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SELETIVIDADE DE ACARICIDAS USADOS
EM CAFEEIRO PARA Chrysoperla externa
(Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae)
MICHELLE VILELA
2009
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MICHELLE VILELA
SELETIVIDADE DE ACARICIDAS USADOS EM CAFEEIRO PARA
Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae)
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
2009
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Agronomia/
Entomologia, área de concentração em
Entomologia Agrícola, para a obtenção do título
de “Mestre”.
Orientador
Prof. Dr. César Freire Carvalho
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Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Vilela, Michelle.
Seletividade de acaricidas usados em cafeeiro para Chrysoperla
externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) / Michelle Vilela.
– Lavras : UFLA, 2009.
67 p. : il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2009.
Orientador: César Freire Carvalho.
Bibliografia.
1. Chrysoperla externa. 2. Coffea arabica. 3. Seletividade. 4.
Controle biológico. 5. Acaricidas. 6. Brevipalpus phoenicis. 7.
Oligonychus ilicis. I. Universidade Federal de Lavras. II. Título.
CDD – 633.73995
MICHELLE VILELA
SELETIVIDADE DE ACARICIDAS USADOS EM CAFEEIRO PARA
Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae)
APROVADA em 16 de fevereiro de 2009
Prof. Dr. Geraldo Andrade Carvalho UFLA
Profa. Dra. Brígida Souza UFLA
Dr. Rogério Antônio Silva EPAMIG-CTSM/EcoCentro
Prof. Dr. César Freire Carvalho
UFLA
(Orientador)
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Agronomia/
Entomologia, área de concentração em
Entomologia Agrícola, para a obtenção do título
de “Mestre”.
Àquelas pessoas que ocupam um lugar muito especial em meu coração.
Ao meu amado pai, José Orlando, pelo legado de simplicidade, honestidade,
amor e trabalho, cujo incentivo me possibilitou seguir adiante.
A minha amada mãe, Perpétua, pela linda amizade dedicada, pelo amor, ternura,
sabedoria e pelos momentos em que me fez levantar.
A Dani, minha amada e linda irmã, pela solidariedade, conselhos e incentivos,
sobretudo pelo amor e momentos de alegria.
Ao Douglas, meu amor, exemplo de compreensão e paciência, serei sempre
grata pelo colo nos momentos tristes e, principalmente, pelo amor e carinho
dedicados. Sou abençoada por ter você em minha vida!
Dedico
A Deus, por estar sempre presente em minha vida, iluminando e abençoando o
meu caminho.
Ao vovô Gabriel (in memoriam), pelos momentos de alegria e, principalmente,
pelo constante incentivo e confiança.
Ofereço
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Lavras (UFLA), em especial ao
Departamento de Entomologia, pela oportunidade concedida para realização de
meu mestrado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pelo apoio financeiro.
Ao professor César Freire Carvalho, seus ensinamentos e preocupação
com a minha formação como cientista serão sempre uma referência que, com
certeza, guardarei por toda a minha carreira profissional. Sinto-me privilegiada,
em todos os aspectos, por ter tido a oportunidade de tê-lo como orientador.
Procurarei guiar-me pelos seus ensinamentos e ouso ainda desejar ser
merecedora de perpetuar nossos laços para além deste trabalho.
Professor Geraldo Andrade de Carvalho, meu mais profundo
agradecimento pela enorme colaboração, estímulo, observações, sugestões e
correções, que contribuíram muito para o desenvolvimento desse trabalho. Além
da coorientação, recebi amizade, respeito e compromisso, características tão
marcantes de tua personalidade. Muito obrigada, pelos ensinamentos, paciência,
confiança e carinho, espero ter alcançado suas expectativas.
Matheus Alvarenga Vilas Boas, estagiário e graduando em Agronomia,
pela garra e grande auxílio na condução e na coleta de dados dos experimentos
realizados. Viviane (Vivi), pela enorme disponibilidade, gosto e alegria em
ajudar. Matheus e Vivi, a ajuda de vocês foi de extrema importância, espero que
nossa amizade continue. Rafaela Samia, pela colaboração na execução das
primeiras etapas do presente trabalho.
Aos professores do Departamento de Entomologia da UFLA, pelas
contribuições importantes ao longo deste percurso.
Professor Luis Cláudio Paterno Silveira, sua força nas horas difíceis e
sua disponibilidade em ajudar, demonstrada em todos os momentos, foram
gestos que me surpreenderam muito e pelos quais serei sempre grata. Nunca me
esquecerei de sua especial dedicação ao ensino e à formação de seus alunos.
A todos os amigos de mestrado, colegas de disciplinas e, em especial, a
Ricardo, Lívia, Alexandre, Isabella e Jader, com os quais tive a oportunidade de
ter um contato maior, pelo convívio e constante compartilhamento de críticas e
risadas, histórias, aprendizado, desenvolvimento de experimento, desabafos,
alegrias, tristezas, enfim, obrigada a todos.
Aos amigos que fiz no Departamento e que participaram da minha
história com risadas e conversas. Pessoas que trabalham no Departamento,
alunos da pós-graduação, estagiários da UFLA e aqueles que vieram de longe e
bolsistas. Em especial, cito alguns nomes que foram de muita importância nestes
dois anos: Ricardo Cavalcanti, Marlice, Eliana (Léia), Elaine, Rodrigo Lopes,
Letícia (Lê), Diego, Priscila e Jefferson.
Nazaré (Naza), muitíssimo obrigada pela paciência, excepcional ajuda e
palavras de amizade. Dona Irene, a senhora me conquistou com sua simplicidade
e humildade. Obrigada, pelo carinho e ajuda.
Ao colega Renildo Ismael Félix Costa, por ter ajudado na identificação
dos crisopídeos coletados em campo.
Aos secretários do Departamento, Fábio e Lisiane, pela prontidão em
atender, convivência, simpatia e amizade.
Liliane (Lili) e Marcela (Mah), minha família em Lavras, agradeço-lhes
pelo agradável convívio e por todos os momentos que passamos juntas, seja em
dias tristes e de consolo, em dias alegres e divertidos ou, mesmo, em dias de
aprendizado e crescimento. Ao Nícolas (Nick), pela tarde de ajuda no finalzinho
desta fase de mestrado.
A todos, em especial aqueles que não foram citados e que de alguma
forma estiveram presentes, por me ajudarem a crescer, profissionalmente e
pessoalmente, com a mais simples palavra, atitude ou auxílio, pois todos,
independente da forma, contribuíram, direta ou indiretamente, nestes dois anos
da minha vida.
Para refletir
“(...) Compreendi que tudo em nossas vidas, todas as coisas que gastam tanto de
nosso tempo e de nossa energia para construir, tudo é passageiro, tudo é feito de
areia; o que permanece é só o relacionamento que temos com as outras pessoas.
Mais cedo ou mais tarde, uma onda virá e destruirá ou apagará o que levamos
tanto tempo para construir. E quando isso acontecer, somente aquele que tiver as
mãos de outro alguém para segurar, será capaz de rir e recomeçar.”
(Castelo de Areia - autor desconhecido)
“(...) O heroísmo tem nos sertões, para todo o sempre perdidas, tragédias
espantosas. Não há revivê-las ou episodiá-las. Surgem de uma luta que ninguém
descreve — a insurreição da terra contra o homem.”
(Euclides da Cunha)
“(...) No litoral ou sertão, o herói é aquele que lida com um veneno terrível,
criado para ser arma de guerra, mas difundido como "defensivo agrícola" ou
"remédio" para as pragas da agricultura. O trabalhador utiliza o agrotóxico sem
saber a dimensão do perigo que representa para sua saúde e dos seus familiares,
o meio ambiente e o consumidor.”
(Fernando Dantas Ferro)
SUMÁRIO
Página
RESUMO GERAL.................................................................................... i
GENERAL ABSTRACT........................................................................... ii
CAPÍTULO 1: Seletividade de acaricidas usados em cafeeiro para
Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae)..............
1 Introdução Geral.....................................................................................
1
2
2 Referências Bibliográficas...................................................................... 5
CAPÍTULO 2: Ação de acaricidas utilizados em cafeeiro sobre ovos e
fases subsequentes do desenvolvimento de crisopídeos............................
8
1 Resumo...................................................................................................
2 Abstract...................................................................................................
3 Introdução...............................................................................................
4 Material e Métodos.................................................................................
5 Resultados e Discussão...........................................................................
6 Conclusões..............................................................................................
7 Agradecimentos......................................................................................
8 Referências Bibliográficas......................................................................
CAPÍTULO 3: Seletividade fisiológica de acaricidas utilizados em
cafeeiro para larvas de crisopídeos............................................................
1 Resumo...................................................................................................
2 Abstract...................................................................................................
3 Introdução...............................................................................................
4 Material e Métodos.................................................................................
5 Resultados e Discussão...........................................................................
6 Conclusões..............................................................................................
9
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22
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33
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7 Agradecimentos......................................................................................
8 Referências Bibliográficas......................................................................
CAPÍTULO 4: Seletividade de acaricidas utilizados em cafeeiro para
pré-pupas e adultos de crisopídeos............................................................
1 Resumo...................................................................................................
2 Abstract...................................................................................................
3 Introdução...............................................................................................
4 Material e Métodos.................................................................................
4.1 Efeitos dos produtos sobre pré-pupas..................................................
4.2 Efeitos dos produtos sobre adultos......................................................
4.3 Análise dos dados obtidos...................................................................
5 Resultados e Discussão...........................................................................
6 Conclusões .............................................................................................
7 Agradecimentos......................................................................................
8 Referências Bibliográficas......................................................................
45
46
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63
64
i
RESUMO GERAL
VILELA, Michelle. Seletividade de acaricidas usados em cafeeiro para
Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae). 2009. 67p.
Dissertação (Mestrado em Entomologia) – Universidade Federal de Lavras,
Lavras, Minas Gerais, Brasil.
Os crisopídeos são encontrados naturalmente no agroecossistema cafeeiro, sendo
importantes na regulação populacional de insetos e ácaros-praga. Neste trabalho,
objetivou-se avaliar a seletividade fisiológica de acaricidas utilizados na cultura
cafeeira para ovos, larvas, pré-pupas e adultos de Chrysoperla externa (Hagen,
1861) e reflexos nas fases subsequentes do seu desenvolvimento. Os acaricidas
foram: espirodiclofeno (Envidor – 0,12 g i.a./L), fenpropatrina (Meothrin 300
0,15 e 0,30 g i.a./L), enxofre (Thiovit Sandoz – 4,0 e 8,0 g i.a./L), abamectina
(Vertimec 18 EC – 0,0067 e 0,0225 g i.a./L) e testemunha (água). As
pulverizações dos compostos foram realizadas diretamente sobre o crisopídeo
por meio de torre de Potter. Após a pulverização, os espécimes foram mantidos
em câmara climática, a 25±2
o
C, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas.
Avaliaram-se duração, viabilidade dos ovos e sobrevivência das larvas, pré-
pupas e adultos, e viabilidade dos ovos produzidos pelos adultos provenientes
dos insetos tratados. Cada produto foi enquadrado em classes de toxicidade
conforme escala proposta pela IOBC. Fenpropatrina (0,3 g i.a./L) foi nocivo;
fenpropatrina (0,15 g i.a./L), espirodiclofeno, enxofre e abamectina foram
moderadamente nocivos aos ovos do predador. Para larvas, fenpropatrina foi
nocivo; espirodiclofeno e abamectina moderadamente nocivos e enxofre foi
levemente nocivo a C. externa. Quanto aos adultos, fenpropatrina foi nocivo;
espirodiclofeno, abamectina e enxofre (8,0 g i.a./L) moderadamente nocivos e
enxofre (4,0 g i.a./L) foi levemente nocivo. Em função da baixa toxicidade para
larvas, pré-pupas e adultos, enxofre (4,0 g i.a./L) pode ser recomendado em
programas de manejo de pragas do cafeeiro, visando à conservação dessa
espécie de predador.
Comitê de Orientação: Dr. César Freire Carvalho – UFLA (Orientador) e Dr. Geraldo
Andrade Carvalho – UFLA (Coorientador).
ii
GENERAL ABSTRACT
VILELA, Michelle. Selectivity of acaricides used in coffee for Chrysoperla
externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae). 2009. 67p. Dissertation
(Master’s degree in Entomology) – Federal University of Lavras, Lavras, Minas
Gerais, Brazil.
