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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS
ESTUDO DE PARÂMETROS OPERACIONAIS DO REATOR UASB
TRATANDO ESGOTO DOMÉSTICO E AVALIAÇÃO DA
BIODEGRADABILIDADE DO SEU EFLUENTE
CESAR AUGUSTO RISSOLI
ORIENTADOR: RICARDO SILVEIRA BERNARDES
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E
RECURSOS HÍDRICOS
PUBLICAÇÃO: PTARH.DM 073/04
BRASÍLIA-DF: NOVEMBRO/2004
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS
ESTUDO DE PARÂMETROS OPERACIONAIS DO REATOR UASB TRATANDO
ESGOTO DOMÉSTICO E AVALIAÇÃO DA BIODEGRADABILIDADE DO SEU
EFLUENTE
CESAR AUGUSTO RISSOLI
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA FACULDADE DE TECNOLOGIA DA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS
PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS.
APROVADA POR:
Prof. Ricardo Silveira Bernardes, PhD. (UnB)
(ORIENTADOR)
Prof. Marco Antonio Almeida de Souza, PhD. (UnB)
(EXAMINADOR INTERNO)
Prof. Cícero Onofre de Andrade Neto, DSc. (UFRN)
(EXAMINADOR EXTERNO)
DATA: BRASÍLIA, 30 DE NOVEMBRO DE 2004
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
RISSOLI, CESAR AUGUSTO
Estudo de parâmetros operacionais do reator UASB tratando esgoto doméstico e avaliação
da biodegradabilidade do seu efluente [Distrito Federal] 2004.
xvi, 125p., 210 x 297 mm (ENC/FT/UnB, Mestre, Tecnologia Ambiental e Recursos
Hídricos, 2004).
Dissertação de Mestrado Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
1. Tratamento anaeróbio 2. Biodegradabilidade
3. Balanço de DQO 4.UASB
5. Reator Anaeróbio
I. ENC/FT/UnB II. Título (série)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
RISSOLI, C.A. (2004). Estudo de parâmetros operacionais do reator UASB tratando
esgoto doméstico e avaliação da biodegradabilidade do seu efluente. Dissertação de
Mestrado, Publicação PTARH.DM 073/04, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 125p.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Cesar Augusto Rissoli.
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: Estudo de parâmetros operacionais do
reator UASB tratando esgoto doméstico e avaliação da biodegradabilidade do seu efluente
GRAU: Mestre ANO: 2004
É concedida à Universidade de Brasília permissão para produzir cópias desta dissertação
de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação
de mestrado poderá ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.
___________________________________
Cesar Augusto Rissoli
SQN 210, Bloco I, Ap. 602
CEP 70.862-090 – Brasília DF Brasil
iv
A minha família,
Maria do Carmo,
Ana Luisa, Cesar e Felipe
v
AGRADECIMENTOS
Ao professor Ricardo Silveira Bernardes, pela orientação e aprofundamento de nossa
amizade.
Aos professores e funcionários do PTARH do Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade de Brasília, pela dedicação e incentivo ao longo de todo o
curso.
À CAESB por promover a oportunidade de minha participação no curso de mestrado do
PTARH.
Ao bolsista Maurício Ribeiro Lima, pela sua valiosa colaboração no experimento.
Aos funcionários do laboratório da ETEB-NORTE pela colaboração e apoio no
desenvolvimento dos ensaios realizados no âmbito do experimento.
vi
RESUMO
ESTUDO DE PARÂMETROS OPERACIONAIS DO REATOR UASB TRATANDO
ESGOTO DOMÉSTICO E AVALIAÇÃO DA BIODEGRADABILIDADE DO SEU
AFLUENTE
Autor: César Augusto Rissoli
Orientador :Ricardo Silveira Bernardes
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos
Brasília, novembro de 2004
Foi estudado, no presente trabalho, parâmetros envolvidos na digestão anaeróbia num
reator UASB piloto de 750 litros de capacidade e, também, realizou-se uma avaliação da
biodegradabilidade do seu efluente, objetivando identificar parâmetros realistas que
subsidiem a sua operação, projeto e escolha de alternativa de processo de tratamento
posterior.
A aceitação dos reatores anaeróbios, notadamente os de manta de lodo, tem levado, muitas
vezes, ao desenvolvimento de projetos e a implementação de estações de tratamento de
esgotos com sérios problemas conceituais (Chernicharo,1997). Neste sentido, foram
desenvolvidas duas frentes de trabalho na presente investigação. A primeira relacionou-se
a realização do monitoramento do funcionamento de uma instalação UASB piloto que
permitisse realizar um balanço de massa de DQO e, por conseguinte, a determinação de
parâmetros adequados à realidade de Brasília. Para tanto, investigou-se os parâmetros:
concentração de matéria orgânica, concentração de sólidos, parâmetros de estabilidade da
digestão anaeróbia e a produção de metano. A segunda frente de trabalho envolveu
avaliação da biodegradabilidade do efluente do reator UASB piloto, por meio de ensaios de
biodegradabilidade aeróbia e anaeróbia.
Os resultados obtidos indicaram que a unidade UASB piloto mostrou-se válida para o
estudo e que a biomassa participante da digestão anaeróbia ainda estava em fase de
adaptação ao meio, após 16 semanas de funcionamento. A produção específica de lodo, na
fase final do período de observação, apresentou valor médio de 0,075
kgSST/kgDQOaplicada. No que tange ao balanço de DQO, este mostrou-se exequível e
importante para subsidiar o projeto e operação de reatores anaeróbios. Em relação às
estimativas de biodegradabilidade do efluente do UASB, o valor médio encontrado foi de
37,0% pela via aeróbia e 20,4% pela via anaeróbia, mostrando que existem potencialidades
dos dois tipos de processos para pós tratamento de reatores UASB.
vii
ABSTRACT
STUDY OF THE UASB REACTOR OPERATIONAL PARAMETERS TREATING
DOMESTIC WASTEWATER AND EFFLUENT BIODEGRADABILITY
EVALUATION.
Author: Cesar Augusto Rissoli
Supervisor :Ricardo Silveira Bernardes
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos
Brasília, november of 2004
The present study was about operational parameters from anaerobic digestion in a pilot
UASB reactor, with 750 liters capacity, together with effluent biodegradability evaluation,
aiming to identify realistic parameters for operation, design and post-treatment alternative.
The good acceptance for anaerobic reactor technologies, mainly the sludge blanket types,
leads, sometimes, to plants with serious conceptual problems in its design (Chernicharo,
1997). Based on this problem, two paths for research development were adopted. The first
one is related to a pilot UASB reactor survey, looking for COD mass balance and the
parameters useful for Brazilian conditions. It was monitored organic load, solids, anaerobic
digestion stability and methane production. The second one is related to effluent
biodegradability evaluation, aerobically and anaerobically.
The results showed that the pilot UASB reactor is able for this kind of study and the active
anaerobic biomass is still adapting to the operational environment, after 16 weeks
operation. The average specific sludge production, at the observation’s period end, was
0.075 kg TSS/kg COD
applied
. The results showed that it is possible to perform the COD
mass balance in the experiment conditions, leading to an average lost fraction of 13%, and
it is an important tool for design and operation of UASB reactors. For effluent
biodegradability evaluation, the results showed that aerobic degradation was able to treat
an average 37.0% of the effluent COD and anaerobic degradation was able to treat an
average 20.4% of the effluent COD.
viii
SUMÁRIO
1-INTRODUÇÃO..........................................................................................................
001
2-OBJETIVOS...............................................................................................................
003
2.1-OBJETIVOS GERAIS.......................................................................................... 003
2.2-OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................
003
3-FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 004
3.1-A ÁGUA RESIDUÁRIA..................................................................................... 004
3.2- O TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS....................... 006
3.3-O PROCESSO ANAERÓBIO DE ESTABILIZAÇÃO DE MATERIAL
ORGÂNICO................................................................................................................
011
3.3.1- Etapa de hidrólise......................................................................................... 013
3.3.2-Etapa de acidogênese.................................................................................... 014
3.3.3-Etapa de acetogênese.................................................................................... 014
3.3.4-Etapa da Metanogênese................................................................................ 015
3.4-CINÉTICA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA....................................................... 016
3.5-FATORES QUE INFLUENCIAM A DIGESTÃO ANAERÓBIA..................... 021
3.5.1-Temperatura.................................................................................................. 021
3.5.2-O pH, a alcalinidade e a acidez volátil.......................................................... 022
3.5.3-Nutrientes..................................................................................................... 023
3.6-O REATOR ANAERÓBIO DE FLUXO ASCENDENTE E MANTA DE
LODO..............................................................................................................
024
3.6.1-Parâmetros de projeto de reatores UASB...................................................... 028
3.6.2 Considerações sobre a produção de lodo no UASB...................................... 030
3.7-BALANÇO DA DQO NA DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA............................... 032
3.8-BIODEGRADABILIDADE DE EFLUENTES DE TRATAMENTO
ANAERÓBIO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS.......................................................
034
3.8.1-Biodegradabilidade aeróbia........................................................................... 036
3.8.2-Biodegrabilidade anaeróbia........................................................................... 038
4-MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................... 041
4.1-A INSTALAÇÃO PILOTO E SEUS COMPONENTES ANEXOS................... 041
4.1.1 – Esquema geral da instalação piloto........................................................... 041
4.1.2 – O reator UASB estudado........................................................................... 045
ix
4.1.2.1 – Dimensionamento do reator UASB................................................... 045
4.1.2.2 – Montagem do reator UASB............................................................... 048
4.1.3 – Dispositivo de controle da vazão de entrada do UASB............................. 052
4.1.4 - .Dispositivo de Medida do gás produzido.pelo UASB............................... 054
4.2-ESTUDO DO COMPORTAMENTO HIDRODINÂMICO DO UASB....... 056
4.3 INVESTIGAÇÃO DO PROCESSO DE TRATAMENTO NO UASB
PILOTO...................................................................................................................
059
4.3.1- Dados componentes do monitorameto do UASB....................................... 059
4.3.2 – Partida e estabilização do UASB............................................................... 062
4.3.3 – Monitoramento da fase estacionária do UASB.......................................... 064
4.4-AVALIAÇÃO DA BIODEGRADABILIDADE DO EFLUENTE DO UASB
PILOTO....................................................................................................................
066
4.4.1-Biodegradabilidade aeróbia........................................................................... 066
4.4.2 - Biodegrabilidade anaeróbia......................................................................... 067
4.5-BALANÇO DE MASSA DE DQO...................................................................... 072
5 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................ 074
5.1 – COMPORTAMENTO HIDRODINÂMICO DO REATOR UASB PILOTO... 074
5.2 – MONITORAMENTO DA FASE DE PARTIDA DO UASB........................... 077
5.3 – RESULTADOS DO MONITORAMENTO DA FASE PÓS-PARTIDA DO
UASB.........................................................................................................................
083
5.3.1 – Resultados do levantamentos de concentração de matéria orgânica.......... 083
5.3.2 – Levantamento da concentração de sólidos................................................. 088
5.3.3 – Parâmetros de estabilidade da digestão anaeróbia...................................... 101
5.3.4 – Avaliação da produção de metano.............................................................. 105
5.4 – O BALANÇO DE MASSA DE DQO NO REATOR ANAERÓBIO............... 107
5.5-AVALIAÇÃO DA BIODEGRABILIDADE DO ELUENTE DO UASB........... 113
5.6-MONITORAMENTO DO MATERIAL FLUTUANTE...................................... 116
6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................................... 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 122
x
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES
AI/AP- relação alcalinidade intermediária/alcalinidade parcial
CAESB-Companhia de Saneamento do Distrito Federal
CH
4
metano
CO
2
dióxido de carbono
d - dia
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DBO
f
DBO filtrada
DBO
t
DBO total
DQO Demanda Química de Oxigênio
DQO
f
DQO filtrada
DQO
t
DQO total
ETE Estação de Tratamento de Esgotos
HAB. habitantes
H
+
- cátion de hidrogênio
h - hora
K constante de velocidade de degradação da matéria orgânica
Kg quilograma
m metro
m
2
metro quadrado
m
3
metro cúbico
NH
3
amônia não ionizada
NH
4
+ - amônia ionizada
NTK Nitrogênio Total Kjeldhal
O
2
oxigênio livre
OD Oxigênio Dissolvido
OH
-
- íon hidroxila
P fósforo
pH potencial hidrogeniônico
S segundo
SS Sólidos em suspensão
SST Sólidos em suspensão totais
xi
ST Sólidos Totais
SVT Sólidos voláteis totais
UASB Upflow Anaerobic Sludge Blanket (Reator Anaeróbio de Fluxo ascendente e
manta de lodo)
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1- Principais contaminantes em águas residuárias (Metclf&Eddy,1991) 004
Tabela 3.2- Parâmetros característicos da água residuária doméstica........................ 005
Tabela 3.3- Características básicas dos reinos do mundo vivo (Von Sperling,1996) 007
Tabela 3.4- Grupos de arqueobactérias metanogênicas.............................................. 008
Tabela 3.5-
Classificação geral dos organismos baseada nas fontes de energia e
carbono (Metcalf&Eddy,1991)...............................................................
009
Tabela 3.6- Aceptores de elétrons típicos da relação
de oxidação no tratamento de
esgoto (Chernicharo, 1997).....................................................................
010
Tabela 3.7- Bactérias da fase acidogênica identificadas em amostras por Britz et
al.(1994)..................................................................................................
014
Tabela 3.8- Tempos de detenção hidráulica em reatores UASB(Chernicharo,1997) 028
Tabela 3.9-
Valores indicados de taxa de aplicação superficial e tempo de
detenção hidráulica para o compartimento de decantação......................
029
Tabela 3.10 -Fracionamento da DQO(Veret,2002)..................................................... 033
Tabela 4.1- Tipos de levantamentos de dados e períodos correspondentes............... 041
Tabela 4.2- Área de influência dos distribuidores...................................................... 047
Tabela 4.3- Rotina de monitoramento durante a partida do UASB............................ 064
Tabela 4.3- Rotina de monitoramento do UASB....................................................... 065
Tabela 5.1- Dados de carga orgânica na partida do UASB........................................ 078
Tabela 5.2- Valores de alcalinidade e acidez no período de partida ......................... 081
Tabela 5.3- Valores de alcalinidade parcial e intermediária na partida ..................... 081
Tabela 5.3- Resultados da concentração de matéria orgânica.................................... 084
Tabela 5.4- Carga orgânica média diária e fator de correção..................................... 087
Tabela 5.5- Dados da evolução da massa de sólidos totais no reator......................... 089
Tabela 5.6- Dados levantados de sólidos voláteis totais............................................ 093
Tabela 5.7- Dados de sólidos suspensos..................................................................... 095
Tabela 5.8- Dados de sólidos sedimentáveis.............................................................. 098
Tabela 5.9- Parâmetros de estabilidade do processo de digestão anaeróbia.............. 102
Tabela 5.10 -Alcalinidade parcial e intermediária...................................................... 104
Tabela 5.11 -Dados de biogás medido........................................................................ 105
Tabela 5.12 -Balanço de massa de DQO no reator UASB.......................................... 108
xiii
Tabela 5.13 -Resultados dos ensaios de biodegradabilidade aeróbia.......................... 114
Tabela 5.14 -Resultados dos ensaios de biodegradabilidade anaeróbia...................... 114
Tabela 5.15 -Comparação das biodegradabilidades aeróbia e anaeróbia.................... 115
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1- Célula bacteriana (Von Sperling,1996)................................................... 006
Figura 3.2- Classificação filogenética dos seres vivos.............................................. 007
Figura 3.3- Sequências metabólicas da digestão anaeróbia....................................... 012
Figura 3.4- Perfil de crescimento bacteriológico(Metcalf&Eddy,1991)................... 018
Figura 3.5-
Estrutura e composição de grânulos tratando carboidratos
solúveis(Fang et al.,1994.)......................................................................
025
Figura 3.6- Desenho esquemático do reator UASB (Chernicharo,1997)................... 026
Figura 3.7-
Eficiência do UASB em função da porcentagem de lodo descartado
(van Haandel et al.,1999)........................................................................
030
Figura 3.8- Tempo de retenção celular na produção de PMS(Kuo e Parkin,1996)... 032
Figura 3.9-
Diagrama de balanço da DQO ao longo do processo de degradação
aneróbia(Chernicharo,1997)....................................................................
033
Figura 3.10 -
Classificação do material residual em efluentes de tratamentos
biológicos de ágiuas residuárias (Orhon et al.,1989).............................
035
Figura 3.11- Comportamento das medidas respirométricas......................................... 037
Figura 3.12- Curva do ensaio de biodegradabilidade anaeróbia.................................. 039
Figura 4.1- Esquema geral da instalação piloto......................................................... 043
Figura 4.2- Vista geral da instalação piloto............................................................... 044
Figura 4.3- Detalhe do separador de fases do UASB................................................. 047
Figura 4.4- Etapa de montagem do reator UASB...................................................... 049
Figura 4.5- Esquema de montagem do UASB........................................................... 051
Figura 4.6- Esquema de montagem do dispositivo de regularização de vazão.......... 053
Figura 4.7- Vista superior e lateral do dispositivo de regularização de vazão........... 053
Figura 4.8- Instalação de hidrômetro para medição do efluente do UASB............... 054
Figura 4.9- Medidor de gás LAO G1......................................................................... 055
Figura 4.10- Instalação do medidor de gás.................................................................. 056
Figura 4.11- Curva concentração x condutividade elétrica para o sal Cisne............... 058
Figura 4.12- Perfil teórico de traçador em função do tempo....................................... 058
Figura 4.13- Ensaio para determinação do volume de metano presente no biogás..... 060
Figura 4.14-
Desenho da montagem dos equipamentos para respirometria
(Ferreira,2002).........................................................................................
067
xv
Figura 4.15- Registro do ensaio de respirometria........................................................ 067
Figura 4.16- Esquema de montagem do teste de biodegradabilidade anaeróbia......... 069
Figura 4.17- Registro do ensaio de biodegradabilidade anaeróbia.............................. 071
Figura 4.18- Desenho esquemático do balanço de massa de DQO no reator.............. 072
Figura 5.1- Comportamento teórica do traçador na condições
estabelecidas no
teste..........................................................................................................
075
Figura 5.2- Curva de concentração de sal x tempo do ensaio................................... 075
Figura 5.3- Registro do ensaio do traçador colorimétrico.......................................... 077
Figura 5.4- Eficiência de remoção de carga orgânica na partida............................... 079
Figura 5.4- Evolução da massa de sólidos totais e voláteis na partida...................... 080
Figura 5.6- Evolução dos sólidos suspensos na partida do UASB............................ 080
Figura 5.7- Remoções de DQO e DBO no UASB..................................................... 085
Figura 5.8- Remoções de DQO-pesquisa semanal..................................................... 085
Figura 5.9- Comparação entre a DQO afluente bruta e a DQO efluente filtrada....... 086
Figura 5.10- Carga orgânica média diária afluente ao UASB..................................... 088
Figura 5.11- Evolução da massa de sólidos totais no reator........................................ 090
Figura 5.12- Produção específica de lodo (ST) em função da DQO aplicada............. 091
Figura 5.13- Produção específica de lodo (ST) em função da DQO digerida............. 091
Figura 5.14- Evolução da concentração de sólidos totais por ponto de coleta............ 092
Figura 5.15- Perfil de sólidos no reator........................................................................ 092
Figura 5.16- Evolução da massa de sólidos voláteis totais no reator........................... 094
Figura 5.17- Comparação entre a massa de sólidos totais e sólidos voláteis totais.. 094
Figura 5.18- Evolução da massa de sólidos suspensos totais no reator UASB............ 096
Figura 5.19-
Produção específica de lodo, em termos de SST, função da DQO
aplicada....................................................................................................
097
Figura 5.20- Produção específica de lodo, em termos de SST, fun
ção da DQO
digerida....................................................................................................
097
Figura 5.21- Eficiência de remoção de sólidos sedimentáveis.................................... 099
Figura 5.22- Detalhe do floco de biomassa com presença de microorganismos......... 100
Figura 5.23- Granulação da biomassa com presença de microorganismos ao fundo.. 100
Figura 5.24- Detalhe do floco da biomassa desenvolvido no UASB........................... 101
Figura 5.25- Evolução da produção de biogás no UASB........................................... 106
Figura 5.26- Comparação entre a produção de biogás teórica e medida..................... 111
xvi
Figura 5.27- Relação biogás medido/teórico.............................................................. 112
Figura 5.28-
Metano dissolvido no efluente como função da DQO afluente
(Kato,1994).............................................................................................
112
Figura 5.29- Detalhe do material flutuante no topo do reator..................................... 117
Figura 5.30- Volume diário de escuma retirada do UASB.......................................... 118
1
1-INTRODUÇÃO
No Brasil, praticamente todos os setores da infra-estrutura urbana estão mergulhados numa
grande crise estrutural. O saneamento, mais particularmente, o esgotamento sanitário
apresenta índices dos mais precários em nível nacional, onde, conforme dados do IBGE
(2000), somente cerca de 12,7% da população brasileira conta com sistemas adequados,
ou seja, compostos de rede de coleta com unidades de tratamento de seus esgotos.
O baixo percentual de sistemas de esgotos contemplados com unidade de tratamento se
deu, entre outros fatores, pelo alto custo normalmente envolvido neste tipo de infra-
estrutura. Este alto custo, por sua vez, tem como causa a visão dominante no setor de
saneamento que privilegiava a sofisticação de materiais e equipamentos e, de outro lado,
partia de concepções que fomentavam a centralização dos sistemas de tratamento.
Atualmente, no contexto de crise de recursos no setor de saneamento, surgem visões
estratégicas importantes que apontam para a busca de soluções mais simples e de menores
custos para o problema da falta de tratamento dos esgotos.
Para viabilizar a universalização da solução, o caminho mais indicado é certamente o do
gradualismo, priorizando a abrangência e adotando a evolução da eficácia a partir de um
patamar aceitável de segurança sanitário, como afirma Andrade Neto (1997).
Neste quadro brasileiro de grande demanda por sistemas de tratamento de esgotos e
recursos reduzidos, os reatores de fluxo ascendente e manta de lodo (UASB) têm um
papel importante, porque aliam o seu baixo custo à potencialidade de descentralização
como estratégia fundamental para o pleno atendimento.
Os reatores UASB têm sido largamente aplicados no país e existe uma perspectiva
generalizada entre os técnicos da área de saneamento de que este processo possui um
grande potencial ainda por ser explorado.
De outro lado, Chernicharo (1997) enfatiza que a grande aceitação dos reatores anaeróbios,
notadamente os de manta de lodo, tem levado, muitas vezes, ao desenvolvimento de
2
projetos e à implementação de estações de tratamento com sérios problemas conceituais.
Sob este prisma, se reveste da maior importância o estudo mais aprofundado dos
mecanismos, em especial a cinética, envolvidos nos reatores UASB, buscando parâmetros
e critérios mais realistas para o seu projeto e para sua operação.
Outro aspecto importante é que os reatores UASB não atendem a todos os requisitos
ambientais exigidos e, portanto, necessitam de um pós-tratamento complementar. Assim
sendo o estudo da degradabilidade do efluente do UASB é outro aspecto relevante.
Com o intuito de contribuir com as questões mencionadas, este estudo envolve a
investigação acerca de parâmetros operacionais, notadamente os relacionados à cinética
dos reatores UASB e a avaliação do efluente, em termos de sua degradabilidade.
3
2-OBJETIVOS
2.1-OBJETIVOS GERAIS
Estudar parâmetros operacionais relacionados à cinética da digestão anaeróbia de um
reator UASB piloto e a biodegradabilidade de seu efluente, identificando valores realistas
que subsidiem a sua operação e projeto, bem como, a escolha de alternativas para
processos de tratamentos posteriores.
2.2-OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Realizar um balanço de massa expresso em termos de DQO no reator UASB piloto,
tratando esgotos domésticos e sob às condições do Distrito Federal, buscando caracterizar
as diversas parcelas envolvidas no seu processo.
- Estudar a biodegradabilidade do efluente do reator UASB, tratando esgotos domésticos,
identificando as potencialidades das vias anaeróbia e aeróbia como processo complementar
de tratamento subseqüente.
4
3-FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1- A ÁGUA RESIDUÁRIA
A água residuária é produto do uso que foi dado à água e os poluentes a ela incorporados
representam cerca de 1% de seu volume constituindo-se de substancias químicas, matéria
orgânica e patógenos. Sobre esta parcela é que os sistemas de tratamento de esgoto vão
atuar no sentido de depurá-la de seus contaminantes. Na Tabela 3.1 são apresentados os
principais contaminantes presentes nas águas residuárias.
Tabela 3.1- Principais contaminantes em águas residuárias (Metcalf &Eddy,1991)
CONTAMINANTES
IMPORTÂNCIA
Sólidos suspensos Podem levar ao desenvolvimento de depósitos de lodo e
condições anaeróbia quando o efluente é despejado nos cursos
d’água.
Orgânicos
biodegradáveis
Compostos principalmente por proteínas, carboidratos e gorduras.
Se jogados no ambiente sua estabilização biológica pode levar à
queda de oxigênio e ao desenvolvimento de condições sépticas.
Patogênicos Doenças podem ser transmitidas por organismos patogênicos
presentes na água residuária.
