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DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE
DISPOSITIVOS PARA DEPOSIÇÃO DE FILMES
FINOS POR DESCARGA EM CÁTODO OCO
Francisco Odolberto de Araújo
Orientador: Prof. Clodomiro Alves Jr.
Co-orientador: Prof. José Alzamir Pereira da Costa
Tese apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande de Norte como
requisito parcial à obtenção do grau de
DOUTOR em Física
NATAL
Dezembro de 2006
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Exatas e da Terra
Departamento de Física Teórica e Experimental
Programa de Pós Graduação em Física
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ii
A minha filha, Poliana Ellen de Araújo,
que deu uma nova dimensão à minha
existência.
A minha esposa que me presenteou com
os frutos do nosso amor.
A meu pai, um sertanejo que me ensinou
o valor da educação.
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iii
“Sei bem que por não ser eu um literato,
algum presunçoso julgará razoável me
desdenhar e alegar ser eu homem sem
letras. Gente estulta![...] Ora, eles não
sabem que as minhas coisas são mais
para serem extraídas da experiência do
que da palavra alheia.”
Leonardo da Vinci
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Clodomiro Alves Jr., pela liberdade e incentivo no
desenvolvimento deste trabalho e imprescindível apoio à sua conclusão.
Ao Prof. Dr. José Alzamir Pereira da Costa pelas discussões e incentivo que apontaram
a direção a ser seguida.
Ao Prof. Dr. Uilame Umbelino pelo apoio material.
Ao amigo João Maria Soares pelo inestimável apoio nas horas de dificuldades
enfrentadas ao longo desta jornada.
Aos amigos e companheiros Roberto Silva de Sousa, Rômulo Ribeiro de Magalhães
Sousa e Kleber José Barros, que apostaram no valor de uma nova idéia.
Ao pesquisador Edalmy Oliveira pela parceria no desenvolvimento da fase inicial deste
trabalho.
Aos amigos físicos, Júlio César, Ana Karolina, José Bernardino e Elaine Medeiros pela
colaboração na determinação dos parâmetros do plasma.
Aos amigos Tarcila Frota, Ana Maria, Michelle Feitor, Thércio Cerqueira, Márcio
Willians e a todos que de alguma maneira colaboraram para a realização deste trabalho,
incentivando, oferecendo ajuda e/ou discutindo resultados.
A coordenação do PPGF, pela infra-estrutura e apoio oferecidos.
A todos os meus colegas e amigos do DFTE e do LabPlasma, que me incentivaram
durante a realização deste trabalho.
Aos funcionários do DFTE pelos serviços prestados.
A Capes e CNPq pelo apoio financeiro.
v
RESUMO
Filmes finos de TiO
2
foram depositados sobre substrato de silício usando descarga
em todo oco. A presente técnica foi usada como alternativa a outras técnicas como sol-
gel, PECVD, dip-coating e magnetron sputtering. O sistema desenvolvido apresenta uma
configuração de cátodo oco cilíndrico polarizado com tensão DC variando entre 0 e 1200V
e corrente de até 1 A. Um jato de plasma de Ar + O
2
, extrai átomos do mesmo, que são em
seguida depositados sobre um substrato frontalmente posicionado. As amostras são
posicionadas a distâncias do cátodo variando entre 10 e 50 mm. Foram investigadas os
parâmetros do plasma e sua influência sobre as propriedades dos filmes depositados. Os
parâmetros de trabalho para deposição de TiO
2
foram 20sccm de fluxo da mistura Ar/O
2
com percentuais de oxigênio variando entre 0 - 30%, pressão de trabalho 10
-3
mbar e
tempos de deposição de 10 - 60 minutos. As amostras foram caracterizadas por microscopia
eletrônica de varredura e microscopia de força atômica para verificar sua uniformidade e
morfologia e por difração de raios-x para análise qualitativa das fases presentes nos filmes
.
Neste trabalho também é apresentado um novo dispositivo, denominado gaiola
ionizante, derivada da nitretação a plasma em tela ativa (ASPN), mas baseado no efeito de
cátodo oco, recentemente desenvolvido. Neste processo as amostras são envolvidas por
uma gaiola, na qual é aplicada a diferença de potencial, permanecendo em potencial
flutuante, sendo tratadas numa região livre da influência do campo elétrico por um plasma
reativo, operando em regime de cátodo oco. Dessa forma foram obtidas camadas uniformes
em todas as amostras e eliminados defeitos como o efeito de borda.
vi
ABSTRACT
In the present work we use a plasma jet system with a hollow cathode to deposit
thin TiO
2
films on silicon substrates as alternative at sol-gel, PECVD, dip-coating e
magnetron sputtering techniques. The cylindrical cathode, made from pure titanium, can be
negatively polarized between 0 e 1200 V and supports an electrical current of up to 1 A.
An Ar/O
2
mixture, with a total flux of 20 sccm and an O
2
percentage ranging between 0 and
30%, is passed through a cylindrical hole machined in the cathode. The plasma parameters
and your influence on the properties of deposited TiO
2
films and their deposition rate was
studied. When discharge occurs, titanium atoms are sputtered/evaporated. They are
transported by the jet and deposited on the Si substrates located on the substrate holder
facing the plasma jet system at a distance ranging between10 and 50 mm from the cathode.
The working pressure was 10
-3
mbar and the deposition time was 10 - 60 min. Deposited
films were characterized by scanning electron microscopy and atomic force microscopy to
check the film uniformity and morphology and by X-ray diffraction to analyze qualitatively
the phases present.
Also it is presented the new dispositive denominate ionizing cage, derived from the
active screen plasma nitriding (ASPN), but based in hollow cathode effect, recently
developed. In this process, the sample was involved in a cage, in which the cathodic
potential was applied. The samples were placed on an insulator substrate holder, remaining
in a floating potential, and then it was treated in reactive plasma in hollow cathode regime
.
Moreover, the edge effect was completely eliminated, since the plasma was formed on the
cage and not directly onto the samples and uniformity layer was getting in all samples.
vii
LISTA DE SÍMBOLOS
ρ(E) – Fluxo diferencial das partículas arrancadas
U – Energia de ligação superficial
E – Campo elétrico
q – Carga elétrica
a – Aceleração
m – Massa da partícula
T
e
– Temperatura de elétrons
T
i
– Temperatura de íons
V – Velocidade
N – Número total de partículas
K – Constante de Boltzman
n
e
– Densidade de elétrons coletada pela sonda
n
i
– Densidade dos íons do plasma
n
e0
– Densidade de elétrons no plasma
n
i0
– Densidade de íons no plasma
n
0
– Densidade de moléculas neutras
V
p
– Potencial de plasma
V
s
– Potencial da sonda
V
f
– Potencial flutuante
e – carga do elétron
v
i
– Velocidade dos íons
viii
λ
0
– Livre caminho médio
λ
D
– Comprimento de Debye
σ - Seção de choque
r
p
– Raio da sonda
Ii – Corrente de íons
Ie – Corrente de elétrons
I
esat
– Corrente de elétrons de saturação
f(v) – Função de distribuição de velocidades
f
E
– Função de distribuição de energia dos elétrons
m
e
– Massa do elétron
m
i
– Massa do íon
A
p
– Área da sonda
A
bainha
– Área da bainha de plasma
l – Comprimento da sonda
P – Pressão na câmara
V- Diferença de potencial entre os eletrodos
I – Corrente na câmara
T – Temperatura do cátodo
ix
RELAÇÃO DE FIGURAS
2.1 Distribuição de energia de átomos ejetados por sputtering, em função da
energia dos íons incidentes
14
2.2 Distribuição espacial do potencial entre eletrodos de uma descarga RF
capacitiva.
15
2.3 Diagrama demonstrativo das etapas de formação de filme crescido por
plasma
19
2.4 Modelo de descarga luminescente entre dois eletrodos planos paralelos(a)
e mudança na intensidade luminosa(b, c): 1)cátodo; 2)região escura de
Aston; 3)luminescência catódica; 4)região escura do cátodo;
5)luminescência negativa; 6) região escura de Faraday; 7)coluna positiva;
8) região escura do ânodo; 9)luminescência anódica; 10)ânodo;
I
e
)intensidade de luz emitida; S
1
e S
2
)primeira e segunda superfície
catódica; I
1
e I
2
)respectiva intensidades de luminescência negativa;
I
r
)intensidade luminosa resultante[17]
21
2.5 Curvas V x I para descargas luminescentes em cátodo oco a diferentes
pressões(em Torr)[17].
23
3.1 Células unitárias da fase anatase e da fase rutilo [1]. 30
3.2 Estrutura eletrônica do TiO
2
[13]. 31
4.1 Aspecto visual do reator de deposição e esquema elétrico simplificado do
sistema de deposição.
39
4.2 Corte transversal do reator de deposição, apresentando a disposição dos
x
seus principais componentes. Destaque: vista em corte da disposição do
cátodo oco.
41
4.3 Disposição do posicionamento da sonda eletrostática em relação ao cátodo,
mostrando o seu mecanismo de movimentação(a) e perfil do cátodo oco e
seu alinhamento com a sonda(b).
45
4.4 Diagrama do circuito de polarização da sonda eletrostática. 46
4.5 Microscópio óptico e micrografia de um filme de TiO
2
depositado em
substrato de vidro apresentando fraturas devido às tensões de contração.
49
4.6 Sistema de AFM utilizado na obtenção da rugosidade dos filmes 53
5.1 Curva de tensão versus corrente, típica do efeito de cátodo oco cilíndrico. 59
5.2 Espectros da composição do jato de plasma para diferentes percentuais de
O
2
na composição.
61
5.3 (a) Curva característica da corrente (I
p
) versus a voltagem (V
p
) e (b) lnI
versus V da sonda de Langmuir, tomada a 15 mm de distância do cátodo,
com 20% de O
2
(V=300 Volts, I = 0,3 A).
62
5.4 Perfil da variação espacial da temperatura eletrônica ao longo da coluna
de plasma.
65
5.5 – Perfil da variação espacial da densidade eletrônica ao longo da coluna de
plasma.
65
5.6 MEV da seção transversal da amostra (06). Este filme foi depositado por
60 min a pressão de 3 × 10
-3
mbar na distância de 30 mm.
70
5.7 Imagens obtidas por AFM das superfícies das amostras depositadas a 30 e
50 mm (30 min). Observe que as escalas verticais são diferentes para cada
71
xi
caso.
5.8 Imagens tridimensionais obtidas por AFM da superfície da amostra Si(03)
(d=50mm; t=30 min.)
72
5.9 Difratograma de raio-X do substrato de silício não depositado 73
5.10 Difratogramas de raios-X característicos das amostras revestidas com
tempo de deposição de (a) 30 min e (b) 60 min.
75
5.11 Difratogramas de raio-X da amostra Si(07) tratada por 60 min, com
percentual de O
2
de 23%.
77
6.1 Vista em corte do reator de nitretação, destacando a disposição da gaiola
ionizante e a distribuição espacial das amostras no seu interior.
82
6.2 Aspecto visual da formação do plasma na superfície da gaiola em função
da pressão de trabalho: (a) p = 2,5 mbar e (b) p = 5,0 mbar.
83
6.3 Espectros obtidos da gaiola nas pressões de 1,1, 2,5 e 5,0 mbar mantendo-
se fixa a corrente (0,35 A).
85
6.4 Diagrama da disposição da sonda eletrostática no interior da gaiola a 8 mm
da parede.
86
6.5 –
Curva V x I típica obtida na região dos furos da gaiola (d = 0 mm) à
pressão de 1,1 mbar.
87
6.6 (a) Perfil da temperatura eletrônica em função da posição da sonda(fora =
-8mm, na interface = 0mm e dentro = 8 mm), para as diferentes pressões
de tratamento; (b) Variação espacial correspondente da densidade de
elétrons. Erro ± 1,5 mm.
88
6.7 Gráficos comparativos de espessuras de camadas de compostos para as 90
xii
amostras de 1, 3, 5 e 10 mm de altura em função da pressão.
6.8 Difratograma de raios-X da superfície da amostra de vidro, apresentando a
deposição de Fe
3
N, Fe
4
N e CrN proveniente do sputtering da gaiola.
91
6.9 (a) Aspecto visual comparativo da amostra depositada (espelhada) e uma
amostra de referência(transparente) e (b) MEV do filme depositado sobre o
vidro.
92
6.10 Diagrama apresentando os processos envolvidos no mecanismo de
deposição da gaiola catódica para processo de nitretação iônica.
93
RELAÇÃO DE TABELAS
3.1 Principais propriedades do TiO
2
26
4.1 Distâncias interplanares (d) e as intensidades relativas (I/I
0
) dos
espectros de difração de raios-X
48
4.2 Parâmetros de deposição dos filmes de TiO
2
nas condições de
otimização do processo.
54
5.2 Microdureza Vickers dos filmes de TiO
2
78
6.1 Valores médios dos parâmetros externos do plasma utilizados na
medidas de espectroscopia óptica e de sonda eletrostática.
84
xiii
ÍNDICE ANALÍTICO
1 INTRODUÇÃO 1
Referências Bibliográficas – Capítulo 1 4
2 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO 6
2.1 Câmaras de evaporação 7
2.2 Evaporação resistiva 8
2.3 Deposição por feixe molecular 9
2.4 Deposição por canhão de elétrons 10
2.5 Rf-sputtering 12
2.6 Pulverização catódica 16
2.7 Sputtering reativo 17
2.8 Mecanismo de crescimento 18
2.9 Efeito de cátodo oco: características e ação sobre a matéria 20
Referências Bibliográficas – Capítulo 2 24
3 PROPRIEDADES DO TIO
2
26
3.1 Introdução 26
3.2 Aplicações do TiO
2
28
3.3 Considerações físico–químicas gerais sobre filmes finos de TiO
2
29
3.4 Filmes de TiO2 depositados por sputtering reativo 33
Referências Bibliográficas – Capítulo 3 36
4 MATERIAIS E MÉTODOS 38
4.1 Descrição do sistema de deposição 38
xiv
4.2 Descrição detalhada da câmara 39
4.2.1 O porta-amostras 41
4.3 A Fonte de Tensão D.C. 42
4.4 O Fluxo de Gás e o Controle de Pressão 42
4.5 Métodos de Medição 43
4.5.1 A Sonda Eletrostática 44
4.5.2 Espectroscopia de emissão óptica – OES 46
4.5.3 Difração de raios-X 47
4.5.3.1 Obtenção e análise dos difratogramas 48
4.5.4 Microscopia óptica 49
4.5.5 Microscópio eletrônico de varredura (MEV) 50
4.5.6 Microscopia de Força Atômica – AFM 50
4.5.6.1 Modo de Contato 51
4.5.6.2 Sistema de Medição de AFM 52
4.6 Arranjo e condições experimentais 53
4.6.1 Parâmetros de deposição 55
Referências Bibliográficas – Capítulo 4 57
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 58
5.1 Introdução 58
5.2 Parâmetros do plasma 58
5.2.1 Efeito de cátodo oco 58
5.2.2 Composição do plasma 60
5.2.3 Densidade e temperatura eletrônica 62
xv
5.3 Deposição e Estrutura 68
5.4 Morfologia 70
5.5. Estrutura cristalina 73
5.6 Microdureza 77
Referências Bibliográficas – Capítulo 5 79
6 REVESTIMENTO SUPERFICIAL COM GAIOLA IONIZANTE 80
6.1 Gaiola Ionizante 81
6.2 Parâmetros do Plasma 84
6.3 Tratamento de Amostras 89
Referências Bibliográficas – Capítulo 6 95
7 CONCLUSÕES 96
8 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 98
Anexos: Trabalhos publicados
1
1
INTRODUÇÃO
Este trabalho teve como motivação principal a busca de ferramentas e soluções de
baixa complexidade que permitissem o desenvolvimento de sistemas de deposição e
tratamento a plasma eficientes e que promovam um ganho tecnológico. Apresentamos o
desenvolvimento de um equipamento de deposição de filmes com cátodo oco de titânio,
com vistas ao domínio do processo de produção de filmes finos de dióxido de titânio com
elevado grau de controle estrutural.
Esta é a técnica de deposição que apresenta as melhores condições de manter no
filme a mesma estequiometria do material de partida, chamado de material do alvo. Porém,
o mecanismo de interação das partículas ejetadas por sputtering com o substrato,
especialmente em ambiente reativo, como no caso da produção de filmes óxidos, é bastante
complexo. Ele depende principalmente das variáveis do processo, como a intensidade da
corrente eletrônica, a distribuição espacial da energia dos portadores de carga ao longo do
feixe ejetado da cavidade do cátodo, a pressão a que está submetido o reator e o
conseqüente livre caminho médio das partículas, que determina suas interações até a
chegada à superfície do substrato. Depende ainda das propriedades cristalinas do alvo e sua
reatividade, que vão determinar a estrutura de crescimento epitaxial das camadas do filme
depositado ou a necessidade de uma camada de passivação que reduza as tensões entre
ambos.
2
A escolha de deposição de filmes finos de dióxido de titânio para validar o domínio
da técnica de deposição por cátodo oco surgiu por vários motivos. O principal deles é a
impressionante versatilidade do dióxido de titânio (TiO
2
) decorrente das suas propriedades
únicas, as quais têm dado origem às suas inúmeras aplicações não na área ambiental,
mas também em um enorme número dos ramos da indústria [1, 2]. Um segundo motivo está
relacionado com a diversidade de estruturas que podem ser obtidas através da preparação
de óxidos de Ti por processos de deposição física de vapor, especialmente em processos
onde não há restrições cinéticas sobre a superfície em crescimento.
Além disso, este filme até agora foi obtido através de técnicas de deposição que
envolvem equipamentos sofisticados, tais como o magnetron suputtering e os processos de
deposição química [3-27], além de equipamentos que utilizam fontes híbridas [28-30].
