismo. Dessa maneira, aqui, a
imagem não corrobora a metáfora conceptual estrutural analisada. Já na expressão
metafórica, O sabor de Gramado é o sabor que você aprova (folder 20), a imagem vem
auxiliar a metáfora, pois encontramos, no folder 20, fotos de diversos alimentos típicos da
culinária gaúcha, que vêm reforçar a idéia de Gramado como um alimento.
Com relação ainda à metáfora conceptual estrutural, analisamos duas expressões
metafóricas relacionadas à metáfora TEMPO É DINHEIRO, em que, em ambas, as
imagens expostas no folder são dos espaços de que dispõe o hotel (serviço apresentado ao
interlocutor), tais como quartos, quadras, salão de conferências, entre outros. Sendo assim,
esse recurso visual não vem corroborar a metáfora conceptual, em que expressões do
campo semântico de dinheiro são utilizadas para expressar o tempo.
O mesmo ocorre com as metáforas conceptuais ontológicas e com as metáforas com
base metonímica, pois, dentre as 38 (trinta e oito) expressões metafóricas analisadas,
somente em 7 (sete) a imagem vem corroborar o sentido dessas expressões. Em todo
restante, ou seja, nas outras 31 (trinta e uma), expressões metafóricas, a linguagem não-
verbal é usada como um recurso para chamar atenção, tornar o produto ou serviço mais
atrativo e elevar as qualidades desses, sendo, portanto, um recurso argumentativo.
4.2.2.1. A Relação Polifonia e Metáfora Conceptual em Folderes Turísticos
Neste espaço da análise, trabalharemos especificamente com a polifonia de
enunciadores, que, como vimos anteriormente, é a polifonia não-marcada ou implícita e
ocorre quando, no mesmo enunciado, são identificados pontos de vista diferentes,
colocados em cena pelo locutor. Para Ducrot (1988), não existe discurso monológico, pois
todo enunciado apresenta um certo número de pontos de vista relativos às situações de que
se fala.
Quando falamos em metáfora conceptual, certamente nos vem em mente a palavra
domínio, isto porque esta metáfora resulta da projeção entre dois domínios diferentes, parte
de um domínio fonte que será projetada em um domínio alvo. Assim, quando o locutor fala
Venha hoje mesmo para o THE TIME e ganhe mais tempo para o seu lazer, ele está
utilizando-se expressões do dinheiro, como ganhar, para falar do tempo, utilizando, dessa
forma, a metáfora conceptual TEMPO É DINHEIRO.
Logo, atento às colocações de Ducrot em relação à polifonia de enunciadores e
analisando as expressões metafóricas coletadas, podemos dizer que a metáfora conceptual
é um tipo de polifonia de enunciadores, já que esses enunciadores são pontos de vista que o
locutor traz para o seu discurso.
Voltando à expressão metafórica citada, constatamos que, nela, há dois
enunciadores: o primeiro enunciador (E
1
),
que se refere ao domínio fonte, dinheiro e o
segundo enunciador (E
2
), que está relacionado ao domínio alvo, tempo. Sendo assim,
quando falamos de tempo, necessariamente, em nossa cultura, recorremos ao ponto de
vista do dinheiro, dando sentido ao enunciado. Indo mais além, Ducrot diz que a
pressuposição e a negação são recursos lingüísticos que permitem a construção de um
discurso polifônico. Nós acrescentamos a metáfora conceptual também como um desses
recursos.
Ressaltamos que a expressão lingüística metafórica pode ser considerada um
elemento ativador de polifonia, uma vez que conhecimentos prévios (a metáfora
conceptual, segundo Lakoff e Johnson, é cultural) precisam ser recuperados para que
possamos identificar a metáfora conceptual que subjaz à expressão lingüística metafórica.
Dessa forma, é possível (uma hipótese) dizer que o domínio fonte (conhecimento
prévio) pode ser atribuído ao E1 (senso comum) e o domínio alvo, ao E2, o próprio
locutor. Salientamos, mais uma vez, que o elemento ativador de polifonia não é a metáfora
conceptual, mas as expressões lingüísticas metafóricas que a atualizam.
