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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE ESTUDOS GERAIS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
Pós-Graduação em Ciência Ambiental
SILVIA MARIE IKEMOTO
AS TRILHAS INTERPRETATIVAS E SUA RELEVÂNCIA PARA
PROMOÇÃO DA CONSERVAÇÃO:
Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos (PETP), RJ
Niterói, RJ
2008
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ii
SILVIA MARIE IKEMOTO
AS TRILHAS INTERPRETATIVAS E SUA RELEVÂNCIA PARA
PROMOÇÃO DA CONSERVAÇÃO:
Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos (PETP), RJ
Dissertação apresentada ao Curso
de Pós-Graduação em Ciência
Ambiental da Universidade
Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre. Área de
Concentração: Gestão Ambiental.
Orientadora: Prof.
a
. Dr.
a
MOEMY GOMES DE MORAES (UFF)
Co-orientadora: Prof.
a
. Dr.
a
VIVIAN. CASTILHO COSTA (UERJ)
Niterói, RJ
2008
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I26 Ikemoto, Silvia Marie
As trilhas interpretativas e sua relevância para promoção da
conservação: Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos
(PETP), RJ / Silvia Marie Ikemoto. Niterói : [s.n], 2008.
170 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) Universidade
Federal Fluminense, 2008.
1.Conservação ambiental. 2.Educação ambiental.
3.Percepção ambiental. 4.Parque Estadual dos Três Picos (RJ).
I.Título.
CDD 363.7098153
iv
SILVIA MARIE IKEMOTO
AS TRILHAS INTERPRETATIVAS E SUA RELEVÂNCIA PARA
PROMOÇÃO DA CONSERVAÇÃO:
Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos (PETP), RJ
Dissertação apresentada ao Curso
de Pós-Graduação em Ciência
Ambiental da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre.
Área de Concentração: Gestão
Ambiental.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Prof. Dr. MOEMY GOMES DE MORAES
Departamento de Biologia Geral da UFF
Orientadora e presidente da banca examinadora
____________________________________________________________
Prof. Dr. MARCELO GUERRA DOS SANTOS
Faculdade de Formação de Professores, UERJ
____________________________________________________________
Prof. Dr. JOEL DE ARAÚJO
Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental - UFF
____________________________________________________________
Prof. Dra. LILIA DOS SANTOS SEABRA.
Departamento de Geografia, PEBF/UERJ
Niterói
2008
v
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe, que sempre me
incentivou e deu o suporte necessário para minhas conquistas, e
especialmente a meu pai (in memoriam), que acompanhou, mas não
pode presenciar o término desta etapa de minha vida profissional.
Dedico também a todos aqueles que trabalham e lutam pelas
Unidades de Conservação, apesar das dificuldades, conflitos e
ameaças.
vi
AGRADECIMENTOS
A minha querida orientadora Moemy Gomes de Moraes, que aceitou novamente o
desafio de conduzir-me e que esteve disponível, sendo compreensiva e solícita em todos os
momentos.
A co-orientadora Vivian de Castilho Costa, pelas orientações técnicas de campo e
valiosas sugestões.
Aos examinadores Lilia dos Santos Seabra, Marcelo Guerra dos Santos e Joel de
Araújo pelas relevantes contribuições para o aperfeiçoamento deste trabalho.
A toda especial equipe do Parque Estadual dos Três Picos, que permitiu e
possibilitou o desenvolvimento desse trabalho, auxiliando, participando e dando suporte em
todas as atividades de campo. Em especial, ao guarda-parque Nazareno, que me transmitiu um
grande conhecimento e paixão sobre a floresta, e ao técnico Luís, que auxiliou na aplicação de
grande parte dos questionários.
A professora Dra. Nadja Maria de Castilho Costa, que participou e colaborou no
IAPI, levantando importantes considerações.
Ao professor Alphonse Kelecom, pelos conselhos e sugestões durante o
desenvolvimento inicial do presente trabalho.
Ao biólogo Luiz José Soares Pinto pelo auxílio nos trabalhos de campo.
Aos colegas de mestrado, pelas risadas, trocas de livros, textos e referências
bibliográficas. Em especial, ao amigo e colega de mestrado Silmar, que me incentivou a
realizar o trabalho no PETP e contribuiu no levantamento das trilhas. A amiga e colega de
mestrado Danielle, pelas referências na área de Uso Público e turismo, e por sensibilizar-me
para a questão dos portadores de necessidades especiais e da acessibilidade em áreas naturais
protegidas.
A equipe e colegas de trabalho do Parque Estadual do Forno Grande e do Instituto
Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (IEMA), que ampliaram
minha visão e compreensão a respeito das Unidades de Conservação.
Ao Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro (IEF-RJ), por permitir a
execução do presente trabalho.
Aos grandes amigos, Takashi, Camila, Brenda, Cristiane, Daniel e Luana. A minha
segunda mãe Marilsa, que cuidou de mim e me aconselhou nos momentos mais difíceis.
Ao meu companheiro e grande amor, Seidi, pelo incentivo, companheirismo e por
todos os cuidados prestados a mim, além da formatação e correções ortográficas deste
trabalho.
Aos meus pais, pelo suporte financeiro e emocional, e em especial, minha mãe, por
ter me apoiado em todos os momentos.
viii
Temos de deixar bem claro o fato de que não basta
simplesmente viver junto à natureza. Tudo depende de como você
vive próximo à natureza, como a estuda. [...] Se é apenas a mente, e
não o coração, que ouve as mensagens da natureza, os ensinamentos
mais profundos não serão captados. Seus mistérios serão corrompidos
por um modo frio de interpretar as coisas.
(John Gardner)
ix
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...........................................................................................................xi
LISTA DE TABELAS E QUADROS.................................................................................xiii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS.....................................................xiv
RESUMO ............................................................................................................................ xv
ABSTRACT....................................................................................................................... xvi
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................1
2 OBJETIVOS....................................................................................................................5
2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................................5
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .....................................................................................5
3 DISCUSSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL........................................................................6
3.1 INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL ...........................................................................6
3.1.1 Conceitos gerais .................................................................................................6
3.1.2 A Interpretação Ambiental e as Unidades de Conservação (UC’s) ......................9
3.1.3 Os meios de Interpretação Ambiental................................................................10
3.1.4 Trilhas interpretativas....................................................................................... 13
3.1.5 A Educação Ambiental e suas implicações para a Interpretação Ambiental....... 15
3.2 PERCEPÇÃO AMBIENTAL...................................................................................17
4 CARATERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.............................................................. 21
4.1 PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS (PETP).................................................21
4.1.1 Localização e aspectos gerais............................................................................ 21
4.2 LOCAL E UNIDADE DE ESTUDO........................................................................23
4.2.1 Justificativa da escolha ..................................................................................... 23
5 METODOLOGIA..........................................................................................................27
5.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA TRILHA INTERPRETATIVA......................... 27
5.1.1 Trilha interpretativa.......................................................................................... 27
5.1.1.1 Caracterização biofísica da trilha interpretativa.......................................27
5.1.1.2 Caracterização das trilha quanto à Interpretação Ambiental.................... 30
5.1.1.3 Avaliação do Potencial interpretativo da trilha (IAPI).............................. 31
5.2 MÉTODOS DE ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL .................................33
5.2.1 Caracterização e perfil dos atores envolvidos.................................................... 33
x
5.2.1.1 Visitantes.................................................................................................. 33
5.2.1.2 Intérpretes ................................................................................................ 35
5.2.2 Percepção Ambiental........................................................................................ 36
5.2.2.1 Entrevistas semi-estruturadas ou formulários ...........................................36
6 RESULTADOS ............................................................................................................. 39
6.1 TRILHA DO JEQUITIBÁ ....................................................................................... 39
6.1.1 Caracterização biofísica....................................................................................39
6.1.2 Interpretação Ambiental.................................................................................... 41
6.1.3 Índice de atratividade dos pontos interpretativos (IAPI).................................... 45
6.2 AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL.....................................................59
6.2.1 Percepção ambiental dos atores......................................................................... 59
6.2.1.1 A percepção do intérprete......................................................................... 60
6.2.1.2 A percepção dos visitantes........................................................................ 72
6.2.1.3 A percepção dos alunos e professores....................................................... 92
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 97
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 100
ANEXOS
Anexo 1: Jogo Árvore da Vez. ........................................................................................... 107
Anexo 2: Folhetos explicativos do PETP............................................................................ 112
APÊNDICES
Apêndice 1: Formulário para visitantes. ............................................................................. 116
Apêndice 2: Questionário voltado para as escolas. ............................................................. 118
Apêndice 3: Ficha de campo de caracterização ambiental................................................... 120
Apêndice 4: Ficha de campo do potencial interpretativo..................................................... 121
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esquema teórico do processo perceptivo............................................................... 19
Figura 2: Mapa do Parque Estadual dos Três Picos (PETP).................................................. 22
Figura 3: Núcleo Boca do Mato, Cachoeiras de Macacu....................................................... 24
Figura 4: Núcleo Salinas, Nova Friburgo. ............................................................................ 24
Figura 5: Núcleo Estação Ecológica Paraíso, Guapimirim.................................................... 24
Figura 6: Núcleo Jacarandá, Teresópolis. ............................................................................. 25
Figura 7: Perfil topográfico da Trilha do Jequitibá. ..............................................................40
Figura 8: Primeiro ponto de interpretação, entrada da trilha do Jequitibá.............................. 42
Figura 9: Segundo ponto de interpretação, tema solo............................................................ 42
Figura 10: Terceiro ponto de interpretação, tema ciclo da água. ........................................... 42
Figura 11: Quarto ponto de interpretação, tema rochas......................................................... 43
Figura 12: Quinto ponto de interpretação, Jequitibá rosa...................................................... 43
Figura 13: Quinto Ponto de interpretação, Jequitibá rosa...................................................... 43
Figura 14: Índice de atratividade dos pontos interpretativos em função da distância, Trilha do
Jequitibá. ............................................................................................................................. 48
Figura 15: Atratividade total dos pontos interpretativos em função da distância, Trilha do
Jequitibá. ............................................................................................................................. 50
Figura 16: A. Gênero dos visitantes entrevistados. B. Grau de escolaridade dos visitantes
entrevistados........................................................................................................................ 73
Figura 17: Faixa etária dos visitantes entrevistados. ............................................................. 74
Figura 18: Cidade de origem dos visitantes entrevistados..................................................... 74
Figura 19: A. Número de vezes que o visitante já veio ao Parque Estadual dos Três Picos.
B.Tamanho do grupo de visitantes. ...................................................................................... 74
Figura 20: A. Tempo que o visitante afirmava conhecer o PETP. B. Forma através da qual o
visitante conheceu o PETP................................................................................................... 75
Figura 21: Locais visitados pelo público do PETP................................................................75
Figura 22: Principal motivo pelo qual o visitante veio ao PETP............................................ 75
Figura 23: Temas que visitante desejava obter mais conhecimento após a visita................... 88
Figura 24: A. Gênero do grupo de alunos e professores nos quais se aplicou o questionário. B.
Faixa etária grupo de alunos e professores nos quais se aplicou o questionário.....................93
Figura 25: A. Grau de escolaridade do grupo de alunos e professores que preencheram o
questionário. B. Cidade de origem dos mesmos....................................................................93
Figura 26: A. Número de vezes que o visitante já veio ao PETP. B. Tempo que o visitante
afirmava conhecer o PETP................................................................................................... 93
Figura 27: Forma através da qual o visitante conheceu o PETP............................................94
Figura 28: Temas sobre o PETP que o visitante desejava obter mais conhecimento após ter
realizado a visita. ................................................................................................................. 94
xiii
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Quadro 1: Meios de Interpretação ambiental recorrentes em UCs......................................... 11
Quadro 2: Modalidades de meios de interpretação................................................................12
Quadro 3: Ficha de campo do IAPI aplicada em um condutor do PETP................................ 46
Quadro 4: Inventário dos atrativos e dos tópicos possíveis de serem abordados na Trilha do
Jequitibá, a partir da utilização do IAPI................................................................................ 52
Quadro 5: Principais aspectos da análise da percepção do intérprete sobre a contribuição do
Parque na Educação Ambiental local. .................................................................................. 60
Quadro 6: Principais aspectos da análise da percepção do guia sobre os visitantes e os alunos
na Interpretação Ambiental..................................................................................................60
Quadro 7: Principais aspectos da análise da percepção do guia sobre os visitantes e os alunos
na Interpretação Ambiental: expectativas............................................................................. 63
Quadro 8: Principais aspectos da análise da percepção do guia sobre o papel do professor e
sua contribuição na Interpretação Ambiental no PETP......................................................... 64
Quadro 9: Análise da percepção dos funcionários sobre o trabalho do condutor e de seu papel
na Unidade de Conservação na Interpretação Ambiental...................................................... 66
Quadro 10: Análise da percepção dos funcionários sobre o trabalho do condutor e de seu
papel na Unidade de Conservação na Interpretação Ambiental: sugestões............................71
Quadro 11: Aspectos topofílicos do PETP segundo a percepção do visitante........................76
Quadro 12: Aspectos topofóbicos do PETP segundo a percepção do visitante...................... 82
Quadro 13: Expectativas dos visitantes em relação ao PETP................................................84
Quadro 14: Grau de aprendizado do visitante, segundo sua própria percepção...................... 89
Quadro 15: Ordenamento dos meios de interpretação em função do grau de preferência dos
visitantes.............................................................................................................................. 90
Quadro 16: Ordenamento dos meios de interpretação em função do grau de preferência dos
alunos e professores.............................................................................................................95
Tabela 1: Diretrizes gerais de design de trilhas..................................................................... 30
Tabela 2: Ordenamento da categoria de atrativos segundo o valor de atratividade total
atribuído pelos observadores (condutores e acadêmicos )..................................................... 58
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
EA Educação Ambiental
EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo
IA Interpretação Ambiental
IAPI Índice de Atratividade de Pontos Interpretativos
IEF Instituto Estadual de Florestas
MMA Ministério do Meio Ambiente
NUPIF Núcleo de Prevenção a Incêndios Florestais do Instituto Estadual de
Florestas
PETP Parque Estadual dos Três Picos
RJ Rio de Janeiro
SEMADS Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(Rio de Janeiro)
SMA Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
UC Unidade de Conservação
UFF Universidade Federal Fluminense
xv
RESUMO
O Parque Estadual dos Três Picos localiza-se no leste do Estado do Rio de Janeiro e
abriga remanescentes da Mata Atlântica, bioma de excepcional biodiversidade e elevadas
taxas de endemismo, submetidos, no entanto, aos efeitos do processo de fragmentação e da
pressão antrópica. Nesse contexto, a sensibilização, a Interpretação e a Educação Ambiental
são instrumentos chave para a promoção da conservação em Unidades de Conservação (UC)
através do alavancamento das mudanças de atitudes e valores. O presente estudo pretende
avaliar o potencial da trilha do Jequitibá para a sensibilização e conscientização dos seus
usuários (visitantes, escolas e moradores locais) através da Interpretação Ambiental (IA). Para
isso, considerou-se necessário o somente compreender e caracterizar o objeto de estudo (as
trilhas e os atores da IA) como analisar as atitudes, comportamentos e a percepção ambiental
de visitantes, escolas e moradores locais sobre as mesmas. Dessa forma, foram utilizadas
metodologias como o Índice de Atratividade dos Pontos Interpretativos (IAPI) e o estudo da
percepção ambiental através das entrevistas semi-estruturadas e da observação participante. A
trilha do Jequitibá foi caracterizada como de leve dificuldade, curto percurso, com design
apropriado para pedestres, sendo os impactos decorrentes do uso considerados mínimos ou
controlados. Através do IAPI, pôde-se concluir que é uma trilha altamente atrativa, dotada de
uma multiplicidade de recursos interpretativos, e que, apesar de possuir pontos de
interpretação consensuais, o apresenta roteiros temáticos de interpretação definidos,
enfatizando conteúdos biológicos e ecológicos em detrimento dos de cunho histórico e
cultural. Dentre as informações relevantes geradas pela análise da percepção dos atores,
destaca-se a compreensão limitada dos visitantes sobre a finalidade da UC, e que as
intervenções e manejos na trilha foram valorizados e apreciados pelos visitantes, sendo
considerados adequados ao público do PETP. Dentro das discussões e ações da IA, é
imperativo promover a integração e a capacitação dos educadores como parceiros e
multiplicadores ambientais; oferecer meios de interpretação diferenciados para grupos
escolares e visitantes e inserir na interpretação as questões sócio-culturais locais, tais como a
história e problemáticas do PETP. O estudo da percepção ainda levantou um gama de
expectativas e sugestões dos visitantes, indicativos de ações que podem ser desenvolvidas
para melhorar a qualidade e a satisfação do visitante. Os dados gerados através do IAPI ainda
subsidiaram a elaboração da apostila “Sugestões de atividades educativas e interpretativas na
trilha do Jequitibá”, que tem como finalidade traduzir os resultados do presente trabalho em
linguagem mais objetiva e acessível para guias, funcionários da UC e professores, amenizar a
carência de informações e a incentivar a promoção da IA. Através dos resultados do presente
trabalho, espera-se contribuir para o enriquecimento da literatura específica da área e para
compreensão e promoção plena da Interpretação Ambiental, fornecendo possíveis dados e
subsídios para os gestores de UCs, condutores/intérpretes e educadores ambientais.
Palavras-chave: Interpretação ambiental, Trilhas, Percepção Ambiental, Unidades de
Conservação.
xvi
ABSTRACT
The Três Picos State Park (PETP) is located in East of Rio de Janeiro’s State and
contains remainders from Atlantic Forest, biome of exceptional biodiversity and high level of
endemism, but exposed to effects of fragmentation and human interferences. In this context,
the sensibilization, the interpretation and environmental education are the tool keys for
promoting the conservation through changing acts and values. The present research intends to
avail the potential of the Jequitibá hiking trail for the sensibilization and consciousness of its
visitors (schools, local residents and visitants) through Environmental Interpretation (EI). For
this, it was necessary to understand and characterize the study object (hiking trails and EI
actors) and analyze the posture, behavior and environmental perception from visitors, schools
and local residents. It was used methodologies like Interpretative Points Attractiveness Index
(IPAI) and the study of environmental perception through semi-structured interviews and
participant observation. The Jequitibá hiking trail was characterized as light level of
difficulty, short distance, with appropriated design for pedestrians, and the impacts of public
use considered insignificant or managed. Through IPAI, it was possible to conclude that it’s a
high attractive trail, endowed with multiple interpretative resources, and, although has
consensual interpretative points, it doesn’t have defined thematic routes, emphasizing
biological and ecologic contents in detriment of historical and cultural contents. Among
relevant information obtained through analysis of actor perceptions, is detached the limited
comprehension of visitors about purposes of Conservation Units, and that interventions and
managements of hiking trail were valued and appreciated by visitors and considered proper
for public of PETP. In the midst of discussions and actions of EI, it’s imperative to promote
integration and qualification of educators like partners and environmental multipliers; offer
different interpretation resources for scholar groups and visitors and insert in environmental
interpretation local socials and cultural questions, as history and conflicts of PETP. The study
of perception allowed the survey of expects and suggestions of visitors, signs of actions that
could be developed to increase the quality and satisfaction of visitor. Results of IPAI
subsidized the confection of a guide entitled “Suggestions of educational and interpretation
activities on Jequitibá hiking trail”, that purposes traduce results of present work to objective
and accessible language to guides, Conservation Units employees and educators, minimizing
the lack of information and motivating and promoting EI. Through the results of present
work, it’s expected to contribute for enrichment of literature and to entire comprehension and
promotion of Environmental Interpretation, providing information and subsidies for managers
of Conservation Units, environmental interpreters and educators.
Key words: Environmental Interpretation, Trails, Environmental perception, Conservation
Units
1
1 INTRODUÇÃO
A industrialização e a expansão das cidades têm provocado historicamente um
crescente movimento de fuga dos centros urbanos em busca do “verde”, e aumentado a
procura por áreas naturais com os fins de recreação, descanso e contemplação da natureza.
Essa tendência global, segundo Irving (2002), vem de encontro à sensibilização da sociedade
frente à crescente urbanização e a degradação dos recursos ambientais, e da busca do ser
humano pelo resgate de sua essência, abandonada pela sociedade de consumo e
profundamente afetada pelo fenômeno da globalização.
Pela riqueza de seus biomas e a sua diversidade cultural, o Brasil apresenta um vasto
conjunto de áreas naturais com grande potencial para fortalecer o ecoturismo do país. Muitas
delas são Unidades de Conservação (UC's), que dentro de suas características e objetivos,
oferece a possibilidade de visitação, recreação e Interpretação Ambiental. A categoria Parque
ganha destaque frente às áreas legalmente protegidas, uma vez que é explorada como atrativo
natural de promoção do turismo em diversos países. Os Parques Brasileiros, segundo o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), lei federal 9.985/2000,
têm como objetivos “favorecer condições e promover a educação e a Interpretação Ambiental,
a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico”.
O Parque Estadual dos Três Picos localiza-se no leste do Estado do Rio de Janeiro e
abriga o bioma Mata Atlântica, um dos mais ameaçados do Brasil, pois apresenta apenas 5%
de sua cobertura vegetal original. A Fundação SOS Mata Atlântica (1992) aponta elevadas
taxas de endemismo para a flora: 50% das 10.000 espécies de plantas são endêmicas
(representadas por taxas endêmicas de 53% das espécies de plantas arbóreas, 74% das
bromélias e 49% das palmeiras). Apesar de suas áreas representarem grande importância
ecológica, econômica, social e cultural, com excepcional biodiversidade e elevadas taxas de
2
endemismo, a Mata Atlântica sofre pressão antrópica e está submetida aos efeitos do processo
de fragmentação, sendo urgentes as ações para a conservação. Por serem áreas limítrofes aos
centros urbanos e ocupações humanas, a necessidade de coordenar as políticas, o
ordenamento urbano e o desenvolvimento social e econômico das populações com o uso
sustentável e a conservação da Mata Atlântica. Dentro desse contexto, a sensibilização e
Educação Ambiental são instrumentos chave para o alavancamento e concretização das
mudanças de atitudes e valores.
O planejamento, desenvolvimento e monitoramento de programas de visitação têm
grande importância por oferecer maior visibilidade às UCs, permitindo que a sociedade
reconheça a sua existência. Além disso, pode se tornar uma fonte de arrecadação, dando maior
sustentabilidade econômica para conservação dessas áreas. Através da visitação, as UCs
cumprem função social, oferecendo espaços de lazer e recreação, riqueza de estímulos
sonoros, auditivos, táteis e sinestésicos que tem efeitos físicos, psíquicos, na saúde e na
qualidade de vida do ser humano. O planejamento e gestão da visitação em áreas protegidas
têm como grande desafio compatibilizar as demandas de uso dos recursos ambientais
1
com os
pressupostos de conservação ambiental, em áreas de elevado valor patrimonial em
biodiversidade. O ordenamento da visitação e a Interpretação Ambiental têm, nesse contexto,
papel fundamental em direcionar as ações do homem sobre o território de forma a minimizar
os impactos da visitação. Os ecossistemas sensíveis são susceptíveis a serem comprometidos
com a presença do visitante. Lixo, pisoteio, barulho excessivo, fluxo acima da capacidade de
carga são exemplos de fatores causadores de efeitos negativos que podem ser solucionados
através do monitoramento e sensibilização.
A crescente relevância da visitação para gestão nacional das UCs pode ser
reconhecida pela elaboração das “Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação”
(MMA, 2006), documento que apresenta um conjunto de princípios, recomendações e
diretrizes a fim de ordenar a visitação em UCs, e reitera a importância da visitação como
ferramenta de sensibilização da sociedade para a conservação da biodiversidade e como vetor
de desenvolvimento local e regional. A Interpretação Ambiental, incluída no conjunto de
Diretrizes para Visitação em UCs, passou a ter relevância para o planejamento e gestão em
UCs a partir da década de 70, momento no qual houve um aumento do interesse pelas
atividades recreativas em áreas públicas, sobretudo os Parques Nacionais, e os programas de
1
Adota-se o conceito de Recurso ambiental o conjunto que abrange a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, fauna e
flora de uma determinada região, de acordo com a lei 6.398/81 da Política Nacional e Meio Ambiente.
3
Interpretação Ambiental passaram, então, a integrar os Planos de Manejo das UC’s (Projetos
Doces Matas, 2002).
A interpretação é um instrumento educativo capaz de agregar valor à experiência do
observador, de contribuir para a formação de uma consciência ambiental, no ordenamento da
visitação e na minimização de seus impactos negativos. Segundo Tilden (1977), a
Interpretação Ambiental em áreas naturais busca, através do uso de diversas estratégias e
recursos educativos e da riqueza de elementos e fenômenos, revelar seus significados e inter-
relações, cativando o visitante, sensibilizando-o para o ambiente, os recursos e os seres vivos
ali protegidos. Dessa forma, é possível estabelecer pontes com seu cotidiano e contribuir para
conscientizá-lo de sua responsabilidade em preservar e proteger as áreas naturais.
Apesar do esforço das equipes, de forma geral, as Unidades de Conservação
brasileiras enfrentam sérios problemas, tais como a carência de funcionários e corpo técnico
qualificado, escassez de recursos, questões fundiárias, dificuldades em elaborar, aplicar e
atualizar o plano de manejo, interesses políticos e econômicos conflitantes e falta de
autonomia política (Pádua, 2002). Nesse contexto, a implementação de uma adequada gestão
do uso público (visitação, educação e Interpretação Ambiental) que concilie o uso com a
conservação dos recursos ambientais constitui mais um entre diversos os desafios a serem
superados pelas UCs.
A visitação e a Interpretação Ambiental ainda são incipientes quanto à infra-estrutura
disponível e a quantidade de visitantes anuais na maioria das UCs. Embora a relevância
dessas ações seja considerada uma meta importante a ser alcançada entre os administradores,
parceiros e órgãos ambientais, a grande maioria das UCs não dispõe de recursos humanos e
materiais para o manejo eficiente de seus recursos ambientais, principalmente para
disponibilizá-los à visitação. Instrumentos de planejamento e manejo da visitação tais como o
Plano de Uso Público, a definição de capacidade de suporte, rotinas de monitoramento e,
principalmente, equipes treinadas para a condução do visitante e para manutenção de suas
estradas, caminhos e trilhas ainda o pouco comuns. O Parque Estadual dos Três Picos, em
função de sua recente criação e implantação, ainda não possui um Plano de Uso Público e
programas educativos e interpretativos integralmente desenvolvidos.
Segundo Takahashi (2004a), para compatibilizar os objetivos distintos como a
conservação da biodiversidade, a recreação e a interpretação da natureza, é essencial
pesquisar sobre as características dos visitantes, os tipos de usos praticados e as condições
ambientais locais, de forma a subsidiar as decisões de manejo e assegurando uma elevada
4
qualidade nas oportunidades de recreação. Como não fórmulas prontas, é fundamental
estimular estudos e ações de manejo que permitam conhecer o uso público das UCs e a
melhor forma de manejá-los. A carência de dados publicados ou sistematizados sobre as áreas
naturais protegidas constitui uma barreira para a correta compreensão de seus recursos
ambientais, culturais e socioeconômicos, e consequentemente, para a promoção da Educação
e Interpretação Ambiental (Irving, 2002).
No Brasil, a experiência com a implantação e a utilização de programas educativos e
interpretativos em áreas naturais protegidas, principalmente com trilhas interpretativas, é
recente e continua restrita. Faltam informações de caráter científico sobre a eficiência destes
programas voltados para diferentes públicos e locais, e pouco se conhece sobre o público
visitante das áreas naturais, suas características, preferências, expectativas e níveis de
percepção (Vasconcellos, 1998).
As atividades de Educação ambiental, apesar de lembradas como ferramentas
essenciais para o enfrentamento das questões ambientais, têm sido amplamente questionadas
quanto a sua eficácia para a reversão da degradação ambiental, sendo cada vez mais
enfatizados o estudo de instrumentos consistentes de avaliação (Layrargues, 2000). Da
mesma forma, segundo Projetos Doces Matas (2002), há uma crescente preocupação na
literatura internacional sobre a eficácia das atividades de Interpretação Ambiental para a
promoção da conservação das áreas naturais e de que forma elas vêm satisfazendo as
necessidades dos diferentes tipos de visitantes.
Em função da relevância do tema, foi desenvolvida, no presente trabalho, a análise de
uma trilha interpretativa no PETP e de sua contribuição para a conservação
2
da UC,
possibilitando o enriquecimento da literatura específica da área e a melhor compreensão e
promoção da Interpretação Ambiental.
2
Segundo a Lei 9.885 de 18 de julho de 2008 que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
entende-se por conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação,
a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa
produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as
necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.
5
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O presente estudo pretende avaliar o potencial da trilha do Jequitibá para a
sensibilização e conscientização dos seus usuários (visitantes, escolas e moradores locais)
através da Interpretação Ambiental, de forma a promover a conservação dessa Unidade de
Conservação (UC).
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- caracterizar a trilha do Jequitibá;
- avaliar o potencial de interpretação desse espaço e suas possibilidades;
- caracterizar os atores da interpretação (visitantes, condutores, educadores);
- compreender a percepção ambiental dos mesmos e sua relação com a interpretação;
- analisar e discutir a contribuição da Interpretação Ambiental para a conservação da UC;
- identificar deficiências quanto à interpretação e propor medidas mitigadoras e possíveis
soluções;
- fornecer subsídios para a elaboração e implementação do Plano de Manejo e o Plano de
Uso público desta quanto às atividades interpretativas.
6
3 DISCUSSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL
3.1 INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL
3.1.1 Conceitos gerais
A Interpretação Ambiental (IA) possui uma estreita relação com a Educação
Ambiental (EA), pois ambas buscam uma mudança de postura do ser humano frente ao
mundo. Segundo COLLEY et al. 2002, GOHM 1999 e VALENTE 1995
3
(apud IKEMOTO
2007), considera-se educação formal a educação escolar, hierarquicamente estruturada,
desenvolvida em escolas; educação informal, a educação que ocorre ao acaso, sem prévia
intenção, decorre de processos naturais e espontâneos, é aquela que é transmitida pelos pais,
no convívio com amigos, clube, teatro, leituras e outros. A educação não formal, por sua vez,
é a educação organizada e sistemática fora do ambiente formal de ensino, ela ocorre quando
existe a intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinados objetivos fora da
instituição escolar. Segundo Projeto Doces Matas (2002), a Educação Ambiental tem caráter
contínuo, podendo ser trabalhada em diversas instâncias, formais ou o formais. A
Interpretação Ambiental, por sua vez, é projetada para um momento específico e de curta
duração, ou seja, enquanto o visitante permanece no local onde se faz a Interpretação, ou seja,
em ambientes não-formais.
3
COLLEY, H.; HODKINSON, P.; MALCOLM, J. (2002) Non-formal learning: mapping the
conceptual terrain. A consultation report. Leeds: University of Leeds Lifelong Learning Institute.
GOHM, M. G. (1999) Educação não formal e cultura política. Impactos sobre o associativismo do
terceiro setor. São Paulo: Ed. Cortez, v.71.
VALENTE, M.E.A. (1995) Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, RJ.
7
A Interpretação Ambiental pode ser considerada como uma das abordagens ou faces
da EA, representando uma alternativa para sensibilizar os visitantes neste curto espaço de
tempo disponível em que se encontra em contato com o ambiente natural, na tentativa de
aproximá-lo deste meio e finalmente torná-lo mais sensível às questões ambientais relevantes
para a conservação da natureza tanto no ambiente natural como no urbano (Talora et al, 2006).
A IA não deve ser considerada como o único, mas sim um estratégico instrumento para a
promoção da EA em UC’s.
Apesar de não ser um termo amplamente difundido como a “Educação Ambiental”, a
Interpretação Ambiental vem ganhando crescente espaço em programas educacionais
vinculados ao turismo, uma vez que possui caráter simultaneamente educativo e recreativo.
Segundo Corrêa (2004), é comumente realizada em visitas orientadas sobre os patrimônios
histórico, artístico, cultural e natural, tais como áreas naturais protegidas (unidades de
conservação), museus, coleções (artísticas, botânicas, ou zoológicas), empresas e hotéis-
fazenda. Através da Interpretação Ambiental, busca-se explorar os recursos do ambiente a fim
de informar e sensibilizar o visitante para a conservação desses patrimônios.
Embora tenha vários conceitos, a Interpretação Ambiental é um termo de fácil e clara
compreensão. Segundo autores:
A Interpretação é um serviço para os visitantes dos parques,
florestas, refúgios e áreas similares de recreação. Os visitantes, além de
procurarem estas áreas para o descanso e inspiração, também podem ter
interesse em aprender sobre seus recursos naturais e culturais. A
Interpretação é uma forma de comunicação, que conecta o visitante com os
recursos. (Sharpe,1976)
A Interpretação Ambiental é uma atividade educativa que se
propõe revelar significados e inter-relações por meio de uso de objetos
originais, do contato direto com os recursos e de meios ilustrativos, em vez
que simplesmente comunicar informação literal (Tilden, 1977).
As atividades, apesar de não serem pré-definidas ou claramente delineadas, possuem
princípios que as norteiam e as permitem caracterizá-las como de cunho interpretativo.
Freeman Tilden (op. cit.), considerado um dos pioneiros do estudo da interpretação, formulou
os seguintes princípios:
-Seu objetivo não é exatamente o aprendizado, mas sim de buscar sensibilizar o
visitante e estimular a sua curiosidade e seu interesse.
8
- É uma arte que combina com muitas outras artes, além de se basear nos conceitos
científicos. Para atingir e tocar o visitante, a interpretação deve ser prazerosa e clara, utilizar
uma linguagem simples e se apropriar de diversos recursos para a transmissão da informação,
tais como sons, música, histórias, placas, figuras, jogos, dinâmicas, movimento, humor e
vídeo.
- É de suma importância estabelecer relações entre o que está sendo interpretado
com o cotidiano ou a experiência do visitante, permitindo que este se identifique com os
temas abordados. Dessa forma, é possível sensibilizar e tornar a interpretação relevante e
significativa ao visitante.
- Não se deve limitar em transmitir informações, conteúdos. Ela deve revelar aquilo
que não es explicito, tais como as relações de interdependência, os diferentes veis de
percepção de um mesmo fenômeno ou ambiente e os significados do tema trabalhado. Além
disso, provocar a reflexão e o pensamento crítico do visitante, despertando o interesse e
comprometimento do mesmo com local visitado e o meio ambiente.
