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EPIDEMIOLOGIA DA SIGATOKA AMARELA,
QUANTIFICAÇÃO DE FENÓIS EM VARIEDADES DE
BANANEIRAS E ANÁLISE FILOGENÉTICA DE
ISOLADOS DE Mycosphaerella musicola UTILIZANDO
MICROSSATÉLITES
HERMINIO SOUZA ROCHA
2008
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HERMINIO SOUZA ROCHA
EPIDEMIOLOGIA DA SIGATOKA AMARELA, QUANTIFICAÇÃO DE
FENÓIS EM VARIEDADES DE BANANEIRAS E ANÁLISE
FILOGENÉTICA DE ISOLADOS DE Mycosphaerella musicola
UTILIZANDO MICROSSATÉLITES
Tese apresentada à Universidade Federal de
Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Agronomia, área de concentração
Fitopatologia, para a obtenção do título de
“Doutor”.
Orientador
Prof. Dr. Edson Ampélio Pozza
LAVRAS
MINAS GERAIS BRASIL
2008
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Ficha Cartográfica Preparada Pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Rocha, Herminio Souza.
Epidemiologia da sigatoka amarela, quantificação de fenóis em
variedades de bananeiras e análise filogenética de isolados de
Mycosphaerella musicola utilizando microssatélites ./ Herminio Souza
Rocha. – Lavras: UFLA, 2008.
125 p.: il.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Lavras, 2008.
Orientador: Edson Ampélio Pozza
Bibliografia.
1. Bananeira. 2. Iniciadores. 3. Monociclo. 4. Doença. 5. Parâmetros
Monocíclicos. 6. Hifas. I. Universidade Federal de Lavras. II. Titulo.
CDD- 634.7729443
HERMINIO SOUZA ROCHA
EPIDEMIOLOGIA DA SIGATOKA AMARELA, QUANTIFICAÇÃO DE
FENÓIS EM VARIEDADES DE BANANEIRAS E ANÁLISE
FILOGENÉTICA DE ISOLADOS DE Mycosphaerella musicola
UTILIZANDO MICROSSATÉLITES
Tese apresentada à Universidade Federal de
Lavras, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Agronomia, área de concentração
Fitopatologia, para obtenção do título de
Doutor”.
APROVADA em 17 de dezembro de 2008
Dr. Zilton José Maciel Cordeiro Embrapa/CNPMF
Profa. Dra. Antônia dos Reis Figueira UFLA
Prof. Dr. Eduardo Alves UFLA
Prof. Dr. Paulo Estevão de Souza UFLA
Prof. Dr. Moacir Pasqual UFLA
Prof. Dr. Edson Ampélio Pozza
UFLA
(Orientador)
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
Aos meus pais, Herminio e Neyde, que sempre me apoiaram
e me encorajaram a seguir em frente e lutar pelo sucesso.
A minha esposa, Jane, pelo amor, incentivo e companheirismo e
aos meus queridos filhos, Fernanda e Pedro, que são
os amores de minha vida,
DEDICO
Aos meus queridos Paulo, Diva, Gustavo e Alípio,
Ao Sr. Arnaldo Roldão Filho e sua esposa, Sra. Georgina
A minha querida irmã Virgínia,
Aos amigos,
OFEREÇO
BIOGRAFIA
Herminio Souza Rocha, filho de Herminio Maia Rocha e Neyde Maria
de Souza Rocha, nasceu em 7 de abril de 1967, na cidade de Itabuna, BA.
Graduou-se em Engenharia Agronômica, pela Escola Superior de
Agricultura de Lavras (ESAL), no ano de 1994.
Trabalhou na empresa CAMPO-CPA, durante o período de 1994-2005.
Em 1997, cursou, durante seis meses, a especialização em biotecnologia,
com ênfase na micropropagação de espécies lenhosas, no National Institute of
Agrobiological Resources – NIAR, em Tsukuba, Japão.
Durante o período de 2003 a 2005, cursou o mestrado em
Agronomia/Fitotecnia, na Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Lavras,
MG.
Em fevereiro de 2005, ingressou no Doutorado em
Agronomia/Fitopatologia, na UFLA.
Atualmente é Gerente de Produção da empresa SBW do Brasil
Agrifloricultura Ltda., em Holambra, SP.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todo auxílio, pela constante presença e incentivo em todos
os momentos difíceis.
À Nossa Senhora, pela ajuda e por acompanhar de meus passos.
Ao meu São Judas Tadeu, que sempre me atendeu em minhas preces e
sempre me auxiliou nos momentos de dificuldade.
Ao meu orientador e grande amigo, Prof. Dr. Edson Ampélio Pozza,
pela valiosa contribuição e segurança que sempre me transmitiu nos momentos e
incertezas.
Ao meu grande amigo e mestre Dr. Zilton José Maciel Cordeiro, a quem
eu sempre admirei, pelo grande conhecimento, ensinamentos, sinceridade, ética
e acessibilidade em todos os momentos.
À Profa. Dra. Annia dos Reis Figueira, pela inestimável colaboração,
empenho e dedicação para que este trabalho pudesse ser concretizado
Ao amigo de todas as horas, Cleilson Uchoa, pela incondicional
amizade, auxílio em todas as avaliações e companheiro de estudos.
Ao Carlos Rezende, por todo auxílio, empenho e dedicação nas
avaliações e experimentos sob condições controladas.
À Valquíria Camargos, por toda dedicação e enorme esforço no auxílio
aos trabalhos com marcadores de microssatélite.
Ao amigo Ângelo Barbosa Sussel, pelas sugestões e atenção e
disposição em me auxiliar em todas as avaliações e interpretações de resultados.
Aos grandes amigos, Sr. Arnaldo Roldão Filho e Sra. Georgina, pela
exemplar acolhida em sua propriedade durante todas as avaliações, tendo
possibilitado a realização deste trabalho em Coronel Pacheco, MG.
Ao Dr. Gilberto, pela atenção em nos auxiliar na montagem e na
programação da estação climatológica computadorizada.
Aos amigos Ruth, Eliane, Vladimir, Bruno e Douglas, por terem estado
sempre à disposição para auxiliar no que fosse preciso.
À Silvia, Ellen, Daniel, Pedro, Alex, Frederico e todos os demais
colegas do Departamento.
Ao amigo Paulo Octávio, pelos incentivos e auxílio sempre.
Ao Prof. Dr. Eduardo Alves e a Heloisa, pelos ensinamentos e
oportunidade de utilizar as instalações do Lab. de Microscopia Eletrônica do
DFP/UFLA.
Ao Prof. Dr. Paulo Estevão de Souza, por toda a colaboração e
ensinamentos.
Ao Prof. Dr. Mário Lúcio, pela atenção, ensinamentos e total
disponibilidade para auxiliar nos trabalhos bioquímicos e nas inoculações sob
ambiente protegido.
Ao Prof. Dr. Ricardo Magela, pelo incentivo de sempre e valiosos
ensinamentos.
Ao Prof. Dr. Moacir Pasqual, pela oportunidade de poder trabalhar no
Laboratório de Cultura de Tecidos, sob sua coordenação, pelo exemplo de
profissionalismo e pela constante simplicidade e espírito de equipe.
À Cida, por tamanho auxílio nas análises estatísticas, confecção de
projetos e por todas as palavras de incentivo, sempre.
Aos caríssimos amigos Claret e Vantuil, funcionários do Laboratório de
Cultura de Tecidos, pela assistência, amizade e presteza.
Ao amigo Dr. Miguel Angel Dita Rodrigues, pela atenção,
companheirismo e por todas as palavras de incentivo.
Ao grande amigo Dr. Sebastião de Oliveira e Silva, que sempre me
incentivou e me proporcionou os maiores progressos profissionais na minha
carreira.
Ao Dr. Lair, pelo apoio, incentivo e valiosas sugestões.
À Universidade Federal de Lavras, pelo suporte técnico e pela
oportunidade de realizar este trabalho.
À Clínica Fitopatológica do DFP/UFLA, pela disponibilidade de todos
os recursos para a realização deste trabalho.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(Fapemig), pela concessão de bolsa de estudos durante o curso.
À maravilhosa cidade de Lavras, pela calorosa acolhida e pela excelente
qualidade de vida que proporcionou a mim e aos meus familiares.
Aos meus queridos Paulo, Diva, Gustavo e Alípio, pela incondicional
amizade, amor, companheirismo, incentivo e, principalmente, pelos belos
exemplos de vida e simplicidade que sempre serão. Serei eternamente grato por
tudo o que fizeram por nós.
Ao meu grande amigo Jônio Marques, que sempre me incentivou e me
apoiou nos momentos de incertezas.
Ao meu compadre e irmão Rodrigo Santana, pela incondicional amizade
e apoio em todos os momentos de minha vida.
Aos meus pais, que sempre me apoiaram em minha vida acadêmica e
acreditaram na realizão deste trabalho. À minha irmã Virgínia, pelas palavras
de incentivo, sempre.
A minha esposa e meus filhos do coração, pela companhia, compreensão
e motivação em todos os instantes.
A todos que, direta ou indiretamente, me ajudaram na realização deste
trabalho.
MUITO OBRIGADO POR TUDO!
SUMÁRIO
RESUMO...............................................................................................................i
ABSTRACT.........................................................................................................iii
CAPÍTULO 1........................................................................................................1
REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................1
1 INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................2
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................5
2.1 Histórico da Sigatoka amarela da bananeira.....................................................5
2.2 Biologia e Sintomatologia..................................................................................6
2.3 Epidemiologia... ..................................................................................................8
2.4 Parâmetros monocíclicos..................................................................................10
2.5 Produção de conídios e ascósporos e sua relação com fatores climáticos.....12
2.6 Variabilidade genética em Mycosphaerella musicola.. ..................................14
2.7 Dinâmica da infecção........................................................................................17
2.8 Dispersão dos esros de Mycosphaerella musicola pelo vento.. .................19
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................23
CAPÍTULO 2......................................................................................................30
ANÁLISE DA DINÂMICA TEMPORAL DA SIGATOKA AMARELA E
AEROBIOLOGIA DE ESPOROS......................................................................30
1 RESUMO.........................................................................................................31
2 ABSTRACT................................................................................ ....................32
3 INTRODUÇÃO...............................................................................................32
4 MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................35
4.1 Variáveis utilizadas na avaliação do progresso da doença.............................36
4.2 Registro das variáveis ambientais....................................................................39
4.3 Monitoramento da concentração de esporos da Sigatoka amarela na área
experimental ............................................................................................................40
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................42
5.1 Associação dos picos de severidade às concentrações de esporos e variáveis
climáticas. ................................................................................................................42
5.2 Tempo de Desenvolvimento da Enfermidade (TDE). ....................................49
5.3 Correlação entre as variáveis climáticas e os índices de infecção .................52
5.4 Curvas de Progresso da doença........................................................................54
5.5 Monitoramento da concentração de conídios e ascósporos de
Mycospaherella musicola .......................................................................................59
6. CONCLUSÕES...............................................................................................66
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................67
CAPÍTULO 3......................................................................................................69
AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MONOCÍCLICOS DA SIGATOKA
AMARELA, LIGNINA E FENOIS TOTAIS, EM MUDAS DE
BANANEIRA......................................................................................................69
1 RESUMO..........................................................................................................70
2 ABSTRACT.....................................................................................................71
3 INTRODUÇÃO................................................................................................72
4 MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................75
4.1 Isolamento de patógenos............................................................................... 75
4.2 Indução de esporulação.................................................................................76
4.3 Teste de patogenicidade....................................................................................76
4.4 Inoculações em plantas mantidas em câmaras úmidas...................................77
4.5 Variáveis respostas avaliadas ...........................................................................78
4.5.1 Área abaixo da curva de progresso da severidade da doença (AACPSD).
..................................................................................................................................78
4.5.2 Área abaixo da curva de progresso do número de lesões (AACPNL). ......79
4.5.3 Período de incubação (PI). ...........................................................................81
4.5.4 Período de latência (PL). ..............................................................................81
4.5.5 Período de desenvolvimento da doença (PDD)...........................................81
4.5.6 Preparo de extratos foliares para avaliação de lignina solúvel e fenóis
solúveis totais. .........................................................................................................82
4.5.7 Determinação de lignina solúvel ..................................................................82
4.5.8 Determinação de fenóis solúveis totais ........................................................83
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................84
5.1- Área abaixo da curva de progresso da severidade da doença (AACPSD)...84
5.2- Área abaixo da curva de progresso do número de lesões (AACPNL).........87
5-3 Período de incubação (PI). ...............................................................................89
5.4 Período de Latência (PL)..................................................................................91
5.5 Período de Desenvolvimento da Doença (PDD).............................................93
5.6 Dinâmica da concentração de Fenóis totais e Lignina....................................94
6 CONCLUSÕES................................................................................................99
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................100
CAPÍTULO 4....................................................................................................103
ANÁLISE FILOGENÉTICA POR MARCADORES MICROSSATÉLITES DE
ISOLADOS DE Mycosphaerella musicola ORIGIRIOS DAS DIVERSAS
REGIÕES PRODUTORAS DE BANANA NO BRASIL................................103
1 RESUMO........................................................................................................104
2 ABSTRACT...................................................................................................105
3. INTRODUÇÃO............................................................................................105
4. MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................109
4.1.Coleta de isolados ...........................................................................................109
4.2. Extração de DNA...........................................................................................111
4.3 Iniciadores (Primers) de Microssatélite.........................................................112
4.4 Análise dos dados............................................................................................112
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................114
6. CONCLUSÕES.............................................................................................122
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................123
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................125
i
RESUMO
ROCHA, Hermínio Souza. Epidemiologia da sigatoka amarela, quantificação
de fenóis em variedades de bananeiras e análise filogenética de isolados de
Mycosphaerella musicola utilizando microssatélites. 2008. 124 p. Tese
(Doutorado em Fitopatologia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras.
Sendo Mycosphaerella musicola, agente causal da Sigatoka amarela, um fungo
de reprodução sexuada e de natureza heterotálica, e considerando a diversidade
climática nas regiões produtoras de banana no Brasil, é de se esperar ampla
variabilidade genética dos isolados brasileiros, com virulências e agressividades
distintas. Para melhor caracterização da sigatoka amarela (Mycosphaerella
musicola) no Brasil, é necessário que alguns aspectos sejam elucidados,
principalmente aqueles relacionados à análise epidemiológica e da variabilidade
genética dos isolados brasileiros. Assim, procederam-se estudos de análise
temporal e da epidemia da sigatoka amarela em bananal localizado em Coronel
Pacheco, MG, com a variedade Saquarema (AAA). Foram avaliadas as
correlações das variáveis climáticas com as variações no progresso da doença e
com as flutuações de esporos da doença no ar. Foram identificados dois picos de
máxima severidade da doença ao longo do ano, tendo o primeiro ocorrido
durante a estação chuvosa e associado, principalmente, à elevada concentração
de conídios no ar. O segundo ocorreu no auge da estação seca do ano, sendo
provocado, principalmente, pela alta concentração de ascósporos. O melhor
ajuste do modelo da curva de progresso da doença foi verificado para o modelo
monomolecular. As variáveis climáticas mais associadas ao progresso da doença
foram pluviosidade, umidade relativa e o molhamento foliar. Na estação
chuvosa, o progresso da doença acompanha o desenvolvimento vegetativo do
hospedeiro, sendo verificados os menores períodos para o desenvolvimento de
novas lesões. Na estação seca, as lesões intensificam a severidade da doença em
função do menor desenvolvimento vegetativo do hospedeiro. Para melhor
caracterização do isolado de Coronel Pacheco, MG, procederam-se avaliões
de parâmetros monocíclicos da sigatoka amarela e a dinâmica das concentrações
de lignina e feis totais em mudas de bananeira (Pacovan, Grande Naine,
Caipira e Prata Zulu) inoculadas artificialmente em ambiente controlado. Os
menores períodos de incubação e de desenvolvimento da doença foram obtidos
na temperatura de 24
o
C, não tendo se comportado diferentemente dos relatos na
literatura. Para as variedades de bananeira testadas, os níveis constitutivos de
fenóis totais não se alteram como resposta à infecção por Mycosphaerella
musicola. Caipira e Prata Zulu apresentam maior lignificação da parede celular
após cinco dias da inoculação, o que denota ser este um dos mecanismos
bioquímicos envolvidos na resistência. A análise filogenética foi realizada com
ii
um conjunto de dez diferentes marcadores microssatélites em onze isolados de
Mycosphaerella musicola originários das diversas regiões produtoras de banana
no Brasil. Dois grandes grupos foram formados no dendrograma, sendo um
composto, principalmente, pelos isolados das regiões Sul, Sudeste e Centro-
Oeste, no qual se situou o isolado de Coronel Pacheco, MG e o outro composto
principalmente pelos isolados da região Nordeste do Brasil. Observou-se o
potencial do par de primers Mm SSR 34 para a diferenciação entre a sigatoka
amarela e sigatoka negra, os quais poderiam vir a se tornar marcadores
moleculares para utilização em laudos fitossanitários
1
.
1
Comitê Orientador: Edson Ampélio Pozza – UFLA (Orientador), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Orientador).
iii
ABSTRACT
ROCHA, Herminio Souza. Epidemiology of yellow Sigatoka, phenols
quantification in banana varieties and phylogenetic analysis of
Mycosphaerella musicola isolates using microsatellites. 2008. 124 p. Thesis
(Doctor Degree in Plant Pathology) Lavras Federal University, Lavras.
Due to the hetherothalic nature and sexual reproduction of the fungus
Mycosphaerella musicola, the causal agent of yellow Sigatoka, and considering
the climatic diversity of the Brazilian banana producing regions, a wide genetic
variability is expected among the Brazilian isolates with distinct virulence and
aggressiveness. For a better characterization of yellow Sigatoka
(Mycosphaerella musicola) in Brazil, it is necessary that some aspects may be
elucidated, mainly those related to the epidemiological analysis and to the
genetic variability of the Brazilian isolates. Hence, studies concerning the
temporal analysis and epidemiology of yellow Sigatoka were performed in a
banana plantation localized in Coronel Pacheco- in the State of Minas Gerais,
with the Saquarema (AAA) variety, having been evaluated the correlations
between climatic variables with the alterations in the disease progress and also
with the fluctuations of the fungus spores in the air. Two peaks of maximum
severity of the disease were identified along the year, with the first occurring
during the rainy season, and mainly associated to the high conidia concentration
in the air, and the second having occurred in the middle of the draught season,
being mainly produced by the high ascospore concentration. The best adjustment
of the disease progress curve was verified for the monomolecular model. The
climatic variables mostly associated to the disease progress were rain, relative
humidity and leaf wetness. During the rainy season the disease progress
followed the host vegetative development, having been observed the shortest
lesion development periods for the new lesions. During the draught season, the
lesions intensified the disease severity due to a lower vegetative development of
the host. For a better characterization of the Coronel Pacheco MG isolate,
evaluations concerning the monocycle of yellow-Sigatoka were carried out, as
well as the dynamics of lignin and the concentration of total phenolics in banana
plantlets (Pacovan, Grande Naine, Caipira and Prata Zulu) artificially inoculated
under controlled environment. The shortest incubation periods and disease
development periods were obtained under 24
o
C, with no distinct behavior than
the ones already related in literature. For the banana varieties tested, the
constitutive total phenolic levels were not altered as a response to the infection
by Mycosphaerella musicola. Caipira e Prata Zulu presented the highest
lignification of the cell wall after five days of inoculation, which denotes this
biochemical mechanism, as being involved in resistance. The phylogenetic
analysis was done with a group of 10 different microssatelite markers in 11
iv
Mycosphaerella musicola isolates from a diversity of Brazilian banana
producing regions along Brazil. Two major groups were generated in the
dendrogram, with one being composed mostly by isolates from the South,
South-East and Centre-West Regions, in which was localized the isolate from
Coronel Pacheco MG and the other mainly composed by the isolates from the
North-East region of Brazil. One specific pair of primers Mm SSR 34
demonstrated high potential to differentiate both black and yellow Sigatokas,
which may become powerful molecular marker to be used in phytossanitary
official reports.
2
*
2
Guidance Committee: Edson Ampélio Pozza – UFLA (Supervisor), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Supervisor).
1
CAPÍTULO 1
REFERENCIAL TEÓRICO
2
1 INTRODUÇÃO GERAL
A bananicultura é uma atividade agrícola de elevada importância
socioeconômica, servindo como fonte de alimento básico para as populações
pobres em diversos países. Mas, a banana é também consumida diariamente por
todas as camadas sociais da população brasileira.
A banana ocupa o segundo lugar em volume de frutas produzidas no
Brasil, que é o segundo maior produtor do mundo, com produção de 6,7 miles
de toneladas, numa área cultivada de aproximadamente 527 mil ha, sendo
superado apenas pela Índia (Food and Agriculture Organization of the United
Nations, 2008).
Por causa da natureza devastadora da sigatoka negra, trabalhos mais
recentes têm focado principalmente Mycosphaerella fijiensis. Apesar do seu
proeminente papel, Mycosphaerella musicola ainda é o grande patógeno em
altitudes maiores e também em áreas nas quais cultivares suscetíveis à sigatoka
amarela vêm sendo cultivadas. No Brasil, apesar da ocorrência da sigatoka negra
ter sido verificada desde 1998, observa-se que a sua disseminação para novas
áreas não vem ocorrendo de forma contínua, como era de se esperar. Muito
provavelmente, isso de deve às condições climáticas desfavoráveis ao progresso
desta doença, que é a mais danosa para a bananicultura em todo o mundo. Em
contrapartida, a sigatoka amarela, que é endêmica em todas as regiões
produtoras, continua a causar danos que chegam a comprometer, em média, 50%
da produção, constituindo-se em um dos principais problemas fitossanitários em
locais onde se observam variáveis climáticas diferentes daquelas regiões
afetadas pela sigatoka negra.
Os primeiros relatos oficiais da sigatoka negra no Brasil datam de 1998,
na fronteira do estado do Amazonas com a Colômbia. Daí em diante, diversos
outros relatos foram registrados nos estados das regiões Norte, Centro-Oeste,
3
Sudeste e Sul. Em 2004, Minas Gerais teve o primeiro registro da sigatoka
negra, nas regiões sul e Zona da Mata, incluindo o município de Coronel
Pacheco. Entretanto, depois de realizadas inúmeras coletas, isolamentos e
análises por PCR para identificação da espécie, não se comprovou a presença da
doença nos bananais de Coronel Pacheco, mas somente a sigatoka amarela,
apresentando uma agressividade similar à que se observa para a sigatoka negra.
Inúmeros relatos na literatura apontam uma relação direta entre a
formação, a distribuição e a germinação, tanto de conídios quanto de ascósporos,
com a ocorrência de períodos de elevada umidade relativa, seja esta variável
associada a períodos chuvosos e ou à ocorrência de fortes orvalhos, resultando
em eventos epidêmicos de sigatoka amarela.
A outra variável climática tão importante quanto a umidade relativa para
a promoção de epidemias da sigatoka amarela é a temperatura. Via de regra, a
doença alcança o seu pico de máxima atividade durante os períodos de
ocorrências de temperaturas baixas e máxima umidade relativa (Wardlaw,
1961).
