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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE
AMBIENTES AQUÁTICOS CONTINENTAIS
RODRIGO DE MELLO
Relações filogenéticas e biogeográficas entre espécies do gênero Astyanax
(Teleostei - Characidae) das bacias do rio Iguaçu, do alto rio Paraná e do rio
Paraguai baseadas em sequências de gene mitocondrial
Maringá
2009
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RODRIGO DE MELLO
Relações filogenéticas e biogeográficas entre espécies do gênero Astyanax
(Teleostei - Characidae) das bacias do rio Iguaçu, do alto rio Paraná e do rio
Paraguai baseadas em sequências de gene mitocondrial
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ecologia de
Ambientes Aquáticos Continentais do
Departamento de Biologia, Centro de
Ciências Biológicas da Universidade
Estadual de Maringá, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Ciências Ambientais.
Área de Concentração: Ciências
Ambientais.
Orientador: Prof. Dr. Alberto José Prioli.
Maringá
2009
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"Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)"
(Biblioteca Setorial - UEM. Nupélia, Maringá, PR, Brasil)
M527r
Mello, Rodrigo de, 1980-
Relações filogenéticas e biogeográficas entre espécies do gênero Astyanax (Teleostei
- Characidae) das bacias do rio Iguaçu, do alto rio Paraná e do rio Paraguai baseadas em
seqüências de gene mitocondrial / Rodrigo de Mello. – Maringá, 2009.
43 f. : il. (algumas color.).
Dissertação (mestrado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais)--
Universidade Estadual de Maringá, Dep. de Biologia, 2009.
Orientador: Prof. Dr. Alberto José Prioli.
1. Astyanax (Teleostei - Characidae) “lambari” - Filogenia e biogeografia - Iguaçu,
Rio, Bacia. I. Universidade Estadual de Maringá. Departamento de Biologia. Programa
de Pós-Graduação em "Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais".
CDD 22. ed. -597.4813809816
NBR/CIP - 12899 AACR/2
Maria Salete Ribelatto Arita CRB 9/858
João Fábio Hildebrandt CRB 9/1140
FOLHA DE APROVAÇÃO
RODRIGO DE MELLO
Relações filogenéticas e biogeográficas entre espécies do gênero Astyanax
(Teleostei - Characidae) das bacias do rio Iguaçu, do alto rio Paraná e do rio
Paraguai baseadas em sequências de gene mitocondrial
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes
Aquáticos Continentais do Departamento de Biologia, Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Ciências Ambientais pela Comissão Julgadora composta pelos membros:
COMISSÃO JULGADORA
Prof. Dr. Alberto José Prioli
Nupélia/Universidade Estadual de Maringá (Presidente)
Prof. Dr. Vladimir Pavan Margarido
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Profª Drª Carla Simone Pavanelli
Nupélia/Universidade Estadual de Maringá
Aprovado em: 27 de Janeiro de 2009.
Local de defesa: Anfiteatro do Nupélia, Bloco G-90, campus da Universidade Estadual de
Maringá.
“A orientação inicial que alguém recebe da educação
também o marca na sua conduta ulterior.”
(Platão)
"A educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar,
mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar."
(Henry Peter)
“Reconhece-se uma árvore pelos seus frutos”
(Mateus, 7)
Aos que estiveram e sempre estarão comigo, minha família. Em especial, aos ramos mais
recentes desta árvore: Leopoldo, Enzo, Maria Fernanda e Ana Carolina.
AGRADECIMENTOS
A Deus.
A minha família, pelas oportunidades, exemplos e amparo. Em especial ao meu pai, pela
confiança e paciência em minha ausência durante o desenvolvimento deste trabalho.
À Universidade Estadual de Maringá, pela formação.
Ao Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (NUPELIA), pela
aprendizagem e oportunidades de aprimoramento pessoal e profissional.
Ao Prof. Dr. Alberto José Prioli, pela orientação, liberdade, confiança e portas dos
laboratórios sempre abertas.
Ao Programa Ecológico de Longa Duração (PELD-Site 6), pela oportunidade de aprendizado
biológico-prático e pelo sentimento de trabalho em equipe, desenvolvidos durante os
trabalhos esporádicos que participei.
À Aldenir Cruz Oliveira e Jocemara Celestino dos Santos, da secretaria do Programa de Pós-
graduação em Ambientes Aquáticos Continentais, pela eficiência dos trâmites burocráticos
que foram necessários ao longo do curso.
À Maria Salete R. Arita e João Fábio Hildebrandt, da biblioteca do NUPELIA, pela presteza e
agilidade prestadas às necessidades literárias requeridas durante o curso.
A todos os companheiros, alunos e funcionários do laboratório de Genética Geral do
NUPELIA pelas ajudas, companheirismo e aprendizado.
Ao Msc. Hector Veras Alcaraz, à Drª. Carla Pavanelli e ao Dr. Weferson Júnio da Graça do
Museu de Coleção Ictiológica do NUPELIA (UEM) pela identificação morfológica de
amostras.
Ao doutorando Thiago Cintra Maniglia, pela paciência, conhecimento partilhado e auxílio
com as análises estatísticas.
À Profª. Drª. Sônia Maria A. P. Prioli, (UEM) pelas amostras de DNA disponibilizadas e
pelos exemplo de conduta pessoal.
Ao Prof. Dr. Eduardo Palma (Universidade Católica do Chile) pela oportunidade concedida,
que me permitiu aprender mais sobre estudos de Filogenia e Biogeografia.
Ao doutorando Enrique Rodriguez-Serrano (Universidade Católica do Chile) pelas dicas e
esclarecimentos acerca de análises filogenéticas específicas.
Aos amigos de graduação, pós-graduação, de adolescência e de infância que, além da sincera
amizade, sempre me deram incentivo para o aperfeiçoamento.
Ao amigo e Prof. Msc. Rafael Rigolon (Universidade Federal de Viçosa), pela amizade, troca
de idéias e revisão textual.
A todos que de alguma forma me ajudaram a compreender melhor o pensamento biológico.
Aos pessimistas e invejosos, pelo incentivo.
Por fim, à Natureza, que proporciona contemplações e indagações para que continuemos em
busca constante de respostas, que lançam luz ao nosso limitado entendimento sobre o que nos
cerca.
“Todas as nossas incomodações, se verificarmos com cuidado suas origens, provém
quase todas do fato de não termos consciência da natureza do tempo”
(Dante Alighieri)
“Nasce-se, pois, com as forças desequilibradas
do pretérito para as tarefas do reajuste”
(Emmanuel)
Relações filogenéticas e biogeográficas entre espécies do gênero Astyanax
(Teleostei Characidae) das bacias do rio Iguaçu, do Alto rio Paraná e do rio
Paraguai baseadas em seqüências de gene mitocondrial
RESUMO
As relações filogenéticas entre trinta e oito indivíduos de Astyanax provenientes do rio Iguaçu
e de bacias adjacentes, foram examinadas pelo seqüenciamento nucleotídico parcial do gene
mitocondrial citocromo b. Análises filogenéticas de união-de-vizinhos, máxima-
verossimilhança e de enfoque bayesiano foram realizadas utilizando-se de metodologias e
programas computacionais específicos. Os clados gerados no presente estudo sugerem o
reconhecimento de, no mínimo, três grupos que compartilham origens semelhantes aos
lambaris endêmicos do rio Iguaçu, sugerindo que os Astyanax do rio Iguaçu não se
diversificaram a partir de um único ancestral que ficou isolado quando a bacia se formou.
Portanto, o polifiletismo no Iguaçu seria intragenérico, referindo-se à possibilidade de três
grupos de Astyanax terem ficado isolados durante a formação da bacia. Astyanax sp. B teria
uma origem compartilhada com algumas espécies do ‘complexo altiparanae-bimaculatus’
enquanto que Astyanax sp. C seria do grupo que também abrigaria A. aff. paranae e A.
bockmanni. A divergência entre Astyanax sp. E e Astyanax sp. F teria ocorrido num passado
mais recente quando comparada à diferenciação da espécie Astyanax sp. D. Os eventos
geológicos e hidrológicos que teriam influenciado o padrão biogeográfico das espécies
analisadas são discutidas.
