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CAMILA RAFAELA BRAGANÇA DE LIMA E SILVA
ANÁLISE DA RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE PRODUTORES DE
CAFÉS ESPECIAIS E UMA EMPRESA COMPRADORA:
UM ESTUDO DE CASO NA REGIÃO DE VIÇOSA-MG
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Economia Aplicada, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2007
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Silva, Camila Rafaela Bragança de Lima e, 1968-
S586a Análise da relação contratual entre produtores de cafés
2007 especiais e uma empresa compradora: um estudo de caso na
região de Viçosa-MG / Camila Rafaela Bragança de Lima e
Silva. – Viçosa, MG, 2007
xiii, 78f.: il. (algumas col.) ; 29cm.
Inclui apêndice.
Orientador: Altair Dias de Moura
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Viçosa.
Referências bibliográficas: f. 58-65.
1. Café - Comercialização. 2. Café - Produção -
Comercialização. 3. Contratos agrícolas. 4. Café - Viçosa
(MG). 5. Café - Cultivo - Aspectos econômicos.
I. Universidade Federal de Viçosa. II.Título.
CDD 22.ed. 338.17373
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CAMILA RAFAELA BRAGANÇA DE LIMA E SILVA
ANÁLISE DA RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE PRODUTORES DE
CAFÉS ESPECIAIS E UMA EMPRESA COMPRADORA:
UM ESTUDO DE CASO NA REGIÃO DE VIÇOSA-MG
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Economia Aplicada, para obtenção do
título de Doctor Scientiae.
APROVADA: 29 de junho de 2007.
À Iolanda Bragança Freitas e João Batista Gomes Freitas.
ii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela saúde, capacitação e oportunidade de estudar na
Universidade Federal de Viçosa.
Aos meus pais, Iolanda Bragança Freitas e João Batista Gomes
Freitas (pai do coração), e ao meu irmão Aldo Cézar, pela presença e pelo
incentivo constantes em todas as etapas desse importante projeto de vida, que
é o mestrado.
Ao professor Altair Dias de Moura, pela paciência e pelo apoio durante
o todo o período de trabalho, principalmente nos períodos que estive distante
de Viçosa.
Aos colegas, aos funcionários do Departamento de Economia Rural e
aos professores, que, juntos, proporcionaram-me algo além do crescimento
profissional.
À Universidade Federal de Viçosa, pela oportunidade de realização do
curso, e à CAPES, pela concessão da bolsa de estudos.
iii
BIOGRAFIA
CAMILA RAFAELA BRAGANÇA DE LIMA E SILVA, filha de Marcus
Vinicius Lima e Silva e Iolanda Bragança Freitas, nasceu em 30 de dezembro
de 1981, em Mantena, MG.
Em janeiro de 2005, graduou-se em Ciências Econômicas na
Universidade Federal de Juiz de Fora.
Em março de 2005, iniciou o curso de pós-graduação em Economia
Aplicada, na Universidade Federal de Viçosa, em nível de Mestrado,
defendendo tese em junho de 2007.
iv
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS ............................................................................. viii
LISTA DE FIGURAS ............................................................................. ix
RESUMO .............................................................................................. x
ABSTRACT ........................................................................................... xii
1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 1
1.1. A importância da cafeicultura brasileira ..................................... 1
1.2. A importância da cafeicultura em Minas Gerais ........................ 4
1.3. A importância da cafeicultura na Zona da Mata mineira ........... 7
1.4. A importância da cafeicultura na microrregião de Viçosa .......... 7
1.4.1. Cafés especiais ................................................................... 9
1.4.2. Associação Regional de Cafeicultores (ARCA) ................... 10
1.4.3. A Illycaffè ............................................................................. 11
1.5. O problema e sua importância ................................................... 12
1.6. Hipótese ..................................................................................... 16
v
Página
1.7. Objetivos .................................................................................... 16
2. METODOLOGIA ............................................................................... 17
2.1. Referencial teórico ..................................................................... 17
2.1.1. Economia dos custos de transação ..................................... 17
2.1.2. As dimensões das transações ............................................. 18
2.1.3. Pressupostos comportamentais .......................................... 21
2.1.4. Estruturas de governança e contratos ........................... 22
2.2. Referencial analítico .................................................................. 24
2.2.1. Análise qualitativa ................................................................ 24
2.2.1.1. Estudos de caso ............................................................ 24
2.3. Procedimentos analíticos ........................................................... 27
2.3.1. Área de abrangência do estudo proposto ........................... 27
2.3.2. Fonte de dados .................................................................... 27
2.4. Análise quantitativa .................................................................... 28
2.4.1. Modelos de regressão ......................................................... 28
2.4.2. Modelo operacional ............................................................. 29
2.4.3. Escolha de variáveis do modelo analítico ........................... 31
2.4.4. Fonte de dados .................................................................... 33
2.4.5. Determinação do tamanho da amostra ............................... 34
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................ 36
3.1. Atributos da transação ............................................................... 36
3.1.1. Especificidade dos ativos .................................................... 36
3.1.2. Incerteza .............................................................................. 42
3.1.3. Freqüência ........................................................................... 44
vi
Página
3.2. Formato das relações de coordenação ..................................... 46
3.3. Análise quantitativa .................................................................... 49
4. RESUMO E CONCLUSÕES ............................................................. 54
5.1. Sugestões para pesquisas ........................................................ 57
REFERÊNCIAS .................................................................................... 58
APÊNDICES ......................................................................................... 66
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista ................................................... 67
APÊNDICE B – Levantamento de dados .............................................. 70
APÊNDICE C – Regras de comercialização Illy ................................... 72
vii
LISTA DE TABELAS
Página
1 Ranking dos principais países produtores de café e
participação na produção mundial, na safra 2006/2007 .......... 2
2 Participação dos estados brasileiros na produção de café,
área colhida e produtividade na safra 2006/2007, em % ......... 5
3 Descrição de variáveis incluídas no modelo regressão de
índice de contratos informais entre associados da Arca e a
Illycaffè, e relação das variáveis com a teoria dos custos de
transação .................................................................................. 34
4 Resultados do modelo de regressão de análise de índice de
contratos informais entre a Associação dos Produtores de
Café (ARCA) e a empresa compradora (Illycaffè) na
microrregião de Viçosa, em 2006 ............................................. 51
viii
LISTA DE FIGURAS
Página
1 Evolução da produção brasileira de café, em milhões de
sacas de 60 kg, no período 1999/2006 .................................... 3
2 Evolução da produção de café do estado de Minas Gerais,
em milhões de sacas de 60 kg, no período 2002/2006 ............ 6
3 Mapa da mesorregião da Zona da Mata e da microrregião de
Viçosa ....................................................................................... 8
4 Evolução da produção de café da microrregião de Viçosa, em
milhares de sacas de 60 kg, no período 2002/2006 ................ 9
5 Ilustração das transações comerciais ...................................... 23
6 Comparação da estrutura de governança com as transações . 23
7 Comparação da estrutura de governança com as transações
comerciais ................................................................................ 48
ix
RESUMO
SILVA, Camila Rafaela Bragança de Lima e, M.Sc., Universidade Federal de
Viçosa, junho de 2007. Análise da relação contratual entre produtores
de cafés especiais e uma empresa compradora: um estudo de caso na
região de Viçosa-MG. Orientador: Altair Dias de Moura. Co-orientadores:
Marcelo José Braga e Viviani Silva Lírio.
Diante da inserção do Brasil no mercado internacional de cafés com
qualidade superior, a cadeia produtiva do produto se defronta com problemas
complexos e de difícil investigação, como o padrão de relacionamento
comercial mais adequado entre os segmentos desta cadeia. Surge, assim, a
necessidade de se analisar o padrão dos relacionamentos contratuais entre os
elos que compõem a cadeia produtiva. Os contratos são frutos desses
relacionamentos necessários para se promover a produção de determinado
bem ou serviço, e caracterizam-se como ferramentas para a organização e
coordenação de tais ligações comerciais essenciais, que possibilitam a
produção e venda de um produto. É nesse contexto que as relações de
produção e comercialização de café na região do estudo, a microrregião de
Viçosa na Zona da Mata, precisam ser analisadas. Esta região, até o início dos
anos 90, era conhecida como uma área que produzia café, em geral, de
qualidade inferior, mas, através da pesquisa, extensão e organização,
x
conseguiu reverter o quadro, passando a produzir cafés com qualidade
superior posicionando-se entre aquelas que produzem os melhores cafés do
mundo. O fortalecimento das associações de produtores e programas
municipais de incentivo surgiu na região como suporte para a nova realidade
da produção do café. Este estudo foi feito em razão da necessidade de avaliar
os motivos e as atitudes relacionadas ao estabelecimento dos contratos
formais ou informais em evidência entre os produtores de café em decorrência
das exigências que as inovações trouxeram no âmbito deste novo mercado.
Utilizou-se, para tal, uma análise qualitativa com dados levantados em
entrevistas semi-estruturadas realizadas com cafeicultores associados à ARCA
(Associação Regional dos Cafeicultores) e, adicionalmente, por meio do
ajustamento de um modelo de regressão, uma análise quantitativa, em que se
procurou mensurar a influência de variáveis explicativas selecionadas no
estabelecimento de acordos informais entre os produtores de café especial da
microrregião de Viçosa e a Illycaffè. Os resultados da pesquisa qualitativa
apontaram inexistência de especificidade locacional e temporal para a
produção de café especial. A especificidade de ativos humanos foi considerada
pequena. Por sua vez, os resultados da pesquisa apontam que a
especificidade dos ativos físicos é a principal geradora de incertezas quanto à
comercialização do café. Considerando o modelo de escolha proposto por
Williamson (1979), chegou-se, então, à conclusão de que a estrutura
considerada mais adequada é a de governança bilateral regida por contrato
relacional. Os resultados obtidos do modelo de regressão ajustado permitiu
concluir que a decisão de engajamento em uma relação contratual é definida
principalmente pelo número de dependentes que o produtor possui, pela sua
experiência na atividade e pela assistência técnica recebida do comprador da
produção. Embora o modelo ajustado tenha apresentado pouca significância
nos coeficientes das variáveis explicativas selecionadas, e nenhuma
significância de outras, considera-se importante mantê-lo como sugestão para
que outras pesquisas definam melhor as variáveis aqui utilizadas.
xi
ABSTRACT
SILVA, Camila Rafaela Bragança de Lima e, M.Sc., Universidade Federal de
Viçosa, June, 2007. Analysis of the contractual relation between special
coffee producers and a buying company: a Viçosa-MG case study.
Adviser: Altair Dias de Moura. Co-advisers: Marcelo José Braga and Viviani
Silva Lírio.
In view of with the insertion of Brazil in the international high quality
coffee market, the productive chain of this market faces complex problems
difficult to be investigated, such as the definition of the most adequate
commercial relation pattern among the segments of this chain. Thus, it is
necessary to analyze the contractual relation patterns among the segments
composing the productive chain. The contracts are the result of such relations
necessary to promote the production of a particular good or service, and are
characterized as tools that organize and coordinate the essential commercial
links that allow the production and sale of a product. It is within this context that
the coffee grown in the region under study, Vicosa microregion in Zona da
Mata, MG, must be analyzed. This region was known as a low quality coffee-
producing area up to the early 1990s, but, as a result of research, extension
and organization, it was able to reverse this reality, becoming a high quality
coffee-producing area, Today, it ranks among the best coffee-producing areas
xii
in the world. The strengthening of the producer associations and municipal
incentive programs in the region came as a support to the new reality in coffee
production. This study was carried out to evaluate the reasons and attitudes
related to the establishment of existing formal or informal contracts between
coffee producers due to the demands brought by the innovations of this new
market. A qualitative analysis was carried out based on data assessed in
semistructured interviews of coffee producers associated to ARCA (Regional
Coffee Producers Association) and, in addition, by fitting by means of a
regression model, a quantitative analysis attempting to measure the influence of
selected explicative variables on the establishment of informal agreements
between special coffee producers from the Vicosa microregion and the Illycaffè.
The qualitative research results pointed to the inexistence of spational and
temporal specificity for special coffee production. The specificity of human input
was considered small. On the other hand, the research results pointed the
specificity of physical input as the main generator of uncertainties in coffee
commercialization. Considering the choice model proposed by Williamson
(1979), it was concluded that the most adequate structure is bilateral governing
ruled by a relational contract. The results obtained in the adjusted regression
model allowed concluding that the decision to engage in a contractual relation is
defined mainly by the number of dependents the producer has, his or her
experience in the activity and the technical assistance received by the
production buyer. Although the adjusted model presented little significance in
the coefficients of the explicative variables selected and no significance in
others, it is important to maintain it as a suggestion, so that other research
works can better define the variables herein utilized.
xiii
1. INTRODUÇÃO
O setor cafeeiro possui importância considerável na economia mundial,
tanto em termos do valor movimentado por meio da sua comercialização
quanto pelas implicações sociais da cultura.
Ao todo são 51 países produtores de café, que juntos produziram, na
safra 2006/2007, 121,4 milhões de sacas de 60 kg. Segundo relatório
apresentado pela Organização Internacional do Café (OIC), a previsão para a
safra mundial 2007/2008 é de 116 milhões de sacas.
De acordo com dados do Banco Mundial, direta ou indiretamente, cerca
de 500 milhões de pessoas em todo o mundo dependem do café. Existem,
aproximadamente, 25 milhões de pequenos cafeicultores na África, Ásia e
América Latina, que têm o café como fonte exclusiva de renda.
1.1. A importância da cafeicultura brasileira
A cafeicultura é praticada no Brasil desde 1727, tendo sido trazidas as
primeiras mudas e sementes pelo sargento-mor Vicente de Melo Palheta,
cultivadas no estado do Pará. Já em 1830, o país tornou-se o maior produtor
mundial. Nas quatro primeiras décadas do século 20, a economia brasileira
tinha como base a cafeicultura, e respondia por 70% da produção mundial
(RUFINO, 2006).
1
Atualmente, o Brasil mantém o posto de maior produtor de café do
mundo, com a produção de 40,6 milhões de sacas de 60 kg na safra
2006/2007, o que corresponde a 33,4% da safra mundial. Deste total, 77%
correspondem à produção de café arábica e os demais 23% à produção de
café robusta ou conilon (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO –
CONAB, 2006).
Entre os principais produtores de café do mundo, figuram Vietnam,
Colômbia, Indonésia, Índia, Etiópia, Peru e México, ranqueados na safra
2006/2007. Nesse mesmo período, a safra brasileira foi superior à soma da
produção dos três melhores países colocados.
Tabela 1 – Ranking dos principais países produtores de café e participação na
produção mundial, na safra 2006/2007
Posição País Produção* Participação (%)
1.º Brasil 40,6 33,4
2.º Vietnam 18,45 15,1
3.º Colômbia 12,7 10,5
4.º Indonésia 6,6 5,4
Total mundial 121,4 100,0
Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Café – ABIC (2007).
* Produção em milhões de sacas de 60 kg.
Observa-se, na Figura 1, a evolução da produção brasileira de café no
período de 1999 a 2006. Nota-se a safra recorde obtida em 2002/2003, quando
foram colhidas 48,48 milhões de sacas.
O Brasil exportou, em 2006, cerca de 27,0 milhões de sacas de café, o
que corresponde a 62% da sua produção naquele ano. O total exportado pelo
país garante-lhe a liderança no mercado mundial de café, participando com
aproximadamente 37,9% do mercado. O café exportado é, na sua grande
maioria, o tipo arábica (REZENDE et al., 2007).
2
0
10
20
30
40
50
60
Milhões de sacas 60 k
g
PROD
30.9 33.1 31.3 48.48 28.82 39.27 32.94 40.6
99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07
Fonte: Conab (2006).
Figura 1 – Evolução da produção brasileira de café, em milhões de sacas de 60
kg, no período 1999/2006.
Os principais destinos das exportações brasileiras, em 2006, foram
Alemanha, participando com 21,4%; Estados Unidos, 18,3%; Itália, 10,6%;
Japão, 8,9%; e Bélgica, 4,7% (ABIC, 2007).
