Download PDF
ads:
Marcos Penna
A investigação da estrutura da matéria no início do século XX:
Niels Bohr e a busca de explicações para a estabilidade do átomo.
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS
EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA
SÃO PAULO
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Marcos Penna
A investigação da estrutura da matéria no início do século XX:
Niels Bohr e a busca de explicações para a estabilidade do átomo.
MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial para
obtenção do título de MESTRE em História
da Ciência pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Sob orientação da
Profª. Doutora Maria Helena Roxo Beltran.
São Paulo
ads:
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer nesse momento, tão importante para minha vida,
aquelas pessoas que me ajudaram a tornar um de meus sonhos em realidade.
Entre elas minha esposa Leandra e dos meus dois filhos Heitor e Danilo,
que me apoiaram em todos os momentos. Também de agradecer em memória
aos meus pais que sempre me apoiaram em minhas decisões.
Tenho um agradecimento todo especial a fazer, a minha orientadora a
Profª Drª Maria Helena Roxo Beltran, que sempre procurou me ajudar.
Gostaria de agradecer também a Secretaria da Educação de São Paulo,
que por meio do Programa Bolsa Mestrado, custeou esse curso e a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo que possibilitou sua realização.
Disse Deus: “Haja luz”, e houve luz
1
.
1
Bíblia Sagrada, Livro do Gênesis 1,3.
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo o estudo da formulação do modelo
atômico de Niels Bohr no inicio do culo XX, a partir do modelo atômico de
Rutherford.
A questão da instabilidade decorrente desse modelo, bem como a
observação de que a mecânica clássica não poderia expressar a realidade
atômica foram temas intensamente debatidos naquela época. Além disso, os
dados de espectroscopia demonstravam que o aparecimento das riscas
espectrais características dos elementos químicos deveria ser explicado por um
modelo atômico.
No desenvolvimento do modelo atômico de Bohr, a mecânica clássica e
substituída na análise dos fenômenos atômicos. A partir das idéias de Max
Planck, segundo as quais a energia dos processos atômicos não é absorvido
nem liberada de forma contínua, mais sim na forma de pacotes de energia
chamados de quanta.
Para desenvolvimento de seu modelo atômico Bohr se utiliza estudos do
experimento de Rutherford e de trabalhos sobre as riscas espectrais
observadas a partir de analises espectroscópicas dos elementos químicos,
segundo a qual cada elemento químico pode ser identificado a partir do
espectro de luz emitido quando o mesmo após receber energia, muda de órbita
e fica instável e quando volta ao seu estado de estabilidade libera uma
quantidade de energia na forma de luz.
ABSTRACT
The aim of this abstract is to study the formulation of Niels Bohr´s atomic
model in the beginning of the twentieth century, regarding the atomic model of
Rutherford. The issues about instability resulting from this model and the
observation that the classical mechanic could not express the atomic reality
were both intensively approached themes those days. Besides that,
spectroscopy data showed that the raising of spectral lines, characteristic of
chemical elements, should be explained by an atomic model.
The classical mechanic is replaced in the analysis of the atomic
phenomena under Bohr´s atomic model. After Max Planck´s ideas, the energy
from the atomic processes is not absorbed nor is it continually freed. Actually it
is found in the form of energy packages called quanta.
To develop his atomic model, Bohr uses studies from Rutherford
experiments as well as works about the spectral lines observed from
spectroscopic analyses on chemical elements, in which each chemical element
can be identified from the light spectrum emitted when this element after
receiving energy changes the orbit and remains unstable, freeing an amount of
energy in the form of light at the moment that it returns to its stable state.
SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................01.
1. As novas idéias sobre a estrutura do átomo no início do século XX.......03.
Bohr e os modelos atômicos do início do século XX.....................04.
Modelos Atômicos de Thomson e Hantaro Nagaoka.....................10.
O modelo atômico apresentado por Ernest Rutherford..................15.
2. A teoria dos quanta e os modelos atômicos quânticos.............................20.
A percepção de Niels Bohr sobre a estabilidade do átomo e o quantum de
ação............................................................................21.
Absorção de Radiação de energia.................................................30.
Bohr e a emissão de espectros de riscas dos elementos..............36.
3. A estabilidade do átomo...........................................................................39.
A estabilidade do anel de elétrons................................................40.
A explicação da estabilidade dos átomos contendo poucos
elétrons.........................................................................................41.
Recepção da comunidade científica ao modelo de Bohr..............46.
Conclusão................................................................................................49.
Bibliografia...............................................................................................51.
INTRODUÇÃO
O livro Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas de Niels Bohr, foi
à base deste texto de dissertação Mestrado.
Muitas vezes quando lecionamos somos indagados quanto aos
motivos que levam aos cientistas a desenvolverem novos modelos que
representem melhor a estrutura da matéria.
O estudo dos problemas observados no modelo planetário de
Rutherford e a forma como foi sanada a divergência entre o real e o teórico
sobre seu modelo foi o que mais despertou interesse.
A visão sobre o desenvolvimento científico que tinha quando cheguei
ao mestrado foi literalmente transformada, a partir de estudos dos livros
apresentados e pela leitura dos trabalhos feitos por Niels Bohr, que de certa
forma aponta como as questões regionais de nacionalidade e a língua
influenciam no sucesso ou fracasso de uma teoria.
Outro aspecto muito forte é a questão dos debates científicos, como
eles ocorrem e como o resolvidas as divergências entre suas idéias, até
mesmo as posições que os cientistas ocupam na sociedade, acabam
tornando a ciência dependente de fatores externos.
A dissertação será dividida em três capítulos sendo dispostos da
seguinte forma:
Capítulos 1 e 2: Aborda os antecedentes do desenvolvimento do
modelo atômico de Bohr, bem como as transformações ocorridas no cenário
científico com relação ao estudo da estrutura atômica da matéria no início de
2
2
1900 e o capitulo 3 retrata o desenvolvimento e a formulação do modelo
atômico de Bohr.
Capitulo. 1- modelos atômicos entre o final do século XIX e o início do
XX;
Capitulo. 2 - Radiação e absorção de energia.
Capitulo 3: Discorre sobre o desenvolvimento do modelo atômico de
Bohr e as suas ligações com Rutherford, com base em seu livro Física
atômica e conhecimento humano.
3
3
CAPÍTULO 1
As novas idéias sobre a estrutura do átomo no início do século XX.
4
4
1.1. Bohr e os modelos atômicos do início do século XX.
O ponto de partida da moderna física atômica segundo Niels Bohr,
em seu livro Física Atômica e Conhecimento Humano foi o reconhecimento
da natureza atômica da própria eletricidade, inicialmente apontada pelas
pesquisas de Faraday com a eletrólise galvânica, e estabelecida em
definitivo pelo isolamento do elétron nos fenômenos de descarga elétrica em
gases rarefeitos realizados por J.J. Thomson
1
.
Este trabalho foi completado com a descoberta do núcleo atômico
feita por um ex-aluno de J.J. Thomson, Ernest Rutherford, que vinha
trabalhando com processos de transmutação radioativas de certos
elementos químicos.
A descoberta do núcleo do átomo forneceu uma explicação para a
invariabilidade dos elementos químicos nas reações. E trouxe uma grande
discussão sobre a questão da estabilidade dos sistemas atômicos.
Uma trajetória comum para muitos pioneiros nas ciências é fazer a
articulação de novos desenvolvimentos científicos com aqueles que se
concretizaram no meio acadêmico.
Esta combinação é essencial para os bons resultados dos sistemas
investigativos, onde a junção de novos conceitos científicos sólidos se
junta a novas visões obtidas por novos experimentos e aparelhagem mais
sofisticada que são resultados do desenvolvimento cientifico.
Niels Henrik David Bohr é um representante em particular desse tipo
de atividade científica, sua capacidade de articular a teoria de Planck sobre
1
BOHR, Física Atômica e Conhecimento Humano, 21.
5
5
quantum de energia e os estudos sobre espectroscopia para resolver o
problema de instabilidade do modelo atômico de Rutherford é uma
demonstração clara dessa sua capacidade de articulação de conceitos
variados.
Niels Bohr aparece no cenário científico em uma época de grandes
transformações e rupturas no estudo da ciência da matéria. Nascido em sete
de outubro de 1885 na Dinamarca, filho do professor de fisiologia Christian
Bohr e Ellen Adler, que vinha de uma família de banqueiros e políticos
importantes da Dinamarca, tinha uma irmã Jenny e um irmão Harold professor
de matemática na universidade de Copenhague com quem se comunicava
muitas vezes por carta quando estava na Inglaterra trabalhando com
Rutherford.
