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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ISIS MARQUES SEVERO
ALTERAÇÕES NO MODO DE VIVER DE IDOSOS COM CÂNCER
Porto Alegre
2008
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ISIS MARQUES SEVERO
ALTERAÇÕES NO MODO DE VIVER DE IDOSOS COM CÂNCER
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Curso de Mestrado em Enfermagem, linha de
pesquisa Processos Teóricos e Tecnológicos
do Processo de Cuidar, da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul UFRGS.
Orientadora: Drª. Maria Isabel Pinto Coelho Gorini
Porto Alegre
2008
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3
AGRADECIMENTOS
No momento, em que concluo este trabalho, que espelha importante fase de
minha vida, é fundamental agradecer e lembrar as pessoas que, de uma forma ou de
outra, contribuíram na sua elaboração:
À professora, Maria Isabel Pinto Coelho Gorini, que me mostrou caminhos a
percorrer à medida que caminhava comigo. Fico grata por sua efetiva orientação,
amizade, competência e dedicação;
À família: mãe, pai, irmãos e cunhados pelo apoio e carinho;
Ao meu namorado, Michel, que soube me ouvir e encorajar, com amor, em
todos os momentos, especialmente nos de crise;
Ao meu sogro e sogra, pela atenção e apoio;
Aos meus amigos, que me apoiaram e incentivaram;
Às enfermeiras (os) das unidades clínicas e cirúrgicas do Hospital de Clínicas
de Porto Alegre, pela atenção, parceria e indicação dos pacientes participantes da
pesquisa;
Aos familiares e idosos, que me permitiram entrar em seus domicílios e
dividiram, comigo, suas vivências.
Muito Obrigada, Isis.
4
O valor de poder olhar de perto como as
pessoas vivem [...] está em nos oferecer uma
oportunidade de, ao nos colocarmos na sua
“pele”, podermos sair enriquecidos para as
nossas funções, possibilitando vermos o
mundo com um pouco mais de clareza.
Martha Harris
5
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso que tem como objetivo
geral identificar as alterações no modo de viver dos idosos com câncer em seu
domicílio. Seus objetivos específicos são conhecer como o idoso com câncer refere
as suas vivências, em seu domicílio, sobre as alterações nos hábitos de vida e
saúde e descobrir como realiza, ali, o autocuidado. A revisão da literatura aborda
temas relacionados à área temática do estudo: o câncer como um problema de
saúde pública, o câncer e os idosos e a educação em saúde. Para tanto, foram
realizadas visitas domiciliares a quinze idosos com câncer e, utilizada entrevista
semi-estruturada para coleta das informações. A análise de conteúdo propiciou o
surgimento de quatro categorias subdivididas em temas e a apresentação de
relatos dos idosos. Na categoria Vivenciando a Doença, observaram-se os temas -
Busca do serviço de saúde e Enfrentando o tratamento. Na categoria Percepções
dos Idosos sobre a Doença destacaram-se os temas - O indivíduo sente-se
diferente e A história familiar relacionada ao câncer. A categoria “O Impacto do
diagnóstico”, foi relacionada aos temas - Alterações psicológicas, Sentimento de
tristeza, Apoio da família, Apoio profissional e Apoio da crença religiosa. E, a
Categoria “Alterações no Modo de Viver” foi relacionada aos temas - Mudanças no
cotidiano, Autocuidado com alimentação, Autocuidado com a imagem corporal e A
Valorização da saúde. Estudos como esse contribuem para a construção de
conhecimentos na área de educação em saúde, em particular, no caso de idosos
com câncer. As vivências e as alterações de vida e saúde repercutem na forma com
que os idosos realizam os seus cuidados de saúde. As informações sobre os
aspectos de educação em saúde podem auxiliar os idosos e suas famílias a gerir o
seu cuidado podendo evitar futuras hospitalizações e melhorar a sua qualidade de
vida.
Descritores: Idoso, câncer, educação em saúde, enfermagem.
6
ABSTRACT
It is about a qualitative research of the case study type with the general objective of
identifying the alterations in the way of living of elderly people with cancer in their
domicile. Its specific objectives are learning how the elderly with cancer refer their life
experiences in the domicile about the changes in life and health habits and finding
out how they perform the self-care therein. The literature revision approaches themes
related to the thematic field of the study: cancer as a public health problem, cancer
and the elderly, and health education. For such purpose, domicile visits to fifteen
elderly with cancer were made when the semi-structured interview was utilized in
order to collect the information. The content analysis provided gathering four
categories divided into themes and the presentation of reports by the elderly:
In the category “Experiencing the Disease”, two themes were noticed: “Search for
health care” and “Facing the treatment”. In the category “Perception of the Elderly
about the Disease”, two themes stood out: “The subject feels him/herself different”
and “The family history related to cancer”. The category “The Impact of the
Diagnosis” was related to the themes: Psychological alterations, Feeling of sadness,
Family support, Professional support and Support from the religious belief. The
category “Alterations in the Way of Living” was related to the themes “Changes in the
daily life”, “Self-care with food”; “Self-care with self-image” and “Appreciation of
health’. Studies like this contribute for the construction of knowledge in the field of
health education and, especially, in the case of elderly with cancer. The experiences
and the changes in life and health have repercussions on the way how the elderly
carry out their health care. The information about the aspects of health education can
help the elderly and their families to manage their care and therefore avoid further
hospital admittances and improve their quality of life.
Descriptors: Elderly, Cancer, Health Education, Nursing.
7
RESUMEN
Se trata de una pesquisa cualitativa de la clase estudio de caso con el objetivo
general de identificar las alteraciones en el modo de vivir de los ancianos con cáncer
en el domicilio. Sus objetivos específicos son conocer como el anciano con ncer
refiere sus vivencias, en el domicilio, acerca de las alteraciones en los hábitos de
vida y salud y descubrir como realiza, allí, el auto-cuidado. La revisión de la literatura
aborda temas relacionados al área temático del estudio: el cáncer como un problema
de salud pública, el cáncer y los ancianos y la educación en salud. Para esto, fueron
realizadas visitas domiciliares a quince ancianos con cáncer siendo utilizada la
entrevista semiestructurada para la recolección de las informaciones. El análisis de
contenido propició el surgimiento de las siguientes categorías subdivididas en temas
y la presentación de relatos de los ancianos: En la categoría “Experimentando la
Enfermedad”, se observaron los temas - Búsqueda del servicio de salud y
Enfrentando el tratamiento. En la categoría Percepciones de los Ancianos acerca de
la Enfermedad”, se destacaron los temas - El individuo se siente diferente y La
historia familiar relacionada al ncer. La categoría “El Impacto del Diagnóstico” fue
relacionada a los temas - Alteraciones psicológicas, Sentimiento de tristeza, Apoyo
de la familia, Apoyo profesional y Apoyo de la creencia religiosa. Y, la categoría
“Alteraciones en el Modo de Vivir” fue relacionada a los temas Cambios en el
cotidiano, Auto-cuidado con alimentación, Auto-cuidado con la imagen Corporal y La
valoración de la salud. Estudios como este contribuyen para la construcción de
conocimientos en el área de educación en salud, en particular, en el caso de
ancianos con cáncer. Las vivencias y sus alteraciones de vida y salud repercuten en
la forma con que los ancianos realizan sus cuidados de salud. Las informaciones
acerca de los aspectos de educación en salud pueden ayudar a los ancianos y a sus
familias a administrar su cuidado de manera a evitar futuras hospitalizaciones y a
mejorar su calidad de vida.
Descriptores: Ancianos, Cáncer, Educación en Salud, Enfermería.
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Caracterização dos Idosos.................................................................
33
Quadro 2 Categoria I - Vivenciando a Doença...................................................
39
Quadro 3 Categoria II - Percepções dos Idosos sobre a Doença......................
45
Quadro 4 Categoria III - O Impacto do Diagnóstico..........................................
49
Quadro 5 Categoria IV - Alterações no Modo de Viver....................................
55
9
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO......................................................................................................
10
2
OBJETIVOS..........................................................................................................
15
2.1
Objetivo Geral......................................................................................................
15
2.2
Objetivos Específicos.........................................................................................
15
3
REVISÃO DA LITERATURA................................................................................
16
3.1
O Câncer: Problema de Saúde Pública ................................................................
16
3.2
O Câncer e os Idosos..........................................................................................
19
3.3
Educação em Saúde...........................................................................................
23
4
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA........................................................................
27
4.1
Tipo de Estudo....................................................................................................
27
4.2
Contexto do Estudo............................................................................................
27
4.3
Sujeitos do Estudo..............................................................................................
28
4.4
Coleta das Informações......................................................................................
29
4.5
Análise das Informações....................................................................................
30
4.6
Aspectos Éticos..................................................................................................
30
5
ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES................................................
32
5.1
Caracterização dos Idosos................................................................................
32
5.2
Caracterização dos Domicílios..........................................................................
37
5.3
Categoria I - Vivenciando a Doença...................................................................
38
5.4
Categoria II - Percepções dos Idosos sobre a Doença....................................
45
5.5
Categoria III - O Impacto do Diagnóstico...........................................................
48
5.6
Categoria IV - Alterações no Modo de Viver......................................................
54
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................
62
REFERÊNCIAS ............................................................................................................
66
ANDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...............
76
ANDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA.........................
77
ANEXO A DOCUMENTO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ.......................................
78
10
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, a população de 60 anos ou mais representava 7,3% na década de
1990, enquanto que, no ano de 2000, essa proporção atingia 8,6% e, em 2006,
chegou aos 10,2% do total da população. Nesse período, o número de idosos
aumentou devido ao crescimento vegetativo e ao aumento gradual da expectativa de
vida ao nascer (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007).
Entre as capitais do país, Rio de Janeiro e Porto Alegre destacam-se com as
maiores proporções de idosos, representando, respectivamente, 14,1% e 12,4% da
população total desses municípios (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2006).
O Estatuto do Idoso representa um grande avanço da legislação brasileira
iniciado com a promulgação da Constituição de 1988. Este documento, elaborado
com intensa participação das entidades de defesa dos interesses das pessoas
idosas, ampliou a resposta do Estado e da sociedade às suas necessidades, pois
trata dos mais variados aspectos, abrangendo, por exemplo, o direito à educação,
adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais
que se relacionam a este público (BRASIL, 2006).
Esse documento também ressalta, ao idoso, o direito ao respeito e a sua
integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, de valores, de idéias e crenças, dos espaços e dos
objetos pessoais (BRASIL, 2006).
O tema central, que permeia todos os artigos do Estatuto do Idoso, é o
amparo à assistência e a proteção ao indivíduo em seu processo de
envelhecimento. O Estatuto também esclarece sobre os deveres das famílias, das
instituições, do governo e do cidadão em relação aos cuidados e apoio ao idoso
(MARTINS; MASSAROLLO, 2008).
Ainda assim, existe a Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre
a Política Nacional do Idoso cujo objetivo principal é assegurar os direitos sociais do
idoso criando condições para promover sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade (BRASIL, 1996a).
11
Nesse sentido, o Decreto 1.948 de 3 de julho de 1996, em seu Artigo ,
registra que, ao Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Assistência à
Saúde em articulação com as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, compete, entre outras instâncias, desenvolver e apoiar programas
de prevenção, educação e promoção da saúde do idoso e estimular a criação, na
rede do Sistema Único de Saúde (SUS), de unidades de cuidados diurnos, de
atendimento domiciliar e de outros serviços alternativos para o idoso (BRASIL,
1996b).
O envelhecimento não significa doença, mas, sim, uma fase na qual o ser
humano fica mais suscetível a doenças. Trata-se de uma época onde as pessoas
adoecem mais, mais rapidamente e, quando adoecem, demoram mais tempo para
se recuperar (ZIMERMAN, 2000).
Entre as doenças, que contribuem para alterar, de forma negativa, a
qualidade de vida da população idosa, estão aquelas denominadas de crônico-
degenerativas, e, entre as crônicas, o câncer.
De acordo com a World Health Organization - WHO (2006), câncer é um
termo genérico dado a um conjunto de mais de 100 doenças, que têm, em comum, o
crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo
espalhar-se para outras regiões do corpo (metástase).
As causas que contribuem para o desenvolvimento do câncer são
multifatoriais, envolvendo fatores ambientais como tabagismo, radiação ionizante,
álcool e administração de hormônios; fatores endógenos como o envelhecimento,
obesidade, alterações hormonais e a herança genética (GUERRA; GALLO;
MENDONÇA, 2005).
Diante desse fato, acredita-se que os idosos com câncer merecem atenção
especial da equipe de saúde, que deve ser incentivada a buscar alternativas que
possam melhorar a qualidade de vida dessa população fragilizada em função de sua
condição de saúde.
A motivação para esse estudo, junto a idosos, surgiu a partir da vivência
acadêmica, quando minha monografia de conclusão de curso referia-se a essa
temática e foi intitulada “Visita domiciliar como estratégia de apoio educativo ao
familiar cuidador do idoso seqüelado de AVC” (SEVERO, 2002). Tratou-se de uma
pesquisa qualitativa do tipo convergente-assistencial. O objetivo foi desenvolver um
12
processo educativo de orientações com familiares cuidadores de idosos seqüelados
de AVC no domicílio, a fim de capacitá-los para atender as múltiplas demandas
decorrentes da doença.
No ano de 2003, iniciei o Curso de Pós-Graduação em UTI Adulto na
Universidade Luterana do Brasil, quando aprofundei meus conhecimentos na
temática do idoso, em especial, no idoso fragilizado. Minha monografia de conclusão
de curso foi intitulada “Orientações para cuidadores de idosos com Acidente
Vascular Cerebral após Internação em UTI” (SEVERO, 2004), que se tratou de uma
pesquisa qualitativa participante. O objetivo foi desenvolver um processo educativo,
por meio da construção de um manual, com os cuidadores de idosos seqüelados de
AVC internados em UTI.
Aliado a isso, em 2003, iniciei o Curso de Especialização em Educação pela
Escola Nacional de Saúde Pública. Com essa experiência, ampliei minhas
indagações sobre os aspectos de educação em saúde experienciados no cotidiano
profissional.
Nessa mescla de vivências acadêmicas, comecei a trabalhar em um hospital
localizado na região central de Porto Alegre onde me aproximei de idosos com
câncer e, ao ouvir as dúvidas e incertezas desses pacientes, meu interesse por esse
tema se intensificou.