Neste contexto, a avaliação do progresso da sigatoka amarela,
correlacionada com as variáveis climáticas e acompanhada por estudos de
variabilidade genética de diferentes isolados, constitui importante linha de
pesquisa, visto que a característica heterotálica de Mycosphaerella musicola
promove a variabilidade natural do patógeno, conferindo ao mesmo maior
adaptabilidade às condições ambientais adversas.
Dessa forma, este trabalho, desenvolvido em uma lavoura localizada no
município de Coronel Pacheco, MG, com elevadas taxas de severidade da
doença e também sob condições controladas em câmaras de crescimento e em
laboratório, teve como objetivos avaliar:
- o progresso da doença ao longo do ano, correlacionado com as
variáveis climáticas, de forma a se testar o ajuste de modelos empíricos;
4
- a variação na concentração de esporos de Mycosphaerella musicola ao
longo do ano;
- a determinação de parâmetros monocíclicos em plantas artificialmente
inoculadas com o isolado de Mycosphaerella musicola de Coronel Pacheco, MG
e
- a variabilidade genética em diferentes isolados de Mycosphaerella
musicola do Brasil, por meio de marcadores de microssatélite.
5
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Histórico da sigatoka amarela da bananeira
A sigatoka amarela, também denominada mal-de-sigatoka e doença da
mancha das folhas em bananeiras, causada por Mycosphaerella musicola Leach
(Stat. Conid. Cercospora musae Zimm.), foi observada, pela primeira vez,
próximo a Biotenzorg, em Java, por Zimmermann, em 1902. O relato seguinte
da ocorrência da doença veio do distrito de Sigatoka, na ilha de Viti Levu, em
Fiji, no ano de 1912 (Philpott & Knowles, 1913). Foi naquele distrito que se
observou, pela primeira vez, a doença na sua forma de epidemia, resultando no
nome popular doença-de-sigatoka ou, simplesmente, sigatoka, tendo persistido
até então (Knowles, 1916). Subsequentemente, a doença foi identificada na Ásia,
na África, nas Américas Central e do Sul e no Caribe, tendo rapidamente se
tornado uma das mais importantes doenças para a cultura da bananeira
(Meredith, 1970).
A primeira descrição suscinta do fungo associado com a sigatoka foi
feita por Zimmermann (1902), como uma nova espécie de C. musae Zimm.
Durante quase quarenta anos após a sua descoberta, o fungo foi conhecido na
sua forma imperfeita ou assexuada (conidial). Somente na década de 1930 Leach
(1941), trabalhando na Jamaica, descobriu a forma perfeita (Teleomorfo) de C.
musae, um fungo da classe dos Ascomicetes, para o qual a denominação de
Mycosphaerella musicola foi atribuída.
O desenvolvimento da epidemia em Fiji foi atribuído ao cultivo
continuado de variedades suscetíveis, às condições de cultivo e a variáveis
ambientais favoráveis ao patógeno. Precisamente não se sabe como ou quando a
sigatoka foi introduzida na região do Caribe ou se a sua disseminação ocorreu a
partir de um ou vários focos de infecção. Porém, durante o período de dois a três
anos desde a primeira ocorrência em Trinidad, havia aparecido com
6
intensidades epidêmicas em muitas das ilhas e áreas territoriais das Américas
Central e Sul, tendo assumido importância ecomica de primeira classe, devido
aos efeitos destrutivos verificados em plátanos (Wardlaw, 1961; 1939).
Stover (1972) relata que a ocorrência no Caribe e na América Central se
observou em 1933, tendo sido constatada no México, Guiana e restante da
América Central, em 1937. No Equador, foi relatada durante a década de 1950.
O primeiro registro na África ocorreu em 1938, em Uganda, e a doença não foi
percebida em sua distribuição generalizada até a década de 1950 (Simmonds,
1966).
No Brasil, a sigatoka amarela foi constatada, pela primeira vez, no
estado do Amazonas, em 1944 (Kimati & Galli, 1980), estendendo-se,
posteriormente, por todos os estados brasileiros. M. musicola encontra-se
disseminado em todas as regiões produtoras de banana do Brasil e do mundo,
provocando consideráveis prejuízos na produção de frutos (Fourè, 1994).
A mudança de posição quanto ao grau de importância, entre a sigatoka
amarela e a sigatoka negra está em curso, mas, no caso brasileiro, na prática, isso
ainda não ocorreu. A sigatoka amarela continua sendo de grande importância nas
regiões de bananicultura mais competitivas, como é o caso do Nordeste, Sudeste
e Sul. Entre os estados da região Sudeste, a exceção é São Paulo, onde a sigatoka
negra prevalece sobre a amarela, ocorrendo aumento no número de
aplicações de defensivos. Mas, nos demais estados onde a doença foi constatada,
o avanço tem sido relativamente lento (Cordeiro, 2007).
2.2 Biologia e sintomatologia
O mal-de-sigatoka é causado por Mycosphaerella musicola, Leach, que
é a forma perfeita ou sexuada do fungo, enquanto Pseudocercospora musae
(Zimm.) Deighton corresponde à forma imperfeita ou assexuada. Três tipos de
frutificações o produzidos nas manchas foliares ou manchas de sigatoka em
7
bananeiras: esporodóquios, espermogônio e pericios (Stover, 1964). O
processo sexuado no gênero Mycosphaerella envolve a formação de
espermogônios, que produzem gametas masculinos, as espermácias e o órgão
sexual feminino, uma hifa espiralada, que é formada no interior de jovens
ascocarpos, denominadas de tricogines (Wardlaw, 1961).
Simmonds (1933) observou que espermogônios eram encontrados mais
frequentemente por volta do final do ano em folhas manchadas e secas, ainda
aderidas aos pseudocaules. Em escala macroscópica, os espermogônios, de
alguma forma, assemelham-se às pontuações negras formadas pelas frutificações
conidiais, porém, com um formato mais bem delimitado de pontuação. Estas
estruturas podem ser formadas em ambas as superfícies foliares, porém, com
maior predominância na abaxial. Sob microscópio de luz, os espermogônios o
pequenas frutificações negras em formato de frascos, imersas, que surgem no
interior de uma base estromática de velhas frutificações conidiais ou
independentemente. As espermácias, que são formadas em longas cadeias, o
bastante minúsculas, oblongas e hialinas, com formato semelhante ao de
bactérias e podem ser visualizadas sendo expelidas a partir de um ostíolo ou
poro no ápice dos espermogônios (Simmonds, 1933). Estão envolvidos,
portanto, dois tipos de esporos no aparecimento da doença: o esporo sexuado,
que é o ascósporo e o assexuado, que é o conídio (Cordeiro, 1997).
Conídios o produzidos mais ou menos continuamente em climas
úmidos, sendo transmitidos pela lavagem da superfície foliar provocada pelas
chuvas ou orvalho, explicando assim as infecções severas algumas vezes
observadas nos perfilhos situados sob as plantas mais adultas e infectadas. Os
ascósporos, porém, produzidos nas mesmas lesões em que foram liberados os
conídios anteriormente, surgem mais tardiamente, sendo ejetados forçadamente
a partir dos peritécios por ocasião de climas úmidos ou, mesmo, em climas
secos, porém, com ocorrências de orvalhos pesados (Simmonds, 1966).
8
No que se refere aos sinais do patógeno, Brun, citado por Stover (1972),
classificou o desenvolvimento das lesões em cinco estágios: I - pintas
amareladas com menos de 1mm de comprimento aparecem na superfície foliar;
II - as pintas evoluem para estrias de coloração amarelada, medindo,
aproximadamente, 3-4mm por 1mm de largura; III - as estrias se tornam mais
largas e compridas, com margens não bem definidas que se misturam com a
coloração normal das folhas e, ao final, se tornam marrom-claras e IV - manchas
com contorno bem definido, centro marrom e halo amarelado ao redor da lesão;
neste estádio inicia-se a produção de esporodóquios e pode haver conídios
presentes nas lesões; V - as manchas completamente desenvolvidas apresentam
o centro com coloração cinza e bordas escuras a preta. Em alguns casos, existe a
formação de halo clorótico entre a lesão e o tecido normal da folha.
As lesões do mal-de-sigatoka apresentam-se em formatos distintos, de
acordo com a idade da planta hospedeira infectada. McGahan & Fulton (1965)
observaram que, em folhas de plantas jovens, as lesões possuem formato elíptico
e são maiores e mais largas do que nas plantas adultas, onde as lesões têm
formato linear.
Apesar dos severos danos ao limbo foliar, Leach (1946) afirma que a
doença não afeta o desenvolvimento vegetativo em absoluto. Entretanto,
Simmonds (1966) reporta a redução no tamanho dos cachos e dos frutos,
presumivelmente pela redução da área fotossinteticamente ativa.
2.3 Epidemiologia
Experimentos em epidemiologia avaliam primordialmente o monociclo
pela caracterização de seus componentes. Dentre os componentes de maior
importância podem-se citar o período de incubação e o período de latência, ou
seja, o período de tempo compreendido entre a inoculação e o aparecimento dos
9
sintomas e o período de tempo compreendido entre a inoculação e a produção de
esporos, respectivamente (Parlevliet, 1979).
De acordo com Gäumann (1951), as condições necessárias para que uma
epidemia possa ocorrer são: acúmulo de indivíduos suscetíveis e presença de
hospedeiros alternativos; um patógeno com elevada capacidade infectiva,
capacidade de multiplicação e dispersão de seus propágulos, sem restrições para
seu desenvolvimento e condições meteorológicas ótimas para o desenvolvimento
do patógeno.
Kranz (1974) afirma que epidemiologia é o estudo de populações de
patógenos em populações de hospedeiros resultando em doença, sob influência
do ambiente e interferência humana. Epidemia, neste caso, é utilizada como
sinônimo de progresso da doença, que pode, mas não necessariamente corrobora
com a clássica definição de epidemia, ou seja, o acréscimo e o decréscimo de
doença dentro de um limitado período (Gäumann, 1951).
Epidemiologia correlaciona populações de patógenos com as das plantas
hospedeiras, ocorrendo simultaneamente em um ambiente em desenvolvimento,
ou seja, o clássico triângulo de doença. Como resultado, a epidemiologia
também trata da genética de populações, da resistência dos hospedeiros e do
potencial evolucionário da população de patógenos de produzir raças mais
virulentas às variedades de hospedeiros e resistentes a pesticidas. Epidemiologia
deve, entretanto, levar em consideração outros fatores bióticos e abióticos, tais
como um ambiente fortemente influenciado pela atividade humana, que está
diretamente relacionada ao manejo de doenças (Agrios, 2004).
Por razões nem sempre compreendidas, em diferentes países, o tempo
necessário para que uma nova infecção pela sigatoka amarela alcançasse
intensidades epidêmicas variou consideravelmente. No Caribe, por exemplo,
este processo foi bem pido. Por outro lado, em Camarões, a doença
permaneceu sob observação por muitos anos, antes que as pulverizações se
10
tornassem necessárias. Porém, após o início desta prática de manejo, a doença
persistiu, até atingir o estágio de epidemia (Wardlaw, 1961).
No Equador, Tollenaar (1955) relata que, no prazo de dois anos, a
doença tornou-se tão intensa, em uma plantação, que a produção comercial o
pode mais ser preservada. A disseminação da doença para novas localidades, ao
longo de estradas, por exemplo, ocorre aparentemente pela dispersão de
ascósporos, ao passo que a sua intensificação dentro de uma localidade deve-se,
predominantemente, à intensa produção de conídios. Novas infecções são
mínimas ou, amesmo, não ocorrem durante as estações secas, proporcionando
um aspecto de sanidade ao final desses períodos, com folhas novas
desenvolvendo-se completamente livres de lesões. Entretanto, sempre existem as
folhas velhas já necrosadas que se apresentam altamente afetadas pelas lesões, as
quais produzem ascósporos em abundância logo no início da estação chuvosa.
Este período é notadamente marcado pela intensificação da doença dentro das
áreas infectadas e também por novas infecções de plantios mais recentes,
situados a alguma distância das áreas mais velhas.
2.4 Parâmetros monocíclicos
O tempo entre a infecção e o surgimento dos sintomas varia de acordo
com as condições ambientais e a suscetibilidade da planta (Meredith &
Lawrence, 1969). Em banana, estima-se que o tempo para que ocorra a infecção
das folhas seja coincidente com a emergência de novas folhas a partir do ápice
do pseudocaule (Stover, 1980). Em condições ideais na Costa Rica, num
hospedeiro suscetível, o período de incubação pode ser de apenas 13–14 dias,
enquanto sob condições de clima desfavorável, o período de incubação pode
estender-se por até 35 dias (Marin et al., 2003).
Marin et al. (2003) definem período latente como o tempo necessário
para que o fungo inicie a produção de lesões com pseudotécios maduros e
11
ascósporos, principais fontes de inóculo em Mycosphaerella fijiensis. O período
de latência também varia com as condições climáticas, suscetibilidade do
hospedeiro e com a intensidade da infecção.
Por exemplo, o tempo entre a emissão de uma nova folha até o
aparecimento do sintoma de lesão madura sob as mesmas condições naturais,
para a cultivar Curraré, banana para cozinhar do subgrupo plátanos, foi de 44
dias, enquanto que para a cultivar Valery, do subgrupo Cavendish (Gauhl,
1994), foi de 34 dias.
Vicente (1983) observou que a concentração de inóculo (conídios e
ascósporos) exerce influência sobre o período de incubação do mal-de-sigatoka.
Altas concentrações de suspensão de conídios de M. musicola reduziram em até
50% o período de incubação da doença, quando comparado com as
concentrações de inóculo mais baixas. Observações semelhantes foram feitas por
Stover (1972).
Variedades de bananeiras suscetíveis a M. musicola e M. fijiensis
apresentam menor período de incubação e maior número de manchas e
esporulação nas folhas do que outras variedades resistentes. Com o aumento do
nível de resistência, aumenta também o tempo de transição entre os estádios de
evolução da doença. Em algumas variedades resistentes, a evolução dos
sintomas é interrompida nos primeiros estádios (Stover, 1972; Meredith, 1970;
Fouré, 1985; Fouré et al., 1990).
As variáveis normalmente utilizadas para a avaliação da susceptibilidade
de variedades de bananeira a M. fijiensis são período de incubação, evolução dos
sintomas, intensidade da esporulação sexuada e assexuada, germinação de
esporos e eficiência de penetração (Fouré et al., 1990; Mourichon et al., 1987).
12
2.5 Produção de conídios e ascósporos e sua relação com fatores climáticos
A influência do clima e outros fatores sobre a produção dessas
frutificações foi estudada, com detalhes, pela primeira vez, na Jamaica, por
Leach (1946). Ele verificou que espermatogônias eram mais abundantes na face
abaxial das folhas e em lesões apresentando peritécios. Peritécios foram
observados em abundância em áreas altamente infestadas, nas lesões que não
apresentavam uma margem bem definida. A produção de ascósporos era
sazonal, declinando acentuadamente durante épocas do ano em que se verificava
clima frio e seco.
Na República dos Camarões, Price (1960) observou que os danos por
sigatoka foram maiores no início e no final das estações chuvosas e ele atribuiu
o femeno ao aumento na produção de ascósporos, em função da alternância
entre períodos de molhamento intenso e de seca, nos tecidos foliares infectados.
Em Honduras, Fulton (1962), utilizando armadilhas de captura de
esporos, encontrou poucos ascósporos durante os meses secos (março-abril). A
principal descarga de ascósporos ocorreu entre os meses de junho e agosto e
junho e outubro, em dois anos consecutivos, sendo dependente da ocorrência de
chuvas. Os períodos em que ocorreram os picos de descarga de ascósporos
foram entre 6 horas (PM) e 3 horas (AM).
Stahel (1937) observou que conídios nunca são formados sobre os
esporodóquios, em condições de alta umidade relativa por si só, mas somente se
houver um filme de água livre, resultante de uma fina e constante chuva ou pela
deposição de orvalho. Calpouzus (1955) observou que as esporulações
ocorriam sob umidade relativa por volta de 98% ou mais e também se houvesse
a presença de orvalho. Os conídios são primariamente formados na superfície
adaxial de folhas não pulverizadas e só ocorrem durante a noite (Wardlaw,
1961). Calpouzus (1955) afirma que a disseminação dos conídios somente
13
ocorre pela ação da chuva ou pelo orvalho e que o vento não é efetivo na
remão de esporos de C. musae da superfície de uma mancha na folha.
Nas pontuações primárias, de coloração marrom, ocorre a formação
abundante de conídios em pequenos acérvulos (conidióforos) na face abaxial das
folhas. Entretanto, esses acérvulos (conidióforos) permanecem pequenos e,
subsequentemente, desaparecem com o colapso do tecido. Posteriormente, os
acérvulos (conidióforos) são encontrados em maior número e em tamanho
maior, em lesões mais velhas com os centros de coloração cinza, na superfície
adaxial. Sob condições adequadas de umidade, estas lees podem produzir
conídios continuadamente, durante 30 dias. Observações ao microscópio
permitem verificar que esses acérvulos (conidióforos) são distribuídos em linhas
como pequenas pontuações negras, paralelas às nervuras secundárias. Os
acérvulos (conidióforos) são formados nas câmaras subestomáticas e consistem
de compactos conidióforos que crescem através dos poros para a superfície. Sob
um filme de água, eles formam os conídios alongados, que são prontamente
liberados. O melhor horário para a coleta de conídios a partir das lees foliares
é bem cedo, pela manhã, quando as folhas ainda estão cobertas por um filme
d’água (Wardlaw, 1961).
Os ascósporos são formados no interior dos ascos, os quais encontram-
se contidos nos peritécios imersos no tecido foliar. Leach (1941) afirma que a
produção de ascósporos por lesão foliar é consideravelmente inferior à de
conídios. Por outro lado, as descargas de ascósporos podem ocorrer sob
condições de alta umidade relativa, sem a necessidade de um filme d’água sobre
a lesão. Ascósporos podem, assim, sofrer dispersão a partir das folhas baixeiras
que não sofreram a ação do orvalho, enquanto os conídios não serão formados
nestas. Ascósporos são corpos de frutificação dispersos pelo vento, enquanto a
dispersão dos conídios é condicionada a presença d’água. Em uma plantação em
que ocorra uma alta proporção de folhas necrosadas, os ascósporos podem
14
alcançar as folhas vela em quantidades tão grandes quanto a de conídios.
Ascósporos tendem a ser produzidos abundantemente com a proximidade do
final da estação chuvosa e as folhas que apresentam necrose e são submetidas às
alternâncias entre períodos de molhamento e seca podem produzir até 17
descargas de ascósporos (Leach 1941, 1946).
2.6 Variabilidade genética em Mycosphaerella musicola
O conhecimento da estrutura genética e da evolução, nas populações de
patógenos, caracteriza-se como um importante auxílio no manejo e no
melhoramento genético para resistência às doenças de plantas. O principal
objetivo nesses estudos é o fornecimento de informações sobre o grau e a
distribuição da variabilidade. Patógenos de plantas podem evoluir para quebrar a
resistência total ou para erodir a resistência parcial. A evolução das populações
de patógenos depende de mutações, recombinações, alterações nas freqncias
alélicas, do fluxo gênico e da pressão de seleção exercida pelo hospedeiro. Outro
objetivo no estudo das populações de patógenos é avaliar a importância relativa
de fatores de evolução sobre a variabilidade do patógeno. Tais informações
podem permitir a modelagem e o teste dos efeitos de diferentes estratégias de
manejo sobre a evolução dos patógenos (Carlier, 2003).
As informações sobre a diversidade genética e a estrutura populacional
de um dado patógeno são pré-requisitos para a definição de medidas de controle
mais adequadas. Entretanto, poucos esforços têm sido dedicados aos estudos da
genética da população de M. musicola. Tentativas de transferir marcadores
moleculares de M. fijiensis para M. musicola não foram bem sucedidas (Molina
et al., 2001). Carlier et al. (1994) observaram fracos sinais após a hibridização
de sondas de RFLP originárias de uma biblioteca genômica de M. fijiensis, com
o DNA de M. musicola e nenhum dos onze pares de primers de microssatélite
desenvolvidos por Neu et al. (1999) foram transferíveis para M. musicola.
15
Carlier et al. (1994) reportaram a caracterização e a clonagem de 26 marcadores
de microssatélite específicos para M. musicola.
Moreira et al. (2003) realizaram a caracterização genética de 24 isolados
de Mycosphaerella musicola de diferentes regiões geográficas no Brasil, pela
técnica de RAPD, tendo sido observada grande variabilidade genética entre os
isolados, a qual teria sido atribuída ao grande mero de variedades suscetíveis,
à condição climática, à ocorrência de reprodão sexuada e também à natureza
heterotálica do fungo. Observa-se, ainda, o fato de a sigatoka amarela estar
presente no Brasil desde 1944. De acordo com Carlier et al. (2003), a natureza
heterotálica, tanto de M. fijiensis quanto de M. musicola, promove as trocas de
material genético, desempenhando importante papel na geração da variabilidade
genética dentro das populações dos fungos.
Em estudo avaliando a diversidade genética global entre populações de
Mycosphaerella musicola, origirias da Indonésia, África, América Latina,
Caribe e Austrália, Hayden et al. (2003) afirmam que a estrutura genética de
populações de M. musicola é desconhecida e verificaram maior variabilidade
genética dos isolados provenientes da Indonésia, quando comparados às demais
localidades, tendo sido verificada também maior proximidade entre os isolados
da África, América Latina e Caribe. Se as populações de M. musicola na África
e América do Sul foram fundadas a partir de indivíduos da Austrália, como foi
hipotetizado por Stover, então, se esperaria que essas populações apresentassem
maior número de alelos em comum. Efeitos fundadores
*
podem ser observados
nas populações como responsáveis por um menor número de alelos por loci,
frequência de alelos modificada e reduzida diversidade dos genes, quando
comparados à população original (Milgroom et al., 1992). De acordo com Nei et
al. (1975), o grau de redução da diversidade genética de uma população fundada
*
Efeito fundador refere-se à perda de variabilidade genética quando uma nova colônia é
estabelecida por um pequeno número de indivíduos a partir de uma população maior.
16
é dependente do mero de indivíduos fundadores e da subsequente taxa de
crescimento da população.
Marcadores moleculares se tornaram importantes ferramentas para as
investigações sobre a composição genética de populações de fungos (Groppe &
Boller, 1997; Bucheli et al., 2001). Marcadores de RFLP foram desenvolvidos
para o genoma de M. fijiensis e foram utilizados para caracterizar as populações
deste patógeno em escala global e regional (Carlier et al., 1994, 1996; Muller et
al., 1997). Mais recentemente, marcadores de SSR foram estabelecidos para M.
fijiensis (Neu et al., 1999) e para M. musicola (Molina et al., 2001), os quais,
juntamente com todos de perfis de DNA baseados em PCR, constituem um
novo todo para comparar a diversidade genética, tanto de M. fijiensis quanto
de M. musicola (Molina et al., 2002).