O crescimento observado na produção mundial de café ao longo do
tempo pode ser creditado essencialmente à produção da América do Sul. Isto
está ligado ao comportamento verificado na produtividade dessa região, uma
vez que se notou uma redução na área colhida a partir do início da década de
90, aliada ao aumento do rendimento nas produções de café do subcontinente
(LEITE, 2005).
O mesmo fato pode ser observado no Brasil. A área plantada, no
Brasil, apresentou uma redução à taxa de 0,41% ao ano no período de 1992 a
2006 (LEITE, 2005). Esta área, em 2006, atingiu 2,2 milhões de hectares,
estando 2 milhões em plena produção e 0,2 milhão ainda em formação
(CONAB, 2006).
Em sentido inverso, a produtividade brasileira cresceu 3,7% ao ano, no
mesmo período. A produtividade média alcançada, no período 1973 a 2003, foi
3
de 14,9 sacas (LEITE, 2005). Em 2006, a produtividade média no Brasil elevou-
se para 18,45 sacas por hectare.
Esses fatos indicam mudanças tecnológicas como forma de garantir
maior rentabilidade e a competitividade dos agentes participantes do mercado
de café. Essas mudanças compreendem ajustamentos que atingem toda a
cadeia agroindustrial do café ao promover a utilização mais eficiente dos
fatores produtivos e a inserção de tecnologias alternativas (LEITE, 2005).
Quanto ao consumo mundial de café, o Brasil se destaca como o
segundo maior consumidor. Atualmente demanda 16,33 milhões de sacas por
ano, atrás apenas dos Estados Unidos, que consomem 20 milhões de sacas
por ano. Segundo previsões da ABIC, em 2010 o Brasil se tornará o maior
consumidor de café, alcançando o consumo de 21 milhões de sacas por ano.
No Brasil, o setor cafeeiro contribui para a formação da renda nacional,
criação de receitas cambiais e transferência de renda aos diversos setores da
economia. O setor é responsável pela geração de uma riqueza de 10 bilhões
de reais por ano e pela criação de 7 milhões de empregos diretos e indiretos,
(EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA,
2006).
1.2. A importância da cafeicultura em Minas Gerais
Os estados brasileiros produtores de café são 14, e os principais são
Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Bahia. Dentre esses, Minas
Gerais é o líder e se destaca por ter produzido cerca de 50% da safra nacional
de 2006/2007.
Segundo dados da CONAB (2006), o estado mineiro foi responsável
pela produção de 20,09 milhões de sacas de 60 kg de café na safra 2006/2007,
que correspondem a 49,48% de um total de 40,6 milhões produzidas. Cerca de
99,9% da produção do estado foi de café arábica. O estado ainda possui a
maior área plantada de café em produção, 1,006 milhão de hectares, e, em
formação, 0,117 milhão de hectares. O número de cafeeiros totalizou 3 trilhões.
A produtividade do estado é de 19,97 sacas/ha, superior à produtividade média
do país, que é de 18,99 sacas/ha.
4
O estado do Espírito Santo ocupa o segundo lugar no ranking dos
estados produtores de café, com 8,66 milhões de sacas em uma área de 0,473
milhão de hectares, porém é o maior produtor nacional de café robusta. Em
terceiro lugar, encontra-se o estado de São Paulo, com 4,4 milhões de sacas
em uma área de 0,204 milhão de hectares. Paraná é o quarto colocado, com
2,23 milhões de sacas em 0,102 milhão de hectares. O quinto colocado é o
estado da Bahia, com 2,18 milhões de sacas em 0,097 milhão de hectares. O
estado destaca-se por ter a maior produtividade, em torno de 22,38 sacas/ha.
Tabela 2 – Participação dos estados brasileiros na produção de café, área
colhida e produtividade na safra 2006/2007, em %
Parque cafeeiro
Em formação Em produção
Estado
Área Cafeeiros Área Cafeeiros
Produção Produtividade¹
MG 70,9 68,6 47,0 51,6 49,5 19,97
ES 13,3 15,3 22,1 20,4 21,3 18,31
SP 6,6 7,9 9,5 7,2 10,8 21,59
PR 2,4 0,3 4,7 6,2 5,4 21,78
BA 1,2 0,5 4,5 4,7 5,3 22,38
Outros 5,6 7,4 12,2 9,9 7,7 18,99²
Fonte: Brasil (2006).
¹ em sacas/ha ² Produtividade média do Brasil.
A CONAB estimou para a safra 2007/2008 que serão produzidos 14,6
milhões de sacas de café no estado de Minas Gerais, representando uma
redução de 37,6% em comparação com a safra anterior. Isto ocorreu devido à
bianualidade negativa do café, à ocorrência de floradas de baixa intensidade,
ao aumento da incidência de algumas doenças e à restrição hídrica ocorrida no
início do ano.
5
0
5
10
15
20
25
30
Milhões de sacas 60 k
g
PROD
25.1 12 18.7 15.2 20.1
02/03 03/04 04/05 05/06 06/07
Fonte: Conab (2007).
Figura 2 – Evolução da produção de café do estado de Minas Gerais, em
milhões de sacas de 60 kg, no período 2002/2006.
Pesquisas mostram que as cidades de Minas Gerais que têm o café
como principal atividade econômica registram as menores desigualdades
sociais. O motivo seria o cultivo em pequenas propriedades, que necessita de
mais mão-de-obra. Quatro milhões de pessoas trabalham direta e
indiretamente no setor cafeeiro no estado.
Dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas
Gerais – FAEMG (2006) revelam que cerca de 600 dos 853 municípios
mineiros cultivam café. Cerca de 90% da área plantada no estado está nas
mãos de pequenos produtores. São ao todo 150 mil, com média de 20 hectares
de terra por agricultor.
Em Minas Gerais, o setor cafeeiro gerou uma renda de
aproximadamente 5,6 bilhões de reais em 2006, o que representou 26,6% de
toda a renda agropecuária do estado.
6
1.3. A importância da cafeicultura na Zona da Mata mineira
As estatísticas da produção mineira dividem o estado de Minas Gerais
em quatro regiões: Zona da Mata; sul e centro-oeste; Triângulo, Alto Paranaíba
e noroeste; norte, central, Rio Doce e Jequitinhonha/Mucuri.
A Zona da Mata foi responsável por 16,9% da produção de estado de
Minas Gerais na safra 2006/2007, ou seja, foram produzidos pela região 3,4
milhões de sacas de café. A área ocupada pela cafeicultura totalizou 200 mil
hectares, o que proporcionou à região uma produtividade de,
aproximadamente, 17 sacas/ha, inferior à nacional e à estadual (CONAB,
2006).
Nesta mesma safra, a região sul e centro-oeste foi responsável por
55% da produção do estado, com uma produtividade de 22,9 sacas/ha; a
região Triângulo, Alto Paranaíba e noroeste contribuiu com 18,8% e teve
produtividade de 25,9 sacas/ha. A região norte, central, Rio Doce e
Jequitinhonha/Mucuri foi responsável por 9,9% da produção estadual e obteve
uma produtividade de 10,5 sacas/ha (CONAB, 2006).
Segundo dados atuais da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais, a cultura do café está presente em 124 dos 142
municípios da região da Zona da Mata. A atividade garante renda a 100 mil
trabalhadores da região.
1.4. A importância da cafeicultura na microrregião de Viçosa
A microrregião de Viçosa pertence à mesorregião da Zona da Mata
mineira, possui população estimada de 225.396 habitantes, composta por 20
municípios, e possui área aproximada de 4.826,137 km² (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2006).
Compõe esta microrregião os municípios de Alto Rio Doce, Amparo do
Serra, Araponga, Brás Pires, Cajuri, Canaã, Cipotânea, Coimbra, Ervália,
Lamim, Paula Cândido, Pedra do Anta, Piranga, Porto Firme, Presidente
Bernardes, Rio Espera, São Miguel do Anta, Senhora de Oliveira, Teixeiras e
Viçosa.
7
Fonte: IBGE (2006).
Figura 3 – Mapa da mesorregião da Zona da Mata e da microrregião de Viçosa.
A microrregião de Viçosa produziu na safra 2006/2007 um total de 400
mil sacas de café, 12,7% superior à produção da safra anterior. Esse valor
correspondeu a 11,7% da produção de toda a Zona da Mata mineira. A área
cultivada com café nesta microrregião é de 22.281 hectares, área que cresceu
apenas 1,7% de 2002 a 2006 (IBGE, 2006).
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Microempresas –
SEBRAE (2007), a cafeicultura foi uma das 20 atividades que mais geraram
empregos com carteira assinada na microrregião de Viçosa.
Até meados da década de 90, a microrregião era conhecida por
produzir café de bebida inferior. No entanto, o pioneirismo de alguns
produtores, com a aquisição de equipamentos e adoção de novas técnicas de
manejo, iniciou a mudança no padrão de qualidade do café obtido. Desta
forma, devido à ação conjunta de associações de produtores e programas
públicos de desenvolvimento, tem-se buscado construir uma nova imagem da
região junto aos compradores, no intuito de que possa ser vista como região
produtora de café de alto padrão de qualidade.
8
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Mil sacas de 60 kg
PROD
273.9 241.7 342.7 349.5 400
02/03 03/04 04/05 05/06 06/07
Fonte: IBGE (2006).
Figura 4 – Evolução da produção de café da microrregião de Viçosa, em
milhares de sacas de 60 kg, no período 2002/2006.
1.4.1. Cafés especiais
O conceito de café especial (ou “specialty coffee”) é algo recente para
produtores, empresários do setor e consumidores, uma vez que esse produto
ganhou tal denominação há pouco mais de 20 anos (REZENDE, 2001). O
mercado de cafés diferenciados surgiu como uma recusa por parte do
consumidor americano contra a massificação dos produtos.
Os cafés especiais não possuem uma definição precisa, podendo estar
relacionados à qualidade da bebida, ao tamanho do grão e ao fato de a
produção ser ou não socialmente justa. Isto, portanto, envolve tanto
características tangíveis (como o tamanho do grão) quanto intangíveis (como a
produção (des)obedecer a critérios sociais e ecologicamente justos).
Segundo projeções da Brazil Specialty Coffee Association – BSCA, o
Brasil produziu 1 milhão de sacas de cafés especiais na safra 2006/2007,
implicando um incremento de 25% na safra anterior. A projeção ainda indicou
os principais destinos dos cafés especiais brasileiros, que são os Estados
9
Unidos, Japão e países da União Européia. Do total produzido, apenas 5% é
consumido pelo mercado interno.
Atualmente, o estado de Minas Gerais se destaca como o principal
produtor de cafés especiais. Dos 39 produtores de café de alta qualidade
associados à BSCA, 34 são de Minas Gerais. E a microrregião de Viçosa, que
até meados da década de 90 era reconhecida como produtora do café ruim do
país, hoje produz cafés especiais com projeção mundial, obtendo destaque em
todos os torneios de qualidade realizados no Brasil.
1.4.2. Associação Regional de Cafeicultores (ARCA)
A Associação Regional de Cafeicultores foi criada a partir do Programa
Municipal de Fomento à Cafeicultura (Pró-Café), elaborado pela Secretaria
Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Viçosa.
O município de Viçosa possui 65.000 habitantes, e uma área de 2.000
hectares destinados à atividade agropecuária. Desse total, cerca de 700 ha são
utilizados para a produção de café, que gera 4500 empregos diretos e indiretos
(IBGE, 2000).
Devido à importância da cafeicultura na economia local, em 1998, foi
lançado pela Prefeitura Municipal de Viçosa o Pró-Café, que tinha como
principais objetivos ampliação do parque cafeeiro local, aumento de
produtividade das lavouras, capacitação do produtor rural e do trabalhador e
assistência técnica individual e gratuita, buscando produzir cafés com mais
qualidade de bebida e com menor custo.
Para atingir os objetivos do Programa, foram fundadas diversas
parcerias com EMATER, EPAMIG, IMA, RURALMINAS, UFV, etc. Uma
parceria foi feita com a empresa italiana Illycaffè, que, após análise do
potencial de produção de cafés cereja na microrregião de Viçosa e na Zona da
Mata mineira, decidiu pela construção de uma Central de Beneficiamento
Coletivo de Cafés Cereja em Viçosa.
A Central, que necessitou de um investimento de 1 milhão de reais,
conta com lavadores, despolpadores, terreiros de cimento e suspensos, além
de estrutura de armazenagem para curto período. O projeto permitirá aos
produtores da região processar os cafés produzidos e comercializá-los no
10
crescente e disputado mercado de cafés especiais. As obras foram concluídas
em 2003.
Como a gestão da Central de Beneficiamento Coletivo de Cafés Cereja
seria uma parceria entre organismos públicos e privados, neste mesmo ano os
produtores do Pró-Café se organizaram, e criaram a Associação Regional de
Cafeicultores (ARCA), buscando uma unidade de representatividade dos
cafeicultores junto aos diversos órgãos.
Atualmente, a ARCA conta com 41 produtores rurais associados. Deste
total, aproximadamente 90% têm suas propriedades localizadas no município
de Viçosa. O restante encontra-se principalmente em São Miguel do Anta e
Canaã. Cerca de metade dos associados é de pequenos produtores que
utilizam mão-de-obra familiar.
A Associação Regional de Cafeicultores é uma forma de conseguir
melhor qualidade do café e maior renda para os produtores, atingindo
mercados até então distantes dos olhos dos cafeicultores locais.
1.4.3. A Illycaffè
A empresa Illycaffè, torrefadora com sede em Trieste, compra café
arábica brasileiro para a composição de 70% de seu blend. A partir de 1991, a
Illycaffè instituiu um concurso anual – “Prêmio Brasil de Qualidade do Café
para Expresso”. Desta forma, a empresa pôde selecionar seus fornecedores do
ano e os produtores premiados receberam entre 25% e 30% acima dos preços
internacionais de café de boa qualidade. Esta premiação e o conseqüente
incentivo à produção de café de boa qualidade exigiram, desde então, um alto
grau de especificidade do ativo (SAES; FARINA, 1999).
Para incentivar este movimento de busca pela qualidade, a referência
foi a criação do laboratório da Illy em São Paulo, a Assicafé. Além disso, foram
criados em 2000 a Universidade Illy do Café – Unilly, para levar aos produtores
conhecimentos científicos do processo de produção, e o Clube Illy do Café,
programa inédito de fidelização de fornecedores no meio rural brasileiro
Instituído pela Illycaffè em junho de 1999. O Clube Illy do Café aumenta o
número de produtores filiados, reunindo atualmente cerca de 400 associados
(CLUBE ILLY, 2006).
11
A cada ano, o prêmio vem batendo recordes de inscrição, mostrando
avanços significativos nas culturas de café, inclusive quanto à tecnologia
presente na lavoura. Novas regiões produtoras de excelentes cafés foram
descobertas, como o cerrado mineiro, sul de Minas, sorocabana (SP), Zona da
Mata (MG e ES) e Bahia. Essa expansão ilustra quanto o prêmio estimulou os
produtores a buscarem qualidade (CLUBE ILLY, 2006).
A Illycaffè compra café arábica no Brasil há 15 anos. Em geral, inicia o
seu processo de compra do produto em grão a partir do mês de julho e as
compras se estendem até, normalmente, novembro do mesmo ano.
Para a compra do café arábica brasileiro, a empresa italiana, conhecida
pela alta qualidade do produto final vendido com sua marca, faz exigências
quanto ao tipo do café, à quantidade de defeitos, ao tamanho dos grãos, ao
lote com grãos verdes e sem uniformidade no grau.