Minha proximidade com a pesquisa qualitativa e com os idosos com câncer
se desvelava ao longo dessa trajetória acadêmica. Entretanto, o efetivo encontro com
o tema educação em saúde se deu em 2006 durante a realização da disciplina
“Educação em Saúde” do curso de Mestrado em Enfermagem do Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem da UFRGS.
A educação em saúde tem sido considerada uma prática positiva a ser
integrada aos cuidados de saúde, pois veicula informação e sugere alternativas para
indivíduos, famílias ou grupos, em termos de prevenção de doenças e de promoção
da saúde (GASTALDO, 1997).
Para Oliveira (2005), a educação em saúde ainda permanece centrada na
responsabilização individual e na prevenção de doenças, sendo que, no terreno da
prática, uma diversidade de modelos de educação em saúde. É possível agrupar
essa diversidade de modelos em duas principais abordagens de educação em
saúde o modelo preventivo e o modelo radical.
13
O modelo preventivo, também denominado educação em saúde tradicional,
objetiva a prevenção das doenças. No entanto, o modelo radical centrado na
consciência crítica das pessoas, ao invés de trabalhar com os indivíduos
isoladamente, busca atingir seus objetivos trabalhando com os grupos. Este último
modelo tem a intenção de promover o envolvimento dos indivíduos nas decisões
relacionadas à sua saúde e naquelas relacionadas aos grupos sociais aos quais eles
pertencem (OLIVEIRA, 2005).
A partir disso, torna-se necessário conceituar o termo “cuidado de saúde” que,
para Almeida, Gutiérrez e Adami (2004), é considerado como uma medida de
autocuidado ou uma forma de agir do cliente.
Como objeto de pesquisa, esse estudo contempla a identificação das
alterações no modo de viver dos idosos com câncer, pacientes do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HC), quando em seu domicílio. A escolha pelo HC se deve
ao fato de este ser um hospital universitário voltado à assistência, ao ensino e à
pesquisa, além de ser o local onde realizei a maioria dos estágios de minha
graduação.
A escolha por realizar um estudo com idosos em seu domicílio se deve ao
fato de este ser um espaço onde o cuidado de enfermagem pode ser produzido. Em
um estudo sobre vivências, expressas por pacientes com câncer quanto ao cuidado
hospitalar e domiciliar, foi identificado que o estar no hospital pode gerar um cansaço
emocional, revelando a necessidade dos pacientes permanecerem no seu lar
(ZANONI et al., 2006).
Além disso, o domicílio é o local onde está a família e é nela que os seus
componentes se desenvolvem física, emocional, mental e espiritualmente. É nesse
espaço onde as primeiras relações sociais se estabelecem e, também, onde as
crises e os conflitos aparecem no momento em que um de seus membros adoece.
Assim, fica evidente a ajuda profissional para que a família enfrente os momentos
difíceis vividos e, juntos, possam superá-los (LACERDA, 1996).
Para Creutzberg (2000), as atividades de cuidar, no domicílio, estão
permeadas por atitudes que demonstram a valorização do idoso em seu meio, onde
existe motivação para o autocuidado, já que a família procura encorajá-lo, permitindo
que ele o faça sozinho ou que ela participe do seu cuidado.
14
Porém, conflitos, ambivalências e inseguranças podem surgir no ambiente
domiciliar como, por exemplo: idosos tornarem-se depositários de frustrações e de
dificuldades dos outros membros da família; um filho sobrecarregar-se e assumir as
responsabilidades pelos cuidados dos pais; um pai idoso assumir responsabilidades
que caberiam a um filho; e, diante da necessidade de ser ajudado, um idoso
membro da família receber agressões e ser alvo de distanciamento afetivo dos
demais (LOPES; CALDERONI, 2007).
Em vista disso, o presente trabalho busca responder as seguintes questões:
a) Quais as alterações no modo de viver dos idosos com câncer em seu domicílio?
b) Quais as suas percepções sobre as alterações nos hábitos de vida e saúde?
c) Como o idoso com câncer realiza o autocuidado no seu domicílio?
Na tentativa de encontrar respostas para tais indagações, a construção de
conhecimentos, nessa caminhada, poderá contribuir na área de educação em
saúde, em particular, no caso de idosos com câncer.
No terreno da prática de saúde, os idosos com câncer exigem uma
assistência diferenciada, pois carregam consigo as incertezas da doença, dos efeitos
adversos do tratamento e, além disso, do seu prognóstico.
O enfermeiro é um dos profissionais que permanece mais tempo junto ao
paciente em seu processo de saúde-doença e, por isso, pode tornar-se um
multiplicador de temas relacionados à educação em saúde.
Dessa forma, reafirmo que estudos como esse também podem fornecer
subsídios para a enfermagem domiciliar, sendo que a educação em saúde no
ambiente domiciliar pode favorecer o autocuidado desse idoso e uma melhor
qualidade de vida.
15
2 OBJETIVOS
Os objetivos desta pesquisa são divididos em objetivo geral e objetivos
específicos, apresentados a seguir:
2.1 Objetivo Geral
Identificar as alterações no modo de viver de idosos com câncer em seu
domicílio.
2.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos são:
a) conhecer como o idoso com câncer refere as suas percepções, em seu
domicílio, sobre as alterações nos hábitos de vida e saúde;
b) descobrir como o idoso com câncer realiza o autocuidado em seu domicílio.
16
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 O Câncer: Problema de Saúde Pública
O câncer é um problema de saúde pública no Brasil, constituindo a segunda
causa de morte por doença no país. Dentre os principais fatores, associados ao
maior número de casos novos, estão a urbanização e a industrialização. A
concentração da população, em grandes centros, favorece a exposição aos fatores
de riscos ambientais, aos quais são atribuídos, em relação direta ou indireta, o
surgimento de casos novos de câncer (GUERRA; GALLO; MENDONÇA, 2005).
De acordo com Brasil (2008a), o processo de formação do câncer é
denominado carcinogênese e, em geral, se desenvolve lentamente, podendo levar
vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e origem a um tumor
visível. Esse processo passa por vários estágios descritos a seguir:
a) iniciação: é o primeiro estágio da carcinogênese. Nele, as células sofrem a ação
de fatores que provocam mutações genéticas e encontram-se preparadas para a
ação de um segundo grupo de fatores que atuarão em estágio seguinte. Quando um
agente carcinógeno é capaz de iniciar o processo da carcinogênese, ele é chamado
de agente iniciador ou oncoiniciador. Por exemplo, o benzopireno, que é encontrado
na fumaça do cigarro, e os vírus T-linfotrópicos humanos são agentes iniciadores;
b) promoção: é o segundo estágio da carcinogênese. Nele, as células
geneticamente alteradas, ou iniciadas, sofrem a ação de fatores que atuam
estimulando sua multiplicação. Esses fatores são denominados de agentes
promotores ou oncopromotores que promovem a transformação da célula iniciada
em célula maligna. A suspensão do contato com agentes promotores, muitas vezes,
interrompe o processo nesse estágio. Alguns componentes da alimentação, como,
por exemplo, a gordura e, também, a exposição excessiva e prolongada a
hormônios, são fatores que promovem a transformação de células iniciadas em
malignas;
17
c) progressão: é o último estágio e se caracteriza pela multiplicação descontrolada e
irreversível das células alteradas. Nesse estágio, o câncer está instalado e evolui até
o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença.
A identificação do estágio da doença recebe o nome de estadiamento que
determina o tamanho do tumor e a existência de metástase. Existem muitos
sistemas para classificar a extensão anatômica da doença. O sistema TNM é
freqüentemente utilizado. Nesse sistema, T refere-se à extensão do tumor primário;
N, ao envolvimento de linfonodos e M, à extensão da metástase. Na interpretação
de cada fator, são analisadas as diversas variações que, para o tumor primitivo, vão
de T1 à T4; para o comprometimento linfático, de N0 à N3, e, para as metástases,
de M0 à M1 (BRASIL, 2008b).
De acordo com Boundy et al. (2004), as opções terapêuticas são: cirurgia,
radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e terapia hormonal. Essas opções são
adotadas independentes ou em combinações. Para cada paciente, o tratamento
depende do tipo, do estágio, da localização e do grau de resposta do tumor, bem
como das limitações do próprio indivíduo.
O tratamento cirúrgico do processo oncológico focaliza cinco áreas primárias:
o tratamento primário, o de ativação, o de resgate, o paliativo e o combinado (OTTO,
2002).
Para a autora, o tratamento primário envolve a retirada do tumor e de uma
margem de tecido normal adjacente. o tratamento de ativação envolve a retirada
de tecidos no sentido de reduzir o risco de incidência, progressão e recidiva, e inclui
a terapia citorredutora e de redução de volume.
A terapia de resgate compreende o uso de uma abordagem cirúrgica extensa,
visando tratar a recidiva logo após a implantação de uma abordagem primária
menos extensiva. o tratamento paliativo é usado para reduzir os sintomas da
doença ou relacionados com o tratamento sem tentativas curativas (OTTO, 2002).
Na radioterapia, é usada radiação ionizante para interromper o crescimento
celular. Os tecidos corporais que sofrem divisão celular freqüente são os mais
sensíveis a essa terapia. Esses tecidos incluem a medula óssea, tecido linfático,
epitélio do trato gastrointestinal e gônadas enquanto que os tecidos, resistentes à
radioterapia, incluem músculo, cartilagem e tecidos conjuntivos (SMELTZER; BARE,
2005).
18
Os efeitos tóxicos da radioterapia dependem da localização do tumor, da
energia utilizada, do volume irradiado, da dose total e do estado geral do paciente.
As reações que podem ocorrer no paciente são: fadiga, alopecia, mucosite,
náuseas, vômitos, diarréia, entre outros, que dependem da área tratada e da dose
de radiação aplicada (RODRIGUES, 2007).
A quimioterapia consiste no emprego de substâncias químicas, isoladas ou
combinadas com o objetivo de tratar o câncer. São drogas que atuam em nível
celular, interferindo no seu processo de crescimento e divisão, sendo a sua
administração de responsabilidade do(a) enfermeiro(a) (BONASSA; SANTANA,
2005).
A administração dos quimioterápicos diferencia-se em suas finalidades. Pode
ser: a) quimioterapia adjuvante: objetiva a destruição das micrometástases, pode
permitir períodos longos de remissão da doença ou, até mesmo, a cura definitiva; b)
quimioterapia neoadjuvante: aplicação de antineoplásicos antes da cirurgia que
podem contribuir para a redução do tumor; c) quimioterapia curativa: erradicação
completa da doença por um período de, pelo menos, cinco anos (em adultos); d)
quimioterapia paliativa: visa o controle e avio dos sintomas, a redução da massa
tumoral e a melhora da qualidade de vida do paciente (BONASSA; SANTANA, 2005;
SILVA, 2007).
Os efeitos adversos das drogas antineoplásicas podem ser: mucosite,
neutropenia, plaquetopenia, anemia, náuseas, vômitos, diarréia, constipação, entre
outros (SILVA, 2007).
A imunoterapia pode ser definida como um tratamento com agentes derivados
de fontes biológicas e/ou que alteram as respostas biológicas como os interferons, o
transplante de medula óssea e os anticorpos monoclonais (BOUNDY et al., 2004).
Para Smeltzer e Bare (2005), as opções de tratamento oferecidas para os
pacientes com câncer devem incluir a erradicação completa da doença (cura),
sobrevida prolongada, contenção do crescimento da célula cancerosa (controle) ou
alívio dos sintomas associados à doença (paliativo).
Cuidados paliativos consistem em cuidados que visam à melhoria da
qualidade de vida dos pacientes e seus familiares, no enfrentamento de doenças
que oferecem risco de vida como o câncer, por meio do alívio da dor e outros
19
sintomas de ordem física, psicossocial e espiritual (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2007).
Diante de todas essas informações sobre o câncer, vale ressaltar a
associação dessa doença com o envelhecimento humano, tema que será abordado
no próximo subcapítulo.
3.2 O Câncer e os Idosos
O câncer é um problema de saúde pública em países desenvolvidos e em
desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano,
representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo (GUERRA;
GALLO; MENDONÇA, 2005).
Para os autores, o processo global de industrialização, ocorrido
principalmente no século passado, conduziu o processo denominado transição
epidemiológica que foi caracterizado pela mudança no perfil de mortalidade com
diminuição das taxas de doenças infecciosas e aumento das taxas de doenças
crônico-degenerativas, especialmente as doenças cardiovasculares e o câncer.
Paralelamente a esse processo, deu-se uma significativa alteração na
demografia mundial, devido à redução nas taxas de mortalidade e natalidade com
aumento da expectativa de vida e do envelhecimento populacional (GUERRA;
GALLO; MENDONÇA, 2005).
Conforme o último censo brasileiro, a expectativa de vida ao nascer passou
de 62,6 anos em 1980 para 72,4 nos dias atuais (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007).
No Brasil, as estimativas para o ano de 2008/2009 apontam que ocorrerão
466.730 casos novos de câncer. Os tipos mais incidentes serão os de próstata e de
pulmão no sexo masculino, e de mama e colo do útero no sexo feminino,
acompanhando o mesmo perfil de magnitude observada no mundo (BRASIL, 2007).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007), o
número de idosos no Brasil chegou aos dezenove milhões, sendo que os registros
de base populacional sobre o câncer são imprecisos e tornam-se necessárias
20
informações de qualidade sobre sua distribuição de incidência e mortalidade, o que
possibilita melhor compreensão sobre a doença e seus determinantes (BRASIL,
2007).
Dados do Serviço de Arquivo Médico e Informações em Saúde (SAMIS, 2006)
do HC demonstraram o número de idosos acima de 60 anos de idade com câncer no
momento da alta, no período de janeiro à novembro 2006. Foi apresentado o
número de 732 pacientes, sendo que o tipo de câncer, por ordem de freqüência
nessa amostra, corresponde, respectivamente, ao câncer de próstata, pulmão,
esôfago, mama e cólon.