Assim, foi desenvolvido um trabalho multidisciplinar para estabelecer e estudar a influência
dos principais parâmetros de deposição sobre essas propriedades dos filmes depositados e
determinar os parâmetros de controle necessários, diagnosticando qualitativa e
quantitativamente os compostos do plasma e determinando o seu mecanismo de interação.
No segundo capítulo, apresentamos as principais técnicas de deposição física de
vapor, para permitir uma melhor compreensão da importância da deposição por cátodo oco
e sua comparação com os métodos tradicionais. No terceiro capítulo apresentamos na
revisão bibliográfica, informações sobre as propriedades do TiO
2
, suas aplicações,
características mecânicas e cristalográficas e o estado da arte na sua obtenção. O capítulo 4
descreve os materiais e métodos utilizados na deposição dos filmes de TiO
2
, a descrição do
sistema de deposição desenvolvido, os parâmetros experimentais utilizados e a descrição
dos métodos utilizados no diagnóstico do plasma e na caracterização dos filmes
depositados.
3
O capítulo 5 mostra a configuração do efeito de cátodo oco, os parâmetros do
plasma e os resultados obtidos nas diferentes condições de deposição, em função dos
parâmetros analisados e a avaliação das características físicas e estruturais dos filmes
obtidos. As características dos filmes obtidos são discutidas à luz da bibliografia conhecida
e são apresentados aspectos inerentes à morfologia obtida.
No capítulo 6, apresentamos a caracterização dos parâmetros de plasma de um novo
dispositivo, denominado “Gaiola Ionizante”, proposto como alternativa à deposição e ao
tratamento superficial de geometrias tridimensionais, baseado no princípio de sputtering
reativo e que se utiliza do efeito de cátodo oco como meio para a intensificação das taxas
de deposição e crescimento de filmes e camadas superficiais. Finalmente, nos capítulos 7 e
8 são apresentadas as conclusões destes dois processos e sugeridas novos desdobramentos
destes trabalhos.
4
Referências Bibliográficas – Capítulo 1
1 U. Diebold, Surf. Sci. Rep., 48 (2003), 53.
2 O. Carp, C.L. Huisman e A. Reller, Progress in Solid State Chemistry, 32 (2004), 33.
3 S. H. Kim et al., Materials Letters, 57 (2002), 343.
4 M. C. Barnes et al., Surf. Coat. Tech., 190 (2005), 321.
5 L. Bárdos e H. Baránková, Surf. Coat. Tech., 146-147 (2001), 463.
6 Y. X. Leng et al., Surf. Coat. Tech., xx (2005), xxx, article in press.
7 H. Morgner et al., Surf. Coat. Tech., 108-109 (1998), 513.
8 S. Ikezawa et al., Vacuum, 59 (2000), 514.
9 B. R. Sankapal et al., Appl. Surf. Scie., 239 (2005), 165.
10 H. Steffen, C. Eggs e H. Kersten, Thin Solid Films, 290-291 (1996) 386.
11 S. Kitazawa et al., Vacuum, 74 (2004), 637.
12 B. Huber et al,. Thin Solid Films, 472 (2005) 114.
13 C. C. Ting, S. Y. Chen e D. M. Liu, Thin Solid Films, 402 (2002) 290.
14 W. Zhang et al., Surf. Coat. Tech., 182 (2004), 192.
15 D. R. Jennison et al., Surf. Scie.Let., 492 (2001), L677.
16 G. Thorwarth et al., Surf. Coat. Tech., 128-129 (2000), 116.
17 M Hiratani et al., Appl. Surf. Scie., 207 (2003), 13.
18 A. Billard et al., Surf. Coat. Tech., 116-117 (1999), 721.
19 A. Tuan et al., Thin Solid Films, 377 (2005) 766.
20 R. Paily et al., Thin Solid Films, 462-463 (2004) 57.
21 B. Huber et al,. Surf. Coat. Tech., 566-567 (2004), 419.
22 R. Dannenberg e P. Greene, Thin Solid Films, 360 (2000) 122.
23 H. Huang e X. Yao, Surf. Coat. Tech., 191 (2005), 54.
5
24 W. Attemberger et al., Surf. Coat. Tech., 142-144 (2001), 412.
25 S. Kitazawa et al., Vacuum, 74 (2004), 673.
26 A. Bendavid et al., Vacuum, 47 (1996), 1179.
27 A. Latuszynski et al., Vacuum, 70 (2003), 451.
28 L. Bárdos et al., Surf. Coat. Tech., 177-178 (2004), 651.
29 H. Baránková e L. Bárdos, Surf. Coat. Tech., 177-178 (2004), 688.
30 M. Nakamura et al., Applied Surf. Science, 175-176 (2001), 697.
6
2
TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO
Espelhamento e coating” são palavras automaticamente associadas à deposição de
filmes finos. A origem de tal associação vem da tradição de se utilizarem filmes finos para
produzir espelhos e camadas anti-refletoras, que foram e ainda são as aplicações utilizadas
em maior escala na indústria.
O desenvolvimento das bombas de vácuo abriu a oportunidade para a evolução das
técnicas de deposição de filmes finos, assim como para muitas outras áreas do
conhecimento, devido ao aumento do livre caminho médio das partículas proporcionado.
As técnicas de deposição vêm ganhando a cada dia maior automação, diminuindo assim o
número de intervenções do operador. Mas mesmo assim, filmes depositados aparentemente
sob as mesmas condições, podem apresentar resultados bastante diversos, a ponto de alterar
significativamente as suas propriedades.
Neste capítulo serão discutidos os principais processos de deposição de filmes,
chamados de PVD, do inglês Physical Vapor Deposition. Não serão discutidos os demais
processos como CVD(Chemical Vapor Deposition), Plasma Enhanced CVD, Sol-gel,
dentre outros, por apresentarem princípio diferente do utilizado na deposição por cátodo
oco.
São chamadas de processos em equilíbrio as deposições resistivas (térmicas) ou por
canhão de elétrons, incluído aqui o crescimento epitaxial por feixe molecular; e de não-
equilíbrio as deposições por pulverização catódica e suas variações. Os processos de PVD
7
podem ser realizados via plasma ou serem assistidos por plasma; isto faz com que eles
sejam considerados como deposições fora do equilíbrio, quando comparados com processos
que não envolvem a formação de plasma [1].
A deposição a laser, por exemplo, pode ser considerada como um processo “em
equilíbrio”, quando se utiliza um laser contínuo como fonte de aquecimento de um
material, o que se assemelha a uma evaporação térmica. Ou um processo “fora do
equilíbrio”, quando se utiliza um laser de pulso de nanosegundos e de alta taxa de
repetição, que gera um plasma intenso.
Deve ainda ser lembrado que outras duas definições que podem ser relacionadas,
mas que têm conceitos diferentes. São eles: taxa de evaporação e taxa de deposição. A
primeira refere-se à taxa de evaporação (ou ablação) do material de partida, ou seja, o
material que deixa a superfície do cadinho/alvo. A segunda refere-se ao material que se
deposita na superfície do substrato. Neste trabalho avaliaremos a taxa de deposição, por ser
esta a variável mais importante para avaliação da eficiência do processo de deposição. Estes
processos de deposição de filmes ocorrem nas chamadas câmaras de evaporação, que serão
discutidas a seguir.
2.1 – Câmaras de evaporação
As câmaras de evaporação são, em geral, feitas de aço inoxidável, apresentando um
volume total que pode variar desde alguns litros até vários metros cúbicos, com as paredes
dotadas de sistemas para a circulação de água e passadores para corrente e tensão. É
utilizada água fria (tipicamente 20ºC) para a refrigeração das paredes durante o processo de
evaporação. Após a deposição do filme, antes da abertura da câmara, é feita a circulação de
8
água quente (60ºC), para evitar a condensação da umidade do ambiente nas paredes da
câmara, o que elevaria o tempo de bombeamento de uma próxima evaporação.
Os sistemas de vácuo mais simples são compostos de uma bomba mecânica e de
uma bomba difusora ou turbo-molecular e dos medidores de pressão. A bomba mecânica é
responsável por baixar a pressão da câmara para valores da ordem de 1 Pa. A seguir esta
bomba passa a atuar na saída de uma bomba difusora ou turbo-molecular acoplada à
câmara, através de um sistema de válvulas. As condições finais de pressão dependem do
volume da câmara e das bombas utilizadas, estando geralmente na região de 10
-4
Pa,
podendo atingir pressões menores em alguns sistemas.
Tipicamente, existe nas câmaras um sistema de rotação para o porta-substratos, que
contribui para a uniformidade da espessura do filme evaporado. Existem também sistemas
mais sofisticados que executam um movimento planetário (rotação + translação).
Nas descrições de processos de deposição a seguir, supõe-se que estão
estabelecidas na câmara as condições para a evaporação. Isto significa que já foram
otimizadas as condições de pressão final para cada processo, numa câmara apropriada, com
todos os sistemas de controle necessários à deposição.
2.2 – Evaporação resistiva
A técnica mais convencional e antiga é a deposição chamada resistiva, na qual um
metal refratário é aquecido pela passagem de alta corrente e um material em contato com o
mesmo se evapora. A escolha do metal refratário, na forma de filamento ou de cadinho, se
deve à baixa pressão de vapor destes materiais nas temperaturas de evaporação dos
materiais de interesse. O formato e a utilização de um isolamento de material cerâmico
(alumina) dependerão do material a ser evaporado.
9
Cabe esclarecer que a pressão de vapor de um material está relacionada com a
temperatura, mas não deve ser relacionada diretamente com o ponto de fusão ou ponto de
ebulição. materiais que têm uma pressão de vapor e taxa de evaporação relativamente
altas, muito abaixo de seu ponto de fusão como, por exemplo, o AlF
3
e o As, enquanto
outros precisam de quase o dobro da temperatura de fusão como no caso do Al (fusão
660ºC, boa taxa de evaporação a 1010ºC) [2].
O aquecimento do cadinho ou filamento na deposição resistiva ocorre pela
passagem de corrente, que pode chegar a rias centenas de Ampéres. Estas correntes são
obtidas a partir de um transformador de baixa de tensão (4 a 6 V) e de cabos e contatos de
cobre apropriados. O início e o final da deposição são controlados por um obturador,
colocado entre o cadinho e os substratos. Ocorre que, apesar do cadinho ter baixa pressão
de vapor nas temperaturas utilizadas na evaporação, estes materiais podem ser
extremamente reativos às mesmas temperaturas, formando ligas com o material a ser
evaporado, causando a degradação do mesmo, a destruição do cadinho e a contaminação do
filme depositado. As taxas de deposição normalmente obtidas são da ordem de 1 a 5 nm/s,
sendo possíveis taxas mais altas, porém risco de espirrar material contido no cadinho,
que pode atingir o substrato e danificar o filme. A distância entre o cadinho e o substrato é
da ordem de 50 cm, com o substrato girando, a fim de produzir uma deposição mais
uniforme. Esta técnica ainda é largamente utilizada, em especial nas indústrias de espelhos
automobilísticos e lâmpadas.
2.3 – Deposição por feixe molecular
Um método muito mais refinado de deposição térmica é a deposição epitaxial por
feixe molecular (MBE), utilizada principalmente na área de semicondutores. Trata-se de
10
um processo de deposição bastante lento, com taxas de deposição da ordem de décimos de
nm/s, com temperatura do substrato acima de 600 K. É realizada em pressões 4 ordens de
grandeza mais baixa que a deposição resistiva tradicional, para diminuir a interação com a
atmosfera residual da mara. O processo pode ser descrito como uma deposição camada
por camada, onde tempo e energia suficientes para que as partículas que chegam ao
substrato se acomodem, sem deixar vazios.
Basicamente é depositado um material por vez, sendo que os compostos são
formados a partir da utilização de duas ou mais fontes (fornos) ao mesmo tempo. Requer,
de maneira geral, a utilização de um complexo sistema de análise para o controle, em
tempo real, dos filmes depositados.
O crescimento é feito utilizando-se substrato e material a ser evaporado com
parâmetros de rede similares, a fim de proporcionar um crescimento epitaxial. Por operar
em condições de ultra-altovácuo, ou seja, pressões da ordem de 10
-8
Pa, é um sistema que
necessita de processos de colocação e retirada de substratos bastante sofisticados, em que a
câmara de deposição não é diretamente exposta ao ar. Caso seja necessário abrir um
sistema deste tipo, para uma manutenção extensa, poderão ser necessários muitos dias para
que as condições de trabalho anteriores sejam novamente atingidas.
2.4 – Deposição por canhão de elétrons
A utilização de canhão de elétrons, no aquecimento do material a ser evaporado,
veio trazer benefícios ao processo de evaporação: o aquecimento do material a ser
evaporado é direto, e não indireto como na deposição resistiva, sendo que o cadinho pode
até ser refrigerado, quando necessário. Isto faz com que a interação do material a ser
evaporado com o cadinho diminua substancialmente. Mas há um compromisso com a
11
eficiência do processo, caso o cadinho seja refrigerado, pois parte da energia aplicada se
perdida para o sistema de refrigeração. O feixe de elétrons do canhão, geralmente dirigido
por lentes magnéticas, é programado para varrer a superfície do material de evaporação, de
maneira a evitar a cavitação da superfície. A cavitação poderia culminar no colapso das
paredes da cavidade, gerando uma súbita mudança nas condições de evaporação,
implicando na variação momentânea da taxa de evaporação, podendo até chegar à ejeção de
material em direção ao substrato. Mesmo com todos estes cuidados, ainda assim não está
garantido que a deposição esteja livre de defeitos. A existência de gases confinados no
interior do material de evaporação, durante o processo de fabricação, podem causar
pequenas explosões na superfície, influindo assim na qualidade do filme depositado. A fim
de evitar problemas durante o processo de evaporação, o material a ser evaporado deve ser
previamente preparado através do aquecimento lento, até que as taxas ou condições de
evaporação sejam atingidas. Isto é realizado com o obturador fechado para que o material
evaporado não atinja o substrato. Este condicionamento do material pode levar até uma
hora para ser realizado em cadinhos de alguns cm
3
de material.
Tipicamente um feixe de elétrons para evaporação é gerado por uma tensão da
ordem de 10 kV e tem uma corrente de emissão de 1,5 A. A área atingida pelo feixe tem de
0,25 a 1 cm
2
, resultando numa densidade de potência de até 60 kW/cm
2
. Elétrons refletidos
pela superfície do material de partida e a emissão de raios-X podem danificar filmes e
dispositivos sensíveis. A interação do feixe de elétrons com a nuvem de vapor, que deixa a
superfície do material que está sendo evaporado, pode resultar em absorção ou reflexão de
parte do feixe, advindo daí vários processos.
O feixe pode ionizar o material evaporado, e o íon gerado pode ser acelerado pelo
campo de extração do feixe e desviado pelas lentes magnéticas, podendo arrancar material
12
dos passadores de tensão e provocar arcos na câmara de evaporação. Qualquer variação dos
parâmetros do processo poderá resultar na contaminação do filme.
Tanto na evaporação resistiva quanto na evaporação por canhão de elétrons, a
deposição de ligas ou compostos mais complexos torna-se mais complicada. Como os
materiais têm diferentes pressões de vapor à mesma temperatura, é comum encontrar
diferenças de composição entre o material de partida e o filme depositado. Por vezes, a
adição em excesso de um dos elementos no material de partida permite a obtenção da
proporção desejada no filme depositado, mas isto está limitado a uma faixa de espessura,
que depende dos parâmetros da evaporação.
2.5 – Rf-sputtering
Sputtering é o processo pelo qual átomos são removidos de um alvo sólido devido
ao bombardeamento por projéteis (íons ou átomos) energéticos. Os projéteis que penetram
o alvo realizam colisões individuais com átomos do mesmo ao longo de sua trajetória,
entregando-lhes alta energia. Como conseqüência, os átomos recuam da sua posição de
equilíbrio, produzindo mais deslocamentos atômicos através de novas colisões (efeito
cascata) [3]. Eventualmente, parte da energia é transferida aos átomos da superfície, os
quais podem ser ejetados para fora do material.
A distribuição de energia dos átomos arrancados por sputtering para várias energias
do íon incidente apresenta um máximo, geralmente de alguns eV (figura 2.1). A posição
desse máximo, no entanto, não depende da energia do íon incidente [4]. Isso significa que
mesmo que o alvo seja bombardeado por partículas cada vez mais energéticas, a energia
cinética dos átomos ejetados do material não será necessariamente maior. O que se observa
é que, em média, a energia cinética permanece quase constante, sendo que o número de
13
íons arrancados é que aumenta. Isso pode ser explicado a partir da cinética do processo de
sputtering. Na sua passagem pelo sólido, a energia do íon incidente é entregue aos átomos
do alvo através de sucessivas colisões. Assim um íon com energia incidente maior poderá
colidir com um número maior de átomos do alvo e, portanto, a taxa de sputtering (ou seja, o
número de átomos ejetados) aumenta (se a energia do projétil continuar aumentando chega
um momento em que a taxa de sputtering fica constante, isso porque íons mais energéticos
penetram mais profundamente no alvo e dessa forma os átomos que recebem a energia
através da colisão não conseguem atingir a superfície nem serem ejetados) [6]. Acima do
máximo a baixas energias, a distribuição de átomos ejetados apresenta uma cauda que se
estende várias dezenas de eV para a região de altas energias. E é devido à existência dessa
cauda que a energia cinética média dos átomos acaba sendo maior que a energia mais
provável (a do máximo da distribuição). A seguinte equação [3] descreve a distribuição de
energia dos átomos arrancados por sputtering na região da cauda de altas energias:
ρ(E) E/(E + U)
3
onde ρ(E) é o fluxo diferencial das partículas arrancadas com energia E e U é a energia de
ligação superficial.
