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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Patrícia de Oliveira Silva Hardt
ESTRESSE E ESTRATÉGIAS DE
ENFRENTAMENTO EM PROFESSORES DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Taubaté – SP
2009
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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Patrícia de Oliveira Silva Hardt
ESTRESSE E ESTRAGIAS DE
ENFRENTAMENTO EM PROFESSORES DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Dissertação para obtenção do título de
mestre em Gestão e Desenvolvimento
Regional do Programa de Pós-Graduação
em Administração da Universidade de
Taubaté,
Área de Concentração: Gestão de recursos
sócio-produtivos
Orientadora Profª. Drª. Nancy Julieta
Inocente
Taubaté – SP
2009
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PATRICIA DE OLIVEIRA SILVA HARDT
ESTRESSE E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO EM PROFESSORES DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de mestre do Curso de
Mestrado Profissional em Gestão e
Desenvolvimento Regional do Departamento de
Economia, Contabilidade e Administração da
Universidade de Taubaté,
Área de concentração: Gestão de Recursos
Sócio-produtivos
Orientadora: Profª. Drª. Nancy Julieta Inocente
Data:___________________________
Resultado:_______________________
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Nancy Julieta Inocente Universidade de Taubaté
Assinatura:______________________________
Prof.___________________________________ Universidade de Taubaté
Assinatura:______________________________
Prof.__________________________________ ____________________
Assinatura:_____________________________
Dedico este trabalho:
Ao meu marido, Edegerdo, amor de minha vida que me apoiou em todos os
momentos difíceis dessa caminhada;
Ao meu filho querido, Edegerdo, pelo sorriso contagiante e inspirador.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que em todos os momentos se faz presente em minha vida;
À minha mãe Irani, pela dedicação ao meu filho para que eu confeccionasse este
trabalho;
À minha irmã Lilian, pelo apoio e incentivo nos momentos difíceis;
À Profª. Drª. Nancy Julieta Inocente, por sua orientação e incentivo na realização
deste mestrado;
À Profª. Drª. Edna Maria Querido de Oliveira Chamon, pela colaboração e atenção;
Ao Prof. Dr. Marco Antonio Chamon pela paciência e colaboração na tabulação dos
dados estatísticos;
Aos Professores do curso de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional,
pelo aprendizado;
Aos Professores membros da banca examinadora que aceitaram participar da
avaliação deste estudo.
À secretária Marli, pela atenção;
Aos colegas de turma, pelo apoio durante o curso;
Ao diretor do Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura de Taubaté, que
autorizou a realização da pesquisa;
Aos diretores de escolas, que permitiram a aplicação da pesquisa;
Ao professores do ensino fundamental, pela contribuição e participação nesta
pesquisa.
Um tempo para ser feliz
Dê um tempo para trabalhar, este é o preço do sucesso.
Dê um tempo para pensar, esta é a fonte do poder.
Dê um tempo para brincar, este é o segredo da juventude.
Dê um tempo para ler, esta é a base do conhecimento.
um tempo para desfrutar entre os seus entes queridos, esta é a fonte da
felicidade.
Dê um tempo para amar, este é o sacramento da vida.
Dê um tempo para sonhar, por ele a alma estará perto das estrelas.
Dê um tempo para rir, assim os problemas serão mais leves.
Dê um tempo para rezar, e encontrará a paz em seu coração.
um tempo para planejar porque o planejamento é o segredo para conseguir todo
o tempo para tudo o que foi dito antes.
(Extraído do Noti-GM do México-nº19)
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo identificar o estresse e as estratégias de
enfrentamento utilizadas por professores do ensino fundamental na cidade de
Taubaté. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória, descritiva com abordagem
quantitativa. Para a coleta de dados foi utilizada a Escala de Toulousaine (ETS) para
o Estresse, e a Escala de Toulousaine de Enfrentamento Coping (ET) na
identificação das formas de enfrentamento (coping). Os dados foram tabulados e
tratados por meio do SPHINX Software SPHINX. A amostra foi composta de 312
professores do ensino fundamental. Na amostra pesquisada predominou sujeitos do
sexo feminino (78,21%) e da faixa etária de 30 a 40 anos (43,27%). Outras
características observadas foram: 66,67% são casados, 92,95% possuem nível
superior, 42,31% estão na profissão de 2 a 5 anos, 51,60% não praticam esporte e
90,71% não possuem o hábito de fumar. Os resultados obtidos mostram a
predominância do estresse global, físico e psicológico. Quanto às estratégias de
enfrentamento verificou-se que a maioria dos sujeitos utiliza como estratégia de
enfrentamento o controle e a recusa.
Palavras-chave: Estresse. Estratégia de Enfrentamento. Professor.
1
ABSTRACT
This study aimed to identify the stress and the coping strategies used by teachers of
elementary schools in the city of Taubaté. This is a research-type exploratory,
descriptive with quantitative approach. For data collection was used to scale
Toulousaine (ETS) for the Stress and Coping Scale of Toulousaine - Coping (ET) to
identify ways of coping (coping). Data were tabulated and processed by the Sphinx
Sphinx Software. The sample consisted of 312 teachers of basic education.
Predominated in the sample of female subjects (78.21%) and aged 30 to 40 years
(43.27%). Other features were: 66.67% are married, 92.95% have a higher level,
42.31% are in the profession from 2 to 5 years, 51.60% did not practice sports and
90.71% do not have the habit of smoking. The results show the overall prevalence of
stress, physical and psychological. Regarding coping strategies, it was found that
most subjects used as a coping strategy for the control and denial.
Keywords: Stress. Coping Strategy. Teacher.
0
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Fases do Estresse...................................................................................21
Figura 02 – Modelo Demanda-Controle de Karasek..................................................41
Figura 03 – Modelo de Processamento de estresse e coping de Lazarus e Folkman
(1984).........................................................................................................................52
Figura 04 – Distribuição dos sujeitos quanto ao sexo..............................................104
Figura 05 – Distribuição dos sujeitos quanto à idade...............................................106
Figura 06 – Distribuição dos sujeitos quanto ao estado civil....................................107
Figura 07 – Distribuição dos sujeitos quanto à escolaridade...................................108
Figura 08 – Distribuição dos sujeitos quanto ao tempo de trabalho.........................109
Figura 09 – Distribuição dos sujeitos quanto à prática de esporte...........................109
Figura 10 – Distribuição dos sujeitos quanto ao hábito de fumar.............................110
Figura 11 – Representação do estresse físico.........................................................112
Figura 12 – Representação do estresse psicológico...............................................113
Figura 13 – Representação do estresse psico-fisiológico........................................116
Figura 14 – Representação do estresse de temporalidade....................................118
Figura 15 – Representação do estresse global........................................................120
Figura 16 – Representação da estratégia de controle.............................................122
Figura 17 – Representação da estratégia de apoio social.......................................124
Figura 18 – Representação da estratégia de isolamento.........................................125
Figura 19 – Representação da estratégia de recusa...............................................127
0
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Comparação dos modelos teóricos do estresse...................................23
Quadro 02 – Demonstrativo de Eustress e Distress..................................................25
Quadro 03 – Principais sintomas da fase de alerta...................................................33
Quadro 04 – Principais sintomas da fase de resistência...........................................34
Quadro 05 – Principais sintomas da fase de exaustão .............................................35
Quadro 06 – Trabalhos acadêmicos sobre estresse e estratégia de enfrentamento
apresentados na Universidade de Taubaté................................................................57
Quadro 07 – Reduzindo ou aumentando o estresse do professor.............................78
Quadro 08 – Demonstrativo para questões que identificam as manifestações do
estresse......................................................................................................................96
Quadro 09 – Demonstrativo das questões para identificação das estratégias de
enfrentamento............................................................................................................97
Quadro 10 – Demonstrativo da construção teórica da escala de estratégias de
enfrentamento............................................................................................................97
Quadro 11 – Processo de enfrentamento nas situações de estresse.....................100
Quadro 12 – Demonstrativo da pontuação para a escala de estresse....................111
Quadro 13 – Demonstrativo da pontuação para as estratégias de enfrentamento 121
0
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Medida de coerência Interna................................................................101
Tabela 02 – Escores médios para as diferentes dimensões do estresse................101
Tabela 03 – Escores médios para as diferentes estratégias de enfrentamento......102
Tabela 04 – Médias obtidas da amostra da pesquisa.............................................121
Tabela 05 – Característica da amostra da pesquisa para estratégia de
enfrentamento..........................................................................................................128
Tabela 06 – Sexo X Estresse...................................................................................128
Tabela 07 – Sexo X Enfrentamento.........................................................................129
Tabela 08 – Tempo de trabalho X Estresse.............................................................131
Tabela 09 – Tempo de trabalho X Enfrentamento...................................................132
Tabela 10 – Fumante X Enfrentamento...................................................................134
0
LISTA DE SIGLAS
ETC – Escala de Toulousaine de Enfrentamento
ETS – Escala Toulousaine de Stress
UNITAU – Universidade de Tauba
UTI – Unidade de Tratamento Intensivo
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................14
1.1 Problema..............................................................................................................16
1.2 Objetivos..............................................................................................................17
1.2.1 Objetivo Geral...................................................................................................17
1.2.2 Objetivos Específicos........................................................................................17
1.3 Delimitação do Estudo.........................................................................................17
1.4 Relevância do Estudo..........................................................................................18
1.5 Organização da Dissertação................................................................................19
2 ESTRESSE: evolução histórica............................................................................20
2.1 Definição de estresse...........................................................................................20
2.2 Causas do estresse.............................................................................................27
2.3 As fases do estresse............................................................................................32
2.4 Estresse ocupacional...........................................................................................35
3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO(COPING)..............................................49
4 O TRABALHO.......................................................................................................63
4.1 O trabalho docente...............................................................................................65
4.2 O estresse ocupacional em professores..............................................................76
5 MÉTODO................................................................................................................93
5.1 Tipo de Pesquisa.................................................................................................93
5.2 População e amostra...........................................................................................93
5.3 Instrumentos........................................................................................................94
5.4 Descrição da escala de estresse.........................................................................95
5.5 Descrição da escala de estratégias de enfrentamento........................................96
5.6 Procedimento para coleta de dados...................................................................102
5.7 Procedimentos para a Análise dos Dados.........................................................102
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................104
6.1 Perfil sóciodemográfico dos sujeitos..................................................................104
6.2 Dados de Estresse e Estratégias de Enfrentamento.........................................111
6.2.1 Estresse..........................................................................................................111
6.2.2 Manifestações Físicas do Estresse.................................................................111
6.2.3 Estresse psicológico........................................................................................113
6.2.4 Estresse psico-fisiológico................................................................................116
16
6.2.5 Estresse de temporalidade..............................................................................118
6.2.6 Estresse global................................................................................................119
6.3 Enfrentamento....................................................................................................121
6.3.1 Controle...........................................................................................................122
6.3.2 Apoio social.....................................................................................................123
6.3.3 Isolamento.......................................................................................................125
6.3.4 Recusa ...........................................................................................................127
6.3.5 Análises bi-dimensionais.................................................................................128
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................135
REFERÊNCIAS........................................................................................................138
Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Institucional...............146
Apêndice B– Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...................................148
ANEXO A -Declaração Comissão de Ética .............................................................149
14
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Lipp (2000), o estresse é entendido como um conjunto de
mudanças físicas, psicológicas e químicas no organismo, desencadeadas pelo
cérebro, que causa uma diversidade de respostas à saúde do homem.
Socialmente o homem esinserido em um sistema acumulador de todo tipo
de tensão que o torna vulnerável a alterações físico-psicológicas próprias do estado
de estresse.
O reflexo da situação estressante vivida não se apenas em nível pessoal,
como angústia, impaciência, irritabilidade, insatisfação, baixa-estima, perda de
interesse sexual, desânimo, mas influencia também na produtividade no âmbito
profissional.
Segundo França e Rodrigues (2002) estresse também tem seu lado positivo,
quando é usado de forma que impulsione o indivíduo a desenvolver seus objetivos
ou quando mobiliza recursos que possibilitam à pessoa enfrentar situações que são
percebidas como difíceis e que exigem esforço.
Em todo momento, o homem realiza processos de adaptação, tentando se
ajustar às mais diferentes exigências, sejam do ambiente externo, sejam do mundo
interno.
Por meio de estratégias de enfrentamento que é tido como conjunto de
esforços para manejar ou lidar com situações externas e internas, o homem pode
manter-se em equilíbrio, melhorando suas condições de convivência tornando-as
menos estressantes.
Segundo Lipp e Malagris (2001), ambiente de trabalho pode ser um dos
fatores causadores de estresse devido às exigências e pressões, que são impostas
15
ao indivíduo. O estresse ocupacional pode gerar impactos para o próprio trabalho do
indivíduo e para todas as outras áreas de sua vida.
Como qualquer ambiente profissional, a escola também é um ambiente muito
estressante. Os problemas relacionados à educação são complexos, os professores
vivem numa rotina de pressões e esgotamento físico e mental, estando, portanto,
propensos a desenvolver o estresse ocupacional. As longas jornadas de trabalho, os
baixos salários, o sentimento de desqualificação, o conflito entre trabalho e família,
podem ser os motivos mais freqüentes para o desenvolvimento do estresse. Todos
esses comprometimentos biopsicossociais podem resultar em baixo nível de
motivação e de auto-estima e sensação de insegurança (LIPP, 2006).
Em algumas escolas estabelece-se uma relação heterogênea geradora de
tensões entre professores, professores e alunos, alunos e funcionários, entre todos
esses segmentos o diretor e a escola como um todo e a comunidade. (LUCCHESI,
2003).
É fundamental que os dirigentes da escola tenham humildade de reconhecer
o valor e a razão dos que trabalham na escola, tratando-os não como subordinados
mas como parceiros. Dessa maneira, obtém-se uma escola autônoma e organizada,
com um projeto pedagógico viável (LUCCHESI, 2003).
Os efeitos nocivos do estresse sobre a saúde podem ser provenientes do
nível muito alto de demanda e estimulação ambiental. Diante do estresse
ocupacional, o indivíduo pode reagir com uso de drogas, a fim de aliviar a ansiedade
e depressão, o que faz agravar o problema. Conseqüentemente, as áreas afetiva e
social, bem como relacionada à saúde, debilitam-se contagiadas pelo estresse no
trabalho (LIPP; MALAGRIS, 2001).
16
Em qualquer organização, inclusive nas escolas, é importante gerenciar o
estresse quando se pretende ter produtividade e satisfação. O clima organizacional
deve ser favorável para que o nível de tensão, exigências contínuas e outros
estressores não se tornem tão prejudicial ao organismo (WITTER, 2003).
A importância desta pesquisa será por identificar as manifestações do
estresse e quais as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos professores do
ensino fundamental categoria profissional que atua junto às instituições escolares, e
que no seu dia-a-dia enfrenta situações de tensões no ambiente de trabalho.
1.1 Problema
No ambiente de trabalho, vários fatores podem desencadear o estresse. A
sobrecarga, conflito de funções, baixa participação no trabalho, más relações
interpessoais, desorganização no ambiente ocupacional, a sensação de insegurança
e pressão por eficiência (BALLONE, 2005).
Não é possível eliminar todos esses fatores, mas é importante reconhecê-los
e saber lidar com eles, porque o estresse diminui a produtividade e contribui para o
aparecimento de doenças que podem afastar o indivíduo de suas atividades.
Com base nessa realidade, identificou-se a necessidade de se investigar o
estresse em professores do ensino fundamental de acordo com o seguinte
problema: como ocorrem as manifestações de estresse, e quais estratégias de
enfrentamento são utilizadas por professores, para ajudar a superar o estresse?
17
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo deste trabalho é identificar o nível de estresse em professores, as
causas e manifestações e quais estratégias de enfrentamento eles utilizam para
amenizar os problemas que podem ocorrer em sua rotina de trabalho.
1.2.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos são:
1. caracterizar a amostra pesquisada por meio dos dados sócio-
demográficos;
2. identificar o estresse e suas manifestações físico, psíquico, psicofisiológico
e de temporalidade nos professores de ensino fundamental; e
3. identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos professores de
ensino fundamental.
1.3 Delimitação do Estudo
Este estudo visou desenvolver uma pesquisa sobre estresse em professores
do ensino fundamental em exercício profissional na região de Taubaté, após a
18
devida autorização do responsável pelo Departamento de Educação e Cultura da
Prefeitura de Taubaté, São Paulo.
No mundo contemporâneo, exigem-se muitas adaptações do homem no
campo profissional, principalmente aqueles que vivem e lidam com situações
inesperadas que podem ser causadoras de estresse.
A pesquisa sobre o estresse e estratégias de enfrentamento em professores
surgiu pelo interesse de investigar como esses profissionais lidam com situações
tidas como geradoras de estresse e como eles enfrentam essas situações.
1.4 Relevância do Estudo
O estresse no trabalho é definido como reações físicas e emocionais que
ocorrem quando as exigências excedem as capacidades do empregado
(INOCENTE, 2007).
O indivíduo tenta fazer o seu melhor, exigindo cada vez mais de si, indo, com
isso, além de suas limitações. Diante dessa realidade, é importante que o homem
esteja consciente dos fatos que podem levá-lo ao estresse e, assim, prevenir suas
causas e conseqüências.
Os professores lidam com situações inesperadas no trabalho como a falta de
projetos de educação continuada, a indisciplina dos alunos, os conflitos com
superiores e normas, a infra-estrutura inadequada, a desvalorização profissional, os
baixos salários e as situações que fogem de seu controle e preparo (MELEIRO,
2006).
Todas essas situações podem levar os professores a impactos internos
causadores de vários problemas de saúde. Essa dificuldade em lidar com o externo
19
pode causar o estresse ocupacional que, na medida em que altera seu
comportamento e seu modo de vida, traz o desequilíbrio mental e físico. Dentre
esses desequilíbrios estão: depressão, ansiedade, irritabilidade e doenças do
coração, como: hipertensão arterial e aumento das secreções gástricas (FRANÇA;
RODRIGUES, 2002).
A importância desta pesquisa está no fato de ressaltar informações sobre o
estresse e as estratégias de enfrentamento por professores do ensino fundamental,
esclarecendo como esses profissionais lidam com as situações geradoras de
estresse e como utilizam o processo de enfrentamento para amenizar os efeitos
desgastantes do estresse.
1.5 Organização da Dissertação
Este trabalho está composto por sete capítulos. Para a organização da
pesquisa, será apresentada, no primeiro capítulo, a Introdução, em que se
encontram definidos: o problema, os objetivos gerais e específicos, a delimitação, a
relevância do estudo e sua organização. No capítulo dois, serão abordados os
temas: Estresse evolução histórica, conceitos, causas, fases e Estresse
Ocupacional. No capítulo três, desenvolver-se-á a parte teórica referente às
Estratégias de enfrentamento e modelo de enfrentamento. No capítulo quatro, serão
abordados os temas sobre Trabalho, O Trabalho docente e o Estresse ocupacional
em professores. Posteriormente, no capítulo cinco, será desenvolvida a Metodologia.
No capítulo seis, apresentar-se-ão os Resultados e a Discussão e, por fim, no
capítulo sete, as Considerações finais.
20
2 ESTRESSE: EVOLUÇÃO HISTÓRICA
2.1 Definição de estresse
O estresse pode ser resultado, em grande parte, pelo ritmo acelerado da vida
moderna e pelos desafios crescentes de um mundo cada vez mais hostil e
competitivo. À medida que o mundo se torna mais complexo e sofisticado e as
mudanças no dia-a-dia ocorrem com mais freqüência e velocidade, maior é a
pressão a que os homens são submetidos.
Foi durante o século XVII que o termo stress, de origem latina, foi utilizado
para descrever o fenômeno composto de tensão-angústia-desconforto. No século
seguinte, houve uma mudança de enfoque e a palavra passou a ser utilizada para
expressar a ação de força, pressão ou influência muito forte sobre uma pessoa,
causando-lhe uma deformação. Os estudos sobre estresse ainda continuaram e foi
durante o século XIX que começaram a ser feitas especulações sobre a possível
relação entre doenças físicas e mentais. Contudo, foi no século XX que William
Osler, médico inglês igualou o termo stress (eventos estressantes) com trabalho
excessivo e o termo strain (reação do organismo ao stress) com preocupação. As
observações de Osler não receberam tanta atenção da área médica como a de Hans
Selye, estudante de medicina, que ficou fascinado pelo estudo de estresse (LIPP;
MALAGRIS, 2001).
Em 1926, por meio de observações que fazia em pacientes que sofriam de
várias patologias, Hans Selye utilizou o termo estresse pela primeira vez, na área da
21
saúde. Selye designou então que estresse era um conjunto de reações não
específicas (LIPP; MALAGRIS,1995).
Dez anos mais tarde, em 1936, Selye definiu a reação do estresse como uma
Síndrome Geral de Adaptação (SGA) que consiste de três fases: 1ª fase de alerta, 2ª
fase de resistência e 3ª fase de exaustão (SELYE, 1965), como apresenta a Figura
01.
Figura 01 Fases do Estresse
Fonte: Selye, 1965, p. 61
A principal ação do estresse é a quebra do equilíbrio interno que ocorre
devido à ação exarcebada do sistema nervoso simpático e a desaceleração do
sistema nervoso parassimpático, em momentos de tensão. O problema ocorre
quando a tensão muscular é excessiva, quando acontece em situações, como uma
reunião ou momentos de estresse interpessoal, quando não haveria necessidade
(LIPP; MALAGRIS, 1995).
Assim sendo, quando o organismo tenta a manter o equilíbrio a fim de
preservar a sua existência, ocorre o que chamamos de homeostase (LIPP;
MALAGRIS 1995).
Em 1974, ainda buscando uma definição, Selye redefiniu o estresse como
uma resposta não-específica do corpo a qualquer exigência (SELYE, 1965).
NÍVEL DE
ADAPTAÇÃO
NORMAL
REAÇÃO DE
ALARME
FASE DE
RESISTÊNCIA
FASE DE
ESGOTAMENTO
22
Para Lipp (1995) o estresse é entendido como uma reação do organismo,
com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações
psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa confronta com situações que a
amedronte, excite ou confunda.
A resposta do estresse deve ser entendida como um processo, pois, no
momento em que se inicia, um longo processo bioquímico se instala. O início se
manifesta de modo semelhante em todas as pessoas, com aparecimento de
taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a sensação de estar
em alerta. O estresse pode ou não levar a um desgaste geral do organismo
dependendo da sua intensidade, da vulnerabilidade do indivíduo e da habilidade
desse indivíduo para administrar o estresse. O desgaste ocorre quando a
homeostase do organismo é perturbada por longos períodos (LIPP; MALAGRIS,
1995).
Após vários anos de pesquisa, Lipp (2004) acrescentou uma 4ª fase ao
modelo trifásico de Selye, chamando-a de fase de quase-exaustão e denominando o
modelo de quadrifásico do estresse. Nesse modelo, a nova fase localiza-se entre a
fase de resistência e a fase de exaustão. Nessa 4ª fase, a resistência física e
emocional do sujeito se torna um pouco mais frágil; o indivíduo ainda consegue
manter suas atividades profissionais, consegue pensar lucidamente, tomar decisões,
porém tudo isso ocorre com esforço, porque os momentos do funcionamento normal
do organismo se intercalam com os momentos de grande desconforto. O cortisol é
produzido em maior quantidade, dando início ao efeito negativo de destruição das
defesas imunológicas e, conseqüentemente, as doenças começam a aparecer.
muita ansiedade nessa fase.
23
Dessa forma Lipp (2004), ampliou o modelo trifásico, proposto por Selye
(1965), para um modelo quadrifásico, como apresenta o Quadro 01.
Modelo Trifásico - Selye (1965) Modelo Quadrifásico - Lipp (2004)
Estágios Fases
Alarme/Alerta Alerta
Resistência Resistência
Quase-Exaustão
Exaustão Exaustão
Quadro 01 Comparação dos modelos teóricos do estresse
Fonte: SANTOS, 2007 p. 41
Nesta pesquisa não se pretende usar o modelo de Lipp (2004) para explicar
os resultados da pesquisa, e sim, mostrar que existem pesquisadores interessados
em ampliar e buscar novos conhecimentos, além das pesquisas feitas por Selye.
Contudo, Ballone (2005), descreve que o ser humano começou a padecer de
estresse excessivo depois da Revolução Industrial. Durante uns quarenta anos do
século XX, o êxodo rural levou milhões de pessoas a trocar a vida do campo pela
agitação das cidades, com suas características competitivas, agressão urbana,
desafios profissionais e de sobrevivência. Para o autor, o que a vida passou a exigir
das pessoas tem sido maior que o desenvolvimento da capacidade neurofisiológica
de adaptação, resultando nas dificuldades em conciliar as necessidades adaptativas
da vida social e recursos orgânicos.