O câncer de próstata é considerado o câncer mais comum na terceira idade,
uma vez que cerca de 75% dos casos, no mundo, ocorrem a partir dos 65 anos de
idade. É o mais freqüente em todas as regiões do Brasil, com risco estimado de
69/100.000 homens na região Sul, 63/100.000 na região Sudeste, 47/100.000 na
região Centro-Oeste, 38/100.000 na região Nordeste e 22/100.000 na região Norte
(BRASIL, 2007).
A prevalência desse tipo de câncer aumenta com a idade, sendo que o pico
de sua incidência é em torno dos 70 anos. Dentre os fatores de risco encontram-se a
idade, a etnia, a história familiar e o consumo exagerado de gordura animal
(GUIMARÃES; MORAES, 2008).
Para os autores, aproximadamente 60% dos pacientes são assintomáticos e
a hipótese de um possível ncer de próstata deve ser levantada diante de um
Antígeno Prostático Específico (PSA) sérico elevado.
Em vista dos dados epidemiológicos sobre a doença, e como enfermeira
atuante em uma UTI adulto, recebo muitos pacientes pós-cirúrgicos em função de
ressecção de tumores, principalmente idosos. Isso me permite afirmar que os idosos
com câncer merecem destaque especial, pois, além dos conhecimentos que
adquirem ao longo da vida e diante da experiência com a doença, eles podem
precisar de informações sobre os cuidados de saúde, para incorporá-los,
geralmente, no seu autocuidado.
O câncer de pulmão é o tipo mais comum de câncer no mundo. É o mais
freqüente em homens na região Sul (36/100.000), Sudeste (22/100.000) e Centro-
Oeste (16/100.000). Nas regiões Nordeste (9/100.000) e Norte (8/100.000), é o
terceiro mais freqüente. Para as mulheres, é o quarto mais freqüente nas regiões Sul
21
(16/100.000), Sudeste (11/100.000), Centro-Oeste (9/100.000) e Norte (5/100.000),
e o quinto mais freqüente na região Nordeste (5/100.000) (BRASIL, 2007).
O hábito de consumo do tabaco é o mais importante fator de risco para o
desenvolvimento de câncer de pulmão. A sobrevida média cumulativa em cinco anos
varia entre 13% a 21% em países desenvolvidos e entre 7% a 10% nos países em
desenvolvimento (BRASIL, 2007).
O câncer de esôfago é a terceira mais comum neoplasia do trato digestivo e
está entre os dez mais comuns tipos de câncer no mundo (SVIRSKI, 2008). A
incidência estimada no Rio Grande do Sul para o ano de 2008 é de 19,73
casos/100.000 homens e 7,58 casos/100.000 mulheres (BRASIL, 2007).
Esse tipo de câncer está associado à ingestão alcoólica excessiva,
tabagismo, hábitos alimentares como mate consumido muito quente e o churrasco
muito comum na região Sul do Brasil (GUERRA; GALLO; MENDONÇA, 2005).
Em Porto Alegre, as estimativas (taxas brutas) de câncer, segundo
localização primária, apontam que o câncer de mama é o mais freqüente
(85,50/100.000), seguido pelo câncer de próstata (80,63/100.000) e pelo câncer de
traquéia, brônquios e pulmão (50,46/100.000) (BRASIL, 2007).
O ncer de mama é o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o
mais comum entre as mulheres. A cada ano, no Brasil, cerca de 22% dos casos
novos de câncer em mulheres são de mama (BRASIL, 2007).
Apesar da idade ser um dos mais importantes fatores de risco, destacam-se
não só a menarca precoce, a menopausa tardia, a nuliparidade ou primeira gestação
em idade avançada, como também a história pessoal de câncer de mama e/ou
outras doenças benignas de mama, e, por fim, a história familiar da doença em
parentes de primeiro grau, o uso de hormônios e o consumo de álcool (BRASIL,
2007; MANO, 2008).
o câncer de cólon e reto é a terceira causa mais comum de câncer no
mundo, em ambos os sexos, e a segunda causa em países desenvolvidos. Porém, a
incidência de câncer de reto é cerca de 20% a 50% maior em homens, na maioria
das populações (BRASIL, 2007).
A idade acima dos 50 anos é considerada um dos fatores de risco. Outros
fatores incluem hábitos alimentares, como, por exemplo, carnes e peixes
excessivamente tostados e frituras. Somam-se a esses, pessoas com parentes de
22
primeiro grau que tiveram câncer colorretal; história de enterocolite ulcerativa;
constipação intestinal crônica; fumo e sedentarismo (GUIMARÃES; MORAES,
2008).
As relações sociais costumam ser modificadas pela presença do câncer. Os
pacientes, seus familiares e amigos percebem questões como perda dos
vencimentos econômicos, isolamento social, tensão familiar, dificuldades de
manutenção dos laços de amizade, incapacidade de manter o emprego ou os
estudos, entre outros. Todos esses aspectos o comuns e desafiadores para
aqueles que convivem com o câncer (TRENTINI et al., 2005).
Diante da hospitalização, a família, principal unidade de cuidado, precisa
muitas vezes, rever seus papéis. Os filhos, geralmente, assumem o papel dos pais
e, devido às implicações causadas pela hospitalização e pela doença, uma
reestruturação, dentro do contexto familiar, torna-se necessária para que sejam
respeitadas as exigências decorrentes do processo saúde-doença (ARAÚJO;
NASCIMENTO, 2004; FLORIANI; SCHRAMM, 2006).
Por isso, a visita domiciliar
tem como característica a avaliação do paciente, seus familiares e do
domicílio. Por meio dela o profissional realiza o diagnóstico da realidade em
que o cliente está inserido, conhecendo os diversos fatores que influenciam
no seu processo saúde-doença, e busca subsídios para sua ão [...] que
envolve orientação e o acompanhamento das condições de saúde do cliente
(LACERDA et al., 2007, p. 12).
Entre as exigências que o idoso e sua família enfrentam em vista da doença,
elencam-se as modificações biológicas, fisiológicas, cognitivas, psicológicas e
socioeconômicas, como as que necessitam de atenção especial. Torna-se
fundamental que os profissionais da saúde tomem consciência desses fatores e de
seus determinantes, atuando em prol da promoção da saúde desse idoso e,
também, de sua família. Cuidar e promover a educação em saúde no domicílio é
uma das tarefas mais desafiantes não só para o profissional enfermeiro, como
também para a equipe multidisciplinar em saúde (SOUZA et al., 2006).
O impacto do envelhecimento e seu significado são mediados por fatores
econômicos, estruturais e culturais. A teoria do envelhecimento denominada
“envelhecimento e sociedade” aponta para um futuro, quando os idosos estarão, em
sua maioria, integrados à sociedade e não serão considerados uma minoria social
(CALDAS, 2007).
23
Diante de todas essas informações sobre o câncer e os idosos, o
aprofundamento de questões relacionadas à educação em saúde faz-se mister. Por
isso, a seguir, apresento esta temática, contando um pouco de sua história e
trazendo o que diferentes estudiosos têm trabalhado sobre o assunto.
3.3 Educação em Saúde
No Brasil, no início dos anos 80, iniciava-se um discurso sobre participação
popular e a utilização de estratégias de educação em saúde pelos profissionais da
saúde. Em 1981, a política de educação em saúde iniciou a mudança de um
enfoque tradicional para a promoção da participação comunitária nas atividades de
saúde (GASTALDO, 1997).
Uma breve análise demonstra uma continuidade temática no discurso das
políticas de educação em saúde que circularam nos anos 1980 e 1990: a questão da
participação (GASTALDO, 1997).
Oliveira e Gonçalves (2004) referem que a educação em saúde está
preocupada com a melhoria das condições de vida e de saúde das populações e
que ela mantém uma estreita relação com a aprendizagem, desenhada para
alcançar a saúde, pois se torna necessário que aquela seja voltada para atender a
população de acordo com a sua realidade.
O resultado dos esforços nesse sentido culminou com a produção da Carta de
Ottawa, em 21 de novembro de 1986 (BRASIL, 2002a), a qual definiu saúde como
um bem-estar físico, emocional, econômico, social, cultural e espiritual, resultado
das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente,
trabalho, transporte, lazer, liberdade e acesso aos serviços de saúde.
De acordo com o mesmo autor, a divulgação de informações sobre a
educação em saúde é fundamental, o que deve ocorrer no domicílio, na escola, no
trabalho ou em qualquer espaço coletivo.
Em pesquisa bibliográfica sobre o tema educação em saúde e
envelhecimento observou-se que, para retratar estratégias de educação em saúde
com pessoas idosas, os artigos utilizaram relatos de experiência com grupos, o que
24
se trata de uma boa estratégia quando o assunto for ao encontro dos interesses e
necessidades de tais pessoas (GORINI; SEVERO; SILVA, 2008).
Para as autoras, o enfoque na educação em saúde emancipatória foi outro
aspecto constatado. Seus pressupostos vão ao encontro da teoria da andragogia, a
qual trabalha a aprendizagem de adultos, respeitando o conhecimento prévio dos
indivíduos, seu meio sociocultural e a troca de experiência entre eles.
O enfermeiro deve fazer o uso apropriado de referenciais de educação em
saúde em sua prática profissional, propiciando um processo interativo de
aprendizagem, que busque satisfazer as reais necessidades dos indivíduos idosos
(GORINI; SEVERO; SILVA, 2008).
O idoso com câncer necessita de conhecimentos sobre os cuidados de saúde
necessários para manter-se com uma boa qualidade de vida, a qual se percebe pela
experiência, que a mesma está relacionada à melhora dos sinais e sintomas
desencadeados pela doença e ao controle dos efeitos adversos do tratamento. Esse
conhecimento é importante para troca de informações com outros pacientes,
familiares ou profissionais da saúde, estimulando a promoção da saúde.
De acordo com Candeias (1997), a definição de promoção da saúde
ultrapassa os limites dos fatores estritamente comportamentais, observáveis em
geral durante o relacionamento interpessoal que ocorre no âmbito local, para
prender-se a uma teia de interações muito mais complexa, constituída pela cultura,
por normas e pelo ambiente socioeconômico, cada um deles se associando com o
significado histórico mais amplo do que com o próprio estilo de vida.
Assim, faz-se necessário que os profissionais da saúde consigam estabelecer
uma comunicação eficaz com a população, ou seja, é preciso certificar-se de que o
receptor compreendeu a mensagem. Logo, é fundamental o fato de que cada cultura
tem sua própria forma de comunicação, que se através da fala, de símbolos, de
sinais, bem como de significados ou visões de mundo próprios acerca dos
fenômenos que vivenciam (SHIRATORI et al., 2004).
De acordo com Freire (1984), o domínio da existência humana é o domínio do
trabalho, da cultura, da história e dos valores. O indivíduo, como ser da práxis,
precisa, para transformar o mundo, transformar-se também, sendo que as relações
desse com o mundo se dão em um espaço, que não é apenas físico, mas também
histórico e cultural.
25
Ao longo dos anos, ocorreu uma ampliação das práticas de educação em
saúde no sentido de uma renovação teórico-metodológica que incorpora a
dialogismo no processo ensino-aprendizagem e a releitura do papel de educador,
como um mediador da relação entre os sujeitos e o conhecimento (SMEKE;
OLIVEIRA, 2001).
A primeira condição para que um homem realize um ato comprometido é sua
capacidade de atuar e refletir. É exatamente essa capacidade de atuar, de operar,
de transformar a realidade, de acordo com as suas finalidades, que o faz um ser da
práxis (FREIRE, 1982).
Fazendo parte da práxis, de acordo com Candeias (1997), a educação em
saúde é entendida como qualquer combinação de experiências de aprendizagem
delineadas, com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde.
Assim, de acordo com Souza, Wegner e Gorini (2007), a prática educativa em
saúde configura-se em uma ferramenta importante para a estimulação dos princípios
que regem o autocuidado, ou seja, é por meio dela que se busca um viver saudável.
Para Mendonça et al. (2007), um viver saudável em pacientes com câncer
pode ser alcançado através da utilização da Teoria do Autocuidado de Orem. Essa
teoria identifica as necessidades de ajuda do paciente, sendo que, quando
impedimento ou limitação no autocuidado, ocorre o déficit no autocuidado, o que
indica a necessidade de atuação da enfermagem.
Uma das funções do profissional da área da saúde, em especial, o
enfermeiro, é inserir o sujeito (paciente) como foco de sua práxis diária e envolvê-lo
como parte integrante do seu cuidar, utilizando para tal a educação em saúde
(SOUZA; WEGNER; GORINI, 2007).
Nesse encontro entre o profissional de saúde e o paciente, é importante saber
ouvir suas necessidades e a forma com que realiza o seu autocuidado. Falar sobre o
tema educação em saúde não se trata de uma tarefa fácil, pois o profissional deve
se libertar do modelo tradicional e prescritivo para utilizar o modelo radical. A partir
disso, no encontro entre os dois sujeitos do processo educativo profissional e
paciente, os cuidados de saúde são mantidos ou transformados valorizando a
participação dos envolvidos.
Fica claro que, nesta etapa da pesquisa, as indagações sobre esses temas
delineados direcionam-me cada vez mais a buscar respostas, visto que saúde se
26
transformou em valor social. A relevância da temática do câncer e da educação em
saúde para a prática de enfermagem, além da reflexão sobre prevenção e a
promoção de saúde indicam a assertiva de que os limites são mais dos profissionais
da área do que dos próprios pacientes. Portanto, há um longo caminho a ser
percorrido nessa trajetória.
27
4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
4.1 Tipo de Estudo
Esta é uma pesquisa de cunho qualitativo, caracterizada como estudo de
caso proposto por Stake (1998).
Stake (1998, p.17) diz que “cada estudo de caso é um instrumento para
aprender sobre os efeitos das normas de qualificação, porém deverá existir uma boa
coordenação entre cada um dos estudos individuais”.
De acordo com o autor, a investigação do tipo estudo de caso prioriza a
compreensão de casos selecionados, não sendo uma investigação de amostras.
Esses casos devem ser selecionados de acordo com critérios como: os benefícios
daquilo que aprendemos, uma vez escolhidos os objetivos, que casos devemos
escolher para compreender, o tempo que o investigador dispõe para o trabalho de
campo e o acesso e, se possível, escolher casos em que os pacientes tenham
condições de verbalizar as respostas e que nossos questionamentos sejam bem
acolhidos.
4.2 Contexto do Estudo
O contexto foi constituído pelas unidades de internação clínica e cirúrgica,
alas Norte e Sul do HC, e pelos domicílios dos sujeitos do estudo.