Considerando-se que existem algumas regiões do genoma que
apresentam mais polimorfismo do que sequências de cópia única, marcadores
moleculares para essas regiões foram desenvolvidas. Um marcador potencial
com qualquer sequência de DNA é capaz de detectar polimorfismo e, em geral,
quanto mais polimórfico, mais informações ele contém, tornando mais fácil
detectar diferenças entre indivíduos. DNA não codificante é, sob este ponto de
vista, mais interessante do que DNA codificante, pois acumula mais mutações e
não está sujeito à pressa seletiva. DNA não codificante é representado
principalmente por DNA repetitivo, denominado microssatélite, minisatélite ou
DNA satélite, dependendo do comprimento da sequência (Testolin et al., 1996).
Microssatélites, também denominados de repetições de sequência única
(SSR), possuem sequências curtas com 2 a 5 pares de bases, enquanto os
minissatélites são repetições em tandem mais longas (STR), contendo,
aproximadamente, 20 pares de bases. Habitualmente, esses dois tipos de
marcadores são denominados de VNTRs (repetições em tandem em número
variável) (Dowling et al., 1996). As regiões flanqueadoras de loci de
17
microssatéllites são normalmente idênticas, de forma que primers podem ser
facilmente desenvolvidos para amplificações por PCR para seleção por
polimorfismo, em géis de agarose ou acrylamida, dependendo dos diferentes
tamanhos dos alelos. Os loci de microssatélites são ideais para análises da
biologia e genética de populações, pois apresentam alelos codominantes e o
amplificados por iniciadores específicos, o que os torna robustos, de fácil
registro e prontamente disponíveis entre grupos de pesquisadores.
Adicionalmente, eles tendem a ser mais polimórficos do que outros marcadores
amplificáveis (Selkoe & Toonen, 2006).
Molina & Kahl (2002) afirmam que, dentre as 25 diferentes técnicas
moleculares, das quais muitas foram testadas com o gênero Mycosphaerella, os
marcadores baseados em microssatéllites provaram ter o maior potencial. Estes
marcadores elite, tais como Sequence Tagged Microsatellite Sites (STMS),
Simple Sequence Repeats (SSRs) ou Simple Sequence Length Polymorfisms
(SSLP), têm sido frequentemente utilizados e continuarão a sê-lo para a
diagnose de isolados, para estimar a diversidade genética em coleções, para a
análise da estrutura de populações inteiras e suas interações e também os efeitos
das alterações impostas a essas populações por alterações no ambiente, tais
como novas variedades de hospedeiros, novos fungicidas e novas condições
climáticas.
2.7 Dinâmica da infecção
Infecções ocorrem por meio dos estômatos das folhas jovens, sendo a
superfície abaxial muito mais importante do que a adaxial. Na Jamaica,
infecções significativas ocorrem somente nas três folhas mais jovens; já em
Queensland, na Austrália, as folhas quatro e cinco são igualmente infectadas
(Simmonds, 1966, 1939). Leach (1946) afirma que, na Jamaica, as folhas mais
18
velhas são resistentes à infecção, como resultado da presença de antagonistas
epifíticos e de materiais residuais pegajosos após a evaporação do orvalho.
Calpouzos (1955) registrou relevantes observações micológicas, tais
como: (i) o crescimento das hifas ocorre em uma faixa de pH entre 3,0 e 8,0,
sendo o ótimo verificado em pH 6,0; (ii) o crescimento de hifas pode ocorrer
entre 11
o
a 30
o
C, enquanto a germinação pode ser verificada em temperaturas
até 35
o
C; (iii) a formação de conídios ocorreu entre 11
o
a 30
o
C; (iv) a
germinação dos conídios é bastante lenta, sendo necessárias 24 horas até que um
tubo germinativo contendo pelo menos três lulas seja formado; (v) conídios
germinados podem suportar as condições de clima quente e seco durante o dia,
sobre a superfície foliar. Todas as evidências demonstram, então, que conídios
geminados são principalmente ativos durante a noite.
Stahel (1937) observou que, nos primeiros quatro a seis dias do
crescimento do tubo germinativo dos conídios, o desenvolvimento é lento e que
após a penetração pelo estômato, uma estrutura conhecida como
estomatopodium é formada sobre o poro. A colonização ocorre nos aerênquimas
com a ramificação das hifas ocorrendo nos parênquimas paliçádicos, que
tornam-se amarelados gradativamente. O fungo não efetua penetração no
sistema vascular e, por isso, os sinais iniciais são verificados entre duas nervuras
secundárias paralelas.
Decorridos 22 a 24 dias após a inoculação, já são vistas listras de
coloração marrom-clara, medindo aproximadamente 8-10mm de comprimento,
com aparência de ferrugem. Nesta fase, as hifas saem do próprio estômato
infectado e espalham-se sobre a superfície foliar em uma distância de 2-3mm,
principalmente na face abaxial. Aparentemente, o micélio apresenta um efeito
tóxico, que pode ser visto na forma da exsudação de pequenas gotículas, sob as
quais ocorre necrose as algumas horas de sua formação. Após uma semana do
surgimento das lesões de coloração marrom, ocorre o colapso do tecido,
19
apresentando lees com aspecto de camurça cinza-claro que contém acérvulos
(esporodóquios) em desenvolvimento na superfície adaxial, produzindo conídios
(Stahel, 1937).
2.8 Dispersão dos esporos de Mycosphaerella musicola pelo vento
A concentração ou a quantidade de esporos dispersos no ar o
importantes componentes para o progresso de epidemias de doenças de plantas
em um período pximo ou subsequente. Contudo, o sucesso dessa quantificação
depende do conhecimento do patossistema, do tipo de propágulos e dos métodos
utilizados na quantificação (Campbell & Madden, 1990).
Com o propósito de descrever e quantificar epidemias, muitos autores
têm conduzido trabalhos para monitorar esporos fúngicos em vários
patossistemas. A quantidade de inóculo presente na lavoura é, muitas vezes,
estimada pelo número de esporos coletados por esses aparelhos ou outros mais
simples (Campbell & Madden, 1990; Hausbeck & Pennypacker, 1991; Panisson
et al., 2002; Reis & Mário, 2003).
Nelson & Tung (1973) descreveram a relação entre a esporulação e a
epidemia, afirmando que nenhuma parte do ciclo de muitas doenças exerce
maior influência no crescimento da epidemia do que a produção de inóculo para
subsequente infecção. Menores quantidades de inóculo produzidas, em períodos
frequentes, retardam tanto a quantidade quanto a taxa de progresso da doença.
As infecções e as colonizações frequentemente ocorrem sob regimes climáticos
que dificultam a esporulação.
A concentração de iculo, por si , é bastante capaz de acelerar e
estabelecer o processo epidêmico, mesmo a despeito de condições climáticas
adversas. Shaner et al. (1972) atribuíram o severo ataque de Helminthosporium
20
maydis em milho, no estado de Indiana, nos Estados Unidos, em 1970, quando
as condições climáticas desfavoráveis prevaleceram a uma maior introdução de
esporos do que em 1971, quando as condições climáticas foram bem mais
favoráveis. Epidemias de Diplocarpon roase em rosas na Inglaterra iniciam-se
quando ocorrem chuvas frequentes, porém, após a concentração de inóculos ter
alcançado um nível crítico, a epidemia continua a progredir, mesmo tendo as
chuvas ocorrido com menor frequência (Saunders, 1966). A associação entre a
concentração de inóculo e as epidemias tem sido demonstrada em diferentes
culturas e reges geográficas, tais como Botrytis squamosa, em cebola nos
Estados Unidos (Ellerbrock & Lorbeer, 1977); Cercosporella herpotrichoides,
em trigo, nos Estados Unidos (Rowe & Powelson, 1973); Pyricularia oryzae,
em arroz, no Japão (Kato, 1974); Colletotrichum coffeanum, em cafeeiro, no
Kenya (Nutman & Roberts, 1969) e Mycosphaerella musicola, em bananas, em
Honduras (Stover, 1970).
Rotem et al. (1978) afirmam que qualquer esforço para relacionar
epidemias à esporulação deve estar ligado à evolução na produção de inóculo.
Uma análise dos fatores macro e micrometeorológicos que são capazes de afetar
o desenvolvimento de epidemias por meio de sua influência na esporulação
foram descritos e podem ser resumidos da seguinte forma: baixas temperaturas
preservam o potencial de esporulação dos patógenos, os quais esporulam
vigorosamente com a elevação das temperaturas; em regiões quentes, as
temperaturas verificadas durante os períodos noturnos situam-se na maioria das
vezes, na faixa ótima para esporulação, porém, o calor durante o dia, muitas das
vezes, encurta o período de esporulação; em locais de climas quentes, durante o
dia; as intensidades luminosas no campo não são fracas o suficiente para limitar
a esporulação em parasitas obrigatórios pelo decréscimo na atividade
fotossintética do hospedeiro e também para limitar a esporulação em parasitas
facultativos pela falta de indução, porém, estas intensidades são, geralmente,
21
fortes o suficiente para inibir a produção de esporos em conidióforos pré-
existentes; uma combinação entre baixas temperaturas em altitudes elevadas
promove a esporulação durante o dia e também o desenvolvimento de
epidemias, mesmo a despeito das curtas noites de verão; os efeitos das chuvas,
como fonte de umidade, sobre a esporulação, dependem significativamente se
esta ocorreu durante a noite ou de dia e se as temperaturas diurnas foram baixas
o suficiente para reprimir o efeito inibitório da luminosidade; o efeito do
orvalho, que geralmente coincide com o período noturno, irá facilitar a
esporulação, muito mais em climas quentes do que em climas frios e mais
durante estações do ano em que prevalecem temperaturas mais elevadas durante
a noite; irrigações na sobre copa, se aplicadas durante o dia, por um período
limitado de horas, irão ter menor efeito sobre a esporulação do que a chuva ou o
orvalho.
Considerando a dispersão de conídios, Meredith (1970) observou que
poucos conídios são dispersos pelo vento, embora a liberação possa ocorrer
devido ao choque mecânico entre as folhas que se encostam umas nas outras.
Similarmente, Leach (1946) sugeriu que a ação mecânica da água sobre os
conidióforos pode causar a liberação de esporos. Aparentemente, a dispersão de
conídios parece ocorrer primeiramente na água, devido à ação das chuvas ou
também em função do escorrimento do orvalho (Leach, 1946; Meredith, 1962;
Stover, 1970; Stover & Simmonds 1987), porém, existem diversos relatos na
literatura afirmando a presença de conídios no ar. Relatos recentes afirmam que
conídios de M. fijiensis são dispersos pelo vento, enquanto os de M. musicola
não o são (Stover & Simmonds, 1987).
Apesar de relatos sobre a dispersão de ascósporos de outras espécies de
Mycosphaerella, como M. cryptica, por meio de gotas d`água dispersas pelo
vento, após uma chuva (Cheah & Hartill, 1987), não existem evidências sobre
22
este mesmo mecanismo ocorrendo com os ascósporos de M. fijiensis ou de M.
musicola. Meredith et al. (1973) reportaram que ascósporos de M. fijiensis
dispersos por uma distância de aproximadamente 1km estavam associados às
novas infecções no campo, porém, a dispersão pelo vento a dezenas de
quilômetros já foi postulada, porém, não foi provada (Burt, 1994).
Burt (1997) afirma que o vento não tem sido descrito como efetivo na
dispersão de ascósporos, no entanto, presume-se que este fator poderia provocar
choques mecânicos capazes de resultar na liberação dos conídios. A chuva é
bem mais efetiva na liberação dos ascósporos do que o orvalho por si e as
maiores taxas de liberação dos esporos sexuados têm ocorrido após chuvas que
sucederam períodos de seca (Leach, 1941, 1946; Fulton, 1962; Meredith &
Lawrence, 1970; Meredith et al., 1973; Stover, 1970).
23
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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30
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DA DINÂMICA TEMPORAL DA SIGATOKA AMARELA E
AEROBIOLOGIA DE ESPOROS
31
1 RESUMO
ROCHA, Hermínio Souza. Análise da dinâmica temporal da sigatoka amarela e
aerobiologia de esporos na região de Coronel Pacheco, MG. In:_______.
Epidemiologia da sigatoka amarela, quantificação de fenóis em variedades
de bananeiras e análise filogenética de isolados de Mycosphaerella musicola
utilizando microssatélites. 2008. 124 p. Tese (Doutorado em Fitopatologia)
Universidade Federal de Lavras, Lavras.
*
O conhecimento do progresso da doença é importante para a adoção de
estratégias de controle e avaliação dos efeitos das medidas adotadas. Dessa
forma, o estudo da análise temporal é bastante útil por integrar a evolução da
interação entre os componentes do patossistema, expressados pelos dados
acumulados de incidência e severidade e retratados pela curva de progresso da
doença. Os esporos dispersos no ar, em um dado patossistema, constituem-se em
importantes componentes para o progresso de epidemias de doenças de plantas
em um período próximo ou subsequente. Assim, objetivou-se, neste trabalho,
avaliar a dinâmica temporal da sigatoka amarela, no bananal em Coronel
Pacheco, MG, simultaneamente à avaliação da aerobiologia dos esporos ao
longo do ano. Durante a estação chuvosa, houve intenso progresso da doença,
porém, com elevadas taxas de emissão foliar simultaneamente, fazendo com que
houvesse rápida inversão do pico de severidade, após os índices ximos. A
curva do progresso da sigatoka amarela apresentou dois picos de extrema
severidade, tendo o primeiro ocorrido na estação chuvosa, tendo sido
predominantemente causado pela elevada concentração de conídios e o segundo
foi verificado na estação mais seca do ano, tendo sido predominantemente
causado pela elevada concentração de ascósporos no ar. As concentrações de
ascósporos apresentaram correlação com a severidade da doença observada após
29 dias das contagens, o que denota a duração média do período de latência da
doença naquela região. Os padrões das curvas de severidade, em ambos os picos,
ajustaram-se ao modelo monomolecular, sendo as taxas de progresso mais
intensas na estação chuvosa do que na seca. As concentrações de esporos o
diferiram entre as duas alturas avaliadas. Em todas as avaliações, observou-se
concentração de ascósporos bem superior à de conídios, tendo as maiores
concentrações dos ascósporos ocorrido nas primeiras horas do dia e os picos de
concentrações de conídios foram verificados as o escorrimento do orvalho
aderido às folhas.
*
Comitê Orientador: Edson Ampélio Pozza – UFLA (Orientador), Zilton José Maciel
Cordeiro l – Embrapa CNPMF (Co-Orientador).
32
2 ABSTRACT
ROCHA, Hermínio Souza. Analisys of the Temporal Dynamics of Yellow
Sigatoka and Aerobiology of the Spores in the Coronel Pacheco-MG Region.
In:_______. Epidemiology of yellow Sigatoka, phenols quantification in
banana varieties and phylogenetic analysis of Mycosphaerella musicola
isolates using microsatellites. 2008. 124 p. Thesis (Doctor Degree in Plant
Pathology) – Lavras Federal University, Lavras.
*
A complete knowledge about the disease progress patterns is very important in
terms of the option for the most adequate control measures and to evaluate the
effects of these measures. Hence, the study of the temporal analysis is very
useful as it integrates the evolution of the interactions among the pathosystem’s
components, expressed by the cumulated incidence and severity data, being
summarized by the disease progress curve. The spores dispersed in the air, in a
specific pathosystem, constitute important components for the progress of plants
disease epidemics in a near or subsequent period. Hence, the aim in this research
work was to evaluate the temporal dynamics of yellow Sigatoka on the banana
plantation at Coronel Pacheco MG, simultaneously to the evaluation of the
aerobiology of the spores along the year. During the rainy season, there was
intense disease progress, but also the rate of leaf emissions were high resulting
in a rapid inversion of the severity peak, after having reached the highest rates.
The disease progress curve of yellow Sigatoka presented two distinct peaks of
extreme severity, with the first one occurring during the rainy season,
predominantly caused by the high levels of conidia in the air, and the second
being verified during the draft season, predominantly associated to the high
levels of ascospores in the air. The ascospores concentrations presented a
significant correlation to the severity of the disease observed after 29 days of the
counting, which denotes the average duration of the latency period of the disease
in that Region. The patterns of the severity curves in both peaks, adjusted to the
monomolecular models, with higher progress rates during the rainy season than
in the draft. There were no differences between the spores concentrations in the
two heights tested. In general, the concentrations of ascospores were much
higher than the conidia, with predominance of the latter form after the sweeping
of the dew adhered to the leaves, and most of the ascospores were counted
during the first hours of the day.
*
Guidance Committee: Edson Ampélio Pozza UFLA (Supervisor), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Supervisor).
33
3 INTRODUÇÃO
A banana constitui importante fonte básica de alimento para inúmeras
famílias de baixa renda, mas é diariamente consumida por todas as camadas
sociais da população brasileira. Da mesma forma como ocorre em todos os
demais países produtores dessa fruta, no Brasil, as sigatokas negra e amarela e o
mal-do-panamá são os principais problemas fitossanitários da cultura, com
perdas que podem atingir o patamar de 100%, no caso da sigatoka negra.
Sendo a sigatoka amarela uma doença policíclica, ocorre a produção
contínua de estruturas de reprodução, podendo gerar rios ciclos da doença
durante o mesmo plantio (Pozza, 2000). Com isso, o aumento da população do
patógeno, em um hospedeiro suscetível, pode definir um crescimento
exponencial da área lesionada pela doença em curto intervalo, desde que haja
condições favoráveis de ambiente. Assim, o manejo de doenças policíclicas
necessita de especial atenção devido às características de reprodução desses
patógenos (Ribeiro do Vale et al., 2004).
Segundo Fry (1982), o conhecimento do progresso da doença em
populações é importante para auxiliar na escolha de estratégias de controle e
para avaliar o efeito das estratégias adotadas. A análise temporal integra os
componentes do patossistema, expressos por dados acumulados de incidência e
severidade e retratados pela curva de progresso da doença (Vanderplank, 1963).
Segundo Bergamin Filho (1995), a curva de progresso de uma doença é
a melhor forma de se representar uma epidemia, visualizada na forma da
proporção de doença ao longo do tempo. Nessas representações gráficas pode-se
determinar a época de início da epidemia, a quantidade de inóculo inicial (Y
o
), a
taxa de progresso da doença (r), a área abaixo da curva de progresso, a
quantidade máxima de doença (Y
max
) e a duração da epidemia.
Campbell & Madden (1990) afirmam que o ambiente influencia o
progresso de uma epidemia por influenciar as diversas fases do ciclo de vida do
34
patógeno, bem como a interação com as fases específicas do crescimento do
hospedeiro. Guyot & Cuille (1958) concluíram que a severidade da sigatoka
amarela e o decscimo dos períodos de incubação e geração estava sempre
associado às variáveis temperatura e umidade relativa.
Muitos autores correlacionam o progresso das epidemias aos tipos de
esporos e suas concentrações dispersas no ar. Nesse sentido, Campbell &
Madden (1990) afirmam que a concentração ou a quantidade de esporos
dispersos no ar constituem importantes componentes para o progresso de
epidemias de doenças de plantas em um período próximo ou subsequente.
Contudo, o sucesso dessa quantificação depende do conhecimento do
patossistema, dos tipos de propágulos e dos métodos utilizados para quantificá-
los.
O estado de Minas Gerais situa-se em quarto lugar na produção nacional
de bananas, com área plantada de 36,7 mil hectares e produção de 540 mil
toneladas (Agrolink, 2008). Considerando que a sigatoka amarela ainda é a
principal limitação de ordem fitossanitária para a produção de bananas no
estado, objetivou-se, com o presente trabalho: i) caracterizar a dinâmica
temporal da sigatoka amarela na região de Coronel Pacheco, MG, ii) verificar a
relação entre a concentração de esporos e a severidade da doença e iii)
determinar a flutuação de ascósporos e conídios no ar ao longo do dia.
35
4 MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido durante o período de novembro de 2006 a
dezembro de 2007, no sítio do Cruzeiro, na localidade denominada de Ribeirão
de Santo Antônio, município de Coronel Pacheco, MG, em propriedade
particular pertencente ao sr. Arnaldo Roldão Filho, cujas coordenadas
geográficas o: 21
o
34’26’’ de Latitude sul e 43
o
19’45” de longitude oeste a
uma altitude de 750 m acima do nível do mar. No local, encontra-se plantado um
bananal com área total de 2,79ha, em Latossolo Vermelho Escuro, com a
variedade Saquarema, pertencente ao subgrupo Cavendish (AAA), em
espaçamento 4 x 3 m em fileiras simples. A escolha do local se deu em função
da elevada severidade dos sintomas de sigatoka (Figura 1) e também pelo fato de
não haver qualquer medida de controle da doença, permitindo, assim, que
pudesse ser estudado o progresso da epidemia em condições naturais.
Para avaliar o progresso da doença, foram marcadas 25 plantas
aleatoriamente, tendo sido registradas as severidades em todas as folhas de cada
planta, seguindo a metodologia proposta por Stover (1971) e modificada por
Gauhl (1994). As avaliações foram efetuadas a cada 15 dias, juntamente com a
coleta de dados climatológicos e densidades de esporos no ar. Todas as plantas
marcadas foram submetidas à análise de PCR no Instituto Biológico de o
Paulo, para identificação da Sigatoka amarela. Além disso, foram feitas análises
microscópicas de conídios e conidióforos, tendo sido observados conidióforos e
esporodóquio, característicos de Mycosphaerella musicola.
36
FIGURA 1: Área experimental escolhida para a condução do experimento,
em Coronel Pacheco, MG, no tio do Cruzeiro, com alta
severidade da sigatoka amarela. UFLA, Lavras, MG, 2008.
4.1 Variáveis utilizadas na avaliação do progresso da doença
Severidade da doença: corresponde à extensão de área foliar infectada
pelo patógeno. Para esta quantificação foi utilizada a escala de Stover
(1971) modificada por Gauhl (1994) (Figura 2). Depois de realizadas as
anotações, procederam-se os lculos dos índices de infecção com as
notas de cada planta pela fórmula:
Índice de infecção = [Σ nb/(N-1)T]*100
em que:
n = número de folhas em cada nível da escala de Stover
modificada por Gauhl.
b = grau da escala.
N = número de graus empregados na escala (7).
37
T = número total de folhas avaliadas.
FIGURA 2: Escala de severidade para sigatoka proposta por Stover (1971)
modificada por Gauhl (1994). UFLA, Lavras, MG, 2008.
Tempo de desenvolvimento da enfermidade (TDE): é o tempo, em
dias, entre o estádio B da folha vela (Figura 3) e a verificação de dez ou mais
lesões necrosadas e maduras nesta folha (Fouré, 1982). As plantas em cuja folha
B se fazia presente recebiam uma marcação com uma fita plástica, na qual se
registrava a data em que foi encontrada. Estas folhas foram então avaliadas
quinzenalmente a que se registrasse a ocorrência de dez ou mais lesões
maduras (Figura 4).
38
FIGURA 3: Identificação da folha B (Burn, 1963). Registro da data com fita
circular. UFLA, Lavras, MG, 2008.
FIGURA 4: Identificação de lesão em estádio 6. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Folha mais jovem manchada (FMJM): corresponde à primeira folha
totalmente aberta que apresenta dez ou mais lesões necrosadas com
centro seco.