-A Interpretação Ambiental e o planejamento da atividade devem, portanto, ser
diferenciadas em função do público alvo, pois as vivências e experiências de cada visitante
são distintas. As atividades devem ser planejadas de forma a abranger o maior número de
possibilidades sem prejuízo ao meio ambiente ou riscos ao visitante. Por exemplo, oferecer
oportunidades para aqueles que querem percorrer a trilha sozinhos (trilhas autoguiadas);
promover a acessibilidade e também a possibilidade de interpretação a pessoas portadoras de
deficiência; permitir a visitação de alunos de diversos níveis escolares, leigos e pesquisadores,
oferecendo diferentes abordagens; encaixar-se no conceito de desenho universal
4
, entre outros.
-Na interpretação os temas devem ser trabalhados de forma holística e interligada,
de forma a ressaltar as inter-relações existentes entre os elementos que compõe o meio
ambiente.
A organização e planejamento permitem que a mensagem seja transmitida de forma
direcionada, e o trabalho em temáticas (mensagem com início, meio e fim) torna claro ao
público o objetivo da interpretação. Dessa forma, otimizam-se as atividades, reduzindo
esforços e evitando a dispersão do visitante.
4
O desenho universal é “aquele que visa atender à maior gama de variações possíveis das
características antropométricas e sensoriais da população.” (ABNT, 2004)117p.
9
Essas são as características que diferenciam a interpretação da recreação ambiental.
Ambas são consideradas instrumentos educativos e de sensibilização, no entanto, a Recreação
Ambiental tem um caráter mais acentuado de esforço físico e lazer, e é considerada, segundo
Projeto Doces Matas (op. cit.) como uma atividade lúdica, educativa e recreativa, que tem
como objetivo principal transmitir conhecimentos sobre os recursos ambientais e seus
processos biológicos, levando em conta as intervenções antrópicas. A recreação ambiental
pode estar inserida dentro de um projeto de Interpretação Ambiental, mas não o oposto.
3.1.2 A Interpretação Ambiental e as Unidades de Conservação (UCs)
A Interpretação Ambiental é reconhecida como estratégica dentro do planejamento e
manejo das Unidades de Conservação pela sua importância educativa e social. O destaque da
Interpretação Ambiental, tanto na literatura quando em documentos oficiais sobre UC’s, está
relacionada por sua definição estar mais intimamente associada com o lúdico, à recreação,
visitação e interação com os espaços livres do que à Educação Ambiental, apesar de ambas
terem pontos em comum.
Segundo as Diretrizes para visitação em UC’s (MMA, 2006), a Interpretação
Ambiental deve ser adotada “como uma forma de fortalecer a compreensão sobre a
importância da UC e seu papel no desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental”,
utilizando-se de diversas técnicas de modo a “desenvolver a consciência, apreciação e o
entendimento dos aspectos naturais e culturais, transformando a visita em uma experiência
enriquecedora e agradável”. Conforme o mesmo documento, o projeto de interpretação deve
ser elaborado de forma participativa, envolvendo a sociedade local, e por uma equipe
multidisciplinar, sendo uma ferramenta de minimização dos impactos negativos naturais e
culturais. Além disso, deve também utilizar uma linguagem acessível ao conjunto dos
visitantes, levar em conta os objetivos gerais e específicos da UC, e ser fundamentada em
informações consistentes sobre aspectos naturais e culturais locais, visto a particularidade de
cada localidade.
Ainda segundo Hanai & Netto (2006),
A ausência de um programa adequado de visitação, com roteiros
interpretativos adequados, desvaloriza o potencial da área visitada. A
10
elaboração de roteiros interpretativos é uma das grandes prioridades para a
promoção da conscientização e da sensibilização do visitante. Quando não
infra-estrutura ou programas de visitação, o turista desvaloriza o
aproveitamento e a apreciação da área visitada e do local turístico. O turismo
bem planejado permite que ocorram a conscientização ambiental e uma
melhor experiência de visitação na natureza, satisfazendo as expectativas
dos visitantes. O projeto de visitação às áreas naturais auxilia na sua
conservação e valorizam os patrimônios naturais e culturais existentes.
Para o desenvolvimento de um programa de Interpretação pleno em uma UC, é
necessário levar em consideração diversos fatores, dentre eles: a identificação do público alvo,
ou seja, a caracterização do perfil do visitante, sua motivação e expectativas em relação à UC;
definição clara dos objetivos da interpretação na instituição; realização do inventário
interpretativo dos recursos locais, gerando dados estratégicos; a escolha subseqüente dos
meios e técnicas apropriadas para o público da UC; e a avaliação dos resultados através do
monitoramento, garantindo o aperfeiçoamento e a adequação do programa de Interpretação
Ambiental (Sharpe, 1982 e Silva, 1996
5
apud Salvati, 2006).
Segundo Projetos Doces Matas (2002), por razões diversas, a Interpretação ambiental
é incipiente na maior parte das UCs brasileiras. Apesar de muitas das vezes oferecerem
atividades como palestras, passeios em trilhas e outras atividades recreativas ou educativas,
essas, na maior parte das vezes, não estão organizadas em torno de um tema interpretativo e
não possuem flexibilidade de forma a atender tipos diferenciados de público. Embora sejam
agregados alguns valores sobre a proteção ambiental, as informações são trabalhadas de
maneira fragmentada e desassociada do cotidiano do visitante.
Ceballos-Lascuráin (1996, apud Franco, 2000
6
) discute sobre a deficiência de infra-
estrutura adequada para a Interpretação Ambiental nos Parques Brasileiros, e aponta como
prováveis razões o desconhecimento dos gestores sobre a Interpretação Ambiental e seus
benefícios potenciais; o desconhecimento das diversas técnicas e ferramentas de
interpretação; a deficiência de recursos humanos capacitados e a falta de estudos e dados
locais que permitam planejar e implementar programas de Interpretação Ambiental.
3.1.3 Os meios de Interpretação Ambiental
5
SHARPE, G. W. (1982). Interpreting the environment. New York, John Wiley, 649p.
SILVA, L. L (1996). Ecologia: manejo de áreas silvestres. Santa Maria, MMA/FNMA/FATEC. 352p.
6
CEBALLOS-LASCURÁIN, Hector (1996). Tourism, ecotourism and protected areas. The World
Conservation Union- IUCN.
11
diversos recursos que podem ser utilizados para realizar a Interpretação
Ambiental, e a escolha destes deve levar em consideração diversos fatores, tais como o
público alvo e o tema a ser trabalhado. Os meios de Interpretação devem atender as
expectativas do visitante e sua linguagem, agregar qualidade e valor à visitação. Para chamar
a atenção do visitante e para poder sensibilizá-lo, é fundamental que sejam atrativos,
compreensíveis e acessíveis. O custo de implantação, operação e manutenção do meio de
interpretação também deve estar dentro das possibilidades da UC.
Segundo Projeto Doces Matas (op. cit), a seleção dos meios interpretativos a serem
usados deve ser coerente com o planejamento geral da Unidade de Conservação, embora, na
prática, algumas atividades de Interpretação sejam desenvolvidas, circunstancialmente, de
forma isolada e pontual. Dessa forma, a escolha dos meios deve levar em conta as
características locais particulares, sendo diferenciada para cada UC. O quadro 1 representa
algumas atividades e meios de Interpretação Ambiental frequentemente desenvolvidos em
UCs.
Os meios de IA podem ser categorizados em personalizados ou o-personalizados
(quadro 2). Os meios personalizados são aqueles que proporcionam uma interação entre o
público e o guia ou intérprete, tais como as trilhas guiadas, palestras ou conferências,
dramatizações, jogos e dinâmicas, práticas de campo, entre outros. Os meios não-
personalizados, por sua vez, são aqueles que independem de um guia ou intérprete, como por
exemplo, trilhas autoguiadas (com placas), exposições, publicações, modelos, entre outros.
Quadro 1: Meios de Interpretação ambiental recorrentes em UCs.
Meio de
interpretação
Pontos positivos
Pontos negativos
Tipos
Mapas
Folhetos
Cartazes
Roteiros impressos
Publicações
- Baixo custo
- Possibilidade de levar para
casa
- Informações detalhadas e
sistematizadas
- Passíveis de virar lixo
- Passíveis de não serem
lidos
- Não respondem dúvidas
- São de difícil atualização
Guia para
identificação de
espécies
Guiada
Autoguiada
Trilhas
- Vivência direta com o meio
natural
- Concilia recreação com
Educação Ambiental
- Principal fator de motivação
à visitação em UCs.
- Oferece risco ao visitante,
caso seja mal planejada e
sem manutenção.
- Pode ter alto custo de
implantação, dependendo do
projeto de trilha.
Outras opções
Placas
- Possibilita visita autoguiada
- Podem ter alto custo de
Placas
12
Pôsteres
- Agrega atratividade às
trilhas
- Sinaliza informações
importantes para o visitante
implantação ou manutenção.
- São de difícil atualização
Documentos fixos
Palestras
-Possibilidade ampla de
atualização e inovação, com
palestrantes convidados.
- atendem grandes grupos
- podem ser ministradas fora
das UCs, atingindo diversos
públicos
- o palestrante pode não ser
um bom comunicador
- distanciamento da
experiência direta com o
meio natural
Coleções botânicas
Pegadas
Coleções de fauna
Pôsteres temáticos
Exposições
- Podem ser transportadas
para outros locais, atingindo
diversos públicos
- Baixo custo de manutenção
- Alto custo de implantação
- Não representam uma
experiência direta do
recurso
Fotos
Maquetes
Dioramas
Modelos
- Permite visualizar algo que
não é diretamente perceptível,
devido a sua escala, raridade,
etc.
- Baixo custo de manutenção
- Alto custo de implantação
- Podem ser
incompreensíveis, se mal
elaborados e na ausência de
um intérprete.
Figuras esquemáticas
Vídeos
Filmes
Transparências
Audiovisual
- podem ser ministradas fora
das UCs, atingindo diversos
públicos
- atendem grandes grupos
- Permite visualizar algo que
não é diretamente perceptível
devido a sua escala e
raridade, etc.
- São de difícil atualização
- distanciamento da
experiência direta com o
meio natural
Slides
Atividades
acadêmicas
Práticas em
campo
- Possibilita melhor
entendimento de um
determinado conteúdo
- Lúdico e altamente atrativo
- Podem ser dispendiosas
- Podem requerer pernoite
- limitado a pequenos
grupos
Experimentos
Ativa
Dramatizações
- são provocantes e lúdicas
- agregam atratividade
cultural a visitação
- é dispendioso reproduzir
cenários
- requer tempo e
disponibilidade dos
visitantes
- atingem pequeno público,
devido à sua restrita
ocorrência.
Passiva
Jogos e
dinâmicas
- atendem públicos infanto-
juvenis
- são provocantes e lúdicos
- são de baixo custo e
manutenção
- requer tempo e
disponibilidade dos
visitantes
Simulações
- são provocantes e lúdicas
- são ideais para divulgar as
ações desenvolvidas na UC.
- necessita de funcionários
- requer disponibilidade do
visitante
Adaptado de Projeto Doces Matas, op. cit.
Quadro 2: Modalidades de meios de interpretação.
13
Modalidade
Aspectos Positivos
Aspectos Negativos
Personalizados
-Permite contato pessoal com o
intérprete;
-Permite ao visitante tirar dúvidas;
-Controle mais efetivo da
integridade do patrimônio;
-Permite atualizações;
-A interpretação pode ser adaptada
em função do público;
- A qualidade da interpretação
depende do guia;
- Por atender um pequeno público,
não são recomendadas aos locais
com grande demanda de visitação.
- Demandam funcionários da UC,
quando não há condutores
cadastrados externos;
Não-personalizados
- dá liberdade ao visitante
- permite que o visitante siga seu
próprio ritmo;
- permite acesso independente da
presença do guia;
- atende grandes públicos;
- libera funcionários para realizar
outras atividades na UC
- não responde dúvidas;
- é suscetível ao vandalismo;
- não é suscetível a adaptações;
- alto custo de manutenção ou
atualização;
- seu conteúdo deve ser nivelado
somente para um tipo de público.
Adaptado de Projeto Doces Matas, op. cit.
Segundo Morales (1992), o fracasso da Interpretação Ambiental pode ser atribuído a
alguns erros comuns de natureza metodológica, que independentemente do meio de IA
escolhido, devem ser evitados, tais como:
- Trabalhar com informações excessivas, seja na forma verbal ou em textos longos;
- Empregar palavras técnicas em demasia;
- Utilizar elementos conflituosos (materiais de qualidade, tópicos polêmicos,
explicações confusas, entre outros).
Apesar da preocupação nos aspectos de natureza metodológica da Interpretação
Ambiental na literatura existente, é importante ressaltar que a IA não se resume em
sinalização, folhetaria ou exposição de fotos, assim como a Educação Ambiental não se
resume ao plantio de árvores em datas comemorativas e coleta de materiais recicláveis. A IA
define-se em função da forma como é revelado o significado e as relações da natureza por
meio da utilização de meios e atividades diversas.
3.1.4 Trilhas interpretativas
As trilhas são o grande alvo da visitação e da Interpretação Ambiental, uma vez que
são as únicas vias de acesso possíveis de serem construídas e mantidas nas UC’s, sendo o
espaço de interação entre o visitante e o meio ambiente natural. Segundo Salvati (2003), as
trilhas podem ser consideradas “caminhos existentes ou estabelecidos, com diferentes formas,
14
comprimentos e larguras, que possuem o objetivo de aproximar o visitante ao ambiente
natural, ou conduzi-lo a um atrativo específico possibilitando seu entretenimento ou
educação, através de sinalizações ou de recursos interpretativos”. As trilhas, uma vez bem
planejadas e manejadas, além de cumprirem a sua função utilitária, permitem o contato e
recreação da sociedade e possuem enorme potencial educativo, podendo contribuir para a
sensibilização e a conscientização ambiental através de um programa adequado de IA. Dessa
forma, são instrumentos de grande importância para o planejamento e manejo da atividade
turística e conservação dos recursos ambientais, sendo caracterizadas e analisadas de forma
mais aprofundada no presente trabalho, dentre os meios de Interpretação Ambiental.
As trilhas podem ser caracterizadas de 2 formas, segundo as normas internacionais
(Guimarães, 2006):
I. Trilhas de interpretação de caráter educativo, pois consistem em
instrumentais pedagógicos, podendo ser: (1) auto-interpretativa ou
autoguiada; (2) monitorada simples ou guiada; (3) com monitoramento/guia
associado a outras programações. O percurso deve ser de curta distância,
onde buscamos otimizar a compreensão das características naturais e/ou
construídas da seqüência paisagística determinada pelo traçado. No caso de
áreas silvestres são conhecidas como trilhas de interpretação da natureza
("Nature Trails"); em áreas construídas, especialmente as urbanas, em
geografia, são conhecidas como percursos de espaço vivido. ("Espace Véu" /
"Living Space").
II. Trilhas cênicas ("Scenic Trails"; "Wilderness Trails"), isto é,
trilhas que integram um sistema de outras redes, geralmente com uma
seqüência paisagística envolvendo uma travessia por cenários urbanos, rurais,
selvagens, enfocando aspectos e atributos culturais, históricos, estéticos, etc.
Possuem longas distâncias e grandes extensões, sendo consideradas de
caráter recreacional devido às viagens regionais.
Dentre as trilhas nas quais se desenvolvem atividades educativas, pode-se citar as
trilhas interpretativas e recreativas, que muitas vezes são confundidas entre si. Trilhas que
apresentem placas ou guias que transmitam informações pontuais ou desconectadas, mesmo
que bem formuladas, o podem ser classificadas como interpretativas, e sim como
recreativas, o que ocorre na maioria das UCs. As trilhas interpretativas são caracterizadas por
serem temáticas e organizadas, e acima de tudo, por buscar associar o conteúdo com a
experiência e vivência do visitante, promover o questionamento e a reflexão através de
recursos didáticos diversos, diferenciar e adequar as abordagens em função das características
15
dos observadores e trabalhar os temas de forma inter-relacionada, utilizando a trilha como
principal instrumento de sensibilização.
As trilhas interpretativas o um poderoso instrumento educativo dentro das
Unidades de Conservação. Através delas, o visitante pode se sensibilizar, observar e
compreender elementos, fenômenos e inter-relações do meio natural. Segundo Guimarães (op.
cit),
A combinação de fatores recreacionais e educativos reveste-se de
um sentido especial nas trilhas interpretativas do meio ambiente ao
amalgamar curiosidade, imaginação, variedade de estímulos, informações
temáticas, companheirismo - estando o mesmo fundamentado em técnicas e
estimulado pela compreensão de uma vivência, onde cognição e afetividade
estão mescladas. Na realidade, a experiência de uma trilha é impossível de
ser restringida aos conteúdos referentes aos ecossistemas, ciclos vitais,
recuperação e proteção, poluição e degradação, entre outros. A implantação
de trilhas interpretativas em áreas urbanas, rurais, silvestres, seja pelos seus
valores histórico-culturais e estéticos ou, no caso de parques e unidades de
conservação devido aos seus valores ecológicos, científicos, cênicos, etc.,
tem contribuído de modo significativo para a Educação Ambiental,
aproximando os seres humanos às suas paisagens.
Como citado anteriormente, as trilhas interpretativas podem ser guiadas, autoguiadas
ou guiadas associadas com outras programações. Apesar de sua relevância, vale lembrar que
as trilhas são apenas um dos meios educativos da UC e que o planejamento da Interpretação
Ambiental deve ser feito de forma integrada com os demais meios.
Uma trilha interpretativa bem concebida deve ser curta e com poucos, mas
significativos pontos de parada/interpretação. Percursos longos tornam-se cansativos e
monótonos, e o excesso de paradas prolonga ainda mais o tempo de percurso, saturando o
visitante. Os pontos de parada e interpretação devem ser atrativos e bem delimitados, devendo
ser a trilha alargada para comportar simultaneamente o grupo de visitantes sem prejudicar a
visibilidade dos atrativos ou da explicação do condutor. Segundo Projeto Doce Matas (2002),
recomenda-se uma extensão máxima de 1,5km e percurso de 45 minutos para trilhas
interpretativas, nas quais o objetivo é despertar e manter o interesse do visitante, apresentando
grande diversidade de elementos ao longo de seu percurso, não devendo ser visualmente
monótonas.
3.1.5 A Educação Ambiental e suas implicações para a Interpretação Ambiental
16
A Interpretação Ambiental é uma das formas de trabalho possíveis dentro de uma
proposta de Educação Ambiental, o que pode ser confirmado pelo fato das UCs
desenvolverem a IA articulada e inserida dentro da Educação Ambiental.
O conceito de Educação Ambiental acompanhou a mudança e evolução da concepção
de meio ambiente. Antes, meramente visto dentro da perspectiva biológica e ecológica, sendo
reduzido à fauna, flora, ar, solo e água, têm ganhado continuamente dimensões sociais na
medida em que inclui o ser humano e a sociedade como parte do ambiente. Numa trilha
interpretativa, dessa forma, é extremamente importante ter o cuidado de não se limitar apenas
aos aspectos biofísicos, abordando também questões históricas e culturais e buscando associar
o conteúdo ao cotidiano do ouvinte.
Segundo Quintas (2004), “frequentemente instituições e órgãos ambientais
desenvolvem programas de Educação Ambiental a partir de várias temáticas, como lixo,
tráfico de animais, desmatamento, recursos hídricos, agrotóxicos, Unidades de Conservação,
ecoturismo, ordenamento das pesca, animais silvestres, entre outros. Além da variedade de
temas, é comum encontrar uma grande variedade de abordagens. O modo como um
determinado tema é abordado em projeto de Educação Ambiental define tanto a concepção
pedagógica quanto o entendimento sobre a questão ambiental assumidos na proposta. A
questão dos agrotóxicos, por exemplo, pode ser trabalhada tanto na perspectiva da
conscientização sobre o uso dos equipamentos de proteção individual, a aplicação adequada
dos produtos e dos malefícios dos agrotóxicos para a saúde humana; como naquela onde se
compreende que a problemática é conseqüência de um contexto social, econômico e
ambiental histórico, analisa por que esta prática predomina frente a outras formas de
produção, e busca a construção coletiva de modos de compreendê-la e superá-la.
Este mesmo autor afirma que a primeira perspectiva está ligada com a idéia que a
prevenção e a solução dos problemas ambientais dependem de “cada um fazer a sua parte”, na
qual se cada um utilizasse adequadamente os equipamentos de proteção e aplicasse
corretamente o produto, seriam minimizados os impactos ambientais negativos. Nesse quadro,
à Educação Ambiental caberia principalmente promover a mudança de comportamento do
sujeito e sua relação cotidiana e individualizada com o meio ambiente e com os recursos
naturais, objetivando a formação de hábitos ambientalmente responsáveis no meio social, uma
abordagem simplista e ingênua da problemática ambiental. A segunda proposta, por sua vez,
pressupõe que o fato de “cada um fazer a sua parte”, por si só, não garante necessariamente a
prevenção e superação dos problemas ambientais, uma vez que as decisões envolvendo
17
aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais é que decidem a existência ou não das
agressões ambientais. Nesse quadro, a Educação Ambiental deve ser direcionada para a
compreensão e busca da superação dos problemas ambientais por meio também da ação
coletiva e organizada.
Segundo Guimarães (2004), a Educação Ambiental conservacionista é objetivada no
indivíduo e na transformação do seu comportamento, sendo uma educação individualista e
comportamentalista. Ela tende também a privilegiar e promover o aspecto cognitivo do
processo pedagógico e a dimensão tecnicista frente à política, concepção de EA exemplificada
pela primeira perspectiva. A Educação Ambiental crítica e transformadora, por sua vez, parte
do princípio que a realidade é complexa, e objetiva também promover a mobilização para a
intervenção da realidade e seus problemas socioambientais, exercitando a cidadania ativa.
Segundo Quintas (op. cit.), é crítica na medida em que discute e explicita as contradições do
atual modelo de civilização e das relações sociedade natureza, transformadora por colocar em
questão o modelo de sociedade, e emancipatória por discutir as questões sociais e políticas.
Além dessas, uma extensa variedade concepções e denominações de EA, não
cabendo a estudo enumerá-las e descrevê-las. O que deve ser lembrado é que é fundamental
aos condutores e os gestores de áreas protegidas conhecê-las, diferenciá-las e optar
conscientemente por uma linha estratégica de EA, de forma a nortear e direcionar as
atividades de IA, o que irá influenciar na obtenção de diferentes alcances e resultados para
sensibilização e conscientização de seus visitantes.
3.2 PERCEPÇÃO AMBIENTAL
É consensual que o homem provoca grande interferência e impactos no espaço em
que ocupa. Sua percepção, valores e o comportamento, dessa forma, não devem ser excluídos
dentro da discussão das questões ambientais. O estudo da percepção ambiental do ser humano
pode contribuir na compreensão da forma que os diferentes indivíduos e grupos sociais se
relacionam com o espaço que ocupam, e suas implicações para a conservação ou degradação
do meio ambiente. Assim, o estudo da percepção ambiental possui importantes implicações
para o sucesso da Educação Ambiental e para o planejamento. Para Tossini (2005), entender a
compreensão da paisagem para um indivíduo ou grupo através do estudo da percepção
contribui para compreender o sentimento e atitudes em relação aos lugares e fornece
importantes elementos para a identificação dos graus de valorização do meio ambiente,
18
podendo auxiliar em uma intervenção que melhore, quando necessário, a relação do grupo
com a paisagem abordada.
Dentre as diretrizes de visitação em UC’s (MMA, 2006), considera-se necessário
realizar pesquisas periódicas para identificar o perfil, a opinião e a satisfação dos visitantes
com relação às oportunidades de visitação oferecidas nas UC’s, além de compreender a
diversidade de expectativas dos visitantes quanto à qualidade e variedade das experiências,
grau de segurança e desejo de informações/conhecimento, procurando atendê-las com um
amplo leque de estratégias de manejo que maximizem a variedade de oportunidades
oferecidas. Nesse contexto, o estudo da percepção ambiental em UC’s tem grande
importância uma vez que possibilita aos gestores conhecerem tanto as expectativas quanto às
impressões e sensações do visitante.
Segundo Tuan (1980), a percepção é:
... Tanto resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a
atividade proposital na qual certos fenômenos são claramente registrados,
enquanto outros retrocedem à sombra ou são bloqueados. Muito do que
percebemos tem valor pessoal, para sobrevivência biológica, para propiciar
satisfações enraizadas na cultura.
Da mesma visão compartilham Del Rio & Oliveira (1999) e Kuhnen (2001), onde,
... a percepção é um processo mental de interação do indivíduo
com o meio ambiente, sendo dirigido por dois mecanismos: o sensorial,
constituído pelos 5 sentidos; e o cognitivo, na qual a contribuição da
inteligência, motivação, humores, necessidades, conhecimentos prévios,
valores, julgamentos e expectativas.
Nesse contexto, é relevante o papel da psicologia na compreensão do complexo
fenômeno da percepção. A percepção está sujeita a partir de três categorias de variáveis: a do
ambiente físico, a das interações e processos fisiológicos e a dos eventos comportamentais.
O estudo das interações entre as diferentes variáveis são relevantes para a
compreensão do fenômeno da percepção (figura 1), no entanto, é importante ressaltar que o
estudo da percepção não deve se restringir somente a esse tipo de abordagem. Segundo Tuan
(op. cit.), apesar da grande variação da forma como as pessoas percebem e avaliam o meio
ambiente, os seres humanos estão limitados a compartilharem percepções comuns, por
compartilharem uma fisiologia característica e comum, que os diferem das outras espécies.
19
Fonte: Del Rio & Oliveira, 1999.
Figura 1: Esquema teórico do processo perceptivo.
Ferreira (2005) também afirma que:
Embora as percepções sejam, no limite, subjetivas para cada
indivíduo, elas são fortemente influenciadas pela cultura. As representações
coletivas de lugar e de território, criadas por cada grupo, revelam o modo
como se vive e se planeja o espaço. Assim o conhecimento do mundo físico
é tanto perceptivo quanto representativo/interpretativo, e ele não está nas
atividades de observação e reflexão sobre o ambiente, mas nas histórias das
pessoas, nos mitos, nas festas populares.
A percepção ambiental integra elementos da psicologia, da geografia, da biologia e
da antropologia, entre outras ciências, tendo como objetivo principal o entendimento sobre os
fatores, os mecanismos e os processos que levam o homem a possuir percepções e
comportamentos distintos em relação ao meio ambiente. A percepção ambiental é a
compreensão, conscientização, avaliação e valoração humana do meio ambiente, expressão
humana sobre a sua realidade ambiental por intermédio de suas experiências e expectativas. A
percepção ambiental é construída a todo instante, particular e socialmente, e por isso mesmo
conferimos à realidade dependência e complexidade, mas também fragilidade e condições de
manipulá-la.
Para abordar esses temas, os pesquisadores têm utilizado instrumentos ainda pouco
sofisticadas e que se encontram, muitos casos, na interseção de metodologias da Geografia
Psicologia.
Entre as mais empregadas, até hoje, no Brasil mundo, citam-se (Filho, 2007):
Entrevistas, questionários e enquetes de opiniões;
20
Fotografias, desenhos, mapas e obras de arte, como estímulos para a explicação, por
parte do sujeito da pesquisa imagens de lugares e paisagens;
• “Mapas mentais” elaborados pelas populações pesquisadas (principalmente os
“sketch-maps”) e incluídos no grupo das chamadas técnicas projetivas;
Registros estruturados (cartográficos, gráficos e verbais) das impressões que um
indivíduo, duas, ou mais pessoas, têm de lugares e paisagens, durante viagens e
caminhadas.
Dentre as terminologias mais utilizadas dentro do campo de estudo da Percepção
ambiental, foram adotados os seguintes conceitos:
Topofilia: laços afetivos positivos que o ser humano desenvolve com seu ambiente,
em especial com lugares específicos. De acordo com Tuan (op. cit.), que forjou a
expressão, ela se refere a ligação de sentimento e lugar;
Topofobia: alguma forma de aversão a paisagens e lugares (Tuan, op. cit.);
Atitude: é primariamente uma postura cultural, uma posição que se toma frente ao
mundo. Ela tem maior estabilidade que a percepção e é formada de uma longa
sucessão de percepções, isto é, de experiências. As atitudes implicam experiência e
certa firmeza de interesse de valor. (Tuan, op. cit.)
Visão de mundo: é a experiência conceitualizada. Ela é parcialmente pessoal, em
grande parte social. Ela é uma atitude, ou um sistema de crenças. (Tuan, op. cit.)
21
4 CARATERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Este capítulo tem como objetivo caracterizar o Parque Estadual dos Três Picos
(PETP), contextualizando a pesquisa dentro da realidade socioambiental regional, e busca
justificar a escolha do Núcleo Boca do Mato (Cachoeiras de Macacu), Trilha do Jequitibá,
como área de estudo do presente trabalho.
4.1 PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS (PETP)
4.1.1 Localização e aspectos gerais
O Parque Estadual dos Três Picos (PETP) foi criado através do decreto Lei nº.
31.343 de 05 de junho de 2002, e constitui a maior UC Estadual do Rio de Janeiro, com uma
área total de 46.350 hectares. Abrange os municípios de Nova Friburgo, Silva Jardim,
Guapimirim, Teresópolis e Cachoeiras de Macacu, estando neste último 2/3 de sua área total
(figura 2).
A criação do Parque representou o acréscimo de 75% em toda a área protegida por
parques e reservas estaduais, visando preservar o cinturão central de Mata Atlântica do Rio de
Janeiro, sendo uma área de integração de área florestal junto ao Parque Nacional da Serra dos
Órgãos e à Estação Ecológica do Paraíso (SEMADS, 2006). A extensão e o papel conectivo
dentre as áreas naturais próximas tornam a UC estratégica para a conservação ambiental
regional, minimizando os efeitos da fragmentação e a extinção de espécies sensíveis à ação
humana. O PETP também garante proteção de grande parte das nascentes e mananciais
hídricos que abastecem o leste da baía de Guanabara, com uma população estimada em mais
22
Fonte: SEMADS/IEF.
Figura 2: Mapa do Parque Estadual dos Três Picos (PETP).
23
de 1 milhão de habitantes, sendo estratégica para a gestão dos recursos hídricos e para
qualidade de vida dessa população.
Devido a sua expressiva extensão e a grande variação altimétrica, que varia entre 100
e 2.330 m, a UC abriga diversas paisagens de grande beleza cênica e possui elevados níveis
de biodiversidade. A proximidade do Parque aos grandes centros urbanos, como Niterói e Rio
de Janeiro, e sua conexão estratégica com o circuito turístico serrano (Nova Friburgo,
Teresópolis e Petrópolis) corroboram sua grande potencialidade e vocação educativa e
ecoturística.
Apesar de sua relevância ecológica, sócio-econômica e ambiental regional, em
função de sua recente criação, o PETP ainda possui poucos dados e trabalhos científicos
desenvolvidos, que são de fundamental importância para fornecer subsídios à tomadas de
decisão e elaboração de programas e projetos. A escolha da UC como local de estudo
justifica-se pela sua importância e alto potencial interpretativo, além da ausência de trabalhos
científicos, dados ou programas específicos para o Uso Público e Educação Ambiental.
4.2 LOCAL E UNIDADE DE ESTUDO
4.2.1 Justificativa da escolha
A equipe do PETP é alocada nos quatro núcleos existentes, distribuídos e responsáveis
por diferentes municípios: Núcleo Boca do Mato (Cachoeiras de Macacu, figura 3), Núcleo
Salinas (Nova Friburgo, figura 4), o Núcleo Estação Ecológica Estadual do Paraíso
(Guapimirim, figura 5) e o Núcleo Jacarandá (Teresópolis, figura 6).
Devido as grandes variações de altitude e de perfis vegetacionais, as peculiaridades
sócio-econômicas regionais e a relativa extensão do PETP, não foi possível abranger neste
estudo toda a área da UC. Dessa forma, dentro do conjunto de trilhas do Parque Estadual dos
Três Picos, a escolha da trilha a ser estudada foi condicionada aos seguintes critérios:
- Acessibilidade: proximidade de vias de amplo acesso (estradas ou rodovias) ou de
transporte público coletivo até o local;
- Freqüência de visitação significativa: superior a 1.000 visitantes/ano.
- Potencial histórico, cultural, ambiental e riqueza paisagística: presença de atrativos
de grande relevância;
24
Fotos da autora
Figura 3: Núcleo Boca do Mato, Cachoeiras de Macacu.
A. Sede administrativa. B. Portal de entrada da trilha do Mirante. C, D. Atrativos da trilha do Mirante. E.
Jequitibá-rosa com idade estimada em 1000 anos de idade. F. Centro de Visitantes, ainda em construção.
Arquivo PETP
Figura 4: Núcleo Salinas, Nova Friburgo.
A. Sede administrativa. B. Três Picos, formação rochosa que dá origem ao nome do Parque.
Arquivo PETP
Figura 5: Núcleo Estação Ecológica Paraíso, Guapimirim.
A. Atrativos existentes no sistema de trilhas do Núcleo Boca do Mato. B. Escritório cedido pela Estação
Ecológica ao PETP.
B
A
B
A
B
E
F
D
C
A
25
Arquivo PETP
Figura 6: Núcleo Jacarandá, Teresópolis.
A. Casa de apoio em construção. B. Remanescentes florestais do PETP em Teresópolis.
- Monitoramento: passível de entrevistar ou estudar os visitantes:
- Viabilidade logística de deslocamento e acesso: presença de infra-estrutura no local
que atendesse às necessidades do pesquisador.
O acesso aos núcleos se por vias secundárias ou estradas vicinais, com exceção do
Núcleo de Cachoeiras, cujo acesso é dado por uma rodovia de grande porte, a RJ-116. Todos
os cleos apresentam um escritório ou sede, no entanto, o centro administrativo do PETP
localiza-se no Núcleo Boca do Mato, onde se encontra representativa parte do patrimônio
construído, tais como a sede administrativa, o NUPIF (núcleo de prevenção de incêndios) e o
centro de visitantes. A equipe local é formada por cerca de quatorze funcionários que atuam
em diversas atividades, tais como fiscalização, combate a incêndios, manejo de trilhas,
condução do visitante e Educação Ambiental.
