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CATARINA NEVEROVSKY
DE GATA BORRALHEIRA A CINDERELA:
NOVA ESPACIALIDADE DECORRENTE DO DESENVOLVIMENTO
TURÍSTICO, DIFERENCIADA PELO ESTILO DE VIDA EM PONTA
NEGRA, NATAL, RN.
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo, Centro de Tecnologia,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profª.Drª. Françoise D. Valery
Natal
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16
2005
Termo de Aprovação
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17
Dedicatória
Em memória de Eugen Neverovsky, meu pai.
Para Katharina, minha mãe.
18
Ao Ailton Amaral, meu marido, que sem o seu
incentivo e apoio não teria levado esta jornada até
19
o fim. Ao Léo, meu filho, que inicia a sua aventura
de vida, dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste
trabalho.
Meus agradecimentos a todas as pessoas que colaboraram como sujeitos da
pesquisa, que dispuseram de seu tempo para as entrevistas, a André Valery pela
ajuda na elaboração dos mapas e amigos que me apoiaram durante este caminho
árduo, porém fascinante.
Agradeço a CAPES pela bolsa de estudos, contribuição fundamental para a
realização deste trabalho.
Meu agradecimento ao Sr. Nelson Torres, por ter cedido as fotografias aéreas
sobre Ponta Negra, para o presente trabalho.
Agradeço a Prof. Dr. Ângela Lúcia Ferreira pela introdução de minha pessoa
no mundo da pesquisa.
Meus especiais agradecimentos a minha orientadora Profª. Drª. Françoise D.
Valery pelos caminhos apontados, pelas críticas que proporcionaram um maior
aprofundamento nas questões da pesquisa, sem a qual não seria possível de ser
levado a cabo.
E finalmente agradeço a minha família que me apoiou nos momentos de
desanimo e cansaço e incentivou a vencer as barreiras que se impuseram no
decorres deste percurso, em especial meu marido Ailton, meu grande incentivador,
com sua paciência e compreensão e ao Léo, meu filho, que me ajudou moral e
fisicamente me acompanhando na pesquisa de campo, sendo sua ajuda de grande
importância para a realização desta pesquisa.
20
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................XII
ABSCTRCT..............................................................................................................XIV
1.INTRODUÇÃO
....................................................................................................................................15
2. DA METROPOLE À ALDEIA GLOBAL: transição de um modo de vida urbano
para um estilo de vida pós-moderno..........................................................................45
2.1 A METROPOLE. ..................................................................................................47
2.2FAST FOOD, CELULAR, ESPAÇO VISTUAL......................................................56
3. BALNEÁRIO, RESORT, DISNEY: a produção de um espaço voltado para o
turismo. .....................................................................................................................69
3.1 DO BALNEÁRIO À DISNEYLÂNDIA: os modelos de produção e suas
espacializações turísticas...........................................................................................69
3.2 A INDÚSTRIA VERDE AMARELA DO TURISMO: a produção do espaço turístico
no Brasil......................................................................................................................76
4. NATAL. ................................................................................................................81
4.1 NATAL COM CHEIRO DE CAJU: a cidade antes do turismo..............................85
4.2 MISSA, CLUBE, VERANEIO E PONTA NEGRA: o estilo de vida potiguar.........89
5. OS TURISTAS ESTÃO CHEGANDO..................................................................104
5.1 VIA COSTEIRA..................................................................................................105
5.2 QUANDO O MORRO DO CARECA NÃO ERA TÃO CARECA ASSIM: a Vila, o
conjunto e a orla.......................................................................................................107
5.3 PARA TODOS OS GOSTOS E PARA TODOS OS BOLSOS: Ponta Negra.....115
21
6. DE GATA BORRALHEIRA A CINDERALA: Ponta Negra, configuração de um
estilo de vida cosmopolita........................................................................................121
6.1 A ACESSIBLIDADE EXCLUDENTE: o confinamento espacial do turista..........122
6.2 O ESPAÇO QUE VIROU MODA: a refuncionalização espacial do bairro.........125
6.3 TAPIOCA COM CAVIAR: a configuração de um estilo de vida cosmopolita.....144
6.4 PONTA NEGRA NÃO É MAIS NOSSA: a apropriação espacial pelos
“chegantes”...............................................................................................................154
7. PONTA NEGRA FOI DORMIR EM REAIS E ACORDOU EM EUROS...............167
CONSIDERAÇÕES FINAIS: PONTA NEGRA: O LUGAR DO OUTRO................173
GLOSSÁRIO............................................................................................................178
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS........................................179
ANEXOS.................................................................................................................188
22
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Mapa de localização do Município do Natal no Nordeste
brasileiro.....................................................................................................................16
Figura 02 – Mapa de situação de Ponta Negra nos limites geográficos do Município
do Natal, bairros e regiões administrativas................................................................20
Figura 03 – Parque hoteleiro da Costeira.................................................................25
Figura 04 – Mapa da expansão da ocupação de Ponta Negra................................26
Figura 05 - Mapa de localização do Aeroporto Internacional Augusto Severo.........28
Figura 06 - Exemplo de refuncionalização de uso de uma mesma edificação em
Ponta Negra...............................................................................................................41
Figura 07 – Mapa das rotas da coleta de dados do universo da pesquisa...............43
Figura 08 – Expressão cultural o espaço urbano do bairro da Liberdade em São
Paulo..........................................................................................................................48
Figura 09 – Nighthawks..............................................................................................52
Figura 10 – Mulheres trabalhando ao longo do século XX.........................................57
Figura 11 – O relógio..................................................................................................59
23
Figura 12 – Litoral do Rio Grande do Norte...............................................................65
Figura 13 – Lugar de ver e ser visto...........................................................................67
Figura 14 – Dois mundos paralelos...........................................................................71
Figura 15 – Veneza, Cairo, Paris? Volta ao mundo em 80 hotéis..............................73
Figura 16 – Os bairros mais valorizados no município do Natal................................83
Figura 17 – Hotel Internacional Reis Magos..............................................................87
Figura 18 – Praias urbanas do Natal antes do turismo..............................................88
Figura 19 – Orla marítima antes da Via Costeira.....................................................105
Figura 20 – Via Costeira..........................................................................................106
Figura 21 – Orla de Ponta Negra de ontem.............................................................109
Figura 22 – Vista da orla de Ponta Negra antes da urbanização turística...............110
Figura 23 – Implantação do conjunto de Ponta Negra.............................................111
Figura 24 – Duplicação da Estrada de Ponta Negra...............................................113
Figura 25 – Vista aérea da Avenida Engenheiro Roberto Freire..............................113
Figura 26 – Vista de Ponta Negra no início dos anos 80........................................117
Figura 27 – Vistas do calçadão de Ponta Negra......................................................118
Figura 28 – Mapa de acessibilidade ao Município do Natal pela BR101.................123
24
Figura 29 – Vista aérea do Conjunto de Ponta Negra, da Via Costeira e do Parque
das Dunas................................................................................................................124
Figura 30 – Ponta Negra Mall...................................................................................127
Figura 31 – Santa Fé Mall........................................................................................128
Figura 32 – Exemplos de refuncionalização na Av. Erivan França..........................129
Figura 33 – Novos usos na Av. Erivan França........................................................129
Figura 34 – Usos mistos na Av. Erivan França........................................................130
Figura 35 – Quem te viu, quem te vê!......................................................................131
Figura 36 – Refuncionalização no Conjunto de Ponta Negra..................................133
Figura 37 – Mudanças no uso do solo no Conjunto Alagamar................................134
Figura 38 – Que venham os turistas!.......................................................................135
Figura 39 – Para todos os paladares.......................................................................136
Figura 40 – As escalas econômicas na Vila de Ponta Negra...................................137
Figura 41 – Salsa Street...........................................................................................138
Figura 42 – “Shoppinglândia”……………………………….........……………………..139
Figura 43 – Praia Shopping antes da urbanização turística.....................................141
Figura 44 – O desenvolvimento turístico induz a reforma do Praia Shopping.........142
Figura 45 – A invasão dos “gringos”........................................................................144
25
Figura 46 – Qualidade de vida – imã para chegantes..............................................145
Figura 47 – Espacialização gastronômica dos chegantes em Ponta Negra............155
Figura 48 – Propriedade de veraneio de italianos em Ponta Negra.........................157
Figura 49 – Aspectos do cotidiano na Vila de Ponta Negra.....................................158
Figura 50 – Algumas atividades econômicas exercidas pela população local da Vila
de Ponta Negra........................................................................................................159
Figura 51 – Ponta Negra antes da urbanização turística – 1999.............................161
Figura 52 - Ponta Negra depois da urbanização turística – 2002...........................163
Figura 53 – Revelando a origem..............................................................................164
Figura 54 – Olha os chegantes ai!............................................................................166
Figura 55 – A febre da especulação imobiliária.......................................................168
Figura 56 – Indução do processo de verticalização em Ponta Negra......................172
26
LISTA DE ABREVIATURAS
CAERN – Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte.
EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo.
EMPROTURN – Empresa de Promoção e Desenvolvimento do Turismo do Rio
Grande do Norte.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PRODETUR/NE - Programa de Desenvolvimento do Nordeste.
PRODETUR-RN – Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Rio
Grande do Norte
SEMPLA -
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ZET - Zona Especial de Interesse Turístico
27
RESUMO
As transformações econômicas, sociais e políticas nas ultimas décadas do
século XX trouxeram mudanças que não se restringiram apenas ao sistema de
produção. A acumulação flexível levou muitos trabalhadores a perderam seus postos
de trabalho e a buscarem novas formas de sobrevivência, migrando para atividades
administrativas, de prestação de serviços e para a atividade turística de pequeno e
médio porte. O Estado tem investido na implantação de planos de desenvolvimento
turístico a fim de criar condições favoráveis para a reprodução da atividade turística
no Brasil, principalmente no Nordeste. Um espaço quando passa a apresentar uma
atividade econômica predominante sofre uma reestruturação em suas relações
sociais e econômicas. A reestruturação destas relações leva à construção de uma
nova espacialidade. Na cidade do Natal, no Rio Grande do Norte, o bairro de Ponta
Negra é o mais representativo dos investimentos públicos para o desenvolvimento
turístico. Após intenso processo de urbanização turística, Ponta Negra passou a se
inserir no contexto global se consolidando como o “lócus” turístico na cidade. A
urbanização turística do bairro levou à transformação do espaço em mercadoria, que
é vendida e consumida como tal. A recriação de fragmentos de outras culturas
trazidas por atores sociais, resultante de processos migratórios estimulados pelo
desenvolvimento turístico, tem apresentado relações sociais pautadas na tecnologia
informacional, consumo de mercadorias globais e na fragmentação do espaço
urbano caracterizada pela internacionalização e cosmopolitização. Esse processo
tem mascarado as desigualdades sócias e culturais assim como a apropriação
territorial por uma elite econômica. Os espaços estão sendo apropriados por
investidores do setor turístico, investidores privados, agentes e produtores
imobiliários, onde a desigualdade não é apenas econômica, mas também cultural. A
população local, principalmente da fração urbana da Vila de Ponta Negra, não
participa do processo produtivo em função da pouca ou nenhuma qualificação
profissional e também não tem acesso ao processo de consumo. Aos nativos resta a
luta pela preservação de sua identidade cultural e pela sobrevivência.
28
ABSTRACT
The transformations economical, social and politics in you finish them decades of the
century XX brought changes that didn't just limit to the production system. The
flexible accumulation took many workers lost her/it their workstations and they look
for her/it new survival forms, migrating for administrative activities, of services
rendered and for the tourist activity of small and medium load. The State has been
investing in the implantation of plans of tourist development in order to create
favorable conditions for the reproduction of the tourist activity in Brazil, mainly in the
Northeast. A space when it starts to present a predominant economical activity
suffers a restructuring in their social and economical relationships. The restructuring
of these relationships takes to the construction of a new espacialidade. In the city of
Christmas, in Rio Grande do Norte, the neighborhood of Black Tip is the most
representative of the public investments for the tourist development. After intense
process of tourist urbanization, Black Tip passed interfering in the global context
consolidating as the “tourist locus “in the city. The tourist urbanization of the
neighborhood took to the transformation of the space in merchandise that is sold and
consumed as such. The recreation of fragments of other cultures brought by social
actors, resulting from migratory processes stimulated by the tourist development, it
has been presenting ruled social relationships in the informational technology,
consumption of global goods and in the fragmentation of the urban space
characterized by the internationalization and cosmopolitização. That process has
been masking the inequalities partners and cultural as well as the territorial
appropriation for an economical elite. The spaces are being appropriate for investors
of the tourist section, private investors, agents and real estate producers, where the
inequality is not just economical, but also cultural. The local population, mainly of the
urban fraction of the Town of Black Tip, it doesn't participate of the productive
process in function of the little or any professional qualification and he/she doesn't
also have access to the consumption process. To the native ones it remains the fight
for the preservation of his/her cultural identity and for the survival.
29
1.INTRODUÇÃO
O presente texto pretende discutir e analisar a nova espacialidade produzida
pelo desenvolvimento da atividade turística, no bairro de Ponta Negra, na cidade do
Natal, Rio Grande do Norte. Foi abordada a relação entre a reestruturação
socioeconômica resultante do desenvolvimento turístico, e a configuração de um
“estilo de vida” em Ponta Negra.
O bairro de Ponta Negra é o mais representativo dos investimentos públicos
para o desenvolvimento turístico, via Programa de Ação para o Desenvolvimento do
Turismo no Rio Grande do Norte – PRODETUR-RN. E vem apresentando mudanças
socioespaciais, que vem se acelerando pós a urbanização, executada no ano de
2000.
As transformações econômicas, sociais e políticas nas ultimas décadas do
século XX trouxeram mudanças que não se restringiram apenas ao sistema de
produção. A acumulação flexível levou muitos trabalhadores a perderem seus postos
de trabalho e a buscarem novas formas de sobrevivência, migrando para atividades
administrativas, de prestação de serviços, para a atividade turística de pequeno e
médio porte; e trabalhadores menos qualificados migraram para o trabalho informal.
No Brasil, o Estado tem investido na implantação de planos para o
desenvolvimento turístico a fim de criar condições favoráveis para a reprodução da
atividade turística, principalmente na região Nordeste. O turismo requer
investimentos em infra-estrutura urbana, saneamento básico e outros equipamentos
urbanos para seu desenvolvimento, que foram realizados durante as últimas duas
décadas do século XX, com recursos públicos no bairro de Ponta Negra, no Rio
Grande do Norte.
30
MARANHÃO
PIAUI
BAHIA
CEARÁ
SERGIPE
PERNAMBUCO
PARAÍBA
RIO GRANDE
DO NORTE
NATAL
N
Oceano Atlântico
Sem escala
Fonte: Neverovsky elaboração própria a partir de dados do Sempla.
Mapa de localização do Município do Natal
no Nordeste brasileiro
ALAGOAS
Re
g
ião Nordeste
Estado do Rio Grande do Norte
Município do Natal
LEGENDA
31
Fig. 01 Mapa de localização do Município do Natal no Nordeste brasileiro.
Após a urbanificação em 2000, o bairro de Ponta Negra passou a atrair mais
investidores, tanto estrangeiros como brasileiros, para o setor hoteleiro e de outras
atividades ligadas direta ou indiretamente ao turismo. Eles foram investindo e
fixando moradia no bairro. Ponta Negra passa a se inserir no contexto global como
“lócus” turístico privilegiado. A ligação mais forte com a Europa é mantida através
das agências de turismo, dos resorts de redes internacionais, hotéis e pousadas e
também por meio de redes de conhecimentos mantidos pelos migrantes com seu
local de origem.
O espaço passou a apresentar características de internacionalização e
cosmopolitização, resultante de processos migratórios com a recriação de
fragmentos de outras culturas trazidas por atores sociais que vieram em busca de
alternativas econômicas ou de qualidade de vida.
Esse espaço é produzido e consumido, onde as relações sociais são
pautadas pela tecnologia e consumo de mercadorias globais. Houve a introdução de
novos alimentos que não faziam parte da culinária regional e de novas lojas de
vestuário que atendem ao gosto cosmopolita. A grande maioria dos
estabelecimentos hoteleiros está integrada a rede informacional e os que não estão,
contrastam visivelmente com a prosperidade dos concorrentes.
Um espaço, quando passa a apresentar uma atividade econômica
predominante, sofre uma reestruturação em suas relações socioeconômicas. A
reestruturação destas relações leva à construção de uma nova espacialidade, com
novos atores sociais, novos usos do solo e novas atividades econômicas que
alteram as características iniciais do lugar e introduzem novas peculiaridades ao
mesmo espaço criando assim uma nova espacialidade.
O desenvolvimento turístico tende a intensificar os processos migratórios. O
bairro de Ponta Negra apresenta em seu contingente populacional, a presença de
“chegantes” desde a implantação dos conjuntos habitacionais, com a intensificação
da presença dos mesmos após a urbanificação turística.
FIGURA 01
32
O termo “chegantes” foi cunhado pela Prof.ª Dr.ª Rosa Ester Rossini, titular
do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo; especialista no
estudo das migrações, justamente para designar os migrantes que vem chegando e
se estabelecem na cidade. Adotamos o termo “chegantes” para designar os atores
sociais migrantes, de outros estados ou países e que estabeleceram residência na
cidade do Natal, sendo desconsiderados os migrantes do próprio estado.
O critério adotado para a classificação de um ator social como chegante, foi
o da ocupação de um imóvel para moradia ou atividades econômicas, seja ele
comprado ou alugado. Foram desconsiderados os ocupantes de imóveis para o
veraneio em Ponta Negra que no caso adotou-se a naturalidade do proprietário do
imóvel. Durante a pesquisa foram encontrados cinco casos de aluguel para turistas.
Este número é baixo devido a pesquisa ter sido realizada entre setembro e
novembro de 2003, fora do período da alta temporada turística.
Os conceitos de espacialidade e estilo de vida nortearam esta pesquisa.
Para o entendimento dos conceitos de modos de vida e estilos de vida foi realizada
uma abordagem e uma releitura dos principais aportes da Escola de Chicago sobre
a ecologia urbana, enfocando os textos de Simmel (1979), Park (1979) e Wright
(1979). Já autores como Harvey (1998), Featherstone (1995), Castells (2000) e
Maffesoli (1987) que abordam conceitos de estilos de vida na pós-modernidade, e
Urry (1996) que analisa o desenvolvimento da atividade turística, principalmente na
Grã-Bretanha, do início do século XX até os dias atuais, possibilitaram uma
aproximação com as observações sobre a indução do surgimento de uma nova
espacialidade em Ponta Negra em função da introdução da atividade turística.
A releitura foi um resgate destes conceitos em si, mas que não foram
entendidos como um processo ecológico, e sim social e cultural, para a presente
pesquisa, no caso de autores da Escola de Chicago. Os processos sociais têm de
um lado as formas espaciais e de outro um conjunto de agentes modeladores que
atuam no espaço; são as transformações da estrutura espacial da sociedade,
segundo Corrêa (1989). Para o autor os processos espaciais são de natureza social,
e podem ser vistos como sinônimos dos processos ecológicos da Escola de
Chicago, porém ele não admite nenhuma analogia com base na ecologia vegetal.
33
Entendemos que as transformações observadas não podem ser explicadas apenas
pelo capital, uma vez que a apropriação territorial de Ponta Negra é aparentemente
por uma escolha de estilo de vida.
O conjunto dos hábitos culturais que determinam a preferência por
determinado tipo de produtos ou de mercadorias, segundo Featherstone (1995)
podem ser entendidos como uma manifestação pessoal, demarcando as diferenças
de capital cultural, econômico. As praticas sociais que expressam a individualidade
levam a construção de um determinando estilo de vida. O conceito estilo de vida,
adotado neste trabalho, é entendido como a escolha de consumo de mercadorias,
entre as quais se inclui o espaço.
A cidade do Natal seguiu o padrão de muitas cidades do nordeste: cidade
baixa, dos pobres e a cidade alta dos abastados. O local da demarcação da
fundação da cidade foi definido na parte alta – Cidade Alta à margem direita do Rio
Potengi. (CASCUDO 1999).
A construção da Fortaleza dos Reis Magos e a fundação da cidade foram
determinadas pelo Rei de Portugal. Assim nascia a cidade do Natal em 25 de
dezembro de 1599. O desenvolvimento da cidade foi muito lento. E somente no
início do século XX, o agrimensor italiano Antônio Palumbo planejou a Cidade
Nova.(CASTRO, 2003).
Nos dias de hoje, a Cidade Nova deu lugar aos bairros de Tirol e Petrópolis,
que desde sua criação foram apropriados pela elite local, que permanece neles até
hoje, bairro localizado na Região Administrativa Leste. Durante a Segunda Guerra
mundial, com a presença das tropas aliadas, a cidade teve um impulso no seu
desenvolvimento. A presença dos americanos também mudou a rotina e os hábitos
da cidade. Nos anos sessenta foi construído o primeiro conjunto habitacional –
Cidade da Esperança, localizado na Região Administrativa Oeste. E nos anos 80
iniciou-se a ocupação populacional ao longo da BR101, na Região Administrativa
Sul. A Figura 02 mostra a localização do Bairro de Ponta Negra no Município do
Natal, RN.
34
Fig.02 Mapa de situação de Ponta Negra nos limites geográficos do Município do Natal, bairros e
regiões administrativas.
Parnamirim
LAGOA AZUL
PAJUÇARA
NOSSA SENHORA
DA APRESENTAÇÃO
POTENGI
IGUAPÓ
SALINAS
REDINHA
EXTREMOS
EXTREMOS
SÃO GONÇALO
DO AMARANTE
PONTA
NEGRA
NEÓPOLIS
PITIMBU
CANDELÁRIA
PLANALTO
GUARARAPES
FELIPE CAMARÃO
CIDADE
NOVA
CIDADE DA
ESPERANÇA
QUINTAS
LAGOA
NOVA
PARQUE DAS
DUNAS
CAPIM
MACIO
NOVA
DESCOBERTA
MÃE LUIZA
AREIA PRETA
SANTOS
REIS
ROCAS
RIBEIRA
CIDADE
ALTA
ALECRIM
BARRO
VERMELHO
TIROL LAGOA
SECA
DIX-SEPT
ROSADO
N. S. DE
NAZARE
NORDESTE
BOM PASTOR
OCEANO ATLÂNTICO
N
Via Costeira
Mapa de situação de Ponta Negra nos limites geográficos do Município do
Natal, bairros e regiões administrativas.
Fonte: Neverovsky, elaboração própria a partir de SEMURB 2003.
FIGURA 02
PETROPOLIS
35
A maioria da população global vive em cidades, o mundo tornou-se urbano,
mesmo com variações locais. A vida em cidades, principalmente em cidades
metropolitanas, molda o indivíduo de forma a possibilitar sua adaptação ao espaço
metropolitano e para que nele, o indivíduo possa desenvolver suas atividades
profissionais, sociais e de lazer. Na medida em que há um ajustamento do habitante
à dinâmica da cidade, forja-se também uma maneira de agir e compreender o
mundo ao seu redor, em fim uma mentalidade metropolitana. Essa mentalidade irá
determinar as reações do citadino frente as mais diversas situações.
Compreender a mentalidade do habitante urbano e posteriormente a
mentalidade do cosmopolita pós-moderno se torna necessária em função das
grandes mudanças de comportamento dos indivíduos em relação às mudanças
culturais, econômicas e sociais do final do século XX, apontadas por Harvey (1998),
Featherstone (1995), e Urry (1996). As características dos habitantes são
transferidas para o espaço que habitam, trabalham, permitindo uma discussão sobre
o espaço urbano a partir das características dos atores sociais que se apropriam
dele de alguma forma, mesmo que temporária como a resultante da atividade
turística.
A experimentação do tempo é diferente na cidade metropolitana do que em
uma cidade de pequeno e médio porte, onde as relações sociais transcorrem com
uma maior calma.
O acesso á tecnologia informacional também determina a mudança da
experiência temporal. A relação entre economia, desenvolvimento tecnológico e
ciência representa a cultura urbana. Essa relação aliada à tecnologia da informação
aponta para uma mudança do paradigma analógico para o paradigma digital. Os que
não estão atualizados com a comunicação informacional são excluídos deste
processo de mudança, pela dominação estrutural.(CASTELLS, 2000).
Os avanços tecnológicos apontam para mudanças nos habitus sociais,
contribuindo para a desigualdade cultural e social. Por habitus, adotamos o conceito
elaborado por Maffesoli (1987). Para ele esse termo remete ao costume, que
caracteriza a vida quotidiana, com um conjunto dos usos comuns que permitem
reconhecer um conjunto social, o seu modo de vida, fazendo a comunidade existir e
36
se tornar visível. Segundo o mesmo autor o ritual litúrgico torna a igreja visível, e o
costume faz uma comunidade existir como tal.
Segundo a ótica de Featherstone (1995), o consumo de mercadorias, de
produtos culturais, de moda, por exemplo, são manifestações da individualidade de
cada ator social, e o conjunto destas práticas leva a construção de um estilo de vida.
Assim dentro de um modo de vida urbano, se processa uma diferenciação por estilo
de vida, caracterizado por um conjunto de preferências de consumo.
A cidade apresenta uma estrutura espacial decorrente de uma atividade
econômica predominante e do modo de vida e do estilo de vida de seus habitantes.
Assim a cidade industrial se apresentará de forma distinta da cidade comercial,
administrativa, turística e assim por diante. A aparência da cidade poderá ser
influenciada, pela atividade econômica, e o modo como seus espaços se organizam
passam a apresentar determinadas características de seus habitantes ou usuários, o
que possibilitam analisar as possíveis práticas sociais em função das diferentes
espacialidades que se apresentam.
O turismo, como fenômeno mundial, é considerado como propulsor de novos
modos de vida ao substituir antigas formas de divisão social, de trabalho, de
produção e de consumo; exigindo novos valores, gerando outros estilos de vida. O
turismo também se apresenta como uma alternativa para o desenvolvimento local e
regional, no lugar da indústria tradicional e da indústria tecnológica.
A (re) qualificação do espaço para o desenvolvimento turístico induz o
surgimento de novas espacialidades, ao passo em que o espaço passa a apresentar
novos usos.
No Rio Grande do Norte os processos de industrialização atingiram
principalmente a mecanização das salinas, no litoral norte na década de setenta,
que passaram a serem operadas por grandes empresas. A introdução de fibras
sintéticas e a modernização da industria têxtil nacional trouxeram um
desmantelamento do parque industrial do estado, que era baseado na cotonicultura,
no final da década de setenta.(LIMA, 2001).
O desenvolvimento induzido pela Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste – SUDENE foi desigual, com Salvador e Recife absorvendo a maior parte
37
dos investimentos, até a década de oitenta, quando esse modelo entra em
colapso.(LOPES JUNIOR, 2000).
Segundo Souza (1980) a cidade do Natal, apresentava um forte componente
de migrantes do próprio estado, na sua composição populacional em meados dos
anos setenta. O autor aponta para as correntes migratórias antes de 1940, que
diminuíram entre as décadas de cinqüenta e sessenta, e voltando a aumentar a
partir da década de setenta.
Esta ultima corrente era composta de todas as classes sociais. Não só os
que se dirigem à cidade em busca de sobrevivência, mas da burguesia que se
mudou do interior do estado para a capital buscando aumentar seu capital
econômico e cultural. (SOUZA, 1980). A migração foi em grande parte urbana, de
cidades do interior para a capital do Estado. A classe social possuidora de capital
econômico, quando migrou para Natal, trouxe consigo os hábitos paternalistas e
costumes provincianos.
A dinâmica social da sociedade potiguar, no final da década de sessenta
ainda conservava parte dos hábitos provincianos, como o rígido controle social.
Algumas das famílias vindas das cidades interioranas passaram a ocupar posições
de destaque nos campos político, cultural e social. A vida social marcada por forte
religiosidade, autoridade do homem e uma concepção de vida mais local, perfil
confirmado pelo levantamento efetuado pela SERETE S. A. Engenharia em 1968
para a elaboração do Plano Urbanístico e de Desenvolvimento de Natal – RN.
Quanto ao aspecto econômico, o mesmo levantamento aponta para os
cargos públicos como a principal fonte geradora de empregos, um pequeno
comércio atacadista refletia uma atividade econômica modesta.
Essas características permanecem, de certa forma, ainda nos dias atuais na
sociedade natalense, permeando suas relações sociais, comerciais e políticas;
caracterizando um “estilo de vida” provinciano, próprio de médias e pequenas
cidades.
A cidade possuía hotéis antigos no centro da cidade. Em 1965 foi
construído o Hotel Internacional dos Reis Magos na praia do Meio, e logo depois no
centro, o Hotel Ducal. Esses hotéis destinavam-se a receber autoridades,
empresários e outras pessoas que estivessem de passagem pela cidade, não
38
representando empreendimentos direcionados ao turismo de massa. (LOPES
JUNIOR, 2000)
Quanto às praias, a do Forte e a do Meio eram associadas à cidade,
enquanto Ponta Negra era uma praia localizada além dos limites da
mesma.(SERETE, 1968)
O Plano Diretor de Organização Físico-Territorial do Município de Natal de
1984 introduziu o zoneamento de uso do solo do município, definindo locais próprios
para cada atividade, entre elas a Zona Especial de Interesse turístico – ZET e Zona
de Preservação Permanente – ZPR. Foram definidas as áreas ZET-1, ZET-2 e ZET-
3 na orla marítima. (diário Oficial – Estado do Rio Grande do Norte, Lei n° 3.175/85;
26 de janeiro de 1984).
No ano de 1977 foi criado o projeto da Construção da Via Costeira por
Decreto nº 7.237, em 22 de novembro do mesmo ano, com a desapropriação de
áreas de dunas ao logo da costa litorânea.
Assim o marco inicial para o turismo de massa foi a construção da Via
Costeira, no início dos anos oitenta. Ela promoveu a ligação entre a cidade e o bairro
de Ponta Negra, ao longo da orla marítima. Fig.02.
A faixa de terrenos entre o mar e a via Costeira foi destinada para a
implantação de um conjunto hoteleiro para empreendimentos de grande porte. Como
podemos observar na Fig. 03
O projeto inicial da Via Costeira-Parque das Dunas previa a ocupação das
dunas ao longo do mar com unidades turísticas, residências, a residência do
Governador, mirantes e outros equipamentos urbanos. Porem a oposição feita ao
projeto, no final dos anos setenta e início dos anos oitenta pelos partidos não
ligados ao governo, pela comunidade local e entidades ambientalistas foi
responsável pela redefinição do mesmo. (LIMA, 2001).
39
Fig.03 Parque hoteleiro da Costeira
Enquanto o bairro de Ponta Negra foi sendo apropriado pelo médio e
pequeno capital econômico do setor turístico.A praia de Ponta Negra é formada por
uma baía cercada de dunas, onde se destaca o Morro do Careca, o cartão postal da
cidade.
Sua apropriação territorial se deu de forma gradativa e com três processos
distintos de ocupação do solo. O desenvolvimento do assentamento espontâneo
deu-se na década de quarenta, onde seus habitantes dedicavam-se a pesca, mas
também cultivavam 500 hectares de terras em sistema comunitário, até a data de
1956. Essas terras foram objeto de expropriação da população nativa. As terras
foram divididas e doadas, uma parte para o Clero de Natal e a outra foi destinada ao
Ministério da Aeronáutica para a construção da Barreira do Inferno em 1964. A
solução adotada é apontada como solução apaziguadora de conflitos fundiários na
Vila de Ponta Negra. (CASTRO, 2003).
Parque hoteleiro da Costeira
Fonte: Natal: uma cidade de 400 anos, Data:1999.
Figura 03
40
Fig. 04 Mapa da expansão da ocupação de Ponta Negra
Mapa da expansão da ocupação de Ponta Negra
FONTE : Neverovsky, elaboração própria a partir de CAERN. Data: 2004
FIGURA 04
_____________ Divisa
administrativa do Bairro de
Ponta Negra.
Sem escala
O universo de
pesquisa não
englobou esta
área do bairro de
Ponta Negra
N
41
O uso comunitário permitia a grilagem de terras, e para coibir tal prática, a
população foi privada do uso das terras em questão. O mesmo autor aporta para a
migração de atividades de sub existência da pesca e da agricultura para o
artesanato, biscates e para as barracas na praia, após a doação das terras
comunitárias.
Em 1978 e 1979 respectivamente, foram concluídos dois conjuntos
habitacionais para a classe média. A saber, os conjuntos se denominam Conjunto
Ponta Negra e Conjunto Alagamar. Figura 04.
O Bairro de Ponta Negra foi oficializado pela Lei n° 4.328, de 05 de abril de
1993, publicada no Diário Oficial, em 07 de setembro de 1994.(Castro, 2003).
Na orla marítima de Ponta Negra, as terras foram divididas com a
implantação de dois loteamentos, de propriedade de Fernando Pedrosa e Francisco
do Porto Santos, em 1960. Esses loteamentos deram um novo impulso na ocupação
do solo do bairro, com a posterior e gradual construção de casas de veraneio.
O Bairro de Ponta Negra teve sua trajetória de desenvolvimento alterada
com o turismo.
Em 1990 é definida a Política Nacional de Turismo através do Programa de
Desenvolvimento do Nordeste - PRODETUR/NE. O programa apresentava como
objetivos a implantação de infra-estrutura urbana nas capitais do Nordeste para o
desenvolvimento turístico.
O Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Rio Grande do
Norte -PRODETUR/RN visava a implantação de infra-estrutura básica para a
consolidação do pólo turístico no Estado do Rio Grande do Norte. A acessibilidade,
fator importante para o turismo, mereceu atenção do programa com a reforma do
Aeroporto Internacional Augusto Severo, localizado no município vizinho de
Parnamirim. Figura 05
A manutenção e melhoria de eixos viários e construção de novas vias
permitindo assim acesso a locais de capital paisagístico como a Rota do Sol,
também foram efetuadas obras de urbanização de Ponta Negra.
42
Fig. 05 Mapa de localização do Aeroporto Augusto Severo
Mapa de localização do Aeroporto Augusto Severo
LEGENDA
Município do Natal
Município de Parnamirim
Aero
p
orto Internacional Au
g
usto Severo
Fonte: elaboração própria a partir de mapa da SEMURB
Figura 05 Sem escala
Sem escala
43
A cidade do Natal apresenta hoje três espaços turísticos, a saber: as praias
urbanas, onde se localiza o Hotel Internacional dos Reis Magos atualmente fechado
e aguardando investimentos para uma reforma de modo que possa se adequar às
novas exigências dos turistas.O parque hoteleiro da Via Costeira abriga resort e
grandes hotéis, e o bairro de Ponta Negra tem uma variada oferta de hospedagem.
O projeto de urbanização em Ponta Negra contava com obras de
pavimentação das ruas, saneamento básico, iluminação e a construção do calçadão
de Ponta Negra, terminadas em 2000.
Como parte da urbanização, os barraqueiros que ocupavam a praia foram
retirados. Um processo repleto de conflitos, que segundo Silva (2000), expôs a
hostilidade velada entre “chegantes” e a população local.
A retirada das barracas mudou o lócus da atividade econômica da praia
para os estabelecimentos da Avenida Erivan França, como podemos observar no
depoimento de um ator social, de naturalidade italiana que atua no mercado
imobiliário como proprietário de uma pousada, corretor e produtor imobiliário em
Ponta Negra.
“O calçadão deu aparência de uma praia, que antes era a
presença de uma favela... tinha aquelas barracas... lixo
naquele lado ali, quem andava na calçada, ficava no quintal
das barracas... o investidor... eu comprei uma cosa a beira mar.
então ninguém gostava disso... quando saíram tuti, é claro que
foi uma boa pra quem investiu nesse lado”.(Marcelo C.I.)
A urbanificação propiciou a re-qualificação Ponta Negra, de praia distante e
mal afamada a noite, para praia badala e “Point” da vida noturna da cidade. A
refuncionalização é percebida pelo surgimento de novas funções para os espaços
urbanos já existentes, onde eram residências permanentes, de veraneio, surgiram
bares, restaurantes, as edificações foram reformadas, adaptadas e até demolidas
para abrigar novos usos.
Os investimentos do Governo do Estado, via PRODETUR/RN, acabaram
também por intensificar uma corrente migratória, de pequenos e médios
empreendedores e posteriormente de empreendedores internacionais como redes
hoteleiras, locadoras de carros, e outros.
44
O desenvolvimento do turismo tem se destacado como motivação para os
deslocamentos humanos, principalmente no nordeste brasileiro, segundo Silva e
Gomes (2001). Estrangeiros a procura de novos mercados turísticos e brasileiros
em busca de qualidade de vida, aposentados, ou em fuga da violência das grandes
metrópoles do sudeste, foram e são atraídos pelas atividades vinculadas ao turismo.
“... outro entrou no ramo de restaurante, um cara que veio do
Rio que tem... seis faculdades no Rio de Janeiro... dono do
restaurante XXXX, o fulano veio pra cá por conta de
problemas. (Rubens T.I.)
A maioria dos migrantes escolheu Ponta Negra como local de primeira
residência na cidade porque foi o bairro que melhor conheceram durante sua visita à
cidade como turistas, pela grande concentração de ofertas de casas e
apartamentos mobiliados para alugar, pousadas, ou por ser um bairro que tem
muitos migrantes criando assim um sentimento de vizinhança.
Enquanto em São Paulo, encontramos bairros típicos de determinados
segmentos migratórios como o bairro japonês da Liberdade, Brooklin Velho
caracterizado como bairro alemão, o bairro do Bexiga como reduto de italianos, entre
outros, já em Natal a concentração das mais diversas nacionalidades e origens
converge para Ponta Negra – o lugar do outro. .
Diante deste contexto, se impõe o seguinte questionamento: em que medida
o desenvolvimento da atividade turística vem modificando as relações sócio-
espaciais no bairro de Ponta Negra, e assim induzindo a construção de uma nova
espacialidade; e como ela se diferencia no espaço urbano da cidade do Natal?
A cada dia são construídos novos hotéis, pousadas, bares, lojas,
restaurantes. A mudança no uso do solo indica uma refuncionalização do espaço, o
uso de veraneio e residencial vem sendo substituído por usos relacionados ao
turismo. Os proprietários fundiários procuram otimizar economicamente suas
propriedades: alugando, vendendo para “chegantes” e investidores e até mesmo se
aventurando em novos empreendimentos.
Os “chegantes” são possuidores de capital econômico, o que permite a
escolha do lugar de moradia, como por exemplo, os bairros tradicionalmente
45
preferidos pela elite local. Mas a preferência deles recai sobre Ponta Negra. Ver
Figura 02.
Em Natal a elite econômica local representa 3,51% da População
Economicamente Ativa, com renda acima de 30 salários mínimos. Essa população
tem demonstrado preferência pelos bairros como Alto de Candelária, Tirol e
Petrópolis.(DANTAS, 2002).
A hipótese proposta é que a urbanização turística, como instrumento de
gestão urbana, direcionou o desenvolvimento do turismo de tal forma que propiciou
a auto-segregação espacial dos “chegantes” (migrantes que se estabelecem na
cidade), criando assim nova espacialidade em Ponta Negra, que se diferencia não
pelo fator econômico, mas pelo estilo de vida de seus moradores.
Esta dissertação deseja contribuir para a discussão sobre a dinâmica sócio
espacial do bairro de Ponta Negra, na cidade do Natal após programas para o
desenvolvimento do turismo. Diversos aspectos tornam este trabalho relevante.
Inicialmente permitirá aprofundar o conhecimento científico sobre o bairro de Ponta
Negra.
O turismo tem se configurado como alternativa econômica, onde a
observação das mudanças que se reproduzem no espaço após sua introdução, na
economia local, parece ser relevante de discussão.
Em segundo lugar poderá contribuir para o entendimento sobre as
espacializações provocadas pelo “estilo de vida” em Ponta Negra e sua relação com
o restante da cidade, que reflete um processo de mudanças de comportamento e
cultura contemporânea. E finalmente, parece ser oportuno escutar e dialogar com
diferentes atores sociais, salientando seus respectivos papéis no processo de
transformação sócio-espacial do universo de pesquisa.
A necessidade de um levantamento foi direcionada pela impossibilidade de
obtenção de informações que pudessem dar a visibilidade aos “chegantes” por meio
de uma pesquisa documental. Os casos de aluguel ou venda de imóveis nem todos
foram registrados nos cartórios, e às vezes a escritura e o registro foram feitos em
nome de conhecidos, pessoas da família, namoradas e outros. Assim a opção foi
pela identificação da naturalidade dos ocupantes dos lotes, tanto dos lotes de uso
residencial como comercial e de prestação de serviços.
46
O turismo é um fenômeno econômico, político, social e cultural dos mais
expressivos das sociedades ditas pós-industriais segundo Rodrigues.(1999) O
turismo ao introduzir o “outro” também altera as reações sociais. A presença do
outro pode levar a conflitos e a xenofobia como aponta a autora. Este conflito
também é apontado por Yazigi (1999) implicando em conflitos entre os hospedeiros
e os turistas. A retirada das barracas da praia de Ponta Negra expôs conflitos entre
“chegantes” e a população local, como demonstra Ramos da Silva (2000). A não
aceitação do outro, a discriminação, do outro, do chegante, hoje se reflete em vários
artigos de jornais e revistas.
A atividade turística é apontada, também, como setor que abriga grande
parte da força de trabalho e que tem se revelado como um dos fatores de
crescimento urbano na atualidade segundo Mascarenhas (2004).
A mudança na paisagem e a esperança do turismo como atividade
milagrosa, mereceram criticas de Yazigi (1999); onde o autor analisa a falta de um
projeto nacional e articulado com outras áreas de atividades da vida. Segundo a
ótica do autor, o Brasil, que não tem um cultivo forte das tradições e pode cair na
vulgaridade comercial, com a exploração de um consumismo de um espetáculo
gratuito do modo de vida da população local.
O turismo tem produzido novos comportamentos, novos espaços, tem
modificado a paisagem, introduzido mudanças estruturais. O turismo também tem
desencadeado processos de segregação espacial, cultural da população local que
nem sempre é incorporada neste modo de produção.
O tema tem sido abordado por geógrafos, arquitetos urbanistas e outros
pesquisadores. Entre vários autores destacamos Yazigi (1999), Harvey (1998) e Urry
(1996).
Estes autores abordam o tema sob diversas óticas, bastante abrangentes,
cujo potencial explicativo sobre o turismo endossa a necessidade de se discutir
sobre essa atividade e como ela se insere na economia, no espaço e na estrutura
social de comunidades locais.
O turismo é hoje uma atividade econômica que busca a captação de divisas
em um mercado globalizado onde as cidades competem entre si para atraírem
investidores; necessita de uma infra-estrutura para o seu desenvolvimento, de
47
acessibilidade, de equipamentos urbanos, porém a infra-estrutura física não é
suficiente para garantir seu sucesso. A qualificação da população local se faz crucial
para que ela possa participar deste processo produtivo e conseqüentemente
também ter acesso ao processo de consumo.
A introdução da atividade turística no espaço tem promovido profundas
mudanças no mesmo, na composição de seus habitantes e nas áreas próximas, de
forma que parece necessário ampliar as discussões sobre o turismo e as mudanças
que esta atividade provoca nos espaços. Nem sempre as divisas geradas pelo
turismo permanecem no local; quando o desenvolvimento turístico “é pra inglês ver”,
acaba mascarando os conflitos sociais, onde a sustentabilidade é soterrada pelos
interesses de atores sociais de determinados grupos sociais, quando não se
promove uma redistribuição dos benefícios que o turismo pode trazer.
A escolha do tema de nova espacialidade decorrente do desenvolvimento
turístico e sua relação com os estilos de vida foi influenciada pelo conhecimento
empírico do universo de estudo e a vivência das transformações que se
processaram nesta fração urbana, transformando Ponta Negra de bairro afastado
em centro da vida noturna da cidade. Esse fenômeno urbano despertou o interesse
para a melhor compreensão das transformações sócio-espaciais observadas.
A experiência empírica advinda da vivência pessoal, primeiro em São Paulo
e a mudança para Natal, como chegante, e da escolha do bairro de Ponta Negra
como primeiro local de moradia e posterior mudança para o bairro de Capim Macio,
reforçaram o desejo de aprofundar os conhecimentos em relação à questão urbana
sob a ótica de estilo de vida. Estes fatores foram decisivos na escolha do tema.
A abordagem desta pesquisa teve o intuito de poder contribuir para a
discussão sobre as mudanças socioespaciais produzidas pela introdução do turismo
no espaço urbano, em Ponta Negra, Natal.
A dissertação se valeu de um olhar transdiciplinar por contar com a
contribuição de várias disciplinas como sociologia urbana, geografia, entre outras. A
pesquisa documental foi utilizada para a obtenção das informações sobre o universo
da pesquisa, e do interesse dos atores sociais que atuam no mercado imobiliário,
que permitiu a obtenção de informações sobre o público alvo escolhido por eles, e
48
perceber como o bairro de Ponta Negra se inscreve no imaginário de seus
habitantes e dos moradores de outros bairros da cidade.
A pesquisa bibliográfica de fontes secundárias, de documentação indireta foi
utilizada para a obtenção de informações prévias sobre o campo de interesse,
enquanto a pesquisa de campo foi efetuada para coleta de dados de fontes
primárias, a cerca do objeto de estudo.
E a pesquisa em campo foi direcionada para a coleta de dados a partir de
fontes primárias, onde se buscou identificar a naturalidade dos habitantes do
universo pesquisado.
Os objetivos específicos foram:
a) Mapear a ocupação do espaço urbano pelos “chegantes”, em Ponta
Negra, para uma maior visibilidade do processo de apropriação espacial.
b) Analisar o bairro de Ponta Negra, segundo a preferência para a escolha
do local de residência segundo discursos dos atores sociais.
c) Procurar relacionar o local de moradia com o estilo de vida dos atores
sociais.
d) Relacionar o desenvolvimento turístico e o surgimento de uma nova
espacialidade em Ponta Negra e sua área de influência.
e) Verificar quais os interesses dos produtores e agentes imobiliários em
Ponta Negra.
O enfoque metodológico da dissertação foi dialético, na medida partes
alteram o todo e vice e versa, no universo pesquisado. O objeto da pesquisa, o
espaço urbano, é dinâmico e se transforma continuamente. Buscamos uma
interpretação dialética dos processos das mudanças socioeconômicas e sua
refração espacial, os fatores que foram analisados não são estáticos, mas em
permanentemente transformação sob a influência de uns sobre os outros.
Na medida em que se apresentou uma alteração na composição da
população de origem geográfica e um re-direcionamento da atividade econômica,
fatores esse que passam a interferir no espaço urbano, impondo novas
características, com a indução de uma nova espacialidade.
A pesquisa que serviu de suporte a essa dissertação foi dividida em cinco
etapas.
49
A primeira etapa foi direcionada para o desenvolvimento do referencial
teórico, com uma revisão bibliográfica a respeito da formação de hábitos culturais
que possam imprimir uma certa mentalidade ao habitante urbano.
A passagem do modelo capitalista para o capitalismo tardio também alterou
a experiência turística na contemporaneidade. As abordagens feitas por Urry (1996),
Harvey (1998) e Featherstone (1995) e Castells (2000) permitiram estabelecer uma
ponte entre a mentalidade cosmopolita pós-moderna e a atividade turística, como
prática social. A mentalidade moderna urbana, apontada por Simmel, Park e Wirth
(1979), dos habitantes das cidades de médio porte, representantes de sociedades
conservadoras, representam um distinto estilo de vida frente a mentalidade pós-
moderna dos turistas e migrantes que trazem consigo os seus estilos de vida.
A segunda etapa se consistiu da realização de uma pesquisa documental
acerca do desenvolvimento do turismo na cidade do Natal, com a coleta e leitura
sistematizada e indireta de textos e documentos diversos. Essa abordagem foi
direcionada para Ponta Negra, visando à construção de um breve histórico sobre a
introdução desta atividade no espaço urbano do citado bairro.
A terceira etapa se referiu ao levantamento de campo. A pesquisa em
campo não teve caráter probabilístico ou censitário, não conteve amostra
representativa no sentido estatístico, é apenas ilustrativo. A necessidade do
levantamento em campo foi direcionada pela impossibilidade de obtenção de
informações que pudessem dar a visibilidade aos “chegantes” por meio de uma
pesquisa documental, como já foi citado anteriormente. Procurou-se, estabelecer a
naturalidade dos ocupantes dos lotes, tanto dos lotes de uso residencial como
comercial e de prestação de serviços. Esse levantamento foi realizado pela própria
pesquisadora, assessorada por um pesquisador voluntário, não remunerado, no
período de setembro a novembro de 2003.
A base cartográfica utilizada para esse mapeamento foi um conjunto de
plantas adquiridas na Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto do Rio
Grande do Norte - CAERN. Essas plantas são utilizadas para a realização da leitura
do consumo de água. O bairro é atualmente dividido em 22 rotas onde cada rota
corresponde a uma planta que contém a demarcação dos lotes com as respectivas
edificações, ruas e quadras.
50
A dificuldade encontrada se deu em função da desatualizarão destas
plantas, que foram elaboradas no ano de 1987, e a não sofreram nenhuma
atualizadas. Ao efetuar o levantamento, foram encontrados lotes desmembrados,
ruas novas, modificação de passagens de pedestres, vários lotes remembrados para
atividade hoteleira, alteração no percurso de ruas, e etc. Essas mudanças foram
introduzidas no mapeamento, efetuado, graficamente, pela indisponibilidade de
tempo, alto custo e equipamentos adequados para um levantamento topográfico.
A pesquisa de campo foi um trabalho demorado e exaustivo.Todas as
edificações foram abordadas para se saber a naturalidade do morador, se era
moradia permanente, ou alugada para veraneio. As edificações que apresentavam
usos de prestação de serviços ou comercial também foram abordadas para se saber
a naturalidade do usuário do imóvel.
Os atores sociais mostraram-se mais dispostos a colaborar em horários
restritos. Na parte da manhã, das 9:00 horas às 11:00. Entre as 11:00 e 15:00, esse
período se mostrou infrutífero para a pesquisa, pois os moradores ou estavam
ocupados no preparo das refeições ou no descanso depois do almoço. Percebia-se
a presença de pessoas no seu interior das casas, mas não atendiam ao chamado ou
apareciam de pijama. Fato que levou a se iniciar a pesquisa de campo, no período
vespertino, depois das 15:00 horas e terminar as 17:00, pois em Natal o sol se põe
cedo e neste horário já é escuro.
Outro fator inesperado foram chuvas, o ano de 2003 foi generoso com as
chuvas fora da estação das mesmas. Estes fatores levaram a necessidade de ter
um auxiliar para a coleta de dados em campo. Os moradores se mostravam mais
receptivos com a própria pesquisadora, e mais reticentes ou simplesmente não
respondiam ao entrevistador do sexo masculino.
No conjunto de Ponta Negra o índice de residências habitadas, porém sem
ninguém no momento da pesquisa foi o mais alto, chegando a atingir em duas
quadras a proporção de uma casa fechada para cinco que atenderam ao
entrevistador, e no restante as casas fechadas variaram de 2 a 3 para cada 10
imóveis em que se teve contato com algum dos moradores.
51
A impossibilidade de tempo em retornar a estes imóveis, fez com que eles
fossem considerados como de moradores potiguares.No entanto este fator não
chegou a prejudicar a visibilidade dos chegantes.
Associada ao levantamento de campo, também foi realizada uma série de
entrevistas com dois grupos de atores sociais. A escolha destes atores sociais foi
direcionada para dois segmentos: moradores de bairros mais tradicionais e de Ponta
Negra; também foram realizadas entrevistas com agentes e promotores imobiliários.
A entrevista para os atores sociais residentes em Ponta Negra e em outros bairros
foi a mesma (em anexo).
As entrevistas foram estruturadas com roteiro de perguntas, a abordagem foi
direta, porém permitindo ao entrevistado fazer colocações à parte, que permitisse
explorar algum aspecto interessante para o presente trabalho. O mesmo roteiro (em
anexo) foi aplicado tanto para moradores dos bairros tradicionais como para os
“chegantes”, migrantes que estabeleceram residência em Ponta Negra. Por
ocupantes entendemos justamente os atores sociais que fazem uso da edificação,
pois nem sempre são os proprietários fundiários que ocupam o mesmo. Nas
entrevistas a observação foi direta, participativa e individual.
A escolha recaiu sobre atores com um poder econômico semelhante, classe
social privilegiada que permite escolher onde morar. Todos eles moram em imóveis
ou ainda tem patrimônio que ultrapassa a quantia de trezentos mil reais e são
pessoas do relacionamento pessoal da pesquisadora.
As questões visavam perceber diferentes respostas para mesmas
perguntas, de forma que indicasse pistas para as escolhas de mercadorias, de local
de residência, de gostos estéticos, de comportamentos sociais, e que pudessem
indicar diferentes estilos de vida. Procurou-se perceber diferenças entre o estilo de
vida dos moradores de bairros que não foram objetos de desenvolvimento turístico e
de Ponta Negra, o mais expressivo nos investimentos públicos para o
desenvolvimento turístico. A escolha de mercadorias, entre as quais está o espaço,
é entendida como manifestação pessoal, e se apresenta como um dos fatores que
podem levar a uma caracterização de um estilo de vida.
A concordância com a entrevista não apresentou rejeição por parte dos
“chegantes”, o mesmo não acontecendo com os atores sociais da sociedade local,
52
que foi constatada uma certa reserva em se expor. Já havia um contato social com
eles, mas mesmo assim, de forma muito sutil, se recusaram a serem entrevistados.
Foram abordados três atores sociais que não demonstraram uma aceitação quanto à
entrevista argumentando “É mesmo necessário?”, “ou” Vou viajar, quando retornar
entrarei em contato”, ou simplesmente foram adiando, adiando, adiando....
Para os atores sociais, classificados pelo uso residencial, não foi necessária
a interferência de agente facilitador, pois todos fazem parte do contato social da
entrevistadora.Já para os produtores sociais foi necessária a interferência de um
facilitador, o qual promoveu os contatos com eles. Entre estes, apenas um não
estava presente por três vezes no horário da entrevista, em seu local de trabalho,
como havia sido combinado com ele anteriormente, sendo escolhido outro ator social
para a realização da entrevista.
A entrevista elaborada para promotores imobiliários, foi estruturada e
aplicada pela pesquisadora, também permitindo colocações que pudessem ser de
interesse para o presente trabalho, porem com perguntas direcionadas ao mercado
imobiliário. Onde se procurou estabelecer o interesse dos mesmos no bairro de
Ponta Negra e permitir vislumbrar alguns mecanismos do mercado imobiliário local.
Por promotores imobiliários, adotamos a descrição feita por Corrêa (1989) que os
define como incorporadores, construtoras e corretores de imóveis. A entrevista
encontra-se em anexo.
A quarta etapa se consistiu da análise e interpretação dos dados coletados
em campo e na análise das entrevistas, dados estes que foram submetidos ao
referencial teórico para a confrontação com as hipóteses levantadas.
As entrevistas foram gravadas para dar uma maior agilidade na coleta de
dados. No início alguns entrevistados se inibiram com o gravador, mas logo se
sentiram confortáveis com o roteiro de perguntas. Depois de terminadas as
transcrições, foram montados “painéis” para uma visualização mais fácil das
afinidades e discrepâncias entre as respostas dos atores entrevistados. Processo
semelhante foi realizado com os produtores imobiliários.
Foram analisados os depoimentos sob a ótica qualitativa, não desejando em
momento algum estabelecer um perfil dos atores sociais, mas apenas mostrar a
53
existência de algumas preferências de estilo de vida dentro de um determinado
grupo social.
Os dados coletados em campo, no segundo semestre de 2003, com o auxilio
das Rotas da CAERN levaram á elaboração de mapas referentes às rotas e a um
mapa final, com todo o universo de pesquisa. Nesta etapa os dados também foram
tratados de forma qualitativa e sem pretensão censitária. Nestes mapas estão
demarcadas as apropriações territoriais dos chegantes brasileiros e os estrangeiros,
enquanto ocupação do espaço.
Os limites desta abordagem residiram no pequeno controle sobre a situação
de coleta de dados, sendo difícil confirmar a veracidade das respostas dos atores
sociais abordados.
E finalmente a ultima e quinta etapa que se destinou ás conclusões e
considerações finais da dissertação.
A formação de uma mentalidade urbana, a mudança cultural no pós-
modernismo, a atividade turística, e as práticas contemporâneas de consumo
apresentam variada crítica teórica desenvolvida por vários autores. Entre eles serão
abordados Harvey (1998), Urry (1996), Featherstone (1995), Castells (2000), Simmel
(1979), Park (1979) e Wirth (1979), para se estabelecer um referencial teórico que
permita submeter o conhecimento empírico à perspectiva teórica.
O crescimento das grandes cidades industriais nos Estados Unidos
despertou a preocupação com os problemas urbanos do início do século XX. O
interesse pelo comportamento humano no espaço urbano mereceu atenção de Park,
o maior representante da Escola de Chicago. Wirth e Simmel se dedicaram ao
estudo da sociologia urbana para explicar a cidade e os fenômenos urbanos.
Os discursos destes três autores possibilitaram uma abordagem teórica a
respeito do comportamento e do estilo de vida, e a formação da mentalidade do
habitante metropolitano nas primeiras décadas do século XX frente ao processo de
industrialização. Os textos analisados permitem estabelecer uma diferença das
experiências temporais, espaciais e sociais entre indivíduos de metrópoles e de
cidades de menor porte.
54
Natal é uma cidade marcada pelas relações sociais descritas como de
cidade provinciana, já muitos dos “chegantes” apresentam comportamento descrito
pelos autores acima, como um comportamento do indivíduo metropolitano.
Com o fim do modelo fordista e a passagem para o modelo de acumulação
flexível houve uma reestruturação dos modelos de produção, das formas de
consumo, surgiram novas atividades de prestação de serviços, e mudanças na
qualidade de vida urbana, para determinados segmentos da população. (HARVEY,
1998).
Finalmente abordaremos as mudanças culturais e de comportamento, as
quais consideramos que são responsáveis pela mudança da mentalidade moderna
para a mentalidade pós-moderna, a qual acompanha a mudança econômica do
capitalismo para o capitalismo tardio, concomitantemente com a mudança do
movimento moderno para o pós-moderno. Para tal, tomamos como base o discurso
sobre a cultura e consumo de Featherstone (1995).
A Vila de Ponta Negra tem uma ética de aldeia, de acordo com o
entendimento de Maffesoli (1987), criando uma atmosfera no imaginário dos turistas
e dos “chegantes”; onde os costumes dos habitantes deste bairro imprimem uma
característica diferenciadora em relação ao espaço urbano da cidade do Natal.
John Urry (1996), analisa o turismo como a oposição entre trabalho e não
trabalho, construindo uma experiência e consciência social entre práticas sociais
opostas. Para ele, o turismo constitui uma manifestação de como o trabalho e o lazer
são organizados nas sociedades modernas. A análise feita por este autor permitiu
um entendimento das transformações que a atividade do turismo introduziu no bairro
de Ponta Negra, assim como a produção de lugares turísticos.
O novo paradigma informacional é analisado por Castells (2000), onde o
desenvolvimento é um processo de melhoria nos padrões de vida da população
local, mudança na estrutura do sistema produtivo e aumento da competitividade na
economia global. O autor também aponta para algumas regiões do terceiro mundo,
inclusive o Brasil, como lugares que estão se tornando irrelevantes e estão sofrendo
exclusão social, com uma porção da população excluída dos setores produtivos,
sendo re-conectados pela economia informal e do crime.
55
O novo sistema produtivo requer indivíduos capazes de adquirir
conhecimentos informacionais e os que não acompanharem as novas exigências
poderão ser excluídos ou rebaixados. A Itália é citada pelo mesmo autor como um
país com alta proporção de autônomos. Essa categoria de profissionais pode
pertencer a vários segmentos econômicos desde os empresários à mão de obra da
construção civil, marceneiros, pequenos comerciantes. Na busca de um
empreendimento que gere lucros, a atividade turística se apresenta como bastante
atraente, e a diferença do poder aquisitivo da moeda do euro e do real, parece
indicar uma motivação para a marcante presença de italianos em Ponta Negra.
O imóvel, da Figura 06, apresentava como primeiro uso, o residencial, sendo
adaptado para abrigar um bar e depois completamente transformado em um centro
comercial com vários boxes para venda de lembranças, artesanato e suvenires..
2002 2003
2004
Fonte: Neverovsky FIGURA 06
Fig. 06 Exemplos de refuncionalização de uso de uma mesma edificação em Ponta Negra, entre 2002
e 2004.
Exemplos de refuncionalização de uso de uma mesma edificação
em Ponta Negra, entre 2002 e 2004.
56
Atualmente se denomina Engenho do Artesanato Santa Virginia, localizado
na Avenida Erivan França. O processo ilustrado acima ocorreu num período de dois
anos. Este imóvel é apenas um dos exemplos de refuncionalização do uso em
função do desenvolvimento turístico no universo pesquisado, mas é bastante
representativo da velocidade das transformações por que passa Ponta Negra após
as obras de urbanificação. E também induziu a delimitação de recortes temporais e
geográficos assim como o universo de pesquisa dentro do bairro de Ponta Negra.
A limitação de tempo para a conclusão da dissertação de mestrado levou a
estabelecer como marcos delimitadores para o recorte temporal: a urbanização de
Ponta Negra em 2000 até o primeiro semestre do ano de 2004. Já os limites do
universo geográfico da pesquisa foram definidos em função das plantas utilizadas
pela CAERN, que não corresponde aos limites físico-administrativos do bairro. Os
conjuntos Serambi I,II,III e outros condomínios verticais não foram pesquisados pela
dificuldade de entrar em contato com os moradores impostas pelas portarias dos
edifícios.
57
Fig. 07 Mapa das Rotas de coleta de dados pesquisa de campo do universo de estudo.
O RA-1
O R3-B
O R3-
A
O V R1
O V R7-A
PN R1
PN R3
PN R4
PN R5
PN R2
PN R7
PN R6
A R4-A
PN R8
A R5-A
V R12-B
V R12-A
A R6-A
V R9
V R10-B
V R-10A
V R11
V R8
0 4 Km
Mapa das Rotas de coleta de dados pesquisa de campo
do universo de estudo.
O R2-B
N
Oceano Atlântico
Fonte: Neverovsky, elaboração própria a partir de planta CAERN.
FIGURA 07
Legenda
PN –- Conjunto Ponta Negra
O – Orla
A – Alagamar
V – Vila
OV – Orla Vila
58
No primeiro Capítulo foram abordados trabalhos de vários autores para
estabelecer uma estrutura conceitual que permitisse analisar e compreender o
fenômeno urbano a partir da formação de mentalidade urbana moderna e pós-
moderna.
O segundo Capítulo foi dedicado à abordagem acerca da introdução da
atividade turística com uma breve abordagem e a introdução do desenvolvimento
turístico no Brasil.
O terceiro Capítulo se referiu a analise das entrevistas dos moradores de
bairros que não foram alvos da urbanização turística em Natal. Onde se procuraram
indícios e pistas que permitissem entender alguns aspectos do estilo de vida, de
atores sociais entrevistados segundo seus discursos. O estilo de vida é visto como
uma escolha de consumo pessoal, mas que pode identificar parte ou toda uma
classe social. Procuramos perceber alguns indícios de comportamento desta fração
da elite local, porém sem a pretensão de estabelecer um perfil deste grupo social.
Desejamos apenas discutir alguns aspectos do estilo de vida de uma parcela da elite
potiguar onde percebemos algumas preferências por determinados bairros.
O quarto Capítulo enfocou o desenvolvimento turístico na cidade do Natal.
Consideramos o Parque hoteleiro da Via Costeira um marco de grande importância.
Mas voltamos nossa atenção ao bairro de Ponta Negra, o real universo de estudo
deste trabalho. E procuramos abarcar as transformações ocorridas no bairro de
Ponta Negra, com um breve histórico do desenvolvimento do bairro e a introdução
da atividade turística neste espaço urbano.
O quinto Capítulo foi o resultado da análise dos discursos dos atores sociais
que denominamos de chegantes, onde se procurou apontar para alguns
comportamentos indicativos de seus estilos de vida. Percebemos indícios de uma
segregação social resultante de diferentes culturas e estilos de vida.
Apresentamos neste capítulo indícios da relação da nova espacialidade de
Ponta Negra com a cidade e o estilo de vida cosmopolita dos “chegantes”, onde os
discursos dos mesmos apontaram para fatores que os levaram a se apropriaram de
Ponta Negra. Esta análise apenas apontou para algumas características de alguns
moradores. Não se podendo generalizar alguns aspectos de estilo de vida dos
chegantes, mas apontar para a existência deles.
59
O sexto Capítulo procurou desvendar os interesses dos agentes imobiliários,
em Ponta Negra, que se tornou objeto de desejo de vários segmentos da população
mundial, ao ser inserido no contexto globalizante do turismo.
As considerações finais foram direcionadas sobre as transformações sócio-
espaciais e os estilos de vida em Ponta Negra onde buscou-se estabelecer uma
relação entre essas novas espacialidades.
60
CAPÍTULO 2 - DA METROPOLE PARA A ALDEIA GLOBAL:
transição de um modo de vida urbano para um estilo de vida pós-
moderno
O interesse pelo comportamento humano no espaço urbano, no início do
século XX, mereceu atenção de alguns autores como Georg Simmel, Robert Park e
Louis Wirth.
Simmel (1979) constrói um discurso sobre o cidadão metropolitano que se
adapta à dinâmica da cidade, resultando em um comportamento e uma mentalidade
que lhe permite enfrentar as pressões do dia a dia nos grandes centros urbanos.
Park (1979) enfoca suas considerações sobre o comportamento dos habitantes no
espaço urbano e como este comportamento se espacializa em diferentes frações
urbanas, transformando a cidade em um espaço fragmentado. Já Wirth (1979)
aborda o urbanismo a partir do modo de vida, o qual não se restringe ao espaço
físico da cidade.
Os discursos destes três autores possibilitaram uma abordagem teórica sobre
o comportamento, modo de vida e mentalidade do habitante metropolitano nas
primeiras décadas do século passado. A metrópole analisada por eles enquadra-se
num contexto histórico com acelerada expansão urbana provocada pela
industrialização, pela implantação do modelo fordista, do advento do automóvel,
telegrafo, telefone e outras inovações tecnológicas relacionadas ao desenvolvimento
da energia elétrica e mecânica, até a Segunda Guerra Mundial. É a época faustiana,
da destruição criativa e a construção de um mundo novo e moderno.(BERMAN,
2001).
O fordismo levou à construção de um estilo de vida resultante da produção
em massa modificando o estilo de vida dos habitantes nas metrópoles. Segundo
Harvey (1998) o fordismo construiu um modo de trabalhar, de pensar e de viver, e
também um novo individuo, e uma nova mentalidade.
