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fala hoje em dia em algum momento está ligado com a informática. Comecei a pensar o que seria este contexto...
Eu não tinha a noção que poderia ser considerado analfabeto futuramente. Já no presente a gente se depara com
certas situações em que se tem que saber digitar alguma coisa, principalmente no Banco” (agência bancária).
Outro participante afirmou “ Eu entrei aqui completamente alheia e sem saber absolutamente nada de
nada, o que era a informática. E vim por aquele desejo de aprender, de saber mais alguma coisa, porque eu
continuo dizendo que nunca é tarde para se aprender. Eu, como não sabia nada, ficava ali com a minha cabecinha
funcionando pra ver se conseguia guardar, tanto que eu tenho um caderno. O que um dos nossos monitores dizia
eu escrevia rapidinho, para poder gravar. Tive momentos de bastante preocupação, se eu ia vencer a tarefa ou
não . Agora estou achando muito proveitoso. Eu acho inclusive que estou mais familiarizada. Os monitores
quando nós reiniciamos as oficinas, fizeram todo um retrospecto para ver em que ponto nós estávamos. Eu achei
isso uma atitude de muita atenção pra nós,(...).
Neste trecho de relato percebe-se a motivação implícita no desafio enfrentado pela idosa ao decidir por
sua inclusão no mundo digital, predispondo-se para a busca de conhecimentos culturalmente considerados
relevantes e úteis.
Por tratar-se de oficinas pedagógicas desenvolvidas numa concepção acadêmica, as atividades foram
realizadas sob uma das teses de Pozo (2002, p.45): “a cultura da aprendizagem direcionada para reproduzir
saberes previamente estabelecidos deve dar passagem a uma cultura da compreensão, da análise crítica, da
reflexão sobre o que fazemos e acreditamos (... ) para compreender e dar sentido ao conhecimento, duvidando
dele”.
Aprender pode significar coisas distintas dependendo das necessidades culturais: “em toda atividade
humana se está produzindo aprendizagem em maior ou menor dose.” A idéia é que aprender implica reconstruir
conhecimentos e comportamentos anteriores. Ou seja, “a aprendizagem é concebida precisamente como uma
reestruturação dos conhecimentos e comportamentos presentes no aprendiz” (Pozo, 2002). Aprender implica
desaprender para reaprender a aprender (Morin, 1999) .
Partindo-se da reflexão de que toda aprendizagem implica mudança, mas nem todas mudanças são de
mesma natureza, nem de mesma intensidade ou duração, é possível afirmar que há formas diferentes de
desaprender. Seria a aprendizagem das novas tecnologias uma delas?
As mudanças baseadas na reconstrução dos comportamentos e do conhecimento, vinculadas à
aprendizagem construtiva, têm características peculiares. Seu efeito não é substituir, mas integrar o
comportamento ou a idéia numa nova estrutura de conhecimento. A aprendizagem está associada à descoberta e
à exploração curiosa do mundo, produzindo conhecimento por reconstrução do conhecimento já sistematizado; é
um sistema complexo composto por subsistemas que interagem entre si: os resultados da aprendizagem (o que se
aprende), os processos (como se aprende) e as condições práticas (em que se aprende) (Pozo, 2002).
Idosos integrantes das oficinas pedagógicas revelam que não gostam de ser chamados de velhos,
preferem o termo terceira idade, melhor idade ou estar/ser idoso.
Segundo Kachar ( 2003), o declínio de algumas atividades não inviabiliza a apropriação e o domínio do
recurso tecnológico, mas exige um contexto educacional que atenda às condições de aprender sobre a máquina e
por meio dela explorar outras possibilidades de desenvolvimento.
O processo de envelhecimento, está associado a alterações biológicas, a questões sociais, psicológicas,
culturais e educacionais. O envelhecimento é uma experiência singular, em que cada pessoa, na sua
individualidade, sente e percebe-se idoso de forma diferenciada.
Entre as principais contribuições que a inclusão digital trouxe, encontra-se a relatada por um dos
participantes: “o conhecimento da informática na vida trouxe entrosamento, entusiasmo e eles (familiares) me
telefonam para saber como é que eu vou no trabalho. Inclusive os meus bisnetos. Eu encontrei com eles ontem
e a primeira coisa foi que ela (bisneta) me abraçou e perguntou: o teu computador, bisa, como é que vai? Sabe, o
interesse. E ela tem 9 anos. Então eu achei isso válido. Por que, assim, embora a distância, convivendo comigo
neste aspecto me dá tanta satisfação. Eles reclamaram e agora ficam radiantes. Há muito tempo, quando ela era
menorzinha, um dia ela me falou do computador e perguntou se eu tinha e se eu sabia ligar o computador. Eu
respondi: Não, meu amor, a bisa não sabe. E ela respondeu: ‘Bisa, tu é da idade da pedra. Esta foi uma das
razões que me motivou mais ainda. Eu disse: Vou mostrar pra ela que não há idade da pedra atualmente. Que
hoje em dia há progresso. É valorizar o nosso interior, o nosso intelecto também. “
A inserção no mundo digital, entre as diversas possibilidades que oferece, auxilia na expansão dos
sonhos e sentimentos mais valia, que vai se desenvolvendo à medida que os idosos passam a perceber a reação
de seus familiares e amigos em relação à sua capacidade de aprender a usar os recursos informatizados.
No presente estudo constatou-se mudança na concepção de envelhecimento dos idosos: de uma concepção de
envelhecimento em que apenas a dimensão biológica era enfatizada, os idosos evoluíram para uma concepção
em que se fizeram presentes as dimensões social, psicológica, cultural e educacional, aproximando-se da
concepção hoje preconizada pelos teóricos da área da Gerontologia..
Pesquisas realizadas sobre concepção de envelhecimento de idosos (Azevedo e Souza e Luzzi, 2004;
Azevedo e Souza et al., 2005; Jackle, 2005 e Glock, 2005) têm mostrado que inicialmente é comum a