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que escreve especificamente sobre teses acadêmicas, e Köche (2001), que fala
sobre relatórios de pesquisa e artigos científicos. Ambos dão informações
detalhadas sobre estilos de redação, organização e formatação do texto (capítulos,
sumário, referências bibliográficas); Goldenberg (2005), Mazzotti e Gewandsznajder
(1998), Severino (2002) e Cozby (2003) dão dicas interessantes para a redação e os
tipos de textos a serem elaborados dependendo de sua finalidade. Por outro lado, há
pouca literatura que discute a função e finalidade do texto público, por meio do qual
um processo de pesquisa se apresenta. A produção de conhecimento, lentamente
forjada ao longo do processo de pesquisa, se efetiva no relato final desta e nele se
cumpre seu caráter científico.
É apropriado retomar, neste momento, alguns cuidados, já discutidos
anteriormente com relação à condução do processo de pesquisa e que o
pesquisador deve dispensar agora, na confecção de seu texto. Primeiro ele deve
esforçar-se para dar solidez e precisão aos seus conceitos, discutindo-os de tal
modo que seu texto expresse aquilo que o autor pretende comunicar (JUNG, vol.5).
Em segundo lugar, “qualquer pesquisador deve documentar, tanto quanto possível,
os resultados a que chegou” (JUNG, vol.9/2, §429), assim como expressar suas
opiniões e avaliações sobre o tema pesquisado, levantar hipóteses, se for o caso, e
fazer propostas, correndo o risco de errar, pois “afinal de contas, são os erros que
nos proporcionam os fundamentos da verdade [e a continuidade do processo de
conhecimento]” (vol.9/2, §429). E, por fim, o pesquisador deve estar ciente de que,
com o produto de seu trabalho, ele afirma sua autoria e assume um compromisso
com a comunidade científica.
Uma das funções básicas do relato de pesquisa é promover um debate crítico
que ofereça a oportunidade de transformação constante ao conhecimento científico,
tanto pelos erros quanto pelos acertos. Vale lembrar, ainda, que a concepção atual
de ciência é bastante sintônica com a posição de Jung no que diz respeito à
transitoriedade da verdade, quando ele afirma que não temos condições de fazer
“afirmações verdadeiras ou corretas [...] o melhor que conseguimos são ‘expressões
verdadeiras’” (vol.4, §771), na realidade, mais do que ‘expressões verdadeiras’, o
máximo que se pode fazer, num trabalho científico, é fornecer, no relato de
pesquisa, expressões honestas sobre o que foi estudado.