As mudanças culturais, de comportamento e de consumo, as quais
consideramos que também propiciaram uma mudança da mentalidade metropolitana
moderna para a mentalidade pós-moderna, acompanham a passagem econômica
do capitalismo para o capitalismo tardio, permitindo estabelecer estilos de vida
61
dentro de um modo de vida urbano, que abordadas por Featherstone (1995) e
Castells (2000) que aborda a mudança para o paradigma digital na sociedade
contemporânea.
2.1 METROPOLE.
A formação da mentalidade do indivíduo moderno estava sujeita a
influencias de intervenções urbanas, como as provocadas por Haussman em Paris
na segunda metade do século XIX. E Robert Moses em New York, na primeira
metade do século XX, época da efervescência intelectual do movimento moderno
com a promessa de se construir um mundo novo, da revolução do proletariado na
Rússia e a formação da URSS baseada no paradigma marxista, da transformação
dos produtos culturais em mercadorias, do novo modelo de produção em massa, da
crescente industrialização e da expansão urbana acelerada por este processo.
Todos esses fatores resultaram num turbilhão de mudanças estéticas e psicológicas,
influenciando a formação no século XX de uma mentalidade metropolitana
moderna, esse período é marcado por mudanças no comportamento social nas
cidades grandes, ditas metropolitanas.
Robert Park (1979) é um dos maiores representantes dos estudos sobre a
sociologia urbana, da Escola de Chicago, entende a cidade como produto da
natureza humana e habitat do homem civilizado. A cidade não é vista apenas como
um espaço ecológico ou geográfico, mas como produto da sociedade. Como
produto, a cidade atende as necessidades de uma determinada população; caso
haja alteração nesta população, essa mudança irá determinar também modificações
em suas necessidades que se refletirão no espaço físico, ao se adaptar as
exigências da nova população. “A organização da cidade está enraizada nos hábitos
e costumes das pessoas que a habitam” (PARK, apud VELHO, 1979) essa
afirmação nos leva a considerar que a natureza humana interage de forma dialética
com a estrutura física da cidade, resultando num espaço que é a expressão de seus
habitantes. Assim, ao longo dos tempos, frações urbanas assumem as
características de seus moradores e usuários.
Essa premissa foi o ponto de partida para a análise do espaço de Ponta
Negra. O espaço, que enquanto produto, passou por uma refuncionalização para
62
atender a atividade turística e trouxe alterações na composição da população local;
que por sua vez, influiu no espaço que se apropriou. O conhecimento empírico
apontava para uma mudança da população com a presença de “chegantes”, e
também uma mudança no espaço com a configuração de uma nova espacialidade
com características de seus habitantes, diferente do resto da cidade.
Park analisa as espacializações de diferentes grupos no espaço urbano, e
aponta para a segregação de imigrantes, onde raça, interesses ou a vocação são
fatores de aglutinação espacial ao enfatizarem o sentimento de vizinhança.
A cidade de São Paulo possui vários bairros que se distinguem no espaço
urbano como expressão de seus habitantes: o bairro da Liberdade, por exemplo, foi
apropriado por imigrantes japoneses e seus descendentes. Ele é facilmente
identificado pelas lanternas japonesas nas ruas, pelos restaurantes de culinária
típica, pelas lojas onde se vendem produtos consumidos pela cultura japonesa como
ingredientes culinários, objetos de decoração, quimonos e etc. Notamos facilmente a
espacialização da cultura japonesa no espaço urbano paulista, como podemos
observar na figura 08.
Vistas parciais – ruas do bairro da Liberdade, São Paulo, SP.
Fonte Disponível em: Fotolognet/leberdade/?Photo_id=778661
Fig, 08 A expressão cultural de imigrantes japoneses no espaço urbano da cidade de São Paulo –
bairro da Liberdade.
O mesmo fenômeno é observado no bairro do Bom Retiro, na mesma cidade,
antes ocupado por judeus, modificou suas características quando passou a ser
A expressão cultural de imigrantes japoneses no espaço urbano da
cidade de São Paulo
bairro da Liberdade.
Figura 08
63
ocupado por coreanos apesar de ambos os grupos sociais atuarem no setor de
confecção de vestuário. Os chegantes com seus restaurantes típicos, clubes,
edificações com características arquitetônicas preservam sua cultura e se
incorporaram à cidade.
Uma das características das cidades cosmopolitas é justamente a presença
de várias etnias e nacionalidades que preservam sua cultura e ao mesmo tempo se
adaptam ao novo habitat.
As cidades de pequeno e médio porte se distinguem pela estrutura de suas
empresas que exibem uma organização com base familiar, geralmente fundada por
um patriarca, no comando do empreendimento, que posteriormente é assumida
pelos herdeiros. A empresa é administrada com base no parentesco, mesmo quando
atinge um determinado porte. As necessidades por funcionários são supridas entre
parentes e agregados, mesmo para os postos de gerencia priorizam-se os laços de
parentesco, ao invés de profissionais desvinculados da família como acontecem nos
grandes centros. Esta estrutura não significa uma boa ou má gestão empresarial,
apenas reflete a estrutura rígida da hierarquia social de sociedades que ainda
conservam hábitos patriarcais.
A cidade do Natal ainda tem a economia pautada por relações familiares
como as descritas acima, com uma estrutura fechada em suas próprias redes da
sociedade local. O setor turístico vem quebrando esse padrão com a colocação de
chegantes com experiência profissional nos cargos de gerencia e administração
hoteleira, acontecendo o mesmo em outros segmentos ligados à atividade turística.
As cidades grandes caracterizam-se pela produção de massa e também
pelo consumo de massa. A produção de uma grande variedade de mercadorias
modificou os modos de distribuição e de consumo, necessitava-se de um espaço
apropriado para as vendas das mercadorias produzidas em massa, levando ao
surgimento de lojas de departamentos. Esta forma de estabelecimento por sua vez
modificou as relações comerciais e os hábitos de consumo da população urbana,
que passaram a ser impessoal e não mais existindo o contato direto com o
comerciante suprimindo a prática social da barganha, segundo Sennet (1988). Ele
observa essa mudança sob a ótica das mudanças de comportamento dos indivíduos
em público. O consumo em massa é analisado por Park (1979) sob o enfoque da
64
substituição das relações primárias por secundárias, comparadas com as
comunidades pequenas que ainda conservam o contato social nas relações
comerciais.
A divisão de trabalho é levada ao seu mais alto grau nos grandes centros, e
uma variedade de serviços, que só podem existir na medida em que haja um número
suficiente de consumidores e com determinado capital econômico para consumi-los.
Essa diversidade confere ao citadino um estilo de vida metropolitano dentro de um
modo de vida urbano, o que não se verifica em cidades de médio ou pequeno porte,
que apresentam estilo de vida urbano, mas não metropolitano e cosmopolita.
As mudanças, de comportamento de consumo e o surgimento de
oportunidades diferentes para exercer a individualidade, fazem com que pessoas
com as mesmas preferências por determinadas atividades profissionais, de lazer, de
consumo, ou outros fatores de atração, freqüentem os mesmos lugares, que podem
se transformar em locais de encontros como clubes, formando círculos de
relacionamentos sociais diferentes, mantendo contatos sociais com vários
deles.(PARK, 1979).
Simmel (1979) se debruça sobre a análise da mentalidade metropolitana
que, segundo ele, se deve aos estímulos nervosos que o habitante está sujeito em
função do ritmo acelerado da cidade metropolitana. O autor distingue a mentalidade
das pequenas e médias cidades como mais emocionais, enquanto a mentalidade
das cidades grandes é mais racional e impessoal. Tanto Park como Simmel
conferem à divisão de trabalho, a competição e ao ritmo acelerado da cidade
grande, uma importância primordial na formação de um comportamento e na
formação de uma mentalidade metropolitana.
A atitude distante e racional é justificada por Simmel (1979) como uma
proteção psicológica do individuo perante os inúmeros contatos a que é exposto
diariamente, sem a possibilidade de estabelecer a origem de seu interlocutor e assim
definir o grau de confiança que pode depositar neste contato. Na cidade pequena os
contatos comerciais e profissionais estão permeados de relacionamentos sociais,
onde todos se conhecem, e onde é possível determinar a posição que o indivíduo
ocupa na economia, política e sociedade local.
65
Segundo o mesmo autor, o distanciamento nos relacionamentos
profissionais também é fruto da redução dos contatos comerciais a uma equação
monetária, onde tempo é dinheiro e tudo se traduz em “quanto custa”, tornando os
contatos mais impessoais, mais objetivos e direcionados a interesses específicos,
não cabendo uma familiaridade excessiva, porém se exige uma cortesia no trato
com seus interlocutores.
Essa atitude permeia as relações entre empregados e empregadores em
todos os níveis, desde o empregado doméstico ao gerente de uma grande empresa
multinacional. As relações, entre trabalho e remuneração, são por demais diferentes
nas cidades menores, levando a incompreensão de ambas as partes envolvidas,
quando um cidadão metropolitano se depara com os costumes paternalistas das
cidades ditas provincianas e vice e versa.
No discurso de André L.P. um “chegante”, fica evidente o relacionamento
distante, estruturado na prestação de serviço por parte da empregada doméstica em
troca de salário.
“... Pra que eu pago empregada?... Eu prefiro mandar a
empregada... e dar o dinheiro... Só pergunto se ta tudo bem, e
tal, formal... eu não gosto que se metam na minha vida, eu
também detesto me meter na vida dos outros”.(André. C. P).
Atitude diferente se percebe nos discursos dos entrevistados da sociedade
local que estabelecem uma relação paternalista com os empregados, como no
discurso de Marlene T.
“ Tem uma lavadeira e tem uma pessoa que faz a faxina. A
lavadeira, não sei .dizer pra você há quanto tempo. Eu diria
assim, provavelmente, a minha filha tem 16 anos, eu diria a uns
18 anos....ela já tá há muito tempo, então, casamento de neto,
a gente vai, então tem sempre alguma coisa.... passa a ser
uma pessoa da família, né? Você tem toda uma relação
diferente. Você não tem mais aquela relação de patrão e
empregado.” (Marlene T.)
O distanciamento aparece como uma característica de uma parte dos
indivíduos metropolitanos, que se sentem sufocados sob a constante observação da
sociedade, como acontece em cidades menores, onde todos se conhecem direta ou
indiretamente. O distanciamento confere um anonimato, mesmo estando em público.
66
O reverso da medalha do anonimato é a solidão; não há maior solidão do que
quando se está no meio a uma multidão.
O artista plástico americano Hopper retratou a solidão da cidade
metropolitana, o quadro abaixo, na Fig. 09, pinta uma lanchonete com um casal e
um homem solitário, ás altas horas da noite. A tensão e solidão são os objetos
retratados pelo artista que se valeu de uma cena do cotidiano americano.
Fonte; Hopper. “Nighthawks”
Disponível em: http: //www.ibiblio.org/wm/paint/auth/hopper/street/
Figura 09
Fig 09 NIGHTHAWKS
A figura 09 mostra o quadro que foi pintado em 1942. O artista retratou uma
série de quadros com a temática das ruas e a respeito do quadro abaixo teceu o
seguinte comentário: “I didn’t see it as particulary lonely... probably, I was painting
the loneliness of a large city”. “Eu não vi como uma solidão particular...
provavelmente... eu estava pintando a solidão da cidade grande”.(HOPPER)
O cosmopolita, que paradoxalmente busca e idealiza relações mais calorosas
entre a vizinhança, quando passa a viver em uma cidade provinciana, interpreta o
NIGHTHAWKS
67
contato social, sem muitas formalidades, como uma invasão de privacidade,
curiosidade demasiada, de intromissão em assuntos particulares.
Os contatos sociais em Natal têm suas origens a partir da vizinhança e do
parentesco onde as famílias são numerosas e são mantidos os vínculos entre
primos de segundo, terceiro grau e até mais distantes, provocando um certo
isolamento do migrante que não pertence a nenhum destes grupos, nem familiar,
nem político, nem social, nas cidades de pequeno e médio porte.
“Eu não sei se a gente que se completa com a família e
amigos, se a gente não se integra com eles, ou se eles é que
não integram com a gente”, (Antonia T)
A colocação deste ator social parece confirmar o distanciamento entre os
“chegantes” (os migrantes que se estabeleceram na cidade) e os “tradicionais”
(sociedade tradicional local) com base no comportamento social pautado pelos
relacionamentos dentro de círculos familiares.
Comportamento semelhante, nas cidades grandes, pode ser observado em
colônias de imigrantes, que estabelecem uma rede de relações sociais baseadas na
origem, cultura, religião e tradições. O filme “Casamento Grego”, (“My big fat grek
wedding”) da diretora Jane Zwick, que se passa nos Estados Unidos, enfoca os
conflitos culturais quando a filha de um imigrante grego se apaixona por um
americano e decide se casar. O filme mostra a gradativa aceitação do outro no seio
da comunidade grega local, que preserva costumes, religião e tradições gregas e
mantendo um sentimento de vizinhança e união.
Nos grandes centros as redes sociais se espalham por toda a cidade e não
se restringem a uma fração urbana. Quando as escolhas de contatos sócias recaem
sobre afinidades, muitas vezes não se estabelece nenhum tipo de vínculo com as
pessoas ao redor, seja no trabalho ou com vizinhos. O ritmo acelerado da cidade,
onde o relógio dita um comportamento, a atenção não é desviada para um contato
mais caloroso para com os vizinhos ou pessoas que não pertençam a algum dos
círculos sociais estabelecidos. Muitas vezes o habitante de um grande centro
68
desconhece o nome de seus vizinhos, e não estabelece nenhum contato social com
eles. Esse distanciamento na vida cosmopolita leva a uma cortesia formal.
Para Wirth (1979) as cidades modernas dependem de imigrantes vindos do
campo ou de outros países, com uma mistura de etnias e culturas, com a
aculturação de ambas as partes, dos imigrantes para com a cultura local e a
aceitação deles pelos habitantes das cidades assimilando gostos e costumes. Essa
mistura de raças, etnias, culturas diversas são o grande diferencial do modo de vida
urbano cosmopolita. Essa diversidade social exige a aceitação do outro, preparando
o habitante urbano para a aceitação do diferente, do inusitado e do estrangeiro. As
cidades pequenas podem apresentar industrialização, produção em massa, mas não
de diversidade cultural.
Para este trabalho, nos valemos do entendimento do autor acima, de que o
modo de vida cosmopolita é a convivência com diversas culturas.
O local e a natureza do trabalho, a renda, o status social, os costumes, a
cultura, os gostos e as preferências estão entre os fatores de seleção da população
no espaço urbano, que tende a fragmentar-se na medida em que os modos de vida
se tornam incompatíveis e antagônicos uns com os outros.
A cidade do Natal também foi alvo das intervenções urbanas do final do
século XIX. Durante um quarto de século foram realizadas obras para resolver
problemas de salubridade, limpeza e obras de infra-estrutura geral como escolas,
hospitais, teatro, cadeia e outros equipamentos. Essas obras visavam transformar a
cidade colonial em uma cidade moderna, adequada a imagem desejada pela elite
dominante segundo Oliveira (1999).
A elite natalense viajava para cidades metropolitanas do país e também para
a Europa, trazendo pensamentos inovadores. Segundo a mesma autora, algumas
alternativas teóricas trazidas da Europa foram postas em prática. O Conselho da
Intendência do Município criou o bairro da Cidade Nova, pela Resolução nº 55 em
1901. (OLIVEIRA, 1999)
“A expansão urbana através do bairro da Cidade Nova era
extremamente modernizadora e adequada à época em que foi
concebida, pois propunha áreas arborizadas com baixa
densidade de ocupação...” (OLIVEIRA, 1999).
69
A autora ainda aponta para a solução segregacionista da elite local, ao serem
doados terrenos aos pobres fora do centro da cidade, que unia o plano estético ao
sanitário, erradicando a pobreza e o atraso das áreas nobres da cidade. Assim no
início do século XX as pessoas contavam com bondes elétricos como meio de
transporte, vestiam-se com a mais recente moda da Europa e freqüentavam o teatro.
(OLIVEIRA, 1999)
O plano da Cidade Nova foi concluído pelo agrimensor Antonio Polidrelli em
1904, criando os futuros bairros de Petrópolis e Tirol.(Ferreira, 1999)
A modernização urbanística da cidade do Natal teve momentos de
importância para a adequação da cidade á mentalidade urbanística moderna com
transformações e modernizações de seus espaços urbanos.
Nos anos 20 sob a administração do engenheiro Omar O`Grady, iniciada em
1924 e durando por seis anos, foram realizadas diversas obras na estrutura viária e
na tentativa, do zoneamento urbano, inspirada nas idéias americanas. A elite
acompanhava os acontecimentos mundiais, e a posição estratégica colocou Natal
como um importante centro da aviação mundial durante a Segunda Guerra
Mundial.(Ferreira, 1999)
Os acontecimentos modernizadores não passaram ao longo da cidade do
Natal, influenciando sua população com uma mentalidade moderna, o quanto
possível para uma cidade de pequeno/médio porte. Assim podemos intuir uma
mentalidade moderna da elite intelectual presa numa armadura de costumes rurais e
do moralismo provinciano.
A cidade do Natal, até 1942 tinha como opções de comunicação com o resto
do mundo por mar ou pela estrada de ferro Great Western. E com a vinda do
contingente militar americano, foi necessária a construção da Parnamirim Road, uma
ligação rodoviária entre o porto e Base no município vizinho de Parnamirim,
permanecendo como a principal ligação com o Aeroporto Augusto Severo até os
dias atuais.(LOPES JUNIOR, 2000)
Esse isolamento, incorporado na natureza do potiguar, talvez seja um
indicativo de como o tempo transcorria em Natal. A elite continuou viajando, mas
retornava para o seu paraíso seguro e escondido entre as dunas e cajueiros, onde a
vida transcorria tranqüila.
70
2.2 FAST FOOD, CELULAR, INTERNET: O ESTILO DE VIDA PÓS-
MODERNO
.
Durante e depois da Segunda Grande Guerra, a ciência apresentou grandes
avanços que repercutiram no cotidiano da população mundial e principalmente nas
populações dos grandes centros urbanos, pois é a primeira a tomar contato com as
inovações tecnológicas e assim promovendo modificações não no modo de vida
urbano, mas uma mudança no estilo de vida.
Segundo Harvey (1998) o fordismo criou um novo jeito de pensar, um novo
homem, um novo estilo de vida. Ford instalou sua linha de montagem em 1913,
modificando o processo de produção e acelerando o tempo de giro do capital
produtivo, mas a produção fordista tornou-se mais significante no período pós-
guerra.
As inovações tecnológicas direcionadas ao consumo cotidiano de uma
grande massa como os aparelhos eletrodomésticos, a introdução do plástico, o
automóvel popular, a confecção de vestuário, móveis, aliados aos mais variados
serviços como hospitais, escolas, universidades, promoveram mudanças no modo
de vida, depois da Segunda Guerra Mundial, moldaram o modo de vida urbano,
possibilitando a multiplicação de estilos de vida nas grandes metrópoles.
As mudanças nos hábitos e costumes parecem ser mais evidentes na
sociedade americana. A sociedade americana está estruturada na auto-estrada, no
automóvel, no consumo em massa de produtos e tecnologia, apresentando uma pré-
disposição para a mobilidade espacial de seus habitantes. Essa transformação
ocorreu em um curto espaço de tempo, no final do século XIX, a sociedade
americana ainda estava desbravando o velho oeste, e pouco mais de 50 anos
depois fincava sua bandeira na Lua, como declaração de sua supremacia
tecnológica e bélica.
Harvey (1998) analisa a passagem do fordismo para a acumulação flexível
como uma mudança no modo de acumulação de capital e com uma nova maneira de
experimentar o tempo e o espaço, uma nova fase do capitalismo e não uma ruptura.
A transição para a acumulação flexível, segundo este o autor, caracteriza-se por
meio de novas formas de organização, novas tecnologias produtivas como a
71
robotização na indústria, a dispersão geográfica das empresas. Essas mudanças,
para os trabalhadores, representaram uma intensificação do processo de trabalho,
onde uma desqualificação, o não preparo para lidar com as inovações tecnológicas
significa o desemprego; levando a constante necessidade de re-qualificação para
obterem ou manterem uma colocação no mercado de trabalho repleto novas
exigências. Para ocupar um posto de secretária ou de auxiliar administrativo o
conhecimento da datilografia parece tão obsoleto quanto um dinossauro, frente o
computador e o mercado informatizado. A fig. 08 mostra a mudança introduzida pela
tecnologia no trabalho feminino, onde a maquina de escrever foi substituída pelo
computador, trazendo algumas facilidades no cotidiano de um escritório, mas por
outro lado segregando os que não tem acesso ao conhecimento do uso desta
tecnologia estão excluídos do mercado de trabalho até para as mais simples
funções.
Em meados dos anos oitenta, a Editora Abril iniciou o processo de
informatização, assim como outras empresas em São Paulo. Quem não tinha
educação informacional foi excluído estruturalmente da possibilidade de progressos
profissionais. Hoje todos os estabelecimentos comerciais de um certo porte, estão
informatizados, onde até os balconistas precisam de uma mínima qualificação
profissional e educacional.
Fonte: Banco de dados sobre trabalho das mulheres
Disponível em: www.fcc.org
Figura 10
Fig. 10 Mulheres trabalhando ao longo do século XX
Mulheres trabalhando ao longo do século XX
72
A passagem do capitalismo para a acumulação flexível foi dramática nas
grandes cidades, entre elas, São Paulo. As mudanças aconteciam a olho visto,
porém no dia a dia pareciam difíceis de entender, com uma crise social, altas taxas
de desempregos fabris, inflação galopante.
Várias empresas, micro e de pequeno porte, foram fundadas com o apoio
das industrias automobilísticas para a formação de um mercado de prestadores de
serviços e tarefas terceirizadas.
O processo da introdução de componentes eletrônicos exige uma
qualificação diferenciada para que o trabalhador possa manusear esses novos
equipamentos. Esse processo alterou os pré-requisitos para a admissão de
trabalhadores, com a preferência voltada para jovens que estão familiarizados com
jogos eletrônicos, com maior desenvoltura para o uso de equipamentos que utilizam
mecanismos semelhantes, como controles a distância e programação da execução
de tarefas executadas por máquinas. O desemprego industrial aumentou, os novos
postos de trabalho se apresentavam no setor de serviços. Várias indústrias fecharam
e suas instalações foram aproveitadas para shoppings out-let, que se proliferaram na
cidade.
Os bancos eletrônicos e cartões de crédito aumentaram as possibilidades e
o ritmo de consumo, surgiram também novos estilos de musica, novas modalidades
esportivas, computadores pessoais, celulares, marcando maneiras pós-modernas de
vivenciar o cotidiano.
A tendência da passagem do consumo de bens para consumo de serviços,
nos setores de recreação, saúde, diversão, escolas, creches, etc. marcam maneiras
pós-modernas de pensar e agir. Acentuou-se a volatilidade da moda, a introdução
de alimentos instantâneos, dos descartáveis, levando à introdução de novos
comportamentos que significaram abolir valores e estilos de vida consolidados para
assumir novos modos de agir, implicando em profundas mudanças na psicologia
humana.
Segundo Harvey (1998) a mudança que se processou no comportamento
social torna difícil o planejamento em longo prazo e a volatibilidade requer uma
grande habilidade de adaptação às reações do mercado, levando a tensão no
73
desempenho gerencial, ao stress e ao vício de trabalhar muitas horas, os
workholicks (obcecados pelo trabalho).
.
Fonte: Salvador Dali
FIGURA:11
Fig. 11 O relógio
A Figura 11 mostra o fragmento do quadro denominado de “A persistência
da Memória” de Salvador Dalí, pintado em 1931, parece dar a medida da experiência
temporal da pós-modernidade, onde tempo tem levado a diferentes
experimentações, quebrando barreiras geográficas e de distancia, permitindo uma
comunicação em tempo real. O tempo derreteu.
A rapidez com que produtos são alterados com os avanços tecnológicos dá
outra dimensão ao tempo. Alguns produtos se tornam obsoletos em um ano ou em
até menos, como computadores pessoais, maquinas fotográficas e até automóveis
com lançamentos anuais com modelos trazendo novos acessórios indispensáveis às
novas tecnologias a disposição do consumidor. Estabeleceu-se uma corrida
tecnológica no seio do cotidiano, onde se tenta acompanhar as inovações
introduzidas no mercado, quem não consegue acompanhar tal maratona está fadado
a ficar a margem do acesso às mercadorias principais da pós-modernidade: a
informação, comunicação e velocidade. Como dizia o comunicador de auditório
“Chacrinha” em seu programa de variedades transmitido pela televisão nos domingo
à tarde: “Quem não se comunica se trumbica!”.
O relógio
74
A Internet, introduzida na década de 90, tem modificado a disponibilidade de
informação de forma radical, não é o caso de se analisar a qualidade da informação,
mas a sua disponibilidade. Por outro lado, quem não puder ter acesso a essas
informações está à margem do mundo, das oportunidades de trabalho, dos
acontecimentos.(CASTELLS, 2000).
A publicidade volta-se para a manipulação dos desejos e gostos mediante a
vinculação das imagens do sexo ao produto, atingindo todos os setores. A oferta de
uma vasta variedade de produtos de procedência diversa, a proliferação de estilos
de decoração, da culinária, da moda, tornou-se acessível num mesmo espaço
urbano, e por meio destas experiências vivenciar a geografia do mundo como um
simulacro. A experiência da globalização do consumo permite aos habitantes das
metrópoles adquirir produtos de diversas origens, levando a uma sofisticação de
seus costumes e hábitos e a uma postura blasé ainda maior do que a apontada por
Simmel (1979).
A homogeneização dos lugares pelos produtos e serviços oferecidos, leva a
uma certa perda de identidade local, por outro lado induz a uma familiaridade
cosmopolita, nivelada pelo capital econômico com oferta de produtos sofisticados á
disposição de consumidores que não precisam mais se deslocar geograficamente
para consumi-los. A oferta destes produtos em qualquer supermercado leva a
sofisticação do consumo e a cosmopolitização do estilo de vida, onde se bebe água
gasosa francesa, o macarrão é de grano duro, italiano, as geléias são alemãs, o
azeite português, o vinho francês, o peixe fresco (salmão) chileno. Aumentando a
distinção entre os estilos de vida das cidades cosmopolitas frente às cidades
provincianas, que não possuem tal magnitude de produtos disponíveis para o
consumo.
As novas tecnologias possibilitam a produção de produtos quase
personalizados com grande variedade de estilos e com resultados quase artesanais.
Para Harvey (1998) o movimento pós-moderno não pode ser visto como
determinado pela tecnologia. O movimento moderno, por razões práticas, técnicas e
econômicas reprimiu o capital simbólico, em prol da produção de massa, enquanto o
pós-modernismo busca criar um mercado para bens de consumo com carga
simbólica. A união entre o capital simbólico e a riqueza simbólica, nos fenômenos
75
urbanos produz uma comunidade com grande fascínio pela estetização como
símbolo de distinção social.
A comunicação via satélite, os baixos custos do transporte rodoviário e
marítimo pesado, possibilitaram que muitas empresas a oportunidade de operar em
várias localidades do globo terrestre, onde a transmissão de informação em tempo
real quebrou as barreiras espaciais. A necessidade de informações precisas
transformou as metrópoles em cidades globais, com uma hierarquização do sistema
financeiro. “A produção ativa de lugares dotados de qualidades espaciais se torna
um importante trunfo na competição espacial entre localidades, cidades, regiões e
nações”.(HARVEY, 1998, p.266). Segundo este autor, as cidades procuram criar
uma imagem distintiva que atue como atrativo tanto para o capital como para
pessoas “do tipo certo”, as abastadas e influentes.
O processo de renovação urbana de Baltimore, analisado por Harvey (1998),
onde a City Fair se transformou em atração regular com centro de ciências, aquário,
centro de convenções, marina, hotéis, resultado da parceria entre o Estado e o setor
privado, atraiu empreendimentos como bancos, hotéis e serviços direcionados ao
turismo. A requalificação do espaço urbano de Baltimore se tornou um exemplo
seguido por outras cidades frente a desindustrialização. O turismo se apresenta com
uma alternativa econômica que possibilita a criação de um vasto movimento de
empregos no setor de serviços.
Featherstone (1995) enfoca a passagem do modernismo para o pós-
modernismo como o deslocamento do foco de atenção da produção de bens de
consumo para o consumo de serviços e a mudança cultural provocada por este
deslocamento. O autor reflete sobre o termo “pós-modernismo”, como algo em curso
no capitalismo e não como transformação de um novo paradigma pós-industrial.
Segundo ele, as mudanças na cultura contemporânea podem ser compreendidas
em termos artísticos, intelectuais, acadêmicos, como modos de produção, de
consumo, circulação de bens simbólicos e como mudanças nas práticas e
experiências cotidianas de diferentes grupos.
Sua análise aborda o aumento de lazer e atividades de consumo nas
sociedades ocidentais, que resultam em prazer de consumo emocional, que se
realiza em locais específicos, e as mercadorias passam a adquirir uma ampla
76
variedade de associações simbólicas relacionadas ao romance, exotismo, progresso
científico. As mercadorias como automóvel, bebidas, roupas, relógios, na sociedade
pós-moderna, associam-se ao signo produzindo a mercadoria signo, que pode
enfatizar a diferença de estilos de vida e demarcar relações sociais. As preferências
de consumo tornam possível classificar os outros, associando as classe ou frações
de classes e mapeando o universo de gostos e estilos de vida que revelam a vida de
uma pessoa. Surge o simulacro dos produtos como relógios, moda, etc onde a
imagem do individuo depende de signos para estabelecer identidade, proliferando as
falsificações “made in Taiwan”.
A expressão “estilo de vida” no âmbito da cultura de consumo
contemporânea conota individualidade, auto-expressão e uma consciência estilizada
de si mesmo.
“O corpo, as roupas, o discurso, preferências de comida,
bebida, casa, carro, opção de férias, são vistos como
indicadores de individualidade do gosto e estilo do
proprietário/consumidor”.(FEATHERSTONE, 1995,p 119).
Para o presente discurso foi adotado o conceito de estilo de vida definido
pelo autor através do consumo como expressão individual.
Featherstone (1995) diferencia o capital econômico do capital cultural, como
fatores de diferenciação da espacialização dos estilos de vida e as diferentes
espacializações em que o consumo é feito. O autor cita como exemplo o gosto dos
intelectuais que se reflete nas atividades de lazer, consumo culinário e gosto
musical. Já as elites econômicas preferem o consumo de mercadorias com grande
valor simbólico de status econômico e os trabalhadores apreciam esportes violentos
ou coletivos, culinária trivial e danças populares.
O pós-modernismo envolve mudanças nas práticas e experiências
cotidianas de diferentes grupos e desenvolvem novos meios de orientação e
estruturação de identidades. A tendência é de que grupos sociais procurem
classificar e ordenar as situações sociais e usar os bens culturais como meios de
demarcação, como barreiras entre determinadas pessoas e veículo de atração para
outras.
77
Nas entrevistas aparece uma espacialização de estilos de vida em Natal, no
item que se refere aos restaurantes preferidos. O Guinza, um complexo que reúne
uma boate, um restaurante com música ao vivo e um pequeno espaço destinado
exclusivamente à culinária japonesa; representa o lócus da elite política e
econômica. O Camarões, outro restaurante também em Ponta Negra, parece ser o
espaço dos turistas e da classe média alta da sociedade local. Este mesmo
restaurante abriu uma filial a alguns metros de distância, do outro lado da avenida,
para atender preferencialmente aos turistas, segundo G.J.S. funcionário do
restaurante. Esta informação leva a algumas considerações. Em primeiro lugar a
necessidade de ampliação do estabelecimento está restrita pela sua localização e
uma possível impossibilidade de comprar o imóvel adjacente. E em segundo lugar a
aparente necessidade de separar a clientela local, que prima pelos trajes
adequados, dos turistas endinheirados porem mal vestidos, com um comportamento
mais descontraído pelo clima de férias.
Já o restaurante Mangai recria os cenários do sertão, típico da corrente pós-
moderna do simulacro, está localizado fora do circuito turístico e seus clientes são
compostos na sua maioria pela população local, e apresenta a dualidade da
preservação da comida típica e a adaptação dos hábitos pós-modernos do fast food
da culinária regional.
A nivelação dos lugares pelos produtos e serviços oferecidos, leva a uma
certa perda de identidade local, a uma padronização, Esse processo provocou uma
reação de busca de uma identidade coletiva ou pessoal com a procura de raízes.
Uma tentativa de diferenciação, por vezes leva a criação de uma imagem, de um
simulacro ou pastiche que na realidade não expressa nenhuma identidade regional,
a não ser uma fantasia do que seria regional para atrair consumidores deste espaço.
Em Ponta Negra, surgiu um novo ponto comercial onde são encontrados alguns
bares e restaurantes que aderiram ao simulacro atraindo tanto a população local
quanto os turistas para estes estabelecimentos, ficando conhecido como “Salsa
Street”.
Os diferentes gostos, e o consumo de diferentes produtos expressam as
diferenças de estilos de seus proprietários através do acumulo de bens de consumo
suntuosos, como capital simbólico. A união entre o capital simbólico e a riqueza
78
simbólica, nos fenômenos urbanos que produz uma comunidade com grande
fascínio pelo símbolo que remete a uma distinção social.
As preferências de consumo tornam possível classificar os outros,
associando-os à classes ou frações de classes, permitindo mapear o universo de
gostos e estilos de vida. Featherstone (1995) cita o bairro de SOHO, em NY, que
atraiu membros de novas classes médias e altas para o consumo de um espaço
urbano dotado de um estilo de vida artístico.
