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MICHELLE MOUTINHO VENÂNCIO
ANÁLISE DA DINÂMICA E DO DESEMPENHO DA INDÚSTRIA
SUCROALCOOLEIRA NACIONAL
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Economia Aplicada, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2008
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Venâncio, Michelle Moutinho, 1982-
V___a Análise da dinâmica e do desempenho da indústria
2008 sucroalcooleira nacional / Michelle Moutinho Venâncio. –
Viçosa, MG, 2008.
xv, 87f. : il. (algumas col.) ; 29cm.
Orientador: Viviani Silva Lírio.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Viçosa.
Referências bibliográficas: f. 79-82.
1. Cana. 2. Açúcar e álcool. 3. Mercado internacional.
4. Competitividade I. Universidade Federal de Viçosa.
II.Título.
CDD 22.ed. 331.4830
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MICHELLE MOUTINHO VENÂNCIO
ANÁLISE DA DINÂMICA E DO DESEMPENHO DA INDÚSTRIA
SUCROALCOOLEIRA NACIONAL
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Economia Aplicada, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
APROVADA: ___ de abril de 2008.
Marcelo José Braga
(Co-orientador)
Viviani Silva Lírio
(Orientadora)
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me dar forças e por ter colocado pessoas tão especiais à
minha volta.
Aos meus queridos pais, pela confiança, pelo apoio, pelo incentivo, pelo
carinho, pela dedicação e pelo amor infinito, base para a superação de todos os
desafios.
Ao meu filho, que mesmo pequeno, teve participação imensurável no
cumprimento de mais essa etapa.
Ao meu marido, pelo carinho, amor e companheirismo.
À professora Viviani Silva Lírio, pela orientação tão preciosa, marcada
sempre por muita presteza, dedicação e comprometimento.
Ao professor Marcelo José Braga, pela co-orientação, pelo apoio e pela
compreensão, sendo solidário nos momentos certos.
À professora Marília Fernandes Maciel Gomes, pela sensibilidade aos
meus problemas e pela ajuda no desenvolvimento da tese.
A todos os professores do Departamento de Economia Rural, pelos
ensinamentos ao longo do curso.
A todos os funcionários do Departamento de Economia Rural.
A todos os meus colegas do curso, em especial, aos meus grandes
amigos Vanessa e Talles, pela amizade nos momentos difíceis e alegres.
ii
Aos meus queridos amigos Gabrielle, Camila, Franciane e Everaldo, pelo
carinho e pelo apoio.
Aos meus familiares, pela presença e preocupação.
À CAPES, pelo auxílio financeiro para a realização do trabalho.
À Universidade Federal de Viçosa e ao Departamento de Economia
Rural, pela oportunidade de realização do curso.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho.
iii
BIOGRAFIA
MICHELLE MOUTINHO VENÂNCIO, filha de Jairo Carlos Venâncio
e Dalva da Paz Moutinho Venâncio, nasceu em Magé-RJ, em 5 de novembro de
1982.
Em maio de 2006, graduou-se em Ciências Econômicas pela
Universidade Federal de Viçosa, iniciando, em seguida o Programa de Pós-
Graduação em Economia Aplicada, em nível de Mestrado, na mesma
Universidade.
iv
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS .............................................................................. viii
LISTA DE FIGURAS ............................................................................... x
RESUMO .................................................................................................. xii
ABSTRACT .............................................................................................. xiv
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1
1.1. A importância da cana-de-açúcar na economia nacional ............... 2
1.2. O problema e sua importância ....................................................... 9
1.3. Objetivos ........................................................................................ 11
1.4. Estrutura do trabalho ..................................................................... 11
2. ANÁLISE MERCADOLÓGICA DO SETOR SUCROALCOLEIRO 13
2.1. Introdução ...................................................................................... 13
2.2. Referencial teórico ........................................................................ 15
2.2.1. Regulação e intervenção nos mercados agroindustriais .......... 16
v
Página
2.2.2. A regulação no setor de produção de açúcar e álcool ............. 19
2.3. Metodologia ................................................................................... 21
2.3.1. Teste de estacionariedade ........................................................ 22
2.3.2. Teste de causalidade ................................................................ 25
2.3.3. Testes de co-integração ............................................................ 27
2.3.4. O modelo vetorial auto-regressivo (VAR) .............................. 30
2.3.5. Fonte e tratamento de dados .................................................... 33
2.4. Resultados e discussão ................................................................... 33
2.4.1. Resultados obtidos para as análises de estacionariedade,
causalidade e co-integração .................................................... 33
2.4.2. Análise do padrão de interdependência entre preço e produ-
ção do açúcar e do álcool sem considerar intervenção gover-
namental ........................................................ ......................... 36
2.4.3. Análise do padrão de interdependência entre preço e produ-
ção do açúcar e do álcool considerando intervenção governa-
mental ...................................................................................... 44
2.5. Conclusões ..................................................................................... 49
3. DESREGULAMENTAÇÃO SETORIAL E INSERÇÃO INTERNA-
CIONAL: O CASO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO ................. 51
3.1. Introdução ...................................................................................... 51
3.2. Referencial teórico ......................................................................... 57
3.2.1. Competitividade setorial e inserção internacional ................... 57
3.2.2. Metodologia ............................................................................. 62
3.2.3. Fonte e tratamento de dados .................................................... 67
3.3. Resultados e discussão ................................................................... 67
vi
Página
3.3.1. Resultados obtidos para os indicadores esforço exportador e
grau de abertura da economia ................................................. 68
3.3.2. Resultados obtidos para os índices de especialização comer-
cial, índice de Grubel y Lloyd e de Michaely ........................ 75
3.4. Conclusão ....................................................................................... 81
4. RESUMO E CONCLUSÕES ................................................................ 83
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 85
APÊNDICE ............................................................................................... 89
vii
LISTA DE TABELAS
Página
1 Testes de raiz unitária DF e ADF, realizados para as séries
PAL
t
, PA
t
, YA
t
, YAL
t
, no período de 1979 a 2006 ......................... 34
2 Testes de causalidade de Granger, no período de 1979 a 2006 .... 35
3 Teste de Johansen e Juselius para co-integração .......................... 36
4 Decomposição da variância do preço do açúcar .......................... 37
5 Decomposição da variância do preço do álcool ........................... 38
6 Decomposição da variância da produção do açúcar ..................... 39
7 Decomposição da variância da produção do álcool ..................... 40
8 Decomposição da variância preço do açúcar ............................... 45
9 Decomposição da variância do preço do álcool ........................... 46
10 Decomposição da variância da produção do açúcar ..................... 46
11 Decomposição da produção do álcool .......................................... 47
12 Percentuais de exigência de mistura de álcool na gasolina de
alguns países ................................................................................. 56
viii
Página
13 Competitividade: indicadores, medidas e limitações – Grupo A . 63
14 Competitividade: indicadores, medidas e limitações – Grupo B . 64
1A Índices calculados para o álcool ................................................... 90
2A Índices calculados para o açúcar................................................... 91
3A Indicador do esforço exportador e grau de abertura da economia
calculados para o álcool ............................................................... 92
4A Indicador do esforço exportador e grau de abertura da economia
calculados para o açúcar ............................................................... 93
ix
LISTA DE FIGURAS
Página
1 Produção em toneladas e preço real do açúcar, no período de
1979 a 2006 .................................................................................. 6
2 Produção em metros cúbicos (m
3
) e preço real do álcool, no
período de 1979 a 2006 ................................................................ 7
3 Função impulso resposta .............................................................. 41
4 Função impulso resposta .............................................................. 49
5 Quantidade de cana-de-açúcar produzida pela própria usina, por
fornecedores e valor total ............................................................. 52
6 Indicador de esforço exportador e grau de abertura do álcool na
economia, no período de 1979 a 2006 .......................................... 69
7 Percentual de ATR de cana-de-açúcar para a produção de açúcar
e álcool, no período de 1949 a 2006 ............................................. 71
8 Indicador de esforço exportador e grau de a
b
ertura do açúcar na
economia, no período de 1979 a 2006 .......................................... 74
9 Índice de especialização comercial do álcool, no período de
1979 a 2006 .................................................................................. 76
x
Página
10 Índice de especialização comercial do açúcar, no período de
1979 a 2006 .................................................................................. 77
11 Índice de Grubel y Lloyd do álcool, no período de 1979 a 2006 . 78
12 Índice de Grubel y Lloyd do açúcar, no período de 1979 a 2006 79
13 Produtividade em toneladas/hectare da cana-de-açúcar, no
período de 1975 a 2006 ................................................................ 81
xi
RESUMO
VENÂNCIO, Michelle Moutinho, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, maio
de 2008. Análise da dinâmica e do desempenho da indústria
sucroalcooleira nacional. Orientadora: Viviani Silva Lírio. Co-orientadores:
Marcelo José Braga e Marília Fernandes Maciel Gomes.
A produção de açúcar e álcool no Brasil sempre foi relevante, não apenas
em termos domésticos, mas também no que se refere à inserção externa. O País
figura, atualmente, como um dos principais players no mercado sucroalcooleiro
internacional. Todavia, as recentes mudanças nas propostas de matriz energética
mundial, que destacam a importância de ser ampliado o uso de recursos
energéticos renováveis (a exemplo do álcool combustível) modificaram as
relações de determinação de produção e criaram um ambiente menos estável.
Além disso, a partir dos anos 1990 o setor sucroalcooleiro passou por uma
grande desregulamentação que se, por um lado, aumentou o potencial de
autonomia e produtividade, por outro, aumentou ainda mais a exposição à
concorrência. Nesse contexto, o objetivo da pesquisa consiste em analisar a
dinâmica e o desempenho da indústria sucroalcooleira nacional considerando os
aspectos mercadológicos, institucionais e de inserção internacional. A
metodologia escolhida propõe duas abordagens distintas: em primeiro lugar, uma
xii
abordagem econométrica foi implementada para que se pudessem precisar as
relações entre preço e produção (direta e cruzada) para açúcar e álcool. Em
seqüência, foi utilizado um conjunto de indicadores para avaliar a
competitividade internacional do Brasil no mercado de açúcar e álcool. Os
resultados mostraram, nas duas análises, que o mercado de açúcar é mais estável
do que o de álcool, que apresenta, ao mesmo tempo, maior dinamismo e
variabilidade do comportamento. Em todos os indicadores os resultados
mostraram que o Brasil é competitivo neste mercado, sendo possível identificar,
em praticamente todas as análises a relevância da presença de programas de
incentivo setorial. Observaram-se, principalmente na segunda fase da pesquisa,
que a desregulamentação teve efeitos, na produção e no preço, importantes para
ambos os mercados, sendo mais efetivos para o caso do álcool.
xiii
ABSTRACT
VENÂNCIO, Michelle, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, May, 2008.
Análise da dinâmica e do desempenho da indústria sucroalcooleira
nacional. Adviser: Viviani Silva Lírio. Co-advisers: Marcelo José Braga and
Marília Fernandes Maciel Gomes.
The Brazilian production of sugar and alcohol were always relevant not
only in domestic terms but also in reference to external insertion. Nowadays,
Brazil is distinguished as one of the main players in the international sugar-
alcohol market. Though, the recent changes in the proposals of the energetic
world matrix highlighting the importance in amplifying the use of the
renewable energy resources (such as the combustible alcohol) rather modified the
relationships in determining the production and created a less stable ambient.
Additionally in the 90-ies, the sugar-alcohol sector suffered intense deregulation
that increased the potential for autonomy and productivity, but also accentuated
the exposure to competition. In this context, the objective of the research is to
analyze both dynamics and performance of the national sugar-alcohol industry,
by taking into account all marketing, institutional and international insert aspects.
The chosen methodology proposes two different approaches: firstly, an
econometric approach was implemented in order to make possible an accurate
xiv
determination of the relationships between price and production (direct and
crossed) for sugar and alcohol. Following, a group of indicators were used to
evaluate the Brazilian international competitiveness in the sugar and alcohol
market. In both analyses, the results showed the sugar market to be steadier than
the alcohol from which the behavior simultaneously shows higher dynamism and
variability. In all indicators, the results showed Brazil to be competitive in this
market, as being possible to identify the relevance of the presence or not of
sectorial incentive programs in practically all analyses. Mainly at the second
phase of the research, it was observed the deregulation to affect the production
and price that are important to both markets, as being more effective for the
alcohol.
xv
1. INTRODUÇÃO
A cana-de-açúcar, uma das mais antigas culturas da humanidade, está
presente na economia brasileira desde começo de sua colonização. Transcorridos
praticamente cinco séculos, constata-se, ainda hoje, sua grande importância para
o Brasil, tanto em termos econômico-sociais quanto ao que se refere à sua
inserção internacional nos mercados de açúcar e álcool. Contudo, desde o final
do século XIX, a forte concorrência externa que ameaçava as exportações
nacionais exigiu a modernização do setor (MORAES, 2007).
A cana-de-açúcar, cultura totalmente renovável, gera divisas para o País
através da produção de açúcar, de álcool anidro (aditivo para a gasolina) e
hidratado. Além disso, constitui-se excelente fonte alternativa de energia (por
possibilitar a geração de energia elétrica através da queima do bagaço).
Acrescenta-se a essas características o fato de que todos os resíduos industriais
do processamento da cana-de-açúcar são utilizados na lavoura como insumos de
fertilização, fechando-se, desta forma, o ciclo ideal de produção, em resumo, o
ciclo produtivo da cana-de-açúcar possui multi-produtos nos vários estágios de
sua produção.
1
1.1. A importância da cana-de-açúcar na economia nacional
Embora se trate de uma atividade antiga no sistema agrário brasileiro,
considerando as grandes transformações por que passou o setor sucroalcooleiro
1
nas últimas décadas – tanto em termos mercadológicos quanto institucionais –,
uma breve revisão histórica dos fatos mais relevantes torna-se favorável à plena
compreensão das variáveis que afetam mais diretamente sua evolução.
O primeiro ponto a ser destacado é que a agroindústria canavieira, no
Brasil, teve seu desenvolvimento marcado por grande e contínua intervenção
governamental. Foram poucos os períodos da história nacional em que isso não
ocorreu
2
, sendo que sua prática intensa aconteceu durante o período colonial,
acentuando-se após a Revolução de 1930. Segundo Moraes (2007, p. 1),
No início da década de 1930, a situação da agroindústria canavieira era
particularmente vulnerável, devido à grande depressão mundial de 1929 e ao
aumento da capacidade agrícola e industrial brasileiras, ocorrido no início da
década de 1920. Nestas condições, a intervenção governamental no setor
açucareiro, com a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1933,
se instaurou a pedido dos próprios produtores, com o propósito de resolver os
problemas de excesso de oferta e de reorganizar os mercados internos.
A intervenção pública não foi suficiente para impedir que, entre 1933-75,
observasse um deslocamento relativo da produção setorial do Norte-Nordeste em
favor do Centro-Sul, especialmente para São Paulo. Também, não se conseguiu
evitar a ocorrência de centralização produtiva. Aliás, a partir dos de 1960,
quando o avanço tecnológico foi decisivamente incorporado no planejamento do
complexo do, o Estado, deliberadamente, passou a incentivar a encampação de
unidades menores ou menos eficiente por grandes agroindústrias, argumentado
ser essa maneira de se obter maiores racionalidade e produtividade setoriais
(QUEDA, 1972; SZMRECSÁNYI, 1979).
O destaque inicial, naturalmente, deveu-se à produção de açúcar em larga
escala, para exportação, e de álcool, para consumo interno (doméstico e
1
O setor sucroalcooleiro produz mais que açúcar e álcool. Mas, no caso deste trabalho se restringe
somente a esses produtos, devido a sua representatividade no mercado interno e externo.
2
Apenas durante o império e nas primeiras décadas do regime republicano.
2
farmacêutico). Todavia, maior destaque se dá ao pioneirismo do país na
utilização do álcool como combustível em larga escala.
Em virtude da crise no mercado de petróleo (choques dos anos de 1973 e
1979), o País viu-se estimulado a formalizar um modelo de produção de
combustível renovável, que reduzisse a dependência nacional das importações de
petróleo. De acordo com Moraes (2007, p. 2), a intervenção estatal incluiu a
criação do Proálcool em 1975, cuja motivação principal na época de seu
lançamento foi “reduzir a dependência do País em relação ao petróleo
importado”, tendo, além deste propósito, possibilitado ao Brasil deter o domínio
da tecnologia da produção de álcool, além do desenvolvimento dos carros
movidos a este tipo de combustível (e mais recentemente do carro
bicombustível).
A maturação dos investimentos do programa governamental Proálcool,
iniciados na década de 1970 e intensificados na primeira metade da década de
1980, alterou a oferta brasileira de açúcar e “... substancialmente o próprio perfil
da agroindústria canavieira do Brasil, focado no açúcar e álcool” (SHIKIDA;
BACHA, 1999). Complementarmente, esses autores mostram que “... a produção
da cana-de-açúcar praticamente cresceu a reboque do Proálcool, face às baixas
cotações do açúcar no mercado internacional e contando, sobremaneira, com
vultosos subsídios governamentais dados ao Proálcool”.
Ressalta-se, em adição, que o Proálcool atendeu ao propósito de
produzir, a partir da cana-de-açúcar, um combustível renovável, alternativo ao
petróleo, tendo expandido consideravelmente tanto a produção de cana como a
capacidade produtiva das empresas do setor. Posteriormente, em 1980, os
Estados Unidos da América adotam um programa de utilização de etanol como
combustível, produzido a partir do milho, cujos objetivos centrais eram
estabilizar o preço desse cereal e constituir fonte alternativa de biocombustível.
Em uma perspectiva mais ampla, é importante considerar que, além das
questões setoriais específicas, o monitoramento dos preços dos combustíveis (no
qual se inseria a idéia do uso do álcool combustível) era fundamental para as
propostas políticas do governo, naquela época. O foco central, dada a grande
3
desestabilização dos preços no País, eram as políticas de controle inflacionário.
Segundo Nogueira (2000), esse controle estava baseado na contenção de preços
das tarifas públicas, incluindo os preços dos combustíveis – conseqüentemente
do álcool –, assim como os preços do açúcar de cana.
O período analisado na pesquisa corresponde à segunda crise de preços
do petróleo, em 1979, que se iniciou a segunda fase do Proálcool. Ela foi
marcada pela intensificação do programa através de continuada intervenção do
governo. Nesse período, a resistência inicial da indústria automobilística foi
atenuada e a ênfase passou a ser a utilização, além do álcool anidro misturado à
gasolina, também do álcool hidratado puro, como combustível, através de uma
nova frota de veículos, movidos exclusivamente a álcool. Uma breve
caracterização das principais mudanças foi desenvolvida por Shikida e Bacha
(1999) que destacou três subperíodos, ou seja, de 1975 a 1979 caracterizado por
uma expansão “moderada”, de 1980 a 1985 por uma expansão acelerada e de
1986 a 1995, pela “desaceleração e crise” do programa.
Todavia, as modificações nas bases de condução da política econômica
brasileira construíram, já em fins da década de 1980 e início dos anos 1990, uma
conjuntura econômica diferenciada, norteada por políticas públicas que
indicavam menor intervenção governamental.
Nesse novo cenário, iniciou-se o processo de desregulamentação dos
preços dos produtos do setor sucroalcooleiro através da liberação do preço do
açúcar, seguindo-se a liberação dos preços do álcool anidro e, posteriormente, a
liberação dos preços da cana-de-açúcar e do álcool hidratado. Na prática, desde
1999, data da efetiva desregulamentação da agroindústria canavieira, o Estado
afastou-se consideravelmente do setor.
O fim do aparato estatal, que tinha como objetivo o gerenciamento de
suas atividades, conduziu o setor à necessidade de realizar transformações em um
contexto de livre mercado. Na visão de Moraes (2007, p. 3), com a liberalização
do setor na década de 1990, o álcool passou a ter importante papel na decisão
alocativa das empresas, as quais passaram a considerar os preços do açúcar e do
4
álcool na maximização do lucro, distribuindo matéria-prima entre a produção de
ambos os produtos, conforme conveniência econômica.