1.5. O problema e sua importância
As características do mercado influenciam diretamente o
relacionamento entre firmas. As mudanças no ambiente transmitem sinais que
se espalham ao longo do sistema de empresas, necessárias para a produção e
comercialização de um produto. Portanto, quanto maior as exigências e
preferências do mercado consumidor para produtos menos padronizados e
conseqüentemente mais específicos, maior será a necessidade da cadeia
produtiva de se adequar para obter condições de fornecer o que é demandado
pelo mercado. Assim num mercado específico, como o de café especial, em
detrimento do mercado de café commodity, as firmas se submetem às
exigências do produto feitas pelo consumidor daquele mercado a ser atendido,
o que significa que a demanda por um café específico, de determinada
qualidade, faz com que as relações entre os produtores e comerciantes de café
sejam forçadas a mudar (SAES; FARINA, 1999). Assim, o segmento e a
demanda de mercado determinam as características do produto a ser
oferecido. Essas características, por sua vez, interferem nas relações entre as
firmas na cadeia produtiva do produto (MOURA, 2002).
A caracterização da eficiência de determinado sistema produtivo não
depende apenas da identificação de quão bem cada um de seus segmentos
12
equaciona seus problemas de produção. Quanto mais apropriada for a
coordenação entre os componentes do sistema, menores serão os custos de
cada um deles, mais rápida será a adaptação às modificações do ambiente e
menos custosos serão os conflitos intrínsecos às relações entre cliente e
fornecedor (AZEVEDO, 2000).
Este estudo pretendeu analisar a estrutura das relações contratuais
entre os elos da cadeia produtiva e as variáveis que interferem em sua forma.
Mas a análise da coordenação de uma cadeia produtiva é complexa, pois
requer, principalmente, estudos qualitativos que proporcionam a descrição,
compreensão e interpretação das transações. Mesmo ao se considerar apenas
o segmento agropecuário, torna-se inviável uma análise genérica, dada a
diversidade considerável entre as cadeias e seus respectivos produtos
agropecuários (FARINA et al., 1997). Por isso, o produto escolhido para o
estudo foi apenas o café especial e seu segmento de produção e
comercialização.
A concentração neste produto justifica-se pelo fato de que, nesta
cadeia produtiva especificamente, a perda de competitividade pode ser
atribuída à baixa capacidade de coordenação dos agentes do sistema para se
adequar às novas regras de mercado (FARINA; ZYLBERSZTAJN, 2006).
Consumidores mais exigentes quanto ao sabor, ao aroma e a questões
ambientais e sociais relativas à produção podem ser exemplos dessas novas
regras no mercado de café.
Diante da inserção do Brasil no mercado internacional de cafés com
qualidade superior, a cadeia produtiva do produto, nesse particular, passou a
se defrontar com problemas complexos e de difícil investigação, como o padrão
de relacionamento comercial mais adequado entre os segmentos envolvidos.
Passou-se a exigir dos empresários uma visão mais abrangente dos negócios,
ou seja, uma visão mercadológica, antenada às novas exigências dos
consumidores, principalmente aquelas relacionadas às questões ambientais e
sociais, e uma visão administrativa, de maior controle dos aspectos qualitativos
da produção e dos custos e das receitas.
O processo de produção afeta o perfil contratual e o relacionamento
entre as firmas, pois depende de questões tecnológicas, de investimento em
ativos e em procedimentos específicos e da utilização de pessoal com
13
qualificações especializadas. Fortes exigências do produto feitas pelo mercado
consumidor também induzem à coordenação vertical ou até mesmo à
integração vertical como tentativa de amenizar os custos e os riscos inerentes
a esse tipo de processo produtivo (WILLIAMSON, 1979). Elementos como o
tipo de produto e a estrutura de mercado, dentre outros, podem definir traços
importantes da coordenação entre produtores e compradores de cafés
diferenciados (FARINA et al., 1997).
Os contratos são frutos desses relacionamentos necessários para se
promover a produção de determinado bem ou serviço, e se caracterizam como
ferramentas para a organização e coordenação de tais ligações comerciais
essenciais que possibilitam a produção e venda de um produto. A necessidade
de acordos formais surge nas transações que envolvem ativos específicos, já
que na falta de alguma especificidade do produto a sinalização via mercado,
não pautada em formalidades e recorrência, é suficiente (SAES; FARINA,
1999).
Na Zona da Mata, a mudança no perfil de produção foi radical. Até o
começo da década de 90, o que predominava no setor cafeeiro da região era a
produção de café de bebida com baixa qualidade, tanto em suas características
externas de formato e aparência quanto de sabor e sem levar em conta
questões subjetivas de responsabilidade social e ambiental na produção. A
partir desse período, no entanto, teve início na região melhorias na qualidade
do café ofertado no mercado em decorrência da iniciativa de produtores e do
apoio de políticas municipais, passando de uma região conhecida como
tradicionalmente produtora de café de qualidade ruim para outra, produtora de
cafés de primeiríssima qualidade, premiados em concursos nacionais e
internacionais. A qualidade superior e maior produvidade, no entanto, têm sido
obtidas com grande esforço e frustração de alguns produtores, mas com
sucesso de outros.
A forma tradicional de comercialização de cafés commodities não
atendia as necessidades desses produtores que precisavam de delineamento
de canais de comercialização alternativos, ou seja, uma comercialização
diferente da forma tradicional, via corretores de empresas exportadoras de
cafés atuando, por décadas, na região, sem oferecer possibilidade de
mudanças.
14
É nesse contexto que as relações de produção e comercialização de
café na região foram analisadas. Na região de Viçosa, a oportunidade de
alguns produtores de se organizarem em coopererativa permitiu a criação da
ARCA, uma ação suportada pela Secretaria Municipal da Agricultura e Meio
Ambiente, que incentivou o melhoramento da qualidade do café da região,
dando condições para que o processo de melhoria da imagem dos produtores
locais fosse reconhecido (GONÇALVES et al., 2005). Através de um trabalho
árduo de liderança, a ARCA conseguiu atrair a atenção e o interesse de uma
grande empresa de atuação internacional, do setor de comercialização de
cafés de qualidade, a ILLY. Essa parceria na região teve o objetivo de
desenvoler a produção de cafés de boa qualidade e o compromisso de adquiri-
lo, bem como dar suporte à produção, através de incentivos, como a
construção de uma unidade de processamento, acessível aos produtores da
região.
No entanto, o sucesso dessa parceria tem encontrado dificuldades para
sua concretização e, ou, ampliação, principalmente no que se refere às
alterações que essa parceria tem requerido dos produtores, até então
desinformados e, ou, mal treinados para o atendimento das exigências
requeridas. O desempenho da parceria tem ocorrido de forma experimental e,
até certo ponto, sem planejamento. Esst estudo procurou analisar a natureza
das relações contratuais estabelecidas na parceria entre a associação dos
produtores e a empresa em questão, a fim de encontrar um caminho para
orientar os produtores e conduzir mais eficientemente os processos que estão
sendo implantados, para atingir os objetivos de fortalecimento da parceria em si
mesma, de produção e venda de café de qualidade a preços mais
compesandores. No caso da cafeicultura, esta análise deve estar voltada
essencialmente para a adaptação da oferta às mudanças na demanda de café
e nos ajustamentos necessários para a reestruturação organizacional dos
produtores (LEITE, 2005).
Assim, a importância do estudo das implicações advindas das
características da produção de cafés especiais nas transações entre
cafeicultores e compradores desse produto na região de Viçosa (Zona da Mata
mineira) reside na possibilidade de revelar motivos e atitudes relacionadas ao
15
estabelecimento dos contratos formais ou informais fixados no âmbito deste
mercado.
Os resultados da pesquisa objetivam prestar contribuições para o
aperfeiçoamento deste processo de consagração da imagem da Zona da Mata
e, mais especificamente da microrregião de Viçosa, como área produtora de
café de qualidade, ao auxiliar no aprimoramento da interação entre os
produtores e compradores de café, tornando possível, assim, maior eficiência
no setor e na eliminação de custos desnecessários decorrentes de acordos e
relacionamentos equivocados.
1.6. Hipótese
O envolvimento de uma empresa de porte mundial na comercialização
de cafés especiais de uma cooperativa de pequenos produtores estimula essa
produção e aumenta significativamente as chances de sucesso desses
produtores.
1.7. Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é analisar a estrutura das relações
contratuais entre os segmentos de produção e comercialização de cafés
especiais da microrregião de Viçosa, Minas Gerais.
Especificamente, pretende-se:
a) identificar as principais variáveis balizadoras das relações contratuais no
mercado de cafés especiais da microrregião de Viçosa, MG;
b) hierarquizar as variáveis identificadas quanto ao peso relativo na
composição das dimensões abordadas nos custos de transação;
c) verificar de que forma e em que magnitude cada uma das variáveis
explicativas selecionadas afeta a produção de café especial na microrregião
de Viçosa.
16
2. METODOLOGIA
2.1. Referencial teórico
2.1.1. Economia dos custos de transação
Até o ano de 1937, data em que foi publicado o livro The Nature of the
Firm, de Ronald Coase, a ciência econômica considerava apenas os custos
relacionados ao ato de produzir como únicos merecedores de análise. A partir
dessa data é que se inicia o questionamento sobre a importância de se
considerarem também os custos de transação (KUPFER; HASENCLEVER,
2002).
Os custos de transação advêm do ato de se comercializar o que é
produzido, ou seja, se baseia nos custos incorridos nas transações entre
compradores e vendedores (COASE, 1998). Em outras palavras, tais custos
são conseqüência da negociação e da garantia do cumprimento de um contrato
entre parceiros comerciais.
Segundo Williamson (1985), as constantes trocas de bens e serviços
entre os agentes implicam custos de produção e de transação, portanto os
custos de transação são essenciais para movimentar o sistema econômico e
social. Estes custos surgem por causa da assimetria de informação, da
racionalidade limitada e do oportunismo (HOBBS; YOUNG, 2000). Desta forma,
17
relaxa-se a pressuposição neoclássica de informação perfeita e da
racionalidade total dos agentes econômicos.
Os custos de transação podem surgir ex-ante, ou seja, com a despesa
de tempo e recursos para identificar o parceiro apropriado, ao identificar e
especificar a qualidade de produtos e ao coletar informações de preços. Os
custos ocorrem também durante as transações e são classificados como
“custos de negociação”, incluindo custos referentes à determinação de termos
contratuais, o pagamento de agentes intermediários e o pagamento antecipado
de serviços de advogados. Por último, os custos de transação surgem ex-post,
isto é, no monitoramento e controle de custos da garantia dos termos pré-
acordados das transações (HOBBS; YOUNG, 2000).
Os custos de transação podem ser vistos como aqueles não
diretamente relacionados à atividade produtiva em si, e sim relacionados às
formas pelas quais as transações econômicas são realizadas. Dentro desta
categoria, podem ser enquadrados, por exemplo, custos com coleta de
informações relevantes e negociação e elaboração de contratos (PINTO;
PIRES, 2000).
2.1.2. As dimensões das transações
As transações são formadas por atributos que explicam a existência de
estruturas de comercialização diferentes para cada tipo de transação. Essas
características são conhecidas como dimensões.
As dimensões principais que diferem as transações são a
especificidade dos ativos, a freqüência das transações e a incerteza. Destas, a
primeira é a mais importante, ou seja, a especificidade dos ativos é que mais
difere a Economia dos Custos de Transação das demais teorias sobre a
organização econômica. Um ativo é muito específico quando seu uso em outra
atividade alternativa possui valor baixo. Existem seis tipos de especificidades
dos ativos: locacional, física, humana, de ativos dedicados, da marca, e
temporal (WILLIAMSON, 1985).
Esses seis tipos de especificidades são explicados por Carlini e Dantas
(2004):
18
a) especificidade locacional: ocorre no momento em que firmas de uma mesma
cadeia se localizam próximas umas das outras. Nesse caso, as firmas
obterão uma redução nos custos, principalmente os de frete e
armazenagem;
b) especificidade de ativos dedicados: quando são realizados investimentos
para atender às necessidades de um cliente particular, e, caso haja ruptura
contratual, sua realocação no mercado ocasiona perda de valor;
c) especificidade de ativos humanos: surge quando há investimento em
determinados indivíduos, que acumulam conhecimentos específicos, cujo
aproveitamento em outra atividade ou em outra organização é dificultado por
sua alta especialização;
d) especificidade de ativos físicos: acontece quando há investimento em
máquinas e equipamentos para atender uma atividade específica, cuja
realocação no mercado ocorre com acentuada perda de valor;
e) especificidade temporal: verifica-se, principalmente, quando o fator tempo é
preponderante para o sucesso de uma transação. Esse tipo de
especificidade é importante quando envolve produtos perecíveis.
Em relação ao atributo freqüência, pode-se classificar a intensidade
das negociações em ocasional e recorrente. As transações que ocorrem com
poucas repetições tendem a se dar via mercado, ou seja, sem nenhum esforço
de se efetivar um acordo entre as partes.
À medida que as transações indicam continuidade, são construídos
vínculos entre os parceiros, e as atitudes oportunistas podem trazer ameaças
em termos de geração de custos. O fortalecimento da ligação comercial pode
gerar insegurança e conduzir ao processo de formalização das transações
(SOARES et al., 2004).
Entende-se que quanto mais se intensifica a relação comercial entre os
parceiros, mais se tornam necessários uma estrutura que permita o
levantamento de informações, a elaboração de um contrato formal, e o
monitoramento do seu cumprimento (MARTINS, 2001).
Os principais problemas do atributo incerteza decorrem da informação
assimétrica. A teoria classifica a seleção adversa e o risco moral como
resultados da falta de conhecimento pleno das relações comerciais (PINTO;
PIRES, 2000).
19
O problema de seleção adversa é decorrente do custo de acesso à
informação, causando ineficiência na demanda e na oferta do produto.
Portanto, a seleção adversa é conseqüência da assimetria de informações pré-
contratuais, que possibilita o comportamento oportunista, pois o agente que
possui mais informações tem condições de agir em proveito próprio em
detrimento do benefício do outro agente da negociação. Para amenizar a
seleção adversa, é preciso reduzir a assimetria de informações e, segundo
Williamson (1985), há dois mecanismos básicos que auxiliam na melhora da
qualidade da transação e do fluxo de informações:
a) sinalização: fornecimento de informações e emissão de sinais por parte do
agente que possui mais conhecimentos; e
b) varredura: busca dos agentes com menor grau de informação por agentes
que detêm informações privilegiadas, por meio de sinais dos primeiros para
atrair os segundos.
Quanto ao risco moral, pode-se afirmar que ele está associado nas
ações dos agentes que levam ao risco (PINTO; PIRES, 2000). Neste caso, é a
moral dos indivíduos inseridos na negociação que está em questão. Sob a ótica
contratual, o risco moral refere-se aos comportamentos oportunistas
posteriores ao estabelecimento dos contratos, podendo ocorrer também
durante sua execução. Segundo Williamson (1985), os mecanismos utilizados
para a redução do risco moral são:
a) monitoramento semelhante a uma auditoria independente, ou seja,
monitoramento das condições de execução do contrato para tentar prever
os acontecimentos frutos do oportunismo;
b) contratos de incentivo: mecanismos contratuais que estimulam o
comportamento positivo e proporcionam vantagens para esse alinhamento
de objetivos; e
c) joint-ventures: objetiva a posse conjunta dos ativos e maior integração
entre as partes ao criarem comprometimento.
20
2.1.3. Pressupostos comportamentais
A teoria dos custos de transação analisa a questão de organização
econômica como um problema contratual, pela necessidade de diminuir as
incertezas e de sinalizar objetivos para os agentes.
A Economia dos Custos de Transação (ECT) baseia-se em dois
pressupostos em relação ao comportamento dos agentes relacionados: a
racionalidade limitada e o oportunismo (MATTOS, 2004; WILLIAMSON, 1985).
A racionalidade limitada se refere à restrição do ser humano em prever
todos os fatores envolvidos em problemas complexos. O ser humano deseja
ser racional, mas só consegue sê-lo parcialmente, a limitação resulta da
complexidade do ambiente que cerca a decisão dos agentes econômicos. Se
os agentes fossem plenamente racionais, seriam capazes de formular
contratos completos e não surgiria a necessidade de se estruturarem formas
sofisticadas de governança (ZYLBERSZTAJN, 2006).