Em se tratando de mudanças de ambiente os autores Lazarus e Folkman
(1984) citam o estresse como uma relação particular entre a pessoa e o ambiente
em que se relaciona, sendo avaliado por ela como ameaçador ou que excede seus
recursos pessoais. O que define estresse é a percepção da pessoa sobre a
24
situação, percepção que envolve o processo psicológico, bem como medo, ameaças
e desafios.
Para França e Rodrigues (2002), o estresse é definido como uma mudança
que uma estrutura sofre quando é submetida a um esforço. Estar estressado, então,
é um estado do organismo, após esforço de adaptação, que pode produzir
mudanças na capacidade de resposta. A resposta de estresse é ativada pelo
organismo, com o objetivo de mobilizar recursos que possibilitem às pessoas o
enfrentamento das situações que são percebidas como difíceis e que exigem
esforços.
Como descreve Ballone (2005), do ponto de vista pessoal, as mudanças
ocorrem continuamente e o indivíduo tem sempre que se adaptar a elas. Nesses
casos, o estresse funciona como um mecanismo de sobrevivência e adaptação,
necessário para estimular o organismo e melhorar sua atuação diante de situações
novas.
Dessa forma, os autores França e Rodrigues (2002) concordam e descrevem
que, a todo instante, estamos fazendo movimentos de adaptação, ou seja, tentativa
de nos ajustarmos às mais diferentes exigências, seja do ambiente externo, seja do
ambiente interno, por meio de idéias, sentimentos, desejos, expectativas e imagens.
O operário que trabalha em um ambiente barulhento e perigoso para sua
integridade, o executivo que luta para cumprir os prazos, a mãe que se preocupa
com seu filho, todos apresentam uma situação comum, estão sob estresse, ou seja,
aquele denominador comum de todas as reações de adaptação de um organismo.
Se de um lado temos situações que podem desencadear o estresse e que se
denominam estímulo estressor, de outro temos a resposta ou processo de estresse.
Se a resposta é negativa, desencadeia-se um processo adaptativo inadequado,
25
podendo gerar inclusive doenças, que é chamado de distress; se a pessoa reage
bem à demanda, o processo é chamado de eustress. Distress é o excesso de tensão
que leva o organismo a deformações em suas reações de adaptação. O distress
equivale às fases de resistência e exaustão na síndrome geral de adaptação,
conceituada por Selye. No eustress estresse positivo –, o esforço de adaptação
gera sensação de realização pessoal, bem-estar e satisfação das necessidades,
mesmo que decorrente de esforços inesperados. É um esforço sadio na garantia de
sobrevivência. Quando fazemos algo agradável e nos sentimos valorizados pelo
esforço despendido, estamos em eustress (LIPP; MALAGRIS, 2001).
França e Rodrigues (2002) ainda explicam que o estresse pode ser
observado em duas dimensões: como processo e como estado. O estresse como
processo é a tensão diante de uma situação de desafio: por ameaça ou conquista. O
estresse como estado é resultado positivo (eustress) ou negativo (distress) da
tensão realizada pela pessoa. O Quadro 02 demonstra o eutress e o distress.
Eustress e Distress
Eustress: tensão com equilíbrio entre esforço, tempo, realização e resultados.
Distress: tensão com rompimento do equilíbrio biopsicossocial, por excesso ou falta
de esforço, incompatível com tempo, resultados e realização.
Quadro 02 Demonstrativo de Eustress e Distress
Fonte: França; Rodrigues, 2002, p. 41
Para Molina (1996), o estresse é considerado uma tensão ou pressão gerada
por uma situação estressante ou por estressor ocasional ou do cotidiano. O
estressor significa um evento, agente ou situação que produz uma resposta
patofisiológica ou psicofisiológica (resposta interna gerada durante o confronto com
a situação estressante liberação de adrenalina, cortisol, ACTH (hormônio
26
adenocorticotrófico), retenção de líquidos e tensão muscular) no indivíduo. A
situação estressante é o conjunto de situações, como o ambiente, indivíduo ou
fatores que induzem força, tensão ou pressão. Já a adaptação é o esforço do
organismo e do indivíduo para se acomodar a uma situação que gera frustração e
desconforto.
Molina (1996) ainda descreve que, além de um significado proveniente da
física, o estresse também pode ser empregado como um termo que designa algum
aborrecimento. Tanto o agente estressor, como seus efeitos sobre o indivíduo
podem ser descritos como situações desagradáveis que provocam dor, sofrimento e
desprazer.
De acordo com Inocente (2007), estresse pode ser entendido como um
estímulo, quando é capaz de provocar uma reação de estresse; como resposta
quando produz mudanças fisiológicas, e, emocionais e comportamentais e como
interação, que está entre características do estímulo e os recursos do indivíduo.
Para Ballone (2005), o estresse é uma resposta fisiológica e comportamental
de um indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a estímulos internos e
externos. Como a energia para adaptação é limitada, se houver persistência do
estímulo estressor, o organismo entrará em uma fase de esgotamento.
Uma dose baixa de estresse é normal, pois trata-se de uma ocorrência
indispensável para a saúde e para a capacidade produtiva. As características desse
estresse positivo são: aumento da vitalidade, otimismo, disposição física e interesse.
Por outro lado, o estresse exagerado, considerado patológico, pode ter
conseqüências danosas, como cansaço, irritabilidade, falta de concentração,
depressão, pessimismo, queda da resistência imunológica e mau-humor (BALLONE,
2005).
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Molina (1996) concorda com Ballone quando descreve que o estresse é uma
maneira de desgastar o indivíduo e que se pode adaptar a essa situação. Para ele, o
estresse, quando relacionado ao desgaste que o organismo sofre progressivamente,
indica que parte do desgaste natural do organismo pode estar associada tanto com
o envelhecimento e atrofia celular natural, como a exposições de situações,
momentos estressantes, aos quais o indivíduo necessita adaptar-se.
Nesta seção, foram descritos os conceitos de estresse e sua evolução sob a
perspectiva de vários autores, sendo que, em sua maioria, concordam que o
estresse causa danos à saúde, danos esses caracterizados como físicos e
psicológicos. Para esclarecer um pouco mais sobre o estresse, serão descritas, na
próxima seção, as causas do estresse.
2.2 Causas do estresse
Lipp (2000) classifica os estressores em externos e internos. Os estressores
externos são eventos ou condições externas que afetam o organismo, eles
independem das características ou comportamento da pessoa, como, por exemplo, a
profissão, a falta de dinheiro, brigas, assalto; os estressores internos são
determinados pelo próprio indivíduo, caracterizam-se pelo modo de ser da pessoa
se ela é ansiosa, tímida ou depressiva – e está muito ligada às crenças e valores de
cada um.
De acordo com França e Rodrigues (2005), existem fatores tanto pessoais
como ambientais que levam uma pessoa ao estresse. Quanto aos fatores pessoais
ou individuais, geralmente, são divididos em compromissos e em crenças.
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O compromisso, segundo França e Rodrigues (2005), ocorre quando
acontece um fato que leva a pessoa a dar muita importância, ou seja, a pessoa acha
o compromisso algo extremamente importante e que nada pode interferir para que
ela não o cumpra. França e Rodrigues (2005) explicam que, quanto maior for o
comprometimento da pessoa com o que está acontecendo, maior também se o
seu compromisso e isso poderá influenciar no processo de avaliação do estresse.
Como exemplo, tem-se o investimento da pessoa em uma determinada tarefa, pois
seu desempenho nessa situação pode ser importante para uma promoção e seu
desenvolvimento na empresa ou na profissão. Isso pode ter menor ou maior
potencial de ameaça ou de desafio, dependendo do compromisso que a pessoa
estabelecer com ela. Para França e Rodrigues (2002, p. 44) o que pode acontecer
com essa pessoa é que, quando a intensidade do compromisso é grande, a
vulnerabilidade da pessoa pode, por um lado, aumentar, e, por outro, servir de
impulso, ajudando-a a desenvolver recursos para fazer frente aos obstáculos.
As crenças são convicções; são premissas nas quais as pessoas devotam
suas vidas, nas mais diferentes circunstâncias da realidade. Segundo os autores
França e Rodrigues (2002), as crenças surgem ou estão presentes na vida de uma
pessoa, em relação à determinada situação, antes mesmo de essa situação
acontecer, influenciando na percepção dessa pessoa em relação à situação em que
está vivendo. Porém, muitas vezes, as pessoas nem mesmo se dão conta de que
estão sendo influenciadas por crenças e sempre discutem sobre algo, sem se dar
conta da sua crença, do que elas acreditam. Com isso, o estresse pode surgir, uma
vez que as discussões entre crenças distintas certamente geram impasses,
ocasionando o estresse em ambas as partes (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
29
Lipp (2000) acrescenta sobre as crenças que elas são um dos fatores mais
poderosos do ser humano, porque é aquilo que a pessoa acredita ser: as crenças
são como um princípio orientador, convicção ou fé, que dão significado e direção em
nossa vida. Para a autora existem dois tipos de crença: as crenças racionais e as
crenças irracionais. As crenças racionais são fortalecedoras e dão, às pessoas,
condições de analisar realisticamente os problemas e encontrar soluções ou
adaptar-se e aceitar uma situação problemática. Essa crença proporciona condições
básicas para a pessoa enfrentar o estresse, resolver seus problemas e tolerar
frustrações. As crenças irracionais são uma maneira distorcida de julgar as situações
e estão ligadas a uma tendência da pessoa de julgar negativamente a si mesma, o
mundo e as pessoas. As crenças irracionais são limitadoras do desenvolvimento
humano, pois geram frustrações, ansiedade e estresse. O ambiente pode ser um
determinante, podendo favorecer a construção de uma crença irracional que,
somada ás experiências e ao conhecimento adquiridos, estrutura o complexo
comportamento humano.
Quanto aos fatores ambientais que influenciam e provocam o estresse,
França e Rodrigues (2002) citam Holmes e Rahe (1967), pesquisadores tradicionais
do problema do estresse, os quais também, ao longo de vários estudos,
desenvolveram uma escala de fatores ambientais que podem levar um indivíduo ao
estresse (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
Essa escala de Holmes e Rahe (1967) está organizada em quarenta classes
de problemas que o homem contemporâneo enfrenta, entre os quais os que
apresentam maior grau de estresse são: a morte do cônjuge; o divórcio; a separação
conjugal; a pena de prisão; a morte de familiar próximo; a doença pessoal ou
acidente; o casamento; a demissão do emprego; a reconciliação conjugal; a
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aposentadoria; o comprometimento de saúde em membro da família; a gravidez; as
dificuldades sexuais; o aumento da família; a mudança importante no trabalho, a
mudança na condição financeira; a morte de amigo íntimo, a mudança de ritmo ou
de área de trabalho, o aumento das discussões com o cônjuge, entre outros
(FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
Embora as variações individuais sejam elementos importantes para um
acontecimento de estresse, o componente situacional, segundo França e Rodrigues
(2002), não deve ser totalmente ignorado. Nesse sentido, vale a pena apresentar
alguns aspectos do cotidiano que causam o estresse.
Entre os aspectos do cotidiano que causam o estresse estão: a novidade de
situação, a possibilidade de predizer o acontecimento, a incerteza do acontecimento,
a iminência do acontecimento, a duração do episódio estressante, a incerteza sobre
quando vai acontecer o evento e a ambigüidade.
Quanto à iminência do acontecimento, se refere ao tempo em que este
antecede, a algo que está preste a acontecer. Assim, geralmente, quanto mais perto
está o tempo de ocorrer determinado evento, maior serão as chances do impacto do
estresse no processo de avaliação. Como exemplo, os autores apresentam o
cotidiano da vida de um executivo empresarial, nas avaliações anuais de
funcionários, nas ocorrências e licitações, entre outros. Também acontece quando
uma decisão precisa ser rápida, e o indivíduo tem pouco tempo para avaliar as
condições da decisão, o que pode afetar as conseqüências dessa decisão
(FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
Quando a duração do episódio estressante, segundo França e Rodrigues
(2002), é longa, as conseqüências ao organismo da pessoa também podem ser mais
intensas, podendo provocar ainda um desgaste progressivo do organismo e, às
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vezes, um esgotamento, comprometendo, evidentemente, o desempenho
profissional da pessoa.
A incerteza sobre quando irá acontecer o evento estressante está
estreitamente relacionada com a idéia de desconhecimento e de iminência temporal
do acontecimento. Como exemplo claro a esse aspecto, os autores declaram o aviso
dados aos funcionários de uma empresa que haverá um corte de pessoal, mas não
informa necessariamente quando será esse corte.
A ambigüidade, por fim, se relaciona com todos os acontecimentos da vida
cotidiana, portanto, com as situações de que a pessoa não dispõe de informações
suficientes para tirar alguma conclusão adequada de determinado acontecimento,
surgindo dúvidas sobre como e quando atuar no acontecimento em questão. Assim,
de acordo com França e Rodrigues (2002), quanto maior for a ambigüidade, maior
também será a dificuldade em decidir, tendo como base os aspectos da
personalidade e não dos fatos exatos ou da realidade da pessoa.
Cooper (1996) acrescenta que o estresse é causado por múltiplas demandas.
Pode ser por uma inadequação entre o que o ambiente exige e a capacidade do
indivíduo de realizar tal atividade ou por vários conflitos, como dificuldades de
relacionamento e doenças. O estresse pode causar mudanças no comportamento, o
indivíduo pode apresentar certa agressividade, ter comportamentos anti-sociais, e
até cometer suicídio. O estresse pode desenvolver também reações fisiológicas,
como tensão muscular, doenças cardíacas ou estomacais. as mudanças
psicológicas incluem a depressão, apatia e alienação.
Cooper (1996) ainda explica que o estresse não depende somente das
situações em que os indivíduos são expostos, mas de como ele lida com essas
32
situações. Para esse autor, são as percepções que determinam se algo é
estressante ou não.
Nesta seção foi destacado que as causas mais comuns do estresse estão
relacionadas a fatores internos e externos de cada indivíduo. Dependendo de como
a pessoa reage, o estresse pode ser prejudicial à sua saúde. Na próxima seção,
serão descritas as fases do estresse, pelas quais se pode compreender como o
estresse se desenvolve e quais as conseqüências de cada uma no organismo.
2.3 As fases do estresse
De acordo com Selye (1965) o estresse é composto por três fases que são
descritas a seguir:
Fase de alerta quando uma pessoa se confronta com um estressor, uma
reação de alerta se instala e o organismo se prepara para a “luta ou fuga”. Se for de
duração curta, essa sensação de alerta termina algumas horas após o fim da
situação; assim, o organismo se restabelece e nenhum dano ocorre. Nesta fase a
produtividade aumenta e, se o indivíduo souber usá-la ao seu favor, esse estágio
produzirá energia, entusiasmo e motivação para enfrentar as situações. O Quadro
03 ilustra os principais sintomas da fase de alerta.
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Principais Sintomas - Reação de Alerta
Aumento da freqüência cardíaca
Aumento da pressão arterial
Aumento da concentração de glóbulos vermelhos
Aumento da concentração de açúcar no sangue
Redistribuição do sangue
Aumento da freqüência respiratória
Dilatação dos brônquios
Dilatação da pupila
Aumento da concentração de glóbulos brancos
Ansiedade
Quadro 03 Principais sintomas da fase de alerta
Fonte: França; Rodrigues, 2002, p. 37
Fase de resistência quando o estressor perdura ou é de uma intensidade
excessiva, o organismo tenta estabelecer o equilíbrio interno essa é a fase de
resistência. Nesta a pessoa utiliza toda energia adaptativa para se reequilibrar.
Alguns sintomas aparecem despercebidos como a sensação de desgaste
generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória. O organismo está
enfraquecido e suscetível a doenças, mas se a pessoa usar técnicas de controle o
estresse é eliminado, e ela volta ao normal. Quando o organismo está próximo do
fim da fase de resistência várias doenças começam a aparecer como: herpes
simplex, picos de hipertensão, retração de gengivas, gripes, sensação de estar
levitando e redução da libido.
Witter (1997) acrescenta que a fase de resistência surge quando a ação do
estressor é prolongada exigindo a adaptação do organismo. Diferentemente ao que
acontece na reação de alarme, há uma rarefação de sangue (diluição-sedimentação)
e anabolismo com retorno para a glicemia normal. Se o estresse persiste irão ocorrer
34
outras reações no organismo. O Quadro 04 mostra os principais da fase de
resistência.
Principais Sintomas - Reação de Resistência
Aumento do córtex da supra-renal
Ulcerações no aparelho digestivo
Irritabilidade
Insônia
Mudanças no humor
Diminuição do desejo sexual
Atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células do sangue
Quadro 04 Principais sintomas da fase de resistência
Fonte: França; Rodrigues, 2002, p. 38
Fase de exaustão o processo de estresse evolui; há um aumento das
estruturas linfáticas, exaustão psicológica em forma de depressão, as doenças
começam a aparecer e alguns casos até a morte. As doenças ocorrem com muita
freqüência, tanto na área psicológica, em forma de depressão, vontade de fugir de
tudo, irritabilidade; como na área física, na forma de hipertensão arterial, úlceras
gástricas, vitiligo e até diabetes. A doença que surge depende de fatores como raça,
idade, condição física e constituição genética.
O estágio de esgotamento desenvolve-se quando a ação do estressor, ao
qual o organismo se adaptou, permanece por um período longo, esgotando a
energia de adaptação (WITTER, 1997). O Quadro 05 mostra os principais sintomas
da fase de exaustão.
35
Principais Sintomas - EXAUSTÃO
Retorno parcial e breve à Reação de Alarme
Falha dos mecanismos de adaptação
Esgotamento por sobrecarga fisiológica
Morte do organismo
Quadro 05 Principais sintomas da fase de exaustão
Fonte: França; Rodrigues, 2002, p. 38
Nesta seção foram descritas as fases do estresse e como o organismo reage
a cada uma delas. Na próxima, será ser detalhado o estresse ocupacional resultante
de dificuldades encontradas no exercício profissional.
2.4 Estresse ocupacional
O estresse influencia a vida do ser humano, principalmente daqueles que
vivem uma vida agitada e que não dão tempo necessário ao corpo para o descanso
e o bem-estar.
Para França e Rodrigues (2002), o estresse relacionado ao trabalho é
definido como situações, em que a pessoa percebe o ambiente de trabalho como
ameaçador às suas necessidades e às realizações, pessoal e profissional, ou à sua
saúde física e mental, prejudicando a interação dessa pessoa com o trabalho e o
ambiente de trabalho. À medida que esse ambiente contém demandas excessivas a
essa pessoa e esta não consegue obter recursos adequados para enfrentar tais
situações, ela acaba adquirindo estresse.
O estresse no trabalho para Inocente (2007) é definido como reações físicas e
emocionais que ocorrem quando as exigências excedem as capacidades, os
recursos e as necessidades do trabalhador.
36
Inocente (2005) enfatiza que o estresse ocupacional ocorre devido à
exposição a fatores de riscos de natureza psicossocial e à organização do trabalho,
associados a fatores do ambiente. Os fatores que desencadeiam o estresse
ocupacional podem ser: alta exigência no trabalho, pouco apoio social dos gestores
e colegas e pouco controle.
Para Nunes (2006), o estresse ocupacional é formado por experiências
individuais, extremamente desagradáveis, associadas a sentimentos de hostilidade,
tensão, ansiedade, frustração e depressão, que são desencadeados por
estressores, no ambiente de trabalho.
O tipo de desgaste em que as pessoas estão submetidas nos ambientes e
relações com o trabalho são fatores determinantes de doenças. Os agentes
estressores psicossociais são tão potentes quanto os micro-organismos no
desencadeamento de doenças. O desgaste emocional nas relações como o trabalho
é um fator significativo na determinação de transtornos relacionados ao estresse,
como é o caso das depressões, ansiedade patológica, pânico, fobias e doenças
psicossomáticas. A pessoa com esse tipo de estresse ocupacional, o responde à
demanda do trabalho e geralmente se encontra irritável e deprimida (BALLONE,
2005).
Segundo Inocente (2007), as mudanças rápidas que ocorrem, devido à
internacionalização do trabalho, afetam a promoção da saúde no campo do trabalho.
O estresse é um problema de saúde pública que provoca reações perturbadoras do
equilíbrio no organismo, colocando em risco a sobrevivência biológica. Quando as
reações persistem durante um longo prazo, o resultado é a fadiga, prejudicando a
saúde geral do indivíduo e, como conseqüência, a saúde das organizações.
37
Na vida contemporânea, a ansiedade é, na maioria das vezes, dirigida para o
alvo errado; a raiva torna-se patológica. Repetidos ataques de ansiedade indicam
altos níveis de estresse. A preocupação constante, que causa problemas
gastrintestinais, é um exemplo de como a ansiedade e o estresse exacerbam
problemas clínicos. Os riscos para a saúde são maiores para aqueles que trabalham
sob intensa pressão: alta exigência de desempenho e pouca ou nenhuma
possibilidade de ter sob controle as tarefas exigidas (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
Ballone (2005) complementa que ambientes de trabalho onde o futuro se
mostra sombrio. Na presença de perspectivas pessimistas, a pessoa fica à mercê
dos efeitos ansiosos do cotidiano, sem esperanças e recompensas agradáveis. O
medo motiva para a ação durante um breve período de tempo, mas logo surge o
estado de esgotamento.
Sobre o funcionário, se a carga de trabalho excede à condição de resistência
do indivíduo, ela pode ser classificada em: quantitativa e qualitativa. A quantitativa
refere-se ao aumento excessivo na quantidade de trabalho e a qualitativa refere-se a
quando é exigida do empregado, maior qualidade em seu trabalho. Uma carga de
trabalho qualitativa grande quer dizer que o funcionário não é capaz de
desempenhar suas tarefas por elas serem muito difíceis. São constantes
preocupações, angústias, por não conseguir controlar a situação. O nível de tensão,
chega a extremos, provocando no funcionário um grande descontrole emocional
(FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
Os fatores intrapsíquicos (interiores) relacionados ao serviço contribuem para
a pessoa manter-se estressada, como é o caso da sensação de insegurança no
trabalho, sensação de insuficiência profissional, pressão para comprovação de
38
eficiência ou a impressão continuada de cometer erros profissionais (BALLONE,
2005).
Dessa forma, Nunes (2006) argumenta que os fatores contribuintes para a
manifestação do estresse ocupacional vão desde as características individuais de
cada trabalhador, envolvendo o estilo de relacionamento social no ambiente de
trabalho, o clima organizacional, até as condições gerais nas quais o trabalho é
exercido.
Um dos estudos atuais de França e Rodrigues (2002) sobre o estresse,
adverte que os Estados Unidos e a Europa contêm o maior número de pessoas
estressadas devido ao trabalho, principalmente pelo motivo da incapacitação para o
mesmo. Esse comportamento, segundo os autores, leva o indivíduo a pedir licença
do trabalho e as doenças que mais são causadoras desse fenômeno são as
cardiovasculares, a hipertensão, a úlcera péptica, as doenças inflamatórias
intestinais e até mesmo os distúrbios osteomusculares.
Por essa razão, a avaliação da presença do estresse ocupacional é algo
complicado, uma vez que a complexidade desse conceito tem levado à formulação
de uma multiplicidade de conceitos e de modelos de análise (FRANÇA;
RODRIGUES, 2002).
Em se tratando de multiplicidade de conceitos, Cooper (1996) faz sua
contribuição e expõe que, quando uma força conduz os fatores emocionais e físicos
para além dos limites de estabilidade, o indivíduo sente-se tenso, adquirindo, assim,
o estresse.
As principais categorias ambientais relacionadas ao trabalho, para Cooper
(apud FRANÇA; RODRIGUES, 2002, p.65), seriam:
39
1. fatores intrínsecos ao trabalho envolvem condições de trabalho em
turnos, jornadas extensas, viagens, atividades de risco ou perigo, novas
tecnologias, sobrecarga de trabalho ou trabalhos monótonos;
2. papel na organização – ambigüidade e conflito de papéis na organização
e nível de responsabilidade em relação às pessoas e tarefas;
3. relacionamentos no trabalho investiga-se a falta de consideração ou
as pressões exercidas por superiores hierárquicos, isolamento, rivalidade
,pressão política, conflitos e recusa de cooperação dos subordinados;
4. desenvolvimento na carreira propõe-se que examine a falta de
segurança no trabalho gerada por aposentadoria precoce, frustrações
referentes ao topo da carreira;
5. estrutura e clima organizacionais investigação de aspectos que
ameacem a individualidade, liberdade, autonomia e identidade.
Karasek (1979) desenvolveu um modelo de Demanda-Controle (DC)
bidimensional que contempla os fatores psicossociais do trabalho: demanda
psicológica e controle do trabalho. O modelo permite analisar os riscos de os
trabalhadores desenvolverem estresse e doenças ou distúrbios a eles relacionados,
além de motivação, satisfação no trabalho e o grau de ativação dos trabalhadores
(INOCENTE, 2007).