A drástica redução da intervenção estatal afetou as relações dos agentes de
toda a cadeia produtiva: os produtores de cana-de-açúcar, as usinas e
destilarias e as distribuidoras de combustível, além dos consumidores de álcool
e açúcar, na medida em que a dinâmica da formação de preços se alterou para
a de um livre mercado.
Diversas pesquisas foram realizadas na tentativa de estabelecer
parâmetros confiáveis de avaliação sobre o comportamento dos preços dos
derivados da cana-de-açúcar. Como exemplo, podem ser citadas as análises feitas
por Moraes (2002), que concluiu que a demanda de álcool hidratado depende
altamente da relação de preços deste produto com o da gasolina, uma vez que os
consumidores são extremamente sensíveis ao diferencial de preços entre esses
dois produtos. Em relação à produção, a autora afirma que “... preços maiores
desse produto direcionam a cana-de-açúcar para a produção de álcool, sendo que,
em sentido inverso, aumenta-se a produção de açúcar em detrimento de produção
de álcool” (MORAES, 2002, p. 29).
De fato, uma das questões mais importantes a ser considerada nas
análises sobre o comportamento do setor sucroalcooleiro, refere-se ao fato de que
a opção de produção de açúcar ou álcool, por parte do usineiro, tem origem
multifatorial. Embora existam casos de produção única de um dos subprodutos,
esses são mais raros, fazendo com que os estudos precisem concentrar esforços
no comportamento de diferentes variáveis: preço do produto (açúcar ou álcool),
preço de produtos correlatos e, ou, substitutos, aparato e grau de intervenção
institucional, perspectivas de demanda (doméstica e internacional),
movimentação de oferta em países competidores, disponibilidades creditícias,
entre outros fatores.
Essa complexidade dificulta o estudo dos movimentos de produção e
comercialização do setor sucroalcooleiro, principalmente no que se refere aos
fatores que preponderam na evolução do mercado de cada um dos produtos
analisados (açúcar e álcool).
5
No caso do açúcar, em termos numéricos, observa-se, de acordo com os
dados apresentados na Figura 1, que a tendência de produção e o preço são
crescentes. Isto se deve, prioritariamente, ao fato de ser este um produto
tradicional na economia brasileira, presente desde a colonização do país.
Fonte: Food and Agricultural Organization (FAO).
Figura 1 – Produção em toneladas e preço real do açúcar, no período de 1979 a
2006.
Outro fator importante para o crescimento da produção do açúcar é o
crescimento da renda (doméstica e mundial). Mesmo sendo um produto de
demanda inelástica, com incremento lastreado no crescimento vegetativo, a
grande ampliação no consumo intermediário (doces, biscoitos, sucos, entre
outros) ampliou o leque das opções de destino da produção, criando,
indiretamente, uma relação mais que proporcional entre a demanda e a renda.
3
No caso do álcool (Figura 2), pode-se observar que, após os choques do
petróleo em 1979, tanto o preço quanto a produção cresceram. Entretanto,
naquela época o mercado ainda era regulamentado pelo Estado, o que dificultava
3
O que ocorre, basicamente, é que o açúcar tem demanda inelástica, mas seus derivados não. Como a
demanda por essa última categoria de produtos tem se mostrado crescente – e a taxas significativas –, a
relação principal muda, fazendo com que a demanda pelo açúcar tenha ampliada a sua elasticidade
renda da demanda.
6
quaisquer inferências sobre os reais efeitos das condições de mercado no
comportamento do setor.
Fonte: União de Produtores de Bioenergia (UDOP).
Figura 2 – Produção em metros cúbicos (m
3
) e preço real do álcool, no período
de 1979 a 2006.
A partir do ano 2000, como mostra a Figura 2, a tendência da produção
de álcool é crescente em virtude de novas perspectivas de oferta de petróleo, que
levaram outros países desenvolvidos a analisar a possibilidade de implementação
de programas de biocombustíveis. De fato, além das questões relativas à própria
oferta de petróleo, podem-se considerar fatores motivadores desses programas:
a) o impacto ambiental,
b) a redução da emissão de gases causadores de efeito estufa;
c) a estratégia de os países diversificarem sua matriz energética, tornando-se
menos dependente do petróleo.
Nesse contexto, a demanda crescente por combustíveis renováveis, nos
mercados interno e externo, tem atraído investimentos para a formação de novas
áreas de cultivo da cana-de-açúcar. Este movimento tem sido de tal ordem que
está sendo discutido por muitos pesquisadores que abordam, desde os
investimentos estrangeiros até algumas questões mais objetivas, como a
7
concorrência de áreas de plantio da cana-de-açúcar em detrimento de produtos
como, por exemplo, soja.
Nesse sentido, Ghobril (2001) menciona dois aspectos que podem
influenciar o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro nos próximos anos: a
tendência de participação crescente de incorporações e entrada de capital externo
no setor e o aproveitamento econômico em maior escala (energia gerada pelo
bagaço da cana-de-açúcar).
Em relação à demanda brasileira de açúcar, a principal variável para sua
expansão é o crescimento vegetativo, relacionado, portanto, ao consumo direto,
que nos últimos anos não foi significativo, enquanto que o consumo indireto
4
depende da renda doméstica e do mercado interno. Isso implica em que o
crescimento da demanda por açúcar depende mais do crescimento indireto ao que
do crescimento direto.
No caso da demanda externa, esta é muito afetada pelo protecionismo
vigente nos principais mercados importadores. A respeito das políticas
intervencionistas, sobretudo nos Estados Unidos e na União Européia, Burnquist
e Bacchi (2002) observaram que uma das conseqüências tem sido relacionada ao
isolamento destes mercados domésticos, pois
... à medida que os países impedem que suas respectivas ofertas e demandas
internas respondam aos preços no mercado internacional, a produção
doméstica tem resultado, sistematicamente, em níveis superiores aos que
prevaleciam na ausência de intervenção governamental.
Concluíram ainda que, através da liberalização do comércio aumentaria a
intensidade do comércio mundial de açúcar, já que os maiores parceiros são os
que prezam pela restrição de mercado.
Os países com mercados historicamente mais protegidos mantêm-se entre os
maiores importadores no ranking mundial, denotando que a liberalização das
políticas que sustentam a produção de açúcar nos Estados Unidos e na União
Européia certamente proporcionaria um incremento da intensidade de
comércio mundial de açúcar.
No que tange ao mercado alcooleiro, espera-se que o ambiente
internacional favorável implique em melhoria do comércio internacional de
4
O consumo indireto referido trata-se do açúcar internalizado em alguns produtos como refrigerantes,
biscoitos, entre outros.
8
álcool, uma vez que o Brasil é o país, cujo custo de produção de álcool é o menor
e, além disso, é o pioneiro na tecnologia dos carros “flex”; tecnologia que ainda
não está difundida mundialmente.
1.2. O problema e sua importância
O mercado sucroalcooleiro mundial, nos últimos dez anos, tem
apresentado dinamismo crescente, derivado, sobretudo, da ampliação da
demanda por álcool combustível.
A oferta mundial de álcool em 2006, segundo dados do Instituto de
Economia Agrícola (IEA), foi de aproximadamente 48 bilhões de litros. Desse
total, o Brasil participou com 35,4%, um aumento de 4,35% em relação à
produção de 2005. Este crescimento da oferta é reflexo da ampliação da
produção de etanol, a partir do milho, nos Estados Unidos, da oferta brasileira de
álcool de cana-de-açúcar e da maior demanda por combustíveis renováveis.
No Brasil, o álcool tem sido utilizado, recorrentemente, para conter os
aumentos sucessivos do preço da gasolina. Essa política é uma estratégia
deliberada do governo, desde a década de 1970. Todavia, devido à variabilidade
da escolha do usineiro em produzir álcool ou açúcar e aos aumentos sucessivos
no preço do álcool, este projeto não obteve o sucesso esperado.
Outra hipótese de ampliação do mercado decorre da expectativa, para os
próximos anos, de aumento das restrições ao uso de hidrocarbonetos fósseis
(principal emissor de poluentes na atmosfera) e, em contrapartida, do aumento da
obrigatoriedade do uso de álcool e outros hidrocarbonetos renováveis, como os
grãos (biomassa).
Além disso, o forte crescimento dos países asiáticos deverá fazer com
que a expansão da demanda por commodities (alimentos, minérios e energia) se
dê a uma taxa maior do que a do crescimento vegetativo da população. No caso
das commodities, caso a oferta não consiga atender o aumento da demanda
provavelmente será este o caso do petróleo e de seus substitutos –,
inevitavelmente a tendência dos preços será aumentar (AGRIANUAL, 2005).
9
O açúcar, por sua vez, comparado ao álcool, vem perdendo espaço no
mercado, uma vez que este combustível apresenta melhor rentabilidade, devido
ao aumento da demanda. No Brasil, pode-se exemplificar este fato com o
significativo aumento nas vendas de carros flexfuel – grandes responsáveis pelo
aumento do consumo doméstico de etanol –, e o crescimento do uso do “rabo de
galo”, prática popular em que o consumidor abastece carros a gasolina
misturando-a certo percentual de álcool (UNIÃO DA AGROINDÚSTRIA
CANAVIEIRA DE SÃO PAULO – ÚNICA, 2007).
A dinâmica do mercado sucroalcooleiro incorpora grande influência do
preço do petróleo, uma vez que o álcool é o substituto direto da gasolina. O preço
do álcool tem, por sua vez, relação direta com a oferta e o preço do açúcar, pois
as usinas instaladas no Brasil possuem flexibilidade na produção de ambos os
produtos. Além disso, é crescente o consenso a respeito da redução das reservas
mundiais de petróleo, o que implica na perspectiva de aumento do preço do
mesmo e, conseqüentemente, do álcool, por ser um produto substituto.
A presente pesquisa, portanto, pretende considerar o trade-off entre
açúcar e álcool, buscando a compreensão sobre quais variáveis (diversificação
produtiva, estratégia competitiva, mudanças tecnológicas na agroindústria, etc.)
são preponderantes na escolha entre a produção de açúcar ou álcool. Todavia, por
tratar-se de setor estratégico, a análise contará sempre com os aspectos
relacionados à presença, ou não, de intervenção governamental e de fatores
externos.
Deve-se ressaltar que ainda são escassos estudos analíticos sobre o
assunto proposto. Entre as pesquisas existentes, podem ser citados os trabalhos
de Moraes (2000), que realizou pesquisa mostrando até que ponto é possível o
afastamento do Estado no setor sucroalcooleiro nacional. Analisando as
características do mercado de cana-de-açúcar, açúcar e álcool, a autora verificou
a existência de falhas de mercado que indicam a necessidade de regulamentação
estatal.
Outro pesquisador, Vieira (2001), afirma que a continuidade da produção
de álcool combustível no país está associada à necessidade de reestruturação do
10
Programa Nacional do Álcool e ao modelo de intervenção do Estado. Frisa,
também, o fato de um ambiente livre e competitivo ser salutar para a eficácia da
cadeia produtiva, que obteve ganhos de produtividade, melhoria na gestão,
diversificação das atividades produtivas, redução de custos e conquistas de novos
mercados.
Pelo exposto, e dada a importância sócio-econômica do setor
sucroalcooleiro para o Brasil, torna-se fundamental o entendimento dos fatores
preponderantes que interferem em seu comportamento visando, principalmente,
dar sustentabilidade à compreensão do expressivo crescimento da produção
verificado no Brasil.
1.3. Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é avaliar comportamento do setor
sucroalcooleiro, em nível nacional e internacional, no período de 1979 a 2006.
Especificamente, pretende-se:
a) Identificar e quantificar os efeitos da principal variável “preço”, sobre as
variações na oferta de açúcar e de álcool no Brasil;
b) Avaliar inserção brasileira no mercado internacional de açúcar e álcool;
1.4. Estrutura do trabalho
Este trabalho está organizado em quatro capítulos. Em seqüência a esta
introdução, que fundamenta o escopo do trabalho e descreve seus objetivos, têm-
se também os capítulos dois e três, que se referem aos resultados obtidos no
trabalho. O segundo capítulo atende ao primeiro objetivo proposto e consiste na
apresentação e aplicação do modelo econométrico da pesquisa, discutindo as
questões referentes ao processo de tomada de decisão no setor sucroalcooleiro.
O terceiro descreve os resultados relacionados ao segundo objetivo
específico, onde são apresentadas as informações auferidas sobre o desempenho
externo e os fatores que mais evidentemente o afetaram. Já no quarto, e último
11
capítulo, são apresentadas as conclusões de toda a pesquisa, e por fim, seguem-se
as referências.
12
2. ANÁLISE MERCADOLÓGICA DO SETOR SUCROALCOLEIRO
2.1. Introdução
O setor de produção de açúcar e álcool, embora seja uno em termos de
suas origens (base produtiva) são bastante distintos em seus aspectos
mercadológicos. O álcool, como gerador de energia e produto estratégico,
requisita, com maior ênfase, apoio político para o seu desenvolvimento. Isso é
ainda mais realístico ao se considerar que, em termos comparativos, essa é,
ainda, uma atividade recente.
O açúcar, por sua vez, como commodity agrícola já consolidada,
demanda maior liberdade comercial, com ações apenas de suporte internacional
aos exportadores, que atingem em sua maioria, mercados controlados por
governos. Suas políticas públicas visam auto-suficiência, estoques de segurança e
preços razoáveis, através do uso de cotas de produção e importação;
regulamentação de preços aos consumidores, produtores de cana e indústria; e
taxas para importações/subsídios para exportações.
É neste sentido que as principais ações institucionais referem-se à
necessidade de definição de política energética pelo governo brasileiro,
reduzindo os riscos e incertezas aos produtores de cana, açúcar e álcool. Como
visto, existem problemas institucionais a serem superados e o principal deles é a
13
redefinição do papel do governo nos fóruns internacionais de comércio de açúcar
e de álcool (que deveria ser mais forte e efetivo), contribuindo para aumento do
poder de negociação do setor.
Além destas questões, existe um agravante a ser considerado: a incerteza
na oferta dos produtos, em virtude da flexibilidade de uso da matéria-prima,
cana. As usinas podem produzir açúcar ou álcool, reduzindo ou aumentando o
mix da produção em função dos preços relativos de ambos os produtos e de seus
substitutos.
Outro desafio enfrentado pelos agentes consiste na obtenção dos
insumos. Estudos mostram que geralmente é vantajoso adquiri-los em até um
raio de 50 km
5
; a partir dessa distância, os custos não são favoráveis à obtenção
deste insumo, porque o gasto com transporte se torna incompatível com a
rentabilidade. Por esse motivo, muitas usinas estão optando por abrir novas
unidades, ao invés de proceder à ampliação das plantas, para que este gasto seja
minimizado. Toda esta preocupação se deve ao fato de que a cana representa
quase a totalidade dos custos na produção do açúcar e do álcool.
Entretanto, apesar das dificuldades naturais do processo de produção,
sejam elas tecnológicas, legais ou gerenciais, há um cenário bastante promissor
para a expansão do álcool como combustível. Países como Japão, China, Índia,
entre outros, sinalizam para a utilização do álcool na mistura com a gasolina.
Neste contexto, o Brasil surge como o principal produtor de álcool a partir da
cana-de-açúcar, pois tem grande vantagem competitiva na produção do
combustível renovável e está superando os gargalos do setor. O mesmo cenário
também é observado para o açúcar, porém é o álcool que cresce a taxas
significativamente maiores que o açúcar.
Existe uma estreita dependência entre ambos os mercados, com a
dinâmica evolutiva do mercado brasileiro de álcool influenciando o
comportamento dos preços de açúcar. Isso leva a pensar na relevância de tornar o
setor alcooleiro melhor estruturado, com regras transparentes e objetivas, para
5
A cana-de-açúcar tem alto custo do transporte, pois a maior parte dela é bagaço, então não é
economicamente viável transportá-la num raio médio maior que 50 km.
14
que os demais participantes do mercado percebam sua racionalidade e consigam
verificar que, se bem regulado, não provocaria impactos extremados sobre os
preços do açúcar, tornando-os ainda mais voláteis do que normalmente o são
6
.
Há, portanto, relativo e necessário consenso entre os empresários do
setor canavieiro quanto à manutenção dos mercados conquistados e ao
cumprimento dos acordos estabelecidos, para que a credibilidade internacional e
o processo de exportação do álcool se perdurem. A padronização do combustível
álcool é um fator importante na questão das exportações, pois dá garantias
técnicas ao produto e segurança na manutenção dos mercados conquistados.
O grande ‘termômetro’ da relevância e da credibilidade do setor
sucroalcooleiro, especialmente o álcool, é o interesse de grandes empresas
importadoras e exportadoras. Isto é demonstrado a partir das análises das
aquisições de usinas por grupos nacionais e internacionais (concentração) –
utilização de joint ventures e fusões de empresas do setor. Estes tipos de
operações podem refletir em algumas vantagens como economia de escala, poder
de mercado, maior eficiência administrativa, diversificação do risco e redução de
custos favorecendo o desenvolvimento do setor.
Pelo exposto, fica claro que o objetivo de estudar os dois mercados de
forma simultânea deve-se à percepção de que os mesmos são altamente
correlacionados. Considerando que o preço é uma variável determinante na
opção pela produção de açúcar ou álcool, optou-se, em um primeiro momento,
por estudar a relação existente entre os preços e produções de ambos os produtos
no período de 1979 a 2006, com a finalidade de se determinar o padrão existente
entre os dois mercados.
2.2. Referencial teórico
Os procedimentos de intervenção e regulação nos mercados
agroindustriais, dos argumentos favoráveis e desfavoráveis à sua existência e dos
6
Esse fato é observado devido às várias tentativas de políticas com a finalidade de impulsionar o setor,
entretanto essa diversidade acaba atrapalhando o desenvolvimento do mesmo, pois os agentes não
conseguem compreender a sistemática de funcionamento do mercado.
15
perfis predominantes de regulação, com ênfase nas suas atuações sobre o
mercado sucroalcooleiro nacional. Esse conhecimento permite sustentar as
discussões sobre as relações de causalidade existentes entre os preços e o
comportamento dos mercados de açúcar e álcool, na vigência ou ausência de
programas governamentais para esses setores.
2.2.1. Regulação e intervenção nos mercados agroindustriais
A regulação econômica e os mecanismos de intervenção têm sido
utilizados com razoável freqüência no Brasil, seja em âmbito macro, no caso do
Estado intervencionista, seja em procedimentos de intervenção setorial. Para
Grijó (2001), nas ocasiões em que por algum razão, as forças de mercado não
garantem a eficiência econômica, a intervenção do Estado, seja ele mesmo
provendo os bens e serviços, ou por intermédio de regras e normas que restrinjam
as escolhas dos agentes individuais e organizações, é necessária.
Como esta pesquisa contempla a questão da desregulamentação do setor
sucroalcooleiro, torna-se importante discutir alguns aspectos conceituais que
fundamentam os argumentos da regulação e dos procedimentos de intervenção.
Nesse sentido, um texto recente que versa sobre a Teoria da Regulação e que
merece destaque foi escrito por Fiani (1998). Em sua discussão, o autor destaca
que a regulação econômica pode ser definida como “a ação do Estado que tem
por finalidade a limitação dos graus de liberdade que os agentes econômicos
possuem no seu processo de tomada de decisões”. No Brasil este debate vem se
desenvolvendo com maior ênfase desde fins da década de 1970, e permanece até
os dias atuais, ganhando espaço crescente nas discussões econômicas, sobretudo
quando se consideram as questões relativas à eficiência desses processos.