A comunicação via satélite, os baixos custos do transporte rodoviário e
marítimo pesado, possibilitaram que muitas empresas operassem em várias
localidades do globo terrestre, onde a transmissão de informação em tempo real
quebrou as barreiras espaciais. A necessidade de informações precisas transformou
as metrópoles em cidades globais, com uma hierarquização do sistema financeiro.
“A produção ativa de lugares dotados de qualidades espaciais se torna um
importante trunfo na competição espacial entre localidades, cidades, regiões e
nações”.(HARVEY, 1998, p 266). Segundo o autor, as cidades procuram criar uma
imagem distintiva que atue como atrativo tanto para o capital como para pessoas “do
tipo certo”, as abastadas e influentes.
Algumas cidades podem ser vistas como possuidoras de um capital cultural,
como o Rio de Janeiro, em função de sua paisagem, que pode ser transformada em
fonte alternativa de capital econômico e prestígio. Cidades também podem ter seu
capital econômico oriundo de centros culturais, assim as políticas públicas procuram
incentivar investimentos na cultura como um dos fatores de distinção, dentro da
imensa competição das cidades por capital.
79
Fig. 12 Litoral do Rio Grande do Norte
Fig. 12 Litoral do Rio Grande do Norte
A cidade do Natal tem seu capital cultural nas praias do litoral do Estado,
fator de atração dos turistas em busca de paisagens naturais exóticas como a Praia
de Genipabu, Pipa, Barra de Cunhaú entre outras, como mostra a figura 12.
A tentativa de revitalização do bairro portuário da Ribeira caminha a passos
cambaleantes, num cai não cai, com a abertura de bares que fecham suas portas
algum tempo depois. E até mesmo a Casa da Ribeira, um espaço cultural com sala
de apresentação, um pequeno café e sala de exposição para artes plásticas, em que
Litoral do Rio Grande do Norte
Mapa do litoral do RN
Fonte: Viagem setembro 2003
Fonte:Natal uma bela cidade de 400 anos
Fonte:Natal uma bela cidade de 400 anos
Fonte:Natal pra você nº23
FIGURA 12
80
foi aproveitada uma edificação antiga, reformada dentro do conceito que se
espalhou nas grandes cidades de transformar fábricas, galpões, em espaços
culturais ou de lazer. Na Casa da Ribeira, a restauração trouxe ares
contemporâneos, porém após algum tempo, o projeto não teve a força necessária
para alavancar os espaços ao seu redor e atrair novos investimentos, correndo o
risco de se tornar uma iniciativa que não vingou no seu objetivo.
Featherstone (1995) analisa a mudança na paisagem urbana e a sua
estetização como resultante da intervenção de publicitários, designer, arquitetos,
jornalistas, etc. que ajudam a produzir um mundo de sonho. A estetização da vida
cotidiana levou ao desenvolvimento de uma série de bens de consumo diferenciados
e sofisticados, assim como atividades de lazer que incorporam um alto grau de
estilo, design e imaginário artístico e de capital cultural. As cidades se transformaram
em centros de consumo, saturadas de signos e imagens, onde qualquer coisa pode
ser representada e transformada em objeto de interesse turístico.
Segundo o autor, o capitalismo tardio também produz imagens e locais de
consumo que endossam os prazeres do excesso. De acordo com sua abordagem, a
Disneylândia e a proliferação de parques temáticos oferece exemplos e locais de
descontrole emocional controlado. Esse comportamento caracteriza o pós-turista
que é conivente com a simulação dos espaços e dos espetáculos apresentados para
o seu divertimento. Eles se deliciam com a natureza de simulacro, e sabem que é
apenas um jogo. Interativo é a palavra chave para o comportamento pós-moderno,
tudo passou a ser um jogo. Nas lojas, bares e nos restaurantes se vivencia uma
experiência de cenário, com ambientes simulados com mistura de códigos e
vocabulários culturais.
Featherstone (1995) aponta os shoppings como exemplos da mudança da
oferta de empregos do setor industrial para o setor de serviços. Nos shoppings a
compra passa a ser uma experiência, com cenários em seu espaço interno, com
ambientes simulados, mistura de códigos e uma multiplicidade de vocabulários
culturais.
A vivência da experiência de simulacro se estende a todos os habitantes das
metrópoles transformando todos em pós-turistas no sentido de que passam a adotar
uma postura frente ao espetáculo e ao cenário do espaço ao seu redor. As pessoas
81
passam a dirigir-se ao shopping para consumir o espaço, além das mercadorias e
serviços que ele oferece. O espaço foi transformado em mercadoria, um espaço de
flâneur, onde o individuo observa e é observado.
Um espaço flâneur no universo de estudo é a Avenida Erivan França, ao
longo do calçadão, com seus bares e restaurantes com mesas de frente para a
calçada e para a praia, lócus do “ver e ser visto”; onde a presença do diferente é
aceita, já que aquele foi o espaço destinado aos “outros”, quando do direcionamento
do desenvolvimento turístico para esse espaço.
Fig.13 Lugar de ver e ser visto
O Santa Fé Mall é uma ilha freqüentada também pelos jovens da sociedade
local, num mar de turistas. Outros estabelecimentos não gozam da preferência dos
natalenses, tendo entre seus freqüentadores uma grande maioria de turistas e
“chegantes”. Figura13.
Já a sociedade local tem apresentado preferências por lugares como o
Portugal Center entre outros, como um dos espaços flâneur do Natal.
O processo de segregação cresce na medida que as classes com maior
poder econômico e se isolam com barreiras físicas dos habitantes menos
privilegiados. As tendências são de que as pessoas passem a copiar uma maior
gama de símbolos, atitudes corporais, de consumo, numa tentativa de mostrar que
pertence a um grupo social.
Lugar de ver e ser visto.
Santa Fé Mall
Na Av. Erivan França –
PN
Fonte: Neverovsky 2003
FIGURA: 13
82
No capitulo seguinte abordaremos como a introdução do turismo se
desenvolveu no Brasil e como tem transformado os espaços urbanos em Ponta
Negra, na cidade do Natal.
83
3. BALNEÁRIO, RESORT, DISNEY: a produção de um espaço voltado
para o turismo.
O Turismo tem se apresentado como uma atividade econômica bastante
rentável, e a sua introdução em um espaço, rural, litorâneo ou urbano tem levado a
significativas transformações. Neste capítulo se fará uma rápida abordagem do
desenvolvimento da atividade turística e de sua introdução nos espaços; e como
eles são produzidos e consumidos, para uma melhor apreensão das transformações
observadas no universo de estudo.
Harvey (1998) aponta para o fordismo, com a ideologia da massificação, da
produção ao consumo, permeando todas as atividades da sociedade, principalmente
no período após a Segunda Guerra Mundial, da produção de habitações para
trabalhadores ao lazer, com o turismo de massa.
O turismo e sua espacialização também acompanharam a passagem do
modernismo para o pós-modernismo, onde o turista passou da atividade de
contemplação para o comportamento de interação do simulacro, do turista pós-
moderno como nos mostra Urry (1996).
3.1 DO BALNEÁRIO À DISNEYLÂNDIA: OS MODELOS DE
PRODUÇÃO E SUAS ESPACIALIZAÇÕES TURÍSTICAS.
A atividade turística não é recente, já havendo registros de sua prática desde
os tempos do Império Romano. Porém nos tempos modernos, o turismo é reflexo
das atividades econômicas do capitalismo, primeiramente com o aparecimento dos
balneários a beira mar para atender a uma demanda de trabalhadores e pessoas em
busca de benefícios para a saúde física. Urry (1996) analisa o surgimento do
balneário na Inglaterra, e a evolução das atividades turísticas até os dias atuais.
A diferença entre os balneários teve sua origem na posse da terra, deste modo
à questão fundiária permeia o lazer da sociedade capitalista. As grandes glebas
84
foram reservadas para empreendimentos destinados ás classes mais abastadas
com o impedimento de acesso dos visitantes indesejáveis, ou de classe menos
privilegiada. Aos menos favorecidos destinavam-se pensões e pequenos hotéis a
beira mar, segundo o mesmo autor. A competição pelo domínio dos locais pelo
capital era dividida em três segmentos. O capital de grande porte, representado
pelos proprietários de hotéis; o capital local, dos donos de pensão, parques de
diversão e o terceiro segmento das grandes empresas altamente capitalizadas
pertencentes a forasteiros que proporcionavam divertimento barato para as massas.
Urry (1996).
Observa-se esse padrão no espaço turístico de Natal, onde o Parque Hoteleiro
da Costeira destina-se aos hotéis de luxo com terrenos de grandes dimensões, e
Ponta Negra é ocupada por pousadas, albergues e hotéis de médio e pequeno porte
que foram construídos em lotes de tamanhos diversos, levando a necessidade de se
juntarem dois ou mais lotes para a edificação de empreendimentos diversos.
As novas práticas turísticas são desenvolvidas para as massas, os lugares são
escolhidos através da fantasia, de padrões sociais e sensibilidade voltada para
elementos visuais da paisagem, seja ela do campo ou da cidade. Ser turista consiste
em uma experiência que confere status nos dias de hoje. Ao se tirar férias, a
escolha do lugar é de grande importância, para se estar entre seus semelhantes
classe e hábitos.
Para Urry (1996) o turismo é uma atividade de lazer enquanto o trabalho é
atividade regular e organizada das práticas sociais na sociedade moderna, ele
estabelece relação entre o desenvolvimento do turismo e o modo de produção,
aponta que na Grã-Bretanha acampar nas férias é um exemplo fordista de lazer e
que com o pós-fordismo, os acampamentos receberam novas denominações como
“lugares de férias” e passaram a apresentar maior liberdade.
Migração também se mostrou como um fenômeno relacionado aos balneários,
segundo Urry (1996), com um considerável número de pessoas aposentadas ou
trabalhadores dispostos a morar em um balneário ou trabalharem a pouca distancia
do mesmo, assim o local de balneário também passou a ser apreciado para moradia,
tornando-se cada vez mais popular. A praia torna-se lugar de prazer, barulhenta,
85
repleta de gente e mistura social, com os banhos de mar. A exposição do corpo
também muda a moral e os costumes, assim a praia passa a gozar de fama de
excessos sexuais.
Segundo a descrição do mesmo autor, as vilas de pescadores tinham suas
casas voltadas para o interior, o mar era lugar de pesca e não de contemplação ou
lazer. Bangalôs e casas não geminadas foram construídas especialmente para o
veraneio, dispostas de frente para o mar e a sua contemplação, atraindo a classe
média com a presença das crianças na praia.
A Vila de Ponta Negra era um povoado de pescadores com suas casas
localizadas na parte superior das dunas e mais afastadas da praia. A praia era local
de guardar as jangadas e estender as redes de pesca para secarem e serem
consertadas. Este hábito permanece até os dias atuais, em meio aos turistas, onde o
cotidiano do pescador virou cenário consumido pelos turistas.
A figura 14 mostra o flagrante de dois mundos paralelos onde um pescador, da
Vila de Ponta Negra está consertando a rede de pesca na praia de Ponta Negra,
indiferente ao mar de guarda-sóis cheios de turistas, lugar onde dois mundos se
encontram, mas não se tocam.
Fonte: Neverovsky 2004 FIGURA 14
Fig. 14 Dois mundos paralelos
Dois mundos paralelos
86
A partir dos anos 60, os parques temáticos e de diversão passaram a se
instalar longe dos balneários, representavam o antiquado, enquanto esses eram o
novo, o inusitado, com um novo “estilo” de diversão e de lazer, localizando-se
próximos às rodovias. Exibiam tecnologia para proporcionar o perigo sob controle
com as expectativas de fantasias e aventuras seguras. Os parques temáticos
levaram a um novo conceito de férias, com a construção de um complexo artificial,
agora a orla marítima ou qualquer “cenário” podia ser construída em qualquer lugar.
Urry (1996) O simulacro no Japão recria a natureza - praias com ondas perfeitas
para o surf, onde não chove e a temperatura do ambiente é sempre a mesma. A
Disneylândia pode ser entendida com um marco no conceito de turismo pós-
moderno, como a experiência do simulacro no ocidente. O conceito “temático”
ultrapassou os limites físicos dos parques de diversão, se expandiu para o setor de
hospedagem, de prestação de serviços e do comercio.
As Fig 15a e 15b - The Venitian Resort Hotel, recriou a arquitetura veneziana dos
palácios dos dodges e como se isso não fosse suficiente, também foram criados: a
praça de São Marcos, os canais com direito a passeio de gôndola.
A Fig.15c –exibe a réplica do sarcófago de Tutankamon, no hotel Luxor, os
outros ambientes do hotel também mantiveram a temática egípcia.
E a Fig.15d - Paris Las Vegas Hotel, com torre Eiffel, Arco do Triunfo, ruelas
de Provenc, recriando uma imagem da atmosfera francesa que agradaria ao
hospede.
87
Fig.15 a Fig. 15 b
Fig.15c Fig. 15 d
Fonte: : www.vegas.com
Disponível em: www.vegas.com/resort/venitian/index.html?vc1=2=1htl ink vnh 1
www.vegas.com/resort/luxor/index.html?1-1&vc2=mfeat gph lux 2b
www.vegas.com/resort/paris/index.htm?vc1=1&vc2=mfeat txt prs 1b
FIGURA 15
Fig. 15 Veneza, Cairo, Paris? Volta ao mundo em 80 hotéis
Se a Disneylândia é a alma do simulacro, Las Vegas é o coração pulsante
desta experiência. Las Vegas é um exemplo de como se pode produzir um espaço
Veneza, Cairo, Paris?
“Volta ao mundo em 80 hotéis”.
88
turístico em qualquer lugar, no caso um deserto. E como a atividade turística
transforma o espaço e o seu entorno.
O turista pós-moderno não necessita mais se deslocar até os lugares de seus
sonhos, pode vivenciar suas fantasias de forma mais realista do que o real ao se
hospedar em Las Vegas.
Essa experiência pretende atender aos mínimos detalhes das fantasias de
seus clientes, que estando em Paris não poderiam vivenciar a Provença, dificilmente
poderiam pernoitar na mesma edificação do tumulo de Tutankamon e podem
desfrutar das delícias do passeio de gôndola sem os inconvenientes das alterações
climáticas como as chuvas, e o cheiro dos canais em determinadas épocas do ano,
tão inconveniente a alguns olfatos mais sensíveis que embaçam a beleza de
Veneza.
A cidade dos cassinos proporciona a “volta ao mundo em oitenta hotéis” onde
as características da fantasia foram recriados de forma a se adaptarem a um hotel.
Esses hotéis são de grande porte, o Venitian Hotel, por exemplo, dispõem de 4000
suítes, entre as amenidades que este hotel oferece está o museu de Gugenheim
com varias lojas no grande canal, e até aceitam animais de estimação de seus
hospedes.
A internacionalização do turismo significou a comparação entre os
lugares oferecido que levam as pessoas a escolherem entre o turismo nacional ou
internacional. O resultado desta competição é a especialização dos lugares
turísticos, como turismo especializado em historia, cultura, ou o descontrole
emocional como o carnaval do Rio de Janeiro.
A Jamaica é conhecida pela abordagem isolacionista, os hotéis são afastados
dos locais de habitação, cercados por muros, o turista é totalmente separado do
contato com a realidade que o cerca, o translado é ponto a ponto – aeroporto –
hotel. ‘’Pule o murro dos resort na Jamaica “íncita Petta (2001) os turistas a
deixarem a bolha e explorarem o país, experimentarem sua culinária, irem a bares
para escutar o verdadeiro reggae.
A discussão sobre o desenvolvimento do turismo enquanto estratégia de
desenvolvimento econômica às vezes não corresponde às expectativas, uma vez
que a maioria dos gastos fica em poder das companhias multinacionais de
89
transporte aéreo, cadeias de hotéis, agencias de turismo e não no local que foi
estruturado para o desenvolvimento turístico.
O turismo é volátil e dependente de outros fatores, como crise econômicas,
acidentes naturais, que podem afetar o fluxo de turistas e tornam os investimentos
turísticos considerados como de alto risco. O dia 11 de setembro de 2001 (dia do
atentado terrorista em New York), os acidentes naturais como a Tsunami na Malásia,
que aconteceu em 2004, são elementos que prejudicam o turismo a nível global,
abalando os sentimentos de segurança dos turistas e demonstrando a
vulnerabilidade dessa indústria.
O consumo pós-moderno envolve uma participação e não um estado de
contemplação. Consumimos cada vez mais os signos, e as identidades sociais são
construídas por meio de trocas de valores e símbolos. O turismo sempre envolveu o
espetáculo, para o autor o turismo é pós-moderno pela sua combinação do visual,
do espetáculo e do popular.(URRY, 1996)
O fortalecimento das classes prestadoras de serviços e das classes médias
gerou um grande público voltado para formas culturais pós-modernas. O mesmo
autor define a classe prestadora de serviços como: detentoras de trabalho superior,
profissão definida, elevado grau de educação, não possuidora capital ou terras de
grandes dimensões, se distingue da classe de trabalhadores de escritórios pelo
capital cultural e gosto. Ela possui considerável capital econômico e cultural, forte
compromisso com a moda, com rápidas transformações de estilos e mobilidade
social.
A pós-modernidade transformou o habitante das grandes, influenciando a sua
percepção do mundo ao seu redor e imprimindo uma maneira de viver que se sub
divide em vários “estilos de vida”. Estas maneiras de viver, de consumir, de trabalhar
e de suas formas de lazer contrastam com o “estilo de vida” de sociedades mais
conservadores, que ainda conservam laços familiares mais fortes, uma religiosidade
marcante e naturalmente uma moral também mais rígida e não necessariamente
vêem os turistas como modelos de comportamento social ou moral.
O comportamento de turistas algumas vezes é marcado pela falta de
educação, comportamentos anti-sociais e até outros deslizes mais graves que vez
por outra são noticiados nos meios de comunicação.
90
A atitude de consumo total do turista, que consome produtos, espaço,
serviços (nem sempre fazendo uma distinção entre o prestador dos serviços e os
serviços propriamente ditos) e também consomem o cotidiano da população local.
Alguns se apresentam ávidos em observar os nativos como um espetáculo incluso
no pacote turístico. Este fato às vezes é estimulado pelos próprios nativos que vêem
uma forma de sobrevivência econômica pousando para os turistas em troca de
pagamento.
No passeio de buggy pelas dunas de Genipabu crianças e até adultos se
oferecem para fotos “turísticas” com jegues e iguanas. Na praia de Ponta Negra
também foi observado comportamento similar com os hippies que vendem
artesanato, quando foi pedido a um deles para ser fotografado, ele pediu pagamento
em troca da “prestação de serviço”.
A relação entre turistas e a população local passa por situações de
ambigüidade, com a necessidade de sobrevivência econômica e ao mesmo tempo a
sensação de exploração frente à superioridade econômica do visitante.
3.2 A INDÚSTRIA VERDE AMARELA DO TURISMO: a produção do
espaço turístico no Brasil
Com a acumulação flexível surgiram novas escalas produtivas, de serviços, e
uma nova sociedade mundial complexa. As cidades se tornaram globais com uma
nova hierarquia de regiões e cidades. No Brasil, esse fenômeno é marcado pelo
surgimento de micro e pequenas empresas, intensificação da atividade turística de
pequeno e médio porte, quando executivos buscaram alternativas econômicas no
setor hoteleiro, e na proliferação do trabalho informal.
No período pós-guerra, com a popularização do automóvel surgiram
alternativas de hospedagem como as oferecidas por camping. Os acampamentos de
férias, no Brasil, na contra mão do conceito e de época, ressurgiram na década de
oitenta na forma de acampamentos de férias para atender a uma clientela de classe
média alta, passando a oferecer seus serviços junto às instituições privadas de
ensino, juntamente com uma onda naturalista e ecologia na tentativa de
proporcionar as crianças dos grandes centros urbanos um contato com a natureza.
91
No Brasil, o formato de camping, uma área com o mínimo de infra-estrutura
com banheiros e pias coletivas, proliferou por volta dos anos setenta. As redes de
camping espalharam-se por todo o território nacional, como o Turing Clube do Brasil.
Essa prática foi abraçada pela classe média possuidora de automóvel, mas
não de capital econômico suficiente para se hospedar em hotéis. O trailer,
acomodação mais confortável do que a barraca de camping, aparentemente não
teve o sucesso, no Brasil, que alcançou na sociedade americana que se estrutura na
mobilidade do automóvel e nas rodovias.
Os balneários foram aos poucos sendo suplantados pelas casas de veraneio,
tanto no litoral como no campo. A preferência pelo litoral é maior, essa escolha pode
ser ameaçada com o descobrimento da relação entre a exposição ao sol e o
aparecimento de câncer de pele, poderia ser um fator de mudança na escolha do
local de férias. Mas a indústria farmacêutica com a produção de protetores solares
eficientes colaborou para a permanência da praia e do sol no topo da lista da
escolha dos turistas.
Os loteamentos ao longo da costa brasileira, foram responsáveis pelo
surgimento de várias cidades/estâncias balneárias, que no restante do ano
permaneciam num estado de letargia, voltando à vida geralmente com a chegada
das férias escolares e feriados prolongados. Essa imensa conurbação ao longo da
costa brasileira, de casas de veraneio foi denominada de “cidade miliquilometrica”
por Yazigi (1999).
A dispersão geográfica e um reajustamento social e político das novas
organizações industriais levaram a necessidade de se criar ofertas de hospedagem
para indivíduos que se deslocavam pelas diferentes estruturas espalhadas
geograficamente de diversos negócios ou de um mesmo empreendimento. O
turismo, como atividade social acompanha as mudanças dos processos sociais e
econômicos, havendo assim a demanda de hospedagem e serviços do turismo de
negócios.
A evolução do conceito de lazer levou a uma nova forma de hotel: o resort. O
Club Mediterranée, espaço de lazer, privado, que oferece múltiplas atividades
esportivas e de entretenimento, é um dos primeiros exemplos desse tipo de
92
hospedagem no território brasileiro, com a sua primeira unidade localizada no
Estado da Bahia e a segunda no Estado do Rio de Janeiro.
O camping, que nos dias atuais está bastante em desuso, foi substituído por
outra forma de acomodação pouco dispendiosa, os albergues da juventude,
direcionados para o segmento de estudantes que se aventuram pelo mundo e
pousadas que oferecem acomodações mais econômicas para outros segmentos da
sociedade.
Algumas das novas formas de estrutura hoteleira se processaram em
espaços urbanos que já haviam sido dotados de toda infra-estrutura urbana, com
todos equipamentos urbanos já existentes para atender aos seus habitantes e
também aos turistas. Estas cidades, já possuíam capitais econômicos, com as
atividades já consolidadas no setor administrativo, industrial, comercial ou capital
cultural, com museus, casa da cultura, teatros e outros espaços culturais, sendo
acrescida à atividade turística.
Cidades privilegiadas, como o Rio de Janeiro, alem de possuir capital
econômico e cultural, também possuem o apelo cênico paisagístico. O Rio de
Janeiro, já estava estabelecido como espaço turístico no contexto mundial, mesmo
antes da globalização, enquanto outras cidades foram introduzidas no mercado do
turismo global, como Natal, no Rio Grande do Norte, após as políticas públicas para
o desenvolvimento turístico.
O desenvolvimento turístico no Brasil passou pelas fases de balneários,
camping, cidades de veraneio, mas não ocupava um lugar de destaque na economia
nacional. Na década de setenta; na onda do milagre econômico brasileiro com o
desenvolvimento da indústria, principalmente a automobilística, foi adotada uma
política de desenvolvimento regional e local com a Lei Nº 6.513, de 20 de dezembro
de 1977, que dispunha sobre a criação de Áreas Especiais e de Locais de Interesse
Turístico.
O desenvolvimento turístico se apresentava como uma das primeiras
economias mundiais. O Brasil, possuidor de uma costa litorânea invejável, porem
não explorada turisticamente, volta suas atenções para este espaço promissor. As
belezas naturais da orla marítima são inquestionáveis, porém nem sempre
acessíveis ou com infra-estrutura adequada para receber os turistas.
93
A industria do turismo é bastante desenvolvida em muitos países, mas o
Brasil, mesmo com um potencial paisagístico impar não tem dado a devida atenção
a esta atividade. Alguns questionamentos se impõem. A questão da segurança é um
dos principais fatores para o turista. A cidade do Rio de Janeiro, a cidade
maravilhosa, transformou-se em cidade do pesadelo surreal, onde o turista é
acompanhado por seguranças particulares ao se dirigir a praia de Copacabana. A
violência social, se não resolvida adequadamente, pode vir a matar a galinha dos
ovos de ouro, o turismo. Outro ponto é a imagem que é vendida do Brasil, ou seja: o
futebol, o carnaval e as mulatas seminuas. Como o turista deve entender este
descontrole emocional, como não confundir com a oferta de turismo sexual?No filme
“Advogado do diabo” com direção de Taylor Hackord (1997), com Al Pacino e Keanu
Reevers. O personagem de Al Pacino, o diabo, explica a lógica da tentação: “não
olhe,... olhe, mas não toque,... toque, mas não prove,... prove, mas não engula”. O
mesmo acontece com a imagem vendida do Brasil: olhe as mulheres, mas não
toque, toque, mas não... Será que esta lógica é entendida pelos turistas? E até
mesmo pelas autoridades competentes? Será que não está na hora de mudar a
imagem deste país? O Brasil tem mais a oferecer do que futebol e carnaval!
Na presente pesquisa em nenhum momento o turismo sexual ou a
prostituição foram alvos de questionamentos, porém apareceram nos discursos dos
atores sociais entrevistados.
Durante a entrevista com Clotilde T, ao ser questionada sobre o convício com
turistas, disse que acha saudável, e ao fazer uma breve retrospectiva dos hotéis da
cidade...
“... também tinha a questão do divertimento noturno para os
homens... a famosa Maria Boa, que era um cabaré da cidade,
né? e conhecida mundialmente... na época da Guerra...”
(CLOTILDE T.)
Outro ator social relaciona a prostituição e o turismo como resultante da falta
de perspectivas para a população pobre nos dias atuais.“...tem droga, tem
prostituição, tem falta de perspectivas....”(NESTOR C.P)
A observação da dinâmica social que se desenvolve na Av. Erivan França,
aponta para esta questão do turismo sexual como um forte ponto de escolha de
94
destino turístico. O desfile de “gringos” com moças de comportamento dúbio é uma
constante, sendo alvo de artigos em jornais e revistas.
“A presença deles movimenta euros e dólares.... Alguns
gostam de se refestelar junto a corpos femininos jovens e
morenos....”(VINICIUS,2005)
O turismo tanto traz desenvolvimento econômico com aumento de ofertas de
emprego, mas também tem o seu lado perverso, principalmente quando a questão
social já é difícil por si só. A falta de educação, problemas na distribuição justa das
riquezas do país tem contribuído para a produção de locais de prostituição, como
parece ser o caso de uma fração do bairro de Ponta Negra.
Em seu artigo VINÍCIUS (2005) aborda a presença de “gringos” nos lugares
considerados de exclusividade da sociedade e população local e como a presença
destes estranhos tem levado a discriminação generalizada e reações de xenofobia.
O texto completo encontra-se no anexo 02.
Em jornal de circulação diária também aparecem artigos contra a presença de
“gringos” generalizando a sua presença com os crimes de lavagem de dinheiro,
drogas e até morte, como o de autoria de MESQUITA (2004); que parece ser uma
atitude exagerada. Mas não deixa de refletir o pensamento de algumas pessoas
mais extremistas da sociedade local. O artigo do autor citado acima ínsita um
rigoroso levantamento sobre aos indivíduos que adquirem propriedades na cidade
do Natal. O texto completo no anexo.
As diferentes culturas podem levar as diferentes posturas perante os fatos do
cotidiano em uma cidade, permitindo serem vistos como resultado de diferentes
estilos de vida. No próximo capítulo procurou-se por indícios que pudessem levar a
uma distinção de estilo de vida de uma parte da elite econômica da sociedade local.
Abordamos o estilo de vida de alguns atores sociais pertencentes à elite, que
é fortemente marcado pelo consumo de produtos que delimitam as fronteiras entre
as classes sociais, como carros importados, consumo em lojas diferenciadas,
freqüência de determinados restaurantes e lugares bem demarcados como seus.
95
4- NATAL
As cidades litorâneas brasileiras se desenvolveram primeiramente em função
do porto e posteriormente ao logo de vias regionais.(VILLAÇA, 1998). As praias
eram habitadas pelas classes menos favorecidas assim como os pés de morros e os
alagadiços. Essas áreas eram desprezadas pela burguesia e elite social e
econômica. Estes fatos podem ser explicativos pelo pouco interesse inicial das
classes dominantes pela orla marítima. O costume do banho de mar foi introduzido
no início do século XX. Com a introdução do habito de veranear na praia a elite foi
se apropriando de territórios com apelos paisagísticos.
Villaça (1998) em seu discurso aponta para o espaço que é produzido e
consumido simultaneamente. A produção de um espaço visa à reprodução e
acumulação de capital. Segundo o mesmo autor as elites escolhem onde morar,
pois são possuidoras de capital econômico para tal. Essa escolha varia em função
da localização, o valor do tempo gasta para os afazeres cotidianos, do sitio, da
paisagem e da valorização da terra. Para ele, essa classe social atua sobre a
estrutura intra-urbana, onde as melhorias são efeitos e não a causa de preferência
das elites. Ele aponta para os casos do Rio de Janeiro e Recife, onde a elite local se
apropriou de espaços privilegiados antes do local possuir infra-estrutura e
acessibilidade, como Copacabana e Boa Viagem respectivamente.
Villaça (1998) analisa a forma urbana e o estio de vida nas cidades litorâneas
como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza. Ele compara a preferência das
elites da sociedade carioca por apartamentos, enquanto a elite paulista prefere
residências horizontais como o Alphaville. O autor cita a Barra da Tijuca, onde
predomina o padrão arranha-céu apesar de não haver obstáculos topográficos
significativos para a expansão do bairro. Segundo o autor, a verticalidade ou a
horizontabilidade são determinados pelo que chamou de “soberania do consumidor”
ou seja, a demanda solvável.
A forma verticalizada é preferida nas cidades litorâneas como Rio de Janeiro,
Salvador, Recife, Santos, onde os atrativos da paisagem são fatores de atração de
uma classe social que pode escolher onde morar. Em alguns bairros no Rio de
Janeiro aconteceram transformações sociais como a substituição da classe mais alta
96
por uma classe média, mesmo assim alguns ainda permanecem na área de frente
para o mar. Essas camadas se recusam a abandonar o local privilegiado pela
paisagem. (VILLAÇA, 1998)
Em Copacabana e Boa Viagem o turista penetrou e viveu a cidade, trazendo
uma variedade de atividades comerciais para atendê-los e os bairros ficaram
“misturados”, uma característica não tanto das diferentes classes sociais no mesmo
espaço, mas pela mistura das funções urbanas e atividades que é rotulada como o
estilo carioca de viver, segundo o mesmo autor.
As metrópoles nordestinas não tiveram uma apropriação ao longo da orla
com a intensidade que ocorreu no Rio de Janeiro e Santos. Villaça (1998) aponta
também para diferença de época em que se deu à introdução do turismo no Rio e
Santos, já existiram hotéis na década de 20, enquanto o turismo foi introduzido no
nordeste bastante tempo depois.
Na cidade do Natal prevaleceu o modelo de cidade voltada para o interior e
não para o mar. Na Figura 16, observamos alguns bolsões urbanos ocupados pelas
elites econômicas: os bairros de Petrópolis, Candelária, entre outros e Ponta Negra.
O conhecimento empírico apontava para uma auto segregação dos
chegantes. Por segregação entendemos a apropriação territorial por uma classe
social. Os preços dos imóveis são bastante semelhante tanto para os bairro de
Candelária, Petrópolis e outros ao serem comparados aos de Ponta Negra, porem a
apropriação espacial é distinta; os primeiros são apropriados pela elite da sociedade
local enquanto Ponta Negra é apropriada pela maioria da elite econômica dos
“chegantes”.
Se o fator econômico não forneceu explicação para a preferência de uns e de
outros pelos respectivos bairros, buscamos uma explicação pelo consumo, onde a
terra se transformou em mercadoria; que segundo Featherstone (1995) o consumo
de determinados produtos podem ser característica que diferencia os estilos de vida
dos indivíduos.
97
Fig. 16 Os bairros mais valorizados no Município do Natal
Assim esta pesquisa teve seu enfoque sobre duas frações das elites
econômicas que se apropriaram de espaços distintos.
A estratificação social e econômica do Natal é bastante complexa, o que
levou a caracterizar uma parcela da elite econômica da cidade, pelo poder aquisitivo
Os bairros mais valorizados no Município do Natal
Fonte: elaboração própria a partir de dados
Sinduscon/RN 2004 Sem escala
FIGURA:16
Preço do metro quadrado de imóveis
Ponta Negra R$ 2.028,00
Areia Preta R$ 2.046,00
Petrópolis R$ 1.806,00
Candelária R$ 1.818,00
Lagoa Nova R$ 1.756,00
Data: 2003
PETRÓPOLIS
AREIA
PRETA
LAGOA NOVA
CANDELÁRIA
PONTA
NEGRA
N
98
semelhante, com patrimônio ao redor de trezentos mil reais, e que podem escolher
onde morar.