Nutrientes Nitrogênio e fósforo. Quando lançados em meio aquático podem
levar ao crescimento de vida aquática indesejável. Se lançado no
solo podem contaminar a água subterrânea.
Poluentes perigosos Compostos orgânicos e inorgânicos, presentes nas águas
residuárias, com potencial de carcinogenicidade, mutagenicidade,
teratogenicidade ou toxidade.
Orgânicos refratários Resistem aos métodos convencionais de tratamento de águas
residuáriaa. Exemplo: surfactantes, fenois, pesticidas, etc.
Metais pesados Geralmente oriundos de atividade comercial ou industrial e devem
ser removidos se o efluente for reutilizado.
Inorgânicos
dissolvidos
Como cálcio, sódio e sulfato. Devem ser removidos se o efluente
for reutilizado
5
O parâmetro mais utilizado para caracterizar a água residuária, quanto ao seu grau de
poluição, é a DBO, demanda bioquímica de oxigênio, que expressa a quantidade de
oxigênio necessário para estabilizar a matéria orgânica biodegradável presente no esgoto
Outro importante parâmetro de caracterização do grau de poluição da água residuária é a
DQO, demanda química de oxigênio, que corresponde ao consumo de oxigênio para
degradação da matéria orgânica, incluindo a fração biodegradável e a não biodegradável. A
limitação do ensaio de DQO é que ele superestima o valor do oxigênio consumido no
processo biológico e ,além disso, não fornece a taxa de consumo de matéria orgânica ao
longo do tempo. Apesar dessa limitação, a DQO é largamente utilizada tendo em vista ser
o seu teste relativamente rápido se comparado com a DBO.
A relação DQO/DBO
5
dá indicações sobre a biodegrabilidade dos esgotos, ou seja, quanto
menor for o valor desta relação, maior a sua biodegradabilidade. Ao longo das etapas do
processo de tratamento a relação DQO/DBO
5
vai aumentado de valor, tendo em vista que a
parcela biodegradável vai diminuindo. von Sperling (1996) indica que para esgotos
domésticos brutos, a relação DQO/DBO
5
varia de 1,7 a 2,4. Se a relação DQO/DBO
5
é
baixa, a fração biodegradável é elevada, indicando processos biológicos para o seu
tratamento. Se a relação DQO/DBO
5
é alta, a fração não biodegradável é elevada e,
portanto, os processos físico-químicos são os mais indicados para o tratamento.
Na tabela 3.2 são apresentados a faixa de variação de alguns parâmetros característicos da
água residuária doméstica.
Tabela 3.2-Parâmetros característicos da água residuária doméstica (Metcalf & Eddy,1991)
CONCENTRAÇÃO DA
ÁGUA RESIDUÁRIA
BAIXA ALTA
Sólidos Totais mg/L 350 1200
DBO
5
mg/L 110 400
DQO mg/L 250 1000
Coliformes totais NMP/100ml 10
6
- 10
7
10
7
- 10
9
Alcalinidade mg/L 50 200
6
3.2 – O TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS
No tratamento de águas residuárias, os processos biológicos ocupam, seguramente, um
lugar de destaque pela sua aplicabilidade e eficiência. Nesta modalidade de tratamento de
águas residuárias, os mecanismos biológicos predominam e buscam reproduzir os
processos naturais de autodepuração dos corpos d’água onde a matéria orgânica, dos
despejos recebidos por esse corpo, é convertida em minerais inertes.
Segundo Metcalf & Eddy (1991), os tratamentos biológicos são usados para remover as
substâncias orgânicas biodegradáveis (coloidais ou dissolvidas) no esgoto e também para
remover nutrientes (nitrogênio e fósforo) e seus objetivos são o de coagular e remover
material coloidal não sedimentável e para a estabilização da matéria orgânica. Para cumprir
esses objetivos, inúmeros microorganismos estão envolvidos no processo de tratamento
biológico, onde os principais são as bactérias, os protozoários, os fungos, as algas e os
vermes, ocupando papel central na estabilização da matéria orgânica as bactérias.
De uma maneira geral, todos os seres vivos apresentam uma configuração de suas células
muito semelhantes (Figura 3.1). Estas células apresentam, em síntese, na parte externa,
uma membrana celular, e podem apresentar (no caso de bactérias, algas, fungos e plantas)
uma parede celular. Na parte interna (com algumas variações) a célula contém ácidos
nucléicos. O ácido Ribonucleico (RNA) presente nos ribossomos é uma área nuclear rica
em ácidos desoxirribonucleicos (DNA) importantes para a reprodução celular.
Figura 3.1- Célula bacteriana (von Sperling, 1996)
7
A classificação dos seres vivos indicada por von Sperling (1996) distinguiu 4 reinos :
Monera (seres simples, sem núcleo diferenciado, como as bactérias e cianofícias), Protistas
(seres simples, mas com núcleo diferenciado como algas, fungos e protozoários), vegetal e
animal. Na Tabela 3.3 é apresentada a classificação dos seres vivos e suas principais
características englobando os reinos: monera, protista, vegetal e animal.
Tabela 3.3-Características básicas dos reinos do mundo vivo (von Sperling, 1996)
Característica Monera/Protista Vegetais Animais
Célula Unicelular/multicelular Multicelular Multicelular
Diferenciação
celular
Inexistente Elevada Elevada
Fonte de energia Luz/matéria orgânica/matéria
inorgânica
Luz Matéria
orgânica
Clorofila Ausente/presente Presente Ausente
Movimento Imóveis/móveis Imóveis Móveis
Parede celular Ausente/presente Presente Ausente
De outro lado, os seres vivos em que o núcleo das células encontram-se confinado por
membrana celular são denominados eucariotas, ao passo que os que possuem núcleo
disseminado no protoplasma são denominados procariotas Mais recentemente, Woese
(1981) estabeleceu, com base no sequenciamento do RNA, uma nova árvore filogenética
universal definindo três “domínios”. “Domínio” é a nova taxonomia filogenética que
inclui três linhas primárias : Bactérias, Archaea e Eucária. Em linha descendente segue seis
reinos : Moneras, Arqueobactérias, Protistas, Fungos, Vegetais e Animais, conforme é
apresentado na Figura 3.2.
Figura 3.2- Classificação filogenética dos seres vivos (Woese,1981)
8
Futuyama (1992) afirma que, há cerca de 2,0 bilhões de anos atrás a atividade sintetizadora
havia criado uma atmosfera rica em oxigênio, levando ao desaparecimento de muitos
organismos anaeróbios primitivos. Alguns desses organismos ainda existem em ambiente
anaeróbios e são tão diferentes de outra bactérias na seqüência de seu RNA que
constituem-se numa linhagem a parte, as arqueobactérias.
Nesta nova classificação, destacam-se as arqueobactérias que são compostas por três tipos :
Halófitas, que se desenvolvem em ambientes salinos, Termófilas, que se desenvolvem a
temperatura de 80º C e pH extremamente baixo e as Metanogênias, que se desenvolvem
em condições anaeróbias oxidando o hidrogênio, para tanto, utiliza o CO
2
como oxidante,
no processo reduzem-o a metano, processo este fundamental na digestão anaeróbia.
As arqueobactérias metanogênias são anaeróbias restritas e liberam gás metano como
resíduo metabólico processo não realizado por nenhum outro grupo de organismos- são
encontrados em ambientes com ausência de oxigênio e abundância de matéria orgânica.
Vivem como simbiontes de uma grande variedade de protozoários também anaeróbios,
convertendo produtos finais da fermentação em gás metano e em CO
2
.
As arqueobactérias metanogênias são divididas em três grupos indicados na Tabela 3.4,
onde são apresentadas algumas características que os diferenciam.
Tabela 3.4- Grupos de arqueobactérias metanogênias (ICB-UFMG, 2004)
GRUPO
GÊNEROS MOTILIDADE
SUBSTRATOS ONDE VIVEM
I Metanobacterium - H
2
e formiato
Metanobrevibacter - H
2
e formiato
II Methanococcus + H
2
e formiato
Methanosprillum + H
2
e formiato
III Methanosarcina - H
2
, formiato, methanol, metilamina e
acetato
No que tange aos microorganismos, é fundamental o conhecimento não só de sua
constituição celular, como também, de que maneira estes viabilizam o seu crescimento e
9
reprodução, ou seja, onde buscam os elementos básicos para a sua sobrevivência, dentre os
principais a energia e o carbono. De forma geral, pode-se afirmar que, quanto a fonte de
carbono, os microorganismos podem ser divididos em seres autótrofos, que utilizam o
carbono inorgânico (gás carbônico) e os seres heterótrofos, que utilizam o carbono
orgânico.
Quanto a fonte de energia há, basicamente dois tipos de organismos, os autótrofos que
utilizam a luz e os quimiotróficos que utilizam a energia das reações químicas. Na Tabela
3.5 é apresentada a classificação geral dos organismos.
Tabela 3.5-Classificação geral dos organismos baseada nas fontes de energia e carbono
(Metcalf & Eddy, 1991)
Classificação Fonte de energia Fonte de carbono
Fotoautótrofos Luz CO
2
Fotoheterótrofos Luz Matéria orgânica
Quimioautótrofos Matéria inorgânica CO
2
Quimioheterótrofos Matéria orgânica Matéria orgânica
Devido ao grau de turbidez característico dos esgotos e aos tipos de dispositivos utilizados
no tratamento de esgotos (tanques), pouca iluminação penetra na massa líquida e portanto
os organismos quimioautótrofos (nitrificação) e os quimioheterótrofos passam a ter uma
maior importância no processo de depuração da matéria orgânica.
Outro aspecto importante aos processos biológicos de tratamento é o metabolismo dos
microorganismos, que são processos químicos que ocorrem no interior da célula dos
mesmos. Esses processos podem ser divididos em dois tipos. O primeiro é denominado de
catabolismo, onde ocorre a degradação do substrato através de reações de produção de
energia. O segundo é denominado de anabolismo, que são reações que conduzem à
formação de material celular utilizando a energia produzida no catabolismo.
Nas águas residuárias, esses dois processos ocorrem simultaneamente envolvendo enzimas
específicas no interior da célula dos microorganismos. De outro lado, os microorganismos
excretam enzimas (exoenzimas) que desempenham reações de hidrólise, convertendo
10
compostos complexos do substrato em composto simples, possíveis de serem aproveitados
pela célula. Na Tabela 3.6 é apresentado um resumo dos tipos de processos biológicos.
Tabela 3.6 Aceptores de elétrons típicos da reação de oxidação no tratamento de esgoto
(Chernicharo, 1997)
Característica
Catabolismo oxidativo
(respiração)
Catabolismo fermentativo
(fermentação)
Doador de elétrons Matéria orgânica Matéria orgânica oxidada
Aceptor de elétrons
Externo: composto
inorgânico
(oxigênio, nitrato ou
sulfato)
Interno: matéria orgânica
reduzida
Número de produtos finais
resultantes da matéria
orgânica
Um (CO
2
)
No mínimo dois (CO
2
e CH
4
)
Forma do carbono no
produto final
Carbono inorgânico
oxidado
(CO
2
)
Carbono inorgânico oxidado
(CO
2
) + carbono orgânico
reduzido (CH4)
Estado de oxidação do
carbono no produto final
4+(CO
2
)
4+(CO
2
)
4+(CH
4
)
Von Sperling (1996) descreve que a matéria orgânica, então, é degradada pelo processo de
catabolismo que são de interesse do tratamento dos esgotos. O catabolismo oxidativo é
uma reação onde a matéria orgânica é oxidada por um agente oxidante presente no meio
líquido (oxigênio, nitrato ou sulfato). O outro tipo de catabolismo de interesse é o
fermentativo onde não há um oxidante, o processo ocorre devido ao rearranjo de elétrons
na molécula fermentada.O que está envolvido nesse mecanismo de respiração (catabolismo
oxidativo ou de fermentação) é a produção de energia para as células microbianas, elas
ocorrem de acordo com o tipo de microorganismo.
Neste conjunto de reações químicas que se processam, o que está envolvido é, de um lado,
a substância a ser oxidada (matéria orgânica ou compostos inorgânicos reduzidos) que são
os doadores de elétrons. Com elétron disponível, este é transferido para outro composto
inorgânico (agente oxidante) denominado aceptor de elétrons.
Os aceptores de elétrons típicos das reações de oxidação no tratamento de esgotos são o
oxigênio (nas condições aeróbicas); o nitrato (nas condições anóxicas) e o sulfato/dióxidos
de carbono (nas condições anaeróbias). Nos esgotos existem organismos adaptados às
condições do meio, distinguindo-se três classes principais: os organismos aeróbios estritos,
11
que utilizam o oxigênio presente no meio para a sua respiração; os organismos facultativos
que utilizam tanto o oxigênio como o nitrato como aceptores de elétrons e os organismos
anaeróbios estritos, que utilizam o sulfato ou o dióxido de carbono como aceptores de
elétrons exclusivamente. O tratamento biológico de esgotos aproveita este conjunto de
microorganismos com características diferentes para a degradação da matéria orgânica,
distinguindo, portanto, quatro grupos de tratamento: os aeróbios, os anóxidos, os
anaeróbios e os combinados.
3.3 O PROCESSO ANAERÓBIO DE ESTABILIZAÇÃO DE MATERIAL
ORGÂNICO
No processo anaeróbio, utilizam-se os microorganismos adaptados às condições anaeróbias
para a degradação da matéria orgânica. Estes microorganismos quebram a estrutura dos
materiais orgânicos complexos, para produzir compostos simples como metano, dióxido de
carbono e água, entre outros, extraindo em paralelo, a energia e os compostos necessários
para o seu próprio crescimento.
Chernicharo (1997) descreve a digestão anaeróbia como um sistema ecológico
delicadamente balanceado, onde cada microorganismo tem uma função essencial. No
equilíbrio deste sistema, estão envolvidos várias condicionantes como o tipo de substrato
presente no esgoto e a magnitude das cargas orgânicas e hidráulicas. van Haandel e
Letinga (1994) enfatizam que no “equilíbrio” (população bacteriana/meio), no processo
anaeróbio, os seguintes fatores determinam a sua eficiência:
- a natureza do material orgânico a ser digerido;
- a existência de fatores ambientais adequados para a digestão anaeróbia;
- tamanho da população bacteriana (eficiência de retenção de lodo no sistema);
- intensidade de contato entre o material orgânico afluente e as populações bacterianas;
- tempo de permanência do esgoto no sistema de tratamento.
De forma geral, distinguem-se três tipos de microorganismos que participam da
decomposição anaeróbia, de acordo com a sua função no processo que são as bactérias
fermentativas, as bactérias acetogênicas e as arqueobactérias metanogênicas.
12
Como descreve Nascimento (1996), as reações do processo anaeróbio ocorrem de forma
seqüencial, em diversas etapas. A matéria orgânica presente em um sistema poderá ser
utilizada como substrato por um grupo de bactérias, sendo considerada reagente, e pode ter
sido gerada por outro grupo, sendo considerada produto, e quando se alternam como
reagentes e produtos, são denominadas produtos intermediários. Na Figura 3.3 pode-se
distinguir quatro etapas de desenvolvimento da digestão anaeróbia que são: Hidrólise,
Acidogênese, Acetogênese e Metanogênese.
Figura 3.3-Seqüências metabólicas da digestão anaeróbia (Chernicharo et al., 1999)
ACETOGÊNESE
MATERIAL EM SUSTENSÃO
PROTEÍNAS , CARBOIDRATOS, LIPÍDEOS
AMINOÁCIDOS, AÇÚCARES
ÁCIDOS GRAXOS
PIRUVATO
OUTROS
PROPIONATO
ÁCIDOS GRAXOS
ACETATO HIDROGÊNIO
METANO
HIDRÓLISE
ACIDOGÊNESE
METANOGÊNESE
Hidrogenotrófica
Acetotrofica
13
O conjunto das reações seqüenciais que ocorrem no processo anaeróbio, pode ser
considerado como uma reação global anaeróbia. A eficiência global de conversão da
matéria orgânica em produtos estabilizados, depende da eficiência de cada reação e do
equilíbrio entre as diversas espécies e entre os grupos de bactérias presentes no processo. A
velocidade de cada reação influi na velocidade do processo e, as mais lentas, denominadas
etapas limitantes, irão determinar a velocidade da reação global.
As bactérias fermentativas transformam, por hidrólise, os polímeros em monômeros, e
estes em acetato, hidrogênio, dióxido de carbono e outros produtos como glicose. As
bactérias acetogênicas são produtoras de hidrogênio, que convertem os produtos gerados
na etapa anterior em acetato, hidrogênio e dióxido de carbono. As arqueobactérias
metanogênicas são distribuídas em dois grupos distintos. Um dos grupos utiliza o acetato,
convertendo-o em metano e dióxido de carbono, enquanto outro produz metano através de
redução do dióxido de carbono. A seguir aborda-se estas etapas mais detalhadamente.
3.3.1-Etapa de Hidrólise
Como já foi mencionado, a hidrólise da matéria orgânica é um processo lento realizado por
enzimas extracelulares, onde ocorre a solubilização de substratos complexos. Em muitos
casos a velocidade da hidrólise pode ser a etapa limitativa para todo o processo da
digestão anaeróbia.
Os substratos complexos geralmente são sólidos orgânicos em suspensão (McCarty e
Mosey, 1991) ou ainda materiais orgânicos poliméricos. Devido ao tamanho de suas
moléculas, os polímeros não podem ser consumidos por microrganismos sem que sejam
transformados em compostos solúveis (geralmente monômeros ou dímeros) que possam
atravessar a membrana celular.
Os principais produtos da hidrólise são os aminoácidos, peptídeos, açúcares simples,
ácidos graxos, poliolefinas e fenóis, que são consumidos durante a etapa da acidogênese.
Os microrganismos responsáveis pela hidrólise são apresentados por Novaes (1986)
juntamente àqueles que realizam a etapa de acidificação. São espécies pertencentes aos
gêneros Bacteroides, Clostridium, Butyrivibrio, Eubacterium, Bifidobacterium e
Lactobacillus.
14
3.3.2- Etapa de Acidogênese
Os produtos da hidrólise, agora compostos solubilizados, são absorvidos nas células das
bactérias fermentativas. Após a acidogênese, são excretados na forma de substâncias
orgânicas simples como ácidos graxos voláteis, álcoois, ácido láctico e compostos minerais
como H
2
, CO
2
, NH
3
, H
2
S, etc. Esses produtos ficam disponíveis para as bactérias
acetogênicas.
A acidogênese, segundo van Haandel e Lettinga (1994), é realizada por um grupo
diversificado de bactérias das quais a maioria é anaeróbia estrita. Deste conjunto de
bactérias, algumas espécies são facultativas e podem degradar o material orgânico, por
aerobiose, ou seja, pode consumir o oxigênio dissolvido eventualmente presente. Britz et
al. (1994) identificaram 9 (nove) espécies de bactérias envolvidas na acidogênese, oriundas
de amostras de esgotos em tratamento anaeróbio, que são apresentadas na Tabela 3.7.
Tabela 3.7-Bactérias da fase acidogênica identificadas em amostras por Britz et al. (1994)
ESPECIES % ENCONTRADA
Actinomyces sp. 1,89
Bacilus sp. 7,55
Citrobacter freudii 3,77
Clostridium bifermentans 26,42
Enterobacter cloacal 3,77
Enterobacter agglomerans 7,55
Enterococcus faecalis 3,77
Klebsiela oxitoca 22,64
Klebsiella pneumonial 22,64
3.3.3-Etapa da acetogênese
Os álcoois, ácidos graxos e compostos aromáticos gerados na etapa anterior, degradam-se e
há produção de ácido acético, CO
2
e hidrogênio, que são os substratos das arqueobactérias
metanogênicas. As principais reações desta etapa, identificada por Soubes (1994), são:
15
Etanol + H
2
O = Acetato + 2H
2
+ H
+
Butirato + 2H
2
O = 2 Acetato + 2H
2
+ H
+
Propionato + 3H
2
O = Acetato + HCO
2
+ H
+
Etanol + 2HCO
3
-
H
2
O = Acetato + Formiato + 2H
2
+ H
+
H2 + 2CO
2
= Acetato + H
2
O + H
+
A taxa de produção de ácidos, em geral por acetogênese, é alta se comparada à taxa de
produção de metano. Isto significa que um súbito acréscimo da concentração de matéria
orgânica resulta no acréscimo da produção de ácido com subseqüente queda do pH, que
pode vir a prejudicar a etapa metanogênica.
O grupo de bactérias acetogênicas que produzem hidrogênio é essencial para a degradação
anaeróbia, por converter propionato e outros ácidos orgânicos maiores que o acetato,
álcoois e certos compostos aromáticos (benzoatos) em acetato e CO
2
.
O acetato é produzido a partir de dióxido de carbono e hidrogênio por um subgrupo de
bactérias acetogênicas, as homoacetogênicas, onde participam as espécies: Clostridium
aceticum, Butyribacterium methilotrophicum e Acetobacterium woodii.
3.3.4-Etapa da metanogênese
A etapa da metanogênese, para o caso de tratamento de águas residuárias domésticas, é
aquela que limita a velocidade do processo de digestão anaeróbia. As condições do sistema
devem satisfazer principalmente aos requerimentos das arqueobactérias metanogênicas,
para uma máxima produção de metano e garantir o próprio equilíbrio do processo.
O metano é produzido pelas arqueobactérias acetofílicas, a partir da redução de ácido
acético, ou pelas arqueobactérias hidrogenofílicas a partir da redução de dióxido de
carbono, utilizando o hidrogênio. Esquematicamente podemos descrever as reações como:
-Acetotrófica : CH
3
COOH ? CH
4
+ CO
2
16
-Hidrogenotrófica : 4H
2
+ CO
2
? CH
4
2H
2
O
Segundo Pavlostathis e Giraldo-Gomes (1991), as arqueobactérias metanogênicas
acetofílicas são responsáveis por cerca de 60% a 70% de toda a produção de metano e os
dois gêneros principais são: Metanosarcina e Methanosaeta. As arqueobactérias
metanogênicas hidrogenofílicas são capazes de produzir metano a partir de hidrogênio e
dióxido de carbono, sendo que os gêneros mais encontrados em reatores anaeróbios são:
Metanobacterium, Methanospronillum e Methanobrevibacter.
É importante ressaltar, segundo van Haandel e Lettinga (1994), que existe a necessidade do
estabelecimento do equilíbrio entre a metanogênese e a fermentação ácida (três primeiras
etapas) no que concerne a produção de ácidos graxos voláteis e sua remoção, de forma a
garantir um meio com pH próximo ao ponto neutro. Caso aconteça uma produção líquida
de ácidos graxos voláteis, há a tendência de redução do pH, bloqueando a metanogênese,
ocorrendo o “azedamento” do meio.
3.4-CINÉTICA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA
A reprodução de bactérias, segundo Branco (1986) ocorre basicamente por simples divisão
ou pela formação de esporos, não ocorrendo em geral a reprodução sexuada.
Em tratamento de águas residuárias, os microorganismos de maior interesse (bactérias e
arqueobactérias) são classificados como heterotróficos (as de vida simbiônticas), pois
transformam a matéria orgânica em minerais como gás metano e dióxido de carbono. As
reações heterotróficas envolvem:
a) reações catalisadas por enzimas;
b) metabolismo respiratório: transferência externa de elétrons;
c) metabolismo fermentativo: não envolve transferência externa de elétrons, menor
produção de energia, crescimento mais lento.
O material orgânico requerido por estes microorganismos heterotróficos é variável. Alguns
se satisfazem com uma dieta constituída apenas de glicose e substâncias nitrogenadas
17
muito simples, enquanto outros exigem vários aminoácidos, além de gorduras, açúcares,
etc.
A digestão de material orgânico complexo, isto é, particulado ou com moléculas de cadeias
longas (por exemplo: proteínas, carboidratos e lipídeos) é realizada inicialmente de forma
extracelular. Muitas bactérias expelem ou secretam enzimas digestivas sobre o material,
que passa ao estado líquido no próprio meio. Em seguida é absorvido pelas células.
Durante o processo anaeróbio, ocorrem reações de hidrólise, de oxidação e de redução. As
reações de oxidação liberam energia, que é utilizada, inclusive, para as demais reações
envolvidas.
O processo anaeróbio pode formar, além de gás carbônico, metano e hidrogênio, outros
compostos menos oxidados (como álcoois ou ácidos orgânicos), que podem fornecer ainda
alguma energia.
O crescimento de bactérias (e arqueobactérias) anaeróbias, relativo ao número de
bactérias presentes, está relacionado às condições do meio . Existe uma fase de adaptação
às variações destas condições, o que altera o processo de crescimento.
Uma concentração de bactérias submetidas a um meio de cultura, atravessa fases distintas.
Metcalf & Eddy (1991) apresentam o perfil do crescimento padrão de bactérias, conforme
a Figura 3.4, dividindo-o em quatro fases:
a) A fase de adaptação, ou fase lag: com a adição de um inóculo a um meio de cultura,
esta fase representa o tempo requerido pelo organismo para se adaptar ao seu novo meio e
iniciar seu processo de divisão;
b) A fase de crescimento logarítmica: durante este período, as células dividem-se à taxa
determinada por seu tempo de geração e sua habilidade ao processo de alimentação;
c) A fase estacionária: onde a população permanece estacionária. As razões para este
fenômeno são: que as células consumiram todo o substrato ou nutrientes para crescimento
ou que o crescimento de novas células está equilibrado com a morte de células velhas; e,
18
d) Fase endógena ou de decaimento: durante esta fase, a taxa de morte bacteriana excede
a produção de novas células. Em alguns casos, a fase de morte logarítmico é o inverso da
fase de crescimento logarítmico.