Naturalmente, as posições políticas do governo definem, em última
instância, o grau de intervenção pretendido. Todavia, não se pode deixar de
considerar a grande pressão que o mercado passou a exercer sobre esta questão a
partir da década de 1980, marco internacional da desregulamentação, seja ela
ampla ou setorial. Para Fiani (1998, p. 11),
16
Progressivamente não apenas os limites do campo regulatório começaram a
ser questionados, como até mesmo o sentido da regulação foi objeto de revisão
crítica. Neste processo houve um passo teórico fundamental. À análise das
falhas de mercado a teoria econômica veio a acrescentar, a partir dos anos
setenta, a análise das "falhas de governo". Compreender adequadamente o
conceito de falhas de governo não é tarefa tão simples como o estudo das
falhas de mercado: enquanto o último se fundamenta em uma discussão dos
obstáculos à consecução de um ótimo de Pareto pelo mercado (utilizando como
ferramenta a análise de equilíbrio parcial ou geral, já solidamente
estabelecidas na tradição da teoria econômica), a análise de falhas de governo
obviamente não pode recorrer ao mesmo tipo de suporte teórico-analítico, pelo
simples fato de que a atuação do governo não é orientada por profit-seeking.
Todavia, a desregulamentação não relata apenas casos de sucesso. O que
as evidências empíricas mostram é que as iniciativas são positivas nos casos em
que: (a) não havia embasamento para a própria regulação, em geral por se tratar
de indústrias competitivas, ou (b) onde as inovações tecnológicas tornaram
inadequado o regime regulatório anterior (FIANI, 1998, p. 23).
Além dos processos de regulação, usualmente de caráter mais abrangente
ou limitante, os processos de intervenção, em quaisquer áreas de atuação,
caracterizam-se por um ‘recorte’ ou ‘quebra’ de liberdade de ação em alguma
atividade, normalmente em desenvolvimento. A intervenção pode ocorrer de
forma mais efetiva ou mais sutil, sendo possível abranger as seguintes linhas de
ação: participação voluntária em algum processo e, ou, atividade; mediação e;
imposição de autoridade, com a finalidade de ajuste. No caso das intervenções
governamentais, os processos, ao longo da história econômica brasileira, de
modo geral, duas formas básicas podem ser observadas:
a) a intervenção direta com o intuito de realizar modificações pontuais na
condução e, ou suporte a alguma atividade;
b) a construção de mecanismos de regulação, que exerçam controle mais efetivo
sobre determinado setor da economia, através da organização e do aparato
legal, disponíveis ao Estado.
Em outras palavras “... de maneira abreviada, pode-se considerar
intervenção do Estado toda e qualquer atividade estatal que, amparada em lei,
tenha por escopo ajustá-la aos diversos fatores exigidos pela função econômico-
social a que está condicionada” (COSTA, 2004).
17
Para este estudo, serão destacados períodos em que ocorreram
intervenções estatais no mercado sucroalcooleiro nacional. Portanto, é preciso
tecer algumas breves considerações a esse respeito.
Qualquer atividade produtiva sempre envolverá certo grau de risco, pois
o risco é inerente ao processo de produção. Tal fato poderá resultar-se do próprio
comportamento do mercado que não se mantém estável sempre.
De fato, são muitos os argumentos a favor dos procedimentos de
intervenção governamental. Segundo Silva Filho (2001), desde a década de 1960
ocorreu um aumento expressivo da participação governamental nas atividades
deste setor, com a instituição de diferentes mecanismos de intervenção como os
preços mínimos, o crédito, a comercialização, a pesquisa agropecuária e a
extensão rural. Esses procedimentos perduraram por várias décadas, tendo-se
exaurido na medida em que o governo perdia condições de manter um suporte
dessa magnitude.
Além do mais, existem outros fatores a considerar como o risco
climático e a irreversibilidade da produção. Segundo Silva Filho (2001, p. 3), “a
dependência do clima e das condições biológicas determina a estacionalidade da
oferta agrícola, o que resulta em oferta irregular, com períodos de excesso ou de
falta de produção”. Por outro lado, no que se refere à produção em si, é preciso
lembrar que, enquanto atividade industrial, a produção pode ser interrompida em
momento crítico, isso não ocorre na agricultura, em virtude dos ciclos biológicos
de produção. Vale ressaltar que o setor sucroalcooleiro é dependente direto da
oferta de cana-de-açúcar (produto agrícola). Porém, ela não pode ser estocada,
fazendo com que a produção esteja sujeita aos seus ciclos produtivos. Ainda há
que se considerar o fator “preço” e o fato de que os produtos agrícolas, embora
tratados como commodities, usualmente não são uniformes, o que implica em
despesas com classificação e padronização. Para Brandão (1993), ainda existe a
perecibilidade, que demanda investimentos em sistemas de comercialização,
armazenamento e conservação.
Esses fatores, em conjunto, foram os argumentos básicos da
consolidação dos marcantes procedimentos intervencionistas, presentes no setor
18
agropecuário brasileiro até meados dos anos 1980. Todavia, aos poucos, essa
intervenção governamental passou a ser considerada onerosa para a sociedade:
além dos gastos em si, começaram a ocorrer amplos debates sobre as reais
virtudes da intervenção. Para os estudiosos e defensores do livre mercado,
... a intervenção governamental cria incentivos para que grupos dentro do setor
privado se organizem (“lobbies”) para se apropriar dos benefícios decorrentes
das políticas governamentais (BRANDÃO, 1993, p. 47).
Verifica-se então, o “desperdício de recursos (...) a descontinuidade de ações
entre governos (...) e morosidade em se ajustar a um mundo em transformação
(ALVES, 1993, p. 19).
A garantia de preços (uma das estratégias mais largamente utilizadas) limita a
concorrência, o que, supostamente, protege agricultores ineficientes. Políticas
desta natureza são apontadas como responsáveis por distorções na alocação de
recursos, nos preços relativos, além de prejudicar a população, que paga mais
caro pelos gêneros agrícolas (SILVA FILHO, 2001, p. 5).
Apesar de todas as discussões, envolvendo importantes elementos pró e
contra a intervenção governamental nos mercados, o fato é que estas ocorreram
de forma geral na agroindústria brasileira, e por um período de tempo
considerável. No caso específico do setor sucroalcooleiro, a regulação foi um dos
procedimentos mais recorrentemente adotados. Este, todavia, é um conceito que
merece maiores esclarecimentos.
2.2.2. A regulação no setor de produção de açúcar e álcool
A regulação é um conceito que pode ser tomado em diferentes sentidos.
Melo (2000, p. 56), identifica quatro tipos modais de ação regulatória do Estado
na economia:
a) propriedade pública de firmas ou de setores inteiros da economia; b)
exercício de atividades regulatórias diretamente por departamentos ou órgãos
da burocracia executiva; c) várias formas de auto-regulação por meio de
arranjos corporativistas; e, d) regulação pública com regime de propriedade
privada.
Como se pode observar, os conceitos de regulação apresentados
tangenciam os conceitos de intervenção estatal na economia. Na visão do autor,
uma definição resumida de intervenção poderia ser dada como sendo a
19
intervenção do Estado na economia e na atividade social com a finalidade de
corrigir falhas de mercado e aumentar o bem-estar da sociedade, sem que tal
intervenção implique na produção direta de bens e serviços por instituições
estatais. Gelis Filho (2006) lembra que a necessidade efetiva de intervenção
surge quando são observadas, dentro de um mercado particular, falhas
importantes. Assim, para o autor
... devemos enfrentar três questões básicas que ela [a definição de intervenção]
nos propõe sobre a atividade regulatória: o que é um mercado, quais são as
possíveis falhas desse mercado e quais são as possíveis formas de intervenção
do Estado na economia (GELIS FILHO, 2006, p. 593).
As possíveis formas de intervenção regulatória do Estado na economia
são variações sobre duas possibilidades básicas: estímulos em relação a preços ou
controle do comportamento dos agentes de forma direta (VISCUSI et al., 2000,
citados por GELIS FILHO, 2006, p. 594). De toda sorte, para os autores a
conceituação, em si, é menos complexa quando comparada à questão do grau de
regulação e, ou, à interferência a ser realizada.
Essa questão é fundamentalmente importante quando se trata de um setor
marcadamente atuante junto ao mercado internacional, com é o caso do setor
sucroalcooleiro. De fato, ao se analisar os recortes históricos (fases de maior ou
menor intervenção) se observa, com bastante clareza, que estes momentos foram
importantes para o desenvolvimento do setor; entretanto, na formatação política
recente, o papel intrínseco do Estado não é o de intervir em atividades
produtivas.
Podem-se destacar como principais mecanismos da intervenção no setor:
os preços administrados, a entrada de novas unidades industriais e produção
sobre o controle estatal (principalmente através de cotas de produção), as
garantias de mercados e subsídios, a divisão regional dos mercados (Centro-Sul,
Norte-Nordeste), o controle das exportações e a restrição ao capital estrangeiro
(RAMOS, 1999).
Para regular as relações entre usineiros e fornecedores foi instituído, em
1941, o Estatuto da Lavoura Canavieira. Da mesma forma, no início da década
de 1970, instaurou-se uma política de concentração e modernização deste
20
complexo agroindustrial. Neste intuito, vários programas foram criados, dentre
eles o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar – Planalsucar
(1966) e posto em financiamento na safra de 1971/72, o Programa de
Racionalização da Agroindústria Açucareira (1971), que foi substituído pelo
Programa de Apoio à Agroindústria Açucareira (1973) e, em seguida, pelo
Programa Nacional do Álcool – Proálcool, em novembro de 1975.
Até o surgimento do Proálcool, a moagem da cana era destinada à
produção de açúcar. O álcool era um produto residual da destilação do mel nobre,
ou seja, era considerado um subproduto da fabricação do açúcar.
Segundo Shikida (1998), as duas primeiras fases do Proálcool
conduziram ao fortalecimento de regiões e estados tradicionais nesse segmento
produtivo (São Paulo e Rio de Janeiro, na região Sudeste, e Alagoas e
Pernambuco, no Nordeste). As produções alcooleira e açucareira expandiram-se
também em regiões que apresentavam razoável infra-estrutura para a produção.
A partir de 1985, o governo brasileiro passou a executar uma política de
controle de inflação. Segundo Nogueira (2000), esse controle estava ancorado na
contenção de preços das tarifas públicas, incluindo preços de combustíveis e,
conseqüentemente do álcool, assim como os preços do açúcar e da cana-de-
açúcar.
O início da década de 1990 é caracterizado por uma conjuntura
econômica diferenciada, norteada por políticas públicas que sinalizavam a menor
intervenção estatal e, posteriormente, o setor sucroalcooleiro é inserido em um
contexto de livre mercado.
2.3. Metodologia
A produção de açúcar e álcool combustível está intimamente interligada:
são bens produzidos pelo mesmo agente. Assim, o aumento no preço de um dos
produtos conduz a um crescimento em sua oferta e, conseqüentemente, redução
na oferta dos demais (ou de alguns) produtos substitutos. Pode-se, então, detalhar
as inter-relações diretas descritas em cada segmento considerado.
21
A proposta metodológica recai no uso da metodologia de vetores auto-
regressivos (VAR), que permite analisar as relações entre os preços e produções
desse mercado, uma vez que essa modelagem considera que todas as variáveis
sejam mutuamente influenciadas. Através do seu uso, é possível analisar e
identificar as inter-relações no setor sucroalcooleiro brasileiro e o grau em que as
oscilações de preços e de oferta são transmitidas de um nível de mercado para o
outro e de um produto para o outro, em um mesmo nível de mercado.
Para alcançar o objetivo proposto foram cumpridas as seguintes fases: a)
definição do conjunto de variáveis que compõem o modelo VAR, irrestrito ou
restrito, com base na teoria econômica e o número de defasagens; b) realização
do teste de raiz unitária, para determinar a ordem de integração das variáveis; c)
realização do teste de co-integração, dado o conjunto de variáveis endógenas; e
d) se existirem relações de co-integração, adição dos termos de correção de erro e
estimar o modelo na forma de um Vetor de Correção de Erro (VEC),
principalmente se há interesse em análises de curto prazo. Cada etapa foi
realizada para verificar qual tipo de VAR irá se utilizar, como será discutido em
seguida
7
.
Para não obter resultados espúrios é necessário que tanto as variáveis nas
primeiras diferenças quanto o termo de correção de erro (se este existir) sejam
estacionários. Isto garante que as variáveis endógenas terão trajetórias
convergentes para suas médias de longo prazo, após sofrerem um choque inicial.
2.3.1. Teste de estacionariedade
O primeiro passo para o tratamento de dados de séries temporais é a
verificação da sua estacionariedade. Gujarati (2006) afirma que se uma série
temporal é estacionária, sua média, variância e covariância permanecem as
mesmas, não importa o ponto em que são medidas, ou seja, não variam com o
tempo. Se uma série temporal y
t
, para se tornar estacionária, tem de ser
7
Na seção que discute os modelos VAR estão as justificativas referentes a cada passo utilizados na
pesquisa.
22
diferenciada d vezes, diz-se que essa série é integrada de ordem d, denotando-a
como y
t
~I(d).
Usualmente, para verificar a estacionariedade da série, são aplicados os
testes de raiz unitária propostos por Fuller (1976) e Dickey e Fuller (1979), os
quais são bastante populares em análises econométricas, sendo denominados por
Teste de Dickey-Fuller (DF) e Teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF). O
procedimento envolve determinar, inicialmente, o número de defasagens (p) na
equação. O valor de (p) pode ser obtido por tentativas, até que se consigam
resíduos não-correlacionados, testando-os pelos Critérios Bayesiano de Schwarz
(SBC) e de Informação de Akaike (AIC). Uma vez determinada a defasagem da
série, faz-se o teste de Dickey e Fuller (1981) usando a tabela de valores críticos
para verificar as equações com (e sem) interceptos e tendências. Segundo
Gujarati (2006), a maneira mais fácil de apresentar este teste é a partir do
seguinte modelo (1):
ttt
uYY +=
1
ρ
(1)
em que u
t
é o termo de erro estocástico, supostamente um ruído branco, ou seja,
possui média zero, variância constante σ
2
e é não auto-correlacionado. A partir
da equação (1), testa-se a seguinte hipótese nula:
H
0
: ρ = 1 contra a hipótese alternativa
H
0
: ρ < 1
Se a hipótese nula não for rejeitada, ou seja, se de fato o coeficiente de
Y
t-1
for igual a 1 (ρ=1), diz-se então que a variável estocástica Y tem uma raiz
unitária, isto é, defronta-se com uma situação de não-estacionariedade. Uma série
temporal que possui uma raiz unitária é conhecida como uma série de caminho
aleatório, que é um exemplo de uma série temporal não-estacionária
(GUJARATI, 2006).
23
A equação (1) tem sido freqüentemente apresentada em uma forma
alternativa, subtraindo-se Y
t-1
em ambos os lados e aplicando o operador de
primeira diferença
ttt
uYY +=
1
)1(
ρ
(2)
ttt
uYY +=
1
δ
em que
é o operador de primeira diferença e δ = (ρ-1). Assim, a hipótese nula
deve ser modificada para δ = 0. Se a hipótese δ = 0 não for rejeitada, tem-se que
ρ=1, ou seja, há uma raiz unitária e (2) pode ser reescrita como:
tt
uY =  (3)
o que mostra que a série Y
t
é estacionária em primeira diferença já que, por
definição u
t
, é estacionário (ruído branco).
Entretanto, ao se testar a hipótese δ = 0, o valor de t obtido não segue
uma distribuição de student, nem mesmo para grandes amostras. A estatística t
calculada de modo convencional é conhecida como estatística τ(tau) e ainda
como teste de Dickey-Fuller (DF), cujos valores críticos foram tabulados por
Dickey e Fuller e, posteriormente, ampliados por MacKinnon através de
simulações de Monte Carlo.
Considerando o caso em que o processo auto-regressivo seja de uma
defasagem (p=1), três são os modelos que podem testar a raiz unitária. Sendo
assim, as equações podem tomar as seguintes formas:
ttt
yy
ρ
+=
11
(4)
ttt
yy
ρ
α
+
+
=
11
(5)
ttt
yty
ρ
β
α
++
+
=
11
. (6)
24
As equações descritas são estimadas por meio do Método de Mínimos
Quadrados Ordinários e, então, compara-se o resultado da estatística t de Student,
para o coeficiente ρ
1
, com o valor crítico apresentado na tabela de Dickey-Fuller
(1981). O valor crítico dessa tabela dependerá do tamanho da amostra e de qual
modelo está sendo usado: (τ) para o modelo (1), (τ
µ
) para o modelo (2) e (τ
τ
) para
o modelo (3). As equações (1) até (3) podem apresentar as seguintes
possibilidades: se | ρ | < 1, então (y) é I(0), isto é, estacionário em nível. Mas se ρ
=1, então (y) tem raiz unitária; não é estacionário em nível. Desta forma, se a
estatística (τ) do coeficiente ρ
1
for maior (em módulo) que o valor tabelado,
rejeita-se a hipótese nula, indicando estacionariedade da série em dado nível de
significância. No presente trabalho, utiliza-se o teste de Dickey-Fuller aumentado
(ADF), o qual consiste na estimação da seguinte equação:
t
m
i
itttt
yyty
εβρβα
++++=
=
1
11
. (7)
2.3.2. Teste de causalidade
Sabe-se que a existência de uma relação entre variáveis não prova
causalidade, nem indica a direção da influência. Portanto, é importante definir se,
além da correlação existe sentido de causalidade entre as variáveis e em que
sentido isso ocorre.
O teste de causalidade de Granger, considerado um teste de precedência,
pressupõe que a informação relevante para a previsão das respectivas variáveis
(no presente caso, preço do álcool, preço do açúcar, produção de álcool e
produção de açúcar) está contida, unicamente, nos dados da série temporal
dessas variáveis. Dessa forma, o teste envolve a estimação do seguinte par de
equações:
tjt
n
j
j
n
i
itit
uYAYALYA
1
11
++=
==
βα
(8)
25
.
2
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uYALYAYAL ++=
==
δλ
(9)
.
3
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uYAPALYA ++=
==
µϑ
(10)
.
4
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uPALYAPAL ++=
==
γο
(11)
.
5
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uYALPALYAL ++=
==
ψι
(12)
.
6
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uPALYALPAL ++=
==
υζ
(13)
.
7
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uYAPAYA ++=
==
τϕ
(14)
.
8
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uPAYAPA ++=
==
ρχ
(15)
.
9
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uPAPALPA ++=
==
επ
(16)
.
10
11
tjt
n
j
j
n
i
itit
uPALPAPAL ++=
==
νκ
(17)
em que YA é produção do açúcar; YAL, produção do álcool; PA, preço do
açúcar; PAL, preço do álcool.
Pressupõe-se, na análise, que os distúrbios de u
1t
e u
2t
(por exemplo) não
estão correlacionados. De acordo com Gujarati (2006), uma causalidade
unidirecional de produção de açúcar (YA) para produção de álcool (YAL) é
indicada se os coeficientes estimados de YA defasado em (8) são, em conjunto,
estatisticamente diferentes de zero (ou seja, ∑α
i
0) e o grupo dos coeficientes
estimados do preço defasado de YAL em (9) não é estatisticamente diferente de
zero (isto é, ∑δ
j
0). O mesmo raciocínio se aplica à causalidade unidirecional de
YAL para YA, e também para os demais casos apresentados.
Já uma causalidade bilateral é sugerida quando os conjuntos dos
coeficientes de produção de álcool (YAL) e produção de açúcar (YA) são
estatisticamente diferentes de zero nas duas regressões. Por outro lado, quando os
26
conjuntos de coeficientes de YAL e YA não são estatisticamente significativos,
há independência entre as variáveis.
Para tanto, realiza-se o teste F, comparando-se a regressão de YAL
incluindo os termos defasados de YA com a regressão de YAL contra todos os
termos de YAL defasados e outras variáveis excluindo, entretanto, os termos de
YA defasados. Se o valor de F calculado for maior que o valor crítico de F, ao
nível de significância determinado, conclui-se que os termos defasados de YA
devem fazer parte da regressão, ou seja, há uma causalidade de YA em direção a
YAL. O mesmo processo deve ser seguido para identificar a causalidade no
sentido contrário.