The green lacewings are found naturally in coffee agroecosystem with important
function in regulating stock-pest insects and mites. In this study the
physiological selectivity of acaricides used in coffee’s crop for eggs, larvae, pre-
pupae and adults of Chrysoperla externa (Hagen, 1861) and reflected in
subsequent stages of its development were evaluated. The treatments were:
control (water), spirodiclofen (Envidor - 0.12 g a.i./L), fenpropathrin (Meothrin
300 - 0.15 and 0.30 g a.i./L), sulphur (Thiovit Sandoz - 4.0 and 8.0 g a.i./L) and
abamectin (Vertimec 18 CE - 0.0067 and 0.0225 g a.i./L). The sprayings were
accomplished directly on the green lacewing using a Potter’s tower. After
spraying, specimens were maintained in climatic chambers at 25±2
o
C, RH of
70±10% and 12 hour photophase. The duration, egg viability and survival rate of
the larvae, pre-pupae and adults stages and survival rate of the eggs produced by
the emerged adults from the insects treated were evaluated. The pesticides were
classified according to IOBC proposed scale. Fenpropathrin (0.3 g a.i./L) was
harmful; fenpropathrin (0.15 g a.i./L) was moderately harmful, and
spirodiclofen, sulphur and abamectin were moderately harmful to the eggs of
this predator. In the larval stage, fenpropathrin was harmful; spirodiclofen and
abamectin were moderately harmful, and sulphur was slightly harmful to C.
externa. For adults, fenpropathrin was harmful; spirodiclofen, abamectin and
sulphur (8.0 g a.i./L) were moderately harmful, and sulphur (4.0 g a.i./L) proved
to be slightly harmful. In function of low toxicity to larvae, pre-pupae and adults
by sulphur (4.0 g a.i./L), this compound can be recommended for pest
management programs of coffee to promote the conservation of this species of
predator.
Guindance Commitee: Dr. César Freire Carvalho – UFLA (Adviser) and Dr. Geraldo
Andrade Carvalho – UFLA (Co-adviser).
1
CAPÍTULO 1
Seletividade de acaricidas usados em cafeeiro para Chrysoperla externa
(Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae)
2
1 INTRODUÇÃO GERAL
Dentre os 500 gêneros da família botânica Rubiaceae, Coffea é o mais
importante economicamente. Coffea arabica L. (café arábica) e Coffea
canephora Pierre & Froehner (café robusta ou conillon) são os mais importantes
no mercado mundial do agronegócio cafeeiro (Carneiro, 1997).
Desde a sua introdução no Brasil, trazido da Guiana Francesa por
Francisco de Mello Palheta, o café provocou mudanças no cenário agrícola do
país (Andrade & Jafelice, 2005). A cultura cafeeira é uma das mais importantes
do Brasil, ocupando área aproximada de 2,3 milhões de hectares. Desse total,
cerca de um milhão de hectares é cultivado no estado de Minas Gerais.
Entretanto, vários problemas são apontados pelos produtores como sendo
entraves ao sucesso do cultivo dessa rubiácea, dentre os quais a incidência de
artrópodes-praga. Entre estes, podem-se destacar o ácaro-vermelho Oligonychus
ilicis (McGregor, 1917) (Tetranychidae) e o agente causador da mancha-anular
Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Tenuipalpidae), que geralmente
ocorrem no cafeeiro, podendo causar prejuízos econômicos (Reis et al., 2002).
O ácaro-vermelho, ao se alimentar, perfura e absorve o conteúdo celular
da página superior das folhas. As folhas tornam-se bronzeadas, sintoma típico do
ataque e perdem o brilho natural, provocado pelos detritos que se aderem às teias
produzidas pelo ácaro. O ataque ocorre, geralmente, em reboleiras e, em
condições favoráveis ao ácaro, se o controle não for feito no início da infestação,
poderá atingir toda a lavoura (Reis & Zacarias, 2007).
O ácaro B. phoenicis causa prejuízos econômicos à lavoura cafeeira por
ser o vetor do vírus da mancha-anular, responsável pela queda de folhas e pela
má qualidade da bebida do café e vem provocando prejuízos para os
cafeicultores da região do Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba (Papa, 1999;
Reis & Souza, 2000; Reis & Chagas, 2001).
3
Esses dois ácaros estão entre os vários problemas que o agricultor
enfrenta e o seu controle deve ser feito dentro da filosofia do manejo integrado
de pragas (MIP). Esse programa busca a sustentabilidade do sistema produtivo,
tentando reduzir os impactos provocados no ambiente pelo uso indiscriminado
de produtos químicos e ou de métodos de controle de pragas de forma
inadequada (Martins et al., 2004).
Entre as táticas do MIP, o controle biológico natural exercido pelos
crisopídeos pode ser uma importante ferramenta na regulação populacional de
insetos e ácaros-praga no agroecossistema cafeeiro (Silva et al., 2006b). Os
crisopídeos são eficientes predadores de ampla diversidade de presas, tais como
pulgões, moscas-brancas, cochonilhas, lagartas, ácaros etc., em várias culturas
(Carvalho et al., 2002). Apresentam vasta distribuição geográfica, hábitat
variado, grande capacidade de busca e elevado potencial reprodutivo. Sob esse
aspecto, têm-se destacado as espécies de alguns gêneros, como, por exemplo, na
região Neotropical, Chrysoperla Steinmann, 1964 e Ceraeochrysa Adams, 1982
(Souza & Carvalho, 2002).
Os insetos do gênero Chrysoperla apresentam o corpo com coloração
esverdeada, antenas com escapo e pedicelo com manchas ausentes e com
microcerdas chamadas espinelas no gonossacus (Brooks & Barnard, 1990;
Freitas, 2003). Nesse grupo de insetos, a espécie Chrysoperla externa (Hagen,
1861) (Neuroptera: Chrysopidae) é encontrada naturalmente em culturas de
interesse econômico, como a do cafeeiro (Coffea spp.), sendo considerada
agente potencial de controle biológico de diversas pragas de importância
agrícola (Carvalho & Souza, 2000; Fonseca et al., 2001; Silva et al., 2006a).
Dentro da filosofia do MIP, a conservação e o aumento de inimigos
naturais que beneficiem o controle biológico natural são estratégias
fundamentais (Gliessman, 2001; Reis et al., 2002). Para o estabelecimento de
programas dessa natureza no cafeeiro, a utilização de produtos químicos que
4
preservem os inimigos naturais nesse agroecossistema torna-se necessária (Silva
et al., 2006a). Assim, é de suma importância a realização de pesquisas visando
conhecer os produtos fitossanitários que normalmente são empregados no
controle das pragas dessa cultura e, ao mesmo tempo, causam os menores
impactos possíveis sobre os agentes de controle natural (Ferreira et al., 2006).
A fim de gerar subsídios para o MIP na cultura cafeeira e considerando o
potencial e importância de C. externa como organismo benéfico que auxilia na
regulação de populações de ácaros-praga, este trabalho foi realizado com o
objetivo de estudar os efeitos dos produtos espirodiclofeno, fenpropatrina,
enxofre e abamectina, utilizados no controle de O. ilicis e B. phoenicis, na
cultura cafeeira, sobre ovos, larvas, pré-pupas e adultos dessa espécie de
crisopídeo e sobre as fases subsequentes de seu desenvolvimento.
5
2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, A. S.; JAFELICE, R. S. M. A história do café no Brasil. FAMAT
em Revista, Uberlândia, v. 1, n. 4, p. 241-253, abr. 2005.
BROOKS, S. J.; BARNARD, P. C. The green lacewings of the world: a generic
review (Neuroptera: Chrysopidae). Bulletin of the British Museum of Natural
History (Entomology Series), London, v. 59, n. 2, p. 117-286, 1990.
CARNEIRO, M. F. Coffee biotechnology and its application in genetic
transformation. Euphytica, Dordrecht, v.96, p.167-172, 1997.
CARVALHO, C. F.; SOUZA, B. Métodos de criação e produção de crisopídeos.
In: BUENO, V. H. P. Controle biológico de pragas: produção massal e
controle de qualidade. Lavras: UFLA, 2000. p. 91-109.
CARVALHO, G. A.; CARVALHO, C. F.; SOUZA, B.; ULHÔA, J. L. R.
Seletividade de inseticidas a Chrysoperla externa (Hagen) (Neuroptera:
Chrysopidae). Neotropical Entomology, Londrina, v. 31, n. 4, p. 615-621,
out./dez. 2002.
FERREIRA, A. J.; CARVALHO, G. A.; BOTTON, M.; LASMAR, O.
Seletividade de inseticidas usados na cultura da macieira a duas populações de
Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae). Ciência Rural,
Santa Maria, v. 36, n. 2, p. 378-384, mar./abr. 2006.
FONSECA, A. R.; CARVALHO, C. F.; SOUZA, B. Capacidade predatória e
aspectos biológicos das fases imaturas de Chrysoperla externa (Hagen, 1861)
(Neuroptera: Chrysopidae) alimentada com Schizaphis graminum (Rondani,
1852) (Hemiptera: Aphididae) em diferentes temperaturas. Ciência e
Agrotecnologia, Lavras, v. 25, n. 2, p. 251-263, mar./abr. 2001.
6
FREITAS, S. Chrysoperla Steinmann, 1964 (Neuroptera, Chrysopidae):
descrição de uma nova espécie do Brasil. Revista Brasileira de Entomologia,
Curitiba, v. 47, n. 3, p. 385-387, set. 2003.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura
sustentável. Tradução de Maria José Guasinelli. 2. ed. Rio Grande do Sul:
UFRGS, 2001, 653 p. Título original: Agroecology: ecological processes in
sustainable agriculture.
MARTINS, M.; MENDES, A. N. G.; ALVARENGA, M. I. N. Incidência de
pragas e doenças em agroecossistemas de café orgânico de agricultores
familiares em Poço Fundo-MG. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 8, n. 6, p.
1306-1313, nov./dez. 2004.
PAPA, G. Manejo de ácaros em café. In: I ENCONTRO SOBRE PRODUÇÃO
DE CAFÉ COM QUALIDADE, 1999, Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG: UFV,
1999. p. 121-133.
REIS, P. R.; CHAGAS, S. J. R. Relação entre o ataque do ácaro-plano e da
mancha-anular como indicadores da qualidade do café. Ciência e
Agrotecnologia, Lavras, v. 25, n.1, p.72-76, jan./fev. 2001.
REIS, P. R.; SOUZA, J. C. Brevipalpus phoenicis (Geijskes), ácaro vetor da
mancha-anular em cafeeiro. Lavras: Epamig-CRSM, 2000. 4 p.
REIS, P. R.; SOUZA, J. C.; VENZON, M. Manejo ecológico das principais
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p. 83-89, 2002.
REIS, P. R.; ZACARIAS, M. S. Ácaros em cafeeiro. Belo Horizonte:
EPAMIG, 2007. 76 p.
7
SILVA, R. A.; CARVALHO, G. A.; CARVALHO, C. F.; REIS, P. R.; SOUZA,
B.; PEREIRA, A. M. A. R. Ação de produtos fitossanitários utilizados em
cafeeiros sobre pupas e adultos de Chrysoperla externa (Hagen, 1861)
(Neuroptera: Chrysopidae). Ciência Rural, Santa Maria, v. 36, n. 1, p. 8-14,
jan./fev. 2006a.
SILVA, R. A.; REIS, P. R.; CARVALHO, C. F.; SOUZA, B. Predatory capacity
of Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) on
Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuilpalpidae). Coffee Science,
Lavras, v. 1, n. 1, p. 50-54, Apr./June 2006b.
SOUZA, B.; CARVALHO, C. F. Population dynamics and seasonal occurrence
of adults of Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) in a
citrus orchard in Southern Brazil. Acta Zoologica Academiae Scientiarum
Hungaricae, Budapest, v. 48, n. 2, p. 301-310, 2002. Supplement.
8
CAPÍTULO 2
Ação de acaricidas utilizados em cafeeiro sobre ovos e fases subsequentes do
desenvolvimento de crisopídeos
O capítulo 2 será transcrito em formato de artigo e encaminhado para submissão
ao Periódico Científico Coffee Science
9
1 RESUMO
Por meio de bioensaios realizados em laboratório, foi avaliada a
toxicidade dos acaricidas espirodiclofeno (Envidor – 0,12 g i.a.L
-1
),
fenpropatrina (Meothrin 300 – 0,15 e 0,30 g i.a.L
-1
), enxofre (Thiovit Sandoz –
4,0 e 8,0 g i.a.L
-1
) e abamectina (Vertimec 18 EC – 0,0067 e 0,0225 g i.a.L
-1
),
utilizados em cafeeiros, para ovos de Chrysoperla externa (Hagen, 1861). Após
a pulverização dos produtos em torre de Potter, os ovos foram colocados em
tubos de vidro e mantidos em câmara climática, a 25±2
o
C, UR de 70±10% e
fotofase de 12 horas. Os compostos foram enquadrados em classes de toxicidade
de acordo com o seu efeito total (E), seguindo recomendações da IOBC.