O HC é uma empresa pública de direito privado, criado pela Lei 5.604, de 2
de setembro de 1970, integrante da Rede de Hospitais Universitários do Ministério
da Educação e vinculado, academicamente, à UFRGS. O mesmo presta ensino,
pesquisa e assistência de acordo com os princípios de eqüidade, igualdade e
gratuidade, inerentes ao SUS.
28
As unidades clínicas e cirúrgicas têm, em média, de 34 a 45 leitos de
internação para pacientes procedentes, principalmente, de Porto Alegre, Grande
Porto Alegre e alguns do interior do Estado do Rio Grande do Sul.
Os domicílios dos sujeitos serão descritos no subcapítulo 5.2 - Caracterização
dos Domicílios.
4.3 Sujeitos do Estudo
Os sujeitos desse estudo constituíram-se por quinze idosos com câncer que
foram convidados a participar do mesmo após a concordância do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).
O número de sujeitos foi determinado pelo critério de saturação dos dados
(GASKELL, 2002). Segundo esse autor, os temas comuns das entrevistas começam
a aparecer e o pesquisador se conta de que não aparecerão novas surpresas ou
percepções.
Neste trabalho, considera-se a denominação de idoso segundo o Estatuto do
Idoso, o qual define população idosa aquela a partir de 60 anos de idade (BRASIL,
2006).
Para tanto, foram definidos alguns critérios de inclusão e exclusão descritos a
seguir:
a) Critérios de inclusão:
- ser idoso(a) (60 anos de idade);
- ser portador(a) de câncer;
- estar internado(a) em unidades de internação clínica ou cirúrgica do HC;
- estar internado(a), pelo SUS, há pelo menos uma semana;
- ter três meses de confirmação do diagnóstico e de conhecimento da doença;
- ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A);
- ter condições de responder aos questionamentos (compreensão da pergunta,
formulando sua resposta).
29
b) Critérios de exclusão:
- ser portador(a) de doenças crônicas descompensadas;
- estar com diagnóstico indefinido no momento da coleta das informações;
- estar sob cuidados paliativos.
Procurando manter o anonimato dos idosos, eles serão identificados por
nomes próprios fictícios.
4.4 Coleta das Informações
De acordo com as recomendações da investigação de estudos de caso, a
fase da coleta das informações observou os seguintes aspectos:
a) entrada no campo e busca ativa: após aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa do HC, foi realizada uma reunião com as(os) enfermeiras(os) das unidades
de internação, com a finalidade de expor-lhes os objetivos do estudo e solicitar
auxílio na indicação de possíveis participantes, os quais foram, posteriormente,
contatados pela pesquisadora para formular o convite de participação na pesquisa.
Os idosos foram entrevistados, em seu domicílio, após a alta hospitalar. Respeitou-
se a vontade dos participantes no sentido de estabelecer o horário da entrevista,
uma vez que a pesquisadora se preocupou em não invadir a privacidade das
famílias. O período de coleta foi de abril a dezembro de 2007. A pesquisadora
defrontou-se com algumas dificuldades para localização dos domicílios, devido ao
acesso às moradias em terrenos inclinados e a presença de várias casas em um
mesmo terreno. A entrada, em alguns vilarejos, também foi dificultosa, pois os
moradores do local limitavam o acesso às moradias.
b) estratégias para coleta das informações: foi utilizada a técnica da entrevista semi-
estruturada recomendada por Stake (1998). Segundo o autor, a entrevista é a
principal ferramenta para se chegar às múltiplas realidades dos entrevistados. A
entrevista teve duração aproximada de 30 minutos;
c) registro das informações: as entrevistas foram gravadas e depois transcritas. Na
parte I - dados de identificação - as informações foram coletadas a partir do roteiro
de entrevista semi-estruturada (APÊNDICE B) junto ao idoso e de dados
30
complementares nos registros dos prontuários. A parte II trata das questões da
entrevista.
4.5 Análise das Informações
Essa fase se desenvolveu simultaneamente à coleta das informações. As
situações identificadas foram classificadas em categorias com seus respectivos
temas, tendo por base a análise de conteúdo de Bardin (1977) e utilizando a técnica
da análise temática a ser operacionalizada em suas três fases:
a) pré-análise: compreendeu a ordenação das informações coletadas através das
entrevistas as quais foram organizadas e submetidas à leitura, determinando-se,
posteriormente, unidades de registro (relatos dos idosos);
b) exploração do material: quando a leitura das mensagens buscou a compreensão
do texto e a agregação das unidades de registro em unidades de significação;
c) interpretação inferencial: possibilitou a interpretação dos conteúdos manifestados
nas unidades de significação. No caso, as unidades de significação são os temas,
que foram classificados e agregados em categorias.
Visando atender às recomendações da modalidade de pesquisa do tipo
estudo de caso, houve a categorização dos temas que foram analisados a partir das
vivências da pesquisadora e à luz da literatura.
4.6 Aspectos Éticos
Foram observados os aspectos éticos para pesquisa com seres humanos de
acordo com a Resolução 196/1996 que visa assegurar os princípios de autonomia,
beneficência, não-maleficência, justiça e eqüidade ao indivíduo e às comunidades, à
medida que preconiza o consentimento livre e esclarecido dos indivíduos alvo, bem
como a proteção a grupos vulneráveis e incapazes (BRASIL, 1996c).
31
Os idosos foram convidados a participar do estudo mediante Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A). Foi realizada a leitura desse
documento para os sujeitos da pesquisa, ficando uma cópia com o participante e
outra com a pesquisadora, após as devidas assinaturas.
O projeto dessa pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
HC sob o número 07-067 em 23/03/07 (ANEXO A).
Foi respeitada a vontade dos participantes no sentido de estabelecer a data e
o horário para as entrevistas.
A pesquisa não ofereceu prejuízos, sendo que, em qualquer momento da
entrevista, os sujeitos poderiam questionar o pesquisador, tendo a liberdade de
desistir do estudo.
O material coletado é de responsabilidade da pesquisadora e será destruído
após cinco anos da realização do estudo.
32
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES
Neste capítulo, realiza-se a análise e discussão das informações. Num
primeiro momento, apresenta-se uma caracterização dos idosos e de seus domicílios
e, após, as categorias e temas do estudo.
5.1 Caracterização dos Idosos
O quadro 1 foi elaborado com registros dos prontuários dos sujeitos da
pesquisa que apresentam informações coletadas e, posteriormente, agrupadas
conforme o tipo de câncer dos idosos. Tal agrupamento permitiu, com certo
didatismo, uma melhor visibilidade dessas informações.
Quadro 1:Caracterização dos idosos
IDOSO
IDADE
PROFISSÃO
TIPO DE CANCER
TIPO DE TRATAMENTO
Libya
61
Agricultora
Adenocarcinoma de reto
Cirugia /Quimioterapia
Ernani
61
Pedreiro
Câncer de pele não melanoma
Cirurgia
rio
61
Motorista aposentado
Adenocarcinoma de reto
Cirurgia/Radioterapia/Quimioterapia
Dario
62
Publicitário aposentado
Adenocarcinoma de próstata
Cirurgia
Amabília
63
Cabelereira
Carcinoma de mama
Cirurgia/Quimioterapia
Ercília
65
Costureira e Dona-de-casa
Carcinoma de mama
Cirurgia
Ilse
66
Costureira
Adenocarcinoma de reto
Cirurgia/Radioterapia/Quimioterapia
Carlos
67
Funcionário Público
aposentado
Adenocarcinoma de próstata
Cirurgia
Dóris
71
Analista contábil aposentada
Adenocarcinoma de estomago não
diferenciado
Cirurgia
Alcides
71
Agricultor
Adenocarcinoma de próstata
Cirurgia
José
74
Caldeiro aposentado
Adenocarcinoma de bexiga
Cirurgia
Regina
75
Funcionária pública
aposentada
Adenocarcinoma de bexiga
Cirurgia
João
75
Pedreiro
Adenocarcinoma de cólon
Cirurgia
Sergio
77
Entregador de gás
aposentado
Linfoma cervical
Cirurgia/Radioterapia/Quimioterapia
Ailtom
81
Sapateiro aposentado
Adenocarcinoma de cólon
Cirurgia/Quimioterapia
Dario é publicitário aposentado e mora com a esposa e um filho. Descobriu
que estava com câncer a partir de um PSA elevado. Fazia controles anualmente em
função de ter história de parentes em primeiro grau com câncer. Realizou ressecção
de próstata e aguarda resultados de exames para continuidade do tratamento.
Carlos é funcionário público aposentado, mora com a esposa, filha e dois
netos. Realizou cirurgia para tratamento do adenocarcinoma de próstata.
Alcides é agricultor, mora com a esposa, a filha e os netos. Trabalhava no
interior do Rio Grande do Sul quando apresentou rápida perda de peso. Foi
hospitalizado no interior e transferido para Porto Alegre para investigação, quando
foi identificado um adenocarcinoma de próstata, ressecado cirurgicamente.
Dario, Carlos e Alcides têm câncer de próstata confirmando o que os dados
estatísticos apresentados no subcapítulo 3.2 demonstraram sobre o assunto.
O câncer de próstata é considerado o mais comum na terceira idade e o sexto
tipo de câncer mais freqüente no mundo, representando cerca de 10% do total de
câncer (BRASIL, 2007).
Amabília é cabeleireira, mora com a mãe de 90 anos de idade e um filho
adolescente. A idosa, além de cirurgia (setorectomia de mama esquerda), realizou
quimioterapia.
Ercília é costureira, mora com o esposo e um filho, sendo que realizou
mastectomia radical bilateral.
Amabília e Ercília têm câncer de mama, o qual está associado principalmente
à menopausa (MANO, 2008).
O câncer de mama é o mais freqüente nas mulheres da região Sul com o
risco estimado de 67/100.000 mulheres, seguido pelas regiões Centro-Oeste
(38/100.000) e Nordeste (28/100.000) (BRASIL; 2007).
35
Libya é agricultora, mora com a mãe, filhas e netos. A idosa teve 10 filhos,
realizou cirurgia para retirada de um tumor de reto com invasão da vagina e posterior
quimioterapia.
Mário é motorista aposentado, mora com a esposa. O idoso realizou cirurgia
para ressecção parcial do tumor de reto, radioterapia e quimioterapia.
Ilse é costureira, mora com a filha e o genro. A idosa apresenta uma lesão
entre o reto e a bexiga. Realizou cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
Os idosos Libya, Mário e Ilse têm câncer de reto.
Os carcinomas de reto diferenciam-se dos tumores de cólon devido à sua
localização anatômica fixa, à sua íntima relação com os órgãos lvicos, sua
drenagem linfática e à sua ausência de serosa. A neoplasia de reto metastática é
tratada da mesma forma que os tumores de cólon (LIEDKE, 2008).
Regina é funcionária pública aposentada, mora com as duas filhas. Realizou
cirurgia de retossigmoidectomia e ressecção de cólon descendente. A paciente tem
história prévia de adenocarcinoma de ovário.
João é pedreiro, mora com a esposa, filha, genro e dois netos. Realizou
cirurgia (colectomia à direita) e apresenta metástase hepática.
Ailtom é sapateiro aposentado, mora com a namorada. Realizou ressecção de
um pólipo no cólon, em função de um adenocarcinoma de cólon. Tem história prévia
de cirurgia por adenocarcinoma de próstata com radioterapia e quimioterapia.
Regina, João e Ailtom têm adenocarcinoma de cólon, um dos mais freqüentes
tumores do tubo digestivo (GUIMARÃES; MORAES, 2008).
O número de casos novos de câncer de cólon e reto, estimados para o Brasil
no ano de 2008, é de 13 casos novos a cada 100.000 homens e de 15 para cada
100.000 mulheres. Ele é o terceiro tipo mais freqüente na região Sul (21/100.000),
perdendo apenas para o câncer de mama e o de próstata, respectivamente, mais
comuns nessa região (BRASIL, 2007).
36
Pacientes, que terminaram o tratamento em função de um adenocarcinoma
de cólon, devem ser monitorados com realização de exames periódicos em função
de complicações inerentes ao tratamento oncológico, bem como pela possibilidade e
recidiva da doença (GUIMARÃES; MORAES, 2008).
Dóris é analista contábil aposentada e mora com o esposo. Ela apresenta
adenocarcinoma de estômago não diferenciado e realizou gastrectomia parcial.
O risco estimado de casos novos de câncer de estômago para o Brasil, no
ano de 2008, é de 15 casos para cada 100.000 homens e de 8 para cada 100.000
mulheres (BRASIL, 2007).
A etiologia desse tipo de câncer é multifatorial e atribuída, em parte, a hábitos
alimentares e fatores ambientais (MOREIRA; COSTA, 2008). Para os mesmos
autores, o tipo de tratamento curativo é a ressecção cirúrgica, embora a recidiva
local e sistêmica ocorra na maioria dos casos.
Ernani é pedreiro, mora com a esposa, um filho e uma neta. O idoso tem
câncer de pele não melanoma. Apesar de ter feito ressecção cirúrgica de lesão no
pescoço, apresenta várias lesões que, ainda, serão ressecadas cirurgicamente.
Estima-se que o câncer de pele do tipo não melanoma (115 mil casos novos)
será o mais incidente na população brasileira em 2008/2009 (BRASIL, 2007).
Embora seja de baixa letalidade, esse tipo de câncer pode provocar ulcerações
graves e invasão de tecidos adjacentes (FRANÇA, 2008).
De acordo com o autor, a redução na exposição à radiação ultravioleta e o
uso de fotoprotetores podem diminuir a incidência do câncer de pele do tipo não
melanoma.
José é caldeiro aposentado e mora com a esposa. Aguarda tratamento
cirúrgico para ressecção de um adenocarcinoma de bexiga. Tem história prévia de
adenocarcinoma de próstata com ressecção cirúrgica e radioterapia.
As neoplasias secundárias de bexiga o descritas como conseqüência de
radioterapia lvica para tumores de próstata. Os autores também apontam como
37
um importante fator de risco ocupacional a exposição ao diesel (KATER; SIMON,
2008).