14
Figura 2.1 – Distribuição de energia de átomos ejetados por sputtering, em função da
energia dos íons incidentes [4].
Um sistema de rf-sputtering utiliza uma fonte de voltagem alternada a altas
freqüências (na faixa de MHz) entre eletrodos geralmente paralelos. O campo elétrico entre
os eletrodos inicia a ionização através de uma descarga. Sob a influência de um potencial
oscilante, os íons e elétrons oscilam. Devido à diferença na mobilidade entre elétrons e
íons, depois dos primeiros ciclos da rf, os dois eletrodos do sistema ficam a um potencial
médio negativo em relação ao potencial do plasma Vp, como pode ser visto na figura 2.2.
15
Figura 2.2 Distribuição espacial do potencial entre eletrodos de uma descarga RF
capacitiva [5].
Para que somente um dos eletrodos funcione como alvo (por exemplo, o cátodo),
diminui-se a tensão sobre o outro eletrodo (o ânodo) aterrando-o e/ou aumentando sua área
(pois V
C
/ V
A
= (A
A
/ A
C
)
4
, onde V é a voltagem (em relação ao plasma) e A é a área de cada
eletrodo, os subíndices C e A se referem ao cátodo e ao ânodo respectivamente) [6]. Assim
a área onde é feita a deposição (o ânodo), usualmente envolve as paredes da câmara de
deposição. O eletrodo que funciona como alvo carrega-se então negativamente com uma
autopolarização proporcional à potência transferida ao plasma, isso porque os elétrons ao
serem mais leves têm uma mobilidade no plasma maior que a dos íons e, portanto, o fluxo
de carga negativa contra o alvo é maior do que o fluxo de íons positivos.
Como resultado da diferença de potencial entre o plasma e o cátodo, o alvo é
bombardeado por íons positivos energéticos do plasma, promovendo o processo de
sputtering. Para a deposição de filmes finos por este método, geralmente se utiliza um gás
nobre para a geração do plasma devido a este ser inerte (ou seja, não reativo) e, em
16
princípio, apresenta baixa reatividade química durante a deposição (é sabido que no plasma
ele pode atingir estados de excitação elevados e se tornar reativo, mas sempre em um grau
muito menor do que um elemento que não é inerte).
Um sistema típico de deposição por rf-sputtering é basicamente composto por uma
câmara de alto vácuo, onde são montados os substratos e o alvo, uma entrada para os gases
que comporão o plasma, um sistema de bombeamento e uma fonte potência de
radiofreqüência.
2.6 – Pulverização catódica
Outro processo de evaporação bastante utilizado é a pulverização catódica
(“sputtering”). Neste processo, realizado a pressões mais altas que os anteriores, uma
diferença de potencial dc é aplicada entre duas placas. Com o aumento da tensão aplicada,
inicialmente o aparecimento de uma pequena corrente, devido à emissão de elétrons
secundários do alvo e à ionização do gás injetado na câmara de deposição. Esta corrente i
aumentando com a tensão até que uma situação de avalanche se estabelece, criando-se um
plasma estável.
A utilização de campos magnéticos provoca um movimento em espiral dos elétrons,
aumentando a probabilidade deles ionizarem o gás. Estes íons são acelerados pelo campo
aplicado em direção ao material a ser evaporado. Dependendo da energia destes íons, pode
ocorrer desde um simples aquecimento da superfície até a sua implantação. O objetivo
neste processo é que os íons removam átomos do alvo, que irão se depositar no substrato,
formando um filme. Neste caso, a técnica é denominada magnetron sputtering.
A deposição acima descrita é utilizada para materiais condutores, pois materiais
isolantes seriam carregados no início do processo e não permitiriam a extração de átomos
17
neutros da superfície, pela colisão de íons. A distância entre as placas (alvo e porta-
substratos) é da ordem de 4 a 5 cm, com tensões entre 500 e 5000 V. Nestes reatores é
necessário um rigoroso controle de pressão, pois estabelecido o plasma, é a pressão quem
irá determinar a corrente e portanto a taxa de deposição do filme, para uma dada tensão. O
limite inferior de pressão leva a extinção do plasma e o superior ao aparecimento de arcos.
O processo é na verdade bastante mais complexo, havendo a emissão de elétrons
secundários do alvo, raios-X, fótons; e ainda, cada material tem uma taxa de remoção
diferente para um mesmo gás, dentre outros fatores que tornam a descrição do processo
complexa. A utilização de uma fonte de tensão alternada, de rádio freqüência (RF), permite
a deposição de materiais isolantes.
Em todos os processos anteriormente descritos a possibilidade de ser utilizado
um gás reativo, para manter a estequiometria do material de partida ou para promover a
formação de um composto desejado. Como exemplo pode-se citar a utilização de N
2
(gás)
na deposição de Ti, na obtenção de TiN; e O
2
para manter a estequiometria do SiO
2
.
2.7 – Sputtering reativo
Por sputtering reativo se entende o crescimento de filmes de materiais compostos,
um dos quais é o material do alvo enquanto o outro é um gás reativo presente na atmosfera
da câmara durante o processo. Em nosso caso usamos um alvo de titânio, Ti, e como gás
reativo o oxigênio. Na presença do oxigênio no plasma, é importante mencionar as
diferentes possibilidades para a formação de compostos. A saber:
- Formação do óxido no alvo, isso porque o oxigênio é um elemento altamente reativo.
Além disso, o titânio metálico possui na sua superfície tios altamente reativos que
favorecem a adsorção de moléculas e átomos de oxigênio [7]. Nesse caso, constata-se que
18
já não são arrancados somente átomos de forma isolada do alvo, mas sim na forma
molecular [8].
- Formação de compostos no plasma. Essa reação é a menos provável devido à baixa
densidade de Ti e O no plasma nas pressões utilizadas.
Um efeito conhecido em sputtering reativo com oxigênio é a diminuição da taxa de
deposição com o aumento do fluxo de oxigênio [9,10]. Assim, para um valor crítico do
fluxo, a taxa de deposição cai rapidamente e isso é devido principalmente à oxidação do
alvo de Ti, o qual provoca uma diminuição da taxa de sputtering, uma vez que esta é maior
para o Ti do que para os óxidos metálicos.
2.8 – Mecanismo de crescimento
Os átomos do alvo que adquirem energia suficiente para ser ejetados de seu sítio na
rede cristalina, devido às colisões dos íons do plasma, são atraídos para a superfície do
substrato por momentos de dipolos e quadripolo de átomos superficiais e perdem sua
energia rapidamente para átomos da rede cristalina, se a energia cinética não for muito alta
[11, 12]. Forças de atração eletrostáticas são as responsáveis pela fixação dos átomos à
superfície.
Normalmente os filmes são formados pela condensação (solidificação) de átomos
ou moléculas de um vapor sobre o substrato. O processo de condensação se inicia pela
formação de pequenos aglomerados de material, denominados núcleos, espalhados
aleatoriamente sobre a superfície do substrato. O mecanismo de fixação é denominado
adsorção química quando ocorre a transferência de elétrons entre o material do substrato e a
partícula depositada e adsorção física se isto não ocorrer. A energia de ligação associada à
adsorção química varia de 8 eV a 10 eV e a associada à adsorção física é de
19
aproximadamente 0.25 eV. Átomos adsorvidos migram sobre a superfície do substrato
interagindo com outros átomos para formar os núcleos. O processo é denominado
nucleação. À medida que mais átomos interagem os núcleos crescem. Quando os núcleos
entram em contato uns com os outros ocorre a coalescência que resulta em estruturas
maiores. O processo continua formando canais e buracos de substrato exposto, preenchidos
com novos núcleos, até a formação de um filme contínuo [13], como esquematizado na
figura 2.3.
Figura 2.3 – Diagrama demonstrativo das etapas de formação de filme crescido por plasma.
Normalmente os filmes são formados por grãos monocristalinos dispostos em várias
direções cristalográficas, cujo tamanho depende das condições da deposição e dos
tratamentos térmicos posteriores. Grãos maiores geralmente estão associados à
temperaturas maiores de processamento. Deposições em alta temperatura tendem a produzir
filmes menos rugosos, pois a energia térmica aumenta a mobilidade de átomos ou
moléculas, favorecendo a coalescência entre os núcleos. A rugosidade de um filme está
relacionada com o tamanho dos grãos. A densidade de um filme pode dar informações
20
sobre sua estrutura física; densidades menores que a da substância bruta indicam
porosidade.
Como o fluxo que atinge o substrato vem em várias direções, os pontos mais altos
(os picos) receberão mais partículas do que os pontos mais baixos (os vales). Este
fenômeno é conhecido como “efeito sombra”, devido à sombra que os átomos nos picos
fazem às regiões dos vales. Como resultado, o filme apresentará rugosidade e em casos
extremos poderá apresentar morfologia exclusivamente colunar [14-16].
2.9 – Efeito de Cátodo Oco: características e ação sobre a matéria
O efeito cátodo oco é um caso especial da descarga luminescente [17]. O efeito de
cátodo oco aparece quando as superfícies de furos, canaletas ou de superfícies planas estão
posicionadas a uma distância próxima o suficiente para que haja sobreposição das regiões
luminescentes do plasma, conforme diagrama da figura 2.4(b). Os elétrons são confinados
nestas regiões e oscilam, causando a ionização e a excitação adicional dos átomos. Quando
a descarga inicia-se, a região luminescente é confinada dentro da cavidade, onde uma
elevada densidade de partículas pulverizadas e evaporadas são produzidas e ejetadas da
cavidade devido ao fluxo de gás.
Os seguintes processos podem ocorrer dentro da cavidade do cátodo [18]:
(1) átomos do gás são ionizados na região da bainha próxima à parede interna onde os
elétrons são acelerados.
(2) Elétrons secundários são emitidos da parede interna devido ao impacto de íons e de
fótons.
21
(3) Emissão termiônica dos elétrons da superfície interna. Quando íons energéticos no
interior da cavidade atingem as paredes, perdem sua energia, principalmente como
calor, aumentando a temperatura das paredes do cátodo.
(4) Elétrons rápidos são confinados eletrostaticamente na cavidade, e oscilam entre as
superfícies opostas. Este efeito pendular incrementa a ionização e a excitação dos
átomos na região da descarga luminescente negativa.
(5) Partículas pulverizadas são produzidas devido ao impacto de íons do gás nas
paredes e também devido ao aquecimento do cátodo.
Para uma composição específica de gás, o efeito ocorre em função da pressão p(torr)
e da distância específica D(mm) entre as superfícies opostas do cátodo.
A figura 2.4(a) detalha um modelo das regiões que compõem a descarga
luminescente entre os eletrodos planos paralelos [17].
Figura 2.4 Modelo de descarga luminescente entre dois eletrodos planos paralelos(a) e
mudança na intensidade luminosa(b, c): 1)cátodo; 2)região escura de Aston;
3)luminescência catódica; 4)região escura do cátodo; 5)luminescência negativa; 6) região
22
escura de Faraday; 7)coluna positiva; 8) região escura do ânodo; 9)luminescência anódica;
10)ânodo; I
e
)intensidade de luz emitida; S
1
e S
2
)primeira e segunda superfície catódica; I
1
e
I
2
)respectiva intensidades de luminescência negativa; I
r
)intensidade luminosa
resultante[17].
Quando as luminescências negativas (glow discharges) de cátodos paralelos
sobrepõem-se (Figura 2.4(b)), o brilho torna-se muito intenso, e esta característica indica o
surgimento do regime de cátodo oco. Uma vez que para uma dada composição gasosa o
efeito depende consideravelmente da pressão e do diâmetro do furo, este aspecto visual
surge somente em uma faixa estritamente definida da pressão. Conseqüentemente, se a
pressão aumenta, a zona escura do cátodo estreita-se, e as cargas negativas se separam
(Figura 2.4(c)). Se o diâmetro de um furo é menor do que o comprimento da zona escura do
cátodo, uma descarga luminescente não se formaem seu interior. O efeito de cátodo oco
aparece quando as luminescências negativas aproximam-se ou se sobrepõem dentro de um
furo e desaparece quando estas começam a se separar. O surgimento do efeito cátodo oco é
mais facilmente detectado a partir da curva V versus I da descarga, onde pode ser
identificada da mudança na inclinação da curva, como observado na figura 2.5.
23
Figura 2.5 Curvas V x I para descargas luminescentes em cátodo oco a diferentes
pressões(Torr)[17].
Uma vez que a pressão no interior da cavidade catódica é cerca de 10 vezes maior
que no reator, a região da bainha no seu interior é colisional e pode contribuir para o
aumento da ionização de acordo com o clássico mecanismo de ruptura da rigidez dielétrica
de Towsend [19, 20]. Esta diferença de pressão juntamente com o fluxo de gás provoca a
formação do jato de plasma que é ejetado do cátodo na deposição por cátodo oco.
O Sputtering do cátodo desempenha um papel positivo (ativação e limpeza da
superfície) e um papel negativo (aumento da rugosidade) simultaneamente [21]. O controle
do efeito de cátodo oco nos processos de deposição e no tratamento por plasma com gaiola
catódica, oferece a vantagem de controlar a taxa de deposição dos átomos pulverizados do
cátodo.
24
Referências Bibliográficas – Capítulo 2
1 J.T. Cheung. e H. Sankur, CRC Critical Reviews in Solid State and Materials Science, 15,
n. 1 (1988), 63.
2 D. A. Glocker e S. I. Shah, “Handbook of Thin Films Process Technology”, IOP 1995,
Norwich, UK, A1.0.8.
3 J. E. Greene e S. A. Barnett, J. Vac. Sci. Technol., 21 (1982), 285.
4 L. Maissel e R. Glang, Handbook of Thin Film Technology, McGraw-Hill, New York
(1970).
5 J. L. Vossen, J. Electrochem. Soc., 126 (1979), 319.
6 B. Chapman, Glow Discharge – Sputtering and Plasma Etching, John Wiley & Sons,
New York (1980), p. 158.
7 A. Kinbara, E. Kusano e S. Baba, J. Vac. Sci. Technol. A, 10 (1992), 1483.
8 V. Vancoppenolle et al, J. Vac. Sci. Technol. A, 17 (1999), 3317.
9 J. Heller, Thin Solid Films, 17 (1973), 163.
10 S. H. Kim et al., Materials Letters, 57 (2002), 343.
11 K. T. Rie et al. Surf. Coat. Tech., 74 (1995), 412.
12 B. Lewis, Nucleation and Growth of Thin Films, Academic Press Inc. (1978), 313.
13 A. Bogaerts et al, Spectrochimica Acta Part B, 57 (2002), 609.
14 J. A. Thornton, J. Vac. Sci. Technol., 11 (1974), 666.
15 L. Meng, C. P. Moreira de Sá e M. P. dos Santos, Thin Solid Films 239 (1994), 117.
16 S. Takeda, S. Suzuki, H. Odaka e H. Hosono, Thin Solid Film, 392 (2001), 338.
17 S. Janosi, Z. Kolozsvary e A. His, Metal Science and Heat Treatment, 46 (2004), 310.
18 M. H. Kazemeini, A. A. Berezin e N. Fukuhara, Thin Solid Films, 372 (2000), 70.
19 L. Bardos, H. Baránková e S. Berg, Surf. Coat. Tech., 72 (1995), 174.
25
20 L. Bardos, H. Baránková e S. Berg, Surf. Coat. Tech., 97 (1995), 723.
21 H. Kersten et al., Vacuum, 63 (2001), 385.
26
3
PROPRIEDADES DO TIO
2
3.1 – Introdução
O bom conhecimento das propriedades dos filmes depositados é fundamental para a
otimização do reator e suas aplicações. O método de deposição exerce grande influência
nas propriedades físicas de um filme fino, tais como propriedades mecânicas e ópticas. Esta
influência pode ser causada diretamente pelo método de deposição ou indiretamente pelas
condições de temperatura e pressão dentro da câmara de deposição.
A densidade de empacotamento, por exemplo, pode ser relacionada com a taxa de
deposição e com a temperatura do substrato. Se a taxa de deposição é alta, os
átomos/moléculas que estão atingindo a superfície do substrato têm pouco tempo para se
acomodar na superfície, deixando vazios à medida que vão se empilhando para formar a
estrutura do filme. Da mesma maneira, um substrato a temperatura mais baixa absorve
energia e, portanto, mobilidade, dos átomos e moléculas que estão sendo depositados,
dando origem a vazios. A tabela 3,1 apresenta as principais propriedades do dióxido de
titânio [1].
Tabela 3.1 – Principais propriedades do TiO
2
.
Fórmula química TiO
2
Peso molecular 79.9
27
Classe Cristalina Tetragonal
Densidade, g/cm
3
at 300 K 4.25
Faixa de Transmissão, µm 0.43 - 6.2
Perda por Reflexão para duas Superfícies a 2 µm, %
para o raio ordinário
para raio extraordinário
30
34.8
Comprimento de Onda de Dispersão, µm 2.8
Constante dielétrica para 10
4
- 10
7
Hz 200-160
Temperatura de fusão, K 2090
Condutividade témica, W/(m K) at 273 K
paralela
perpendicular
13.0
9.0
Expansão térmica, 1/K at 313 K
paralela
perpendicular
9.2 x 10
-6
7.1 x 10
-6
Calor específico, cal/(g K) at 298 K 0.17
Temperatura de Debye, K 760
Bangap, eV 3.3
Dureza Knoop, kg/mm
2
879
Bulk Módulo, GPa 15.02
28
3.2 – Aplicações do TiO
2
O titânio (Ti), que deve seu nome a Titã, um dos primeiros filhos da deusa Terra
segundo a mitologia grega, foi descoberto em 1871. O titânio metálico puro, no entanto,
seria produzido quase 40 anos depois, em 1910. A partir de então sua contribuição no
avanço tecnológico é cada vez maior, tanto que atualmente é considerado o 4º material mais
utilizado na indústria a nível mundial, depois do alumínio, do aço e do magnésio, sendo o
nono elemento mais abundante sobre a superfície da terra. O titânio puro possui uma cor
clara, tem baixa densidade, é altamente resistente, de fácil fabricação e altamente resistente
à corrosão. Além disso, possui um alto índice de refração e uma dispersão óptica similar à
do diamante.
