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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
REMOÇÃO DOS PERTURBADORES ENDÓCRINOS 17β-
ESTRADIOL E P-NONILFENOL POR DIFERENTES TIPOS
DE CARVÃO ATIVADO EM PÓ (CAP) PRODUZIDOS NO
BRASIL – AVALIAÇÃO EM ESCALA DE BANCADA
DEBORAH FREITAS VERAS
ORIENTADORA: CRISTINA CELIA SILVEIRA BRANDÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E
RECURSOS HÍDRICOS
PUBLICAÇÃO: PTARH.DM – 099/2006
BRASÍLIA/DF: SETEMBRO - 2006
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
REMOÇÃO DOS PERTURBADORES ENDÓCRINOS 17β-
ESTRADIOL E P-NONILFENOL POR DIFERENTES TIPOS DE
CARVÃO ATIVADO EM PÓ (CAP) PRODUZIDOS NO BRASIL -
AVALIAÇÃO EM ESCALA DE BANCADA
DEBORAH FREITAS VERAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA
FACULDADE DE TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE.
APROVADA POR:
_________________________________________________________________________
Profª. Cristina Célia Silveira Brandão, PhD (ENC – UnB)
(ORIENTADORA)
_________________________________________________________________________
Prof. Ricardo Silveira Bernardes, PhD (ENC – UnB)
(EXAMINADOR INTERNO)
_________________________________________________________________________
Prof. Valter Lúcio de Pádua, DSc (DESA- UFMG)
(EXAMINADOR EXTERNO)
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
VERAS, DEBORAH FREITAS
Remoção dos Perturbadores Endócrinos 17β-estradiol e p-nonilfenol por Diferentes Tipos de
Carvão Ativado em Pó (CAP) Produzidos no Brasil – Avaliação em Escala de Bancada.
xvi, 139p., 210 x 297 mm (ENC/FT/UnB, Mestre, Tecnologia Ambiental e Recursos
Hídricos, 2006). Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Faculdade de
Tecnologia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
1. Carvão Ativado 2.Perturbadores Endócrinos
3. Remoção do 17β-estradiol e p-nonilfenol 4.Tratamento de água e esgoto
I. ENC/FT/UnB II. Título (série)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
VERAS, D. F. (2006). Remoção dos Perturbadores Endócrinos 17
β
-estradiol e p-
nonilfenol por Diferentes Tipos de Carvão Ativado em Pó (CAP) Produzidos no Brasil –
Avaliação em Escala de Bancada. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental e
Recursos Hídricos, Publicação PTARH.DM-099/06, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 135p.
CESSÃO DE DIREITOS
AUTOR: Deborah Freitas Veras.
TÍTULO: Remoção dos Perturbadores Endócrinos 17β-estradiol e p-nonilfenol por
Diferentes Tipos de Carvão Ativado em Pó (CAP) Produzidos no Brasil – Avaliação em
Escala de Bancada.
GRAU: Mestre ANO: 2006
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação
de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte dessa dissertação
de mestrado pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.
__________________________
Deborah Freitas Veras
SQS 413 Bloco E ap°110 - 70296-050 - Brasília - DF - Brasil
iv
RESUMO
REMOÇÃO DOS PERTURBADORES ENDÓCRINOS 17β-ESTRADIOL E P-
NONILFENOL POR DIFERENTES TIPOS DE CARVÃO ATIVADO EM PÓ
(CAP) PRODUZIDOS NO BRASIL - AVALIAÇÃO EM ESCALA DE BANCADA
Autor: Deborah Freitas Veras
Programa de Pós-Graduação Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos
Brasília, 28 de setembro de 2006
Nas últimas décadas, verifica-se um crescente interesse científico e debate público a
respeito dos potenciais efeitos adversos associados à exposição humana e animal aos
perturbadores endócrinos. Águas residuárias são as fontes mais comuns de contaminação
de perturbadores endócrinos e, segundo a literatura, essas substâncias não são removidas
por completo nos tratamentos convencionais de água e esgotos. A adsorção em carvão
ativado tem sido apontada como uma opção para a remoção de perturbadores endócrinos.
Entretanto, a eficiência do carvão ativado, de um modo geral, depende da sua matéria-
prima, da área superficial e distribuição do tamanho dos poros e das características dos
compostos a serem adsorvidos. Assim, o presente trabalho contempla a avaliação da
remoção de perturbadores endócrinos por carvão ativado em pó (CAP), sob condições
controladas em laboratório. Os perturbadores endócrinos selecionados para estudo foram o
17β-estradiol e o p-nonilfenol devido, respectivamente, ao maior potencial de risco aos
seres vivos e às concentrações elevadas encontradas em esgotos e mananciais. A
metodologia consistiu em ensaios de capacidade adsortiva, realizados com amostras
preparadas com água deionizada (cerca de 1 µg/L de 17β-estradiol e 100 µg/L de p-
nonilfenol) e CAPs produzidos no Brasil (3 de origem vegetal e 1 de origem animal), e
análises de residuais utilizando o método ELISA. Verificou-se que o modelo de Freundlich
foi o que melhor representou a adsorção do 17β-estradiol nos carvões de origem vegetal.
Quanto às curvas de residuais obtidas, estas se assemelharam a um decaimento
exponencial negativo com relação à dosagem de CAP, com remoções proporcionalmente
mais significantes para dosagens menores que 10mg de CAP/L. Observou-se, a partir de
correlações de dados, que o 17β-estradiol apresentou maior tendência a ser adsorvido nos
microporos e que o carvão mineral tem um comportamento diferenciado, pois ao mesmo
tempo em que apresentou o maior percentual de remoção, não se ajustou aos modelos de
Freundlich e Langmuir. Quanto ao p-nonilfenol, devido a problemas experimentais, não
são apresentados resultados, mas são relatadas as dificuldades enfrentadas.
Palavras-chaves: Perturbadores Endócrinos; Adsorção em Carvão Ativado; 17β-estradiol;
p-nonilfenol.
v
ABSTRACT
REMOVAL OF THE ENDOCRINE DISRUPTORS 17β-ESTRADIOL AND P-
NONYLPHENOL BY DIFFERENT POWDERED ACTIVATED CARBONS (PAC)
PRODUCED IN BRAZIL – EVALUATION IN BENCH SCALE
Author: Deborah Freitas Veras
Pos-graduated Program in Environmental Technology and Water Resources
September 28
th
, 2006, Brasília, DF
In the last decades, a growing scientific concern and public debate have been raised over
the potential adverse effects associates to human and animal exposure to endocrine
disruptors (EDs). Domestic sewers and treated effluents are the most common source of
contamination and, according to the literature, these substances are only partially removed
by conventional water and wastewater treatments. Adsorption on activated carbon has been
recognized as an option for the removal of endocrine disruptors. However, the activated
carbon efficiency, in general, depends on the original material, on the superficial area and
pores size distribution and on the characteristics of the compound to be adsorbed. This
work presents an evaluation of the removal of endocrine disruptors by powdered activated
carbon (PAC), carried out under controlled laboratory conditions. The endocrine disruptors
selected to be evaluated were the 17β-estradiol and the p-nonilfenol due to, respectively,
the higher risk potential to live beings and the high concentrations found in sewerage and
raw water. Adsorptive capacity experiments were carried out using samples prepared with
ultra-pure water (around 1 µg/L de 17β-estradiol e 100 µg/L de p-nonilfenol) and PACs
produced in Brazil (3 of vegetal origin and 1 of animal origin). Immunoassay (ELISA) was
used to quantify ED residuals. It was verified that the Freundlich’s Model was more
adequate to describe the adsorption of 17β-estradiol on PAC of vegetal origin. The
residuals curves obtained followed, approximately, a negative exponential decline with the
increase of PAC dosage, presenting more significant removals for dosages below 10mg of
PAC/L. It was observed, from correlations data, that the 17-estradiol had higher tendency
to be adsorbed by micropores and that the animal origin PAC had a singular behavior.
Although it presented the highest removal efficiency, the adsorption results were not
adjustable to either Freundlich’s or Langmuir’s Models. Due to experimental problems, p-
nonylphenol adsorption capacity data are not presented, nevertheless the difficulties faced
are discussed in details.
Keywords: Endocrine Disruptors, Activated Carbon Adsorption, 17-estradiol, p-
nonylphenol.
vi
SUMÁRIO
1 -
INTRODUÇÃO...................................................................................
1
2 -
OBJETIVO...........................................................................................
4
3 -
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................
5
3.1 -
PERTURBADORES ENDÓCRINOS......................................................
5
3.1.1 -
O sistema endócrino...................................................................
5
3.1.2 - Características gerais dos perturbadores endócrinos............. 10
3.1.3 - Características dos perturbadores endócrinos abordados
nesse trabalho.............................................................................
19
3.1.4 -
Extensão do problema................................................................
23
3.1.5 -
Detecção dos perturbadores endócrinos..................................
28
3.2 -
ADSORÇÃO POR CARVÃO ATIVADO...............................................
34
3.2.1 -
Histórico......................................................................................
34
3.2.2 -
Princípio da adsorção.................................................................
36
3.2.3 -
Características da adsorção.......................................................
39
3.2.4 -
Adsorção por carvão ativado em pó (CAP).............................
48
3.2.5 -
Adsorção por carvão ativado granular (CAG)........................
52
3.3 - PROCESSOS DE REMOÇÃO DE PERTURBADORES
ENDÓCRINOS...........................................................................................
58
3.3.1 -
Remoção por processo de oxidação..........................................
58
3.3.2 -
Remoção por coagulação melhorada........................................
63
3.3.3 -
Remoção por filtração em membrana
......................................
67
3.3.4 -
Remoção por carvão ativado.....................................................
71
4 -
METODOLOGIA................................................................................
80
4.1 -
CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................................
80
4.2 -
SELEÇÃO DOS TIPOS DE CARVÃO ATIVADO EM PÓ..................
80
4.3 -
DETERMINÇÃO DA CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs.......
81
4.3.1 -
Definição da configuração dos experimentos...........................
81
4.3.2 -
Desenvolvimento dos experimentos..........................................
87
4.3.3 -
Quantificação dos perturbadores endócrinos em estudo........
90
4.4 -
CONSTRUÇÃO DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO.........................
97
vii
5 - APRESENTAÇO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............... 99
5.1 - EXPERIMENTOS COM P-NONILFENOL - PROBLEMAS
ENFRENTADOS........................................................................................
99
5.2 - AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs PARA
REMOÇÃO DO 17β-ESTRADIOL.........................................................
109
6 -
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.........................................
120
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................
123
APÊNDICES................................................................................................
130
A - CARACTERISTICAS DOS CAPs E DOS KITs ELISA.......................
131
A.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS DIFERENTES
CAPs..............................................................................................
131
A.2 - VOLUME E DISTRIBUIÇÃO DO TAMANHO DOS
POROS DOS CAPs......................................................................
131
A.3 - GRANULOMETRIA DOS CAPs 131
A.4 - INFORMAÇÕES FORNECIDAS PELOS KITs ELISA 132
B - RESULTADOS OBTIDOS PARA DETERMINAÇÃO DA
CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs COM RELAÇÃO AO
17β-ESTRADIOL.......................................................................................
133
B.1-
VALORES RESIDUAIS DO 17β-ESTRADIOL NO
EXPERIMENTO PARA DETERMINAÇÃO DA
CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs..................................
133
B.2 -
CONCENTRAÇÃO RESIDUAL DE 17β-ESTRADIOL (Ce)
E MASSA DE 17β-ESTRADIOL ADSORVIDA POR
UNIDADE DE CARVÃO (q
e
) ......................................................
134
B.3 -
PERCENTAGEM DE REMOÇÃO DE 17β-ESTRADIOL.......
135
B.4 -
MASSA DE 17β-ESTRADIOL MÁXIMA ADSORVIDA POR
UNIDADE DE CARVÃO (q
e max
).................................................
135
B.5 -
VALORES DOS COEFICIENTES n E K DO MODELO DE
FREUNDLICH...............................................................................
135
B.6 - VALOR DO COEFICIENTE b DO MODELO DE
LANGMUIR...................................................................................
136
viii
B.7- VALORES DE pH E TEMPERATURA REGISTRADOS
DURANTE OS EXPERIMENTOS..............................................
136
B.8- DIMENSÕES DOS PRINCIPAIS COMPONENTES
MICROSCÓPICOS E MOLECULARES PRESENTES EM
ÁGUAS NATURAIS E TIPOS DE MEMBRANAS
UTILIZAVEIS PARA A SUA SEPARAÇÃO.............................
138
B.9 - CORRELAÇÕES OBTIDAS ENTRE AS
CARACTERÍSTICAS DOS CAPs E A CONCENTRAÇÃO
ADSORVIDA DE 17β-ESTRADIOL E O VALOR DE K .........
139
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 - Perturbadores endócrinos mais comumente utilizados pelo homem..... 16
Tabela 3.2 - Algumas substâncias consideradas como perturbadores endócrinos e
seus efeitos em humanos........................................................................ 17
Tabela 3.3 - Comparação dos valores detectados de estrogênios, nos efluentes de
ETEs estudados por Ternes et al. (1999)............................................... 26
Tabela 3.4 - Outros estudos sobre detecção de substâncias perturbadoras
endócrinas.............................................................................................. 27
Tabela 3.5 - Vantagens e desvantagens de imunoensaios para amostras
ambientais............................................................................................. 30
Tabela 3.6 - Classificação das técnicas analíticas de detecção de perturbadores
endócrinos para diferentes matrizes ambientais................................... 32
Tabela 3.7 - Cronologia do uso do carvão ativado................................................... 35
Tabela 3.8 - Classificação dos poros para carvões ativados..................................... 38
Tabela 3.9 - Vantagens e Desvantagens dos diferentes pontos de aplicação do
CAP...................................................................................................... 50
Tabela 3.10 - Coagulação melhorada: percentual requerido de remoção de COT..... 64
Tabela 3.11 - Valor limite de pH para estabelecimento da meta específica de
remoção de COT na coagulação melhorada - segundo
passo..................................................................................................... 65
Tabela 3.12 - Características dos carvões utilizados nos dois grupos de ensaios
realizados por Paune et al. (1998)........................................................ 73
Tabela 3.13 - Resumo dos valores de K obtidos nos experimentos sobre cinética e
dose-resposta de Yoon et al. ............................................................... 75
Tabela 3.14 - Valores de K e dos tempos de equilíbrio de adsorção para os
diferentes adsorvente estudados por Zhang e Zhou............................. 77
Tabela 4.1 – Nomenclaturas adotadas para os tipos de carvão ativado em pó
nacionais utilizados nesse trabalho...................................................... 81
Tabela 4.2 -
Características do 17β-estradiol e do p-nonilfenol...............................
84
Tabela 4.3 - Volumes para amostra e massas de carvões indicados para
determinados níveis de concentração de adsorvato.............................. 86
Tabela 4.4 - Principais características dos kits ELISA utilizados nesse trabalho.... 91
x
Tabela 5.1 - Resultados dos ensaios realizados com o carvão COCO para
remoção do 4-nonilfenol...................................................................... 103
Tabela 5.2 -
Resumo das concentrações iniciais do 17β-estradiol...........................
110
Tabela 5.3 -
Equações das isotermas de 17β-estradiol dos CAPs estudados para
os diferentes ajustes aos modelos de Freundlich.................................. 112
Tabela 5.4 - Resumo das correlações obtidas entre as características dos CAPs e
a concentração adsorvida de 17β-estradiol na dosagem de 20mg de
CAP/L e o valor de K...........................................................................
116
Tabela A.1 - Características gerais dos diferentes CAPs estudados ........................ 131
Tabela A.2 - Volume e distribuição do tamanho dos poros para os diferentes
CAPs estudados.................................................................................... 131
Tabela A.3 - Granulometria dos carvões fornecida pelos fabricantes....................... 131
Tabela A.4 - Principais componentes que causam reações cruzadas........................ 132
Tabela B.1 -
Valores residuais do 17β-estradiol em µg/L obtidos nos
experimentos........................................................................................
133
Tabela B.2 - Valores de C
e
e q
e
utilizados para traçar os ajustes aos modelos de
isotermas Freundlich e Langmuir......................................................... 134
Tabela B.3 -
Percentagem de remoção de 17β-estradiol...........................................
135
Tabela B.4 -
Massa de 17β-estradiol máxima adsorvida por unidade de carvão
(µg/mg).................................................................................................
135
Tabela B.5 - Valores dos coeficientes n e K do modelo de Freundlich.................... 135
Tabela B.6 - Valor do coeficiente b do modelo de Langmuir.................................. 136
Tabela B.7.1 - Valores de temperatura registrados durante os experimentos (°C)...... 136
Tabela B.7.2 - Valores de pH registrados durante os experimentos............................ 137
Tabela B.8 - Correlações obtidas entre as características dos CAPs e a
concentração adsorvida de 17β-estradiol na dosagem de 20mg de
CAP/L e o valor de K...........................................................................
139
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 - Glândulas endócrinas presentes no corpo humano.................................. 6
Figura 3.2 - Localização da hipófise e hipotálamo...................................................... 7
Figura 3.3 - Glândula hipófise..................................................................................... 7
Figura 3.4 - Síntese protéica dos hormônios esteróides............................................... 8
Figura 3.5 - Fenômenos de desregulação endócrina.................................................... 9
Figura 3.6 - Pontos de provável detecção de perturbadores endócrinos nas ETEs e
rotas de poluição ambiental...................................................................... 14
Figura 3.7 - Pontos de entrada no meio ambiente dos estrogênios liberados por
animais em fazendas................................................................................. 14
Figura 3.8 -
Estrutura química do 17β-estradiol e do p-nonilfenol.............................
23
Figura 3.9 - Ilustração de dois passos genéricos dos imunoensaios............................ 29
Figura 3.10 - Esquema da estrutura dos poros para carvões ativados: (a) estrutura
cônica e (b) estrutura cilíndrica................................................................ 39
Figura 3.11 - Tipos de isotermas de adsorção…………………………………............ 40
Figura 3.12 - Tipos de isotermas de adsorção gasosa para caracterização de poros...... 41
Figura 3.13 - Tipos de histereses em isotermas de adsorção-dessorção gasosa e a
relação com o formato do poro................................................................ 42
Figura 3.14 - Isotermas de adsorção pelo modelo de Langmuir.................................... 43
Figura 3.15 - Isotermas de adsorção pelo modelo de Freundlich.................................. 44
Figura 3.16 - Isotermas de Freundlich linearizadas....................................................... 45
Figuras 3.17 - Efeito da temperatura na adsorção –esquemático.................................... 47
Figura 3.18 - Esquemas das opções de localização do CAG......................................... 53
Figura 3.19 - ZMT em uma coluna de CAG.................................................................. 55
Figura 3.20 -
Fenômeno de oxidação do 17α-etinilestradiol no reator de MnO
2
..........
62
Figura 4.1 - Tipos de termômetros utilizados no monitoramento de temperatura....... 82
Figura 4.2 - Dispositivo de agitação para teste de jarros............................................. 82
Figura 4.3 - Dessecador acoplado a bomba a vácuo.................................................... 87
Figura 4.4 - Esquema do procedimento utilizado nos experimentos de determinação
da capacidade adsortiva dos CAPs........................................................... 88
Figura 4.5 - Filtração a vácuo...................................................................................... 89
xii
Figura 4.6 - Exemplos de curvas de calibração dos kits ELISA.................................. 91
Figura 4.7 - Etapas do ensaio ELISA........................................................................... 93
Figura 4.8 - Leitora ELISA.......................................................................................... 93
Figura 4.9 -
Esquema de pré-tratamento para amostras com 17β-estradiol.................
95
Figura 4.10 - Esquema de pré-tratamento para amostra com p-nonilfenol.................... 96
Figura 4.11 - Exemplo hipotético de uma isoterma de adsorção segundo a equação
de Freundlich............................................................................................ 98
Figura 4.12 - Exemplo hipotético de uma isoterma de adsorção segundo a equação
de Langmuir.............................................................................................
98
Figura 5.1 - Homogeneizador de sangue.....................................................................
107
Figura 5.2 -
Residuais de 17β-estradiol com as dosagens de CAP..............................
110
Figura 5.3 -
Remoção de 17β-estradiol em diferentes dosagens para cada CAP........
112
Figura 5.4 -
Isotermas de adsorção do 17β-estradiol para diferentes CAPs (ajuste
ao modelo de Freundlich)......................................................................... 113
Figura 5.5 -
Isotermas de adsorção do 17β-estradiol para diferentes CAPs (ajuste
ao modelo de Langmuir).......................................................................... 114
Figura 5.6 - Valores das capacidades adsortivas máximas (q
e máx
), obtidas a partir
do ajuste aos modelos de Freundlich e Langmuir, considerando a
concentração inicial de 1µg/L de 17β-estradiol.......................................
114
Figura 5.7 - Parâmetros K e n do modelo de Freundlich............................................. 115
Figura B.1 - Dimensões dos principais componentes microscópicos e moleculares
presentes em águas naturais e tipos de membranas utilizáveis para a
sua separação............................................................................................ 138
xiii
LISTAS DE SÍMBOLOS, NOMECLATURA E ABREVIAÇÕES
α.................................................
Alfa minúsculo e inclinação da isoterma linearizada do
modelo de Langmuir.
ABNT......................................... Associação Brasileira de Normas Técnicas
Al
2
O
3
.......................................... Alumina Ativada
AHH........................................... Aril-hidrocarboneto hidroxilase
APs............................................. Alkylphenols (Alquifenóis)
APnEOs Alkylphenols Ethoxylates (Alquifenóis Polietoxilatos)
ASTM.........................................
American Society for Testing and Materials
(Sociedade Americana para Teste e Materiais)
atm............................................. Unidade de pressão (atmosfera)
ATP............................................ Adenosina tri-fosfato
AWWA.......................................
American Water Works Association
(Associação Americana de Trabalhos com Água)
β..................................................
Beta minúsculo
b.................................................. Constante que relaciona a energia de ligação do adsorvato
com a superfície do adsorvente.
BET............................................ Brunauer, Emmett, Teller (os três cientistas que
aperfeiçoaram a teoria para medir a área superficial dos
carvões ativados)
BPA............................................ Bisfenol A
BTX ........................................... Benzeno, tolueno e xilenos
CA.............................................. Carvão Ativado
CAG........................................... Carvão Ativado Granular
CAP............................................ Carvão Ativado em
CaCO
3
......................................... Carbonato de Cálcio
CAS............................................ Chemical Abstracts Service
Número de registro único no banco de dados do Chemical
Abstracts Service, uma divisão da Sociedade Americana de
Química. O Chemical Abstracts Service atribui esses
número a cada produto químico que é descrito na literatura.
C
e
............................................... Concentração em equilíbrio do adsorvato em solução ou
residual do adsorvato.
GC ............................................. Gas Chromatografic (Cromatografia Gasosa)
GC/MS.......................................
Gas Chromatography Mass Spectrometry
(Cromatografia gasosa ligada à espectrometria de massa)
GC/MS/MS.................................
Gas Chromatography Tandem Mass Spectrometry
(Cromatografia gasosa ligada à dupla espectrometria de
massa)
LC............................................... Liquid Chromatografic (Cromatografia Líquida)
LC/MS........................................
Liquid Chromatography Mass Spectrometry
(Cromatografia Líquida ligada à espectrometria de massa)
LC/MS/MS.................................
Liquid Chromatography Tandem Mass Spectrometry
(Cromatografia Líquida ligada à dupla espectrometria de
massa)
cm
2
............................................. Centímetro quadrado
cm
3
............................................. Centímetro cúbico
xiv
C
o...
.............................................. Concentração inicial do adsorvato ou concentrações iniciais
de 17β-estradiol.
COD........................................... Carbono Orgânico Dissolvido
COT............................................ Carbono Orgânico Total
Da............................................... Unidade de peso molecular (Dalton), um D corresponde ao
peso de um átomo de hidrogênio.
DBPR ........................................ Disinfection Byproduct Rule (Legislação específica para
subprodutos da desinfecção)
DBPs........................................... Disinfection Byproduct (Subprodutos da desinfecção)
DBPC......................................... Dibromocloropropano
d
CAP...................................................................
Dosagem de CAP
DDT............................................ Dicloro Difenil Tricloroetano
DES............................................ Dietilestilbestrol
DMSO........................................ Dimetilsufóxido
DNA........................................... Deoxyribonucleic Acid (Ácido Desoxirribonucléico)
EEE2...........................................
17α-etinilestradiol
E2...............................................
17β-estradiol
EFS............................................. Extração da Fase Sólida
ELISA......................................... Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay (Imunoensaio
enzimático)
ELRA......................................... Enzyme Linked Receptor Assay (Ensaio receptor
enzimático)
ENC............................................
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da
Universidade de Brasília
EOs............................................. Etoxilados
EPA............................................ Environmental Protection Agency (Agência de Proteção
Ambiental Norte Americana)
ER............................................... Estrogen Receptor (Receptor estrógeno)
ER-CA........................................
Estrogen Receptor Competition Assay
(Ensaios de competição com receptor estrógeno)
ETA............................................ Estação de Tratamento de Água
ETE............................................. Estação de Tratamento de Esgoto
ETU............................................ Etilenotiouréia
EUA............................................ Estados Unidos da América
FID............................................. Flame-Ionization Detector (Detector de ionizador de
chama)
g.................................................. Grama
H1, H2, H3, H4.......................... Tipos de Histereses
h.................................................. hora
HAA........................................... Ácidos haloacéticos
HCB............................................ Hexaclorobenzeno
H
2
O
2
........................................... Peróxido de hidrogênio
H
3
PO
4
........................................ Ácido fosfórico
HPLC.......................................... High Pressure Liquid Chromatography (Cromatografia
líquida de alta pressão)
ICM............................................ Contrastes de raios-X
IUPAC……………………….... International Union of Pure and Applied Chemistry (União
Internacional de Química Pura e Aplicada)
K................................................. Constante relacionada com a capacidade de retenção do
adsorvente pelo adsorvato ou, simplesmente, constante de
xv
adsorção.
kg............................................... Quilograma
K
wo
.............................................. Coeficiente de partição octanol/água
L................................................. Litro
LD............................................... Limite de detecção
LQ............................................... Limite de quantificação
LAA............................................ Laboratório de Análise de Água
log............................................. Logaritmo
M................................................ massa da substância por unidade de quantidade de matéria
(Molar)
M................................................ Mega
m
2
............................................... Metro quadrado
m
3
............................................... Metro cúbico
mg............................................... Miligrama
µg................................................
Micrograma
ΜΙΒ............................................
Metilisoborneol
min............................................. Minuto
mL.............................................. Mililitro
µL..............................................
Microlitro
µm..............................................
Micrometro
mm.............................................. Milímetro
Mn
+2
............................................ Íons de manganês
MnO
2
......................................... Óxido de Manganês
Mol............................................. Unidade de mol
MS.............................................. Mass Spectrometry (espectrometria de massa)
MS-MS....................................... Tandem Mass Spectrometry (Dupla espectrometria de
massa)
MVLN........................................ Células da linhagem celular MCF-7 derivadas do câncer de
mama humano que são transferidas de forma estável com
gene luciferase sob o controle de elementos que reagem a
estrogênios do gene Xenopus VGT A2 para a detecção de
atividade receptora estrogênica.
n.................................................. Nano
n.................................................. Constante em função da força de ligação entre o adsorvente
e o adsorvato.
N................................................. Normal
N°............................................... Número
N
2
................................................ Nitrogênio
ng................................................ Nanograma
nm............................................... Nanometro
NPs............................................. Nonylphenols (Nonilfenóis)
NPnECs...................................... Nonylphenols Acetic Acids (Nonilfenóis Carboxilados)
NPnEOs...................................... Nonylphenols Ethoxylates (Nonilfenóis Polietoxilados)
OCDE......................................... Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico
O
3
................................................ Ozônio
OMS........................................... Organização Mundial de Saúde
Pa................................................ Unidade de pressão (Pascal)
PAHs.......................................... Polycyclic Aromatic Hydrocabons (Hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos)
xvi
PESTANAL............................... Substância padrão para uso pesticida
PCB............................................ Policloretos de Bifenilas
PCF............................................ Pentaclorofenol
pH............................................... Potencial Hidrogeniônico
ppb.............................................. Partes por bilhão
ppt............................................... Partes por trilhão
PVC............................................ Polyvinyl Chloride (Cloreto de polivinil)
q
e
................................................. Quantidade de adsorvato por unidade de adsorvente ou
massa do perturbador endócrino por unidade de carvão.
QI................................................ Quociente de Inteligência
q
máx
............................................. Limite de saturação (máxima massa de adsorvato por massa
de adsorvente), capacidade máxima de adsorção do carvão
ativado ou capacidade adsortiva máxima.
Q
P
................................................ Vazão de projeto
RIA............................................. Radio Immuno Assay (Radio-Imunoensaio)
RNA........................................... Ribonucleic Acid (Ácido ribonucléico)
RNAm........................................ Messenger Ribonucleic Acid (Ácido ribonucléico
mensageiro)
RNAt......................................... Transfer Ribonucleic Acid (Ácido ribonucléico
transportador)
rpm............................................ Rotações por minuto
SDWA........................................ Safe Drinking Water Act (revisão da legislação americana
relativa a água de consumo humano)
T1, T2......................................... Temperaturas
TBT............................................ Tributilo estanho
t
o
................................................. Tempo inicial para colocar a amostra no agitador
T
C
............................................... Tempo de contato de leito vazio
THM........................................... Trihalometanos
UE............................................... União Européia
UnB........................................... Universidade de Brasília
USA, US.....................................
United States of American
UV.............................................. Ultravioleta
V
R
............................................... Volume requerido
VTG............................................ Vitelogenina
YES............................................ Yeast Estrogen Screen (Separação de estrogênio por
levedura)
YTA............................................ Yeast Two-hybrid Assay (Ensaio levedura bi-híbrido)
ZMT........................................... Mass Transfer Zone (Zona de transferência de massa)
ZnCl
2
......................................... Cloreto de zinco
%................................................. Percentual
°C................................................ Graus Celsius
1
1 - INTRODUÇÃO
Um dos temas que, nas últimas décadas, tem atraído a atenção da comunidade científica
internacional é a presença no meio ambiente de um grupo específico de substâncias
exógenas capazes de assumir ou inibir a função de hormônios naturais nos seres vivos
alterando as funções do sistema endócrino, nervoso e imunológico. Este grupo é
denominado de perturbadores endócrinos. (Nogueira, 2003 e Castro, 2002).
Essas substâncias são, em sua maior parte, provenientes de produtos como pesticidas,
plásticos, detergente, lacas, tintas, antibióticos, fármacos e resíduos industriais e
domésticos. No entanto, também se deve incluir a esse grupo os próprios hormônios
eliminados pelo seres vivos, já que estes podem causar interferências em outros
organismos de diversas espécies. Em geral, os perturbadores são compostos orgânicos,
lipofílicos e semi-voláteis, o que facilita a dispersão ambiental pelos recursos hídricos
(Nogueira, 2003).
As evidências científicas associadas ao impacto dessas substâncias perturbadoras
endócrinas sobre a saúde humana ainda não são, totalmente, conhecidas, pois os seus
efeitos necessitam de longo prazo para se manifestarem. Já com relação aos impactos sobre
a vida aquática, para as concentrações encontradas nos esgotos sanitários, e em águas
receptoras destes, já existem confirmações por meio de estudos in vitro e in vivo.
O trabalho contemplará o estudo de remoção de dois perturbadores endócrinos: 17-
estradiol (estrogênio natural) e p-nonilfenol (xenoestrogênio). Tais compostos foram
escolhidos, respectivamente, pelo maior potencial de risco aos seres vivos e pelo elevado
valor encontrado das concentrações em esgotos e mananciais.
O p-nonilfenol é largamente usado na fabricação de detergentes, óleos lubrificantes,
pesticidas e realizando o papel de antioxidante, estabilizador e emusificante em cloreto de
polivinila (PVC) e poliestireno. Já o 17β-estradiol, é excretado, principalmente, pelas
mulheres por meio da urina e das fezes, aumentando durante a gestação, períodos férteis e
nos tratamentos de reposição hormonal.
2
Os efluentes domésticos são a fonte mais comum de contaminação ambiental por
hormônios (estrogênios naturais e sintéticos) e pelo aporte de compostos como o p-
nonilfenol aos ambientes aquáticos. Isto porque a remoção desses compostos nos
tratamentos biológicos de esgotos ocorre em níveis não suficientes para a proteção da vida
aquática, e com potenciais ricos a para saúde humana. Dessa forma é importante buscar
soluções que sejam eficientes na remoção de perturbadores endócrinos, ajustáveis a
sistemas em operação, com baixo custo e flexibilidade.
Atualmente, sabe-se que as tecnologias avançadas de carvão ativado e membrana de
filtração são as mais eficientes na remoção dos perturbadores endócrinos, sendo a
utilização das membranas em muitos casos inviável devido ao seu elevado custo. Outras
opções são as técnicas aplicadas a sistemas convencionais, como a coagulação melhorada e
oxidação que têm se mostrado eficiente na remoção de compostos orgânicos persistentes,
sendo, portanto também possíveis de serem utilizadas na remoção dos perturbadores
endócrinos.
Esse trabalho contemplará o estudo da técnica de remoção por carvão ativado em pó
(CAP). A opção pelo CAP se deve ao fato dessa técnica ser adaptável a sistemas em
operação tanto no tratamento de água de abastecimento como no polimento final das
estações de tratamento de esgoto. Além disso, busca-se conhecer o potencial de aplicação
dos carvões produzidos no Brasil na remoção dos perturbadores endócrinos em questão.
É importante comentar que o tema sobre perturbadores endócrinos ainda é pouco
abordado, principalmente, no Brasil e, portanto, não há recomendações a respeito de
padrões de qualidade na Portaria 518 e nem mesmo fornecidas pela Organização Mundial
de Saúde (OMS). Dessa forma, a idéia de estabelecer um rigoroso controle do que é
lançado nos corpos d’água e de um monitoramento contínuo dos mananciais de
abastecimento torna-se essencial para a preservação ambiental e da saúde humana e,
portanto, deve ser enfatizada.
O trabalho proposto será composto pelos capítulos de: introdução; objetivo; revisão
bibliográfica; metodologia; apresentação e discursão dos resultados; e, conclusões e
recomendações. Na revisão bibliográfica é feita uma apresentação do problema,
juntamente com relatos sobre os diferentes processos de remoção dos perturbadores
3
endócrinos que vem sendo estudados. Além de uma abordagem teórica sucinta sobre o
carvão ativado.
4
2 - OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é avaliar a remoção de perturbadores endócrinos por quatro
diferentes tipos de carvão ativado em pó, produzidos no Brasil, sob condições controladas
em laboratório.
São objetivos específicos desse trabalho:
(1) Avaliar a capacidade adsortiva dos CAPs selecionados na remoção do perturbador
endócrino 17β-estradiol, em amostras sem interferências de outros compostos
orgânicos.
(2) Avaliar a capacidade adsortiva dos CAPs selecionados na remoção do perturbador
endócrino p-nonilfenol, em amostras sem interferências de outros compostos
orgânicos.
(3) Avaliar, de foram preliminar, qual é a característica do CAP que melhor representa a
capacidade de promover melhores remoções de 17β-estradiol e p-nonilfenol.
5
3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 - PERTURBADORES ENDÓCRINOS
3.1.1 - O sistema endócrino
O sistema endócrino é um conjunto de glândulas que apresentam como atividade
característica a produção de hormônios. O principal objetivo desses hormônios é auxiliar
nas funções e reações corporais de quase todos os animais vertebrados e invertebrados. Por
exemplo, os ovários e os testículos são glândulas pertencentes ao sistema endócrino cuja
função é controlar as funções sexuais, por meio da liberação dos hormônios estrogênio
(17β-estradiol) e androgênio (testosterona), respectivamente (Nogueira, 2003).
As glândulas que compõem o sistema endócrino são classificadas em duas categorias:
Endócrinas; que são agrupamentos celulares, localizados no interior de alguns órgãos
bastante vascularizados, que liberam as suas secreções (hormônios) no tecido conjuntivo
intercelular (que contém líquidos e diversas proteínas) e nos berços capilares, de onde
ganham a corrente sangüínea para uma ação à distância. Na Figura 3.1 tem-se uma
ilustração das diversas glândulas endócrinas presentes no corpo humano;
Exócrinas; que são grupos celulares isolados que liberam as suas secreções em sistemas
canaliculares, com ações somente locais. Ou seja, as secreções não são despejadas na
corrente sangüínea, mas em outros órgãos ou para o exterior do corpo, por meio de
canais. Exemplos dessas glândulas são as sudoríparas, mamárias e o pâncreas.