A presença de infra-estrutura, suporte técnico, vias de acesso pavimentado e condução
(ônibus e kombis) ao local permitiram que a sede de Cachoeiras de Macacu se tornasse
acessível e amplamente visitada pela população local, por visitantes de outras cidades e
Estados e, principalmente, pelas escolas dos municípios integrantes e vizinhos do PETP, o
que o destaca dos outros núcleos. As características de suas trilhas, de curta distância e de
fácil nível técnico, unido à presença de fortes atrativos como o exemplar de Cariniana legalis
Mart.(Lecythidaceae), estimado em mil anos de idade, tornaram as mesmas em principal alvo
do trabalho de educação e Interpretação Ambiental da UC. O núcleo de Nova Friburgo,
Salinas é reconhecido pelo seu circuito de trilhas íngremes, altamente atrativas e com relativo
grau de dificuldade, compondo uma rota de montanhismo de nível nacional segundo Campos
(2007), no entanto, fogem do objetivo deste trabalho.
O sistema de trilhas do núcleo Boca do Mato é formado pela Trilha do Jequitibá,
Trilha do Mirante e a Trilha do Pesquisador. Por terem sido recentemente implantadas, as
últimas duas trilhas ainda recebem poucos visitantes e necessitam a elaboração de seus
A
B
26
roteiros interpretativos, o que determinou que a Trilha do Jequitibá, que se destaca pela sua
representatividade, alto índice de visitação e atratividade, fosse escolhida como unidade de
estudo do presente trabalho.
27
5 METODOLOGIA
5.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA TRILHA INTERPRETATIVA
Para avaliar a contribuição da Trilha do Jequitibá (PETP) na conscientização dos
seus usuários através da Interpretação Ambiental (IA), considerou-se necessário tanto
compreender e caracterizar o objeto de estudo (a trilha e os atores da IA) como analisar as
atitudes, comportamentos e a percepção ambiental de visitantes, escolas e moradores locais
sobre a mesma. Dessa forma, foram utilizados o Índice de Atratividade dos Pontos
Interpretativos (IAPI), as entrevistas semi-estruturadas e a observação participante, delineadas
e caracterizadas no presente capítulo.
5.1.1 Trilha interpretativa
A trilha do Jequitibá, meio de interpretação selecionado como objeto de estudo, foi
caracterizada quanto a sua adequação à visitação através da caracterização biofísica, e quanto
ao seu potencial interpretativo estimado e efetivamente explorado através do IAPI,
metodologias abaixo descritas.
5.1.1.1 Caracterização biofísica da trilha interpretativa
A má concepção, planejamento e manejo do sistema de trilhas podem comprometer a
integridade das áreas naturais como também oferecer riscos ao visitante. Se o atendidas as
normas pré-estabelecidas, a infra-estrutura necessária pode comprometer, de maneira
28
acentuada, o meio ambiente, com alterações na paisagem, na topografia, no sistema hídrico e
na conservação dos recursos ambientais, florísticos e faunísticos (Costa, 2006b). Assim
sendo, as características estruturais e biofísicas da trilha são fundamentais na recreação e
Interpretação Ambiental e para o sucesso dessas atividades. O concebimento de uma trilha
tem de levar em conta a instalação de estruturas que minimizem os impactos negativos da
visitação, que ofereçam segurança ao visitante e atendam diferentes tipos de público,
respeitando os padrões de design de forma a promover a acessibilidade.
A caracterização da trilha do Jequitibá, dessa forma, teve como objetivo avaliar os
impactos ambientais nela presentes, sua adequação quanto ao design para diferentes tipos de
público e o seu grau de dificuldade. Através da adaptação de metodologia utilizada por
Takahashi (2001, apud Costa, 2006b)
7
, a trilha foi caracterizada ambientalmente através da
análise do corredor, ou seja, através da coleta de dados físicos e ambientais por locais de
amostragem ao longo de seções eqüidistantes ao longo da trilha. De forma geral, a distância
entre as seções equivale a cerca de 10% do total da extensão das trilhas. No entanto, uma vez
que se trata de uma trilha de caráter educativo e interpretativo, que tem curta distância, alta
visitação e um grande número de atrativos, consideraram-se um maior número de seções
eqüidistantes, evitando a perda de importantes dados sobre o impacto da visitação, que
tornaria a análise superficial e limitada. Assim sendo, a trilha foi divida em seções
eqüidistantes de 10 m, independente de sua extensão. Em cada seção, foram colhidos dados
referentes aos indicadores de qualidade ambiental.
Para a medição da distância parcial e total da trilha utilizou-se a trena de fita de 50
metros. Cuidados foram tomados de forma a minimizar a imprecisão da medição, tais como
manter a fita rente ao solo, respeitar o traçado da trilha e contabilizar as áreas com degraus.
Os dados coletados nas seções foram armazenados em fichas de campo (apêndice 3), sendo
medidos ou contabilizados os seguintes parâmetros, segundo metodologia adaptada de Costa
(2006b):
largura (Lrg) medida (em metros) a ser tomada entre duas estacas de madeira
fincadas nas extremidades da trilha com auxílio de trena;
• declividade paralela (Dpl) medida (em graus) a ser tomada ao longo da trilha, no
sentido de caminhamento com auxílio do clinômetro;
7
TAKAHASHI, L. Y. (2001). Capacidade de Suporte Recreativo em Unidades de Conservação
Novas Metodologias. In: Simpósio de Áreas Protegidas, Pelotas. Anais... Pelotas: Universidade
Católica de Pelotas, pp. 112-122.
29
• declividade perpendicular (Dpp)- medida (em graus) a ser tomada no sentido
transversal de caminhamento da trilha com auxílio do clinômetro;
• altimetria (Alt)- medida (em metros) da altitude do local selecionado através do uso
do altímetro;
número de bifurcações (Nbi) medida do mero de bifurcações existentes nas
proximidades da trilha.
revestimento do solo- foi avaliado pela análise visual local a área (em cm) do
corredor da trilha que apresenta: solo exposto (SE), ou seja, sem vegetação; cobertura vegetal
viva (CV); serrapilheira (litter Lit) e/ou com afloramento rochoso (AR).
lixo (Lx) número de fragmentos residuais de material inorgânico (latas, sacos
plásticos, garrafas pet, etc.) encontrados na trilha e seu entorno, na área delimitada para a
coleta de dados.
vandalismo (Vd) presença de fogueiras, desmatamento, pichações em rochas ou
árvores, animais mortos ou vestígios de caça, etc.
erosão (Er) análise visual da presença de algum dos tipos de erosão no solo:
erosão lateral (Lat - provocada pela drenagem pluvial), erosão laminar (Lam - superficial) e
erosão em sulcos (Sc - mais profunda, como ravinamentos) nas seções da trilha.
proximidade de drenagem (Dre) presença de corpos d´água (rios) nas laterais,
cruzando ou próximas da trilha.
calhas ou canaletas de drenagem (CA) presença de canais de drenagem ou calhas
pluviais nas laterais ou cruzando a trilha.
Para a determinação do grau de dificuldade, foi escolhido o critério da rampa média ao
longo do trecho principal, elaborado por Rocha et al.(2006), sendo consideradas as seguintes
classes:
- 0 10% - Leve;
- 10 20% - Média;
- 20 50% - Difícil;
- 50 100% - Muito Difícil;
- > 100% - Alpinismo.
Para a análise do design da trilha quanto ao perfil de usuários, foram utilizados os
parâmetros estabelecidos por Lechner (2006), indicados na tabela 1.
30
Tabela 1: Diretrizes gerais de design de trilhas.
Tipos de
Usuário
Largura do
Piso
Altura do
Corredor
Largura do
Corredor
Declividade
Inclinação
lateral
Pedestre
60-95cm
2,5 m
1,2-1,5m
Até 20%
2-4%
Cavaleiro
60-95cm
-
1,2-1,5m
Até 20%
2-4%
Ciclista
60-95cm
-
1,2-1,5m
Até 20%
2-4%
Portador de
necessidades
especiais
95-125cm
2,5m
1,2-1,5m
Até 5%
1-5%
Urbano-
multiuso
95-250cm
2,5-3,75m
1,8-5m
Até 15%
1-4%
Veículos de
Tração Dupla
60-250cm
2,5m
1,2-5m
Até 45%
2-4%
Veículos todo
terreno
60-250cm
2,5m
1,2-5m
Até 45%
2-4%
Extraído de Lechner, 2006.
5.1.1.2 Caracterização da trilha quanto à Interpretação Ambiental
Levando em consideração as características locais e os objetivos da UC, a trilha do
Jequitibá foi caracterizada, através de observação em campo, quanto a:
-Temática: presença de eixo temático, tópicos e a condução da interpretação
(introdução, desenvolvimento e conclusão);
-Pontos interpretativos: caracterização qualitativa dos pontos;
-Presença ou não de recursos interpretativos variados: conteúdo, clareza, harmonia
com o meio, acessibilidade, relevância;
-Sinalização (placas e painéis): conteúdo, clareza, acessibilidade, harmonia com o
meio, relevância.
-Modalidade: guiada, auto guiada ou guiada com outras programações;
-Diferenciação: grau de oferta de atividades para vários tipos de públicos-alvos.
-Atualização: se há e qual a periodicidade da reformulação ou aprimoramento dos
temas interpretativos.
- Manutenção: de quanto em quanto tempo é realizada a manutenção da trilha.
A partir dos dados gerados, foi avaliado se a trilha do Jequitibá é plenamente
interpretativa segundo a definição de Tilden (1977), no qual a Interpretação Ambiental busca:
sensibilizar o visitante, estimulando a sua curiosidade e interesse; ser prazerosa e clara,
utilizando diversos recursos educativos; estabelecer relações entre o que está sendo
interpretado e o cotidiano do visitante; promover a reflexão e pensamento crítico; oferecer
31
atividades diferenciadas em função do público alvo; trabalhar o conhecimento de forma
holística e interligada e ser uma atividade planejada, com princípio, meio e fim.
5.1.1.3 Avaliação do Potencial interpretativo da trilha (IAPI)
Segundo Magro & Freixedas (1998), no planejamento de trilhas interpretativas,
encontram-se dificuldades em distribuir a emoção do visitante durante todo o percurso, ou
mesmo em incentivá-lo a apreciar a área visitada como um todo, pois grande parte dos
visitantes que percorrem trilhas tem como principal motivação o destino final das mesmas,
tais como grutas, lagos, cachoeiras, cumes de montanhas e mirantes.
O “Índice de Atratividade dos Pontos Interpretativos” (IAPI), elaborado por Magro
& Freixedas (op. cit.), é um método que busca facilitar a escolha de pontos de interpretação ao
longo de trilhas com fins educativos e interpretativos, principalmente naquelas que possuem
vários pontos com características interpretativas semelhantes. Apesar de ser uma metodologia
recente, assim como a bibliografia referente ao estudo de trilhas interpretativas, pode-se citar
sua aplicação nos trabalhos de Silva & Fernandes (2005), Costa (2006b), Zanin (2006) e
Almeida & Zanin (2007). No presente estudo, a metodologia do IAPI, composta em 5 etapas,
foi adaptada de forma a ser aplicada em trilhas interpretativas já implantadas, caracterizando e
avaliando as formas da condução da visitação:
Fase 1: Levantamento dos pontos potenciais para a interpretação
O estudo exploratório inicial da trilha através do levantamento de suas características
e o pré-levantamento de seus atrativos permitiu ao pesquisador levantar os dados que
fundamentariam a segunda fase do método.
Fase 2: Levantamento e seleção de indicadores
A partir das características dos recursos ambientais, culturais e construídos
levantados, são escolhidos “indicadores de atratividade”. Para a Trilha do Jequitibá, foram
selecionados os seguintes indicadores:
- Proximidade (primeiro plano, médio plano e pano de fundo).
Considerou-se como em primeiro plano os elementos próximos ao leito da trilha, que
permitiam ao visitante contato direto ou toque. Elementos próximos ao leito que não
32
permitiam contato direto com o observador, foram considerados como em médio plano.
Elementos distantes do leito da trilha foram considerados como em pano de fundo.
- Abundância relativa (presente, relevante/abundante, predominante)
O elemento era presente, quando pouco expressivo quantitativamente e visualmente;
relevante ou abundante quanto sua amostra era expressiva quantitativamente ou se destacava
visualmente; e predominante quando dominava ou se destacava na paisagem local.
- Espaço disponível
O espaço disponível representa quantas pessoas a trilha comporta em determinado
atrativo, sem que se prejudique a qualidade de uma visita guiada.
- Visibilidade (inferior, médio e superior)
Este indicador refere-se à posição do atrativo em relação aos olhos do observador.
- Estímulos sensoriais
As atividades realizadas em áreas naturais como exercícios físicos, recreação,
interpretação e contemplação da natureza proporcionam uma riqueza de estímulos visuais,
sonoros, olfativos, táteis e sinestésicos (Julião & Ikemoto, 2006), que agregam qualidade e
emoção à experiência do visitante. A compreensão dos recursos sensoriais também possui
importância para promover a Interpretação Ambiental em diferentes públicos e promover
trilhas acessíveis. Consideraram-se os estímulos visuais, auditivos, táteis e olfativos que os
atrativos proporcionam.
Fase 3: Elaboração da Ficha de Campo
Para a trilha em estudo, foi elaborada uma ficha de campo própria, contendo os
elementos considerados mais importantes (apêndice 4).
Fase 4: Uso da Ficha de Campo
Os valores ou “pesos” atribuídos a cada indicador foram atribuídos pelos
observadores, e buscam representar a relevância considerada dos elementos para a qualidade
da experiência do visitante na área. Assim como realizado por Costa (2006b), foram
mensuradas as distâncias dos pontos de atratividade em relação ao início da trilha,
inventariados os recursos ambientais e culturais, e avaliados possíveis temas voltados à
Interpretação Ambiental a serem aplicados para cada ponto, cujos pesos foram multiplicados
pela respectiva intensidade do atrativo.
A ficha de campo foi aplicada aos funcionários que conduziam visitas guiadas, de
forma a avaliar as formas e a qualidade da visitação e Interpretação Ambiental realizada pela
33
equipe do parque. O IAPI também foi aplicado a uma equipe externa composta por
acadêmicos (2 geógrafos e 2 biólogos) não ligados ao parque, buscando comparar diferentes
visões e possibilidades de condução dos visitantes. Devido às dimensões do presente trabalho,
não foi possível incluir profissionais de outras áreas, o que poderia contribuir no
enriquecimento dos dados e na formação de uma equipe externa multidisciplinar, cabendo
como um referencial para futuros trabalhos.
A inclusão de um grupo externo na metodologia, segundo proposto por Costa
(2006b), teve como objetivo gerar dados complementares e estabelecer um parâmetro de
comparação de forma a enriquecer a análise, adequar as características e avaliar as várias
formas de condução da visitação.
Fase 5: Análise dos Dados
Os dados obtidos serão organizados e analisados através da elaboração de gráficos e
através do ordenamento dos atrativos.
5.2 MÉTODOS DE ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL
5.2.1 Caracterização e perfil dos atores envolvidos
5.2.1.1 Visitantes
Dentre os diversos usuários das destinações turísticas, destaca-se o visitante, o
excursionista e o turista. Segundo a Embratur (1992), consideram-se visitantes as pessoas que
se deslocam do seu local de residência para realizar viagens curtas para negócios, participar
de eventos, lazer, visitar parentes ou a amigos. Os excursionistas são os visitantes temporários
que permanecem menos de 24 horas na localidade visitada. O turista, por sua vez, é o visitante
que se desloca para fora de seu local de residência permanente, por mais de 24 horas,
realizando pernoite, por motivo outro que não o de fixar residência ou exercer atividade
remunerada, realizando gastos de qualquer espécie com renda auferida fora do local visitado.
Dentro do planejamento e manejo das Unidades de Conservação, é fundamental
conhecer o fluxo e o perfil dos visitantes, atendendo da melhor forma as suas expectativas e
34
necessidades, e controlar e regular a visitação, promovendo o mínimo de impacto possível na
área. Essa importância é reconhecida pelas diretrizes gerais para visitação em Unidades de
Conservação (MMA, 2006), na qual estão incluídas a diretriz da compreensão da diversidade
de expectativa dos visitantes, procurando atender um amplo leque de estratégias de manejo
que maximizem a variedade de oportunidades oferecidas, e da formação de um sistema de
registro de visitantes e de pesquisas periódicas identificando o perfil, opinião e nível de
satisfação do visitante em relação às oportunidades de visitação oferecidas nas UCs.
A Interpretação Ambiental busca promover a sensibilização, a mudança de percepção
e atitudes das pessoas através do uso de recursos, tais como as trilhas. Conhecer as
características, os interesses e expectativas do visitante é de suma importância para o sucesso
da atividade interpretativa, permitindo ao intérprete adequar o seu discurso de forma a
aproximar-se da linguagem e vivências do visitante, e nas trilhas autoguiadas, planejar os
temas de forma a abranger o maior número de visitantes.
A compreensão da percepção dos visitantes depende, antes de tudo, do conhecimento
de quem é esse visitante, seu perfil e características. Assim sendo, o questionário do perfil do
visitante e a observação participante também são instrumentos complementares para o estudo
da percepção ambiental dos visitantes.
Segundo Albuquerque e Guimarães (2004), nos formulários, os dados são coletados
por meio de entrevistas diretas e pessoais, com os dados sendo preenchidos pelo entrevistador;
enquanto que nos questionários, os dados são auto-preenchidos pelo entrevistado, sem a
interação direta com o pesquisador. O formulário possibilita uma maior coleta de dados e é
flexível, no entanto, necessita da disponibilidade e de tempo do entrevistado, o que impediu a
aplicação deste instrumento nos grupos escolares, que possuíam fortes restrições de horário e
disponibilidade dos atores durante a visita. Dessa forma, aplicou-se o formulário para os
visitantes (apêndice 1) e os questionários para as unidades escolares (apêndice 2).
É possível distinguir dois tipos principais de visitantes: os visitantes ocasionais, que
buscam principalmente o lazer e a recreação, e as unidades de ensino (professores e alunos),
que tem como principal objetivo em sua visita obter conhecimentos e vivências ambientais.
Dessa forma, foram elaborados dois modelos de questionário/formulário diferenciados para
cada tipo de visitante.
O questionário/formulário foi baseado em modelos aplicados em trabalhos e
publicações, entre eles Malta (2007), Vasconcellos (1998) e Costa (2006a). Primeiramente, foi
elaborado um questionário/formulário pré-teste, aplicado em um pequeno grupo de visitantes
(10 a 15 indivíduos), de forma a observar a eficácia e a clareza do modelo. Os dados obtidos
35
foram analisados, sendo eventuais incorreções e falhas na formulação das perguntas reveladas,
e consequentemente, corrigidas. Enfim, foi elaborado o modelo final de
questionário/formulário, aplicado durante todo o período da pesquisa aos visitantes da trilha
do Jequitibá. Os questionários/formulários foram aplicados de forma padronizada, ou seja,
somente após o visitante ter percorrido a trilha e vivenciado as atrações e serviços do Parque.
5.2.1.2 Intérpretes
Entre os atores da visitação e Interpretação Ambiental, além dos visitantes e das
escolas, destacam-se os guias ou condutores (intérpretes). Apesar de ser um termo
consensualmente utilizado, o guia (de turismo) é uma profissão regulamentada por lei e
credenciada pela EMBRATUR, exigindo formação técnica ou acadêmica em turismo. O
condutor, ao contrário, não é necessariamente um profissional formado em turismo, mas um
indivíduo que conhece e interpreta um determinado recurso turístico, não sendo uma categoria
reconhecida. Os intérpretes do PETP são os seus próprios funcionários. Não há guias turísticos
locais cadastrados e a Unidade não desenvolve programa de condutores, o que pode ser
associado com a demanda expressiva, mas insuficiente para o crescimento dessas categorias.
Os funcionários atuam como condutores em grande parte das UC’s, no entanto,
devido crescente demanda de trabalho e o déficit quantitativo e qualitativo de profissionais,
outras possibilidades tem sido discutidas. Experiências de outros Estados demonstram sucesso
com a contratação de condutores, moradores locais capacitados, credenciados e absorvidos
perante os órgãos ambientais. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA),
por exemplo, desenvolveu em 1998 um projeto pioneiro para formação e credenciamento de
Condutores Ambientais, habilitados para acompanhar visitantes em Unidades de Conservação.
O Instituto Estadual de Meio Ambiente do Espírito Santo (IEMA) vem promovendo com
sucesso cursos de Monitores Ambientais para o Parque Estadual de Itaúnas (PEI), uma
Unidade de Conservação litorânea com picos sazonais de visitação. Dessa forma, uma das
alternativas para as Unidades com demanda de visitação expressiva ou sazonal é a contratação
e capacitação de moradores locais como condutores ambientais, possibilitando uma alternativa
de renda para as comunidades do entorno.
Os intérpretes podem ser considerados elementos determinantes para a
implementação das propostas/diretrizes elaboradas para Uso Público e Educação Ambiental e
determinadas pela Unidade de Conservação, uma vez que são um dos principais elos de
36
interação entre o público e a UC. Dessa forma, torna-se necessário conhecer quem são os
condutores, suas características e percepções, inventariados no presente estudo.
5.2.2 Percepção Ambiental
Através do estudo da percepção, busca-se compreender de que forma os indivíduos
se relacionam com o PETP e com os atores da Interpretação Ambiental, e especialmente aos
principais espaços de contato entre o visitante e o ambiente natural, ou seja, a trilha,
discutindo as implicações das relações entre indivíduoespaço para a conservação ou
degradação do meio ambiente, e consequentemente, para o sucesso da Educação Ambiental e
para interpretação.
Dentre os aspectos analisados, a pesquisa integrou o estudo das atitudes, valores e
aspectos topofílicos através da observação participante. Para compreender e analisar a
percepção ambiental dos atores da interpretação (guias, educadores e visitantes), foram
aplicadas entrevistas semi-estruturadas.
5.2.2.1 Entrevistas semi-estruturadas ou formulários
Segundo Gaskell (2002), a partir do acúmulo de informações obtidas de um conjunto
de entrevistas, é possível compreender parte dos mundos de vida dentro de um grupo de
entrevistados, fornecendo uma descrição detalhada de um meio social específico; construindo
um referencial para pesquisas futuras e/ou originando dados para testar expectativas e
hipóteses desenvolvidas fora de uma perspectiva teórica específica. Através de entrevistas
semi-estruturadas, foi levantada a percepção dos diversos atores sobre o meio ambiente
natural, e especificamente, sobre o PETP. Para a execução das entrevistas, foram levados em
consideração os seguintes aspectos:
Questionamentos
Os questionamentos não são perguntas específicas, e sim indagações que representam
os interesses da pesquisa, orientam e auxiliam o entrevistador, constituindo uma ferramenta
flexível e não-limitadora. Entre as questões formuladas, incluíram-se as de natureza
descritiva, através das quais se buscou um máximo de clareza nas descrições, e as de natureza
37
explicativa ou causal, objetivando visualizar as razões imediatas ou mediatas. Após o
reconhecimento de campo, foram formulados os seguintes questionamentos:
- Guias/condutores, professores, alunos e visitantes: quais são seus papéis e como
devem agir dentro da Interpretação Ambiental?
- Como os atores se relacionam com o PETP? Quais são suas sensações e quais seus
aspectos topofílicos e topofóbicos?
- Qual é o grau de satisfação e de aprendizado do visitante? O que o incomoda e o
que deseja numa UC?
- O que motiva as pessoas a visitarem o PETP?
Em campo, antes do início da entrevista, o pesquisador introduzia o intuito da
pesquisa e conversava sobre temas relativos à visitação e a Interpretação Ambiental. A partir
desse momento, já era iniciada a observação e identificados vários aspectos pertinentes, sendo
registrados em caderno de campo. Com o consentimento do entrevistado, iniciava-se a
gravação e aplicava-se o formulário com as questões objetivas, identificando o perfil do
visitante, e as questões semi-estruturadas. A partir dessas questões, outras foram formuladas
no decorrer da entrevista, de acordo com a necessidade observada do pesquisador. As
entrevistas, de forma em geral, duravam o período de 30 a 120 minutos.
Seleção dos entrevistados
É comum serem utilizadas variáveis de padrão sociodemográficas (gênero, idade,
categoria social, segmentação geográfica como o urbano e o rural, etc.). Outra possibilidade é
o uso dos grupos naturais, nos quais as pessoas partilham características ou interesses em
comum. Os entrevistados, no presente trabalho, encaixam-se no último tipo, sendo
constituídos pelos atores da visitação e Interpretação Ambiental, ou seja, visitantes e
intérpretes do Parque Estadual dos Três Picos.
Quantidade de entrevistados
Segundo Gaskell (2002), a finalidade real da pesquisa qualitativa não é quantificar
opiniões ou pessoas, mas ao contrário, compreender o espectro de opiniões, as diferentes
representações de um assunto em questão - e o que os justificam e os fundamentam. Embora
as experiências possam parecer únicas ao indivíduo, as representações de tais experiências
não surgem das mentes individuais; em alguma medida, elas são o resultado de processos
sociais, e neste ponto, representações de um tema de interesse comum, ou de pessoas em um
meio social específico são, em parte, compartilhadas (Gaskell, op. cit.). Dessa forma, apesar
38
de parte dos entrevistados possuírem diferentes posições e visões, um número limitado de
pontos de vista sobre um tópico. A pequena quantidade de entrevistados foi justificada pela
análise em questão estar interessada no aprofundamento das respostas obtidas e não na
representatividade no número de questionários aplicados.
Rapport
De forma a minimizar o constrangimento e a hesitação do entrevistado, o pesquisador
preocupou-se em encorajá-lo verbalmente e não verbalmente, deixando-o à vontade e
buscando estabelecer uma relação de confiança e segurança, técnica chamada de rapport.
Análise
Segundo Alves-Mazzotti & Gewandsnajder (1998), o objetivo amplo da análise é o
de procurar sentidos e a compreensão dos dados, que neste caso, foi realizado a partir do
discurso dos sujeitos. A análise de dados seguiu a proposta hermenêutica (Netto, 2005), ou
seja, de delimitar a descrição, invariantes e essência. As respostas dos entrevistados foram
transcritas ao todo, onde foram selecionadas em suas partes principais. Em seguida, foi feita a
redução das unidades de significados, na qual se buscou destacar as idéias fundamentais de
cada uma delas, vinculando-as com asserções articuladas, tentado se aproximar do significado
primeiro do que o entrevistado quis dizer com sua resposta (idem.). Ao total, foram
entrevistados 47 visitantes.
39
6 RESULTADOS
6.1 TRILHA DO JEQUITIBÁ
6.1.1 Caracterização biofísica
A trilha do Jequitibá é, segundo a classificação de Andrade (2004), uma trilha linear.
As trilhas lineares são caracterizadas por possuírem o formato retilíneo, ou seja, o caminho da
ida é o mesmo da volta, sendo menos atrativas e expostas a impactos da visitação mais
intensos que em outros tipos de trilha.
Segundo relatos dos moradores locais e dos próprios funcionários, a trilha existia
muito antes da criação do PETP, sendo frequentemente visitada em função do Jequitibá-rosa
(Cariniana legalis Mart.) e intensamente impactada pela ausência de manejo e manutenção.
Com a implantação do núcleo administrativo do PETP, próximo a trilha, foi realizada sua
recuperação, concluída no início de 2006.
O PETP atualmente desenvolve atividades de implantação, manejo e monitoramento
das trilhas que têm alcançado bons resultados. Entre as principais ações desenvolvidas
observadas, pode-se citar:
- Alteração do traçado de forma a minimizar os impactos provocados pelo uso da
trilha;
- Limpeza e manutenção periódica do corredor;
- Medição do grau de erosão;
- Confecção e manutenção de drenos e canaletas;
- Nivelamento da trilha através da implantação de degraus de madeira reaproveitada;
40
A implantação de degraus de madeira nos pontos de maior declividade proporcionou
não o nivelamento da trilhas como diminuiu o risco de quedas, sendo considerada uma
trilha com baixo grau de risco ao visitante. Através da construção de canaletas de drenagem
em pontos de maior escoamento, houve o direcionamento do fluxo de água, minimizando a
erosão e o acúmulo de água.
Atualmente, a trilha possui a média de 4 drenos a cada 100 metros e não possui sinais
de erosão laminar, lateral ou em sulcos, sendo o piso recoberto e protegido por serrapilheira
em toda sua extensão. Dessa forma, os impactos do uso da trilha podem ser considerados
mínimos e/ou controlados. No entanto, verificou-se a ocorrência alta incidência de
vandalismo dos últimos 10 metros da trilha, com destaque para as pixações e gravação de
nomes nas árvores adultas adjacentes à trilha e no próprio Jequitibá-rosa.
A trilha passa por terrenos de baixa altitude, variando entre 410 a 430 m (figura 7), e
a largura média do piso é de 1,02m, e a extensão total de 290m. Possui declividade paralela
máxima de 15º e perpendicular máxima de 11º, sendo tanto a declividade paralela média e
perpendicular média inferior a 7% (4,1º e 3,3º, respectivamente). Segundo o parâmetro da
rampa média, portanto, é considerada como uma trilha leve, uma vez que possui declividade
inferior a 10%. A trilha é apropriada para pedestres, inadequada para o portador de
necessidades especiais e para outros tipos de uso indicados na tabela 1. O tempo médio de
percurso guiado é de 40 minutos, num percurso total de 580m.
Perfil topográfico da Trilha do Jequiti
400
450
500
0 50 100 150 200 250
Distância (m)
Altitude (m)
Figura 7: Perfil topográfico da Trilha do Jequitibá.
Os números indicados em graus foram obtidos a partir da média da declividade paralela num mesmo trecho da
trilha.
Os números indicados em graus representam a declividade média paralela (em graus)
em determinados trechos da Trilha.
3,8º
7,9º
-4,3º
41
6.1.2 Interpretação Ambiental
A trilha do Jequitibá apresenta cinco pontos de interpretação delineados, marcados
pela presença de placas informativas e do alargamento do corredor da trilha.
- Primeiro ponto (entrada): há, nesse local, uma placa que indica o percurso, a
distância, duração e os atrativos da trilha, além de dar recomendações de conduta em áreas
naturais protegidas (figura 8A). A entrada da trilha é sinalizada através de um portal feito de
bambu, harmonizado com a paisagem local (figura 8B).
- Segundo ponto: é marcado pela placa “Solo” (figura 9A), que descreve o processo
de formação dos solos e da dinâmica da vida existente no mesmo, e um terrário (figura 9B)
que representa o modelo da estratificação do solo.
- Terceiro ponto: é marcado pela presença de um riacho que atravessa
perpendicularmente a trilha, uma ponte com corrimão de segurança, e da placa “ciclo
hidrológico”, que descreve a importância das matas ciliares para a integridade dos rios,
esquematizando o ciclo da água (figura 10).
- Quarto ponto: é marcado pela presença da placa “Formações rochosas” e uma gruta
(figura 11). A placa conceitua o que é rocha, descreve o seu processo de formação, discorre
sobre as plantas rupícolas e caracteriza os tipos de rochas presentes na trilha. A gruta chama a
atenção dos visitantes, e sob as rochas que a formam, um grande número de espécies
rupícolas.
- Quinto ponto: é marcado pela presença imponente da árvore Jequitibá-rosa
(Cariniana legalis Mart). Segundo dados do IEF, foi estimada em 1000 anos de idade, e
possui aproximadamente 40 metros de altura e 19 metros de circunferência na base do tronco
(figura 12), dados indicados por uma placa interpretativa próxima à árvore (figura 13A). A
presença de marcas de vandalismo, como inscrições e agressões nos troncos das árvores
(figura 13B), inclusive do próprio Jequitibá-rosa milenar são freqüentes nesse trecho da trilha.
42
Foto da autora Foto do arquivo PETP
Figura 8: Primeiro ponto de interpretação, entrada da trilha do Jequitibá.
A. Placa “Trilha interpretativa do Jequitibá”, que oferece informações sobre a trilha e normas de visitação. B.
Portal indicando a entrada da trilha do Jequitibá.
Fotos da autora
Figura 9: Segundo ponto de interpretação, tema solo.
A. Placa “Solo”, que explica o processo de formação do solo e sua importância para a floresta. B. Intérprete
explicando ao grupo de alunos sobre a estratificação do solo através do terrário.
Foto do arquivo do PETP Foto da autora
Figura 10: Terceiro ponto de interpretação, tema ciclo da água.
A.Córrego que atravessa perpendicularmente a trilha, placa interpretativa sobre o ciclo da água e pinguela. B.
Em detalhe, placa interpretativa sobre o “Ciclo Hidrológico”.
A
B
B
A
B
A
43
Fotos da autora
Figura 11: Quarto ponto de interpretação, tema rochas.
A. Placa interpretativa de “Formações Rochosas” B. “Gruta” repleta de plantas rupícolas.
Fotos de Moemy Gomes de Moraes
Figura 12: Quinto ponto de interpretação, Jequitibá rosa.
A. Tronco e copa repleta de epífitas. Jequitibá-rosa, (Cariniana legalis Mart.), com idade estimada em
aproximadamente mil anos. B. Base do Jequitibá rosa e placa interpretativa.
Fotos da autora
Figura 13: Quinto Ponto de interpretação, Jequitibá rosa.
A. Detalhe da placa “Jequitibá-rosa” (Cariniana legalis Mart.), com idade estimada em aproximadamente mil
anos.. B. Pichação em troncos de árvores, exemplo de vandalismo presente no final da trilha.
B
A
B
A
A
B
44
A Trilha do Jequitibá é diversificada quanto a sua paisagem, apresentando recursos
diferenciados como cursos d’água, rochas e o singular espécime de jequitibá. Além disso, as
placa interpretativas agregam atratividade e demarcam os pontos de interpretação. Como
possui extensão de 580m e tempo médio de 40 minutos de percurso, pode-se afirmar que é
uma trilha com perfil interpretativo. No entanto, os pontos de parada e interpretação devem
ser readequados para comportar grupos de visitantes e escolas. O terceiro ponto (figura 10)
pode ser considerado crítico, uma vez que não o alargamento da trilha, o que promove o
pisoteio do leito do córrego (apesar de existir uma pinguela ou ponte) e prejudica a
visualização do intérprete.
Devido à presença das placas, a trilha pode ser considerada tanto autoguiada quanto
guiada, o que permite o uso da trilha por diferentes perfis de visitante. No entanto, requer a
presença de um intérprete de acordo com o perfil e grau de compreensão do visitante, uma vez
que as informações disponibilizadas nas placas possuem linguagem técnica, se limitam a
transmitir conteúdos ecológicos simplificados. O intérprete ou educador, nesse contexto, deve
preocupar-se em levantar questionamentos, perguntas e curiosidades, de forma a incitar a
reflexão. Tópicos como aspectos socioeconômicos, históricos e culturais do parque; os
serviços florestais prestados para a sociedade; usos da flora do PETP, entre outros pontos de
conexão do conhecimento ambiental com o cotidiano do visitante devem ser mais bem
explorados.