O titânio reage com o oxigênio formando o dióxido de titânio (TiO
2
), que é o estado
de oxidação mais utilizado na fabricação dos materiais de aplicação industrial. O TiO
2
, em
forma de pó, além de ter a capacidade de pigmentar quase tudo - desde bolas de borracha,
papel, cosméticos, cerâmicas, vidros, até pinturas de carros de corrida - é de ação
permanente. Também é um ingrediente essencial na fabricação de revestimentos devido a
sua dureza e resistência à corrosão. O TiO
2
é um material com um alto índice de refração (n
~ 2,2 2,5) na região próximo do visível e no infravermelho, motivo pelo qual é utilizado
na fabricação da maioria dos lasers que operam nessa região do espectro [2, 3]. O TiO
2
possui também uma alta constante dielétrica (ε) e é por isso que aumentaram rapidamente
as pesquisas visando sua aplicação em dispositivos microeletrônicos [4-7] como diodos,
capacitores e condutores, sendo que atualmente é considerado o candidato mais provável a
substituir o SiO
2
na fabricação de dispositivos nanoeletrônicos, além de ser biocompatível.
29
O TiO
2
cristaliza-se em três estruturas: anatase, rutilo e brokita (as duas primeiras
tetragonais e a ultima romboédrica) [1].
A partir da década de 70 o TiO
2
despertou grande interesse na área da eletroquímica
devido à descoberta, no Japão [8, 9], de mais uma aplicação dentre as várias que até então
eram conhecidas, trata-se da atividade fotocatalítica induzida através de radiação UV.
Nesse trabalho pioneiro, Fujishima e Honda decompuseram moléculas de água em
hidrogênio e oxigênio numa célula fotoeletroquímica, onde um dos eletrodos era o TiO
2
. A
iluminação produz elétrons e buracos os quais podem migrar até a superfície do óxido e
participar da reação fazendo parte do fechamento do ciclo fotocatalítico. Essa característica,
aliada a todas as conhecidas propriedades fisicoquímicas do TiO
2
, possibilitou novas
aplicações em inúmeros ramos da indústria. Assim, por exemplo, o TiO
2
é o elemento mais
utilizado como matéria prima na fabricação de revestimentos de superfícies, pinturas,
plásticos, etc., pois além de favorecer a durabilidade e estabilidade do produto, sua ação
fotocatalítica permite a desinfecção dessas superfícies, quando iluminadas com radiação
UV (a qual se encontra disponível inclusive naturalmente na radiação solar), devido à
remoção da matéria orgânica, microorganismos e bactérias [9, 10].
3.3 – Considerações físico–químicas gerais sobre filmes finos de TiO
2
As fases mais comumente estudadas são a fase anatase e a fase rutilo devido a serem
as mais estáveis [1] e as mais fáceis de se obter (a cotunita, uma outra fase cristalina do
TiO
2
considerado o material policristalino de maior dureza, é sinterizado a altas pressões
[11]: acima de 60 GPa e 1000 K!). Na figura 3.1 apresentamos as células unitárias da fase
rutilo e da fase anatase. Em ambas as estruturas cada átomo de Ti está ligado com seis
átomos de oxigênio formando um octaedro com leves distorções de uma estrutura perfeita.
30
Observamos que os comprimentos das ligações na estrutura anatase e rutilo são similares,
no entanto na fase anatase se observa uma maior distorção nos ângulos das ligações (numa
estrutura sem distorções, os comprimentos das ligações Ti-O são iguais e os ângulos O-Ti-
O são de 90º). Portanto a fase anatase apresenta uma estrutura mais aberta o que tem como
conseqüência um maior volume molar e menor densidade [12].
Figura 3.1 – Células unitárias da fase anatase e da fase rutilo[1].
Na figura 3.2 apresentamos a estrutura eletrônica do TiO
2
. Observamos que o topo
da banda de valência é composto de orbitais 2p do O, enquanto que o fundo da banda de
condução é composto de orbitais 3d do Ti. Observa-se também que os elétrons 3d do Ti
participam das ligações Ti-O contribuindo para os estados da banda de valência.
31
Figura 3.2 – Estrutura eletrônica do TiO
2
[13].
Em decorrência da semelhança das duas estruturas, a banda de energia proibida
fundamental do TiO
2
, o gap, é semelhante em ambas fases e perto de 3 eV (3.2-3.3 eV para
anatase e entre 3.0-3.1 para rutilo) [14, 15]. As excitações ópticas através do gap direto são
proibidas pelas regras de seleção de dipolo [16]. No rutilo, evidências de que o limiar de
absorção é determinado por transições indiretas [14] (as quais são permitidas pelas regras
de seleção). Em todo caso, cálculos teóricos mostram que ambos gaps (o direto e o
indireto) tem a mesma largura dentro da precisão prevista [16].
No caso dos filmes finos, é sabido que a estrutura do material obtido depende dos
parâmetros de deposição. A maioria das pesquisas apresentam os resultados obtidos, mas
32
poucos grupos tentaram ir além disso e explicar qual o mecanismo ou mecanismos que
promovem o crescimento de uma determinada fase cristalina e qual é a relação entre os
parâmetros de deposição e esses mecanismos. Há evidências na literatura, no entanto, de
que o motivo da formação de uma determinada fase ou mistura de fases no TiO
2
pode ser a
maior estabilidade de uma fase ou outra durante o crescimento [17]. Medidas e
considerações termodinâmicas mostram que o rutilo é a fase mais estável do TiO
2
e,
portanto, é essa a fase mais estudada [16]. A energia de formação do rutilo e do anatase é
de –212.6 e –211.4 kcal/mol, respectivamente [15]. No entanto, resultados experimentais na
obtenção de filmes nanocristalinos pela técnica de sol-gel mostram que em partículas
pequenas (14 nm) a estrutura cristalina predominante é a anatase (A) enquanto que em
partículas maiores a fase rutilo (R) tende a predominar [17]. Esses resultados foram
interpretados a partir de princípios termodinâmicos levando em consideração a contribuição
da energia superficial ES, na energia total de formação E da estrutura (a saber: E =
SES+VEV, onde EV é a energia de formação por unidade de volume, S é a área e V é o
volume da estrutura em formação). Atribuiu-se uma menor energia superficial de formação
à fase anatase do que à fase rutilo (ES(A) < ES(R)), assim, devido à maior razão A/V para
partículas pequenas, a contribuição de ES ao total da energia de formação seria maior,
tornando a fase anatase mais estável do que a rutilo.
No entanto, na técnica de sputtering, devido às características do método de
deposição, onde os átomos precursores possuem altas energias (entre 1 e dezenas de eV e
portanto altas velocidades médias da ordem de 10
6
cm/s [18]), não é claro até que ponto
as considerações termodinâmicas podem ser aplicadas para descrever o crescimento. De
fato, existem hoje modelos cinéticos de crescimento para essa classe de cnica, como, por
exemplo, o modelo da subplantação que enfatizam o papel da energia cinética dos
33
precursores no mecanismo de formação do filme. Este modelo tem sido aplicado com
sucesso para a descrição do fenômeno de epitaxia a baixa temperaturas conseguido por
sputtering em Si [18], mas não consta na literatura a sua aplicação para a interpretação de
dados experimentais do crescimento de TiO
2
nanocristalino por sputtering reativo.
3.4 – Filmes de TiO
2
depositados por sputtering reativo
Devido à relativa facilidade como as micropartículas podem ser fixadas em
diferentes substratos por métodos simples como a secagem de uma suspensão coloidal, esse
foi o método mais utilizado durante anos na fabricação de filmes de TiO
2
[19, 20]. No
início, poucas foram às tentativas de se obter filmes por métodos convencionais de
deposição como a evaporação térmica e o sputtering. Neste último, os átomos que se
depositam sobre os substratos são arrancados de um alvo pelo bombardeamento de
partículas altamente energéticas obtidas geralmente de um plasma de gás inerte. Esse alvo
pode ser uma placa de TiO
2
, mas também é possível utilizar um alvo de Ti puro e realizar o
plasma com uma mistura do gás inerte com o gás reativo de O
2
(ou seja, deposição por
sputtering reativo). O uso dessa técnica começou a aumentar faz alguns anos devido a um
entendimento cada vez maior do próprio processo de sputtering reativo, das propriedades e
características do TiO
2
e ao contínuo desenvolvimento de novas aplicações, tais como as
células solares à base de TiO
2
[21], baterias elétricas [22] e dispositivos ópticos [23].
Atualmente, um dos maiores incentivos para a utilização da técnica de crescimento de
filmes finos por sputtering é que pode se obter filmes com uma melhor aderência que
aquela obtida em filmes depositados por evaporação térmica ou secagem e um melhor
controle da taxa de deposição e, portanto, da espessura do filme. Mas talvez a maior
vantagem da técnica de sputtering seja a possibilidade de se obter filmes com determinadas
34
propriedades a partir da escolha dos parâmetros de deposição, como a temperatura do
substrato (TS), a pressão total dentro da câmara de deposição, o fluxo de oxigênio, etc.
Sabe-se que esse método de deposição é o preferido em inúmeros ramos da indústria
devido à alta relação versatilidade/custo. Por isso, câmaras de sputtering são facilmente
acessíveis em vários centros de pesquisa em materiais tanto no ambiente acadêmico como
no industrial. No entanto, os resultados experimentais disponíveis na literatura são muitos e
diferentes, e chegam inclusive a ser contraditórios, pois a deposição de filmes finos de TiO
2
por sputtering reativo além de ser complexa, envolve um número grande de parâmetros
experimentais que exercem influência nas propriedades dos filmes. Dentre estes os mais
importantes são a TS e a pressão total, isso porque ambos afetam a energia dos precursores
que se depositam no filme, a qual determinará principalmente a mobilidade dos átomos e,
portanto, a capacidade de difusão destes na superfície em formação.
Filmes de TiO
2
crescidos pelos métodos de evaporação química se caracterizam por
terem baixa densidade e por apresentar estruturas bem definidas - é sabido que a fase
amorfa é obtida pela técnica de PECVD [24, 25] enquanto que a policristalina é obtida pela
técnica de CVD [26] - filmes crescidos pelas técnicas de sputtering e por feixe de íons
(ion beam deposition), podem produzir tanto filmes amorfos[27] como cristalinos,
dependendo dos parâmetros de deposição usados. Filmes crescidos pelo uso da técnica de
magnetron sputtering em corrente contínua, apresentam a estrutura anatase num amplo
intervalo de pressões parciais de oxigênio [28].
No entanto, utilizando-se a mesma técnica, foi reportada a obtenção de filmes que
apresentam tanto a fase rutilo como brokita [7]. Por outro lado, pela técnica magnetron
sputtering em rádio freqüência obtiveram-se filmes que possuem uma mistura das fases
rutilo e anatase em diferentes proporções com o aumento da pressão total. Estudos mais
35
recentes por essa técnica reportaram a obtenção de filmes finos de TiO
2
com uma única
fase, anatase ou rutilo, através de um controle preciso dos parâmetros de deposição, tais
como a temperatura do substrato e a pressão parcial de oxigênio [29].
Como era de se esperar, essa diversidade de resultados, muitas vezes obtidos
utilizando-se a mesma técnica, acabou dando origem a novas pesquisas que visam
encontrar a relação entre os parâmetros de deposição, estrutura, morfologia e a eficiência na
obtenção de uma determinada propriedade, tal como a atividade fotocatalítica [30-32]
(embora haja atualmente um certo consenso em considerar que a fase cristalina que
apresenta a melhor atividade fotocatalítica em muitas reações é a anatase [33, 34]).
36
Referências Bibliográficas – Capítulo 3
1 U. Diebold, Surf. Sci. Rep. 48 (2003), 53.
2 K. N. Rao and S. J. Mohan, J. Vac. Sci. Technol. A 8 (1990), 3260.
3
K. Balsubramanian, X. F. Han and K. H. Guenther, Appl. Opt. 32 (1993), 5594.
4 T. Fuyuki and H. Marsunami, Jp. J. Appl. Phys. 25 (1986), 323.
5 R. F. Cava, W. F. Peck and J. J. Krajawski, Nature 377 (1995), 215.
6 D. B. Dimitrov, J. Koprinarova, J. Pazov and Ch. Angelov, Vacuum 58 (2000), 344.
7
G. R. Gu, Zhi He, Yan-chun Tao, Ying-ai Li, Jun-jie Li, Hong Yin, Wei-qin Li and Yong-
nian Zhao, Vacuum 70 (2003), 17.
8 A. Fujishima and K. Honda, Nature 238 (1972), 37.
9 A. Fujishima, T. Rao and D. Tryk, J. Photochem. Photobiol. C: Photochem. Rev. 1
(2000), 1.
10 O. Carp, C.L. Huisman e A. Reller, Progress in Solid State Chemistry 32 (2004), 33.
11 L. S. Dubrovinsky, et al., Nature 410 (2001), 653.
12 A. Fahmi, Christian Minot, Bernard Silvi, and Mauro Causa, Phys. Rev. B 47 (1993),
11717.
13 R. Asahi, Y. Taga, W. Mannstadt and A. J. Freeman, Phys. Rev. B 61 (2000), 7459.
14 H. Tang, K. Prasad, R. Sanjinés and F. Lévy, J. Appl. Phys. 75 (1994), 2042.
15 A.L. Linsebigler, G. Lu and J.T. Yates, Jr., Chem. Rev. 95 (1995), 735.
16 K. M. Glassford and J. R. Chelikowsky, Phys. Rev. B 46 (1992), 1284.
17 H. Zhang and J. F. Banfield, J. Mater. Chem. 8 (1998), 2073.
18 D. Marton, K.J. Boyld and J.W. Rabalais, J. Vac. Sci. Technol. 16 (1998) 1321.
19 B. O´Reagan, J. Moser, M. Grätzel and D. Fitzmaurice, J. Phys. Chem. 95 (1991),
10525;
37
20 B. O´Reagan and M. Grätzel, Nature 353 (1991), 737.
21 A. Hagfeldt, et al., Solar Cell 31 (1994), 481.
22 Y. Yagi, M. Hibino and T. Kudo, J. Electrochem. Soc. 144 (1977), 4208.
23 S. Nandra, J. Vac. Sci. Technol. A 8 (1990), 3179.
24 P. Löbl, M Huppertz and D. Mergel, Thin Solid Films 251 (1994), 327.
25 H. J. Frenck, W. Kulisch, M. Kuhr and R. Kassing, Thin Solid Films 201 (1991), 327.
26 T.W. Kim, M. Jung, H. J. Kim, T. H. Park, Y. S. Yoon, W. N. Kang, S. S. Yom, and H.
K. Na, Appl. Phys. Lett. 64 (11) (1994), 1407.
27 M. Cervo and G. Carter, J. Phys. D Appl. Phys. 28 (1995), 1962.
28 L. J. Meng and M. P. Santos, Thin Solid Films 226 (1993), 22.
29 P. Jin, L. Miau, G. Xu, S Tanuemura, G. Xu, M. Tazawa and K. Yoshimura, Applied
Surface Science 212-213 (2003), 1.
30 S-H. Kim, Y-L. Choi, Y-S. Song, D. Y. Lee and S-J. Lee, Materials Letters 57 (2002),
343.
31 G. Guang-Rui et al, Vacuum 71 (2003), 487.
32 K. Narashimha and S. Mohan, J. Vac. Sci. Technol. A 8 (4) (1990), 3260.
33 P. Zeman and S. Takabayashi, Surface and Coating Technology 153 (2002), 93.
34 Fujishima A., Hashimoto K. and Watanabe T., TiO2 Photocatalisis –Fundamentals and
Applications, BKC, Inc. Tokyo (1999).
38
4.
MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 – Descrição do sistema de deposição
Neste capítulo duas seções principais: a descrição do equipamento de deposição
de filmes utilizada neste trabalho e uma breve descrição das técnicas de caracterização de
filmes utilizadas.
O equipamento de deposição foi totalmente desenvolvido no âmbito do
DFTE/LabPlasma. O aspecto visual e o esquema elétrico do aparato experimental do
sistema de deposição é apresentado na figura 4.1, indicando os componentes envolvidos.
Este consiste de uma câmara de vácuo, a qual estão acoplados um sensor penning para
medida da pressão, um termopar para medida da temperatura do porta-amostra, um
feedthroug, ao qual está acoplado o porta-amostra, uma sonda eletrostática móvel para
obtenção dos parâmetros do plasma e as conexões para o sistema de alimentação
gasosa(O
2
) e de exaustão pelas bombas difusora e mecânica. O sistema de deposição, por
sua vez, é constituído por um cátodo oco de Ti, fixado mecanicamente a um conduto de
injeção de Argônio(Ar) e uma câmara de refrigeração, ambos de aço inoxidável. Este
conjunto permanece acoplado a flange superior do reator, polarizado no potencial do
ânodo(Terra).
39
Figura 4.1 Aspecto visual do reator de deposição e esquema elétrico simplificado do
sistema de deposição.
A seguir, é exposto o detalhamento das características mais relevantes do
equipamento de deposição e demais componentes utilizados neste trabalho.
4.2 – Descrição detalhada da câmara
A câmara de deposição foi construída de maneira a tornar flexível a sua utilização.