Niels Bohr se graduou em física na Universidade de Copenhague em
1911, seu primeiro projeto de pesquisa foi sobre uma forma de medir com
exatidão a força da tensão superficial da água, essa pesquisa foi completada
em 1906, e conquistou medalha de ouro da Real Academia de Ciências da
Dinamarca. Este trabalho veio a ser publicado no Philosophical Transactions of
the Royal Society em 1909. Sua tese de doutorado que recebeu o nome de
Estudo sobre a teoria de elétrons nos metais”, estudo esse que se baseava
nos princípios clássicos da eletrodinâmica.
2
Depois de terminar seus estudos em Copenhague, Bohr vai para
Cambridge apresentar sua teoria de elétrons em metais a J.J. Thomson, que
nessa época desenvolvia suas atividades como diretor do laboratório
Cavedish.
2
ROSENFELD, apresentação para Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 32.
6
6
Em agosto de 1911 Bohr chega a Cambridge levando consigo sua
tese de doutoramento para apresentar a J.J. Thomson, Mas seu trabalho
não despertou muito interesse do cientista britânico que, estava no
momento com sua atenção voltada para as ideias sobre a constituição
eletrônica dos átomos. Sobre essa falta de interesse pelo seu trabalho Bohr
escreve, frustrado, ao seu irmão Harold uma carta em 28 de maio de 1912
dizendo:
“... Não aqui ninguém que esteja realmente
interessado nessas coisas...”
3
.
Rapidamente suas impressões sobre os acontecimentos o levam a
mudar de opinião e novamente escreve ao seu irmão em 12 de junho.
“As coisas aqui não vão muito mal nesse momento;
alguns dias tive uma pequena idéia sobre a
compreensão da absorção dos raios alfa. Estou
pensando em publicar uma pequena memória sobre
o assunto”
4
.
Quando do anúncio do novo modelo nuclear do átomo proposto por
Rutherford, Bohr estava em Manchester e percebeu a instabilidade
apresentada pelo novo modelo atômico.
3
Bohr, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 39.
4
Ibid, 40.
7
7
De acordo com o modelo do átomo proposto por Rutherford para
explicar a grande dispersão das partículas alfa, os átomos são formados por
uma carga positiva concentrada num ponto, com extensão muito pequena
se comparada com as dimensões do átomo, rodeado por um sistema de
elétrons, cuja carga total é igual a do núcleo positivo, supondo também que
o núcleo é a sede da massa do átomo
5
.
Nesse átomo não poderá haver qualquer configuração de equilíbrio
sem movimento dos elétrons, fazendo uma analogia ao modelo descrito por
J.J. Thomson na sua teoria sobre a constituição do átomo é possível
demonstrar que este átomo em questão não possui estabilidade no sentido
mecânico ordinário.
O modelo atômico de Thomson adquire estabilidade pelo fato dos
elétrons estarem dentro do anel. Tendo como base que a força atrativa
aumenta quando cresce a distância do centro.
6
Pois o movimento dos elétrons negativos, em torno de um cleo
positivo, provocaria com o decorrer do tempo diminuição da energia dos
elétrons e posteriormente sua atração pelo núcleo positivo o que acarretaria
o colapso do átomo.
E essa instabilidade criava uma contradição entre a eletrodinâmica
clássica e as evidências químicas e físicas observadas sobre as estruturas
de átomos e moléculas. Hipótese essa que o mesmo havia percebido, a
partir dos seus estudos para a tese de seu doutoramento
7
.
A compreensão de que a explicação da estabilidade do modelo atômico
proposto por Rutherford estava além do que era estudado pelas teorias da
5
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 45.
6
Ibid, 46.
7
Ibid, 47.
8
8
mecânica clássica, demonstrou a Bohr que esse estudo da estabilidade, seria
uma forma de aprofundar seus estudos sobre outras propriedades da matéria.
Em suas primeiras observações, já tinha ficado clara a distinção entre os
fenômenos químicos ordinários e os fenômenos químicos intranucleares, ou
seja, aqueles fenômenos que estavam associados a mudanças que ocorriam
no núcleo do átomo e aquelas que ocorriam no anel de elétrons.
Segundo relata Bohr em uma de suas palestras, transcrita no livro Física
Atômica e Conhecimento Humano, o essencial para sua argumentação não
estava nas novas experiências realizadas, mas na evidente impossibilidade de
explicar resultados físicos e químicos obtidos nos ensaios, tendo como base o
modelo atômico de Rutherford
8
.
O afastamento das ideias clássicas da mecânica e do eletromagnetismo
da época era essencial para compreender o novo modelo proposto por
Rutherford
9
.
Apesar de todo o sucesso da mecânica newtoniana, para explicar a
harmonia dos movimentos planetários, expressos pelas leis de Kepler, e do
modelo proposto por Rutherford ser chamado de modelo do sistema solar,
onde o cleo representaria o Sol e os elétrons representariam os planetas, o
conceito aplicado na mecânica newtoniana o podia explicar o motivo da
estabilidade dos elétrons no modelo atômico de Rutherford.
As propriedades de estabilidade de modelos mecânicos como o do
sistema solar, quando perturbado não tendem a voltar ao seu estado
original. Obviamente o sistema atômico e o sistema solar, não
8
BOHR, Física Atômica e Conhecimento Humano, 8.
9
GARCIA, Niels Bohr Cientifico, Filosofo e Humanista, 16.
9
9
apresentavam semelhança suficiente para se comparar à estabilidade de
um, a estabilidade do outro.
Essa estabilidade encontrada pelas propriedades específicas dos
elementos químicos deveria sr explicada pelo novo modelo atômico.
Uma dessas propriedades é notadamente ilustrada pela analise
espectral, que levou a descoberta de vários elementos químicos, como será
vista mais adiante.
.
10
10
1.2. Modelos Atômicos de Thomson e Hantaro Nagaoka.
Os modelos anteriores ao proposto por Rutherford eram o do inglês
J.J. Thomsom e do japonês Hantaro Nagaoka.
Nas ultimas décadas do século XIX foram estudadas descargas
elétricas em gases rarefeitos. Estudando os fenômenos que ocorriam a
pressões muito baixas Willian Crookes descobriu os raios catódicos. Em
1995 , investigando os raios catódicos, Röntgen descobriu os raios X.
O estudo dos raios catódicos levou J.J. Thomsom a descoberta do
elétron e a propor um novo modelo atômico.
J.J. Thomsom nasceu em Manchester em 18 de dezembro de 1856,
seus primeiros trabalhos giravam em torno da criação de um modelo para o
átomo, tendo escrito O Tratado Sobre o Movimento dos Anéis de Vórtices
10
.
O modelo atômico proposto por Thomson no início do século XX,
estava baseado em suas atividades desenvolvidas como diretor do
Laboratório Cavedish, que de certa forma lhe garantia status para gerenciar
suas experiências e postular a criação de um novo modelo.
Thompson demonstrou que existiam partículas menores que os
átomos de hidrogênio. Nesse processo de identificação dessas partículas
envolveram-se vários cientistas de diversos países alem de Thomson.
A identificação do elétron ocorreu graças aos trabalhos experimentais
sobre descargas elétricas em gases. Na tentativa de compreender o
comportamento dessas partículas, Thomson concebeu um modelo de
estrutura atômica de acordo com o qual o átomo seria visto como um
10
Moreira, Conferência Nobel de Thomson sobre a Descoberta do Elétron, 299
.
11
11
substrato contínuo de matéria carregado positivamente, estando incrustados
nesse substrato de matéria os elétrons, ou seja, corpúsculos de cargas
negativas que apresentavam movimento em órbitas circulares
11
. O átomo
segundo Thomson seria esférico e globalmente neutro. Esta imagem de
átomo foi sugerida em 1903, na Universidade de Yale nos Estados Unidos
da América
12
.
A necessidade da construção de um modelo da estrutura do átomo
era evidente para explicar as observações feitas sobre os raios catódicos.
Thomson explica isso da seguinte forma:
“... temos nos raios catódicos matéria em um novo
estado, um estado em que a divisibilidade da
matéria é levada muito mais longe do que no
estado gasoso”
13
.
Naquela mesma época, um outro modelo ficou muito conhecido,
apesar de não explicar esse movimento dos elétrons saindo do núcleo, era
o modelo saturniano proposto pelo japonês Hantaro Nagaoka.