A informação contida na figura 16 mostra os preços praticados no mercado
imobiliário na cidade do Natal em 2003. Por outro lado às pessoas do conhecimento
social da pesquisadora se dividiam em dois grupos: os tradicionais, ou seja, os
moradores dos bairros tradicionais da cidade e o outro grupo formado por os atores
sociais que optaram por residir em Ponta Negra, os chegantes, em sua quase
totalidade.
Mesmo a valorização imobiliária de Ponta Negra, não conseguiu ser atraente
para a sociedade local como bairro para residência permanente. Muitos dos imóveis
de veraneio, aproveitando a valorização foram vendidos, e os poucos potiguares que
residiam na orla estão gradativamente vendendo seus imóveis e procurando bairros
mais tranqüilos.
Os bairros de Petrópolis e Tirol apresentam a maior concentração de
rendimento médio de 22,09 e 21,63 Salários Mínimos respectivamente, como
também a maioria da população tem mais de 30 anos e um equilíbrio na tipologia
entre casas e apartamentos. Ao dois bairros estão localizados na Região
Administrativa Leste. Já os bairros que apresentam maior número de pessoas com
rendimentos acima de 20 Salários Mínimos são respectivamente: Lagoa Nova,
Tirol, Capim Macio, Ponta Negra que se encontram na Região Administrativa Sul.
(SEMURB, 2003). Os dados da SEMURB referem-se ao levantamento censitário
realizado no ano de 2000. Mapas e tabelas em anexo.
Os dados acima apontam para os bairros de Tirol e Petrópolis como os mais
antigos na preferência das elites, mas também mostram que elas estão se
apropriando de outros bairros em direção ao sul da cidade.
99
4.1 NATAL COM CHEIRO DE CAJU: A CIDADE ANTES DO TURISMO.
“Natal cheirava a caju”
(apud VA. Lopes Junior, 2000, p99)
Uma das características do Natal era o cheiro da cidade, o cheiro de caju,
presente até o final da década de setenta. O cheiro de caju é inebriante e
inesquecível. Uma singular caracterização de Natal que desapareceu com o avança
da malha urbana. (LOPES JUNIOR, 2000). Como era Natal com cheiro de caju?
Em 1968 foi encaminhado a Prefeitura Municipal do Natal o Plano Urbanístico
e de Desenvolvimento de Natal – RN, este plano foi elaborado pela SERETE S.A.
Engenharia, com a participação consorciada da firma Jorge Wilheim Arquitetos
Associados para a elaboração dos aspectos urbanísticos.
A pesquisa realizada pela Serete abrangeu uma gama variada de aspetos da
cidade do Natal, desde a ocupação do sítio à vida urbana na cidade. Este
levantamento foi realizado em 1967, e quando comparado com as entrevistas dos
atores sociais dos bairros tradicionais, levou ao entendimento de que os
entrevistados ainda permanecem com algumas características do perfil da sociedade
potiguar apontado pela Serete. A provável explicação para este fato parece estar na
faixa etária dos atores sociais entrevistados, que se encontra acima dos 50 anos,
indicando um estilo de vida de uma fração da elite social e econômica do Natal, não
podendo ser generalizada para toda a sociedade potiguar, mas mesmo assim não
deixando de ser um marco na apropriação territorial da cidade, ainda mais quando
percebemos uma tendência de escolher a moradia perto dos familiares.
O escritório Serete procurou segundo sua própria definição “dar um quadro
da vida urbana de Natal” tentando abordar os principais sistemas de vida natalense.
Cita os bairros de Tirol e Petrópolis como os mais finos, analisa a relação das
famílias moradoras destes bairros como outorgantes de trabalho para a parcela da
100
população menos privilegiada, mantendo os hábitos rurais e paternalistas,
permitindo aos pobres a subsistência, com vários empregados domésticos.
Aponta também para a localização das escolas tradicionais ao longo da
Avenida Marechal Hermes da Fonseca no bairro de Petrópolis, e bairro da cidade
alta como o lugar dos encontros com bares, cafés. No item referente ao
abastecimento revela o habito cultural do interior aonde o homem vai a feira e ao
mercado.
Ao se referir aos hábitos recreativos da população natalense cita o uso das
calçadas como estar coletivo, onde as famílias se reúnem, colocam cadeiras na
calçada, onde se dá a socialização no espaço público da classe média.
Este hábito se conserva até os dias de hoje, e também evoluiu para os
churrasquinhos nas esquinas, as rodas de cadeiras de plástico em torno de um
carrinho de cachorro quente, ou as galeterias
1
populares em Natal.
Segundo Serete, a população de Natal, em 1967, apresentava três classes
sociais bem definidas como alta, média e baixa. A caracterização da classe alta era
a moradia em lotes grandes, freqüentava clubes e possuía automóvel, casa de
veraneio e ou sítios. Já a classe média é descrita como a que habitava bairros
mistos e de alta densidade
Quanto ao aspecto econômico, os cargos públicos apresentavam-se como
principal fonte geradora de empregos. O pequeno comércio atacadista refletia uma
atividade econômica modesta. No que se refere à paisagem urbana, as praias,
apesar de contíguas à cidade, se apresentavam separadas, mesmo com o grande
potencial recreativo e permaneciam inexploradas.(SERETE, 1968).
Segundo Souza (1980) a cidade do Natal, é caracterizada pelo forte
componente de migrantes na sua composição populacional, não só os que se
dirigem à cidade em busca de sobrevivência, mas da burguesia que se mudou do
interior do estado para a capital em busca de aumentar o seu capital econômico e
cultural, passando a ocupar importante papel na estrutura social e política da cidade,
e trazendo consigo os hábitos paternalistas e costumes rurais.
1
Galeteria, em alguns casos são tambores cortados na longitudinal, e os galetos são assados sobre
carvão protegidos por uma grade.
101
A dinâmica social da sociedade potiguar, no final da década de sessenta
ainda conservava parte dos hábitos de cidades do interior do estado, com hábitos
paternalistas e costumes provincianos com formas rígidas de controle social e a
predominância de algumas famílias nos campos político, cultural e social. A vida
social era marcada por forte religiosidade, autoridade do homem e uma concepção
de vida mais local.
Essas características permanecem, de certa forma, ainda nos dias de hoje
na sociedade natalense, transparecendo nas relações sociais, comerciais e políticas,
caracterizando assim um “estilo de vida” local.
Fonte:Neverovsky, 2004 Fonte:Amendola, S/D
FIGURA 17
Fig. 17 Hotel Internacional Reis Magos – ontem e hoje
No que tange ao turismo, em 1965 foi construído o Hotel Internacional dos
Reis Magos, que se localiza na praia do Meio, até então a cidade possuía hotéis
modestos e antigos. Logo a seguir foi construído o hotel Ducal, na cidade; esses
hotéis destinavam-se a receber autoridades, empresários e outras pessoas que
estivessem de passagem pela cidade e não eram empreendimentos direcionados ao
turismo de massa.
Na figura 17 vemos o Hotel Internacional Reis Magos no seu esplendor. Ele
foi o primeiro hotel voltado para atender turismo em massa na cidade do Natal,
Hotel Internacional Reis Magos – Ontem e hoje.
102
sendo localizado na praia, isolado da cidade. Hoje ele se encontra desativado
aguardando investimentos para uma reforma para poder atender as exigências
atuais do turismo. Ao seu redor encontram-se outros hotéis e pousadas, que após a
urbanificação da Praia do Meio, foram reformados e se construíram novos hotéis e
outros equipamentos urbanos.
Praia de Areia Preta - Fonte: arquivo Tribuna Praia Areia Preta
do Norte S/D. Fonte: Amendola, S/D
FIGURA 18
Fig.18 Praias urbanas do Natal antes do turismo
Na figura 18 podemos observar a Praia Areia Preta, na primeira foto vemos a
praia propriamente dita, já na foto abaixo vemos uma vista da praia e a Ponta do
Morcego, no final da década de 60.
As mudanças na cidade são invitáveis, mas aparentemente muitos de seus
moradores mais maduros, sabem que não podem impedi-las, mas não deixam de
expressar seus sentimentos, como a Professora Dantas em um artigo no Diário de
Natal.
“... amo nossa terra... nossas paisagens... sinto uma dor que
não encontro nome para definir... ao perceber a
irreversibilidade de certas ações que estão roubando nossas
paisagens. Que eu não visse... uma paisagem querida ser
deteriorada e ultrajada pelas mãos que se servem
dela”.(D.DANTAS, 2004)
Praias urbanas do Natal antes do turismo
103
A cidade do Natal de ontem esta nos corações de seus moradores mais
maduros. As lembranças da infância e adolescência foram vividas nestas paisagens.
E fazem parte da memória e do estilo de vida potiguar. As mudanças são sentidas
de diversas maneiras do saudosismo a aceitação do curso normal da vida.
4.2 – MISSA, CLUBE, VERANEIO E PONTA NEGRA: o estilo de vida
potiguar.
“Olha, eu... sempre amei o Tirol...” (Rosa T.)
Os discursos dos atores sociais entrevistados, os tradicionais, que pertencem
à elite natalense foram os norteadores para se entender alguns aspectos de seu
estilo de vida. Esses atores sociais não representam o estilo de vida da elite
potiguar de um modo geral, porém seus discursos forneceram alguns indicativos de
hábitos, gosto e costume deste grupo social. Se por um lado esses dados não
podem ser generalizados por outro, não deixam de representarem um marco na
apropriação espacial da cidade do Natal.
No roteiro elaborado da entrevista, em anexo, não constava nenhum item a
respeito da religiosidade, que apareceu como um fator importante para os
potiguares. “ A presença da Igreja Católica, eu acho que é um marco...” (Clotilde T.)
Entre as preferências no estilo de vida potiguar os discursos dos
entrevistados apontaram para vizinhança, família, e religiosidade como fatores da
escolha do local de moradia.
“Olha eu...sempre morei no Tirol...eu amos essas dunas...eu
não me canso de olhar o Tirol. ..Aquelas famílias antigas
moravam todas no Tirol...As melhores residências da
época...na Hermes da Fonseca, agora só tem umas três...”
(Rosa T.)
104
Já a sociabilização, aparentemente, se dá de forma diferenciada entre os
potiguares e os “chegantes” de modos distintos nos espaços públicos e privados. Os
potiguares tendem a preservar o lar para a família.
VIZINHANÇA
A relação que as entrevistadas demonstraram com a vizinhança é muito forte.
A presença de familiares e filhos é fator decisivo para a escolha do local de moradia.
A esse sentimento de proximidade com os familiares, é acrescentado o
sentimento de pertença do lugar, da identificação e da história de vida ligada ao
mesmo. A acessibilidade também foi apontada como fator de importância, o estar
próximo de equipamentos de serviços e comercio.
Rosa T. inicia o seu discurso com a afirmação “eu sempre amei o Tirol,... eu
amo essas dunas... eu vejo as dunas como se fosse a primeira vez... todos os dias”.
Segundo ela, não se cansa de olhar o Tirol. Percebe a mudança das famílias de
casas para apartamentos por motivos de segurança ou de manutenção. Mas
segundo ela as pessoas permanecem no bairro. E a proximidade da família também
é muito importante, justifica a escolha do apartamento que mora:
“...porque moram as minhas duas filhas...no mesmo
edifício...cada uma no seu apartamento, mas eu perto
delas.”(Rosa T.)
A presença da família aparece como fator muito importante para a
apropriação espacial deste grupo social em Natal.
Antonia T. fala da proximidade das filhas e irmã, mora em Lagoa Seca, e
considera a localização de seu apartamento como o centro de tudo, “Aqui é o
coração, o Alecrim, a Ribeira, o Tirol, é o centro de tudo”. Para ela tudo é pertinho, o
comércio e as filhas.
105
Para Valéria T. a proximidade das filhas e da irmã também é muito
importante para a escolha do local de moradia, aliada a conveniência de ser perto de
supermercado, farmácia, etc. Clotilde T. também aponta para a facilidade de
resolverem seus afazer cotidianos perto de sua residência.
O sogro comprou um lote para cada filho, um vizinho do outro, assim a
vizinhança é comporta por parentes do marido no caso de Marlene T. Ela aponta
também a localização onde mora, o bairro do Capim Macio, como uma localização
muito “bem servida” conforme expressão idiomática local. “...essa residência tem
história...o pai do Mauricio (marido)...comprou ....um lote para cada filho...”
(MARLENE T.)
A presença da família fornece um suporte emocional e social conforme
discurso dos atores sociais entrevistados, já para com os condôminos apontam um
contato social amigável, porém formal. Referindo-se aos moradores do edifício em
que mora Rosa T diz “... é assim, um amigo, um bom amigo. Uma pessoa que a
gente se relaciona muito bem, mas cada um no seu lugar”.
FAMÍLIA: sociabilização nos espaços privados.
A família surge nas entrevistas como o centro da vida familiar e se dá no uso
do espaço privado, o mais privado possível. Aparentemente são poucos os que não
são da família que freqüentas os lares da sociedade local. Não foi relatado o habito
de freqüentar a casa de amigos como uma forma social, constante, apenas
esporadicamente. A residência parece ser muito preservada do contato de pessoas
que não apresentam laços de família.
As reuniões semanais apareceram nos discursos como um contato prazeroso
e também como uma obrigação familiar.
“Uma vez por semana a gente tem obrigação, com todos, a família” diz
Antonia T., acrescentando que tinha o hábito do café da domingo que realizava em
sua casa para as irmãs, primas, e o sábado era um encontro com as amigas.
Valéria T. Também fala dos encontros regulares com a família, que são
durante o jantar nas terças-feiras. Salienta que freqüenta a casa dos pais quase que
diariamente.
106
Clotilde T. se preocupa em não deixar a família isolada por ocasião de
alguma recepção em sua casa, mas constata a tendência das pessoas da família se
juntarem e criarem grupos com uma certa hierarquia em relação aos parentes. Surge
o aspecto da hierarquia nas relações familiares, que mesmo em ocasiões sociais
prevalece a posição de poder no núcleo familiar com a forte presença do patriarca,
reverenciado pelos presentes.
“... nossa família é muito unida, é uma família muito pequena.
Então... reúne todos os primos, filhas, os maridos, o que eu
gosto de chamar... de agregados os namorados das netas”
(Rosa T.)
Em seu discurso Rosa T. aponta a importância da família e diferencia os
familiares dos agregados em reuniões intimas. Por agregados, explica que são os
genros, namorados das netas, em fim pessoas que não tem laços de sangue.
MISSA: a prática religiosa.
A religiosidade foi apontada como característica marcante no estilo de vida
das entrevistadas. A predominância é da religião católica, onde se observou o
hábito de ir à missa, não só uma vez por semana aos domingos, mas diariamente.
A observação indica que a religiosidade é abraçada por todas as faixas
etárias, as igrejas ficam cheias de jovens no domingo à noite. Ir a missa é uma
atividade religiosa e social. Ser católico é um indício de ser uma pessoa de boa
índole, se houvem comentários como “minha neta esta namorando um bom rapaz,
ele é católico”.
“A presença da Igreja Católica... é um marco... porque a
maioria é católica... Hoje você tem evangélico, tem isso...
aquilo... a existência da Igreja Católica não deixou de ser um
marco... se você é realmente devota, você não precisa de mais
nada...” (Clotilde T.)
107
O discurso desta entrevistada revela a importância da Igreja e da
religiosidade em sua vida, onde a localização da igreja também é fator de escolha do
local de moradia.
Valéria T. relembra dos tempos em que ia a missa na sua adolescência,
habito que mantém nos dias atuais.
“... lá a gente ia, no domingo de manhã. Era até uma coisa
normal, lá de casa. A gente acordava cedo, ia assistir a missa
na Catedral, e depois ia tomar café no mercado. Muita família
fazia isso”.Valéria T.
Rosa T. fala dos tempos de veraneio em Ponta Negra e da ida à missa na
capelinha de Ponta Negra. Para Antonia T. a religiosidade se mistura com a
atividade social, como um prolongamento.
“.. porque a religião, a gente vai pra sessão espírita assistir,
geralmente tem muitos amigos, vou pelo menos duas vezes por
semana, tenho programa pra sair com amigos.......” (Antonia T.)
CLUBE E RESTAURANTE – sociabilização nos espaços públicos.
As relações sociais são desenvolvidas em dois segmentos distintos: a família
e a sociedade, segundo apontam os discursos dos atores sociais desta pesquisa.
Para essa fração da elite potiguar os relacionamentos familiares se apresentaram
bastante fortes.
Os encontros familiares são freqüentes, e a importância dos laços familiares
assume uma grandeza de obrigação quase sagrada.
Aos amigos, geralmente são destinados dias da semana, e principalmente as
noites de sexta feira. Marlene T. revelou que ao sair do trabalho se reúne com
amigas para relaxar, tomar um chopinho, só mulheres. E na sexta a noite é
reservada para ir a um restaurante, ouvir musica, encontrar os amigos.
108
As amizades de escola, de faculdade e do trabalho, são preservadas em
menor ou maior grau, mas se mostram distintas das relações familiares. Sobre os
encontros com os amigos Valéria T. fala sobre o envolvimento com o bate papo
entre o seu grupo, de tão entretido que releva os acontecimentos ao seu redor.
“... muitas vezes a gente não dá nem notícia que se passou
nem de que musica tava tocando, a gente... da notícia da
música quando ela esta muito alta...” ( Valeria T.)
Ela fala da importância do papo com os amigos, as brincadeiras, a
risadagem, como diz, afirma que os encontros de sexta a noite são importantes
dentro das atividades sociais... Já suas filhas, vão para a fazenda dos maridos nos
finais de semana e o filho vai para a granja, na lagoa do Bonfim. Ela se diz avessa
as badalações, coisa dos mais jovens.
Antonia T. fala sobre as amizades, e diz “a gente encontra muita gente que
conhece, que já fala, uma rede das grandes”. Referindo-se aos encontros em aulas
de yoga, dança, e do Rotary Clube.
As pessoas da mesma classe social e econômica da cidade do Natal se
conhecem, se não pessoalmente, mas estabelecem a procedência, o lugar que
ocupam no campo social, econômico e político.
Valéria comenta sobre as relações sociais na cidade: “Natal é uma sociedade
tão pequena que se você não se entrelaça numa geração, duas ou três abaixo você
se entrelaça sem querer”.
Clotilde T. relembrou os tempos de 30 anos atrás, quando a praia urbana era
um pequeno pedaço de praia, antes da construção da Costeira. O lazer era
concentrado entre Areia Preta e o Forte dos Reis Magos, que segundo ela ale ficava
toda a movimentação noturna da cidade com bares, boates, clubes, e a Rampa.
Conta que surgia um barzinho, na cidade, mas logo desaparecia. O cinema é
apontado por Clotilde T. como muito significativo no lazer dos adolescentes da
época, ou seja, em meados dos anos setenta. Diferencia o cinema dos que hoje
estão em shopping, os de antigamente tinham uma sorveteira perto onde a turma se
juntava para bater papo antes ou depois da sessão do cinema.
109
“ ...os cinemas eram concentrados...no centro da cidade tinha
dois, e no Alecrim que atendia .... um outro contingente...era
uma coisa de Natal....é estratificada....você tem um extrato
social no Alecrim, ..tem a classe dominante em Morro
Branco...você tem uma outra na cidade, você tem uma outra
em Ponta Negra....” (Clotilde T.)
Clotilde tem uma percepção clara da estratificação da cidade do Natal.
Valéria T. falou dos clubes que faziam a alegria dos tempos de sua juventude.
Aponta o América Futebol Clube como lócus da classe mais abastada, o Atlântico
para a classe mais baixa e a Associação dos Sargentos e Tenentes, o ASSEM que o
pai não deixava freqüentar. “O América, no meu tempo, era o auge... eu conheci o
meu marido no América”.Era o tempo das matinês, dos bingos, dos bailes com
música ao vivo.
A musica ao vivo é decisiva na escolha do lugar de se ir ás sextas à noite.
“Musica ao vivo, é, a gente passa até meia noite... uma ou duas vezes por
semana...” Antonia T. relata a sua preferência por musica ao vivi, também gosta de
dançar, freqüentar o Violão de Ouro e o Recanto Sul, que oferecem pista de dança,
alem do Praia Shopping; musica ao vivo é muito importante e segundo ela é movida
a música. “... onde tiver musica a gente tá”.Confirma Clotilde T.
Para os atores sociais entrevistados a musica é vital para o seu estilo de
vida, dizem serem movidos à música, em casa, no carro, nos restaurantes. Se um
restaurante não tiver música ao vivo, perde o encanto para eles. “Musica é o dia
inteiro... eu preciso de musica. (Valéria T.)”
O CONSUMO.
A aparência foi apontada como fator importante para os atores sociais
entrevistados. Estar com a roupa certa no lugar certo.
Antonia T. prefere roupa pronta pela facilidade de experimentar e levar, mas
salienta que quando viaja compra muito lá fora, no exterior.
Valéria T. por sua vez prefere a costureira, pois gosta da exclusividade da
roupa e diz que por ela os shoppings vão fechar, não freqüenta. Demonstra não
110
gostar de estar em contato com pessoas que não pertencem ao seu grupo social ou
econômico.
A preocupação com a aparência, em estar bem arrumada esta presente em
todas as entrevistas.
Quanto ao consumo para o abastecimento da casa, todas apontaram o
supermercado como o preferido.
Clotilde T. disse que o marido faz a feira, ele é quem compra o peixe, o
camarão, a carne.
Parece que a feira não é lugar de mulher, mas do homem que sabe escolher
produtos como carne de sol, peixes e frutos do mar, resquícios dos hábitos rurais
quando o homem ia a feira para abastecer o lar. O mesmo acontece com o Canto do
Mangue, lugar de venda de pescado, que por regra não escrita, mulher (de família)
também não vai lá, próximo a zona portuária da cidade.
O shopping aparece como local de lazer e de consumo, foram citados o Natal
Shopping, o CCAB-NORTE na preferência para compras.
Antonia T. apontou o Praia Shopping como lugar de lazer, que freqüenta a
praça de alimentação para ouvir música ao vivo, conversar e beber com os amigos.
Marlene, que mora no Capim Macio, também apontou o Praia Shopping, mas como
uma conveniência da proximidade de sua casa para alguma compra rápida, uma
lembrança para um aniversariante, ou algo parecido.
Rosa T. fala do habito de sair com os amigos e amigas dos tempos de
colégio, gosta de um barzinho “arrumadinho”. O marido sempre acompanhava nas
compras, não tinha o habito de ir a feira. Hoje prefere o supermercado para
abastecer a casa. Ela aprecia um cinema, mora em um apartamento, os círculos
sociais que freqüenta são parentes e amigos íntimos, para receber e ir á casa. Já
com pessoas menos próximas os encontros são em locais públicos, como
restaurantes, etc. Fala de que Natal é muito pequena, onde todos se conhecem.
Esta observação vem a reforçar que os membros de uma classe se
conhecem em cidades de pequeno e médio porte, não se conhecem todas as
pessoas de todas as classes, mas a elite se conhece e mantém uma rede de ligação
e de conhecidos.
111
Aprecia o Guinza “é muito animadinho” porque tem música ao vivo, não
gosta do calçadão. O habito de veraneio continua presente, porem em praia mais
afastada e na casa da filha.
EMPREGADOS: relação paternalista
A relação com os empregados domésticos revelou a delicadeza e fragilidade
sobre os limites estabelecidos e cumpridos por ambas as partes. As relações
variaram de paternalista, com uma proximidade muito grande, e também uma
postura de subserviência bastante marcada.
“... naquele tempo, Natal, nos tínhamos ótimas empregadas,
num é a dificuldade....que temos hoje...as cozinheiras como
nós chamamos, eram pessoas educadas, ta entendendo? Que
convivia muito bem com a família.”(Rosa T.)
Rosa fala do tempo em que tinha três empregadas, a cozinheira, a
arrumadeira e a babá das crianças, hoje ela é viúva e mora só, tendo apenas uma
faxineira. Valéria que mora só também falou das empregadas, hoje tem apenas uma,
dizendo que não mantém uma relação paternalista, mas que não deixa de estar a
par da vida da filha da empregada e que sempre que viaja traz um presente.
Antonia T. também mora sozinha, não mantém contato afetivo com a
faxineira que trabalha para a filha também, mas afirma que a filha “ajuda no que
pode”, empresta dinheiro, etc.
Clotilde tem uma relação difícil de descrever, se por um lado usou o termo
“serviçais” por outro lado mantém um contato próximo com as mesmas, apreciando
as massagens nos pés que uma das “serviçais” aplica, e outras atenções, tendo no
total duas mulheres trabalhando em sua residência, além do jardineiro que presta
serviços regulares.
Marlene assume a relação paternalista em relação a uma secretária pelo
tempo em que esta está com ela (16 anos), que segundo ela já é considerada muito
próxima da família.
112
VERANEIO E PONTA NEGRA
O veraneio é uma outra característica marcante do estilo de vida dos
potiguares, habito este preservado até hoje. Veraneio em uma cidade litorânea é nas
praias urbanas? De maneira alguma!
O veraneio é práticas sociais da sociedade local, exercida no seio familiar.
As casas de veraneio, segundo a descrição são do tipo sempre cabe mais um, o
filho, o amigo do filho, os netos, as noras e naturalmente o “staf” de empregados
para atender essas pessoas. As praias de veraneio apontadas como as preferidas
são: Pirangi, Muriu, Jacumã, Porto Mirim, Cotovelo, Tabatinga. Ver figura 18. Nas
casas de veraneio se reúne toda a família, com vários graus de parentesco, e
também os amigos.
Como fala Antonia T. “Quando eu to na praia, eu convido, ai a casa é cheia..”
ela tem casa de veraneio em Cotovelo.
Valéria disse que gosta de ir a qualquer praia mais distante porque sempre
encontra pessoas que conhece.
O bairro de Ponta Negra aparece associado ao veraneio de antigamente e ao
centro gastronômico dos dias de hoje, com várias opções de bares, restaurantes,
etc.
Para Antonia T o atrativo de Ponta Negra o lazer, os restaurantes com musica
ao vivo, mas acha que a praia esta poluída. A presença dos turistas é vista por ela
como uma coisa positiva, modernizadora. Mas não moraria em Ponta Nega em
função da presença de estranhos.
“... eu acho... a gente se entrosa mais com as pessoas, acho
melhor... eu conheço... o vizinho é quase um amigo... onde me
relaciona melhor... É... os moradores de Ponta Negra, eu não
sei se a gente que se completa com a família e amigos, se a
gente não se integra com eles, ou se eles é que não integram
com a gente?” (Antonia T.).
Ela não gosta de freqüentar a praia de Ponta Negra, pois tem muita gente,
preferindo praias mais distantes como Tabatinga, Cotovelo e Barreta.
113
Para Valéria T. a percepção de distancia em relação a Ponta Negra varia
conforme a abordagem: para morar é muito distante, uma viagem ainda associada
ao veraneio de praia distante; porém para sair a noite, não encontra problemas com
a distância. Segundo ela: “Ponta Negra às vezes toma ares assim de praia de
veraneio. Então eu não acho tão legal isso”. Afirma que o bairro oferece muitas
tentações no dia a dia, barzinho, vida noturna, “eu acho que fica pouco sério”.
”A praia de Ponta Negra ( para ela) é fora da cidade, uma praia
de veraneio... eu sempre veraneava em Ponta Negra... a gente
tinha aqui o centro da cidade, onde eu sempre morei... ai
veraneava lá... o calçamento terminava ali perto da
Castelão”.(Valéria T.)
Valéria lembra dos veraneios em Ponta Negra, da estada muito precária de
pissaro, estreita, passando de dois a três meses lá. A imagem de Ponta Negra
continua distante, mas afirma “A vida noturna de Natal é quase toda em Ponta Negra
e na Praia do Meio, né?”
Na visão de Marlene T. Ponta Negra tem uns setores com grande
circulação de pessoas que são transitórias, um aspecto negativo para ela, por
problemas de segurança. Fala da fragilidade em que os freqüentadores de um
restaurante na Rota do Sol estão expostos:
“... até porque já teve assaltos, ele é muito fora... já teve
assalto... uns dois ou três... é assim com todo mundo que ta,
não é do cofre do restaurante, com todo mundo contribui com
sua parte... um arrastão...” (Marlene T.)
Ela relembra também a implantação do conjunto Praia Shopping e as Torres
dos edifícios do condomínio Corais de Ponta Negra.
“... foi um dos primeiros empreendimentos que ela entrou... a
Capuche... no...mercado imobiliário...queriam fazer...um
loteamento residencial...um aproveitamento....para fazer um
centro comercial...eu imagino que eles pensavam muito num
centro de bairro” (Marlene T.)
114
Ela refere-se ao Praia Shopping, apontando que os proprietários fundiários
não vislumbraram a futura localização do empreendimento, não deixando um
espaço adequado para o estacionamento; a empresa se viu obrigada a adquirir
alguns terrenos, demolir as edificações para erguer o estacionamento para seus
clientes após a urbanificação da orla de Ponta Negra.
Clotilde T. fala dos tempos do conjunto de Ponta Negra, quando “... as
pessoas daqui sentiam um certo receio de ir pra lá... porque não existia serviços...
havia praticamente a praia.” Fala também da praia como um lazer, uma praia
distante, onde só moravam pessoas que tinham carro para se deslocar para o
trabalho, a escola. A praia de Ponta Negra hoje, para ela está poluída, e prefere
apenas flanar, como ela diz “usufruir a beleza natural, dos restaurantes...” Afirma
que não moraria em Ponta Negra por questão do barulho, da poluição sonora,
poluição ambiental..”Cita a presença” daquelas pessoas “os hippies”. Ela entende
que é uma forma de subsistência, mas não aceita a presença delas, se sente
agredida.
“pra mim é uma agressão....não agüento não faz o meu estilo
de vida...gosto de pessoas...bem apresentáveis, de repente
você abre a porta e depara com um bocado de gente, pé
descalço com menino...Não!” (CLOTILDE T.)
Rosa T. diz que nunca moraria em Ponta Negra e relembra da casa de
veraneio...
“Nossa casa de veraneio era em Ponta Negra... na rua da
frente (Erivan França). Ali nos tínhamos nossa casa, logo
depois da guerra... passávamos três meses... naquele tempo
se podia tomar banho de mar...” (Rosa T.)
e continua lembrando que a casa foi construída pelo pai com um lugar para cada
filho, que ia a missa durante o veraneio na capelinha de Ponta Negra, “nesse tempo
era assim, era a vila de pescadores... ce nem pode imaginar como aquilo era
simples e tranqüilo”. Diz não ter o menor conhecimento da Vila de Ponta Negra de
hoje. Acha que “por hábito, vamos dizer assim... de cidade” não moraria em Ponta
Negra. Para ela Ponta Negra não é mais praia de veraneio, tinham amizades com
115
pessoas que veraneavam perto, mas que não mantinham contato em Natal. Deixou
de veranear em Ponta Negra a uns dez anos atrás, na década de noventa, e está a
espera de um comprador para vender a casa, que já foi alugada e foi reformada para
abrigar um bar. Hoje a família veraneia em Jacumã ou em Porto Mirim.
O TURISMO E O TURISTA.
O turista não faz parte da vida dos entrevistados, ou seja, eles procuram não
ter contato com os turistas, que foram definidos como pessoas transitórias e
relacionadas ao crime, a falta de moral, ao não se saber quem são e de onde vem e
para onde vão.
A mobilidade incomoda, os outros trazem novos hábitos, novos costumes,
novas maneiras de viver, novos estilos de vida, que muitos aparentemente não
desejam ver mudanças em seus modos e estilos de vida.
Rosa T. afirma que na sua maneira de viver não tem nenhuma aproximação
com os turistas. “Eles ficam lá, e eu, eu to na minha terra, na minha cidade, os meus
amigos, a minha família”. Diz que não censura os turistas, pois eles estão de férias,
se eles se vestem bem ou mal o problema é deles, já que não vivem na sua
sociedade e completa “desde que sejam quietinhos, não chamem... não
escandalizem...”. Fala também do restaurante Camarões, que é muito bem
freqüentado, apesar de muito turista, mas quando fala do muito bem freqüentado
refere-se ao pessoal da terra.
Em Ponta Negra começaram a surgir alguns restaurantes de italianos que
passaram a disponibilizar algumas vagas, nos moldes de pousadas, e depois com a
construção dos hotéis na Via Costeira o turismo começou a crescer segundo Clotilde
T. O turismo fez Ponta Negra perder a característica que tinha para o natelense,
afirma. Ao falar do turismo lembra que Natal tinha uma rede hoteleira muito
pequena, citando o Hotel Tirol que segundo ela era conhecido nacionalmente pelo
café da manhã. Faz uma ligação entre o turismo e o divertimento noturno para os
homens, a famosa Maria Boa, que era um cabaré da cidade, e conhecida
mundialmente, segundo sua ótica. Para ela a Maria Boa foi uma referencia turística
da cidade, o estabelecimento de Maria Boa foi desapropriado na década de 80 para
116
obras de urbanização na cidade. Clotilde T, conta que Maria Boa fazia parte da vida
social noturna da elite masculina, onde eram promovidos bailes fantásticos e a
sociedade masculina se fazia presente. Ela percebe uma grande mudança, em
relação ao turismo após a implantação da Via Costeira. Associa a presença do
turista ao fator segurança. “Natal de 25 anos atrás, era Natal sem muralhas”.A
presença de uma pousada a deixaria temerosa, pois como diz “com que olhos os
turistas que vem estão lhe vendo?... uma vez que a população não é residente, mas
transitória. Acha que a urbanificação turística foi benéfica para a cidade, sob o ponto
de vista ambiental, referendo-se a retirada das barracas e a falta de higiene que elas
traziam. ”Você tinha pessoas que faziam uma alimentação de qualquer jeito, lavava
o peixe, tirava as viceras...chegava.....comia em qualquer lugar...”. Afirma que as
barracas agrediam a população residente; que o proprietário fundiário, pagante de
impostos teve sua visão do mar limitada pela presença das barracas, assim como os
problemas com a segurança e de higiene foram aumentados, lembrando a
presença de ratos como conseqüência da falta de limpeza causada pelos restos
deixados pelas barracas.