Para Inocente (2007), a demanda psicológica refere-se às exigências
psicológicas na execução de tarefas e inclui a pressão do tempo, nível de
concentração requerida, interrupção de tarefas, espera pelas atividades realizadas
por outros trabalhadores, conflitos pessoais e medo de perder o emprego. O controle
40
do trabalho engloba aspectos de operacionalização do trabalho referentes ao uso de
habilidades, como: aprendizagem, repetição, criatividade, tarefas variadas e
desenvolvimento de habilidades; latitude de decisão ou autoridade decisória, que
inclui a possibilidade de tomar decisões sobre o seu próprio trabalho e as influências
do grupo de trabalho e da política gerencial.
Segundo Inocente (2007), o Modelo Demanda-Controle enfatiza que, da
interação dessas duas variáveis, resultam quatro tipos sicos de situações
laboriais:
1. trabalho de baixo desgaste situação de alto controle e baixa demanda
psicológica;
2. trabalho passivo – situação de baixo controle e baixa demanda;
3. trabalho ativo – situação de alta demanda e alto controle;
4. trabalho alto desgaste – situação de baixo controle e alta demanda.
A falta de controle do trabalhador sobre seu trabalho é vista como uma
restrição ambiental sobre a capacidade de resposta do indivíduo. Quando o
trabalhador possui controle sobre seu trabalho, os conflitos e outros estressores não
causam danos à saúde (KARASEK, 1979).
Para Inocente (2007), esse modelo enfatiza que os riscos para a saúde física
e psicológica estão atrelados ao trabalho de alto desgaste, significando que ele é
operado em condições de alta demanda psicológica e baixo controle do trabalhador
sobre seu trabalho.
O modelo Demanda-Controle, de acordo com Inocente (2007), fica mais
evidente em ocupação com baixa qualificação, relacionada com clientes quando
falta de decisão e autonomia pessoal, e classifica as profissões em:
41
1. trabalhos ativos (alta exigência e alto controle) advogados, juízes,
médicos, professores, engenheiros, executivos;
2. passivos (baixo nível de exigência e de controle) trabalhadores
administrativos e de nível operacional, como porteiros e trabalhadores
burocráticos;
3. trabalhos de muita tensão (alto nível de exigência e baixo nível de
controle) – operários de fábrica, camareiros, telefonistas e cozinheiros;
4. trabalhos de pouca tensão (baixa exigência e alto controle) ritmo do
próprio trabalhador, como vendedores, profissionais autônomos.
A Figura 02 mostra o quadro sobre Modelo Demanda-Controle de Karasek.
B
3 2
Alto Baixa exigência Trabalho ativo
Baixo Trabalho passivo Alta exigência
4 1
A
Diagonal A Diagonal B
Riscos de exigência psicológica Motivação para desenvolver
e adoecimento psíquico. novos tipos de comportamento
Grau de controle
Demanda Psicológica
Baixa Alta
Figura 02 Modelo Demanda-Controle de Karasek
Fonte: Karasek, 1979 p. 82
42
Para medir as características do trabalho de acordo com Inocente (2007), o
Questionário sobre o Trabalho, de Karasek, envolve as seguintes escalas:
1. margem de tomada de decisão liberdade para usar a sua capacidade
no trabalho; autoridade para tomar decisões; subutilização da capacidade;
autoridade do grupo para tomar decisões; autoridade formalmente
conhecida; influência do sindicato ou de representantes dos trabalhadores;
2. demandas psicológicas e carga mental do trabalho demandas
psicológicas gerais, ambigüidade de papel; concentração e cisão mental
do trabalho;
3. apoio social socioemocional (colegas, supervisores e chefes);
instrumental (colegas, supervisores e chefes); hostilidade (colegas,
supervisores e chefes);
4. demandas físicas – carga física geral, isométrica e aeróbica; e
5. insegurança no trabalho.
Na pesquisa realizada por Marinho (2005) sobre estresse ocupacional,
estratégias de enfrentamento e Síndrome de Burnout: um estudo em hospital
privado, realizada com noventa e seis profissionais da equipe de enfermagem de um
hospital privado, constatou que os resultados foram: 13,5% com níveis altos de
Burnout e 53,1% com níveis moderados. Verificou-se que 24% dos sujeitos
apresentam níveis de estresse acima dos valores médios da escala e que 34% estão
acima dos valores médios da população brasileira.
Na pesquisa realizada por Walczak (2005), utilizando as escalas Toulousaine
de estresse em cento e cinco profissionais da área de Tecnologia da Informação
(TI), constatou-se, quanto ao estresse, que 7,8% dos sujeitos apresentam todas as
43
manifestações de estresse em menor ou maior grau, sendo que a manifestação
predominante foi a psicológica, com 22,77% dos sujeitos.
Koltermann (2005), realizou uma pesquisa com o objetivo de avaliar a
prevalência de estresse ocupacional em trabalhadores bancários e investigar fontes
estressoras do ambiente de trabalho, com quinhentos e dois (77%) bancários. No
tocante ao estresse, 14% dos bancários encontraram-se na fase de alerta, 45% na
fase de resistência e 18,1% na fase de exaustão. Os eventos estressores das
categorias moderado e alto demonstraram associação significativa com todas as
fases do estresse (p= 0,00). Maiores níveis de estresse foram registrados para as
mulheres, para os bancários com dependência de bebida alcoólica, tabagistas e com
maior carga horária de trabalho.
Na pesquisa realizada por Reis (2004), de forma específica, buscou-se
identificar os fatores psicossociais associados aos novos modelos de gestão e
avaliar a associação entre esses fatores e a produção do estresse psíquico. Essa
pesquisa foi realizada em uma empresa do segmento de serviços na Bahia, sendo
desenvolvida em duas etapas interligadas, na qual participaram cento e um
trabalhadores. Na primeira etapa, foi realizado um levantamento de dados para a
caracterização da empresa e do seu modelo de gestão. Na segunda etapa, optou-se
pela abordagem de natureza quantitativa, por meio de um estudo descritivo
transversal, para avaliar a relação dos fatores psicossociais no trabalho, com o
estresse psíquico. Os resultados apontaram que as altas/médias exigências no
trabalho (demandas quantitativa, cognitiva, emocional, demandas para supressão de
emoção e sensorial) tanto entre as mulheres (alta demanda quantitativa, cognitiva,
emocional, para a supressão de emoções e indicação do nível médio de demanda
sensorial), quanto entre homens (altas demandas quantitativas e emocionais,
44
médias demandas cognitivas, para a supressão de emoções e sensorial) estão
associadas à ocorrência de estresse psíquico. Quanto ao controle no trabalho,
avaliado nesse estudo pelas dimensões possibilidades de desenvolvimento e
influência no trabalho, observou-se que a indicação pelos trabalhadores de haver
médio/baixo nível em contexto de trabalho, está associado à ocorrência de estresse
psíquico. Sugere-se uma nova agenda de estudos para ampliação dessa
investigação.
Aquino (2005), em sua pesquisa sobre o estresse e os estressores presentes
no cotidiano de trabalho e sua freqüência, investigou uma amostra composta de
trinta enfermeiras que trabalham em sete unidades de centro cirúrgico de hospitais
da cidade de Recife-PE, sendo dois hospitais universitários. Os resultados do estudo
tiveram a amostra de trinta enfermeiras do sexo feminino, com 60%, sendo que
66,7% escolheram a enfermagem como primeira opção no vestibular. Foram
identificados os seguintes fatores como causadores de estresse: falta de material
necessário ao trabalho é um fator estressante para 29 indivíduos (93%), falta de
recursos humanos, para 23 (73%), trabalhar em instalações físicas inadequadas,
para 22 (73,3%), trabalhar com pessoas despreparadas, 17 (56,7%), prestar
assistência a pacientes graves, 14 (46,6%), sentir desgaste emocional com o
trabalho é estressor, para 21 (70,0%) e administrar ou supervisionar o trabalho de
outras pessoas, 18 (60%). A pesquisa identificou insatisfação no processo de
comunicação, salário e experiência profissional. Concluiu-se que o ambiente de
trabalho do centro cirúrgico é estressante em vários aspectos, o que afeta o
desempenho profissional e pessoal das enfermeiras.
Ponte (2006), em sua pesquisa realizada em uma empresa prestadora de
serviços do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, composta por oitenta
45
profissionais que atuam na área de vendas com o objetivo de analisar o estresse e
suas manifestações, constatou que 71,25% dos pesquisados apresentaram
manifestações de estresse em maior ou menor grau. Essas manifestações foram
classificadas de quatro formas: as físicas, as psicológicas, psicofisiológicas e de
temporalidade.
Na pesquisa realizada por Santos (2006), com cem funcionários de nove
agências bancárias distribuídas em cinco cidades do Vale do Paraíba, em todos os
níveis hierárquicos: gerentes, caixas, chefes e escriturários, com o objetivo de
identificar as formas de estresse no ambiente de trabalho constatou-se que houve a
ocorrência de estresse e suas manifestações consideradas como físicas,
psicológicas, psicofisiológicas e de temporalidade em bancários, sendo o estresse
físico relevante. Observou-se a predominância do sexo masculino (52%), a faixa
etária pesquisada variou entre dezenove a quarenta anos, sendo que a
predominância estabeleceu-se entre vinte quatro e vinte seis anos (30%). Em
relação ao estado civil 62% são solteiros, 33% são casados, 2% são divorciados, 2%
separados e 1% desquitado. Quanto ao grau de instrução, predominou o superior
(92 pessoas), sendo oito com algum tipo de especialização.
Goeldi (2006), em sua pesquisa realizada com um grupo composto por trinta
e oito profissionais de equipe de enfermagem, com o objetivo de identificar o
estresse e suas manifestações, obteve os resultados que demonstraram os níveis de
estresse global, assim, para as manifestações físicas, psicológicas, psicofisiológicas
e de temporalidade, inferiores aos resultados médios de estresse encontrado na
população brasileira. Observou-se a predominância do sexo feminino, com faixa
etária de quarenta anos e casados. Quanto às atividades de lazer, 65% realiza
afazeres domésticos e 52% assistem programas de TV.
46
Santos (2007), em sua pesquisa realizada, com cento e setenta e seis
trabalhadores, com o objetivo de identificar as manifestações do estresse e os seus
efeitos físicos, psíquicos, psicofisiológicos e de temporalidade, no grupo de uma
empresa, no ramo de fundição de metal e alumínio, constatou que, quanto ao
estresse, apresentam todas as manifestações de estresse em menor ou maior grau;
porém as manifestações predominantes foram as de temporalidade e psicológica
problemas. As situações consideradas estressantes foram: ambiente de trabalho do
setor de produção, as fontes estressoras, o desemprego e perda, a incerteza com a
política nacional e o relacionamento interpessoal com colegas.
Na pesquisa realizada por Santos (2008), com o objetivo de identificar o nível
de estresse, as alterações do ciclo vigília-sono e sua relação com a cultura
organizacional, no trabalho em turnos, com duzentos e trinta e nove enfermeiros que
atuam na região do vale do Paraíba paulista, constatou que houve predominância do
sexo feminino (90,79%); que a idade média esteve entre 20 e 29 anos (42,68%) e
que 44,77% eram casados. No que se refere ao horário de trabalho, observou-se
que 67,36% trabalhavam no período diurno. A cultura percebida foi a Racional,
Grupal, Hierárquica e Inovativa. Quanto ao estresse ocupacional em relação ao
desequilíbrio esforço e recompensa no trabalho, identificaram-se 2,93%, com risco
leve. Quanto ao supercomprometimento no trabalho, identificaram-se 69,87%, com
risco leve, 7,5%, com risco moderado e 0, 84%, com risco grave. O cronótipo do tipo
moderadamente matutino foi de 41,42%, seguido do tipo indiferente, 37,24%. Os
resultados obtidos permitiram avaliar as condições de trabalho, identificar os
problemas e investir em programas de promoção da saúde e qualidade no trabalho.
Preto (2008) desenvolveu sua pesquisa com vinte e um enfermeiros de UTI
de cinco hospitais do interior do Estado de São Paulo, com o objetivo de verificar
47
como eles associam o estresse a suas atividades e como se à presença do
estresse entre eles. Os resultados mostraram que a maioria dos participantes é do
sexo feminino, na faixa etária dos vinte e quatro anos aos cinqüenta anos, casados,
com tempo de formação entre um e dezesseis anos e com curso de especialização.
A falta de recursos humanos e materiais, o relacionamento interpessoal entre
equipe, o excesso de atividades e a rotatividade de leitos, foram alguns dos
aspectos que os enfermeiros relataram como associados à presença de estresse em
suas atividades e que se manifestam através de sintomas físicos e psíquicos. Dos
enfermeiros pesquisados, 57,1% consideram a UTI um local estressante e 23,8%
deles apresentaram um escore elevado indicando a presença do estresse. Isso leva
a consideração de que esse estudo evidenciou o fato de que o estresse, mesmo
sendo discutido desde longa data, acomete esses profissionais, e, mesmo assim, as
instituições ainda não oferecem atenção especial aos seus profissionais, no sentido
de promover sua saúde integral.
Ribeiro (2008), em sua pesquisa realizada com cento e quarenta e sete
servidores de uma instituição pública federal do cone leste paulista, com o objetivo
de identificar a ocorrência de estresse, constatou que houve predominância do sexo
feminino (76%) e da faixa etária de 40 a 50 anos (66%). Outras características
observadas foram: 75% concluíram o ensino superior, 74% possuem mais de 10
anos de serviço na instituição, 62% trabalham no atendimento ao público e 36%, em
áreas internas. Os resultados mostram um nível de estresse acima da média
brasileira para as manifestações físicas. Os resultados também permitiram análises
bidimensionais e, dentre as análises, foi constatado que as mulheres apresentam
nível de estresse maior dos que os homens; que os servidores que atuam no
atendimento ao público, apresentam estresse físico maior em relação aos que
48
trabalham em áreas internas; e que, aqueles que fumam, apresentam estresse
superior aos que não fumam.
No trabalho, o estresse pode ser resultado da pressão por resultados rápidos,
por uma carreira de sucesso, por uma atualização constante e por uma busca de
desafios a serem enfrentados; em casa, por uma melhor qualidade de convivência,
de vida social ou de pressão pela manutenção de compromissos. Como
conseqüência, as pessoas vão se tornando mais vulneráveis e o organismo, mais
frágil, irá responder por meio de doenças físicas, psicológicas e comportamentais.
De acordo com as pesquisas acima, o relacionamento interpessoal, as altas
exigências no trabalho, o desgaste emocional no trabalho, são as grandes causas
de estresse ocupacional. Os efeitos do estresse ocupacional são diversificados, de
acordo com a intensidade das situações consideradas estressantes. A resposta ao
estresse pode variar de um simples mal-estar até efeitos mais drásticos, como
úlceras e ataques cardíacos.
A personalidade do indivíduo também pode ser um fator determinante de
estresse, pois cada indivíduo possui comportamentos com reações diferentes em
relação às situações tidas como geradoras de estresse. As estratégias de
enfrentamento têm sua importância porque atuam como fonte para minimizar o
estresse. No capítulo seguinte será descrito o conceito de estratégias de
enfrentamento, como uma das formas do indivíduo enfrentar as situações
consideradas como fontes geradoras de estresse.
49
3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO (COPING)
O indivíduo, diante de uma situação tida como geradora de estresse, utiliza
mecanismos para tentar amenizá-la, que são chamados de estratégias de
enfrentamento.
O enfrentamento, segundo Antoniazzi et al. (1998) é concebido como o
conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a
circunstâncias adversas, ou seja, situações estressantes, crônicas ou agudas.
Para Savoia (1999), o enfrentamento é definido como todos os esforços de
controle, sem considerar as conseqüências, ou seja, é uma resposta ao estresse
(comportamental ou cognitivo), com finalidade de reduzir as suas qualidades
aversivas.
França e Rodrigues (2002) descrevem o enfrentamento como um conjunto de
esforços que uma pessoa desenvolve para lidar com as solicitações externas ou
internas, que são tidas por ela como algo acima de suas possibilidades. O
enfrentamento pode ser visto como uma estratégia para obtenção de informações
sobre o que está acontecendo e manutenção das condições de agir, diminuindo a
resposta de estresse e mantendo o equilíbrio.
Acrescenta Stephenson (2007), que algumas situações estressantes podem
ser percebidas como mais ameaçadoras e desestabilizadoras do que outras,
induzindo a perturbações emocionais que desequilibram as condições psicossociais
de cada indivíduo, que procura enfrentá-las e adaptar-se a elas. Estruturação e
reestruturação tornam-se necessárias, a fim de superar essas situações. As
tentativas de enfrentamento a esses acontecimentos são chamadas de estratégias
de coping.
50
As estratégias de enfrentamento implicam, de um lado, a existência de um
problema que pode ser real ou imaginado; de outro, a instalação de uma resposta
para enfrentar o acontecimento estressante (STEPHENSON, 2007).
Podemos ver o enfrentamento como estratégia da pessoa para obter o maior
número de informações sobre o que está acontecendo, e estabelecer as condições
internas (psíquicas) para o processo e manejo dessas informações. É um recurso
que exige esforço para manter-se em condições de agir e diminuir a resposta de
distress, na tentativa de ajudar a manter o equilíbrio do organismo (FRANÇA,
RODRIGUES, 2002).
O enfrentamento diz respeito ao que o indivíduo realmente pensa e sente; o
que faz ou faria em determinadas situações. Não é um processo estático e pode
modificar-se conforme a pessoa avalia a situação estressante. Tanto as pessoas
como as organizações necessitam, para seu funcionamento, de certo grau de
estresse, mas se a pressão é muito intensa, o resultado é de um desempenho
ineficiente (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
A teoria atual do enfrentamento teve suas origens nos anos setenta; dentre
esses estudos o mais conhecido é, provavelmente, o trabalho de Lazarus e Folkman
(1984), que propõe um modelo de caráter cognitivo para o enfrentamento
(CHAMON, 2006).
Lazarus e Folkman (1984) desenvolveram um modelo de estresse e coping
(enfrentamento) que se tornou bastante influente. Esse modelo enfatiza a função
cognitiva do indivíduo na percepção e interpretação das situações de estresse,
considerando que os eventos podem não ser estressantes, dependendo da forma
como são interpretados ou da percepção do indivíduo.
51
Tais autores acreditam que as estratégias de enfrentamento são definidas
como esforços de controle. As estratégias funcionam como uma resposta ao
estresse (comportamental ou cognitivo) com o objetivo de reduzir as suas qualidades
aversivas. É uma resposta com o objetivo de aumentar, criar ou manter a percepção
de controle pessoal (LAZARUS; FOLKMAN, 1984).
O modelo de análise para identificar a dinâmica do processo de estresse e
enfrentamento aponta para a relação entre pessoa e ambiente, em um contexto
específico e em diferentes momentos, que leva em conta as seguintes fases:
avaliação primária (primary appraisal); avaliação secundária (secondary appraisal);
reavaliação (reappraisal) e enfrentamento (coping). Na avaliação primária, a pessoa
examina-se do ponto de vista de seu bem-estar, isto é, se o acontecimento é positivo
ou estressante. A avaliação de eventos estressantes pode adotar três formas: dano
ou perda, ameaça e/ou desafio. Dano ou perda refere-se a dano assumido pela
pessoa; ameaça o danos e perdas antecipados e desafio é associado ao
acontecimento passível de aprendizagem ou ganho; avaliação secundária é um
julgamento ao que se pode ser feito (estratégias de enfrentamento); a reavaliação
refere-se a uma avaliação modificada, baseada em novas informações do ambiente,
captadas pela própria pessoa; e, por fim, o enfrentamento, definido como esforços
de controle. Para medir o enfrentamento, o modelo propõe que o indivíduo indique
uma lista de estratégias que utilizou para lidar com as várias exigências de uma
situação específica (LAZARUS; FOLKMAN, 1984). Assim, o modelo de
processamento de estresse e das estratégias de enfrentamento pode ser
identificado na Figura 03.
52
Figura 03 Modelo de Processamento de estresse e coping de Lazarus e Folkman
(1984)
Fonte: Antoniazzi, 1998, p.277
As respostas de enfrentamento podem ser classificadas de acordo com a
função (estratégia de enfrentamento centrada no problema ou centrada na emoção)
ou tipo (evitação, busca de informações, busca de suporte emocional) (FRANÇA;
RODRIGUES, 2002).
Antoniazzi (1998) explica que o enfrentamento possui duas funções básicas:
o foco no problema e o foco na emoção. O foco no problema visa modificar a relação
da pessoa com o meio externo, enfatizando o contato com o estressor. A focalização
no problema pode ser correspondente à reestruturação cognitiva ou à busca por
informações acerca do estressor, caracterizando-se pela objetividade do indivíduo
diante do estresse. O foco na emoção enfatiza a resposta emocional ao estressor,
com o objetivo de reduzir a sensação desagradável do estresse.
53
Para Lazarus e Folkman (1984), o relato subjetivo é a principal fonte de dados
sobre estresse, com avaliação, emoção e formas de enfrentamento. Esse modelo
adquire um status de processo dinâmico, cognitivo e consciente. O enfrentamento
deve ser avaliado no quadro preciso de uma situação, pois os indivíduos modificam
suas respostas em função do tipo de problema que estão vivenciando (BILLINGS;
MOOS, 1984 apud CHAMON, 2006).
França e Rodrigues (2002, p. 149) descrevem que, quando as necessidades
do indivíduo não são satisfeitas, ele tende a reagir ou enfrentar, ajustar-se,
basicamente de duas maneiras: enfrentamento ativo e passivo. No enfrentamento
ativo, o indivíduo expressa seu desejo de mudança na estrutura a que está
submetido. Ele se afasta ou solicita transferência do trabalho, voluntariamente. O
enfrentamento passivo é o mais comum e conduz à alienação. O indivíduo passa a
depreciar seu trabalho e a senti-lo como um peso e não como fonte de satisfação. O
objetivo de trabalhar torna-se apenas a remuneração e a manutenção de suas
condições físicas e de higiene. As satisfações são encontradas fora do local de
trabalho e pode ocorrer uso abusivo de medicamentos, álcool e drogas.
De acordo com Lipp (2003), um indivíduo pode emitir uma determinada
resposta ao vivenciar uma situação geradora de estresse, mas isso não significa que
irá responder desta maneira em todas as situações.
Segundo França e Rodrigues (2002), as pessoas reagem de forma diferente
às situações geradoras de estresse; geralmente em função de sua estrutura de
personalidade e de sua maneira de enfrentá-la. Algumas possuem capacidade maior
de tolerar e conviver com situações de pressão intensa e acabam desenvolvendo
mecanismos de defesa eficazes para lidar com o estresse. Outras pessoas, com
mais dificuldades, parecem se desestruturar rapidamente.
54
Assim, Chamon (2006) destaca que existe uma diferença entre estilo de
enfrentamento e estratégias. Os estilos de enfrentamento estão associados a
características de personalidade ou a resultados do enfrentamento, enquanto as
estratégias se referem às atividades cognitivas e às ações ou comportamentos
adotados ao longo de um episódio de estresse.
Algumas pessoas exibem um tipo de comportamento mais propenso ao
estresse. Esse tipo de comportamento é denominado padrão de comportamento tipo
“A” ou a “doença da pressa”. É um estilo de comportamento que contém
características que agem como fonte de estresse e, possivelmente, de
desenvolvimento de várias doenças.
As pessoas com características do comportamento tipo “A” estão mais
sujeitas ao estresse. Essas pessoas estão sempre envolvidas em lutas para
alcançar metas, sempre se esforçando para se superar em suas tarefas, até mesmo
nos esportes e hobbies, ocupando todo o seu dia com alguma tarefa. Sua
preocupação é a produção em termos de quantidade, em vez de qualidade
(MALAGRIS, 2000).
Baccaro (1991) define o comportamento tipo “A” como um complexo de ação
e emoção que pode ser observado em uma pessoa que está agressivamente
envolvida em uma luta crônica e incessante para realizar as tarefas em menos
tempo possível.
Em contraste, o tipo “B” é raramente modificado por desejos de obter coisas
ou de participar de uma série de acontecimentos. Geralmente expressam calma e
dificilmente são hostis.
Para Malagris (2000), as pessoas que exibem o comportamento do tipo “B”
são consideradas opostas às do tipo “A”. Essas pessoas geralmente exibem
55
comportamento com expressões gerais de relaxamento, calma e solicitude, não
falam de modo apressado, dificilmente são hostis, possuem voz branda e de baixo
volume.
Baccaro (1991) relata que o comportamento tipo “A” mantém hostilidade sem
causa aparente e sempre um tom de rancor em sua fala, podendo enfurecer-se
com algo que a pessoa com o comportamento tipo ”B” não daria a menor
importância.