Taxa de emissão foliar diária (TEF/D): é o valor dado pela diferença
entre a quantidade de folhas presentes nas plantas com nota até 6, em
uma dada avaliação e o valor equivalente da mesma planta na avaliação
subsequente.
39
Curvas de progresso da doença: as curvas de progresso foram plotadas
utilizando-se os valores de índice de infecção em relão ao tempo. Os dados de
índice de infecção foram analisados por meio de análise de regressão linear
simples, para a verificação de melhor ajuste em quatro modelos empíricos, o
exponencial, o logístico, o monomolecular e o de Gompertz. Para a escolha do
melhor modelo, consideraram-se o coeficiente de determinação ajustado da
análise de regressão (R
*2
), o valor do quadrado médio dos desvios (obtido na
análise de variância) e o gráfico de resíduos padronizados (Y
obs
-Y
esp.
) em função
da variável independente (Campbell & Madden, 1990). As taxas de progresso da
doença (r) das curvas de índice de infecção foram estimadas pelo parâmetro b da
equação de regressão, obtidas a partir do modelo que melhor ajustou-se aos
dados.
Devido ao baixo ajuste para a curva completa de severidade da doença,
optou-se pela estratégia da divisão da curva completa em dois diferentes
períodos delimitados pelos picos (Figura 11), conforme metodologia descrita por
Laranjeira et al. (2003). O primeiro período (A) compreendeu 62 dias, durante o
verão de 2006-2007, o segundo segmento da curva (B) submetida ao ajuste
compreendeu um período de 105 dias, tendo ocorrido durante os últimos dias do
verão e toda a estação do outono.
4.2 Registro das variáveis ambientais
Antes de se iniciar a coleta dos dados de progresso da doença, foi
instalada no local uma estação climatológica computadorizada (Datalogger-
CR510 Campbell Scientific Inc.). Os dados coletados pela estação foram:
molhamento foliar (h/dia), precipitação (mm/dia), umidade relativa do ar (%),
temperatura mínima, média e xima (
o
C), velocidade do vento (m/s) e direção
predominante do vento. A estação foi instalada em torre metálica, localizada no
centro da área com os sensores posicionados na altura de 1,5 m acima do nível
40
do solo. Foram ainda coletados dados de temperatura e umidade relativa, por
meio de um aparelho termo-higrógrafo, localizado em abrigo coberto, próximo à
estação climatológica.
Todas as variáveis ambientais foram testadas para avaliar a signifincia
da correlação de Pearson com os índices de infecção, por meio do programa
estatístico SAS.
4.3 Monitoramento da concentração de esporos da sigatoka amarela na
área experimental
O monitoramento da concentração de conídios e ascósporos de
Mycosphaerella musicola dispersos no ar, na área do bananal, foi realizado
durante o período de março-dezembro de 2007. Para esta finalidade, utilizou-se
o coletor Rotorod Sampler’ modelo 20, dotado de duas hastes coletoras de
acrílico transparente, com dimensões de 1,52 x 1,52 x 22mm, instaladas
verticalmente em relação ao eixo de rotação circular. As hastes foram untadas
com vaselina líquida para a retenção dos esporos do fungo. Para se obter a
medida da concentração de esporos (C), foi utilizada a fórmula C = P/V, sendo P
a quantidade de esporos mensurada e V o volume de ar amostrado.
Na condição do experimento, o equipamento foi ligado durante 15
minutos a cada hora, tendo sido amostrado o volume de 0,00632 m
3
de ar.
Foram utilizados dois coletores, sendo um posicionado a 1,5 m e o outro
a 3,0 m do nível do solo (Figura 5). Todas as coletas ao longo do ano foram
realizadas em um único local, tendo sido posicionado o coletor aleatoriamente
no centro do bananal, sendo, portanto, representativo de toda a área. As coletas
foram realizadas nas mesmas datas das avaliações de severidade da doença, a
cada 15 dias, durante 12 horas do dia, iniciando-se às 6h00 e finalizando às
18h00. Este período de coleta foi escolhido em função das afirmões de
Wardlaw (1961), que esclarece que os conídios são formados na ocorrência
41
de um filme de água livre sobre as folhas, sendo o período da manhã o mais
favorável para a coleta dos mesmos, pois as folhas ainda estão molhadas pelo
orvalho. As contagens foram realizadas em laboratório, em fotônico, com a
objetiva de aumento de 40 x.
FIGURA 5: Torre montada, com coletores de esporos Rotorod Sampler’
(R)
instalada no centro do bananal. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Foram testadas as correlações entre as concentrações de esporos nos
diferentes horários do dia, nas duas alturas de coleta com os índices de infecção
em vários períodos, por meio do teste de correlação de Pearson, no programa
estatístico SAS.
42
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Associação dos picos de severidade às concentrações de esporos e
variáveis climáticas
A curva da severidade da sigatoka amarela ao longo do ano apresentou
dois picos distintos (Figura 6), sendo o primeiro verificado na primeira semana
de janeiro de 2007, ou seja, em pleno verão, com um índice de infecção médio
de 46%, e o segundo em junho de 2007, no auge da estação seca do ano.
0
10
20
30
40
50
60
4
-nov-06
25-nov-06
1
6-d
ez-06
6
-j
an-0
7
2
7-ja
n
-07
17-fev-0
7
1
0-
mar-07
31-
m
ar-07
2
1-
ab
r-
07
1
2-m
ai
-
0
7
2
-
jun-07
23-jun-07
11-ago-07
1-
set
-07
2
2-s
et-
07
1
3-o
u
t-
07
3-n
ov
-07
24-nov-07
15-dez-07
Índice de Infeão (%)
FIGURA 6: Curva do progresso da severidade de sigatoka amarela medida
pelo índice de doença, em Coronel Pacheco, MG. UFLA, Lavras,
MG, 2008.
Segundo Wardlaw (1961), a maior incidência de pequenas lesões
listradas, visíveis a olho nu, na segunda, terceira ou quarta folha, depende da
variedade de bananeira e das condições ambientais. Durante o período de
4/11/2006 a 15/12/2007, as variáveis climáticas, temperatura média,
pluviosidade e umidade relativa foram principalmente favoráveis para o
desenvolvimento do patógeno, tendo resultado em dois picos distintos de
severidade. O primeiro foi observado no verão de 2006 (23,69
o
C de temperatura
06/jan/07 23/jun/07
43
média; 82,64% de umidade relativa média; 41,11 mm de pluviosidade média e
índice de infecção de 46,09%) e o segundo em plena estação seca, entre julho e
agosto de 2007 (18,49
o
C de temperatura média; 76,29% de umidade relativa
média; 0,00mm de pluviosidade média e índice de infecção de 53,66%).
Observou-se, assim, que, apesar de o progresso da doea ter sido mais
rápido na época das chuvas, ocorreu uma compensação das perdas com a
contínua emissão foliar das plantas, tendo levado a uma inversão da taxa de
progresso, justificada pela maior duração dos períodos de incubação e latência
do que as taxas de emissão foliar.
Por outro lado, na época mais seca, as taxas de emissão foliar foram
inferiores, possibilitando que os índices de infecção tivessem sido superiores,
em razão do livre progresso das lesões, sem o pleno desenvolvimento vegetativo
do hospedeiro.
Observa-se, ainda, que a variedade Saquarema pertence ao subgrupo
Cavendish (AAA), a qual apresenta o mais elevado grau de suscetibilidade à
sigatoka, dentre todas as variedades tradicionalmente plantadas no Brasil
(Gasparotto, 2006). Por outro lado, Simmonds (1966) discrimina as condições
climáticas mais condutivas para a produção de conídios e ascósporos. O autor
esclarece que conídios são produzidos continuamente ao longo das estações
chuvosas do ano, sendo disseminados através de um filme de água livre, que
pode ser resultante tanto da água da chuva quanto do orvalho, escorrendo nas
folhas.
44
FIGURA 7: Curva de progresso da severidade de sigatoka amarela expressa
em índice de infecção e comparada com pluviosidade (A);
umidade relativa média e molhamento foliar (B) e (C)
temperaturas máxima, média e nima. UFLA, Lavras, MG,
2008.
Índice de Infecção
(
%)
Pluviosidade (mm)
A
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Umidade Relativa (%)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Molhamento Foliar (hs/dia)
Umidade Relativa
(%)
Molhamento Foliar
(hs/dia)
B
0
5
10
15
20
25
30
35
4/11/2006
4/12/2006
4/1/2007
4/2/2007
4/3/2007
4/4/2007
4/5/2007
4/6/2007
4/7/2007
4/8/2007
4/9/2007
4/10/2007
4/11/2007
4/12/2007
Temperatura °C
T. Máxima T. Média T. Mínima
C
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
4-nov-06
25-nov-06
16-dez-06
6-jan-07
27-jan-07
17-fev-07
10-mar-07
31-mar-07
21-abr-07
12-mai-07
2-jun-07
23-jun-07
11-ago-07
1-set-07
22-set-07
13-out-07
3-nov-07
24-nov-07
15-dez-07
Índice de Infeão %)
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
Pluviosidade (mm)
45
Considerando a arquitetura da planta, observou-se que este escorrimento
tende a concentrar a maior parte da suspensão de conídios no centro da mesma,
por onde o lançadas as novas folhas, produzindo os típicos padrões de
infecção em linhas, que são atribuídos às infecções por conídios. Ascósporos,
por sua vez, apesar de serem produzidos nas mesmas lesões que anteriormente
liberaram conídios, aparecem mais tardiamente e são forçados para fora dos
peritécios durante os climas úmidos ou, mesmo, em climas secos, porém,
associado às ocorrências de fortes orvalhos.
De acordo com Meredith (1970), a germinação dos conídios ocorre
sempre associada à presença de água livre sobre as folhas, com duração
aproximada de 6 horas após a deposição, desde que a temperatura seja favorável,
sendo o ótimo em torno de 25
o
C. Após a deposição, pode ocorrer uma fase
epifítica, com duração de 4-6 dias, durante a qual o crescimento do tubo
germinativo é paralisado durante as horas mais quentes do dia e com menor
umidade relativa, retornando ao desenvolvimento sob condições mais
favoráveis, que normalmente ocorrem durante a noite (Meredith, 1970; Stover,
1972; Zadocs & Schein, 1979).
Verificou-se correlação positiva significativa entre as variáveis
pluviosidade (PP) e molhamento foliar (MOLH) e os índices de infecção, entre
04/11/2006 e 10/03/2007 (Tabela 1), que são justamente as variáveis
responsáveis pela água livre nas folhas.
Dessa forma, conclui-se que o primeiro pico de índice de infecção,
observado no início do verão, foi predominantemente resultante da infecção por
conídios, visto que, no início do ano, a ocorrência de fortes chuvas foi suficiente
para proporcionar um filme de água livre por longos períodos, sob temperatura
ideal para o desenvolvimento do patógeno.
46
TABELA 1: Correlação entre as variáveis climáticas (pluviosidade PP e
molhamento foliar Molh, temperatura máxima - Tmax,
temperatura média - Tmed, temperatura mínima - Tmin,
umidade relativa média - UR,) e o índice de infecção IF, no
período de 04/11/2006 a 1
o
/03/2007. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Variáveis climáticas
PP Molh Tmax Tmed Tmin UR
IF 53,47
*
78,92
**
-0,0635 -0,0164 0,4276 0,2202
**
significativo, a 1% de probabilidade;
*
significativo, a 5% de probabilidade
Em contrapartida, o segundo pico, de maior intensidade (53,66% de
índice de infecção médio), ocorreu na primeira semana do inverno, quando
foram verificados os menores índices de pluviosidade. Estes resultados
contrapõem as afirmativas de Wardlaw (1961), pois o autor afirma que, como M.
musicola é um patógeno específico do gênero Musa, espera-se que sua ecologia
esteja de acordo com a do hospedeiro.
Neste caso, observa-se que o período de seca foi prejudicial para o
hospedeiro (Figura 8), visto que é nesta época em que se verificam as menores
taxas de emissão foliar diárias, tendo, consequentemente, refletido na redução
média da posição da folha mais jovem manchada (FMJM).
Entretanto, com a paralisação da emissão foliar, houve o progresso das
infecções ocorridas durante os períodos de maior favorabilidade da doença, que
expressaram-se na forma dos maiores índices de infecção mais tardiamente do
que o verificado no primeiro pico. A falta de crescimento do hospedeiro parece
ser a principal explicação para o comportamento da curva de progresso da
doença.
47
FIGURA 8: Curva de progresso da severidade da sigatoka amarela
transformada em índice de infecção - IF e folha mais jovem
manchada - FMJM (A) e taxa de emissão foliar diária TEF/dia e
índice de infecção – IF (B). UFLA, Lavras, MG, 2008.
Diversos autores suportam estes resultados. Dickson (1929) considerou
Cercospora musae um parasita não muito forte e concluiu:
Para que as plantas fossem severamente afetadas, as
condições de desenvolvimento vegetativo deveriam ser pobres e
resultar em debilidade generalizada do hospedeiro. Clima frio e
úmidoo situações desfavoráveis, solos mal drenados, e fracas
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Folha Mais Jovem Manchada
(FMJM)
0
10
20
30
40
50
60
Índice de Infeão (%)
FMJM IF
A
B
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
4
/fe
v
/07
18/f
e
v/
0
7
9
/mar/0
7
18/m
a
r/07
1/abr/07
15
/a
br
/07
29/abr/0
7
16/m
a
i/0
7
6
/j
un
/
0
7
21/jun/07
8
/j
ul/
07
2
1
/ago/07
14/se
t/0
7
1/o
ut
/0
7
16/out/07
31/out/07
18/dez
/0
7
TEF/dia
0
10
20
30
40
50
60
Índice de Infecção (%)
TEF/D I F
48
práticas culturais provém um conjunto de circunstâncias
favoráveis ao fungo, permitindo ao mesmo assumir proporções
epidêmicas.
Tanto em Queensland, na Austrália, quanto em Fiji, os fatores
climatológicos mais associados à ocorrência de sigatoka amarela são a umidade
relativa e a temperatura. Via de regra, a doença atinge seu ponto de máxima
atividade durante os períodos de temperaturas mínimas e máxima umidade
relativa (Wardlaw, 1961). O autor relata, ainda, que, em locais nos quais os
picos de infecção coincidem com uma reduzida taxa de emissão foliar, a
plantação torna-se severamente afetada, a exemplo do que ocorre na região
costeira de Santa Marta na Colômbia, que se caracteriza pelo clima árido,
porém, com constantes ocorrências de orvalho pesado.
Corroborando com estas afirmações, em Coronel Pacheco, verifica-se,
pela Figura 8, que as menores taxas de emissão foliar ocorreram
simultaneamente aos maiores picos de índice de infecção. Coincidentemente, no
Suriname, também ocorrem dois picos de máxima severidade da sigatoka
amarela durante o ano. O primeiro ocorre em fevereiro e o segundo em julho, os
quais, segundo Stahel, (1937), devem ser atribuídos ao acúmulo das infeões
nas quatro a cinco semanas prévias.
Na Austrália, contrariamente ao normal observado, um período de
intensas chuvas, ocorrido entre janeiro e fevereiro, antecipou o início da
epidemia. Porém, o autor afirma que esta condição pode ter relação com o fato
de as fortes chuvas resultarem em maior número de plantas apresentando
podridão radicular, o que teria favorecido as infecções pelo acentuado
decréscimo do vigor vegetativo das plantas e também devido à reduzida
atividade de crescimento durante os meses de inverno (Warlaw, 1961).
49
Simmonds (1966) também relatou que, na Jamaica, durante o verão
quente e úmido, as infecções por conídios atingem seu limiar máximo, seguidas,
no outono e inverno, pela produção dos ascósporos. No inverno, observaram-se
altas infecções por ascósporos, as quais são reconhecidas pela sintomatologia
típica denominada de ‘tip spotting’, verificadas nas extremidades das folhas. A
produção de folhas é baixa e o ataque atinge o seu pico máximo. Ao final do
inverno, com as baixas temperaturas acumuladas, ocorre significativa redução na
produção de esporos, o suficiente para reduzir as novas infecções, possibilitando
às plantas um crescimento sem a doença. Durante a primavera quente e seca, as
condições são desfavoráveis para a esporulação e a infecção e, no início da
estação quente e úmida, as plantas apresentam os menores índices da doença de
todo o ano. Nesta ocasião, porém, as condições para as infecções por conídios
tornam-se as mais favoráveis e, novamente, o ciclo se reinicia.
5.2 Tempo de desenvolvimento da enfermidade (TDE)
Outro dado observado no campo e igualmente respaldado pelas
afirmativas de Simmonds refere-se ao tempo de desenvolvimento da
enfermidade (TDE), medido pelo intervalo em dias entre a ocorrência da folha
em estádio B e a verificação de dez ou mais lees necrosadas e maduras nesta
folha. Na Figura 9, observa-se significativa elevação do TDE na época mais seca
do ano, coincidindo também com a elevação no índice de infecção. As duas
variáveis apresentaram correlação positiva e estaticamente significativa de
67,09%, a 5% de probabilidade.
Dessa forma, verifica-se que o aumento na severidade observada na
época seca do ano tem sua origem bem anterior, visto que é nesta época que se
verificam os maiores TDE (Figura 9), ou seja, as menores taxas de
desenvolvimento das lesões, com valores superiores a 100 dias, quando se
observou a maior severidade da doença em todo o ano.
50
FIGURA 9: Curva de progresso da severidade da sigatoka amarela
transformada em índice de Infecção (IF) e o tempo de
desenvolvimento da enfermidade (TDE) ao longo do ano em
Coronel Pacheco, MG. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Assim, apesar de o bananal ter apresentado o maior acúmulo da doença
nesta época seca, foi justamente neste período em que a doença se desenvolveu
com a menor rapidez. Apesar de lento o progresso da doença, na época mais
seca, a severidade foi cumulativa e, sem a emissão de novas folhas, os índices de
infecção foram os maiores.
A produção de ascósporos ocorre nas mesmas lees em que foram
produzidos os conídios, porém, mais tardiamente, sendo liberados mediante a
ocorrência de elevações na umidade relativa do ar (Simmonds, 1966). Essa
elevação na umidade relativa ocorre, por exemplo, em consequência dos
orvalhos. Considerando a baixa pluviosidade verificada durante o segundo pico
da doença, é possível associar a elevação na concentração dos esporos sexuados
durante o período de 15/04/2007 a 15/07/2007 ao segundo pico de severidade,
cuja concentração máxima foi observada 60 dias antes do máximo de severidade
da doença (FIGURA 10). Stahel (1937) afirma que, para haver evidência da
0
20
40
60
80
100
120
140
2a Dez
4a Dez
1a Jan
4a Jan
1a Fev
3a Fev
2a Mar
3a Mar
5a Mar
2a Abr
1a Mai
3a Mai
2a Jun
4a Jun
4a Jul
2a Ago
2a Set
1a Out
Tempo em dias
0
10
20
30
40
50
60
Índice de Infecção (%)
TDE IF
51
formação das primeiras lesões visíveis a olho nu, são necessários pelo menos 28
dias após a inoculação, podendo este período ser ainda maior.
Observou-se, ainda, que, apesar de reduzida pluviosidade, ainda houve
umidade relativa do ar suficiente para promover a produção de conídios durante
o mesmo período, porém, em concentração bem inferior. Entretanto, os padrões
de sintomatologia observados durante a época seca foram típicos de ascósporos
(Tip spotting), reforçando ainda mais a suposta associação.
FIGURA 10: Curva de progresso da severidade da sigatoka amarela
transformada em índice de infecção (IF) e concentração de
ascósporos e conídios coletados a 1,5m (baixo) e 3,0m (alto) do
solo, em Coronel Pacheco, MG. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Codios
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
1
8
/
m
a
r
/
0
7
1
/
a
b
r
/
0
7
1
5
/
a
b
r
/
0
7
2
9
/
a
b
r
/
0
7
5
/
j
u
n
/
0
7
2
1
/
j
u
n
/
0
7
8
/
j
u
l
/
0
7
2
2
/
j
u
l
/
0
7
6
/
a
g
o
/
0
7
2
1
/
a
g
o
/
0
7
1
4
/
s
e
t
/
0
7
9
/
o
u
t
/
0
7
1
9
/
o
u
t
/
0
7
3
1
/
o
u
t
/
0
7
N ° Conídios/m ³
0
10
20
30
40
50
60
Índice de Infecçã o (IF) %
Baixo Alto IF
Ascósporos
0
20000
40000
60000
80000
100000
N° Ascósporos/m³
0
10
20
30
40
50
60
Índice de Infecção (IF)
%
Baixo Alto IF
52
FIGURA 11: Sintomas típicos de infecção por ascósporos (tip spotting).
UFLA, Lavras, MG. 2008.
5.3 Correlação entre as variáveis climáticas e os índices de infecção
O clima foi determinante para a oscilação na produção dos conídios e
ascósporos, os quais, por sua vez, resultaram nos picos de severidade da doença.
Nesse sentido, Calpouzos et al. (1962, 1964), em Porto Rico, relataram que a
chuva é bastante importante na previsão da doença, chegando a recomendar
pulverizações sempre que fosse registrada, nas três semanas precedentes,
precipitação igual ou superior a 76 mm. Igualmente, Mass (1976) verificou
correlação elevada entre a frequência de chuviscos e o aparecimento de manchas
na fase de estrias, em cerca de três semanas.
Leach (1941) relata que a produção de ascósporos por lesão foliar é
consideravelmente menor do que a de conídios. Contudo, a descarga de
ascósporos pode ocorrer devido à elevação da umidade relativa, não sendo
dependente de um filme de água livre sobre a lesão foliar. Ascósporos podem ser
liberados mesmo a partir das folhas mais baixeiras da planta, que não são
53
atingidas pelo orvalho, ao passo que conídios não o. O autor menciona, ainda,
que a faixa de temperatura ideal para a ocorrência desta liberação situa-se entre
21,1
o
e 28,91
o
C, porém, o fornece detalhes acerca da duração do período de
incubação ou latência.
Pelos dados da Tabela 2, observa-se que as condições climáticas, em
Coronel Pacheco, MG, apresentam correlação positiva significativa para a
variável umidade relativa, em relação ao índice de infecção, após 30 dias até 90
dias da ocorrência destas variáveis climáticas. No entanto, para todas as demais
variáveis, excetuando-se o molhamento foliar, as correlações foram
significativas para o período de 60 e 90 dias após as ocorrências climáticas. Esse
prazo está dentro do que foi relatado por Meredith (1970), quando afirma que as
infecções, normalmente, ocorrem nas primeiras três folhas novas, aparecendo os
primeiros sintomas (estrias) entre 11 e 106 dias após a germinação.
As correlações negativas no início da epidemia, provavelmente, devem-
se ao fato de os eventos climáticos somente resultarem em severidade efetiva
após 30 dias da ocorrência dos mesmos, sendo plenamente observados entre 60 e
90 dias.
Apesar de o vento ser o principal agente de disseminação dos
ascósporos, após a liberação a partir dos pericios, neste trabalho não houve
significância da intensidade e do direcionamento, em relação aos índices de
infecção e às concentrações de ascósporos observados. Isso, provavelmente,
deve-se às baixas ocorrências de ventos fortes na área experimental.