Conforme Gujarati (2006), a aplicação do teste de causalidade de
Granger pressupõe a estacionariedade das séries. Além disso, a direção da
causalidade pode diferenciar em função do número de defasagens escolhido. Para
a definição de qual resultado considerar, podem-se utilizar os critérios de
informação de Akaike ou de Schwharz
8
.
2.3.3. Testes de co-integração
Para identificar a existência de co-integração entre as séries, será usado o
procedimento descrito por Johansen (1988). Ao contrário de outros métodos,
como no caso de Engle e Granger, ele utiliza Máxima Verossimilhança para
estimar os vetores de co-integração e permite testar e estimar a presença de
vários vetores e não só de um único vetor de co-integração. Além disso, é
possível realizar testes sobre a significância dos parâmetros que compõem os
vetores de co-integração.
Um entendimento melhor pode ser obtido através da seguinte
exemplificação. Suponha-se que X
t
seja um vetor com n variáveis (n x 1), n= 2,
integradas de ordem 1 [I(1)]. Caso se queira identificar a co-integração entre
8
Os critérios estatísticos de Erro de Predição Final (FPE), Informação de Akaike (AIC), Informação de
Schwarz (SC), Hannan-Quinn (HQ) e o Teste de Razão de Verossimilhança (LR), buscam escolher a
seleção de defasagem ótima, entretanto somente o critério de AIC e SC foram utilizados.
27
estas variáveis, o primeiro passo é especificar o processo gerador de X
t
como um
vetor auto-regressivo (VAR) envolvendo k defasagens de X
t
:
X
t
= Ð
1
X
t-1
+ Ð
2
X
t-2
+ ...+ Ð
k
X
t-k
+ å
t
(18)
em que Ð
i
é matriz de parâmetros de ordem (n x n); å
t
, termo de erro com å
t
~
IN(0, Ù).
A equação (18) pode ser transformada na seguinte expressão:
ÄX
t
= Ð X
t-1
+ Ã
1
ÄX
t-1
+ ...+ Ã
k-1
ÄX
t-k+1
+ å
t
(19)
Sendo que:
Ð = Ð
1
+ Ð
2
+...+ Ð
k
– I
I = matriz identidade
O formato da equação (19) é conhecido como modelo de correção de
erro. Engle e Granger (1987) provaram que se temos um vetor de variáveis X
t
com X
t
~CI(1,1), então X
t
pode ser representada sob a forma de um modelo de
correção de erros. Na realidade, a matriz Ð (n x n) pode ser representada pelo
produto das seguintes matrizes:
Ð = á â’ (20)
A matriz “á” é chamada de matriz de coeficientes de ajustamento e os
seus elementos representam a velocidade de ajustamento das variáveis de
interesse a desequilíbrios no curto prazo. A matriz “â” é chamada de matriz de
co-integração e contém os coeficientes que exprimem as relações de longo prazo
entre as variáveis. Ambas as matrizes possuem dimensão n x r, em que r é o
número de vetores de co-integração.
28
A determinação do número de vetores de co-integração é feita pela
análise do posto da matriz Ð. Uma forma de determinar o posto de uma matriz é
observar o número de raízes características (ou autovalores) que são diferentes de
zero. Assim, é possível determinar o número de vetores de co-integração através
do exame da significância das raízes características estimadas de Ð. Partindo
deste princípio, Johansen e Juselius (1990) desenvolveram dois testes capazes de
determinar o posto da matriz Ð. O primeiro teste é conhecido como teste do traço
trace
) e é usado para testar a hipótese nula que existem no máximo r vetores de
co-integração:
ë
trace
(r) = -T Σ(ln 1-λ) (21)
em que λ é valor estimado dos autovalores obtidos da matriz â; T, número de
observações.
O outro teste desenvolvido por Johansen e Juselius (1990) é o teste do
máximo autovalor que testa a existência de exatamente r vetores de co-integração
contra a alternativa de existência de r+1 vetores. Ele é definido pela equação
(22):
ë
Max
(r, r+1) = - T ln(1 - λ
r+1
) (22)
Os testes sobre os parâmetros â são essenciais para a análise de hipóteses
sobre as características da integração entre o mercado sucroalcooleiro analisado.
Especificamente, eles permitem testar quais mercados efetivamente fazem parte
do equilíbrio de longo prazo e se a integração entre estes mercados pode ser
considerada perfeita, ou seja, se uma variação no preço de um mercado é
transmitida de maneira completa ao outro mercado no longo prazo.
O ranking da matriz Ð, é igual ao número de vetores de co-integração
linearmente independentes, e o número de relações de co-integração corresponde
ao número de autovalores (λ
i
) estatisticamente diferentes de zero. Três situações
podem ocorrer:
29
a) r = n, então X
t
é estacionário, e o modelo deve ser ajustado com as variáveis
em nível;
b) r = 0, então X
t
é estacionário, e o modelo corresponde a um VAR em
diferenças; e
c) 0 < r < n, existem matrizes áe â tal que Ð = á â’, de forma que existem
combinações lineares dos componentes do vetor X
t
que são estacionárias;
Detectada a co-integração entre as variáveis, inclui-se o modelo de
correção de erro, através da estimação de uma regressão, mas, desta vez, com as
variáveis diferenciadas e não em nível, ou seja:
01 1 1
(
tttt
)yxyx
t
ω
ωγβαε
−−
∇= + +
(23)
O modelo de correção de erro permite a ligação entre aspectos relacionados
com a dinâmica de curto com os de longo prazo. Em outras palavras, segundo
Banerjee (1993, p.139)
os mecanismos de correção de erro pretendem fornecer um caminho para
combinar as vantagens de se modelar tanto em nível quanto nas diferenças. Em
um modelo de correção de erro tanto a dinâmica do processo de ajustamento
de curto prazo (variações), quanto de longo prazo (níveis) são modelados
simultaneamente.
Portanto, o modelo de correção de erro mostra a velocidade segundo a qual
essas variáveis convergem para uma situação de equilíbrio de longo prazo. Outro
aspecto relevante reside na interface entre co-integração e modelo de correção de
erro, pois, de acordo com Engle e Granger (1987, p.10), a “co-integração implica
que o sistema segue uma representação de correção de erro e, reciprocamente, um
sistema de correção de erros tem variáveis co-integradas”.
2.3.4. O modelo vetorial auto-regressivo (VAR)
O método de auto-regressão vetorial (VAR) é especialmente adequado
para a análise de séries temporais e tem sido usado de forma extensiva por
diversos economistas, para a descrição de dados, previsão e inferência estatística,
30
devido à simplicidade da metodologia, e à qualidade dos resultados que ela
proporciona.
De acordo com Gujarati (2006), o modelo VAR é simples, dado que não
é necessário determinar quais variáveis são endógenas e quais são exógenas,
além de poder ser estimado pelo método de mínimos quadrados ordinários. Além
disso, o autor afirma que as previsões obtidas por esse método são, em muitos
casos, melhores que as obtidas pelos métodos mais complexos de equações
simultâneas. Nestes modelos, todas as variáveis são tratadas, a priori, como
variáveis endógenas, de maneira que possibilita operar uma análise dotada de
maior dinâmica.
O ponto de partida para modelos VAR e VEC é tratar cada variável
simetricamente dentro de uma concepção de equações simultâneas. O sistema
assim especificado mostra as relações dinâmicas entre as variáveis que o
compõem, através da Função Impulso Resposta (FIR) e da Decomposição de
Variância do Erro de previsão.
Recomenda-se que as variáveis incluídas no modelo VAR sejam
reconhecidamente (por meio da teoria econômica) inter-relacionadas. Para
reforçar a teoria econômica, devem-se utilizar testes estatísticos com o objetivo
de confirmar o sentido de causalidade entre as variáveis selecionadas para
estudo. Desta forma, o teste de causalidade de Johansen e Juselius (1990) é
importante para a inclusão de variáveis no modelo VAR.
Em um sistema com n variáveis endógenas I(1) podem existir n-1
relações de cointegração linearmente independentes. Caso não existam relações
de co-integração, se pode ajustar um modelo VAR irrestrito com as variáveis em
primeira diferença. Porém, se existe uma relação de co-integração no sistema,
deve-se adicionar ao VAR irrestrito um termo de correção de erro, a ' b x
t-1.
Este
último é obtido via uma combinação linear das variáveis endógenas em níveis
(não diferenciadas), ' b x
t-1
, onde b é o vetor de co-integração. Multiplicando este
último termo pelos coeficientes da velocidade de ajustamento a, tem-se o termo
de correção de erro.
31
Um VAR irrestrito (ou VAR padrão) mais o termo de correção de erro
são conhecidos como modelo do Vetor de Correção de Erro (VEC). Logo, um
VEC é um VAR restringido pela relação de equilíbrio de longo prazo que existe
entre as variáveis do modelo. Dessa forma, a especificação de um VEC, apesar
de permitir desvios de curto prazo, restringe o comportamento de longo prazo das
variáveis do sistema a que o mesmo convirja para sua relação de equilíbrio de
longo prazo (relação de co-integração), pois os desvios de curto prazo são
paulatinamente corrigidos (pelos termos de correção de erro) de tal forma que o
equilíbrio de longo prazo seja garantido. Nessa modelagem, admite-se que as
séries tenham as propriedades do modelo de BOX-JENKINS, sejam estáveis e
inversíveis. Tenham também os e
it
ruído branco com variância constante e não
correlacionados.
Para apresentar a análise conceitual do sistema VAR, de acordo com
objetivo do trabalho, o modelo é especificado em forma de sistema de equações
simultâneas as quais se assume interdependentes e são relacionadas por uma
memória auto-regressiva. As equações do modelo VAR primitiva, com uma
única defasagem, podem ser representadas por:
14132111
++=
tttt
PALPAYALYAYA
γ
γ
γ
γ
β
(24)
14132112
+
+
+
+
=
tttt
PALPAYAYALYAL
θ
θ
θ
θ
β
14132113
++=
tttt
YALYAPALPAPA
η
η
η
η
β
14132114
+
+
+
+
=
tttt
YALYAPAPALPAL
φ
φ
φ
φ
β
No conjunto de equações (24) está representado formalmente um modelo
simples de VAR padrão irrestrito, assumindo-se que as variáveis são integradas
de ordem um. Ou seja, não existe no modelo um termo de correção de erro. Desta
forma, caso se deseje ajustar um VEC, situação em que as variáveis são co-
integradas, deve-se adicionar a cada uma das equações do modelo acima um
termo de correção de erro, que represente a relação de equilíbrio de longo prazo
entre as variáveis endógenas.
32
No que diz respeito ao número de defasagem a ser utilizado no modelo,
optou-se pelo critério Schwartz (SC), pois o mesmo é não viesado na escolha de
modelos sobre parametrizados e não está ligado a nenhuma estatística de teste
assintótica.
2.3.5. Fonte e tratamento de dados
Os dados utilizados foram obtidos junto à Food and Agriculture
Organization
(FAO) e da União de Produtores de Bioenergia (UDOP). E
deflacionados pelo índice (IGP) obtido no Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA).
2.4. Resultados e discussão
2.4.1. Resultados obtidos para as análises de estacionariedade, causalidade e
co-integração
O primeiro procedimento realizado no tratamento dos dados foi a
realização dos Testes de Raiz Unitária de Dickey-Fuller (DF) e de Dickey-Fuller
Aumentado (ADF). Os resultados são apresentados na Tabela 1. Os valores
indicam que, nos níveis de significância estatística de 1%, 5% e 10%, não se
pode rejeitar a presença de raiz unitária para todas as séries em nível, tratando-se,
portanto, de séries não-estacionárias.
33
Tabela 1 – Testes de raiz unitária DF e ADF, realizados para as séries PAL
t
, PA
t
,
YA
t
, YAL
t
, no período de 1979 a 2006
Valor crítico
Série Equação de teste
Número de
defasagens
Estatística de
teste
1% 5% 10%
PAL
t
Constante 0 -1,93 -3,69 -2,98 -2,63
PAL
t
Constante 0 -6,50 -3,71 -2,98 -2,63
PA
t
Constante e tendência 0 -0,47 -4,33 -3,59 -3,23
PA
t
Constante e tendência 3 -4,42 -4,41 -3,62 -3,25
YA
t
Constante e tendência 0 -1,06 -4,33 -3,59 -3,23
YA
t
Constante e tendência 1 -4,93 -4,37 -3,60 -3,24
YAL
t
Constante e tendência 2 -2,09 -4,37 -3,60 -3,24
YAL
t
Constante e tendência 3 -4,51 -4,35 -3,59 -3,23
Fonte: Resultados da pesquisa.
Nota: Foi utilizado o número de defasagens que minimizou o Critério de Informação de Schwartz.
O teste realizado para todas as séries em primeira diferença indicou que,
nos níveis de 1%, 5% e 10% de significância, pode-se rejeitar a presença de raiz
unitária para todas as variáveis, portanto trata-se de séries estacionárias.
Em seqüência, como proposto, a fim de estabelecer a relação entre os
preços e as produções, utilizou-se o teste de causalidade de Granger (Tabela 2).
Conforme mostram os resultados obtidos, esse teste foi realizado com
quatro defasagens, e, a um nível de significância inferior a 10%, conclui-se que
existe apenas uma causalidade bidirecional, ou seja, o preço do açúcar causa a
produção do açúcar, bem como o contrário. O oposto acontece com as produções
do álcool e do açúcar que apresentaram ausência de causalidade. Ademais,
observou-se causalidade unidirecional para as variáveis: produção do açúcar
causa preço do álcool, produção do álcool causa preço do álcool e preço do
álcool causa preço do açúcar.
34
Tabela 2 – Testes de causalidade de Granger, no período de 1979 a 2006
Hipótese nula N.º de defasagens N.º de observações Probabilidade
YA não causa YAL 4 23 0.825
YAL não causa YA 4 23 0.168
YA não causa PAL 4 23 0.029
PAL não causa YA 4 23 0.980
YAL não causa PAL 4 23 0.057
PAL não causa YAL 4 23 0.168
YA não causa PA 4 23 0.019
PA não causa YA 4 23 0.065
PA não causa PAL 4 23 0.267
PAL não causa PA 4 23 0.006
Fonte: Resultados da pesquisa.
Após verificar a ordem de integração das variáveis, devem-se realizar os
testes de co-integração, a fim de analisar a relação de longo prazo entre elas. O
método utilizado foi proposto por Johansen (1988), entretanto, não se utilizou o
modelo proposto por Engle e Granger, já que não é indicada para testar co-
integração quando se considera a possibilidade de existir mais de um vetor de co-
integração.
Na Tabela 3, apresentam-se os resultados dos testes para co-integração
no modelo VEC. Verifica-se nessa tabela que, tanto pela estatística do traço
quanto do autovalor máximo, rejeita-se a hipótese nula de não co-integração
(r=0) e se aceita a hipótese alternativa de que existe uma relação de co-integração
e no máximo duas (r 2 e r = 2, respectivamente), ou seja, a matriz de raízes
características apresenta, pelo menos, duas relações linearmente independentes,
ou dois rankings.
35
Tabela 3 – Teste de Johansen e Juselius para co-integração
Autovalor máximo Estatística do traço
Valor observado Valor crítico Valor observado Valor crítico
r=0 14.65 13.97 29.89 29.68
r1 10.13 14.07 15.23 15.41
r2 5.09 6.76 5.09 5.87
Fonte: Resultados da pesquisa.
Isso significa que as variáveis utilizadas no modelo estão apresentando
trajetórias comuns, ou em bloco, de forma que no longo prazo a relação é estável.
2.4.2. Análise do padrão de interdependência entre preço e produção do
açúcar e do álcool sem considerar intervenção governamental
Após a análise do comportamento das variáveis, o passo seguinte está
associado à verificação e quantificação dos efeitos das defasagens sobre o
sistema VAR. Cada variável pode ser influenciada por efeitos retardados de todas
as variáveis do modelo, seja por rigidez das respostas, seja pela natureza do
processo de formação de expectativas. Para levar em conta esse efeito retardado,
é preciso estabelecer a estrutura de defasagens do modelo. Para tanto, aplicou-se
os critérios de Akaike e Schwarz
.
A análise dos resultados obtidos deve ser feita pela função impulso
resposta e a decomposição da variância do erro de previsão. No entanto, pode ser
realizada de forma separada. Nesta pesquisa, os resultados foram mais bem
interpretados quando analisados conjuntamente, pois a importância atribuída a
um padrão de resposta de uma variável em relação à outra depende do seu poder
de explicação da variância de previsão.
Pelo exposto, fica claro que a metodologia VAR permite avaliar o poder
explanatório de cada variável do modelo sobre as demais através da
36
decomposição da variância dos erros de previsão. Nas Tabelas 4 a 11 são
apresentadas essas decomposições, assim como as estimativas dos desvios-
padrão dos erros de previsão. Optou-se por apresentar as decomposições
somente para os dez meses porque, nos períodos anteriores, a parcela de
explicação sobre as demais não sofre alteração significativa em relação ao ano.
Na decomposição da variância do erro de previsão do preço do açúcar
(Tabela 4), observa-se que nos primeiros períodos quase a totalidade das
variações é explicada pela própria variável, entretanto nos últimos períodos a
variável perde representatividade para as demais variáveis principalmente para a
variável produção do açúcar.
Tabela 4 – Decomposição da variância preço do açúcar
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 24.33376 100.0000 0.000000 0.000000 0.000000
2 34.91437 72.66184 12.01630 12.74414 2.577716
3 40.78173 53.92785 17.08160 26.11859 2.871959
4 52.93149 32.31802 13.67646 50.43621 3.569314
5 70.05363 19.51899 10.79714 65.99966 3.684207
6 82.65890 16.75772 9.908705 69.21616 4.117414
7 94.87146 14.37823 10.70816 70.12667 4.786934
8 108.8673 10.97527 11.09689 72.79076 5.137078
9 124.0023 8.463293 10.19928 76.12334 5.214087
10 139.2966 6.930387 9.416955 78.33640 5.316257
Fonte: Resultados da pesquisa.
Os resultados obtidos são representados em pontos percentuais, ou seja,
no caso da Tabela 4, no primeiro períodos o preço do açúcar explica a totalidade
das variações da própria variável, enquanto que, as demais não têm nenhum
poder de explicação. Essa realidade muda de acordo com o período; no último
37
período, por exemplo, a variável preço do açúcar transfere em boa parte seu
poder de explicação para a produção do açúcar.
Quanto aos resultados disponibilizados na Tabela 5, estes também
mostraram que a maior parte das variações do preço do álcool depende da própria
variável, e que este cenário muda logo no segundo período considerado, visto
que, o preço do açúcar passa a determinar a variável em questão.
Tabela 5 – Decomposição da variância do preço do álcool
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 0.696660 3.608589 96.39141 0.000000 0.000000
2 0.974288 39.32692 52.82382 7.545670 0.303587
3 1.215943 45.27181 43.79276 10.61835 0.317073
4 1.368239 36.23228 49.96761 13.52302 0.277091
5 1.412836 34.40601 51.38087 13.90641 0.306717
6 1.476945 35.47263 51.51471 12.73174 0.280928
7 1.602483 38.22995 48.32894 13.17608 0.265027
8 1.753304 38.16099 45.47017 16.14097 0.227867
9 1.832636 35.96271 47.32572 16.50141 0.210159
10 1.872534 34.89538 48.60363 16.27525 0.225745
Fonte: Resultados da pesquisa.
Os resultados reafirmam a hipótese de que o mercado alcooleiro é mais
suscetível a intervenção do que o mercado açucareiro, haja vista, os percentuais
obtidos na pesquisa, então reporta-se, a Tabela 4 referente a variável preço do
açúcar, todavia nota-se que o mercado se mutuamente influência deixando
residualmente as outras variáveis consideradas ter algum poder de interferência.
Em relação aos resultados apresentados na Tabela 6 (decomposição da
variância do erro da produção do açúcar), estes mostram que a explicação dos
erros de previsão dessa variável deve-se à variável em questão. Este resultado de
fato sugere, porém, análise criteriosa, visto que identificou-se mais claramente o
38
trade-off” existente no mercado alcooleiro, pois os percentuais apresentados nas
Tabelas alusivas ao mercado açucareiro mostram poder de explicação residual do
mercado alcooleiro, entretanto, este mesmo resultado não pode ser inferido para
o mercado alcooleiro.