Seu volume total (40 litros) é bastante superior ao necessário para a deposição por
sputtering, de modo a permitir qualquer alteração no ambiente de deposição, a colocação de
R
V
0
A
V
d
I
d
Cátodo
oco
anodo
R
V
0
A
V
d
I
d
Cátodo
oco
anodo
R
V
0
A
V
d
I
d
Cátodo
oco
anodo
40
sensores e de diferentes formatos de porta-amostras, bem como o seu uso para a deposição
por magnetron sputtering.
Foi construída de forma cilíndrica em borosilicato, com 30 cm de diâmetro por 40
cm de comprimento. O vidro foi utilizado para permitir um melhor acompanhamento dos
processos, bem como facilitar o uso de técnicas de caracterização do plasma, como a
espectroscopia por emissão óptica, realizadas em diferentes posições in situ. As duas
flanges, superior e inferior, foram confeccionados em aço inoxidável de acordo com as
normas NW.
O flange superior funciona como ânodo estando conectado ao terminal positivo
aterrado da fonte de tensão e é removível permitindo a colocação dos substratos de Si sobre
o porta-amostra. Outra entrada é utilizada como passador para a entrada do gás reativo
(oxigênio, neste trabalho), cujo fluxo é digitalmente controlado por válvula agulha em
série. O sistema de refrigeração utiliza a circulação de água para a refrigeração do cátodo e
da bomba difusora simultaneamente, num circuito aberto para evitar que o calor removido
possa sobreaquecer os componentes do sistema. Todas as vedações são feitas com
utilização de gaxetas e anéis de viton.
A Figura 4.2 apresenta a perspectiva em corte vertical da câmara de deposição com
a indicação do posicionamento dos principais componentes. O sensor de alto vácuo está
posicionado no flange inferior da câmara. O porta-amostra dispõe de um sistema que
permite o deslocamento radial a diferentes distâncias do cátodo. As diferentes distâncias
alvo-substrato foram ajustadas previamente, variando de 10 a 50 mm, estando o porta-
amostra frontal ao alvo.
41
Figura 4.2 Corte transversal do reator de deposição, apresentando a disposição dos seus
principais componentes. Destaque: vista em corte da disposição do cátodo oco.
O alvo é um cilindro de Ti, tendo pureza nominal de 99,99%. Tem 10 mm de
diâmetro externo, apresentando uma cavidade de 5 mm de diâmetro por 5 mm de
profundidade. O cátodo possui ainda uma blindagem para evitar a formação do plasma na
sua parede externa.
4.2.1 – O porta-amostras
O porta-amostras de aço inoxidável foi acoplado a um feedtrough de modo a
permitir o seu deslocamento radial sem perda de vácuo e para evitar que haja contaminação
Porta
amostras
Cátodo
Oco
Ar
H
2
O
O
2
(entrada)
Exaustão
H
2
O
Ânodo
Câmara de
Refrigeração
Porta
amostras
Cátodo
Oco
Ar
H
2
O
O
2
(entrada)
Exaustão
H
2
O
Ânodo
Ar
H
2
O
O
2
(entrada)
Exaustão
H
2
O
Ânodo
Ar
H
2
O
O
2
(entrada)
Exaustão
H
2
O
Ânodo
Câmara de
Refrigeração
42
do substrato durante a fase inicial de pré-sputtering do cátodo. Dessa forma as amostras
eram afastadas do feixe de plasma, sendo posicionadas frontalmente ao mesmo quando do
início efetivo da deposição. Durante todos os experimentos foram observadas temperaturas
da ordem de 60
o
C no substrato, após 1 hora de deposição.
4.3 – A Fonte de Tensão D.C.
A fonte de tensão d.c. é ajustável através de um variac cuja saída controla a tensão
de entrada do sistema fornecida pela rede elétrica (220V). O sistema de retificação é
composto por quatro etapas de retificação ligadas em série, e é alimentado pelo secundário
do transformador principal. A corrente de saída, por sua vez, é limitada por um reostato
ligado em série com a descarga. A tensão e a corrente são monitoradas com leitura digital.
As especificações da fonte são as seguintes:
Tensão de entrada: 220V/60Hz ± 10%
Corrente de entrada máxima: 5,5 A
Tensão de saída máxima: 1200 V
Corrente de saída máxima: 1 A
Fator de ondulação (ripple): <1%
4.4 – O Fluxo de Gás e o Controle de Pressão
O fluxo de entrada do gás é monitorado automaticamente através de um controlador
de fluxo (MKS modelo 247) em série com fluxímetros digitais 1179A, de modo
independentemente para o Ar e para o O
2
. A vazão é medida em sccm “Standard centimeter
cubic per minute”.
43
O sistema de vácuo é constituído de uma bomba mecânica E2M8 acoplada a uma
bomba difusora Difstak Edwards. Uma válvula borboleta, que está conectada à base da
câmara, isola o sistema de bombeamento e permite a quebra do vácuo para a operação de
troca das amostras. dois medidores de pressão, um tipo Penning 505, Edwards, e outro
Pirani 80, Edwards. O tempo de bombeamento do sistema é da ordem de 1 hora, para
atingir uma pressão residual(de fundo) da ordem de 10
-5
mbar.
4.5 – Métodos de Medição
Os métodos de medição utilizados neste trabalho visaram conhecer os parâmetros
do plasma produzido na configuração de cátodo oco desenvolvida, a taxa de deposição e a
uniformidade dos filmes depositados, bem como suas características mecânicas e a
composição do filme, de forma a determinar as melhores condições de obtenção dos filmes
de TiO
2
e a otimização do aparato experimental. Esta análise utilizou métodos
diversificados que vão desde a análise óptica dos filmes depositados em substrato de vidro
até a microscopia de força atômica nos filmes depositados sobre silício. Estes métodos de
medição serão descritos com menor rigor, pois já estão estabelecidos na literatura.
Também apresentam-se as técnicas complementares utilizadas para determinar os
parâmetros do plasma associados as diferentes condições de deposição, a citar, a sonda
eletrostática e a espectroscopia de emissão óptica (OES), tais como a variação espacial da
temperatura, a densidade de elétrons e as espécies presentes no feixe de plasma ejetado do
cátodo.
44
4.5.1 – A Sonda Eletrostática
O medidor ideal de qualquer grandeza física não deve interferir no meio ao qual está
inserido. Como a presença do medidor, em geral, perturba o sistema no qual está inserido,
tenta-se construir um medidor que pelo menos interfira o mínimo possível nas realizações
das medidas desejadas.
A determinação da temperatura (T
e
) e da densidade de elétrons (n
e
), bem como sua
variação espacial, são de fundamental importância para o estabelecimento das condições
energéticas necessárias a deposição dos filmes de dióxido de titânio [1]. Desta forma foi
introduzida uma sonda eletrostática ou sonda de Langmuir, confeccionada em platina(Pt),
para evitar problemas de oxidação diante da presença de O
2
na atmosfera do plasma, e
foram levantadas diversas curvas de tensão versus corrente na sonda, cuja análise nos
permitiram determinar os principais parâmetros, tais como temperatura eletrônica,
densidade eletrônica e livre caminho médio das partículas presentes no plasma.
As medidas foram realizadas utilizando a configuração de sonda cilíndrica simples,
com 0,1mm de diâmetro, revestido por um tubo de vidro e uma missanga de cerâmica. A
área efetiva de coleta do condutor, cujo comprimento da superfície de coleta é de 3 mm, é
de 9,42 x 10
-7
m
2
. A sonda está disposta paralela ao eixo da descarga, fixada a um
mecanismo de movimentação que permite o seu deslocamento vertical e radial (vide Figura
4.3), o que nos possibilita fazer varreduras ao longo da coluna de todo o jato de plasma.
Este mecanismo de movimentação possibilita uma variação do posicionamento da sonda
numa escala de 1mm, tanto para deslocamentos verticais como para os horizontais.
45
(a)
(b)
(a)
(b)
Figura 4.3 Disposição do posicionamento da sonda eletrostática em relação ao cátodo,
mostrando o seu mecanismo de movimentação(a) e perfil do cátodo oco e seu alinhamento
com a sonda(b).
As curvas experimentais V versus I foram adquiridas digitalmente e a análise dos
parâmetros do plasma foi realizada considerando uma função de distribuição de energia dos
elétrons (EEDF) Maxwelliana [1-4].
O circuito de polarização da sonda é mostrado na figura 4.4. Os pontos
denominados de Y, que corresponde a entrada de medição da corrente I, e de X,
correspondente à medição da tensão V. A fonte pode gerar uma tensão de rampa variando
entre -100 V a 100 V.
46
Figura 4.4 – Diagrama do circuito de polarização da sonda eletrostática.
O plasma gerado em descarga de cátodo oco é caracterizado pela presença de
impurezas, dos íons metálicos do alvo, dos íons do gás e de novos compostos devido ao
intensivo sputtering do cátodo, o que promove a contaminação das paredes da câmara e
sonda eletrostática. Assim, antes das medidas das curvas VxI, a extremidade da sonda é
limpa, polarizando-a no potencial do cátodo, durante um breve período suficiente para que
a sonda torne-se incandescente devido ao aquecimento pelo bombardeio dos íons [5].
4.5.2 – Espectroscopia de emissão óptica – OES
A radiação na faixa do espectro visível origina-se das transições eletrônicas
atômicas e moleculares. A espectroscopia de emissão óptica é uma técnica não invasiva
para o diagnóstico do plasma, que possibilita uma observação em tempo real, e tem sido
amplamente utilizada para estudar os parâmetros da descarga luminescente de plasma [6,7].
Os espectros de emissão na escala do espectro visível são fáceis de obter com uma
instalação experimental simples e robusta. Além disso, a presença dos campos e de
elevados potenciais não perturbam a obtenção dos espectros. Embora os espectros sejam
obtidos facilmente, a interpretação pode ser razoavelmente complexa, em particular, nos
plasmas de baixa temperatura e baixa pressão, que estejam fora do equilíbrio térmico, isto é
plasmas de não equilíbrio [8].
1k
Y X
47
Para investigar a natureza da composição do plasma ao longo da coluna de expansão
do jato de plasma na região de deposição dos filmes, diversas medidas de espectroscopia
óptica foram realizadas. O sistema OES é composto por um espectrômetro Acton
Spectrapro 2500i com comprimento focal de 500 mm, resolução espectral de 0.05 nm com
rede tripla de difração e um cabo de fibra óptica de 5 m de comprimento. Neste trabalho foi
utilizada a face de 1200 g/mm. Como detector foi utilizado um fotodiodo de silício de 10
mm de diâmetro responsável pela varredura de 200-1100 nm.
A fibra óptica foi posicionada perpendicularmente à câmara, apontada diretamente
para o jato de plasma durante todas as medidas. Foram avaliadas as variações na
composição do plasma nas diferentes condições experimentais utilizadas, especialmente
quanto ao efeito do percentual de O
2
na composição da atmosfera do plasma.
4.5.3 – Difração de raios-X
A composição de fases e textura foram analisadas usando difração de raios-X. A
obtenção do espectro de difração de raios-X é usual e não será discutido em detalhes. O
equipamento utilizado foi um difratômetro Shimadzu XRD-6000, do Lidrax (Laboratório
institucional de difratometria de raios-X) da UFRN. As estruturas cristalinas do TiO
2
mais
conhecidas são anatase e rutilo. Ambas são tetragonais. ainda uma forma ortorrômbica
(brokita). Todas as formas são convertidas em rutilo acima de 700ºC [9].
A Tabela 4.1 traz as distâncias interplanares (d) e as intensidades relativas (I/I0),
dos picos mais intensos dos espectros de difração de raios-X, de compostos de Ti e O mais
importantes.
48
Tabela 4.1 Distâncias interplanares (d) e as intensidades relativas (I/I
0
) dos espectros de
difração de raios-X
4.5.3.1 – Obtenção e análise dos difratogramas
Os espectros foram obtidos usando linhas Cu K(comprimento de onda: 0,154 nm),
operado em 40 KV. Usaram-se dois métodos: o método θ - 2θ , onde as medidas foram
realizadas no intervalo 2θ entre 30º e 80º e o método de incidência rasante (1,5º). O método
de incidência rasante foi utilizado, em alguns casos, para minimizar a influencia da
interface substrato-filme, pois o feixe de raios-X atravessa o filme longitudinalmente e não
transversalmente.
A identificação dos picos dos difratogramas dos filmes foi feita por comparação
com tabelas de cristalografia padrão JCPDS onde estão catalogadas as posições dos picos
de difração para cada material.
49
4.5.4 – Microscopia óptica
Foi utilizado neste trabalho um microscópio modelo U-LDB-2, da marca Olympus.
Trata-se de um microscópio óptico, de aumento até 2000 vezes, com um recurso de
polarização constituído de um polarizador mais uma lâmina de quarto de onda. A passagem
da luz pela lâmina provoca um deslocamento azimutal na polarização da luz, fazendo com
que apareçam cores de interferência, devidas às diferenças de caminho óptico. Um sistema
composto por uma câmara de vídeo permite a observação da imagem do microscópio em
um monitor de vídeo. O sinal da câmara de vídeo também é enviado a uma placa
digitalizadora, instalada em um microcomputador, e armazenado sob a forma de uma
imagem digitalizada num arquivo do computador.
A Figura 4.5 traz uma microfotografia obtida, mostrando a imagem de um filme
fraturado por sua própria tensão interna. As imagens podem ser digitalizadas sob a forma
de vídeo (.avi) ou foto (pcx, bmp, etc.).
Figura 4.5 – Microscópio óptico e micrografia de um filme de TiO
2
depositado em substrato de
vidro apresentando fraturas devido às tensões de contração.
50
4.5.5 – Microscópio eletrônico de varredura (MEV)
A microscopia eletrônica de varredura é uma técnica de obtenção de imagens de
uma superfície que utiliza elétrons ao invés de luz. A principal vantagem na utilização desta
técnica é a larga profundidade de foco, que permite que uma grande área da superfície seja
observada simultaneamente. Produz imagens de alta resolução e não requer uma elaborada
preparação de amostras quando estas são condutoras.
Seu princípio básico de funcionamento é uma varredura por feixe de elétrons de
uma superfície e a aceleração, obtida por uma modulação de espelhos eletromagnéticos. Os
elétrons arrancados da superfície são acelerados e posteriormente modulados da mesma
forma que o feixe incidente. Ao atingirem uma tela, do tipo tradicional de tubo de raios
catódicos, é formada a imagem.
Foi utilizado um aparelho Phillips modelo XL30 ESEM, pertencente ao
LIMEV(Laboratório institucional de microscopia eletrônica de varredura) da UFRN, com o
qual foram tomadas imagens de topo e de perfil dos substratos com vistas a obtenção da
estrutura e espessura dos filmes depositados e camadas nitretadas.
4.5.6 – Microscopia de Força Atômica – AFM
A microscopia de força atômica (Atomic Force Microscopy, AFM) estuda a
morfologia e a rugosidade da superfície de uma amostra com uma ponta piramidal na escala
atômica, o que permite obter imagens topográficas de alta resolução. A ponta é localizada
no extremo livre de uma alavanca que tem um comprimento entre 100 e 200 µm. As forças
de interação entre a ponta e a superfície da amostra fazem com que a alavanca se dobre e
sofra deflexões. Um detector mede essas deflexões conforme a ponta percorre a superfície
51
da amostra, ou a amostra se desloca em relação à ponta que permanece fixa. A medida das
deflexões sofrida pela alavanca gera um mapa topográfico da superfície da amostra.
A força mais comum associada à técnica de AFM é a força de van der Waals. Como
essa força interatômica depende da distância entre a ponta e a superfície da amostra,
duas técnicas para se obter a topografia da uma superfície: (1) o modo de contato, que é
quando a alavanca se aproxima até alguns angstroms da superfície da amostra e, portanto, a
força de van der Waals entre a ponta e a superfície é repulsiva e (2) o modo de não-contato,
que é quando a alavanca se encontra a centenas de angstroms da superfície da amostra e
portanto a força de van der Waals entre a ponta e a superfície é atrativa.
A escolha de uma ou outra técnica depende do tipo de superfície a ser estudada.
Para superfícies gidas, no entanto, o método é indistinto, pois as imagens obtidas são
bastante semelhantes. Neste trabalho foi utilizado o método de contato para obtenção da
topografia da superfície dos filmes depositados.
4.5.6.1 – Modo de Contato
À medida que os átomos se aproximam, eles se atraem mutuamente. Essa força de
atração aumenta até que os átomos ficam próximos o suficiente para que comece a repulsão
eletrostática entre os elétrons das camadas mais externas. Essa repulsão se faz mais intensa
à medida que a separação entre os átomos diminui. A força de van der Waals torna-se
positiva (repulsiva) quando a distância entre os átomos atinge um valor limite (da ordem de
duas vezes o raio atômico). No modo de contato na técnica de AFM, conhecido também
como modo repulsivo, o sistema se encontra próximo da configuração de equilíbrio e,
portanto, a força entre a ponta e a superfície é praticamente zero. Se uma força é aplicada
para aproximar ainda mais a ponta à superfície da amostra, podem acontecer deformações
52
elásticas que provoquem a ruptura da ponta ou a transferência de material entre a ponta e a
amostra, formando sulcos na superfície do filme.
A principal vantagem desse método frente ao modo de não contato é a facilidade
para realizar as medidas, pois como a força entre a ponta e o filme é várias ordens de
grandeza maior que a força no modo de não contato, a obtenção da imagem é mais rápida.
No entanto, se forem repetidas várias varreduras numa mesma região, tanto o filme como a
ponta podem ser danificadas.
4.5.6.2 – Sistema de Medição de AFM
As imagens de AFM foram obtidas no LPD/DFA do UFSCar utilizado um
microscópio modelo Auto Probe CP da Park Scientific Instuments. Para medir a posição da
alavanca foi utilizada a técnica de detecção óptica, figura 4.6, onde pequenas mudanças na
posição do feixe refletido do laser devidas às deflexões da alavanca são medidas por um
fotodetector sensível a deslocamentos pouco menores do que 1 nm.