Cabe, porém, ressaltar que o câncer de bexiga é a neoplasia maligna mais
comum do sistema urinário. Acomete indivíduos idosos, sendo que 80% dos
portadores têm idade acima de 60 anos. Acomete mais homens do que mulheres,
com uma taxa média que varia de 3 a 4 homens para cada mulher (KATER; SIMON,
2008).
Sérgio é entregador de gás aposentado, mora com a esposa, a filha e os
netos. O idoso tem linfoma cervical. Realizou ressecção parcial desse tumor,
radioterapia e quimioterapia. Tem história prévia de linfoma folicular em cólon direito
com ressecção cirúrgica.
O linfoma folicular geralmente acomete adultos com idade média de 59 anos
com predomínio para indivíduos do sexo masculino (42%). Esse tipo de câncer é
responsivo às diversas modalidades terapêuticas, as quais determinam a redução da
massa tumoral (CHIATTONE, 2004).
5.2 Caracterização dos Domicílios
Os domicílios dos sujeitos dessa pesquisa são de Porto Alegre e da Grande
Porto Alegre. Na sua maioria, são casas de alvenaria (treze dos idosos) e
apartamentos em pequenos condomínios, atendidos pelo saneamento básico de
água e esgoto, luz e coleta de lixo. Os pátios dessas moradias são grandes e
úmidos. É comum a existência de animais domésticos soltos cachorros, gatos e
galos ─ como, também, de uma variedade de plantas e árvores frutíferas.
As famílias dos idosos desse estudo, em sua maioria, são de baixa renda, ou
seja, recebem de 1 a 2 salários mínimos regional.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2006) revelam que,
em 2006, 15,1% da população de idosos, no Brasil, vivia com rendimento de 1 a 2
38
salários mínimos, sendo que, nessa faixa etária, os rendimentos oriundos da
Previdência Social compõem a maior parte do orçamento.
No Brasil, pesquisa, realizada nos domicílios em que os idosos estão
inseridos, identificou que prevalece a convivência com familiares. O tipo mais
comum é o idoso que mora com os filhos, representando 44,5% no conjunto do País,
o que foi verificado nos domicílios, visitados pela pesquisadora tipo família
multigeracional (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
2007).
De acordo com Creutzberg (2000, p. 17), família multigeracional ”é a família
em que outros membros, com laços de parentesco e/ou consangüinidade, vivem
juntos”. Segundo a autora, é o tipo de família, com mais gerações, vivendo juntas.
Esse arranjo tem crescido nos últimos anos, devido tanto à maior longevidade, que
leva gerações mais velhas a viver com as mais novas, como, também, à recessão
econômica, que leva a dividir e diminuir as despesas entre os membros da família.
5.3 Categoria I - Vivenciando a Doença
Na categoria Vivenciando a Doença, estão relacionados os temas Busca
do serviço de saúde e Enfrentando o Tratamento. Nessa categoria, surgiram
questões como a busca do serviço de saúde e as suas dificuldades de acesso; a
vivência com a doença, desde a sua descoberta até o seu tratamento e as
dificuldades financeiras encontradas nesse trajeto, como pode ser observado no
quadro a seguir:
39
TEMAS
RELATOS
Busca do serviço de saúde
Um doutor me disse que tinha hemorróidas
interna, que não daria para fazer nada. Depois,
outro me disse que eu nunca tive hemorróidas,
que meu problema era no intestino. Ele disse
para ir rezando e me deu os papéis para ir para
o hospital. Aí, foi que descobri que tinha câncer
no intestino (Ailtom).
Eu estava mal no interior quando me
trouxeram para Porto Alegre de ambulância.
Quando acordei, estava internado no hospital e
daí foi que me operaram (Alcides).
Enfrentando o Tratamento
Mas vamos lutar! Vamos pensar positivo!
(Ercília).
A quimio [...] dá assim uma [...] como eu vou te
dizer [...] um desânimo na gente. Ela baixa a
imunidade e, então, a gente fica cansada
(Libya).
Isso é que estragou a minha vida: essa
radioterapia. Se eu soubesse não teria feito.
Deviam avisar antes: olha, assim [...]. Não me
avisaram. A boca seca, não sabia que ia ficar
assim [...] (Sérgio).
[...] o meu salário é um “pé na cova”! É ridículo,
porque a vergonha dizer que a gente
ganha trezentos e oitenta reais [...] (Mário).
Quadro 2: Categoria I Vivenciando a Doença
No tema Busca do serviço de saúde foram relatadas, pelos idosos, as
dificuldades de acesso aos serviços de saúde e de confirmação do diagnóstico.
Um dos problemas, que leva ao diagnóstico tardio do câncer, é a dificuldade
de distinguir entre as mudanças do processo de envelhecimento e as condições
crônicas preexistentes, somada à falta de conhecimento sobre os sinais e sintomas
relacionados a essa doença (TOLEDO; DIOGO, 2003).
Ailtom e Alcides, como pode ser visualizado no quadro 3, expressam as
dificuldades de acesso aos serviços de saúde e de confirmação do diagnóstico.
Em um estudo com portadores de colostomia devido ao câncer, como no
caso de Ailtom, foi identificado que, na tentativa de reorganizar a desordem com o
corpo evidenciada através de sangramento anal e disfunções intestinais, essas
40
pessoas partem em busca de conhecimento profissional (MARUYAMA; ZAGO,
2005).
Sabe-se que a demora no atendimento de saúde e de confirmação do
diagnóstico médico pode ocorrer porque os idosos tentam resolver seus problemas
de saúde com alternativas informais, como o uso de chás e medicamentos caseiros.
Além da alternativa informal, pode ocorrer a busca pela alternativa popular, como a
crença em curandeiros (SANTOS, 2007).
Além disso, a dificuldade, na procura do serviço de saúde, deve-se a
algumas hipóteses como a falta de recursos econômicos e a de acompanhante; a
dificuldade em aceitar a espera do atendimento e a da marcação dos exames.
Somam-se a essas, mudanças sazonais, o que, no caso de idosos, acaba tornando
mais difícil o trajeto do paciente.
Em pesquisa sobre trajetórias terapêuticas e redes sociais de pacientes
com câncer em um município do Estado do Rio Grande do Sul, foi identificado que o
acesso aos serviços de saúde, muitas vezes dificultoso e ineficiente, é um dos
principais problemas encontrados por essa clientela (ROTOLI, 2007).
De acordo com Trentini et al. (2005), pacientes idosos, em condições
crônicas de saúde, apresentam mecanismos de coping
*
, enfocados tanto na
emoção, na participação em grupos de idosos e na busca de ajuda da família,
quanto no problema, como na busca por atendimento de saúde e cuidados com seu
corpo, demonstrando uma forma de vivenciar a situação.
Na área da saúde, devemos criar situações ou indicar alternativas para os
idosos aprenderem a lidar com seu problema de saúde, principalmente em
condições crônicas, como já dizia Freire (1996, p. 22) que “[...] ensinar não é
transmitir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou sua
construção”.
A partir dessa perspectiva, as atividades em grupo configuram-se em uma
estratégia para se alcançar a educação em saúde.
Assim, os estudos sobre educação em saúde não se destinam somente a
prevenir doenças mas, também, a preparar o indivíduo para uma vida mais saudável
(OLIVEIRA, 2005).
*
Enfrentamento.
41
De acordo com a autora, “supõe-se que indivíduos conscientes sejam
capazes [...] de articular intervenções no ambiente que resultem na manutenção da
saúde” (2005, p. 428) ou que sejam capazes de lidar com os problemas decorrentes
de sua condição crônica de saúde.
No tema Enfrentando o Tratamento, logo após a descoberta do câncer,
iniciaram-se os tratamentos, relatados pelos idosos dessa pesquisa, como cirurgia,
quimioterapia e radioterapia. Junto aos tratamentos, surgem as dúvidas quanto aos
efeitos adversos, seqüência do tratamento, enfim, quanto ao inesperado.
Todos os quinze idosos participantes dessa pesquisa realizaram cirurgia,
seis quimioterapia, e três radioterapia como forma de tratamento.
Apesar dos efeitos colaterais físicos causados pela quimioterapia como
náuseas, vômitos, anorexia, constipação, diarréia, fadiga e mucosite, os idosos
procuram encontrar meios de superar as dificuldades seguindo as orientações de
saúde para um melhor autocuidado (ANJOS; ZAGO, 2006).
Por isso, é fundamental que, além do seu papel técnico relacionado à
administração das drogas, o enfermeiro atue como um multiplicador de informações
a respeito do tratamento quimioterápico, desfazendo dúvidas, tabus e temores dos
pacientes (BONASSA; SANTANA, 2005).
Libya associou a quimioterapia a um cansaço extremo, sendo que a fadiga,
em pacientes oncológicos, pode ser causada por vários fatores, entre eles, estado
hipermetabólico associado ao crescimento tumoral, competição por nutrientes entre
o organismo e o tumor, efeitos deletérios da quimioterapia e da radioterapia ou
ingestão nutricional inadequada, associada à náusea e vômitos (MENEZES;
CAMARGO, 2006; SCHNEIDER; LOPES; FURTADO, 2008).
A identificação correta e oportuna dos problemas dos pacientes, decorrentes
da quimioterapia antineoplásica, e a implementação de ações, direcionadas ao
alcance dos resultados nas esferas biológico, psicossocial e psicoespiritual, são
essenciais para o manejo efetivo dos efeitos colaterais do tratamento (ALMEIDA;
GUTIÉRREZ; ADAMI, 2004).
O profissional da saúde pode, junto com o paciente, procurar alternativas
para amenizar os efeitos adversos do tratamento quimioterápico, atuando de forma
42
não impositiva, procurando descobrir a melhor forma de cuidado, especialmente, no
domicílio.
A partir do que foi exposto anteriormente, as alterações, decorrentes do
tratamento quimioterápico, estão mais voltadas para os seus efeitos adversos.
necessidade de um maior acompanhamento durante o seu trajeto. Trabalhos que
tenham, como subsídio, a educação em saúde serão alcançados quando os
sujeitos do processo educativo, nesse caso os idosos e sua família, possam,
juntamente com a equipe de enfermagem, estabelecer vínculos, trocar experiências
e, juntos, elaborarem um plano de cuidados para satisfazer as necessidades
decorrentes da doença. No domicílio, isso pode ser buscado por meio da visita
domiciliar, a qual se configura em uma ferramenta que visa estimular estratégias de
autocuidado.
Sérgio, ao relatar não conhecer a radioterapia, demonstrou a sua
necessidade de orientação quanto ao procedimento, ao tratamento, aos efeitos
adversos e as formas de autocuidado.
O acompanhamento da enfermagem deve ocorrer desde o início do
tratamento, no qual a enfermeira deve prestar orientações sobre os possíveis efeitos
adversos do tratamento. Durante as sessões de radioterapia e após os
procedimentos, um acompanhamento mais intensivo se faz necessário, a partir da
busca das reais necessidades do indivíduo, visando à resolução dos problemas
encontrados.
Pacientes, tratados com radioterapia, podem experimentar diversos efeitos
colaterais como dor, fadiga, alterações cutâneas, mudanças no local afetado,
choque emocional, mudança na rotina diária, entre outros, que dependem do tipo de
câncer, das características do indivíduo, da quantidade de radiação aplicada e,
principalmente, da parte do corpo a ser tratada (LORENCETTI; SIMONETTI, 2005).
Para as autoras, os idosos com câncer, em tratamento radioterápico,
necessitam de cuidados específicos da enfermagem que têm o papel de ajudar os
pacientes a lidar com os efeitos colaterais como também com problemas emocionais
durante a radioterapia.
Nesse trajeto, a família, se orientada, pode ser uma parceira da
enfermagem, pois pode auxiliar a identificar as necessidades de ajuda desse idoso
fragilizado em função da terapia proposta e desgaste provocado pelo tratamento.
43
O enfermeiro e o idoso com câncer precisam estabelecer vínculos pois,
dessa forma, poderão ser trabalhadas questões de educação em saúde de maneira
efetiva. Para isso, é necessário que o profissional utilize sua criatividade e
capacidade de manter relacionamentos interpessoais, não somente com o paciente,
mas, também, com sua família, realizando cuidados e fornecendo suporte educativo
de orientações quanto ao tratamento, efeitos adversos e formas de autocuidado
desde a hospitalização e que possam ser aplicados no domicílio.
Além desse suporte educativo, que se trata de uma ferramenta de educação
em saúde, o apoio emocional é fundamental para que essa relação de confiança
seja mantida.
Mário destaca as dificuldades financeiras, muito comum nos pacientes com
câncer. Ele definiu seu salário como “um na cova”, o que torna difícil a aquisição
de medicamentos, o transporte até o serviço de saúde, inclusive a compra de
alimentos.
As limitações financeiras podem impedir a obtenção de medicações, de
alimentação, de transporte e, até mesmo, de acesso aos serviços de saúde para o
início e manutenção do tratamento (GUTIÉRREZ et al., 2007).
De acordo com Araújo e Nascimento (2004), em muitos casos, o custo
elevado do tratamento e a hospitalização m obrigado pacientes e familiares a
venderem bens e adquirirem dívidas para iniciar ou dar continuidade ao tratamento.
É uma corrida contra o tempo. O custo do tratamento é alto e o acesso aos serviços
de saúde é, muitas vezes, dificultoso.
Sabe-se que o SUS está organizado, na atualidade, com os Programas de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa Saúde da Família (PSF),
modelos que reafirmam e incorporam os princípios sicos do SUS, possibilitando
uma compreensão ampliada do processo saúde-doença e das necessidades de
intervenções que vão além das práticas curativas (VIEGAS, 2001).
É importante ressaltar que a saúde provém tanto de determinantes
socioculturais quanto de econômicos e esses aspectos devem ser considerados no
contexto de saúde (GORINI; SEVERO; SILVA, 2008).
44
Dessa forma, considera-se importante que:
o enfermeiro propicie ao indivíduo idoso uma reflexão sobre os
comportamentos saudáveis, permitindo que ele encontre as melhores
opções para a adoção e manutenção dos mesmos. O profissional deve
valorizar as escolhas adequadas, respeitar a individualidade e considerar a
capacidade de aprender e de ensinar sobre comportamentos saudáveis
desse indivíduo (GORINI; SEVERO; SILVA, 2008, p. 8).