O tipo “A” tem a “doença da pressa”, es sempre querendo fazer mais em
menos tempo. Suas principais características o: andar rápido, ritmo rápido para
comer, voz alta e/ou vigorosa, competitividade, autoritarismo, apresenta, às vezes,
algum tipo de tique nervoso, como piscar os olhos, mexer o pescoço, levantar a
sobrancelha e fazer caretas (TELES, 1993).
O comportamento tipo “A” é exteriormente confiante e seguro de si, mas em
geral é inseguro por dentro. Luta constantemente por reconhecimento, por meio de
número de realizações. Não mede a si mesmo pelo status do momento, mas pelo
ritmo que o promove. Sua hostilidade sem causa aparente não é facilmente
detectada, mas há sempre um tom de rancor em sua fala. Pode enfurecer-se por
qualquer motivo, sem justificativa ou importância.
Teles (1993) descreve que a pessoa do comportamento tipo “A” tem
dificuldade de reconhecer seus erros, falhas e fracassos. Por isso, acaba
alimentando um sentimento de culpa, que, com o passar do tempo, irá acarretar os
sintomas de taquicardia, secura na garganta e na boca, instabilidade emocional,
choro convulsivo, vontade de fugir, incapacidade de concentração e dores
musculares.
56
Para Baccaro (1991), as pessoas, em seu cotidiano, exibem características
de ambos os comportamentos, A e B. Lipp (2000) descreve que os dois
comportamentos demonstram estar presentes tanto em termos de predisposição,
como no ambiente. Ter conhecimento disso é fundamental, pois a partir daí pode-se
desenvolver formas de controle dos extremos, ou seja, estratégias que podem
contribuir para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo com padrão de
comportamento tipo “A”.
Para Meleiro (2006), algumas estratégias podem ajudar aos professores a
enfrentar de modo sadio as situações estressantes. A primeira estratégia é a
identificação dos fatores de estresse. É necessário compreender a essência do
estresse e seus mecanismos e, ao mesmo tempo, procurar aumentar a resistência
ao estresse, melhorando a saúde. É importante identificar a causa do estresse. Uma
vez identificada é preciso verificar se é passível de mudança ou não. No caso do
profissional docente é neste momento que ele deverá utilizar seus recursos internos
para se adaptar à situação.
O professor deverá receber a colaboração dos colegas e da direção da escola
e, em casos de gravidade, deverá receber o auxílio de profissionais de saúde, pois
um elevado nível de estresse pode causar aumento da pressão arterial, problemas
cardíacos, além de possibilitar que se tornem pessoas irritadas e agressivas devido
à sobrecarga de trabalho (MELEIRO, 2006).
Na Universidade de Taubaté, foram realizadas algumas pesquisas
relacionadas a estresse e estratégias de enfrentamento utilizando as escalas de
Toulousaine que muito vêm a contribuir para o conhecimento científico, como mostra
o Quadro 06.
57
Quadro 06 Trabalhos acadêmicos sobre estresse e estratégias de enfrentamento
apresentados na Universidade de Taubaté
Fonte: SANTOS, (2007, p.61, adaptado pela pesquisadora)
As pesquisas apresentadas no Quadro 06 buscam identificar os níveis de
estresse e as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos sujeitos que participaram
das pesquisas. Estes trabalhos acadêmicos foram apresentados em congressos
nacionais, inclusive internacionais e publicados em revistas (SANTOS, 2007).
Marinho (2005), em sua pesquisa sobre estresse ocupacional, estratégia de
enfrentamento e Síndrome de Burnout: um estudo em hospital privado, realizada
com noventa e seis profissionais da equipe de enfermagem de um hospital privado
situado na cidade de São Paulo, Brasil, constatou que houve o predomínio de
mulheres (83,3%) maduras, com mais de 34 anos de idade, mais de 12 anos de
profissão e nível de escolaridade médio e superior. Quanto às estratégias de
enfrentamento, verificou-se que: a estratégia de recusa (ignorar o problema ou a
situação) apresenta níveis muito maiores que os valores médios da população
brasileira e é mais acentuada entre os auxiliares de enfermagem; o controle é
TEMA NÍVEL ANO
Estresse ocupacional e síndrome de burnout: um estudo
em hospital privado (MARINHO).
Mestrado 2005
Estresse ocupacional e as formas de coping: um estudo
de caso em profissionais de TI (WALCSAK).
MBA 2005
Estresse e as formas de coping: um estudo de caso em
prestadora de serviço (PONTE).
MBA 2006
Um estudo sobre estresse e estratégias de
enfrentamento em ambiente hospitalar (GOELDI).
MBA 2006
Avaliação de estresse e estratégias de enfrentamento
em graduandos bancários: um estudo de caso
(SANTOS).
MBA 2006
Estresse e estratégia de enfrentamento: Um estudo de
caso no setor sócioprodutivo (SANTOS).
Mestrado 2007
Estresse e estratégia de enfrentamento de Professores
Universitários em Belém – PA (REINALDO).
Mestrado 2008
Estresse e estratégias de enfrentamento: um estudo de
caso na Administração Pública Brasileira (RIBEIRO)
MBA 2008
58
utilizado pela maioria dos pesquisados 97,9%, juntamente com o apoio social com
91,6%. As manifestações do estresse psicológico e de temporalidade foram as mais
expressivas e os níveis de estresse global são maiores entre os solteiros.
Na pesquisa realizada por Walczak (2005), sobre estresse ocupacional e as
estratégias de enfrentamento: um estudo de caso em profissionais de TI, utilizando a
escala Toulousaine de estratégias de enfrentamento em cento e cinco profissionais
da área de Tecnologia da Informação (TI), constatou-se que 90,50% utilizam o
controle como estratégia de enfrentamento (estabelecer objetivos, enfrentar o
problema).
Ponte (2006,) em sua pesquisa sobre estresse e enfrentamento: um estudo
de caso em prestadora de serviço, realizada em uma empresa prestadora de
serviços do Vale do Paraíba, São Paulo, composta por oitenta profissionais que
atuam na área de vendas, com o objetivo de analisar estratégias de enfrentamento
constatou que as estratégias de enfrentamento que obteve foi a de recusa
predominando e a de isolamento com índice considerável. Porém acredita-se que as
estratégias adotadas não foram suficientes para minimizar o nível de estresse.
Goeldi (2006), em sua pesquisa sobre estresse e estratégias de
enfrentamento em ambiente hospitalar, realizada com trinta e oito profissionais de
equipe de enfermagem, com o objetivo de identificar as estratégias de
enfrentamento obteve os resultados que demonstraram as estratégias de
enfrentamento, as comumente utilizadas foram as de recusa (43%) (ignorar o
problema ou a situação) e de isolamento (32%), ambas possuem os valores dios
superiores à média nacional. Essas estratégias são consideradas inadequadas para
o enfrentamento de estresse diário.
59
Na pesquisa realizada por Santos (2006), sobre avaliação de estresse e
estratégias de enfrentamento em graduandos bancários, com cem funcionários de
nove agências bancárias de cinco cidades do Vale do Paraíba, com o objetivo de
analisar as estratégias de enfrentamento, constatou-se que, em relação às
estratégias de enfrentamento, se comparadas aos estudos de Stephenson e
Chamon houve uma média abaixo nas estratégias de controle e apoio social e uma
média acima nas estratégias de isolamento e recusa. Mesmo assim, a maior parte
dos sujeitos analisados optaram pelas estratégias positivas como forma de
enfrentamento: 72% controle e 63% apoio social, considerando assim, que a maioria
dos sujeitos pesquisados sabe lidar com o estresse.
O estudo de Wai (2007) propôs identificar através das percepções que os
ACS têm sobre seu trabalho, os eventos que provocam sobrecarga e quais
mecanismos estes profissionais utilizam para lidar com as situações estressantes. O
Agente Comunitário de Saúde (ACS) tem sua inserção recente nas práticas de
saúde, com a profissão sendo reconhecida legalmente em 2002. Sua atuação se
no contexto do Sistema Único de Saúde, constituindo-se em novas oportunidades no
mercado de trabalho. Como pré-requisitos para o exercício da profissão, a lei
estabelece: I- residir na área da comunidade que atuar; II- haver concluído com
aproveitamento o curso de qualificação básica para formação de ACS; III- haver
concluído o ensino fundamental. O ACS deve trabalhar com a adscrição de famílias,
tendo sua responsabilidade no máximo 150 famílias ou 750 pessoas, em base
geográfica definida. O ACS, deve ainda desenvolver atividades de prevenção das
doenças e promoção da saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações
educativa individuais e coletivas, nos domicílios e na comunidade, sob supervisão e
acompanhamento do enfermeiro instrutor-supervisor. A complexidade da atuação do
60
ACS sugere que, como profissional da saúde, esteja exposto a situações que o
colocam sob estresse. Utilizou-se para realização desta pesquisa o modelo de
Lazarus e Folkman de estresse e enfrentamento. Para operacionalizá-los recorre-se
à produção de conhecimento na área quanto aos dois aspectos abordados. Este é
um estudo descritivo, qualitativo. Participaram do estudo dezesseis ACS de equipes
de Saúde da Família de São Jodo Rio Preto-SP, e os dados foram coletados por
meio de entrevistas gravadas e posteriormente transcritas. A análise centrou-se na
identificação das situações consideradas pelos ACS como estressoras e dos
mecanismos que utilizam para lidar com as situações estressantes. As situações
estressoras foram agrupadas em categorias: condições de trabalho; questões
salariais; gênero; interface família-trabalho e carga emocional. Os mecanismos de
enfrentamento foram agrupados em categorias focalizados na emoção e no
problema. Considerando as diversas atividades desenvolvidas pelos ACS e a
dinâmica da realidade sanitária, acredita-se que os relatos dos sujeitos participantes
desta pesquisa, discutidos à luz de outros estudos, contribuíram para o
planejamento de suas atividades, preparo e capacitação dos futuros profissionais de
forma a fortalecê-los para o exercício de seu trabalho.
Santos (2007), em sua pesquisa sobre estresse e estratégia de
enfrentamento, um estudo de caso no setor sócio-produtivo, realizada com cento e
setenta e seis trabalhadores do setor sócio-produtivo, com o objetivo de identificar as
estratégias de enfrentamento de uma empresa no ramo de fundição de metal e
alumínio, constatou que, quanto às estratégias de enfrentamento utilizadas, as de
maiores escores foram a de recusa (ignorar o problema ou a situação) e o
isolamento (fugir do problema e da situação e/ou na tentativa de eliminar ou
esquecer as aflições, refugiar-se em sonhos e fantasias). Foram constados também
61
que a maioria dos sujeitos utilizam o controle como estratégias de enfrentamento
(tentar dominar a situação, seja evitando decisões precipitadas sem refletir, seja
planejando) e do apoio social (buscar apoio no seu meio social para soluções de
problemas). As situações consideradas estressantes foram: ambiente de trabalho do
setor de produção, as fontes estressoras, o desemprego e perda, a incerteza com a
política nacional e o relacionamento interpessoal com colegas.
Reinaldo (2008), em sua pesquisa sobre estresse e estratégia de
enfrentamento de professores universitários em Belém do Pará, realizada com
duzentos e trinta e dois professores, constatou que a estratégia de enfrentamento
mais utilizada foi a de recusa em cento e cinqüenta sujeitos, com média de 42,0%
inferior a média nacional de 39,2%.
Ribeiro (2008), em sua pesquisa sobre estresse e estratégia de
enfrentamento um estudo de caso na Admininstração Pública, realizada com cento e
quarenta e sete servidores distribuídos em várias cidades do cone leste paulista,
com o objetivo de identificar a ocorrência de estratégias de enfrentamento, constatou
que houve níveis de enfrentamento negativo (isolamento e recusa) superior a média
brasileira, o que indica uma gestão deficiente do problema de estresse.
As estratégias de enfrentamento têm sua importância porque constituem de
um reforço que ajuda o indivíduo a manter-se em condições de agir e diminuir a
resposta de estresse. É um processo que pode modificar-se conforme a pessoa
avalia a situação estressante.
O enfrentamento é um processo que contribui para que as pessoas
modifiquem ou eliminem os problemas que as incomodam e as impedem de viver
em harmonia, tanto no campo social quanto no campo profissional.
62
No cotidiano escolar, inúmeras são as dificuldades encontradas pelo
professor para atender todas as demandas, pois o ambiente escolar é caracterizado
por uma complexidade de eventos como: imprevisibilidade, adversidades, mudança
de gestão, dificuldade interpessoal, exigências que os impedem de tomadas de
decisão, que constituem um sério desafio e exigem certa capacidade de
enfrentamento pelos professores.
Dessa maneira, a docência tem se caracterizado como uma profissão de
possíveis condições favoráveis ao estresse ocupacional, sendo necessárias as
estratégias de enfrentamento para ajudar a enfrentar as dificuldades geradas pelo
estresse.
Para compreender o trabalho do profissional docente, no próximo capítulo
será descrito: o trabalho, o trabalho docente e suas mudanças, decorrentes com o
passar dos séculos até os dias atuais, e o estresse ocupacional em professores.
63
4 O TRABALHO
Ao longo da história, o trabalho vem se moldando de diferentes formas.
Houve mudanças em sua concepção e organização, de acordo com o contexto em
que se está inserido.
Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Larousse (2004, p. 908), o
trabalho significa: “atividade humana aplicada à produção, à criação ou ao
entretenimento”. O mesmo dicionário também apresenta como “o produto dessa
atividade; obra, atividade profissional regular e remunerada; exercício de uma
atividade profissional; lugar onde essa atividade é exercida; texto literário ou
científico”.
Para Cotrim (2000), o trabalho pode ser considerado como uma atividade
específica da espécie humana, pela relação que estabelece entre o homem e a
natureza. O homem se distingue do animal ao produzir meios para sua subsistência.
Quando trabalha, o indivíduo tem oportunidade de aprender, criar e inovar
desenvolvendo novas formas de execução de tarefas, e ainda interage com os
outros, o que reforça sua identidade pessoal.
Cotrim (2000, p. 23) descreve o trabalho como toda atividade na qual o ser
humano utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou
para atingir um determinado fim.
No trabalho humano, o mecanismo regulador é o poder do pensamento
conceptal que tem origem no sistema nervoso central. Os animais possuem
capacidades para aprender e conceber idéias rudimentares, mas não possuem
capacidade de representação simbólica e suas formas superiores como a linguagem
articulada. O trabalho humano é considerado dessa forma, consciente e proposital
64
enquanto que o trabalho animal é instintivo e inato. Como exemplo temos o arquiteto
que planeja toda sua construção antes de executá-la, e a aranha que faz sua teia
sem pensar (BRAVERMAN, 1987).
Para entender a complexidade do trabalho humano, Tardif e Lessard (2005)
descrevem que o trabalho pode assumir várias formas. Dentre elas, destacam o
trabalho como ação cognitiva, como ação com o outro e o trabalho material. O
trabalho, enquanto ação cognitiva, caracteriza-se pela possibilidade intelectual de
organizar idéias, pensamentos que possibilitem ao ser humano, na sua relação com
a sociedade, condições de agir e transformar o ambiente em que vive. O trabalho,
enquanto relação com o outro, caracteriza-se pela possibilidade de se estabelecer
relações de poder entre as pessoas, ou seja, o trabalho surge como tentativa de
garantir seus interesses sobre outra pessoa, o trabalho surge, com fortes intenções
de poder e manipulação do homem por outro.
Os autores ainda estabelecem que o trabalho, enquanto ação material,
consiste na possibilidade de transformar algo tangível em instrumentos capazes de
facilitar a sobrevivência do homem na sociedade.
O trabalho pode assumir uma postura de atividade humana e de status. Do
ponto de vista de atividade humana, as relações com os outros estabelecem alguns
pontos de poder que afetam necessariamente o trabalho e tornam esta atividade
algo em que uns se beneficiam e outros são prejudicados. O trabalho definido como
status, determina que o homem, para se ajustar socialmente, necessita de um ofício
que o habilite a fazer parte de um grupo socialmente aceito com identidade formada
e com objetivos bem determinados (TARDIF; LESSARD, 2005).
65
Braverman (1987) descreve que diferente das trilhas ditadas pelo instinto nos
animais, o trabalho humano tornou-se indeterminado, resultante de complexas
interações entre ferramentas (tecnologia) e relações sociais (sociedade).
As mudanças sociais, tecnológicas, políticas e culturais interferem e
redimensionam as relações de trabalho, pois a sociedade passa a exigir que os
profissionais assumam características voltadas para os avanços tecnológicos e que
possuam diferenciais no local de trabalho (LEITE, 2003).
Assim sendo, neste tópico foram descritos alguns conceitos de trabalho e
suas diferentes formas, observando-se que o trabalho assume tendências que se
transformam de acordo com as interações e relações sociais. Dessa forma, o
próximo tópico irá apresentar o trabalho docente que também percorre sob formas
de mudanças e transformações ao longo da história.
4.1 O trabalho docente
O trabalho docente sofreu e ainda convive com muitas transformações. Essas
mudanças são observadas por meio da atuação dos professores. É notório que,
atualmente, necessitam de maiores suportes pedagógicos e conhecimentos
científicos para atender às necessidades dos alunos, que estão submetidos aos
avanços tecnológicos.
Acostumados a um trabalho bem definido (o ensino, a transmissão de
conhecimentos), os professores se vêem diante de uma situação nova; embora
reconheçam a necessidade de redimensionar o seu trabalho e buscar novas bases
para o ensino. Na maioria das vezes, encontram-se despreparados, mal informados
e sem condições de, sozinhos, enfrentarem novos desafios (ALONSO, 2003).
66
O trabalho docente, segundo Libâneo (2006), tem como objetivos específicos
a organização de tarefas e atividades sistemáticas, nas quais os educadores
buscam apresentar possibilidades aos educandos de pensar e agir conforme
algumas teorias que acreditam ser verdadeiras, em um determinado momento e
contexto social no qual está inserido.
Ribas et al. (2003) acredita que o trabalho do professor deve permitir ações
que criem condições para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, afetivas e
sociais, ou seja, condutas desejáveis no que diz respeito ao indivíduo e grupos
humanos. O profissional docente deve apropriar-se do conhecimento nos diferentes
âmbitos do saber, utilizar-se da experiência e da reflexão para auxiliar na
compreensão e análise do próprio trabalho pedagógico.
Assim, a escola, como local de trabalho do profissional docente constituiu-se
a partir do século XV, numa sociedade disciplinar composta de um conjunto de
mudanças e transformações que produzem a modernidade, e conseqüentemente a
escola de hoje (COSTA, 1995).
De acordo com Costa (1995), a concepção de infância passou a ser o centro
das atenções devido à concepção de que o homem era passível de mudanças. As
características encontradas na infância permitiam que as crianças fossem corrigidas
e controladas a fim de disciplinar o comportamento, tornando-as mais dóceis e úteis.
Segundo Aranha (2002), as crianças eram submetidas à severa disciplina,
inclusive castigos corporais. A meta da escola não se restringia à transmissão de
conhecimentos, mas à formação moral. O regime de estudo era rigoroso e extenso.
Para Manfredi (2002) é possível afirmar que os indígenas foram os primeiros
educadores de artes e ofícios para as áreas de tecelagem, de cerâmica, de adornos
67
e de artefatos de guerra, para as construções de casas, para várias técnicas de
cultivo da terra e para a produção de medicamentos.
Antes do desembarque português, os povos indígenas existentes no Brasil
mantinham suas práticas educativas no interior das tribos, com os adultos. As
práticas de aprendizagem ocorriam mediante a observação e a participação direta
nas atividades rotineiras. Os mais velhos ensinavam e os mais jovens observavam,
repetiam e aprendiam (BRANDÃO apud MANFREDI, 2002).
Durante o século XVI, as escolas eram constituídas sob o regime da Igreja
com o objetivo de instruir as camadas populares às leituras das sagradas escrituras.
Neste período, o clero era o principal responsável pela atividade docente. O
professor era, então, aquele que jurava professar a e a fidelidade aos princípios
da instituição, no caso a Igreja. O docente era visto como um guardião de uma
ordem cujo sistema de referência era sagrado e cujas normas econômicas e sociais
eram pelas normas e valores da Igreja (VARELA, 1992).
Foi durante o século XVI que os jesuítas pioneiros da educação, dentro de
suas configurações da atividade pedagógica, publicaram uma obra denominada de
Ratio Studiorum. O Ratio Studiorum prescrevia um currículo destinado à formação
de um homem servil a Deus, e tinha a ordem e a disciplina como princípios
primordiais. Neste modelo de origem católica eram definidas as regras de como
devia ser conduzida a aprendizagem dos educandos nos colégios (VARELA, 1992).
Com a didática, os jesuítas eram bem exigentes. Recomendavam a repetição
dos exercícios a fim de facilitar a memorização. Para praticá-la à exaustão, os
mestres recebiam auxílio dos melhores alunos chamados de decuriões. Os
decuriões eram responsáveis por nove colegas e seu auxílio aos mestres era de
tomar as lições de cor, recolher os exercícios e marcar num caderno os erros e faltas
68
diversas. Aos sábados, as classes inferiores repetiam as lições da semana toda
(ARANHA, 2002).
Segundo Saviani (2004), o Ratio Studiorum correspondia à Pedagogia
Tradicional conhecida na modernidade. A concepção pedagógica tradicional se
caracteriza por uma visão essencialista de homem, a educação tem o papel de
moldar a existência particular de cada educando à essência universal. E,
relacionado à concepção religiosa, sendo o homem feito por Deus à sua imagem e
semelhança, a essência humana é considerada então, uma criação divina.
Posterior ao culo XVI, o século XVII ressalta a importância de Comênio,
educador pedagogo, que produziu uma obra sistemática, intitulada Didática magna.
Seu objetivo era tornar a aprendizagem eficaz e atraente, mediante a organização
de tarefas. Ele se empenhou na elaboração de manuais que detalhavam o
procedimento do mestre, segundo as gradações das dificuldades e ritmo adequado
à capacidade de assimilação dos alunos. O ponto de partida da aprendizagem era o
conhecido, indo do simples para o complexo, do concreto para o abstrato. A
experiência sensível era fonte de todo conhecimento onde era valorizada a
educação dos sentidos. Para Comênio, todos teriam acesso ao ensino: homens ou
mulheres, ricos ou pobres, inteligentes ou ineptos (ARANHA, 2002).
A função de professor existiu em muitos formatos e com diversos estatutos ao
longo da história, mas o surgimento de um grupo profissional estruturado em torno
dessa função é característico da modernidade, a partir do século XVIII (ROLDÃO,
2007).
A partir do século XIX, o modelo de educação era composto por professores
que eram reconhecidos ou nomeados pelos órgãos de governos responsáveis pela
instrução. As escolas funcionavam em espaços improvisados, geralmente na casa
69
dos professores, os quais recebiam uma pequena ajuda para o pagamento do
aluguel (FARIA FILHO, 2005).
Os alunos dirigiam-se para a casa do mestre ou da mestra, epermaneciam
por algumas horas, num período de aproximadamente quatro horas em duas
seções; uma das 10 às 12 horas e outra das 14 às 16 horas. O método de educação
seguia o modelo individual de ensino, no qual o professor mesmo com vários alunos,
ensinava cada um deles individualmente (FARIA FILHO, 2005).
O método individual de ensino recebeu algumas críticas na época, devido à
necessidade de se utilizar racionalmente o tempo ensinando de maneira mais rápida
e econômica (FARIA FILHO, 2005).
Foi durante o século XIX que surgiu, no Brasil, o método lancasteriano ou
mútuo, do inglês Joseph Lancaster, que tinha como característica o fato de utilizar os
próprios alunos como auxiliares do professor. Segundo este método, um professor,
com a ajuda dos alunos mais adiantados poderia atender mais alunos em uma única
escola. A vantagem deste método de educação era abreviar o tempo necessário
para a educação, diminuir as despesas das escolas e generalizar a educação
necessária às classes inferiores da sociedade (FARIA FILHO, 2005).
O método lancasteriano usado no Brasil durante o século XIX era muito
parecido com a metodologia dos jesuítas. Ambos se beneficiavam de alunos mais
avançados como auxílio na aprendizagem dos alunos que apresentavam
dificuldades. uma outra característica do método lancasteriano se assemelha à
metodologia de Comênio, voltada para uma educação generalizada, ou seja, uma
educação para todos (FARIA FILHO, 2005).
Mais tarde, foi estabelecido que o método simultâneo era o que atendia às
especificidades da educação escolar, permitindo uma classe homogênea, a
70
otimização do tempo escolar e a ação do professor sobre vários alunos,
simultaneamente. Porém, esse método também recebeu algumas críticas, pois não
havia espaço o suficiente para manter a escola (FARIA FILHO, 2005).