Fenpropatrina (0,3 g i.a.L
-1
) foi nocivo e fenpropatrina (0,15 g i.a.L
-1
)
moderadamente nocivo ao crisopídeo. Os produtos espirodiclofeno, enxofre e
abamectina foram moderadamente nocivos ao predador.
10
2 ABSTRACT
Through bioassays performed in the laboratory was evaluated the
toxicity of acaricides spirodiclofen (Envidor – 0.12 g a.i.L
-1
), fenpropathrin
(Meothrin 300 – 0.15 and 0.30 g a.i.L
-1
), sulphur (Thiovit Sandoz – 4.0 and 8.0 g
a.i.L
-1
), abamectin (Vertimec 18 CE – 0.0067 and 0.0225 g a.i.L
-1
), used in
coffee, for eggs of Chrysoperla externa (Hagen, 1861). The sprayings were
accomplished directly on eggs of C. externa by using a Potter’s tower.
Afterwards, the eggs were placed in glass tubes and kept in climatic chamber at
25±2
o
C, RH of 70±10% and 12 hour photophase. The pesticides were classified
according to IOBC proposed scale. Fenpropathrin (0.30 g a.i.L
-1
) was harmful
and fenpropathrin (0.15 g a.i.L
-1
) was moderately harmful to the green lacewing.
The products spirodiclophen, sulphur and abamectin were moderately harmful to
the predator.
11
3 INTRODUÇÃO
Diversas espécies de artrópodes-praga encontram-se associadas à cultura
cafeeira, destacando-se o ácaro-vermelho Oligonychus ilicis (McGregor, 1917)
(Tetranychidae) e o causador da mancha-anular Brevipalpus phoenicis
(Geijskes, 1939) (Tenuipalpidae), os quais podem gerar prejuízos econômicos
(Reis et al., 2002).
O ácaro-vermelho, ao se alimentar, perfura e absorve o conteúdo celular
da página superior das folhas. Em consequência, as folhas perdem o brilho
natural e tornam-se bronzeadas. O ataque ocorre, não raro, em reboleiras e, em
condições favoráveis ao ácaro, se o controle não for feito no início da infestação,
poderá atingir toda a lavoura (Reis & Teodoro, 2000).
Os ácaros da espécie B. phoenicis, conhecidos na cafeicultura como
ácaros da mancha-anular, podem causar prejuízos econômicos à lavoura devido
à transmissão do vírus da mancha-anular, responsável pela queda de folhas. É
constatada a presença desse ácaro nas folhas, ramos e frutos. Essa espécie vem
trazendo prejuízos para os cafeicultores e, por isso, o seu levantamento e
controle são indispensáveis a cada ano (Reis & Zacarias, 2007).
Apesar da ação de inimigos naturais no agroecossistema cafeeiro, o
controle desses ácaros ainda é dependente do uso de acaricidas, devido à
economicidade e à rapidez de controle. Entretanto, aplicações de compostos de
largo espectro de ação e de forma intensa podem reduzir populações de inimigos
naturais, além de contaminar o ambiente (Fragoso et al., 2002; Reis et al., 2002).
Aplicações de produtos não seletivos, utilizados para o controle de artrópodes-
praga na cultura cafeeira, têm sido uma das principais causas de ressurgência de
pragas, incluindo ácaros fitófagos, sendo também responsáveis pela redução ou
supressão de predadores (Vidal & Kreiter, 1995; Hill & Foster, 1998).
12
Os insetos pertencentes à família Chrysopidae têm tido importante
atuação no equilíbrio de densidades populacionais de muitos artrópodes-praga
(ácaros, cochonilhas, moscas-brancas, etc.) na cultura cafeeira e, dentre os
crisopídeos, Chrysoperla externa (Hagen) é comumente encontrada na região
Neotropical, ocorrendo em várias culturas de interesse econômico (Carvalho &
Souza, 2000).
Ao se estabelecer um programa de manejo integrado de pragas (MIP) na
cultura cafeeira, a preservação de crisopídeos e de outros inimigos naturais deve
ser considerada. Isso dependerá da compatibilidade com os outros métodos de
controle, principalmente o químico. Dessa forma, estudos que busquem
informações a respeito do impacto de produtos fitossanitários sobre agentes
benéficos devem ser desenvolvidos (Carvalho et al., 2003).
A fim de gerar subsídios para o MIP na cultura cafeeira e considerando o
potencial e importância de C. externa como organismo regulador de populações
de ácaros-praga, este trabalho foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos
dos produtos espirodiclofeno, fenpropatrina, enxofre e abamectina, utilizados no
controle de O. ilicis e B. phoenicis, na cultura cafeeira, sobre ovos e fases
subsequentes do desenvolvimento desse predador.
4 MATERIAL E MÉTODOS
Da criação de manutenção de C. externa em laboratório, ovos de terceira
geração e com, no máximo, 24 horas de idade, foram retirados e colocados em
grupos de 40, em placas de Petri de 15 cm de diâmetro, para o recebimento dos
produtos. As pulverizações dos acaricidas foram realizadas diretamente sobre os
ovos, por meio de torre de Potter calibrada para uma aplicação de 1,5±0,5
µL.cm
-2
e pressão de 15 lb.pol
-2
. Os acaricidas foram aplicados nas maiores
13
dosagens recomendadas pelos fabricantes para o controle do ácaro-vermelho e
do ácaro da mancha-anular do cafeeiro (Tabela 1).
TABELA 1. Nomes técnico e comercial, dosagens, grupos químicos e classes
toxicológicas dos compostos avaliados.
Nome técnico Nome comercial
Dosagem
g i.a./L
Grupo
químico
Classe
toxicológica
Espirodiclofeno Envidor 0,12 Cetoenol III
Fenpropatrina Meothrin 300 0,15 Piretroide I
Fenpropatrina Meothrin 300 0,3 Piretroide I
Enxofre Thiovit Sandoz 4,0 Inorgânico IV
Enxofre Thiovit Sandoz 8,0 Inorgânico IV
Abamectina Vertimec 18 EC 0,0067 Avermectina III
Abamectina Vertimec 18 EC 0,0225 Avermectina III
Após a aplicação dos produtos sobre os ovos, esses foram
individualizados em tubos de vidro de 2,5 cm de diâmetro e 8,5 cm de altura,
vedados com filme de PVC laminado e, após a eclosão da larva, estas foram
alimentadas ad libitum com ovos de Anagasta kuehniella (Zeller) (Lepidoptera:
Pyralidae).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado,
com oito tratamentos e oito repetições, sendo cada repetição composta por cinco
ovos. Avaliaram-se a viabilidade dos ovos, a duração do período embrionário, a
duração e a sobrevivência das larvas de primeiro, segundo e terceiro instares e
de pupas. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as
médias dos tratamentos comparadas por meio do teste de agrupamento de Scott e
Knott, a 5% de significância (Scott & Knott, 1974).
14
Para avaliar os efeitos dos compostos sobre adultos provenientes de ovos
tratados, os sobreviventes foram agrupados em casais e distribuídos na
proporção de um casal por gaiola de PVC de 10 cm de diâmetro x 10 cm de
altura, revestidas internamente com papel-filtro, tendo as partes inferiores
vedadas com filme laminado e as superiores fechadas com tecido tipo “voile”.
Os adultos foram alimentados com dieta à base de lêvedo de cerveja e mel (1:1
v.v
-1
), conforme metodologia de Freitas (2001).
Durante quatro semanas consecutivas, efetuou-se a contagem dos ovos
depositados em intervalos de três dias. Em cada tratamento, 96 ovos foram
coletados aleatoriamente e individualizados em compartimentos de placas de
microtitulação fechadas com PVC laminado e mantidas em sala climatizada. Foi
utilizado delineamento experimental inteiramente casualizado e cada parcela foi
composta por um casal. O número de tratamentos variou em função do nível de
mortalidade provocada pelos compostos aplicados nos ovos do predador, tendo o
número mínimo de repetições sido de sete, sendo cada uma representada por um
casal. Avaliaram-se a mortalidade de adultos, a capacidade diária e total de
oviposição/fêmea e a viabilidade dos ovos.
Foi determinado o efeito total (E) de cada produto por meio da fórmula
E = 100% - (100% - M%) x R1 x R2, proposta por Vogt (1992), sendo: E =
efeito total (%); M% = mortalidade no tratamento corrigida pela fórmula de
Abbott (1925); R1 = razão entre a média diária de ovos colocados por fêmea
tratada e não tratada e R2 = razão entre a viabilidade média de ovos colocados
por fêmea tratada e não tratada. Após a obtenção do efeito total, cada composto
foi enquadrado nas classes de toxicidade propostas pela IOBC (Boller et al.,
2005), sendo: classe 1 = inofensivo ou levemente nocivo (E<30%), classe 2 =
moderadamente nocivo (30E79%), classe 3 = nocivo (80E99%) e classe 4
= nocivo (E>99%).
15
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O contato dos acaricidas com ovos de C. externa não resultou em efeito
prejudicial à duração do período embrionário, com médias variando de 4,9 a 5,0
dias (Tabela 2). Esses resultados assemelham-se aos obtidos por Carvalho et al.
(2002), que realizaram o tratamento de ovos de C. externa com Danimen 300
CE (fenpropatrina 0,09 g i.a.L
-1
) e com os de Silva (2004), para os produtos
Kumulus 800 PM (enxofre 4,0 g i.a.L
-1
) e Turbo 50 CE (betaciflutrina 0,013 g
i.a.L
-1
). Os acaricidas fenpropatrina (0,3 g i.a.L
-1
) e abamectina, nas duas
dosagens testadas, reduziram a viabilidade dos ovos, com médias de 70,0%;
65,0% e 57,5%, respectivamente (Tabela 2). Esses resultados confirmam aqueles
de Carvalho et al. (2002) que aplicaram fenpropatrina (0,09 g i.a.L
-1
) em ovos de
C. externa e
encontraram viabilidade de 73,3%.
A duração da fase larval não foi afetada pelos compostos avaliados, com
médias variando de 8,7 a 10,9 dias (Tabela 2). Esses resultados assemelham-se
aos encontrados por Maia et al. (2000), Fonseca et al. (2001) e Silva et al.
(2002), que constataram médias de 11,0; 10,9 e 11,7 dias de duração,
respectivamente, para larvas alimentadas com Schizaphis graminum (Rondani,
1852) e lagartas de Alabama argillacea (Hübner, 1818). Fenpropatrina (0,3 g
i.a.L
-1
) foi o único composto que reduziu a sobrevivência da fase larval, com
média de 86,8% (Tabela 2). Houve redução para sobrevivência de larvas de
primeiro instar no tratamento com fenpropatrina 0,3 g i.a.L
-1
(Tabela 3),
resultado que corrobora com os de Godoy et al. (2004), os quais verificaram que
deltametrina (0,0125 g i.a.L
-1
), do mesmo grupo químico, diminuiu a
sobrevivência de larvas de primeiro instar, apresentando média de 38,3%.
16
TABELA 2. Duração, em dias e viabilidade, em % (±EP) de ovos e sobrevivência de larvas de Chrysoperla externa,
provenientes dos ovos tratados com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Fase de ovo Fase de larva
Tratamentos
Duração Viabilidade Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 5,0±0,00 a 95,0±1,16 b 8,7±0,10 a 98,3±0,39 b
Espirodiclofeno 0,12 g i.a.L
-1
5,0±0,00 a 85,0±2,59 b 9,6±0,17 a 97,5±0,62 b
Fenpropatrina 0,15 g i.a.L
-1
5,0±0,00 a 85,0±2,59 b 10,9±0,54 a 98,1±0,44 b
Fenpropatrina 0,3 g i.a.L
-1
4,9±0,02 a 70,0±2,67 a 9,5±0,10a 86,8±1,05 a
Enxofre 4,0 g i.a.L
-1
4,9±0,03 a 90,0±1,89 b 9,0±0,09 a 98,3±0,59 b
Enxofre 8,0 g i.a.L
-1
4,9±0,02 a 87,5±1,86 b 9,3±0,14 a 95,1±0,74 b
Abamectina 0,0067 g i.a.L
-1
5,0±0,00 a 65,0±2,59 a 9,5±0,11 a 97,6±0,57 b
Abamectina 0,0225 g i.a.L
-1
5,0±0,01 a 57,5±2,48 a 9,1±0,08 a 96,5±0,61 b
CV (%) - 23,0 - 5,4
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott
(P<0,05).
