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Sua obra Almas de gente negra, tornou-se entre (1920 e 1940) referência fundamental
para o movimento da negritude, o que o conferiu o título de pai da negritude, devido a sua
influência que exerceu a outros intelectuais e personalidades africanas e da diáspora, que
possuíam relevante visibilidade em seus respectivos países
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. Du Bois rejeitou o ideal da volta
dos negros à África, porém, o reconhecimento da dignidade do negro em solo americano,
visto que a América era a pátria de ambas as raças há muitos séculos.
A negritude nasce de um sentimento de frustração dos intelectuais negros por não
terem encontrado no humanismo ocidental todas as dimensões de sua
personalidade. Neste sentido, ela é uma reação, uma defesa do perfil cultural do
negro. Representa um protesto contra a atitude do europeu em querer ignorar outra
realidade que não a dele, uma recusa da assimilação colonial, uma rejeição política,
um conjunto de valores do mundo negro que devem ser reencontrados defendidos e
mesmo repensados. Resumindo, trata-se primeiramente de proclamar a
originalidade da organização sócio-cultural dos negros para, depois, sua unidade ser
defendida, através de uma política de contra-aculturação, ou seja, desalienação
autêntica (MUNANGA, 1988, p.56).
A negritude em sua época teve relevância incontestável, devido ao contexto histórico
em que foi desenvolvida como conceituação, como movimento político, que visava denunciar
e combater a subjugação dos negros colonizados e destituídos de sua dignidade humana. O
movimento buscou demonstrar que não havia somente uma matriz cultural no mundo, pelo
contrário, demonstrou a possibilidade de coexistência pacífica entre os diferentes povos, as
diferentes culturas e as diferentes etnias.
A fraternidade presente nos escritos dos intelectuais da negritude possui o caráter
primordial da ideologia do movimento que não pregava o ódio, o afastamento, ou o
enfrentamento ao colonizador, mas o respeito mútuo. Fica claro que o movimento buscou
alcançar tais objetivos, porém, posteriormente passou a se tornar alvo de críticas de
pensadores africanos, europeus e da diáspora negra. Sobre o pensamento de Wole Soyinka,
vejamos o que escreve Kabengele Munanga:
A eficácia da negritude constitui um outro ponto de controvérsia, pois há quem
pense nela como um racismo anti-racista, uma fobia do negro, ou melhor, uma
xenofobia, e que não se resolveria nada substituindo, uma xenofobia, e que não se
resolveria nada substituindo uma fobia por outra, vivendo num gueto cultural. Um
tigre, como disse Wole Soyinka, da Universidade nigeriana de Ibadan, não precisa
proclamar sua tigritude. Para ser eficaz, ele ataca sua presa, ou ainda, segundo
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Tais como: Asikwe Nandi, futuro presidente da Nigéria, Kwame N`Krumah, primeiro presidente da República
de gana, cujo mito do pan-africanismo foi uma das idéias de força, Jomo Kenyatta, primeiro presidente da
República do Quênia. (MUNANGA, 1988, p.37).