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mudança de hábitos, medidas essas para evitar complicações em decorrência do
estado de imunossupressão que ocorrerá logo após o regime de condicionamento,
com as medicações quimioterápicas em altas doses. Então o uso do cigarro não é
autorizado, o cuidado com a higiene, principalmente da boca, dos genitais e das
mãos, o banho diário, a alimentação cozida, vestuário da unidade, uso de objetos
trazidos por familiares restritos e tantas outras medidas, além da utilização de
cateteres, controles, exames constantes, o estar preso ao suporte de soro, a fios de
monitores e tantas outras situações que geram a sensação de estar num mundo a
parte, que o contato com as demais pessoas é o corredor da unidade.
Eu sabia que me desesperar não era a solução. Então, não era bom
ficar trancada lá, mas sabia que era para o meu bem. (Eufrosina)
[...] no TMO é meio torturoso, mas passou (risos). É que a gente vê
as pessoas passarem lá fora e a gente não pode fazer nada, a gente
só fica lá trancado. (Arquemaco).
[...] quando eu soube que eu tinha que ficar lá, que conheci o lugar,
que eu vi que era fechado. Eu não dei muita bola, eu achei que não
era tudo aquilo, do que eles falavam sabe. Depois que eu fiquei lá eu
comecei a ficar agoniada, porque eu não gosto muito de ficar só num
lugar sabe, até aqui em casa, eu na mesma hora que estou no
quarto, estou já estou lá fora. Eu gosto muito da liberdade e ali a
você não tem. É uma liberdade, mas é uma liberdade restrita, assim
tipo uma parede, que você não pode sair dali, um limite que não dá.
Então, eu me senti assim, às vezes, eu me sentia muito sufocada, eu
dizia pra mãe, nossa tem horas que dava vontade de sair correndo.
Sufocada pelo ambiente. Lá é muito fechado, tu não pega um ar, tu
não pega nada assim, sei lá, pelo menos acho que, as janelas elas
deviam ter aquele vidrinho assim liso, sem a persiana dentro, tu olha
lá pra fora, e tu não tem contato com ninguém, só fica com a galera
dalí, e é meio estranho, que você está no movimento e de uma hora
pra outra tu fica lá, é estranho assim, pelo menos pra mim eu achei,
meio sufocado no começo, depois eu acostumei, porque eu sabia
que tinha que ficar lá. (Tália).
Ao mesmo tempo, o confinamento tornava-se assustador, a vontade de
vencer a doença mobilizava forças para permanecer e não desistir do procedimento.
As rotinas pré-establecidas muitas vezes tirando a autonomia de decisão da
pessoa, permanecer com cateter, fazer uso da medicação, a higiene, e tantas
outras, que a pessoa tinha que se adaptar. A princípio uma imagem simbólica
negativa, mas com o passar do tempo a compreensão do porque dessas medidas,
as pessoas se sentiam cuidadas e sendo alvo da preocupação e do cuidado da