Quanto à sinalização, as placas são padronizadas, de cores suaves e em altura e
angulação que torna a leitura fácil e acessível. As trilhas, bem manejadas e de baixo vel de
dificuldade, permitem o uso do público de todas as idades.
A inclusão de deficientes em áreas naturais protegidas tem ganhado crescente
relevância, apesar de ser mais um entre os desafios a serem superados pelas UCs frente ao
déficit de pessoal técnico-administrativo qualificado e quantitativamente adequado, além da
carência de equipamentos e recursos financeiros. No entanto, no caso de deficientes, a
sinalização em Braille e a acessibilidade das trilhas para cadeirantes ainda são indisponíveis
na Trilha do Jequitibá. Não roteiros temáticos adaptados para esse tipo de público, como o
trabalho com os recursos sensoriais da trilha, nem a presença de estruturas de orientação/guia,
como cordas ou meio-fios e rampas de acesso.
O grau de oferta de atividades para diferentes públicos é baixa, pois há pouca oferta
de roteiros de visitação guiada ou autoguiada que atendam públicos diferenciados, tais como
pessoas portadoras de necessidades especiais, público infantil e grupos acadêmicos. O parque
possui o Jogo “Árvore da vez” (anexo 1), que trabalha diversas espécies arbóreas presentes na
45
trilha do Jequitibá, sendo aplicável para alunos de variadas faixas etárias. Apesar da
relevância do jogo como recurso interpretativo, ele é ainda sub-aproveitado, sendo raramente
aplicado segundo relato dos próprios funcionários e condutores do PETP.
6.1.3 Índice de atratividade dos pontos interpretativos (IAPI)
Após a conclusão das três primeiras etapas do IAPI, a ficha de campo elaborada foi
aplicada em cinco intérpretes (guarda-parques do PETP) e num grupo de quatro acadêmicos
(dois geógrafos e dois biólogos não vinculados ao PETP). O quadro 3 é resultado da aplicação
da ficha de campo em um dos condutores do PETP, e representa os atrativos e temas de
interpretação apontados pelo mesmo em função da distância percorrida na trilha. Os pesos dos
indicadores foram determinados consensualmente entre a pesquisadora e os condutores do
Parque, e os valores de atratividade de cada elemento (Σ) resultam da multiplicação do peso
com a intensidade do atrativo (1= presente, 2=grande quantidade e 3= predominante).A soma
total (ΣTt)corresponde ao valor da atratividade de um ponto interpretativo, ou seja, a soma da
atratividade dos elementos presentes em um mesmo local ou em uma mesma distância.
A figura 14 representa o valor de atratividade dos pontos interpretativos atribuído por
cada observador em função da distância percorrida na trilha, e aponta os cinco pontos de
interpretação delineados pelo PETP, que são:
- Ponto 1 (0m): Entrada da trilha e placa interpretativa sobre a Trilha do Jequitibá.
- Ponto 2 (118m): Córrego e placa sobre o “Ciclo da Água”.
- Ponto 3 (154m): Terrário e Placa sobre os “Solos”.
- Ponto 4 (204m): Gruta e placa sobre “Formações Rochosas”.
- Ponto 5 (290m): Jequitibá-rosa e placa interpretativa sobre o mesmo.
46
Quadro 3: Ficha de campo do IAPI aplicada em um condutor do PETP.
Local
Parque Estadual dos Três Picos
Folha nº: 1
FICHA DE
CAMPO
Trilha
Jequitibá
Responsáveis técnicos:
Guia 1 (observador) e Silvia Marie Ikemoto
(pesquisadora)
Data: 19/06/07
Distância
Pt
Os pesos devem ser multiplicados pela intensidade do
atrativo 1= presente 2=grande quantidade 3=
predominante
Espaço disponível
Posição
Escala
Estím
Soma
Observações
Par
Tot
Peso do Indicador
1
2
3
1
1
1
3
2
1
2
1
1
1
Σ
ΣT
t
(m)
Atrativo
<10
<20
<30
Inf
Md
Sup
1p
md
Fnd
Vi
Au
Ta
Ol
0
0
1
Marianeira (folha macerada no álcool: remédio para
aliviar a dor, além de fruto comestível)
1
1
1
1
6
0
2
Aperta ruão (há várias variedades na floresta)
1
1
1
1
7
0
3
Urtiga
1
1
1
1
1
8
21
40
40
4
Caverna
2
2
2
2
12
5
Jaqueira. Espécie exótica. Indicador de atividade
humana
1
1
1
1
7
19
10
50
6
Irizeiro
1
1
1
2
1
10
10
50
7
Cedro rosa em cima da pedra: madeira de lei, utilizada
para móveis, ameaçada de extinção
1
2
2
3
15
15
65
115
8
Cedro rosa (lado direito do córrego)
1
1
1
1
7
7
3
118
9
Riacho (sem a floresta, não há a água que vocês vêem)
3
3
3
3
2
2
28
10
Barata d’água
1
1
1
1
8
36
36
154
11
Jacaré (não dura muitos anos, da sombra e adubo para
crescerem outras árvores)
1
1
1
1
9
154
12
Terrário do solo
3
3
3
3
27
36
27
181
13
Cambuí (figueira): não dura muitos anos, é uma árvore
que cresce bastante
1
1
1
1
7
7
188
14
Jacaré E
1
1
1
1
7
15
Jequitibá rosa E & D (filhotes)
1
1
1
1
7
14
16
204
16
Angico (madeira de lei) D
1
1
1
1
7
17
Jequitibá rosa (filhote) E
1
1
1
1
7
14
47
Quadro 3: Continuação
Local
Parque Estadual dos Três Picos
Folha nº: 2
FICHA DE
CAMPO
Trilha
Jequitibá
Responsáveis técnicos:
Guia 1 (observador) e Silvia Marie Ikemoto
(pesquisadora)
Data: 19/06/07
Distância
Pt
Os pesos devem ser multiplicados pela intensidade do
atrativo 1= presente 2=grande quantidade 3=
predominante
Espaço dispon
Posição
Escala
Estím
Soma
Observações
Par
Tot
Peso do
Indicador
1
2
3
1
1
1
3
2
1
2
1
1
1
Σ
ΣT
t
(m)
Atrativo
<10
<20
<30
Inf
M
d
Sup
1p
md
fnd
Vis
Au
Ta
Ol
220,2
18
Jequitibá-rosa
1
1
1
1
7
7
230
19
Jequitibá-rosa
1
1
1
1
7
20
Cambuí (tronco repartido) E
1
1
1
1
6
21
Carobinha (tronco reto com folhas semelhantes a
samambaia) :medicinal para coceira, em extinção D
1
1
1
1
7
20
230
22
Jacaré
1
1
1
1
7
7
250
23
Irizeiro
1
1
1
2
1
10
10
257,4
24
Jabuticaba
1
1
1
1
7
7
275
25
Jacaré D
1
1
1
1
7
26
Irizeiro E
1
1
1
2
1
10
17
290
27
Garapa
1
1
1
1
9
28
Jequitibá
3
3
3
3
3
3
2
35
29
Paineira
1
1
1
1
1
9
30
Jequitibá branco
1
1
1
1
9
31
Mata pau no jequitibá
1
1
1
1
9
32
Jussara (palmito)
1
1
1
1
9
33
Jataí
1
1
1
1
1
8
82
48
Figura 14: Índice de atratividade dos pontos interpretativos em função da distância, Trilha do Jequitibá.
A atratividade foi obtida através da metodologia do IAPI. Pontos interpretativos delineados pelo PETP. Ponto
1: Entrada da trilha e placa interpretativa. Ponto 2: Córrego e placa sobre o “Ciclo da Água”. Ponto 3: Terrário e
Placa sobre os “Solos”. Ponto 4: Gruta e placa sobre “Formações Rochosas”. Ponto 5: Jequitibá-rosa de
aproximadamente 1000 anos e placa interpretativa sobre o mesmo. Pontos alternativos apontados pelos
observadores. Ponto A: Irizeiro e Cedro-rosa sobre pedra. Ponto B: Monjolos. Ponto C: Escadaria cerceada de
importantes árvores da Mata Atlântica.
A partir da análise do gráfico, é possível inferir que existe um roteiro consensual de
interpretação, uma vez que os pontos interpretativos pré-estabelecidos nas trilhas (ponto 1 ao
5) obtiveram unanimemente os maiores valores de atratividade e foram citados por todos os
observadores (intérpretes) e pelo o grupo acadêmico. Os altos valores de atratividade podem
ser associados não aos recursos naturais existentes, como às intervenções realizadas
(inserção das placas, alargamento da trilha, pinguela) que contribuem para minimizar a
homogeneidade da paisagem e/ou agregam informações No entanto, as diferenças entre os
valores de atratividade atribuídos por cada observador para um mesmo ponto foram
significativas, (tais como os pontos 2, 4 e 5) o que indica que, apesar do consenso, uma
multiplicidade de abordagens e o sub-aproveitamento dos atrativos por alguns condutores. No
ponto 4, enquanto alguns abordavam somente a gruta e a placa de formações rochosas, outros
observadores também indicaram as plantas rupícolas e epífitas e a sua interação com a fauna e
o ambiente, a dinâmica da sucessão secundária a partir dos monjolos, entre outros, atribuindo
altos valores de atratividade nesse ponto.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
Distância (m)
Guia 1
Guia 2
Guia 3
Guia 4
Guia 5
Acadêmicos
Ponto 1
Ponto 5
Ponto 4
Ponto 3
Ponto 2
Ponto A
Ponto C
Ponto B
Atratividade
49
No ponto 5, além do Jequitibá-rosa e a placa interpretativa, alguns observadores
apontaram troncos agredidos e riscados, a partir do qual trabalhariam a conscientização contra
essa prática, abordariam a questão histórica da destruição da floresta a partir do jequitibá,
atingindo os maiores valores de atratividade. Ou seja, é possível inferir que a atratividade de
um determinado ponto está relacionada não aos recursos naturais e intervenções, como
também na forma que o condutor aborda seus atrativos com diferentes temáticas e assuntos,
explorando seu potencial. Para o enriquecimento da Interpretação Ambiental, é de
fundamental importância que se explorem as múltiplas possibilidades do ambiente, e que os
condutores do PETP sejam capacitados para o domínio dessa prática.
Apesar de existir um consenso entre os guias sobre os pontos interpretativos pré-
definidos (pontos 1 ao 5), pode-se perceber uma variação e a identificação de inúmeros outros
atrativos. Os pontos A, B e C, por exemplo, são considerados altamente atrativos por alguns
observadores, e poderiam ser explorados como pontos consensuais e alternativos de
interpretação pelos condutores do PETP (figura 14).
Ponto A (50m): Irizeiro, uma palmeira típica da Mata Atlântica; Cedro-rosa, madeira
de lei, indivíduo que excepcionalmente cresceu e se desenvolveu em cima de uma pedra.
Ponto B (80m): Grupo de monjolos caídos.
Ponto C (230m): Escadaria de madeira reaproveitada, cerceada de importantes
espécies arbóreas da Mata Atlântica.
A figura 15, por sua vez, representa a atratividade total dos pontos interpretativos ao
longo da distância na Trilha do Jequitibá. A atratividade total é o resultado da soma da
atratividade dos pontos interpretativos (ΣTt) de todos os observadores. Assim como a figura
14, indica os cinco pontos de interpretação delineados pelo PETP (ponto 1 ao 5) e os pontos
alternativos (ponto A, B e C).
Entre os 36 pontos interpretativos inventariados, 27 deles possuem valor de
atratividade inferior a 20, tendo um tópico interpretativo desenvolvido; 4 deles possuem valor
de atratividade superior a 20 e inferior a 100, tendo de 2 a 5 tópicos interpretativos
desenvolvidos; e 6 possuem valor de atratividade superior a 100, tendo mais de 3 tópicos
interpretativos desenvolvidos. A partir da análise do gráfico, é possível afirmar que o ponto 5
é o ponto de maior atratividade, seguido do ponto 2, 4, 3, 1 e ponto A.
50
Atratividade total -Trilha do Je quitibá
0
100
200
300
400
500
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280
Dis tânc ia
A tratividade
Figura 15: Atratividade total dos pontos interpretativos em função da distância, Trilha do Jequitibá.
O valor da atratividade total foi obtido através da soma da atratividade dos pontos interpretativos (ΣTt) de todos
os observadores. Pontos interpretativos delineados pelo PETP. Ponto 1: Entrada da trilha e placa interpretativa.
Ponto 2: Córrego e placa sobre o “Ciclo da Água”. Ponto 3: Terrário e Placa sobre os “Solos”. Ponto 4: Gruta e
placa sobre “Formações Rochosas”. Ponto 5: Jequitibá-rosa de aproximadamente 1000 anos e placa
interpretativa sobre o mesmo. Pontos alternativos apontados pelos observadores. Ponto A: Irizeiro e Cedro-rosa
sobre pedra
Para atividades de Interpretação Ambiental, é importante lembrar que as paradas
interpretativas devem ser limitadas a poucos pontos, de modo a respeitar o tempo planejado
de condução e não saturar o visitante. O alto índice de atratividade e a expressiva quantidade
de pontos de interpretação devem ser aproveitados, dessa forma, na elaboração de roteiros
diferenciados e temáticos (com poucos, mas relevantes pontos interpretativos) que poderão
ser alternados, explorados de múltiplas formas e atualizados. Dessa forma, é essencial que
guias e condutores do PETP sejam capacitados de forma a homogeneizar as informações e
conhecer as múltiplas formas de abordagem da trilha em questão, minimizando possíveis
incoerências e informações desconexas e enriquecendo a IA.
Pela diversidade de temas abordados pelos observadores no IAPI, é possível inferir
que não uma organização temática da Interpretação. Os assuntos são abordados
isoladamente pelos funcionários do PETP, de forma aleatória, sem haver necessariamente
uma interconexão entre os mesmos e uma idéia central dotada de significado. Apesar da
grande riqueza de atrativos e temáticas, sem a adoção de um tema norteador, a Interpretação
fica limitada à transmissão de conteúdos, informações e curiosidades sobre o local e seus
Ponto 5
Ponto 4
Ponto 3
Ponto 2
Ponto 1
Ponto A
51
diversos recursos. Ou seja, embora sejam agregados alguns valores sobre a proteção
ambiental, as informações são trabalhadas de maneira fragmentada e desassociada do
cotidiano do visitante.
A escolha do tema de interpretação de uma trilha é fundamental, que este define e
direciona o conteúdo que será abordado, relacionando as diversas informações em uma
mensagem principal, tornando a atividade significativa e clara ao público. Para Ham (1992),
os conteúdos devem ser trabalhados em cada ponto de parada de tal forma que, ao final da
trilha, os visitantes saibam ou entendam algo.
Por exemplo, ao definir o tema Floresta: um sistema integrado” é possível trabalhar
os diversos componentes da floresta (solo, água, fauna, flora) e suas inter-relações,
objetivando demonstrar que a floresta é um sistema integrado, onde a interferência ou a
degradação de um desses componentes levará ao comprometimento de todo o conjunto. Por
sua vez, o tema “A importância da floresta para o homem” daria enfoque aos serviços
ambientais da mata ciliar e da cobertura vegetal, além dos diversos usos possíveis dos
recursos florestais (ritualístico, alimentício, farmacológico, medicinal, etc.), objetivando
esclarecer a importância da proteção das áreas naturais ao ser humano.
A definição de roteiros temáticos ainda permite que uma única trilha possa ter
diversos pontos de parada numerados, utilizados para temas com enfoques diferenciados, tais
como história de ocupação local, relações homem-floresta, biodiversidade, interações fauna e
flora, vida social dos animais, uso dos sentidos (texturas, cores, sons, cheiros e sabores), entre
outros. Os pontos de parada interpretativa para cada temática devem seguir uma organização
lógica no desenvolvimento do tema, com introdução, corpo e conclusão, utilizando linguagem
amena e pertinente, com perguntas e uso dos sentidos.
A definição de roteiros foge ao escopo deste trabalho, uma vez que deve estar
incluída dentro de um Plano de Interpretação Ambiental do PETP e preferencialmente serem
elaborados por uma equipe multidisciplinar. A partir dos dados coletados pelo IAPI, foi
elaborado um inventário dos atrativos da Trilha do Jequitibá e dos tópicos levantados pelos
observadores (quadro 4), que podem ser utilizados como base ou subsídio para a elaboração
de roteiros temáticos múltiplos na Trilha do Jequitibá.
52
Quadro 4: Inventário dos atrativos e dos tópicos possíveis de serem abordados na Trilha do Jequitibá, a partir da
utilização do IAPI.
TRILHA DO JEQUITIBÁ
Informações gerais
A trilha é composta por uma vegetação fechada, com árvores de médio a grande
porte. Apesar de sua exuberância, é uma mata secundária, ou seja, ela foi devastada
pelo homem, estando num estágio intermediário de recomposição ou recuperação. Esse
fato pode ser comprovado pela presença na trilha de espécies cultivadas pelo homem e não
comuns nas florestas, tais como a bananeira e laranjeira, e da dominância de espécies
secundárias, tais como o monjolo. As espécies secundárias o caracterizadas por árvores
de médio e grande porte, sendo uma mata intermediária à mata original.
É possível encontrar em abundância liquens de variados formatos e cores nos
troncos das árvores da trilha do jequitibá, que dificilmente poderão ser observados em
árvores próximas a centros urbanos. Várias espécies de liquens são bioindicadores da boa
qualidade do ar.
O visitante deve ser instigado a observar uma grande variação de temperatura,
luminosidade e umidade entre o ambiente externo e o interior de uma trilha. A floresta cria
as condições necessárias para a formação de um microclima, promovendo sombra e
retendo umidade.
No término de 2006, foi realizado o trabalho de manejo e recuperação da trilha do
jequitibá, com a alteração do traçado da trilha, confecção e manutenção de drenos e
canaletas e implantação de degraus de madeira reaproveitada. É possível visualizar essas
intervenções por toda a trilha.
Pontos de
interpretação
Atrativos e temáticas abordadas
Portal de
Entrada
(0m)
Placa interpretativa. Nesse primeiro momento, é importante utilizar
as informações disponíveis na placa de entrada para informar o usuário
sobre o trajeto que será percorrido (percurso, a distância, duração e os
atrativos da trilha), além de conscientizá-lo a respeito das normas e
recomendações de conduta.
Nível de dificuldade: leve ou fácil
53
Distância: 290m de extensão, 580m de percurso.
Tempo médio de caminhada: 40 a 60 minutos
Atrativos: 1. Riacho Bonito 2. Terrário. 3. Gruta 4. Jequitibá.
Materiais alternativos. Um detalhe interessante é o suporte da placa,
feita de plástico reciclado que imita perfeitamente a madeira. O portal de
madeira, segundo os funcionários, foi confeccionado com material
reaproveitado da própria Unidade.
Espécies de
interesse
(6m)
Urtiga, planta herbácea urticante, provoca intensa coceira no ser
humano.
Mudas de jequitibá-rosa, plantio realizado pelo PETP.
Marianeira, planta herbácea com saboroso fruto comestível.
Aperta-ruão, planta da família Piperaceae, apresenta várias
variedades e está presente ao longo de toda a trilha.
Jaqueira
(26m)
A Jaqueira é uma planta exótica, originária da Índia, introduzida no
Brasil pelos seus frutos comestíveis e saborosos. Pela grande produção de
sementes, o alto índice de germinação e o rápido crescimento, acabou se
espalhando com rapidez nas florestas alteradas pelo homem. A presença
da jaqueira na trilha indica que essa área foi alterada pelo homem,
constituindo uma mata secundária.
Espécies de
interesse
Arbusto (27m), seus frutos roxos são alimento para o Tangará.
Monjolo, Angico, e bromélias (33m). Várias espécies de bromélias são
epífitas, utilizando outras plantas como suporte para alcançarem a luz do
sol. Não são parasitas da árvore, ao contrário do que muitos pensam. As
bromélias m grande importância na manutenção do equilíbrio da Mata
Atlântica, que atua como um microhabitat ou abrigo de diversos
organismos. A disposição de suas folhas em roseta forma um reservatório
onde se acumulam água e matéria orgânica, atuando com um bebedouro
de pássaros e invertebrados e como local de forrageio. Um grande
número de invertebrados se desenvolve no interior das bromélias e alguns
vertebrados se abrigam nas mesmas.
54
Grutinha
(40m)
As grutas constituem abrigo para animais noturnos e suporte para
plantas rupícolas. É comum encontrar rastros e pegadas em seu
interior.
Não é permitido ir até a gruta.
Cedro rosa
(50m)
Cedro rosa, madeira de lei, esse espécime chama grande atenção por
ter se fixado e crescido em cima de uma grande pedra.
Irizeiro é uma palmeira nativa, seus frutos são alimentos para
diversos animais, entre eles roedores e esquilos.
Jequitibá-rosa. Indivíduo jovem de uma das maiores árvores da Mata
Atlântica.
Espécies de
interesse
de laranja (69m), resquício da ocupação humana e que comprova
que é uma mata secundária.
Monjolos caídos (80m), local com muitas árvores caídas. Os troncos e
galhos servem como abrigo para insetos e animais, e ao se decompor
irão se transformar em adubo para o solo. As árvores caídas são em
maioria espécies secundárias, caracterizadas por ter médio a grande
porte e viverem de 25 a 100 anos.
Cipós (90m). Local rico em cipós. Importante para deslocamento e
tráfego de animais pela floresta.
Flor de cera (90m). Arbusto, família Rubiaceae, apresenta uma
floração de cor chamativa.
Negamina (93m). Planta utilizada ritualisticamente, que tem cheiro
muito forte e agradável.
Cedro-rosa
Jequitibá-branco
Córrego e
placa ciclo da
água
(118m)
Riacho. É um afluente do Rio Macacu. A Bacia do Macacu, em
termos de recursos hídricos, é a mais importante fonte de abastecimento
dos municípios de São Gonçalo e Niterói, cuja captação se dá no canal de
Imunana. Cerca de 2,5 milhões de habitantes, inclusive dos municípios de
Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Itaboraí, dependem dele. Grande
parte de suas nascentes e rios estão sendo protegidos pelo Parque
Estadual dos Três Picos, que tem fundamental importância para garantir a
conservação desse manancial para essa população.
55
Fauna: barata d’água (bioindicadora da boa qualidade da água) e
pássaros
Mata Ciliar. As florestas influenciam na qualidade e proteção dos
rios, lagos e dos reservatórios de água subterrânea. As margens dos rios
são protegidas por uma vegetação chama de Mata de Galeria ou Mata
Ciliar. Elas recebem esse nome por que assim como nossos cílios
protegem nossos olhos de poeiras e detritos, as matas ciliares protegem
os rios do assoreamento, além de fornecer sombra, impedindo o
superaquecimento da água, e oferecendo frutos, folhas e sementes para os
animais aquáticos.
Espécies de
interesse
(120m)
Rabo de galo. Espécie de palmeira cujo formato das folhas lembra um
rabo de galo.
Palmeira Jussara (Euterpe edulis). É uma espécie ameaçada de
extinção devido a retirada de seu palmito, que leva à morte da planta. O
extrativismo ilegal da palmeira Jussara um dos grandes problemas do
PETP. É importante para fauna, pois seus frutos são alimento para micos,
morcegos, tucanos, araras e jacus.
Jequitibá-branco
Bananeira. Indício de intervenção humana, sendo esta floresta uma
mata secundária.
Placa sobre
“Solo”
(154m)
Placa interpretativa: explica a formação do solo e a importância dos
microorganismos para a sua conservação.
Terrário. Esquematiza os horizontes do solo.
Monjolo. Muitos indivíduos próximos à placa do solo. Espécie
secundária.
Espécies de
interesse
(170m)
Guiné-piupiu. Planta medicinal, utilizada para fins ritualísticos.
Jequitibá-rosa. Indivíduo jovem de uma das maiores árvores da Mata
Atlântica.
Diversas
plantas
aromáticas
(180m)
Cipó cravo. Está no de monjolo, tem gomos suaves em sua
superfície, cheiro da folha semelhante ao cravo. Seu caule acumula água,
sendo utilizada por viajantes.
Árvore semelhante à copaíba: Sua folha, ao ser macerada, exala
cheiro forte e agradável.
56
Pau d’alho. Próximo ao monjolo, tem folhas e frutos com forte cheiro
de alho.
Gruta
(204m)
As grutas constituem abrigo para animais noturnos e suporte para
plantas rupícolas. É comum encontrar rastros e pegadas em seu interior.
Contação de histórias sobre a gruta, trabalho lúdico para crianças.
Placa de “Formações rochosas”. Explica o processo de formação das
rochas presentes no PETP e sua constituição.
Epífitas
(204m)
Plantas epífitas (Epi = sobre e fito = plantas) são aquelas que vivem
sobre outras plantas para obter mais luz e mais ventilação sem obter
nutrientes das mesmas. Esta característica as diferencia das parasitas, que
se apropriam dos nutrientes da planta suporte (hospedeira).
Bromélias sobre as rochas e árvores.
Orquídeas sobre árvores. Suas raízes, expostas ao ar, obtêm a maior
parte dos nutrientes do material em decomposição ao seu redor, da água
da chuva que lava as folhas das árvores no alto, ou de partículas
existentes no ar. Em casos extremos de umidade, as orquídeas podem
absorver toda água e os nutrientes pelos poros em suas folhas.
Variados
(230m)
Rocha com musgos e rupícolas: interessante para trabalhar texturas
Marca de bala nas arvores próximas. Antiga rota de caçadores.
Cambuí. Árvore de crescimento secundário.
Monjolo. Muitos indivíduos ao longo da trilha
Espécies de
interesse
Raiz de Jequitibá (260m). A raiz do jequitibá aparece na superfície e
chama atenção pela sua grossura, semelhante ao de um tronco.
Troncos agredidos e pichados. Trabalho de conscientização contra
agressões em árvores.
Jequitibá-
rosa
(290m)
Jequitibá-rosa (Cariniana legalis Mart.). Este indivíduo tem idade
estimada de 1000 anos e aproximadamente 40m de altura (IEF, 2006),
sendo considerado um dos maiores jequitibás do Rio de Janeiro. A
espécie destaca-se entre as árvores da Mata Atlântica pelo seu porte, entre
30 a 50m de altura.
Hipóteses para a permanência do jequitibá: respeito pelo seu porte,
dificuldade para transportar a madeira, caso fosse cortada. Na fase da pré-
colonização européia, sua madeira era muito cobiçada, porém muitos
57
fazendeiros a preservavam pela sua beleza.
Abrigo de vida: As copas das árvores são abrigo de vida para outros
vegetais, as plantas epífitas. Apontar as diversas espécies epífitas que
crescem na copa do jequitibá.
Lesões no tronco jequitibá: apesar de não matar a planta, é uma
agressão predatória, desrespeito a um patrimônio histórico e natural.
Dinâmicas de jogos e contação de histórias: platô de pedra favorece
realização de atividades lúdicas.
Espécies de
interesse
(290m)
Paineira
Palmito Jussara
Figueira mata-pau: Seus frutos são consumidos por morcegos e aves,
que espalham suas sementes através das fezes. Elas podem germinar no
chão, em saliências de rochas ou nos galhos das árvores, caso desta
figueira que germinou na copa do Jequitibá-rosa. As raízes crescem, se
enrolando na árvore que serviu de apoio até atingir o solo. As raízes
engrossam e acabam estrangulando e matando a árvore suporte. A
figueira não é uma parasita.
Jequitibá adulto em frente ao de 1000 anos. Provavelmente
descendente do jequitibá milenar, exemplifica a dispersão da semente.
Os atrativos indicados no IAPI foram ordenados através do método do
ranqueamento, extremamente útil nos estudos de preferências locais segundo Albuquerque &
Guimarães (2004). Buscou-se indicar quais são as classes de atrativos existentes e as que mais
se destacam dentro da trilha a partir da percepção dos observadores (guias e acadêmicos). Os
atrativos inventariados foram agrupados em categorias (tabela 2), em função da espécie ou
similaridade. As categorias foram ordenadas em ordem decrescente em função da atratividade
total, ou seja, a soma dos valores de atratividade (Σ) obtidos pelo IAPI. Na tabela do
ordenamento, a atratividade total corresponde à soma do valor de atratividade atribuído pelos
observadores ao atrativo citado. Por exemplo, a categoria Jequitibá-rosa, que foi citada 23
vezes pelos observadores (5 condutores e 4 acadêmicos), obteve 383 de atratividade total,
resultante da soma do valor de atratividade (Σ) atribuído em cada citação.
Lembrando que a atratividade foi inferida através dos indicadores de visibilidade
(posição, escala), relevância local (destaque e abundância) e estímulos sensoriais
58
sensibilizados, a tabela 2 indica de forma decrescente a relevância e o potencial para a
Interpretação Ambiental das categorias de atrativos. Destacaram-se o jequitibá rosa, gruta e
rochas, riacho, terrário, placa interpretativa de entrada, espécies florestais como o monjolo,
irizeiro, cedro-rosa, palmito Jussara e plantas epífitas e rupícolas.
Tabela 2: Ordenamento da categoria de atrativos segundo o valor de atratividade total atribuído pelos
observadores (condutores e acadêmicos).
Categoria de Atrativo
Nº. de citações
Atratividade total
Jequitibá-rosa
23
383
Rochas e grutas
10
200
Riacho/córrego
7
174
Terrário
9
159
Entrada (placa interpretativa)
5
135
Jacarés ou monjolo
11
95
Irizeiro
8
77
Cedro-rosa
7
72
Manutenção de trilhas
13
63
Epífitas e rupícolas
7
59
Paineiras
5
46
Jussara
4
37
Jaqueira
4
31
Jequitibá-branco
3
27
Figueira mata-pau
3
27
Barata d'água
3
26
Rabo de Galo
7
23
Observação da fauna
3
23
Cambuí
3
22
Angico
3
19
Urtiga
2
14
Bromélias
2
12
Outros
1
207
Total: 23 categorias de atrativos
Um dos fatos constatados através do quadro 5 é que a fauna praticamente não é
explorada e valorizada na trilha do Jequitibá. Esse fato está associado a uma dificuldade geral
de explorar o tema devido à distribuição pulverizada dos animais no ambiente, a
susceptibilidade da fauna a ruídos e a necessidade de desenvolvimento da percepção do
visitante para “visualizá-la”. Isso não impede, no entanto, que se trabalhe indiretamente a
59
temática. Entre algumas das alternativas, é possível explorar os sons e rastros, além de
trabalhar as interações fauna-flora e fauna-ambiente nas trilhas. Fora das trilhas, recursos
materiais imóveis, tais como animais taxidermizados, dioramas, fotos e pôsteres são
comumente explorados em diversas UC’s.
Por outro lado, tanto a abordagem do intérprete quanto a percepção do visitante
restringem-se muitas das vezes àquilo que é prontamente visualizável, sendo necessário
readequar a escala de observação dos elementos e fenômenos para a IA. É possível explorar e
valorizar não só os organismos de médio e grande porte, como também os elementos e
fenômenos de menor escala. A interação entre as formigas e a embaúba, a relação entre os
fungos e o surgimento das galhas são alguns tópicos que demonstram possibilidade e a
relevância de se trabalhar com a interpretação em diferentes escalas na Trilha do Jequitibá,
podendo aguçar a percepção do observador e desenvolver no mesmo o senso de explorar e
descobrir o ambiente.
Os temas de cunho sócio cultural foram pouco explorados e valorizados, sendo
enfatizados conteúdos ligados à fauna, flora e ao meio físico. Numa trilha interpretativa, é
extremamente importante ter o cuidado de não se limitar aos aspectos biofísicos das trilhas,
abordando também questões históricas e culturais de forma a buscar associar o conteúdo ao
cotidiano do ouvinte.
Recursos sonoros, táteis e olfativos, apesar de existentes, foram pouco citados e
valorizados quanto a sua atratividade, o que demonstra a falta de percepção dos guias e
observadores para explorar a temática sensorial, que, além de estimular e enriquecer a
experiência do visitante, possibilita a criação de roteiros para portadores de necessidades
especiais, promovendo a acessibilidade.
Dessa forma, maior atenção deve ser dada às referidas temáticas para que as mesmas
possam ser exploradas no PETP de forma a potencializar a Interpretação Ambiental na trilha
do Jequitibá.
6.2 AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL
6.2.1 Percepção ambiental dos atores
60
6.2.1.1 A percepção do intérprete
O intérprete é responsável não por grande parte das impressões que o visitante tem a
respeito da unidade, como tem papel essencial conservação e valorização dos patrimônios
históricos, culturais e naturais locais. A percepção do condutor sobre a atividade interpretativa e
os atores envolvidos pode trazer a tona questões pertinentes sobre a IA, que o condutor é, em
sua essência, um facilitador e dinamizador da aprendizagem, agregando segurança, qualidade e
conhecimento a visita. Assim sendo, foram entrevistados ao total 7 funcionários do PETP que
desempenhavam a função de intérpretes da trilha do jequitibá durante o período de março a
outubro de 2007. Nos quadros abaixo, as principais considerações dos entrevistados foram
selecionadas, destacando-se as idéias fundamentais de cada um deles por meio da redução das
unidades de significados.
Quadro 5: Principais aspectos da análise da percepção do intérprete sobre a contribuição do Parque na Educação
Ambiental local.
Discurso na linguagem do sujeito:
Redução das unidades de
significado
A importância do parque é que é uma referencial
ambiental grande, e o município, com a característica
que tem, de seus recursos naturais, além de belezas
cênicas e tudo mais, propiciado por esses recursos
naturais...”.
Qual é a importância do parque para a Educação
Ambiental? É uma referência que tem uma infra-
estrutura que pode ajudar, na questão de receber
pessoas para estarem falando sobre a questão de
queimadas, como a gente passa vídeo e tudo mais, a
própria trilha interpretativa, onde você pode estar
trabalhando a EA, e é isso. E para que as pessoas
possam respeitar e preservar aquilo que o município
tem.
O parque é uma referência
ambiental do município e da
região.
O Parque é uma referência em EA,
pois oferece infra-estrutura e
diversos meios de Interpretação
Ambiental (vídeos, trilhas,
palestras).
O parque é uma referência
ambiental do município de
Cachoeiras de Macacu.