Valéria veraneava em Ponta Negra, associou a presença do turista com a
insegurança, “turista atrai marginal” segundo sua visão. Acrescenta que a cidade
cresceu muito com o turismo. Em relação ao deslocamento de espaço de lazer dos
clubes para os restaurantes comenta: “A vida noturna de Natal é quase toda em
Ponta Negra...” Fala que as filhas não freqüentam Ponta Negra, só para ir a um
restaurante. Para Valéria T. Ponta Negra representa o “lócus” do descontrole
emocional, com a tentação de muitos bares, muita vida noturna. A presença
do “outro” em Ponta Negra incomoda Marlene T. com a presença de pessoas
transitórias, diz que começa distinguir as pessoas que são locais das pessoas de
fora, que segundo ela as pessoas locais dão uma certa segurança. “Elas nunca
seriam pessoas que podem trazer um perigo pra você”.Quanto ao convívio com os
turistas afirma:
“O convívio com turistas nos locais que são bem públicos...
praia... incomoda... mas quando ele (o turista) ta digamos, em
locais que não são mais seus espaços....acho... que tem...um
certo desconforto.” (MARLENE T.)
117
As falas dos atores sociais entrevistados indicaram como fatores que
consideram na escolha do espaço são a historia pessoal de viver no bairro desde a
infância, a presença da família nas ruas próximas, os serviços, o comercia. “... isso é
o viver... é a maneira da gente viver”. Rosa T. se referindo ao fato de que tudo ser
perto, como diz “um pulo” e conclui: “agora pra mim, se eu fosse mudar... só queria
aqui. Esse miolinho onde eu sempre morei”.
Os discursos dos entrevistados parecem indicar que o estilo de vida deste
grupo social é moldado pelo caráter simbólico dos produtos consumidos, entre eles o
espaço. A união entre o capital simbólico, a riqueza e o status social parecem moldar
o cotidiano desta parcela do grupo social. Como o consumo de determinadas
mercadorias estabelece um limite entre as classes sociais, a espacialização de um
determinado estilo de vida também serve para marcar os limites sociais, econômicos
e culturais estabelecendo um distanciamento entre os que não pertencem a estes
grupos.
118
5 - OS TURISTAS ESTÃO CHEGANDO.
O turismo requer investimentos em infra-estrutura urbana, saneamento
básico e outros equipamentos urbanos para o seu desenvolvimento, que foram
realizados durante as últimas duas décadas do século XX, com recursos públicos,
na cidade do Natal. O bairro de Ponta Negra passou a ser o mais representativo dos
investimentos públicos para o desenvolvimento turístico, via PRODETUR/RN. Após
intenso processo de urbanização turística, Natal, e principalmente o bairro de Ponta
Negra, passaram a se inserir no contexto global como “lócus” turístico privilegiado.
A cidade do Natal apresenta três espaços turísticos, a saber: as praias
entre o Forte dos Reis Magos e o Farol de Mãe Luiza que denominaremos de praias
urbanas, a Via Costeira e Ponta Negra.
As praias urbanas localizam-se junto ao forte dos Reis Magos, onde foram
construídos o Hotel Reis Magos e alguns outros hotéis de pequeno e médio porte.
Como o universo desta pesquisa está localizado no bairro de Ponta Negra,
abordaremos rapidamente o espaço turístico da Via Costeira, e nos concentraremos
em Ponta Negra.
Para Lopes Junior (2000) a urbanização turística não chega a moldar toda a
cidade, mas os espaços turísticos constroem uma identidade de lugar-mito. O lugar-
mito de Natal é Ponta Negra, que é vendida para os turistas, como ponto de
referência do litoral natalense, este sim, parece moldado pela urbanização turística.
Os lugares destinados aos turistas foram definidos pela construção da Via
Costeira, duplicação da Estrada de Ponta Negra, da execução da Rota do Sol e da
urbanização turística do bairro de Ponta Negra. Ao longo da Via Costeira estão
localizados os empreendimentos turísticos de grande porte como resort e hotéis de
quatro e cinco estrelas. A Rota do Sol e a travessia de balsa do Rio Potengi
possibilitam o acesso ao litoral sul e norte do Estado do Rio Grande do Norte,
respectivamente. Em Ponta Negra se localizam empreendimentos de pequeno e
médio porte como hotéis, pousadas, restaurantes, bares, etc.
119
5.1 VIA COSTEIRA
O Governo do Estado, em parceria com a elite local, decidiu a implantação
de um pólo turístico, apregoando a ideologia de crescimento econômico com
aumentos de empregos vindos do turismo, cuja espacialização resultante é o Parque
Hoteleiro da Via Costeira com grandes hotéis de luxo; o marco inicial para a
produção de turismo em massa.
A figura 19 mostra a área que foi destinada ao parque hoteleiro da costeira
antes da sua implantação.
Fonte: arquivo Diário de Natal S.D.
FIGURA 19
Fig. 19 Orla marítima antes da Costeira
O Plano Urbano Turístico para a construção da Via Costeira foi implantado
através da Secretaria Estadual de Planejamento – SEPLAN em 1978.
A Fig.20 mostra uma vista parcial da Via Costeira, onde se observa a
separação entre as dunas e uma faixa de terras ocupadas pelo parque hoteleiro.
Orla marítima antes da Via Costeira
120
O Parque da Costeira é a representação do produto espacial das redes de
crescimento descritas por Gottdiener (1999). Segundo este autor as redes de
crescimento viabilizam a construção de um espaço em qualquer lugar, de acordo
com os interesses destes atores sociais. A Via Costeira é um espaço que pode ser
percebida como uma territorialidade da elite local para suas atividades no setor
turístico. A territorialidade é entendida como um conjunto de práticas de apropriação
e permanência de um agente social ou de grupos como descreve Corrêa (1994).
Via Costeira. Hotel na Via Costeira
Fonte: PRODETUR/NE, 2002 revista Natal para você, n°7.
FIGURA 20
Fig. 20 Via Costeira
O processo de apropriação do espaço para a construção do parque hoteleiro
na Via Costeira é descrito por Lopes Júnior (2000).
A luta pela territorialidade da elite local durou por muitos anos, sendo
quebrada com a compra do Carlton Natal Hotel, pelo grupo hoteleiro português
Pestana que possuem dois hotéis no Rio de Janeiro e um em Salvador. Após a
compra o empreendimento passou a chamar-se Pestana Beach Resort.
(CONTRUÇÃO RN, 2001).
Via Costeira
121
O Grupo SERHS, um grupo espanhol está investindo na construção do Natal
Grand Hotel, que será o maior da via Costeira com 425 apartamentos.(Natal pra
Você, ano 8, 2003).
Nesta faixa de terrenos são encontrados hotéis de grande porte para a
cidade do Natal e a maioria de propriedade de potiguares. Segundo Ferreira (1996)
a construção do parque hoteleiro, da via Costeira, representa a migração do capital
econômico da construção civil para o setor turístico.
A Via Costeira promoveu a ligação entre a praia do Meio, próxima ao centro,
e o bairro de Ponta Negra, na zona sul da cidade ao longo da orla marítima. A faixa
de terra entre o mar e a via Costeira foi reservada para a implantação de um
conjunto hoteleiro para empreendimentos de grande porte, enquanto Ponta Negra foi
apropriada pelo médio e pequeno capital econômico do setor turístico.
O projeto Via Costeira-Parque das Dunas previa a ocupação das dunas ao
longo do mar com unidades turísticas, residências, a residência do Governador,
mirante, etc. A oposição feita ao projeto pelos partidos, que não estavam no poder
na época, pela comunidade local e entidades ambientalistas, foi responsável pela
redefinição do mesmo.(LIMA, 2001).
5.2 QUANDO O MORRO DO CARECA NÃO ERA TÃO CARECA
ASSIM: a Vila, os conjuntos e a orla.
Ponta Negra é uma área de grande beleza formada por uma pequena baía,
cercada de dunas entre as quais se destaca o Morro do Careca. A primeira
referência histórica data de 1633, durante a ocupação holandesa. Em 1877 havia
uma escola e uma casa de oração no povoado. Sua ocupação se processou de
forma gradativa, inicialmente com a formação da Vila de Ponta Negra com uma
população de pescadores, que se localiza na parte alta das dunas no extremo sul.
Alem da pesca os nativos dedicavam-se à cultura de sub existência e a produção de
carvão. (CASTRO, 2003).
Em 1923 foi aberta a Estrada de Ponta Negra ligando a Vila à cidade, e a sua
reabertura em 1936. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a implantação de
Bases Militares em Parnamirim, município vizinho; os soldados americanos
122
descobriram a praia de Ponta Negra para banhos de mar. Eles logo foram imitados
pelos natalenses que iniciaram as construções das primeiras casas de veraneio no
local.(SOUZA, 2001).
No início da década de quarenta se deu o desenvolvimento do núcleo do
povoamento: a Vila de Ponta Negra. Nessa época foi construído o primeiro chafariz
em 1931 e foi implantada a energia elétrica. A população local cultivava 500
hectares de terras em sistema comunitário. Esse sistema permitiu a grilagem de
terras e a instalação de conflitos fundiários no final da década de 50. Para resolver
os conflitos foi feita doação de uma parte das terras para o Clero de Natal e
posteriormente à outra parte de terras foi doada para o Ministério da Aeronáutica
para a construção da Barreira do Inferno em 1964. O autor aponta para a migração
de atividades de sub existência da pesca e agricultura para o artesanato, biscates e
barracas na praia.
A vista parcial do Morro do Careca, a esquerda da Fig.21, mostra a subida ao
morro pelos banhistas, prática comum antes da interdição do Morro do Careca,
visando a preservação da duna. Podemos também ver a área adjacente com poucas
edificações e uma choupana, e a presença de vegetação nativa, e as poucas
edificações existentes na época.
Na orla marítima de Ponta Negra, duas glebas de terras foram loteadas em
1960. Estes loteamentos deram um novo impulso na ocupação do solo de Ponta
Negra, com a construção de casas de veraneio.
123
Fonte: Arquivo Diário de Natal S/D
Fonte: Amendola, S/D
FIGURA 21
Fig. 21 Orla de Ponta Negra de ontem
Orla de Ponta Negra de ontem
124
Fonte: Nobre S.D.
FIGURA 22
Fig. 22 Quando o Morro do Careca não era tão careca assim
No ultimo plano podemos ver o Morro do Careca, quando não era tão careca
assim e ainda tinha boa parte da vegetação natural e a ocupação de casas de
veraneio em primeiro plano da figura 22.
Em 1978 e 1979, respectivamente foram concluídos dois conjuntos
habitacionais para a classe média; a saber, o conjunto Ponta Negra com 1837
unidades habitacionais e o conjunto Alagamar com 158 residências. Os conjuntos
habitacionais são frutos da política habitacional do Governo do Estado, localizados
na margem direita da então Estrada de Ponta Negra.
A Fig. 23 é referente a implantação do conjunto de Ponta Negra, podemos observar
o Morro do Careca, ao fundo, a faixa de terra entre a Estrada de Ponta Negra e a
orla com algumas edificações. A área que mais tarde seria ocupada pelo
estabelecimento comercial Praia Shopping, no bairro de Capim Macio apresentava
vegetação natural. Observa-se também a área entre os conjuntos e a Vila de Ponta
Negra como uma grande mancha de vegetação nativa.
Quando o Morro do Careca não era tão careca assim.
125
Fonte: Nobre S/D
FIGUR 23
Fig. 23 Implantação do Conjunto de Ponta Negra
A vinda da Petrobrás e de empresas subsidiárias assim como da ampliação
das atividades militares do Estado provocou um aumento do contingente
populacional da cidade, que coincidiu com a época da conclusão dos conjuntos
favorecendo a ocupação dos mesmos por funcionários da Petrobrás, militares,
aposentados, funcionários, profissionais liberais, etc. (CAVALCANTI, 1980). A vinda
Implantação do Conjunto de Ponta Negra
Área em que foi construído o Praia Shopping
126
dos funcionários dessas empresas também elevou o poder de compra e alterou a
forma de consumo, onde as atividades terciárias se proliferaram e se diversificaram,
segundo Ferreira e Marques (2000).
Em 1979, o então prefeito José Agripino Maia declara como área “non
aedificandi” os terrenos a margem da Estrada de Ponta Negra, sendo 41 lotes
situados no loteamento Parque São Francisco e outros 26 no loteamento Pedrosa
Irmãos e Cia, ficando os mesmos sujeitos a desapropriação.
No início dos anos oitenta a Estrada de Ponta Negra foi duplicada, recebendo
também iluminação e asfaltamento, passando a se chamar Avenida Engenheiro
Roberto Freire.
Observamos, na figura 24, no lado direito da Av. Eng. Roberto Freire o bairro
de Capim Macio, com grande parte dos terrenos adjacentes à avenida desocupados,
e umas poucas edificações no bairro de Capim Macio. Ao fundo, está o conjunto de
Ponta Negra e o conj. Alagamar. Ao lado esquerdo da Av.Eng. Roberto Freire está
localizado o Parque das Dunas, com uma pista de aeromodelismo dentro do parque
das Dunas
E na figura 25, do lado direito podemos observar o shopping Cidade Jardim, e
mais adiante quatro torres do complexo Corais de Ponta Negra e Praia Shopping e
no ultimo plano o Morro do Careca. Do lado esquerdo, a primeira edificação é do
supermercado Nordestão seguida pelo shopping CCAB-SUL.
127
Fonte: Nobre S/D.FIGURA 24
Fig. 24 Duplicação da Estrada de Ponta Negra
Fonte: Nobre S/D FIGURA 25
Fig. 25 Vista aérea da Avenida Engenheiro Roberto Freire
Na figura 25, do lado direito podemos observar o shopping Cidade Jardim, e
mais adiante quatro torres do complexo Corais de Ponta Negra e Praia Shopping e
Duplicação da Estrada de Ponta Negra
Vista aérea da Avenida Engenheiro Roberto Freire
128
no ultimo plano o Morro do Careca. Do lado esquerdo, a primeira edificação é do
supermercado Nordestão seguida pelo shopping CCAB-SUL.
A Estrada de Ponta Negra foi asfaltada em 1975 e oito anos depois foi
realizada a duplicação da mesma, passando a ser denominada Av. Eng. Roberto
Freire. Em 1983 foram inauguradas no mesmo dia a Via Costeira e a Av. Eng.
Roberto Freire. O supermercado Nordestão foi construído nesta avenida no ano de
1980, o Centro Comercial Aluízio Bezerra – o CCAB –SUL, do lado esquerdo da
avenida. O shopping Cidade Jardim, localizado no lado direito da Av. Eng. Roberto
Freire foi construído em 1984 e em 1997 foi construído o Praia Shopping, no mesmo
ano foi construído a Shopping Rota do Sol. (SOUZA, 2001).
O bairro de Ponta Negra foi oficializado pela Lei n° 4.328, e 05 de abril de
1993, publicada no Diário Oficial, em 07 de setembro de 1994.(CASTRO, 2003).
O bairro de Ponta Negra conta com uma população de 23.600 pessoas, uma
área de 707,16 Há. A renda média é de 9,43 Salários Mínimos, e a predominância
de edificações horizontais, fator que esta mudando após a urbanificação turística, e
é o bairro no extremo sul da cidade, pertencente a Região Administrativa Sul. O
bairro apresenta a predominância da população jovem, principalmente entre 10 e 19
anos e com quase o mesmo número de indivíduos com idade entre 19 e 29 anos.
Aproximadamente quarenta por cento da população do bairro tem rendimentos entre
1 e 3 Salários Mínimos e a atividade econômica predominante é a de prestação de
serviços. O bairro de Ponta Negra conta com duas escolas municipais, duas creches
também municipais, três escolas estaduais que atendem crianças da 1ª à 8ª série do
ensino médio. Tem também três unidades de escolas particulares.
A organização comunitária de Ponta Negra conta com duas associações de
moradores, um conselho comunitário, dois grupos de mães e três grupos de idosos.
(SEMURB, 2003)
Os habitantes da Vila de Ponta Negra descendem de umas poucas famílias
de São José de Mipibu, Bonfim, Pirangi e Nísia Floresta. No lugar da capela original,
que ruiu, sendo erguida em seu lugar a Igreja da Vila de Ponta Negra que
permanece até os dias de hoje. No ano de 1940 ela foi benta pelo então Bispo de
Natal D. Marcolino. Em 1949 foi inaugurado o Cemitério da Vila de Ponta Negra. E
em 1970 a Arquidiocese de Natal inaugurou a Casa de Hospedes de Ponta Negra,
129
com 14 apartamentos para que as famílias católicas que visitando Natal pudessem
se hospedar em lugar seguro. No mesmo ano foi construído o Balneário do
SESC/RN. E em 1988, o então prefeito Garibalde Alves Filho realizou obras para
facilitar o acesso aos banhistas á praia ao longo da orla e alguns anos depois, já
governador do estado Garibalde Alves Filho iniciou as obras de urbanização de
Ponta Negra.(SOUZA, 2002)
E em 1998 foi iniciada a urbanização de Ponta Negra, cujo projeto foi
elaborado pelos arquitetos Roseane Dias, Dulce Bentes, Fabiano Diniz e José Ailton
de Moraes. Esse projeto previa a construção de um calçadão do Morro do Careca
até a Via Costeira, quiosques, mirante, quadra de esportes. O projeto foi realizado
apenas parcialmente.(SOUZA, 2001)
5.3 PARA TODOS OS GOSTOS E BOLSOS: PONTA NEGRA.
Em 1990 é definida a Política Nacional de Turismo através do Programa de
Desenvolvimento do Nordeste – PRODETUR-NE. O programa objetivava a
implantação de infra-estrutura urbana nas capitais do Nordeste para o
desenvolvimento turístico.
O Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Rio Grande do
Norte – PRODETUR-RN visava implantação de infra-estrutura básica para a
consolidação de pólo turístico no Estado. A acessibilidade, fator importante para o
turismo, mereceu atenção do programa com a reforma do Aeroporto Internacional
Augusto Severo, localizado no município vizinho de Parnamirim. Também foram
realizadas obras para a melhoria de eixos viários assim como a construção de novas
vias permitindo acesso a locais de capital paisagístico. A Rota do Sol foi construída
para possibilitar o acesso às praias do litoral sul.
A Via Costeira, a duplicação da Estrada de Ponta Negra e a Rota do Sol
formaram a tríade de eixos viários que permitiram a acessibilidade turística em Natal,
e consolidaram Ponta Negra como área turística, afastada dos bairros nobres da
cidade.
130
O bairro de Ponta Negra passa a ser o mais representativo dos investimentos
do PRODETUR-RN ao promover um conjunto de obras de infra -estrutura para o
desenvolvimento turístico.
As obras de urbanização turística englobaram o saneamento básico do bairro,
pavimentação das ruas, iluminação, a construção de um calçadão na orla da praia.
Ao todo foram pavimentadas 26 ruas correspondendo a 50.000 metros quadrados,
para o esgotamento sanitário foram implantadas redes coletoras de esgoto, três
estações elevatórias e uma estação de tratamento. Os recursos para estas obras
foram provenientes do PRODETUR-RN, onde uma parte dos recursos foi financiada
pelo Governo do Estado e outra pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento
através do Banco do Nordeste.(Natal pra Você, 2000).
No ano de 2000, foi executada a construção do calçadão. O calçadão fazia
parte integrante do projeto de urbanização turística para o bairro.
Além das obras de urbanificação, também foi promovida a retirada dos
barraqueiros da praia. A oportunidade de adquirir os novos quiosques instalados no
calçadão foi restrita aos nativos. Foi um processo que expôs os conflitos entre
nativos e “chegantes”. Na ocasião da retirada das barracas, poucos proprietários
eram nativos, pois já haviam vendidos as barracas para os “chegantes”, processo
este, descrito por Silva (2000).
As barracas na praia faziam parte do “estilo de vida” de Ponta Negra. Em seu
texto “Ponta Negra e a Vila do Poeta” Gurgel (2003) recorda o cotidiano do lugar, em
que a vila resiste ao tempo e ao desenvolvimento e a expansão imobiliária,
mantendo tradições folclóricas e uma vida que lembra a vida do interior. Os
pescadores que persistem na atividade da pesca artesanal, mas também fala dos
imigrantes provenientes de “todo lugar do mundo” trazendo a diversidade cultural
que ajudou a construir o lugar-mito, dos artistas e das barracas de praia que “faziam
a festa... em ”Black Point” – como era conhecida Ponta Negra pela galera
underground.” O autor lembra que as barracas estavam incorporadas ao cotidiano
da sociedade local, com o lual nas noites de lua cheia, terminando seu discurso com
a afirmação do desejo de continuar a morar na vila da memória, dos sonhos do
porta.(GURGEL, 2003).
131
A Vila de Ponta Negra, lugar mito, de intelectuais, artistas, estudantes em
meio de uma comunidade de pescadores, lugar importante para a geração de “bicho
grilo” das décadas de 80 e 90.
A praia era tomada por barraqueiros e a Avenida Erivan França apresentava o
uso de segunda residência, poucas pousadas e alguns hotéis de pequeno porte e
um ou outro restaurante.
Fig. 26 Vista da praia de Ponta Negra no início dos anos 80
Fonte; Daussin. Final dos anos 70
FIGURA 26
Vista da praia de Ponta Negra no início dos anos 80
132
Fonte: Neverovsky, 2002. FIGURA 27
Fig.. 27 VistaS do calçadão de Ponta Negra
Na figura 27 se observam as duas vistas do calçadão de Ponta Negra, a foto
a esquerda tem o Morro do Careca ao fundo, enquanto a da direita tem a Via
Costeira em ultimo plano.
A praia era tomada por barraqueiros e a Avenida Erivan França apresentava o
uso de segunda residência, poucas pousadas e alguns hotéis de pequeno porte e
um ou outro restaurante.
“... melhoro porque o calçadão deu aparência realmente de
uma praia, que antes era a presença de uma favela que antes
tinha aquelas barracas que fedia a lixo naquele lado ali, quem
andava na calçada, ficava no quintal das barracas, porque a
barraca curtia a praia, porque por trás jogava resto de copo,
não sei o que, o resto de peixe, ficava, lá. O investidor tava no
quintal da barraca. Então quando saíram tuti, é claro que foi
uma boa pra quem investiu nesse lado”.(César I. F).
No discurso deste ator social, que é um chegante italiano e atua no mercado
imobiliário como incorporador e corretor de imóveis, percebemos uma visão crítica a
cerca das condições de higiene do local, e a melhora do
espaço para os investidores
e proprietários de imóveis na Avenida Erivan França.
Vistas do calçadão de Ponta Negra
133
Já H.M, professor universitário afirma que preferia a permanência das
barracas, pois tinha o hábito de freqüentá-las para saborear caranguejos, prato
muito apreciados pelos natalenses. A sua argumentação parece um pouco
saudosista por um lado, mas por outro se revela muito territorial, não gostando de
perder um espaço seu para o outro – o turista.
“As melhorias de Ponta Negra não atraíram apenas pessoas
de outros estados. Os próprios natalenses estão cada vez
mais orgulhosos desta nova menina dos olhos de Natal”
(Diário de Natal,2002)
no período diurno com inúmeros banhistas, turistas e potiguares que
passaram a freqüentar a praia de Ponta Negra. E A reportagem deste periódico trás
vários depoimentos acerca das melhorias que a urbanificação trouxe para Ponta
Negra. Nos discursos dos entrevistados a questão da limpeza, segurança e
investimentos dos proprietários fundiários melhorando os restaurantes, beneficiaram
não só os turistas mas também a população local que passou a freqüentar Ponta
Negra tanto a praia, as caminhadas no calçadão, como também a vida noturna.
A praia de Ponta Negra utilizada por banhistas no período diurno e a noite
era considerada como um lugar ermo e mal freqüentado. A mudança no uso do
solo, de residencial para prestação de serviços, com muitos bares e restaurantes
passou a apresentar uma vitalidade após o entardecer passou a ser considerada
com um “point” da vida noturna da cidade.
O Santa Fé Mall situado na Avenida Erivan França, em frente ao calçadão
de Ponta Negra, se configurou como o ponto de encontro dos jovens tradicionais em
meio aos turistas, já o Praia shopping tem uma composição mista de seus
freqüentadores: turistas, chegantes e locais.
O bairro também apresenta outros equipamentos urbanos como farmácias,
lojas de conveniência, padarias, etc. A Av. Eng. Roberto Freire também apresenta
uma intensa produção de espaço turístico por parte do setor privado, a cada dia
surge um novo e sofisticado restaurante, proliferando as ofertas de diversos
134
ambientes, de bares com musica ao vivo, restaurantes que oferecem comida
japonesa, italiana, etc transformando-se em um centro gastronômico da cidade.
O processo desencadeado pelo desenvolvimento turístico parece, hoje,
irreversível. Alegria de uns, tristeza de outros. As mudanças que estão ocorrendo na
cidade em função do turismo levam a discursos cheios de saudades dos tempos em
que se veraneava em Ponta Negra e a constatação do desaparecimento de algumas
paisagens naturais, que estão sendo substituídas pela paisagem construída pelo
homem.
“Que algo fosse feito para que eu não visse mais a Ponta
Negra da minha infância... viva na lembrança... que eu não a
visse mais e não sentisse a dor... impotente..de assistir a uma
paisagem querida ser deteriorada e ultrajada pelas mãos dos
que se servem dela.” (DANTAS,2004)
Novos equipamentos urbanos surgiram para atender aos turistas e a
população local dos “chegantes’ se espalharam pela área de influencia do bairro de
Capim Macio. A Av.Eng. Roberto Freire foi rapidamente ocupada por
concessionárias de veículos, universidade, escola, locadoras de vídeo, postos de
gasolina, restaurantes e cinco shoppings, sendo dois deles de artesanato.
135
6. DE GATA BORRALHEIRA À CINDERELA: Ponta Negra,
configuração de um estilo de vida cosmopolita.
O bairro de Ponta Negra sempre teve um apelo cênico paisagístico,
usufruído pelas residências de veraneio e sendo também um fator de atração para
os moradores dos conjuntos residenciais. Ele se diferencia do restante da cidade do
Natal, tanto pela sua localização, no extremo da região sul já fazendo limite com o
município de Parnamirim; mas principalmente pela composição do contingente
populacional que reside nele.
A Vila de Ponta Negra, uma comunidade de gente simples atraiu artistas,
arquitetos, intelectuais da sociedade local, em busca de uma vida alternativa, do
contato com a natureza e com o modo simples de viver. E se tornou um lugar de
importância para os “bichos grilos” das décadas de 80 e 90, segundo A.T.
Professora da UFRN.
A resposta ao déficit de moradias foi à construção em massa de habitações
populares e para a classe média. O bairro de Ponta Negra também teve seu espaço
moldado pelos conjuntos habitacionais de Ponta Negra e Alagamar. A diferença não
estava na tipologia, mas na população. Desde a construção desses conjuntos, eles
têm atraído “chegantes”.
No final da década de setenta, com a vinda da Petrobrás e de empresas
subsidiárias, e a ampliação das atividades militares do Estado provocaram um
aumento no contingente populacional da cidade, que coincidiu com a época da
conclusão dos conjuntos favorecendo a ocupação dos mesmos por funcionários da
Petrobrás, militares e aposentados. (CAVALCANTI, 1980). A fundação e
crescimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte também foi um fator
de atração de “chegantes” e muitos dos professores universitários elegeram o bairro
de Ponta Negra para morar.
Atualmente os conjuntos apresentam uma predominância de moradores da
classe média, enquanto a orla é apropriada pela classe alta e a Vila é o lugar de
uma grande mescla, tanto da classe economicamente mais abastada, da classe
média e dos menos favorecidos economicamente.
136
O desenvolvimento turístico tem intensificado a migração de “chegantes”,
agora em busca de oportunidades econômicas abertas pelo turismo, tanto para
investimentos como para empregos no setor de serviços, como também os que
buscam qualidade de vida na lógica apontada por Urry (1996) de que se o lugar é
bom de se visitar, é também bom de se morar. Atualmente o bairro além de
residências apresenta uma grande concentração de hotéis, pousadas, restaurantes,
lojas.
Já o bairro vizinho de Capim Macio conta com supermercados e shoppings
que foram construídos nos últimos anos, criando uma nova centralidade na cidade.
Os habitantes dos bairros da zona sul não precisam mais se deslocar para o centro
da cidade para resolverem suas necessidades cotidianas relacionadas a compras,
serviços, bancos, escolas.
6.1 A ACESSIBILIDADE EXCLUDENTE: o confinamento espacial do
turista.
A cidade é cantada em prosa e verso por seus ilustres habitantes, chamada
de “noiva do sol”, como tal foi protegida do olhar de estranhos.
O Parque das Dunas separa a cidade do bairro de Ponta Negra, é uma
importante área remanescente de Mata Atlântica considerado pela UNESCO como
parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Brasileira.(Farias, 2003).
A localização geográfica do bairro de Ponta Negra na região sul da cidade, o
Parque das Dunas como barreira geográfica natural entre o bairro de Ponta Negra e
os bairros mais centrais e o complexo dos eixos viários da BR101, a Avenida
Engenheiro Roberto Freire e Via Costeira como barreiras institucionais, estes
delimitadores definem o lugar destinado aos turistas.
O Aeroporto Internacional Augusto Severo, localizado no município vizinho de
Parnamirim. O acesso à cidade do Natal do aeroporto ou de outras regiões do país
se dá pela rodovia BR 101, que de via regional passa para intra-urbana ao penetrar
na malha urbana da cidade e passa a ser Avenida Senador Salgado Filho. A
Avenida Engenheiro Roberto Freire é uma das primeiras opções para se alcançar as
137
praias urbanas, antes de adentrar na cidade propriamente dita. Esta avenida leva o
visitante á Praia de Ponta Negra e a Via Costeira onde estão localizados inúmeros
meios de hospedagem, restaurantes, shoppings e outros equipamentos urbanos.
Figura 28
Fig. 28 Mapa de acessibilidade ao Município do Natal pela BR101
Ponta Negra se consolidou como a entrada principal para o turista e também como
local preferido pelos chegantes em sua grande maioria, que se fixam em Natal.
Via Costeira
Av. Erivan França
Rota do Sol
Ponta Negra
Aeroporto
Internacional
Augusto Severo
Parnamirim
BR101
Av. Eng. Roberto Freire
AV Senador Salgado
Filho
Fonte: elaboração própria a partir de dados da SEMURB SEM ESCALA Data: 2004
FIGURA 28
N
Mapa de acessibilidade ao Município do Natal pela BR101
Município do
Natal
Região Administrativa Norte
138
Fonte: arquivos Prefeitura do Natal S.D.
Disponível em:www.natal.gov.br
FIGURA 29
Fig. 29 Vista aérea do Conjunto de Ponta Negra, da Via Costeira, do Parque das Dunas e da cidade
do Natal.
Em primeiro plano a esquerda, na figura 29, podemos ver o Conjunto de
Ponta Negra. A direita está parte da orla marítima com casas de veraneio da elite
local. No plano intermediário se localiza o Parque das Dunas e a Via Costeira. O
parque é uma barreira natural entre o bairro de Ponta Negra e a “cidade”
propriamente dita, que vemos no lado esquerdo ao fundo.
A delimitação da área destinada ao turismo, ou seja, a orla marítima desde o
Forte dos Reis Magos até Ponta Negra induz o turista a permanecer nas áreas
destinadas ao descontrole emocional, mas controladas pelas barreiras naturais e
Vista aérea do Conjunto de Ponta Negra, Via Costeira,
Parque das Dunas e da cidade do Natal
139
institucionais, protegendo a sociedade local do contato com o turista, que nem
sempre é bem visto pela população local, mas tolerado pela necessidade
econômica.
Aos turistas são oferecidos vários passeios de buggy, tanto para o litoral norte
e sul. A paisagem do Natal é estendida pelo litoral do estado abrangendo vários
municípios nos passeios turísticos ofertados.
Em Natal os espaços destinados aos visitantes estão situados ao longo da
orla, mas principalmente em Ponta Negra com grande oferta de lojas, bares e
restaurantes. A casa de show Zaz-Trás localizada em Petrópolis já tem um
concorrente, a Nis, mas o seu diferencial está realmente na sua localização, a Via
Costeira. A presença desta casa de show confirma a tendência de demarcar o
espaço destinado ao turismo na cidade. A orla marítima.
Nis – casa de Shows, tem apresentações variadas de danças típicas
brasileiras, e com alguns passistas do Rio para um vislumbre do carnaval carioca. A
apresentação é do estilo “hollywoodiano” com figurino esmerado. Nis é um espaço
grande onde é possível acomodar facilmente 300 pessoas
A acessibilidade tão importante ao desenvolvimento turístico, em Natal,
acabou por propiciar uma acessibilidade excludente do espaço urbano da cidade
como um todo, confinando o visitante ao espaço do descontrole emocional. Este
espaço também é freqüentado pela sociedade local, o espaço dos restaurantes, da
vida noturna. A Vila de Ponta Negra já tinha uma imagem de lugar mito, imagem
esta que aparentemente está sendo estendia para o bairro todo como lugar-mito,
lugar-turístico, o lugar do “outro”.
6.2 O ESPAÇO QUE VIROU MODA: a refuncionalização espacial do
bairro de Ponta Negra.