A partir de 1870, as idéias e inspirações do educador Jean-Henry Pestalozzi
mudaram o curso sobre os métodos, surgindo, assim, o método intuitivo. Tal método
chamava a atenção para a importância da observação das coisas, dos objetos, da
natureza, dos fenômenos e também, para a necessidade da educação dos sentidos
com momentos fundamentais no processo de instrução escolar. O papel do
professor era de criar as condições para que os alunos pudessem ver, sentir,
observar os objetos, realizando uma atividade de conhecimento sensível para uma
elaboração mental superior, reflexiva dos conhecimentos (FARIA FILHO, 2005).
No final da primeira metade do século XX, o papel do professor era associado
à idéia de ensinar com a de transmitir conhecimento, de professar o saber, de torná-
lo público, de lê-lo para os outros que não o possuíam (ROLDÃO, 2007).
A partir da segunda metade do século XX, houve uma expansão do setor
educacional, surgindo a necessidade da incorporação de muitos trabalhadores no
ensino. A docência e a enfermagem foram consideradas, na época, atividades
profissionais própria das mulheres, por envolver o cuidado com os outros. As
mulheres eram solicitadas para ocupar o cargo de educadoras, considerando-se o
trabalho na escola como uma continuação das tarefas exigidas no ambiente
doméstico, surgindo a imagem de e educadora. A crise econômica, a crise de
emprego, as mudanças na família nuclear e a luta das mulheres pelos seus direitos
contribuíram para o ingresso da mulher no mercado de trabalho (CODO, 1999).
Para Pessanha (1997), o trabalho do professor é um trabalho não-manual,
assalariado, num setor não-produtivo e socialmente útil da atividade humana. É um
71
funcionário do estado ou de um serviço que, embora mantido por empresas
privadas, é considerado um serviço público.
Franchi (1995) complementa que o trabalho docente é, antes de tudo, um
sistema coordenado de ações educacionais, que envolve responsabilidade e
atuação social.
O papel do professor passou a sofrer algumas reformulações, aumentando as
suas responsabilidades como educadores. Anteriormente seu papel designado às
instituições escolares era o compromisso em relação à transmissão de
conhecimentos. Com a transformação dos tempos viu-se modificado pelo
aparecimento de novos agentes de socialização: os meios de comunicação e
consumo cultural de massa (LIBÂNEO, 2001).
Para Roldão (2007), o entendimento de ensinar como sinônimo de transmitir
um saber deixou de ser socialmente útil e profissionalmente distintivo da função,
num tempo de acesso à informação e de estruturação das sociedades em torno do
conhecimento enquanto capital global.
O mundo contemporâneo está marcado pelos avanços na comunicação e na
informática, e por outras transformações tecnológicas e científicas. Essas
transformações intervêm nas várias esferas da vida social, provocando mudanças
econômicas, sociais, políticas, culturais, afetando as escolas e o exercício
profissional da docência (LIBÂNEO, 2001).
Esteve (1999) se assemelha a Libâneo (2001), quando descreve que as
responsabilidades e exigências que se projetam sobre os educadores vêm
aumentando e coincidindo com um processo histórico de uma rápida transformação
do contexto social, traduzindo uma modificação do papel do professor.
72
Na visão de Franchi (1995), essa transformação que ocorre devido a rapidez
do desenvolvimento científico no mundo contemporâneo e a diversidade de
especializações e dos modelos teóricos, obriga o professor a um permanente
esforço de reciclagem, de atualização.
Perrenoud (2000), acrescenta e descreve que o ofício de professor está se
transformando, voltando-se para um trabalho em equipe e por projetos, com
autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias diferenciadas e
centralização sobre os dispositivos e as situações de aprendizagem.
Como descreve Voli (1998), o professor não é um mero transmissor de
saberes e conhecimentos, mas um educador, um comunicador de valores e ponto de
referência para os alunos.
Diante dessa nova realidade do mundo contemporâneo os professores
passaram a pensar em um novo posicionamento sobre as novas atitudes de ensino.
O ensino, exclusivamente verbalista, a mera transmissão de informações, a
aprendizagem entendida somente como acumulação de conhecimentos, não
subsistem mais. O professor passou a assumir o ensino como mediação, a prática
docente passou de pluridisciplinar para uma escola com práticas interdisciplinares,
os esforços dos educadores passaram a promover os meios de auto-sócio-
construção do conhecimento e a idéia do ensinar a pensar numa perspectiva crítica
dos conteúdos (LIBÂNEO, 2001).
Roldão (2007) explica que saber produzir essa mediação não é um dom,
embora alguns o tenham; não é uma técnica, embora requeira uma excelente
operacionalização técnico-estratégica; não é uma vocação, embora alguns possam
sentir. É ser um profissional de ensino, legitimado por um conhecimento específico
exigente e complexo.
73
Rodrigues (2006) descreve que cabe ao professor, mais do que repassar o
saber, e sim articular experiências para que o aluno reflita sobre suas relações com
o mundo e com o conhecimento, assumindo o papel ativo no processo de ensino-
aprendizagem.
Um professor consciente de suas possibilidades transformadoras é a chave
que a sociedade precisa para acionar o processo de mudanças nas gerações futuras
(VOLI, 1998).
Para Esteve (1999), o professor que resiste a estas mudanças, que ainda
pretende manter o papel de modelo social transmissor exclusivo de conhecimento e
da hierarquia possuidora de poder, tem maiores possibilidades de sofrer
questionamentos e de desenvolver sentimentos de mal-estar.
A função específica de ensinar não é definível pela transmissão do saber,
não por razões ideológicas ou pedagógicas, mas por razões sócio-históricas
(ROLDÃO, 2007).
Esteve (1999) acredita que assumir as novas funções que o contexto social
exige dos professores supõe domínio de uma série de habilidades pessoais que não
podem ser minimizadas ao âmbito da acumulação do conhecimento.
Quando um indivíduo se obrigado a mudanças excessivas em período de
tempo demasiadamente curto sente-se desorientado, como é o caso dos
professores que estão sendo tirados de um meio cultural conhecido, em que se
desenvolveu toda a prática, e está sendo colocado em um meio completamente
distinto do seu, sem esperança de retornar à antiga forma social. Com os novos
tempos, os professores necessitam incorporar conteúdos que não eram
mencionados quando começaram a exercer a profissão (ESTEVE,1999).
74
O autor acrescenta ainda que as transformações supõem um profundo e
exigente desafio pessoal para os professores que se propõem a atender às novas
expectativas projetadas sobre sua atuação docente.
Para Nóvoa (1995a), o isolamento é a característica comum dos professores
seriamente afetados pelo desajuste provocado pela mudança social. Para o autor, a
comunicação com os colegas é fundamental para a transformação da atitude e do
comportamento profissional, agregado a grupos de uma perspectiva inovadora, cuja
experiência permite visualizar ações e realidades concretas.
Rodrigues (2006, p.102) relata que no contexto atual, para compreender o
papel do educador e da escola, exige-se uma reflexão sobre as práticas
pedagógicas. Através da filosofia educacional se define o papel de homem e,
conseqüentemente, de sociedade que se deseja formar. Com essa análise, observa-
se que não basta apenas “jogar” informações em um indivíduo, sem dar-lhe a
oportunidade de conceber suas reflexões relacionadas aos diferentes problemas
com os quais possa se deparar ao longo da vida. A teoria, a prática e as
necessidades exigidas pela sociedade forçam um repensar do aprender do ensinar.
Dessa forma, Lenoir (2006) descreve a importância da interdisciplinaridade na
função do professor. Assim, explica que a interdisciplinaridade acadêmica tem a
preocupação da unificação do saber científico, reflexivo e crítico, e a
interdisciplinaridade, com abordagem instrumental, tem o objetivo de promover uma
busca de um saber diretamente útil, para responder às questões e problemas sociais
contemporâneos.
A influência da interdisciplinaridade tem sido marcante no processo de
construção de um novo caminho para aprendizagem. É a partir de seus
pressupostos que aprendemos a incluir o exercício da ambigüidade, da flexibilidade,
75
da amplitude e da sensibilidade do olhar e da articulação dos paradoxos como
tempos e espaços significativos de reflexão e aprendizagem (TAINO, 2009).
No trabalho docente, não basta reproduzir relatos orais ou escritos, segundo
Paul (2006), é preciso fazer com que o relato seja interrogado, trabalhado e refletido.
Essa análise tem por função fazer surgir os eventos principais associados aos
questionamentos, apreender a organização das lógicas, as coerências, as rupturas,
as redundâncias; em resumo, fazer o sentido emergir.
Assim, complementa Ribas et al. (2003), a formação não se constrói por
acumulação de conhecimentos, mas sim por meio da reflexão crítica sobre a própria
experiência e em interação com elementos da comunidade escolar, e, também com
outros segmentos da sociedade.
O diálogo do professor como elemento é fundamental para sedimentar o
saber que emerge das diferentes práticas profissionais. O estabelecimento desses
espaços coletivos de discussão e reflexão é importante para socializar o
conhecimento transmitido, reconstruído e produzido na escola (RIBAS et al. 2003).
Taino (2009) acrescenta que trabalhar com pessoas é trabalhar com
sentimentos, conflitos, enfim, com a diversidade e multiplicidade dos aspectos da
totalidade humana, produto de um saber local e universal, incluindo as mudanças
que são próprias do ser humano e fazem parte do seu desenvolvimento.
O trabalho da docência está se modificando a todo instante devido às
necessidades que o mundo contemporâneo exige. Essa adaptação a novos rumos
pode causar conflitos, resultantes em um comportamento de estresse. Para
acrescentar informações sobre as dificuldades encontradas no trabalho docente, o
próximo tópico irá apresentar o estresse ocupacional em professores.
76
4.2 O estresse ocupacional em professores
Ser professor é uma profissão que merece respeito e consideração pela
nobre missão. Vários trabalhos na literatura mundial, atualmente, mostram que
exercer a função docente é uma das profissões existentes mais estressantes
(MELEIRO, 2006).
O professor está comprometido com todos os seus alunos em seu
desenvolvimento como pessoas, mesmo sabendo que isso pode causar tensões e
dilemas. É necessário atender ao avanço da aprendizagem, ao mesmo tempo, não
se pode esquecer das necessidades e do reconhecimento do valor que, como
pessoa, merece todo o alunado (CONTRERAS, 2002).
As pressões que vivem os professores são muitas, e elas vêm de vários
fatores: de um lado, os pais, que não compreendem exatamente o que es
acontecendo e exigem respostas do professor que, na maioria das vezes, não está
preparado para responder; de outro, a sociedade, que o responsabiliza por todos os
males sociais, exigindo do professor soluções para os problemas (ALONSO, 2003).
Segundo Reinhold (1996), os professores que lecionam da pré-escola à
quarta série do ensino fundamental apresentam um elevado nível de estresse.
Reinhold acrescenta que o estresse do professor é decorrente das mudanças
sociais, pessoais e econômicas na situação profissional. Até os meados de 1960, ser
professor era ter um status elevado com ganhos razoáveis. Hoje, essa situação é
oposta. O professor possui uma baixa remuneração e status muito aquém dos
desejáveis para manter um padrão de vida compatível com a exigência e a pressão
recebidas, uma vez que a função do professor é oferecer formação cognitiva, afetiva
e social aos indivíduos/alunos.
77
Witter (2006) acrescenta que o estresse do professor pode ter origem tanto
dentro como fora da escola. A história de vida, o convívio familiar e as características
pessoais também necessitam serem pesquisadas.
No meio acadêmico, muitas variáveis podem gerar estresse no professor: o
sistema, o estilo de gerenciamento, a personalidade do gestor e o estilo de
liderança, pois geram climas de trabalho que podem ser contraditórios, provocando o
estresse e trazendo conseqüências negativas. Witter (2006) cita, como exemplo um
diretor imposto ou autoritário que pode criar um clima organizacional inadequado,
opressor, gerando estresse no docente. Provavelmente esse clima ruim irá refletir
em sala de aula, prejudicando a qualidade de ensino e causando estresse também
nos alunos (WITTER, 2006).
Segundo Witter (2006), o administrador pode atuar reduzindo ou
intensificando o efeito das variáveis estressoras no docente. No Quadro 07
aparecem as variáveis com envolvimento administrativo que podem agravar ou
atenuar o estresse do professor.
Propiciam a redução Aumentam
Sistema aberto de administração.
Falta de formação científica do
professor.
Condições para atualização freqüente
do professor.
Contraste negativo com outras
escolas.
Fornecimento de rede de apoio social. Agressividade, punição, injustiça.
Liderança não-coercitiva.
Cultura organizacional baseada na
ameaça e na opressão.
Ambiente físico agradável. Falta de comunicação.
Envolvimento pessoal.
Demanda além das possibilidades do
professor.
Satisfação no trabalho.
Geração contínua e crescente de
tensão.
Cultura organizacional positiva. Pressão de tempo.
Equilíbrio entre demanda, competência
e condições de trabalho.
Restrição ao desenvolvimento
pessoal.
78
Propiciam a redução Aumentam
Motivação.
Restrição ao desenvolvimento da
criatividade.
Condições para auto-realização.
Adequada gestão de conflitos.
Quadro 07 Reduzindo ou aumentando o estresse do professor
Fonte: WITTER, 2006, p.130
Em uma gestão participativa, os fatores relacionados à direção da escola
dizem respeito a todos que compõem a comunidade pedagógica, ou seja, ao próprio
professor (LUCCHESI, 2003).
Reinhold (2006) descreve que o diretor ou coordenador deve ser perceptivo.
É necessário que seja um profissional que saiba ouvir, que seja simpático e que
consiga resolver conflitos. O diretor tem papel central no estresse do professor, tanto
no sentido positivo (como fonte de apoio), quanto no sentido negativo (como fonte
de estresse).
As características desejáveis do diretor incluem: atitudes que demonstram
valorização das pessoas e do trabalho por elas realizado; dignidade e respeito no
tratamento com o outro; mantém sua palavra e aquilo que foi combinado; oferece um
ambiente preocupado com o bem-estar do professor; estabelece e mantém
confiança e transparência; ouve com cuidado, compreensão e empatia as
reclamações dos professores (REINHOLD, 2006).
Pereira (1999) considera que, para reduzir o estresse do professor, o
administrador deve levar em consideração a identidade pessoal e profissional de
cada docente, cuidar para que a estrutura organizacional seja flexível e aberta, criar
práticas eficientes de comunicação, estabelecer uma rede formal e informal de
apoio, estimular a liderança, cuidar do sistema de gestão de conflito e valorizar o
docente.
79
Dessa forma, o clima de uma organização escolar pode ser definido como um
elemento capaz de impulsionar as descrições coletivas da própria organização como
um todo; um ponto referencial para os membros da organização, determinando
atitudes, expectativas e condutas; mediador das práticas organizacionais das quais
é originário e pelas quais se mantém (BRITO, 2003).
Para Meleiro (2006), alguns aspectos são grandes causadores de estresse no
professor, dentre eles estão: um grande número de crianças, não recebe uma
educação adequada em seus lares, muitos pais não propõem limites necessários à
criança, não têm paciência e acaba depositando na escola, na professora a função
de educadora. Quando os professores tentam dialogar com os pais, geralmente o
destratados, pois os pais o aceitam orientação sobre os cuidados com os filhos;
muitos problemas podem surgir com vários alunos, e a classe não é constituída por
um aluno apenas. Essa somatória de situações pode levar a um desgaste tanto
físico como emocional, diminuindo o prazer com o trabalho. A dificuldade financeira,
os baixos salários, as longas jornadas de trabalho (iniciando-se muito cedo e
podendo se estender até a noite); raras pausas de descanso ou refeições breves; o
ritmo de trabalho comumente intenso; e exigência de altos níveis de atenção e
concentração para a realização de tarefas; a pressão exercida pelas novas
tecnologias; necessidade de adaptação sem um preparo prévio. Tudo isso favorece
a tensão, a insatisfação e a ansiedade, o que “esgota” o professor.
Meleiro (2006) ressalta que, no ensino fundamental, as dificuldades parecem
ser maiores: a existência de temperatura elevada na sala de aula; iluminação
inadequada e barulho interno intenso; turmas formadas por um grande número de
alunos; o trabalho realizado dentro da sala de aula e nos intervalos (observar e
acompanhar os alunos) demanda um esforço maior que acaba por sobrecarregar os
80
professores. É durante os intervalos que os professores se reúnem com pais ou são
procurados para responder dúvidas. O professor acaba sendo gerenciador de
situações que fogem ao seu controle, até mesmo por despreparo; as drogas usadas
por adolescentes se o professor não souber enfrentar a situação em conjunto com a
direção da escola, passará a sofrer ameaças, além da perda de controle sobre os
alunos, muitos professores são afastados de suas atividades profissionais por
apresentarem alterações físicas e emocionais devido a gravidade do problema;
vários professores fazem o papel de conselheira ou mãe de alunos fazendo
esclarecimento sobre as questões sexuais e as drogas; gravidez na adolescência;
rebeldia e pouco caso dos alunos em relação aos professores; hostilidade por parte
dos colegas, grupos que se reúnem para alguns programas mas excluem um ou
outro professor; as condições de trabalho deixam a desejar, faltando material para
as atividades e inibindo iniciativas de professores criativos que demandem recursos
financeiros; a insatisfação e a falta de perspectiva de crescimento desestimulam os
professores, que passam a ver a escola como um fardo e sem gratificação pessoal.
Para ser professor do ensino fundamental, de acordo com a Lei 9394/96 (Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) estabelece, em relação ao exercício
docente no Ensino Fundamental, que:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidade e institutos superiores de educação admitida, como
formação nima para o exercício do magistério na educação infantil
e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal. Assim, o 4º do art. 87 da mesma
Lei acrescenta“ até o fim da Década da Educação somente serão
admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por
treinamento em serviço.
Outro fator estressante são os trabalhos e provas extras, encaixadas em uma
agenda repleta de trabalhos. Os professores dedicam seus finais de semana para a
81
correção de trabalhos e provas, deixando de lado o lazer e as atividades ao lado da
família. (MELEIRO, 2006).
Como descreve Nóvoa (1995b), a função do professor envolve transmitir
conhecimentos específicos e diversificados aos alunos, organizar o trabalho em sala
de aula, manter a disciplina, estabelecer relações com as famílias, ter um papel de
educador junto aos alunos e, ainda, promover atividades escolares e extra-
escolares, o que implica desgaste e fadiga.
Tricoli (2004) ressalta que um sério problema das escolas diz respeito às
mudanças repentinas e freqüentes de método educacional. Essas mudanças fazem
com que não haja, por parte dos educadores uma estrutura para assimilá-las, o que
acarreta o aumento do nível de estresse dos professores. Devido a essa falta de
estrutura os professores não se sentem preparados para a nova forma de atuação, o
que dificulta ainda mais o processo de ensino-aprendizagem. Para a implantação e a
aplicação de um método educacional, deve-se levar em consideração a identificação
com o mesmo, além de preparação e treinamento. A incongruência entre a teoria e a
prática, o despreparo do corpo docente para trabalhar com um novo método passa a
ser uma fonte de estresse para todos, inclusive para o aluno.
Witter (2006), muito próximo do pensamento de Tricoli (2004) e Meleiro
(2006), descreve que uma das causas freqüentes de estresse no professor está na
dificuldade em acompanhar as rápidas mudanças que ocorrem nas metodologias,
nas tecnologias, nos materiais e nos meios de ensino. Tudo isso faz com que o
professor retome sua formação, sentindo a necessidade de uma base científica e de
uma atualização permanente do conhecimento, especialmente em procedimentos e
tecnologias.
82
Outra dificuldade com que os educadores se deparam decorre do fato de que
a educação sempre esteve atrelada a modelos organizacionais ultrapassados e
inadequados à realização dos seus objetivos. Transplantado para a escola, o
modelo organizacional (taylorista-fayolista) impediu o desenvolvimento de um
trabalho coerente, separando a concepção da execução. No ensino, houve
prejuízos, pois os principais responsáveis pela ação educativa foram privados de sua
capacidade de escolha e decisão (aos conteúdos e formas de agir). A separação
entre pensar e agir no trabalho educativo foi responsável pela supervalorização do
trabalho dos administradores e especialistas do ensino em detrimento do professor,
cuja ação ficou reduzida à aplicação de normas e preceitos (ALONSO, 2003).
Reinhold (1996) complementa que diante de situações tão desfavoráveis, o
professor acaba se tornando inseguro, despreparado, com conhecimento cnico
deficitário, com cultura restrita e sem perspectiva de trabalho. Muitos professores
encontram-se estressados apresentando problemas físicos e psicológicos
resultantes de seu trabalho associado a altas exigências profissionais.
Professores estressados podem gerar ou intensificar o estresse nos alunos.
O professor estressado pode proporcionar o surgimento de vários fatores que
prejudicam o desenvolvimento da aprendizagem como a ansiedade, a
agressividade, o baixo nível de motivação, o clima educacional desfavorável que por
sua vez, intensificam o estresse do professor formando um ciclo vicioso (WITTER,
2006).
Para Witter (2006), é importante que o professor aprenda a detectar as
variáveis que o estressam, tanto na escola como fora dela; e como reagir
adequadamente sem reduzir o comportamento produtivo. Para a autora é importante
83
a utilização de técnicas de autocontrole e técnicas de relaxamento para ajudar a
amenizar o estresse.
Dessa forma, Tavares (2001) ressalta a importância da resiliência nos
sistemas de formação e educação, no sentido de preparar seus participantes para
um maior controle do estresse e para lidarem adequadamente com as estratégias de
enfrentamento. Segundo o dicionário da língua inglesa Longman Dictionary of
Contemporary English (1995, p.66), a resiliência é definida como habilidade de voltar
rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por
doenças, adversidades ou dificuldades, ou seja, é a habilidade de uma substância
retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade.
Para Tavares (2001), a resiliência poderá vencer desafios, proporcionando
mudanças no desenvolvimento humano, trazendo a capacidade de aprender e
desaprender as coisas consideradas inúteis para empreender, agir e resistir, no meio
das diversas contrariedades de ser, comunicar, saber estar e sobreviver.
O auto-conceito (percepção que o indivíduo tem de si próprio) e a auto-estima
(avaliação do auto-conceito) positivos o considerados como elementos
necessários para o processo de desenvolvimento de personalidades resilientes.
Promover o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo com vista a proporcionar
um estilo de vida mais saudável, passível de maior adaptação e sobrevivência nesta
complexa sociedade de concorrência, deverá ser a principal prioridade, por meio de
identificação dos fatores de risco e fatores protetores (PEREIRA, 2001).
A pesquisa de Parkes (1990) teve por finalidade testar a hipótese de que o
enfrentamento direto pode moderar os efeitos das relações entre estresse no
trabalho e saúde mental. Sua pesquisa foi realizada com 157 professores em
treinamento, cruzando dados de enfrentamento, demandas e apoios percebidos no
84
trabalho e sintomas afetivos. Os resultados confirmaram a supressão como forma
focal de enfrentamento. Foram verificados diferenças de gênero, com os homens
usando mais a supressão do que as mulheres. A afetividade negativa apareceu
como uma variável que engloba o índice de reatividade nas relações estresse-
resultado. O índice de reatividade atua em associação com as percepções sobre o
trabalho e os sintomas afetivos. Os docentes com alto índice de afetividade negativa
demonstraram maior reatividade negativa às exigências ou demandas do trabalho
do que fizeram os professores com baixa afetividade negativa, predispondo os
primeiros ao estresse.
Inocente (2000) investigou como o professor se sente em relação a estados
depressivos e situações de trabalho em uma amostra de 50 professores
universitários. Os resultados obtidos apontaram que as seguintes variáveis afetaram
os professores: desânimo (64%); melancolia (50%), irritação (74%), ansiedade
(76%), ansiedade (76%), baixa auto-estima (56%), estresse (74,5%), perfeccionismo
(98%), e ser crítico (92%).
Sonnentag (2001) considera a importância do lazer para amenizar os efeitos
do estresse. Seus estudos foram realizados por meio do uso de tempo de lazer e a
recuperação do trabalho, tendo em vista o bem-estar das pessoas. Foram
analisados cem professores alemães que fizeram um diário de suas atividades de
lazer por um período de cinco dias e responderam a um questionário sobre trabalho.
Concluiu que as atividades de lazer e o nível de estresse baixo na situação de
trabalho contribuem independentemente para o bem-estar das pessoas.
Gomes (2002), em sua pesquisa com um grupo de onze professores (sete
mulheres e quatro homens) de escola estadual do Rio de Janeiro, com o objetivo de
analisar as condições de trabalho e de saúde do professor, também constatou o
85
estresse, a irritação e a agitação do professor. Para Gomes, os problemas
identificados foram referentes à sobrecarga de trabalho determinada por vários
fatores, entre eles: a gestão, a política, a infra-estrutura, a invasão de tempo, o
número excessivo de alunos e a intensificação das atividades no final de ano letivo.