53
Figura 4.6 – Sistema de AFM utilizado na obtenção da rugosidade dos filmes
Foram feitas varreduras em três áreas de tamanhos diferentes: (5x5) µm, (1x1) µm,
(0.5 x0.5) µm e (0.2 x0.2) µm. Como o tamanho das estruturas observadas no nosso
material é da ordem de até 200 nm, a topografia da superfície dos filmes ficou melhor
resolvida nas varreduras de áreas de (1x1) µm.
4.6 – Arranjo e condições experimentais
Em face ao desenvolvimento da técnica de deposição por cátodo oco, foi realizada
uma extensa série preliminar de experimentos com vistas a determinar o regime de trabalho
do equipamento para a configuração escolhida e obter a otimização do processo.
Parâmetros como superaquecimento do cátodo em virtude do confinamento do plasma e da
potência fornecida foram avaliados. Problemas adicionais, como a instabilidade do
processo devido a introdução do O
2
na atmosfera gasosa foram resolvidos, inserindo este
gás via flange inferior, o que reduz a formação de óxido de titânio nas paredes internas do
54
cátodo. Deste modo, passou-se a fase seguinte, onde mantendo fixos os parâmetros como
pressão, fluxo de gás e a potência aplicada, foram avaliados os efeitos da variação da
distância (d) da amostra ao cátodo e do tempo de deposição na obtenção dos filmes de
TiO
2
, conforme apresentado na tabela 4.2. São estas amostras da série final de deposição
que terão a suas análises expostas neste trabalho.
Tabela 4.2 Parâmetros de deposição dos filmes de TiO
2
nas condições de otimização do
processo.
d=50 mm
Amostra V(Volts) I(Amp) Ar/O
2
(%) F(sccm) P(mbar) T(min)
TesteA3 330 0,30 80/20 20 5.10
-3
60
TesteA4 325 0,30 80/20 20 5.10
-3
30
Si(01) 310 0,30 100/0 20 8.10
-3
30
Si(02) 320 0,30 80/20 20 3.10
-3
30
Si(03) 330 0,30 80/20 20 3.10
-3
60
d=30 mm
Amostra V(Volts) I(Amp) Ar/O
2
(%) F(sccm) P(mbar) T(min)
Si(04) 300 0,30 100/0 20 8.10
-3
30
Si(05) 325 0,30 80/20 20 3.10
-3
30
Si(06) 330 0,30 80/20 20 3.10
-3
60
Si(07) 220 0,30 77/23 20 3.10
-3
60
55
Foram ainda realizadas uma série de deposições com uma pequena variação no
percentual de O
2
(de 20 para 23%) [10] com o intuito de investigar seu efeito sobre a
estrutura e a composição dos filmes formados, mantendo-se fixa a distância entre o cátodo
e a amostra(30 mm), variando-se o tempo de deposição de acordo com o estabelecido na
tabela 4.2.
4.6.1 – Parâmetros de deposição
Para a deposição dos filmes o alvo utilizado foi de titânio (Ti), com 99.99% de
pureza, na configuração de cátodo oco, com furo de 5 mm de diâmetro por 5 mm de
profundidade (vide figura 4.3b). Após 1 hora de evacuação, usando uma bomba difusora, a
pressão de fundo no interior da câmara foi de aproximadamente 10
-5
mbar. O fluxo de
gases, nas diferentes composições utilizadas foi mantido constante em 20 sccm, por meio
de um controlador de fluxo(MKS Instruments model 1179A), e a pressão de trabalho variou
sistematicamente entre 8-3 x10
-3
mbar. Para limpar a superfície do alvo, removendo a
camada de óxido que se forma no Ti, foi realizado sistematicamente um pré-sputtering de
10 min antes de cada deposição, com gás Argônio.
Sabe-se que a imersão rápida em solução de ácido fluorídrico diluída não altera
substancialmente a micro-rugosidade da superfície de lâminas de silício e propicia a
remoção total do óxido nativo presente [7]. Os substratos de silício foram submetidos a um
prévio tratamento de limpeza [11], consistindo dos seguintes passos:
- Lavagem com detergente neutro + ultra-som e enxágüe.
- Lavagem com solução de ácido fluorídrico(10%) + ultra-som (2 min).
56
- Lavagem com água deionizada + ultra-som (7 min) para remoção do óxido nativo. Em
seguida, essas amostras foram imediatamente posicionadas sobre o porta-amostras e
iniciados os procedimentos de evacuação do reator.
57
Referências Bibliográficas – Capítulo 4
1 H. Kersten et al., Vacuum, 63 (2001), 385.
2 D. N. Ruzic, Electric probes for low temperature, AVS Press, New York, 1992. 97p.
3 L. Sirghi, T. Aoki e Y. Hatanaka, Surf. Coat. Tech., 187 (2004), 358.
4 A.D. Wilson et al., Thin Solid Films, 434 (2003), 157.
5 G. Golan e A. Axelevitch, Plasma Devices and Operations, 11 (2003), 287.
6 L. Maissel and R. Glang, Handbook of Thin Film Technology, McGraw-Hill, New York
(1970).
7 W. A. Nogueira e S. G. S. Filho, Revista Brasileira de Aplicações de Vácuo, 20 (2001),
46.
8 U. Fantz, Plasma Sources Sci. and Technol., 15 (2006), S137.
9 U. Diebold, Surf. Sci. Rep., 48 (2003), 53.
10 S. H. Kim et al., Materials Letters, 57 (2002), 343.
11 Z. Q. Liu et al., J. Crystal Growth, 236 (2002), 655.
58
5
RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 – Introdução
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos na determinação dos
parâmetros do plasma, sua variação espacial e composição, aspectos de fundamental
importância para validação da eficiência desta técnica na deposição de filmes finos de TiO
2
,
bem como a avaliação das características estruturais e composicionais dos filmes obtidos.
Os filmes foram depositados num substrato de silício variando-se sistematicamente as
condições do processo, incluindo a relação O
2
/(Ar +O
2
), a pressão de trabalho, tempo de
deposição e a distância entre o alvo e o porta-amostra, respectivamente, para avaliação da
microestrutura e da morfologia. Em todos os processos a temperatura do substrato não
ultrapassou 70°C.
5.2 – Parâmetros do plasma
5.2.1 – Efeito de cátodo oco
A figura 5.1 mostra a curva característica de tensão - corrente da descarga de cátodo
oco para uma pressão de operação de 1 mbar. Uma vez que a geometria do nosso cátodo foi
mantida fixa e desde que para uma dada mistura do gás o efeito depende consideravelmente
da pressão de gás e do diâmetro do furo [1], dada à limitação de potência da nossa fonte de
tensão (1 kV), o nosso processo era iniciado em um valor estritamente definido de pressão.
Como a tensão da fonte de potência dc aplicada varia de zero até o valor da tensão de
59
ruptura da rigidez dielétrica do gás, o sistema passa de um modo de descarga escura para
um modo de descarga luminescente. Aumentando-se a potência, ocorre a ruptura da rigidez
dielétrica do gás, formando-se o plasma no interior do cátodo, acompanhada por uma queda
na tensão e a descarga de cátodo oco é estabelecida.
0 200 400 600
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
I(Amp)
V(Volt)
Figura 5.1 – Curva de tensão versus corrente, típica de uma descarga de cátodo oco
cilíndrico.
O surgimento do efeito de cátodo oco (ECO) é então facilmente caracterizado pela
mudança brusca na inclinação da curva [1-3]. A corrente da descarga pode ainda ser
interrompida. Isto é, sobretudo, atribuído à transição da superfície do alvo de um modo de
sputtering metálico para um modo de sputtering reativo, que causa uma queda drástica na
taxa de sputtering [2]. Este efeito depende da pressão parcial do gás reativo e da densidade
de corrente do cátodo. Para evitar estes problemas de instabilidade no processo, durante os
nossos experimentos o oxigênio foi introduzido pelo flange inferior e não diretamente pelo
60
centro do cátodo como o argônio. Uma vez estabilizada a descarga, o sistema era levado à
pressão de trabalho. A corrente da descarga durante os experimentos de deposição foi
ajustada em 0,3 A, com a finalidade de evitar problemas de superaquecimento do cátodo.
Para esta corrente a voltagem foi de aproximadamente 310 V, para uma pressão de trabalho
de 10
-3
mbar.
5.2.2 – Composição do plasma
Como descrito anteriormente, uma descarga luminescente negativa de plasma é
formada no interior da cavidade do cátodo. Contudo, uma vez que a pressão no interior da
cavidade é maior que a pressão na câmara, um jato de plasma é ejetado do cátodo. A figura
5.2 apresenta os espectros de emissão óptica do jato de plasma obtidos sob as mesmas
condições com a fibra óptica posicionada a 15 mm do cátodo.
Foram realizadas varreduras ao longo da faixa de 300-900 nm, centrando-se na linha
do O 777 nm para avaliar a alterações nas intensidades decorrentes dos percentuais de 0,
20, 50 e 80% de O
2
, fixando-se a corrente em 0,3 A e a tensão em 260 V, sem alterar os
demais parâmetros do processo, a citar, a pressão e o fluxo de gases. As linhas de emissão
do Ar 696,54, 706,7, 750, 763,51, 772,3 811,53 e 842,2 nm e do O 777 são claramente
observadas nestes espectros. A intensidade destas linhas varia com a composição da
atmosfera gasosa.
61
Figura 5.2 Espectros da composição do jato de plasma para diferentes percentuais de O
2
na composição.
Observa-se a dependência da densidade do plasma com a taxa de fluxo do argônio
nas quatro composições utilizadas. Com a redução percentual do fluxo de O
2
, as
intensidades dos picos do argônio e a densidade de elétrons aumentam, atingindo o máximo
quando este valor é de 20% e decresce quando a atmosfera é composta de 100% de Ar. Esta
dependência pode ser explicada pelo efeito dos átomos de O e de Ti pulverizados na
descarga de plasma. Devido à sua elevada afinidade eletrônica, os átomos de O capturam
elétrons de baixa energia do plasma e formam íons negativos, o que resulta na diminuição
650 700 750 800 850 900
O
Ar
Ar
Ar
H
2
Ar
Ar
Ar
Ar
Ar
Ar
Ar
Ar
Intensidade (U.A.)
λ
(nm)
20% Ar + 80% O
2
50% Ar + 50% O
2
80% Ar + 20% O
2
100% Ar
62
da densidade, com a conseqüente redução nas intensidades e no aumento da temperatura
dos elétrons do plasma [4,5].
5.2.3 – Densidade e temperatura eletrônica
Uma curva V versus I característica representativa das medidas efetuadas com a
sonda de Langmuir, obtida a uma distância de 15mm do cátodo, é apresentada na figura
5.3(a) e (b). A análise destas curvas fornece os valores da densidade eletrônica (n
e
) e da
temperatura de elétrons (T
e
), nas diferentes posições medidas ao longo de eixo do jato de
plasma ejetado do cátodo oco.
Figura 5.3 (a) Curva característica da corrente (I
p
) versus a voltagem (V
p
) e (b) lnI versus
V da sonda de Langmuir, tomada a 15 mm de distância do cátodo, com 20% de O
2
(V=300
Volts, I = 0,3 A).
-150 -100 -50 0 50 100
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
I(mA)
V(Volts)
-20 0 20 40 60 80 100
-4
-3
-2
-1
0
1
ln I
V(Volts)
ln
63
Se o potencial da sonda (
V
s
) é negativo em relação ao potencial do plasma, a
densidade de elétrons que alcançam a sonda, assumindo uma função de Boltzmann para
distribuição de energia dos elétrons [6,7], é
n
e
n
eo
eV
kT
e
=
exp( )
(1)
Em termos da corrente de elétrons:
I
s
eSn
kT
e
m
e
eV
kT
e
eo
=
2π
exp(
)
(2)
onde S é a área da sonda e I
eo
é a corrente de saturação de elétrons coletados pela sonda
quando o seu potencial se iguala ao potencial do plasma, m
e
e e são a massa e a carga do
elétron, respectivamente. Na forma logarítmica a equação (2) torna-se,
ln( ) ln( )I
s
I
eo
eV
kT
e
= +
(3)
O valor de
V
p
, correspondente ao valor da corrente de saturação de elétrons, pode ser
facilmente obtido da curva do
lnI
p
versus
V
(figura 5.2). Se a função de distribuição de
energia dos elétrons for maxwelliana, obteremos uma reta, cujo coeficiente angular é igual
a
e/kT
e
, a partir do qual obtemos
T
e
.
64
A corrente de saturação de elétrons, obtida quando a sonda está no potencial de
plasma,
V
p
é dada por:
I
oe
n
o
eS
kT
e
m
e
=
2
π
(4)
A densidade de elétrons
n
n
o
eo
é determinada da expressão (4) substituindo o
valor de
T
e
.
As figuras 5.4 e 5.5 apresentam um perfil axial da temperatura eletrônica e da
respectiva densidade de elétrons do nosso plasma, que indicam uma elevação substancial da
energia dos elétrons na região próxima da cavidade catódica, seguida de acentuada redução
ao longo do jato de plasma, o que permitiu uma boa inferência acerca da distância adequada
para o posicionamento da porta-amostras, a fim de evitar que partículas muito energéticas
atingissem o substrato, causando danos à estrutura do mesmo, bem como promovendo a
remoção dos compostos depositados e aquecimento excessivo da amostra. Os valores
apresentados contém um erro estimado de 8%.
65
Figura 5.4 Perfil da variação espacial da temperatura eletrônica ao longo da coluna de
plasma.
Figura 5.5 Perfil da variação espacial da densidade eletrônica correspondente ao longo da
coluna de plasma.
0 5 10 15 20 25 30
0
1x10
16
2x10
16
3x10
16
4x10
16
5x10
16
6x10
16
7x10
16
n
e
(m
-3
)
Distância Sonda-Cátodo (mm)
7 x 10
-3
mbar
0 5 10 15 20 25 30
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
7,5
T
e
(eV)
Disncia Sonda-Cátodo (mm)
7 x 10
-3
mbar
0,3 A
300 Volts
66
Com base na análise dos valores de
T
e
e
n
e
foram definidas as distâncias de 30 e 50
mm entre o cátodo e o porta-amostra para a realização das deposições. Ensaios preliminares
com amostras posicionadas a 15 mm de distância do cátodo apresentaram problemas
especialmente na região central, devido à ocorrência de tensões que provocaram o estresse
dos filmes e/ou a remoção dos compostos provocando até mesmo a ausência de filmes nesta
região, ou seja, houve predominância do processo de corrosão do filme pelo plasma de
Ar/O
2
.
Podemos classificar os experimentos de caracterização do plasma via sonda
eletrostática em quatro categorias, a partir da relação entre três importantes escalas de
comprimento. A primeira é o comprimento de Debey, λ
D
. A segunda é o raio da sonda
cilíndrica a ser utilizada, r
p
. A terceira é o livre caminho médio das colisões elétrons-
partículas neutras, λ
0
, a citar [6]:
Bainha não colisional fina: 4λ
D
< r
p
< λ
0
Bainha não colisional espessa: r
p
< 4λ
D
< λ
0
Bainha colisional fina: λ
0
< 4λ
D
< r
p
Bainha colisional espessa: λ
0
< r
p
< 4λ
D
O comprimento de Debey, λ
D
, é definido como:
2
0
en
kT
e
e
D
ε
λ
=
(5)
67
λ
D
é uma grandeza extremamente importante como definição de escala num plasma.
Uma definição mais precisa de um estado de “quase-neutralidade” é que as densidades de
íons e elétrons são equivalentes apenas para distâncias da ordem do comprimento de
Debey. Pode-se escrever a equação (5) na forma abaixo,
e
e
D
n
T
7430=
λ
(6)
onde
T
e
está em eV, e
n
e
em m
-3
, resultando λ
D
em (m). Considerando os valores obtidos
para temperatura e densidade eletrônicas, o comprimento de Debey nos processo de
deposição foi de aproximadamente 2,5 x 10
-5
m.
O livre caminho médio, por sua vez, é dado pela expressão:
σ
λ
0
0
1
n
=
(7)
onde,
n
0
é a densidade de moléculas neutras e σ é a seção de choque para colisão elétron-
partícula neutra. Uma boa aproximação para as seções de choque das colisões elétrons-
partículas neutras é σ = 5 x 10
-19
m
2
. Para o cálculo da densidade de moléculas neutras a
uma pressão P, numa temperatura ambiente de 20
0
C, temos:
))((1029,3
322
0
= mTorrPxn
(8)
Isto nos dá a seguinte relação entre pressão e livre caminho médio:
68
)(
)(
061,0
0
m
mTorrP
=
λ
(9)
Como a nossa pressão de trabalho variou entre 3 e 8 x 10
-3
mbar, o valor de λ
0
1,1
x 10
-2
m. Assim, a análise comparativa das escalas de grandeza, considerando que o raio da
sonda cilíndrica é de 5 x 10
-5
m, indica que o regime de deposição configura um plasma
com uma
bainha não colisional espessa
.
5.3 – Deposição e estrutura
Em nossos experimentos a temperatura das amostras não ultrapassou os 70 ºC.
Baixas temperaturas de deposição cristalina são de particular interesse para a indústria de
filmes finos, porque não requer substratos que possam tolerar altas temperaturas, o que
pode reduzir os custos de produção [8].