Figura 3.4: Perfil de crescimento bacteriológico (Metcalf & Eddy, 1991)
Em processos contínuos de tratamento biológico, deseja-se que a população bacteriana
alcance seu máximo de crescimento, o que eqüivale à fase estacionária de crescimento.
Desta forma, a matéria orgânica contida na água residuária é degradada com maior
eficiência.
A duração de cada fase está relacionada à velocidade das reações metabólicas dos
organismos envolvidos. Devido à especificidade das bactérias anaeróbias em relação ao
substrato e ao fato de cada grupo de bactérias realizar apenas etapas das reações (e não as
reações completas), a energia utilizada por bactéria é baixa, resultando em metabolismo
lento.
O crescimento de células bacterianas, ou biomassa, em um sistema de cultura em batelada
ou contínuo, é descrito por Metcalf & Eddy (1991), através de equações cinéticas. Quando
um dos requerimentos essenciais (substrato ou nutriente) encontra-se em quantidades que
limitam o crescimento da biomassa, este é denominado “limitante”. As equações cinéticas
envolvem as expressões de Monod, que relacionam a quantidade de substrato limitante ao
19
crescimento bacteriano.
A taxa de crescimento da biomassa refere-se à fase de crescimento logarítmico e envolve a
taxa de geração de novas células. Porém, em uma cultura bacteriana, nem todas as células
atravessam a mesma fase, devido à diferença de idade entre elas, predação ou morte.
Assim, a taxa líquida de crescimento, equação (3.1), para uma cultura em fase de
crescimento logarítmico, deve incluir a taxa de decaimento proporcionada pela atividade
de células em outras fases.
r
g
’ = r
g
+ r
d
(3.1)
Onde: r
g
’= taxa líquida de crescimento da biomassa (M.L
-3
.T
-1
);
r
g
= taxa de crescimento da biomassa (M.L
-3
.T
-1
);
r
d
= taxa de decaimento da biomassa (M.L
-3
.T
-1
).
A taxa de crescimento da biomassa é proporcional à concentração de biomassa presente,
equação (3.2), e a proporcionalidade é chamada taxa específica de crescimento.
r
g
=
?
. X =
dX
dt
(3.2)
Onde:
?
= taxa específica de crescimento (T
-1
);
X= concentração de biomassa (M.L
-1
);
dX
dt
= acúmulo de biomassa no sistema (M.L
-3
.T
-1
).
De acordo com a expressão de Monod, a taxa específica de crescimento é limitada ao
substrato segundo a equação (3.3).
? ?? ?
?
max
Su
Su
K Su
(3.3)
Onde: ?
max
= taxa específica de crescimento máxima (T
-1
);
Su= concentração do substrato limitante (M.L
-3
);
K
Su
= concentração de substrato para
?
= 0,5.?
max
(M.L
-3
).
20
Assim, substituindo (3.3) em (3.2), obtém-se a equação (3.4).
r X
Su
K Su
g max
Su
? ? ?
?
? (3.4)
Em sistemas de culturas em batelada ou contínuo, uma porção de substrato é convertido a
novas células enquanto o restante, em outros produtos orgânicos ou inorgânicos. A
quantidade de novas células geradas é proporcional à quantidade de substrato disponível,
conforme a equação (3.5).
r
g
= - Y.r
Su
(3.5)
Onde: Y= coeficiente de produção de biomassa máximo, definido como uma relação entre
a biomassa gerada e a massa de substrato consumido, medidos durante a fase de
crescimento logarítmico (adimensional);
r
Su
= taxa de utilização do substrato (M.L
-3
.T
-1
)
A partir das equações (3.4) e (3.5), por substituição obtém-se a equação (3.6).
r
X
Y
Su
K Su
Su
max
Su
? ?
?
?
?
?
(3.6)
A taxa de decaimento da biomassa apresenta um coeficiente de decaimento e também é
proporcional à concentração de biomassa, equação (3.7).
r
d
= - k
d
. X (3.7)
Onde: k
d
= coeficiente de decaimento (T
-1
). Substituindo as equações (3.4) e (3.5) em (3.1),
obtêm-se as equações (3.8) e (3.9), respectivamente.
r
g
’ = ?
max
Su
d
X
Su
K Su
k X? ?
?
? ? (3.8)
21
r
g
’ = ? ? ? ?Y r k X
Su d
(3.9)
Os efeitos da atividade em fase endógena de bactérias presentes, no coeficiente de
produção de biomassa, equação (3.10), são avaliados por Ribbons (1970) e van Uden
(1967) apud Metcalf & Eddy (1991).
Y
obs
=
r
r
g
Su
(3.10)
Onde: Y
obs
= coeficiente de produção de biomassa observado
Uma utilização das equações de cinética de crescimento da biomassa de interesse em
sistemas anaeróbios de tratamento de efluentes é a determinação da produção de lodo,
através do coeficiente de produção de biomassa observado, que é um parâmetro que vai
balizar a operação desse tipo de tratamento.
3.5-FATORES QUE INFLUENCIAM A DIGESTÃO ANAERÓBIA
Por representar um delicado sistema ecológico, a digestão anaeróbia é sensível a variações
das condições ambientais, particularmente quanto as arqueobactérias metanogênicas,
identificadas como aquelas mais fortemente afetadas por estas variações. De uma forma
geral, os fatores de interesse da digestão anaeróbia são: a temperatura, o pH, alcalinidade,
acidez volátil e os nutrientes, descritas a seguir.
3.5.1-Temperatura
A temperatura é um dos mais importantes fatores a serem considerados na digestão
anaeróbia pela efetiva influência no crescimento dos microorganismos, agindo na seleção
das espécies.
Lettinga et al. (1996) aponta três faixas de temperatura que definem o conjunto de
microorganismos adaptados a elas. As faixas são: psicrófita (0º C a 20ºC), mesófita (20ºC a
45ºC) e termófila (45º a 70ºC).
22
Van Haandel e Lettinga (1994) concluem, analisando estudos de vários autores que:
- na faixa de 30º C a 40º C obtém-se a maior taxa de digestão anaeróbia;
- para a temperatura abaixo de 30º C a taxa máxima de digestão anaeróbia decresce a
uma taxa de 11% a cada 1º C, que pode expressar a taxa relativa de digestão com
auxílio de uma equação de Arrherius :
r(t) = r
30
(1,11)
(t-30)
(3.11)
Verifica-se, portanto, que o processo anaeróbio de tratamento de esgoto tem a sua efetiva
aplicação em regiões de clima quente.
3.5.2- O pH, a alcalinidade e a acidez volátil
O conjunto dos fatores, pH, alcalinidade e ácidos voláteis constituem-se nos parâmetros
que definem as condições de estabilidade da digestão anaeróbia.
O pH é um fator importante no crescimento das bactérias, sendo que a maioria delas não
tolera pH acima de 9,5 ou abaixo de 4,0. Metcalf & Eddy (1991) citam a faixa ótima de pH
para o crescimento de bactérias entre 6,5 e 7,5.
No processo de digestão anaeróbia a etapa de formação de ácidos voláteis pode conduzir a
uma diminuição do pH, caso a taxa de sua utilização seja menor. Nas condições normais de
funcionamento, o sistema possui alcalinidade capaz de neutralizar os ácidos formados e
tamponar o pH, esse aumento de alcalinidade no reator é devido, de forma geral, a
amonificação e ao consumo de ácidos graxos.
Na operação de reatores anaeróbios, uma das preocupações principais é o de evitar a
acidificação (azedamento) do esgoto. Esse azedamento do esgoto contido no reator
acontece por serem as bactérias produtoras de ácidos muito menos sensíveis ao pH que as
arqueobactérias metanogênicas. As bactérias acidogênicas possuem uma faixa de ação
bastante ativa mesmo para baixos valores de pH, chegando até pH igual a 4,5.
23
Como as arqueobactérias metanogênicas não atuam em faixas de pH menor que 6,2, a
produção de metano fica interrrompida, enquanto a produção de ácidos continua sem
interferência (van Haandel e Lettinga, 1994).
Desta maneira, o controle do pH torna-se elemento central na busca da operação eficiente
de reatores anaeróbios.
O equilíbrio da digestão anaeróbia está asssociada a capacidade da alcalinidade do sistema
em neutralizar os ácidos formados e tamponar o pH quando ocorrer acumulação de ácidos
voláteis. Desta maneira, existe uma íntima relação entre estes dois fatores.
Na iteração da alcalinidade com os ácidos graxos voláteis, a alcalinidade bicarbonato é
convertida em alcalinidade de ácido voláteis. Estas duas parcelas, alcalinidade
bicarbonatos (parcial) e alcalinidade de ácidos voláteis (intermediária), compõem a
alcalinidade total do processo de digestão anaeróbia.
A relação alcalinidade intermediária/alcalinidade parcial (AI/AP) é sugerida por Ripley et
al.(1986) como um parâmetro extremamente importante como indicador da estabilidade da
operacional. Valores próximos de 0,3 indicam estabilidade do processo, sendo que valores
acima de 0,3 indicam distúrbios no processo de digestão anaeróbia no reator.
3.5.3-Nutrientes
De maneira geral, os requerimentos nutricionais para o crescimento da massa microbiana e
os fatores de crescimento são: energia, carbono, macronutrientes inorgânicos (nitrogênio e
fósforo), micronutrientes inorgânicos (principais: enxofre, potássio, cálcio, magnésio,
ferro, sódio e cloro; secundários: zinco, manganês, molibdênio, selênio, cobalto, cobre,
níquel, vanádio e tungstênio) e fatores orgânicos de crescimento (vitaminas, aminoácidos,
piridiminas e outros).
A quantidade requerida de cada nutriente é variável, o que não o torna menos importante.
Se o nutriente em questão não atingir esta quantidade requerida, pode limitar o crescimento
da massa microbiana. No entanto, se o nutriente exceder esta quantidade, pode assumir
características tóxicas e inibir o crescimento da massa microbiana. Assim os valores de
24
interesse da concentração de um determinado nutriente ao crescimento da massa
microbiana estão compreendidos numa faixa.
A constituição típica das células bacterianas, citada por Metcalf & Eddy (1991), é de 80% em água e 20% em
material seco, dos quais, 90% orgânico e 10% inorgânico. A fórmula aproximada para a fração orgânica é de
C
60
H
87
O
23
N
12
P, com composição de nitrogênio de 12 a 13% do peso da biomassa e fósforo de 2 a 3%..
Baseando-se nesta constituição da célula bacteriana, determina-se a proporção entre o
requerimento de carbono, nitrogênio e fósforo. As proporções entre carbono e nitrogênio e
nitrogênio e fósforo devem ser:
C/N = 30 (3.12)
N/P = 5 (3.13)
Onde C= massa de carbono (M);
N= massa de nitrogênio (M);
P= massa de fósforo (M).
Enquanto concentrações inferiores àquelas recomendadas como ótimas podem ser
limitantes ao crescimento bacteriano, concentrações superiores podem causar efeitos
inibidores. A inibição ocorre devido à dificuldade das enzimas em atuar no substrato de
interesse e algumas vezes, atinge caráter tóxico. Nestes casos, além de reduzir a velocidade
das reações, também pode ocasionar a morte bacteriana. A própria matéria orgânica pode
apresentar efeitos inibitórios. No caso de sistemas anaeróbios, um acréscimo abrupto na
quantidade de substrato pode favorecer o crescimento de grupos de bactérias que se achem
em condições favoráveis, prejudicando outros.
3.6 – O REATOR ANAERÓBIO DE FLUXO ASCENDENTE E MANTA DE LODO
Dentre os sistemas de tratamento anaeróbio de esgoto iremos destacar o reator anaeróbio
de fluxo ascendente e manta de lodo, que é objeto de estudo do presente trabalho. Os
reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manta de lodo (Upflow Anaerobic Sludge
Blanket Reator-UASB) são unidades de tratamento de esgoto desenvolvidas na década de
70 pelo Prof. Lettinga e sua equipe na Universidade de Wegeninger, na Holanda (van
Haandel e Lettinga, 1994). Posteriormente foram disseminados em vários países,
notadamente de clima quente, e no Brasil esta alternativa tem uma perspectiva muito
25
favorável a sua adoção tendo em vista a carência por sistema de tratamento de esgoto
associado às vantagens que essa modalidade de tratamento apresenta.
Segundo Louzada (2000), a aplicação da tecnologia anaeróbia ao tratamento de esgotos
sanitários se limita a poucos países, destacando-se que o maior número de experiências em
escala real, encontram-se em países da América Latina. Sinteticamente, os reatores
anaeróbios de fluxo ascendentes e manta de lodo, UASB, constituem-se num tanque
alimentado por esgotos, pelo fundo, definindo um fluxo ascendente e com saída pela parte
superior.
O UASB, submetido a uma vazão de esgoto, passa a desenvolver, no seu interior, uma
população de microorganismos adaptados às condições do meio (pH, temperatura,
substrato, carga hidráulica, etc) e evoluem formando grânulos, que são agregados de
biomassa que ficam suspensos na massa líquida. Fang et al.(1994), estudando um UASB
tratando esgoto rico em carboidratos, identificou a microestrutura do grânulo mostrado na
Figura 3.5, onde pode-se observar o conjunto de colônias de bactérias e o arranjo na
constituição do grânulo.
I II III
Figura 3.5 Estrutura e composição de grânulos tratando carboidratos solúveis (Fang et al.,
1994)
Bactérias predominantes em cada camada:
I Externa: Acidogênicas + consumidoras H2
II Intermediária: Metanotrix sp. +
microcolônias Sintroficas
III Central: Metanotrix sp.
__ Acidogênicas
__ Microcolias sintroficas
__ Metanotrix sp.
100%
26
A boa performance do UASB está diretamente relacionada a formação e desenvolvimento
da granulação da biomassa de alta atividade, que será a responsável pela degradação da
matéria orgânica do esgoto.
Ao longo do perfil vertical do tanque do UASB, o lodo (constituído dos grânulos de
agregados de biomassa) varia a sua concentração. No fundo é formado um lodo mais denso
e com capacidade elevada de sedimentação (leito de lodo), variando, gradativamente, até
um lodo mais leve e disperso no topo do reator (manta de lodo). A Figura 3.6 apresenta um
desenho esquemático do reator UASB.
O fluxo ascensional é o responsável por realizar a mistura de substrato com a biomassa e
neste contato é que é promovida a estabilização da matéria orgânica ao longo do leito e da
manta de lodo.
Figura 3.6 - Desenho esquemático do reator UASB (Chernicharo, 1997)
Após a passagem pela zona de reação, o esgoto, por um mecanismo de separação de gases,
encaminha os gases formados pelo processo (biogás) para o compartimento de saída de
gases, onde é liberado na superfície da massa líquida. De outro lado, o esgoto, já sem os
27
gases dissolvidos, são encaminhados para compartimentos de decantação. Neste
compartimento de decantação o fundo tem uma inclinação onde os sólidos vão se
depositando e, quando o peso dos flocos formados vencem a força de atrito, eles deslizarão
encaminhando-se de volta ao compartimento de digestão.
Como pode-se observar, a manutenção de velocidades (fluxo) adequadas e a definição de
mecanismos de separação de fases são os elementos que garantem a efetividade do
desempenho do reator. Uma parcela do lodo produzido é periodicamente destacada e este
apresenta-se com alta densidade e com alto grau de estabilização.
Chermicharo (1997) destaca que, tanto quanto a capacidade de desenvolver biomassa de
elevada atividade, o dispositivo de separação de fases é outro aspecto fundamental ao
processo de tratamento do UASB. Este dispositivo, se bem projetado, garante a separação
dos gases da massa líquida, proporcionando a entrada no compartimento de decantação de
líquido com reduzidos teores de gases gerados no processo, aumentando a eficiência da
decantação dos sólidos suspensos presente na massa líquida.
De acordo com Chernicharo et al. (1999), a eficiência de remoção de matéria orgânica
para reatores UASB pode ser obtida pela expressão empírica:
E= [ 1-0,68 (THD)
0,35
] x 100 (3.14)
Onde :
E= eficiência %
THD= Tempo de detenção hidráulica do reator
Na prática, os valores verificados de remoção de matéria orgânica em reatores UASB, se
situam, segundo Chernicharo et al. (1999), na faixa de 65% a 75%. Vieira et al. (1994),
relatando experiência de operação de reator UASB com vazão média de 9,5 m
3
/h, indica
que foram obtidas remoções médias de 80% para a DBO e de 87% para sólidos suspensos
totais.
O UASB apresenta um desempenho eficiente na remoção de matéria orgânica e de sólidos
suspensos, porém, o seu efluente, geralmente, apresenta uma DQO residual acima dos
28
limites estabelecidos pela legislação ambiental, bem como, apresenta baixa eficiência na
remoção de organismos patogênicos e de nutrientes. Dessa forma, o UASB tem sido
apontado como uma boa alternativa de baixo custo para o tratamento de águas residuárias
mas, invariavelmente, necessita de um tratamento complementar posterior para atingir a
remoção adequada aos requisitos ambientais.
3.6.1-Parâmetros de Projeto de Reatores UASB
Apresenta-se a descrição dos principais parâmetros de projeto de reatores UASB
sintetizado por Chernicharo et al. (1999) que envolveu a experiência de vários autores,
salientando que, para os casos de efluentes industriais específicos, critérios específicos
deverão ser buscados.
Carga orgânica volumétrica (kgDQO/m
3
.d) : massa de matéria orgânica aplicada, por dia,
por unidade de volume do mesmo. O critério utilizado para este parâmetro para estações
em escala real tem sido inferiores a 15 kgDQO/m
3
.
COV = (Q x S)/V , onde
Q=vazão (m
3
/d)
S = concentração de substrato afluente (kgDQO/m
3
)
V = volume total do reator (m
3
)
Tempo de detenção hidráulica (horas):os critérios são apresentados na Tabela 3.8.
TDH = V/Q
V = volume do reator (m
3
)
Q = vazão (m
3
/d)
Tabela 3.8 - Tempos de detenção hidráulica em reatores UASB (Chernicharo et al., 1999)
Temperatura do esgoto Tempo de detenção hidráulica (h)
(º C) Média diária Mínimo
16 – 19 > 10 - 14 >7 - 9
20 – 26 > 6 – 9 > 4 - 6
> 26 > 6 > 4
29
Carga Hidráulica volumétrica (m
3
/m
3
.d): definida como o inverso do tempo de detenção
hidráulica. O critério indicado é de que a CHV deve ser inferior a 5,0 m
3
/m
3
.d (equivalente
a TDH=4,8 h).
CHV = 1/TDH
Carga biológica (kgDQO/kgSVT.d): definida como quantidade de matéria orgânica
aplicada ao reator, por unidade de biomassa presente no mesmo. O critério indicado é o de
utilizar CB=0,05 a 0,15 KgDQO/kgSVT.d na partida do UASB e, atingido o regime
permanente, pode atingir valores em torno de 2,0 kgDQO/kgSVT.d .
CB = (Q x S)/ M
Q = vazão m
3
/d
S = concentração de substrato afluente (kgDQO/m
3
)
M= biomassa (kgSVT/m
3
)
Velocidade superficial do fluxo: relação entre a vazão e a seção transversal do reator.
Utiliza-se velocidade na faixa de 0,5 a 0,7 m/h, para a vazão média, 0,9 a 1,1 para a vazão
máxima e velocidades menores que 1,5 m/h para picos temporários.
v = Q / A ou v = H/ TDH
Q= vazão (m
3
/h) A= área da seção transversal do reator (m
2
)
Taxa de aplicação superficial e tempos de detenção hidráulica no compartimento de
decantação: para garantir o não carreamento de sólidos para o compartimento de
decantação, indica-se para estes parâmetros os valores mencionados na Tabela 3.9.
Tabela 3.9-Valores indicados para taxa de aplicação superficial e tempo de detenção
hidráulica para o compartimento de decantação (Chernicharo et al., 1999)
Vazão efluente Taxa de aplicação
superficial (m/h)
Tempo de detenção
hidráulica (h)
Vazão média 0,6 - 0,8 1,5 - 2,0
Vazão máxima < 1,2 > 1,0
Picos temporários < 1,6 > 0,6
30
3.6.2-Considerações sobre a produção de lodo do UASB
O reator UASB tem uma capacidade máxima de acumulação de lodo no seu interior que é
estimada em 31 a 37,5 kg ST/m
3
, segundo Bezerra et al. (1999), após esse limite, o reator
é considerado cheio e o lodo produzido será descarregado com o efluente, deteriorando a
sua qualidade e comprometendo a eficiência do processo de tratamento
Desta forma, é necessário a realização de descartes periódicos de lodo, de maneira a
garantir que a capacidade máxima de acumulação de lodo não seja atingida. Em
experimento desenvolvido com reatores UASB submetidos a vários regimes de descarte de
lodo, van Haandel et al. (2000) concluiram, que descartes de até 50% do volume total de
lodo do reator (com tempo de detenção de 8 h) não afetavam a seu desempenho. Na Figura
3.7 é apresentado gráfico que relaciona o desempenho do UASB com a porcentagem de
lodo descartado.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 20 40 60 80 100
% LODO DESCARTADO
EFICIENCIA REMOÇÃO DQO %
Figura 3.7 -Eficiência do UASB em função da porcentagem de lodo descartado (van
Haandel et al., 2000)
De outro lado, para minimizar os riscos de carreamento de sólido, quando o reator está
com a massa de lodo próxima da sua capacidade máxima de acumulação (100%), é boa
medida trabalhar com uma folga, por exemplo, de 10%. Ou seja, definindo um limite
31
superior de 90% de sua capacidade máxima de acumulação, conforme conclusão dos
estudos de van Haandel et al.( 2000).
Com estes dois parâmetros ( porcentagem máxima de lodo descartado e limite máximo de
acumulação) conclue-se que uma boa prática operacional, seria trabalhar, em termos de
massa de lodo no reator, na faixa de 50% a 90% do valor máximo da capacidade de
acumulação, conforme conclui van Haandel et al (2000). Ou seja, efetuar descartes de 40%
da capacidade máxima de acumulação de lodo do UASB.
O valor da quantidade de lodo a ser descartado (kg SSV) e a produtividade média de lodo
(Kg SSV/dia) definem a periodicidade do descarte e, em consequência, a idade do lodo.
Quanto a idade do lodo, Kuo et al. (1996) identificaram que a idade do lodo tem influência
na biodegrabilidade da DQO residual (no efluente do reator). No citado estudo é ressaltado
que a DQO residual dissolvida é composta de : substrato residual degradável, compostos
intermediários como ácidos graxos voláteis e produtos microbianos solúveis (PMS),
produzidos no processo de tratamento.
Os produtos microbianos solúveis (PMS) são produzidos pela biomassa constituindo do
processo de tratamento e sua presença no efluente influi negativamente na degradabilidade
do mesmo.
A caracterização dos PMSs ainda é objeto de vários estudos, mas são originados por vários
processos, destacando-se dois, dentre eles. O primeiro é a produção de PMS como
resultado da utilização do substrato, ou seja, quando existe uma alta relação F/M ocorre
uma maior produção destes produtos. O segundo processo de produção de PMS é resultado
da lise celular (fase endógena) que libera compostos classificados como PMS.
Kuo e Parkin (1996) comprovaram que, durante o tratamento anaeróbio de esgoto, a
produção de PMS decresce com o aumento da idade do lodo até atingir um valor mínimo e,
a partir daí, volta a crescer com o avanço da idade do lodo.
32
Na Figura 3.8 é mostrado o comportamento da produção de PMSs relacionada a idade do
lodo, apontando a faixa ótima de trabalho para os tratamentos biológicos, em termos de
idade do lodo.
O interrelacionamento da idade do lodo com a biodegrabilidade do efluente de reatores
UASB é ponto fundamental para se atingir a máxima remoção de DQO.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 80
Idade do Lodo
SMP
Faixa Ideal:
Sist. Anaeróbio: ~ 25 dias
Sist. Aeróbios : 2 – 15 dias
Decaimento
endógeno
?
F/M ?
F/M
Figura 3.8 : Tempo de retenção celular na produção de PMS (Kuo e Parkin, 1996)
3.7 – BALANÇO DA DQO NA DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA
Chernicharo (1997) define as seguintes parcelas da DQO envolvidas na digestão anaeróbia:
- DQO biodegradável: aquela que pode ser degradada biologicamente (DQO
bd
).
- DQO acidificável: é a parcela da DQO biodegradável que estará realmente disponível
para a metanogênese.
- DQO CH
4
: é a parcela da DQO convertida em metano.
- DQO
AGV
: é a parcela da DQO convertida em ácidos graxos.
- DQO recalcitrante: refere-se a parcela de substrato que não pode ser degradada pelos
microorganismos fermentativos (devido a substratos complexos).
PMS
33
Na Figura 3.9 é apresentado o diagrama de balanço de DQO ao longo do processo de
degradação anaeróbio.
