Outro aspecto que dificultava a discussão de evolução das espécies nessa
época é que a idéia de evolução era associada ao materialismo. Tratava-se,
portanto, de uma idéia muito perigosa para muitos que desejavam manter o
mundo tal qual “designado por Deus, que planejara para nós um local definido
numa escala social pré-ordenada”
48
. No ano de 1839, por exemplo, a Inglaterra
passava por uma grande agitação social, na qual é questionado o capitalismo, a
Igreja, a exploração salarial, os privilégios clericais entre outras características da
sociedade inglesa
49
.
Chambers sabia que nesse contexto a publicação de Vestiges causaria
muita celeuma e receberia muitas críticas. Tendo isso em vista, ele resolveu
publicar sua obra de forma anônima.
Como já mencionamos anteriormente, a reação à publicação de Vestiges foi
terrível. O temor de que as idéias de Chambers prejudicassem a ordem social e a
religião era muito grande
50
. De acordo com Peter Bowler, “muitas revistas
publicaram críticas condenando o rude materialismo do livro como uma força que
deveria ser interrompida antes que minasse os fundamentos da religião e da
ordem social”
51
. No entanto, devemos lembrar que apesar dessas reações
desfavoráveis, o Vestiges, teve um grande sucesso público, com várias edições.
Houve uma grande perturbação em relação à autoria do Vestiges. Muitos
leitores ficaram pasmos com a ausência do nome do autor acompanhando o titulo
do livro. Seguiram-se muitas especulações de quem seria o autor. Nomes como
William Carpenter, George Comber, Andrew Crosse, Charles Darwin, e o do
próprio Chambers, entre outros, foram cogitados
52
.
48
Bowler, Evolution: The history of an idea, p. 97.
49
Adrian Desmond e James Moore, Darwin: a vida de um evolucionista atormentado. Trad. Cynthia
Azevedo ( São Paulo: Geração editorial, 2001), p.17.
50
Marilyn Bailey Ogilvie, Robert Chambers and the successive revisions of the Vestiges of the
natural history of creation ( Oklahoma: University of Oklahoma, 1973) pp. 17-18.
51
Bowler, Evolution: The history of an idea, p. 134.
52
James A. Secord, Victorian sensation: the extraordinary publication, reception, and secret authorship of
Vestiges fo the natural history of creation (Chicago/ London, University of Chicago Press, 2000), pp. 17-21.