Segundo Farina et al. (1997), no oportunismo e no auto-interesse forte
não há restrições para o comportamento egoísta do indivíduo. Atitudes como
mentira e trapaça podem ocorrer em dois momentos: ex-ante (quando o
comportamento amoral acontece antes da efetivação da transação) e ex-post
(quando se verifica durante a vigência do contrato).
Este comportamento pressuposto na ECT, segundo Farina et al.
(1997), é inerente ao ser humano, e mesmo que a maior parte dos agentes não
pratique trapaças e mentiras, a existência de apenas um que o faça já justifica
a necessidade da precaução e, como conseqüência, o custo de transação se
eleva.
A economia neoclássica considera o nível de auto-interesse simples ou
com a ausência total de oportunismo, ou seja, os agentes envolvidos nas
transações agem sem quebrar as normas contratuais, nem as leis pré-
estabelecidas (MATTOS, 2004).
21
2.1.4. Estruturas de governança e contratos
Para amenizar os custos advindos do oportunismo e da racionalidade
limitada inerente aos indivíduos, desenvolvem-se estruturas de governança. A
Coordenação via mercado, a integração vertical (hierarquias) e as formas
híbridas são tipos de estrutura de governança, sendo o último tipo uma mistura
dos extremos representados pela coordenação via mercado e pelas hierarquias
(WILLIAMSON, 1985).
Macneil (1974 apud WILLIAMSON, 1979) classifica os contratos em
Clássicos, Neoclássicos e Relacionais. Os contratos clássicos são definitivos e
comercializados sob a governança de mercado, o que se traduz em
padronização e impessoalidade dos contratos, e a identidade dos participantes
é irrelevante. Quanto aos contratos neoclássicos, eles se caracterizam pelo
longo prazo e são executados com incerteza por não cobrirem todos os
possíveis e imprevisíveis focos de atrito. São classificados como mais flexíveis
que os contratos clássicos e menos flexíveis que os contratos relacionais.
Esses últimos crescem com o aumento da duração e da complexidade dos
contratos. O que diferencia o contrato relacional do contrato neoclássico é,
essencialmente, o ponto de referência para adaptações. No caso do primeiro, o
contrato original é utilizado como referência e, no segundo tipo, a referência
para adaptações é a própria relação e a forma como ela se desenvolve
(WILLIAMSON, 1979).
A Figura 5 mostra a interação da especificidade do investimento com a
freqüência das transações. Foram definidas três categorias de investimentos:
não-específico, misto e específico. Em relação à freqüência, classificou-se
como ocasional (ou discreta) e recorrente (WILLIAMSON, 1979). Se, por
exemplo, o investimento for específico e as transações forem recorrentes, será
necessária a compra de insumos especializados para a execução do processo
produtivo.
22
Característica do investimento
Não-específico Misto Específico
Ocasional
Compra Compra Construção
Freqüência
Equipamento-padrão
Equipamentos
customizados
Planta
Recorrente
Compra Compra Produtos
Equipamento-padrão
Equipamentos
customizados
Intermediários
específicos
Fonte: Williamson (1979).
Figura 5 – Ilustração das transações comerciais.
A Figura 6 mostra a estrutura de governança mais adequada de acordo
com a especificidade do investimento e com a freqüência das transações. Caso
não haja a necessidade de investir em ativos físicos e humanos especializados
e as negociações comerciais sejam tanto ocasionais quanto recorrentes, a
governança de mercado se caracteriza pela estrutura mais adequada. Isto
significa que o contrato clássico será utilizado neste contexto.
Característica do investimento
Não-específico Misto Específico
Ocasional
Freqüência
Governança trilateral
(contrato neoclássico)
Recorrente
Governança de
mercado
(contrato clássico)
Governança bilateral
(contrato relacional)
Governança unificada
(integração vertical)
Fonte: Williamson (1979).
Figura 6 – Comparação da estrutura de governança com as transações.
23
Admitindo que o ativo tenha especificidade intermediária e a freqüência
é discreta e ocasional, a estrutura de governança adequada é a híbrida,
quando o tipo de contrato é o neoclássico. Se a freqüência é recorrente, a
estrutura de governança adequada é a híbrida e o contrato é relacional. Caso o
ativo tenha elevada especificidade e a freqüência seja discreta, a estrutura de
governança indicada é a híbrida e o contrato neoclássico. Se a freqüência for
ocasional, a estrutura de governança adequada é a hierárquica e o contrato é o
neoclássico. Quando a freqüência é recorrente, a estrutura adequada é a
hierárquica e o contrato é relacional (ZYLBERSZTAJN, 1995).
2.2. Referencial analítico
Considerando os objetivos da pesquisa de estudar os aspectos e
contextos ligados ao estabelecimento de acordos entre produtores e um
comprador de café especial, dividiu-se o estudo em duas fases.
Na primeira fase, foi feita uma análise qualitativa com o objetivo de
contextualizar as razões e atitudes dos cafeicultores para se engajarem em
arranjos para o fornecimento de cafés especiais para a Illycaffé, através do
desenvolvimento de multicasos, focando aspectos de governança definidos
pela Economia dos Custos de Transação (ECT).
Na segunda fase, foi feita uma análise quantitativa, com o
desenvolvimento de um modelo de regressão visando identificar aspectos
ligados ao perfil do produtor e a características do sistema de produção de café
que influenciam a disposição do produtor para estabelecer arranjos contratuais,
tendo também como base os fundamentos teóricos da economia de custos de
transação.
2.2.1. Análise qualitativa
2.2.1.1. Estudos de caso
O método do Estudo de Caso é umas das alternativas da pesquisa
qualitativa, caracterizada pela descrição, compreensão e interpretação dos
24
fatos e fenômenos, o que possibilita o aprofundamento na realidade social, não
conseguida plenamente pela avaliação quantitativa (MARTINS, 2006).
Ao analisar um caso particular, busca-se uma análise intensa ao
explorar todas as razões e particularidades do contexto estudado,
diferentemente de outros métodos, como a aplicação de questionários (survey),
que têm como característica principal apenas o levantamento de dados (GIL,
2006).
O estudo de caso pretende explicar relações causais, sendo adequado,
assim, para pesquisas exploratórias que respondem questionamentos de
“como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os
acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos
inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005).
A utilização deste método ocorre diante da possibilidade de se
observar o comportamento do objeto de estudo de forma direta. Em situações
em que o investigador não tem acesso ao objeto de estudo por razões de
tempo, como pesquisas relacionadas com fatos muito antigos, o Método
Histórico é o mais adequado em detrimento, portanto, do Método Experimental
e do Método de Estudo de Caso. Por sua vez, experimentos em laboratório, por
exemplo, são passíveis de controle e manipulação precisa, caracterizando uma
pesquisa conduzida de forma sistemática e tendo o Método Experimental como
o mais apropriado (YIN, 2005).
A maneira de se aplicar este tipo de questão, de “como” e “por que”, é
através do roteiro de entrevistas e da observação direta do contexto de
interesse, para que haja a compreensão dos processos e dos comportamentos
organizacionais (YIN, 2005).
Ao se projetar o estudo, planeja-se, no processo, a escolha da unidade
de análise e da coleta de dados propriamente dita (YIN, 2005).
O estudo de caso inclui as variantes estudo de caso único e estudo de
casos múltiplos. A utilização do estudo de casos múltiplo apresenta vantagens,
segundo Yin (2005), comparado ao estudo único, pois os projetos de caso
unido são vulneráveis já que significam, de acordo com as palavras do autor,
“apostar todas as fichas num único número”.
Desta forma, na condição de estudos de caso múltiplos, o primeiro
estudo de caso é desenvolvido e prepara-se o seu relatório, explorando os
25
resultados. Com base no avanço do conhecimento permitido pelo primeiro
estudo de caso, escolhe-se o segundo estudo de caso, que segue a mesma
seqüência de passos do primeiro, e assim sucessivamente.
Os procedimentos adotados para o estudo de multicaso utilizado nesta
pesquisa são semelhantes àqueles adotados para um estudo de caso único. A
coleta de dados é feita, principalmente, com base na observação e por meio de
entrevistas semi-estruturadas, em que o pesquisador conduz uma
conversação segundo um roteiro de perguntas previamente estabelecido
(MARTINS, 2006).
A realização de um estudo de caso exige habilidade do profissional que
o executará, como a capacidade de fazer boas perguntas, de ser bom ouvinte,
de ser flexível; ter noção clara das questões que estão sendo estudadas; e
evitar julgamentos preconcebidos das repostas obtidas (YIN, 2005).
Essas habilidades aliadas ao treinamento, ao desenvolvimento de um
protocolo, à triagem dos locais e dos indivíduos que serão entrevistados, e à
condução de um estudo piloto garantem mais confiabilidade aos resultados da
pesquisa (YIN, 2005).
O método do estudo de caso apresenta vantagens e desvantagens de
acordo com o tipo de problema de pesquisa a ser analisado (BRESSAN, 2007).
Dentre as vantagens dessa estratégia de pesquisa, pode-se citar que o método
possibilita o entendimento de fenômenos sociais complexos (GIL, 1999).
Segundo Yin (2005), o estudo de caso contribui com o conhecimento
dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além
de outros fatos relacionados. Abrange a exploração, portanto, de eventos
comportamentais, de acontecimentos contemporâneos em detrimento dos
acontecimentos históricos.
Algumas críticas são feitas a respeito do Método do Estudo de Caso
em relação ao tamanho da amostra utilizada para o estudo e quanto à
subjetividade do tema tratado. As três principais preocupações quanto ao
método do estudo de caso são: a possível falta de rigor da pesquisa, a pouca
base para se fazer generalização científica, e o tempo gasto para a coleta de
informações que resultam em relatórios extensos (YIN, 2005).
26
Para evitar a possível falta de rigor científico, é preciso seguir
procedimentos sistemáticos e estar sempre alerta para não incluir visões
tendenciosas que influenciam o significado das constatações e conclusões.
No estudo de caso, o que se procura generalizar são proposições
teóricas e não proposições sobre populações. Nesse sentido, os Estudos de
Casos Múltiplos ou as replicações de um Estudo de Caso com outras amostras
podem indicar o grau de generalização de proposições, pois a seqüência dos
casos analisados conduz ao enriquecimento do entendimento relativo ao
comportamento do fenômeno estudado. Além disso, a apresentação do
relatório de pesquisa não precisa ser uma extensa narrativa detalhada, mas
deve ter um estilo claro, que incite a leitura.
Para a utilização desse método, é recomendado cuidado no
planejamento e na execução do estudo de caso por meio de treinamentos
criteriosos dos investigadores responsáveis pela aplicação do roteiro de
entrevistas e, por fim, a composição de relatórios mais objetivos que encorajam
a leitura e a análise (YIN, 2005).
Como essa pesquisa possui caráter descritivo e exploratório, o método
de estudos de caso múltiplos apresenta-se como vantajoso, pois pode fornecer
um entendimento mais geral do comportamento dos agentes envolvidos (YIN,
2005), no caso os produtores da ARCA e da Illycaffè.
2.3. Procedimentos analíticos
2.3.1. Área e abrangência do estudo proposto
Para a execução da proposta de pesquisa, utilizaram-se como universo
de estudo a ARCA (Associação Regional de Cafeicultores), composta por 101
produtores da microrregião de Viçosa, que produz cafés especiais, e a Illycaffè,
uma empresa italiana compradora desse tipo de café.
2.3.2. Fonte de dados
Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o mercado
de cafés especiais, procurando criar o embasamento necessário para a
27
construção do roteiro de entrevista. Este, por sua vez, foi construído com base
em questões pertinentes à compreensão dos “comos” e “por quês” envolvidos
no comportamento dos produtores pertencentes à ARCA, em relação as suas
transações comerciais com a Illycaffè, conforme o Apêndice A, tendo como
respaldo teórico a Economia dos Custos de Transação e suas dimensões
principais, que são especificidades dos ativos: freqüência e incerteza.
Após a estruturação da entrevista, foi aplicado um teste (entrevista
piloto) a um cafeicultor para verificação da clareza das perguntas feitas. A partir
de então, iniciou-se a pesquisa de campo no período de 4 a 23 de agosto de
2006.
Foram entrevistados 11 cafeicultores (casos múltiplos) pertencentes ao
mesmo grupo dos 27 produtores utilizados para o modelo econométrico, para a
fase de pesquisa quantitativa.
A duração média das entrevistas foi de aproximadamente 40 minutos.
Após a décima primeira entrevista, percebeu-se uma repetição de argumentos
e fatores, sem adição de novos elementos às informações já coletadas. Daí,
concluiu-se que se havia atingido a saturação dos pontos relevantes da
pesquisa, não sendo necessário avançar com o estudo de caso (YIN, 2005).
2.4. Análise quantitativa
2.4.1. Modelos de regressão
Nesses modelos, uma variável dependente é expressa como uma
função linear de uma ou mais variáveis explicativas, e o objetivo da regressão é
estimar valores da população baseando-se em amostragem; isto é, através de
observações amostrais fazer afirmações sobre a população estudada.
Segundo Hill et al. (2003), a inferência estatística significa conhecer
algo sobre o mundo real, analisando uma amostra de dados. Essa inferência
pode ser feita através da estimativa dos parâmetros, da predição dos
resultados econômicos e de testes de hipóteses econômicas.
28
De acordo com o modelo de regressão abaixo, as razões para estimar
este modelo são explicar como a variável dependente (
) varia em função da
variável independente (
) e prever dado :
i
Y
i
X
0
Y
0
X
iii
eXY +
+
=
21
β
β
]
Apesar da análise de regressão investigar a dependência de uma
variável em relação a outras, as mudanças em uma variável dependente
qualquer estão associadas a mudanças nas variáveis explicativas incluídas no
modelo, o que não informa, necessariamente, sobre as relações de causa e
efeito. No entanto, supõe-se, com base na teoria utilizada para a análise, que
as relações causais direcionem das variáveis independentes para a variável
dependente (GUJARATI, 2000).
2.4.2. Modelo operacional
O modelo utilizado no trabalho de pesquisa é o modelo econométrico
de Regressão Múltipla. Em um modelo geral de regressão múltipla, uma
variável dependente
está relacionada com variáveis explanatórias
por uma equação linear que pode ser escrita como:
t
y
tktt
xxx ,...,,
32
ttkkttt
exxxy
+
+
+
+
+=
β
β
β
β
...
33221
Os coeficientes
k
β
β
β
,...,,
32
são parâmetros desconhecidos. O parâmetro
k
β
mede o efeito de uma modificação na variável
sobre o valor esperado de
, , mantidas constantes todas as outras variáveis (HILL et al., 2003).
tk
x
t
y )(
t
yE
Para este trabalho, foi estimada a seguinte equação (1):
iiiiii
edistaatecfreqedependICI +
+
+
+
+
+=
543210
exp
β
β
β
β
β
β
(1)
29
em que
é índice de contratos informais, em porcentagem; ,
número de dependentes; , anos de experiência do cafeicultor na atividade
cafeeira;
, número de vendas do produto feitas durante o ano; , grau
de assistência técnica recebida da empresa compradora (0 = ausente, 1 =
baixa, 2 = média, 3 = alta);
, distância em km entre a propriedade rural e a
associação (ARCA);
, termo de erro aleatório; e
i
refere-se ao número de
observações.
i
ICI
i
depend
i
eexp
i
freq
i
atec
i
dista
i
e
O modelo de Regressão Múltipla utilizado no trabalho de pesquisa é o
modelo econométrico Tobit em razão da variável dependente qualitativa e da
“amostra censurada”, que é uma amostra em que a informação sobre a variável
dependente está disponível somente para algumas observações. Isso significa
que a variável de interesse não pode ser observada em todo o seu domínio, ou
não é observada por alguns dos indivíduos que a integram (OLIVEIRA, 2004).