Nas últimas décadas, o resgate dessa visita, na área da saúde, tornou-se
um desafio para a enfermagem em virtude do perfil demográfico brasileiro, da
transição epidemiológica, dos custos hospitalares para o sistema de saúde, além de
outros determinantes, que elevam os riscos de fragilidade do idoso (CREUTZBERG,
2000).
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o envelhecimento
populacional pode ocorrer em condições de desigualdade social, crises econômicas
e escassez de equipamentos públicos. A esses aspectos sociais e econômicos
agregam-se as alterações biológicas e psicológicas que a pessoa pode enfrentar,
em especial, no envelhecimento (JARDIM, 2008).
De acordo com Mendonça (2007), uma forma de assegurar um atendimento
digno à população idosa passa pela estruturação da rede de serviços dos estados e
municípios, pela implantação do atendimento em hospitais dia, pela ampliação dos
centros de referência do idoso, pela capacitação das equipes dos PSF e dos centros
de saúde, assim como pela ampliação do atendimento domiciliário.
O enfermeiro, por meio da visita domiciliar, pode auxiliar o idoso nesta etapa
em que está vivenciando a doença e, também, ajudá-lo a entender o tratamento e a
amenizar seus possíveis efeitos adversos a interação entre ambos se faz
necessária.
45
5.4 Categoria II - Percepções dos Idosos sobre a Doença
Na categoria Percepções dos idosos sobre a doença estão relacionados
os temas O indivíduo sente-se diferente e A história familiar relacionada ao
câncer.
Nessa categoria, está incluída a forma do idoso perceber a doença. Também
está incluída a associação do câncer com sua história familiar, conforme pode ser
observado no quadro 3:
TEMAS
RELATOS
O indivíduo sente-se diferente
Antes, eu não tinha nada, agora me sinto
diferente! (Ilse).
O homem, como pessoa, sente-se diferente
(José).
Caminho do quarto, com o andador, até a
sala, e, quando eu sento, estou cansada,
um cansaço [...] depois passa (Regina).
Deito um pouco e me levanto, e aquilo vai me
cansando. Eu tenho que arranjar alguma
coisa para fazer (Amabília).
A história familiar relacionada ao
câncer
Eu tenho uma irmã mais velha que tem 68
anos e teve essa doença na axila, fez
quimioterapia e também radioterapia
(Amabília).
Meu pai teve câncer e dois irmãos (Sérgio).
Eu nunca tive doença nenhuma, mas meu pai
faleceu de câncer de próstata. Então, como
eu sabia que isso é hereditário, logo após a
sua morte, venho fazendo todos os exames
de rotina (Dario).
Quadro 3: Categoria II Percepções dos idosos sobre a doença
46
No tema O indivíduo sente-se diferente, foi mencionado pelos idosos que,
após o seu diagnóstico, ocorreram modificações no curso de sua vida.
Ilse e Jodeclararam que se sentiram diferentes após a descoberta da
doença. Junto a essa percepção, surge a fadiga, fenômeno intrínseco relatado pela
maioria dos idosos dessa pesquisa, como pode ser observado no quadro 4.
De acordo com a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA,
2008, p. 139), fadiga é tratada como “uma sensação opressiva e sustentada de
exaustão e de capacidade diminuída para realizar trabalho físico e mental no nível
habitual”.
Algumas características definem a fadiga como falta de energia ou
incapacidade para manter o nível habitual de capacidade física, aumento das
necessidades de repouso, cansaço, aumento das queixas físicas, entre outras
(NANDA, 2008).
A maioria dos idosos dessa pesquisa confirma essas queixas. Eles tentam
encontrar formas para resolver esses desconfortos, entretanto, muitas vezes,
inadequadas como, por exemplo, permanecer a maior parte do tempo possível
repousando.
Os fatores, relacionados com o surgimento da fadiga, podem ser fisiológicos,
psicológicos, situacionais e ambientais. Pode-se listar os seguintes: estresse,
ansiedade, depressão, condição física debilitada, doença, nutrição, anemia,
entre outros (NANDA, 2008).
Os idosos desse estudo realizam as atividades diárias com alguma
limitação, como limpar a casa e o pátio ou dirigir por muito tempo. Entretanto, não
apresentam limitações em sua autonomia “que se expressa na liberdade para agir e
tomar decisões” (PAVARINI; NERI, 2000, p. 62).
Na ausência de orientação profissional, a tendência dos pacientes é reduzir
as atividades cotidianas e descansar o máximo possível. Porém, não existe
comprovação do benefício da redução das atividades e do aumento do período de
sono na melhora da fadiga. Ao contrário, essas atividades podem levar a uma
redução da energia e a um aumento dos sintomas (MENEZES; CAMARGO, 2006).
Além da organização dos momentos de descanso ou sono, uma alimentação
balanceada, o uso de terapias complementares como atividades de relaxamento,
47
atividades de lazer, exercícios físicos e orientação/aconselhamento de saúde podem
auxiliar o idoso a reduzir a sintomatologia associada à fadiga.
A atuação profissional, nesse momento, é necessária, uma vez que sua
ação deve incidir sobre a totalidade para conseguir transformar a realidade (FREIRE,
1984).
Assim, a partir dessas assertivas, cabe destacar que entender a educação
em saúde como processo participativo e dialógico é tanto romper com a
unilateralidade do conhecimento, quanto é usar a criatividade como arte que
favorece o movimento rumo à qualidade de vida (SOUSA et al., 2007).
O enfermeiro deve usar sua criatividade para auxiliar o idoso a lidar com as
modificações no curso da sua vida, como a sensação de fadiga. A presença desse
profissional pode ajudar o idoso a encontrar alternativas como desenvolver
atividades físicas, relaxantes e de lazer ─ para diminuir os sintomas dessa alteração
e, com isso, melhorar sua qualidade de vida.
No tema A história familiar relacionada ao câncer, alguns idosos
mencionaram história de câncer em parentes de primeiro grau o que demonstrou,
nesse caso, preocupação com a família e conhecimento da hereditariedade
associada à doença.
O câncer está relacionado a fatores familiares como, por exemplo, nos casos
de câncer colorretal, mama e próstata. Assim, em alguns casos, se faz necessário o
rastreamento dos familiares.
O rastreamento “é um método em que indivíduos que, clinicamente, não
estão doentes são submetidos a exames, a fim de diagnosticar precocemente uma
doença” (ZELMANOWICZ, 2008. p. 71).
Dario foi um dos idosos que ficou surpreso com o conhecimento de sua
doença, mas informou que, mais de um ano antes da sua descoberta, fazia
acompanhamento médico em função de sua história familiar relacionada à doença.
Através da crítica e da reflexão, os saberes de um indivíduo ou de um grupo
podem ser transformados e reconstruídos, quando há uma união desses saberes
populares com os saberes científicos (ALVIM; FERREIRA, 2007).
Para as autoras, uma ação transformadora de cuidar acontece na medida
em que o indivíduo se apropria daquilo que está instituído na rede de saberes do
48
conhecimento científico, do que está construído na sabedoria popular e tenta fazer
um intermeio desses saberes. É comum um movimento em espiral, visto que, em
alguns momentos, esses saberes se cruzam e, em outros, se separam ou se
distanciam.
De acordo com Zelmanowicz (2008), pessoas com alto risco de desenvolver
algum tipo de câncer, decorrente de história familiar, de exposição excessiva a
algum carcinógeno ou de história pregressa, podem se beneficiar de algum tipo de
acompanhamento mais intensivo ou de investigação diagnóstica.
O compromisso do profissional é com o homem concreto, com o paciente. O
profissional não deve prescindir da ciência nem da tecnologia, que lhe oferecem
ferramentas para melhor lutar pela causa (FREIRE, 1984), a saúde do paciente.
Os avanços tecnológicos e os dos meios de informação têm contribuído para
aumentar os conhecimentos dos indivíduos sobre os assuntos mais variados de
saúde. Os profissionais da saúde precisam utilizar essas informações para estimular
tanto o desenvolvimento da consciência crítica desses indivíduos quanto a busca de
soluções para seus problemas e a organização para a ação individual ou coletiva.
5.5 Categoria III - O Impacto do Diagnóstico
Na categoria O Impacto do Diagnóstico, estão relacionados os temas
Alterações Psicológicas, Sentimento de Tristeza, Apoio da Família, Apoio
Profissional e Apoio da Crença Religiosa.
Nessa categoria, identificaram-se alterações psicológicas como o choque
emocional e o sentimento de tristeza após o diagnóstico da doença, comum em
quase todos os idosos dessa pesquisa. As alternativas encontradas para a
diminuição desse sentimento foram os apoios da família, do profissional e da crença
religiosa, como pode ser observado a seguir:
49
TEMAS
RELATOS
Alterações Psicológicas
Olha, psicologicamente, no início, como eu
tinha seis filhos pequenos: desmoronei! Mas
eu precisava lutar! (Libya).
Uma coisa que eu nunca imaginei [...] para
mim foi um choque! Mas, aos poucos, estou
assimilando [...] porque a gente tem que
encarar com outros olhos (Regina).
Eu tive um choque emocional interno e foi
uma surpresa muito grande. Depois, eu caí
na realidade e fiquei confiante que iria correr
tudo bem (Dario).
Sentimento de Tristeza
Fiquei muito triste, parecia que tinha acabado
tudo na vida. Depois fui ficando mais
consciente da coisa [...] (Ilse).
Senti-me abalado, a gente sente-se abalado
[...] no princípio fiquei completamente triste
(José).
No começo, eu fiquei muito triste [...]
(Alcides).
Apoio da Família
Depois, tem uma coisa que eu acho muito
importante em tudo isso, que é o apoio da
família [...] (Libya).
A minha vizinha e as minhas gurias estão
sempre me dando carinho e atenção [...]
(Regina).
A minha esposa também está doente, não
cozinha mais [...]. É um cuidando do outro [...]
(Sérgio).
Apoio Profissional
Tu foste a primeira pessoa que consegui falar
sobre isso, fico até emocionado! Obrigada,
muito obrigado por me escutar [...] (Dario).
A enfermeira é muito querida e explica tudo
direitinho (Regina).
Todos lá no hospital estão de parabéns [...], a
enfermeira então, nem se fala, porque é muito
querida e cuida bem da gente (Carlos).
Apoio da Crença Religiosa
[...] a primeira coisa eu penso é que tenho
que acreditar em Deus [...] e se ele me deu
isso é porque vou poder suportar [...] (Libya).
Tem Deus em cima que me força!
(Regina).
Agora, quando eu ficar boa vou continuar
minhas costuras. Se Deus quiser pretendo
continuar! (Ilse).
Quadro 4: Categoria III O Impacto do Diagnóstico
50
Libya, Regina e Dario no tema Alterações Psicológicas referiram
sentimentos variados que indicam que o indivíduo fica abalado psicologicamente
após a descoberta da doença.
O choque emocional surgiu como pode ser observado no quadro 5. Durante
as visitas, foi possível observar esse choque emocional, que pode ser identificado
por meio das falas e do comportamento abatido dos idosos.
A notícia inesperada da doença revela a vulnerabilidade do paciente e abate
tanto ele, quanto sua família, deixando-os angustiados e aflitos com a situação
(GUTIÉRREZ et al., 2007).
As reações do paciente podem ser amenizadas pela rede de apoio que se
forma durante a vivência com a doença. Apesar do choque emocional mencionado
pelos idosos, eles acreditam que tudo ocorrerá bem, ou seja, suas expectativas
fundamentam-se na esperança de melhorar.
A vivência com a doença desencadeia respostas emocionais que precisam
ser compreendidas para uma intervenção efetiva, tanto para o paciente quanto para
seus familiares, porque, após se confrontarem com o diagnóstico do câncer,
precisam assimilar essas informações e delinear novas perspectivas de vida
(ZANONI et al., 2006).
Diante dessa constelação emocional, a mente pode acionar mecanismos de
defesa temporários como a negação, que se trata de afastar da consciência, por
exemplo, o diagnóstico de câncer (KÜBLER-ROSS, 1988).
Para a autora, a primeira reação do paciente pode ser um estado de choque,
do qual ele se recupera gradualmente. Quando termina essa sensação inicial de
torpor, ele se recompõe como pode ser visualizado na fala de Dario, conforme o
quadro 5.
O câncer é uma doença capaz de desencadear modificações bio-psico-
socio-espirituais na vida dos indivíduos que a vivenciam. Os conhecimentos dessas
modificações são importantes para sinalização de uma melhor forma de cuidado e,
possivelmente, para a escolha da conduta terapêutica mais resolutiva (RZEZNIK;
DALL’AGNOL, 2000).
De acordo com Araújo e Nascimento (2004), de um modo geral, a reação
das pessoas, ao tomarem conhecimento do câncer, é de desespero, pois o é
possível prever com exatidão o que irá acontecer.
51
Ilse, José e Alcides no tema Sentimento de Tristeza relataram esse
sentimento após a descoberta da doença.
Assim como a sensação de choque emocional, o sentimento de tristeza foi
identificado durante a realização das visitas domiciliares. A minimização desse
sentimento também pode ocorrer com o auxílio da rede de apoio que se forma após
a descoberta da doença.
Em uma pesquisa, em que os pacientes com câncer foram entrevistados,
percebeu-se a presença do sentimento de tristeza, embora acompanhado pela
esperança de cura. Nos depoimentos, registraram-se outros sentimentos como
angústia, sofrimento e revolta diante da doença e do tratamento doloroso (ZANONI
et al., 2006).
O significado que o diagnóstico de câncer tem para o indivíduo é altamente
pessoal e deriva de diversas fontes, incluindo experiências anteriores com a doença,
personalidade, estilo e modo de vida pregressa (KÜBLER-ROSS, 1988). Entretanto,
o apoio familiar é uma das formas, encontradas, dos idosos lidarem com a doença.
Libya, Regina e Sérgio, no tema Apoio da Família, relataram haver recebido
apoio da família para lidar com a doença e com as alterações dos seus hábitos de
vida e saúde. O mesmo relato foi repetido por todos os demais idosos dessa
pesquisa.
A família é a principal instituição social em que o indivíduo inicia suas
relações afetivas, cria vínculos e internaliza valores. Essa relação familiar apresenta-
se de forma interligada como se fosse uma extensão um do outro. No caso de uma
doença grave, que traz modificações no modo de pensar, sentir e agir das pessoas
(ARAÚJO; NASCIMENTO, 2004), o apoio familiar se intensifica.