16
17
TABELA 3. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de Chrysoperla externa na fase de larva, provenientes de
ovos tratados com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Primeiro instar Segundo instar Terceiro instar
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 3,5±0,04 a 95,0±1,16 b 2,7±0,02 a 100,0±0,00 a 2,4±0,04 a 100,0±0,00 a
Espirodiclofeno 0,12 g i.a.L
-1
4,3±0,09 a 95,0±1,77 b 2,9±0,02 a 97,5±0,88 a 2,5±0,06 a 100,0±0,00 a
Fenpropatrina 0,15 g i.a.L
-1
5,3±0,42 a 94,4±1,31 b 3,0±0,07 a 100,0±0,00 a 2,6±0,05 a 100,0±0,00 a
Fenpropatrina 0,3 g i.a.L
-1
4,0±0,01 a 60,3±3,14 a 3,2±0,03 b 100,0±0,00 a 2,4±0,06 a 100,0±0,00 a
Enxofre 4,0 g i.a.L
-1
4,0±0,01 a 95,0±1,77 b 2,9±0,02 a 100,0±0,00 a 2,1±0,06 a 100,0±0,00 a
Enxofre 8,0 g i.a.L
-1
3,9±0,04 a 90,8±1,66 b 3,4±0,03 b 97,5±0,88 a 2,1±0,07 a 96,9±1,10 a
Abamectina 0,0067 g i.a.L
-1
4,1±0,02 a 92,7±1,71 b 3,0±0,02 a 100,0±0,00 a 2,4±0,06 a 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0225 g i.a.L
-1
4,0±0,00 a 89,6±1,83 b 3,0±0,01 a 100,0±0,00 a 2,2±0,07 a 100,0±0,00 a
CV (%) - 16,8 7,8 - - -
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott (P<0,05).
17
18
Para o segundo e o terceiro instares e também para pré-pupas e pupas de
C. externa, os acaricidas não afetaram a sobrevivência (Tabelas 3 e 4), com
médias próximas às obtidas por Godoy et al. (2004). Estes autores observaram
que os compostos abamectina 0,0054 g i.a.L
-1
e deltametrina 0,0125 g i.a.L
-1
não
afetaram a sobrevivência para o segundo e terceiro instares e também para pupas
de C. externa que apresentaram médias de 95,0%, 100,0% e 100,0%,
respectivamente.
19
TABELA 4. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de pré-pupas e pupas de Chrysoperla externa,
provenientes dos ovos tratados com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Fase de pré-pupa Fase de pupa
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 3,6±0,05 a 100,0±0,00 a 8,1±0,07 b 93,7±1,45 a
Espirodiclofeno 0,12 g i.a.L
-1
3,5±0,04 a 100,0±0,00 a 5,8±0,09 a 88,7±2,26 a
Fenpropatrina 0,15 g i.a.L
-1
3,7±0,03 a 100,0±0,00 a 7,8±0,05 b 85,7±4,37 a
Fenpropatrina 0,3 g i.a.L
-1
4,3±0,06 b 100,0±0,00 a 5,9±0,11 a 88,7±2,26 a
Enxofre 4,0 g i.a.L
-1
2,7±0,03 a 100,0±0,00 a 8,1±0,03 b 100,0±0,00 a
Enxofre 8,0 g i.a.L
-1
3,6±0,02 a 100,0±0,00 a 8,0±0,04 b 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0067 g i.a.L
-1
3,7±0,04 a 100,0±0,00 a 8,2±0,05 b 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0225 g i.a.L
-1
3,6±0,06 a 100,0±0,00 a 7,8±0,04 b 100,0±0,00 a
CV (%) 9,3 - 6,8 -
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott
(P<0,05).
19
20
A razão sexual de adultos de C. externa provenientes dos ovos tratados
não foi afetada pela ação dos produtos (Figura 1), variando de 0,33 a 0,56,
resultados que corroboram com os de Silva (2004), que verificou razão sexual
variando de 0,39 a 0,52.
0,56
0,47
0,42
0,39
0,48
0,33
0,56
0,39
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
T
este
mu
nha
E
spir
odi
clofe
no
0,12
g i
.a./L
Fenpropatri
n
a 0,15
g
i.a./L
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L
Enx
o
fre 4,0
g i.a./L
E
nxo
fre
8,0
g i.a
./L
Aba
m
ectina
0
,006
7
g i.a./L
Ab
am
ectin
a 0
,022
5
g i.a.
/L
Tratamentos
Razão sexual
FIGURA 1 - Razão sexual de Chrysoperla externa oriundo de ovos tratados
com acaricidas (Teste F; P>0,99).
Levando-se em consideração o efeito total (E) dos acaricidas sobre
fêmeas oriundas de ovos tratados, todos foram enquadrados na classe 2
(moderadamente nocivo) (Tabela 5), com exceção do tratamento com
fenpropatrina (0,3 g i.a.L
-1
), que se mostrou nocivo (classe 3) a C. externa. Esses
resultados assemelham-se aos de Godoy (2002), que constatou moderada
nocividade de deltametrina (0,0125 g i.a.L
-1
) e com os de Bueno (2001), que
verificou alta toxicidade do produto neonicotinoide imidacloprid (0,035 a 0,21 g
i.a.L
-1
), sendo enquadrado na classe 4, para essa mesma espécie de crisopídeo.
21
TABELA 5. Mortalidade, em % de Chrysoperla externa, número médio de ovos/dia/fêmea, viabilidade de ovos, em %,
efeito total (E) e toxicidade dos compostos para ovos. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Tratamentos N
o
inicial de ovos M
1
Mc
2
R’
3
R”
4
E
5
Classe
6
Testemunha (água) 40 15,0 - 1 1 - -
Espirodiclofeno 0,12 g i.a.L
-1
40 52,5 44,1 0,6 0,9 66,4 2
Fenpropatrina 0,15 g i.a.L
-1
40 50,0 41,1 0,6 0,9 69,7 2
Fenpropatrina 0,3 g i.a.L
-1
40 70,0 64,7 0,4 0,8 87,1 3
Enxofre 4,0 g i.a.L
-1
40 25,0 11,8 0,7 0,9 41,6 2
Enxofre 8,0 g i.a.L
-1
40 32,5 20,6 0,7 0,8 58,7 2
Abamectina 0,0067 g i.a.L
-1
40 60,0 52,9 0,8 1,0 62,3 2
Abamectina 0,0225 g i.a.L
-1
40 55,0 47,1 0,6 1,0 66,5 2
1
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos.
2
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos, corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
N
o
médio de ovos/dia/fêmea durante quatro semanas consecutivas, a partir do início de oviposição.
4
Viabilidade (%) dos ovos durante quatro semanas consecutivas.
5
Efeito total dos compostos (%).
6
Classe de toxicidade da IOBC: classe = 2 moderadamente nocivo (30 E 79%), classe 3 = nocivo (80E99%).
21
22
6 CONCLUSÕES
Fenpropatrina (0,3 g i.a.L
-1
) é nocivo ao crisopídeo C. externa.
Fenpropatrina (0,15 g i.a.L
-1
), espirodiclofeno, enxofre e abamectina são
moderadamente nocivos ao predador.
Novos testes em condições de casa de vegetação e de campo devem ser
realizados para a comprovação ou não da toxicidade desses compostos.
7 AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor.
23
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Neuroptera: Chrysopidae) em cafeeiros, sua capacidade predatória sobre
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26
CAPÍTULO 3
Seletividade fisiológica de acaricidas utilizados em cafeeiro para larvas de
crisopídeos
O capítulo 3 será transcrito em formato de artigo e encaminhado para submissão
ao Periódico Científico Ceres
27
1 RESUMO
Os crisopídeos são encontrados naturalmente no agroecossistema
cafeeiro, se alimentando de várias pragas de importância econômica. Este
trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a seletividade fisiológica de
acaricidas utilizados na cultura cafeeira para larvas de Chrysoperla externa
(Hagen, 1861) e os reflexos nas fases subsequentes do seu desenvolvimento. Os
acaricidas foram: espirodiclofeno (Envidor – 0,12 g i.a./L), fenpropatrina
(Meothrin 300 – 0,15 e 0,30 g i.a./L), enxofre (Thiovit Sandoz – 4,0 e 8,0 g
i.a./L), abamectina (Vertimec 18 EC – 0,0067 e 0,0225 g i.a./L) e testemunha
(água). As pulverizações dos produtos foram realizadas em larvas de primeiro,
segundo e terceiro instares de C. externa por meio de torre de Potter. Avaliaram-
se a duração, a sobrevivência das larvas e pupas e a viabilidade dos ovos
produzidos pelos adultos provenientes das larvas tratadas. Cada produto foi
enquadrado em classes de toxicidade conforme escala proposta pela IOBC.
Fenpropatrina foi nocivo a C. externa e os produtos espirodiclofeno e
abamectina foram moderadamente nocivos ao predador. Enxofre foi levemente
nocivo, podendo ser recomendado em programas de manejo de pragas visando à
preservação desse predador.
28
2 ABSTRACT
The green lacewings are found naturally in coffee agroecosystem if
feeding of several pests of economic importance. In this study the physiological
selectivity of acaricides used in coffee’s culture for larvae of Chrysoperla
externa (Hagen, 1861) and reflected in subsequent stages of its development
were evaluated. The acaricides were: spirodiclofen (Envidor - 0.12 g a.i./L),
fenpropathrin (Meothrin 300 - 0.15 and 0.30 g a.i./L), sulphur (Thiovit Sandoz -
4.0 and 8.0 g a.i./L), abamectin (Vertimec 18 CE - 0.0067 and 0.0225 g a.i./L)
and control (water). The sprayings were accomplished directly on first, second
and third-instar larvae of C. externa, using a Potter’s tower. Duration and
survival rate of the larvae and pupae stages and survival rate of the eggs
produced by the emerged adults from the treated larvae were evaluated. The
pesticides were classified according to IOBC proposed scale. Fenpropathrin was
harmful to C. externa and the pesticides spirodiclofen and abamectin were
moderately harmful of predator. Sulphur was slightly harmful, it can be
recommended in coffee pest management programs to promote the conservation
of this species of predator.
29
3 INTRODUÇÃO
Em cafeeiros, no Brasil, as principais espécies de ácaros-praga presentes
são o ácaro-vermelho Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) (Tetranychidae) e o
ácaro da mancha-anular Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Tenuipalpidae)
(Reis & Souza, 2000).
O ácaro-vermelho é uma importante praga, visto que, ao se alimentar,
perfura as células da página superior das folhas e absorvem seu conteúdo. Em
consequência, as folhas perdem o brilho natural e tornam-se bronzeadas.
Geralmente, o ataque ocorre em reboleiras e, em condições favoráveis ao ácaro,
se o controle não for feito no início da infestação, poderá atingir toda a lavoura
(Reis & Teodoro, 2000).
O ácaro B. phoenicis pode causar prejuízos econômicos à lavoura
cafeeira por ser o vetor do vírus da mancha-anular, responsável pela queda de
folhas e pela qualidade da bebida do café e vem trazendo prejuízos para os
cafeicultores da região do Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba (Papa, 1999;
Reis & Souza, 2000; Reis & Chagas, 2001).
O controle dessas espécies de ácaros no Brasil, se necessário, deve ser
realizado por meio de acaricidas que sejam, de preferência, seletivos aos
inimigos naturais no sentido de conservá-los e, mesmo, propiciarem o aumento
populacional dos mesmos (Reis & Zacarias, 2007).
Os predadores são, muitas vezes, agentes eficazes na regulação da
densidade populacional de ácaros-praga, dentre os quais podem ser citados os
ácaros pertencentes às famílias Stigmaeidae e Bdellidae, com destaque para a
família Phytoseiidae, que é a mais comum e mais estudada família de ácaros-
predadores (Reis & Zacarias, 2007).