54
TABELA 2: Correlação entre as variáveis climáticas (temperatura máxima
- Tmax, temperatura média - Tmed, temperatura mínima -
Tmin, umidade relativa Média - UR, precipitação PP e
molhamento foliar - Molh) e o índice de infecção IF, em seis
períodos distintos. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Tmax Tmed Tmin UR PP Molh
Período de
Avaliação do
IF
09/01/07 em diante
Mesmo dia -0,47
**
-0,36
**
-0,52
**
0,21 -0,07 -0,65
**
15 dias após -0,47
**
-0,20 -0,37
**
-0,32
*
-0,05 -0,65
**
30 dias após -0,36
**
0,05 -0,13 0,43
**
0,02 -0,57
**
45 dias após -0,19 0,26 0,08 0,45
**
0,09 -0,42
**
60 dias após 0,03
0,58
**
0,43
**
0,48
**
0,28
*
-0,11
90 dias após 0,47
**
0,86
**
0,70
**
0,35
*
0,47
**
0,28
**
significativo, a 1% de probabilidade;
*
significativo, a 5% de probabilidade
Apesar da importância da concentração dos esporos sobre o progresso da
sigatoka amarela, Burt et al. (1997) observaram a igual importância de se avaliar
os efeitos da radiação UV sobre a sobrevivência destes propágulos, o que pode
restringir o sucesso de disseminação do patógeno a longas distâncias.
5.4 Curvas de progresso da doença
As curvas de progresso foram plotadas com os dados de índice de
infecção, representando a severidade em relação ao tempo. o foram adotadas
medidas de manejo da doença na área, permitindo que tanto a expressão dos
sintomas quanto a disseminação dos esporos na planta e entre plantas pudesse
ocorrer sem qualquer intervenção.
55
0
10
20
30
40
50
60
10/10/2006
29/11/2006
18/1/2007
9/3/2007
28/4/2007
17/6/2007
6/8/2007
25/9/2007
14/11/2007
FIGURA 12: Curva de progresso da severidade da sigatoka amarela em
bananal localizado em Coronel Pacheco, MG, transformada em
índice de infecção, constando as delimitações dos períodos
utilizados para o ajuste de modelos. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Os melhores ajustes para os períodos de crescimento da epidemia, tanto
no verão quanto no outono, foram verificados para o modelo monomolecular
(TABELA 2). Estes ajustes basearam-se em função dos menores reduos e nos
maiores coeficientes de determinação (R
2
).
Apesar de ambas as porções da curva terem ajustado igualmente para o
mesmo modelo monomolecular, quando se comparam as duas, nota-se uma
maior taxa diária de progresso da doença ocorrendo no verão (dy/dt = 0,2806)
do que no outono (dy/dt = 0,1859), o que está relacionado às condições
climáticas favoráveis, principalmente no que se refere ao grande volume de
chuvas, que possibilitaram uma maior produção e disseminação de conídios
continuamente ao longo dos ts primeiros meses do ano.
09/11/06
09/01/07
09/03/07
21/06/07
A
B
56
TABELA 3. Comparação de modelos lineares para descrever as taxas
estimadas de progresso da severidade (r) severidade inicial e
severidade final da sigatoka amarela da bananeira em dois
períodos distintos. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Modelos R Y
0
y
f
QMR
Período: 09/11/2006 – 09/01/2007 (A)
Logístico 0,0100 0,2934 0,4281 0,7753 0,0626
Monomolecular
0,0034 0,2938 0,42357
0,8005 0,0065
Gompertz
0,0061 0,2936 0,4260 0,7859 0,0223
Exponencial
0,0065 0,2933 0,4315 0,7614 0,0291
Período : 09/03/2007 – 21/06/2007 (C)
Logístico
0,0067 0,1962 0,5219 0,9255 0,0354
Monomolecular
0,0029 0,0809 0,5172
0,9335 0,0058
Gompertz
0,0045 0,1656 0,5197 0,9299 0,0152
Exponencial
0,0038 0,2243 0,5270 0,9133 13,255
Os ajustes individuais do melhor modelo para cada período estão
descritos na Figura 13.
57
FIGURA 13: Curvas de progresso da sigatoka amarela em Coronel Pacheco,
MG, para os diferentes períodos ao longo do ano (A estação
chuvosa, e B estação da seca), com as equações dos melhores
modelos ajustados. Índice de infecção estimado (linha contínua), e
índice de infecção real (pontos). UFLA, Lavras, MG, 2008.
Em ambos os picos de severidade, após a doença ter atingido o índice
máximo, não ocorreu a estabilização das lesões. Isso, certamente, se deve ao fato
da fórmula de índice de infecção levar em consideração a avaliação em todas as
folhas da planta, inclusive as mais novas (folhas 0, 1, 2 e 3), que raramente
expressam os sintomas. Nestes casos, as quedas de severidade após os picos
ocorreram devido ao fato de o hospedeiro desenvolver-se mais rapidamente do
0,3
0,32
0,34
0,36
0,38
0,4
0,42
0,44
0,46
0,48
0,5
120 140 160 180 200 220
Dias após a primeira avaliação
Índice de Infecção (%)
B
Y= 1-((1-0,08092409)*exp (-0,0029X))
Y= 1-((1-0,293883203)*exp(-0,0034*X))
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0 10 20 30 40 50 60
Dias após a primeira avalião
Índice de Infecção (%)
A
58
que o patógeno, ou seja, as taxas de emissão foliar foram mais acentuadas do
que o progresso da doença. Essa relação inversa foi constatada pela correlação
negativa estatisticamente significativa (-0,4225
*
) entre a TEF/D (taxa de emissão
foliar diária) e o IF ndice de infecção). em julho, o progresso da doença
prevaleceu sobre o desenvolvimento vegetativo do hospedeiro, tendo resultado
no pico com maior índice de infecção.
Verificou-se, assim, que, apesar de a doença apresentar uma taxa de
progresso maior durante os meses mais chuvosos do ano, o hospedeiro apresenta
também uma velocidade de desenvolvimento vegetativo intensa, evidenciada
com o lançamento de novas folhas em curtos intervalos de tempo, menores até
do que os períodos de incubação da sigatoka amarela. Neste sentido, observa-se
que a estratégia de desfolha parcial (cirurgias) das áreas foliares lesionadas é
bastante positiva, uma vez que reduz a concentração de propágulos do patógeno,
impedindo que a característica policíclica tenha continuidade. Na estação seca
do ano, entretanto, as taxas de progresso foram bem menores, porém, as
emissões foliares também se reduziram consideravelmente, culminando com um
segundo pico de maior intensidade. Conforme verificado nas coletas de esporos,
o segundo pico de intensidade da doença teve como principal responsável as
elevadas concentrações de ascósporos, os quais são disseminados pelo vento a
disncias bem maiores. Nestes casos, existe uma tendência de estabilização do
progresso da doença em patamares mais elevados, caso haja a paralisação da
emissão foliar. Esta tendência pode ser evitada com a destruição e a retirada dos
restos culturais do bananal, possibilitando que novas folhas sejam lançadas, com
menores índices da doença.
59
5.5 Monitoramento da concentração de conídios e ascósporos de
Mycospaherella musicola
As coletas dos esporos de M. musicola foram realizadas entre o período
de março de 2007 a outubro do mesmo ano. Nas avaliações iniciais, em março,
as concentrações de conídios foram relativamente altas, em torno de 1.800/m
3
,
tendo sido associada às chuvas de verão. A partir de meados de abril, quando
teve início o período de seca, elevaram-se consideravelmente as concentrações
de ascósporos, sendo esta tendência seguida, posteriormente, pela elevação na
concentração de conídios também. No mês de junho houve significativa queda
na concentração de ambos os esporos, o que pode ser explicado pela desfolha
realizada em todo o bananal pelo produtor, com o objetivo de reduzir o inóculo.
Entretanto, logo ao final do s de julho, no início da estação seca, as
concentrações novamente tornaram a subir, evidenciando que, apesar da falta de
chuvas, as frequentes ocorrências de pesados orvalhos foram suficientes dar
continuidade a liberação dos esporos, com predominância para os ascósporos.
Entre os meses de agosto a outubro, foram verificadas as mais baixas taxas de
umidade relativa do ar durante todo o ano, tendo acarretado um decréscimo tanto
na concentração de esporos quanto dos índices de infecção. Ao final de outubro,
com a ocorrência das primeiras chuvas da primavera, as concentrações de
conídios e ascósporos voltaram a crescer (Figura 14).
60
FIGURA 14: Variações nas concentrações de ascósporos e conídios da
sigatoka amarela em Coronel Pacheco, MG. UFLA, Lavras, MG,
2008.
Em todas as avaliações, verificou-se concentração de ascósporos
superior à de conídios, contrapondo o que afirmam os relatos de que as
produções de conídios são bem superiores às de ascósporos (Burt et al., 1997).
No entanto, para que haja a disseminação dos conídios, é necessária a ocorrência
de um filme d’água livre sobre as folhas, sendo dispersos pelos respingos e
gotejamentos. Já os ascósporos necessitam apenas de uma atmosfera com
elevada umidade relativa, sendo dispersos pelo vento (Stover & Simmonds,
1987). Como as armadilhas para a captura dos esporos estavam localizadas entre
as plantas e não sob as mesmas, observou-se que foi maior a eficiência para
quantificar os ascósporos.
Apesar de as concentrações de conídios terem sido observadas em picos
similares às dos ascósporos, deve-se considerar o fato que, na época fria do ano,
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
18/3/07
1
/4
/07
15/4/07
29
/4/07
5
/6
/07
21/6/07
8
/7
/07
22/7/07
6
/8
/07
21/8/07
14/9/07
9/10/07
19
/
10/0
7
31/10
/0
7
Épocas do Ano
Concentrações de
Ascósporos por m³
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
Concentrações de Conídios
por m³
Ascósporos Codios
61
muito provavelmente, estes propágulos pouco tenham encontrado as condições
ideais para a ocorrência de germinação e penetração.
Em todas as avaliações não houve diferença significativa entre as
concentrações dos esporos nas duas alturas avaliadas, tendo sido comprovada
pelas altas correlações (Tabela 4). Estas mesmas tendências foram observadas
por Burt et al. (1997), ao avaliarem as concentrações de conídios e ascósporos
de sigatoka na Costa Rica, em três diferentes alturas (3,0; 2,0, e 1,5m).
TABELA 4: Correlação entre as concentrações totais ao longo do dia de
ascósporos e conídios de M. musicola, nas duas diferentes
alturas (1,5m e 3,0m). UFLA, Lavras, MG, 2008.
Ascósporos Baixo Ascósporos Alto
Ascósporos Baixo
- 0,8520**
Ascósporos Alto
0,8520** -
Conídios Baixo Conídios Alto
Conídios Baixo
- 0,7242**
Conídios Alto
0,5701* -
**
significativo, a 1% de probabilidade;
*
significativo, a 5% de probabilidade.
Tanto na estação chuvosa quanto na época mais seca do ano, as maiores
concentrações de esporos ocorreram durante as primeiras horas do dia.
Entre 14 e 16 horas, observou-se considerável diminuição de conídios e
ascósporos, o que se deve, principalmente, à baixa umidade relativa associada às
mais altas temperaturas durante todo o dia.
62
FIGURA 15: Oscilações nas concentrações de ascósporos e codios da
sigatoka amarela ao longo do dia, coletados nas posições baixa
(1,5m) e alta (3,0 m), em Coronel Pacheco, MG, durante a época
das chuvas. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Concentração de Ascósporos e Conídios coletados a 1,5 m de altura
(mar/07)
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
1200,00
1400,00
6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 14:00 16:00 18:00
Horários de coleta
Concentração de
Esporos
Baixo Ascósporos Baixo Conídios
Concentração de Ascósporos e Conídios Coletados à 3,0 m de Altura
(Mar/07)
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 14:00 16:00 18:00
Horários
Concentração de
Espo ros
Alto Assporos Alto Conídios
63
FIGURA 16: Oscilações nas concentrações de ascósporos e codios da
sigatoka amarela ao longo do dia coletados nas posições baixa
(1,5m) e alta (3,0 m), em Coronel Pacheco, MG, durante a época
mais seca do ano. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Comparando-se as concentrações dos ascósporos nas duas épocas,
observa-se uma redução de, aproximadamente, 16% na seca em relação ao
Concentração de Ascósporos e Conídios Coletados a 1,5m de Altura
(Ago/07)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 14:00 16:00 18:00
Horários
Concentração de Esporos
Baixo Assporos Baixo Conídios
Concentração de Assporos e Conídios Coletados à 3,0 m de Altura
(Ago/07)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 14:00 16:00 18:00
Horários
Concentração de Esporos
Assporos Conídios
64
período chuvoso, com exceção para as contagens da parte mais alta, às 7 horas, a
qual apresentou um valor não diferente do obtido durante a estação chuvosa.
Esses dados seguem a mesma tendência descrita por Leach e citada por Wardlaw
(1961), admitindo a descarga de ascósporos com as elevações da umidade
relativa do ar, sem a necessidade de um filme d’água sobre as folhas.
Com relação às concentrações de conídios, observou-se que as maiores
quantidades não são observadas logo ao amanhecer, mas, a partir das 7 horas,
atingindo o ápice às 8 horas. Segundo Wardlaw (1961), os acérvulos
(conidióforos) devem estar cobertos com um filme d’água durante várias horas,
até que os conídios possam ser transportados pelos respingos. De fato, o que se
observou nas primeiras horas de coleta foi uma retenção da água do orvalho nas
superfícies adaxial e abaxial das folhas e, com os primeiros raios do sol, havia a
falsa impressão da ocorrência de uma chuva, tamanho era o gotejamento da água
desprendida dos limbos foliares. na estação seca, quando não se observava
sequer a formação de orvalho nas folhas, as contagens de conídios foram quase
desprezíveis em relação às dos ascósporos. Essas respostas demonstram que a
umidade relativa média de 73%, ocorrida durante o mês de agosto, foi suficiente
para provocar a liberação dos ascósporos.
Na análise da distribuição da concentração de conídios e ascósporos nos
diferentes horários do dia, somente os ascósporos apresentaram correlações
significativas positivas com o índice de infecção, após 29 dias da avaliação
(Tabela 5), o que é justificado pela duração média do período de incubação da
doença. Stahel (1937) descreveu um período mínimo de 28 dias para o
aparecimento das primeiras lesões visíveis a olho nu, a partir da inoculação,
tendo afirmado, ainda, que este período pode ser consideravelmente maior.
65
TABELA 5: Correlação entre as concentrações de ascósporos de
Mycosphaerella musicola coletadas ao longo do dia nas duas
alturas (1,5m e 3,0m) e os índices de infecção após diferentes
períodos. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Horário
de coleta
Posição de
coleta
Correlações com os índices de infecção
Mesmo
dia
15 dias
após
29 dias
após
43 dias
após
80 dias
após
1,5 m 0,09 0,41 0,48 0,27 0,21
6:00hs
3,0 m 0,20 0,49
0,58
*
0,22 0,17
1,5 m 0,12 0,43 0,54 0,27 0,21
7:00hs
3,0 m 0,22 0,46 0,48 0,08 0,01
1,5 m 0,13 0,39 0,52 0,25 0,15
8h00
3,0 m 0,20 0,38 0,55 0,13 0,01
1,5 m -0,01 0,28 0,50 0,29 0,25
9h00
3,0 m 0,03 0,28 0,48 0,28 0,21
1,5 m -0,31 -0,41 0,10 -0,51 -0,53
10h00
3,0 m -0,27 -0,20 0,47 0,08 0,09
1,5 m -0,45 -0,10 0,54 0,49 0,33
14h00
3,0 m -0,29 -0,17 0,48 0,30 0,19
1,5 m -0,43 -0,18 0,47 0,58 0,47
16h00
3,0 m -0,07 0,12 0,50 0,51 0,33
1,5 m -0,18 0,07
0,61*
0,52 0,49
18h00
3,0 m -0,23 0,01 0,56 0,59 0,52
*
significativo, a 5% de probabilidade.
Esses resultados demonstram a duração média do monociclo da doença e
podem auxiliar no estabelecimento de um cronograma de pulverizações e de
manejo para a retirada das fontes de iculo das áreas afetadas, sob essas
mesmas condições climáticas.
66
6 CONCLUSÕES
A curva de progresso da sigatoka amarela, em Coronel Pacheco, MG,
apresenta dois períodos de maior severidade, sendo o primeiro verificado na
estação chuvosa e o segundo na estação mais seca do ano.
As altas severidades observadas no período chuvoso foram
principalmemente causadas por infecções de conídios e no período da estação
seca, predominantemente por ascósporos.
As variáveis cliticas mais associadas ao progresso da doença foram a
pluviosidade, a umidade relativa e o molhamento foliar.
Na estação chuvosa, o progresso da doença acompanha o
desenvolvimento vegetativo do hospedeiro, sendo verificados os menores
períodos para o desenvolvimento de novas lesões.
Na estação seca, as lesões intensificam a severidade da doença em
função do menor desenvolvimento vegetativo do hospedeiro.
O progresso da doença ajusta-se ao modelo monomolecular, tanto na
época das chuvas quanto na época seca.
A representatividade da concentração dos esporos em uma dada área
pode ser obtida tanto nas coletas a 1,5 m quanto a 3,0m de altura.
É possível correlacionar a concentração de ascósporos com a severidade
da doença após 29 dias das contagens.
A liberação dos ascósporos ocorre predominantemente no início da
manhã enquanto a dos conídios se verifica as o escorrimento do orvalho
sobre as folhas.
67
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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68
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69
CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MONOCÍCLICOS DA SIGATOKA
AMARELA, LIGNINA E FENOIS TOTAIS, EM MUDAS DE
BANANEIRA
70
1 RESUMO
ROCHA, Hermínio Souza. Avaliação de parâmetros monocíclicos da sigatoka
amarela, lignina e fenóis totais, em mudas de bananeira. In:_______.
Epidemiologia da sigatoka amarela, quantificação de fenóis em variedades
de bananeiras e análise filogenética de isolados de Mycosphaerella musicola
utilizando microssatélites. 2008. 124 p. Tese (Doutorado em Fitopatologia)
Universidade Federal de Lavras, Lavras.
*
Para definir as variáveis de maior importância no progresso da doença é
necessário conhecer as particularidades do monociclo. Os períodos de incubação
e de latência do mal-de-sigatoka são influenciados por temperatura, chuva e
umidade relativa. Além disso, poucas são as informações sobre os veis de
fenóis e lignina durante o processo infeccioso da sigatoka amarela, bem como os
efeitos das variações climáticas e dos genótipos sobre a concentração desses
metabólitos secundários. Diante disso, foram avaliados no presente trabalho os
detalhes do monociclo do isolado de M. musicola originário de Coronel
Pacheco, MG, assim como a dinâmica das concentrações de fenóis totais e
lignina em diferentes genótipos de bananeira (Grande Naine, Pacovan, Prata
Zulu e Caipira) artificialmente inoculados e submetidos a diferentes
temperaturas (20
o
, 24
o
e 28
o
C). Após as inoculões nas folhas ‘zero’, ‘um’ e
‘dois’, as plantas foram transferidas para câmaras úmidas e mantidas sob
umidade relativa próximo a 100%, durante 4 horas diariamente. O
comportamento do isolado de M. musicola originário de Coronel Pacheco, MG,
quanto ao monociclo da doença, não foi diferente do observado na literatura,
tendo os menores períodos de incubação sido observados na temperatura de
24
o
C. A variedade Grande Naine foi a mais suscetível, apresentando a maior
área abaixo da curva de progresso da severidade da doença (AACPSD) e
também o menor período de latência. As concentrações de fenóis totais não se
alteraram ao longo do progresso da doença. Entretanto, as variedades Caipira e
Prata Zulu apresentaram os maiores teores de lignina após cinco dias da
inoculação, o que denota ser este um dos mecanismos bioquímicos envolvidos
na resistência.
*
Comitê Orientador: Edson Ampélio Pozza – UFLA (Orientador), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Orientador).
71
2 ABSTRACT
ROCHA, Hermínio Souza. Evaluation of Parameters in the Yellow-Sigatoka
Monocycle, Total phenolics and Lignin, in Banana Plantlets. In:_______.
Epidemiology of yellow Sigatoka, phenols quantification in banana varieties
and phylogenetic analysis of Mycosphaerella musicola isolates using
microsatellites. 2008. 124 p. Thesis (Doctor Degree in Plant Pathology) –
Lavras Federal University, Lavras..
*
To define the most important variables in the disease progress it is necessary to
know the particularities of the disease monocycle. Both the incubation and
latency periods of Yellow-Sigatoka are influenced by temperature, rain and
relative humidity. Besides this, few are the information about the levels of total
phenolics and lignin during the infectious process of Yellow-Sigatoka as well as
the effects of climatic variations and the genotypes over the concentrations of
these secondary metabolites. In this sense, the present work evaluated the details
of the monocycle of a specific Yellow-Sigatoka isolate form the city of Coronel
Pacheco in the state of Minas Gerais, Brazil, as well as the dynamics of the
concentrations of total phenolics and lignin in different banana genotypes
(Grande naine, Pacovan, Prata Zulu e Caipira) artificially inoculated and
submitted to different temperatures (20; 24 and 28
o
C). After having inoculated
leaves ‘zero’; ‘one’ and ‘two’, the plants were transferred to humid chambers
and kept under 100% relative humidity daily during 4 hours. The behavior of
this M. musicola isolate from Coronel Pacheco MG, regarding the disease
monocycle was not different than the registrations seen in literature, with the
shorter incubation periods being observed under the 24
o
C. Grande naine variety
was the most susceptible of all tested, presenting the largest AUDSPC (Area
Under Disease Severity Progress Curve) and also the smallest latency period.
Total phenolic concentrations did not alter along the disease progress.
Nevertheless, Caipira and Prata Zulu varieties presented the highest lignin levels
after five days of inoculation, which gives an evidence of being this, one of the
biochemical mechanisms involved in the resistance.
*
Guidance Committee: Edson Ampélio Pozza UFLA (Supervisor), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Supervisor).
72
3 INTRODUÇÃO
O mal-de-sigatoka tem como agente etiogico o fungo Mycosphaerella
musicola, Leach, que é a forma perfeita ou sexuada do fungo, enquanto
Pseudocercospora musae (Zimm.) Deighton corresponde à forma imperfeita ou
assexuada. Mourichon (1994) afirma que a diversidade genética em M. musicola
é resultante da reprodução sexuada e mais ainda da natureza heterotálica,
claramente demonstrada nesta espécie por Stover (1963).
As infecções causadas pela sigatoka amarela resultam em uma necrose
generalizada das folhas, reduzindo consideravelmente a área fotossintetizante.
Como principal conseqüência, causam redução significativa da produção, além
de acelerar a maturação dos frutos, mesmo quando ainda aderidos aos cachos, no
campo. A sigatoka amarela é uma doença endêmica no território nacional,
comprometendo grande parte da produção brasileira de bananas.