Conforme esse modelo o átomo seria formado por uma partícula
central carregada positivamente, rodeada por anéis de elétrons girando com
uma velocidade angular comum, modelo que ficou conhecido com o nome
de Sistema Saturniano. Este artigo foi publicado na Philosophical Magazine
com o título de Kinetics of a System of Particles ilustrating the Line and The
Band Spectrum and the Phenomena of Radioactive”.
11
BOHR, On The Constution of Atoms and Molecules, 1.
12
FIOLHAIS & RUIVO, O Modelo Atômico Saturniano de Nagaoka., 9.
13
Ibid p. 7.
12
12
Hantaro Nagaoka era físico da Universidade Imperial de Tóquio, não
era muito conhecido no meio científico ocidental, embora, tivesse dado
contribuições significativas no estudo da propagação da radiação
eletromagnética na atmosfera. Nagaoka escreve as seguintes palavras em
seu artigo:
O sistema que vou discutir consiste num elevado
número de partículas de massa igual, disposta num
círculo a intervalos angulares regulares, repelindo-
se com forças inversamente proporcionais ao
quadrado da distância, no centro do círculo situa
uma partícula de massa elevada, atraindo as outras
de acordo com a mesma lei da força. Se as
partículas orbitarem com a mesma velocidade em
torno do centro de atração, o sistema permanecerá
estável em geral, se a força atrativa for
suficientemente grande. A objeção a tal sistema de
elétrons é que ele acabará por atingir repouso em
conseqüência da perda de energia por radiação, se
essa perda não puder ser compensada”.
14
14
BOHR, On The Constution of Atoms and Molecules, 13
.
13
13
Nagaoka estava consciente das limitações desse modelo por ele não
garantir a estabilidade dos anéis de elétrons girando sobre o núcleo. Com
relação ao futuro desse modelo Nagaoka escreve:
“Há vários problemas que possivelmente poderão
ser estudados na hipótese do sistema de
saturniano, tais como a afinidade química a
valência e a eletrólise, que estão ligadas a estrutura
dos átomos e a formação de moléculas. O lculo
grosseiro e a exposição pouco aprofundada que fiz
de muitos fenômenos pode servir de sugestão para
uma solução mais completa da estrutura atômica”
15
.
O modelo de Thomson era mais aceito pela comunidade científica da
época
16
. Mas é interessante notar que os artigos, apresentando esses dois
modelos foram publicados no mesmo volume do Philosophical Magazine.
Uma das perguntas que se fazia sobre o modelo saturniano referia-se
à explicação da conservação da energia das partículas que se localizavam
nos anéis. A falta de uma explicação satisfatória levou Thomson a rejeitá-lo.
Nagaoka realizou viagem à Europa para participar de duas
conferências e com a intenção de visitar vários centros de investigação,
sendo um desses centros o de Manchester coordenado por Rutherford. Em
carta dirigida a Rutherford em fevereiro de 1911, Nagaoka agradece a
hospitalidade e relata a impressão que lhe deixou o equipamento
15
FIOLHAIS & RUIVO. O Modelo Atômico Saturniano de Nagaoka, 8.
16
KOEHLER, O Dinamismo e os Modelos de Thomson e Maxwell, 24.
14
14
experimental que estava sendo utilizado nas experiências de dispersão das
partículas α.
“...todos mostraram grande admiração pelos
resultados esplêndidos obtidos com um
equipamento tão simples. Parece-me que só um
gênio pode lidar com sistemas o simples e obter
resultados tão importantes que ultrapassem os que
são obtidos com equipamentos mais complexos e
complicados”
17
.
É de crer que Nagaoka tenha aproveitado seu encontro com
Rutherford para conversar a respeito de suas idéias sobre a estrutura do
átomo. Na ocasião dessa visita a hipótese de um modelo nuclear estava
experimentalmente embasada. O artigo “ The Scattering of α and β Particles
by Matter and Struture of the Atom”, no qual Rutherford apresentou seu
modelo atômico foi publicado em Maio de 1911 no Philosophical Magazine
nesse artigo o modelo saturniano de Nagaoka é citado.
1.3 O modelo atômico apresentado por Ernest Rutherford
17
FIOLHAIS & RUIVO, O Modelo Atômico Saturniano de Nagaoka, 9.
15
15
Ernest Rutherford nasceu na Nova Zelândia em 1871, foi
contemplado com uma bolsa de estudos para estudar no Laboratório
Cavendish, da Universidade de Cambridge, na qual foi aluno de J.J.
Thomson.
Em 1896, os estudos de Henry Bequerel e do casal Curie sobre a
radioatividade estavam em seu auge e, pouco tempo depois, se conhecia
os três principais tipos de radiações: alfa (α), beta (β) e gama (γ).
Em 1898, foi convidado para dirigir um laboratório na Universidade de
McGill, no Canadá. Nessa época, se sabia que a partícula β tinha as
mesmas características dos raios catódicos (elétrons).
Quando estava trabalhando na Universidade de McGill no Canadá,
Rutherford observou que as partículas alfa ao atravessarem finas folhas de
metal produziam imagens difusas em chapas fotográficas, ao passo que,
quando não havia nenhuma barreira à sua passagem produziam imagens
bem definidas
18
.
.Em 1907, Rutherford volta para a Inglaterra para ocupar a cátedra de
Física na Universidade de Manchester, sendo o responsável por um grupo
de estudantes que desenvolveu novas ideias sobre a estrutura atômica.
Entre esses estudantes estavam Hans Geiger, Henry Moseley, Charles
Darwin, James Cahdwick, Ernest Marsden, Niels Bohr, Nevill Mott e Thomas
Royds
19
.
18
MARQUES & CALUZI, A visão kuhniana da ciência e a descoberta do núcleo atômico.
19
SANTOS, Do Espalhamento das Partículas Alfa a Energia Nuclear, 1.
16
16
Um fato importante chamou sua atenção, algumas partículas alfa,
sofriam grandes desvios ao passo que algumas retornavam na direção da
fonte de origem
20
.
Baseado nesses resultados, Rutherford com o fim de explicar a
grande dispersão das partículas alfa, propôs em 1911 que os átomos são
formados por uma carga positiva concentrada em num ponto rodeada por
um sistema de elétrons
21
.
Esse modelo se ajustava muito bem aos resultados experimentais, ao
final, ao penetrarem nos átomos da placa, as partículas alfa encontrariam
um obstáculo, o núcleo positivo dos átomos responsável pelo desvio de
suas trajetórias.
Diferentes metais foram usados nesses experimentos como ouro,
chumbo, platina, estanho, prata, cobre e alumínio. Com auxílio de um
pequeno microscópio eles contaram o número de cintilações por minuto. A
investigação tinha como base esclarecer três pontos:
a) A quantidade relativa de reflexões em diferentes metais;
b) A quantidade relativa de reflexões variando a espessura do metal;
c) A fração de partículas alfas incidentes que são refletidas.
A distribuição dos elétrons foi matematicamente calculada, no
entanto, as reflexões das partículas alfa não sofreram pequenas
reflexões como também grandes ângulos de reflexão como relatam:
22
20
RUTHERFORD, The Scattering of Alpha and Beta Particles by Matter and the Structure of the
Atom, 669.
21
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 45.
22
BELTRÁN, Estudo Histórico do Modelo Atômico de Rutherford, .
17
17
“Uma pequena fração de partículas alfa
incidindo sobre uma placa metálica tem sua
direção mudada em tal grau que elas emergem
no ponto de incidência”
23
Geiger e Marsden dois dos estudantes que trabalhavam com
Rutherford, perceberam também que quanto maior o peso atômico do metal,
maior o número de partículas alfa defletidas. Tal fato foi visto com muito
espanto por Rutherford, pois imaginava que grandes ângulos de dispersão
não deveriam ocorrer em virtude de ter o modelo de Thomson como
referência. No entanto, tal modelo não poderia espalhar partículas alfa em
grandes ângulos porque, se a partícula alfa se aproximasse do centro do
átomo, estaria em uma área de carga média zero e assim não poderia
desviar-se
24
.
Através de seus cálculos determinou que o número de elétrons era
de aproximadamente a metade da massa do átomo. O grande interesse
despertado por esse modelo se deve ao fato de Rutherford ter adotado a
existência de um núcleo, essa era uma questão fundamental para explicar
os grandes ângulos de reflexão obtidos nos experimentos com as partículas
alfa.