O modelo Tobit é conhecido, portanto, como um modelo de regressão
múltipla cuja variável dependente é limitada pela restrição imposta sobre os
valores assumidos pelo regressando (GUJARATI, 2000):
ttt
xy
µ
α
+=
Se 0>
+
tt
x
µ
α
Se 0
+
tt
x
µ
α
Nt ,...2,1=
em que N é o número das observações;
, a variável dependente; , o vetor
de variáveis independentes;
t
y
t
x
α
o vetor de coeficientes desconhecidos; e
t
µ
, erro
aleatório, que é distribuído com média 0 e variância constante (GUJARATI,
2000).
Um índice
I
é criado como uma função linear das variáveis
independentes. Esse índice pode ser escrito assim:
)/(
δ
β
α
tt
xxI
=
=
30
Os estimadores do modelo Tobit são o parâmetro de normalização
δ
e
o vetor
α
, de coeficientes normalizados. O índice
I
é transformado em uma
variável dependente limitada, estimada pelas funções de densidade normal e
normal cumulativa.
Admitindo-se que o valor limite seja zero, as observações da variável
dependente podem ser ordenadas, tal que as S primeiras observações tenham
e as últimas N-S observações tenham , os parâmetros
0=
t
y 0>
t
y
α
e
δ
podem ser estimados pela maximização do valor da função log-
verossimilhança, como descrito a seguir:
∑∑
=+=
+=
S
t
N
St
tttt
IyfIyFL
11
)](log)](1log[
δδ
Os coeficientes normalizados estimados do modelo Tobit não podem
ser usados diretamente para análise dos impactos das variáveis independentes
na variável dependente, visto que esses coeficientes representam impactos,
considerando-se as transformações das funções de densidade normal. É
possível, no entanto, calcular um efeito marginal dos coeficientes, o que torna a
interpretação semelhante aos coeficientes produzidos pelo método dos
mínimos quadrados.
No entanto, se
for uma função linear de , o efeito marginal de
uma variação nas variáveis explicativas continua a ser uma constante
(OLIVEIRA, 2004), conforme demonstrado a seguir:
i
Y
i
X
j
ji
ii
X
XYE
β
=
)/(
Φ=
σ
β
β
i
j
ji
ii
X
X
XYE
.
)/(
2.4.3. Escolha de variáveis do modelo analítico
Segundo Lyons (1994 apud LIMA; IRMÃO, 2004), os determinantes da
probabilidade dos agentes escreverem um documento formal que regule a
31
relação contratual estão relacionados com a vulnerabilidade, complexidade,
confiança, e o tamanho da escala de produção. A vulnerabilidade se refere à
sensibilidade e à conduta oportunista de um agente em relação ao outro.
Quanto à complexidade, se o produto for simples e imutável, mais
descomplicada será a elaboração de normas que regulam a sua negociação.
Uma escala de produção grande implica muitas perdas ao se firmar um
contrato mal elaborado e pouco específico. E, por fim, a confiança interfere na
elaboração de contratos mais rígidos ou não. Com o aumento da confiança
menor será a necessidade de relações contratuais mais rigorosas.
Segundo a teoria da Economia dos Custos de Transação (ECT), as
dimensões principais que diferenciam as transações são a especificidade dos
ativos, a incerteza e a freqüência das transações. Considerando as dimensões
principais da ECT, procurou-se identificar variáveis do contexto das transações
que envolvem produtores e compradores de café e que se relacionem com o
grau de incerteza, de especificidade de ativos e de freqüência de transações.
Em relação ao grau de incerteza, foram incluídas as variáveis número
de dependentes do cafeicultor e sua experiência na atividade. O número de
dependentes, cônjuge e, ou, outros dependentes, foi incluído no estudo
admitindo-se a possibilidade de que a existência de dependentes poderia
influenciar na decisão de se engajar numa negociação que envolva mais
segurança ou não. Por sua vez, a experiência do produtor com a atividade
pode estar diretamente relacionada com o nível de incerteza que ele percebe
em relação ao desenvolvimento da atividade. Esse nível de incerteza pode
influenciar sua disposição em estabelecer relações contratuais.
Para se captar a especificidade dos ativos, consideraram-se as
variáveis assistência técnica fornecida e distância da propriedade ao centro
comprador. Caso haja o fornecimento por parte do comprador da produção de
algum tipo de assistência técnica, constitui-se, neste caso, a especificidade de
ativos dedicados. O investimento do parceiro de negócios na produção de seu
fornecedor implica maior dependência, pois é um tipo de investimento que,
após executado, não possui aplicação alternativa, caso as negociações se
encerrem.
A distância entre centro produtor e comprador pode influenciar o nível
de dependência entre os diferentes elos de uma cadeia produtiva. A variável
32
distância pode influenciar as condições da relação entre produtores e
compradores. Na ocorrência de poucos compradores em locais mais próximos,
pode haver desejo de garantir a venda da produção para esse agentes, pois,
do contrário, a venda para compradores em distâncias maiores poderá trazer
mais custos associados ao transporte.
A freqüência das transações foi medida em termos de números de
vezes em que ocorrem as vendas do produto durante o ano. Se a freqüência
for muito elevada, os agentes terão motivos para não impor perdas aos seus
parceiros, e possivelmente se engajarão em relações contratuais que reduzem
o oportunismo, uma vez que uma atitude oportunista poderia implicar a
interrupção da transação e a conseqüente perda dos ganhos futuros derivados
da troca (AZEVEDO, 2000).
Na Tabela 3 estão descritas as variáveis incluídas no modelo,
baseadas nos fatores comentados acima. Tal modelo possui como variável
dependente o Índice de Contratos Informais (ICI), que se refere à fração da
produção total de determinada atividade que se destina a atender regras
firmadas ou acordos a respeito do processo produtivo. Na produção de café,
este índice pode ser definido como a razão entre a porcentagem da quantidade
de café transacionada como café especial pela quantidade total de café
produzido pela propriedade rural.
2.4.4. Fonte de dados
Os dados do trabalho foram coletados em pesquisa de campo,
realizada em agosto de 2006. A amostra foi constituída de 27 observações
feitas na Associação Regional de Cafeicultores (ARCA), que é a Central
Experimental de Beneficiamento Coletivo de Café Cereja oriunda do convênio
entre a Universidade Federal de Viçosa e a Prefeitura Municipal de Viçosa, e
que tem como parcerias empresas como EMATER e EPAMIG.
Os testes foram realizados com o software LIMDEP 8.0
33
Tabela 3 – Descrição de variáveis incluídas no modelo regressão de índice de
contratos informais entre associados da Arca e a Illycaffè, e relação
das variáveis com a teoria dos custos de transação
Variáveis
Relação com a teoria
de custos de
transação
Descrição
ici Variável dependente
Índice de contratos informais (%café especial/%café total
produzido)
depend Incerteza Cônjuge e, ou, dependentes (número pessoas)
expe Incerteza Experiência como produtor na produção cafeeira (anos)
freq
Freqüência da
transação
Número de vezes que ocorreram vendas/ano
atecnica Ativo dedicado Assistência técnica fornecida (0: ausente; 1: presente)
distancia
Especificidade
locacional
Distância entre centro produtor e comprador
2.4.5. Determinação do tamanho da amostra
O cálculo do tamanho da amostra varia de acordo com o tamanho da
população e se esta é infinita ou finita. Como a população pesquisada é finita, a
fórmula utilizada para se obter o tamanho da amostra, segundo Gil (1999), é:
qpNe
Nqp
n
..)1.(
...
22
2
σ
σ
+
=
em que
é tamanho da amostra; , nível de confiança escolhido, expresso
em números de desvios-padrão;
n
2
σ
p
, percentagem com a qual o fenômeno se
verifica;
, percentagem complementar; , tamanho da população; , erro
máximo permitido
q
N
2
e
Neste estudo, a população estudada é de 101 produtores rurais
(quantidade de produtores associados na ARCA). Dado o conhecimento sobre
a percentagem média com a qual o fenômeno se verifica, utiliza-se 10% para
e utiliza-se 90% para . O nível de confiança escolhido foi de 95% e, para
p q
34
este nível de confiabilidade, a variável Z assume o valor de dois (Z=2). O erro
amostral considerado foi igual a 10%. Assim, utilizando-se a fórmula, tem-se:
74,26
90,0.10,0.2)1101.(1,0
101.90,0.10,0.2
22
2
=
+
=n
35
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise qualitativa pretendeu promover a compreensão das razões
do processo de negociação existente entre os produtores da ARCA e a
Illycaffè.
Os resultados são apresentados abordando-se os aspectos
relacionados aos atributos de transação (especificidade dos ativos, incerteza e
freqüência de transação) e à estrutura de governança mais adequada levando
em conta esses atributos.
3.1. Atributos da transação
3.1.1. Especificidade dos ativos
Em termos da especificidade ligada à mão-de-obra, o processo de
despolpamento do café encarece os custos de produção, tanto na colheita
como na pós-colheita. Portanto, para sua utilização, é necessário obter um
preço mais elevado pelo produto, que compense tais custos para o cafeicultor.
O procedimento de despolpamento, para ser executado de forma adequada,
requer capacitação dos trabalhadores envolvidos na produção (MONTE;
TEIXEIRA, 2006):
“O café especial, o trato dele deve ser melhor, porque você começa a adubar a
terra e principalmente na colheita, tem que manejar a terra, tem que ser bem
uniforme. Então é preciso uma pessoa que esteja bem treinada pra isso.[...]
36
Tem que saber trabalhar com o despolpador e secar o café[...] Você acaba
tendo que valorizar e pagar mais caro” (Cafeicultor Entrevistado).
No despolpamento do café, retiram-se a casca e a polpa dos frutos
maduros, pois são resíduos que estimulam a proliferação e o desenvolvimento
de microorganismos causadores de fermentação que leva o café a ser
classificado como bebida inferior. O processo de despolpamento é feito via
descascadores mecânicos, com posterior lavagem dos grãos, reduzindo a área
utilizada do terreiro e o tempo necessário para a secagem.
De acordo com os resultados da pesquisa, foi observada a resistência
dos trabalhadores à mudança no método de produção como uma das barreiras
para se obter café de melhor qualidade. Tanto o despolpamento do café quanto
a prática da colheita seletiva requer treinamento e disposição do trabalhador
envolvido na produção. No entanto, como um dos principais gargalos da região
é a falta de mão-de-obra, o cafeicultor que utiliza métodos tradicionais de
produção encontra, mais facilmente, prestadores de serviço. Os cafeicultores,
por exemplo, que fazem derriça total tornam-se mais atrativos pela mão-de-
obra, pois a colheita seletiva, técnica alternativa à derriça total, demora mais
tempo. Mesmo com o pagamento de hora extra, os cafeicultores que utilizam
desta técnica de colheita, necessária para se obter café de melhor qualidade,
ficam em desvantagem pela dificuldade de se conseguirem apanhadores para
este trabalho:
“Precisa mudar a cultura do agricultor brasileiro, o apanhador de café...
enquanto o produtor faz a colheita seletiva pra fazer café especial com o café
maduro, o vizinho não está preocupado com qualidade, tá fazendo derriça total.
Aquele que tá fazendo seletiva vai ficar sem mão-de-obra...” (Cafeicultor
Entrevistado).
Assim como na pesquisa realizada por Gonçalves et al. (2005), na
região de Viçosa, os produtores que não utilizam a técnica da colheita seletiva
alegam a falta de qualificação técnica dos empregados e também a resistência
da mão-de-obra ao estabelecimento de contrato temporário, pois, na opinião
dos trabalhadores, é desvantajoso, quando eles vão procurar um novo
emprego.
A recusa por parte dos empregados em relação à regulamentação
também reflete um empecilho para a contratação, de acordo com os
37
produtores. Esta regulamentação significa assinar a carteira de trabalho desses
empregados e formalizar a prestação de serviço.
A topografia da região, marcada por montanhas, exige a intensa
utilização de mão-de-obra para o preparo do solo, plantio e colheita. Como a
procura pelo serviço oferecido por estes funcionários é superior, no caso da
região de Viçosa, a oferta de trabalho, liberdade e flexibilidade são valorizadas
em detrimento do compromisso formal de trabalho regulado por lei,
promovendo, assim, grande alternância de funcionários no negócio.
Outro fator observado nas entrevistas é a falta de conhecimento por
parte dos próprios cafeicultores do processo de colheita seletiva, que não
significa, como alguns consideram, colher o grão maduro de cada pé, fruto a
fruto. Este equívoco leva muitos a considerarem um método de colheita difícil
de ser colocado em prática. Existem, sim, diferentes manejos ou formas de
fazer a colheita seletiva, como colher o terço superior da planta, que é a parte
que recebe maior luminosidade e amadurece primeiro, e, num segundo
momento, iniciar a colheita do restante que permaneceu na planta. É possível
também usar um talhão e fazer, nessas condições, a derriça total.
A falta de conhecimento desses processos pode encarecer a fase de
colheita seletiva e até inviabilizá-la, o que, segundo os entrevistados, costuma
ser responsável por 60 a 70% do custo total da produção.
Conforme a pesquisa mostrou, os próprios cafeicultores treinam os
seus empregados, pois parte significativa dos entrevistados são engenheiros-
agrônomos ou tem parentes próximos, como cônjuge e filhos, que possuem a
formação em agronomia.
Segundo os cafeicultores entrevistados, para se produzir café de
melhor qualidade é preciso o trato da lavoura por pessoas conhecedoras das
técnicas eficientes de manejo e do trato da colheita e pós-colheita.
Ainda na parte de treinamento, no caso da Associação estudada
(ARCA), existem parcerias com órgãos de assistência rural como EMATER e
EPAMIG, que são responsáveis pela maior parte dos cursos ministrados aos
produtores da região.
A Prefeitura Municipal de Viçosa também se constitui em uma parceira
da Associação e contribui com a inclusão dos produtores associados no
Programa Municipal de fomento à Cafeicultura (Procafé), criado em 1998 pela
38
Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, que proporciona a
instrução técnica em forma de palestras e cursos, além da compra em conjunto
de insumos, análise de solos, concessão de maquinário e mudas de qualidade.
Outra parceria importante para a associação é da Universidade Federal
de Viçosa (UFV), que contribui na transmissão de conhecimento, através de
seus técnicos e pesquisadores por meio de eventos, como a Semana do
Fazendeiro.
Considerando os fatores citados anteriormente, pode-se concluir que a
especificidade de ativos humanos foi considerada baixa, ao se analisar o pouco
investimento em capacitação técnica e científica, sem a acumulação, no
entanto, de conhecimentos específicos cujo aproveitamento em outra atividade
seja dificultado por sua alta especialização.
Segundo Gonçalves et al. (2005), um produtor de café especial
independente possui especificidade dos ativos considerada alta, porque investe
mais em treinamento, equipamentos e marca própria comparado a produtores
associados, como no caso da ARCA.
O produtor independente se diferencia da amostra estudada, pois não
é filiado a uma associação de produtores, como a ARCA. Este produtor,
geralmente, se volta para o mercado externo e, para isso, justifica-se o
investimento maior em uma marca própria e a construção de valores subjetivos
ligados ao consumo do café vendido por ele, como tradição da família
detentora da produção daquele café e, até mesmo, valores ligados às relações
sociais e ambientais corretas de sua produção.
Para os cafeicultores ouvidos na pesquisa de campo, a produção de
café especial não requer tratos culturais muito complexos e sua obtenção
depende quase exclusivamente dos cuidados pós-colheita.
Os cuidados pós-colheita requerem grande uso de máquinas e
equipamentos e, conseqüentemente, são os que mais geram custos na
obtenção do café considerado especial.
Os instrumentos usados, em geral, para a fase pós-colheita da
produção de café são lavador, desmucilador, despolpador, terreiro, secador e
máquina beneficiadora.
A maior parte dos entrevistados utiliza lavador, terreiro cimentado e um
secador tipo barcaça apenas para dias chuvosos. O beneficiamento do café
39
dos produtores entrevistados é feito na Central Experimental de
Beneficiamento Coletivo de Café Cereja, onde funciona parte das atividades da
Associação (ARCA) situada dentro do Campus da UFV.