A autora ainda ressalta que os problemas de saúde encontrados nos
professores foram: depressão, ansiedade, nervosismo, irritabilidade, angústia,
esgotamento, problemas digestivos, respiratórios e sensação de intenso mal-estar.
Francellino (2002), em sua pesquisa sobre o trabalho docente e as fontes de
estresse ocupacional, em uma Universidade Federal, constatou que existe relação
entre a atividade docente e o estresse, e a emoção como elemento determinante
para seu desencadeamento, que acaba tendo implicações diretas na ação do
professor, aumentando a ansiedade, causando desgastes e frustrações e
conseqüentemente perdas de qualidade de vida.
Witter (2003), em sua pesquisa realizada a partir da produção arrolada na
base bibliográfica PsycArticle,constatou que, de 1987 a 2002, somente 28 artigos
consideram a relação professor- estresse. Observou-se que os estressores não
afetam igualmente todos os professores, uns são mais afetados por colegas, outros
por alunos e outros pela escola de uma forma global. Para Witter (2003), poucas
pesquisas na área, e a temática dos trabalhos estão longe de dar conta do
necessário para sua evolução em profundidade e para suprir as necessidades
básicas de conhecimento na área.
Na pesquisa realizada por Noal (2003) sobre manifestações do mal-estar
docente, na vida de cinco professoras do ensino fundamental, concluiu-se que as
dificuldades vivenciadas no cotidiano dos professores estão relacionadas à
indisciplina e ao desinteresse dos alunos, à violência, à falta de recursos, aos
86
relacionamentos interpessoais desarmoniosos, ao excesso de trabalho e à questão
salarial. Para Noal (2003), a complexidade desta temática requer contínuos estudos.
Na pesquisa realizada por Scherer (2004), que teve como objetivo
caracterizar o estresse e as estratégias de enfrentamento em professores
universitários da rede Pública Federal da área das Ciências Sociais e Humanas, foi
constatado que os focos principais de estresse estão nas relações com os colegas,
nas condições físicas do ambiente de trabalho e no auxílio financeiro, na interface
trabalho/lazer. Quanto às estratégias de enfrentamento as dimensões encontradas
foram: confronto, evasão e busca de suporte social. Os sintomas encontrados foram:
sintomas físicos e sintomas próprios do ambiente de trabalho.
Peixoto (2004), em sua pesquisa que objetivou caracterizar as estratégias de
enfrentamento de estresse no trabalho de cento e dois professores universitários,
concluiu que as estratégias mais freqüentes são: de controle, seguida de confronto e
de esquiva. Dentre as estratégias de controle as mais freqüentes foram: a de
procurar cumprir da melhor maneira as suas atividades e responder as solicitações
da instituição. Dentre as de confronto, foram: procurar realizar as atividades mais
importantes, discutir queixas discentes com a coordenação e defender idéias
quando divergências teóricas. Dentre as de esquiva foram: o excesso de alunos,
a sensação de que não o que fazer em certas situações e evitar contato com
alguns colegas de trabalho. O suporte social mostrou correlação negativa
significativa com a estratégia esquiva e positiva e significativamente relacionada com
a estratégia de controle, dado favorecedor de impacto positivo sobre a saúde. Os
resultados forneceram evidências de que os professores apresentam estresse e,
dentre os mais freqüentes, estão o desgaste físico, tensão muscular, cansaço
excessivo, irritabilidade e ansiedade.
87
Na pesquisa realizada por Inocente (2005),com 510 professores universitários
da região do vale do Paraíba-SP, concluiu-se que 41 (8%) estavam em desequilíbrio
entre esforço e recompensa e que 54 (11%) apresentaram supercomprometimento
no trabalho. Foi concluído que os professores pesquisados apresentaram riscos de
doenças decorrentes do estresse ocupacional.
Na pesquisa sobre estresse realizada por Rodrigues et al. (2005), com 24
professores da educação infantil e do ensino fundamental de uma escola pública da
cidade de Urbelândia/ MG, 87% eram mulheres e 13% homens. Obteve-se que 58%
dos professores eram mulheres e apresentavam sintomatologia de estresse.
Dessas, 92% estavam na fase de resistência e, 8% na fase de quase-exaustão. Com
relação aos sintomas, notou-se que 50% dos professores estressados apresentavam
predominância de sintomas físicos e psicológicos, 42% apresentavam
predominância de sintomas psicológicos e apenas 7% predominância de sintomas
físicos. A ordem dos agentes estressores que mais contribuíam para o estresse dos
professores da escola pública foi a seguinte: desinteresse da família em acompanhar
a trajetória educacional dos filhos (37%), infra-estrutura inadequada da escola
(29%), problemas de indisciplina e desnível entre alunos (17%), grande demanda e
desvalorização profissional (13%) e falta de trabalho dos professores em equipe
(4%). Com relação aos agentes estressores que menos estressavam os professores
da escola pública obteve-se a seguinte ordem: ter que lidar com situações que
fogem ao seu controle (46%), falta de trabalho em equipe (29%), grande demanda e
desvalorização profissional (21%) e, desinteresse da família em acompanhar a
trajetória educacional dos filhos (4%). Em relação aos professores da escola
privada, dos 30 professores, 80% eram mulheres e 20% homens. Menos da metade
da amostra apresentou estresse (27%), sendo 75% mulheres e 25% homens. Com
88
relação às fases de estresse, 87% estavam na fase de resistência, apenas 13% na
fase de quase-exaustão. Houve predominância de sintomas físicos e psicológicos
em metade dos professores estressados (50%), os sintomas psicológicos
prevaleceram em 38% e 12% apresentaram sintomas físicos. Os agentes
estressores apareceram nesta ordem: desinteresse da família em acompanhar a
trajetória educacional dos filhos (60%), problemas de indisciplina e desnível entre os
alunos (17%), ter que lidar com situações que fogem ao seu controle (13%), grande
demanda e desvalorização profissional (7%) e falta de trabalho dos professores em
equipe (3%). Os agentes que menos os estressavam foram os seguintes: ter que
lidar com situações que fogem do controle (54%), falta de trabalhos dos professores
em equipe (20%), infra-estrutura inadequada da escola (13%), grande demanda e
desvalorização profissional (7%), problemas de indisciplina e desnível entre alunos
(3%) e desinteresse da família em acompanhar a trajetória educacional dos filhos
(3%). Foi concluído que os professores da rede pública apresentar estar mais
estressados que os da rede privada. Com relação aos agentes estressores, tanto os
professores da rede pública como os da escola privada consideram mais estressante
o desinteresse da família em acompanhar a trajetória educacional dos filhos e os
problemas de indisciplina e desnível dos alunos. As categorias que menos
estressam, tanto na rede pública quanto na rede privada, é ter que lidar com
situações que fogem ao seu controle e a falta de trabalhos em equipe. Foi concluído
que, de acordo com os dados que a profissão docente é considerada estressante.
Pires (2005), realizou uma pesquisa com o objetivo de verificar o estresse
ocupacional em professores da Universidade Federal de Pernambuco. Seus
indicadores, suas fontes e as estratégias de enfrentamento utilizadas para combatê-
los constatou que os professores apresentam boa saúde mental e física tendendo a
89
relatar momentos de sobrecarga de trabalho. Prevaleceu, como tipo de
personalidade o híbrido tipo AB, tendendo para A. Isso indica que sua vida é
acelerada, contudo não se reconhecem como pessoas competitivas. As fontes de
pressão no trabalho que se mostraram mais intensas estão relacionadas às
categorias: inter-relacionamentos, responsabilidade pessoal, ambiente e clima
organizacional, papel gerencial, carga de trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e
profissional e falta de possibilidade de crescimento na carreira. As estratégias de
combate ao estresse mais utilizadas foram: o planejamento, a expansão de
interesses e atividades fora do trabalho, definição de prioridades, utilização de
hobbies e passatempos e resolução objetiva de problemas. De maneira geral, o
estresse percebido pelos professores não se apresenta de foram intensa a ponto de
comprometer sua vida pessoal.
Gabriel (2006), em sua pesquisa sobre fatores estressores no ambiente de
trabalho docente em uma universidade privada, por meio de estudos bibliográficos,
constatou o surgimento do estresse negativo relacionado: ao ambiente de trabalho,
à caracterização da atividade docente, à organização do tempo, aos aspectos
institucionais, às falhas de comunicação, ao salário e à instabilidade quanto a carga
horária atribuída.
Costa (2006), em sua pesquisa teve como finalidade investigar os fatores
estressores no ambiente de trabalho docente em uma universidade privada. Para
concretização da investigação foram realizados estudos bibliográficos, além de
aplicados questionários e observações do ambiente de trabalho dos professores.
Foram analisados sete grupos de variáveis dos quais três deles se mostraram
relevantes no surgimento do estresse negativo, a saber: ambiente de trabalho,
caracterização da atividade docente, organização do tempo e aspectos
90
institucionais. A partir do exposto, observa-se que os fatores mais relevantes que
influenciam no surgimento do estresse negativo nos docentes são: as falhas na
comunicação, o salário e a instabilidade quanto à definição de carga atribuída a
estes profissionais.
Barreto (2007) realizou uma pesquisa com dezessete professores de duas
instituições de Ensino Superior, na cidade de Natal, com o objetivo de investigar os
elementos que contribuem para desencadear o estresse no exercício da docência
universitária e conhecer as estratégias adotadas pelos professores para enfrentar as
situações estressantes a fim de promover o exercício saudável do ofício. No
exercício da docência, as variáveis que interferem no desencadeamento do estresse
foram: más condições de trabalho, cobranças institucionais, descompromisso dos
alunos, jornada excessiva de trabalho, baixa remuneração, falta de incentivos ao
professor, incertezas quanto à carga horária e dificuldades na administração do
tempo. Embora a problemática seja comum ao grupo, às estratégias de
enfrentamento são adotadas individualmente. Oscilaram desde a busca de opções
de lazer, desabafo com colegas da profissão e com familiares, à atividades físicas,
planejamento individual, oração, enfrentamento racional, até entregar-se à exaustão.
O estudo apontou necessidades de programas institucionais que se preocupem com
as demandas do professor universitário, levando em conta a necessidades de uma
formação permanente que contemple a multidimensionalidade presente na prática
do ofício.
Reinaldo (2008), em sua pesquisa realizada com duzentos e trinta e dois
professores universitários, tendo como objetivo analisar o estresse e as estratégias
de enfrentamento, constatou que a maioria dos sujeitos encontrava-se na faixa
etária de trinta a cinqüenta anos, com prevalência do sexo feminino; os sujeitos
91
apresentaram estresse físico, psicológico, psicofisiológico e de temporalidade; sendo
o estresse de temporalidade com incidência maior (98 indivíduos). A maioria dos
sujeitos casados apresenta um índice menor de estresse. Quanto à estratégia de
enfrentamento, a recusa foi a mais inferida (150 sujeitos) média de 42,0%,
diferenciando-se da média nacional de 39,2. Destacou-se ainda que os sujeitos que
praticam esporte apresentam um indicativo menor de estresse.
Os autores acima citados como Nóvoa (1995a, 1995b), Reinhold (1996),
Contreras (2002), Witter (2003), Tricoli (2004), Meleiro (2006), Lipp (2006),
descrevem a difícil jornada de trabalho que os professores enfrentam, tendo como
resultado o estresse ocupacional, que muitas vezes pode limitar o exercício
profissional, trazendo desgaste à saúde física e mental do professor.
A profissão e o trabalho fazem parte de nossas vidas. Para a grande maioria
das pessoas, o trabalho é a fonte de subsistência e de posição social, sendo
reconhecido por pertencer a uma determinada categoria de trabalho, como no o
trabalho docente.
O trabalho, quando satisfatório, determina prazer, alegria e sde, mas
quando não é reconhecido, desprovido de significação ou caracteriza fonte de
ameaças à integridade física ou psíquica, acaba determinando sofrimento ao
profissional.
Em relação ao trabalho docente, muitos são os fatores determinantes de
estresse, que vão desde as condões de trabalho; fatores interpessoais; falta de
colaboração por parte dos colegas; imagem profissional negativa até fatores
administrativos relacionados à direção da escola, como: falta de apoio, atitudes
diretivas, cobranças e falta de oportunidade de promoção; além dos pais de alunos
que excedem em cobranças ao professor.
92
É fundamental uma atitude positiva por parte da escola; desde os gestores
(administradores), professores, até alunos e funcionários, para o bom funcionamento
do ambiente escolar. Uma atitude positiva favorece o desenvolvimento social sadio e
previne o estresse originado pela escola.
O mundo contemporâneo é marcado por mudanças repentinas exigindo
flexibilidade e capacidade de adaptação, tanto na vida particular quanto na vida
profissional. Aceitar as mudanças, entender que existe mais de uma maneira de
resolver os problemas utilizando as estratégias de enfrentamento é uma forma de
lidar com esta era de mudanças favorecendo a saúde e o rendimento profissional.
93
5 MÉTODO
5.1 Tipo de pesquisa
Para este trabalho o tipo de pesquisa utilizado foi a pesquisa exploratória e
descritiva. A pesquisa exploratória definida por Gil (1994), tem como finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias. São desenvolvidas com o
objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado
fato. A pesquisa descritiva, como descreve Gil (1994), tem como objetivo a descrição
das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento
entre as variáveis. Uma das características mais significativas está na utilização de
técnicas padronizadas de coleta de dados. As pesquisas descritivas são, juntamente
com as exploratórias, as que os pesquisadores sociais realizam preocupados com a
atuação prática. São também solicitadas por organizações, como instituições
educacionais, empresas comerciais, partidos políticos.
5.2 População e amostra
A população pesquisada foi composta de 1.200 professores do ensino
fundamental que trabalham na cidade de Taubaté, São Paulo. A amostra utilizada
nesta pesquisa foi composta de 312 docentes em exercício profissional.
Para a composição da amostra foi realizado o cálculo do tamanho da amostra
mínima.
94
Para calcular o grupo amostral do respectivo trabalho foram realizados os
seguintes procedimentos (BARBETTA, 2001):
1. Verificação do quantitativo da população;
2. Definir o erro amostral (E0), margem de erro aceitável, no caso do trabalho
foi utilizado 5%;
3. Calcular a primeira aproximação da amostra por meio da equação:
n0 = 1/(E0)2
4. Calcular a amostra mínima necessária, a partir da equação:
n = N.n0/N+n0
n = N.no/ N + n
n = 300
Dessa forma, estabelecida a amostra mínima de 300 elementos.
Os docentes participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice B).
5.3 Instrumentos
Os instrumentos utilizados para a pesquisa foram as escala de Toulousaine
(ETS Echelle Toulousaine de Stress) para o estresse e a escala Toulousaine de
Enfrentamento (ETC Echelle Toulousaine de Coping), na identificação das formas
de enfrentamento. (ANEXO B). O uso de escalas tem a finalidade de identificar
comportamentos de uma determinada pessoa a respeito de situações percebidas
95
como estressantes. Concluída a fase da pesquisa quantitativa foi feita a análise dos
dados que permitiu formular uma conclusão dos dados obtidos. Os dados foram
tabulados e analisados por meio do programa SPHINX (Software para coleta e
análise de dados).
5.4 Descrição da escala de estresse
Esta escala foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores da equipe de
Psicologia Social e Desenvolvimento da Saúde da Universidade Toulouse II Le
Mirail, França, sob orientação do Profº Pierre Tap (SORDES-ADER; TAP, 1997 apud
CHAMON, 2006). Ela contém 30 itens distribuídos em quatro dimensões de acordo
com o campo considerado. Os entrevistados devem responder “quase nunca” ou
“quase sempre”. Estes aspectos da escala mensuram os aspectos físicos,
psicológicos e psicofisiológicos envolvidos em situações de estresse - Escala de
conversão.
As manifestações físicas são percebidas por meio de dores de barriga,
tremores, choro, taquicardia, boca seca e dificuldade para respirar. Além de
disfunções psicológicas como: preocupação, falta de controle, depressão,
incompreensão e isolamento.
As manifestações psicofisiológicas se apresentam como: insônia ou sono em
excesso, agitação, cansaço e falta de energia.
Nas manifestações de temporalidade, o indivíduo pode apresentar o
comportamento de inquietude ao futuro e preocupações demasiadas com o amanhã,
incapacidade de planejar ou organizar seu tempo e esquecimento de compromissos
e objetos.
96
O somatório dos escores da escala de estresse é obtido a partir das
respostas às perguntas direcionadas, de acordo com a escala de conversão, como
mostra o Quadro 08.
ESTRESSE
MANIFESTAÇÕES
Físicas Psicofisiológicas
Temporalidade
Psicológicas
Perg. Nº 02
Perg. Nº 16
Perg. Nº 05 Perg. Nº 06 Perg. Nº 01
Perg. Nº 15
Perg. Nº 04
Perg. Nº 20
Perg. Nº 11 Perg. Nº 12 Perg. Nº 03
Perg. Nº 19
Perg. Nº 08
Perg. Nº 22
Perg. Nº 17 Perg. Nº 18 Perg. Nº 07
Perg. Nº 21
Perg. Nº 10
Perg. Nº 26
Perg. Nº 23 Perg. Nº 24 Perg. Nº 09
Perg. Nº 25
Perg. Nº 14
Perg. Nº 28
Perg. Nº 29 Perg. Nº 30 Perg. Nº 13
Perg. Nº 27
Quadro 08 Demonstrativo para questões que identificam as manifestações do
estresse
Fonte: Stephenson; Chamon, 2005, p. 77
5.5 Descrição da escala de estratégias de enfrentamento
A escala de Toulousaine de Enfrentamento (ETC) é constituída de 54
afirmações. Para cada uma das afirmações o indivíduo deve indicar numa escala do
tipo Likert, em cinco pontos. O pesquisado deve assinalar colocando um “X” apenas
em uma resposta, aquela que mais corresponde à sua reação ou atitude. O Quadro
09 apresenta as questões de acordo com a estratégia de enfrentamento.
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
RELACIONADOS AO
Controle Psicofisiológicas Temporalidade Psicológicas
Perguntas nºs. Perguntas nºs. Perguntas nºs. Perguntas nºs.
01 06 07 12 02 04 03 05
08 09 14 15 18 20 10 13
11 17 23 25 22 35 16 21
19 24 28 30 36 38 31 32
97
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
RELACIONADOS AO
Controle Psicofisiológicas Temporalidade Psicológicas
Perguntas nºs. Perguntas nºs. Perguntas nºs. Perguntas nºs.
26 27 33 34 40 54 41 42
29 37 39 43 48 49
44 47 45 46 50 51
53 52
Quadro 09 Demonstrativo das questões para identificação das estratégias de
enfrentamento
Fonte: Stephenson; Chamon, 2005, p.78
A escala é constituída de doze dimensões, obtidas por meio da intersecção
de três campos agrupados de acordo com as de ação (comportamento); de
informação (cognitivo) e de emoção (afetivo) e quatro estratégias de enfrentamento:
o controle, o apoio social, o isolamento e a recusa. O quadro 10 apresenta a
construção teórica da escala das estratégias de enfrentamento.
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
RELACIONADAS AO
CONTROLE
CONTROLE PELA
AÇÃO
CONTROLE
COGNITIVO
CONTROLE
EMOCIONAL
APOIO SOCIAL
Cooperação/
atividades
Apoio social
Informação
Apoio emocional
ISOLAMENTO
Social e
comportamental
Refugia-se no
sonho
Atitudes de
compensação
Dificuldade de
expressar
Sentimentos/ emoções
RECUSA
Dificuldade de
aceitar a realidade,
distração
Refugia-se nos
sonhos (recusa
mental) negação
da realidade
Insensibilidade,
alteração de humor,
dificuldade de
expressar sentimentos.
Quadro 10 Demonstrativo da construção teórica da escala de estratégias de
enfrentamento
Fonte: Stephenson; Chamon, 2005, p.80
98
Os três campos descrevem as articulações existentes entre as condutas.
O primeiro campo, o campo comportamental, corresponde ao conjunto de
processos pelos quais o indivíduo planeja, organiza e gerencia a ação. O quadro 11
mostra ilustra de forma sintética o exposto.
O segundo campo, o campo cognitivo, corresponde aos processos pelos
quais o indivíduo agrupa as informações diante das situações tidas como
estressante que lhe causam desconforto.
O terceiro campo, o campo afetivo, corresponde ao conjunto de reações
emocionais do sujeito, as emoções, os sentimentos e afetos sobre os quais o
indivíduo fundamenta as suas ações, ambições e desejos.
Esses três campos são constituídos de quatro estratégias que, cruzadas,
produzem 12 dimensões.
O campo controle caracteriza a regularização das atividades mentais,
comportamentais e de reações emocionais. O indivíduo tenta dominar a situação
(regulação das atividades), ou planejá-la (controle cognitivo); ou até mesmo
disfarçando suas emoções (controle emocional) (STEPHENSON; CHAMON, 2005).
O campo social traduz a demanda, a solicitação e a procura de ajuda. Esta
ajuda pode vir por meio de diálogos e conselhos de outras pessoas; bem como a
cooperação com outros em atividades coletivas buscando a inter-relação.
No campo isolamento, o significado é de ruptura das atividades e das
interações com o outro. O indivíduo se fecha e foge da situação (isolamento social e
comportamental). Tentando eliminar e esquecer as aflições, a pessoa tenta refugiar-
se em sonhos e fantasias (isolamento mental). Nesse campo, pode-se ainda adotar
condutas de compensação por meio de alimentos, álcool ou drogas (STEPHENSON;
CHAMON, 2005).
99
O quarto campo, o campo da recusa, traduz a incapacidade de aceitar a
realidade e o problema. O indivíduo tenta negar a situação (de negação). O
indivíduo pratica outras atividades tentando distrair-se ou buscar satisfação em
outros domínios de sua vida (distração). Nesse campo também inclui-se como
manifestação a dificuldade de controlar e expor as emoções. Associando os
aspectos cognitivos do apoio social, cooperação, ajuda à informação e o apoio
afetivo, temos o enfrentamento positivo. A primeira estrutura desse tipo de
enfrentamento dar-se-á por meio do controle pela ação (focalização ativa) ou pela
emoção (STEPHENSON; CHAMON, 2005).
O enfrentamento negativo implica a articulação entre fuga e isolamento,
organizando-se em torno da negação, da recusa mental e da dificuldade de aceitar
suas próprias emoções (STEPHENSON; CHAMON, 2005).
Segundo Sparbes, Lordes-Arder e Tap (1994, apud STEPHENSON;
CHAMON, 2005), a conversão comportamental, a conversão pelos valores, a
distração e a aceitação, são percebidas de forma ambivalente e servem de
mediação entre os modelos positivo e negativo de enfrentamento. Aceitar a situação
é positivo quando está ligado com o controle emocional, e percebido como negativo
quando é associado a retenção resignação. A distração é positiva quando
associada ao apoio social, e negativa quando se encontra associada ao sentimento
de vazio mental. A conversão (mudança de comportamento e/ou valores) é positiva
quando é resultado de culpabilidade e agressividade.
100
PROCESSO DE ENFRENTAMENTO
CAMPOS
COMPORTAMENTAL
(Ação)
COGNITIVO
(Atividade mental)
AFETIVO
A
Ç
Õ
E
S
Planejamento
P
R
O
C
E
S
S
O
Agrupa as informações
Assimila/Converte
Se ampara/Examina
Dispõe/ Ordena
R
E
A
Ç
Õ
E
S
Emoções Fundamenta
Organização Sentimentos
Justifica as
ações
Gerenciamento Afetos
Ambições
desejos
ESTRATÉGIAS
DE
ENFRENTAMENTO
CONTROLE APOIO SOCIAL
ISOLAMENTO RECUSA
Regularização
das atividades
mentais
comportamentais
.
Evita decisões
precipitadas,
sem refletir.
Aceita a
situação.
Procura ajuda
Coopera com os
outros participa
de atividades
coletivas
Consolo
Fecha-se
Rompe
atividades e
interações com
os outros
Social –
comportamental
e mental
Condutas
compensação
Não aceita a
realidade e o
problema - de
negação
Procura
distração
Satisfação em
outros domínios
da vida
Conversão
comportamental
e de valores.
ENFRENTAMENTO
POSITIVO ( + )
( + ) Aceita a
situação controle
emocional
( + )
ENFRENTAMENTO
NEGATIVO ( - )
( - ) Fuga e
isolamento
ENFRENTAMENTO
AMBIVALENTE (
+ ) E ( - )
( + ) Aceite da
situação
associado ao
controle
emocional
( - ) Aceite de
situação
associado à
resignação
( + ) Conversão
- mudança de
comportamento
e ou valores
como esforço
para resolver o
problema.