Para explicar algumas propriedades da matéria baseando-se nesse
modelo atômico, aparecia uma séria dificuldade, relacionada a aparente
instabilidade do sistema de elétrons. De acordo com a Lei do
Eletromagnetismo de Maxwell, se uma carga elétrica está em movimento,
23
RUTHERFOD, The Scattering of and Particles by Matter and the Structure of the Atom, 682.
18
18
esta tende a perder sua energia na forma de radiação, os elétrons em
movimento perderiam sua energia e conseqüentemente acabariam se
colidindo com o núcleo.
No modelo adotado por J.J. Thomson, esta instabilidade não estava
presente, pois de acordo com sua teoria, o átomo seria uma esfera
eletrificada positivamente na qual os elétrons mover-se-iam em órbitas
circulares e a força exercida pelas partículas seria inversamente
proporcional ao quadrado da distância
25
.
A principal diferença entre os modelos atômicos propostos por
Thomson e Rutherford consistia nas circunstâncias em que as forças atuam
sobre os elétrons. O modelo atômico de Thomson apresentava uma
configuração na qual o movimento dos elétrons no qual o sistema se
mantinha em equilíbrio, fato esse que não ocorria no modelo proposto por
Rutherford.
Essa discussão sobre a instabilidade no modelo atômico proposto por
Rutherford de forma geral apontou para a ineficiência da eletrodinâmica
clássica para descrever sistemas de dimensões atômicas.
A alteração da lei sobre o movimento dos elétrons foi necessária
para compreender a estabilidade observada pelos átomos, essa alteração
vinha sendo estudada em outras áreas de estudo como os fenômenos do
calor específico e o efeito fotoelétrico.
A partir desse ponto se introduz a teoria sobre o quantum de ação
elementar, traduzida pela constante de Planck.
25
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 46.
19
19
A introdução desse sistema confere uma estabilidade para os
elétrons nos átomos, a aplicação dessas idéias é a base dos trabalhos
desenvolvidos por Bohr para solucionar a questão da instabilidade presente
no modelo de Rutherford, trabalho esse que recebeu o nome de On
Constitution of Atoms and Molecules, publicado na Philosophical Magazine
em 5 de abril de 1913.
20
20
Capítulo 2
A teoria dos quanta e os modelos atômicos quânticos
21
21
2.1. A percepção de Niels Bohr sobre a estabilidade do átomo e a quântica.
Niels Bohr teve uma percepção que a estabilidade do modelo atômico
proposto por Rutherford era incompatível aos estudos da mecânica clássica.
A questão da estabilidade dos sistemas atômicos poderia estar associada a
uma nova teoria sobre os processos de liberação e absorção de energia que
o levou aos trabalhos apresentados por Max Planck e já utilizados por
Einstein no estudo sobre o efeito fotoelétrico.
Sobre essa busca Niels Bohr escreve:
A existência do quantum elementar de ação
expressa, a rigor, uma nova faceta da
individualidade dos processos físicos, a qual é
desconhecida das leis clássicas da mecânica e do
eletromagnetismo, e restringe a validade destas leis
basicamente aos fenômenos que envolvem ações
grandes em comparação com o valor de um único
quantum, tal como fornecido pela nova constante
atômica de Planck. Essa condição, embora
amplamente satisfeita nos fenômenos da
experiência física comum, não é de modo algum
aplicável ao comportamento dos elétrons nos
átomos e, a rigor, somente a existência do quantum
de ação impede a fusão dos elétrons e do núcleo
22
22
um corpúsculo neutro maciço, de extensão
praticamente infinitesimal.
26
Max Planck postulou em 1900 que a troca de energia entre a
radiação emitida por um corpo aquecido e os átomos da parede ocorriam de
forma quantizada, ou seja, através de números inteiros de um quantum de
energia.
A energia que se supunha fosse liberada ou absorvida de forma
contínua, passou a ser considerada de uma nova maneira em que a
absorção e propagação em escalas atômicas. Ocorreria na forma de
“pacotes” indivisíveis.
Através desse postulado Planck conseguiu explicar os resultados
experimentais da distribuição espectral da radiação térmica, cada quantum
de energia foi definido como E = h.f. onde f é a freqüência e h é uma
constante conhecida como constante de Planck.
Planck foi levado a essa descoberta fundamental por análise de
aspectos como o equilíbrio térmico entre a matéria e a radiação, que
segundo os princípios gerais da eletrodinâmica, deveriam ser totalmente
independentes de quaisquer propriedades especificas da matéria.
A existência do quantum elementar de ação expressa uma nova
visão sobre os processos físicos a qual era desconhecida das leis clássicas
da mecânica e da eletrodinâmica. E restringem a validade dessas leis no
estudo de processos atômicos.
27
26
BOHR, Física atômica e conhecimento humano. ,23.
27
Ibid, 24.
23
23
Albert Einstein, em um artigo publicado em 1905 na revista alemã de
física Annalen de Phisik, propôs uma teoria que explicava satisfatoriamente
o fenômeno do efeito fotoelétrico, baseando-se nas ideias da quantização
de energia proposta por Planck. Einstein escreve:
De acordo com a hipótese aqui considerada, na
propagação de um raio de luz emitido por uma fonte
puntiforme, a energia não é distribuída sobre
volumes cada vez maiores no espaço, mas consiste
em um numero finito de quanta de energia,
localizados em pontos do espaço, que se movem
sem se dividir e que podem ser absorvido ou
gerados somente como unidades integrais.
28
Bohr, diante do problema da instabilidade do modelo atômico
proposto por Rutherford começa a ver a necessidade de utilizar o conceito
de quantum elementar de ação Planck
29
para explicar a configuração
estável apresentada pelos elétrons nos átomos.
Em carta escrita a V. Hevesy, Bohr explica a dificuldade de entender
a estabilidade do átomo tendo como base a mecânica clássica.
“A partir da discussão teórica dos fenômenos
da radiação sabemos, no entanto que, o problema
em questão não pode ser plenamente discutido
28
STACHEL, O Ano Miraculoso de Einstein, 202.
29
BOHR, Sobre a Constituição dos Átomos e Moléculas, 5.
24
24
com base na mecânica ordinária. Pode agora se
provar que, tomando em conta a teoria da
radiação de Planck é possível de maneira simples
uma resposta a nossas questões”.
30
Segundo texto escrito por Bohr, à incapacidade da eletrodinâmica
clássica para explicar as propriedades dos átomos partindo de um modelo
atômico como o de Rutherford, aparece claramente quando estudamos o
átomo de hidrogênio, que apresenta um núcleo muito pequeno carregado
positivamente e por um elétron que circula em órbitas fechadas sobre esse
núcleo, supondo que a massa do elétron seja desprezível em relação ao do
núcleo do átomo e sua velocidade muito inferior à velocidade da luz.
Se supusermos que não radiação de energia, nesse caso haveria
um movimento orbital estacionário e elíptico do elétron. Mas se há radiação
de energia a partir da aceleração do elétron, ele não descreverá órbita
estacionária, perdendo energia, cada vez mais os elétrons se aproximaria
do núcleo, descrevendo órbitas de dimensões cada vez menores e com
maiores freqüências.
Neste caso o elétron ganha energia cinética, enquanto todo o
sistema perde energia. A energia liberada durante o processo é bem maior
que a energia liberada em processos moleculares comuns. O ponto crucial
da teoria da radiação de Planck é que a irradiação de energia por um
sistema atômico não segue a regra das estudadas pela eletrodinâmica
30
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 60
.
25
25
clássica, mas ocorre de forma diferenciada, ou seja, não é contínua, mas
sim distintamente separada.
No momento em que não radiação de energia considera-se que o
sistema está em um estágio estacionário, ou seja, não está sendo
perturbado por forças externas. Isso permite ao sistema um estágio estável
que será alterado se uma quantidade superior de energia agir sobre ele,
mudando sua situação de estabilidade.
Um dos primeiros a utilizar a teoria de Planck foi
Wander Johannes
de Haas, associando o modelo atômico de J.J. Thomson e a teoria de
Planck, mas não havia tido sucesso, que o modelo de Thomson
apresentava uma força de ligação elástica dos elétrons com a esfera de
carga positiva
31
.
Outro que havia se utilizado da teoria de Planck foi J.W. Nicholson,
um astrofísico do Trinity College de Cambridge, que influenciado pelo
modelo proposto por Rutherford, introduz um primeiro modelo quântico para
a estrutura do átomo.
