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Educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a
criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade.
Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre
todos os que ensinam e aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os
códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da
religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para
reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos,
através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem
dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a
explicar, às vezes a ocultar, a necessidade da existência de sua ordem
(BRANDÃO, 1995, p. 10-11).
À luz dessas conceituações, há uma relação íntima entre educação e cultura e entre a
diversidade e a diferença, pois, ao imprimirem a educação como uma experiência subjetiva
entre sujeitos, reforçam o valor das diferenças que nos precede, nos ultrapassa e nos institui
enquanto sujeitos humanos sócio-históricos e, portanto, com características diferenciadas de
pertencimento racial, sendo que, com relação aos negros, insiste-se na ênfase diferencialista,
livre de pré-julgamentos que possam vir gerar desigualdades, discriminações e preconceitos.
Forquim (1993) chama ainda atenção para o “pluralismo cultural”, que não existe
somente entre as nações, ele está no interior das nações, no interior das comunidades que as
compõem, e os próprios indivíduos não escapam à lei geral da diferenciação interna e da
mestiçagem (p. 126). Portanto, compartilhamos com as idéias do autor em questão, com o
reconhecimento e o respeito às diferenças, na medida em que só se pode reconhecer e
respeitar o que se pode perceber como uma modalidade ou uma outra expressão do humano.
Daí a importância do papel desempenhado pela escola no não-obscurantismo das diferenças
raciais, propondo-se a uma educação anti-racista, anti-desigual, aberta, na qual todos possam
se reconhecer em suas singularidades (SILVA, 2001; CANEN; MOREIRA, 2001; GOMES,
2003, 2006; COELHO, 2009, entre outros).
É importante lembrar que a pedagogia crítica concebe preferentemente o indivíduo
como um ator social em comunicação com os outros atores, e a educação como um veículo de
contestação, de crítica, na qual os indivíduos põem no mundo ações dotadas de sentido, de
representação para eles (CHARTIER, 1991), e encontram em seu caminho as ações dos
outros e as significações postas pelos outros. Essa interação simbólica desenvolvida é parte da
vida social, produto de uma composição entre cada um e os outros, mas é um campo
constantemente contestado, de “negociações” entre os atores cujas representações,
significações, sentidos são divergentes (FORQUIM, 1993). É nessa efervescência de
sentidos/significados, para usar termos chartienianos, que o indivíduo constrói
simultaneamente sua identidade individual e social. Daí ser fundamental o papel