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Como na fita de Moebius, que indica uma topologia não orientável, fronteiriça,
contínua, as combinações subjetivas são expostas na pele, que puxa o movimento e
torna-se espaço. Ao dançar, re-viramos o tempo todo. “Ora tenho forma, ora não,
ora sou eu, ora ela, forte eu, forte ela, os cabelos da escultura viram quebras para
minha coluna, os espaços que quero percorrer com minha bacia atravessam um
túnel imaginário para sentir as montanhas”, e assim por diante.
No plano da imaginação corporal, as fronteiras se apagam em direção à
simultaneidade das imagens, das novas percepções. As imagens guiam os
movimentos, e estes produzem novos sentidos para elas. O que era sentido como
vazio, antes de dançar, torna-se espaço no corpo, o abandono torna-se entrega, o
destino torna-se escolha. “Quando a opinião desce da cabeça, a dor torna-se
possível, e o espaço contrito alcança amplitude”. Ao dançar vemos tudo diferente.
Percebemos, nos relatos, que o convite para a improvisação “… levou para
lugares que eu nunca visitei, mesmo no meu corpo. Tenho medo de ficar sempre em
lugares comuns, porque já tenho uma linguagem corporal. Foi muito bom descobrir
outras sensações, outros estados, foi muito bom estar lá! No sentido do movimento”.
Na dança de algumas participantes, a beleza estética não se fez evidente,
não vemos tônus nem sequer intensidade, em termos de movimento. No entanto, os
relatos nos fizeram olhar em outra direção, apontando que elas estavam implicadas
na atividade e que experimentaram algo forte: “A descoberta das potências, do
encontro, do contraponto, se fazendo alma. Rompendo a barreira, a forma
conhecida, que não cabe mais. A contra-força do desejo, do que em mim, a partir de
mim, se inscreve de novo. No olhar do horizonte, do que vai ser, do devir. Do que se
faz em forma de eu”.
A partir das diferentes formas de narrativa, pudemos observar as
diversas personalidades que se apresentaram dançando, falando e escrevendo
sobre suas danças, revelando os estilos de consciências possíveis em uma mesma