Figura 3.9-Diagrama de balanço da DQO ao longo do processo de degradação anaeróbia
Chernicharo (1997)
Veret et al.(2002), estudando a biodegradabilidade dos esgotos, afirma que é comum
avaliar a DQO total como a soma de dois grandes grupos, DQO biodegradável e DQO
inerte, sendo que a primeira parcela se subdivide em DQO rapidamente biodegradável e
lentamente biodegradável. A fração inerte da DQO está composta por uma fração solúvel e
outra particulada. Na Tabela 3.10 são apresentadas as participações de cada uma dessas
parcelas de DQO.
Tabela 3.10- Fracionamento da DQO (Veret et al., 2002)
2,5% Inerte Inerte
15,0% Rapidamente biodegradável DQO Rapidamente biodegradável
25,0% Rapidamente hidrolizável Solúvel
27,5% Lentamente hidrolizável Lentamente biodegradável
5,0% Biomassa: heterotróficas
desnitrificantes, heterotrófas
DQO
14,75%
desnitrificantes, autótrofas suspensa Biomassa
0,25% nitrificantes
10,0% Inerte Inerte
O conhecimento aprofundado do balanço da DQO no processo anaeróbio é de fundamental
importância para a determinação de parâmetros balizadores da operação desses sistemas,
bem como, proporcionam a possibilidade de abandonar parâmetros empíricos no
34
dimensionamento de sistemas anaeróbios, desenvolvendo parâmetros mais seguros que
expressam com mais clareza os mecanismos envolvidos nesta modalidade.
3.8 – BIODEGRADABILIDADE DE EFLUENTES DE TRATAMENTOS
ANAERÓBIOS DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS
O efluente de sistemas de tratamentos de águas residuárias ainda contém carga orgânica na
proporção inversa da eficiência do mesmo, denominada DQO residual. Esta matéria
orgânica residual contida nos efluentes é conseqüência, basicamente, da lenta
biodegrabilidade de uma parcela da matéria orgânica afluente, bem como, de falhas ou
limitações do processo de tratamento.
A DQO residual nos efluentes é função da composição da água residuária afluente e do
processo de tratamento utilizado. Esta DQO residual, se distribui na parcela particulada e
dissolvida e, de outro lado, quanto a sua origem, se distingue duas parcelas : a que já
estava presente no esgoto afluente e a que foi produzida no processo biológico de
tratamento conforme indica Orhon et. al (1989 ), na Figura 3.10.
A caracterização da DQO residual de efluentes de tratamento biológico ainda é uma
questão que merece estudos. Aquino (2003) descreve estudos acerca da caracterização de
efluentes de sistemas anaeróbios, onde os componentes orgânicos presente no efluente
foram agrupados em 12 classes de acordo com o seu peso molecular. Verificou-se que
nenhuma das 12 classes foi completamente removida no tratamento anaeróbio e 25% da
DQO efluente era compreendida de substâncias produzidas pela digestão anaeróbia,
ressaltando que os compostos aromáticos aumentaram significativamente durante o
tratamento anaeróbio. Este estudo também caracterizou os componentes presentes no
efluente de um reator UASB compartimentado, que foram:
- 6% de álcoois, compostos carboxilados e aromáticos;
- 44,5% de proteínas;
- 9,9% de carboidratos e
- 39,6 de compostos não identificados.
35
Aquino (2003) ressalta que, a despeito das dificuldades, é fundamental determinar a
origem da DQO residual de efluentes de sistemas de tratamento biológicos, tanto para
alavancar no entendimento atual dos sistemas de tratamento, quanto para subsidiar ações
de pós-tratamento.
DQO residual
Presente
No
efluente
Produzida
No sist.
tratamento
Presente
No
efluente
Produzida
No sist.
tratamento
Presente
No
efluente
Produzida
No sist.
tratamento
Presente
No
efluente
Produzida
No sist.
tratamento
Biodegradável
Não
biodegradável
Biodegradável
Não
biodegradável
Particulada
Dissolvida
Figura 3.10-Classificação do material residual em efluentes de tratamentos biológicos de
águas residuárias (Orhon et al., 1989)
36
3.8.1-Biodegrabilidade aeróbia
Como instrumento para fornecer indicações acerca de um processo de pós tratamento do
UASB, os testes de respirometria com o lodo aeróbio simulam reatores aeróbios e podem
servir para avaliar o potencial de degrabilidade pela via aeróbia.
No processo de tratamento biológico aeróbio de esgoto, o meio deve conter oxigênio
dissolvido que será utilizado na oxidação da matéria orgânica, através da respiração, pelos
microorganismos envolvidos. Estes microorganismos aeróbios consomem substrato,
produzindo energia e massa celular.
Ferreira (2002) definiu respirometria como a medida e a interpretação da taxa de
respiração do lodo aeróbico, definida como a quantidade de oxigênio que é consumida
pelos microorganismos por unidade de volume e tempo. Fornece, desta forma, indicação
da biodegrabilidade aeróbia.
De acordo com Leite e Morita (1999) as primeiras medidas respirométricas foram iniciadas
em 1880, na determinação dos gases no sangue, sendo em 1890 desenvolvido o primeiro
respirômetro para medida da demanda de oxigênio em águas residuárias. Atualmente
existem diferentes respirômetros que são largamente utilizados para análise de águas
residuárias, de processos de lodos ativados e na cinética de degradação de constituintes de
águas residuárias.
Os respirômetros consistem, basicamente, de um reator (câmara de respiração) e de um
equipamento capaz de medir a variação de oxigênio do sistema. No reator, são colocados
em contato substrato, biomassa e oxigênio dissolvido (fornecido por uma fonte externa) e o
equipamento registra o consumo de oxigênio ao longo do tempo (Ferreira, 2002). Neste
meio, a taxa de retirada de oxigênio é composta por duas partes: taxa de respiração de
substrato, que corresponde à retirada de oxigênio para degradação do substrato e taxa de
respiração do lodo (Ferreira, 2002).
r= r
s
+ r
end
(3.15)
r= taxa de respiração total (mg/L.h
-1
)
rs= taxa de respiração do substrato (exógena) mg/L.h
-1
r
end
= taxa de respiração endógena (mg/L.h
-1
)
37
Com estes dados, pode-se determinar, também, a taxa de respiração específica dada pela
equação:
r
e
= r/x (3.16)
onde r
e
= taxa específica de consumo de oxigênio mg/g.h
r= taxa de respiração mg/L.h
x= biomassa interna de SSV (g/L)
No procedimento da respirometria estão, em síntese, envolvidos os seguintes passos:
- Aerar uma porção de lodo ativo no reator (r-end)
- Adicionar substrato ao reator
- Proceder as medidas de r (mg/L.h)
As medidas respirométricas apresentam valores decrescentes até atingir um limite
constante mínimo, correspondente a r-end,, onde não há mais taxa correspondente ao
consumo do substrato. Na Figura 3.11, apresenta-se a forma comum de uma medida
respirométrica, onde a área definida entre a curva de “r” e o “r-end” corresponde ao
oxigênio consumido pela biomassa (mg/L) na degradação do substrato.
Figura 3.11 Comportamento das medidas respirométricas
-1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
tempo (h)
r (mg/(L.h)
r-simulada r-endógena
38
3.8.2-Biodegrabilidade anaeróbia
No caso da biodegrabilidade anaeróbia, a DBO não é adequada pois avalia o grau de
degradação da matéria orgânica em meio aeróbio. Para esta situação, a biodegrabilidade
anaeróbia pode ser avaliada relacionando-se com a produção de metano obtida
experimentalmente, a partir da degradação da água residuária em estudo em ensaio com a
presença de lodo e condições anaeróbias.
A biodegrabilidade anaeróbia de água residuárias pode ser definida como a fração máxima
de matéria orgânica que será eliminada por digestão anaeróbia em determinadas condições
de operação.
O ensaio de biodegrabilidade anaeróbia consiste na simulação do reator numa garrafa onde
se introduz lodo anaeróbio e uma quantidade conhecida de substrato (efluente do UASB
com sua DQO residual). A DQO degradada no interior do reator é determinada por meio
da medida do volume de metano produzido.
No ensaio de biodegrabilidade anaeróbia, segundo Colleran e Perden (2002), o principal
problema que se coloca é o de garantir a padronização das condições do teste, de maneira
tal que permita a comparação de resultados entre testes distintos. Neste aspecto, os mesmos
autores ressaltam quatro fatores principais, sendo que o primeiro é o relativo a quantidade
de biomassa, que pode ser controlada, indiretamente, pela determinação do teor de sólidos
suspensos voláteis. O segundo problema é de difícil controle, pois se refere a “qualidade”
da biomassa, ou seja, sua composição em termos de microorganismos e a proporção de
microorganismos mortos ou inviáveis no inóculo e que o ensaio de sólidos não distingue.
O terceiro problema apontado se refere a presença de compostos (orgânicos e inorgânicos)
com potencial de toxicidade em relação a alguns grupos de arqueobactérias metanogênicas.
O quarto aspecto é quanto a duração do teste, que deve ser tal a contemplar a avaliação da
capacidade integral de degradação da via anaeróbia.
Colleran e Pender (2002), concluem que o teste de degradabilidade anaeróbia é um
instrumento válido e importante, mas cuja análise e utilização dos resultados devem
acontecer com o conhecimento de suas limitações.
39
Em condições normais de pressão e temperatura, 22,4 litros de metano produzido
correspondem a 64 gramas de DQO removida. Esta relação permite estimar a fração de
matéria orgânica convertida em metano (Chernicharo et al., 1999).
O ensaio de degrabilidade anaeróbia tem como resultado o volume de metano acumulado,
produzido ao longo do tempo de observação, como ilustrado na Figura 3.12.
Figura 3.12-Curva do ensaio de degrabilidade anaeróbia adaptado de Andrade e Méndez
(2002)
Andrade e Méndez (2002) distinguem os seguintes períodos de tempo, ao longo do teste de
biodegradabilidade:
- T1 : tempo de latência, correspondente ao tempo necessário para obter-se a degradação
de 10% do substrato utilizado no ensaio;
- T2 : tempo correspondente a remoção da parcela da DQO rapidamente degradável;
- Tf : tempo necessário para a máxima degradação conseguida pela via anaeróbia;
- To : tempo final de observação, definida como sendo igual a 1,5Tf
40
A biodegrabilidade anaeróbia é definida por :
Biodegrabilidade anaeróbia (%) = 100 (CE/CT) onde
CE = volume de metano produzido experimentalmente (ml)
CT = volume teórico de metano (ml)
41
4 - MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização dos estudos propostos, optou-se pela construção de uma unidade UASB
piloto com o objetivo de se ter um melhor controle sobre as variáveis envolvidas no
processo de tratamento anaeróbio.
O trabalho desenvolvido envolveu as seguintes atividades: a montagem do UASB piloto; o
estudo do comportamento hidrodinâmico do mesmo; a investigação do processo de
tratamento na fase de “partida” e pós-partida, por meio do levantamento de dados e
parâmetros característicos; a investigação acerca da biodegrabilidade do efluente do UASB
e o balanço de massa de DQO.
Na Tabela 4.1 são apresentados os períodos de tempo e as correspondentes investigações
efetivadas no UASB, que produziram a base de dados do presente estudo.
Tabela 4.1 – Tipos de levantamentos de dados e períodos correspondentes
PERÍODOS/DATAS INVESTIGAÇÃO EFETIVADA
30/05/2004 Estudo do comportamento hidrodinâmico do UASB
1º teste com traçador colorimétrico
10/06/2004 Estudo do comportamento hidrodinâmico do UASB
2º teste com traçador inerte
29/06/2004 a 02/07/2004
Procedimentos preliminares da partida inoculação do UASB
02/07/2004 a 07/08/2004
Monitoramento da Partida do UASB
08/08/2004 a 22/10/2004
Monitoramento do período pós-partida
A seguir são apresentados os materiais e métodos empregados em cada atividade descrita.
4.1 - A INSTALAÇAO PILOTO E SEUS COMPONENTES ANEXOS
4.1.1 - Esquema Geral da Instalação Piloto
A unidade UASB piloto foi instalada na Estação de Tratamento de Esgoto Brasília Norte,
ETEB-Norte, localizando-se em área próxima aos decantadores primários, tirando proveito
dos desníveis de terreno existente.
Os componentes da instalação piloto compreendem:
42
- bomba submersível de 1/2 cv;
- linha de recalque (diâmetro de ¾” em polipropileno) de cerca de 90 metros de
extensão;
- dispositivo de controle de vazão de entrada de esgoto no UASB;
- mangueira (diâmetro de ¾”) de alimentação do UASB, ligando-se o dispositivo de
controle de vazão e o UASB;
- tubulação (PVC 75 mm) de retorno do esgoto excedente, ligando-se ao dispositivo
de controle de vazão e o canal de entrada dos decantadores da ETEB-NORTE;
- reator UASB piloto;
- dispositivo de medição do gás produzido no reator UASB;
- mangueira (diâmetro ¾”) de saída do efluente, de cerca de 12 metros até o
hidrômetro;
- hidrômetro no ponto final do efluente.
Nas Figuras 4.1 e 4.2, são apresentados o croqui de localização e uma vista geral da
instalação piloto montada para a pesquisa.
43
UASB
DESARENADOR
DECANTADOR
DECANTADOR
G
DISPOSITIVO DE
CONTROLE DE
VAZÃO
MEDIDOR DE GÁS
HIDRÔMETRO
REATORES
BOMBA
Figura 4.1-Esquema geral da instalação piloto
44
Figura 4.2-Vista geral da instalação piloto
Como pode ser observado nas Figuras 4.1 e 4.2, a instalação inicia-se com uma bomba
submersa de 1 ½ cv instalada dentro do canal de esgoto efluente do tratamento preliminar
(grades e desarenador) que se liga aos decantadores primários da ETEB-NORTE.
A partir da bomba, foi instalada tubulação de recalque em mangueira de polietileno de alta
densidade de ¾” de diâmetro, com extensão de cerca de 90 metros, até o topo do talude
que existe ao lado dos decantadores primários da ETEB-NORTE, que tem um desnível de
cerca de 5 metros acima dos decantadores. Nesta tubulação de recalque foi instalado
Dispositivo de
controle de vazão
de entrada no
UASB
Tubulação de
alimentação do
UASB
Tubulação de
saída do
efluente
Dispositivo de
medição de gás
Tubulação de
retorno de esgoto
excedente
45
registro de esfera no início e registro de gaveta no final para possibilitar a manutenção da
bomba e da linha de recalque.
No topo do talude, onde se liga a linha de recalque, foi instalado um dispositivo de controle
de vazão, que encaminha a vazão regularizada para a tubulação (mangueira ¾”) que se
conecta ao reator UASB piloto. Uma segunda saída encaminha a vazão excedente para
tubulação de 75 mm de diâmetro e extensão de 18 metros, retornando-a para o canal da
ETEB-NORTE.
O reator UASB, de 4,10 metros de altura e seção de 0,44 m x 0,44 m, conta com registros
na parede lateral, distribuídos ao longo de sua altura, para coletar amostras de lodo, e duas
saídas na parede oposta, destinada ao descarte de lodo.
Na parte superior do UASB, conectada por meio de mangueira de ¼” ao compartimento de
coleta de gases , foi instalado dispositivo de medição de gás e, lateralmente, possui saída
do efluente por meio de mangueira de ¾”, que encaminha o efluente até a borda do
decantador primário da ETEB-NORTE, conectando-se a um hidrômetro, que na sua saída
conta com mangueira de ½”, que direciona o efluente até ao canal do decantador.
4.1.2 - O reator UASB estudado
O reator UASB é o elemento central do estudo e, neste item, será descrito o seu
dimensionamento, com os parâmetros de projeto utilizados, bem como, detalhes acerca da
sua montagem e configuração final.
4.1.2.1-Dimensionamento do reator UASB
O reator UASB foi dimensionado segundo orientações de Chernicharo et al. (1999) e van
Haandel e Letinga (1994), tendo como diretriz básica trabalhar com um tempo de detenção
(TDH) de 8 horas e vazão de entrada de esgoto, constante , de 2,25 m
3
/dia.
Q = 2,25 m
3
/dia TDH = 8horas = 8/24 dias
46
Desta forma, o volume do reator é:
V = TDH . Q = 2,25 (8/24) = 0,75 m
3
Adotando a altura H= 4,00 m, temos que a seção do reator é de:
A= V/H = 2,25/4,0 = 0,1875 m
2
Como um dos objetivos é visualizar a formação da manta de lodo no interior do reator,
adotou-se uma seção quadrada para o mesmo, de maneira a possibilitar a colocação de
duas paredes opostas de vidro.
Então, o lado da seção quadrada é :
L = ( A )
½
= ( 0,1875 )
½
= 0,44 m
Nestas condições, a velocidade superficial pode ser determinada como :
v = Q/A = (2,25 /24 ) ? 0,1875 = 0,5 m/h, que está dentro da faixa de recomendada de
0,5m/h - 0,7 m/h.
Quanto aos números de distribuidores na entrada do reator, Letinga e Hulshoff Pol (1995),
citado por Chernicharo et al. (1999), indicaram parâmetros de área de influência de cada
distribuidor conforme a Tabela 4.2.
Sendo que o número de distribuidores fica determinado pela relação :
Nd = A/ A
d
Tomando o valor mais desfavorável da Tabela 4.1, A
d
= 0,50 m
2
, o número de
distribuidores fica:
Nd = (0,875/0,5) <1
47
Tabela 4.2 - Área de influência dos distribuidores- Lettinga e Hulshoff Pol (1995)
Tipo de lodo Carga orgânica aplicada
(KgDQO/m
3
.d)
Área de influência de caa
distribuidor (m
2
) A
d
Denso e floculento
(concentração > 40 KgSST/m
3
)
<1,0
1,0 – 2,0
>2,0
0,5 - 1,0
1,0 – 2,0
2,0 – 3,0
Medianamente denso e floculento
(concentração 20-40KgSST/m
3
)
< 1,0 – 2,0
>3,0
1,0 – 2,0
2,0 – 5,0
Granular <2,0
2,0 – 4,0
>4,0
0,5 - 1,0
0,5 – 2,0
> 2,0
Adotou-se, também, um dispositivo convencional de separação de fases com 1,23 m de
altura as dimensões mostradas na Figura 4.3:
Figura 4.3 Detalhe do separador de fases do UASB
A velocidade na abertura do compartimento de decantação (V’) é
V’ = Q/(1,36 . 0,04) = 1, 72 m/h
V’ < 2,0 m/h, conforme recomenda Chernicharo et al. (1999)
0,34 m
0,05m
0,28m
0,95 m
0,10
m
48
O volume do compartimento de decantação é :
V
dec
= (1,23 x 0,44x 0,44) 0,28.(0,10x0,10)-[(0,10x0,10) + (0,34x0,34)]/2
V
dec
= 0,175668 m
2
E o tempo de detenção no compartimento de decantação é:
TDH
dec
= D
dec
/ Q = 1,87 h
TDH
dec
está dentro da faixa recomendada de 1,5h – 2,0 h
A taxa de liberação de gás :
T
gas
= Q
gas
/Ai onde
Q
gas
= vazão de gás prevista e Ai = área de interface líquido/ar no coletor de gás
A estimativa de Q
gás
= 0,313 m
3
/dia
Portanto T
gas
= (0,313/24) / (0,1x0,10) = 1,3 m
3
/m
2
h
Valor este que está dentro da faixa indicada de 1,0 m
3
/m
2
h 5,0 m
3
/m
2
h
4.1.2.2-Montagem do reator UASB
O projeto e a montagem do reator UASB foi efetivada de acordo com o dimensionamento
apresentado no item anterior.
Optou-se por construir o reator em estrutura metálica, composto de 4 cantoneiras de
2”x1/4” e chapas de ferro 14 em duas paredes opostas da seção. As outras duas paredes
laterais são constituídas de vidro temperado de 12mm, assentados sobre cantoneira laterais
e presos por uma moldura de ferro chato de ¼”, fixada por meio de parafusos na
cantoneira.
49
O trabalho de confecção e montagem do UASB foi realizado pela equipe de serralheria da
Estação de Tratamento de Esgoto Brasilia Sul. Na Figura 4.4 é mostrada uma etapa da
montagem do UASB.
Figura 4.4: Etapa de montagem do reator UASB
No sistema de fixação do vidro foi utilizado silicone e fita de borracha entre os vidro e a
cantoneira ou moldura de chapa lisa, fixando-se na cantoneira por meio de 6 parafusos em
cada lado. Posteriormente, houve a necessidade de reforçar a fixação do vidro com
braçadeiras de caibros de madeira para estancar vazamentos decorrentes da alta pressão da
coluna d’água (4,0 m).
Em uma das faces de chapa metálica, foram instalados 6 coletores de amostra de lodo
confeccionados com flange, registro de esfera e joelho de diâmetro de ¾”, com as
50
seguintes espaçamentos, a partir do fundo do reator: 0,16m, 0,41m, 0,81m, 1,21m, 1,84m e
2,47 m . Na mesma face, a 0,10 m do fundo do reator, instalou-se a tubulação de entrada de
esgoto, composta de flange e registro de esfera de ½”, na qual se conecta a mangueira de
¾” proveniente do dispositivo de controle de vazão.
Na face oposta, foram instaladas duas descargas de lodos, compostas de flange, registro de
esfera e joelho de ¾” localizados , a partir do fundo do reator a: 0,15m e 0,81m.
No topo do reator, junto às bordas laterais, instalou-se o coletor de efluente, composto de
secção quadrada de 0,05m e uma saída lateral composta de flange e mangueira de ¾”.
Conta, também com retentor de escuma com altura submersa de 0,15 m.
Junto ao topo do coletor de gás do UASB, instalou-se uma campânula removível com saída
para mangueira de ¼” que se conecta ao dispositivo de medição de gás.
Na Figura 4.5 é apresentado um esquema do UASB montado para o experimento.
51
30 cm
10cm
6cm
25cm
40cm
40cm
63cm
63cm
128cm
44cm
63cm
15cm
30cm
95cm
40cm
10cm
saída
entrada
Coletores de
amostras
Figura 4.5 – Esquema de montagem do UASB
52
4.1.3 – Dispositivo de controle da vazão de entrada do UASB
O reator UASB operou com vazão constante de 2,25 m
3
/dia, tendo em vista o interesse de
ter controle sobre alguns parâmetros. Desta forma, adotou-se um dispositivo de
regularização de vazão, tendo em vista que a bomba disponível não garante a regularização
da vazão desejada.
O dispositivo de regularização de vazão é composto de uma caixa de dimensões 0,60m x
0,32m x 0,15m, contendo compartimentos internos. No compartimento de entrada, a
configuração do mesmo foi planejada para que o fluxo turbulento de entrada seja freado
por um anteparo. A saída para o compartimento seguinte se faz por meio de uma passagem
afogada, diminuindo a turbulência. O segundo compartimento, tem como objetivo, além de
contribuir para o amortecimento de alguma possível turbulência ainda existente, distribuir
o esgoto de forma uniforme no terceiro compartimento, por meio de uma saída, também
afogada.
O terceiro compartimento é maior, onde existem dois vertedores retangulares em duas
paredes opostas, com comportas reguláveis com comprimento de 0,21m e 0,06m. No
vertedor menor verte o esgoto para a tubulação de entrada no UASB e no vertedor maior
verte o esgoto excedente para a tubulação de retorno, que o encaminha ao canal da ETEB-
NORTE.
A bomba proporciona uma vazão com magnitude 5 vezes maior do que a desejada
(2,25m
3
/dia) e a calibração da vazão desejada no vertedor menor é realizada por meio da
regulagem das comporta dos vertedores, com verificação volumétrica.
Inicialmente, a proposta era de que o vertedor menor fosse triangular, de maneira a
possibilitar a medição de vazão. Porém, devido a baixa vazão (com pequeno valor de
lâmina no vertedor), obstruções por material flutuante presentes no esgoto eram freqüentes.
Portanto, optou-se por alterar o formato do vertedor, passando para retangular, conforme
descrito.
Nas Figuras 4.6 e 4.7 são mostrados o esquema e a foto do dispositivo de regularização de
vazão.
53
Figura 4.6-Esquema de montagem do dispositivo de regularização de vazão
Figura 4.7-Vista superior e lateral do dispositivo de regularização de vazão
De outro lado, apesar da calibração e checagem volumétrica sistemática da vazão, optou-se
pela instalação de um hidrômetro na tubulação de saída do efluente para verificação do
volume de esgoto tratado diariamente (2,25m
3
/dia)
Precedendo o hidrômetro, foi instalado recipiente contendo peneira fina, através da qual o
efluente passava e, após, era encaminhado ao hidrômetro. Este procedimento tinha a
função de evitar a passagem de possíveis sólidos suspensos (flocos ou material inerte) que
comprometessem o funcionamento do mecanismo do hidrômetro.
retorno
entrada
Vazão adequada ao reator
54
Utilizou-se um hidrômetro Schlumberger, de 1,5 m
3
/h, conforme mostra a Figura 4.7
Figura 4.8-Instalação de hidrômetro para medição do efluente do UASB
4.1.4-Dispositivo de Medição de Gás Produzido pelo UASB
O gás produzido no reator UASB foi objeto de medição, tendo em vista o seu interesse no
balanço de massa de DQO .