Em seus escritos mostrou que seria possível explicar as origens das
riscas nos espectros presentes nas nebulosas estelares e coroa solar.
Nicholson nasceu em Darligton, na Inglaterra, em primeiro de
novembro de 1881, além de astrofísico era também matemático. Ele
estudou matemática e ciências físicas na Universidade de Manchester.
Para Nicholson os átomos destes elementos presentes nas
nebulosas e no Sol, seriam formados por um núcleo positivo e por anéis
31
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 57.
26
26
onde estariam os elétrons que teriam movimentos circulares em torno do
núcleo.
Nicholson usou a teoria de Planck para explicar que as diferentes
riscas observadas no espectro estavam relacionadas aos diferentes
comprimentos de onda provocados pela razão entre a energia do sistema e
a freqüência de rotação do anel onde se encontravam os elétrons,
multiplicando essa razão pela constante de Planck.
Os excelentes resultados obtidos por Nicholson, comparando os
valores calculados e os valores observados, reforçaram mais ainda seus
cálculos. No entanto, algumas objeções a esses cálculos foram levantadas,
principalmente pelo fato da homogeneidade da radiação emitida.
No sistema calculado por Nicholson as radiações eram calculadas
como se fossem uns eventos contínuos e homogêneos, distantes da teoria
de Planck, onde a liberação de energia dava-se na forma de quantum, ou
seja, em pacotes de energia.
Outra ressalva levantada sobre esse modelo explicativo de Nicholson
refere-se ao fato de não explicar coerentemente as leis de Balmer e
Rydeberg que relacionavam as freqüências das linhas nos espectros de
riscas dos elementos comuns.
Os pontos levantados por Nicholson podem ser utilizados como ponto
de partida para resolver o problema da instabilidade do modelo de
Rutherford, para isso é necessário retomar dois pressupostos:
1) Que o equilíbrio na fase estacionária pode ser tratado na
base da mecânica clássica, mas as passagens entre os
estados estacionários não.
27
27
2) Que a passagem entre os estados estacionários e o
processo de liberação de uma radiação homogênea, pela
qual a relação entre freqüência e a quantidade de energia
emitida é dada pela teoria de Planck
32
.
O trabalho de Nicholson sobre seu modelo nuclear foi publicado entre
novembro de 1911 e setembro de 1912 no Monthly Notices. Seu tratamento
sobre o modelo de sistemas de anéis era puramente mecânico, nada
permitia explicar a velocidade da rotação dos anéis. No terceiro capítulo de
sua memória, ele cita pela primeira vez a constante de Planck em conexão
com o movimento dos elétrons girando, o ponto mais importante do trabalho
de Nicholson, foi que o momento angular de um átomo pode aumentar
ou diminuir em quantidades discretas quando os elétrons saem ou
regressam de sua posição original.
Segundo cita Rosenfeld, no texto introdutório do livro Sobre a
Constituição de Átomos e Moléculas, Bohr não tinha conhecimento das
pesquisas de Nicholson antes do final de 1912, quando tinha dado às suas
próprias idéias sobre a estrutura atômica de forma plenamente desenvolvida.
Em carta escrita a Rutherford em 31 de janeiro de 1913, Bohr explica os
diferentes resultados encontrados entre o seu trabalho e o de Nicholson.
Nos seus cálculos Nicholson trata, como eu, de
sistemas com a mesma constituição que seu modelo
atômico; ao determinar as dimensões e a energia
desses sistemas, ele, como eu procuro uma base na
32
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 104.
28
28
energia e a freqüência sugerida pela teoria da
radiação de Planck. O estado do sistema
considerado nos meus cálculos é, contudo
caracterizado como aquele em que os sistemas
possuem a menor quantidade de energia possível,
isto é, aquela cuja formação é irradiada em maior
quantidade de energia possível.
33
A ineficiência da eletrodinâmica clássica para explicar as
propriedades dos átomos como no caso do modelo atômico de Rutherford,
fica claro quando se considera um sistema simples constituído de um núcleo
de carga positiva de pequenas dimensões e de um elétron descrevendo
órbitas fechadas até o impacto com o núcleo devido à perda de energia
gerada pelo seu movimento.
Em uma visão mais simples, assumindo que a massa do elétron é
desprezível em comparação com a do cleo e que velocidade do elétron é
pequena se comparada com a da luz, o elétron o liberaria energia de
radiação e descreveria órbitas elípticas estacionárias.
É de vital importância à teoria de Planck para compreender o
comportamento dos sistemas atômicos, sobre isso Bohr escreve a
Rutherford em 6 de março de 1913.
33
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 64.
29
29
“Espero que concorde em que optei por um
ponto de vista razoável em relação à questão
delicada da utilização simultânea da antiga
mecânica e dos novos pressupostos introduzidos
pela teoria da radiação de Planck”
34
.
34
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 68.
30
30
2.2 Absorção de Radiação de energia
A questão de absorção e liberação de energia por sistemas atômicos
é apresentado por Bohr como uma característica atômica, ligada a cada
elétron no campo ao redor do núcleo, como uma sucessão de processos
individuais, pelos quais o átomo passava de um estado estacionário para
outro desses estados, com emissão de energia liberada na forma de
quantum de radiação eletromagnética
35
.
Esse estudo já vinha sendo feito por Hertz, com base na excitação de
linhas espectrais provocado pelo impacto de elétrons nos átomos.
Esses estudos não serviram para explicar as leis gerais das linhas
espectrais, propostas por Balmer, Rydberg e Ritz, como também auxiliou no
entendimento da análise espectroscópica para estudar as propriedades dos
elementos químicos.
O estudo da chamada espectroscopia tem inicio em 1856, quando o
químico alemão Robert Wilhelm Bunsen aprimorou o bico de gás o que hoje
conhecemos como Bico de Bunsen
36
.
Bunsen observou que quando um elemento químico era colocado
sobre a chama do gás, esse elemento químico emitia sempre as mesmas
cores no seu espectro. As cores emitidas eram as da substância e não as
da chama, seu discípulo, Kirchoff
37
sugeriu que as cores seriam mais bem
distinguidas se passassem por um prisma.
Com isso, eles passaram a identificar as linhas com os elementos
químicos. Os gases quentes observados por Kirchoff e Bunsen não emitiam
35
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas,139.
36
LOPES, Espectroscopia Óptica, 18.
37
ROSENFELD, Gustav Robert Kirchhoff, 381.
31
31
um espectro continuo. Descobriram que cada elemento gerava uma série de
linhas diferentes. Estas linhas eram todas brilhantes
38
.
Para entender o processo de absorção e liberação de energia é
necessário entender a lei de Kirchhof
39
.
Quando Kirchhoff e Bunsen deduziram a partir de suas experiências
em 1859 que cada elemento emite em determinadas condições um espectro
característico exclusivamente desse elemento, descobriu-se não só uma
propriedade fundamental da matéria, mas também um poderoso método de
análise. Abriu-se então um novo campo de investigação altamente
promissor que permitiu dentre outras coisas, a descoberta de um novo
elemento até então desconhecido na Terra: o Hélio
40
.
A descoberta deu-se a partir da análise espectral do Sol, em 1868. É
importante notar que praticamente tudo que se sabe sobre a composição
química dos astros se deve aos avanços da espectroscopia. Mas as
contribuições da espectroscopia são inúmeras. A partir de meados do
século XIX, os progressos nas técnicas de espectrometria e a
sistematização das medidas permitiram catalogar os diversos comprimentos
de onda dos elementos até então conhecidos, bem como a descoberta de
novos elementos
41
.
Experiências eram realizadas de forma com que as linhas dos
espectros dadas por um vapor incandescente fossem característicos do
vapor e da temperatura.
38
SCHACHER, “Robert Wilhelm Eberhard Bunsen”586-590,587.
39
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 116.
40
OKAMURA & CAVALHEIRO, “Espectrometria Atômica”832-836,833.
41
COSTA, Para que Serve a Espectroscopia?,74.
32
32
O trabalho de Bunsen e Kirchoff trouxe a importância do assunto da
análise dos espectros em 1859. Como a técnica de medir os comprimentos
de onda da luz foi aperfeiçoada, principalmente através dos trabalhos de
Fraunhofer, Ângstron e Rowland porém características confusas foram
notadas entre as linhas de certos elementos, como no espectro dos metais
alcalinos
42
.
