Assim, é nesse contexto histórico que se tem a constituição de um padrão de
feminilidade que afetou às mulheres e muitas sociedades enquanto à designação dos papéis
sociais do campo feminino. A responsabilidade pelo bem estar do lar e da família marcou a
função destinada àqueles sujeitos no período moderno. De acordo com Kehl (1998, p. 52),
[...] a constituição deste lugar – a família, o lar burguês – e a criação de um padrão
de feminilidade que sobrevive ainda hoje, cuja principal função, como veremos, é
promover o casamento, não entre a mulher e o homem, mas entre a mulher e o lar. A
adequação entre a mulher e o homem, e a produção de uma posição feminina que
sustente a virilidade do homem burguês, é a segunda função da feminilidade nos
moldes modernos.
Entretanto, Colling (2004, p. 14) afirma que a história tratou de recuperar a presença
da mulher na própria história e, conseqüentemente, nas culturas. Este processo baliza uma
nova perspectiva ao refletir-se sob condição histórica da mulher, e isso é igualmente
contributivo para a conceituação do feminino, pois ao realizar tal caminho, a história acabou
por mostrar e, portanto, representar o papel social das mulheres e do feminino também em
outras épocas, outras culturas e, principalmente, sob outro olhar. Como demonstra a autora:
O modo mais eficiente para desconstruir algo que parece evidente, sempre dado,
imutável, é demonstrar como esse algo se produziu, como foi construído. [...] o
caráter de construção que a história possui, inclusive sobre o papel de homens e
mulheres na sociedade à maneira androcêntrica, foi sempre de fazer das mulheres
seres menores. Este método é muito antigo, remonta à cultura grega – Para os
gregos, a mulher era excluída do mundo do pensamento, do conhecimento, tão
valorizado pela sua civilização. Com os romanos, em seu código legal, é legitimada
a discriminação feminina, através da instituição jurídica do paterfamílias, que
atribuía ao homem todo o poder: sobre a mulher, os filhos, os servos e os escravos
[...]. Por isso, ao tentar recuperar a presença da mulher na história, foi necessária a
construção de um novo mapa, de uma nova metáfora, desconfiando das categorias
dadas como universais e, ao mesmo tempo, privilegiando as singularidades, as
pluralidades, as diferenças.
O novo modo de pensar sobre a mulher e sua condição na história não foi somente
uma contrapartida dessa ciência, mas um posicionamento que teve força no âmbito dos
campos do movimento feminista, das ciências sociais, da arte e da cultura de modo geral.
Conforme Santos (2004, p. 86) “[...] “verdades” fundadas em paradigmas universalizantes,
legados pelo pensamento cultural filosófico ocidental da modernidade, foram colocados em
questão [...]”. A autora ainda continua com a seguinte constatação,
[...] significando, para alguns, uma ruptura espistemológica denominada de “pós-
modernismo”. Um novo olhar se dirige para o social, realçando as singularidades, a
diversidade, o subjetivo, em detrimento do geral, do objetivo, do universal. [...] o
“pós-feminismo” preocupa-se com as diferenças e as relações não só entre homens e