Para definir as variáveis de maior importância no progresso da doença é
necessário conhecer as particularidades do monociclo, ou seja, seus
componentes. Dentre eles, os de maior importância são o período de incubação e
o período de latência, ou seja, o período de tempo compreendido entre a
inoculação e o aparecimento dos sintomas e o período de tempo compreendido
entre a inoculação e a produção de esporos, respectivamente (Parlevliet, 1979).
Embora as infecções causadas por M. musicola ocorram nas folhas
‘vela’, ‘um’, ‘dois’ e ‘três’, os sintomas só são observados geralmente a partir da
terceira, quarta ou quinta folha. Inicialmente, o observados pontos
apresentando leve descoloração entre as nervuras secundárias. Estas áreas
despigmentadas expandem-se e tornam o formato de estria de coloração
marrom-escura. Com o progresso da doença, as estrias expandem-se radialmente
e assumem o formato de manchas necróticas elíptico-alongadas e se dispõem
paralelas às nervuras secundárias (Gasparotto et al., 2006).
73
O período de incubação do mal-de-sigatoka é influenciado pela
temperatura, chuva e umidade relativa. Nas épocas mais quentes e chuvosas do
ano, o período de incubação da doença parece ser mais curto quando comparado
com os das épocas mais frias e secas (Meredith, 1970; Stover, 1972; Martinez,
1973; Alvarez, 1991). Guyot & Cuille (1958) correlacionaram o
desenvolvimento de lesões na folha com variações na temperatura e umidade
relativa, tendo concluído que a severidade da doença e a redução dos períodos de
incubação estavam sempre associadas a essas variáveis ambientais. Da mesma
forma, Moreu & Lebourdelles (1963) confirmaram que a temperatura e a
umidade relativa eram parâmetros importantes na ocorrência da doença.
Martinez (1963), no Vale do Ribeira, em o Paulo, observou maior incidência
do patógeno na faixa de temperatura de 24
o
a 29
o
C.
Cordeiro (1997), avaliando a variabilidade patogênica em 18 isolados,
observou alta variabilidade em 15 deles, atribuindo esta particularidade à
ocorrência de reprodução sexuada, heterotalismo, anastomose de hifas e
heterocariose. O autor afirma, ainda, que a variável período de incubação poderá
funcionar como indicador da agressividade de isolados e ou da magnitude da
resistência.
Pouco se sabe sobre os níveis de fenóis e lignina durante o processo
infeccioso da sigatoka amarela, bem como os efeitos das variações climáticas e
dos genótipos sobre a concentração destes metabólitos secundários. Os
compostos fenólicos servem como defesa natural contra herbívoros e patógenos,
tendo sido encontrada correlação entre os teores dessa substância com a
resistência da planta (Misaghi, 1980; Goodman et al., 1986).
Assim, objetivou-se com este trabalho determinar os parâmetros
monocíclicos para o isolado de M. musicola de Coronel Pacheco, MG, em
plantas de bananeira artificialmente inoculadas e avaliar também a dinâmica dos
teores de fenóis totais e lignina durante a patogênese. Dessa forma, é possível
74
definir as variáveis mais importantes no progresso da doença, além de se ter uma
noção dos mecanismos bioquímicos envolvidos durante a patogênese.
75
4 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em câmaras de crescimento com
temperatura controlada, no Departamento de Fitopatologia da Universidade
Federal de Lavras (DFP/UFLA), em Lavras, MG, no período de setembro de
2007 a novembro do mesmo ano, tendo seguido as etapas descritas abaixo.
4.1 Isolamento do patógeno
Seguindo a metodologia descrita por Cordeiro (1997), foram coletados
pedaços de folhas, na área experimental de Coronel Pacheco, MG, apresentando
lesões características da sigatoka amarela, em estádios IV e V, de acordo com as
descrições propostas por Burn (1963), citado por Stover (1972). Os segmentos
de folhas foram primeiramente lavados com água de torneira e detergente e
deixados para secar em papel toalha. Em seguida, foram extraídos pequenos
pedaços de formato retangular na posição limítrofe entre a área lesionada e o
tecido sadio, medindo, aproximadamente, 50 x 25 mm, os quais foram
submetidos à desinfestação superficial, em ambiente estéril, na câmara de
fluxo laminar. Os tratamentos para a desinfestação consistiram de um banho em
solução de álcool 70%, durante 30 segundos, seguido da transferência para uma
solução de hipoclorito de sódio a 1,25%, durante 3 minutos, finalizando com a
tríplice lavagem em água destilada e autoclavada.
Após a desinfestação, procedeu-se à transferência das porções
retangulares para placas de Petri contendo meio BDA, as quais foram
transferidas para estufa incubadora BOD com temperatura ajustada para 25
o
C e
fotoperíodo de 12 horas. Após 48 horas, as placas foram abertas sob microscópio
estereoscópico para a identificão dos esporodóquios e com o auxílio de estilete
de ponta fina, flambado, procedeu-se à transferência dos conídios para outra
76
placa de Petri contendo meio V8. As 5 a 7 dias, foi possível visualizar as
colônias compactas de coloração acinzentada, crescendo no meio de cultura.
4.2 Indução de esporulação
Em câmara de fluxo laminar, procedeu-se a maceração com bastão de
vidro, das colônias do isolado de M. musicola mantidas em BOD. Em seguida,
foram diluídas em água destilada e deionizada, e espalhadas sobre a superfície
de placas de Petri contendo meio V8. As placas foram seladas com filme
plástico em ¾ de seu perímetro e transferidas novamente para BOD, com
temperatura ajustada para 28
o
C e fotoperíodo de 12 horas. Após 10 dias de
incubação, adicionaram-se 15 mL de água destilada esterilizada sobre as
colônias e procedeu-se a liberação dos conídios com pincel, que era passado
sobre as colônias com movimentos suaves. Após 15 minutos do pincelamento, a
suspensão obtida foi filtrada e quantificada sua concentração em câmara de
Newbauer. Com as devidas diluições, ajustou-se a concentração de esporos para
4.10
4
conídios/mL.
4.3 Teste de patogenicidade
O teste de patogenicidade foi realizado utilizando-se a variedade Grande
Naine, devido à sua conhecida característica de alta suscetibilidade à sigatoka
amarela. Mudas micropropagadas medindo aproximadamente 25 cm foram
inoculadas por atomização, tanto na superfície adaxial quanto abaxial das folhas
0, 1 e 2. As a inoculação, seguiu-se um período de 48 horas sob câmara
úmida, sendo posteriormente submetidas à alternância de períodos de altas e
baixas umidades relativas (16 horas de alta umidade e 6 horas de baixa). Após
60 dias, pôde-se observar os sinais característicos da doença.
77
4.4 Inoculações em plantas mantidas emmaras úmidas
Para as inoculações, foram utilizadas plantas micropropagadas de duas
variedades resistentes à sigatoka amarela, Caipira (AAA) e Prata Zulu (AAB), e
duas variedades suscetíveis, Pacovan (AAB) e Grande Naine (AAA).
As inoculões foram realizadas com atomizador plástico, com uma
suspensão de 4.10
4
conídios/mL até o ponto de escorrimento, nas folhas zero,
um e dois, tanto nas superfícies abaxial quanto adaxial das plantas. Após
inoculadas, as folhas foram marcadas com fitas plásticas coloridas, para que as
avaliações fossem sempre nas mesmas bases.
Em seguida, as plantas foram transferidas para o interior de câmaras
úmidas, com temperatura e umidade relativa controladas (Figura 1). Foram
utilizadas três diferentes câmaras (20
o
, 24
o
e 28
o
C), sendo todas vedadas nas
laterais, acima e abaixo, com plástico transparente, selados com velcro, de modo
a permitir a abertura diária. A finalidade, neste caso, foi proporcionar, com a
abertura do plástico, uma rápida perda de água presente na superfície das folhas,
a exemplo do que ocorre na natureza, com o orvalho depositado sobre as folhas
durante a noite. O fotoperíodo foi de 12 horas diárias, mantido com lâmpadas
fluorescentes brancas, instaladas na parte superior das câmaras, a uma altura
média de 1,2m acima do nível médio das folhas das mudas. Nessas condições, a
intensidade luminosa nas folhas era de 2.000-2.300 lux.
78
FIGURA 1: Câmara úmida utilizada para promover condições ideais para
a infecção por Mycosphaerella musicola, em mudas
micropropagadas de bananeira. UFLA, Lavras, MG, 2008.
A alta umidade relativa foi mantida por meio de um equipamento de
nebulização ultrassônico (Humid air
TM
), posicionado a 1,2m acima do nível.
Para a incubação, foi mantida a umidade relativa em 100%, durante as
primeiras 72 horas, sendo, posteriormente, submetidas à alternância de 4 horas
de alta umidade e 20 horas de baixa umidade, seguindo a metodologia de Goos
& Tschirch (1963), descrita por Cordeiro (1997). Para que a umidade relativa se
reduzisse o mais rapidamente possível, os plásticos frontais das câmaras eram
removidos pela mane permaneciam abertos ao início do próximo turno de
nebulização. O experimento foi avaliado durante 60 dias.
4.5 Variáveis respostas avaliadas
4.5.1 Área abaixo da curva de progresso da severidade da doença
(AACPSD)
O progresso da doença expresso pela severidade foi mensurado somente
nas folhas inoculadas, utilizando-se a escala de Stover modificada por Gahul,
demonstrada na Figura 3 do capítulo anterior e descrita abaixo. Utilizou-se a
79
porcentagem efetiva de severidade para cada grau da escala, separadamente,
para as folhas 0, 1 e 2 de cada planta, aplicando a rmula de AACPSD descrita
a seguir. As avaliações foram realizadas após 60 dias das inoculões.
Nota 0 – folha sem sintomas;
Nota 1 – até 10 manchas na folha;
Nota 2 – entre 1% e 5% do limbo foliar apresentando manchas;
Nota 3 – entre 6% e 15% do limbo foliar apresentando manchas;
Nota 4 – entre 16% e 33% do limbo foliar apresentando manchas;
Nota 5 – entre 34% e 50% do limbo foliar apresentando manchas;
Nota 6 – mais que 50% do limbo foliar apresentando manchas;
Traço – folha totalmente necrosada, ainda retida junto ao pseudocaule.
AACPSD
( )
=
+
+
+
=
1
1
1
1
2
n
i
ii
ii
tt
yy
em que:
AACPSD = área abaixo da curva de progresso da severidade da doença;
Yi = proporção da doença na i-ésima observação;
Ti = tempo em dias na i-ésima observação;
n = número total de observações.
A análise dos dados para esta variável foi realizada no esquema fatorial triplo
(temperaturas x variedades x folha inoculada), no delineamento em blocos
casualizados, com duas repetições cada tratamento.
4.5.2 Área abaixo da curva de progresso do número de lesões (AACPNL)
Seguindo a metodologia descrita por Cordeiro (1997), utilizou-se um
gabarito de plástico gido de cor negra, com área retangular de 50 cm
2
, que
80
serviu para amostrar cada um dos quatro quadrantes do limbo foliar, nos quais se
contava o número de lesões. As avaliações foram realizadas após 60 dias das
inoculações. A posição dos quadrantes seguiu sempre a seguinte ordenação:
Quadrante 1: lado esquerdo inferior do limbo foliar, na superfície adaxial.
Quadrante 2: lado esquerdo superior do limbo foliar, na superfície adaxial.
Quadrante 3: lado direito inferior do limbo foliar, na superfície adaxial.
Quadrante 4: lado direito superior do limbo foliar, na superfície adaxial.
OBS: Posição inferior, refere-se à porção mais próxima à bainha foliar.
De posse das quantidades de lesões em cada quadrante, calculou-se a
média das quatro leituras e aplicou-se a fórmula da AACPNL, conforme descrito
a seguir:
AACPNL
( )
=
+
+
+
=
1
1
1
1
2
n
i
ii
ii
tt
yy
em que:
AACPNL = área abaixo da curva de progresso do número de lesões;
Yi = proporção da doença na i-ésima observação;
Ti = tempo em dias na i-ésima observação;
n = número total de observações.
A análise dos dados para esta variável foi realizada no esquema fatorial
triplo (temperaturas x variedades x folha inoculada), no delineamento em blocos
casualizados, com duas repetições cada tratamento.
81
4.5.3 Período de incubação (PI)
Tempo decorrido, em dias, entre a inoculação e o aparecimento dos
primeiros sintomas em quaisquer das folhas inoculadas.
A análise dos dados para esta variável foi realizada no esquema fatorial
duplo (temperaturas x variedades), no delineamento em blocos casualizados,
com duas repetições cada tratamento.
4.5.4 Período de latência (PL)
Tempo decorrido, em dias, entre a inoculão e o aparecimento da
primeira lesão esporulada, estádio V, definido por Brun (1963), nas diferentes
folhas de cada planta.
A análise dos dados para esta variável foi realizada no esquema fatorial
triplo (temperaturas x variedades x folha inoculada), no delineamento em blocos
casualizados, com duas repetições cada tratamento.
4.5.5 Período de desenvolvimento da doença (PDD)
Tempo decorrido entre a inoculação e o aparecimento das primeiras 10
lesões esporuladas, nas diferentes folhas de cada planta.
Para a realização da análise estatística e a verificação do efeito dos
tratamentos, foi utilizado o delineamento experimental em blocos casualizados,
em esquema fatorial duplo 4 x 3 , sendo testadas quatro diferentes variedades em
três temperaturas, com quatro repetições cada. A análise de variância e a
discriminação entre os tratamentos foram realizados utilizando-se o programa
estatístico SISVAR, do Departamento de Ciências Exatas da Universidade
Federal de Lavras (DEX/UFLA). A análise de homogeneidade e normalidade
dos dados foi realizada pelo programa SAS (The SAS System for Windows,
SAS Institute Inc. Cary, NC, USA).
82
4.5.6 Preparo de extratos foliares para avaliação de lignina solúvel e fenóis
solúveis totais
Amostras foliares medindo 5cm
2
foram coletadas a partir da folha
mero 1, em todas as plantas (inoculadas e não inoculadas) mantidas na
temperatura de 24
o
C, nos diferentes tempos (5, 15 e 35 dias após inoculação),
compondo, assim, um esquema fatorial triplo (4 x 3 x 2) com 3 repetições cada.
Os tecidos vegetais foliares foram triturados em nitrogênio líquido, com
almofariz e pistilo, aa obtenção de um fino. Posteriormente, as amostras
foram liofilizadas por 12 horas (liofilizador condensador L101, marca
LIOBRAS). Uma alíquota de 30mg do material liofilizado foi transferida para
microtubo de 2 mL e homogeneizadas com 1,5 mL de metanol a 80% e mantidas
sob agitação, por 15 horas, em agitador rotativo, protegido da luz à temperatura
ambiente. A solução foi centrifugada, a 12.000 g, por 5 minutos. O sobrenadante
(extrato metanólico) foi transferido para novo microtubo, com o qual se realizou
a determinação de fenóis solúveis totais, enquanto o resíduo sólido foi utilizado
para a determinação de lignina solúvel.
4.5.7 Determinação de lignina solúvel
Foi adicionado ao resíduo sólido 1,5 mL de metanol 80%,
homogeneizado e centrifugado a 12.000g, por 5 minutos. O sobrenadante foi
descartado e o resíduo foi seco, a 65ºC, por 15 horas. Posteriormente,
acrescentou-se 1,5mL de solução de ácido tioglicólico:HCl 2M (1:10). Em
seguida, agitaram-se suavemente os microtubos para hidratar o resíduo e estes
foram colocados em banho-maria, a 100ºC, por 4 horas.
Posteriormente, os microtubos foram centrifugados, a 10.000g, por 10
minutos, o sobrenadante foi descartado e o precipitado lavado com 1,5mL de
água ultrapura e, novamente, centrifugados a 10.000g, por 10 minutos.
83
Posteriormente, o sobrenadante foi descartado e o precipitado foi
ressuspenso em 1,5 mL de NaOH 0,5M e mantido em agitador rotativo por 15
horas, à temperatura ambiente. A mistura foi centrifugada, a 10.000g, por 10
minutos e o sobrenadante transferido para novo microtubo, ao qual foram
adicionados 200 µL de HCl concentrado. A suspensão obtida foi mantida em
câmara fria (4ºC), por 4 horas, para permitir a precipitação da lignina ligada ao
ácido tioglicólico.
A seguir, a mistura foi centrifugada, a 10.000g, por 10 minutos, o
sobrenadante descartado e o precipitado ressuspenso em 2 mL de NaOH 0,5M.
A absorbância desta solução foi determinada em espectrofotômetro a
280 nm e os valores calculados com base na curva de lignina, sendo expresso em
µg de lignina solúvel, por miligrama de matéria seca (adaptado de Doster &
Bostock, 1988).
4.5.8 Determinação de fenóis solúveis totais
Alíquota de 150µL do extrato metanólico foi misturada a 150µL do
reagente de Folin-Ciocalteau 0,25N, por 5 minutos, homogeneizada com 150µL
de Na
2
CO
3
1M, por 10 minutos e diluída com 1 mL de água ultrapura à
temperatura ambiente, por uma hora.
Os valores de absorbância desta reação foram determinados a 725 nm
em espectrofotômetro e calculados com base na curva de catecol. Os compostos
fenólicos totais foram expressos em equivalente µg de catecol por miligrama de
matéria seca (Spanos & Wrolstad, 1990).
84
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Área abaixo da curva de progresso da severidade da doença (AACPSD)
Houve diferenças estatísticas significativas para os fatores temperatura e
posição da folha isoladamente e também para a interação entre os fatores
temperatura x variedade.
Quanto à temperatura, as maiores AACPSD foram verificadas a 24
o
C
(2,23) e 28
o
C (1,37), para todas as variedades de bananeira testadas com o
isolado de Mycosphaerella musicola proveniente de Coronel Pacheco (Figura 2).
Segundo Stover (1980), somente em temperaturas acima de 20
o
C, os esporos
sobre as superfícies foliares irão penetrar os estômatos, desde que haja água livre
próximo ao ponto de saturação, durante 48-72 horas. É justamente a partir da
penetração das hifas fúngicas, através dos estômatos, que será desencadeado o
processo de colonização do parênquima paliçádico, culminando com a necrose
do tecido foliar. Por outro lado, Simmonds (1959) indicou que, sob temperaturas
acima de 26,67
o
C, ocorre inibição da esporulação e do crescimento vegetativo e
abaixo de 17,77
o
C, se previnem infecções.
Para Mycosphaerella fijiensis, Jacome et al. (1991) verificaram uma
resposta quadrática da temperatura sobre a germinação de conídios, com um
ponto ótimo situado em 26,5
o
C. Todavia, Mourichon et al. (1997) afirmam que a
sigatoka amarela é mais adaptada às temperaturas mais frias e prevalece sobre a
sigatoka negra em altitudes acima de 1.200 a 1.400m, a qual situa-se muito
próximo à faixa que produziu a maior AACPSD neste trabalho (Figura 2).
85
0,6829 B
2,2362 A
1,3783 A
0
0,5
1
1,5
2
20 24 28
Tem peratura °C
AACPSD
FIGURA 2: dias das áreas abaixo da curva de progresso da severidade
da doença (AACPSD) de Mycosphaerella musicola, nas diferentes
temperaturas avaliadas. UFLA, Lavras, MG. 2008.
As maiores áreas abaixo da curva de progresso da severidade da doença
(AACPSD) relacionadas à posição da folha foram obtidas em inoculações
realizadas nas folhas 0 e 1, com 1,83 e 1,49, respectivamente (Tabela 1).
Resultados semelhantes foram reportados por Romero (1995) para
Mycosphaerella fijiensis, tendo sido verificado que as folhas mais novas são
mais suscetíveis (primeira a terceira) do que as mais velhas. Leach (1946)
descreveu a importância da localização ou idade das folhas apresentando lesões,
para a determinão do aumento ou decréscimo de doença entre avaliações.
Segundo Stover (1980), o tempo necessário para haver a infecção coincide com
a emissão foliar, podendo-se deduzir que a folha zero, recém-lançada, é a mais
suscetível à infecção e, por conseguinte, deve ser a mais afetada.
Com relação à interação entre os fatores variedade x temperatura,
observou-se que, a 20
o
C, não houve diferença entre as variáveis nas quatro
variedades testadas (Grande Naine, Pacovan, Prata Zulu e Caipira). Entretanto,
na temperatura de 24
o
C, verificou-se que a variedade Grande Naine apresentou
maiores AACPSD em relação às demais, as quais não diferiram entre si.
86
TABELA 1: dias das áreas abaixo da curva de progresso da severidade
da doença (AACPSD) de Mycosphaerella musicola em relação às
diferentes posições de folha avaliadas. UFLA, Lavras, MG.
2008.
Folha inoculada AACPSD
0 1,8368 A
1 1,4996 A
2 0,8388 B
As médias seguidas pelas mesmas letras o diferem entre si, pelo teste de Skott-Knott,
a 1% de probabilidade.
a 28
o
C, a variedade Grande Naine foi que apresentou a menor
AACPSD, invertendo a tendência de maior suscetibilidade dentre as variedades
testadas (Tabela 2).
TABELA 2: Médias das áreas abaixo da curva de progresso de severidade
da doença (AACPSD) de Mycosphaerella musicola, em função de
três diferentes temperaturas e quatro variedades avaliadas.
UFLA, Lavras, MG. 2008.
Temperaturas
Variedades
20
o
C 24
o
C 28
o
C
Caipira 0,6483Ab 1,8466Ba 1,6827Aa
Prata Zulu 0,6714Aa 1,3043Ba 1,4277Aa
Pacovan 0,6663Ab 2,0070Ba 1,7360Aa
Grande Naine 0,7475Ab 4,2592Aa 0,7851Bb
As médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na vertical e minúsculas na
horizontal não diferem entre si, pelo teste de Skott-Knott, a 1% de probabilidade.
87
Simmonds, citado por Wardlaw (1961) em Queensland, na Austrália,
sugeriu que tanto o crescimento vegetativo quanto a esporulação de M. musicola
retarda-se em temperaturas acima de 26,6
o
C. Ele atribuiu parcialmente o
decréscimo do progresso da doença durante o verão australiano à ocorrência de
temperaturas acima desta faixa.
Por outro lado, comparando-se as três temperaturas dentro de cada
variedade isoladamente, verifica-se que, para os dois genótipos suscetíveis
(Grande Naine e Pacovan), as temperaturas resultantes em maiores AACPSDs
foram 24
o
e 28
o
C, sendo observadas as maiores médias para a variedade Grande
Naine a 24
o
C, corroborando com os relatos encontrados na literatura.
Estes resultados encontram respaldo na afirmação de Wardlaw (1961)
quando registra que o aparecimento de listras de coloração esverdeada para
marrom, visíveis a olho nu, na segunda, terceira ou quarta folha, depende do
genótipo e das condições ambientais. Stover (1964) também afirma que o
declínio na produção de peritécios e espermogônios esassociado a uma queda
na temperatura mínima diária abaixo de 21
o
C, mesmo quando as chuvas foram
abundantes.