Tabela 6 – Decomposição da variância da produção do açúcar
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 1638557. 0.201179 0.014666 99.78415 0.000000
2 2430023. 0.574412 0.014583 99.40789 0.003117
3 2925394. 7.507538 0.225445 92.26446 0.002559
4 3537766. 7.327565 1.992304 90.47280 0.207330
5 4218319. 5.158936 2.461459 92.10800 0.271602
6 4982699. 3.705300 2.182697 93.73897 0.373033
7 5780204. 3.112884 2.137813 94.22819 0.521111
8 6436384. 3.054569 2.290021 93.98082 0.674590
9 7053041. 2.724002 2.634666 93.78820 0.853137
10 7748478. 2.256978 2.845178 93.90124 0.996605
Fonte: Resultados da pesquisa.
Em relação aos resultados obtidos para a última variável analisada, a
decomposição da variância do erro da produção do álcool (Tabela 7) apresentou
cenário reafirmando os resultados anteriores, no que tange ao setor alcooleiro,
visto que o poder de interferência do setor açucareiro foi novamente encontrado.
Todavia, através desta metodologia proposta, esses resultados não prevêem
outros fatores que também interferem na estrutura do setor scuroalcooleiro, face
a esses, que se descreve uma simplificação da realidade e então, não se considera
a grande influência de outros fatores externos, como por exemplo o mercado de
hidrocarbonetos fósseis.
39
Tabela 7 – Decomposição da variância da produção do álcool
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 1361601. 7.574257 0.801338 6.602255 85.02215
2 2042668. 18.01908 0.376562 3.420298 78.18406
3 2999092. 30.78583 1.402917 1.590501 66.22076
4 3714629. 34.08785 1.847496 1.388168 62.67649
5 4294769. 32.80922 2.469327 1.183039 63.53841
6 4770247. 31.26420 2.681394 0.986673 65.06773
7 5258839. 31.37553 2.583012 0.894495 65.14696
8 5756707. 32.77830 2.557670 0.746605 63.91743
9 6209781. 33.42330 2.753094 0.680709 63.14289
10 6586867. 33.03022 2.948881 0.607259 63.41364
Fonte: Resultados da pesquisa.
Esses resultados, porém resguardam outros efeitos que não puderam ser
medidos de forma mais objetiva, uma vez que se sabe este setor no período
analisado passou por várias transformações institucionais, e por esse motivo,
tentou-se captar essas mudanças através da inserção da variável dummy no
modelo que será demonstrado nas tabelas posteriores.
Outro resultado da pesquisa foi à função impulso resposta, que também é
resultante da metodologia proposta. Na tentativa de facilitar o entendimento e a
clareza dos resultados do problema em questão, a análise é feita em conjunto
com a decomposição da variância das variáveis, a fim de obter resultado mais
consistente.
A Figura 3 mostra a tendência dos choques, e como as variáveis
consideradas no modelo se comportam se caso o choque seja positivo ou
negativo. No caso da variável preço do álcool, observou-se que variações
positivas incidem de forma direta sobre o comportamento das variáveis produção
do açúcar e preço do álcool. Em contrário, no caso de choques positivos na
produção do álcool, a tendência da produção do açúcar será de redução,
mostrando um impacto negativo. Cabe ressaltar, que o preço do açúcar responde
40
positivamente a um impulso positivo da produção do álcool, mesmo a produção
do açúcar tenha tendência negativa ao choque. Tal peculiaridade pode ser
explicada, pois mesmo que o mercado açucareiro esteja aquecido, em
determinados momentos já citados da história, o mercado alcooleiro ocupava a
posição de mais rentável, então como existe “trade off” na produção o setor
sucroalcooleiro tinha que optar por produzir mais ou menos de determinado
produto.
-20
-10
0
10
20
30
40
50
60
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PACUCAR to Cholesky
One S.D. Innovations
-.8
-.6
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
.8
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PALCOOL to Cholesky
One S.D. Innovations
-1000000
0
1000000
2000000
3000000
4000000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PRODACUCAR to Cholesky
One S.D. Innovations
-500000
0
500000
1000000
1500000
2000000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PRODALCOOL to Cholesky
One S.D. Innovations
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 3 – Função impulso resposta.
41
Já para o setor açucareiro notou-se que os choques em relação às
variáveis do setor (preço e produção) são reforçado, ou seja, na resposta ao
impulso positivo no preço do açúcar, tanto a produção quanto o preço foram
positivas. O mesmo aconteceu com a função impulso resposta da produção do
açúcar, observou-se a mesma convergência.
Em geral, o que se observou é que no caso do açúcar, um produto
tradicional, os choques são quase sempre reforçados; entretanto, no mercado
alcooleiro, onde as transformações são mais recentes, não se observa a mesma
tendência, e sim um significativo grau de indeterminação das respostas aos
impulsos.
Outra conclusão importante recai sobre os efeitos do grau de
interferência no setor, já que o mercado alcooleiro era diretamente marcado pelas
políticas intervencionistas. Ao que se pode observar o fato do álcool não reforçar
o choque decorre, basicamente, das políticas intervencionistas, pois o mercado
não age por si só, e sim decorrente de metas traçadas pelo governo. Já no caso do
açúcar, que nesse período sofreu influência indireta das políticas, devido ao
trade-off da produção, obteve comportamento mais padronizado.
A aparente instabilidade do setor alcooleiro, sugerida pela metodologia
adotada, pode ser explicada em conseqüência das mudanças estruturais e
governamentais ocorridas nas últimas décadas. Entretanto compete enfatizar a
importância de conhecer o setor e seus enlaces, a fim de respaldar os tomadores
de decisão. A metodologia exclusivamente não consegue explicar o setor (no
todo) e suas interferências externas, pois a presente pesquisa buscou apenas
entender o mecanismo interno da produção, contudo algumas pesquisa são infra-
citadas no intuído de consolidar a análise.
Apesar de décadas de incertezas, a expectativa, no entanto, é de que o
setor alcooleiro cresça significativamente nos próximos anos, não apenas por
questões de ordem econômica (esgotamento das reservas de petróleo e preços
elevados dos combustíveis derivados dessa matéria-prima), mas também por
questões geopolíticas e ambientais.
42
Uma amostra da confiabilidade de um mercado promissor, foi um estudo
do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) que
destacou, em pesquisa recente, alguns pontos importantes para a manutenção da
liderança de baixo custo do produto, bem como a permanência do status de maior
produtor. Do ponto de vista do mercado interno e externo de etanol, o sucesso do
setor depende dos seguintes fatores: garantia de oferta constante, estável e de boa
qualidade, para que os consumidores de veículos flexíveis elejam o álcool
efetivamente como combustível; relação de preços entre o álcool e os
combustíveis substitutos, como a gasolina e o gás natural, e este último pode
constituir-se numa grande ameaça quando os veículos multicombustíveis forem
lançados; resolução das questões relativas à concentração territorial da produção
e à exclusão de pequenos e médios fornecedores de cana-de-açúcar e de
trabalhadores agrícolas, em função da elevada integração vertical na cadeia e da
mecanização da colheita de cana; solução ou minimização de questões de infra-
estrutura logística, ligadas à capacidade de armazenamento nas usinas; recepção,
descarga, tancagem e de bombeamento do álcool nos portos, além dos gargalos
relacionados ao transporte do produto; redução de tarifas de importação e revisão
de cotas e extra-cotas, praticadas principalmente nos Estados Unidos e na União
Européia; subsídios concedidos nesses países aos produtores locais e, velocidade
na qual os países colocarão em prática os programas de uso do álcool,
aprovados, e da capacidade e disposição desses países em produzir o
biocombustíveis.
Ademais, percebe-se que é preciso que o Brasil aproveite esse momento
favorável para que se consolide no mercado como player mais expressivo.
Todavia, não se pode desconsiderar, nesse processo, o fato de que o setor
sucroalcooleiro precisa ser analisado como um todo, para que o “trade-off” entre
a produção de açúcar e álcool seja alocado da melhor forma possível.
No que diz respeito ao mercado açúcar, percebe-se que a taxa de
crescimento do consumo no mercado interno é pequena, superando em pouco a
taxa de crescimento vegetativo da população brasileira. Isso ocorre porque o
consumo direto per capita de açúcar já é bastante elevado, não se podendo
43
esperar incremento significativo dele mesmo que haja aumento de renda. Pelo
contrário, em função de aspectos relacionados à saúde e à estética, tem-se
verificado uma tendência de substituição desse produto por adoçantes diets na
dieta da população inserida nas classes de renda mais altas.
O que se pode concluir, de forma geral, é que o mercado de açúcar não é
a fonte de demanda crescente de cana-de-açúcar, e por isso, não se instaura a
justificativa pelo seu crescimento e dinamismo recentes. De acordo com os
resultados obtidos, a produção de álcool está se tornando cada vez mais
importante para economia brasileira e demandando maiores investimentos no
setor, em função do momento favorável em que se encontra.
2.4.3. Análise do padrão de interdependência entre preço e produção do
açúcar e do álcool considerando intervenção governamental
A fim de equacionar o período de intervenção governamental em que o
setor sucroalcooleiro vivenciou, optou-se pela inserção de uma variável dummy,
na tentativa de captar os efeitos decorridos no período em que o governo
instaurou políticas de incentivos ao setor.
Pelo exposto, o esforço adicional dispensa a realização de teste de
estacionariedade de séries, visto que são as mesmas que foram já foram tornadas
estacionárias em primeira diferença.
Então, dispensadas as formalidades dos testes pelos motivos já
mencionados, inicia-se a análise nos mesmos termos que foram dispostos os
resultados anteriores, a fim de fazer um paralelo com os resultados anteriores.
Ao dispor sobre a Tabela 8, percebe-se a diferença dos mesmos resultados
sem a dummy reside na maior interferência da variável preço do álcool na
variável preço do açúcar, fator este não observado nos resultados que não foram
consideradas as interferências governamentais. Mas também reafirma a teoria da
maior estabilidade do setor açucareiro.
44
Tabela 8 – Decomposição da variância preço do açúcar
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 32.57055 100.0000 0.000000 0.000000 0.000000
2 45.83236 86.60415 5.803171 7.209495 0.383189
3 50.49000 78.13657 10.15696 11.38954 0.316931
4 53.85985 71.47991 13.14685 15.08298 0.290253
5 57.86736 68.65872 14.14972 16.92766 0.263901
6 63.38368 71.70290 12.70700 15.36744 0.222660
7 69.11585 73.93979 11.86158 14.01137 0.187259
8 73.07665 72.55712 12.69614 14.57922 0.167521
9 76.04997 69.98233 13.89415 15.96588 0.157642
10 78.86733 68.80578 14.34811 16.69362 0.152488
Fonte: Resultado da pesquisa.
Análise correlata da Tabela 8 pode-se fazer com a Tabela 9, pois após a
inserção do período de intervenção governamental observou-se que houve maior
influência dos preços tanto do álcool quanto do açúcar. De forma mais clara,
quando esta análise é feita com a decomposição da variância do preço do álcool
Tabela 9, em que o preço do açúcar se evidencia em termos de participação
percentual. Então, através destes resultados, corrobora-se a análise feita
anteriormente que demonstra a variável preço mutuamente se influenciando,
contudo vale ressaltar que o preço do açúcar tem maior interferência que o preço
do álcool, no que se refere à análise entre os setores.
Os resultados auferidos na Tabela 10, não foram diferentes descritos nas
tabelas anteriores, no que se refere à mudança das variáveis que determina a
variável analisada. Tal resultado é observado após a inserção da variável dummy
que busca captar os efeitos do período intervencionista de caráter efetivo em
quanto política governamental, dado o interesse no respectivo setor.
45
Tabela 9 – Decomposição da variância do preço do álcool
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 0.727970 0.564787 99.43521 0.000000 0.000000
2 0.984216 38.88793 59.66108 1.399009 0.051980
3 1.230625 48.87750 49.49853 0.912347 0.711627
4 1.407433 37.51309 59.31186 2.503078 0.671969
5 1.517520 32.67019 63.42472 3.288022 0.617073
6 1.601670 29.90470 66.02055 3.478867 0.595886
7 1.697692 31.96353 64.33755 3.098001 0.600915
8 1.804919 34.13572 62.50012 2.740915 0.623250
9 1.896898 32.19946 64.36744 2.781447 0.651658
10 1.982682 29.51805 66.66878 3.170915 0.642258
Fonte: Resultados da pesquisa.
Tabela 10 – Decomposição da variância da produção do açúcar
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 1252384. 3.762278 2.592773 93.64495 0.000000
2 1437282. 9.382853 2.426180 87.90793 0.283035
3 1964358. 45.95852 5.803653 47.07114 1.166688
4 2455167. 63.48976 4.769660 30.90689 0.833693
5 2631596. 63.96784 4.212484 30.93480 0.884880
6 2718450. 61.64251 3.961129 33.28135 1.115013
7 2825184. 61.26421 3.764679 33.61163 1.359484
8 3036959. 64.68195 3.824443 30.10636 1.387243
9 3281811. 68.54216 3.679900 26.45249 1.325450
10 3431068. 69.70072 3.407487 25.56212 1.329672
Fonte: Resultados da pesquisa.
46
Neste caso específico, a mudança foi o poder de determinação maior da
variável preço do açúcar, em conseqüência redução do poder de influência da
variável produção do açúcar. Neste setor não se observa efeito direto do setor
alcooleiro no açucareiro, resultado este que não surpreende, pois o açúcar é um
produto tradicional e consolidado no mercado internacional e nacional, ou seja, o
mercado funciona reciprocamente se influenciando.
Tendo em vista toda a análise já feita, a Tabela 11, não diverge das
principais conclusões extraídas das outras tabelas. Pois, também mostra a
diferença entre os resultados e comportamentos com e sem intervenção
governamental.
A Tabela 11, da decomposição da variância da produção do álcool,
mostra o grau de interferência do setor açucareiro no mercado alcooleiro, e a
forma de interação destes. Contudo, a variável preço do açúcar possui maior e
crescente poder de intervenção defronte a produção do álcool.
Tabela 11 – Decomposição da produção do álcool
Período Desvio-padrão PA PAL YA YAL
1 1137119. 15.21719 1.790903 0.428380 82.56352
2 1832812. 30.25485 2.011034 9.841392 57.89272
3 2916518. 49.79075 0.970684 10.09250 39.14606
4 3875894. 58.18446 1.190311 10.95281 29.67243
5 4433589. 59.52809 0.927568 10.35497 29.18937
6 4759566. 58.09089 0.850797 10.05142 31.00689
7 5094517. 56.94043 0.743978 9.901133 32.41446
8 5536853. 57.46897 0.693268 10.02397 31.81379
9 6028801. 58.78680 0.649059 10.12861 30.43552
10 6418648. 59.37188 0.577467 10.09016 29.96049
Fonte: Resultado da pesquisa.
47
Pelo exposto, conclui-se que aumentou o poder de interferência do
mercado açucareiro em relação ao alcooleiro, considerando a inserção da variável
dummy, todavia a análise inversa não pode ser feita.
A próxima metodologia utilizada foi à função impulso resposta,
apresentada na Figura 4, e a mesma, proporciona resultados que converge para as
mesmas conclusões anteriores, maior estabilidade do açúcar em comparação ao
álcool. As funções impulso resposta mostram que com a inserção da variável
dummy no modelo implicaram em maior estabilidade das respostas do setor
alcooleiro, haja vista a influência direta do período de intervenção no setor,
entretanto o setor açucareiro se mostrou mais instável no mesmo ambiente, pois o
setor não teve as políticas voltadas para ele, o efeito foi indireto devido ao trade
off do setor sucroalcooleiro.
Neste caso, a análise do setor açucareiro não se torna solidificada, em
virtude que neste modelo se considera os efeitos ocorridos no ambiente de
intervenção governamental, o que de fato ocorreu, mas o efeito sobre o setor foi
indireto.
Conquanto, a Figura 4 mostra a tendência dos choques e como as
variáveis consideradas no modelo se comportam se caso o choque seja positivo
ou negativo. No caso da variável, preço do álcool, observou-se que variações
positivas incidem de forma direta no próprio preço do álcool e na produção do
álcool e de forma negativa nas demais variáveis.
A variável produção do açúcar notou-se que variações positivas incidem
de forma positiva no preço do álcool e produção do açúcar, de forma neutra no
preço do álcool e de forma negativa na produção do álcool.
48
-20
-10
0
10
20
30
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PACUCAR to Cholesky
One S.D. Innovations
-.8
-.6
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
.8
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PALCOOL to Cholesky
One S.D. Innovations
-400000
0
400000
800000
1200000
1600000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PRODACUCAR to Cholesky
One S.D. Innovations
-1000000
-500000
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
PACUCAR
PALCOOL
PRODACUCAR
PRODALCOOL
Response of PRODALCOOL to Cholesky
One S.D. Innovations
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 4 – Função impulso resposta.
Após análise dos modelos com ou sem intervenção, podemos concluir que
o composto da intervenção governamental é mais estável, portanto o período ao
qual houve influência das políticas governamentais transformaram a tendência do
setor.
2.5. Conclusões
Este capítulo objetivou identificar os efeitos da variável “preço” sobre as
variações na oferta de açúcar e álcool. Para tanto, utilizou-se o modelo Vetor de
Correção de Erro (VEC).
Os resultados obtidos deixaram claro que embora o modelo tenha sido
capaz de analisar o comportamento do mercado sucroalcooleiro, não conseguiu
49
explicar a totalidade dos efeitos mercadológicos vivenciados pelo setor. Entende-
se que isso se deve à grande complexidade das relações entre os mercados de
açúcar e álcool e ao fato de que as determinações de preço ocorrem, muitas
vezes, fora do âmbito doméstico.
Todavia, foi possível confirmar que o mercado açucareiro possui maior
estabilidade e relações de causalidade mais previsíveis do que o mercado de
álcool. A dinâmica do setor e a grande incerteza associada à real demanda
(efetiva e potencial) cria espaço para que os efeitos esperados decorrentes das
variações no seu preço nem sempre se confirmem.
50
3. DESREGULAMENTAÇÃO SETORIAL E INSERÇÃO
INTERNACIONAL: O CASO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO
3.1. Introdução
O Brasil é o maior produtor mundial de álcool e açúcar, utilizando a
cana-de-açúcar como matéria prima fundamental. Na safra 2006-2007, os
empresários do setor colheram 387 milhões de toneladas de cana. Desse total,
cerca de 50% foi destinado para a produção de álcool e os outros 50% para
produção de açúcar. Mais recentemente, em virtude do potencial de expansão do
mercado de etanol, os produtores e usineiros optaram pela ampliação da área
plantada com cana, que vem, inclusive, avançando sobre áreas de culturas
importantes como laranja, soja e milho, além da pecuária extensiva.
Os dados da Figura 5 mostram o crescimento da quantidade de cana
produzida no Brasil. Observa-se, que embora a tendência seja de crescimento, há
movimentos interessantes. O primeiro vai do início da série até o final dos anos
1980 e mostra a expansão gradual da produção, com divisão equitativa entre a
área plantada pelos usineiros e o percentual adquirido de terceiros para produção
de açúcar e álcool. O segundo, entre fins de 1980 e 1997 mostra taxas de
expansão mais modestas, quase em estagnação, mostrando os efeitos imediatos
da desregulamentação setorial; todavia, percebe-se a modificação no padrão de
aquisição da matéria-prima, com aumento significativo da cana plantada pela
51
usina. Após este período, internalizados os efeitos da desregulamentação, há um
novo ciclo de expansão, derivado, também, das grandes discussões internacionais
sobre a necessidade de modificações na matriz energética mundial, com ênfase
no uso da biomassa.
Fonte: União de Produtores de Bioenergia (UDOP).
Figura 5 – Quantidade de cana-de-açúcar produzida pela própria usina, por for-
necedores e valor total.
