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As reflexões que seguem foram inspiradas em trabalhos como os de Alan
Macfarlane, Philippe Ariès, Jacques Donzelot
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e tantos outros que se dedicaram a analisar
os significados da família, do casamento e da separação conjugal em recortes diferentes
dos que são estudados aqui. Inspirou-se, ainda, em referências teórico-metodológicas como
nas de Michel Foucault, Carlo Ginzburg e Roger Chartier
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que interpretaram de maneira
distinta a categoria “relações de poder”. Este trabalho também tem dívidas e foi inspirado
em historiadores brasileiros que durante anos se preocuparam com os significados do
casamento, família e separação. Dentre alguns destacam-se: Eni de Mesquita Samara e
Rosa Maria Barboza de Araújo.
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Tomando por base estas e outros autores, nota-se que se
fez um texto essencialmente aberto teoricamente, não ortodoxo, sem inflexibilidades ou
cristalizações, que não se quis prender a qualquer teoria da história e nem mesmo separou
divergências teóricas, tanto que foram utilizados o já citado Michel Foucault e Marshall
Berman com suas concepções diferentes de poder.
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Todavia esta decisão não se embasou
em terreno vazio ou sequer pode ser compreendida como metodologia aventureira ou
evasiva; tal preferência partiu das indicações dos documentos utilizados para sustentar as
diversas categorias acerca das temáticas que compõem o texto. Com o objetivo de logo aos
primeiros contatos torná-los funcionais, foram organizados em quatro grandes blocos. A
metodologia justifica-se para mais acuradamente se refletirem as argumentações propostas.
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DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Rio de Janeiro: GRAAL, 1986. MACFARLANE, Alan.
História do casamento e do amor: Inglaterra, 1300 / 1840. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. ARIÈS,
Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
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FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU, 2003. FOUCAULT, Michel.
História da sexualidade: a vontade de saber. Vol. I. Rio de Janeiro: GRAAL, 2003. FOUCAULT, Michel.
História da sexualidade: o uso dos prazeres. Vol. II. Rio de Janeiro: GRAAL, 2003. FOUCAULT, Michel.
História da sexualidade: o cuidado de si. Vol. III. Rio de Janeiro: GRAAL, 2003. FOUCAULT, Michel.
Microfísica do poder. Rio de Janeiro: GRAAL, 2004. CHARTIER, Roger. “Diferenças entre os sexos e
dominação simbólica”. In: Fazendo história das mulheres. Cadernos Pagu nº 4. Campinas: Núcleo de
Estudos de Gênero, 1995, pp. 37 / 47. CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e
representações. Lisboa: Difel, 1990. CHARTIER, Roger. “Diferenças entre os sexos e dominação simbólica”.
In: Fazendo história das mulheres. Cadernos Pagu nº 4. Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero, 1995, pp.
37 / 47. CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição.
São Paulo: Companhia das Letras, 2004. GINZBURG, Carlo. Relações de força: história, retórica, prova.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
11
SAMARA, Eni de Mesquita. “Mistérios da “fragilidade humana”: o adultério feminino no Brasil, séculos
XVIII e XIX”. In: Representações. Revista Brasileira de História / ANPUH nº 29. São Paulo: Contexto,
1995, pp. 57 / 71. SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder e a família: São Paulo, século XIX. São
Paulo: Marco Zero, 1989. SAMARA, Eni de Mesquita. A família brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983.
SAMARA, Eni de Mesquita. “Família, divórcio e partilha de bens em São Paulo no século XIX”. In: Revista
de Estudos Econômicos nº 13. São Paulo: IPE, 1983, pp. 787 / 797.
12
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.