( - ) Culpa e
agressividade.
( + ) Distração
associada à
apoio social
( - ) Distração
associada ao
sentimento de
vazio mental.
Quadro 11 Processo de enfrentamento nas situões de estresse
Fonte: Stephenson; Chamon, 2005, p. 90
101
A medida de coerência interna dos instrumentos utilizados foi realizada por
Stephenson (2001). Stephenson (2001) calculou o alpha de Cronbach para cada
uma das sub-escalas dos questionários de estresse e enfrentamento com o objetivo
de validação das escalas no Brasil.
O alpha de Cronbach mede a confiabilidade de uma escala quanto à medida
do construto que se quer avaliar (estresse ou enfrentamento). Está perturbada por
outros efeitos (erros de medida). O parâmetro varia entre 0 (zero) e 1(um), que 0
(zero) corresponde a um conjunto de medidas totalmente aleatório (sem relação com
o construto) e 1 (um) corresponde a um conjunto de medidas perfeito.
Tabela 01 Medida de coerência Interna
α Cronbach
Estresse 0,94
Enfrentamento 0,80
Fonte: Stephenson, 2001
No Brasil, uma primeira tentativa de validação das escalas foi feita por
Stephenson (2001, apud STEPHENSON; CHAMON, 2005), que administrou o
instrumento a 431 indivíduos adultos, homens e mulheres. A tradução da escala
(originalmente em francês) foi validada por diferentes juízes bilíngües, tendo, ora o
português, ora o francês como língua materna. A origem da escala é francesa, tendo
sua primeira validação no Brasil. Os resultados obtidos foram satisfatórios,
assegurando a validade interna da escala.
Nesse processo de validação, obtiveram-se os seguintes níveis médios
para o estresse e para as estratégias de enfrentamento:
Tabela 02 – Escores médios para as diferentes dimensões do estresse
Global Físico Psicológico Psico-fisiológico Temporalidade
Média 77,3 22,5 26,6 13,6 14,6
Fonte: Stephenson, 2001
102
Tabela 03 Escores médios para as diferentes estratégias de enfrentamento
Controle
Apoio Social
Isolamento
Recusa
Média 62,9 37,5 31,4 39,2
Fonte: Stephenson, 2001
5.6 Procedimento para coleta de dados
A coleta de dados foi iniciada após a aprovação do projeto pelo Comitê de
Ética da Universidade de Taubaté. Após a aprovação do comitê de Ética (ANEXO A)
foi entregue um termo de Consentimento Livre e Esclarecido Institucional ao
responsável pelo Departamento de Educação e Cultura da Prefeitura de Taubaté,
São Paulo (APÊNDICE A). Com a aprovação do mesmo, posteriormente foram
feitos contatos com os diretores das escolas e marcada uma reunião com os
professores que assinaram um termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE B). Então os questionários foram entregues.
5.7 Procedimentos para a análise dos dados
Os dados foram avaliados com a utilização do software Estatística (SPHINX).
A classificação do nível de estresse foi feita por meio da escala de Toulousaine
(ETS), que teve como objetivo identificar as manifestações percebidas em situações
consideradas estressantes. Foi possível observar o somatório dos escores da
escala, identificando as manifestações estressantes e seus sintomas físicos,
psicológicos e psicofisiológicos, além das de temporalidade.
103
As estratégias de enfrentamento foram verificadas por meio da escala
Toulousaine de Enfrentamento (ETC), que possibilitou verificar as estratégias de
enfrentamento orientadas para controle, apoio social, isolamento e recusa.
104
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Objetivou-se nesta pesquisa identificar nos professores do ensino
fundamental, os níveis de estresse físico, psíquico, psicofisiológico e de
temporalidade e suas estratégias de enfrentamento.
6.1 Perfil sóciodemográfico dos sujeitos
Os dados pessoais dos professores que compõem a amostra estudada,
como: sexo, idade, estado civil, nível de escolaridade, tempo de trabalho e prática de
esporte são apresentados em figuras.
A população pesquisada, composta de NT= 312 (NT= número total de Ss=
sujeitos da pesquisa), é predominantemente de docentes do sexo feminino 78,21%
(Nf= 244Ss).
Figura 04 Distribuição dos sujeitos quanto ao sexo
Masculino
21,79%
Feminino
78,21%
SEXO
0
244
105
Na Figura 04, observa-se a prevalência do sexo feminino, enquanto que,
somente 21,79% representam o universo masculino (Nm = 68 Ss).
A predominância do sexo feminino no exercício docente possivelmente está
relacionada com o período do século XX, no qual a docência, assim como a
enfermagem, foi considerada a atividade própria de mulheres (por envolver o
cuidado com os outros). As mulheres foram designadas a ocupar cargos de
educadoras, pois o trabalho docente era tido como uma extensão do trabalho
doméstico, surgindo, dessa forma, a imagem de e” como educadora. A luta das
mulheres pelos seus direitos, e as mudanças na família nuclear também
favoreceram a entrada da mulher no mundo do trabalho (CODO, 1999).
Rodrigues et al. (2005), em sua pesquisa de estresse em professores da rede
pública e privada, constatou a prevalência do sexo feminino; em 87% na escola
pública e 80% na escola privada.
A pesquisa realizada por Santos, (2008), de estresse sobre enfermeiros da
região do vale do Paraíba paulista constatou que, 90,79% era do sexo feminino.
A pesquisa realizada por Reinaldo (2008), sobre estresse e estratégias de
enfrentamento de professores universitários em Belém também constatou a
prevalência do sexo feminino em 69,8% dos sujeitos.
Ribeiro (2008), em sua pesquisa realizada com servidores públicos, constatou
a prevalência do sexo feminino em (76%) da amostra.
106
Figura 05 Distribuição dos sujeitos quanto à idade
Em relação à idade dos professores pesquisados, conforme a Figura 05
66,67% (43,27% + 23,40%) (N= 208 Ss) dos sujeitos se encontram na faixa etária
entre 30 a 50 anos, e apenas 1,60% (N= 5 Ss) possuem idade superior a 60 anos;
com idade inferior a 30 anos de idade, encontram-se 24,36% (N= 76 Ss) dos
sujeitos.
Comparando-se à pesquisa de Reinaldo (2008), observa-se também que o
predomínio de 72,75% dos sujeitos (encontram-se na faixa etária entre 30 a 50
anos).
Não resposta
0,32%
Menos de 30
24,36%
De 30 a 40
43,27%
De 41 a 50
23,40%
De 51 a 60
7,05%
mais de 60
1,60%
IDADE
0
135
107
Figura 06 Distribuição dos sujeitos quanto ao estado civil
Na Figura 06, no que diz respeito ao estado civil 66,67%(N= 208 Ss) são
casados ou possuem companheiros, 18,91% (N= 59 Ss) vivem com os pais e
apenas 7,055 (N= 22Ss) vivem sozinhos.
A pesquisa realizada por Santos (2008), com enfermeiros que atuam na
região do vale do Paraíba paulista, constatou a prevalência de 44,77% de sujeitos
casados assim como a pesquisa realizada.
Na pesquisa realizada por Reinaldo (2008), foi constatado que
predominância de 60,8% de sujeitos casados.
casado ou
companheiro
66,67%
vive com os pais
18,91%
vive sozinho
7,05%
vive com amigos
2,24%
outro
5,13%
ESTADO CIVIL
0
208
108
0,32%
1,92%
4,81%
92,95%
0
50
100
150
200
250
300
2º grau
incompleto
grau
completo
superior
incompleto
superior
Escolaridade
Figura 07 Distribuição dos sujeitos quanto à escolaridade
Na Figura 07, em relação à escolaridade, 92,95% possuem nível superior,
4,81% superior incompleto, 1,92% 2º grau completo e 0,32% 2º grau incompleto.
A predominância do nível superior provavelmente está relacionada à Lei
9394/96 ( Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), que estabelece que os
professores devem possuir o nível superior para atuar na Educação Básica. (Ensino
Fundamental).
Na pesquisa realizada por Ribeiro (2008), com servidores públicos, observa-
se a predominância do nível superior em 75% da amostra.
109
Figura 08 Distribuição dos sujeitos quanto ao tempo de trabalho
Na Figura 08, em relação ao tempo de trabalho 42,31% (N= 132 Ss) exercem
a profissão entre 2 a 5 anos, 18,91% ( N= 59 Ss) excercem a profissão de 6 a 10
anos e 7,69% (N= 24Ss) exercem de 11 a 15 anos de trabalho.
Figura 09 Distribuição dos sujeitos quanto à prática de esporte
não
51,60%
sim
48,40%
ESPORTE
0
161
Não resposta
0,64%
Menos de 2
14,42%
De 2 a 5
42,31%
De 6 a 10
18,91%
De 11 a 15
7,69%
De 16 a 20
10,26%
Mais de 20
5,77%
ANOS NA
PROFISSÃO
132
110
A Figura 09 apresenta o percentual de professores praticantes de esportes.
Dos 312 pesquisados, 51,60% (N=161Ss) não praticam esportes e 48,40% (N=
151Ss) responderam que praticam algum tipo de esporte. Os resultados se
aproximaram, quase que mantendo um equilíbrio entre os que não praticam e os
que praticam esportes.
Dessa forma, comparando os resultados obtidos com a pesquisa de Reinaldo
(2008), verifica-se que 63,4% não praticam nenhuma modalidade esportiva.
Figura 10 Distribuição dos sujeitos quanto ao hábito de fumar
A Figura 10, apresenta o número de fumantes: 90,71% (N=283Ss) não o
fumantes e 9,29% (N= 29 Ss) são fumantes.
Observa-se, na amostra pesquisada que a maioria não possui o hábito de
fumar; assim como na pesquisa realizada por Reinaldo (2008), que constatou que
83,2% não são fumantes, enquanto que 15,9% possuem o hábito de fumar.
sim
9,29%
não
90,71%
FUMANTE
0
283
111
6.2 Dados de Estresse e Estratégias de Enfrentamento
6.2.1 Estresse
A escala de estresse, de acordo com a escala de Toulousaine (ETS), tem sua
pontuação direta para o estresse global e para cada campo analisado, conforme
Quadro 12.
ESCALA ITENS VARIAÇÃO *PD (Máxima)
NÍVEL MÉDIO
Estresse Global
1 2 3 4 5 6 7 8
9 10 11 30
30 a 150 150 90
Manifestações Físicas
2 4 8 10 14 16
20 22 26 28
10 a 50 50 30
Manifestações
Psicológicas
1 3 7 9 13 15
19 21 25 27
10 a 50 50 30
Manifestações Psico-
físiológicas
5 11 17 23 29
5 a 25 25 15
Manifestações
Temporalidade
6 12 18 24 30
5 a 25 25 15
Nota: (*) PD = Pontuação direta
Quadro 12 Demonstrativo da pontuação para a escala de estresse
6.2.2 Manifestações Físicas do Estresse
Questões consideradas: 2,4,8,10,14,16,20,22,26 e 28
Valores da escala: mínimo = 10 máximo = 50
112
Figura 11 Representação do estresse físico
Observa-se na Figura 11 que 25,01% que corresponde à somatória de
7,05%+ 9,95%+ 8,01%, equivalente a 78 sujeitos da amostra, apresentam as
manifestações físicas do estresse, tais como: dor de barriga, taquicardia (coração
batendo forte ou rápido), tremores, problemas intestinais, manifestações de crise
hipertensiva, entre outros. Podem ocorrer também doenças como infarto do
miocárdio, úlceras e problemas de pele.
Assim, acrescentam Lipp e Malagris (1995), que o estresse, no início
manifesta-se de modo semelhante em todas as pessoas, com aparecimento de
taquicardia, sudorese excessiva e sensação de estar alerta. O estresse pode ou
não levar ao desgaste geral do organismo, dependendo de sua intensidade,
vulnerabilidade do indivíduo e da habilidade para administrá-lo.
França e Rodrigues (2002), explicam que as doenças cardiovasculares,
úlcera e problemas intestinais, levam o indivíduo a pedir licença do trabalho, pelo
motivo da incapacitação do mesmo.
Estresse Físico
13,14%
26,92% 26,92%
8,01% 7,05%
9,95%
8,01%
Menos de 12
12 a 15
16 a 20
21 a 22
23 a 25
26 a 30
mais de 30
113
Na pesquisa realizada por Peixoto (2004), os resultados forneceram
evidências de que os professores apresentam estresse, e dentre os mais freqüentes,
está o desgaste físico.
Ballone (2005) descreve que o estresse é uma resposta fisiológica e
comportamental de um indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a
estímulos internos e externos. Como a energia para a adaptação é limitada, se
houver persistência do estímulo estressor, o organismo entrará em uma fase de
esgotamento.
Assim, para Inocente (2007), o estresse pode ser entendido como um
estímulo quando é capaz de provocar uma reação de estresse; como uma resposta,
quando produz mudanças fisiológicas, emocionais e comportamentais.
6.2.3 Estresse psicológico
Questões consideradas: 1,3,7,9,1,15,19,21,25 e 27
Valores da escala: mínimo = 10 máximo = 50
Figura 12 Representação do estresse psicológico
Estresse Psicológico
12,50%
29,17%
21
,79%
11,54%
12,82%
12,18%
Menos de 15
15 a 20
21 a 26
27 a 30
31 a 35 mais de 35
114
Constata-se na Figura 12 que 36,54% que corresponde à somatória de
11,54%+ 12,82%+ 12,18%, equivalente a 114 sujeitos da amostra pesquisada
apresentou as manifestações psicológicas frente às situações de estresse. São elas:
preocupação, depressão, solidão, apatia, cansaço mental, ansiedade, falta de
atenção e concentração, sentimento de isolamento, perda da auto-estima e
impotência diante das situações.
Segundo Nóvoa (1995a), o isolamento é a característica comum dos
professores seriamente afetados pelo desajuste provocado pela mudança social.
Para o autor, a comunicação com os colegas é fundamental para a transformação da
atitude e do comportamento profissional.
Cooper (1996) acrescenta que as mudanças psicológicas incluem, além da
depressão, a apatia e também a alienação.
Para França e Rodrigues (2002), na vida moderna a ansiedade é, na maioria
das vezes, dirigida para o alvo errado; a raiva se torna patológica. Repetidos
ataques de ansiedade indicam altos níveis de estresse. A preocupação constante,
que causa problemas gastrintestinais, é um exemplo de como a ansiedade e o
estresse exacerbam problemas clínicos. Os riscos para a saúde são ainda maiores
para aqueles que trabalham sob intensa pressão: alta exigência de desempenho e
pouca ou nenhuma possibilidade de ter sob controle as tarefas exigidas.
Francellino (2002), em sua pesquisa sobre o trabalho docente e as fontes de
estresse ocupacional, constatou que existe relação entre a atividade docente e
estresse, sendo a emoção um elemento determinante para seu desencadeamento
que acaba tendo implicações diretas na ação do professor, aumentando a
ansiedade, causando desgastes e frustrações e, conseqüentemente, perdas na
qualidade de vida.
115
Gomes (2002), em sua pesquisa sobre estresse, também identificou os
problemas de saúde como: depressão, ansiedade e outros, e constatou que são
referentes à sobrecarga de trabalho determinada por vários fatores, entre eles estão:
a gestão, a política, a infra-estrutura, a invasão de tempo, o número excessivo de
alunos e a intensificação das atividades de ano letivo.
As pressões que vivem os professores são muitas e elas vêm de vários
fatores: de um lado, os pais, que não compreendem exatamente o que es
acontecendo e exigem respostas do professor que na maioria das vezes o está
preparado para dar; de outro, a sociedade, que o responsabiliza por todos os males
sociais, exigindo do professor soluções para os problemas (ALONSO, 2003).
A pesquisa realizada por Rodrigues (2005) sobre estresse em professores,
constatou o estresse com predominância de sintomas psicológicos, em 7% na
escola pública e 38% em professores da escola privada.
Dessa forma, descreve Ballone (2005), que quando o estresse é patológico e
exagerado, pode ter conseqüências danosas, como cansaço, irritabilidade, falta de
concentração, depressão, pessimismo, queda da resistência imunológica, e mau-
humor. O tipo de desgaste a que as pessoas estão submetidas nos ambientes e
relações com o trabalho são fatores determinantes de doenças. Os agentes
estressores psicossociais são tão potentes quanto os microorganismos no
desencadeamento de doenças. O desgaste emocional nas relações com o trabalho
é um fator significativo na determinação de transtornos relacionados ao estresse,
como é o caso das depressões, da ansiedade patológica, do pânico, das fobias e
das doenças psicossomáticas. A pessoa com esse tipo de desgaste ocupacional não
responde à demanda do trabalho e geralmente se encontra irritável e deprimida.
116
6.2.4 Estresse psico-fisiológico
Questões consideradas: 5,11,17,23 e 29
Valores da escala: mínimo = 05 máximo = 25
Figura 13 Representação do estresse psico-fisiológico
Observa-se na, Figura 13, que 36,22% que corresponde à somatória de
12,18%+17,63%+6,41%, equivalente a 113 sujeitos pesquisados apresentam
manifestações psicofisiológicas, tais como: tensão, insônia ou sono em excesso,
pensamento abstrato prejudicado, perda de interesses, pessimismo, agitação, falha
de memória e outros sinais dessas manifestações.
Para Lipp (1995) o estresse é entendido como uma reação do organismo,
com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações
psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa confronta com situações que a
amedronte, excite ou confunda.
Reinhold (1996) acrescenta que diante de situações tão desfavoráveis, o
professor acaba se tornando inseguro, despreparado, com conhecimento cnico
deficitário, pouca cultura e totalmente sem perspectiva de trabalho. Muitos
Est
resse Psico
-
fisiológico
21,47%
23,40%
12,18%
17,63%
6,41%
8 a 10 11 a 13 14 a 15
16 a 20
mais de 20
117
professores encontram-se estressados, apresentando problemas físicos e
psicológicos resultantes de seu trabalho associado a altas exigências.
Para Molina (1996), o estressor significa um evento, agente ou situação que
produz uma resposta patofisiológica ou psicofisiológica (resposta interna gerada
durante o confronto com a situação estressante liberação de adrenalina, cortisol,
retenção de líquidos e tensão muscular) no indivíduo. A situação estressante é o
conjunto de situações, como ambiente ou fatores que induzem força, tensão ou
pressão.
Para Lipp e Malagris (2001), quando a resposta ao estresse é negativa, o que
é chamado distress, desencadeia um processo adaptativo inadequado, podendo
gerar inclusive doenças. O distress é o excesso de tensão que leva o organismo a
deformações em suas reações de adaptação. O distress equivale às fases de
resistência e exaustão na síndrome geral de adaptação, conceituada por Selye.
De acordo com França e Rodrigues (2002), o estresse relacionado ao
trabalho é definido como situações, em que, a pessoa percebe, seu ambiente de
trabalho como ameaçador às suas necessidades e realização pessoal e profissional
e/ou sua saúde física e mental.
Tricoli (2004) ressalta que um sério problema das escolas diz respeito às
mudanças repentinas e freqüentes do método educacional. Essas mudanças fazem
com que não haja, pelos educadores uma estrutura para assimilá-las; o que acarreta
o aumento do nível de estresse dos professores.
A pesquisa realizada por Rodrigues et al. (2005), sobre estresse em
professores, constatou que, referente à escola pública, 42% apresentaram estresse
com sintomas psicológicos e físicos e, na escola privada, 50% apresentaram
sintomas psicológicos e físicos.
118
Assim, complementa Ballone (2005), que ambientes de trabalho onde o
futuro se mostra sombrio, com perspectivas pessimistas. A pessoa se torna alvo dos
efeitos ansiosos do cotidiano, sem esperanças e recompensas agradáveis. O medo
motiva a ação durante um breve período de tempo, mas logo surge o estado de
esgotamento.
Witter (2006) descreve que uma das causas freqüentes de estresse no
professor está na dificuldade em acompanhar as rápidas mudanças que ocorrem
nas metodologias, nas tecnologias, nos materiais e nos meios de ensino.
6.2.5 Estresse de temporalidade
Questões consideradas: 6,12,18,24 e 30
Valores da escala: mínimo = 5 máximo = 25
Figura 14 Representação do estresse de temporalidade
Observa-se, na Figura 14, que 36,53% que corresponde à somatória de
26,28%+10,25% equivalente a 114 sujeitos pesquisados apresentam manifestações
de temporalidade frente às situações de estresse: inquietude, preocupações
Manifestações de Temporalidade
4,81%
29,49%
29,17%
26,28%
10,25%
Menos de 6 6 a 10
11 a 14
15 a 20 mais de 20
119
demasiadas quanto ao amanhã, preocupação em manter o emprego, em sustentar a
família, com sua formação escolar e qualificação, esquecimento, e dificuldades para
organizar-se.
Esses dados possivelmente estão relacionados ao fato de a maioria dos
professores serem casados ou viverem em companhia de outras pessoas, o que
sugere responsabilidade na manutenção de um grupo.
Na visão de Franchi (1995), toda transformação que ocorre devido à
tecnologia no exercício da docência, obriga o professor a um permanente esforço de
reciclagem e de atualização, tornando-se preocupado com sua qualificação.
Para França e Rodrigues (2002), a incerteza sobre quando irá acontecer o
evento estressante está estritamente relacionado à idéias de desconhecimento e da
iminência temporal do acontecimento.
Gabriel (2006), em sua pesquisa sobre os fatores estressantes no ambiente
de trabalho docente, constatou o surgimento do estresse devido instabilidade quanto
a carga horária atribuída, organização do tempo e aspectos institucionais.
Barreto (2007), em sua pesquisa, constatou que, no exercício da docência, as
variáveis que interferem no desencadeamento do estresse são a jornada excessiva
de trabalho, a falta de incentivos ao professor, as incertezas quanto à carga horária
e as dificuldades na administração do tempo.
6.2.6 Estresse global
Questões consideradas: na totalidade 30
Valores da escala: mínimo = 30 máximo = 150
120
Figura 15 Representação do estresse global
Percebe-se, na Figura 15, que 31,73% que corresponde à somatória de
22,76%+7,37%+1,60% equivalente a 99 sujeitos pesquisados apresentam estresse,
ou seja, requerem cuidados, pois apresentam todas as manifestações do estresse
em maior ou menor grau.
Inocente (2005) enfatiza que o estresse ocupacional ocorre devido à
exposição a fatores de riscos de natureza psicossocial e à organização do trabalho,
associados a fatores do ambiente. Os fatores que desencadeiam o estresse
ocupacional podem ser: alta exigência no trabalho, pouco apoio social dos gestores
e colegas e pouco controle.
Nunes (2006) argumenta que os fatores contribuintes para a manifestação do
estresse ocupacional vão desde as características individuais de cada trabalhador,
envolvendo o estilo de relacionamento social no ambiente de trabalho, o clima
organizacional até as condições gerais nas quais o trabalho é exercido.
Os resultados obtidos da presente pesquisa sobre estresse em professores
do ensino fundamental, apresentam-se na Tabela 04 mostrando o nível de estresse
global e suas manifestações.
Estresse Global
6,73%
37,18%
24,36%
22,76%
7,37%
1,60%
Menos de 40 40 a 60
61 a 77
78 a 100
101 a 120
mais de 120
121
Tabela 04 Médias obtidas da amostra da pesquisa
Fonte: Hardt, 2009
6.3 Enfrentamento
O estudo possibilitou conhecer como os sujeitos da amostra enfrentam as
situações de estresse. As estratégias de enfrentamento analisadas foram: o controle,
o apoio social, o isolamento e a recusa. A pontuação considerada para estratégia de
enfrentamento, de acordo com a escala de Toulousaine (ETC), foi de pontuação
direta nos seus campos específicos. Na coluna nível médio, indica-se o valor
considerado como ponto médio da escala, partindo-se da variação entre a
possibilidade e maior número de pontos e a maior pontuação (Quadro 13).
ESCALA ITENS VARIAÇÃO
*PD
(Máxima)
NÍVEL
MÉDIO
Controle 1 6 8 9 11 17 19
24 26 27 29 37 44
47 53
15 a 75 75 45
Apoio Social 2 4 18 20 22 35
36 38 40 54
10 a 50 50 30
Isolamento 7 12 14 15 23 25
28 30 33 34 39 43
45 46
14 a 70 70 42
Recusa 3 5 10 13 16 21
31 32 41 42 48 49
50 51 52
15 a 75 75 45
Nota: (*) PD = Pontuação direta
Quadro 13 Demonstrativo da pontuação para as estratégias de enfrentamento
Global Físico Psicológico Psico-fisiológico
Temporalidade
Média 68,0 18,8 23,9 12,2 13,5
122
6.3.1 Controle
Questões consideradas: 1,6,8,9,11,17,19,24,26,27,29,37,44,47 e 53
Valores da escala:mínimo = 15 máximo = 75
Figura 16 – Representação da estratégia de controle
Na Figura 16, percebe-se que 31,40% que corresponde à somatória de
8,97%+15,38%+7,05% equivalente a 98 sujeitos da amostra utilizam estratégias de
enfrentamento relacionadas ao controle consideradas positivas, diante das situações
de estresse, afirmando que evitam tomar decisões precipitadas, buscam assimilar os
acontecimentos, tentam várias formas de solução, evitam entrar em pânico e
procuram a ajuda de Deus para resolver os problemas.