Palavras-chave: Filogenia. Citocromo b. Sequênciamento de DNA. Astyanax. Biogeografia.
Phylogenetic and Biogeographic relationships among species of the genus
Astyanax (Teleostei-Characidae) from Iguaçu River basin, Upper Paraná river
and Paraguay river basin based on sequences of mitochondrial gene
ABSTRACT
Phylogenetic relationships among thirty-eight individuals of Astyanax from Iguaçu River and
adjacent river basins, were examined by nucleotidic sequencing in the mitocondrial gene
cytochrome b. Phylogenetic analysis of neighbor-joining, maximum-likelihood and bayesian
approach were carried out using methodologies and specific computacional programs. The
clades brought up in this study suggest the recognition of, at least, three groups that share
similar origins with the endemic lambaris from Iguacu River, suggesting that there is
poliphyletism in the ancestry in Astyanax from this location, suggesting that Astyanax from
this river did not diversify from a unique ancestor group that was isolated when the Iguacu
River basin was formed. Thus, polyphyletism of this genera in Iguaçu River would be
intrageneric, when it refers to the possibility of three groups of Astyanax have been isolated
during the formation of this river basin. Astyanax sp. B would have an origin shared with
some especies from the ‘complex altiparanae-bimaculatus’ while Astyanax sp. C would be
from the same group that also hosts A. aff. paranae and A. bockmanni. The divergence
between Astyanax sp. E and Astyanax sp. F would have occured in a more recent past when
compared to the differenciation of the species Astyanax sp. D. Geological and hidrological
events that would have influenced the biogeography pattern of the analised species are
discussed.
Keywords: Phylogeny. Citocrhome b. DNA sequencing. Astyanax. Biogeography
.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1 Código amostral, espécies e localidades dos indivíduos analisados
18
Figura 1 Árvores de união-de-vizinhos e de máxima verossimilhança............
22
Tabela 2 Distâncias Genéticas dentro de cada clado.......................................
23
Tabela 3 Distâncias Genéticas entre os clados.................................................
25
Tabela 4 Distâncias Genéticas dentro de cada grande grupo............................
26
Tabela 5 Distâncias Genéticas entre os grandes grupos....................................
26
Figura 2 Gráfico 3D de dispersão em coordenadas principais (Auto-Vetores )
27
Figura 3 Árvore obtida pelo critério bayesiano a posteriori ............................
28
Dissertação elaborada e
formatada conforme as normas da
publicação científica Neotropical
Ichthyology. Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/ni/>
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13
2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 17
2.1 Material biológico e locais de coleta ....................................................... 17
2.2 Extração de DNA...................................................................................... 17
2.2 DNA mitocondrial, amplificação e seqüenciamento ............................. 18
2.3 Análises filogenéticas e genealógicas ..................................................... 19
3 RESULTADOS..........................................................................................
21
4 DISCUSSÃO............................................................................................. 29
5 REFERÊNCIAS........................................................................................ 36
13
INTRODUÇÃO
Peixes caraciformes fornecem um exemplo dos complexos padrões evolutivos e
biogeográficos geralmente vistos nas faunas tropicais e subtropicais. Eles constituem um
grupo de peixes de divergências ecológicas e morfológicas em rios e lagos na África e nos
Neotrópicos. A vasta especialização trófica encontrada nos caraciformes é comparável aos
dos ciclídeos e incluem detritívoros, herbívoros, planctívoros e predadores. Algumas espécies
têm adaptações morfológicas e fisiológicas peculiares para sobrevivência em condições
extremas de hipoxia, condições estas geralmente encontradas em meio ambientes como
planícies de inundação (Orti & Meyer, 1997)
Dezoito famílias com cerca de 270 neros e, pelo menos, 1674 espécies compõem a
ordem Characiformes (Nelson, 2006). A maioria das linhagens (famílias) de peixes
caraciformes originou-se antes do evento vicariante que separou os táxons africanos e
neotropicais, aproximadamente cem milhões de anos atrás (Greenwood, 1984; Meyer et
al., 1990; Meyer, 1993).
Characidae faz parte da ordem Characiformes e é uma grande e diversificada família
que tem mudado muito com a remoção das subfamílias Crenuchinae e Characidiinae, agora
reconhecidas na família Crenuchidae (Nelson, 2006). As variações nas estratégias de vida dos
caracídeos estão presentes de forma muito evidente, tanto que este grupo exibe uma
divergência fenotípica adaptativa tão grande que não se iguala a nenhuma outra ordem animal
(Fink & Fink, 1981). Engloba, ainda, a maior parte dos peixes brasileiros de água doce, sendo
que nas Américas do Sul e Central, devida à natureza de alta heterogeneidade, as espécies são
agrupadas por subfamílias com diferentes autorias. Somente aquelas subfamílias nas quais
evidências de monofilia são retidas, deixando, desta forma, uma grande porção da diversidade
em Characidae listadas sob a denominação Incertae Sedis, que incorpora oitenta e oito
gêneros com cerca de 620 espécies reconhecidas. Entre elas, 64%, ou 399 espécies, são
atribuídas à especiose. (Reis et al., 2003).
O grande número de espécies incluídas nesta família, associado à imensa variedade
morfológica, de hábitos alimentares diversos e exploração de uma infinidade de habitats
(Britski et al., 1998) tem dificultado proposições de classificação que reflitam agrupamentos
naturais dentro dela. Como conseqüência, o reconhecimento das relações de parentesco com
as demais famílias da ordem Characiformes têm sido muito prejudicadas devido a dúvidas
sobre o monofiletismo da família Characidae (Lucena, 1993).
14
O gênero Astyanax Baird & Girard, 1854 é o mais comum e diversificado da família
Characidae na área de abrangência da região neotropical, indo desde o Texas ao nordeste da
Argentina, congregando aproximadamente uma centena de espécies abundantes nas bacias
hidrográficas brasileiras (Garutti & Britski, 2000; Lima et al., 2003). Até agora, o gênero
comporta cerca de cem espécies validadas e recentes descrições tendem a aumentar esse
número (e.g. Azpelicueta et al., 2002; Azpelicueta et al., 2003; Casciotta et al., 2003; Lima &
Zuanon, 2004; Bertaco & Lucinda, 2005; Haluch & Abilhoa, 2005; Bertaco & Lucena, 2006;
Melo & Buckup, 2006). São conhecidos vulgarmente como lambaris ou piabas e habitam
diversos ambientes, inclusive as águas de cabeceiras de rios e riachos. Seus exemplares
apresentam tamanho reduzido, tendo como principais características morfológicas: nadadeiras
adiposas geralmente presentes; linha lateral completa, pouco curva na frente; pré-maxilar não-
protráctil; dentes pré-maxilares dispostos em duas séries, a interna com cinco dentes; dentes
com cúspides; altura do corpo cerca de três vezes ou menos o comprimento padrão, e escamas
de tamanho normal, cobrindo apenas a base dos raios da nadadeira caudal (Britski et al.,
1988).
O grupo é reconhecidamente de difícil identificação taxonômica (Lowe-McConnell,
1975) e atualmente está alocado entre vários gêneros Incertae Sedis de Characidae,
anteriormente nominados entre os Tetragonopterinae (Lima et al., 2003). Estudos sistemáticos
têm enfatizado que os representantes de Astyanax compõem complexos de espécies distintos
de taxonomia controversa (Reis et al., 2003).
