Quando eu vou deitar a noite, eu rezo as orações que tem aí guardada pra Nossa Senhora
do Guadalupe e pra meu Padim Cícero, mas não sei decorado, só tem escrito nos papeizinhos, aí
rezo também o Pai nosso, e também faço promessa.
Quando eu andava pelo mundo eu sabia que tava grávida por causa da menstruação, pois
quando faltava a menstruação a gente já sabia que era gravidez. Nunca procurei um médico
quando tava grávida, pois eu era sadia, nunca tive problema de saúde, com gravidez, não! Era
uma pedra. Eu não sentia tontura, mijadeira, cuspideira, eu era sadia. Não usava chá, nem nada...
Agora tinha delas que enjoavam muito, né? Eu! Comia tudo, nunca enjoei muito... Só enjoei uma
vez, ovo e feijão.
Quando eu tava grávida fazia de tudo sem ajuda de ninguém, pegava peso, botava água,
botava lenha, dormia no chão e não sentia nada, nadinha. Eu tinha contato com meu marido
normal, normal...
Eu sentia que era menino homem, porque o criado é debaixo da costela, e da menina
mulher é na barriga mesmo... Já a menina mulher começa a se mexer na hora que ela começa a se
gerar, e o menino homem só vai se mexer de 90 dias pra frente.
Nós nunca tivemos perigo no parto, cigana tinha filho dentro dos matos, que nem cabra,
vaca, e não tinha perigo no parto não! A minha sogra Dona Rita, a Xandú, ela tem uma oração
que é herança de família e foi da sogra dela, que quando a mulher tá sofrendo pra descansar,
colocando ela no pescoço não tem perigo no parto.
Às vezes a gente chamava uma a parteira, mulher de fora, que não era cigana... Mas se
não tivesse parteira, as ciganas mesmo fazia. Fazia assim no mato, um barraquinho, uma
sombrinha, e dava a luz.
O meu filho, o mais velho, quando nasceu eu tinha 14 anos, eu tive no meio do caminho,
ali no caminho do Lastro pra Boa Esperança, sabe onde é? A gente ia de viajem da Boa
Esperança pro Lastro... Era meu primeiro e não tinha experiência, era uma besta... Aí eu comecei
a sofrer e a cigana disse que era pra dar a luz, pra ter filho.
Aí me levaram, fizeram um negócio lá, uns panos. As ciganas mesmo que pegava e não
tinha perigo de nada. Elas faziam massagem na minha barriga, uma segurava em mim assim
pelos braços, outra mulher ficava na cangalha sentada e me segurava no colo, as outras ficavam
na frente da gente e a parteira pra segurar a criança... Num instante nascia.
O primeiro filho a mulher não tem experiência de nada, mas depois já sabia que ia parir
por causa das dores, era umas dores fortes, agonizante, que a gente não suporta, só suporta
porque é o jeito... As dores de menino homem é aqui atrás nos quartos, ela dá e pára, depois vai
dá outra com uns 10, 20 minutos... Já a dor da menina mulher não! É aqui na frente, na barriga
mesmo, e é direto, uma em cima da outra.
A outra filha que eu tive nesse tempo foi em Pau dos Ferros, foi a menina, a Quitéria, a
mulher de Cosme ali, tu conhece? Já essa daí, a Rosana, nasceu aqui no pronto socorro...
Quando nós andava e depois que o menino saia, pegava, botava o umbigo em cima de
uma pedra e dava assim com a outra, cortava o umbigo com a pedra... Aí amarrava, depois a
gente ficava colocando cuspe de fumo no umbigo até murchar, murchava e caia... Quando caia a
gente pegava barro de parede pisava, serenava, botava leite do peito no barro, fazia uma papinha
e botava no umbigo, e sarava... Depois a gente pegava o umbigo murchinho, botava numa
coisinha, num frasquinho, ou amarrava num paninho e guardava um bocado de tempo.
Na mesma hora que a gente acabava de dar a luz, terminava de desocupar, se levantava,
tomava banho e ia pro rancho. Casa? Não! Pro rancho, e já ia trabalhar, ia pra beira do fogo fazer
comida... E se quisesse carregar e sair, botava o menino nos braços, montava nos animais, e na
mesma hora saia e ia embora.