Ressaltam Lazarus e Folkman (1984) que as estratégias de enfrentamento
são definidas como esforços de controle. As estratégias funcionam como uma
resposta ao estresse (comportamental ou cognitiva), com o objetivo de reduzir as
suas qualidades aversivas. É uma resposta com o objetivo de aumentar, criar ou
manter a percepção de controle pessoal.
Estratégia de Controle
35,58%
24,69%
8,33%
8,97%
15,38%
7,05%
Menos de 55
55 a 60 61 a 63 64 a 65 66 a 70 mais de 70
123
Tavares (2001) ressalta a importância da resiliência, como forma de vencer os
desafios, fazendo mudanças no desenvolvimento humano, trazendo a capacidade
de aprender e desaprender as coisas consideradas inúteis para empreender, agir e
resistir, sem quebrar, no meio das diversas contrariedades, de ser, comunicar, saber
estar e sobreviver.
Para França e Rodrigues (2002) o indivíduo tenta reagir ou enfrentar o
estresse por meio do que os autores chamam de enfrentamento ativo, ou seja,
quando o indivíduo expressa seu desejo de mudança na estrutura a que está
submetido e tende a afastar-se, ou solicita transferência do trabalho voluntariamente.
Peixoto (2004), em sua pesquisa de estratégias de enfrentamento de
estressores ocupacionais em professores universitários, concluiu que, dentre as
estratégias de controle, as mais freqüentes foram: a de procurar cumprir da melhor
maneira as sua atividades e responder as solicitações da instituição.
Na pesquisa realizada por Santos (2007), com trabalhadores do setor sócio-
produtivo de uma empresa, constatou-se que a maioria dos sujeitos utiliza o controle
como estratégia de enfrentamento, tentando dominar a situação, ou seja, evitando
decisões precipitadas sem refletir, ou mesmo planejando.
Esse grupo, portanto, usa da estratégia positiva ao aceitar e adaptar-se às
diferentes situações vivenciadas, apresentando controle emocional.
6.3.2 Apoio social
Questões relacionadas: 2,4,18,20,22,35,36,38,40 e 54
Valores da escala: mínimo = 10 máximo = 50
124
Figura 17 Representação da estratégia de apoio social
Na Figura 17, foram identificadas em 42,36% que corresponde à somatória de
15,38%+18,27%+8,65% equivalente a 132 sujeitos da pesquisa apresentam como
estratégia de enfrentamento o apoio social. Estas estratégias são consideradas
positivas, diante das situações de estresse, tais como; compartilhar com os colegas
o que sente, solicitar ajuda de profissionais, buscar atividades coletivas e ajuda de
amigos para diminuir a ansiedade
Para Pereira (1999) para reduzir o estresse no professor, o administrador
deve levar em consideração a identidade pessoal e profissional de cada docente,
cuidar para que a estrutura organizacional seja flexível e aberta, criar práticas
eficientes de comunicação, estabelecer uma rede formal e informal de apoio,
estimular a liderança, cuidar do sistema de gestão de conflito e valorizar o docente.
O clima de uma organização escolar pode ser definido como um elemento
capaz de impulsionar, as descrições coletivas da própria organização como um todo;
um ponto referencial para os membros da organização determinando atitudes e
condutas, mediador das práticas organizacionais das quais é originário e pelas quais
se mantém (BRITO, 2003).
Estratégia de Apoio Soc
ial
7,69%
18,28%
21,47%
10,26%
15,38%
18,27%
8,65%
Menos de 25
25 a 30
31 a 35 36 a 37 38 a 40 41 a 45
mais de 45
125
Reinhold (2006) descreve que o diretor ou coordenador deve ser perceptivo,
saiba ouvir, seja simpático e consiga resolver conflitos. O diretor tem o papel central
no estresse do professor, tanto no sentido positivo como fonte de apoio, quanto no
negativo como fonte de estresse.
A pesquisa realizada por Barreto (2007), com professores de instituições de
ensino superior, constatou a importância do desabafo com os colegas da profissão e
com familiares como estratégia de enfrentamento para diminuir os efeitos negativos
do estresse.
Esse resultado permite considerar que essa estratégia de enfrentamento pode
contribuir para o bem estar psicológico do sujeito, ajudando a lidar com as questões
adversas do cotidiano.
6.3.3 Isolamento
Questões consideradas: 7,12,14,15,23,25,28,30,33,34,39,43,45 e 46
Valores da escala: mínimo = 14 máximo = 70
Figura 18 Representação da estratégia de isolamento
Estratégia de Isolamento
8,01%
40,38%
32,37%
17,64%
1,60%
Menos de 20
20 a 31 32 a 40 41 a 50
mais de 50
126
Observa-se, na Figura 18, que 51,61% que corresponde à somatória de
32,37%+17,64%+1,60% equivalente a 161 sujeitos da amostra apresentam, como
estratégia de enfrentamento, o isolamento. Estas estratégias analisadas como
negativas, provocam reações frente às situações de estresse, como:
comportamentos de agressividade nas relações interpessoais, busca de refúgio em
fantasias, dificuldade de aceitar o problema, uso de bebidas, medicamentos e fumo,
caracterizando um comportamento de fuga.
Parkes (1999), em sua pesquisa sobre enfrentamento, foi observado que os
docentes com alto índice de afetividade negativa demonstraram maior reatividade
negativa às exigências ou demandas do trabalho, do que fizeram os professores
com baixa afetividade negativa, predispondo os primeiros ao estresse.
De acordo com França e Rodrigues (2002), quando o indivíduo passa a
depreciar seu trabalho e a senti-lo como um peso e não como fonte de satisfação,
com o objetivo apenas de remuneração e de manutenção de suas condições físicas,
pode haver uso abusivo de medicamentos, álcool e drogas, caracterizando o
enfrentamento passivo.
Em relação à pesquisa realizada por Peixoto (2004), dentre as estratégias de
enfrentamento caracterizadas como esquiva foi observado que os professores,
quanto ao excesso de alunos, pensam que o o que fazer, e tentam evitar o
contato com alguns colegas de trabalho.
Taino (2009) acrescenta que trabalhar com pessoas é trabalhar com
sentimentos, conflitos, enfim, com a diversidade e multiplicidade dos aspectos dessa
totalidade humana, produto de um saber local e universal, incluindo as mudanças
que são próprias do se humano e fazem parte do seu desenvolvimento.
127
O que se observa nesse grupo é que alguns se sentem descontentes com o
ambiente de trabalho, tendo insatisfação com o salário, instabilidade afetiva, falta de
reconhecimento profissional, tornando-se indivíduos com tendência ao isolamento.
6.3.4 Recusa
Questões consideradas: 3,5,10,13,16,21,31,32,41,42,48,49,50,51 e 52
Valores da escala: mínimo = 15 máximo = 75
Figura 19 Representação da estratégia de recusa
A Figura 19 possibilita observar que 62,18% que corresponde aa somatória
de 50,64%+9,94%+1,60% equivalente a 194 dos sujeitos da amostra utilizam a
recusa como estratégia de enfrentamento, que é caracterizada como: distração com
outras atividades mais agradáveis, agir como se o problema não existisse, não
pensar no problema, ignorar as situações, entre outras.
Assim demonstra Sonnentag (2001) por meio de seu estudo realizado com
professores alemães, que as atividades de lazer e o nível de estresse baixo na
situação de trabalho contribuem independentemente para o bem-estar das pessoas.
Estratéga d
e Recusa
4,49%
33,33%
50,64%
9,94%
1,60%
Menos de 30
30 a 39 40 a 50 51 a 60
mais de 60
128
As estratégias de enfrentamento contribuem para a superação das situações
tidas como geradoras de estresse, uma vez que as estratégias negativas tendem a
aumentar o estresse e as estratégias positivas mobilizam o gerenciamento das
emoções e do comportamento.
Os resultados obtidos na presente pesquisa com professores do ensino
fundamental para as estratégias de enfrentamento apresentam-se na Tabela 08.
Tabela 05 – Característica da amostra da pesquisa para estratégia de enfrentamento
Controle Apoio Social Isolamento Recusa
Média 57,2 35,5 32,4 42,1
Fonte: Hardt, 2009
6.3.5 Análises bi-dimensionais
a) Correlação com a variável SEXO
Tabela 06 - Sexo X Estresse
SEXO
Masculino
Feminino
TOTAL
GLOBAL FISICO PSICOFISIO PSICO TEMPO
65,04 16,88 11,22 23,85 13,09
68,84 19,27 12,45 23,96 13,17
68,01 18,75 12,18 23,94 13,15
Resultados do teste:
GLOBAL: 1-p = 78,05% (não significativo)
FISICO: 1-p = 98,58% (significativo com margem de erro de 5%)
PSICOFISIO: 1-p = 94,36% (não significativo)
PSICO: 11,10% (não significativo)
TEMPO: 1-p = 12,74% (não significativo)
129
Para uma margem de erro de 5%, nota-se que a média da categoria de
estresse FÍSICO é maior para as mulheres do que para os homens.
Os resultados da pesquisa, possivelmente estão relacionados ao fato de a
maioria da amostra ser do sexo feminino. Segundo Molina (1996), a situação
estressante é o conjunto de situações, como o ambiente, o indivíduo ou fatores que
induzem força, tensão ou pressão. Tanto o agente estressor, como seus efeitos
sobre o indivíduo podem ser descritos como situações desagradáveis que provocam
dor, sofrimento e desprazer.
Os problemas relacionados à educação são complexos, os professores vivem
numa rotina de pressões e esgotamento físico e mental, estando, portanto,
propensos a desenvolver o estresse ocupacional (LIPP, 2006).
Tabela 07 Sexo X Enfrentamento
SEXO
Masculino
Feminino
TOTAL
CONTROLE
APOIO_SOC
ISOLA RECUSA
54,82 33,96 32,25 40,35
57,80 35,93 32,44 42,62
57,15 35,50 32,40 42,13
Resultados do teste:
CONTROLE: 1-p = 97,03% (significativo com margem de erro de 5%)
APOIO_SOC: 1-p = 94,72% (não significativo)
ISOLA: 1-p = 15,07% (não significativo)
RECUSA: 1-p = 96,63% (significativo com margem de erro de 5%)
Para o caso das correlações entre Sexo X Enfrentamento, foi encontrada
diferença significativa entre homens e mulheres nas estratégias de enfrentamento
130
CONTROLE e RECUSA. As mulheres usam mais essas estratégias do que os
homens.
A falta de controle do trabalhador sobre seu trabalho é vista como uma
restrição ambiental sobre a capacidade de resposta do indivíduo. Quando o
trabalhador possui controle sobre seu trabalho, os conflitos e outros estressores não
causam danos à saúde (KARASEK, 1979).
Assim, Savoia (1999) ressalta que o enfrentamento é definido como todos os
esforços de controle, sem considerar as conseqüências, ou seja, é uma resposta ao
estresse (comportamental ou cognitiva), com finalidade de reduzir as suas
qualidades aversivas.
Para França e Rodrigues (2002), as pessoas reagem de forma diferente às
situações geradoras de estresse, geralmente em função de sua estrutura de
personalidade e de sua maneira de enfrentá-las. Algumas possuem capacidade
maior de tolerar e conviver com situações de pressão intensa e acabam
desenvolvendo mecanismos de defesa eficazes para lidar com o estresse. Outras
pessoas com mais dificuldades parecem desestruturar-se rapidamente.
b) Correlação com a variável IDADE
Não foi encontrada relação significativa entre os níveis de estresse e a
variável idade.
Não foi encontrada relação significativa entre as estratégias de enfrentamento
e a variável idade.
131
c) Correlação com a variável ESTADO CIVIL
Não foi encontrada relação significativa entre as variáveis de ESTRESSE e a
variável ESTADO CIVIL.
Não foi encontrada relação significativa entre as variáveis de ESTRATÉGIA
DE ENFRENTAMENTO e a variável ESTADO CIVIL.
d) Correlação com a variável TEMPO DE TRABALHO
Tabela 08 Tempo de trabalho X Estresse
ANOS_EMP GLOBAL
FISICO PSICOFISIO
PSICO TEMPO
até 5 anos 65,65 17,44 11,88 23,38 12,96
Mais de 5 anos 70,98 20,43 12,60 24,58 13,38
TOTAL 67,94 18,72 12,19 23,89 13,14
Resultados do teste:
GLOBAL: 1-p = 96,31% (significativo com margem de erro de 5%)
FÍSICO: 1-p = 99,97% (significativo com margem de erro de 1%)
PSICOFISIO: 1-p = 82,10% (não significativo)
PSICO: 1-p = 78,74% (não significativo)
TEMPO: 1-p = 53,32% (não significativo)
Para uma margem de erro de 5%, nota-se que a média da categoria de
estresse GLOBAL é maior para os que têm mais tempo de trabalho.
França e Rodrigues (2002) advertem que à medida que o ambiente contém
demandas excessivas e a pessoa não consegue obter recursos adequados para
enfrentar tais situações ameaçadoras, acaba adquirindo estresse.
132
O estresse no trabalho, para Inocente (2007), é definido como reações físicas
e emocionais que ocorrem quando as exigências excedem as capacidades, os
recursos e as necessidades do trabalhador.
Ainda para Inocente (2007), o estresse é um problema de saúde pública que
provoca reações perturbadoras do equilíbrio no organismo, colocando em risco a
sobrevivência biológica. Quando as reações persistem durante um longo prazo, o
resultado é a fadiga, prejudicando a saúde geral do indivíduo e, com conseqüência,
a saúde das organizações.
Para uma margem de erro de 1%, nota-se que a média da categoria de
estresse FÍSICO é maior para os que têm mais tempo de trabalho.
Tabela 09 Tempo de trabalho X Enfrentamento
ANOS_EMP
até 5 anos
mais de 5 anos
TOTAL
CONTROLE
APOIO_SOC
ISOLA RECUSA
57,20 35,40 31,93 41,25
57,17 35,68 32,87 43,34
57,19 35,52 32,34 42,15
Resultados do teste:
CONTROLE: 1-p = 7,60% (não significativo)
APOIO_SOC: 1-p = 25,94% (não significativo)
ISOLA: 1-p = 63,67% (não significativo)
RECUSA: 1-p = 98,02% (significativo com margem de erro de 5%)
Para o caso das correlações entre Tempo de Trabalho X Enfrentamento, foi
encontrada diferença significativa entre os que têm menos tempo de trabalho (até 5
anos) e os que têm mais tempo de trabalho (mais de 5 anos), na estratégia de
133
enfrentamento RECUSA. Os que têm mais tempo de trabalho (mais de 5 anos)
tendem a usar mais essa estratégia.
Esse dado se assemelha aos dados da pesquisa de Goeldi (2006), realizada
com profissionais de enfermagem, que constatou a recusa como estratégia de
enfrentamento (ignorar o problema ou a situação).
Possivelmente esse resultado de os professores do ensino fundamental com
mais tempo de trabalho utilizarem mais a estratégia de enfrentamento recusa, reflete
a tendência dos professores a procurarem o se preocupar mais com a situação
que causa problemas, tentando ignorá-la; talvez por terem perdido as esperanças de
solução.
e) Correlação com a variável PRÁTICA DE ESPORTE
Não foi encontrada relação significativa entre as variáveis de ESTRESSE e a
variável PRÁTICA DE ESPORTE.
Não foi encontrada relação significativa entre as variáveis de ESTRATÉGIA
DE ENFRENTAMENTO e a variável PRÁTICA DE ESPORTE.
Nota: Informação a ser utilizada cautelosamente. Para a estratégia de APOIO
SOCIAL, a correlação é significativa a um nível de 6% (1-p= 94,45). Isso pode
indicar que um estudo mais aprofundado deveria ser feito para verificar se essa
relação é significativa ou não. Para os padrões estatísticos estabelecidos (margem
de 5%), a relação não é significativa.
134
f) Correlação com a variável FUMANTE
Não foi encontrada relação significativa entre as variáveis de ESTRESSE e a
variável FUMANTE.
Tabela 10 Fumante X Enfrentamento
FUMANTE
sim
não
TOTAL
CONTROLE
APOIO_SOC
ISOLA RECUSA
55,45 33,45 36,41 42,69
57,32 35,71 31,99 42,07
57,15 35,50 32,40 42,13
Resultados do teste:
CONTROLE: 1-p = 65,61% (não significativo)
APOIO_SOC: 1-p = 88,04% (não significativo)
ISOLA: 1-p = 98,94% (significativo com margem de erro de 5%)
RECUSA: 1-p = 31,23% (não significativo)
Para o caso das correlações entre Fumante X Enfrentamento, foi encontrada
diferença significativa entre os fumantes e os não fumantes na estratégia de
enfrentamento ISOLAMENTO. Os fumantes tendem a usar mais essa estratégia.
Provavelmente os professores que possuem o hábito de fumar tendem a
isolar-se nos momentos de estresse buscando conforto no cigarro, diminuindo,
assim, a iniciativa de socialização. O hábito de fumar talvez haja como fonte de
diminuição da ansiedade causada pelo estresse, dando a sensação de relaxamento
e resolução dos problemas. Outro dado que pode estar relacionado é o de que a
estratégia isolamento é tida como negativa, mas possivelmente os professores a
utilizam como forma de defesa já que o estresse traz sofrimento psíquico e físico.
135
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os objetivos de identificar o nível de estresse, as causas e
manifestações e quais estratégias de enfrentamento utilizadas pelos professores de
ensino fundamental, propostos nesta pesquisa e de acordo com a literatura revisada,
os dados coletados foram analisados e interpretados, de forma a gerar resultados e
responder aos objetivos específicos deste estudo.
A compreensão da natureza dinâmica do estresse, das estratégias de
enfrentamento e a identificação de seus níveis permitiram conhecer as formas de
reação do estresse que interferem nas relações de trabalho e, conseqüentemente,
na vida pessoal dos profissionais docentes.
Os resultados mostraram que, dos 312 sujeitos (docentes) da amostra, 244
são mulheres, representando a maioria dos sujeitos da amostra. Os sujeitos do sexo
feminino apresentam média superior quanto às manifestações do estresse, com
dados significativos para o estresse global, físico e psicológico, o que ressalta que
essas manifestações dependem das diferenças individuais e da capacidade de
resposta, como também da influência do ambiente organizacional e social.
Os estudos comprovam que o estresse em professores pode ocorrer de
várias maneiras e nem sempre os sintomas podem ser os mesmos. No entanto, os
sujeitos da amostra compõem, em sua maioria, as manifestações de estresse global,
possivelmente relacionadas a todas as manifestações do estresse em maior ou
menor grau.
Em relação ao estresse físico, os professores apresentam sintomas como: dor
de barriga, taquicardia, tremores, problemas intestinais, manifestações de crise
hipertensiva, doenças do miocárdio, úlceras e problemas de pele. O agravamento
136
desses sintomas poderá ocorrer dificultando ainda mais o docente no exercício
profissional.
Quanto ao estresse psicológico, no que se refere aos professores,
provavelmente está relacionado ao sentimento de impotência diante das situações,
frente aos alunos e à falta de apoio por parte dos familiares.
Em se tratando dos professores de ensino fundamental, existe uma cobrança
em relação à educação dos alunos, jornadas de trabalhos extensas, com poucas
pausas de descanso, e são exigidos altos níveis de concentração, o que pode
causar o aumento do estresse.
Os dados permitem observar que a estratégia de enfrentamento mais utilizada
pelos sujeitos que compõe a amostra é a de controle, recusa e apoio social. A
estratégia de controle e de apoio social é considerada positiva, isso denota que os
professores buscam alternativas para amenizar o estresse.
Quanto à estratégia de enfrentamento controle, provavelmente está
relacionada ao cuidado dos professores em tomar decisões precipitadas no
ambiente de trabalho que possam prejudicar a relação com os alunos, gestores e
amigos de profissão.
Em relação à estratégia de enfrentamento recusa, os docentes possivelmente
procuram a distração como, atividades agradáveis, para não pensar nos problemas;
ou agem como se os problemas não existissem.
No que se refere à estratégia de enfrentamento de apoio social, considera-se
a importância de compartilhar com os amigos de profissão e familiares; esse
comportamento diminui a ansiedade gerada pelo estresse.
Diante dessa análise, considera-se que, ao fazer uso das estratégias de
enfrentamento, controle e apoio social, os docentes contribuem na administração do
137
estresse e de suas manifestações no ambiente de trabalho e, conseqüentemente,
em sua vida.
Os professores que tendem a valer-se mais da estratégia de recusa
favorecem o estresse, mantendo o agravamento do quadro sintomático. Portanto, o
desgaste emocional em que estão submetidos torna-se significativo na determinação
de transtornos relacionados ao estresse, como as depressões, a ansiedade e as
doenças psicossomáticas.
Dessa forma a conscientização dos indivíduos sobre os processos de
doenças, o reconhecimento e a identificação dos sinais e sintomas de estresse são
importantes porque possibilitam o diagnóstico precoce e favorecem a tomada de
decisões frente às estratégias de enfrentamento que devem ser adotadas para
ajudar a amenizar os efeitos do estresse, bem como administrá-lo.
Portanto, a partir dos resultados sobre o problema investigado, sugere-se dar
continuidade e aprofundamento às discussões por meio de outros estudos que
poderão ampliar outros segmentos.
138
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146
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
INSTITUCIONAL
Esta pesquisa está sendo realizada pelo Sr. aluno do Mestrado em
Gestão e Desenvolvimento Regional do Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade de Taubaté (PPGA), como dissertação de mestrado,
sendo orientada e supervisionada pelo(a) professor(a) _______________________.
Seguindo preceitos éticos, informamos que pela natureza da pesquisa, a
participação desta organização o acarretará em quaisquer danos à mesma. A
seguir, damos as informações gerais sobre esta pesquisa, reafirmando que qualquer
outra informação poderá ser fornecida a qualquer momento, pelo aluno pesquisador
ou pelo professor responsável.
TEMA DA PESQUISA
: .
OBJETIVO:
.
PROCEDIMENTO:
.
SUA PARTICIPAÇÃO
: Autorizar a aplicação da pesquisa nesta organização.
Após a conclusão da pesquisa, prevista para ------------, uma dissertação, contendo
todos os dados e conclusões, estará à disposição na Biblioteca da Universidade de
Taubaté.
Agradecemos sua autorização, enfatizando que a mesma em muito
contribuirá para a construção de um conhecimento atual nesta área.
Local, , de de 2007.
____________________________________________
Prof. Orientador
RG **************
____________________________________________
Aluno
RG **************
147
Tendo ciência das informações contidas neste Termo de Consentimento, Eu
___________________________________________________________________
_______________________________________, portador do RG nº
__________________________________________________________,
responsável pela organização __________________________________________,
autorizo a aplicação desta pesquisa na mesma.
Local, ____de___________ de 2007.
Assinatura
148
APÊNDICE B
– TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esta pesquisa será realizada por aluno do programa de Mestrado em Administração
da Universidade de Taubaté. O tema da pesquisa é:
Estresse e Estratégias de
Enfrentamento em Professores do Ensino Fundamental.
Os resultados dessa
pesquisa serão utilizados apenas para fins acadêmicos.
Seguindo os preceitos legais e éticos, informamos que sua participação será
absolutamente sigilosa, não constando seu nome ou qualquer outro dado referente a
sua pessoa que possa identificá-lo no relatório final ou em qualquer publicação
posterior sobre esta pesquisa. Pela natureza da pesquisa, sua participação não
acarretará qualquer dano a sua pessoa.
Você tem total liberdade para recusar sua participação, assim como solicitar a
exclusão de seus dados, retirando seu consentimento sem qualquer penalidade ou
prejuízo, quando assim desejar.
Agradeço sua participação, enfatizando que a mesma em muito contribui para a
formação e para a construção de um conhecimento atual nesta área.
Taubaté, novembro de 2007.
_________________________________
Professora Doutora Nancy Julieta Inocente
Orientadora da pesquisa
_______________________________
Patrícia de Oliveira Silva Hardt
Pesquisadora
Tendo ciência das informações contidas neste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido,
eu____________________________________________________________
RG __________________________ autorizo a utilização, nesta pesquisa dos
dados por mim fornecidos.
_________________________________________
Assinatura
Taubaté,___/__________/_______.
149
ANEXO A
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
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Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
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Baixar livros de Psicologia
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