Apesar do grande número de estudos com Astyanax, relativamente pouco enfoque
nas relações filogenéticas entre as espécies. É verdade que estudos citogenéticos (e.g. Pazza &
Kavalco, 2007; Pazza et al., 2007; Domingues, 2007; Hashimoto et al., 2008; Kantek et al.,
2008; Vicari et al., 2008; Medrado et al., 2008), de elucidação taxonômica entre espécies
duvidosas (e.g. Prioli et al., 2002), filogeografia intraespecífica (e.g Strecker et al., 2004) e de
revisão taxonômica específica (e.g. Melo, 2005) vêm contribuindo para a elucidação de
hipóteses formuladas acerca de relações e polimorfismos inter e intraespecíficos. Estudos
sobre relações filogenéticas e biogeográficas, no entanto, foram realizados mais ao nível de
famílias de Characiformes e suas potenciais dispersões (Orti & Meyer, 1997; Calcagnotto et
al., 2005). Moyses & Almeida-Toledo (2002) utilizaram o DNA mitocondrial de algumas
espécies de Astyanax que revelaram diversidade nucleotídica entre elas.
O conhecimento dos padrões de divergência genética de várias espécies e populações,
de suas relações histórico-evolutivas, bem como as peculiaridades do meio ambiente de cada
bacia hidrográfica são de suma importância para o maior entendimento das relações
15
filogenéticas e biogeográficas dos organismos (Futuyma, 1986). A distribuição das espécies
do gênero discutido tem influência direta nos processos evolutivos do grupo e em sua
exuberante diversidade. Estruturas populacionais e intraespecíficas dentro de um mesmo rio e
a capacidade de explorar grande variedade de micro habitats, formando pequenas populações
com dispersão relativamente restrita, levaram Garutti & Britski (2000) a sugerir que estes
peixes não formam um grupo uniforme e que apresentam variações de população para
população.
A ictiofauna da bacia do rio Iguaçu tem uma história evolutiva peculiar, com um alto
índice de endemismo, sendo que aproximadamente 80% das espécies são exclusivas a esta
bacia hidrográfica (Agostinho & Gomes, 1997). O processo geomorfológico de formação da
bacia do Iguaçu remonta do Período Terciário, estando associado a movimentos verticais
escalonados responsáveis pelo soerguimento da Serra do Mar e a origem dos três planaltos
paranaenses; sendo o primeiro na região de Curitiba, o segundo na região de Ponta
Grossa/Palmeira e o terceiro na região de Guarapuava/Palmas (Petri & Fulfaro, 1983). O
Iguaçu constitui-se, assim, num rio geologicamente antigo, porém rejuvenescido por
levantamentos diversos, caracterizados por corredeiras e saltos, alternados por meandros de
curvaturas amplas e várzeas extensas (Ministério das Minas e Energia, 1990).
Devido ao surgimento das Cataratas do Iguaçu, ocorrido há aproximadamente 22
milhões de anos (Período Oligo-Mioceno), as populações de peixes da bacia do rio Iguaçu
foram isoladas das do rio Paraná por estas quedas, que apresentam cerca de 70m de desnível
(Maack, 1981). Tal fato favoreceu um processo de especiação, que seria responsável pelo
considerável grau de endemismo apresentado por sua ictiofauna (Kantek et al., 2003). O rio
Iguaçu apresenta uma ictiofauna pobre comparada à do rio Paraná (Garavello et al., 1997).
Isto se deve principalmente a topografia do rio, com suas quedas e corredeiras, que
impossibilitam a subida de peixes e a realização de migrações.
O isolamento geográfico de espécies de peixes pode determinar processos evolutivos
significativos nas comunidades, eventualmente levando a especiações. Tais populações
isoladas são mais suscetíveis a mudanças evolutivas, que podem ser mais ou menos
aceleradas dependendo dos distintos ambientes em que estão inseridos. De acordo com
Futuyma (1986), populações distantes geograficamente ou aquelas nas quais não fluxo
gênico são mais freqüentemente isoladas por esterilidade e diferenças comportamentais do
que populações próximas.
Este trabalho pretende contribuir para a elucidação das relações evolutivas entre as
espécies de Astyanax, que tem sido sugerida por vários autores (e.g.
Weitzman & Malabarba,
16
1998; Domingues et al., 2007; Pazza & Kavalco, 2007; Pazza et al., 2007; Kantek et al.,
2008; Medrado et al., 2008), os quais ressaltam a importância de aplicações de técnicas de
filogenias moleculares à sistemática dos caraciformes, mais especificamente dentro do gênero
Astyanax. Assim, o presente estudo comparou as espécies endêmicas do rio Iguaçu às espécies
de Astyanax de outras bacias. Além disso, contribui no aumento dos estudos em peixes de
água doce na América do Sul, que têm sido extremamente úteis para revelar diferenças
genéticas intra e interespecíficas, trazendo à tona dados relevantes acerca das espécies e a
evolução da biodiversidade na região tropical.
17
MATERIAL E MÉTODOS
Material Biológico e Locais de Coleta: Indivíduos do nero Astyanax foram coletados nas
bacias do rio Iguaçu, do alto rio Paraná, do rio Paraguai, do rio Paranaíba e do rio Cuiabá;
além de cinco seqüências nucleotídicas que estavam disponibilizadas no Genbank (Acessos
AF287414.1; AY639091.2; AY639092.2 e AY639089.2, disponíveis em
http://www.ncbi.nlm.nih.gov) como podem ser vistos na Tabela 1. Os exemplares foram
preservados em álcool etílico comercial. A identificação morfológica da maioria dos
espécimes foi realizada baseando-se em Severi & Cordeiro (1994), Garavello et al. (1997),
Ingenito et al. (2004), Britski et al. (2007) e Graça & Pavanelli (2007) na Coleção Ictiológica
do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (NUPELIA) da
Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Extração de DNA: A extração total do DNA ocorreu de acordo com a metodologia
fenol/clorofórmio de Laird et al. (1991) e Monesi et al. (1998) com poucas modificações.
Aproximadamente 100 mg de músculo de cada caracídeo foram macerados na presença de
nitrogênio líquido. Em seguida, homogeneizados em 500 µL de tampão PS (Tris–HCl 0,2 M,
EDTA 30 mM, SDS 2% e sacarose 5%) e 500 µL de tampão TH (Tris –HCL 10 mM, NaCl
60 mM, EDTA 10 mM, sacarose 5%, espermina 0,15 mM e espermidina 0,15 mM) pH 8,0 e 5
µL de proteinase K (20 µg/µL) em banho-maria com agitação a 37
o
C. Em seguida, o DNA
foi purificado por extração fenol/clorofórmio (1:1, v:v) e clorofórmio, respectivamente, sendo
centrifugado em 12.000 rpm por 12 minutos.
O DNA extraído foi precipitado com a adição de solução salina (NaCl 5 mM) e etanol
absoluto gelado, seguida de uma incubação a -20
o
C por 12 a 24 horas. O pellet obtido foi
ressuspendido em 50 µL de tampão TE (0,1 mM Tris-HCl pH 8,0; 0,01 mM EDTA), com
RNAse (20 µg/mL). A suspensão de DNA foi estocada a -20
o
C. Alíquotas do DNA de cada
exemplar foram utilizadas para uma estimação visual da quantidade de DNA, em gel de
agarose (1%) e corados com brometo de etídio (20 µg/100 mL), por comparação com
quantidades conhecidas de DNA do fago λ.
18
Tabela 1. Código amostral, espécies e localidades (BRA: Brasil; PRY: Paraguai) dos indivíduos
analisados. Os A. fasciatus com asteriscos (*) representam os haplótipos, denominados entre
parênteses.