5.2 Área abaixo da curva de progresso do número de lesões (AACPNL)
Para esta variável, os fatores temperatura (Figura 3) e posição da folha
(Tabela 3) apresentaram significância isoladamente, com 1% de probabilidade.
O fator variedade e todas as outras interações entre os fatores estudados não
foram significativos.
Quanto ao fator temperatura, houve diferenças significativas, tendo sido
verificados os maiores valores nas faixas de 24
o
C (218,32) e 28
o
C (223,04). Na
temperatura de 20
o
C, média inferior foi observada (88,80) (Figura 3).
88
88,80 B
218,32 A
223,04 A
0
50
100
150
200
250
300
20 24 28
Temperatura °C
AACPNL
FIGURA 3: dias das áreas abaixo da curva de progresso do número de
lesões (AACPNL) de Mycosphaerella musicola, nas diferentes
temperaturas avaliadas. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Esses resultados são justificados por Stover (1980), ao afirmar que o
ciclo da doença tem início com a germinão de conídios e ascósporos na
superfície foliar e que este evento é dependente da umidade e da temperatura. A
penetração do tubo germinativo nos estômatos ocorre quando as temperaturas
permanecem acima de 20
o
C durante 2-3 dias e com a umidade relativa do ar
próximo a 100%. Com relação à posição da folha, verifica-se que as inoculações
realizadas na folhas 0 resultaram nos maiores valores de AACPNL (225,07). As
outras posições (1 e 2) não diferiram entre si, porém, apresentaram médias
inferiores (156,08 e 119,00, respectivamente) (Tabela 3). Segundo Meredith
(1970), as duas folhas mais novas após a vela raramente apresentam sintomas da
doença, sendo os primeiros sintomas visíveis entre 11 e 106 dias as a
germinação. Estes resultados seguiram a mesma tendência verificada para a
variável AACPSD.
89
TABELA 3 Médias das áreas abaixo da curva de progresso do número de
lesões (AACPNL) de Mycosphaerella musicola, em relação às
diferentes posições de folhas inoculadas. UFLA, Lavras, MG,
2008.
Folha inoculada AACPNL
0 255,07 A
1 156,08 B
2 119,00 B
As médias seguidas pelas mesmas letras o diferem entre si, pelo teste de Skott-Knott,
a 1% de probabilidade.
5-3 Período de incubação (PI)
O período de incubação apresentou significância estatística para os
fatores temperatura e variedades, isoladamente.
Os mais curtos períodos de incubação, que denotam uma maior
agressividade do isolado, foram observados na temperatura de 24
o
C (21,31 dias),
tendo, nas temperaturas de 28
o
e 20
o
C, a duração foi superior e igual entre ambas
(Figura 4).
90
24,31 A
21,31 B
24,88 A
31,98 B
46,48 A
33,44 B
50,25 A
42,86 B
47,37 A
0
10
20
30
40
50
60
20 24 28
Temperatura °C
Dias
PI
PL
PDD
FIGURA 4: dias dos períodos de incubação (PI), períodos de latência
(PL) e períodos de desenvolvimento da doença (PDD) de
Mycosphaerella musicola, nas diferentes temperaturas avaliadas.
UFLA, Lavras, MG, 2008.
Na Costa Rica, sob condições climáticas favoráveis e com hospedeiros
suscetíveis, o período de incubação pode ser tão curto quanto 13-14 dias, ao
passo que, sob condições climáticas desfavoráveis, a duração deste pode se
estender por até 35 dias, para Mycospaerella fijiensis (Marin et al., 2003).
Mouliom-Pefoura et al. (1996), comparando o progresso da sigatoka
negra e amarela em bananas e ptanos nas várias zonas ecológicas da República
dos Camarões, reportaram que, sob elevadas altitudes, caracterizada por
temperaturas mínimas em torno de 18
o
a 15
o
C, foram verificados períodos de
incubação para Mycospaerella musicola inferiores em relação a M. fijiensis (15 a
18 dias e 22-25 dias, respectivamente). Este fato, segundo os autores, pode ser
atribuído à dominância da sigatoka amarela em regiões de elevada altitude.
Para as diferentes variedades testadas, tanto Grande Naine quanto
Pacovan apresentaram os menores períodos de incubação (20,83 e 20,66,
respectivamente) (Tabela 4), devido ao fato de ambas serem genótipos
suscetíveis à sigatoka amarela (Gasparotto et al. 2006). Os dois genótipos
91
resistentes não diferiram estatisticamente entre si e apresentaram os maiores
valores para esta variável.
Variedades de bananeiras suscetíveis a M. musicola e a M. fijiensis
apresentam menor período de incubação e maior número de manchas e
esporulação nas folhas do que outras variedades resistentes. Com o aumento do
nível de resistência, aumenta-se também o tempo de transição entre os estádios
de evolução da doença.
TABELA 4 Médias, em dias, do período de incubação (PI) de
Mycosphaerella musicola, nas diferentes variedades de bananeira
avaliadas. UFLA, Lavras, MG. 2008.
Variedades PI (Dias)
Pacovan 20,6666 B
Grande Naine 20,8333 B
Prata Zulu 26,1666 A
Caipira 26,3333 A
As médias seguidas pelas mesmas letras o diferem entre si, pelo teste de Skott-Knott,
a 1% de probabilidade.
Em algumas variedades resistentes, o progresso dos sintomas é
interrompido nos primeiros estádios (Stover, 1972; Meredith, 1970; Fouré,
1985; Fouré et al., 1990).
5.4 Período de latência (PL)
O período de latência apresentou significância estatística para os fatores
temperatura, variedades e posição da folha isoladamente. Os menores períodos
foram observados nas temperaturas de 24
o
e 28
o
C igualmente e a variedade
Grande Naine se destacou em relação às demais, com o menor valor para esta
variável. O período de incubação, tal qual o período de latência, também varia
conforme as condições climáticas, a suscetibilidade do hospedeiro e as
92
intensidades das infecções (Marin et al., 2003). Na Costa Rica, esta variável em
Grande Naine teve duração de 25 até 70 dias, na estação chuvosa e seca,
respectivamente, para M.fijiensis.
Contrariamente aos resultados verificados neste trabalho, Wardlaw
(1961) afirma, como regra, que a doença atinge sua máxima atividade durante os
períodos de temperaturas mínimas e máxima umidade. Certamente, estas
observões se devem à influência negativa das baixas temperaturas sob o
desenvolvimento vegetativo do hospedeiro, permitindo que o avanço da doença
seja mais rápido do que a emissão de novas folhas.
Entretanto, Meredith (1970) observa o início da esporulação na fase
conidial após os estádios 4 e 5 da escala de Brun, sendo o nível máximo
verificado nas temperaturas de 25
o
a 28
o
C.
Cordeiro (1997), trabalhando com genótipos suscetíveis, Nanicão e Prata
Anã, observou com M. musicola, períodos de latência variando, em média, de 26
a 42,5 dias, e registrou a elevação nesta variável para 48 a 59,5 dias, nas mesmas
variedades, quando as plantas foram previamente submetidas à indução de
resistência.
TABELA 6 Médias, em dias, do período de latência de Mycosphaerella
musicola, nas diferentes variedades de bananeira avaliadas. UFLA,
Lavras, MG, 2008.
Variedades PL (Dias)
Pacovan 38,1428 A
Grande Naine 33,1428 B
Prata Zulu 38,3333 A
Caipira 39,0322 A
As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si, pelo teste Tukey, a 1% de
probabilidade.
93
Gauhl (1994) reporta que o tempo entre a emiso foliar até o
aparecimento da primeira lesão madura de sigatoka negra, sob condições
naturais, para a variedade Curare, tipo plátano, foi de 44 dias, enquanto para a
Valery, do subgrupo Cavendish, foi de 34 dias.
Apesar de detectada diferença estatística, pelo teste F, para o período de
latência, em relação ao fator posição da folha, as médias não foram
suficientemente grandes para separar as diferentes posições das folhas
inoculadas no teste de média.
TABELA 6 Médias, em dias, do período de latência de Mycosphaerella
musicola, nas diferentes posições da folha em plantas de bananeira
. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Posições da folha PL (Dias)
0 35,5208 A
1 37,9787 A
2 37,9761 A
As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si, pelo teste Tukey, a 5% de
probabilidade.
5.5 Período de desenvolvimento da doença (PDD)
O período de desenvolvimento da doença, que representa o intervalo de
tempo em dias, entre a inoculação e o aparecimento do primeiro grupo de, pelo
menos, dez lesões no estádio V da escala de Brun (1963) foi mensurado para
as variedades suscetíveis (Pacovan e Grande Naine). Isso porque, no caso das
variedades resistentes, muitas das folhas não chegaram a apresentar o número
mínimo de dez lesões, durante o intervalo de tempo em que foram avaliadas, ou
seja, 60 dias após as inoculações. A quantificação desta variável é mais precisa
do que a determinação do período de incubação, pois o depende da
identificação dos sintomas iniciais, os quais aparecem inicialmente em escala
microscópica e são de difícil percepção a olho nu (Gauhl et al., 2000).
94
Para esta variável, somente os fatores variedade e temperatura foram
estatisticamente significativos independentemente. Observa-se, no gráfico da
Figura 4, o mais curto período de desenvolvimento da doença sob 24
o
C em
relação às demais, tendo como média de 42,85 dias. Dentre as variedades
testadas, a Grande Naine alcançou o PDD em apenas 44,26 dias, diferenciando-
se da Pacovan que levou, em média, 50 dias.
Gauhl et al. (2000) observaram que o período de desenvolvimento da
doença difere entre a sigatoka negra e amarela, entre variedades e é afetado por
fatores ambientais e níveis de iculo.
Neste caso, o menor PDD deveu-se, certamente, à característica da
maior suscetibilidade da variedade Grande Naine, o que possibilitou o rápido
desenvolvimento da doença, culminado com a esporulação das lesões.
5.6 Dinâmica da concentração de feis totais e lignina
Para a concentração de fenóis totais, observou-se diferença estatística
significativa para a variável dias e também para a interação entre os fatores dias
x folha inoculada.
A concentração de fenóis não diferiu entre os tratamentos inoculados do
não inoculado, o que pode ser atribuído ao fato que, na espécie Musa sp., a
concentração desses compostos secundários (fenóis) já seja elevada em nível
constitutivo, visto que a sua elevada área foliar necessita de uma constante
proteção contra herbivoria. A principal função relacionada aos compostos
fenólicos está associada à defesa do vegetal contra fatores externos, bióticos e
abióticos, pois se trata de um mecanismo de resistência bioquímico p-formado
pela planta (Pascholati & Leite, 1994). As classes de compostos fenólicos mais
importantes são: a lignina, que fortalece mecanicamente as paredes celulares; os
pigmentos flavonoides, que agem como uma proteção contra a radiação
ultravioleta e como atrativos para os polinizadores e dispersores de sementes; os
95
taninos, os flavonoides e outros compostos fenólicos atuam na defesa contra a
herbivoria e os patógenos (Salgado, 2004).
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
Controle Inoculadas
Fenóis totais (µg mg
-1
MS)
5 dias 15 dias 35 dias
FIGURA 5: Concentração de fenóis totais (µg mg
-1
MS) em folhas de
bananeira inoculadas ou não com Mycosphaerella musicola, após
diferentes dias de pulverização. C = controle; I = inoculadas.
UFLA, Lavras, MG, 2008.
Houve diferenças estatísticas significativas para o fator variedade e
também para a interação entre os fatores variedade x dias x inoculão para a
concentração de linina nas folhas, ao longo do processo infeccioso
A lignina, juntamente com celulose e outros polissacarídeos que
ocorrem na parede celular das plantas superiores, funciona como uma barreira
física à penetração fúngica (Vance et al., 1980). A lignificação pode impedir o
desenvolvimento do fungo nos tecidos vegetais de várias maneiras: 1)
estabelecimento de barreira mecânica ao avanço e ao crescimento do patógeno;
2) modificação da parede celular, tornando-a mais resistente ao ataque de
96
enzimas hidrolíticas; 3) aumento da resistência das paredes à difusão de toxinas
produzidas pelos patógenos, impedindo que nutrientes do hospedeiro sejam
utilizados pelo invasor (Cavalcanti et al., 2005).
TABELA 7: Concentração de lignina (µg mg
-1
MS) em folhas de diferentes
variedades de bananeira inoculadas ou não com Mycosphaerella
musicola, após diferentes dias de pulverização. UFLA, Lavras,
MG, 2008. C = controle; I = inoculadas.
Variedades
de
bananeira
5 dias após
inoculação
15 dias após inoculação 35 dias após inoculação
I C I C I C
Pacovan
7,3819 Da 9,2646 Ca 9,4282 Ca 9,2521 Ba 9,8456 Ba 7,0228 Da
Grande
Naine
9,9769 Ca 7,5832 Da
10,9895
Ba
9,5001 Ba 10,5153Ba
10,9921
Ca
Caipira
13,4646 Aa
10,4125
Bb
13,0401
Aa
13,1947
Aa
14,5201 Aa
13,3056
Aa
Prata Zulu
12,1076 Ba
12,3138
Aa
12,8556
Aa
13,3474
Aa
14,2880 Aa
12,0062
Ba
As médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na vertical e minúsculas na
horizontal não diferem entre si, pelo teste de Skott-Knott, a 1% de probabilidade.
As variedades suscetíveis (Grande Naine e Pacovan) apresentaram
concentrações de lignina estatisticamente iguais em folhas inoculadas ou não-
inoculadas com M. musicola. Contudo, as concentrações de lignina nas
variedades resistentes Prata Zulu e Caipira, inoculadas e não-inoculadas, foram
estatisticamente superiores às concentrações das variedades suscetíveis,
comprovando que a lignina é uma barreira constitutiva contra M. musicola nas
variedades resistentes (Tabela 7).
97
A formação de lignina torna a parede celular das células vegetais rígidas
e seu principal papel nos vegetais é a sustentação da planta. Sua resistência física
e estabilidade química desempenham papel secundário, porém, importante como
proteção celular contra insetos, por ser indigerível por esses organismos, além
de, frequentemente, também estar associada ao bloqueio do crescimento de
patógenos (Taiz & Zeiger, 2004).
A influência da deposição de lignina é relatada como uma das reações
desencadeadas pela planta para a sua defesa contra penetração ou colonização de
tecidos vegetais, sendo a lignificação da parede celular frequentemente
associada à inibição do crescimento dos patógenos (Boudet, 1998). Como, em
todos os três períodos avaliados, houve diferença na concentração de lignina,
entre as plantas das variedades resistentes e as variedades suscetíveis, pode-se
supor que a lignificação seja um dos mecanismos bioquímicos envolvidos na
defesa nas variedades resistentes.
Amaral (2008) avaliou a influência de eliciadores biológicos e químicos
sobre as atividades de fenóis totais e a deposição de lignina em folhas de mudas
de cafeeiro tratadas com acibenzolar-S-metil (ASM) e folhas de café cv. Mundo
Novo naturalmente infectadas por H. vastatrix (NEFID). Este autor observou
que, aos 21 dias, o teor de lignina foi cerca de 10% superior nos tratamentos
com ASM e NEFID, em relação à testemunha absoluta e 15% em relação à
testemunha. Resende et al. (2002) verificaram que o uso ASM em mudas de
cacaueiros contra C. perniciosa, ativando os mecanismos de defesa por 30 dias
após a aplicação do referido produto, promovendo uma precoce lignificação dos
tecidos da planta.
Botelho et al. (2005) observaram que a aplicão de silício em mudas de
café proporcionou maiores concentrações de lignina na folha, favorecendo a
redução da intensidade de cercosporiose. Com o aumento das doses, no entanto,
ocorreu uma redução na translocação do silício, resultando na queda da
98
concentração de lignina na folha, porém, ainda em quantidade suficiente para
proporcionar redução na intensidade da doença.
99
6 CONCLUSÕES
O comportamento do isolado de Mycosphaerella musicola originário de
Coronel Pacheco, MG não foi diferente dos observados na literatura.
Os menores períodos de incubação e de desenvolvimento da doença
foram obtidos na temperatura de 24
o
C.
A variedade Grande Naine foi a mais suscetível, tendo integrado as
maiores AACPSD a 24
o
C.
As variáveis AACPNL e PL não demonstraram ser bons indicativos para
discriminar a temperatura ótima para promover a doença.
Para as variedades de bananeira testadas, os níveis constitutivos de
fenóis totais não se alteram como resposta à infecção por Mycosphaerella
musicola.
As variedades Caipira e Prata Zulu apresentam maior lignificação da
parede celular do que as variedades suscetíveis, o que denota ser este um dos
mecanismos bioquímicos envolvidos na resistência.
100
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103
CAPÍTULO 4
ANÁLISE FILOGENÉTICA POR MARCADORES MICROSSATÉLITES
DE ISOLADOS DE Mycosphaerella musicola ORIGINÁRIOS DAS
DIVERSAS REGIÕES PRODUTORAS DE BANANA NO BRASIL
104
1 RESUMO
ROCHA, Hermínio Souza. Análise filogenética por marcadores microssatélites
de isolados de Mycosphaerella Musicola originários das diversas regiões
produtoras de banana no Brasil. In:________. Epidemiologia da sigatoka
amarela, quantificação de fenóis em variedades de bananeiras e análise
filogenética de isolados de Mycosphaerella musicola utilizando
microssatélites. 2008. 124 p. Tese (Doutorado em Fitopatologia)
Universidade Federal de Lavras, Lavras.
*
O conhecimento sobre a diversidade genética e a estrutura populacional de um
dado patógeno são pré-requisitos indispensáveis para a definição de medidas de
controle eficazes. Considerando a natureza heterotálica de M. musicola e a
ocorrência da sigatoka amarela no Brasil em caráter endêmico desde 1944, é de
se esperar que uma ampla variabilidade genética tenha ocorrido, resultando em
respostas diferenciadas dos diversos genótipos de bananeiras em relação aos
isolados de M. musicola. Assim, um total de onze isolados de M. musicola,
agente causal da sigatoka amarela foram coletados em diversas regiões
brasileiras (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste), para a realização de estudos
filogenéticos por meio da utilização de marcadores de microssatélites. Todos os
primers amplificaram segmentos de DNA genômicos dos onze isolados de M.
musicola estudados e foi possível observar clara separação dos mesmos de
acordo com a região de origem. Os onze isolados coletados foram submetidos à
análise de similaridade genética por meio do programa NTSYS, utilizando o
coeficiente de Dice, tendo formado dois grupos maiores. Houve correlação entre
a agressividade do isolado originário da Bahia e a sua variabilidade, detectada
por primers SSR, gerando distanciamento dos demais isolados no dendrograma.
Essa correlação não foi observada para o isolado de Coronel Pacheco, MG, que
também apresentou maior agressividade no campo. Observou-se elevado
potencial de um par de primers específico para a diferencião entre a sigatoka
amarela e a negra, os quais poderão vir a se tornar marcadores moleculares para
utilização nos laudos fitossanitários, para fins de identificação do patógeno.
*
Comitê Orientador: Edson Ampélio Pozza – UFLA (Orientador), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Orientador).
105
2 ABSTRACT
ROCHA, Hermínio Souza. Phylogenetic Analysis of Mycosphaerella musicola
isolates from various Banana Producing Regions in Brazil by Microsatellite
Markers. In:________. Epidemiology of yellow Sigatoka, phenols
quantification in banana varieties and phylogenetic analysis of
Mycosphaerella musicola isolates using microsatellites. 2008. 124 p. Thesis
(Doctor Degree in Plant Pathology) Lavras Federal University, Lavras.
*
Knowledge about the genetic diversity and the population structure of a given
pathogen are indispensable pre requisites for the definition of the most efficient
control measures. Considering the hetherotalic nature of M. musicola and the
endemic occurrence of Yellow Sigatoka in Brazil, since 1944, it is likely that a
high genetic variability may have occurred, resulting in the differentiated
responses of the various banana genotypes in relation to the existing M.
musicola isolates. Hence, a total of eleven Yellow Sigatoka isolates were
collected in various Brazilian geographical regions (South, South-East, West-
Centre, and Northeast) to be used in a phylogenetic study with microsatellite
markers. By means of the NTSYS program, using Dice coefficient, all the
primers amplified genomic DNA fragments from all eleven isolates and it was
possible to observe a clear separation of the isolates according to their
geographical origin. Two major groups were formed. A correlation between the
isolate aggressiveness from the state of Bahia and its variability was noticed by
one pair of SSR primers, generating a certain distance from the other isolates in
the drendrogram. This same correlation was not observed for the isolate from
Coronel Pacheco MG, which also presented a differentiated aggressiveness in
the field. It was also observed a high potential of one specific pair of primers to
be used in the differentiation between black and Yellow Sigatoka, which may
become molecular markers to be used for phytossanitary reports, with the
purpose of identifying the pathogen.
*
Guidance Committee: Edson Ampélio Pozza UFLA (Supervisor), Zilton José Maciel
Cordeiro – Embrapa CNPMF (Co-Supervisor).
106
3 INTRODUÇÃO
A doença da mancha das folhas em bananeiras, cujo agente etiológico é
Mycosphaerella musicola Leach (Stat. Conid. Pseudocercospora musae Zimm.),
foi observada pela primeira vez próximo a Biotenzorg, em Java, por
Zimmermann, em 1902. O relato seguinte da ocorncia da doença veio do
distrito de Sigatoka, na ilha de Viti Levu, em Fiji, no ano de 1912 (Philpott &
Knowles, 1913). Naquele distrito, observou-se, pela primeira vez, o
desenvolvimento da doença na sua forma de epidemia, resultando no nome
popular doença-de-Sigatoka ou, simplesmente, sigatoka, que persiste até então
(Knowles, 1916). Posteriormente, a doença foi identificada na Ásia, África,
Américas Central e do Sul e Caribe, tendo rapidamente se tornado uma das mais
importantes doenças para a cultura da bananeira (Meredith, 1970).
No Brasil, a sigatoka amarela foi constatada, pela primeira vez, no
estado do Amazonas, em 1944, (Kimati & Galli, 1980), sendo encontrada
posteriormente em todos os estados brasileiros. Em 1994, M. musicola foi citada
como disseminada por todas as regiões produtoras de banana do Brasil e do
mundo, provocando consideráveis prejuízos na produção de frutos (Fourè,
1994). Por causa da alta taxa de progresso da sigatoka negra, trabalhos mais
recentes foram focados principalmente em M. fijiensis. Entretanto, apesar do
proeminente papel de M. fijiensis, M. musicola, ainda é o patógeno prevalecente
em altitudes maiores e também em áreas onde cultivares resistentes à sigatoka
negra vêm sendo cultivadas.
As informões sobre a diversidade genética e a estrutura populacional
de um dado patógeno são um pré-requisito para a definição de medidas de
controle mais adequadas. De acordo com Carlier et al. (2003), a natureza
heterotálica, tanto de M. fijiensis quanto de M. musicola, permite trocas de
107
material genético, desempenhando um importante papel relevante na geração da
variabilidade genética dentro das populações.