Os insetos pertencentes à família Chrysopidae também possuem
importante atuação no equilíbrio de densidades populacionais de muitos
30
artrópodes-praga e, dentre os crisopídeos, Chrysoperla externa (Hagen) é
comum na região Neotropical, sendo encontrada em culturas de interesse
econômico, como o cafeeiro (Carvalho & Souza, 2000). O trabalho realizado por
Silva et al. (2006) demonstrou que larvas dessa espécie podem estar atuando
como organismos auxiliares na regulação de densidades populacionais do ácaro
B. phoenicis em agroecossistemas cafeeiros.
Apesar da ação de inimigos naturais no agroecossistema cafeeiro, o
controle de pragas ainda é dependente do uso de inseticidas, devido à
economicidade e à rapidez de controle. Aplicações de compostos de largo
espectro de ação e de forma intensa podem reduzir as populações de inimigos
naturais, além de contaminarem o ambiente (Fragoso et al., 2002). A utilização
de produtos não seletivos, utilizados para o controle de artrópodes-praga, tem
sido uma das principais causas de ressurgência de pragas, incluindo ácaros
fitófagos, sendo também responsáveis pela redução ou supressão de predadores
(Vidal & Kreiter, 1995; Hill & Foster, 1998).
A preservação e o aumento das taxas de controle biológico são
estratégias essenciais para o sucesso de programas de manejo integrado de
pragas (MIP). O uso de inseticidas seletivos a inimigos naturais pode trazer
vantagens como aumento do intervalo de aplicações, diminuição da ressurgência
de artrópodes-praga e da possibilidade de pragas secundárias alcançarem status
primário e, ainda, diminuir as chances de evolução de populações de pragas
resistentes aos inseticidas empregados (Albuquerque et al., 2003).
Este trabalho foi realizado com o objetivou de estudar os efeitos dos
produtos espirodiclofeno, fenpropatrina, enxofre e abamectina, utilizados no
controle de O. ilicis e B. phoenicis na cultura cafeeira, sobre o predador C.
externa.
31
4 MATERIAL E MÉTODOS
Para a criação dos crisopídeos usados nos bioensaios, adultos de C.
externa foram coletados, em um cafezal no câmpus da Universidade Federal de
Lavras (UFLA) e mantidos em sala climatizada regulada a 25±2
o
C, UR de
70±10% e fotofase de 12 horas. As larvas foram alimentadas ad libitum com
ovos de Anagasta kuehniella (Zeller) (Lepidoptera: Pyralidae) e os adultos com
lêvedo de cerveja e mel (1:1), conforme Freitas (2001). As pulverizações dos
produtos foram realizadas diretamente sobre as larvas de terceira geração de
primeiro, segundo e terceiro instares, com até 24 horas de idade, por meio de
torre de Potter calibrada para uma aplicação de 1,5±0,5 µL/cm
2
e regulada à
pressão de 15 lb/po1
2
. Empregaram-se as maiores dosagens recomendadas pelos
fabricantes para o controle do ácaro-vermelho e do ácaro da mancha-anular do
cafeeiro.
Após a aplicação dos produtos (Tabela 1), as larvas foram
individualizadas em tubos de vidro de 2,5 cm de diâmetro e 8,5 cm de altura e
alimentadas, a cada dois dias, de modo semelhante à criação de manutenção. Os
tubos foram vedados com filme laminado de PVC e mantidos em condições
climáticas semelhantes até a obtenção dos adultos.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado,
com oito tratamentos e oito repetições, cada uma composta por cinco larvas nos
respectivos ínstares. Avaliaram-se a duração e a sobrevivência das larvas de
primeiro, segundo e terceiro instares e de pupas.
Para avaliar o efeito dos compostos na reprodução de adultos oriundos
das larvas tratadas, logo após a emergência, sete casais por tratamento foram
individualizados em gaiolas cilíndricas de PVC de 10 cm de altura e 10 cm de
diâmetro, revestidas internamente com papel-filtro, tendo as partes inferiores
vedadas com filme laminado e as superiores fechadas com tecido tipo “voile”.
32
Os adultos foram alimentados com dieta à base de lêvedo de cerveja e mel (1:1
v/v), conforme metodologia de Freitas (2001).
TABELA 1. Nomes técnico e comercial, dosagens, grupos químicos e classes
toxicológicas dos compostos avaliados.
Nome técnico Nome comercial
Dosagem
g i.a./L
Grupo
químico
Classe
toxicológica
Espirodiclofeno Envidor 0,12 Cetoenol III
Fenpropatrina Meothrin 300 0,15 Piretroide I
Fenpropatrina Meothrin 300 0,3 Piretroide I
Enxofre Thiovit Sandoz 4,0 Inorgânico IV
Enxofre Thiovit Sandoz 8,0 Inorgânico IV
Abamectina Vertimec 18 EC 0,0067 Avermectina III
Abamectina Vertimec 18 EC 0,0225 Avermectina III
Após o período de pré-oviposição e a intervalos de três dias, avaliou-se,
durante quatro semanas consecutivas, o número de ovos colocados por fêmea.
Para avaliar a viabilidade dos ovos, foram coletados 96 ovos por tratamento que
foram individualizados em compartimentos de placas de microtitulação e
mantidos em sala climatizada como descrito anteriormente.
Foi utilizado delineamento experimental inteiramente casualizado e cada
parcela foi composta por um casal. O número de tratamentos variou em função
da mortalidade provocada pelos compostos nas larvas dos três instares do
predador, tendo o número mínimo de repetições sido de sete.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as
médias dos tratamentos comparadas por meio do teste de agrupamento de Scott e
Knott, a 5% de significância (Scott & Knott, 1974).
33
O efeito total (E) de cada produto fitossanitário sobre C. externa foi
determinado em função da porcentagem de mortalidade e/ou da influência na
sua reprodução, sendo calculado por meio da fórmula E = 100% - (100% - M%)
x R1 x R2, proposta por Vogt (1992), sendo: E = efeito total (%); M% =
mortalidade no tratamento corrigida pela fórmula de Abbott (1925); R1 = razão
entre a média diária de ovos por fêmea tratada e não tratada e R2 = razão entre a
viabilidade média de ovos por fêmea tratada e não tratada. Após a obtenção do
efeito total, cada composto foi enquadrado nas classes de toxicidade propostas
pela IOBC (Boller et al., 2005), sendo: classe 1 = inofensivo ou levemente
nocivo (E<30%), classe 2 = moderadamente nocivo (30E79%), classe 3 =
nocivo (80E99%) e classe 4 = nocivo (E>99%).
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A duração das larvas tratadas no primeiro ínstar foi afetada por todos os
compostos avaliados, com médias que variaram de 3,7 a 4,5 dias. Esses
resultados assemelham-se aos de Fonseca et al. (2001) e Silva et al. (2002), para
larvas alimentadas com Schizaphis graminum (Rondani, 1852) e lagartas de
Alabama argillacea (Hübner, 1818). Fenpropatrina, nas duas concentrações,
provocou a morte imediata de 100,0% dos insetos, impossibilitando a avaliação
de outros parâmetros biológicos (Tabela 2). A alta mortalidade provocada por
esse piretroide também foi observada por Godoy et al. (2004), quando aplicaram
deltametrina, na dosagem de 0,0125 g i.a./L, em larvas de primeiro instar de C.
externa. Resultado comum também foi encontrado por Carvalho et al. (2002)
que, ao aplicarem fenpropatrina na dosagem de 0,09 g i.a./L em larvas de
primeiro instar dessa mesma espécie de inseto, constataram 100,0% de
mortalidade.
34
TABELA 2. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de Chrysoperla externa do primeiro, segundo e terceiro
estádios, provenientes das larvas de primeiro instar tratadas com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase
12 horas.
Primeiro instar Segundo instar Terceiro instar
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 3,1±0,04 a 97,5±0,88 d 2,8±0,04 a 97,5±0,88 b 2,9±0,09 a 100,0±0,00 b
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 3,7±0,03 b 92,5±1,29 d 2,9±0,03 a 92,5±1,86 b 2,7±0,03 a 100,0±0,00 b
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L - 0,0±0,00 a
* * * *
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L - 0,0±0,00 a
* * * *
Enxofre 4,0 g i.a./L 3,7±0,03 b 87,5±1,86 d 2,9±0,02 a 100,0±0,00 b 2,5±0,05 a 100,0±0,00 b
Enxofre 8,0 g i.a./L 3,8±0,03 b 95,0±1,16 d 2,9±0,01 a 100,0±0,00 b 2,7±0,03 a 100,0±0,00 b
Abamectina 0,0067 g i.a./L 4,5±0,14 c 72,5±2,65 c 3,2±0,09 a 96,9±1,10 b 3,1±0,18 a 100,0±0,00 b
Abamectina 0,0225 g i.a./L 4,0±0,07 c 40,0±2,99 b 3,7±0,16 b 80,9±4,37 a 2,4±0,05 a 93,7±1,45 a
CV (%) 16,9 22,5 22,9 19,8 - 5,5
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott (P<0,05).
*
Mortalidade de 100% de larvas.
34
35
A duração das larvas de segundo estádio, provenientes das larvas de
primeiro tratadas, foi afetada somente por abamectina a 0,0225 g i.a./L e aquelas
de terceiro estádio não sofreram efeito dos produtos (Tabela 2). Esses resultados
corroboram os de Silva et al. (2005), que observaram que enxofre (Kumulus 800
PM), a 4,0 g i.a./L, não afetou a duração de larvas de segundo e terceiro instares
de C. externa oriundas de larvas de primeiro estádio tratadas.
Observou-se que somente abamectina a 0,0225 g i.a./L causou redução
de sobrevivência dos estádios larvais do predador, com médias de 40,0%, 80,9%
e 93,7%, para o primeiro, segundo e terceiro instares, respectivamente (Tabela
2).
À exceção de abamectina, a duração da fase larval não foi afetada pelos
compostos avaliados (Tabela 3). Esses resultados assemelham-se aos de Silva et
al. (2005) que, ao aplicarem enxofre (Kumulus 800 PM) a 4 g i.a./L em larvas de
primeiro instar dessa mesma espécie, verificaram média de 8,3 dias.
Comparativamente, os resultados encontrados são próximos àqueles obtidos
quando foram utilizados como alimento das larvas pulgões da espécie Schizaphis
graminum (Rondani, 1952), cuja duração variou de 9 a 10,9 dias (Maia et al.,
2000; Fonseca et al., 2001).
Somente abamectina nas duas concentrações testadas reduziu a
porcentagem de sobrevivência na fase larval, com médias de 89,8% e 71,5%,
respectivamente (Tabela 3). Silva (2004) também observou que a sobrevivência
de larvas tratadas com enxofre não diferiu significativamente do tratamento
testemunha.
A duração e a sobrevivência nas fases de pré-pupa e pupa não foram
afetadas pelos compostos espirodiclofeno, enxofre e abamectina (Tabela 3), fato
também observado por Silva et al. (2005). Esta inocuidade poderá estar
associada à degradação de alguns compostos pelo sistema enzimático das larvas
de C. externa.
36
TABELA 3. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de Chrysoperla externa nas fases de larva, pré-pupa e pupa,
provenientes de larvas de primeiro instar tratadas com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Fase de larva Fase de pré-pupa Fase de pupa
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 8,9±0,09 a 98,3±0,39 c 3,5±0,02 a 100,0±0,00 a 7,7±0,04 a 100,0±0,00 a
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 9,3±0,05 a 95,0±0,59 c 3,2±0,03 a 100,0±0,00 a 7,8±0,02 a 93,7±1,45 a
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L
* * * * * *
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L
* * * * * *
Enxofre 4,0 g i.a./L 9,1±0,05 a 95,8±0,62 c 3,5±0,04 a 100,0±0,00 a 7,8±0,05 a 97,5±0,88 a
Enxofre 8,0 g i.a./L 9,4±0,05 a 98,3±0,39 c 3,3±0,04 a 100,0±0,00 a 8,0±0,04 a 95,0±1,16 a
Abamectina 0,0067 g i.a./L 10,8±0,21 b 89,8±0,89 b 3,3±0,08 a 100,0±0,00 a 8,3±0,12 a 93,3±1,61 a
Abamectina 0,0225 g i.a./L 10,1±0,13 b 71,5±2,04 a 3,5±0,04 a 100,0±0,00 a 7,7±0,03 a 100,0±0,00 a
CV (%) 11,0 10,1 - - - -
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott
(P<0,05).
*
Mortalidade de 100% de larvas.