Os filmes de TiO
2
obtidos usando-se 20% de O
2
apresentaram aparência
transparente levemente dourada (Si(02) a Si(06)) e violeta (Si(07)), com padrão de
interferência do arco-íris [9]. A espessura dos filmes foi obtida através de medidas com
microscópio eletrônico de varredura (MEV) através da observação em perfil dos filmes
depositados no substrato. A espessura do filme depositado na amostra Si(06), cuja
micrografia está apresentada na figura 5.6, por exemplo, foi de 3150 ± 70 nm, valor
suficiente para permitir as medições por raio-X. Esta medida está em conformidade com as
medidas da espessura que foram realizadas nos filmes depositados sobre amostras de vidro,
com vistas a avaliar a taxa de deposição do sistema de cátodo oco desenvolvido em nosso
laboratório obtidas em vários pontos do filme, indicando uma taxa de deposição de cerca de
60 nm/min.
69
Uma vez que o livre caminho médio nas nossas condições, é de aproximadamente
1,1 cm, ao passo que a distância entre o cátodo e o porta-amostras foi a 3 cm, os átomos
pulverizados da cavidade do cátodo são dispersados pelos átomos do gás da descarga
durante seu transporte à superfície da amostra. Este espalhamento influencia a energia dos
átomos, sua taxa de deposição e a estrutura dos filmes depositados [10,11]. Assim, ao
chegarem à superfície em crescimento, se a energia das moléculas for baixa, tenderão a
ficar intactas, mas terão uma baixa mobilidade. Mas se a energia da molécula for ainda
suficientemente alta, ela se dissociará pelo impacto; nesse caso cada átomo seguirá a sua
trajetória independentemente dentro do filme
,
cada um com uma fração da energia cinética
inicial da molécula.
O espalhamento inclui duas ações [12]. Uma é a perda de energia e a outra é a
mudança de direção do movimento dos átomos pulverizados. Quando a colisão é elástica, a
troca da energia entre duas partículas pode ser facilmente estimada pela dinâmica da
partícula. O coeficiente de transferência de energia
C
numa colisão entre duas partículas de
massas
m1
e
m2
é dado pela seguinte expressão
C =4m
1
m
2
/( m
1
+ m2)
2
.
Para o gás Argônio usado nos experimentos o valor de C é maior que 0,7 para
maioria dos átomos de alvos metálicos e semicondutores. Isto significa que mais de 70% da
energia cinética de um átomo ejetado por sputtering é perdida numa colisão com um átomo
de Ar.
70
Figura 5.6 MEV da seção transversal da amostra (06). Este filme foi depositado por 60
min a pressão de 3 × 10
-3
mbar na distância de 30 mm.
Analisando-se a estrutura do filme apresentado na figura 5.6, observa-se a formação
de estruturas colunares, indicativa da cristalização, que é decorrente da alta mobilidade das
partículas e adequada energia para difusão superficial [13,14].
5.4 – Morfologia
Pela técnica de AFM foram obtidas diversas imagens das superfícies dos filmes
depositados nas diferentes condições de tempo e distância, definidas para a obtenção dos
melhores parâmetros de deposição. A seguir apresentamos aquelas que foram obtidas com
melhor resolução na região central das amostras e que não apresentaram distorção devido a
danificação da ponta.
71
Nas figuras 5.7 apresentamos as imagens das vistas superior(esquerda) e
lateral(direita) da superfície de duas amostras da série de deposições com tempo fixo (30
min) posicionadas a diferentes distâncias do alvo (a escala vertical destas figuras é fixada
automaticamente pelo sistema de AFM segundo a altura máxima dos grãos presentes na
imagem de forma a otimizar a visão das estruturas obtidas em cada caso), que apresentam
diferentes espessuras.
Figura 5.7 Imagens obtidas por AFM das superfícies das amostras depositadas a 30 e 50
mm (30 min). Observe que as escalas verticais são diferentes para cada caso.
Si(05)
Si(02)
72
Na imagem da amostra Si(02) observamos grãos pequenos aglomerados formando
grãos maiores, da ordem de 200 nm de diâmetro. Já na imagem da amostra Si(05)
observamos grãos maiores, da ordem de 50 nm, distribuídos de forma uniforme em toda a
superfície varrida. Analisando as imagens obtidas da amostra Si(03), cujo tempo de
deposição foi de 60 min, observa-se claramente a morfologia de ilhas, com partículas de
TiO
2
com diâmetros de 20-30 nm. Nota-se uma redução no tamanho das partículas com o
aumento na distância cátodo-substrato [8,13]. No nosso sistema a distância é o principal
fator que afeta o tamanho dos grãos.
Figura 5.8 Imagens tridimensionais obtidas por AFM da superfície da amostra Si(03)
(d=50mm; t=30 min.).
Todas as amostras apresentaram grãos uniformes e de tamanhos similares. Todos os
filmes apresentaram rugosidade apreciável, variando de 10 a 70 nm, que é uma condição
considerada favorável na literatura para aplicações fotocatalíticas [15,16]. A rugosidade dos
filmes foi determinada através do cálculo do desvio padrão da altura média, ou RMS (
root
mean-squared roughness
):
Si(03)Si(03)
73
( )
1
1
2
=
=
N
zz
RMS
N
N
N
(10)
onde N é o número de pontos dentro da imagem de AFM, Zn é a altura de cada um desses
pontos e
z
é a altura média dos N pontos.
5.5. Estrutura cristalina
A estrutura cristalina das pastilhas de silício não depositadas foi obtida, após a
amostra ser submetida ao processo de limpeza para remoção dos óxidos superficiais. O
difratograma correspondente está mostrado na figura 5.9 e apresenta um único pico
indicativo da sua orientação cristalográfica (4 0 0), servindo de referência para avaliação
das alterações provocadas pela deposição dos filmes de TiO
2
.
Figura 5.9 – Difratograma de raio-X do substrato de silício não depositado.
20 30 40 50 60 70 80
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
(4 0 0)
Intensidade [U.A]
2
θ
θθ
θ
Si
74
Os difratogramas das amostras depositadas com 20% de O
2
na mistura gasosa, estão
apresentados na figura 5.10, agrupados comparativamente por tempo (colunas) e pela
distância (linhas). Em todos os processos as amostras foram mantidas em potencial
flutuante. Uma análise qualitativa dos difratogramas nos indica a presença de filmes
policristalinos de TiO
2
, com o predomínio da fase Rutila. Isto era esperado, uma vez que o
predomínio da estrutura Anatase ocorre para baixos percentuais de O
2
, inferiores a 5%
[13]. Os picos mais intensos, correspondentes são os da fase rutila, plano cristalino (2 1 1) e
Anatase (2 1 1), localizados em torno de 55º. Esta orientação prevalece para as amostras
depositadas a 50 mm de distância do cátodo. Quando as deposições foram feitas a distância
de 30 mm, no entanto, mesmo com as amostras não ultrapassando a temperatura de 100 ºC,
acentua-se o ocorrência do plano (1 1 0) da Rutila, em torno dos 28º, especialmente para
elevados tempos de deposição (Si(06)). Nesta amostra surgiram ainda picos de menor
intensidade correspondentes a Rutila (2 0 0), em torno dos 38º e Anatase (2 0 0) por volta
dos 52º. Aproximadamente à 31º observa-se o surgimento de um pico de intensidade
relativa que pode dever-se ao aparecimento de uma terceira fase do TiO
2
, denominada
Brookita [17].
O favorecimento da Rutila pode se dever, por exemplo, as estruturas cristalinas da
Anatase e da Rutila o combinarem com os diferentes substratos. A célula unitária
tetragonal da Rutila com parâmetros
a
= 4.59 A e
c
= 2.96 A está mais próxima da célula
cúbica do silício com
a
= 4.43 A, do que a célula tetragonal da Anatase (
a
= 3.78 A e
c
=
9.51 A).
75
Figura 5.10 Difratogramas de raios-X característicos das amostras revestidas com tempo
de deposição de (a) 30 min e (b) 60 min.
Sabe-se que a estrutura cristalina do TiOx é influenciada pelas mudanças que
acontecem no plasma. Dessa forma uma pequena alteração no fluxo de oxigênio pode
alterar a estequiometria dos compostos depositados e os parâmetros do processo, tornando-
se uma fração considerável da pressão total dentro da câmara de deposição (17%). Nestas
circunstâncias, íons de O
2
+
substituirão igual número dos íons de Ar
+
no plasma uma vez
que as seções de ionização do O
2
e do Ar são quase idênticas.
V. Vancoppenolle et al.[18], L. J. Meng e M. P. dos Santos [19] e S. –H. Kim et al.
[13], estudaram o plasma de Ar + O
2
durante o crescimento de TiO
2
por magnetron
sputtering
reativo DC. Eles determinaram a concentração e energia de Ar
+
, O
2
+
, O
+
, Ti
+
,
TiO
+
e TiO
2
+
como função da pressão parcial relativa de O
2
(%O
2
) e os seus efeitos sobre
os filmes depositados. A um determinado percentual de O
2
, menor que o valor crítico para
o qual a taxa de deposição diminui rapidamente, há uma diminuição do potencial do plasma
20 30 40 50 60 70 80
(b)
Brookita
A(2 0 0)
R(2 0 0)
A(2 1 1)
A(2 1 1)
R(1 1 0)
R(2 1 1)
2
θ
Intensidade (u.a.)
Si (06)
Si (03)
20 30 40 50 60 70 80
(a)
A(2 1 1)
A(2 1 1)
R(2 1 1)
R(2 1 1)
R(1 1 0)
Intensidade (u.a.)
2
θ
Si (05)
Si (02)
76
(V
p
). Esse efeito foi atribuído à formação de uma camada de óxido isolante nas paredes da
câmara. Junto com esse efeito, observa-se uma inversão da contribuição relativa de O
+
(que
diminui) e O
2
+
(que aumenta), sendo que ambas as intensidades absolutas aumentam
progressivamente com o %O
2
e as intensidades dos íons Ti
+
e TiO
+
(o primeiro diminui e o
último aumenta). Esse efeito é identificado como o início da oxidação do alvo de Ti. Ainda,
para maiores %O
2
, observa-se mais uma inversão, que acontece de forma mais gradual,
desta vez entre TiO
+
(que diminui) e TiO
2
+
(que aumenta).
Como nestes trabalhos, alteramos o percentual de O
2
para 23% na mistura gasosa,
mantendo os demais parâmetros utilizados da deposição da amostra Si(06), com a
finalidade de obtermos uma estrutura cristalina com predomínio das orientações (2 1 1) da
Rutila e da Anatase, semelhante aquelas obtidas nas demais condições utilizadas. O
espectro da amostra Si(07), mostrado na figura 5.11, nesta nova condição apresenta os
mesmos picos correspondentes da amostra Si(05), com um pequeno aumento de intensidade
da Rutila (1 1 0). Dessa forma conseguimos obter uma estrutura cristalina semelhante às
demais obtidas para todas as condições de tempo de deposição e distância utilizadas.
77
Figura 5.11 Difratogramas de raio-X da amostra Si(07) tratada por 60 min, com
percentual de O
2
de 23%.
A Rutila é a fase cristalina mais estável do TiO
2
, e ela têm uma entalpia de
formação de 225,8 kcal mol
-1
, contra uma de 224,6 kcal mol
-1
da fase Anatase [20]. Por
isso, em condições de crescimento que favorecem o equilíbrio termodinâmico, como por
exemplo, a deposição química de vapor (CVD)
em altas temperaturas, a fase Anatase não é
facilmente atingida, sendo necessárias severas limitações cinéticas sobre o crescimento
[21], especialmente nas técnicas de deposição física em fase vapor (PVD).
5.6 – Microdureza
Para determinar a dureza dos filmes de TiO
2
depositados, foram realizados ensaios
de dureza Vickers nas amostras analisadas utilizando um Microdurômetro Panambra
Modelo HVS - 1000 e os valores médios obtidas estão relacionados na tabela 5.2.
20 30 40 50 60 70 80
0
50
100
150
200
250
300
Si (07)
R(1 1 0)
A(2 1 1)
R(2 1 1)
2
θ
θθ
θ
Intensidade [U.A]
78
Tabela 5.2 – Microdureza Vickers dos filmes de TiO
2
Amostras Microdureza (HV)
Si(02) 1090
Si(03) 1051
Si(05) 788
Si(06) 892
Si(07) 1090
Estes valores indicam que os filmes depositados sobres as amostras mais próximas
(30 mm) apresentam menores durezas (Si(05) e (06)). No entanto, a amostra tratada com
23% de oxigênio (Si(07)) apresenta o mesmo valor médio das amostras posicionadas a 50
mm de distância. Estes fatos demonstram a influência da energia de bombardeamento das
espécies que chegam à superfície das amostras, bem como a variação na atmosfera oxidante
altera a cinética de distribuição das espécies presentes na coluna de plasma e a relação
estequiométrica dos compostos depositados.
79
Referências Bibliográficas – Capítulo 5
1 S. Janosi, Z. Kolzsvary e A. Kis, Surf. Sci. Rep., 48 (2003), 53.
2 M. H. Kazemeini, A. A. Berezin, N. Fukuhara, Thin Solid Films, 372 (2000), 70.
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4 L. Sirgui, T. Aoki e Y. Hatanaka, Surf. CoaT. Tech., 187 (2004), 358.
5 F. Lapostolle et al, Surf. CoaT. Tech., 135 (2000), 1.
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Electric probes for low temperature
, AVS Press, New York, 1992. 97p.
7 D. Rohde et al, Surf. CoaT. Tech., 149 (2002), 206.
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10 G. Pribil et al, J. Vac. Sci. Tech. A, 19 (2001), 1571.
11 Z. Hubicka et al, Surf. CoaT. Tech., 160 (2002), 114.
12 A. Kinbara, E. Kusano e I. Kondo, Vacuum, 51 (1998), 475.
13 S. H. Kim et al, Materials Letters, 57 (2002), 343.
14 B. R. Sankapal, M. Ch. Lux-Steiner e A. Ennaoui, Appl. Surf. Sci., 239 (2005), 165.
15 O. Carp, C.L. Huisman e A. Reller, Progress in Solid State Chemistry, 32 (2004), 33.
16 W. Zhang et al, Surf. CoaT. Tech., 182 (2004), 192.
17 H. Huber et al, Thin Solid Film, 472 (2005), 114.
18 V. Vancoppenolle et al, J. Vac. Sci. Technol. A, 17 (1999), 3317.
19 L. J. Meng and M. P. dos Santos, Appl. Surf. Sci., 68 (1993), 319.
20 A. Fahmi, C. Minot, B. Silvi e M. Causá, Phys. Rev. B, 47 (1993), 11717.
21 C.J. Taylor et al, J. Am. Chem. Soc., 121 (1999), 5220.
80
6
REVESTIMENTO SUPERFICIAL COM GAIOLA IONIZANTE
O desenvolvimento e a investigação da técnica de deposição por cátodo oco levaram-
nos ao desenvolvimento de um novo dispositivo, denominado “Gaiola Ionizante” ou Gaiola
Catódica (Depósito de Patente número PI0603213-3), para investigar a possibilidade do uso
simultâneo de múltiplos cátodos, com vistas à obtenção de revestimentos e tratamentos
superficiais tridimensionais, que possibilitam uma ampla série de aplicações, que não
podem ser satisfeitas com utilização do cátodo oco único, sem que se utilize um sofisticado
sistema de controle do posicionamento e/ou rotação das amostras a serem tratadas.
Para determinação do regime de cátodo oco em cada furo da gaiola e sua eficiência
no tratamento e revestimento da superfície das amostras, foram investigados o regime de
pressão de trabalho que produz a máxima intensidade luminosa na configuração utilizada,
típica do efeito cátodo oco e realizada a obtenção dos espectros ópticos correspondentes
para análise da intensidade dos compostos presentes em cada regime, durante os processos
de nitretação, e sua relação com a espessura e uniformidade da camada formada na
superfície das amostra nestes processos. Estes dados foram ainda confrontados com a
variação espacial dos parâmetros de plasma, obtidos com a utilização da sonda eletrostática,
para determinação do mecanismo de atuação deste dispositivo no revestimento/tratamento
de superfícies.
81
6.1 – Gaiola Ionizante
O dispositivo, que consiste de uma tela de aço inoxidável austenítico 316 de 0,8 mm
de espessura, com diâmetro de 112 mm por 25 mm de altura, foi montado sobre o porta
amostras de um reator de nitretação dc convencional, conforme ilustrado na Figura 6.1, em
virtude da disposição geométrica deste reator não exigir maiores adaptações, bem como por
possuir paredes de aço inoxidável, que atuam como ânodo, o que proporciona um melhor
direcionamento perpendicular das linhas de campo elétrico em relação à gaiola. O diâmetro
dos furos é de 8 mm e a distância entre centros de furos adjacentes de 9,2 mm. A distância
mínima lateral utilizada das amostras para a tela é de 25 mm, com vistas à manter as
amostras eqüidistantes das paredes da gaiola.
Tal como no processo de deposição por cátodo oco utilizado na primeira parte deste
trabalho, as amostras permaneceram eletricamente isoladas, devido à utilização de um disco
de alumina de 57 mm de diâmetro e 3 mm de espessura e foram dispostas radialmente, com
espaçamento uniforme, conforme disposição apresentada na figura 6.1. Foram utilizadas
amostras com alturas de 1, 3, 5 e 10 mm, com a finalidade de avaliar a uniformidade da
distribuição das partículas e a difusão de calor no interior da gaiola. Nesta configuração a
tela funciona como cátodo, na qual é aplicada a diferença de potencial em relação as
paredes da câmara. Dessa forma o plasma forma-se sobre a gaiola envolvendo toda a sua
superfície externa.
82
Figura 6.1 Vista em corte do reator de nitretação, destacando a disposição da gaiola
ionizante e a distribuição espacial das amostras no seu interior.