Os empreendedores que desejam investir em serviços, turismo,
entretenimento, podem ser influenciados pelo capital cultural das cidades. O capital
paisagístico da cidade do Natal e principalmente de Ponta Negra tem atraído muitos
140
investidores para o setor hoteleiro, de restaurantes, locação de carros e outras
prestações de serviços ligadas ao turismo.
Ponta Negra passa a não ser mais apreciada pela elite local, que mudou seu
veraneio para outras praias do estado, transformando-se em local de turistas.
Após a urbanificação de Ponta Negra, visando o desenvolvimento do turismo
no Natal, se observou uma reestruturação social e econômica desta fração urbana
da cidade.O bairro está em processo de refuncionalização, mas não de
reestruturação espacial, ou seja, as casas de veraneio foram reformadas para
abrigar novos usos mais condizentes com a atividade econômica do turismo, como
bares, restaurantes, caixas eletrônicos de bancos, lojas de artesanato, etc,
O processo de refuncionalização tem abrangido o bairro de Ponta Negra em
sua totalidade, porém de maneiras distintas.
Na Avenida Ervian França, surgiu o Ponta Negra Mall, um dos primeiros
empreendimentos a puxar a corda das reformas e construções voltadas para o
turismo.
A Avenida Erivan França passou a abrigar bares e restaurantes. A juventude
da sociedade local, o elegeu como seu espaço preferido em Ponta Negra, mas essa
preferência se mostrou inconstante, mudando para o Santa Fé Mall, assim que o
mesmo foi construído.
Com a mudança de alguns restaurantes para o Santa Fé Mall, o espaço do
Ponta Negra Mall, a área com mesas e cadeiras explorada pelos restaurantes
passou a ser utilizada pelos hospedes da pousada instalada no andar
superior.Figura 30.
O Santa Fé Mall era uma casa de veraneio, que foi parcialmente demolida
para abrigar um empreendimento comercial adequando-se a nova localização
promovida urbanificação turística.
Santa Fé Mall tem espaço para lojas, bares, restaurantes e outros serviços
distribuídos em seus dois andares, como podemos observar na figura 31.
141
Fonte: Neverovsky 2002.
Fonte: Neverovsky 2004
FIGURA 30
Fig. 30 Ponta Negra Mall
Ponta Negra Mall
142
Fonte: Neverovsky 2002 e 2004 respectivamente.
FIGURA 31
Fig. 31 Santa Fé Mall
Santa Fé Mall – Ponta Negra
143
Fonte: Neverovsky, 2004
FIGURA 32
Fonte: Neverovsky, 2004
FIGURA 33
Fig. 33 Novos usos na Av. Erivan França
No final do ano de 2004, apenas uma ou duas residências permaneciam
inalteradas. As outras ou foram parcialmente reformadas para abrigar o uso misto de
residência e comércio ou serviço ou foram totalmente demolidas para dar lugar a
novas edificações mais adequadas a exploração econômica.
Exemplos de refuncionalização na Avenida Erivan França
Ponta Negra
Novos usos na Av. Erivan França – Ponta Negra
Fig. 32 Exemplos de refuncionalização na Av. Erivan França
144
Fonte: Neverovsky 2002
FIGURA 34
Fig. 34 Exemplos de usos mistos na Av. Erivan França
Estes entre outros proprietários fundiários, procuraram uma melhor
adequação econômica de seus imóveis frente a nova localização criada pela
urbanificação turística, adaptaram parte de suas propriedades para uso comercial
mas também mantendo o uso residencial na Av. Erivan França.
Exemplos de usos mistos na Av. Erivan França – Ponta Negra
145
Fonte: Neverovsky, 2002 e 2004
FIGURA 35
Fig. 35 Quem te viu quem te vê!
Quem te viu – quem te vê! – Ponta Negra
146
Na figura 35, a primeira fotografia mostra o imóvel em 2002, e as duas fotos
seguintes mostram no novo empreendimento construído no mesmo local em 2004
após a demolição da edificação existente.
Uma pesquisa de campo realizada em 2003 e limitada a av. Erivan França,
revelou os seguintes dados: foram levantados 60 lotes urbanos, constatou-se que:
cinco (5=8,33%) deles estavam vazios, as residências somaram um total de sete
unidades (7= 11,67%); foram encontrados onze (11=18,34%) hotéis; vinte e quatro
(24=40%) de bares e restaurantes; doze (12=20%) de lojas e um (1= 1,6%) ocupado
pela sede social de uma universidade particular. Dos 60 lotes, 47 apresentam uso
comercial ou de serviços, ao considerarmos apenas esses lotes, constatamos que
deste total 25,53 são de potiguares e os 74,47% são de chegantes. As residências e
os imóveis vazios são reminiscências da ocupação inicial, onde predominavam as
casas de veraneio.
Os conjuntos, por serem áreas planejadas e com malha urbana e um
parcelamento do solo padronizado, tem apresentado uma mudança mais lenta
devido a necessidade de remembrar os lotes para um novo uso que necessite de um
terreno maior do que o padronizado com aproximadamente 450 metros quadrados e
por uma localização mais distante da orla. A predominância das mudanças de uso
ocorre nas ruas mais comerciais no limite periférico do conjunto de Ponta Negra e
Alagamar.
Na figura 36 as edificações residenciais que tiveram seu uso alterado para
comercial e de prestação de serviços na Av. Praia de Ponta Negra, avenida limítrofe
ao conjunto de Ponta Negra e paralela a Av. Eng. Roberto Freire.
147
Fonte: Neverovsky 2004
FIGURA 36
Fig. 36 Refuncionalização do Conjunto de Ponta Negra
A mudança de usos no conjunto Alagamar é mais evidente na Avenida Estrela
do Mar, que é paralela à Rota do Sol – em eixo intra-urbano – que liga Ponta Negra
às praias do litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte, como mostra a figura 37.
Refuncionalização no Conjunto de Ponta Negra
148
Imobiliária Aluguel de Buggy
Pousada Restaurante português
Fonte: Neverovsky 2004
FIGUR 37
Fig. 37 Mudanças no uso do solo no Conjunto Alagamar
A orla foi loteada para residências de veraneio da elite, para a qual foram
destinados lotes maiores, sendo os menores de aproximadamente 800 metros
quadrados e outros com até 3000 metros quadrados ou mais. A dimensão dos
terrenos e a localização privilegiada é alvo dos empreendimentos hoteleiros e
similares como flats.
Mudanças no uso do solo no Conjunto Alagamar – Ponta Negra
149
Fonte:Neverovsky2004
Fonte: Folder Promocional Hotel Esmeralda
Fonte: Folder Promocional Praia Azul Mar Hotel Folder Promocional Rifoles Praia Hotel
FIGURA 38
Fig. 38 Que venham os turistas!
Que venham os turistas! – Orla de Ponta Negra
150
A Av. Eng. Roberto Freire, ao longo da orla marítima, também apresenta uma
intensa produção de espaço turístico por parte do setor privado. A cada dia surge
um novo e sofisticado restaurante na própria avenida ou imediações com grande
variedade de ofertas com diversos ambientes, de bares com musica ao vivo,
restaurantes que oferecem comida japonesa, italiana, se consolidando em centro
gastronômico da cidade.
Diferentes restaurantes na Av. Eng. Roberto Freire
Fonte: Neverovsky 2004
FIGURA 39
Fig. 39 Para todos os paladares
A Vila de Ponta Negra é a fração que apresenta maiores contrastes na sua
refuncionalização, com a mudança de uso residencial para comercial ou de
Para todos os paladares – Ponta Negra
151
prestação de serviços como também pelo processo de gentrificação pelo qual esta
passando pela preferência dos investidores estrangeiros.
Na Vila de Ponta Negra, a rua João Rodrigues permite comparar a mudança
do padrão arquitetônico depois das obras de urbanização no bairro, exemplo este
observado em todo o bairro.
Fonte: Neverovsky 2004
FIGURA 40
Fig. 40 Escalas econômicas na Vila de Ponta Negra
A Rua João Rodrigues apresenta ainda o pequeno comercio para atender os
moradores locais, e do outro lado da rua uma pequena marcenaria foi vendida,
demolida e em seu lugar foi construído o Hotel Sezimbra, cujo proprietário é de
nacionalidade portuguesa e é um dos vários “Chegantes”
da Vila de Ponta Negra.
O conjunto Alagamar é composto por apenas três ruas, fazendo divisa com a
Vila de Ponta Negra. O espaço entre o núcleo da Vila e o conjunto Alagamar passou
a ser chamado simplesmente de Alagamar, onde os terrenos são grandes e foram
construídas inúmeras residências de alto padrão, desencadeando um processo de
gentrificação. Também foram edificadas inúmeras pousadas, pequenos hotéis, flats,
bares e restaurantes. Estes últimos já se configuraram como lugar de destaque na
noite potiguar tanto entre os turistas como entre os natalenses.
A experiência do simulacro se faz presente nos espaços privados do bairro,
iniciado com a construção do albergue Lua Cheia, que recria um mini castelo
As escalas econômicas na Vila de Ponta Negra.
152
medieval, com ponte elevadiça e estátua de cavalo de bronze na entrada. Vários
empreendimentos seguiram a linha temática do rústico e tropical, com o chão de
areia. O Salsa Bar segue o mesmo padrão adicionando trilha sonora latina,
coquetéis, drinks e petiscos. “Um bistrô com jeito latino numa das ruas mais
descoladas de Ponta Negra” segundo reportagem na Tribuna do Norte (2003).
Fonte: Neverovsky 2003
FIGURA 41
Fig. 41 Salsa Street
Salsa Street – Ponta Negra
153
Na Figura 41 a primeira fotografia mostra o Albergue da Lua Cheia, no mesmo
complexo está o Taverna Pub. Este empreendimento foi o precursor do simulacro
em Ponta Negra. Na fotografia abaixo vemos a Pizzaria Cipó Brasil.
A ambientação é rústica e descontraída com chão de areia.
Shopping de Artesanato Potiguar 2003 Sea Way 2003
Rota do Sol 2003 (desativado) Vilarte 2005 (artesanato)
CCAB Sul Shopping 2004 Shopping Cidade Jardim 2005
Fonte: Neverovsky FIGURA 42
Fig.42 Shoppinglândia
“Shoppinglândia”
154
Novos equipamentos urbanos surgiram para atender aos turistas e a
população local dos chegantes, e se espalharam pela área de influencia do bairro
de Capim Macio.
A Avenida Eng. Roberto Freire foi rapidamente ocupada por concessionárias
de veículos, instituições de ensino, locadoras de vídeo, postos de gasolina,
restaurantes e shoppings. Este eixo viário recebeu o nome de “Avenida dos
Shoppings” contando com cinco grandes centros de comercialização e outros de
menor porte. O primeiro empreendimento desta natureza foi o shopping Cidade
Jardim construído em 1984. Hoje a procura por terrenos é grande, mas a maioria já
foi vendida contribuindo para a elevação dos preços dos terrenos ainda disponíveis.
A diretoria do Praia Shopping investiu mais de R$ 12 milhões em obras de
ampliação.(CARVALHO, 2004). Na Figura 42 uma vista parcial dos Shoppings na
Avenida Engenheiro Roberto Freire, além do Praia Shopping.
Em Natal atualmente estão em funcionamento dez shoppings além de
inúmeros centros comerciais que adoram o nome “Shopping” mas não passam de
pequenos centros comercias. O shopping Midway Mall, inaugurado no mês de abril
de 2004, está localizado entre os Bairros de Tirol e Candelária, é o maior da cidade,
com a previsão de ter mais de dez salas de projeção de filmes, e entre suas lojas
ancoras conta com marcas de peso como a Livraria Siciliano, um supermercado
Extra, C&A, Riachuelo entre outras.
O Praia Shopping, em Ponta Negra, foi concebido juntamente com um
condômino vertical composto de quatro torres de apartamentos, como um complexo
só, com área residencial e área comercial.
A entrada da empresa Capuche, empresa do ramo de confecção, no mercado
imobiliário da cidade foi com a construção deste complexo, Praia Shopping e o
condomínio Corais do Atlântico. Segundo Marlene T. os administradores do
empreendimento pensavam no shopping como um centro comercial de
conveniência, ou de bairro.
“... eles não tivessem a visão da localização... esse
boom de Ponta Negra...certamente teriam deixado o terreno
todo pra fazer o shopping...com toda a densidade que podia ter
com o aproveitamento...misto..fez com que a área específica
155
pra o shopping ficasse reduzida...até o partido arquitetônico...”
(Marlene T.)
No final dos anos noventa o Praia Shopping era considerado como um
shopping de conveniência para suprir as necessidades dos moradores do
condomínio Corais do Atlântico e dos arredores, como os do bairro de Ponta Negra e
parte do Capim Macio.
A reforma do Praia Shopping visou atender a turistas e a moradores locais
com alto poder aquisitivo. Hoje este estabelecimento conta com casa de cambio,
livraria, Banco 24 horas, e o primeiro complexo de cinemas da cidade o Movie Com.
Que tem sete salas de projeção de filmes, além de lojas de grife com produtos
diferenciados e praça de alimentação. Novas lojas procuraram atender ao gosto de
turistas como a Loja Tribo dos Pés, que oferece calçados com conforto ortopédico,
lojas com produtos esotéricos, lojas de lembranças alem de um stand imobiliário
para a captação dos clientes turistas que por ali circulam. A reforma promovida em
2002 aproveitou a área disponível do estacionamento para sua ampliação,
necessitando adquirir oito lotes no outro lado da rua para a construção de um
estacionamento. As edificações existentes foram demolidas para a edificação do
estacionamento.
Fonte:Carvalho. FIGURA 43
Fig. 43 Praia Shopping antes da urbanização turística
Praia Shopping antes da urbanificação turística
156
oito edificações adquiridas para dar lugar ao estacionamento, 2002
Estacionamento, 2004 vista parcial,2004
Moviecom,2004 vista parcial da praça de alimentação 2004
Fonte: Neverovsky FIGURA 44
Fig. 44 O desenvolvimento turístico induz a reforma do Praia Shopping
O desenvolvimento turístico induz a reforma do Praia Shopping
157
O partido arquitetônico adotado para o Praia Shopping revela a sua
despretensão, direcionado para ser apenas um suporte comercial para os moradores
de Condomínio Corais de Atlântico que se vê ao fundo, em seu primeiro projeto.
Oito lotes edificados foram adquiridos pelo empreendimento do Praia
Shopping para a construção de um estacionamento. As edificações foram demolidas
para abrigar o novo uso, como mostra a figura 44. Agora com um partido
arquitetônico mais arrojado, porem mantendo uma simplicidade atraente aos turistas.
6.3 TAPIOCA COM CAVIAR: o estilo de vida dos chegantes em Ponta Negra.
Os chegantes trouxeram consigo sua cultura, que se expressa através da
culinária, da arquitetura, do consumo de produtos diferenciados e também por uma
postura, um comportamento, uma mentalidade cosmopolita.
A mentalidade de um cosmopolita é entendida como um comportamento
ditado pela aceitação do “outro”, com a assimilação de gostos e culturas.(WIRTH,
1979). Segundo este autor a natureza do trabalho, a renda, as características raciais
e culturais, costumes, gostos estão entre os fatores de seleção da população no
espaço urbano, fragmentando-o na medida em que levam diferentes partes da
cidade a adquirirem funções específicas e características diferenciadas por estilos
de vida dentro de um modo de vida urbano. As características apontadas pelo autor
para um estilo de vida cosmopolita são o pequeno numero de filhos, substituição dos
contatos primários por secundários, declínio
social da família, desaparecimento do
sentimento de vizinhança.
Featherstone (1995), em seu discurso, reflete sobre o consumo de
mercadorias e seu caráter simbólico que leva a uma expressão da individualidade e
de um estilo de vida.
A uma atitude de distanciamento, ou atitude blasé segundo Simmel (1979)
também foi considerada para este trabalho como uma característica do
comportamento cosmopolita.
158
As historia de atores sociais que se tornaram chegantes não faltam. Becker,
um alemão que pretende morar em Natal e abrir uma imobiliária para estrangeiros,
pois segundo ele não encontrou nenhuma imobiliária com alguém que falasse inglês
ou alemão em 2004.
F
F
Fig. 45 A invasão dos gringos
Em artigo na Tribuna do Norte se afirma que segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, o Estado do Rio Grande do Norte foi o único estado
nordestino com saldo migratório positivo, apontando a qualidade de vida como fator
de atração de migrantes brasileiros principalmente oriundos do sul do país. Relata o
caso de Biella, professor da UFRN que é um chegante há nove anos.(CAMPOS,
2003)
A invasão dos “gringos”
Fonte: Holanda, 2004 – Tribuna do Norte
FIGURA 45
159
Fig. 46 Qualidade de vida – imã para chegantes
Churrasco no sábado, lá em casa! sociabilização nos espaços privados.
A relação com os vizinhos foi descrita como formal e distante.No conjunto de
Ponta Negra foi apontado um contato mais próximo com os vizinhos.
Já na Vila de Ponta Negra houve um incidente entre o entrevistado e o
vizinho, em relação ao barulho.
Qualidade de vida – imã para chegantes
Fonte: Campos, 2003
FIGURA 46
160
“... uma parada que aconteceu... um pastor, uma roupa de
linho, branquinha, cordão de ouro desse tamanho no pescoço,
cabelinho gel... lá na porta da igreja... e um grupo de pessoas
extremamente carentes, como fieis... microfone extremamente
alto...” (Nestor C.P)
Todos os entrevistados não possuem familiares na cidade, se relacionam com
a família distante, por telefone e Internet. Anualmente os familiares vêm passar
alguns dias em Natal, ou eles procuram visitá-los.
“ Todas as férias a gente se encontra ou eles vem, ou a gente vai...”(Maria
C.S.)
As relações sócias se dão no espaço privado, nas residências. O habito de
visitarem os amigos foi relatado por todos.
“...são amigos...conhecemos através de...outras
pessoas...gerou amizade, mas não tem nenhum vinculo
de...todos são de fora, nós não temos amigos...que são
naturais de Natal.” (André.C.P.)
Outro chegante percebe o habito local de não convidar as pessoas para
freqüentarem a casa, e sua esposa também afirma que não conseguiu fazer amigos
locais nos sete anos em que residem em Natal, fala que tem conhecidos, mas não
amigos.
“...os amigos...casados com brasileira...a gente não é muito
integrado por...por causa do nosso tipo de lazer, e no
serviço..fora do trabalho...não são muito de receber em casa.
Eles sai muito....” (Gabriel C.F.)
Os contatos são quase que somente com outros “chegantes”. Somente uma
entrevistada falou de contato sociais com os locais.
“...tenho...vários casais do sul...que viram pra cá, conhecidos,
amigos. E meu irmão que veio do sul também pra cá
morar...tem...ambiente de trabalho do meu marido, festinhas,
finais de semana...” (Carla. C.G)
161
Marisa C.C. fala da dificuldade das filhas com relação as amizades, e que a
grande maioria dos amigos delas também são chegantes.
Saladas, vinho, pizza: conservação dos hábitos alimentares no cotidiano
e os restaurantes.
Os “chegantes” mantiveram seus hábitos alimentares. A preferência recai
sobre os supermercados para o abastecimento com alimentos pela praticidade e
pela confiança na procedência dos produtos.
Os produtos citados foram o pão de queijo (mineiro), lasanha, brócolis,
espinafre, vinhos e saladas, queijos, vegetais congelados pela falta dos frescos. A
preparação dos alimentos é uma constante, as próprias entrevistadas cozinham.
“eu prefiro o Makro...mas a gente come muita coisa daqui
também da Vila...pra ter..o dinheiro circule...ai ajuda na
economia local. O problema é que as vezes não há muita
qualidade nos produtos...coisa que são não perecíveis...la na
vila, mas carne, a gente procura um lugar mais..mas
infelizmente, não...entendeu?...peixe...a gente compra aqui
bastante...dos pescadores.
(Nestor C. P.)
Nestor é paraibano, casado com Maria que é sueca. Eles incorporaram as
suas culturas e seus diferentes modos de vidas no seu cotidiano. Ela não se
adaptou a comida local e diz que perde até sete quilos enquanto está no Brasil,
engordando quando volta a terra natal. Lá gosta de “pão caseiro, pão escuro (preto)
com queijo, creme, legumes frescos “muita salsa... eu sinto muita falta”.(Maria C.S.)
A alimentação da família é uma mescla dos costumes alimentares suecos e
brasileiros. O casal não aprecia a comida servida nos restaurantes locais, porque
misturam purê de batata com arroz. Nestor lembra da comida dos restaurantes em
Portugal com pratos individuais.
“... Gabriel (o filho) come tapioca com caviar, é um máximo... ele mistura...
come de boca cheia... você tem que experimentar...” (Nestor C. P.)
162
Marisa C.C. diz gostar de um restaurante simples, o Erva Doce, cuja feijoada
segundo ela é igualzinha a do Rio de janeiro. Ela não sabia que a proprietária é
carioca, preferindo seus pratos a de outros restaurantes mais sofisticados.
“...mantive os hábitos...arroz refogadinho... muita salada...as
verduras são carrísimas... acha uma couve-flor do
tamanho do nada... eu sinto falta ... da qualidade mesmo das
verduras...eu gosto do gostinho da salsa...manjericão...”
(Marisa C.C.)
André C.P. e sua esposa gostam de comida japonesa, procurando conhecer
os restaurantes que oferecem este tipo de culinária, não esquecendo de mencionar
a pizza nos finais de semana.
Para Gabriel C. F. o tempo destinado ao restaurante é o tempo da refeição.
“... restaurantes... só quando tem visitas, a comida da casa é muito boa!” ele
ressalta o modo diferente como os “chegantes” percebem os restaurantes. “Se a
gente vai lá é pra jantar, non é pra ocupar uma mesa e... passar a noite...” (Gabriel
C.F. )
Nas cidades grandes, não se tem o costume de prolongar muito a conversa,
mesmo porque tem uma fila de espera de clientes aguardando a sua vez. E há uma
política velada, fica enquanto consome, parou de consumir é a vez de outro.
Revelando a diferença entre o atendimento de uma cidade de médio porte onde as
relações mesmo as comerciais, se processam com um ritmo mais lento. O que
parece estranho para uns e apreciado por outros. Quanto a música ambiente nos
restaurantes os atores sócias não fazem questão e até não gostam.
“...eu detesto música ao vivo...tem um grande problema: o
volume... você vai a um restaurante pra conversar...a certa
altura você não consegue mais conversas.É super
desagradável...pode ter uma musiquinha...você vai num show
para ouvir música alta...pra curtir...”(André.C.P.).
Cada um na sua: relação com os auxiliares domésticos.
163
A relação com os auxiliares domésticos é formal, com exceção de Nestor C.P.
que tem uma atitude mais paternalista sendo aparentemente uma exceção nesta
característica entre os chegantes. Já os outros atores sociais entrevistados foram
unânimes na relação formal.
“Eles tem essa historia aqui que a gente não tem no Rio. No
Rio tem uma empregada, ela tem uma relação ótima com você,
mas os problemas dela são os problemas dela, e os nossos
são os nossos. Não existe muito essa mistura...aqui eles
acabam te sobrecarregando...todos os problemas são
passados pra você... eu não quero me envolver...” (Marisa. C.
C.)
Marta C. F. não tem empregados domésticos, só o jardineiro que vem uma
vez por semana. Ela prefere a privacidade a ter uma pessoa estranha na casa
diariamente. Porem quando viaja contrata uma moça para cuidar da casa.
Luiza e André C.P. tem uma auxiliar doméstica há cinco anos, e mantém um
contato formal, não se envolvem nos problemas particulares da auxiliar.
Carla C.G. não tem auxiliares domésticos, todos da família participa e ajuda.
Ela trabalha, o casal de filhos ajuda na manutenção da casa assim como o marido.
A participação dos homens nos afazeres domésticos sempre ocorre quando
há uma necessidade. Todos, sem exceção se ocupam do jardim, da piscina, dos
cachorros. Somente Marta e Gabriel C. F. tem um jardineiro, mas mesmo assim ele
se ocupa da casa e do jardim nos finais de semana.
O gosto pelo bege. O consumo dos “chegantes”
A maioria dos chegantes entrevistados prefere roupa pronta, porém mantém
seu gosto estético para as roupas. Entendem que Natal é uma cidade litorânea e
muitos mantêm uma postura mais descontraída quanto ao vestuário, onde o estar na
moda não é importante, mas estar confortável é o objetivo.
164
Maria C.S. compra suas roupas na Suécia, “... porque aqui muito feio muito
apertado... não combina comigo”.
Marisa C.C. prefere roupa pronta e normalmente compra no Rio, acha as
mercadorias caras aqui. Cita o Praia Shopping como o preferido para lanchar e fazer
compras. Luiza e André C.P. também preferem a Praia shopping, por ser aberto,
mais descontraído, mais simpático. Quanto à roupa a preferência recai sobre a
roupa pronta.
Marta C.F. gosta de mandar fazer vestidos na costureira, com cangas, que
usa em casa. Mas de modo geral prefere roupa pronta. Segundo seu marido Gabriel
C.F “... não é lugar pra fazer moda e como a gente não sai muito na noite...” Ele
enfatiza o estilo de vida informal, descontraído, o permanente estar de férias.
“...eu tenho um estilo..calça jeans e camiseta... porque carioca
é muito assim, ele vai pro shopping de short e camiseta...aqui
as pessoas se arrumam mais... parece que vai pra uma festa..
isso me assustava um pouco... agora já to me arrumando pra ir
no shopping... você acaba...” (Marisa C.C.)
Os “chegantes” e sua relação com a cidade, Ponta Negra e o turismo.
Gabriel e Marta C.F. estão em Natal há oito anos. Ele trabalha em um
organismo internacional, e seu chefe está a 2000 Km de distancia, sua esposa, não
trabalha. Apreciam o clima e desfrutam a vida em Ponta Negra.
O Primeiro lugar em que moraram foi em Cotovelo, se mudando para o
Capim Macio e finalmente adquirindo uma residência no Alagamar. A escolha do
local foi direcionada pela proximidade do mar e a crescente valorização dos imóveis
em Ponta Negra. Eles caminham diariamente no calçadão e ela vai à praia
semanalmente. A presença dos turistas não incomoda. Não apreciam musica ao vivo
nos restaurantes “... a gente vai lá é pra jantar, non é pra ocupar a mesa e... passas
a noite”.(Gabriel C.F). Em relação à cidade, pouco vão aos bairros mais centrais,
resolvem tudo em Ponta Negra.
“bom... o atrativo mudou... antes era a Praia do
Meio... agora é tudo Ponta Negra... fazer o que em Natal?”(Gabriel C.F).
165
André e Luzia C.P são do sudeste. Ela de Santa Catarina e ele de São Paulo.
“Viemos pra Natal pela violência de São Paulo,..viemos pra Natal...porque ...é
tranqüilo.”(André C.P.) O primeiro ano foram morar em Neópolis, pois não acharam
uma casa boa para alugar. Iniciaram um empreendimento comercial. Hoje ele é
trabalha com o turismo com prestação de serviços alugando carros de sua
propriedade, além de ser bancário, e ela não trabalha. No ano seguinte resolveram
comprar um imóvel e procuraram na Vila de Ponta Negra, sua casa tem a decoração
de casas de praia do sudeste. Reformaram a casa para adaptá-la ao seu estilo de
vida. Não se incomodam com a presença dos turistas, e também não se relacionam
com os vizinhos. Freqüentam a praia de Ponta Negra que para eles, melhorou
500% depois das obras de urbanificação. Também não vão à cidade. “Nossa vida se
resume aqui na Ponta Negra” (Luiza. C.P.) Moram há sete anos em Natal.
Marisa e Carlos C.C são cariocas. Moram há sete em Ponta Negra.“Eu acho
que é o único lugar legal de morar em Natal é Ponta Negra!... a praia... as pessoas
de fora...”(Marisa C.C.).A família freqüenta a praia nos finais de semana. Ela
caminha na praia regularmente. Ela relembra das dificuldades iniciais de adaptação
aos costumes locais como falar no imperativo
“essa coisa do imperativo... faça! venha!...não é aquela
coisa...por favor, você poderia... essa coisa me incomoda um
pouquinho... mas isso já ta mudando e a gente ta vendo
pessoas mais atenciosas... de uns quatro anos pra cá
mudou muito. Não sei se o turismo ta pedido isso... ” (Marisa
C.C.)
Marisa também falou do comportamento machista que a incomoda. Quando
estavam construindo sua casa, não importava o que dissesse, os empregados não a
obedeciam era preciso o marido deixar o trabalho para transmitir as tarefas a serem
executadas. “... por você ser mulher... por que se o homem chega e fala, eles já
atendem de outra maneira... (no Rio) você é tão atendida, um homem quanto uma
mulher...”.
Carla C.G. e sua família moram em Ponta Negra a dois anos.
166
“Viemos pra Ponta Negra, em primeiro lugar, porque era um
bairro que meu marido já conhecia... visitou amigos aqui...
gostou achou bonito... primeira indicação que a gente teve
pra... morar foi... Ponta Negra... inclusive muita
possibilidade de casas pra alugar, vender, mobiliadas... é
um atrativo importante”.(Carla C. G.)
Ela considera Ponta Negra como uma cidade independente do resto de Natal,
onde tem grandes supermercados, escolas e outros equipamentos necessários para
se configurar como uma centralidade. Afirma que estranhou a relação de
distanciamento das pessoas locais para com os turistas e “chegantes”.
“... turismo... é uma fonte de renda muito grande pra cidade...é
como se Ponta Negra fosse um ponto cosmopolita. É uma
cidade, um bairro na verdade, que faz relação com o mundo
inteiro. Aqui você encontra suecos, argentinos... é uma cidade
de uma diversidade muito grande de costumes, de
hábitos.” (Carla C.G.)
e continua...
“Ponta Negra é como se fosse uma cidade cosmopolita, uma
cidade do mundo, e cada um fica na sua... E falando com um
colega de trabalho ele disse que isso é uma característica de
Ponta Negra, não é uma característica da cidade em si.”
(Carla C.G.)
Para Maria e Nestor C.P, cidadãos do mundo. Já viveram em Stocolmo, Bali,
Emirados Árabes, Portugal estão atualmente morando na Vila de Ponta Negra
porque “a vida... pulsa com força” diz Nestor sobre a escolha do lugar.
Eles trabalham com turismo, e afirma que os turistas incomodam muito.
“...me incomodo muito...o turismo escandinavo... de cem
turistas que vem, oitenta são corretos, vinte buscam drogas e
prostitutas... o italiano é perverso... ele alicia a prostituição,
consome droga...” (Nestor. C.P.)
sua esposa afirma: “orla é tudo italiano...” (Maria C.P.)
167
“... esses caras tão arregaçando... tão detonando...as pessoas
tão acostumando com dinheiro fácil, de estender a mão prum
gringo...cinco reais num é nada...mas prum cara duma carroça,
aqui da Vila, ganhar cinco reais tem que... carregar muita
coisa... então porque eu vou puxar burro.. se eu posso ...pedir?
(Nestor C.P.)
Nestor gosta de ir caminhar na praia a tardinha, mas reclama da poluição
ambiental, principalmente perto do Morro do Careca. O casal mora oito meses na
Vila de Ponta Negra e via para a Suécia nos outros quatro meses. Falam só de
amigos “chegantes”. Tentam participar da vida comunitária da Vila, ajudam a
população mais carente participando de uma organização que fornece Sopão. Mas
percebe-se um conflito velado, de querer pertencer ao lugar, de procurar uma vida
mais “autentica” ou melhor, dizendo uma vida alternativa. Nestor não se adaptou
com o estilo de vida escandinavo, muito frio para ele. Resolveu voltar ao Brasil com
a família. Sua visão acerca dos problemas que a população da vila tem para
sobreviver reflete juntamente o fato de que ela não faz parte do processo produtivo
do turismo, pois não tem preparo educacional e também não tem como fazer parte
do processo de consumo, se não mendigar ou se prostituir.
Quanto a composição familiar, dois casais não têm filhos por opção já os
outros três tem dois filhos, se diferenciando da sociedade local que de um modo
geral tem três, quatro ou mais filhos. Assim como a não presença de auxiliares é
uma decisão de estilo de vida e não situação econômica.
Todos os chegantes entrevistados falaram do costume de receber em casa e
ser convidado para irem nas casas das pessoas que se relacionam socialmente. A
sociabilização dos “chegantes” se passa no espaço privado, de forma oposta dos
potiguares onde a sociabilização se processa nos lugares públicos. Quando
moravam em suas cidades natais, tendo a família nas proximidades, já havia o
costume de freqüentar as casas dos amigos.
A questão da musica ambiente é outro fator de diferenciação. Os “chegantes”
apreciam em sua maioria, as musicas de ambiente em um tom em que se é possível
manter um diálogo.
168
Todas as chegantes falaram da sua preferência pelas cores pasteis e beges,
e uma maneira mais informal de se vestir. Foram relatadas também as dificuldades
em se adaptarem ao estilo de vestuário local com cores mais fortes, mais alegres e
tropicais.
Estas são algumas características dos atores sociais entrevistados apontaram
em seus discursos. Eles não permitem generalizar a representação do universo dos
chegantes, mas mostraram alguns fatores importantes para o entendimento do estilo
de vida de um chegante.
6.4 PONTA NEGRA NÃO É MAIS NOSSA: a apropriação espacial dos
“chegantes”
A atração dos “chegantes” por Ponta Negra se deve pela valorização dos
imóveis, ao clima festivo de férias permanentes e a proximidade do mar.