Com relação aos hormônios produzidos pelas glândulas, estes são classificados de duas
formas diferentes de acordo como são recebidos pelas células-alvos (Nogueira 2003):
Hormônios lipossolúveis (derivados de aminoácidos e esteróides); não precisam de
emissores e receptores para atravessar a membrana celular, pois são de dimensão menor
e substancialmente lipofílicos. Esses hormônios circulam livremente nas células alvos,
interagindo no núcleo da célula com receptores nucleares muito específicos nos quais há
um encaixe perfeito do hormônio, formando o chamado complexo chave-fechadura;
Hormônios hidrossolúveis (protéicos e peptídeos); requerem emissores e receptores na
superfície da membrana celular para que haja transmissão de uma célula para outra,
6
tendo em vista que esses hormônios são pouco solúveis na membrana celular lípidica
pelo fato de serem, geralmente, constituídos por proteínas modificadas e apresentarem
carga em sua estrutura.
A hipófise, ou pituitária, é considerada a glândula controladora do sistema endócrino
porque a maioria dos hormônios por ela produzidos, os denominados tróficos, atuam sobre
outras glândulas endócrinas, comandando as secreções dos hormônios dessas últimas. A
hipófise se situa numa depressão do osso esfenóide, na base craniana, logo abaixo de uma
região cerebral chamada hipotálamo, com o qual mantém estreitas relações anatômicas e
funcionais. Na Figura 3.2 e 3.3 tem-se, respectivamente, a localização específica da
hipófise e do hipotálamo e uma ilustração mais detalhada da hipófise.
No entanto, para que a hipófise controle outras glândulas, esta deverá ser estimulada pelo
sistema nervoso através de conexões neurais com o hipotálamo, o qual produzirá
substâncias semelhantes a hormônios, denominados fatores desencadeadores ou de
liberação. Tal fato permite que o sistema endócrino interaja com o sistema nervoso
formando um preciso mecanismo regulador, no qual o hipotálamo exerce a função de
mediador entre esses dois sistemas.
Figura 3.1 - Glândulas endócrinas presentes no corpo humano (Avancini e Favaretto,
1997).
7
O mecanismo do sistema endócrino é acionado por reações das células nervosas a algum
estímulo externo (exemplo: fome, medo, etc), ou seja, o sistema nervoso, mais
precisamente o hipotálamo, enviará um sinal desencadeador à hipófise. Por sua vez, a
hipófise liberará um determinado hormônio trófico que atuará sobre uma glândula
endócrina específica, estimulando esta a produzir e liberar seu hormônio específico para a
corrente sanguínea ou para ação local.
Esses últimos hormônios produzidos levam instruções às células-alvos onde se ligarão a
receptores específicos. Os receptores podem estar localizados na superfície celular, como
os dos hormônios protéicos e peptídicos, ou dentro da célula, como os receptores dos
hormônios derivados de aminoácidos (exemplo: os produzidos pela tireóide) e os
hormônios esteróides (exemplo: estradiol, progesterona e testosterona), como já
mencionado.
O conjunto receptor-hormônio interpreta a mensagem hormonal e faz a transdução, isto é,
a transformação do sinal numa reação química que determinará o efeito hormonal. A
transdução é composta de duas fases. A primeira delas é a transcrição em que ocorre o
processo de decodificação da mensagem contida no gene para uma fita de ácido
ribonucléico mensageiro (RNAm), atividade esta realizada pela enzima RNA polimerase
produzida pelos ribossomos. Essa fita de RNAm contém as informações para produzir as
proteínas. Em seguida, tem-se a fase de tradução em que ocorre a síntese e fabricação das
Figura 3.2 – Localização da hipófise e
hipotálamo (César Jr. e Sezar, 2002).
Figura 3.3 – Glândula hipófise (Avancini, e
Favaretto, 1997).
8
proteínas, onde os ribossomos presentes na célula decodificam a mensagem do RNAm
para uma cadeia de aminoácidos. Essa decodificação baseada em trincas de nucleotídeos,
chamados de codons, que especificam os aminoácidos.
Assim, com a produção das proteínas, têm-se dois tipos de efeitos possíveis: em longo
prazo (exemplo: crescimento ou maturação sexual) e alteração imediata da atividade da
proteína existente na célula (exemplo: aumento do ritmo cardíaco). Na Figura 3.4 tem-se
uma ilustração da síntese protéica dos hormônios esteróides.
Com a ativação da célula-alvo, há um sinal que retorna à glândula endócrina, que produziu
o hormônio, determinando a parada da secreção do mesmo, denominado mecanismo de
(a) Processo de transdução
(b) Fase de tradução
Figura 3.4 – Síntese protéica dos hormônios esteróides (Guido, 2005 - modificado).
9
feedback” negativo. Já nos casos em que o nível hormonal não tenha sido suficiente para
produzir as respostas metabólicas esperadas, é liberado um sinal de “feedback positivo
que estimula a glândula endócrina a produzir mais hormônio. O controle da produção
hormonal pelo mecanismo “feedback” é um dos meios mais importantes na manutenção do
equilíbrio (homeostase) orgânico. Deve-se ressaltar que a inibição ou ativação ocorre como
uma reação em cadeia até chegar ao hipotálamo.
A desregulação ou alteração (perturbação) das funções endócrinas pode estar associada a
interferências na síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação dos hormônios
naturais dos organismos; desencadeando, assim, uma nova resposta hormonal. Uma
substância, ao imitar a ação de um hormônio endócrino, desencadeia de modo exagerado
ou em tempo inadequado um estímulo falso; sendo esse fenômeno designado efeito
agonista. Na Figura 3.5 (b), tem-se um receptor intracelular específico ao hormônio
estradiol, sob a ação agonista por parte da molécula do dicloro difenil tricloroetano (DDT).
Nesse caso, a substância sintética DDT ocupa o lugar do hormônio estradiol no receptor,
por apresentar um formato estrutural semelhante ao do hormônio como mostrado na Figura
3.5 (a) (Nogueira, 2003).
Quando uma substância, por sua vez, bloqueia um receptor específico de um determinado
hormônio endógeno, ela passa a reduzir ou anular os estímulos esperados, nesse caso, o
fenômeno é denominado efeito antagonista. Na Figura 3.5(c) tem-se, como exemplo, a
ação antagonista do benzo[a]pireno sobre o receptor do estradiol. Embora a estrutura do
benzo[a]pireno não seja semelhante ao estradiol, esta é capaz de bloquear a entrada do
receptor, inutilizando o mesmo. Dessa forma, a partir da análise de ambos os fenômenos,
(a) (b) Efeito agonista (c) Efeito antagonista
Figura 3.5 – Fenômenos de desregulação endócrina (Nogueira, 2003).
10
observa-se a facilidade com que as substâncias exógenas podem ser capazes de
desencadear mecanismos desreguladores, não só em seres humanos, mas em outros
animais bem como nos vegetais (Nogueira, 2003).
De um modo geral, há bastante semelhança entre os hormônios existentes nas diversas
espécies de animais vertebrados, tanto em sua forma quanto em sua função. Segundo a
EPA (2001) é possível se verificar atividades perturbadoras endócrinas em animais
relacionadas desde o desenvolvimento anormal da tiróide em pássaros e peixes, até a
diminuição da fertilidade e alterações sexuais e imunológicas em crustáceos, peixes,
pássaros, répteis e mamíferos. Nos vegetais, embora haja outra estrutura e outras funções,
o mecanismo é também semelhante. Razão pela qual uma substância que interfere nos
mecanismos de ação hormonal pode atuar alterando o desenvolvimento, reprodução e
funções de seres vivos de diversas espécies.
3.1.2. Características gerais dos perturbadores endócrinos
Os perturbadores endócrinos são substâncias (ou mistura de substâncias) exógenas capazes
de assumir ou inibir a função de hormônios naturais nos seres vivos. Acarretando, assim,
alterações nas funções do sistema endócrino, nervoso e imunológico, e, conseqüentemente,
prejudicando a saúde dos organismos, de sua descendência ou de sub-populações
(Nogueira, 2003 e Castro, 2002).
Essas substâncias são, em sua maior parte, provenientes de produtos como pesticidas,
plásticos, detergente, lacas, tintas, antibióticos, fármacose resíduos industriais e
domésticos. No entanto, também se deve incluir a esse grupo os próprios hormônios
eliminados pelo seres vivos, já que estes podem causar interferências em outros
organismos de diversas espécies. Em geral, os perturbadores são compostos orgânicos,
lipofílicos e semi-voláteis, o que facilita a dispersão ambiental pelos recursos hídricos
(Nogueira, 2003).
Segundo Silva (2005b), os mecanismos mais prováveis de ação dos perturbadores
endócrinos são:
11
A interação do perturbador endócrino com um receptor específico para desencadear as
alterações que seriam provocadas pelo hormônio naquele sítio de atuação, porém de
forma exagerada ou em tempo inadequado (efeito agonista);
O bloqueio da ação do hormônio pelo perturbador endócrino ao ocupar os receptores
que seriam destinados especificamente ao hormônio, impedindo, dessa forma, que sua
função seja exercida (efeito antagonista);
Os danos causados pelo perturbador endócrino no metabolismo dos hormônios sejam
na sua síntese, como citado acima, ou mesmo na destruição e eliminação fisiológica ou
natural;
Os danos capazes de afetar o Sistema Nervoso Central, onde se encontra o controle da
produção hormonal por meio do hipotálamo, que, como já mencionado, é o responsável
por acionar a glândula hipófise. Como os hormônios são regulados por mecanismos de
feedback”, ou seja, estes são produzidos de acordo com os níveis hormonais
detectados, constantemente, pelo hipotálamo na corrente sangüínea, qualquer
interferência central pode afetar o controle de diversos hormônios, tanto por receber
informações erradas dos níveis sangüíneos, como por ações deletérias sofridas
diretamente no próprio Sistema Nervoso Central;
Os efeitos tóxicos causados pelos perturbadores endócrinos quando estes agem como
um receptor celular não hormonal. Isso ocorre na presença de dioxinas e PCBs que
podem interagir com as células e desencadear uma série de efeitos biológicos, dentre os
quais, o bloqueio hormonal. Esse pode ser o mecanismo pelo o qual estas substâncias
causam efeito anti-estrogênico.
Devido ao fato da grande maioria dos perturbadores endócrinos serem bioacumulativos, é
difícil estabelecer uma relação causal direta de apenas um determinado perturbador
endócrino com um determinado problema no ser vivo. Mas é sabido que os perturbadores
endócrinos naturais encontrados nas verduras, cereais, plantas, temperos e frutas não são
acumulados e sim excretados de forma natural, pois o organismo humano já está adaptado
a essas substâncias. No entanto, segundo Kümmerer (2001) esses estrogênios naturais são
capazes de interferir no sistema reprodutivo de organismos aquáticos de forma antagonista.
Já em relação aos perturbadores endócrinos de origem química, estes são sempre
acumulados nos tecidos gordurosos dos seres vivos. Isto faz com que o nível interno de
contaminação seja sempre superior aos próprios hormônios produzidos naturalmente e aos
12
níveis existentes no ambiente externo, o que aumenta as chances de ações deletérias no
organismo, por meio da competição pelos sítios receptores (Guimarães, 2005).
Os efeitos adversos dos perturbadores endócrinos sobre os organismos vivos dependem da
dose, da carga genética, da forma e da duração da exposição. Além disso, em geral, os
indivíduos são mais susceptíveis em determinadas fases do crescimento e
desenvolvimento. Os efeitos podem ser reversíveis ou não, e se manifestarem de uma
forma aguda ou crônica. É importante ressaltar que para estimular o sistema hormonal são
necessárias concentrações pequenas, da ordem das partes por bilhão (ppb) ou mesmo
partes por trilhão (ppt), sendo essa a principal razão porque pequenos teores exógenos
podem ser perigosos.
As fontes de contato com os perturbadores endócrinos são diversas e podem ocorrer de
forma voluntária ou não. Assim, os seres vivos estão expostos aos perturbadores
endócrinos por meio de sua dieta diária, incluindo o consumo de água potável; no contato
com o ar e solo contaminado; ao utilizar produtos comerciais contendo perturbadores
endócrinos sintéticos como pesticidas, aditivos de alimentos ou produtos de limpeza; e ao
manipular com propósito benéfico ou terapêutico cosméticos e pílulas anticoncepcionais.
Alguns desses produtos, como já foi comprovada sua periculosidade, não são mais
amplamente comercializados ou tiveram sua produção limitada e, ou proibida (Castro,
2002).
Outro ponto que agrava a situação é a possível acumulação dessas substâncias
perturbadoras endócrinas no solo e nos sedimentos de rios, sendo facilmente transportadas
a longas distâncias de suas fontes. Essas substâncias permanecem na cadeia trófica,
representando um sério risco à saúde daqueles que se encontram no topo da cadeia
alimentar, ou seja, os seres humanos (Meyer et al., 1999).
Um dos exemplos de como a acumulação se verifica é relatado em pesquisas realizadas na
região dos Grandes Lagos, entre os EUA e Canadá. No Lago Ontário observou-se a
biomagnificação do PCB (policloretos de bifenilas), desde os fitoplânctons e zooplânctons
até trutas e gaivotas. Considerando a concentração de PCB no sedimento do lago como
valor inicial, os pesquisadores observaram que a concentração aumentou de: 250 vezes no
fitoplâncton; 500 vezes no zooplâncton; 2.800.000 vezes nas trutas e 25.000.000 vezes nas
13
gaivotas (Colborn et al., 2002). Um exemplo de dispersão de perturbadores endócrinos foi
relatado por Smith e Samuelsen (1996) em que alguns antibióticos como cloranfenicol e o
oxitetraciclina, usados nos cultivos de peixes, foram comumente encontrados também em
sedimentos de origem marinha.
Outro aspecto que desperta o interesse pelo assunto é a presença freqüente de substâncias
perturbadoras endócrinas nos efluentes de estações de tratamento de esgoto (ETEs), em sua
maioria proveniente das excreções humanas, e, conseqüentemente, em águas naturais
receptoras, pois, essas substâncias, em geral, não são completamente removidas pelos
sistemas convencionais de tratamento de esgotos. Isso porque, de acordo com Richardson
et al. (1985 apud Bila e Dezotti, 2003), nas ETEs existem três possíveis destinos para os
estrogênios: serem biodegradados; metabolizados ou degradados parcialmente; ou, ainda
permanecerem no meio. Ou seja, a remoção nem sempre é completa.
Além do lançamento dos efluentes de ETEs em águas superficiais, há outras rotas de
contaminação ambiental por perturbadores endócrinos a partir das ETEs. Um exemplo
pode ser o composto proveniente do lodo digerido, usado como fertilizante na agricultura,
que é capaz de promover a contaminação das águas subterrâneas. Uma avaliação dos
pontos em que os estrogênios podem ser encontrados nas diversas rotas de saídas das ETEs
é apresentada na Figura 3.6.
Os excrementos da criação de animais (gado, porcos, galinha, etc.) são considerados,
potencialmente, a maior fonte de poluição de estrogênio no ambiente. Os componentes
principais são: estrona; 17α-estradiol; 17β-estradiol e conjugados. Ressalta-se a quantidade
de 17α-estradiol liberada nos excretas desses animais que, ao contrário dos humanos,
apresenta valores significantes. As quantidades de estrogênios variam com o tipo de
criação e as condições de saúde do animal (Danish EPA, 2003).
Um documento publicado pela Agência Ambiental Dinamarquesa (Danish EPA, 2003)
relata, a partir de estudos realizados nos Países Baixos, que a concentração de estrogênio
nas fezes e urinas de vacas não-prenhas é, respectivamente de, aproximadamente, 30µg/kg
e 15µg/L. Já a média de excreção durante a gestação é de 1,3mg/dia por animal.
Semelhantemente, a excreção média de estrogênios para porcas prenhas é de 1,13mg/kg de
esterco e para porcas não-prenhas essa concentração é de 100 a 200 vezes inferior.
14
Acredita-se que esses valores acarretam uma concentração estimada de aproximadamente
1,3µg/L de estrogênios em águas superficiais, pois é suposto que cerca de 3% do esterco
aplicado em campos agrícolas é lixiviado. Uma avaliação das rotas de como o estrogênio
liberado por animais pode vir a poluir o meio ambiente é mostrada na Figura 3.7.
Figura 3.6 – Pontos de provável detecção de perturbadores endócrinos nas ETEs e rotas de
poluição ambiental. (Danish EPA, 2003 - modificado).
Figura 3.7 – Pontos de entrada no meio ambiente dos estrogênios liberados por animais em
fazendas (Danish EPA, 2003 - modificado).
Estrogênio liberado pelos animais
mantidos em estábulos
Tanque de estocagem de adubo
Estrogênios liberados pelos
animais pastando
Sedimentos Água superficial
Solo
Água subterrânea
Água intersticial
no solo
Fase aquosa Fase sólida
Estrogênios liberados por humanos
Esgotamento Sanitário
Estação de Tratamento de esgoto
Fase Aquosa Lodo do Esgoto
Sedimentos
Água
superficial
Solo
Água intersticial no
solo
Água subterrânea
15
É importante comentar que a presença de antibióticos que são ministrados por meio da
alimentação dos animais para acelerar o crescimento na produção de gado e avícola, e
como aditivo de alimento para peixes e porcos, é uma outra fonte de contaminação química
do solo, das águas subterrâneas e superficiais. Segundo Kümmerer (2001), os antibióticos
merecem atenção especial porque são encontrados em grandes quantidades e tem a
capacidade de promover o desenvolvimento de bactérias resistentes no meio ambiente.
Segundo Xelegati e Robazzi (2003), uma fonte de contaminação humana que merece
destaque são as áreas hospitalares. Nessas áreas são comumente usados alguns tipos de
medicamentos e produtos para esterilização de equipamentos cirúrgicos que apresentam
perturbadores endócrinos na composição e, portanto, oferecem riscos aos profissionais da
área. Já segundo Bila e Dezotti (2003), atenção também deve ser dada aos aterros que
recebem, erroneamente, resíduos provenientes das indústrias farmacêuticas, oferecendo
riscos de contaminação das águas subterrâneas.
O lixo domiciliar é outra fonte importante que deve ser considerada, pois sempre contém
metais que agem como substâncias endócrinas. Guimarães (2005) relata, em estudos
realizados na cidade de São Paulo, que resíduos de mercúrio e chumbo foram encontrados
no lixo coletado e cádmio, chumbo, manganês e mercúrio no chorume captado em aterros e
lixões nas áreas que recebem todo o lixo coletado da cidade.
Quanto ao enquadramento os perturbadores endócrinos, este pode ser divididos em quatro
classes: estrogênios naturais (exemplo: estrona, estradiol, estriol); estrogênios sintéticos
(exemplo: fármacos); fitoestrogênios (exemplo: produtos naturais); xenoestrogênios
(exemplo: químicos industriais como, bisfenol A, p-nonilfenol, DDT) (Nogueira, 2003).
Na Tabela 3.1, é apresentada algumas características dos compostos perturbadores
endócrinos mais comumente utilizados pelo homem e na Tabela 3.2, elaborada a partir do
levantamento desenvolvido por Guimarães (2005), são mostrados os principais efeitos nos
seres humanos atribuídos, a ação de alguns agentes perturbadores endócrinos.
Algumas substâncias presentes na Tabela 3.2 são citadas na Portaria 518. Nesse documento
são apresentados os valores máximos permitidos para que determinadas substâncias
estejam presentes na água de abastecimento, seja porque estas causam riscos à saúde ou
porque as mesmas necessitam está dentro de certos padrões de aceitação para consumo
16
humano, como por exemplo, no caso do manganês que causa coloração à água. No entanto,
é importante ressaltar que nenhuma substância é relatada pela Portaria 518 com respeito a
características perturbadoras endócrinas.
Tabela 3.1 – Perturbadores endócrinos mais comumente utilizados pelo homem
(Nogueira , 2003 - modificado)
Perturbador Aspectos gerais
Fenóis
Surfactantes utilizados nos detergentes e desinfetantes (exemplo:
p-nonilfenol), componentes constituintes de resinas (exemplo:
bisfenol A) e clorofenóis (exemplo: 2,4,6 triclorofenol).
Ftalatos
Muito utilizado como aditivo plastificante na constituição dos
plásticos e de outros polímeros. Exemplo: dibutilftalato.
Hidrocarbonetos
policíclicos
aromáticos (PAHs)
Provenientes de fontes naturais (erupções vulcânicas, fogos, etc) e
de fontes antropogéneas como da queima de combustíveis fósseis
e incineração de resíduos (exemplo: benzo[a]pireno).
Hormônios
sintéticos
Componentes constituintes da pílula contraceptiva (exemplo:
etinilestradiol) que são excretadas na urina numa forma conjugada
e inativa. As formas conjugadas são muito sensíveis a eventuais
ações bacterianas, no tratamento de efluentes domésticos, o que
acarreta, novamente, a presença de atividade estrogênica com a
formação dos hormônios livres. Também fazem parte desse grupo
alguns hormônios usados no passado que, atualmente, foram
banidos dos circuitos comerciais (exemplo: dietilstilbestrol).
Pesticidas e
biocidas
Compostos muito utilizados na agricultura, como: organoclorados
(exemplo: DDT); organofosforados (exemplo: clorpirifós-metil);
propionaminas (exemplo: propanil), triazinícos (exemplo:
atrazina) e organometálicos, como é o caso do cloreto de tributilo
estanho (TBT) usado nas tintas antivegetativas para embarcações
marítimas, entre outros.
Policloretos de
bifenilas (PCBs) e
dioxinas
Compostos que têm origem em diversos processos industriais ou
resultam como subprodutos da co-incineração.
Produtos naturais Ocorrem em diversos tipos de plantas (exemplo: coumestrol).
17
Tabela 3.2 – Algumas substâncias consideradas como perturbadores endócrinos e seus
efeitos em humanos (Guimarães, 2005 - modificado)
Perturbadores
endócrinos
Efeitos em seres humanos (*)
Atrazina
Reduzem a qualidade de esperma (Swan, 2003).
Ascarel (PCB)
Causam declínio da função do sistema imunológico, e
com isso se tem o aumento de doenças infecciosas
(Penteado e Vaz, 2001);
Acumula no leite materno das mulheres grávidas ou em
fase de amamentação, acarretando, assim, na
contaminação da criança ao ser alimentada (WHO,
2001);
Causa endometriose (Santamarta, 2001);
Afeta o feto atravessando a barreira placentária.
Crianças nascidas de mães que possuem PCB no sangue
têm peso reduzido e QI inferior (Baird, 2002);
Acumula nos tecidos do feto, portanto, contaminando a
criança mesmo antes do nascimento (Nogueira et al,
1987);
Filhos de mães que ingeriram óleo contaminado com
PCB possuem o tamanho do pênis reduzido quando na
puberdade (Colborn et al, 2002).
Benzo(a)antraceno;
Benzo(a)pireno
Alteram a ação de linfócitos e são mutagênicos (Patnaik,
2002).
Bisfenol A
Substitui a recepção do estrogênio; diminui a ovulação;
aumenta de secreção da prolactina (Wozniak et al,
2005).
BTX (Benzeno, tolueno e
xilenos).
Causam anomalias menstruais, como aumento do
sangramento e dos intervalos do ciclo (Mendes, 1997);
São capazes de se fixarem nos glóbulos vermelhos
(Azevedo e Chasin, 2003).
Carbaril
Inibem o acetilcolinesterase, causador de
hipotireoidismo (Larini, 1999);
Causa redução na contagem de espermatozóides e
estimula presença de espermatozóides anormais
(Mendes, 1997).
Cádmio
Causa câncer de próstata (Cardoso e Chasin, 2001);
Concentram-se no pâncreas, nos testículos, tireóide e
glândulas salivares (Della Rosa e Gomes, 1988);
Acumula no leite materno (WHO, 2001);
Causa atrofia testicular, redução no volume do esperma
e tumores nos testículos (Patnaik, 2002).
Cloreto de Cádmio;
Metiram; Mancozeb;
Maneb; Zineb
(os 3 últimos contêm
etilenotiouréia – ETU).
Causa hipotireoidismo (Ministério da Saúde, 2001).
Chumbo
Reduz a qualidade do esperma (Moreira e Moreira,
18
2004);
Causa hipotireoidismo decorrente de alterações
funcionais da hipófise (Ministério da Saúde, 2001);
Acumula no leite materno (WHO, 2001);
Causa atrofia testicular e redução da quantidade do
esperma (Patnaik, 2002);
Causa aborto espontâneo (Mendes, 1997);
Acumula na tireóide, adrenais, pituitária, testículos e
ovários (Teves, 2001);
Passa pela placenta entre a 12ª e 14ª semana. Atinge o
cérebro do feto. Aumenta de forma significativa a taxa
de abortos, a natimortalidade, a pré-maturidade,
diminuição no crescimento pós-natal e o aumento da
taxa de má-formação (Peres et al., 2001).
Clordano; Dieldrin;
DDT; Endosulfan
Acumula no leite materno (WHO, 2001);
Causa criptorquidia, hipospadia (Santamarta, 2001);
Aumenta as irregularidades menstruais (Mendes, 1997).
Compostos pirimidínicos
(Metirimol, Etirimol e
Ciprodinil)
Inibem a produção de hormônios esteróides (Colborn et
al, 2002).
DBPC
(Dibromocloropropano)
Diminuem a motilidade e a produção de
espermatozóides (Bowler e Cone, 2001).
Dissulfeto de Carbono
Perturba o balanço hormonal entre o cérebro, glândula
pituitária e ovários, levando a distúrbios menstruais
(Batstone, 2001).
Estireno
Causa más formações, ou seja, são teratogênicos (Larini,
1997).
Causa aborto espontâneo. Os filhos de mulheres
expostas ao estireno apresentam peso inferior (Mendes,
1997).
Ftalatos
Reduzem a qualidade do esperma; são teratogênicos e
causam feminilização (Mcginn, 2004).
HCB
(Hexaclorobenzeno)
Acumula no leite materno (WHO, 2001);
Hipotireoidismo (Ministério da Saúde, 2001);
Supressão imunológica (Patnaik, 2002);
Esteatose, hepatomegalia (Patnaik, 2002).
Manganês
Causa danos ao DNA dos linfócitos;
Mal de Parkinson (Martins e Lima, 2001);
Impotência (Boeler e Cone, 2001);
Concentra-se na tireóide, pituitária, suprarenais e
pâncreas (Teves, 2001).
Mercúrio
Causam ciclo menstrual irregular, menos ovulações, são
teratogênicos (Cardoso, 2002);
Acumula no leite materno (WHO, 2001);
Acumulam no pâncreas, testículos e próstata (Teves,
2001);
Atravessa a barreira placentária. Causa
19
hematoencefalíca, na forma de metilmercúrio (Azevedo
e Chasin, 2003);
Causa aborto espontâneo, natimortos, Síndrome de
Paralisia Cerebral e danos ao cerebelo em filhos de mães
que consumiram peixes com metilmercúrio (Azevedo,
2003).
Óxido de Etileno
Evidência de aborto espontâneo em profissionais que
esterilizam instrumentos (Xelegati e Robazzi, 2003).
PCF (Pentaclorofenol)
Porfiria cutânea tardia, pápulas, pústulas e efeitos nas
glândulas sudoríparas (Vieira et al., 1981);
Concentra-se nas adrenais. Causa hepatomegalia.
Aumento de atividade da aril-hidrocarboneto hidroxilase
(AHH), resultando em mutagenicidade e
carcinogenicidade irreversíveis (Larini, 1999);
Anemia aplástica, citopenia, agranulocitose, cloroacne
(Ministério da Saúde, 2001)
Soldagem
Espermatozóides com formato anormal (Batstone,
2001).
Triclorfon
Causa diminuição de espermatozóides e do fluido
seminal e formação de espermatozóides anormais
(Spritzer et al., 2001).
(*) Todas as referências citadas nessa tabela podem ser encontradas no trabalho de Guimarães (2005).
3.1.3. Características dos perturbadores endócrinos abordados nesse trabalho
O trabalho, em questão, contemplará o estudo da remoção específica de dois perturbadores
endócrinos: um estrogênio natural (17β-estradiol) e um xenoestrogênio (p-nonilfenol), que
respectivamente, foram escolhidos pelo potencial de risco ao seres vivos e pelo elevado
valor encontrado das concentrações em esgotos e mananciais.
O 17β-estradiol é um hormônio natural que nas mulheres é responsável pela síntese de
estrogênio circulante. De acordo com os relatos realizados por Carmo (2004), esse
hormônio é produzido principalmente pelos ovários em altos valores perto do período de
ovulação (mulheres na pré-menopausa) e por meio da conversão de androgênios, derivados
da adrenal, em estrogênios no tecido adiposo (mulheres na pós-menopausa). Essa síntese
também pode ocorrer em células epiteliais, no tecido adiposo associado à mama, ou ainda
em células infiltrantes linforreticulares.
20
O 17β-estradiol e seus compostos análogos estão presentes na maior parte dos corpos
d’água que recebem efluentes domésticos. De acordo com Johnson et al. (1999), a
quantidade de estrogênio diária liberada por mulheres grávidas é capaz de atingir até 30mg,
sendo os valores médios liberados por mulher na ordem de 250µg/dia. Em relação às
mulheres na fase de pré-menopausa, esse valor pode variar de 10 a 100µg/dia e após a
menopausa decresce para valores entre 5 a 10µg/dia. É importante ressaltar a presença de
outros estrogênios naturais nos efluentes como o estriol e a estrona, sendo a estrona um
metabólito do 17β-estradiol com concentrações que chegam a ser duas vezes tão altas
quanto as encontradas de 17β-estradiol e com atividade hormonal variando entre 0,2 a 0,5
vezes a do 17β-estradiol. Quanto aos homens, segundo Williams et al. (1996, apud Danish
EPA, 2003), os valores médios liberados de estrogênios variam entre 2 a 25µg/dia.
Outro composto análogo que merece destaque devido sua ocorrência é o 17α-
etinilestradiol, que consiste no principal componente da pílula anticoncepcional e,
comumente, é eliminado na urina e nas fezes das mulheres. Por exemplo, para mulheres
que usam pílulas contraceptivas, o valor diário liberado desse tipo de estrogênio varia entre
25 a 50µg/dia (Danish EPA, 2003).
Um exemplo da ocorrência do 17β-estradiol e de seus compostos análogos foi apresentado
recentemente em um estudo conduzido pelos US Geological Survey com efluentes
domésticos recebidos por corpos d’água que atravessam os Estados Unidos. Esse estudo
relatou que a freqüência de ocorrência do 17β-estradiol e da estrona é, aproximadamente,
de 10 e 7%, com concentração máxima de 93 e 112ng/L, respectivamente (Kolpin et al.,
2002).
Os efeitos maléficos do 17β-estradiol e análogos são detectados tanto em animais, como
em humanos. No caso dos animais, têm-se como exemplo os estudos realizados por
Routledge et al. (1998) em duas espécies de peixes, Oncorhynchus mykiss e Rutilus rutilus,
expostos aos compostos 17β-estradiol e estrona por 21 dias. Esses estudos confirmaram
que pequenas concentrações desses compostos, normalmente encontradas em águas
superficiais, são suficientes para causar a síntese de vitelogenina (VTG) presente no
plasma sangüíneo dessas espécies, afetando, dessa forma, o sistema reprodutor desses
organismos.
21
Carmo (2004), citando estudos desenvolvidos por outros autores, relata que em relação aos
seres humanos, há evidências de que o 17β-estradiol é um importante fator no surgimento
de doenças como: osteoporose; câncer de mama e doenças cardiovasculares entre mulheres
pós-menopausa. Isto porque esse estrogênio pode agir como hormônio estimulador em
alguns locais específicos, gerando, portanto, aumento de divisões mitóticas no órgão alvo e
propiciando o aparecimento de fenótipos malignos em decorrência de erros nos
mecanismos de divisão celular, além da possibilidade de alterar o desenvolvimento
embriológico normal de células germinativas primitivas. A prevenção mais efetiva, para os
problemas aqui relatados, é a terapia de reposição hormonal com moduladores seletivos.
Os nonilfenóis (NPs) são classificados como xenoestrogénios devido a sua origem
sintética. Esses compostos, juntamente com seus análogos pentaclorofenóis e octilfenóis,
formam um dos grupos mais comumente encontrados de surfactantes, que são conhecidos
como alquifenóis (APs). Os APs, na sua maior parte, são encontrados na natureza na forma
de sais solúveis, os denominados alquifenóis polietoxilados (APnEOs). Essas formas são
usadas, extensivamente, na indústria de limpeza, em agentes umedecedores, emulsificantes
e em sabões domésticos, como os detergentes. Para se ter uma idéia da produção desse tipo
de compostos, tem-se relatos que, em 1995, aproximadamente 500.000 toneladas de
APnEOs foram produzidas em todo o mundo (Renner, 1997 apud Fries e Püttmann. 2004).
Os APnEOs e seus derivados também são encontrados em pesticidas, desinfetantes,
embalagens plásticas, embalagens com revestimentos metálicos, produtos de cuidado
pessoal, produtos químicos dos mais diversos usos, aditivos para lubrificantes automotivos
e em muitos outros processos industriais, da indústria alimentícia, principalmente.
A grande quantidade de APnEOs, principalmente utilizado pelas industrias em países
desenvolvidos, não ameaçam diretamente as populações. No entanto, estudos revelam que
as bactérias presentes nos corpos de animais, vegetação e nas estações de tratamento de
águas e esgoto degradam esses APnEOs. O mecanismo de degradação é complexo, mas em
geral, consiste na perda de grupos etoxilatos (EOs), resultando em substâncias perigosas,
capazes de atuar como perturbadores endócrinos, incluindo dentre estas os nonilfenóis.
Os nonilfenóis polietoxilados (NPnEOs) são os mais importantes APnEOs, contabilizando
cerca de 80% desse grupo. Os NPnEOs são biodegradados, sob condições aeróbias, em
cadeias curtas de etoxilados de NPnEOs ou em nonilfenóis carboxilados (NPnEC) que por
22
sua vez são biodegradados, sob condições anaeróbias, em nonilfenóis (NPs). É importante
ressaltar que as cadeias curtas de EO dos NPnEOs são mais tóxicas que as longas e mais
difíceis de serem degradadas. Tal fato foi verificado por Komori et al. (2006) que
inspecionaram 20 estações de tratamento de esgoto com concentrações de 0,1 a 8,3µg/L de
NPs e substâncias associadas, nos afluentes. Nesse estudo relatou-se que as cadeias longas
de EOs dos NPnEOs foram quase completamente reduzidas nas ETEs, enquanto as cadeias
curtas apresentaram remoções bem menos significativas.
Fries e Püttmann (2004) relataram, com base nos estudos de outros autores, que esse tipo
de biodegradação também pode resultar numa mistura complexa de isômeros chamada de
4-nonilfenol (4-NP). O 4-NP é utilizado como auxiliar na composição de pesticidas e tem 3
vezes mais capacidade perturbadora endócrina que o DDT. Este é o responsável por
deformidades e problemas de reprodução na vida marinha e também pode estar envolvido
nas causas do câncer de mama e declínio na soma de espermas.
Um aspecto a ser citado é que a pressão de vapor do 4-NP é 1x10
-8
atm, fato este que o
classifica como um composto semi-volátil. Portanto, possível de ser encontrado na água
das chuvas e na neve, como foi relatado nos próprios estudos desenvolvidos por Fries e
Püttmann (2004). Esses autores coletaram amostras de neve e de chuva nos períodos de
inverno e verão em áreas urbanas, suburbanas e rurais da Bélgica e da Alemanha, para
investigar depósitos com fontes de 4-NP.
Observou-se que os maiores valores encontrados de 4-NP nas chuvas foram em áreas
suburbanas, com máximo de 0,534µg/L, e que nas áreas rurais e urbanas esses valores
máximos foram consideravelmente baixos, na ordem de 0,099 e 0,062µg/L,
respectivamente. No caso da neve foram encontrados valores por volta de 0,242 µg/L, para
áreas urbanas, e máximo de 0,478µg/L. Já nas áreas rurais a detecção não foi registrada e
nas áreas suburbanas os valores foram bem baixos, com o máximo de 0,030 µg/L. Durante
o trabalho também foi concluído que a concentrações na água das chuvas de verão tiveram
valores inferiores às das chuvas de inverno, devido ao efeito da degradação fotoquímica.
Outra forma resultante da biodegradação dos NPnEOs é o composto p-nonilfenol. Este é
encontrado também em óleos lubrificantes industriais, espermicidas de preservativos,
pesticidas, realizando o papel de antioxidante, estabilizador e emusificante em cloreto de
23
polivinila (PVC) e poliestireno (Sonnenschein e Soto, 1998). Há relatos da contaminação
com p-nonilfenol na indústria de alimentos que utiliza encanamentos de PVC e por cremes
anticoncepcionais contendo nonoxinol-9, que curiosamente, depois de absorvido pelo
organismo, transforma-se em p-nonilfenol.