Código Amostral Espécie Localidade
A.sp-481 Astyanax sp. Rio Pitangui – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A.sp-488 Astyanax sp. Rio Tibagi – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A.sp-12 Astyanax sp. Rio Manso - MT. Bacia do rio Paraguai - BRA
A.alti-674 A. altiparanae Rio Pitangui – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A.sp-5 Astyanax sp Rio Passa Cinco - SP. Bacia alto rio Paraná - BRA
A.abra-1 A. abramis Arroyo Yacaré – Dpto Neembucu. Bacia Rio Paraguai - PRY
A.abra-3 A. abramis Arroyo Yacaré – Dpto Neembucu. Bacia Rio Paraguai - PRY
A.abra-4 A. abramis Arroyo Yacaré – Dpto Neembucu. Bacia Rio Paraguai - PRY
A.abra-45 A. abramis Rio Cuiabá – MT. Bacia do Rio Paraguai -BRA
A.abra-51 A. abramis Rio Cuiabá – MT. Bacia do Rio Paraguai -BRA
A. asun-6 A. asuncionensis Rio Cuiabá – MT. Bacia do Rio Paraguai -BRA
A.asun-8 A. asuncionensis Rio Cuiabá – MT. Bacia do Rio Paraguai -BRA
A.fasc-496 A. fasciatus Rio Tibagi – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A.fasc-497 A. fasciatus Rio Tibagi – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A.fasc-498 A. fasciatus Rio Tibagi – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A.fasc-604 A. fasciatus Rio Pitangui – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
A. fasciatus (FE)* A. fasciatus AY639088.2 – GeneBank (América Central)
A. fasciatus (GA)* A. fasciatus AY639089.2 – GeneBank (América Central)
A. fasciatus (GC)* A. fasciatus AY639091.2 – GeneBank (América Central)
A. fasciatus (GD)* A. fasciatus AY639092.2 – GeneBank (América Central)
AM AF287414.1 A. mexicanus AF287414.1 – GeneBank (América Central)
A.aff.bim-1 A. aff. bimaculatus Rio Doce – MG. Bacia Rio Doce - BRA
A.aff.para-1 A. aff. paranae Ribeirão Keller – PR. Bacia alto rio Paraná - BRA
A.bock-1 A. bockmanni Riacho “Lazinho” – GO. Bacia do rio Paranaíba - BRA
A.sp.B-1 Astyanax sp. B Salto Osório - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.C-2 Astyanax sp. C Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.C-10 Astyanax sp. C Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.C-11 Astyanax sp. C Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.D-25 Astyanax sp. D Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.D-26 Astyanax sp. D Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.D-27 Astyanax sp. D Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.E-1 Astyanax sp. E Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.E-2 Astyanax sp. E Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.E-3 Astyanax sp. E Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.F-2 Astyanax sp. F Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.F-56 Astyanax sp. F Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
A.sp.F-130 Astyanax sp. F Rio Iguaçu - PR. Bacia do rio Iguaçu - BRA
Moenkhausia M .aff. intermedia Rio Paraná – PR. Bacia do alto rio Paraná - BRA
DNA Mitocondrial, amplificação e seqüenciamento: O gene citocromo b (cytb) foi a região
do DNA mitocondrial (mtDNA) utilizada para a investigação das relações filogenéticas das
espécies de Astyanax estudadas. Amplificou-se parcialmente o gene cytb mediante a Reação
de Cadeira Polimerase (PCR) a partir do DNA total de indivíduos. Para tal feito, foi utilizado
o par de primers L14841 (5´-CCATCCAACATCTCAGCATGATGAAA-3´) e H15149 (5´-
CCCCTCAGAATGATATTTGTCCTCA-3´). As condições de amplificação seguiram as
apresentadas por Prioli et al. (2002). A mistura de reação de amplificação consistiu-se
basicamente de tampão Tris-KCl (Tris-HCl 20 mM pH 8,4 e KCl 50 mM), MgCl
2
1,5 mM,
2,5 µM de cada primer, 0,1 mM de cada dNTP, 2,5 U/Reação de Taq DNA polimerase, DNA
genômico 15 ng e água deionizada e autoclavada para completar 25 µL. O fragmentos de
mtDNA foram amplificados segundo o seguinte perfil térmico: desnaturação inicial a 95°C
19
por um minuto, continuando com 35 ciclos de 95°C (15 seg.), 53°C (30 seg.), 72°C (30 seg.).
Uma extensão final de 72°C por oito minutos terminou a reação.
Em seguida, alíquotas desses produtos foram visualizados num gel de agarose 1%,
corado com brometo de etídio 20 mg/100 mL) para comparação com quantidades conhecidas
de DNA do fago λ, determinando, assim, o tamanho da seqüência dos genes amplificados.
Posteriormente, as amostras foram purificadas usando-se polietileno glicol (PEG) para
eliminação do excesso de primers e resíduos de nucleotídeos segundo protocolo de Rosenthal
et al. (1993).
Por último, as amostras de DNA (cerca de 50 ng) amplificado em cada reação de
PCR foram usadas diretamente em reações de seqüenciamento com BigDye
TM
Terminator
Cycle Sequencing, em um seqüenciador automático MegaBACE 1000 (DNA Analysis System),
de acordo com instruções do fabricante.
Análises filogenéticas e genealógicas: Todas as seqüências amplificadas do gene
mitocondrial citocromo b foram alinhadas com o programa ClustalW (Higgins et al., 1996) e
editadas pelo programa BioEdit Sequence Alignment Editor 7.0.1 (Hall, 1999). Em seguida as
seqüências foram analisadas utilizando-se o programa ModelTest 3.7 (Posada & Crandal,
1998) para seleção do melhor modelo de substituição nucleotídica entre as distintas taxas de
substituição que explica a matriz de dados gerados.
Para as análises filogenéticas foi usado o programa PAUP 4.0 (Phylogenetic Analysis
Using Parcimony, Sworfford, 2000). Todos os caracteres foram tratados como não-ordenados
com quatro estados possíveis (A, C, T e G) e excluindo-se aqueles caracteres
filogeneticamente não-informativos.
Num enfoque de inferência cladística, a análise dessa linha filogenética foi feita por meio
do critério de máxima-verossimilhança (maximum-likelihood) - método que elege o melhor
modelo de substituição nucleotídica que maximiza uma probabilidade, para gerar uma árvore
sob a hipótese inferida mais adequada. Uma análise genealógica de cunho fenético foi feita
mediante o algoritmo união-de-vizinhos (neighbor-joining) para gerar uma matriz de distância
a partir da opção de Tamura-Nei. A seleção desse algoritmo estima as relações genealógicas
pela minimização das distâncias entre os táxons e dentro da árvore, gerando assim, um índice
de semelhança. A construção da árvore neighbor-joining foi realizada usando-se do modelo
de substituição nucleotídica sugerido pelo Modeltest 3.7 (Posada & Crandall, 1998). Os
valores mais confidentes nos nodos foram avaliados perfazendo-se mil repetições (bootstrap)
retendo-se aqueles com freqüência maior que 50%, os quais foram utilizados para avaliar o
suporte para clados individuais dentro de cada árvore. Enraizaram-se as árvores geradas com
20
o critério de grupos externos (outgroups) usando-se Moenkhausia aff. intermedia pelo fato
deste gênero, que comporta essa espécie, ter sido colocado como táxon próximo de Astyanax
no estudo de Calcagnotto et al. (2005).
Utilizando-se o programa Mega 4.0, gerou-se uma matriz de distância Tamura-Nei das
seqüências nucleotídicas dos exemplares e, a partir dessa, obteve-se a matriz de auto-vetores
pelo programa DistPCoA (Legendre & Anderson, 1998). Em seguida, um gráfico de dispersão
em coordenadas principais foi confeccionado utilizando-se os três primeiros auto-vetores
(eixos) por meio do programa STATISTICA 6.0 (StatSoft, Inc., 2001).
Também se realizou uma análise bayesiana, na qual calculou-se a probabilidade posterior
das relações genealógicas sob o melhor modelo de evolução previamente escolhido no
Modeltest 3.7. Para explorar melhor esse parâmetro, correu-se as Cadeias de Markov e
Simulação de Monte Carlo (MCMC) por meio do programa MrBayes 3.0 (Huelsenbeck &
Ronquist, 2001). As 20.000 primeiras gerações (e 1.333 árvores) foram descartadas pela
opção burn-in e somente os resultados das últimas 280.000 gerações (28.667 árvores) foram
usados para computar o consenso acima de 50% na retenção dos ramos da árvore gerada.