Segundo os entrevistados, no preparo do café cereja descascado, os
grãos derriçados na lavoura são lavados para a separação do bóia e de
possíveis pedras e torrões de terra. Logo depois, são separados os grãos
verdes dos grãos cereja pelo descascamento numa máquina, que pode ser
regulada de forma que apenas esses grãos sejam descascados. Esses grãos
cerejas, ou seja, grãos em ponto de maturação, são levados ao processo de
secagem que pode ser ao sol ou no secador; este último indicado apenas para
dias chuvosos.
A aquisição de todo o maquinário acarreta alto investimento por parte
do produtor, o que se constitui uma barreira para os pequenos e médios
cafeicultores:
“Nós levamos os nossos empregados para aprender a lidar com as máquinas,
eles ficaram uma semana. Nós tínhamos a intenção de comprar as máquinas,
mas são muito caras ainda.” (Cafeicultor entrevistado)
No caso dos associados da ARCA, parte deste maquinário foi adquirida
pela associação, e o beneficiamento do produto é feito na Central Experimental
de Beneficiamento Coletivo. Como os custos são rateados entre os associados,
observa-se uma redução no gasto anual com este processo de beneficiamento
comparado com produtores que possuem todo o maquinário e fazem o
beneficiamento dentro da sua propriedade.
Mesmo fazendo o beneficiamento na Central, o investimento em
equipamentos, como lavador, terreiro cimentado ou suspenso, e secador, feito
pela maior parte das propriedades analisadas, caracteriza-se por
especificidade de ativos físicos, pois são equipamentos para atender a esta
atividade. Na hipótese de realocação para outra atividade, acarretaria
acentuada perda de valor de mercado.
O relacionamento comercial com a Illycaffè promove entre os
produtores o desejo pela busca incessante da qualidade do produto, dada às
exigências feitas pela empresa compradora para que a aquisição do café
advindo da ARCA se efetive.
40
Quanto às exigências feitas pela Illycaffè, podem-se citar, de acordo
com o Apêndice C: lotes de preferência provenientes de descascamento
mecânico prévio à secagem, lotes com no máximo 12 defeitos; peneira 16
acima (máximo de 2% vazamento); teor de umidade de 11%; uniformidade
desta umidade; e somente café arábica.
Muitos são os investimentos feitos por parte dos cafeicultores para
atender a estas exigências feitas pela Illycaffè. Na ausência de garantia da
compra do café por parte da torrefadora, os associados se vêem expostos ao
risco de, mesmo atendendo boa parte dessas exigências, não conseguir
vender o café em um preço adequado.
Dentre os investimentos feitos pelos cafeicultores, podem-se citar, de
acordo com os resultados da pesquisa, o pagamento superior para os
apanhadores que fazem colheita seletiva, o gasto com pagamento de hora
extra, gasto para a manutenção de uma estrutura adequada para o trato e
armazenamento do café especial, o investimento em maquinário próprio, e
despesas com energia elétrica para o maquinário.
Portanto, a especificidade dos ativos físicos na produção de café
especial pode ser considerada alta, conforme discutido anteriormente, pois as
aquisições e os investimentos necessários para se obter qualidade no café
produzido implicam acumulação de máquinas e equipamentos específicos,
que, dado a sua particularidade, seriam pouco aproveitados em uma outra
atividade.
Quanto à especificidade locacional, pode-se dizer que o custo de
transporte não é algo que sensibiliza o produtor para estabelecer acordos com
um comprador de café, já que a maior parte das unidades produtivas
analisadas se localiza próxima à Central de Beneficiamento. A propriedade
mais distante está a 50 km no município de Divinésia, com a distância média
das propriedades da amostra pesquisada de 18 km em relação à Central de
Beneficiamento.
O fator perecibilidade é também um aspecto que pode afetar as
transações entre os agentes do mercado de café, pois o produto não é
considerado perecível na percepção dos entrevistados, ao considerar que o
tempo máximo de armazenagem pode chegar a mais de um ano.
41
Portanto, se for um ano considerado de muita oferta, o cafeicultor pode
armazenar o produto e aguardar a elevação do preço. A época definida pelos
entrevistados como a melhor para a venda do produto é de janeiro a março,
visto que são meses que estão no período de entressafra, quando
normalmente o preço do café se eleva como conseqüência da oferta menor
comparada com a oferta do período da safra, que se estende de maio a julho.
Porém, a maioria não espera até este período para ofertar o café e
costuma vender boa parte logo após a colheita, no momento de baixa dos
preços pagos ao produtor. Alguns vão colhendo, beneficiando e vendendo toda
a safra. Este fato é explicado pela necessidade de custear as despesas da
atividade e obter recursos para a compra de insumos de produção:
“Normalmente, eu já vou colhendo, beneficiando e já vou vendendo. Época de
preços baixos, porque eu comercializo na safra [...] Nessa fase da colheita a
gente gasta muito. Então a gente precisa de dinheiro nesta época [...] Mas isso
não é bom, porque na época da safra o preço tá baixo.” (Produtor entrevistado)
Pode-se considerar que especificidade locacional e temporal para a
produção de café especial é baixa. Por sua vez, a especificidade de ativos
humanos também pode ser considerada pequena, ao se considerar a
necessidade de treinamento e instrução para o manejo adequado da cultura.
Diante dos resultados observados na pesquisa de campo, destaca-se a
especificidade dos ativos físicos como a principal geradora de incertezas
quanto à comercialização do café.
3.1.2. Incerteza
Os motivos que geram incerteza nos produtores de café especial
analisado se resumem em não obter o preço justo pela produção oferecida no
mercado e a falta de garantia quanto à quantidade que será comprada, que
estão relacionadas com a falta de acordo formal e o pequeno número de
empresas compradoras do café especial.
Esta incerteza quanto às flutuações do preço do produto, aliada à falta
de contrato entre partes garantindo a compra do produto, leva ao risco de não
vender o café pelo preço e quantidade necessários para se cobrir pelo menos
os custos de produção.
42
Nenhum dos cafeicultores entrevistados vive apenas com a renda do
negócio agrícola. A maior parte considerou a produção de café a melhor
atividade agrícola para se investir na região, mesmo declarando que utilizam
recursos financeiros da outra fonte de renda para cobrir parte das despesas da
produção cafeeira na propriedade rural.
Observou-se, também, a ausência de registro e contabilização dos
custos totais da produção, o que pode ser considerado como um empecilho
para o conhecimento da realidade financeira da empresa rural e um dificultador
para o acompanhamento do real rendimento obtido no negócio. Este
acompanhamento faz-se necessário para que o cafeicultor possa definir se é
vantajoso ou não investir na produção do café de qualidade, diante dos preços
pagos pelo mercado.
A alta concentração de empresas compradoras de café aumenta a
incerteza do mercado, desestimulando o produtor em investir na qualidade do
café produzido, uma vez que o preço pago ao produtor pode não se diferenciar
do café commoditty mesmo com a oferta do produto diferenciado.
Nem sempre a gente consegue o preço que a gente acha que vale[..] eles (os
compradores) ficam cartelizados. O número existente não favorece a gente
não, não é o diferencial. Eles comunicam entre si.” (Cafeicultor Entrevistado)
Para a produção do café especial ser considerada viável, do ponto de
vista econômico, deverá existir a diferença de preço pelo menos 50% superior
comparado com o preço do café commoditty (OLIVEIRA et al., 2005).
Além das oscilações do mercado, a produção cafeeira, assim como a
produção agrícola em geral, possui incertezas ligadas também às variações
climáticas, que podem ser amenizadas com planejamento e tecnologia, o que
requer do produtor a capacidade de prever contingências futuras.
Investimento em um secador e treinamento dos funcionários para a sua
utilização correta é um exemplo de uma forma de evitar prejuízos no trato pós-
colheita no caso de uma eventualidade, que, neste caso, seria um período
chuvoso que poderia impossibilitar a secagem dos grãos no terreiro.
Quanto ao estabelecimento de contratos entre os produtores e a
empresa compradora, observou-se que os acordos informais podem beneficiar
os dois lados, o que significa que a não-formalização de um documento
43
respaldado pela lei regularizando a relação comercial possibilita para as partes
envolvidas flexibilidade e independência.
Em relação aos produtores, o estabelecimento de acordo formal com
alguma empresa compradora é temido pela possível perda de flexibilidade nas
negociações, dada a flutuação de preços inerentes ao mercado de café. Um
aumento ou a queda nos preços do produto podem ser afetados por fatores
especulativos, o que caracteriza o mercado, segundo os cafeicultores, como
instável.
Essa inconstância nos preços pode favorecer os cafeicultores na
comercialização, pois é possível armazenar o café e vendê-lo no período mais
vantajoso de alta nos preços, que pode ser devido à entressafra ou em função
de notícias como geadas em regiões produtores de café.
Ao se firmar um contrato de fornecimento, o preço recebido pelos lotes
vendidos é fixado a priori. Logo, a possibilidade de o valor do café no mercado
estar acima do fixado no contrato de venda, no momento da entrega do lote
contratado, gera incerteza por parte do produtor em relação ao
estabelecimento do acordo.
Uma das causas do receio das torrefadoras realizarem acordos formais
seria a não-garantia de regularidade da oferta, porque o não-cumprimento da
quantidade previamente contratada acarretaria prejuízos para a empresa.
Há um acordo informal entre a Associação e a empresa italiana de
compra do café produzido na microrregião de Viçosa. Esta parceria é
simbolizada pela freqüência nas negociações do café ofertado pela Associação
e pelo envio de recursos financeiros para a construção de uma nova sede para
a ARCA, em conjunto com investimentos em pesquisas voltadas para o setor
cafeeiro, patrocinadas pela Illycaffè em Viçosa por meio da UFV.
3.1.3. Freqüência
Segundo Williamson (1979), em relação à freqüência, classificam-se as
transações como ocasionais (ou discretas) e recorrentes. A interação entre a
freqüência e a especificidade do investimento é um aspecto importante na
indicação da estrutura de governança mais adequada para cada tipo de relação
entre agentes.
44
Transações ocasionais tendem a ocorrer no mercado “spot”, mas, à
medida que os negócios de compra e venda vão se intensificando, é
necessária a adoção de estruturas de governança que permitam o
monitoramento do negócio entre os agentes.
O que se observa, no contexto estudado, é uma fase de transição entre
as vendas ocasionais para vendas recorrentes entre a ARCA e a Illycaffè. A
parceria está ainda incipiente, e dado os investimentos recentes da empresa na
Associação, os produtores associados esperam uma intensificação na relação
comercial.
A freqüência na comercialização do café especial com a Illycaffè é
caracterizada pela recorrência, já que a empresa efetiva suas compras num
período predeterminado, que geralmente se estende de julho a novembro, e
adquire lotes grandes, relativamente à capacidade da ARCA, de forma
consecutiva desde a formação da Associação.
A maior parte do que é vendido pela ARCA destina-se á aquisição feita
pela Illy, em termos de volume vendido. No entanto, a associação também
comercializa com outros parceiros que compram parte do café oferecido pela
ARCA.
Muitas vezes acontece, segundo os entrevistados, de as amostras do
café serem enviadas e não preencherem todas as exigências da Illy. Neste
caso, o café não é vendido para a empresa, mesmo sendo um café de boa
qualidade. Este lote “rejeitado” pela Illy passa então a ser vendido para outros
compradores e é classificado como fundo Illy.
Os cafeicultores associados promovem a venda do café em mais de
uma etapa, em geral vendendo o produto para outros compradores que não a
Illycaffè. A primeira etapa acontece na safra logo após a colheita, enquanto a
segunda costuma ser no final do ano, e a terceira entre os meses de janeiro e
março do próximo ano.
“Vou vendendo parte (da produção) a medida que eu tenho necessidade de
capital... a medida que a gente vai precisando de liquidez pra pagar conta, pra
fazer face ao custo de produção, né? Compra de adubo, isso tudo.(Cafeicultor
entrevistado)
As entrevistas mostraram que quanto mais descapitalizado é o
produtor, ou seja, quanto menos recursos ele possui para investir no negócio
45
agrícola, maior o volume de vendas concentradas na primeira etapa, que
acontece no período de safra, imediatamente após a colheita.
No caso da comercialização com a Illycaffè, os produtores da
associação possuem prazo limitado, em geral até o mês de novembro para
realizar as transações de venda do produto. Tal aspecto confere à empresa
poder arbitrário sobre os preços pagos ao produtor pelo café que se encontre
dentro das exigências feitas previamente, descritas no documento do Apêndice
C.
3.2. Formato das relações de coordenação
Na visão dos cafeicultores, a principal vantagem de se produzir café de
qualidade superior é o preço maior obtido pelo produto e o relacionamento
diferenciado com os compradores.
Quanto às desvantagens da produção desse tipo de café, destaca-se o
aumento nos custos de produção como fator preponderante. Estes custos
estão diretamente associados às mudanças na colheita e pós-colheita, como
nos métodos de beneficiamento e aquisição de equipamentos para o
despolpamento, mudanças essas importantes para se conseguir um padrão
diferenciado de qualidade do produto.
As empresas torrefadoras obtêm a sua matéria-prima
preferencialmente de associações de cafeicultores. No caso de Viçosa, a
Illycaffè iniciou suas negociações na região apenas pelo intermédio da
associação regional de cafeicultores (ARCA).
A inexistência de contratos formais entre produtores, associações e
torrefadoras na região pode ser justificada pela suficiente oferta do produto e
também pela expectativa na flutuação dos preços de mercado. A variação nos
preços do produto possibilita a.liberdade de negociação para os cafeicultores
que não possuem um acordo formal de venda.
Ao se fixar um preço, por exemplo, que será pago pela produção e na
data acordada para a entrega, na época de comercialização se o valor do
produto no mercado estiver acima do que foi registrado no contrato, os
produtores incorrem no custo de oportunidade de obter um valor maior na
venda, pela alta não esperada da cotação atual, por causa do compromisso
46
firmado anteriormente. Neste exemplo, a perda seria conseqüência da
valorização do café acima da expectativa dos produtores no momento de se
firmar o contrato com uma empresa compradora, ou seja, por ter sido
combinado um valor inferior à cotação do café no dia da entrega da produção.
Conforme a declaração dos produtores, tal aspecto torna arriscada a
fixação do preço e da quantidade transacionada do produto, através de um
contrato formal.
No entanto, observou-se, durante a pesquisa, que há parceria entre a
torrefadora e a associação como forma de garantir a qualidade do café
comercializado, o que pode se caracterizar como um acordo informal. Esse
relacionamento ocorre por meio de alguns treinamentos e cursos oferecidos,
além do apoio da Illycaffè à pesquisa e à construção de uma nova sede para
ARCA.
Segundo Farina e Zylbersztajn (1998), na comercialização do café
verde brasileiro o principal instrumento de competição é o preço, não havendo
contratos de fornecimento com as empresas estrangeiras por se tratar da oferta
de um produto commodity.
No entanto, a transição do café commodity para o café com atributos
especiais exige estruturas de governança adequadas para que a
comercialização do produto diferenciado seja compensadora para os agentes
desse segmento.
A estrutura de governança atual na microrregião de Viçosa é via
mercado para o café commoditty. O relacionamento entre comprador e
vendedores é marcado por acordos informais que significam a venda do café
de acordo com exigências pré-estabelecidas por um comprador.
A especificidade foi considerada baixa para o ativo humano, locacional
e temporal, tendo apresentado alta especificidade para os ativos físicos e
dedicados. Logo a característica do investimento para se produzir café especial
pelos associados pela ARCA pode ser classificada como Misto.
A incerteza em relação ao preço, qualidade e quantidade efetivamente
comprada é classificada como alta, dada a ausência de garantias das partes
envolvidas na comercialização.
Como a freqüência das transações dos produtores com a Illy é
recorrente, considerando o modelo de escolha proposta por Williamson (1979),
47
chega-se, então, à conclusão de que a estrutura considerada mais adequada é
a de governança bilateral, como representado na Figura 7, regida por contrato
relacional.