36
37
Com relação ao efeito total (E) dos acaricidas sobre a mortalidade dos
insetos e a reprodução dos adultos oriundos de larvas de primeiro instar tratadas,
espirodiclofeno, enxofre e abamectina a 0,0067 g i.a./L foram enquadrados na
classe 2 = moderadamente nocivos (Tabela 4). Godoy et al. (2004) também
observaram que, ao ser empregado abamectina a 0,0054 g i.a./L, em larvas de
primeiro instar de C. externa, esta mostrou-se moderadamente nocivo.
Os compostos fenpropatrina, nas dosagens de 0,15 g i.a./L e 0,3 g i.a./L e
abamectina a 0,0225 g i.a./L, foram nocivos (classe 4) quando aplicados em
larvas de primeiro instar de C. externa. Esses resultados confirmam os de Godoy
(2002) que, empregando a tática de placas de vidro contaminadas com o
piretroide deltametrina a 0,0125 g i.a./L e do mesmo grupo químico da
fenpropatrina, observou alta toxicidade do composto para larvas de primeiro
instar.
A duração das larvas de segundo instar tratadas foi afetada pela
fenpropatrina, nas dosagens de 0,15 g i.a./L e 0,3 g i.a./L e abamectina a 0,0225
g i.a./L, com médias de 2,8; 2,7 e 2,6 dias, respectivamente (Tabela 5).
Observou-se que as larvas de segundo instar tratadas com fenpropatrina
sofreram um choque inicial, permanecendo imóveis por até 14 horas, findo o
qual, começaram a se recuperar e iniciaram a alimentação. Possivelmente, isso
ocorreu em função da capacidade das larvas nesse instar em degradar o
composto, o que não foi constatado para as larvas de primeiro estádio. Essas
observações coincidem com a sintomatologia descrita por Silva (2004) que, ao
aplicar o piretroide betaciflutrina em larvas de C. externa, observou que suas
atividades cessaram por um período maior do que 12 horas. Rigitano &
Carvalho (2001) relataram que os piretroides têm efeito de choque acentuado,
contudo, permitem, em certos casos, a recuperação dos insetos, fato esse
também constatado no presente estudo.
38
TABELA 4. Mortalidade (%) de Chrysoperla externa, número médio de ovos/dia/fêmea, viabilidade dos ovos (%) e
efeito total seguido pela classificação de toxicidade dos compostos aplicados sobre o predador no primeiro estádio larval.
Temperatura de 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase de 12 horas.
Tratamentos
mero inicial de larvas
de 1
o
ínstar
M
1
Mc
2
R’
3
R”
4
E
5
Classe
6
Testemunha (água) 40 22,5 - 1 1 - -
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 40 45,0 29,0 1,0 0,9 31,1 2
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 40 100,0 100,0 0,0 0,0 100,0 4
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 40 100,0 100,0 0,0 0,0 100,0 4
Enxofre 4,0 g i.a./L 40 22,5 0,0 0,7 0,8 44,9 2
Enxofre 8,0 g i.a./L 40 27,5 6,5 0,7 1,0 37,3 2
Abamectina 0,0067 g i.a./L 40 42,5 25,8 0,8 1,0 41,0 2
Abamectina 0,0225 g i.a./L 40 72,5 64,5 0,0 0,0 100,0 4
1
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos.
2
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos, corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Número médio de ovos/dia/fêmea durante quatro semanas consecutivas, a partir do início de oviposição.
4
Viabilidade (%) dos ovos durante quatro semanas consecutivas.
5
Efeito total dos compostos (%).
6
Classe de toxicidade da IOBC: classe = 2 moderadamente nocivo (30E79%) e classe= 4 nocivo (E>99%).
38
39
TABELA 5. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de Chrysoperla externa de segundo e terceiro estádios e
fases de pré-pupa e pupa, provenientes de larvas de segundo instar tratadas com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR
70±10% e fotofase 12 horas.
Segundo instar Terceiro instar Fase de pré-pupa Fase de pupa
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 2,3±0,06 a 100,0±0,00 b 4,1±0,02 b 100,0±0,00 a 7,5±0,03 b 97,5±0,88 a 2,2±0,06 a 100,0±0,00 c
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 2,3±0,04 a 92,5±1,86 b 3,8±0,03 b 100,0±0,00 a 6,4±0,02 a 100,0±0,00 a 3,6±0,14 b 94,4±1,31 c
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 2,8±0,04 b 75,0±1,77 a 3,9±0,10 b 100,0±0,00 a 7,4±0,06 b 100,0±0,00 a 3,8±0,08 b 77,7±2,66 b
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 2,7±0,04 b 65,0±1,77 a 3,2±0,06 a 100,0±0,00 a 8,2±0,06 c 91,6±2,16 a 4,7±0,23 c 46,9±4,05 a
Enxofre 4,0 g i.a./L 2,5±0,02 a 100,0±0,00 b 3,7±0,05 b 100,0±0,00 a 7,5±0,04 b 100,0±0,00 a 3,2±0,18 a 97,5±0,88 c
Enxofre 8,0 g i.a./L 2,3±0,04 a 93,3±2,50 b 3,9±0,02 b 100,0±0,00 a 7,5±0,02 b 97,5±0,88 a 2,7±0,04 a 100,0±0,00 c
Abamectina 0,0067 g i.a./L 2,3±0,05 a 92,5±1,29 b 3,9±0,03 b 100,0±0,00 a 7,6±0,03 b 100,0±0,00 a 2,7±0,04 a 97,5±0,88 c
Abamectina 0,0225 g i.a./L 2,6±0,02 b 92,5±1,29 b 3,5±0,02 a 100,0±0,00 a 7,4±0,03 b 97,5±0,88 a 2,9±0,04 a 100,0±0,00 c
CV (%) 12,8 14,3 9,8 - 4,0 - 30,4 16,4
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott (P<0,05).
39
40
O atraso no início da alimentação de larvas tratadas com fenpropatrina
pode ter contribuído para o aumento na duração do segundo instar e a
consequente diferenciação dos demais tratamentos (Tabela 5).
Larvas de terceiro instar provenientes daquelas de segundo instar que
receberam os compostos tiveram a sua duração reduzida por fenpropatrina a 0,3
g i.a./L e abamectina a 0,0225 g i.a./L, com médias de 3,2 e 3,5 dias,
respectivamente.
Quanto à fase de pré-pupa, espirodiclofeno foi o único produto que
reduziu esta característica biológica, com média de 6,4 dias. Para os outros
acaricidas e, especialmente, a fenpropatrina na maior concentração, encontrou-se
um período significativamente maior, representando 8,2 dias.
Referente a pupas, observou-se que espirodiclofeno 0,12 g i.a./L e
fenpropatrina, nas dosagens de 0,15 g i.a./L e 0,30 g i.a./L, aumentaram a
duração dessa fase, com médias de 3,6; 3,8 e 4,7 dias, respectivamente (Tabela
5).
Somente fenpropatrina causou redução da porcentagem de sobrevivência
de larvas de pupas provenientes de segundo instar tratadas, e as larvas de
terceiro instar e as pré-pupas não foram afetadas (Tabela 5).
À exceção do enxofre, que foi enquadrado na classe 1 = levemente
nocivo e fenpropatrina a 0,3 g i.a./L na classe 4, os demais compostos aplicados
às larvas de segundo instar foram enquadrados na classe 2 = moderadamente
nocivos (Tabela 6). Resultados semelhantes foram encontrados por Silva et al.
(2005) que enquadraram o enxofre a 4 g i.a./L na classe 1 e Godoy et al. (2004)
que inseriram deltametrina a 0,0125 g i.a./L na classe 4.
41
TABELA 6. Mortalidade, em % de Chrysoperla externa, número de ovos/dia/fêmea, viabilidade dos ovos, em % e
efeito total (E) e classificação de toxicidade dos compostos aplicados em larvas de segundo estádio. Temperatura
25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Tratamentos
Número inicial de
larvas de 2
o
ínstar
M
1
Mc
2
R’
3
R”
4
E
5
Classe
6
Testemunha (água) 40 20,0 - 1 1 - -
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 40 47,5 34,4 0,8 1,0 48,1 2
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 40 52,5 40,6 0,7 0,9 59,9 2
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 40 80,0 75,0 0,0 0,0 100,0 4
Enxofre 4,0 g i.a./L 40 30,0 12,5 0,8 1,0 27,4 1
Enxofre 8,0 g i.a./L 40 37,5 21,9 1,0 0,9 26,4 1
Abamectina 0,0067 g i.a./L 40 27,5 9,4 0,8 1,0 30,9 2
Abamectina 0,0225 g i.a./L 40 40,0 25,0 0,7 0,9 51,6 2
1
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos.
2
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos, corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Número médio de ovos/dia/fêmea durante quatro semanas consecutivas, a partir do início de oviposição.
4
Viabilidade (%) dos ovos durante quatro semanas consecutivas.
5
Efeito total dos compostos (%).
6.
Classe de toxicidade da IOBC: classe = 1 inofensivo ou levemente nocivo (E<30%), classe = 2 moderadamente nocivo
(30E79%) e classe 4, nocivo (E>99%).
41
42
As larvas de terceiro instar tratadas com fenpropatrina permaneceram
como se estivessem mortas por um período de 8 horas, findo o qual começaram
a se recuperar, iniciando a alimentação, acarretando, com isso, maior duração
nesse instar em relação aos demais tratamentos (Tabela 7). O comportamento
observado demonstra a capacidade de desintoxicação das larvas nesse estádio a
piretroides de forma comum às larvas de segundo estádio. Essas observações
assemelham-se àquelas descritas por Silva (2004), quando utilizaram o
piretroide betaciflutrina em larvas de terceiro instar de C. externa e verificaram
também paralisação dos insetos por um período de 6 horas.
Somente fenpropatrina a 0,3 g i.a./L reduziu a sobrevivência de larvas de
terceiro instar tratadas, com média de 80,0%. Após as larvas terem sofrido o
efeito do acaricida e, provavelmente, passarem por uma condição de
desintoxicação, a duração e a sobrevivência de pré-pupas não foram afetadas por
nenhum produto; entretanto, as pupas tiveram a duração reduzida por
fenpropatrina a 0,15 g i.a./L e por enxofre 4,0 g i.a./L e a sobrevivência variando
de 97,5% a 100,0% (Tabela 7).
Em função do efeito total (E) de cada produto, espirodiclofeno 0,12 g
i.a./L, fenpropatrina 0,15 g i.a./L e 0,3 g i.a./L e enxofre a 8,0 g i.a./L foram
enquadrados na classe 2 = moderadamente nocivo e os demais inseridos na
classe 1 = levemente nocivos (Tabela 8).
43
TABELA 7. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de Chrysoperla externa no terceiro estádio larval e fases de
pré-pupa e pupa provenientes de larvas de terceiro instar tratadas com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e
fotofase 12 horas.
Terceiro instar Fase de pré-pupa Fase de pupa
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 2,3±0,05 a 100,0±0,00 b 3,3±0,05 a 100,0±0,00 a 6,3±0,04 b 100,0±0,00 a
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 2,4±0,04 a 100,0±0,00 b 3,2±0,02 a 100,0±0,00 a 6,4±0,03 b 100,0±0,00 a
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 3,5±0,09 c 100,0±0,00 b 3,0±0,04 a 100,0±0,00 a 6,0±0,08 a 97,5±0,88 a
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 3,0±0,04 b 80,0±2,31 a 3,2±0,04 a 100,0±0,00 a 6,5±0,03 b 97,5±0,88 a
Enxofre 4,0 g i.a./L 2,3±0,03 a 100,0±0,00 b 3,1±0,03 a 100,0±0,00 a 6,1±0,05 a 100,0±0,00 a
Enxofre 8,0 g i.a./L 2,6±0,05 a 95,0±1,16 b 3,2±0,02 a 100,0±0,00 a 6,6±0,03 b 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0067 g i.a./L 2,3±0,04 a 100,0±0,00 b 3,3±0,03 a 100,0±0,00 a 6,4±0,03 b 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0225 g i.a./L 2,6±0,07 a 100,0±0,00 b 3,2±0,03 a 100,0±0,00 a 6,3±0,06 b 97,5±0,88 a
CV (%) 16,5 7,6 - - 5,9 -
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo teste de Scott e Knott (P<0,05).