Por último, obtiveram-se as freqüências de bases nucleotídicas, números de transições e
transversões entre os indivíduos, mediante o programa Mega 4.0 - Molecular Evolutionary
Genetics Analysis (Tamura et al., 2007).
21
RESULTADOS
Um fragmento de 308 pares de bases (pb) do gene citocromo b do DNA mitocondrial
foi seqüenciado para cada espécime deste estudo (Tabela 1), com exceção dos indivíduos que
foram utilizados do GeneBank. Depois de alinhadas e editadas, utilizou-se uma seqüência de
200 pares de bases (pb) para as análises, devido a maior porcentagem de confiança encontrada
nesse intervalo.
As informações geradas pelo método likelihood, sob os critérios de correção Akaike
(AIC Akaike, 1974), consideraram os valores de proporção de sítios variáveis; obtendo-se
como ótimo o modelo TrN+I (-lnL = 1008.1279, AICc = 2.290.8320). As freqüências das
bases nucleotídicas foram de freqA = 0.2743, freqC = 0.2862, freqG = 0.1473, freqT = 0.2922
e de substituição de modelos [A-C] = 1.0000, [A-G] = 4.3746, [A-T] = 1.0000, [C-G] =
1.0000, [C-T] = 0.9918 e [G-T] = 1.0000. A proporção de sítios invariáveis (I) foi de I =
0,5032; as taxas de razão transição/transversão foram de K
1
= 0,34 (purinas) e K
2
= 16, 23
(pirimidinas) e a razão geral de transições/transversões (R [A*G*K
1
+ T*C*K
2
] /
[A/G]*[T/G] ) foi de R = 4,41.
Ambas as árvores geradas pelas inferências fenética (neighbor-joining, Figura 1 A) e
cladística (maximum-likelihood, Figura 1B) foram congruentes para gerar três grandes clados,
que foram denominados aqui como Grupo A, Grupo B e Grupo C.
A reconstrução filogenética de ambas as árvores mencionadas acima posiciona
algumas espécies que provavelmente haviam sido identificadas equivocadamente (por
exemplo, A.asun-6 e A.asun-8; que correspondem a A. abramis) e outras que não foi possível
identificar morfologicamente (e.g. A.sp-481 é da espécie A. altiparanae). Tendo-se altos
valores de bootstraps que suportam tais posicionamentos citados acima: 83/70 e 86,
respectivamente.
22
Figura 1. Árvores filogenéticas de união-de-vizinhos (A) e máxima-verossimilhança (B) geradas a partir das seqüências parciais do gene
citocromo b das espécies mostradas na Tabela 1. Os valores de bootstrap (1.000 repetições) encontram-se nas ramificações dos clados.
23
Dentro de cada um dos clados menores, denominados aqui como ASU (A.
asuncionensis), SP-B (Astyanax sp. B), aff.BIM (A. aff. bimaculatus) , ABRA (A. abramis),
ALTI (A. altiparanae), GB(fas/mex: A. fasciatus e A. mexicanus, das regiões da América
Central) , aff.PARA (A. aff. paranae), SP-C (Astyanax sp. C), BOCK (A. bockmanni), SP-488
(não-identificado), FASC (A. fasciatus), SP-D (Astyanax sp. D), SP-E (Astyanax sp. E) e SP-F
(Astyanax sp. F), observou-se baixa variação genética (Tabela 2); ou com índices não
computados (N/C) - quando havia apenas um indivíduo compondo o clado - ou com índices
menores de 0,007. É exceção, nesse caso, o agrupamento GB(fas/mex), que possui variação
de 0,023. Explica-se, porém, o valor mais elevado pelo fato de esse clado ser constituído por
espécies haplotípicas (A. fasciatus GD/GA/GC/FE) e de uma espécie distinta (A. mexicanus)
que foram agrupadas juntas aqui, em uma resolução filogenética mais baixa, para generalizar
um grupo mais amplo.
Tabela 2. Distância genética (Tamura-Nei) dentro de cada clado
Clados Distância (d)
1. ASU
0,000
2. SP-B
N/C
3. aff-BIM
N/C
4. ABRA
0,008
5. ALTI
0,000
6. GB(fas/mex)
0,023
7. aff-PARA
N/C
8. SP-C
0,007
9. BOCK
N/C
10. SP-488
N/C
11. FASC
0,005
12. SP-D
0,000
13. SP-F
0,000
14. SP-E
0,000
15. MOENK
N/C
24
Quando se compararam as distâncias genéticas entre os clados dentro dos grupos A, B
e C, notaram-se valores relativamente baixos (Tabela 3). Para exemplificar, dentro do grupo
A, a distância mais alta foi encontrada entre os clados ABRA e SP-B (0,074), o restante das
combinações possíveis não ultrapassa o valor de 0,047. Desta forma, evidencia-se maior ou
menor parentesco entre as espécies dentro de cada um dos três grandes grupos formados.
No grupo A, as menores distâncias genéticas foram entre ASU e aff. BIM (0,015) e
ASU e ALTI (0,010). No grupo C, os clados SP-F e SP-E também mostram alto grau de
parentesco entre si (distância genética de apenas 0,010). Por outro lado, o clado SP-D tem
uma distância grande dos clados SP-E e SP-F (0,154 e 0,165 respectivamente), além de alta
divergência da espécie Astyanax sp. D em relação às outras duas que compartilham o mesmo
agrupamento, com pode ser visto nas Figuras 2 e 3.
Dentro do grupo B foi onde se notou a maior distância genética das análises (entre
GB(fas/mex) e BOCK, que foi de 0,148). Isso provavelmente se explica pelo fato dos
indivíduos que tiveram suas seqüências adquiridas no GeneBank serem de regiões da América
Central, pois, vêem-se valores de distância genéticas relativamente baixas quando
comparados apenas os indivíduos (clados) das bacias do Brasil. O indivíduo SP-488 não se
agrupou em nenhum clado, mas possui menores distâncias com o clado FAS (0,034) e SP-C
(0,024) do que com, por exemplo, ABRA (0,160) ou ALTI (0,127) sugerindo que pode ser
uma espécie diferente das demais que foram agrupadas devidamente em seus clados, mas que
possui mais semelhança com os indivíduos dos clados FAS e SP-C.
25
Tabela 3. Distância genética (Tamura-Nei) entre os clados. A letras entre parênteses correspondem ao grupo que os clados se agruparam
(A=Grupo A; B= Grupo B. C= Grupo C)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
1 ABRA (A)
-
2 ALTI (A)
0,036 -
3. ASUN (A)
0,025 0,010 -
4. FASC (B)
0,198 0,157 0,163 -
5.GB(fas/mex) (B)
0,154 0,126 0,141 0,119 -
6. aff-BIM (A)
0,041 0,026 0,015 0,158 0,163 -
7. aff-PARA (B)
0,135 0,103 0,103 0,070 0,113 0,123 -
8. SP-488 (B)
0,160 0,127 0,127 0,034 0,115 0,147 0,042 -
9. BOCK (B)
0,180 0,145 0,145 0,068 0,148 0,151 0,047 0,052 -
10. SP-B (A)
0,074 0,047 0,047 0,158 0,170 0,031 0,135 0,148 0,151 -
11. SP-C (B)
0,152 0,118 0,118 0,040 0,120 0,124 0,035 0,024 0,034 0,124 -
12. SP-D (C)
0,191 0,173 0,190 0,251 0,183 0,213 0,216 0,244 0,262 0,216 0,244 -
13. SP-E (C)
0,177 0170 0,177 0,214 0,210 0,199 0,172 0,180 0,213 0,219 0,199 0,154 -
14. SP-F (C)
0,172 0,164 0,172 0,208 0,204 0,193 0,167 0,174 0,207 0,214 0,194 0,165 0,010 -
26
Dentro dos três grandes clados verificou-se diversidade genética de 0,023; 0,064 e
0,070 nos grupos A, B e C, respectivamente (Tabela 4) e, quando analisadas as distâncias
genéticas entre esses grupos, os valores colocam o Grupo A mais próximo do Grupo B
(0,122) e mais distante do Grupo C (0,159).