Com relação aos efeitos maléficos do p-nonilfenol, tem-se, por exemplo, de acordo com os
estudos mencionados por Basheer et al. (2004), que baixas doses de exposições a p-
nonilfenol é capaz de inibir a síntese de ATP (adenosina tri-fosfato) nas mitocôndrias
celulares dos seres vivos, além de induzir características masculinas em fêmeas de animais
marinhos como os gastrópodes.
Um aspecto importante a se comentar é que o 17β-estradiol chega a ter uma atividade
hormonal de 1000 a 10.000 vezes maior que a do nonilfenol (Tanaka et al., 2001 apud
Fukuhara et al., 2006). Na Figura 3.8 têm-se as estruturas químicas dos compostos 1-
estradiol e p-nonilfenol.
17β-estradiol
P-nonilfenol
Figura 3.8 – Estrutura química do 17β-estradiol e do p-nonilfenol (Danish EPA, 2003 e
Nogueira, 2003 - modificado).
3.1.4 Extensão do problema
Os primeiros relatos da atividade de perturbadores endócrinos foram relacionados ao
medicamento dietilestilbestrol (DES), utilizado por mulheres entre as décadas de 50 e 70.
Tal medicamento causou às descendentes das usuárias: câncer na vagina; infertilidade e
deformações irreversíveis no útero, sendo que muitas das descendentes só vieram a
descobrir esse problema aos vinte anos de idade. Já no caso dos descentes homens, o
medicamento causou criptorquidia, ou seja, ausência de testículo (Soto e Sonnenschein,
2002 e Colborn et al., 2002). Também foi observado que os homens que trabalhavam nas
24
fábricas que produziam o medicamento foram afetados apresentando crescimento das
mamas (Bowler e Cone, 2001 apud Guimarães, 2005).
Em 1964, outra substância química com atividade perturbadora endócrina de amplo uso
comercial, os PCBs, foi identificada no organismo humano pelo químico Sören Jensen,
quando este se propôs a estudar os níveis de DDT no sangue humano. A partir de 1976, os
Estados Unidos resolveu banir o uso dos PCBs, mas os equipamentos, como
transformadores e capacitores elétricos, que já continham a substância, puderam
permanecer com o produto tóxico em seu interior, o que possibilitou a contaminação de
rios e solos por vazamentos. É muito provável que essa contaminação ainda possa estar
agindo sobre o meio ambiente até os dias de hoje, já que a meia vida dos PCBs é de 40
anos. No Brasil, a proibição veio em 1981, no entanto, também nos mesmos moldes da
proibição americana (Guimarães, 2005).
Com o avanço tecnológico, relatos sobre ocorrência de perturbadores endócrinos só vêm
aumentando e se tornando um tópico de importância internacional, tendo em vista as
evidências do problema em várias partes do mundo. Por exemplo, Kolpin et al. (2002)
detectaram antibióticos em amostras de água superficiais nos Estados Unidos. Ternes et al.
(1999) identificaram a presença de vários estrogênios nos esgotos domésticos em efluentes
de ETEs na Alemanha, Canadá e Brasil, comprovando a remoção incompleta dos
perturbadores endócrinos pelas estações de tratamento. A seguir têm-se exemplos de
algumas pesquisas em várias partes do mundo, inclusive a de Ternes et al. (1999), em que
os perturbadores endócrinos 17β-estradiol e p-nonilfenol foram encontrados.
No Brasil, Ternes et al. (1999) avaliaram a presença e remoção de estrogênios naturais e
contraceptivos sintéticos nos esgotos da ETE, localizada no bairro da Penha no estado do
Rio de Janeiro. Nessa pesquisa foi estudada a eficiência de remoção dos estrogênios, por
meio do processo de lodos ativados e filtro biológico, sendo esse último constatado como
menos eficiente. A vazão de entrada média da ETE no período de amostragem era de
120.096m
3
/dia, sendo que 71% desta destinada ao processo de lodos ativados e 29% ao
processo de filtragem biológica. As concentrações médias dos estrogênios 17β-estradiol e
estrona detectadas no esgoto bruto foram, respectivamente, de 21 e 40 ng/L, acarretando
cargas totais de até 5g/dia para estrona e 2,5g/dia para o 17β-estradiol. As eficiências de
25
remoção do 17β-estradiol observadas foram de 92% no filtro biológico e de 99,9% no
processo de lodos ativados. Já para a estrona, as remoções atingiram os valores de 67% e
83%, respectivamente, para o filtro biológico e lodos ativados. O estrogênio contraceptivo
17α-etinilestradiol também foi avaliado, com remoções de 64% no filtro biológico e 78%
no lodos ativados, sendo que para o 17α-etinilestradiol foram relatadas cargas totais no
afluente de 0,7g/d.
Na Alemanha, em uma estação de tratamento de esgoto (ETE), perto de Frankfurt/Main,
também estudada por Ternes et al. (1999), com vazão de entrada média no período de
amostragem de 41.200m
3
/dia, foi constatada a presença dos compostos 17β-estradiol e
estrona no esgoto bruto com concentrações médias de 15ng/L e 27ng/L, respectivamente,
acarretando cargas totais de até 1g/dia para a estrona, bastante inferior ao observado no
Brasil. Nessa ETE, as eficiências de remoção absolutas foram inferiores às obtidas nas
estações de tratamento brasileiras. Isto, provavelmente, ocorreu devido às baixas
temperaturas do período de amostragem na Alemanha, em torno de 2°C, que foram bem
diferentes das médias de 20°C do Brasil. Apesar do desempenho inferior, observou-se a
remoção, por lodos ativados, dos compostos 16α-hidroxiestrona e 17β-estradiol em
eficiências aproximadas de 68% e 64%, respectivamente.
Ternes et al. (1999) relataram também que se surpreenderam com as concentrações de
17β-estradiol e 16α-hidroxiestrona detectadas durante o processo de tratamento da ETE
alemã. Verificou-se que durante o processo de tratamento houve um acréscimo nas cargas
desses estrogênios, provavelmente, pela transformação de formas conjugadas nessas
formas mais simples de estrogênios. Esse fato foi considerado por Ternes et al. (1999)
como um tópico para futuras investigações, pois sugerem muitos questionamentos a
respeito do tempo de processamento, se este está sendo suficiente ou não. Ou mesmo se
existe outra razão responsável pelo aumento da carga desses perturbadores endócrinos
durante o processo de tratamento por lodos ativados.
O comportamento de efluentes de ETEs no Canadá e em outras estações na Alemanha,
além daquela já citada perto de Frankfurt/Main, também foram avaliadas por Ternes et al.
(1999). Nas estações de tratamento de esgotos alemãs foi predominante a presença de
estrona com concentração máxima de 70ng/L e valor médio de 9ng/L. Concentrações
26
médias da ordem de 1ng/L foram encontradas para 17α-etinilestradiol (com máxima
15ng/L) e para 16α-hidroxiestrona (com máxima 5ng/L). Já para o 17β-estradiol foram
encontradas máximas concentrações de 3ng/L, sendo o valor médio não indicado.
Já nos efluentes das ETEs canadenses, foram registradas concentrações maiores de 17β-
estradiol, média de 6ng/L e valor máximo 64ng/L, e de 17α-etinilestradiol, média de 9ng/L
com máximo de 42ng/L, do que nos efluentes das ETEs alemães. Entretanto, as
concentrações de estrona foram inferiores, com média de 3ng/L e valor máximo de 48ng/L.
Na Tabela 3.3 são apresentados os valores já citados, para uma melhor visualização.
Em Portugal, Azevedo et al. (2001) avaliaram, em amostras de águas superficiais, a
presença dos perturbadores endócrinos bisfenol A e isômeros de 4-nonilfenol. Foram
analisadas 135 amostras, oriundas de 45 locais de amostragens, durante um período de três
meses (agosto a outubro de 1999). Nessas amostras constatou-se que as concentrações de
bisfenol A e dos isômeros de 4-nonilfenol variaram de 0,2 a 4,0µg/L e 0,2 a 30,0µg/L,
respectivamente. Quanto à origem dos perturbadores endócrinos em questão, apenas os
isômeros de 4-nonilfenol foram associados à indústria têxtil e de curtumes da região. Não
se identificou ao certo à origem do bisfenol A. É importante ressaltar que em apenas duas
amostras foram observadas concentrações superiores a 10µg/L dos isômeros de 4-
nonilfenol e 2µg/L do bisfenol A, que são concentrações limites estipuladas para causar
efeitos de perturbação endócrino, em peixes.
Furuichi et al. (2004) estudaram a presença de perturbadores endócrinos em amostras de
água de diversos locais do Rio Tama, no Japão. A detecção foi realizada por meio de
cromatografia líquida ligada à espectrometria de massa e por ensaios in vitro usando
células da linhagem celular MCF-7 derivadas do câncer de mama humano (MVLN). As
Tabela 3.3 – Comparação dos valores detectados de estrogênios, nos efluentes de ETEs
estudados por Ternes et al. (1999).
Concentração (ng/L)
Estrogênio
Média Máxima
Localização da ETEs Alemanha Canadá Alemanha Canadá
Estrona 9,0 3,0 70,0 48,0
17β-estradiol
- 6,0 3,0 64,0
17α-etinilestradiol
1,0 9,0 15,0 42,0
16α-hidroxiestrona
1,0 - 5,0 -
27
águas do rio foram submetidas à extração em fase sólida e os extratos brutos foram
fracionados por HPLC em 10 frações que, posteriormente, foram testadas em ensaios
MVLN para verificar a presença de atividade estrogênica.
Em uma das frações, constatou-se a presença de 4-nonilfenol e 4-t-octilfenol com
concentrações totais entre 51,6 a 147ng/L e 6,9 a 81,9ng/L, respectivamente. No entanto,
nessa fração específica nenhuma atividade estrogênica foi verificada, isso porque a
atividade estrogênica se apresentou abaixo do limite de detecção da bioamostra da célula
MVLN. Já em outras três frações, foi constada a atividade estrogênica em concentrações
totais de 2,6 a 14,7ng/L de 17β-estradiol e de 17,1 a 107,6ng/L de estrona. Foi também
detectado bisfenol A com valores totais entre 16,5 a 150,2ng/L. O estriol e 17α-
etinilestradiol não foram detectados nessas três frações, pois apresentaram valores
inferiores a 0,02ng/L.
Na Tabela 3.4 são relatados mais alguns exemplos de detecção de substâncias
perturbadoras endócrinas.
Tabela 3.4 - Outros estudos sobre detecção de substâncias perturbadoras endócrinas.
Referências Perturbadores
Quantidades (*)
Origem da amostra/
Local
Desbrow et al.
(1998)
Estrona
17β-estradiol
17α-etinilestradiol
1 a 80 ng/L
1 a 50 ng/L
0 a 7 ng/L
Efluente de ETE
Inglaterra
Belfroid et al.
(1999)
Estrona
17β-estradiol
17α-etinilestradiol
< 0,4 a 47 ng/L
< 0,6 a 12 ng/L
< 0,2 a 7,5 ng/L
Efluente de ETE
Holanda
Larsson et al.
(1999)
Estrona
17β-estradiol
17α-etinilestradiol
4-Nonilfenol
Bisfenol A
5,8 ng/L
1,1 ng/L
4,5 ng/L
840 ng/L
490 ng/L
Efluente secundário de
ETE.
Suécia
Kuch e
Ballschmiter
(2001)
Esteróides
4-Nonilfenol
Bisfenol A
4-tert-octilfenol
100 pg/L a 2 ng/L
2 a 15 ng/L
300 pg/L a 2 ng/L
150 pg/L a 5 ng/L
Água para abastecimento
Sul da Alemanha
(*) Não há recomendações a respeito de valores máximos permitidos para água de abastecimento na
Portaria 518 e nem mesmo fornecidos pela Organização Mundial de Saúde.
28
3.1.5 Detecção dos perturbadores endócrinos
A União Européia (EU), a Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (EPA), a
Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), evidenciam preocupações com relação à ação
negativa provocada pelos perturbadores endócrinos. Nessa perspectiva, é possível constatar
a grande importância na identificação das fontes de contaminação, em se fazer uma
avaliação toxicológica dessas substâncias e um monitoramento analítico dos meios de
dispersão ambiental desse tipo de compostos.
As estratégias de avaliação toxicológicas são baseadas na combinação de ensaios de curto
prazo, por meio da identificação da atividade estrogênica in-vitro, com estudos de longo
prazo, efeitos in-vivo e, conseqüentemente, a avaliação do potencial de risco para o
homem. Outro aspecto que merece destaque é a importância dos estudos epidemiológicos.
Embora esses estudos apresentem respostas em longo prazo, constituem em uma
ferramenta importante de indícios dos efeitos negativos dos perturbadores endócrinos,
tendo em vista que não há possibilidade de executar testes toxicológicos diretamente em
humanos, tanto pelo caráter ético como legal.
Já do ponto de vista analítico, os métodos mais adequados de monitorização são: os
biológicos e os de “separação”. Com relação aos métodos biológicos, destacam-se os
imunoensaios, cujo princípio é a produção de anticorpos e/ou receptores que se liguem à
substância que apresenta atividade estrogênica (Nogueira, 2003).
A Figura 3.9 ilustra os dois passos genéricos dos imunoensaios. Inicialmente tem-se a
imobilização do receptor específico a um suporte, seguido da adição da substância em
estudo e de seu anticorpo, ocorrendo então o período de incubação. Em seguida, de acordo
com o tipo de detecção pretendida, adiciona-se uma substância adequada para detecção e
se faz medidas, tais como: de fluorescência (exemplo: ELRA, “Enzyme Linked Receptor
Assay”); de atividade enzimática (exemplo: ELISA, “Enzyme Linked Immuno Sorbent
Assay”) ou de radiação isotópica (exemplo: RIA, “Radio Immuno Assay”). De posse das
medidas, a análise quantitativa do resultado é obtida por meio da curva de calibração
previamente determinada para o ensaio (Nogueira, 2003).
29
As técnicas de imunoensaios vêm ganhando cada vez mais destaque e durante os últimos
10 anos têm se tornado bastante popular como ferramenta de detecção para contaminantes
como pesticidas em amostras de água. Já no setor de saúde, os imunoensaios são
extensamente usados, incluindo métodos para a detecção de estrogênios. Dessa forma, não
é de se surpreender que essa técnica revele-se uma boa alternativa para detecção de
perturbadores endócrinos em amostras ambientais. No entanto, deve-se ressaltar que outros
métodos biológicos de importância semelhante são encontrados na literatura, dentre estes
os ensaios de DNA e de linhas celulares. Na Tabela 3.5 são apresentadas às vantagens e as
desvantagens dos métodos de imunoesnsaios para amostras ambientais.
Figura 3.9 – Ilustração de dois passos genéricos dos imunoensaios (Nogueira, 2003).
Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay – ELISA” é uma das técnicas mais simples de
imunoensaio. Atualmente, esta é comercialmente disponível em kits para detecção e
quantificação de pesticidas, hormônio, dentre outras substâncias.
Uma outra forma indireta de detectar estrogênios é por meio da detecção ELISA de
biomarcadores, ao invés da detecção do próprio perturbador endócrino. Um biomarcador
muito utilizado é a determinação de níveis de vitelogenina (VTG) em plasma sangüíneo,
tendo em vista que alguns organismos respondem a um aumento na síntese de VTG como
resposta à exposição a determinadas concentrações de estrogênio. A vitelogenina é uma
lipoproteína complexa que se encontra na gema do ovo e que em circunstâncias normais
desempenha papel no sistema reprodutivo de vertebrados ovíparos. O gene do VTG
também está presente nos machos, mas sob condições normais não é expressivo, devido à
30
baixa concentração de estrógeno nos sangue dos mesmos (Nogueira, 2003; Bila e Dezotti,
2003).
Tabela 3.5- Vantagens e desvantagens de imunoensaios para amostras ambientais
(Danish EPA, 2003 - modificado).
Vantagens Desvantagens
Alta sensibilidade;
Facilidade de uso;
Necessidade de pequenos volumes
de amostras;
Ampla aplicabilidade;
Simples preparação da amostra;
Capacidade de análise de várias
amostras simultaneamente;
Apropriado para uso em campo;
Curto tempo de análise;
Apresenta uma boa relação de
custo-efetividade;
Ideal para detecção em amostras
com altas cargas de poluentes.
Vulnerável a reações cruzadas;
Detecção imprecisa em amostras com
baixas cargas de poluentes;
Quando existem baixas cargas de
poluentes, há necessidade de
confirmação do resultado por
métodos de separação
(electroforéticos, hifenados e
cromatográficos, como: HPLC-MS-
MS e GC-MS-MS);
A síntese dos anticorpos pode ser
difícil e cara.
Apenas uma substância específica
pode ser analisada ao mesmo tempo.
Com relação aos métodos analíticos de separação, têm-se às técnicas cromatográficas, que
são métodos físicos usados para separar e/ou analisar misturas constituídas por diversos
tipos de compostos. Trata-se de uma técnica muito vantajosa porque consegue separar os
constituintes de misturas complexas com grande precisão e também é capaz de purificar
qualquer substância solúvel ou volátil caso o material que constitui a fase estacionária, o
fluído transportador e as condições operativas forem otimizados.
Os componentes a serem separados em uma técnica cromatográfica são distribuídos entre
duas fases: uma fase estacionária e uma fase móvel que percorre o leito estacionário. Essa
técnica ocorre como resultado de processos repetidos de adsorção e desorção durante o
movimento dos componentes da amostra, em diferentes velocidades de migração, através
dos materiais constituintes da fase estacionária, promovendo dessa forma a separação. A
31
distinção entre os principais métodos cromatográficos é feita em termos das propriedades
da fase móvel, que pode ser líquida (LC) ou gasosa (GC).
No entanto, para que se tenha sensibilidade suficiente para analisar estrogênios naturais em
matrizes complicadas, tais como esgoto tratado, bruto, adubo e solo, é necessária que a
cromatografia seja combinada à técnica de espectrometria de massa (MS). A
espectrometria de massa oferece informações sobre a composição atômica e molecular de
materiais inorgânicos e orgânicos, aumentando substancialmente o desempenho dos
métodos cromatográficos na identificação de compostos e reduzindo os limites de detecção
(Danish EPA, 2003).
Os espectrômetros de massa consistem em um dispositivo capaz de classificar íons de
acordo com sua relação massa-carga, por meio do movimento destes em campos elétricos e
magnéticos. Com esse equipamento é possível identificar a diferença entre substâncias que
foram detectadas de forma semelhante, ou seja, é possível se certificar do composto que foi
detectado, evitando possíveis erros de interpretação (Danish EPA, 2003).
Ultimamente, tem-se optado pelo arranjo de espectrometrias de massa (MS-MS), pois este
promove maior seletividade ao resultado. Nesse caso, o método envolve pelo menos duas
fases de análise de massa em conjugação com um processo de dissociação, que causa uma
mudança na massa ou nos íons. No arranjo mais comum MS-MS, o primeiro espectrômetro
é usado para isolar um precursor iônico e fragmentá-lo, espontaneamente ou por meio de
ativação, produzindo produtos iônicos e fragmentos neutros. O segundo espectrômetro
analisa o produto iônico resultante. Assim, a massa específica não é apenas quantificada,
mas pode ser relacionada a uma fragmentação específica de produtos iônicos (Danish EPA,
2003).
As informações obtidas de qualquer ensaio cromatográfico são apresentadas em um
cromatograma, isto é, um registro da concentração ou da massa dos componentes da
amostra em função do tempo ou do volume da fase móvel. Tais informações permitem
uma avaliação da complexidade e das características da amostra.
Como são vários os métodos analíticos sugeridos na literatura para detecção de
perturbadores endócrinos em amostras ambientais, deve-se ter em mente, que ao se
32
promover uma análise específica, é importante escolher o método mais adequado. Isto
pode ser feito considerando-se alguns parâmetros importantes, como: sensibilidade;
variabilidade e seletividade (Danish EPA, 2003).
Outros pontos que se deve observar são o custo de investimento e o nível de detecção
pretendido. Pois uma avaliação apenas dos três quesitos anteriormente citados sempre
resultará na escolha dos métodos de cromatografias acopladas a dupla espectrometria de
massa, devido ao alto nível de precisão destes. Contudo, para alguns estudos tal nível de
precisão nem sempre é necessário, existindo a possibilidade de se utilizar outros métodos
com custos inferiores e igualmente eficientes.
É importante ressaltar que a questão custo não engloba somente os equipamentos, mas as
técnicas de preparação da amostra que podem apresentar custos consideráveis, variando
amplamente dependendo das matrizes ambientais. Na Tabela 3.6 tem-se uma classificação
das técnicas analíticas de detecção depois de considerar os parâmetros de variabilidade,
seletividade e sensibilidade para diferentes matrizes ambientais, assumindo-se que houve
uma eficiente preparação da amostra.
Tabela 3.6 – Classificação das técnicas analíticas de detecção de perturbadores
endócrinos para diferentes matrizes ambientais (Danish EPA, 2003 - modificado).
Matriz GC-MS
GC-
MS-MS
LC-MS
LC-MS-
MS
Imunoensaio
LD fornecido na literatura
(ng/L) (*)
0,3 - 2 0,1 - 2 1 - 5 0,1 – 0,5 0,05 - 850
Águas de superfície
(águas subterrâneas, águas
de rio, etc.).
(+) + (+) + (++)
ETEs (afluente / efluente) (+) + (+) + (++)
Esgoto (+) + (+) + (++)
Solo (+) + (+) + (++)
Adubo (+) + (+) + (++)
(*) LD: limite de detecção;
+ : pode ser aplicado quando LD e LQ (limite de quantificação) são cumpridos.
(+): pode ser aplicado se os problemas de seletividade são solucionados por definição de critérios e se LD
e LQ são cumpridos.
(++): pode ser aplicado se os problemas de seletividade são solucionados por definição de critérios e se
atenção é dada aos falsos positivos.
As técnicas UV, HPLC, GC-FID, etc são irrelevantes neste contexto devido à baixa e imprópria
seletividade.
33
É importante destacar que a análise tanto por meio de ensaio ELISA como por
cromatografia requerem um pré-tratamento das amostras. As razões para isso são
inúmeras, destacando-se: a complexidade das matrizes biológicas; a existência de proteínas
incompatíveis com as colunas cromatográficas e a concentração das substâncias a serem
detectadas, em nível de traços. As técnicas de extração e/ou pré-concentração permitem
que a análise dos compostos de interesse se torne possível. A meta final é obtenção de uma
sub-fração da amostra original enriquecida com as substâncias de interesse analítico. De
forma a se obter, por exemplo, uma separação cromatográfica livre de interferentes, com
detecção adequada e um tempo razoável de análise (Queiroz et al., 2000).
As técnicas mais comumente utilizadas para extração ou pré-concentração de compostos
são: extração líquido-líquido; extração em fase sólida; extração com fluído supercrítico e
extração com membrana sólida ou líquida.
Dentre as extrações citadas, a extração em fase sólida (EFS) é atualmente uma das
ferramentas mais poderosas e mais empregadas para a extração e pré-concentração de
compostos presentes em matrizes complexas. Esse tipo de extração também é o processo
mais citado nos artigos relacionados com detecção de substâncias perturbadoras
endócrinas. A EFS emprega cartuchos recheados com adsorventes, nas formas de barril ou
seringa, e um mecanismo de retenção idêntico ao que ocorre na coluna de cromatografia
líquida (Queiroz et al., 2000).
É importante comentar que Queiroz et al. (2000) apresenta um guia para seleção de
adsorventes a serem utilizados em EFS e que segundo a Danish EPA (2003), os cartuchos
C18 têm sido os mais amplamente empregados em EFS, juntamente com as eluições
utilizando metanol. Isto pode ser constatado, por exemplo, nos trabalhos de Rudder et al.
(2004), que detectaram 17α-etinilestradiol por meio de bioensaios YES (Yeast Estrogen
Screen); nos estudos desenvolvidos por Lee et al. (2004), que detectaram 17β-estradiol por
YTA (Yeast Two-hybrid Assay), ER-CA (Estrogen Receptor Competition Assay) e LC/MS
e nos estudos desenvolvidos por Fukuhara et al (2006), que detectaram estrona e 17β-
estradiol por ELISA. Em todos os casos, as amostras foram preparadas por tecnologia de
EFS utilizando cartucho C18, havendo apenas algumas alterações de dosagens e tipos de
solventes.
34
3.2 - ADSORÇÃO POR CARVÃO ATIVADO
3.2.1 – Histórico
Os registros do uso do carvão ativado são variados e datam desde antes de Cristo. Os
Egípcios costumavam utilizar o carvão vegetal e animal no tratamento de doenças; na
adsorção de odores provenientes de ferimentos e do trato intestinal; como combustível
doméstico; como purificador de óleos e como redutor de minérios na produção do bronze.
Outra prática importante foi exercida pelo povo Hindu e Fenício que, respectivamente,
empregavam o carvão vegetal na purificação da água e na fabricação de barris para
armazenamento de água potável (University of Kentucky, 2005).
Em 1773, Scheele estudou a adsorção de diferentes gases por várias fontes de carvões. Já
em 1777, estudos posteriores relacionaram o efeito do calor na adsorção de gases em
carvão vegetal, sendo esses resultados utilizados na elaboração da “Teoria da Condensação
da Adsorção”. Lowitz, em 1785, constatou em seus estudos que os carvões não apenas
eram capazes de serem eficientes na remoção de vapores, mas de substâncias orgânicas e
cor; sendo no caso particular da cor, a análise voltada à produção de ácido tartárico. Nessa
mesma época, com o desenvolvimento das refinarias de açúcar, houve uma grande busca
por metodologias que promovessem a descoloração do melado feito do açúcar bruto, pois,
o carvão vegetal manufaturado da madeira, até aquele momento, devido sua baixa
porosidade, não era efetivo para esse tipo de remoção (University of Kentucky, 2005).
No começo do século XIX na França, Gruillon propôs o refinamento e “branqueamento”
simplificado do açúcar, em grande escala. Para isso era necessário que o carvão
manufaturado da madeira fosse moído e lavado. Esta foi a primeira vez que o carvão em pó
passou a ser produzido comercialmente. Em 1811, Figuier descobriu que o carvão
manufaturado de ossos apresentava maior capacidade de descoloração do açúcar quando
comparado ao manufaturado da madeira. Rapidamente, o carvão de osso tomou conta do
mercado e alguns métodos de regeneração por calor foram desenvolvidos para esse tipo de
carvão (University of Kentucky, 2005).
Já em 1822, Buzzy promoveu os primeiros estudos sobre a ativação em processos térmicos
e químicos e também analisou as propriedades de descoloração do carvão. Assim, Buzzy
35
pode constatar que havia uma relação da técnica de descoloração com a fonte de carvão
adotada, com o processo de ativação e com o tamanho das partículas do produto final. Em
seus estudos também concluiu que a carbonização em altas temperaturas e longos períodos
reduz as propriedades de adsorção (University of Kentucky, 2005).
No século XX, durante as duas guerras mundiais, devido a grande necessidade de produção
de máscaras para proteção contra gases tóxicos, houve um grande estímulo em pesquisas
voltadas à adsorção (Suzuki, 1990 apud Silva, 2005a).
Com relação ao tratamento de água direcionado ao abastecimento público, o primeiro uso
do carvão ativado ocorreu em 1910, com a implantação de um filtro de carvão ativado
manufaturado de lignita na estação municipal de Reading, na Inglaterra. O propósito do
filtro, na época, era apenas a remoção de subprodutos clorados da água tratada
(Masschelein, 1992).
Com o tempo, essa tecnologia de filtração difundiu-se e aprimorou-se em outros países
como Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Dinamarca devido a sua
praticidade, economia proporcionada pela reativação do material e eficiência na remoção
de subprodutos da cloração e demais compostos orgânicos. Na Tabela 3.7 é apresentada a
cronologia dos diferentes usos do carvão ativado no tratamento de água para abastecimento
(Masschelein, 1992).
Tabela 3.7 – Cronologia do uso do carvão ativado (Masschelein, 1992 - modificado).
Usos Anos precursores
Remoção dos subprodutos da cloração na água tratada 1910
Remoção de compostos que conferem odor e sabor à água. 1955
Remoção de compostos orgânicos. 1970
Carvão ativado biológico 1976
Atualmente, o interesse pelo estudo do carvão voltado para o tratamento de água e esgoto
vem aumentando e uma variedade de espécies de carvões ativados é produzida com
diferentes granulometrias e origens. Isto se deve, principalmente, a uma preocupação cada
vez maior com a presença de compostos orgânicos que conferem riscos à saúde humana
tais como: pesticidas, toxinas, perturbadores endócrinos e trihalometanos (THM), pois
36
alguns desses compostos não são removidos totalmente pelos tratamentos convencionais,
de forma a atender aos padrões de qualidade preconizados pelas legislações.
3.2.2 - Principio da adsorção
A adsorção é o fenômeno que envolve a concentração espontânea de um fluido ou um gás
sobre a superfície de um sólido, devido à existência de forças atrativas não compensadas
na superfície do mesmo. O sólido sobre o qual ocorre a adsorção é o denominado
adsorvente, enquanto as moléculas retidas pela superfície são os denominados adsorvatos
(Snoeyink, 1990).
A adsorção pode ser classificada como física ou como quimissorção. Na adsorção física, as
forças de Van der Waals (repulsão e dispersão) atuam entre o composto que compõe o
adsorvente e a substância a ser adsorvida. Nesse caso, o processo encontra-se na faixa de
difusão controlada em que não existe energia de ativação, mas as forças eletrostáticas
podem interferir. Com relação à quimissorção, as forças predominantes são as
eletrostáticas (interações de polarização, dipolo e quadripolo) que formam uma ligação
química unindo o adsorvente e o adsorvato, que é capaz de modificar a estrutura molecular
existente (Masschelein, 1992).
O processo químico resulta em uma grande energia de ativação, além de apresentar baixa
reversibilidade. A reversibilidade é um aspecto importante a ser considerado no momento
em que se pretende escolher o tipo de carvão a ser usado, em pó ou granular. Isso se deve
ao fato de que quanto mais baixa a reversibilidade mais vantajosa será o uso de carvões em
pó, pois os carvões granulares são, usualmente, submetidos a processos regeneração
durante a sua vida útil. Outro aspecto que deve ser ressaltado a cerca desse assunto é que
na adsorção física existe a possibilidade da formação de camadas moleculares sobrepostas
na estrutura do carvão, enquanto na adsorção química somente uma camada molecular é
possível de ser adsorvida (monocamada).
Diversos materiais podem ser utilizados para a técnica de adsorção no tratamento de água,
dentre estes existem: a alumina ativada (Al
2
O
3
), a sílica gel, o carvão ativado, os óxidos
metálicos, as resinas de troca iônica e resinas adsorventes. No entanto, dentre os vários
37
tipos de materiais, optou-se pelo estudo mais aprofundado do carvão ativado, pois este
satisfaz os interesses que serão abordados no decorrer desse trabalho.
A adsorção em carvão ativado representa papel importante na modificação da qualidade da
água, pois por meio desse tipo de adsorção é possível remover compostos causadores de
sabor e odor, subprodutos da cloração como os trihalometanos (THM) e químicos
orgânicos sintéticos ou naturais que oferecem risco a saúde, como os perturbadores
endócrinos, que são o foco principal do trabalho em questão (Snoeyink, 1990).
A fabricação do carvão envolve essencialmente dois processos: a carbonização da matéria-
prima, que consiste no tratamento térmico do material em atmosfera inerte e elevada
temperatura e a ativação do produto resultante em atmosfera redutora.
O carvão ativado pode ser manufaturado a partir de materiais carbonáceos de origem
vegetal (como madeira, turfa, sementes, cascas de coco e nozes), animal (como ossos de
animais) ou mineral (como petróleo, plástico, pneus, lignita e material betuminoso). O tipo
de matéria-prima e a temperatura de carbonização e ativação são fatores de grande
importância na preparação do carvão ativado com relação à formação de sua estrutura
porosa.
Dentre os processos conhecidos de preparação, a ativação térmica é o mais difundido.
Nesse caso, promove-se uma decomposição da matéria carbonácea por meio do
aquecimento lento do material em fornos sob condições anaeróbias controladas. Essa
ausência de oxigênio assegura que o carvão não queime e se transforme em um material
orgânico poroso. Após o aquecimento, o produto é ativado por exposição a uma mistura de
vapor sob temperatura entre 900 e 1100°C, sendo importante que haja uma difusão
completa desse vapor em toda a massa do carvão. A estrutura resultante dos poros será
decorrente da quantidade de vapor e da temperatura empregada (Masschelein, 1992;
Kawamura, 2000).
Outro processo de ativação, menos freqüente, é o químico. Este consiste na desidratação
inicial do material carbonáceo por meio de produtos como ZnCl
2
ou H
3
PO
4
a uma
temperatura entre 400 e 500°C e posterior ativação na ausência de ar, com temperatura
num intervalo de 500 a 700°C (Masschelein, 1992).
38
As propriedades físicas do carvão ativado incluem a área superficial, distribuição do
tamanho dos poros, densidade do carvão, número de iodo, número de melaço, índice de
azul de metileno, resistência à abrasão, teor de umidade, dureza, conteúdo de cinzas (que
reflete a pureza do carvão), tamanho das partículas, entre outras.
A determinação da área superficial baseia-se na quantificação do adsorvato necessário para
recobrir o adsorvente com uma monocamada. O método consiste na exposição do sólido a
um gás em um sistema fechado à temperatura constante. Nesse caso, o sólido passa a
adsorver o gás, ocorrendo assim, um aumento da massa do sólido e um decréscimo na
pressão do gás (Teixeira et al., 2001).
A forma mais conhecida de calcular essa área superficial é por meio da equação da
isoterma de adsorção do nitrogênio (N
2
) sugerida por Brunauer, Emmett e Teller. Esta é
conhecida como área superficial BET e expressa em m
2
/g. Em geral, os carvões ativados
usados no tratamento de água apresentam uma superfície interna entre 500 e 1500m
2
/g
(Masschelein, 1992).
Quanto aos poros dos carvões, estes são classificados de acordo com o tamanho do seu
diâmetro médio, como apresentado na Tabela 3.8. A determinação do volume de poros
pode ser feita por meio da adsorção de adsorvatos em fase líquida, como por exemplo, o
iodo e o azul de metileno. O azul de metileno vem sendo utilizado como um parâmetro
para expressar a mesoporosidade do carvão ativado, enquanto o número de iodo a
microporosidade. Já para o caso de poros maiores, o ideal a ser feito é uma análise
colorimétrica comparativa, dispondo-se de um adsorvato padrão de número molar
conhecido.
O procedimento do número de iodo é sugerido pela norma americana D4607 da American
Society for Testing and Materials - ASTM e pela norma brasileira MB-3410 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas - ABNT cujo principio do método consiste na obtenção da
Tabela 3.8 – Classificação dos poros para carvões ativados (Bansal e Goyal,
2005 - modificado).
Classificação Diâmetro médio (nm)
Microporo < 2
Mesoporo 2 – 50
Macroporo > 50
39
quantidade, em miligramas de iodo adsorvido por 1,0g de carvão ativado pulverizado,
quando a concentração do filtrado residual é 0,02N. No entanto, o número de iodo deve
atender a recomendações mínimas sugeridas em normas para que o carvão apresente uma
boa capacidade adsortiva.
Assim, de acordo com a American Water Works Association – AWWA, o número de iodo
não deve ser menor do que 500mg/g, seja na forma granular ou em pó. Já com base na
norma brasileira EB-2133 da ABNT, o valor mínimo deve ser de 600mg/g, para carvões
em pó, pois, até o momento, não há norma brasileira específica para carvões granulares.
Quanto à estrutura, os poros são conhecidos como cilíndricos (por exemplo, carvão ativado
obtido de casca de coco) e cônicos (obtido do carvão mineral), sendo os poros cônicos os
mais eficientes, pois adsorvem grandes e pequenas moléculas simultaneamente. Enquanto
os cilíndricos, devido à possibilidade de serem obstruídos por moléculas grandes e
partículas coloidais na sua entrada, são pouco efetivos. Na Figura 3.10 é apresentado o
esquema da estrutura dos poros (Masschelein, 1992).
(1) colóide ou molécula
polimérica;
(2) moléculas grandes
adsorvidas;
(3) moléculas pequenas
adsorvidas.
Figura 3.10 – Esquema da estrutura dos poros para carvões ativados: (a) estrutura cônica
e (b) estrutura cilíndrica (Masschelein, 1992 - modificado)
3.2.3 - Características da adsorção
O carvão ativado pode ser usado na forma granular ou em pó. Em ambas as formas o
processo de adsorção, que consiste no acúmulo do adsorvato na superfície do adsorvente
ocorre, simultaneamente, com sua reação inversa, denominada dessorção. Quando as taxas
de adsorção e dessorção se igualam é estabelecido o equilíbrio da adsorção e a acumulação
do adsorvato é interrompida. A dessorção pode ser causada, por exemplo, por alterações de
outros compostos ou por uma diminuição na concentração do adsorvato no afluente. A
40
Irreversível
Desfavorável
Linear
Muito favorável
Favorável
e
C
e
q
Equação 3.1 representa a reação química de adsorção de moléculas pelo material
adsorvente.