A produção diária de gás esperada pode ser estimada como :
-DQO afluente = 700 mg/L
-DQOefluente = 210 mg/L (estimando a eficiência em 70%)
-Na condições padrões de temperatura e pressão, temos que para cada grama de DQO
degradada, corresponde a 350 ml de CH
4
produzido (Chernicharo et al.,1999), portanto:
V
CH4
= (Volume esgoto L/dia) x (DQOdegradada/1000) x (0,350)/
V
CH4
= (2250 x [(700-210)/1000]) x 0,350
V
CH4
= 385 L/dia
55
A partir desta estimativa de produção diária de gás, que é de uma magnitude considerável,
optou-se pela instalação de um medidor de gás.
Após pesquisa e consulta a fabricantes, optou-se pela adoção do medidor de gás LAO G1,
destinado a medição de gás GLP em condomínios. Apesar do biogás produzido pelo UASB
conter elementos corrosivos ao mecanismo do medidor, o fabricante avaliou que não
ocorreriam problemas no período da pesquisa, bem como, informou que o mesmo
equipamento tem sido utilizado em experimentos similares medindo biogás.
Na Figura 4.9 é mostrado o medidor de gás utilizado no experimento.
Figura 4.9: Medidor de gás LAO G1
O medidor de gás foi acoplado em recipiente plástico com tampa, para proteção, e fixado
no quarto lance de andaimes próximo ao topo do reator UASB, conforme é mostrado na
Figura 4.10.
56
Figura 4.10: Instalação do medidor de gás
4.2 - ESTUDO DO COMPORTAMENTO HIDRODINÂMICO DO REATOR UASB
Como parte dos procedimentos iniciais do experimento, realizou-se verificação do
comportamento hidrodinâmico do reator UASB piloto montado, para identificar possíveis
problemas ou fatores externos que deverão ser levados em consideração no experimento
proposto.
Dantas et al. (2000) ressalta que todos os processos biológicos de tratamento de esgoto
ocorrem num reator e, portanto, num volume definido por limites físicos específicos, sendo
de extrema importância o seu conhecimento hidrodinâmico, a fim de estabelecer os
regimes de fluxos (tempo de permanência real) e detectar a presença de anomalias do fluxo
no aparato do processo (detecção de zonas mortas, canais preferenciais, curto-cicuitos, etc)
que reduzem a eficiência do reator.
O conhecimento do comportamento hidrodinâmico do reator contribuirá para identificação
das origens de possíveis problemas (construtivos ou operacionais), permitindo a definição
de ações para a correção/minimização dos mesmos.
57
Os traçadores disponíveis são de mais variados tipos (colorimétrico, radioativos,
condutivimétricos, etc), dependente do objetivo a ser investigado. No caso presente, do
reator UASB, lançou-se mão de dois tipos de traçadores com objetivos distintos, descritos
a seguir.
No primeiro teste utilizou-se um traçador colorimétrico, o azul de metileno, que permitiu a
observação visual e o registro fotográfico da evolução do fluxo no interior do reator (que
conta com paredes de vidro) ao longo do período teórico de detenção hidráulica.
No UASB, um dos fatores importantes é a garantia de um bom grau de mistura na base
(entrada), proporcionando o intenso contato do esgoto com a biomassa (leito/manta de
lodo), desta forma, este aspecto foi observado com o traçador colorimétrico, além da
identificação de possíveis curto-cicuitos ou caminhos preferenciais.
No segundo teste utilizou-se uma substância inerte, no caso o cloreto de sódio, numa
quantidade adequada, que foi misturada ao volume de água no reator e avaliou-se o perfil
de concentração deste traçador na saída do mesmo, como indica van Haandel e Lettinga
(1994). Para tanto, mediu-se a concentração do sal na solução efluente do reator, em
intervalos regulares a partir da mistura do sal.
Neste teste utilizou-se 7,0 kg de sal de cozinha dissolvidos no volume de água do reator
(0,75 m
3
) e a medida da concentração do sal foi realizada de forma indireta, por meio da
medida da condutividade elétrica da solução efluente, por meio do condutímetro Schott
LF1 , que mede a condutividade elétrica e a temperatura.
Para efetivar a correlação entre a condutividade e a concentração do sal utilizado, foi
determinada a curva condutividade versus concentração de sal por meio da medição da
condutividade para diversos valores de concentração de sal conhecidos. Na Figura 4.11 é
apresentada a curva que mostra a correlação destes dois parâmetros para o sal de cozinha,
utilizado no teste.
58
Sal cisne
y = 14,007x + 12,431
R
2
= 0,9912
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
concentração (g/L)
condutividade (µS/cm)
Figura 4.11-Curva concentração x condutividade elétrica para o sal utilizado
Neste segundo teste, o objetivo foi o de terminar a distribuição do tempo de permanência,
que possibilitará a avaliação do grau de mistura no reator e a fração do volume morto no
mesmo.
Na Figura 4.12 é apresentado um esquema mostrando o perfil teórico de um traçador num
reator de fluxo em pistão e de mistura completa. No caso real do UASB, o comportamento
hidrodinâmico se situará entre estes dois extremos.
Fluxo em pistão Mistura completa
Figura 4.12- Perfil teórico de traçador em função do tempo
T
T
C (mg/l)
C (mg/l)
59
O tempo médio de permanência, segundo van Haandel e Lettinga (1994) é definido como o
período necessário para que metade de uma massa de traçador adicionada seja recuperada
no efluente.
4.3-INVESTIGAÇÃO DO PROCESSO DE TRATAMENTO NO UASB PILOTO
A investigação do processo de tratamento do reator UASB se deu por meio do
monitoramento (levantamento de dados) da fase inicial de partida do reator e da fase
posterior, estacionária. No presente item, descreve-se os dados levantados e a metodologia
de obtenção dos mesmos, bem como, o monitoramento da fase de partida e estacionária do
reator.
4.3.1-Dados componentes do monitoramento do UASB
A seguir, descreve-se o conjunto de parâmetros e ensaios componentes do monitoramento
do processo de tratamento de esgoto no UASB, sendo que os ensaios foram realizados de
acordo com as recomendações do Standart Methods (APHA et al.,1995) e foram realizados
no laboratório da ETEB-NORTE.
Metano produzido
O biogás produzido no processo de tratamento do UASB era medido automaticamente pelo
medidor de gás LAO G1, integrante da instalação piloto e que foi instalado no dia
30/07/2004. A leitura do volume acumulado de biogás medido foi realizada diariamente,
sempre as 8 horas.
A avaliação da quantidade de metano presente no biogás foi realizada por meio de ensaio
indicado por van Haandell e Letinga (1994), que consistia em fazer um volume conhecido
de biogás atravessar uma solução alcalina (NaOH 5%), sendo que o volume de metano
resultante era medido por deslocamento do líquido, conforme esquema apresentado na
Figura 4.13.
60
Figura 4.13- Ensaio para determinação do volume de metano presente no biogás
Um volume conhecido de biogás é injetado em uma mangueira fina, conectada à tampa de
uma garrafa com solução alcalina (NAOH-5%) (garrafa com tampa para baixo) fazendo
com que o biogás atravesse a solução onde o CO
2
é retirado e o metano sobe na fase
gasosa, expulsando o volume equivalente de solução, determinando-se o volume de
metano presente no biogás
Vazão:
Foi adotada vazão constante durante todo o experimento, sendo que esta vazão era
controlada/monitorada por meio de verificação volumétrica contando com uma proveta de
2000 ml, de maneira sistemática durante o dia, adotando-se medidas corretivas, quando
necessárias, geralmente relacionadas a retirada de material flutuante depositado no
vertedor do dispositivo de controle da vazão de entrada do UASB. Adicionalmente,
utilizou-se um hidrômetro na mangueira de saída do efluente do reator UASB com o
objetivo de verificar o volume diário de esgoto tratado.
Produção de material flutuante no topo do reator
Solução de
NaOH a
5%
Volume
conhecido
de biogás
61
Procedeu-se a medição diária, sempre as 8 horas, de volume e peso do material flutuante
no topo do reator UASB, recolhido com escumadeira que, posteriormente, era descartado.
Temperatura
A temperatura era obtida diretamente no reator, por meio do condutímetro portátil Schott
Handlab LF, que também mede a temperatura. A medida era tomada na lâmina de esgoto
do topo do reator UASB.
pH
O pH era medido imediatamente após a coleta da amostra (entre 14 e 15 horas), no
equipamento pHmetro modelo 310 da Jundilab .
DQO e DQO filtrada
Os ensaios de demanda química de oxigênio total e filtrada foram realizadas
preferencialmente no mesmo dia da coleta das amostras ou acidificadas e preservadas sob
refrigeração à temperatura de 4
o
C dentro de período de até 7 dias até o ensaio. Utilizou-se
filtro à vácuo, oxidação com dicromato (refluxo fechado), espectrofotômetro (Hach). As
coletas de amostras (simples) eram realizadas no período entre 14 h e 15 h.
DBO e DBO filtrada
Os ensaios de demanda biológica de oxigênio foram realizadas até 24 horas após a coleta,
sendo que as amostras foram preservadas sob refrigeração à temperatura de 4
o
C. Foi
utilizado o Método das diluições. As coletas das amostras (simples) eram realizadas no
período entre 14 h e 15 h.
Alcalinidade, Ácidos voláteis
Para a alcalinidade (parcial e intermediária) e ácidos voláteis foi utilizado o método KAPP
e os ensaios foram realizados até 24 horas após a coleta.
62
Nitrogênio
No presente estudo o interesse foi o nitrogênio Kjeldhal total. Preferencialmente, o ensaio
era realizado imediatamente após a coleta da amostra ou estas eram acidificadas e
preservadas sob refrigeração até o prazo de 3 dias. As coletas de amostras eram realizadas
no período de entre 14 h e 15 h.
Sólidos
Os ensaios de sólidos suspensos, sólidos totais, sólidos voláteis totais e sólidos
sedimentáveis foram realizadas com amostras preservadas sob refrigeração à 4
o
C, no
prazo de até 7 dias. As coletas de amostras eram realizadas no período de entre 14 h e 15 h.
4.3.2-Partida e estabilização do UASB
A partida do reator UASB piloto foi realizada no dia 29/06/04 utilizando lodo de inóculo
da Estação de Tratamento de Esgoto Brasília Norte, que contém um digestor como parte
integrante do seu processo de tratamento.
O procedimento de partida de um reator anaeróbio corresponde a um período transiente
inicial, marcado por instabilidades operacionais onde se processa a adaptação da biomassa
com o esgoto, até o alcance das condições de equilíbrio do sistema (condições
estacionárias).
O volume teórico necessário de lodo de inóculo a ser utilizado na partida é função da carga
biológica, ou seja, a relação da carga orgânica e a biomassa. Neste caso, estimou-se este
volume :
-carga orgânica aplicada (Lo):
Lo = Vazão x DQO = 2,25 m
3
/d x 0,600kgDQO/m
3
=1,35 KgDQO/d
-Massa de inóculo necessária :
Mi = Carga orgânica aplicada/carga orgânica admissível
adotando carga orgânica admissível = 0,15 temos
Mi = 1,35 / 0,15 = 9,0 kgSVT
-Volume inóculo necessário:
63
Vi = Mi /(densidade lodo x concentração lodo)
Concentração de sólidos voláteis totais =15 kg/m
3
:
Vi = 9,0/15 = 0,60 m
3
de lodo inoculo
Como o volume do reator é de 0,75 m
3
, constatou-se que o volume de lodo de inóculo, de
0,60 m
3
, era muito alto para a instalação piloto, representando 80% de seu volume.
Avaliou-se que seria conveniente utilizar um volume de lodo de inóculo de, no máximo,
30% do volume do reator e adotou-se um volume de 0,225 m
3
de inoculo.
Na operação da partida foram, em grande medida, efetuados os procedimentos indicados
por Chernicharo et al. (1999):
- transferiu-se o lodo de inóculo para o reator;
- deixou-se em repouso por um período de 24 horas para a sua adaptação a temperatura
ambiente;
- alimentou-se o reator com esgoto até atingir a 3/4 do seu volume útil;
- deixou-se em repouso por 24 horas e, após, coletou-se amostra do sobrenadante e
realizou-se análises dos parâmetros: pH, temperatura e ácido voláteis, verificando se
estavam dentro dos valores aceitáveis: pH entre 6,8 e 7,4 e AVT < 200 mg/l;
- deixou-se em repouso por mais 24 horas e procedeu-se novos exames;
- preencheu-se o reator com esgoto ;
- deixou-se repousar por mais 24 horas e procedeu-se os exames indicados;
- iniciou-se a aplicação de metade da vazão de projeto por 4 semanas até observar-se a
estabilidade do processo.
Nesta fase de partida, segundo Bezerra et al .(1999), o reator UASB funciona inicialmente
como um decantador, removendo a matéria orgânica por processos físicos de sedimentação
e somente iniciando mais ativamente o processo biológico, após estabelecidas
adequadamente as populações bacterianas para a digestão anaeróbia. Durante este período
a remoção da DQO deve ser baixa, crescendo progressivamente até próximo ao valor
teórico esperado de 76%. Segundo Chernicharo (1997), uma partida efetuada com inóculo
de lodo, bem sucedida, reduz o período de tempo necessário à estabilização, situando-se
em torno de 4 semanas.
64
Neste período de 4 semanas instalou-se rotina de monitoramento indicada na Tabela 4.3
que foram realizados de acordo com o que prescreve o Standart Methods (APHA et
al.,1995), conforme já descrito.
Tabela 4.3 - Rotina de monitoramento durante a partida do UASB
FREQUÊNCIA DE AMOSTRAGEM
PARÂMETRO AFLUENTE REATOR EFLUENTE
Biogás - Diária -
Temperatura Diária Diária -
pH Diária Diária -
Alcalinidade bicarbonato 1 x semana - 1 x por semana
Ácido voláteis 1 x na semana - 1 x na semana
Sólidos sedimentáveis 1 x por semana - 1 x por semana
Sólidos suspensos 1 x por semana - 1 x por semana
Sólidos totais 1 x na semana 1 x na semana 1 x na semana
Sólidos voláteis totais 1 x na semana 1 x na semana 1 x na semana
DQO total 1 x na semana - 1 x na semana
DQO filtrada 1 x na semana - 1 x na semana
DBO 1 x na semana - 1 x na semana
DBO filtrada 1 x na semana - 1 x na semana
NTK quinzenal - quinzenal
4.3.3-Monitoramento da fase estacionária do UASB
Tendo em vista os objetivos de realizar o balanço de DQO, o acompanhamento das
condições operacionais e a determinação de parâmetros cinéticos, foram realizadas análises
laboratoriais levantando vários parâmetros, indicados na Tabela 4.4, que seguiram as
especificações do Standard Methods (APHA et al.,1995), com exceção do AGV, que será
adotado o método Kapp conforme descrição de Cavalcanti e van Haandel (2000).
No caso do lodo do reator, as amostras foram coletadas nos seis pontos de amostragem e
foram importantes para quantificação do lodo no interior do reator e determinar a taxa de
65
produção de lodo, que contribuiu para a definição do período e freqüência de descarte de
lodo (idade do lodo).
Tabela 4.4 - Rotina de monitoramento do UASB
FREQUÊNCIA DE AMOSTRAGEM
PARÂMETRO AFLUENTE REATOR EFLUENTE
Temperatura Diária Diária -
PH Diária Diária -
Alcalinidade bicarbonato Diária Diária Diária
Ácido voláteis - 3 x na semana 3 x na semana
Sólidos sedimentáveis 3 x na semana 3 x na semana 3 x na semana
Sólidos suspensos 3 x na semana 3 x na semana 3 x na semana
Sólidos totais 3 x na semana 3 x na semana 3 x na semana
lidos voláteis totais 3 x na semana 3 x na semana 3 x na semana
DQO total 3 x na semana - 3 x na semana
DQO filtrada 1 x na semana - 1 x na semana
DBO 1 x na semana - 1 x na semana
DBO filtrada 1 x na semana - 1 x na semana
NTK Quinzenal - quinzenal
Este levantamento de dados teve o objetivo de :
- monitorar o processo de tratamento do UASB, determinando as condições ótimas de
sua operação e;
- obtenção de dados, que foram submetidos a tratamento estatístico para possibilitar o
estudo dos parâmetros cinéticos envolvidos no processo, notadamente a produção de
lodo.
Análise do lodo descartado
Como componente do balanço de massa, o lodo descartado foi quantificado (volume) e
realizadas análises de sólidos totais e sólidos voláteis totais.
Medição do gás produzido
66
O dispositivo de medição de gás produzido possibilitou a leitura diária do volume de gás
produzido. A produção de CH
4
será correlacionado a sua correspondente DQO digerida,
no balanço de DQO.
Quantificação de material flutuante no topo do reator
Diariamente, foi realizada a quantificação de material flutuante presente no topo do reator.
4.4-AVALIAÇÃO DA BIODEGRABILIDADE DO EFLUENTE DO UASB PILOTO
Existem várias alternativas de pós-tratamento de reatores UASB que envolvem tratamento
biológico tanto aeróbios como anaeróbios. Dependendo das condições locais e dos
objetivos específicos de cada situação, um ou outro tipo é mais adequado. Neste sentido,
realizou-se a avaliação da biodegrabilidade aeróbia e anaeróbia do efluente do UASB
piloto do presente experimento, que passamos a descrever nos itens seguintes.
4.4.1-Biodegrabilidade aeróbia
Um componente importante do estudo é a avaliação da biodegradabilidade aeróbia do
efluente do UASB, que busca, além de caracterizar o efluente, objetiva estimar a
potencialidade da adoção de sistemas aeróbios de pós-tratamento. Esta avaliação da
biodegrabilidade aeróbia foi realizada por meio de análises respirométricas do efluente.
A análise respirométrica, utilizando lodo aeróbio (de retorno do sistema lodos ativados) da
própria Estação de Tratamento de Esgoto Norte, foi realizada para sete amostras do
efluente do UASB (dias 17/09, 01/10, 06/10, 11/10, 18/10, 04/11 e 06/11), determinando
as taxas de consumo de oxigênio dissolvido. Este conjunto de dados foram comparados
com o correspondente anaeróbio, com o objetivo de comparar o potencial de
biodegrabilidade. Nas Figuras 4.14 e 4.15 apresentam-se o desenho esquemático da
montagem dos equipamentos para a respirometria e o registro fotográfico de um dos
ensaios.
67
Figura 4.14-Desenho esquemático da montagem dos equipamentos para respirometria
(Ferreira, 2002)
Figura 4.15-Registro do ensaio de respirometria
4.4.2-Biodegrabilidade anaeróbia
O efluente do UASB apresenta uma carga orgânica residual, a ser tratada em uma etapa
posterior, que tem como causas a própria limitação do processo anaeróbio nas condições
estabelecidas para o processo de tratamento (pH, temperatura, TDH, etc) e/ou as falhas de
68
duas natureza, as de concepção (separador de fase ineficiente, taxas de aplicação elevadas,
etc) ou operacionais (estratégia equivocada de descarte de lodo, etc).
De qualquer maneira, esta DQO residual deverá ser objeto de tratamento complementar
posterior e a avaliação da biodegrabilidade desta parcela do efluente do UASB é
importante para avaliar a eficiência do próprio reator, bem como, dar indicações das
potencialidades da adoção de sistemas anaeróbios de pós-tratamento.
Utilizou-se a metodologia indicada por Haandel e Lettinga (1994), complementada por
orientações de Chernicharo et al.(1999) e adaptações de ordem prática, indicadas na
descrição dos passos do procedimento do ensaio. Basicamente, o ensaio da
biodegrabilidade anaeróbia consiste na simulação das condições de um reator anaeróbio,
por meio de uma garrafa com lodo anaeróbio onde se adiciona o efluente do UASB. No
processo de digestão anaeróbia que se estabelece no interior da garrafa (reator) é produzido
metano e outros gases (biogás), sendo que o metano tem uma correspondência com a DQO
degradada. Este biogás é encaminhado a uma segunda garrafa, com a tampa para baixo e
contendo solução alcalina, por meio de uma mangueira fina. O biogás, atravessando a
solução alcalina, o CO
2
ficará dissolvido e somente o metano será encaminhado para a
parte superior da garrafa, expulsando o volume correspondente de solução, que é objeto de
medição de volume por meio de uma proveta. Na Figura 4.16 é mostrado o esquema de
montagem do ensaio.
O volume de solução expulso da segunda garrafa representa o volume de metano
produzido ( no caso de utilizar uma solução com pH alto) e, por meio da equação 4.1, já
apresentada anteriormente, estima-se a concentração de DBO biodegradável
anaeróbicamente.
S = 2,86 x (VS/V
1
) = 2,86 x V
CH4
[PCH4 x 273/ (273 + t)]/ V
1
(4.1)
onde:
S= concentração da DQO digerida no reator
Vs= volume do metano produzido sob condições padrões
VCH4 = volume do metano produzido sob as condições do experimento
P = pressão do metano sob condições do experimento
69
t = temperatura (ºC)
V
1
= volume da amostra
Figura 4.16-Esquema de montagem do teste de biodegrabilidade anaeróbia
No presente estudo, montou-se um pequeno aparato para este ensaio para realizar,
simultaneamente, o teste com a amostra de efluente do UASB e o teste branco. Este
aparato era composto de dois suportes para as garrafas de 1 litro com solução alcalina
(com tampa para baixo) e duas garrafas de 2,5 litros para conter o lodo e o segundo
componente da mistura (efluente ou água, no teste em branco). As garrafas tinham rolha
de silicone e interligadas, a cada par, por meio de uma mangueira 3/16” com agulhas finas,
Gelco 22, sendo que nas garrafas de solução alcalina a agulha de entrada posicionava-se
na fase líquida. Nas garrafas com solução alcalina colocou-se uma segunda agulha mais
grossa, Gelco 14, conectada a uma mangueira que foi fixada com seu topo acima do nível
da solução, onde foi colocada a proveta de modo a receber o liquido expulso durante o
teste.
Garrafa I
Esgoto + lodo
anaeróbio
Garra
fa II
Solução
alcalina
Volume de
Solução
expulsa da
garrafa II
Metano antes
do teste
biogás
70
Procedeu-se os seguintes passos para execução dos ensaios:
- coletou-se 3,8 litros de lodo anaeróbio, colocou-se em cada uma das duas garrafas de
capacidade de 2,5 litros, 1,6 L de lodo e deixou-se em encubadora, a 20
o
C, para
aclimatação por 24 horas;
- duas horas antes do teste colocou-se as garrafas com solução de NaOH a 5% nos
suportes , na posição do ensaio (tampa para baixo) com o objetivo de que no período de
duas horas o equilíbrio entre o nível de solução na parte interna do frasco e na
mangueira se estabelecesse;
- procedeu-se a inserção de 0,500 l de efluente do UASB em uma das garrafas de 2,5
litros e 0,500 litros de água na segunda garrafa;
- tapou-se as garrafas e, por meio de um cano metálico fino que atravessava a rolha de
silicone até o fundo das garrafas com lodo, foi introduzido biogás coletado do UASB,
procurando saturar a mistura de lodo com biogás e expulsar o ar (O
2
) presente no “head
space” da garrafa;
- selava-se a entrada do cano metálico utilizado para introdução do biogás;
- verificava-se se não havia uma sobrepressão dentro das garrafas de lodo, introduzindo
as pontas das mangueiras (agulha) em recipiente com água;
- inseria-se a agulha das pontas das mangueiras de saída das garrafas com lodo nas
garrafas com solução alcalina correspondente;
- aguardava-se alguns minutos para que, novamente, o nível de solução nas mangueiras
de saída dos frascos com solução alcalina se equilibrassem e era marcado este nível
com fita adesiva;
- colocava-se o aparato na incubadora à temperatura de 20
o
C por 48 horas;
- ao longo das 48 horas era anotado os níveis de solução em cada proveta (amostra e
branco), até que este valor se estabilizasse (devendo-se computar também a parcela de
solução acima da marca de nível na mangueira).
Na Figura 4.17 é apresentado o registro fotográfico que ilustra este ensaio.
71
Figura 4.17 - Registro do ensaio de degrabilidade anaeróbia
A degradabilidade anaeróbia, segundo Baumann e Muller (1997) pode, também, ser
determinada pela seguinte relação:
-quantidade de moléculas de metano (mol):
?
CH4
=(DQO amostra)/(64 g/mol)
-Volume teórico de metano nas condições do teste:
V
CH4-teórico
= ( ?
CH4
x R x T ) / p (4.2)
Onde :
R=constante dos gases
T = Temperatura do gás
p = pressão atmosférica em laboratório
Desta forma a biodegrabilidade é expressa (em porcentagem) da seguinte forma:
Biodegrabilidade (%) = (V
CH4-teste
- V
CH4-branco
) / V
CH4teórico
(4.3)
Foi adotado 48 horas como o período de observação do ensaio de biodegrabilidade
anaeróbia. Este período de tempo foi definido em função de duas ponderações, a primeira
72
relativa ao objetivo da investigação, que é o de contribuir para a indicação de um pós
tratamento do UASB e, portanto, não teria sentido avaliar períodos muitos largos, pois
seriam incompatível com os processos anaeróbios posteriores.O segundo aspecto é o de
que, conforme colocado no item 3.8.2, a parcela de DQO rapidamente degradável (T1-T2)
deve ser curta, tendo em vista que o objeto da investigação (efluente do UASB) já passou
por um processo de tratamento. Desta maneira, avaliou-se que o período de 48 horas seria
adequado aos objetivos da investigação.