Quadro 6: Principais aspectos da análise da percepção do guia sobre os visitantes e os alunos na Interpretação
Ambiental.
61
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de
significado
Enfoque no Jequitibá e não na trilha interpretativa
A gente precisa trabalhar os outros pontos além
do jequitibá, pois o pessoal quer saber de chegar o
jequitibá, e não percebem a importância do trajeto como
um todo, ficam perguntando a trilha toda se estamos
chegando ao jequitibá, se falta muito pro jequitibá, cadê
o jequitibá”.
“E o aluno vem aqui muitas das vezes para ver um
jequitibá, mas às vezes não é só isso. Aí o professor “ah,
a gente vai ver um jequitibá, no parque tem um
jequitibá, a gente vai visitar um jequitibá”.
E pinta o jequitibá como uma coisa estupenda,
por que ele realmente é fantástico, mas... focado nisso.
Mas não na preservação, mas não na questão do
parque, por que o professor não sabe passar isso pro
aluno (guarda-parque).
O visitante fica focado no atrativo
final, o Jequitibá, e não aproveita a
trilha como um todo.
O guia precisa estar consciente
desse fato e trabalhar nele.
O aluno não é preparado de forma
adequada para visitar a UC.
O aluno e o professor ficam
focados no atrativo final, o
Jequitibá, e não no objetivo que é a
conscientização ambiental.
Fraca associação da UC como órgão ambiental
“E muita gente vem aqui e acha que “ah é o
parque”, tem o jequitibá, mas não sabe que a gente
defende as águas, que o propósito é manter isso vivo
ainda, por que está acabando, e eles não sabem de nada
disso”.
Então o aluno chega aqui achando que vai ter um
passeio simplesmente e o foco não é esse. O foco eu
acho que tem que vir “hoje a gente vai ter uma aula, a
nossa aula hoje vai ser no parque, tal, a gente vai estar
num ambiente natural, vai aproveitar esse ambiente,
para estar ali, vai ter alguém explicando, falando, então
vocês prestem atenção, vocês vão no parque que é isso”,
para eles terem alguma noção do que é uma Unidade de
Grande parte do público vincula o
parque com a visitação e com seu
atrativo principal (jequitibá), mas
não associa ou associa fracamente
a UC com suas funções
ambientais.
Os alunos encaram a visita ao
parque como um passeio, e não
associam ou associam fracamente
a visita a uma aula sobre a UC.
Os alunos, ao visitarem o parque,
não assumem uma postura de que
estão em aula, e sim, em um
passeio.
62
Conservação, e que a criança chegue aqui com um
pouco de responsabilidade que ela está tendo uma aula
(agente técnico).
O aluno não é preparado de forma
adequada para visitar a UC.
Na trilha do Jequitibá, os guias apontaram como um dos problemas o fato dos
visitantes buscarem somente chegar ao destino final da mesma, no caso, o atrativo que o
nome a própria trilha, além da compreensão limitada sobre a finalidade de uma Unidade de
Conservação (quadro 6).
Segundo Julião & Ikemoto (2006), em uma paisagem constante, é natural que o
indivíduo perca progressivamente o interesse, implicando no enfraquecimento da audiência e
conseqüentemente, da unidade do grupo. Dentro desse contexto, o planejador de trilhas tem
entre os seus desafios equilibrar a curva de emoção do percurso e criar estratégias para
minimizar a homogeneidade da paisagem. Uma das práticas possíveis que podem minorar este
fato é agregar ao percurso elementos que aumentem a atratividade da trilha e a qualidade da
visitação, tais como: placas informativas, trilhas suspensas e modelos esquemáticos,
incorporação no discurso exemplos que despertem a curiosidade e possibilitam relacionar as
informações à experiência do observador. Outra possibilidade é a seleção de pontos de parada
e observação, criação de novos mirantes e de interpretação da natureza em locais de
expressiva atratividade, pois, estrategicamente posicionados, podem manter a expectativa do
visitante.
Segundo Talora et al. (2006), o papel intrínseco que cumprem as UC’s, dentro de
uma região ou país, o parece ser tão difundido. Para os funcionários, o entendimento do
visitante sobre as áreas protegidas é precário, muitas vezes limitado à utilização indireta das
áreas protegidas para fins de lazer e recreação. Ou seja, o usuário percebe o parque como
espaço turístico, mas o associa fracamente como um órgão ambiental conservacionista,
educacional e fiscalizatório.
Quanto a Interpretação Ambiental, essa distorção pode ser minorada incorporando no
discurso questões relacionadas ao histórico do parque, o motivo de sua criação, a relação da
unidade com o entorno, a relação e dependência humana dos recursos naturais e as atividades
realizadas dentro e no entorno da unidade, entre outros. As demonstrações são recursos
educativos estratégicos na medida em que dão visibilidade às ações desenvolvidas nas áreas
protegidas e estimulam e aguçam a curiosidade do visitante. Simulações simplificadas de
63
combate a incêndio, exposição de materiais apreendidos em ações fiscalizatórias,
apresentação de unidades demonstrativas de recuperação de áreas degradadas são exemplos
comuns em UC’s e de alto potencial educativo. É interessante que sejam realizadas e relatadas
pelos próprios funcionários responsáveis, valorizando o trabalho do mesmo e enriquecendo a
demonstração.
Quadro 7: Principais aspectos da análise da percepção do guia sobre os visitantes e os alunos na Interpretação
Ambiental: expectativas.
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de
significado
O que se espera, a gente que trabalha para esse
lado da Educação Ambiental, a gente espera um pouco
de atenção delas. Que elas venham com essa ânsia de
querer aprender ou ter atenção a essa coisa e a gente
pegar esse gancho e ai sim dar a tal da Educação
Ambiental de alguma forma ”.
Eu gostaria de receber o tipo de visitante que
deixasse você falar, deixasse você falar na palestra, por
que é importante quando você vem a algum lugar saber
sobre esse lugar que você está vindo, saber o objetivo,
para que estão fazendo esse trabalho (...) e os alunos
que a gente queria era vir pra cá, prestar atenção, que
viessem realmente com propósito de aprender, que
perguntassem, que se interessassem mais”.
Eu dou atenção se as pessoas prestam
atenção e tem respeito. Gente mal educada e sem
respeito eu só falo o básico e olhe lá (guarda-parque).
Tem aluno que não quer nada com nada, o que
você vai fazer? Por que ela fala que tem que achar uma
forma de trabalhar esse aluno. Mas como eu vou
trabalhar com esse aluno?
O interesse mesmo dos alunos é ir direto para a
O intérprete tem expectativas em
relação ao visitante, tais como
atenção e interesse pelo que vai ser
interpretado.
O intérprete tem expectativas em
relação ao visitante, tais como
atenção e interesse pelo que vai ser
interpretado.
Há dificuldade do guia em lidar com
o público desinteressado e mal
educado, e a IA é prejudicada.
dificuldade em lidar com alunos,
grupos desinteressados.
O guia considera que de forma em
64
trilha. É curtir. E eles não querem vir pra ouvir
palestra, não querem nada disso (guarda-parque).
Olha, a gente tenta chamar a atenção de todas
as formas, mas tem escola que não vem mesmo para...
Tem a diferença. Tem metade que vem para aprender, e
tem a outra metade que não quer aprender. Então você
passa o que você tem que passar, e ouve quem quiser,
você está passando o que você tem que passar. Se eles
quiserem ouvir, ouça, se não quiserem...
geral o aluno não demonstra
interesse nas explicações, e quer
aproveitar o passeio.
O guia realiza a interpretação,
tentando cativar o aluno.
O guia explica, mas não se preocupa
muito com o aluno que não tem
interesse em aprender.
Assim como o visitante tem desejos e expectativas sobre o destino turístico, o
intérprete possui expectativas sobre o público, tais como a atenção, curiosidade e o respeito
do mesmo a todo o corpo da UC (quadro 7). Consequentemente, os funcionários relatam ter
grandes dificuldades para lidar com alunos e grupos desinteressados, respondendo
negativamente a esse público. Desmotivados, realizam a atividade nesses grupos, mas não
sustentam o objetivo de promover a sensibilização dos mesmos.
Dessa forma, a interpretação é minorada naqueles que mais necessitam ser
trabalhados, conscientizados, o que reflete a falta de preparo e de didática dos condutores.
Esse fato está associado à falta de capacitação tanto do funcionário, que deve estar apto para
utilizar recursos e técnicas para minorar a dispersão e despertar o interesse do público, de
forma a trabalhar com diversos perfis de visitantes e estar consciente de seus diferentes graus
de motivação.
Quadro 8: Principais aspectos da análise da percepção do guia sobre o papel do professor e sua contribuição na
Interpretação Ambiental no PETP.
Discurso na linguagem do sujeito:
Redução das unidades de
significado e asserções articuladas
Eu vejo o professor da seguinte forma. Ele
chega com o grupo, muitas das vezes quando você
trabalha com um professor de forma a ele estar
preparado para acompanhar um trabalho desse, é até
legal. Mas a maioria deles eu vejo que eles ficam
muito... assim... presos a atenção com a atitude, o
É interessante que o professor esteja
preparado para acompanhar a
Interpretação Ambiental. A maioria
dos professores não está preparada
para conduzir os alunos e ficam
limitados a regular o
65
comportamento do aluno (agente técnico).
E muitas das vezes eu estou na trilha e vejo um
professor, a gente está pedindo silêncio na trilha né, e às
vezes fica difícil por que tem um burburinho das
crianças, delas estavam falando alguma coisa, e o
professor vem conversando. Aí eleva a voz “quieto”,
não sei o que. Então, as crianças elevam a voz. Então eu
vejo que ele não está preparado para estar
acompanhando.
O professor, acho que deve ser passado para
ele, é que quando, no caso de visitação de colégio, acho
que o professor, o aluno tem que ter vir aqui sabendo
que o que ele está vindo fazer aqui. Aí o professor “ah, a
gente vai ver um jequitibá, no parque tem um
jequitibá, a gente vai visitar um jequitibá”.... focado
nisso. Mas não na preservação, mas não na questão do
parque, por que o professor não sabe passar isso pro
aluno. Então o aluno chega aqui achando que vai ter um
passeio simplesmente e o foco não é esse.
Eu acho que o professor ajudaria. Se ele
participasse. Gostaria do professor que dessa aula dele
junto com a gente, que colocasse a galera na linha, pra
se comportar direitinho. O aluno sai da escola, na rua
talvez ele até tenha mais vontade de aprender, por que
na escola é cansativo (...). E a gente complementar
com o que a gente aprende, por que a gente sabe, a
gente está aqui para ensinar, entendeu, eu acho que
ficaria bem legal”.
comportamento do aluno.
O professor o está preparado para
conduzir os alunos em ambientes
naturais.
O professor deve esclarecer ao aluno
o objetivo da visita no parque, o que
muitas das vezes não ocorre.
O objetivo da visita das escolas
numa UC é o aprendizado, e não
simplesmente o lazer.
A participação do professor é
relevante.
O aluno teria maior vontade de
aprender na UC que na sala de aula.
O professor deveria associar o
conteúdo da sala de aula com a
visita, participando da interpretação,
e regular o comportamento dos
alunos.
Dentro da literatura existente, várias são as considerações feitas ao intérprete, no
entanto, poucos são os apontamentos referentes ao visitante, ao aluno e aos professores, atores
igualmente participantes e envolvidos na Interpretação Ambiental, que não devem ser
66
excluídos de sua importância no processo. Na percepção dos condutores, o professor tem
relevante papel no sucesso da atividade interpretativa. Os alunos devem ser preparados pelo
educador para visitar a unidade, sabendo que o objetivo principal é o aprendizado. O papel do
professor também seria o de estimular o grupo, associando a interpretação com o conteúdo
abordado em sala de aula, e de regular o comportamento e atitude dos alunos (quadro 8).
Muitas das vezes, como apontado pelos intérpretes, o próprio educador desconhece
as normas da UC e desenvolve uma conduta inadequada nos ambientes naturais. Grande parte
do público que visita as Unidades de Conservação (UCs) o conhece as normas e diretrizes
de visitação de uma área protegida, reproduzindo comportamentos e posturas de ambientes
urbanos, inadequados e impactantes para o meio natural. Calçados ou roupas inapropriadas,
coleta de material mineral e biológico, aparelhos sonoros e lixo são exemplos recorrentes em
Parques. Dessa forma, o processo educativo inicia-se anteriormente à visitação da UC. Como
educador e potencial multiplicador, também cabe ao professor não participar da IA, como
conhecer e informar as normas existentes para a visitação, preparando os alunos quanto à
postura em ambientes naturais e garantindo a conservação desses espaços.
O professor pode ser um dinamizador do conhecimento a partir do momento que
estimula seus alunos, participa da IA e continuidade ao processo além dos limites da UC.
A atividade interpretativa, de curta duração e limitada no ambiente natural, ganha novos
significados e maior efetividade quando é estendida pelo educador na escola. Instituições
como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), percebendo a relevância do professor para
o sucesso da atividade interpretativa, seu potencial como multiplicador e sua carência de
informações quanto aos espaços naturais, tem promovido continuamente a capacitação dos
educadores para conduzir seus alunos em visitas educativas ao local e oferecido materiais de
apoio (cartilhas e panfletos direcionados). Dessa forma, é interessante que as UC’s também
sigam essa tendência, sendo não somente espaços com potencial educativo como formadores
e articuladores de multiplicadores e educadores ambientais.
Quadro 9: Análise da percepção dos funcionários sobre o trabalho do condutor e de seu papel na Unidade de
Conservação na Interpretação Ambiental.
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de
significado
O guia e a IA
No nosso caso, da visitação, essa visitação, o
O objetivo da Interpretação
67
envolvimento do parque com os visitantes é tentar passar
isso, a importância do nosso trabalho, a importância da
atenção das pessoas a natureza.
Acho que o guia deve ser objetivo, direto e
dinâmico. Senão a pessoa fica olhando pro u, sabe (...)
Por que tem muita gente que... começa a falar de coisas...
com se diz... coisas mais técnicas que o povo não entende.
Ela entende, mas as pessoas não entendem. Então acho
que é preciso ser mais direto possível, ser claro. Não
pode ser uma coisa demorada, tem que ser uma coisa
rápida. Você viu, falou, acabou. Senão você começa a
falar, falar, falar, não dá. Não fico entrando em
detalhes.”
Quando eles chegam aqui, a primeira coisa que
eu faço o que todo mundo faz, quando eu recebo a escola
é passar o vídeo. a gente fala do parque, da
importância do parque, qual o objetivo do parque... sobre
o incêndio e tem também o das fotos de locais do parque e
animais. Aí passa sobre o objetivo do parque, quanto
tempo o parque existe, e mostra o mapa do parque,
depois a gente vai para a trilha.”.
Ambiental no parque é
sensibilizar as pessoas para
importância do meio ambiente e
do trabalho da UC.
O guia deve trabalhar o conteúdo
de forma objetiva, direta e
dinâmica, caso contrário, o
visitante perderá o interesse.
O guia não deve utilizar palavras
técnicas em demasia, inteligíveis.
O guia tem um roteiro pessoal de
interpretação. Esse roteiro inclui
vídeos, mapa impresso do PETP
e as trilha do Jequitibá (ou
mirante), além das informações
essenciais sobre a UC.
Limitador: capacitação dos funcionários
Existe mesmo (boa vontade). A gente não tem
nada a ver com Educação Ambiental. A gente não tem um
curso de capacitação, a gente chegou aqui e
simplesmente foi jogado para fazer. A gente um
funcionário falar, o chefe do parque falar, e você vai
aprendendo, mas a gente... eu, por exemplo, nunca tive
contato com Educação Ambiental. Comecei a ter contato
com meio ambiente mesmo agora quando cheguei e
comecei a trabalhar aqui (guarda-parque).
O funcionário não tem
capacitação para as atividades de
educação e Interpretação
Ambiental, e acaba aprendendo
observando o discurso de outros
colegas experientes.
O funcionário que realiza a IA
muitas das vezes não tem
nenhuma experiência prévia com
Educação ambiental.
68
Geralmente é assim. A gente passa as coisas que
ouve falar daqui, que ouve falar dali, e não é uma coisa
que você tem certeza daquilo. Às vezes você... todo mundo
fala que aquele ali é um de... pau-brasil. Às vezes não
é e fica todo mundo falando, falando que é. É muita
informação errada que você passa. Eu, por exemplo,
ando na trilha e não sei nada das árvores. Eu só paro nas
placas e no jequitibá.
Ah, eu acho que teria que ter uma capacitação
pros funcionários, por que na verdade todos os
funcionários, eles vão ter que lidar com a Educação
Ambiental. Por que tem os finais de semana que muitos
ficam de folga, aí outros vão trabalhar, então todo mundo
tem que lidar, no final de semana tem os visitantes, mais
turista, não tem escola. Então eles querem saber,
conhecer a história do lugar, né, então você tem que
saber, você tem que aprender. Então tem que ter um
estudo mais... tem que ter uma capacitação para poder
melhorar o trabalho. Por que senão você acaba passando
a informação errada, por falta de uma capacitação.”
Deveria ter um curso de capacitação geral por
que todo mundo trabalha com tudo um pouco. quanto
vem um professor biólogo, eu não sei o que falar por que
não tenho capacitação. Aí eu fico preocupado. De repente
falo besteira? Ai prejudica a imagem do parque. Eu
prefiro até ficar fora disso por que não tenho
capacitação, quando eu tiver é outra coisa, quando eu
tiver, eu sou assim, ai vou ter certeza. Eu não entendo,
então é difícil (guarda-parque).
Quando fizeram o mirante, o funcionário falou
“ah, você vai falar sobre a microbacia”. eu falava
sobre a microbacia. Depois eu fui saber que aquilo não
O funcionário que não recebe
capacitação aprende observando
o discurso de outros funcionários,
que não são uma referência
objetiva, confiável.
Não um grau de
confiabilidade aceitável quanto às
informações transmitidas.
Todos os funcionários deveriam
receber capacitação para
Educação e Interpretação
ambiental por que todos lidam
com o visitante.
A falta de capacitação tem como
conseqüência a transferência
inadequada das informações por
parte dos funcionários.
Todos os funcionários deveriam
receber capacitação para
Educação e Interpretação
ambiental por que todos lidam
com uso público.
O funcionário que não tem
capacitação fica receoso e
intimidado em transmitir
informações, prejudicando seu
desempenho.
O funcionário que não recebe
capacitação aprende observando
o discurso de outros funcionários,
69
era uma microbacia. Aquilo é a bacia do Rio Macacu,
então, quanta informação eu passei errada? Aí ele me
ensinou, e eu aprendi errado. eu falava microbacia
(guarda-parque).
Eu sinceramente, não sou muito chegada a ler, eu
acho que eu pego mais quando é um curso, uma aula
prática, entendeu, eu pego legal a coisa. Agora quando é
pra ler... eu acho que a leitura para algumas pessoas...
para mim não chama muito a atenção, ta entendendo.
Agora quando é alguma coisa que a pessoa está falando,
que você está vendo, pra mim é totalmente diferente.
que não são uma referência
objetiva, confiável.
O funcionário tem dificuldades
em aprender, de capacitar-se
através da leitura.
Deficiências
Primeiro: temos uma deficiência muito grande no
município. Quando o aluno vem pra cá, ele vem com tanta
pressa, por causa de ônibus. O ônibus vem pra e tem
uma hora para voltar. Como você vai dar uma palestra,
levar na trilha, explicar as coisas tranquilamente, voltar,
levar no mirante, em uma hora? acham que a gente
tem que fazer a dinâmica da Árvore da Vez. Não tem
tempo!
A escola veio uma vez e o ônibus... deixaram
uma turma para trás. Eles voltaram de Kombi por que
deixaram um monte de criança para trás, deu a hora,
deixou as crianças que ficaram para trás, foram embora.
E muitas escolas deixam de vir para cá por que não
conseguem ônibus da prefeitura.
Uma das grandes dificuldades é o
reduzido tempo de visitação das
escolas devido aos horários
desfavoráveis do ônibus escolar
municipal.
As atividades interpretativas não
podem ser plenamente
desenvolvidas num espaço de
tempo muito curto.
Os horários dos ônibus escolares
municipais são inflexíveis.
As escolas públicas são
desfavorecidas em função do
transporte escolar.
A partir do questionamento sobre o papel do condutor/intérprete e a conduta
adequada do mesmo numa Unidade de Conservação, os intérpretes reconhecem que seu
objetivo é sensibilizar o visitante sobre a importância do meio ambiente e do trabalho
desenvolvido pela instituição. Para isso, devem ser objetivos, dinâmicos e utilizar linguagem
acessível.
70
Os funcionários do PETP em unanimidade levantaram a questão da capacitação
profissional, o que seria, na visão dos mesmos, um grande limitador do desempenho (quadro
9). O funcionário percebe suas deficiências, e considera que no caso das atividades educativas
e interpretativas, somente a vivência e a experiência do trabalho não seriam suficientes para
capacitá-lo para a IA. Relata, também, que na ausência de capacitação, a transmissão do
conhecimento é oral, reconhecendo que essa fonte de informação não é confiável.
A problemática exposta pelos funcionários é recorrente em grande parte das UC’s.
Segundo Irving (2002),
carência de informações sobre áreas naturais protegidas, e a
qualificação de pessoal para a transmissão desse conhecimento aos
ecoturistas potenciais. São raras as publicações ou dados sistematizados
sobre as Unidades de Conservação sobre o Brasil, e uma carência sem
precedentes de pessoal qualificado para atuar, não apenas na condição de
“guia”, mas também como “decodificador” de formação técnica e “parceiro”
no processo de busca de conhecimento.
Ainda segundo Takahashi (2004b),
O grande desafio atual tem sido como aumentar o número de
funcionários e dar-lhes condições de capacitação, de modo que a realidade
política, social e econômica, onde as unidades se inserem seja
compreendidas com o uso de técnicas de manejo adequadas. Destaca-se que
os perigos que ameaçam a integridade das unidades brasileiras estão
associados aos atores verdadeiramente envolvidos no processo, tais como os
técnicos encarregados, a comunidade do entorno e os tomadores de decisão.
Portanto, investir na capacitação desses é de essencial importância para
promover a proteção das unidades.
No caso do PETP, todas as trilhas são autoguiadas, não sendo obrigatória a presença
de guias ou condutores. No entanto, é importante e urgente que se desenvolvam cursos
capacitação dos funcionários ou de condutores ambientais, de forma a profissionalizar e
organizar a atividade de condução de visitantes e entorno, bem como ampliar, qualificar e
uniformizar os serviços oferecidos pelos mesmos. Da mesma forma, a elaboração dos roteiros
temáticos, o que pressupõe a produção do conhecimento local sobre a trilha, sua
caracterização e inventariamento dos seus recursos, fundamentais na medida em que
minimizam possíveis incoerências, criando uma referência objetiva e confiável.
71
Segundo os intérpretes, fatores externos como o não agendamento de visitas, a
alteração do horário previamente definido e a problemática do transporte escolar público
podem comprometer a qualidade da visitação, devendo também ser analisados.
Quadro 10: Análise da percepção dos funcionários sobre o trabalho do condutor e de seu papel na Unidade de
Conservação na Interpretação Ambiental: sugestões.
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de
significado
Eu acho que dentro do que temos hoje, a gente
trabalha. Mas eu acho que para você fazer um trabalho
melhor de Educação Ambiental, o parque, questão
específica o parque, eu acho que a gente precisa de
pessoal, material e local específico para isso.
Isso, além de algumas placas informativas ou
educativas ao longo das trilhas indicando algumas
espécies, algumas coisas de importância. Mesmo que a
gente não esteja presente, acompanhando o visitante, mas
que as placas ali tenham um mínimo de informação de
suma importância.
Estar sempre melhorando o que você tem. Quero
dizer, estar atualizando o que você tem, também fazer
trabalhos em equipe, você poder filmar, nós, por exemplo,
fazermos esse trabalho aqui. Ou que seja com um técnico
acompanhando ou a gente mesmo se capacitando para
poder fazer um trabalho que possa servir para um
seminário.”
Por exemplo, você tem um vídeo, passa esse
material na escola, não precisa ir muita gente, vai uma
pessoa ou duas. Importante ter um veículo destinado
para isso, para você estar indo, interagindo com as
escolas, material, trocando informações com as
comunidades até, pois a educação no parque não deve ser
O parque tem o suficiente para
realizar atividades educativas.
Para melhorar o trabalho educativo
desenvolvido, é necessário criar
núcleo específico de Educação
Ambiental no PETP.
Inserir mais placas interpretativas.
As placas interpretativas garantem
a informação na ausência do
condutor.
Atualização e aperfeiçoamento
contínuo dos materiais de EA e IA.
Levar a EA e IA para as escolas
através de palestras, vídeos.
Disponibilidade de um veículo
destinado para atividades
educativas externas.
72
feita aqui, essa é a minha visão. Ela não deve ser feita
aqui no parque, na sede, no jequitibá. Acho que a gente
tem que ir a outros locais, nas comunidades, nos colégios,
nas igrejas. E eu tenho conversado com o gerente da
Unidade de a gente estar interagindo mais com a
comunidade. Ir lá, e convidar as pessoas para virem, e
tal.
As sugestões dos condutores para melhorias no PETP incluem melhorar a
sensibilização e as informações prestadas aos visitantes através de placas, vídeos, o
aperfeiçoamento dos materiais existentes, capacitação para condutores e a criação de um
núcleo de Educação Ambiental. Para uma maior efetividade, a Interpretação Ambiental deve
não se limitar a UC, sendo levadas às escolas e a comunidade (quadro 10).
A Interpretação contribui para o ordenamento e minimização dos impactos
ambientais decorrentes das atividades de uso público quando desenvolvida no interior das
UC’s, sensibilizando e conscientizando seus visitantes quanto à conduta consciente e quanto à
importância da existência daquela área protegida. Vale lembrar, no entanto, que a
Interpretação Ambiental não precisa ser necessariamente desenvolvida dentro da Unidade de
Conservação, podendo ser aplicada por meio de palestras, estandes, exposições, dinâmicas em
escolas e nas comunidades do entorno. Apesar de o permitirem a vivência direta com o
meio natural e serem desenvolvidas fora dos limites da UC, tais atividades externas são de
extrema importância para a divulgação, para o fortalecimento da imagem pública e para a
aproximação e sensibilização da sociedade com a UC, minimizando, numa perspectiva
imediata e/ou futura, os conflitos e pressões locais. Dessa forma, um projeto integrado e
coerente de Educação e Interpretação Ambiental deve considerar atingir tanto visitantes como
a comunidade, atuando tanto nos limites quanto no entorno da UC, utilizando-se dos diversos
recursos educativos e interpretativos. As atividades desenvolvidas em unidades escolares
possibilitam ainda contribuir no preparo prévio dos alunos e professores e no incentivo para a
visitação das UC’s.
6.2.1.2 A percepção dos visitantes
O estudo da percepção dos visitantes sobre a UC é fundamental para o sucesso do
plano de Uso Público, que permite conhecer as expectativas, as necessidades e os fatores
que aumentam a qualidade da visita e enriquecem a experiência do turista. O visitante, ao não
73
encontrar pelo menos algumas das características que ele esperava encontrar, dificilmente
voltará a praticar turismo neste lugar. Para os autores, a paisagem tem uma função importante
para a visitação, pois na maioria das vezes os turistas escolhem o lugar de destino de viagem
levando em conta o aspecto cênico desse ambiente e os recursos naturais que ele possui.
Outros aspectos importantes a serem retratados são a infra-estrutura (transportes,
comunicação, edificações) e os serviços disponíveis (limpeza, recepção, condução e
Interpretação Ambiental), devendo ser bem estruturados para que os visitantes possam
usufruí-los e se sentirem satisfeitos. Com referência na análise da percepção ambiental para o
aprimoramento da IA, foram entrevistadas 47 pessoas, sendo aplicados os seguintes
questionamentos:
- O que motiva as pessoas a visitarem o PETP?
- Como os atores se relacionam com o PETP? Quais são suas sensações e os aspectos
topofílicos e topofóbicos em relação ao parque?
- Qual é o grau de satisfação e de aprendizado do visitante?
- Quais são os meios de interpretação preferenciais?
- Qual o seu grau de aprendizado no final da visita?
O perfil dos visitantes, abaixo delineado, não teve como finalidade caracterizar e
representar o universo dos visitantes do PETP, e sim identificar e qualificar o objeto de estudo,
ou seja, universo específico dos grupos entrevistados, facilitando a análise da percepção.
Gênero
64%
36%
masculino
feminino
Grau de Escolaridade
8,7%
21,7%
67,4%
2,2%
Grau
Grau
Superior
Não respondeu
Figura 16: A. Gênero dos visitantes entrevistados. B. Grau de escolaridade dos visitantes entrevistados.
A
B
74
Faixa etária
5%
3%
35%
30%
24%
3%
abaixo de 18
18- 20
21 - 35
36 50
51- 65
mais de 65
Figura 17: Faixa etária dos visitantes entrevistados.
Cidade de Origem
34,8%
4,3%
2,2%
2,2%
2,2%
4,3%
19,6%
2,2%
8,7%
8,7%
4,3%
6,5%
Rio de Janeiro
Niterói
Barra mansa
São paulo
Rio das Osras
Porto Alegre
Cachoeiras de Macacu
Itaboraí
Mari
São Gonçalo
Friburgo
Não respondeu
Figura 18: Cidade de origem dos visitantes entrevistados.
62%
16%
20%
2%
1 vez
2 a 5 vezes
vem sempre
não respondeu
0%
42%
24%
30%
4%
sozinho
de 2 a 4 pessoas
de 5 a 10 pessoas
mais de 10 pessoas
não respondeu
Figura 19: A. Número de vezes que o visitante já veio ao Parque Estadual dos Três Picos. B.Tamanho do grupo
de visitantes.
A
B
75
42%
22%
32%
4%
Há muitos anos
Há menos de um ano
Não conhecia
Não respondeu
Figura 20: A. Tempo que o visitante afirmava conhecer o PETP. B. Forma através da qual o visitante conheceu
o PETP.
100%
29,5%
6,6%
29,5%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Trilha do
Jequiti
Trilha do
Mirante
Trilha do
Pesquisador
Sede
administrativa
Trilha do Jequitibá
Trilha do Mirante
Trilha do Pesquisador
Sede administrativa
Figura 21: Locais visitados pelo público do PETP.
72,6%
20,5%
6,8%
Conhecer o jequitibá
Conhecer o jequitibá e
o mirante
Passear pela trilha
Figura 22: Principal motivo pelo qual o visitante veio ao PETP.
O público alvo é predominantemente jovem e adulto, com alto grau de instrução,
onde 65% dos entrevistados possuem de 21 a 50 anos, e 67,4% possuem curso superior. Os
2%
56%
4%
6%
10%
12%
10%
Televisão
amigos/parentes
jornal
placas ou folhetos
escola
outros
não respondeu
A
B
76
principais visitantes do PETP o os cariocas (34,8%), seguido dos moradores de Cachoeira
de Macacu (19.6%), São Gonçalo (8%) e Maricá (8%), ou seja, apesar da UC receber públicos
de outros locais e Estados, a maior parte dos visitantes são de cidades vizinhas ou próximas ao
parque. Cerca de 20% dos entrevistados visita o PETP com freqüência, um dado relevante que
indica que parte expressiva dos mesmos tem uma relação próxima, afetiva da unidade. A
principal divulgação foi a realizada através de indicação de amigos e parentes (56%).
Segundo os entrevistados, o grande motivador da visitação ao parque (figura 22) é o
Jequitibá-rosa milenar (93,1%), sendo a trilha o local mais visitado, freqüentada por 100%
dos entrevistados (figura 21). Logo, a Trilha do Jequitibá pode ser percebida como o
principal atrativo e meio de interpretação do PETP.
Quadro 11: Aspectos topofílicos do PETP segundo a percepção do visitante.
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de
significado
Trilha propícia à caminhada, bem cuidada, marcada.
Eu fiquei feliz de ver.... O caminho é muito
propício à caminhada, o parque. Você consegue
caminhar com tranqüilidade e segurança. Qualquer
idade, desde a criancinha ao senhor consegue subir, não
há risco de subida, estimula até chegar aqui.
Eu vim aqui.. Sei lá... com uns 10 anos. muito
bom.... Com degraus... Porque antes era trilha, não
tinham degraus, não tinha nada, placa no meio, lembra
disso? Isso aqui para quem quer fazer caminhada não é
bom né, isso aqui é melhor para quem quer ver mesmo a
árvore. Quem quer fazer caminhada vai na trilha do trem
(outra trilha do PETP). Vai fazer aquela. Quem vem
caminhar, isso aqui não é caminhada. É só para
conhecer mesmo a árvore. Eu até fiz um curso de
montanhismo, mas essa trilha não e para fazer
caminhada, é para trazer um pessoal assim. (se refere
aos amigos que trouxe).”
A trilha oferece tranqüilidade e
segurança.
A trilha é acessível para todas as
idades.
A trilha é estimulante.
Estou satisfeita.
Eu gostei das intervenções.
Essa trilha é adequada para conhecer
a árvore.
A finalidade da trilha não é de
realizar trekking, e sim de chegar até
o Jequitibá.
77
A gente não sabia como estava aqui, que estava
desse jeito, é bem legar saber que tem... na primeira vez
que eu vim, não tinha nada, tinha a trilhazinha até...
mas não tinha nada do que tem aqui... agora não, agora
bem diferente... sinalizado certinho, tem indicação,
bem legal (visitante e morador local).”
No caso a gente mora aqui e não sabia. Eu pensei
que era caminho tudo cheio de mato. Então a gente nem
esperava que teria uma placa indicando, falando, nós
imaginávamos diferente. Essa queria desistir. “Eu não
vou não”. Mas quando entramos, gente, foi ótimo. A
entrada então te chama para prosseguir. Aquele portal de
chama para prosseguir (visitante e morador local).
Foi tão perfeito. Continuar no desenvolvimento
das atividades do Parque... Por que como ele está novo...
E a própria trilha, está toda marcadinha, toda
bonitinha.
Era só uma trilhazinha no meio do mato, não
tinha degrau e tinha tomar cuidado com o pé. Tinha de
passar para e pra para não andar no mato. Agora
que eles abriram e limparam e está tudo no mesmo lugar.
aqui atrás que eles mudaram. Tinha que passar numa
pedra, um cipó que a gente agarrava... Agora eles
mudaram e botaram lá. Ah ficou mió. Cada vez endireita
mais. (visitante e morador local).”