BABA .
+
Equação (3.1)
Em que, A é o adsorvato; B é o adsorvente e A.B são os composto adsorvidos.
A representação gráfica do fenômeno de adsorção é dada pela isoterma de equilíbrio que
consiste em uma curva que relaciona a quantidade de adsorvato por unidade de adsorvente
versus a concentração de equilíbrio do adsorvato na solução. Na Figura 3.11 são
apresentados os diferentes tipos de isotermas. O estudo das isotermas é essencial, pois uma
grande quantidade de dados, relacionados à atividade do adsorvente, pode ser resumida.
No caso particular da utilização do carvão ativado, é possível decidir pela melhor forma de
utilização do mesmo (em pó ou granular), além de determinar dosagens e distribuições
granulométricas.
C
e
: concentração em equilíbrio do
adsorvato em solução;
q
e
: quantidade de adsorvato por
unidade de adsorvente.
Figura 3.11 – Tipos de isotermas de adsorção (McCabe et al., 1993 apud Silva, 2005a)
Essas diferentes formas de isotermas conhecidas são variações de seis tipos principais que
associam a forma de uma isoterma de adsorção gasosa às dimensões dos poros presentes
no sólido. Dentre esses tipos, cinco foram propostos por Brunauer et al. em 1940, e um
último proposto somente anos depois. Essa última curva corresponde a sólidos com
superfície uniforme e não porosa, ou seja, casos bem raros. Na Figura 3.12 são
41
apresentados os cinco primeiros tipos de isotermas propostos por Brunauer et al. em 1940
(Teixeira et al., 2001).
A isoterma do tipo I é característica de sólidos com microporosidade. As isotermas do tipo
II e IV são típicas de sólidos não porosos e de sólidos com poros razoavelmente grandes,
respectivamente. As isotermas do tipo III e V são características de sistemas onde as
moléculas do adsorvato apresentam maior interação entre si do que com o sólido, portanto,
prejudicando a análise da área superficial e da porosidade (Teixeira et al., 2001).
Volume adsorvido: quantidade de gás adsorvida pelo sólido em condições padrões de
temperatura e pressão (0° e 1atm);
P/Po: pressão relativa, ou seja, relação entre a pressão de trabalho e a pressão de vapor
do gás na temperatura utilizada.
Figura 3.12 – Tipos de isotermas de adsorção gasosa para caracterização de poros
(Teixeira et al., 2001 - modificado).
Ao se analisar a histerese de isotermas de adsorção-dessorção gasosas é possível obter
informações sobre a forma dos poros do sólido. O fenômeno da histerese é definido pela
diferença nos ramos de adsorção e dessorção da isoterma de um gás adsorvido. Os tipos
mais freqüentes de histereses classificados pela IUPAC (International Union of Pure and
Applied Chemistry) são mostrados na Figura 3.13 (Greg e Sing, 1982 apud Silva, 2005a).
A histerese H1 corresponde a materiais cujos poros são regulares em formato cilíndrico ou
poliédrico com as extremidades abertas. O tipo H2 é para materiais com poros cilíndricos
com estrangulações ou em formatos tipo “garrafa”. Na histerese H3, os poros possuem
formato de cunhas, cones ou placas paralelas. Já no tipo H4, os poros apresentam raios (r
p
)
menores do que 1,3nm, e morfologia pouco definida.
42
Figura 3.13 – Tipos de histereses em isotermas de adsorção-dessorção gasosa e a relação
com o formato do poro (Rodella, 2001 apud Silva, 2005a).
Os dois principais modelos que descrevem o equilíbrio da adsorção são os de Langmuir e
de Freundlich. Em ambos considera-se que a adsorção ocorre a uma temperatura constante
de equilíbrio e por isso a reação é denominada isotérmica (Masschelein, 1992).
O modelo de Langmuir é o que apresenta a mais simples das isotermas de adsorção. Este
assume que as forças atuantes na adsorção são similares às químicas e se baseia nas
seguintes considerações (Barros e Arroyo, 2006):
O sistema deve ser ideal;
As moléculas devem ser adsorvidas e aderidas à superfície do adsorvente em sítios
específicos, sendo a adsorção em monocamada e em superfície homogênea;
Cada sítio pode acomodar somente uma molécula adsorvida e
A energia da unidade adsorvida é a mesma em todos os sítios da superfície e não
depende da presença ou ausência de outras unidades adsorvidas nos sítios vizinhos, ou
seja, as interações são desprezíveis entre as moléculas adsorvidas.
Na Equação 3.2 tem-se a função isoterma de Langmuir e na Equação 3.3 sua forma
linearizada:
e
emáx
e
Cb
Cbq
q
+
=
1
Equação (3.2)
máxemáxe
qCbqq
1111
+
=
Equação (3.3)
43
e
q/1
e
C/1
máx
q/1
()
máx
qb= /1
α
máxe
qq =
emáx
Cbqq =
e
q
e
e
máxe
Cb
Cb
qq
.1
.
+
=
e
C
Onde:
q
e
: quantidade de adsorvato por unidade de adsorvente (g/g);
C
e
: concentração em equilíbrio do adsorvato em solução (g/m
3
);
q
máx
: limite de saturação (máxima massa de adsorvato por massa de adsorvente) (g/g);
b: constante que relaciona a energia de ligação do adsorvato com a superfície do
adsorvente.
Assim, a partir das Equações 3.2 e 3.3 é possível traçar as isotermas de Langmuir nas
formas normal e linearizada como apresentado na Figura 3.14 (Masschelein, 1992).
O modelo de Langmuir é bastante teórico e sua isoterma pode falhar em muitos aspectos
devido à heterogeneidade que em geral é observada na superfície adsorvente. Já o modelo
de Freundlich, apesar de empírico, é a função que mais se ajusta aos dados de tratamento
de água. A isoterma de Freundlich é representada pela Equação 3.4, juntamente com sua
respectiva linearização, na Equação 3.5, sendo ambas as equações graficamente
apresentadas na Figura 3.15 (Snoeyink, 1990).
n
ee
CKq
/1
=
Equação (3.4)
ee
C
n
Kq log
1
loglog +=
Equação (3.5)
(a) isoterma normal (b) isoterma linearizada
Figura 3.14 – Isotermas de adsorção pelo modelo de Langmuir (Masschelein, 1992 -
modificado).
44
e
qlog
e
Clog
1>n
1
<
n
K
Onde:
q
e
: quantidade de adsorvato por unidade de adsorvente (g/g);
C
e
: concentração em equilíbrio do adsorvato em solução (g/m
3
);
K e n: constantes, sendo K relacionada com a capacidade de retenção do adsorvente pelo
adsorvato e “n” em função da força de ligação.
(a) isoterma normal (b) isoterma linearizada
Figura 3.15 – Isotermas de adsorção pelo modelo de Freundlich. (Masschelein, 1992 -
modificado).
Na Figura 3.16 são apresentados alguns exemplos de isotermas segundo o modelo de
Freundlich. Com relação às isotermas 1 e 2, tem-se que a 2, por estar mais abaixo,
apresenta uma adsorção inferior. No entanto, para elevadas concentrações, observa-se que
a isoterma 2 passa a ter uma adsorção mais efetiva.
Analisando a Figura 3.16 e a Equação 3.5, tem-se que para ligações adsortivas fortes, que
possuem valores maiores de ‘n’, o termo (1/n).logC
e
é muito pequeno e sendo assim o
valor de q
e
tenderá a ser constante, o que resulta em uma isoterma pouco inclinada com a
horizontal (curva 3 da Figura 3.16). Tal fato reflete a situação de um tratamento não
contínuo como o realizado com carvão ativado em pó. Isto porque ligações fortes
proporcionam pouca reversibilidade ao processo. Em uma condição contrária, C
e
exercerá
maior influência no processo, e dessa forma, a isoterma será mais inclinada com a
horizontal (curva 4 da Figura 3.16), pois o valor de q
e
apresentará maiores variações.
Assim, o tratamento ideal deverá ser o contínuo, como por exemplo, o que utiliza carvão
ativado granular. Deve-se ressaltar que para a maioria dos carvões o valor de (1/n) está
e
q
e
C
1>n
1<n
45
4
3
2
1
e
qlog
e
Clog
e
qlog
e
Clog
entre 0,3 e 0,7 e que a adsorção é considerada menos eficiente se (1/n) for maior que 1,0
(Masschelein, 1992).
Figura 3.16 – Isotermas de Freundlich linearizadas (Masschelein, 1992 - modificado).
Em geral, as isotermas de adsorção são determinadas para um único composto. No entanto,
estas podem ser feitas para misturas heterogêneas, desde que se disponha de um grupo de
outros parâmetros como: carbono orgânico total, carbono orgânico dissolvido, demanda
química de oxigênio, halogênios orgânicos dissolvidos, absorbância UV e fluorescência.
Dessa forma é possível quantificar e qualificar a concentração total de substâncias que
estão presentes. A mistura, nesse caso, é tratada como um único composto cuja equação da
isoterma é uma função da concentração inicial e da fração da mistura que é adsorvida
(Snoeyink, 1990).
Alguns fatores afetam o equilíbrio da adsorção isotérmica, são eles: as características do
adsorvente, como tamanho e distribuição dos poros; área superficial; química da superfície;
propriedades do adsorvato, como solubilidade que quanto menor maior será a adsorção;
pH; temperatura; competição entre adsorvatos distintos, presença de matéria orgânica
natural que pode reduzir a capacidade de adsorção ao competir pelos sítios de adsorção e a
presença de substâncias inorgânicas, tais como ferro, manganês ou sais de cálcio que
podem precipitar no adsorvente e interferir na adsorção. Nesse último caso é necessário
prever pré-tratamento ao processo, caso essas substâncias precipitantes estejam em
excesso. Outra interferência importante a ser considerada é a oxidação do carvão
46
promovida por compostos como: cloro em solução e persulfato de amônia (Snoeyink, 1990
e Silva, 2005a).
A questão da competição entre diferentes adsorvatos que, concomitantemente, existem na
água a ser tratada, é sem dúvida um dos fatores mais importantes a ser considerado no
estudo do equilíbrio da adsorção. Essa competição consiste na substituição de compostos
reversíveis, primeiramente, adsorvidos, por outros compostos que tamm possuem
afinidade com o adsorvente e são capazes de mudar o equilíbrio da adsorção, podendo até
essa competição, em alguns casos, promover a eluição de algum composto adsorvido
(Masschelein, 1992).
No entanto, deve-se ressaltar que nem toda a superfície do adsorvente está disponível para
adsorção. A capacidade do composto de ser adsorvido depende da afinidade que o mesmo
possui em relação à água, ou a outros compostos desestabilizados, quando comparado ao
adsorvente. Além do que as moléculas são adsorvidas, de preferência, por poros com
estruturas e dimensões semelhantes (Snoeyink, 1990).
Com relação ao pH, é sabido que este muitas vezes tem um efeito significativo nas
características de adsorção e por isso foi citado como fator capaz de alterar o equilíbrio
desta. Por exemplo, quando o pH está em uma faixa onde as espécies estão ionizadas, a
capacidade de adsorção é baixa devido a maior afinidade das moléculas pela água. Já, no
caso, em que as moléculas estão neutras, a capacidade de adsorção é relativamente alta.
(Snoeyink, 1990).
A temperatura é outro fator importante que tem efeito na taxa de adsorção e na
concentração de equilíbrio, como mostrado na Figura 3.17. Em geral, as reações de
adsorção são exotérmicas e, portanto, aumentam sua eficiência com o decréscimo da
temperatura. No entanto, como pode ser observado na Figura 3.17, para curtos períodos de
tempo a adsorção pode apresentar melhor desempenho em temperaturas maiores.
Com relação à cinética da adsorção, tem-se que o mecanismo de transferência de massa no
adsorvente ocorre segundo as seguintes etapas ordenadas (Snoeyink, 1990):
47
tempo
%
composto
adsorvido
2
T
1
T
21
TT <
1. Transporte de massa no fluído externo: etapa que depende das características
hidrodinâmicas do sistema. Essa determina a camada laminar que envolve a partícula
adsorvente, ou seja, é nessa fase que o soluto é transportado para a superfície do
adsorvente.
2.
Transporte pelo filme de difusão: etapa em que o adsorvato, por difusão molecular,
atravessa a camada hidrodinâmica limítrofe que cerca a partícula adsorvente. A
velocidade do transporte de massa através do filme de difusão é proporcional à
superfície externa do adsorvente e, dessa forma, associada ao tamanho da partícula.
3.
Transporte nos poros: etapa em que a substância adsorvida na superfície da partícula é
transportada para os centros ativos de adsorção nos poros do adsorvente.
4.
Adsorção: etapa final (fenômeno de adsorção propriamente dito). Quando física é a mais
rápida das etapas e, portanto, as demais se tornam limitantes do processo. Quando
química é mais lenta, sendo essa etapa a limitante.
Figuras 3.17 – Efeito da temperatura na adsorção - esquemático (Masschelein, 1992).
Alguns fatores podem interferir na cinética da adsorção, como: o tamanho das moléculas
dissolvidas, que agem no coeficiente de difusão, e o tamanho das partículas adsorventes,
que são responsáveis por definir o tempo requerido entre o transporte no poro até os
espaços disponíveis à adsorção. É importante ressaltar que a adsorção é mais efetiva em
sólidos adsorventes mais finos e porosos, e que os mesoporos não apenas adsorvem
moléculas com estrutura semelhante, mas são também considerados importantes para o
transporte rápido de adsorvatos para os pequenos poros.
48
3.2.4 - Adsorção por carvão ativado em pó (CAP)
O emprego do carvão ativado em pó é uma técnica mais difundida que o carvão ativado
granular. Isto se deve a facilidade deste em se ajustar a instalações já existentes em
estações convencionais e a sua eficiência no tratamento de situações emergenciais, como
no caso do aumento da concentração localizada de um poluente (Snoeyink, 1990).
As principais vantagens do uso do carvão em pó são: a flexibilidade no processo de
dosagem, que deve variar de acordo com as alterações na qualidade da água; e o menor
custo de investimento, quando comparado ao granular. Quanto as desvantagem têm-se: o
grande custo de operação (se grandes dosagens forem requeridas por um longo período de
tempo); a impossibilidade de regeneração do produto; a baixa remoção de carbono
orgânico total (sic); o aumento da dificuldade de disposição do lodo e a dificuldade de
remover, completamente, as partículas de CAP da água (Snoeyink, 1990).
O tamanho das partículas de CAP é um fator importante, pois quanto menores as
partículas, maior será a capacidade de adsorção de compostos orgânicos. No entanto, se
deve estar atento à possibilidade desse material ser carreado no efluente devido ao seu
tamanho reduzido. De acordo com a norma brasileira, EB-2133 da ABNT, 90% (no
mínimo) da massa de CAP devem passar pela peneira nº 325 (0,044mm). Esse valor está
de acordo com o relatado por Brady (1998), que afirma que as partículas de CAP, em
geral, possuem diâmetros menores que 0,1mm.
A densidade aparente dos carvões é outro fator relevante com respeito à dispersão e
homogeneização deste na amostra. Esta depende do processo de manufatura executado
com os materiais de origem do CAP, resultando, assim, em densidades aparentes diferentes
para cada tipo de material. De acordo com a norma brasileira, EB-2133 da ABNT, esse
valor deve atender o intervalo de 0,20 a 0,75 g/cm
3
. É importante ressaltar que esse
intervalo é semelhante ao relatado por Brady (1998), que afirma que as densidades
aparentes se encontram, em geral, entre 0,36 a 0,74 g/cm
3
.
A dosagem do CAP depende do tipo de carvão e da concentração do que se deseja
remover. Dosagens comuns estão na faixa de 2 a 20 mg/L, para controle de sabor e odor. Já
49
com relação a episódios mais severos de sabor e odor e para derramamentos de químicos
orgânicos, é possível atingir valores superiores a 100 mg/L (Brady, 1998).
Quanto ao tempo de contato, este deve ser suficiente para que haja uma completa remoção
do contaminante. No caso de carvões mais finos, como a taxa de adsorção é maior, é
requerido menor tempo de contato, em torno de 30 minutos. Enquanto que para materiais
grosseiros, esse tempo aumenta para em média 1 hora (Masschelein, 1992).
A alimentação com CAP pode ser feita por meio de equipamentos de alimentação com
seco, para uso esporádico, ou por bombas de dosagem, para uso contínuo na forma de
suspensão. Ambos os sistemas devem estar localizados o mais perto possível dos pontos de
aplicação e de preferência com uma operação periódica que garanta o bom funcionamento
dos mesmos, principalmente no uso contínuo, onde a suspensão de carvão não pode
solidificar. Quanto aos pontos de aplicação do CAP, estes podem ser variados ao longo do
processo de tratamento, mas deve-se destacar que a aplicação em duas fases consecutivas
aumenta o potencial de remoção. No entanto, é importante comentar que o arranjo das
unidades, em estações já construídas, pode inviabilizar ou beneficiar na escolha desses
locais de aplicação.
O CAP deve ser adicionado de maneira que assegure seu contato com todo o fluxo, para
possibilitar uma rápida adsorção pelas pequenas partículas, ou para que este possa ser
incorporado dentro dos flocos na mistura rápida e, posteriormente, removido na
sedimentação e filtração. Na Tabela 3.9 tem-se a descrição de Snoeyink (1990) das
vantagens e desvantagens dos diferentes pontos de aplicação do CAP.
Além dos aspectos já expostos até aqui sobre o CAP, é importante considerar os seguintes
fatores para a escolha do melhor ponto de aplicação (Brady, 1998):
Um tempo de contato de no mínimo de 15 minutos é geralmente suficiente para a
maioria dos compostos causadores de odor e sabor. Considerando a possibilidade de
tempos maiores, por exemplo, para a remoção de geosmina e metilisoborneol (MIB).
Lembrando-se que o tempo de contato entre o CAP e os compostos orgânicos presentes
na água depende da habilidade do carvão de se manter em suspensão.
50
Tabela 3.9 - Vantagens e Desvantagens dos diferentes pontos de aplicação do CAP
(Brady, 1998 - modificado).
Ponto de adição Vantagem Desvantagem
Entrada da ETA
Boa mistura;
Tempo de contato
longo;
Remoção quase que
total do CAP no
decantador;
Pouca interferência
com coagulantes.
Algumas substâncias que deveriam
ser removidas por coagulação são
adsorvidas. Desse modo pode
haver um aumento na dosagem de
CAP utilizada.
Precedendo a
mistura rápida
(neste caso usa-se
solução
previamente
diluída)
Excelente mistura
para o tempo de
contato projetado.
Pouca interferência
com coagulantes;
Adicional tempo de
contato possível
durante a floculação e
sedimentação;
Remoção quase que
total do CAP no
decantador.
Um novo tanque misturador deve ser
instalado;
Algumas competições podem
ocorrer com moléculas que deviam
ser removidas pelos coagulantes.
Desse modo pode haver um aumento
na dosagem de CAP utilizada.
Mistura rápida
Boa mistura durante
a mistura rápida e
floculação.
Razoável tempo de
contato;
Remoção quase que
total do CAP no
decantador.
Possível redução na taxa de
adsorção por causa de interferências
do coagulante;
Para alguns contaminantes, o tempo
de contato pode ser curto demais
para atingir o equilíbrio da adsorção;
Algumas competições podem
ocorrer com moléculas que deviam
ser removidas pela coagulação.
Entrada do filtro
As moléculas que
devem ser
removidas por
coagulação não
sofrem a
interferência do
CAP.
Possibilidade de ocorrência de
trespasse do adsorvato;
Aumento da perda de carga no filtro
devido ao acúmulo de CAP nos
interstícios do meio filtrante
(reduzindo a carreira de filtração);
Menor tempo de contato;
Maior dosagem de carvão para
compensar as interferências como
cloro livre, cloro combinado, etc.
51
A superfície das partículas de CAP não deve ser revestida com coagulante ou outros
químicos adicionados ao tratamento de água, antes do CAP remover o que se pretende
durante o tempo de contato estipulado para o mesmo;
O CAP não pode ser adicionado concomitantemente com o cloro e permanganato de
potássio, já que o carvão é capaz de adsorver esses químicos. Sendo assim, a melhor
alternativa para aplicação do CAP é usualmente na entrada da estação, pois adições
antecipadas permitem um maior tempo de contato e uma remoção quase que total do
CAP no decantador. Mesmo que uma parte do material ainda chegue ao filtro, essa
parte poderá ser facilmente removida devido a sua menor quantidade. Além do que
nessa etapa ainda não há interferências de outros químicos.
Caso o CAP seja adicionado em etapas mais à frente do processo de tratamento, sua
dosagem deve ser aumentada para compensar o pouco tempo de contato que será
disponível e/ou compensar a presença de interferências de outros químicos que podem ser
reduzidos pelo CAP, tais como: coagulantes; cloro livre; cloro combinado; ozônio e
permanganato de potássio. Situações como estas refletem uma desvantagem no processo,
pois aumentam o custo envolvido no tratamento. Outro fato a ser relatado é que qualquer
ponto de aplicação adotado antes da sedimentação pode sofrer com a presença de um valor
elevado de turbidez na água o que pode acarretar na formação de flocos juntamente com as
partículas de carvão. Esses flocos por serem mais densos podem proporcionar uma
sedimentação antecipada, e, portanto, não permitindo que seja atingida a adsorção
desejada.
Dentre os problemas mais comuns de operação do CAP estão: o pó emitido pelo sistema de
alimentação a seco que possui características explosivas; a passagem do CAP pelo filtro e
entrando no sistema de distribuição e a redução do nível de oxigênio pelo carvão ativado
úmido mantido em locais fechados. Deve-se enfatizar que o CAP úmido é altamente
corrosivo devendo o equipamento que entrar em contato com o mesmo ser revestido por
material resistente à corrosão e a erosão, tais como: aço inoxidável, borracha e plástico
(Brady, 1998).
É importante ressaltar que ensaios em equipamentos de teste de jarros são, freqüentemente,
utilizados para simular o que ocorre nas estações de tratamento e, assim, determinar a
dosagem de CAP necessária para remover um dado contaminante. Essa dosagem de CAP
52
mínima requerida tem como base a isoterma de Freundlich e é apresentada na Equação 3.6
(Snoeyink,1990):
(
)
(
)
()
Lmg
Lmg
q
CC
LgCAPdedosagem
e
eo
mín
/
/
)/(
=
Equação (3.6)
Onde:
q
e
: quantidade de adsorvato por unidade de adsorvente (g/g).
n
ee
CKq
/1
=
K e n: constantes, sendo K relacionada com a capacidade de retenção do adsorvente pelo
adsorvato e “n” em função da força de ligação.
C
o
: concentração inicial do adsorvato (g/m
3
);
C
e
: concentração em equilíbrio do adsorvato em solução (g/m
3
);
3.2.5 - Adsorção por carvão ativado granular (CAG)
A utilização do CAG no tratamento de água deve-se em particular a situações em que as
fontes de água são altamente poluídas e apresentam flutuações regulares de qualidade. A
maior vantagem dessa opção de uso do carvão ativado é a garantia de segurança de um
tratamento cuja remoção é permanente; além da capacidade de regeneração do produto,
fato que não se observa no CAP, pois quando utilizado fica retido no lodo formado no
decantador e na água de lavagem dos filtros (Masschelein, 1992).
O CAG recentemente tem sido utilizado como um substituto do filtro granular ou como um
sistema complementar ao processo convencional. Em ambos os casos o CAG tem como
objetivo a remoção de compostos orgânicos, incluindo subprodutos da desinfecção, que
produzem sabor e odor, pesticidas e outros orgânicos sintéticos (Kawamura, 2000).
Existem três opções básicas disponíveis para a localização do CAG na seqüência do
tratamento convencional: à montante dos processos convencionais de
coagulação/floculação, sedimentação e filtração (pré-filtro adsorvente); após o processo de
filtração tradicional (pós-filtro adsorvente); ou após o processo de sedimentação com dupla
53
CAG
Coagulação /
Floculação
Sedimentação
Filtro
CAG
Coagulação /
Floculação
Sedimentação
Filtro
Coagulação /
Floculação
Sedimentação
Filtro
CAG
Pré-filtração Pós-filtração Filtração/Adsorção
função de filtração e adsorção (filtro-adsorvente), sendo a pós–filtração a opção mais
usual. Na Figura 3.18 têm-se os esquemas dessas três opções de localização (Brady, 1998).
O CAG é disponível nas formas extrudada, peletizada, briquetes e “fragmentado”. A forma
extrudada é mais uniforme devido ao seu método de produção, no entanto seus grãos têm a
tendência a obstruir os poros do filtro, o que faz essa forma ser desfavorável para o
processo de filtração e filtração/adsorção. Já o carvão “fragmentado” é menos homogêneo
e por essa razão melhor para a filtração. É importante ressaltar que para cada tipo de CAG
haverá variações de forma, tamanho e de resistência dos grãos, fatores estes capazes de
influenciar no tempo necessário para saturação do carvão e para a eficiência do processo de
adsorção dos mesmos (Masschelein, 1992).
Algumas análises essenciais devem ser feitas para que haja um bom funcionamento do
sistema de CAG, como por exemplo, a respeito: da distribuição granulométrica, tamanho,
densidade e forma das partículas; da cinética da adsorção; das propriedades do adsorvato;
do coeficiente de uniformidade; da resistência à abrasão; da expansão do leito durante a
lavagem; das características da perda de carga e do processo de reativação. No caso do
Figura 3.18 – Esquemas das opções de localização do CAG (Brady, 1998 – modificado).
54
coeficiente de uniformidade, o limite prático adotado é entre 1,2 e 2,0, preferencialmente,
entre 1,5 e 1,8 (Masschelein, 1992).
Quanto à determinação do tamanho efetivo dos grãos, essa característica dependerá da
qualidade da água e será importante para a definição da duração da carreira de filtração;
em especial, quando há sistema de lavagem envolvido. No caso em que a água apresenta
grande quantidade de sólidos suspensos, a função de filtração será priorizada e se fará
necessário um tamanho efetivo maior para atingir a duração da carreira de filtração
desejada. Esse tamanho deverá ser em torno de 0,8 a 0,9mm. Porém, se a água for mais
limpa, um menor tamanho poderá ser adotado, pois a capacidade adsortiva prevalecerá no
processo (Masschelein, 1992).
Os principais fatores que devem ser levados em consideração na determinação do volume
requerido para o adsorvente são: o tempo de contato, a vazão de projeto e o ponto de
exaustão do filtro. Para a determinação do volume requerido utiliza-se a Equação 3.7:
cpR
TQV
=
Equação (3.7)
Onde:
V
R
: volume requerido;
Q
P
: vazão de projeto;
T
C
: tempo de contato de leito vazio.
Com relação ao tempo de contato de leito vazio, este deve ser suficiente para não promover
o trepasse e nem propiciar grandes dimensões que acarretem em um aumento do custo do
sistema. Usualmente, na maioria das estações de tratamento de água com sistema de CAG
o tempo de contato utilizado varia entre 5 a 25 minutos (Brady, 1998).
A exaustão do CAG corresponde ao momento em que é atingido o limite máximo
admissível de um determinado componente indesejável, sendo, portanto, necessária à
reativação ou troca do carvão. Esse ponto de exaustão pode ser determinado por meio de
uma representação gráfica da concentração de um determinado composto indesejável no
efluente ao longo do tempo. Além disso, por meio da curva de trespasse, também é
possível definir a relação entre parâmetros físicos e químicos do sistema (exemplos: vazão;
55
Zona saturada do CAG
Zona de Transferência de Massa -
ZTM (em processo de adsorção)
Zona sem a presença do adsorvato
tamanho do leito; taxa de exaustão do carvão); determinar o número de leitos e colunas; a
melhor configuração das unidades (paralelo ou série) e os requisitos da estação de
tratamento de efluentes (Brady, 1998).
Já para determinação da profundidade do filtro de CAG, o ideal é que sejam feitas
simulações em escala piloto. Nessas simulações deve-se avaliar o comportamento da zona
de transferência de massa (ZTM), que consiste em uma região limitada entre duas outras
zonas. Uma acima com carvão ativado totalmente saturado pelo adsorvato e outra abaixo
que não entrou em contato com este, e, portanto, apresentando uma concentração nula do
mesmo, como mostrado na Figura 3.19. Dentro dessa ZTM ocorre retenção do adsorvato
que é quantificada por um gradiente de concentração ao longo da profundidade. Parte desse
gradiente de concentração pode atingir o efluente do filtro devido à exaustão do carvão ou
a uma inadequada profundidade do leito, que não é suficiente para cobrir a extensão da
ZTM. No entanto, deve-se salientar que a altura granular mínima para o leito não é
necessariamente igual ao comprimento da ZTM, mas igual ao menor comprimento que
promove níveis aceitáveis de concentração do composto indesejável no efluente.
Outro aspecto importante a ser comentado é que caso haja a necessidade de alterar fatores
como a carreira de filtração e a capacidade de adsorção do soluto deve-se optar pelo
Figura 3.19 – ZTM em uma coluna de CAG (Snoeyink, 1990 - modificado).
56
arranjo das unidades em série ou paralelo. As colunas em série são usuais para adsorções
continuas e para situações em que a profundidade do leito requerido é excessiva para uma
coluna padrão. Quanto ao arranjo em paralelo, este não aumenta a profundidade, mas
fornece uma maior flexibilidade para trocas e regenerações do adsorvente. (Masschelein,
1992).
Com relação aos possíveis tipos de configurações para as unidades de CAG, têm-se: leito
fixo com escoamento descendente ou ascendente, leito expandido com escoamento
ascendente e leito pulsante. As operações que apresentam múltiplas unidades em paralelo,
fixas e com escoamento descendente são as mais usuais (Brasil, 2004).
A lavagem do filtro é essencial para remover sólidos suspensos e manter as propriedades
hidráulicas do leito, inclusive possibilitar o controle biológico. Durante a lavagem pode
ocorrer a mistura das partículas no leito, e dessa forma o processo deve ser executado de
maneira a auxiliar a re-estratificação (Snoeyink, 1990).
O meio granular pode possibilitar o desenvolvimento da atividade biológica, que consiste
em mais um mecanismo de remoção de compostos orgânicos, principalmente daqueles que
apresentam maior capacidade de biodegradação quando comparada à capacidade de
adsorção. Alguns exemplos desses tipos de compostos são os: fenóis, p-nitrofenóis, ácido
salicílicos, amônia, Geosmina, MIB, entre outros (Snoeyink, 1990).
A ação biológica pode ser intensificada pela introdução de uma etapa de pré-tratamento,
que consiste na adição de cloro, ou de outros oxidantes químicos como, por exemplo, o
ozônio. Isto propicia um impacto importante na performance do sistema, tendo em vista
que moléculas não biodegradáveis podem ser quebradas em moléculas menores e
biodegradáveis. No caso da utilização do ozônio, ainda há o benefício do aumento dos
níveis de oxigênio (Snoeyink, 1990).
O pré-tratamento também pode ser executado na prevenção de falhas no sistema ao
remover compostos com ferro e manganês que geralmente interferem na adsorção, pois
revestem as partículas do adsorvente. Ou ainda promovendo alterações no pH, pois quando
este atinge valores perto da neutralidade promove uma maior adsorção.
57
Alguns problemas podem aparecer em função da atividade biológica, como a presença de
microrganismos no efluente ou a emissão de odor característico, sendo esse odor devido a
fatores como: insuficiência de oxigênio (condição anaeróbica); maior concentração de
amônia no filtro e inativação do leito durante certo período. Para contornar o problema é
necessário um controle biológico, assegurando o contínuo fornecimento de oxigênio ao
sistema. Outro aspecto importante a ser comentado a respeito do filme biológico formado
no filtro é o fato deste, além de ser benéfico para compostos orgânicos biodegradáveis, ser
capaz de funcionar como uma barreira para que compostos não-biodegradáveis possam ser
adsorvidos pelo carvão.
Como já foi mencionado, anteriormente, para prolongar a vida útil do leito é necessário
fazer o reaproveitamento do material, por meio do processo de regeneração. A regeneração
é executada quando o CAG atinge a exaustão e envolve duas fases: a dessorção da matéria
fixada no adsorvente, e a reativação e restauração da superfície e das estruturas dos poros
(Masschelein, 1992).
A regeneração pode ser executada por atividade biológica, em que as bactérias são capazes
de mineralizar produtos orgânicos adsorvidos pelo carvão. Por atividade química, no qual
se utiliza um solvente para extrai os compostos adsorvidos a uma temperatura de
aproximadamente 100°C, além de promover a alteração do pH. Ou por atividade térmica,
em que a água e compostos orgânicos voláteis são evaporados e os produtos orgânicos
remanescentes são carbonizados em fornos controlados (Masschelein, 1992; Kawamura,
2000).
É importante comentar que algumas mudanças podem ocorrer com o carvão após a
reativação. De acordo com Moore
et al. (2001, apud Brasil, 2004), o CAG pode modificar
o tamanho dos seus poros durante a reativação, pois em seus experimentos foi constatado
que um CAG virgem com uma maior quantidade de microporos e poucos mesoporos em
sua estrutura ao ser reativado passa a apresentar mais mesoporos. Além disso, também foi
verificado que um CAG reativado é capaz de atingir índices de remoções superiores a um
CAG virgem durante seis ciclos seguidos, sem comprometimento de sua eficiência. Tal
fato sustenta a idéia de que reativar um material ao invés de descartá-lo e substituí-lo por
um novo é uma excelente alternativa.
58
O destino final dos resíduos de CAP e CAG merecem atenção, pois se estes forem
dispostos no solo podem causar problemas de contaminação do solo e águas subterrâneas
devido à lixiviação dos compostos adsorvidos. Além de problemas estéticos relacionados à
cor preta liberada pelo carvão que é observada quando os resíduos são descarregados em
corpos receptores de água. Uma boa alternativa para o controle desse problema é a
destruição térmica dos compostos adsorvidos por regeneração térmica ou combustão do
carvão (Snoeyink, 1990).
3.3 - PROCESSOS DE REMOÇÃO DE PERTURBADORES ENDÓCRINOS
Atualmente, as tecnologias avançadas de carvão ativado e filtração em membranas são
consideradas as mais eficientes alternativas de remoção dos perturbadores endócrinos,
como os que serão abordados nesse trabalho: 17
β-estradiol e p-nonilfenol.
No entanto, as técnicas que podem ser adaptadas a sistemas convencionais, como a
coagulação melhorada e a oxidação, devem ser discutidas devido à ampla utilização do
tratamento convencional no Brasil. Ambas as técnicas estão se mostrando eficientes na
remoção de compostos orgânicos persistentes, sendo possíveis de serem utilizadas na
remoção de perturbadores endócrinos.
3.3.1 - Remoção por processo de oxidação
Os processos de desinfecção com cloro e ozônio promovem a melhoria da qualidade da
água por meio da destruição de microrganismos patogênicos e pela oxidação de compostos
orgânicos indesejados. Como os perturbadores endócrinos também são substâncias
orgânicas, a hipótese de oxidá-los é válida. Assim, vários estudos vêem sendo propostos
com o objetivo de avaliar a eficiência de remoção dos perturbadores endócrinos por
oxidação química.
Ternes
et al. (2003) se propuseram a determinar se a ozonização acoplada ao tratamento de
esgoto é capaz de remover fármacos, fragrâncias, estrogênio e substâncias usadas como
contrastes de raio-X (ICMs). Para isso, foi utilizada uma instalação piloto provida de
sistema de ozonização e desinfecção ultravioleta (UV). Essa instalação era alimentada por
59
efluentes de uma ETE, localizada em um município alemão de, aproximadamente, 380.000
habitantes.
Os autores observaram que com a aplicação de 10 a 15mg/L de ozônio e tempo de contato
de 18 minutos, a concentração de todos os fármacos investigados, bem como as fragrâncias
e estrogênio natural (estrona), foram reduzidos para valores abaixo do limite de detecção.
Apenas, os ICMs ainda foram encontrados em quantidades significativas. Obviamente
também foi observada a remoção de microrganismos como:
Clostridium perfringens,
Streptococci, E. Coli
.
Ternes
et al. (2003) também constataram que o processo de oxidação avançado O
3
/UV
aumenta apenas ligeiramente a capacidade de remoção dos ICMs quando comparados ao
processo de ozonização por si só. Por exemplo, para uma dosagem de 15mg/L de ozônio, a
remoção do ICM iopamidol por ozonização atingiu um percentual de 84%, enquanto para
O
3
/UV obteve-se 88%.