Foram realizados dezoito ensaios ao longo do período final do experimento, porém,
somente sete ensaios foram validados, que corresponderam aos dias: 17/09, 01/10, 11/10,
11/10, 18/10, 04/11 e 06/11.
4.5-BALANÇO DE MASSA DE DQO
Os dados relativos a DQO do afluente e efluente do UASB, do metano produzido e da
produção de lodo, de um dado período (definido por uma semana) sofreram tratamento
estatístico de modo a determinar os valores típicos médios e avaliar o balanço de massa,
em termos de DQO no período. Na Figura 4.18 é apresentado o desenho esquemático do
balanço de massa no reator.
Figura 4.18-Desenho esquemático do balanço de massa de DQO no reator
REATOR
DQO-afluente
DQOlodo
DQO-efluente
DQO
-
afluente
DQO
CH
4
DQO
lodo
73
Para a determinação da componente de DQO relativa à massa de lodo, utilizou-se na sua
conversão, a relação indicada por Chernicharo (1997) de 1,14 kg DQO lodo/kg SST.
O balanço de DQO objetiva integrar os parâmetros investigados (cinéticos e outros), no
sentido da sua validação, bem como, auxiliar na compreensão processo de digestão
anaeróbia desenvolvido no interior do UASB
74
5-APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O presente experimento produziu uma gama de dados que permitiram a determinação de
vários parâmetros. A discussão desses resultados será realizada neste capítulo em seis
partes: verificação do comportamento hidrodinâmico do reator UASB; monitoramento da
fase de partida do reator; resultados do monitoramento da fase pós partida do UASB, o
balanço de massa de DQO no reator UASB piloto; avaliação da biodegrabilidade do
efluente do UASB piloto e monitoramento do material flutuante.
5.1- COMPORTAMENTO HIDRODINÂMICO DO REATOR UASB PILOTO
No mês de junho/2004 foram realizados os testes previstos com traçadores, cujo objetivo
era o de fazer inferências acerca do comportamento hidrodinâmico do reator UASB, de
modo a certificar-se de sua validade para o presente estudo.
Foram realizados dois testes com traçadores, o primeiro utilizando traçador colorimétrico
(azul de metileno) e o segundo utilizando material inerte, o cloreto de sódio.
No teste com cloreto de sódio, realizado conforme metodologia descrita no item 4.2,
adicionou-se 6,0 kg de sal de cozinha (cloreto de sódio comercial) ao volume de água no
reator. Nestas condições, a concentração estabelecida no início do ensaio é:
Csal (g/L) = 6.000 g sal / 750 L
Csal = 8,0 g/L
Esta maneira de fazer o ensaio, significa que o volume da solução do traçador fica sendo o
volume do próprio UASB, facilitando a operacionalização dos procedimentos de início do
teste. Assim as curvas teóricas da evolução do traçador em sistemas com regime de fluxo
pistão e mistura completa são os indicados na Figura 5.1.
75
Figura 5.1 Comportamento teórico do traçador nas condições estabelecidas no teste
No ensaio realizado, os dados de concentração foram medidos de forma indireta, conforme
estabelecido no item 4.2, por meio da medida da condutividade elétrica do efluente. A
relação entre a condutividade e a concentração de sal foi determinada em laboratório como
sendo:
Cond = 14,989 x concentração (g/L) + 2,717
Os resultados do ensaio estão apresentados na Figura 5.2.
Figura 5.2 Curva concentração de sal x tempo do ensaio de traçador
8, 0 g/L
TDH
8, 0 g/L
TDH
REATOR FLUXO PISTÃO
REATOR MISTURA COMPLETA
420 min = 7,0 h
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
0 500 1000 1500 2000
TEMPO (min)
CONCENTRAÇÃO DE SAL (g/L)
420 min = 7h
76
Observa-se na curva concentração de sal x tempo, do ensaio, que a mesma se configura
como uma combinação entre as características de um sistema fluxo pistão e de mistura
completa, conforme era esperado, preponderando a configuração de um sistema em
regime de mistura completa,
Observa-se, também, que o ponto em que 50% do traçador foi recuperado no efluente, se
deu no tempo de 420 minutos (7,0 horas). Segundo van Haandel e Lettinga (1994) este
período corresponde ao tempo real de permanência (TRP).
Do resultado, despreende-se que, quanto ao grau de mistura, o reator piloto configura-se
dentro dos padrões normais deste tipo de unidade e, em segundo lugar, que o tempo real de
permanência é 7 horas, indicando que o volume útil do reator é de :
Vútil = 7,0 x Q = 7,0 x ( 2,25/24) = 0,65625 m
3
Ou seja, constatou-se nas condições do ensaio, que existe um volume “morto” de :
Vmorto = 100 (Vútil/Vreator)*100 = 12,5 %
Esta porcentagem de volume morto está dentro das expectativas, segundo van Haandel e
Lettinga (1994), indicando que o reator está bem projetado.
O ensaio com traçador colorimétrico, o azul de metileno, objetivou a observação visual do
fluxo do líquido no interior do reator. Injetou-se na tubulação de entrada do reator, 2,0
litros de solução de água com azul de metileno e registrou-se o fluxo do traçador ao longo
do período de detenção, por meio fotográfico e audio-visual.
No teste, foi observado que na base do reator a entrada da vazão proporciona um bom grau
de mistura e distribuição de fluxo bastante homogênea, como é desejável que aconteça
neste tipo de unidade, onde o esgoto deve ter um bom contato com a manta de lodo na
entrada.
77
Outro aspecto observado foi a evolução do fluxo ao longo da altura do reator, verificando-
se que este se processou de forma uniforme, não apresentando curto-cicuitos ou caminhos
preferenciais.
Na Figura 5.3, registrou-se um momento da evolução do fluxo do traçador colorimétrico,
onde se observa sua uniformidade, no caso, com o fluxo na altura do separador de fases.
Figura 5.3 Registro do ensaio do traçador colorimétrico.
5.2-MONITORAMENTO DA FASE DE PARTIDA DO UASB
A fase de partida do UASB é definida como o tempo necessário para se obter uma
qualidade do efluente praticamente constante e uma massa de lodo que não varia nem
78
quantitativamente, nem qualitativamente com o tempo, segundo van Haandel e Letinga
(1994).
No presente estudo, convencionou-se que o período de partida, que é objeto de análise
específica, se situou do início da operação até o dia 06/08/2004, que indicou uma qualidade
do efluente dentro das expectativas deste tipo de tratamento.
A partida do reator UASB foi iniciada no dia 29 de junho de 2004, procedendo-se a fase de
inoculação/observação que decorreu ao longo do período de 29/06 a 02/08, conforme
metodologia descrita no item 4.3.2. Neste período, os parâmetros de estabilidade realizadas
com o sobrenadante indicaram valores dentro da faixa aceitável: pH entre 6,8 e 7,4 e
ácidos voláteis abaixo de 200 mg/L.
A partir do dia 02/07/04, iniciou-se a aplicação de metade da vazão de projeto (1,125
m
3
/dia), permanecendo até o dia 30/07. No período de 30/07 à 06/08, aplicou-se 80% da
vazão de projeto (1,8m
3
/dia) e, após o dia 06, aplicou-se a vazão integral (2,25m
3
/dia),
finalizando a fase convencionada de “partida”.
Neste período de partida, as determinações de carga orgânica, sólidos, ácidos voláteis,
alcalinidade, pH, temperatura, além de outros dados complementares, foram realizadas
semanalmente, às sextas feiras, nos dias 08/07, 16/07, 23/07, 30/07 e 06/08.
Os resultados de carga orgânica e eficiência de remoção são apresentados na Tabela 5.1 e
Figura 5.4.
Tabela 5.1-Dados de carga orgânica na partida do UASB
DQO FILTRADA E(%) bruta
SEM.
DATA
DQO (mg/l)
E DBO (mg/l)
E DQOf
(mg/l)
E (%)
DQOeflu-
filtrada/
AFLU
EFLU
(%)
AFLU
EFLU
(%)
AFLU
EFLU
DQOaflu
08/jul 694
485
30,1
420
300 28,6
398
310
22,1
55,3
16/jul 738
428
42,0
380
220 42,1
369
238
35,5
67,8
23/jul 682
327
52,1
420
220 47,6
362
235
35,1
65,5
30/jul 806
251
68,9
474
180 62,0
356
213
40,2
73,6
06/ago 1012
478
52,8
560
240 57,1
335
188
43,9
81,4
79
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
SEMANA
EFICIÊNCIA (%)
DQO DBO
Figura 5.4 Eficiência de remoção de carga orgânica na partida
Da observação dos dados levantados, nota-se que a evolução da remoção de carga orgânica
foi contínua, passando de 30,1% no início, para 68,8%, em termo de DQO, e de 28,6%
para 62,0%, em termos de DBO, após cinco semanas de operação
A evolução da remoção da carga orgânica verificada nos levantamento foi o dado que
apontava que o processo de tratamento no reator havia atingido um patamar satisfatório e
foi identificado, aquela altura do experimento, como o fim da etapa de partida. Avaliação
posterior colocou em dúvida esta afirmação e será objeto de discussão no item 5.3.
De outro lado, os dados levantados acerca dos sólidos apontaram os resultados
apresentados na Figura 5.5.
Observa-se que a quantidade de sólidos, tanto o total como os voláteis totais
permaneceram, praticamente, no mesmo patamar, não apresentando alterações
significativas ao longo das cinco semanas iniciais da fase de partida
A massa de sólidos totais ficou no patamar de 2600 g, enquanto a massa de sólidos voláteis
totais ficou no patamar de 2000 g, sofrendo uma leve redução da terceira à quinta semana.
80
Figura 5.5- Evolução da massa de sólidos totais e voláteis totais na partida
No caso dos sólidos suspensos, a variação ao longo da fase de partida também
acompanhou o mesmo comportamento dos sólidos totais. Na Figura 5.6 é apresentado o
gráfico de evolução dos sólidos suspensos.
Figura 5.6- Evolução dos sólidos suspensos na partida do UASB
A análise global do comportamento dos sólidos (total, voláteis total e suspensos), na etapa
convencionada de partida, leva-nos a algumas reflexões. A expectativa era de que
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
08/jul 13/jul 18/jul 23/jul 28/jul 02/ago
DIAS PESQUISADOS
MASSA DE SÓLIDOS NO REATOR
(g)
ST SVT
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
08/jul 13/jul 18/jul 23/jul 28/jul 02/ago
DIAS PESQUISADOS
MASSA DE SÓLIDOS SUSPENSOS
(gSST)
81
ocorresse um progressivo aumento da massa de sólidos no reator, porém verificou-se que,
de forma geral, este parâmetro permaneceu estável.
Ressalta-se que no início da partida foi utilizada uma massa de sólidos, contida no inóculo,
de cerca de 3,4 kg (0,225m
3
de lodo com concentração de 15kg SST/m
3
) e observa-se que
a massa de sólidos ficou abaixo desse valor, mostrando que houve perda de sólidos na fase
inicial da partida.
A hipótese que pode explicar este fato é de que parte do lodo foi “lavado” do reator UASB
no âmbito de um processo de seleção/adaptação dos microorganismos ao meio, por um
grande período de tempo que extrapolou até mesmo o período convencionado como
“partida” do reator.
Nas Tabelas 5.2 e 5.3 são apresentados os dados levantados para alcalinidade, ácidos
voláteis, pH, e temperatura .
Tabela 5.2 Valores de alcalinidade e acidez no período de partida
DATA
T ºC pH ACIDEZ VOLÁTIL(mg/L) ALCALINIDADE TOTAL(mg/L)
REATOR
AFLUENTE
EFLUENTE AFLUENTE EFLUENTE
08/jul 22,4 6,66 61,1
55,2 127,3
165,0
16/jul 23,7 7,02 55,6
58,0 130,1
170,9
23/jul 24,1 6,98 87,0
56,0 135,2
175,4
30/jul 21,3 6,93 59,9
43,9 139,3
181,0
06/ago 22,3 6,86 61,1
58,0 140,7
168,5
Tabela 5.3 Valores de alcalinidade parcial e intermediária no período de partida
DATA T ºC pH ALCALINIDADES mg/L
REATOR
AAV AB AI/AP
08/jul 22,4
6,66
27,6 137,4
0,20
16/jul 23,7
7,02
29 141,9
0,20
23/jul 24,1
6,98
28 147,4
0,19
30/jul 21,3
6,93
21,95 159,1
0,14
06/ago 22,3
6,86
29 139,5
0,21
82
Nos dados da Tabela 5.2 verifica-se que o pH no reator variou na faixa de 6,66 a 7,02 com
uma média de 6,89, com coeficiente de variação de 1,2%, portanto verifica-se que o
processo, no que tange a sua estabilidade, funcionou dentro dos limites esperados.
A alcalinidade do efluente variou de 165,0 mg/l a 200,0 mg/L, valores superiores a faixa de
alcalinidade do afluente, que variou de 91,1 mg/l a 140,7 mg/L. O aumento da alcalinidade
é característica do processo de digestão anaeróbia em condições normais, pois ocorre a
geração de alcalinidade devido a remoção de ácidos graxos e a amonificação.
A concentração de ácidos voláteis no afluente variou de 55,6 mg/L a 87,0 mg/L sendo que
no efluente estes valores foram reduzidos para a faixa de 43,9 à 58,0 mg/L, dentro do
comportamento desejado na digestão anaeróbia.
O monitoramento do parâmetro alcalinidade intermediária/alcalinidade parcial, resultou em
valores variando de 0,14 à 0,21, abaixo do valor de 0,3, apontado por Chernicharo (1997)
como limite superior aceitável.
A avaliação global dos resultados do pH, alcalinidade e ácidos graxos, fornece indicação
segura de que o processo desenvolveu-se dentro da normalidade, em termos de
estabilidade da digestão anaeróbia, na fase de partida.
83
5.3-RESULTADO DO MONITORAMENTO DA FASE PÓS PARTIDA DO UASB
Após a fase convencionada de partida, que compreendeu as primeiras cinco semanas,
monitorou-se o processo de digestão do UASB por meio de levantamento de dados, conforme
metodologia já descrita, três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira).
Neste período, o reator funcionou com a vazão constante, projetada para 2,25 m
3
/dia.
O monitoramento envolveu o levantamento e determinação dos seguintes parâmetros :
- concentração de material orgânico;
- concentração de sólidos;
- parâmetros de estabilidade do processo de tratamento;
- produção de metano;
- balanço de DQO;
- produção de material sobrenadante no reator.
5.3.1-Resultados do levantamento de concentração de matéria orgânica
Os parâmetros monitorados, relativos à concentração de matéria orgânica, envolveu a
determinação da DQO do afluente e do efluente três vezes na semana (segunda-feira, quarta-
feira e sexta-feira) e DQO filtrada e DBO somente uma vez por semana, além do nitrogênio
total a cada 15 dias.
Na Tabela 5.4 são mostrados os resultados obtidos relativos a concentração de matéria
orgânica. Observa-se, na análise dos dados de DBO e DQO, que a eficiência de remoção de
DQO evoluiu de 30,1%, na fase inicial de partida, para valores até 69,0%, com média situando
em torno de 63%, produzindo um efluente com teor médio de DQO de 316 mg/L com desvio
padrão de 69 mg/L. No caso da DBO, a evolução foi similar, iniciando com uma remoção de
28,6% e chegando a remoções de até 69,0%, com média situando-se em 62%, produzindo um
efluente com teor médio de DBO de 139 mg/L, com desvio padrão de 54 mg/L (vide Figura
5.7).
84
Tabela 5.3- Resultados das concentrações de matéria orgânica
DQO FILTRADA E(%) bruta
SEM. DATA DIA DQO (mg/l) E DBO(mgO
2
/l) E
DQO(mgO
2
/l)
E (%)
DQOeflu-filtrada/
AFLU EFLU (%) AFLU EFLU (%) AFLU EFLU DQOaflu
08/jul QUI 694 485 30,1 420 300 28,6 398 310 22,1 55,3
16/jul SEX 738 428 42,0 380 220 42,1 369 238 35,5 67,8
23/jul SEX 682 327 52,1 420 220 47,6 362 235 35,1 65,5
30/jul SEX 806 251 68,9 474 180 62,0 356 213 40,2 73,6
06/ago SEX 1012 478 52,8 560 240 57,1 335 188 43,9 81,4
09/ago SEG 1303 400 69,3
11/ago QUA 721 324 55,1
13/ago SEX 783 310 60,4 400 160 60,0 348 148 57,5 81,1
16/ago SEG 1005 323 67,9
18/ago QUA 801 280 65,0
20/ago SEX 728 317 56,5 380 140 63,2 368 159 56,8 78,2
23/ago SEG 936 355 62,1
25/ago QUA 992 416 58,1
27/ago SEX 1008 446 55,8 560 240 57,1 384 167 56,5 83,4
30/ago SEG 908 372 59,0
01/set QUA 1004 465 53,7
03/set SEX 1060 402 62,1 620 260 58,1 382 138 63,9 87,0
06/set SEG 940 310 67,0
10ª 08/set QUA 893 303 66,1
10/set SEX 781 259 66,8 460 140 69,6 334 103 69,2 86,8
13/set SEG 838 285 66,0
11ª 15/set QUA 806 282 65,0
17/set SEX 810 372 54,1 420 160 61,9 405 162 60,0 80,0
20/set SEG 740 251 66,1
12ª 22/set QUA 761 266 65,0
24/set SEX 802 248 69,1 440 160 63,6 390 119 69,5 85,2
27/set SEG 798 271 66,0
13ª 29/set QUA 781 282 63,9
01/out SEX 822 312 62,0 460 160 65,2 400 140 65,0 83,0
04/out SEG 776 325 58,1
14ª 06/out QUA 798 335 58,0
08/out SEX 741 318 57,1 440 200 54,5 381 144 62,2 80,6
11/out SEG 694 277 60,1
15ª 13/out QUA 683 266 61,1
15/out SEX 602 210 65,1 340 140 58,8 367 143 61,0 76,2
18/out SEG 669 280 58,1
16ª 20/out QUA 739 318 57,0
22/out SEX 784 269 65,7 459 155 66,2 344 112 67,4 85,7
85
Figura 5.7-Remoções de DQO e DBO no UASB
Determinou-se, também, a eficiência de remoção de DQO tomando o período de ana´lise
semanal, com o objetivo de fugir da análise pontual e obter uma visão de remoção num
período mais amplo. Na Figura 5.8, se observa que a curva de eficiência de remoção de DQO
“suavizou” o seu traçado, apontando uma tendência de 63% de remoção no seu trecho final,
estabilizado.
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
DIA PESQUISADO
EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO (%)
DQO DBO
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
55,0
60,0
65,0
70,0
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
SEMANA PESQUISADA
EFICIÊNCIA REMOÇÃO DQO %
Figura 5.8- Remoções DQO pesquisa semanal
86
A comparação entre a DQO afluente e a DQO filtrada efluente, tem o significado de dar
indicação sobre o grau transformação da matéria orgânica presente no esgoto, assumindo que
toda DQO particulada presente no efluente do UASB se refere a biomassa. Partindo desse
pressuposto, a área limitada pelas duas curvas corresponderia a DQO convertida na digestão
anaeróbia que, no caso, apresentou porcentagem de “conversão” (não de remoção) variando de
55,3% a 80,0%. Na Figura 5.9 é mostrada a curva da DQO afluente e da DQO filtrada
efluente.
Figura 5.9- Comparação entre a DQO afluente bruta e a DQO efluente filtrada
Os números mostrados indicam que o processo de remoção evoluiu, mas ainda apresenta
níveis na faixa de 63%, em termos de DQO, indicando que, provavelmente, o processo ainda
não chegou no seu ponto de eficiência ótimo, que estaria situado próximo de 70%. Esta é uma
indicação de que, ainda está ocorrendo uma adaptação dos organismos no interior do reator,
apesar de ter sido utilizado lodo de inóculo na partida e terem decorrido 16 semanas de
funcionamento.
A perspectiva é de que a eficiência evolua positivamente nas semanas seguintes, até atingir um
ponto máximo, que se estima ser próximo de 70%.
100
300
500
700
900
1100
1300
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
DIA PESQUISADO
DQO (mg O2/L)
DQOafluente DQOefluente-filtrada
87
De outro lado, foram realizados levantamentos da carga orgânica afluente ao longo do dia,
durante cinco dias (28/6/04 a 02/07/04), que envolveu a determinação da DQO afluente nos
horários: 2h, 6h, 11h, 13h, 17h, 20h, e 23 h.. Na Tabela 5.4 são apresentados os valores
médios horários para a DQO afluente para as 24 horas do dia, bem como o fator de correção
da carga orgânica diária para cada hora.
Tabela 5.4-Carga orgânica afluente média diária e fator de correção
QDO afluente (mg/L) FATOR DE CORREÇÃO
HORA VALORES MÉDIOS (carga orgânica diária)
1 463,0 1,32
2 462,0 1,32
3 462,0 1,32
4 465,0 1,32
5 467,0 1,31
6 468,0 1,31
7 495,1 1,24
8 523,2 1,17
9 550,8 1,11
10 578,4 1,06
11 606,0 1,01
12 766,0 0,80
13 822,0 0,74
14 886,0 0,69
15 883,0 0,69
16 880,0 0,70
17 877,0 0,70
18 784,0 0,78
19 692,0 0,88
20 580,0 1,06
21 541,7 1,13
22 503,4 1,22
23 465,0 1,32
24 465,0 1,32
média horária 611,9
________ valores levantados
________ valores interpolados
O fator de correção da carga orgânica diária, para cada hora, foi determinado dividindo o valor
médio das carga horárias pela respectiva carga da hora. Este fator será utilizado para a
correção da estimativa da carga orgânica diária por meio do levantamento da DQO de uma
dada hora, no balanço de massa de DQO que será objeto de discussão. Na Figura 5.10 é
apresentada a curva da carga orgânica média diária afluente ao UASB.
88
Figura 5.10-Carga orgânica média diária afluente ao UASB
5.3.2-Levantamento da concentração de sólidos
A investigação acerca da concentração de sólidos envolveu o levantamento dos seguintes
parâmetros (três vezes por semana): sólidos totais, sólidos voláteis totais, sólidos suspensos e
sólidos sedimentáveis. Ressalta-se que no dia 29/08 foi realizada uma descarga de um volume
de 40 litros de lodo (C= 15.623 mg/L). Este procedimento, avaliou-se posteriormente, que não
foi eficiente, mas foi realizado em função do aparecimento de teor de sólidos sedimentáveis
acima de 2,0 mL/L no efluente.
Sólidos Totais
No que tange aos sólidos totais, os resultados são apresentados na Tabela 5.5, onde os pontos
de coletas de 1 a 6 estão localizados nas seguintes alturas, em relação ao fundo do reator:
0,16m, 0,41m, 0,81m, 1,21m, 1,84m e 2,47m.
Observa-se que a massa de sólidos totais evoluiu de 2.651g, na primeira semana, para 6.609g
na 16ª semana. Este processo de acumulação se deu, inicialmente por sedimentação e
posteriormente, com a adaptação da biomassa, pela própria reprodução dos organismos.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
HORAS DO DIA
DQO mg O2/L
89
Tabela 5.5-Dados da evolução da massa de sólidos totais no reator
MASSA
DATA SÓLIDOS TOTAIS (mg/l) LODO
1 2 3 4 5 6 AFLU EFLU TOTAL (g)
08/jul 8.010 7.522 7.518 7.028 2.302 1.625 412 281 2.651
16/jul 8.200 7.416 7.800 7.101 2.473 1.302 512 304 2.670
23/jul 9.010 7.811 7.312 7.080 1.945 876 386 189 2.548
30/jul 8.800 8.018 7.612 7.281 1.870 1.186 728 413 2.676
06/ago 8.704 8.004 7.801 7.328 1.234 1.267 521 268 2.587
09/ago 8.804 8.264 7.840 7.508 1.309 1.012 673 272 2.609
11/ago 8.910 8.521 7.810 7.410 2.003 1.234 391 146 2.699
13/ago 8.801 8.374 8.102 7.451 2.101 1.342 444 209 2.752
16/ago 8.804 8.264 8.208 7.508 2.145 1.679 644 136 2.787
18/ago 8.991 8.567 8.503 8.021 1.802 1.109 812 252 2.806
20/ago 8.680 8.328 8.848 8.768 1.402 1.384 436 210 2.852
23/ago 8.716 8.332 8.316 8.036 2.561 1.656 556 384 2.956
25/ago 10.172 10.098 8.598 8.568 1.765 1.533 574 332 3.081
27/ago 11.342 11.284 10.630 7.045 1.789 1.206 780 460 3.206
30/ago 10.349 9.403 8.856 8.562 1.327 1.106 624 309 2.954
01/set 11.873 11.671 9.764 8.891 1.102 974 652 356 3.235
03/set 12.673 11.552 10.034 8.401 1.341 1.209 481 386 3.299
06/set 13.894 11.659 10.861 8.754 1.384 1.147 656 350 3.448
08/set 14.017 13.876 11.023 9.657 1.523 952 638 210 3.656
10/set 14.289 14.972 11.004 10.549 1.802 1.330 764 360 3.940
13/set 15.227 14.601 13.702 11.012 1.203 1.102 422 189 4.070
15/set 16.023 14.701 13.879 11.340 1.107 981 538 310 4.161
17/set 17.127 15.901 13.941 11.567 1.307 1.118 570 344 4.361
20/set 17.202 15.998 14.138 11.609 1.802 1.560 658 206 4.471
22/set 17.993 16.897 14.810 12.892 1.301 1.132 611 284 4.648
24/set 18.203 16.881 14.902 13.086 2.034 1.150 504 312 4.782
27/set 19.913 17.892 15.298 13.583 1.491 1.488 514 312 4.974
29/set 21.008 19.856 16.001 13.503 1.213 1.028 349 204 5.078
01/out 21.896 19.863 16.080 13.501 1.323 1.228 360 329 5.190
04/out 23.998 20.871 16.608 14.034 1.154 1.128 602 346 5.412
06/out 24.036 20.651 18.905 14.218 1.301 1.228 560 191 5.588
08/out 24.098 22.146 18.082 15.503 1.125 1.006 497 248 5.715
11/out 24.996 22.408 18.431 16.029 1.210 1.092 492 258 5.874
13/out 24.914 23.391 21.340 15.176 1.019 828 476 291 6.024
15/out 25.117 22.089 20.916 16.792 1.028 1.003 420 198 6.079
18/out 25.099 21.998 21.899 20.151 1.301 824 602 208 6.499
20/out 25.287 22.098 22.012 20.302 1.369 820 438 211 6.546
22/out 25.341 22.275 22.278 20.567 1.389 834 434 202 6.609
90
Como pode ser observado na Figura 5.11, a evolução dos sólidos totais apresentou dois
comportamento distintos ao longo do tempo. Numa primeira fase, até o dia 01/09/2004, o
crescimento da massa se deu de forma muito lenta, indicando que, possivelmente, ocorreu um
processo de seleção da biomassa que deixou o reator, paralelamente a produção lenta de
biomassa, redundando, no balanço total, uma estabilização da quantidade de sólidos.