Tinha muito lixo, vasilha de macumba, por que
eles colocam muita porcaria. Para os moradores foi bom,
por que limpou o lugar.
Por que a natureza... eles botaram o clima da
natureza com a árvore. A trilhazinha ficou certinha...
O turista percebeu melhorias no
local.
A sinalização e o manejo da trilha
são valorizados pelo visitante.
A trilha superou as expectativas do
visitante.
O portal e as placas são valorizadas
pelo visitante.
O PETP atendeu as expectativas do
visitante. O manejo da trilha é
valorizado pelo visitante.
A trilha, antes do manejo, oferecia
riscos ao visitante, o piso e corredor
não eram bem demarcados.
A abertura e limpeza do corredor,
junto com a alteração do traçado da
trilha para áreas mais favoráveis
foram valorizadas pelo visitante.
O vandalismo na trilha diminuiu
com a implantação do PETP.
A intervenção não causou uma
perturbação da paisagem.
78
entendeu? Não botando assim.... Concreto, essas coisas...
aí já tira o clima da mata, entendeu? Tá, tá ótimo.
E... as placas estão muito bem colocadas,
explicando, então existe uma informação. Existem as
placas explicativas, isso é crucial, inclusive educativas,
fala sobre o solo, sobre o lençol freáticos, as camadas,
isso é total educação. Existe explicação, você começa a
entender, e entendendo você preserva mais. Ser ignorante
é um caminho muito perigoso.
Tem as placas, a gente leu tudo, tiramos foto,
bem legalzinho, acho que perfeito. Aqui é bem seguro
também.
As placas interpretativas são
valorizadas e reconhecidas pela sua
importância pelo visitante.
O parque atendeu as expectativas do
visitante.
O local transmite a sensação de
segurança ao visitante.
Elo afetivo
Conheço um bocado de trilhas aqui pra dentro
antes mesmo de ser Parque. Aos 14 anos acampava aqui,
aqueles bons tempos, quando tinha mais água. Eu acho
que essa área, que é uma área que acabou sendo
preservada devido a altitude, ao relevo, então o que
proporcionou aqui na região uma certa preservação.
Essa área aqui é uma mata remanescente, ela sofreu
muita das influências, você vê café, você vê outras mudas
aqui espalhadas... É, tem muita interferência, mas ainda
tem esse grande prazer de você ver que o relevo de certa
forma acabou preservando um pouco essa área de Boca-
do-Mato, que isso aqui, quando eu era garoto, Boca do
Mato não tinha casa nenhuma, a gente vinha acampar em
Boca do Mato. Não tinha nenhuma casa, tinha uma
entrada, agora... Po, estou com 40, com 14 anos, 15
(quando vinha), uns 25 anos atrás. Duas décadas, mudou
muito a paisagem.
É maravilhoso. A gente nasceu aqui, então a
O visitante, antigo freqüentador da
área, consegue perceber a área em
função de seu contexto histórico de
ocupação e uso do solo.
O visitante percebe o local como
uma área alterada pelo homem
devido à presença de plantas
cultivadas, exóticas.
O visitante, morador local, percebe o
79
gente conhece isso aqui muito tempo, então, isso aqui
pra gente é vida, é nossa história, né? Preservar isso
daqui é o pouco do que a gente pode fazer (morador
local).
“Na verdade eu vim aqui por que eu gosto de contar
umas histórias para meu filho. eu conto a história do
Lobo Azul, que ele mora no Jequitibá. E eles têm
vontade de ver o jequitibá. eu prometi que ia levá-lo a
casa do Lobo Azul, o local onde ele mora. Entendeu, eu
vim aqui.
Gosto de ver essas árvores elas vindo de baixo
tão diretinho até em cima. Eu sei que tem anos e mais
anos que ninguém trabalhava que tinha muita pedra,
com certeza era cultivada de toda a vida. Mas não dava
pra trabalhar. Aí foi nascendo e crescendo toda vida
(árvores). Deve ser isso né? (morador local).
Vim quando não tinha nem trilha, vim um monte
de vezes. Eu sou nascido e criado aqui, quando você nem
pensava em vir aqui, igual você está estudando aqui, eu
sabia, eu vinha aqui. Mas não tinha trilha, trilha
certinha. Você vinha, mas vinha no meio do mato. Eu
conheci através do trabalho e a gente sempre comentava,
sempre falavam, meu pai, os meus tios, vinham aqui
buscar ervas, isso aqui quando eu era moleque, tinha uns
11 anos.
Aqui com aquela entradinha as pessoas sabem
que tem alguém cuidando. Aqui pode vir um casal, que
eles sabem que tem as pessoas que estão tomando conta
do parque.
parque como uma referência local.
O visitante aprecia a trilha como um
local de lazer com sua família.
O visitante aprecia o tamanho das
árvores.
Por ser morador local, sabe que a
área já foi cultivada e abandonada.
O visitante, antigo freqüentador do
local, percebe que agora realmente
há uma trilha implantada.
A trilha transmite cuidado e
segurança.
80
- Beleza e singularidade dos atrativos
Uma coisa chamou a minha atenção: o tamanho
das árvores. Realmente não é comum a gente achar
árvores tão grandes. Essa aqui, essa dali... todas elas são
árvores muito grandes (arvores entorno do jequitibá-
rosa). São árvores que ficaram.
Cada vez a gente aprende um pouco mais... eu
nunca tinha visto uma árvore grande como esta. Eu vi
árvores grandes, eu fui.... na Amazônia... Aqui em cima
(região serrana do RJ) também tem árvores grandes.
Caraca!!! (ao ver o jequitibá) É muito grande!
Gente, que linda né? Valeu a pena ter vindo!
Eu não gosto de andar e não gosto de planta...
deixa eu te explicar... eu não gosto de jardim, eu gosto da
floresta assim, que você não precisa regar, cuidar... é a
natureza. Eu gosto de planta assim, essa coisa nativa,
muito linda.
Eu nunca estive na floresta. Nascida e criada em
Cachoeiras. Parece que você está num silêncio... É uma
paz que não tem explicação.
Adorei tudo. O caminho, o cuidado, o lugar...
O jequitibá é muito lindo, mas a paz, a
tranqüilidade, a beleza...
Ah eu gostei. Uma trilha no meio da mata. Eu
nunca tinha feito trilha no meio da mata. Quero fazer
mais vezes.
O visitante aprecia o porte das
árvores.
O visitante aprecia o porte das
árvores.
O visitante valoriza o Jequitibá.
O visitante valoriza a paisagem.
O visitante valoriza e desfruta das
sensações de paz que o ambiente
natural proporciona.
O local atendeu todas as expectativas
do visitante.
O visitante valoriza não o
jequitibá, como paisagem e as
sensações que o ambiente
proporciona.
O local atendeu as expectativas do
visitante.
81
Se você fica em silêncio, quantos tipos de cantos
de pássaro você consegue ouvir? Coisa de doido!
Eu queria muito tempo vir conhecer essa
árvore. Mais as cavernazinhas, né cara... as cavernas são
show.
Eu gosto de tudo. Eu gosto de ver essa pedras tão
bonitas, de ver as árvores, de ver essas trilhas, eu gosto
de tudo. Acho legal o lugar. Tudo sossegado,
tranqüilo...
O visitante valoriza os cantos e a
diversidade da avifauna.
O visitante aprecia não só o jequitibá
como as grutas.
O visitante valoriza a paisagem e as
sensações que o ambiente
proporciona. O local atendeu as
expectativas do visitante.
Para os visitantes, o manejo e a revitalização da Trilha do Jequitibá atenderam ou até
superaram as suas expectativas. Eles valorizaram a presença das placas, o fácil grau de acesso
e as intervenções que minimizam possíveis riscos ao visitante, transmitindo a sensação de
segurança e de que existe um cuidado da área. Freqüentadores antigos comparam a trilha
antiga com a atual e percebem que a implantação do parque foi positiva (quadro 11).
É interessante perceber que grande parte dos visitantes do Parque possui uma visão
essencialmente estética da paisagem. O visitante do PETP aprecia a beleza da paisagem, a
avifauna, a singularidade da flora, além das sensações de bem estar, tranqüilidade e quietude
que o ambiente natural proporciona. Segundo Rodrigues (2001), é a visão de um estranho,
onde o mesmo julga pela aparência, por algum critério formal de beleza, já que não
desenvolveu uma história naquele local, se prendendo a dimensões concretas e sensoriais da
paisagem. Muitas das vezes, parecerem remeter ao neomito da natureza intocada de Diegues
(2001).
Os moradores locais geralmente percebem a UC como empecilho, uma vez que gera
uma série de restrições, antes inexistentes, ao uso dos recursos naturais. Para Kuhnen (2001),
a impossibilidade de apropriação e uso de um espaço leva conseqüente a ausência de
sentimentos de pertença e afetividade em relação ao mesmo, o que poderia levar a
depredação. Da mesma forma, a apropriação e identificação de um espaço estão associadas à
sua significação e valorização, ou seja, a possibilidade de desfrute estimula o cuidado e
proteção de um espaço, passando este a um significar um lugar. Os conflitos podem ser
minimizados na medida em que são oferecidas alternativas de renda, existindo uma crescente
necessidade de integrar a UC com a comunidade de seu entorno através do diálogo e
82
desenvolvimento de programas sócio-ambientais, tais como o estímulo ao eco turismo local e
a capacitação de condutores. Da mesma forma, as UC’s são valorizadas na medida em que se
tornam referência turística e ambiental local, prestadoras de serviços ambientais e educativos,
constituindo áreas de lazer e contemplação perante a sociedade.
Quanto ao morador ou freqüentador do local, a partir da análise do discurso, a sua
percepção não se detém simplesmente aos componentes biofísicos da paisagem. A visão do
local é acompanhada de vivências, da compreensão da área a partir de seu uso histórico. Ao
contrário dos visitantes comuns, por terem acompanhado o processo de ocupação percebem a
área como uma floresta alterada pelo homem e passível de sofrer degradação e não como
um local inatingível, intocado. Além disso, reconhecem e valorizam a área pela sua relevância
história, cultural e natural ao município, sendo parte da identidade do morador local.
Quadro 12: Aspectos topofóbicos do PETP segundo a percepção do visitante.
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de significado
Medo e aversão
Ah, os mosquitos.
Só de cobra e que eu tenho medo.
Abelha cachorra... Minha filha, nem queira
imaginar... Quando minha esposa abraçou e tal (o
jequitibá), ela agarrou no cabelo dela, uma confusão.
Eu fiquei traumatizada quando a abelha me
mordeu. Nunca mais eu quis vir! Eu pulei e corri para
pedra ali.
Eu teria medo de entrar. Ah... Eu tenho medo de
entrar! (cavernas). Se tiver um bicho dentro ai a gente
bota pra correr.
O usuário não gosta dos mosquitos do
PETP.
O visitante tem medo de se deparar
com cobras na trilha.
O usuário tem aversão à abelha-
cachorra presente no tronco do
jequitibá milenar.
O usuário tem aversão à trilha pela
presença da abelha-cachorra.
O usuário tem medo de se deparar com
animais, principalmente nas grutas.
Intervenções inadequadas
Eu fiquei mais... eu fiquei um pouquinho assustada
com o lixo. E tem uns ônibus, tem umas vans, e o ponto
O visitante ficou assustado com o lixo
espalhado na entrada de acesso ao
83
final das vans e que chega ate aqui e que faz Cachoeiras-
Boca do Mato. que tem muito lixo mesmo... muito
plástico, muito copo, muito tudo. Falta de educação, ?
Tem que ter uma lixeira
Só, por exemplo, acho estranho isso aqui né, vocês
construíram isso aqui, escada, lá.... Isso tudo. Eu não
gosto não. Eu não acho legal por que.. Sei lá, parece que
traz o urbano para pra dentro, aí dentro da floresta não
pode ter nada urbano. Mais rústica, lógico... que começa a
ficar muito fácil. A trilha para mim tem que ser normal,
aonde você vai se agarrando nas árvores, subindo nas
raízes. O máximo que pode ter é a gente e quando for
embora tem que levar tudo. Não pode deixar nada. Mas
com certeza devem ter trilhas. Como essa aqui é uma área
mais visitada por causa do jequitibá, então construíram
assim. Eu sou meio montanhista. Metido a montanhista.
Eu acho que foi legal ter feito o lance das trilhas.
Discordo um pouco... Dos degraus, eu discordo um pouco
disso, eu não acho muito legal isso não. É complicado, se
tornando um Parque, você passa a ter um visitante, e você
acaba tendo que criar essa infra-estrutura, tal, mas eu
acho que isso descaracteriza um pouco a imagem, a gente
vai entrando como se estivesse entrando em uma floresta,
não tinha pontezinha, não tinha escada, não tinha nada.
Claro que com o aumento de visitantes eu compreendo
ficar necessário de repente fazer essa...
“Aí diz “peguei isso aqui do jequitibá”, se todo mundo
pegar daqui a uns tempos... Vai ficar a foto. Olhe a
diferença de cima com aqui embaixo. Muita coisa, né? E
tem que ter alguém de plantão, por que senão, né, o povo
não preserva.”.
PETP.
O visitante discorda do grau de
intervenção, pois valoriza os
obstáculos que agregam aventura e
emoção na trilha.
Ele percebe que a intervenção foi
realizada pela demanda de visitantes ao
Jequitibá.
O visitante discorda das intervenções
em trilhas por descaracterizar o natural,
a paisagem.
Da mesma forma, reconhece a
necessidade de criar a infra-estrutura
ao visitante devido a suas expectativas
e ao manejo da trilha.
O usuário desaprecia o vandalismo no
jequitibá e acredita que o parque deve
se mobilizar para evitá-lo.
84
O visitante, de forma em geral, desenvolve aversão a animais e locais fechados e
escuros pela imprevisibilidade e pelos riscos que os mesmos oferecem. Da mesma forma que
impacta, polui e degrada os locais de visitação do Parque, o visitante desaprecia a presença de
lixo e vandalismo, atribuindo ao PETP a responsabilidade de minorar os impactos e preservar
a área (quadro 12).
Parte dos usuários do PETP, apesar de valorizarem a vivência plena das áreas
naturais e os obstáculos que agregam aventura e emoção na trilha, percebem que as
intervenções realizadas na trilha foram relevantes. Cuidados devem ser tomados para que as
intervenções não se descaracterizem o ambiente e se tornem grosseiras intromissões na
paisagem, sendo desvalorizadas e questionadas pelo visitante. Segundo Hanai & Netto (2006),
as instalações ecoturísticas, mesmo com o objetivo de conservação do ambiente, modificam a
paisagem e as características espaciais naturais, tornando-se necessário o seu adequado
projeto.
Quadro 13: Expectativas dos visitantes em relação ao PETP.
Discurso na linguagem do sujeito
Redução das unidades de significado
Presença de condutores e funcionários
Por ser um Parque deveriam ter pessoas que
estivessem dando uma assistência. Explicando por que é
um parque, não panfletando por que às vezes até jogam
fora, mas uma pessoa que viesse conscientizar, explicar a
importância, o que é uma copa de árvore, por que aqui está
mais fresco e aqui está mais quente, qual a importância de
existir um Parque ou não, eu acho que era importante ter
alguém... sei lá... dentro de um núcleo de Educação
ambiental, desenvolvendo essa... ação. Trabalho educativo
para as crianças, trilhas com música.
Eu entrei ali e não tinha ninguém para me
informar nada, certo. Entrei, vim passando e não vi nada.
Assim como eu sou uma pessoa consciente, poderia ser
uma pessoa inconsciente, que pegava a garrafinha d’água
aqui e jogava no meio do mato ali. Seria então
importantíssimo ter alguém para orientar oh: isso vai,
cuidado, não deixe isso, não deixe aquilo, apesar de estar
O visitante sente falta de funcionários
que possam estar sensibilizando o
visitante quanto à importância da
preservação e existência do parque.
O visitante acha necessário ter um
funcionário responsável por repassar as
normas de conduta consciente e
recomendações do PETP ao usuário,
independente de placas informativas ou
folhetos.
85
escrito, mas ter alguém para informar justamente isso,
entendeu, dar essas informações para as pessoas pararem
ali e receberem informações. É mais um respaldo que você
tem para preservar toda essa área.
Seria importante ter alguém aqui para de vez em
quando, por exemplo, alguém.... Hoje é um final de semana
prolongado. Deveria ter alguém do parque aqui, chegando
aqui oh... Vocês vão fazer? Vocês conhecem isso, isso,
aquilo.
Tinha que ter sempre uma pessoa também... assim,
rodando, tem aí não tem?
O visitante acha importante ter
intérpretes disponíveis ao visitante
comum nos feriados prolongados.
É importante ter guarda-parques
rondando a UC.
Lixeiras
Eu fiquei mais... Eu fiquei um pouquinho assustada
com o lixo. Lá na entrada. Onde tem os ônibus. que tem
muito lixo mesmo... Muito plástico, muito copo, muito tudo.
Tem que ter uma lixeira.
Por que aqui não tem uma lixeira? Aqui tinha que
ter uma lixeira. Por que tem pessoas que vem pra
bagunçar... não esquentam, tem uma lixeira pelo
menos passam... Ao invés de jogar ali, jogam aqui na
lixeira. Com certeza, estimula a pessoa só olhando aquilo.
Acho que aqui no jequitibá deveriam ter lixeiras,
tá. É um ponto onde todo mundo pára. E tem muita gente
que com certeza pára e esquece as coisas... Vamos dizer
assim. E acha de deixar as coisas. Então seria bom ter uma
lixeira. Pelo menos a pessoa olhando para a lixeira a
pessoa lembra de ter que colocar na lixeira e não em outro
lugar. E que a lixeira seja recolhida de tempos em tempos.
Tem que ter alguma indicação.
É necessário instalar lixeiras.
É necessário instalar lixeiras.
É necessário instalar lixeiras.
86
Sinalização deficiente
Deveriam ter mais placas, não nas trilhas, mas,
por exemplo, naquela estrada onde você chama bastante a
atenção das pessoas várias vezes. Pelo menos naquele
período adquire um pouco mais de confiança.
Senti falta de informação. Só a trilha do jequitibá é
que tem alguma coisa. Por exemplo, algumas árvores
poderiam ter plaquinhas indicatórias dizendo... Isso aqui é
um... Como você disse agora... Essa é uma árvore tal,
preserve, ela serve para isso, identificação para o que hoje
essa árvore serve. É, mas na borda da trilha, não vai
colocar longe que daqui a pouco vão fazer outra trilha,
entendeu, tem que ser na borda.
O que eu senti foi a informação sobre os tipos de
árvores. Essa outra árvore eu fiquei na dúvida do que
seria. Essa daqui eu sabia que era um jequitibá e aquela ali
sabia que era uma paineira, mas aquela ali eu fiquei....
Que árvore é essa? É uma árvore linda, grande.”
Vai ter plaquinhas nas árvores? Tipo do jardim
botânico?...”
Na trilha... o que falta nessa trilha é isso:
sinalização.
Deveriam colocar uma placa agressiva, mostrando
as leis e punições para agressão a um patrimônio histórico,
colocar medo, e explicar os impactos da ferida no caule da
árvore.
Acho que precisava inserir bancos ou placas para
impedir que as pessoas pisem nas raízes do jequitibá.
É importante ter placas educativas
parar o combate ou prevenção de
crimes ambientais, há maior respaldo.
Identificação e descrição das espécies
através de placas.
Identificação das espécies através das
placas.
O visitante se interessa em reconhecer
as árvores.
Identificação das espécies através das
placas.
Mais placas.
Placas educativas parar o combate ou
prevenção de impactos ambientais.
Placas educativas parar o combate ou
prevenção de impactos ambientais.
Bebedouros naturais
Uma nascentezinha. Um negocinho com água.
Fonte de água
87
Ainda mais quando fizer um verão, né?
Mas durante o período da trilha poderia ter um
lugar para beber, não poderia?
Aqui, outra coisa também... Isso dava pra captar...
Uns negocinhos de água, entendeu? Isso eu percebi...
Andei observando e não encontrei... vi um corregozinho
que pra beber uma água, mas que tinha que captar
algum cano, alguma coisa, e jogar, dar uma molhadinha...
Eu acho que tinha que ter. Por que visitante chega aqui,
não traz nada, chega aqui com a goela seca quer beber
água, quer beber água... aonde?
Era interessante colocar uns banquinhos naturais
na trilha.
Fonte de água
Fonte de água.
Local de descanso (bancos)
Segundo Irving (2002), assim como a demanda do ecoturismo em UC’s se amplifica,
cresce a exigência do turista do século XXI. O ecoturista, em sentido pleno, não quer apenas
observar, mas também quer conhecer o bem natural; e para isso busca os meios de acesso a
sua vivência integral na natureza. O usuário quer o ambiente natural preservado e por isso
sente a necessidade da presença de funcionários que conscientizem, orientem e informem o
público de forma a minimizar os impactos nos locais de visitação. Na percepção do visitante,
é importante ter funcionários circulando a Unidade, principalmente nos finais de semana
prolongados, de forma a garantir a segurança e a orientação do público. Os entrevistados
sentiram falta de lixeiras, fontes de água, locais de descanso (bancos) e placas educativas de
identificação de espécies arbóreas e de prevenção de crimes/impactos ambientais (quadro 13).
Ao final da visita, muitos ainda desejavam obter mais informações sobre o PETP,
principalmente sobre o seu aspecto histórico, seus principais problemas e sobre sua vegetação
(figura 23), sendo pontos a serem trabalhados no programa de IA da unidade.
88
0
5
10
15
seu papel
para
sociedade
sua
vegetação
seus
animais
sua
história
seus
problemas
o motivo
de sua
criação
outros
seu papel para sociedade
sua vegetação
seus animais
sua história
seus problemas
o motivo de sua criação
outros
Figura 23: Temas que visitante desejava obter mais conhecimento após a visita.
Quanto ao aprendizado, 66,6% dos visitantes consideraram ter aprendido algo na
trilha, e 33,4% afirmaram não ter aprendido nada na trilha uma vez que o aprendizado não era
o objetivo da visita (quadro 14). Dessa forma, a motivação do público para a reflexão e
aprendizado é diferenciada, o que o impede, no entanto, que o público desfrute da beleza,
singularidade e sensações topofílicas proporcionadas pela trilha (quadro 11), ou seja, se
sensibilize e desfrute daquele espaço.
Apesar da totalidade dos visitantes não ser enquadrada no conceito de turista, o
resultado apontado pelo quadro 14 pode estar relacionado à dinâmica do movimento turístico,
que é altamente diferenciada quanto ao deslocamento, finalidade, tempo de permanência,
oportunidades e anseios do turista. Segundo Ruschmann (1997), ainda a falta de uma
cultura ou consciência turística dos visitantes, que se comportam de forma alienada ao meio
que visitam e desfrutam, não assumindo a sua co-responsabilidade na conservação dos
espaços turísticos, da natureza e da originalidade das destinações. Entendem também o tempo
livre como algo a ser otimizado, e que tem direito ao uso daquilo pelo qual pagaram, ou seja,
desenvolvem a percepção distorcida do meio natural como mais um dentre os objetos de
consumo do destino turístico.
89
Quadro 14: Grau de aprendizado do visitante, segundo sua própria percepção.
Aprendeu
durante a visita
Comentários
Muito (44,5%)
Cada vez a gente aprende um pouco mais... Eu nunca tinha visto uma
árvore grande como esta.
Eu acho que a gente sempre aprende, a gente sempre está trocando,
conversei contigo, sentei, observei a árvore.
Algumas coisas
(22,1%)
Mais ou menos.
Fora do objetivo
(33, 4%)
A gente veio ver o jequitibá (não para aprender).
Eu não aprendi. Ainda mais que a gente não veio com o intuito de
aprender.
90
Quadro 15: Ordenamento dos meios de interpretação em função do grau de preferência dos visitantes.
Meio de
interpretação
Valor
Discurso na fala do sujeito
Redução das unidades de significado
Placas
informativas
69
Placas são ótimas, o olho no lugar certo.
Cara, para mim placas está perfeito. O resto é tranqüilo. Com placa a gente já vai
sozinho, tranqüilo.
A placa é muito eficiente.
A placa é suficiente para o visitante.
Trilhas com
guias
62
Trilhas com guias? Eu não acho importante isso. Se for do próprio Parque, tem de
ter uma pessoa para informar sobre conduta consciente. Seria então
importantíssimo ter alguém para orientar oh: isso vai, cuidado, não deixe isso, não
deixe aquilo, apesar de estar escrito, mas ter alguém para informar justamente isso,
entendeu, dar essas informações para as pessoas pararem ali e receberem
informações. É mais um respaldo que você tem para preservar toda essa área.
Só pode fazer com guia... Não é interessante isso.
Com guia é legal para quem não está acostumado, por que a gente já fez
caminhada um monte de vezes, no meio do mato, a gente prefere ficar a vontade.
Seria importante ter alguém aqui para de vez em quando, por exemplo, alguém....
Hoje é um final de semana prolongado. Deveria ter alguém do parque aqui,
chegando aqui oh... Vocês vão fazer? Vocês já conhecem isso, isso, aquilo”.
O guia é legal, ele traz informações. Mas as placas também... As placas são
importantes para dar a informação para pessoas como nós, mas o guia para dar as
informações complementares. É meio relativo.”
O guia é interessante para orientar o
usuário sobre a conduta consciente, mas
não necessariamente para percorrer a
trilha.
O guia é interessante para leigos e não
para pessoas experientes, que preferem
ficar a vontade.
O guia é importante para orientar os
visitantes.
Para os visitantes, as placas oferecem
informações básicas, e o guia, as
informações complementares.
Centro de
Visitantes
59
Qualquer coisa ligada ao Centro de Visitantes é legal. É tipo um museu.
-Como vocês preferem receber a informação? No centro de visitantes, na
trilha...?
-Na trilha é melhor.
O centro de visitantes é atrativo, mas os
visitantes preferem a trilha.
91
Quadro 15. Continuação.
Meio de
interpretação
Valor
Discurso na fala do sujeito
Redução das unidades de significado
Folhetos
explicativos
54
Folheto não que é mais papel... Nada que você vai gastar... tirado do ambiente
para fazer alguma coisa... tipo papel. Você vai usar papel para fazer alguma
coisa?
Folheto explicativo é algo interessante. Você pode levar e depois olhar com
calma.
Pega e joga fora.
O folheto é interessante, e pode ser lido
em outros momentos. No entanto, é muito
descartável.
Fotos e
pinturas
49
Mais para escola.”
É legal.”
Legal, é interessante para escolas.
Vídeos
44
“Vídeos? Fantástico. Que você não gasta nada. Você não vai machucar ninguém,
vai deixar o ambiente limpo, e só.
Vídeo, mas nem todo mundo tem, então é importante uma foto, um folheto...”
O vídeo nem todos têm disponibilidade,
mas é fantástico.
Palestras
44
Palestras e jogos e dinâmicas... Acho que é mais infantil, é super importante para
as crianças.”
Era mais interessante até mais interessante você participar de palestras dentro do
parque para que você tivesse acesso a isso (normas de conduta em áreas
protegidas). Seria importante isso, apesar de ser complicado.
Interessante para escolas.
Interessante mas de difícil execução.
Painéis e
pôsteres
40
Mais para escola.”
Interessante para escolas
Coleções de
fauna e flora
40
Legal, conhece um micromundo.
Mais para escola.”
Interessante para escolas
Jogos e
dinâmicas
35
Palestras e jogos e dinâmicas... Acho que é mais infantil, é super importante para
as crianças.
Interessante para escolas
92
Os entrevistados atribuíram pontos aos meios de interpretação recorrentes em UC de
acordo com seu grau de preferência. A partir do somatório dos valores atribuídos por cada
visitante a determinado meio, foi elaborado o quadro 15. Os visitantes apreciam
primeiramente receber informações em trilhas, dando preferência às placas interpretativas aos
guias. O guia é importante para orientar o visitante, fornecer informações e tirar dúvidas,
sendo sua presença valorizada pelo público, no entanto, as placas dão autonomia e liberdade,
o que parece determinar essa preferência. Depois das trilhas, o centro de visitante é o segundo
meio de interpretação mais apreciado, seguido dos folhetos explicativos. O folheto explicativo,
no entanto, não é valorizado em unanimidade pelos entrevistados por ser descartável e por não
garantir a orientação aos visitantes. Em seqüência seguem as fotos/pinturas, vídeos, palestras,
painéis/pôsteres, coleções de fauna/flora e jogos/dinâmicas, que são vistos como importantes
para as escolas.
6.2.1.3 A percepção dos alunos e professores
Como citado anteriormente, o usuário pode ser diferenciado entre visitantes comuns,
que buscam principalmente o lazer e a recreação, e as escolas (professores e alunos), que tem
como principal objetivo em sua visita obter conhecimentos e vivências ambientais. Dessa
forma, a percepção dos mesmos foi analisada separadamente.
Foram acompanhados e observados 7 grupos escolares. Não foi possível aplicar os
formulários as em função das restrições de horário, já que entrevistas semi-estruturadas
demandam tempo e disponibilidade do aluno e dos professores. Dessa forma, aplicaram-se os
questionários, mas em função ao curto tempo de permanência dos grupos na UC, poucos
alunos e professores preencheram ou devolveram os mesmo, totalizando 40 questionários
preenchidos. Para a análise da percepção ambiental para a IA, foram realizados os seguintes
questionamentos:
- Como se relacionam com o PETP? Quais são suas sensações e os aspectos topofílicos
e topofóbicos em relação ao parque?
- Qual é o grau de satisfação e de aprendizado do aluno/professor?
- Quais são os meios de interpretação preferenciais?
O perfil dos visitantes, abaixo delineado, não teve como finalidade caracterizar e
representar o universo dos grupos escolares que visitam o PETP, e sim identificar e qualificar
os grupos observados, facilitando a análise da percepção.
93
43%
57%
masculino
feminino
0%
31%
49%
5%
10%
5%
0%
0%
0-5
6-12a
13-17
18-21a
22-35
36-50
51-65
mais de 65
Figura 24: A. Gênero do grupo de alunos e professores nos quais se aplicou o questionário. B. Faixa etária
grupo de alunos e professores nos quais se aplicou o questionário.
66%
21%
0%
13%
Ensino
fundamental
Ensino médio
Superior
Professora
45%
3%
3%
49%
Nova Friburgo
Nitei
Bom Jardim
Cachoeiras de
Macacu
Figura 25: A. Grau de escolaridade do grupo de alunos e professores que preencheram o questionário. B. Cidade
de origem dos mesmos.
84%
16%
0%
É a primeira vez
2 a 5 vezes
vem sempre
31%
28%
41%
Há muitos anos
Há menos de um ano
Não conhecia
Figura 26: A. Número de vezes que o visitante já veio ao PETP. B. Tempo que o visitante afirmava conhecer o
PETP.
A
B
A
B
A
B
94
2%
19%
5%
0%
0%
16%
46%
7%
5%
TV -
amigos/parentes
jornal
Rádio
funcionarios do
parque
placas ou folhetos
escola
outros
não respondeu
Figura 27: Forma através da qual o visitante conheceu o PETP.
22,5%
22,5%
42,5%
33,7%
22,5%
20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
seu papel para
sociedade
sua vegetação seus animais sua história seus
problemas
o motivo de
sua criação
Figura 28: Temas sobre o PETP que o visitante desejava obter mais conhecimento após ter realizado a visita.
O público em questão é predominantemente jovem, no qual 66% dos alunos cursam
o ensino fundamental e 21% o ensino médio. São em sua grande maioria de Cachoeiras de
Macacu (49%) e Nova Friburgo (45%), apesar de receber eventualmente escolas de outros
municípios. Entre os alunos, 59% conheciam a existência da unidade pelo menos um
ano, mas somente 16% haviam visitado o local. As escolas são importantes na divulgação
do parque, uma vez que 46% deles conheceram o PETP através das mesmas.
Ao final da visita guiada, a maior parte dos alunos desejava obter mais informações
sobre o PETP, principalmente sobre o seu aspecto histórico e seus principais problemas
(figura 28). O resultado, semelhante à percepção do visitante, indica que esses temas são
possivelmente sub-interpretados, devendo ser repensados e melhor trabalhados para trilhas
guiadas e auto-guiadas.
A partir do somatório dos valores atribuídos por cada aluno a determinado meio de
interpretação, foi elaborado o quadro 16. Os alunos apreciam receber informações
95
primeiramente em trilhas com guias. Em seguida, através de coleções de fauna e flora, fotos e
pinturas, folhetos explicativos e dinâmicas/jogos. Os centros de visitantes, placas informativas
e vídeos, por sua vez, são menos valorizados, sendo as palestras o meio de interpretação
menos apreciado. É interessante observar que os visitantes comuns e os grupos escolares
possuem preferências distintas em relação aos meios de interpretação, ordenados praticamente
de forma inversa. Assim sendo, num programa de IA, é importante que se contemplem
diferentes meios de interpretação em função dos diversos públicos-alvo. A trilha, no entanto,
é consensualmente o meio de interpretação mais valorizado para todas as categorias de
visitante, o que ressalta a sua relevância para a promoção da IA no PETP.
Dentre as implicações do ordenamento dos meios de interpretação, é importante
ressaltar que o mesmo não justifica por si a restrição ou impedimento o uso dos de menor
grau de preferência, uma vez a escolha dos meios de interpretação é determinada o em
função das expectativas do visitante, como também dos diferentes objetivos, demandas e
disponibilidade de recursos humanos e financeiros da UC. Além disso, a possibilidade do
uso simultâneo e complementar de mais de um meio de interpretação para um mesmo
objetivo e atividade.
Quadro 16: Ordenamento dos meios de interpretação em função do grau de preferência dos alunos e
professores.
Meio de interpretação
Valor
Trilhas com guias
94
Coleções de fauna e flora
91
Fotos e pinturas
91
Folhetos explicativos
84
Dinâmicas e jogos
84
Centro de visitantes
82
Placas informativas
78
Vídeo
69
Palestras
55
Os aspectos topofílicos do aluno em relação ao parque foram agrupados em
categorias comuns, entre elas as sensações, os atrativos naturais e serviços/usos do PETP. As
sensações psíquicas positivas (bem estar, alegria, harmonia, combate ao stress) e
transcendentes (imensidão, Deus), além das sensações físicas agradáveis (vento fresco,
temperatura boa e ar puro) são comumente citadas. Os alunos se identificam e apreciam o
trabalho de conservação e cuidado com a floresta, a visita (caminhada, amigos) e as
96
informações dadas pelo guia, além do Jequitibá-rosa, a paisagem, as plantas, as grutas e a
fauna (barata d’água e abelha cachorra).