43
44
TABELA 8. Mortalidade, em % de Chrysoperla externa, número de ovos/dia/fêmea, viabilidade dos ovos, em %,
efeito total (E) e classificação de toxicidade dos compostos aplicados em larvas de terceiro estádio. Temperatura
25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Tratamentos
Número inicial de
larvas de 3
o
ínstar
M
1
Mc
2
R’
3
R”
4
E
5
Classe
6
Testemunha (água) 40 0 - 1 1 - -
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 40 30,0 30,0 0,8 0,8 53,3 2
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 40 25,0 25,0 0,9 1,0 30,9 2
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 40 55,0 55,0 0,6 1,0 71,9 2
Enxofre 4,0 g i.a./L 40 22,5 22,5 1,0 1,0 27,5 1
Enxofre 8,0 g i.a./L 40 37,5 37,5 0,7 0,9 53,9 2
Abamectina 0,0067 g i.a./L 40 12,5 12,5 0,9 1,0 20,6 1
Abamectina 0,0225 g i.a./L 40 17,5 17,5 0,9 1,0 25,2 1
1.
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos.
2.
Mortalidade (%) acumulada de insetos até a emergência de adultos, corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3.
Número médio de ovos/dia/fêmea durante quatro semanas consecutivas, a partir do início de oviposição.
4.
Viabilidade (%) dos ovos durante quatro semanas consecutivas.
5.
Efeito total dos compostos (%).
6.
Classe de toxicidade da IOBC: classe = 1 inofensivo ou levemente nocivo (E<30%) e classe = 2 moderadamente nocivo
(30E79%).
44
45
6 CONCLUSÕES
Fenpropatrina é nocivo ao crisopídeo C. externa.
Os produtos espirodiclofeno e abamectina são moderadamente nocivos.
Enxofre é levemente nocivo a C. externa, podendo ser recomendado em
programas de manejo de pragas, visando à preservação desse predador.
7 AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pela concessão de recursos financeiros que proporcionaram
ao primeiro autor a realização de seu mestrado.
46
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50
CAPÍTULO 4
Seletividade de acaricidas utilizados em cafeeiro para pré-pupas e adultos
de crisopídeos
O capítulo 4 será transcrito em formato de artigo e encaminhado para submissão
ao Periódico Científico Arquivos do Instituto Biológico
51
1 RESUMO
Avaliaram-se os efeitos de espirodiclofeno (Envidor – 0,12 g i.a./L),
fenpropatrina (Meothrin 300 – 0,15 e 0,30 g i.a./L), enxofre (Thiovit Sandoz
4,0 e 8,0 g i.a./L) e abamectina (Vertimec 18 EC – 0,0067 e 0,0225 g i.a./L) em
Chrysoperla externa (Hagen), nas fases de pré-pupa e adulta. As pulverizações
dos compostos foram realizadas diretamente sobre pré-pupas e adultos do
crisopídeo por meio de torre de Potter. Em seguida, as pré-pupas foram
colocadas em tubos de vidro e os adultos em gaiolas de PVC, sendo mantidos
em sala climatizada a 25±2
o
C, UR de 70±10% e fotofase de 12 horas. Os
compostos foram enquadrados em classes de toxicidade, de acordo com o seu
efeito total (E), seguindo recomendações da IOBC. Constatou-se que
espirodiclofeno, fenpropatrina e abamectina foram moderadamente nocivos para
C. externa na fase de pré-pupa e enxofre é levemente nocivo. Para adultos,
fenpropatrina foi nocivo; espirodiclofeno, abamectina e enxofre (8,0 g i.a./L)
foram moderadamente nocivos e enxofre (4,0 g i.a./L) mostrou-se levemente
nocivo. Em função da baixa toxicidade apresentada por enxofre (4,0 g i.a./L),
esse composto poderá ser recomendado em programas de manejo de pragas do
cafeeiro visando à conservação dessa espécie de predador.
52
2 ABSTRACT
The effects of spirodiclofen (Envidor - 0.12 g a.i./L), fenpropathrin
(Meothrin 300 - 0.15 and 0.30 g a.i./L), sulphur (Thiovit Sandoz - 4.0 and 8.0 g
a.i./L) and abamectin (Vertimec 18 CE - 0.0067 and 0.0225 g a.i./L) to pre-
pupae and adults of Chrysoperla externa (Hagen) were evaluated. The sprayings
of the acaricides were accomplished directly on pre-pupae and adults of green
lacewing, using a Potter’s tower. Then, the pre-pupae were placed in glass tubes
and the adults in PVC cages and maintained in climatic chambers at 25±2
o
C, RH
of 70±10% and 12 hour photophase. The pesticides were classified in classes of
toxicity according to their total effect (E), following recommendations to IOBC
proposed scale. Spirodiclofen, fenpropathrin and abamectin were moderately
harmful to C. externa at the pre-pupa and sulphur was slightly harmful. For
adults the acaricide fenpropathrin was harmful; spirodiclofen, abamectin and
sulphur (8.0 g a.i./L) were harmful moderately, and sulphur (4.0 g a.i./L) was
slightly harmful. Based in the reduced toxicity presented by the pesticide sulphur
(4.0 g a.i./L), it can be recommended in coffee pest management programs to
promote the conservation of this species of predator.
53
3 INTRODUÇÃO
O gênero Coffea destaca-se dentre os 500 da família Rubiaceae pela
importância econômica, sendo o café arábica (Coffeea arabica L.) e o café
robusta (Coffeea canephora Pierre & Froehner) os mais importantes no mercado
mundial (Carneiro, 1997).
Na cultura cafeeira encontram-se diversas espécies de artrópodes-praga,
destacando-se o ácaro vermelho Oligonychus ilicis (McGregor, 1917)
(Tetranychidae) e o da mancha-anular Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939)
(Tenuipalpidae), os quais, normalmente, causam prejuízos econômicos. O
controle desses ácaros é realizado principalmente por meio de acaricidas, os
quais, geralmente, são tóxicos aos inimigos naturais (Reis et al., 2002).
Por ser uma planta perene, o cafeeiro apresenta condições favoráveis ao
aumento populacional dos inimigos naturais que podem atingir níveis capazes de
reduzir populações de pragas, o que é vantajoso para a implantação de medidas
de controle integrado (Reis & Souza, 1998; Gliessman, 2001). Os crisopídeos
são importantes inimigos naturais que ocorrem naturalmente na cultura cafeeira
(Carvalho & Souza, 2000). Predador efetivo com alta capacidade reprodutiva e
de busca, os crisopídeos contribuem para a regulação da densidade populacional
de várias espécies fitófagas. Uma das espécies de crisopídeos mais frequentes
em muitos cultivos é a Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera:
Chrysopidae) (Berti Filho et al., 2000; Fonseca et al., 2001; Souza & Carvalho,
2002).
Estudo de Silva et al. (2006b) demonstrou que larvas da espécie C.
externa são eficientes em predar o ácaro B. phoenicis, atuando como organismo
auxiliar na regulação da densidade populacional de tal ácaro-praga em
agroecossistemas cafeeiros. Ao se estabelecer um programa de manejo integrado
de pragas na cultura cafeeira, a preservação de crisopídeos e de outros inimigos
54
naturais deve ser considerada. Isso dependerá da compatibilidade com os outros
métodos de controle, principalmente o químico. Dessa forma, estudos que
busquem informações a respeito do impacto de pesticidas sobre agentes
benéficos devem ser incentivados (Carvalho et al., 2003).
Considerando a importância de C. externa como agente regulador de
populações de ácaros-praga e a fim de gerar subsídios para o manejo integrado
de pragas na cultura cafeeira, este trabalho foi realizado com o objetivo de
estudar a seletividade fisiológica de alguns acaricidas registrados para o controle
de O. ilicis e de B. phoenicis para essa espécie de crisopídeo nas fases de pré-
pupa e adulta.
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Efeitos dos produtos sobre pré-pupas
Para cada tratamento (Tabela 1) utilizaram-se 40 pré-pupas de C. externa
com até 24 horas de idade, na terceira geração, obtidas da criação de laboratório.
As pré-pupas foram colocadas em placas de Petri de 15 cm de diâmetro e 2 cm
de altura, nas quais receberam os compostos via pulverização em torre de Potter
calibrada para uma aplicação de 1,5±0,5 µL cm
-2
e regulada à pressão de 15 lb
pol
-2
.
Em seguida, após a secagem, as pupas foram individualizadas em tubos
de vidro de 2,5 cm de diâmetro e 8,5 cm de altura, vedados com filme de PVC
laminado e mantidos em câmara climatizada regulada a 25±2°C, umidade
relativa de 70±10% e fotofase de 12 horas. O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, com oito tratamentos e oito repetições, sendo cada
repetição constituída de cinco pré-pupas. Foram avaliadas a duração e a
sobrevivência das pré-pupas e das pupas e o número de machos e fêmeas
emergidos para a determinação da razão sexual.
55
TABELA 1. Nomes técnico e comercial, dosagens, grupos químicos e classes
toxicológicas dos compostos avaliados.
Nome técnico Nome comercial
Dosagem
g i.a./L
Grupo
químico
Classe
toxicológica
Espirodiclofeno Envidor 0,12 Cetoenol III
Fenpropatrina Meothrin 300 0,15 Piretroide I
Fenpropatrina Meothrin 300 0,3 Piretroide I
Enxofre Thiovit Sandoz 4,0 Inorgânico IV
Enxofre Thiovit Sandoz 8,0 Inorgânico IV
Abamectina Vertimec 18 EC 0,0067 Avermectina III
Abamectina Vertimec 18 EC 0,0225 Avermectina III
Os adultos provenientes de pré-pupas tratadas foram separados em casais
e individualizados em gaiolas de PVC de 10 cm de altura e 10 cm de diâmetro,
revestidas internamente com papel-filtro, tendo as partes superiores fechadas
com tecido tipo “voile” e as inferiores vedadas com filme de PVC laminado. Os
adultos foram alimentados com lêvedo de cerveja e mel (1:1 v/v) conforme
Freitas (2001). As gaiolas foram mantidas em sala climatizada regulada a
25±2
o
C, umidade relativa de 70±10% e fotofase de 12 horas.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com oito
tratamentos e sete repetições, sendo cada uma composta por um casal. Durante
quatro semanas consecutivas, realizou-se a contagem diária dos ovos colocados.
A cada semana, 96 ovos por tratamento foram retirados das gaiolas e
individualizados em placas de microtitulação fechadas com PVC laminado e
mantidas em sala climatizada, nas mesmas condições descritas anteriormente.
Avaliaram-se os números diário e total de ovos colocados por fêmea, nas quatro
semanas consecutivas a partir do início de oviposição e a viabilidade dos
mesmos.
56
4.2 Efeitos dos produtos sobre adultos
Quinze casais de adultos de C. externa, com até 24 horas de idade,
obtidos da quarta geração de laboratório, foram anestesiados em baixa
temperatura e tratados com os produtos em pulverização, por meio de torre de
Potter. Em seguida, cada casal foi individualizado em gaiola de PVC de 10 cm
de diâmetro e 10 cm de altura e mantido nas mesmas condições climáticas e de
alimentação empregadas no ensaio anterior.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com oito
tratamentos e quinze repetições, sendo cada repetição constituída por um casal
de C. externa. Foram avaliados a mortalidade, os números diário e total de ovos
por fêmea, durante quatro semanas consecutivas, a partir da primeira oviposição
e a viabilidade dos ovos.
4.3 Análise dos dados
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias
dos tratamentos comparadas pelo teste de Scott e Knott, a 5% de significância
(Scott & Knott, 1974).
O efeito total (E) de cada produto foi determinado por meio da fórmula
E = 100% - (100% - M%) x R1 x R2, proposta por Vogt (1992), sendo: E =
efeito total (%); M% = mortalidade no tratamento corrigida pela fórmula de
Abbott (1925); R1 = razão entre a média diária de ovos colocados por fêmea
tratada e não tratada e R2 = razão entre a viabilidade média de ovos colocados
por fêmea tratada e não tratada. Após a obtenção do efeito total, cada composto
foi enquadrado em uma das quatro classes de toxicidade propostas por Boller et
al. (2005), sendo: classe 1 = inofensivo ou levemente nocivo (E<30%), classe 2
= moderadamente nocivo (30E79%), classe 3 = nocivo (80E99%) e classe
4 = nocivo (E>99%).