A primeira relação quantitativa foi descoberta por Hartley, quem
encontrou que, se as freqüências fossem utilizadas no lugar dos
comprimentos de onda, as diferenças de freqüências entre as linhas em
certos grupos periódicos o os mesmos para todos, ocorrendo no espectro
do elemento.
Uma atenção principal foi concentrada nos aparentemente simples
espectros de hidrogênio e dos metais alcalinos. Observaram-se
comportamentos similares sob várias condições de excitação, os quais
apresentavam linhas simples no caso do hidrogênio e linhas duplas nos
casos dos alcalinos, os métodos de encontrar relações numéricas entre
estes comprimentos de onda ou freqüência foram tentados exaustivamente.
A primeira representação com sucesso das séries para o átomo de
hidrogênio foi conseguido empiricamente por Balmer, em 1885
43
.
Já em 1860, Bunsen e Kirchhoff observaram que, ao passar luz sobre
substâncias em combustão, apareciam riscas pretas no espectro final, isto
era um novo fenômeno. As riscas eram interpretadas da seguinte forma: as
42
OKAMURA & CAVALHEIRO, “Espectrometria Atômica”832-836,834.
43
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas,107.
33
33
substâncias em combustão absorviam determinadas cores (freqüências) da
luz
44
.
Estudos foram feitos sobre um certo tipo de objeto que absorve todas
as freqüências: o corpo negro. Contudo, esse corpo emite radiação que
depende da sua temperatura. Stefan descobriu, em 1879, que a energia
total emitida era proporcional à quarta potência da temperatura do corpo;
este resultado é conhecido como a Lei de Stefan.
Em 1889, Boltzman deriva esta lei aplicando a Segunda Lei da
Termodinâmica e em 1896, Wien descreve todo o espectro emitido com
base da temperatura do corpo (Lei de Wien).
Rayleigh partiu da hipótese que todas as freqüências eram emitidas
com igual probabilidade. A hipótese funcionava bem para baixas
freqüências, mas começava a divergir do resultado experimental nas
freqüências próximas do violeta que correspondem às freqüências mais
altas; este problema ficou conhecido como a Catástrofe do Violeta.
Foi Planck, aluno de Kirchhoff que em 1900, que explicou
corretamente o porquê do espectro. Contudo ele teve que assumir que a
energia da luz era apenas emitida em quantidades discretas. Esta hipótese
transfere a probabilidade de emissão para uma freqüência única, em vez de
a partilhar por todas as freqüências. Esta era a hipótese que corrigia o
problema da catástrofe do violeta, mas era uma hipótese que implicava na
descontinuidade da transferência da energia. A energia tinha que ser
emitida em pacotes, em quantidades específicas, em quantas (quanta é o
44
CHAGAS, Ferramenta do Químico, 3.
34
34
plural de quantum). Cada quantum desses tinha energia (E) diretamente
proporcional à sua freqüência (f).
A física sempre assumiu que a energia se podia transferir em
quantidades quaisquer, como um efeito contínuo. A introdução da
descontinuidade na transferência da energia significou que nem todos os
fenômenos naturais podiam ser explicados usando o modelo comum da
energia contínua, dando origem a mais um ramo da física, a física quântica.
Para compreender a absorção de energia descrita por Kirchhoff,
devemos admitir que um sistema quando absorve uma quantidade de
energia igual à quantidade emitida para que esse elétron seja capaz de
passar de um estágio estacionário para outro, quando ele volta ao estágio
estacionário anterior, ele emite uma quantidade de energia que o
observadas pela formação de riscas espectrais
45
.
Assumindo que o sistema consiste de um núcleo e um elétron em
movimento circular, sobre certas condições ele absorve a radiação e passa
para um estado estacionário diferente.
Estas considerações estão em conformidade com experimentos de
absorção feita com gases. O elétron do gás hidrogênio em condições
normais, se encontra em uma fase estável, quando o mesmo absorve
radiação, na sua freqüência correspondente, muda de uma posição estável,
para uma posição de instabilidade, devido ao fato de ter absorvido energia,
ao passo que ele tende a voltar a estabilidade, precisa liberar essa energia
absorvida, gerando uma a linha no espectro desse gás.
45
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 110.
35
35
A conclusão é que as linhas em questão são emitidas da passagem
entre dois estágios um sendo um estado permanentemente estável e o
outro um estado em que o elétron apresenta uma instabilidade.
36
36
2.3 Bohr e a emissão de espectros de riscas dos elementos.
Bohr após ter tido o conhecimento do trabalho de Rydberg sobre a
classificação das series espectrais, escreve em carta:
“Logo que vi a fórmula de Balmer, tudo se
tornou inteiramente claro para mim”
46
.
Quando Bohr estava em Copenhague em 1913 ele concentrou-se cada
vez mais sua atenção nos problemas ópticos, uma de suas indagações era
de como explicar à luz de sua teoria, a regularidade dos espectros.
Bohr até então, não se interessava por esses assuntos, porque julgava
esses espectros demasiadamente complicados para darem qualquer chave
para o conhecimento da estrutura dos sistemas atômicos
47
.
O suíço Johaan Jacob Balmer consegui, em 1885, a relação
matemática para as linhas do hidrogênio, essa equação descreve
adequadamente os espectros de absorção e de emissão do hidrogênio na
região visível.
Segundo a descrição de Balmer o mecanismo de emissão radioativa
como sendo uma transição entre dois estados estacionários, cujas
características quantitativas são fixadas de maneira indicativa pelo
postulado quântico.
A espectroscopia foi utilizada também no estudo da luz do Sol e das
estrelas, em 1862 um astrônomo sueco de nome Anders Jonas Angstron,
46
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 69.
47
Ibid, 69.
37
37
identificou o hidrogênio no Sol, graças às linhas espectral características
desse elemento.
Além de descrever corretamente as relações entre as linhas
espectrais, também conseguiu calcular a quantidade de energia das linhas
espectrais que receberam valores inteiros, ou seja, para ele a quantidade de
energia ganha ou perdida pelos átomos, se dava por valores fixos
48
.
Parece-me que o hidrogênio mais do que qualquer
outra substância está destinada a abrir novos
caminhos para o conhecimento da estrutura da
matéria e de suas propriedades. A esse respeito, as
relações numéricas entre os comprimentos de onda
das quatro primeiras linhas espectrais do hidrogênio
deveriam atrair particularmente a nossa atenção.
49
Uma evidência de ordem geral indica que o átomo de hidrogênio é
formado por apenas por um elétron que gira em torno de um núcleo positivo.
Quando esse elétron é removido para distâncias mais afastadas do núcleo,
observa-se uma série de riscas espectrais, uma série de espectros que
havia sido observada por Pickering
50
no espectro da estrela Puppis e
também por Fowler, em experiências com tubos de vácuo, contendo uma
mistura de hidrogênio e hélio.
48
FILGUEIRAS
. A Espectroscopia e a Química. Química, 65.
49
Ibid,66.
50
Astrônomo e físico americano nascido em Boston, Massachusetts, que introduziu o uso
do fotômetro meridiano para medir a magnitude de estrelas e notabilizado por seus
trabalhos em luz e espectro estelar
.
38
38
Segundo a teoria de Rutherford, o átomo de hélio é formado por um
núcleo positivo e por dois elétrons, seus espectros de linhas também são
observados na estrela Puppis, observada por Pickering. No experimento de
Fowler, dos tubos de vácuo elas estão ausentes, isso se deve ao fato, que
para remover o segundo elétron do átomo de Hélio, é necessário uma
quantidade de energia muito maior do que aquela utilizada para a remoção
do primeiro elétron. Por esse resultado pode-se prever que os átomos que
apresentam em seu sistema um número maior de elétrons deverão
apresentar um número maior de riscas espectrais.
51
51
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 108.
39
39
Capitulo 3
A estabilidade do átomo.
3.1 A estabilidade do anel de elétrons
40
40
A questão da estabilidade de um anel de elétrons girando ao redor de
um núcleo positivo havia sido discutida com minúcia por J.J. Thomson.
Nicholson fez uma adaptação da análise de Thomson para o caso de um
anel de elétrons girando ao redor de um núcleo de pequenas dimensões.
O problema desses anéis estaria relacionado à estabilidade dos
elétrons para o deslocamento dentro do anel e o deslocamento
perpendicular desses elétrons a este plano. Segundo os lculos de
Nicholson, se o número de elétrons fosse pequeno, o anel não seria
estável. Como conclusão desses estudos, Bohr descreve sua hipótese da
seguinte forma:
Em qualquer sistema molecular formado por
núcleos positivos e elétrons no qual os elétrons
estão em repouso uns relativamente a outros, e no
qual os elétrons se movem em órbitas circulares, o
momento angular de cada elétron em torno do
centro de sua órbita será, no estado permanente do
sistema igual a constante de Planck, dividida por
dois pi (π)
52
.