Os aspectos topofóbicos, por sua vez, podem ser categorizados em ações predatórias,
tais como a presença de itens religiosos na mata; a conduta inapropriada de outros visitantes,
como o desrespeito ao intérprete e alunos gritando; além dos insetos.
Os alunos também alimentam expectativas em relação à visita, como o avistamento
de animais, o que geralmente não ocorre em função dos ruídos e da distribuição esparsa e da
mobilidade da fauna, gerando insatisfação, tais como os relatos “Foi triste por que os animais
não apareceram na nossa visita”, “Foi ruim que a gente não viu nenhum animal”.
Para a elaboração de trilhas que levem em conta a observação de espécies da fauna
dentro de seu roteiro interpretativo, é necessário um estudo aprofundado da distribuição
ecológica e geográfica de cada espécie de acordo com a época do ano. Além disso, o estudo,
apesar de aumentar as chances e as possibilidades do avistamento de determinadas espécies,
de qualquer forma, não o garante. A fauna, apesar de ser considerada um forte atrativo e ser
muito valorizada por públicos jovens, possui distribuição geográfica pulverizada e sua
presença é inconstante ou eventual no interior e no entorno das trilhas, o que dificulta
explorá-la como um recurso interpretativo. O contato do visitante com fauna pode ser direto,
de forma ao mesmo poder visualizá-la e descrevê-la com detalhes, no entanto, grande parte
das espécies é sensível ao ruído e à presença humana, sendo um verdadeiro desafio ao
visitante avistá-las. O contato indireto, como a presença de rastros e pegadas e o
reconhecimento de sonorizações e cantos, por sua vez, é mais freqüente e viável de ser
explorado de forma interpretativa em trilhas, podendo ser igualmente atrativo através de um
trabalho de interpretação adequado.
De forma geral, é comum que os recursos faunísticos, no bioma Mata Atlântica,
sejam explorados em outros espaços através de recursos materiais e imóveis, tais como
painéis ilustrados e explicativos, fotos, vídeos, réplicas e coleções de fauna (insetários,
animais taxidermizados ou conservados em meios líquidos) em centro de visitantes. Assim,
todas essas possibilidades podem ser exploradas, cabendo a UC selecionar a melhor estratégia
para promover a interpretação da fauna.
97
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de o PETP oferecer atividades como palestras, passeios em trilhas e outras
atividades recreativas ou educativas, essas, na maior parte das vezes, não estão organizadas
em torno de um tema interpretativo e não possuem flexibilidade de forma a atender tipos
diferenciados de público.
O trabalho já desenvolvido na Trilha do Jequitibá possibilita sensibilizar o visitante e
estimular a sua curiosidade e seu interesse. Através do IAPI, pode-se perceber que um
consenso entre os pontos de interpretação considerados. No entanto, não há um roteiro
temático estabelecido, os assuntos são abordados diferentemente por cada condutor, sem
haver necessariamente uma interconexão entre os mesmos e uma idéia central dotada de
significado. Apesar da grande riqueza de atrativos e temáticas, sem a adoção de um tema
norteador, a Interpretação fica limitada à transmissão de conteúdos, informações e
curiosidades sobre o local e seus diversos recursos. Ou seja, embora sejam agregados alguns
valores sobre a proteção ambiental, as informações são trabalhadas de maneira fragmentada e
desassociada do cotidiano do visitante. A partir dos dados gerados no presente trabalho,
espera-se ter ofertado subsídios para a definição de roteiros, que deve estar inserida no
programa de Interpretação Ambiental do PETP, sendo discutidos, reformulados e aprimorados
de maneira sistematizada e consensual.
Apesar de não atender a todos os princípios da IA, a trilha do Jequitibá pode ser
considerada uma trilha com caráter e potencial interpretativo, no entanto, os pontos acima
frisados devem ser trabalhados de forma a implementar e desenvolver plenamente a
Interpretação Ambiental. O fato das trilhas não serem consideradas plenamente interpretativas
não significa que impede que as mesmas cumpram sua função social quanto à conscientização
98
e sensibilização. Significa, na realidade, que o potencial da trilha como instrumento de
Educação Ambiental é parcialmente explorado.
Apesar de sua relevância para a promoção da Interpretação Ambiental nas UC’s, a
trilha interpretativa será apenas um dos meios educativos utilizados em uma determinada área
e o seu planejamento deve ser feito de forma integrada com os demais. Para a implementação
de um programa de Interpretação pleno no PETP, é necessário levar em consideração diversos
fatores, entre eles a identificação do público alvo, ou seja, a caracterização do perfil do
visitante, sua motivação e expectativas em relação à UC; definir claramente os objetivos da
interpretação na instituição; realizar o inventário interpretativo dos recursos locais, gerando
dados estratégicos; a escolha subseqüente dos meios e técnicas apropriadas para o público da
UC; e a avaliação dos resultados através do monitoramento, garantindo o aperfeiçoamento e a
adequação do programa de Interpretação Ambiental.
Através da metodologia do IAPI, foi possível compilar um amplo leque de atrativos e
temas de condução, e através dos valores obtidos, selecionar com maior embasamento os
pontos de parada e/ou interpretação. Além disso, a técnica permitiu a contribuição de pessoas
com experiência em condução e membros externos de diversas formações, constituindo uma
equipe multidisciplinar de observadores, mostrando-se eficaz e utilitária para o planejamento
da IA. Os dados gerados através do IAPI subsidiaram a elaboração da apostila “Sugestões de
atividades educativas e interpretativas na trilha do Jequitibá (apêndice 5), que tem como
finalidade traduzir os resultados do presente trabalho em linguagem mais objetiva e acessível
para guias, funcionários da UC e professores de forma a amenizar a carência de informações e
a incentivar a promoção da IA. O documento também foi elaborado como uma forma de
facilitar a aplicabilidade e o retorno das informações para a sociedade.
A partir do estudo e caracterização da percepção ambiental dos visitantes, foi
possível gerar dados sobre as características e preferências dos visitantes e no monitoramento
dos impactos da IA, auxiliando no aperfeiçoamento contínuo das técnicas e métodos aplicados
de Interpretação Ambiental. A técnica pôde ser identificada como uma ferramenta potencial
de avaliação e indicador importante para a administração e manejo das atividades turísticas
em espaços naturais. Dentre as informações relevantes geradas pela análise da percepção dos
atores, destaca-se a compreensão limitada dos visitantes sobre a finalidade da UC e a
necessidade de capacitar os condutores do PETP para, através de recursos e técnicas para
minorar a dispersão e despertar o interesse, promover a conscientização ambiental em todos
os públicos. As intervenções e manejos na trilha foram valorizados e apreciados pelos
visitantes, sendo considerados adequados ao público do PETP. Dentro das discussões e ações
99
da IA, é imperativo promover a integração e a capacitação dos educadores como parceiros e
multiplicadores ambientais; oferecer meios de interpretação diferenciados para grupos
escolares e visitantes e inserir na interpretação as questões cio-culturais locais, tais como a
história e problemáticas do PETP. O estudo da percepção pode ainda levantar uma gama de
expectativas e sugestões dos visitantes, indicativos de ações que podem ser desenvolvidas
para melhorar a qualidade e a satisfação do visitante.
As trilhas interpretativas, enquanto um produto turístico e meio educativo, devem
ser fundamentadas num conhecimento confiável, preciso e integrado. A trilha do Jequitibá
apresenta em seu entorno singulares espécimes da flora da Mata Atlântica, entre elas inúmeras
plantas medicinais, madeiras de lei, orquídeas e bromélias. A diversidade da vegetação e a
presença de espécies de relevância econômica e medicinal são potenciais atrativos das trilhas,
no entanto, não um levantamento oficial da flora do entorno das trilhas do PETP, não
estando catalogadas, ou muito menos identificadas e sinalizadas, as relevantes espécies
vegetais ali presentes.
Não como dissociar a Interpretação Ambiental de outras práticas relacionadas ao
plano de uso público da Unidade de Conservação. Por exemplo, um projeto de instalação
turístico adequado (infra-estrutura, acesso e serviços) reflete no projeto de visitação
(Interpretação Ambiental), que estarão auxiliando conjuntamente na conservação de
valorização dos recursos naturais e culturais, enriquecendo a experiência do turista. Quando
não há infra-estrutura ou programas de visitação, há a desvalorização da UC e da qualidade da
experiência. Um Plano de Uso Público que leve em consideração todas essas questões
possibilita um melhor aproveitamento e capacidade da visitação da UC. A estruturação de
programas de visitação devem também contemplar a avaliação dos impactos desta prática,
definindo a capacidade de suporte da área natural e avaliando os impactos e os efeitos da
visitação no espaço natural. Dessa forma, levantamentos das principais espécies vegetais de
potencial interpretativo presentes no entorno das trilhas e estudos de capacidade de carga são
demandas que necessitam ser contempladas em outros estudos.
A partir das discussões, análises e dados gerados, espera-se ter contribuído para o
enriquecimento da literatura sobre a utilização das trilhas como instrumento educativo e
pedagógico e para valorização e implementação dos estudos de percepção ambiental e de
programas de IA em Unidades de Conservação, práticas recentes, ainda incipientes, mas
progressivamente reconhecidas perante suas contribuições. Em específico, ao Parque Estadual
dos Três Picos, fornecido subsídios para que se promovam ações no aprimoramento da
Interpretação Ambiental.
100
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105
ANEXOS
106
107
Anexo 1: Jogo Árvore da Vez.
108
109
110
111
112
Anexo 2: Folhetos explicativos do PETP.
113
114
115
APÊNDICES
116
Apêndice 1: Formulário para visitantes.
Querido visitante do Parque Estadual dos Três Picos,
Estamos fazendo uma pesquisa para sabermos o perfil dos visitantes, qual a sua percepção sobre o
ambiente e o que acham sobre as informações disponibilizadas pelo Parque Estadual dos Três Picos.
Os dados levantados farão parte do trabalho de uma dissertação de mestrado da Pós-graduação de
Ciência Ambiental/UFF, e sepreservada a identidade dos entrevistados. Você, ao preencher todo o
questionário, estará concorrendo a uma camisa e dois adesivos do parque, que serão sorteados até o
final do ano de 2007. Agradecemos desde já a sua colaboração!
Data ____/____/____ Hora:___: ___ Nome: __________________________________________
Telefone de contato: ( )_________________ E-mail:_____________________________________
( ) Trilha do Jequitibá ( ) Trilha do Mirante ( ) Trilha do Pesquisador ( ) Centro de visitantes
1. Qual o principal motivo pelo qual você veio visitar o Parque?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
2. O que você avistou e o que gostou na sua visita ao parque quanto a...:
Plantas:___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Animais:___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Paisagem:_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Outros:____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
3. Há algo que o incomodou em sua visita? Há algo que sentiu falta durante a sua visita?
Sentiu falta:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Incomodou:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
4. Você acha importante preservar a área do Parque Estadual dos Três Picos? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, por quais motivos?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5. Após a visitação, você sentiu falta de saber mais sobre algo do Parque?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
6. Das opções abaixo, ordene de forma decrescente a forma que gosta de receber informações
sobre o meio ambiente.
( )folhetos explicativos
( )vídeos
( )fotos e pinturas
( ) placas
( )palestras
( ) trilhas com guia
( )jogos e dinâmicas
( ) painéis e pôsteres
( ) coleções de fauna e flora
( ) outros_________________________________________________________________________
7. Como você enxerga o Parque dos Três Picos? (pode assinalar mais de um tópico)
( )local de proteção das florestas e rios ( )local para ensino e aprendizado
( )local a ser explorado economicamente pelo homem ( )como um problema
117
( )local para lazer e ecoturismo
( )outro _____________________________________________________
8. Você gostaria de contribuir voluntariamente em alguma atividade no Parque Estadual dos
Três Picos? ( ) Sim ( ) Não tenho vontade / não tenho disponibilidade
9. Gênero ( ) masculino ( ) feminino Idade______________
10. Se você é brasileiro: Cidade onde mora___________________________ Estado______________
Se você é estrangeiro: País ____________________________________________________________
11. Escolaridade (concluída ou em curso):
( ) 1º Grau ( ) 2º grau ( ) Superior, curso de ______________________________________
12. Quantas vezes você já veio ao Parque?
( ) É a primeira vez ( ) 2 a 5 vezes ( ) vem sempre
13. Está visitando o Parque: ( ) com guia ( ) sem guia
13. Você está.... ( ) sozinho ( ) 2-4 pessoas ( ) 5 a 10 pessoas ( ) mais de 10 pessoas
14. Você conhecia a existência do Parque Estadual dos Três Picos antes dessa visita?
( ) sim, há muitos anos ( ) sim, há menos de um ano ( ) Não conhecia
Se já conhecia, como soube da existência do Parque?
( )TV ( )rádio
( ) amigos/parentes ( )placas ou folhetos
( ) jornal ( )escola
( )Outros__________________________________________________________________________
Sugestões:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Muito obrigado!
118
Apêndice 2: Questionário voltado para as escolas.
Querido visitante do Parque Estadual dos Três Picos,
Estamos fazendo uma pesquisa para sabermos o perfil dos visitantes, qual a sua percepção sobre o
ambiente e o que acham sobre as informações disponibilizadas pelo Parque Estadual dos Três Picos.
Os dados levantados farão parte do trabalho de uma dissertação de mestrado da Pós-graduação de
Ciência Ambiental/UFF, e sepreservada a identidade dos entrevistados. Você, ao preencher todo o
questionário, estará concorrendo a uma camisa e dois adesivos do parque, que serão sorteados até o
final do ano de 2007. Agradecemos desde já a sua colaboração!
Data ____/____/____ Hora:___: ___ Escola: __________________________________________
Telefone de contato: ( )__________________ E-mail:____________________________________
( ) Trilha do Jequitibá ( ) Trilha do Mirante ( ) Trilha do Pesquisador ( ) Centro de visitantes
1. Qual o principal motivo pelo qual você veio visitar o Parque?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
2. O que você avistou e o que gostou na sua visita ao parque quanto a...:
Plantas:___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Animais:___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Paisagem:_________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Outros:____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
3. Há algo que o incomodou em sua visita? Há algo que sentiu falta durante a sua visita?
Sentiu falta:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Incomodou:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
4. Você acha importante preservar a área do Parque Estadual dos Três Picos? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, por quais motivos?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5. Após a visitação, você sentiu falta de saber mais sobre algo do Parque?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
6. Das opções abaixo, ordene de forma decrescente a forma que gosta de receber informações
sobre o meio ambiente.
( )folhetos explicativos
( )vídeos
( )fotos e pinturas
( ) placas
( )palestras
( ) trilhas com guia
( )jogos e dinâmicas
( ) painéis e pôsteres
( ) coleções de fauna e flora
( ) outros________________________________________________________________________
7. Como você enxerga o Parque dos Três Picos? (pode assinalar mais de um tópico)
119
( )local de proteção das florestas e rios ( )local para ensino e aprendizado
( )local a ser explorado economicamente pelo homem ( )como um problema
( )local para lazer e ecoturismo
( )outro _________________________________________________________________________
8. Você gostaria de contribuir voluntariamente em alguma atividade no Parque Estadual dos
Três Picos? ( ) Sim ( ) Não tenho vontade / não tenho disponibilidade
9. Gênero ( ) masculino ( ) feminino Idade______________
10. Se você é brasileiro: Cidade onde mora__________________________ Estado_______________
Se você é estrangeiro: País ___________________________________________________________
11. Se aluno: qual a sua série?___________
Se educador: qual a sua escolaridade? ( ) 2º grau ( ) Superior, curso de ______________________
12. Quantas vezes você já veio ao Parque?
( ) É a primeira vez ( ) 2 a 5 vezes ( ) vem sempre
13. Está visitando o Parque: ( ) com guia ( ) sem guia
14. Você está.... ( ) sozinho ( ) 2-4 pessoas ( ) 5 a 10 pessoas ( ) mais de 10 pessoas
15. Você conhecia a existência do Parque Estadual dos Três Picos antes dessa visita?
( ) sim, há muitos anos ( ) sim, há menos de um ano ( ) Não conhecia
Se já conhecia, como soube da existência do Parque?
( )TV ( )rádio
( ) amigos/parentes ( )placas ou folhetos
( ) jornal ( )escola
( )Outros___________________________________________________________________________
Sugestões:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Muito obrigado!
120
Apêndice 3: Ficha de campo de caracterização ambiental.
Local
Parque Estadual dos Três Picos
Folha nº
FICHA DE CAMPO
Trilha
Responsáveis técnicos:
Data
Adaptado de Costa (2006b)
Características físicas da trilha
Impactos atuais do uso da trilha
Distância:
Obs.:
UTM:
Nº. seção:
Er
Lrg
Dpl
Dpp
Alt
Nbi
SE
CV
AR
Lit
Lx
Vd
Lat
Lam
Sc
Dre
CA
Distância:
Obs:
UTM:
Nº seção:
Er
Lrg
Dpl
Dpp
Alt
Nbi
SE
CV
AR
Lit
Lx
Vd
Lat
Lam
Sc
Dre
CA
Distância:
Obs:
UTM:
Nº seção:
Er
Lrg
Dpl
Dpp
Alt
Nbi
SE
CV
AR
Lit
Lx
Vd
Lat
Lam
Sc
Dre
CA
Distância:
Obs:
UTM:
Nº seção:
Er
Lrg
Dpl
Dpp
Alt
Nbi
SE
CV
AR
Lit
Lx
Vd
Lat
Lam
Sc
Dre
CA
Distância:
Obs:
UTM:
Nº seção:
Er
Lrg
Dpl
Dpp
Alt
Nbi
SE
CV
AR
Lit
Lx
Vd
Lat
Lam
Sc
Dre
CA
Legendas
Características Físicas
Lrg
Largura
Dpl
Declividade Paralela
Dpp
Declividade perpendicular
Alt
Altitude
Nbi
Número de bifurcações
Impactos atuais do uso da trilha
SE
Solo exposto (cm)
CV
Cobertura vegetal viva (cm)
AR
Afloramento de rocha (cm)
Lit
Serrapilheira/litter (cm)
Lx
Lixo (n)
Vd
Vandalismo (n)
Er
Erosão: Lateral (Lat), Laminar
(Lam),Sulco (Slc) – (n)
Dre
Presença corpos d’água
CA
Canaletas de drenagem
Observações
121
Apêndice 4: Ficha de campo do potencial interpretativo.
Local
Parque Estadual dos Três Picos
Folha nº
FICHA DE
CAMPO
Trilha
Responsáveis técnicos:
Data
Legenda: Par- distância parcial, Tot- distância total; Inf- inferior, Md- médio, Sup- superior; 1p- primeiro plano, md- médio plano, fnd- plano de fundo;
Vis- visual, Au- auditivo, Ta- tátil, Ol- olfativo; Σ soma , ΣTt- soma total. Adaptado de Costa (2006b).
Distância
Pt
Os pesos devem ser multiplicados pela intensidade do
atrativo
1= presente 2=grande quantidade 3= predominante
Espaço dispon
Posição
Escala
Estím
Soma
Observações
Par
Tot
Peso do
Indicador
1
2
3
1
1
1
3
2
1
2
1
1
1
Σ
ΣTt
(m)
Atrativo
<10
<20
<30
inf
md
sup
1p
md
fnd
vis
au
ta
ol
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
1
Apêndice 5. Sugestões de atividades educativas e interpretativas na Trilha do Jequitibá
SILVIA MARIE IKEMOTO
SUGESTÕES DE ATIVIDADES EDUCATIVAS E INTERPRETATIVAS NA
TRILHA DO JEQUITIBÁ- PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS
PARA GUIAS E PROFESSORES
Niterói, RJ
2008.
2
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO..........................................................................................................3
2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA ANTES DAS TRILHAS...............................4
2.1 Preparando o visitante ................................................................................................4
2.2 Estimule o planejamento e agendamento da visita ......................................................4
2.3 Informe as normas de visitação do parque ..................................................................4
2.4 Estimule a conduta consciente....................................................................................5
3 INTERPRETANDO O PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS ................................8
3.1 O Parque Estadual dos Três Picos...............................................................................8
3.1.1 Qual a importância do parque para a sociedade e o motivo de sua existência?... 10
3.1.2 Como eu posso conhecer e visitar o parque?..................................................... 10
3.1.3 Atividades desenvolvidas no Parque Estadual dos Três Picos............................ 12
3.2 A Mata Atlântica...................................................................................................... 14
3.3 A floresta ................................................................................................................. 15
3.4 O solo.......................................................................................................................17
3.5 A água...................................................................................................................... 18
4 INTERPRETANDO A TRILHA DO JEQUITIBÁ......................................................... 23
4.1 Formas divertidas de dividir grandes grupos............................................................. 23
4.2 Considerações para o intérprete................................................................................ 24
4.3 Roteiro de interpretação da Trilha do Jequitibá......................................................... 26
3
1 APRESENTAÇÃO
Este material é um subproduto da dissertação do Mestrado em Ciência Ambiental da
Universidade Federal Fluminense intitulado As trilhas interpretativas e sua relevância para
promoção da conservação: o caso do Parque Estadual dos Três Picos (PETP), RJ”.
O objetivo desta compilação foi o de organizar e sistematizar informações geradas a
partir da dissertação de forma torná-las acessíveis aos guias, condutores e professores,
capacitando-os e contribuindo para a Interpretação Ambiental em áreas naturais, em especial
o Parque Estadual dos Três Picos (PETP).
Gostaria de agradecer a toda a equipe de 2007 do PETP, que colaborou e foi
fundamental para a concepção e elaboração dessa cartilha, oferecendo sugestões, informações
e apoio.
É importante ressaltar que esse trabalho não tem caráter definitivo ou conclusivo,
mas sim sugestivo, devendo ser questionado, adaptado, revisado e atualizado conforme a
necessidade do professor, guia, condutor ou funcionário da referida Unidade de Conservação.
Sugestões, críticas e dúvidas podem ser enviadas para o e-mail da autora
([email protected]), estando o material disponível em formato digital para amplo
acesso. Este trabalho está disponível para reprodução, desde que seja feita a devida citação.
4
2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA ANTES DAS TRILHAS
2.1 Preparando o visitante
Grande parte do público que visita as Unidades de Conservação (UCs) não conhece
as normas e diretrizes de visitação de uma área protegida, reproduzindo comportamentos e
posturas de ambientes urbanos, inadequados e impactantes para o meio natural. Rádios,
animais de estimação, calçados inapropriados, lixo e bebidas alcoólicas são exemplos
recorrentes em Parques. Dessa forma, o processo educativo inicia-se anteriormente à
visitação da UC.
Tanto os intérpretes como os professores devem estimular a conduta consciente,
educando-os quanto à postura em ambientes naturais.
Abaixo, estão princípios de visitação em áreas naturais protegidas extraídas do
Manual do Condutor Ambiental (Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo) e do Programa
de Conduta Consciente em Ambientes Naturais (Ministério do Meio Ambiente). Aproveite e
multiplique essa prática!
2.2 Estimule o planejamento e agendamento da visita
- As Unidades de Conservação possuem regulamentos e restrições. Conscientize e
estimule o visitante a tomar sempre conhecimento dos mesmos antes de visitar as UCs,
ligando para o mesmo ou buscando informações na secretaria de turismo ou internet.
- Nem todos os Parques oferecem o mesmo tipo de infra-estrutura, condições e
serviços, como lanchonetes, fontes de água e intérpretes. Incentive o visitante a planejar e
agendar sua visita. O PETP não possui lanchonete e pontos de água em suas trilhas, por isso,
é necessário que o visitante traga água e lanche.
- Ao realizar o agendamento, avise o visitante sobre as roupas adequadas (sapatos
fechados, roupas leves e confortáveis), a infra-estrutura existente e deficiente (como a
inexistência de lanchonetes e fontes de água), horário de funcionamento e a proibição dos
animais domésticos em UCs.
2.3 Informe as normas de visitação do parque
A visitação, quando mal conduzida e orientada, pode provocar grandes impactos às
áreas naturais. Cabe ao intérprete e ao educador buscar conhecer e informar as normas
existentes para a visitação, sensibilizando o visitante e aos alunos e garantido a preservação
5
desses espaços. Abaixo estão as normas de conduta consciente em ambientes naturais e
diversos exemplos de narrativas que buscam facilitar o trabalho de conscientização.
2.4 Estimule a conduta consciente
Respeite o local
Ao entrarmos na trilha, estaremos entrando na casa das plantas e animais que vivem
na floresta. Assim como pedimos licença e respeitamos quando vamos à casa de alguém, aqui
devemos fazer o mesmo. Vamos fazer silêncio, não jogar lixo e deixar tudo como foi
encontrado.
Tire somente fotos, deixe somente pegadas, mate somente o tempo e leve apenas suas
memórias.
“É proibido coletar qualquer material dentro de Unidades de Conservação, e assim
também é no Parque Estadual dos Três Picos.”
“Deixe cada coisa em seu lugar”.
“Vamos respeitar esse espaço para os outros visitantes apreciarem as trilhas e o
ambiente da forma como nós o encontramos”.
“A trilha do Jequitibá recebe no mínimo 50 visitantes por mês. Imagine se todos
levassem “lembranças”?”
“Resista à tentação de levar lembranças para casa. Deixe pedras, sementes, flores,
mudas, galhos etc., onde você os encontrou, para que outros visitantes também possam
apreciá-los”.
“Num passeio numa floresta, muitos gostam de levar bromélias para seus jardins,
folhas, galhos, sementes ou pedrinhas de lembrança. No entanto, a floresta é dinâmica, e tudo
o que existe nela tem importância.”
“As folhas secas, galhos e troncos caídos, por exemplo, servem de abrigo para
insetos e anfíbios, além de se transformarem em adubo para as árvores. As bromélias o
capazes de armazenar água, sendo a morada de larvas de libélulas, rãs, e bebedouro de
pássaros e insetos. As sementes caídas são alimentos para animais, podem germinar e se
transformar em novas plantas.”
6
“Tirando folhas, galhos, sementes e bromélias, estaremos roubando a casa, a comida
e o bebedouro de diversos animais”.
Siga as trilhas pré-determinadas e não use atalhos.
“As trilhas são uma área de sacrifício na floresta, onde o solo é constantemente
pisoteado e compactado, o que dificulta a penetração das raízes e a regeneração da mata.
Repare que no corredor da trilha não vegetação. Assim, a área do piso da trilha deve ser o
mínimo possível e o estritamente necessário.”
“Os atalhos favorecem a erosão e a destruição das raízes e mudas de plantas da
floresta”
“As trilhas são áreas projetadas, construídas e monitoradas de forma a oferecer a
melhor qualidade de visitação, menor impacto ao meio ambiente e menor risco ao visitante.
Sair das trilhas significa encontrar condições opostas: menos atrativos, maiores impactos
ambientais e maiores riscos de acidentes.”
“Atalhos ou incursões fora das trilhas podem levar a situação de extremo risco, como
a queda em precipícios, buracos e acidentes com animais silvestres.”
“Mantenha-se na trilha mesmo se ela estiver molhada, lamacenta ou escorregadia. A
dificuldade das trilhas faz parte do desafio de vivenciar a natureza.”
Recado aos fumantes
“Leve pote plástico para acondicionar as guimbas de cigarro”
“Desfrute do ar puro e evite fumar no interior do parque”
Além de poluir o ar ao seu redor, uma única ponta de cigarro pode causar um
incêndio de grandes proporções”.
“A ponta de cigarro demora um tempo extremamente longo para ser absorvida.”
Traga de volta o seu lixo
“Leve um saco plástico para armazenar o lixo que for produzido dentro do parque, e
traga-o de volta após o seu passeio.”
“Seja cidadão: ajude a manter limpo o Parque Estadual dos Três Picos”.
Faça silêncio no interior das trilhas. Respeite os outros visitantes e os animais
“O ruído excessivo na trilha afugenta e perturba a fauna local.”
7
“Com barulho, há poucas chances de avistar pássaros, ou micos.”
“Converse baixo, não utilize rádio ou celular no áudio.”
“Respeite os outros visitantes.”
“Aprecie os sons da natureza. Ande em silêncio, preservando a tranqüilidade e a
sensação de harmonia que a natureza oferece”.
Respeite os animais
“Não alimente os animais silvestres. Eles têm uma dieta diferente da nossa, e não
podem perder suas habilidades de se alimentarem na natureza. Além disso, podem acabar se
acostumando com comida humana e passar a invadir os acampamentos e casas em busca de
alimento, danificando barracas, mochilas e outros equipamentos.”
“Observe os animais à distância. A proximidade pode ser interpretada como ameaça
e provocar ataque, mesmo de pequenos animais. Além disso, animais silvestres podem
transmitir doenças graves.”
É proibido trazer animais domésticos (exceto cães guia)
“Eles podem reagir negativamente ao encontrarem animais silvestres.”
“Os animais domésticos podem transmitir doenças graves para os animais silvestres,
causando um enorme impacto, e vice-versa.”
8
3 INTERPRETANDO O PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS
3.1 O Parque Estadual dos Três Picos
O Parque Estadual dos Três Picos (PETP) foi criado em 5 de junho de 2002 e é a
maior unidade de proteção integral do estado do Rio de Janeiro, com uma área
equivalente a aproximadamente 46.350 ( o equivalente a 46.350 campos de futebol
semelhantes ao Maracanã). Cerca de 2/3 da área do Parque está inserida no município de
Cachoeiras de Macacu, e o ponto mais alto da unidade, os famosos Três Picos, encontra-se no
município de Nova Friburgo, Salinas.
Figura 1. Três Picos, Salinas. Nova Friburgo. Foto da Autora
A magnanimidade do Parque Estadual dos Três Picos reflete-se na sua abrangência
(5 municípios): Nova Friburgo, Silva Jardim, Guapimirim, Teresópolis e Cachoeiras de
Macacu. Observe a figura 2.
9
Figura 2. Mapa do Parque Estadual dos Três Picos. Fonte: SEMADS/IEF, (Adaptado).
10
3.1.1 Qual a importância do parque para a sociedade e o motivo de sua existência?
O Parque dos Três Picos é de grande importância para o contexto de preservação do
Estado do Rio de Janeiro, pois a criação do parque representou o acréscimo de 75% em toda
a área protegida por parques e reservas estaduais do Rio de Janeiro.
O PETP também atua como uma área de integracão de área florestal junto ao
Parque Nacional da Serra dos Órgãos e à Estação Ecológica do Paraíso, o que é estratégico
para minimizar os efeitos da fragmentação e a extinção de espécies sensíveis à ação humana.
O parque também garante proteção de grande parte das nascentes e mananciais
hídricos que abastecem o leste da baía de Guanabara, com uma população estimada em
mais de 1 milhão de habitantes, sendo estratégica para a gestão dos recursos hídricos e para
qualidade de vida dessa população. A bacia do Macacu, cujas nascentes estão protegidas pelo
PETP, é responsável pelo abastecimento dos municípios de Itaboraí, São Gonçalo e Niterói.
Devido a sua expressiva extensão e a grande variação altimétrica, que abrange desde
100m até 2330 m de altitude, ou seja, áreas com grandes diferenças de clima e temperatura, o
parque abriga paisagens variadas de grande beleza cênica e possui elevados níveis de
biodiversidade.
A proximidade do Parque aos grandes centros urbanos, como Niterói e Rio de
Janeiro, e sua conexão estratégica com o circuito turístico serrano (Friburgo, Teresópolis e
Petrópolis) corroboram sua grande potencialidade e vocação educativa e ecoturística,
podendo ser um vetor de desenvolvimento econômico das comunidades locais.
3.1.2 Como eu posso conhecer e visitar o parque?
O PETP conta atualmente com três núcleos operacionais acessíveis ao público:
Núcleo Salinas (Nova Friburgo), Núcleo Jacarandá (Teresópolis) e Núcleo Boca do Mato
(Cachoeiras de Macacu).
Esta cartilha está direcionada para o núcleo de Boca Mato, localizado em Cachoeiras
de Macacu, devido a seu grande potencial educativo. As características de suas trilhas, de
curta distância e de fácil nível técnico, unido à presença de fortes atrativos como o exemplar
de Jequitibá-rosa (sendo seu nome científico Cariniana legalis), estimado em mil anos de
idade, tornaram as mesmas em principal alvo do trabalho de educação e interpretação
ambiental do Parque.
11
Figura 29: Núcleo Boca do Mato, Cachoeiras de Macacu.
A. Sede administrativa. B. Portal de entrada da trilha do Mirante. C, D. Atrativos da trilha do Mirante. E.
Jequitibá-rosa com idade estimada em 1000 anos de idade. F. Centro de Visitantes, ainda em construção.
Figura 30: Núcleo Salinas, Nova Friburgo.
A. Sede administrativa. B. Três Picos, formação rochosa que dá origem ao nome do Parque.
Figura 31: Núcleo Jacarandá, Teresópolis.
A. Casa de apoio em construção. B. Remanescentes florestais do PETP em Teresópolis.
B
E
F
D
C
A
A
B
12
Além desses três núcleos, o PETP possui uma sala de apoio dentro da Estação
Ecológica Estadual do Paraíso (EEEP) no município de Guapimirim, também sendo
considerada um núcleo.
Figura 32: Núcleo Estação Ecológica Paraíso, Guapimirim.
A. Atrativos existentes nas trilhas. B. Escritório cedido pela Estação Ecológica ao PETP.
3.1.3 Atividades desenvolvidas no Parque Estadual dos Três Picos
Muito ao contrário do que a maior parte da sociedade imagina, um Parque
desenvolve inúmeras outras atividades além da visitação e o lazer. Vamos conhecer abaixo as
principais atividades e ações desenvolvidas pelo PETP para a conservação do meio ambiente
e para a sociedade.
Combate a incêndios
O PETP conta com o apoio do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de
Janeiro para o combate de incêndios dentro e no entorno de sua área. O Núcleo de Prevenção
a Incêndios Florestais está localizado na sede de Cachoeiras de Macacu. O incêndio é um dos
piores inimigos da floresta, uma vez que destrói grandes áreas em apenas poucos dias.
Você sabia...
Através das técnicas mais recentes e atuais de restauração ambiental, é possível
recuperar a médio prazo (30 anos) áreas degradadas com bons resultados. No entanto, nem
sempre todas as áreas o recuperáveis, e os custos para alcançar esses resultados são
altíssimos. Em média, o custo de restauração por reflorestamento de uma área gira em torno
de R$8.000 a R$12.000 por hectare.