Segundo os autores, a remoção por O
3
/UV não pôde ser mais efetiva pelo fato do ozônio
ser consumido quase que, completamente, pelo carbono orgânico dissolvido no esgoto,
antes da unidade UV. Observou-se que apenas 1mg/L de ozônio, dos 15mg/L dosados,
chegou à unidade UV e, portanto, restando pouca quantidade de ozônio para oxidar outros
compostos sob ação do UV. Assim, para se alcançar uma eficiente remoção são necessárias
altas dosagens de ozônio, o que não é economicamente viável.
Buscando uma solução, Ternes
et al. (2003) sugeriram a adição de peróxido de hidrogênio
(O
3
/H
2
O
2
) para aumentar a eficiência da oxidação. Nesse novo arranjo os autores
obtiveram, com as dosagens de 10mg/L de ozônio e 10mg/L de H
2
O
2
, uma remoção 80%
do ICM iopamidol no processo O
3
/H
2
O
2
e de 57% na ozonização por si só. Deve-se
ressaltar que em ambas as combinações (O
3
/H
2
O
2
e O
3
/UV), o aumento na remoção deveu-
se, principalmente, à formação de radicais OH.
Quanto aos subprodutos derivados da ozonização, estes são, em geral, desconhecidos. Mas
no caso dessa estação em particular, presume-se que estes sejam biodegradados pelos
microrganismos do solo, aonde era feito o despejo final dos efluentes. É importante
comentar que o processo de ozonização aumenta o número de grupos funcionais e a
60
polaridade das moléculas, alterando, assim, as propriedades dos fármacos e o potencial de
risco dos mesmos.
Com relação à remoção por cloração, tem-se, por exemplo, o trabalho desenvolvido por
Lee
et al. (2004) que estudaram os efeitos desse oxidante sobre a remoção de três
perturbadores endócrinos: bisfenol A, nonilfenol e 17
β-estradiol. As amostras utilizadas
nos ensaios foram preparadas em laboratório com a diluição, em água deionizada, de
soluções estoques previamente constituídas com os perturbadores endócrinos em separado.
As concentrações finais dos perturbadores nas amostras foram de 2,28mg/L (2281
µg/L)
para o bisfenol A, 220,4
µg/L para o nonilfenol e 27,2µg/L para o 17β-estradiol. Em
seguida, foi promovida a cloração dessas soluções com hipoclorito de sódio nas dosagens
de 7,5mg/L para o bisfenol A e 1,5mg/L para o nonilfenol e 17
β-estradiol.
As detecções dos compostos foram realizadas por meio de ensaios YTA; por ensaios de
competição (ER-CA) com receptor estrógeno (ER) e por cromatografia líquida ligada à
espectrometria de massas (LC/MS). Os resultados obtidos pelas análises de YTA, ER-CA e
LC/MS indicaram que a atividade dos três perturbadores endócrinos mencionados foi,
significantemente, reduzida sob a influência do cloro livre e com o aumento do tempo de
contato. É importante comentar que os tempos de contato avaliados foram: 3minutos,
10minutos, 1hora e 24horas para o bisfenol A; 10minutos, 24horas e 36horas para o
nonilfenol e 10minutos e 24horas para o 17
β-estradiol.
Quanto à influência do cloro livre, este é capaz de promover o fenômeno da oxidação de
orgânicos ao substituir o carbono orgânico das moléculas pelo cloro, formando, assim,
compostos orgânicos clorados de mais fácil remoção. Considerando que a maior parte das
substâncias perturbadoras endócrinas existentes possuem pelo menos um anel fenólico, ou
seja, há carbono orgânico na estrutura química, é possível estender essa opção de remoção
para outros perturbadores endócrinos.
Lee
et al. (2004) relataram, no entanto, que apesar do benefício da redução de
perturbadores endócrinos e do efeito germicida proporcionado pela cloração, existe a
desvantagem no aumento de subprodutos da desinfecção, tais como os cloro-fenóis.
Segundo os autores faz-se necessário que estudos futuros identifiquem o nível crítico de
61
cloro residual junto com o mínimo requerido de tempo de reação para a eliminação das
atividades perturbadoras endócrinas em diferentes tipos de amostras.
Rudder
et al. (2004) também optaram por estudar diferentes técnicas de remoção,
incluindo oxidação química e biológica, sendo, nesse caso, para remoção do estrogênio
17
α-etinilestradiol (EE2). A opção por esse tipo de estrogênio foi devida à persistência do
mesmo no ambiente, já que este possui um tempo de dissipação da ordem de 20 a 40 dias
em rios. Outro ponto importante a ser citado, é que esse composto sintético é excretado
pelo corpo humano em formas conjugadas, principalmente como glucuronides e sulfatos, e
pode ser re-convertido em uma forma ativa antes ou durante a passagem pela ETE, como
um resultado da atividade microbiana. Além disso, o 17
α-etinilestradiol é conhecido como
um estrogênio de grande toxicidade, já comprovada em estudos
in vitro e in vivos.
Em seu trabalho Rudder
et al. (2004) compararam a remoção do 17α−etinilestradiol em
três reatores dotados de diferentes materiais constituintes: areia, carvão ativado granular
(CAG) e óxido de manganês granulado (MnO
2
). As amostras analisadas foram preparadas
em laboratórios com água deionizada e solução estoque, previamente constituída com 17
α-
etinilestradiol (com pureza > 98%) e etanol como solvente. As concentrações afluentes nos
reatores variaram de 5.800±1.100 a 21.900±800ngEE2/L. Além disso, foram admitidos
tempos de detenção hidráulica de, aproximadamente, 1 hora para os três reatores e uma
vazão de 1,2L/h.
As remoções de 17
α-etinilestradiol registradas foram de 17,3% para a areia, >99,8% para o
CAG e 81,7% para o MnO
2
. Para o reator de areia, observou-se que a remoção registrada
não foi estatisticamente comprovada e, portanto, optou-se em utilizá-lo como um controle.
Quanto ao reator de MnO
2
, a remoção foi resultado do fenômeno de adsorção e da
capacidade catalítica do material, que é conseqüência do fato do MnO
2
ser um oxidante
sólido com superfície redutora e, portanto, capaz de reagir com químicos orgânicos
xenobióticos.
Assim, a remoção no reator de MnO
2
consistiu na oxidação do 17α-etinilestradiol pela
superfície catalítica do MnO
2
resultando em íons de Mn
+2
e pequenas moléculas oxidadas.
Esses íons, com o auxílio de microrganismos oxidantes de Mn
+2
como as espécies de
62
Bacillus, Leptothrix discophora e Pseudomonas putida, são re-oxidados e re-depositados,
novamente, na superfície catalítica do MnO
2
. Dessa forma, tem-se um tratamento com bom
custo-efetividade, já que a matriz não precisa ser substituída. A Figura 3.20 apresenta um
esquema do fenômeno de oxidação que ocorre no reator MnO
2
.
Já com relação à remoção por meio do reator de CAG, esta ocorreu somente devido ao
fenômeno de adsorção. Observou-se nos experimentos que o leito de CAG apresentou um
tempo de vida útil de 156dias e uma capacidade de adsorção de 163.500ng/g (para uma
concentração afluente média de 13.800ng/L). Esse resultado foi bem superior ao obtido no
reator de MnO
2
que apresentou uma capacidade de adsorção de 2.000ng/g (para uma
concentração afluente média de 12.212ngEE2/L). No entanto, é importante lembrar que o
reator de MnO
2
conta também com a remoção por oxidação, que embora não tenha sido
mensurada, proporcionou maior eficiência ao processo.
Figura 3.20 – Fenômeno de oxidação do 17
α-etinilestradiol no reator de MnO
2
(Rudder
et al., 2004 - modificado).
Rudder
et al. (2004) relataram também que devido a grande área de superfície e
hidrofobicidade do CAG, este possui uma maior capacidade para adsorver substâncias
apolares. Como o 17
α-etinilestradiol é uma substância pouco apolar, o CAG tem grande
facilidade de absorvê-la quando presente na água em concentrações da ordem de
micrograma por litro, mas em concentrações de carga menores, como por exemplo da
ordem de 0,1-20ngEE2/L, que são as concentrações em geral encontradas no ambiente, o
CAG é capaz de adsorver apenas pequenas quantidades de 17
α-etinilestradiol. Por esta
63
razão, o carvão ativado tem que ser substituído ou reativado com freqüência, tornando-se
uma técnica pouco viável economicamente.
Desse modo, a utilização de matrizes de regeneração, como a do reator de MnO
2
, tornam-
se uma alternativa vantajosa. Contudo, são necessários novos testes para avaliar a
viabilidade dessas matrizes em menores concentrações, diferentes das testadas por Rudder
et al. (2004).
3.3.2 - Remoção por coagulação melhorada
Ultimamente, grande ênfase tem sido dada à remoção de matéria orgânica natural por
coagulação química, uma vez que esses orgânicos podem funcionar como precursores da
formação de subprodutos indesejáveis da desinfecção. Desse modo, ampliam-se os
objetivos tradicionais da coagulação realizada nas estações de tratamento de água (ETAs),
que são a remoção de cor, de turbidez e materiais coloidais, com a remoção de matéria
orgânica.
A esse tipo de coagulação denomina-se coagulação melhorada ou
enhanced coagulation,
que consiste em um processo de coagulação, geralmente, realizado sob condições de altas
dosagens de coagulante e baixo valor de pH. Nesse caso, além do mecanismo característico
da coagulação convencional de desestabilização das partículas e agregação quando
promovido o contato das mesmas, os flocos formados apresentam capacidade adsortiva, o
que possibilita a remoção de compostos mais persistentes. Ou seja, um processo
semelhante ao que ocorre na remoção por carvão ativado, o que torna essa tecnologia uma
provável opção para remoção de perturbadores endócrinos; no entanto, ainda não estudada
para essa situação.
A idéia de utilização do processo de coagulação melhorada surgiu a partir da revisão da
legislação americana relativa a água de consumo humano, em 1986, o
Safe Drinking Water
Act
(SDWA). Nessa revisão, o congresso americano solicitou à Agência de Proteção
Ambiental Norte Americana (EPA) que desenvolvesse um documento contendo as
concentrações máximas desejáveis de vários contaminantes na água para consumo
humano, incluindo os desinfetantes e os subprodutos da desinfecção. Para cada
contaminante, o documento deveria conter também a técnica de tratamento adequada para
64
garantir a remoção do contaminante e/ou o limite máximo permitido na água potável a ser
atingido com a melhor tecnologia de tratamento disponível.
No que se refere aos desinfetantes e subprodutos da desinfecção, foi gerada uma legislação
específica, negociada em 1992 e 1993, conhecida como
Disinfection Byproduct Rule
(DBPR). Para aplicação dessa legislação a EPA propôs 3 estágios de implementação, cujo
primeiro estágio foi promulgado em dezembro de 1998 e é objeto de um manual específico
publicado pela EPA em 1999 (EPA, 1999). A proposta do primeiro estágio DBPR é reduzir
a concentração de subprodutos da desinfecção para limites admissíveis na água tratada por
meio da remoção de compostos precursores.
Para a remoção dos precursores foi sugerida a técnica de coagulação melhorada (e
nhanced
coagulation
). A coagulação melhorada consiste, como já comentado, anteriormente, em
uma estratégia de coagulação capaz de maximizar, ao mesmo tempo, a remoção de
turbidez; de carbono orgânico total (COT) e de precursores de DBPs, controlando,
portanto, a formação de subprodutos da desinfecção como trihalometanos (THM) e ácidos
haloacéticos (HAA). Esse processo deve dispor de doses adequadas de coagulantes e de
critérios reguladores para que haja um atendimento dos objetivos a um custo adequado
(Edzwald e Tobiason, 1999; EPA, 1999).
De acordo com Edzwald e Tobiason (1999), a EPA define dois passos para determinar a
necessidade de utilização da técnica de coagulação melhorada. No primeiro passo deve-se
monitorar a remoção do COT no processo de tratamento; e avaliar se a remoção satisfaz ou
excede o percentual requerido na Tabela 3.10. De acordo com a Tabela 3.10, as
necessidades de remoção de COT são dependentes da alcalinidade e da concentração de
COT na água bruta.
Tabela 3.10 – Coagulação melhorada: percentual requerido de remoção de COT
(Edzwald e Tobiason, 1999 - modificado).
Alcalinidade da água bruta (CaCO
3
) - mg/L COT da água
bruta - mg/L (*)
<60 60-120 >120
>2-4 35% 25% 10%
>4-8 45% 35% 25%
>8 50% 40% 30%
(*) Para sistemas de água com COT menor ou igual a 2mg/L, não se requer a prática de
coagulação melhorada.
65
Se o valor de remoção de COT obtido na coagulação usual não satisfaz o desejado a
técnica de coagulação não é considerada “coagulação melhorada” e modificações na
coagulação deverão ser realizadas para se atingir o patamar de remoção desejado da Tabela
3.10. De um modo geral para se obter a coagulação melhorada faz-se necessário a adição
de elevadas dosagens de coagulante e o uso de baixos valores de pH, entre 5 e 6.
Caso as modificações na coagulação não promovam uma remoção de COT compatível
com a Tabela 3.10, uma meta de remoção de COT específica deverá ser estabelecida
(segundo passo). Para tal, a EPA recomenda o uso de testes de jarros e experimentos em
instalação piloto. É importante enfatizar que a dosagem e o pH encontrados para o
atendimento dessa meta específica irão constituir nos parâmetros para atendimento das
condições de coagulação melhorada para essa determinada situação.
Assim, para se atingir a meta de remoção de COT possível (meta específica), testes de
jarros deverão ser executados adicionando-se incrementos de 10mg/L de sulfato de
alumínio (ou concentração equivalente de outro coagulante). Para cada dosagem
determina-se o nível de remoção de COT obtido e/ou adsorção específica ultravioleta. Esse
ensaio deverá ser realizado sob certa condição de pH, o qual dependerá do valor de
alcalinidade da água. A Tabela 3.11 apresenta os valores de pH limite para cada faixa de
alcalinidade.
A meta de remoção de COT será atingida quando o novo incremento de 10mg/L de
coagulante proporcionar um decréscimo de COT menor do que 0,3mg/L ou quando a
adsorção específica ultravioleta (UV a 254nm) for menor que 2m
-1
(Edzwald e Tobiason,
1999; EPA, 1999).
Tabela 3.11 – Valor limite de pH para estabelecimento da meta
específica de remoção de COT na coagulação melhorada - segundo
passo (EPA,1999 - modificado).
Alcalinidade (CaCO
3
) – mg/L pH
0 - 60
5,5
> 60 – 120
6,3
>120 - 240
7,0
> 240
7,5
Os efeitos secundários decorrentes do processo da adoção da coagulação melhorada podem
ser benéficos ou prejudiciais. Os impactos podem ocorrer: nos níveis constituintes de
66
inorgânicos, como manganês, alumínio, sulfato, cloro e sódio; no controle de corrosão; na
desinfecção; na remoção de partículas e patogênicos; no tratamento e disposição de
resíduos; na operação e manutenção do processo e na reciclagem da água (EPA, 1999).
É importante ressaltar que Edzwald e Tobiason (1999) constatam alguns problemas no
segundo passo desenvolvidos pela EPA. Para Edzwald e Tobiason (1999) é uma
negligência não permitir a utilização de coagulantes como cloreto de polialumínio ou
polímeros orgânicos catiônicos para o segundo passo, tendo em vista que esses coagulantes
podem ser efetivos em condições de pH neutro. Tal medida facilitaria o processo, pois
baixos valores de pHs de coagulação poderiam não ser necessário.
Edzwald e Tobiason (1999) também recomendaram, discordando do proposto pela EPA, a
medição do parâmetro de carbono orgânico dissolvido (COD) depois da sedimentação para
o segundo passo, ao invés da medição de COT. Isto porque o COT não é um bom
parâmetro para avaliar a remoção de matéria orgânica dissolvida em testes de jarros, pois é
de difícil análise e pode gerar erros. Edzwald e Tobiason (1999) alegam que o COD
corresponde cerca de 90 a 99% do COT e controla a coagulação mais do que o carbono
particulado. Os testes de jarros são bons para determinar a química das reações de
coagulação e o COD é quimicamente independente da escala, já a medida de COT depende
da sedimentação e da escala. Além disso, seleção de dosagens baseadas em medidas de
COT pode levar a superdosagens de coagulantes para promover a sedimentação de carbono
particulado no teste de jarros. Essa superdosagem pode resultar um aumento no custo de
manutenção e operação da estação e uma maior produção de lodo no processo.
Outro problema observado no segundo passo foi que para os valores requeridos de pH, não
maiores que 5,5, e de alcalinidade (CaCO
3
), menores que 60mg/L, para coagulação com
sulfato de alumínio, há problemas de baixa remoção de partículas ou turbidez nas etapas de
separação sólido-líquido da ETA, além de problemas com alumínio residual.
Um exemplo da utilização da coagulação melhorada na remoção de compostos persistentes
foi o estudo desenvolvido por Vieno
et al. (2006). Nesse trabalho os autores propuseram a
remoção de alguns fármacos (diclofenaco, ibuprofeno, bezafibrato, carbamazepina e
sulfametoxazol) por coagulação melhorada utilizando sulfato férrico (pH: 4,5) como
coagulante. Nos experimentos de teste de jarros foram utilizados três diferentes tipos de
67
amostras: água deionizada; água natural retirada de um lago e solução comercial contendo
ácidos húmicos, sendo que para todas as amostras foram misturadas soluções padrões
contendo os fármacos em questão.
Nos resultados com amostras de água deionizada, os fármacos foram pobremente
removidos (<10%), com exceção do diclofenaco que obteve remoções acima de 66%. Esse
mesmo composto também foi o único fármaco removido (30%) nas amostras de água
natural. Já nas soluções comerciais contendo ácidos húmicos, a coagulação obteve
remoções máximas de 77% de diclofenaco, 50% de ibuprofeno e 36% de bezafibrato. A
partir desses resultados, os autores concluíram que uma grande quantidade de matéria
orgânica dissolvida de alto peso molecular melhora a remoção de fármacos ionizáveis.
Quanto aos compostos não ionizáveis, carbamazepina e sulfametoxazol, estes não foram
afetados pela coagulação melhorada.
Desse estudo, surgem indicações do potencial da remoção de perturbadores endócrinos por
coagulação melhorada, porém sua eficiência parece ser altamente influenciada pelas
características dos compostos e da água, exigindo estudos aprofundados.
3.3.3 - Remoção por filtração em membrana
Avaliações toxicológicas indicam que as estações convencionais de tratamento de água e
esgoto não são capazes de remover perturbadores endócrinos suficientemente. Desse
modo, as tecnologias avançadas de membrana como osmose reversa, nanofiltração e
bioreatores de membranas têm-se mostrado como possíveis alternativas para o tratamento
de água e para o polimento final de efluentes. A aplicação dessas tecnologias já vem
aumentando em muitos países, em função do estabelecimento de padrões de qualidade e
lançamentos mais exigentes (Wintgens
et al., 2004 e Gallenkemper et al., 2003).
A principal função das membranas é atuar como barreira seletiva, permitindo a passagem
de certos componentes de uma mistura e retendo outros. Esse mecanismo de retenção das
membranas envolve um processo de adsorção, e não apenas de peneiramento. Assim, a
retenção decresce com o aumento da concentração do perturbador endócrino acumulado na
membrana e o transpasse ocorre quando o contaminante acumulado atinge uma
concentração de equilíbrio correspondente à concentração que alimenta o processo. No
68
entanto, deve-se ressaltar que fatores como tipo de membrana, valor do pH da solução e a
afinidade do contaminante pela água, bem como pela a presença de outros orgânicos,
podem interferir no processo de remoção (Chang
et al., 2002).
De acordo com Cheryan (1998
apud CEPPA, 2005), o fator que distingue os processos
mais comuns de separação por membranas é a aplicação da pressão hidráulica para acelerar
o processo de transporte. Entretanto, é a natureza da membrana que controla quais
componentes permearão e quais ficarão retidos, uma vez que os mesmos são
diferencialmente separados de acordo com o peso molar ou tamanho da partícula. É
importante ressaltar que o tamanho dos poros da membrana, a difusividade do soluto na
matriz e as cargas elétricas associadas são também fatores interferentes na seletividade.
Segundo Snape e Nakajima (1996) são utilizadas na microfiltração pressões inferiores a
0,2MPa, separando moléculas entre 0,025 e 10µm. A ultrafiltração envolve pressões
superiores a 1MPa e separação de partículas com peso molecular entre 1 e 300KDa. No
caso da nanofiltração são utilizadas pressões entre 1 e 4 MPa para separação de partículas
com peso molecular entre 350 e 1000Da. Já na osmose reversa são utilizadas pressões
entre 4 e 10MPa e separação de partículas com peso molecular menor que 350Da.
As técnicas de membranas, devido a grande capacidade de remoção, podem ser válidas não
somente para o melhoramento de efluente de estação de tratamento de esgoto e de água,
mas abrangendo cenários de reuso de água e recarga de aqüífero. Diversos estudos vêm
comprovando que além da remoção dos perturbadores endócrinos, as membranas são
também capazes de remover uma ampla faixa de substâncias dissolvidas, bactérias e vírus.
Entretanto, existe uma grande desvantagem nessa tecnologia que é o alto custo de
configuração do processo para o tratamento de grandes volumes de água (Gallenkemper
et
al.
, 2003).
Entre os estudos realizados sobre nanofiltração tem-se o desenvolvido por Gallenkemper
et
al.
(2003). Esses autores realizaram testes experimentais em um sistema montado em
escala de laboratório que consistia em pequenos módulos com células testes de membrana
contendo áreas de, aproximadamente, 50cm
2
cada. O sistema foi elaborado para trabalhar
sobre uma pressão transmembrana de aproximadamente 3MPa e para receber uma vazão
de 12L/min de efluente proveniente de uma ETE alemã.
69
Nesse estudo, avaliou-se a remoção dos perturbadores endócrinos nonilfenol e bisfenol A
por 11 diferentes membranas de nanofiltração. Algumas das membranas foram capazes de
altas retenções de nonilfenol, outras de boas remoções de bisfenol A e algumas
apresentaram quase a mesma capacidade de remoção de ambos os componentes.
O resultado foi de certa forma surpreendente, pois as substâncias apresentam peso
molecular semelhante (220g/mol para o nonilfenol e 280g/mol para bisfenol A). Assim,
Gallenkemper
et al. (2003) concluíram que a diferença de retenção não foi devida apenas à
exclusão de tamanho, mas por outros comportamentos distintos como diferentes
polaridades das substâncias e hidrofobicidade das membranas. Os autores também
relacionaram a retenção do nonilfenol e do bisfenol A com a permeabilidade hidráulica da
membrana e com o ângulo de contato e verificaram que somente para o nonilfenol existiu
correlação. Assim, concluiu-se que para o nonilfenol a permeabilidade descresse com o
aumento do ângulo de contato e de acordo com a hidrofobicidade.
Wintgens
et al. (2004) em seus estudos também avaliaram a capacidade de retenção do
perturbador endócrino bisfenol A por diferentes tipos de membranas. O experimento foi
conduzido em uma estação piloto contendo uma configuração de bioreatores de
membranas de ultrafiltração paralela a uma instalação de osmose reversa. As amostras
utilizadas nos ensaios foram provenientes de uma estação de tratamento que recebe as
águas lixiviadas de um aterro em Warden, na Alemanha.
Os resultados mostraram que a remoção foi baseada em diferentes mecanismos. No caso da
osmose reversa predominou a exclusão de tamanho, enquanto para os bioreatores de
membrana, a remoção biológica; sendo o bisfenol A mais eficientemente removido por
degradação biológica.
Weber
et al. (2004) se propuseram a estudar a remoção de hormônios esteróides naturais e
sintéticos, em laboratório, por meio da nanofiltração. Para isso escolheram duas
membranas entre as anteriormente estudadas por Gallenkemper
et al. (2003) que
apresentaram, na época, maiores diferenças de retenção entre os perturbadores endócrinos
envolvidos. Nesse estudo, diferentemente de Gallenkemper
et al. (2003) que utilizou
efluentes de ETE, Weber
et al. (2004) optaram por amostras preparadas em laboratório
com água deionizada misturada a uma solução estoque previamente preparada com
70
solvente cetona e uma mistura de perturbadores endócrinos (17
β-estradiol, estrona, 17α-
etinilestradiol, mestranol, dietilstilbestrol, progesterona e
β-sitosterina), resultando em uma
concentração teórica total de 100
µg/L.
As análises foram realizadas por meio da cromatografia gasosa acoplada à espectrometria
de massa e as amostras preparadas previamente por extração em fase sólida. A membrana
fabricada em poliamida apresentou remoções maiores que 99% para todos os compostos.
Já as fabricadas a partir de polietersulfona hidrolisada
foram menos eficientes, removendo
entre 40 e 90%. A diferença de material entre os dois tipos de membrana foi o principal
fator responsável pela diferença nos resultados de retenção. No entanto, deve-se ressaltar
que as cargas na superfície, tamanho dos poros e pressão também foram fatores capazes de
influenciar na retenção das membranas.
No caso particular da influência da pressão, foram realizados alguns ensaios com a
membrana de polietersulfona, onde se constatou que dependendo do tipo de compostos a
retenção pode ou não aumentar com o aumento da pressão, ou seja, não há um
comportamento comum para todos os perturbadores endócrinos. Entretanto, observou-se
que para o 17
β-estradiol e o nonilfenol, pressões superiores a aproximadamente 3,5MPa
podem acarretar maior compressão na membrana e, portanto, uma diminuição dos poros e,
por conseqüência, um aumento na retenção. Já em relação ao ângulo de contato do
material, que é um indicativo da hidrofobicidade, este foi semelhante para ambas as
membranas, indicando que a tensão de superfície, realmente, não foi o fator decisivo para a
retenção dos esteróides.
Da mesma forma das demais pesquisas citadas, Nghiem et al. (2004) investigaram a
retenção de perturbadores endócrinos por meio de membranas. Nesse caso, optaram pela
avaliação da remoção da estrona e do 17
β-estradiol em estudo de bancada usando oito
membranas comerciais de nanofiltração e osmose reversa de baixa pressão. As amostras
utilizadas foram provenientes do efluente secundário de uma ETE localizada em
Queensland, na Austrália. Os resultados dos experimentos indicaram que os mecanismos
de separação da estrona e do 17
β-estradiol são similares e que a presença de matéria
orgânica na solução parece melhorar a retenção dos perturbadores endócrinos. Fato este
71
que, aparentemente, pode ser mais evidente para águas naturais em que a matéria orgânica
apresenta maior peso molecular.
Os experimentos sugeririam que interações físico-químicas dentro das membranas podem
ter importante papel e que, dependendo do tamanho dos poros, podem acarretar alterações
na adsorção. Outro ponto observado pelos autores foi o comportamento da retenção da
estrona diante das configurações de membranas de fluxos tangencial (
cross-flow) e de
fluxo frontal (
dead-end). Nghiem et al. (2004) observaram que os testes com fluxo frontal
podem subestimar os resultados de retenções em longos períodos. Já quanto ao fluxo
tangencial, os resultados foram mais confiáveis, assim, observou-se que não há efeito na
retenção da estrona quando se altera a velocidade de fluxo, mas ao aumentar a pressão de
operação tem-se um decréscimo nessa retenção. Além disso, constatou-se que a
configuração de fluxo tangencial é mais efetiva que a frontal com respeito à retenção.
3.3.4 – Remoção por carvão ativado
Como já foi mencionado nessa mesma revisão bibliográfica, é possível remover uma gama
de contaminantes orgânicos por meio do processo de adsorção em carvão ativado. Com
base nisso, Paune
et al. (1998) desenvolveram estudos com amostras de água do Rio
Llobregat, na Espanha, com o objetivo de estabelecer o melhor tratamento para a remoção
dos poluentes orgânicos ali existentes. O Rio Llobregat é a maior fonte de abastecimento
de água para consumo humano, industrial e agrícola, da cidade de Barcelona. Desde os
anos 60 esse rio vem sendo poluído por efluentes industriais ao longo do seu curso. Essa
poluição é composta de grande quantidade de hidrocarbonetos, pesticidas, surfactantes,
nonilfenóis, plastificantes e precursores de trihalometanos (THMs) que, em geral, são
transformados ou degradados em cadeias menores e mais tóxicas.
Paune
et al. (1998) constataram que os processos de pré-cloração, coagulação, floculação,
sedimentação, filtração em areia, e pós-cloração que vinham sendo usados na estação de
tratamento de água da região não eram suficientes para alcançar uma qualidade de água
satisfatória. Dessa forma, Paune
et al. (1998) propuseram a implementação de um método
de filtração baseado em CAG. Para avaliar o processo proposto, utilizou-se uma estação
piloto com os mesmos processos da estação já existente, mas incluindo um tratamento
complementar de filtração com CAG.
72
Esse sistema adicional de CAG era capaz de trabalhar com quatro filtros em paralelo,
sendo cada um deles acoplados em série a um instrumental analítico, o qual era
responsável pela avaliação do desempenho de seu filtro correspondente. É importante
relatar que foram avaliados sete filtros de CAG de origem betuminosa e vegetal, em dois
grupos de ensaios. Um dos filtros foi mantido em ambos os grupos para monitorar
possíveis fenômenos de saturação. A taxa de filtração utilizada era de aproximadamente
30ml/min. Na Tabela 3.12 são apresentadas as características dos dois grupos de ensaio.
Os resultados obtidos a partir de análises cromatográficas verificaram que por meio da
filtração com CAG foi possível reduzir a concentração de todos os compostos em análise,
exceto para algumas amostras em que ainda foram constatadas as presenças de nonilfenóis
polietoxilados e dos compostos bromofórmio e 2-cloropiridina. No entanto, esse fato
somente foi observado no primeiro grupo de filtros de CAG testados e pode ser justificado
pelo fenômeno da saturação. A saturação faz com que os filtros liberem os poluentes
previamente adsorvidos por causa de efeitos competitivos com outros orgânicos. Com
relação ao segundo grupo testado, foi observado que as concentrações dos poluentes
diminuíram devido a um aumento da vazão do rio, ou seja, o efeito da diluição mascarou o
resultado de atuação dos filtros. Os filtros que apresentaram melhor desempenho foram os
F2 e F5, ambos de origem betuminosa. No entanto, o F2 mostrou uma melhor capacidade
para tratamento de água com respeito a poluentes orgânicos.
Outro experimento para análise de remoção de perturbadores endócrinos, mas agora, com
diferentes carvões ativados em pó (CAPs), foi conduzido por Yoon
et al. (2003). O
objetivo foi avaliar a adsorção de três compostos perturbadores endócrinos: bisfenol A;
17
β-estradiol e 17α-etinilestradiol, utilizando amostras de águas superficiais coletadas em
dois rios norte americanos (
Salt River e Huron River) e de uma amostra de água
deionizada, utilizada como padrão de referência.
Todas as amostras foram dosadas de forma a apresentarem a mesma concentração inicial
da mistura dos perturbadores endócrinos em questão, no valor de 100nM, e também foram
escolhidas seis marcas diferentes de carvões vegetais em pó para serem testadas. Os
carvões foram hidratados em água deionizada por 24horas e adicionados na forma de
suspensão às amostras dos dois rios em questão e à amostra de água deionizada. Cada
carvão foi testado duas vezes para cada amostra, nas concentrações de 5 e 15mg/L,
73
considerando um tempo de contato de 4 horas. Quanto às detecções, estas foram feitas com
uso da cromatografia líquida com detector de fluorescência.
Tabela 3.12 – Características dos carvões utilizados nos dois grupos de ensaios
realizados por Paune
et al. (1998).
CAG Características
1° Grupo de filtros
F1, F2, F3 e F4
F1
Carvão betuminoso
Área de superfície BET: 1000m
2
/g
Número de iodo: 950mg/g.min
Número de azul de metileno: 230mg/g.min
Tamanho da malha: 8 x 30 (2,36mm x 0,59mm)
Distribuição dos poros: > 2,36mm, Max. 15%; <
0,60mm, Max. 4%.
F2
Carvão betuminoso
Área de superfície BET: 1100m
2
/g
Número de iodo: 1050mg/g.min
Número de azul de metileno: 260mg/g.min
Tamanho da malha: 12 x 40 (1,65mm x 0,42mm)
Distribuição dos poros: > 1,70mm, Max. 5%; <
0,425mm, Max. 4%.
F3
Carvão ativado extrudado
Volume total de poros: 1,0cm
3
/g
Número de iodo: 1000mg/g.min
Distribuição dos poros: não informada.
F4
Carvão betuminoso
Área de superfície BET: 1000 - 1100m
2
/g
Número de iodo: 1020mg/g.min
Tamanho da malha: 12 x 40 (1,65mm x 0,42mm)
Distribuição dos poros: > 1,68mm, Max. 5%; <
0,425mm, Max. 4%.
2° Grupo filtros
F1, F5, F6 e F7
F1 F1 (mantido do 1° grupo)
F5 F1 novo
F6
Carvão vegetal (casca de coco)
Área de superfície BET: 1100m
2
/g
Número de iodo: 1000mg/g.min
Tamanho da malha: 14 x 30 (1,40mm x 0,59mm)
Distribuição dos poros: não informada.
F7
Carvão betuminoso
Volume total de poros: 0,8cm
3
/g
Número de iodo: 1000mg/g.min
Tamanho da malha: 10 x 20 (2,00mm x 0,83mm)
Distribuição dos poros: > 2,00mm, Max. 5%; <
0,85mm, Max. 4%.
74
Os resultados dos experimentos mostraram que os seis CAPs analisados foram capazes de
remover todos os compostos em estudo, com percentagens de remoção variando de 31 a >
99%, sendo essa diferença na remoção decorrente do tipo e dosagem do carvão e das
condições de qualidade da água. As menores remoções foram observadas nas amostras do
rio
Huron, pois estas apresentavam maiores concentrações de carbono orgânico dissolvido
e de matéria orgânica hidrofóbica. A intervenção da matéria orgânica no resultado ocorre
porque esta bloqueia os poros do carvão, reduzindo a área superficial disponível para
adsorção de compostos orgânicos, além de competir com os compostos específicos.
A ordem decrescente de remoção observada para as substâncias em estudo foi de 17
β-
estradiol (3,1 - 4,0) > 17
α-etinilestradiol (3,7 - 3,9) > bisfenol A (3,3) e correspondeu aos
valores decrescentes do coeficiente de partição octanol/água de cada perturbador
endócrino, apresentados entre parênteses.
Nesse trabalho também foram feitos experimentos sobre cinética e dose-resposta com as
duas marcas que apresentaram melhores performances de remoção. Foram calculadas, para
cada um dos dois carvões, as isotermas de Freundlich com relação à remoção de cada um
dos três perturbadores endócrinos nos tempos de contato de 1 e 4horas. Os resultados
constataram uma maior adsorção do 17
β-estradiol (E2) quando comparada ao 17α-
etinilestradiol (EE2) e ao bisfenol A (BPA). Analisando os valores de K, apresentados na
Tabela 3.13, constatou-se que a quantidade adsorvida de perturbadores endócrinos foi, em
geral, menor para as amostras do rio
Huron, seguidas do rio Salt e por último das amostras
de água deionizada, sendo esse resultado mais uma constatação da influência da matéria
orgânica no fenômeno da adsorção.
Choi
et al. (2005) analisaram a remoção do amitrol, nonilfenol e bisfenol A porque esses
perturbadores endócrinos são encontrados em altas concentrações na Coréia. Para os
ensaios foram preparadas previamente soluções padrões contendo os perturbadores
endócrinos. No caso do bisfenol A e do nonilfenol, por se tratarem de compostos menos
solúveis, foram primeiramente dissolvidos em metanol e, posteriormente, diluídos em água
destilada. Já para o amitrol, por ser muito solúvel, foi diretamente dissolvido em água
destilada sem a necessidade de solvente. Essas soluções padrões foram misturadas a
amostras retiradas do efluente de uma estação de tratamento de água localizada na Coréia.
75
A amostra resultante da mistura das soluções padrões com o efluente tratado da estação
apresentou concentrações finais de 200
µg/L de amitrol e de bisfenol A, e de 500µg/L de
nonilfenol.