Diversos autoras, como Rzeznik e Dall’Agnol (2000) e Araújo e Nascimento
(2004), destacam o valor dessa instituição no enfrentamento de doenças. Para as
primeiras, ela é uma fonte de apoio para o enfrentamento da doença e de suas
conseqüências, enquanto que, para as segundas, a família está presente nos
momentos difíceis.
A solidariedade de familiares e amigos faz o paciente com câncer sentir não
a proximidade como também o apoio deles. E mais, o estreitamento dos laços
52
familiares fortalece tal paciente, sendo esse um fator que diminui a sensação de
fragilidade provocada pela doença (GUTIÉRREZ et al., 2007).
Há, porém, situações em que o idoso o recebe o apoio da família.
Experiências têm demonstrado que idosos com doenças crônicas, que se tornam
dependentes, podem ser um fardo para a família. Há, também, situações em que o
idoso sofre agressões de seus familiares, sendo recebido, muitas vezes, em casas
de apoio precisando de atenção e cuidados de saúde.
Outra vivência comum, presente, principalmente, no envelhecimento e
observada na fala de Sérgio, é o fato de um idoso cuidar do outro. Nessa
experiência, a esposa é, com freqüência, a cuidadora primária de idosos, seguida da
filha.
Dessa forma, pessoas que vivenciam o envelhecimento ou que se
encontram na velhice, assumem a tarefa de cuidar, embora possam elas mesmas
apresentar alterações em sua saúde (DIOGO; CEOLIM; CINTRA, 2005).
Outro tipo de apoio, encontrado pelos idosos após o diagnóstico de sua
doença, tem sido o apoio profissional.
Dario, Regina e Carlos, no tema Apoio Profissional, comentaram, em
especial, o apoio da enfermeira. Gostaram de receber seus cuidados e orientações,
além de serem ouvidos pela profissional em determinados momentos.
O saber da escuta deve ser estimulado entre os profissionais que cuidam de
idosos, pois estes levam mais tempo e apresentam maior dificuldade para relatar
suas queixas ou necessidades.
Em um estudo de Cesar e Santos (2005) sobre a percepção de cuidadores
familiares em um programa de alta hospitalar, foi destacado, pelos idosos, que eram
cuidados, que o contato direto com a enfermeira estimula o desenvolvimento de
estratégias para a sua recuperação.
Vale lembrar que, no processo de aprendizado, “ensinar exige respeito aos
saberes dos educandos” (FREIRE, 1996, p. 30). E, diante dessas assertivas, os
estudos sobre educação em saúde têm, como um de seus objetivos, “fornecer
subsídios para que as pessoas adquiram uma consciência crítica, que sejam
capazes de encontrar formas e alternativas para resolver os seus problemas de
saúde e/ou doença” (SOUZA et al., 2006, p. 61).
53
Segundo Trentini et al. (2005), o indivíduo necessita de reconhecimento, de
ser ouvido. Estratégias de educação em saúde, em situações crônicas de saúde,
consistem no ouvir terapêutico e na participação em grupos de auto-ajuda.
Como os idosos com câncer necessitam desabafar, o enfermeiro deve
incentivá-lo a freqüentar grupos de ajuda, além de fornecer tempo para que esse
idoso possa expressar suas necessidades, realizando o ouvir terapêutico.
Libya, Regina e Ilse, no tema Apoio da Crença Religiosa, falaram sobre a
busca de ajuda na fé em Deus para lidar com a doença.
O sofrimento, pelo câncer, evoca significados de força e fraqueza, de
vulnerabilidade e determinação, de resignação e coragem. Nessa condição, as
pessoas voltam-se a Deus pela primeira vez, ou mais freqüentemente do que antes,
pois acreditam que Ele sempre ajuda (AQUINO; ZAGO, 2007).
Rzeznik e Dall’Agnol (2000. p. 93), em seu trabalho sobre o significado que os
pacientes atribuem ao fato de terem vivenciado o câncer, referem que “sentir-se
cada vez mais próximo de Deus parece também sugerir uma necessidade ou
vontade crescente de se aproximar dos outros, significando uma forma de
enfrentamento”.
Em outra pesquisa cujos objetivos eram investigar situações adversas e
favoráveis, vivenciadas por pessoas idosas em condições crônicas de saúde, e
levantar as estratégias de enfrentamento, os participantes declararam que
enfrentaram tais vivências com a em Deus, com a ajuda da família e de outros.
Além disso, freqüentaram grupos de idosos e cuidaram da estética do corpo
(TRENTINI et al., 2005).
Os idosos dessa pesquisa são, em sua maioria (treze), da religião católica,
sendo uma das idosas espírita e outra, umbandista.
Em um trabalho, realizado com vinte e seis pacientes com câncer de um
município do Rio Grande do Sul, foi evidenciado que a fé em Deus está presente em
todas as religiões, confirmando a procura de se fortalecerem com a força espiritual
(ROTOLI, 2007).
Uma das dificuldades dos profissionais da saúde é a compreensão da forma
como o paciente oncológico percebe a vida após a doença. Nos últimos anos, a
espiritualidade e a religião, na experiência do câncer, têm sido reconhecidas de
54
forma crescente, pois os sistemas religiosos oferecem diversas crenças e práticas
que se inserem no contexto sociocultural do paciente (AQUINO; ZAGO, 2007), com
o apoio da rede social. A busca de ajuda do paciente na fé, se existente, deve ser
encorajada, pois a religião traz força e coragem para dar continuidade ao
tratamento.
5.6 Categoria IV - Alterações no Modo de Viver
Na categoria Alterações no Modo de Viver, estão relacionados os temas
Mudanças no Cotidiano, Autocuidado com Alimentação, Autocuidado com a
Imagem Corporal e A valorização da Saúde.
Nessa categoria, estão incluídas as mudanças nos hábitos de vida e de
saúde após a descoberta da doença, as formas como os idosos se cuidam em seu
domicílio e a valorização de sua saúde, conforme o quadro 5:
55
TEMAS
RELATOS
Mudanças no Cotidiano
Sempre fui muito ativa e isto é que me apavora
um pouco. Eu fazia o supermercado, a
lavanderia [...] e agora, a minha filha é que
toma conta da casa (Regina).
[...] vai fazer vinte e um anos que eu estou
aposentado. Mas eu trabalhava, fiz uma casa
para a cadela nos últimos dias antes da cirurgia
[...] (João).
Agora faço o serviço de rua para a minha filha
e também saio para dançar [...] (Ailtom).
[...] eu gostava mesmo, como ainda gosto, de
cachaça, mas depois que descobri o tumor
nunca mais botei uma bebida de álcool na boca
e larguei a bebida antes de largar o cigarro
(Mário).
Agora eu deixei de fumar, não fumo mais e
nem tenho vontade [...] (Amabília).
Autocuidado com Alimentação
Hoje, já comi um pouquinho melhor e estou
tomando até um fortificante para ver se abre
mais o apetite (José).
Sempre fui de comer tudo. Agora a refeição é
balanceada porque eu era muito guloso (João).
Eu como o meu churrasco e fiz mocotó ontem
[...] e nada me faz mal (Ailtom).
Autocuidado com a Imagem
Corporal
Eu sempre fui uma mulher faceira, uma mulher
que gosto de me arrumar. Estou sem cabelos,
mas o batom está na boca; caíram os cílios e
as sobrancelhas, mas fiz uma sobrancelha [...]
e o meu sapato de salto sempre uso (Libya).
Não quero que meu marido me veja sem
enchimento [...] vou colocar uma prótese nos
seios (Ercília).
O meu maior cuidado é com a bolsa
(colostomia), porque volta e meia ela fura [...]
(Regina).
Um dos cuidados é trocar a bolsa (colostomia)
quando necessário, e higiene, o principal é a
higiene [...]. Eu nunca tive problema de pele [...]
(Ailtom).
A valorização da Saúde
Eu não tinha nada, nunca tinha doença
nenhuma. Sempre dizia que tinha muita saúde
[...] (Ilse).
O meu maior cuidado é sem dúvida preservar a
minha saúde [...] e a minha prioridade é essa!
(Dario).
E agora, em 2007, eu disse: vou cuidar da
minha saúde! (Amabília).
Quadro 5: Categoria IV Alterações no Modo de Viver
56
Regina, João, Ailtom, Mário e Amabília, no tema Mudanças no Cotidiano,
referiram as mudanças, que perceberam em seus hábitos de vida e saúde após a
doença, como, por exemplo, redução nas atividades que estavam acostumados a
fazer como as domésticas ou ir ao supermercado. Outras mudanças, como parar de
fumar ou não usar mais bebidas alcoólicas, também foram expressas pelos idosos
conforme pode ser visualizado no quadro 5.
A importância, atribuída ao trabalho pelos idosos, pode ser observada nas
falas de Regina, João e Ailtom.
Quando o trabalho representa um interesse para o idoso e é a fonte para
seus contatos sociais, a separação do trabalho pode deixar um “vazio” em sua vida.
Enfrentar a aposentadoria e/ou a separação do trabalho pode ser mais fácil, se a
pessoa aprender como usar seu tempo para o lazer.
Durante a doença, os idosos dessa pesquisa separaram-se do trabalho.
Alguns encontraram alternativas de substituição com atividades domésticas na
cozinha, com atividades artesanais, além de dançarem e de auxiliarem os filhos. Nas
entrevistas, ficou claro que estas atividades surgiram após a descoberta da doença.
A manutenção das atividades laborativas é uma das formas de minimizar o
isolamento e de estimular a integração do idoso à sociedade (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007).
Mário e Amabília comentaram sobre o hábito de fumar e o momento em que
abandonaram o cigarro.
O tabagismo representa o principal fator de risco evitável do câncer e,
também, das doenças cardiovasculares e respiratórias. Ao consumo dos derivados
do tabaco, como o alcatrão, a nicotina e o monóxido de carbono, são atribuídos 30%
das mortes por câncer. Os danos, provocados pela poluição ambiental, ampliam,
ainda mais, a dimensão do problema do tabagismo (BRASIL, 2002b).
Mário, ao falar sobre o álcool, alega sua desistência à bebida tão logo
descobriu sua doença.
O alcoolismo está relacionado, de 2% a 4%, às mortes por câncer. O
consumo excessivo de álcool etílico pode originar ou atuar como um acelerador do
câncer de cabeça e pescoço, laringe, fígado e pâncreas. Como o etanol é o agente
agressor, o risco de câncer, relacionado ao consumo de álcool, se potencializa,
quando associado ao tabagismo (BRASIL, 2002b; OTTO, 2002).
57
Esses dados apontam para a necessidade de medidas educativas dirigidas a
jovens e adultos. Cabe ao profissional da saúde, em especial ao enfermeiro, que
mantém contato prolongado com o paciente, orientá-lo e aconselhá-lo sobre os
malefícios do alcoolismo e do tabagismo.
Os enfermeiros são multiplicadores de ações de prevenção. Dados
apresentados sobre o Brasil (2002b) mostram que 95% dos ex-fumantes deixaram
de fumar por autodecisão, pelo uso de materiais de auto-ajuda e/ou por intervenções
mínimas em consultas de rotina.
Cabe, porém, ressaltar que a decisão de parar de fumar é pessoal. A
experiência mostra que, no caso de idosos com câncer, a abstenção ao cigarro
inicia-se, geralmente, logo após a descoberta da doença, na expectativa de controle
e/ou sua cura.
As atividades de educação em saúde podem ajudar os idosos com câncer a
desenvolver um melhor entendimento sobre o seu corpo, sobre os processos vitais e
a melhor utilizar os espaços no seu cotidiano (GASTALDO, 1997).
A participação em grupos também pode auxiliar o idoso a lidar com as
mudanças no seu cotidiano, trocando informações e idéias sobre atividades laborais
e formas de cuidado saudáveis.
Os idosos, no tema Autocuidado com Alimentação, disseram procurar se
alimentar bem, buscando alimentos que forneçam energia ou utilizando fortificantes,
fazendo-o, porém, sem conhecimento do que seja uma alimentação adequada ou de
alimentos saudáveis.
Como o envelhecimento é um processo normal, fisiológico, que acarreta
alterações no organismo que podem modificar as necessidades nutricionais, ele
pode ser agravado pela presença de doenças, pela interferência de medicamentos
ou por problemas sociais e psicológicos (MARUCCI; GOMES, 2007; PEREIRA,
2007).
Através de relatos dos idosos, pode-se observar o desconhecimento sobre
alimentação saudável. Eles procuram alimentos ricos em energia, porém sem
orientação profissional sobre o assunto. O enfermeiro pode oferecer orientações
sobre alimentação saudável com o auxílio de uma equipe multiprofissional em que
médicos e nutricionistas também fazem parte desse suporte educativo.
58
Para que uma alimentação seja saudável, é necessário que ela seja
equilibrada do ponto de vista nutricional. Isso significa que deve fornecer energia e
todos os nutrientes em quantidade suficiente para o bom funcionamento do
organismo (PEREIRA, 2007).
Além disso, entre os idosos dessa pesquisa, existe um forte componente
cultural com a presença de comidas como o churrasco ou mocotó, típicas na
alimentação dos gaúchos.
O consumo elevado de alimentos ricos em gordura ou de alimentos
defumados pode provocar sua ação cancerígena, assim como o churrasco que
resulta na impregnação do alcatrão da fumaça resultante da combustão do carvão
(BRASIL, 2002b).
De acordo com Tchakmakian e Frangella (2007), a alimentação sofre
influências da cultura e acompanha a evolução social. As autoras referem que se os
idosos acreditarem na nutrição e na alimentação como fatores essenciais para a
manutenção ou recuperação da saúde, eles se empenham em aprender, visando
uma boa qualidade de vida.
A trajetória da autora junto a idosos mostrou que, nem sempre, esses
indivíduos se empenham em ter uma alimentação adequada e que, nem sempre,
eles têm condições de ter esse tipo de alimentação, em função das limitações
financeiras ou, até mesmo, da ausência de alguém que realize ou ajude no preparo
das refeições.
Como todo ser humano possui conhecimentos próprios, adquiridos ao longo
da vida, o respeito a esse saber é fundamental em um processo educativo, no qual o
educador deve saber ouvir e respeitar o saber do outro, em especial, no caso de
idosos, trocando conhecimentos em vez de “depositar, de transferir, de transmitir
valores e conhecimentos” (FREIRE, 2005, p. 67).