Característica do investimento
Não específico Misto Específico
Ocasional
Freqüência
Governança trilateral
(contrato neoclássico)
Recorrente
Governança de
mercado
(contrato clássico)
Governança bilateral
(contrato relacional)
Governança unificada
(integração vertical)
Fonte: Williamson (1979).
Figura 7 – Comparação da estrutura de governança com as transações
comerciais.
A governança bilateral envolve arranjos de propriedade parcial e a
utilização de contratos relacionais que são mais complexos e pressupõe, em
geral, co-produção e comércio recíproco, o que implica criação da dependência
entre os agentes (FERREIRA et al., 2005).
Na prática, a implantação do contrato relacional ocorre pela
intensificação das relações de compra e venda do café produzido entre os
associados da ARCA e a Illy. Por meio dessa transação cada vez mais
recorrente, vínculos de cooperação comercial são criados, como o
beneficiamento dos grãos realizado com máquinas e equipamentos fornecidos
pela Illy pode ser qualificada como co-produção, ou seja, divide-se a
responsabilidade dos processos pós-colheita.
A inexistência na região desse tipo de contrato entre cafeicultores e
empresa torrefadora deve-se, provavelmente, ao número restrito de
compradores do produto, o que proporciona um ambiente pouco ameaçador
para as empresas que compram o café da região.
Portanto, a busca de novos parceiros de negócios constitui-se numa
estratégia que pode provocar a transição do atual contrato neoclássico para o
contrato relacional, mudando assim a forma da relação contratual entre os
48
produtores e empresas compradoras – de governança via mercado para
governança bilateral.
É importante essa busca dos produtores de café cereja descascado por
novos parceiros de negócios, juntamente com a manutenção do processo de
inovação em prol da redução dos custos. Assim, explorar outros mercados
principalmente como o externo para a venda do café de qualidade pode ser
uma alternativa eficiente (OLIVEIRA et al., 2006).
No caso da ARCA, praticamente todo o risco da atividade fica nas
mãos do produtor que investiu em equipamentos especializados e na
contratação da mão-de-obra apropriada para a produção do café especial, pois
nem toda a produção de café especial é absorvida pela empresa italiana,
sendo o restante vendido como fundo Illy por um preço abaixo do preço pago
pela Illycaffè.
No entanto, apesar de haver riscos unilaterais, há uma externalidade
positiva que é reflexo dessa parceria com a Illycaffé, pois os produtores
associados à ARCA se beneficiam pela disseminação entre os compradores da
região de Viçosa, da informação sobre a qualidade do café produzido por eles,
conseguindo ainda vender o café do “fundo Illy” por um preço mais elevado que
o preço pago pelo café commodity.
Desse modo, a atual estrutura de governança entre a associação e a
Illy possui vantagens discutidas anteriormente, mas ainda necessita de ajuste
para se amenizarem os riscos inerentes ao investimento dos produtores para a
obtenção do café especial.
3.3. Análise quantitativa
A análise quantitativa a seguir é uma complementação à análise
qualitativa descrita anteriormente. A construção do modelo econométrico surgiu
como uma tentativa de mensurar aspectos comportamentais nas relações entre
as instituições envolvidas na produção e comercialização do produto na região
de estudo. Ressalta-se, de antemão, que, apesar de o modelo ajustado
apresentar restrição estatística com relação às variáveis incluídas, optou-se por
sua análise como sugestão para que outros estudos aprofundem na seleção de
variáveis e, ou, modelos mais adequados.
49
Parte das informações obtidas no levantamento de dados (Apêndice B)
não foi utilizada pela restrição imposta advinda do número de observações
obtidas (27). Portanto, as 27 unidades produtivas pesquisadas representam
uma amostra estatisticamente significativa, de acordo com o cálculo
demonstrado anteriormente, mas se constitui num número que limita a inclusão
de todas as variáveis explicativas coletadas no levantamento de dados, por
causa da perda de Graus de Liberdade
1
na regressão estimada. Dessa forma,
foi possível incluir apenas cinco variáveis explicativas relacionadas a seguir.
Para a análise foi estimado o modelo de regressão múltipla Tobit, tendo
o Índice de Contratos Informais (ICI) como variável dependente e o número de
dependentes (filhos e, ou, cônjuge), a freqüência durante o ano das vendas do
produto, a experiência em anos do produtor, o nível de assistência técnica
fornecida pela empresa torrefadora e a distância da propriedade rural à sede
da ARCA como variáveis independentes incluídas no modelo.
Quanto às magnitudes das variáveis explicativas do modelo estimado,
o número de dependentes variou de 0 a 5, a freqüência das transações variou
de 1 a 3, os anos de experiência do cafeicultor possui o intervalo de 3 a 50. A
assistência técnica fornecida, segundo a opinião dos entrevistados, variou de 0
a 3 de acordo com o critério previamente estabelecido como: 0: ausente; 1:
baixa; 2: média; 3: alta. A distância das propriedades rurais analisadas esteve
entre 1,5 km e 50 km.
Os resultados do modelo econométrico ajustado para análise dos
determinantes do Índice de Contratos Informais (ICI) estão apresentados na
Tabela 4.
Como se pode observar, os coeficientes das variáveis Freqüência e
Distância não foram significativos, enquanto as variáveis Dependentes,
Experiência e Assistência Técnica apresentaram significância no modelo
estimado.
1
É um conceito ligado ao número de dados disponíveis (livres) para o cálculo da estatística (GUJARATI,
2000).
50
Tabela 4 – Resultados do modelo de regressão de análise de índice de
contratos informais entre a Associação dos Produtores de Café
(ARCA) e a empresa compradora (Illycaffè) na microrregião de
Viçosa, em 2006
Variável Coeficiente Estatística t
Intercepto -5,6989 -0,229
(ns)
Dependentes -10,2375 -2,152
(*)
Freqüência 3,2772 0,491
(ns)
Experiência² 0,7256 1,486
(***)
Assistência técnica 20,6155 1,941
(**)
Distância 0,7042 1,307
(ns)
Fonte: Dados da pesquisa.
Nota: (*) significativo a 5%; (**) significativo a 10%;(***) significativo a 15%; (ns) não-
significativo.
² Valor
p
estimado para esta variável: 0,1373 ou 13,73%.
A experiência do cafeicultor possui relação direta com o índice de
contratos informais, o que significa que o aumento dessa experiência provoca
elevação no índice de contratos informais, ou seja, percebe-se aumento na
proporção produzida de café especial em relação ao total de café produzido.
Tal relação demonstra que a propensão à realização de contratos aumenta
com o aumento do manejo na atividade.
A variável número de dependentes, filhos e, ou, cônjuges que o
cafeicultor possui influencia de forma negativa a produção de café de acordo
com exigências pré-estabelecidas pelo comprador, que, neste estudo, é a
Illycaffè. O aumento dos dependentes leva à redução na proporção da
produção de cafés especiais, o que pode indicar uma aversão à incerteza
inerente aos investimentos necessários para se produzir o produto com
qualidade superior sem a garantia da venda pelo preço adequado a tal
inversão.
Por sua vez, o aumento no grau de assistência técnica fornecida ao
cafeicultor faz com que ocorra aumento no índice de contratos informais, assim
como a variável freqüência também estimula o estabelecimento de acordos
entre os produtores e empresas torrefadoras.
51
O aumento da assistência técnica fornecida pela empresa compradora
(Illycaffè) aos cafeicultores, que, na maior parte dos casos foi considerada
baixa, estimula a produção de café sob exigências pré-estabelecidas pela
empresa, já que através da assistência técnica ocorre transmissão de
conhecimentos de novos processos e métodos de produção. Assim como no
modelo Tobit, estimado por Lima e Irmão (2004), para analisar os contratos
informais na agricultura irrigada, a assistência técnica aumenta a propensão
dos produtores ao engajamento em relações contratuais.
Quanto à freqüência, à medida que esta se intensifica é necessária a
adoção de mecanismos que permitam o monitoramento do negócio entre os
agentes e a prevenção ao oportunismo, o que pode ser registrado num acordo
formal.
A distância em quilômetros da propriedade rural até o centro
comprador, considerado aqui como a Associação que negocia direto com a
empresa Illycaffè, possui relação direta, indicando que aumentos na distância
gera elevação no índice de contratos informais.
Esses resultados obtidos demonstram que o aumento da distância da
propriedade rural até o centro comprador estimula a porcentagem produzida de
café, considerado de nível superior, comparado com o total produzido na
propriedade. O distanciamento maior da propriedade ao centro comprador
encarece os custos de transporte que são arcados plenamente pelo cafeicultor,
o que pode, muitas vezes, viabilizar o relacionamento ou o acordo de venda do
produto caso estes custos sejam divididos entre o produtor e a empresa
compradora.
Baseado na discussão dos resultados, obtidos no modelo quantitativo,
pode-se concluir que a decisão de engajar-se em uma relação contratual é
definida pelo número de dependentes que o produtor possui, pela sua
experiência na atividade e pela assistência técnica recebida do parceiro
comercial, comprador da sua produção.
Apesar de as variáveis freqüência e distância não terem apresentado
significância estatística, o sinal positivo dos coeficientes relacionados com
estas variáveis pode indicar que o aumento na intensidade das transações e o
aumento da distância entre os parceiros comerciais podem estimular o
empenho dos cafeicultores na produção de café de acordo com exigências
52
preestabelecidas pelo comprador, ou mesmo o estabelecimento de um contrato
formal.
53
4. RESUMO E CONCLUSÕES
O setor cafeeiro brasileiro tem sofrido importantes transformações,
podendo-se destacar a evolução do processo de produção e de tratamento
pós-colheita para a produção de cafés de qualidade superior, os chamados
cafés especiais.
Particularmente na Zona da Mata mineira, na região de Viçosa (MG),
tais mudanças ocorreram em parte devido à organização de cafeicultores, com
a criação da Associação de Regional de Cafeicultores (ARCA) e do
relacionamento estabelecido entre essa associação e a Illycafè, uma empresa
italiana compradora de cafés especiais.
Para a obtenção de produtos com atributos considerados especiais ou
de qualidade superior, um dos aspectos importantes refere-se aos esforços
para aperfeiçoamento da coordenação entre os agentes que transacionam nas
cadeias produtoras.
A coordenação de uma cadeia produtiva possibilita o alcance das
metas e a diminuição de conflitos entre os elos, o que pode resultar em
redução de custos de produção e negociação, promovendo agilidade na
adaptação às modificações de ambiente de mercado, entre outros benefícios.
Portanto, considerando-se os esforços necessários para a produção de
cafés com maior qualidade, torna-se importante investigar que características e
aspectos influenciam na comercialização e no estabelecimento de
relacionamentos comerciais entre produtores de café especiais e empresas
54
compradoras. Este estudo trata da análise de aspectos sócio-políticos e
econômicos que afetam as relações que se estabelecem entre produtores de
café especial ligados a ARCA e a Illycafè.
Utilizou-se para tal uma análise qualitativa utilizando dados levantados
em entrevistas semi-estruturadas realizadas com cafeicultores associados à
ARCA e, adicionalmente, procurou-se mensurar a influência de variáveis
explicativas selecionadas no estabelecimento de acordos informais entre os
produtores de café especial da microrregião de Viçosa e a empresa
compradora (Illycaffè), através de uma análise quantitativa, utilizando-se um
modelo econométrico de regressão.
Os resultados da pesquisa qualitativa apontaram para a inexistência de
especificidade locacional e temporal para a produção de café especial. A
especificidade de ativos humanos foi considerada pequena, uma vez que há
pequena necessidade de treinamento e instrução da mão-de-obra para o
manejo adequado da cultura. Por sua vez, os resultados da pesquisa apontam
para a especificidade dos ativos físicos como a principal geradora de incertezas
quanto à comercialização do café.
A incerteza para os produtores de café especial na sua interação com a
Illycafè concentra-se na possibilidade de os produtores não obterem o preço
justo pela produção oferecida no mercado, em função da falta de garantia
quanto a quantidade que será comprada e seu preço. Esta situação tem
relação com a falta de acordo formal entre produtores da ARCA e a Illy, e a
pouca ou inexistente concorrência entre as empresas compradoras de cafés
especiais na região.
A freqüência na comercialização do café especial com a Illycaffè é
caracterizada pela recorrência, já que a empresa efetiva suas compras num
período predeterminado, que geralmente se estende de julho a novembro, e
adquire lotes grandes, relativamente à capacidade da ARCA, de forma
consecutiva desde a formação da Associação.
A pesquisa qualitativa indicou também que a nova tendência de busca
por qualidade da bebida na cafeicultura torna as transações comerciais via
mercado aberto inadequadas, principalmente pela presença de assimetria de
informação e incertezas e risco unilaterais.
55
Considerando o modelo de escolha proposta por Williamson (1979),
chegou-se, então, à conclusão de que a estrutura considerada mais adequada
é a de governança bilateral regida por contrato relacional.
Apesar da atual estrutura de governança adotada atualmente entre a
associação e a Illy (transações via mercado aberto) possuir vantagens, como
incentivo à melhoria da qualidade do café na região e possibilidade de venda
deste por preços mais elevados mesmo no mercado interno, ainda há a
necessidade de ajustes para amenizar os riscos unilaterais relativos ao
investimento dos produtores para a obtenção do café especial e a falta de
garantia para compra da produção a preços justos pela Illycaffè.
Baseado na discussão dos resultados obtidos no modelo quantitativo,
concluiu-se que a decisão de engajar-se em uma relação contratual é definida
pelo número de dependentes que o produtor possui, pela sua experiência na
atividade e pela assistência técnica recebida do parceiro comercial, comprador
da sua produção.
A variável dependentes (filhos e, ou, cônjuges) que o cafeicultor possui
influencia de forma negativa a produção de café especial, ou seja, o aumento
dos dependentes leva à redução da proporção da produção desse tipo de café.
Quanto à variável explicativa experiência, a sua relação positiva com a variável
dependente demonstra que a propensão à realização de contratos aumenta
com o aumento da experiência do produtor na condução dessa atividade. Por
sua vez, o aumento no grau de assistência técnica fornecida ao cafeicultor faz
com que ocorra aumento no índice de contratos.
Em termos gerais, a existência da Associação Regional dos
Cafeicultores (ARCA) da microrregião de Viçosa, com o apoio da Prefeitura
Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente,
significa um grande avanço nas negociações com empresas torrefadoras que
valorizam a qualidade do café.
Apesar de comprar uma quantidade limitada de café arábica no Brasil,
a Illycaffè incentiva o investimento e a busca de qualidade no processo
produtivo dos cafeicultores ao pagar por qualidade e por investir em pesquisas
voltadas para o setor.
A comercialização do produto entre a ARCA e a Illycaffè aumenta a
disposição da associação em continuar a parceria com a empresa italiana, no
56
entanto, é importante salientar a necessidade de buscar novos parceiros de
negócios, não se limitando apenas à comercialização com a Illycaffè.
4.1. Sugestões para pesquisas
Nesta pesquisa, discutiu-se a relação contratual entre produtores de
café especial, componentes de uma Associação, e uma empresa compradora
desse café, restando importantes aspectos a serem abordados em outros
trabalhos.
No que se refere à pesquisa qualitativa, mesmo embora o estudo de
caso múltiplos permita um entendimento aprofundado das questões
envolvendo os produtores da ARCA, a análise das relações contratuais de
outras associações de produtores de café especial com seus compradores, ou
até mesmo das relações entre produtores e compradores para outros produtos
agropecuários com qualidade superior, pode expandir o entendimento dos
aspectos importantes que regem esses relacionamentos e que podem
determinar o seu sucesso. A comparação de resultados de estudos de caso
focados em um mesmo fenômeno que ocorre em diferentes objetos de estudo
pode trazem maior poder de generalização e explicação destes fenômenos.
