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relato de pesquisas, herança dos modelos quantitativos de análise de dados, nos quais obedecia-se religiosamente
aos cânones de : Introdução, Revisão bibliográfica, Objetivos, Referencial Teórico, Procedimentos metodológicos (
sujeitos, origem dos dados, forma de coleta etc), Análises ( Resultados), considerações gerais( finais) , para uma
forma, algumas vezes híbrida, na qual a Introdução, de uma certa forma contém o conjunto de informações
necessárias à compreensão da pesquisa que vai ser realizada, contemplando muitas vezes, além da justificativa e
apresentação da temática/objeto de estudo, o estado da arte, objetivos e questões da pesquisa e os próprios
procedimentos metodológicos e os capítulos seguintes “mesclam” referencial teórico com a apresentação/descrição e
análise dos dados. A meu ver, essa “fluidez” é necessária e sua “escolha” vai depender da natureza da pesquisa, da
temática tratada, dos objetivos , enfim da singularidade de cada pesquisa. Algumas podem se permitir essa “liberdade
científica”, outras, no entanto, como aquelas que regem-se pelo padrão do modo quantitativo ou aquelas que
pretendem realizar etnografia no sentido estrito, a meu ver, precisam, por exemplo, de capítulo específico sobre
procedimentos metodológicos, devendo ater-se a modelos mais próximos dos canônicos.
A3 Acredito que existe um certo padrão nos artigos internacionais, devido a um maior rigor na seleção dos artigos e na
própria tradição da pesquisa. Penso que as revistas brasileiras são mais flexíveis na produção de artigos, no entanto,
essa fluidez é positiva.
A4 Não vejo problema na fluidez do gênero. Será que ele não está mudando?! Não vejo um aspecto negativo na fluidez.
Ceio que apenas o leitor iniciante (aluno de graduação) pode sentir alguma dificuldade na leitura.
A5 Considerando o material que consulto e os artigos que preparo para publicação, percebo uma certa uniformidade nos
textos de divulgação científica, independente da circulação. Por outro lado, concordo com a diferença entre a seção de
metodologia e de resultados: os textos publicados em inglês separam a metodologia dos resultados; textos nacionais
trazem todas as informações de coleta, descrição, levantamento e discussão dos dados na seção da Metodologia.
Sinceramente, não tenho reposta para a razão dessa diferença. Se considerar apenas esta divergência, não entendo
como uma “fluidez” negativa.
exemplo, informações
metodológicas e resultados
na mesma divisão). Em
alguns artigos do corpus,
informações como descrição
da coleta do corpus foram
identificadas na Introdução.
Artigos publicados em inglês
em periódicos
internacionais, analisados
em outros estudos, se
mostraram mais uniformes.
Como o/a senhor/a avalia
esse dado? Em que medida
haveria diferenças entre os
relatos de pesquisa
publicados no Brasil e os
publicados no circuito
internacional em termos da
sua textualização? A que
isso seria atribuído? Essa
“fluidez” seria positiva ou
negativa?
A6 Associando o conceito bakhtiniano de gênero como enunciados relativamente estáveis (Bakhtin, 1997) e o de
Bazerman (2006,p.29) como uma realização visível de um complexo de dinâmicas sociais e psicológicas à idéia de
escrita como um trabalho que envolve não só conhecimentos lingüístico-textuais, mas também sócio-pragmáticos e
discursivos (portanto, um trabalho que se altera, pois os grupos sociais onde a escrita circula são diferentes), as
variações dos relatos de pesquisa escritos no Brasil confirmam a plasticidade dos gêneros. Embora haja um, digamos,
padrão de textualização internacional (em geral, normas determinadas por periódicos e livros norte-americanos), isso
não impede de haver alterações em textos que circulam em outros grupos, inclusive porque objetos de estudo e
metodologias adotadas se relacionam intrinsecamente. Por exemplo, apresentar procedimentos metodológicos na
introdução do relato pode indicar que os dados a informar se conformam com o contexto da pesquisa e de seus
objetivos de tal forma que separá-los poderia causar dificuldade na compreensão da pesquisa feita. Portanto, a
configuração do texto tem influência também do tipo de pesquisa que foi desenvolvido. A meu ver, não se pode avaliar
como negativa nem positiva essa variabilidade dos relatos de pesquisas, pois ela atende às necessidades