A segunda fase, posterior ao dia 01/09/04, caracterizou-se por um crescimento contínuo e
uniforme do lodo, dando indicações de que a biomassa adaptou-se, estabelecendo o equilíbrio
ecológico, iniciando o seu processo de reprodução normal.
Figura 5.11-Evolução da massa de sólidos totais no reator
O crescimento específico do lodo, em termos de sólidos totais, acompanhou a duas fases
descritas anteriormente. Na primeira fase ocorreram taxas de crescimento dispersas, mas com
tendência crescente, e na segunda fase apresentou crescimento mais uniforme, com valores
acima dos verificados na primeira fase, estabilizando-se em valores próximos a 0,055
gST/gDQOaplicada ou 0,09 g ST/gDQOdigerida. Nas Figuras 5.12 e 5.13 são apresentadas as
evoluções da produção específica de lodo (em termos de ST), calculadas para períodos
semanais, tanto como função da DQO aplicada como da digerida.
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
DATAS DE FUNCIONAMENTO
MASSA DE LODO NO UASB (g ST)
91
Figura 5.12 - Produção específica de lodo (ST) em função da DQO aplicada
Figura 5.13 - Produção específica de lodo (ST) em função da DQO digerida
Barijan e Figueiredo (1996), em estudo similar em reator em escala real, encontraram um
valor para a produção de lodo de 0,025 g ST/g DQOaplicada, valor de mesma magnitude do
estimado no presente experimento.
Com relação à concentração de sólidos totais, observou-se que esta ficou, praticamente,
constante na primeira fase, para iniciar, posteriormente, um aumento contínuo e uniforme para
os pontos mais inferiores (1 a 4) com as curvas de crescimento “paralelas”, dando indicação da
-0,02
-0,01
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
1 3 5 7 9 11 13 15
SEMANAS
PROD. ESPEC. LODO gST/ g
DQOaplicada
-0,06
-0,04
-0,02
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
1 3 5 7 9 11 13 15
SEMANAS
PROD. ESP. LODO
gST/gDQOdigerida
92
inexistência de curtos-circuitos, conforme pode-se observar na Figura 5.14. Ou seja, o
crescimento da massa lodo se deu por adensamento do mesmo.
500
4.500
8.500
12.500
16.500
20.500
24.500
8/jul 28/jul 17/ago 6/set 26/set 16/out
DIAS DE FUNCIONAMENTO
CONCENTRAÇÃO ST (mg/L)
1
2
3
4
5
6
Figura 5.14-Evolução da concentração de sólidos totais por ponto de coleta
Nas alturas inferiores, 5 e 6 (1,81 m e 2,47m) a concentração de sólidos apresentou-se,
praticamente, constante, com valores muito inferiores aos dos outros pontos, indicando
estarem fora (acima) da manta de lodo. Na Figura 5.15, é apresentado o perfil de sólidos no
interior do reator para o último dia pesquisado (22/10/04), onde se visualiza a zona de maior
concentração de sólidos totais, ao longo da altura, representando a manta de lodo formada.
Figura 5.15-Perfil de sólidos no reator
0
0,25
0,5
0,75
1
1,25
1,5
1,75
2
2,25
2,5
2,75
0 10.000 20.000 30.000
CONCENTRAÇÃO ST (mg/L)
ALTURA NO REATOR (m)
PTOS DE
COLETA
93
Sólidos Voláteis Totais
Quanto aos sólidos voláteis, os resultados são apresentados na Tabela 5.6.
Tabela 5.6-Dados levantados de sólidos voláteis totais.
SÓLIDOS VOLÁTEIS TOTAIS (mg/l)
MASSA
DATA PONTOS DE AMOSTRAGEM LODO
1 2 3 4 5 6 AFLU EFLU TOTAL (g)
08/jul 5.982 5.902 5.421 4.129 2.098 1.211 328 148 1.903
16/jul 5.891 5.910 5.419 4.234 2.194 1.214 415 220 1.939
23/jul 6.010 5.982 5.521 4.138 1.708 708 351 108 1.800
30/jul 6.080 5.018 5.189 4.301 1.549 914 501 312 1.787
06/ago 6.121 5.991 5.510 4.318 1.091 981 428 184 1.798
09/ago 6.204 6.044 5.433 4.620 1.211 749 573 164 1.811
11/ago 6.124 6.048 5.617 4.421 1.509 1.011 291 108 1.857
13/ago 6.308 6.080 5.802 4.298 1.813 1.109 242 90 1.914
16/ago 6.580 6.244 6.160 4.620 1.814 1.247 414 82 2.010
18/ago 6.748 6.192 6.232 4.640 1.033 918 592 144 1.901
20/ago 7.080 6.364 6.460 4.424 1.149 1.149 312 122 1.959
23/ago 7.416 6.488 6.112 4.744 1.741 1.266 416 184 2.089
25/ago 8.104 7.806 7.209 4.400 1.019 1.291 344 230 2.177
27/ago 9.076 8.108 7.268 4.408 1.148 1.040 410 226 2.229
30/ago 7.894 7.451 5.952 5.116 1.014 908 492 221 2.072
01/set 7.902 7.606 6.056 5.264 1.008 751 489 306 2.106
03/set 8.047 7.803 5.536 5.660 1.112 901 412 348 2.165
06/set 9.123 7.698 6.380 6.890 1.038 907 488 196 2.349
08/set 9.098 8.536 8.256 6.244 1.049 804 400 194 2.469
10/set 11.087 9.456 8.356 7.364 1.203 1.094 480 201 2.789
13/set 13.093 12.091 9.456 7.349 984 938 321 104 3.058
15/set 14.761 13.456 10.934 7.728 1.017 741 500 250 3.385
17/set 13.989 13.402 10.345 8.907 1.094 998 520 180 3.443
20/set 14.301 13.507 10.386 9.019 1.304 1.219 536 210 3.537
22/set 14.870 14.087 10.452 10.156 1.047 943 408 128 3.634
24/set 14.973 14.104 10.673 10.471 1.510 1.008 301 104 3.747
27/set 14.679 14.023 12.025 10.863 1.046 1.211 368 218 3.866
29/set 15.093 14.104 13.076 11.045 1.012 849 244 99 3.913
01/out 16.048 14.085 13.864 11.056 1.084 991 312 204 4.066
04/out 16.704 15.013 14.103 11.400 1.012 904 380 180 4.182
06/out 16.886 15.601 14.983 10.987 1.204 946 464 108 4.265
08/out 17.005 16.203 15.608 11.203 1.106 862 316 114 4.357
11/out 18.036 16.901 15.308 12.026 1.007 801 419 203 4.507
13/out 18.645 17.123 15.490 12.097 1.009 760 329 108 4.542
15/out 18.902 17.832 14.872 13.056 1.009 861 407 99 4.656
18/out 19.003 17.909 14.912 13.489 1.121 606 327 164 4.711
20/out 19.219 18.105 15.092 13.562 1.108 718 411 186 4.771
22/out 19.338 18.207 15.186 13.679 1.276 766 423 149 4.819
94
O comportamento do crescimento da massa de sólidos voláteis totais acompanhou a mesma
tendência dos sólidos totais, distinguindo duas fases, a primeira com ausência de crescimento,
para, na segunda fase, iniciar processo continuo e uniforme de crescimento, como mostra a
Figura 5.15.
Figura 5.16-Evolução da massa de sólidos voláteis totais no reator
Observa-se que os sólidos voláteis totais evoluíram de 1.903g, no início da observação,
passando para 4.819g no último dia pesquisado (22/10/04), mostrando que, de forma geral, a
massa de sólidos voláteis representa 70% dos sólidos totais, como mostra a comparação das
curvas apresentadas na Figura 5.17.
Figura 5.17-Comparação entre a massa de sólidos totais e sólidos voláteis totais
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
DIAS DE FUNCIONAMENTO
MASSA DE LODO SVT (g)
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
DIAS DE FUNCIONAMENTO
CONCENTRAÇÃO SÓLIDOS
(mg/L)
ST
SVT
95
Sólidos Suspensos
Na Tabela 5.7 são apresentados os resultados do levantamento dos dados de sólidos suspensos.
Tabela 5.7-Dados dos sólidos suspensos
SÓLIDOS SUSPENSOS (mg/l) MASSA
DATA PONTOS DE AMOSTRAGEM LODO
1 2 3 4 5 6 AFLU EFLU TOTAL (g)
08/jul 8.045 5.067 3.291 2.680 1.914 1.549 154 184 1.658
16/jul 8.974 8.956 6.908 3.591 2.128 1.081 421 290 2.310
23/jul 7.721 5.987 3.519 3.409 1.848 1.041 160 151 1.716
30/jul 7.949 6.521 3.128 3.120 1.850 1.004 184 364 1.747
06/ago 7.978 6.850 3.508 3.214 1.681 1.106 318 160 1.751
09/ago 8.765 6.909 3.828 3.500 1.600 1.019 668 173 1.825
11/ago 8.902 6.994 3.909 3.408 2.018 1.214 249 81 1.886
13/ago 9.960 7.211 3.551 3.010 2.004 1.388 368 172 1.920
16/ago 9.925 7.344 4.121 2.918 2.018 1.514 514 136 1.969
18/ago 9.938 7.829 4.522 3.214 1.798 1.121 676 146 1.989
20/ago 9.986 8.328 4.766 3.128 1.515 1.343 384 170 2.030
23/ago 9.946 9.028 3.922 3.004 2.410 1.518 438 166 2.125
25/ago 9.961 9.876 4.987 3.080 1.704 1.548 409 112 2.173
27/ago 9.916 9.907 5.102 3.398 1.556 1.290 481 282 2.205
30/ago 9.842 8.965 5.195 3.472 1.304 1.104 532 164 2.076
01/set 9.954 9.098 7.913 3.563 1.103 1.013 533 221 2.286
03/set 10.567 9.657 8.038 5.789 1.214 1.117 392 196 2.600
06/set 12.672 11.305 9.127 5.984 1.310 1.004 536 106 2.877
08/set 13.987 11.597 10.023 7.921 1.519 818 568 162 3.233
10/set 13.345 12.098 10.976 7.654 1.418 1.002 578 198 3.301
13/set 13.679 13.287 11.781 7.802 1.112 1.013 352 166 3.423
15/set 14.677 13.908 11.734 9.921 1.518 713 504 250 3.749
17/set 15.456 14.881 14.056 10.571 1.118 1.112 560 292 4.096
20/set 19.502 15.654 14.451 10.005 1.511 1.334 560 192 4.348
22/set 20.345 15.924 14.980 10.903 1.318 1.016 520 200 4.473
24/set 21.618 16.971 13.164 10.089 1.611 1.706 460 290 4.513
27/set 22.125 17.309 13.129 11.006 1.193 1.309 437 281 4.545
29/set 22.203 17.432 13.521 11.154 1.337 1.014 262 169 4.557
01/out 22.346 17.916 14.002 11.674 1.219 1.194 184 286 4.718
04/out 22.407 18.562 14.326 11.981 1.178 1.090 504 302 4.803
06/out 22.599 19.703 14.127 11.967 1.176 1.105 454 159 4.834
08/out 23.560 19.975 15.618 11.519 1.067 1.014 408 219 4.954
11/out 23.111 20.087 15.867 11.934 1.122 1.008 340 248 5.015
13/out 23.329 21.076 16.503 12.053 1.097 813 298 161 5.100
15/out 23.451 21.456 16.081 12.541 1.018 1.071 396 166 5.168
18/out 24.561 24.532 17.054 12.009 1.518 721 516 184 5.457
20/out 24.687 24.591 17.893 12.348 1.329 817 421 189 5.554
22/out 24.792 24.778 17.992 12.663 1.310 808 318 191 5.606
96
O comportamento dos sólidos suspensos totais no reator apresentou algumas particularidades e
diferenças em relação aos sólidos totais. Apresentou, em termos de evolução de sua massa, um
crescimento pontual na segunda semana, mas retornando ao nível inicial, assim permanecendo
até a quinta semana, que corresponde ao período da “partida”.
No segundo período, posterior à partida, até o final do período de observação, se constata a
existência de três segmentos distintos de comportamento. No primeiro, compreendido entre os
dias 01/09 à 20/09, apresentou um pequeno mas constante crescimento. No segundo trecho
(01/09-29/09) o comportamento apresentou um crescimento alto e contínuo e, no trecho final,
apresentou um nível de crescimento intermediário, conforme pode ser observado na Figura
5.18.
Figura 5.18-Evolução da massa de sólidos suspensos totais no reator UASB
A produção específica de lodo, em termos de SST, por conseqüência dos dados de acumulação
de massa já mencionados, se situou em três patamares. No primeiro período de crescimento
identificado como o período após a partida (09/08). No primeiro trecho a produção específica
de lodo ficou na faixa de 0,025 g SST/DQOaplicada ou 0,04 g SST/gDQOdigerida; No
segundo trecho se situou na faixa de 0,1 g SST/gDQOaplicada ou 0,15 gSST/g DQOdigerida e
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
08/jul 28/jul 17/ago 06/set 26/set 16/out
DIAS DE FUNCIONAMENTO
MASSA DE LODO SST (g )
97
no terceiro trecho na faixa de 0,05 g SST/g DQOaplicada ou 0,075 g SST/g DQOdigerida,
conforme pode ser observado nas Figuras 5.19 e 5.20.
Figura 5.19-Produção específica de lodo, em termos de SST, função da DQO aplicada
Figura 5.20-Produção específica de lodo, em termos de SST, função da DQO digerida
Estudos de van Haandel e Letinga (1994) apontam que a produção de sólidos se situa na faixa
de 0,1 a 0,2 kg SST/kg DQOaplicada, desta maneira, verifica-se que a produção de lodo, em
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
22/jun 12/jul 01/ago 21/ago 10/set 30/set 20/out 09/nov
DIAS PESQUISADOS
PRODUÇÃO DE LODO
gST/DQOaplicada
-0,2
-0,15
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
22/jun 12/jul 01/ago 21/ago 10/set 30/set 20/out 09/nov
DIAS PESQUISADOS
PRODUÇÃO LODO
gSS/DQOdigerida
98
termos de SST, estimada no experimento está abaixo da faixa apontada como da normalidade.
A hipótese é de que o reator UASB piloto ainda está em fase final de estabilização e,
possivelmente, quando atingir a fase estacionária a produção de lodo se situará na faixa
verificada por outros autores.
Sólidos Sedimentáveis
No que concerne aos sólidos sedimentáveis os dados são apresentados na Tabela 5.8.
Tabela 5.8-Dados de sólidos sedimentáveis
Verifica-se, analisando os dados de sólidos sedimentáveis, que estes apresentam, ao longo do
período de observação, uma primeira fase, onde apresenta valores de eficiência bastante
SOL SEDIMENTÁVEIS SOL SEDIMENTÁVEIS
DATA ml/L E % DATA ml/L E %
AFLU EFLU REMOÇÃO AFLU EFLU REMOÇÃO
08/jul 6,4 1 0,84 10/set 8,2 3 0,63
16/jul 3,1 2,2 0,29 13/set 10 1 0,90
23/jul 4,4 1,7 0,61 15/set 6,5 1,8 0,72
30/jul 12 2,4 0,80 17/set 4,5 1 0,78
06/ago 11,3 2,8 0,75 20/set 10 0,4 0,96
09/ago 10 1,2 0,88 22/set 5 2 0,60
11/ago 2,8 1,2 0,57 24/set 6 0,1 0,98
13/ago 3,1 1,8 0,42 27/set 8,5 1 0,88
16/ago 2,1 0,9 0,57 29/set 4 0,4 0,90
18/ago 6,6 0,8 0,88 01/out 6,3 0,8 0,87
20/ago 3,3 0,3 0,91 04/out 8 1,7 0,79
23/ago 2,1 0,4 0,81 06/out 3,5 1 0,71
25/ago 4 0,9 0,78 08/out 4 0,5 0,88
27/ago 9,5 2 0,79 11/out 4,5 1,4 0,69
30/ago 12 1,4 0,88 13/out 6,8 1,9 0,72
01/set 6,5 1,7 0,74 15/out 7,4 2,3 0,69
03/set 2,2 0,7 0,68 18/out 3,8 1 0,74
06/set 8 0,4 0,95 20/out 8,2 1,2 0,85
08/set 6,2 2 0,68 22/out 9,3 1,1 0,88
99
dispersos e variáveis que duram até o dia 21/08. No período posterior, a eficiência da remoção
de sólidos sedimentáveis girou em torno de 80%, como mostra a Figura 5.21.
Figura 5.21- Eficiência de remoção de sólidos sedimentáveis
Os sólidos representam a biomassa no interior do reator e o seu desenvolvimento se dá por
meio de agregação de células, formando flocos, que potencializam a capacidade de
sedimentação, garantindo efluente com baixa concentração de sólidos suspensos.
Esta formação de flocos é bastante intensa no UASB piloto e, com o objetivo de caracterizar a
biomassa desenvolvida no interior do reator, são apresentadas fotos, via microscópio, de
lâminas de amostras de lodo coletadas no UASB.
Nas Figuras 5.22, 5.23 e 5.24, pode ser observado que os flocos de lodo se apresentam com
estrutura granular bastante consistentes. Ao seu redor podem ser visualizados
microorganismos .
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
22/jun 12/jul 01/ago 21/ago 10/set 30/set 20/out 09/nov
DIAS PESQUISADOS
EFICIÊNCIA DE REMOÇÃOS SOL.
SEDIMENTÁVEIS %
100
Figura 5.22 - Detalhe do floco de biomassa com presença de microorganismos (100 X)
Figura 5.23-Granulação da biomassa com presença de microorganismos ao fundo (200 X)
101
5.24-Detalhe da estrutura do floco da biomassa desenvolvido no UASB (200 X)
5.3.3-Parâmetros de estabilidade da digestão anaeróbia
Os parâmetros levantados com o objetivo de avaliar a estabilidade do processo de digestão
anaeróbia no reator UASB piloto envolveram os seguintes aspectos: alcalinidade, pH, ácidos
voláteis e temperatura. Na Tabela 5.9 são apresentados os resultados dos ensaios realizados no
afluente e efluente, em três dias de cada semana monitorada .
Os dados apresentados na Tabela 5.9 fornecem algumas indicações, onde ressaltam-se dois
aspectos, o primeiro relativo ao pH, onde este varia de 6,51 a 7,03, ou seja, situando-se no
limite da condição ácida (6,8-7,2), mostrando que é possível que a digestão anaeróbia que se
processa no reator ainda não está no seu ponto de equilíbrio ótimo.
102
Tabela 5.9- Parâmetros de estabilidade do processo de digestão anaeróbia
Da análise dos valores da alcalinidade, observa-se que há um aumento esperado de sua
concentração, no efluente em relação aos valores do afluente, variando de 50% a 80%. No
DATA T ºC pH ACIDEZ VOLÁTIL(mg/L) ALCALINIDADE TOTAL(mg/L)
REATOR AFLUENTE EFLUENTE AFLUENTE EFLUENTE
08/jul 22,4 6,66 61,1 55,2 127,3 165,0
16/jul 23,7 7,02 55,6 58,0 130,1 170,9
23/jul 24,1 6,98 87,0 56,0 135,2 175,4
30/jul 21,3 6,93 59,9 43,9 139,3 181,0
06/ago 22,3 6,86 61,1 58,0 140,7 168,5
09/ago 22,7 6,91 64,4 47,0 91,1 200,0
11/ago 22,9 7,03 36,6 42,3 90,8 187,1
13/ago 24,8 6,92 89,3 49,3 115,9 190,2
16/ago 23,3 6,82 81,3 53,9 140,2 191,1
18/ago 22,7 6,60 90,0 42,0 181,8 200,0
20/ago 23,4 6,87 102,0 168,0 170,1 182,6
23/ago 23,9 6,69 96,4 62,4 112,2 182,0
25/ago 24,8 7,01 63,1 57,3 109,7 156,8
27/ago 26,4 6,54 65,8 42,1 99,3 138,8
30/ago 27,6 7,01 94,4 59,9 93,0 112,6
01/set 26,4 6,95 80,6 49,2 98,6 125,7
03/set 26,4 6,82 66,0 44,5 96,7 109,0
06/set 27,3 6,86 38,3 41,8 90,7 189,5
08/set 26,0 6,85 75,3 66,1 111,8 187,2
10/set 25,6 6,78 61,6 47,2 126,1 165,3
13/set 25,7 6,82 59,2 41,4 139,2 142,9
15/set 27,3 6,81 89,4 57,3 106,1 169,5
17/set 26,5 6,90 59,8 45,2 129,5 167,0
20/set 27,1 6,83 74,7 59,9 142,3 187,5
22/set 25,6 6,83 70,2 56,7 122,6 158,1
24/set 26,1 6,87 95,2 68,4 128,7 208,8
27/set 25,7 7,01 68,0 59,2 139,4 179,4
29/set 26,1 6,89 69,2 51,9 126,8 207,1
01/out 27,2 6,80 76,0 56,7 132,4 177,6
04/out 26,3 6,90 86,8 59,3 136,1 204,1
06/out 25,4 6,52 81,4 68,1 136,9 210,8
08/out 25,1 6,83 48,0 41,0 128,3 191,3
11/out 25,3 6,75 54,8 31,0 127,8 187,9
13/out 24,6 6,89 64,7 53,0 123,1 251,6
15/out 25,6 6,94 81,3 69,5 130,9 157,8
18/out 26,4 6,82 36,6 42,4 119,4 196,4
20/out 24,5 6,72 59,3 44,6 90,6 202,2
22/out 24,8 6,81 61,1 58,0 110,4 160,5
103
caso dos valores dos ácidos voláteis ocorre o contrário, onde constata-se valores na faixa de
60,0 mg/L-100,0 mg/L no afluente e evolui para valores na faixa de 20,0-80 mg/L no efluente.
Observa-se, também, que nos dias 20/08 e 18/10 ocorreu um aumento da acidez volátil,
quando comparam-se os teores no afluente e efluente. Este fato indica que a acidificação
poderia comprometer o processo de digestão anaeróbia, particularmente no caso do dia 20/08,
onde a acidez chegou a 168,0 mg/L (limite = 200,0 mg/L). Porém, verificou-se que o sistema
absorveu a tendência de acidificação, apresentando valores aceitáveis nos dias posteriores.
Este fato é indicativo da capacidade do sistema de auto-equilibrar-se.
A análise isolada dos parâmetros de ácidos voláteis e alcalinidade total, induz-nos a conclusão
de que o processo não apresenta anormalidade. De outro lado, quando se analisa a alcalinidade
nas suas componentes intermediária (AI) e parcela (AP), observa-se que a relação AI/AP varia
de 0,23, a 1,11, com média situando-se em torno de 0,26.
A relação AI/AP, segundo Chernicharo (1997), é um importante indicador da estabilidade do
processo biológico no UASB. O autor ressalta que o valor da relação AI/AP , indicativo de
estabilidade se situa em torno de 0,3, sendo que valores superiores indicam que existem
distúrbios na digestão anaeróbia.
Dessa maneira, a relação AI/AP média de 0,26, determinada para o processo de digestão do
UASB piloto, indica que o processo de digestão anaeróbia está ocorrendo a contento.
Na Tabela 5.10 são apresentados os resultados do levantamento das parcelas das alcalinidades
devidas aos ácidos voláteis (alcalinidade intermediária) e aos bicarbonatos (alcalinidade
parcial), mostrando que ao longo do período de observação, não ocorreu tendência ao
azedamento, que é o fator de grande preocupação da digestão anaeróbia.
