Dessa forma, por meio de cada momento da enunciação, segundo Bakhtin, ocorre o que
ele denomina de “intersubjetividade humana”, considerando-se, ao mesmo tempo, o
individual do dizer com a interação verbal. O interlocutor, assim, não pode ser descrito
como um elemento que não se ativa no discurso; ele é, sim, um agente que constrói o
próprio discurso e do qual é também constituído.
Esse locutor, de quem nos fala o teórico, é, ao mesmo tempo, o locutor. E o objeto sobre
o qual fala também não é novo: ele já foi mencionado, enunciado em algum momento,
por um outro locutor. O que se faz, portanto, no ato da enunciação, é proferir, de outra
forma, o dito, orientando-o socialmente, buscando, por assim dizer, adaptá-lo ao
contexto imediato do momento da fala, do lugar que se fala, com quem se fala, e,
sobretudo, a interlocutores concretos. Assim:
O objeto do discurso de um locutor, seja ele qual for, não é o
objeto do discurso pela primeira vez neste enunciado, e este
locutor não é o primeiro a falar dele. O objeto, por assim dizer,
já foi falado, controvertido, esclarecido e julgado de diversas
maneiras. É o lugar onde se cruzam, se encontram e se separam
diferentes pontos de vista, visões do mundo, tendências
(BAKHTIN, 1992, p. 319).
Vemos, então, que faz parte da própria natureza do discurso a discordância de outros
discursos. É nesse jogo de contradiscursos, como nos aponta o estudioso russo, que se
constitui o próprio ato discursivo já no momento em que é proferido. Temos, então, a
característica heterogênea de formação dos enunciados, como uma composição do
discurso e do contradiscurso, considerando, ainda, o que está por vir. A isto, Bakhtin
estabelece como sendo a polifonia – conceito atribuído às vozes presentes no discurso,
sobretudo no âmbito literário, dada a subjetividade de sua estrutura. Como ele mesmo
explica:
De fato, o ouvinte que recebe e compreende a significação
(lingüística) de um discurso, adota, simultaneamente, para com
este discurso, uma atitude responsiva ativa: ele concorda ou
discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se
para executar, etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração
constante durante todo o processo de audição e de compreensão
desde o início do discurso, às vezes já nas primeiras palavras
emitidas pelo locutor (BAKHTIN, 1992, p. 290).
É possível perceber, pelos conceitos de Bakhtin, que o signo é dialético, vivo, dinâmico.
A palavra é também uma representação ideológica por natureza, visto que é produto de