Tabela 3.13 – Resumo dos valores de K obtidos nos experimentos sobre cinética e dose-
resposta de Yoon
et al. (2003 - modificado)
Marcas dos carvões
Norit 20B AC800
Tempo de ensaio
1h 4h 1h 4h
Compostos
Origem da
amostra
K (g/g)(L/g)
1/n
Água Deionizada Sem dados Sem dados Sem dados Sem dados
Rio Huron 6,16 12,3 2,91 4,12
E2
Rio Salt 5,36 10,9 4,80 8,11
Água Deionizada Sem dados Sem dados 4,03 4,78
Rio Huron 1,61 3,10 1,76 2,73
EE2
Rio Salt 3,83 5,34 2,75 3,16
Água Deionizada Sem dados Sem dados 2,87 4,60
Rio Huron 1,56 2,85 1,55 1,66
BPA
Rio Salt 2,62 4,48 1,86 2,32
De acordo Choi
et al. (2005), essa solução resultante foi destinada a alimentação de um
sistema com 7 colunas distintas de CAG com uma vazão de 2mL/min e um tempo de
contato de leito vazio de 15minutos. As colunas eram preenchidas com CAG de três
diferentes tipos de matérias-primas: madeira (2 colunas); casca de coco (2 colunas) e hulha
(3 colunas), com volume de 30cm
3
cada. Para a detecção dos compostos foi utilizado o
método de cromatografia líquida acoplada a dupla espectrometria de massa (LC-MS-MS).
O estudo concluiu que a adsorção por CAG é mais efetiva para remoção de perturbadores
endócrinos com pouca solubilidade em água, ou seja, para aqueles que possuem alto valor
de coeficiente de partição octanol/água (K
ow
), conclusão esta similar à de Yoon et al.
(2003). Assim, o nonilfenol foi mais efetivamente removido do que o bisfenol A, embora
ambos os compostos tenham sido adsorvidos em todos os carvões estudados. Já com
relação ao amitrol, como se trata de um composto muito solúvel (com baixo K
ow
), a
remoção por adsorção foi pouco efetiva. Constatou-se que uma porção considerável do que
entra de amitrol nas colunas de CAG passa direto pelo leito (9 a 87%). Observou-se
também que os carvões originados da hulha foram os mais efetivos dos três tipos, sendo o
maior volume de poros destes um fator relevante para esse melhor desempenho. Outro
76
ponto verificado foi que a área superficial e o volume de poros reduziram com o tempo de
operação e a extensão dessa redução foi diferente dependendo do tipo de carvão.
Nesse trabalho os autores estimaram a degradação biológica dos perturbadores endócrinos
por meio da equação proposta originalmente por Sont-heimer e Hubele (1987) e Speitel
et
al
. (1989). Nessa análise constataram que o amitrol foi o composto mais removido por
degradação biológica, apresentando remoções de 0 a 90%, dependendo do tipo de carvão.
Choi
et al. (2005) também verificaram durante todo o estudo que tanto o volume de poros
como as interações elétricas decorrentes das cargas na superfície e o pH são importantes
para o mecanismo de adsorção.
Zhang e Zhou (2005) estudaram a remoção dos perturbadores endócrinos estrona e 17
β-
estradiol por: CAG; adsorvente preparado a partir de resíduos industriais; resina de troca-
iônica; quitina e quitosana. Optou-se pela remoção desses perturbadores endócrinos, pois
além de causarem grande potencial de risco aos seres vivos, estes resistem aos processos
de tratamento de esgoto e podem ser reativados por desconjugação durante a passagem
pela ETE.
Nesse estudo foram realizados experimentos de cinética e equilíbrio de adsorção com
amostras de água deionizada misturadas a soluções padrões contendo concentrações de
17,8
µg/L de estrona e 24,8µg/L de 17β-estradiol. Com relação aos experimentos de
cinética de adsorção com CAG, também foram utilizadas amostras provenientes do
efluente da ETE de
Horsham no Reino Unido, misturadas as soluções padrões.
Na Tabela 3.14 são apresentados os resultados dos ensaios de equilíbrio de adsorção com
amostras de água deionizada. Os autores constaram que as constantes de adsorção
máximas obtidas para o CAG apresentaram valores de alta magnitude. Isto sugeriu que as
ligações promovidas na adsorção de ambos os perturbadores endócrinos são bastante fortes
quando comparadas com partículas orgânicas naturais encontradas em ambientes
aquáticos. Já com relação ao adsorvente de resíduos industriais, verificou-se que, além de
ligações fortes, a adsorção é capaz de atingir o equilíbrio em tempos menores. Como o
adsorvente de resíduos industriais possui partículas menores e uma concentração
adsorvente (0,2g/L) menor quando comparada ao CAG (2g/L), mais rapidamente o
equilíbrio é atingido.
77
Assim, de acordo com Zhang e Zhou (2005), a possibilidade de conversão de resíduos em
adsorventes trata-se de uma proposta vantajosa para o controle de poluição, pois é viável
em termos potencias e econômicos. É importante ressaltar que para ambos os adsorventes,
CAG e derivado de resíduos industriais, a constante de adsorção aumentou com o tempo.
Segundo os autores, as resinas de troca iônica avaliadas foram capazes de remover
compostos orgânicos e inorgânicos; e embora tenham apresentado um tempo de equilíbrio
de 71horas, estas em apenas uma hora de ensaio atingiram 61% do valor máximo de K. Já
com relação à quitina, que é um polissacarídeo presente em animais marinhos, insetos e
fungos, e a quitosana, que é um polímero hidrófilo catiônico formado pela desacetilação da
quitina, as remoções não foram significativas.
Nos experimentos de cinética de adsorção com CAG, ao comparar os resultados das
amostras de água deionizada com amostras de efluentes de ETE, os autores observaram
que os coeficientes de adsorção apresentaram valores aproximados para ambos os
perturbadores endócrinos. Esse fato comprovou que, independente do tipo de amostra, a
estrona e o 17
β-estradiol foram igualmente removidos. No entanto, os valores dos
coeficientes de adsorção para as amostras provenientes da ETE foram levemente inferiores
as de água deionizada devido à presença de substâncias competidoras que reduzem o efeito
de adsorção na superfície do CAG.
Os resultados dos experimentos de equilíbrio de adsorção indicaram que a concentração
adsorvente de colóides e a presença de surfactantes e ácidos húmicos são capazes de
diminuir a capacidade adsortiva, pois melhoram a solubilidade dos perturbadores
endócrinos na água ao criarem complexos com os grupos funcionais dos mesmos, fato que
Tabela 3.14 – Valores de K e dos tempos de equilíbrio de adsorção para os diferentes
adsorventes estudados por Zhang e Zhou (2005 - modificado)
Valores máximos obtidos
para a constante K (mL/g)
Tempo de equilíbrio de
adsorção
Métodos Estudados
Estrona
17
β
-estradiol
Estrona
17β-estradiol
Resíduos industriais 87.500 116 x 10
3
2 h 7 h
CAG 9.290 122 x 10
2
25 h 125 h
Resina de troca iônica 2.560 - 71 h -
Quitina 88 - 1 dia -
Quitosana 23 - 2 dias -
78
já foi verificado em outros estudos. Há também o efeito causado pela salinidade, que é
capaz de reduz a solubilidade aquosa do 17
β-estradiol e os efeitos causados pelo pH ao
influenciar na carga superficial do adsorvente bem como no potencial de ionização dos
químicos.
Fukuhara
et al. (2006) também realizaram estudos sobre a adsorção do 17β-estradiol e da
estrona em carvões ativados (CAs). Os autores se propuseram a estudar como as
propriedades de adsorção estão relacionadas com as propriedades físicas dos carvões e
também analisaram a presença de substâncias interferentes.
Fukuhara
et al. (2006) investigaram quatro tipos diferentes de amostras. A primeira foi
uma amostra de água deionizada com concentração de estrona e 17
β-estradiol em que
foram avaliados 8 diferentes CAs de origem vegetal e de uso geral. A segunda, uma
amostra proveniente de filtração em areia com concentração de 17
β-estradiol em que
foram testados 5 CAs vegetais pré-utilizados em outro tratamento de água. Por último,
amostras de água de rio e de efluente secundário, ambas retiradas nas proximidades de uma
área urbana com casas e indústrias, estas foram utilizadas em experimento com 3 CAs
vegetais de uso comercial.
Para a detecção das amostras foram utilizados kits ELISA, para 17
β-estradiol e
estrona/17
β-estradiol/estriol, cujos intervalos de detecção variaram, respectivamente, de
0,05 a 1 e 0,1 a 3
µg/L. Deve-se ressaltar que para os casos em que as amostras não
puderam ser analisadas diretamente foram promovidas extrações em fase-sólida utilizando
cartuchos C-18. Outro ponto importante é que durante a preparação das amostras de água
deionizada foi utilizado metanol como solvente inicial dos perturbadores endócrinos e
depois promovidas re-diluições em água.
A adição de metanol as amostras não é um fator preocupante, pois de acordo com Giusti
et
al,
(1974 apud Fukuhara et al., 2006) o metanol é pouco adsorvido pelo CA e, portanto,
não causa interferências significativas na adsorção. Giusti
et al. (1974 apud Fukuhara et
al.,
2006) constataram que essa adsorção é da ordem de 0,007g-metanol/g-carvão ativado,
em uma concentração de equilíbrio de 964mg/L.
79
Os valores obtidos com os ensaios foram utilizados para traçar as isotermas de adsorção
dos carvões segundo o modelo de Freundlich. No caso da análise dos 8 CAs em amostras
de água deionizada contendo estrona e 17
β-estradiol, a quantidade adsorvida, em
concentração de equilíbrio de 1
µg/L, foi de 25,6 a 73,5mg/g para a estrona e 21,3 a
67,6mg/g para o 17
β-estradiol, sendo a estrona mais adsorvida devido a sua maior
hidrofobicidade.
No caso dos experimentos com carvões pré-utilizados e amostras de água filtrada contendo
17
β-estradiol, a quantidade adsorvida, para concentração inicial de 1µg/L, foi de 3,5 a
8,2mg/g de 17
β-estradiol. Esse decréscimo na capacidade adsortiva observado nas
amostras de água filtrada em comparação às amostras de água deionizada pode ser
justificado pela qualidade da água, condições de operação da filtração e por propriedades
desconhecidas dos carvões. Já para as amostras de rio e do efluente secundário a
quantidade adsorvida de 17
β-estradiol foi de 0,14 a 0,20 e 0,28 a 1µg/g, para concentração
inicial de 1ng/L, respectivamente. Esses valores baixos devem-se a presença de substâncias
competidoras.
Um ponto importante verificado pelos autores foi que a adsorção de estrona e de 17
β-
estradiol apresenta um comportamento linear com relação a área superficial específica, ou
seja, quanto maior a área superficial do carvão maior foi a adsorção dos perturbadores
endócrinos aos carvões. Já com relação ao diâmetro dos poros, verificou-se que a adsorção
foi menor para carvões com diâmetro de poros maiores.
Da mesma forma que nos demais trabalhos citados nesse item, pretende-se também nessa
pesquisa, como já foi mencionado ao longo do texto, realizar estudos de adsorção de
perturbadores (17
β-estradiol e p-nonilfenol) em carvões ativados em pó. No próximo
capítulo será apresentada a metodologia adotada e amplamente justificada para a execução
de tais experimentos, além das características dos carvões nacionais a serem estudados.
80
4 - METODOLOGIA
4.1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho, de caráter experimental, foi desenvolvido em escala de bancada. Os
experimentos foram realizados no Laboratório de Análise de Águas – LAA do
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB).
As etapas para desenvolvimento do trabalho consistiram em:
1º) Escolha dos tipos de carvão ativado em pó (CAP) a serem avaliados;
2º) Determinação da capacidade adsortiva dos diferentes tipos de CAPs selecionados
na remoção dos perturbadores endócrinos 17
β-estradiol e p-nonilfenol, em separado;
Essas etapas são descritas de forma detalhada nos itens que se seguem.
4.2 – SELEÇÃO DOS TIPOS DE CARVÃO ATIVADO EM PÓ
Os tipos de carvão ativado em pó utilizados nos experimentos foram os mesmos estudados
e caracterizados por outras pesquisas já desenvolvidas no Programa de Tecnologia
Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade de Brasília. Assim, com base nos
trabalhos de Brasil (2004) e Silva (2005a) foram selecionados quatro carvões de
procedência nacional.
Os fabricantes desses carvões, juntamente com as amostras de CAP, forneceram algumas
características, como por exemplo, a granulometria e número de iodo. Entretanto, nem
todas as informações eram comuns a todos os carvões, o que dificulta a comparação entre
eles. Para sanar esse problema, Silva (2005a) realizou alguns ensaios de caracterização dos
CAPs cujos resultados são utilizados nesse trabalho. Na Tabela 4.1 são apresentados os
fabricantes, origens e as nomenclaturas que foram adotadas para os diferentes carvões e
nas Tabelas A.1, A.2 e A.3, disponíveis no apêndice A, têm-se as características mais
relevantes desses carvões
81
Tabela 4.1 – Nomenclaturas adotadas para os tipos de carvão ativado em pó nacionais
utilizados nesse trabalho.
Tipo (Origem)
Casca de Coco
(vegetal)
Madeira
(vegetal)
Madeira
(vegetal)
Osso
(animal)
Nomenclatura
adotada
COCO MAD - 1 MAD - 2 OSSO
4.3 – DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs
4.3.1 – Definição da configuração dos experimentos
A determinação da capacidade adsortiva dos carvões foi realizada segundo as
recomendações da norma D3860-98 da
American Society for Testing and Materials
(ASTM, 2000), que se fundamenta na determinação da curva de adsorção de acordo com o
modelo de Freundlich. No entanto, quando necessário, foram feitas algumas considerações
às recomendações da norma, para melhor atender os objetivos do trabalho em questão.
Para a determinação das isotermas é necessário que a reação de adsorção seja promovida à
temperatura constante. Assim, optou-se em realizar os experimentos em uma sala
climatizada em que os níveis de oscilação da temperatura fossem os menores possíveis.
Para monitorar a temperatura na sala foi utilizado um termômetro digital mantido
permanentemente no interior desta. Além disso, foi feito o monitoramento da temperatura
da amostra durante os experimentos, dispondo-se de um termômetro de bulbo de mercúrio
dentro de um frasco com volume similar ao da amostra em ensaio. Na Figura 4.1, tem-se a
ilustração dos dois tipos de monitoramento de temperatura.
Os experimentos foram executados utilizando o dispositivo de agitação mecânica para teste
de jarros e 6 béqueres de vidro, como apresentado na Figura 4.2. É importante ressaltar que
não só os béqueres, mas como todo o material utilizado durante os ensaios foi de vidro,
evitando-se que possíveis adsorções que, normalmente, acontecem em materiais plásticos,
ocorressem nesses ensaios.
82
(a) Termômetro digital (b) Termômetro de bulbo
Figura 4.1 – Tipos de termômetros utilizados no monitoramento de temperatura.
Figura 4.2 – Dispositivo de agitação para teste de jarros.
Como já mencionado na revisão bibliográfica, para a determinação das isotermas de
adsorção, é necessário que o tempo de contato do carvão com o adsorvato seja suficiente
para alcançar o equilíbrio da reação. A reação de adsorção é reversível, para a maior parte
dos compostos, e sua condição de equilíbrio ocorrerá quando o carvão atingir a saturação,
ou seja, quando a taxa de adsorção for igual à de dessorção.
De acordo com a norma americana D3860-98 da ASTM (2000), um tempo de contato de
duas horas é normalmente necessário para atingir o equilíbrio da adsorção, embora a
própria norma recomende que se possível sejam realizados estudos para verificar se esse
tempo é realmente suficiente. Já segundo Masschelein (1992), esse tempo pode variar de
30 minutos a 1hora, dependendo do tipo de carvão. Quanto a Brady (1998), 15 minutos já é
tempo necessário para a remoção da maioria dos compostos causadores de odor e sabor.
Em contrapartida, nos estudos de Brasil (2004), verificou-se que o tempo de contato de 2
horas não foi suficiente para que os carvões nacionais, os mesmos estudados nesse
trabalho, fossem capazes de atingir o equilíbrio da adsorção para remoção de microcistina
83
em águas de abastecimento público. Posteriormente, Silva (2005a) também teve
dificuldades para atingir o equilíbrio de adsorção mesmo dispondo de um tempo de contato
superior a duas horas, no caso, 12 horas. Em seus estudos, Silva (2005a) propôs a remoção
de saxitoxinas com os mesmos carvões analisados por Brasil (2004). Assim, a partir desses
estudos, constata-se a influência das características do adsorvato na obtenção do equilíbrio
de adsorção.
Dessa forma, para os experimentos propostos nesse trabalho, adotou-se por um tempo de
contato de quatro horas, que foi escolhido de acordo com os estudos propostos por Yoon
et
al.
(2003). Nesses estudos, Yoon e colaboradores analisaram a remoção dos perturbadores
endócrinos bisfenol-A, 17
β-estradiol e 17α-etinilestradiol por meio de seis diferentes
CAPs de procedência americana e origem vegetal, ou seja, uma situação com
características semelhantes às propostas por esse trabalho.
Como já citado no decorrer do trabalho, os perturbadores endócrinos 17
β-estradiol e p-
nonilfenol foram escolhidos, respectivamente, pelo potencial de risco e pelo elevado valor
encontrado das concentrações em esgotos e mananciais. Para serem realizados os ensaios,
foram utilizadas substâncias purificadas na forma em pó (
Sigma-Aldrich Chemical).
Adotou-se, para as amostras a serem ensaiadas, as concentrações de 1
µg/L para o 17β-
estradiol e 100
µg/L para o p-nonilfenol. Na Tabela 4.2 são descritas mais algumas
características dos perturbadores endócrinos utilizados nesse trabalho.
As concentrações adotadas para os perturbadores endócrinos foram bem superiores aos
valores referenciados na literatura. Por exemplo, de acordo com os estudos de Ternes
et al.
(1999), realizados com afluentes de ETE, localizada no Brasil, detectou-se concentrações
de 0,021
µg/L do 17β-estradiol. Já para o p-nonilfenol, tem-se os estudos de Azevedo et al.
(2001), que obtiveram em amostras de águas subterrâneas portuguesas concentrações no
intervalo de 0,2 a 30,0
µg/L dos isômeros de 4-nonilfenol. Além desses exemplos, há
também os já citados nas Tabelas 3.3 e 3.4. Deve-se ressaltar que concentrações bem
superiores não atrapalham os objetivos do trabalho, pois, nessa etapa, pretende-se traçar as
isotermas dos carvões e obter a capacidade adsortiva máxima destes em relação à remoção
de cada perturbador endócrino em separado, sem a presença de interferentes, já que foram
utilizadas amostras preparadas com água deionizada.
84
Tabela 4.2 – Características do 17
β-estradiol e do p-nonilfenol (Choi et al., 2005 e Yoon
et al., 2003 - modificado).
Perturbador endócrino
17β-estradiol
p-nonilfenol
Fórmula
C
18
H
24
O
2
C
15
H
24
O
Fonte
Mais importante hormônio
sexual feminino.
Detergentes, combustível,
aditivo de óleo, estabilizante
plástico, etc.
Peso molecular (g/mol)
272,38 220,35
Número CAS
50-28-2 104-40-5
Log k
ow
(*) 3,30 5,76
Solubilidade em massa
(g/L)
Levemente Solúvel
pH: 1 a 8
temp: 25°C 0,0030
pH: 9
temp: 25°C 0,0033
pH: 10
temp: 25°C 0,0046
Levemente Solúvel
pH: 1 a 7
temp: 25°C 0,019
pH: 8
temp: 25°C 0,020
pH: 9
temp: 25°C 0,021
pH: 10
temp: 25°C 0,033
Solubilidade molar
(mol/L)
Levemente Solúvel
pH: 1 a 8
temp: 25°C 1,1x10
-5
pH: 9
temp: 25°C 1,2x10
-5
pH: 10
temp: 25°C 1,7x10
-5
Levemente Solúvel
pH: 1 a 7
temp: 25°C 8,8x10
-5
pH: 8
temp: 25°C 8,9x10
-5
pH: 9
temp: 25°C 9,5x10
-5
pH: 10
temp: 25°C 1,5x10
-4
Volume molar
(cm
3
/mol)
232,6 ± 3,0
temp: 20°C Press: 760 Torr
236,2 ± 3,0
temp: 20°C Press: 760 Torr
pK
a
(constante de
acidez)
10,27 ± 0,60
temp: 25°C mais ácido
10,14 ± 0,15
temp: 25°C mais ácido
Pressão de vapor
9,82x10
-9
Torr temp: 25°C 8,53x10
-5
Torr temp: 25°C
(*) Coeficiente de partição octanol/água: é a relação entre a concentração de uma substância
química em octanol (solvente orgânico) pela concentração em água, em condições de equilíbrio e
temperatura constante. Este parâmetro é usado para determinar o destino de substâncias químicas
no ambiente, como, por exemplo, predizer a extensão que um contaminante vai bio-acumular em
peixes. Ou seja, quanto maior o valor do coeficiente maior será sua acumulação. Isto justifica o
fato de haver mais relatos da presença do nonilfenol em peixes. O coeficiente de partição de
octanol-água também tem sido correlacionado à solubilidade na água, sendo inversamente
proporcional a esta.
A concentração proposta para o 17
β-estradiol foi preparada a partir de uma solução
estoque em metanol com uma concentração de 1000
µg/mL. Essa solução estoque foi
85
preparada pesando-se 0,0100g de 17
β-estradiol, em uma balança analítica, e depois
dissolvendo esse material em 10mL de metanol. Em seguida, foram promovidas diluições
com água deionizada até alcançar uma concentração de 1
µg/L no volume total estimado
para os ensaios com cada carvão. Embora a substância 17
β-estradiol tenha baixa massa
solúvel em água deionizada (0,003g/L), esta apresenta mais de um grupo funcional polar
em sua estrutura química. Portanto, sua diluição é possível em solventes polares como a
água e o metanol, sendo o metanol mais vantajoso para promover a dissolução inicial,
devido à semelhança de grupos funcionais de sua estrutura química com a do 17
β-
estradiol.
A opção por uma solução estoque em metanol foi devida não somente a facilidade de
diluição, mas também pela melhor conservação que pode ser conseguida quando
comparada com a conservação em água. Além é claro, das referências de procedimentos
similares como os executados por Yoon
et al. (2003) e Fukuhara et al. (2006) e ao fato do
metanol ser pouco adsorvido pelo carvão ativado, como já comentado na revisão
bibliográfica desse trabalho. Deve-se enfatizar que outros solventes polares, como o etanol,
também poderiam ser utilizados, sendo este mais vantajoso por ser menos tóxico quando
comparado ao metanol. No entanto, ainda assim, por uma questão de compatibilidade,
optou-se pelo metanol, já que este é o mesmo solvente utilizado na preparação simplificada
dos ensaios ELISA.
Já no caso do p-nonilfenol, a molécula apresenta uma estrutura química mais complexa,
pois, é constituída de uma parte hidrófila que atrai as moléculas de água e uma parte
hidrófoba que dificulta essa solubilidade. Como a parte hidrófoba forma uma cadeia bem
maior, essa substância apresenta uma grande tendência a apolaridade, e portanto uma baixa
massa solúvel em água deionizada, na ordem de 0,019g/L. Fato este que também pode ser
constatado pelo maior valor do coeficiente de partição octanol/água quando comparado ao
17
β-estradiol. Assim, devido a essa particularidade da molécula, existe uma grande
dificuldade em se preparar a água de estudo e, portanto, foram propostas diferentes
tentativas para promover a solubilização do p-nonilfenol, como, por exemplo, promovendo
a solubilização somente em água deionizada; somente em metanol ou combinando dois
solventes (metanol e DMSO). Todas as tentativas realizadas serão mais bem discutidas no
capitulo cinco desse mesmo trabalho.
86
De acordo com a norma D3860-98 da ASTM (2000), o volume da amostra e as dosagens
de CAP a serem utilizados nos experimentos de determinação da capacidade adsortiva
dependem da concentração do adsorvato (Tabela 4.3). Assim, na Tabela 4.3 observa-se que
quanto menor a concentração de adsorvato maior é o volume da amostra sugerido. Como a
concentração proposta, nesse trabalho, para os adsorvatos (perturbadores endócrinos) é
bem inferior ao menor valor de adsorvato sugerido pela norma, optou-se por um volume
1,0 litro, pois, este é superior ao volume recomendado.
Tabela 4.3 – Volumes para amostra e massas de carvões indicados para determinados
níveis de concentração de adsorvato (D3860-98 da ASTM, 2000 – modificado).
Concentração de
adsorvato (mg/L)
Volume da amostra (mL)
Massas de carvão
indicadas
10 500
1,0; 2,5; 5,0; 7,5; 10,0; 25,0
e 50,0 mg.
> 10; 100 100
0,01; 0,02; 0,04; 0,10; 0,20;
0,40; 1,0; 2,0 e 4,0 g.
> 100 100
0,05; 0,1; 0,2; 0,5; 1,0; 2,0;
5,0 e 10,0 g
Já com relação às dosagens de CAP, optou-se por valores na faixa de 3 a 20mg/L. Esse
intervalo foi adotado com base nos estudos desenvolvidos por Yoon
et al. (2003). Yoon e
colaboradores verificaram que na faixa de dosagem de 1 a 50mg/L alguns CAPs de origem
vegetal, produzidos nos EUA, mostraram-se eficientes na remoção dos perturbadores
endócrinos 17
β-estradiol, bisfenol-A e 17α-ethinilestradiol, sendo que para o intervalo de
dosagens inferiores a 10mg/L essas remoções foram maiores.
Assim, foram adotadas as massas diferenciadas de CAP: 3, 5, 10, 15, 20mg/L com o
objetivo de trabalhar dentro do intervalo de maior remoção. É importante lembrar que cada
carvão foi analisado em duplicata, sendo cada ensaio composto de seis jarros: cinco destes
para aplicação dos carvões e um jarro de controle em que se objetiva detectar a
concentração inicial, realmente, presente na amostra. Cabe ressaltar que os estudos de
Yoon
et al. (2003), da mesma forma que nesse trabalho, foram compatíveis com a D3860-
98 da ASTM (2000).
87
4.3.2 – Desenvolvimento dos experimentos
O ensaio de capacidade adsortiva foi dividido em três etapas. A primeira consistia na
preparação do carvão, a segunda no ensaio propriamente dito e a terceira no processo de
detecção dos perturbadores endócrinos.
Na primeira fase eram feitas as pesagens dos CAPs correspondentes às dosagens a serem
adicionadas. Cada massa de CAP era colocada em um pequeno béquer com 20mL de água
deionizada, já que o carvão ativado deve ser adicionado ao ensaio sob a forma de
suspensão. Os frascos contendo essas suspensões foram, primeiramente, colocados em um
dessecador acoplado a uma bomba a vácuo (Figura 4.3) e deixados sob condições de
subpressão por pelo menos 10 horas antes de serem adicionados às amostras durante os
ensaios.
O carvão foi preparado previamente dessa maneira, para que fosse promovida a sua
hidratação e a retirada do ar dos seus interstícios, colocando a superfície dos poros em
contato com o meio líquido e com isso favorecendo a cinética da adsorção. Cabe ressaltar
que eram sempre realizadas pesagens suficientes para dois ensaios, pois as duas baterias
propostas para cada um dos carvões eram ambas ensaiadas no dia seguinte às pesagens.
Na segunda etapa, que consistia no ensaio propriamente dito, as amostras contendo o
perturbador endócrino eram distribuídas nos seis jarros e iniciava-se a adição do CAP. A
Figura 4.3 – Dessecador acoplado a bomba a vácuo
88
Figura 4.4 apresenta um esquema da realização do experimento. As amostras contendo o
CAP eram agitadas a 100rpm para manter o carvão em suspensão durante todo o tempo de
contato de 4 horas. Ao colocar as amostras no equipamento eram registradas as leituras de
pH e de temperatura da sala e do líquido. Depois de decorridas 2 horas de ensaio eram
realizadas novas leituras de temperatura. Ao final das 4 horas, novamente, novas leituras
de pH e temperatura eram realizadas e uma fração da amostra era coletada e submetida a
filtração em membrana de 0,22
µm, com o objetivo de remover o carvão presente na
amostra. A Figura 4.5 apresenta o equipamento para filtração a vácuo utilizado para
filtragem das amostras após os ensaios.
É importante comentar que as concentrações de carvão em suspensão eram adicionadas em
intervalos regulares, de 20 minutos, em cada um dos recipientes (Figura 4.4). Com esse
procedimento garantia-se que o tempo despendido na filtração de cada amostra após a sua
retirada do equipamento de agitação não ia interferir no tempo de contato e no momento de
retirada da amostra seguinte.
C
o
: concentração inicial do adsorvato;
C
ei
: concentração residual do adsorvato (i = 1, 2,...5);
t
o
: tempo inicial para colocar a amostra no agitador.
Figura 4.4 – Esquema do procedimento utilizado nos experimentos de determinação da
capacidade adsortiva dos CAPs.
89
É importante também salientar que as leituras de pH e temperatura realizadas ao longo dos
experimentos são essenciais para verificar possíveis oscilações nesses parâmetros que
possam causar interferências na adsorção. As medidas de pH foram realizadas com o
medidor Thermo Orion modelo 210 (termômetro e potenciômetro).
Figura 4.5 – Filtração a vácuo
Em seguida, tem-se a terceira etapa do experimento em que a fração filtrada é submetida à
detecção dos residuais do perturbador endócrino pelo método ELISA. Essa terceira etapa
sempre era realizada no dia seguinte aos ensaios de capacidade adsortiva e as amostras,
para que não sofressem degradações, eram conservadas na geladeira a 4°C durante
aproximadamente 15horas.
É importante esclarecer a opção pela conservação em geladeira. Essa forma de
conservação foi adotada com base nos estudos de Baronti
et al. (2000) que constataram
que o armazenamento de amostras com 1% de aldeído à 4ºC não causam perdas
significantes em estrogênios por 28 dias quando comparada a amostras não preservadas.
Como para os primeiros ensaios com 17
β-estradiol, a conservação apenas em geladeira
aparentemente não causou degradação das amostras, foi suposto que não haveria a
necessidade da adição de aldeído as mesmas, já que este poderia vir a causar alguma
interferência na detecção. No entanto, é recomendável que em pesquisas futuras sejam
feitos testes para comprovar se tal suposição é realmente correta.
Outra opção estudada por Baronti
et al. (2000), que é mais vantajosa para situações onde
há necessidade de extrações das amostras, é o uso do cartucho C18. Baronti e seus
90
colaboradores relataram que esse tipo de cartucho, além de promover excelente extração, é
uma ótima forma de armazenagem. Pois, ao armazená-los a -18°C, esses cartuchos
preservam as amostras contendo estrogênios, sem nenhuma perda significativa, por 60
dias.
4.3.3 – Quantificação dos perturbadores endócrinos em estudo
A detecção de ambos os perturbadores endócrinos estudados foi realizada utilizando o
método de imunoensaio ELISA (
Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay). Esse método foi
adotado porque:
Apresenta um limite de detecção adequado para o propósito do trabalho;
Facilidade de execução;
Possibilidade da análise de várias amostras ao mesmo tempo;
Preparação simplificada das amostras e
Autonomia no desenvolvimento dos experimentos, pois, são adquiridos kits
comerciais cuja análise pôde ser realizada no próprio LAA, sem haver necessidade
de equipamentos sofisticados ou dependência de equipamentos de outros
laboratórios.
Nesse trabalho foram utilizados dois tipos de kit ELISA, sendo cada tipo relacionado à
detecção de um perturbador endócrino específico (17
β-estradiol e p-nonilfenol). Os kits
são fabricados pela
Japan EnviroChemical conhecido como “Environmental Diagnosis”.
As principais características de ambos os kits são apresentadas na Tabela 4.4 e A.4
(apêndice A) e complementadas na Figura 4.6, com exemplos das curvas de calibração
padrão de ambos.
O ensaio de detecção ELISA consiste na mistura de 100
µL da amostra com 100µL da
solução conjugada antígeno-enzima dentro de cada poço da placa não sensibilizada. Dessa
mistura presente em cada poço se retira 100
µL e adiciona-se em cada poço de uma outra
placa já sensibilizada com uma solução de anticorpos. Essa placa sensibilizada, então, deve
ser incubada por 60 minutos em temperatura de 18-25ºC. Durante esse período, os
anticorpos presentes na placa são capazes de se ligar aos contaminantes (perturbadores
91
endócrinos) da amostra, enquanto os conjugados antígeno-enzima competem com os
contaminantes pelos sítios de ligação ainda disponíveis nos anticorpos.
Tabela 4.4 – Principais características dos kits ELISA utilizados nesse trabalho.
Kit ELISA
Compostos
alvos
Taxas
limites
para
análise
Padrões
fornecidos
para a curva
de calibração
(µg/L)
Características similares
em ambos os kits
17β-estradiol
(E2)
17β-estradiol
(E2)
0,05 a
1,00
µg/L
0,00
0,05
0,15
0,40
1,00
Alquifenóis
(AP)
Nonilfenol
(NP)
Octilfenol
(OP)
5 a
500
µg/L
0
50
200
1000
5000
- Coeficiente de variação
em sua maioria menor
que 10%;
- Tempo total de medida
por volta de 2,5 horas;
- Reatividade de 100%
para o nonilfenol e 17
β-
estradiol;
- Pré-tratamento: filtração
e preparação simplificada
sugeridas pelo kit.
17
β-Estradiol
(limite de detecção 0,05 a 1,00
µg/L)
p-nonilfenol
(limite de detecção 5 a 500
µg/L)
Figura 4.6 – Exemplos de curvas de calibração dos kits ELISA (Japan
EnviroChemicals, 2005).
92
Em seguida, é promovida a “lavagem” da placa sensibilizada para retirar o liquido
remanescente presente nos poços, não permitindo que este seja detectado e influencie na
etapa seguinte. A solução de lavagem fornecida pelo kit é diluída em água deionizada e,
depois, adicionada num volume de 300
µL em cada poço da placa sensibilizada. Esse
procedimento é repetido três vezes. Cabe aqui ressaltar que o momento da “lavagem
merece bastante atenção por parte de quem a executa, pois qualquer resíduo da solução de
lavagem que restar dentro dos poços após essa etapa pode causar grandes interferências nas
próximas reações promovidas e, portanto, nos resultados finais.
Após a lavagem, adiciona-se 100
µL de substrato de cor (cromogene ou color solution) em
cada poço para promover a coloração da mistura quando o substrato se ligar à enzima do
conjugado. Nessa fase da detecção, a placa deve ser incubada por 30 minutos em
temperatura de 18 a 25ºC e, após esse período, deve ser adicionado em cada poço 100
µL
da solução de parada (
stop solution) para cessar a ação da enzima que promove a cor. Para
a ação dessa solução é necessário esperar mais 15 minutos de incubação e depois já é
possível ser feita a leitura de intensidade de cor. Na Figura 4.7 é apresentada uma
ilustração simplificada da seqüência de etapas do ensaio ELISA.
A intensidade da cor é quantificada pela medida da densidade ótica da mistura
(absorbância). Para fazer essa medida, utilizou-se de uma leitora ELISA (Bio-Rad, modelo
550) e um filtro especial para leitura em comprimento de onda de 450nm. Na Figura 4.8,
tem-se a ilustração da leitora ELISA utilizada nos ensaios.
Com o valor da densidade ótica é possível determinar a concentração do contaminante
presente na amostra. Para isso deve-se traçar, para cada ensaio proposto, a curva de
calibração padrão (Figura 4.6).
Essa curva relaciona de forma inversamente proporcional a concentração do contaminante
e a densidade ótica, dentro do intervalo limite de análise proposto pelo kit. Para traçar a
curva são necessários no mínimo 5 poços, ou seja, no mínimo um para cada padrão
fornecido no kit (Tabela 4.4). O procedimento é similar ao já descrito para a detecção das
amostras, só que nesse caso, no lugar da adição de 100
µL da amostra utiliza-se um volume
de 100
µL do padrão fornecidos pelos kits.
93
Cada amostra analisada no ELISA deve ser feita no mínimo em duplicata com o intuito de
fornecer mais segurança ao resultado obtido, pois mudanças de temperatura e falta de
precisão ao pipetar as amostras podem gerar erros. Daí também a importância de se repetir
à curva de calibração em todos os ensaios.
É importante ressaltar que algumas observações podem ser feitas a partir de uma análise
visual das amostras durante o ensaio. Como por exemplo, caso a mistura apresente uma
Figura 4.7 – Etapas do ensaio ELISA (Japan EnviroChemicals, 2005 - modificado).
Figura 4.8 – Leitora ELISA
94
coloração escura, significa que não há contaminante (perturbador endócrino) na amostra ou
estes estão em pequenas quantidades, pois o conjugado antígeno-enzima ocupa todos ou a
maior parte dos sítios de ligação disponíveis nos anticorpos. Já se houver a presença
considerável de contaminantes (perturbadores endócrinos), estes ocupam grande parte dos
sítios disponíveis nos anticorpos, deixando poucos sítios para serem ocupados pelo
conjugado, o que resulta em uma coloração mais clara.