Do ponto de vista quantitativo, fica clara a necessidade de expansão de
pesquisas para se somarem esforços para que os princípios da Economia dos
Custos de Transação possam ser tratados de forma mais eficiente do ponto de
vista quantitativo. Mais especificamente, a busca de amostras com maior
número de observações (i.e. pesquisa de associações com número maior de
produtores) pode permitir que maior número de variáveis explicativas sejam
incorporadas ao modelo, fortalecendo o seu poder de explicação para os
fatores que influenciam na maior ou menor proporção a comercialização de
cafés especiais através de contratos formais ou informais.
57
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2006.
65
APÊNDICES
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome do entrevistado: _____________________________________________
Data: __/__/2006
1) Há quanto tempo trabalha com a atividade cafeeira?
a. O Sr. acha que esse tempo e conhecimento da cultura favoreceu o seu
negócio ao longo dos anos?
b. Se uma nova tecnologia ou técnica de produção comprovadamente mais
eficiente que a sua fosse inventada, mas que você não tivesse
conhecimento de como aplicá-la, essa situação poderia levá-lo ao desejo
de estabelecer um contrato com o comprador que te fornecesse as
informações de como aplicar essa técnica? Por que, sim ou não?
2) Há contratos de compra e venda para a comercialização do café?
a. Se há contratos, qual a porcentagem da produção de café que é
comercializada via contratos?
b. Se não, já pensou alguma vez em estabelecer contratos com seus
compradores? Que motivos te levariam a estabelecer o contrato, ou
porque acha que eles não acontecem no seu caso?
67
3) O Sr. já fez contratos (formais ou informais) de compra e venda no passado?
a. Se sim, esta experiência foi bem sucedida segundo a sua opinião?
b. Quais os motivos que levaram a este resultado?
4) Da sua produção total anual, qual percentagem é beneficiada e armazenada
dentro da propriedade?
a. Isso favorece ou dificulta o seu processo de comercialização da
produção?
b. No seu caso, o estabelecimento de contrato poderia vir a facilitar o seu
processo de comercialização? Por quê?
c. Isso facilita ou dificulta o seu processo produtivo? Por quê?
5) O café armazenado perde qualidade quando mantido nos armazéns por
longos períodos de tempo?
a. Qual o tempo máximo de armazenamento do produto segundo sua
opinião?
b. Esse tempo máximo de armazenamento favorece ou desfavorece o
produtor no processo de comercialização?
c. Em que condições o tempo de armazenamento poderia levá-lo ao desejo
de estabelecer contratos com seus compradores?
6) Geralmente existem vários possíveis compradores para o seu café
classificado com especial?
a. Por ano, o Sr. comercializa com quantos diferentes compradores?
b. Esse fato facilita ou dificulta o seu processo de comercialização? Por
quê?
c. Esse fato o incentiva ou desincentiva ao estabelecimento de contratos
com compradores? Por quê?
7) Em média, qual é a distância em quilômetros entre a sua fazenda e o centro
comprador e, ou, beneficiador que o Sr.(a) comumente comercializa o seu
produto?
a. Essa distância facilita ou dificulta o seu processo de venda da produção?
Por quê?
68
b. O Sr. estaria disposto a estabelecer contratos com compradores que
porventura oferecessem auxílio nos custos de transporte da safra da sua
fazenda ao ponto de comercialização e, ou, beneficiamento da sua
produção?
8) O comprador com quem comercializa oferece algum auxílio na forma de
financiamento da produção?
a. Se não, o estabelecimento de uma fonte de financiamento para cobrir os
gastos de produção poderia incentivá-lo a estabelecer um contrato com o
seu comprador. Por que, sim ou não?
9) O comprador com quem comercializa fornece algum tipo de assistência
técnica gratuita?
a. Se sim, considerando os vários tipos de informação exigidos para a
produção do café, o Sr. a classificaria essa assistência técnico como:
( ) baixa, ( ) média ou ( ) alta.
b. Se não, o estabelecimento de uma assistência técnica gratuita na
produção poderia incentivá-lo a estabelecer um contrato com o seu
comprador. Por quê?
10) O processo produtivo do café classificado como especial exige mão-de-
obra especializada?
a. Se sim, que tipo de especialidade é exigida?
11) No processo produtivo dos cafés especiais são utilizados equipamentos
específicos e diferenciados em relação à cultura do café tradicional?
12) Existe algum custo adicional para se produzir cafés especiais?
a. Se sim, quais são esses custos adicionais?
b. Se sim ou não, a seu ver, isso facilita ou dificulta o seu processo de
venda do café, ou não tem algum efeito no processo de
comercialização?
69
APÊNDICE B
LEVANTAMENTO DE DADOS
Nome do entrevistado: _____________________________________________
Data: __/__/2006
Questionário: ________
1) Idade do produtor (a):___________anos
2) Qual a distância da propriedade rural até a sede do município: _______ km
3) Possui dependentes? Sim ou não? _____ Se sim, quantos? ____________
4) Durante quantos anos freqüentou a escola (nível de escolaridade)? ______
5) Há quanto tempo trabalha com a atividade cafeeira? _________ anos
6) Qual a renda média total (bruta) da propriedade? R$ __________ (anual)
7) A atividade cafeeira é a principal atividade da propriedade? Sim __ Não __
8) Quantas sacas de café são comercializadas em média por ano? ____
sacas
9) Quantas sacas foram vendidas (do total da sua produção) como café
especial?
10) Qual é a área usada para a produção de café?
11) Quantos pés plantados?
12) Por ano, quantas vezes o senhor comercializa sua safra ou o café
armazenado?
70
13) Há contratos de compra e venda para a comercialização do café? Sim__
Não___
14) O Sr. já fez contratos (formais ou informais) de compra e venda no
passado?________
a. Se sim, esta experiência foi bem sucedida segundo a sua opinião? ____
15) Da sua produção total anual, qual percentagem é beneficiada e
armazenada dentro da propriedade? % beneficiada dentro: ___________
% armazenada dentro: _______.
16) O café armazenado perde qualidade quando mantido nos armazéns por
longos períodos de tempo? Sim ____ Não____
a) Qual o tempo máximo de armazenamento do produto segundo sua
opinião? ______________ dias
17) Por ano, o sr. comercializa com quantos diferentes compradores?
18) O comprador com quem comercializa oferece algum auxílio na forma de
financiamento da produção? _______
a) Se sim, qual a proporção dos gastos totais cobertos com o
financiamento fornecido?_____________
19) O comprador com quem comercializa fornece algum tipo de assistência
técnica gratuita? Sim_____ Não______
a) Se sim, considerando os vários tipos de informação exigidos para a
produção do café, o sr. classificaria essa assistência técnico como: ( )
baixa, ( ) média ou ( ) alta.
71
APÊNDICE C
REGRAS DE COMERCIALIZAÇÃO ILLY
Santos, 1.° de junho de 2006.
Caro produtor,
Anunciamos que a Illycaffè estará, a partir de junho próximo,
reiniciando suas compras no Brasil para a safra 2006/2007, como vimos
fazendo há 15 anos.
Este ano é muito importante para todos nós, pois a illycaffè, buscando
estar ainda mais próxima do produtor brasileiro e intensificar suas compras no
país, acaba de se associar à Porto de Santos, numa parceria entre as famílias
Illy e Carvalhaes. Uma das primeiras ações desta nova sociedade foi a visita de
uma comitiva da Illycaffè e da Porto de Santos a vários municípios de zonas
produtoras para anunciar a sociedade e conhecer ainda mais de perto os
produtores brasileiros.
Além disso, foi realizada uma reestruturação na equipe da Porto de
Santos, com novas contratações que serão anunciadas no decorrer do
processo, e a presença de Alessandro Bucci, da Illycaffè de Trieste, que ficará
em Santos durante o período de compras. O diretor responsável será Nelson
72
Carvalhaes. Esta sociedade é o primeiro passo de um futuro promissor, onde a
vontade de crescer e conquistar novos mercados no Brasil está acima de tudo.
O sistema de compras não será modificado e manteremos, como em
todos os anos, as regras básicas para a comercialização dos lotes de café.
Todas no sentido de atender ao produtor, e, sobretudo para manter e melhorar
a qualidade oferecida ao consumidor final. Essas ações contribuem para o
crescimento da Illycaffè e garantem novos benefícios aos produtores
brasileiros, por meio do aumento das quantidades adquiridas a preços acima
dos praticados pelo mercado.
A Illycaffè continua a considerar como método mais fácil e seguro para
que o produtor consiga ter lotes aceitos junto à empresa, o descascamento
mecânico prévio à secagem dos lotes, o que não exclui, absolutamente, a
possibilidade de aprovação de lotes naturais ou advindos de quaisquer outros
métodos. Estes serão sempre bem-vindos e analisados com a usual
metodologia e seriedade, sem preferências. Para ser aprovado, basta que o
lote tenha excelente qualidade, sendo do tipo 3 com no máximo 12 defeitos,
peneira 16 acima (máximo de 2% vazamento) e somente café arábica.
Em relação ao café descascado, lembramos, novamente, os principais
motivos de rejeição encontrados nos últimos anos: os grãos verdes (imaturos)
e a secagem mal conduzida. Pedimos extremo cuidado, portanto, evitando a
presença de verdes, no respeito à adequada maturação pré-colheita, na
eventual opção pela colheita seletiva (onde e quando aplicável) e um cuidado
especial com a secagem dos lotes. No tradicional “Prêmio Brasil de Qualidade
do Café para expresso”, agora em sua 16.
a
edição, o produtor continua a
escolher, ao longo do período de compras, quando e com qual amostra
participará da competição, podendo, inclusive, vender seu lote participante
imediatamente, segundo as regras normais de comercialização, desde que a
escolha do mesmo seja feita pelo produtor antes do envio da amostra à Porto
de Santos. As quantidades aceitas para comercialização e para o Prêmio
continuarão as mesmas: lotes de 100 a 600 sacas. A data final para o
recebimento de inscrição de lotes para o Prêmio este ano será 21/09/06.
A rigidez da Illycaffè quanto ao teor de umidade das amostras
recebidas (máximo de 11%) mantém-se, já que este dado demonstra-se de
suma importância para a manutenção da qualidade dos lotes durante o
73
armazenamento no destino. O mais importante, porém, será sempre a análise
visual da homogeneidade da seca, já que o ideal é que o teor de umidade seja
igual por todo o lote.
Retiramos a importância das informações fornecidas com as amostras,
úteis para estudos, cujos resultados são revertidos aos produtores. Pedimos,
como na campanha anterior, que seja informado o teor de umidade fornecido
pelo equipamento do produtor.
Abaixo, em resumo, as regras de comercialização para a safra
2006/2007:
Período das compras: A Illycaffè, nesta safra, iniciará o recebimento de
amostras para degustação a partir de 19 de junho, com o início das compras
em 01 de julho. As compras se estenderão até que as necessidades da
Illycaffè estejam supridas, quando as mesmas serão encerradas. Pedimos,
portanto, muita atenção e rapidez no envio de amostras válidas, para que
não sejam perdidas oportunidades de vendas. Reiteramos, porém, que os
tempos para a colheita e a qualidade de secagem dos lotes deverão ser
respeitados para evitar que suas amostras sejam rejeitadas por problemas
de excesso de umidade, grãos imaturos ou má seca.
Descrição básica única: Somente COB 3, ou melhor, peneiras 16 acima
(máximo de 2% vazamento). Não serão aceitos cafés moca.
Período fixo de validade das amostras: 10 dias corridos como validade
fixa e imutável das amostras aprovadas para compra, a serem contados a
partir da data de comunicação da aprovação dos lotes.
Informações obrigatórias nas amostras de aprovação: não poderemos
aceitar amostras que não contiverem as informações mencionadas abaixo,
necessárias a Porto de Santos e a Illycaffè. (Nome do produtor; Número de
referência do produtor; Número aproximado de sacas para o lote; Origem;
Município onde o lote foi efetivamente produzido; Modo de preparo – umas
das opções, com indicações pelas letras: N – Natural, CD – Cereja
Descascado ou DP – Despolpado com retirada da mucilagem por
fermentação; teor de umidade do lote; nome do classificador; quando
possível, indicar também a variedade da planta.
Clube Illy do Café: Este ano uma nova categoria de sócios foi criada
especialmente para os classificadores, que como os demais associados,
74
terão diversos benefícios. Poderão se tornar sócios, a partir deste ano-safra,
os classificadores que tiverem amostras aprovadas pela Illycaffè, seja para
venda ou para o 16.º Prêmio. Portanto, não deixe de identificar o nome do
classificador em todas as amostras enviadas a Porto de Santos.
Universidade Illy do Café: Aproveite também os cursos oferecidos pela
Unilly, pois eles lhe trarão conhecimentos que o ajudarão a desenvolver
ainda mais a produção de cafés de qualidade.
Esperamos, também nesta safra, manter o sucesso de nossa relação.
Para tanto, contamos novamente com sua participação como fornecedor
tradicional e constante de cafés finos para a Illycaffè, que continuará
reconhecendo, como sempre, sua capacidade e esforço na produção de cafés
de qualidade.
Porto de Santos Comércio e Exportação Ltda.
Para maiores informações sobre como participar das vendas e do
“Prêmio” contate sua Associação de Produtores, sua Cooperativa ou
diretamente a Porto de Santos Comércio e Exportação Ltda.
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INSTRUÇÕES PARA ENCAMINHAMENTO DE AMOSTRAS
E VENDA DIRETA A ILLYCAFFÈ SPA/TRIESTE
Somente Café Arábica Safra 2006/2007
¾ Envio de amostras
Quantidade: 1 kg, fiel ao lote original (1,5 kg quando para inscrição no
“Prêmio”).
Tipo: 3 COB para melhor (máximo 12 defeitos).
Peneiras: 16 acima, com máximo 2% de vazamento.
Endereço: Porto de Santos Comércio e Exportação Ltda.
Rua do Comércio, 55 – 9.º andar
Centro
11010-141 Santos – SP
Fone: (0XX13) 3219-2780
E-mail:
Resultado: Aproximadamente 10 dias após recebimento da amostra.
Validade: 10 dias corridos, contados a partir da comunicação da
aprovação do lote ao produtor. Após este prazo, a amostra
automaticamente cancelada de nossos arquivos, não sendo mais válida
para a conclusão de um único contrato de venda.
¾ Modalidade de compra
Preço: As modalidades de formação de preço, assim como seu valor,
serão informadas em tempo hábil antes do início das compras.
Quantidade: Serão aceitos lotes entre 100 e 600 sacas, sendo que cada
amostra representa um só lote de café.
Pagamento: 04 dias úteis após o recebimento do lote em nossos
armazéns, e somente após a aprovação da entrega contra a amostra
original enviada anteriormente.
Condições: Porta de armazém, com frete por conta do vendedor, em
nossos únicos pontos de recebimento.
- Armazéns Gerais Peneira Alta Ltda./S.S. Paraíso-MG para cafés
mineiros.
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- Leme Armazéns Gerais Ltda./Leme-SP para cafés de todas as outras
regiões produtoras.
Negociação: O preço diário oferecido pela PDS/Illycaffè é único e idêntico
para todos os produtores em negociação de lotes aprovados.
No aguardo de suas amostras, cordiais saudações e bons negócios.
Porto de Santos Comércio e Exportação Ltda.
Partner da Illycaffè nas compras de café do Brasil
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Caro produtor,
FAVOR NOTAR AS MODIFICAÇÕES NA NOMENCLATURA PARA
OS VÁRIOS PROCESSAMENTOS (SECAGEM) DOS LOTES, CUJA
INDICAÇÃO É OBRIGATÓRIA NO ENVIO DAS AMOSTRAS DE OFERTA
PELOS PRODUTORES:
(N) NATURAL: Para lotes cuja secagem foi efetuada com o fruto por inteiro,
sem descascamento prévio.
(CD) CEREJA DESCASCADO: Para lotes cuja secagem foi efetuada após o
descascamento mecânico, independente de ter sido desmucilado
mecanicamente ou não.
(DP) DESPOLPADO: Para lotes que foram despolpados em tanques de
fermentação.
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Livros Grátis
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