Ainda que esta possua um caráter também negativo, por ser apenas uma forma de
conter a influência da inclinação da vontade, e seu papel ser apenas o da privação, a disciplina
seria fundamental, segundo o autor, para que o mais cedo possível o homem fosse capaz de
submeter-se à razão. Isso seria importante porque o homem levaria consigo eternamente essa
inclinação à liberdade, que pode ser compreendida como certa selvageria.
Mas o homem é tão naturalmente inclinado à liberdade que, depois que se
acostuma a ela por longo tempo, a ela tudo sacrifica. Ora, esse é o motivo
preciso, pelo qual é conveniente recorrer cedo à disciplina; pois, de outro
modo, seria muito difícil mudar depois o homem. Ele seguiria então todos
os seus caprichos. (KANT, 2004:13).
À instrução, ao contrário da disciplina, não caberia apenas o papel de impor algo no
homem que em nada o acrescentaria. Ela seria incumbida de oferecer conteúdo aos homens,
através dela ele teria possibilidade de ampliar seu conhecimento. A cultura seria um dos
elementos que comporia a instrução: “A educação abrange os cuidados e a formação. Esta é:
1. negativa, ou seja, disciplina, a qual impede os defeitos; 2. positiva, isto é, instrução e
direcionamento e sob esse aspecto, pertence à cultura.” (KANT, 2004:29).
Como dissemos, a disciplina e a instrução contribuiriam com o processo de formação
do homem, que, segundo o autor, já possuiria um fim determinado, disposições naturais a
serem apenas desenvolvidas. Não bastaria apenas que a educação ou a razão estivessem
presentes na vida do homem, sem o desenvolvimento de suas disposições naturais através
delas. Estas seriam as disposições para o bem, e que não poderiam jamais ser atingidas em sua
totalidade, posto que o homem não é um ser perfeito, caberia então ao homem, somente,
aproximar-se deste ideal.
Ao pensar na forma como o processo educativo deveria ser orientado, o autor nos diz
que este deveria ter em vista não o presente, mas o futuro. O homem contém em si, como foi
dito, disposições para o bem, e para o bem de toda a humanidade. O bem desta não se
encontraria na tentativa de garantir apenas o bem particular, desenvolver suas capacidades em
conformidade com a lei moral; seria promover o bem de todos, mesmo que isso implicasse em
abrir mão do melhor para si.
As pessoas particulares devem em primeiro lugar estar atentas à finalidade
da natureza, mas devem, sobretudo, cuidar do desenvolvimento da
humanidade, e fazer com que ela se torne não somente mais hábil, mas
ainda mais moral e, por último – coisa ainda mais difícil -, empenhar-se em
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