3.2. A explicação da estabilidade dos átomos contendo poucos elétrons.
52
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 129.
41
41
Nesta consideração, Bohr supõem que o número de elétrons
presentes no átomo é igual ao número indicativo da posição do elemento
correspondente à posição do elemento disposto por ordem crescente de seu
peso atômico.
Quando se considera dois anéis girando em torno do núcleo em um
plano, um fora do outro e a quantidade de cargas dos elétrons estiver
uniformemente distribuídas ao longo dos anéis teremos uma situação de
estabilidade no átomo, nesse caso Bohr estuda os átomos de Hidrogênio,
Hélio, Lítio e Berílio
53
.
Segundo a teoria aqui explicada, a estabilidade dos átomos esta
relacionada com a liberação de energia pelo sistema, e essa hipótese
parece estar de acordo com as propriedades gerais da matéria. No entanto
a mesma está em oposição aos fenômenos relacionados à radioatividade,
por tanto se devem procurar respostas para esses dois fenômenos de
liberação de energia.
Uma conseqüência da teoria de Rutherford está relacionada com a
liberação de partículas alfa (α) e beta (β) pelo núcleo do átomo. Essa
expulsão provocará uma alteração na estrutura estável dos elétrons,
provocando uma expansão dos anéis durante a liberação e sua volta à
posição anterior estável. Dessa forma observa-se que a expulsão de uma
partícula alfa do núcleo não provocará efeitos duradouros sobre a
estabilidade dos anéis de elétrons.
53
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 156.
42
42
Segundo a teoria de Rutherford sobre a estrutura dos átomos, a
diferença entre os átomos de um elemento e molécula de uma combinação
química, consiste no primeiro ser formado por um único núcleo de pequenas
dimensões e de carga positiva e rodeado por elétrons e o segundo contém
pelo menos dois núcleos a distância um do outro comparáveis com as
distâncias que separam os elétrons que os envolvem.
Quando se analisa dois núcleos de carga positiva é necessário admitir
que as configurações que contém vários núcleos são formadas pela interação
de sistema, cada um deles contendo um cleo e que estejam ligados
vários elétrons.
Considera-se um sistema formado por dois núcleos positivos de cargas
iguais e um anel de elétrons rodando em torno da linha que os une, para
verificar a estabilidade dos sistemas temos que considerar o deslocamento das
órbitas dos elétrons relativos ao núcleo e também deslocamentos destes, um
em relação aos outros.
Durante os deslocamentos entre os átomos ocorre também uma
variação no raio dos anéis de elétrons devido à força de atração entre os
núcleos. À distância entre os núcleos aumentará mais rapidamente do que o
raio do anel, a atração sobre um dos núcleos semaior do que a repulsão do
outro núcleo e o sistema permanecerá estável
54
.
Na ligação entre os dois átomos se os átomos forem idênticos, teremos
uma molécula simétrica, não sendo é de se esperar que a estrutura seja
assimétrica, como no caso do hidrogênio e do oxigênio, quando esta ligação se
dissociar, o anel com três elétrons pertencerá ao átomo de oxigênio.
54
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 157.
43
43
Esta configuração pode ser observada na molécula de água,
constituída por um núcleo de oxigênio rodeado por um pequeno anel de
quatro elétrons e por dois núcleos de hidrogênio situados no eixo do anel a
distância igual do primeiro núcleo e mantido em equilíbrio por meio de dois
anéis de raio maior, nesse caso devemos obter os dois átomos de
hidrogênio com carga positiva e o oxigênio com dupla carga negativa. Essa
hipótese de configuração explica possivelmente a grande absorção de raios
infravermelhos pela água.
em molécula como o CH
4
, não é possível admitir um eixo de
simetria e conseqüentemente, nesses casos é necessário omitir a hipótese
de órbitas circulares. A configuração sugerida pela teoria para a molécula de
CH
4
é do tipo tetraedro, o núcleo de carbono rodeado por um anel muito
pequeno de dois elétrons estará situado no centro e em cada vértice haverá
um núcleo de hidrogênio. As ligações químicas são representadas por
quatro anéis com dois elétrons cada um, girando em torno de linhas que
unem o centro e os vértices
55
.
Neste trabalho Bohr faz uma tentativa de desenvolver a teoria da
constituição dos átomos e das moléculas baseadas nas ideias introduzidas
por Planck, para irradiação do corpo negro e na teoria da estrutura dos
átomos proposta por Rutherford, para explicar a dispersão das partículas
alfa pela matéria
56
.
55
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 194.
56
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 195.
44
44
A teoria de Planck trata da emissão e absorção da radiação de um
vibrador atômico de freqüências constantes, independentes da quantidade
de energia possuída pelo sistema.
O trabalho de Bohr foi crucial na junção das duas teorias que
pareciam inconsistentes por si só, mas que vieram a se completar em uma
nova visão, fora da eletrodinâmica clássica.
As principais hipóteses apresentadas no seu texto são
57
:
1. Que a energia irradiada não é emitida (ou absorvida) de
maneira continua admitida pela eletrodinâmica clássica, mas
apenas durante a passagem dos sistemas de um estágio
estacionário para outro diferente.
2. Que o equilíbrio dinâmico dos sistemas nos estados
estacionários é governado pelas leis da mecânica clássica,
não se verificando estas leis na transição de sistemas entre
diferentes estados estacionários.
3. Que é homogênea a radiação emitida durante a transição
de um estado estacionário para outro e que a relação entre a
freqüência (υ) e a quantidade de energia emitida é dada por
E= h. υ, sendo h a constante de Planck
58
.
4. Que diferentes estados estacionários de um sistema
simples, constituído por um elétron que roda em volta de um
núcleo positivo são determinados pela razão entre a energia
57
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 195.
58
Ibid, 196.
45
45
total emitida e a freqüência de movimento do elétron.
Admitindo que a órbita do elétron e circular.
5. Que o estado o máximo de energia emitida é quando ocorre
o momento angular de cada elétron em torno de sua órbita.
Bohr mostrou que aplicando estes postulados ao modelo atômico de
Rutherford, que é possível compreender as leis de Balmer e de Rydberg
que relacionam as freqüências das diferentes riscas dos de um elemento.
Além disso, esboçar uma teoria da constituição dos átomos e das moléculas
de compostos químicos, a qual se verificou estar em concordância com
várias experiências realizadas até então.
É evidente a conexão íntima entre a presente teoria e as modernas
teorias da radiação do corpo negro e do calor específico, como a luz da
eletrodinâmica clássica, o momento magnético devido a um elétron girando
em órbita circular é proporcional ao momento angula
59
r.
3.3. A recepção da comunidade científica ao modelo de Bohr.
A primeira apresentação do trabalho de Bohr ocorreu na reunião da
Associação Britânica para o Avanço da Ciência, em Birminghan, em
59
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 196.
46
46
meados de 1913. Em relatório apresentado por Jeans
60
sobre o problema
da radiação ele escreve:
“O Dr. Bohr conseguiu uma explicação
engenhosíssima e sugestiva das leis das riscas
espectrais”
61
.
Mas, nem toda a comunidade científica aceitou plenamente as idéias
apresentadas por Bohr, Lord Rayleigh evitou comprometer-se e J.J.
Thomson se colocou de forma controvertida quanto as ideias apresentadas
por Bohr, dizendo que a sugestão feita por Bohr era sem valor
62
.
Outros que apoiaram as ideias apresentadas por Bohr foram Havesy,
Sommerfeld e Oseen que escreve a Bohr felicitando pelo trabalho.
“O que gostaria de dizer-lhe em primeiro lugar é
que, embora conhecesse a orientação do seu
pensamento e mesmo algumas conclusões a que o
conduziu, fiquei surpreendido num ponto pela beleza
do seu resultado. Este ponto foi à relação entre a
constante de Planck e a constante de Balmer
Rydberg. Na medida que se pode avaliar, atingiu
60
Astrônomo, físico e matemático britânico, foi secretário da Royal Society e presidente da Royal
Astronomic Society da Inglaterra.
61
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 83
62
ROSENFELD, apresentação para Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 32.