A figura 6.2 mostra o aspecto visual do plasma formado sobre o dispositivo, onde se
pode observar a intensificação luminosa do plasma em cada furo da gaiola, quando a
pressão de trabalho atinge um patamar de 2,5 mbar. Este efeito, típico do cátodo oco,
apresenta, no entanto, um direcionamento da região luminescente do plasma para fora dos
furos da gaiola, semelhante a multi-cátodos cilíndricos, devido à diferença de potencial
entre essas regiões. Este fato indica que o sputtering dos átomos se dá sobre a gaiola, o que
evita que a superfície das amostras(no potencial flutuante) sofram danos. Os átomos
arrancados podem se combinar com o gás reativo da atmosfera do plasma, formando
compostos que se depositam na superfície da amostra. Dessa forma, como no processo de
83
deposição por cátodo oco único, a gaiola deve ser confeccionada no material que se deseja
depositar.
Figura 6.2 - Aspecto visual da formação do plasma na superfície da gaiola em função da
pressão de trabalho: (a) p = 2,5 mbar e (b) p = 5,0 mbar.
Diferentemente do processo com cátodo único, onde as partículas pulverizadas no
cátodo são direcionadas para a amostra pelo fluxo do gás (Ar) e pela diferença de pressão
parcial entre a câmara e a cavidade do cátodo, na gaiola ionizante as partículas presentes
são forçadas a fluir através da gaiola sobre as amostras, pela introdução de conduto
direcionador instalado na base do porta-amostras, diretamente conectado ao sistema de
vácuo(figura 6.1). Dessa forma, as espécies ativas podem atingir todos os pontos da
superfície das amostras, permitindo a deposição de uma camada uniforme independente da
forma geométrica e das dimensões das amostras, conforme demonstrado na nitretação de
amostras de diferentes dimensões [1].
Este princípio foi aplicado e demonstrado com sucesso na nitretação de amostras de
aços AISI 1020 e AISI 316 [2, 3], tratadas a temperatura de 723 K por 5 horas numa
atmosfera nitretante de 80% N
2
/ H
2
, com fluxo de 10 sccm. Antes da nitretação, o sistema
(a)
(b)
84
foi evacuado até alcançar a pressão residual de 10
-2
mbar. O uso deste dispositivo
proporcionou a obtenção de camada com elevado grau de uniformidade, ou seja, com a
ausência total dos defeitos causados pelos efeitos de bordas, que devido as alterações do
intenso campo elétrico provocadas nas proximidades de cantos e bordas das amostras
polarizadas no potencial catódico, causando descontinuidades nas camadas de nitretos de
peças tratadas em processos de nitretação a plasma dc convencional [3-6]
6.2 – Parâmetros do Plasma
A investigação da natureza do confinamento e da composição do plasma na gaiola,
através das medidas de espectroscopia óptica foram feitas relacionando a pressão de
trabalho e a intensidade luminosa emitida, mantendo fixa a corrente da descarga, conforme
mostra a tabela 6.1.
Tabela 6.1 Valores dios dos parâmetros externos do plasma utilizados na medidas de
espectroscopia óptica e de sonda eletrostática.
Pressão(mbar) Tensão(V) Corrente(A)
1,1 650 0,35
2,5 510 0,35
5,0 460 0,35
Foram realizadas varreduras ao longo da faixa de 350-800 nm para as pressões de
1,1, 2,5 e 5,0 mbar, fixando-se independentemente a corrente, mantendo fixos os demais
parâmetros, a citar, a temperatura e o fluxo de gases (10 sccm) da mistura (80% N
2
/ H
2
).
85
Observamos a presença de três principais linhas de emissão. Duas de N
2
+
(B
2
u
+
X
2
g
+
,
v'=0, v''=0 e B
2
u
+
X
2
g
+
, v'=1, v''=0) e uma de H
(n=3 n=2, Balmer), conforme
espectros apresentados na figura 6.3, que apresentam composição e proporções entre os
picos semelhante, havendo uma variação significativa nas suas intensidades.
400 500 600 700 800
Intensidade (u.a.)
N
N
2
N
2
+
H
β
N
2
H
α
N
2
+
N
2
+
λ
(nm)
1,1 mbar
2,5 mbar
5,0 mbar
Figura 6.3 – Espectros obtidos da gaiola nas pressões de 1,1, 2,5 e 5,0 mbar mantendo-se
fixa a corrente (0,35 A).
A análise destes espectros ópticos indica que para medidas com corrente elétrica
fixa (0,35 A), a intensidade luminosa é inversamente proporcional à pressão e cresce com a
potência fornecida ao plasma [7]. Para pressões mais baixas, quando ocorre a intensificação
dos efeitos de cátodo oco, uma maior luminosidade, ou seja, o aumento da intensidade
86
das linhas de emissão, que se deve ao fato de haver menos partículas de gás e ao
conseqüente aumento da tensão aplicada para que a corrente permaneça constante. Desta
forma, a tensão variou de 460 V à pressão de 5,0 mbar, para 510 V à pressão de 2,5 mbar,
chegando a 650 V quando a pressão utilizada foi de 1,1 mbar.
Para uma análise quantitativa dos parâmetros do plasma na região dos furos
posicionou-se a sonda eletrostática em três posições perpendiculares relativas à parede da
gaiola, isto é, fora da gaiola (-8 mm de distância), na interface (0 mm) e dentro da gaiola (8
mm), conforme disposição apresentada na figura 6.4 abaixo.
Figura 6.4 – Diagrama da disposição da sonda eletrostática no interior da gaiola a 8 mm da
parede.
A sonda foi confeccionada com um eletrodo de tungstênio(W) com 0,1 mm de
diâmetro e 3 mm de comprimento, seguindo as mesmas especificações da utilizada no
processo de deposição.
As curvas V x I foram obtidas simultaneamente à aquisição dos espectros ópticos,
de modo a permitir um diagnóstico simultâneo do plasma gerado nas condições
apresentadas na tabela 6.1. Uma curva típica obtida na interface(d = 0 mm) é apresentada
na figura 6.5.
87
Figura 6.5 – Curva V x I típica obtida na região dos furos da gaiola (d = 0 mm) à pressão de
1,1 mbar.
A análise das curvas experimentais esclarece sobre o perfil da variação espacial da
temperatura e da densidade eletrônicas do plasma nas proximidades das paredes da gaiola.
A figura 6.6(a) apresenta o perfil da temperatura eletrônica para as três posições
consideradas. Observa-se, em concordância com a intensidade dos espectros ópticos, uma
elevação de T
e
quando a pressão de trabalho é reduzida [8]. Além disso, para todas as
pressões consideradas uma elevação de T
e
na região dos furos, especialmente a 1,1 e 2,5
mbar, o que indica que apesar da pequena espessura da parede da gaiola (0,8 m), obtém-se
um efeito de confinamento típico do efeito cátodo oco.
Esta conclusão é reforçada avaliando-se o perfil da densidade eletrônica (n
e
),
apresentado na figura 6.6(b). Verifica-se a elevação de uma ordem de grandeza na
88
-8 0 8
0
1
2
3
4
5
6
T
e
(eV)
Posão da sonda (mm)
(a)
1,1 mbar
2,5 mbar
5,0 mbar
-8 0 8
0,0
2,0x10
14
4,0x10
14
6,0x10
14
8,0x10
14
1,0x10
15
1,2x10
15
n
e
(m
-3
)
Posição da sonda (mm)
(b)
1,1 mbar
2,5 mbar
5,0 mbar
densidade na interface dos furos, notadamente a 1,1 mbar. Este comportamento é
conseqüência do incremento na freqüência de colisões de elétrons com átomos neutros da
atmosfera gasosa nesta região, que por sua vez provoca mais colisões dos íons formados
com a superfície do cátodo, aumentando também a emissão de elétrons secundários. A
formação de pequenos jatos de plasma ocorre devido à formação de camadas eletrostáticas
que conforme observado na figura 6.2(a) confirma o direcionamento de linhas de campo
elétrico para fora da gaiola, como mencionado. Como conseqüência a pequena redução
de n
e,
observada no centro do furo à pressão de 2,5 mbar, pode ser entendida pela
sobreposição das bainhas opostas às paredes dos furos [9].
Figura 6.6 – (a) Perfil da temperatura eletrônica em função da posição da sonda(fora = -
8mm, na interface = 0mm e dentro = 8 mm), para as diferentes pressões de tratamento; (b)
Variação espacial correspondente da densidade de elétrons. Erro ± 1,5 mm.
Nestes processos, com pressões de trabalho entre 1,1 e 5 mbar, temos uma variação
de λ
0
entre 7,4 x 10
-5
m e 1,6 x 10
-5
m, respectivamente. Os valores de 4λ
D
correspondentes
foram aproximadamente 2,0 x 10
-3
m. Dessa forma, a análise comparativa das escalas de
89
grandeza indica que o regime varia de uma configuração de plasma com uma
bainha
colisional fina
para pressão de 5 mbar para um regime de transição entre colisional e não
colisional quando a pressão cai à 1,1 mbar
[10].
Dessa forma os íons formados nas proximidades da gaiola são fortemente
acelerados em direção as paredes da gaiola provocando a pulverização de seus átomos, o
que favorece a sua combinação com as partículas energéticas do plasma, formando os
compostos que serão depositados e/ou difundidos na superfície das amostras.
6.3 – Tratamento de Amostras
Como as amostra permanecem em potencial flutuante, o calor necessário para
aquecer as amostras até a temperatura de tratamento é fornecido principalmente por meio
de radiação térmica proveniente do aquecimento da gaiola, gerada pelo impacto dos íons de
alta energia, acelerados pela forte quede de potencial na bainha catódica(parede da gaiola).
Os processos de nitretação a plasma DCPN e Gaiola Ionizante produzem microestrutura
praticamente idênticas [1-4].
Observa-se que as espessuras das camadas das amostras são sistematicamente
maiores quando tratadas a menor pressão, o que indica um aumento na eficiência do
confinamento das partículas energéticas presentes no plasma favorecendo uma elevação na
taxa de sputtering da superfície da tela, com o conseqüente aumento na espessura da
camada de nitretos formada. Observa-se ainda uma pequena variação na espessura das
camadas nitretadas para as amostras tratadas sob mesma pressão, o que indica que uma
distribuição relativamente uniforme de temperatura no interior da gaiola catódica, ou seja, a
difusão de calor apresenta um pequeno gradiente.
90
0 2 4 6 8 10
0
10
20
30
40
50
60
70
Espessura(
µ
m)
Altura(mm)
5,0 mbar
2,5 mbar
1,1 mbar
Figura 6.7 - Gráficos comparativos de espessuras de camadas de compostos para as
amostras de 1, 3, 5 e 10 mm de altura em função da pressão.
Para comprovação de que o sputtering e a deposição são os mecanismos atuantes
neste processo, também foram realizadas deposições sobre amostras de vidro, que
resultaram em uma superfície totalmente espelhada, sem a ocorrência subseqüente do stress
da camada depositada, típica da deposição sobre vidro com cátodo oco único, que é
realizada em pressões de trabalho mais baixas. Neste caso, uma camada de nitreto de ferro
(Fe
3
N e Fe
4
N) foi formada na superfície das amostras, conforme análise do difratograma de
raio-X, apresentado na figura 6.8. Nota-se ainda a presença de nitreto de cromo (CrN) que
constitui a composição do aço AISI 316, com o qual foi confeccionado este dispositivo.
Testes preliminares utilizando uma gaiola de titânio numa atmosfera oxidante semelhante à
anteriormente utilizada na deposição com 20% de O
2
/(Ar + O
2
) obteve uma fina camada de
óxido de titânio sobre a superfície do vidro, evidenciada pelo padrão de difração de arco íris
observado.
91
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
0
35
70
SiO
2
+
+
+
*
*
*
Fe
3
N
Fe
4
N
CrN
Intensidade
2
θ
Figura 6.8 Difratograma de raios-X da superfície da amostra de vidro, apresentando a
deposição de Fe
3
N, Fe
4
N e CrN proveniente do sputtering da gaiola.
Na figura 6.9 apresentamos uma imagem comparativa entre a amostra de vidro
tratada na gaiola ionizane e uma amostra de referência. Observa-se o completo
revestimento da superfície do vidro, inclusive sua área lateral. A análise da textura deste
filme através da imagem obtida por MEV mostra uma camada homogênea ao longo de toda
a superfície, com um padrão de tamanho de grãos uniforme.
92
(a) (b)
Figura 6.9 (a) Aspecto visual comparativo da amostra depositada (espelhada) e uma
amostra de referência(transparente) e (b) MEV do filme depositado sobre o vidro.
Podemos finalmente concluir que o mecanismo de atuação desta técnica é o
sputtering de átomo da gaiola, incrementada pela deposição de compostos que formam-se
na região do plasma sobre a superfície dos substratos, conforme diagrama apresentado na
figura 6.10.
93
Figura 6.10 Diagrama apresentado os processos envolvidos no mecanismo de deposição
da gaiola catódica para processo de nitretação iônica.
Assim, temos que:
1. A gaiola catódica funciona como dispositivo multi-cátodo, permitindo a deposição e/ou
o tratamento de superfície tridimensionais, com uma excelente taxa de deposição e
crescimento de camadas para superfícies ativadas termicamente, como na nitretação
iônica.
2. A gaiola ionizante produz as mesmas propriedades em relação à nitretação a plasma
convencional (DCPN), eliminando os problemas comuns associados com o processo,
especialmente, o efeito de bordas, proporcionado a formação de camadas
tridimensionais uniformes;
3. Como uma maior uniformidade de temperatura no processo, difundida especialmente
por radiação proveniente da gaiola, o tratamento de amostras com diferentes alturas
Fe
2
N
Fe
3
N
Fe
4
N
N
N
Potencial
Flutuante
N
+
N
+
N
+
N
+
FeN
FeN
FeN
TELA
+
N
+
Fe
2
N
Fe
3
N
Fe
4
N
N
N
Potencial
Flutuante
N
+
N
+
N
+
N
+
FeN
FeN
FeN
TELA
+
N
+
94
apresenta um pequeno gradiente térmico, o que resulta em espessuras de camadas
praticamente uniformes.
4. Finalmente, fenômenos indesejados, tais como abertura de arco e efeitos de borda,
ocorrerão na gaiola catódica e não na superfície das amostras flutuantes.
95
Referências Bibliográficas – Capítulo 6
1 R. R.M, de Sousa et al., Mat. Scie. Eng. A, aceito para publicação.
2 R. R.M, de Sousa. Nitretação iônica sem efeito de borda: desenvolvimento e avaliação
de uma nova técnica, Natal, 2006. 80f. Disertação (Mestrado). Centro de Ciências Exatas
e da Terra, Programa de Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
3 C. Alves Jr. et al, Surf. Coat. Tech., 201 (2006), 2450.
4 C. X. Li e T. Bell, Heat Treatment of Metals, 1 (2003), 1.
5 C. X. Li, T. Bell e H. dong, Surface Engineering, 18 (2002), 174.
6
J. Georges, Heat Treat. Of Metals, 2 (2001), 33.
7
Y. Kim et al., Surf. Coat. Tech.,
142-144 (2001), 321.
8
F. Rebib et al., Appl. Surf. Scie., 252 (2006), 5611.
9 S. Janosi, Z. Kolzsvary e A. Kis, Surf. Sci. Rep., 48 (2003), 53.
10 D. N. Ruzic,
Electric probes for low temperature
, AVS Press, New York, 1992. 97p.
96
7
CONCLUSÕES
As conclusões gerais deste trabalho são as seguintes:
1) O desenvolvimento e caracterização de um sistema de deposição de filmes finos
bidimensionais por cátodo oco foi realizado com sucesso. Foram determinados os
principais parâmetros espaciais do plasma necessários ao domínio dos processos de
deposição.
2) Conhecendo-se os parâmetros do plasma foi possível estabelecer uma sistemática
que nos permitiu obter filmes finos cristalinos de TiO
2
sobre silício, com elevada
pureza, aderência e dureza, em todas as condições de tempo de deposição, distância
da amostra e percentual de gás reativo utilizados.
3) Desenvolvemos um novo dispositivo, baseado no princípio de deposição por cátodo
oco para a deposição de filmes, tratamento e/ou revestimento de superfícies bi e
tridimensionais, denominado ‘gaiola ionizante’.
4) Determinamos a variação espacial dos parâmetros de plasma associados ao uso da
gaiola ionizante, determinando o mecanismo de atuação do plasma neste novo
dispositivo, e estabelecemos as configurações de máxima eficiência do processo.
5) Aplicamos a gaiola ionizante na nitretação de amostras de aços AISI 316, obtendo
um significativo aumento na espessura das camadas de compostos formadas, com
elevada uniformidade e um reduzido gradiente nas espessuras para amostras de
97
diferentes alturas, sem nenhum dos defeitos inerentes ao processo de nitretação a
plasma DC convencional.
Em suma, os objetivos principais do trabalho foram cumpridos, demonstrando a
versatilidade e eficiência do cátodo oco com ferramenta para incrementar o uso do plasma,
e abrindo novas fronteiras para o revestimento e tratamento de diferentes materiais.
98
8
SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
1. Conclusão de um novo dispositivo de deposição de filmes finos por cátodo oco de
maior potência e taxa de deposição.
2. Polarização das amostras com fonte auxiliar para aumentar o potencial atrativo dos íons
formados e direciona-los à sua superfície, com vistas ao incremento na taxa de
deposição/crescimento de camadas das amostras tratadas na gaiola catódica.
3. Determinação, via espectroscopia de emissão óptica, da variação espacial dos principais
parâmetros do plasma nos sistemas de deposição e na gaiola ionizante, e determinação
da função de distribuição de energia dos elétrons.
4. Aplicação do mecanismo da gaiola ionizante no revestimento de superfícies internas.
5. Desenvolvimento de sistema de híbrido para a deposição de filmes e/ou o tratamento de
superfícies.
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