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incontrolável. Esse contexto traz para a Igreja uma tarefa nova: a promoção de
uma comunhão na diversidade.
241
Geffré afirma que essa comunhão pode ser construída sobre o que ele chama
de “o humano autêntico”. Isso exigirá uma vigilância constante sobre o que é
contrário a esse humano autêntico e ao que o ameaça. Somente um mergulho
profundo nas grandes famílias espirituais da humanidade e nas outras formas de
sabedoria e de experiências significativas tornará isso possível. Ao apresentar essa
nova tarefa histórica da Igreja, nosso autor não pensa somente na Igreja católica,
mas na única Igreja de Cristo, ou seja, nas Igrejas cristãs em geral, cada uma à sua
maneira, sacramentos do Corpo de Cristo.
242
O desafio de ser sacramento da
unidade é posto a todo o cristianismo. De certa forma, a humanidade já é Povo de
Deus sem o saber, e a Igreja é o sacramento eficaz para a concretização da
unidade do gênero humano (LG n. 1). Geffré tem consciência de que esses
conceitos são ambíguos. Ao falar em “Igreja”, não há como não se remeter logo a
seu aspecto institucional no que ele tem de mais negativo. Mesmo assim, ele
241
GEFFRÉ, C. Profession Théologien, op. cit. p. 183.
242
Em 2006 a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma Declaração com o título
“Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja”. Basicamente se
repetiram os argumentos já contidos na Declaração Dominus Iesus do ano 2000. No entanto, a
recente Declaração reavivou certo mal estar entre os parceiros não-católicos no diálogo
ecumênico. Em um discurso na sessão plenária da referida Congregação em 31/01/2008, Bento
XVI confirmou o teor do documento curial mencionado com as seguintes palavras: “[ ] Vem assim
confirmado que a una e única Igreja de Cristo tem sua subsistência, permanência e estabilidade na
Igreja Católica e que, portanto, a unidade, a indivisibilidade e a indestrutibilidade da Igreja de
Cristo não é anulada pelas separações e divisões cristãs. [ ] Cultivar uma visão teológica que
considerasse a unidade e a identidade da Igreja como seus tesouros ‘ocultos em Cristo’, com a
conseqüência de que historicamente a Igreja existiria de fato em múltiplas configurações eclesiais,
reconciliáveis somente em perspectiva escatológica, não poderia mais que gerar um retardamento
e, por fim, a paralisia do próprio ecumenismo. [ ]A afirmação do Concílio Vaticano II de que a
verdadeira Igreja de Cristo «subsiste na Igreja católica» (Const. dogm. Lumen Gentium, 8) não
considera somente a relação com as Igrejas e comunidades eclesiais cristãs, mas se estende
também à definição das relações com as religiões e as culturas do mundo. O próprio Concílio
Vaticano II, na Declaração Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, afirma que «esta única
verdadeira religião subsiste na Igreja católica, à qual o Senhor Jesus confiou a missão de difundi-la
a todos os homens (n. 1). A «Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização» – o outro
Documento publicado por vossa Congregação em dezembro de 2007 –, diante do risco de um
persistente relativismo religioso e cultural, reafirma que a Igreja, no tempo do diálogo entre as
religiões e culturas, não se dispensa da necessidade da evangelização e da atividade missionária
junto ao povo, nem cessa de pedir aos homens que acolham a salvação oferecida a todas as
pessoas. O reconhecimento dos elementos de verdade e bondade nas religiões do mundo e da
seriedade de seus esforços religiosos, o próprio colóquio e espírito de colaboração com elas pela
defesa e a promoção da dignidade da pessoa e dos valores morais universais, não podem ser
pensados como uma limitação do compromisso missionário da Igreja, que a empenha a anunciar
incessantemente Cristo como o caminho, a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6).” Disponível em
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2008/january/documents/hf_ben-
xvi_spe_20080131_dottrina-fede_po.html. Acesso 19/03/2008.