Vamos verificar outro exemplo retirado do nosso corpus, em que também ocorre
polifonia de enunciadores. Observando a metáfora conceptual LOCALIDADE É
ALIMENTO, atualizada pela expressão lingüística metafórica A Paraíba ainda tem
tempero e sabor de dar água na boca, além de uma hospitalidade de deixar saudade.,
constatamos a necessidade de recorrer ao campo alimentício para podermos compreender a
localidade que é expressa como um alimento. Dessa maneira, é possível dizer que o
enunciador 1 (E1), pode corresponder ao campo alimentício, ou seja, a informação que o
interlocutor terá de recorrer para entender a localidade; e o enunciador 2 (E2), a Paraíba
personificada, isto é, sobre o que se fala, o lugar apresentado pelo locutor, a própria
expressão lingüística metafórica.
Seguindo com esta análise, temos a expressão metafórica João Pessoa nasceu às
margens do rio e seguiu seu destino a caminho do mar, atualização lingüística da metáfora
conceptual ontológica (personificação) LUGAR É PESSOA, em que a cidade de João
Pessoa ganha características de um ser humano, já que ela nasce e segue seu destino.
Podemos, então, ver a construção de um discurso polifônico através do recurso lingüístico
da metáfora conceptual, em que o E
1
é domínio fonte, são as pessoas que nascem e seguem
seus destinos, e o E
2
é o domínio alvo, o lugar, as cidades que também nascem e seguem
seus destinos, caracterizando a personificação.
Deste modo, o locutor coloca em cena dois pontos de vista, o primeiro de
características próprias de um ser humano, e o segundo caracterizando João Pessoa, que é
uma cidade, com atributos humanísticos, nascendo e tendo um destino. Com isso, o locutor
se aproxima do interlocutor e faz com que o produto, que é a cidade de João Pessoa, fique
mais visível, mais próximo, menos intangível ao olho do turista ou cliente (interlocutor),
que é o alvo final a que esse folder se destina.
A polifonia de enunciadores, apresentada nesta parte da análise da nossa pesquisa,
está implícita nas enunciações, constituindo o seu dizer em uma estratégia intencional,
consciente, visando a atingir determinado intento, que, neste caso, por se tratar de
propagandas turísticas veiculadas pelo folder, é o intuito de convencer o interlocutor a
desfrutar dos serviços das localidades ali expostas.
O ponto de vista de E
1
é trazido pelo locutor (publicitário) para, através da
metáfora, aproximar-se do virtual comprador. Por isso, o publicitário recorre a diferentes
pontos de vista sobre as localidades, para que, através deles, este locutor possa obter
sucesso. Assim as expressões linguísticas licenciadas pelos mapeamentos metafóricos
possibilitam a construção de sentidos polifônicos que, por meio dos conceitos distintos,
podem ser utilizados na obtenção de determinado propósito argumentativos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, investigamos a metáfora conceptual enquanto recurso
argumentativo, tendo como material de análise as propagandas turísticas veiculadas em
folderes. Para essa verificação, partimos da identificação das expressões metafóricas
encontradas no nosso corpus e as analisamos à luz da Teoria da Argumentação.
Por ser a publicidade um investimento tão importante para os dias atuais, torna-se
praticamente indispensável, para que qualquer produto ou serviço tenha sucesso. Podemos
dizer que somente ela tem o poder de fazer um produto / serviço sobreviver nesses tempos
de ferrenha competição mercadológica. Assim, a linguagem usada pela publicidade e o
modo de organizar e expor os argumentos pelo publicitário orientam e seduzem o
interlocutor, através de recursos verbais e não-verbais.
Podemos confirmar isso através da análise dos dados, em que vimos que algumas
expressões metafóricas não são necessariamente do nosso cotidiano, podendo ou não,
posteriormente, integrarem o dia-a-dia dos usuários da língua de uma determinada
comunidade. Essas expressões são construídas pelos publicitários a partir de metáforas
conceptuais já enraizadas na nossa cultura, para aproximar o produto / serviço do cliente,
com uma “roupagem” lingüística inovadora.
Com base no que foi exposto, anteriormente, procedemos à análise de cunho
qualitativo de um corpus de expressões metafóricas extraídas de 32 (trinta e dois) folderes
turísticos cujos resultados nos apontam a ocorrência predominante da metáfora conceptual
ontológica, embora apareçam as estruturais, porém em número pouco significativo.