Outro ponto que deve ser enfatizado sobre o processo analítico é que as amostras
submetidas à detecção ELISA devem passar anteriormente por certas etapas de preparação
que são sugeridas nas instruções dos próprios kits. Assim, após a filtração da amostra é
realizada a extração em fase sólida da mesma, com o objetivo de purificá-la e concentrar a
substância de interesse analítico. No entanto, para situações em que a concentração
residual do contaminante já está dentro dos limites de detecção dados pelos kits, não se faz
necessário tal procedimento. Apenas deve-se realizar uma preparação simplificada que
consiste na adição de pequenas percentagens de solvente, metanol e/ou DMSO, de forma
que as amostras fiquem nas mesmas condições dos padrões fornecidos pelos kits. Assim,
sendo possível a comparação dos resultados obtidos para as amostras com os valores das
curvas de calibração.
Nesse trabalho não foi necessário fazer extração/concentração das amostras, tendo em vista
que os experimentos foram previamente elaborados para que se atingisse concentrações
residuais dentro dos limites dos kits (Tabela 4.4). Dessa forma, para remoções com CAPs
entre 0 e 95%, o residual do contaminante (perturbador endócrino) estaria entre 1
µg/L e
0,05
µg/L para 17β-estradiol e entre 100µg/L e 5µg/L para o p-nonilfenol, ou seja, ambos
os intervalos dentro dos limites de detecção. Portanto, não havendo a necessidade de
extrações. Mesmo para os casos de remoções acima de 95%, optou-se em não realizar as
extrações, pois seria um gasto a mais diante de um resultado que já configuraria a
tecnologia de remoção com CAPs como eficiente. Na Figura 4.9 é apresentado o
procedimento de pré-tratamento completo sugerido pelo kit para as amostras com 17
β-
estradiol e na Figura 4.10 o procedimento para as amostras com p-nonilfenol. Em ambos os
fluxogramas, as caixas com fundo branco constituem no caminho seguido para a
preparação das amostras nesse trabalho.
95
Amostra
Filtração
Figura 4.9 – Esquema de pré-tratamento para amostras com 17
β-estradiol
Extração
1. Pré-condicionamento do cartucho C18
Metanol: 5mL (até 20mL/min);
Água deionizada: 10mL (até 20mL/min).
2. Despejo da amostra filtrada no cartucho C18 (até 20mL/min)
3. Remoção de resíduos do cartucho, após a passagem da amostra
filtrada
<Lavagem> água deionizada: 5mL (até 20mL/min);
<Secagem> um minuto a vácuo;
<Lavagem> Hexano: 5mL (até 20mL/min).
4.Eluição do analítico do cartucho C18 com 5mL de solvente
diclorometano (3mL/min)
5. Preparação da amostra para ELISA
<Evaporação> com gás nitrogênio analítico.
<Dissolução em vórtice> em solução contendo 10% de metanol.
Preparação simplificada:
Mistura de 900µL da amostra
com 100µL de metanol.
Solução resultante de 1mL com metanol a 10%
ELISA
96
Amostra
Filtração
Figura 4.10 – Esquema de pré-tratamento para amostra com p-nonilfenol.
Extração
1. Pré-condicionamento do cartucho Sep Pak Plus PS2
Metanol: 5mL (10mL/min).
Água deionizada: 10mL (10mL/min).
2. Despejo da amostra filtrada no cartucho Sep Pak Plus PS2 (10mL/min)
3. Remoção de resíduos do cartucho, após a passagem da amostra filtrada
<Lavagem> água deionizada: 10mL (10mL/min);
<Secagem> centrífuga (3000rpm x 10min).
4. Eluição do analítico do cartucho PS2
Solvente metanol: 10mL
5. Evaporação do solvente (metanol) da solução eluída com gás nitrogênio
6. Dissolução do resíduo com hexano 0,5 mL
7. Pré-condicionamento do cartucho de sílica gel
Metanol/clorofórmio (20/80, v/v): 10mL
Hexano: 30mL
8. Despejo do resíduo dissolvido em (6) no cartucho de sílica gel
9. Remoção dos resíduos do cartucho de sílica gel
<Lavagem> Hexano: 10mL
10. Eluição do analítico do cartucho de sílica gel com 6mL de clorofórmio
11. Preparação da solução eluída para o ensaio ELISA
<Evaporação> com gás nitrogênio;
<Dissolução> em solução contendo 1% DMSO e 10% de metanol.
Preparação simplificada:
Mistura de 8,9mL da amostra com 1mL
de metanol e 0,1mL DMSO.
Solução resultante com 1%DMSO e 10% metanol
ELISA
97
É importante destacar que foram adotadas as etapas de pré-tratamento sugeridas pelo
fabricante dos kits, no entanto houve a preocupação de confirmar, por meio de outras
referências, se tais procedimentos eram adequados. Dentre as referências analisadas estão,
por exemplo, os trabalhos, já citados na revisão bibliográfica sobre remoção de
estrogênios, desenvolvidos por Rudder
et al. (2004), Lee et al. (2004) e Fukuhara et al
(2006). Nesses estudos foram utilizadas as tecnologias de EFS com cartucho C18 havendo
apenas algumas alterações de dosagens e tipos de solventes quando comparado aos
processos sugeridos pelo fabricante do kit ELISA E2. Quanto ao nonilfenol, tem-se o
trabalho de Komori
et al. (2006) que estudaram a ocorrência do nonilfenol e de substâncias
relacionadas no esgoto do Japão. Nesse trabalho desenvolve-se exatamente o mesmo
método de EFS sugerido pelo kit ELISA AP.
4.4 - CONSTRUÇÃO DAS ISOTERMAS DE ADSORÇÃO
De posse das informações de dosagem de CAP (d
CAP
), concentração inicial (C
o
) e residual
(C
e
) do perturbador endócrino foram construídas as isotermas de adsorção dos carvões para
o modelo de Freundlich, como descrito pela norma D3860-98 da ASTM (2000), e para o
modelo de Langmuir, com o objetivo de complementar o estudo dos carvões com mais um
tipo de ajuste.
Para construção da isoterma de Freundlich, foram calculados os logaritmos da
concentração residual (C
e
) e da massa do perturbador endócrino por unidade de carvão
(q
e
), conforme a Equação 4.1. Com base na Figura 4.11, que representa a equação
linearizada de Freundlich (Equação 3.5), obteve-se a capacidade máxima de adsorção do
carvão ativado (q
máx
) que é o valor de log q
e
correspondente ao logaritmo da concentração
inicial (log C
o
) no eixo das abscissas. Além disso, tem-se que a inclinação da reta fornece o
valor de ‘1/n’ e o ponto no eixo das ordenadas em que log C
e
é nulo, o valor de log K.
CAP
eo
e
d
CC
q
=
Equação (4.1)
A isoterma de Langmuir (Figura 4.12) foi construída conforme sua equação linearizada
(Equação 3.3) em que os valores das abscissas correspondem a ‘1/C
e
’ e os da ordenadas
98
‘1/q
e
’. Nesse caso a capacidade adsortiva máxima é obtida pelo inverso do ponto das
ordenadas que correspondente ao valor nulo de ‘1/Ce’.
É importante comentar que toda a vidraria utilizada durante os ensaios com p-nonilfenol
foi limpa com sabão especial sem surfactantes para evitar interferências nos ensaios de
detecção.
Figura 4.12 – Exemplo hipotético de uma isoterma de adsorção segundo a equação de
Langmuir.
Figura 4.11 – Exemplo hipotético de uma isoterma de adsorção segundo a equação de
Freundlich.
0,0
0,4
0,8
1,2
1,6
2,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
log Ce
log qe
log C
o
log K
1/n
lo
g
q
m
á
x
0,0
0,4
0,8
1,2
1,6
2,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
1/Ce
1/qe
bq
máx
1
máx
q
1
99
5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste item são apresentados e discutidos os problemas enfrentados e os resultados obtidos
a partir dos experimentos de capacidade adsortiva para diferentes tipos de CAPs utilizados
com o objetivo de avaliar a remoção dos perturbadores endócrinos p-nonilfenol e 17
β-
estradiol. Inicialmente, em função dos problemas vivenciados, serão discutidos os ensaios
com p-nonilfenol, e, em seguida, os resultados dos experimentos realizados com 17
β-
estradiol.
5.1 – EXPERIMENTOS COM P-NONILFENOL – PROBLEMAS ENFRENTADOS
A primeira dificuldade enfrentada nessa etapa do trabalho foi dissolver o material em pó
adquirido do fornecedor de produtos químicos,
Sigma-Aldrich Chemical. O produto obtido
foi o
4-nonylphenol PESTANAL, classificado como padrão analítico para pesticida.
Apesar da literatura relatar que o 4-nonilfenol é apenas levemente solúvel em água, optou-
se por fazer alguns testes tentando solubilizar essa substância apenas em água deionizada.
Nessa primeira tentativa preparou-se uma amostra com concentração teórica de 100
µg/L,
como foi proposto na metodologia. No entanto, após a pesagem do material e sua adição
em água deionizada o pó permaneceu disperso no líquido, podendo ser visualizado. Para
avaliar se ao menos parte do material adicionado havia sido solubilizado, realizou-se uma
análise utilizando o kit ELISA AP e foi detectado apenas, aproximadamente, 9
µg/L, ou
seja, muito abaixo do valor esperado de 100
µg/L.
É conveniente comentar que o kit ELISA AP utilizado, nesse momento, estava em
prefeitas condições de uso e dentro do prazo de validade, até porque a curva de calibração
foi feita e forneceu resultados coerentes. Cabe ressaltar também que embora os resultados
das detecções fossem muito baixos, estes apresentaram coerência quando foram
promovidas diluições com as amostras, ou seja, amostras mais diluídas apresentaram
valores mais baixos e dentro de uma certa proporção.
Uma segunda tentativa para solubilizar o nonilfenol foi criar uma solução estoque
semelhante aos padrões fornecidos pelo kit ELISA AP, nos quais a substância se encontra
100
dissolvida em solventes orgânicos. Essa alternativa é semelhante ao procedimento adotado
para o 17
β-estradiol. Assim, preparou-se uma solução estoque de 1,0 litro de metanol
contendo 2,0mg de 4-nonilfenol e 10% de DMSO. Constatou-se visualmente que a
combinação desses dois solventes foi capaz de solubilizar o 4-nonilfenol. No entanto, ao se
adicionar 100,0mL dessa solução estoque a 2,0 litros água deionizada, com o intuito de
promover uma diluição e alcançar a concentração proposta de 100
µg/L, observou-se que
havia precipitação de um sólido, provavelmente o nonilfenol. Para avaliar o procedimento
realizou-se as quantificações em ELISA, na qual se obteve resultados com valores baixos,
da ordem de 14
µg/L.
Prosseguindo nas pesquisas sobre o assunto, em literaturas relacionadas, e entrando em
contato com o Departamento de Química da UnB, verificou-se que o
4-nonylphenol
PESTANAL é uma substância bastante pura que apresenta uma estrutura química
complexa semelhante a um sabão. Esta é formada por uma parte hidrófila que atrai as
moléculas de água e por uma parte hidrófoba que dificulta essa solubilidade. Como a parte
hidrófoba forma uma cadeia bem maior do que a hidrófila, essa substância apresenta uma
grande tendência a apolaridade. Além disso, apresenta um baixo valor de massa solúvel em
água, que pode ser constatado pelo maior valor do coeficiente de partição octanol/água
quando comparado ao 17
β-estradiol, que já é pouco solúvel. É importante relatar que os
solventes orgânicos como o metanol e o DMSO são menos polares que a água, além de
apresentarem grupos funcionais mais semelhantes à estrutura do nonilfenol e, portanto,
capazes de melhor dissolver essa substância.
Cabe relatar aqui que a combinação de dois solventes tem a função de um auxiliar ao outro
para se ter uma melhor capacidade de solubilização. No entanto, a melhor opção para
dissolver o nonilfenol seria um solvente apolar como o hexano, mas isso inviabilizaria as
posteriores diluições em água deionizada, necessárias para alcançar a concentração
proposta na metodologia, já que a água e o hexano são imiscíveis.
Na busca de uma nova solução para esse impasse, resolveu-se por entrar em contato com a
Dra K. J. Choi, autora do artigo
Effects of activated carbon types and service life on
removal of endocrine disrupting chemicals: amitrol, nonilfenol, e bisfenol A
, publicado na
revista
Chemosphere em 2005. Nesse artigo havia uma breve explicação sobre como a
101
autora e colaboradores prepararam as amostras com nonilfenol. A Dra Choi sugeriu que o
nonilfenol deveria ser dissolvido em metanol, sob condições de agitação. A partir dessa
solução, que deveria ter alta concentração, seriam promovidas diluições em água
deionizada. Já quanto aos resultados das detecções, estes deveriam ser analisados de forma
relativa, cujo referencial seria sempre o jarro de controle (branco) do ensaio. Essa situação
é semelhante a que foi realizada para o 17
β-estradiol, sendo que nesse caso os jarros de
controle apresentam valores de concentrações variadas e nem sempre próximas.
Assim, testou-se o procedimento sugerido pela Dra Choi. Ao se adicionar o nonilfenol ao
metanol, resultando em uma solução estoque de 500
µg/mL, observou-se uma perfeita
dissolução. Contudo, ao se acrescentar água deionizada à mistura, a solução ficou com
aspecto turvo, indicando precipitação. Realizando a quantificação utilizando o kit ELISA
específico, obteve-se um valor de 7
µg/L quando se esperava uma concentração de
100
µg/L. Ou seja, um valor muito abaixo indicando, que houve novamente uma má
solubilização do produto. Nesse caso, não houve problemas com homogeneização já que o
recipiente onde foi promovida a mistura foi mantido em agitação num equipamento para
teste de jarros.
É importante comentar que os resultados das concentrações de nonilfenol encontrados nas
tentativas de solubilização do 4-nonilfenol PESTANAL foram calculados com base em
duas curvas de calibração realizadas no decorrer dessas tentativas. Não foram feitas curvas
de calibração em todas as tentativas para economizar os poços do kit em função do elevado
custo do mesmo.
Uma nova tentativa de solubilizar o nonilfenol em água deionizada foi realizada, mas agora
se baseando nos dados fornecidos pelo programa Scifinder Scholar disponível na página
web da Biblioteca da Universidade de Brasília que fornece dados sobre diversos produtos
químicos. De acordo com esse programa que utiliza o
Advanced Chemistry Development
Software V8.14 for Solaris
para calcular algumas propriedades químicas de diversas
substâncias, a massa solúvel em água do 4-nonilfenol é de 0,019g/L (19mg/L). Dessa
forma, a partir desse dado de solubilidade, tentou-se novamente dentro dessa condição uma
nova solubilização em água deionizada. A solução novamente ficou turva e, portanto, não
102
houve sucesso nessa tentativa, obtendo-se um resultado foi por volta de 2,5
µg/L, onde se
esperava 100
µg/L.
Como nenhuma das estratégias de solubilização testadas permitiu se obter uma
concentração na água de estudo próxima a 100
µg/L optou-se por mudar de estratégia mais
uma vez. Como em tentativas anteriores, verificou-se uma certa proporção nos resultados,
embora em valores baixos, para amostras com e sem diluições. Optou-se por testar o
quanto o kit ELISA AP seria capaz de detectar caso fossem utilizadas amostras com
valores de concentração bem superiores a 100
µg/L. Dessa forma, foram feitos dois testes a
partir de uma solução estoque em metanol com uma concentração de 500
µg de 4-
nonilfenol/mL. No primeiro teste retirou-se 1,00mL da solução estoque, adiciono-o em 1,0
litro de água deionizada contendo 10% de metanol e 1% de DMSO, resultando em uma
concentração final de 500
µg/L. No segundo retirou-se 2,00mL da solução estoque e o
adicionou em 1,0 litro de água deionizada contendo 10% de metanol e 1% de DMSO,
resultando em uma concentração final de 1000
µg/L.
Novamente, os valores encontrados foram bem abaixo das concentrações esperadas. Para o
primeiro teste obteve-se 43
µg/L e para o segundo 450µg/L. Apesar dos valores
discrepantes houve algum tipo de detecção, e, portanto, os experimentos poderiam ser
realizados, porém considerando somente resultados relativos. É conveniente ressaltar que
essas soluções também apresentaram um aspecto visualmente turvo.
Uma outra tentativa foi realizada com o próprio padrão do kit ELISA AP. Retirou-se
100
µL do padrão de 5000µg/L e o adicionou em 10,00mL de água deionizada contendo
10% de metanol e 1% de DMSO, resultando em uma concentração final de 50
µg/L. Nesse
caso, a detecção apresentou um resultado próximo ao esperado, obtendo-se um valor de
62
µg/L. Assim, a utilização dos padrões do kit para fazer as amostras parecia ser uma
opção possível. No entanto, como havia uma quantidade pequena de padrão fornecida no
kit, as amostras deveriam ter volumes menores e, provavelmente, uma nova metodologia
de ensaio deveria ser elaborada.
103
A partir dos resultados das duas tentativas descritas, optou-se por realizar os ensaios,
primeiramente, com altas concentrações teóricas de nonilfenol e uma análise de resultados
relativa. Para isso utilizou-se 2,00mL da solução estoque de 500
µg de 4-nonilfenol/mL
para cada litro de amostra necessária no ensaio. Em seguida, realizou-se um experimento
com o carvão COCO como descrito na metodologia, mas os resultados obtidos não se
apresentaram dentro do esperado. Para ambas as baterias de experimentos realizadas,
algumas amostras ficaram fora do limite da curva de calibração e outras apresentaram
valores de densidade ótica similares para diferentes dosagens de CAP. Adicionalmente, em
ambas as baterias, as soluções de controle apresentaram resultados incoerentes.
Na Tabela 5.1 têm-se os valores das medidas de densidade ótica obtidas para a curva de
calibração e para as amostras. Percebe-se que os valores de densidade ótica das amostras
quando comparados com os valores da curva de calibração correspondem basicamente ao
intervalo entre 0 e 5
µg/L de nonilfenol, ou seja, os residuais de nonilfenol obtido para as
amostras resultam sempre nesse intervalo. No entanto, esperava-se que no jarro de controle
o valor do nonilfenol estivesse na ordem de 450
µg/L, como observado na primeira
tentativa realizada, e que as demais amostras apresentasse um decréscimo no valor do
nonilfenol a medida que dosagem de CAP aumentasse. Assim, diante desses resultados não
foi possível concluir se o CAP tinha sido capaz de remover todo o nonilfenol nas menores
dosagens ou se não havia ocorrido solubilização do material.
Tabela 5.1 – Resultados dos ensaios realizados com o carvão COCO para remoção do
4-nonilfenol
Densidade ótica das amostras após a
realização dos ensaios
Curva de Calibração
Concentração
do carvão
(mg/L)
Bateria 1 Bateria 2
NP (µg/L)
Densidade ótica
0 0,767 0,901 (*)
0 0,840 3 0,677 0,725
5 0,607 5 0,710 0,771
20 0,425 10 0,723 0,842 (*)
100 0,301 15 0,806 0,853 (*)
500 0,133 20 0,931 (*) 0,895 (*)
(*) Fora dos limites da curva de calibração.
É importante comentar que também foram testados dois produtos comerciais. O primeiro
deles foi o detergente da marca Ypê (Química Amparo Ltda), cuja embalagem era muito
sucinta na descrição da composição química, não relatando a presença do nonilfenol. Mas
104
mesmo assim o produto foi testado. Nesse caso, o valor encontrado foi bastante baixo, da
ordem 10
µg/L.
Testou-se também o desinfetante Zupp (Zuppani Industrial Ltda.) que, de acordo com sua
composição química, continha nonilfenóis etoxilatos, que são sais solúveis de nonilfenol.
Embora o kit ELISA AP não seja muito reativo a esse tipo de substância (Tabela A.4),
esperava-se que algo fosse detectado, já que não haveria outros interferentes. Assim, foram
feitos alguns testes de detecção: com o produto puro; em amostras com o produto diluído;
em amostra com o produto diluído após ensaio de adsorção por 4horas com concentração
de 5mg/L de CAP COCO e com amostra contendo o produto diluído mais 4 gotas de ácido
clorídrico. No caso dessa última amostra, a adição do ácido a amostra tornou a mesma
visualmente mais clara, ou seja, o produto perdeu a coloração inicial.
Cabe mencionar que a tentativa em se colocar um pouco de ácido clorídrico em uma das
amostras teve como objetivo promover uma reação com as moléculas de nonilfenóis
etoxilatos. O nonilfenol na sua forma mais pura, como já mencionado, apresenta uma
estrutura complexa como um sabão que ao reagir com uma base forma sais como os
nonilfenóis etoxilatos. A idéia foi tentar induzir o processo inverso, produzindo a forma
nonilfenol para que pudesse ser detectado pelo kit, mas não se obteve sucesso. Talvez
porque com a reação reversa a substância precipite e não seja detectada.
Para todas as amostras o resultado de concentração do nonilfenol foi muito acima do
esperado, inclusive acima do limite máximo da curva de calibração, indicando, por
extrapolação, um valor da ordem de 1000
µg/L. Esse resultado se mostrou incoerente não
somente pelo valor propriamente dito, mas pelo fato da reatividade do kit alquifenóis (AP)
não ser muito alta para os compostos de nonilfenóis etoxilatos. Além disso, constatou-se
que a coloração obtida na reação produzida durante o procedimento de detecção era muito
clara, como se não tivesse ocorrido reação alguma. A partir desse ensaio, surgiram dúvidas
a respeito do funcionamento do kit e da validade dos reagentes.
Como nenhuma das tentativas anteriores apresentou bons resultados, optou-se por mais um
novo caminho. Comprou-se uma nova substância nonilfenol do fornecedor de produtos
químicos
Sigma-Aldrich Chemical, conhecida como “nonylphenol branches”, uma mistura
105
líquida que possui não só o 4-nonilfenol em sua composição, mas os sais solúveis
nonilfenóis etoxilatos, entre outras substâncias.
Com essa nova substância foram feitas tentativas semelhantes às anteriores.
Primeiramente, testou-se a mistura dessa nova substância em água deionizada. Por se tratar
de um líquido muito viscoso, essa substância não foi miscível em água e formou uma
espécie de bolha de óleo insolúvel. Resolveu-se por aquecer a solução em banho-maria, no
entanto, não foi observada nenhuma alteração na amostra. Dessa forma, optou-se em
misturar a substância em metanol e depois adicioná-la em água deionizada. A mistura em
metanol foi possível, mas a bolha de óleo voltou novamente a aparecer ao se adicionar
água à solução. Além disso, a solução apresentou um aspecto turvo com um certo
precipitado na superfície, semelhante ao que ocorria nas tentativas com a substância
nonilfenol na forma em pó.
Mesmo assim, foram feitas algumas diluições com essa solução turva. A solução turva
apresentava uma concentração de 500mg/L e a partir dela foi feita uma diluição de 1:100
(5mg/L) e dessa última, outras diluições foram feitas de 1:10 (500
µg/L), 1:20, 1:40, 1:50,
1:60, 1:80 e 1:100 (50
µg/L), com o objetivo de abranger grande parte do intervalo de
detecção do kit ELISA AP (Tabela 4.4). Esse ensaio foi repetido duas vezes e as leituras de
densidade ótica foram praticamente iguais para todas as diluições. Assim, aumentou-se a
suspeita de que havia algum problema com o kit ELISA, pois, desde o ensaio com o
desinfetante Zupp, a coloração dos poços durante o ensaio ELISA era muito clara, como se
nos poços não tivesse ocorrido reação.
Como nenhuma tentativa até o momento havia realmente funcionado, resolveu-se por
retomar a idéia de se utilizar os próprios padrões do kit ELISA AP como solução estoque.
Como a quantidade desses padrões era muito pequena, as amostras a serem utilizadas nos
experimentos também deveriam ter volumes menores do que 1,0 litro, que era o volume
proposto na metodologia inicial. Assim, o volume passou a ser de 10,00mL para cada
amostra a ser ensaiada.
Como o volume das amostras foi modificado, as massas de carvão a serem adicionadas
foram também reduzidas para que se mantivesse as dosagens dos CAPs de 3 a 20mg/L. No
entanto, constatou-se a impossibilidade, devido a precisão da balança analítica, de se pesar
106
diretamente as novas massas de carvão: 0,03mg a 0,20mg. Portanto, decidiu-se, ao
contrário da metodologia anterior, em preparar uma água de estudo contendo o carvão
ativado ao invés do perturbador endócrino que seria adicionado posteriormente. No
preparo da água de estudo seriam utilizadas as mesmas massas de CAPs que foram
adotadas na metodologia e, dessa forma, não haveria a necessidade de pesar quantidades
tão pequenas de carvão. Além disso, ao invés de se realizar cada experimento com um
único CAP e várias dosagens, optou-se por avaliar todos os CAPs sob mesma condição de
dosagem, iniciando-se pela dosagem de 3mg/L e, de acordo com os resultados obtidos,
estipulando o próximo valor de dosagem a ser estudado.
O ensaio iniciava-se com a pesagem da mesma massa para todos os carvões (0,0030mg),
sendo estes submetidos posteriormente à hidratação a vácuo e remoção de ar dos
interstícios como descrito na metodologia. Em seguida, essas massas eram colocadas em
um béquer com água deionizada para atingir um volume final de 1,0 litro. Cada béquer era
agitado em equipamento de teste de jarros para se obter uma suspensão homogênea dos
CAPs. De cada suspensão homogênea eram retiradas duas alíquotas de 10,00mL (que
seriam equivalentes aos resultados das duas baterias de experimentos da antiga
metodologia) e transferidas para tubos de ensaios dotados de tampa.
Nos tubos de ensaio contendo a suspensão de CAP na concentração desejada, eram então
adicionadas 100
µL do padrão de 5000µg/L de nonilfenol disponível no kit ELISA AP.
Com isso obtinha-se uma concentração aproximada de 50
µg/L nos tubos de ensaio
contendo a determinada concentração de CAP. Os tubos de ensaios, então, eram agitados
por 4 horas em um equipamento especial para homogeneização de sangue, modelo AP22
da Phoenix (Figura 5.1) e com o término do ensaio eram realizadas as detecções do
nonilfenol residual por detecção ELISA. É importante ressaltar que no experimento, além
dos tubos com as concentrações de CAPs, haviam dois tubos de ensaio sem carvão, apenas
com o 100
µL do padrão, que correspondiam às amostras de controle.
Os resultados obtidos com a concentração de 3mg/L forneceram valores muito elevados de
residual de nonilfenol, da ordem de 1000
µg/L (por extrapolação), onde se esperava valores
iguais ou superiores a 50
µg/L. Mais uma vez observou-se uma coloração clara semelhante
a das últimas tentativas. Tais resultados foram bastante incoerentes até porque já havia sido
107
feita uma tentativa anterior com amostras contendo o padrão de 5000
µg/L em que a
detecção foi bastante confiável. Além disso, a curva de calibração desse ensaio também
não apresentou dados coerentes, uma vez que todos os poços apresentavam coloração bem
clara, como se não houve ocorrido a reação.
Assim, considerando os fortes indícios de problemas com o kit ELISA, resolveu-se testar
os reagentes para avaliar se os mesmos estavam em boas condições. Nesse teste, misturou-
se, em um tubo tipo eppendorf, o conjugado com um pouco da solução de cor e constatou-
se que havia reação com produção de cor característica, ou seja, o conjugado e a solução de
cor pareciam estar em boas condições. No entanto, ao se colocar um pouco da substância
de lavagem, verificou-se que esta reagia com a solução, eliminando a coloração da reação.
Esse comportamento sugeria que o problema do kit poderia está associado ao
procedimento de lavagem. Ao mesmo tempo permanecia a dúvida, pois nas primeiras
vezes em que o kit foi utilizado haviam ocorrido reações visíveis e o procedimento de
lavagem, nesses casos, tinha sido o mesmo.
Cabe ressaltar que nos primeiros ensaios com o kit ELISA E2, utilizado para a detecção do
17
β-estradiol, houve alguns problemas no procedimento da lavagem. A lavagem se trata de
uma etapa crítica do ensaio, uma vez que qualquer resíduo deixado nos poços pode causar
interferências nos resultados. Na época dos ensaios com 17
β-estradiol, buscou-se
informações com os técnicos e pesquisadores do Laboratório de Farmacologia Molecular e
do Laboratório de Doenças de Chagas, ambos localizado na Faculdade de Saúde da UnB,
já que nesses laboratórios é rotineiro o trabalho com kits ELISA, sendo que, no caso do
Laboratório de Doenças de Chagas, existe a própria fabricação de reagentes e placas
sensibilizadas. Com as informações obtidas foi possível dirimir algumas dúvidas a respeito
do procedimento do ensaio ELISA que, normalmente, não estão descritas nos manuais.
Figura 5.1 – Homogeneizador de sangue
108
Como por exemplo, a respeito do procedimento de lavagem dos poços e manipulação e
conservação das placas que são extremamente sensíveis.
Para se verificar se o problema estava associado à solução de lavagem decidiu-se testar o
procedimento de lavagem. Assim, testou-se a detecção dos padrões 50 e 1000
µg/L do kit
ELISA AP, executando-se diferentes procedimentos de lavagem:
1.
Sem utilização da solução de lavagem, apenas retirando o excesso de líquido dos
poços da placa ELISA após a reação conjugado, padrão e anticorpo;
2.
Procedendo a lavagem dos poços com a solução fornecida pelo kit na diluição
proposta no mesmo;
3.
Procedendo a lavagem dos poços com a solução fornecida pelo kit usando uma
diluição maior;
4.
Procedendo a lavagem dos poços apenas com água deionizada.
Analisando os resultados, observou-se que apenas nos poços não lavados houve coloração.
Ou seja, nos poços em que foi realizado qualquer tipo de lavagem não houve coloração,
como vinha acontecendo desde os ensaios com o desinfetante Zupp. Provavelmente, a
coloração observada nos poços não lavados foi devida a algum resíduo solto do conjugado
e não ao conjugado preso aos anticorpos presentes na placa. Dessa forma, acredita-se que o
problema era na placa sensibilizada do kit e, portanto, nos anticorpos.
O problema com a placa de ELISA pode ter várias origens, desde problemas na fabricação
e transporte, até quedas de energia no próprio laboratório, já que os kits devem ser
mantidos sob baixa temperatura, 4°C.
É importante relatar que a temperatura é um fator que pode causar interferências
significantes, além de promover a degradação de placas e reagentes. Por exemplo, ao
realizar os experimentos em temperatura ambiente com o 17
β-estradiol, verificou-se que,
devido a oscilações da temperatura ambiente ao longo das semanas, houve alterações
significativas nos resultados de determinadas curvas de calibração. No caso dos ensaios
com 17
β-estradiol, quando se percebeu que essas oscilações poderiam causar mudanças
significativas, passou-se a controlar a temperatura, embora não as tenha relatado nesse
trabalho.
109
Optou-se em não relatar os dados de temperatura porque nos primeiros ensaios não houve a
iniciativa de fazer essas observações, embora tenha sido feita uma análise qualitativa
(sensibilidade térmica). Nos demais ensaios essas temperaturas foram realmente medidas,
mas os valores observados sempre ficaram no mesmo intervalo, pois os experimentos eram
executados no mesmo horário e dentro do intervalo de 18 a 25°C, sugerido pelo kit, não
aceitando desvio de temperatura, mesmo que levemente. Caso no dia a temperatura
estivesse fora dos limites, optava-se por não fazer o ensaio.
Em função do primeiro kit ELISA adquirido ter sido completamente utilizado para
realização de testes de solubilização do 4-nonilfenol e o segundo kit apresentar os
problemas de detecção descritos, não foi possível realizar os ensaios propostos para a
substância nonilfenol, comprometendo parte dos objetivos desse trabalho.
5.2 – AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs PARA
REMOÇÃO DO 17β-ESTRADIOL
Os experimentos para determinação da capacidade adsortiva dos CAPs, como mencionado
na metodologia, foram realizados em duplicata. Contudo, cabe acrescentar que um número
maior de repetições seria adequado para fornecer dados mais precisos.
A Tabela 5.2 apresenta as concentrações iniciais do 17
β-estradiol em cada um dos
experimentos realizados. Observa-se, a partir de uma análise comparativa que não houve
uma reprodução das concentrações iniciais entre os experimentos de cada carvão. Esse fato
pode ser justificado por problemas na homogeneização da solução base usada na
preparação da água de estudo. Além disso, vivenciaram-se dificuldades na detecção dos
valores presentes nas amostras, pois, em alguns casos, estes excederam ao limite de
detecção do kit E2. Apesar desses problemas, constatou-se que as concentrações iniciais
detectadas foram, na sua maioria, próximas do valor de 1
µg/L, proposto pela metodologia.
De um modo geral, apesar das concentrações iniciais de 17
β-estradiol (C
0
) variarem entre
os experimentos, observou-se que os residuais de 17
β-estradiol para todos os carvões
seguiram o comportamento esperado, pois o valor residual decresceu à medida que se
aumentava a dosagem de CAP, como pode ser constatado na Figura 5.2. É importante
110
ressaltar que na Figura 5.2 para o carvão COCO desconsiderou-se o experimento 2 devido
o valor detectado da concentração inicial ser muito abaixo do esperado (1
µg/L).
Observa-se também, na Figura 5.2, que as curvas de residuais assemelham-se a um
decaimento exponencial negativo com relação à dosagem de carvão. Ou seja, verifica-se
uma remoção considerável para as dosagens mais baixas e ganhos de remoções poucos
significativos para dosagens mais elevadas. De um modo geral, os CAPs apresentaram boa
remoção do 17
β-estradiol com dosagens inferiores a 10mg/L, sendo que para os carvões
MAD 1, de origem vegetal, e OSSO, de origem animal, ainda houve remoções
significativas para dosagens maiores. É importante ressaltar que maiores remoções para
dosagens inferiores a 10mg/L já foram constatadas nos estudos desenvolvidos por Yoon
et
Tabela 5.2 – Resumo das concentrações iniciais do 17
β
-estradiol.
Tipo de Carvão
COCO OSSO
MAD 1 MAD 2
Experimento
1 2 1 2 1 2 1 2
Co (µg/L)
0,98 0,50 0,72 (*) (*) 1,00 0,98 0,87
(*) Valores acima do limite de detecção.
0,0
0,3
0,5
0,8
1,0
0 5 10 15 20 25
Dosagem de CAP (mg/L)
Concentração Residual de
17
β
-estradiol (
µ
g/L)
COCO Exp 1
0,0
0,3
0,5
0,8
1,0
0 5 10 15 20 25
Dosagem de CAP (mg/L)
Concentração Residual de
17
β
-estradiol (
µ
g/L)
OSSO Exp 1
0,0
0,3
0,5
0,8
1,0
0 5 10 15 20 25
Dosagem de CAP (mg/L)
Concentração Residual de
17
β
-estradiol (mg/L)
MAD 1 Exp 2
0,0
0,3
0,5
0,8
1,0
0 5 10 15 20 25
Dosagem de CAP (mg/L)
Concentrão Residual de
17
β
-estradiol (
µ
g/L)
MAD 2 Exp 1
MAD 2 Exp 2
MAD 2 Média
Figura 5.2 – Residuais de 17β-estradiol com as dosagens de CAP
111
al. (2003), que avaliaram a remoção dos perturbadores 17β-estradiol, 17α-etinilestradiol e
bisfenol A (para uma solução com concentração inicial total de 100nM) em amostras de rio
e água deionizada com carvões de origem vegetal produzidos nos EUA.
Na Tabela B.1 (Apêndice B) são apresentados os dados utilizados para traçar os gráficos
da Figura 5.2. Como pode ser observado nessa Tabela, dados foram perdidos em função da
leitura de densidade óptica não permitir o uso da curva de calibração ou foram descartados
porque estes não seguiram a tendência dos demais resultados, o que comprometeu a
confiabilidade do experimento. Assim, para cada carvão, optou-se por trabalhar apenas
com o experimento mais confiável. Dessa forma, as equações apresentadas, bem como os
parâmetros e os valores da capacidade adsortiva máximas obtidos nesse trabalho, não
devem ser analisados em termos dos seus valores absolutos, mas sim em relação a sua
tendência relativa.
De acordo com a Figura 5.3, obtida com base nos dados fornecidos na Tabela B.3, tem-se
uma visualização da remoção verificada para cada carvão com o aumento das dosagens.
Observou-se que o maior percentual de remoção do 17
β-estradiol, 100%, foi atingido pelo
carvão OSSO na dosagem de 20mg/L, seguido do percentual de 87%, do carvão MAD 2
Exp. 1 (Tabela B.3), para esta mesma dosagem. Quanto aos outros dois carvões, estes
atingiram remoções inferiores a 80% do 17
β-estradiol originalmente presente em cada
experimento.
Na Figura 5.4 e 5.5 são apresentados os ajustes dos dados experimentais aos modelos de
isoterma de Freundlich e Langmuir, respectivamente. A Tabela B.2 apresenta os valores de
C
e
e q
e
utilizados para os ajustes aos modelos de isotermas e na Tabela 5.3 as equações das
curvas ajustadas e seus respectivos coeficientes de correlação.