A possibilidade de uso da cana traz, além de vantagens de custo,
benefícios relacionados ao rendimento médio e ao aproveitamento de resíduos:
pesquisas em andamento na Universidade de Campinas (UNICAMP) e na
Universidade de São Paulo (USP) já estão testando comercialmente o etanol de
segunda geração, que consiste na produção de álcool combustível, de igual
qualidade, feito a partir dos resíduos da cana-de-açúcar.
A produção e o consumo de etanol apresentaram tendência de
crescimento, sobretudo a partir de 2001, com o aumento da porcentagem de
mistura do álcool na gasolina e das vendas crescentes de veículos flexíveis; a
demanda por açúcar também apresentou expansão, embora em ritmo menor,
bastante próximo à média do crescimento vegetativo.
52
Entre os anos de 2001 e 2006, mantiveram-se vinculados à atividade
sucroalcooleira cerca de 70 mil agricultores e 393 usinas, distribuídas,
principalmente, nas regiões Centro-Sul (responsável por 92% da produção de
etanol) e Norte-Nordeste (com os 8% restantes). A região Centro-Sul, que tem
São Paulo como maior estado produtor, é a que apresenta as maiores
produtividades agrícola e industrial e, simultaneamente, os menores custos de
produção e de logística, pois está mais próxima do mercado consumidor, dos
centros de pesquisa e da indústria de máquinas e equipamentos para o setor
(CEPEA, 2007).
Por outro lado, as usinas e destilarias da região Norte-Nordeste, que
exportam a maior parte da produção, têm encontrado dificuldades de adaptação
às novas condições técnicas impostas pela desregulamentação do setor,
apresentando custos de produção mais elevados, mesmo contando com subsídios
do governo para a comercialização do produto. Mesmo com essas diferenças, o
etanol brasileiro apresenta o menor custo de produção do mundo. Esse bom
desempenho é explicado por um conjunto de fatores que podem ser sintetizados
em alguns itens:
a) O Brasil possui o menor preço da terra e da mão-de-obra agrícola e industrial;
b) Houve intensa evolução tecnológica e gerencial das empresas brasileiras,
sobretudo a partir da desregulamentação do setor nos anos 1990.
c) A matéria-prima básica para as usinas brasileiras – a cana-de-açúcar – é a que
possui maior riqueza em sacarose, o que garante maior produtividade.
d) A economia com os gastos da energia utilizada no processo de fabricação do
açúcar e do álcool é muito vantajosa, tendo em vista que grande parte das
usinas brasileiras utiliza energia própria, co-gerada a partir da queima do
bagaço da cana-de-açúcar em caldeira (IEA, 2008).
Além dessas questões relacionadas basicamente com ganhos
competitivos setoriais, é importante lembrar que as condições externas à
produção também são favoráveis. Nas últimas décadas, cresceu a importância do
uso de fontes alternativas de energia no mundo. Dentre os fatores que melhor
caracterizam esse movimento destacam-se: o questionamento dos efeitos do uso
53
dos derivados do petróleo sobre o meio ambiente; a formalização do Protocolo de
Kyoto, em 1997, traça a política dos países sobre o meio ambiente, estabelecendo
metas de controle das emissões de CO
2
a partir de 2008; o aumento da
instabilidade dos países do Oriente Médio e a elevação real dos preços
internacionais do petróleo, conseqüentemente, a necessidade dos países de
reduzir a dependência desse combustível e, por fim, os baixos preços das
commodities, a busca de alternativas agrícolas e as possibilidades de geração de
empregos.
Embora ainda em fase introdutória – representando apenas 3% do total
de combustíveis consumidos mundialmente – o álcool conta com grandes
possibilidades de expansão no futuro. Existem, claramente, alguns fatos que
corroboram essa suposição:
a) as incertezas quanto ao preço do petróleo em períodos de instabilidade
econômica e política mundial;
b) a tendência de substituição pelo álcool, em diversos países, dos oxigenantes
Metil – Tércio – Butil – Éter (MTBE) e chumbo tetraetila, muito poluentes;
c) a alta tributação que alguns países imputam à gasolina;
d) a crescente preocupação mundial a respeito da questão ambiental que, ao
longo do período em que o Proálcool vigorou, não ocupou papel de destaque
como observado nos dias atuais.
A esse respeito, destaca-se que os esforços para a inserção de fontes
renováveis de energia na matriz energética mundial, especialmente em virtude da
intensificação do efeito estufa, têm sido cada vez maiores (LEME, 2003).
Ademais, como grande parte do etanol combustível é consumida no mesmo país
onde é produzido, o comércio internacional desse produto ainda é relativamente
incipiente.
No que se refere aos fluxos internacionais, o Brasil é o maior exportador
de etanol. Em 2007, foi o responsável por cerca de 50% do volume
comercializado, tendo como principais clientes os Estados Unidos, o Japão, a
Índia, a Alemanha e a Coréia. No que tange às importações, os Estados Unidos
54
ocupam o primeiro lugar, em função do crescimento da demanda interna nesse
período.
Devido à exigência legal proibindo o uso do MTBE e substituindo-o,
gradativamente, por combustíveis da biomassa, outro fator importante que tem
contribuído para elevar a demanda de etanol no país é o aumento constante no
preço petróleo. Em 2005, cerca de 65% do petróleo consumido internamente foi
importado, e as previsões indicam um aumento na dependência para 79% daqui a
20 anos (RENEWABLE FUELS ASSOCIATION – RFA, 2005).
De fato, as novas exigências ambientais têm desencadeado a aprovação
de legislações locais que exigem a mistura do etanol em combustíveis derivados
do petróleo. Portanto, a dinâmica do mercado de etanol depende da expansão
desses programas nos próximos anos. A esse respeito, a Tabela 12 descreve
sucintamente alguns programas com impacto significativo no consumo de
biomassa, os quais apresentam perspectiva de vantagens diretas para o Brasil.
Como exemplo dos efeitos já observados, destaca-se, por exemplo, a
expansão das vendas brasileiras de álcool combustível para a Índia, principal
destino das exportações brasileiras em 2006 (414 milhões de litros), em função
do aumento no consumo de etanol para uso combustível no país. Em segundo
lugar está o Japão (317 milhões de litros), que importa etanol principalmente para
fins industriais, seguido pelos Países Baixos e pelos Estados Unidos, onde a
substituição do MTBE como oxigenante em alguns estados explica a maior
dependência do etanol brasileiro.
Contudo, apesar das vantagens explícitas, a competitividade do álcool
brasileiro ainda é comprometida nos maiores mercados mundiais do
biocombustível
9
na medida em que se defronta com subsídios americanos e
europeus aos outros produtores locais, além de defrontar-se com elevadas tarifas
de importação.
9
Entende-se por bicombustível o etanol e o biodiesel.
55
Tabela 12 – Percentuais de exigência de mistura de álcool na gasolina de alguns
países
País Percentual de exigência
Brasil Exige 25% de mistura à gasolina atualmente (legislação permite
percentual entre 20% e 25%).
Estados Unidos Percentual de até 10% em alguns estados, como é o caso da Califórnia,
Nova York e Minnesota.
União Européia A partir de 2006 passou a exigir 2% de mistura. Percentual aumentará
para 5,75% em 2010.
Canadá Exige 5% de adição, devendo aumentar para 7,5% em 2006, e para 10%
em alguns estados.
Japão Já instituiu 3% de mistura voluntária. Deve aumentar para 10% até o
próximo ano e tornar a mistura compulsória.
Índia Exige 5% de mistura na gasolina. Objetivo é ter um modelo parecido
com o do Brasil (entre 20% e 25%).
Colômbia Passou a exigir 10% de mistura em grandes cidades a partir de setembro
de 2005.
Tailândia Exige mistura de 10% em todos os postos de gasolina de Bangkok.
China Exige vários percentuais de mistura em várias províncias, chegando a
10%.
Venezuela Criou programa que exige 5% de mistura de etanol na gasolina, neste
ano.
Austrália Tem 10% de mistura voluntária de etanol na gasolina.
Argentina Pretende implementar 5% de mistura nos próximos cinco anos.
Fonte: Licht (2005) e RFA (2005).
56
Assim, considerando a atual posição ocupada pelo Brasil no cenário
internacional sucroalcooleiro e os desafios existentes, objetiva-se, nesse capítulo,
analisar o seu padrão de desenvolvimento considerando, nesse processo, a já
referida modificação nos padrões de regulação e os recentes eventos relacionados
às determinações de adicionamento de percentuais de álcool à gasolina, em
diferentes países.
3.2. Referencial teórico
Nesta seção discutem-se as relações existentes entre a competitividade, o
ambiente macroeconômico e a inserção do produto nacional no mercado
internacional. Essa avaliação é importante na medida em que a inserção do setor
sucroalcooleiro nacional no mercado externo segue padrões diferentes e
possuem, igualmente, elementos de composição distintos. Assim, é preciso
considerar quais elementos – e de que forma – podem apoiar o seu
desenvolvimento, de forma mais ou menos significativa.
3.2.1. Competitividade setorial e inserção internacional
Os estudos sobre competitividade setorial sempre envolvem algum grau
de dificuldade conceitual. Para Farina et al. (1998), competitividade não tem uma
definição precisa; pelo contrário, compreende tantas facetas de um mesmo
problema que dificilmente se pode estabelecer uma definição, ao mesmo tempo,
abrangente e útil a todo o escopo de uma pesquisa.
Na visão de Teixeira (s.d., p. 1), “... embora a competitividade seja uma
expressão bastante difundida nas análises e discursos atuais, o entendimento
preciso dos elementos que a definem não é objeto de consenso”. Para o autor,
A controvérsia em torno do conceito de competitividade se, por um lado, revela
as lacunas teóricas e empíricas associadas a estudos sobre estruturas e
políticas, por outro, implica em desafios metodológicos para trabalhos que têm
por objetivo diagnosticar a situação competitiva de setores ou complexos
industriais específicos (TEIXEIRA, s.d., p. 1).
57
Dentro desse contexto, estabelecer procedimentos metodológicos
significa, inicialmente, identificar os conceitos e, conseqüentemente, os
indicadores mais adequados aos objetivos de uma pesquisa. Em outras palavras, a
opção por uma linha teórica específica termina por definir o próprio conceito de
competitividade, pois o mesmo caracteriza a linha de pesquisa a ser utilizada.
Teixeira (s.d.) realiza, em sua resenha, interessante descrição histórica
das principais abordagens a serem consideradas na compreensão da
competitividade. O autor inicia sua discussão com a visão tradicional
neoclássica, que entende a competitividade dentro de parâmetros mais limitados,
uma vez que tem por escopo de análise um mercado concorrencial perfeito.
Nessa modelagem, “a competitividade é resultado do processo de interação
anônima entre os agentes econômicos (empresas, consumidores), onde a
pulverização de decisões é coordenada pelas forças do mercado” (TEIXEIRA,
s.d., p. 2).
Em seqüência, destaca-se a contribuição schumpeteriana, que associava a
base científica à base tecnológica de uma atividade, destacando o papel da
tecnologia como um “bem que, como qualquer outro, incorpora um sistema
produtivo em sua criação, envolvendo custos e riscos” (TEIXEIRA, s.d., p. 3).
Concomitantemente a esses avanços de reflexão, desenvolveu-se uma nova linha
de pesquisa, que buscava relacionar a estrutura de mercado, o processo
competitivo e o desempenho das empresas. Nessa abordagem, que ficou
conhecida como Estrutura-Conduta-Desempenho, a competitividade é um dos
itens do desempenho, sendo entendida como o resultado “... da interação
competitiva entre os agentes que estão influenciados pelas forças ou pelos traços
da estrutura industrial no qual estão inseridos” (TEIXEIRA, s.d., p. 3).
Outro estudo interessante foi o realizado por Porter (1980), e constituiu-
se importante marco nas análises sobre competitividade industrial. O autor, em
sua abordagem entende que as estratégias competitivas de uma empresa e, ou,
indústria definem-se a partir das bases estruturais na qual se insere. Em sua visão,
integram-se à estratégia empresarial as políticas industriais e tecnológicas.
“O Estado, que antes não tinha conceitualmente um espaço definido entre as
cinco forças competitivas, é agregado como sexta força, enquanto ordenador
58
do conjunto de instrumentos político–institucionais capazes de influenciar na
formulação das próprias estratégias das unidades de capital” (PORTER, 1980,
p. 53).
A competitividade, então, deixa de ser um conceito somente
microeconômico e passa a se definir no escopo das possibilidades de interação
entre empresas e entre setores, no âmbito de cadeias de suprimento ou complexos
industriais. Nessa linha, os indicadores de desempenho que caracterizam a
competitividade devem levar em conta os aspectos qualitativos e quantitativos do
resultado da competição, assim como a capacidade de transformar, por meio das
estratégias empresariais, as forças estruturais da indústria (TEIXEIRA, s.d.).
Além dessas questões, envolvendo a discussão da competitividade
setorial, em uma visão de inserção externa, o conceito de competitividade
internacional foi abordado inicialmente por Adam Smith e David Ricardo nos
séculos XVIII e XIX. Estes autores buscaram explicar o posicionamento das
nações no mercado internacional por meio de suas teorias de vantagem absoluta e
comparativa, respectivamente.
Na visão de Haguenauer (1989), os conceitos de competitividade podem
ser divididos em dois grupos. O primeiro deles entende a competitividade como
desempenho expresso pela participação no mercado alcançada por uma firma, em
determinado ponto do tempo. A participação das exportações da firma ou
conjunto de firmas no comércio internacional total do produto aparece como seu
indicador mais imediato, considerando-se, neste caso, a competitividade
internacional.
No segundo grupo estariam os conceitos que atribuem a competitividade
à eficiência produtiva. Sob esta ótica, a competitividade está associada à
capacidade de uma firma/indústria produzir bens com maior eficácia que os
concorrentes no que se referem a preços, tecnologia, salários e produtividade,
estando relacionada às condições gerais ou específicas em que se realiza a
produção da firma/indústria vis-à-vis a concorrência.
Para aqueles que entendem a competitividade como desempenho, é
razoável supor que a eficiência na utilização de recursos definiria apenas algumas
59
fontes de competitividade existentes em uma firma/indústria, mas nunca a
competitividade em si, já que esta depende de muitos outros fatores, dos quais
muitos são subjetivos. Segundo Fajnzylber (1988), os fatores determinantes da
competitividade podem ser extremamente abrangentes, uma vez que competem
entre si no mercado internacional não apenas empresas, mas sistemas produtivos,
esquemas institucionais, organizações sociais, sistemas educacionais, infra-
estrutura de P&D, sistemas financeiros, etc. Em outras palavras, a
competitividade é uma variável que sintetiza fatores preço e não-preço, dentre os
quais cabe destacar ainda: fatores ambientais, procedimentos de ação
governamental, qualidade de produtos e fabricação, habilidade de servir ao
mercado, além da capacidade de diferenciação de produtos.
Assim, a competitividade entendida como fruto único e exclusivo da
eficiência produtiva atribui o desempenho no mercado como conseqüência da
competitividade e não sua expressão. No entanto, segundo Haguenauer (1989),
acreditar que a maior eficiência produtiva se traduza em maior participação no
mercado implica aceitar os cânones da concorrência perfeita, no sentido de que
há total mobilidade de capital, inexistem barreiras à entrada e saída de novos
concorrentes no mercado, não há preferências dos consumidores e nem
discriminação de preços entre mercados, além de outras suposições pouco
realistas.
Em suma, o que se observa é que os conceitos de desempenho e
eficiência são insuficientes para uma discussão sobre competitividade, posto que
ambos se reduzem à mensuração, em pontos distintos, da seqüência
intertemporal, dos resultados das diferentes estratégias competitivas adotadas
pelas firmas. De fato, tanto as características tecnológicas do processo de
produção quanto as formas específicas de comercialização, se estão dadas em um
momento do tempo para as firmas de um setor industrial, são o resultado de
estratégias específicas adotadas em um momento anterior.
Nesta direção, sugere-se que competitividade não pode ser entendida
como uma característica intrínseca de um produto ou de uma firma. Ao contrário,
entende-se ser a competitividade um conceito dotado de uma dimensão
60
extrínseca à firma ou ao produto, estando também relacionada ao padrão de
concorrência vigente no mercado, e ao ambiente no qual se insere. É o padrão de
concorrência, portanto, a variável determinante, e a competitividade, a variável
determinada ou de resultado.
Dessa maneira, como princípio geral, a competitividade deve ser
entendida como um fenômeno direta e indissoluvelmente ligado ao processo de
concorrência, que não se esgota em vinculações ex-ante ou ex-post. No entanto, a
operacionalização de um conceito de competitividade dentro desse princípio
geral exige o estabelecimento de uma série de pontos, de grande complexidade,
referentes às noções de concorrência e padrões de concorrência, quando se busca
incorporar a presença de inovação tecnológica no processo competitivo.
Isso se dá porque, na dimensão sistêmica, estão localizados os fatores
que se constituem em externalidades, stricto sensu, para a empresa produtiva.
Sobre esses fatores macroeconômicos, político-institucionais, legais –
regulatórios, infra-estruturais, sociais, internacionais –, ela detém escassa ou
nenhuma possibilidade de intervenção, constituindo-se, assim, em parâmetros do
seu processo decisório, que é objeto de análise da pesquisa.
Uma das formas mais usuais de mensurar a competitividade de um setor
no mercado internacional dá-se através da construção e da avaliação de
indicadores que permitam a realização de análises comparativas entre setores ou
de um mesmo setor, ao longo do tempo.
Apesar dos muitos significados dados ao termo “competitividade” há um
relativo consenso de que o sucesso de um setor no mercado internacional, em
termos quantitativos, é uma medida satisfatória da mensuração da
competitividade setorial.
Sobre esse tema, em resenha interessante sobre as vantagens e limitações
no uso de indicadores de competitividade, Teixeira (s.d., p. 13), afirma que “... o
conceito de competitividade está relacionado a determinada percepção da
dinâmica industrial”, e que a “... definição de indicadores que possam ser
mensurados em análises empíricas e que, ao mesmo tempo, incorporem os
elementos da discussão teórica, são relevantes na análise da competitividade”.
61
Para que essa visão se torne mais didática, o autor elaborou, em dois
quadros sintéticos (Tabelas 13 e 14), uma discussão sobre os indicadores de
competitividade mais utilizados, suas vantagens e limitações de uso. Nessa
proposta, utilizada como importante norte nesta pesquisa, os indicadores foram
classificados em dois grupos, de modo a ressaltar o tratamento diferenciado da
variável tecnológica na análise da competitividade, embora esta forma de
classificação não esteja explícita na literatura. Assim, o agrupamento considerou
as seguintes dimensões: percepção da estrutura industrial; concepção da função
tecnológica; percepção do processo competitivo; percepção do grau de
estabilidade das forças estruturais; percepção do papel do estado.
A principal diferença entre os dois grupos de indicadores consiste na
análise da tecnologia, tanto em termos de geração quanto de aprendizagem e
difusão. No primeiro grupo – A –, foram colocados aqueles que consideram
maior homogeneidade tecnológica e, no segundo – B –, os que envolvem maior
percepção da heterogeneidade.
3.2.2. Metodologia
Nesta pesquisa, considerando a relativa homogeneidade tecnológica e os
próprios objetivos da pesquisa, que não consideram, por exemplo, fatores ligados
à aprendizagem, optou-se por indicadores que compõem o primeiro grupo, sendo
estes tanto do tipo absoluto quanto do tipo relativo, já que o estudo trata, nesse
primeiro momento, da análise de dois produtos derivados de um mesmo setor.
Foram, ao todo, selecionados e calculados seis indicadores. Mesmo
considerando as dificuldades de disponibilidade de dados, procurou-se escolher
os indicadores de maior consistência e que melhor que explicassem o
desempenho nacional.