Essa constatação nos possibilitou confirmar nossa primeira hipótese de que há
ocorrência, em larga escala, da metáfora conceptual ontológica nas propagandas turísticas
veiculadas em folderes. Acreditamos que esse número, principalmente da personificação
de lugares ou objetos, ocorre devido ao grande aumento e concorrência das propagandas
turísticas nos dias atuais, em que, cada vez, mais as empresas buscam uma linguagem mais
próxima do seu público e de seus parceiros, pois assim suas marcas serão fortalecidas
institucionalmente e suas vendas serão ampliadas. Provavelmente, o locutor sabe que seu
interlocutor se sente melhor, se sente mais atraído ao adquirir um produto que esteja mais
próximo de sua realidade, que se pareça com ele, que seja magro, que nasça, que converse,
enfim, que possua características humanas.
A metáfora como foi aqui explorada por nós, não se restringe somente ao discurso
propagandístico, pois ela está presente na linguagem como um todo, quer nos nossos
diálogos do cotidiano, nos jornais, nas revistas, no discursos de um político, quer nas
piadas. As investigações que contemplam uma relação entre o homem, a linguagem, o
mundo e o pensamento, todos situados socioculturalmente, com certeza contribuíram para
a nossa pesquisa.
Também confirmamos nossa segunda hipótese: a metáfora conceptual é utilizada
como recurso argumentativo, já que essas meforas são apresentadas como argumentos
positivos, de maneira a somar vantagens, mostrando um diferencial, um algo a mais, do
produto / serviço exposto no folder turístico.
Porém, saliente-se que é preciso que essa
constatação seja ainda verificada em um corpus maior.
A semelhança entre o público-alvo, ou seja, os viajantes, nos folderes analisados,
determina a linguagem, isto é, os serviços oferecidos apresentam-se, argumentativamente,
de maneira semelhante, ajustando-se ao auditório. Isso porque, retomando as palavras de
Koch (2001), quando atuamos sobre o outro, temos determinadas intenções e são essas
intenções que determinarão o modo como estruturaremos o nosso discurso.
Por isso, partindo do objetivo principal do folder que é “vender um serviço”, os
argumentos, sempre favoráveis para os auditórios, são apresentados pelos publicitários
com o intuito de somar vantagens. E a polifonia de enunciadores, exposta por Ducrot
(1988), entra aqui como um importante recurso argumentativo que os profissionais desta
área se utilizam, pois, na propaganda, o implícito, às vezes, fala mais alto, e essa polifonia
é justamente isso, são diferentes pontos de vista expostos no enunciado de forma não
marcada com a função de aproximar o consumidor.
Dessa maneira, postulamos que a metáfora conceptual, atualizada através das
expressões lingüísticas, pode ser considerada como um recurso lingüístico-discursivo da
Polifonia de Enunciadores. De que forma? A polifonia de enunciadores é a presença de
pontos de vista (textos) não explicitamente marcados, porém anunciados por um
dispositivo (ativador de polifonia). No caso da metáfora conceptual, apresentamos a
seguinte hipótese: uma expressão lingüística metafórica, para ser entendida, na maioria das
vezes, remete para um conhecimento prévio (pode ser, no caso da metáfora conceptual, o
domínio fonte de onde são utilizados alguns traços) para que possamos entender o domínio
alvo (a metáfora conceptual em questão, na expressão lingüística que a atualiza).
Para que o interlocutor compreenda o enunciado, ele tem de recuperar conceitos
oriundos do domínio fonte e trazê-los para o domínio alvo. Isso é feito através de uma
operação mental que, muitas vezes, nem nos damos conta. Assim, o publicitário (locutor)
constitui o seu dizer em uma estratégia intencional, consciente, visando convencer o
interlocutor a conhecer e a desfrutar dos serviços das localidades expostos nos folderes.
Além desses recursos argumentativos verbais que o locutor utiliza em seu texto, há
também os recursos não-verbais, que se aliam no discurso, chamando ainda mais a atenção
do interlocutor. Para isso, as imagens têm de estar em total harmonia com o verbal para
que o interlocutor realize a percepção completa do folder e, assim, tenha interesse em
adquirir o produto/ serviço.
A partir do exposto, podemos afirmar que a imagem também é um recurso
argumentativo utilizado pelos profissionais de propaganda em folder para atrair ainda mais
o interlocutor (cliente) e argumentar de forma indireta, ou muitas vezes implícita.
Finalizando, esta pesquisa pretende assinalar a importância e a necessidade de se
continuar a investigação da Teoria da Metáfora Conceptual em diferentes gêneros.
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