Nesse sentido, a busca da educação em saúde deve estar focalizada na
importância da alimentação saudável, respeitando a cultura alimentar das pessoas e,
também, os aspectos sociais e econômicos envolvidos nesse processo.
59
Os idosos, no tema Autocuidado com a Imagem Corporal, demonstraram
preocupação em manter uma boa imagem corporal.
Libya menciona, como uma das alterações na imagem corporal, a alopecia.
Essa alteração é um dos fatores mais prejudiciais ao bem-estar global durante o
tratamento do câncer. Esse impacto negativo é notado com mais intensidade entre
as mulheres e em algumas situações clínicas específicas (PIZZOL JÚNIOR, 2008).
De acordo com esse autor, na maioria dos esquemas terapêuticos, a
alopecia tende a iniciar após a radioterapia ou na segunda semana subseqüente a
uma primeira infusão de quimioterapia.
Ercília comentou sobre a necessidade de colocar uma prótese mamária
após a cirurgia.
Segundo Smeltzer e Bare (2005), os pacientes com câncer são forçados a
lidar com modificações da imagem corporal durante o curso da doença e tratamento.
A cirurgia, às vezes desfigurante, a perda dos cabelos (alopecia), a caquexia, as
alterações cutâneas, são alguns dos efeitos do câncer e de seu tratamento que
ameaçam a auto-estima e a imagem corporal dos pacientes.
Outro fator, que interfere na imagem corporal, em especial nos pacientes
com câncer colorretal, é a realização de colostomia permanente, a qual se constitui
na mais efetiva terapia contra a doença. Cinco idosos dessa pesquisa portam
colostomia, sendo que alguns desses verbalizaram cuidados com o ostoma.
Regina e Ailtom falaram sobre seus cuidados com a troca e a higiene da
bolsa de colostomia.
A vivência de um câncer e de uma colostomia muda a vida diária do sujeito
visto que se constitui em um dos momentos mais críticos da vida de uma pessoa,
por implicar um sistema complexo de análise e reflexão da própria biografia cujos
significados foram construídos ao longo das suas experiências de vida
(MARUYAMA; ZAGO, 2005).
Gorini (2001) refere que a ostomia altera a auto-imagem dos pacientes e
mesmo daqueles em processo de adaptação que conseguem realizar o seu
autocuidado (limpeza e troca da bolsa). A autora salienta que os, que se adaptam
com sucesso, freqüentemente são auxiliados por uma enfermeira ou por grupos de
apoio.
60
Uma abordagem positiva é essencial quando se cuida de um paciente com
imagem corporal alterada. Para ajudar o paciente a manter o controle e a sensação
de autoconceito, é importante encorajar a independência e a participação continuada
no autocuidado e na tomada de decisões, visando à melhoria da imagem corporal e
da autoestima (SMELTZER; BARE, 2005).
Alternativas como a busca de locais que promovam a autoestima devem ser
incentivadas, como associações e grupos de ajuda a pacientes com câncer.
O tema A valorização da Saúde apresenta como a saúde é vista pelos
idosos, por exemplo, como ausência de doença, conforme comentário de Ilse. Em
contrapartida, Dario refere que um dos seus maiores cuidados é a preservação da
saúde, apesar da doença. na fala de Amabília, percebe-se que, após a
descoberta da doença, ela pretende cuidar da sua saúde como pode ser observado
no quadro 5.
Segre e Ferraz (1997) referem que a Organização Mundial da Saúde define
saúde o apenas como ausência de doença, mas como situação de perfeito bem-
estar físico, mental e social. Trata-se de uma definição avançada, pois o que é o
perfeito bem-estar? Os autores, em seu trabalho, questionam os leitores se é
possível caracterizar a perfeição.
Diante dessas inquietações, eles propõem um novo conceito de saúde como
sendo “um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua realidade(SEGRE;
FERRAZ, 1997, p. 542).
A partir disso, acredito que os conceitos de saúde são variados e sua
percepção é individual, abrangendo os aspectos biológico, social, psicológico,
cultural e espiritual.
Indispensável, nesse momento, ao abordar educação em saúde, é falar de
autocuidado. A teoria do autocuidado e do déficit de autocuidado de Orem, que
avalia o agir e o fazer do paciente e sua necessidade de apoio, vêm em consonância
com a prática da enfermagem. O enfermeiro, na avaliação do paciente, busca
informações referentes ao seu estado de saúde, perspectiva quanto à sua saúde,
estilo de vida e metas no contexto do histórico de vida (MENDONÇA et al., 2007).
No caso de indivíduos com câncer, a vivência do processo de adoecimento
pode ser transformadora não apenas para quem a experencia mas, também, para
61
aqueles que estão indiretamente envolvidos no processo. A doença pode ser
entendida como um sinal de alerta para que o indivíduo possa reavaliar a sua vida,
atitudes, comportamentos, valores e, até mesmo, o modo com que se relaciona
consigo mesmo e com os outros (RZEZNIK; DALL’AGNOL, 2000).
Entender saúde, na sua dimensão mais ampla, exige dos profissionais da
saúde, em especial da enfermagem, a valorização dos diferentes sujeitos envolvidos
no processo educativo sendo que, a partir do estímulo à criatividade e por meio da
relação dialógica, é possível conceber estratégias de educação em saúde (SOUSA
et al., 2007).
Dessa forma, em minha prática profissional, tenho procurado trabalhar
utilizando, como base, uma fundamentação em aspectos da educação em saúde e
buscado fornecer subsídios para que os idosos adquiram consciência crítica sobre a
sua saúde e, assim, possam realizar escolhas. Para que esse processo seja efetivo,
é importante que, além da presença do enfermeiro, exista uma equipe
multidisciplinar e, em conjunto, possam auxiliar os idosos em seu autocuidado,
melhorando cuidados antes realizados, mantendo outros e, até mesmo, quando
necessário, modificando formas de autocuidado.
62
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção dessa pesquisa foi permeada de descobertas sobre as vivências
dos idosos com câncer. Durante seu trajeto, foram identificadas as alterações no
modo de viver desses idosos em seu domicílio.
Na categoria Vivenciando a Doença, foram relatadas as dificuldades na
busca do serviço de saúde e, também, de confirmação do diagnóstico médico.
As dificuldades, na busca do serviço de saúde, ocorrem em função de alguns
fatores como falta de recursos econômicos, demora na iniciativa em procurar
atendimento, dificuldade em aceitar a espera pelo atendimento e de marcação de
exames e, até mesmo, em função das mudanças climáticas. Todos esses fatores
contribuem para a demora do início do tratamento.
a demora na confirmação do diagnóstico médico está na dificuldade, tanto
dos pacientes quanto de alguns médicos, em distinguir as mudanças do processo de
envelhecimento relacionadas à doença.
Na categoria Vivenciando a Doença, também foram descritas as vivências
com o tratamento, com a cirurgia, com a quimioterapia e com a radioterapia.
As vivências com o tratamento revelaram incertezas dos pacientes quanto a
um futuro seguro, o que demonstrou a necessidade de acompanhamento da equipe
de enfermagem junto ao idoso e sua família, norteando os cuidados de enfermagem
decorrentes dos efeitos adversos dos tratamentos.
A presença do profissional enfermeiro durante o processo saúde-doença é
essencial, pois se constitui em uma estratégia que pode incentivar os idosos no seu
autocuidado e auxiliar a família a identificar alterações decorrentes do tratamento,
evitando tanto a redução de futuras hospitalizações, o que implica menores custos
para a sociedade, como, também, o afastamento do idoso do seu domicílio.
Quanto às proposições de educação em saúde, importante ferramenta para
estimular o autocuidado, percebeu-se, nas falas, a presença dos profissionais da
saúde, em especial, do enfermeiro. Essa ligação pode contribuir para manter,
melhorar e, até mesmo, modificar as formas de autocuidado desse idoso,
respeitando a cultura e contexto sociocultural onde ele está inserido.
63
Na categoria Percepções dos idosos sobre a doença, eles descreveram
que, após o seu diagnóstico, sentiram-se diferentes como indivíduos e que
modificações ocorreram no curso de sua vida, destacando a fadiga, muito freqüente
nesses pacientes oncológicos.
O enfermeiro pode, por meio da utilização de referenciais de educação em
saúde, ajudar o idoso a encontrar alternativas como realizar atividades físicas,
relaxantes e de lazer para diminuir os sintomas dessa alteração e, com isso,
melhorar sua qualidade de vida.
Nessa categoria, também foram mencionadas a relação do câncer com a
história familiar e a preocupação dos idosos com seus familiares, tendo em vista que
alguns tipos de câncer de origem familiar, por vezes, necessitam de rastreamento
nos membros da família. Foi observada a união dos saberes científicos com o saber
popular, efetivando proposições de educação em saúde, quando o idoso, em função
do seu conhecimento prévio da doença, buscou o acompanhamento de saúde que,
nesses casos, se faz mais intensivo.
Quanto à categoria O Impacto do Diagnóstico, alterações psicológicas
como o choque emocional após a descoberta da doença e o sentimento de tristeza
foram identificados nos relatos dos idosos. Entretanto, sua redução se tornou
possível com o apoio da família, do profissional e da crença religiosa.
A presença da família, fornecendo atenção e carinho ao paciente com câncer,
diminui a sensação de fragilidade provocada pela doença e incentiva a continuidade
do tratamento.
O apoio profissional, destacado pela presença do enfermeiro no hospital, na
pesquisa e/ou no domicílio, o saber ouvir e o contato com essa profissional
estimulam o desenvolvimento de estratégias para uma futura recuperação.
O apoio da crença religiosa foi identificado como uma maneira dos idosos se
fortalecerem através da em Deus, significando uma forma de enfrentamento da
doença.
A utilização dos pressupostos de educação em saúde permeia todo esse
processo porque a presença do profissional, seja para ouvir, auxiliar nos cuidados,
encorajar a presença da família e a busca de força na crença religiosa, se configura
em estratégia de enfrentamento da doença. A relação de confiança, que se forma
entre o profissional (enfermeiro) e o paciente, estimula os princípios que regem a
64
educação em saúde e essa relação, segundo os ensinamentos de Paulo Freire,
precisa ser dialógica.
Quanto às Alterações no Modo de Viver, foram identificadas as mudanças
nos hábitos de vida e saúde após a doença e descobertas formas dos idosos se
cuidarem, em seu domicílio, com a alimentação e com a imagem corporal. Nessa
categoria, também foi expressa a valorização da saúde.
No que diz respeito às mudanças no cotidiano, os idosos perceberam uma
redução nas atividades às quais estavam acostumados, como as domésticas.
Paralelamente, os pacientes mencionaram a separação do trabalho, tendo de
aprender a usar o tempo livre, encontrando, no lazer, uma forma alternativa.
Outras mudanças, como parar de fumar ou não usar mais bebidas
alcoólicas, também foram observadas.
Além disso, os pressupostos de educação em saúde orientam-os a participar
de grupos nos quais trocam idéias e informações com outras pessoas, o que reforça
a identidade de suas dificuldades quanto ao tratamento com um todo e ao
autocuidado.
O autocuidado com alimentação foi mencionado pelos idosos dessa
pesquisa, na qual se identificou um componente cultural na alimentação, típica dos
gaúchos. As questões de educação em saúde, abordadas nessa pesquisa,
salientaram a importância de uma alimentação saudável sem deixar de respeitar sua
cultura alimentar, além de outros componentes sociais e econômicos.
No autocuidado com a imagem corporal, os idosos demonstraram
preocupação em manter uma boa imagem corporal. A cirurgia, às vezes
desfigurante, a colostomia, comum em pacientes com câncer colorretal, e a alopecia,
foram as modificações, na imagem corporal, mencionadas nesse estudo.
Para estimular o paciente a manter-se com autoestima é importante
encorajar o seu autocuidado, como forma de educação em saúde, visando à
melhoria da sua imagem corporal. A busca por locais gratuitos, que promovam a
autoestima e a imagem corporal, como associações e grupos de ajuda a pacientes
com câncer, pode ser sinalizada pelos profissionais que lidam com esses pacientes.
Com base nas informações, não só sobre as vivências e as alterações de vida
e saúde, que repercutem na forma com que o idoso realiza os cuidados de saúde,
65
como também sobre os aspectos de educação em saúde, pode-se auxiliar o idoso e
sua família a gerirem seu cuidado.
Além disso, elas podem proporcionar benefícios em termos de promoção da
saúde e subsidiar estudos na enfermagem domiciliar.
As limitações desse estudo se delinearam na fase de busca ativa dos
participantes: dois idosos faleceram durante internação hospitalar, antes da
entrevista; após contato prévio da pesquisadora com o idoso, familiar dizia que o
paciente o estava disponível para a visita domiciliar; e idoso que, após a alta,
desistiu do estudo. No entanto, foram entrevistados quinze idosos em seu domicílio.
Enfim, ao concluir essa pesquisa, penso ter cumprido com os objetivos
traçados e encontrado respostas às minhas indagações. Da mesma forma, estudos
como esse podem contribuir não para os idosos e suas famílias, como para os
demais pacientes. O trabalho pode servir, também, de estímulo a futuros programas
de saúde que poderão ser implementados pela rede hospitalar.
66
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76
77
ANDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Parte I Dados de Identificação
1) Iniciais do paciente:
2) Telefone para contato:
3) Idade / sexo:
4) Procedência:
5) Profissão:
6) Crença religiosa:
7) Familiar/acompanhante (grau de parentesco):
8) Com quem mora:
9) Caracterização do domicílio (saneamento básico, coleta de lixo, luz, tipo
de construção, etc):
10) Renda familiar:
11) Tipo de câncer:
12) Tipo de tratamento:
( ) cirurgia
( ) quimioterapia
( ) radioterapia
Parte II Questões da Entrevista
1) Após o diagnóstico de sua doença, houveram modificações na sua vida?
Quais as que mais lhe chama a atenção?
2) No que essas modificações influenciaram nos seus hábitos de vida e
saúde?
3) Como você faz o seu autocuidado no momento?
4) O que você tem feito agora para se cuidar melhor?
78
Quadro 1: Caracterização dos Idosos
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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