62
Tabela 13 – Competitividade: indicadores, medidas e limitações – Grupo A
Indicadores Medidas Limitações na mensuração
COMPORTAMENTO
DAS EXPORTAÇÕES
- crescimento das exportações
- nível de internacionalização da indústria
- composição da pauta de exportações
- relações espúrias entre fatores
conjunturais de mercado e forças
competitivas, estruturais
COMPORTAMENTO
DOS PREÇOS
DOMÉSTICOS E
INTERNACIONAIS
- diferenciais de preços
- diferenciais de custos
- diferenciais de rentabilidade
- supõe que inovações tecnológicas,
especificação do produto e qualidade
são estáveis.
- considera a estrutura de comércio
internacional competitiva (parâmetro)
- desconsidera os diferenciais de preço do
mercado internacional e respectivos
mercados internos.
ADEQUAÇÃO DE
MERCADO
- diferenciais de qualidade - problemas de horizonte temporal
VANTAGENS
COMPETITIVAS
ESTÁTICAS
- intensidade na utilização de fatores
- valor adicionado a preços domésticos e
internacionais
- proteção efetiva
- supõe tecnologias internacionais
uniformes e concorrência perfeita
- desconsidera relações intrafirmas no
comércio internacional
- exclui economias de escala e
aprendizado
COMPORTAMENTO
DOS SALÁRIOS
- salário/valor da produção
- desconsidera condições gerais de
produção
TÉCNICOS
PRODUTIVOS
- diferenciais de produtividade
- best-practice
-
difusão entendida como adoção de
técnicas a partir de avaliações de taxa de
retorno
- incorpora funções de produção
agregadas
- desconsidera heterogeneidade estrutural
- desconsidera assimetrias tecnológicas
- desconsidera aspectos
organizacionais/institucionais
TÉCNICOS
PRODUTIVOS E
ORGANIZACIONAIS
- utilização de fatores produtivos
- condições gerais de produção
- dificuldade de delimitar o grau desejável
de agregação analítica
Fonte: Teixeira (s.d.).
63
Tabela 14 – Competitividade: indicadores, medidas e limitações – Grupo B
Indicadores Medidas Limitações na mensuração
COMPOSIÇÃO DOS
FLUXOS DE COMÉRCIO
- assimetrias tecnológicas
internacionais/hiatos
- aprendizado tecnológico, inovação e
imitação ao longo de trajetórias
tecnológicas
- dificuldade de elaborar medidas que
captem o caráter dos indicadores
- dificuldades de informações empíricas e
de mensuração
FUNÇÕES
TECNOLÓGICAS
QUALITATIVAS
- sistemas de P&D
- sistemas de serviços de tecnologia
industrial básica
- organização industrial
- dificuldade de atingir grau desejável de
agregação entre o nível empresarial,
setorial e macroeconômico
FUNÇÕES
TECNOLÓGICAS
QUANTITATIVAS
- gastos em P&D privados e sociais
- grau de automação vetores de preços
sustentáveis
- dificuldade de isolar fatores
intervenientes entre estrutura e
estratégia
FUNÇÕES
TECNOLÓGICAS
ESTRATÉGICAS
- quantificação de esforços utilizados nas
práticas competitivas
- apreensão de expectativas tecnológicas
- estrutura do capital/formas de
associação
- dificuldade de hierarquizar fatores
competitivos em análises sistêmicas
VANTAGENS
COMPETITIVAS
DINÂMICAS
- custo de construção de recursos
produtivos
- custo de atualização tecnológica
- grau de especialização desejável
- complementaridade do mercado interno
e desempenho exportador
- dificuldade de conciliar a lógica do
capital com a lógica da tecnologia
Fonte: Teixeira (s.d.).
O primeiro indicador é denominado Esforço Exportador, esta é
considerada a forma mais simples e objetiva de se medir o grau de abertura da
economia. Ele indica a parte do produto nacional que é dedicada aos mercados
estrangeiros, tendo sido elaborada por Herrero (2001).
ttt
PIBXA /=
(23)
em que X
t
é valor deflacionado das exportações do álcool/açúcar no período de
1979 a 2006; PIB
t
, valor real do produto interno bruto do Brasil no período de
1979 a 2006.
64
O segundo indicador utilizado consiste no grau de abertura da
economia, que indica a intensidade das relações comerciais de um país com o
resto do mundo. Quanto mais intensas são suas relações comerciais, mais
“aberto” está o país ao intercâmbio externo. A medida não tem sentido absoluto e
sim relativo. Uma variante desta fórmula é a que compara a corrente de comércio
(X + M) com o PIB, sem dividi-la pela metade. Deve-se levar em conta que um
país que utiliza intensamente as importações para realizar suas exportações
apresentará um grau de abertura acentuado, provavelmente superior a um (casos
dos “países super-exportadores” como Hong Kong, Malásia e Cingapura). Nestes
casos, a fórmula GA superestima a integração da economia nacional com o
exterior (HERRERO, 2001).
i
ii
PIB
MX
GA
))(2/1( +
=
(24)
em que X
i
é valor deflacionado das exportações do álcool/açúcar no período de
1979 a 2006; M
i
, valor deflacionado das importações do álcool/açúcar no período
de 1979 a 2006; PIB, valor real do produto interno bruto do Brasil no período de
1979 a 2006.
O terceiro indicador, o índice de especialização comercial, é considerado
um índice de segunda geração. Aplica-se seu cálculo a um setor determinado da
economia nacional, variando entre 0 e 1. O valor nulo do índice indica que o
setor nacional considerado encontra sua mais completa integração a idênticos
setores localizados em outros países. O valor máximo igual à unidade exige que
um dos termos – X ou M – seja nulo, o que indica que o país em questão, ou só
exporta ou só importa mercadorias do setor considerado e, portanto, este setor
não apresenta nenhum grau de integração com semelhantes setores de outros
países (HERRERO, 2001).
)(
)(
MX
MX
B
i
ii
i
+
=
(25)
65
em que X
t
é valor deflacionado das exportações do álcool/açúcar no período de
1979 a 2006; M
i
, valor deflacionado das importações do álcool/açúcar no período
de 1979 a 2006.
O quarto índice deriva do terceiro. É o índice de especialização
comercial, aplicado ao conjunto de “n” setores. Esse índice foi apresentado por
Bender (2001).
=
+
=
n
i
i
ii
ii
MX
MX
IEC
1
)(
)(
(26)
em que X
i
, valor deflacionado das exportações do álcool/açúcar no período de
1979 a 2006; M
i
, valor deflacionado das importações do álcool/açúcar no período
de 1979 a 2006.
O índice de Grubel y Lloyd que varia entre 0 e1 é o quinto indicador. É
nulo por ausência de X
i
ou de M
i
. Se caso contrário, alcança o valor 1 máximo,
quando a balança comercial do setor i for equilibrada, ou seja, quando X
i
= M
i
.
Comparado-o com o proposto por Balassa, sua interpretação é direta, pois seus
valores correspondem diretamente. Segundo Diaz Mora (2001), é o melhor
índice para medir o grau de superposição dos fluxos comerciais segundo setores.
+
=
)(
)(
1
ii
ii
i
MX
MX
GL
(27)
em que X
i
é valor deflacionado das exportações do álcool/açúcar no período de
1979 a 2006; M
i
, valor deflacionado das importações do álcool/açúcar no período
de 1979 a 2006.
O sexto e último indicador é o índice de Michaely, que avalia a
similitude entre as estruturas de um único país (ou entre dois países, ou entre um
país e um grupo de países, como sugere Diaz Mora (2001). É aplicado ao
conjunto de todos os setores do comércio externo de um país, variando entre 0 e
66
1. Quanto mais próximo da unidade, maior o grau de especialização comercial do
país.
=
=
n
i
i
i
i
i
i
i
i
M
M
X
X
GL
1
2
1
(28)
em que X
i
é valor deflacionado das exportações do álcool/açúcar no período de
1979 a 2006; M
i
, valor deflacionado das importações do álcool/açúcar no período
de 1979 a 2006.
3.2.3. Fonte e tratamento de dados
O período de análise envolve os anos de 1979 a 2006. Todos os dados
utilizados foram obtidos junto a diferentes instituições: Secretaria de Comércio
Exterior (SECEX), Food Agricultural Organization (FAO), União da
Agroindústria Canavieira de São Paulo (UNICA), Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA) e Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(CEPEA/ESALQ-USP).
3.3. Resultados e discussão
O controle estatal dos preços, produção e comercialização induz
geralmente a uma padronização tecnológica e produtiva no setor. O processo de
desregulamentação e abertura comercial, por sua vez, provoca modificações
estruturais nos mercados, sistemas produtivos e nas formas de coordenação, bem
como na estrutura organizacional das firmas, resultando em mudanças na
estrutura patrimonial e institucional do setor.
No setor sucroalcooleiro, essas mudanças aconteceram de forma clara, já
que este era um setor tipicamente controlado pelo Estado. Como conseqüência
dessa reestruturação, as novas técnicas adotadas geraram diferenciação em
67
produtos e reduziram a base dos custos médios de produção. O processo de
mudança acelerou a busca por eficiências competitivas dinâmicas, baseadas em
melhoria e automação dos processos produtivos (melhorias técnicas), e em
desenvolvimento da estrutura tecnológica (mudanças tecnológicas).
Pretende-se, a partir dos resultados obtidos para cada um dos
indicadores, captar as mudanças ocorridas no mercado internacional,
considerando, sempre que possível, identificar referências nas políticas públicas
adotadas para o setor
10
.
3.3.1. Resultados obtidos para os indicadores esforço exportador e grau de
abertura da economia
Para fins didáticos, nesta seção optou-se por apresentar os resultados dos
indicadores esforço exportador e grau de abertura da economia de forma
conjunta, devido à similaridade dos resultados e devido à tendência comum que
os mesmos apresentam.
Como mostram os resultados apresentados na Figura 6, tanto o esforço
exportador quanto o grau de abertura da economia, calculados para o produto
álcool, têm apresentado evolução significativa no período considerado. Isto
mostra que está crescendo a parte do produto nacional destinada aos mercados
estrangeiros e que as relações comerciais do Brasil com o resto do mundo estão
mais intensas atualmente, o que indica que o país está mais aberto ao intercâmbio
externo, sobretudo a partir do ano de 2000. Esse era um resultado esperado, em
virtude das já referidas modificações – reais e potenciais – na demanda pelo
produto. Todavia, ao longo do período analisado, são outras movimentações
interessantes.
10
Optou-se por apresentar os resultados em formato gráfico, uma vez que a visualização dos
comportamentos dos resultados dos indicadores é importante para a análise. Todas as tabelas referentes
a cada um dos gráficos encontram-se disponíveis no Apêndice A.
68
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 6 – Indicador de esforço exportador e grau de abertura do álcool na
economia, no período de 1979 a 2006.
Em primeiro lugar, destaca-se o fato de os indicadores, embora
possuírem o mesmo movimento, estabelecerem magnitude invertida em três
períodos distintos. Entre 1979 e 1987, o indicador de Esforço Exportador supera
o de grau de abertura; em seguida, entre 1987 e 1998, há uma inversão, com os
valores de esforço exportador inferiores ao do grau de abertura; e, por fim, entre
1998 e 2006, o esforço exportador volta a superar o grau de abertura.
Os fundamentos mais prováveis encontram-se, no período intermediário,
para a desregulamentação, que já em fins dos anos 1980 já dava indícios de sua
ocorrência. A retração nos esforços pela manutenção do Proálcool retraiu as
possibilidades de produção interna e de exportação de etanol, o que, ao lado do
crescimento do PIB nacional, fez com que o indicador Esforço Exportador
tivesse retração nessa fase.
Já no terceiro período, após a assinatura do Protocolo de Kyoto, em
1997, as possibilidades reais e perspectivas para o setor alcooleiro expandiram-se
substantivamente, refletindo-se no dinamismo apresentado pelos indicadores
esforço exportador e grau de abertura, a partir de 1998. Internamente, várias
69
medidas institucionais foram adotadas visando garantir as possibilidades de
expansão do setor, como o retorno da fabricação dos carros a álcool, a ampliação
nos investimentos em usinas (novas plantas e ampliação das existentes), e a
maior destinação de recursos para pesquisas, entre outras iniciativas.
Diversas análises conjunturais têm evidenciado a perspectiva de
ampliação desse mercado. Ao se considerar que o Brasil é um dos poucos
participantes, que dispõe, de fato, de disponibilidade territorial para a expansão
em larga escala do cultivo da cana-de-açúcar, o descrito otimismo não pode ser
considerado apenas uma perspectiva, mas um fato. Todavia, a transformação
desse potencial em realidade deverá exigir dos integrantes desse setor produtivo
esforço adicional, com vistas a aprimorar a coordenação e eficiência do setor
sucroalcooleiro nacional.
A utilização da cana-de-açúcar para produzir açúcar ou álcool tem
variado ao longo do tempo, mas, em média, divide-se entre 50% para cada
subproduto. Na década de 1970, cerca de 90% da cana-de-açúcar era
transformada em açúcar, posição que se inverteu nos anos 1980, depois da
criação do Proálcool, quando 80%, em média, foi para a produção de álcool. Na
safra de 05/06, da cana-de-açúcar total produzida no país, 51% foi transformada
em açúcar e 49% em álcool. Todavia, a mesma inversão da década de 80 voltou a
acontecer na safra de 2006/2007, quando 60% destinaram-se à produção de
álcool e 40% para açúcar.
A partir dos dados disponibilizados na Figura 7, pode-se observar através
de análise mais criteriosa, que a porcentagem alocada em cada produto não é
constante. Até 1979, era usado maior quantidade de Açúcar Total Recuperável
(ATR)
11
para a produção de açúcar. A partir de então, houve inversão dessa
tendência, devido ao choque do petróleo, que fez com que o preço da gasolina,
substituto do álcool, tivesse aceleração no preço. Esse fato teve efeitos variados,
dentre os quais se podem citar: aumento do custo de vida e redução do poder
aquisitivo; aumento do valor das importações, com potencialização do déficit
11
O ATR é um índice no qual as usinas se embasam para fazer o pagamento da cana-de-açúcar, quanto
maior for o índice de ATR, melhor será a remuneração obtida na tonelada da cana, e para tanto,
colhem-se amostras para detectar o nível médio de ATR.
70
comercial; exclusão de consumo devido ao grande choque no preço; entre outras
questões.
Fonte: União de Produtores de Bioenergia (UDOP).
Figura 7 – Percentual de ATR de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e
álcool, no período de 1949 a 2006.
Na realidade, o sentido causal é o de que o álcool tornou-se viável e
rentável e, por isso, houve a inversão da quantidade de ATR destinado a sua
produção, e não o contrário. Como se pode notar na Figura 7, esse padrão de
destinação de ATR durou muitos anos, estabilizando-se a partir de 1999 por um
motivo fundamentalmente econômico: apesar de o álcool ser mais rentável que o
açúcar, o mercado açucareiro vem crescendo.
Assim, nas condições atuais dos mercados interno e externo, o atual ciclo
de expansão do setor sucroalcooleiro pode ter sua vida reduzida pela inexistência
de estratégias de ação consolidadas. Há necessidade de novos parâmetros de
regulação, ainda que não sejam pretendidos moldes de intervenção rigorosos, que
engessam a liberdade de ação dos agentes, como ocorreu em políticas anteriores.
Todavia, considerando a pró-atividade e a possibilidade de subvenção existentes
em outros países competidores, não basta lastrear o potencial competitivo
71
brasileiro nas vantagens comparativas, ligadas à vasta extensão territorial,
condições de cultivo e o inventor da tecnologia. É preciso que se ampliem os
investimentos em tecnologia e estratégias coletivas de crescimento de ambos os
segmentos do setor sucroalcoleiro, conjuntamente com ações estruturais de
escoamento da produção e transporte, pois trata-se de um gargalo do setor.
A possibilidade que existe de moer a cana prioritariamente para açúcar
ou para álcool, dependendo da sua relação de preços, gera instabilidade nesses
mercados, tanto pela possibilidade de haver excesso de oferta quanto de haver
escassez. A maneira correta de evitar essa instabilidade intrínseca é estruturar
mecanismos que permitam o gerenciamento dos estoques e do fluxo de produção
do álcool e a busca de novos mercados, através de mecanismos coordenados, tais
como:
a) incentivo à ampliação da frota de veículos a álcool,
b) aumento dos incentivos financeiros a pesquisas que busquem descobrir novas
formas de uso do álcool como combustível em outros motores,
c) transformação do álcool em commodity ambiental, tornando-se a grande janela
de oportunidade aberta para o setor e, frise-se, reconhecida pelas suas
lideranças e pelo governo (Instituto de Economia Agrícola – IEA).
Essas modificações explicitam, em última instância, as escolhas
empresariais de produtores e usineiros. Segundo Marjotta-Maistro (1998), no
processo de tomada de decisão, os agentes formam expectativas considerando
preços e quantidades demandadas (efetivas e potenciais) de açúcar e álcool, tanto
no mercado interno como no externo.
Na realidade, como conseqüência da expansão da cana-de-açúcar, que
sustenta a indústria sucroalcooleira (açúcar e álcool) no Brasil, o País demonstra
o potencial de expansão da capacidade de exportação de derivados, sobretudo de
açúcar, mais rápido do que qualquer outro país exportador. Contudo, pela relativa
estabilidade desta demanda, o aumento das receitas de exportação de açúcar está
condicionado à possibilidade de o Brasil ampliar sua participação no cenário
mundial através da conquista de novos mercados, e não da ampliação da parcela
nos países já compradores. Embora as exportações brasileiras atinjam grande
72
número de países, os sete principais destinos: Rússia, Nigéria, Emirados Árabes,
Egito, Marrocos, Canadá e Irã representam aproximadamente 63% do total.
Assim, espera-se que a possibilidade de múltipla composição do mix da
produção sucroalcooleira nacional, ao longo do tempo, permita ao produtor
brasileiro explorar condições mais favoráveis em mercados específicos, podendo
direcionar a sua produção mais para o açúcar, ou mais para o álcool, de acordo
com a conjuntura de mercado. Essa observação é importante porque, apesar de o
contexto ser coletivo, a tomada de decisão é individual e cada unidade produtiva
vai optar por determinadas porcentagens de produção de álcool e açúcar
considerando a visão de mercado que cada uma delas possui, entretanto as
decisões irão convergir devido à similaridade de condições de mercado.
Em relação aos movimentos observados nos resultados dos dois
primeiros indicadores para o produto açúcar (Figura 8), é importante considerar
que houve acontecimentos que interferiram de forma direta no nível das suas
exportações. Na década de 1980 houve estagnação tanto do indicador de esforço
exportador quanto do grau de abertura da economia para o açúcar, e este fato se
deve ao direcionamento da produção de açúcar para a de álcool, como discutido
anteriormente. Outro fator importante, embora de efeito indireto, foi a moratória
de 1987, onde o Brasil perdeu credibilidade perante o mercado externo.
Ambos os indicadores são utilizados para mensurar o quanto a economia
está integrada ao mercado internacional e, quanto mais próximo da unidade,
maior este inter-relacionamento, tendo por base o Produto Interno Bruto
nacional. No caso do açúcar, os resultados indicam, para o grau de abertura da
economia, tendência mais favorável a partir do ano de 1994, devido,
basicamente, ao aumento da representatividade das exportações do açúcar.
73
Fonte: Resultado da pesquisa.
Figura 8 – Indicador de esforço exportador e grau de abertura do açúcar na
economia, no período de 1979 a 2006.
Ressalta-se que existem limitações de mensuração. No caso desses dois
indicadores, parte-se de alguns pressupostos, tais como: estabilidade das
inovações tecnológicas, especificação do produto e qualidade; estrutura de
comércio internacional competitiva e desconsidera os diferenciais de preço do
mercado internacional e, respectivos mercados internos. Ademais, podem-se
gerar relações espúrias entre fatores conjunturais de mercado e forças
competitivas, estruturais.
Entretanto, houve estagnação dos resultados obtidos para esse indicador
nos períodos anteriores, como conseqüência do baixo valor real das importações
e do fato de o crescimento das exportações ocorrer em ritmo menos acentuado do
que as taxas médias do PIB nacional.