Tabela 4. Distância genética (Tamura-Nei) dentro de cada grupo
d
Grupo A
0,023
Grupo B
0,064
Grupo C
0,070
A maior distância entre esses grupos foi verificada entre os Grupos B e C, que foi de
0,185 (Tabela 5). Essas distâncias são melhor vistas no gráfico de dispersão (Figura 2), onde
as distâncias Tamura-Nei emparelhadas em escalas dimensionais geraram os respectivos
valores de auto-vetores.
Tabela 5. Distância genética (Tamura-Nei) entre os grupos.
Grupo A Grupo B Grupo C
Grupo A
- - -
Grupo B
0,122 - -
Grupo C
0,159 0,185 -
27
A. asuncionensis
A. altiparanae
A. abramis
A. fasciatus
GB (fasc/mex)
A. aff. bimaculatus
A. aff. paranae
Astyanax sp. 488
A. bockmanni
Astyanax sp. B
Astyasnax sp. C
Astyanax sp. D
Astyanax sp. E
Astyanax sp. F
Moenkhausia
Figura 2. Gráfico 3D de dispersão em coordenadas principais (auto-vetores 1, 2 e 3) de espécies
de Astyanax e do grupo externo Moenkhausia.
Com relação às probabilidades a posteriori, a árvore gerada pela inferência bayesiana
(Figura 3) também demonstra visualmente essas distâncias vistas no gráfico de dispersão
(Figura 2) e explicitadas na tabela de distância genética entre esses três grandes grupos
(Tabela 5). Além disso, apresenta altos valores de probabilidades posteriores, ou seja, a
tendência das ramificações geradas quando se supõe um grande mero de gerações
posteriores possuírem valores acima e 97% nas ramificações que sustentam os clados de
maior pertinência.
28
Figura 3. Árvore filogenética bayesiana gerada sob as simulações das Cadeias de Markov e
Simulação de Monte Carlo (MCMC). Os semicírculos pontilhados ( ... ), tracejados ( _ _ _ ) e
tracejado-pontilhados ( _ . _ . _ . ) correspondem aos grupos C, A e B, respectivamente. Os
valores nas ramificações geradas correspondem a porcentagem da probabilidade posterior das
últimas 280.000 gerações simuladas segundo o modelo de substituição nucleotídica TrN+I.
29
DISCUSSÃO
Com o presente estudo filogenético pode-se sugerir que os Astyanax do rio Iguaçu não
se diversificaram a partir de um único ancestral que ficou isolado quando a bacia se formou,
sugerindo a possibilidade de pelo menos três grupos de Astyanax terem ficado isolados
durante a formação da bacia. Tais grupos foram denominados aqui como Grupos A, B e C,
reforçando hipóteses de que Astyanax representa um grupo de complexa identificação, como
vistos em estudos morfológicos (e.g. Weitzman & Malabarba, 1998) e de abordagens
genéticas (e.g Calcagnotto et al. 2005; Porter et al. 2007).
No grupo C, que agrupa as espécies Astyanax sp. F, Astyanax sp. E e Astynax sp. D, há
uma distância genética alta dessa última espécie em relação aos outros dois agrupamentos -
0,165 e 0,154, respectivamente (Tabela 3). A diversidade genética dentro deste grande grupo
também foi a maior dos três grandes grupos formados, ou seja, 0,070 (Tabela 4). Isso sugere
que os clados formados por Astyanax sp. F e Astyanax sp. E tendem a divergir de Astyanax sp.
D, como pode ser melhor observado na Figura 3. Esse tipo de análise, que tem inferência
bayesiana, mostra um alto valor de probabilidade a posteriori (98%) para a ramificação entre
esses dois sub grupos, que simula a tendência filogenética de futuras gerações.
A posição e distância genética de Astyanax sp. D em relação aos dois clados citados
anteriormente, sugerem que a separação dessa espécie dos grupos ancestrais que deram
origem às espécies agrupadas no Grupo C se deu num passado mais distante, enquanto
Astyanax sp. F e Astyanax sp. E teriam uma diferenciação mais recente (dentro do Grupo C),
o que se confirma com a baixa distância genética entre essas duas espécies, que foi de apenas
0,010. Kantek (2005) levantou a hipótese que as inversões e padrão de heterocromatina
observadas em cromossomos de Astyanax sp. D teriam sido decorrentes de fenômenos
geológicos que teriam dividido a espécie em várias populações isoladas entre si, permitindo,
deste modo, diferenciações ao nível heterocromático. Em algum momento da história
evolutiva recente da espécie, essa barreira teria desaparecido e os indivíduos das várias
localidades voltaram a se cruzar, impedindo a ocorrência de um evento de especiação.
Tais suposições corroboram-se às mudanças climáticas que ocorreram durante o
Período Quaternário, que influenciaram a distribuição da cobertura vegetal na região da bacia
do rio Iguaçu. Elas teriam causado, em períodos glaciais curtos, expansões e retrações
sucessivas, tanto das florestas, quanto das áreas de vegetação aberta. Durante os períodos
glaciais, ocorreu a expansão dos núcleos de aridez e semi-aridez e conseqüente retração das
florestas. Nos períodos interglaciais, porém, ocorreu expansão das florestas e retração das
30
áreas áridas (Van Der Hammem, 1974; Ab´saber, 1977; Bigarella & Andrade-Lima, 1982).
Com a expansão das florestas, aumento da precipitação e diminuição das áreas áridas, o rio
Iguaçu teria se tornado menos severo para estes organismos e, assim, as populações
anteriormente separadas teriam tornado a se cruzar (Kantek, 2005).
Devido ao surgimento das Cataratas do Iguaçu, ocorrido há aproximadamente 22
milhões de anos (Período Oligo-Mioceno), as populações de peixes da bacia do rio Iguaçu
foram isoladas por quedas que apresentam até cerca de 70m de desnível (Maack, 1981). Tal
fato teria favorecido um processo de especiação, que seria responsável pelo considerável grau
de endemismo apresentado por sua ictiofauna. Tomando-se em conta esses dados geológicos,
pode-se sugerir que Astyanax sp D teria se isolado reprodutivamente num pretérito mais
longínquo do que as espécies Astyanax sp E e Astyanax sp F, devido, provavelmente, à
especificidade de habitat da primeira espécie em questão.
Essas mudanças paloeclimáticas teriam causado a interrupção da distribuição
geográfica contínua de muitos táxons por meio da alteração de vários fatores limitantes à
distribuição, tais como alteração do nível d´água, temperatura e composição química da água.
A fragmentação de áreas de distribuição geográfica teria repercutido no isolamento de várias
de suas populações. Isto teria criado condições propícias para diferenciações locais e até
mesmo especiações, dependendo do tempo geológico envolvido (Bigarella &Andrade-Lima,
1982; Weitzman & Weitzman, 1982; Lucinda, 1995).
No grupo B, vêem-se dois grupos distintos de Astyanax fasciatus (Figs. 1A, 1B e 2): o
mais basal, proveniente do rio Tibagi, da bacia hidrográfica do alto rio Paraná e o clado
superior com haplótipos de regiões das bacias da América Central, além de um exemplar de
A. mexicanus da região do México. Os índices que suportam a separação destes clados em
ambas as árvores filogenéticas (Figura 1) geradas têm altos valores de bootstrap (75 e 80) nas
análises de união-de-vizinhos e máxima-verossimilhança, respectivamente. A distância
genética alta (0,119) entre os grupos corrobora que A. fasciatus é, na verdade, um complexo
de espécies. A espécie A. mexicanus aparecendo como grupo irmão de A. fasciatus
provenientes da América central está em congruência com os resultados de Strecker et al.
(2004) e Porter et al. (2007).