57
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A duração da fase de pré-pupa foi influenciada por todos os compostos,
ocorrendo redução nesse período, à exceção de fenpropatrina 0,15 g i.a./L, que
apresentou média de 3,4 dias. Referente a pupas, somente fenpropatrina e
abamectina, nas menores dosagens, não afetaram essa característica biológica,
com médias de 6,6 e 6,5 dias, respectivamente (Tabela 2). Esses resultados
diferem daqueles encontrados por Silva et al. (2006a) que aplicaram enxofre
(Kumulus 800 PM - 4,0 g i.a./L) e betaciflutrina (0,013 g i.a./L) sobre pupas de
C. externa e não constataram redução na duração dessa fase. Isso pode estar
relacionado ao fato de que, no presente trabalho, os acaricidas foram aplicados
quando os insetos encontravam-se na fase de pré-pupa.
Levando-se em consideração que o casulo é formado por várias camadas
de seda (Canard & Principi, 1984) e que, nas primeiras 24 horas da fase de pré-
pupa, nem todas as camadas estão formadas, isso pode ter contribuído para
maior penetração dos compostos, tornando os insetos mais suscetíveis aos seus
efeitos.
Em relação à sobrevivência de pré-pupas e pupas e mesmo não diferindo
significativamente, o piretroide fenpropatrina na maior concentração permitiu
sobrevivência de 97,5% das pupas (Tabela 2), assemelhando-se aos resultados
de Godoy et al. (2004), que aplicaram deltametrina (0,0125 g i.a./L), do mesmo
grupo químico de fenpropatrina, em pupas de C. externa e verificaram média de
96,7%. Enxofre permitiu mais de 95,0% de sobrevivência de pupas,
concordando com dados biológicos obtidos por Maia et al. (2000), Fonseca et al.
(2001) e Silva et al. (2002) que constataram cerca de 95,0% de sobrevivência
para pupas provenientes de larvas que se alimentaram de Schizaphis graminum
(Rondani, 1852) e lagartas de Alabama argillacea (Hübner, 1818).
58
TABELA 2. Duração, em dias e sobrevivência, em % (±EP) de Chrysoperla
externa nas fases de pré-pupa e pupa provenientes de pré-pupas tratadas com
acaricidas. Temperatura 25±2
o
C, UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Fase de pré-pupa Fase de pupa
Tratamentos
Duração Sobrevivência Duração Sobrevivência
Testemunha (água) 3,6±0,03 c 100,0±0,00 a 6,7±0,02 b 100,0±0,00 a
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 3,0±0,01 a 100,0±0,00 a 6,2±0,05 a 100,0±0,00 a
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 3,4±0,05 c 100,0±0,00 a 6,6±0,03 b 100,0±0,00 a
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 3,2±0,02 b 100,0±0,00 a 5,9±0,08 a 97,5±0,88 a
Enxofre 4,0 g i.a./L 3,1±0,02 b 100,0±0,00 a 6,4±0,05 a 95,0±1,16 a
Enxofre 8,0 g i.a./L 3,2±0,03 b 100,0±0,00 a 6,2±0,04 a 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0067 g i.a./L 2,9±0,02 a 100,0±0,00 a 6,5±0,07 b 100,0±0,00 a
Abamectina 0,0225 g i.a./L 2,9±0,01 a 100,0±0,00 a 6,3±0,05 a 100,0±0,00 a
CV (%) 9,3 - 6,6 4,2
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si, pelo
teste de Scott e Knott (P<0,05).
A razão sexual dos insetos provenientes de pré-pupas tratadas não foi
afetada por nenhum dos compostos avaliados (p>0,05), com médias variando de
0,50 a 0,62, confirmando os resultados de Silva et al. (2006a), que observaram
valores de 0,47 a 0,55 para adultos provenientes de pupas tratadas com vários
compostos, inclusive dos mesmos grupos químicos usados no presente trabalho.
Referente ao efeito total (E) dos acaricidas, verificou-se que
fenpropatrina na menor dosagem, enxofre (4,0 e 8,0 g i.a./L) e abamectina
(0,0067 g i.a./L) foram enquadrados na classe 1 de toxicidade, sendo
considerados inofensivos ou levemente nocivos (E<30%). Espirodiclofeno,
fenpropatrina e abamectina, nas maiores concentrações, foram classificados
como moderadamente nocivos (30E79%), classe 2 (Tabela 3).
59
TABELA 3. Mortalidade, em % de Chrysoperla externa, número de
ovos/dia/fêmea, viabilidade dos ovos, em %, efeito total (E) e classificação de
toxicidade dos compostos aplicados, em pré-pupas. Temperatura 25±2
o
C, UR
70±10% e fotofase 12 horas.
Tratamentos
N
o
inicial
de
pré-pupas
M
1
Mc
2
R’
3
R”
4
E
5
Classe
6
Testemunha (água) 40 2,5 - 1 1 - -
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 40 7,5 5,1 0,8 0,8 38,7 2
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 40 10,0 7,7 0,9 1,0 21,5 1
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 40 15,0 12,8 0,7 0,9 43,0 2
Enxofre 4,0 g i.a./L 40 5,0 2,6 0,8 1,0 25,6 1
Enxofre 8,0 g i.a./L 40 10,0 7,7 0,8 0,9 24,4 1
Abamectina 0,0067 g i.a./L 40 7,5 5,1 0,9 0,9 23,1 1
Abamectina 0,0225 g i.a./L 40 10,0 7,7 0,6 0,9 53,0 2
1
Mortalidade (%) acumulada de insetos nas fases de pré-pupa e pupa.
2
Mortalidade (%) de insetos nas fases de pré-pupa e pupa corrigida pela fórmula de
Abbott (1925).
3
Número médio de ovos/dia/fêmea, durante quatro semanas consecutivas a partir do
início de oviposição.
4
Viabilidade (%) dos ovos durante quatro semanas consecutivas.
5
Efeito total dos compostos (%).
6
Classe de toxicidade da IOBC: classe 1, inofensivo ou levemente nocivo (E<30%) e
classe 2, moderadamente nocivo (30E79%).
Esses resultados corroboram os de Godoy et al. (2004) que, ao testarem
os efeitos de deltametrina (0,0125 g i.a./L) e abamectina (0,0054 g i.a./L) sobre
C. externa em diferentes fases de desenvolvimento, constataram que a fase de
60
pupa foi a mais tolerante, possivelmente pela proteção proporcionada pela seda
que forma o casulo.
Quando os acaricidas foram pulverizados em adultos, fenpropatrina nas
duas concentrações testadas foi nocivo, ocasionando 100,0% de mortalidade na
maior concentração, sendo enquadrada na classe 4 (Tabela 4). Esse resultado
confirma os de Godoy et al. (2004) que, ao tratarem adultos de C. externa com
deltametrina, verificaram morte de 100,0% das espécies.
Fenpropatrina, na menor dosagem e abamectina, nas duas concentrações
utilizadas, causaram 60,0%, 40,0% e 67,0% de mortalidade, respectivamente. Os
porcentuais de mortalidade observados nos demais tratamentos foram inferiores
ou iguais a 30,0% (Tabela 4).
Os adultos de C. externa tratados com fenpropatrina (0,15 g i.a./L)
sofreram efeito knock down, permanecendo como se estivessem mortos por,
aproximadamente, 24 horas, tendo, após esse período, 40,0% se recuperado e
iniciado a alimentação. Esses resultados assemelham-se aos de Silva et al.
(2006a) que verificaram recuperação de adultos de C. externa após o efeito
knock down, quando foram pulverizados com betaciflutrina, na dosagem de
0,013 g i.a./L. Rigitano & Carvalho (2001) relataram que os piretroides possuem
efeito de choque acentuado, porém, os insetos tratados podem se recuperar e
desenvolver suas atividades normalmente.
Com relação ao efeito total (E) de cada produto, enxofre (4,0 g i.a./L) foi
enquadrado na classe 1 (levemente nocivo); espirodiclofeno, enxofre (8,0 g
i.a./L) e abamectina nas duas concentrações, na classe 2 (moderadamente
nocivos) e fenpropatrina, na classe 4 (nocivo) (Tabela 4).
61
TABELA 4. Mortalidade, em % de Chrysoperla externa, número de
ovos/dia/fêmea, viabilidade dos ovos, em %, efeito total (E) e classificação de
toxicidade dos compostos aplicados em adultos. Temperatura 25±2
o
C, UR
70±10% e fotofase 12 horas.
Tratamentos
N
o
inicial
de
adultos
M
1
Mc
2
R’
3
R”
4
E
5
Classe
6
Testemunha (água) 30 10 - 1 1,0 - -
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L 30 27 18,5 0,9 1,0 30,0 2
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L 30 60 55,6 0,0 0,0 100,0 4
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L 30 100 100,0 0,0 0,0 100,0 4
Enxofre 4,0 g i.a./L 30 10 - 0,8 1,0 26,0 1
Enxofre 8,0 g i.a./L 30 30 22,2 0,7 0,9 48,5 2
Abamectina 0,0067 g i.a./L 30 40 33,3 0,8 1,0 46,0 2
Abamectina 0,0225 g i.a./L 30 67 63,0 0,7 1,0 73,2 2
1
Mortalidade (%) acumulada de adultos tratados com os produtos até o 27
o
dia após o
período de pré-oviposição.
2
Mortalidade (%) acumulada de adultos tratados com os produtos até o 27
o
dia após o
período de pré-oviposição, corrigida pela fórmula de Abbott (1925).
3
Número médio de ovos/dia/fêmea durante quatro semanas consecutivas a partir do
início de oviposição.
4
Viabilidade (%) dos ovos durante quatro semanas consecutivas.
5
Efeito total dos compostos (%).
6
Classe de toxicidade da IOBC: classe 1, inofensivo ou levemente nocivo (E<30%),
classe 2, moderadamente nocivo (30 E79%) e classe 4, nocivo (E>99%).
Todos os compostos testados, à exceção de espirodiclofeno, causaram
redução no número de ovos/fêmea/dia, apresentando médias que variaram de 8,9
a 10,3, em comparação com o tratamento testemunha, no qual a média foi de
12,5 (Tabela 5).
62
TABELA 5. Oviposição diária e viabilidade, em % (± EP) de ovos oriundos de
adultos de Chrysoperla externa tratados com acaricidas. Temperatura 25±2
o
C,
UR 70±10% e fotofase 12 horas.
Tratamentos Oviposição diária Viabilidade
Testemunha (água)
12,5±0,17 a 93,4±0,75 a
Espirodiclofeno 0,12 g i.a./L
11,2±0,21 a 89,7±1,72 b
Fenpropatrina 0,15 g i.a./L
* *
Fenpropatrina 0,3 g i.a./L
* *
Enxofre 4,0 g i.a./L
9,7±0,32 b 87,0±1,07 b
Enxofre 8,0 g i.a./L
8,9±0,34 b 89,0±0,50 b
Abamectina 0,0067 g i.a./L
9,0±0,25 b 92,4±0,93 a
Abamectina 0,0225 g i.a./L
10,3±0,24 b 95,2±0,50 a
CV (%) 13,0 4,9
As médias seguidas das mesmas letras na coluna não diferem entre si, pelo teste
de Scott e Knott (P <0,05).
*
Número de insetos insuficiente para a avaliação dessas características
biológicas.
A viabilidade dos ovos obtidos de adultos tratados foi reduzida por
espirodiclofeno e enxofre nas duas concentrações, com médias variando de
87,0% a 89,7% (Tabela 5). Esses resultados assemelham-se àqueles de Figueira
et al. (2002) que obtiveram 87,7% de viabilidade para ovos de C. externa.
Abamectina, nas duas concentrações, apresentou viabilidade acima de 92,0%,
confirmando resultados de Godoy et al. (2004) que não constataram efeito
negativo desse acaricida na viabilidade de ovos provenientes de fêmeas de C.
externa tratadas.
63
6 CONCLUSÕES
O inseticida-acaricida fenpropatrina é moderadamente nocivo para C.
externa na fase de pré-pupa e nocivo para adultos.
Abamectina é moderadamente nocivo para C. externa nas fases de pré-
pupa e adulta do predador.
Enxofre é levemente nocivo para C. externa na fase de pré-pupa e, na
maior concentração, é moderadamente nocivo para adultos do predador.
Espirodiclofeno é moderadamente nocivo para C. externa, nas fases de
pré-pupa e adulta.
Em função da baixa toxicidade apresentada por enxofre a 4,0 g i.a./L,
esse composto pode ser recomendado em programas de manejo de pragas do
cafeeiro, visando conservação dessa espécie de predador.
7 AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor.
64
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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