104
Tabela 5.10-Alcalinidade parcial e intermediária
DATA T ºC pH ALCALINIDADES mg/L
REATOR AAV AB AI/AP
08/jul 22,4 6,66 27,6 137,4 0,20
16/jul 23,7 7,02 29 141,9 0,20
23/jul 24,1 6,98 28 147,4 0,19
30/jul 21,3 6,93 21,95 159,1 0,14
06/ago 22,3 6,86 29 139,5 0,21
09/ago 22,7 6,91 23,5 176,5 0,13
11/ago 22,9 7,03 21,15 166,0 0,13
13/ago 24,8 6,92 24,65 165,6 0,15
16/ago 23,3 6,82 26,95 164,2 0,16
18/ago 22,7 6,60 21 179,0 0,12
20/ago 23,4 6,87 84 98,6 0,85
23/ago 23,9 6,69 31,2 150,8 0,21
25/ago 24,8 7,01 28,65 128,2 0,22
27/ago 26,4 6,54 21,05 117,8 0,18
30/ago 27,6 7,01 29,95 82,7 0,36
01/set 26,4 6,95 24,6 101,1 0,24
03/set 26,4 6,82 22,25 86,8 0,26
06/set 27,3 6,86 20,9 168,6 0,12
08/set 26,0 6,85 33,05 154,2 0,21
10/set 25,6 6,78 23,6 141,7 0,17
13/set 25,7 6,82 20,7 122,2 0,17
15/set 27,3 6,81 28,65 140,9 0,20
17/set 26,5 6,90 22,6 144,4 0,16
20/set 27,1 6,83 29,95 157,6 0,19
22/set 25,6 6,83 28,35 129,8 0,22
24/set 26,1 6,87 34,2 174,6 0,20
27/set 25,7 7,01 29,6 149,8 0,20
29/set 26,1 6,89 25,95 181,2 0,14
01/out 27,2 6,80 28,35 149,3 0,19
04/out 26,3 6,90 29,65 174,5 0,17
06/out 25,4 6,52 34,05 176,8 0,19
08/out 25,1 6,83 20,5 170,8 0,12
11/out 25,3 6,75 15,5 172,4 0,09
13/out 24,6 6,89 26,5 225,1 0,12
15/out 25,6 6,94 34,75 123,1 0,28
18/out 26,4 6,82 21,2 175,2 0,12
20/out 24,5 6,72 22,3 179,9 0,12
22/out 24,8 6,81 29 131,5 0,22
105
5.3.4 - Avaliação da Produção de metano
A medição de gás por meio de medidor específico foi realizado, a partir do dia 29/07/2004,
quando da instalação do mesmo. A Tabela 5.11 apresenta os resultados da leituras de produção
de biogás, que se realizavam sempre às 8:00 horas.
Tabela 5.11-Dados de biogás medido
DATA BIOGÁS DATA BIOGÁS DATA BIOGÁS
MEDIDO (L) MEDIDO (L) MEDIDO (L)
30/jul 48 01/set 297 04/out 268
31/jul 49 02/set 278 05/out 216
01/ago 52 03/set 289 06/out 279
02/ago 48 04/set 286 07/out 210
03/ago 44 05/set 265 08/out 302
04/ago 59 06/set 293 09/out 205
05/ago 64 07/set 289 10/out 276
06/ago 49 08/set 299 11/out 287
07/ago 66 09/set 278 12/out 289
08/ago 56 10/set 269 13/out 275
09/ago 68 11/set 258 14/out 189
10/ago 82 12/set 306 15/out 295
11/ago 88 13/set 278 16/out 168
12/ago 76 14/set 296 17/out 277
13/ago 103 15/set 259 18/out 279
14/ago 49 16/set 271 19/out 181
15/ago 113 17/set 301 20/out 284
16/ago 123 18/set 215 21/out
17/ago 156 19/set 307 22/out
18/ago 125 20/set 279 23/out
19/ago 136 21/set 267 24/out
20/ago 204 22/set 298 25/out
21/ago 167 23/set 243 26/out
22/ago 189 24/set 257 27/out
23/ago 213 25/set 286 28/out
24/ago 289 26/set 249 29/out
25/ago 206 27/set 279 30/out
26/ago 280 28/set 256 31/out
27/ago 245 29/set 268 01/nov
28/ago 280 30/set 249 02/nov
29/ago 298 01/out 296 03/nov
30/ago 268 02/out 256 04/nov
31/ago 268 03/out 286 05/nov
106
Observa-se que, a produção de gás era muito pequena no início da medição, até dia 22/08,
(oitava semana de funcionamento do reator UASB). Na oitava semana o UASB já apresentava
remoções de DQO em torno de 60% e, portanto, o valor esperado para a produção de metano é
muito maior do que o registrado, indicando que nesta fase inicial a remoção de DQO se dava,
preponderantemente por sedimentação, com o reator funcionando mais como um decantador.
Outro aspecto, é que a produção de gás progrediu, após esta fase inicial, para valores médios
de 280 L/dia e, mais ao final do período de monitoramento, apresentou um leve declínio,
conforme pode-se observar na Figura 5.25.
0
50
100
150
200
250
300
350
30/jul 19/ago 8/set 28/set 18/out
DATA
PRODUÇÃO DE BIOGÁS L/DIA
Figura 5.25- Evolução da produção de biogás no UASB
Em paralelo ao monitoramento da produção de gás, foram realizados três ensaios (29/9, 5/10 e
9/10) para determinação da porcentagem de metano presente no biogás produzido pelo reator
UASB piloto, conforme metodologia descrita no item 4.3.1. Estes testes indicaram uma média
de participação do metano de 82% no biogás. Como a produção esperada de metano foi
estimada em 280L/dia, a produção correspondente de biogás estimada é:
Biogás = 280 / 0,82 = 338 L/dia
107
Desta maneira, observa-se que os valores de produção de biogás estão aquém das expectativas,
variando esta defasagem de 13% a 50%. Uma hipótese que explica parte dessa defasagem é a
própria solubilidade do biogás, fazendo com que uma parcela do mesmo saia junto com a
massa líquida do efluente, porém justificaria um percentual na faixa de 15% a 20%.
A segunda hipótese é de que o reator ainda passa por um processo de adaptação, onde a
eficiência ainda não teria alcançado o seu patamar máximo. O mais provável é que os dois
fatores apontados possam estar influenciando para a defasagem constatada entre o valor
medido de biogás e o valor teórico esperado.
5.4- O BALANÇO DE MASSA DE DQO NA DIGESTÃO ANAERÓBIA
O balanço de DQO em torno do tratamento anaeróbio processado no interior do UASB,
envolve as seguintes parcelas : DQO afluente e DQO efluente (ou DQO digerida); DQO
relativa a produção de lodo; DQO convertida em metano e DQO relativa ao lodo descartado
que no presente estudo foi ínfima).
A simulação do balanço de DQO foi realizado por um período semanal e considerou-se a
DQO digerida bruta (computando a parcela de biomassa acumulada no reator) como a
diferença entre as DQO brutas afluente e efluentes. Neste caso o balanço de DQO é:
DQOdigerida = DQO
CH4
+ DQO
cel
, ou seja, a DQO digerida no processo de digestão
anaeróbia é equivalente a somatória da DQO convertida em metano e a parcela convertida na
produção de novas células. A biomassa que sai no efluente já está computada na DQO
efluente.
Na Tabela 5.12 são apresentadas as componentes do balanço da DQO (DQO digerida, DQO
celular e a DQO
CH4
). A partir da DQO
CH4
, é calculada a produção teórica de biogás,
considerando que 82% do biogás (vide item 5.3.3) é composto de metano e comparado à
produção de biogás medida.
108
109
110
111
O balanço de DQO apresentado na Tabela 5.12 foi calculado por períodos de uma semana.
Observa-se nos dados do balanço de DQO que, como já foi mencionado anteriormente, a
redução de DQO na fase inicial de funcionamento se deu, preponderantemente, por
sedimentação e menos pela digestão anaeróbia. A constatação deste fato é a medição de biogás
indicar valores muito aquém do esperado ( na faixa de 40-80 L). Na Figura 5.26 apresenta-se a
comparação entre a produção de biogás medida e teórica.
5.26-Comparação entre a produção de biogás teórica e a medida
Os valores da relação produção de biogás medida/teórica apresentam valores baixos até a
semana de 27/08, variando de 0,13 a 0,61. Após esta data, os valores de produção de biogás se
tornaram mais estáveis, passando a relação da produção de biogás, medido/teórico variando
na faixa de 0,73 a 0,91, mostrando uma evolução na direção da produção de biogás próximo à
da produção teórica, conforme se verifica na Figura 5.27.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
06/ago 16/ago 26/ago 05/set 15/set 25/set 05/out 15/out
SEMANA PESQUISADA
PRODUÇÃO DE BIOGÁS L/semana
TEÓRICA MEDIDA
112
Figura 5.27- Relação biogás medido/teórico
A partir de 03/09/04 a média da relação biogás medido/teórica ficou em torno de 0,825, sendo
que para as três semanas finais esta relação subiu para 0,87, ou seja o biogás medido está cerca
de 13% abaixo do valor teórico esperado. Conforme descreve Kato (1994), “a solubilidade do
metano como componente do biogás, fica na faixa de 65 a 75 mg COD/L a 30
o
C. Isto significa
que o metano dissolvido pode deixar o reator sem ser coletado como biogás. Quanto mais
baixa a DQO afluente ao reator anaeróbio, mais alto o teor de metano dissolvido no efluente”,
conforme mostra a Figura 5.28. Para DQO afluente maiores que 750 mg/L, a perda é menor
que 10%.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 100 200 300 400 500 600 700 800
DQO AFLUENTE (mg/L)
METANO DISSOLVIDO NO
EFLUENTE (%)
Figura 5.28-Metano dissolvido no efluente como função da DQO afluente (Kato,1994)
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
06/ago 26/ago 15/set 05/out
SEMANAS PESQUISADAS
RELAÇAO PROD. BIOGÁS
MEDIDA/PROD. BIOGÁS TEÓRICA
113
No presente caso estudado, a DQO afluente ao reator, ao longo do dia varia de 460 mg/L a 886
mg/L, conforme levantamento descrito no item 5.3.1. Desta maneira, avalia-se que existe a
possibilidade de que, ao longo do dia, o efluente pode conter metano dissolvido numa faixa de
9% a 20%, segundo a curva apresentada na Figura 5.24. De outro lado, se fosse garantido, nos
procedimentos de coleta e ensaio da DQO, a não volatilização do metano dissolvido no
efluente, este seria computado no valor da DQO. Na realidade não é possível garantir que isto
ocorreu.
Então, conclui-se que, possivelmente, a saída de metano via efluente, dissolvido, ocorreu, mas
não é possível determinar em que magnitude. Portanto a argumentação da ocorrência do
metano dissolvido no efluente explica parte da parcela de defasagem de 13%, identificado no
balanço de massa de DQO.
Ressalta-se que, como foi colocado anteriormente, o balanço de massa de DQO envolveu,
além da medida da produção do biogás, fatores (medidas: DQO afluente e efluente; produção
de lodo) e considerações (conversão das massa de sólidos em DQO= 1,14 gDQO/g SST).
Assim, a pequena diferença de 13% no balanço de DQO pode ser produto de alguma ou
combinações de estimativas e/ou considerações não completamente precisas.
5.5 AVALIAÇÃO DA BIODEGRABILIDADE DO EFLUENTE DO UASB PILOTO
A avaliação da biodegrabilidade do efluente do UASB é uma informação importante no
sentido de apontar as possibilidade de um pós-tratamento para o reator anaeróbio. Neste
sentido, realizou-se, conforme metodologia já descrita, avaliações de degrabilidade via
anaeróbia e aeróbia.
Os ensaios de biodegrabilidade anaeróbia foram realizados seguindo as orientações de van
Haandel e Lettinga (1994) e de Chernicharo (1997), porém, ressalta-se que o mesmo envolve
uma gama de fontes de erro que dificultam a sua operacionalização. Os pontos principais de
114
erros são relacionados ao próprio equilíbrio líquido-gases que tem que ser estabelecido no
início do ensaio e, de outro lado, a escolha de um lodo bem estabilizado, caso contrário, o
ensaio é inviabilizado. Em torno de 50% dos ensaios foi desconsiderado em função de erros
cometidos nestes dois aspectos mencionados. Os testes validados foram os que utilizaram as
amostras dos dias : 17/09, 01/10, 06/10, 11/10 e 18/10. Posteriormente, realizou-se ensaios nos
dias 04/11, e 06/11. Os resultados são apresentados nas Tabelas 5.13 e 5.14
.
Tabela 5.13- Resultados dos ensaios de biodegrabilidade aeróbia
DQO
amostra
Volume
amostra
Volume da
mistura
Oxigênio
consumido
O
2
/L %
digerida
mg/L L L mg mg/L
17/09 372 0,050 1,05 7,1 142 38,1
01/10 312 0,05 1,05 6,8 136 43,5
06/10 335 0,05 1,05 5,1 102 30,4
11/10 277 0,05 1,05 7,8 156 56,3
18/10 280 0,05 1,05 3,3 66 23,5
04/11 270 0,05 1,05 4,2 84 31,2
06/11 306 0,05 1,05 5,4 108 35,4
Tabela 5.14- Resultados do ensaio de biodegrabilidade anaeróbia
DQO
amostra
Volume
amostra
Produção
Metano
teórica
Volume
metano
Medido
Volume
metano
Branco
Volume
efetivo do
Ensaio
% DQO
digerida
mg/L L ml ml ml ml
17/09 372 0,500 65,1 48 34 14,0 21,5
01/10 312 0,500 54,6 39 31 8,0 14,6
06/10 335 0,500 58,63 68 52 16,0 27,3
11/10 277 0,500 48,48 49 40 9,0 18,6
18/10 280 0,500 49,00 38 27 11,0 22,4
04/11 270 0,500 47,25 21 8 13,0 28,6
06/11 306 0,500 53,55 19 9 10,0 20,1
No ensaio de biodegrabilidade aeróbia, foi utilizada a respirometria como avaliação do grau de
degradação conseguida por esta via. Os ensaios foram realizados com as amostras do efluente
do mesmo dia correspondente aos apontados para o ensaio de degrabilidade anaeróbia.
115
Da observação dos resultados, pode-se constatar que os testes indicaram que a biodegradação
anaeróbia das amostra de efluente do UASB variou de 14,6% à 27,3%, com média situando-se
em 20,4%. Pela via aeróbia, os testes apontaram um de biodegrabilidade variando de 23,5% a
56,3, com média situando-se em 37,0%, ou seja, 16,5% superior à media dos testes
anaeróbios, conforme mostra a Tabela 5.15.
Tabela 5.15 - Comparação das degrabilidades aeróbia e anaeróbia
DQO
mg/L
DEGRADAÇÃO
AERÓBIA %
DEGRADAÇÃO
ANAERÓBIA %
DIFERENÇA
AERO-ANAER.(%)
17/09 372 38,1 21,5 16,6
01/10 312 43,5 14,6 28,9
06/10 335 30,4 27,3 3,1
11/10 277 56,3 18,6 37,7
18/10 280 23,5 22,4 1,1
04/11 270 31,5 18,6 12,9
06/11 306 35,4 20,1 15,3
MÉDIAS 37,0 20,4 16,5
Ressalta-se que o número de ensaios foi reduzido, mas os resultados, avalia-se, são
representativos e dão indicação, de maneira geral, das potencialidades de cada processo.
Schieener et al. (1998) realizaram estudos de degrabilidade anaeróbia de efluentes de um
reator anaeróbio compartimentado, onde fracionou-se este efluente por meio de membranas de
ultrafiltração, utilizando o método BMP (biochemical methane potential), que mostraram que
todas as frações foram biodegradas na proporção que variou de 62% a 82%. Ressalta, porém,
que em alguns casos foi necessário tempo de detenção de onze dias para completar o processo
de biodegradação. Barker (1999) utilizando efluente de reator anaeróbio, determinou a sua
degrabilidade aeróbia e anaeróbia, resultando que por via aeróbia foi mais biodegradável,
destacando, porém, que compostos de baixo peso molecular apresentavam maior grau de
degradação por via anaeróbia. Comparando os dados obtidos no presente estudo, com os
116
relatados, observa-se que, em termos gerais, as conclusões de ambos apontam na mesma
direção.
Quanto ao grau comparativo de biodegrabilidade, resultou que os teste efetivados pela via
aeróbia apresentaram um maior grau de degradação (16,5%) como as conclusões de Barker
(1999).
Quanto à magnitude da degrabilidade, particularmente a relativa a via anaeróbia, os testes
revelaram que se situaram na faixa de 14,6 a 27,3%, valores estes bem inferiores aos relatados
nos estudos de Schiener et al. (1998). Salienta-se, porém, a distinção entre os métodos
empregados, no ensaio de biodegrabilidade anaeróbia, bem como o tempo de processamento
do teste, que no presente estudo foi de 48 horas e nos estudos relatados chegaram a 11 dias.
Outro aspecto que merece ser evidenciado é que se partiu para a investigação das
biodegrabilidades por meio de dois instrumentos específicos, a respirometria para simular a
via aeróbia e o ensaio de AME-Atividade Metanogênica Específica com o objetivo de simular
a digestão anaeróbia. Sob estes pressupostos e condicionantes é que os resultados devem ser
apreciados.
Com estas ponderações, avalia-se que a análise dos resultados deve se efetivar mais sob a ótica
individual de cada via de biodegradação e menos pela ótica comparativa dos graus de
biodegrabilidade das mesmas.
5.6 - MONITORAMENTO DO MATERIAL FLUTUANTE
O material flutuante, característico de reatores UASB, têm relação direta com a presença de
gordura e outros materiais de baixa densidade.
Quanto às suas características, observou-se que o material retido no compartimento de coleta
de gases é bastante denso, com presença de muito material filamentoso, como cabelo, fios de
117
tecido, etc, que são arrastados não só pela gordura, mas também pelo fluxo dos gases. Fora do
compartimento de gás, retido na área interna do retentor de escuma, o material é mais
esponjoso, e menos denso. Na Figura 5.29 é mostrado detalhe do material flutuante.
Figura 5.29-Detalhe do material flutuante no topo do reator
A quantificação do material flutuante foi objeto de monitoramento a partir do dia 21 de agosto,
pois a avaliação, naquele período, foi de que a sua produção estava muito alta. Este material
flutuante era retirado com escumadeira e medido o seu volume, diariamente, tanto da
superfície do compartimento de gases como na superfície circunscrita pelo retentor de escuma.
A Figura 5.30 apresenta a evolução da quantidade diária de material flutuante retirada do
reator.
118
Figura 5.30 - Volume diário de escuma retirada do UASB
Apesar da relação direta da quantidade de escuma com a presença de gordura no afluente,
observa-se que os maiores valores ocorreram ao longo das cinco semanas iniciais,
convencionada de “partida” até próximo ao dia 16 de agosto, com um acentuado “pico” após o
inicio da utilização da vazão integral, indicando que pode haver alguma relação com a
velocidade ascensional e o processo de seleção de biomassa que, avalia-se, ocorreu no
período.
0
100
200
300
400
500
600
21/jul 10/ago 30/ago 19/set 09/out
DIAS PESQUISADOS
VOLUME DE ESCUMA RETIRADA ml
119
6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com a realização deste trabalho, conseguiu-se desenvolver um leque de inferências de
vária naturezas acerca do processo de digestão anaeróbia no reator UASB que, avalia-se,
contribuirão para a compreensão de aspectos cinéticos deste tipo de tratamento de esgoto,
de aspectos operacionais e de estabilidade química, além da correlação entre estes vários
aspectos, propiciando uma visão mais abrangente do processo de digestão anaeróbia.
A análise dos resultados provenientes do desenvolvimento do experimento permitiu as
reflexões e conclusões descritas a seguir.
- Comprovou-se que o UASB piloto montado é uma ferramenta válida para a realização
de estudos e inferências acerca do processo de digestão anaeróbia. Isto foi constatado,
o só pelos estudos do comportamento hidrodinâmico, mas também pelos resultados
dos ensaios com sólidos, que mostraram que o separador de fases tem cumprido o seu
papel de reter eficientemente a biomassa.
- O reator apresentou eficiência de remoção, ao final do período de observação, em
torno de 63%, mas a perspectiva é de que o processo está em evolução e que atingirá o
seu ponto ótimo a curto prazo.
- A análise dos parâmetros cinéticos, particularmente aos relativos à evolução da
biomassa (SVT) no interior do UASB, apontou que os organismos responsáveis pela
digestão anaeróbia ainda estão em fase de adaptação, num equilíbrio dinâmico,
avançando para condições cada vez mais estáveis. Este fato é comprovado pela
tendência da curva de sólidos acumulados no reator que ainda está em fase ascendente,
existindo capacidade de acumulação, tendo em vista que em termos de sólidos totais, o
reator está com carga de baixo valor. A concentração de sólidos nos pontos mais
inferiores do reator está na faixa de 25 kg ST/m
3
, sendo que a expectativa é de que
chegue aos níveis de 34 kgST/m
3
na fase estacionária, conforme indicam van Haandel
e Lettinga(1994).
120
- A produção específica de lodo, determinada em termos de sólidos suspensos,
apresentou valor de 0,075 kgSST/kgDQOaplicada na parte final do período de
observação, patamar este inferior à faixa apontada como convencional (0,1–0,2
kgSST/kgDQOaplicada), fornecendo indicação de que, possivelmente, a biomassa
ainda não alcançou as condições ótima para o seu crescimento.
- O balanço de DQO mostrou ser instrumento exequível e importante para a
compreensão da dinâmica do processo de digestão anaeróbia. A diferença de 13%
encontrada no “fechamento” do balanço de DQO é parcialmente explicada pela não
contabilização do metano dissolvido no efluente do UASB, fazendo com que a
diferença final seja de magnitude compatível com a margem de erro envolvido no
processo de cálculo do balanço (determinações de DQO, consideração do fator de
conversão de 1,14kgDQO/kgSST, determinação da massa de sólidos, etc).
- Os indicadores de estabilidade (pH, alcalinidades, ácidos voláteis e relação AI/AP)
mostraram-se eficientes no acompanhamento da digestão anaeróbia. Estes parâmetros
indicaram que a digestão, no interior do reator UASB está se processando de forma
estável, com capacidade de auto-regulação, superando acúmulos de ácido voláteis
momentâneos.
- O conjunto das ponderações anteriores apontam todas para a conclusão de que o UASB
piloto ainda não completou o seu processo de partida. Este fato é, aparentemente,
contraditório, tendo em vista que foi utilizado lodo de inóculo e o funcionamento do
reator já passa de 16 semanas. Uma das hipóteses que pode explicar este fato é de que
foi utilizado como lodo de inóculo, lodo de digestor da ETEB-norte que funciona em
condições ambientais diferentes das do reator UASB (por batelada, sem fluxo), que
pode ter levado a um conseqüente processo de seleção e adaptação da biomassa às
condições do reator.
- Assim como nos aspectos anteriores, a avaliação da biodegrabilidade, tanto aeróbia
como aneróbia deve-ser interpretadas à luz dos fatores condicionantes que envolveram
os ensaios. O objetivo principal desta avaliação foi de conhecer as potencialidades de
cada via de biodegradação do efluente do UASB. Os resultados indicaram que a via
aeróbia consegue melhores resultados. Este fato decorre da própria condição do
121
efluente do UASB, que é produto de um tratamento anaeróbio e, portanto, já havia sido
investido as suas qualidades para a degradação da matéria orgânica. É imperioso
ressaltar que os resultados devem ser tomados com restrição, tendo em vista o reduzido
número de ensaios validados (oito) e a grande variação de valores de biodegrabilidade
resultante destes ensaios.
- A conclusão complementar quanto à avaliação da biodegrabilidade é que o processos
anaeróbios ainda consegue digerir efluentes de UASB na faixa de 14% a 27% da DQO
residual, valores estes que não são desprezíveis, ou seja, constitui-se numa alternativa
válida para pós tratamento de reatores UASB. Na escolha da opção de pós-tratamento
as potencialidades de cada processo devem ser conjugadas a outros fatores, como os
financeiros, facilidade de operação, legislação ambiental, etc, para definir a opção mais
correta, que minimize os custos e maximize os benefícios.
Do conjunto de conclusões e reflexões mencionadas anteriormente, se desprende as
recomendações que passamos a descrever.
- Com referência ao balanço de DQO, é importante que se invista no desenvolvimento de
um modelo de simulação do mesmo que subsidie os projetos e operação de reatores
UASB. Neste modelo, idealmente, deverá estar contemplado outros fluxos de DQO,
como a produção de material flutuante e o metano dissolvido no efluente, entre outras
parcelas.
- No que concerne a biodegrabilidade do efluente de UASB, é necessário que se invista
na caracterização deste efluente de modo a identificar os correspondentes processos
mais adequados de pós tratamento.
- Quanto à instalação piloto montada para a pesquisa, recomenda-se o aprofundamento
da avaliação de suas características hidrodinâmicas, de maneira a certifica-la como
unidade piloto para utilização em investigações futuras que envolvam a tecnologia de
tratamento por meio de reatores UASB.
122
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