Um incêndio destruiu 300 hectares de floresta. Quanto custaria a restauração por
reflorestamento dessa área? A partir desse cálculo, percebemos o quanto é caro reflorestar, e o
quão fácil é destruir uma floresta.
A
B
13
R: A recuperação por plantio de árvores (reflorestamento) custaria em torno de R$ 2.400.000.
Educação Ambiental
A Educação Ambiental tem como finalidade promover a preservação ambiental
numa perspectiva de médio a longo prazo através da sensibilização e conscientização da
sociedade. Dentro desse trabalho, são realizados:
- visitas guiadas recreativas e educacionais de unidades de ensino público e privado,
associações e ONG’s nas trilhas interpretativas do parque ;
- participação em eventos escolares, ões sociais comunitárias e demais eventos em
instituições públicas e privadas;
- Oficinas, palestras, exposição de material informativo e educacional.
Vigilância e fiscalização
As ações de vigilância e fiscalização têm como finalidade garantir a proteção das
áreas naturais do Parque e de seu entorno. Entre os principais crimes ambientais que ocorrem
no PETP e que são combatidos em operações de fiscalização, podemos citar:
1) Desmatamento para agricultura, principalmente de banana, hortaliças e
leguminosas, particularmente nos assentamentos realizados pelo INCRA antes da criação do
PETP, em Cachoeiras de Macacu;
2) Implantação de pastagens;
3) Especulação imobiliária (condomínios e outros);
4) Caça de diversas espécies de aves e mamíferos;
5) Extração de espécies vegetais para fabricação de carvão ou comercialização, como
no caso do palmito.
Uso público: visitação e lazer
O Parque realiza atendimento ao visitante através do agendamento de visitas e da
disposição de guias e oferece inúmeras atrações. O monitoramento e manutenção das áreas de
uso público, por sua vez, buscam assegurar a minimização dos impactos da visitação e
garantir a qualidade da experiência e a segurança do visitante. Por exemplo, a instalação de
corrimões, degraus, pontes, que diminuem o risco de acidentes e a inserção de placas
informativas e interpretativas, que agregam atratividade e informação em suas trilhas.
14
3.2 A Mata Atlântica
Qual é o tipo de formação vegetal no RJ? É a Mata Atlântica, que abriga florestas, manguezais,
restingas, dunas e brejos. Suas florestas tem como característica árvores de folhas largas que não caem
no outono, alcançando entre 30 até 45m de altura, ricas em bromélias e orquídeas.
Figura 33: Parque Estadual dos Três Picos, Cachoeiras de Macacu, RJ
Qual é a situação atual da Mata Atlântica no RJ? Apesar de sua beleza e importância, foi quase
que completamente destruída, sobrando poucos trechos de floresta. A população depende da
conservação da floresta para a garantia do abastecimento de água, a regulação do clima, a fertilidade
do solo, entre outros.
Figura 34: Degradação da Mata Atlântica.
Assim, os trabalhos de reflorestamento são de extrema importância para recuperação da Mata
Atlântica.
MATA ATLÂNTICA E BIODIVERSIDADE
As florestas tropicais por suas condições de umidade e calor são os ecossistemas
terrestres que dispõem da maior diversidade de seres vivos. Entre elas a Mata Atlântica,
segundo estudos levados a efeito nas últimas décadas é a floresta que apresenta a maior
quantidade de diferentes espécies arbóreas. Foram localizadas mais de 450 diferentes espécies
de árvores em apenas um hectare de mata no sul da Bahia e 476 espécies em um hectare nas
15
serras do Estado do Espírito Santo. Numa comparação simplificada existem mais plantas e
animais diferentes em um hectare de Mata Atlântica do que em toda a Alemanha.
3.3 A floresta
A floresta é essencial para a conservação dos rios e do solo. Abaixo, são elencados
alguns dos principais benefícios da floresta.
Umidade
As árvores impedem que os raios do sol e os ventos fortes atinjam diretamente o
solo, evitando que a água nele contida seja perdida. Dessa forma, graças à floresta, o solo
retém umidade mesmo depois de muito tempo após a chuva.
Combate à erosão e ao empobrecimento do solo
A floresta atua como um amortecedor da chuva. As gotas de água, que caem com
grande velocidade, são amortecidas pelos galhos e folhas das árvores, e em seguida, pela
camada de folhas secas que reveste o solo da floresta. Quando a água finalmente chega ao
solo, ela já não tem praticamente nenhuma velocidade ou força. Nas áreas de floresta, o solo
se mantém estruturado, cheio de poros e fofo devido à proteção das árvores e das folhas secas,
o que permite a penetração de toda a água da chuva.
O solo nu, sem a proteção das árvores e de suas folhas secas, recebe diretamente a
água da chuva. As gotas, em alta velocidade, pulverizam continuamente o solo, desfazendo os
grãos de terra.
Couto, 1989
Figura 35: Ação da chuva sobre os grânulos do solo.
A figura acima demonstra o efeito de uma gota sobre um grânulo do solo. Imagine
agora o efeito de sucessivas e milhares de gotas. A terra fina fecha os poros do solo. A terra,
antes semelhante a uma esponja, se torna semelhante a um tijolo maciço.
16
Figura 36: Efeitos da chuva sobre os grânulos do solo.
A primeira figura representa um solo exposto, maciço, enquanto que a segunda figura
mostra o solo protegido pela vegetação e folhas secas, poroso e cheio de vida.
Nos solos expostos, a água não penetra com facilidade e acaba escorrendo pela
superfície, carregando grandes volumes de terra, principalmente a matéria orgânica. O
resultado é a erosão, o empobrecimento e a degradação do solo.
O processo de erosão é mais intenso nos morros e encostas, pois há um maior
escorrimento da água na chuva na superfície. Nesses locais, o efeito de proteção da vegetação
tem grande importância. As raízes das plantas formam verdadeiras malhas entrelaçadas de
contenção do solo, e impedem que ocorra o deslizamento durante o período de chuvas.
Fertilidade
A floresta fornece tanto matéria orgânica quanto condições de temperatura e sombra
ideais para os microorganismos do solo. As folhas e partes mortas das próprias espécies
florestais, ao caírem, irão se decompor e se transformar em matéria orgânica (adubo). A
matéria orgânica é importante para a retenção de água no solo e para nutrição das plantas.
Além disso, têm a capacidade de granular os terrenos, deixando-os areados e fofos.
Como dito anteriormente, as árvores impedem que os raios do sol e os ventos fortes
atinjam diretamente o solo. A pequena variação da temperatura e da umidade favorecem os
microorganismos que vivem no solo e que são importantes para a aeração e para a
decomposição da matéria orgânica, transformando-a em adubo para as plantas.
Prevenção ao assoreamento dos rios.
A presença da mata nas margens do rio previne o assoreamento. Na ausência da
mata, os rios se alargam, com o desbarrancamento das margens. Os rios também se tornam
17
cada vez mais rasos, com a entrada de terra durante as chuvas. Esse processo é chamado de
assoreamento.
Figura 37: Assoreamento dos rios.
3.4 O solo
O solo demora séculos para ser formado e é à base de toda existência vegetal, animal
e humana, sendo necessário protegê-lo e manejá-lo adequadamente.
Por que alguns solos são pretos, outros vermelhos...?
Os solos possuem uma grande variedade em sua coloração. A cor está relacionada
com os componentes do solo. A cor avermelhada é devido à presença de óxido de ferro. A cor
amarelada dependem da presença de óxidos hidratados. A cor cinza ou preta se deve a
presença de grandes teores de matéria orgânica.
As plantas possuem vida, mas e o solo? O solo é algo sem vida?
Se não fosse a grande quantidade de vida que existe no solo, as folhas, galhos e tudo
que cai das árvores e arbustos da mata ficariam acumulados, formando pilhas de lixo florestal.
A decomposição contínua ocorre devido aos fungos, bactérias, minhocas, entre outros seres
vivos presentes no solo.
Por não estar ao alcance de nossos olhos, muitas pessoas desconhecem a rica vida
que existe debaixo de nossos pés. Em muitos casos, podemos encontrar mais seres vivos em
um punhado de terra na mata do que todos os seres humanos da terra!
A importância dos solos protegidos pela floresta
Devido a sua grande capacidade de armazenamento, os solos atuam como grandes
armazéns de água. A impermeabilização dos solos através da construção de habitações,
18
estradas, ruas e indústrias, impede que água da chuva penetre no solo. A presença da
vegetação aumenta ainda mais a quantidade de água infiltrada no solo A impermeabilização e
o desmatamento são uns dos grandes responsáveis pelas inundações das cidades..
O solo da mata atua como uma esponja que absorve a chuva e deixa passar a água
lentamente para as camadas mais profundas. A água que é absorvida e filtrada pelo solo é
limpa, e constitui uma excelente fonte de água potável para o ser humano.
O solo da floresta é rico em matéria orgânica, e fornece nutrientes e água para as
raízes das plantas. Sem o solo, não haveriam as plantas, base da vida na Terra.
3.5 A água
Matas ciliares
Figura 38: Rio com mata ciliar versus rio sem mata ciliar.
As florestas influenciam na qualidade e proteção dos rios, lagos e dos reservatórios
de água subterrânea. As margens dos rios o protegidas por uma vegetação chama de Mata
de Galeria ou Mata Ciliar. Elas recebem esse nome por que assim como nossos cílios
protegem nossos olhos de poeiras e detritos, as matas ciliares protegem os rios do
assoreamento, além de fornecer sombra, impedindo o superaquecimento da água, e
oferecendo frutos, folhas e sementes para os animais aquáticos.
Infiltração e retenção de água
A cobertura vegetal desempenha importante papel no ciclo da água, pois retém a
água que vai reabastecer o lençol freático, que é uma camada do solo que tem grande
capacidade de retenção de água. Através da evapotranspiração (evaporação + transpiração)
19
das folhas das plantas, as plantas repõem o vapor d‘água no ar, permitindo a formação das
chuvas. Assim, a retirada da floresta desmatamento interfere negativamente no ciclo da água.
Figura 39: Ciclo hidrológico.
Nas áreas florestadas, a água da chuva penetra quase completamente no solo, atingindo o
subsolo, onde fica retida no lençol freático. O subsolo funciona como uma verdadeira caixa d’água,
armazenando as águas do período de chuvas. Essa água acumulada abastece lentamente durante o todo
o ano as nascentes e os rios. Em locais desmatados, pouca parte da água das chuvas penetra no solo, o
que acarreta em enxurradas e enchentes e muita pouca água retida. Com pouca água no subsolo,
muitas nascentes e rios secam ou diminuem sua vazão de água.
Figura 40: Taxa de infiltração e escoamento da água.
20
A figura acima representa através de setas a taxa de infiltração e escoamento da água. Nas
florestas, a taxa que infiltração da água é maior que a de escoamento, e em outros sistemas a taxa de
escoamento é maior que a de infiltração. Nas cidades, perceba que a infiltração é muito reduzida pela
impermeabilização do solo (asfalto, concreto, cimento, etc.). A conseqüência é a enchente nas cidades,
e com a crescente destruição das florestas, a redução da água dos rios e nascentes.
A bacia hidrográfica
Uma bacia hidrográfica é toda a área geográfica por onde a água escorre para um
mesmo corpo d’água, seja um rio ou um sistema de rios e lagos. Bacia hidrográfica, então, é
toda a área que as águas percorre para formar o conjunto de rios de uma região, desde suas
nascentes (Projetos Doces Matas, 2002b). O rio que dá nome a Bacia é o rio principal, no qual
os rios menores deságuam. Por exemplo, a Bacia do Macacu tem como rio principal o Rio
Macacu.
Toda água de um rio tem como destino encontrar o mar, ou seja, as bacias
hidrográficas se encontram com o Oceano. Como pode ser percebido, a qualidade e
quantidade de água de uma bacia estão ligados ao estado de seus rios contribuintes.
Figura 41: Bacia hidrográfica.
21
A bacia hidrográfica do Rio Macacu e o PETP
A Bacia do rio Macacu, com cerca de 1.260 km2, corresponde a 27% do total da área
da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara. Essa bacia engloba parte dos municípios de
Cachoeiras de Macacu (90% de sua área), Guapimirim (95%) e Itaboraí (l2%).
O Macacu, em termos de recursos hídricos, é a mais importante fonte de
abastecimento dos municípios de São Gonçalo e Niterói, cuja captação se no canal de
Imunana. Cerca de 2,5 milhões de habitantes, inclusive dos municípios de Cachoeiras de
Macacu, Guapimirim e Itaboraí, dependem dele. Grande parte de suas nascentes e rios estão
sendo protegidas pelo Parque Estadual dos Três Picos, que tem fundamental importância para
garantir a conservação desse manancial para essa população.
A Bacia do Rio Macacu sofre diversos impactos. Além da poluição por esgotos,
contaminação por agrotóxico (poluição difusa), muito utilizado nas lavouras da região. A
intensa retirada de areia, sem preocupação com o meio ambiente, ocasionando o surgimento
de buracos no leito dos cursos d’água, a destruição da mata ciliar; desbarrancamento das
margens, o aprofundamento da calha dos rios, modificação dos regimes dos rios e o
comprometimento das fundações de pontes, entre outros.
Figura 42: Bacia do Rio Macacu.
22
A linha em vermelho representa o limite da Bacia. O ponto em azul indica o local de
captação da água do Rio Macacu, o sistema Imunana-Laranjal, a partir do qual a água é
distribuída para Itaboraí, São Gonçalo e Niterói. O Sistema Imunana-Laranjal (rio Macacu)
capta cerca de 7,0m3 de água por segundo, ou seja, até 604.800m3 de água por dia!
23
4 INTERPRETANDO A TRILHA DO JEQUITIBÁ
4.1 Formas divertidas de dividir grandes grupos
Cada trilha tem uma capacidade de carga, ou seja, um número máximo de pessoas
que a mesma comporta sem que se prejudique a sua estrutura ou afete a qualidade da
visitação. De forma em geral, o ideal é que os grupos não ultrapassem o número de 30
pessoas. Ao se deparar com grupos maiores que o de 20 pessoas, recomenda-se que sejam
subdivididos em dois ou mais subgrupos. Cabe ao guia decidir quais atividades diferenciadas
pode propor para cada grupo. Por exemplo, aplica uma dinâmica, jogo ou filme a um grupo,
enquanto o outro percorre a trilha, e vice-versa.
Para suavizar essa fragmentação e tornar a atividade mais prazerosa, sugere-se as
seguintes atividades para divisões de grupo, extraídas e adaptadas do Manual para Excursões
Guiadas, Projeto Doces Matas (2004).
- Quebra cabeças de cartões postais ou fotos.
Cartões postais e fotos da flora, fauna e de pontos atrativos do Parque (o número de
cartões/fotos é igual ao de subgrupos) são cortados em pedaços (número de partes é igual ao
número de participantes por grupo). Entrega-se cada pedaço a cada um e todos tentam montar
os quebra-cabeças. Os que conseguirem formar o mesmo quebra-cabeça pertencem a um
subgrupo.
Se você não souber o tamanho certo do grupo, corte diversos cartões postais ou fotos
em diferentes meros de peças e separe-os em tipos, por exemplo, fotos de mamíferos da
mata atlântica e fotos de aves da mata atlântica. Conte no momento da visitação o mero de
participantes e separe a quantidade certa de cartões e peças. As pessoas que montarem os
quebra-cabeças do mesmo tipo, por exemplo, os mamíferos, pertencem a um subgrupo, e os
das aves da mata atlântica, outro subgrupo.
Aproveite a oportunidade para dar informações sobre a imagem do quebra-cabeça,
que poderá estrategicamente escolhida.
- Vozes de animais
24
Selecione animais da floresta que produzem sons bem diferentes, tais como: rã,
cascavel, onça-parda, macaco-prego, pica-pau, cigarra. Estabeleça um número de animais
conforme o número de subgrupos que você pretende formar. Comunique secretamente o nome
de um dos animais a cada participante. Faça isso aleatoriamente e em voz baixa. Quando
todos souberem o nome, pede-se que imitem as vozes dos animais simultaneamente. Os
integrantes de cada subgrupo se identificam, já que imitaram o mesmo animal.
Uma variação da atividade é, ao invés dos sons, pedir para que os participantes
imitem o comportamento do animal.
Aproveite a oportunidade para falar sobre o animal, seu comportamento e sua
vocalização.
- Sementes e frutos da Mata Atlântica
Em um saco não transparente, coloque frutos secos ou sementes de diferentes tipos (o
número de tipos é igual ao número de subgrupos). Para cada tipo, o mesmo número de
sementes/frutos (o guia deverá ajustar de acordo com a quantidade de pessoas,). Cada um
pega um semente/fruto. Os participantes que tirarem a mesma semente/fruto fazem parte de
um subgrupo. As sementes ou frutos devem ser coletados de árvores fora dos limites do
Parque.
Exemplos de sementes apropriadas: palmito Jussara, pau-brasil, Angelim, irizeiro.
Exemplos de frutos apropriados: jequitibá, cedro, jacarandá-mimoso.
- Nomeie os grupos
A partir das atividades acima descritas, nomeie cada grupo. Se você não estiver
disposto a elaborar as dinâmicas acima propostas, você pode simplificadamente selecionar
nomes de animais, plantas ou atrativos e pedir aos participantes para que escolham qual deles
prefere. Por exemplo, grupo onças-pardas e grupo jequitibá. Nomear o grupo cria um senso de
identidade e de equipe, estimulando os participantes.
4.2 Considerações para o intérprete
Adequar a atividade com o perfil de seu público-alvo
25
É importante que a apresentação seja direcionada de acordo com o visitante. Para
alcançar sucesso, o intérprete deve programar a atividade pensando em seu público alvo. Não
vale a pena preparar um roteiro técnico para um público leigo.
Aguçando os sentidos
Ao iniciar uma trilha em ambiente natural, busque despertar a percepção dos
participantes, aguçando seus sentidos e prestando atenção aos detalhes.
- Busque dirigir a atenção para que realmente escutem os sons da mata (pássaros,
sons da água, etc.).
- Ressalte as diferenças entre o exterior e o interior da mata quanto à luz,
temperatura, odor, umidade e luminosidade, percebendo que há grandes diferenças.
- Estimule aos visitantes a relatar que sensações eles experimentaram ao percorrer a
trilha.
Desmistificando falsas expectativas
Muitas das vezes o visitante, principalmente o aluno, tem noções ou expectativas
inadequadas sobre a mata, idealizando um local intocado pelo homem onde terá oportunidade
de ver muitos animais. Dessa forma, esclareça desde o início que os animais têm uma
distribuição pulverizada nos ambientes e que em sua maioria fogem do contato com o ser
humano, dificultando sua visualização direta. Em uma caminhada diurna ou noturna, numa
mesma trilha, o visitante terá diferentes oportunidades de visualizar animais e perceber o
ambiente. Grande parte dos animais de grande porte como a suçuarana e jaguatirica são
noturnos, o que impossibilita a sua visualização no horário permitido para transitar nas trilhas.
Estimule o visitante a apreciar a trilha como um todo
De forma em geral, o grande estímulo para que os visitantes realizem uma caminhada
é o destino final da mesma, representado por cachoeiras, grutas, lagos e, neste caso, no
Jequitibá-rosa. Cabe ao intérprete conduzi-lo de forma a distribuir o estímulo durante todo o
percurso, ou em incentivá-lo a apreciar a área visitada como um todo, não criando expectativa
somente no destino final.
26
4.3 Roteiro de interpretação da Trilha do Jequitibá
TRILHA DO JEQUITIBÁ
Informações gerais
A trilha é composta por uma vegetação fechada, com árvores de médio a grande
porte. Apesar de sua exuberância, é uma mata secundária, ou seja, ela foi devastada
pelo homem, estando num estágio intermediário de recomposição ou recuperação. Esse
fato pode ser comprovado pela presença na trilha de espécies cultivadas pelo homem e não
comuns nas florestas, tais como a bananeira e laranjeira, e da dominância de espécies
secundárias, tais como o monjolo. As espécies secundárias o caracterizadas por árvores
de médio e grande porte, sendo uma mata intermediária à mata original.
É possível encontrar em abundância liquens de variados formatos e cores nos
troncos das árvores da trilha do jequitibá, que dificilmente poderão ser observados em
árvores próximas a centros urbanos. Os liquens são bioindicadores da qualidade do ar.
O visitante deve ser instigado a observar uma grande variação de temperatura,
luminosidade e umidade entre o ambiente externo e o interior de uma trilha. A floresta cria
as condições necessárias para a formação de um microclima, promovendo sombra e
retendo umidade.
No término de 2006, foi realizado o trabalho de manejo e recuperação da trilha do
jequitibá, com a alteração do traçado da trilha, confecção e manutenção de drenos e
canaletas e implantação de degraus de madeira reaproveitada. É possível visualizar essas
intervenções por toda a trilha.
Pontos de
interpretação
Atrativos e temáticas abordadas
Portal de
Entrada
(0m)
Placa interpretativa. Nesse primeiro momento, é importante
aproveitar as informações disponíveis na placa de entrada para informar o
usuário sobre o trajeto que será percorrido (percurso, a distância, duração
e os atrativos da trilha), além de conscientizá-lo a respeito das normas e
recomendações de conduta.
Nível de dificuldade: leve ou fácil
Distância: 290m de extensão, 580m de percurso.
27
Tempo médio de caminhada: 40 a 60 minutos
Atrativos: 1. Riacho Bonito 2. Terrário do solo 3. Gruta 4. Jequitibá
Materiais alternativos. Um detalhe interessante é o suporte da placa,
feita de plástico reciclado que imita perfeitamente a madeira. O portal de
madeira, segundo os funcionários, foi confeccionado com material
reaproveitado da própria Unidade.
Espécies de
interesse
(6m)
Urtiga, planta herbácea, provoca intensa coceira no ser humano.
Mudas de jequitibá-rosa, plantio realizado pelo PETP.
Marianeira, planta herbácea com saboroso fruto comestível.
Aperta-ruão, planta da família Piperaceae, apresenta várias
variedades e é presente ao longo de toda a trilha.
Jaqueira
(26m)
A Jaqueira é uma planta exótica, originária da Índia, introduzida no
Brasil pelos seus frutos comestíveis e saborosos. Pela grande produção de
sementes, o alto índice de germinação e o rápido crescimento, acabou se
espalhando com rapidez nas florestas alteradas pelo homem. A presença
da jaqueira na trilha indica que essa área já foi alterada pelo homem,
constituindo uma mata secundária.
Espécies de
interesse
Arbusto (27m), seus frutos roxos são alimento para o Tangará.
Monjolo, Angico e bromélias (33m). São plantas epífitas. Não são
parasitas da árvore, ao contrário do que muitos pensam. São
bebedouros naturais para pequenos animais disponíveis no meio da
floresta.
Grutinha
(40m)
As grutas constituem abrigo para animais noturnos e suporte para
plantas rupícolas. É comum encontrar rastros e pegadas em seu
interior.
Contação de histórias sobre a gruta, trabalho lúdico para crianças.
Não é permitido ir até a gruta.
Cedro rosa
(50m)
Cedro rosa, madeira de lei, esse espécime chama grande atenção por
ter se fixado e crescido em cima de uma grande pedra.
Irizeiro é uma palmeira nativa, seus frutos são alimentos para
roedores e esquilos.
Jequitibá-rosa. Indivíduo jovem de uma das maiores árvores da Mata
28
Atlântica.
Espécies de
interesse
de laranja (69m), resquício da ocupação humana e que comprova
que é uma mata secundária.
Monjolos caídos (80m), local com muitas árvores caídas. Os troncos e
galhos servem como abrigo para insetos e animais, e ao se decompor
irão se transformar em adubo para o solo. As árvores caídas são em
maioria espécies secundárias, caracterizadas por ter médio a grande
porte e viverem de 25 a 100 anos.
Cipós (90m). Local rico em cipós. Importante para deslocamento e
tráfego de animais pela floresta.
Flor de cera (90m). Arbusto, família Rubiáceas, apresenta uma
floração de cor chamativa.
Negamina (93m). Planta utilizada ritualisticamente, que tem cheiro
muito forte e agradável.
Cedro-rosa
Jequitibá-branco
Córrego e
placa ciclo da
água
(118m)
Riacho. É um afluente do Rio Macacu. A Bacia do Macacu, em
termos de recursos hídricos, é a mais importante fonte de abastecimento
dos municípios de São Gonçalo e Niterói, cuja captação se dá no canal de
Imunana. Cerca de 2,5 milhões de habitantes, inclusive dos municípios de
Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Itaboraí, dependem dele. Grande
parte de suas nascentes e rios estão sendo protegidos pelo Parque
Estadual dos Três Picos, que tem fundamental importância para garantir a
conservação desse manancial para essa população.
Fauna: barata d’água (bioindicadora da qualidade da água) e pássaros
Mata Ciliar. As florestas influenciam na qualidade e proteção dos
rios, lagos e dos reservatórios de água subterrânea. As margens dos rios
são protegidas por uma vegetação chama de Mata de Galeria ou Mata
Ciliar. Elas recebem esse nome por que assim como nossos cílios
protegem nossos olhos de poeiras e detritos, as matas ciliares protegem
os rios do assoreamento, além de fornecer sombra, impedindo o
superaquecimento da água, e oferecendo frutos, folhas e sementes para os
animais aquáticos.
29
Espécies de
interesse
(120m)
Rabo de galo. Espécie de palmeira cujo formato das folhas lembra um
rabo de galo.
Palmeira Jussara (Euterpe edulis). É uma espécie ameaçada de
extinção devido a retirada de seu palmito, que leva à morte da planta. O
extrativismo ilegal da palmeira Jussara um dos grandes problemas do
PETP. É importante para fauna, pois seus frutos são alimento para micos,
morcegos, tucanos, araras e jacus.
Jequitibá-branco
Bananeira. Indício de intervenção humana, sendo esta floresta uma
mata secundária.
Placa sobre
“Solo”
(154m)
Placa: fala sobre a formação do solo e da importância dos
microorganismos para a conservação do solo.
Terrário. Esquematiza os horizontes do solo.
Monjolo. Muitos indivíduos próximos à placa do solo. Espécie
secundária.
Espécies de
interesse
(170m)
Guiné-piupiu. Planta medicinal, utilizadas para fins ritualísticos.
Jequitibá-rosa. Indivíduo jovem de uma das maiores árvores da Mata
Atlântica.
Diversas
plantas
aromáticas
(180m)
Cipó cravo. Está no de monjolo, tem gomos suaves em sua
superfície, cheiro da folha semelhante ao cravo. Seu caule acumula água,
sendo utilizada por viajantes.
Árvore semelhante à copaíba: Sua folha, ao ser macerada, exala
cheiro forte e agradável.
Pau d’alho. Próximo ao monjolo, tem folhas e frutos com forte cheiro
de alho.
Gruta
(204m)
As grutas constituem abrigo para animais noturnos e suporte para
plantas rupícolas. É comum encontrar rastros e pegadas em seu interior.
Contação de histórias sobre a gruta, trabalho lúdico para crianças.
Placa de “Formações rochosas”. Explica o processo de formação das
rochas presentes no PETP e sua constituição.
Epífitas
(204m)
Plantas epífitas (Epi = sobre e fito = plantas) são aquelas que vivem
sobre outras plantas para obter mais luz e mais ventilação sem obter
30
nutrientes das mesmas. Esta característica as diferencia das parasitas, que
se apropriam dos nutrientes da planta suporte (hospedeira).
Bromélias sobre as rochas e árvores.
Orquídeas sobre árvores. Suas raízes, expostas ao ar, obtêm a maior
parte dos nutrientes do material em decomposição ao seu redor, da água
da chuva que lava as folhas das árvores no alto, ou da poeira existente no
ar. Em casos extremos de umidade, as orquídeas podem absorver toda
água e os nutrientes pelos poros em suas folhas.
Variados
(230m)
Rocha com musgos e rupícolas: interessante para trabalhar texturas
Marca de bala nas arvores próximas. Antiga rota de caçadores.
Cambuí. Árvore de crescimento secundário.
Monjolo. Muitos indivíduos ao longo da trilha
Espécies de
interesse
Raiz de Jequitibá (260m). A raiz do jequitibá aparece na superfície e
chama atenção pela sua grossura, semelhante ao de um tronco.
Troncos agredidos e pichados. Trabalho de conscientização contra
agressões em árvores.
Jequitibá-
rosa
(290m)
Jequitibá-rosa (Cariniana legalis). Este indivíduo tem idade estimada
de 1000 anos e aproximadamente 40m de altura (IEF, 2006), sendo
considerado um dos maiores jequitibás do Rio de Janeiro. A espécie
destaca-se entre as árvores da Mata Atlântica pelo seu porte, entre 30 a
50m de altura.
Hipóteses para a permanência do jequitibá: respeito pelo seu porte,
dificuldade para transportar a madeira, caso fosse cortada. Na fase da pré-
colonização européia, sua madeira era muito cobiçada, porém muitos
fazendeiros a preservavam pela sua beleza.
Abrigo de vida: As copas das árvores são abrigo de vida para outros
vegetais, as plantas epífitas. Apontar as diversas espécies epífitas que
crescem na copa do jequitibá.
Machucados no tronco jequitibá: apesar de não matar a planta, é uma
agressão predatória, desrespeito a um patrimônio histórico e natural.
Dinâmicas de jogos e contação de histórias: platô de pedra favorece
realização de atividades lúdicas.
Espécies de
Paineira
31
interesse
(290m)
Palmito Jussara
Figueira mata-pau: Seus frutos são consumidos por morcegos e aves,
que espalham suas sementes através das fezes. Elas podem germinar no
chão, em saliências de rochas ou nos galhos das árvores, caso desta
figueira que germinou na copa do Jequitibá-rosa. As raízes crescem, se
enrolando na árvore que serviu de apoio até atingir o solo. As raízes
engrossam e acabam estrangulando e matando a árvore suporte. A
figueira não é uma parasita.
Jequitibá adulto em frente ao de 1000 anos. Provavelmente
descendente do jequitibá milenar, exemplifica a dispersão da semente.
Liquens: bioindicadores da qualidade do ar
Os liquens são associações entre fungos e algas que ocupam troncos de árvores e
pedras e assemelham-se a manchas (cinzas, vermelhas ou verdes) à primeira vista. Não são
parasitas nem patógenos (organismos causadores de doenças), ao contrário de que muitos
pensam: Os liquens buscam luminosidade e nutrientes depositados nos troncos e pedras e as
suas algas são capazes de realizar fotossíntese, obtendo energia através da luz. Atuam como
indicadores da qualidade do ar, pois diversas espécies o sensíveis a vários poluentes,
especialmente dióxido de enxofre (SO2) eliminado no escapamento dos carros. De acordo
com o gradiente de poluição, a variedade e coloração dos liquens se alteram. Locais com boa
qualidade do ar apresentam árvores com muitos liquens e de diversas variedades. Em casos de
níveis de poluição muito elevados, os liquens desaparecem totalmente, fenômeno conhecido
como “deserto liquênico”. (Spielmann, 2006)
Jaqueira
A Jaqueira (Artocarpus integrifolia Forst.) é uma planta originária da Índia,
introduzida no Brasil pelos seus frutos comestíveis e saborosos. No entanto, pelo
favorecimento das condições ambientais, a grande produção de sementes, o alto índice de
germinação e o rápido crescimento, acabou se espalhando com rapidez, sobretudo nas áreas
alteradas da floresta pluvial tropical atlântica. No Rio de Janeiro tornou-se uma das principais
espécies arbóreas exóticas invasoras, competindo e expulsando as espécies nativas. No Parque
Nacional da Tijuca, a jaqueira tem invadido grandes áreas, tornando-se um grave problema,
sendo erradicada através de programas de controle de plantas exóticas e invasoras.
32
A presença da jaqueira na trilha indica que essa área foi alterada pelo homem,
constituindo uma mata secundária.
O que são espécies nativas?
São espécies que ocorrem naturalmente em uma determinada área.
O que são espécies exóticas?
São espécies que não são nativas de uma determinada área, ou seja, uma espécie que
é introduzida em uma área onde não existia originalmente. Livres de seus predadores, as
espécies exóticas são consideradas a segunda maior causa mundial de extinção da diversidade
biológica, atrás da destruição dos habitats pelo homem. O problema ocorre quando animais,
plantas e microorganismos de um determinado lugar são levados para outro onde não
predadores para limitar sua população. Eles afetam o ambiente, a economia e a saúde.
O caramujo-gigante-africano é um exemplo de espécie exótica e invasora, sendo um
molusco nativo do nordeste da África. Possui alta capacidade reprodutiva (coloca a1600
ovos por ano) e apetite voraz, alimentando-se de frutas, verduras, hortaliças e amesmo de
papelão, de plástico e de tinta de parede. Além disso, não possui predador natural, o que
favoreceu sua pida proliferação por 23 Estados, sendo atualmente considerado praga
agrícola. Como se não bastasse, o caramujo africano também pode ser transmissor de sérias
doenças aos seres humanos.
Bromélias
Muitas delas são epífitas. Não são parasitas da árvore, ao contrário do que muitos
pensam. Mas se não solo e elas o parasitam as árvores, pergunta-se: como essas plantas
conseguem obter água e nutrientes?
As bromélias apresentam folhas longas e dispostas em uma roseta formando um
tanque que armazena a água da chuva. Na superfície das folhas existem estruturas
especializadas -as escamas - que absorvem água e sais minerais. As raízes têm função
somente de fixação.
As bromélias têm grande importância na manutenção do equilíbrio da Mata
Atlântica, que atua como um microhabitat ou abrigo de diversos organismos. A disposição
de suas folhas em roseta forma um reservatório onde se acumulam água e matéria orgânica,
atuando com um bebedouro de pássaros e invertebrados e como local de forrageio. Um grande
33
número de invertebrados se desenvolve no interior das bromélias e alguns vertebrados se
abrigam nas mesmas.
Orquídeas
As orquídeas, por sua vez, são caracterizadas por suas belas flores e por suas folhas
carnosas, muitas vezes presas a um caule dilatado, semelhante a um bulbo. Suas raízes,
expostas ao ar, obtêm a maior parte dos nutrientes do material em decomposição ao seu redor,
da água da chuva que lava as folhas das árvores no alto, ou da poeira existente no ar.
Entremeado ao velame, existe um fungo chamado micorriza que auxilia na decomposição de
matéria orgânica e transformação desta em sais minerais, para facilitar sua absorção. Em
casos extremos de umidade, as orquídeas podem absorver toda água e os nutrientes pelos
poros em suas folhas, relegando as raízes apenas a função de sustentar a planta sobre o
substrato.
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