Com o avanço da biologia molecular na última década, estudos
envolvendo a variabilidade genética desses fungos foram facilitados, levando ao
desenvolvimento de marcadores moleculares diversos, do tipo RAPD, RFLP e
microssatélites (SSR), capazes de indicar pequenas diferenças genômicas entre
isolados de diferentes origens (Carlier et al., 1994, 1996; Muller et al., 1997;
Neu et al., 1999; Molina et al., 2001; Molina et al., 2002; Moreira et al., 2003.)
Moreira et al. (2003) realizaram a caracterização genética de 24 isolados
de Mycosphaerella musicola de diferentes regiões geográficas no Brasil, pela
técnica de RAPD. Foi observada uma grande variabilidade genética entre os
isolados, a qual teria sido atribuída ao grande mero de variedades suscetíveis,
à condição climática, à ocorrência de reprodão sexuada e também à natureza
heterotálica do fungo. Do mesmo modo, marcadores RFLP foram desenvolvidos
para o genoma de M. fijiensis e utilizados para caracterizar as populações deste
patógeno em escala global e regional na África. (Carlier et al., 1994, 1996;
Muller et al., 1997). Tentativas de transferir marcadores moleculares de M.
fijiensis para M. musicola não foram bem sucedidas (Molina et al., 2001).
De modo geral, os marcadores moleculares tornaram-se importantes
ferramentas para as investigações sobre a composição genética de populações de
fungos (Carlier et al., 1994; Groppe & Boller, 1997; Bucheli et al., 2001). Mas,
entre as diversas técnicas disponíveis, testadas com o nero Mycosphaerella,
Molina & Kahl (2002) avaliaram que os marcadores baseados em microssatélites
teriam o maior potencial. Esses marcadores, também denominados de repetições
de sequência única (SSR), possuem sequências curtas com 2 a 5 pares de bases,
enquanto os minissatélites são repetições em “tandem mais longas (STR),
contendo, aproximadamente, 20 pares de bases. Habitualmente, estes dois tipos
de marcadores o denominados de VNTRs (repetições em tandem) em
108
mero variável (Dowling et al., 1996). Os loci de microssatélites são ideais
para análises da biologia e genética de populações, pois apresentam alelos co-
dominantes e são amplificados por iniciadores específicos, o que os torna
robustos, de fácil registro e prontamente disponíveis entre grupos de
pesquisadores. Adicionalmente, eles tendem a ser mais polimórficos do que
outros marcadores amplificáveis (Selkoe & Toonen, 2006).
Carlier et al. (1994) construíram uma biblioteca genômica que permitiu
a identificação de 26 marcadores do tipo microssatélite, específicos para M.
musicola. Além desses, outros marcadores SSR foram descritos para M. fijiensis
(Neu et al., 1999) e para M. musicola (Molina et al., 2001), os quais, juntamente
com outros métodos de perfil de DNA, baseados em PCR, mostraram ser um
método eficiente para comparar a diversidade genética tanto de M. fijiensis
quanto de M. musicola. Molina & Kahl (2001), trabalhando com a diversidade
genética e filogenia de M. fijiensis e M. musicola, por meio de marcadores de
microssatélites, identificaram que um mero mínimo de nove marcadores é
necessário para se discriminar os indivíduos em dendrogramas com
agrupamentos de UPGMA.
No Brasil, Montarroyos (2005) observou elevada diversidade genética
em isolados de M. musicola, provenientes do estado de Pernambuco, por meio
da utilizão de marcadores RAPD, não tendo sido verificada correlação entre a
diversidade genética observada e as origens geográficas dos isolados. Entretanto,
considerando-se a importância da sigatoka no Brasil, poucos esforços m sido
direcionados aos estudos da genética da população de M. musicola.
Dessa forma, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar
a variabilidade genética de isolados brasileiros de M.musicola, provenientes de
diferentes regiões, por meio de dez marcadores de microssatélites.
109
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1.Coleta de isolados
Um total de 11 isolados de M. musicola representativos das diversas
regiões produtoras de banana no Brasil foram analisados e também um controle
de M. musicola e um de M. fijiensis, obtidos no Instituto Biológico de o
Paulo (Tabela 1). Devido à inexistência de uma coleção nacional de isolados de
M. musicola, foram feitos contatos telefônicos com diversas secretarias estaduais
e municipais de agricultura e a com produtores, com a finalidade de obter
amostras foliares com sintomas de sigatoka amarela, a partir das quais foram
feitos os isolamentos, cultivos ‘in vitro e posterior extração do DNA das
culturas mantidas em meio líquido rotacionado.
Os isolados de M. musicola foram obtidos a partir de folhas
apresentando lesões em estádio IV, de acordo com a escala de desenvolvimento
de lesões de Brun (1958). A metodologia de isolamento seguida foi a mesma
descrita no capítulo 3. Após terem sido isoladas, as culturas foram transferidas
para meio líquido BD/IFB composto de 200g de batata, 20g de dextrose em
1.000 mL de água destilada, acrescido de 200g de infuso de folhas de bananeira,
tendo sido aferido o pH para 5,7, conforme metodologia descrita por
Montarroyos et al. (2007). As culturas foram mantidas por 28 dias em
incubadora, com rotação de 80 rpm e na ausência de luz.
110
TABELA 1: Relação dos Isolados de Mycosphaerella musicola, coletados em
2007, nas diversas regiões produtoras de banana no Brasil. UFLA,
Lavras, MG, 2008.
Localidade Código
Responsável pela
coleta
Variedade
Missal, PR MIS – PR Não informado Prata Anã (AAB)
Tuiui, SP SP – NC Flávio Medeiros Nanio (AAA)
Lavras, MG LVR – PR
Herminio S.
Rocha
Prata comum (AAB)
Porteirinha, MG POR-PR
Pedro Martins
Ribeiro
Prata Anã (AAB)
Coronel Pacheco,
MG
CP – NC
Herminio S.
Rocha
Saquarema (AAA)
Dourados, MS MS-PR Grazielli Frotas Prata Anã (AAB)
Vianópolis, GO MAC - GO Carlos A. Rezende
Maçã (AAB)
Gandu, BA TR – BA
Hermínio Souza
Rocha
Terra (AAB)
Machados, PE PC PE 2
Marcos Antônio
Duarte
Pacovan (AAB)
Fortaleza, CE
CE – PA
Não informado Prata Anã (AAB)
Balsas, MA MA-02 Não informado Pacovan (AAB)
Instituto Biológico CTR-N Ricardo Harakawa
Controle Sigatoka
negra
Instituto Biológico CTR-A Ricardo Harakawa
Controle Sigatoka
Amarela
111
4.2 Extração de DNA
A extração de DNA seguiu a técnica de Dellaporta et al. (1983),
conforme descrito a seguir.
1. Filtragem a cuo, em gaze esterilizada, e pesagem do micélio, oriundo
da colônia cultivada in vitro.
2. Maceração de 150 mg do micélio em nitrogênio líquido.
3. Adição de 1,5 mL de CTAB 2% (100 mM Tris-Cl pH 8,0; 20 mM EDTA
pH 8,0; 1,4 M NaCl), pré-aquecido em banho maria a 60
o
C.
4. Transferência do macerado para tubos Eppendof (500 µL/tubo)
5. Incubação em banho-maria, a 60
o
C, durante 30 minutos,
homogeneizando-se manualmente a cada 10 minutos.
6. Adição de 500 µL de solução clorofórmio:álcool isoamílico (24:1) e
agitação em vortex.
7. Centrifugação a 12.000 rpm, durante 10 minutos.
8. Transferência do sobrenadante (±400 µL) para novos tubos e precipitação
do DNA com a adição de 60% do volume (±280 µL) de isopropanol pré-
resfriado (-20
o
C), seguido de agitação em vórtice.
9. Incubação por uma hora, à temperatura de -20
o
C.
10. Centrifugação a 12.000 rpm durante 10 minutos (4
o
C), descartando-se o
sobrenadante em seguida.
11. Lavagem do pellet com solução de etanol 70%.
12. Secagem em centrífuga a vácuo, durante 3 minutos.
13. Ressuspensão do pellet em 30 µL de solução tampão TE (10 mM Tris-Cl
pH 8,0; 1 mM EDTA pH 8,0).
112
4.3 Iniciadores (primers) de microssatélite
Foram testados 10 pares de primers (Tabela 2), escolhidos de um
conjunto de 26 marcadores polimórficos de microssatélites, específicos para M.
musicola, desenvolvidos por Molina & Kahl, (2001).
As amplificações das reações de PCR foram realizadas em volume total
de 2L, contendo 17 µL de água ultrapura; 2,5 µL de tris-HCl pH 8,8; 0,75 µL
de MgCl
2
(50mM); 0,5 µL dNTPs (10 mM); 1,25 µL de cada primer e 0,25 µL
da enzima Go Taq DNA polimerase.
As reações de PCR foram feitas em termociclador Peltier-Effect Cycling
PTC-100 (M.J. Research, INC.), utilizando-se o seguinte ciclo: 95
o
C por 60
segundos, seguida de 30 ciclos: 95
o
C a 30 segundos, 45 segundos na Tm de cada
primer (47-55
o
C) e 45 segundos a 72
o
C, com a elongação final a 72
o
C, durante 7
minutos. Os produtos da reação de PCR foram separados em gel de agarose a
6%, com posterior análise no fotodocumentador da Pharmacia Biotech (Image
Master VDS).
4.4 Análise dos dados
Os resultados das amplificações dos diferentes fragmentos de
Microsatéllites, para cada um dos 11 isolados, foram caracterizados quanto à
presença ou à ausência de bandas, nos locos correspondentes aos isolados,
compondo uma matriz binária, que foi submetida à análise de similaridade
genética entre os isolados por meio do programa NTSYS (Numerical Taxonomy
and Systematics, v. 1.70; Rohlf, 1992), utilizando o coeficiente de Dice. A partir
dos dados da matriz, os isolados foram agrupados pelo método de UPGMA
(Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean), por meio de
dendrograma específico.
113
TABELA 2: Características dos marcadores de microssatélite utilizados na
análise filogenética dos 11 isolados de Mycosphaerella musicola.
UFLA, Lavras, MG. 2008.
Primers Sequência 5’ 3
Produto
esperado (pb)
*
Tm (
o
C)
Mm SSR 05A CCTCTTACGAAGTCTGTGGT 252 55
Mm SSR 05B TATCTCGGGAGACCAGACTA
Mm SSR 07A ACGAGGTTTCAGAAGCAATA 262 55
Mm SSR 07B TCTTTCACCGAAGAAACCT
Mm SSR 10A GAGAGCATGAAAAGTGGAAA
171 55
Mm SSR 10B CGTGACACTCGTCAGTTACA
Mm SSR 16A CCATCTGCCTTGAGATAGTC 220 55
Mm SSR 16B GAATTTATTCCAGCGAAGC
Mm SSR 23A CGACCTAGTCGAGGATGATA 279 55
Mm SSR 23B CGAAGACTTCTGAAAGGTCA
Mm SSR 34A CTCGCTGCCTGATTATTCT 260 47
Mm SSR 34B AGATGCCATCGCTTCAC
Mm SSR 35A TAACAATGTCCCTGAGAAGC 260 53
Mm SSR 35B GCCTTATCTGGAAAGTATCGT
Mm SSR 39A TGCGAATTCCATTGATATG 183 53
Mm SSR 39B CGTGTGCTGACGAGAGAT
Mm SSR 44A CCTCACTCTCGCTCATACA 136 53
Mm SSR 44B AGAATGGACGAAAAACACTG
Mm SSR 46A CGTGGACCTATTGTCAACTC 261 53
Mm SSR 46B TGGGTTACATTTACGAGAGAA
*
- tamanho do alelo clonado em número de pares de bases, amplificado de acordo com a
sequência do fragmento utilizado como primer.
114
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os primers amplificaram segmentos de DNA genômicos dos onze
isolados de M. musicola estudados (Tabela 3) (Figuras 1 a 5) e também para os
controles de M. musicola e M. fijiensis, com um total de 58 bandas, das quais
91,37% foram polimórficas.
TABELA 3: Bandas amplificadas por cada primer SSR nos onze isolados de
M. musicola testados. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Identificação do primer
N
o
de bandas
observadas
N
o
de bandas polimórficas
Mm SSR 05 2 2
Mm SSR 07 4 3
Mm SSR 10 4 3
Mm SSR 16 3 3
Mm SSR 23 4 4
Mm SSR 34 13 13
Mm SSR 35 6 5
Mm SSR 39 13 13
Mm SSR 44 6 5
Mm SSR 46 3 2
Totais 58 53
115
FIGURA 1: Padrão de bandas observado com os primers de microssatélite
para Mycosphaerella musicola (Mm SSR 39 e Mm SSR 07).
Numeração correspondente aos isolados (1 - SP-NC; 2 - MIS-
PR; 3 - MS – PR; 4 LVR – PR; 5 TR BA; 6 CP-NC; 7
PC-PE2; 8 POR-PR; 9 – MA-02; 10 CE-PA; 11 MAC-GO;
12 CA controle sigatoka amarela; CN controle sigatoka
negra. UFLA, Lavras, MG, 2008.
FIGURA 2: Padrão de bandas observado com os primers de microssatélite
para Mycosphaerella musicola (Mm SSR 05 e Mm SSR 16).
Numeração correspondente aos isolados (1 - SP-NC; 2 - MIS-
PR; 3 - MS – PR; 4 LVR – PR; 5 TR BA; 6 CP-NC; 7
PC-PE2; 8 POR-PR; 9 – MA-02; 10 CE-PA; 11 MAC-GO;
12 CA controle sigatoka amarela; CN controle sigatoka
negra. UFLA, Lavras, MG, 2008.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
Primer Mm SSR 39
Primer Mm SSR 07
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
Primer Mm SSR 05
Primer Mm SSR 16
116
FIGURA 3: Padrão de bandas observado com os primers de microssatélite
para Mycosphaerella musicola (Mm SSR 35 e Mm SSR 46).
Numeração correspondente aos isolados (1 - SP-NC; 2 - MIS-
PR; 3 - MS – PR; 4 LVR – PR; 5 TR BA; 6 CP-NC; 7
PC-PE2; 8 POR-PR; 9 – MA-02; 10 CE-PA; 11 MAC-GO;
12 CA controle sigatoka amarela; CN controle sigatoka
negra. UFLA, Lavras, MG, 2008.
FIGURA 4: Padrão de bandas observado com os primers de microssatélite
para Mycosphaerella musicola (Mm SSR 23 e Mm SSR 10).
Numeração correspondente aos isolados (1 - SP-NC; 2 - MIS-
PR; 3 - MS – PR; 4 LVR – PR; 5 TR BA; 6 CP-NC; 7
PC-PE2; 8 POR-PR; 9 – MA-02; 10 CE-PA; 11 MAC-GO;
12 CA controle sigatoka amarela; CN controle sigatoka
negra. UFLA, Lavras, MG, 2008.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
Primer Mm SSR 35
Primer Mm SSR 46
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
Primer Mm SSR 23
Primer Mm SSR 10
117
FIGURA 5: Padrão de bandas observado com os primers de microssatélite
para Mycosphaerella musicola (Mm SSR 34 e Mm SSR 44).
Numeração correspondente aos isolados (1 - SP-NC; 2 - MIS-
PR; 3 - MS – PR; 4 LVR – PR; 5 – TR BA; 6 – CP-NC; 7
PC-PE2; 8 POR-PR; 9 MA-02; 10 CE-PA; 11 MAC-
GO; 12 CA controle sigatoka amarela; CN – controle
sigatoka negra. UFLA, Lavras, MG, 2008.
Os primers com menor número de bandas polimórficas foram Mm SSR-
05, Mm SSR-07, Mm SSR-10, Mm SSR-16 e o Mm SSR-23, enquanto os
primers Mm SSR-34 e o Mm SSR-39 foram mais polimórficos. O uso desses
dez pares de primers foi eficiente para detectar a variabilidade dos isolados,
confirmando os dados de Molina & Kahl (2001), que observaram ser necessário
um numero mínimo de nove marcadores para a construção de um dendrograma.
Quanto ao dendrograma, pode-se observar clara separação dos isolados
de acordo com a região de origem (Figura 6). Os onze isolados coletados
agruparam-se em dois grupos maiores. No primeiro grupo, localizado na porção
superior do dendrograma, podem-se notar quatro diferentes subgrupos. No
primeiro subgrupo, encontram-se os isolados de São Paulo (SP-NC), Paraná
(MIS-PR) e das regiões da Zona da Mata e Sul de Minas Gerais; no segundo
subgrupo, encontra-se o isolado originário da região Norte do estado de Minas
Gerais (POR-PR), cujas condições climáticas divergem consideravelmente do
Sudeste brasileiro. O terceiro subgrupo compreende apenas o isolado do Mato
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 CA CN
Primer Mm SSR 34
Primer Mm SSR 44
118
Grosso do Sul (MS-PR) e o quarto subgrupo apresenta o isolado de Gandu, BA
(TR-BA) isoladamente, denotando certo distanciamento em relação aos demais.
Igualmente ao que ocorreu em Coronel Pacheco, MG, este isolado da Bahia é
representante de uma área na qual foi levantada, pela primeira vez, a suspeita da
ocorrência de sigatoka negra no estado, o que não foi confirmado
posteriormente. Trata-se de um plantio de bananeiras da variedade Terra (AAB),
que é um genótipo tido como resistente à sigatoka amarela e que apresentou uma
alta severidade da doença, somente naquela localidade. É provável que esse
isolado da Bahia tenha sido alterado geneticamente, por efeito da variabilidade
natural, tornando-se virulento para as variedades do subgrupo terra. Todavia, em
função da severa deficiência de potássio observada naquele bananal, acredita-se
mais que este tenha sido o condicionante maior para o desenvolvimento de
sintomas naquela variedade resistente.
É interessante notar que, dentre os três isolados de Minas Gerais, os
mais próximos geograficamente (CP-NC e LVR-PR) agruparam-se com o maior
coeficiente de similaridade de todo o dendrograma. As duas localidades
encontram-se distantes 340km.
O isolado de Coronel Pacheco, MG (CP-NC), foi coletado de uma
lavoura em que havia sido oficialmente identificada a sigatoka negra. Os
sintomas eram demasiadamente severos, porém, as análises de PCR realizadas
posteriormente, tanto a partir de folhas quanto das culturas isoladas,
identificaram Mycosphaerella musicola nas amostras coletadas.
Essa alta variabilidade em M. musicola foi constatada por outros autores.
Fouré & Lescot (1988) apresentaram as primeiras evidências da ocorrência de
variabilidade genética entre isolados de M. musicola em Camarões, onde o
comportamento da doença destacou-se por elevada severidade nas variedades do
subgrupo prata e plátanos. No Brasil, Moreira et al. (2003) também observaram
alta variabilidade natural na origem dos isolados, que supôs estar ligada às
119
condições climáticas, à ocorrência de reprodução sexuada e também à natureza
heterotálica do fungo.
No segundo grupo, estão reunidos os isolados da região Nordeste, com
exceção do (MAC-GO), proveniente de Goiás. Com a constante movimentação
de materiais de propagação no Brasil, não se pode descartar a possibilidade de
que este isolado possa ser proveniente de outras regiões, via mudas
contaminadas ou outros órgãos vegetais.
Os dois controles de sigatoka amarela e sigatoka negra empregados
compuseram um terceiro grupo, subdividido em dois subgrupos distintos.
Entretanto, apenas o par de primers MmSSR 34 permitiu uma diferenciação
entre os dois, de modo que, apesar de diferentes entre si o apresentaram a
variabilidade esperada, na qual o controle da sigatoka amarela se agruparia com
os demais 11 isolados estudados. Pode ser que isso seja devido ao fato de os
DNAs estarem estocados há bastante tempo no congelador, o que poderia ter
provocado a sua degradação parcial.
Observando esses resultados, entretanto, é interessante ressaltar o bom
potencial do par de primer MmSSR 34, para ser empregado na diferenciação
entre os dois tipos de Mycosphaerella, a M. musicola e a M. fijiensis. Isso
porque a técnica de PCR atual, empregada em testes diagnósticos, não foi
eficiente o suficiente para fornecer resultados repetitivos e confiáveis quando foi
testada com esses isolados (resultados não mostrados).
Sendo assim, a variabilidade encontrada entre isolados de M. musicola,
detectada por meio de marcadores SSR, está correlacionada com a sua origem
geográfica. Similarmente, Molina et al. (2002) empregaram 42 marcadores SSR
e 64 isolados provenientes de 12 localidades, na Colômbia, e notaram que eles
foram separados em seis subgrupos distintos, de acordo com a sua origem. Por
outro lado, isso parece não ocorrer quando se empregam marcadores RAPD.
Moreira et al. (2003) e Montarroyos (2005) não encontraram correlação entre o
120
agrupamento e a origem geográfica de isolados brasileiros de M. musicola,
quando foram utilizados marcadores RAPD.
121
Coefficient
0.37 0.50 0.64 0.77 0.91
CONTR_AMW
SP-NC
MIS-PR
LVR-PR
CP-NC
POR-PR
MS-PR
TR-BA
PC-PE2
MA-02
CE-PA
MAC-GO
CONTR_A
CONTR_N
FIGURA 6: Dendrograma de similaridade ilustrando a distância genética dos 11 isolados de Mycosphaerella
musicola, de acordo com marcadores de microssatélites, utilizando o coeficiente de Dice pelo método de
UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean). UFLA, Lavras, MG, 2008.
I
II
122
6 CONCLUSÕES
O uso de dez conjuntos de primers SSR permitiu o estudo da
variabilidade de isolados de Mycosphaerella musicola, possibilitando a
construção de um dendrograma capaz de separá-los em dois grupos distintos.
Os isolados de Mycosphaerella musicola coletados no Sul e no
Sudeste do Brasil agruparam-se separadamente dos isolados coletados no
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Não se verificou distanciamento genético do isolado CP-NC que
apresentou maior agressividade no campo, em relação ao isolado LVR - PR.
Existe um grande potencial do par de primers Mm SSR 34 em
diferenciar Mycosphaerella musicola de Mycosphaerella fijiensis, os quais
poderiam vir a tornarem-se marcadores moleculares para utilização nos
laudos fitossanitários.
123
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125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Condições climáticas que disponibilizem água livre diariamente, seja
na forma de chuva e ou orvalho intenso, são passíveis de transformarem-se
eventos de epidemia da sigatoka amarela, desde que não haja intervenções
de manejo. Nesses casos, faz-se necessária a retirada parcial (cirurgias) de
limbos foliares infectados e em estágio de necrose, assim como a retirada de
restos foliares em decomposição no solo.
A nutrição do bananal deve ser sempre mantida em níveis
adequados, de forma a possibilitar a constante emissão foliar, compensando
as perdas por infecções de sigatoka amarela.
Toda e qualquer identificação da sigatoka deve ser realizada por
meio de análise microscópica dos conídios e conidióforos, análise de PCR e
sintomatologia, conjuntamente.
Outros primers de microssatélites devem ser testados em estudos de
filogenia de Mycosphaerella fijiensis e Mycosphaerella musicola.
Os primers Mm SSR identificados com elevado potencial para
tornarem-se marcadores moleculares devem ser validados, por meio de
análises de PCR, com o maior mero de isolados de ambos os patógenos,
originários de diferentes regiões geográficas no Brasil.
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