Melo (2005) salienta que somente os espécimes provenientes da bacia do rio São
Francisco, local de onde o material tipo dessa espécie foi primeiramente coletado
(Eigenmann, 1921), devam ter a denominação A. fasciatus, uma vez que se vêem diferenças
morfológicas em relação às outras espécies do complexo que ocorrem, por exemplo, no alto
curso do rio Paraná e no rio Paraíba do Sul (Melo, 2001). Os exemplares de outras bacias na
31
verdade seriam, segundo o último autor citado, espécies crípticas do “complexo de espécies A.
fasciatus”, ou ainda, outras espécies. Dados citogenéticos também confirmam a plasticidade
de organismos que são identificados como A. fasciatus, que é possível identificar três
citótipos padrão com base no pareamento dos cromossomos homólogos, sendo 2n=46, 48 e
50, com pequenas diferenças cariotípicas populacionais dentro de cada citótipo (Artoni et al.,
2006; Pazza et al., 2006; Kavalco, 2008;).
Em relação aos dois clados de A. fasciatus analisados aqui, estudos que levantam o
tempo de divergência para esses grupos. Porter et al. (2007), baseando-se em calibragem do
gene citocromo b, sugerem que a divergência de A. mexicanus na América Central tenha se
iniciado cerca de 5-2 Ma (Plioceno), que é o grupo irmão de A. fasciatus daquela região.
Strecker et al. (2004) defendem a hipótese que a média de divergência para os A. fasciatus
(também da América Central) é de 3,1 Ma, que corresponderia à conclusão da formação do
Istmo do Panamá cerca de 3 Ma (Bussing, 1985; Myers, 1966). Tal fato teria permitido A.
fasciatus ser capaz de invadir a América Central depois do fechamento terrestre; fato que
também é assumido para outros peixes de água doce (Bermingham & Martin, 1998; Perdices
et al., 2002). Kavalco (2008) também sugeriu um tempo de divergência para A. fasciatus,
desta vez para os provenientes da bacia do alto rio Paraná (entre outras localidades). Neste
estudo, tal espécie se situa em um clado que teria uma divergência estimada de 4,3 Ma. Além
disso, a mesma autora também realizou análises filogenéticas com o gene ATPase6/8, o qual
se mostrou pouco variável, sugerindo, também, uma separação recente para esse grupo.
Baseando-se nesses dados, pode-se inferir que as espécies da bacia do alto rio Paraná são de
uma linhagem mais antiga do que os espécimes do mesmo táxon das regiões da América
Central.
Um estudo de Pazza et al. (2006) ressaltou, por meio de dados gerados por padrões
cromossômicos, que os exemplares da bacia do Alto rio Paraná podem fazer parte de um
grupo mais diverso de peixes que estão organizados sob um mesmo gênero, o que sustentaria
a idéia de uma divergência relativamente antiga. No gráfico de dispersão de auto-vetores
(Figura 2) e nas árvores filogenéticas (Figuras 1 e 3), pode-se notar que mesmo entre os
quatro exemplares amostrados, um deles (fasc-604) é mais distante dos outros três indivíduos
sob a mesma nominação, o que sugere que pode ser um haplótipo distinto que demonstra, por
sua vez, que mesmo numa amostra pequena é notada variação intraespecífica acentuada.
Na pesquisa de Pazza et al. (2006), também é salientada a semelhança dos padrões de
distribuição dos genes de rDNA 5S, que são compartilhados entre A. aff. fasciatus e A.
bockmanni. O grupo B desse estudo comporta A. fasciatus e A. bockmanni, corroborando,
32
assim, a semelhança sugerida no estudo acima. No entanto, Kavalco (2008) ressalta a
dificuldade de se inferir relações evolutivas acerca desta espécie (A. bockmanni), uma vez
que, mesmo compartilhando genes de rDNA 5S em posição intersticial num cromossomo M
com A. fasciatus, A. bockmanni não apresenta DNA satélite As-51, que é notado nos citótipos
da espécie anterior. Esse impasse para relacionar A. bockmanni com robustez para com
outros táxons também é notado no presente estudo, pois mesmo tendo certa proximidade com
A. fasciatus (0,068) e Astyanax sp. C (0,034) a espécie em questão se encontra num ramo
evolutivo divergente de tais grupos, como pode ser melhor visto na árvore bayesiana (Figura
3).
Ainda em relação ao Grupo C, vê-se a maior proximidade genética da espécie
Astyanax sp C com A. bockmanni (distância genética de 0,034) com valores altos de bootstrap
nas árvores filogenéticas união-de-vizinhos (83) e máxima-verossimilhança (76) (vide Tabela
3 ou Figura 2). Kavalco (2008), levantando o provável tempo de divergência para A. fasciatus
e A. bockmanni, sugere um tempo de 4,3 Ma.
De acordo com Lundberg et al. (1998), no período Mioceno médio (20 -11,8 Ma), o
platô Sul-americano sofreu estresse compressivo no sudeste brasileiro, que teria resultado no
soerguimento da “estrutura Arujá” (Riccomini, 1989), que eventualmente separou as
drenagens do Tietê e Paraíba do sul. Ao oeste, um novo sistema fluvial foi estabelecido com a
direção atual leste-oeste para o presente rio Tietê (Coimbra et al., 1983). Ao leste, a
reorganização da drenagem do Paraíba do Sul encontrou um período de erosão durante o
tempo de atividade tectônica no Plioceno-Pleistoceno, provavelmente num ambiente mais
quente e úmido (Lunderberg et al, 1998). Tais processos evidenciam que a divergência das
espécies A. fasciatus e A. bockmanni é mais recente do que a separação de Astyanax sp. C dos
grupos ancestrais que teriam dado origem aos organismos do grupo B, uma vez que esta
última espécie, do rio Iguaçu, teria se isolado das bacias adjacentes num passado mais
longínquo (Mioceno).
No Grupo A, a tendência observada é que as espécies agrupadas aqui fazem parte do
“complexo de espécies A. altiparanae-bimaculatus que, segundo Kavalco (2008),
compartilham características citogenéticas semelhantes, como traços simplesiomórficos já
vistos anteriormente em Characidae (Scheel, 1973; Morelli et al., 1983; Portela et al., 1988;
Daniel-Silva & Almeida-Toledo, 2001; 2005), e o número diplóide de 50 cromossomos
(Pazza & Kavalco, 2007). Ingenito et al. (2004) também ressaltam a alta similaridade de
aspectos morfológicos (mais especificamente, a coloração) entre A. aff. bimaculatus e A.
abramis que no presente estudo se agrupam no mesmo grande clado que comporta A.
33
asuncionensis e A. altiparane. Tais semelhanças já haviam sido vistas por Eigenmann (1921)
que, inclusive, teria agrupado as espécies A. abramis, A. asuncionensis (que hoje são
reconhecidas como espécies válidas) como subespécies de A. aff. bimaculatus. O
posicionamento de A. altiparanae também está de acordo com estudos anteriores (Graça &
Pavanelli, 2002; Prioli et al., 2002), que ressaltam essa espécie como uma designação recente
dada às populações do alto rio Paraná do grupo conhecido anteriormente como A. bimaculatus
(Garutti & Britski, 2000). A distância genética baixa (0,026, Tabela 3) entre essas duas
espécies (ALTI x aff. BIM) também sugere uma divergência mais recente.
A separação relativamente recente dos clados agrupados no Grupo A pode estar
relacionada ao “padrão C” de padrões de distribuição do trabalho de Ribeiro (2006). Segundo
este autor, a categoria de divisão mais recente dos padrões de distribuição de espécies de
peixes de água doce reflete os eventos vicariantes mais recentes entre os escudos cristalinos
de rios e as drenagens adjacentes costeiras que levaram ao reconhecimento de espécies
compartilhadas entre elas. Ativas áreas tectônicas ocorridas num período mais recente que 1,6
Ma (Saaid et al., 2002) teriam feito possível o compartilhamento da fauna ictiológica das
bacias centro-sul com as drenagens costeiras, ressaltando-se as áreas que incluem as
cabeceiras do rio Ribeira de Iguape, Iguaçu e Paranapanema, além da porção do alto rio Tietê.