A Barraca do Caranguejo, restaurante rústico na Av. Erivan França tem uma
adega de vinhos climatizada, com várias procedências desde, vinhos nacionais a
chilenos, argentinos, portugueses, espanhóis. A qualidade e a quantidade dos
vinhos impressiona, pois chega ao número de 1000 garrafas. Essa adega é a
resposta de uma demanda pelo consumo deste produto, um hábito tão comum na
Europa. Este estabelecimento apresenta cartaz promocional em inglês. Ponta Negra
é bilíngüe, alguns restaurantes apresentam cardápio em inglês, outros em italiano e
espanhol.
169
.
Barraca do Caranguejo 2003 Fellini – restaurante italiano 2004
restaurante mexicano 2003 restaurante chinês 2003
La Paelha – restaurante espanhol 2004 Taiyo, restaurante japonês 2003
Fonte: Neverovsky
FIGURA 47
Fig. 47 Espacialização gastronômica dos chegantes em Ponta Negra
Espacialização gastronômica dos chegantes em Ponta Negra
170
A analise das tipologias construtivas das moradias do bairro parece indicar
que a população de baixa renda tem se concentrado na Vila, porém observa-se uma
apropriação do lugar por indivíduos com rendimentos médios e altos.
A Vila de Ponta Negra, com suas ruelas estreitas, é preferida pelos
estrangeiros, principalmente pelos italianos. Aparentemente essa preferência se dá
pela sensação de semelhança com as vielas do mediterrâneo, gerando uma
familiaridade espacial.
Na Vila de Ponta Negra foram encontrados alguns condomínios fechados.
Sua ocupação é caracterizada pela mescla de migrantes brasileiros e estrangeiros,
os “chegantes”. A ocupação se verifica tanto de maneira sazonal, como permanente.
As casas dos nativos estão sendo gradativamente substituídas por pousadas,
residências e outros usos. A expulsão dos nativos se processa pela gradativa
apropriação do espaço pelos “chegantes”, mas não da elite local. Para ela, o bairro
ainda é passivo de discriminação, um lugar que não é sério de se morar, onde o
contato com o outro, o turista e o migrante, incomoda.
No interior da Vila de Ponta Negra são encontrados condomínios fechados.
Um deles pertence exclusivamente a um grupo de famílias italianas que passam o
inverno europeu, aqui em Natal, curtindo o calor tropical, figura 48
Em Ponta Negra se encontram vários exemplos de segunda residência de
estrangeiros que passam uma parte do ano no Brasil e a outra na Europa.
A Vila de Ponta Negra ainda apresenta a predominância da população local,
com suas moradias, muitas representantes da tipologia de porta e janela. Se
observou o habito de agregar construções de uma mesma família, ou seja, um filho
casa e se faz um puxadinho no mesmo terreno dos pais. Os terrenos da vila
apresentam formatos e tamanhos irregulares, os menores pertencentes aos mais
pobres e de repente no meio deles um lote de grandes proporções com jardim
indica a presença de um chegante.
171
Fonte: Neverovsky 2004
FIGURA 48
Fig. 48 Propriedade de veraneio, de italianos, na Vila de Ponta Negra
Na Vila encontramos chegantes de todos os níveis econômicos, dos mais
pobres aos ricos, um mundo de diversidade cultural e econômica. As pousadas e os
hotéis vão ocupando aos poucos os melhores terrenos, preferindo os que tem vista
para o mar. Esta escolha também se nota nos chegantes abastados. Observaram-
se várias residências com características de edificação distintas da arquitetura local,
como as que se encontram em Porto Seguro, e no litoral do suldeste com a mistura
de alvenaria aparente e madeira. A presença de jardim com grama, plantas
decorativas foi predominante entre os chegantes, já a população local de Ponta
Negra como um todo aparentemente prefere apenas árvores frutíferas, com numero
e porte variando em função do lote. A areia no quintal aparentemente vem do
conhecimento de animais peçonhentos e assim fica mais fácil de vê-los.
Suas ruas e vielas da Vila estão sempre cheias de gente e crianças brincando, fato
não verificado nos Conjuntos de Ponta Negra e Alagamar.
Propriedade de veraneio, de italianos, na
Vila de Ponta Negra
172
vista parcial da Vila o habito de colocar cadeira na calçada
vista de uma residência escadaria de acesso à praia
vista parcial da vila rua que leva a praia
Fonte: Neverovsky 2004 FIGURA 49
Fig. 49 Aspectos do cotidiano na Vila de Ponta Negra
Aspectos do cotidiano na Vila de Ponta Negra
173
mulher vendendo peixe 2003 borracharia 2003
vendedor de coco 2003 mercadinho 2003
ambulante na praia 2004 e os barraqueiros voltaram 2004
Fonte: Neverovsky FIGURA 50
Fig. 50 Algumas atividades econômicas exercidas pela população local mais pobre da Vila de Ponta
Negra
Algumas atividades econômicas exercidas pela população local
mais pobre da Vila de Ponta Negra
174
A Vila de Ponta Negra ainda dispõe alguns terrenos grandes e não edificados.
A demanda solvável está inflacionando o mercado imobiliário local para terrenos
sem edificação ou com edificações precárias, fáceis de demolir.
Uma pesquisa de campo limitada a av. Erivan França durante este trabalho,
no ano de 2003, revelou os seguintes dados: foram levantados 60 lotes urbanos,
constatou-se que: cinco (5=8,33%) deles estavam vazios, as residências somaram
um total de sete unidades (7= 11,67%); foram encontrados onze (11=18,34%)
hotéis; vinte e quatro (24=40%) de bares e restaurantes; doze (12=20%) de lojas e
um (1= 1,6%) ocupado pela sede social de uma universidade particular. Dos 60
lotes, 47 apresentam uso comercial ou de serviços, ao considerarmos apenas esses
lotes, constatamos que deste total 25,53 são de potiguares e os 74,47% são de
chegantes. As residências e os imóveis vazios são reminiscências da ocupação
inicial, onde predominavam as casas de veraneio.
Os conjuntos de Ponta Negra e Alagamar apresentam a predominância de
chegantes brasileiros, sendo o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, e Rio Grande do
Sul, os locais mais freqüentes da origem dos mesmos. Lá está localizado o Centro
de Tradições Gaúchas - CTG, que reúne os conterrâneos para saborear o churrasco
e manter vivas suas tradições com danças típicas, cavalgadas e outras atividades.
SILVA (2000) aponta para a existência de 1.200 famílias gaúchas residindo em
Natal. Umas parcelas destes gaúchos residem no bairro de Ponta Negra.
Entre 1995 a 2000, foram registrados 17.855 imigrantes e 19.450 emigrantes
no Estado do Rio Grande do Norte segundo dados do Censo IBGE 2000. Segundo
reportagem no Diário de Natal em 30.06.2003, houve um aumento de imigrantes de
outros estados vindos para o Rio Grande do Norte, registrando um numero maior de
emigrantes do que imigrantes.
175
Fonte: Torres,1999 FIGURA 51
Fig. 51 Ponta Negra antes da urbanização turística, 1999.
Ponta Negra antes da urbanização turística - 1999
176
Na figura 51 podemos perceber a ocupação do solo de Ponta Negra no ano
de 1999, as áreas dos conjuntos apresentam uma trama urbana regular e
padronizada, enquanto a trama urbana da Vila de Ponta Negra apresenta uma
morfologia irregular, característica de um assentamento espontâneo. A orla ainda
preservava grandes áreas com vegetação nativa e não edificadas, as ruas eram de
terra e com traçado irregular em alguns pontos, e até mesmo em alguns pontos a
inexistência das mesmas que foram tragadas pela erosão. No canto superior
esquerdo notamos o Praia Shopping e as torres dos Corais de Ponta Negra. Os
terrenos ao longo da Av. Eng. Roberto Freire também não apresentam muitas
edificações.
Na figura 52, podemos observar a mudança na malha urbana, principalmente
da vila e da orla, que passou a apresentar uma maior linearidade devido a
pavimentação das ruas. A densidade ocupacional aumentou em relação a figura 51,
referente ao ano de 1999. Perto da Rota do Sol, vemos a implantação de edifícios
da Capuche e da Ecocil, construtoras de grande porte em Natal, ambas com
edificações de torres com até 36 andares, no ano de 2002. Hoje estes edifícios já
foram concluídos e se encontram ocupados por moradores. A reforma do Praia
Shopping já estava concluída, pois podemos ver o estacionamento pronto.
177
Fonte: Torres, 2002 FIGURA 52
.Fig. 52 Ponta Negra depois da urbanização turística, 2002
Ponta Negra depois da urbanificação turística - 2002
178
A espacialização da cultura dos chegantes também se observa na arquitetura,
se não na edificação como um todo, mas com detalhes introduzidos nas edificações
que revelam a origem de seus proprietários. No setor hoteleiro os nomes dos
empreendimentos muitas vezes indicam a origem de seus proprietários, o mesmo
acontecendo restaurantes.
Painel decorativo do Hotel XXXXX em Ponta Negra
detalhe decorativo na fachada de uma residência na Vila de Ponta Negra
Os dois imóveis acima pertencem à “chegantes” italianos.
Fonte: Neverovsky 2003 FIGURA 53
Revelando a origem
179
Fig.53 Revelando a origem
Na figura 53 a primeira foto é de um hotel onde a origem de seu proprietário
italiano incorporou no seu imaginário uma gôndola com o Morro do Careca. Já a
segunda foto mostra detalhes arquitetônicos de origem italiana em uma residência
na Vila de Ponta Negra.
O tratamento arquitetônico é mais visível em empreendimentos comerciais,
onde detalhes, cores, nomes e até bandeiras, revelam a origem de seus
proprietários.
Para a identificação dos “chegantes” em Ponta Negra foi realizada uma
pesquisa de campo que resultou no mapeamento da apropriação territorial pelos
“chegantes” do bairro de Ponta Negra, dando uma maior visibilidade de sua
presença no espaço urbano.
A analise deste mapa indica uma preferência dos “chegantes” estrangeiros
pela orla e pela Vila de Ponta Negra. Já os “chegantes” brasileiros predominam nos
conjuntos de Alagamar e Ponta Negra. Em algumas quadras sua presença se
aproxima da metade dos moradores. Nos conjuntos não foi encontrada nenhuma
quadra sem a presença significativa de “chegantes”.
No conjunto de Ponta Negra foram encontrados alguns casos de
remembramento de lotes, de propriedade de chegantes estrangeiros para uso
residencial.
Na orla, com os terrenos maiores, também se observou a junção de vários
lotes para edificação de hotéis e pousadas com a predominância de chegantes
estrangeiros.
Já na Vila de Ponta Negra a predominância dos lotem maiores é de
chegantes brasileiros alguns para uso residencial, outros para uso de prestação de
serviços.
180
m
Fig. 54 Os chegantes !
nnNN
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N
Olha os chegantes ai! – Ponta Negra
Fonte: Neverovsky,elaboração própria a partir da CAERN Data: 2005
FIGURA 54
181
CAPITULO 7 – PONTA NEGRA FOI DORMIR EM REAIS E ACORDOU
EM EUROS: os interesses dos agentes imobiliários.
O desenvolvimento do turismo trouxe muitas mudanças para Natal e Ponta
Negra principalmente. O mercado imobiliário também acabou por sofrer alterações
em função da presença de turistas e “chegantes”.
“Nos últimos cinco anos, os imóveis de Ponta Negra dobraram
de preço, em dólar, o que representa um aumento de cerca de
500% em reais. Os estrangeiros estão chegando e se fixando
através da montagem de bares, restaurantes e pousadas.”
(Lopes, 2003)
O titulo acima de uma matéria no jornal Tribuna do Norte aponta para um
mercado de imóveis que visa uma clientela além da sociedade local. A valorização
da moeda européia (o euro) em relação ao real tem atraído compradores em Natal.
Lopes (2003) aponta para o diferencial de preço por metro quadrado de terreno
entre Ponta Negra, que varia entre R$800,00 a R$1.000,00 enquanto em Tirol e
Petrópolis os preços praticados ficam entre R$300,00 e R$500, 00, no ano de 2003.
Cita também o caso de um empreendimento imobiliário que foi vendido antes de ser
divulgado.
Na figura 55 a proprietária fundiária de um terreno de 400 metros quadrados
com três edificações no mesmo, espera vender sua propriedade por R$200 mil reais,
na Vila de Ponta Negra, no ano de 2003.
A construtora Ecocil vendeu 30%, do empreendimento realizado em Ponta
Negra, para estrangeiros. A valorização dos imóveis continua em alta e os preços do
metro quadrado chegaram a R$2.200. Os clientes estrangeiros somam 30%,
chegando a 50% na alta estação. Os primeiros investidores eram italianos, seguidos
de noruegueses e atualmente são os espanhóis que estão comprando. Esta clientela
tem modificado as exigências do mercado com a necessidade de ter profissionais
bilíngües nos quadros de trabalho das corretoras de imóveis. (Tribuna do Norte,
04.04.2004).
182
Fonte:arquivo Tribuna do Norte, 2003
FIGURA 55
Fig. 55 A febre da especulação imobiliária
Os agentes imobiliários que atuam em Ponta Negra são incorporadores,
construtores e corretores de imóveis. A seguir algumas colocações destes agentes
entrevistado segundo roteiro em anexo.
João C.P. é o sócio diretor de uma empresa de construção civil, especializada
na construção de empreendimentos hoteleiros, atuando também como
incorporadora. O local de atuação é Ponta Negra e atualmente pretende se expandir
para outros lugares.
Seus clientes são investidores “chegantes” do setor hoteleiro. João C.P.
aponta para a falta de áreas de grandes dimensões para a construção de hotéis de
grande porte ou resort. Os investidores estrangeiros optam por Ponta Negra devido
ao saneamento básico, um parâmetro de qualidade de vida, segundo ele muito
valorizado pelos estrangeiros. A retirada das barracas também foi um fator que
impulsionou a valorização.
A febre da especulação imobiliária – Ponta Negra
183
“...quando o poder público investe, a iniciativa privada vem
atrás, é o que aconteceu em Ponta Negra. A costeira é
decadente, a concepção de turismo...ultrapassada...meio
sucateados os hotéis. As pessoas querem vida em volta.”
(João. I.P.)
Segundo ele apenas os hotéis Pirâmide e Pestana atendem as exigências do
turismo atual.
Maurício I.T ocupa o cargo de diretor de vendas de uma imobiliária tradicional
da cidade do Natal. A empresa atua no setor de venda e administração de imóveis e
também como incorporadora. Ele aponta para o perfil do investidor estrangeiro: tem
entre 50 e 60 anos, homens e de classe média baixa. Eles têm procurado
apartamentos pequenos e Flats, afirmando que todos os lançamentos são facilmente
vendidos. Já os clientes locais procuram acesso à colégios tradicionais, serviços
médicos, e portanto voltando sua atenção para bairros mais centrais da cidade.
A presença destes investidores tem desencadeado o processo de mudanças
na área da Vila de Ponta Negra.
“A Vila, eu não chamo mais de Vila, chamo de Alagamar. É um bairro muito
bom de se morar, próximo da praia.” (Maurício I.T.) Ele afirma que Ponta Negra é
onde se ganha dinheiro no mercado imobiliário atualmente. Lembra que os
moradores dos conjuntos eram discriminados. Agora Ponta Negra tornou-se um
bairro privilegiado, graças a expansão turística. Segundo ele, Ponta Negra é mais de
classe média e Alagamar de classe alta. Fala dos altos salários europeus que
permitem que a classe baixa invista em Ponta Negra. Aponta para a importância da
rede informacional para o mercado imobiliário, onde muitas vendas são realizadas a
partir da Internet. A empresa em que trabalha tem contatos na Europa para a
promoção e venda de imóveis em Natal. A preferência do tipo de imóveis se divide
em apartamentos para italianos e casas ou condomínios para os escandinavos. A
presença dos turistas também alterou a rotina da empresa, hoje abre aos sábados e
domingos, coisa que não fazia a pouco tempo atrás.
Marcelo C.I é um “chegante italiano, que atua no mercado imobiliário de
Ponta Negra exclusivamente, como administrador, corretor e incorporador. Seus
clientes são quase que exclusivamente italianos, em função dos contatos que
184
mantém com seu país de origem. Aponta para a faixa etária entre 40 e 60 anos de
seus clientes e que muitos já vieram várias vezes à Natal. A preferência por
apartamentos e flats se deve ao fato segurança e serviços, aliados a possibilidade
de ainda propiciarem renda se colocados em um pool. Afirma que Ponta Negra é o
lugar mais seguro para se investir em Natal com a possibilidade de se revender o
imóvel com rapidez se for necessário. Acha que tem pouco espaço para
empreendimentos e vê as casas dos população pobre na Vila como fator de atraso
no desenvolvimento do lugar.
Percebe que o desenvolvimento turístico é uma moeda de dois lados. Quando
se tem dinheiro circulando, tudo funciona, mas por outro lado também têm
prostituição, drogas, roubos.
“Com o dinheiro da compra de um flat que faria na Itália? nada!
Compra uma garagem! Com U$300 mil dolares não faz nada
na Itália, aqui faz um pequeno império” (Marcelo C.I.)
Outra imobiliária que atua em Ponta Negra, onde Irineu I.P. é gerente de
vendas. Segundo ele 80% dos investidores são estrangeiros. “...eles são nômades,
passam dois, três meses aqui e voltam” .
Segundo Irineu. I. P. dois tipos de pessoas procuram Ponta Negra: os
investidores e os sonhadores.
“A Vila é local de investimento dos estrangeiros. O
natalense não gosta de morar na Vila. O estrangeiro se
amarra... é coisa rústica...a orla é...pessoas que tem poder
aquisitivo muito alto, tem boas casas, também tem cerca
elétrica... abre o portão da esquina, fecha, não fala com
ninguém... é uma classe diferenciada.” (IRINEU I. P)
Beatriz P. potiguar, sócia de José C.P. português, têm um escritório
imobiliário na orla de Ponta Negra. Entre seus clientes 75% são investidores e os
restantes 25% são de pessoas que compram o imóvel para morar. A faixa etária é
novamente entre 45 e 50 anos, composta de portugueses e espanhóis. Eles
começam a captar seus clientes na Europa através de contatos. Também
185
estabelecem contato com os turistas nos hotéis através dos recepcionistas, guias de
turismo.
“... então nos vamos atrás de quem recebe os turistas, nos vamos na fonte.”
(Beatriz P.).
Segundo ela...
“Ponta Negra é o foco... garantia de rentabilidade e valorização do imóvel.”
“ O estrangeiro que vem morar em Ponta Nega é diferente...ele
pensa que é o próprio turista... aqui é mais praia... mais
selvagem... é mais liberto... o natalense viria morar aqui em
Ponta Negra? NÃO!... as pessoas são muito família. ” (Beatriz
P.)
José C.P., seu sócio, define os diferentes turistas: “... um casal... prefere ficar
na tranqüilidade da Costeira... pessoas que vem soltas, vem em grupos de amigos...
preferem Ponta Negra.
A produção de um espaço turístico, pelo Estado, em Ponta Negra, também
foi responsável pela intensificação da especulação imobiliária, com a configuração
de lugar de badalação, com movimento certo para as atividades de prestação de
serviços e de comércio. O bairro passou a ser objeto de interesse dos produtores
imobiliários. Surgiram novas imobiliárias que atuam preferencialmente em Ponta
Negra, que fazem de seu público alvo os turistas estrangeiros, atraídos pelo sol e
mar com capital econômico privilegiado, o euro. Os produtores imobiliários, hábeis
tradutores dos desejos da demanda solvável estão privilegiando a construção de
flats e apartamentos de dois quartos, cuja facilidade de administração (condomínio)
tem atraído clientes que desejam investir em Natal, mas não estabelecer residência
definitiva. A preferência pelo produto imobiliário na forma de apartamentos e flats,
está induzindo o processo de verticalização no bairro.
Em artigo na Tribuna do Norte, Abreu enfatiza os investimentos de
estrangeiros e diz: “Os estrangeiros são o pilar central do mercado imobiliário local”
(Tribuna do Norte, 07/08/2004)
186
Natal Plaza – flat em fase de finalização da obra;
Fonte: Neverovsky 2004
FIGURA 56.
Fig. 56 Indução do processo de verticalização em Ponta Negra
Outro artigo sobre valorização imobiliária, aponta Ponta Negra como a
bairro mais valorizado com preços do metro quadrado construído está em torno de
R$ 3.100,00. Este preço se justifica pela boa infra-estrutura como saneamento
básico, pavimentação e também pela presença de shopping, centros de artesanato,
hotéis e outros equipamentos.Sobre Ponta Negra se afirma que é a área mais
procurada por estrangeiros, principalmente portugueses. Em um ano teve uma
valorização de 52,8% para o metro quadrado construído segundo Sinduscon-RN
(tribuna do Norte, 07/08/2004)
Indução do processo de verticalização em Ponta Negra
187
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os bairros são os locais de reprodução de diversos grupos sociais
adquirindo uma dimensão simbólica. O espaço é constituído pelos diferentes usos
da terra, uma forma espacial onde se desenvolvem diversas atividades: comércio,
prestação de serviços, moradia. Os habitantes ou usuários imprimem suas
características culturais ao espaço que ocupam.
Os “chegantes”, aparentemente, tem optado por Ponta Negra. Esses novos
atores sociais acabaram por induzir a criação de uma nova espacialidade em Ponta
Negra, que se diferencia pelos seus estilos de vida, como resultado de escolha
pessoal por produtos e espaços urbanos que definem um conjunto de práticas
sociais.
A escolha dos “chegantes” tem promovido uma aglutinação espacial dos
mesmos, onde se que verificam diferentes nacionalidades, naturalidades, culturas,
costumes, estilos de vida, imprimindo uma cosmopolitização ao bairro. Por
cosmopolitização entendemos a convivência de diferentes culturas, costumes,
estilos de vida, num mesmo espaço.
A elite econômica produz espaços exclusivos e segregados no espaço urbano
da cidade. Em Natal, ela permaneceu em bairros tradicionais como Tirol e
Petrópolis, mas a presença de atores sociais com altos rendimentos parece indicar
uma expansão de território da elite local em direção a Lagoa Nova, Candelária.
Capim Macio. Nestes bairros também se espacializam os estilos de vida das elites
potiguares.
Esta pesquisa indica uma intensificação da apropriação da elite econômica
de chegantes no bairro de Ponta Negra, em função da atividade turística,
modificando a estrutura social e espacial do lugar.
Ponta Negra se consolidou como centro gastronômico da cidade e também
pela concentração de hotéis, pousadas, lojas de artesanato, A presença de
chegantes no espaço urbano de Ponta Negra tem induzido a presença de novos
188
produtos de consumo tanto de vestuário como de alimentação percebida pelo ator
social que trabalha como corretor de imóveis em Ponta Negra.
“...os tipos de alimentação que tem no Carrefour hoje, o tipo de alimentação que
tem o Hiper...supermercado são comidas já direcionadas para o estrangeiro, são
embalagens já pra duas pessoas...tem temperos italianos, macarrão instantâneo
coisas normais na Europa...macarrão fetuccini..coloridos..o pessoal daqui come o
que? Carne de sol, macarrão, arroz, feijão e batata...hoje já tem chicória...” (Irineu
I.P.).
Com a introdução do turismo em Ponta Negra, também apareceu a
atividade de prestação de serviços, onde as categorias profissionais de prestação
de serviços se subdividem de acordo com os rendimentos e sua espacialização. Os
médicos são apontados como prestadores de serviços que se classificam como
superiores economicamente do que os técnicos que representam a classe média e a
mão de obra do setor de serviços como classes inferiores. Em Natal, a prestação de
serviços médicos, particulares, ou seja, serviços que não são oferecidos para a
população pelo estado, representam uma parcela da classe superior de prestadores
de serviços que se apropriou de algumas ruas do tradicional bairro de Petrópolis. Ver
Figura 02. Já a prestação de serviços do setor hoteleiro e de restaurantes se
concentra em Ponta Negra, pelos chegantes.
Com a mudança no uso do solo, de residencial para prestação de serviços,
com o aparecimento de muitos bares e restaurantes passou o bairro passou a
apresentar uma vitalidade no período noturno, antes inexistente. O “agito noturno”,
confere ao lugar um “ar” cosmopolita, com suas diversas culturas e diferentes etnias
presentes nesta fração urbana, seja como atores sociais ou como espacialização de
diversas culturas de atores sociais chegantes que moram em Ponta Negra.
O bairro de Ponta Negra apresentava uma comunidade estruturada, mas com
desenvolvimento lento, A urbanificação turística mudou a vocação de uso da terra, e
assim a velocidade de desenvolvimento do bairro.
Todas essas mudanças, que ainda estão em curso, têm levado a
configuração de um estilo de vida em Ponta Negra, com a apropriação espacial do
189
bairro pelos “chegantes”, que o elegeram tanto para os empreendimentos como para
moradia. Os “chegantes” e os turistas, essas duas tribos imprimem suas
características ao lugar que apropriaram. Uma Ponta Negra cosmopolita.
O desenvolvimento turístico consolidou um “estilo de vida” cosmopolita em
Ponta Negra.
“... fiquei com a impressão de que Ponta Negra não estava geograficamente
em Natal” (SILVA, 2000, p79).
A presença dos chegantes se percebe pelos nomes dos estabelecimentos
comerciais, pelos detalhes arquitetônicos, pela culinária, pelo vestuário e outros
manifestações culturais.
As relações sociais também estão em processo de mudança, a necessidade
de domínio de um outro idioma tem sido uma exigência constante em determinados
segmentos de ofertas de empregos no setor de serviços turísticos e no mercado
imobiliário.
A escolha dos chegantes por Ponta Negra reflete uma aglutinação espacial
resultante de afinidades culturais, “estilo de vida” e de atividades econômicas
relacionadas ao turismo.
Assim, Ponta Negra, nó turístico da rede turística mundial, tem seu espaço
apropriado pelas elites econômicas dos chegantes, que estão simbolicamente
protegidas pela barreira econômica. Os processos sociais alteram o ambiente
construído, refletem símbolos de poder construindo comunidades espaciais de
segunda ordem que tendem a se isolar do resto da sociedade, levando ao processo
de fragmentação sócio espacial.
A produção de uma urbanização turística em Ponta Negra tem se
apresentado eficaz para a captação e reprodução de capital no mercado
internacional, porém não há indícios de uma política pública para a inclusão dos
habitantes locais neste novo mercado de trabalho.
Para o estilo de vida potiguar a presente pesquisa aponta para indícios de
que a relação de vizinhança é muito forte, assim como a presença de familiares para
a escolha do local de moradia. A esse sentimento de proximidade com os familiares,
é acrescentado o sentimento de pertença do lugar, da identificação e da historia de
vida do indivíduo que fornece um suporte emocional e social.
190
A escolha, de Ponta Negra pelos chegantes parece indicar uma aglutinação
espacial resultante de afinidades culturais e “estilo de vida”. O chegante busca
passar desapercebido no meio de uma diversidade cultural resgatando sua
identidade de cidadão cosmopolita, assim seu estilo de vida se espacializa em Ponta
Negra – o lugar do outro.
Ponta Negra é transversal às tradições locais passando a se configurar como
uma nova espacialidade com diversidade cosmopolita.
A apropriação territorial do outro, em Ponta Negra, é marcada por tensões
sociais encobertas e pela imposição econômica sobre a população local. “O objeto
cidade é uma sucessão de territórios onde as pessoas... se enraízam, se retraem,
buscam abrigo e segurança” (MAFFESOLI,1987. p194). Esse sentimento de
pertencer leva a uma tensão frente a apropriação dos outros, principalmente na Vila
de Ponta Negra.
A população local se considera como “dona do “lugar”, e se sentem sendo
expulsos. Suas esperanças de uma vida melhor não se concretizarem, pois não são
facilmente aceitos pelos novos empreendedores turísticos. Os conflitos passam pela
língua, sotaque, expressões idiomáticas, cultura.
A presença do turismo está associada, no imaginário da população local, à
droga, a prostituição, e ao crime organizado, e até algumas vezes com os
chegantes.
As expectativas do mercado imobiliário sobre Ponta Negra indicam uma
grande oportunidade de realização de
lucros. As imobiliárias estão investindo em
pessoal e pontos de venda em locais onde circulam turistas. Por outro lado, os
investidores estrangeiros são apontados como força motriz de vários segmentos da
economia local.
A reestruturação socioespacial de Ponta Negra passa pela vinda dos
“chegantes” e a expulsão da população local do bairro.
A dinâmica socioespacial em Ponta Negra leva a percepção de que o
universo de estudo pesquisado já apresenta novos equipamentos urbanos e novos
atores sociais ao termino desta pesquisa. Mas mesmo assim esperamos ter
contribuído para a discussão dos processos observados, como as transformações
espaciais que a introdução da atividade turística trouxe para Ponta Negra, levando a
191
configuração de uma espacialidade marcada pelo estilo de vida dos atores sociais
que usufruem deste espaço urbano.
192
GLOSSÁRIO
Chegante- emigrante ou imigrante que estabelece residência em outra cidade.
Cosmopolita - a presença de várias etnias e culturas convivendo num mesmo
território.
Estilo de vida – é a diferenciação dentro de um mesmo modo de vida pelas
escolhas de consumo e forma de expressão de determinados grupos sociais, que
utilizam valores simbólicos para a sua auto-representação.
Modo de vida - é determinado pelos costumes, pela cultura, pela mentalidade de
uma determinada população em seu cotidiano.
Tradicionais – representantes da sociedade tradicional do lugar.
Urbanização – aglomeração urbana, segundo Bardet (1990)
Urbanificação – termo cunhado por Bardet (1990) para a aplicação dos princípios
do urbanismo.
193
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ANEXOS
ENTREVISTA DE ATOR SOCIAL QUE RESIDE EM NATAL.
Identificação
199
Nome:
Pseudônimo:
Idade:
Estado civil:
Escolaridade.
Atuação profissional.
Endereço
Bairro
1 Sempre morou em Natal?
2 Qual o primeiro lugar que morou em Natal? Por que?
3 Há quanto tempo habita está residência? Qual o motivo da escolha do local?
4 Já fez alguma reforma? Por que?
5 Quais os atrativos do bairro que habita?
6 Quais os atrativos e deméritos de Ponta Negra?
7 O que acha do convívio com os turistas?
8 Como se relaciona com os vizinhos?
9 Tem parentes, amigos no bairro em que mora?
10 Composição familiar.
11 Como se relaciona com a família?
12 Quais os círculos sociais que freqüenta?
13 Com que freqüência se encontra com eles, em que lugares e ocasiões?
14 Como é o comportamento social nestes encontros? Pode descrever?
15 Quem administra a casa? Quem faz as compras? Quem decide o lazer?
16 Prefere quitando, feira, supermercado? Quais, por que?
17 Tem hábito de usar alimentos congelados? Pré -prontos?
18 Há separação entre atividades femininas e masculinas na família? O homem
ajuda nos afazeres domésticos?
19 Renda proveniente de salário, heranças, terras, comercio?
200
20 Tem preferência por roupa pronta ou costureira?
21 Quais as lojas de sua preferência? Conhece os donos?
22 Freqüenta shopping? Qual ? Por que?
23 Tem empregados domésticos? Quantos? Se envolve na vida deles?
24 Dados gerais da habitação.
25 Atividades de lazer.
26 Restaurantes, quais mais gosta? Por que?
27 Costuma sair a noite? Com quem? Com que freqüência?
28 Freqüenta a praia?
29 Atividades sociais.
Observações.
ENTREVISTA COM AGENTES IMOBILIÁRIOS (corretores, construtores,
investidores)
Identificação
Empresa:........................................................................................................................
................
Endereço:.......................................................................................................................
...............
Data da abertura da
empresa..........................................................................................................................
Ramo de
atuação:..........................................................................................................................
Local de
atuação...........................................................................................................................
Matriz....................................................Filial..................................................................
..............
Nome do
entrevistado:..................................................................................................................
Cargo:.............................................................................................................................
...............
1 Descrição do modos operandis (Imobiliária, construtor, incorporador,
etc)................................
2 Empreendimentos já realizados, em processo de execução, em lançamento
201
3 Descrição dos tipos de clientes x localidades
4 Qual o perfil dos eventuais compradores de PN?
5 Perfil de eventuais compradores de outros bairros.
6 Que tipo de produtos procuram?
7 Qual o perfil dos compradores (quem realmente comprou investidor x usuário
8 Qual o interesse em atuar em Ponta Negra
9 Como situa o bairro de Ponta Negra no mercado imobiliário?
10 Como situa outros bairros no mercado imobiliário?(mesmo padrão de imóvel,
preço)
11 Como avalia o desenvolvimento do turismo em PN e o mercado imobiliário
12 Qual a mudança nos preços praticados antes da duplicação de Estrada de PN
13 Depois da implantação dos conjuntos?
14 Depois da execução da Rota do Sol
15 Depois do calçadão?
16 Observa algum outro fator para a valorização de terrenos e casas em PN?
17 O volume de negócios difere entre os bairros? Porque?
18 Qual a imagem do produto oferecido? (investimento, moradia,etc)
19 Na opinião dos compradores quais são os fatores de atração em PN?
20 Na opinião dos compradores quais são os fatores de atração em outros bairros?
21 Há uma diferenciação entre os imóveis ofertados para estrangeiros? Qual? Ou o
empreendimento é misto?
22 Quais são os atrativos para os estrangeiros?
23 Nacionalidades: italianos, portugueses, escandinavos, há diferença entre estes
compradores?
24 Brasileiros de outros estados?
25 Potiguares?
202
ANEXOS
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