Analisando os valores dos coeficientes de ajuste R
2
na Tabela 5.3, constata-se que os dados
obtidos de um modo geral apresentaram bons ajustes aos dois modelos, com valores de R
2
maiores que 0,70, exceto para o CAP COCO. É importante observar que os ajustes para o
CAP OSSO apresentaram retas com inclinação negativa, em desacordo com o previsto nos
modelos, apesar da excelente remoção apresentada por esse carvão (Figura 5.2) É possível
que esse fato tenha ocorrido devido a pouca quantidade de pontos utilizados nos ajustes. O
112
ajuste do CAP OSSO baseou-se apenas em três pontos porque, ao contrário dos outros
carvões, o valor da concentração residual correspondente à dosagem de 20mg/L de CAP
foi zero. Assim, não sendo possível de ser computado no gráfico, tendo em vista que o
logaritmo de zero e a divisão por zero não existem.
Outra inconsistência observada é que a aplicação do modelo de Langmuir à adsorção do
17
β-estradiol pelo carvão MAD 2 gerou valor de capacidade adsortiva máxima negativo, o
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
3 5 10 15 20
Dosagem de CAP (mg/L)
Percentagem de remoção de 17
β
estradiol (%)
COCO Exp 1 OSSO Exp 1 MAD 1 Exp 2 MAD 2 Média
Figura 5.3 – Remoção de 17
β-estradiol em diferentes dosagens para cada CAP.
Tabela 5.3 – Equações das isotermas de 17
β
-estradiol dos CAPs estudados para os
diferentes ajustes aos modelos de Freundlich.
Modelo de Freundlich
CAP Origem dos valores Equação R
2
COCO
Experimento 1
89,0log66,0log
=
ee
Cq
0,59
OSSO
Experimento 1
57,1log12,0log
=
ee
Cq
0,93
MAD 1
Experimento 2
05,1log68,0log
=
ee
Cq
0,85
MAD 2
Média (Ex. 1 e 2)
40,0log24,2log
+
=
ee
Cq
0,98
Modelo de Langmuir
CAP Origem dos valores Equação R
2
COCO
Experimento 1
35,4
1
82,3
1
+=
ee
Cq
0,60
OSSO
Experimento 1
19,34
1
13,0
1
+=
ee
Cq
0,82
MAD 1
Experimento 2
14,8
1
85,4
1
+=
ee
Cq
0,77
MAD 2
Média (Ex. 1 e 2)
59,14
1
07,6
1
=
ee
Cq
0,98
113
que não tem significado físico. Tal fato pode ser observado na Tabela B.4 e na Figura 5.6
(b). Já na Tabela B.6 são apresentados os valores do coeficiente
b do modelo de Langmuir,
que são apresentados apenas com o objetivo de complementar o estudo desse modelo.
De acordo com Snoeyink (1990) e Masschelein (1992), o modelo de Freundlich é o que
melhor representa o processo adsortivo. A partir dessa informação, observando-se a Figura
5.6, é possível concluir que o CAP MAD 2 foi o mais eficiente entre os carvões estudados,
seguido dos carvões COCO e MAD 1. É importante ressaltar que os valores da capacidade
adsortiva do COCO e MAD 1 foram próximos, o que pode ser também constatado na
semelhança gráfica destes nas Figuras 5.4 e 5.5.
Além da capacidade adsortiva máxima, devem ser avaliados os parâmetros
n e K do
modelo de Freundlich. Cabe lembrar que o valor de
n está relacionado à intensidade da
força de adsorção entre a superfície do carvão e o adsorvato, enquanto, o de
K está
relacionado à capacidade de adsorção. Na Figura 5.7 e na Tabela B.5 são apresentados os
resultados obtidos a partir dos ajustes realizados.
-2,0
-1,6
-1,2
-0,8
-0,4
-0,8 -0,5 -0,3 0,0
log Ce
log qe
COCO Exp 1
-2,0
-1,6
-1,2
-0,8
-0,4
-3,0 -2,0 -1,0 0,0
log Ce
log qe
OSSO Exp 1
-2,0
-1,6
-1,2
-0,8
-0,4
-0,8 -0,5 -0,3 0,0
log Ce
log qe
MAD 1 Exp 2
0
-2,0
-1,6
-1,2
-0,8
-0,4
-1,0 -0,8 -0,6 -0,4
log Ce
log qe
MAD 2dia
Figura 5.4 – Isotermas de adsorção do 17
β-estradiol para diferentes CAPs (ajuste ao
modelo de Freundlich).
114
0,0
10,0
20,0
30,0
0,00 2,00 4,00 6,00
1/C
e
1/q
e
COCO Exp 1
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
0,0 40,0 80,0 120,0
1/C
e
1/ q
e
OSSO Exp 1
0,0
10,0
20,0
30,0
0,0 2,0 4,0 6,0
1/C
e
1/q
e
MAD 1 Exp 2
0,0
10,0
20,0
30,0
2,0 4,0 6,0 8,0
1/Ce
1/qe
MAD 2 Média
Figura 5.5 – Isotermas de adsorção do 17
β-estradiol para diferentes CAPs (ajuste ao
modelo de Langmuir).
0,13
0,03
0,09
2,16
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
COCO OSSO MAD1 MAD2
q
e
máx
(
µ
g/mg)
0,23
0,03
-0,07
0,12
-0,3
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
COCO OSSO MAD1 MAD2
q
e
máx
(
µ
g/mg)
(a) Modelo de Freundlich (b) Modelo de Langmuir
Figura 5.6 – Valores das capacidades adsortivas máximas (q
e máx
), obtidas a partir do
ajuste aos modelos de Freundlich e Langmuir, considerando a concentração inicial de
1
µg/L de 17β-estradiol.
Na Figura 5.7, analisando os valores obtidos para o coeficiente
n é possível inferir sobre o
fenômeno de desorção do material aderido aos carvões, ou seja, o grau de reversibilidade
do processo de adsorção. Observa-se que o carvão COCO demonstra ter maior dificuldade
de desorção, por apresentar, de acordo com o modelo de Freundlich, o maior valor para o
parâmetro
n. Já para o carvão MAD 2, tem-se que este possui maior fragilidade nas suas
ligações adsortivas. Quanto ao carvão OSSO, nada pode ser concluído sobre as ligações
adsortivas uma vez que o parâmetro
n encontrado apresentou valor negativo, já que o CAP
OSSO não se adequou ao modelo de Freundlich. Constatou-se, também, que os carvões
115
COCO e MAD1 apresentaram valores dentro do intervalo de 1,43 <
n < 3,33, comum a
maioria dos carvões, segundo Masschelein (1992). Esses valores também são próximos ao
intervalo de 1,64 <
n < 3,0 obtido nos estudos de Fukuhara et al. (2006), com carvões
vegetais.
A avaliação do parâmetro
n é conveniente, pois a característica de maior irreversibilidade
de adsorção para um carvão ativado em pó é considerada uma vantagem, uma vez que para
este tipo de material não há interesse na regeneração apos a utilização. Além do que, o
carvão pode passar, dependendo do ponto de aplicação, por praticamente todas as etapas de
tratamento sem sofrer demasiadamente com efeitos externos ao processo adsortivo. Dessa
forma, embora o CAP MAD 2 tenha apresentado maior capacidade adsortiva máxima que
o carvão COCO, esse último é mais vantajoso quando se deseja minimizar os efeitos
externos.
É importante ressaltar com relação ao parâmetro
K que este apresentou resultados iguais
ou pouco superiores aos valores de capacidade adsortiva máxima. Em geral, os valores q
máx
obtidos por meio do ajuste ao modelo de Freundlich são superiores aos valores de
K
(Equação 3.5 e Figura 4.11). No entanto, nesse estudo, como os valores de C
o
(Tabela 5.2)
eram aproximadamente 1
µg/L (e, log K = log 1 = 0) obteve-se valores de K praticamente
iguais aos q
máx
.
Outro aspecto a ser avaliado, nessa discussão dos resultados, é a relação entre as
características dos CAPs (distribuição de tamanho de poros, número de iodo, etc) e os
valores obtidos para o parâmetro
K, sendo utilizado para isto a correlação de Pearson. Na
1,53
-8,12
0,45
1,47
-9,0
-7,0
-5,0
-3,0
-1,0
1,0
3,0
COCO OSSO MAD1 MAD2
n
0,13
0,03
0,09
2,52
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
COCO OSSO MAD1 MAD2
K
(a)
n
(b)
K (µg/mg).(L/µg)
1/n
Figura 5.7 – Parâmetros
K e n do modelo de Freundlich.
116
Tabela 5.4, que é um resumo da Tabela B.8, são apresentados os coeficientes de Pearson
obtidos, ou seja, a correlação encontrada para as diferentes variáveis combinadas. Os dados
referentes às características dos carvões são fornecidos no Apêndice A, Tabelas A.1 e A.2,
já os valores de
K são fornecidos na Tabela B.5, Apêndice B.
É importante ressaltar que as correlações deveriam ser realizadas entre as características
dos CAPs e os valores tanto de
K quanto de q
máx
. No entanto, como os parâmetros K e q
máx
foram praticamente os mesmos, buscou-se avaliar também a correlação entre a
concentração adsorvida por cada CAP na dosagem de 20 mg/L. Esse valor foi obtido por
meio da diferença entre a concentração de 17
β-estradiol inicial na amostra e o residual
encontrado nessa dosagem de CAP. Observando a Figura 5.2, percebe-se que para essa
dosagem de CAP, com exceção do MAD 1 que não apresenta um estabilidade bem
definida, os demais carvões parecem já ter atingido o máximo de remoção possível.
Dos valores dos coeficientes de Pearson da Tabela 5.4 observa-se que as correlações
positivas entre as características dos CAPs e os parâmetros
K apresentaram valores baixos,
inclusive com coeficientes próximos de zero, o que indica não correlação entre as
variáveis. Valores mais elevados do coeficiente de Pearson corresponderam aos volumes
de mesoporos e macroporos que, no entanto, apresentaram uma correlação negativa. Ou
seja, segundo esses valores, o aumento no volume de mesoporos e macroporos promove
uma diminuição da capacidade de adsorção dos carvões, o que não parece consistente.
Tabela 5.4 – Resumo das correlações obtidas entre as características dos CAPs e a
concentração adsorvida de 17
β-estradiol na dosagem de 20mg de CAP/L e o valor de K.
Características Gerais dos
CAPs
K
(µg/mg).(L/µg)
1/n
Valor máximo adsorvido de
17β-estradiol (µg/L)
Microporos Primário (cm
3
/g) 0,30 0,68
Microporos Secundário (cm
3
/g) 0,33 0,70
Microporos Totais (cm
3
/g) 0,31 0,69
Mesoporos (cm
3
/g) -0,88 -0,86
Macroporos (cm
3
/g) -0,59 -0,77
Volume total de poros (cm
3
/g) 0,03 0,45
Área BET (m
2
/g) 0,21 0,59
Número de iodo (mg/g) 0,12 0,51
117
Uma razão para que os coeficientes tenham apresentado valores baixos ou incorentes pode
ser o mau ajuste do CAP COCO ao modelo de Freundlich (Tabela 5.3), resultando em um
parâmetro
K impreciso que compromete o conjunto de dados que já é muito pequeno (n =
4).
Já com relação às correlações entre as características dos CAPs com os valores adsorvidos
de 17
β-estradiol na concentração de 20mg de CAP/L, estas apresentaram valores de
coeficiente de Pearson mais elevados. Novamente tanto o volume de mesoporos como de
macroporos apresentaram uma correlação negativa. Quanto aos microporos, a correlação
obtida foi mais significante já que os valores foram aproximadamente 0,70. Assim, é
possível inferir que há uma tendência de que quanto maior o volume de microporos tem-se
um aumento na concentração adsorvida de 17
β-estradiol.
A importância do volume de microporos na remoção do 17
β-estradiol encontra
fundamento no trabalho de Fukuhara
et al. (2006), que constataram que a adsorção do
17
β-estradiol, assim como da estrona, foi menor em carvões vegetais com grande diâmetro
de poros. Nesse estudo, Fukuhara e colaboradores também calcularam os valores de
K, que
para as amostras de água deionizada contendo 17
β-estradiol variaram no intervalo de 21,3
a 67,6, portanto, valores bem superiores aos relatados na Figura 5.7, obtidos nesse
trabalho. No entanto, os carvões estudados por Fukuhara
et al. (2006) apresentam número
de iodo variando entre 1010 e 1530mg/g e superfície BET entre 991 e 1831m
2
/g, ou seja,
indicando uma maior presença de microporos e, também maior superfície de adsorção,
quando comparados às características dos carvões apresentados na Tabela A.1. Dessa
forma, tais resultados reforçam ainda mais a maior tendência de adsorção do 17
β-estradiol
por parte dos microporos.
Além disso, é importante mencionar que o 17
β-estradiol apresenta um peso molecular de
272,4Da e, portanto, trata-se de uma molécula relativamente pequena, que conforme
Snoeyink (1990) tenderá a ser adsorvida de preferência por poros com estruturas e
dimensões semelhantes. Segundo Snape e Nakajima (1996), a osmose reversa é utilizada
para remoção de partículas com peso molecular menor que 350Da e, ao mesmo tempo, de
acordo com o esquema apresentado na Figura B.1, Apêndice B, a osmose reversa é capaz
de remover partículas com tamanho da ordem de 1nm. Logo, essa associação de idéias
118
sugere que o 17
β-estradiol tem um tamanho próximo de 1nm com tendência a ser
adsorvido em microporos, que conforme a Tabela 3.8, apresentam diâmetros médios
menores que 2nm.
Cabe também comentar que os coeficientes de Pearson obtidos para o número de iodo, área
BET e volume de microporos, quando relacionados com os valores adsorvidos de 17
β-
estradiol, apresentaram valores próximos. Isto provavelmente se deve ao fato do número de
iodo expressar indiretamente a microporosidade dos carvões e, de acordo com Snoeyink
(1990), devido à área BET aumentar com a quantidade de microporos.
Complementando as observações a cerca da relação da microporosidade com a adsorção do
17
β-estradiol, verificou-se que o carvão COCO, embora possua os maiores volumes de
micro e mesoporos dentre os carvões vegetais (Tabela A.2), não foi capaz de obter o
melhor percentual de remoção para a dosagem de 20mg/L (Tabela B.3), fato este que
parece incoerente diante do que foi observado a respeito da afinidade do 17
β-estradiol com
microporos. No entanto, deve-se lembrar que outros fatores podem ter influenciado na
adsorção como, por exemplo, a química na superfície do CAP.
A exceção a essa análise sobre a importância dos microporos na remoção do 17
β-estradiol
foi o carvão animal, OSSO, que apresentou 100% de remoção com uma distribuição de
poros baseada, principalmente, na presença de mesoporos. É importante ressaltar que esse
carvão apresenta um comportamento peculiar, e não parece se ajustar bem aos modelos de
adsorção mais usuais, Freundlich e Langmuir, como pode ser visto na Figura 5.4, 5.5. Silva
(2005) também relata que a adsorção de saxitoxinas pelo carvão OSSO não se ajustou aos
modelos de Freundlich e Langmuir. Como foram poucos os dados obtidos nesse trabalho
para que se possa afirmar algo sobre o comportamento desse carvão, o CAP OSSO torna-
se uma opção interessante para novos estudos, pois apresenta um comportamento
diferenciado em relação aos demais carvões.
Finalizando essa discursão dos resultados, deve-se ressaltar novamente, como já visto na
metodologia, que os ensaios de capacidade adsortiva foram realizados sob temperatura
controlada. Na Tabela B.7.1 são apresentados os valores registrados. Observou-se, em
geral, que a diferença entre as médias de temperatura da sala ou do líquido entre os
119
experimento de cada carvão foram inferiores a 2°C e que a maior parte das temperaturas
relatadas ficaram dentro do desvio padrão calculado. Portanto, pôde-se inferir que as
diferenças não foram significativas a ponto de promover alterações nos resultados das
isotermas.
Já na Tabela B.7.2, têm-se os valores de pH registrados no início e final dos mesmos
experimentos. A principal constatação, nesse caso, foi que as medidas de pH do final do
experimento foram em geral mais baixas que as medidas iniciais devido a interferências
causadas pela presença do CAP em solução. No entanto, observou-se que essa diferença,
como no caso da temperatura, não foi significativa a ponto de modificar os resultados
obtidos.
120
6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Neste capítulo as conclusões apresentadas serão relativas aos experimentos com 17β-
estradiol, visto que os experimentos com p-nonilfenol não foram bem sucedidos e o relato
sobre todo o ocorrido já foi abordado no capitulo referente à discussão dos resultados.
Assim, com base nas discussões a cerca dos experimentos com 17
β-estradiol, tem-se que
dentre os carvões ativados em pó estudados, aqueles que apresentaram maiores percentuais
de remoção do perturbador endócrino 17
β-estradiol na faixa de dosagem de 20mg de
CAP/L foram os carvões de origem animal OSSO (100%) e de origem vegetal MAD2
(86,7%). Quanto aos outros dois carvões, estes atingiram remoções inferiores a 80% do
17
β-estradiol originalmente presente em cada experimento.
Observou-se que todas as curvas de residuais assemelharam-se a um decaimento
exponencial negativo com relação à dosagem de carvão, ou seja, o valor residual decrescia
à medida que se aumentava a dosagem de CAP. Por meio dessas curvas também foi
possível verificar que, de um modo geral, boas remoções foram obtidas para as dosagens
inferiores a 10mg de CAP/L. Embora que para os carvões MAD 1, de origem vegetal, e
OSSO, de origem animal, ainda tenham ocorrido remoções significativas para dosagens
maiores.
Quanto aos modelos de Freundlich e Langmuir, verificou-se que o modelo de Freundlich
foi o que melhor se ajustou a todos os carvões, com exceção apenas ao carvão OSSO que
possui um comportamento contraditório, pois ao mesmo tempo que apresenta grande
capacidade de remoção do 17
β-estradiol não é capaz de se ajustar aos modelos. No
entanto, deve-se ressaltar que devido aos poucos dados experimentais obtidos, as análises
concluídas a partir dos parâmetros dos modelos apresentaram apenas um caráter relativo.
Dessa forma, inferiu-se, de acordo com o modelo de Freundlich, que o carvão MAD 2 foi o
mais eficiente entre os carvões estudados, seguido dos carvões COCO e MAD 1. No
entanto, o carvão MAD 2 apresentou o menor valor para a constante n (0,45), o que sugere
que esse carvão tem maior facilidade de desorção e, portanto, é mais sensível aos efeitos
externos. Característica que não é adequada para um carvão ativado em pó, pois não há
interesse em regenerá-lo após a utilização do mesmo.
121
Nesse trabalho também foram avaliadas as correlações entre as características dos CAPs
(distribuição de tamanho de poros, número de iodo, etc) com os valores obtidos de K e
com os valores adsorvidos de 17
β-estradiol na concentração de 20mg de CAP/L.
Verificou-se que as correlações entre os volumes de microporos e os valores adsorvidos de
17
β-estradiol foram as mais significativas e, portanto, as que devem ser ressaltadas.
Inclusive porque estas apresentaram coeficientes (aproximadamente 0,70) próximos aos
coeficientes das características de CAP diretamente relacionadas aos microporos como a
área BET (0,59) e o número de iodo (0,52). Outro ponto observado foi a associação de
idéias baseada no peso molecular do 17
β-estradiol e no tamanho médio de microporos,
abordada no capítulo 5, que reforçou a suposição da maior tendência de adsorção do 17
β-
estradiol por parte dos microporos.
Assim, com base no conjunto de resultados obtidos, concluiu-se que a adsorção pelos
CAPs estudados nesse trabalho foi capaz de remover frações significativas de 17
β-
estradiol em concentrações bem superiores às encontradas na natureza. Esse fato torna a
adição de CAP aos processos de tratamento convencional de água e polimento final de
esgoto uma possível estratégia a ser aplicada, pois é capaz de complementar a remoção já
existente. Entretanto, pesquisas devem ser realizadas com o objetivo de aprofundar esse
tipo de avaliação, contemplando principalmente o aspecto da presença de interferentes.
Pois, de acordo com relatos na literatura, essa presença pode reduzir significativamente a
capacidade de adsorção, principalmente no caso de carvões com valores de K baixos como
os obtidos nesse trabalho, entre 0,03 e 2,52 (
µg/mg).(L/µg)
1/n
.
É importante lembrar que trabalhos voltados para remoção de perturbadores endócrinos
ainda são pioneiros no Brasil. Portanto, essa pesquisa deve ser entendida como um estudo
preliminar que visa, ao mesmo tempo, apresentar dados sobre a capacidade de remoções de
carvões nacionais como contribuir, cientificamente, para projetos futuros, ao detalhar os
problemas enfrentados durante os ensaios, em particular com a substância p-nonilfenol.
Nesse sentido recomenda-se a realização de outros estudos enfatizando os seguintes
aspectos:
Avaliar outros tipos de carvão ativado em pó;
Prosseguir com os estudos mais detalhados sobre a adsorção no carvão OSSO;
122
Realizar novos ensaios, com os carvões apresentados nesse trabalho, aumentando o
número de dados com relação aos mesmos;
Avaliar a interferência de coagulantes e substâncias como o cloro e outros
oxidantes, na adsorção dos perturbadores endócrinos pelos CAPs;
Avaliar a presença de outros interferentes que podem competir com os
perturbadores endócrinos no processo de adsorção, utilizando amostras
provenientes de efluentes de ETE, corpos receptores e mananciais;
Analisar a redução da capacidade adsortiva devido à presença de bases; ácidos
húmicos e surfactantes que podem causar derivatizações ao interagir com os grupos
funcionais dos perturbadores endócrinos e, assim, aumentar a solubilidade destes;
Avaliar a remoção de outros tipos de perturbadores endócrinos como, por exemplo,
a estrona e o bisfenol-A, que também apresentam alto potencial de risco aos seres
vivos e elevado valor das concentrações presente em efluentes de ETEs e corpos de
água receptores;
Avaliar a remoção de mais de um perturbador endócrino sob influência de outros
perturbadores endócrinos (misturas);
Prosseguir as pesquisas com o nonilfenol, juntamente com uma avaliação sobre os
sais solúveis do mesmo (NPnEOs), já que esses últimos são mais facilmente
encontrados na natureza;
Realizar estudos epidemiológicos para avaliar o potencial de risco dos
perturbadores endócrinos à saúde e sugerir valores máximos permitidos para o
tratamento de água para abastecimento;
Avaliar a eficiência na remoção dos perturbadores endócrinos 17β-estradiol e p-
nonilfenol em outras técnicas menos onerosas, como: filtração lenta; filtração direta
e flotação
Monitorar ocorrência de perturbadores endócrinos em mananciais brasileiros.
123
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130
APÊNDICES
131
APÊNDICE A – CARACTERISTICAS DOS CAPs E DOS KITs ELISA
A.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS DIFERENTES CAPs
Tabela A.1 – Características gerais dos diferentes CAPs estudados (Silva, 2005 -
modificado).
CAP
Nº de iodo
(mg/g)
Índice de azul de
metileno (mg/g)
Tipo de
isoterma (*)
Histerese
Área BET
(m
2
/g)
COCO 748 124 I 739,7
OSSO 93 50 II 127,5
MAD-1 759 120 I 721,6
MAD-2 592 103 I
H3
631,0
(*) Classificação segundo as isotermas propostas por Brunauer et al. (1940) apud Teixeira
et al. (2001).
A.2 – VOLUME E DISTRIBUIÇÃO DO TAMANHO DOS POROS DOS CAPs
Tabela A.2 – Volume e distribuição do tamanho dos poros para os diferentes CAPs
estudados (Silva, 2005 - modificado).
Distribuição do tamanho dos poros cm
3
/g(%)
microporos
CAP
Volume de
poros
(cm
3
/g)
Prim. Sec. Total
mesoporos macroporos
COCO 0,95 0,47 0,21 0,68 (71,4%) 0,19 (20,0%) 0,08 (8,6%)
OSSO 0,40 0,05 0,02 0,06 (16,0%) 0,20 (50,0%) 0,14 (34,0%)
MAD-1 0,69 0,36 0,15 0,51 (73,3%) 0,15 (22,3%) 0,03 (4,4%)
MAD-2 0,68 0,39 0,18 0,57 (83,5%) 0,10 (14,0%) 0,02 (2,5%)
A.3 – GRANULOMETRIA DOS CAPs
Tabela A.3 – Granulometria dos carvões fornecida pelos fabricantes (Silva, 2005).
Granulometria – percentagem que passa (%)
Peneira
(abertura)
# 100
150µm
# 200
75µm
# 325
45µm
COCO NI NI NI
OSSO NI NI 88,00
MAD 1 99,42 99,04 95,80
MAD 2 99,90 99,48 96,71
NI: Não informado pelo fabricante
132
A.4 – INFORMAÇOES FORNECIDAS PELOS KITs ELISA
Tabela A.4 – Principais componentes que causam reações cruzadas.
Kit
ELISA
Composto
Reatividade
(%)
Composto
Reatividade
(%)
17
β-
estradiol
Estrona (E1)
2-metoxi-E1
E1-3-sulfato
17
β-estradiol (E2)
16-ceto-E2
2-metoxi-E2
17-E2-glucuronide
3-E2-glucuronide
E2-3-sulfato-17
Estriol (E3)
16-epi-E3
16-E3-glucuronide
1,3
<0,4
1,0
100,0
16,0
2,0
<0,4
16,0
<0,4
0,6
0,5
<0,4
Cis -Androsterona
Trans-Androsterona
Colesterol
Dehidroisoandrosterona
5
α-dihidrotestosterona
Hidrocortisona
Pregnenolona
Testosterona
<0,03
<0,03
0,46
<0,03
0,38
0,38
0,35
<0,03
nonilfenol
Nonilfenol (NP)
Octilfenol (OP)
Nonilfenol
Etoxilato
(NPnEO)
Octilfenol
Etoxilato
(OPnEO)
100
96
1,2 a 4,9
2,9
Nonifenol
Ácido Acético (NPnEC)
Surfactantes aniônicos
0,5 a 3,8
<0,1
133
APÊNDICE B – RESULTADOS OBTIDOS PARA DETERMINAÇÃO
DA CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs COM RELAÇÃO AO
17β-ESTRADIOL.
B.1 – VALORES RESIDUAIS DO 17β-ESTRADIOL NO EXPERIMENTO PARA
DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE ADSORTIVA DOS CAPs
Tabela B.1 – Valores residuais do 17β-estradiol em µg/L obtidos nos experimentos.
COCO
Dosagem de CAP (mg/L) Exp. 1 Exp. 2 (IV)
Média
(III)
Desvio
0 0,98 0,50(I)
3 0,89(I) 0,07(I)
5 0,55 0,50
10 0,25 0,37
15 0,28 0,29
20 0,20 0,25
- -
OSSO
Dosagem de CAP (mg/L) Exp. 1 Exp. 2 (IV) Média Desvio
0 0,72 0,00 (I)
3 0,64 0,02 (I)
5 0,29 (I) > 1,00 (II)
10 0,39 0,50
15 0,01 0,18
20 0,00 0,08
- -
MAD 1
Dosagem de CAP (mg/L) Exp. 1 (IV) Exp. 2 Média Desvio
0 > 1,0 (II) 1,00
3 0,62 0,77
5 0,70 0,63
10 0,62 0,48
15 > 1,00 (II) 0,40
20 > 1,00 (II) 0,24
- -
MAD 2
Dosagem de CAP (mg/L) Exp. 1 Exp. 2 Média Desvio
0 0,98 0,87 0,93 0,08
3 0,30 0,33 0,32 0,02
5 0,01 (I) 0,27 0,27 -
10 0,22 0,95 (I) 0,22 -
15 0,18 0,16 0,17 0,01
20 0,13 0,18 0,16 0,04
(I) Valores descartados por não apresentarem a tendência relativa dos demais resultados.
(II) Valores descartados por não apresentarem resultados dentro do intervalo de detecção do
ELISA.
(III) Média aritmética dos valores obtidos nos dois experimentos ou o valor mais coerente de
ambos.
(IV) Experimentos descartados por não apresentarem concentração inicial.
134
B.2 – CONCENTRAÇÃO RESIDUAL DE 17β-ESTRADIOL (C
e
) E MASSA DE 17β-
ESTRADIOL ADSORVIDA POR UNIDADE DE CARVÃO (q
e
)
Tabela B.2 – Valores de C
e
e q
e
utilizados para traçar os ajustes aos modelos de isotermas
Freundlich e Langmuir.
COCO
Experimento 1 Dosagem de CAP
(mg/L)
C
e
(µg/L) q
e
(µg/mg)
0 0,98
-
3 - -
5 0,55 0,09
10 0,25 0,07
15 0,28 0,05
20 0,20 0,04
OSSO
Experimento 1 Dosagem de CAP
(mg/L)
C
e
(µg/L) q
e
(µg/mg)
0 0,72 -
3 0,64 0,03
5 - -
10 0,39 0,03
15 0,01 0,05
20 0,00 0,04
MAD 1
Experimento 2 Dosagem de CAP
(mg/L)
C
e
(µg/L) q
e
(µg/mg)
0 1,00
-
3 0,77 0,08
5 0,63 0,07
10 0,48 0,05
15 0,40 0,04
20 0,24 0,04
MAD 2
Experimento 1 Experimento 2 Valores Médios
Dosagem
de CAP
(mg/L)
C
e
(µg/L)
q
e
(µg/mg)
C
e
(µg/L)
q
e
(µg/mg)
C
e
(
µg/L)
q
e
(µg/mg)
0 0,98 - 0,87 - 0,93 -
3 0,30 0,23 0,33 0,18 0,32 0,20
5 - - 0,27 0,12 0,27 0,13
10 0,22 0,08 - - 0,22 0,07
15 0,18 0,05 0,16 0,05 0,17 0,05
20 0,13 0,04 0,18 0,03 0,16 0,04
135
B.3 – PERCENTAGEM DE REMOÇÃO DE 17β-ESTRADIOL
Tabela B.3 – Percentagem de remoção de 17β-estradiol.
Dosagem de
CAP (mg/L)
COCO
Exp. 1
OSSO
Exp. 1
MAD 1
Exp. 2
MAD 2
Exp. 1
MAD 2
Exp. 2
MAD 2
Média
3 - 11 23 69 62 66
5 44 - 37 - 69 71
10 74 46 52 78 - 77
15 71 99 60 82 82 82
20 80 100 76 87 79 83
B.4 – MASSA DE 17β-ESTRADIOL MÁXIMA ADSORVIDA POR UNIDADE DE
CARVÃO (q
e
máx)
Tabela B.4 – Massa de 17β-estradiol máxima adsorvida por unidade de carvão (µg/mg).
Modelo de Freundlich Modelo de Langmuir
CAP
Exp. 1 Exp. 2 Média Exp. 1 Exp. 2 Média
COCO 0,13 - - 0,23 - -
OSSO 0,03 - - 0,03 - -
MAD 1 - 0,09 - - 0,12 -
MAD 2 1,97 1,30 2,16 -0,13 -0,08 -0,07
B.5 – VALORES DOS COEFICIENTES n E K DO MODELO DE FREUNDLICH
Tabela B.5 – Valores dos coeficientes n e K do modelo de Freundlich.
n K
CAP
Exp. 1 Exp. 2 Média Exp. 1 Exp. 2 Média
COCO 1,53 - - 0,13 - -
OSSO -8,12 - - 0,03 - -
MAD 1 - 1,47 - - 0,09 -
MAD 2 0,50 0,48 0,45 2,06 1,73 2,52
136
B.6 – VALOR DO COEFICIENTE b DO MODELO DE LANGMUIR
Tabela B.6 – Valor do coeficiente b do modelo de Langmuir
b
CAP
Experimento 1 Experimento 2 Média
COCO 1,14 - -
OSSO -260,99 - -
MAD 1 - 1,68 -
MAD 2 -1,84 -1,99 -2,40
B.7 – VALORES DE pH E TEMPERATURA REGISTRADOS DURANTE OS
EXPERIMENTOS
Tabela B.7.1 – Valores de temperatura registrados durante os experimentos (°C).
COCO OSSO MAD 1 MAD 2
Instante
Sala
(*)
Líquido
(**)
Sala Líquido Sala Líquido Sala Líquido
Experimento 1
Inicial 23,4 23,4 23,6 24,3 23,5 23,0 23,8 23,4
Com 2 horas 23,9 21,6 23,3 21,8 23,8 22,0 22,8 21,0
Final 23,6 21,0 23,3 21,0 23,6 21,0 22,6 20,0
Média 23,6 22,0 23,4 22,4 23,6 22,0 23,1 21,5
Desvio Padrão 0,3 1,2 0,2 1,7 0,2 1,0 0,6 1,7
Experimento 2
Inicial 23,6 21,0 23,1 20,8 23,1 21,0 23,0 19,8
Com 2 horas 23,3 20,8 23,5 20,5 22,9 20,3 22,5 19,0
Final 23,9 21,0 23,9 20,8 22,9 20,0 22,9 18,6
Média 23,6 20,9 23,5 20,7 23,0 20,4 22,8 19,1
Desvio Padrão 0,3 0,1 0,4 0,2 0,1 0,5 0,3 0,6
(*) Medida realizada com termômetro digital permanente no interior da sala climatizada.
(**) Medida da temperatura do líquido, água deionizada, realizada com termômetro de bulbo de
mercúrio colocado dentro de um recipiente ao lado do equipamento de jar test, ao longo de todo
o experimento.
137
Tabela B.7.2 – Valores de pH registrados durante os experimentos.
COCO
Experimento 1 Experimento 2
Dosagem de
CAP (mg/L)
pH inicial
pH
final
pH inicial
pH
final
0 5,4 5,5
3 5,1 5,2
5 4,9 5,0
10 4,8 4,8
15 4,9 4,5
20
5,6
5,4
5,6
4,3
OSSO
0 5,3 5,6
3 5,4 5,4
5 5,5 5,5
10 5,4 5,5
15 5,6 5,6
20
5,5
6,1
5,8
5,6
MAD 1
0 5,5 5,4
3 5,1 5,1
5 4,7 4,9
10 4,4 5,4
15 4,3 6,0
20
5,6
4,2
5,4
6,4
MAD 2
0 5,3 5,5
3 5,2 5,1
5 5,1 4,9
10 4,9 4,8
15 5,0 4,7
20
6,0
5,3
4,5 (*)
4,8
(*) Medida com provável erro experimental de leitura.
138
B.8 – DIMENSÕES DOS PRINCIPAIS COMPONENTES MICROSCÓPICOS E
MOLECULARES PRESENTES EM ÁGUAS NATURAIS E TIPOS DE
MEMBRANAS UTILIZAVEIS PARA A SUA SEPARAÇÃO.
a
D: Dalton: medida de peso molecular e um D corresponde ao peso de um átomo de
hidrogênio.
b
µm; 1 x 10
-6
m
c
RO: osmose reversa; NF: nanofiltração; UF: ultrafiltração e MF: microfiltração.
Figura B.1 – Dimensões dos principais componentes microscópicos e moleculares
presentes em águas naturais e tipos de membranas utilizáveis para a sua separação
(Schneider e Tsutiya, 2001).
139
B.9 – CORRELAÇÕES OBTIDAS ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DOS CAPs E A CONCENTRAÇÃO ADSORVIDA DE 17β-
ESTRADIOL E O VALOR DE K
Tabela B.8 - Correlações obtidas entre as características dos CAPs e a concentração adsorvida de 17
β-estradiol na dosagem de 20mg de
CAP/L e o valor de K.
Microporos
Carvões
Primário Secundário Total
Mesoporos Macroporos
Volume de
poros
(cm
3
/g)
Área BET
(m
2
/g)
Número de
iodo (mg/g)
COCO
0,47 0,21 0,68 0,19 0,08 0,95 739,7 748
OSSO
0,05 0,02 0,07 0,20 0,14 0,40 127,5 93
MAD1
0,36 0,15 0,51 0,15 0,03 0,69 721,6 759
MAD2
0,39 0,18 0,57 0,10 0,02 0,68 631,0 592
Concentração 17β-
estradiol
Adsorvido (*)
Correlação entre características dos CAP e a concentração adsorvida de 17β-estradiol
0,78
0,72
0,76
0,85
0,68 0,70 0,69 -0,86 -0,77 0,45 0,59 0,51
K
Correlação entre características dos CAP e o valor de K
0,13
0,03
0,09
2,52
0,30 0,33 0,31 -0,88 -0,59 0,03 0,21 0,12
(*) Valor obtido por meio da diferença entre a concentração de 17β-estradiol inicial na amostra e o residual encontrado na dosagem de 20mg de CAP/L.
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