Durante os períodos Pleistoceno e Holoceno, a costa sul-americana sofreu
transgressões marinhas e flutuações no nível do mar. Estudos sobre o Quaternário brasileiro
(Saadi, 1993; Riccomini & Assumpção, 1999; Saadi et al. 2002; Ribeiro, 2006) ressaltam que
a Fissura Continental do Sudeste Brasileiro (CRSB) teve pronunciada atividade e reativações
de estruturas geomorfológicas ancestrais que teriam gerado novas falhas. Essas mudanças
topográficas relativamente recentes teriam resultado na reativação de crostas litológicas
anciãs descontínuas, além dos rearranjos fluviais causados por esses processos geológicos. Na
família Characidae, o exemplo dos membros da subfamília Glandulocaudinae, tribo
Glandulocaudini que m, no gênero Mimagoniates, maior diversidade específica (seis
espécies) e distribuição mais ampla ao longo das drenagens costeiras. Por outro lado, seu
grupo irmão, do gênero Glandulocauda (duas espécies), que é primitivo em atributos
morfológicos, é endêmico ao escudo cristalino do sul do Brasil, mais especificamente nos rio
Tietê e alto Iguaçu (Weitzman et al., 1988; Weitzman & Menezes, 1998).
Uma das características geológicas mais proeminentes no sudeste do Brasil foi a
formação do Arco de Ponta Grossa, que se consistiu de um soerguimento do embasamento
cristalino da porção sudeste da bacia do Paraná (Petri & Fulfaro, 1983) que teria provocado a
aceleração do dinamismo fluvial entre os sistemas de drenagens adjacentes, acelerando o
34
intercâmbio ictiofaunístico entre elas. Movimentos verticais entre os blocos fraturados e
evolução erosiva dos rios ao longo de tais clivagens teriam promovido uma mistura entre as
drenagens adjacentes que explicaria, por exemplo, as trocas ictiológicas que ocorreram entre o
rio costeiro Ribeiro de Iguape e os rios Iguaçu e Paranapanema (Ribeiro, 2006).
O mesmo levantamento tectônico pode ser responsável por mandar de volta para a
bacia do Alto Paraná uma biota aquática que uma vez estava associada às drenagens costeiras
baixas durante uma fase erosiva e tectônica intermediária. De fato, a idéia do sudeste do
Brasil ser uma área ativa tectonicamente e propensa a sofrer deformações (Cobbold et al.,
2001) é fortemente suportada por estes complexos padrões de distribuição incluídos no
“padrão C” de Ribeiro (2006). A intensa atividade tectônica ao longo da fissura continental
do sudeste brasileiro também explicaria o porqda bacia do Paraná contribuir mais (em
termos de estoques ancestrais) para o desenvolvimento de faunas ictiológicas, como foi
mencionado por Bizerril (1994). No entanto, teorias que propõem que a diversificação da
fauna dos rios de drenagens costeiras da América do Sul também está relacionada às
mudanças do nível no mar durante o Pleistoceno tardio (Weitzman et al., 1988), que levanta a
hipótese de que, quando o nível no mar era em torno de cem metros mais baixo que hoje, a
fauna ictiológica foi capaz de se tornar mais dispersiva e, seguindo-se um levantamento do
nível marítimo, a especiação teria ocorrido dentro de bacias de rios isoladas. É, pois, nesse
período que ocorrem as oscilações da pressão aquática ao longo da plataforma relacionada a
mudanças no nível do mar (Almeida & Carneiro, 1998; Riccomini & Assumpção, 1999;
Cobbold et al., 2001; Riccomini et al., 2004).
O relevo atual do centro-sul brasileiro começa efetivamente a ser definido no limite
Mioceno/Plioceno, com a formação de uma grande bacia de drenagem que envolvia as bacias
do Paraná, Uruguai e Paraguai (King, 1956; Maack, 1968). Durante o Plioceno Médio ocorre
o soerguimento da serra de Maracaju (Fulfaro & Suguio, 1974), que vem a constituir o divisor
das bacias Paraná e Paraguai. O canal atual do rio Paraná, escavado nos resistentes paredões
do arenito Caiuá, instala-se provavelmente no início do Quaternário (Stevaux, 1994). Tais
dados geomorfológicos corroboram-se às inferências de divergência relativamente recente
sugeridas por distâncias genéticas baixas (0,010) entre as espécies da bacia do Paraguai
(ASU) e da bacia do rio Paraná (ALT); e destas com o clado composto, em sua maioria, com
espécimes provindos da bacia do rio Cuibá/Manso (ABRA), com distâncias genéticas de
0,025 (ABRA x ASU) e 0,036 (ABRA x ALTI).
Baseado nos dados geológicos mostrados acima se pode inferir que a diferenciação de
Astyanax sp. B, assim como as outras espécies endêmicas do rio Iguaçu discutidas aqui, teria
35
ocorrido num passado mais remoto, quando comparadas às prováveis especiações entre o
restante das espécies dentro do Grupo A (e das outras espécies endêmicas do Iguaçu, em seus
respectivos grupos). Uma vez que as distâncias genéticas entre Astyanax sp. B, quando
comparadas com o restante dos outros clados do Grupo A, são mais altas do que quando se
comparam as outras espécies em questão entre si, que não mostram valores maiores do que
0,041 (e.g. ABRA x aff. BIM, Tabela 3).
Kantek et al. (2008), trabalhando com as espécies Astyanax sp. B., Astyanax sp. C e
Astyanax sp. D, corroboram as divergências de tais espécies vistas no presente estudo. A
grande distância entre Astyanax sp. D com as demais espécies do rio Iguaçu está em
congruência com os dados destes autores, uma vez que ressaltam que Astyanax sp. D difere de
Astyanax sp. B e Astyanax sp. C sob abordagens cromossômicas específicas. Não obstante, os
dados que Kantek et al. (2008) geraram em relação aos padrões de sítios 5S rDNA reforçam a
diferenciação entre estas três espécies discutidas, uma vez que Astyanax sp. B pode ser
claramente diferenciada destas outras duas espécies por apresentar um cromossomo
metacêntrico portando locus de rDNA 5S, que não está presente em Astyanax sp. C e
Astyanax sp. D. Além disso, a presença destes sítios específicos em cromossomos
metacêntricos também o observados em outras espécies de Astyanax; entre elas a espécie A.
altiparanae, que no presente estudo ficou agrupada no mesmo grande grupo que Astyanax sp.
B (Grupo A).
Sendo o gênero Astyanax um grupo complexo, com histórias evolutiva e biogeográfica
não esclarecidas por inteiro, faz-se necessário o aumento de estudos que incitem a discussão e
agregação de dados para o afloramento de novas idéias e hipóteses para o melhor
entendimento deste táxon. O presente estudo contribui para o estabelecimento de algumas
relações entre algumas espécies, principalmente sobre a origem dos Astyanax do rio Iguaçu,
que vinham sendo discutidas em trabalhos anteriores, e direciona novas linhas de
abordagens para a melhor compreensão das nebulosas relações filogenéticas e biogeográficas
implícitas na evolução deste grupo ictiológico. Os dados levantados aqui estão à disposição
para gerar corroborações e/ou contrariedades que dêem maior robustez na compreensão
taxonômica e evolutiva dos lambaris das bacias brasileiras e sul-americanas. Não obstante,
esses dados deixam a sugestão da importância da união de dados geomorfológicos (tais como
evoluções litológicas e hidrográficas das bacias sobre as quais a fauna a ser estudada se
estabeleceu) aos estudos de evolução biológica dos organismos que ali vivem, como bem
levantou Leopold et al. (1964), ao afirmarem que “um rio deve ser melhor pensado como
tendo uma herança do que uma origem”.
36
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