Como visto nas Figuras 6 e 8, os resultados obtidos para açúcar e álcool
foram bastante distintos, a não ser quando se observa o Esforço Exportador, a
partir de 1999. Ainda que se considerem as questões cambiais nesse processo –
desvalorização de janeiro de 1999 –, não há constatação conclusiva de que este
fato tenha se sobreposto às perspectivas otimistas do setor sucroalcooleiro. Além
74
disso, a própria elevação da renda média internacional, na década de 1990,
justifica parte do crescimento das exportações de açúcar.
É preciso, ainda, destacar que a dupla aptidão das usinas as leva a
movimentos complexos e, muitas vezes, de difícil previsão. Em determinados
períodos, em virtude das relações entre o custo de produção e o preço de
mercado, o açúcar perde espaço, em comparação ao álcool, uma vez que este
combustível vem apresentando melhor rentabilidade devido ao aumento na
demanda, mesmo considerando a recente retração em seus preços.
Em relação às perspectivas para o setor sucroalcooleiro nacional, em
termos de sua inserção externa, duas realidades bastante distintas ganham
destaque: no caso do açúcar, a tendência é de que o país continue a se projetar
como o supridor mundial, principalmente para mercados em expansão, como é o
caso da China. O futuro do álcool, no entanto, embora repleto de expectativas
otimistas, ainda enseja dúvidas quanto ao seu desenvolvimento interno, na
medida em que o Governo Federal ainda não estabeleceu regras quanto às
iniciativas estratégicas para o setor.
É fundamental, portanto, que a indústria alcooleira nacional se organize
no sentido de definir propostas objetivas de atuação no mercado externo, sob
pena de ocorrerem excedentes que podem desestabilizar o mercado pelo excesso
de oferta.
3.3.2. Resultados obtidos para os índices de especialização comercial, índice
de Grubel y Lloyd e de Michaely
Os índices de especialização comercial – Grubel y Lloyd e o de Michaely
– são denominados de segunda geração, por permitirem, de forma mais precisa,
mensuração de competitividade setorial. Todos os resultados ocupam intervalo
entre zero e um, todavia, a análise dos resultados não é idêntica.
Relembrando o significado dos resultados obtidos, compete dizer que, no
primeiro indicador (índice de especialização comercial), o valor nulo indica
plena integração, enquanto o valor 1 indica que o país ou é pleno exportador, ou
75
pleno importador. Para o índice de Grubel y Lloyd, o valor 1 indica equilíbrio
entre importações e exportações e, no caso do índice de Michaely,a obtenção de
valor unitário indica plena especialização.
Os resultados obtidos para o índice de especialização comercial, em
grande parte igual à unidade, indicam que o Brasil é líder no mercado
internacional de álcool (Figura 9).
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 9 – Índice de especialização comercial do álcool, no período de 1979 a
2006.
Nota-se, também, como constatado em outros indicadores, a recorrente
instabilidade do setor. Podem ser citados, como eventos importantes, a queda
brusca nas exportações ocorrida em 1989, somente recuperada em 1992, e, em
seqüência, a relativa volatilidade das importações e exportações, estabilizadas a
partir de 2002.
No que se refere ao primeiro período citado, que se estende, na realidade,
de 1986 a 1992, o setor sucroalcooleiro ficou desaquecido. O motivo principal
foi o fato de que o Proálcool, mesmo existindo formalmente, na prática, teve seus
76
incentivos diminuídos, ao mesmo tempo em que aumentaram os questionamentos
à sua continuidade.
Interessante observar que, embora o índice de especialização comercial
tenha foco (assim como o GL) em especificidades setoriais, para o produto álcool
apresentam recortes importantes nos mesmos períodos observados para os
resultados do esforço exportador e grau de abertura da economia.
No caso do açúcar, no entanto, o comportamento é bastante diverso
(Figura 10). Os resultados do indicador de Especialização Comercial, embora
mostrem retração no mesmo período, não possuem a mesma aderência de padrão
com os dois primeiros indicadores (comparação estabelecida com a Figura 8).
Isso ocorre porque a retração no plantio da cana, fruto da perda de incentivos
governamentais no período, afeta também a produção de açúcar. Entretanto,
embora eventos externos tendam a repercutir nos mercados de açúcar e álcool, a
magnitude e o sentido dos efeitos diferem e, de forma geral, são menos
ostensivas no mercado de açúcar.
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 10 – Índice de especialização comercial do açúcar, no período de 1979 a
2006.
77
Essa constatação é observada, igualmente, nos resultados obtidos para o
índice de Grubel y Lloyd, que captura a intensidade do comércio. Observa-se
que, entre os anos de 1992 até meados de 2000, ambos os resultados (açúcar e
álcool) sofrem modificações relevantes, embora em perfil e magnitude distintas.
No caso do álcool (Figura 11), encontrou-se valor nulo até o ano de
1992, em virtude da ausência de importação do produto neste período. Entre os
anos de 1993 a 2003, houve grande variação no valor do índice, o que corrobora
as conclusões já auferidas com os indicadores anteriores, citados no trabalho. A
própria demanda interna modificou o padrão de inserção das vendas exteriores e
criou espaço para as possibilidades adicionais de expansão da capacidade
instalada de produção.
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 11 – Índice de Grubel y Lloyd do álcool, no período de 1979 a 2006.
É importante observar que o período de movimentação fora do nível zero
ocorre, como esperado, após a desregulamentação do setor em 1990 e que o
crescimento abrupto do indicador, a partir de 1997 (assinatura do protocolo de
Kyoto), mantém-se até 2002, quando se iniciou, de maneira efetiva, a ampliação
78
da demanda nacional por álcool combustível, e a maturação dos investimentos
em ampliação das usinas.
No caso do açúcar, os resultados obtidos para o indicador Grubel y Lloyd
mostraram que na maior parte do período ele esteve perto de zero, mostrando
especialização (Figura 12). Entretanto, em 1992 houve um salto relativo,
explicado pela redução das exportações; esse resultado confirma o observado no
índice de especialização comercial (Figura 10).
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 12 – Índice de Grubel y Lloyd do açúcar, no período de 1979 a 2006.
Finalmente o último indicador proposto pela pesquisa é o índice de
Michaely que mostra o nível de especialização comercial brasileira do álcool e do
açúcar frente ao mercado sucroalcooleiro internacional. O álcool apresentou
como resultado o valor de 0,88, que demonstra grande nível de especialização,
pois quanto mais próximo da unidade maior é o grau de especialização
apresentado pelo produto. O mesmo não ocorreu com o açúcar que apresentou
um valor próximo de zero, pois neste mercado existe maior número de
participantes (Rússia, Egito, Romênia, entre outros). Esse resultado não
79
demonstra em si, o tamanho do mercado, e sim confirma o nível de
especialização, já que o Brasil é o maior exportador do produto.
Como observado ao longo deste capítulo e dos indicadores apresentados,
o mercado sucroalcooleiro nacional passou por modificações mercadológicas e
institucionais importantes, que repercutiram, de forma variada, na sua inserção
internacional. Embora algumas dessas ocorrências tenham ocorrido há algumas
décadas atrás, é importante reconhecer que essas modificações repercutem, até
hoje, sobre o padrão de desenvolvimento do setor.
Atualmente, o setor sucroalcooleiro nacional, embora altamente
mobilizado, encontra-se em um ambiente muito diferente da época em que havia
a vigência do PROÁLCOOL. Tem-se, então, a construção de um novo ambiente
de negócios: o mercado é desregulamentado, com aumento da concorrência e da
oferta, apresenta alterações cambiais importantes e taxas de juros ainda altas.
Nesse contexto, ainda que se considerem os baixos custos da produção brasileira,
comparativamente aos da Índia (no caso do açúcar) e dos EUA (etanol do milho),
é preciso olhar com cautela para o comportamento concorrencial, pois nesses
países, a decisão de política pública tem grande impacto na competitividade
brasileira.
Ainda assim, mesmo considerados os aspectos políticos, o Brasil está
apresentando ganhos de competitividade. Um deles está relacionado aos aspectos
tecnológicos, que podem ser demonstrados através do aumento de produtividade
da cana-de-açúcar, principal insumo na produção (Figura 13); em todo o período
a tendência foi de ganho de produtividade. Infere-se, daí, que o setor
sucroalcooleiro revesa (açúcar e álcool) nos períodos de alta e baixa, uma vez
que de acordo com os resultados encontrados pelos indicadores, essa tendência
de ganho é uma realidade, principalmente por causa da flexibilidade de produção.
Portanto, todos os indicadores convergem para uma única interpretação,
os fatores institucionais foram decisivos para o desempenho do setor e as
transformações recentes geram perspectivas de otimismo, conquanto, esse
entusiasmo não irá se concretizar caso o setor não aprimore suas tecnologias,
insira seu produto de forma mais abrangente no mercado internacional, utilizar-se
80
da preocupação mundial com relação à preservação do meio ambiente a fim
consagrar o álcool como alternativa.
81
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Figura 13 – Produtividade em toneladas/hectare da cana-de-açúcar, no período de
1975 a 2006.
3.4. Conclusão
O Brasil sempre foi um representante expressivo no mercado
sucroalcooleiro mundial. Todavia, as recentes modificações na regulamentação
do setor e as mudanças relacionadas ao uso de álcool combustível vêm
modificando as possibilidades de inserção brasileiras no mercado internacional.
De fato, a necessidade de construir-se uma nova matriz energética em
nível mundial, com menor grau de dependência do petróleo fomentou o
desenvolvimento de novas tecnologias e, ou, o uso de recursos já existentes. A
maior preocupação, não apenas com a limitação física das disponibilidades de
petróleo, mas também, e principalmente, com os problemas ambientais
decorrentes de seu uso, estimularam a demanda de álcool brasileiro no mercado
internacional, o que levou as usinas nacionais, em alguns momentos, a substituir
parcial ou completamente, a produção de açúcar pelo álcool, devido à maior
rentabilidade deste produto. Entretanto, o recente episódio de queda nos preços
do álcool indica que a ausência de planejamento e regulação traz consigo riscos
importantes.
82
Embora o álcool seja um produto de maior dinamismo, o que se observa
é que o açúcar – importante produto na pauta de exportações – deverá manter-se
em expansão. Considerando a dupla aptidão da maior parte das usinas brasileiras,
a ausência de regras claras ou de políticas setoriais mais explícitas gera
instabilidade, uma vez que a tomada de decisão individual afeta, sem qualquer
controle mais efetivo, o setor como um todo.
Os resultados encontrados para praticamente todos os indicadores
construídos mostram um padrão comum, em intervalos que deixam claros os
efeitos da regulamentação – ou não – sobre o setor. Naturalmente, não se
pretende afirmar que a presença governamental e, ou institucional deva ser
decisiva, mas os resultados indicam que a ação coletiva e organizada seria
salutar.
Enquanto o país mantém-se na expansão da área plantada, com ganhos
de produtividade e novas tecnologias, lastreadas no uso de subprodutos, pouco se
avalia sobre as demandas internacionais efetivas e sobre os efeitos, por exemplo,
da grande expansão da capacidade de processamento de milho, para produção de
álcool combustível dos Estados Unidos. Embora hoje pouco expressivos, outros
países competidores, sobretudo da América Latina e Caribe, se bem monitorados
e apoiados tecnologicamente, poderão constituir-se em competidores do Brasil.
Os indicadores são claros em evidenciar o bom desempenho brasileiro,
mas também mostram que as movimentações nos períodos de desregulamentação
afetam sobremaneira o setor, indicando que, na ausência de procedimentos de
intervenção – usualmente prejudiciais –, é fundamental a organização e
coordenação setorial, com vistas à manutenção e à ampliação da competitividade
internacional.
83
4. RESUMO E CONCLUSÕES
O setor sucroalcooleiro vive hoje um novo período de expansão, com
mercado livre e competitivo. O desenvolvimento tecnológico tem avançado
muito, sobretudo devido aos esforços do setor privado, em conjunto com órgãos
governamentais diversos. Nesse sentido, compreender os principais fatores que
compõem as bases de funcionamento desse setor torna-se atividade relevante.
O objetivo central do estudo consistiu em avaliar o comportamento do
setor sucroalcooleiro, nos níveis nacional e internacional, e em ambas as análises
adentrar o fator institucional como elemento expressivo na dinâmica do setor.
Como métodos de análise, foram selecionados duas abordagens
principais, que envolveram desde a construção do modelo econométrico, com
vistas a analisar o comportamento da principal variável mercadológica do setor
sucroalcooleiro (preço), até a construção de indicadores de competitividade
internacional, com a finalidade de compreender o desempenho brasileiro no
mercado externo. Importante destacar que cada uma das etapas da pesquisa
serviu ao cumprimento de um passo na direção de um conjunto de informações
que garantisse a discussão fundamentada pretendida na pesquisa.
Em termos do primeiro dentre os objetivos propostos - identificar e
quantificar os efeitos da principal variável “preço” sobre as variações na oferta de
açúcar e álcool – não se conseguiu confirmar completamente a teoria de
84
prevalência dessa variável no comportamento do setor, devido às constantes
intervenções que superaram, em alguns momentos, as forças de mercado.
Com base nesse resultado, de certa forma esperado pela complexidade do
setor, procedeu-se a uma análise quantitativa do desempenho brasileiro no
mercado internacional de açúcar e álcool. Embora já fossem esperados resultados
que confirmassem a relevância das exportações brasileiras nesse mercado,
buscou-se perceber, através dos indicadores selecionados, as mudanças recentes,
com destaque para a questão da desregulamentação setorial.
O processo de regulamentação e desregulamentação foi bastante
observado nos resultados obtidos pelos indicadores, pois, nos períodos em que
ocorreram transformações políticas, observam-se mudanças no comportamento
dos indicadores.
Foi possível observar que o mercado alcooleiro é mais instável que o
açucareiro e também que as políticas públicas interferem mais no mercado de
álcool do que no de açúcar. De certa forma, o próprio direcionamento das
políticas (muitas foram construídas explicitamente para incentiva a produção de
etanol) explica esse resultado. Todavia, como há dupla aptidão nas usinas, as
decisões que incidem sobre a produção do álcool alteram, natural e
indiretamente, o nível de produção do açúcar.
Como limitações, naturais a toda pesquisa, podem-se destacar a
dificuldade de obtenção e compilação de algumas bases de dados e a necessidade
de conciliar informações provenientes de diferentes instituições.
Além disso, vale salientar que se perceberam, ao longo da pesquisa,
vários espaços adicionais de pesquisa. Dentre eles podem-se citar: as questões
que envolvem outros fatores que contribuem para analisar o comportamento do
setor sucroalcooleiro, estudos prospectivos de demanda e oferta (cenários) e
pesquisas sobre os gargalos do setor. Espera-se, por fim, que o presente trabalho
tenha contribuído para o avanço do conhecimento do setor, de forma a promover
uma base mais sólida para as tomadas de decisão, sejam elas predominantemente
públicas ou privadas.
85
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SHIKIDA, P.F.A.; BACHA, C.J.C. Evolução da agroindústria canavieira
brasileira de 1975 a 1995. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v.
53, n. 1, p. 69-89, 1999.
UNIÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DE SÃO PAULO – UNICA.
Estatística. Disponível em: <http://www.unica.com.br/pages/estatisticas.asp>.
Acesso em: maio 2007.
WOOD JUNIOR, T. (org.). Mudança organizacional. São Paulo: Atlas, 1995.
89
APÊNDICE
APÊNDICE
Tabela 1A – Índices calculados para o álcool
Índice de especialização (a)
Índice de especialização
comercial
Índice de Grubel y Loyd
0,005537 1 0
0,022732 1 0
0,010096 1 0
0,018067 1 0
0,023608 1 0
0,052891 1 0
0,020991 1 0
0,015075 1 0
0,002322 1 0
0,0047 1 0
0 0 0
0,042669 1 0
0,035508 1 0
0,021411 1 0
0,04806 0,790897909 0,209102091
0,072789 0,728578045 0,271421955
0,056496 0,714992928 0,285007072
0,033072 0,716699155 0,283300845
0,024744 0,667296786 0,332703214
0,000575 0,050505051 0,949494949
0,001086 0,043814433 0,956185567
0,006718 0,560137457 0,439862543
0,007871 0,461187215 0,538812785
0,02616 0,994743758 0,005256242
0,027768 0,983691432 0,016308568
0,06768 0,994440277 0,005559723
0,080333 1 0
0,133318 1 0
91
Tabela 2A – Índices calculados para o açúcar
Índice de especialização (a)
Índice de especialização
comercial
Índice de Grubel y Loyd
2,70369E+13 1 0
8,69263E+13 1 0
6,0338E+13 1 0
3,0672E+13 1 0
3,68892E+13 1 0
4,06749E+13 1 0
2,73399E+13 1 0
26765669541 0,999536286 0,000463714
20109023038 1 0
18340056634 1 0
12040346,02 0,999409681 0,000590319
16082776,64 0,999625749 0,000374251
15626033,44 0,999550056 0,000449944
21523850,12 0,940872375 0,059127625
25410,65873 0,967794283 0,032205717
9,203115689 0,972989076 0,027010924
15,03659619 0,989123679 0,010876321
12,44862577 0,991196308 0,008803692
13,56987775 0,997629663 0,002370337
15,38525356 0,999896955 0,000103045
21,34811188 0,999686028 0,000313972
11,8433958 0,998500375 0,001499625
26,18759287 0,998772253 0,001227747
26,55118022 0,998859803 0,001140197
22,93168604 0,998698764 0,001301236
24,85573502 0,998413777 0,001586223
28,85508885 0,998726699 0,001273301
40,00343068 0,999481412 0,000518588
92
Tabela 3A – Indicador do esforço exportador e grau de abertura da economia
calculados para o álcool
Indicador do esforço exportador Grau de abertura da economia (GA)
0,000137529 6,87643E-05
0,0005388 0,0002694
0,00026156 0,00013078
0,000451319 0,000225659
0,000667904 0,000333952
0,001508814 0,000754407
0,000518552 0,000259276
0,000336827 0,000168413
5,31702E-05 2,65851E-05
0,000116042 5,80209E-05
0 0
0 0,000540342
0 0,00044341
0 0,000274447
0,000163172 0,000780346
0,000352401 0,00129835
0,000242534 0,000850976
0,000130775 0,000461612
0,000119683 0,000359728
0,000104508 0,000110067
0,000256056 0,000245308
0,000190167 0,000121891
0,000253368 0,000173399
0,000533025 0,000267215
0,000607386 0,00030619
0,001410343 0,000707137
0,00159945 0,000799725
0,002496072 0,001248036
93
Tabela 4A – Indicador do esforço exportador e grau de abertura da economia
calculados para o açúcar
Indicador de esforço exportador Grau de abertura da economia (GA)
5191,4733676782400000 2595,7366838391200000
15926,7390100230000000 7963,3695050115100000
12084,2789439181000000 6042,1394719590300000
5922,9811020864500000 2961,4905510432200000
8067,7235695639900000 4033,8617847820000000
8969,5123401267200000 4484,7561700633600000
5220,8454070061100000 2610,4227035030600000
4,6228392085678100 2,3119556477913900
3,5587328717857300 1,7793664358928600
3,5004765211926500 1,7502382605963300
0,0022521888202054 0,0011264268855707
0,0031487665536757 0,0015746779396260
0,0030167982980134 0,0015087385727576
0,0042654880314409 0,0021977169064940
0,0000050449535332 0,0000025637606416
0,0000000018490875 0,0000000009372011
0,0000000025036474 0,0000000012586686
0,0000000019253011 0,0000000009669067
0,0000000020352349 0,0000000010188249
0,0000000022989725 0,0000000011495455
0,0000000032652347 0,0000000016328737
0,0000000018609033 0,0000000009311499
0,0000000041133338 0,0000000020579302
0,0000000041708954 0,0000000020866373
0,0000000038455388 0,0000000019240212
0,0000000039927422 0,0000000019979557
0,0000000044410748 0,0000000022219520
0,0000000057896993 0,0000000028956005
94
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