47
47
neste ponto, além das regiões das hipóteses e das
teorias, a própria verdade dos fatos”
63
.
Outro a se pronunciar sobre os estudos da estabilidade dos sistemas
atômicos, foi o japonês Nagaoka que escreve a Bohr em 27 de dezembro
dizendo:
“Agradeço por ter me enviado vários trabalhos
sobre a estrutura atômica; parece estar intimamente
ligada com o átomo saturniano de que me ocupei há
cerca de 10 anos “
64
.
O êxito alcançado pelo trabalho de Bohr com o átomo de hidrogênio e
sua extensão aos outros átomos fez com que outros físicos levassem a
sério à validade de seus postulados entre eles em particular Arnold
Sommerfeld, um físico alemão que havia se dedicado à física e matemática,
concentrando seus estudos na física atômica.
Levando a sério o trabalho de Bohr para o átomo de hidrogênio em
duas direções, a primeira para incluir órbitas elípticas e a segunda para
incorporar correções relativistas quanto à massa do elétron.
A energia dos estados estacionários obtida por Sommerfeld
permitiu entender as linhas mais finas observadas no espectro do
hidrogênio e do hélio ionizado.
63
BOHR, Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas, 89.
64
Ibid, 90
48
48
Antes de abandonar Manchester em 1916, Bohr havia preparado a
publicação de um trabalho com o título Sobre a Aplicação da Teoria
Quântica em Sistemas Periódicos”, que seria publicado na Philosophical
Magazine.
Ao receber cópias dos trabalhos de Sommerfeld, Bohr decidiu
suspender a publicação de seu próprio trabalho e incorporar as ideias de
Sommerfeld. Esse trabalho veio a ser publicado com o titulo de Sobre a
Teoria Quântica dos espectros de Linhas.
49
49
Conclusão
Usando-se as equações de Maxwell, poderia se demonstrar que o
átomo idealizado por Rutherford duraria apenas poucos segundos. O mundo
terminaria em um festival de cores com a emissão de uma série contínua de
comprimentos de onda.
O modelo que era capaz de interpretar muita das propriedades da
matéria estava em desacordo com a eletrodinâmica clássica. A falha das
teorias da física clássica em dar conta dos fenômenos atômicos foi ainda
mais acentuada pelo avanço dos conhecimentos sobre a estrutura dos
átomos.
A descoberta do núcleo atômico por Rutherford, logo revelou que
como os conceitos mecânicos e eletromagnéticos clássicos eram
insuficientes para explicar a estabilidade intrínseca do átomo
65
.
Conclui-se que o trabalho de Bohr sobre a estrutura da matéria se
mostrou como uma forma possível de iluminar as dificuldades básicas da
instabilidade do átomo, a teoria quântica forneceu a resposta para elucidar
essa situação.
Bohr ao fazer uma ligação entre o desenvolvimento da teoria quântica
com o modelo atômico proposto por Rutherford e as linhas espectrais
observadas na espectroscopia, desvendou um capitulo importante no
estudo da estrutura da matéria.
Uma das vantagens do modelo atômico proposto por Bohr foi à
possibilidade de explicar porque somente certas freqüências de luz eram
irradiadas por átomos e, em alguns casos, prever esses valores.
65
BOHR, Física Atômica e Conhecimento Humano, 44.
50
50
Bohr reconheceu que apesar de suas explicações, restaram
problemas fundamentais sem resolver.
51
51
Bibliografia
ALFONSO-GOLDFARB, A. M. Da Alquimia a Química, São Paulo: Landy,
2001.
ALFONSO-GOLDFARB, A.M. O que é História da Ciência, São Paulo:
Brasiliense, 2004.
ALFONSO-GOLDFARB, A. M. &M. H. R. BELTRAN, Escrevendo a História
da Ciência: tendências, propostas e discussões historiográficas. EDUC/
Fapesp, 2004.
ABDALA, M. C. O arquiteto do átomo, São Paulo. Odysseus, 2003.
BACHELARD, G. O Novo Espírito Cientifico. Lisboa: Edições 70,1986.
BASSO, A. C & L. O. Q. PEDUZI, O Átomo de Bohr em Livros Didáticos de
Física. Atas IV Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências. 25 a
29 de novembro de 2003. Bauru – São Paulo.
BELTRÁN, M.V.U. Estúdio Histórico-Epistemológico del Modelo Atômico de
Rutherford. in: Revista de la Facultad de Ciência y Tecnologia. nº14,
Universidade Pedagógica Nacional de Bogotá 2003.
BOHR, N. Física atômica e conhecimento humano: ensaios 1932-1957. Rio
de Janeiro: Contra-ponto, 1995.
BOHR, N. On the Constiution of Atoms and Molecules. Pilosophical
Magazine nº 26 1913.
BOHR, N. Sobre a Constituição de Átomos e Moléculas. Lisboa: Calouste
Gulbekian, 1989.
BOHR, N. The Theory of Spectra and Atomic Constitution: Three Essays.
Cambridge,1922.
BOHR, N. The Structure of the Atom, Nobel Lecture, dezembro,1922.
52
52
COHEN, I. B & WESTFALL R.S. Newton, Textos, Antecedentes e
Comentários.Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, Editora Contra Ponto,
2002.
COCKCROFT, J.D. Niels Henrik David Bohr. Bigraphical Memoirs of Fellows
of the Royal Society. w.w.w.jstor.org.
FILGUEIRAS, C. A. L. A Espectroscopia e a Química. Química Nova na
Escola, nº3, maio de 1966.
FIOLHAIS, M. O modelo atômico saturniano de Nagaoka. Gazeta da física,
vol 19 Coimbra, 1996.
GARCIA, L. Niels Bohr Cientifico, Filosofo e Humanista, México,1997.
GEIGER, H., On the Scattering of the α Particles by Matter: Proceedings of
the Royal Society of London, Jul/ 1908.
KOEHLER, C.B.G. O Dinamismo e os Modelos de Thomson e Maxwell,
Revista da S.B.H.C. n°13 23-32,1995.
LOPES, D. E. C. Espectroscopia Óptica: Histórico, Conceitos Físicos e
Aplicações”. TCC de Licenciatura em Física, Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul, 2007.
MOREIRA, I. C. Conferência Nobel de Thomson sobre a Descoberta do
Elétron Tradução e Notas. Revista Brasileira do Ensino de Física, vol 19, n°3 ,
(setembro de 1997): 299.
KUHN, T. S., A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1994.
ROSENFELD, L. Niels Henrik David Bohr. Copenhagen, Dictionary
Bibliografic Scientific, 1962.
53
53
MACKINTOSH, A. R. Rutherford, Bohr and Quantum Physics. The Royal
Society, 1997.
OKAMURA, F. & Cavalheiro, E.T.G. Espectrofotometria Atômica. Química
Nova, vol 27, n° 5, 2004.
REINGOLD, N. Ernest Rutherford, Dictionary Bibliografic Scientific, 1962.
ROSENFELD, L. Introdução. In BOHR, N. Sobre a Constituição de Átomos e
Moléculas. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1989.
ROSENFELD, L. Gustav Robert Kirchhoff, Dictionary Bibliografic Scientific,
1962.
RUTHERFORD, E., ROYDS, T. The Nature of the Particle from
Radioactive Substances: Philosophical Magazine, Nov/1909.
RUTHERFORD, E., Na Electrical Method of Counting the Number of a
Particles from Radio-active Substances: Proceedings of the Royal Society of
London, Jul/ 1908.
SANTIN F. O. Breve histórico dos cem anos de descoberta dos raios X:
1895-1995. Química Nova, v 18, nº 6, nov./dez.1995.
SCHACHER, S. G. Robert Wilhelm Eberhard Bunsen, Dictionary Bibliografic
Scientific, 1962.
SEGRÈ, E. Dos Raios X aos Quarks Físicos Modernos e suas
descobertas. Brasília: Editora da UNB,1987.
TOLENTINO M. & ROCHA-FILHO, C. Sobre a Estrutura do Núcleo Atômico
Antes da Descoberta do Nêutron. Química Nova, nº 18, 1995.
54
54
Anexos
Bohr à direita na foto, Harold seu irmão a esquerda e no colo de sua
mãe Jenny
55
55
Margrethe Norlund e NielsBohr
Da esquerda para a direita Bohr, James Frank e H.M. Hansen
56
56
Na frente desta foto e da esquerda para a direita, três dos mais notaveis físicos
nucleares:Enrico Ferni, Werner Heisemberg e Bohr
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo